03 a 05 dez 2011

17
XIX 223 03 a 05/12/2011 2ª Edição * Internção perpétua - p.10 * Corporavismo e impunidade- p.16

Upload: clipping-ministerio-publico-de-minas-gerais

Post on 12-Mar-2016

219 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Clipping Seg. Edição Digital

TRANSCRIPT

XIX 223 03 a 05/12/2011

2ª Edição

* Internção perpétua - p.10

* Corporativismo e impunidade- p.16

O TEMPO - P. 22 E 23 - 04.12.2011

01

cOnT... O TEMPO - P. 22 E 23 - 04.12.2011

02

cOnT... O TEMPO - P. 22 E 23 - 04.12.2011

03

DESRESPEITOLojas de veículos e outros tipos de comércio usam ilegalmente

ruas e avenidas da cidade como vitrines de seus produtos

Vias públicas invadidas

ESTADO DE MInAS - P. 25, 27 E 28 - 04.12.2011

04

cOnT... ESTADO DE MInAS - P. 25, 27 E 28 - 04.12.2011

05

cOnT... ESTADO DE MInAS - P. 25, 27 E 28 - 04.12.2011

06

RAFAEL ROCHAO Ministério Público Estadual (MPE) pediu o afastamento do

delegado Márcio Olinto Hazan de suas atividades na delegacia de Simonésia, na Zona da Mata. Um grupo de promotores designado pela Procuradoria Geral de Justiça do Estado entrou com ação civil pública por ato de improbidade administrativa contra Hazan, que já atuou em várias cidades mineiras.

O policial já havia sido denunciado por corrupção privilegia-da. Em novembro deste ano, ele foi transferido do município de Itaúna, na região Central, onde era o delegado mais antigo da uni-dade, para a cidade de Simonésia. Ele também é acusado de par-ticipação em um esquema de fraudes na liberação de documentos de veículos em Itaúna. Segundo a Corregedoria da Polícia Civil, o delegado responde a mais de dez inquéritos por várias irregula-ridades.PATRIMônIO - De acordo com os promotores, o policial leva

uma vida de “bon vivant” e seu patrimônio é incompatível com a renda mensal de R$ 10 mil. Apenas uma das faturas de cartão de crédito em nome dele tinha o valor de R$ 21.210. Em dois anos, Hazan gastou R$ 211 mil somente com compras a crédito. Na garagem, o delegado guarda três carros de luxo: um Volvo S40 avaliado em R$ 23 mil, um Chery Tiggo de R$ 40 mil e um Fiat Freemont no valor de R$ 80 mil. “Seu patrimônio é superior às rendas oficiais e certamente é fruto de alguma fonte externa ainda não conhecida”, avaliou o MPE.

Na relação dos imóveis do delegado constam uma casa no bairro Santa Lúcia, outra no Sion, ambas na região Centro-Sul da capital uma terceira de 1.000 m² de área, em Juatuba, na região metropolitana.

A reportagem tentou entrar em contato com o advogado de Hazan, mas ele não foi encontrado.

O TEMPO - P. 30 - 03.12.2011 AÇÃO

MPE quer saída de delegadoInvestigação aponta que patrimônio do suspeito não condiz com a remuneração

Na próxima terça-feira, a Secretaria de Políticas para as Mulheres lança a campanha Compromisso e Atitude no Enfrentamento à Impunidade e à Violência contra a Mulher. Na ocasião, será assinado um protocolo entre o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e os ministérios da Justiça e da

Saúde para dar prioridade a casos de homicídios de cidadãs. Entre 1998 e 2008, 42 mil mulheres morreram vítimas de violência. O evento, que acontece em Brasília, marca o Dia Nacional de Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres.

O TMEPO - P. 2 - 04.12.2011A PARTE

Pedro FerreiraUm torcedor do Cruzeiro foi baleado na BR-040, a caminho

de Sete Lagoas, na tarde de ontem. O manobrista Renato de Car-valho Cardoso, de 26 anos, seguia para a Arena do Jacaré com amigos quando levou um tiro no lado esquerdo do peito, pouco abaixo das estrelas da camisa de seu time. Segundo a Polícia Mili-tar, a via estava congestionada por causa do fluxo de torcedores e o carro de Renato, um Palio, foi apedrejado por homens que esta-vam a pé, à beira da rodovia. Amigos do jovem, que estavam em outros dois carros logo atrás, afirmam que os agressores usavam camisas do Atlético. Renato foi levado para o Hospital Municipal de Contagem e até o início da noite esperava por atendimento no bloco cirúrgico. Ele está estável e não corre risco de morrer.O sar-gento Rodrigo Martins, da 203ª Companhia do 40° Batalhão, disse que o torcedor foi baleado ao descer do carro, na altura do Bairro Nápolis, em Ribeirão das Neves, no quilômetro 518 da BR-040. Um motorista de outro veículo que estava mais à frente, segundo o policial, teria atirado um foguete contra os agressores, ao perceber que o grupo atirava pedras contra os carros de cruzeirenses. Primo da vítima, Jairo Alzimar, de 30 anos, disse que Renato e os ami-gos usavam camisas do time e levavam bandeiras. “Os três carros seguiam juntos para o último jogo do Cruzeiro no Campeonato Brasileiro. Ele é evangélico, não tem vícios e é uma pessoa da paz”, afirma Jairo.

A esposa do rapaz, Daniela Beda da Silva, de 24, cuidava de um idoso quando soube que Renato tinha sido baleado. Na porta do hospital, ela e os parentes do rapaz se emocionaram ao ver a camisa do Cruzeiro furada no peito e manchada de sangue. O casal tem uma filha de 8 anos. “Ele é trabalhador, honesto, um ótimo pai de família. Poderiam ter tirado a vida dele”. Já a irmã do torcedor, Renata, de 25, lamentou a rivalidade das torcidas fora de campo. “Eles não sabem torcer. A paz é que tinha que vencer. Meu irmão adora ir a jogos e, desta vez, foi vítima de uma emboscada, já que o carro estava preso no engarrafamento”, lamentou.

BALANÇO No estádio, 20 pessoas foram detidas por de-sacato, uso de pequenos explosivos e foguetes e venda irregular de ingressos. Segundo o comandante de Policiamento Especiali-zado, coronel Antônio de Carvalho Pereira, das 14 ocorrências, duas envolveram cambistas e uma, de um torcedor que desacatou um policial. O comandante afirmou que o jogo foi tranquilo e que houve apenas uma confusão com detidos, na arquibancada. Todos tiveram a ficha levantada e um homem, cujo nome não foi divulga-do, acabou preso porque era foragido da Justiça: seu mandado de prisão era por falta de pagamento de pensão alimentícia.

A Polícia Militar reforçou o policiamento na Praça 7 e nas proximidades da sede do Atlético, em Lourdes, para evitar con-frontos entre torcedores das duas equipes. (Colaborou Paula Sa-rapu)

ESTADO DE MInAS - P. 2 - 05.12.2011 E AInDA.... GERAIS

Cruzeirense baleado VIOLÊNCIA Torcedor foi atingido no peito na BR-040, quando se dirigia para o jogo em Sete Lagoas

Defesa da mulher

Secretaria lança campanha

07

ESTADO DE MInAS - P. 3 - 04.12.2011

08

Belo HorizonteO ministro do Desenvolvimento, Indústria e Co-

mércio Exterior, Fernando Pimentel (PT), faturou pelo menos R$ 2 milhões com sua empresa de consultoria, a P-21 Consultoria e Projetos Ltda, em 2009 e 2010, entre sua saída da Prefeitura de Belo Horizonte e a che-gada ao governo Dilma Rousseff.

Os dois principais clientes do então ex-prefeito fo-ram a Federação das Indústrias do Estado de Minas Ge-rais (Fiemg) e o grupo da construtora mineira Convap.

A federação pagou R$ 1 milhão por nove meses de consultoria de Pimentel, em 2009, e a construtora, outros R$ 514 mil, no ano seguinte. As informações são da agência “O Globo”.

A consultoria de Pimentel à Fiemg foi contratada quando o presidente da entidade era Robson Andra-de, atualmente à frente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), e se resumiu, de acordo com o atual presidente da Fiemg, Olavo Machado, a “consultoria econômica e em sustentabilidade”. No entanto, dirigen-tes da própria entidade desconhecem qualquer trabalho realizado pelo ministro.

O serviço à Convap durou de fevereiro a agosto de 2010, época em que Pimentel era um dos coorde-nadores da campanha de Dilma. Após a consultoria, a Convap assinou com a prefeitura do aliado de Pimentel,

Marcio Lacerda (PSB), contratos de R$ 95,3 milhões.Em maio deste ano, ao ser questionado a respeito das atividades da P-21, já na condição de ministro, o petista não quis dizer quem eram os seus clientes e classificou o rendimento da empresa como “compatível com a ati-vidade dela”.

Ministro diz que não tinha cargo quando era consultor Belo Horizonte. O ministro do Desenvolvimento,

Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, res-pondeu ao jornal “O Globo”, por meio da assessoria do ministério, que não exercia cargos públicos quando prestou consultoria.

Segundo ele, a empresa P-21 Consultoria e Proje-tos Ltda foi aberta em 2009 para prestar consultoria nas áreas de “administração financeira e tributação”.“Os serviços contratados foram prestados e os tributos refe-rentes a eles, recolhidos. A P-21 deixou de prestar servi-ços a qualquer cliente em novembro de 2010”, afirmou a assessoria.O ministro não respondeu ao questionário enviado a ele pelo jornal, perguntando detalhes sobre os serviços prestados e solicitando a apresentação dos contratos com os clientes.

O TEMPO - P. 5 - 04.12.2011 coincidência

Consultoria rende a Pimentel R$ 2 mi de 2009 a 2010 Serviço foi prestado para Fiemg e Convap, contratada da Prefeitura de BH

FOLHA DE SP - A1 - 05.12.2011

09

ESTADO DE MInAS - P. 7 - 05.12.2011

10

cOnT.... ESTADO DE MInAS - P. 7 - 05.12.2011

11

BRASÍLIAO número de comprimidos falsificados

e contrabandeados apreendidos no Brasil saltou de 322 mil em 2007 para 18 milhões em 2010. Quinze milhões deles foram apreendidos na Bahia, conforme números da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Os “campeões” das apreensões são os medi-camentos para disfunção erétil, anabolizan-tes e aqueles para reduzir a obesidade. Os dados revelam que apreensões de medica-mentos falsificados aumentaram seis vezes de 2007 para 2010. Subiram de dez para 60, e os locais inspecionados durante as opera-ções aumentaram nove vezes, de 136 para 1.245.

É o que mostra levantamento divulga-do ontem pelo Conselho Nacional de Com-bate à Pirataria (CNCP), do Ministério da Justiça. O estudo aponta ainda que os Es-tados com maior quantidade de apreensões de comprimidos foram a Bahia e o Distrito Federal.

No ano passado, operações coordena-das pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) apreenderam 67.755 comprimidos falsificados, 13.541 compri-midos contrabandeados, 71,5 toneladas de medicamentos sem registro e 72,5 tonela-das de medicamentos vencidos ou impró-prios.

Os produtos falsificados, mostra o rela-tório, não são encontrados apenas no mer-cado informal, mas também em farmácias, drogarias e lojas.Valor das apreensões. Nos últimos seis anos, triplicou o valor das apre-ensões de produtos falsos, contrabandeados e piratas no Brasil. Segundo o CNCP, o va-lor que, em 2004, era de R$ 452 milhões passou para R$ 1,27 bilhão em 2010. Os números estão no Relatório Brasil Original, apresentado ontem pela Receita Federal.

A quantidade de cigarros apreendidos pela PRF aumentou de 3,42 milhões de pa-cotes para 4,52 milhões entre 2010 e 2011. Nesse mesmo período, também houve alta nas apreensões de combustíveis, de 98 mil litros para 200 mil litros; de equipamentos

de informática, de 98 mil unidades para 195 mil; e de bebidas, de 106 mil litros para 136 mil.

RAnKInG

Cigarros, CDs e DVDs lideram listaBrasília. Dados da Polícia Rodoviária

Federal (PRF) dão conta de que cigarros e CDs/DVDs lideram a lista de mercadorias mais apreendidas neste ano – com 4,52 mi-lhões de pacotes e 3,77 milhões de unida-des.

Segundo o Ministério da Justiça, em 2009 e 2010, a Polícia Federal deflagrou 381 operações para investigar crimes de contrabando, descaminho e pirataria. Essas ações resultaram em 1.273 inquéritos por pirataria e 16.391 por contrabando e desca-minho no ano de 2010. Nesse período, fo-ram efetuadas 956 prisões.Na Polícia Fede-ral (PF), os CDs e DVDs registraram queda nas apreensões na comparação entre 2010 e 2011 – foram 5,79 milhões de unidades no ano passado e 3,77 milhões de janeiro a novembro deste ano. No mesmo período comparado, os eletrônicos diminuíram de 393 mil unidades para 285 mil.

Itens retidos somam R$ 1,7 bi

Brasília. Segundo o ministro da Justi-ça, Luiz Paulo Barreto, o Brasil deve fe-char o ano de 2011 com um total de R$ 1,7 bilhão em produtos falsos e contrabandea-dos apreendidos. O valor é recorde e 30% maior do que o montante apreendido em 2010 (R$ 1,27 bilhão em mercadorias). O governo atribuiu o crescimento ao reforço das operações de fiscalização, principal-mente nas fronteiras. “A razão principal se atribui à Operação Fronteira, lançada em 2011, que inclui Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Exército, e que atuou no patrulhamento mais intenso das regiões de fronteira, permitindo uma maior número de prisões e maior apreensão de produtos piratas”, apontou.

cOnTRABAnDO

Anvisa apreendeu 18 mi de comprimidos piratas em 2010Nos últimos seis anos, valor das apreensões de produtos triplicou

O TEMPO - P. 14 - 03.12.2011

12

As últimas notícias sobre a prisão do empresário Marcos Valério, que é réu no processo do mensalão e acusado de ser operador do esquema que teria desviados recursos públicos para pagamento de parlamentares da base do ex-presidente Lula, mostram como é difícil mudar os vícios que envolvem a máquina pública brasileira.

Valério estava morando em Belo Horizonte, atuando como lobista e conseguindo para seus clientes, não se sabe como, vantagens junto ao governo federal. Para quitar dí-vidas antigas, cobranças judiciais, inclusive com a receita federal, o empresário estaria participando de um esquema de grilagem de terra e registros de imóveis fantasmas, que eram fornecidos como garantias.

A atuação do empresário não parece ser muito diferente do que ele já fazia quando foi acusado de ser o operador do

mensalão. A pergunta que se faz é a seguinte: como alguém que responde por tantas ações e se tornou o inimigo público número um do país ainda pode ter tanta influência e entrân-cia no governo federal? Obviamente, ele não age sozinho. Existe um esquema dentro da máquina pública que sobrevi-ve facilitando negociatas. Certamente, Valério não é o único que se beneficia do vício criminoso. E, claro, as proporções de cada negócio irregular variam e vão se adequando às ino-vações da estrutura. O que dificulta não só a detecção das irregularidades, mas também a eliminação da prática.

Nessa história, apenas um fato é certo, as polícias fe-deral e estaduais, o Ministério Público e os órgãos de fisca-lização e controle têm trabalhado muito. Infelizmente nem todos reconhecem, às vezes nem a presidente Dilma, que o diga o ministro pedetista Carlos Lupi. (Carla Kreefft)

O TEMPO - P. 2 - 04.12.2011A PARTE na entranhas

Máquina estatal guarda vício que permite atuação de valérios

Lúcia CastroUma operação da Polícia Civil cario-

ca, na última quinta-feira, revelou um es-quema de lavagem de dinheiro do grupo criminoso de Fernandinho Beira-Mar que movimentou, só em 2010, R$ 62 milhões. Além de milionário, descobriu-se que o esquema envolvia 112 pessoas físicas e 70 jurídicas - um supertime encarregado de lavar o dinheiro arrecadado com o tráfico de drogas e de armas comandado por ele.

A “lavanderia” dos negócios de Bei-ra-Mar tinha ramificações no Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Minas. Aqui em Belo Horizonte, dois jovens em-presários foram presos. Segundo a polícia, este é apenas um dos vários esquemas que o megatraficante opera.

Tudo isso já seria assombroso, não fosse o fato de Fernandinho Beira-Mar estar preso desde 2002, quando, por medi-das judiciais, começou um “tour” por pra-ticamente todos os presídios de segurança máxima do país. No início deste ano, ele foi transferido de novo, dessa vez para o presídio federal de Mossoró (RN), onde se encontra atualmente. Então a pergunta que fica é: como ele consegue comandar esquemas tão engenhosos estando atrás das grades?

Este absurdo só é uma realidade por-que o traficante, um dos mais poderosos na América Latina, usa seus ilustres visitan-tes como porta-vozes de suas ordens. Ele continua comandando o tráfico de drogas e

de armas de dentro dos presídios por onde passa porque continua tendo mensageiros à sua disposição.

Prova disso é que, na ocupação do complexo de favelas do Alemão, em 2010, a polícia encontrou pedaços de bilhetes es-critos pelo traficante quando estava preso no Mato Grosso do Sul.

Então, fico me perguntando se Beira-Mar - e outros tantos como ele - poderia, ou deveria, continuar gozando do direito de receber visitas, aí incluídas as dos ad-vogados. Acho que não porque a reinci-dência contumaz e a gravidade do crime são o que diferenciam o marginal de um cidadão.

Marginais como Beira-Mar são re-conhecidamente daninhos a qualquer so-ciedade, sem potencial de recuperação e, portanto, deveriam ser tratados como tal. Suas “peripécias” são uma afronta não só às leis vigentes e às polícias, mas a todos os cidadãos de bem.

Em vários países, determinados pre-sos não têm direito a qualquer contato com qualquer pessoa. Também é comum, em alguns casos, a prática das visitas monito-radas por câmeras, justamente para impe-dir que os visitantes sejam usados como tentáculos dos marginais ali confinados.

Então, se as leis brasileiras estão “ser-vindo” para que absurdos como este con-tinuem sendo realidade, é hora de refletir sobre quem realmente elas estão protegen-do.

O TEMPO - P. 2 - 04.12.2011 As visitas de Beira-MarSuas peripécias são uma afronta não só às leis vigentes e às polícias, mas a todos os cidadãos de bem

13

Antônio Armando dos Anjos - Desembargador da 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG)

Sobre os temas violência e criminalidade, como em várias outras questões sociais, é muito comum o precon-ceito. Em uma das definições do Dicionário Houaiss, preconceito é “atitude, sentimento ou parecer insensato, especialmente de natureza hostil, assumido em conse-quência da generalização apressada de uma experiência pessoal ou imposta pelo meio”. É o que ocorre nas asso-ciações feitas entre criminalidade e pobreza, fortalecendo o clamor social pelo acirramento das penas.

Alguns questionamentos devem ser feitos nesse sen-tido: por que motivo a incidência da criminalidade é tão visível entre as classes mais vulneráveis? Os agentes do aparelho coercitivo estão mais atentos a essas faixas da população? Que influência tem a mídia, na forma como divulga crime e violência? As estatísticas sobre a crimi-nalidade entre as classes mais favorecidas revelam a re-alidade?

Vários estudiosos já se debruçaram sobre o assun-to. Em entrevista à revista on-line do Intituto Humanitas Unisinos, a socióloga Vera Malaguti Batista fala sobre sua dissertação de mestrado, publicada com o título Difíceis ganhos fáceis: droga e juventude pobre no Rio de Janei-ro. Conta a professora: “A pesquisa foi feita por meio da análise histórica dos processos em que adolescentes são presos por problemas relacionados às drogas e mostrou a diferença com que o sistema tratava os meninos depen-dendo da origem social, étnica e do local de moradia.

À mesma conclusão chegou o sociólogo de origem francesa Loïc Wacquant, em entrevista disponível no site www.maishumana.com.br: “Conduzindo uma investiga-ção etnográfica junto ao gueto negro de Chicago, dei-me conta do quanto a instituição penitenciária banalizou-se, com toda a sua onipresença, na base da estrutura social dos Estados Unidos.” Diz o sociólogo: “Bem debaixo de nossos olhos, se inventa uma nova forma política, um Es-tado-centauro que eu chamo de ‘liberal-paternalista’: de um lado, ele é liberal numa tendência ascendente, porque pratica a doutrina do laissez-faire no nível dos mecanis-mos geradores das desigualdades sociais; de outro lado, ele é paternalista e punitivo” – nesse caso, quando age sobre as consequências geradas pelo próprio sistema.

Vera Malaguti faz alusão a um pacto de não se discu-tir o fundamental, de só aprofundar o veneno que está pro-duzindo isso tudo. Já Vacquant aborda o estado de pânico instaurado, “principalmente porque a mídia, mas também a polícia, a escola, os transportes, etc, estão muito mais atentos a esses fenômenos, e a delinquência tornou-se, por todas as formas de intervenção, uma mercadoria” – e lucrativa! Os dois sociólogos criticam o encarceramento crescente. Para Loïc Wacquant, “fazer acreditar que se

conseguirá o recuo da delinquência – e pior ainda, das famosas ‘incivilidades’ – através do aparelho policial e penal é uma grande falácia”.

Vera Malaguti aposta em alternativas, como crimi-nalizar menos, fazer uma reforma penal que garanta mais acesso a direitos com penas menos longas, tratar melhor a população penitenciária e seus familiares, pensar manei-ras melhores de trabalhar as políticas de segurança públi-ca que não seja pela violência e pela brutalização contra as comunidades da periferia.

Felizmente, dentro da linha apontada pela sociólo-ga, o Judiciário de Minas tem experiência reconhecida, buscando a expansão das Associações de Proteção e As-sistência aos Condenados (APACs) e do Programa de Assistência Integral ao Paciente Judiciário (PAIPJ). O objetivo do Projeto Novos Rumos do TJMG, em parceria com a sociedade, é fortalecer a humanização no cumpri-mento das penas privativas de liberdade e das medidas de internação, buscando a individualização e alcance da finalidade das medidas socioeducativas, das penas alter-nativas e medidas de segurança, com enfoque especial na reinserção social da pessoa em conflito com a lei. Mas essa não é a regra.

O Judiciário age sobre os efeitos ou as consequên-cias dos graves problemas sociais – é necessário esse papel coercitivo. A punição serve, justamente, para de-sestimular outras ações criminosas e restabelecer a paz social. Torna-se imprescindível, todavia, atuar de forma preventiva, adotando-se políticas públicas inclusivas e fortalecendo o papel das instituições. Deve-se chamar a atenção da sociedade para o fato de que a violência é en-gendrada no seio da própria comunidade. Sendo assim, é responsabilidade de todos – e de cada um – a correção de rumos, buscando alternativas, de forma democrática, para o aprimoramento humano e social.

Quem rouba alimentos em supermercado é exem-plarmente punido. Mas outros tipos de crime passam impunes. O sistema vigente aceita o lucro desenfreado à custa da exploração; admite salários indignos; permite sonegação de impostos por parte de quem mais tem con-dições de pagar; tolera que o dinheiro público seja usado para atender interesses privados; respeita os muros de criminosos em altos postos, mansões ou condomínios fe-chados; desvia verbas destinadas à saúde, educação, cul-tura; consente que pessoas com algum poder institucional usem a máquina ao seu bel-prazer.

É a lógica do capitalismo, da supremacia do indiví-duo – “inteligente” e “esperto” – sobre o coletivo pouco mobilizado e alheio, que assiste, passivo, aos horrores do drama e do humor exibidos pela mídia. Transformar esse mundo exige espírito humanitário e ética. Enquanto al-guns se acharem mais diante de tantos outros menos, o preconceito continuará reinando em benefício de quem pode mais, gerando mais marginalizados.

ESTADO DE MInAS - P. 01 - DIREITO & JUSTIÇA - 05.12.2011

Violência: a responsabilidade é de todos

14

Sérgio Santos Rodrigues - advogado e mestre em di-reito

Diante da necessidade de se criarem institutos mais efi-cazes para a preservação da empresa ou de melhor aprovei-tamento e venda dos ativos, em 1993 começou a tramitar no Congresso Nacional o Projeto de Lei 4.376/93, que, anos depois, se tornou a Lei 11.101/05, sancionada em 9 de feve-reiro de 2005 (com vigência a partir de 9 de junho do mesmo ano) e conhecida como Lei de Recuperação de Empresas e Falência.

Dentro das várias mudanças impostas pela nova re-gulamentação falimentar está o veto ao artigo 4º da Lei 11.101/05, que faz com que o Ministério Público não tenha mais que intervir em todos os processos de que seja parte ou interessada a massa falida, nem dos pedidos de falência (o que era previsto no artigo 210 do Decreto-lei 7.661/45).

Julgado recente do Superior Tribunal de Justiça (STJ) analisou essa questão, assim colocada no site do tribunal do dia 30/11/2011:

“Embora a intervenção do Ministério Público não seja obrigatória em ações que tenham relação com a falência de empresas, nada impede sua atuação, e o processo só será nulo se o prejuízo da intervenção for demonstrado. A de-cisão é da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), e diz respeito à impugnação da intervenção do MP em embargos do devedor em uma ação de execução. No caso, a empresa de aviação Transbrasil S.A. Linhas Aéreas contes-ta valores cobrados pela GE Engines Services – Corporate Aviation Inc.

Depois da declaração de falência da Transbrasil, uma das maiores companhias aéreas brasileiras, o juízo de pri-meiro grau determinou a intimação do MP para se manifes-tar sobre os embargos do devedor opostos pela Transbrasil. A empresa aérea impugnou essa intimação, mas o agravo não foi provido. Segundo o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), ainda que o processo esteja em andamento, é ‘ra-zoável que se ouça o MP em ações de interesse da eventual futura massa falida’ para garantir a fiscalização dos interes-ses dela.

Para a Transbrasil, a intervenção do MP só seria possí-vel em ação falimentar eficaz, em ação proposta pela massa falida ou contra ela, e não em ação cuja decisão falimentar esteja sujeita a efeito suspensivo, como é o caso, pois esta não caracteriza a massa falida. Porém, segundo a ministra Nancy Andrighi, faz tempo que os efeitos da decisão que declarou a falência da empresa não estão sujeitos a efeito suspensivo. A relatora destacou que, além disso, os inúme-ros recursos da Transbrasil – incluindo vários embargos de

declaração – ‘tiveram nítido caráter procrastinatório’ (de atraso no desfecho do processo).

Na antiga Lei de Falências (Decreto-lei 7.661/45), a in-tervenção do MP estava prevista em todas as ações propostas pela massa falida ou contra ela, porém sua ausência só tor-nava o processo nulo se houvesse demonstração do prejuízo (princípio pas de nullité sans grief). Para a ministra Nancy Andrighi, tal entendimento também pode ser aplicado quan-do houve intervenção indevida do MP. Nesse caso, o proces-so seria anulado apenas quando demonstrado o prejuízo.

Com a nova Lei de Falências (Lei 11.101/05), o disposi-tivo que previa a intervenção foi vetado por conta do número excessivo de processos falimentares que sobrecarregavam o órgão. A ministra salientou que as ‘inúmeras manifestações’ do MP eram injustificáveis, pois só serviam para atrasar o andamento do processo.

Mas, mesmo que a participação do MP não seja obri-gatória, há casos em que sua intervenção é facultativa, que ‘decorrem da autorização ampla que lhe dá a lei de requerer o que for necessário ao interesse da justiça’. No caso em questão, segundo a ministra Nancy Andrighi, ‘ainda que se entenda que a participação do Ministério Público não era obrigatória, nada impedia sua intervenção facultativa, inclu-sive em benefício da própria Transbrasil’.

Assim, salvo exceções legais, o parquet só deve partici-par quando houver fatos que indicam crime, desobediência à lei ou ameaça de lesão ao interesse público. A discussão que permanece é se essa nova imposição não confronta com o ar-tigo 127 da Constituição da República, que determina caber ao Ministério Público ‘a defesa da ordem pública, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponí-veis’. Indubitavelmente, caso um procedimento falimentar ou de recuperação de empresa se encaixe nessas hipóteses previstas na Constituição, há de prevalecer o estabelecido nesta por ser norma hierarquicamente superior”.

Considera-se tal decisão acertada já que, embora a nova lei não obrigue a participação do Ministério Público em ca-sos falimentares, ela também não veda. Mais ainda, não se pode olvidar do que dispõe o artigo 127 da Constituição da República, que determina caber ao Ministério Público “a de-fesa da ordem pública, do regime democrático e dos interes-ses sociais e individuais indisponíveis”.

Sendo assim, por mandamento da lei maior, indepen-dentemente da omissão da Lei 11.101/05, caso um procedi-mento falimentar ou de recuperação de empresa se encaixe nas hipóteses previstas na Constituição, há de prevalecer o seu mandamento.

ESTADO DE MInAS - P. 07 - DIREITO & JUSTIÇA - 05.12.2011O DIREITO PASSADO A LIMPO

A atuação do Ministério Público nos processos falimentares depois da Lei 11.101/2005

Não se pode olvidar do que dispõe o artigo 127 da Constituição da República, que determina caber ao Ministério Público defesa da ordem

pública, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis

15

Se o órgão criado para apurar indícios de atos ilegais praticados na administração pública e punir os responsá-veis pelas irregularidades se alia aos investigados, as con-sequências mais óbvias serão a facilitação e a disseminação das práticas sob investigação. Esta é, lamentavelmente, a situação que se está criando no serviço público, pois as corregedorias - responsáveis pela apuração de atos irregu-lares e punição dos eventuais culpados - estabeleceram um “acumpliciamento corporati-vo” com servidores envolvi-dos em desmandos e corrup-ção, como descreveu o minis-tro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, criando uma situação por ele considerada “inaceitável” (Estado, 26/11).

Dinheiro público que deveria ser aplicado em pro-jetos de interesse coletivo é desviado para os bolsos de umas poucas pessoas ou é desperdiçado. Assim, os con-tribuintes recolhem impostos em troca de serviços cada vez mais deficientes. Por causa de acertos entre corregedorias e investigados, os responsáveis pelos atos ilegais raramente são alcançados pela punição administrativa ou financeira. Em muitos casos, ainda es-capam da ação judicial que poderia ser aberta contra eles com base no que foi apurado no plano administrativo.

“Quantas vezes vemos si-tuações de corregedorias que, diante de ilícitos evidentes e de um mal-estar na própria corporação em que o órgão está, resolvem colocar a su-jeira debaixo do tapete para

não ter que colocá-la à luz do sol, o que evidentemente pro-piciaria uma lição mais firme e decidida”, disse o ministro, durante reunião da Estratégia Nacional de Combate à Cor-rupção e à Lavagem de Di-nheiro, organização formada por 70 entidades de prevenção e repressão ao crime organiza-do. Essa organização se reúne anualmente para discutir me-canismos de proteção dos re-cursos do Tesouro Nacional contra a corrupção.

Nem todas as corregedo-rias se renderam ao corporati-vismo denunciado pelo minis-tro da Justiça. Há exemplos de órgãos de investigação interna que não se submetem ao trá-fico de influência ou aos inte-resses de uma pequena parte do funcionalismo, e procuram desempenhar seu papel com a isenção que ele requer.

Embora o ministro Car-dozo não a tenha citado, suas palavras podem ser interpreta-das como de apoio à correge-dora do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministra Eliana Calmon, que enfrenta forte re-sistência corporativa de parte da magistratura ao ritmo e ao estilo de trabalho que vem de-senvolvendo.

Na semana passada, a chefe da corregedoria do CNJ informou que o órgão está in-vestigando operações suspei-tas envolvendo um grupo de juízes em grilagem de terras nos Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Piauí e divisa entre Bahia e Goiás. Em setembro, a ministra Elia-na Calmon havia afirmado ser necessário combater a impuni-dade dos “bandidos que se es-

condem atrás da toga”, o que provocou a divulgação, pelo presidente do Supremo Tri-bunal Federal (STF), ministro Cezar Peluso, de uma nota de repúdio em que também co-brava retratação da ministra, que não se retratou.

Em ação de inconstitucio-nalidade impetrada no STF, a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) questiona as prerrogativas do CNJ para investigar e punir juízes acu-sados de desvio de conduta. No seu entender, só depois de julgadas pelas corregedorias dos respectivos tribunais as denúncias poderiam ser exa-minadas pela corregedoria do CNJ.

É neste ponto que as afir-mações do ministro da Justi-ça ganham maior relevo. As corregedorias locais têm em andamento 1.085 investiga-ções contra magistrados, de acordo com dados divulgados pelo ministro Cezar Peluso, que também preside o CNJ. O número elevado pode sugerir trabalho intenso das correge-dorias locais. Mas relatórios da Corregedoria Nacional de Justiça, chefiada pela ministra Eliana Calmon, constataram a existência de processos “es-quecidos” em prateleiras ou que vêm passando de gave-ta em gaveta - alguns, desde 2005. Na prática, pouco se in-vestiga.

Como são leves as puni-ções administrativas para boa parte das atos investigados, o prazo de prescrição é curto. A demora no julgamento dos processos, por isso, beneficia os investigados.

O ESTADO DE S.PAULO - On LInE - 05.12.2011

Corporativismo e impunidade

16