01 o pesquisador e a comunicação científica

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O Pesquisador e a Comunicação Científica Descrever o processo de comunicação na pesquisa científica e tecnológica; identificar e descrever os canais de comunicação usados pelos pesquisadores; apontar as qualidades de um bom pesquisador. INTRODUÇÃO Hoje se reconhece que a ciência e a tecnologia se viabilizam por meio de um processo de construção do conhecimento e que esse processo flui na esfera da comunicação. Garvey (1979), um autor clássico da área de Sociologia da Ci- ência, incluiu no processo de Comunicação Científica “as ati- vidades associadas com a produção, disseminação e uso da informação, desde a hora em que o cientista teve a idéia da pesquisa até o momento em que os resultados de seu trabalho são aceitos como parte integrante do conhecimento científico”. O SISTEMA DE COMUNICAÇÃO NA CIÊNCIA O sistema de comunicação na ciência, estudado por Garvey, apresenta dois tipos de canais de comunicação dotados de di- ferentes funções. O canal informal de comunicação, que re- presenta a parte do processo invisível ao público, está caracte- rizado por contatos pessoais, conversas telefônicas, corres- pondências, cartas, pré-prints e assemelhados. O canal for-

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Metodologia da pesquisa

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  • O Pesquisador e a

    Comunicao Cientfica

    Descrever o processo de comunicao na pesquisa cientfica e tecnolgica; identificar e descrever os canais de comunicao usados pelos pesquisadores; apontar as qualidades de um bom pesquisador.

    INTRODUO

    Hoje se reconhece que a cincia e a tecnologia se viabilizam por meio de um processo de construo do conhecimento e que esse processo flui na esfera da comunicao.

    Garvey (1979), um autor clssico da rea de Sociologia da Ci-ncia, incluiu no processo de Comunicao Cientfica as ati-vidades associadas com a produo, disseminao e uso da informao, desde a hora em que o cientista teve a idia da pesquisa at o momento em que os resultados de seu trabalho so aceitos como parte integrante do conhecimento cientfico.

    O SISTEMA DE COMUNICAO NA CINCIA

    O sistema de comunicao na cincia, estudado por Garvey, apresenta dois tipos de canais de comunicao dotados de di-ferentes funes. O canal informal de comunicao, que re-presenta a parte do processo invisvel ao pblico, est caracte-rizado por contatos pessoais, conversas telefnicas, corres-pondncias, cartas, pr-prints e assemelhados. O canal for-

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    mal, que a parte visvel (pblica) do sistema de comunicao cientfica est representado pela informao publicada em for-ma de artigos de peridicos, livros, comunicaes escritas em encontros cientficos, etc.

    CANAIS INFORMAIS

    Nos canais informais o processo de comunicao gil e sele-tivo. A informao circulada tende a ser mais atual e ter maior probabilidade de relevncia, porque obtida pela interao efetiva entre os pesquisadores. Os canais informais no so oficiais nem controlados e so usados geralmente entre dois indivduos ou para a comunicao em pequenos grupos para fazer disseminao seletiva do conhecimento.

    CANAIS FORMAIS

    Nos canais formais o processo de comunicao lento, mas necessrio para a memria e a difuso de informaes para o pblico em geral. Os canais formais so oficiais, pblicos e controlados por uma organizao. Destinam-se a transferir informaes a uma comunidade, no a um indivduo, e tor-nam pblico o conhecimento produzido. Os canais formais so permanentes, as informaes que veiculam so registradas em um suporte e assim tornam-se mais acessveis.

    FUNO DOS CANAIS INFORMAIS

    Os canais informais, por meio do contato face a face ou medi-ados por um computador, so fundamentais aos pesquisado-res pela oportunidade proporcionada para troca de idias, dis-cusso e feedbacks com os pares.

    O trabalho publicado nos canais formais, de certa forma, j foi filtrado via canais informais. Os contatos informais mantidos com os pares pelos pesquisadores foram chamados por Price (1979) de colgios invisveis; Crane (1972) e Kadushin (1976) denominaram de crculos sociais e, mais recentemente, Latour (1994) denominou de redes cientficas. Latour incorporou s redes cientficas a idia de que estas no visam propriamente troca de informaes; representam um esquema operacional

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    para construo do conhecimento e nesse esquema esto in-cludos os hbridos, elementos no-humanos, representados pelos equipamentos e toda a parafernlia de produtos e servi-os necessrios produo da cincia e da tecnologia.

    Atualmente, com o advento da Internet, as listas de discusso representam um canal informal semelhante aos colgios invi-sveis e os crculos sociais dos tempos passados. As listas de discusso permitem a criao de comunidades virtuais onde pessoas que possuem interesses comuns discutem, trocam informaes por meio de um processo comunicacional instan-tneo, gil e, portanto, sem barreiras de tempo e espao. A internet amplia as possibilidades de troca de informao na medida em que permite ao pesquisador compartilhar e intera-gir com a inteligncia coletiva (LEVY, 1998).

    FUNO DOS CANAIS FORMAIS

    Os canais formais, por intermdio das publicaes, so funda-mentais aos pesquisadores porque permitem comunicar seus resultados de pesquisa, estabelecer a prioridade para suas des-cobertas, obter o reconhecimento de seus pares e, com isso, aumentar sua credibilidade no meio tcnico ou acadmico.

    DIFERENAS BSICAS ENTRE CANAIS FORMAIS E INFORMAIS

    No quadro a seguir foram sintetizadas por Le Coadic (1996) as principais diferenas entre os elementos formais e informais da comunicao cientfica:

    Diferenas entre os Elementos Formais

    e Informais da Comunicao Cientfica

    Comunicao formal Comunicao informal

    Pblica. Privada.

    Informao armazenada de forma

    permanente, recupervel.

    Informao no-armazenada,

    no-recupervel.

    Informao relativamente velha. Informao recente.

    Informao comprovada. Informao no-comprovada.

    Disseminao uniforme. Direo do fluxo escolhida pelo produtor.

    Redundncia moderada. Redundncia s vezes muito importante.

    Ausncia de interao direta. Interao direta Fonte: LE COADIC, Y-F. A cincia da informao. Braslia: Briquet de Lemos, 1996.

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    Antes de chegarem a ser publicados os resultados de uma pesquisa, a informao percorre um longo caminho nesta passagem do domnio informal para o formal. Vale dizer que este processo no estanque ou linear e que os avanos tecnolgicos e as redes de comunicao tm feito com que as duas formas de comunicao estejam se sobrepondo e tm tornado tnues as fronteiras entre os dois domnios da comunicao (informal e formal).

    A freqncia e o uso de um canal informal ou formal so de-terminados por sua acessibilidade.

    O TRABALHO CIENTFICO E SUA AVALIAO

    O trabalho cientfico, propriamente dito, avaliado, segundo Demo (1991), pela sua qualidade poltica e pela sua qualidade formal. Qualidade poltica refere-se fundamentalmente aos contedos, aos fins e substncia do trabalho cientfico. Qua-lidade formal diz respeito aos meios e formas usados na pro-duo do trabalho. Refere-se ao domnio de tcnicas de coleta e interpretao de dados, manipulao de fontes de informa-o, conhecimento demonstrado na apresentao do referen-cial terico e apresentao escrita ou oral em conformidade com os ritos acadmicos.

    O PESQUISADOR E SUAS QUALIFICAES

    Alguns atributos pessoais so desejveis para voc ser um bom pesquisador. Para Gil (1999), um bom pesquisador precisa, a-lm do conhecimento do assunto, ter curiosidade, criatividade, integridade intelectual e sensibilidade social. So igualmente importantes a humildade para ter atitude autocorretiva, a ima-ginao disciplinada, a perseverana, a pacincia e a confiana na experincia.

    Atualmente, seu sucesso como pesquisador est vinculado, cada vez mais, a sua capacidade de captar recursos, enredar pessoas para trabalhar em sua equipe e fazer alianas que proporcionem a tecnologia e os equipamentos necessrios pa-ra o desenvolvimento de sua pesquisa. Quanto maior for o seu prestgio e reconhecimento, obtido pelas suas publicaes, maior ser o seu poder de persuaso e seduo no processo de fazer aliados.

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    CONSIDERAES FINAIS

    Tanto os canais formais quanto os informais so importantes no processo de construo do conhecimento cientfico e tecno-lgico. Os canais informais cumprem suas funes como meio de disseminao de informao entre voc e seus pares, e os canais formais so responsveis pela comunicao oficial dos resultados de uma pesquisa. A publicao proporciona o con-trole de qualidade de uma rea, confere reconhecimento da prioridade ao autor e possibilita a preservao do conhecimen-to. Na verdade voc, estando em atividade de pesquisa, parti-cipa de um processo permanente de transaes e mediaes comunicativas.