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1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
As principais instituições que compõem a União Europeia são: o Parlamento
Europeu, o Conselho da União Europeia, a Comissão das Comunidades Europeias,
o Tribunal de Justiça da União Europeia –TJUE e o Tribunal de Contas, sendo que,
o Conselho e a Comissão são ainda assistidos por dois Comitês. Pode-se dizer que
o Banco Central Europeu completa esta estrutura.
O presente trabalho tem como objetivo demonstrar como funciona a
jurisdição comunitária, analisando para tanto os órgãos e mecanismos do Tribunal
de Justiça da União Europeia, bem como demonstrar com a sua jurisprudência a
efetividade dos princípios que regem a Comunidade Europeia.
2 O TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA UNIÃO EUROPEIA – TJUE
O Tribunal de Justiça da União Europeia foi instituído em 1952 e possui sede
em Luxemburgo. Sua instituição se deu com o intuito de assegurar a unidade do
ordenamento comunitário, pois não faria sentido criar todo um aparato normativo e
não possuir um poder que zelasse pela sua efetividade. Então, os tratados
constitutivos da União Europeia criaram um verdadeiro Poder Judiciário.
Importante destacar que esta jurisdição possui caráter supranacional para a
solução dos conflitos e controvérsias que envolvem o Direito Comunitário. Logo,
verifica-se que a União Europeia rompe com a ideia de “soberania”, uma vez que
antes a atividade da aplicação definitiva do Direito era exclusiva do Estado e agora,
passa a ser realizada também por euromagistrados – juízes não estatais que
aplicam um Direito sem Estado. Ou seja, os Estados “abrem mão” de parte de sua
soberania para fazer parte da Comunidade Europeia, sujeitando-se, portanto, a
seus regramentos e sua jurisdição.
Pode-se dizer de maneira genérica que a função do TJUE é processar e
julgar conflitos regidos pela legislação comunitária, bem como anular qualquer ato
incompatível com os Tratados Fundamentais. O TJUE vela para que a legislação
comunitária seja aplicada e interpretada da mesma forma em todos os Estados-
Membros, de modo a garantir que as instituições e os países da UE respeitem o
ordenamento jurídico.
O TJUE possui três jurisdições: o Tribunal de Justiça, o Tribunal Geral
(Tribunal de Primeira Instância) e o Tribunal Civil (Tribunal da Função Pública).
Salienta-se que não se trata de três Tribunais, mas sim de seções jurisdicionais
especializadas, uma vez que TJUE é único.
2.1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA
O Tribunal de Justiça é composto por 28 juízes (2015), 9 Advogados-Gerais,
que possuem função de assistência, e 1 Secretário. Os juízes e os Advogados são
designados pelos governos dos Estados-Membros. Os seus mandatos são de 6
anos, renováveis.
O Tribunal de Justiça pode funcionar em Tribunal Pleno, em Grande Sessão
(quinze juízes) ou em sessões de cinco ou de três juízes.
O TJ é competente para apreciar matérias conjuntamente aos tribunais
nacionais; reenvio prejudicial; processos por infração, recursos de anulação, ações
por omissão, recursos de decisões do Tribunal Geral, Revisão das decisões do
Tribunal da Função Pública, dentre outras.
Jurisprudência:
1963 – Princípio do efeito direto do Direito Comunitário nos Estados-
Membros;
Permite aos cidadãos europeus invocar diretamente disposições do direito
da União perante os órgãos jurisdicionais nacionais.
Caso concreto: Uma importadora de mercadorias da Alemanha devia pagar
direitos aduaneiros que considerava contrários à disposição do Tratado da
Comunidade Econômica Europeia, que proíbe os Estados-Membros de
aumentarem os direitos aduaneiros nas suas relações comerciais mútuas.
Ou seja, existia um conflito entre uma legislação nacional e as disposições
do Tratado CEE.
A questão foi levada ao Tribunal de Justiça, que decidiu afirmando o
princípio do efeito direto, conferindo assim à importadora uma garantia direta dos
seus direitos ao abrigo do direito comunitário perante o órgão jurisdicional nacional.
1964 – Primado do Direito Comunitário sobre o direito interno
Nesse processo, um órgão jurisdicional italiano tinha questionado ao Tribunal
de Justiça se a lei italiana de nacionalização do setor da produção e da distribuição
de energia elétrica era compatível com um certo número de disposições do Tratado
CEE. O Tribunal de Justiça introduziu o princípio do primado do direito comunitário,
com fundamento na especificidade da ordem jurídica comunitária, que deve ser
aplicada de modo uniforme em todos os Estados-Membros.
1991 – Responsabilidade de um Estado-Membro por danos sofridos a
particulares em consequência do não cumprimento do Direito Comunitário (ação de
indenização).
Desde 1991, os cidadãos europeus podem intentar uma ação de indenização
contra o Estado que tenha violado uma disposição comunitária.
Caso concreto: dois cidadãos italianos, a quem os respectivos empregadores
em situação de falência deviam remunerações, tinham intentado ações em que
invocavam a omissão do Estado italiano, que não tinha transposto as disposições
comunitárias de proteção dos trabalhadores em caso de insolvência da entidade
patronal. Chamado a pronunciar-se por um tribunal italiano, o Tribunal de Justiça
indicou que a diretiva em questão visava conferir aos particulares direitos de que
estes tivessem sido privados em consequência da omissão do Estado em transpor
a diretiva, facultando assim a esses particulares a possibilidade de intentarem uma
ação de indenização contra o próprio Estado.
O Tribunal de Justiça na vida do cidadão europeu:
Importante destacar que atualmente as decisões do TJUE não possuem
influência apenas no âmbito político e econômico, mas também na vida de cada
cidadão da União Europeia. Dentre as prerrogativas conferidas ao cidadão, tem-se:
a livre circulação de mercadorias, livre circulação de pessoas, livre prestações de
serviços, igualdade de tratamento e direitos sociais, direitos fundamentais e
Cidadania da União.
Sobre a livre prestação de serviços, o TJUE foi chamado a pronunciar-se
pelos órgãos jurisdicionais luxemburgueses. Nesse caso, a legislação nacional
recusou a um beneficiário da segurança social o reembolso das despesas de um
tratamento dentário com o fundamento de que foi efetuado noutro Estado-Membro.
Foi levada a questão ao TJUE e este entendeu que tal ato constitui um entrave
injustificado à livre prestação de serviços (acórdão Kohll, 1998).
Acerca da igualdade de tratamento e direitos sociais, é válido citar o caso de
uma comissária que tinha intentado uma ação contra a sua entidade patronal em
razão de uma discriminação na remuneração relativamente aos seus colegas do
sexo masculino que efetuavam o mesmo trabalho. Chamado a conhecer do
processo por um tribunal belga, o Tribunal de Justiça declarou, em 1976, que a
disposição do Tratado que impunha o princípio da igualdade de remunerações
entre trabalhadores femininos e masculinos pelo mesmo trabalho tinha efeito direto
(acórdão Defrenne). Mesmo raciocínio se deu no caso de demissão de uma
empregada grávida.
Quanto aos direitos fundamentais, estes passaram a ter maior evidência a
partir dos anos 2000, pois é neste período que percebe-se uma maior atenção na
jurisprudência comunitária sobre o tema, de modo que o TJUE contribuiu de forma
considerável para o aumento dos níveis de proteção desses direitos.
Por fim, sobre a cidadania, o Tribunal de Justiça confirmou a cidadania da
União, que, segundo o Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia, é um
direito reconhecido a qualquer pessoa que tenha a nacionalidade de um Estado
Membro.
2.2 TRIBUNAL GERAL OU TRIBUNAL DE PRIMEIRA INSTÂNCIA
Em 1989 foi associado ao Tribunal de Justiça o Tribunal Geral, que é um
tribunal de instância inferior. Ou seja, parte da competência do TJ foi transferida ao
TPI, tendo em vista a necessidade de especializar a jurisdição em razão da grande
demanda jurídica.
O Tribunal Geral é composto por 28 juízes (2015) e 1 Secretário. Os juízes
são nomeados pelos governos dos Estados-Membros. Os seus mandatos são de 6
anos, renováveis.
Nesta jurisdição não há a figura do Advogado-Geral, mas a sua função pode
ser confiada, excepcionalmente, a um juiz.
O Tribunal Geral pode funcionar em Grande Sessão (quinze juízes), sessões
de três ou cinco juízes, bem como por um juízo monocrático.
É competente para apreciar recursos de anulação interpostos pelas pessoas
singulares ou coletivas contra determinados atos das instituições, dos órgãos ou
dos organismos da União Europeia; ações e recursos interpostos pelos Estados
Membros contra a Comissão; ações que tenham por objeto a reparação dos danos
causados pelas instituições, órgãos ou organismos da União Europeia ou seus
agentes (ações de indenização); ações e recursos baseados em contratos
celebrados pela União Europeia, que prevejam expressamente a competência do
Tribunal Geral; recursos, limitados às questões de direito, das decisões do Tribunal
da Função Pública; recursos interpostos das decisões da Agência Europeia dos
Produtos Químicos, dentre outros.
2.3 TRIBUNAL DA FUNÇÃO PÚBLICA
Em 2005 foi criada uma seção jurisdicional especializada, o Tribunal da
Função Pública.
O Tribunal da Função Pública é composto por 7 juízes nomeados pelo
Conselho e 1 secretário nomeado pelos juízes. Os seus mandatos são de 6 anos,
renováveis.
O TFP pode funcionar em sessões de cinco ou de três juízes.
O tribunal em tela é competente para conhecer em primeira instância dos
litígios entre a União Europeia e os seus agentes. Estes litígios têm por objeto não
só questões relativas às relações laborais propriamente ditas (remuneração,
evolução da carreira, recrutamento, medidas disciplinares, etc.), mas igualmente ao
regime de segurança social (doença, velhice, invalidez, acidentes de trabalho,
abonos de família, etc.);
Também lhe compete apreciar litígios relativos a determinadas categorias de
pessoal, designadamente o pessoal do Eurojust, do Europol, do Banco Central
Europeu, do Instituto de Harmonização no Mercado Interno (IHMI) e do Serviço
Europeu para a Ação Externa.
3 INTRUMENTOS PROCESSUAIS COMUNITÁRIOS
O Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias foi dotado de
competências jurisdicionais com o intuito de assegurar o respeito ao Direito
Comunitário e a missão institucional.
A organização internacional Europeia possui, além de outras inovações
estruturais, um ordenamento jurídico próprio, que se sobrepõe às ordens
normativas dos Estados nacionais, com a vigência de normas e princípios próprios,
que norteiam o direito comunitário, assim como mecanismos processuais que
procuram garantir a correta observância das regras comuns.
A Ação por Descumprimento ou Ação de Violação do Tratado prevista
nos artigos 226 a 228 do Tratado instituído pela Comunidade Europeia, tem como
objeto a tutela do cumprimento das respectivas obrigações comunitárias pelos
países membros.
Pode ser interposta quando algum Estado descumprir certa obrigação
instituída pelo tratado comunitário. A legitimação para propor pertence
primeiramente à Comissão Europeia, mas também a qualquer um dos Estados
membros.
A Comissão deve primeiro conceder a oportunidade geralmente num prazo
de dois meses para o Estado violador retificar ou justificar sua conduta,
assegurando-lhe o contraditório, caso contrario a ação pode ser proposta quando
as explicações fornecidas não forem satisfatórias.
A partir desse momento o Tribunal de Justiça emite uma sentença que
declara o Estado membro como infrator, no qual acaba por ter que cumprir certas
determinações. Caso essas determinações não sejam cumpridas a Corte
Comunitária pode impor uma sanção pecuniária, fixa ou progressiva. A
responsabilidade do Estado membro é tipo objetiva.
O Recurso de Anulação ou Ação de Nulidade prevista no artigo 230 do
Tratado instituído pela Comunidade Europeia assegura-se aos Estados, ao
Conselho, à Comissão, ao Tribunal de Contas, ao Banco Central e ao próprio
Parlamento Europeu a possibilidade de contatar o Tribunal de Justiça para que se
anule, no todo ou em parte, alguma disposição comunitária produzida por qualquer
órgão da União com desrespeito à sua competência, a formalidades prescritas ou a
norma superior ou ainda ao desvio de poder.
Esse instrumento também pode ser usado por particulares (pessoas físicas
ou jurídicas) com a intenção de obter a anulação de atos jurídicos comunitários que
os atinjam de forma ilegal, direta e individual.
É restringido a legitimidade do particular para impugnar atos de comunitários
de natureza normativa, por exemplo o cidadão carece que capacidade processual
ativa para pugnar pela cassação de norma comunitária que não o afete direta ou
individualmente.
Sendo julgado procedente, o Recurso de Anulação tem validade ex tunc,
retroagindo até as origens do ato ilegal, e efeito erga omnes, não se limitando
somente às partes do processo.
O fundamento pode ser: incompetência, violação de formalidades essenciais,
violação dos tratados constitutivos ou das regras comuns, ou desvio de poder,
dependendo de cada caso e da espécie de ato a ser desrespeitado.
O Recurso por Omissão, Ação de Inatividade ou Recurso por Carência previsto no artigo 232 do Tratado que institui a Comunidade Europeia é cabível nas
situações de inércia do Conselho, do Parlamento ou da Comissão, quando haja
uma abstenção da sua obrigação de agir ou de se pronunciar em determinado
caso.
É permitido assim ao Tribunal de Justiça controlar a legalidade da inércia de
instituições comunitárias.
É concedida aos Estados membros, a toda instituição comunitária e a
qualquer pessoa física ou jurídica a legitimidade para provocar a Corte.
Esse recurso só é admitido quando mesmo a Instituição sendo convidada a
agir, não tiver tomado posição, após um prazo de dois meses.
A Ação de Indenização prevista no artigo 253 do Tratado de Roma é o meio
processual de que se vale o Tribunal de Justiça para, mediante provocação,
determinar a responsabilidade extracontratual (objetiva) da Comunidade pelos
danos causados por agentes ou instituições.
Os legitimados são: pessoas físicas e jurídicas, os Estados membros e as
mesmas pessoas cujo domicilio não se ache na União Europeia.
O Recurso Ordinário é o apelo dirigido ao Tribunal de Justiça das
Comunidade Europeias, limitado a questões de direito, contra acórdãos proferidos
pelo Tribunal de Primeira Instancia.
Propicia a análise da decisão proferida pelo Tribunal de Primeira Instância,
visando a sua modificabilidade.
São decisões: que colocam termo à instância, as que somente julgam o
mérito parcialmente e as que finalizam um incidente processual de uma exceção de
incompetência ou colocam termo a uma questão de admissibilidade, podendo o
recurso ser interposto no prazo de 2 meses, a partir da notificação da decisão
possível de reforma.
Legitimidade ativa: qualquer dos sujeitos processuais que sofreram a
sucumbência, total ou parcial. Quanto às pessoas físicas ou jurídicas, estas devem
comprovar que a decisão objeto de recurso os afetou diretamente.
Além disso, também são partes legítimas os Estados membros e as
instituições comunitárias que não interviram na lide, igualando-se, nesse caso, às
partes processuais, exceto em situações relativas a causas entre os Estados e
seus agentes.
O recurso ordinário deve ser limitado às questões de direito tratadas na
decisão do litígio pelo Tribunal de Primeira Instância, podendo ter como
fundamentos a incompetência deste órgão jurisdicional, as irregularidades do
processo prejudiciais ao interesse da parte recorrente, e a violação da ordem
jurídica comunitária pelo órgão julgador.
No julgamento do recurso ordinário, se o Tribunal entender pela sua
procedência, anula o acórdão do Tribunal de Primeira Instância, podendo decidir a
lide definitivamente, ou remeter o processo ao Tribunal de Primeira Instância, a fim
de ser julgado, ficando, essa instituição, vinculada a solucionar as questões de
direito analisadas no acórdão do Tribunal de Justiça.
Por fim a Questão Prejudicial ou Reenvio Prejudicial previsto no artigo
234 do Tratado que institui a Comunidade Europeia com o intuito de evitar
disparidades interpretativas entre tantos operadores jurídicos.
Trata-se de um instrumento jurídico processual de suma importância e com
um importante papel de homogeneização da hermenêutica e aplicação do Direito
Comunitário, a fim de evitar conflitos entre interpretações divergentes pelos
inúmeros órgãos jurisdicionais nacionais, através de um dialogo entre juízes
nacionais e os magistrados do Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias.
A legitimidade é exclusiva dos tribunais e juízes nacionais, desde que esteja
presente alguma causa que diga respeito ao Direito Comunitário e haja uma duvida
do juiz ou do tribunal nacional acerca da interpretação do Direito originário ou sobre
a validade dos atos de Direito derivado.
Diante do não cumprimento da obrigação de formular a questão Prejudicial, a
parte prejudicada pode valer-se de três remédios:
a) Interpor uma Ação de Descumprimento do Tratado, junto ao TJCE contra
o Estado membro.
b) Propor recurso à Corte Constitucional Nacional, por vulneração a direito
fundamental referente a tutela jurisdicional efetiva e prestada pelo juiz natural.
c) Recorrer ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos.
4 JURISDIÇÃO COMUNITARIA E JURISDIÇÃO NACIONAL
O Estado ao ceder ou delegar em parte o poder absoluto da soberania aos
órgãos comunitários esta integrado ao uma ordem jurídica comunitária que
frequentemente entra em conflito com o direito nacional.
Essa transferência parcial e flexibilização da soberania possui como causa o
fenômeno da globalização e os estreitamentos das relações internacionais. Com
isso, a tentativa de uma compatibilização de entre normas internacionais e
nacionais.
Essas normas comunitárias possuem autonomia como fundamento. São
elaboradas, por instituições próprias da União Europeia, em que não há
participação e dependente dos órgãos políticos de cada Estado Membro.
Estas normas são integradas à ordem jurídica nacional, valendo como norma
nacional, não havendo hierarquia sobre as normas nacionais, apenas uma
prevalência ao direito comunitário.
Não se resolve a questão do conflito de normas pela hierarquia, cronologia
ou especialidade das normas, em relação ao direito comunitário. Mesmo quando da
existência desses quesitos, a primazia do direito comunitário autoriza ser declarada
nula ou inexistente frente ao ordenamento jurídico do Estado Membro.
Cabe ressaltar que mesmo preponderante, a eficácia da lei comunitária é
autônoma em cada Estado Membro. No entanto, pelo princípio da preponderância
do direito comunitário, pode ser aplicado integralmente nos seus conteúdos e deve
ser tratamento uniforme pelos órgãos jurisdicionais.
No entanto, para fins de aplicar em primeiro plano a norma comunitária, o
direito comunitário, ao presenciar um conflito normativo, utiliza-se de princípios
comunitários. Dentre eles, cumpre ressaltar o Princípio da Efetividade que garante
a primazia do Direito Comunitário e Uniformidade de Aplicação, os quais serão
expostos separadamente.
O Direito Comunitário esta apoiado no princípio da Efetividade, que o
impulsiona para o efeito útil diante dos Estados Membros. Em que todo o conjunto
normativo está voltado para uma plena eficácia e realização dos objetivos
comunitários.
Então se subdivide o direito da Efetividade, por seu conceito mais amplo, em
ramos, a fim de distintos de analise do objeto. Com isso, separa-se em
subprincípios do efeito direto, prevalência na aplicação do direito comunitário e
uniformidade na aplicação.
Em relação ao princípio do efeito direto da norma, cumpre salientar a
possibilidade de leis comunitárias serem invocado em juízo pelos particulares
perante o judiciário nacional, ou contra o Estado, caracterizado por um efeito direto
vertical, ou contra outros particulares, efeito horizontal.
Em relação à União Europeia, o artigo 25, da Tratado da União Europeia
positiva que norma comunitária produz efeitos imediatos e atribui direitos individuais
que os órgãos jurisdicionais nacionais devem tutelar.
No entanto, ressalta-se que é necessário que essas normas comunitárias
sejam claras, precisas e incondicionadas, condição essas que permitem que
invocadas em nacional.
Menciona-se também o artigo 249 do Tratado, o caráter imperativo da norma
constitucional frente ao Estado, conforme segue:
A diretiva obrigará o Estado membro destinatário enquanto o resultado deva conseguir-se, deixando, sem embargo, às autoridades nacionais a eleição da forma e dos meios.
Com isso, verifica-se a aplicação do princípio do efeito direito na
Comunidade Europeia, em sua prevalência. Em que é do Tribunal de Justiça da
União a competência para determinar se uma norma comunitária especifica possui
ou não efeito direito ao Estado Membro.
Tal analise é realizada, e deferida quanto ao efeito direito quando o seu
conteúdo seja claro, preciso, sem qualquer margem de interpretação.
Em relação à primazia do direito comunitário frente ao direito nacional, deve
operador do direito local, aplicar o Direito Comunitário, mesmo sendo originário ou
derivado em detrimento ao nacional.
Tal princípio tem finalidade de garantir a plena eficácia do Direito
Comunitário, ainda que eventualmente isso possa implicar na não aplicação de
normas nacionais, quando da ocorrência de um conflito normativo.
Tal entendimento está pacificado pelo Tribunal de Justiça Europeu que utiliza
de sua competência para fazer o controle da primazia do direito comunitário.
Contudo, cumpre salientar que a eficácia das normas comunitárias nos
Países Membros se dá de forma diferente. Na Holanda, é consagrado o primado
das normas comunitárias com força vinculativa geral emanada de organizações
internacionais, ou seja, quando da data de vigor de uma norma comunitária, esta
passa a ser utilizada pelos órgãos nacionais. Já Portugal, fiscaliza a
constitucionalidade de qualquer norma vigente ordenamento jurídico nacional,
mesmo que comunitária.
No entanto é errado trazer a questão da hierarquia e competência frente ao
conflito de norma nacional e comunitária, pois não há uma prévia distribuição de
matérias entre os ramos.
Ocorre sim uma prevalência do direito comunitário quando de há uma
conflito de normas, em que se as nacionais violem disposições comunitárias
contrariam, ao mesmo tempo, o disposto no Texto constitucional. Por conseguinte,
não podem ser aplicadas.
O princípio da primazia do Direito Comunitário é absoluto e incondicional, ou
seja, dada situação fática o juiz nacional deixa de aplicar, por sua própria
autoridade, a Lei nacional que contrarie o Direito Comunitário, pois não o fazendo
esta contrariando o Tribunal de Justiça da União Europeia.
Por fim, ressalta-se quando da existência de conflito de normas nacionais e
comunitárias, a fim da efetiva aplicação do direito comunitário em todos os Estados
Membros deve ter como principio a Uniformização da aplicação do Direito
Comunitário.
Sabe-se que os diversos países, possuem experiências culturais distintas, o
que pode ensejar numa interpretação errônea da real intenção do legislador. Com
isso, através do princípio deve ser aplicado da mesma forma e com o mesmo
sentido em qualquer Estado membro, ainda que as realidades jurídicas e
econômicas nacionais sejam diferentes.
Tal controle é realizado pelo Tribunal de Justiça da EU, por meio do
mecanismo do reenvio prejudicial ou das questões prejudiciais o qual já fora
abordado no presente trabalho.
Por fim, a Unidade do Direito Comunitário esta ligada diretamente pela forma
em que a norma comunitária se insere no ordenamento nacional. Ocorre-se falha
na adaptação da normativa local, ocorrerão conflitos entre normas. Com isso
através dos princípios comunitários, se faz o controle a aplicação primeira do direito
comunitário em relação do direito nacional, devido a cessão parcial da soberania do
Estado frente à Comunidade.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se, portanto, que como qualquer ordem jurídica, o direito comunitário
possui instrumentos normativos e institucionais que visam efetivar o seu aparato
normativo, de modo que se pode dizer que o poder que rege as situações, conflitos
e relações da União Europeia, configura um verdadeiro Poder Judiciário, que atua
através do Tribunal da Justiça da Uniao Europeia.
REFERÊNCIAS
FILHO, Marcílio Toscano Franca Filho. Introdução ao Direito Comunitário.
São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002.
LOBO, Maria Tereza de Cárcomo. Manual de Direito Comunitário. 3 ed.
Curitiba: Juruá, 2007.
_____. Tribunal de Justiça da União Europeia.
<http://curia.europa.eu/jcms/jcms/j_6/>