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ASMA
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA
INTERNATO EM PEDIATRIA
Internas:Fernanda AragãoAmanda Almeida
Coordenação: Carmen Lívia
27 de agosto de 2014
+Definição
Doença inflamatória crônica das vias aéreas, na qual muitas células e elementos celulares têm participação. A inflamação está associada à hiper-responsividade das
vias aéreas. Tais episódios são consequência da obstrução ao fluxo
aéreo intrapulmonar generalizada e variável, reversível espontaneamente ou com tratamento.
+ Epidemiologia
No mundo, acomete 300 milhões de pessoas. 20 milhões somente no Brasil. Em 2011, 160 mil hospitalizações (de todas as idades)
registradas no DATASUS. Os casos de asma não controlada causam o dobro dos
gastos na utilização de serviços de saúde e medicações.
+ Etiologia
Vários fatores associados: ambientais, ocupacionais e individuais (genéticos).
Os principais fatores externos: Inaláveis (substâncias do corpo e ácaros domésticos;
antígenos fúngicos, de insetos e de animais domésticos, polens).
Vírus sincicial respiratório (VSR) nos primeiros anos de vida. Poluentes ambientais como a fumaça de cigarro, gazes e
poluentes particulados em suspensão no ar, como as partículas provenientes da combustão do óleo diesel.
+ Etiologia
Genética: Mais de 30 genes identificados. Mais de 22 loci no cromossomo autossômico 15.
Crianças do sexo masculino têm risco 2 vezes superior de desenvolver asma.
+
Fisiopatologia - < http://juniormemberssiaip.wordpress.com/2013/05/29/il-potenziale-dei-farmaci-biologici-nel-trattamento-dellasma/ >
+ Tipos de Asma Sibilância Recorrente:
Pré-escolar. Desencadeada por infecções virais comuns no trato respiratório.
Asma Crônica: Associada à alergia. Hipersensibilidade a poluentes comuns do ar. Exposições “ocupacionais” (animais domésticos, fazenda). Persiste durante a idade escolar e frequentemente até a idade
adulta.
Asma típica do sexo feminino quando desenvolvem obesidade e puberdade precoce.
Por volta dos 11 anos.
+Manifestações Clínicas
Tosse seca intermitente e/ou sibilância. Em crianças maiores dispneia e pressão no peito
associados. Crianças menores “dor” no tórax não localizada. Sintomas podem piorar à noite. Sintomas diurnos associados a atividades bem
frequentes.
+Diagnóstico Quadro clínico. Associação com atividades. Contato com alérgenos/irritantes. Perguntar sobre experiência prévia com
broncodilatadores. Melhora rápida (em 10 minutos) ou convincente dos
sintomas com o uso de broncodilatadores (ex. salbutamol).
História de outras doenças alérgicas (rinite alérgica, conjuntivite alérgica, dermatite atópica...).
HF de asma.
+ Índice Preditivo de Asma
Critérios MAIORES Critérios menoresAsma nos pais Rinite alérgicaEczema Sibilância não associada a
resfriadoSensibilização a aeroalergenos Eosinofilia ≥ 4%
Sensibilização a alérgenos alimentares
+Diagnóstico Exame físico: Pode ser assintomático na consulta ambulatorial. Quando sintomático:
Tosse seca persistente. Sibilância. Fase expiratória prolongada. ↓ MV (+ comum no lobo posterior inferior direito). Estertores creptantes (ou subcreptantes) e roncos. Dispneia e esforço respiratório com retrações supra-
esternais e intercostais, batimento da asa do nariz e uso de musculatura acessória.
+Diagnóstico – Exames Complementares
Testes de função pulmonar Medidas de fluxo expiratório forçado – monitorizar e avaliar eficácia terapêutica.
ESPIROMETRIA Medida objetiva da limitação do fluxo aéreo. Estabelece o diagnóstico, documenta a gravidade da
obstrução e monitora o curso da doença e as modificações decorrentes do tratamento.
Crianças > 6anos (manobra expiratória prolongada forçada).
Normalidade não exclui doença.
+Diagnóstico – Exames Complementares
ESPIROMETRIA Asma redução do fluxo aéreo com a expiração e dos
volumes pulmonares expiratórios parciais. Relação VEF1/CVF < 0,80 obstrução significativa do
fluxo aéreo. Valores normais de VEF1 estipulados via estatura, gênero
e raça das crianças. VEF1 < 80% (asma moderada) e VEF1 < 60% (asma
grave). VEF1 ≥ 12% ou ≥ 200ml de seu valor pré-
broncodilatadorOU 200ml de seu valor pré-broncodilatador e 7% valor
previsto.
+Diagnóstico – Exames Complementares VERIFICAÇÃO HIPER-REATIVIDADE
Otimizar controle. Pacientes com espirometria normal ou sem resposta
broncodilatadora significativa. Resultado negativo + indivíduos sintomáticos exclui asma. Resultado positivo avaliar outras doenças (como rinite).
TESTES COM SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS Substâncias broncoconstritoras (matacolina, histamina,
carbacol).
PROVOCAÇÃO COM EXERCÍCIO Esforço aeróbico ou corrida 6-8min. Piora ≥ 15% VEF1.
+Diagnóstico Crianças < 5 anos As manifestações clínicas mais sugestivas de asma são:
Episódios frequentes de sibilância (mais de uma vez por mês).
Tosse ou sibilos que ocorrem à noite ou cedo pela manhã, provocados por riso ou choros intensos e exercício físico.
Tosse sem relação evidente com viroses respiratórias.
Presença de atopia (especialmente rinite alérgica ou dermatite atópica).
HF de asma e atopia.
Boa resposta clínica a b2-agonistas inalatórios, associados ou não a corticoides orais ou inalatórios.
+ Classificação de Gravidade
Classificação Dias com sintomas
Noites com sintomas
Persistente grave Contínua FrequentesPersistente moderada
Diária > 1/semana
Persistente leve > 2/semana, mas < 1x/dia
> 2/mês
Intermitente ≤ 2/semana < 2/mês
Refere-se à intensidade de tratamento requerido para o devido controle da doença.
Tem que se excluir comorbidades de base, mau uso de medicações e má adesão ao tratamento.
+Manejo Ambulatorial Tratamento deve ser ajustado de acordo com o estado
de controle. Se a asma não estiver controlada com o tratamento
atual subir uma etapa até que o controle seja alcançado.
Controle manter pelo menos três meses. Medicamentos podem ser reduzidos para minimizar
custos e diminuir possíveis efeitos colaterais. Tratamento deve ser ajustado periodicamente em
resposta a uma perda de controle.
+Manejo Ambulatorial Componente 4: prevenção e controle riscos futuros.
Componente 5: situações especiais. Rinite, sinusite, pólipos nasais, refluxo gastroesofágico...
+Exacerbações
Evento temido- grande morbidade Manutenção do controle da asma reduz o risco de
exacerbações e de óbito Maioria não está adequadamente controlada agudizações
Maioria ocorrem de forma gradual, com deterioração clínica progressiva em um período de 5-7 dias
Causas mais comuns: Infecções virais Exposição a alérgenos ambientais Poluição ambiental Exposição ocupacional Exposição a drogas, (AINEs)
+ Escolar de 9 anos, com diagnóstico de asma é atendido
na emergência, com história de tosse seca e dificuldade para respirar há 4 horas. Ao exame, apresenta estado geral regular, não consegue falar frases completas. Encontra-se com taquidispneia moderada, tiragens subcostais, sibilos expiratórios difusos, frequência respiratória de 25 irpm, saturação de O2 92%, pico de fluxo expiratório com queda de 50% do basal e taquicardia (120bpm).
Crise de asma grave!
+ Exacerbações Atendimento inicial
Avaliação clínica deve ser rápida e objetiva Medidas seriadas PFE pouca confiabilidade em crianças e
adolescentes Dispneia prejudica a manobra esforço-dependente
Oximetria de pulso Avaliação acurada da gravidade Nunca interpretar isoladamente
Exames complementares não são necessários na maioria dos casos
+ Principais indicações de exames complementares
Avaliação do diagnóstico diferencial Presença de comorbidades Presença de complicações
+ Identificação de risco de evolução quase fatal/ fatal em menores de cinco anos Atenção especial
Idade inferior a 12 meses Doses repetidas e não usuais de β2-agonistas de curta ação
nas primeiras horas após a instalação da crise Recidiva abrupta do quadro clínico apesar de tratamento
adequado
+ Identificação de risco de evolução quase fatal/ fatal em menores de cinco anos A asfixia é a principal causa de óbito
Doença mal controlada Tratamento precário (uso inadequado de CI) Subestimação da gravidade da doença
A minoria dos óbitos ocorrem de forma súbita em indivíduos sem doença grave
+ Manejo das exacerbações nos serviços de urgência
Tratamento baseado Quadro clínico Sempre que possível: avaliação objetiva da limitação ao
fluxo aéreo (espirometria ou PFE) Oximetria de pulso
+ Manejo das exacerbações nos serviços de urgência
Oxigenoterapia Crianças: meta é manter a SpO2 ≥ 94-95%. Escolha do sistema
Disponibilidade de equipamentos no serviço Baseada no grau de hipoxemia, nos sinais clínicos de
disfunção respiratória e na adaptação/ conforto do paciente
+ Manejo das exacerbações nos serviços de urgência
Broncodilatadores de curta ação Medida inicial de tratamento Indicada mesmo nas exacerbações graves Administração de doses repetidas de β2-agonistas por via
inalatória, a cada 10-30 minutos na primeira hora Eficácia semelhante
Inalador pressurizado acoplado a espaçador, valvulado ou não valvulado
Nebulizadores (medicamento veiculado em 3-4ml de solução salina, com fluxos de 6-8L de oxigênio) Água destilada não deve servir como veículo risco de
agravamento e até mesmo óbito nas exacerbações
+ Manejo das exacerbações nos serviços de urgência
Broncodilatadores de curta ação Ausência de resposta ao tratamento usual considerar o
uso de nebulização contínua Salbutamol intravenoso
Indicado para crianças sem resposta ao uso da via inalatória
Infusão em bolus Pode ser administrada conjuntamente à terapêutica
convencional inalatória
+ Manejo das exacerbações nos serviços de urgência
Corticoides Sistêmicos
Essenciais no tratamento da exacerbação Devem ser usados precocemente Reduzem a inflamação, aceleram a recuperação, reduzem
recidivas e hospitalizações e diminuem o risco de asma fatal.
Uso oral x intravenoso Efeito clínico equivalente Não há evidências para utilização dos CI em
substituição aos orais ou parenterais
+ Manejo das exacerbações nos serviços de urgência
Drogas alternativas Brometo de ipratrópio
Exacerbações mais graves Pode ser administrado em doses repetidas,
conjuntamente ao β2-agonista de curta ação por nebulização ou por inalador pressurizado
Seus benefícios clínicos são mais marcantes na abordagem inicial do tratamento das exacerbações Parece diminuir a necessidade de admissão hospitalar
+ Manejo das exacerbações nos serviços de urgência
Drogas alternativas Sulfato de magnésio
Exacerbações muito graves, sem resposta ao tratamento usual
EA: fraqueza, arreflexia e depressão respiratória
Aminofilina Não tem indicação como tratamento inicial Crises refratárias ao tratamento convencional: considerada
adjuvante. Estreita faixa terapêutica, alta frequência de interações
medicamentosas EA: cardiovasculares, neurológicos e gastrointestinais
+ Avaliação da resposta ao tratamento
Reavaliação em 30-60 min após o tratamento inicial Reclassificação da gravidade
Atenção ao quadro clínico das crianças Sinais clínicos não se correlacionam bem com a intensidade
da obstrução das vias aéreas. Melhor correlação com gravidade é a SpO2.
Persistência de SpO2 < 92% após tratamento inicial com broncodilatador hospitalização.
+ Avaliação da resposta ao tratamento
Boa resposta ao tratamento, sem sinais de gravidade, com SpO2 > 95% e que atingiram PFE ou VEF1 ≥ 70% do valor previsto domicílio
Critérios clínicos de maior gravidade (SpO2 < 92%, valores de PFE ou VEF1 ≤ 50% do previsto após tratamento rotineiro pleno na emergência ou alguma complicação) hospitalização
Os critérios de internação devem ser menos rígidos para os pacientes com problemas socioeconômicos
+ Tratamento na unidade de internação
Revisar potenciais fatores desencadeantes Aspectos relacionados ao controle ambiental Hábitos de vida (tabagismo passivo)
Corrigir e revisar o plano terapêutico Estabelecer um plano de ação
Correta orientação quanto à piora dos sintomas ou dos testes funcionais.
+ Conduta na alta dos serviços de urgência
Pacientes em condições de alta devem ser orientados Iniciar ou manter medicação preventiva por via inalatória
A introdução de CI na alta reduz a recidiva das crises Revisão da posologia e da técnica de uso dos dispositivos
inalatórios Usar prednisona ou prednisolona, salvo exacerbações muito
leves 1 mg/kg/dia (máximo, 60 mg/dia), preferencialmente pela
manhã, por 5-10 dias Encaminhamento para programas de educação em asma
ou para consulta médica em até 7 dias após a alta
+ Transferência para UTI
Indicações: Necessidade de ventilação mecânica Parada cardiorrespiratória Hipercapnia, acidose (pH < 7,30) ou hipoxemia Níveis elevados de lactato sérico Hipotensão arterial ou arritmias cardíacas graves Persistência dos sinais e sintomas de gravidade a despeito
do tratamento adequado Necessidade de monitorização acurada em função da
gravidade da doença ou do tratamento a ser utilizado
Evolução para insuficiência
respiratória e a consequente
necessidade de suporte ventilatório é a etapa mais crítica de
uma exacerbação muito grave.
+ Casos Clínicos em PediatriaCaso Clínico 20
Um menino de 10 anos de idade com desconforto respiratório chega tarde da noite ao serviço de emergência. Ele apresenta uma história de 2 horas de taquipneia e queixa-se de dor no peito. A mãe fizera-lhe duas nebulizações, sem melhora. Ela conta que é a terceira vez em 1 mês que ele necessita comparecer ao serviço de emergência por sintomas semelhantes. Seu exame físico revela um paciente afebril, com FR:60irpm e FC:120bpm. Você percebe que o pulso dele varia em amplitude com a respiração. A pressão arterial aferida está normal, mas o enchimento capilar está um pouco lento, entre 1-2 segundos. Ele está pálido, apresenta redução do nível de consciência, cianose perioral e está utilizando musculatura acessória para respirar. A ausculta torácica revelou apenas sibilos fracos.
+ Casos Clínicos em PediatriaCaso Clínico 20
Quais são os passos iniciais na avaliação desse paciente?
O tratamento do desconforto respiratório é a preocupação imediata.
As vias aéreas são analisadas primeiro, segue-se a avaliação da respiração e por fim a avaliação da condição circulatória.
+ Casos Clínicos em PediatriaCaso Clínico 20
Qual o tratamento inicial? Administração de oxigênio, de um beta-agonista por
via inalatória e prednisona sistêmica. A administração intravenosa de líquidos e de
medicamentos é indicada para pacientes com esse grau de desconforto.
A determinação da gasometria arterial e a monitorização dos níveis de saturação de oxigênio ajudam a guiar as medidas terapêuticas adicionais.
+ Casos Clínicos em PediatriaCaso Clínico 20
Qual o próximo passo na avaliação? Após estabilização inicial, deverá ser obtida uma
história médica e familiar pregressa (medicamentos, fatores precipitantes, frequência e gravidade dos episódios anteriores, hospitalizações ou internações anteriores em unidades de cuidados intensivos) e realizada uma revisão dos sistemas.
O exame físico, o resultado da gasometria e a resposta aos tratamentos iniciais determinarão o tratamento subsequente.
+ Referências Bibliográficas
NELSON. Tratado de Pediatria - Richard E. Behrman, Hal B. Jenson, Robert Kliegman. 18ª Edição. Elsevier. 2009.
SBPT. Diretrizes para o manejo da asma. Jornal Brasileiro de Pneumologia. Vol 38. Abril de 2012.
TOY. Eugene C, et al. Casos Clínicos em Pediatria (Lange). 4ª edição. McGraw-Hill.2014.
< http://revista.hupe.uerj.br/detalhe_artigo.asp?id=202 > Acesso em 1/08/2014
+ Nota do Editor do site, Dr. Paulo R. Margotto
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