weber, max. economia e a sociedade, vol. 1. cap. 1

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WEBER, Max. Economiae-A Sociedade, Vol. 1. Cap. 1

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  • Capitulo I

    CONCEITOS SOCIOLOGICOS FUNDAMENTAlS

    Nora preliminar. 0 metodo destas deflni~oes conceituais lmrodut6rias, dlficilmente dlspen-saveis mas que inevitavelmente parecem abstratas e estranhas ~ realidade, nao pretende de mqdo algum ser algo novo. Ao comrarlo, apenas deseja formular de manelra mais adequad:i e um pouco mais correta (o que justamente por isso talvez pare

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    I. Fundamentos metodol6gicos

    1. "Semido" eo sentidosubjetivamente visado: a)na real ida de a, num caso historicam~me dado, por urn ageme, ou {3, em media e aproximadamente, numa quantidade dada de casos, pelos agemes, ou b) num tipo puro conceitualmeme, construido pelo agente ou pelos agemes concebidos como tlpicos. Nao se trata, de modo algum, de urn semido objetivameme "correto" ou de urn sentldo "verdadeiro" obtido por indaga~o metafisica. Nisso reside a diferen~a emre as dencias emp!ricas da a~ao, a Sociologia e a Hist6ria, e todas as ciencias dogmaticas, a jurispru dencia, a L6gica, a Etica e a Estetica, que pretendem investigar em seus objewsosentido "correto" e "valido".

    2. Os limites entre uma a

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    Ha ainda a possibilidade de que a investiga~:io futura descubra regularidadesmio suscetlveis de compreensao em comportamemos espedficos dotados de sentido, poe menos que isto tenha acontecido ate agora. Diferen~as na heran~a biol6gica (das "ra~as"), por exemplo, teriam de ser aceitas pela Sociologia como dados desde que e na medida em que se pudessem apresentar provas estat!sticas condudemes de sua influ~ncia sobre o modo de comportamemo sociologi-camente relevame - especialmente, portanto, sobre o modo como se da na a

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    8 MAX WEBER

    7. Denominamos "motivo" uma conexao de sentido que, para o pr6prio agente ou para o observador, constitui a "razao" de urn comportamemo quanto ao seu sentido. Denominam~ "adequado quanto ao sentido" urn comportamento que sedesenrola de maneira aniculada quan do afirmamos, conforme os habitos medios de pensar e sentir, que a relac;ao entre seus compo-nentes constitui uma conexao de semido tipica. (costumamos dizer "correta"). Ao comr~rio, e "causalmente adequada" uma sequencia de fenomenos na medida em que, segundo as regras da experiencla, existe a possibilidade de que se efetue sempre da mesma maneira. (Segundo essas defini

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    aqui ate que ponto, em outras disciplinas, esse tipo de considerac;ao funcional das "panes" de urn "todo" tern de ser (necessariameme) de carater definitive: e sabido que a Bioquimica e a Biomeclnica principalmeme nao poderiam comemar-se com tal considerac;ao. Para uma Sociologia Jnterpretativa, esse modo de exprimirse pode: 1)servir para fins de ilustra

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  • 14 MAX WEBER podem ser individuos e conhecidos ou uma multiplicidade indeterminada de pessoas completa mente desconhecidas ('dinheiro", por exemplo, significa urn bern destinado ~ troca, que o agente aceita no ato de troca, porque sua ac;ao esli orientada pela expectativa de que muitos outros, porem desconhecidos e em numero indeterminado, estarao dispostos a aceita-lo tambem, por sua parte, num ato de troca futuro)

    2. Nem todo tipo de a

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    destacada como tipo especial, embora, de resro, nao se pretenda dar aqui uma classificac;ao completa dos tipos de ayio

    4. Age de maneira racional referente a fins quem orienta sua ayio pelos fins, meios e consequencias secundarias, ponderando racionalmente tanto os meios em relayio as consequen-cias secundarias, assim como os diferentes fins possiveis entre si: isto e, quem nao age nem de modo afetivo (e particularmente nao-emocional) nem de modo tradlcional. A decisao entre fins e conseqiiencias concorrentes e incompariveis, por sua vez, pode ser oriemada radonalmente com referenda a valores: nesse caso, a a

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    e com urn entre muitos agentes, com sentido tipicamente homogeneo. Com estes tipos de curses das ac;6es ocupa-se a Sociologia, em oposi9io :\ Hist6ria, que trata da imputac;ao causal de conex6es singulares importames, isto e, relevantes para o destine [do ~mbito cultural de referencia (N. T. )].

    Denominamos uso a probabilidade efetivamente dada de uma regularidade na orientac;ao da ac;ao social, quando e na medida em que a probabilidade dessa regulari-dade, demro de determinado drculo de pessoas, esta dada unicamente pelo exercicio efetivo. Chamamos o uso cqswme, quando o exercicio se baseia no hibito inveterado. Dizemos, ao contra rio, que a regularidade e condicionada pela "siruat;ao de interesses" ('condicionada por interesses"), quando e na medida em que a probabilidade de sua existencia empirica depende unicamente de que os individuos orientem por expeccacivas suas ac;6es puramente racionais referemes a fins.

    1. 0 uso indui tambem a ' 'moda". Chamamos um uso "moda", em comraposi~o ao "costume", quando (em exata oposic;ao ao caso do costume) o fato da novidade de determinado comportamento e a fome da orienta

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    ou "violar" esse semido pode acuar a probabilidade em algum grau de sua vigencia (como norma obrigat6ria). Em primeiro Iugar, isso acomece de maneira purameme racional refereme a fins. 0 ladrao orienta sua aes. Para a Sociologia nao ha dificuldade em reconhecer a vigencia paralela de diversas ordens, concradic6rias entre si, no mesmo circulo de pessoas. Pois mesmo o individuo pode oriemar suas ac;oes por diversas ordens comradit6rias. E nao apenas sucessivameme, o que acomece todo dia, mas tambem demro de uma unica ac;ao. Uma pessoa envolvida num duelo orienta sua ac;ao pelo c6digo de honra, mas, ocultando essa a

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    como meio de garantir norma$ "mora is" de comporramento, e muito mais ainda a coac;ao psiquica exercida pelos meios disciplinares da Jgreja propriamente ditOS. Existe, porramo, urn "direito" hierocraticamente garantido do mesmo modo que urn "clireito" garantido politicameme ou pelos estatutos de uma associac;ao, ou pela autoridade domestica de cooperativas ou de uni6es. Segundo esta defini~ao do conceito, as normas estabelecidas para convivencia estudantil tambem consti-ruem "direito". 0 caso do 888, 2 da RZPO [Reichszivilprozessordnung, ordem de processos civis (N.T.)] (direitos inexecutaveis) evidentemente tern seu Iugar ali. As leges imperfectae e "obrigac;0es naturals" sao formas da linguagem juridica em que se expressam indirecamenre limites ou condic;Oes da aplica~ao da coac;lo juridica. Neste sentido, uma " norma das relac;Oes humanas" coativarnente estabelecida tambem constitui "direito" ( 157 e 242 do C6digo Civil (BGB} Sobre o conceito dos "boos costumes" (que merecem aprovac;ao e, por isso, sao sancio-nados pelo direito), compare Max Rumelin em Schwab. Heimacgabe fiir Th. Haring (1918}

    3. Nem toda ordemvigente tern necessariamente caniter geral e abstrato. A "norma juridi-ca" em vigor e a "decisao juridica" de urn caso concreto nem sempre feram separadas uma da outra de maneira tao estrita como hoje o consideramos normal. Uma "ordem" pode aparecer tambem como ordem unicamente de uma siruac;lo concreta. Os respecrivos detalhes fazem parte da Sociologia do Direito. Por questOes de conveniencia, trabalharemos por enquanto, salvo refe-rencia em contra rio, com a concepc;ao moderna da relac;ao entre norma juridica e decisao juridica.

    4. Ordens "externamente" garantidas podem, ao mesmo tempo, tambem estar garantidas "internameme". Para a Sociologia, as relac;Oes entre direito, convenc;ao e "etica" nao constituem problema. Urn padrao "etico'' , para eta, caracteriza-se por adotar como norma, para a ac;ao humana que pretende para si o predicado de "moral mente boa", determinada especie de crenr;a racional referente a valores, do mesmo modo que a ac;ao que pretende para si o predicado de "bela" se orienta por pad rOes esreticos. Neste sentido, representac;Oes de nor mas eticas podem influir sobre as ac;oes de maneira muito profunda, mesmo carecendo de toda garantia exrerna. Isto ocorre geralmeme quando sua transgressao quase nao toea em interesses alheios. Por outra parte, estao freqiiemememe garantidas pela religiao. Mas, podem tambem estar garantidas (no sentido da rerminologia aqui empregada) pela convenc;ao: reprovac;ao da transgressao e boicote, ou ate, juridicameme, por reac;6es penais ou policiais ou consequencias civis. Toda etica efetiva mente "vigente" - no semido da Sociologia - costuma estar garantida, em consided.vel grau, pela probabilidade da reprovac;ao, no caso da transgressao, isto e, de maneira convencional. Por outro !ado, nem todas as ordens convencional ou juridicameme garantidas pretendem para si (ou pelo menos, nao necessariameme) o carater de normas eticas. As segundas, que muitas vezes tern carater puramente racional refereme a fins, geralmeme o fazem ainda muito menos do que as primeiras. 0 problema de se uma represemac;iio de vigencia normativa difundida emre muitas pessoas penence ou nao ao dominio da "etica" (sen do, em caso negativo, "simples" convenc;ao ou "simples" norma juridica) s6 pode ser decidido, pela Sociologia empirica, com referencia aquele conceito do "etico" que efecivamente e ou era valido no circulo de pessoas em questao. Por isso, nao cabe a ela fazer afirmac;6es gerais sobre esse assumo.

    7. Vigencia legftima pode ser atribuida a uma ordem, pelos agentes: a) em virtude cia tradic;3.o vigencia do que sempre assim foi; b) em vi nude de uma crenc;aafeciva (especialmente emocional}. vigencia do novo

    revelado ou do exemplar; c) em virtude de uma cren

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    possibilidades que pessoas concretas tern na vida; "sele~ao biol6gica" quando se trata das probabilidades de sobrevivencia do patrimonio genetico.

    I. Entre as formas de I uta haas mais diversas transi

  • 26 MAX WEBER cendo relar;oes socials entre determinadas pessoas e niio se limitando, desde o prindpio, a certas tarefas objetivas - como, por exemplo, a relar;ao associativa numa unidade do exercito, numa classe da escola, num escrit6rio, numa oficina - , mostra, porem em grau muito diverse, essa tendencia. Ao contrario, uma relar;iio social que, por seu semido normal, e comunitaria pode ser orientada inteira ou parcialmeme de modo racional referido a fins, por parte de alguns ou de todos os panicipames. Difere muito, por exemplo, o grau em que urn grupo familiar e semido por seus membros como "comunidade" ou aproveitado como " relac;iio associativa". 0 conceito de "relar;ao comunilliria" e definido aqui, deliberadameme, de maneira multo ampla e que abrange situac;oes bastante heterogeneas.

    3. A relar;ao comunitaria constitui normalmeme, por seu semido visado, a mais radical amitese cia Juca. Mas istO nao deve enganar-nos sobre o fa to de, mesmo demro das rna is intimas dessas relar;6es, serem bern norma is, na realidade, todas as especies de pressiio violenta exercida sobre as pessoas de natureza mais transigeme. Do mesmo modo, a "seler;iio" dos tipos, que leva as diferenr;as entre as probabilidades de viver e sobreviver, tanto ocorre dentro das comuni-dades como em outras siruar;6es. As relac;6es associativas, ao contr;hio, muitas vezes nada mais sao do que compromissos entre interesses antag6nicos, que eliminam apenas uma parte dos objetos ou meios da !uta (ou pelo menos tentam faze-lo), deixando em pe a pr6pria oposir;iio de interesses e a concorrencia pelas melhores possibilidades. "Luta" e comunidade sao conceitos relatives; a luta tern formas bern diversas, determinadas pelos meios (violentos ou "padficos") e a maior ou menor brutalidade com que se aplicam. E urn fato, como ja disse, que toda ordem de ar;6es socials, qualquer que seja sua natureza, deixa em pe, de alguma forma, a seler;;lo efetiva na competir;iio dos diversos tipos.humanos por suas possibilidades de vida.

    4. Nem sempre o faro de algumas pessoas terem em comum determinadas qualidades ou determinado comportamento ou se encontrarem na mesma situar;ao implica uma relar;iio comunitaria. Por exemplo, a circunstancia de pessoas terem em comum aquelas qualidades biol6-gicas hereditarias consideradas caraaeristicas "raciais" nao significa, de per si, que entre elas exista uma relac;ao comunitaria. Pode ocorrer que, devido a limitac;ao do commercium e connu-bium imposta pelo mundo circundame, cheguem a encontrar-se numa situac;ao homogenea, isolada diante desse mundo circundante. Mas, mesmo que reajam de maneira homogenea a essa situar;ao, isto ainda nao constitui urna relac;ao comunitaria; tampouco esta se produz pelo simples "semimento" cia situar;iio comum e das respeaivas conseqiiencias. Somente quando, em virtude desse semimento, as pessoas come~.1m de alguma forma a oriencar seu comportamemo pelo das oucras, nasce entre elas uma relar;iio social - que nao e apenas uma relac;ao entre cada individuo e o mundo circundante -, e s6 na medida em que nela se manifesta o senti memo de penencer ao mesmo grupo existe uma "relac;iio comunitaria". Entre os judeus, por exemplo, essa atitude e relativameme rara - excluidos os drculos sionistas e algumas outras relac;6es associativas que representam interesses judaicos - , e muitas vezes ate e desaprovada. Determi-nada linguagem comum, criada pela tradir;iio homogenea dentro cia familia ou cia vizinhanr;a, facilita em alto grau a compreensao reciproca e, portanto, a formar;iio de relac;6es socials de tOdas as especies. Mas isto, de per si, nao implica uma relac;ao comunitaria, mas apenas facilita o contatO entre os membros dos respeaivos grupos e, portanto, a formac;ao de relac;6es associa-tivas. Facilita estas relac;6es, em primeiro Iugar, entre os indivfduos e nio pelo faw de falarem a mesma linguagem mas em vinude de outros imeresses quaisquer: a oriemac;ao pelas normas cia linguagem comum constitui, ponanto, em primeiro Iugar, apenas urn meio para o entendi-memo entre am bas as panes e nao o conteudo do semido das relac;6es socials. Some me a existencia de contrastes conscientes em relac;:'io a terceiros pocte criar, nos participames cia mesma lingua-gem, urn semimemo de comunidade e relar;6es associativas cujo fundamemo de existencia, de maneira conscieme, e a linguagem comum. A participar;ao num "mercado" (sobre o conceito, veja capitulo II), por sua vez, tern natureza diferente. Cria relar;6es associativas entre os partici-pantes individuals na troca e uma relac;ao social (de "concorr~ncia", sobretudo) entre os que pretendem trocar e que, por isso, tern de oriemar seu componamento peJ.o dos outros panici-pames. Mas, fora disso, somente surgem relac;oes associativas na medida em que alguns dos participames fazem algum tipo de acordo, por exemplo, com o fim de aumentar suas oponu-nidades na !uta por melhores prec;os, ou todos os participames o fazem a fim de regular e assegurar suas transa

  • 28 MAX WEBER

    0 carater abeno ou fechado de uma relac;ao associativa efetiva baseada na mesma lingua gem depende do conteudo de seu senudo (conversayi.o em oposi

  • 30 MAX WEBER

    existe tipicamente em uniaes formadas para determinados fins e associa

  • 32 MAX WEBER Logia da domina
  • 34 MAX WEBER

    17. A uma associa~o de dominac;ao denominamos associa~o polftica, quando e na medida em que sua subsistenda e a vigencia de suas ordens, dentro de determinado territ6rio geografico, estejam garantidas de modo continuo mediante ameac;a e a aplica-

    ~o de coac;ao ffsica por parte do quadro administrative. Uma empresa com carater de institui~o politica denominamos Estado, quando e na medida em que seu quadro administrative reivindica com exito o monop6/io Jegftimo da coac;ao fisica para realizar as ordens vigentes. Uma a~o social, e especialmente a de uma associac;iio, e "politica-mente orientada", quando e na medida em que tenha por fim a influencia da direc;ao de uma assodac;iio politica, particularmeme a apropriac;ao ou expropriac;iio, . a nova distribuic;ao ou atribuic;ao de poderes governamentais [de forma nao violema (veja t6pi-co 2, no fim do paragrafo)].

    Uma associac;ao de dominac;ao denomina-se associac;ao hierocratica quando e na medida em que se aplique coac;iio psiquica, concedendo-se ou recusando-se bens de salvac;ao (coaylo hierocratica). Uma empresa hierocratica com carater de instirui~ao e denominada igreja quando e na medida em qce seu quadro administrative pretenda para si o monop6lio da legitima coac;ao hierocratica.

    1. E evidente que, para associa