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Resumos Sociologia - Max Weber

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    MAX WEBER

    METODOLOGIA Weber desvaloriza estes assuntos. Preocupa-se sobretudo com re-flexes filosficas sobre a natureza e significado do conhecimento nas cincias sociais. Dentro destas desenvolveu ainda algum trabalho tentando clarificar as relaes entre a sociologia e a histria. Para Weber a sociologia deveria apenas formular conceitos tipo, e generalizaes extradas de processos empricos. J a histria se distingue por se orientar para a explicao causal das aces individuais, das estruturas e personalidades com significncia e peso cultural.

    Apesar desta distino aparentemente clara, Weber combina as duas na sua obra: utiliza a Sociologia para desenvolver conceitos claros e suficientemente gerais que lhe permitam fazer uma anlise causal dos fenmenos histricos.

    A ideia que Weber formou acerca da sociologia foi moldada pelos debates que no seu tempo tiveram lugar na Alemanha sobre a rela-o entre a Histria e as Cincias Naturais. Nos plos deste debate estavam por um lado os positivistas (dos quais j tivemos contacto com Comte), para quem a histria podia ser uma cincia como as cincias naturais, deduzindo leis a partir das regularidades discerni-das ao longo da marcha da humanidade, e por outro lado os subjec-tivistas para quem a histria e as cincias naturais eram radical-mente diferentes apenas podendo esta ltima dar explicaes para

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    acontecimentos especficos. Os positivistas tenderiam por exemplo a construir teorias gerais acerca das revolues sociais, enquanto que os subjectivistas tenderiam a focalizar a sua ateno por exem-plo nos acontecimentos que provocaram a Revoluo Francesa.

    Weber rejeitou estas duas formas demasiado radicais de encarar as cincias sociais. Para Weber a histria composta de acontecimentos nicos no susceptveis de generalizaes. Os socilogos tm assim de separar o mundo emprico do universo conceptual que constrem. Estes conceitos nunca captam comple-tamente o mundo emprico, real, servindo apenas como modelos heursticos que permitem um melhor conhecimento da realidade. Estes conceitos permitem aos socilogos o desenvolvimento de ge-neralizaes que por um lado no so histria e por outro no de-vem ser confundidos com a realidade emprica. Para Weber a reduo da realidade emprica a um conjunto de leis no tem qualquer significado. A histria no apresenta para Weber ciclos fechados nem progressos lineares. Ao rejeitar estas duas correntes opostas do pensamento alemo Weber acabou por criar a sua prpria perspectiva que uma fuso de ambas: para Weber a histria tem a ver com a individualidade e com a generalidade sendo a unificao destes plos opostos reali-zada atravs da utilizao de conceitos gerais (a que viria a chamar tipos-ideais como adiante veremos) e que veio a utilizar para identi-ficar e definir a individualidade de cada desenvolvimento, e as ca-ractersticas que levaram cada acontecimento histrico a evoluir de maneira diferente de outro desenvolvimento histrico.

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    Atravs deste mtodo Weber procura chegar determinao das causas que levaram ao aparecimento das diferenas. Mas estas causas no so causas generalizveis e aplicveis ex-plicao da Histria. Resumindo Weber acreditava que a histria composta de um n-mero infinito de fenmenos especficos. Para estudar esta infinidade de fenmenos necessrio construir uma variedade de conceitos que os permita estudar. Seria esta ento a tarefa da Sociologia a construo deste tipo de conceitos que os historiadores podem usar em anlises causais de fenmenos histricos especficos.

    A obra de Weber assim marcada por um esforo para combinar o especfico e o geral de forma a desenvolver uma cincia que fizesse justia natureza complexa da vida social.

    A SOCIOLOGIA COMPREENSIVA

    Para Weber os socilogos tm uma vantagem sobre os cientistas naturais. que os socilogos compreendem os fenmenos sociais enquanto que um fsico nunca poder compreender o comporta-mento de um tomo ou um qumico o comportamento de um com-posto qumico.

    Esta compreenso a que Weber chama em alemo verstehen e no vamos chamar compreenso interpretativa colocou a alguns dos estudiosos de Weber alguns problemas que devemos abordar para verdadeiramente compreendermos a sociologia de Weber.

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    Para alguns a compreenso interpretativa de Weber significa o uso da intuio pelo investigador social. Para estes trata-se por isso de uma metodologia irracional e pouco cientfica. O prprio Weber re-jeitou esta crtica argumentando que verstehen no tinha a ver com o conhecimento intuitivo ou mesmo emptico das realidades soci-ais, antes implicava uma pesquisa sistemtica e portanto racional. De entre os que aceitam esta acepo da compreenso interpretati-va de Weber temos alguns autores que consideram que ela so-bretudo aplicada pelo autor ao estudo dos estados subjectivos dos agentes individuais e outros que pensam que ela aplicada por Weber aos aspectos subjectivos de unidades sociais de grande es-cala. H outros ainda que consideram que Weber aplica a compreenso interpretativa cultura, incidindo a sua ateno sobre os elementos culturais enquanto significados intersubjectivos ou regras social-mente construdas que definem o significado da aco dentro de uma determinada sociedade. Para esta linha de pensamento a compreenso interpretativa seria ento uma ferramenta utilizada por Weber para entender a cultura e a linguagem de uma determinada sociedade. Weber queria enten-der no os agentes e as suas aces, no os aspectos subjectivos que comandam os comportamentos das unidades sociais de grande escala mas a cultura, entendida em sentido lato, em que os agentes existem e que constrange os seus pensamentos e aces. esta multiplicidade de interpretaes do trabalho de Weber que lhe vai conferir um papel central na sociologia moderna.

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    A CAUSALIDADE

    Em Weber a causalidade no directa como em Durkheim (do tipo varivel independente e varivel dependente) nem dialctica como em Marx (no h varivel dependente nem independente, ambas se influenciando uma outra). Em Weber temos o conceito de multi-causalidade. Significa isto que do seu ponto de vista no basta procurar constan-tes histricas, repeties, analogias e paralelismos como fazem muitos historiadores, tanto positivistas como marxistas. Para Weber, o investigador deve sobretudo procurar as razes e os significados das mudanas histricas. Deve para isso estar sintonizado com as interrelaes entre economia, sociedade, poltica, organizao, es-tratificao social, religio etc. Significa deste ponto de vista que podem por vezes ser fenmenos que so na realidade hospedeiros de influncias interactivas a fun-cionar como factores causais efectivos um bom exemplo disto a sua obra A tica protestante e o esprito do capitalismo em que Weber defende, ao contrrio do que muitos pensam e dizem, que a tica protestante um dos factores causais que determinaram o aparecimento do capitalismo moderno. O ponto fundamental no pensamento de Weber a sua crena no facto de que por termos um entendimento especial da vida so-cial, o conhecimento causal nas cincias sociais diferente daquilo que nas cincias naturais. Para Weber a conduta humana signifi-cativa (a que chama aco) referencivel a valores e a significa-dos. Por essa razo os critrios de explicao causal nas cincias sociais apenas so aplicveis explicao histrica dessa aco dessa conduta especfica e nunca generalizvel.

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    Entre uma concepo positivista de que existe uma relao neces-sria entre os fenmenos sociais e uma perspectiva ideogrfica de que h apenas relaes casuais e no causais entre aqueles fen-menos, Weber vai adoptar uma posio intermdia de que existe uma causalidade adequada. Este conceito significa que Entre uma concepo positivista de que existe uma relao necessria entre os fenmenos sociais e uma perspectiva ideogrfica de que h apenas relaes casuais e no causais entre aqueles fenmenos, Weber vai adoptar uma posio intermdia de que existe uma cau-salidade adequada. Concretizando um pouco mais o que a Socio-logia pode dizer que se x ocorre ento provvel que y acontea. O que o socilogo pode ento fazer estimar o grau em que deter-minado efeito potenciado por determinadas situaes.

    TIPOS IDEAIS

    Vimos j que para Weber uma das funes dos socilogos era de-senvolver ferramentas conceptuais que pudessem ser utilizadas por outros socilogos e historiadores. Uma dessas ferramentas o TIPO IDEAL. O conceito de tipo ideal Um tipo ideal constitudo por acentuao enviesada de um ou mais pontos de vista e pela sntese de fenmenos concretos indivi-duais, discretos e frequentemente presentes, que so arrumados de acordo com esses pontos de vista de forma a constiturem uma construo analtica unificada. Na sua pureza conceptual esta construo mental no pode ser empiricamente encontrada na realidade.

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    No seu nvel mais bsico um tipo ideal um conceito construdo por um cientista social na base dos seus interesses e orientaes teri-cos com o objectivo de captar os principais elementos de um fen-meno social.

    Um tipo ideal fundamentalmente um instrumento de medida.

    Para Weber o tipo ideal tem como funo a comparao com a rea-lidade emprica de forma a estabelecer as suas divergncias e se-melhanas e para descrev-las com os conceitos o mais inteligveis e o menos ambguos que seja possvel.

    Vejamos alguns exemplos de tipos ideais

    A BUROCRACIA

    Para Weber burocrtica uma organizao que verifique as seguin-tes caractersticas:

    1 existncia de regras impessoais, no tradicionais, mas racio-nais;

    2 aqueles que detm autoridade tambm esto sujeitos a uma ordem impessoal;

    3 existncia de um corpo de funcionrios com hierarquia de fun-es direitos e deveres bem definidos e esferas de competn-cia;

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    4 o funcionrio no dono do lugar que ocupa; 5 os subordinados no devem ao seu superior hierrquico fideli-

    dade pessoal; 6 as regras so escritas; 7 o recrutamento feito atravs de exames ou mediante o reco-

    nhecimento de diplomas.

    Deste ponto de vista a situao do funcionrio definvel da seguin-te forma: 1 existncia de uma carreira comportando uma concepo abs-

    tracta do dever, sendo a execuo de tarefas associadas a uma posio um fim em si mesmo e no uma forma de obter remuneraes adicionais ou outro qualquer tipo de vantagens;

    2 geralmente ocupa um posio apenas temporariamente; 3 a nomeao feita em funo de capacidades tcnicas e no

    como resultado de eleies; 4 existe um salrio fixo regular; 5 a progresso do funcionrio na carreira funo da compe-

    tncia ou da antiguidade.

    Como que Weber chegou definio deste tipo ideal? F-lo com base no estudo histrico de vrias sociedades, ou seja com base em dados empricos, fornecidos pela anlise de docu-mentos.

    Este tipo ideal devia, para Weber, ser indutivamente derivado do mundo real da histria social. Do seu ponto de vista no era sufici-ente um conjunto de conceitos derivado de uma teoria abstracta, mesmo que fosse um conjunto bem definido e coerente. Os concei-

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    tos deveriam ser empiricamente adequados para chegarem a ti-pos ideais os investigadores deveriam estar imersos na realidade histrica e deriv-los da. No deveriam ser demasiado gerais nem demasiado especficos. No deveriam ser tomados como reflexos fiis do mundo mas antes caricaturas com alguns traos exagerados de acordo com os inte-resses tericos do investigador. Esse exagero era para Weber, til pesquisa histrica, na medida em que mais facilmente contrasta com determinados aspectos que constituem precisamente o inte-resse do investigador.

    Para que que esta definio ideal de uma burocracia serve? Ser-ve para que o investigador procure diferenas entre as vrias reali-dades que estuda e o seu tipo ideal. E a que que se podem dever essas diferenas? Podem resultar por exemplo de:

    1) Aces dos burocratas ditada por m ou falta de infor-mao;

    2) Erros estratgicos cometidos pelos burocratas; 3) Falcias lgicas subjacentes s aces dos chefes; 4) Decises tomadas no seio da burocracia mas ditadas

    pela emoo; 5) Irracionalidade(s) na aco dos chefes burocrticos ou

    dos seus subordinados.

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    Em funo das causas que expliquem as diferenas encontradas o investigador poder ento caracterizar as sociedades que est a analisar.

    Outro exemplo seria o do tipo ideal de uma batalha. Se delinearmos os principais componentes de uma batalha encontramos:

    a) exrcitos opostos; b) estratgias opostas; c) material disposio de cada uma das partes; d) territrio disputado; e) logstica e foras de apoio; f) centros de comando; g) qualidades de liderana.

    As batalhas podem no ter todos estes elementos e isso precisa-mente que o investigador procura. Este vai precisamente comparar os elementos presentes na realidade com os que esto identifica-dos no seu tipo ideal. a partir da que vai tirar as suas concluses.

    Ao longo da obra de Weber vamos encontrar vrias formas de tipos ideais:

    1) Tipos ideais histricos como o mercado capitalis-ta moderno por exemplo. Referem-se a uma poca histrica particular;

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    2) Tipos ideais de sociologia geral relacionados com fenmenos inter-histricos e inter-societais;

    3) Tipos ideais de aco relacionados com as moti-vaes dos agentes sociais;

    4) Tipos ideais estruturais relacionados com as formas assumidas pelas causas e consequncias da aco social por exemplo o domnio tradicio-nal.

    O CONFLITO VALORES/CINCIA EM WEBER

    Vimos anteriormente como Comte e Spencer defendiam que a Ci-ncia no se devia misturar com os valores do investigador e como Karl Marx defendia o comprometimento social do cientista. Weber tem tambm aqui uma posio intermdia, defendendo que os valores do homem, do investigador no devem passar a fase que precede a pesquisa. At a a cincia social , para Weber, perme-vel quilo que ele chama de valores relevantes. Este conceito en-volve uma seleco daqueles elementos da realidade emprica que um ou mais daqueles valores culturais gerais sustentados pelos agentes que existem na sociedade a que pertence o investigador. Isto significa que do ponto de vista de Max Weber a escolha dos ob-jectos a estudar seria feita na base do que considerado importan-te na sociedade em que vivem os investigadores. No seu caso es-pecfico os valores relevantes para Weber eram o interesses do europeu moderno.

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    Por exemplo a burocracia era uma parte muito importante da socie-dade alem do seu tempo e por isso Weber resolveu estud-la.

    Vemos aqui uma posio muito diferente quer da de Comte e Spen-cer quer da de Marx. Para Weber apesar de factos e valores no deverem ser confundidos, era impossvel exorcizar completamente os valores das cincias sociais.

    Outro aspecto a ter em conta na relao entre cincia e valores que Weber no acreditava que uma cincia pudesse ajudar a esco-lher entre diversos tipos de valores. Essa uma escolha que est para alm da cincia. Nenhuma cincia pode ajudar a dizer qual o tipo ideal de sociedade. Neste sentido Weber distancia-se marca-damente tanto de Durkheim para quem a cincia deveria ser moral, como de Marx para quem era em ltima instncia a cincia quem apontava qual o caminho a seguir.

    No pode nunca ser tarefa de uma cincia emprica fornecer as normas e ideais que orientam a direco em que deve ser dirigida a actividade poltica so as palavras de Weber a es-te respeito.

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    A SOCIOLOGIA DE MAX WEBER

    a cincia que se preocupa com a compreenso interpretativa da aco social e por isso com uma explicao causal do seu curso e das sua consequncias.

    Daqui resulta que:

    a) a Sociologia deve ser uma cincia b) deve preocupar-se com a causalidade c) deve utilizar a compreenso interpretativa d) tem como objecto a aco social

    A ACO SOCIAL Weber distinge entre

    1) Aco comportamento em que os indivduos atribuem um significado subjectivo sua aco;

    2) Comportamento reactivo que automtico e no implica processos reflexivos (de pensamento)

    3) Aco social que a aco em que o sentido subjectivamente conferido pelo indivduo sua ac-o est referido ao comportamento de outros in-divduos e por ele se orienta no seu decurso.

    Weber e a sua Sociologia preocupavam-se apenas com a aco que envolvia a interveno de processos de pensamento. A Socio-

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    logia deveria prender-se com a interpretao da aco nos termos do seu significado subjectivo.

    Para isso utilizou a sua metodologia baseada no tipo ideal para cla-rificar o significado da aco e identificou 4 tipos ideais de aco

    1) Orientada pela racionalidade meios fins 2) Orientada pela racionalidade dos valores 3) Aco afectiva 4) Aco tradicional

    ORIENTADA PELA RACIONALIDADE MEIOS FINS a aco que determinada por expectativas quanto ao compor-tamento dos objectivos e dos outros seres humanos no meio envol-vente; estas expectativas so usadas como condies ou meios pa-ra o alcance dos fins pretendidos pela racionalidade do agente so-cial.

    ORIENTADA PELA RACIONALIDADE DOS VALORES a aco que determinada por uma crena consciente num valor por si prprio independentemente da sua probabilidade de sucesso.

    ACO AFECTIVA uma aco determinada pelo estado emocional do agente (tem pouca importncia para Weber).

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    ACO TRADICIONAL uma aco determinada pelas formas habituais de comportamen-to do agente Weber atribuia-lhe grande importncia;

    Deve notar-se que apesar das distines entre estes 4 tipos de ac-o Weber admitia que qualquer tipo de aco real envolve por norma uma combinao de vrios destes tipos ideais. Admitia ainda que para os socilogos era mais fcil entender as ac-es racionais do que aquelas que eram conduzidas por estados emocionais.

    Weber preocupava-se com a aco enquanto forma de comporta-mento que envolve a interveno de processos de pensamento. Sociologia cabe a interpretao da aco em termos do seu signifi-cado subjectivo. Retome-se aqui a distino que Durkheim fazia en-tre Psicologia, que se interessa por factos mentais que relevam de aspectos psicolgicos, e Sociologia que se interessa por factos mentais sociais. Weber pretendia acima de tudo focalizar a sua ateno nos indiv-duos e nos padres e regularidades da sua aco. A utilizao da sua metodologia baseada no tipo ideal permite aprofundar a distin-o entre os 4 tipos ideais de aco j mencionados:

    ACO CONDUZIDA POR UMA RACIONALIDADE MEIOS FINS

    Este tipo de aco determinado por expectati-vas quanto s suas consequncias, no meio so-cial envolvente. Estas expectativas so usadas como condies ou meios para o alcance dos fins

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    pretendidos pela racionalidade do agente social. Suscita o desenvolvimento de uma TICA DA RES-PONSABILIDADE que sublinha o cuidado a ter com as consequncias previsveis, possveis ou pro-vveis da actividade humana. Do ponto de vista das relaes sociais este tipo de racionalidade origina um tipo de relao social a que chama Sociao ou Formao de Socie-dade. Este tipo de relao social existe quando e na medida em que a aco social se funda num compromisso de interesses motivado racional-mente (por fins ou valores) ou sobre uma coorde-nao de interesses com igual motivao. o ti-po de relao social que encontramos nas em-presas por exemplo.

    ACO CONDUZIDA POR UMA RACIONALIDADE DE VA-LORES

    a aco que determinada por uma crena consciente num valor por si prprio, independen-temente da sua probabilidade de sucesso. Susci-ta o desenvolvimento de uma tica da Convic-o em que a aco se desenvolve ou por uma profisso de f ou pelo cumprimento de um de-terminado credo. Quando as consequncias de uma aco realizada em conformidade com a ti-ca da convico so ms, quem a executou no se sente responsvel, antes culpando o mundo, a estupidez ou a vontade de Deus que os fez as-sim. Pelo contrrio, quem actua em conformidade

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    com a tica de responsabilidade, toma em linha de conta todos os defeitos do homem mdio. - diz-nos Weber para explicar a diferena entre os dois tipos de tica. Do ponto de vista das rela-es sociais este tipo de racionalidade origina um tipo de relao social a que chama Comunaliza-o ou Formao de Comunidade. Este tipo de relao social emerge quando e na medida em que a atitude da aco social se funda no senti-mento subjectivo (tradicional ou afectivo) dos par-ticipantes de constituirem um todo.

    ACO AFECTIVA Este tipo de aco determinado pelo estado emocional dos agentes. Weber, como j vimos atribuiu-lhe pouca importncia. compatvel com relaes sociais do tipo da comunalizao.

    ACO TRADICIONAL Este tipo de aco determinada pelas formas tradicionais de comportamento dos agentes soci-ais. Weber atribuiu-lhe como iremos ver uma gran-de importncia. compatvel com relaes sociais do tipo da comunalizao.

    Deve notar-se que estes 4 tipos de aco representam ideais-tipo pelo que no aparecem em estado puro na sociedade ou na Hist-ria. Qualquer aco real envolve por norma uma combinao de v-rios destes tipos ideais.

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    A ESTRATIFICAO SOCIAL Ao contrrio de Marx, Weber no reduziu a estratificao social a factores econmicos para Weber a estratificao social era multi-mensional, baseada na economia, no status e no poder. Daqui decorre a concepo de um sistema social bem mais com-plexo do que o concebido por Marx. Para Weber um indivduo podia estar bem colocado socialmente em uma ou duas destas dimen-ses e estar mal colocado numa terceira ou vice-versa o nmero de combinaes muito maior e pode por isso aproximar-se muito mais da complexidade da realidade que pretende representar.

    Assim teremos vrios conceitos para abordar a estratificao social:

    CLASSE um grupo de pessoas que partilha uma situao que pode servir como base para uma aco de grupo. Existe uma classe social quando so satisfeitos trs requisitos:

    um grupo de pessoas tem uma componente comum no que respeita s suas hipteses de vida;

    esta componente de ndole econmica e pode ser re-presentada por interesse econmico, pela posse de bens ou pela oportunidade de obteno de rendimen-tos;

    esta componente tem reflexos no mercado de bens ou no mercado de trabalho;

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    A classe no aparece assim como uma comunidade mas apenas como um grupo de pessoas na mesma situao econmica ou de mercado.

    STATUS Ao contrrio do conceito de classe que se refere a grupos, o concei-to de Status aplica-se a comunidades. Status definida por Weber como qualquer componente da vida do indivduo que definida em relao Honra. O status est assim associado a um estilo de vida. Enquanto que o conceito de classe apreendido a partir da activi-dade da produo de bens o conceito de status est ligado ao con-sumo de bens. Os que esto no topo da cadeia de status diferenci-am-se dos outros por terem um estilo de vida diferente.

    PARTIDO Este conceito releva da ordem poltica enquanto a classe releva da ordem econmica e o status da ordem social. por isso que o par-tido o elemento mais organizado do sistema de estratificao so-cial de Weber. Os partidos podem ou no representar grupos de status ou classes. Para Weber o que distingue os partidos dos outros elementos da estratificao social que eles esto permanentemente em luta pe-lo poder.

    ESTRUTURAS DE AUTORIDADE O interesse de Weber pelas estruturas de autoridade foi motivado pelo menos parcialmente por interesses polticos. Weber no era um radical, muito pelo contrrio, o que lhe valeu ser apodado de o Marx burgus - o que procurava chamar a ateno para o facto de

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    que partilhando grande parte dos interesses daquele seu predeces-sor, ter perante eles orientaes polticas completamente diferentes. Embora tenha sido um crtico do capitalismo to cido quanto Marx, Weber no defendia a revoluo. Em vez disso pretendia mudar a sociedade gradualmente. Tinha pouca f na capacidade das mas-sas para criar uma sociedade melhor. Mas por outro lado tambm no tinha especial considerao pelas classes mdias que conside-rava serem dominadas por burocratas de vistas curtas e mesqui-nhos. A esperana de Weber para a construo de uma sociedade nova residia nos grandes lderes polticos, mais do que nas massas ou nos burocratas. Era um nacionalista que considerava que os inte-resses da nao estavam acima dos da democracia ou do parla-mentarismo. Preferia a democracia como forma poltica de governo no por acreditar nas massas mas porque era a forma que potencialmente podia propiciar maior dinamismo social e o melhor meio de cultura de grandes lderes polticos. Fez notar que em todas as estruturas sociais existem e existiram estruturas de autoridade. Iniciou a sua anlise das estruturas de autoridade de um modo con-sistente com os seus pressupostos acerca da natureza da aco. Definiu:

    PODER como a probabilidade de, dentro de uma relao social, impor a vontade prpria mesmo contra a resistn-cia, seja qual for o fundamento dessa probabilidade;

    DOMNIO como a probabilidade de que alguns comandos especficos sejam obedecidos por um dado grupo de pes-soas.

  • 21

    As bases deste domnio podem ser de vrios tipos, tanto legtimas como ilegtimas. A Weber interessaram sobretudo as formas de domnio de base legtima a que chamou AUTORIDADE.

    Prosseguindo com a utilizao dos seus ideais tipo, Weber enunci-ou 3 formas essenciais de legitimao da autoridade:

    AUTORIDADE DE BASE RACIONAL Assenta na crena na legalidade de regras institucionalizadas e no direito dos que foram empossados de autoridade sob essas regras de emitir ordens e comandos.

    AUTORIDADE DE BASE TRADICIONAL Assenta na crena do carcter sagrado de tradies procedentes de tempos imemoriais e na legitimidade dos que por fora dessas tra-dies exercem essa autoridade.

    AUTORIDADE DE BASE CARISMTICA Assenta na devoo dos seguidores ao carcter excepcional, inte-gridade, herosmo ou poderes especiais (demirgicos p. e.) do che-fe e no cumprimento das ordens e dos comandos por eles sancio-nados.

    Todos estes modos de legitimar a autoridade implicam processos de pensamento racionais e aces no sentido definido por Weber.

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    A AUTORIDADE LEGAL RACIONAL Este tipo de autoridade pode tomar vrias formas estruturais. A que mais interessou a Weber e que este analisou foi a Burocracia.

    O TIPO IDEAL BUROCRTICO Weber retratou as burocracias de uma forma positiva:

    de um ponto de vista tcnico a burocracia a forma de organizao capaz de atingir o mais elevado grau de efi-ccia e , por isso, deste ponto de vista, a forma mais ra-cional de exercer a autoridade sobre os seres humanos. superior a qualquer outra forma do ponto de vista da sua estabilidade, da sua disciplina e da sua fiabilidade. Permite por isso um elevado grau de previsibilidade dos resultados que alcana quer para os seus chefes quer para os que mantm relaes com a organizao burocrtica. Alm disso aplicvel a todo o tipo de tarefas administrativas.

    Mantm contudo uma atitude ambivalente relativamente s buro-cracias. Receava particularmente que a racionalizao que domina todos os aspectos da vida burocrtica fosse uma ameaa liberda-de individual:

    nenhuma mquina no mundo funciona com tanta preciso como este aparelho humano. O clculo racional reduz ca-da trabalhador a uma mera roldana da mquina burocrti-ca e vendo-se a si prprio desta forma cada indivduo no aspirar a mais seno a transformar-se numa roldana

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    maior. A paixo pela burocratizao levar o homem ao desespero

    Weber vivia assim atemorizado pelos efeitos da burocratizao. Do seu ponto de vista as burocracias que conhecia eram prova de fuga e constituam algumas das organizaes mais difceis de des-truir que o mundo da sua altura j conhecera.

    Eis algumas das componentes do tipo ideal da burocracia de We-ber:

    1 uma organizao contnua de funes administrativas ligadas a regras escritas

    2 Cada departamento burocrtico tem uma esfera de ac-o definida caracterizada por um conjunto de obriga-es (desempenho de vrias tarefas) e por um certo nmero de autoridades delegadas.

    3 Os departamentos esto organizados de forma hierr-quica;

    4 Podem incorporar qualificaes tcnicas que obriguem a que os funcionrios sejam adequadamente treinados;

    5 O pessoal que ocupa os departamentos no detm os meios de produo que utiliza;

    6 O funcionrio no dono do lugar que ocupa. Esse lu-gar pertence organizao;

    7 Os actos administrativos, decises e regras so formu-ladas e registadas por escrito;

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    Para Weber na sociedade moderna no h alternativa a esta forma de organizao:

    As necessidades da administrao de massas tornam-na hoje em dia completamente indispensvel. A escolha en-tre a burocracia e o diletantismo no campo da administra-o

    Quanto questo de saber se a burocracia era uma parte intrnseca do capitalismo, podendo por isso constituir uma alternativa, Weber diz-nos o seguinte:

    Quando aqueles que esto sujeitos ao controlo burocrti-co procuram fugir a esse controlo tal possvel apenas atravs da criao de uma organizao prpria. Esta se for uma organizao moderna desencadear imediatamente um processo de burocratizao.

    Na realidade Weber acreditava que a sociedade socialista traria um aumento e no uma diminuio da burocracia.

    Se o socialismo pretender atingir um grau de eficcia e eficincia semelhante ao do capitalismo tal facto trar um tremendo aumento da importncia profissional dos buro-cratas

    Tal facto explicar-se-ia pelo facto de no capitalismo, pelo menos os proprietrios das empresas no serem burocratas.

    este um dos factos que leva Weber a acreditar que, com todos os seus defeitos, o capitalismo que tem mais probabilidade de pre-servar a liberdade individual e uma liderana criativa, num mundo burocrtico.

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    O seu pessimismo quanto ao nascimento de um mundo melhor tra-duz-se numa terrvel desconfiana quanto aos amanhs que can-tam.

    Para Weber o nico raio de esperana residia na possibilidade de que os profissionais que se mantm fora do sistema burocrtico possam control-lo at certo ponto polticos profissionais, cientis-tas, intelectuais e capitalistas bem como os chefes supremos das burocracias seriam o escape do sistema:

    os polticos devem ser o contrapeso dominao buro-crtica

    A AUTORIDADE TRADICIONAL Enquanto que a autoridade legal racional emerge da legitimidade de um sistema racional legal, a autoridade tradicional baseada numa reivindicao por parte dos lderes e numa crena por parte dos seus seguidores de que h um carcter sagrado nas regras e pode-res tradicionais. Nestes sistemas o lder no um superior mas um caudilho pesso-al. A administrao quando existe consiste no em quadros mas em servidores ou sequazes a lealdade pessoal que determina a ocupao dos quadros da Administrao. Relativamente ao ideal tipo da burocracia faltam uma srie de ele-mentos:

    1 a administrao tradicional no tem departamentos com esfera de influncia atribuda;

    2 No h uma ordenao racional das relaes de superi-oridade e inferioridade que no ideal tipo da burocracia constituem uma hierarquia clara e racional;

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    3 No h um sistema racional de contratao e promoo baseado num sistema de contratos;

    4 O adestramento tcnico ou a posse de habilitaes aca-dmicas no so uma necessidade para a obteno de uma nomeao para o desempenho de um cargo;

    5 As nomeaes no implicam salrios fixos pagos em moeda;

    Para Weber estas formas de autoridade tradicionais eram barreiras ao desenvolvimento da racionalidade no permitindo o desenvolvi-mento do capitalismo tal como o conhecemos. Eis aqui um dos te-mas fundamentais da obra de Weber os factores que facilitam ou impedem o desenvolvimento da racionalidade.

    A AUTORIDADE CARISMTICA Ouve-se muito falar de pessoas com carisma. Com isto pretende-se significar que uma pessoa com carisma uma pessoa com qualida-des extraordinrias. Este conceito importante na obra de Max Weber, mas tem um significado diferente daquele que lhe por vezes atribudo.

    O carisma na acepo de Weber Weber no nega que o lder carismtico possua as qualidades ex-traordinrias como as que lhe atribui a acepo de senso comum do termo, mas acrescentava que o carisma assenta mais nos discpu-los e seguidores desse chefe e na forma como eles definem o chefe carismtico do que no prprio chefe. Pretendia com isto Weber di-

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    zer que o chefe carismtico s-lo- independentemente de possuir ou no as tais qualidades extraordinrias. Um chefe carismtico pode assim ser qualquer um. O que funda-mental o processo pelo qual um tal chefe separado (diramos melhor elevado acima) das pessoas comuns e tratado como se fos-se dotado de poderes sobrehumanos, sobrenaturais ou pelo menos excepcionais, distintos dos que tm as pessoas comuns.

    Para Weber o carisma era uma fora extraordinria, uma das for-as mais revolucionrias do mundo social.

    Enquanto que a autoridade tradicional inerentemente conservado-ra, o surgimento de um lder carismtico pode ameaar um tal sis-tema, tanto quanto o sistema legal-racional, e levar a mudanas so-ciais dramticas.

    O que distingue o carisma enquanto fora a sua capacidade de alterar as mentes dos agentes sociais causando reorientaes sub-jectivas ou internas que conduzem a uma alterao radical das atitudes centrais e da direco da aco, com uma orientao com-pletamente nova, de todas as atitudes relativamente a todos os pro-blemas que o mundo coloca. Estas mudanas so claramente tra-tadas por Weber como variveis dependentes. Para Weber a mudana na estrutura da autoridade que vem associ-ada ao aparecimento de um lder carismtico determina alteraes dramticas nos pensamentos e aces das pessoas.

    A outra grande fora revolucionria , para Weber a racionalidade. Enquanto que o carisma uma fora revolucionria interna que

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    muda as conscincias dos agentes, a racionalidade uma fora re-volucionria externa s pessoas, que altera primeiro as estruturas da sociedade e s depois, atravs daquelas, as conscincias e as aces dos indivduos.

    A ANLISE DO CARISMA Na sua anlise do carisma Weber partiu do tipo ideal da burocracia. Tentou determinar em que grau a estrutura da autoridade carismti-ca, com os seus discpulos e quadros, difere do sistema burocrtico. E verificou que lhe faltavam praticamente todas as caractersticas definidoras de uma burocracia:

    Os quadros no tm formao tcnica sendo an-tes escolhidos pelas suas qualidades carismti-cas ou pelas suas qualidades e caractersticas semelhantes s do lder;

    No h uma hierarquia clara; O seu trabalho no est organizado na forma de

    uma carreira com promoes, nomeaes e de-misses bem claras quanto forma como se pro-cessam

    O lder carismtico pode intervir sempre que achar que os quadros no controlam a situao;

    A organizao no tem regras formais, no tem rgos administrativos estabelecidos e no h precedentes estabelecidos para orientar novas tomadas de deciso;

    Tratava-se do ponto de vista de Weber de uma organizao muito inferior, organizao burocrtica. Por isso Weber interrogou-se

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    sobre o que aconteceria a uma organizao carismtica quando morresse o seu lder. Weber tinha a intuio de que o sistema carismtico era inerente-mente frgil. Parecia no poder sobreviver ao seu lder. Por outro lado perecia lgico que a prpria organizao criasse as condies para a persistncia do carisma mesmo aps a morte do lder. Isto poderia ser feito atravs de vrias hipteses de estratgias. As-sim a organizao pode:

    procurar um novo lder carismtico provavelmente mesmo que o encontre ele no atingir a mesma aura do que o que o precedeu. criar um conjunto de regras que permitam ao grupo encon-trar um sucessor

    neste caso estas regras rapidamente se transformam em tra-dies e o que era autoridade carismtica tende a transfor-mar-se em autoridade tradicional permitir ao lder carismtico que nomeie o seu sucessor transferindo para ele, simbolicamente, o carisma; escolher ela prpria o sucessor impondo-o ao resto da co-munidade; criar uma srie de testes rituais. Aquele que os consiga ul-trapassar ser o novo chefe.

    Reflectindo sobre todas estas hipteses Weber chegou concluso que todas elas estavam destinadas ao fracasso. No longo prazo o carisma no pode ser transformado em coisa rotineira porque pela sua prpria natureza o seu contrrio. O carisma tender a ser trans-formado ou em autoridade legal-racional ou em autoridade tradicio-

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    nal (ou ainda numa espcie de carisma institucionalizado como o caso da Igreja Catlica).

    Destas concluses Weber deduz uma teoria histrica bsica quando bem sucedido o carisma tende rapidamente a rotinizar-se. Ao faz-lo transforma-se em autoridade racional ou tradicional. Chegando aqui o ciclo recomea. Mas Weber considerava que j tinha ocorrido no mundo uma altera-o bsica que levava a que o ciclo recomeasse de uma forma su-cessivamente mais fraca, ou seja, que levava ao desaparecimento progressivo da autoridade carismtica. Essa alterao fundamental era a racionalizao. O mundo moderno e racionalizado era a morte do carisma como fora revolucionria. Para este autor era no fundo a racionalidade e no o carisma, a grande fora revolucionria mais importante da Histria.

    A RACIONALIZAO Os estudiosos e exegetas de Weber tm chegado nos ltimos anos concluso que a racionalizao que ocupa o lugar central na sociologia weberiana o racionalismo especfico e peculiar da cultura Ocidental e a sua origem e desenvolvimento que esto no centro da sociologia de Weber. Contudo difcil extrair do trabalho de Weber uma clara definio de racionalizao. Na realidade este autor trabalha com uma srie de diferentes acepes do termo e nem sempre especifica as dife-renas entre elas. Vimos j atrs como Weber define dois tipos de aco racional :

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    Racionalidade relativamente aos fins caracterizada por uma preocupao com a eficcia das aces Racionalidade relativamente aos valores quando o que interessa um conjunto de valores que se autojustifi-cam independentemente dos resultados e das consequncias das aces

    Mas esta diferenciao refere-se aco. Estes dois conceitos so a base do sentido da racionalizao escala dos indivduos mas no abarcam todos os sentidos a que estes comportamentos racio-nais podem conduzir. Ora a Weber interessa sobretudo a racionali-dade objectificada enquanto processo externo de sistematizao (digamos que lhe interessa a macro-racionalidade e no a micro-racionalidade ao nvel das aces dos indivduos).

    Ento vrios autores encontraram 4 tipos bsicos de macro-racionalidade na obra de Weber:

    Racionalidade prtica Est relacionada com a prtica do dia a dia e com a for-ma como os indivduos perante uma dada realidade cal-culam as formas mais eficazes de ultrapassarem as difi-culdades e chegarem onde querem. Este tipo de racio-nalidade surge medida que o homem primitivo rompe com a magia e existe em todas as civilizaes ao longo da histria. No se preocupa com nada que transcenda os interesses do dia a dia. Leva as pessoas a desconfiar

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    dos valores que no sejam prticos, sejam eles religio-sos e utpicos ou racionais-tericos. Racionalidade terica Refere-se ao esforo cognitivo que realizado com o objectivo de dominar a realidade utilizando preferencial-mente conceitos cada vez mais tericos em vez de reali-zaes prticas. Implica processos cognitivos tais como a deduo lgica, a induo e a atribuio de causalida-de. Este tipo de racionalidade foi primeiro aplicada por feiticeiros e sacerdotes rituais e mais tarde por filsofos, juzes e cientistas. Leva o indivduos a transcenderem a realidade do dia a dia no sentido de entenderem o mun-do como um cosmos com nexo (compreensvel e com uma lgica prpria). Este tipo de racionalidade no afecta assim, directamente, a aco. Afecta-a apenas indirectamente atravs da introduo de novos padres de aco. Racionalidade substantiva Organiza a aco em padres atravs de sistemas de valores. Implica por isso, a escolha dos meios com que se vo atingir os fins dentro do contexto de um sistema de valores. uma racionalidade prtica enquadrada dentro de um sistema de valores. Admitindo-se que no h mais racionalidade num sistema de valores do que noutro qualquer, este tipo de racionalidade est presente em todas as civilizaes ao longo da histria. Racionalidade formal a mais importante de todas para Weber. Implica um clculo de adequao dos meios aos fins. Mas enquanto

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    na racionalidade prtica este clculo feito com refern-cia a interesses pragmticos e subjectivos dos agentes, na racionalidade formal este clculo feito com refern-cia a regras, leis e regulamentos, universalmente apli-cados. Para compreendermos o significado desta racio-nalidade formal podemos recorrer ao capitalismo indus-trial em que a lei formal e a administrao burocrtica nos aparecem numa forma de racionalidade objectifica-da , institucionalizada e supra-individual. Enquanto raci-onalidade comum e exterior a todos os agentes sociais. Enquanto todas as outras formas de racionalidade foram comuns a todas as civilizaes da histria este ltimo ti-po de racionalidade surgiu apenas no ocidente com o aparecimento da industrializao.

    Este tipo de racionalidade apresenta 6 caractersticas fundamentais que a distinguem das restantes formas de racionalidade:

    Calculabilidade As estruturas e instituies legais-racionais enfatizam a calculabilidade ou seja todas aquelas caractersticas da aco social que podem ser quantificadas

    Eficcia A capacidade de utilizar os melhores meios para atingir os fins estabelecidos uma das formas de medir o grau de racionalidade formal de uma instituio

    Previsibilidade H uma grande preocupao em assegurar a previsibili-dade dos resultados da aplicao de determinados mei-

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    os, ou seja de assegurar que as coisas funcionam sem-pre do mesmo modo;

    Mecanizao/Robotizao H uma tendncia para substituir trabalho humano por trabalho no-humano, encarado como mais previsvel, mais eficaz e mais facilmente calculvel;

    Reduo da incerteza Todo o sistema formal-racional procura ganhar controlo sobre um conjunto de incertezas, sobretudo incertezas decorrentes da aco humana;

    Consequncias irracionais os sistemas geridos/gerados pela racionalidade formal tendem a gerar um conjunto de consequncias irracio-nais:

    para as pessoas neles envolvidas para os prprios sistemas para a sociedade no seu todo

    Uma destas irracionalidades, que preocupam Weber que o mundo perde o seu encanto, a sua espiritualidade e por ltimo perde o seu significado para os seres humanos.

    RACIONALIDADE FORMAL VERSUS RACIONALIDADE SUBSTANTIVA A racionalidade formal contrasta com todas as outras formas de ra-cionalidade, mas entra em conflito particularmente com a racionali-dade substantiva enquanto adequao de meios a fins no seio de um dado sistema de valores. que ao estabelecer que h uma ra-cionalidade universal, a racionalidade formal coloca em causa os valores que conferem racionalidade racionalidade substantiva.

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    Na anlise dos tipos de racionalidade que se encontram em Weber, podemos ainda esquematizar respectiva capacidade para introduzir modos de vida metdicos nas sociedades:

    racionalidade prtica No tem capacidade para introduzir modos de vida me-tdicos j que lida com reaces a situaes e no a tentativa de orden-las ou pr-orden-las

    racionalidade terica principalmente de ndole cognitiva e por isso tem grande dificuldade em suprimir a racionalidade prtica;

    racionalidade substantiva para Weber o nico tipo de racionalidade com capaci-dade para introduzir formas metdicas de vida. Particu-larmente nas sociedades ocidentais, o Calvinismo en-quanto racionalidade substantiva dominou a racionalida-de prtica e levou ao desenvolvimento da racionalidade formal.

    Para Weber a racionalidade substantiva estava a tornar-se progres-sivamente menos importante do que as outras formas de racionali-dade, particularmente menos importante do que a racionalidade formal: o burocrata e o capitalista como praticantes da racionalidade formal estavam a dominar o mundo ocidental e o prprio tipo ideal que encarnava a civilizao ocidental o indivduo livre referenci-ava as suas aces a uma racionalidade comum e universal.

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    A ECONOMIA

    Para Weber h vrias origens para o capitalismo. Ao rejeitar o Mar-xismo Weber rejeita toda e qualquer sequncia evolucionista. Vejamos como descreve a evoluo a partir do senhor feudal que considera demasiado tradicionalista e com falta de iniciativa para a partir dos seus vastos domnios fundirios construir uma empresa de negcios em que os seus vassalos constituissem a fora de tra-balho. A partir dos sculos XII e XIII o feudalismo comea a fraquejar medida que os servos eram libertos ou fugiam para as cidades. Com este movimento a terra passa a ser menos controlada e surge uma economia monetria. Comeam a surgir os primeiros sinais daquilo que mais tarde viria a ser o capitalismo. O desenvolvimento das cidades leva ao aparecimento das primeiras indstrias de manufactura, transformao em massa de matrias primas e ao desenvolvimento de um poder industrial capaz de pro-duzir mais do que a capacidade de consumo das sociedades. Este desafogo permite que as pessoas vo desenvolvendo mais neces-sidades este crescimento das necessidades de consumo vai ser um trao distintivo da sociedade ocidental relativamente a todas as outras.

    Vo surgindo cada vez mais artfices e vai crescendo o poder de compra das populaes. Simultaneamente o sistema social que se comeava a criar era mais estvel. Onde havia servido ou escravatura havia sempre a tentao de fuga, tornada progressivamente mais fcil medida que as cidades livres se multiplicavam.

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    Surgiram as guildas, associaes de artfices especializados que regulamentavam o trabalho e defendiam monoplios de produo contra estranhos. Algumas das caractersticas das guildas come-am a partir de determinada altura a constituir obstculos ao desen-volvimento do capitalismo (proibio de um artfice ter mais capital do que outro por exemplo) e a parecer, ponto de vista deste, irraci-onais. Acabaram por se desintegrar ultrapassadas por mtodos de produo que utilizaram intensivamente o progresso tcnico como foi o caso do domestic system, caracterstico da indstria txtil e distinto de outros mtodos semelhantes encontrados fora da Europa pelo facto de nele, os donos da produo controlarem tambm os meios de produo. Weber insiste particularmente no facto de que este sistema, ao mesmo tempo que florescia no Ocidente, era con-trariado e estrangulado na China por um sistema de cls e na ndia pelo sistema de castas. A utilizao de mtodos tcnicos progressivamente mais complexos leva ao aparecimento de oficinas locais de produo centralizados ainda sem o aparato tcnico daquilo que mais tarde seriam as grandes fbricas da Revoluo Industrial que coexistiram e se fo-ram tornando mais numerosas que os ofcios dos artesos medi-da que mostravam a sua maior eficcia. Este sistema fabril era caracterizado, para Weber, por

    Trabalho livre que desempenhava tarefas especializadas e coordenadas

    Existncia de capital fixo pertencente ao empresrio Sistema contabilstico evoludo indispensvel ao controlo

    da capitalizao

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    Paralelamente e como consequncia do desenvolvimento deste sis-tema fabril desenvolvem-se os restantes componentes de uma eco-nomia capitalista moderna tais como:

    Maquinaria avanada Sistemas de transporte sofisticados Dinheiro Sistema bancrio Juros Sistemas contabilsticos cada vez mais sofisticados

    Para Weber o que melhor define uma empresa capitalista moderna a sua calculabilidade ou quantificabilidade que apenas pode ser assegurada pela existncia de um sistema contabilstico racio-nal e moderno.

    Este desenvolvimento tcnico do sistema capitalista foi-se articu-lando com uma variedade de desenvolvimentos quer na economia quer na sociedade em geral: na economia:

    Mercado livre com uma procura forte e sustentada Economia monetria Tecnologias baratas e racionais Fora de trabalho livre e disciplinada Tcnicas de contabilidade racionais Comercializao da vida econmica atravs do uso de

    inovaes financeiras

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    na sociedade em geral: Administrao profissional Quadros especializados Lei baseada num conceito de cidadania Lei racional aplicada por juristas profissionais Cidades Cincia e tecnologia modernas

    A todos estes requisitos Weber associou um outro factor que vere-mos a seguir:

    uma tica racional para a conduo da vida, uma base re-ligiosa para o ordenamento da vida que, consistentemente seguida conduzisse a um racionalismo explcito.

    Essa tica ser aquilo a que Weber chamou o esprito do capita-lismo

    O PAPEL DA RELIGIO

    Apesar de o sagrado ser aquilo que inaltervel, Weber constatou que a religio era (foi) altervel ao longo da Histria. Era, em pri-meiro lugar, racionalizvel e veio, segundo ele, a ser um veculo in-dutor de racionalidade. As religies primitivas eram compostas por hordas de deuses. A racionalizao fez emergir dessa confuso inicial conjuntos coeren-tes de deuses deuses domsticos, deuses da guerra, etc.

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    Para Weber foi uma fora cultural de racionalidade que foi fazendo emergir, ao longo da Histria, novos conceitos religiosos. Na maior parte das civilizaes do mundo esta fora de racionalizao impe-diu o desenvolvimento da racionalidade capitalista, mas no ocidente tal no aconteceu.

    A concepo de Weber a de que esta fora de racionalizao es-teve sempre ligada a grupos concretos de pessoas, que ele identifi-cou com o padres que tinham a vantagem, relativamente aos mgi-cos, de:

    suportarem um sistema religioso mais racional; serem treinados ou educados para exercerem o sacer-

    dcio; serem, por isso um grupo especializado; possuirem um conjunto sistematizado de concepes re-

    ligiosas.

    medida que as sociedades se vo tornando mais complexas e necessitando cada vez mais de educao so estes grupos de ho-mens que a tomam a seu cargo tornando-se assim um veculo de racionalizao. No mundo ocidental, a igreja, juntando a um carcter pastoral racio-nalizado uma doutrina tica criou uma forma particular de religio que conduziu forma racionalizada de vida a que hoje estamos ha-bituados.

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    A TICA PROTESTANTE E O ESPRITO DO CAPITALISMO Nesta sua obra mais conhecida Weber procura aquilatar o impacto do protestantismo asctico principalmente o Calvinismo no apa-recimento do capitalismo. Principalmente na parte final da sua obra Weber interessou-se par-ticularmente pelo aparecimento de uma racionalidade distinta no ocidente. O capitalismo com a sua organizao racional do trabalho livre, o seu mercado livre, e os seus sistemas de contabilidade raci-onal, no passa de uma componente de um sistema racional mais vasto. Para demonstrar isto ligou-o aos desenvolvimentos paralelos ocorridos na cincia racional, na lei, na poltica, na arte, na arquitec-tura, na literatura, nas universidades, etc.. No ligou directamente o sistema de ideias da tica protestante s estruturas do sistema capitalista. Em vez disso ligou a tica protes-tante enquanto sistema de ideias a outro sistema de ideias o esp-rito do capitalismo. Deste modo a tica Protestante no um livro acerca do aparecimento do capitalismo, mas acerca do nascimento de uma forma de pensamento, de um sistema de ideias que possibi-litou a expanso e o triunfo do capitalismo moderno. Weber comeou por rejeitar explicaes para o aparecimento do capitalismo baseadas em condies materiais ideais ou em teorias psicolgicas baseadas em instintos de posse e de aquisio. Contra argumentou que tais explicaes teriam permitido que o capitalismo tivesse surgido em muitas outras pocas histricas. Para fundamentar a sua tese, Weber estudou uma srie de pases com vrios tipos de sistemas religiosos cristos. E neles constatou que uma esmagadora maioria dos lderes econmicos (altos qua-dros, donos de empresas, capitalistas, trabalhadores especializados

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    e com melhores salrios) eram protestantes. Isto sugeria-lhe que o protestantismo era uma causa significante na escolha destas ocu-paes e que simetricamente outras religies (como por exemplo o catolicismo) no impeliam os agentes para este tipo de ocupaes. Para Weber o esprito do capitalismo no era definido apenas pela ganncia econmica, bem pelo contrrio: um sistema moral e tico que entre outras coisas leva ao sucesso econmico. Teria sido a transformao do lucro e do trabalho rduo para o con-seguir, numa tica o ponto crucial da evoluo cultural do ocidente. O protestantismo transformou a busca do lucro numa cruzada moral esta era a chave da explicao para o triunfo do capitalismo. Foi o apoio de um sistema moral e tico que levou expanso da atitude de busca do lucro e em ltima instncia ao sistema capitalista. A um nvel terico enfatizando que se preocupava apenas com a relao entre duas ticas (protestante e o esprito do capitalismo) Weber manteve a sua anlise no estrito campo das ideias.

    O esprito do capitalismo

    Pode ser encarado como um sistema normativo envolvendo um cer-to nmero de ideias interrrelacionadas, tais como:

    a procura racional e sistemtica do lucro mximo; a fuga aos prazeres da vida; tempo dinheiro; frugalidade; pontualidade; o dinheiro um fim legtimo em si mesmo; a ideia de que um dever de cada um procurar inces-

    santemente aumentar a sua riqueza.

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    Este conjunto de ideias disseminado numa comunidade retira o capitalismo do reino da ambio individual e d-lhe a categoria de imperativo moral.

    Weber estava interessado em compreender e estudar este conjunto particular de ideias mas tambm em perceber de onde ele tinha aparecido, quais as condies que lhe serviram de base. Estava particularmente interessado em compreender porque que tendo sido o calvinismo e a sua tica necessrios implantao do siste-ma capitalista tinha deixado de o ser. Este facto era tanto mais intri-gante quanto na realidade o capitalismo moderno no s deixou de necessitar do suporte moral do calvinismo como at se lhe ope em muitos campos.

    O capitalismo transformou-se com o tempo, numa entidade real que combina normas, valores, o mercado, o dinheiro e um conjunto par-ticular de leis. Transformou-se naquilo que para Durkheim era um facto social, exterior aos indivduos e coercivo. Nas palavras de Weber:

    O capitalismo hoje em dia um cosmos imenso em que o indivduo nasce, e que se lhe apresenta como uma ordem inaltervel de coisas em que tem que viver. Fora o indiv-duo, na medida em que est envolvido num sistema de rela-es de mercado a conformar-se com as regras capitalistas de aco.

    Outro ponto crucial na teoria de Weber que os Calvinistas no procuraram conscientemente a criao de um sistema capitalista. Para Weber o capitalismo foi uma consequncia no prevista da tica protestante.

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    Este conceito de consequncias no previstas importante na obra de Weber que pensava que aquilo que os indivduos e os grupos pretendem e exprimem como objectivo das suas aces leva muitas vezes a um conjunto de consequncias que se afastam ou contrari-am essas intenes.

    Este pressuposto terico de Weber resulta do seu ponto de vista de que os indivduos criam estruturas sociais que ganham vida prpria sobre que os seus criadores deixam de ter controlo. Esta falta de controlo permite que essas estruturas evoluam para sentidos impre-vistos.

    Aqui h um ponto de interseco entre as teorias de Marx e Weber.

    O Calvinismo e o esprito do capitalismo

    O Calvinismo foi a verso do protestantismo que mais interessou Weber. Um elemento importante do Calvinismo era a ideia da pre-destinao, a ideia de que havia um pequeno nmero de escolhidos ou eleitos para a salvao eterna. No havia nada que os indivduos ou a religio pudessem fazer para afectar o seu destino. S Deus intervm no destino de todas as criaturas pelo que absurdo imagi-nar que o valor pessoal, mrito ou culpa humanas possam afectar esse destino.

    Esta ideia de predestinao deixava as pessoas angustiadas quan-to ao seu destino como poderiam saber se estavam entre os elei-tos? Ao contrrio do que acontecia com o catolicismo, no Calvinimo o homem no pode redimir-se por obras, pela penitncia ou pela f. Tampouco a salvao sacramental administrada pela igreja con-

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    siderada. Para acorrer a esta angstia existencial os Calvinistas de-senvolveram a ideia (racionalidade substantiva) de que havia de-terminados sinais que podiam servir de indicadores quanto ao destino que os esperava. Deus o nico merecedor da confiana humana e quem envia esses sinais. A amizade e ajuda humanas s merecem desconfiana sendo que tudo o que carnal insigni-ficante aos olhos de Deus, Desenvolve-se ento um puritanismo que concebe negativamente toda a sensualidade e recusa toda a cultura dos sentidos da mesma forma que impe o desprezo das relaes humanas e da sua afectividade. Desta forma toda a ener-gia canalizada para o campo duma actuao objectiva impessoal no preenchimento das tarefas profissionais colocadas pelo Criador no seu caminho

    Por outro lado Deus chama os eleitos como saber interpretar esse chamamento?

    A partir destes elementos chave do calvinismo os sacerdotes, con-frontados com a angstia dos seus paroquianos, foram tentando encontrar solues alternativas para o problema da comprovao. Surgiram assim duas respostas relacionadas entre si, dois tipos de conselhos para a comprovao da presena da graa:

    Rejeitar toda a dvida (tentao do diabo);

    Trabalho profissional incessante.

    Esse ltimo mtodo seria o mais eficaz para se obter a certeza da salvao.

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    Comea ento a assistir-se transformao gradual da doutrina de Calvino at se instalar a crena na possibilidade de comprovao pelas obras.

    A irracionalidade da angstia do crente calvinista conduziu atravs de um complicado sistema de pensamento que sobre si se erigiu a frmulas de conduta absolutamente racionalizadas atravs de um autocontrolo constante e sistemtico.

    Note-se que para o catlico para quem as boas obras eram dou-trinalmente uma forma de obter a salvao vivia eticamente o dia a dia no se encontrando as suas aces necessariamente ligadas a um sistema de vida racionalizado eram antes uma sucesso de actos isolados que cumpria ao sabor das circunstncias para se re-dimir de alguns pecados. Isto acontecia porque a crena catlica mitigava a exigncia de um tipo tico de vida ao proporcionar aos crentes um meio eficaz e suplementar de salvao atravs da peni-tncia.

    O Calvinismo produziu assim um sistema tico e um grupo de pes-soas que eram capitalistas potenciais e que eram de facto os em-bries do capitalismo.

    Para alm desta ligao geral ao esprito do capitalismo o calvinis-mo tem para Weber algumas ligaes mais especficas:

    o capitalistas puderam perseguir os seus objectivos e ambies sentindo que no estavam a tratar meramente dos seus objectivos egostas mas a cumprir o seu dever tico;

    o calvinismo dotou o capitalismo nascente com profis-sionais conscienciosos e anormalmente industriosos que

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    se agarravam ao seu trabalho como a uma tarefa enco-mendada pelo seu prprio Deus;

    o calvinismo legitimou um sistema social estratificado com grandes desigualdades ao sancion-las como de-sgnio divino, como predestinao dos homens.

    Apesar de na tica protestante sublinhar o efeito do Calvinismo no esprito do capitalismo, Weber compreendia que tambm as condi-es econmicas e sociais influenciam a religio. Preferiu no entan-to no tratar essas relaes naquela obra, tornando no entanto cla-ro que no queria substituir a explicao materialista de Marx por uma explicao espiritualista mas igualmente parcial.

    Finalmente uma questo: se o calvinismo foi um dos factores cau-sais no surgimento do capitalismo quais foram os factores que im-pediram o capitalismo de surgir noutras sociedades. Para responder a esta questo Weber analisou barreiras tanto espirituais como ma-teriais nas sociedades da ndia e da China.

    Religio e capitalismo na China

    A sociedade Chinesa parecia reunir todas os pre-requisitos para o desenvolvimento do capitalismo: grande indstria e populao in-dustriosa, forte concorrncia, guildas poderosas, populao em ex-panso e afluncia de metais preciosos. Mas para Weber o capita-lismo embrionrio existente na China apontou na direco oposta ao desenvolvimento de empresas econmicas racionais. Porqu?

    Porque:

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    a comunidade chinesa estava organizada em cls dirigi-dos por ancios que os tornavam basties de tradiciona-lismo. Os cls eram comunidades fechadas negociando pouco com outros cls. Este facto encorajava a existn-cia de uma agricultura de subsistncia em pequenas parcelas e uma economia mais de base domstica do que de mercado. A pequena dimenso das propriedades impossibilitava a introduo de inovaes tcnicas. A agricultura permanecia assim nas mos de camponeses, a produo industrial nas mos de pequenos artesos, e o desenvolvimento das cidades, embrio do capitalismo no ocidente era inibido pelas relaes clnicas.

    A estrutura do estado chins era uma Segunda barreira emergncia de um capitalismo. O estado era essenci-almente de natureza patrimonial e governado pela tradi-o, prerrogativa e favoritismo. Para Weber no existia um sistema de administrao indispensvel ao desen-volvimento industrial. O tipo irracional de estrutura admi-nistrativa foi uma barreira importante ao desenvolvimen-to do capitalismo. Nas palavras de Weber o investimen-to na indstria demasiado sensvel a uma administra-o irracional e consequente impossibilidade de calcu-lar racionalmente a forma de funcionamento do aparelho de estado para emergir de forma significativa.

    A natureza da linguagem chinesa que tornava o pensa-mento sistemtico difcil ou mesmo impossvel, quer pelo uso abusivo de parbolas quer pelo eu carcter descriti-vo e quase pictrico.

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    O confcionismo com a sua nfase na necessidade de uma educao literria como pr-requisito para os status social e o desempenho de lugares no aparelho de esta-do conduziu a uma educao sem caractersticas tcni-cas e ao desempenho do trabalho administrativo por in-divduos no preparados. Mais ainda afastou as outras classes da sociedade (burguesia, sacerdotes, profetas) da administrao. Por outro lado a tica confucionista era uma tica de ajustamento ao mundo, sua ordem e s suas convenes. No confucionismo no existia ne-nhuma ideia de salvao, nenhuma tenso entre a reli-gio e o mundo, facto que tambm contribuiu para inibir o nascimento do capitalismo. O confucionista era incen-tivado ao cio e no ao trabalho e o que era bem visto era o status e no a riqueza propriamente dita. Para Weber o confucionismo era uma canonizao da tradi-o.

    O Taoismo era um religio chinesa para a qual o su-premo bem era um estado de esprito e no um estado de graa a obter atravs de uma determinada conduta no mundo real. Por isso os taoistas no agiam de forma racional para afectar o mundo exterior a si prprios. Tambm o taoismo era profundamente tradicionalista e uma das suas divisas bsicas era no introduzir inova-es.

    Taoismo e confucionismo tinham pois em comum o facto de no produzirem suficiente tenso ou conflito entre os

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    seus membros e o mundo real que os motivasse a uma aco inovadora sobre o mundo.