poltica como vocao - max weber

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MaxWeber APOLTICACOMOVOCAO Traduode Mauricio Tragtenberg Reviso tcnica Oliver T olie :~ UnB FUNDAOUNIVERSIDADEDEBRASluA Reitor Lauro Morhy Vicc-Rdtor Timothy Martio Mulholland EDITORAUNIVERSIDADEDEBRASILlA Diretor AlexandreUma Con.,c/ho Edilorial Presidente ElizabethCanceUi Alexandre Lima, Clarimar Almeida do Valle.HenrykSiewiersk Equpdilorlal Severino Francisco (Supef\1so editorial);RejanedeMeneses (Acompanhamento editorial); Ana FI.viaMagalhes e YanaPalankof (Preparao deoriginais ereviso); Mrcio Duarte (Projeto grfico. capa e editorao eletrnica); Raimunda Dias (Emendas);ElmanoRodrigues Pinheiro(Superviso grfica) Copyright o 2003 by Editora Universidade deBrasllia.pelatraduo Ttulooriginal:PolitikaIs&ruI Impresso no Brasil Direitos exclusivos paraesta ediO: EditoraUniversidadedeBraslia SCS Q. 02. B1ocoC. N"7B Ed. OK, 2" andar 70300-500- Brasilia-DF Te!: (Oxxl)22-6B74 Fax: (Oxx61) 225-5611 e-mail: [email protected] Toclos 06 direiros reservados.Nenhuma parte desta publicao podet. ser armazenada ou reproduzida por qualquer meio sem a autorizao por escrito da Edirora. ficha cataiogrfica elaborada pela Biblioteca Central da Universidade de Braslia Weber, Max W375A politiea como vocao I Max Weber; traduo deMaurcio Tragtenberg.- Bras1.lia: Editora Universidade de Brasilia,2003. BOp. Traduo de: Politik aIs Beruf ISBN 85,230-0721-0 1.Teoria Poltica. I.Tragtenberg, Srgio. 11.Titulo. CDU 32.001 MAXWEBER- Po/itikaisBeruf (A pol1tca como vocao) in Gesammelte Politische Schriften(Escritos polticos reunidos) V"- -k.\4 Cvv 1... D 0'0\)t>1:;, G',Sol....'( \:;>Vi;) II LtCi :3b 19 eil LO ( "6 r -""-)(, \\\b2..J '-'-{ +=Fc 1-1 /",''" ., 1_, / inevitvelqueessaconferncia,paraa. qualfui convidado pelossenhores,osdecepcioneem mui, tos sentidos. A expectativa de todos que euadote uma posio a respeito dos problemasneos.Issosacontecerdeummodopuramente formal na concluso, quando eu abordar certos pro' blemas a respeito do significado da ao poltica no contextodaatividadehumanaglobal,razopela qual ficaeliminada qualquer indagao referente a que pol1ticadevemosseguir ouqual contedo de' vemos conferir ao nosso agir poltico. Tais questes nadatmavercomoquemeproponhoatratar nesta ocasio: o que significa a poltica como voca, o e o que isso pode significar? Passemos aotema que nos interessa, O que compreendemos por polltica? O conceito demasiadamente amplo e incorpora todos os tiMAXWEBER+pos deatividade decomandoindependente.Falamos dapolticamonetriadosbancos,dapol1ticade descontos do Rdchsbank, da poltica de umto durante uma greve; tambm pertinentese pol1tica educacional de uma comunidade rural ou urbana, pltica do presidente de uma o e, finalmente, poltica de uma esposa prudente queprocuraguiarseumarido.Inicialmente,devo esclarecer que nossasreflexesno se fundamentam num conceito to amplo de poltica. Desejamos no momento entender por pol1tica apenas a direo oua influnciasobre a direodeuma associao poltica, ou seja, de um Estado. Porm, o que uma associao poltica do ponto de vista sociolgico? O que um Estado?camente, no podemosdefinir umEstadoa partir docontudodoquefaz.Nohnenhumatarefa que 1:l'l!laassociaopolticanotenhaemalgum momentotomadonasmos,mastambmma de que pudssemos dizer que foi sempre {; 1va dessas associaes denominadas pol1ticas e hoje emdiasodesignadascomoEstados,ouqueram historicamente as antecessoras do Estado /demo.Em'ltimainstncia,oEstadomoderno /pode ser definido pelos meios peculiares que lhe so prprios, como peculiar a toda associao polltica: /'o uso da fora fsica.na APOLTICACOMOVOCAO+fora", declarou Trotsky em Brest,Litovsk. De fato, de uma afirmao correta. Seinexistissemestruturassociaisfundadasna violnci, teria sido eliminado o conceito de Estado e emergiria uma situao que mais adequadamente designaramos como anarquia, no sentido especfico da palavra. Naturalmente, a fora no se constitui no meio nico do Estado - ningum jamais o afirmaria -, porm a fora num elemento especfio do Estado. Na poca atual, a relao entre violncia e Estado profundamente prxima. No passado, . socaes to diferenciadas - comeando pelalia- utilizaram como instrumento de poder a fora fsicacomoalgointeiramente normal.Entretanto, atualmente,devemosdizer queumEstadopma comunidadehumanaqueseatribui(com xito)o monoplio legtimo da violncia fsica,nos limites de um territrio definido. Observem que o territriotui uma das caractersticas do Estado.No perodo contemporneo, o direito ao emprego da coao ca assumido por outras instituies medida que oEstadoopermita.Considera-seoEstadocomo fontenicadodireitoderecorrerfora.Conseqentemente, para ns, poltica constitui o conjunto de esforos tendentes a participar da diviso doder,influenciandosuadiviso,sejaentre Estados, seja entre grupos num Estado. 8 9J MAXWEBER+ Tal definio corresponde ao uso quotidiano do conceito. Quando se afirma que um problema poltico ou que um ministro de um gabinete ouum oficial um funcionrio poltico, ou quando se afirma que umadecisopoliticamente determinada,faz-serefelirncia ao fato de existirem interesses na distribuio, 11na manuteno ou na transferncia do poder, fatoresI decisivosna soluo daquela questo,nadeterminao da deciso ou no mbito de atuao do funcionrio.Os_napolticaaspiram aopoder ou como meio para atingir outros fins, abstratos ou individuais, ou como poder pelo poder,para desfrutar da sensao de status que ele proporciona. comoasinstituies politicasqueoprecederamhistoricamente,oEstadoumarelaode seuspela violncia ,consideradalegItima).Pa@ que os_minados devemadosp.oderesdominante4Dal as seguintes perguntas: quando e por que obedecem oshomens?Ora,emquejustificaOes ntrlnsecas ou extrnsecas se baseia essa dominao? . Parainiciarmos, em princIpio existem trs tificaes.internas como fundamentos da legitimado Em primeiro lugar, a autoridade do passadoeterno,ouseja,doscostumesconsagrados por meio de validade imemorial e da disposio de APOLTICACOMOVOCAAo+ respeit-los. a dominaetotradicional patriarca oupelo prncipe patrimonial deoutrora. H tambm a autoridade em que se fundamdeduo(ca.rismaLEssadominaotemcomofundamento a esoaisnarevelao.noherosmoouemoutras qualdadesde... Essaadominaocarismtica,talcomoexer-chefeguerreiro deito, pelo governante empossado "por plebiscito, pelo grande demagogo e pelo chefe de um partido poltico.Finalmente, temos a domina .inpostapor me,iofundadana . crena da.validade do estatuto legal e da competncia funcionalbaseadanormasnidas.Essaadominaoexercida servi.4or do .t:,dos o.s detentores do. poder . a ele assemelhados. Supe-se na realidade que a obedincia dos s determinada pelo temor ou pela esperana temor da vingana exercida pelos poderes mgicos ou daquele que exerce o poder ou pela esperana de recompensa neste ounoutro mundo.Interesses dos mais diversificados podem condicionar a obedincia. Posteriormente, voltaremos a esse assunto. T odava, aoconsiderarmososfundamentosdelegitimaeto 10 II MAXWEBER+dessaobedincia, sem dvida deparamos com esses trs tipos puros que indicamos: domnao tradicional, carismtica elegal. formas legitimaoesua justificao '. interna so profundamente significativas para apreenso da estrutura de domnao. Na realidade, trstipospuros raramente.so enontrados. Hoje,no possvel nosocuparmosdasvariantes, dastransiesedascombinaesprofundamente complexas desses tipos puros, seu estudo pertence cincia poltica em geral. .,;:O poder fundado na submisso ao carisma purarmentepessoaloquenosinteressatratar nomomento. a base da idia de uma vocai!ona suaV" expresso mais alta. A devoo ao profeta portador de um carisma, ao dirigente da guerra, ou ao demagogo que age na sia_ouno Parlamento significa que so chamados in paraconduzir oshomens.Oshomens obedecem por causa dadepositamnos seus dirigentes e no em razo dos costumes ou. de um estatuto. Se o carisma for mais do que o to da conjuntura, o dirigente certamente viver pela causa dos subordinados e procurar realizar sua obra. ./ a pessoa e suas qualidades de chefia que orien-------- { tam a devoo APOLTICACOMOVOCAAo+A lideranacarismticaapareceuemtodasas pocas histricas e em todos os lugares.Nopassado, apareceu por um lado na figurado mgico e do profeta, por outro lado na figurado chefe guerreiro ousobaformadeumgruponaqualidadedeli condottiere.Nsestamosinteressadosnahegemonia exercida pelo demagogo livre, que emergiu na cidade-Estado.Porm, ele striunfouno Ocidente. sobretudonasregiesmediterrneas.Almdo mais, a hegemonia poltica na formade chefe de par-parlamentar nasceu nq espao do Estado constitucional, tipico do Ocidente . _-DTais polticos orientados por uma vocai!o no so de modo algum asnicas figurasdeterminantes na luta politica pelo poder.Q. meiosde que dispem os polticos so o fator decisiw. C9.!!:!2.Is foras po- ,.. lticasconseguem suauma pergunta dequalquer tipo de . domnao. valendo para a domnaao politica em todasassuasformas,sejaelatradicional, legalou carismtica. T od' dominao organizada que pretenqa man- v tercertaCQlltiI1!!idadeadministrativarequeruma direcionadaobedinciaqueles que pretendam ser depositrios do podl;;:rfegltimo. Por outro lado, em virtude desse tipo' de obedincia, adominao pressupeo da-.., 13 -+MAXWEBER+{queles necessriosel!1casode utilzaSO daflsica.Portanto, a dominao organizada requer \lm controle doburocrtico e da existnjainstrumentQ.s materiais de administrao. O pessoal burocrtico que representa no mbito externo a organiza!Qo poltica, corno em qualquer outra organizao, noseencontra vinculadoa quemdetm opoder somente por meio das concepes de legitimidade dequetratamos,mas eIDJunoqc_ prestgio social emateriais. Feudos dos vassalos, m:rl>endas dos funcionrios . patrimoniais, v_encimentos dos servidores pblicos modernos, as honras dos cavaleiros, o priyilgjo dos . proprietrios de terras e odo funcionrio pblico constituem seus salrios. Alm disso, o que funcionrios burocrticos aos detentores do poder(o medgvantagws.Isso tambm valepara a dominao carismtica:numa guerra, h glrias e riquezas para os seguidores; os adeptosdodemagogorecebemdespojos- isto,a explorao dos dominados por meio do monoplio do cargo -,. e existemvaidade politicamente determinados. Tais recompensas surgem pela dominao exercida por um lider carismtico.Para manter a dominaO pela fora, tal corno numa organizao econ14 ->APOLTICACOMOVOCAO+mica,sonecessrioscertosbensmateriais,razo pela qual todos os_Estado.s podem ser classificados..! namedidaemquesefundamentamnapossedos meios -administrativospelosfuncionriosou trados ou no fato de seu pessoal burocrtico separado desses J.lleiosdeadministrao. Tal distino estabelecida quando nos referimos ao fato de empresasosempregadosassalariadoseoproletariadoestarem, sepradqsdosmeios produo. O detentor do poder precisa contarcomaobedinciadosfuncionrios,dos membros de sua equipe.Os recursos administrativos podem consistir em dinheiro, edifcios, material de guerra, cavalos, veiculas e muit'as outras coisas. O problema central saber se o detentor do . dirige e organiza pessoalmente a administrao, delegandoopoderexecutivoafuncionriosdesua confiana,funcionriosassalariados,membrosde' suafamliaquenosoproprietrios,isto,que noutilizamosmeiosadministrativoscomplenos direitos, ou, se pelo contrrio, so dirigidos pelo chefe.Essas diferenciaesaplicam-sea quaisquer organizaes administrativas que j existiram. sassoaes pol1ticas nas quais os meios materiais de administrao soparcial 0l!. pelopessQ.riginal que acompanhamos com nossos olhos, que consiste nao exp:I'oprt,!-,q,orrn.d..clsp()Jitco e, maneira, do pqder poltico. A medida que esses dirigentes ocuparam o lugar das autoridades constitudas - como se deu n no ltimo perodo ," A necessidade de uma direo unificada da poltica, inclusive da poltica interna, sob a gide de um s homem de Esfado, apareceu com clareza nos Estadosconstitucionais.Semdvida,anteriormente apareceram fortespersonalidadesnaqualidadede conselheirosouguiasdosoberano.Noobstante, osrumosdoEstadoseguiramcaminnodiversodo queassinal.amos.Mesmomais dos; o quesenota emprimeiro lugar , a fo:rmao deum, c?rpoadministrarivo'supremo 'defrm,a "- ,_.-.- --- .. -_...- --- --7.- ' r teoricamente e cada vezmenos naprtica,reuniram-seessesrgossob.apresi31 i,! II -+MAXWEBER+ dncia pessoal do rei, o nico a decidir. Tal sistema originoupropostas,contrapropostasevotosque obedeciaJl1aoprincpiomajoritrio,almapelarhomens.k elepesQalmente 11nculados o gakirly:-, porcuja mediaoorei decidia em resposta a resolues dos Conselhos de Estado.Orei,cadavezmaiscolocadocomoum diletante, esperava dessa forma influnciaeaopoderdosfuncionriosespecializados, reservandoparasiadecisoemltimainstncia. Essa lutaliu:enteos bWQc::r_g.J:l! especializados 'I}(e o governo.alltocrtigl I?-a,receuem t.9dosQ. Hoeumdanasurgi( ramParlamentosa,s aopodeJchd sJ!!....Q.s Embora esseno se tenhaconforme a especificidade de cada pais, no obstante conduziua idntico resultado.Com algumas diferenas, certo.Onde as tinastias conseguirammanterumpoderreal- nafAlemanha precisamente -, osinteresses do reiI ram-noaaliar-seaos, burocratascontraaaodo \Parlamento e suas aspiraes ao poder.Os funcionrios estavam interessadosemquedementosde seumeio ocupassemposiesdirigentes,isto, cargosministeriais,quesetransformavamdessa formaem alvo final de carreira.Por sua vez, o monarcatinha interesseemnomearministros, 32 -+APOLTICACOMOVOCAAo+ lhendo-os entre os burocratas a ele ligados por dedicao pessoal. Os e o monarca tinhaminteresse em manter-se unidos parat\t.;:e. substituirosistema. colegiado por um gabinete que exprimisse a unidade do ministrio.Para manter-se acima das lutas partidrias,9)J.!9narca de_uma pessoa que lhe proporcionasserespondesse v *,. aos parlamentares e negociasse om os partidos po'lticos. Taisconduziram a uma alJtor:F dadeuill!icadadeummini@:gburQ9:al;a.Ondeo Parlamento prevaleceu sobre o monarca - como na odesenvolvimentodopoder nosentidodaunificaodov aparelhoAqui,ogabinete,comafigura centralizadora do chefe do Parlamento no seu topo, oassimchamadolder,converteu-seemumacomisso que, apesar de ser ignorada pelas leis oficiais, era de fato a detentora do poder poltico de deciso, postoqueeraformadapelopartidoquetinhano momentoamaiorianoParlamento.Ospartidos polticosrgos do 120der p()litico dominante,eosorganismoscolegiadosnopuderammaisper;manecercomoosdetentoresreaisdo poder. O partido dirigente necessit,avaum composto pelos seus verdadeiros dirigentes a fimd tratar de forma reservada dos negcios, afirmar s 33 ,. MAXWEBER+autoridade no plano interno e orientar a poltica exterior. Tal rgo s6 poderia ser o gabinete. O pblico,especialmenteoparlamentar,percebiilcomo chefeunicamente o chefedo gabinete.NaEuropa,' o sistema ingls sob a formaderiosparlamentares.SomentenosEstadosUnidos da Am.ricado Norte e nas democracias sob sua influnciaseadotouum sistema diferente,em'que o chefe do partido vitorioso eleito por voto universal . estava frentedos funcionriosnomeados por ele; apenasemmatri;:tsde legislaoe oramento de do Parlamento. Odesenvolvimento da. polticamold;s .' que reguera um aprendizado n? li.ttapelo pOQg: e acriaco de mtodos - como de fato ocorreu com ospartidos -, condicionou aV' dosfunionri.ospblicos duasategorias.bem definidas: os administrativos e os "polticos".( &(Os funcion:n_QsP,Q./ti.cQs. no sentido propriamente dito do conceito,pela maneira com quepodemserfacilmentedeslocados,destitudos ouem ocorre com os pre naFranaoucom outrosfunconriosem igual situao em outros pases, em contraste com. a independnciados funcionrios'com funes judiciais. Na funcionrios polticos, conformeconveno estabelecida, colocam seus cargos -o,.\,.r'J':)\;"'"'.",1 . . .,r) I, . ". -+APOLTICACOMOVOCAAo+-disposioquandoseproduzumamudanaparlamentar e, conseqentemente, uma alterao no gabinete.Isso sed especialmente com aqueles funcionrios incumbidos de velar pela administrao interior,. manter a ordemno pas.e;- conseqentemente, manter a relao de forasPrssia, me o decreto do ministro Puttkamer, com o intuito de evitar censuras, tais funcionrios tinham a .", ,\ gaoderepresentarapolticagovernamentale,da ,mesma forma que os prefeitos franceses, foram como ns.trumento bl:lroctco P1!Ii1influenciarv Jn.Qdaseleies.Porm,constitui uma culiaridade do - contrariamente ao que ocorria em outros pases - o fato de o acesso s 'funesadministrativasdependerdeestgioy examesesitrios. Esto isentos n Alemanha dessas exigncias somente os ministros.Sobo Antigo Regime,era possvelserministrodeEducaonaPrssiasem possuirdiplomadeensinosuperior,aopassoque somente quem fosse aprovado no sistema de exames " tinha acesso ao cargo de alto funcionrio ministerial encarregado de relatrios sobre as atividades do rgo em que estava lotado. Um chefe de uma diviso administrativa de um ministrio ou um conselheiro especial - por exem35 I , )i" I' I:', -+MAXWEBER+pIo,na poca em que Althoff era ministro da Educao da Prssia - estavam mais informados que qualquerchefededepartamentosobreosproblemas tcnicos a ele afetos. O ITl!,:smoocorreu na Inglater porfl,mcionrio especializado j,l.......--"'=./l"informadorefeIS; r9..!in.lo E isso no sem motivos racionais,poiso ministro erao('d_UU1.J!.confi!Wracono da qual fazem parte avaliar, em funode um programa,aspropostasapresentadaspelosfuncionrios especializados e..illdlJJjrde seus subalternos v' a orieno p.9,l,ttici vigen.!iS;.llil partido. Numaomesmoacontece. O soberano verdadeiro, ouseja, a assemblia de acio"nistastemtodiJlli,.nu,l;.Jl actl.s.negQ9.g qu'illtQ o P2Y..odirirug9 PQfespecializados.Osquedetmpoder.dedecisoa respeitodapoltica _da osmembrosdo administrativo,sob a hegemonia dos bancos, traam apenas as diretrizes econmicas, atribuindo cargosdministrativosaquemtemcompetncia pa.ra dirigHa tecnicamente. A estrutura do atualtado revolucionrio no apresenta nada de novo nesse sentido. A direo da administro fica entregue a diletantes porque soelesque dispOemdearmas, demetralhadoras;deigualmodo,elesvemnos 36 " -+APo LTICACo MoVoCA o+funcionrios especializados simples auxiliares executivos. As dificuldades enfrentadas pelo atual sistema noradicamnisso,masnumaoutrareaqueno abordaremos nesta conferncia. Interessa-nos oaSl2ectosespecificosV dos profissionais,tanto doschefespoliticos comodeseusadeptos.Essesa]ps:;tosmu.dram"* doe tr-:, ().. . , Verificamos que, no passado, os polticos profissionaisemergiram daluta entre osreise ossenhores feudais,colocando-sea servio dos primeiros.Examinemos coma devida brevidadeos principaistipos em que se apresentam tais E.Cll!tS:9s-PJ:Q.&siou!.',l Nasualutacontraossenhoresfeudais,orei apoiou-se nas camadas politi-.mente indepens!fn, .!g, nosujeitasordemfeudal.Pertenciaaessa camada o clero, no s nas ndias Ocidental e Oriental,naChinaenobudistasenaMonglia lamalsta, como tambm nos palses cristos na Idade Mdia. Isso tudo obedecia o c!gQ"do- "'" a Emtodos os lugares, a incorporao de,brmanes, sacerdot'!S'budistas, lamase oemprego debisp92. C9U1-.P lheirosocorreusobade dotadas dCl, poder 37 ")eTonaJdE:C*nCiai SolallJ Hl.lmamaaClll -+MAXWEBER+ daescrita,asquaispoderiamserapmve;iradas na lq!]. dos imperadores, reis e khans ontl APOLlTICACOMOVOCAAO dominantementenombitoPblico, por meioda laIa ou da escrita. Pesar o efeito das palavras tarefa doadvogado, no doJ> nata no um n(? "". finig:Se, por inflicidade, PiteIide esse papel, ir mediocremente. bllrocrata - issQ fundamental para \Antio Regime- tudorazo de sua nodev.t:: " (oficialmente e na medIda em 9.ue os interesses fun.::,. . I ordem exjstente - daraza deEstada.;:. \ " ;1noe;tejamemjogo.LPeveeledesempenharsuar" )t missosemamore semdio,razopelaquall}!g. idcv fazer0.iU!e cargcterstica bsica dl""Y . homemp()litico:partido, lutar,apal' --JJ por uma causa caracterizam o homemlttico,acima de tudo o chefe poltico.Sua conduta estsubmetidaaumprincpioderesponsabilidade: !,estr,anho e ao que nortei,a, o funcio' 'rIAPOLTICACOMOVOC-AO+tudos por amadores.Eles eram muitas vezes postosporestudantesdediversasfaculdades,os quaissedirigiamaumhomemaquecreditavam qualidadesdelideranadoseguintemodo:"Fare# mos o trabalho necessrio, a voc caber a liderana". Emsegundolugar,aparatosdecartercomercial. Neles,pessoas a quem fora atribuda a qualidade de lder recebiam ofertas deoutras dispostas acuidar da propaganda mediante o pagamento de nadaquantiapor cadaeleitorconquistado.Seme perguntassem com franquezaqual dosdoislhos meinspira confiana, responderia sem nejar: o segundo. Advirto que nos dois casos nos v' contramos .antebolhas.lksaboqgerapidamente ascende.mpara199.odepoisestourar.Osaparelhos existentespormcontinuaram funcionando.Osfenmenosanteriormente lados so apenas sintomas deorganizaes que po# deriam emergir se houvesse chefes novos.No entan# to, Jpe:cllliaridadedarpresentao proporcionalimp_ediaaconq;cesse. menteemergirampara desaparecercomamesma rapidez alguns ditadores das multides que alvoro# aram as ruas.Os seguidores dessa ditadura popu# lar estavam organizados de forma estritamente ciplinada;dasuafora,que,naatualidade,perde importncia. 79 ------ --+MAXWEBER+Suponhamosqueoquadromude.Ento,forme dissemos anteriormente, figu c1u:.9que V'-. plebiscitriaQQ.sNr:t.idos!Itc"dgpersonalizaoksel!a.9fRtos,S!.l. Paraquetenhamutilidadeparaochefecomo aparato, os adeptos devem seguHo cegamente, isto ,rriquinanosentidosem que haja interferncia da vaidade dos notveis e pretenses de defender os prprios pontos de vista. Grafls- esseqrter di!pol1ticafoi possvel Lipcoln sg Idntico fenmeno se com o caucus,beneficiando Gladstone..Qpreo vs.s,rRelahegemoniadosdirigente1l. Z,Spossvel optarmos entreumademocraciade /dirigentescomumaparelhoeumademocracia, (aCfala,ouseja,renegandoo chefe,seesta estiver sob domnio dos polticos profissionais sem vocao ou carisma - a isso a oposio no interior de um do denomina o reino das faces.Atualmente, isso oqueocorrenaAlemanha.Noseiodospartidos alemes,atualmeate vislumbramosapenaso niodospolticos.OressurgimentodoConselho Federal perpetuar tal situao no Estado Federal, conseqentementelimitandoopoderdaAssem- . bliaeapossibilidadedaemergnciadelideres. O' sistemaderepresentao proporcional,como 80 +APOLTICACOMOVOCAO+ atualmente conhecido, trabalha nessa direo. Esse sistema a manifestao mais clara deuma cracia sem lideranas, facilitando em favor dos notveismanobras na confeco das listas devotaoe tambm porque.asgrupos dearem os partidos pol1ticosa incluir em suas listas subordinadosseus,dequesurgirem breve um Parlamento apoltico, no qual os que tm lilerana_,nMJn]gar.Diante 'da faltalderes, do Reich seria uma alternativa, desde que fosseeleito por plebiscito e nopor via parlamentar.Somente expostosaocrivodeuma nistrao no municpio onde possam escolher seus auxiliares imediatos, como se dnos Estados Unidos,surgeumprefeitoplebiscitrioc?mbate a o surgimento de lideranas e de uma seleo entre os candidatos ___ possvel aguardar tal resultado se os partidos fossem organizados em funo de um processo eleitoral dessetipo.Noentanto,ahostilidadequeno-burguesa em relao aos lideres, que aparece com toda sua clareza no Partido alemo, torna muito fluida a natureza da futura estruturao deisprtidos, bem como incertas as sibilidades deque se d a emergncia depersonalidades com liderana. 81 --------+MAXWEBER+- -+APOLTICACOMOVOCAO+,li/', i Conseqentemente, 1Youtras pessoas,quetoma parte noest\ ,._..... -.-,a acima delas e, sobretudo)ade ter.=m s,uas . mosorumodeacontecimentoshistoricamente vislumbranenhumapossibilidadedeabrirespao importantes podem ajudar o poltico prof!ssional a vocaopoltica parasuperar a rotina quotidiana, mesmo quando ocupar - -._._-------..tarema umatarefaSatsfatriiC;uem, emfuno Porm,a quesdesu'a situaoer viverda..poltica, toquesecolocaagoraaseguinte:quaissoas duas alternativas: oudedicar jornalsIl!o qualidades que lhe permitem estar altura do po bUrQ,cr&japartidria, .all.lutar para conseguir der que possui(por menorqueseja)e,por um, cargo numaassociaoquedefendainteresses qncia, altura da responsabilidade que tal poder do tipo sindical, cmara de comrcio, sociedade ru- I I lheimpe?Issonoslevaaoterrenodasral,ouprocurarumcargoemumgovernolocal. .--' ticas em que est implcita a exigncia:tipo de Nada mais se pode dizer a respeito seno que tarlto necessrio ser para poder interferi' ,/i/ o jornalista corno o burocrata de um partido polti'\ na roda da histria?.11co partilham dio igual ao que dedicado aos "desYdizeE3ue trs gualidades _,4.classificados".Serosemprechamados,pelascos< V"tas, verdade, de escribas assalariados 9Jd oradores aso/do./ ,de e sentIdo dadlrrutal"'es Quem for incapaz de enfrentar tais ataques, melhor '----seria no se dedicar quelas carreiras, que, apesar de no_sentidode.$jctiv.idade, constiturem defatoum caminho pOSSvel,trazem devoo apaixonadacausa,aoDeus ou ao.._.--.) No se trata de paixo) bojo no s contnuas como ta!!!.:\mnio que o soberano . ____----o PE;mas Cabe agora considerar quenosentido cI.efinido por meu falecido amig() Ge.orge satisfaes ntimas podem proporcionar essasSimmel- comoexcitaoestril-. peculiaracerto ----_.---reiras e quecondies pessoais constituem pr-re tipo de intelectuaL russo (nem todos, claro), uma quisito para seguir esse caminho?excitaonesse carnaval que dengminamosr_Bem.-'a.an.tes d.e mais,pro.porc.io.J).a \iolui!tZdesempenhaJilll grande nte u1!!: ckpoder.SaberTrata-se_ de um romantismo do /' ({i' 83 MAXWEBER+nlente interessante,que se perde num vazio no qual .falta qualquer sentido de responsabilidade mais autntica que seja,ciente.Colocadaaserviode umacausa,faltando n_---.. sentimento bilidade, como elemento fundamental da atividade, . lltEe de emergirem conseqncias desagradveis. r eti n.Q; diz em queuI]. fim.v... !rnlmente.bQn:ljustif.i.c.ameioscQnsetl)cias \,--m(,lr!'!!m.enre---'95 -+MAXWEBER+v O instrumento decisivo da poltica a violncia. ""-----"..A relao entre meios e fins do ponto de vista tico aparece claramente quando se analisa a atitude dQS socialistasrevolucionrioszimmerwaldianos. ranteaguerra,defendiamoseguinte "Colocadosanteaescolhaentrealgunsanosde guerra seguidos derevoluo e a paz imedia.ta sem revoluo, escolhemos a alternativa: mais uns anos deguerra!".pergunta:oquepodetal revoluo trazer? qualquer socialista com formao cientfica spoderiaresponder:nomomentonosepode falar de uma transio para uma economia que seria denominadasocialista;ressurgirumaeconomia burguesa, desprovidadoselementos feudaise dos vestgios dinsticos.Para alcanar esse resultado queseaceitariammaisunsanosdeguerra. justaa afirmaodequeumaconvicosocialistaslida pudesserejeitaroobjetivoqueexigetaisOproblemaassumefeioidnticanocasodo espartanismo, do bolchevismo e em todo tipo de emgeral.Daserridculo oralmente os polticos do Antigomedeutilizaremapolticade foraquandoelesse valemdomesmomeio,pormaisjustificadaque _.-seja a repulsa pelos objetivos de seus adversrios. .dJtka da cnvicco colocada pela \justifi.ll.iio do pelos fins.No lhe resta96 -+APOL!TICACOMOVOCAO+tra alternativa a no ser condenar qualquer ao que recorraameiosmoralmentecensurveis,issono plano lgico.No mundo do real, verificamos que o1. adepto da tica da convico se converte num profe' o exemplo dos que pregavam o amor oposto violndae agorao uso-daTra 'mo.---._.. _.----_._....-.o ltimoato vioren:toque leval.. violncia como ..NO de forma diver, sa que nossos oficiais se dirigem aos soldados antes decadaofensiva:"Estaseraltima;a vitria, e com ela, a paz". O defensor de uma tica de convicocomseufnalismonosuportaa irracionalidade tica do mundo. um tico, csmico.filieleW1 Dos!oievski v a. cenadogrande-qualodHema.4 forma No possvel colocar a ticadaconvicoeaticadaresponsabili.dade num mesmosacooudecretar eticamentequais os finsquedevem justificar determinados meios, se que se faz alguma concesso a este princpio. Meu colega F. W. Foerster, por quem nutro alta estimaporsuaindiscutvelsinceridade,masa quemrejeitototalmentecomohomempoltico, acredita poder superar esse dilema com base naguintetese:o bem spode produzir o bem,o mal s produzir o mal.Se fossepossvel tal soluO,o 97 MAXWEBER+ problemanemsecolocaria. espantosoqueesse ponto de vista persista aps dois mil anos da >/ tncia cill.s upanishades. A experincia quotidialla e a histria universal esto ai para desmenti-lo. O desenvolvimento das religies no mundo d-se a partir do contrrio aoqueafirmaF.W. Foerster.Oproqueateodciaenfrentaexatamentea r'questo J.s-:cQ!!L0um p..Q.derapresentado comg bom c;;",oniQ.otente teJ1l1a criru;lo este ml!.l!.do irracJQnal, de sofrtmmoinju1'!:.!&a impune e.. inQrrig1vel. Ou este poder no onipotente, ou no . benvolo, ounossa vida . dirigida por PEincpios de sano e recompensa, principios s poderemoscapam total;;nte nossa . c:l,9mundo fpj .il.. -..... motriz'! relig!S. A partir dssa experincia,nasceramasdoutrinashindud..Qka!m.a, -/dQ du..alismo d.Qpecado original, e,doOs primitivos cristos sabiam perfeitamente que o bem no fere o bem e o mal no gera o maL sabiam eles que o mundo governado por demnios,eaquelequesecomprometecomos instrumentos do poder e da violncia - com a pol1tica conclui um pacto com o Diabo. Quem noentende isso , na realidade, politicamente uma criana. 98 APOLlTICACOMOVOCAAO+ Estamos situados em diversas esferas existenciais, cada uma governada por leis diversas. A tica religiOsaadaptou-sedevriasformasaessassituaes. O politesmo helnico oferecia sacrificios a Afrodite, aHera e a Apolo, sabendo queelessecombatiam. Nandia,cadaumadasprofisseseraregidapor uma lei tica especifica, um dharma,que estabelecia entreelasumaseparaoabsoluta,integrando-as numa hierarquia esttica e imutvel. Quem nascesse numa casta estava condenado a nela viver, s podendolibertar-sedelamedianteareencarnao numa vida futura.Assim, cada profisso encontrava-se a uma distncia diversa da salvao suprema. Dessa forma,definiu-seo dharmade cada umadas castas, dos ascetas e brmanes at os vis e prias no interior de uma hierarquia que englobava as profisses at ento existentes. A pol1tica en-- v contram s!:!!.llo.alizao dMAXWEBER+ islmicacomocondiodesuaexistncia.V-se que no foio ceticismo moderno, produto do culto ao heri do Renascimento, que colocou o problem da tica poltica.Todas asreligies,com maior ou menor xito, enfrentaram essa problemtica, e a ex: posio feita mostrou que no poderia ter sido dife(j."rente. Oespecficodosproblemastcosnareada ,{ violncialegtima,dequea"associao se \ ;PQrtsW.or.a."' ...

fim- etodosospolticQsutilizam-nos- ste)f: .,--_._,,-...-- -.----. posto a sofrer suas conseqncias.Isso vale para o cruzado, para-o religi;;o oupara-; revolucionrio. Sem temores, tomemos como exemplo a atualidade. Quem quiser estabelecer a justia

de organliao:sem oferecer os-vosinterrulsdivinaou 'materiat a s modernascondies de luta de'dasses,osincentivos internos consistem emsatisfazell"o dio, o desejode vingana, o ressentimento e, principalmente, a tendncia pseudo-tica deter razo a qualquer custo, saciandoassimodesejodedenegriroinimigoe acus-lo de hertico. As recompensas materiais vm 102 ->APOLTICACOMOVOCAO+ emseguida:soaaventura,avitria,opoder,os despojos e as vantag,ens., O xito dode do funcionamentoua mguina eJ10.apenas de)jh seussentimentos J; per adeptos,eles ]uardas vermelhos,o n? , res,devede vezemquandose curvar ssuasexi-genclas, queve'zesso-;;;r;lmente -detca. Eie s(;htrokenquanto uma frao deles depositar f sincera em sua pessoa e na causa que defende. Essa confiana,emborasubjetivamentesinceraemmuitoscasos,namaioriadasvezesnopassadeuma legitimaoticadedesejosdevingana,poder e enganarQmverbor- v o materialismo histrico no um veculo no qual subimos vontade e que detido pela vontade dosresponsveis pela revoluO.Importater sempre em vista que a uma revoluo animada pelo entusiasmo sucede um perodo de rotinatradicionalista do quotidiano, no qual o heri da f abdicar e a prpriafsetransformarnumelementoda fraseologiaconvencionaldefilisteus,depolticos pedantes e de tecnocratas mecanizados. Essa transformaod-secommuitarapidez,especialmente 103 -+.MAXWE B E R