wallon resenha

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Resenha Crítica Galvão, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infanti. 17. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. 134 pág. 1. Credenciais do Autor Izabel Galvão é pedagoga formada pela Universidade de São Paulo, onde também cursou mestrado apresentando a dissertação: “O espaço do movimento: investigação no cotidiano de uma pré – escola à luz da teoria de Henri Wallon”. Atuou como professora de 1º grau, técnica de programas educacionais, voltados para a infância e atualmente trabalha na área de formação de professores. Está cursando doutorado na FEUSP, prosseguindo as pesquisas no campo de interseção entre a educação infantil e a psicologia do desenvolvimento. Recebeu o Prêmio Gottfries Hausmann oferecido pela UNESCO, pelo artigo “O espaço do movimento: uma análise dos conflitos nas interações entre professor e alunos de uma escola maternal”. 2. Resumo da obra Perfil de um humanista Inicialmente, a autora discorre sobre a intensa vida de Wallon, médico e filósofo que se interessou pela psicologia ao encerrar seus estudos universitários. Rressaltava que a

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Page 1: Wallon resenha

Resenha Crítica

Galvão, Izabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento

infanti. 17. Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. 134 pág.

1. Credenciais do Autor

Izabel Galvão é pedagoga formada pela Universidade de São Paulo, onde também

cursou mestrado apresentando a dissertação: “O espaço do movimento: investigação no

cotidiano de uma pré – escola à luz da teoria de Henri Wallon”. Atuou como professora de 1º

grau, técnica de programas educacionais, voltados para a infância e atualmente trabalha na

área de formação de professores. Está cursando doutorado na FEUSP, prosseguindo as

pesquisas no campo de interseção entre a educação infantil e a psicologia do

desenvolvimento. Recebeu o Prêmio Gottfries Hausmann oferecido pela UNESCO, pelo

artigo “O espaço do movimento: uma análise dos conflitos nas interações entre professor e

alunos de uma escola maternal”.

2. Resumo da obra

Perfil de um humanista

Inicialmente, a autora discorre sobre a intensa vida de Wallon, médico e filósofo

que se interessou pela psicologia ao encerrar seus estudos universitários. Rressaltava que a

pedagogia e a psicologia deveriam sempre andar juntas, pois uma oferecia o campo de estudo

para a outra.

Wallon viveu em um período muito turbulento da história, entre as duas guerras

mundiais, o que incentivou deveras a objetividade de sua teoria. Aderiu desde muito cedo às

causas sociais uma vez que desfrutava em sua residência de uma atmosfera muito

democrática. Aliou-se ao socialismo, mas não por muito tempo por se desencantar com toda a

máquina política que destoava da ideologia socialista. No entanto, continuou no meio político,

foi deportado, mas não deixou de lutar contra os fascistas. Aliou-se ao partido comunista e lá

atuou até a sua morte.

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Aborda a autora que Wallon finalizou sua vida acadêmica como médico. Após se

formar, dedicou-se ao estudo de crianças com deficiências mentais. Em1914 foi às trincheiras,

às frentes de batalha e clinicou na guerra. Quando voltou a França para cuidar dos feridos de

guerra, desenvolveu estudos comparativos entre os soldados feridos com lesões cerebrais e as

crianças portadoras de deficiência mental.

Ressalta a autora a participação de Wallon em vários debates educacionais na sua

época: incluindo discursões sobre a nova escola, criticou o excesso de espontaneidade que

esse novo método escolar oferecia. Ainda ocupou vários cargos educacionais onde

destacadamente foi presidente da comissão para a reformulação do sistema de ensino francês,

o que acarretou o projeto de ensino Langevin – Wallon.

Uma psicogênese da pessoa completa

Aborda as criticas enunciadas por Wallon à psicologia introspectiva (onde se

imagina ser interior o psiquismo) e a materialista mecanicista (onde o pensamento é produto

do cérebro apenas). Destaca o psiquismo social como característica essencial do homem.

Dizia que as relações sociais, a internalização de hábitos e exposição de idéias e conceitos era

imprescindível ao desenvolvimento mental. O materialismo dialético, então, foi base para os

estudos de Wallon para com o ser e sua relação de troca continua com a sociedade.

Segundo Wallon, o homem é geneticamente social. Com notável interesse pelo

comportamento infantil, estudou todos os aspectos da realidade da criança para conseguir

observar os variados aspectos de seu desenvolvimento comportamental.

De acordo com a autora, Wallon fez diversos estudos de ordem patológica,

neurológica e, principalmente, antropológica, pois queria comparar as sociedades primitivas

com desenvolvimento infantil.

Interessava-se pelas idéias de Piaget, principalmente, e Freud. Estabeleceu um

amplo diálogo com o primeiro em relação a estudos de fatores genéticos. No entanto, Piaget

procurou realizar em seus estudos a psicogênese da inteligência ao passo que Wallon preferia

estudar o homem como um todo no meio onde ele estava inserido, relevando diversos outros

aspectos que não interessavam tanto a Piaget.

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A complexa dinâmica do desenvolvimento infantil

Explana os estudos de Wallon acerca das etapas do desenvolvimento infantil:

inicialmente, no começo do ciclo da vida de um recém nascido, o indivíduo é

predominantemente orgânico em detrimento do social. No entanto, a medida que a criança vai

tendo contato com a cultura de determinada sociedade, há um continuo processo de

construção das condutas psicológicas superiores, como a inteligência.

Relata a origem dos diversos conflitos que as crianças passam durante sua

maturação psíquica: percalços de origem exógena têm cunho social e os de caráter endógeno

possuem relações maturacionaisl nervosas.

Wallon define também os estágios do desenvolvimento infantil: no primeiro há a

predominância da emoção, a criança utiliza sua afetividade para recompensar sua inaptidão

para com o meio; na segunda etapa, a cognição infantil começa a aflorar. Neste estágio, o

sensório – motor, há o desenvolvimento do simbolismo e da linguagem, assim como é

perceptível também uma maior autonomia em relação ao manuseio de objetos; a terceira etapa

é o do personalismo que encerra a formação da personalidade e da consciência de si; o quarto

é o estágio categorial onde o apuramento e diferenciação da personalidade; o ultimo, o estágio

da adolescência, é o mais turbulento, pois a ação hormonal é muito intensa e resulta em uma

revolução na personalidade, que volta a privilegiar a afetividade.

Finaliza abordando um aspecto da aquisição do psiquismo, o jogo funcional, uma

fase infantil onde o indivíduo aprende algo e fica repetindo seqüencialmente. No entanto,

apesar de ser um estágio normal da criança, dependendo do caso, esta fase pode seguir a

pessoa pelo resto da vida.

Conflitos eu-outro e a construção da pessoa

O conflito “eu – outro” é abordado: ao nascer, a criança não possui nem tem

noção de independência. No primeiro ano de vida, primordialmente, ela ainda se indica na

terceira pessoa. No terceiro ano, porém, ela já se proclama como “eu” e começa então a sentir

a necessidade de negar a outra para afirmar a si própria. Na próxima fase, a da graça, ou seja,

a fase da sedução, a criança necessita de uma auto-admiração, mas já percebe e contempla as

outras. Após essa fase há a predominância da imitação, onde a criança tenta a reaproximação

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do outro que foi negado através da imitação. Na adolescência a diferenciação do outro é feita

através da diferenciação de opinião.

As emoções: entre o orgânico e o psíquico

Ressalta a questão das emoções. Para Wallon, os primeiros meses de vida são

essenciais para a sobrevivência humana e com o passar do tempo as emoções vão sendo

exteriorizadas. Liga as emoções com algumas mudanças neurológicas. Por exemplo, a cólera

é encontrada principalmente nos recém – nascidos, que possuem alto grau de mudança

neurológica.

Wallon faz um paralelo entre razão e emoção. Muitas vezes a emoção nos impede

de pensar de forma objetiva. Dessa forma, relata que em situações de grande teor emocional é

preciso tentar raciocinar sobre as causas daquele conflito para que as repercussões sejam

menores.

Dimensões do movimento

Fala sobre o movimento e o equilíbrio, suas variações durante o curso do

crescimento físico e do desenvolvimento psíquico da criança. Em crianças pequenas, há um

predomínio das emoções em detrimento dos seus movimentos, suas ações motoras.

Dessa forma, conclui, de acordo com Wallon, que o desenvolvimento psíquico

aumenta a capacidade motora do indivíduo, no caso, independência infantil. Esse

desenvolvimento psicológico, no entanto, de nada impede que a criança, em seus momentos

lúdicos, utilize instrumentos como representantes de sua realidade, sua imaginação, para

mebarcar em seu mundo de fantasia. Esse comportamento, por vezes, permanece até a idade

adulta.

Às disciplinas mentais Wallon chamou a capacidade de controlarmos nossos

movimentos, o fato de executar de forma motora o pensamento, habilidade que só se

estabelecem por volta dos seis aos sete anos e, mas aflora de forma gradual devido a

dificuldade que a criança tem de se concentrar em um fixo objetivo. Assim, menciona o papel

da escola nesse processo de aprimoramento das disciplinas mentais nas crianças.

Page 5: Wallon resenha

Pensamento, linguagem e conhecimento

Fala sobre o desenvolvimento da linguagem. Segundo Wallon, através do

pensamento discursivo, entrevistou crianças de 5 a 9 anos e percebeu a atuação em pares do

pensamento infantil.

Dessa forma, o pensamento infantil adquire uma característica sincrética, que,

segundo Wallon, aponta o caráter confuso do pensamento das crianças. No entanto, esse

mesmo confuso pensamento tem decisiva contribuição para a maturação do pensamento, uma

vez que faz as crianças interrogarem sobre todas as coisas para alcançar o progresso psíquico.

A autora finaliza este capítulo ressaltando que podemos analisar aspectos positivos para o

sincretismo no pensamento infantil, mas seu resgate só ocorre em caso de artística criação.

Educação: entre o individuo e a sociedade

São expostas as criticas de Wallon à Escola Tradicional e a Escola Nova: a

primeira possuía excesso de autoritarismo compensado com valorização do conhecimento

sistematizado; a última pecava por excesso de espontaneidade e ignoravam o conhecimento

sistematizado.

Ainda neste capítulo a autora ressalta o envolvimento político da escola, ainda que

inconscientemente, mencionando o projeto educacional Langevin – Wallon, que priorizava

entre outras coisas a remuneração dos estudantes para que houvesse total dedicação ao estudo,

uma verdadeira utopia educacional.

Uma educação da pessoa completa

Relata que Wallon vê o ser humano de uma forma completo, aponta também que é

preciso que as escolas trabalhem as interações sociais além da exposição dos conteúdos.

Reflexão sobre a prática pedagógica: enfocando situações de conflito

Aborda sobre os conflitos, que são essenciais, na visão de Wallon, para o

desenvolvimento e maturação da personalidade. Os principais responsáveis pela mediação

desses conflitos, os pais e professores, deveriam ficar atentos e participativos nesses

processos.

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A autora ressalta que a sala de aula deve ser um lugar agradável, os professores

não deveriam cobrar dos alunos atitudes que ainda não estão completamente formadas neles,

em suas disciplinas mentais. Com esse processo incompleto, a criança não é capaz de se

concentrar um único propósito por muito tempo. Dessa forma, a sala de aula deve ser um

lugar onde haja liberdade.

Atitude diante da teoria

No último capítulo, a autora faz um resumo do livro e enuncia a função social da

escola, a influência dos conflitos na formação da personalidade do aluno... Conclui, então,

ratificando a contribuição feita por Henri Wallon na área educacional.

Encerra-se este livro com um artigo feito pelo próprio Wallon onde ele fala sobre

todo o desenvolvimento infantil explicando etapa por etapa, desde a influência do orgânico no

recém – nascido, passando pelos conflitos infantis até os conflitos da adolescência, que

priorizam é a diferença de opinião.

3. Avaliação do resenhista

Analisando a obra, é possível notar o quanto foram importantes os estudos

comportamentais de Wallon para o posterior desenvolvimento de teorias e métodos

pedagógicos. Não se contentado apenas em pesquisar a formação e o desenvolvimento do

psiquismo humano, analisou e criticou tanto os modelos pedagógicos da escola antiga quanto

da escola moderna, a primeira deveras rígida e a segunda liberal por demais. A linguagem do

livro é dinâmica, com exemplos claros e simples, compreensíveis. Os parágrafos são curtos,

mas bastante informativos. Recomendável a todos os estudantes e os demais interessados pela

área pedagógica.

Page 7: Wallon resenha

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ – UESPI

LICENCIATURA PLENA EM LETRAS – INGLÊS

DISCIPLINA: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO

PROFESSORA: REJANE GOMES

RESENHA CRÍTICA DA OBRA “Henri Wallon:uma concepção dialética do

desenvolvimento infantil”

RENATO BARROS

DEZEMBRO – 2009

TERESINA – PI

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