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1 VOZES DO CABUÇU: A CONTRIBUIÇÃO DOS MORADORES NO DESENHO URBANO DE SEU TERRITÓRIO CABUÇU DE CIMA , ZONA NORTE- CARMINHA BRANT, PATRICIA MENDES, BIBA RIGO SÃO PAULO, 2011

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VOZES DO CABUÇU:

A CONTRIBUIÇÃO DOS MORADORES NO DESENHO URBANO

DE SEU TERRITÓRIO

CABUÇU DE CIMA , ZONA NORTE-

CARMINHA BRANT, PATRICIA MENDES, BIBA RIGO

SÃO PAULO, 2011

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EXPLICAÇÕES INICIAS/ CONTEXTUALIZANDO A INTERVENÇÃO

São Paulo é conhecida como uma mega cidade que se expandiu de forma

desordenada e predatória. Conforma imensas periferias urbanas onde seus

moradores vivem com baixissima qualidade de vida. Cerca de tres milhões de

seus habitantes moram em favelas, cortiços, loteamentos irregulares e moradias

precárias. Diversos planos municipais e metropolitanos foram propostos e pouco

realizados para enfrentar esta dramática condição urbana. O novo plano municipal

de habitação para o período 2010/2024 avançou na propositura de uma

intervenção integrada por sub bacias e programas que combinam a urbanização de

assentamentos precários com a produção de novas moradias. Busca-se integrar

igualmente o conjunto de investimentos de desenvolvimento econômico e social

planejados no âmbito das sub bacias.

É resultante deste plano o convite de SEHAB para realizamos um projeto de construção de

diagnóstico sócio urbano de forma participativa com a população de Cabuçu de Cima, zona

norte da cidade.

Esta proposta foi provocada também por interesse curadoria da Bienal/ 2012 - Making City

que tem como fio condutor pensar a cidade interagindo com os moradores, um espaço de

troca, onde a voz dos moradores seja assegurada.

É sabido que moradores da periferia da cidade de São Paulo convivem com toda sorte de

vulnerabilidades desde - situações extremamente precárias de moradia, ausência de

conforto sócio ambiental, isolamento dos pólos de absorção de sua mão de obra, e mesmo,

precário acesso a serviços. Não são ouvidos, não são informados e tampouco decidem

quanto às propostas de melhorias urbanas no seu território. Neste contexto tornou-se um

habito perverso, transferir aos técnicos urbanistas a competência exclusiva para pensar e

propor projetos urbanos e, às empreiteiras, a tarefa de executá-los.

Assim, é uma iniciativa inédita a propositura da Secretaria de Habitação do Município de São

Paulo de promover uma consulta prévia junto aos moradores como condição à formulação

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de projetos urbanos e habitacionais em Cabuçu de Cima/ Zona Norte previstos para serem

licitados em 2012.

Para esta consulta escolhemos realizar oficinas com os moradores visando captar nas suas

percepções, na fotografia e na fala , como vêem, vivem e desejam o espaço urbano em que

residem. Ao mesmo tempo, como propositura responsável, reunir estes moradores em torno

de uma consigna clara: traduzir o que esperam de um projeto urbanístico habitacional em

seu território criando referências ao detalhamento técnico dos projetos.

Objetivos:

Dar voz as populações locais visando a expressão do cotidiano urbano em Cabuçu: as

ausências , potencias e arranjos urbanos de que se valem e de quais aspirariam

valer-se ;

Revelar ,na condução do processo, ao menos três dimensões : o social com seus

usos ; o sensível com suas ambiências ;o construído e sua funcionalidade

A abordagem metodológica utilizada partiu de uma premissa básica: recuperar e

fortalecer um espaço de trocas entre saberes de quem vive uma dada vida urbana e, os

saberes técnicos/científicos sobre o urbano; revelar não as queixas individuais mas as

proposições coletivas da população habitante de Cabuçu. Desenvolver um percurso por

aproximações sucessivas que partindo do reconhecimento do território, da reflexão

pautada na sabedoria experimental do grupo é acrescida, quando necessário, de novas

informações e conhecimentos para se chegar a proposições consubstanciadas na

criatividade aplicada.

Neste processo mobiliza-se a capacidade de combinar saberes vividos ( decorrentes das aprendizagens acumuladas nas trajetórias de vida urbana) com o compreensão do conhecimento formal ( técnico científico ). Rompe-se a fragmentação do conhecimento impondo um olhar multidimensional e re-totalizante; incita a busca por revelar relações, re-ligar e revelar tendências.

O conteúdo das oficinas emerge na significação/re-significação de conhecimentos, valores,

comportamentos vivenciados e alterados pelos participantes sobre o seu microterritório.

Conceitos e novos conceitos são elaborados a partir do conhecimento apreendido

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coletivamente.

Os moradores convidados compunham um grupo relativamente heterogêneo quanto aos

vínculos vividos no local. Os moradores convidados estavam integrados a diferentes redes

sociais existentes no território.

A abordagem pedagógica no desenvolvimento das oficinas volta-se a fortalecer a expressão

e fluência comunicativa “sobre o urbano vivido e desejado” com a mediação do lúdico, da

pesquisa no meio, observação, vivencias, experimentações assim como aportes de

conhecimento e informação sempre que necessários.Oficinas contextualizadas partem do

real, do concreto.

SINTESE DAS OFICINAS

Um conjunto de 8 oficinas foram pensadas como pesquisa e fortalecimento da expressão e

participação de moradores do Cabuçu de Cima . Com a temática central ,“o urbano vivido e

desejado” as oficinas contaram com a mediação de pesquisa no meio, observação,

vivencias e experimentações assim como, aportes de conhecimento e informação sempre

que necessários. Participaram das oficinas 25 lideranças comunitárias do território que se

reuniram uma vez por semana em equipamento do próprio bairro.

1º OFICINA

Estavam presentes os moradores convidados e a equipe de Secretaria Municipal de

Habitação da região norte.

Para refletir sobre o significado e objetivos das oficinas, a equipe de SEHAB expôs o novo

enfoque do Plano Municipal Urbanístico, que tem como propósito pensar o espaço e as ações

no território de forma integrada priorizando o diálogo com a comunidade de forma a

conhecer e considerar as questões que mais afetam o bairro.

A proposta das oficinas foi aceita por todos, mas o sentimento expresso foi contraditório. Se

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por um lado apresentavam disposição para colaborar, por outro expressavam uma

descrença nas ações do poder público na área. Já tiveram várias promessas que não se

concretizaram. Todos demonstravam estar ali em busca de alguma possibilidade de

reivindicar algo, revelando forte sentimento de pertencimento ao bairro.

Foi proposto aos participantes a produção de um Mapa dos Afetos que se constituiria em

diário das ações do grupo nas oficinas: nele seria colocado tudo que os afeta de bom e de

ruim, uma foto da casa/ um lugar afetivo/ lugar bonito, um desenho da casa, da praça ou

rio, apresentação de uma idéia para aquele lugar, uma frase.

Para tal iniciamos pedindo a cada um dos participantes para se apresentar e marcar no

mapa dos afetos onde mora. A maioria soube localizar sua moradia no mapa sem

dificuldade.

Vários fizeram depoimentos das questões cruciais do bairro, como o medo na época das

chuvas nas áreas de risco, a ausência de um trabalho sócio formador com os adolescentes e

jovens , a falta de espaço de lazer, restando as famílias passarem o fim de semana sentadas

conversando nas calçadas em busca do sol, pois não há espaço nas casas, muita umidade e

ausência de varanda ou quintal.

Na seqüência retiramos o mapa da parede e colocamos numa mesa solicitando que

marcassem o percurso de suas casas até o CIC- Norte ( local da reunião); e, se o fizeram de

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carro, moto, de ônibus ou a pé. A maioria fez o percurso a pé, justificando que a linha de

transporte é deficitária, dá muitas voltas; preferem vir a pé, cortando caminho pelos morros.

Interagindo e discutindo debruçados sobre o mapa, uns auxiliando outros, refletiam sobre as

rotas de ônibus e as passagens/escadarias que não estavam marcadas no mapa.

Na finalização da

oficina

expressaram

quais foram os

significados que

deram a esta

experiência

devendo traduzi-

la, numa palavra

ou frase.

Expectativa que saia do papel./Não há mudança sem sonho como sonho sem

esperança/Comece e não pare/ Realizado/ Pensamento global e ação local./ Ação/ Não

perder a esperança de acreditar/ Resultado no futuro/ Não podemos desistir/Lutar para

vencer./Ótima/ Dignidade./ Continuidade./ Creditação./ Persistir no sonho/.Melhoria/

Felicidade./Avanço./Reconhecimento./Construção./Perspectiva/

Processo. /Progresso./Debate./Esperança para minha ação.

As frases sugerem a grande expectativa neste processo, querem que nasçam frutos desta

experiência.

Falamos da próxima oficina, de uma caminhada pelo bairro cujo roteiro iria ser definido com

eles; uma caminhada de 1 hora no máximo. Cada um poderia trazer sua maquina

fotográfica para tirar fotos.

2º OFICINA

Iniciamos a oficina trazendo uma maquete do bairro elaborada pela técnicos da SEHAB e

apresentando-a ao grupo.

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Na seqüência descrevemos a pauta do dia: fazer uma caminhada de uma hora e depois,

preencher no mapa dos afetos (com frases ou coisas) idéias e significantes que emergiram

ao caminhar pelo bairro. Neste processo, eles eram os atores e narradores principais e suas

percepções sobre o território eram fundamentais para conhecermos o bairro “vivido”.

O grupo foi dividido em dois, um deles fazendo um percurso mais leve e o outro um

percurso pelos atalhos e escadarias utilizadas como caminho alternativo mais curto.

Levamos quatro máquinas, e alguns participantes levaram a suas.

Fotografaram tudo aquilo que os afetaram tanto positivamente como negativamente: um

amigo, uma arvore, o lixo, o rio poluído, um animal, etc. Trouxeram também alguma coisa

que os tocassem, uma pedra, uma flor, uma folhagem, etc.

Para guiar a reflexão durante a caminhada algumas questões foram formuladas a fim de

mapear/conhecer a dinâmica do bairro, tais como:

Mobilidade e acessibilidade:

1- A maioria dos percursos a pé você pega trajetos alternativos para cortar caminho?

Escadarias? Quem fez a população, prefeitura ou CDHU?

2- Você a acha segura?

3- Dá para utilizar em dia de chuva?

4- Qual é outro caminho quando chove?

5- Algumas ruas não ficam cheias de poça e barro? E aí como vocês fazem?

6- Como as calçadas são estreitas e irregulares, por onde vocês andam? No meio da

rua? Os ônibus e carros respeitam vocês andando pelas ruas?

7- È fácil ir para o Centro daqui? Precisa pegar ônibus?

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8- Onde fica o centro? È longe?

Percepção do lugar

1. O que você acha que falta nesta rua?

2. Observando um espaço vago, o que você faria nele se fosse uma área pública?

3. Quantas vezes, na semana, passa o caminhão de lixo por aqui? Há também o

caminhão de coleta seletiva? Ou são os carrinheiros que coletam?

4. Quantas vezes por semana o gari varre esta rua? Ou é só no centro que os garis

varrem?

5. Quando passar em frente de uma escola pública/hospital/serviço público perguntar o

que acha do serviço/escola é boa, você utiliza?

6. Perguntar o que gosta mais daquela rua? O asfalto? As conduções? O comercio? Os

amigos? Uma determinada casa?etc

Carmem, uma das moradoras participante, conduziu o grupo pelas escadarias e o outro

grupo foi conduzido pela Marlene.

O grupo que caminhou pelos atalhos e escadarias foi composto por moradores e por boa

parte dos técnicos da SEHAB que estavam curiosos em saber como a população se

locomovia pelos trajetos alternativos, cortando caminho.

O primeiro atalho utilizado era um caminho por dentro de um terreno íngreme e no final

tinha uma escadaria. Nem todos os atalhos eram assim; em alguns, a escadaria foi

construída pela PMSP e pelo CDHU. Mas o atalho percorrido, com certeza não dá para ser

usado em dias de chuva e muito menos com sapato de salto, ele é perigoso. Os moradores

que o utilizavam em dia de chuva, confirmaram o perigo mas falaram também que todos

utilizam aquele caminho mesmo à noite e não havia problema.

Contraditoriamente, após a caminhada, muitos falaram da insegurança das escadarias por

falta de luz, os ladrões atacavam as pessoas e até tentativa de estupro também tinha. Este

atalho com certeza deve ser também perigoso a noite.

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Este atalho passa por um terreno vago e a Marlene que nos conduzia informou que os

moradores esperavam que neste terreno seja feita uma UBS.

Continuando o percurso, passamos por uma rua de casas construídas na década de 80

similares ao programa PROMORAR. O grupo seguiu em outro atalho onde havia uma

escadaria de cimento que segundo eles foi feito pela COHAB.

No final desta escadaria chegamos a uma avenida. Tinha muito lixo jogado na rua e saco de

lixos expostos aguardando a recolha pelo caminhão de lixo. A coleta de lixo é feita três

vezes por semana (pela Loga) incluindo a coleta seletiva. O lixo nas ruas ocorre porque a

população não colabora, colocando-o fora do horário e os homens de rua ou os dependentes

químicos ficam remexendo no lixo.

Perguntamos sobre as linhas de ônibus, e eles disseram que era boa, mas que só usavam

poucas vezes para circular no bairro, pois os trajetos eram longos e as vezes precisava

pegar até dois ônibus. Para eles o centro comercial é no Jaçanã perto do supermercado

Berganini. A Vila Galvão também tem um centro bom, mas é fora de mão.

Caminhamos uns 20 metros nesta avenida e seguimos por outro atalho, uma rua de barro

que passa por dentro de uma favela. Depois entramos em outra rua na qual tem um córrego

que corre a sua direita. Apesar de a paisagem ser a mesma, um dos participantes fez

questão de mostrar a diferença: Do lado direito o povo é mais organizado e por isso temos

água e luz regularizado e esgoto canalizado. Do outro lado o pessoal é mais preguiçoso e

não foi a luta, o esgoto é a céu aberto e a água e luz são clandestinas ligadas em algum

ponto na rua de cima.

Marlene nos fala sobre o sonho deles de ter um parque linear nas margens deste córrego.

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Seguindo o curso do Rio Cabuçu, que está em obra, crianças brincavam na terra. Do lado

direito há uma favela em área de risco, onde algumas casas estão sendo retiradas devido ao

risco ser muito grande. A casa de uma das participantes da caminhada foi retirada e agora

mora de aluguel em outra, provisoriamente , devendo sair de lá também, pois está muito

difícil conseguir uma casa para alugar para 8 pessoas como é seu caso.

Este grupo não se refere ao lugar, identificando-o como favela, ou loteamento clandestino.

Referem-se ao barraco como casa de uma forma muito forte, com muito sentimento de

pertencimento. Percebe-se na fala que o risco dimensionado pela SEHAB não é o mesmo

percebido por eles.

Outra participante do grupo que mora nesta rua afirma que quando chove o barro desce o

morro mas não entra em sua casa . “Na minha casa não entra não, mas a rua vira um rio

de barro”. No percurso deste trajeto os moradores que lá moravam chamavam a atenção

querendo saber sobre as ações da SEHAB. Várias casas já tinham sido derrubadas o que a

profissional da SEHAB explicou que eram as casas que estavam em situação critica com

maior risco, mas que todas de um modo geral estavam em situação de risco.

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Caminhando e conversando percebe-se que o grupo, possui conhecimento da área embora

não morasse por perto, um sentimento de orgulho do bairro e uma relação afetiva muito

forte entre os moradores, todos se conheciam e se ajudavam. Disseram que uma das

melhores condições do bairro era o relacionamento construído entre eles. A maioria mora lá

há mais de vinte anos.

No final da rua do rio Cabuçu, antes de atravessar a avenida, seguimos por outra rua para

retornar ao CIC. Neste caminho de volta havia ruas asfaltadas, entretanto, tivemos que

andar pela rua pois as calçadas eram muito estreitas. Vimos que a população que estavam

circulando a pé fazia a mesma coisa. Perguntamos se os ônibus e carros respeitavam os

pedestres. “Em termos, pois tinham que prestar atenção e serem rápidos”.

Observamos neste percurso duas áreas com horta comunitária, mas estavam meio

abandonadas pois segundo o grupo, o pessoal no inverno não plantava nada. Vimos cavalo

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e uma vaca pastando num dos terrenos e também um barraco construído por dependentes

químicos num terreno da CDHU próxima a rua que estávamos caminhando. Chegamos ao

CIC meia hora atrasados e o outro grupo já estava trabalhando no mapa dos afetos.

Como levamos as fotos tiradas na oficina anterior e as frases ditas por eles , todos foram

procurar suas frases e fotos para colocar no mapa onde tinham colocado seu nome.

Foi solicitado ao grupo que registrassem no mapa o caminho feito no dia e colocassem os

pequenos objetos que colheram no meio do caminho. Demos canetas de diferentes cores

para preencherem o mapa. Todos ficaram entusiasmados. Enquanto isto descarregamos as

fotos tiradas por todos no computador.

3º OFICINA

Fizemos um pequeno filme sobre as oficinas já realizadas para identificarem seus produtos:

a cartografia, o retrato do lugar com o stop motion e o mapa dos afetos. Não conseguimos

projetá-lo!

A cartografia do lugar feita em tecido e bordado consistia em mapear o território, destacar

os lugares que são importantes para o grupo e projetar inovações que desejavam.

O retrato do lugar feito com fotografias e um stop motion do processo consistia em

desconstruir e construir o território pelos participantes colocando suas aspirações e

proposições.

Colocamos todas as fotos tiradas na caminhada e as trazidas por eles numa mesa.

Solicitamos que escolhessem três fotos e discutissem em grupo três questões respondendo-

as por escrito:

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O que eu transformaria?O que eu manteria no bairro? O que não pode mais ter no bairro? E

elencar propostas e sugestões pós quarenta minutos de reflexão no grupo, solicitamos que

apresentasse as fotos escolhidas e as colocasse no mapa onde achassem que melhor se

inseriam.

As respostas as questões foram parecidas: o foco foi o saneamento básico, as áreas de

risco, a segurança, melhoria nas casas, área de lazer, entre outros. Das respostas a que

mais chamou a atenção foi a preocupação com a serra da Cantareira e o verde no bairro já

que o mesmo parece uma selva de pedras.O o verde e a serra é o que os três grupos

manteriam no bairro. Outra questão que chamou atenção foi a de um grupo que manteria as

casas, apesar da maioria delas serem pequenas sem nenhuma área externa (jardim ou

quintal) para plantar uma arvore. As respostas dos grupos estão em anexo.

Colocamos em cada mesa, o trabalho a ser desenvolvido, as cartolinas para fazer o retrato

do lugar, o tecido, retalhos e linhas para fazer a cartografia.

Apesar de pedirmos para se dividirem em três grupos, as mulheres que são a maioria

ficaram vidradas pela cartografia e começaram a escolher os panos e a proposta, tanto que

os outros grupos foram menores.

A cartografia precisou de pouca orientação, pegaram rapidamente a idéia. Começaram

construindo em volta do rio uma ciclovia (mais tarde na reunião com os técnicos ficamos

sabendo que nesta região a população usa muito bicicleta para se locomover).

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No mapa dos afetos iríamos construir uma legenda e colocar lá:

1- A rota do seu cotidiano ( escola, comercio, trabalho,etc)

2- Lugares para transformar

3- Lugares de convívio

4- Áreas de lazer

5- Serviços públicos básicos e serviços de apoio (escolas, unidades básicas de saúde,

ONGs, ...)

Os participantes se envolveram e se debruçaram no mapa para marcar primeiro a rota do

cotidiano e a área de lazer. Foi muito interessante vê-los descobrindo o percurso diário

discutindo entre eles onde poderia ser um lugar que estava com poucas referencias no

mapa. Aqui voltou aparecer a importância da Serra da Cantareira e o verde do bairro, pois

saíram marcando as áreas.

O Núcleo do Engordador no Horto Florestal é o local que a maioria vai aos fins de semana.

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Para o retrato do lugar foram dispostas cartolinas de várias cores para que o grupo

escolhesse uma delas como fundo do retrato. Aqui aparece o verde mais uma vez, como a

cor preferida.

Para fazer o stop motion , aqui uma animação de fotografias de curta duração, do processo

do retrato do lugar tivemos que improvisar o tripé que daria sustentabilidade a

máquina.Este primeiro dia foi mais um teste que se fez para pensar o retrato do lugar, tanto

que não foi colada nenhuma foto.

O grupo estava muito animado e foi difícil parar as atividades, finalizar a oficina.

Para encerramento solicitamos que o grupo dissesse qual o lugar preferido:

Serra da Cantareira; Horto Florestal; Mutirão; Igreja; Meu trabalho;minha casa; Núcleo do

Engordador, CCA;Engordador, Clube Sabes:,Lago do Espelho; Jardim Flor de Maio; Jardim

Boa Vist;, Jardim São João; Jardim filhos da Terra; Associação da Vila ; Vista do Linhão(

GuapiraII),CEU; Vista da Serra;Corisco, Vista do CI; as pessoas; redondeza, Arvore de Ipê

Rosa; os girassóis; Vista do Bairro; Jardim Flor de Maio; Av Sezefredo .Cantareira; a paixão

dos moradores pelo bairro e a pracinha construída pelos mesmos perto do Linhão.

4ª. OFICINA

Nesta oficina propusemos de inicio, realizar uma síntese retrospectiva de percurso,

colocando as frases em forma de um trajeto no mapa dos afetos.

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Destacaram nesta síntese :

Os atalhos precisam ser mantidos e melhorados; não há segurança e falta iluminar

esses caminhos. Falta pavimentar as ruas e vielas.

Na Estrada Presiza é preciso melhorar a Educação do Transito, porque não respeitam

o idoso e pessoas com deficiências .

Manter o verde (os ipê).

Manter as creches, ruas asfaltadas e limpas, sem esgotos ao céu abertos. (Galpão de

reciclagem precisa).

O mais importante a limpeza das ruas - muito lixo, é preciso cuidar porque o lixo

aumenta os ratos.

Conservação da SERRA da Cantareira.

Conservar e ampliar o Hospital São Luiz Gonzaga por ser o mais próximo.

Ampliar o CEU com mais atividades de lazer para os alunos e comunidade.

Manutenção do Verde. Projeto ver-o-verde (Reciclagem) - Guapira I. Criação de área

de lazer e cultural. (C.J. Helena Portugal Albuquerque com parceiros dispostos a

colaborar).

Criação de uma UBS (Unidade Básica de Saúde) no Jardim Felicidade.

O projeto por todos idealizado num processo contínuo de construção: melhoraria de

qualidade de um bairro. Diminuição da produção do lixo, Guapira I, (Reeducação e

mobilização conscientização).

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Aumentar a intensidade de preservação das áreas verdes. Maior cuidado por parte

dos moradores com as poucas áreas de lazer. Maior interesse por parte do governo

no desenvolvimento dos projetos sociais.

Infra estrutura (coleta esgoto / área de lazer ). Parcerias Comunidade e órgãos

públicos.

Escolas públicas para o ensino médio e profissionalizante. Ampliar a oferta das

atividades culturais.

Melhores condições de habitação e revitalização das áreas verdes.

Fóruns de levantamento de idéias p/ infância.Fóruns de Diálogos para diferentes

assuntos da comunidade.

Espaços para brincar, porque acontece muitos acidentes na rua, muitos acidentes de

pipa.

É preciso vários projetos para as áreas de risco trazendo praças saúde e lazer.

Atenção com os nossos jovens.

SAUDE, desenvolvimento, melhora nos transporte.

Lixo - pontos viciados. Linha de Alta Tensão.

Educação ambiental com uso da mídia. Plantio de árvores nas comunidades. Olhar do

Governo p/ os projetos sociais. Espaços p/ cultura. Empoderamento das famílias.

O debate foi intenso, sobretudo sobre a questão dos adolescentes no bairro: educar os filhos

de quem é a responsabilidade? Qual é a responsabilidade da escola, do poder público nesta

questão, o papel do Conselho Tutelar e o ECA. Como é educar sem bater, pois não sabem

como fazer, como impor limites; querem aprender, pois descobriram que não sabem.Fica

clara a preocupação com os adolescentes do bairro, pois o tráfico de drogas impera e os

tem conquistado alterando a relação familiar, hora sem limites, hora com muita violência.

A seguir os grupos voltaram aos produtos a serem concluídos; estavam menores, pois

muitos faltaram.

O grupo da cartografia trabalhou no bordado expressando as questões já eleitas: o rio,

ciclovias, áreas verdes.

O grupo do mapa dos afetos introduziu várias questões instigadas pela síntese anterior:

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o nome dos bairros como costumam denominá-los

os lugares para transformar ( no que)

as associações de bairro ( ONGs)

Foi interessante como marcaram os lugares, com muita timidez, escrevendo em letras

pequenas; quando dissemos que era importante fazer círculos maiores, ficaram

surpresos e contentes com a liberação.

Alguns projetos para o bairro foram retomados :

a recuperação do CDM ( centro desportivo municipal ) que hoje é ocupado pela

policia metropolitana. Aceitam negociar dividindo o espaço, mas a policia

metropolitana rejeita ; explicitaram o grande movimento para a recuperação desta

área. Como não existe área de lazer para a garotada o CDM seria vital , pois já existe

infra-estrutura no local, como quadra de esportes e os moradores estão motivados

até para reformar o local com seu próprio dinheiro.

o projeto social para as áreas do linha de transmissão, sobre o centro de reciclagem,

e a necessidade de parceiros pois não tem fôlego e nem dinheiro para tocar.

Já finalizando esta oficina entregamos duas folhas com a foto de cada um para - como

dever de casa – para escreverem a sua história ( de onde veio, quando chegou no bairro,

quando começou a participar de movimentos no bairro,... ) colocando se possível fotos

significativas do bairro e de sua casa.

A síntese final: o que não tinha no bairro e precisava ter mais?

Conforto, saúde, lazer, lazer, lazer, lazer, lazer, segurança, trabalho social, atendimento ao

idoso, lazer.

Apesar da precariedade do bairro, das áreas de risco, da falta de infra-estrutura, o que mais

se destacou foram áreas de lazer.

5º OFICINA

Temática principal : a percepção de risco dos participantes, qual era o nível de informação e

de entendimento que tinham das situações de perigo do bairro.

Começamos com a leitura da história escrita por uma das participantes, solicitada na oficina

passada.

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A moradora apresenta sua trajetória pessoal, iniciada no bairro em 1982. Retoma em sua

história a formação do bairro partilhada por muitos dos presentes: a ocupação de áreas ;a

ausência de programas públicos; as enchentes, as conquistas feitas( água e luz no bairro

nas favelas). Questiona o porquê da prefeitura colocar água e luz numa área de risco. Não

percebia relação de risco nas enchentes vivenciadas no passado; passa a considerar área de

risco as áreas dos morros depois que a prefeitura faz o alerta e então se preocupa como

uma situação de perigo.

Partimos então para a maquete para pontuarmos as áreas de risco e fazermos uma reflexão

sobre elas no bairro.

Lançamos duas questões para cada um deles responderem e marcar na maquete :

Quais eram as áreas que eles consideravam de risco?

O que significa para eles prevenção nestas áreas?

A percepção de risco dos participantes sobre as áreas mostrou-se muito próxima das

avaliações técnicas feitas pela SEHAB, revelando-nos o grau de informação e conhecimento

que possuem sobre as questões do bairro.

Afirmam que a remoção das casas nas áreas de risco é necessária, mas o que farão com as

famílias desabrigadas é preocupação de todos. Não concordam com a forma como a SEHAB

vem tratando a questão de remoção das famílias, pois são as famílias que devem encontrar

outro lugar com um aluguel de R$300,00 , não há um acompanhamento ou mesmo

orientação de uma área mais próxima, muitos tem que buscar uma outra região para re-

iniciar a vida.

Mostram preocupação com as enchentes e até sinalizam onde o Rio Piqueri precisa ter um

alargamento ou até um coletor, traçam suas hipóteses e a necessidade de retirar várias

famílias ao longo do rio.

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Como o bairro é uma área acidentada com vários morros, o topo deles também é outra

preocupação, tendo em vista como foi loteado e ocupado.

Refletem sobre as chuvas de verão que estão cada vez mais fortes, as áreas de alagamento

e da falta de áreas verdes para auxiliar na drenagem. Praticamente todo o morro é

impermeabilizado.

Reforçam a importância das áreas verdes seja como um espaço de lazer seja, como uma

medida de prevenção.

Os técnicos da SEHAB fizeram então uma explanação das áreas de risco existentes e suas

magnitudes, mostrando as de alto risco conforme as cores da legenda. Confirmaram

também que as áreas de risco apontadas pelo grupo ( onde colocaram as fitas) são de alto

risco( as cores escuras), reafirmando a percepção de risco deles sobre o território.

Na continuidade, o grupo do mapa do afeto teve como missão pontuar as áreas de risco no

mapa e propor medidas.

Apresentaram várias situações de risco: desde as áreas de enchentes até as áreas com lixo.

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Iniciaram pela discussão do Rio Piqueri, colocando que a necessidade de remoção dos

imóveis construídos na sua margem; a necessidade do alargamento do córrego e a

construção de uma calha de drenagem; a criação de área verde ao longo das margens do

rio; a construção de uma estação de tratamento de esgoto na Vila Zilda e outra próxima ao

CEU Jaçanã. A outra área é próxima do Jardim Filhos da Terra, o remanejamento das

famílias das áreas de risco para outra área no bairro, a construção de muro de arrimo para

proteger as famílias remanescentes.

Propuseram também a revitalização de toda a área que passa pela Torre de alta tensão,

com projetos de agricultura comunitária, a recuperação da área do CDM que hoje se

encontra em poder da guarda metropolitana. Fizeram a indicação de áreas para as famílias

que precisam ser remanejadas das áreas de risco, e indicação de áreas para os serviços

públicos necessários para a região: UBS, hospital ,creches, praças. Reafirmaram que a

região em que vivem é carente de serviços de saúde. Muitos não podem ser atendidos na

UBS, pois fazem parte de outro perímetro, mas acontece que neste outro perímetro não tem

UBS.

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6º OFICINA E 7ª. OFICINAS

Foi solicitado ao grupo finalizar os produtos e preparar o dialogo com os gestores da

Secretaria de habitação sobre o lugar onde vivem: demandas , sugestões de revitalização

urbana, serviços necessários.

Os grupos concluíram os produtos : cartografia do lugar, Mapa dos afetos e Stop Motion.

E na sequencia focando nos trabalhos feitos num denso debate produziram suas propostas

para ser apresentadas para os secretários e autoridades públicas na última oficina :

ÁREA VERDE:

Revitalização da Praça 22

Revitalização da área embaixo da linha de transmissão , a construção de um jardim,

de uma horta comunitária. Projeto Ver- o-Verde.

Construir um recuo para a parada de ônibus no final da linha de transmissão (Rua

Teresa Carreno)

Campo de futebol próximo ao recuo proposto.

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Área da Vila Nilo (travessa União)que será desapropriado, ser utilizado para plantio

de área verde.

Remoção das famílias na área pertencente a Furnas , na área de retorno para

ônibus. Final da Rua Manuel Vieira da Luz com a Rua da Oliveiras, Jardim Boa Vista.

Área Verde-Revitalização entre Jd. São João e Jd. Corisco.

Limpeza e revitalização na Rua da Floresta- área antiga- área de manancial, parece

ter um único dono, na qual esta área tem uma produção indevida de hortaliça e

periurbana- rede de esgoto a céu aberto( ponto de referencia – atrás da Panco)

Para preservação da Serra da Cantareira, transformar em parque ecológico para

melhor preservação e fiscalização da área.

Trabalho de educação ambiental com a população.

SERVIÇOS:

SAÚDE:

UBS no Jd. Felicidade

UBS no Jd. Fontális- mais equipes de PSF

UBS Jova Rural

UBS Vila Nova Galvão( já tem área indicada)

Ampliação do Hospital São Luiz Gonzaga

UPA- Unidade de Pronto Atendimento na Região Jaçanã/Tremembé

Campanha continua de DST-AIDS nas comunidades e formação de

multiplicadores

Call Center Regionalizado

Acabar com as filas de espera de especialidades na Região, discutindo formas

de atendimento com os gestores da região.

CRI- Centro de Referencia ao Idoso( região)

CAPS- ( Centro de Apoio à Saúde mental) e dependentes químicos

EDUCAÇÃO

Creche na Vila Nilo, Estrela Dalva, Vila Airosa, Jd. Felicidade, Jova Rural

Escola – Vila Nova Galvão

Escola( 1 e 2 grau a noite) na região com horário à noite, pois está se

encerrando o horário noturno, queremos de volta.

Centro de Juventude- Jd Flor de Maio, Jd Filhos da Terra, Jova Rural, Vila Nova

Galvão para crianças e adolescentes com cursos, recriações, cursos

profissionalizantes.

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Área Esportiva- Jova Rural, Vila Nova Galvão, jd. Filhos da Terra

Recuperação da função do CDM- Ouvidio Belo para ser uma referencia de lazer

para crianças e famílias

INFRAESTRUTURA URBANA

Iluminação nas escadarias: Av. Alfredo Ávila( e infraestrutura);escadaria

(entre a rua Igarapé Primavera e Antonio Sérgio;Santos Expedito( Jd.

Felicidade); viela de acesso para Escola Flávio Império fica na Rua José

Figliolini fundo da Alfredo Ávila; continuar o muro de contenção do Rio

Piqueri(fazer assoreamento e alargamento)

Remoção das famílias nas margens do rio e a criação de uma área verde no

lugar

Remoção das famílias das áreas de risco para outra área no bairro

A criação de um centro de triagem;

O lixo nas áreas abandonadas;

Indicação de áreas para moradia

Igarapé Primavera (localiza-se entre os Filhos da Terra e Jd palmares) esta área

pertence a Transcooper.

Esta área fica entre a Rua Filhos da Terra e Rua José Fonseca( fundos da E.E. João

Baptista Alves da Silva)

Área entre a UBS Toledo Pizza e a Escola Otávio pereira Lopes;

Área do Bergamini( sobradinho,recanto verde e Jd. São João antigo)

Área da antiga Sambaibos na Av. Sezefredo Fagundes altura do n 5100

Sugestão

Alfredo Ávila

Rua do Campo com a final da rua Alfredo Ávila

Ocupar espaços nas Rodovias tais como: (Dutra, Regis)

No Jd. Corisco entrada do cem. Da Cantareira

8 º E ÚLTIMA OFICINA :DIÁLOGO COM OS GESTORES PÚBLICOS

Para esta oficina foram convidados e, estavam presentes, a Superintendente e o Secretario

Municipal de Habitação, técnicos da SEHAB de diversos setores, técnicos da Subprefeitura e

da Saúde Municipal. Participaram igualmente: representantes dos escritórios envolvidos no

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Atelier, membros internacionais da Bienal de Roterdan, chegando a 60 pessoas entre

convidados externos e moradores.

Após uma pequena fala de abertura sobre o sentido desta ultima oficina – o diálogo entre

moradores e gestores sobre o plano de urbanização para aquele perímetro-, deu-se início a

fala dos moradores sobre suas reflexões e demandas urbanas para Cabuçu de Cima.

Marlene, escolhida pelo grupo, expôs as questões sobre infra-estrutura. Madalena

apresentou as questões referentes a Saúde, Sirlene as de Educação e Claudio as das áreas

verdes e ambientais.

As apresentações foram feitas de forma clara, segura, articulada e didática, esgotando, uma

a uma, as questões refletidas pelo coletivo de moradores.

Não se sentiram intimados com a presença de convidados externos, ao contrário, estavam

se sentindo seguros e orgulhosos de todo processo vivenciado nas oficinas. Faziam

referencias ao mapa e a maquete com segurança e familiaridade.

Após a apresentação dos moradores, a equipe técnica de HABI apresentou o projeto urbano

para aquela área.

A expressão dos moradores era de interesse e entendimento; sentiam-se incluídos na

discussão e desenho do projeto.

Esperava-se um pouco de resistência dos moradores com as remoções de moradias nas

áreas de risco previstas no projeto apresentado, questão delicada, pois mexe com o

sentimento de desproteção na medida em que o poder local leva tempo para resolver esta

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questão, quando não os coloca em outro bairro. Habitar no mesmo bairro é o que desejam,

principalmente aqui onde a relação de pertencimento é muito forte entre os moradores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As oficinas deram aos moradores os insumos necessários a um debate qualificado

perspectivando o coletivo e o território como um todo.

Trabalhar, nas oficinas, o território sob várias formas foi uma aposta acertada. A

metodologia e estratégias escolhidas foram assertivas.

A caminhada comentada, na segunda oficina, permitiu uma aproximação sensível e empírica

com o território, estimulando os moradores a rever o seu habitat urbano pelas lentes

fotográficas, expressando e nomeando as potencias e fragilidades do bairro. Ao passar por

atalhos, vielas e favelas, reviam a luta em busca das melhorias e as conquistadas. Falaram

com paixão do bairro, embora o descrevessem como cinzento.

O mapa dos afetos foi um excelente instrumento pedagógico para os moradores

reconhecerem o seu território em um mapa com a topografia do lugar e em uma escala que

permitia identificar as ruas dos bairros. Ele foi trabalhado exaustivamente em todas as

oficinas, o que permitiu as moradores uma visão do todo, apreender de forma articulada a

localização dos bairros, os problemas nas áreas e o formato da região no papel.

A maquete foi outro instrumento importante para visualizar o território; neste caso o olhar

foi outro, pois a topografia da região era mais nítida, e assim puderam compreender melhor

as áreas de risco, os lugares mais altos e mais baixos no bairro. Esta visualização permitiu

adensar as reflexões sobre problemáticas existentes no bairro, como as áreas de

alagamento, as áreas de risco, as áreas em declive, etc.

Já o retrato do lugar foi um instrumento pedagógico para libertar os desejos e aspirações

para o bairro, questões cristalizadas frente ao descaso pelo poder público nas demandas

existentes. A atividade lúdica de desconstruir e construir o bairro, recortando fotos, foi ao

longo das oficinas ganhando criatividade e expressão dos desejos: as escadarias, as

ciclovias, áreas arborizadas e floridas.

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Por outro lado, a cartografia do lugar, buscou na atividade manual, a construção coletiva de

um olhar afetivo sobre o lugar de morar, colocando referencias e sonhos. O rio aparece

numa proporção enorme, com uma mata ciliar ( a recuperação da área verde em volta do

rio)mostrando a importância que dão a ele,e, uma ciclovia, desejo de todos. A construção

coletiva do bordado produziu trocas e reflexões sobre o bairro, mas também a descoberta de

seus talentos.

As diversas abordagens – mapa dos afetos, cartografia do lugar, maquete ... - permitiram

aos participantes se apropriarem de um novo conhecimento: a leitura de mapas e plantas,

as áreas de risco no território, o conhecimento das questões de infraestrutura, saúde, escola

e áreas verdes no bairro.

As oficinas criaram as condições previas tanto para os moradores quanto para a equipe de

HABI para o desenho e adesão ao projeto municipal de urbanização do bairro. E, sobretudo,

fortaleceram as relações entre os moradores re-tecendo uma rede social local.

Resultados substantivos:

1. A população detém um saber vivido decorrente de aprendizados acumulados em suas

trajetórias de vida urbana. Este saber é imprescindível na formatação de projetos

urbanísticos habitacionais.

2. Quando a população vivencia um processo participativo horizontal ( democrático)

com técnicos e gestores da política pública é capaz de contribuir significativamente

nas proposições da política.

3. Os moradores são competentes na produção de um diagnóstico urbano social quando

há espaço para fruição e intercambio entre conhecimento vivido e o conhecimento

técnico.

4. Realizou-se um processo de negociação social da maior importância. Quase sempre

os técnicos tem receio, e se apresentam defensivos ou pouco abertos a uma

negociação social que é cada vez mais necessária para se evitar conflitos na

condução das mudanças urbanas.

5. Porem uma negociação social tem sempre caráter multidimensional; a reflexão religa

interfaces entre as diversas dimensões do viver urbano : trabalho, mercado,

educação, saúde, qualidade de vida, meio ambiente...- de tal modo que não é

possível pensar a habitação decolada de uma proposta integrada.

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6 a negociação social se faz presente por tempo indeterminado desde antes do

empreendimento até seu final.

6. Produziu-se uma rede organizada no local para pensar a produção do território.