voz própria nº 22

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Número 22 da revista editada por NÓS-Unidade Popular, correspondente a Julho de 2009

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editorialNÓS-UP estivo de novo

em Madrid apoiando Santi e Alex julgados na

“Audiência Nacional”

8 FevereiroContra o bilingüismo,

contra o espanholismo

Sobre os resultados eleitorais de 1 de Março

de 2009

Que os ricos paguem a crise!

NÓS-UP apresenta ‘Manifesto à Pátria e

ao Povo Trabalhador’

Dossier CentralRetomar a luita

pola língua

VP entrevista Óscar Vidal,

membro da Direçom Comarcal da CIG

em Trasancos pola Federaçom da Construçom

e da Madeira

Movimentos sociais, populares e

organizaçons políticas de esquerda no Peru: um olhar para dentro

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Sem necessidade de recorrer ao con-vulso contexto que o capitalismo vive em todo o planeta, embora em in-dissolúvel relaçom com este, é umha evidência que a sociedade galega está a atravessar umha fase de crise, umha acumulaçom de mudanças simultá-neas em diversos frentes que acaba por apresentar um panorama geral incerto mas sem dúvida bem diferente ao que observávamos na altura do Dia da Pátria de 2008.

O aspecto mais relevante do actual contexto é a clara radicalizaçom da lui-ta de classes que estamos a constatar. A burguesia galega, ameaçada polas diversas crises concorrentes que açoi-tam o capitalismo, iniciou umha ofen-siva sem precedentes contra a nossa classe. A escalada de despedimentos e a progressiva deterioraçom das con-diçons laborais tenhem provocado já umha incipiente resposta operária nos mais diversos ramos produtivos. A im-pressionante mobilizaçom do proleta-riado metalúrgico do Sul da Galiza que nos enche de orgulho obreiro nom é o único exemplo deste fenómeno, durante os últimos meses os conflitos de natureza laboral tenhem abrolhado por toda a geografia galega na mesma medida que o tenhem feito as agres-sons dos patrons.

Obviamente, nom vamos cair na inge-nuidade nem na adoraçom infantil da combatividade espontánea das massas operárias. Som evidentes as limitaçons do nosso movimento obreiro, cativo de burocracias sindicais preocupadas com manter o statu quo acima de qualquer outra aspiraçom. Porém, já há umha vitória de calado para o nos-so Povo Trabalhador: neste momento a burguesia está longe de ver imple-mentada a selvagem reforma laboral pola que os seus vozeiros clamam desesperados a diário.

No plano superestrutural, o retorno do Partido Popular ao governo da Junta da Galiza supom um novo rep-to para os sectores que defendemos a naçom galega. Os furiosos ataques contra o nosso idioma nas primeiras semanas da legislatura som um pre-ocupante adianto do que a extrema-direita prepara para os próximos qua-tro anos, mas novamente diante da adversidade sabemos que as galegas e os galegos orgulhosos de o sermos podemos estar à altura e dar respostas como a do passado 8 de Fevereiro. In-felizmente, nom será a última vez que tenhamos que enfrentar os excessos

do espanholismo que hoje controla a administraçom autonómica.

Mas, para além de colocar à frente da Junta da Galiza a pior fracçom da reacçom burguesa, os resultados das últimas eleiçons autonómicas e euro-peias servírom para tirar algumhas liçons úteis. Por um lado, a derrota estratégica do regionalismo e da sua política de alianças com o espanholis-mo que deu como resultado a nefasta acçom de governo do bipartido. Após quatro anos à frente das instituiçons autonómicas temos confirmado in-equivocamente o que a esquerda in-dependentista leva anos a dizer: que o “nacionalismo maioritário”, o regiona-lismo, está tam integrado no sistema que quando participa do aparelho de poder só fai reproduzir as mesmas po-líticas neoliberais de aqueles a quem afirma fazer oposiçom.

Em chave mais interna, comprovamos também o esgotamento da actual con-figuraçom da esquerda independentis-ta que perde parte dos seus já escassos apoios quando as suas organizaçons concorrem divididas aos processos eleitorais, assim como o erróneo da alternativa tomada por parte do sobe-ranismo assumindo um papel subsidiá-rio a respeito da esquerda espanhola. Neste sentido cumpre esclarecer que, embora a nossa organizaçom tenha participado na gestaçom da candidatu-ra internacionalista, a deformaçom do projecto inicial que tirou o protagonis-mo às naçons sem estado obrigou-nos a abandoná-lo. Oxalá a experiência do 7 de Junho tenha servido para que o conjunto da esquerda soberanista galega confirmasse que nom será do quadro estatal que sairá a renovaçom organizativa que o Povo Trabalhador nos exige.

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Adiante a República Galega

Finalmente, os dous independentistas acusados pola “Audiência Nacional” de “menosprezar e vilipendiar a figura de SM o Rei” pola queima de um bone-co que representava o monarca espa-nhol no dia 6 de Dezembro de 2007, numha manifestaçom autodeterminis-ta, fôrom julgados polo juiz Vázquez Honrubia no dia 4 de Fevereiro às 10.30h na Sala Central do Penal desse tribunal de excepçom espanhol.

Há que lembrar que já se produziu, há agora mais de um ano, umha primei-ra comparência de quatro militantes independentistas pola mesma causa, ficando dous posteriormente livres de cargos. Há que lembrar também episódios significativos do processo, como a carta emitida polo juiz instru-tor, Grande-Marlaska, referindo-se à nossa língua como “dialecto gallego”, rectificando posteriormente após a denúncia pública realizada por NÓS-Unidade Popular. Há que lembrar ain-da o embargo imposto sobre a vivenda de Santiago Mendes, de maneira pre-ventiva, como se de um delinqüente fiscal ou financeiro se tratasse.Em definitivo, há que lembrar que es-tamos perante um julgamento dirigido contra as ideias republicanas e inde-pendentistas dos companheiros Santi e Alexandre, por terem supostamente participado na queima de um boneco que simbolizava umha instituiçom for-temente contestada por sectores im-portantes do nosso povo. Umha insti-tuiçom que nega a soberania nacional galega e constitui um obstáculo para a democratizaçom do Estado espanhol, verdadeira prisom de povos.

O processo contra Alexandre e Santi, condenados a duras multas, confirma que o direito de livre expressom e pensamento está gravemente limitado polo Estado herdeiro do franquismo, daí que seja fundamental responder aos ataques repressivos contra esses direitos fundamentais.

Pola segunda vez num ano, a nossa or-ganizaçom disponibilizou um autoca-rro para que várias dúzias de militantes e simpatizantes pudessem deslocar-se até a capital espanhola e dar apoio a Santi e a Alex, julgados pola “Audiência

Nacional” pola queima de um bone-co que representava Juan Carlos I de Bourbon.

Alex admitiu diante do Tribunal de ex-cepçom espanhol que participou na queima simbólica da figura, em taman-ho natural, do monarca espanhol, no fim de umha manifestaçom autodeter-minista em Vigo. Por seu turno, Santi negou ter tomado parte nos factos.

Durante as declaraçons, ficárom claras as motivaçons estritamente políticas, ligadas ao independentismo galego e

à condiçom de militantes anticapitalis-tas, da série de acçons antimonárqui-cas que se tenhem sucedido no nosso país durante o último ano e meio.

Por seu turno, a fiscalia mantivo a acusaçom de autoria contra o Alex e atribuiu umha suposta “co-autoria” ao Santi, mas o pedido de multas foi reduzido à metade nos dous casos, fi-cando portanto em 2.700 e 1.800 €, respectivamente.

Adiante a

República Galega!

NÓS-UP estivo de novo em Madrid apoiando

Santi e Alex julgados na “Audiência Nacional”

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Concentraçom de apoioNÓS-Unidade Popular concentrou-se junto ao edifício da “Audiência Nacio-nal” com umha faixa de grandes di-mensons que reivindicava que “Galiza nom tem rei”. Numerosas bandeiras da nossa pátria e gritos pola indepen-dência da Galiza e contra a instituiçom monárquica dérom cor à mobilizaçom em Madrid, que contou com a solida-riedade de sectores da esquerda social e política madrilena, num gesto de so-lidariedade internacionalista que muito agradecemos.

NÓS-Unidade Popular considera umha agressom à democracia em si mesmo todo o processo que levou os dous companheiros a serem julgados em Madrid, por umha manifestaçom política de carácter público e aberto, que só cabe ser interpretado como manifestaçom do irrenunciável direito à liberdade de expressom que o Es-tado monárquico espanhol repetida-mente vulnera.

Apelo à solidariedade económicaConfirmou-se a condena contra as ideias republicanas e independen-tistasA confirmaçom da condena ao Santi e Alex vem confirmar a existência de julgamentos políticos no Estado espan-hol, onde a manifestaçom pública das ideias independentistas e republicanas é perseguida.A existência de votos particulares de cinco magistrados contra a sentença final reafirma a orientaçom claramente parcial e reaccionária da puniçom legal contra Alexandre Bolívar e Santiago

Mendes, cujo único “delito” foi a quei-ma de umha figura em madeira que representava o chefe de um Estado, o espanhol, questionado por importan-tes segmentos da populaçom galega.As chamadas na sentença “injurias à Coroa” nom som mais do que a ex-pressom desse rejeitamento, o exer-cício democrático de umha liberdade ideológica e de expressom tam grave-mente limitado por boa parte dos juí-zes espanhóis em funçom dos interes-ses políticos da oligarquia dominante.

As multas de 2.700 e 1.800 euros im-postas a dous trabalhadores contribui para incrementar a pressom contra quem se recusa à integraçom num re-gime antidemocrático e negador dos direitos colectivos e individuais dos galegos e das galegas, mas nom vai evi-tar que aumente o desprezo pola an-tidemocrática instituiçom monárquica, que nos nega como pessoas livres e como povo.

NÓS-Unidade Popular considera ne-cessário que os sectores progressistas e democratas do nosso povo fagam umha reflexom colectiva sobre o sig-nificado da condena de dous compa-triotas que unicamente som acusados de queimarem umha figura de madeira e questionarem, assim, a continuidade de umha instituiçom reaccionária e an-tidemocrática como a monarquia.O grau de intransigência que medi-das como esta, antecedidas de outras sentenças que incluírom multas a hu-moristas, o seqüestro de publicaçons satíricas e outras medidas censoras conhecidas, parece mais própria de um regime ditatorial que da “Espanha de-mocrática” de que falam os altifalantes

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Adiante a República Galega

Adiante a

República Galega!

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Adiante a República Galega

mediáticos do sistema, nomeadamen-te nestes dias de campanha electoral.Também neste caso, que afecta direc-tamente a nossa dignidade colectiva como democratas galegos e galegas, a chamada “opiniom pública” ficará desinformada sobre a dimensom real da existência de delitos de opiniom no Estado espanhol. O férreo controlo informativo possibilita construir “una-nimidades” que condenam o exercí-cio de direitos fundamentais, o que obriga a que reflectamos sobre estes factos, que ameaçam com tornar-se “normais” nesta democracia de baixa intensidade que padecemos.

Porém, NÓS-Unidade Popular con-sidera que nom devemos ficar na re-flexom, tal como Santi e Alex nom fi-cárom. A nossa organizaçom mantém todo o seu apoio às acçons anti-mo-nárquicas acontecidas em Vigo em De-zembro de 2007 e apela o movimento popular para, com o esforço colectivo, afrontarmos as multas dos dous com-panheiros e mantermos o rumo em di-recçom a umha Galiza livre, socialista e republicana.

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Numero de conta solidário com

Alex e Santi2091 031� 99 30400152��

(Conceito Solidariedade com Alex e Santi)

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Nom é nengumha novidade a dramá-tica situaçom que atravessa a nossa comunidade lingüística, numhas con-diçons de grave anemia funcional devi-do à histórica imposiçom do espanhol como língua de prestígio e uso formal na Galiza.Nom é nengumha novidade que as instituiçons espanholas, incluído o seu apêndice autonómico, promovam a hegemonia do espanhol e condenem o galego à marginalidade de umha po-siçom folclórica e dependente.Nom é nengumha novidade que as que queremos e os que queremos fazer umha vida normal com o galego com o idioma de uso habitual em todos os ambitos, como a que leva qualquer ha-bitante de Valhadolid, Madrid ou Alba-

cete, tenhamos que ver os nosso direi-tos colectivos como galegos e galegas limitad@s pola presença exclusiva do espanhol em tantos serviços e espaços de uso social.Todo o anterior fai parte da realidade imposta polo Estado à nossa comuni-dade lingüística, disfarçando-a de um inexistente “bilingüismo harmónico” inventado polo PP e continuado hoje polo PSOE e o BNG. Para nengumha dessas forças é umha prioiridade apli-car a política lingüística que a Galiza necessita. Em diferente grau, as três som corres-ponsáveis da queda nos usos sociais do galego e de nada serve que o BNG re-conheça agora que a actual legislatura foi inoperante para o idioma, quando

ele próprio fazia parte do governo.Porém, sim é nova a tentativa dos sectores mais antigalegos de sair à rua e manifestar-se para tentar reduzir à mínima expressom a presença social, educativa e cultural do nosso idioma. A péssima política lingüística oficial fijo possível que agora os mais ultras se vejam com forças para reclamar umha ainda mais contundente imposiçom do espanhol.Essa é umha novidade à qual nom podemos assistir passivamente. É ne-cessário contestarmo-la com firmeza, de maneira unitária e deixando claro que os galegos e as galegas nom esta-mos dispostas a renunciar a um direito fundamental como é o nosso direito à língua.

Por isso, o dia 8 de Fevereiro saimos às ruas de Compostela e mostrar o nosso repúdio aos ultras antigalego. Figemos-lhes ver que o ódio ao nosso idioma e à nossa identidade nom pode ter espaço no nosso país.

Frente a ofensiva reaccionária do es-panholismo, NÓS-Unidade Popular quer transmitir mais umha vez ao povo galego a necessidade de um forte compromisso consciente em defesa do direito colectivo que nos assiste como comunidade lingüísti-ca minorizada.A ideologia dominante, empenha-da na morte lenta do galego através da estratégia bilingüista, possibilitou que tenhamos que enfrentar umha

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Compostela8-F

Contra o bilingüismo, contra o espanholismo

Repúdio às provocaçons do espanholismo nas ruas do nosso país

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tentativa de sectores abertamente antigalegos de tomar as ruas do nosso país em defesa do espanhol. É esse um facto grave que exige umha resposta colectiva e firme dos sectores mais comprometidos. A falácia de um espanhol em perigo é umha burda ma-nipulaçom que os meios reaccionários alimentam e as instituiçons toleram e, no caso do PP e de alguns sectores do PSOE, apoiam. É lamentável, nes-se senso, a morna atitude do BNG e dos seus sectores satélites diante des-ta agressom à nossa dignidade como povo.

Compostela, 8-F: contundente res-posta popular ao espanholismoNa manhá do Domingo 8 de Fevereiro a manifestaçom contra a língua galega convocada pola organizaçom ultra Ga-licia Bilíngüe, e apoiada entre outros polo PP, UPD e Falange; reuniu apenas a três mil pessoas que tiverom diante sua a centos de activistas pro-galego que responderom às numerosas cha-madas ao boicote lançadas por diver-sas organizaçons da esquerda sobera-nista e colectivos reintegracionistas.Posteriormente, 17 de Maio, mais de 40 mil galegas e galegos tomamos as ruas de Compostela para defender o nosso idioma.De facto, a mobilizaçom espanholista foi acurtada no seu percurso, que dis-tou muito de ser tranquilo. Assim em numerosos pontos da zona velha ac-tivistas pro-galego manifestarom com berros e asubios a repulsa diante dos espanholistas. Berros e asubios que forom respostados com violência por parte da escolta policial que acompan-hava à manifestaçom anti-galega.Com posterioridade as cargas policiais continuarom pola zona velha e outros bairros da cidade nos que moç@s en-capuçad@s enfrontarom com pedras e barricadas às forças anti-distúrbios.Como resultado fôrom detidas 11 pessoas, destacando dous membros da Direcçom Nacional de NÓS-UP, Abraám Alonso e Carlos Morais.

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Compostela8-F Os acontecimentos de 8 de Fevereiro em Compostela marcam um ponto de inflexom

para o movimento em defesa do nosso idioma nacional. A exibiçom de dignidade com que o nosso Povo Trabalhador respondeu à provocaçom do espanholismo supom por si própria um motivo de grande alegria e satisfaçom para quem estamos comprometidas e comprometidos com a nossa língua e com o projecto nacional galego.Passados já os momentos de maior tensom e expectativa, é necessário tomar posiçons sobre certas questons que servem para esclarecer o estado das cousas no movimento normalizador, na classe política do sistema e na própria “democracia” burguesa espa-nhola. NÓS-Unidade Popular manifesta as seguintes consideraçons:

1. A manifestaçom convocada por ‘Galicia Bilingüe’ foi umha fraude e umha declara-çom de guerra à nossa língua. Em primeiro lugar, como já temos manifestado, porque o discurso que justificou este acto está baseado exclusivamente em mentiras e falácias sobre umha inexistente minorizaçom do espanhol no nosso país. Em segundo lugar, porque umha parte quantitativamente muito importante da manifestaçom eram ultras e neofascistas estrangeiros chegados de outros pontos da Península; hoje sabemos que um mínimo de 12 autocarros vinhérom de Madrid e está por determinar a quantidade chegada de outros lugares fora da Galiza.

2. A actuaçom da Polícia espanhola só pode ser qualificada de brutal e desproporcio-nada. Para além do selvagem assanhamento que padeceu o nosso companheiro Carlos Morais, para além dos maus-tratos denunciados durante os traslados e nos calabouços, a estratégia repressiva geral consistiu em agredir violentamente as pessoas que estavam a mostrar de forma pacífica o seu rejeitamento à provocaçom espanholista dos supos-tos “bilingües”. Aliás, a fabricaçom de acusaçons e provas falsas sobre a atitude das e dos activistas pró-galego é de toda óptica intolerável; centenas de fotografias e vídeos assim o demonstram. Exigimos a imediata demissom de Manuel Ameixeiras, responsá-vel directo polo acontecido em qualidade de Delegado do Governo na Galiza.

3. O agir das pessoas que respondêrom ao espanholismo foi inatacável e representa um orgulho para todas e todos nós. A expressom das ideias e a dissidência pública nom som apenas direitos democráticos básicos, mas também um sintoma de boa saúde dos movimentos transformadores e revolucionários como o nosso. NÓS-Unidade Popu-lar considera que se houvo na jornada de 8-F algumha violência que mereça a nossa repulsa e condena mais enérgicas é a empregada polas forças repressivas, o resto de enfrentamentos fôrom provocados por esta.

4. Causa autêntica indignaçom a atitude hipócrita e entreguista de determinados refe-rentes públicos habitualmente identificados com a defesa do nosso idioma. Concreta-mente as vergonhosas declaraçons de Anxo Quintana ou do próprio Carlos Calhom, condenando a violência das e dos manifestantes pró-galego, o cobarde silêncio oficial do autonomismo e a oportunista reacçom da Mesa pola Normalizaçom Lingüística.

Em 8-F, pudemos ver às claras quem tem disposiçom para assumir riscos e dar a cara em defesa da nossa cultura e quem só está para rapinar votos com base em palavras vazias.

5. NÓS-Unidade Popular aposta em que os movimentos populares tiremos proveito da motivaçom gerada, passando a demonstrar na rua a inegável superioridade do nosso movimento normalizador sobre o absurdo vitimismo colonialista. Apelamos o tecido associativo popular para pôr em andamento novas iniciativas públicas que revitalizem, coesionem e difundam ainda mais o projecto comum do monolingüismo social.

6.- NÓS-UP vai apresentar umha demanda judicial contra a polícia espanhola e o De-legado do Governo por agressom injustificada e indiscriminada as pessoas galego-falan-tes que pacificamente repudiavam a mobilizaçom fascista e espanholista, assim como solicitar a ilegalizaçom de ‘Galicia Bilingue’ por incitar ao ódio e à violência contra as pessoas galegofalantes, acolhendo-nos ao Código Penal espanhol vigorante no nosso país (Lei Orgánica 1/2002 de 22 de Março).

7- Solicitamos que se arquivem as denúncias e processos judiciais abertos contra as dez pessoas detidas o dia 8 de Fevereiro e as posteriores citaçons judicias contra dúzais de manifestantes.

Consideraçons sobre a jornada nacional em defesa do nosso idioma

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Nos dias posteriores aos acontecimentos do 8 de Fevereiro, recebemos dúzias de mensagens de solidariedade e apoio às pessoas detidas e contusionadas, tanto de pessoas a título pessoal como de organi-zaçons amigas. Entre outras, destacamos as mostras de apoio da Esquerda Abertzale; Endavant (OSAN), MDT e CAJEI, dos Paisos Ca-talans; IZ-CA, de Castela; Política Ope-rária, de Portugal; a Agência Bolivariana de Prensa e a Coordenadora Continental Bolivariana, da América Latina; Iniciativa Comunista e PCPE do Estado espanhol; PCPG da Galiza; Movimento Popular De-mocrático, do Equador.

A continuaçom reproduzimos alguns dos comunicados

Esquerda AbertzaleSOLIDARIEDADE BASCA COM A NAÇOM GALEGA A esquerda independentista e socialista basca quer mostrar o seu apoio incondi-cional e permanente às pessoas reprimidas recentemente polo Estado espanhol a raíz da provocaçom fascista contra os direitos lingüísticos do povo galego. O nacionalismo espanhol está-se a reor-ganizar e a endurecer as suas agressons imperialistas contra os povos que ocupa. O nacionalismo espanhol é uno, mas tem tantas faces e formas como necessita em cada momento. Recentemente criou-se um novo partido imperialista com a fina-lidade de reforçar um espaço sociológico desatendido polo PSOE e o PP. Trata-se de UPyD, o partido de Rosa Díez e Fer-nando Savater, subsidiado generosamente pola banca e que conta com o apoio pro-pagandístico de grandes meios de manipu-laçom mediática e política. UPyD tem como objectivo prioritário massificar a repressom dos direitos nacio-nais dos povos oprimidos polo Estado es-panhol perseguindo às forças independen-tistas; e, depois, anular os poucos restos da descentralizaçom administrativa conce-dida polo Estado espanhol e que subsistem mal que bem, e em retrocesso permanen-te, reinstaurando o ultracentralismo fran-quista. A perseguiçom e prohibiçom das línguas nacionais nom espanholas é umha prioridade nesta estrategia imperialista, simultánea à imposiçom da língua e cultura espanholas como únicas legais. UPyD procura em todo momento a pro-vocaçom, o insulto chovinista, o desprezo às línguas e culturas “regionais” e a glori-ficaçom de “España”. Contando com o

apoio total das forças repressivas e da im-prensa, UpyD procura a movilizaçom re-accionária segundo métodos clássicos do fascismo, mas nas condiçons actuais. Num destes recentes ataques à democracia na Galiza, organizado por UPyD, pessoas in-dependentistas galegas teriam sido objec-to da repressom, vítimas do imperialismo espanhol. Estes e outros ataques irám a mais porque o Estado espanhol entrou numha crise estrutural dumha gravidade desconheci-da em toda a sua história. A exploraçom e o saqueio das naçons que oprime, a sua opressom e dominaçom em suma, inten-sificará-se ainda mais para, assim, facilitar no possível a recuperaçom dos benefícios da burguesia espanhola e o reforçamento do seu nacionalismo imperialista. A naçom galega e as suas forças de esquerda inde-pendentista fôrom golpeadas.

Declaramos a nossa solidariedade inter-nacionalista cara elas, e assomimos como próprios os seus objectivos de indepen-dência e socialismo para Galiza.

Euskal Herria, 13 de Fevereiro de 2009

Endavant (OSAN)De Endavant (OSAN) queremos solidari-zar-nos com os repressaliados e repres-saliadas o dia 8 de Fevereiro polas forças repressivas do Estado espanhol por defen-der a língua galega. Cada dia acentua-se mais a repressom a aqueles que luitamos nos diferentes povos ocupados polo Estado espanhol. A sua re-pressom é signo de debilidade, por isso quanta mais repressom padecermos mais nos havemos convencer de andarmos polo bom caminho.Defender a língua nom apenas é um ob-jectivo caudal para a normalizaçom de um país mas é umha necessidade básica para a sobrevivência das nossas culturas.

Frente a estes factos, Endavant (OSAN) reitera a sua solidariedade com a esquer-da independentista galega e empraza a todas as organizaçons independentistas e ao povo trabalhador catalám a demostrar a sua solidariedade com esta injustiça, que se depurem responsabilidades e denunciar o carácter antidemocrático do Estado es-panhol e dos seus governantes.

Països Catalans, 14 de Fevereiro de 2009

MDTSOLIDARIEDADE COM OS DEFENSO-RES DA LÍNGUA GALEGADo Moviment de Defensa de la Terra mos-tramos a nossa solidariedade com os inde-pendentistas galegos agredidos e detidos enquanto se manifestavam em defesa da língua galega.Perante a detençom violenta, as graves agressons por parte da polícia e a caça-ria contra os defensores da língua galega, desde o MDT queremos expôr algumhas consideraçons sobre este grave ataque contra os direitos e liberdades; uns ata-ques à língua que já conhecemos nos Paï-sos Catalans:-A estratégia que empregam os grupos orangistas (na Galiza, no País Basco e na nossa casa) reproduz-se dia a dia com a intençom de fragmentar e confrontar as sociedades do povo galego, basco ou ca-talám: assim, estes grupos espanholistas tenhem como objectivo principal que a comunidade nacional de cada umha das naçons oprimidas polo Estado espanhol acabe dividida e enfrentada, desnacionali-zada e com umha pérdida gradual da sua identidade.-Esta estratégia baseia-se na provocaçom e vitimismo constante por parte de umha constelaçom de grupos espanholistas e ultras (ao estilo do Foro de Ermua, Uni-dad y Progreso, UCE ou Ciudadanos), que venhem de emprender umha meto-dologia repetida de provocaçom como forma de agir e de ter presença mediática. Umha actuaçom que nom poderiam reali-zar sem o apoio em forma de “esquadras de protecçom” dos corpos policiacos (no caso catalám podemos pôr como exem-plo a cobertura que os Mossos d’Escuadra ofrecerom a um grupo de 15 membros de Ciudadanos durante a manifestaçom con-tra a LEC no mês de Novembro passado, que mantiverom com a cobertura policiaca umha presença altamente provocadora).-Como noutras ocasions similares, com a argumentaçom que a resposta à concen-traçom ultradereitista era “umha contra-manifestaçom”, os agentes antidisturbios cargarom selvagemente contra as pessoas que se manifestavam em defesa da língua galega e detiverom 10 pessoas.Umhas agressons que deixarom a Carlos Morais, membro de NÓS-Unidade Popu-lar, com um traumatismo cráneo-ence-fálico grave que requeriu a sua hospitali-zaçom.-Por outro lado, podemos constatar que o papel governamental (a maos do PSOE) ante as provocaçons orangistas resultou de

Organizaçons amigas enviam solidariedade a NÓS-Unidade Popular

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NÓS-Unidade Popular apresentou umha denúncia contra a junta directiva de Galicia Bilingüe por delitos contra o exercício de direitos fundamentais recolhidos nos artigos 510 e 515 do Código Penal, incluindo a induçom à discriminaçom, ao ódio e à violência contra as pessoas, como se recolhe nos documentos audiovisuais existen-tes da manifestaçom convocada pola entidade antigalega no passado dia 8 de Fevereiro.Gritos chamando à violência policial contra defensores da língua, insultos e provocaçons constantes fam parte de

umha estratégia denunciável em ter-mos de ódio étnico contra os galegos e as galegas, o que NÓS-Unidade Popu-lar denunciou no Julgado de Instruçom nº 1 de Ferrol para que se tomem medidas legais contra a impunidade com que vem actuando a associaçom Galicia Bilingüe.Por outra parte, o companheiro Car-los Morais, membro da Direcçom Na-cional de NÓS-Unidade Popular, for-malizou no Julgado de Instruçom nº 1 de Compostela umha denúncia contra os elementos da Polícia espanhola que participárom na agressom e detençom

de que foi vítima na referida manifes-taçom, no dia 8 de Fevereiro, quando de maneira pacífica se manifestava em defesa do galego e acabou no hospital com traumatismo cránio-encefálico pola violenta actuaçom policial. Jun-to à denúncia o nosso companheiro aportou diverso material gráfico e au-diovisual.Os métodos da Polícia na referida jornada constituem, em opiniom do serviço jurídico de NÓS-Unidade Po-pular, um delito contra o exercício de direitos cívicos e de lesons.Anexarom-se cópias das denúncias

realizadas hoje mesmo em Ferrol e Compostela, com o intuito de dar a conhecer que a esquerda indepen-dentista nom vai ficar de braços cru-zados perante a constante vulneraçom de direitos por parte da polícia e dos sectores ultras que incitam ao ódio e à violência contra os sinais de identidade do nosso povo.A violência policial voltou a ser a res-posta do Estado espanhol, protegendo os manifestantes de extrema-direita e agredindo abertamente os defensores e defensoras do galego.

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novo lamentável. Mais umha vez este partido totalmente desposuído dos princípios democráticos optou pola “mao dura” e a caçaria de indepen-dentistas, mas oferecendo todo o seu apoio às expresons mais reaccionárias.-Seja como for, a defesa da língua na-cional das naçons oprimidas (o cata-lám, o amazig, o basco ou o galego...) contará com a plena solidariedade da nossa organizaçom.

Defender a língua nom é nengum de-lito!

Països Catalans, 9 de Fevereiro de 2009

Agência Bolivariana de PrensaUmha manifestaçom convocada em Santiago de Compostela polo colecti-

vo Galicia Bilingüe, reclamava o direi-to a escolher a língua galega na edu-caçom, finalizou 8 de Fevereiro com a detençom arbitrária e violenta de 10 independentistas por parte da polícia espanhola. Na segunda 9 de Fevereiro os detidos forom postos em liberdade e recebi-dos por umha nutrida concentraçom que os aguardava nas imediaçons dos julgados com Vivas e um rotundo re-chaço pola brutal resposta da polícia espanhola perante a reivindicaçom jus-ta de poder adquirir conhecimentos no seu próprio idioma.Dous dos detidos, Santi Mendes e Car-los Morais denunciarom o maltrato do que fôrom vítimas. Inclusso as lesions de Morais obrigarom aos seus capto-res a trasladá-lo á Clinica de Compos-tela, onde os médicos diagnosticarom traumatismo cráneo-encefálico por agressom.A Agência Bolivariana de Prensa ABP como órgao informativo da Coorde-nadora Continental Bolivariana (CCB) expressa a sua solidariedade com o povo galego e os 10 independentistas

brutalmente atacados, rechaçando ro-tundamente a resposta desproporcio-nada da polícia espanhola que nom é mais do que o reflexo do espírito fas-cista do governo espanhol.

MPDO Movimento Popular Democrático, expressa a sua profunda solidariedade e apoio com os detidos em Santiago de Compostela, no passado 8 de Feverei-ro de 2009, de maneira especial ao companheiro Carlos Morais, membro da Direcçom de NÓS-Unidade Popu-lar, quem visitou o nosso país em Dez-embro do ano anterior.Rechaçamos a brutal repressom da que fôrom objecto os manifestantes da esquerda independentista galega que defendiam a sua língua como parte da sua identidade e que agora o Esta-do espanhol procura desaparecer por diferentes meios, agrupaçons e cam-panhas.Como organizaçom de esquerda revo-lucionária do Equador, expressamos a nossa saudaçom ao povo galego e aos seus luitadores populares, estamos

convencidos de que a história a fam os trabalhadores e os povos, com o seu infinito poder de criaçom e transfor-maçom, por isso, é necessário conti-nuar impulsando o combate frontal ao fascismo, aos posicionamentos direi-tistas e seudo esquerdistas, que nom apenas procuram a imposiçom cultural, mas continuar a manter a opressom e exploraçom dos seus povos e naçons.Resgatamos o posicionamento firme e conseqüente de NÓS-Unidade Popu-lar e os seus dirigentes, reiteramos a nossa solidariedade e apoio, alentamos as suas vitórias e a sua luita pola liber-taçom social e nacional, resistência que tanto na Galiza como no Equador tem lugar.Um abraço fraterno e esperamos con-tinuar mantendo os nossos laços que permitam a unidade internacionalista dos povos.

Fraternalmente,Luis Villacis MaldonadoDirector Nacional do MPD - Equador.

NÓS-UP apresentou denúncia contra a polícia espanhola e Galicia Bilingüe, respectivamente

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1- NÓS-Unidade Popular avalia nega-tivamente os resultados das eleiçons autonómicas de 1 de Março.As adversas condiçons em que apre-sentamos candidatura, concretizada na incapacidade para vertebrar umha única proposta de esquerda indepen-dentista, e o desenvolvimento da cam-panha implementada sem os mínimos meios e recursos económicos, com a permanente censura do conjunto dos meios de comunicaçom que nos con-denárom ao mais absoluto ostracismo, contribuem para explicar a queda de votos e a incapacidade para lograr o apoio de certos sectores desencanta-dos com a política continuísta do bi-partido.A perda de apoios em relaçom a 2005 nom só pola nossa candidatura, mas também e em similar proporçom pola outra que se apresentava em paralale-lo, com um programa semelhante e di-rigida ao mesmo sector de populaçom, pode explicar-se em parte como cas-

tigo à falta de umha única candidatura. Apesar da nossa vontade unitária, em NÓS-Unidade Popular reconhecemos a parte de responsabilidade que poda corresponder-nos nessa injustificável divisom.Também as suicidas tendências ao mal denominado voto útil promovidas polo aparelho de propaganda do BNG e PSOE contribuírom para quebrar a modesta tendência iniciada em 2005 de contribuir a reafirmar um espaço eleitoral específico da esquerda inde-pendentista. Reconhecemos que nesta ocasiom nom atingimos o principal objectivo de incrementar apoio nas urnas. Que continuamos a ser incapazes de tra-duzir em apoio eleitoral umha inter-vençom sociopolítica continuada que de maneira intermitente, mas tangível, atinge referencialidade e amplas sim-patias e apoio popular.

2- Para podermos avaliar as causas que provocárom a contundente recu-peraçom do governo da Junta da Ga-liza polo PP nom podemos esquecer que PSOE e BNG nestes quatro anos incumprírom obscenamente o acordo de governo e as promessas, e tam só reproduzírom com arrogáncia as re-ceitas neoliberais e regionalistas do fraguismo provocando a decepçom e o desencanto entre os sectores mais dinámicos da nossa naçom e da nos-sa classe. Em Sam Caetano mudárom os gestores mas nom as políticas, atraiçoando a inequívoca vontade de mudança que reclamavam e deseja-vam amplos sectores populares.

3- A vitória sem paliativos do PP nom se traduz no aparente ligeiro incre-mento de 3 mil votos pois o censo deste processo era inferior em 300 mil pessoas a respeito de 2005, e embora a participaçom percentual fosse supe-rior a todos os processos autonómicos prévios, 50 mil galegas e galegos me-nos optárom por nom participar. Para manter os mais de 760 mil su-frágios, o PP recuperou milhares de apoios entre novos votantes equili-brando assim a reduçom do censo e da abstençom. A sua maquinária propagandística logrou umha enorme eficácia entre amplos sectores popu-lares urbanos denunciando demago-gicamente a prepotência e o esbanja-mento de recursos que caracterizou o governo de Tourinho e Quintana.

Frente a esta situaçom, as forças do bipartido optárom polo silêncio, pola moderaçom, desconsiderando ou re-lativizando os efeitos da campanha do PP.De facto, umha das mais palpáveis ex-pressons do facto diferencial galego desenvolveu-se durante esta campan-ha eleitoral. O aparelho de propaganda do PSOE empregou a sua influência e controlo do aparelho estatal para lançar um ata-que mediático, político, policial e judi-cial sem precedentes contra o partido de Mariano Rajói, implicando a altos dirigentes e quadros do PP na corru-pçom generalizada que caracteriza e define o sistema político espanhol continuador do franquismo. Esta ofen-siva estava mediatizada polas eleiçons autonómicas galegas e bascas. Mas, contrariamente aos prognósticos dos estrategas de Ferraz e a Moncloa, aqui nom tivo nengumha influência o que se passa em Madrid e Valência. Enquanto PSOE e BNG optárom por esquecer que o candidato do PP por Ourense tivo que ser cessado por nom declarar milionárias quantidades de dinheiro em paraísos fiscais cari-benhos, seguiam absurdamente a de-nunciar a corrupçom do governo de Esperanza Aguirre e Camps, como se aqui nom houvesse vetas suficientes onde furar!Tivérom quatro anos para abrir umha auditoria aos 16 anos de fraguismo e desmontar boa parte da sua poderosa

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análise

Análise EleitoralSobre os

resultados eleitorais de 1 de Março de 2009

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Análise eleitoral

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estrutura caciquista, mas nom qui-gérom fazê-lo. Tivérom quatro anos para comprovar a contabilidade da gestom de Feijó como vice-presidente da Junta no último governo Fraga, mas nom se atrevêrom.A existência de umha dinámica política própria, embora adversa aos nossos intereses na actual conjuntura, é mais umha mostra dos factores objectivos que condicionam a nossa realidade nacional.

4- Os mais de 115 mil votos que per-dêrom PSOE e BNG distribuírom-se entre novas opçons, o ligeiro incre-mento da esquerda reformista es-panhola e no importante aumento do voto branco e o nulo: mais de 14 mil a respeito de 2005.Quatro anos de continuísmo, de des-prezo das demandas populares dos sectores mais avançados, de timoratas políticas e gestos com a Galiza mais conservadora tivérom como con-seqüência este novo cenário que fecha um parêntese e recupera o ciclo polí-tico aberto em 1989. Eles e só eles ca-várom passeninhamente o seu túmulo. Compete pois, única e exclusivamente

a eles, as responsabilidade pola volta do PP ao governo autonómico.

5- A confirmaçom da UpyD como quarta força política da Comunida-de Autónoma nom nos surpreende. O partido de Rosa Diaz conta com o apoio de um sector do grande capital e dos meios de comunicaçom. É umha peça essencial da estratégia espanho-lista de implantar entre sectores das classes médias urbanas um beligerante projecto político nacionalista espanhol sem complexos nem limites na hora de combater e erradicar as reivindi-caçons das naçons oprimidas.

6- Mas nom convertamos num drama insuperável a nova maioria do parla-mentinho do Hórreo. A história mais recente deste país e da nossa classe demonstrou que é nas situaçons mais adversas e complexas quando este povo é capaz de questionar os mi-tos fatalistas, as patologias racistas de mansidom, submissom e conservado-rismo, construídas e difundidas polo espanholismo e assumidas acritica-mente polos sectores mais alienados deste povo. Os anos vindouros vam ser indiscu-tivelmente convulsos, de contínuas agressons contra a classe trabalhadora, especialmente contra os sectores mais frágeis: juventude, mulheres e pessoas reformadas, mas também contra o projecto nacional galego.

O PP vai ter que fazer frente aos efei-tos mais letais da crise capitalista, mas para impor o seu programa de governo vai ter que derrotar na rua a resistên-cia operária, juvenil e dos movimentos sociais que vam, que vamos defender o nosso idioma, as nossas conquistas laborais e democráticas, que nom vamos permitir mais retrocesos nas liberdades e direitos, que nom vamos tolerar mais medidas assimiladoras contra esta Naçom.

7- Contrariamente a qualquer ten-taçom de regenerar o apodrecido au-tonomismo com base na mudança de líder, este panorama de grandes luitas tem que ir acompanhado por um pro-cesso simultáneo de recomposiçom da esquerda independentista e socialista

galega para superar a suicida fragmen-taçom que arrastamos, possibilitando assim podermo-nos dotar do impres-cindível instrumento de represen-taçom e combate popular que a classe trabalhadora e a Galiza necessita.NÓS-Unidade popular umha vez mais volta a manifestar a sua plena dispo-nibilidade a gerar as condiçons que facilitem a recomposiçom do indepen-dentismo anticapitalista.

A luita por umha Galiza livre, socialista e nom patriarcal continua!

Antes mort@s que escrav@s!

Direcçom Nacional de NÓS-UPGaliza, 4 de Março de 2009

As organizaçons políticas com actual representaçom parlamentar, PP, PSOE e BNG, as mesmas que coincidem no direito a voto de netos, bisnetos e ta-taranetos de galegas/os que vivem a milheiros de quilómetros, e comple-tamente afastados da realidade galega, negam esse direito aos habitantes da Galiza irredenta. Perto de 190.000 ga-legos e galegas, do Berzo, da Seabra, da Cabreria, do Eu-Návia, bem mais integrados na vida e na realidade po-lítica, económica, social e cultural da Comunidade Autónoma Galega nom poderám opinar sobre quem se sen-tará nas cadeiras do Parlamento do Horreo.

NÓS-Unidade Popular recolheu no seu programa eleitoral a necessidade dumha reordenaçom territorial da Ga-liza no que se inclua um “regime de es-treita colaboraçom com as comarcas galegófonas actualmente excluidas da Comunidade Autónoma Galega, com a perspectiva estratégica dumha con-sulta democrática sobre a sua eventual incorporaçom jurídico-política à Gali-za”. Nesse sentido, aposta por reco-nhecer já o direito ao voto nas eleiçons autonómicas galegas ao conjunto da populaçom desses territórios galegos, actualmente negados polo Estatuto de Autonomia.

NÓS-UP reclama o direito ao voto para todos e todas as galegas:

190.000 galegas e galegosnom poiderom votar no 1 de Março

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Que os ricos paguem a crise

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Que os ricos paguem a crise!

A paulatina perda de poder aquisitivo, o retrocesso nas conquistas e di-reitos laborais, e nas liberdades fundamentais que levamos anos denun-ciando agrava-se agora pola ofensiva da burguesia europeia de pretender impor jornadas laborais de 65 horas, e polos nefastos efeitos de umha das maiores crises que padece o capitalismo nas últimas décadas.

A virtual economia especulativa dos EUA derivou numha enorme crise financeira após o incremento dos juros e a impossibilidade de milhons de trabalhadores/as de fazerem frente as hipotecas e aos créditos. Al-guns dos principais bancos ficárom sem fundos suficientes e a sua falta de solvência arrastou o sector imobiliário e da construçom, tendo efeitos imediatos no conjunto da economia produtiva.

O modelo neoliberal do Estado espanhol, sustentado polo conjunto das forças políticas institucionais –desde o PSOE e o PP até o BNG e IU– tem

enormes similitudes com o norte-americano. Daí que as conseqüências da crise económica gerada nos EUA já comecem a deixar-se sentir. A economia do cimento e do tijolo, das imobiliárias, está em declínio e som centenas os operários da construçom com rescisom de contratos. As cada vez maiores dificuldades para chegar a fim de mês provoca a queda do consumo e, portanto, o fechamento de empresas ou despedimento de parte do seu pessoal.

Nem a burguesia, nem a casta política que, como cans guardians, defen-dem os seus interesses nas suas instituiçons, estám dispostos a perder ou ceder nos seus privilégios. Por isso optam por congelar salários, aumen-tar as jornadas de trabalho e despedir trabalhadoras/es.

Um só caminho: a luitaUmha só alternativa:

Independência e Socialismo

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Que os ricos paguem a crise

Mas o conjunto dos governos capitalistas, entre eles o espanhol, optam por tirar as castanhas do lume desviando imensos fun-dos públicos dos bancos nacionais para co-brir o enorme buraco. Mas os ricos cada

vez som mais ricos, amassam mais e maiores fortunas. Os bancos, indús-trias, grandes empresas de serviços, anunciam ano após ano maiores bene-fícios. Sem pudor e com absoluta im-

punidade, a burguesia nom oculta os seus obscenos lucros à custa da nossa sobreexploraçom.

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Sem lugar a dúvida som os ricos os responsáveis por esta situaçom e som eles, e só eles, que tenhem que resolvê-la

Podemos pará-los!!Nom nos enganemos!! Vam ser tem-pos duros. Sabemos que nom som momentos de vinho e rosas, mas tam-pouco de resignaçom e fraqueza. Toca defender com decisom e firmeza o nosso presente e o nosso futuro.

A classe obreira e o conjunto do povo tra-balhador galego nom pode seguir deposi-tando confiança nas promessas incumpri-das das forças políticas burguesas, nem nas de ámbito espanhol nem nas autonomis-tas, tampouco nos dirigentes sindicais

entreguistas e vende-obreiros. Resulta siginificativa a falta de disponibilidade para convocar urgentemente umha jornada na-cional de luita, umha greve geral, quando enfrentamos umha das maiores agressons à classe trabalhadora das últimas décadas.

NÓS-UP apresentou ao bipartido, há mais de três anos, em Setembro de 2005, umha Tabela reivindicativa de mínimos para o novo governo autonómi-co, 444 medidas concretas para umha nova política nacional e de esquerdas. PSOE-BNG nem se dignárom a responder a umha proposta aplicável no ac-tual quadro jurídico-político de carência de soberania nacional e economia de mercado.Hoje estám mais vigentes e som mais necessárias do que nunca.

Corresponde-nos a nós, povo trabalhador galego, exigir a quem co-rresponda, o governo espanhol e a Junta da Galiza, umha mudança ra-dical na política socioeconómica, mediante a implementaçom de medidas de choque com base na:-Nacionalizaçom dos sectores estratégicos e intervençom pública impulsio-nando empresas mistas.-Constituiçom de um Sector Lácteo Galego de carácter misto.-Restituiçom do carácter público de todos os serviços autonómicos privatiza-dos polo PP-PSOE-BNG.-Aumento da pressom fiscal sobre os ricos e reduçom entre as rendas mais baixas.-Subsídio dos produtos alimentares básicos, transporte, consumo energético

e acesso às novas tecnologias de tod@s @s trabalhadores/as com rendas infe-riores os 8.000€ anuais.-Incremento salarial garantindo aumento do IPC.-Salário Mínimo Interprofissional de 1.000€.-Aumento das pensons de jubilaçom superior ao IPC.-Reduçom da jornada laboral.-Supressom das ETTs e da precariedade laboral no emprego público.-Retirada de ajudas e subsídios a todas aquelas empresas privadas que nom tiverem o conjunto d@s assalariad@s com contrato estável e indefinido.-Eliminaçom das horas extras.-Implantaçom do salário social.-Plano Galego de Emprego (PGE) para atingir o pleno emprego.-Medidas excepcionais de discriminaçom positiva no PGE à juventude, mulhe-res e maiores de 40 anos. -Anulaçom dos reformas laborais das últimas duas décadas.-Modificaçom da legislaçom laboral para evitar despedimentos.-Supressom do IVA.-Criaçom do Banco Nacional Galego da fusom das Caixas de Aforro e dos fun-dos autonómicos para dinamizar a economia mediante juros testemunhais.

Propostas para evitar seguir perdendo poder aquisitivo

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Que os ricos paguem a crise

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Dirám que nom há dinheiro. Mas há, e há muito!

O que esta é mal repartido!Umha das primeiras medidas a adoptar nom é a congelaçom salarial dos políticos: é reduzir os seus salários obscenos. •Por que razom Feijó ganha mais de 80.000 mil euros por ano e Quintana ganhara acima dos 71 mil dos Conselheir@s? •Por que razom altos funcionários do regime, como a presidenta do parlamentin-ho, superam os 110 mil euros, os conselheiros da CRTVG cerca de 120 mil?É impostergável suprimir o plus dos altos cargos, esses 15.000€ anuais de carác-ter vitalício que recebem os funcionários que tiverem ocupado cargos na Adminis-traçom autonómica.

E porque Juan Carlos de Bourbon e família recebem fundos públicos sem baterem pancada?•Há que desviar os mais de 25 milhons de euros que o Estado dá à Casa Real para fomentar o emprego e combater a precariedade laboral. Que os Bourbons se pon-ham a trabalhar. Basta de parasitas sociais!!

Nom tem o mais mínimo sentido comum seguir investindo mais de 1% do PIB em armas e militares.•Devemos exigir a supressom do gasto militar. O Estado espanhol ocupa o posto 15 no ranking de investimento em armamento. O PSOE aumentou em mais de

5.5% com respeito ao ano passado o gasto militar!! Para comprar avions Eurofig-hter e tanques leopard Zapatero tem dinheiro!•Porque temos as trabalhadoras e os trabalhadores galegos que contribuir para sa-near mediante dinheiro público as empresas e entidades financeiras com problemas de liquidez quando os seus donos amassárom com o nosso suor e sangue fortunas milionárias? Ou nos tempos de fartura os oligarcas distribuírom entre nós o ganho das suas fabulosas fortunas? Nom podemos apoiar que magnates como Amáncio Ortega, Tojeiro ou Jacinto Rei –os verdadeiros donos deste País– se burlem de nós. Para os responsáveis directos da nossa precariedade e empobrecimento, nem água!!

•Nom podemos consentir seguir enterrando mais dinheiro na Cidade da Cultura. Centos de milhons de euros tenhem, e seguem a ser investidos, nesta obra faraóni-ca completamente inútil para os interesess e necessidades da maioria social. Primeiro o PP e agora BNG e PSOE injectam umha boa parte do orçamento auto-nómico no disparate do monte Gaiás. Este ano, os orçamentos da Junta dedicam mais de 40 milhons de euros na obra para simultaneamente entregarem a gestom deste negócio ao capital privado.

A actual crise do capitalismo nom é umha mais. A grave situaçom ambiental do planeta que já começa a ser visível nas nossas vidas diárias exige umha mu-dança profunda, radical do modelo so-cioeconómico.

O capitalismo está em declínio. Cada vez é maior o número de povos do mundo que o questionam e experimen-tam modelos alternativos.

O povo trabalhador galego nom vai po-der superar esta adversa situaçom, da que ainda só estamos a padecer os seus primeiros sintomas, sem deixarmos atrás a dependência nacional de Espan-ha, que nos empobrece e impossibilita o nosso pleno desenvolvimento, sem

apostarmos na soberania nacional, num governo galego. Só o povo galego deve ter plena com-petência para adoptar todas aquelas decisons sobre o nosso presente e o nosso futuro. Nem Madrid nem Bruxe-las devem substituir a nossa capacidade de decisom. As ingerências externas som respon-sáveis polo nosso atraso endémico. Sem soberania política nunca poderemos ul-trapassar a exploraçom económica dos nossos recursos e a permanente margi-nalizaçom que nos condena a continuar a emigrar, padecendo os salários e as pensons mais baixas do Estado, supor-tando as maiores taxas de desemprego, precariedade e sinistralidade laboral, uns elevados índices de pobreza e ex-

clusom social. En definitivo, tendo umha das rendas mais baixas. Galiza tem que ser livre!Mas isto é insuficiente senom for acom-panhado por umha redistribuiçom justa e equitativa da riqueza, pola construçom de umha nova sociedade alicerçada em novos valores. O Socialismo é a única garantia para evitar o que a burguesia pretende: voltar às condiçons laborais de há 200 anos, que com tanto sangue e sofrimento a classe obreira conse-guimos superar.Mas as conquistas nom som irrever-síveis. Hoje a classe trabalhadora tem que recuperar o espírito de luita das geraçons que permitírom as conquistas que nos querem arrebatar.

A alternativa Independentista e Socialista

Amáncio Ortega, Jacinto Rei, Julio Fernandez Gaioso e Manuel Fernandes de Sousa

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A casta política profissional, independentemente da sigla e da re-tórica –PP, PSOE, BNG e IU– defende interesses similares, en-riquece-se e obtém enormes privilégios à custa do povo trabal-hador, legislando para Amáncio Ortega, Manuel Jove, Tojeiro ou Carmela Arias.

Som horas de mudarmos esta situaçom. É necessário deter a vo-racidade ilimitada da burguesia. O patronato só pode ser freado mediante a luita unitária e organizada da nossa classe.

As trabalhadoras e trabalhadores galegos, o conjunto dos secto-res populares, nom podemos continuar impassíveis e ancorados na resignaçom paralisante. Há que mobilizar-se, protestar, reivindicar, exigir responsabilidades. Há que participar activa-

mente nas luitas das empresas e centros de trabalho, implicar-se nelas, evitar que sejam instrumentalizadas polas burocracias sindi-cais para favorecer interesses políticos espúreos.

Chegou pois a hora de luitar. É o momento da unidade de classe, de confiar na nossa imensa força e potencialidade. Evitemos despedimentos, reduçom de salários, aumentos de jor-nadas, incrementos da energia, transportes e bens de primeira necessidade!!

Preparemos as condiçons para o êxito de umha jornada nacional de luita que obrigue a mudar de rumo!an

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Que os ricos paguem a crise

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Chegou a hora de luitar

ADIANTE COM A GREVE GERAL NACIONAL

CONTRA ESPANHA E O CAPITAL

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Tempos de crise para a imensa maioria socialTodos os índices socioeconómicos som claramente alarmantes. Os letais efei-tos da crise estrutural capitalista estám golpeando com força as condiçons la-borais e de vida da classe trabalhadora e dos sectores populares galegos. A realidade é tam diáfana que o regi-me já nom se esforça em negá-la. Dúzias de empresas estám a fechar ou a reduzir quadros de pessoal, aplican-do eufemisticamente EREs; o desem-prego bate recordes; a congelaçom dos salários e a queda do consumo evidência as dificuldades do presente para o povo trabalhador; mulheres, ju-ventude e pensionistas som os sectores mais afectados; a pobreza e a exclu-som social atinge níveis já esquecidos; o dramático êxodo que nos acom-panhou inexoravelmente nos mais recentes capítulos históricos adopta agora a forma de emigraçom maciça entre a juventude com formaçom académica e técnica numha autêntica fuga de cérebros; a precariedade e o incumprimento generalizado da legis-laçom laboral na contrataçom está a converter-se em norma; a submissom e a obediência laboral que provoca o medo vai acompanhada polo endure-cimento das condiçons de trabalho; o patriarcado avança sem complexos; a alienaçom embrutecedora dificulta or-ganizar a resistência.

Som tempos de crise e turbulências. Duros, cinzentos e tristes. A incerteza e o fatalismo semelham ganhar adep-tos.

Tempos de suculentos negóciosMas, como historicamente tem acon-tecido, também som tempos onde o capitalismo aplica com ferocidade e de forma descarnada, sem aditivos, nem eximentes, a sua doutrina preda-dora e especulativa, que nom duvida em incrementar as taxas e os níveis de empobrecimento, exploraçom e alienaçom para assim garantir e perpe-tuar os seus lucros. Bancos, compan-hias de seguros, grandes e medianas empresas, multinacionais, nom estám dispostas a recuar nos seus obscenos benefícios.Em aras da competitividade e do pro-gresso que afronte a crise a burguesia, desprovista de complexos e escrúpu-los, por meio do patronato, pressiona a casta política que a representa e os sindicatos corruptos a negociar um novo “Pacto da Moncloa” para aplicar excepcionais medidas de choque, en-durecer a legislaçom laboral, flexibilizar ainda mais as leis do mercado, aproxi-mando-nos assim dos parámetros de-cimonónicos que tantos sacrifícios e sangue custou superar. Querem que a sua crise a paguemos os de baixo, as trabalhadoras e os trabalhadores, os

que vivemos do nosso esforço. Para que isto seja factível, os seus efi-cazes aparelhos de dominaçom ideo-lógica intimidam com virtuais ameaças globais, bombardeam sem trégua com patranhas, criminalizam as organi-zaçons revolucionárias, o movimento popular, @s que simplesmentem resis-tem e luitam, levantando cortinas de fumo, promovendo a amnésia, para despistar e amortecer os efeitos reais e tangíveis de umha crise à que já nin-guém pode escapar. Procuram justificar a supressom de direitos e liberdades individuais e colectivas a bem da sua segurança e privilégios, procurando a inconscien-te cumplicidade dos sectores popula-res desorganizados e desarmados da consciência operária e nacional que pretendem definitivamente aniquilar.

Crise nacional. A Naçom pode desaparecerEstes fenómenos tenhem lugar numha adversa conjuntura de ofensiva global espanhola contra as naçons submeti-das nesse cárcere de povos chamada Espanha. A endémica e estrutural crise do estado-naçom espanhol tenta ser novamente superada implementando agressivas políticas recentralizadoras contra o projecto nacional galego e do resto das naçons oprimidas.Décadas de políticas assimilacionistas

democráticas no ensino e nos meios de comunicaçom de massas, aparen-temente inócuas para as amplas maio-rais sociais, dam como resultado que a Galiza afronte o início do século XXI à beira da indefensom, de um precipício letal que nos pode fazer cair irreme-diavelmente na maré uniformizadora a que nos quer conduzir o capitalismo espanhol e transnacional. A acelerada perda de falantes do nosso idioma nacional, a lamentável normalizaçom de hábitos e condutas intoleráveis há poucas décadas atrás, a metódica e paulatina socializaçom dos símbolos e imaginário espanholis-ta entre a juventude, a trivializaçom e desprezo dos sinais medulares dumha Naçom trabalhadora forjada numha dilatada história, é também resultado dos banais e irresponsáveis compor-tamentos do autonomismo de práti-ca regionalista na última década, e da fragmentaçom e debilidade da esquer-da independentista e do movimento cultural normalizar articulado à volta dos centros sociais. Os que podiam frear os sintomas optárom por sub-estimá-los, e quem com lucidez diag-nosticava estes fenómenos carece de capacidade real de os afrontar para além da denúncia.As enormes dificuldades e vulnerabi-lidade que atravessa a Naçom permi-tem explicar a crise demográfica que ano após ano gera umha preocupante

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análise

Manifesto

A organizaçom independentista e socialista galega NÓS-Uni-dade Popular apresentou no passado 1º de Maio, através da sua repartiçom nas manifestaçons do Dia do Internacionalismo Proletário, umha proposta para a reformulaçom do indepen-dentismo socialista galego, num momento de grave crise eco-nómica e de emergência nacional para a Galiza.A nossa organizaçom considera necessário dar passos firmes e claros nesse sentido, que possibilitem a reorganizaçom do espaço soberanista e de esquerda de maneira urgente, sendo essa a grande matéria pendente do disperso independentismo galego. Mais, sabendo que nom há diferenças ideológicas nem políticas que expliquem a divisom actual.Contra o conformismo e as inércias sectárias, a corrente da es-

querda independentista ligada a NÓS-UP quer com este gesto visibilizar umha disponibilidade sem reservas para um encontro imprescindível entre os sectores do movimento popular que apostamos num projecto estratégico revolucionário e de futu-ro para esta naçom chamada Galiza, num momento em que o capitalismo sofre umha grave crise e Espanha incrementa a sua agressom histórica contra a nossa identidade.Sem mais objectivos que deixar patente essa disposiçom cons-trutiva para iniciar os passos que conduzam para a articulaçom política da resistência e a luita nacional e de classe, NÓS-Uni-dade Popular fai público este ‘Manifesto à Pátria e ao Povo Tra-balhador’.

Manifesto à Pátria e ao Povo Trabalhador GalegoCHEGOU A HORA DA UNIDADE PARA RESISTIR E LUITAR

NÓS-UP apresenta ‘Manifesto à Pátria

e ao Povo Trabalhador’, umha proposta de unidade

para a resistência e a luita

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Manifesto

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queda de habitantes só compensada com o novo fenómeno da imigraçom para o que o movimento de libertaçom nacional ainda carece de umha estraté-gia definida que permita integrar este contingente de povo trabalhador na Galiza que queremos construir.Após mais de 150 anos de construçom do movimento nacional, a ameaça do abismo a que nos conduz Espanha continua sem ser superado.

Crise ecológicaA grave crise ambiental é sem lugar a dúvidas mais profunda e preocupante do que nos querem fazer acreditar. Pola primeira vez, a sobrevivência da espécie humana acha-se em perigo. É tangível um enorme holocausto global derivado do esbanjamento de recursos e a implementaçom a escala planetária de um modelo de desenvolvimento antagónico com o equilíbrio e respeito ecológico.Embora persista a marginalizaçom e o empobrecimento secular que a Galiza padece na divisom internacional do trabalho, o nosso país nom é alheio a estes fenómenos. Todo o contrário. Temos uns índices de contaminaçom superiores o de sociedades mais in-dustrializadas e urbanizadas que a nos-sa. Os infames planos do capitalismo espanhol e da Uniom Europeia que re-duzírom à mínima expressom o sector primário inviabilizando assim a impres-cindível soberania alimentar, preten-dem seguir sobreexplorando os nossos recursos. As coordenadas criminosas baseiam-se na implantaçom com ab-soluta impunidade de indústrias de enclave, de insensatas reflorestaçons de monocultivos de espécies foráneas, dum modelo energético alheio às ne-cessidades endógenas, destruindo as costas e espaços naturais protegidos com portos desportivos, construindo urbanizaçons, campos de golfe, vias de transporte que desvertebram o País e o incomunicam, no quadro de umha estratégia turistificadora que pretende inviabilizar economicamente a Galiza até lograr convertê-la numha simples reserva de matérias-primas, energéti-ca e de mao de obra barata.

Refundaçom do obsoleto nacio-nalismo ou recomposiçom da es-querda independentista?Os três últimos quinquénios fôrom espectadores de um progressivo pro-cesso de aggiornamento da principal estrutura defensiva que os sectores populares galegos tenazmente ergué-rom desde meados da década de ses-senta do século XX até atingir a sua actual plena integraçom no sistema

político espanhol. A direcçom e imen-sa maioria dos quadros da esquerda nacionalista optou por capitular fren-te Espanha e o Capital adoptando um inofensivo e contraditório perfil cen-trista e regionalista que lhes permitiu saborear as migalhas que o regime lhe condece pola sua lealdade. O autonomismo logo da nefasta ex-periência do bipartido pretende apli-car de forma oportunista e a marchas forçadas um giro à esquerda para re-compor-se, ganhar tempo, evitando assim um maior descalabro eleitoral e retrocesso nos espaços de poder institucional atingidos. Porém, este movimento nom passa de ser algo meramente virtual. O actual auto-nomismo nom se pode regenerar. O

pactismo, a adulteraçom ideológica, a cumplicidade com os inimigos de clas-se e nacionais, a renúncia estratégica ao exercício do direito de autodeter-minaçom e à transformaçom social estám plenamente inoculadas no seu seio, fam parte do seu ADN. Só pessoas bem intencionadas, ingé-nuas e incautas podem acreditar ho-nestamente nas possibilidades reais de voltar a fazer do BNG umha ferra-

menta útil para defender Galiza desde os interesses das camadas populares. O seu ciclo está esgotado. Inexora-velemente o BNG caminha a ser um espectro mais da velha esquerda des-nutrida e anémica, estrategicamente derrotada e imbricada na lógica do parlamentarismo burguês.Este processo enquadra-se na mais que provável mudança de ciclo que após o parêntese do zapaterismo leva-rá a direita tradicional a voltar a ocu-par o governo espanhol.

É hora de avançarmos na reformu-laçom do independentismo socia-listaA grave e profunda crise social e nacio-nal colhe-nos a contrapé. Porém nom é o momento de inclinar bandeiras, de resignaçom e desencanto. Todo o contrário! É imprescindível dar passos firmes e claros face à recomposiçom sociopolí-tica da esquerda independentista e so-cialista galega. A reorganizaçom deste espaço é urgente, nom pode seguir dilatando-se sine die. É hora de adop-tar com valentia e coragem a grande matéria pendente. A indecisom, a co-modidade e o conformismo nom ten-hem cabimento. Nom existem muros infranqueáveis.As responsabilidades colectivas desta lamentável situaçom nom podem se-guir condicionando a actual divisom e fragmentaçom que impossibilitam ser-mos um projecto útil para defender a naçom galega e os interesses de classe e de género da imensa maioria social. É necessário visibilizar mudanças de atitudes. Há que mover ficha. As experiências falhadas que arrasta-mos tampouco podem continuar a ser umha lousa inamovível que condiciona e negue antidialecticamente o futuro. Com modéstia revolucionária, sem fal-sos protagonismos, sem condicionan-tes prévios, nem modelos preestabele-cidos, apelamos o conjunto de agentes políticos e sociais de carácter nacional e local, de activistas do movimento popular e operário, que nos enqua-dramos nos parámetros da esquerda independentista, a iniciar um processo de diálogo tendente a superar este mal endémico que nos consome e esterili-za para organizar a resistência, injectar moral, frear a ofensiva do Capital e do projecto espanhol, como objectivos imprescindíveis que posteriormente permitam sentar as bases de umha vi-tória estratégica da Naçom Galega, da emancipaçom social de género.

Com total honestidade, estamos ple-namente convencidas de que é possí-vel com generosidade e olhar de futu-ro iniciar a imprescindível transfusom de ideias, de projectos, de modelos que permitam elaborar sínteses de mí-nimos colectivamente aceitáveis que possibilitem a convergência para, com iniciativa, impulso, inconformismo, e intransigência, dotar o País e a nossa classe do baluarte organizado que de-mandam amplos sectores populares.

Galiza, Maio de 2009

Page 19: Voz Própria nº 22

A equipa de redacçom da Voz Própria considerou de interesse nesta altura suscitar a reflexom em torno do conflito lingüístico existente na Galiza, num momento em que o PP chegou ao poder autonómico com pro-messas de aumento da pressom contra os direitos lin-güísticos da comunidade lingüística galega. Nom é a primeira vez que nestas páginas falamos de língua, nem será a última. No entanto, desta vez fazemo-lo coinci-dindo com umha sucessom de factos importantes para a nossa comunidade lingüística: a publicaçom dos resulta-dos da segunda ediçom do Mapa Sociolingüístico Galego, cinco anos depois da sua elaboraçom, em 2004, e que confirma o avanço da imposiçom do espanhol; a vitória

eleitoral do PP, que está a reactivar o espanholismo mais agressivo desde tempos do franquismo; e, em respos-ta a isso, o ressurgir da activaçom de sectores sociais normalizadores, depois de anos em que os três grandes partidos fôrom cúmplices num “consenso” consistente em assistir ao processo de morte lenta do galego, que agora quer ser acelerada pola direita espanhola gover-nante. A nossa reflexom parte dessa realidade, mas con-clui que as dificuldades objectivas podem ser vencidas se activarmos, como povo, os mecanismos de autodefesa e construçom necessários para garantirmos um futuro para a Galiza e para a nossa língua.

Retomar a luita pola língua

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Page 20: Voz Própria nº 22

22DOSSIER CENTRAL

Retomar a luita pola língua

1. O capitalismo, inimigo declarado da

diversidade lingüística

O conceito de Política Lingüística foi posto

em circulaçom na década de 60 do século

passado, para referir as políticas dos esta-

dos em relaçom às línguas como elementos

de poder social, os seus usos e posiçom no

seio de umha formaçom social concreta.

Porém, a existência de políticas lingüísticas

é muito anterior à sua formulaçom teórica.

Assim, as mudanças socioeconómicas ope-

radas na Europa renascentista provocárom

a generalizaçom de estratégias para dar a

um reduzido grupo línguas o estatuto de

dominantes sobre a maior parte dos idio-

mas do continente. Longe de ser um pro-

cesso natural, espontáneo ou casual, res-

pondeu à correlaçom de forças no seio das

classes dominantes e à sua adscriçom étnica

no conjunto do continente, num processo

histórico que originou o surgimento dos es-

tados-naçom, que quase nunca correspon-

dem com territórios monolíngües (Islándia

e, quase por completo, Portugal e Dinamar-

ca som as excepçons). Através de modelos

unitários (Espanha, França, Reino Unido...)

ou (con)federais (Bélgica, Suíça, Aleman-

ha...), nos séculos seguintes fôrom impon-

do-se políticas de construçom nacional com

base nos respectivos mercados nacionais,

na contribuiçom fiscal universal e obrigató-

ria, na moeda comum, num exército unifi-

cado e, sobretodo, no que o antropólogo

Benedict Anderson denominou capitalismo

editorial, quer dizer, a extensom graças à

generalizaçom da imprensa, de umha varie-

dade lingüística única, falada e escrita, que

devia ocupar as funçons formais que até

entom tinham correspondido, de maneira

restrita e extremamente elitista, ao latim.

A evoluçom do capitalismo tem como co-

rrelato político a substituiçom das monar-

quias absolutas por novas unidades políticas

de carácter estatal, unificado, representa-

das polo paradigma da vitoriosa Revoluçom

francesa a partir de 1789.

Nesse quadro, a educaçom ganha protago-

nismo como via para a identificaçom geral

com o respectivo projecto nacional, com

o idioma do novo Estado como veículo

de formaçom obrigatório, instrumento de

grande poder simbólico na autoidentifi-

caçom nacional. Nesse caminho, é conhe-

cida a marginalizaçom sofrida pola maioria

das línguas: aquelas que nom servem aos

projectos unitários. O caso francês conti-

nua a ser paradigmático pola intensidade

com que o novo sistema se empenhou em

banir o que chamou patois ou “dialectos e

línguas estranhas faladas em França”, iden-

tificadas como próprias do sistema anterior,

obscurantista e contrário ao progresso do

racionalismo.

Esse processo de organizaçom política do

capitalismo no continente europeu pro-

longou-se até o século XIX, em que a fase

industrial marcou ainda mais a existência de

centros de poder económico e político face

a periferias como a constituída pola Galiza,

que constituírom, na maior parte dos esta-

dos do centro capitalista, realidades defini-

das como “colonialismo interno”.

Enquanto o sistema avançava para a mun-

dializaçom do mercado capitalista e, em

simultáneo, para a descomposiçom de

impérios europeus anteriores, fôrom ori-

ginando-se novos estados ao longo do sé-

culo XX. Assim, no seu primeiro quartel,

tornam-se independentes a Noruega (da

Suécia, em 1905), a Bulgária (do Império

Otomano, em 1908), a Albánia (do Império

Otomano, em 1912) ou a Irlanda (do Reino

Unido, em 1921).

Nos três primeiros casos, os idiomas res-

pectivos maioritários fôrom objecto de

políticas lingüísticas específicas que os con-

vertêrom em línguas nacionais dos novos

estados, incluindo processos de padroni-

zaçom, de introduçom no ensino e nas di-

ferentes funçons sociais de tipo formal; no

caso irlandês, sendo o inglês já maioritário,

acabou por se converter na língua de facto

da Irlanda independente.

Outras naçons, como a galega, mantivé-

rom-se sob soberania estrangeira durante

o convulso século XX. Isolada durante sé-

culos dos avanços capitalistas, maioritaria-

mente rural e agrária, conservou o idioma,

de maneira precária e em ámbitos de uso

nom formais, como é conhecido.

Mas o expansionismo imperialista europeu

levou fora do continente o afám unificador,

submetendo numerosos povos dos restan-

tes continentes por diferentes vias, desde

o extermínio físico até a transculturaçom

e à assimilaçom lingüística. Assim se explica

que, sobretodo o espanhol, o português e

o inglês sejam as línguas com maior proje-

cçom transcontinental na actualidade, fruto

de agressivas políticas lingüísticas levadas a

cabo polos respectivos projectos imperia-

listas.

Toda umha construçom ideológica acom-

panhou as políticas de imposiçom lingüística

por parte dos principais impérios europeus

a partir do século XVI. Umha construçom

abertamente racista alicerçada na suposta

“superioridade” da civilizaçom ocidental e

cristá face aos povos “exóticos”, “bárba-

ros” e “inferiores” da América, África, Ásia

e Oceánia.

Deveria ser desnecessário fazê-lo, mas in-

sistimos num facto que às vezes se esque-

ce: nengum povo abandona “naturalmente”

o seu idioma para fazer seu o do invasor,

porque nengum idioma pode encarnar o

ser de nengum povo melhor que o próprio.

Além disso, e contra as interesseiras inter-

pretaçons dos aparelhos de propaganda do

imperialismo, qualquer um dos ainda milha-

res de idiomas falados no mundo é capaz de

responder a todas as necessidades expres-

sivas e de comunicaçom da sua comunidade

de falantes.

Som factores extralingüísticos ligados à

imposiçom política, económica e militar os

que explicam todos e cada um dos proces-

sos de substituiçom lingüística registados na

história da humanidade. Daí que seja tam

importante despir a ideologia imperante em

cada caso como forma de defender o direi-

to à existência de cada naçom, de cada co-

munidade lingüística, de cada idioma como

parte do património universal ameaçado,

hoje mais do que nunca, polo agressivo

expansionismo capitalista. Daí que seja tam

importante insistir na necessidade de que

cada povo poda contar com as ferramen-

tas de autodefesa necessárias para evitar a

assimilaçom, para fazer frente à ideologia

dominante que conduz para a desapariçom,

cada ano, de centenas de idiomas e comuni-

dades lingüísticas em todo o mundo.

2. O lingüicida imperialismo espanhol

A partir da exposiçom das páginas ante-

riores, é fácil concluir que o nacionalismo

expansionário espanhol está na origem

dos processos substitutivos em curso nos

sucessivos povos submetidos por esse im-

perialismo de base étno-lingüística castelha-

na. Desde o extermínio do povo guanche

no século XVI até as políticas genocidas

no continente americano durante os que

se seguírom, o imperialismo espanhol fijo

da imposiçom da sua língua, “companheira

do império”, um sinal de identidade que se

mantém na actualidade, ainda que seja sob

formas diferentes.

Durante a etapa dourada do império, os

seus ideólogos e literatos nom duvidavam

em afirmar abertamente a superioridade

intrínseca castelhana para explicar a sua po-

siçom de domínio. Com um critério etnicis-

ta inocultável, incutírom na consciência dos

galegos e das galegas a formulaçom ideoló-

Page 21: Voz Própria nº 22

23DOSSIER CENTRAL

Retomar a luita pola língua

gica de que o galego, como forma

dialectal carente de qualquer formalidade e

prestígio, era a causa do atraso económico

do país, como ingrediente fundamental de

um carácter “regional” inferior ao da “no-

bre” castela.

Se bem os mecanismos de imposiçom do

castelhano partem de muito antes, as pri-

meiras normas legais claras partem do

século XVIII. É o caso da Real Cédula de

Aranjuez, de 1768, que estabelece como

obrigatório o estudo exclusivo do castelha-

no em todo o Reino, provocando as primei-

ras respostas por parte de ilustrados gale-

gos como Martinho Sarmento, que qualifica

como “monstruosidade” os objectivos e

efeitos dessas normas nas crianças que só

sabiam falar galego.

No século XX, os sucessivos governos

espanhóis aprovam leis, ordens e decre-

tos que restringem abertamente o uso de

quaisquer idiomas diferentes do único ofi-

cial do Estado. Podem citar-se, antes do

período franquista, as seguintes:

- Em 1902, o real decreto que obriga os

mestres a utilizar o espanhol

nas aulas, dispondo sançons

concretas para quem incum-

prir tal preceito, incluída a

“separaçom do magistério

oficial, perdendo quantos

direitos lhese reconhece

a lei”.

- Em 1904, é promulga-

do um real decreto que

restringe o uso de “qual-

quer idioma ou dialecto

falado em Espanha” nas comunicaçons

telefónicas e nos telegramas, àqueles de

carácter privado, sendo obrigatório o uso

do espanhol quando se tratasse de comu-

nicaçons “administrativas, governativas ou

judiciais”.

- Em 1917, aprova-se um regulamento no-

tarial que proíbe a realizaçom de escrituras

públicas em idiomas diferentes do espan-

hol, a nom ser que se acompanhem de tra-

duçons para esse idioma.

- Em 1923, é promulgado um “Real Decreto

ditando medidas e sançons contra o sepa-

ratismo”, que no artigo nº 2 proíbe expre-

ssamente o uso oficial de qualquer língua

diferente do espanhol.

- Em 1924 e 1925, aprova-se um novo Real

Decreto para garantir a etiquetagem em

espanhol dos medicamentos, umha ordem

dirigida aos reitores universitários lembran-

do-lhes a obrigatoriedade de utilizarem só

o espanhol no ensino e de outras ordens

semelhantes dirigidas a diferentes ámbitos

do ensino oficial.

- Em 1926, promulgam-se um Real Decreto

ameaça com sançons económicas quem se

recusar a falar a língua oficial nas escolas es-

panholas e um outro contra os mestres que

usem outras línguas, com sançons como a

transferência a territórios “em que nom

existam formas idiomáticas diferentes da

linguagem oficial” (sic).

- Em 1931, a II República espanhola de-

fine no artigo nº 4 da sua Constituiçom o

espanhol como único idioma oficial, que

todos tenhem a obrigaçom de conhecer e

o direito de usar, o que nom acontece em

relaçom às restantes línguas faladas em te-

rritórios do Estado. O artigo 5º consagra o

espanhol como língua do ensino. Catalunha

contará com um decreto de bilingüismo a

partir de 1932.

Como se vê, é falso que o espanhol care-

cesse de mecanismos de coerçom legal para

a sua imposiçom inclusive em etapas tidas

por democráticas ou de ‘ditabranda’. Já no

franquismo, o rápido acesso ao poder dos

golpistas supujo na Galiza umha brutal e ma-

ciça repressom que nom excluiu umha com-

ponente lingüística. O ensino converteu-se

em peça fundamental do novo regime, que

reprimiu de umha ou outra forma 35% do

professorado galego anterior, impondo a fe-

rro e fogo o modelo nacional-católico, que

iguala o que denomina “línguas vernáculas”

com “separatismo” e conta com a partici-

paçom directa da hierarquia católica, que

vai retomar um papel fundamental na “for-

maçom do espírito nacional”.

Durante o franquismo, a sucessom de tex-

tos legais repressivos contra as comunida-

des lingüísticas diferentes da estatal é umha

realidade. Já em 1936, o líder dos fascistas,

Francisco Franco, reivindica num discurso

radiofónico “una sola lengua, el castellano,

y una sola personalidad, la española” como

eixos do seu programa político. Quanto à

concreçom dessas ideias, eis umha mostra

das medidas legais em matéria de política

lingüística adoptadas durante o franquismo:

- Em 1938, anula-se qualquer inscriçom legal

feita em idiomas diferentes do espanhol. No

mesmo ano, proíbe-se explicitamente a ins-

criçom no Registo de Pessoas Jurídicas nas

“línguas vernáculas”.

- O manual escolar aprovado em 1939, o

Catecismo Patriótico Espanhol estabelece

o espanhol como único idioma “do povo

Bloco reintegracionista na manifestaçom 17 de Maio de 2009

Page 22: Voz Própria nº 22

espanhol”, com a excepçom do basco, que

considera um dialecto, “pola sua pobreza

lingüística e filológica”, e ouros quatro “dia-

lectos principais que se falam em Espanha”.

O catalám, o valenciano, o maiorquim e o

galego. No mesmo ano, um ofício da Subse-

cretaria de Imprensa e Propaganda diq ue os

“idiomas regionais” devem ser proibidos se

nom servirem para melhorar a divulgaçom

dos princípios do Movimento e da obra do

Governo. Umha ordem desse ano proíbe o

uso de termos “nom espanhóis” em estabe-

lecimentos de hotelaria, enquanto no caso

da Catalunha, onde se tinham dado alguns

passos na normalizaçom social do catalám, é

ordenada a retirada de rótulos em catalám,

impondo-se sançons a quem continuar a uti-

lizar o catalám na rotulagem exterior.

- No ano seguinte, a proibiçom relativa à ro-

tulagem estende-se às outras línguas, sendo

efectiva essa ordem até 1963.

- Em 1941, umha ordem ministerial proíbe a

projecçom de filmes em idiomas diferentes

do espanhol. O mesmo critério é imposto

aos telégrafos nesse ano.

- Em 1944, o novo regulamento notarial es-

tabelece que os o espanhol é o único idioma

possível em qualquer documento público.

- Em 1945, impom-se o uso de nomes só

em espanhol a qualquer tipo de embar-

caçom. No mesmo ano, o Estado absorve

todas as escolas municipais, nomeadamente

bascas e catalás, “onde mais dano se tem fei-

to à unidade da pátria”.

- Em 1953, umha ordem do Ministério do

Comércio impom a utilizaçom do espanhol

nos nomes genéricos comerciais.

- Em 1957, um projecto de lei obriga a utili-

zar só nomes “em castelhano” às crianças.

- Em 1966, a Lei de Imprensa ou “Lei Fraga”,

apesar de eliminar a censura prévia, serve

de base para ordens verbais que “sugeriam”

que línguas diferentes da do Estado nom ul-

trapassassem 20% de qualquer publicaçom.

Além da armaçom legal ao serviço da es-

panholizaçom, a funçom ideológica obriga-

tória da imprensa, a rádio e, mais tarde, da

televisom, junto ao ensino, na medida que

vai estendendo-se, completam o quadro

etnicida representado polo franquismo.

Apesar de nom conseguir liquidar as comu-

nidades lingüísticas oprimidas, a maquinaria

repressiva e ideológica sim contribuiu de

maneira decisiva para as enfraquecer. No

caso da Galiza, as quatro décadas de dita-

dura completárom umha estratégia secular

em que as classes dominantes espanhola

e galego-espanhola só tolerárom o galego

como fala informal das classes populares

rurais, perseguindo de maneira virulenta

qualquer tentativa de formalizaçom do seu

uso fora dos contextos folclorizantes e de

ligaçom ao ‘atraso endémico galego’.

Daí que a reforma que se seguiu no regi-

me à morte do ditador e a aprovaçom da

Constituiçom espanhola de 1978, apesar de

manter a substancial hegemonia legal e fac-

tual do espanhol, fosse interpretada por nu-

merosos sectores como um grande passo

para a recuperaçom dos direitos lingüísticos

por parte do povo galego, que na altura era

galegofalante de maneira mui maioritária.

Na realidade, estávamos perante umha

reformulaçom ideológica do mesmo hege-

monismo em relaçom aos chamados “dia-

lectos” ou “vernáculos” dos povos oprimi-

dos polo mesmo imperialismo espanhol de

sempre. Iso foi assim denunciado por um

significativo movimento social e político, o

novo nacionalismo galego surgido nos anos

60, que mantivo umha importante iniciativa

em defesa do galego nas décadas de 70 e

80.

A brutal ditadura que durante quatro dé-

cadas impujo umha soluçom repressiva à

realidade diferencial galega intensificou a

perda de auto-estima de toda umha comu-

nidade lingüística, enquanto a penetraçom

a partir dos anos 60 do modelo desenvolvi-

mentista do tardo-franquismo incrementou

a erosom da ainda maioritária populaçom

galegofalante.

Assim chegou a Transiçom, ou transacçom,

através da qual a ditadura se transformou

em democracia formal, monárquica e es-

panhola, com umha aparente nova filosofia

lingüística que reconheceu a cooficilidade

de três das línguas historicamente minori-

zadas: o galego, o basco e o catalám.

3. Política lingüística: origem e mode-

los possíveis

A fórmula ensaiada a partir do início da dé-

cada de 80 polo Estado espanhol através

das sua descentralizaçom administrativa

conhecida como Estado das Autonomias

tivo também, como é conhecido, o seu

ámbito de actuaçom em matéria de política

lingüística. Existiam, já na altura, diferentes

modelos ensaiados em diferentes lugares

do mundo, em relaçom a comunidades lin-

güísticas minorizadas como eram, no caso

peninsular, a galega, a basca e a catalá (as

restantes fôrom directamente excluídas de

qualquer política “de estado”).

Basicamente, costuma reconhecer-se a

existência de dous modelos puros de po-

lítica lingüística dirigida a promover, de

algumha maneira, a recuperaçom de um

idioma numha comunidade: um baseado

na territorialidade e outro nos direitos

pessoais ou individuais. Na territorialidade

pura tenhem-se baseado os modelos de

construçom dos estados-naçom vertebra-

dos a partir do que páginas atrás denomina-

mos “capitalismo editorial”. O território de

referência para esses projectos determiná-

rom a generalizaçom de usos de um único

idioma nacional e oficial, banindo os restan-

tes de qualquer reconhecimento. Talvez

França seja o exemplo paradigmático desse

modelo, dada a exitosa universalizaçom do

francês como elemento substancial da na-

cionalidade num território onde eram -ain-

da som- faladas numerosas línguas, conde-

nadas ao mais absoluto ostracismo.

Os grandes estados-naçom europeus apli-

cárom o mesmo esquema, claramente no

caso dos mais centralistas, mas também al-

guns confederais como a Suíça. Os surgidos

da emancipaçom de numerosas colónias

espanholas, inglesas, portuguesas, etc, apli-

cam um esquema semelhante ao longo do

século XIX, mantendo as minorias crioulas

governantes a marginalizaçom absoluta das

línguas originárias, como se vê ao longo do

continente americano.

A língua no Estatuto de Autonomia

Redacçom alternativa (descartada)

1. A língua nacional da Galiza é o galego.2. O idioma galego é oficial na Galiza e todos tenhem direito a empregá-lo e o dever de conhecê-lo.3. O Poder Galego garantirá o emprego oficial e adoptará as medidas necessárias para assegurar a sua normalizaçom.4. O idioma galego será usado em todo o caso nos actos do Poder Galego, nas suas relaçons com os cidadaos, na vida pública e nas actuaçons dos tribunais. Todos os funcionários e cargos públicos do Poder Galego e do Estado que prestem serviços permanentes na Galiza deverám conhecer o galego.5. O idioma castelhano será oficial de acordo com a Constituiçom.

Redacçom aprovada 1. A língua própria da Galiza é o galego.2. Os idiomas galego e castelhano som oficiais na Galiza e todos tenhem o direito de os conhecer e de os usar.3. Os poderes públicos da Galiza garantirám o uso normal e oficial dos dous idiomas e potenciarám o emprego do galego em todos os planos da vida pública, cultural e informativa, e disporám os meios necessários para facilitar o seu conhecimento.4. Ninguém poderá ser discriminado por causa da língua.

24DOSSIER CENTRAL

Retomar a luita pola língua

Page 23: Voz Própria nº 22

Porém, esquecendo que a política lingüís-

tica existe desde que existem os estados

nacionais, costuma restringir-se o sentido

do conceito às medidas adoptadas em re-

laçom a comunidades lingüísticas minoriza-

das durante séculos no interior de estados

centralistas ou federais da Europa. Também

fôrom determinantes nos estudos da nova

disciplina sociolingüística os processos de

independência das novas naçons descoloni-

zadas ao longo do século XX, em continen-

tes como o asiático ou o africano, em cujos

territórios costumam ser faladas numerosas

línguas originárias abaixo da imposta polo

colonizador (na Índia -independizada em

1947- ou em Angola -1975- por exemplo).

Nestes últimos, costumam reproduzir-se

modelos territoriais de domínio tendentes

para a substituiçom lingüística em favor da

língua do novo Estado, ficando para os idio-

mas tribais ou originários o reconhecimento

parcial do reconhecimento individual a ser

falado polos membros da comunidade lin-

güística correspondente. O inglês funciona

como idioma nacional na Índia, tal como o

português em Angola, na medida que existe

umha escolarizaçom, um mercado nacional

e uns meios de comunicaçom abrangentes

de todo o território.

Já no caso das naçons oprimidas no interior

dos estados nacionais do ocidente, para

irmos chegando à casuística particular ga-

lega, as políticas lingüísticas em defesa das

comunidades minorizadas som recentes.

Os antecedentes situam-se nos processos

de independência nacional no continente

europeu de fins do século XIX e na primei-

ra metade do século XX, que quase sempre

acarretárom políticas lingüísticas ligadas à

construçom nacional: Itália, Alemanha, No-

ruega, Finlándia, Chéquia, Albánia...

A experiência revolucionária da URSS foi

também, sobretodo nos primeiros anos e

na década de 20, um precedente quanto

a reconhecimento de direitos colectivos a

dúzias de comunidades lingüísticas minori-

zadas, nesse caso pola imposiçom histórica

do russo.

Apesar de nom contarem com aparelhos

estatais ao seu serviço, comunidades lin-

güísticas como a flamenga (Bélgica) ou a fe-

roesa (Dinamarca) no continente europeu,

ou a quebequesa (Canadá) no americano,

representam casos em que a progressiva

passagem de modelos baseados nos direitos

individuais para o reconhecimento da terri-

torialidade permitiu significativos avanços

das respectivas línguas (holandês, feroês e

francês, respectivamente). Nos três casos,

a recuperaçom dos idiomas minorizados

supujo a correlativa perda de posiçons do

idioma estatal (francês, dinamarquês e in-

glês, respectivamente).

Porém, no caso espanhol, a Constituiçom

de 1978 e os estatutos autonómicos que

se seguírom, optárom claramente por re-

servar para a língua do Estado os direitos

colectivos e territoriais, reduzindo os direi-

tos lingüísticos na Galiza, País Basco e Países

Cataláns a diversos graus de reconhecimen-

to individual enquanto línguas “cooficiais”.

Quer dizer, os mesmos modelos que antes

foram aplicados com idênticos resultados

negativos na Flandres, nas Ilhas Faroé e no

Quebeque; ou que continuam a ser apli-

cados em diferente grau em numerosas

comunidades lingüísticas dependentes nos

cinco continentes.

Já antes da aprovaçom da Constituiçom

espanhola, em 1977, Ricardo Carvalho Ca-

lero, primeiro catedrático de Língua e Li-

teratura Galega desde 1972, adianta a sua

análise da via morta que podia vir a originar-

se com a nova etapa aberta após a morte

do ditador: “A cooficialidade seria umha luita

desigual encaminhada a o fracasso. Há que

galeguizar a sociedade. Nom avonda com

dispor oficialmente a igualdade dos dous idio-

mas. Por outra banda, sem prejuízo de que o

castelhano seja conhecido e respeitado polos

galegos, parece lógico aspirar a que o galego

seja algum dia a língua natural de todos os

galegos”. (A Nosa Terra, 2 de Dezembro de

1977)

4. Evoluçom da política lingüística na

Galiza nas últimas três décadas (19�9-

2009)

Se bem a inspiraçom fundamental da po-

lítica lingüística aplicada à Galiza parte do

ano anterior (1978, quando é aprovada a

Constituiçom monárquica actual), é no ano

79 que se aprova o primeiro decreto que

marca pautas mais concretas e define qual

será o único espírito “normalizador” pos-

sível: referimo-nos ao que ficou conhecido

como Decreto de Bilingüismo, pensado

para regular a incorporaçom do galego ao

ensino oficial. Foi aprovado uns meses de-

pois dos correspondentes catalám e basco,

estabelecendo, como aqueles, os limites de

qualquer política galeguizadora, enfeitados,

isso sim, de paternalistas bons propósitos,

nomeadamente o convívio entre as duas lín-

guas oficiais: a ainda minoritária, mas pode-

rosa, língua espanhola, e a maioritária mas

submetida língua galega.

O Decreto estabelece toda umha série de

condicionantes à suposta obrigatoriedade

do ensino do galego -que nom em galego-

, em funçom de umha suposta tentativa

de nom causar “rejeitamento” nos pais e

de umha referência aos “meios de que se

dispuger” por parte das instituiçons que

deveriam garantir a suposta cooficialidade.

Também evita qualquer compromisso com

o carácter veicular do galego, que só será

permitido se forem cumpridos até quatro

requisitos diferentes (acta do claustro e

da associaçom de pais favorável, relaçom

de profesorado responsável, plano peda-

gógico-organizativo e ditame favorável da

Comissom Mista), limitando-se em caso

25DOSSIER CENTRAL

Retomar a luita pola língua

Jesus Vasques Abade, novo Conselheiro de Educaçom, com Gloria Lago

Page 24: Voz Própria nº 22

contrário a ceder horas do currículo espan-

hol para o seu ensino como matéria, com

as excepçons que, com efeito, viriam a ser

posteriormente estabelecidas nas célebres

“isençons” aprovadas por diferentes gover-

nos autonómicos nas décadas seguintes.

Ao contrário, no caso do espanhol sim es-

tabelecia, já logo no 1º artigo, a sua obri-

gatoriedade em todos os centros de ensino

da Galiza, algo de resto desnecessário umha

vez que a própria Constituiçom aprovada

no ano anterior reservava em exclusiva para

o espanhol a condiçom de idioma de conhe-

cimento obrigatório no território espanhol.

De facto, a aplicaçom do tal Decreto supu-

jo a abertura de numerosos expedientes

contra o alunado e professorado que nom

abdicou de ir mais longe no uso do galego

nas aulas, numha altura em que a corrente

maioritária do nacionalismo galego man-

tinha firmes posiçons na matéria. Umha

importante mobilizaçom dos sectores mais

conscientes foi a resposta a esse texto fun-

dacional do que iria ser a doutrina legal es-

panhola em relaçom à política lingüística nas

décadas seguintes... até hoje.

Mas o principal texto legal na matéria que

analisamos foi sem dúvida a Lei de Nor-

malizaçom Lingüística, aprovada em

1983 por iniciativa do governo de Alianza

Popular, presidido por Gerardo Fernández

Alvor. Contodo, a sua fonte de inspiraçom

superior -além da sacrossanta Constituiçom

espanhola- é o próprio Estatuto de Auto-

nomia da Galiza, aprovado dous anos antes

com o maior índice de abstençom da histó-

ria eleitoral galega (71,82%) e com o voto

negativo do nacionalismo anti-autonomista.

No Estatuto, se bem se regista um avanço

no reconhecimento do galego como única

“língua própria” da Galiza, estabelece-se, de

maneira contraditória, a cooficialidade en-

tre a língua própria e a que, por exclusom,

podemos considerar “imprópria”, apesar de

ser a única obrigatória: o espanhol. Apesar

das boas palavras de teor compensatório

para o depauperado galego, excluiu a deno-

minaçom de “língua nacional”, a obrigatorie-

dade geral do seu conhecimento e, sobreto-

do, do pessoal ao serviço das administraçons

públicas, algo elementar em qualquer comu-

nidade lingüística dotada dos mecanismos

que garantem o uso normalizado do idioma

“próprio”.

A comparaçom entre as duas redacçons

manejadas na altura para o novo Estatuto e

a eliminaçom de qualquer compromisso na

versom final (como se vê na tabela anexa), dá

para comprovar que, longe de qualquer aca-

so ou escolha desafortunada, existia umha vi-

som clara para onde podia e para onde nom

podia caminhar a política lingüística galega a

partir da aprovaçom do Estatuto do “café

para todos”.

Com efeito, os défices fundacionais do mo-

delo autonómico, que poderiam parecer

puramente nominais, fôrom fundamentais na

legitimaçom da doutrina do bilingüismo subs-

titutivo aplicado polas instituiçons aludidas

nessa lei fundamental da autonomia galega.

O pretenso igualitarismo no tratamento

do conflito lingüístico existente na Galiza

dos anos 70 (quando foi concebida a Es-

panha das Autonomias) revelou-se como

umha grande fraude numha altura em que

o galego era mui maioritária em termos

quantitativos e em todas as faixas etárias e

contextos geográficos. Aquela era a altura

certa para aplicar um modelo territorial

que estabelecesse uns princípios restaura-

dores dos direitos nacionais do nosso povo

em matéria lingüística, daí que o poder

espanhol, com a inestimável colaboraçom

de significativos sectores culturais de certo

“galeguismo bem entendido”, incluídas al-

gumhas “velhas glórias” com pedigree gale-

guista (Filgueira Valverde, Ramom Pinheiro,

Domingos Garcia Sabell e outros) aprovas-

sem umha enorme falsificaçom pseudonor-

malizadora que bloqueou qualquer avanço

verdadeiramente significativo.

A plasmaçom legal dessa fraude foi a Lei

de Normalizaçom Lingüística antes referi-

da que, com o apoio de todos os partidos

com representaçom institucional (AP, UCD,

PSOE, PCG, EG), excepto o BN-PG/PSG,

marcou o caminho da política lingüística

aplicada polos sucessivos governos auto-

nómicos e restantes instituiçons públicas na

Galiza autonómica desde aquela até hoje.

Baste salientar que o artigo 10º, relativo à

toponímia, é o único em que a Lei recon-

hece a exclusividade ao galego, o que nom

impediu que nunca chegasse a ser aplicado

esse preceito, com casos tam conhecidos

como o da Cámara Municipal da Corunha,

ainda de actualidade. No resto do articula-

do, o galego é “tutelado” em todo o mo-

mento pola utopia reaccionária de um falso

bilingüismo igualitário que, como já foi for-

mulado naqueles anos por autoridades aca-

démicas e intelectuais do peso de Ricardo

Carvalho Calero, só serviria para favorecer

o idioma que partia de umha posiçom qua-

litativa mais forte, apesar do seu carácter

demograficamente minoritário: o espanhol.

A Lei, admitindo e até garantindo o acesso

do galego a novos ámbitos antes vedados,

como o ensino ou as instituiçons públicas,

nom propom objectivos concretos nem

compromete as administraçons na con-

creçom dessa igualdade impossível, que

nunca se verificou nestes mais de 25 anos

transcorridos desde a sua aprovaçom. É,

antes, umha declaraçom de supostas boas

intençons e de toleráncia perante o facto

de o galego ser ainda a língua maioritária

da Galiza, reconhecendo parcialmente o

direito individual de cada galego e galega

a utilizá-lo, mas nom compromentendo

as instituiçons à plena galeguizaçom social

pendente.

Com efeito, os únicos compromissos do

quadro legal estabelecido por essa Lei de

1983, hoje vigorante, dim respeito ao re-

conhecimento de direitos individuais ao

uso do galego por parte da populaçom ga-

lega, tal como anteriormente tinham feito

legislaçons falhadas como a vigorante no

2�DOSSIER CENTRAL

Retomar a luita pola língua

Laura Sánchez Piñón (PSOE) e Jesus Vasques Abade (PP): a alternáncia institucional na Conselharia da Educaçom mantém a posiçom subsidiária do galego no ensino

Page 25: Voz Própria nº 22

Quebeque até 1974, ano em que se iniciou

umha reorientaçom legal de base territorial.

Na Galiza, umha década mais tarde, ence-

tava-se um caminho já andado por outras

administraçons “autonómicas” e já descar-

tado em favor de textos mais realistas que,

nestes anos, certificárom a diferença entre

o avanço do francês como “língua nacional

do Quebeque”, frente ao recuo do galego

como “língua própria da Galiza”.

Diga-se de passagem que, contodo, as reda-

cçons originárias das Leis de Normalizaçom

galega, basca e catalá fôrom no seu momen-

to impugnadas polo Governo espanhol, em

maos do PSOE, para suprimir os conteúdos

que podiam dar lugar a interpretaçons po-

líticas mais avançadas em termos de com-

promisso institucional com o avanço social

dos direitos lingüísticos das respectivas

comunidades. O eventual uso exclusivo do

euskara em territórios euskalduns, a pre-

valência das versons em catalám no caso de

interpretaçom duvidosa no caso catalám e o

dever de conhecer o galego ficam anulados

por sentenças do Tribunal Constitucional

espanhol ao longo da década de 80. No

caso galego, o referido tribunal neutraliza

em 1986, a pedido da presidência da Real

Academia Galega, qualquer interpretaçom

“exclusivista” do conceito de “língua pró-

pria” contido no Estatuto de Autonomia e

na Lei de Normalizaçom impugnada, umha

neutralizaçom que quer esclarecer a invia-

bilidade de soluçons territoriais (de tipo

suíço, belga ou canadiano) para qualquer

política lingüística aplicada na Galiza sob

administraçom e soberania espanhola. Em

concreto, estabelece que o galego é:

“idioma peculiar y característico de esa

Nacionalidad, pero no impide que, con un

sentido diferente, pueda calificarse también

al castellano como lengua propia de Galicia,

bien que no peculiar suya sino común a ella

y al resto de las nacionalidades y regiones

que integran la Nación española”.

Por se ficarem dúvida, os juízes do Tribunal

Constitucional esclarecem na sua sentença

os limites infranqueáveis da cooficialidade

do galego:

“La oficialidad del castellano y la de las de-

más lenguas españolas no son coextensas

en su eficacia puesto que sólo para el pri-

mero el derecho subjetivo de utilización se

corresponde con un deber individualizado

de conocimiento”.

Fica claro, portanto, que as duas línguas (es-

panhol e galego) som oficiais, mas umha é

“mais oficial” que a outra. A discriminaçom

legal historicamente imposta ao galego man-

tém-se, como indicamos acima, com novas

formas, que nom passam de um verniz de

toleráncia pseudodemocrática. Unicamente

no artigo referente a toponímia se admite a

forma galega como única oficial, o que nom

impediu que até hoje as instituiçons do Es-

tado e da Autonomia continuem sem acatar

esse ponto.

Por outra parte, a Lei atribui à colaboracio-

nista RAG a competência em matéria de

padronizaçom ou normativizaçom, que um

ano anos já tinha sido estabelecida por meio

de um decreto do governo de Alianza Po-

pular (mais tarde rebaptizado como Partido

Popular), iniciando-se a etapa isolacionista

em que a RAG e o ILG se instituírom em au-

toridades do poder autonómico para orien-

tar o galego em direcçom contrária à uni-

dade lingüística galego-luso-brasileira que o

nacionalismo galego sempre defendera.

Nom nos é possível neste o espaço abor-

dar em profundidade os 30 anos de política

lingüística autonomista, baseadas no inves-

timento de milhons de euros em aparentar

umha normalizaçom totalmente falida, e

praticadas nom só polo PP, mas também

polo PSOE e o BNG na última legislaturura

autonómica. Porém, sim achamos pertinen-

te destacar alguns factos transcendentes:

-Em 1993 foi publicada a primeira ediçom

do Mapa Sociolingüístico Galego, a car-

go do seminário de sociolingüística da RAG,

que confirmou os péssimos resultados da

orientaçom bilingüista e isolacionista. A

ruptura da transmissom intergeracional da

língua era um facto, apesar do qual os di-

ferentes partidos continuárom a manter o

discurso das bondades do chamado “bilin-

güismo harmónico”, enquanto o movimen-

to galeguizador ficava desarmado com um

discurso cada vez mais fora de lugar, como

se a Galiza continuasse a manter os paráme-

tros socioeconómicos de inícios do século

XX. Novos inquéritos de 2003 (Condiçons

de Vida das Famílias, IGE) e sobretodo de

2004 (o novo MSG, só difundido em 2009),

confirmam as tendências destruidoras da

nossa comunidade de falantes.

-Em 2003, o sector representante dos cha-

mados “mínimos”, politicamente ligado ao

BNG, assinou um “acordo normativo”

com o oficialismo, em troca de uns escassos

avanços formais em direcçom ao portu-

guês. O debate, longe de desaparecer, ficou

mais definido entre o oficialismo de práti-

ca isolacionista e o reintegracionismo mais

militante, onde se situa a maior parte da

esquerda independentista já desde inícios

dos anos 80.

-Em 2004, os três partidos parlamentares

(PP, PSOE e BNG) assinam o consenso em

torno do fantasmagórico Plano Geral de

Normalizaçom da Língua Galega, que

consagra o bilingüismo como objectivo das

políticas normalizadoras dessas três forças

políticas. Apesar do seu espírito consensual,

ou precisamente por isso, cinco anos de-

pois continua guardado em algumha gaveta

de Sam Caetano, sem ser aplicado nem nas

suas mais timoratas pretensons.

-Em 2007, com a tensom social no ámbito

da língua reduzida à mínima expressom, o

governo bipartido aprova o novo Decreto

do ensino. A esquerda independendentis-

ta e outros sectores do mundo do ensino

criticárom-no no seu dia pola sua falta de

ambiçom mas, mesmo assim, os tímidos

avanços da proposta do PSOE e do BNG

provocárom o rejeitamento do PP, en-

corajado polo aumento da actividade de

sectores ultras espanhóis nas três naçons

sem estado e com o apoio de poderosos

meios económicos e de comunicaçom. O

seu voto contra o novo texto legal marcou

o início de umha nova etapa no processo de

substituiçom lingüística em curso, em que

o espanholismo parece disposto a iniciar

umha política mais discriminatória contra a

minorizada e quase já minoritária comuni-

dade lingüística galega.

5. Um novo discurso para a velha prá-

tica lingüicida: a necessária resposta ao

governo do PP

Como preámbulo da vitória eleitoral do

Partido Popular, o sector mais ultra da sua

base social saiu às ruas, teledirigido polos

sectores mais ultras do PP e dos media

reaccionários sediados em Madrid, para

reivindicar abertamente a culminaçom

do processo substitutivo, com a definitiva

marginalizaçom do galego, em funçom dos

novos dados de usos sociais favoráveis ao

espanholismo.

Assim, no último ano e meio tenhem-se su-

cedido os confrontos na rua de colectivos

como o viguês ‘Galicia Bilingüe’ e a corun-

hesa ‘Mesa por la libertad lingüística’ com

sectores normalizadores de base que fam

frente ao agressivo discurso antigalego e

recuperam parte da tensom normalizadora

cedida por anos de consenso institucional.

O ponto álgido desta nova etapa situa-se

no dia 8 de Fevereiro de 2009, quando o

espanholismo convoca a primeira manifes-

taçom nacional em Compostela, com a ade-

som do Partido Popular, Falange e UPyD,

entre outros, para pedir o fim de qualquer

política normalizadora do galego, jogando a

vitimizar os espanholfalantes, que apresen-

tam como “discriminados” na Galiza.

O experimento mobilizador do extremis-

mo espanholista acabou com duros con-

frontos entre manifestantes pró-galego e

polícias espanhóis, que dérom cobertura ao

2�DOSSIER CENTRAL

Retomar a luita pola língua

Page 26: Voz Própria nº 22

discurso antigalego de ‘Galicia Bilingüe’ e a

extrema-direita espanhola. Umha jornada

que voltou a visibilizar a existência de um

conflito lingüístico na Galiza, apesar de que

o suposto “nacionalismo galego” do BNG

e dos seus satélites preferírom ficar à mar-

gem do mesmo.

Detençons, violência policial e violência dis-

cursiva na propaganda dos media obrigárom

a que cada qual se posicionasse e crimina-

lizárom os galegos e galegas que figemos

frente à imposiçom espanhola. A inibiçom

do BNG, complementada com apelos à re-

pressom contra a base social normalizadora

por parte de Anxo Quintana e de Carlos

Calhom, junto aos seus namoros com o

bilingüismo nos últimos anos, contribuírom

para o resultado do 1 de Março, passando

à oposiçom apesar dos seus sérios esforços

por se apresentar como o que realmente

é: umha força homologável ao PSOE e ao

próprio PP, incapaz de dar qualquer batalha

séria pola dignidade deste povo.

Primeiras medidas já aplicadas contra

o galego

Chegamos assim à investidura de Núñez

Feijó como novo presidente da Junta da

Galiza, novamente com maioria absoluta,

graças à inegável solidez da base eleitoral

e social do PP e à verificada inutilidade das

renúncias do neo-autonomismo do Bloque,

que perdeu até 40.000 votos após passar

polo governo autonómico abdicando de as-

sumir a política lingüística.

O PP de Feijó prometeu umha nova era

lingüística, baseada em princípios inclusive

mais reaccionários aqueles que sustentárom

a acçom dos governos Fraga e, nos poucos

meses que leva no poder, está a cumprir.

Derrogar o Decreto de ensino de 2007 é o

gesto inicial prometido polo novo governo

da direita espanhola, que se apoia em prin-

cípios como os recentemente publicados

nos chamados “Papeles FAES”, assinados

por Andrés Freire, da fundaçom presidida

polo ex-presidente espanhol José María Az-

nar. Num documento de suposta “análise e

estudo social”, defende abertamente o pro-

cesso histórico de imposiçom do espanhol,

revisando a suposta “autocrítica” que carac-

terizara os grandes partidos espanhóis du-

rante as últimas décadas, e restirando assim

o principal sustento téorico para as tímidas

políticas compensatórias que tenhem sido

aplicadas nestes anos.

No caminho dessa medida estrela, houvo já

duas mostras inequívocas do novo rumo:

1. A chamada ‘consulta aos pais’ sobre que

língua preferem para as escolas públicas ga-

legas, umha autêntica fraude, assimétrica e

amanhada em favor do espanhol: totalmente

dirigida a obter os resultados que o governo

reaccionário necessita para legitimar a sua

viragem na política lingüística para o ensino.

O objectivo imediato é claro: devolver a

hegemonia aos livros de texto em espanhol

e legislar a obrigatoriedade do uso veicular

hegemónico ou inclusive único do idioma

do Estado nas salas de aulas da Galiza.

2. A modificaçom no Parlamento autónomo

da Lei da Funçom Pública elimina o galego

como parte das provas de acesso, abrindo

as portas à entrada de cidadás e cidadaos

espanhóis que contem com um simples di-

ploma dos desacreditados cursos de galego

existentes até agora, ou inclusive o compro-

misso de os cursarem mais tarde. A agres-

som vai, neste caso contra os direitos das

administradas e administrados galegos, que

já nom teremos garantias de atendimento

em galego, umha vez que qualquer espan-

hol ou galego desconhecedor do idioma do

País poderá chegar a funcionário público.

Idêntica orientaçom vai dar-se ao acesso

do pessoal sanitário e a outros ámbitos em

que se vai evitar aquilo que qualquer país

normal aplica no seu território -incluído o

espanhol: a obrigatoriedade de dominar

o idioma para exercer profissionalmente,

nomeadamente em postos de atendimento

ao público como som a administraçom, a

sanidade ou a justiça. A Galiza está a ver já

como os escassos passos dados nas últimas

décadas -bem escassos, certamente- som

derrogados de maneira fulminante, incluída

a volta do espanhol ao uso oral e escrito

dos organismos e documentos emanados

da Administraçom autonómica, como já

comprovamos no formulário da referida

‘consulta aos pais’.

O novo discurso fala do processo histórico

de imposiçom do espanhol como “umha

história mui normal”, em que “umha das

modalidades orais do território se converte

em dominante e comum”, sem qualquer

violência, como expansom espontánea de

umha “koiné”, o espanhol, desacreditando

os restantes idiomas da península como

supostas “neolínguas” e negando qualquer

legitimidade à normalizaçom das mesmas.

O hegemonismo etnicista espanhol recu-

pera assim a linha discursiva franquista, mas

numhas condiçons mais favoráveis, marca-

das polo resultado das políticas de assimi-

laçom, especialmente efectivas na versom

“democrática” das últimas décadas: o ga-

lego vai caminho de perder o carácter de

idioma maioritário e o espanholismo já nom

precisa de vestir-se de “tolerante” e “bilin-

güista”. Pode tirar a máscara e mostrar-se

como o que nunca deixou de ser: um pro-

jecto expansionário que aspira a esmagar

qualquer identidade que poda obstaculizar

a sua “unidade de destino no universal”.

Bons exemplos disso som os discursos de

conselheiros como o da Cultura ou o da

Educaçom, abertamente galegófobos, em-

penhados no fomento de preconceitos que

minam a auto-estima colectiva e promovem

o paradigma cultural madrileno mais estrei-

to e imperialista.

O primeiro deles, Jesus Vasques, reconhe-

cendo a sua admiraçom polo colectivo ultra

‘Galicia Bilingüe’, insiste em falar de livre

escolha no ensino para ocultar a pura impo-

siçom que se dispom a acometer, destruin-

do o pouco caminho andado e utilizando o

inglês como espantalho “cosmopolita” para

enganar incautos. Desde que está no car-

go, a sua conselharia está já a incumprir a

legislaçom educativa em matéria lingüística

de maneira flagrante, segundo tenhem de-

nunciado todos os sindicatos e numerosas

direcçons de centros educativos.

O segundo, Roberto Varela, afirmando

abertamente que a cultura galega “limita”

e indicando que vai gastar o dinheiro dos

galegos e das galegas em financiar a cultura

em espanhol, que conta já com um financia-

mento que multiplica por mais de 200 o que

sustena a política cultural em galego.

Unir forças em defesa do idioma

Depois de quatro anos de nefasta política

supostamente “alternativa” que deu con-

tinuidade às linhas mestras marcadas polo

fraguismo, o PSOE e o BNG estám hoje

altamente delegitimados diante da maioria

social, para liderar qualquer oposiçom séria

e agressiva ao PP de Feijó.

As renúncias do principal referente político

do nacionalismo galego nas últimas décadas

tenhem sido assim percebidas polas suas

próprias bases de simpatizantes. Dado que

o BNG pouco a pouco caminha para o re-

conhecimento de umha derrota histórica

por parte do nosso povo, os milhares de vo-

tos de esquerda e com consciência nacional

abandonárom-no tanto nas eleiçons autonó-

micas do 1 de Março como nas europeias de

7 de Junho.

Também nas elites intelectuais do morno

“galeguismo” se verificam processos de in-

tegraçom na “normalidade espanhola” em

matéria lingüística, como nos mostrárom

nos últimos anos referentes do mundo cultu-

ral galego tipo Suso de Toro ou Antón Reixa,

ao nom duvidarem em passar a escrever em

espanhol em troca da visibilidade que as pá-

ginas do diário de Prisa lhes ofereceu.

28DOSSIER CENTRAL

Retomar a luita pola língua

Page 27: Voz Própria nº 22

29DOSSIER CENTRAL

Retomar a luita pola língua

Uso social do galego nas principais cidades em 2004

com dados do Mapa Sociolingüístico Galego

Só espanhol

Mais espanhol

Mais galego

Só galego

Corunha

31,80 %

50,10 %

14,40 %

3,40 %

Ferrol

5�,50 %

2�,50 %

9,50 %

5,10 %

Compostela

20,20 %

3�,20 %

28,�5 %

13,20 %

Lugo

20,10 %

38,90 %

2�,10 %

13,40 %

Ourense

2�,00 %

40,80 %

25,�0 %

�,00 %

Ponte Vedra

3�,�0 %

39,20 %

15,90 %

�,�0 %

Vigo

45,50 %

3�,40 %

13,30 %

4,30 %

Evoluçom do uso social do galego entre 1992 e 2004

com dados do Mapa Sociolingüístico Galego

MSG-92

MSG-04

Só galego

30,50 %

1�,00 %

Mais Galego

30,50 %

22,90 %

Mais espanhol

2�,00 %

35,30 %

Só espanhol

13,00 %

25,80 %

A produçom audiovisual, em que o capi-

tal galego é posto ao serviço de obras em

espanhol e só posteriormente traduzidas,

constitui um outro exemplo dos passos

negativos que se verificam no espaço que

deveria servir para expandir um sistema

cultural em galego. A injustificável teima

em manter a Galiza afastada do mundo lu-

sófono, também assumida por um sector

significativo e relativamente poderoso da

oficialidade cultural galega, é mais um sin-

toma da derrota para onde parecem querer

conduzir-nos as políticas de “consenso” do

neorregionalismo a que já Carvalho Calero

figera referência há mais de vinte anos.

Em definitivo, o PP tem aparentemente fácil

dar um salto qualitativo no processo substi-

tutivo, dada a perda de legitimidade social da

oposiçom e a precariedade social do galego.

Só um compromisso sério e unitário do mo-

vimento normalizador que ainda subsiste na

base social do nosso país poderá fazer fren-

te a esta nova fase. A resposta nom pode

reduzir-se à política mediática da UPG atra-

vés da Mesa, nem à instrumentalizaçom da

federaçom do Ensino da CIG para aparentar

que se defende o que nom se fijo quando se

governava. É imprescindível umha resposta

ampla, incluso superior à que de maneira

exemplar se verificou no 17 de Maio, apesar

do sectarismo dos dirigentes do BNG e da

Mesa. Hoje sabemos, porque se encenou

no passado Dia das Letras, que há dezenas

de milhares de pessoas dispostas a bater-se

polo idioma, inclusive com um movimento

normalizador dividido e fragmentado em

funçom de interesses partidistas.

Existem muitos sectores e ferramentas so-

ciais (centros sociais, colectivos culturais,

musicais, políticos, sindicais, de renovaçom

pedagógica, de pais e maes, de estudantes...)

que, a partir de diferentes graus de simpatia

ou compromisso lingüístico, juntos podem

fazer fracassar a ofensiva espanholizadora

do PP e de um sector ultra-reaccionário do

aparelho de Estado espanhol.

Umha política unitária de mobilizaçom,

criaçom, luita, lazer, convívio e compac-

taçom... de auto-organizaçom, pode cons-

truir a força determinante que recolha toda

a energia social favorável à construçom na-

cional da Galiza e à recuperaçom do galego.

Esta nova e difícil etapa que enfrentamos

pode e deve ser a ocasiom para responder-

mos como povo maduro que quer ser livre.

Na movimentaçom social pola língua só so-

bram os inimigos do galego. Mais ninguém.

Ficou já claro qual era o objectivo da estra-

tégia bilingüista e dos falsos consensos pro-

movidos polas instituiçons dependentes de

Espanha. Agora o movimento popular deve

contrapor ideias-força bem claras, aprender

de outros processos e experiências norma-

lizadoras bem sucedidas, situar a oficialida-

de única do galego como objectivo e dar

passos na direcçom certa para recuperar o

caminho perdido em cada sector.

Nessa aposta está e estará a esquerda in-

dependentista em que se enquadra NÓS-

Unidade Popular: na criaçom de platafomas

unitárias de defesa da língua, na promoçom

da integraçom da Galiza na lusofonia como

membro de pleno direito, na activaçom de

campanhas de denúncia e de construçom

de comunidade lingüística, de novos es-

paços em que viver em galego seja umha

realidade, por cima das diferenças partidis-

tas e orientada para o exercício dos nossos

direitos colectivos.

Nom há tempo a perder nem chega com

resistir os ataques do PP, pois é muito mais

o que está em jogo: na luita pola língua está

em causa a existência mesma da Galiza. Há

que exigir avanços reais para o galego ou

seremos definitivamente assimilados, assi-

miladas, ao projecto imperialista espanhol

que no nosso país é representado polo au-

tonomismo e a sua versom em matéria de

língua: a falácia bilingüista.

�. Bibliografia de referência

- Ninyoles, Rafael. Estrutura social e política

lingüística. Ir Indo, 1991.

- Garcia Negro, Pilar. O galego e as leis.

Aproximación sociolingüística. Do Cumio,

1991.

- Seminário de Sociolingüística da RAG.

Mapa Sociolingüístico Galego 1993 (3 volu-

mes). 1995.

- Costas, Xosé Henrique. Guía das linguas

de Europa. Ed. Positivas, 2002.

- Instituto Galego de Estatística (IGE). In-

quérito sobre as Condiçons de Vida das Fa-

mílias. 2003.

- Conselho da Cultura Galega (Secçom

de língua). A sociedade galega e o idioma.

2006.

- Moreno Cabrera, Juan Carlos. El naciona-

lismo lingüístico. Ed. Península, 2008.

- Freitas Juvino, María Pilar. A represión

lingüística en Galiza no século XX. Xerais,

2008

- Seminário de Sociolingüística da RAG.

Mapa Sociolingüístico Galego (Volume II).

2009.

Page 28: Voz Própria nº 22

30DOSSIER CENTRAL

Retomar a luita pola língua

No meio de tanto ruído em torno do idioma como tem havido nos últimos meses, é importante sermos capazes de analisar se os fenómenos em cur-so respondem a umha simples suces-som de factos casuais e isolados ou suponhem um salto a umha nova fase do processo substitutivo em vigor no nosso país. Nom é preciso lembrar aqui qual tem sido o eixo vertebrador do discurso oficial em matéria de língua na Galiza das últimas três décadas. As virtudes do bilingüismo harmónico ou equilibra-do tenhem servido de enquadramento teórico das políticas desenvolvidas po-los sucessivos governos autonómicos, desde Albor até Tourinho, passando por Laje e Fraga. Umha doutrina só questionada, do ponto de vista sobre-todo teórico, polo nacionalismo galego nas suas diferentes correntes políticas e culturais. Falamos de um questiona-mento principalmente teórico porque, na hora de aplicar umha política de língua nas instituiçons em que gover-nou, esse nacionalismo foi incapaz de apresentar umha estratégia alternativa à bilingüista; mas esse nom é agora o tema.

O tema é agora que o sistema auto-nómico, lançado em fins da década de setenta polo regime resultante da reforma ‘ordenada’ do franquismo, as-sumiu um discurso diferente, baseado num objectivo alegadamente “demo-crático”. Assim sendo, quem ia poder questionar tam louvável e igualitária meta como o tal “bilingüismo harmó-nico”?Numha naçom ainda sem homolo-

gar com o projecto nacional espanhol como era a Galiza dos anos 70, com umha esmagadora maioria galegofalan-te apesar de ter subsistido vários sécu-los sem soberania política, era necessá-rio harmonizar o objectivo estratégico (a espanholizaçom) com a flexibilidade táctica (a falsa harmonia bilingüista). Isso explica as boas palavras com que a nova autonomia enfeitou as inope-rantes políticas “normalizadoras” que nada normalizárom, a nom ser o en-tom minoritário espanhol. E assim, entre boas palavras e nulas acçons, os últimos tempos estám a tra-zer-nos novidades no discurso desse nacionalismo espanhol que tanto gosta de se definir como “nom-nacionalis-ta”. Foi assim que a recente campanha eleitoral serviu para a apresentaçom em sociedade de um reajustamento discursivo do mesmo projecto estraté-gico que até há pouco dizia aspirar a umha absurda repartiçom a 50% entre as duas línguas oficiais. Nesta altura, a direita sem complexos e um importante sector do PSOE, uni-dos por umha ideia clara sobre a cons-truçom nacional espanhola, estám a reformular os seus objectivos “demo-cráticos” para a Galiza em matéria de língua. Se bem é certo que nunca pra-ticárom com sinceridade essa ilusom dos 50%, sim legislavam e discursavam com essa falsa premissa, que nom só mantinha adormecidas as consciências no seio do nosso povo, como conse-guiu ganhar para esse consenso en-venenado umha parte substancial do nosso nacionalismo. Como explicar, entom, que de repente o Partido Popular tenha mudado radi-calmente o discurso para começar a falar em termos de “livre eleiçom dos pais”, o que em nengum caso admiti-riam em relaçom à primacia constitu-cional do espanhol? Para já, a mudança nom se produziu as-sim tam de repente. A ruptura do con-senso do falso bilingüismo equilibrado e a mudança de discurso encenou-se com a rectificaçom no apoio parla-mentar dado ao Decreto do ensino aprovado polo bipartido PSOE-BNG em 2007. Aí começou um período de

dous anos em que o sector social mais ultra afim ao PP testou a possibilidade de acomodar o discurso e as práticas políticas a umha realidade social que já nom é a dos anos 70. A tese desse novo discurso parte de um facto que considera favorável: na ac-tualidade, a populaçom galegofalante, caso continue a se maioritária, deixou de ser esmagadoramente maioritária. Nas áreas urbanas e entre as pessoas mais novas, é, de facto, claramente minoritária, sem que saibamos ao cer-to em que medida, pois só contamos com dados relativos a 2004, facilitados pola RAG com cinco anos de atraso. Nom temos nengumha dúvida que os ideólogos da construçom nacional es-panhola vam à frente no estudo das tendências sociais no que a identidade, língua e demais parámetros nacionali-tários di respeito. Com a comunidade lingüística galega em recuo, acham que estám em con-diçons de dar mais um passo à frente no processo substitutivo, sem simula-rem inocentes igualitarismos como os que nos tenhem feito engolir nas últi-mas décadas. Agora que já quase som mais as galegas e os galegos que falam mais ou só espanhol, porque continuar a vender o artifício do fifty-fifty? O ensaio eleitoral do grupo liderado por Rosa Díez, com o apoio de gran-des grupos financeiros e mediáticos, confirma os testes bem sucedidos com que o sistema institucional tenta avançar para um novo cenário em ma-téria lingüística. Seria ingénuo duvidarmos que os es-trategas do espanholismo tenham mantido sempre o mesmo objectivo assimilista, mas é claro também que a maneira como o atingir tem mudado consoante as circunstáncias históricas. Quando eram umha pequena minoria, conformárom-se primeiro com a to-mada dos pontos nevrálgicos do co-mando militar e institucional da Galiza, económico e político depois, chegan-do à pura violência estrutural, física e simbólica do franquismo. A adaptaçom ao democratismo formal da “Espanha das autonomias” foi mais um passo na

mesma direcçom e, na actualidade, podemos estar a assistir a umha nova fase em que, cada vez mais, o Estado espanhol e as suas forças de susten-taçom se mostrarám como o que real-mente sempre fôrom, com a novidade de se arrogarem a representaçom da maioria social espanholfalante. O movimento actual das placas tectó-nicas do panorama sociolingüístico ga-lego conduz para umha estabilizaçom da maioria espanholfalante com todo o peso do poder a seu favor. Isso vai levar-nos a um risco tam certo como iminente para o futuro do nosso idio-ma, incrementado pola assunçom de posiçons neo-bilingüistas por parte de um sector crescente do nacionalismo galego. Todo o anterior pode ajudar-nos a compreender que estamos diante da aplicaçom de um plano coerente e sis-temático que mantém o objectivo his-tórico que Madrid nos reserva, com a inestimável colaboraçom da burguesia subsidiária galega: a definitiva espanho-lizaçom da Galiza.

25 de Março de 2009

Do bilingüismo harmónico à livre eleiçom Maurício Castro

Campanha de AGIR contra o lingüicídio do nosso idioma

Page 29: Voz Própria nº 22

31DOSSIER CENTRAL

Retomar a luita pola língua

Contrariamente ao posicionamento oficial do neo-regionalismo e das en-tidades afins, no passado domingo era necessário fazer frente à talvez maior provocaçom lançada contra a Galiza polo espanholismo nas últimas três décadas.

O coraçom da capital da Galiza con-verteu-se, ao longo do domingo 8 de Fevereiro num campo de batalha ideo-lógico entre duas concepçons antagó-nicas sobre o futuro do nosso país. Por um lado, a extrema-direita, disfarçada hipocritamente de defensora do bilin-güismo, aprofundou a sua campanha de pressom social e intimidaçom me-diática sobre parte dos sectores mais colonizados. Por outra, activistas dos movimentos sociais, do associacionis-mo reintegracionista de base, militán-cia da esquerda independentista e sim-ples patriotas alarmados e conscientes do que se jogava Galiza neste dia.Destacadas eram as ausências, na sua imensa maioria previstas. Agora é tar-de para se laiar, embora nunca seja tar-de para emendar.

“Galicia Bilingüe” existe porque é um instrumento útil e necessário do es-panholismo para forçar ainda mais retrocessos na virtual política de nor-malizaçom lingüística dos diversos go-vernos autonómicos. É um engendro promovido pola COPE e “El Mundo”, financiada polas forças políticas que se-cundárom a manifestaçom, alicerçada numha falácia tam descarada e clara como que o espanhol está em perigo no nosso país. Todas as entidades na-cionais e internacionas coincidem no crítico diagnóstico sobre o futuro do idioma galego se nom forem radical-mente alteradas no curto prazo as ac-tuais políticas educativas e lingüisticas, desmentindo o discurso dos bilingüis-tas.

Os quatro anos de governo biparti-do PSOE-BNG nom evitárom o lento esmorecer da nossa língua nacional, consolidando o processo de espanholi-zaçom em curso. Som precisamente as complexadas posiçons do outrora na-cionalismo de esquerda, capitulando e arriando a bandeira do monolingüismo polo “direito a viver em galego” e em prol da “convivência lingüística”, co-

responsáveis polo desafio do fascismo espanhol, que quer passar à ofensiva e ocupar as ruas para acelerar a espan-holizaçom e o extermínio do nosso idioma.

O que aconteceu neste domingo em Compostela tem um paralelismo na nossa história contemporánea mais imediata. A 28 de Junho de 1984, as forças espanholistas culminárom a transferência dos restos de Castelao desde a Argentina ao mausoleu de Sam Domingos de Bonaval violentando o desejo do grande patriota de só voltar quando a Galiza fosse livre.

Centenas de militantes e simpatizan-tes da esquerda nacionalista tentárom impossibilitar o agravo. As imagens em directo da televisom mostrando a bru-talidade da repressom policial e a emo-cionada voz de Tareixa Navaza dando leitura a fragmentos da obra do rianjei-ro fam parte do imaginário colectivo da nossa luita por umha Galiza soberana e socialista. Naquele momento, o gale-guismo e as forças mais reformistas da esquerda nacionalista condenárom os protestos, empregando semelhantes acusaçons às que agora utiliza Quin-tana e os seus corifeus contra a con-tramanifestaçom do domingo. Se em 1984 fôrom a UPG e o BNG que sem complexos apelárom à sua militáncia e à base social para se manifestar em Compostela, nesta ocasiom NÓS-UP foi, no ámbito político, a única força que convocou a sua militáncia e sim-patizantes para fazer frente à extrema-direita na Alameda da nossa capital.

Várias centenas de galegas e galegos convocadas por dúzias de entidades de base, empregando diversas e comple-mentares formas de expressom, de-fendemos com firmeza o nosso idioma frente à violência fascista. Novamente, a brutal maquinaria repressiva espan-hola sob ordens de Manuel Ameixeiras tentou sem êxito fazer-nos calar. Ainda sendo muito mais sofisticada que em 1984, a Polícia espanhola nom deu evitado que umha parte da Galiza or-ganizada conseguisse fazer fracassar a tomada de Compostela polos inimigos desta pátria e deste povo.

Das 2.500 pessoas que realmente se-

cundárom a cruzada contra o idioma, nom podemos esquecer que quase um terço provinha do exterior. Eram militantes fascistas espanhóis chegados em autocarros de Madrid e doutras localidades. Nom pretendemos ma-quilhar o fenómeno em curso, pois a maioria dos manifestantes vivem aqui. É certo que nesta ocasiom a marcha sobre Compostela era sobretodo umha mobilizaçom nacional-católica de ampas de colégios privados de eli-te, inçada de respeitáveis famílias da burguesia urbana, onde eram visíveis destacados representantes do PP e do novo fascismo encabeçado por umha ex-dirigente do PSOE.

Porém, devemos aprender das liçons históricas da luita de classes. O fas-cismo tem que ser combatido com firmeza e contundência desde o seu início. Refiro-me ao verdadeiro fascis-mo, o ligado aos poderes económicos, financeiros e políticos, e nom ao de banda desenhada. Ceder, desconsi-derá-lo, evitar o confronto para nom “fortalecê-lo” e “fazer-lhe o jogo” é simplesmente suicida, um erro estra-tégico, tal como nos demonstrou o posicionamento da social-democracia e da esquerda burguesa na década dos anos trinta do século passado.

Hoje, na Galiza, um sector destacado da base social do PP, mas também do PSOE e IU, tem umha deriva fascizante em todo o referente à defesa da uni-dade do Estado espanhol. Trinta anos de propaganda, de pactos e acordos antiterroristas, conseguírom vertebrar um perigoso monstro que antes ou de-pois será incontrolável. A conjuntura internacional e nacional modulada pola profunda crise do capitalismo é propí-cia para que coalhem mensagens deste calibre entre sectores populares. Eis a necessidade de evitar que se desen-volva, mas isto nom se consegue ce-dendo, procurando falsos consensos, realizando brindes ao sol, adaptando o discurso e a luita ideológica ao imedia-tismo eleitoral.

É simplesmente temerário e inquietan-te deixar que intimidem com absoluta impunidade este povo, que inoculem as suas mentiras e manipulaçons so-bre umha parte dessa imensa maioria

social de galegas e galegos que consi-deram correcto normalizar a língua e a cultura deste país. É necessário, pois, activar as consciências adormecidas da imensa maioria do povo trabalhador –das quais umha parte nom é monolín-güe em galego, mas tampouco contrá-ria a recuperar o perdido– para evitar a destruiçom do principal elemento da nossa identidade nacional. Obviamen-te, este processo nom só necessita respostas amplas e unitárias: está liga-do à construçom nacional, a qual por sua vez só é viável exercendo o direito de autodeterminaçom para nos poder-mos dotar de um Estado.

No imediato, cumpre dar umha res-posta maciça nas ruas. É imprescindí-vel apostar numha grande mobilizaçom popular que deixe bem claro que este país nom renega da sua identidade, que a imensa maioria deste povo des-eja que o futuro seja em galego. Com clareza e generosidade, sem ambigüi-dades nem exclusons.

Para essa imprescindível luita unitária polo galego, a esquerda independen-tista estará sempre disposta a dar todo, como demonstrou no passado domin-go, até colectivamente estragarmos de vez os planos de morte que Espanha reserva ao nosso idioma.

11 de Fevereiro de 2009

Unidade e luita pola língua Carlos Morais

Page 30: Voz Própria nº 22

Cançom para cantar todos os dias Manuel Maria

Hai que defender o idioma como seja:com raiva, com furor, a metralhaços.Hai que defender a fala em luita rejacom tanques, avions e a punhetaços.

Hai que ser duros, peleons, intransigentescos que tenhem vocaçom de senhoritos,cos porcos desertores repelentes,cos cabras, cos castrons e cos cabritos.

Temos que pelejar cos renegados,cos que tentam borrar a nossa fala.Temos que luitar cos desleigadosque desejam matá-la e enterrá-la.

Seríamos, sem fala, uns ninguém,umhas cantas galinhas desplumadas.Os nossos inimigos sabem bemque as palavras vencem às espadas.

O idioma somos nós, povo comum,vencelho que nos jungue e ten em pé,herança secular de cada um,fogar em que arde acesa a nossa fé.

32DOSSIER CENTRAL

Page 31: Voz Própria nº 22

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ta

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entrevista

Óscar Vidal

-Há umhas semanas decorria em Compostela o V Congresso Nacio-nal da CIG, no qual a esquerda in-dependetista vinculada com NÓS-UP decidiu apoiar e participar numha das candidaturas alternati-vas à chamada “maioria sindical”. Porque se decidiu apoiar esta lista quando outro sector do soberanis-mo galego estava incorporado à lista de Suso Seixo?Digamos que no momento actual, e apesar das diferenças lógicas que pode haver entre as correntes que figemos parte desta candidatura alternativa, consideramos que era a única que se aproximava do modelo sindical que defendemos, com um discurso e umha prática mais coerentes com princípios como a independência sindical, o rejei-tamento ao pacto social e a defesa dum sindicalismo autónomo e nom tutelado polas cúpulas dos partidos e demais aparelhos do sistema, rachando em parte com o modelo da maioria sin-dical representada fundamentalmente pola UPG. Este modelo da UPG foi apoiado, no entanto, por outro sector do soberanismo em todos e cada um dos seus aspectos, convertendo-se em cúmplice ao apoiar com os seus votos umha maior verticalidade do sindicato, evitando qualquer forma de autorgani-zaçom da mocidade dentro do sindi-cato e tratando de destruir qualquer corrente que nom estivesse com a maioria sindical. Mas eu creio que o motivo polo qual a esquerda independentista represen-tada por NÓS-UP apoiamos umha de-

terminada candidatura de cara a este V Congresso ficou bastante claro; o que teriam que explicar outros é porque apoiarom umha candidatura maiori-tariamente da UPG, que representa um sindicalismo ao serviço do autono-mismo representado polo BNG e que demonstrou nos últimos anos que, em ocasions, os interesses da classe trabal-hadora nom eram o fundamental.

-Que avaliaçom realizas deste Con-gresso? O Congresso em si foi umha des-monstraçom de anti-democracia por parte da maioria sindical actual, pois se tentou desde um primeiro momento a verticalizaçom do sindicato evitando um sistema de participaçom em igual-dade de condiçons d@s delegad@s, o que pretendia a consolidaçom do po-der da direcçom actual, introduzindo aquelas mudanças necessárias para a consecuçom deste objectivo. Há que dizer que, por exemplo, nom estavam permitidas as réplicas às intervençons, e a filiaçom nom podia participar livre-mente nos debates, daí que o debate de ideias ficasse bastante condiciona-do.

Ainda que o Congresso partisse de an-temao como a consolidaçom dumha maioria sindical em torno fundamen-talmente da UPG, a verdade é que em parte cumpriu este guiom, no sentido de que qualquer crítica que nom con-tasse com o apoio deste maioria nom saiu adiante; mas também contou com elementos muito interessantes e

que deixam entrever umha esperança de futuro, como o facto de que esta maioria nom foi quem de impor as mudanças estatutárias pretendidas, ao nom conseguir a maioria necessária, seguramente em parte como castigo à prepotência demonstrada pola Dire-cçom actual. Além disso, o boicote que se fijo à autorganizaçom da mocidade, mas o congresso deixou bem claro que existe umha juventude na CIG com vontade de luitar e participar, apesar da Direçom actual, e naturalmente que existe umha alternativa com represen-taçom nos órgaos de direcçom, fruto da uniom de diferentes organizaçons, entre eles a esquerda independentista vinculada a NÓS-UP.

-Após o V Congresso, a lista he-gemonizada pola UPG voltou a revalidar a sua maioria nos órgaos de direcçom do sindicato. Que perspectivas de mudança existem a médio prazo na correlaçom de forças interna da CIG e na impres-cindível ruptura com o autonomis-mo entreguista e complexado que representa o BNG?A candidatura hegemonizada pola UPG tem a maioria na direcçom ac-tual da CIG, mas em parte também é umha maioria fictícia, no sentido de que, dentro dessa “maioria”, existem muitas correntes ou colectivos, que fôrom quem de unir-se para colher um bocado do “pastel”, mas que nom sa-bemos o que se pode passar entre eles nos vindouros quatro anos. O que está claro é que o UPG (BNG)

representa a nível político-sindical um modelo totalmente nocivo, no qual o sindicato está tutelado aos interesses da organizaçom política e esta por sua vez nom exerce a defesa da classe tra-balhadora, mas a conciliaçom entre os interesses da burguesia e das trabal-hadoras e trabalhadores, tal e como pudemos ver durante quatro anos de Governo na Junta de Galiza. Dito isto, nom é descartável que nos vindouros quatro anos poda haver al-gum tipo de movimento de ruptura com o autonomismo, mas na actuali-dade é bastante complicado que se dê está situaçom, em todo o caso serám as luitas presentes e futuras, os confli-tos nos centros de trabalho e o grau de degradaçom das condiçons de trabalho que obriguem a rachar com o autono-mismo entreguista e complexado que representa o BNG e que nom preten-de a superaçom do sistema actual, mas umha adaptaçom ao mesmo.

-Em que modelo sindical aposta a esquerda independentista?Actualmente, a fase que está a atraves-sar o capitalismo está a destruir a toda a velocidade as condiçons de trabalho da classe operária, nomeadamente da classe operária galega, em muitos ca-sos os direitos que se destroem som fruto da luita de muitos anos. Neste momento e diante disto, sem dúvida é fundamental a defesa de um mode-lo sindical que seja umha ferramenta útil para o povo trabalhador galego, por este motivo a esquerda indepen-dentista aposta decididamente num

VP entrevista Óscar Vidal,membro da Direçom Comarcal da CIG em Trasancos pola Federaçom da Construçom e da Madeira

“A esquerda independentista

aposta decididamente

num modelo de sindicalismo combativo e de

luita nos centros de trabalho e na

rua, no qual os interesses da classe

trabalhadora e a luita contra

os patrons estám acima de

qualquer cousa e nom em funçom

dos interesses partidistas dos

governos de serviço ou de quaisquer

outros interesses alheios à classe trabalhadora”

Page 32: Voz Própria nº 22

entr

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taentrevista

Óscar Vidal

modelo de sindicalismo combativo e de luita nos centros de trabalho e na rua, no qual os interesses da classe tra-balhadora e a luita contra os patrons estám acima de qualquer cousa e nom em funçom dos interesses partidistas dos governos de serviço ou de quais-quer outros interesses alheios à classe trabalhadora. Parece incrível pensar, por exemplo, que com a situaçom actual extrema quanto a destruiçom das condiçons de trabalho nom se convocasse já há algum tempo umha Greve Geral, e tam só depois de que o BNG tenha perdido o governo da Junta de Galiza a Direcçom da CIG comece a dar, de forma tímida, algum passo para esta jornada de luita. Dentro do modelo sindical que a de-fende a esquerda independentista nom podemos esquecer a aposta num modelo soberanista, que rompa com a deriva autonomista, dando um paso adiante e luitando decididamente pola soberania da nossa naçom e que tra-balhe por umha construçom nacional sem complexos. Temos que apostar num sindicalismo de classe, que fuja da burocracia, em que os interesses das trabalhadoras e trabalhadores sejam o fundamental; devemos ter mui cla-ro que o sindicalismo nom existe para sustentar ou defender o modelo ca-pitalista, nom estamos para ser o seu garante nem transformá-lo, o nosso trabalho deve ir focado à sua supe-raçom, e ir caminhado deste jeito para um sistema socialista. Neste caminho há que apostar num sindicalismo horizontal em que se-jam os trabalhadores e trabalhadoras os que decidam o seu futuro, e nom umhas “elites” ou “cúpulas” as que, em nome da classe trabalhadora, con-dicionem as suas luitas, a defesa dos seus interesses ou a consecuçom dos seus fins. Devemos também apostar na autor-ganizaçom da mulher e da mocidade, que está a demonstrar nas luitas obrei-ras a sua capacidade, convertendo-se num sector fundamental do sindicalis-mo galego, para isto é preciso dar-lhes os espaços de trabalho e participaçom necessários, ao contrário do que de-fende a Direcçom da CIG actualmen-te, que pretende tutelar e controlar a mocidade. Sabemos que a actual Direcçom da CIG nom quer saber destes princípios

fundamentais, mas o tempo demons-trará que som imprescindíveis para lui-tar contra a exploraçom da classe tra-balhadora galega. Por isto a esquerda independentista aposta num modelo de sindicalismo de classe, combativo, soberanista e horizontal.

-Nós últimos meses, estamos a viver um aumento da conflituali-dade laboral na Galiza: Caramelo, Leite Pascual, SEAGA, ABB… mas se há um destacado exemplo de luita obreira no nosso país é o que está a desenvolver o proletariado do metal no sul da Galiza. O primeiro que haveria que dizer é que certamente desde há uns poucos meses vivemos um aumento da con-flitualidade laboral na Galiza, mas pro-vocado por umha deterioraçom das condiçons de trabalho que vem de há tempo; só basta dizer que, desde Se-tembro de 2007 até Março de 2009, o número de desempregados e des-empregadas aumentou em mais um 100%, passando de 87.500 pessoas a mais de 211.000, comparando a evo-luçom do IPC galego e o incremento salarial médio, deparamos com que, desde o ano 2002 até o ano 2007, os salários vírom-se reduzidos em quase 2%. A taxa de temporalidade galega duplica a média da Uniom Europeia e estes dados ainda som moito mais pessimistas se nos centrarmos nas pessoas menores de 30 anos ou nas mulheres. Diante disto, vemos como as empresas obtivérom lucros escandalosos duran-te os últimos anos e os governos apoia-vam com milhons a “recuperaçom” da banca e as patronais, enquanto os tra-balhadores e trabalhadoras padeciam e sofriam estas condiçons. Entom, as trabalhadoras e trabalhadores estám fartas, sendo normal que os conflitos vaiam em aumento e incluso haveria que perguntar-se porque nom co-meçárom antes; mais também há que reconhecer que dentro dos conflitos actuais, sem dúvida o exemplo mais salientável é a luita do proletariado do metal no sul de Galiza, fundamental-mente polo grao de participaçom dos obreiros e obreiras no conflito, com um papel destacado da mocidade que está a ser semente de futuro para um sindicalismo galego e combativo. Quando fazemos esta entrevista os companheiros e companheiras levam mais de 18 dias de greve, demonstran-do umha uniom e umha combativida-de apesar dos atrancos por parte do patronato, dos governos das diferen-tes administraçons e todas as cores políticas e dos meios de comunicaçom que tratam de desacreditar o movi-

mento obreiro. Por isto é fundamental que este saia reforçado do conflito, pois quando atacam os trabalhadores e trabalhadoras do metal, nom estám a atacar só um sector, estám a atacar o movimento obreiro galego e diaante das futuras luitas é necessário e fun-damental que o proletariado do metal obtenha umha vitória, pois será umha vitória da classe trabalhadora sobre os patrons e o capital.

-Consideras que a crise capitalis-ta em curso abre novas e maiores possibilidades para que as orga-nizaçons revolucionárias se forta-leçam no seio da classe obreira?Voltando à pergunta anterior, a confli-tualidade laboral que vai em aumento e as tremendas desigualdades entre a populaçom pom de manifesto o fra-casso do sistema capitalista neoliberal, culpável da situaçom que estamos a viver, e exige a superaçom deste sis-tema por umha mudança do modelo económico e social. Perante esta si-

tuaçom, é lógico que as organizaçons revolucionárias se fortaleçam no seio do movimento obreiro, pois dispomos da analise da realidade e das alternati-vas necessárias para superar este sis-tema capitalista que é sinónimo de ex-ploraçom e pobreza. As trabalhadoras e trabalhadores, e no caso do metal no sul de Galiza, o demonstram, querem algo mais que umha gestom do confli-to, sabem que o sistema está podre, sentem-se enganados e querem que as organizaçons estejam à altura das circunstáncias, incluso em muitas oca-sions as próprias massas trabalhadoras vam um passo por diante dos líderes sindicais neste caso. Mas o trabalho para isto vai ser duro, pois há muitos interesses em jogo e os poderes vam pretender calar e silenciar qualquer organizaçom que tente superar o sis-tema actual.

34

“Temos que apostar num sindicalismo de classe, que fuja da burocracia, em que os interesses das trabalhadoras e trabalhadores sejam o fundamental; devemos ter mui claro que o sindicalismo nom existe para sustentar ou defender o modelo capitalista, nom estamos para ser o seu garante nem transformá-lo, o nosso trabalho deve ir focado à sua superaçom, e ir caminhado deste jeito para um sistema socialista”

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Está já suficientemente claro o carác-ter do governo aprista. Logo de mais de dous anos no poder, está mais do que estabelecido o marco que adquiriu a nova estrutura de poder no Peru.

A elite dominante no Peru tivo a ne-cessidade de recorrer ao APRA para salvar o modelo político, social, eco-nómico e militar estabelecido com a chegada da ditadura fujimorista nos anos noventa. Esta necessidade jus-tificava-se –e justifica-se- em funçom de que os órgaos políticos de repre-sentaçom de tais elites dominantes se mostrárom incapazes de construir um consenso maioritário na sociedade peruana apesar de contar com muitos dos instrumentos necessários para o fazerem. O manejo que tenhem dos meios de comunicaçom, dos órgaos

estatais repressivos, o poder econó-mico que representam e um longo et cétera nom dérom evitado que as grandes maiorias (@s pobres) lhes dem as costas umha e outra vez nas contendas eleitorais. Porém, isto tam-bém nom significou umha aprovaçom à esquerda; muito menos implica a re-composiçom desta.

Deste jeito, o recurso foi a aproxi-maçom do APRA; refazer o bloco do-minante incluindo umha organizaçom com umha estrutura nacional esten-dida e com umha tradiçom suficien-temente sustentada em pactos com o poder em prejuízo dos interesses populares. Alan García surge como opçom ante o aluvional crescimento do candidato nacionalista Ollanta Hu-mala, que é expressom, nom tanto de

umha consciência política clara e de-finida do povo peruano como de um sentimento crescente de antineolibe-ralismo e de recobrarmos a dignidade como povo, pisado por anos de pro-cesso desnacionalizador implementa-do polo neoliberalismo.

O governo de García desatou, como se dixo, um programa de extremis-mo neoliberal que tenta aplacar os esforços populares de avançar numha reconfiguraçom democratizadora do poder. Já se tem falado da repressom política, da corrupçom, falou-se do papel de cunha que representa o Peru (assim como o colombiano) dentro do contexto de ascenso das luitas popula-res na América Latina. Temos suficien-temente claro o que representa Alan García no Poder. Significa continuar e reforçar a venda do país, significa con-tinuar afastando as comunidades das suas terras, do controlo dos recursos naturais para servir os interesses do grande capital que ainda em crise nom deterá e seu afám de controlo territo-rial dos recursos naturais do planeta. Mas que podemos ver do campo popu-lar? Que é o que vemos quando lança-mos um olhar para nós própri@s? É suficiente umha gestom desastrosa do

APRA para que o povo construa a sua própria alternativa? É suficiente a crise do capitalismo somada a umha gestom desastrosa e corrupta da elite repre-sentada polo APRA e o fujimorismo? De nengum jeito, mas com certeza abre possibilidades importantes para a audácia política, inaugura tempos de convulsons sociais que por si próprias nom determinam a queda de um mo-delo excluente.

Qual é a perspectiva dos movimentos sociais? Qual é a perspectiva das orga-nizaçons políticas de esquerda?

O que vemos de maneira reiterada é umha multiplicaçom de luitas em todo o país. Estas, aliás, incrementárom a sua combatividade e nalguns casos sucedeu que reivindicaçom, combati-vidade e radicalidade se integrárom. É o caso das luitas populares polos re-cursos naturais. A radicalidade obser-va-se em que se pom em discussom o sistema mesmo, a forma como as elites ordenárom economicamente a sociedade. Discute-se o direito dos povos a decidir. Logo questiona-se um modelo de “representaçom” obsoleto. Erraria a esquerda em querer “repre-sentar” a diversidade multicolor que implica o popular. Questionar radical-mente essa ideia de “representaçom” e suplantaçom é algo que devemos aprender como organizaçons revolu-cionárias. Articular, coordenar e cons-truir poder passa por questionar as

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internacional

Peru

Movimentos sociais, populares e

organizaçons políticas de esquerda no Peru:

um olhar para dentro.

Manuel Tierra, Publicaçom Escena Contemporánea

A polícia peruana carga contra indígenas que protestavam cortando umha estrada da Amazonia.

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formas de articulaçom políticas herda-das da revoluçom francesa. E questio-ná-las nom significa negar o contributo histórico que representárom. Isto nom quer dizer que haja que questionar toda forma de representaçom; mas sim superar esquemas demoliberais que a própria esquerda ajudou a cons-truir. Mais umha vez, surge o apelo a olhar a nossa própria história. Formas comunitárias de participaçom, de re-presentaçom, nom implicam a dele-gaçom do “poder” numha pessoa ou grupo. Os mecanismos comunitários implicam umha riqueza que devemos resgatar para a prática revolucionária. Assim mesmo, é importante ver como no século XIX e as primeiras décadas do século XX se desenvolvêrom ex-periências concretas de participaçom política como os conselhos, sindicatos revolucionários e diversas formas or-ganizativas que superavam largamente a estreiteza democrática do liberalis-mo.

É o momento de ter olhares de hori-zonte, é momento de olhares nacio-nais. Os olhares parciais e regionais enriquecem e contribuem para ter-mos um quadro mais detalhado da totalidade. Há identidades de classe que venhem recompondo-se no Peru. O qual nom implica que vaiamos ser o país que fomos na década de setenta. Onde a política de substituiçom de im-portaçons abriu um cenário de cres-cimento para a classe obreira. Porém, vê-se que o proletariado mineiro vem fortalecendo-se, que recobra identi-dade, que tem avanços importantes e alguns tropeços. Também há um processo de recomposiçom de iden-tidades indígenas tanto na selva como noutras regions andinas afectadas po-los efeitos das actividades das transna-cionais mineiras.

O governo aprista tenta marcar o ca-minho da sua oposiçom. Tenta expor (muitas vezes com sucesso) os canais polos quais opor-se, as maneiras, as formas e as intensidades dessa opo-siçom. As organizaçons sociais e po-pulares intuitivamente, ou quem sabe, produto de um saber popular acumu-lado, rompem esses esquemas. Os partidos políticos de esquerda continuam a tentar capitalizar eleito-ralmente o descontentamento. Nom

o conseguírom. Seguem sem com-preender que política nom é eleiçons. Que as eleiçons som um momento da política. Que a gente quer umha mudança e essa mudança nom o espe-rará tranquila até a vindoura eleiçom. Construir poder. Criar poder é a ta-refa. Desenvolver as capacidades cria-tivas do povo para umha revoluçom cuja profundidade inicial estará marca-da pola correlaçom de forças existen-tes no momento da sua concreçom e da audácia da organizaçom que mel-hor souber coordenar e articular as diversas rebeldias.

Nom pode haver nem um só espaço social sem ser disputado. Isto implica pensar a política revolucionária na sua totalidade e nom a partir de umha só dimensom. As organizaçons revolu-cionárias deverám servir de articu-ladoras dessas rebeldias múltiplas, e nom ser as suas suplantadoras. Todos os caminhos estám abertos. @s revo-lucionári@s nom podemos autocas-trar-nos, muito menos temos o direito de dizer ao povo que há caminhos que já nom devam percorrer-se. Teríamos o direito de dizer à comunidade de Majáz que figérom mal ao ocuparem e destruírem as instalaçons mineiras que afectavam a sua vida, que poluíam o seu meio ambiente e que nom lhes deixavam nengum dividendo nem progresso? Nom temos esse direito. Essa comunidade foi torturada pola polícia acusando-a de “terrorismo”. Essa comunidade expressa na sua luita a recorrente prática violatória de di-reitos humanos do Estado peruano, a tortura, a criminalizaçom do protesto social. Um Estado historicamente de-fensor dos poderosos em contra das comunidades. De igual maneira, nom podemos so-

mente valorar o activismo, a insu-rreiçom pola insurreiçom. Há que repensar a integralidade das luitas. Por isso é importante abocarmo-nos a construir alternativas. As organizaçons sociais e revolucionárias necessitamos propor sempre plataformas. Ser-mos propositiv@s ainda no meio da mais forte confronto. A nossa tarefa é construir o poder popular. Desen-volvermos espaços territoriais onde a influência do poder opressor se veja minimizada, onde esteja controlado ou onde seja derrotado. Implica umha visom económica distinta e umha dis-puta polos espaços de produçom e re-produçom de conhecimento. Consideramos que a perspectiva a construir é complexa pola complexi-dade própria do Peru. Mas conside-ramos que nom é impossível se nos libertarmos de complexos e avançar-mos habilmente compondo cenários de unidade. Que esta unidade nom será total? Seguramente. Umha socie-dade tam fracturada como a peruana nom pode ter a ingenuidade de querer da noite para a manhá amanhecer com um corpo unido e sem contradiçons. Isso implica, mais umha vez, madure-za. Na medida que atinjamos essa cons-truçom. Na medida que aprendamos do povo. Na medida que continuemos afirmando o nosso direito a termos o controlo da nossa própria vida como naçom. Enquanto nom fagamos con-cessons ideológicas ao inimigo mas, ao tempo, estejamos dispost@s a refres-car constantemente os nossos concei-tos, avançaremos. O esforço por construirmos umha pátria justa inclui muitos e diversos

sectores: movimentos sociais pola defesa dos recursos naturais, partidos políticos de esquerda, nacionalistas, revolucionários. Inclui cenários de luita eleitoral e nom eleitoral, implica confrontaçons directas, de força. Im-plica o desenvolvimento aqui e agora de umha nova cultura de novos sabe-res emancipadores. Logo de dous anos e meio de gover-no APRISTA, logo de dezoito anos de neoliberalismo no Peru podemos olhar o futuro novamente com optimismo. A mudança deixou de ser tema de um grupo de partidos e torna-se necessi-dade de massas, de povos. Necessida-de de combater a morte que significa e implica o capitalismo, necessidade de reivindicarmos a vida, de afirmar-mos o socialismo; necessidade de con-tinuarmos a existir.

Nativos bágua da Amazonia peruana.

Alan Garcia

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