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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTECENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAISPROFESSORA: ELDA SILVA DO NASCIMENTO MELO
ANA IZABEL BEZERRA HISTER PONTES
Diálogos com o estágio supervisionado – os desafios metodológicos da docência, e de leituras dos alunos no ensino médio.
NATAL, JUNHO, 2015
Ana Izabel Bezerra Hister Pontes
Diálogos com o estágio supervisionado – os desafios metodológicos da docência, e de leituras dos alunos no ensino médio.
RELATÓRIO ANALÍTICO DE PRÁTICA EDUCACIONAL APRESENTADO COMO REQUISITO Á AVALIAÇÃO DO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO PARA OBTENÇÃO DE TÍTULO DE LICENCIADO EM CIÊNCIAS SOCAIS.
ORIENTADORA: ELDA SILVA DO NASCIMENTO MELO.
Natal, junho, 2015
ANA IZABEL BEZERRA HISTER PONTES
Diálogos com o estágio supervisionado – os desafios metodológicos da docência, e de leituras dos alunos no ensino médio.
Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciatura em Ciências Sociais, no curso de Ciências Sociais, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pela banca examinadora:
Aprovado em:___/___/____
_______________________________________________________Prof.ª. Drª. Elda Silva do Nascimento Melo
Departamento de Educação -UFRN(Orientadora)
________________________________________________________Prof.ª. Drª. Cynara Teixeira Ribeiro
Departamento de Fundamentos e Políticas da Educação -UFRN(Membro)
________________________________________________________Prof. Dr. Luiz Carvalho Assunção
Departamento de Antropologia-UFRN(Membro)
AGRADECIMENOS
Á família...
Agradeço a minha família como um todo, por tudo pela torcida, pelo carinho,
respeito e amor principalmente nas horas mais difíceis. Agradeço a todos os meus tios e
tias pelo amor e atenção de verdadeiros pais dedicados a mim. A meus primos agradeço
as risadas e o entendimento pelas minhas escolhas e pela pessoa que sou, pois onde há
amor não há espaço para diferenças. Ao meu irmão e minha irmã pelo apoio. A
Maryana Bezerra e Heverton Carlos minha primos/irmãos por simplesmente existir!
Em especial agradeço a meus pais as pessoas mais importantes e fundamentais
para que pudesse chegar onde cheguei, agradeço a todos esforços e dedicação, agradeço
a minha mãe por insistir que a educação seria um caminho, do qual hoje confesso que
mudou minha vida. E a meu grande mestre, amigo e companheiro de lutas meu pai por
me ensinar a não desistir, deixar de sorrir e ter fé sempre, com está frase: "nunca deixe a
tristeza se apoderar do seu coração, abra os braços pra vida por que ela te espera de
braços abertos para um novo amanhã" (frase da música: tire os grilos da cabeça, banda:
Renato e seus blue CAPS, composição: Alessandro)
A Roberta por ter salvado minha vida, e, portanto estar aqui hoje concluindo
mais uma etapa da minha vida.
Á os amigos, colegas de curso e universidade...
Agradeço a estes pelo acolhimento que só a família de coração que são os
amigos podem dar, sem vocês com certeza não chegaria onde cheguei de forma tão sã,
diante de toda paz, amor, bons momentos que tornaram minha caminhada mais leve
fazendo assim que pudesse continuar caminhando sabendo que sempre poderia contar
com o apoio de vocês, só tenho mesmo a agradecer e espero poder contar e retribuir o
amor de cada um de vocês até o fim de minha vida, vocês são parte mim e eu de vocês.
Sem vocês a vida não seria tão doce.
“Que seja doce viver” (inspirado em caio Fernando de abreu).
Aos colegas de curso e universidade, por compartilhar todas as angustias e
vitorias dentro e fora das salas de aulas, agradeço as todas as vivencias dentro e fora da
universidade, pelas conversas e brincadeiras corredores e nas lutas por um mundo
melhor, me fazendo acreditar que mudar sempre é preciso e possível. Os levarei
comigo sempre. “
Companheirx me ajude que eu não posso andar só, eu sozinha ando bem, mas com você ando melhor! (frase inspirada na música: lavadeira, composição: edigar mão branca, autor da frase: desconhecido).
Aos mestres...
A profa. Elda Melo que me proporcionou uma experiência de estagio incrível,
sendo minha docente em todas as quatro etapas do estágio tive a oportunidade de contar
com toda sua destreza, calma, sagacidade e amor a educação e à docência, para que
pudesse fazer cada etapa dos estágios da melhor forma possível, a ela só tenho a
agradecer por preparar o terreno para que pudesse me apaixonar pela educação. Espero
um dia ser uma professora que nem você.
A o prof. Augusto Cesar, meu tutor em todas as etapas do estágio, assim como
tutor na escola onde atuo como bolsista do PIBID (Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação à Docência), se mostrando como um verdadeiro mestre e me dando todo apoio
necessário desde os meus primeiros contatos na escola, e fazendo com que não me
assustasse com todo aquele novo ambiente que é a escola, agradeço a paciência e o
apoio, pois assim são os mestres além de lhe mostrar o caminho lhe acompanham.
A profa. Cynara Teixeira Ribeiro por me mostrar que a sala de aula pode sim ser
um ambiente leve, livre de opressão e de imensa liberdade em busca do saber.
Ao PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência) ...
Por me dar a oportunidade de ter um contato com a escola que vai além das
experiências com os estágios supervisionados, sendo umas das maiores contribuições
para que eu pudesse pensar minha prática e pudesse me achar melhor dentro de mim
mesma e do curso.
Tendo participado de dois editais do projeto (2012 e 2014) agradeço referente a
minha primeira ligação com o PIBID em 2012 a coordenador Gilmar Santana por me
ensinar o quão doce, ético e lúcido pode ser a experiência docente, assim como a todos
os colegas que tornaram esse primeiro contato com a escola algo mais leve. Já referente
a minha volta ao projeto em 2014 agradeço aos coordenadores Ana patrícia Dias e
Douglas Araújo por acreditarem no projeto e dar a oportunidade de viver com mais
profundidade as experiências docentes me deixando muito mais preparada e confiante
para encarar a docência, e encorajando buscar sempre melhorar e me dedicar à docência
de forma sabia. Não poderia deixar de agradecer aos colegas que me deram todo apoio
e força necessária para continuar no projeto mesmo com todos os desafios, agradeço a
vocês todas as risadas, carinhos e esforços compartilhados.
Crer-ser sempre!
“Em certas condições, a leitura permite abrir um campo de possibilidades, inclusive
onde parecia não existir nenhuma margem de manobra”.
Michele Petit
Fonte da figura 1: www.tumblr.com
LISTA DE FIGURAS E TABELAS
I - FIGURAS
Figura 1: imagem retirada do tumblr, fazendo alusão ao epígrafe.Figura 2: fachada da Escola Estadual Professor Anísio Teixeira. Foto: Augusto Cesar.
Figura 3: mapa de localização da escola, Google maps, 2015
Figura 4: foto anisio teixeira.
Figura 5: panorâmica das imediações da escola, praça cívica e bairro de Petrópolis.
Figura 6: pátio da escola, foto de Ana Izabel.
Figura 7 espaços livre citado acima. Google maps.
Figura 8: carrinho que transporta o data show.
Grupo de figuras 9: fotos referentes a oficinas de leituras.
II – TABELAS
Tabela 1: número de alunos por turno.
Tabela 2: número da comunidade escolar em geral.
SUMÁRIO
CAPÍTULO I. INTRODUÇÃO. ...................................................................................11
CAPÍTULO II. CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA. ................................................12
CAPÍTULO III. FASES DE DESCOBERTAS – PENSANDO E SE INSERINDO
NOS ESTÁGIOS DOCENTES.......................................................................................24
III.I: TORNANDO-SE DE CASA, OBSERVAÇÕES E FAMILIARIZAÇÃO COM
A ESCOLA. ....................................................................................................24
III.II: MINHAS PRIMEIRAS CONTRIBUIÇÕES PARA A
ESCOLA. ..........................30
CAPÍTULO IV. FAZENDO-SE DOCENTE, AGORA EM SALA DE AULA. .........39
CAPÍLO V. PIBID – CIÊNCIAS SOCIAIS. ................................................................47
CONSIDERAÇÕES FINAIS. ......................................................................................50
REFERENCIAS. ...........................................................................................................53
ANEXOS. .......................................................................................................................54
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I - INTRODUÇÃO
Como pensar à docência sem pensar em sua prática?
É dessa forma que os estágios supervisionados de formação de professores
tornam-se de fundamental importância para os que fazem a licenciatura. O estágio é o
momento de agir, de estar diante das dores e delícias de ser educador. No estágio
pensamos e tratamos sobre a prática, sobre a educação, é um momento privilegiado do
curso, pois é nele que se tem a oportunidade de sistematizar o que foi apreendido.
Sendo divido em quatro etapas denominadas Estágio Supervisionado de
Formação de Professores I, II, III e Estágio Supervisionado de Formação de Professores
para o Ensino Médio. A primeira etapa do estágio busca fazer um diagnóstico do
ambiente escolar e sua comunidade; na segunda etapa do estágio supervisionado é
realizada uma intervenção na escola, abordando temas que foram percebidos como
importantes para a escola, nas observações da primeira etapa do estágio. Nas duas
etapas seguintes, o estágio consiste em apoiar o professor supervisor da escola e realizar
a regência em sala de aula. Ademais, o foco geral que perpassa todo trabalho se dá na
questão metodológica, de como realizamos a prática de nossas regências e como
pretendemos atuar enquanto docentes fora dos espaços oferecidos pela universidade, ou
seja, em nossa profissão.
Foi usado como referencial teórico principal Freire (1996) onde encontrei-me
veemente em todas as questões que envolvem minha prática docente, além de outro
autores complementares, a fim de pensar o planejamento das aulas e demandas sobre a
leitura e a escola, dentre estes estão Petit (2008) e Haydt (2006) utilizados para trabalhar
o tema da leitura; Libâneo (1994) e Masetto (1997) para se elucidar a questão do
planejamento e para as questões de inspirações etnográficas, para me familiarizar e
estranhar o ambiente escolar utilizamos Levi Strauss (2005) e Gilberto Velho (1987).
Escolhemos como campo do estágio a Escola Estadual Professor Anísio
Teixeira. Tal escolha se deu pelo contato já existem com escola, onde já atuávamos
como bolsista do programa PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à
Docência) antes mesmo de se iniciar a etapa dos estágios.
O presente relatório se divide em caracterização da escola, relato teorizado e
refletido sobre a prática nos estágios supervisionados e experiências do PIBID, somado
a este processo do fazer-se docente, além de considerações finais, na qual avalio a
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prática do estágio, Docência e curso de ciência sociais (licenciatura) como um todo,
além das referências, anexos, planos de aula e fotos.
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II - CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA
Figura 2: fachada da Escola Estadual Professor Anísio Teixeira. Foto: Augusto Cesar.
Como já mencionado a escola campo onde foram realizadas todas as etapas dos
estágios supervisionados para formação de professores e experiências docentes, assim
também como atividades do PIBID e demais atividades descritas no presente relatório
foi a Escola Estadual Professor Anísio Teixeira, situada na Rua Trairi – 480, Petrópolis,
na cidade de Natal. Sendo um estabelecimento mantido pelo estado do Rio Grande do
Norte e gerenciado pela Secretaria de Educação e Cultura /SEEC/RN. Criada pelo
decreto – Lei 6.480, no dia 18 de setembro de 1974, portaria de funcionamento nº
282176 de 16/12/1976 no Diário oficial nº3.907.
Figura 3: mapa de localização da escola, Google maps, 2015.
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Anísio Spínola Teixeira foi um um jurista, intelectual, educador e escritor
brasileiro. Muito importante nas decadas de 1920 e 1930, pois ele difundiu os
presupostos do movimento da escola nova que tinha como objetivo a renovação do
ensino, dando ênfase no desenvolvimento intelectual e na capacidade de julgamento, em
preferência a memorização.
Figura 4: Anísio Teixeira, google.Para Anísio Teixeira a educação deveria
ser para todos. Assim, seria um modo de
democratizar realmente a sociedade. Escreveu
várias obras, sendo profundamente preocupado
com a educação brasileira, defendia que esta
deveria ser livre de privilégios para as elites.
Segundo Teixeira (1936, p.247) “Só existirá
democracia no Brasil no dia em que se montar no
país a máquina de preparar democracias. Essa
máquina é a da escola pública”. Portanto, a Escola
Estadual Professor Anísio Teixeira recebe este nome como forma de homenagenar este
educador que se empenhou em pensar, repensar e melhorar a educação pública
brasileira.
A escola em seu início objetivava formar para o mercado de trabalho, por meio
do ensino profissionalizante de qualidade. Procurava desenvolver competências e
habilidades para o exercício da cidadania, oferecia cursos de assistência em
administração, técnico em contabilidade e secretariado e técnicas bancárias. Sob um
projeto lançado pelo governo do estado em 1988 dentro das instalações onde atuava o
Centro de Educação Profissionalizante Jessé Pinto Freire – CENEP. Mas para a
elaboração/continuação do projeto foi necessário readaptar a estrutura, assim o CENEP
funciona até hoje e fica localizado ao lado do Anísio Teixeira, na rua Trairi.
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Figura 5: panorâmica das imediações da escola, praça cívica e bairro de Petrópolis.
A adaptação resultou em uma divisão estrutural que inclui a diminuição do
ambiente escolar. Com isso, o atendimento aos alunos caiu aproximadamente em 40%,
incluindo também a perda da quadra de esporte e do auditório. Atualmente, a escola é
considerada modelo, sua estrutura é antiga, porém conservada. Encontra-se na esquina
da Av. Prudente de Morais com a Rua Trairi, ela não é única situada nessa região,
considerada central, existem outras escolas por perto, sendo o bairro onde se localiza a
escola considerada uma área nobre da cidade de Natal.
A perda da quadra de esportes até hoje é sentida pelos estudantes da escola, pois
geralmente além do pátio é na quadra de esportes onde estes encontram um espaço para
suas interações, socialização, jogar, brincar, conversar, paquerar, ficar entre um horário
e outro quando não há professor e etc. Desta forma, os estudantes ficam alocados
apenas no pátio da escola, que não é apropriado para ser usado como área de
convivência, com apenas algumas mesas e cadeiras de plástico, amontoadas em um
canto da parede, na maioria das vezes, pois nem nestas os estudantes têm disposição
para se acomodar, o que interfere também no funcionamento das aulas, pois as turmas,
que ficam no térreo, ainda não dispõem de ar condicionado e ficam com as portas
abertas, obtendo uma visão ampla de todo pátio. Desta forma, quem está fora e quem
está dentro das salas podem se observar e se comunicar, o que acaba tirando a atenção
de quem está dentro da sala de aula. O pátio é usado para culminância não só de espaço
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de convivência dos estudantes, mas também como refeitório, pois a escola não possui
um. Nesse local também é onde fica o único bebedouro da escola.
Figura 6: pátio da escola, foto de Ana Izabel.
O entorno do colégio é formado por uma praça, outras escolas, cigarreiras, lojas,
clínicas, podendo se considerar que é uma região em sua maioria comercial, o que pode
ser atrativo para os estudantes do turno noturno, já que estes estudantes trabalham
durante o dia, no entorno da escola e estudam durante a noite.
A escola cercada por muros possui em sua frente o estacionamento, por onde
temos acesso ao portão de entrada ao ambiente escolar. Logo ali, no início temos um
espaço livre em que existem muitos quadros de aviso e propaganda, como também
existem tabelas dos projetos que atuam na escola, fotos antigas do colégio, antes da
mudança estrutural.
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Figura 7: espaços livre citado acima. Google maps.
A escola é de grande porte, mas atua apenas com o ensino médio e realiza suas
atividades nos três turnos, sendo no noturno o ensino médio diferenciado, pois os
estudantes deste período trabalham durante o dia e tem uma certa pressa em receber o
certificado de conclusão do ensino médio, assim o ano letivo é dividido por
blocos(semestres). São 1.000 horas no primeiro semestre e 1.000 horas no segundo
semestre, sendo ofertada uma parte das disciplinas no primeiro semestre e outra parte
das disciplinas no segundo semestre. Apenas as disciplinas de português, matemática e
educação física são ofertadas nos dois semestres. A faixa etária do público alvo desde
turno vai de 16 anos até 80 anos.
No turno matutino existem 16 turmas, no vespertino 16 turmas e no noturno 6
turmas do 1ª a 3º ano. A escola tem um total de 1.599 estudantes, sendo 19 deles com
deficiência auditiva. Existem também alunos com problemas mentais. Estes, em
entrevista, foram apenas citados e não especificados em números ou especificidades dos
problemas. Estes alunos recebem atendimento especial da escola, na sala de recursos
multifuncionais, que funciona todos os dias, exceto na sexta-feira onde a pessoa
encarregada pela sala faz um curso de aperfeiçoamento garantido pela secretaria
estadual de educação. Assim, os estudantes podem utilizar os recursos dispostos na sala
num período entre turnos.
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TABELA1 - TABELA INDICATIVA: NÚMERO DE ALUNOS POR TURNO.
Os estudantes observados, independentemente de qualquer diferença física ou
intelectual, tem uma boa relação com a comunidade escolar assim como uns com os
outros. Os estudantes surdos, que são maioria entre aqueles com necessidade especial,
têm uma boa relação com a escola e são dedicados, não apresentando déficits de
aprendizagem e têm uma boa convivência com os estudantes e resto da comunidade
escolar, não havendo assim, nenhum caso de discriminação ou preconceito com estes, o
que garante uma boa convivência dentro na escola.
Não há casos graves de violência, ameaças, preconceitos ou desordem de
qualquer tipo. Os estudantes são, em sua maioria, apáticos e, alguns muito afetivos,
permitindo um ambiente mais tranquilo para se iniciar o fazer-se docente.
Para a manutenção do sistema escola, há atualmente uma equipe de 97
funcionários, sendo 57 professores (incluindo professores readaptados) e 40 servidores.
De acordo com a coordenação pedagógica seria necessários professores substitutos que
deveriam ser enviados pela Secretaria Estadual de Educação, o que nunca ocorre, além
de psicólogos para assistir os estudantes e o corpo docente.
A escola se mostra muito aberta para receber qualquer tipo de projeto que dentro
dos seus paramentos venham a somar ao processo educativo. Como é o caso de projetos
que visem o combate as drogas. Além disso, recebe muito bem os estagiários, deixando-
os a vontade para perguntar, opinar, observar e ministrar suas aulas.
A seguir apresentamos a comunidade escolar, com a quantidade de integrantes
dos vários segmentos da escola.
TURNOS Nº DE ALUNOS
MATUTINO 727
VESPERTINO 626
NOTURNO 246
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TABELA 2 – TABELA INDICATIVA: COMUNIDADE ESCOLAR
Partindo de uma visão interna, o prédio de primeiro andar possui em seu térreo
quatro salas de aula, um pátio e uma sala que já serviu de sala de aula, depósito e hoje
serve de sala de jogos, onde são ofertadas aulas de taekwondo, ministradas com
autorização por um estudante da própria escola. Ainda no pátio há uma escultura de um
globo, uma sorveteria (privada) onde seu dono um senhor intitulado por “Tico” atua não
só como vendedor de sorvete mais também como “quebra galho” da escola. Sendo
assim, qualquer probleminha de ordem estrutural que ocorra, Tico está lá para resolver,
sendo não oficialmente mais por consideração de toda comunidade escolar e
disponibilidade própria, uma espécie de zelador da escola. Em minhas primeiras visitas
à escola foi uma espécie de informante daquele ambiente.
A escola conta ainda com uma cozinha, uma dispensa, dois banheiros para os
estudantes e mais dois para os funcionais. Há, também, mais dois banheiros para
estudantes no primeiro andar que não funcionam. Os banheiros são limpos, porém
muito velhos, não adaptados e não há expectativas para que estes sejam reformados e
adaptados, são todos sempre um masculino e um feminino sempre um ano lado do
outro. Os banheiros dos estudantes se localizam no corredor principal da escola e os dos
funcionários fica no corredor da secretaria, onde há também uma copa, um
almoxarifado e uma sala de recursos multifuncionais já citada acima.
Em um corredor paralelo ao citado acima existe a sala dos professores, uma
biblioteca, uma sala de artes usada por qualquer professor da escola e muito utilizada
para oficinas do projeto ProEMI, e, uma sala para serviços gerais utilizada pelos
funcionários da escola. Ainda perto desse ambiente, existe uma entrada que permite a
COMUNIDADE ESCOLAR QUANTIDADES
ALUNOS 1599
ALUNOS SURDOS 19
PROFESSORES 57
FUNCIONÁRIOS 40
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chegada à sala da coordenação pedagógica e dos arquivos. Dos últimos espaços citados,
cinco são ambientes climatizados, a biblioteca, sala dos professores, diretoria,
secretaria, coordenação pedagógica. Ainda no térreo, há quatro salas de aula, estas como
já dito não possuem ar condicionado. Portanto, permanecem com a porta aberta dando
ampla visão para o pátio e dispersando a atenção dos estudantes que estão dentro de sala
de aula.
Já no primeiro andar há treze salas de aula, uma sala de informática que possui
20 computadores, dos quais 12 estão funcionando e oito em manutenção. Este
laboratório, funciona todos os dias e todos os turnos e pode ser usado apenas para
atividades escolares. Há uma sala de vídeo usada pelos professores mediante
agendamento, assim estes se reversam no uso da sala e em um espaço aberto entre as
salas há um banco grande onde os estudantes ficam em períodos de intervalo ou
horários vagos. A forma de chegar ao primeiro andar são duas, a escada e a rampa.
No interior do colégio, além de tudo já descrito, há poucas árvores, e um
canteiro verde, esquecido, próximo a cozinha, onde poderia haver, por exemplo, uma
horta com ervas para temperar a merenda escolar. Nas salas de aula do primeiro andar
existem: ar condicionados, que são novidade na escola, tendo sido instalados no ano de
2014. Dessa forma, melhorou um pouco mais o ambiente da sala de aula que antes era
muito quente, o que interferia inclusive no processo de ensino-aprendizagem. Há em
cada sala também um quadro branco, um cesto de lixo pequeno, carteiras sem conforto,
algumas paredes pichadas e um ambiente não muito limpo, principalmente, após o
intervalo, pois como não há refeitório, alguns estudantes vão comer dentro das salas e
acabam deixando pratos, copos e talhares na sala após o intervalo.
Não há Datashow ou dispositivos tecnológicos nas salas, mas há uma
curiosidade na escola “um carrinho do Datashow”. Trata-se de uma invenção feita pela
gestão da escola a fim de facilitar o transporte do Datashow para dentro da sala de aula,
pois a escola possui apenas um aparelho e havia uma perda de tempo muito grande ao
levar o mesmo e instalá-lo cada vez que ia ser usado, assim foi confeccionado um
simples carrinho de ferro que suporta todo material necessário para que o Datashow
funcione (Datashow, computador, cabos, etc.). Assim, o professor basta dirigir o
carrinho.
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Figura 8: carrinho que transporta o Datashow.
O diagnóstico feito na escola envolveu também a parte legal que a rege, em
suma o Projeto Político Pedagógico – PPP, o qual contém as normas, regimento e
estatuto.
Em entrevistas com a equipe pedagógica constatou-se que a escola possui todos
esses documentos e que a comunidade escolar conhece tanto o regimento quanto o
estatuto em seu primeiro dia de aula, não todo, apenas fragmentos, sendo apresentados
para os estudantes pelos próprios professores em suas primeiras aulas, é entregue uma
cópia com as principais regras aos estudantes. A mesma cópia que foi entregue a mim e,
segue em anexo.
As regras envolvem praticamente orientações que vão desde o uso do
fardamento, violência na escola e agressões, acessibilidade a condutas dentro e fora de
sala de aula, a fim de atingir o melhor convívio e funcionamento da escola. Como por
exemplo os artigos a seguir.
Art. 7 – Só será permitida a entrada do aluno devidamente fardado (camiseta
da escola, calça jeans básica azul, tênis preto ou branco, não sendo permitido
blusas curtas e outros acessórios como gorros, bonés, bandadas em
desconformidade com o uniforme da instituição), estando sujeito a: I –
advertência verbal, II – recolhimento dos objetos em desconformidade, III –
suspensão de 1 a 3 dias. [...] Art. 30 – caso o aluno cometa agressão física ou
verbal ao colega, estará sujeito: I – advertência verbal, II – recolhimento dos
objetos em desconformidade, III – suspensão de 1 a 3 dias.
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Foi possível observar que, em relação ao fardamento, o artigo não é totalmente
cumprido por parte dos estudantes, nem suas punições aplicadas por parte da escola,
assim como, a punição para casos de agressão como mostra o artigo 30 é o mesmo
pensado para descumprimento de regras menos graves como é o não uso do fardamento
ou o uso de acessórios. Estas formas de punição poderiam ser repensadas por parte da
escola já que a pena aplicada pelo não uso do fardamento é a mesma aplicada a casos de
agressões. Sendo o não uso do fardamento ou uso de acessórios uma forma que
geralmente tolhe uma parte da característica cultural e principalmente estética do
estudante, já os casos de agressão que interferem bem mais no andamento do bom
convívio deveria ser avaliado com mais seriedade por parte da gestão escolar.
O PPP foi feito por duas equipes pedagógicas, e não foi disponibilizado para
apreciação, nem tão pouco para ser colocado em anexo neste relatório, pois como dito
em entrevista: “- ele está muito feio”. Há ainda o indicativo que um novo PPP está
sendo feito neste ano de 2015, sendo pensado por toda equipe pedagógica e de
funcionários da escola que tenham interesse em construí-lo, o mesmo também não
poderá ser disponibilizado, pois será finalizado após a entrega e apresentação deste
trabalho.
O plano da escola é um guia de orientação para o planejamento do processo de ensino. Os professores precisam ter em mãos esse plano abrangente, não só para uma orientação do seu trabalho, mas para garantir a unidade teórico-metodológicas das atividades escolares. (LIBÂNEO, 1994, pág. 225).
A escola possui conselho escolar atuante formado por professores, direção,
coordenação, funcionários da secretaria, alunos e pais de alunos com reuniões que
acontecem a cada última sexta do mês. Já as reuniões de pais são feitas ao fim de cada
bimestre. Uma equipe financeira formada dentro da escola pelo diretor, vice e
coordenador administrativo e pedagógico cuida de toda parte financeira e necessidades
da comunidade escolar.
Sobre os programas atuantes na escola são apenas dois o ProEMI, (Programa
Ensino Médio Inovador) e o PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à
Docência). Sendo o ProEMI, (Programa Ensino Médio Inovador) criado através da
portaria nº 971/2009, compõe uma das ações do Plano de Desenvolvimento da
Educação - PDE, com o objetivo de fortalecer as propostas curriculares nas escolas de
Ensino Médio a fim de ofertar e garantir formação integral dos estudantes a partir de
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ações inovadoras, assim o programa atua na escola a fim de que os estudantes entrem
em contato com o saber, através de diversos meios de aprendizagem, sendo feito através
de oficinas que garantem que os estudantes passem um tempo a mais na escola. Assim,
o ano letivo é dividido em blocos por semestre, aumentando a carga horaria de 600h
para 1000h por semestre e garantindo maior tempo de permanência dos estudantes na
escola. Sendo cada professor da escola responsável por uma oficina que cruzem os
temas dados em sala de aula com os temas das oficinas. Assim, o estudante escolhe as
oficinas de forma livre, de acordo com seu interesse. O professor de sociologia, por
exemplo, faz oficinas de fotografia.
O PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência) é um
programa de incentivo e valorização do magistério e de aprimoramento do processo de
formação de docentes para a educação básica, vinculado a Diretoria de Educação Básica
Presencial – DEB – da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
– CAPES. O PIBID oferece bolsas para que alunos de licenciatura exerçam atividades
pedagógicas em escolas públicas de educação básica, contribuindo para a integração
entre teoria e prática, para a aproximação entre universidades e escolas e para a
melhoria de qualidade da educação brasileira. Atualmente estão na escola, o PIBID –
Ciências Sociais, que atua acompanhando o professor supervisor da escola de forma que
os bolsistas que atuam na escola possam fazer intervenções dentro e fora das aulas de
sociologia, assim como fazer sequências didáticas, dando a oportunidade que vai além
dos estágios supervisionados de formação de professores III e para o Ensino Médio, de
atuar como docente, aperfeiçoando ainda mais o fazer docente dos que tem
oportunidade de participar do projeto. Na escola em questão, o PIBID – ciências sociais
trabalhar na forma de subgrupos: o de imagem - que visa trabalhar os temas dados em
sala de aula na exploração dos mais variados recursos imagéticos; o subgrupo de
leituras - que visa trabalhar os temas dados em sala de aula a partir do recorte de leituras
dos mais variados tipos e gêneros; e o subgrupo do qual tenho feito parte, o subgrupo de
teatro do oprimido - que trabalha com as técnicas e dinâmicas de teatro de Augusto
boal1, também usando os temas dados em sala de aula sendo estes refletidos nas
dinâmicas. A escola também conta com PIBIDs de Matemática, Espanhol e Física.
A escola não possui esportes que a represente oficialmente, nem treinos e aulas
para tal, pois não possui espaço físico e como já citado perdeu sua única quadra de 1 Augusto Boal, foi um diretor de teatro e dramaturgo brasileiro, fundador do teatro do oprimido, que alia teatro a ação social, as técnicas de teatro do oprimido são usadas pelos bolsistas do PIBID – ciências sociais.
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esportes em sua primeira adaptação para criação do CENEP Jessé Pinto Freire. Assim,
para suas representações nos JERN’s (Jogos Escolares Do Rio Grande Do Norte) os
estudantes se organizam em times improvisados e são treinados pelos professores da
escola em locações arranjadas por estes professores. Assim, tudo é feito informalmente,
sendo as aulas de taekwondo já citadas também uma improvisação.
O que pode-se perceber da escola é que há muito mais boa vontade por parte da
comunidade escolar do que estrutura e recursos. Não só a equipe pedagógica,
funcionários, professores e até mesmo os estudantes mesmo apáticos parecem
minimamente se esforçar para que a escola se mantenha da melhor forma possível. O
ambiente da escola é em suma tranquilo sendo a E. E. P. Anísio Teixeira considerada
uma escola modelo.
III - FASES DE DESCOBERTAS – PENSANDO E SE INSERINDO NOS ESTÁGIOS DOCENTES
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III.I - TORNANDO-SE DE CASA, OBSERVAÇÕES E FAMILIARIZAÇÃO COM
A ESCOLA.
Estando em um curso de licenciatura, seriam os estágios supervisionados para
formação de professores a parte fundamental do curso, onde o licenciando estaria
ansioso para se iniciar na docência e pôr em prática aquilo que foi preparado para
realizar. Nesse sentido, o estágio é dividido em quatro etapas. A primeira se constitui
em observar o ambiente escolar, a segunda em fazer uma intervenção sob a luz das
observações da primeira etapa, e a terceira e quarta etapas, é quando o licenciando
assume o papel de docente e se lança nesse mundo tão diverso que se mostra a sala de
aula. Portanto, este capítulo dedica-se a explorar as duas primeiras etapas, que se dão
mais como uma espécie de preparação/laboratório para as futuras etapas dos estágios.
No primeiro semestre de 2013 comecei a primeira etapa do estágio, todos estão
entusiasmados para então fazer um contato com a escola. Foi pedido cautela pela
professora Elda Silva do Nascimento Melo, que acompanhou como docente todas as
etapas do estágio expressas neste trabalho.
Para a primeira etapa do estágio a orientação é de apenas observar o ambiente
escolar. Fazendo uma etnografia deste ambiente, não se apegar apenas aos problemas ou
questões que primeiro nos saltam aos olhos, observando desde seus entornos até a sala
de aula. Ou seja, se fazer presente nesta observação para que possamos colher material
suficiente para pensar um plano de intervenção que será posto em prática na segunda
etapa dos estágios.
Aqui foi trabalhado algo muito visto até então no curso nas disciplinas de
antropologia, usando a etnografia e um de seus métodos a observação participante.
Assim, pude conhecer a escola em todos os seus ambientes, em diversas visitas, sendo
ministrada uma aula da disciplina de estágio para formação de professores na URFN,
onde recebíamos orientações e discutíamos temas referentes ao estágio e outra dedicada
a aproximação com a escola. Assim, fomos tentando entende-la, me encontrei veemente
com a expressão usada pelo antropólogo francês Claude Lévi-Strauss “de perto e de
longe” (2005, p.79), que se trata justamente de ver de perto, se aproximar de alguma
cultura ou objeto de estudo, no caso a escola, para, então, entender este ambiente e ali
aplicar o conhecimento que se tem sobre cultura ou sobre o objeto de estudo. Com isso,
pude estudar o ambiente escolar, estando inserida nele, mas mantendo um
26
distanciamento para que as questões e demandas não se tornassem algo familiar e
naturalizado.
Uso ester termo “familiar”, pois para mim a escola já era um ambiente familiar,
haja vista que minhas primeiras interações com a escola não se deram através da
iniciação dos estágios, pois já havia mantido contado com a mesma escola através do
PIBID no ano de 2012. Atuando no PIBID – Ciências Sociais pude erriquecer ainda
mais minha experiência docente como será retomado diversas vezes no presente
relatório. Desta forma, as primeiras questões que antes foram vistas por mim no contato
com a escola, já não me chamavam tanta anteção, passava assim, a fazer parte daquele
ambiente, mas sob o pensamento de Gilberto velho antropólogo brasileiro, vi a
importancia de “estranhar o familiar”,(1987, p.133) que tambem pode ser um
“distanciamento” do objeito estudado mesmo que lhe seja familiar. Esse estranhamento
e/ou distanciamneto garante ao trabalho do antropólogo/professor/pesquisador uma
relativização que lhe capacita a estudar o seu objeto sem tendenciamentos. Desta forma,
pude perceber que o professor nunca deixa de ser pesquisador, pois cada sala de aula é
um mundo e é sempre necessário um pouco de etnografia para entendê-la não só ela
como todo ambiente escolar.
Professores são eles que estão em permanente Contato com eventos educativos, cuja análise interpretativa está na essência da pesquisa educacional. Para pesquisar é preciso fazer registros adequados desses eventos, e a participação de professores nessa tarefa pode ter valor inestimável. (MOREIRA, 1988, pág. 49)
O professor pesquisador centra-se na consideração da prática, que passa a ser meio, fundamento e destinação dos saberes que suscita, desde que esses possam ser orientados e apropriados pela ação reflexiva do professor. (MIRANDA, 2006, pág. 135)
Assim nestes primeiros contatos e neste aprofundamento por meio das
observações para a primeira etapa dos estágios, pude perceber, em geral, uma certa
apatia por parte dos estudantes. Estes são bons nas suas próprias interações, já em sua
maioria desinteressados em relação aos estudos e as aulas. Inclusive, com a disciplina
de sociologia que exige bastante leitura, o que não é um hábito para estes estudantes.
Esse déficit da leitura é um problema que atinge não só os estudantes secundaristas, mas
os brasileiros como um todo.
27
Dados do Pisa2 (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), que medem os
índices de desenvolvimento dos estudantes em vários países, mostrou que o Brasil ficou
em 55ª na posição do ranking de leitura, o que significa um déficit que acarreta
inclusive o mau desempenho destes estudantes.
Em observações feitas e conversas informais com os estudantes, a frase que
sempre vinha à tona sobre o que acham da disciplina de sociologia era a mesma: “ah
sociologia não serve pra nada!
Somando as observações feitas para o estágio I e experiências vividas no PIBID,
pude comparecer a escola nos três turnos, o que mostra um quadro bem interessante do
comportamento deste lugar e seus agentes.
Os estudantes do turno da manhã são mais dispersos, ativos e bagunceiros; os
estudantes do turno da tarde são carinhosos e desinteressados e, em sua maioria,
apáticos; e os estudantes do noturno são bastante interessados, mais velhos e trabalham
durante o dia. Esta impressão superficial sobre o comportamento dos estudantes me
ajudaram a escolher o turno da tarde que concomitante também se tornaria o turno onde
atuaria, inclusive, para realizar as intervenções do PIBID, pois me senti à vontade e
acolhida de forma especial por toda comunidade escolar neste turno principalmente
pelos estudantes.
Os aspectos e diagnósticos que envolveram minhas observações foram muitos.
Entendi que a escola não é um ambiente formado apenas por estrutura física,
professores e estudantes, percebi que existem histórias e realidades vividas pelos
estudantes em seu cotidiano. Ou seja, que ali há mais do que culturas, com vários
personagens e expectativas diferentes, mais do que o ambiente escolar pode lhes
proporcionar. Alguns estudantes frequentam a escola por pura obrigação, imposta pelos
pais ou responsáveis, outros poucos gostam de estudar e querem fazer algum curso
superior, outros já trabalham e querem conseguir o diploma de ensino médio para
provar a si mesmo que são capazes, outros veem o único ambiente onde eles podem
socializar e se apresentar a sociedade a escola virando palco da vida destes estudantes.
Diante de tantas diversidades, dores e delicias de estar compartilhando deste
ambiente com toda comunidade escolar, alguns problemas me saltaram aos olhos e aqui
gostaria apenas de aponta-los: falta de estrutura física, como já citado na caracterização
da escola; falta de mais equipe pedagógica como a inclusão de psicólogos, por exemplo;
2 Dados retirados http://educacao.uol.com.br/noticias/2013/12/03/pisa-desempenho-do-brasil-piora-em-leitura-e-empaca-em-ciencias.htm.
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falta de programas que combatam as drogas na escola, o que não é apenas um problema
isolado deste escola; falta de investimento do governo na educação pública de
qualidade; desinteresse por parte dos estudantes em especial pelas aulas de sociologia.
Este último me chamou atenção, pois ao observar os estudantes pensei em mim
mesma quando era estudante e vi que o desinteresse continua o mesmo.
Entendo que deveria ter uma soma de esforços para fazer com que os estudantes
pudessem se integrar da melhor forma com o processo de ensino aprendizagem. Somei a
estes diagnósticos, minhas experiências vividas no PIBID – ciências sociais em 2012,
que buscava temas abordados nas aulas de sociologia de forma lúdica e dinâmica. Nem
mesmo com esta forma inovadora e as propostas de intervenção que talvez fossem mais
atrativas para os estudantes conseguimos fazer com que estes se interessassem pela
leitura, o que se refletia da mesma forma em sala de aula, os estudantes simplesmente
não leem e não demostram nenhum interesse pela leitura seja ela de qual gênero for.
Como futura docente me preocupo e me pergunto se tal desinteresse persistira e qual
poderá ser minha contribuição para a educação e principalmente para os estudantes.
Portanto, elencando este desinteresse nos estudos que permeia várias questões,
desde metodologia utilizada pelo professor, ao capital cultural que o estudantes trazem,
e até mesmo um ambiente com condições postas para um melhor desempenho destes
estudantes, atrelando também o desinteresse pela leitura, também um desinteresse e um
baixo desempenho em sala de aula, principalmente pela disciplina de sociologia, decido
trabalhar tal problemática no estágio supervisionado de formação de professores II,
Onde foi feito um trabalho em dupla com outra colega de disciplina na UFRN. Tal
trabalho seria no formato de oficina nas escolas diante das demandas encontradas na
primeira etapa do estágio.
Assim, concluo minha primeira etapa dos estágios, com a certeza do quão
importante é esta aproximação e este tempo dedicado a observar/pesquisar o ambiente
escolar para desta forma melhor entende-lo e poder fazer algum trabalho que venha a
somar a este e tentar fazer a diferença. Sentindo-me mais empoderada para entrar
novamente em contato com os estudantes, sabendo que é apenas um dos primeiros
passos para iniciar minha carreira docente, recorro a Freire (1996) que afirma que:
Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses quefazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, procurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo, educo e
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me educo. Pesquiso para conhecer e o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade. (FREIRE, 1996, pág. 16)
Considerarei levar esta prática de ser tanto professor quanto pesquisador, pois
com ela consegue muito mais recursos para pensar minha atuação enquanto docente.
Pesquisando os alunos e a sala de aula consigo dar um retorno muito melhor do que
apenas chegar até ela para passar conhecimento, pesquisando, observando e ouvindo foi
onde encontrei os pontos chaves de como deveria ser minha postura docente.
III.II – MINHAS PRIMEIRAS CONTRIBUIÇÕES PARA A ESCOLA
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Levando em consideração as experiências e observações vividas, principalmente,
da primeira etapa do estágio é chegada a hora de intervir e estreitar ainda mais o contato
com os estudantes. Desta vez, em forma de oficina.
Orientados pela professora da disciplina de estágio na UFRN, soubemos que
ainda não é a hora de tomar a frente da sala de aula e que devíamos apenas realizar um
plano de intervenção para ser posto em prática na escola, o mesmo foi feito e no
segundo semestre de 2013, onde pudemos realizar oficinas em grupo, neste contato
pudemos trabalhar em dupla.
Foi feito, portando, de acordo com as observações da primeira etapa do estágio,
uma oficina de leituras com os alunos da escola estadual professor Anísio Teixeira,
onde atuei em todas as etapas do estágio. Decidiu-se fazer esta oficina, pois foi
percebido além de muito desinteresse pelas aulas de sociologia, um extremo
desinteresse e dificuldade com a leitura, essencial para as aulas de sociologia por se
tratar de uma disciplina muito teórica e que exige um mínimo de leitura. Dessa forma, o
objetivo de tal oficina era incentivar a leitura em seus mais variados aspectos e gêneros,
assim como trabalhar temas abordados nas aulas de sociologia, ajudando aos estudantes
a melhorarem seu desempenho e, principalmente, valorizando seus conhecimentos de
mundo, geralmente desvalorizados no processo de ensino aprendizagem.
Outro objetivo do grupo de leituras era que este continuasse após a intervenção,
utilizando o espaço da biblioteca para discussões de leituras dos mais variados gêneros,
o que infelizmente não ocorreu. Porém, a oficina enquanto nós estagiárias estávamos
como mediadoras foi bastante proveitosa e pudemos encontrar nela não só excelentes
leitores como também escritores.
Portanto, o trabalho de intervenção se deu em quatro encontros com os
estudantes, sendo possibilitado em cada encontro a leitura em seus mais variados
aspectos, sendo feita a leitura de imagens, músicas, apresentação de leituras feitas pelos
próprios estudantes, assim como estes foram também “intervencionistas”, ou seja, estes
trouxeram suas leituras. E as “leituras” sobre as obras que estes trouxeram, sendo a
intervenção algo sendo feito não só por parte de nós estagiárias para os estudantes mas
com os estudantes participando ativamente, tentando assim aproveitar o máximo de
conhecimentos que estes tem, valorizando não só este conhecimento como também o
integrando com o processo de construção dos saberes.
Foi realizada também uma avaliação ao final de cada intervenção por parte dos
estudantes a fim de ter um feedback destes e para podermos pensar melhor as próximas
31
intervenções, reconhecendo a avaliação como parte fundamental do planejamento e
como ponto de partida para os ajustes, para que a prática docente se dê da melhor forma
sempre. O intuito aqui é de não apenas passar conhecimento, mas que este seja um
processo de troca onde não só o professor seja o principal construtor e sim que seja um
mediador entre seus saberes e os saberes dos estudantes que também devem ser levados
em consideração para que este processo seja cada vez mais enriquecedor. Assim,
Planejamento para que ele se constitua em instrumento eficiente de ação educativa é necessário que apresente um sistema de avaliação isso significa que permita revisões constantes e frequentes nas diversas instancias consideradas anteriores. Dessa forma, será possível fazes ajustes e adaptações o próprio plano ou mesmo sua correção no decorrer do percurso. Os aspectos a serem avaliados são: objetivos, recursos e meios utilizados, participação dos membros do processo educativo em cada nível, enfim, resultados obtidos, problemas encontrados e soluções apresentadas. (MASETTO, 1997, pág. 80).
Este trabalho foi fruto de muito planejamento, que segundo Libâneo (1994) é de
extrema importância para o processo de ensino aprendizagem, pois é um processo de
racionalização, organização e coordenação da ação docente, sendo este planejamento
devendo ser feito desde a primeira etapa do estágio, onde apenas observávamos a
escola. Desta forma, já nos inserindo na docência pois como já citado por Freire (1996)
o professor nunca deixa de ser pesquisador, sendo o planejamento uma forma
consciente e sistemática de atingir objetivos em sala de aula. Esta teria por finalidade a
construção do saberes de forma que estes contribuíssem, não só para o desempenho dos
estudantes dentro da escola, mas também na sociedade. Este planejamento vai além da
sala de aula, pois para ser completo ele precisa levar em consideração as experiências de
vida dos estudantes, assim como tudo que envolve a comunidade escolar, sempre no
intuito de somar para o melhor convívio e permanência destes estudantes na escola,
assim também como para os docentes, principalmente iniciantes, para que possamos
aproveitar de melhor forma possível nossa prática.
O planejamento é uma atividade de reflexão acerca das nossas opções e ações; se não pensarmos detidamente sobre o rumo que devemos dar ao nosso trabalho, ficaremos entregues aos rumos estabelecidos pelos interesses dominantes na sociedade. A ação de planejar, portanto não se reduz, portanto, ao simples preenchimento de formulários para controle administrativo, [é antes a atividade consciente de previsão das ações docentes, fundamentadas em opções político-pedagógicas, e tendo como referências permanentes as situações didáticas concretas (isto é a problemática social, econômica, política e cultural que envolve a escola, os professores, os alunos, os pais, a
32
comunidade que interagem no processo de ensino aprendizagem. (LIBÂNEO, 1994, pág. 222).
Passado um pouco a fase do planejamento sem abandoná-la totalmente, é
chegada a hora de começarem as intervenções, estas ocorreram nos meses de outubro e
novembro do segundo semestre de 2013. Fizemos divulgações na escola, passando nas
salas de aulas e através de conversas com os estudantes. Foram abertas inscrições para
as oficinas e apenas estudantes do turno da manhã se inscreveram, por isso as oficinas
se deram no turno da tarde com o horário sempre a combinar com os estudantes para
que ficasse da melhor forma pra eles.
É importante frisar que em uma escola com mais de 100 alunos, o número de
estudantes que se interessaram pelas oficinas foram apenas três, assim as oficinas foram
realizadas com estes três. Ou seja, podemos observar um quadro bem evidente, o
desinteresse pela leitura o que tem refletido também no desempenho em sala de aula.
Procuramos fazer uma oficina de forma dinâmica e lúdica, trazendo o gosto pela
leitura, seja ela qual e de que gênero fosse, a fim de suscitar o gosto por ler. Assim,
usamos a autora Michele Petit, antropóloga francesa que estuda a leitura em espaços de
crise, como em área de guerra por exemplo. Em seu livro “A arte de ler (2009)” a autora
aborda o tema sobre incentivo à leitura, que vai desde a leitura de um poema que lhe faz
viajar até as leituras necessárias para as disciplinas na escola, por exemplo. O que
queríamos era jogar uma isca mais atrativa para fisgar o peixe, ao invés de jogar apenas
leituras obrigatórias para os estudantes, deixá-los livres, a fim de criar gosto pela leitura
para poder introduzir os assuntos e temas pertinentes à disciplina de sociologia.
O leitor não é passivo, ele opera em um trabalho produtivo, ele reescreve. [...] Mas ele também é transformado: encontra algo que não esperava e não sabe nunca aonde isso poderá levá-lo. (PETIT, 2009, pág. 28-29)
Dessa forma podemos dizer que nós éramos o que Petit, chama de “agentes” da
leitura. Tanto nós docentes fazendo o papel de “agente” facilitador ou motivador, assim
também como os estudantes que faziam o papel de “agente” moderador, pois este era
quem decidia como moderar o incentivo levado por nós sobre as leituras e o
conhecimento adquirido em suas leituras. Sendo os dois de fundamental importância
nesse processo, essa troca seria o que Freire trata em um dos capítulos do seu livro
“pedagogia da autonomia (1996)”. O capítulo intitulado “Ensinar exige respeito aos
saberes dos educandos” trata justamente sobre a importância deste dois agentes no
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processo de ensino aprendizagem, onde não só o professor passa conhecimento mas há
uma troca e uma soma dos conhecimentos trazidos pelo professor e os conhecimentos já
trazidos pelos estudantes, conhecimentos estes que não podem deixar de ser
aproveitados.
Respeitar os saberes com que os educandos, sobretudo os da classes populares, chegam a ela – saberes socialmente construídos na prática comunitária - mas também, discutir com os alunos a razão de ser de alguns desses saberes em relação com o ensino dos conteúdos. (FREIRE, 1996, pág. 16)
Nas intervenções provamos na prática, o que a autora trata em seu texto sobre os
“agentes de leituras”, vimos e constatamos estudantes leitores e, em especial,
mediadores das suas próprias leituras. Para delinear claramente exponho rapidamente
cada intervenção a fim de mostrar como se deu este processo tanto de incentivo à leitura
como de construção dos saberes a partir dela e dos diferentes modos de leitura. “Nossas
escolas não estão sendo um espaço no qual a leitura seja um meio de criatividade e de
prazer, mas sim o espaço no qual a leitura e escrita se associam a tarefa obrigatória e
chata, castradora”. (BARBETO 2010, pág. 6).
No primeiro encontro tivemos o acolhimento do grupo dos três estudantes e
discutimos sobre as várias formas de leituras que poderíamos fazer. Em seguida, houve
a apresentação de um vídeo que partia de uma posição contraria sobre o hábito de ler,
mostrando justamente o quão vazio pode ser um mundo sem leituras, assim o objetivo
do vídeo era incentivar o hábito da leitura, logo após apresentação do vídeo,
distribuímos imagens entre os estudantes e pedimos que legendassem tais imagens a
partir de sua “leitura”, mostrando assim que a imagem também pode ser incorporada
como um recurso para a leitura, a fim de enriquecê-la e estimulá-la. Estas imagens
estavam em consonância com os temas trabalhados na disciplina de sociologia, para
unir o conhecimento de mundo destes estudantes aos conhecimentos necessários,
visando um melhor desempenho na disciplina de sociologia. Feito isso, fizemos uma
discussão acerca das diversas formas de leituras. Um dos estudantes fala a respeito do
tema “uma pessoa que não lê é um boneco parado no tempo”.
Podemos perceber a valorização da leitura e ainda o reconhecimento de sua
importância por parte deste estudante. Aproveitamos a oportunidade apara conhecê-los
melhor. Assim, perguntamos sobre suas leituras, entre as quais foram citadas: A
Carteira(Machado de Assis), A Fantástica Fábrica de Chocolate(Roald Dahl), Alice no
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País das maravilhas (Lewis Carroll), A outra face(Deborah Ellis), Através do
Espelho(Jostein Gaarder), bilhões e bilhões (Carl Sagan), Caroline e o Mundo
Secreto(Neil Gaiman), Nada Dura para Sempre(Sidney Sheldon), O Auto da
Compadecida (ariano Suassuna), Vidas Seca (Graciliano Ramos).
Diante de um acervo tão vasto de leituras abrimos um espaço para que eles
apresentassem uma de suas leituras realizadas no próximo encontro, tudo feito de forma
livre. Neste primeiro encontro consideramos que a “leitura das imagens” é um ponto
que podia ser usado como recurso metodológico em sala de aula, pois a imagem dispõe
de importantes estratégias para comunicação de ideias, o que fomentou uma boa
discussão na oficina e da mesma forma poderia ocorrer em sala de aula.
Tudo isso coloca o aluno e o professor diante de uma imensa gama de discursos e modos de produção e circulação desses discursos, o que proporcionará que ambos compreendam que a significação não está no enunciado, na materialidade, mas na enunciação e esta pode ser percebida por meio das pistas discursivas e até mesmo textuais. “Expandir nossa capacidade de ver significa expandir nossa capacidade de entender uma mensagem visual. (DONDIS, 2003, pág. 13).
No segundo encontro fizemos um sorteio para a leitura livre de poesias, assim os
estudantes sorteavam um papel onde havia uma poesia para ser lida e apreciada em
grupo. Neste segundo encontro os estudantes se mostraram muito empolgados, pois
como relatado, todos adoravam o gênero textual e se sentiam a vontade com ele.
Inclusive, umas das poesias sorteadas já era de conhecimento de uma das participantes
da oficina. Esta fez uma contextualização com a realidade social, dizendo que a poesia
falava sobre a degradação do homem. Em seguida, dois participantes fizeram a
apresentação sobre suas próprias leituras como proposto no encontro passado, a
primeira apreciação foi “Nada Dura para Sempre”. O estudante fez a mediação com as
questões do estigma racial da mulher negra, na sociedade e sobre questões de moral e
religiosas arraigadas na sociedade.
O segundo livro foi “bilhões e bilhões”. Sua mediação trouxe a reflexão sobre o
respeito, morte e vida não só dos seres humanos, mas também dos corpos celestes, por
exemplo, fazendo uma mediação inclusive com o que a bíblia ensina.
Podemos perceber como este simples recurso que é a poesia e, como já dito por
Petit, nos faz viajar e decifrar nossa própria existência. Discutimos com os estudantes
sobre quão pode ser prazeroso o hábito de ler e como este nos ajuda a ver o mundo cada
vez de uma forma diferente. Uma das participantes da oficina afirmou que: “gostei da
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intervenção porque finalmente eu pude falar sobre o que gosto e ser ouvida por isso, e
também pela diversidade dos assuntos”.
A fala da estudante nos faz pensar sobre o que Freire (1996, p17.) afirma:
“Ensinar exige saber escutar”, pois é na escuta que o professor aprender a como
dialogar com o educando e facilitar assim suas trocas de conhecimentos. “O educador
que escuta aprende a difícil lição de transformar o seu discurso, às vezes necessário, ao
aluno, em uma fala com ele”. (FREIRE,1996, pág.71). O autor acrescenta ainda:
Por isso é que, acrescento, quem tem o que dizer deve assumir o dever de motivar, de desafiar quem escuta, no sentido de que, quem escuta diga, fale, responda. É intolerável o direito que se dá a si mesmo o educador autoritário de comportar-se como proprietário da verdade de que se apossa e do tempo próprio, pois o tempo de quem escuta é o seu, o tempo de sua fala. Sua fala, por isso mesmo, se dá num espaço silenciado e não num espaço com ou sem silêncio. Ao contrário, o espaço do educador democrático, que aprende a falar escutando, é cortado pelo silêncio intermitente de quem, falando, cala para escutar a quem, silencioso, e não silenciado, fala. (FREIRE, 1996, pág. 73).
A terceira intervenção ocorreu em uma espécie de pátio, que fica no primeiro
andar do colégio, um espaço aberto e vazio entre as salas, pois a biblioteca se
encontrava fechada neste dia. Para este encontro ficou programado que os estudantes
trariam à tona a apresentação, de forma lúdica, de alguma de suas leituras e se possível
de uma leitura nova. O objetivo deste encontro não foi alcançado, pois nenhum dos
estudantes trouxeram a apresentação de suas leituras de forma lúdica como pedimos,
mas mesmo assim estes apresentaram leituras já feitas e discutiram questões sociais que
apareciam nas obras, afim de não perder o encontro.
Um deles apresentou “O Auto da Compadecida” trazendo à tona a questão da
religiosidade e da seca, outra trouxe “A Carteira” levando em consideração as questões
de lealdade, respeito, compromisso e a função da mulher na sociedade. O fato do que foi
planejado não dar certo, nos mostra também outro lado da docência, que o professor
deve ter sempre um plano “B”, as discussões sobre religiosidade e o papel da mulher na
sociedade foram muito ricas e mais uma vez os conhecimentos já trazidos pelos
estudantes foram essenciais para o desenvolvimento da conversa. Concluímos o
encontro decidindo como seria nosso próximo encontro e vimos a necessidade de
fazermos uma adaptação em nosso planejamento, trocando a leitura de um texto pela
leitura de uma música escolhida por cada um dos estudantes. As músicas escolhidas
foram: que país é esse? (Renato Russo), Admirável chip novo (Pitty), Born This Way
(Lady Gaga). Notamos, como defende Freire, que o conhecimento é contínuo e que está
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disponível nas mais diversas formas. O conhecimento é inacabado e, ainda que nós,
enquanto sujeitos, somos inacabados, estamos em constante transformação e
construindo conhecimento.
Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado mas, consciente do inacabado, sei que posso ir mais além dele. Esta é a diferença profunda entre o ser condicionado e o ser determinado. A diferença entre o inacabado que não se sabe com tal e o inacabado que histórica e socialmente alcançou a possibilidade de saber-se inacabado. Gosto de ser gente porque, como tal, percebo afinal que a construção de minha presença no mundo, que não se faz no isolamento, isenta da influência das forças sociais, que não se compreende fora da tensão entre o que herdo geneticamente e o que herdo social, cultural e historicamente, tem muito a ver comigo mesmo. (FREIRE, 1996, pág. 31).
No quarto e último encontro, também não pudemos utilizar o espaço da
biblioteca, pois já havia uma outra atividade no ambiente. Fizemos apenas uma roda de
cadeiras em um corredor ao lado da biblioteca. Escutamos as músicas trazidas pelos
estudantes através do notebook pessoal, e depois discutimos. Cada estudante
responsável por trazer uma música fez a mediação entre a poética da letra e os aspectos
sociais existentes nelas. A música “que país é esse” de Renato Russo, foi pensada pelo
estudante através da má distribuição de renda e a corrupção política no país.
Com a música “Admirável chip novo”, a mediação se deu através de como
retratamos e reproduzimos nosso cotidiano na sociedade moderna e capitalista, que a
todo momento parece ser controlada e programada, articulando com a sociologia,
levamos o conceito da sociedade do controle, pensada e fundamentada por Deleuze
(1992). Já a música “Born This Way” a mediação foi feita sobre a auto estima, tratado a
superação e a individualidade, Remetemos ao ambiente escolar que muitas vezes leva a
baixa estima dos estudantes prejudicando o desempenho pessoal e escolar. Podemos
observar aqui mais uma vez como a leitura pode se dar de maneira prática e lúdica de
forma que nem mesmo fuja dos assuntos abordados em sala de aula, e que aqui cabe
mais um recurso que também poderia ser utilizado a fim de tornar os processos de
construção dos saberes algo mais prazeroso para os estudantes. Finalizamos a oficina
com uma surpresa para os estudantes, levamos livros para fazermos um sorteio para
todos os participantes, os livros foram: O Mistério do Trem Azul(Agatha Christie); Um
Gosto Amargo de Fim (Nilson Patriota); uma história de amor (Jill Robinson); Vida de
Mulheres(Marina Massi); Voa, Menina, Voa(Gene Stone), tal sorteio fica como
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incentivo pela leitura e lembrança deste momento de troca tão importante para nos
futuras docentes.
As intervenções realizadas aconteceram de maneira produtiva e algumas
surpreendentes, descobrimos que contávamos com estudantes escritores, com livros em
andamento e outros até concluídos porem não lançados. Acrescentamos que o projeto
realizado compreendia um espaço não oferecido pela escola, espaço aberto para os
estudantes falarem, compreenderem e partilharem de suas leituras. Alcançamos alguns
objetivos idealizados, como apresentar que a sociologia permeia os mais variados
assuntos do cotidiano, conseguimos também incentivar a leitura, sendo que entendemos
que a leitura é feita de várias formas.
Por fim, analisamos que o as atividades executadas descritas acima e planejada
no projeto que segue em anexo foram realizadas de maneira satisfatória, lamentando
apenas o pequeno número de estudantes, o que retrata que o desinteresse pela leitura é
algo geral entre os estudantes da escola. Um ponto a ser importante a ser levantado
sobre os estudantes participantes das oficinas é que foram em sua maioria mulheres,
duas meninas e um menino, o que pode mostrar que o hábito da leitura pode passar
também por uma questão de gênero o que não foi e nem será abordado no trabalho.
Encontramos algumas dificuldades para o uso da biblioteca, está permanece fechada
durante o período de intervalo e quando os estudantes precisam ir até ela para pegar um
livro emprestado tem que se deslocar durante os horários de aula o que faz com que
estes se dispersem ainda mais da aula, podemos perceber aqui que a escola também não
oferece o mínimo suporte para incentivar a leitura de forma mínima que seja aos
estudantes.
O ponto mais importante apreendido foi a troca de conhecimentos entre
professor e estudante tão citada já por Paulo Freire, como em diversas vezes no presente
trabalho, sendo este momento de troca onde o professor pode levar o estudante para
entrar no jogo ou melhor entrar na aula, este momento de aproveitar os saberes do
estudante como feito no decorrer de todas as intervenções da oficina é o momento onde
realmente se cria um processo de ensino e aprendizagem, pois aqui o estudante não
recebe apenas o conhecimento, mas juntamente com o professor cria um conhecimento.
Pensamos que as metodologias utilizadas na oficina poderiam ser utilizadas facilmente
em sala de aula, a fim de ampliar o universo de construção dos saberes, e trazer mais um
recuso metodológico/pedagógico para que o professor possa cada dia se reinventar e
desempenhar cada vez melhor seu papel, sendo a leitura não a fórmula mágica que vai
38
salvar o desinteresse destes estudantes ou incentiva-los a ler por prazer e a descobrir
novos mundos, mas, a leitura e suas diversas formas e gêneros como mais um recurso
válido e por que não didático.
Grupo de figuras 9: fotos referentes as oficinas de leituras.
IV - FAZENDO-SE DOCENTE, AGORA EM SALA DE AULA.
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Passadas as fazes de imersão ao ambiente que foram de extrema importância
para me trazer até aqui com mais clareza de que a prática docente não é fácil, porém
prazerosa, e que nela é necessária que nós docentes saibamos escutar e respeitar os
saberes dos educandos, assim como sermos comprometidos com nossa prática docente
estando abertos para nos reinventarmos sempre que preciso, assim como Paulo Freire
defende em seu livro, Pedagogia da Autonomia. Entendo que a formação é parte
fundamental do processo de ser educador e aqui é apenas o começo de muito
aprendizado que vem pela frente.
Ninguém começa a ser educador numa certa terça-feira às quatro horas da tarde. Ninguém nasce educador ou marcado para ser educador. A gente se faz educador, a gente se forma, como educador, permanentemente, na prática e na reflexão sobre a prática. (FREIRE, 1991, pág. 58)
Começo esta etapa citando mais uma vez Paulo Freire, pois encontrei nesse
pequeno trecho acima algo que sintetiza tudo que vivi e pude aprender em minha
pequena “carreira” como docente dentro dos estágios. Destino está parte do trabalho a
tratar das experiências em sala de aula, em que foram desenvolvidos tantos no estágio
supervisionado de formação de professores III como no estágio supervisionado para
formação de professores para o ensino médio.
Quero aqui enfatizar em minhas experiências as impressões sobre como se dá
esta relação entre docente e discente, como é a descoberta do fazer-se professor. Não
descartando as importantes experiências que foram o estágio I com toda observação
feita à escola, que me levou a intervenção sobre a leitura que foi feita no estágio II já
citada no capítulo anterior e minhas experiências como bolsista do PIBID, que também
se somam neste processo das quais explicitarei melhor mais tarde. Entendo que todas
estas etapas se confluem nesse movimento do meu fazer-se docente, o que está me
fazendo e vai me fazer ao longo de um trajetória de mais aprendizado do que passar
conhecimento, que é a docência. Não obstante a importância que tudo que vivi, dedico
este capítulo a relatar, dividir e compartilhar todo esse mundo de experiências que foi o
contato real como docente com a sala de aula.
Portanto é no primeiro semestre de 2014 que tudo começa, recebemos as
orientações da professora do estágio para mais uma vez repensarmos o que já tínhamos
vivenciado na escola até esta etapa. Para voltar as escola e fazer as intervenções, agora
40
sozinhos, sob a observação do professor da escola, em sala de aula, assumimos o papel
de professor, assim é dado a nós a oportunidade de realizar as intervenções.
Supunha-se que com tanto contato com a escola até aqui estabelecido, com a
etnografia e as oficinas, já nos sentíamos a vontade com o ambiente escolar. Mas a sala
de aula se mostra ainda como um ambiente a parte de todo resto, pois é nela a
culminância de todas as diversidades que há dentro da escola. Levando em consideração
estes desafios inicias, mais um se soma ao desenvolvimento do estágio, desafio este que
deve ser levado em consideração quando se aborda o tema da educação como um todo.
Tal desafio é a precarização do trabalho do professor, que vem da desvalorização do seu
papel em nossa sociedade. Assim, os professores da rede estadual de educação do Rio
Grande Do Norte entram em greve. Este fato foi levado em consideração, como um
ponto que se soma na formação docente de nós estagiário e não apenas como algo que
atrapalha o andamento do estágio, pois é importante que desde de então reconheçamos
que uma educação de qualidade passa não só pela formação do professor ou dedicação a
sua prática, mas também a sua própria valorização. Assim também como defende Paulo
Freire em seu livro Pedagogia Da Autonomia, defendo a luta dos professores como
legitima e parte de sua prática.
A luta dos professores em defesa de seus direitos e de sua dignidade deve ser entendida como um momento importante de sua prática docente, enquanto prática ética. Não é algo que vem de fora da atividade docente, mas algo que dela faz parte. (FREIRE, 1996, pág. 39)
Portanto, o período de greve foi dedicado ao planejamento da ação didática, pois
como defende Regina Haydt (2006, p.103), o planejamento da ação didática é
importante para “prever as dificuldades que podem surgir durante a ação docente, para
poder supera-las com economia de tempo”. Assim, durante o período da greve nos
dedicamos a ministrar estas “docências” entre nós mesmos na disciplina de estágio, na
UFRN. Usamos o livro de Anastasiou (2003) “Processo de ensinagem na universidade –
pressupostos para as estratégias de trabalho em aula”. Desta forma, usamos as
estratégias de ensinagem para pensarmos como seriam nossas docências. Assim,
pudemos avaliar quais caberiam nas salas de aula do ensino médio.
Passado o fim da greve, o cronograma estava apertado. Assim, só foi possível
ministrar duas aulas. Estas foram muito importantes, pois propiciou meu contato real
com os estudantes, como docente. Chega a hora de pôr em prática as competências até
41
então trabalhadas. E, repensadas estas competências, tais como mostrou Paulo Freire
como respeitar os saberes dos educandos, começo minha primeira docência, sempre
atentando para a forma de abordar os temas, para que estes possam ser apreciados pelos
estudantes da melhor forma possível, e, não apenas passado para eles, pois entendo que
o processo de ensino aprendizagem se dá por uma troca e uma soma entre saberes do
docente e dos educados. Vale salientar que ainda foi orientado que fizemos uma
observação a cada turma que fossemos ministrar as aulas a fim conhecê-las e facilitar
ainda mais o planejamento das aulas.
Para pensarmos estas experiências docentes é necessário se pensar o cenário
onde estas aconteceram, pois de acordo não só com Paulo freire, mas também por
diversos autores que pensam a educação e a didática, a identidade cultural dos
estudantes e o ambiente escolar contribuem para a fluência do processo de ensino
aprendizagem.
A questão da identidade cultural, de que fazem parte a dimensão individual e a de classe dos educandos cujo respeito é absolutamente fundamental na prática educativa progressista, é problema que não pode ser desprezado. Tem que ver diretamente com a assunção de nos por nós mesmos. É isso que o puro treinamento do professor não faz, perdendo-se e perdendo-o na estreita e pragmática visão do processo. (FREIRE, 1996, pág. 25).
As duas turmas escolhidas foram turmas de primeiro ano. A primeira foi uma
turma de primeiro ano, do último horário da tarde, que é geralmente um horário crucial,
tanto para o professor quanto para os estudantes, por ser o último horário, todos já estão
bem cansados. A primeira aula tem como tema central “fato social” (ver plano de aula
em anexo), conceito trabalhado pelo sociólogo Emile Durkheim, conceito este bem
denso também de compreensão. Portanto, penso em como trazer da melhor forma, com
exemplos sobre o tema da aula, trazendo para o cotidiano dos estudantes, a fim de fazer
com que eles entrassem na aula e eu pudesse aproveitar seus conhecimentos da melhor
forma possível, ao invés de apenas escrever no quadro e falar de forma explícita sobre o
tema da aula. Dessa forma, a aula foi se formando não só por mim, mas também pelos
estudantes. Assim, a aula se deu mais como uma conversa, pedi que escrevessem em
poucas linhas, de forma livre, sobre o que tinha entendido sobre o tema da aula, e assim
o fizeram inclusive mesmo depois que o “toque de saída” foi dado, só saindo da sala
com minha liberação. Começo a entender aqui o que Paulo Freire traz quando fala que
educar exige liberdade a autoridade, pois ao mesmo momento que os deixei livre para
42
realizar a pequena atividade do modo que quisessem estes confiaram em minha postura
mesmo estando cientes de que ali era minha primeira aula como docente. Tive a
resposta imediata dos estudantes, me senti respeitada como alguém que ali poderia agir
também com autoridade. Algo curioso que aconteceu durante esta primeira experiência,
foi um dos estudantes dizer: “professora você é muito bonita viu” encabulada, levo na
brincadeira e entendo esta situação assim como outras relatas por colegas em conversas
informais, que não aprendemos na universidade como lidar com algumas situações dos
processos de ensino aprendizagem, e percebo que a prática docente é quem melhor pode
ensinar a como lidar com as mais variadas situações em sala de aula. Aprendi nesta
primeira aula que o que Freire traz em seu livro Pedagogia da Autonomia quando fala
em respeitar os saberes dos educandos, pois foram os saberes destes que me ajudaram a
fazer minha primeira aula, talvez sem a participação destes teria sido apenas uma
exposição dos meus conhecimentos que tão pouco seriam assimilados.
Saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção. Quando entro em uma sala de aula devo estar sendo um ser aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, a suas inibições, um ser crítico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho - a ele ensinar e não a de transferir conhecimento. (FREITE, 1996, pág. 27).
A segunda turma foi também uma turma de primeiro ano, com um horário
também crucial, o horário que antecede o intervalo e, todos os estudantes estão mais
eufóricos para que a aula acabe e eles possam aproveitar este que é o maior momento de
interação entre eles dentro da escola. O tema da aula é o mesmo da aula anterior, decido
adaptar o plano de aula a turma, e fazendo uma avaliação da aula anterior decidi tirar o
vídeo que foi usado para a aula anterior.
A avaliação é parte fundamental do planejamento, pois é nela onde são feitos os
ajustes para o melhoramento da prática docente ou gestão escolar assim como já citado
acima por Marcos Masetto. Como já mencionado através das observações, percebi que
os estudantes estavam afoitos pelo intervalo, brincavam durante toda aula jogando
bolinhas de papel um no outro, penso em substituir o vídeo por uma brincadeira do jogo
das bolinhas, no qual os estudantes jogavam bolinha uns para ou outros respondendo
perguntas pertinentes ao tema da aula, trazendo assim, algo do seu cotidiano, a fim de
que estes se sentissem mais à vontade e facilitasse o andamento de minha regência.
Percebo que esta brincadeira salvou minha aula, que ocorreu de forma muito mais
43
participativa do que a aula anterior. Logo que toca para o intervalo alguns estudantes
ficam na sala e querem continuar a brincadeira, acabo por libera-los para o intervalo,
mas eles permanecem em sala de aula, estes começam a me fazer uma enxurrada de
perguntas sobre os mais variados assuntos, e percebo neles uma carência que os
estudantes trazem de fora, uma necessidade de ter alguém para conversar, alguém que
teria incorporado “a condição humana” citada por Edgar Morin em seu livro “a cabeça
bem feita - repensar a reforma repensar o pensamento”, onde trabalha o conceito da
“condição humana”. Logo, esta condição humana seria um sensibilidade, que mais do
que nunca é exigida do professor, para entender o estudante para além do que sua
disciplina o afeta. Sendo a sociologia uma ciência humana, seria de fundamental
importância o professor trabalhar em esta competência, entendendo o estudante como
um indivíduo que não está ali para apenas receber conhecimentos mas também para se
integrar a sociedade, para interagir com seus amigos, paquerar, fazer a escola de palco,
ou até mesmo por pura obrigação.
Na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática. O próprio discurso teórico, necessário à reflexão crítica, tem de ser tal modo concreto que quase se confunde com a prática. O seu "distanciamento" epistemológico da prática enquanto objeto de sua análise e maior comunicabilidade exercer em torno da superação da ingenuidade pela rigorosidade. (FREIRE, 1996, pág. 22)
Com estas duas primeiras regências aprendi que ser professor não é apenas ser
dono de um conhecimento e passa-lo adiante, e que não se é professor, se faz-se
professor com cada experiência que se soma e se refletindo sobre cada uma delas. Para
freire (1996) ensinar exige muitas competências, entre elas, fazer uma reflexão crítica
sobre a prática. Assim, o fazer-se docente vai tornando o professor cada vez mais
competente e empoderado em sua prática. Levando em consideração também o livro de
Anastasiou, utilizado na disciplina de estágio, penso que as estratégias podem também
ser utilizadas nas salas de aula do ensino médio, fazendo algumas ressalvas para
pequenas adaptações de acordo com a turma e suas particularidades culturais. Todavia,
todas as competências que devem ser trabalhadas pelo professor, trazidas pelos autores
e propostas por mim nesta parte do trabalho devem ser feitas com muito planejamento,
pois este é parte fundamental do fazer-se docente.
44
Já no segundo semestre de 2014 tive a oportunidade de viver as experiências da
última etapa do estágio em consonância com minha atuação como bolsista do PIBID –
ciências sociais. Desta forma, entendo que ambos contribuem e se somam para o
fechamento desta etapa da minha formação docente.
Esta parte do relatório não se dedica apenas a relatar, como nas etapas anteriores,
mas a analisar esta etapa tão rica que foi a última etapa do estágio, em confluência com
as ações como bolsista do PBIBD – ciências sociais. Assim como, demonstrar de forma
sucinta minhas aspirações gerais sobre minha prática docente e sobre a docência.
Nesta etapa do estágio é orientado a assumirmos mais uma vez o papel de
docentes, só que desta vez com mais empoderamento da própria prática. É indicado que
façamos as regências, agora, mais preparados pelas etapas anteriores, assumimos o
papel de docente. É orientado também que escolhamos uma turma a fim de estreitar
nossos lanços com esta, e sabermos como é esta relação que se dá entre professor e
aluno na vida cotidiana. Assim, com um contato mais profundo com os estudantes e o
chão da sala de aula, estaríamos mais preparados para iniciar nossa carreira como
docentes.
Diante de alguns problemas, principalmente na educação básica pública
brasileira, não foi possível acompanhar uma turma só, pois os horários ficaram
quebrados. Além de muitos estagiários, a escola ainda conta com o programa PIBID
como já citado no capítulo II, sendo que o professor que acompanha os estagiários de
sociologia é o mesmo que acompanha os bolsista do PIBID – ciências sociais. Assim, a
agenda das aulas de sociologia ministradas pelo Professor estava superlotada. Apesar
disso, não se impediu que o estágio e as docências prosseguissem. Aprendi que tudo se
soma nestes processo de minha formação docente, as aulas, as intervenções, as visitas a
escola, a greve, enfim tudo isso faz parte do cenário da educação Brasileira e do ser
professor, portanto o fato de não ter conseguido acompanhar uma turma por inteiro não
impede que aprenda nesse processo.
Assim divido minhas docências entre duas turmas de 1º e 3º ano. Agrego neste
estágio algo aprendido através das etapas anteriores e faço também observações
participantes em algumas turma, a fim de escolher aquelas que mais me sentirei a
vontade. Para Freire (1996) todo professor é também pesquisador. Além disso,
considero que minha atuação no PIBID – ciências sociais, que busca melhorar a
formação do licenciando e de extrema importância para minha formação, soma-se, com
mais ênfase, nesta etapa do estágio docente, pois aconteceu em consonância com as
45
regências ministradas para o mesmo. Pude estar de forma mais participativa nesta etapa
do estágio já que o contato com a sala de aula foi o maior já vivido até então, bem maior
que nas outras etapas e, considero as experiências vividas no PIBID como experiências
de relevância para este relatório. Por isso, dedico o próximo capítulo a elucidar melhor
minhas experiências. Assim as docências do PIBID se deram todas em turma de
primeiro ano, onde algumas vezes atuei sozinha outras vezes em dupla, trabalhando de
forma lúdica os temas pertinentes à sociologia.
Levando em consideração todas as minhas experiências que até aqui se
acumularam para que minha formação se desse da melhor forma, algumas questões me
saltam aos olhos e nelas me baseio para pensar minha formação docente e minhas
futuras práticas.
Entendo que a conclusão de todas as etapas do estágio supervisionado de
formação de professores, assim como do curso de ciências sociais(licenciatura) não vão
dar a resolução dos problemas da educação, não havendo uma fórmula mágica para se
lecionar. Mas este é o espaço de fomentar questões, levantar possibilidades das quais
estas serão desenvolvidas e postas em prática, para assim ver qual melhor se adequa
com o contexto educacional em que se atua. Já que o sucesso das práticas docentes
dependem de um conjunto de arranjos dos quais só é possível se fazer no momento em
que refletimos sobre a prática.
Mas estas questões não devem se restringir apenas aos estágios e ao curso de
ciências sociais, mas ao ser professor, pois tais práticas e arranjos feitos para melhoria
da prática docente e dos processos de ensino e aprendizagem se dão ao longo do tempo,
não obstante a formação do professor, que não deve apenas se basear no exercício de
tais práticas, mas também na formação, logo esta formação deve ocorrer de forma
continuada, assim o professor não deve perder sua curiosidade, Freire (1996) afirma que
“A curiosidade que silencia a outra se nega a si mesma também” (FREIRE, 1996, p.52).
Desta forma, a curiosidade deve ser mantida, a fim do professor se reinventar face
aos desafios da educação.
Se há uma prática exemplar como negação da experiência formadora é a que dificulta ou inibe a curiosidade do educando e, em consequência, a do educador. É que o educador que, entregue a procedimentos autoritários ou paternalistas que impedem ou dificultam o exercício da curiosidade do educando, termina por igualmente tolher sua própria curiosidade. Nenhuma curiosidade se sustenta eticamente no exercício da negação da outra curiosidade. (FREIRE, 1996, pág. 51).
46
Percebo que em toda minha trajetória docente seja nos estágios, no PIBID ou no
curso, uma questão sempre me preocupou e se fez presente em minhas práticas - a
questão metodológica, ou seja, como é trabalhada não só a disciplina de sociologia mas
a educação como um todo. Como atribuir a minha prática elementos que a tornem mais
dinâmica e interessante? Percebo que o melhor passo para se trabalhar esta questão é,
não só a reflexão sobre sua prática, mas também, a formação do professor, seja com
programas como o PIBID, seja pela reforma da estrutura curricular dos cursos de
licenciatura, tendo mais disciplinas voltadas a questão da educação, pois é na formação
onde este professor ou futuro professor tem os aportes suficientes para se
estudar/pesquisar temas pertinentes a educação seja ele qual for.
A escola Anísio Teixeira é considera uma escola modelo, com muitos incentivos
de diversos projetos como já citamos na introdução deste relatório. Pode-se perceber
que a relação entre toda comunidade escolar se faz de forma positiva. Há um corpo
docente comprometido, uma estrutura que em suma precisa melhorar, mas que ainda
assim, em face da situação de outras escolas, é boa embora tenha estudantes em sua
maioria apáticos.
V – PIBID – CIÊNCA SOCIAIS
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Como já citado neste trabalho, algo que se somou as minhas experiências de
formação docente foi minha participação no PBID – ciências sociais. Reitero que o
PIBID (programa institucional de bolsas de iniciação à docência) é um programa que
oferece bolsas para que alunos da licenciatura exerçam atividades pedagógicas em
escolas públicas de educação básica. Assim, este programa contribui não só para
formação do licenciando, mas, também, para melhoria da qualidade da educação
Brasileira. Vale reiterar que toda minha atuação no PIBID – ciências sociais aconteceu
na Escola Estadual Professor Anísio Teixeira, e se deu também em dois momentos um
em 2012 com minha primeira atuação no projeto, quando precisei sair do mesmo no fim
do ano por problemas pessoais, e em 2014 quando volto a fazer parte do projeto e estou
até hoje, concluindo e enriquecendo minha formação.
Tive a oportunidade de viver momentos diferentes assim como com receber
diferentes orientações de coordenações diferentes do projeto. Em 2012 tive a
oportunidade de contar com a coordenação e orientação do professor Gilmar Santana,
onde recebíamos as orientações de não atuar em sala de aula como docentes, mas sim de
atuar através de oficinas, onde trabalhávamos temas pertinentes a sociologia. Essas
oficinas eram divididas em subgrupos, os quais explicitarei melhor mais adiante. Já em
2014, com a orientação dos professores Ana Patrícia Dias e Douglas Araújo recebemos
as orientações de atuar juntamente com o professor da escola em sala de aula, tendo a
oportunidade de ministrar aulas através do esquema de sequência didáticas, mas
também atuando em subgrupos.
Os trabalhos dos subgrupos se deram da mesma forma desde que o projeto
começou a atuar nas escolas, salvo as diferenciações feitas e já citadas através das
orientações dos professores coordenadores do projeto segundo edital de atuação. Assim
o PIBID – ciências sociais atua nas escolas através de três subgrupos, onde todos
buscam elucidar os temas da sociologia, seja trabalhando por oficinas, seja nas
regências em sala de aula, não descartando a importância dos dois modelos para
formação docente. Desta forma, três subgrupos atuam para o andamento do projeto o de
Imagem, o de Leituras e de Teatro do Oprimido.
O subgrupo de Imagens busca trabalhar os temas da sociologia através do uso do
recurso imagético, seja ele através da construção da imagem, da apreciação de filmes ou
fotografias, dentre os mais variados aspectos. Já o subgrupo de Leituras trabalha os
temas da sociologia à luz das mais diversas formas de leitura, desde uma imagem, de
poesias, músicas ou até mesmo com dinâmicas, a fim de incentivar o hábito da leitura.
48
Por fim, o subgrupo de Teatro do Oprimido busca trabalhar os temas pertinentes a
sociologia através do uso das dinâmicas do teatro do oprimido criado por Augusto Boal.
Desta forma, estas dinâmicas que trabalham o corpo e o trabalho em equipe,
proporcionam um ambiente mais dinâmico e sem opressões para se trabalhar em sala de
aula.
Com tantas possibilidades de acrescentar as experiências do PIBID – ciências
sociais à minha formação docente, tive a oportunidade de participar de dois subgrupos.
Com o grupo de Leituras, participei do projeto em 2012, e, assim, atentei para a questão
do déficit de leitura que os alunos da escola apresentavam, e onde inclusive usei os
saberes adquiridos nesta experiência para pôr em prática uma oficina de incentivo à
leitura no estágio supervisionado para formação de professores II. Atualmente participo
do subgrupo de teatro do oprimido, que visa como já citado usar dinâmicas do teatro do
oprimido para trabalhar os temas da sociologia, pensando a nossa integração não apenas
como seres sociais, mas como corpos atuantes na sociedade. Creio que está última
experiência somada as sequências didáticas e as regências que acontecerem
simultaneamente, na última etapa do estágio docente, foram de grande valia fazendo
com que me sentisse mais à vontade corporalmente dentro da sala de aula, desde a
projeção da voz, até mesmo ao trânsito dentro de sala de aula, já que as dinâmicas
trabalhadas visam em suma ao trabalho em equipe. Me senti parte de uma equipe eu e
os estudantes, onde ambos construíamos não só saberes que seriam apreendidos pelos
estudantes, mas construíamos também minhas regências e minha formação docente.
Considero minha participação no PIBID – ciências sociais, um ponto
fundamental de minha formação docente, pois foi nele onde melhor fomentei minhas
preocupações metodológicas com a educação e a regência em sala de aula, tendo a
oportunidade de pensar, repensar e botar em prática algumas ações e estratégias para se
tentar não só somas a minha formação, mas, também, ajudar a melhorar o ensino de
sociologia no ensino médio e a educação como um todo. Desta forma julgo o PIBID
uma ferramenta fundamental para a formação do licenciando hoje, tendo um Pibidiano
uma formação diferenciada e mais completa, pois foi no projeto onde puder refletir
melhor sobre todos os entraves da docência e de como poderia com minha prática fazer
a diferença. Sendo o PIBID uma verdadeira revolução na história das licenciaturas, pois
é a partir dele que esta é melhor pensada de forma objetiva, atrelando a formação do
licenciando e a prática.
49
VI – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Aponto que a experiência do estágio é fundamental na formação do licenciando,
contribuindo de forma ímpar para pensar nossas primeiras inspirações em nosso fazer
50
docente. Assim, o estágio consiste não só como uma etapa obrigatória para formação,
mas também para se pensar a vida, pois como escolha profissional, o ser professor é
algo que fará parte de nossa vida. Assim, o estágio é o início de tudo, é como nascer,
dele partem nossos primeiros passos de nossa carreira docente.
Mas não levo apenas as experiências do estágio para se desenvolver as
competências necessárias à boa formação docente, pois mesmo de forma bem orientada
considero que estes não sanam totalmente as necessidades dessa formação. Todavia,
importo que há um déficit em nossa estrutura curricular, uma vez que a formação do
licenciando deveria ser pensada de forma mais acompanhada em relação as disciplinas
de educação, já que estas são ofertadas tardiamente, devendo, em minha opinião, serem
ofertadas desde o primeiro semestre do curso.
Assim como, as disciplinas voltadas especificamente à educação, uma atividade
que nos é cobrada logo no primeiro semestre é uma etnografia, não deixando de lado a
importância desta atividade, a mesma deveria ser voltada a área da educação, assim
como são postas em prática as observações com inspirações etnográficas feitas para a
primeira etapa do estágio. Portanto, com a oportunidade de se fazer uma etnografia
sobre a escola ou qualquer tema pertinente a educação logo no primeiro semestre, nos é
dada a oportunidade de nos apoderarmos mais sobre as competências necessárias para
uma boa prática docente.
Considero também que deveriam se ter mais disciplinas em relação a questões
didáticas e as questões metodológicas, pois em relação a estas duas nos é ofertada
apenas uma disciplina. Sendo a regência algo que considero central em minha formação
e as questões metodológicas de extrema importância para se pensar minha prática, como
explicitadas no presente trabalho, logo estas disciplinas voltadas a esta área enriqueceria
ainda mais a formação da licenciatura.
As orientações recebidas na disciplina de estágio na UFRN serviram para me
guiar, busquei aproveitar da melhor forma possível os saberes apreendidos nesta
experiência, somando-se aos maiores aprendizados que foram retirados das experiências
em sala de aula, onde aprendi que, assim como Freire, na prática docente mais se
aprende do que se ensina. Portanto, a formação docente não se encerra aqui, e sim
apenas se inicia, sendo ela consolidada a cada aula, com um novo aprendizado sempre.
51
52
“Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade
muda”.
Paulo Freire
REFERÊNCIAS
ANASTASIUO, LÉA DAS GRAÇAS CAMARGO E ALVEZ, LEONI PESSATE. PROCESSOS DE ENSINAGEM NA UNIVERSIDADE. PRESSUPOSTOS PARA AS ESTRATÉGIAS DE TRABALHO EM AULA. JOINVILLE, SC:UNIVILLE, 2003.
53
PETIT, MICHELE. QUAIS LEITURAS IN: A ARTE DE LER. SÃO PAULO: EDITORA. SÃO PAULO: EDITORA 34, 2008.
PETIT, MICHELE. “O PAPEL DO MEDIADOR”. OS JOVENS E A LEITURA: UMA NOVA PERSPECTIVA. SÃO PAULO: EDITORA 34, 2008.
FREIRE, PAULO. EDUCAÇÃO COMO PRÁTICA DA LIBERDADE. ED. PAZ E TERRA LTDA. RIO DE JANEIRO. 1967.
DONDIS, DONIS A. SINTAXE DA LINGUAGEM VISUAL. SÃO PAULO: MARTINS FONTES, 2003.
FREIRE, PAULO. PEDAGOGIA DA AUTONOMIA. 1996. ANO DA DIGITALIZAÇÃO 2002.
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LIBÂNEO, JOSÉ CARLOS. DIDÁTICA. SÃO PAULO: CORTEZ, 1994.VII. ANEXOS
HAYDT, REGINA C. C. CURSO DE DIDÁTICA GERAL. 8º ED. SÃO PAULO: ÁTICA, 2006.
LÉVI-STRAUSS, CLAUDE. DE PERTO E DE LONGE. TRADUÇÃO DE LEA MELLO E JULIETA LEITE. SÃO PAULO: COSAC NAIFY, 2005.
MASETOO, MARCOS, DIDÁTICA. A AULA COMO CENTRO. 4º ED. SÃO PAULO. FTD, 1997.
MARTÍN–BARBERO, JÉSUS. DESAFIOS CULTURAIS DA COMUNICAÇÃO À EDUCAÇÃO. COMUNICAÇÃO & EDUCAÇÃO, SÃO PAULO, N 18, P -51-56, MAIO/AGO.2000.
VELHO, GILBERTO. ‘OBSERVANDO O FAMILIAR’. CAP. 9 IN INDIVÍDUALISMO E CULTURA. RJ: JORGE ZAHAR. 1987. PP. 121-132.ANEXOS
ANEXO 1 – PROJETO DE INTERVENÇÃO TRABALHADO NO ESTÁGIO SUPERVISIONADO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES II.
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PROJETO DE INTERVENÇÃO ESTÁGIO SUPERVISIONADO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES – II2. Projeto:
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTECURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
DEPARTAMENTO DE PRÁTICAS EDUCACIONAIS E CURRÍCULOESTÁGIO SUPERVISIONADO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES II
DOCENTE: ELDA SILVA DO NASCIMENTO MELODISCENTE: ANA IZABEL BEZERRA HISTER PONTES
GLICIANE XAVIER AZEVEDO
PROJETO DE INTERVENÇÃO – CONSTRUINDO UM GRUPO DE LEITURA
IDENTIFICAÇÃOA escola que iremos realizar o projeto de intervenção é a escola campo de estágio,
Escola Estadual Professor Anísio Teixeira, situada na Rua Trairi – 480, Petrópolis, na
cidade de Natal. Sendo um estabelecimento mantido pelo estado do Rio Grande do
Norte e gerenciado pela Secretaria de Educação e Cultura /SEEC/RN. Criada pelo
decreto – Lei 6.480, no dia 18 de setembro de 1974, portaria de funcionamento nº
282176 de 16/12/1976 no Diário oficial nº 3.907.
Localizada em bairro central da cidade de Natal ela atende os estudantes da Zona Norte,
Felipe Camarão, Mãe Luiza e de cidades vizinhas, como Macaíba. Sendo a maioria de
uma condição econômica desfavorecida. Nesse projeto a amplitude de alunos
envolvidos são dois turnos, matutino e vespertino, aqueles que se sentirem dispostos a
participar.
Intencionamos permanecer ativo na escola durante o mês de outubro do ano corrente
(2013), havendo atuações participantes em um dia de cada semana do mês no horário
vespertino das terças-feiras, pretendemos alcançar um grande número de alunos da
escola.
JUSTIFICATIVAElaboramos este projeto de intervenção com a finalidade de possibilitar um espaço
maior para a fala do estudante. No estágio supervisionado de formação de professores I,
55
em Ciências Sociais, que antecede o estágio atual, notamos por meio de observação
direta da escola, referindo a estrutura, documentos legais, entrevista com os alunos e
observação da sala de aula uma vaga ausência da expressão estudantil, especialmente
em sala de aula.
Nas aulas vimos que o conhecimento parecia se apresentar como sendo estagnado e que
os estudantes sentiam dificuldades em dialogar com os conteúdos, mesmo diante da
metodologia do professor que aproximava por meio de desenhos e explicação oral o
conteúdo para a realidade vivida. Acreditamos que o conhecimento não ocorre por
transmissão, mas por diálogo, diante disso pretendemos abrir um maior espaço para a
fala do estudante na intervenção.
O trabalho será realizado na biblioteca da escola, um bom espaço, porém pouco
utilizado. Michele Petit em seu texto O papel do mediador, no livro Os jovens e a leitura
fala a respeito da importância das bibliotecas e até mesmo sobre sua disposição e
maneira de organização, o quanto influencia e possibilita a leitura, analisando as ideia
propostas por ela consideramos relevante formar um grupo de leitura no espaço da
biblioteca.
Encontramos na escola vários leitores dos mais diversos gêneros e enxergamos uma
possibilidade da ampliação da leitura e partilha dela, com isso, intencionamos formar
um grupo de leitura narrativa na/para a escola. A criação desse grupo será uma tentativa
de possibilitar a partilha e construção dos saberes. Paulo Freire diz que partindo da
realidade do educando podemos construir saberes, diante disso resolvemos pegar as
leituras dos educando, o material deles, e estudar sobre elas, encontramos sociologia em
todos os campos, disso, certamente, encontraremos sociologia na leitura dos educandos,
basta apenas desvelar.
Petit ainda em seu texto trabalha a importância do mediador, se referindo a ele com um
retirado de pedras, um facilitador de diálogos, logo, são pessoas que tornam o
conhecimento flexível e próximo do leitor. Com o grupo de leitura narrativa
encontraremos mediadores entre os educandos, e entre si, haverá diálogo. O
desvelamento será apenas “sociologizar” aquilo que eles já leem e são íntimos.
O grupo que se forma neste processo de intervenção servirá para apoiar um incentivo à
leitura, um ponto de partida para aqueles não possuem o costume da leitura e um
incentivo para aqueles que já tem o hábito da leitura. Quando pensamos em leitura
compartilhamos da ideia de Paulo Freire, de que somos leitores do mundo, indo além da
leitura de letras, lemos os mais diversos recursos e o mais importante é atuar sobre eles.
56
OBJETIVO GERAL
Criar um grupo de leitura narrativa na escola que após a finalização desse estágio possa
continuar e criar forma e obter espaço dentro da escola. Possibilitando um ambiente
para discussões de literaturas e gêneros escritos variados.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Mostrar que a sociologia está presente nos variados lugares e que
eles a fazem;
Incentivar a leitura de livros, seja ele qual for;
Possibilitar o diálogo e a construção de saberes;
Permitir o diálogo de culturas e visões de mundo diferentes;
Considerar que todos possuímos conhecimento e podemos
acrescentar ao conhecimento dos demais e
Provocar curiosidade para que eles sintam vontade de buscar mais
nos/dos livros.
METODOLOGIA
A intervenção será voltada para os alunos da manhã, mas o que não impede a
participação de todos os alunos da escola. Antes do início efetivo do grupo de leitura
haverá divulgação nas salas (manhã e tarde) e por meio de cartazes na escola. Durante a
divulgação iremos fazer uma contabilidade bem superficial sobre a quantidade de
alunos leitores na escola, por meio de perguntas aos estudantes em sala.
Durante a divulgação em sala iremos questionar se alguém ali já leu algum livro, se a
resposta for positiva iremos convidá-lo a contar a história do livro a outras pessoas e se
a resposta for negativa iremos convidá-los a escutarem as histórias dos livros para talvez
despertar a curiosidade e a vontade de ler.
1ª ENCONTRO
Iniciaremos a intervenção/grupo com a apresentação dos presentes e uma breve
conversa para sabermos se ele leu e quais livros, e porquê de terem ido participar do
grupo. A apresentação será em forma de dinâmica (batizado mineiro) para um
envolvimento maior entre todos. (15min)
Após essa apresentação iremos exibir o vídeo de Incentivo a Leitura
(http://www.youtube.com/watch?v=W8dJU6hIFZA), que parte de uma visão contrária a
que somos acostumados. Seguido de uma discussão do que acharam do vídeo. (20 min)
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Logo em seguida da discussão iniciaremos uma exposição de fotografias (ver abaixo),
pediremos que os estudantes coloquem legenda nas fotos expostas, eles irão utilizar
tarjetas disponibilizadas por nós para escreverem as legendas, as fotos serão impressas e
compartilhadas na roda, modelo de grupo que iremos trabalhar.
Realizada a atividade questionaremos os motivos de tais legendas assim gerando um
debate, discutiremos que não se ler apenas livros, mas que a leitura estar na nossa visão
de mundo e nos demais recursos. Inclusive a imagem 20 mim)
Após debate finalizaremos a intervenção, constrindo uma lista das pessoas interessadas
e comprometidas a apresentar no próximo encontro algum livro já lido. Faremos uma
breve avaliação do projeto, conversando com os participantes para saber o que acharam,
esperam e propõe para o próximo encontro. (5min)
2º ENCONTRO
Veja as poesias a baixo:
A Genialidade da MultidãoCharles Bukowski
Aqueles Que Pregam DEUSPRECISAM de DeusAqueles Que Pregam PAZNão têm paz.AQUELES QUE PREGAM AMORNÃO TÊM AMORCUIDADO COM OS PREGADORESCuidados com os Sabedores.
CuidadoCom Aqueles QueEstão SEMPRELENDOLIVROS
Cuidado Com Aqueles Que Detestam PobrezaOu Que São Orgulhosos Dela
CUIDADO Com Aqueles Que Elogiam FácilPorque Eles Precisam De ELOGIOS De Volta
CUIDADO Com Aqueles Que Censuram Fácil:Eles Têm Medo Daquilo QueNão Conhecem
Cuidado Com Aqueles Que Procuram Constantes Multidões; Eles Não São Nada Sozinhos...
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Minha cidade cada vez melhor - Política
Há muito o que fazerpara que minha cidade seja cada vez melhor.É necessário que:Haja saúde e educação de qualidade;Formação técnica e emprego para a juventude;As crianças e os idosos sejam bem tratados;As ruas continuem sendo pavimentadas;As escolas reformadas;A saúde do povo cuidada;Atenção à educação dedicada;A vontade do povo expressada;A violência combatida;A vida defendida.Marinalva da Silva AlmadaCaxias, MA
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Faremos um sorteio para escolher aleatoriamente os leitores das poesias, elas estarão em local
que contém também papeis em branco. (10min)
Feito o sorteio e as leituras das poesias pediremos que as pessoas que se dispuseram a
apresentar os livros que leram ou estão lendo comecem suas apresentações, visamos que haja
três apresentações por parte dos estudantes, onde ocorrerá mediação deles próprios para com
os textos e nossa para com os assuntos referentes a sociologia e a todos os assuntos que se
referem ao cotidiano. Idealizamos que a cada apresentação realizada possa haver uma
discussão a respeito da visão de cada (45min)
Para finalizarmos mais um encontro pediremos que cada um escolha um livro da biblioteca, o
que ele quiser, após escolha feita diremos que sejam criativos para a apresentação do livro, ou
capítulo, que será de forma livre. Avaliamos a intervenção realizada com base no que os
participantes acharam. (5 min)
3º ENCONTRO
Deixamos os alunos livres para a apresentação do livro que escolheram, esperamos dessa
intervenção algo lúdico pois eles poderão usar de música, poesia, teatro, mímica, tirinha,
charge, apresentação oral e daquilo que sua criatividade permitir. O decorrer da intervenção
dependerá muito mais dos participantes do grupo que dos elaboradores do projeto. A esses
últimos caberá apenas a mediação e algum conceituação daquilo que se fizer necessário.
(55min)
Posteriormente as atividades faremos uma avaliação juntamente com os participantes para
analisarmos o projeto. Em seguida abriremos uma votação para a escolha de um livro que
dessa vez será lido por todos os envolvidos que será discutido no próximo encontro. (5min)
Propomos que se alguém quiser doar um livro ou trocar que traga para o próximo encontro.
4º ENCONTRO
Iniciaremos de forma dinâmica, pedindo que cada um escreva em um papel uma palavra que
retrate sua opinião da ideia do livro, já escrito cada um colocará sua opinião dentro de uma
bexiga que será misturada com as demais, após um tempo cada um pegará uma bexiga que
não seja sua estourará e irá compartilha a palavra escrita dizendo o que acha.
Seguindo a dinâmica faremos uma breve discussão sobre individualidade e coletividade,
construindo com os alunos que mesmo diante de uma mesma leitura há individualidades, pois
cada um tem uma forma de socialização. (15min)
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Logo em seguida pediremos que as pessoas peguem seus papeis e expliquem o porquê de ter
escrito ela, qual a opinião que extraiu do livro, o que achou e se ver alguma ligação com seu
cotidiano. (35min)
Realizada a intervenção nos propomos a sortear alguns livros de gêneros diversos, com o
intuito de incentivo à leitura, provavelmente contaremos com os livros trazidos pelos próprios
participantes para realizar trocas ou doações.
Nesta última avaliação obteremos dos participantes suas opiniões do projeto de intervenção,
questionaremos as expectativas para a continuação do grupo de leitura narrativa a escola,
podemos pensar junto aos envolvidos as formas de organizar o grupo, como nome para ele e
escolha de um representante para o mesmo. (10min)
RECURSOSVídeos: http://www.youtube.com/watch?v=W8dJU6hIFZAImagens impressasPoesias impressasComputador/notebookCaixas de som RetroprojetorLivros comprados com recursos pessoais
AVALIAÇÃOAvaliaremos o projeto de intervenção com a ajuda dos alunos participantes após o término de
cada encontro, como também por observações de quem o executará. As observações serão
voltadas para a participação dos estudantes na intervenção, a aceitação dos participantes e o
interesse de estar ali e continuar o projeto. Quanto a leitura e aprendizado do estudante,
observaremos nas análises feita por eles das próprias leituras realizadas e narrações feitas aos
demais. Avaliar-nos-emos quanto mediadores do grupo, consideraremos se soubemos
aproveitar cada fala trazida pelos estudantes e se conseguimos desvelar cada visão natural das
leituras.
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. “A Sociedade em Transição”. Educação como Prática da Liberdade. Ed. Paz
e Terra LTDA. Rio de Janeiro. 1967.
FREIRE, Paulo. “Ensinar não é transferir conhecimento”. Pedagogia da Autonomia. Ano da
publicação Original: 1996. Ano da digitalização: 2002
PETIT, Michele. “O papel do mediador”. Os jovens e a leitura: uma nova perspectiva. São
Paulo: Editora 34, 2008.60
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ALMEIDA, Fernando José de. Folha Explica: Paulo Freire. ED. Publifolha
http://agal-gz.org/blogues/media/blogs/pega/Guia.pdf (acessado em 19/09/2013)
CRONOGRAMA
ATIVIDADE DATAS - 2013
Apresentação do projeto – Escola 30/09
Divulgação 01.02.03.04/09
Preparação do material para a intervenção - Universidade 07/10
Intervenção – 1º Encontro – Escola 08/10
Intervenção – 2º Encontro – Escola 15/10
Intervenção – 3º Encontro – Escola 18/10
Intervenção – 4º Encontro – Escola 25/10
Avaliação do projeto 30/10
4. FOTOGRAFIAS DE ALGUMAS ATIVIDADES COM OS ALUNOSIMAGEM LEGENDADA PELOS ESTUDANTES
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IMAGENS DAS INTERVENÇÕES:
ANEXO 2 – UM DOS PLANOS DE AULA UTILIZADOS.
PLANO DE AULA
Escola: escola estadual professor Anísio Teixeira Turma: 1º “F” Vespertino
Professora: Ana Izabel Bezerra Hister Pontes
1. TEMA
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Fato social em Durkheim.
2. OBJETIVOS
Trazer a luz o conceito de “fato social” na visão de Émile Durkheim. E dessa forma como
estes toma pode nos ajudar a pensar melhor e entender nosso vida em sociedade. De forma a
trazer o cotidiano do estudantes para que possa ser melhor entendido os temas abordados.
3. CONTEÚDOS
Fato social e instituições.
4. DURAÇÃO
A duração da aula será de 50 mim.
5. RECURSOS
Vídeo
Joguinho de perguntas e respostas
6. METODOLOGIA
Apresentação 5mim
Vídeo 5mim (http://www.youtube.com/watch?v=k8F3_u5QVKw)
Exposição 20mim
10 joguinho de perguntas e respostas 10 mim
Exercício reflexivo, escrever em poucas linhas, o que se entendeu sobre fato social 10 mim
8. REFERÊNCIAS
OLIVEIRA, Pérsio S. Introdução á sociologia. São Paulo, Ática, 2003.
COSTA, Cristina. Sociologia, introdução á ciência da sociedade. São Paulo. Ed. Moderna, 2000.
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http://www.youtube.com/watch?v=k8F3_u5QVKw
8.1 imagens usadas nas aulas
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ANEXO 3 – BANNER APRESENTADO PARA EVENTO DA DISCIPLINA DE ESTAGIO SUPERVISIONANDO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES II.
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ANEXO 4 – FOTOS DA ESCOLA.
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ANEXO 5 – MATERIAL COMPLEMENTAR UTILIZADO
Sociologia
I – Contexto Histórico
A sociologia propriamente dita é fruto da Revolução Industrial, e nesse sentido é chamada de "ciência da crise" - crise que essa revolução gerou em toda a sociedade européia. Ela é fruto de toda uma forma de conhecer e pensar a natureza e a sociedade, que se desenvolveu a partir do século XV, quando ocorreram transformações significativas como a expansão marítima, reformas protestantes, a formação dos Estados nacionais, as grandes navegações e o comércio ultramarino, bem como o desenvolvimento científico e tecnológico que desagregaram a sociedade feudal, dando origem à sociedade capitalista. No séc.XVIII, a burguesia comercial, torna-se uma classe com muito poder, devido, na maior parte das vezes, às ligações que mantinha com os monarcas, em questões econômicas. O capital mercantil vai se expandindo em diversos ramos de atividade. Ao se desenvolver a manufatura, torna-se necessário o desenvolvimento de novas técnicas de produção. Surgem máquinas de tecer, descaroçar algodão, bem como a aplicação industrial da máquina a vapor. Aparece aí o fenômeno chamado de maquinofatura. O trabalho antes realizado com as mãos ou com ferramentas passa
agora a ser feito por meio de máquinas, elevando o volume de produção. A máquina a vapor incentivou o surgimento da indústria construtora de máquinas.A consolidação do sistema capitalista na Europa contribuirá para o surgimento da sociologia como ciência particular. O pensamento de Saint-Simon, G.W.E.Hengel, David Ricardo, Auguste Comte e Karl Marx desenvolveram reflexões sobre a sociedade de maneiras radicalmente divergentes.
Conseqüências da Industrialização(Rev. Industrial):
Consolidação do sistema capitalistaGrande massa de operáriosAvanço tecnológico constanteOperário # ArtesãoJornada intensa de trabalhoConflito: Patrão (capitalista) X Operário (proletário)Rápido crescimento das cidades
II - Conceito de Sociologia:
É o estudo científico das relações sociais, das formas de associação, destacando-se os caracteres gerais comuns a todas as classes de fenômenos sociais, fenômenos que se produzem nas relações de grupos entre seres humanos. Estuda o homem e o meio ambiente em suas interações recíprocas. Ela se baseia em estudos objetivos que melhor podem revelar a verdadeira
natureza dos fenômenos sociais. Ela é, desta forma, o estudo e o conhecimento objetivo da realidade social. Como exemplos, podemos citar a formação e desintegração de grupos, a divisão da sociedade em camadas, a mobilidade de indivíduos e grupos nas camadas sociais, processos de competição e cooperação. III – Pensadores
Augusto Comte (1798-1857)→ Era francês, nasceu durante o período transformações políticas e sociais decorrentes da Revolução Francesa (1789) onde a sociedade estava se ajustando a nova realidade pós-revolucionária. Buscava criar uma ciência denominada por ele de Sociologia, que deveria ter objetividade e a cientificidade como nas demais ciências. O objeto de estudo da sociologia segundo Comte, deveria ser as relações humanas, analisando e propondo normas de comportamento.
Principais obras: Curso de Filosofia Positiva(1830-1842) e Política Positiva (1851-1854).
Herbert Spencer (1820-1903)→ Engenheiro e filósofo socialista inglês nascido em Derby, Derbyshire, cujo pensamento influenciou as filosofias vitalistas posteriores. Autodidata, estudou com o pai e adquiriu uma boa formação científica. Trabalhou como engenheiro nas ferrovias britânicas e posteriormente colaborou em diversas
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publicações até que foi nomeado subdiretor do The Economist (1848). Alcançou prestígio nos círculos intelectuais com a publicação de Social Statics (1851). Com a herança de um tio (1853), deixou o emprego e se dedicou ao estudo dos fenômenos sociais, que tratou sob perspectiva científica e morreu em Brighton. Expôs a primeira parte desses estudos em The Principles of Psychology (1855) e The Synthetic Philosophy uma obra em vários volumes: First Principles (1862), de The Principles of Biology (1864-1867, dois volumes ), The Principles of Psychology (1870-1872, edição ampliada), The Principles of Sociology (1876-1896, três volumes) e The Principles of Ethics (1892-1893, dois volumes). 1820-1903).
Sociologia segundo Spencer:
Ciência das generalizações Estabelece a Teoria Geral
partindo das origens para as fases mais evoluídas
Idéia fundamental de Spencer:
evolução: passagem da homogeneidade indefinida e incoerente à heterogeneidade definida e coerente
exemplo: uma tribo igual em todas as partes evolui para uma nação civilizada, repleta de diferenças estruturais e funcionais.
a integração e a heterogeneidade progressiva faz aumentar a coerência do grupo
Fórmula da Evolução:
Início: organização social vaga Progresso: convenções cada vez mais precisas / costumes que se transformam em lei / leis que se tornam cada vez mais rígidas e específicas
"A evolução social e o progresso independem da
vontade humana" - Spencer
Sociedade = organismo evoluído (superorganismo), tendendo ao equilíbrio e interdependência entre as partes, inclusive com grupos sociais diferentes.
"A sociedade existe para o proveito de seus membros. Os membros só existem para o proveito da sociedade." - Spencer
Crescimento social:
Na medida em que a sociedade cresce as partes ficam mais heterogêneas e a estrutura fica mais complexa. Surgem funções específicas por partes criando a interdependência entre as partes. A cooperação passa a ser o objetivo de toda a sociedade.
Homogeneidade: característica das sociedades primitivas (mais independência entre as partes)
Heterogeneidade: característica das sociedades evoluídas (mais interdependência entre as partes)
Obras:
Estática Social (1850)Primeiros Princípios (1862)O Estudo de Sociologia (1873)Sociologia Descritiva (1974)Princípios de Sociologia (1876)Instituições Cerimoniais (1879)Instituições Políticas (1882)Homem X Estado (1884)Instituições Eclesiásticas (1885)Fatores da Evolução Orgânica (1886)Inadequabilidade da Seleção Natural (1893)
Outras obras:
Teoria da População (1852)Desenvolvimento da Hipótese (1853)Princípios de Psicologia (1855)Princípios de Biologia (1864 - 67)Dados de É tica (1879)Justiça (1891)
Karl Marx (1818-1883)→Filosofo e economista, nasceu Trier, Alemanha. Considerava que não se pode pensar a relação indivíduo-sociedade separadamente das condições materiais em que essas relações se apóiam, as condições materiais de toda sociedade condicionam as demais relações sociais.
O estudo de qualquer sociedade deveria partir justamente das relações sociais que os homens estabelecem entre si para utilizar os meios de produção e transformar a natureza. Essas relações sociais são a base que condiciona todo o resto social. A produção é a raiz de toda estrutura social. A classe na qual o indivíduo está inserido (burguesa ou proletária) é que condiciona, de
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maneira decisiva, nossa atuação social.
Segundo Marx, o cientista social pode desempenhar um papel político revolucionário, a ciência tem um papel político necessariamente crítico em relação à sociedade capitalista, devendo ser um instrumento não só de compreensão, mas também de transformação da realidade.
A classe proletária (operários) teria um papel político revolucionário.
Classes sociais: conflito entre classes sociais antagônicas e interdependentes (proletários X capitalistas).
Modo de produção é formado pela a relação de trabalho e as forças produtivas (conjunto dos meios de produção mais a força de trabalho). É a maneira como uma sociedade produz seus bens e serviços, como os utiliza e como os distribui.
O método de Marx é o materialismo histórico.
Principais obras: O capital(1867-1894), Manuscritos Econômicos-filosóficos (escrito em 1844 e publicado em em 1932), A Ideologia Alemã ((1845-1846), Manifesto Comunista (1848) entre outras obras.
Durkheim (1858-1917)→ Émile Durkheim, sociólogo francês, estudou na École Normale Supérieure de Paris, doutorando-se em filosofia. É considerado o fundador da Sociologia moderna. Foi um dos primeiro a estudar mais profundamente o suicídio, o qual, segundo ele, é praticado na maioria das vezes
em virtude da desilusão do indivíduo com relação ao seu meio social.
Segundo Durkheim, a sociedade prevalece sobre o indivíduo, condiciona e controla as ações individuais.
Instituição é para ele um conjunto de regras e normas de vida que se consolidam fora dos indivíduos e que as gerações transmitem umas as outras. As instituições condicionam e ensinam o indivíduo a viver em sociedade e a seguir suas regras, perpetuando a sociedade. Ex.: exército, família, igreja, escola.
O sociólogo deve ter uma postura neutra ao estudar os fatos sociais, estes devem ser tratados como “coisas”, os fatos sociais são o objeto de estudo da sociologia.
Os fatos sociais são as maneiras coletivas de fazer, pensar e sentir impostas coercitivamente ao indivíduo. Todos os processos de interação humana são fatos sociais.
O sistema sociológico de Durkheim baseia-se em quatro princípios:1) A Sociologia é uma ciência independente das demais Ciências Sociais e da Filosofia.2) A realidade social é formada pelos fenômenos coletivos, considerados como “coisas”.3) A causa de cada fato social deve ser procurada entre os fenômenos sociais que o antecedem. Para explicar o fenômeno social, deve-se procurar sua causa.4) Todos os fatos sociais são exteriores aos indivíduos, formando uma realidade específica. Segundo Durkheim, o seu humano é um animal que
só se humaniza pela socialização.
Características do fato social:Coerção → pode ser de duas formas: Sanção legal é a que está na lei e a Sanção espontânea é a reação negativa a uma certa forma de comportamento.Exterioridade → existe antes do indivíduo nascer e independe dele.Generalidade → são gerais, se não atinge a todos os indivíduos, aplica-se pelo menos a maioria deles.
Suas principais obras são: A divisão do trabalho social (1893), As regras do método sociológico(1894), O suicídio (1897).
Max Weber (1864-1920) → Sociólogo alemão, foi professor de economia e participou da comissão que redigiu a Constituição da República de Weimar. Fundou a disciplina Sociologia da Religião, fazendo um estudo comparado da História da Economia e da História das Doutrinas Religiosas. Investigou como as doutrinas religiosas influenciaram no campo econômico, principalmente na formação do espírito capitalista.
Segundo Weber, o indivíduo deveria ser unidade de análise, por ser ele o único que pode definir intenções e finalidades para seus atos. O ponto de partida da Sociologia é a compreensão da ação dos indivíduos, atuando e vivenciando situações sociais com determinadas motivações e intenções. A análise recaí sobre os autores e suas ações. A
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sociedade pode ser compreendida a partir do conjunto das ações individuais reciprocamente referidas.
Objeto da sociologia weberiana é a Ação Social, ou seja, qualquer ação que o indivíduo pratica orientando-se pela ação de outros. Só existe ação social quando o indivíduo tenta estabelecer algum tipo de comunicação, a partir de suas ações, com os demais.
Tipos de ação social:a)Ação social tradicional – aquela determinada por um costume ou um hábito arraigado. Ex.:o tênis que sempre compra, que a família sempre compra;b)Ação social afetiva – aquela determinada por afetos ou estados emocionais. Ex.:comprar um tênis que mais gosta;c)Ação social racional com relação a valores – determinada pela crença consciente num valor considerado importante, independentemente do êxito desse valor na realidade. Ex.: comprar um tênis pela marca independentemente do preço ou funcionalidade.d)Ação social racional com relação a fins – determinada pelo cálculo racional que estabelece fins e organiza os meios necessários. Ex.: comprar um tênis que mais se adequa a determinado esporte ou o custo benefício.
Principais obras: A ética protestante e o espírito capitalista (190-5) e Economia e sociedade (publicada em 1922).
Bibliografia
OLIVEIRA, Pérsio S. Introdução à sociologia. São Paulo, Ática, 2003.
COSTA, Cristina. Sociologia, introdução à ciência da sociedade. São Paulo. Ed. Moderna, 2000.
Conceitos Básicos Para a compreensão da vida em sociedade(Pérsio Santos)
Mudança Social
Mudança Social é qualquer alteração nas formas de vida de uma sociedade. Nenhuma sociedade é perfeitamente igual a si mesma em dois momentos sucessivos de sua história.Ex.: Sociedade brasileira, ela era escravocrata e depois da abolição da escravidão ela se tornou uma sociedade baseada no trabalho livre.
Mudança social e relações sociais
Pela mudança social alteram-se as relações sociais. As modificações por que por que passou a família, por exemplo, levaram a uma menor distância social entre pais e filhos. As relações que na família patriarcal, supunham uma grande obediência dos filhos foram substituídas em boa parte por uma amizade entre pais e filhos.
No ritmo das mudanças sociais
O ritmo das mudanças sociais varia de sociedade para sociedade: é lento nas sociedades mais simples, como
as pequenas comunidades isoladas, e acelerado e até vertiginoso nas sociedades contemporâneas complexas, como as grandes cidades.
O ritmo de mudança depende do maior ou menor número de contatos sociais com outros povos, do desenvolvimento dos meios de comunicação e também de certas atitudes individuais e sociais, que aceleram ou dificultam a mudança. A multiplicidade de contatos com outros povos de costumes, padrões de vida e técnicas diversas faz acelerar as mudanças sociais.
Se é fato incontestável que a sociedade está sempre em mudança, lenta ou acelerada, também é certo que as mudanças não têm o mesmo ritmo em todos os setores das atividades sociais. Por exemplo, uma sociedade substitui mais facilmente um utensílio ou uma maquina do que uma crença, um aspecto cultural, um modo de vida.
Causas da mudança social
A mudança social se estabelece de duas formas:Por forças endógenas ou internas – isto é, por mudanças originadas dentro da própria sociedade – que as invenções;Por forças exógenas ou externas – quando são provenientes de outras sociedades – que é a difusão cultural.Invenções – primeiramente vamos diferenciar invenção de descoberta. Descoberta é a aquisição de um novo
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conhecimento, de uma informação nova. Invenção é o elemento ativo, é a aplicação da descoberta. Dizemos: descoberta da eletricidade e invenção da lâmpada; descoberta da energia atômica e invenção da bomba atômica. Assim a mera descoberta não modifica a cultura ou a sociedade. Isso decorre de sua aplicação, isto é, da invenção. Toda invenção pertence a uma sociedade determinada. Embora não seja a sociedade em conjunto que invente, mas sim os indivíduos, a sociedade fornece as bases, pois todo inventor utiliza o conhecimento acumulado de sua cultura. Cada geração não parte da estaca zero, mas de uma herança social transmitida. O patrimônio cultural e a necessidade social e que geram as invenções. Provavelmente teria sido impossível a Einsten elaborar a Teoria da Relatividade se tivesse nascido entre os esquimós, por exemplo. Isaac Newton, com a humildade características dos sábios, disse: “se consegui enxergar mais longe é porque estava apoiado sobre os ombros de gigantes”.
Difusão cultural – é uma força exógena, externa, que ocasiona as mudanças sociais; elementos de uma sociedade são transferidos para outra por meio da difusão cultural. É o processo social que difunde, geralmente pelos meios de comunicação, alguns traços culturais que tiveram origem na própria sociedade ou em culturas diferentes.
Invenção e difusão cultural sendo uma mudança social em boa parte conseqüência das
invenções, quando maior for o número destas, tanto mais rápida será a mudança. Característica marcante das sociedades contemporâneas, as rápidas mudanças ocorrem incessantemente, devido ao grande número de invenções. A utilização de computadores em praticamente todos os ramos da economia, por exemplo, tem provocado mudanças na forma de trabalho e também nas relações pessoais de trabalho. Outro exemplo é o telefone celular, que modificou várias formas de relações humanas e profissionais.
Fatores contrários e favoráveis à mudança social
Grande parte das mudanças sociais não ocorre sem esbarrar em obstáculos e resistências. Foram precisos séculos para que se consolidassem grandes mudanças, como o cristianismo e a democracia. Um exemplo mais específico de resistência à mudança é o que ocorreu com o voto feminino, que só foi introduzido depois de muita luta. No Brasil, apenas em 1939 as mulheres puderam votar pela primeira vez. Assim a estrutura social impõe obstáculos e resistências que dificultam a mudança social.
Obstáculos são barreiras oriundas da própria estrutura social e que dificultam ou impedem a mudança social. A agricultura brasileira, por exemplo, até a abolição, era totalmente baseada em trabalho escravo; isso constituía num grande obstáculo à abolição.
Resistências são atuações conscientes e dliberadas para impedir a mudança social. Nesse contexto, os proprietários de terras e de escravos impunham grande resistência à abolição por ferir os seu interesses econômicos; entre os fazendeiros proprietários de escravos organizavam-se partidos políticos para se opor à abolição.Em toda estrutura social existem grupos ou camadas sociais cujos interesses ou valores fazem com que resistam abertamente a mudanças sociais.
Atitudes individuais e sociais na mudança
Vamos classificar as atitudes individuais e sociais – que podem favorecer ou não a mudança social – em quatro tipos principais:
Atitude conservadora – é aquela que se mostra contrária ou temerosa em relação às mudanças. Nela se enquadram o tradicionalismo, a tradição, pelo seu prestígio, pelo respeito suscitado entre as gerações mais jovens, impõe-se como um dos grandes obstáculos a toda e qualquer inovação na vida social. Tal é a pressão moral exercida pela tradição, que só através de grande esforço e enfrentando muita resistência a sociedade adota novas formas de condutas estranhas à herança social.
Atitude reacionária - equivale ao conservadorismo exagerado. Opõe-se, não raro pela violência, a qualquer tipo de mudança da instituições sociais. É a atitude típica do
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radical de direita, que deseja que tudo permaneça como está, que quer a todo custo manter o status quo (a situação tal como é).
Atitude reformista ou progressista – é a que vê com agrado a mudança moderada. É o desejo de mudança gradativa do modos de vida existentes e das instituições.
Atitude revolucionária – é a que defende transformações profundas e imediatas, até com o emprego de métodos violentos, no sentido de mudar o status quo.
Um grupo ou um indivíduo pode ser conservador em alguns aspectos e reformistas ou mesmos revolucionários em outros.
Reforma e Revolução
Mudanças gradativas não destroem as instituições sociais existentes. Já mudanças profundas e violentas alteram tod o sistema de relações sociais.
As mudanças gradativas , que procuram melhorar as instituições sem destruí-las, sem romper com os costumes, são chamada de reformas. A mudança social profunda e violenta, que destrói ou procura destruir a ordem social existente, substituindo-a por
outra contrária, chama-se revolução.
As mudanças bruscas, profundas ou muito aceleradas podem ocasionar a desorganização social. É o que normalmente ocorre nas revoluções.
ANEXO 6 – DOCUMENTO COM REGAS DA ESCOLA CITADO NO CAPÍTULO I
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