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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO INGRID NOGUEIRA SOARES UM DIÁLOGO ENTRE ARQUITETURA ITINERANTE E NATUREZA: ANTEPROJETO DE UMA HABITAÇÃO NÔMADE PROJETO CASULO Natal – RN Novembro DE 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA

CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

INGRID NOGUEIRA SOARES

UM DIÁLOGO ENTRE ARQUITETURA ITINERANTE E NATUREZA:

ANTEPROJETO DE UMA HABITAÇÃO NÔMADE

PROJETO CASULO

Natal – RN

Novembro DE 2015

2

INGRID NOGUEIRA SOARES

UM DIÁLOGO ENTRE ARQUITETURA ITINERANTE E NATUREZA:

ANTEPROJETO DE UMA HABITAÇÃO NÔMADE

PROJETO CASULO

Trabalho final de graduação no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Autora: Ingrid Nogueira Soares

Orientadora: Profª Maísa Fernandes Dutra Veloso

Natal – RN

Novembro de 2015

Catalogação da Publicação na Fonte. Universidade Federal do Rio Grande do

Norte / Biblioteca Setorial de Arquitetura.

Soares, Ingrid Nogueira.

Um diálogo entre arquitetura itinerante e natureza: anteprojeto de uma

habitação nômade, Projeto Casulo / Ingrid Nogueira Soares. – Natal, RN,

2015.

89f. : il.

Orientadora: Maísa Fernandes Dutra Veloso.

Monografia (Graduação) – Universidade Federal do Rio Grande do

Norte. Centro de Tecnologia. Departamento de Arquitetura.

1. Habitação – Natureza – Monografia. 2. Arquitetura – Baixo

impacto ambiental – Monografia. 3. Arquitetura portátil – Monografia.

I. Veloso, Maísa Fernandes Dutra. II. Universidade Federal do Rio

Grande do Norte. III. Título.

RN/UF/BSE15 CDU 728.1

4

Agradecimentos

Aos meus pais e irmão, meu porto seguro, aqueles que me conhecem só por um olhar.

Obrigado pelo apoio sempre.

À Liu, presente que a vida me deu.

Aos meus avós e a toda a minha família, em especial ao meu primo Yan, uma parte de mim.

Aos meus amigos de infância, amizade perene.

A Enrico, presença alegre e incentivadora.

À Professora Maísa Veloso, que aceitou me acompanhar durante a elaboração desse trabalho.

Orientadora perspicaz, com atitude e sensibilidade.

À Professora Glauce, que não pensou duas vezes antes de me auxiliar no embasamento

teórico, ao Professor José Neres e a Profa. Edna, pelas assessorias no projeto em madeira; ao

Professor Aldomar, sempre solícito, assim como Alice, Bartira e Bárbara Filipe, queridas.

Ao Professor Eugenio, figura mítica, com quem tive o privilégio de conviver.

À Professora Dulce, por todo o aprendizado que me proporcionou no GEHAU.

Ao sr. Mário, que com seu sorriso generoso faz do galinheiro um lugar ainda mais colorido.

Aos Boêmios, que me fazem sorrir ao refazer a trajetória vivida no curso, em especial à Alinne

(companheira de vida e trabalhos, por quem eu tenho uma admiração enorme), Babina

(generosa e inspiradora), Candido (amigo de outras vidas e também quem me ensinou a

colocar o papel na prancheta), Evane (irmã gêmea e futura sócia), Luiza (dupla perene,

companheira de barracas e outros rocks), Tisbe (vizinha e parceira para todas as horas),

Gabrielle Barros (a flor mais carnívora do meu jardim), Imigrante (que me conquistou com

seu jeitinho de ser e hoje é um fiel escudeiro), Filipe (por todas as crises de riso que ainda

vamos ter) e Carolzinha (pelos abraços nas horas mais certas).

À minha querida amiga Marina Regis, presença ilustre.

Ao Lado B (Fefo, Ray, Babina, Evane, Tisbe e Gabi), horas autoajuda, horas autodestruição,

vocês foram todas as doses que eu precisava para chegar ao fim desse trabalho.

5

Ao Galinheiro, porque não? Lugar de personalidade forte, universo paralelo onde habitei.

Um brinde a todos!

6

“Quem conhece o solo e o subsolo da vida sabe muito bem que um trecho do muro, um banco, um tapete, um guarda-chuva, são ricos de ideias ou de sentimentos, quando nós também o somos, e que as reflexões de parceria entre os homens e as coisas compõem um dos mais interessantes fenômenos da terra.” (Machado de Assis, Quincas Borba, 1891).

7

Resumo

A distância entre o homem moderno e a natureza, somada a banalização da degradação

ambiental, gera, muito frequentemente, uma arquitetura que não leva em consideração o

meio ambiente ou o contexto em que está inserida, questões de grande destaque nos dias

atuais, onde acabam por surgir e se difundir linhas de pensamento que desenvolvem

estratégias para minimizar os impactos da construção civil sobre o meio natural.

Tudo isso ocorre enquanto a globalização e a era digital se intensificam, diminuindo as

"distâncias reais", relativizando fronteiras e aumentando a autonomia dos indivíduos. É nesse

contexto e analisando essas tendências, que o presente trabalho se propõe a projetar uma

estrutura arquitetônica móvel e de baixo impacto ambiental, que possa abrigar pessoas com

o desejo de estarem junto a natureza, possibilitando um contato mais harmonioso entre o

construído, o natural e o homem.

Palavras chave: Natureza, Arquitetura de baixo impacto ambiental, Arquitetura portátil

Abstract

The distance between modern man and nature, plus the trivialization of enviromental

degradation, generates, very often, an architecture that does not take under consideration

the enviroment or even the context which is in, issues of great importance nowadays. Where

strategies to minimize the damage that construction does to the natural world, eventually

emerge and spread.

All of this occurs while globalization and digital age intensifies, decreasing distances,

relativizing boundaries and increasing individual autonomy. It is in this context and analyzing

these tendencies, that the present paper proposes to project a mobile and of low

enviromental impact architectural structure that is able to shelter people with the desire of

being close to nature, making possible a more harmonious existance between the

constructed, nature and man.

Key words: Nature; Low enviromental impact architecture; Portable architecture

8

Lista de figuras

Figura 1: Introdução de capítulo - Relação Homem Natureza e Arquitetura .......................... 16

Figura 2: Oca Indígena ............................................................................................................. 20

Figura 3: Acampamento Nômade ............................................................................................ 20

Figura 4 Plug-In Offices ............................................................................................................ 22

Figura 5 Plug-in city .................................................................................................................. 22

Figura 6 Living Pod Project - ilustração .................................................................................... 22

Figura 7: Foodtrucks ................................................................................................................ 24

Figura 8: Abertura de capítulo – Estudo Referencial ............................................................... 27

Figura 9: Diogene – Vista externa ............................................................................................ 28

Figura 10: Diogene – Vista Externa .......................................................................................... 28

Figura 11: Diogene - Vista Interna ........................................................................................... 29

Figura 12: Diogene - Planta Baixa ............................................................................................ 29

Figura 13: Diogene - Perspectiva Explodida............................................................................. 29

Figura 14: Diogene - Fotografia Interna ................................................................................... 30

Figura 15: Ecocapsule - Planta Baixa (imagem modificada plea autora) ................................. 31

Figura 16 Ecocapsule - vista externa ........................................................................................ 31

Figura 17: Ecocapsule - Estratégias Energéticas ...................................................................... 32

Figura 18: Ecocapsule - Transporte .......................................................................................... 32

Figura 19: Tetrasehd - Coletânia de Imagens .......................................................................... 33

Figura 20: De Markies - Verstailidade - coletânia de imagens ............................................... 34

Figura 21: De Markies - Expansão ............................................................................................ 35

Figura 23 De Markies - Área Íntima ......................................................................................... 35

Figura 22: De Markies - Cozinha .............................................................................................. 35

Figura 24: Hexa Studies - Fechamento da Estrutura ............................................................... 36

Figura 25: Hexa Studies - Apropriação dos Usuários ............................................................... 36

Figura 26: Hexa Studies – Estrutura Interna e Externa (coletânea de imagens) ..................... 37

Figura 27: YES WE CAMP! - Projeto Participativo, Logomarca e Instalaçao arquitetônica ..... 41

Figura 28 GUET IT LOUDER - Mostra de Projetos (coletânia de imagens) .............................. 42

Figuras 29 e 30: GUET IT LOUDER - Interior da Casa triciclo (coletânea de imagens) ............ 43

Figura 31: Abertura de Capítulo - O início do projeto Arquitetônico ...................................... 46

Figura 32: Massaranduba - Face radial (esquerda) e Face Tangencial (direita) (coletânea de

imagens) ................................................................................................................................... 49

Figura 33: Eucalipto-grandis – Face tangencial (esquerda) e face Radial (direita) (coletânea

de imagens) .............................................................................................................................. 50

Figura 34: Eucalipto-citriodora – Face tangencial (esquerda) e face Radial (direita) (coletânea

de imagens) .............................................................................................................................. 50

Figura 35: Pinus – Face tangencial (esquerda) e face Radial (direita) (coletânea

de imagens) .............................................................................................................................. 51

Figura 36: Zona Biocilmática 8 (destaque para o Estado RN) .................................................. 52

9

Figura 37: Zoneamento Bioclimático Brasileiro ....................................................................... 52

Figura 38: Abertura de Capítulo - A Concepção Projetual ....................................................... 54

Figura 39: O Conceito ............................................................................................................... 55

Figura 40: Homem e Natureza ................................................................................................. 56

Figura 41: Primeiros Croquis .................................................................................................... 57

Figura 42: Primeiros Croquís .................................................................................................... 57

Figura 43: Proposta 01 -Planta Baixa Recolhida ...................................................................... 58

Figura 44: Proposta 01 - planta baixa expandida .................................................................... 58

Figura 45: Proposta 01 - Corte com Detalhe para a Caixa d'água Abaixo do Sanitário ........... 58

Figura 46: Proposta 02 - Planta Baixa Recolhida e Expandida ................................................. 59

Figura 47: Proposta 02 - Corte ................................................................................................. 59

Figura 48: Proposta 02 - Maquete ........................................................................................... 59

Figura 49: Abertura de Capítulo - Proposta Final do Projeto Arquitetônico ........................... 62

Figura 50: Planta Baixa Humanizada ........................................................................................ 63

Figura 51: Estrutura com Pilares, Vigas, Grelhas de Piso Teto e Parede (com espaçamento

para janelas) ............................................................................................................................ 65

Figura 52: Encaixe Macho e Fêmea ......................................................................................... 65

Figura 53: Encontro Entre Grelhas e Vigas de Contorno -Encaixe Fortalecido com Conectores

Metálicos .................................................................................................................................. 65

Figura 54: Projeto Casulo sendo Rebocado ............................................................................. 66

Figura 55: Perspectuva Esquemática da parede em Woodframe ........................................... 68

Figura 56: Cerca de Faxina ....................................................................................................... 70

Figura 58: P01 e P02 ................................................................................................................ 71

Figura 57: P03 e P04 ................................................................................................................ 71

Figura 59: J01, J02 e J03 ........................................................................................................... 72

Figura 60: J04, J05 e J06 ........................................................................................................... 72

Figura 61: Vista Interna da Área Técnica para Visualizar J07 e J07 ......................................... 73

Figura 62: Ubicação Móveis versáteis 01 e 02 ......................................................................... 73

Figura 63: Móveis versáteis - Opções de Articulação .............................................................. 74

Figura 64: Ubicação Banco Retrátil .......................................................................................... 75

Figura 65: Banco Retrátil - Recolhido....................................................................................... 75

Figura 66: Banco Retrátil .......................................................................................................... 75

Figura 67: Escada Portátil - Recolhida...................................................................................... 76

Figura 68: Escada Portátil - Expandida .................................................................................... 76

Figura 69: Área Técnica e Seus Componentes ......................................................................... 77

Figura 70: Simulação Digital 01 ................................................................................................ 82

Figura 71: Simulação Digital 02 ................................................................................................ 83

Figura 72: Simulação Digital 02 ................................................................................................ 83

Figura 73: Simulação Digital 03 ................................................................................................ 84

Figura 74: Simulação Digital 04 ................................................................................................ 84

10

Sumário Introdução ................................................................................................................................ 12

Capítulo 1: Relação Homem Natureza e Arquitetura .............................................................. 16

1.1 Natureza, Homem e Arquitetura: Em Busca de Um Diálogo Harmonioso ............... 17

1.2 Uma Arquitetura Livre de Sítio ....................................................................................... 20

Capítulo 2: Estudos de Referência ........................................................................................... 27

2.1 Referências Projetuais .................................................................................................... 28

2.1.1 Diogene – Rhnezo Piano .......................................................................................... 28

2.1.2 Ecocapsule – Nice Architecture ............................................................................... 31

2.1.3 Tetra Shed – David Ajasa-Adekunle......................................................................... 32

2.1.4 De Markies – Eduard Bohtlingk ............................................................................... 34

2.1.5 Hexa Studies – BC Studios, Michael Lefeber e YES WE CAMP ................................ 36

2.2 Quadro Comparativo ...................................................................................................... 38

2.2.1 Análise do Quadro Comparativo ............................................................................. 39

2.3 Organizações Atuantes na Área ..................................................................................... 41

2.3.1 – YES WE CAMP ....................................................................................................... 41

2.3.2 GET IT LOUDER – People’s Architecture Office ....................................................... 42

2.3.3 Análise das Organizações Atuantes na Área ........................................................... 43

Capítulo 3: O Início do Projeto Arquitetônico ......................................................................... 46

3.1 Possibilidades de Sistemas Estruturais e Materiais de Baixo Impacto Ambiental ........ 47

3.2 Pressupostos Ambientais ............................................................................................... 52

3.3 Condicionantes Legais .................................................................................................... 53

Capítulo 4: A Concepção Projetual: formas iniciais ................................................................. 54

4.1 O Partido Arquitetônico ................................................................................................. 55

4.3 O conceito ...................................................................................................................... 55

4.4 Programa de Necessidades e Público Alvo .................................................................... 56

4.5 Estudos Formais e Funcionais ........................................................................................ 57

Capítulo 5: Proposta Final do Projeto Arquitetônico ............................................................... 62

5.1 Planta baixa e Zoneamento ............................................................................................ 63

5.2 Estrutura e Materiais ...................................................................................................... 64

5.2.1 Fundações ................................................................................................................ 66

5.2.2 Base/Piso ................................................................................................................. 67

11

5.2.3 Paredes Externas ..................................................................................................... 67

5.2.4 Paredes Internas ...................................................................................................... 68

5.2.5 Cobertura ................................................................................................................. 69

5.2.6 Fachadas .................................................................................................................. 69

5.3 Esquadrias ...................................................................................................................... 70

5.4: Acessórios/mobiliário.................................................................................................... 73

5.4.1: Móvel Versátil 01 - Cama/prateleira e Móvel versátil 02 – Mesa/Banco .............. 73

5.4.2 Banco Retrátil .......................................................................................................... 74

5.4.3 Escada Portátil ......................................................................................................... 76

5.5 Instalações hidrossanitárias e elétricas .......................................................................... 77

5.5.1 Instalações hidrossanitárias .................................................................................... 78

5.5.3 Instalações elétricas ................................................................................................ 79

5.6 Estratégias de Conforto Ambiental ................................................................................ 79

5.7 Imagens e Simulações Digitais ....................................................................................... 82

Considerações Finais ................................................................................................................ 86

Referências ............................................................................................................................... 87

12

Introdução

Vivemos em uma sociedade cujo contato entre o homem e meio natural ocorre

de maneira cada vez mais distante, resultado de um contexto socioeconômico

marcado pelo ímpeto da produção de bens de consumo, intensa urbanização e

interações cada vez mais digitais.

Em resposta e indo de encontro a essa perspectiva, surge, em várias pessoas,

o desejo iminente de ter experiências mais próximas a natureza. Contudo, tal

anseio muitas vezes se torna contraditório, quando constatamos a existência

de construções, de pequeno ou grande porte, as quais, por força do capital,

obtém o aval de estarem localizadas em áreas protegidas, como falésias,

manguezais, áreas de dunas, entre outras, sem contarem com um projeto

arquitetônico preocupado com o meio ambiente em que estão inseridos.

Sabemos que a construção civil demanda uma quantidade significativa de

recursos naturais e, por isso, entende-se que a concretização de uma obra deve

ser pensada em conformidade com as limitações e características do meio em

que a mesma está inserida.

Também percebemos em nosso dia-a-dia o crescente surgimento de

instalações (objetos) arquitetônicos temporárias, transportáveis, versáteis,

exemplares que se relacionam com o momento de rápidas transformações em

que vivemos.

Justifica-se a escolha do referido tema por este se mostrar uma tendência

mundial na construção civil, no design e no cotidiano das pessoas. Estamos nos

referindo a uma geração ciente das questões ambientais e também

intimamente ligada ao versátil, leve, portátil, flexível dente outros adjetivos

buscados por essa vertente arquitetônica em crescimento.

É importante frisar que a relevância desse estudo está em criar possibilidades

adequadas ao contexto em que estamos inseridos, se mostrando uma

13

alternativa arquitetônica pautada na reflexão sobre a atual relação do homem

com o meio ambiente. “Falar sobre arquitetura também é um falar sobre o

tempo” (SOCZ, 2009, P.51).

É nesse contexto que o presente estudo se propõe projetar uma estrutura

arquitetônica nômade e de baixo impacto ambiental, com o intuito de abrigar

pessoas que desejam um abrigo junto à natureza, para fins recreativos, de

trabalho ou que simplesmente estejam vivendo um fugere urbem1

momentâneo, possibilitando um contato mais harmonioso entre o construído,

o natural e o homem.

Com o intuito de compreender os princípios de uma arquitetura móvel e

ecológica, analisando referências, materiais e sistemas estruturais condizentes

com o tema, afim de aplicar tais estudos no tipo habitacional a ser

desenvolvido, a metodologia utilizada nesse trabalho incluiu pesquisas

bibliográficas em livros, artigos, sítios eletrônicos, revistas, dentre outros, com

autores nacionais e internacionais, dentre os quais podemos destacar

Dominique Gauzin-Muller (2010) e Eduardo Paz (2008), importantes no

embasamento sobre arquitetura ecológica e arquitetura transitória

respectivamente. Além disso foram consultados professores/profissionais,

fornecedores e instituições relacionados à temática.

A fim de atingir os objetivos definidos, o presente estudo foi divido em quatro

partes: Parte 1, intitulada Referencial Teórico Metodológico e Empírico,

subdivida em dois capítulos: o primeiro, que discorre sobre as relações entre

homem a natureza e a arquitetura, incluindo reflexões sobre a dinâmica

urbano/tecnológica em que vivemos e também sobre arquitetura ecológica.

Temas como arquitetura mínima e arquitetura livre de sítio também são

abordados, instigando um diálogo sobre o efêmero, o nômade e o compacto

em diferentes contextos históricos. O segundo capítulo apresenta o referencial

1 Fugere urbem: Termo em Latim que significa "fugir da cidade", do escritor clássico

Horácio. Fonte = www.soliteratura.com.br

14

arquitetônico relacionado aos temas anteriormente expostos, exibindo o

trabalho de escritórios e organizações atuantes na área.

A parte 2 corresponde ao desenvolvimento do projeto arquitetônico, incluindo

o terceiro capítulo, o qual estuda possibilidades de sistemas estruturais, bem

como os pressupostos ambientais e legais que alicerçam o início do projeto. O

quarto capítulo, inicia a concepção projetual, apresentando as formas iniciais,

o partido arquitetônico, o programa de necessidades e estudos formais e

funcionais.

Na parte 3 consta o capítulo 5, o qual expõe o resultado projetual,

apresentando informações sobre a estrutura utilizada, assim como as

esquadrias e vedações, materiais, estratégias de conforto e instalações, além

de apresentar as imagens finais do projeto. A parte 4 finaliza esse estudo,

contendo as conclusões, referências, anexos e apêndices.

15

PARTE 1:

REFERENCIAL TEÓRICO

METODOLÓGICO E EMPÍRICO

16

Capítulo 1: Relação Homem Natureza e Arquitetura

Fonte: http://vipantoja.tumblr.com/

Figura 1: Introdução de capítulo - Relação Homem Natureza e Arquitetura

17

Este capítulo apresenta uma análise sobre as relações entre o homem, a

arquitetura e a natureza, adentrando o universo da arquitetura ecológica e

promovendo uma investigação conceitual e histórica sobre a presença do

efêmero, do nômade e do compacto na arquitetura.

1.1 Natureza, Homem e Arquitetura: Em Busca de Um Diálogo

Harmonioso

Sabe-se que desde os primórdios da existência humana, a proximidade com a

natureza foi intrínseca para a sua sobrevivência, fonte de nutrientes,

ferramentas e abrigo, a natureza participou da evolução humana. Hoje, depois

de tantas transformações ocorridas, essa dependência não diminuiu, o meio

ambiente continua sendo a nossa principal fonte de matéria prima e também

de elementos básicos para a nossa sobrevivência como a água, os nutrientes e

oxigênio, dentre outros.

Um dos temas enfatizados nos acordos internacionais e nas mudanças do clima é precisamente o da construção. Particularmente a civil. Cada vez se percebe melhor a forte demanda que ela exerce sobre recursos naturais (minerais e florestais) e energia (agregada ou inutilizada no processo). Isso obrigará governos e construtores a aprofundar e consolidar uma “cultura previdente”, que precisa ser fundamentada na ciência e na técnica e desenvolver-se, continuamente, nesses parâmetros. E, ao se falar de “ciência”, é preciso ir além das exatas e incorporar as humanas, entre elas as sociais (sociologia, economia, antropologia) e as do indivíduo (biologia e psicologia). Assim, a arquitetura deverá estar voltada para o meio ambiente e o homem, como expressão da inserção humana no ecossistema e na paisagem, no espaço natural e social. (GAUZIN-MÜLLER, 2011, P. 08).

Sendo assim, é válido refletirmos sobre o fato de que o nosso organismo foi

evoluindo nesse meio e que o distanciamento hoje vivenciado pode estar

desfavorecendo a nossa saúde. Nesse sentido, estudos nos mostram que a

nossa saúde está diretamente relacionada com o nosso contato com a

natureza, principalmente quando observamos que o meio natural fortalece

nosso corpo provendo diversos anticorpos necessários para o nosso bem estar.

18

Seguindo essa linha de raciocínio, podemos citar o estudo de Ilkka Hanski, da

Universidade de Helsinque, divulgado no site da BBC2, o qual aponta que a

pouca exposição à natureza por parte dos moradores de áreas de urbanização

intensa, pode estar relacionada com o aumento da propensão a doenças como

alergias e asmas, sugerindo a preservação de áreas naturais fora de áreas

urbanas bem como um planejamento de cidades que inclua uma infraestrutura

verde.

A modernidade ocidental, revestida de uma crescente racionalização instrumental de controle da natureza, cindiu o homem em corpo e espírito, assegurando-lhe concretude ao físico/corpóreo. Essa cisão significou o desenlace simbólico de valores agregados ao homem por meio do inexplicável. Buscou-se, portanto, tudo explicar por meio do pragmatismo e, até certo ponto, do ceticismo. Entretanto, o controle sobre a natureza na verdade significou o seu descontrole, isto é, aperfeiçoaram-se métodos e técnicas no acelerado processo de industrialização, mas tal instrumental não possibilitou ao homem a compreensão de sua relação consigo mesmo e com a natureza. (SUASSUNA et al., 2005).

Vivemos em uma época pós Revolução Industrial e isso é uma informação

marcante para entendermos nossa relação com a natureza, que passou a ser

explorada massivamente, atendendo às novas demandas da sociedade. Além

disso, a impressão de que estávamos inseridos em uma fonte inesgotável de

recursos naturais levou (e ainda leva) muitos indivíduos a agirem de forma

puramente exploratória, imprudente e descontrolada em relação ao meio

natural, visando o lucro imediato, sem tomar medidas que possibilitem um

menor impacto ambiental.

De fato, a percepção da dimensão degradatória da ação humana nem sempre

existiu, mas hoje, na era informacional em que vivemos, essa noção está bem

clara. Por outro lado, as soluções para colaborar com a melhora desse quadro

surgem a cada dia, são novas técnicas, novos materiais e novas maneiras de

agir, para que tenhamos uma conduta mais amigável com meio ambiente.

2 British Broadcasting Corporation (emissora de televisão originalmente inglesa); Sítio: www.bbc.co.uk

19

Nossa vida mudou de escala com a globalização dos intercâmbios e da comunicação, e com a tomada de consciência dos riscos ecológicos que ameaçam o planeta e seus habitantes. Além de novas estratégias energéticas e da introdução de uma abordagem ambiental no planejamento e no projeto das construções, nesse início do século XXI nos vemos diante de uma verdadeira escolha sobre o tipo de sociedade que queremos. (GAUZIN-MÜLLER, 2011, P. 08).

A construção civil é uma das indústrias que mais demandam recursos naturais,

seja na fabricação dos materiais a serem utilizados, no canteiro de obras ou na

implantação de um edifício em um determinado terreno, todas essas, dentre

outras etapas, irão interferir direta e indiretamente no meio ambiente. Sendo

assim, o estudo e a aplicação de estratégias que possam amenizar esse impacto

ambiental e contribuir para uma sociedade mais harmoniosa em seu contato

com a natureza é fundamental.

A construção, demolição, e reconstrução demandam não apenas um grande esforço humano, mas geram nesse processo diversos danos ambientais. A posição onde nos encontramos na ante-sala do esgotamento de recursos naturais brada por alternativas arquitetônicas que falem menos de modismos cíclicos e comportamentos frívolos. Falar sobre arquitetura também é falar sobre o tempo. (SCÓZ, 2009).

Partindo do princípio que a “sustentabilidade pode ser descrita como o estado

de equilíbrio, no qual condições ambientais, econômicas e sociais satisfatórias

estariam asseguradas para o presente, assim como para o futuro,

indefinidamente. ” (CÂNDIDO, 2012), não nos utilizaremos da alcunha

“arquitetura sustentável” nesse estudo, uma vez que consideramos tal

conceituação abrangente, envolvendo uma série de questões a serem

analisadas, as quais não terão espaço para serem atestadas nesse estudo.

Portanto, para esse trabalho, será mais adequado a utilização do termo

“arquitetura de impacto ambiental reduzido” ou denominação equivalente que

indique a preocupação em dialogar com o meio ambiente, se comprometendo

a buscar estratégias e premissas ecológicas a serem definidas desde a fase

inical do projeto. “O termo “sustentável” deve ser aplicado ao processo todo,

indicando um ciclo em que o tripé – meio ambiente/ promoção social/

20

promoção econômica – cumpra seu papel, gerando o menor impacto possível

com o resultado mais eficiente. Logo, a “arquitetura ecológica responde

principalmente à questão ambiental desse tripé.”(AFLALO, 2011)

1.2 Uma Arquitetura Livre de Sítio

Pensar sobre uma arquitetura livre de sítio envolve temas como leveza,

portabilidade, mobilidade, provisoriedade, entre outras palavras chave que ao

mesmo tempo encaixam-se em uma forma atual de se pensar a arquitetura e

que também, de certo modo, retomam características utilizadas nos

primórdios da existência humana.

“Nessa contemporaneidade reafirmam-se as linguagens projetuais comprometidas com a retomada do racionalismo e com tendências minimalistas, visando a proposição de espaços que atendem à sociedade quanto a custo, praticidade sustentabilidade e flexibilidade.” (PADOVANO, 2010 apud ALBUQUERQUE, 2013).

Sabemos que uma das formas mais primitivas de abrigo humano (ainda

existente nos dias atuais) foi a construção de tendas nos abrigos nômades,

resultado da prática do nomadismo3, os iglus, as ocas indígenas, dentre outras

edificações que, em sua maioria, sendo executadas com materiais naturais,

eram construídas, habitadas, possivelmente abandonadas e reconstruídas por

seus usuários.

Fonte:hist6anoen2.blogspot.com

3 O nomadismo consiste em uma prática onde um homem ou grupos humanos vagueiam por diferentes territórios. Nesse processo de locomoção pelo espaço, essas comunidades utilizam-se dos recursos oferecidos pela natureza até esses se esgotarem. Com o fim desses recursos, esses grupos se deslocam até encontrarem outra região que ofereça as condições necessárias para a sobrevivência. (SOUSA, 2015)

Figura 3: Acampamento Nômade Figura 2: Oca Indígena

Fonte: www.cienciahoje.com.br

21

Também devemos abordar o Movimento Moderno da arquitetura, iniciado na

Europa e datado do Século XX, ocorreu em um contexto de transformações

econômicas e sociais expressivas: Revolução Industrial, Guerras Mundiais,

aumento populacional, dentre outros fatores que contribuíram para mudanças

na demanda arquitetônica, as quais fomentaram a busca pelo

desenvolvimento de um projeto de arquitetura que se resolvesse em espaços

mínimos, com uma planta reduzida, moradias coletivas. Nesse momento, a

necessidade habitacional impulsiona, a arquitetura desenvolve e a tecnologia

possibilita a construção de casas em série.

A questão do espaço mínimo sempre serviu de estímulo à criatividade na arquitectura. Esse interesse pela optimização do espaço é alimentado pelo desafio de conseguir com o mínimo possível, que este se adeque às necessidades dos seus habitantes e aos potenciais usos que estes lhe poderão atribuir, de modo que estes espaços embora mínimos (ou precisamente por o serem) sejam interessantes e agradáveis, numa procura que tem por base uma visão poética do essencial. (GONÇALVES, 2013).

Um exemplo de vanguarda no contexto da arquitetura transitória é o

Archigram, grupo de arquitetos ingleses que atuaram na década de 1960, os

quais inspirados e motivados por tecnologia e inovação, idealizavam uma

arquitetura moderna, criticando a forma de produção da época e propondo

uma arquitetura nada convencional.

“Para uma outra sorte de elemento que constitui o espaço efêmero, recorreremos ao grupo inglês Archigram, que em seu projeto Living 1990 (1967) e suas múltiplas sondagens do futuro do domicílio, apontavam para a crescente importância dos aparelhos eletrônicos, não somente como utensílios eletrodomésticos, mas no próprio condicionamento do ambiente. O mesmo vale para ambientes provisórios, abertos. Eis o último dos recursos dos ambientes transitórios: as unidades de infra-estrutura portátil (...) O grupo Archigram experimenta ainda assentamentos temporários, como a Instant City (1969). Amplamente ancorados em meios de transporte – especialmente aqueles que nem o território percorrem, simplesmente pairando no lugar – potencializam o que hoje é usual, que é a possessão repentina de um lugar por uma atividade temporária, seja exposição ou festa rave, para posterior desaparição. ” (PAZ, 2008).

22

Podemos destacar dois projetos elaborados pelo grupo Archigram, os quais se

configuram como uma importante fonte histórica para o projeto proposto

nesse trabalho: A Plug-In City 4 (figura 5), na qual os arquitetos interpretavam

a cidade como uma estrutura em parte fixa e com outras partes móveis e

dinâmicas; e O Living Pod Project (figura 6) “que era o estudo de uma casa

cápsula que poderia se transformar em uma casa trailer, podendo ser inserida

no interior de uma estrutura urbana plug-in ou ainda ser transportada e

implantada numa paisagem aberta.” (SILVA, 2004).

4 “A Plug-In City não é de fato uma cidade, mas uma megaestrutura em evolução constante que incorpora residências, transporte e outros serviços essenciais – todos transportáveis por enormes guindastes.” BARATTOM (2014).

Figura 6 Living Pod Project - ilustração

Figura 5 Plug-in city Figura 4 Plug-In Offices

Fonte: www.archdaily.com.br

www.archigram.net

Fonte: www.archdaily.com.br

23

Há entretanto pouca preocupação com a ecologia ou com a viabilidade dos

projetos idealizados pelo Archigram, fatores que se justificam pelo contexto

vivenciado na época, e que não abalam, nem diminuem o legado deixado pelo

grupo.

Os arquitetos do grupo defendiam uma abordagem high tech, inspirada no imaginário da era espacial, experimentando tecnologias de encaixe, ambientes descartáveis, cápsulas espaciais e imagens de consumo de massa, sem o compromisso de serem executadas e ou apropriadas pela sociedade. Tampouco demonstraram preocupação com as consequências sociais e ecológicas de suas propostas megaestruturais. (CAVALCANTE, VELOSO, 2011).

Percebe-se assim uma nova forma de analisar a relação entre as tecnologias

(tanto de materiais como a informacional), a sociedade e as formas de convívio

(tanto em ambientes públicos quanto em privados). Mobilidade,

transformação e mutabilidade são somados de forma a idealizar um novo

pensar arquitetônico, idéias instigantes e inovadoras, com desdobramentos

utópicos e imprecisos, mas que constituem uma preciosa base ideológica e

provocam reflexões pertinentes ainda nos dias atuais.

A casa responde a estímulos culturais, é produto das necessidades e possibilidades de determinada civilização. É bom lembrar do caráter transitório que os costumes têm, influenciando a habitação. A revolução tecnológica pela qual a humanidade passou no século XX provocou novas necessidades espaciais. (CASELLI, 2007, p.11).

Embora constituindo o alicerce que embasa e faz possível o desenvolvimento

desse projeto, os exemplos históricos da arquitetura mínima anteriormente

analisados, nos mostram um contexto social de necessidades eminentes, seja

por excesso populacional ou por um pós-guerra, no qual se vivia a urgência em

se reconstruir nações. Tais fatores não se relacionam com as circunstâncias

relevadas nesse trabalho. Aqui, estamos apresentando uma possibilidade de

arquitetura com fins recreativos/contemplativos, a qual, nesse caso, se

preocupa com o seu impacto ambiental e sua transportabilidade,

circunstâncias que indicam um produto arquitetônico compacto, sem excessos.

24

Em nosso cotidiano, podemos notar a crescente manifestação de objetos e/ou

exemplares arquitetônicos que seguem uma lógica operacional semelhante às

referências históricas citadas É o caso das barracas para camping, trailers,

tendas de circo e de exposições momentâneas, foodtrucks (restaurantes sob

rodas), dentre outros abrigos momentâneos, cada um com sua demanda e

contexto, que dão suporte a essas ocupações temporárias em um determinado

espaço.

Ao analisarmos o contexto em que estamos inseridos, com a globalização e a

era digital que lhes são característicos, podemos afirmar que as noções de

fronteira se tornaram relativas, as distâncias se encurtaram e as modalidades

de trabalho se diversificaram (em alguns casos até deixando de ser

presenciais), a partir do momento em que os caminhos e informações se

tornaram mais acessíveis. Como resultado dos mesmos, podemos ressaltar a

tendência mundial de trabalho via digital, que a cada dia ganha mais adeptos:

são pessoas que não necessariamente necessitam de um local fixo/presencial

para trabalhar o que dá margem para que esses indivíduos vivam grande parte

do tempo como nômades modernos, desfrutando de uma fonte de renda que

não impõe amarras físicas.

Figura 7: Foodtrucks

Fonte: https://www.flickr.com

25

Nessa conjuntura, devemos explorar tipos arquitetônicos que passam a

quebrar as amarras entre o construído e o seu local de inserção, uma

arquitetura que se apresenta livre de sítio e de fundações perenes em

localização.

Tal expressão da arquitetura pode ser classificada como efêmera, a qual obtém

conceitos abstratos, mas que pode ser entendida como algo que modifica os

espaços por um curto período. “Uma obra efêmera é aquela que tem, já em

seu início, a anuência que precisa ser desmontada”, como resume Eduardo

SOCZ (2009, P.53). Falamos então de uma arquitetura que deixa de existir

permanentemente, ou que está em constante transformação, montagem e

desmontagem.

“(...) Se a arquitetura troca de lugar, também se quebram os elos que ligam o projeto de uma edificação remontável com o sítio, ou melhor, a cada remontagem do espaço temporário surge uma nova relação do edifício com o meio onde o mesmo está inserido, transitoriedade que só é possível devido aos avanços tecnológicos que permitem que uma mesma estrutura física seja montada/desmontada/remontada em sítios distintos.” (ALBUQUERQUE 2013, P.32).

Há também o termo nômade, o qual responde ao anseio de estar presente em

diferentes paisagens, mas sem necessariamente ser desmontada;

diferenciação evidenciada por PAZ (2008), “Aqui vemos a necessidade da

distinção entre configuração e objeto. Podemos chamar um trailer de

arquitetura efêmera? Evidentemente, não. Temos a constância do construto,

e, devido a sua mobilidade, configurações temporárias – um nome mais

apropriado para tais objetos seria o de arquitetura móvel.”

Quando nos referimos ao projeto arquitetônico desenvolvido no presente

estudo, como é pensado para oferecer acomodação para viajantes não tendo

a intenção de ser desmontável, podemos entender que tal projeto pretende

ser mais semelhante a um trailer que a uma tenda; sua existência arquitetônica

anseia permanência, sendo variável apenas a sua localização. Assim sendo, fica

entendido que, para classifica-lo ou denomina-lo, podemos utilizar termos

como nômade, portátil, móvel e/ou itinerante. Sendo uma proposta para os

26

que desejam um maior contato com a natureza e também uma opção mais

flexível de residência e/ou de local temporário de trabalho, dentre outros usos,

o abrigo portátil e itinerante é uma forma de conciliar moradia/estadia e

deslocamento. Nesse caso, o construído não se funde ao terreno em que se

insere, mas repousa sobre um determinado local temporariamente,

entendendo-se que, em breve, habitará outras paisagens.

27

Capítulo 2: Estudos de Referência

Fonte: http://saraheisenlohr.com

Figura 8: Abertura de capítulo – Estudo Referencial

28

Com base em pesquisas na internet, foram encontrados inúmeros exemplares

arquitetônicos que se relacionam com os temas aqui trabalhados.

Experimentos projetuais elaborados em diversas partes do mundo, mas com

ideias bastante convergentes.

Não são raras as histórias de famílias, casais e até mesmo pessoas

desacompanhadas, que conciliam moradia/estadia e deslocamento, seja em

busca de novas experiências ou em busca de uma vida (ou apenas alguns dias)

sem excessos materiais, em prol de um diálogo harmonioso com meio

ambiente e do seu crescimento pessoal.

2.1 Referências Projetuais

2.1.1 Diogene – Rhnezo Piano

Rhenzo Piano, influente arquiteto da atualidade, desenvolveu o projeto

“Diogene”, nomeado em referência a Diógenes de Sinope, o filósofo grego que

dormia em uma jarra de cerâmica. O projeto consiste em uma estrutura

mínima, medindo 2,5m por 3m, com 2,3m de altura e pesando 1,2 toneladas,

projetada para abrigar um único indivíduo e descrito como um “lugar de retiro

voluntário”.

Apesar de sua forma bastante familiar a de uma casa, em cubo e com cobertura

em duas águas, Diogene é uma estrutura complexa projetada para funcionar

Figura 10: Diogene – Vista Externa Figura 9: Diogene – Vista externa

Fonte: http://www.rpbw.com/project/97/diogene/

29

independentemente do ambiente em que está inserido e pensada para ter um

bom desempenho térmico em diferentes condições climáticas.

Sendo uma estrutura rígida (não articulada), sua implantação no terreno ocorre

através de mini estacas em metal que assumem o papel de fundação para a

estrutura.

Figura 11: Diogene - Vista Interna Figura 12: Diogene - Planta Baixa

Fonte: http://www.rpbw.com/project/97/diogene/

Fonte: http://www.rpbw.com/project/97/diogene/

Figura 13: Diogene - Perspectiva Explodida

Fonte: http://www.rpbw.com/project/97/diogene/

30

O espaço interno é divido entre a área de convivência (quarto/sala/escritório)

e as áreas molhadas (cozinha e banheiro). Seus revestimentos exteriores são

painéis de alumínio escovado e em seu interior painéis de madeira laminada,

as janelas são em vidro triplo e toda a sua energia é captada por painéis solares.

O projeto também utiliza a opção de privada seca e de sistemas de ventilação

natural e reutilização de água da chuva - que pode ser filtrada e aquecida

através de um dispositivo locado no telhado, além disso, seu tamanho reduzido

possibilita o seu transporte por meio de caminhões ou guindaste.

Essas soluções de implantação, materiais e modo de obtenção de energia e

água são bastante relevantes para que o projeto tenha conexão com o meio

natural e para que também possa ser facilmente adaptado a diferentes

localidades.

Figura 14: Diogene - Fotografia Interna

Fonte: http://www.rpbw.com/project/97/diogene/

31

2.1.2 Ecocapsule – Nice Architecture

O escritório contemporâneo eslovaco, Nice Architecture, também elaborou um

projeto voltado ao estilo de vida nômade, a “Ecocapsule” que mede 4,45m de

comprimento, 2,25m de largura e 2,55m de altura.

Com design moderno, a Ecocapsule foi projetada para hospedar dois adultos e

seu programa contempla área para quarto/sala/escritório, BWC e cozinha,

além de área para depósitos internos e externos. Sua estrutura consiste em

uma capsula metálica ovalada a qual se implanta no solo através de sua

superfície inferior e de pequenos pés que conferem suporte estrutural.

Como estratégias energéticas o projeto dispõe de bateria recarregável, uma

turbina eólica e painéis solares, além disso, possui um sistema de reutilização

de água da chuva, oferecendo pia com água corrente, cuba sanitária e chuveiro

com banho quente.

Fonte: http://www.ecocapsule.sk/ecocapsule

v

Figura 15: Ecocapsule - Planta Baixa (imagem modificada plea autora)

Figura 16 Ecocapsule - vista externa

Fonte: http://www.ecocapsule.sk/ecocapsule

32

A Ecocapsule, além de apresentar estratégias energéticas arrojadas, pode ser

transportada por meio de guindaste e também ser rebocada por um carro,

característica importante para uma moradia transitória, e bastante adaptada

para a sociedade atual.

Figura 17: Ecocapsule - Estratégias Energéticas

Figura 18: Ecocapsule - Transporte

2.1.3 Tetra Shed – David Ajasa-Adekunle

Projetado por David Ajasa-Adekunle, o “Tetra Shed” é uma cabana com

formato de tetraedro que sofreu modificações. Sua área corresponde a 10m²,

e sua altura a 3,3m, além disso, sua estrutura consiste em painéis de MDF ou

OSB articulados, sendo desmontáveis para transporte.

Com um design fora do habitual, Tetra Shed se mostra como um projeto

conceitual inspirador, suas faces não perpendiculares formam um módulo que

Fonte: http://www.ecocapsule.sk/ecocapsule

Fonte: http://www.ecocapsule.sk/ecocapsule

33

pode ser unido a vários outros, o que confere variedade de usos e capacidade

de ampliação. Sendo assim, o programa de necessidades não segue um padrão,

sendo flexível e dependendo do anseio do usuário, podendo a função de

quarto, escritório, infopoint, entre outros.

A respeito das instalações hidrosanitárias, sua implementação real não fica

clara, mas é dito que estas podem ser adicionadas ao projeto e sua necessidade

e implantação irá depender da função dada ao Tetra Shed, porém,

independentemente do uso, todos os exemplares dispõem de aquecimento

por piso radiante, iluminação de LED e sistema com caixas de som controlados

por aplicativos eletrônicos.

Fonte: http://www.tetra-shed.co.uk/home/

Figura 19: Tetrasehd - Coletânia de Imagens

34

2.1.4 De Markies – Eduard Bohtlingk

De Markies é uma casa móvel projetada pelo arquiteto/designer Eduard

Bohtlingk para um concurso de moradias temporárias em 1985 e também

ganhador do Rotterdam design prize de 1996.

Figura 20: De Markies - Verstailidade - coletânia de imagens

Fonte: http://www.bohtlingk.nl/

Quando fechado/em deslocamento, a estrutura assume o formato de cubo em

aço inoxidável com dimensões de 2,20m x 4,40m, resultando em uma área de

9,68m², espaço que pode ser triplicado quando a estrutura está parada. Essa

expansão é possível através de suas laterais articuladas com cabos de aço, que

podem ser abertas e cobertas por dois toldos sanfonados automatizados.

35

Figura 21: De Markies - Expansão

Fonte: http://www.bohtlingk.nl/

O programa de necessidades engloba uma sala/varanda (toldo transparente) e

área para dormitórios (toldo opaco) além da cozinha, sala de jantar e banheiro

locados na parte central.

É importante observar que se trata de uma estrutura rebocável por veículos

preparados com guincho/reboque e que o seu contato no solo acontece de

forma pousada, através de pés metálicos.

Figura 23 De Markies - Área Íntima

Fonte: http://www.bohtlingk.nl/

Esse é um projeto compacto, expansível, rebocável e não desmontável e o

considero como uma visão inovadora aos tradicionais trailers americanos.

Figura 22: De Markies - Cozinha

36

2.1.5 Hexa Studies – BC Studios, Michael Lefeber e YES WE CAMP

Instigados pelo desejo de concretizar uma intervenção urbana no centro da

cidade de Marselha (capital da cultura europeia em 2013) - França, a

organização YES WE CAMP, juntamente com BC Studios e Michael Lefeber,

instalou um acampamento temporário em uma área pouco ocupada do centro

da cidade, a fim de criar uma urbanidade espontânea.

Figura 24: Hexa Studies - Fechamento da Estrutura

Fonte: http://studies.bc-as.org/Hexa-Structures

O resultado dessa manifestação multicultural foi o “Hexa Studies”, uma

estrutura modular, hexagonal, flexível e articulada, sendo adaptável a diversos

tipos de uso, podendo ser dormitório, estúdio, bar, espaço para exibições,

dentre outras funções a serem definidas e adaptadas pelo usuário.

Figura 25: Hexa Studies - Apropriação dos Usuários

Fonte: http://studies.bc-as.org/Hexa-Structures

37

A estrutura utilizada consiste basicamente em andaimes em aço, pallets e

painéis de madeira compensada, elementos acessíveis na maioria das

localidades e que também são facilmente montados e desmontados,

minimizando o desperdício na obra

Figura 26: Hexa Studies – Estrutura Interna e Externa (coletânea de imagens)

Fonte: http://studies.bc-as.org/Hexa-Structures

38

2.2 Quadro Comparativo

PROJETO DIOGENE ECOCAPSULE T-SHED DE MARKIE HEXA S.

ESTÚDIO R. Piano Nice

Architecture

David

Ajasa-

Adekunle

Eduard

Bohtlingk

BC Studios,

M. Lefeber

YES WE

CAMP

DIMENSÃO (M²) 7,5M² 11,22M² 10M² 9,68M² Variável

FUNÇÃO Retiro

pessoal

Abrigo/Casa Variável Moradia

móvel

Variável

FORMA Cubo com

cobertura

em duas

Oval Tetraedro

modificado

Cubo

quando

fechado

Hexágono

COMPORTABILIDADE 1 pessoa 2 pessoas Variável Até 4

pessoas

Variável

PROGRAMA Quarto/sala,

banheiro

seco e

cozinha

Quarto/sala,

BWC e

cozinha

Variável Quarto, Bwc,

Cozinha/sala

de jantar,

Sala/varanda

Variável

MOBILIDADE Portátil Portátil Portátil Portátil Portátil

SISTEMA ESTRUTURAL

E MATERIAL

Madeira

coberta por

painéis de

alumínio

escovado e

estacas

metálicas

Casca

metálica

rígida

Painéis

pré-

moldados -

em MDF

ou OSB-

articulados

Corpo em

aço

inoxidável,

laterais

articuladas

com cabos

de aço e

toldos

vinílicos

sanfonados

Sistema de

andaimes

em aço e

pallets

articulados e

vedações em

painéis

(pallets) de

madeira

INSTALAÇÕES Banheiro

seco e pia

da cozinha

Banheiro e

cozinha

Variável Banheiro e

cozinha

Variável

GERAÇÃO DE ENERGIA Painéis

solares

Painéis

solares e

heólica

Iluminação

por Led

Não

informado

Não

informado

39

2.2.1 Análise do Quadro Comparativo

Depois de observar as informações apresentadas no quadro resumo, ficam

claras diferenças e semelhanças que facilitam a elaboração de análises a

respeito das referências estudadas. Quanto ao tamanho, a média encontrada

nas referências é de 9,6 metros quadrados (menor área = 7,5m² e maior

11,22m²); A função específica de cada projeto também apresenta

diferenciações (temos um retiro pessoal, duas casas/abrigos e dois exemplares

de uso variável), o que também ocorre com seus programas de necessidades,

que variaram de “quarto/sala, bwc e cozinha” para “espaço versátil”.

Dentre as 5 referências apresentadas, todas são portáteis, porém sendo

Diogene, Ecocapsule e De Markies (estruturas rígidas, estas podem ser movidas

através de guindastes, caminhões, reboque, entre outros; enquanto os

exemplares Tetra Shed e Hexa Studies são desmontáveis, não havendo a

possibilidade de reboque, e sim o transporte de suas peças desmontadas por

meio de containers, caminhões, entre outros.

Sendo assim, a análise do quadro resultou na reflexão de que estamos

analisando projetos que manifestam diferentes tipos de portabilidade. Os

projetos “Diógene”, “Ecocapsule” e “De markie” são projetos com estruturas

rígidas e adaptados a diferentes contextos e que, cedo ou tarde, desaparecerão

de um determinado terreno e habitarão outros. Sendo, portanto,

essencialmente itinerantes, mas continuando estruturalmente intactos;

enquanto os projetos “Tetra Shed” e, principalmente, “Hexa Studies” se

mostram desmontáveis, logo, sua concepção já acontece levando-se em

consideração uma forma facilitada de montagem e desmontagem, tanto nas

escolhas estruturais, bem como de materiais facilmente encontrados no

mercado.

Sendo assim, percebemos que os projetos de estrutura rígida (não

desmontáveis), apresentam soluções arrojadas de conservação e geração de

energia, reaproveitamento de águas, com painéis solares, turbina eólica,

40

bateria recarregável, entre outras soluções que visam colaborar com o meio

ambiente no futuro, durante os anos de uso; já aqueles que são desmontáveis,

utilizam-se de materiais pré-fabricados, modulados, facilmente acessíveis e de

simples montagem, com foco no momento presente, e buscando que a sua

construção, assim como a desconstrução gere poucos resíduos e seja

respeitosa ao meio ambiente.

Observando esse resultado, é interessante perceber que estamos diante de

projetos com programas versáteis, que cumpriram as necessidades de seus

usuários de forma inteligente, moderna e compacta; apresentando soluções de

acordo com seu contexto e utilização preestabelecida.

Cabendo a este trabalho extrair o melhor aproveitamento dessas informações

referenciais apresentadas, pode-se afirmar que, o projeto arquitetônico

produto desse estudo, intenciona portabilidade (podendo ser guinchado por

veículos preparados), procurando margear a área média de 9,6m² encontrada.

Sua função será de moradia/hospedagem portátil para duas pessoas e,

portanto, seu programa estará diretamente relacionado a esse uso

(comportando áreas para dormitório, cozinha, BWC e sala/varanda).

Sua estrutura pretende ser rígida e resolvida com materiais de fácil acesso e

mão de obra, sendo também preocupado com questões ecológicas, o que, a

princípio sugere a utilização da madeira de reflorestamento como principal

matéria prima.

Além disso, por ansiar uma harmoniosa conexão com o meio ambiente e sítio

em que estará inserida, o exemplar arquitetônico a ser projetado pretende

pousar no solo e também se utilizar de estratégias de eficiência energética e

conforto ambiental, prevendo a utilização de painéis solares, baterias

recarregáveis e reutilização de água da chuva.

41

2.3 Organizações Atuantes na Área

2.3.1 – YES WE CAMP

Com sede em Marselha e Paris, França, o YES WE CAMP é uma organização sem

fins lucrativos, criada em 2013, que executa instalações temporárias, próprias

e contratadas, através de projetos participativos, para eventos coletivos

principalmente ao ar livre. Se trata de uma plataforma colaborativa que reúne

pessoas de diversas áreas e habilidades e cujo objetivo é elaborar uma

instalação em prol de uma experiência coletiva.

Figura 27: YES WE CAMP! - Projeto Participativo, Logomarca e Instalaçao arquitetônica

Fonte: www.yeswecamp.org

Os projetos buscam estruturas de boa portabilidade, com fácil e rápida

montagem e desmontagem, que gerem o mínimo impacto ambiental possível

e que sejam facilmente encontrados para uso. Além disso, o YES WE CAMP

42

anseia que suas instalações sejam uma espécie de laboratório para novas

técnicas construtivas, sendo assim, utilizam materiais inovadores e funcionais.

Existe um grupo fixo de colaboradores, que totaliza aproximadamente vinte

pessoas, porém, qualquer pessoa pode se inscrever para colaborar. Cada

instalação reúne pessoas com habilidades voltadas para aquela demanda

específica e pessoas locais também são recrutadas.

2.3.2 GET IT LOUDER – People’s Architecture Office

O GET IT LOUDER é uma exibição que ocorre a cada dois anos na China, com o

foco em uma produção inovadora de talentos em artes plásticas, literatura,

arquitetura, design, música e filme. Foi nesse contexto que, em 2012 o

escritório de arquitetura chinês “People’s Architecture Office”, sendo curador

do ano, estabeleceu o tema da bienal: “O futuro das Pessoas”.

Figura 28 GUET IT LOUDER - Mostra de Projetos (coletânia de imagens)

Fonte: http://www.peoples-architecture.com/

Demonstrando uma capacidade projetual arrojada, e apresentando uma

alternativa a aqueles que não têm condições de adquirir seu próprio teto na

China, os produtos apresentados pelo People’s architecture, dentre outras

estruturas leves e de fácil montagem, foram a casa e o jardim triciclo. Sendo o

primeiro, uma casa que comporta equipamentos para as necessidades básicas

do ser humano e que pode ser transportada através de um veículo de três rodas

movido pela força humana; e o segundo, um jardim que complementa a casa e

também pode ser transportado através de um triciclo.

43

Figuras 29 e 29: GUET IT LOUDER - Interior da Casa triciclo (coletânea de imagens)

Fonte: http://www.peoples-architecture.com/

A casa é modular e consiste em uma superfície sanfonada em plástico, a qual

permite entrada de luz externa e privacidade internamente. Essa estrutura

também pode se conectar a outras semelhantes e expandir seu espaço. Em um

módulo unitário, o programa do projeto consiste em: Pia, fogão, banheira e

quarto/sala. O jardim é um simples tanque para plantio.

2.3.3 Análise das Organizações Atuantes na Área

Ao observar a atuação duas organizações anteriormente mostradas, é

interessante analisar que ambas expressam ideias e ações que vão além do

puro objeto arquitetônico, além de mostrarem formas arrojadas de utilização

de materiais e de organização espacial, elas instigam uma reflexão sobre

urbanidade.

A primeira, o grupo “YES WE CAMP!” atua na elaboração de eventos e com suas

instalações preenche vazios urbanos, revigorando, mesmo que

temporariamente, áreas esquecidas das cidades, conseguindo se utilizar de

uma arquitetura de fácil execução, tanto em sua montagem como

44

desmontagem e também na escolha de matérias. São instalações que se

moldam e se modificam em cada contexto, inspirando e aproximando seus

visitantes e habitantes temporários com uma arquitetura palpável, acessível e

acolhedora.

A atuação do escritório chinês People’s Architecture Office por sua vez, ao

lançar o tema da bienal GETIT LOUDER convidando seus participantes “a

projetarem o futuro das pessoas”, apresenta uma opção de um micro jardim e

de uma micro moradia individual e portátil. É sabido e lamentável que, ainda

nos dias atuais, nem todas as pessoas têm acesso à moradia, e, por ter sido

apresentada por representantes do país mais populoso do mundo, essa visão

do futuro que foi apresentada, ganha um cunho ainda mais reflexivo.

É necessário reconhecer a importância desse modelo de projetar a arquitetura,

o efêmero, o portátil, o móvel e vários outros tipos arquitetônicos

relacionados, estão se estabelecendo e se inserindo em nosso cotidiano

progressivamente.

Estamos falando de uma arquitetura com um rápido poder de transformação,

característica que acompanha o acelerado ritmo mundial, por seu dinamismo

e também pela sua adaptabilidade a ambientes reduzidos e também aos

superdimensionados. Algo temporário, mas não descartável, leve e com uma

escala que nos faz enxergar o objeto arquitetônico como algo palpável,

estreitando relações entre o construído e seu usuário.

45

PARTE 2: DESENVOLVIMENTO

DO PROJETO ARQUITETÔNICO

46

Capítulo 3: O Início do Projeto Arquitetônico

Figura 30: Abertura de Capítulo - O início do projeto Arquitetônico

Fonte: http://saraheisenlohr.com/

47

Diretrizes iniciais para a concretização da proposta de uma estrutura

arquitetônica leve e portátil.

Nesse capítulo são investigadas estratégias estruturais, bem como de materiais

sustentáveis, por meio de bibliografia e consulta a profissionais, além de

observar os condicionantes ambientais e legais que regerão o projeto.

3.1 Possibilidades de Sistemas Estruturais e Materiais de Baixo

Impacto Ambiental

Esse é um projeto de arquitetura nômade, preocupado com seu peso,

durabilidade, e impacto ambiental, sendo assim, a busca pela matéria prima

ideal para compor o sistema estrutural desse projeto, foi feita de tal maneira a

eleger um material de fácil acesso ao construtor, que apresentasse leveza,

resistência e também uma preocupação com o meio ambiente.

A busca por um material de fácil acesso comercial nos leva aos quatro materiais

mais utilizados estruturalmente para a construção civil: o concreto, a madeira,

o aço e a terra.

O quesito “leveza” somado ao processo, restringiu minhas opções para a

definição da tectônica do projeto entre o aço e a madeira. Por outro lado, a

preocupação em trabalhar com uma matéria prima capaz de se integrar com a

natureza da forma mais harmônica possível foi imprescindível para a escolha

final do material a ser utilizado nesse projeto, afinal, desde o seu princípio

foram estudadas formas de integração entre o homem, a natureza e

arquitetura.

De acordo com a lógica do desenvolvimento sustentável, é preciso limitar o uso daqueles que resultam de um processo de produção industrial pesado, com alto consumo de energia e a matéria prima não renovável como o aço e o concreto. (GAUZIN-MÜLLER, 2010, p123).

48

Nesse contexto, entendemos que a utilização da madeira seria a opção mais

indicada para esse estudo, afinal estamos falando de um material orgânico,

reciclável e renovável e que, além disso, absorve gás carbônico e libera oxigênio

no processo da fotossíntese, contribuindo para o combate ao efeito estufa, ao

contrário do aço, que apesar de ser reciclável, não é renovável e demanda um

gasto energético bastante elevado na sua fabricação

Depois de escolhida a matéria-prima predominante no projeto, o próximo

passo consistiu a escolha da madeira específica que seria utilizada. A princípio,

foi pensada uma espécie que tivesse como característica a leveza, que fosse

nativa do Brasil, que fosse cultivada na Zona Bioclimática 085, se possível aqui

no Rio Grande do Norte, e que o seu manejo fosse respeitoso tanto ao meio

ambiente quanto ao material extraído. Tais anseios foram importantes na

escolha do tipo de madeira que mais se adequaria ao projeto, mas é importante

ressaltar que essas premissas foram guias que indicaram caminhos nem

sempre convergentes.

Para tanto, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) foi consultado a fim de

embasar a análise e a comparação das espécies e famílias de árvores

pesquisadas, levando em consideração suas regiões de origem, de plantio e seu

manejo, além de dados sobre as densidades (kg/m³) - aparente e básica- de

cada tipo, assim como informações sobre tratamento e durabilidade. Como se

trata de um projeto com menos de 10m² de área total, as propriedades

mecânicas não foram critério relevante nessa etapa de escolha, afinal se trata

de uma dimensão reduzida requerendo um sistema estrutural de pouca

complexidade.

Sobre o comércio de madeira para a construção civil no Rio Grande do Norte,

nosso mercado é restrito, contando apenas com madeiras não reflorestadas e

advindas da região Norte, como exemplo a espécie Maçaranduba

(Manilkara spp.), a qual, segundo o IPT, apresenta densidade básica de 833

5O zoneamento bioclimático brasileiro apresenta oito zonas relativamente homogêneas quanto ao clima. A Zona Bioclimática 08 corresponde a uma vasta área do território do páis, incluindo uma parte do Rio Grande do Norte, na qual se encontra a cidade do Natal.

49

kg/m³ e de difícil tratabilidade a soluções preservantes hidrossolúveis, não

sendo adequada a sua utilização em áreas descobertas.

Figura 31: Massaranduba - Face radial (esquerda) e Face Tangencial (direita) (coletânea de imagens)

Fonte: http://www.ipt.br/

Visto isso, foram feitas buscas por madeiras de reflorestamento no Brasil; e

através de consulta ao LabSec UFRN (Laboratório de Sistemas Estruturais e

Construtivos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte) soube-se da

ocorrência das duas principais árvores que foram introduzidas para

reflorestamento no Brasil: O Eucalipto e o Pinus, ambas não nativas do nosso

país, mas que se adaptaram bem e demonstram um ciclo de renovação

satisfatório.

Pelo próprio perfil do mercado brasileiro, as madeiras de reflorestamento parecem ser a saída mais adequada, uma vez que seu ciclo de renovação é relativamente curto e as distâncias entre as áreas reflorestadas e os principais centro consumidores são mais próximas. São também mais homogêneas e, se manuseadas corretamente, têm baixo impacto ambiental e a certeza de não liberação de CO2 na atmosfera. (GAUZIN-MÜLLER, 2010).

Os dados do IPT nos mostram que o Eucalipto apresenta duas espécies de

reflorestamento mais utilizadas para uso estrutural: o Eucalipto grandis

(Eucalyptus grandis W. Hill ex Maiden.) existente no Amapá, Bahia, Espírito

Santo, Góias, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Rio

Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo; Cuja Densidade de massa

(): aparente a 15% de umidade (ap, 15)= 500 kg/m³ e densidade Básica

(básica)= 420 kg/m³, com alburno permeável, mas cujo cerne se apresenta

50

difícil de ser tratado e o Eucalipto citriodora (Eucalyptus citriodora Hook.),

presente nos estados: Bahia, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso do Sul,

Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Santa Catarina,

São Paulo. Com Densidade de massa ():

Aparente a 15% de umidade (ap, 15)= 1040 kg/m³

e Básica (básica)= 867 kg/m³, também com difícil tratabilidade no cerne.

Figura 32: Eucalipto-grandis – Face tangencial (esquerda) e face Radial (direita) (coletânea de imagens)

Fonte: http://www.ipt.br/

Figura 33: Eucalipto-citriodora – Face tangencial (esquerda) e face Radial (direita) (coletânea de imagens)

Fonte: http://www.ipt.br/

A madeira Pinus (Pinus elliottii Engelm.) por sua vez, é descrita pelo IPT como

sendo de fácil tratamento, estando presente nos estados brasileiros: Amapá,

Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Rio de Janeiro,

Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo; além de apresentar uma

51

densidade de massa (): Aparente a 15% de umidade (ap, 15)= 480

kg/m³ e Básica (básica)= 400 kg/m³.

Figura 34: Pinus – Face tangencial (esquerda) e face Radial (direita) (coletânea de imagens)

Fonte: http://www.ipt.br/

Pensando no melhor manejo da madeira, nos focamos nas madeiras de

reflorestamento pesquisadas e dentre elas optamos pela madeira Pinus,

madeira largamente utilizada na construção civil, a qual apresenta melhor

resposta a tratamentos - característica que se apresenta positiva no preparo

para sua utilização na construção civil, afinal estamos nos referindo a

tratamentos contra xilófagos e também na proteção à água e umidade, fatores

que influenciam diretamente na resistência e durabilidade de uma estrutura

em madeira – e também uma menor densidade de massa, o que influencia em

um menor peso final da estrutura. Além disso, esta também está presente no

Espirito Santo, estado brasileiro que também faz parte da Zona Bioclimática 8,

área de enfoque desse estudo.

Segundo artigo de Oliveira, Cecílio e Pezzopane (2011) na Revista Floram do

Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal do Espírito

Santo, quatro espécies da madeira Pinus são cultivadas no Espirito Santo: o

Pinus elliottii, o Pinus oocarpa, Pinus taeda e o Pinus caribaea var. hondurensis,

sendo o Pinus elliotti a espécie mais difundida para a construção civil e por isso

a que será utilizada nesse estudo.

52

3.2 Pressupostos Ambientais

Uma das características mais marcantes do objeto arquitetônico fruto deste

trabalho é a sua capacidade de habitar diferentes paisagens. Sendo um projeto

nômade, seu paradeiro é incógnito, assim como seu tempo de permanecia em

determinado lugar.

Apesar de tal impermanência e independência, a concepção projetual desse

exemplar estabeleceu uma localização ideal baseada na posição geográfica do

litoral do Rio Grande do Norte.

A norma brasileira de Desempenho térmico de edificações (NBR 15220)

estabelece que o Brasil é divido em oito diferentes zonas bioclimáticas. Tal

divisão leva em consideração aspectos climáticos e não coincide com

demarcações territoriais em Estados, como indica a figura a seguir:

Figura 36: Zoneamento Bioclimático Brasileiro

Fonte: http://www.labeee.ufsc.br

A partir disso, podemos concluir que, para este trabalho, estamos nos referindo

à Zona Bioclimática 08, a qual abrange boa parte do litoral brasileiro, bem como

áreas não litorâneas.

Figura 35: Zona Biocilmática 8 (destaque para o Estado RN)

Fonte: http://www.labee.ufsc.br

(imagem modificada pela autora)

53

3.3 Condicionantes Legais

Para a maioria dos projetos arquitetônicos, aplicam-se os condicionantes legais

presentes em diversas legislações, como o Código de Obras, o Plano diretor,

dentre outras normas e regulamentos que embasam legalmente a

exequibilidade de uma obra arquitetônica.

Entretanto, essas legislações comumente consultadas, se mostram

direcionadas a construções fixas em um terreno, localizado uma determinada

cidade, ainda não sendo adaptadas a edificações transportáveis e compactas,

como é o caso desta que está sendo elaborada nesse trabalho.

Portanto, como base para o dimensionamento tanto o geral, quanto o

específico para cada cômodo, o programa de necessidades e a disposição dos

ambientes deste projeto, foram consultadas as referências, além da resolução

Nº210 de 13 de Novembro de 2006 do CONTRAN (Conselho Nacional de

Trânsito), a qual estabelece, dentre outros, os limites de dimensionamento

para veículos que transitem por vias terrestres e dá outras providências.

Segundo esta resolução (documento na íntegra nos anexos deste trabalho), as

máximas dimensões autorizadas para veículos com ou sem carga são de 2,60m

de largura e 4,40m de altura, sendo variável o comprimento máximo permitido.

Considerando que o objeto arquitetônico resultante deste trabalho será

transportado através de reboque acoplável em carro, podemos classificar o

todo (carro + reboque) como veículo articulado com duas unidades, do tipo

semi-reboque, para o qual a resolução estabelece um comprimento máximo

de 18,60m.

54

Capítulo 4: A Concepção Projetual: formas iniciais

Fonte: http://eugenialoli.tumblr.com

Figura 37: Abertura de Capítulo - A Concepção Projetual

55

Esse capítulo apresenta a evolução do projeto arquitetônico, desde o seu

conceito, partido até a análise das propostas projetuais.

4.1 O Partido Arquitetônico

Podemos considerar o partido arquitetônico desse projeto como resultado da

ideia central de que esta arquitetura proporcionasse uma integração plena do

homem com a natureza, o que seria traduzido através da tectônica utilizada e

da possibilidade de transporte do objeto arquitetônico. Estes aspectos

trouxeram limitantes dimensionais bastante significativos ao resultado final,

sobretudo quanto ao entendimento de uma habitação minimamente

confortável.

O problema da habitação mínima é o de estabelecer um mínimo elementar de espaço, ar, luz e calor, indispensáveis ao homem para que este possa executar suas funções vitais, sem restrições provocadas pela habitação, estabelecendo um modus vivendi mínimo em lugar de um modus non moriendi. (GROPIUS, 2013).

4.3 O conceito

O conceito que inspira esse projeto é o de

casulo, esta envoltória natural que ao mesmo

tempo abriga e prepara a borboleta para

amadurecer e voar livremente pela natureza,

sem uma rota pré-traçada.

Este conceito traduz metaforicamente a ideia

central do projeto e a relação

objeto/homem/natureza que aqui de

privilegia.

Figura 38: O Conceito

Fonte:

http://www.dancinphotos.net

/LoisGreenfield

56

4.4 Programa de Necessidades e Público Alvo

O estudo referencial elaborado no início do trabalho serviu como base para a

elaboração do programa de necessidades e a definição do porte do tipo

arquitetônico aqui trabalhado.

Sendo assim, pretendendo abrigar pessoas chegando a uma média de

tamanho de 9,6 metros quadrados (previsto na análise referencial),

estabelecemos que a edificação comportaria o máximo de duas pessoas e seu

programa de necessidades seria composto por quarto/sala, bwc e cozinha, com

possibilidade de varanda.

Estamos trabalhando no âmbito de um desejo individual, um estilo de vida

proposto, uma alternativa de abrigo. Dito isso, podemos caracterizar o nosso

público alvo como sendo constituído de pessoas as quais detém a vontade e a

coragem de experimentar momentos mais conectados com o meio natural,

indo de encontro às relações cada vez mais sintéticas que caracterizam o

cenário em que estamos inseridos.

São pessoas que, sozinhas ou com a companhia de um parceiro, almejam um

abrigo de contemplação e introspecção junto à natureza, ou que, de alguma

forma, relacionam seu trabalho com o meio natural e necessitam de um

apoio/moradia temporária em determinado lugar, também podemos citar os

viajantes assíduos, os quais desejam uma forma mais versátil de hospedagem,

dentre outras formas de utilizar e se relacionar com o projeto aqui elaborado.

Figura 39: Homem e Natureza

Fonte: http://moonandtrees.tumblr.com/

57

4.5 Estudos Formais e Funcionais

Os primeiros croquis de criação desse projeto foram inspirados no conceito

matrioska, bonecas russas, as quais são confeccionadas umas dentro das

outras, influência que pareceu bastante favorável ao tema aqui trabalhado,

afinal, tal conceito está diretamente relacionado à ideia de objeto compacto e

expansível.

Figura 40: Primeiros Croquis

Fonte: Acervo pessoal

Como percebemos na imagem a seguir, a primeira planta cumpria um plano de

necessidades composto por três cômodos: Quarto, Sala/Cozinha e Banheiro,

partindo do princípio de que havia um núcleo rígido o qual se expandia para

dois lados, opção descartada ao estabelecermos uma altura máxima externa

de 2,6m e interna de 2,2m.

Figura 41: Primeiros Croquís

Fonte: Acervo pessoal

58

A primeira proposta mais elaborada, a qual apresentava um programa de

necessidades composto pelos cômodos Quarto/Sala, Cozinha e Banheiro

(programa mantido para as próximas propostas). Este seria expansível apenas

em um dos lados, prevendo mobiliário flexível, instalações hidrossanitárias

abaixo do BWC e resultando em um formato de cubo.

Figura 42: Proposta 01 -Planta Baixa Recolhida

Fonte: Acervo pessoal

Figura 43: Proposta 01 - planta baixa expandida

Fonte: Acervo pessoal

Figura 44: Proposta 01 - Corte com Detalhe para a Caixa d'água Abaixo do Sanitário

Fonte: Acervo pessoal

59

Seguindo a mesma linha projetual, surgiu uma segunda proposta, dessa vez

com telhado em duas águas e caixa d’água verticalizada e locada ao lado do

BWC.

Figura 45: Proposta 02 - Planta Baixa Recolhida e Expandida

Fonte: Acervo pessoal

Figura 46: Proposta 02 - Corte

Figura 47: Proposta 02 - Maquete

Fonte: Acervo próprio

60

Ambas as propostas até agora apresentadas apresentavam áreas aproximadas

de 8,07m² quando expandidos e 5 m² quando comprimidos, também previam

utilização de estrutura metálica vedada com painéis sanduiche revestidos com

madeira, além de esquadrias do tipo tabicão. Esses pontos foram questionados

na pré-banca e em consultas posteriores a profissionais, afinal, a área do

projeto estava apresentando valores inferiores à média prevista pelo estudo

referencial (9,6m²), os materiais utilizados não condiziam com as intenções

ecológicas declaradas nos objetivos do trabalho e o método de expansão dos

módulos não estava claro.

Tais questionamentos instigaram alterações fundamentais no projeto, das

quais destaco a mudança na tectônica utilizada, visto que a utilização da

madeira como matéria prima estrutural se mostrou adequada para essa

edificação, constituindo um material renovável, reciclável, resistente, natural e

bem mais adaptado ao litoral que o aço previamente especificado.

A busca pelo sistema mecânico que possibilitaria a expansão e contração desse

objeto arquitetônico também estimulou transformações projetuais. Partindo

do princípio de que não seriam trabalhadas opções desmontáveis, os

mecanismos encontrados necessitavam de energia/aparato tecnológico os

quais não cabiam nessa proposta, fato que acarretou no abandono do conceito

matrioska de objeto expansível, dando lugar uma estrutura de núcleo rígido

com o conceito de casulo, o qual será detalhado no próximo capítulo.

61

PARTE 3: RESULTADO

PROJETUAL

62

Capítulo 5: Proposta Final do Projeto Arquitetônico

Fonte: http://eugenialoli.tumblr.com

Figura 48: Abertura de Capítulo - Proposta Final do Projeto Arquitetônico

63

Detalhamento e configuração final do projeto arquitetônico.

Para o dimensionamento específico dos elementos aqui descritos, foram

utilizadas as seguintes abreviações: L = Largura; H = Altura, C = Comprimento,

E = espessura e P = Peitoril.

5.1 Planta baixa e Zoneamento

O Projeto Casulo, resultado arquitetônico desse estudo, apresenta um

programa de necessidades básico de sala/quarto (3,60m²), cozinha (2,17m²),

BWC (1,22m²), circulação (0,43m²) área técnica (1,43m²), resultando em uma

área útil de 8,85m² e uma área total de 10,04m², valores dentro da média

prevista pelo estudo referencial (9,6m²). O pé direito predominante é de

2,26m, variando para 2,28m no banheiro.

Figura 49: Planta Baixa Humanizada

Fonte: Acervo Pessoal

O zoneamento do abrigo tem as divisões de área de convivência (quarto/sala,

cozinha circulação e banheiros e área técnica (indicada com o número 5 na

figura anterior) na qual fica toda a infraestrutura necessária para o abrigo

64

funcionar plenamente, contendo a caixa d’água, dois reservatórios de esgoto,

baterias, conversores e bomba além de espaço para outros itens: composteira,

caixa de ferramentas e escada aqui propostos.

5.2 Estrutura e Materiais

Esse tópico influenciou diretamente na configuração da proposta final, pois a

utilização do aço na estrutura foi repensada, percebendo-se que essa opção de

material ia de encontro a lógica da arquitetura ecológica, tão pretendida por

esse projeto, e por isso a definição da tectônica levada a diante foi a utilização

da madeira.

Das madeiras foi escolhida a Pinus, reflorestada, plantada no brasil e cuja

leveza e fácil tratabilidade justificam sua vasta utilização na construção civil.

Por se tratar de uma árvore conífera, resistente, mas bastante maleável, o

cerne estrutural do projeto precisaria ser bastante rígido, sendo resolvido

através de um sistema com oito pilares (H x L x E = 235 x 12 x 6 cm), 4 vigas

inferiores – baldrame (duas medindo H x L x E = 242 x 20 x 06 cm + duas com

400 x 20 x 06 cm) , 4 vigas superiores - cintamento superior (duas medindo H x

L x E = 242 x 20 x 06 cm + duas com 400 x 20 x 06 cm) e paredes, teto e piso

com uma estrutura de grelha com peças de 4 x 4 cm (paredes e teto) e 12 x 06

(piso), num sistema semelhante ao wood frame “sistema composta por perfis

de madeira que em conjunto com placas estruturais formam painéis estruturais

capazes de resistir às cargas verticais (telhados e pavimentos), perpendiculares

(ventos) e de corte transmitir as cargas até a fundação”. (PORTAL VIRTUHAB,

2013).

A estrutura bruta da edificação obteve fixação através de encaixes macho-

fêmea, reforçada com pregos a fim de proporcionar uma maior rigidez à

estrutura. No encontro das grelhas de teto e de piso com as vigas de contorno

também são utilizados conectores metálicos. O resto das fixações foram

resolvidas com parafusos autobrocantes galvanizados a fim de facilitar a

65

manutenção e contribuir para a durabilidade da estrutura. (Ver figuras 51, 52

e 53).

Figura 50: Estrutura com Pilares, Vigas, Grelhas de Piso Teto e Parede (com

espaçamento para janelas)

Fonte: Acervo pessoal

Fonte: Acervo pessoa

Figura 52: Encontro Entre Grelhas e Vigas de Contorno -Encaixe Fortalecido

com Conectores Metálicos

Fonte: Acervo pessoal

Figura 51: Encaixe Macho e Fêmea

66

É importante frisarmos que toda a madeira utilizada nessa estrutura deve ser

reta, seca e receber tratamento adequado para a prevenção contra insetos

xilófagos6 e umidade, além de não apresentar grandes nós. Os pregos e

parafusos utilizados devem ser galvanizados, afim de não oxidarem e assim

apresentarem eficácia duradoura. Além disso, é necessária a utilização de

silicone nas juntas entre placas, cantos de parede e ralos.

O transporte do abrigo projetado pode acontece por meio de reboque de aço

galvanizado acoplável em carro, ou guindaste.

5.2.1 Fundações

Sobre as fundações, estas correspondem a um dos principais anseios projetuais

desse exercício: que o construído pousasse no terreno, não exercendo grande

impacto ao solo.

Figura 53: Projeto Casulo sendo Rebocado

Fonte: Acervo próprio

Tal elemento também está diretamente relacionado à mobilidade do exemplar

projetado, afinal sua fundação depende da forma de transporte escolhida pelo

usuário. Ocorrendo o deslocamento por meio de reboque (priorizado nesse

trabalho), o abrigo projetado será fixado com de chapas metálicas em “L” (vide

Prancha 02) na base do reboque, permanecendo repousado ali mesmo, por

6 Segundo o Dicionário Aurélio, xilófago é o inseto que rói madeira e dela se nutre. Ferreira (2000)

67

outro lado, se tal edificação for transportada por meio de guindaste, o abrigo

poderá repousar em sapatas a serem dispostas no terreno e acopladas ao

objeto arquitetônico por meio de encaixe.

5.2.2 Base/Piso

A base estrutural do projeto é composta por 4 vigas inferiores formando o

baldrame (duas medindo 242 x 20 x 06 cm + duas com 400 x 20 x 06 cm), as

quais são reforçadas por uma grelha em perfis de madeira (12 x 6 cm) com

espaçamento vertical de 100cm e horizontal de 75cm (eixo a eixo). A conexão

de tais elementos acontece através de ligações macho-fêmea somadas a

pregos (vigas entre si e perfis da grelha entre si) e, além disso, nas áreas onde

há o encontro entre a grelha e as vigas, conectores metálicos são adicionados

ao sistema de fixação.

Acima da grelha são fixadas duas camadas de chapas de compensado naval

(espessura = 2cm cada), exceto no BWC, onde há a aplicação de apenas uma

chapa de compensado naval as quais são tratadas e impermeabilizadas com

resina poliuretana a base de mamona. Todo o piso será revestido com réguas

vinílicas, também impermeabilizadas, com a mesma coloração das usadas na

fachada (cor de madeira clara semelhante ao Pinus).

5.2.3 Paredes Externas

No sistema aqui desenvolvido, as paredes aparentam um sanduíche estrutural,

sendo compostas por uma grelha com perfis de madeira (4 x 4 cm) e

espaçamento vertical e horizontal de 30cm (eixo a eixo), padrão que sofre

alterações para a criação dos vãos onde serão locadas as esquadrias. Os perfis

são conectados, entre si e também com as vigas e os pilares, através de ligações

macho-fêmea reforçadas com pregos.

Toda a grelha é preenchida por espuma de poliuretano de base vegetal

(mamona) conferindo proteção térmica (espessura = 4cm). A vedação da

parede acontece, na parte externa, com painéis de compensado naval

68

(espessura = 20mm) e na parte interna com gesso acartonado

(espessura=12,5mm) material leve, de bom desempenho térmico e com

opções resistentes ao fogo.

Os painéis de compensado são fixados através de parafusos auto-brocantes e

revestidos externamente com impermeabilização a base vegetal (mamona)

para, em seguida receberem a aplicação do revestimento final, nesse caso

réguas vinílicas com cor semelhante à madeira pinus.

O gesso acartonado, devidamente impermeabilizado, recebe emassamento e

pintura na cor branca.

Figura 54: Perspectuva Esquemática da parede em Woodframe

Fonte: www.construtoraecoverde.com.br

5.2.4 Paredes Internas

A parede locada entre área de convivência e a área técnica é formada pela

junção de duas chapas de compensado naval de 2cm de espessura cada e

protegidas externamente com uma camada de réguas vinílicas brancas,

somada a um impermeabilizante com base vegetal. Entre as chapas é previsto

69

um vão de 4cm, resultando em um colchão de ar e também possibilitando a

passagem de instalações elétricas em seu interior (devidamente separadas).

As paredes do BWC são compostas por chapas de compensado naval com 2cm

de espessura cada, coladas umas nas outras e devidamente impermeabilizadas

com rezina poliuretana com base de mamona.

5.2.5 Cobertura

A cobertura dessa edificação é composta por vigas que correspondem ao

cintamento superior (duas medindo 242 x 12 x 06 cm + duas com 400 x 12 x 06

cm), as quais são reforçadas por uma grelha com perfis de madeira (4 x 4 cm)

cujo espaçamento vertical e horizontal de 40cm (eixo a eixo). A conexão de tais

elementos acontece através de ligações macho-fêmea somadas a pregos (vigas

entre si e perfis da grelha entre si) e, além disso, nas áreas onde há o encontro

entre a grelha e as vigas, conectores metálicos são adicionados ao sistema de

fixação.

O telhado apresenta inclinação correspondente a 1% e se resolve através de

um mecanismo semelhante ao das paredes externas, sendo nesse caso

composto pela junção de duas chapas de compensado naval de 2cm de

espessura cada, intercalados por uma espuma de poliuretano de base vegetal

com 3cm de espessura. Esse painel sanduíche também funciona como isolante

térmico e deve ser fixado através de parafusos autobrocantes na grelha

descrita anteriormente, além de ser protegido externamente por meio de uma

resina impermeabilizante a base vegetal.

5.2.6 Fachadas

As quatro fachadas que constituem a edificação (imagens no item 5.3 sobre

esquadrias) podem ser descritas como: Fachada frontal composta pelo toldo

retrátil, a porta camarão (P01) e o banco retrátil (ver ítem 5.4), ambos

confeccionados com ripas de madeira pinus; A fachada posterior, contendo as

portas P03 e P04 de acesso À área técnica, além das outras duas, que são

70

compostas por ripas em madeira pinus, os quais cumprem o papel de brises,

conferindo conforto térmico ao objeto construído, além de fazerem alusão às

cercas de faxina, elemento comumente utilizadas em nossa região.

Figura 55: Cerca de Faxina

Fonte: www.flickr.com/photos/valedaneblina/

5.3 Esquadrias

A concepção das esquadrias que compõem esse projeto arquitetônico foi

pensada visando, funcionalidade, aproveitamento de iluminação e ventilação

natural, ao mesmo tempo que considerou a nossa localização geográfica.

Nas fachadas, existem quatro conjuntos de portas. Primeiramente, na fachada

frontal (acesso ao interior do abrigo) há uma porta camarão (P01 segundo o

quadro de esquadrias) com quatro folhas (L x H x E = 58 x 180 X 3cm) composta

por perfis de madeira pinus (L x H x E = 3 x 180 x 3cm) unidos através de dois

filetes metálicos cilíndricos cada (E = 1cm). Tal esquadria cumpre o papel de

brise móvel para a porta de correr (P02) locada imediatamente ao lado, a qual

é composta por moldura de madeira pinus e visor de vidro com três folhas,

sendo uma fixa (L x H x E = 90 x 210 x 3cm) e duas móveis (L x H x E = 73 x 210

x 3cm). (Ver Figuras 57 e 58).

71

Figura 57: P01 e P02

Fonte: Acervo pessoal

Além dessas também temos a P05 que dá acesso ao BWC, feita com chapa de

compensado com 02cm de espessura, impermeabilizada com resina

poliuretana de base vegetal (mamona) e pintada na cor branco.

De um total de oito, seis janelas estão distribuídas em igual quantidade entre

as fachadas laterais direita e esquerda, todas contam com brises fixos a sua

estrutura, a qual é composta de envoltório de pinus com vidro no visor. Devido

à disposição das grelhas e pilares e também a uma questão estética, todas as

janelas possuem larguras distintas e por isso são classificadas como tipos

diferentes.

Seus peitoris e alturas variam entre três opções: Para janelas comuns, peitoris

e alturas de 100cm e 107cm respectivamente; para a janela alta da sala 164cm

e 43cm e para a janela alta do BWC 166cm e 43cm.

Na fachada lateral direita, a J01 (L x H x P = 155 x 43 x 166cm) corresponde a

janela alta do BWC, com abertura tipo maxiar; a J02 (L x H x P = 28 x 107 x

100cm) e também tem abertura maxiar; a J03 (L x H x P = 122 x 107 x 100cm)

com abertura do tipo bandeira. (Vide figura 59).

Na fachada lateral esquerda a J04 (L x H x P = 156 x 43 x 164cm) apresenta

abertura do tipo maxiar, assim como a J05, cujas dimensões são L x H x P = 60

x 107 x 100cm. A J06 por sua vez (L x H x P = 30 x 107 x 100cm) dispõe de

abertura do tipo bandeira. (Vide figura 60).

Figura 56: P03 e P04

72

Figura 58: J01, J02 e J03

Fonte: Acervo pessoal

Figura 59: J04, J05 e J06

Fonte: Acervo pessoal

As janelas J07 e J08 são venezianas de madeira fixa, locadas entre a área de

convivência e área técnica, sendo a JO7 (L x H x P = 1,30 x 18 x 208cm) e a J08

(L x H x P = 92 x 66 x 160cm). (Vide figura 61).

73

Figura 60: Vista Interna da Área Técnica para Visualizar J07 e J07

Fonte: Acervo pessoal

5.4: Acessórios/mobiliário

Pensando em um melhor aproveitamento do espaço, três móveis foram criados

num processo de criação conjunto ao projeto arquitetônico. São objetos

versáteis, dobráveis e/ou recolhíveis, criados a partir da necessidade de

conforto num espaço pequeno.

5.4.1: Móvel Versátil 01 - Cama/prateleira e Móvel versátil 02 – Mesa/Banco

Locados na área indicada em vermelho na figura abaixo, tais móveis são

compostos de madeira pinus, com colchão de fibra de coco.

Figura 61: Ubicação Móveis versáteis 01 e 02

Fonte: Acervo pessoal

74

Figura 62: Móveis versáteis - Opções de Articulação

Fonte: Acervo pessoal

5.4.2 Banco Retrátil

O banco retrátil (C x L x E = 242 x 46x4cm) compõe a fachada frontal da

edificação, além de patamar de entrada, também compõe uma espécie de

varanda, mediando o espaço interno e externo. Constituído por ripas de

madeira pinus conectadas por filetes metálicos, sua sustentação se dá a partir

75

de uma tesoura retrátil em aço galvanizado. (Localização indicada em vermelho

na figura seguinte).

Figura 63: Ubicação Banco Retrátil

Fonte: Acervo pessoal

Figura 64: Banco Retrátil - Recolhido

Fonte: Acervo pessoal

Figura 65: Banco Retrátil

Fonte: Acervo pessoal

76

5.4.3 Escada Portátil

A confecção da escada portátil se deu pela necessidade de se vencer o desnível

de 88cm de entrada no abrigo (no caso de utilização de reboque como base -

caso explorado nesse tralhado). Para tanto, a escada contém 5 degraus unidos

entre si através de trilhos, quatro deles com 18cm de espelho e um deles (o

primeiro) com 16cm. Os materiais utilizados são madeira pinus no piso e

alumínio na estrutura. Está previsto que a escada seja guardada na área

técnica, mas tal detalhamento não contém ubicação porque se trata de um

objeto portátil.

Figura 66: Escada Portátil - Recolhida

Fonte: Acervo pessoal

Figura 67: Escada Portátil - Expandida

Fonte: Acervo pessoal

77

5.5 Instalações hidrossanitárias e elétricas

Para os projetos hidráulico e elétrico da edificação, as estratégias de

instalações seguem a mesma linha de raciocínio que os sistemas de construção

convencional, apenas sendo necessárias adaptações ao tipo e porte do objeto

projetado, além da aplicação de medidas eficazes no tocante a proteção contra

vazamentos de fluidos, resguardando-se a estrutura (que também recebeu

tratamento adequado a tal exposição).

Para tanto, a fim de elaborar um projeto com soluções que simplificassem os

desdobramentos decorrentes da instalação e manutenção dos sistemas

hidráulico e elétrico, foi criada uma área técnica locada em uma das

extremidades do abrigo (aqui chamada de parte posterior), onde são

encontrados os tanques que distribuição e receptação de águas (caixa d’água,

reservatório de coleta de aguas pluviais com filtro e dois reservatórios para a

coleta de esgoto), bem como dois inversores, seis baterias de armazenamento

de energia e duas bombas que dão suporte aos reservatórios de água.

Figura 68: Área Técnica e Seus Componentes

Fonte: Acervo pessoal

78

5.5.1 Instalações hidrossanitárias

A disposição de todos os elementos que compõem a parte molhada (chuveiro,

bacia sanitária e pia da cozinha) desembocam na mesma parede, a qual

estabelece conexão direta com a área técnica descrita anteriormente.

O cálculo de pré-dimensionamento do reservatório de água foi feito com base

no livro “PREVISÃO DE CONSUMO DE ÁGUA, Interface nas Instalações Prediais

de Água e Esgoto com os Serviços Públicos”, do autor Plínio Tomaz, o qual

estabelece que em alojamentos provisório, o consumo médio de água por

pessoa por dia é de oitenta litros.

Sendo assim, para uma demanda de dois dias, um abrigo com dois usuários

necessita de 320L de água em seu reservatório: 80 litros multiplicado por 2

(número de pessoas) = 160; multiplicado pelo tempo (2 dias) = 320 L.

Para tanto, foi especificada uma caixa d’água (C x L x H = 1,10 x 0,5 x 0,70 m)

com capacidade para até 385 litros.

O esgoto é composto por dois reservatórios: um para águas negras

(provenientes do vaso sanitário) e outro para as denominadas águas cinzas

(provenientes da torneira da cozinha e chuveiro), ambos com o mesmo

tamanho (C x L x H = 0,95 x 0,5 x 0,25 m) e comportando 118,75 litros cada,

volume amplo, considerando-se que, para essa edificação, foi especificada uma

bacia sanitária a vácuo, sistema que reduz significativamente o consumo de

água de descarga, além da utilização de chuveiro e pia também econômicos.

Para o esvaziamento periódico de tais reservatórios, são previstas válvulas de

drenagem (mesmo sistema utilizado em ônibus, aviões, navios e trailers) que

possibilitam o descarte em postos de coleta devidamente capacitados.

79

5.5.3 Instalações elétricas

Retomando a ideia de que o objeto arquitetônico foi projetado com uma

preocupação ecológica e também por este não estabelecer vínculos com o

terreno habitado, a opção de obtenção energética definida foi a energia solar

captada através de painéis fotovoltaicos locados acima da cobertura.

Visto isso, o dimensionamento das partes foi feito com ajuda de profissionais

da área. Primeiramente, foi elaborado o cálculo simplificado que simulou o

consumo elétrico da edificação, baseado na demanda gerada pelos

equipamentos previstos, sendo estes: um frigobar, três tomadas de energia,

duas luzes de led e um cooktop com duas bocas, estabelecendo a necessidade

de 10Kw (quilowatt) / dia.

Em seguida, chegou-se ao pré-dimensiomento da infraestrutura necessária: Em

detrimento da pouca área de cobertura, todo o telhado foi ocupado, sendo

previstas 4 placas fotovoltaicas (cada uma medindo: C x L x H = 2 x 1 x 0,05 m),

em adição, se fez necessária especificação de quatro baterias com capacidade

de 150aH (ampère-hora) cujas dimensões individuais: C x L x H = 50 x 30 x 30

cm) e dois inversores com as mesmas medidas.

Foi considerada prudente a especificação de mais uma opção de captação de

energia elétrica, sendo esta representada por uma tomada de engate, muito

comum em trailers, as quais podem ser plugadas e locais específicos

estabelecendo um ponto de conexão entre a rede elétrica comum e o abrigo

nômade.

5.6 Estratégias de Conforto Ambiental

Primeiramente, é de suma importância declarar que para as estratégias de

conforto ambiental utilizadas, foi considerado que o Projeto Casulo encontra-

se na Zona bioclimática 8, mais especificamente em Natal/RN.

80

Ao estabelecer a demarcação bioclimática do território brasileiro, a NBR 15220

sugere estratégias projetuais específicas para cada região, as quais que irão

contribuir para uma melhor conforto ambiental e eficiência energética das

edificações, levando em consideração itens como: Dimensionamento e

proteção de aberturas, tipos de vedações, estratégias de condicionamento

térmico, dentre outros.

Para a nossa Zona Bioclimática, a norma acima citada recomenda que a

ventilação cruzada seja explorada, bem como a utilização de aberturas grandes

e sombreadas, nas quais seja possível o controle da entrada de luz e calor.

Desde a concepção do projeto Casulo, estratégias construtivas e espaciais para

a contribuição ao conforto térmico da edificação foram analisadas e aplicadas.

Tais estudos influenciaram diretamente na escolha da madeira como matéria

prima mais abundante no projeto e de cada material presente na edificação,

como a opção pelo uso da palha de coco em estofados, bem como a

preocupação de promover um isolamento térmico eficiente através da

utilização de uma espuma poliuretana de base de mamona.

Como resultado de consultorias com o LabCon/UFRN (Laboratório de Conforto

Ambiental/Universidade Federal do Rio Grande do Norte), foram elaborados

estudos a respeito da iluminação natural e da temperatura interna do abrigo.

No tocante a iluminação, foram realizadas duas simulações: uma posicionando-

se a fachada lateral esquerda para norte e outra com a mesma fachada voltada

para leste. O estudo considerou a data de 21-03-2015, com céu encoberto às

10h00 e 16h00h para a cidade de Natal-RN.

Com base nos materiais utilizados, foram indicadas cores claras nas paredes,

com 80% de refletância; no teto considerou-se cor de 70% de refletância e no

piso utilizou-se refletância de 35,5%. Os dados relatam que o ambiente tem

satisfatória disponibilidade de luz natural, apresentando iluminância acima de

300 lux, e cuja a faixa predominante do ambiente é entre 1000 e 3000, valores

81

que se apresentam segundo a NBR 5413 intitulada Iluminância de interiores

(vide anexos).

A análise de desempenho térmico, foi feita observando-se as camadas de

composição das paredes externas, sendo estas compostas por: uma camada de

compensado naval (espessura = 20mm), seguida por outra camada de espuma

de poliuretano de base vegetal com 6cm de espessura e finalizada por gesso

acartonado (espessura = 12,5mm).

O estudo trabalhou com três situações diferentes: a primeira mediu a

transmitância da parede sem a presença espuma poliuretana, chegando a um

resultado de 3,44 W/m².k, a segunda simulação considerou que o isolante

térmico teria 1cm de espessura, resultando em uma transmitância de 1,68

W/m².k e a terceira análise considerou os 6m de espessura da espuma

poliuretana, apresentando um resultado de 0,44 W/m².k de transmitância

térmica.

Tais estudos demonstraram que a partir de 1cm de isolante resultados

satisfatórios seriam atingimos, apresentando índices bem abaixo de 3,7

W/m².k, valor máximo estabelecido na “Tabela de absorbância solar,

transmitância térmica e capacidade térmica para as diferentes Zonas

Bioclimáticas” consultada no Regulamento Técnico da Qualidade para o Nível

de Eficiência Energética de Edificações Residenciais (RTQR) retirada da NBR

15.575-5 para a Zona Bioclimática 8 (vide anexos).

Tal resultado me convenceu a reduzir a espessura do isolante utilizado, sendo,

a partir de então, utilizada a espuma de poliuretano à base vegetal com 4cm

de espessura.

Concluindo, os estudos comprovam que a utilização de aberturas amplas e

protegidas além de paredes externas e cobertura com isolantes térmicos,

resultou em um sistema eficaz para a obtenção de suficiente iluminação

natural e temperatura agradável no interior do abrigo, resultado que contribui

para a qualidade da vivência arquitetônica do usuário.

82

5.7 Imagens e Simulações Digitais

A fim de ilustrar o projeto aqui desenvolvido, foram elaboradas imagens

digitais que simulam a sua passagem por várias paisagens.

Figura 69: Simulação Digital 01

Fonte: Acervo pessoal

83

Figura 70: Simulação Digital 02

Fonte: Acervo pessoal

Figura 71: Simulação Digital 02

Fonte: Acervo pessoal

84

Figura 72: Simulação Digital 03

Fonte: Acervo pessoal

Figura 73: Simulação Digital 04

Fonte: Acervo pessoal

85

PARTE 4: CONSIDERAÇÕES FINAIS,

REFERÊNCIAS E INFORMAÇÕES

COMPLEMENTARES

86

Considerações Finais

O presente estudo aconteceu ao se reviver a reflexão proposta por Bruno Zevi,

quando o mesmo sugere que as três dimensões do espaço necessitam de uma

quarta (o homem e suas atividades) para acontecerem plenamente. Tal

máxima esteve presente em toda a minha graduação e nesse trabalho não foi

diferente, pois busquei projetar uma arquitetura cujo sujeito seria a relação

entre o objeto arquitetônico, o usuário e a natureza.

A jornada de elaboração do trabalho foi intensa, visto que o tema escolhido

não apresenta bibliografia vasta, nem legislação desenvolvida, fatores que, por

um lado conferiram uma maior liberdade criativa, mas por outro aumentaram

o desafio projetual, acarretando momentos de insegurança.

Foi instigante adentrar no universo dessa nova tendência arquitetônica e

estudar estruturas temporárias, flexíveis e/ou transportáveis. A preocupação

do projeto com o meio ambiente também foi fator relevante para o alcance de

um resultado projetual coerente com as demandas atuais do planeta.

Por fim, é importante ressaltar que foi possível estudar e aplicar boa parte dos

conteúdos aprendidos durante o curso de Arquitetura da UFRN, além de

promover um estudo acerca de um tema pouco contemplado na graduação.

87

Referências

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SUSTENTÁVEL. In: GAUZIN-MÜLLER, Dominique.ARQUITETURA

ECOLÓGICA. Sao Paulo: Editora Senac São Paulo, 2011. p. 10.

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do Norte, Natal, 2013

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uma análise da experiência do Grupo Archigram à luz de duas teorias do projeto

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ZEVI, Bruno. Saber ver arquitetura. 5.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1992

90

Apêndice 01: Anteprojeto arquitetônico do Projeto Casulo

Prancha 01: Planta de Implantação (terreno ilustrativo);

Prancha 02: Planta de Cobertura e Planta Baixa Técnica;

Prancha 03: Planta Baixa de Layout e Planta Baixa Ilustrativa;

Prancha 04: Cortes A/A’ e B/B’;

Prancha 05: Cortes C/C’ e D/D’;

Prancha 06: Fachadas;

Prancha 07: Detalhamentos 01, 02, 03, 04 e 05.

91

Anexo A

Análise quanto aos índices de iluminância elaborada pelo LabCon UFRN.

92

Simulaçao: fachada lateral esquerda voltada para o norte as 10:00h da manhã.

93

Simulaçao: fachada lateral esquerda voltada para o norte as 16:00h.

94

Simulação: fachada lateral esquerda voltada para o leste as 10:00h da manhã.

95

Anexo B

Fragmento da tabela encontrada na NBR 5413 intitulada Iluminância de interiores indicando a quantidade de luz para ambientes

que receberão aitividades diversas.

96

Anexo C

Análise quanto aos índices de transmitância elaborada pelo LabCon UFRN

Resultado: A simulação da transmitância demonstrou que a espessura do isolante pode ser reduzido 1/3.

97

SIMULAÇÃO SEM A UTILIZAÇÃO DE ISOLANTE TÉRMICO: TRANSMITANCIA = 3,84W/m².K

98

SIMULAÇÃO SEM A UTILIZAÇÃO COM 1CM DE ISOLANTE TÉRMICO: TRANSMITÂNCIA = 1,68W/m².K

99

SIMULAÇÃO SEM A UTILIZAÇÃO COM 1CM DE ISOLANTE TÉRMICO: TRANSMITÂNCIA = 0,44W/m².K

100

Anexo D

Resolução Nº 210 de 13 de Novembro de 2006, que, dentre outros, estabelece

os limites de peso e dimensões para veículos:

MINISTÉRIO DAS CIDADES

CONSELHO NACIONAL DE TRÂNSITO

RESOLUÇÃO Nº 210 DE 13 DE NOVEMBRO DE 2006

Estabelece os limites de peso e dimensões para

veículos que transitem por vias terrestres e dá

outras providências.

O CONSELHO NACIONAL DE TRÂNSITO – CONTRAN, no uso da

competência que lhe confere o artigo 12, inciso I, da lei nº 9.503, de 23 de setembro

de 1997, que instituiu o Código de Trânsito Brasileiro e nos termos do disposto no

Decreto nº 4.711, de 29 de maio de 2003, que trata da Coordenação do Sistema

Nacional de Trânsito.

Considerando o que consta do Processo nº 80001.003544/2006-56;

Considerando o disposto no art. 99, do Código de Trânsito Brasileiro,

que dispõe sobre peso e dimensões; e

Considerando a necessidade de estabelecer os limites de pesos e

dimensões para a circulação de veículos, resolve:

101

Art. 1º As dimensões autorizadas para veículos, com ou sem carga,

são as seguintes:

I – largura máxima: 2,60m;

II – altura máxima: 4,40m;

III – comprimento total:

a) veículos não-articulados: máximo de 14,00 metros;

b) veículos não-articulados de transporte coletivo urbano de

passageiros que possuam 3º eixo de apoio direcional: máximo de 15 metros;

c) veículos articulados de transporte coletivo de passageiros: máximo

18,60 metros;

d) veículos articulados com duas unidades, do tipo caminhão-trator e

semi-reboque: máximo de 18,60 metros;

e) veículos articulados com duas unidades do tipo caminhão ou

ônibus e reboque: máximo de 19,80;

f) veículos articulados com mais de duas unidades: máximo de 19,80

metros.

§ 1º Os limites para o comprimento do balanço traseiro de veículos

de transporte de passageiros e de cargas são os seguintes:

I – nos veículos não-articulados de transporte de carga, até 60 %

(sessenta por cento) da distância entre os dois eixos, não podendo exceder a 3,50m

(três metros e cinqüenta centímetros);

II – nos veículos não-articulados de transporte de passageiros:

a) com motor traseiro: até 62% (sessenta e dois por cento) da

distância entre eixos;

102

b) com motor central: até 66% (sessenta e seis por cento) da distância

entre eixos;

c) com motor dianteiro: até 71% (setenta e um por cento) da distância

entre eixos.

§ 2º À distância entre eixos, prevista no parágrafo anterior, será

medida de centro a centro das rodas dos eixos dos extremos do veículo.

§ 3° O balanço dianteiro dos semi-reboques deve obedecer a NBR NM

ISO 1726.

§ 4° Não é permitido o registro e licenciamento de veículos, cujas

dimensões excedam às fixadas neste artigo, salvo nova configuração regulamentada

pelo CONTRAN.

Art. 2º Os limites máximos de peso bruto total e peso bruto

transmitido por eixo de veículo, nas superfícies das vias públicas, são os seguintes:

§1º – peso bruto total ou peso bruto total combinado, respeitando os

limites da capacidade máxima de tração - CMT da unidade tratora determinada pelo

fabricante:

a) peso bruto total para veículo não articulado: 29 t

b) veículos com reboque ou semi-reboque, exceto caminhões: 39,5 t;

c) peso bruto total combinado para combinações de veículos

articulados com duas unidades, do tipo caminhão-trator e semi-reboque, e

comprimento total inferior a 16 m: 45 t;

d) peso bruto total combinado para combinações de veículos

articulados com duas unidades, do tipo caminhão-trator e semi-reboque com eixos em

tandem triplo e comprimento total superior a 16 m: 48,5 t;

103

e) peso bruto total combinado para combinações de veículos

articulados com duas unidades, do tipo caminhão-trator e semi-reboque com eixos

distanciados, e comprimento total igual ou superior a 16 m: 53 t;

f) peso bruto total combinado para combinações de veículos com

duas unidades, do tipo caminhão e reboque, e comprimento inferior a 17,50 m: 45

t;

g) peso bruto total combinado para combinações de veículos

articulados com duas unidades, do tipo caminhão e reboque, e comprimento igual

ou superior a 17,50 m: 57 t;

h) peso bruto total combinado para combinações de veículos

articulados com mais de duas unidades e comprimento inferior a 17,50 m: 45 t;

i) para a combinação de veículos de carga – CVC, com mais de duas

unidades, incluída a unidade tratora, o peso bruto total poderá ser de até 57

toneladas, desde que cumpridos os seguintes requisitos:

1 – máximo de 7 (sete) eixos;

2 – comprimento máximo de 19,80 metros e mínimo de 17,50 metros;

3 – unidade tratora do tipo caminhão trator;

4 – estar equipadas com sistema de freios conjugados entre si e com

a unidade tratora atendendo ao estabelecido pelo CONTRAN;

5 –o acoplamento dos veículos rebocados deverá ser do tipo

automático conforme NBR 11410/11411 e estarem reforçados com correntes ou

cabos de aço de segurança;

6 – o acoplamento dos veículos articulados com pino-rei e quinta roda

deverão obedecer ao disposto na NBR NM ISO337.

§2º – peso bruto por eixo isolado de dois pneumáticos: 6 t;

§3º – peso bruto por eixo isolado de quatro pneumáticos: 10 t;

104

§4º – peso bruto por conjunto de dois eixos direcionais, com

distância entre eixos de no mínimo 1,20 metros, dotados de dois pneumáticos cada:

12 t;

§5º – peso bruto por conjunto de dois eixos em tandem, quando à

distância entre os dois planos verticais, que contenham os centros das rodas, for

superior a 1,20m e inferior ou igual a 2,40m: 17 t;

§6º – peso bruto por conjunto de dois eixos não em tandem, quando

à distância entre os dois planos verticais, que contenham os centros das rodas, for

superior a 1,20m e inferior ou igual a 2,40m: 15 t;

§7º – peso bruto por conjunto de três eixos em tandem, aplicável

somente a

semi-reboque, quando à distância entre os três planos verticais, que contenham os

centros das rodas, for superior a 1,20m e inferior ou igual a 2,40m: 25,5t;

§8º – peso bruto por conjunto de dois eixos, sendo um dotado de

quatro pneumáticos e outro de dois pneumáticos interligados por suspensão

especial, quando à distância entre os dois planos verticais que contenham os centros

das rodas for:

a) inferior ou igual a 1,20m; 9 t;

b) superior a 1,20m e inferior ou igual a 2,40m: 13,5 t.

Art. 3º Os limites de peso bruto por eixo e por conjunto de eixos,

estabelecidos no artigo anterior, só prevalecem se todos os pneumáticos, de um

mesmo conjunto de eixos, forem da mesma rodagem e calçarem rodas no mesmo

diâmetro.

105

Art. 4º Considerar-se-ão eixos em tandem dois ou mais eixos que

constituam um conjunto integral de suspensão, podendo qualquer deles ser ou não

motriz.

§1º Quando, em um conjunto de dois ou mais eixos, a distância entre

os dois planos verticais paralelos, que contenham os centros das rodas for superior

a 2,40m, cada eixo será considerado como se fosse distanciado.

§2º Em qualquer par de eixos ou conjunto de três eixos em tandem,

com quatro pneumáticos em cada, com os respectivos limites legais de 17 t e 25,5t,

a diferença de peso bruto total entre os eixos mais próximos não deverá exceder a

1.700kg.

Art. 5º Não será permitido registro e o licenciamento de veículos com

peso excedente aos limites fixado nesta Resolução.

Art. 6º Os veículos de transporte coletivo com peso por eixo superior

ao fixado nesta Resolução e licenciados antes de 13 de novembro de 1996, poderão

circular até o término de sua vida útil, desde que respeitado o disposto no art. 100,

do Código de Trânsito Brasileiro e observadas as condições do pavimento e das obras

de arte.

Art. 7º Os veículos em circulação, com dimensões excedentes aos

limites fixados no art 1º, registrados e licenciados até 13 de novembro de 1996,

poderão circular até seu sucateamento, mediante Autorização Específica e segundo

os critérios abaixo:

I – para veículos que tenham como dimensões máximas, até 20,00

metros de comprimento; até 2,86 metros de largura, e até 4,40 metros de altura,

será concedida Autorização Específica Definitiva, fornecida pela autoridade com

106

circunscrição sobre a via, devidamente visada pelo proprietário do veículo ou seu

representante credenciado, podendo circular durante as vinte e quatro horas do dia,

com validade até o seu sucateamento, e que conterá os seguintes dados:

a) nome e endereço do proprietário do veículo;

b) cópia do Certificado de Registro e Licenciamento do Veículo –

CRLV;

c) desenho do veículo, suas dimensões e excessos.

II – para os veículos cujas dimensões excedam os limites previstos no

inciso I poderá ser concedida Autorização Específica, fornecida pela autoridade com

circunscrição sobre a via e considerando os limites dessa via, com validade máxima

de um ano e de acordo com o licenciamento, renovada até o sucateamento do

veículo e obedecendo aos seguintes parâmetros:

a) volume de tráfego;

b) traçado da via;

c) projeto do conjunto veicular, indicando dimensão de largura,

comprimento e altura, número de eixos, distância entre eles e pesos.

Art. 8º Para os veículos não-articulados registrados e licenciados até

13 de novembro de 1996, com balanço traseiro superior a 3,50 metros e limitado a

4,20 metros, respeitados os 60% da distância entre os eixos, será concedida

Autorização Específica fornecida pela autoridade com circunscrição sobre a via, com

validade máxima de um ano e de acordo com o licenciamento e renovada até o

sucateamento do veículo.

Parágrafo único §1º A Autorização Específica de que trata este artigo,

destinada aos veículos combinados, poderá ser concedida mesmo quando o

caminhão trator tiver sido registrado e licenciado após 13 de novembro de 1996.

107

Art. 9o A partir de 180 dias da data de publicação desta resolução, os

semi-reboques das combinações com um ou mais eixos distanciados contemplados

na alínea “e” do parágrafo 1º do Art. 2°, somente poderão ser homologados e/ ou

registrados se equipados com suspensão pneumática e eixo auto-direcional em pelo

menos um dos eixos.

§ 1º - A existência da suspensão pneumática e do eixo auto-direcional

deverá constar no campo das observações do Certificado de Registro (CRV) e do

Certificado de Registro e Licenciamento (CRLV) do semi-reboque.

§ 2º Fica assegurado o direito de circulação até o sucateamento dos

semi-reboques, desde que homologados e/ ou registrados até 180 dias da data de

publicação desta Resolução, mesmo que não atendam as especificações do caput

deste artigo.

Art.10 O disposto nesta Resolução não se aplica aos veículos

especialmente projetados para o transporte de carga indivisível, conforme disposto

no Art. 101 do Código de Trânsito Brasileiro – CTB.

Art.11 As Combinações de Veículos de Carga-CVC de 57 t serão

dotadas obrigatoriamente de tração dupla do tipo 6X4 (seis por quatro), a partir de

21 de outubro de 2010.

Parágrafo único: Fica assegurado o direito de circulação das

Combinações de Veículos de Carga – CVC com mais de duas unidades, sete eixos e

Peso Bruto Total Combinado – PBTC de no máximo 57 toneladas, equipadas com

unidade tratora de tração simples, dotado de 3º eixo, desde que respeitados os

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limites regulamentares e registradas e licenciadas até 5 (cinco) anos contados a

partir de 21/10/2005.

Art.12 O não cumprimento do disposto nesta Resolução implicará nas

sanções previstas no art. 231 do Código de Trânsito Brasileiro, no que couber.

Art. 13 Esta Resolução entrará em vigor na data de sua publicação,

produzindo efeito a partir de 01/01/2007.

Art. 14 Ficam revogadas, a partir de 01/01/2007, as Resoluções

CONTRAN 12/98 e 163/04.

Alfredo Peres da Silva

Presidente

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Fernando Marques de Freitas

Ministério da Defesa – Suplente

Rodrigo Lamego de Teixeira Soares

Ministério da Educação – Titular

Carlos Alberto Ferreira dos Santos

Ministério do Meio Ambiente – Suplente

Valter Chaves Costa

Ministério da Saúde – Titular

Edson Dias Gonçalves

Ministério dos Transportes – Titular

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