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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE FADE - FACULDADE DE DIREITO, CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS E ECONÔMICAS CURSO DE DIREITO Victor Cunha Ribeiro TUTELA CIVIL DOS INTERESSES DIFUSOS: A Ação Popular e o efetivo exercício da cidadania Governador Valadares 2011

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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE

FADE - FACULDADE DE DIREITO, CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS E

ECONÔMICAS

CURSO DE DIREITO

Victor Cunha Ribeiro

TUTELA CIVIL DOS INTERESSES DIFUSOS:

A Ação Popular e o efetivo exercício da cidadania

Governador Valadares

2011

1

VICTOR CUNHA RIBEIRO

TUTELA CIVIL DOS INTERESSES DIFUSOS:

A Ação Popular e o efetivo exercício da cidadania

Monografia submetida ao Curso de Direito da Faculdade de Direito, Ciências Administrativas e Econômicas da Universidade Vale do Rio Doce, como requisito para obtenção do grau de bacharel em Direito. Orientadora: Beatriz Dias Coelho.

Governador Valadares

2011

2

VICTOR CUNHA RIBEIRO

A TUTELA CIVIL DOS INTERESSES DIFUSOS:

A Ação Popular e o efetivo exercício da cidadania

Monografia submetida ao Curso de Direito da Faculdade de Direito, Ciências Administrativas e Econômicas da Universidade Vale do Rio Doce, como requisito para obtenção do grau de bacharel em Direito.

Governador Valadares, março de 2011.

Banca Examinadora:

__________________________________________________

Prof. Beatriz Dias Coelho - Orientadora Universidade Vale do Rio Doce

__________________________________________________ Prof. Convidado

Universidade Vale do Rio Doce

__________________________________________________ Prof. Convidado

Universidade Vale do Rio Doce

3

Dedico à minha família pelo incentivo

e apoio na realização desse

trabalho e a Deus pela

força nessa longa

caminhada.

4

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por me guiar durante essa jornada de quase cinco

anos, me iluminando e protegendo sempre.

Agradeço à minha família, pois foram fundamentais em minha campanha, seja me

proporcionando ajuda financeira, seja de cunho afetivo, ou mesmo me instruindo

quando necessário.

Agradeço à minha namorada Paula, pelo incentivo oferecido e por se privar de

minha companhia para que eu pudesse me dedicar aos estudos.

Agradeço muito aos meus colegas de classe, que ao meu lado superaram mais essa

batalha da vida e muito contribuíram para minha formação.

Agradeço também aos meus amigos, que sempre prestaram o apoio necessário

quando eu mais precisei. Para meu amigo Eduardo, meus agradecimentos

especiais, pois ninguém me ajudou tanto fora das “quatro linhas”.

Por fim, merecedora de semelhante importância, está a minha orientadora Beatriz

Dias Coelho, a quem agradeço pela dedicação com a qual me instruiu na elaboração

deste trabalho acadêmico e pela paciência com a qual lidou perante alguns atrasos

de minha parte.

5

O que me preocupa não é nem o

grito dos corruptos, dos violentos, dos

desonestos, dos sem caráter, dos sem

ética... O que me preocupa é o silêncio

dos bons.

(Martin Luther King,1963).

6

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo discorrer sobre a tutela civil dos interesses difusos, abordando, sobretudo, a importância da ação popular no efetivo exercício da cidadania, destacando sua função como instrumento jurídico criado para proteger os bens da coletividade e, principalmente, para fiscalizar o patrimônio público. O trabalho é dividido em três tópicos basilares. Primeiramente, cuida-se de abordar a questão dos interesses difusos, traçando-se conceito, historicidade e fomentando sua classificação jurídica como pertencente a uma nova gama de interesses. São os denominados de esfera metaindividual, também conhecidos como interesses transindividuais, superando a velha classificação romana dicotômica do direito em público e privado. Em segundo plano, para entender o contexto em que se insere a ação popular, no âmbito dos interesses estudados, é necessário, precipuamente, analisar as suas particularidades, tendo em vista se tratar de uma ação autônoma com características peculiares. Finalmente, o importante a ser destacado e extraído do corpo do texto é a motivação do legislador em criar este aparelho jurídico, conferindo legitimidade à figura do cidadão em detrimento da simples personalidade civil ad causum. E é justamente disso que se trata o último tópico, no qual, volta-se a atenção para as idéias e objetivos consolidados ideologicamente por trás da Ação Popular, transformando-a em uma poderosa arma a serviço da população. Palavras-chave: Direitos transindividuais. Direitos difusos. Ação popular. Cidadania. Patrimônio público.

7

ABSTRACT

This paper aims to discuss the protection of civil interests, addressing the importance of popular action in the effective exercise of citizenship, emphasizing its role as a legal instrument designed to protect the assets of the community and especially to supervise the public patrimony. The work is divided into three parts in order to unravel, first, the concept behind the diffuse interests and its classification as part of a new range of rights aimed at protecting the interests transindividual, surpassing the old Roman dichotomous classification of duty in public or private. Then, to understand the context in which it operates the popular action is necessary, primarily, to examine its merits, in view of the case of an autonomous action with its own characteristics. What is important to highlight and extract the body text is the legislator's motivation in creating this legal instrument and not return it to the person, but the figure of the citizen. And it is said that this is the last topic. Voting will take place attention to the ideas and goals behind the locked ideologically Popular Action, transforming it into a powerful weapon in the service population. Keywords: Rights transindividual. Diffuse. Class action. Citizenship. Public property.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 09 2 DOS INTERESSES DIFUSOS ............................................................................... 11 2.1 CONCEITO ......................................................................................................... 12 2.2 HISTÓRIA ........................................................................................................... 14 2.3 CARACTERÍSTICAS ........................................................................................... 17 3 DA AÇÃO POPULAR ............................................................................................ 21 3.1 CONCEITO ......................................................................................................... 21 3.2 OBJETO .............................................................................................................. 22 3.3 PARTES .............................................................................................................. 24 3.4 FUNDAMENTOS ................................................................................................. 25 3.5 CONDIÇÕES DA AÇÃO ...................................................................................... 27 3.5.1 Legitimidade ad causum ................................................................................ 27 3.5.2 Interesse de agir ............................................................................................. 28 3.5.3 Possibilidade jurídica do pedido .................................................................. 28 3.6 COMPETÊNCIA .................................................................................................. 29 3.7 PROCEDIMENTO ............................................................................................... 30 3.7.1 Fase Postulatória............................................................................................ 30 3.7.2 Fase probatória .............................................................................................. 33 3.7.3 Sentença ......................................................................................................... 33 3.7.4 Recursos ......................................................................................................... 35 3.7.5 Execução popular .......................................................................................... 36 4 A AÇÃO POPULAR E O EFETIVO EXERCÍCIO DA CIDADANIA ....................... 38 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 42 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 44 ANEXOS ................................................................................................................... 46

9

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como tema a utilização efetiva da ação popular como forma

de tutelar os interesses difusos no âmbito da esfera civil.

Foi realizado com o objetivo precípuo de conscientizar a população acerca de

um direito fundamental que a assiste, qual seja o direito de denunciar, isto é, de

participar efetivamente na fiscalização do patrimônio público, dentre outros

interesses de ordem coletiva.

Tem a finalidade de nortear não apenas os acadêmicos de direito, ou pessoas

envolvidas no universo jurídico, mas levar a todas as pessoas o conhecimento da

matéria pública aqui tratada, ressaltando, é claro, a necessidade da sua efetiva

utilização.

Afinal, a ação popular se traduz exatamente em um espaço aberto ao

cidadão para que ele possa demandar judicialmente quando estiver diante da prática

de um ato lesivo, seja ele ilegal ou antiético, praticado por órgãos da Administração

Pública Federal, Estadual, Municipal, Autarquias e equiparados, envolvendo o

patrimônio público, o meio ambiente e a moralidade administrativa.

Esta monografia foi realizada como trabalho de conclusão do curso de Direito

da Universidade Vale do Rio Doce - UNIVALE, necessário para a obtenção do grau

de Bacharel em Direito.

O tema constante da presente obra foi desenvolvido em três capítulos. No

primeiro capítulo foi abordada a questão dos interesses difusos, sua conceituação,

história e características principais. O segundo capítulo trata-se de uma análise

ampla sobre a ação popular, onde não se objetivou esgotar o assunto, mas apenas

direcionar o leitor no sentido de compreender as circunstâncias sobre as quais se

fundamenta a ação popular, seu objeto, suas principais características e seu

procedimento legal. Finalizando o tema, o terceiro capítulo cuidou de ressaltar a

importância do instituto, sua aplicação no dia-a-dia e a necessidade de sua

efetividade junto à população.

Para a construção do trabalho foram utilizadas a legislação constitucional,

genérica e específica sobre o tema, diversas doutrinas e artigos científicos

publicados na internet, bem como foram selecionadas algumas matérias para

ilustrarem o assunto e que se encontram em anexo.

10

É primordial que o leitor extraia do corpo do trabalho a importância que recai

sobre o tema analisado e as conseqüências do emprego desse dispositivo

constitucional tão eficaz no combate à imoralidade administrativa.

Essa atitude, sempre que concretizada, é louvável, pois quando o cidadão

pleiteia modificar alguma das situações descritas acima, ele não está protegendo

apenas um interesse pessoal, mas está defendendo também o que denominamos

interesses difusos.

Entender a representatividade que incide sobre os interesses difusos, a

dinâmica e o processamento da ação popular e, por fim, a importância que recai

sobre o seu exercício efetivo para que possamos sempre defender o coletivo, é o

caminho a ser percorrido a partir de agora.

11

2 DOS INTERESSES DIFUSOS

Os interesses difusos são, conforme introduzidos, espécie e não gênero, se

enquadrando como parte da categoria dos interesses transindividuais, componentes

integrantes de uma gama de novos direitos. Direitos reconhecidamente advindos da

transformação da sociedade e da mudança de pensamento, segundo a qual se

tornou suplantada no tempo contemporâneo a visão subjetiva do interesse jurídico,

antes individual, para atingir, então, o coletivo, trabalhando de forma altruística.

Infelizmente, segundo o mestre Marcus Vinícius Rios Gonçalves, a antiga

bipartição dos ramos do direito em público e privado se tornou insuficiente para

abarcar os interesses da sociedade moderna (GONÇALVES, 2007). É verdade que

a massificação da sociedade trouxe consigo a necessidade de se encontrar

caminhos para não sobrecarregar a justiça com infindáveis processos individuais.

Também foi imprescindível encontrar uma solução para aquelas situações em que

não existia controvérsia entre dois indivíduos ou ainda de um indivíduo contra o

Estado, mas sim, o interesse de uma classe, categoria ou grupo de indivíduos,

pleiteando, muitas vezes, direitos abstratos e mutáveis.

Diante desse cenário de impasse judicial sobre a instrumentalização dos

interesses difusos, surgiu a denominada Lei de Ação Popular (nº 4.717/65) para

regulamentar o direito antes previsto pela Constituição Brasileira de 1934. A Lei

deixa bem clara a atuação da população na proteção desses direitos, impondo ao

cidadão a legitimidade para propor a ação popular, conferindo à população

participação efetiva no exercício de suas funções morais e cívicas.

Com a ampliação dos interesses protegidos pela ação popular atribuída pela

Nova Carta Constitucional, podemos entendê-la como uma verdadeira Constituição

Cidadã, devido ao seu caráter social, se adequando à nova realidade nacional e

buscando proteger sempre os bens mais importantes da sociedade, como é

necessário e inerente a uma Lei Fundamental de um país.

Entendida essa dinâmica social existente por trás dos interesses difusos, sua

classificação dentro da esfera dos interesses metaindividuais1 e sua importância

constitucional, passa-se a analisar a sua conceituação, historicidade e

1 Interesses metaindividuais são interesses que fogem á esfera individual da pessoa para alcançar a

coletividade.

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peculiaridades, a fim de melhor entender o que se apresenta com a construção

deste trabalho acadêmico.

2.1 CONCEITO

No meio jurídico, é comum existir opiniões controversas, especialmente

quando o assunto é conceituar um instituto. Mas, apesar de existirem variadas

conceituações dos interesses difusos, trazidas por diversos doutrinadores, verdade

seja dita, há entre elas um elo jurídico do qual a grande maioria se vale no momento

de definir o tema.

Esse elo ao qual se reportam é a definição legal do tema, conteúdo disposto

no enunciado do artigo 81, parágrafo único, inciso I da Lei nº. 8.078/90 - Código de

Defesa do Consumidor, qual seja: “interesses ou direitos difusos, assim entendidos,

para efeitos deste Código, os transindividuais2, de natureza indivisível, de que sejam

titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato”.

Observe que a própria lei se utiliza das expressões “interesse” e “direito”,

colocando uma ao lado da outra como sinônimas, representativas de que do

eventual interesse nasce o direito a ser pleiteado. Portanto, embora

etimologicamente essas palavras não sejam sinônimas, e existe em verdade certa

diferença entre elas, do ponto de vista jurídico em foco, elas assumem o mesmo

papel.

Superada essa discurssão, e conceituando os interesses difusos, citemos

para aclarar o assunto e oferecer um melhor entendimento, Rodolfo de Camargo

Mancuso (MANCUSO, 1991, p. 109):

São interesses metaindividuais que, não tendo atingido o grau de agregação e organização necessário à sua afetação institucional junto a certas entidades ou órgãos representativos dos interesses já socialmente definidos, restam em estado fluido, dispersos pela sociedade civil como um todo (v.g. o interesse à pureza do ar atmosférico), podendo, por vezes, concernir a certas coletividades de conteúdo numérico indefinido (v.g. os consumidores). Caracterizam-se: pela indeterminação dos sujeitos, pela indivisibilidade do objeto, por sua intensa litigiosidade interna e por sua tendência à transição ou mutação no tempo e no espaço.

2 Transindividual, para os efeitos da matéria aqui tratada é sinônimo de metaindividual.

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Para entendermos então o real significado do que são os interesses difusos, é

necessário nos ater às suas peculiaridades como direito fluido esparso e não

subjetivo, isto é, que socorre a todos, mas não pode ser invocado individualmente,

de forma subjetiva.

Segundo Marcus Vinícius Rios Gonçalves (2007, v.26, p. 6), pautam-se por

“três características fundamentais: a indivisibilidade do objeto; a indeterminabilidade

do sujeito; e a ligação deles por um vínculo fático, e não jurídico”.

Aduz ainda a respeito do tema, pautando pela indivisibilidade de seu objeto e

difícil determinabilidade do sujeito, o mestre Hugo Nigro Mazilli (MAZILLI, 1996, p.

7), fazendo questão de frisar também a ausência de vínculo fático preciso:

Difusos, pois, são interesses indivisíveis, de grupos menos determinados de pessoas, entre as quais inexiste vínculo jurídico ou fático muito preciso. (...) Não se trata de mera soma de interesses individuais independentes, pois supõem uma conexão entre eles, já que, embora indivisíveis, são compartilhados em igual medida pelos integrantes do grupo.

Como exemplos dessa dinâmica conceitual dos interesses difusos, temos o

direito da população a um meio ambiente saudável; o direito à integridade do

patrimônio público colocado à sua disposição; o direito de exigir dos seus

representantes eleitos uma postura moral condizente e, ainda citando o ilustre Hugo

Nigro Mazzilli (MAZILLI, 1996, p. 9), temos o seguinte caso:

Demos outro exemplo: a propaganda enganosa, feita pela televisão, atinge pessoas indeterminadas; o que as une é só o fato de terem tido acesso à propaganda. Não é quantificável e divisível o direito de cada integrante do grupo no sentido de ver coibida a continuidade da propaganda, ou de vê-la corrigida.

Sendo assim, diante de todas as considerações traçadas acima, podemos

conceituar interesse difuso como sendo aquele direito esparso, não taxativo, cujo

objeto é indivisível e pertencente a um grupo indeterminado de indivíduos ligados

por um fato comum, sem relação jurídica base, marcado por intensa litigiosidade

intrínseca, e que possui natureza fluente, sempre mudando no tempo e no espaço.

14

2.2 HISTÓRIA

Os interesses difusos sempre existiram, desde os primórdios da existência do

ser humano, porquanto grande parte da matéria já existia no plano fático, estando

esses interesses intimamente ligados à experiência humana. Eles surgiram de forma

natural, como bem prega o mestre Rodolfo de Camargo Mancuso (MANCUSO,

1991, p. 64):

Não padece dúvida que sempre existiram interesses difusos. Nem seria admissível outra constatação, visto que os interesses sempre emergiram, naturalmente, do plano da mera „existência-utilidade‟; de modo que interesses de todos os tipos e matizes puderam surgir de cada ponto para onde se voltaram a atenção ou vontade humanas.

O que acontece é que os interesses humanos, no plano jurídico, não se

convergiam para esses interesses em questão, mas sim, para a esfera subjetiva, na

forma do litígio entre dois indivíduos, mesmo que se tratasse de pessoas jurídicas

nos pólos da ação.

Isso fez com que o Estado valorizasse apenas os direitos relativos a um

titular. Os direitos difusos pela sua natureza não podem pertencer a uma ou duas

pessoas, mas sim, a toda uma coletividade indefinida, razão pela qual, foram

negligenciados por muito tempo.

Esse pensamento subjetivo descrito era aquele predominante no Direito

Romano desde sua época arcaica (753 a 130 a.C), quando surgiram os primeiros

sinais de amparo legal dos interesses difusos. Não existia uma proteção efetiva,

porquanto as ações da época se constituíam em exceções ao quadro geral,

conforme afirmado anteriormente.

Seguindo o ensinamento de Weverson Veigas (site Jus Navigandi, 2002) no

Direito Romano, ao lado das ações privadas existiam as ações populares, que

visavam à proteção de um interesse do autor (qualquer pessoa que tivesse sido

lesada em um direito próprio), porém, com caráter mais público do que privado, e as

ações públicas romanas, dadas a qualquer um do povo para defender

exclusivamente interesse público.

Necessário frisar, desde agora, que inúmeras eram as causas culminatórias

das ações populares e públicas, não se fazendo necessário citá-las, devido à

15

dinâmica do trabalho. No entanto, cabe anotar que, o autor, ao sair vitorioso de uma

ação dessa natureza, não auferia qualquer vantagem. Se perdesse, contudo, tornar-

se-ia devedor de uma multa à outra parte. Isto porque, neste caso, qualquer pessoa

poderia contestar a ação, bastando, para tanto, prestar juramento de boa-fé.

Enfim, seria o equivalente ao que hoje denominamos multa por má-fé, porém,

em maiores proporções, o que, certamente, muito desencorajava a população, que

então se calava.

E nessa direção se seguiu a proteção dos interesses coletivos até a queda do

Império Romano, quando as ações populares se tornaram inertes, diante da

dinâmica adotada pela sociedade da época, amparada na ideologia do autoritarismo

feudal e das monarquias absolutistas. Apesar disso, existem registros de que, na

Idade Média, em algumas repúblicas e reinos mediterrâneos, ainda existia a

presença das ações populares em seus regimes estatutários e aplicados em suas

jurisdições.

No momento em que o Estado passa a ser democrático, torna-se possível o

reaparecimento de um instituto como a ação popular, exatamente por seu caráter

democrático, proporcionando aos cidadãos o direito de defender a coisa pública.

Parece óbvio que, com o aparecimento de um Estado Liberal, o poder seria entregue

ao povo e a população se faria responsável por governar o país, tomando decisões

de suma importância.

Com o advento da Revolução Industrial, no século XIX, os tradicionais valores

individualistas foram ficando para trás, sucumbindo à nova realidade social, à

sociedade de “massa”.

A partir do fenômeno da massificação da sociedade, a tutela subjetiva se

tornou obsoleta diante dos grupos, classes e categorias que foram surgindo e

englobando as pessoas, enquanto indivíduos, agrupando-as, coletivizando, assim, o

sistema.

Paralelamente à Revolução Industrial e a já citada massificação da

sociedade, é importante citar o surgimento do sindicalismo, que veio aflorar ainda

mais esse sentimento pelo coletivo, agora, já do ponto de vista jurídico, sobretudo no

âmbito processual trabalhista. As ações não eram mais entre dois indivíduos, mas

entre o sindicato de uma classe contra o sindicato de outra.

Entretanto, foi na última metade do século passado, que o mundo assistiu ao

ápice da nova ordem social, presenciando dois novos acontecimentos que

16

alavancaram os interesses difusos a um novo patamar, providenciando tutela

jurídica adequada a eles.

Os acontecimentos foram o avanço da tecnologia/informatização, bem como a

globalização, que tratou de aproximar ainda mais as pessoas. Esses eventos foram

os principais responsáveis pela criação de uma nova economia mundial, a economia

de massa, fazendo surgir desse novo conceito uma importante categoria, a dos

consumidores.

Dessa evolução humana, naturalmente, e considerando o direito como algo

dinâmico, surgiram também institutos jurídicos modernos adequados a tutelar os

interesses difusos, na medida em que eles se tornaram mais presentes na

sociedade, e esta passou a enxergar que era necessário criar mecanismos próprios

para esses interesses, facilitando-lhes a proteção e defesa.

No exterior, o Bill of Piece inglês e as class actions americanas (ambas

modalidades de ações coletivas) foram as formas encontradas pela sociedade

contemporânea para enquadrar a representatividade jurídica de determinado grupo,

classe ou categoria de indivíduos, englobando, pois, a defesa de todos os direitos

transindividuais.

No Brasil, o surgimento do mandado de segurança foi fator preponderante

para proteger a população contra os atos ilegais das autoridades públicas. O referido

mecanismo foi previsto, pela primeira vez, na Constituição Federal de 1934 e essa

mesma constituição, em seu art. 113, nº. 38 disciplinou, pela primeira vez, a Ação

Popular, quando dispôs “Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a

declaração de nulidade ou anulação dos atos lesivos ao patrimônio da União,

Estados ou Municípios”.

A Ação Popular, Lei nº. 4.717/65 foi a forma adequada de tutela encontrada

para regulamentar a defesa dos direitos difusos e a primeira norma importante

relativa aos direitos metaindividuais, protegendo, a princípio, apenas o patrimônio

público. Mais tarde, com o advento da Constituição Federal de 1988, LXXIII, ampliou

seu alcance de modo a proteger “a moralidade administrativa, o meio ambiente e o

patrimônio histórico e cultural”.

Portanto, diante do exposto, não é exagero afirmar que somente nessas

últimas duas décadas, os interesses difusos atingiram o ápice de sua maturidade, no

plano da existência-necessidade-utilidade. Tais interesses existem, desde o

17

primórdio dos tempos, mas, apenas recentemente, ganharam consistência,

amplitude e disposição processual legal.

2.3 CARACTERÍSTICAS

Quando falamos de características, estamos falando de peculiaridades,

singularidades, ou ainda, pontos de diferenciação de uma coisa das demais.

Portanto, ao tentar estabelecer as características de determinado tema, têm-se

sempre pontos de vista diferentes.

Várias são as classificações pertinentes às características dos interesses

difusos, elaboradas por diversos doutrinadores. O objetivo aqui é apenas descrever

aquelas consideradas mais marcantes, sem o intuito de exaurir o assunto ou

delimitá-lo. As referidas características são:

a) INDIVISIBILIDADE DO OBJETO: os interesses difusos são indivisíveis,

pois não podem ser repartidos em quotas aos interessados, uma vez que pertencem

a todos, mas a ninguém especificamente.

Para ilustrar o descrito, vejamos um exemplo prático sempre citado por

diversos estudiosos: uma fábrica, instalada em uma cidade do interior, quando do

descarte do seu lixo, não tomou os cuidados necessários e acabou poluindo a água

daquela comunidade. Sendo assim, o interesse de que a empresa pare de poluir

pertence a todas as pessoas residentes na cidade e, ainda que apenas uma pessoa

intente ação contra a fábrica, todas sairão ganhando se a ação for julgada de forma

favorável.

Contudo, a improcedência do pedido efetuado pelo autor popular, vinculará

todos os interessados que também sofrerão as conseqüências. Fica entendido,

portanto, que os efeitos de uma demanda envolvendo interesses difusos, serão

sempre aproveitados a todos os que estão interligados pela realidade fática da

ocasião. É o que chamamos de efeito erga omnes3, existente desde os primórdios

da Ação Popular, e de seus similares no direito romano.

3 A expressão erga omnes é um termo jurídico em latim que significa dizer que uma norma ou decisão

terá efeito vinculante, ou seja, atingirá a todos e não apenas às partes em litígio.

18

b) INDETERMINABILIDADE DO SUJEITO: os interesses difusos são

marcados por sua natureza ampla, social, defendidos sempre como objetivo de

resguardar os direitos da coletividade, razão pela qual, não se deve analisar sua

titularidade, mas sim, a sua relevância dentro da sociedade.

Os detentores dos interesses difusos constituem um número tão significativo,

que não podem ser determinados, ou, ao menos tornam a sua determinação muito

difícil.

Para entendermos melhor, voltemos ao exemplo supracitado, referente à

fábrica poluidora do rio. Vejamos que o interesse em proibir a prática ilegal adotada

pela fábrica, a princípio seria das pessoas que residem na cidade, sobretudo da

população ribeirinha, vez que sofriam as consequências diretas da poluição.

Mas, deve-se levar em consideração que existe a possibilidade de um turista,

ao passar por aquela cidade, também contrair doenças advindas da mesma causa.

Sendo assim, é difícil determinar quem poderá ser atingindo pelos efeitos negativos

da poluição, bem como, quem poderá ser beneficiado com a paralisação da prática

poluidora.

Torna-se, portanto, dificultoso, mensurar a quantidade de pessoas que

adoeceram ou poderão adoecer quando, eventualmente, entrarem em contato com o

rio poluído. Da mesma forma, não se pode enumerar a quantidade de pessoas que

deixarão de adoecer se o direito a um ambiente saudável prevalecer.

c) A INTENSA LITIGIOSIDADE INTERNA: devemos entender a litigiosidade

em questão, como um próprio questionamento, da existência ou não, do direito

difuso e do seu atrito com os interesses de outros grupos, que se encontram dentro

da mesma realidade fática.

Como os direitos difusos estão esparsos, não possuindo uma taxatividade

legal e previsões jurídicas bem definidas, acabam surgindo muitas discurssões entre

diversos grupos da sociedade.

Por exemplo, uma associação de empresas quer investir na produção de

eucalipto em uma cidade do interior, e com isso trará desenvolvimento e gerará

empregos para população local. Porém, é de conhecimento das pessoas, que o

eucalipto é uma cultura que suga muita água do solo, prejudicando as outras terras,

bem como causando erosões no terreno. Sendo assim, estaremos diante do

19

interesse difuso a um meio ambiente conservado, desejoso da população, em

detrimento do interesse das empresas de eucalipto e seus empregados.

Nota-se, portanto que, em virtude da desagregação e falta de vínculo jurídico

básico, haverá sempre esse conflito, contrapondo interesses de diversas massas da

sociedade, daí essa intensa litigiosidade que é intrínseca aos interesses difusos,

pela sua própria natureza.

d) MUDANÇA NO TEMPO E NO ESPAÇO: os interesses difusos se

transformam no tempo e no espaço. Pensando no direito como algo dinâmico, que

deve acompanhar a transformação da sociedade, nos deparamos, por

conseqüência, com inúmeras normas que se tornam ultrapassadas, seja em um

século, seja em uma década, ou mesmo em alguns anos.

Os interesses difusos possuem uma dinâmica ainda maior em relação ao

direito material normativo, eis que podem surgir de forma repentina, imprevisível e

podem se extinguir tão rapidamente como surgiram, ou mesmo se transformar em

outro tipo de interesse.

Observemos o caso de uma empresa, que irá construir uma filial em

determinada cidade, e para isso precisará desmatar grande área verde. Bem, o

interesse difuso que surge da questão anotada, seria o de impedir a construção da

fábrica, visando proteger assim, o meio ambiente. Se não for exercido o direito

rapidamente, a fábrica será construída e então o objeto será alterado. Por

conseguinte, não se tornará mais possível lutar contra o desmatamento. No entanto,

pode-se cobrar, nesse momento, uma postura da empresa em relação a um possível

reflorestamento, bem como, a preservação de outra área verde.

Percebe-se, à partir do exemplo dado, como são voláteis os interesses

difusos e a urgência da sua aplicabilidade, antes que o direito pereça, devido a uma

transformação da situação e do momento.

Ainda analisando o exemplo acima, percebemos que o tempo passou, e a

situação quanto ao desmatamento se modificou, vez que esse foi praticado sem

intervenção alguma. Também o espaço do interesse difuso foi transformado e,

diante de uma intervenção tardia, restou lutar por um reflorestamento em área

diversa da original.

20

e) AUSÊNCIA DE RELAÇÃO JURÍDICA BASE: os sujeitos presentes em uma

relação pautada por interesses difusos, não precisam estar ligados uns aos outros

por meio de uma relação jurídica base, o que significa dizer, que a natureza da

ligação entre eles é tão somente fática, baseada nos acontecimentos do dia-a-dia,

que podem vincular várias pessoas.

Para demonstrar, é só examinar a seguinte situação: ao comprar um carro, o

cidadão realiza um contrato de compra e venda, porém, por desatenção, não

percebe uma cláusula abusiva presente no texto do contrato. Futuramente, ele é

prejudicado e resolve promover uma ação na justiça, visando defender seu interesse

na restituição do prejuízo. Observe que o direito vincula todos os prejudicados pela

cláusula abusiva. Por conseqüência, os detentores do direito são todos aqueles que

estão ligados entre si por uma relação jurídica base, qual seja, o negócio jurídico

celebrado com a empresa de automóveis.

Quando estamos tratando de interesses difusos não é necessário existir esse

vínculo jurídico descrito acima, mas tão somente, que os titulares estejam ligados de

fato entre si, por uma situação comum.

Exemplificando, podemos citar o caso no qual se persegue a reparação de

uma rodovia pública deteriorada e quase intransitável. Todos aqueles que sofreram

acidentes, ou que estão na iminência de sofrer, não estabeleceram nenhum contrato

específico com entes da Administração Pública, mas, tão somente buscam a

conservação de um patrimônio público. Veja que, diante dessa situação, não há que

se falar em relação jurídica base, mas tão somente de uma relação de fato

(deterioração de bem público) que implicou na busca de um direito difuso.

21

3 DA AÇÃO POPULAR

3.1 CONCEITO

A princípio, podemos definir a ação popular como sendo o mecanismo jurídico

processual, colocado à disposição da população cidadã, com o intuito de coibir atos

lesivos ao patrimônio público, ao meio ambiente, à moralidade administrativa e ao

patrimônio histórico e cultural. Mas, necessário se torna aprofundar a matéria, para

melhor compreensão.

Nas palavras do mestre Hely Lopes Meirelles (MEIRELLES, 2006, p. 130), a

Ação Popular é:

Um instrumento de defesa dos interesses da coletividade, utilizável por qualquer de seus membros. Por ela não se amparam direitos individuais próprios, mas sim interesses da comunidade. O beneficiário direto e imediato desta ação não é o autor; é o povo, titular do direito subjetivo ao governo honesto. O cidadão a promove em nome da coletividade, no uso de uma prerrogativa cívica que a Constituição da República lhe outorga.

Nesta esteira, reforçando o entendimento, dispõe o douto Rodolfo de

Camargo Mancuso (MANCUSO, 2001, p. 63), em sua obra sobre o tema:

No direito positivo brasileiro contemporâneo deve-se considerar popular a ação que, intentada por qualquer do povo (mais a condição de ser cidadão eleitor, no caso da ação popular constitucional), objetive a tutela judicial de um dos interesses metaindividuais previstos especificamente nas normas de regência... (grifo nosso).

Partindo de um ponto de vista mais processual, o ilustre Marcus Vinícius Rios

Gonçalves (GONÇALVES, 2007, p. 22) conceitua a ação popular como sendo “Ação

coletiva [...] Veiculada em processo de conhecimento, de procedimento ordinário,

com pedidos, em regra, de natureza desconstitutiva (ou declaratória) e

condenatória”.

Há de se destacar, finalmente, o conceito constitucional da ação popular,

previsto no inciso LXXIII do art. 5º da Constituição Federal de 1988, que ampliou o

antigo conceito legal disposto no artigo 1º da Lei 4.717/65:

22

Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de qual o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência.

Estabelecendo, pois, um ponto de intersecção entre os conceitos

supracitados, podemos definir a ação popular como sendo um instrumento de

defesa dos interesses coletivos, veiculado em processo de conhecimento, de

procedimento ordinário, colocado à disposição de qualquer do povo, que comprove

sua condição de cidadão, objetivando anular ato lesivo ao patrimônio público, à

moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural,

através de pedidos de natureza desconstitutiva (ou declaratória) e condenatória.

3.2 OBJETO

A despeito do prenunciado na Constituição do Império de 1.824, objetivando o

uso da ação popular, como forma de coibir as práticas de suborno, peita, peculato e

concussão, entende a doutrina predominante que, o instituto da ação popular, nos

moldes como a conhecemos nos dias de hoje, surgiu, de fato, com sua disposição

legal na Constituição da República de 1934.

O art. 113, nº 38, da Constituição Brasileira de 1.934 previa: “Qualquer

cidadão será parte legítima para pleitear a declaração de nulidade ou a anulação

dos atos lesivos ao patrimônio da União, dos Estados ou dos Municípios”.

A Lei nº 4.717 de 29 de junho de 1.965, também tratava de destacar, como

bem jurídico a ser protegido, o patrimônio público, como bem ressalta o colendo

Hely Lopes Meirelles (MEIRELLES, 2006, p. 129):

Ação Popular é o meio constitucional posto à disposição de qualquer cidadão para obter a invalidação de atos ou contratos administrativos – ou a estes equiparados – ilegais e lesivos do patrimônio federal, estadual e municipal, ou de suas autarquias, entidades paraestatais e pessoas jurídicas subvencionadas com dinheiros públicos.

23

Com o advento da Constituição Federal de 1988, as hipóteses de cabimento

da ação popular foram aumentadas. Não mais se restringiria apenas ao patrimônio

público.

Vejamos o que Constituição Cidadã de 1988 preceitua:

Art. 5°, LXXIII. Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade em que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente, ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência.

A Lei Magna consolidou, portanto, os objetos de que trata a ação popular,

sendo bem taxativa em seu texto. Sendo assim, compreende-se que é cabível a

ação popular nos casos em que houver lesividade ao patrimônio público, à

moralidade administrativa, ao meio ambiente, ao patrimônio histórico e cultural.

Dentre os atos com presunção de lesividade, sujeitos à anulação através de

ação popular, a Lei 4.717/65 enumera: I – a admissão ao serviço público

remunerado com desobediência às condições de habilitação, às normas legais,

regulamentares ou constantes de instruções gerais; II – a operação bancária ou de

crédito real realizada irregularmente; III – a empreitada, a tarefa e a concessão de

serviço público contratadas sem concorrência, ou com edital irregular, ou com

limitação discriminatória para os concorrentes; IV – as modificações ou vantagens

em contratos que não estiverem previstas em lei ou nos respectivos instrumentos; V

– a compra e venda de bens móveis e imóveis realizada irregularmente ou com

preço superior ou inferior ao real; VI – a concessão irregular de licença de

importação e exportação; VII – a operação irregular de redesconto; VIII – o

empréstimo irregular concedido pelo Banco Central da República; IX – a emissão,

quando efetuada sem observância das normas constitucionais, legais e

regulamentares que regem a espécie (art. 4º).

Além dos específicos casos de anulação citados acima, também são

passíveis de anulação pela ação popular os atos das entidades enumeradas no art.

1º da Lei 4.717/65, que contenham quaisquer dos seguintes vícios: incompetência

de quem os praticou; vício de forma; ilegalidade do objeto; inexistência dos motivos;

ou desvio de finalidade. Cuidou a própria lei de explicar de forma pormenorizada o

conceito de cada um dos vícios apontados acima.

24

3.3 PARTES

Como foi abordado durante o curso de todo o trabalho, o legitimado para

propor a ação popular é o cidadão, entendido, para todos os efeitos, a pessoa física

(súmula 365 do STF), brasileira, no gozo de seus direitos políticos, sendo admitidos

o litisconsórcio facultativo ulterior e a assistência, ambas as figuras no pólo ativo,

segundo disposto no §5º do art. 6º da Lei 4.717/65.

Válido se destacar que, o relativamente incapaz, entendido como aquele entre

16 e 18 anos, também poderá exercer esse direito sem a necessidade de se fazer

representar. Isso porque, embora não tenham capacidade processual para outras

demandas judiciais, se encontram no pleno gozo de seus direitos políticos.

Quis o legislador atingir uma lógica muito razoável, qual seja, estender os

direitos políticos do cidadão, para que pudessem, após escolher seus

representantes públicos, exercitarem o direito de fiscalizá-los.

Para provar sua legitimidade processual, o cidadão deverá instruir a inicial

com cópia do seu título de eleitor.

Em caso de desistência ou inércia por parte do autor da ação popular, “...

serão publicados editais para que no prazo de noventa dias, qualquer outro cidadão

ou o Ministério Público possam assumir o pólo ativo” (GONÇALVES, 2007, p. 25).

Caberá ao Ministério Público, promover a execução da sentença, em caso de

decurso do prazo de sessenta dias sem que o autor ou terceiro a tenham promovido.

O Órgão Ministerial terá o prazo de 30 dias para promover a execução, sob pena de

falta grave, diante do inadimplemento temporal (art. 16 da lei 4.717/65).

No pólo passivo, haverá uma conglobação subjetiva, devido à intenção do

legislador de alcançar e trazer para o âmbito da ação, não só os responsáveis

diretos pela lesão, mas também, aqueles que tenham, direta ou indiretamente,

concorrido para o resultado, seja por ação ou omissão, e ainda, os terceiros

beneficiários.

De acordo com o disposto no artigo 6º. da Lei 4.717/65, a ação deverá ser

proposta, contra as pessoas públicas ou privadas e as entidades referidas no art. 1º,

contra as autoridades, funcionários ou administradores que houverem autorizado,

aprovado, ratificado, ou praticado o ato impugnado, ou que, por omissas, tiverem

dado oportunidade à lesão, e contra os beneficiários direitos do mesmo.

25

É necessário frisar que o legislador pretendeu alcançar não apenas os

causadores da lesão, mas também todos aqueles que se beneficiaram diretamente

dela.

Além das pessoas citadas no caput do artigo 6º. da Lei 4.717/65, que deverão

figurar em litisconsórcio necessário, poderá ser admitido como assistente simples

dos réus, o funcionário causador do dano, vez que possui interesse na demanda,

pois poderá ser demandado em regresso, caso a sentença seja desfavorável aos

assistidos.

Por fim cabe anotar a observação do §2º. do referido artigo 6º. O dispositivo

legal determina que, nos casos de realização de operação bancária ou de crédito

real, quando o valor real do bem dado em hipoteca ou penhor for inferior ao

constante da escritura, contrato ou avaliação, deverão ser citados, como

litisconsortes necessários, os responsáveis pela avaliação inexata e os seus

beneficiários.

3.4 FUNDAMENTOS

Ao propor uma ação na justiça, o autor deve sempre indicar os fundamentos,

de fato e de direito, que amparam sua incursão ao judiciário. Com a ação popular

não é diferente.

Porém, como estudado, a ação popular é um instrumento jurídico destinado a

fiscalizar a Administração Pública e preservar o patrimônio público, ambiental,

histórico e cultural. Sendo assim, merece um tratamento diferenciado por tratar de

matéria coletiva.

Deverá ser realizada uma análise primária do juiz, de modo a verificar a

existência de um direito difuso propriamente pleiteado, tendo em vista, a

impossibilidade de se tutelar, em uma ação de natureza coletiva, interesse próprio.

Ultrapassada a análise preliminar em questão, o autor deverá demonstrar os

fundamentos jurídicos que amparam o pedido. Deverá, portanto, comprovar

agressão existente a qualquer dos objetos protegidos pela ação popular.

Sempre existiu, no entanto, controvérsia a respeito da necessidade do autor

comprovar o binômio ilegalidade-lesividade do ato impugnado.

26

Lesividade pode ser entendido como “o ato ou omissão administrativa que

desfalca o erário ou prejudica a Administração, bem como aquele que ofende bens

ou valores artísticos, cívicos, culturais, ambientais ou históricos da comunidade”.

(MEIRELLES, 2006, p. 132). Parece não haver dúvidas de que a sua comprovação é

necessária, pois, se não houver lesão, efetiva ou potencial, não há que se falar em

configuração de dano ou prejuízo a qualquer dos bens tutelados. Se não houver

prejuízo, carecerá o autor de condição essencial do direito de ação, qual seja, do

interesse de agir.

A ilegalidade deve ser entendida como o ato contrário ao Direito, seja por

atingir normas específicas que regem sua prática (vício formal), seja por atingir

princípios gerais que norteiam a Administração Pública (MEIRELLES, 2006).

Repare que na visão do mestre Hely Lopes Meirelles, a ilegalidade pode

nascer de uma afronta direta à norma escrita, ou mesmo atingir os princípios gerais

que norteiam a Administração Pública. Partindo do amplo entendimento de

ilegalidade aqui traduzido, pode-se concluir que se trata de preceito fundamental

para a propositura da Ação Popular.

Adepto dessa corrente, o colendo Marcus Vinícius Rios Gonçalves afirma que

é possível um ato administrativo não ofender diretamente a lei, mas seja

incompatível com as regras gerais que regem a Administração, e dispõe que, “No

art. 4º. Da Lei de Ação Popular, encontram-se exemplos de ofensa não propriamente

à lei, mas à moralidade pública, como a compra de bens por valor superior, ou a

venda, por valor inferior ao de mercado” (GONÇALVES, 2007).

No entanto, alguns doutrinadores entendem a ilegalidade em sua forma

restrita, como sendo o desrespeito apenas às normas positivas que regulam

determinada atividade, excluindo os princípios gerais administrativos.

Trata-se a discussão apenas de uma divergência de entendimento quanto ao

conceito de ilegalidade. Entendemos e pactuamos com a posição doutrinária

majoritária, que entende a ilegalidade em sentido amplo, fazendo-se necessária e

indispensável a sua comprovação. Porquanto, ainda que não seja necessário

apontar artigo de lei específico, é importante esclarecer os pontos onde o ato

praticado não se coaduna com as regras gerais da Administração Pública.

27

3.5 CONDIÇÕES DA AÇÃO

Embora seja a Ação Popular uma ação diferenciada, por se tratar de interesse

coletivo, e em muitos casos versar sobre direito abstrato, ou direito ainda não

existente, sem a legitimidade ad causam, o interesse de agir e a possibilidade

jurídica do pedido, a ação carecerá de condições necessárias à sua propositura,

razão pela qual, será extinta sem julgamento do mérito.

3.5.1 Legitimidade ad causum 4

A legitimidade para a causa, segundo Humberto Theodoro Júnior

(THEODORO JÚNIOR, 2002, p. 54):

Desarte, legitimados ao processo são os sujeitos da lide, isto é, os titulares dos interesses em conflito. A legitimação ativa caberá ao titular do interesse afirmado na pretensão, e a passiva ao titular do interesse que se opõe ou resiste à pretensão.

Na Ação Popular, o titular do interesse tutelado é o povo, visto se tratar de

direitos difusos, ou seja, aqueles direitos pertencentes a todos da população. Porém,

legitimado, segundo a Lei Maior, é o cidadão que integra a coletividade, a quem

interessa a tutela discutida.

No entanto, não há que se falar no caso em questão, em legitimidade

ordinária, vez que, não poderão figurar no pólo ativo toda a coletividade. Também

não se pode afirmar que seja uma representação, pois, na representação, a pessoa

que vai a juízo, o faz em nome de terceiro para tutelar direito alheio, enquanto na

ação popular, o legitimado atua em nome próprio defendendo interesse da

coletividade. Trata-se, pois, de legitimidade extraordinária, conferida

constitucionalmente.

No pólo passivo deverão figurar as pessoas jurídicas, públicas ou privadas,

em nome das quais foi praticado o ato a ser anulado e mais as autoridades,

funcionários ou administradores que houverem autorizado, aprovado, ratificado ou

4 Legitimidade ad causam quer dizer legitimidade para a causa.

28

praticado pessoalmente o ato ou firmado o contrato impugnado, ou que, por omissos

tiverem dado oportunidade à lesão, como também, os beneficiários diretos do

mesmo ato ou contrato (art. 6º da Lei nº. 4717/65).

Cabe destacar também, a terceira opção dada pelo legislador ao sujeito

passivo quando da sua citação. Além de contestar o pedido, ou permanecer calada,

pode a pessoa jurídica reconhecer a nulidade do ato ou contrato, e passar para o

lado do autor, atuando como seu assistente simples.

3.5.2 Interesse de agir

O interesse de agir se configura como o interesse do cidadão em procurar a

justiça, utilizando-se do meio legítimo a ele conferido, como forma de resolver seus

problemas, quando não foi possível encontrar outra solução.

Sendo assim, caracteriza-se o interesse de agir, pelo binômio necessidade-

adequação, tendo em vista o ajuizamento da ação popular se tratar de um meio

necessário para a satisfação do direito e também se constituir na forma mais

adequada de tutela-lo.

Importante se destacar a diferença entre o interesse material e o interesse de

agir. O primeiro se trata de direito material protegido pela ação popular, qual seja, a

integridade do patrimônio público, cultural, histórico, ambiental e a moralidade

pública. O segundo é a escolha da via adequada e necessária à satisfação do direito

material.

A lesão a qualquer dos interesses difusos defendidos pela ação popular,

configura o interesse do cidadão, em sua propositura. Válido lembrar que a ameaça

de lesividade também serve a esse propósito como demonstra. “A lesão, ou a

simples ameaça, é bastante para indicar o interesse de cidadão, que tem direito a

uma administração adequada íntegra, eficiente” (GONÇALVES, 2007, p. 31).

3.5.3 Possibilidade jurídica do pedido

29

A última parte da trilogia das condições da ação trata-se de enquadrar o

pedido ofertado pelo autor ao sistema jurídico vigente.

Vale dizer que o pedido contido na peça inicial deve, em uma primeira

análise, estar previsto na norma abstrata. Isso se deve ao positivismo jurídico

adotado pelo nosso país.

No entanto, podem ocorrer hipóteses nas quais a pretensão do autor não vai

encontrar amparo na norma legal. Contudo, o pedido pode estar em consonância

com sistema jurídico com um todo, uma vez que este não se constitui apenas de

leis, mas também de outras fontes de interpretação jurídica, a saber: analogia,

equidade, princípios gerais do Direito, doutrina e jurisprudência.

Sendo assim, se existir compatibilidade entre o pedido ofertado pelo autor e o

sistema jurídico como um todo, verifica-se, portanto, a existência da possibilidade

jurídica do pedido. O magistrado não pode exaurir a análise do pedido nessa fase ou

estaria julgando de forma extemporânea o mérito.

3.6 COMPETÊNCIA

A matéria é regida pelo art. 5º. da Lei 4717/65 e seus parágrafos.

Para entender as normas de competência estabelecidas é necessário se

analisar basicamente dois critérios:

1) Territorial, onde se leva em conta a origem do ato impugnado. Estabelece

como competente para julgar os atos ou contratos efetuados pela União, a seção

judiciária competente da Justiça Federal (CF, art. 109,I). Para se determinar a seção

competente, é preciso analisar o §2º do art. 5º da Lei de Ação Popular: “as causas

intentadas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária em que for

domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à

demanda ou onde esteja situada a coisa, ou ainda, no Distrito Federal”, cabendo a

escolha ao autor.

Se o ato tiver seu nascedouro na esfera estadual, a competência para julgar a

causa será da Comarca da Capital, onde é o domicílio do Estado. Deverá ser

intentada a ação na Vara da Fazenda Pública.

30

Finalmente, se a ação for contra ato praticado pelo Município, será proposta

no Foro da respectiva Comarca, em Vara da Fazenda Pública, se houver, ou, na

falta desta, em qualquer Vara Cível.

2) Hierárquico. O §2º do art. 5º da Lei 4717/65 estabelece claramente solução

para conflito de competência que possa haver em caso de interesses recíprocos

entre os entes federativos, estabelecendo:

“Quando o pleito interessar simultaneamente à União, e a qualquer outra pessoa ou entidade, será competente o juiz das causas da União, se houver; quando interessar simultaneamente ao Estado e ao Município, será competente o juiz das causas do Estado, se houver”.

Para que não haja confusão quanto à determinação da competência do juízo,

é útil destacar uma peculiaridade contida no §1º do art. 5º da Lei 4717/65. Segundo

o dispositivo legal, se equiparam a atos da União, do Distrito Federal, do Estado ou

dos Municípios aqueles dos entes criados ou mantidos por essas pessoas jurídicas

de direito público, bem como os atos das sociedades de que elas sejam acionistas e

os das pessoas ou entidades por ela subvencionadas ou em relação às quais

tenham interesse patrimonial.

A propositura da ação popular prevenirá a competência para o

processamento de outras posteriores que forem intentadas contra as mesmas partes

e sob os mesmos fundamentos (art. 5º, § 3º, da Lei 4717/65).

As ações populares correm em primeira instância, ainda que delas participem

autoridades contra as quais, a competência originária seja de superior instância.

3.7 PROCEDIMENTO

3.7.1 Fase Postulatória

O primeiro passo para propor uma ação popular é a petição inicial. Esta deve

ser realizada pela parte legítima, sempre contendo os requisitos do art. 282 do

Código de Processo Civil, e, no caso específico da ação popular, instruída com

31

documento comprobatório da sua condição de cidadão, qual seja, seu título de

eleitor ou outro documento de natureza similar.

Poderá o autor, antes de propor a ação popular, requisitar das autoridades

administrativas, quaisquer documentos ou informações necessárias, de modo a

instruir sua peça inicial. Todavia, o fato de a autoridade pública se recusar a fornecer

o requerido, não constitui óbice à propositura da ação, que será recepcionada da

mesma forma.

Recebida a inicial, o juiz deverá fazer uma análise primária. Em percebendo

lesividade efetiva ou iminente a qualquer dos objetos da ação, poderá conceder a

suspensão liminar do ato, como forma de defender o patrimônio público (redação

dada pela Lei 6.513/77). Da decisão favorável à liminar, cabe recurso de Agravo de

Instrumento, como veremos adiante.

Em seguida, preceder-se-á a citação dos réus, na forma do artigo 6º da Lei

4.717/65, onde deverão figurar em litisconsórcio necessário. Também será intimado

o Ministério Público, interveniente obrigatório na ação popular.

Válido lembrar que, se forem descobertos novos responsáveis ou

beneficiários do ato impugnado, estes deverão ser citados para oferecer contestação

e produzir provas, sendo-lhes restituído o prazo legal, em virtude do direito ao

contraditório e a ampla defesa, razão pela qual, o processo ficará temporariamente

suspenso.

Em relação à modalidade de citação adotada no procedimento da ação

popular, o artigo 7º, II, da Lei 4.717/65 dispõe:

“Quando o autor o preferir, a citação dos beneficiários far-se-á por edital com prazo de 30 (trinta) dias, afixado na sede do juízo e publicado três vezes no jornal oficial do Distrito Federal, ou da Capital do Estado ou Território em que seja ajuizada a ação. A publicação será gratuita e deverá iniciar-se no máximo 3 (três) dias após a entrega, na repartição competente, sob protocolo, de uma via autenticada do mandado”.

Desse modo, o legislador confia ao autor a escolha sobre o procedimento de

citação a ser adotado, o que pode resultar em grave ofensa ao contraditório

constitucional, nas palavras do mestre Marcus Vinícius Rios Gonçalves

(GONÇALVES, 2007, p. 37):

32

“Parece-nos, entretanto, que a citação por edital deve ficar reservada para as hipóteses previstas no art. 231 do Código de Processo Civil, sob pena de haver ofensa ao princípio constitucional do contraditório e da ampla defesa. Se o réu estiver em local conhecido, a citação deverá ser feita por mandado”.

Realizada a citação dos réus e a intimação do Ministério Público, será a vez

do juiz atuar diretamente dentro do processo, inclusive de forma inquisitória, no

sentido de exigir das autoridades, salvo em casos de segurança nacional, quaisquer

certidões ou documentos que possam ser importantes para o esclarecimento dos

fatos, inclusive os requisitados pelo autor em sede de inicial e que foram

anteriormente negados.

O juiz fixará prazo para que sejam atendidas as requisições e caberá ao

Ministério Público fiscalizar a sua observância.

Se a juiz entender que os documentos são sigilosos, deverá determinar que o

processo prossiga em segredo de justiça, cessando esta condição, com o trânsito

em julgado da sentença condenatória (art. 1º, §7º da Lei 4.717/65). Não poderá, no

entanto, deixar de apreciar todos os meios de provas aptos a elucidar a questão.

O prazo para contestação é de 20 dias, prorrogável por igual prazo, a

requerimento dos interessados, quando for particularmente difícil a produção de

prova documental (art. 7º, IV, da Lei 4.717/65). Esse prazo será comum e a resposta

deverá ser oferecida no prazo assinalado, ainda que os litisconsortes tenham

advogados diferentes.

Na ação popular não é cabível a reconvenção, tendo em vista o fato de o

autor não postular direito próprio contra o réu. Do mesmo modo, não há que se falar

em revelia quando os sujeitos do ato impugnado forem entes públicos ou privados.

Ficam sujeitos a tais efeitos os demais réus. Nesse sentido, bem preceitua, Marcus

Vinícius Rios Gonçalves (GONÇALVES, 2007, p. 40):

“A eles não é possível aplicar os efeitos da revelia porque podem, quando citados, optar entre três posturas possíveis (art. 6º, § 3º, da LAP): contestar a ação, defendendo a validade do ato impugnado; silenciar, e atuar ao lado do autor como uma espécie de assistente simples, desde que isso se afigure útil ao interesse público. Não faz sentido que tais entes, podendo até optar pó agir em conjunto com o autor, possam sofrer os efeitos da revelia – em especial a presunção de veracidade dos fatos, apenas porque não contestaram. Os demais réus (autoridades e funcionários responsáveis pelo ato, ou beneficiários) estão sujeitos a tais efeitos. Mas como há um litisconsórcio, se um dos réus contestar, a defesa aproveitará aos demais, quando o litisconsórcio for unitário, ou quando a matéria alegada for comum aos demais”.

33

Apresentada a resposta, o juiz determinará as providências preliminares,

podendo ouvir o autor no prazo de 10 dias, sempre que o réu alegar matéria

preliminar ou fato extintivo, impeditivo ou modificativo do direito.

3.7.2 Fase probatória

Em seguida à resposta e às medidas preliminares, será a hora de se verificar

a necessidade de produção de provas, a pertinência do requerimento das partes e

se estas optaram por não apresentar provas. Se houver o desenrolar da fase

probatória, o processo observará as regras do art. 331 e os parágrafos do Código de

Processo Civil, tomando o procedimento ordinário.

Ao Ministério Público, na fase probatória, segundo definido no art. 6º, §4º da

Lei de Ação Popular, cabe acompanhar a ação, apressando a produção de provas e

auxiliando o juiz na observação dos prazos arrolados em lei, para cumprimento das

diligências.

3.7.3 Sentença

A sentença deverá ser proferida no prazo de 15 dias, sob pena de ficar o juiz

impedido de promoção durante dois anos e, na lista de antiguidade, ter descontados

tantos dias quantos forem os do retardamento da decisão (art. 7º, §2º, IV, parágrafo

único).

As sentenças poderão ser de cunho definitivo, ou seja, com resolução do

mérito, ou de cunho terminativo, sem resolução do mérito. Muito embora o juiz

observe, quando da aplicação da sentença, o disposto nos arts. 269 e 267, do

Código de Processo Civil, ele deve sempre levar em consideração a natureza

especial da ação popular. Por conseqüência, nem todas as hipóteses previstas nos

artigos supracitados serão aplicadas.

34

A sentença terminativa por desistência, por exemplo, não pode ser aplicada

de plano, devendo primeiramente, se fazer cumprir a determinação do art. 9º da Lei

4.717/65, providenciando a publicação de editais, que assegurem a qualquer

cidadão a possibilidade de assumir o pólo ativo.

Os editais serão realizados na forma e prazo exigidos para a citação dos réus,

qual seja, três publicações no prazo de 30 (trinta) dias, no diário oficial. Se ninguém

se interessar, será facultado ao Ministério Público, no prazo de 90 (noventa) dias,

contados da última publicação, assumir a ação.

No entanto, o órgão ministerial pode se abster de figurar no pólo ativo por

entender que a ação não é pertinente. Se o juiz, ainda assim, entender por seu

seguimento, deverá remeter os autos para o Procurador-Geral de Justiça. Este terá

a faculdade de adotar duas posturas. Pode delegar outra Promotoria de Justiça para

dar seguimento ao processo, ou poderá reiterar o desinteresse, razão pela qual o

juiz extinguirá o processo sem julgamento de mérito, com fundamento no artigo 267,

VIII, do Código de Processo Civil.

No que tange ao acolhimento de perempção, parece também afastada a

hipótese de sua ocorrência, ao passo que precisaria o autor dar causa a três

extinções do processo por abandono.

Enquanto os casos de desistência e perempção sejam de pouca aplicação,

outras formas de sentença terminativa não podem ser, em nenhum caso, aplicadas

à ação popular, devida total incompatibilidade que possuem com a natureza desta.

Sobre a temática, expõe Rodolfo de Camargo Mancuso (MANCUSO, 2001, p. 229):

“Outrossim, por absoluta incompatibilidade com a natureza e fins da ação pupular, são de ser excluídos os casos indicados nos incs. VII, IX e X do art. 267 CPC: existência de compromisso arbitral (factível em „litígios relativos a direitos disponíveis‟ – art. 1º da Lei 9.307, de 23.09.1996); impossibilidade de sucessão no pólo ativo, nos casos em que uma ação seja considerada „intransmissível por disposição legal‟ (ao contrário; a ação popular é eminentemente transmissível – art. 9º da LAP); confusão entre autor e réu, fenômeno próprio de ações que versem sobre direitos disponíveis de caráter patrimonial”.

Nas sentenças definitivas, com julgamento do mérito, ficam afastadas as

hipóteses de transação ou renúncia (art. 269, III e V, CPC), considerando que a

natureza da ação popular não coaduna com esses institutos, dada a natureza

indisponível e inegociável de seus interesses, que são de ordem coletiva.

35

Em caso de procedência da ação popular, o juiz deverá tomar duas medidas,

quais sejam, decretar a invalidade do ato impugnado e condenar os responsáveis e

beneficiários direitos do ato ao pagamento de perdas e danos.

A sentença de invalidação do ato impugnado o torna nulo desde o seu início,

possuindo eficácia ex tunc5.

Ao condenar os responsáveis e beneficiários direitos do ato impugnado, a

sentença abrangerá ainda, as indenizações devidas, as custas e despesas com a

ação feitas pelo autor, bem como honorários de seu advogado (art. 12 da Lei

4.717/65).

Cabe assinalar que os responsabilizados em sede de ação popular, serão os

superiores que ordenaram ou praticaram o ato lesivo, e os beneficiários direitos,

ressalvada a ação regressiva contra os funcionários culpados pelo ato lesivo, onde

deverá ser comprovado o dolo ou a culpa.

Como forma de encorajar o cidadão a exercer efetivamente o direito a ele

concebido, a Constituição Federal, em seu art. 5º, LXXIII, parte final, isenta o autor

do pagamento de custas judiciais e de ônus de sucumbência, salvo comprovada má-

fé, no caso da ação popular ser julgada improcedente.

3.7.4 Recursos

Da sentença que julgar extinta a ação popular, sem julgamento de mérito, ou

improcedente, haverá o reexame necessário (art. 19 da Lei 4.717/65), sem prejuízo

de apelação pelas partes e pelo Ministério Público. Contra a sentença procedente

caberá apelação, com efeitos devolutivo e suspensivo.

Contra as decisões interlocutórias, caberá agravo de instrumento (art. 19º,

§1), processado na forma do disposto no Código de Processo Civil. Uma

peculiaridade é o meio recursal adequado nos casos de interposição de liminar. Os

tribunais têm entendido que é cabível o agravo de instrumento, o mandado de

segurança e a correição parcial. No entanto, parte da doutrina discorda do

5 Dizer que a sentença possui eficácia ex tunc significa dizer que seus efeitos são retroativos à época

da origem dos fatos tratados por ela.

36

posicionamento, como bem aduz o mestre Hely Lopes Meirelles (MEIRELLES, 2006,

p. 153):

“Dizer-se que na ação popular a liminar poderá ser cassada em agravo de instrumento, ou obstada por mandado de segurança, ou suprimida por correição parcial é desconhecer a realidade. O agravo não tem efeito suspensivo e a formação do instrumento leva meses para completar-se e subir ao tribunal; o mandado de segurança é dispendioso e tardo no seu julgamento, e a correição parcial é inadequada, por visar a corrigir erro in procedendo, e não in judicando. Daí justificar-se o pedido de suspensão da liminar ao Presidente do Tribunal, com aplicação analógica e construtiva das disposições assemelhadas do mandado de segurança, para evitar-se dano iminente e irreparável, se consumado”.

Porém, embora seja sensato o pensamento dispensado pelo professor Hely

Lopes, a Lei 4.717/65 se reporta ao recurso cabível nas decisões interlocutórias

como sendo o agravo de instrumento (§1º do art. 19 da Lei 4.717/65). E a decisão da

liminar tem caráter de decisão interlocutória, uma vez que não se discute o mérito,

mas apenas se toma uma medida de proteção, para que o bem jurídico tutelado não

se deteriore ou seja inutilizado.

Outro ponto interessante é que, na ação popular, em sede de recurso, a

legitimidade para atuar diante das sentenças proferidas contra o autor, pertence a

qualquer outro cidadão, bem como ao Ministério Público (art. 6º, §5º da Lei

4.717/65). O mandamento em questão é perfeitamente válido, tendo em vista não só

a natureza coletiva que cerca a ação popular, como a própria legitimidade ativa

conferida na primeira instância.

3.7.5 Execução popular

A execução popular será promovida pelo autor popular, e na sua ausência,

por qualquer cidadão; pelo representante do Ministério Público; ou por qualquer dos

réus, ainda que tenham contestado a ação.

Constitui título hábil para promover execução da ação popular, a sentença ou

acórdão transitado em julgado.

Como citado acima, o Ministério Público têm legitimidade e o dever funcional

de propor a execução popular, no entanto deverá fazê-lo se, decorridos 60

37

(sessenta) dias da publicação da sentença condenatória, ou autor ou terceiro não

tenham agido nesse sentido. Deverá promover a execução no prazo de 30 (trinta)

dias, sob pena de cometimento de falta grave.

A parte declaratória da sentença não poderá ser executada, porquanto, se

cumprem automaticamente, quando da declaração. A parte condenatória, contudo,

será executada da seguinte forma:

“A execução poderá ser por quantia certa, para entrega de coisa, ou de obrigação de fazer ou não fazer, conforme a obrigação imposta no dispositivo da sentença. O procedimento será o do Código de Processo Civil: se for para entrega de coisa ou obrigação de fazer ou não fazer, proceder-se-á na forma dos arts. 461-A e 461, e se for por quantia, na do art. 475” (GONÇALVES, 2007, p.46).

Uma peculiaridade presente na execução da ação popular está prevista no

art. 14, § 3º da Lei 4.717/65: “Quando o réu condenado perceber dos cofres

públicos, a execução far-se-á por desconto em folha até o integral ressarcimento do

dano causado, se assim mais convier ao interesse público”. “Por força da lei,

permite-se a penhor de vencimentos, o que é vedado no Código de Processo Civil”

(GONÇALVES, 2007, p. 46).

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4 A AÇÃO POPULAR E O EFETIVO EXERCÍCIO DA CIDADANIA

O conceito de cidadania (do latim, civitas, cidade), está ligado à atuação do

indivíduo dentro de uma comunidade, exercendo direitos e deveres, inerentes à sua

figura de ser social.

Na Grécia clássica a cidadania representava o conjunto de direitos políticos

que permitia ao cidadão, participar ativamente dos negócios e das decisões políticas

de sua cidade. Segundo Cláudia Maria Toledo Silveira, era a “qualidade de um

indivíduo pertencer a uma comunidade, com todas as implicações decorrentes de se

viver em uma sociedade” (SILVEIRA, 2007).

Conceito válido até os dias de hoje, embora, tenha seu entendimento sido

ampliado pelos conceitos constitucionais relativos aos direitos e garantias

fundamentais e sua ligação com a realidade contemporânea dos direito humanos.

Devemos entender a cidadania, portanto, como sendo a participação do

indivíduo nos assuntos da sociedade, exercitando seus direitos e deveres políticos,

em prol do adequado convívio no meio social.

Na atual conjuntura de nosso país, podemos dizer que o exercício da

cidadania se tornou indispensável para a construção de um ambiente saudável,

afinal, a nação brasileira nunca enfrentou uma fase tão nebulosa de sua existência,

no que se refere à moralidade administrativa e o cuidado com o patrimônio público.

Em meio a escândalos como o “Mensalão”, envolvendo compra de votos dos

parlamentares, o escândalo das ambulâncias, que fraudava licitações e ocasionava

grandes desvios de verba pública, a compra de sentenças, a utilização incorreta dos

cartões corporativos, ou ainda a utilização do patrimônio público em benefício

próprio como ocorre em grande parte do país, devemos nos questionar se estamos

de fato, exercendo a nossa condição de cidadãos.

O cenário de imoralidade política aliada ao modo como o ser humano vem se

aproveitando de forma inescrupulosa dos nossos recursos naturais, torna a ação

humana ainda mais importante no que tange à proteção dos direitos da coletividade.

Ser cidadão não é apenas possuir direitos e deveres. Significa também

exercê-los de fato. De nada adiantará comparecermos às urnas e elegermos outros

cidadãos para nos representar politicamente, se depois não fiscalizarmos o seu

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serviço e tomarmos providências para que seu mandato seja realmente útil e

proveitoso à população.

É verdade que os anseios e os direitos das pessoas em exercerem sua

cidadania foram severamente cerceados durante muito tempo. Embora existisse

previsão legal para a atuação do cidadão desde 1934, com a primeira norma

constitucional referente à ação popular, esta sempre foi muito restrita, seja quanto

ao objeto, seja quanto às formas de processamento da ação.

Este parâmetro, como visto no decorrer deste projeto, se alterou

profundamente a partir da regulamentação da ação popular através da Lei Federal

nº. 4.717 de 29 de junho de 1965 e ganhou força e amplitude por meio da ampliação

de seu objeto, com a previsão constitucional da Carta Cidadã de 1988.

Com o desenvolvimento da manifestação pela defesa dos interesses difusos e

a criação dos meios jurídicos adequados à sua tutela, o acesso da população se

tornou facilitado. O cidadão que quiser exercer seu direito de fiscalização sobre o

meio ambiente, o patrimônio público, histórico, cultural e sobre a moralidade

administrativa não perceberá quaisquer prejuízo ao ingressar com a ação popular,

salvo em caso de má-fé. Essa disposição legal está prevista na parte final do

enunciado do inciso LXXIII, art. 5º da Constituição Federal de 1988.

Quis o legislador, através dessa medida, encorajar o cidadão a utilizar seu

direito. Afinal, o autor não estará tutelando um direito subjetivo, mas sim direito

difuso, pertencente à coletividade, razão pela qual, não poderia arcar com as

despesas. Se o raciocínio predominante fosse o contrário do atual, estaríamos

diante de um quadro de repressão legal à defesa dos interesses da coletividade,

tendo em vista a improvável participação popular em ação onerosa e de caráter

intimidatório.

A ação popular é o dispositivo legal que ampara os anseios da sociedade no

combate à imoralidade pública, à degradação do meio ambiente em que vivemos, e

dos abusos cometidos contra o patrimônio público, histórico e cultural. É, portanto, o

instrumento conferido ao “cidadão”, para que este possa atuar em prol dos

interesses difusos, conferindo bem estar à coletividade.

O cidadão poderá então, exercer efetivamente seus direitos e deveres

constitucionalmente previstos para defender a coisa pública, utilizando-se da ação

popular para tanto.

40

Em tese, por se tratar a ação popular de direitos difusos, que vinculam toda

uma coletividade, poderia ser parte legítima para propô-la qualquer pessoa, pois

independente da classe, da idade, ou grupo social, sofrerão da mesma forma os

efeitos do ato lesivo quando estiverem ligadas de fato ao evento danoso.

No entanto, o legislador preferiu vincular a titularidade da ação popular ao

cidadão, uma vez que, este exerce direta e indiretamente seus direitos políticos e

auxiliam na formação do governo. Exerce diretamente seu direito de votar ou

indiretamente seu direito de concorrer a um cargo público.

Considerando que não são todas as pessoas que podem exercer seus

direitos políticos na formação do governo, parece acertada a decisão de deixar nas

mãos dos cidadãos a titularidade da ação popular.

A utilização da ação popular pelo cidadão significa o exercício efetivo de sua

cidadania, porquanto atua diretamente na proteção da coisa pública.

Caso recente, de ampla repercussão, onde se fez presente a intervenção por

meio de ação popular, trata-se do pedido de extradição do italiano Cesare Battisti,

deferido pelo Supremo Tribunal Federal. Embora seu pedido de extradição tenha

sido aceito pelo STF, o então presidente da república Luís Inácio Lula da Silva

revogou essa decisão no dia 31 de dezembro de 2010, negando a extradição do

italiano.

Uma ação popular foi apresentada no dia 7 (sete) de janeiro de 2011, por

Fernando Destito Francischini, deputado federal eleito pelo PSDB do Paraná, por

entender que a rejeição da extradição, contra decisão do Supremo Tribunal Federal,

violaria a moralidade pública, eis que “movida por pauta puramente ideológica”.

Observe que trata claramente de ação de natureza fiscalizadora das ações

públicas de nossos representantes. A ação popular do exemplo acima, ainda não foi

julgada, mas já foi encaminhada ao ministro relator, Gilmar Mendes.

Outras inúmeras situações são, diariamente, merecedoras de atenção por

parte do cidadão, implicando na propositura da ação popular. Porém, transcrevê-las

para este trabalho seria inadequado, dada a proposta inicial, que seria apenas de

analisar o tema, sem o intuito de exauri-lo em uma leitura cansativa. No entanto,

seguem em anexo alguns casos de utilização potencial e efetiva da ação popular.

Finalizando o entendimento da obra, necessário se torna frisar os parâmetros

aqui discutidos.

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Os interesses difusos fazem parte de uma gama de interesses coletivos, em

sentido amplo, e vinculam sempre uma quantidade indeterminada de pessoas da

sociedade, razão pela qual merecem ser tutelados e protegidos pela própria

população, vez que pertencemos a uma democracia, onde o poder político é

repartido com o povo.

O instrumento jurídico adequado à população para a proteção dos interesses

difusos é a ação popular, que, em seu trâmite legal, busca sempre a tutela do

patrimônio público, do meio ambiente, do patrimônio histórico e cultural e da

moralidade administrativa.

Esse citado dispositivo legal é conferido ao cidadão, que possui o direito e,

inclusive o dever moral, de utiliza-la, como forma de conferir efetividade ao exercício

de sua cidadania.

.

42

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percorrida nossa caminhada pelo universo dos interesses difusos e da ação

popular, chegamos ao nosso destino com a obrigação de apresentar as lições

aprendidas e traçar algumas considerações para que a jornada tenha valido a pena.

Espero que o leitor tenha entendido que desde a promulgação da

Constituição Federal de 1988, vivemos em um Estado Democrático de Direito, onde

a população é quem deve governar, seja de forma direta ou indireta.

O que se propôs foi a possibilidade de conhecer um instituto jurídico que nós

dá o poder de fiscalizarmos uns aos outros, sempre que alguém lesionar o

patrimônio público, histórico, cultural, o meio ambiente ou agir com imoralidade

administrativa.

E o melhor, é que a ação popular, esse instrumento poderoso do qual estou

falando, é colocada de uma maneira muito simples à disposição da população,

conforme verificado ao longo da obra, quando tratei das condições essenciais para a

sua propositura.

Embora o último capítulo, onde abordei o uso efetivo da ação popular seja o

menor, sem dúvida é o mais importante da obra, pois os capítulos anteriores

serviram de base a este, e foram realizados com o intuito de orientar o cidadão

quanto às peculiaridades da ação popular e dos direitos sobre os quais se

fundamenta. Mas espero ter alcançado o objetivo principal com a realização do

trabalho, qual seja fomentar o espírito participativo da população cidadã brasileira.

Não podemos aceitar a idéia de que não temos o controle sobre o futuro de

nosso país. Não podemos ficar parados diante do caos que se instalou no seio da

moralidade administrativa. Não podemos permitir que o patrimônio público, nosso

patrimônio, seja lesado. Devemos cuidar de nosso meio ambiente para que

possamos conservar o planeta para as futuras gerações.

A ação popular está ganhando espaço no cenário atual, principalmente no

que diz respeito aos contratos administrativos e processos licitatórios, porém é

preciso aumentar esse quadro participativo. Dessa forma poderemos criar uma

situação onde aquelas pessoas que pretendem lesar a coisa pública irão pensar

muito antes de agir, pois nada assusta mais os corruptos que a sensação de

punibilidade.

43

Portanto, devemos fazer valer nossos direitos e devemos exercer nosso dever

cívico enquanto cidadãos em prol do bem estar da coletividade. Fica o apelo para

que, diante do apresentado aqui, o leitor entenda o seu papel e entenda todos os

mecanismos da ação popular.

44

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Constituição (1988) Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988. BRASIL. Constituição (1934) Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil. Rio de Janeiro: Senado, 1934. BRASIL. Lei Federal (1965) Lei Federal nº. 4.717/65. Brasília: Senado, 1965. BRASIL. Lei Federal (1990) Lei Federal nº. 8.078/90. Brasília: Senado, 1990. BRASIL. Lei Federal (1985) Lei Federal nº. 7.347/85. Brasília: Senado, 1985. BRASIL. Lei Federal (1973) Lei Federal nº. 5.869/73. Brasília: Senado, 1973. DAHER, Marlusse Pestana. Ação Popular. Jus Navigandi, 2000. Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/352/acao-popular>. Acesso em 27/10/2010. GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios. Tutela dos interesses difusos e coletivos. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007. – (Coleção sinopses jurídicas: v.26); KING, Martin Luther. Eu tenho um sonho. Discurso realizado em 28/08/1963. MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Interesses difusos: conceitos e legitimação para agir. 2ª ed. atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1991. MANCUSO, Rodolfo de Carmargo. Ação Popular: Proteção do erário, do patrimônio público, da moralidade administrativa e do meio ambiente. 4ª ed. ver., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001. MAZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo: meio ambiente, consumidor e outros interesses difusos e coletivos. 8ª ed., aum. e atual. São Paulo: Quiron: Saraiva, 1996; MEIRELLES, Hely Lopes. Mandado de Segurança. 29ª ed., atual. São Paulo: Malheiros Editores, 2006.

45

SILVEIRA, Cláudia Maria Toledo. Cidadania. Jus Navigandi, 1997. Disponível em:<http://jus.uol.com.br/revista/texto/78>. Acesso em: 16 de janeiro de 2011. SMANIO, Gianpaolo Poggio. A tutela constitucional dos interesses difusos. Jus Navigandi, 2004. Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/5710/a-tutela-constitucional-dos-interesses-difusos>. Acesso em 09/01/2011. THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 38ª ed. vol. 1. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2002. VIEGAS, Weverson. A evolução histórica da ação popular. Jus Navigandi, 2002. Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/4200/a-evolucao-historica-da-acao-popular>. Acesso em 10/01/2011.

46

ANEXO(S)

47

ANEXO A – AÇÃO POPULAR DEVIDO AO NEPOTISMO

48

ANEXO B – AÇÃO POPULAR FACE AO USO INDEVIDO DA MÁQUINA PÚBLICA

49

ANEXO C – AÇÃO POPULAR DEVIDO A ERRO LICITATÓRIO