direito ambiental e resÍduos - pergamum.univale.br · recursos hídricos, citando o código de...

42
UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE FACULDADE DE DIREITO, CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS E ECONÔMICAS CURSO DE DIREITO Alexandre Ramos Augusto DIREITO AMBIENTAL E RESÍDUOS: como cuidar do meio ambiente e promover o crescimento econômico e a melhoria da qualidade de vida das pessoas e dos demais seres vivos? Governador Valadares 2011

Upload: phunghuong

Post on 01-Dec-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE

FACULDADE DE DIREITO, CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS E ECONÔMICAS

CURSO DE DIREITO

Alexandre Ramos Augusto

DIREITO AMBIENTAL E RESÍDUOS: como cuidar do meio ambiente e promover o crescimento econômico e a melhoria

da qualidade de vida das pessoas e dos demais seres vivos?

Governador Valadares

2011

1

ALEXANDRE RAMOS AUGUSTO

DIREITO AMBIENTAL E RESÍDUOS: como cuidar do meio ambiente e promover o crescimento econômico e a melhoria

da qualidade de vida das pessoas e dos demais seres vivos?

Monografia submetida ao Curso de Direito da Faculdade de Direito, Ciências Administrativas e Econômicas da Universidade Vale do Rio Doce, como requisito para obtenção do grau de bacharel em Direito. Orientadora: Profª. Suely Ferreira Pinel Fernandes

Governador Valadares

2011

2

ALEXANDRE RAMOS AUGUSTO

DIREITO AMBIENTAL E RESÍDUOS: como cuidar do meio ambiente e promover o crescimento econômico e a melhoria

da qualidade de vida das pessoas e dos demais seres vivos?

Monografia submetida ao Curso de Direito da Faculdade de Direito, Ciências Administrativas e Econômicas da Universidade Vale do Rio Doce, como requisito para obtenção do grau de bacharel em Direito. Orientadora: Profª. Suely Ferreira Pinel Fernandes

Governador Valadares, ___ de _____________________________de 2011

Banca Examinadora:

_______________________________________________ Profª. Suely Ferreira Pinel Fernandes

_______________________________________________ Convidado 1: Prof. ________________________

_______________________________________________ Convidado 2: Prof. ________________________

3

AGRADECIMENTOS

A Deus, meu Criador e primeiro Orientador, fonte de verdadeira paz e alegria.

À minha família, pelo suporte nestes anos de formação acadêmica e profissional.

À Professora Beatriz, pela indicação da minha orientadora.

Agradeço à minha orientadora Professora Suely Ferreira Pinel Fernandes, pela dedicação e paciência dispensadas.

Ao Professor Sérgio Reis, pelos ensinamentos todas as sextas-feiras.

À minha futura esposa e companheira, Liliane pelo incentivo e encorajamento para

conclusão deste árduo trabalho acadêmico.

Ao pessoal da Ascanavi, especialmente Gessi e Ivanilde, que me auxiliaram nas

explicações necessárias.

Agradeço aos amigos e demais companheiros de caminhada.

4

Mas por que Deus não criou um

mundo tão perfeito que nele não

possa existir mal algum? Segundo

seu poder infinito, Deus sempre

poderia criar algo melhor. Todavia, em

sua sabedoria e bondade infinitas,

Deus quis livremente criar um mundo

“em estado de caminhada” para sua

perfeição última. Este devir permite,

no desígnio de Deus, juntamente com

o aparecimento de determinados

seres, também o desaparecimento de

outros, juntamente com o mais

perfeito, também o menos imperfeito,

juntamente com as construções da

natureza, também as destruições.

Juntamente com o bem físico existe,

portanto, o mal físico, enquanto a

criação não houver atingido sua

perfeição.

Catecismo da Igreja Católica, § 310.

5

RESUMO

A partir do momento em que surgiu o Direito Ambiental, o meio ambiente e, por extensão, a vida na Terra, receberam a atenção devida para que o futuro da humanidade e dos demais seres vivos seja garantido, embora alguns doutrinadores discordem da existência deste ramo do direito. Promover a sustentabilidade, que é o crescimento econômico, a qualidade de vida e, ao mesmo tempo, cuidar do meio ambiente é um dos assuntos mais discutidos no mundo inteiro. Dessa forma, a problemática escolhida como alvo deste trabalho monográfico é: Como cuidar do meio ambiente e promover o crescimento econômico e a melhoria da qualidade de vida das pessoas e dos demais seres vivos? As conseqüências do despejo e do rejeito inadequado de todo resíduo são vistas claramente por todo o ambiente. Vê-se a falta de educação de um povo que possui uma moderna legislação ambiental ainda um tanto ineficiente quanto à sua exata aplicação e conscientização. São priorizados neste trabalho os resíduos sólidos e líquidos. São feitas algumas explanações sobre reciclagem. São apresentadas duas iniciativas empresariais na promoção do desenvolvimento sustentável. São expostos os resultados de uma pesquisa de campo e de uma experiência pessoal. Por fim, são feitas as considerações finais. Palavras-chave: Direito Ambiental. Sustentabilidade. Reciclagem. Qualidade de Vida. Cidadania.

6

ABSTRACT

From the moment that the environmental law was created, the environment and, by extension, life on Earth, received due attention to the humanity’s future and other living beings is guaranteed, although some doctrinarians disagree about the existence of this branch of right. Promoting sustainability, that is economic growth, quality of life and, at the same time, take care for the environment, is one of the most issues discussed worldwide. This way, the question chosen as the target of this monographic work is: how to take care for the environment and promote economic growth and the improvement of quality of people’s life and other living beings? The consequences of the dump and reject inappropriate of residue are seen clearly throughout the environment. In the most time there isn´t education of a people that has a modern environmental legislation, that is still a little efficient when its exact implementation and awareness are necessary. The solid and liquid wastes are prioritized in this work. Some explanations about recycling are made. Two business initiatives for promoting sustainable development are presented, too. The results of a field research and a personal experience are exposed. At the end, the final considerations take place. Keywords: Environmental right. Sustainability. Recycling. Quality of Life. Citizenship

7

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8 2 CONCEITOS DE DIREITO AMBIENTAL ............................................................... 10 2.1 DIREITO AMBIENTAL COMO DIREITO DE TERCEIRA GERAÇÃO ................. 11 2.2 DIREITO AMBIENTAL NA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA ................................. 13 3 DIREITO AMBIENTAL E RESÍDUOS .................................................................... 16 3.1 RESÍDUOS SÓLIDOS: CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO ................................... 17 3.2 RESÍDUOS LÍQUIDOS: BREVES CONSIDERAÇÕES ....................................... 20 3.2.1 Recursos Hídricos .......................................................................................... 20 4 ESTUDOS DE CASO ............................................................................................. 23 4.1 VALE ................................................................................................................... 24 4.2 CENIBRA ............................................................................................................ 26 5 RECICLAGEM: EXPERIÊNCIA DE UMA ASSOCIAÇÃO E UMA PRÁTICA PESSOAL SUSTENTÁVEL ...................................................................................... 31 5.1 ASCANAVI .......................................................................................................... 32 5.2 EXPERIÊNCIA PESSOAL ................................................................................... 33 6 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 38 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 39

8

1 INTRODUÇÃO

A partir do momento em que surgiu o Direito Ambiental, o meio ambiente e,

por extensão, a vida na Terra, receberam a atenção devida para que o futuro da

humanidade e dos demais seres vivos seja garantido, embora alguns doutrinadores

discordem da existência deste ramo do direito.

Promover o crescimento econômico, a qualidade de vida e, ao mesmo tempo,

cuidar do meio ambiente é um dos assuntos mais discutidos no mundo inteiro. Isto

se chama sustentabilidade.

Dessa forma, a problemática escolhida como alvo deste trabalho monográfico

é: Como cuidar do meio ambiente e promover o crescimento econômico e a melhoria

da qualidade de vida das pessoas e dos demais seres vivos?

A metodologia utilizada é a descritiva, por meio de pesquisa bibliográfica e

pesquisa de campo, pois foram pesquisados diversos autores de renome, bem como

endereços eletrônicos confiáveis, além de ter sido feita uma visita in loco em uma

associação de reciclagem municipal. Acrescenta-se que toda a legislação vigente

com relevância para o assunto em tela foi utilizada como fundamento para a análise

da questão proposta.

No primeiro capítulo objetiva-se conceituar o direito ambiental utilizando a

definição dada por diversos autores dentre os quais Machado e Milaré e também

jurisprudência, mais especificamente do STF, por meio de voto do Ministro Celso de

Mello. Também procurou-se identificar o direito ambiental considerado como direito

de terceira geração através de lição de Bonavides e sua inserção no

constitucionalismo pátrio a partir da Constituição Federal de 1988, inovando e

precedendo a constituições estrangeiras.

No segundo capítulo o autor restringe o tema de seu trabalho, adentrando

especificamente na questão dos resíduos, tanto os sólidos como os líquidos, os

conceituando e classificando e fazendo breves considerações, através de

doutrinadores e trazendo a definição da legislação nacional em vigor que rege o

tema, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei n.º 12.305/2010) e também de

legislação estrangeira (EUA).

O autor coloca ainda neste capítulo, a importância que se deve ter com os

recursos hídricos, citando o Código de Águas, que por sinal não fora totalmente

9

revogado e a Lei 6.938/1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio

Ambiente.

No terceiro capítulo, elaborando estudos de caso, mais especificamente de

duas empresas, Vale e Cenibra, o autor expõe o que estas empresas disponibilizam

em seus sítios na rede mundial de computadores. Expõe como são sua missão,

visão, valores, sustentabilidade (desenvolvimento sustentável), o direito ambiental e

os direitos humanos.

No último capítulo, por meio de pesquisa de campo à uma associação da

cidade que trabalha com materiais recicláveis, e por experiência própria e de sua

genitora, em que ambos executam uma prática sustentável de reciclar óleo vegetal

para produzir sabão, o autor procura demonstrar como cuidar do meio ambiente e

promover o crescimento econômico e a melhoria da qualidade de vida das pessoas

e dos demais seres vivos, com o simples hábito de não despejar na rede de esgoto

o óleo usado em ambiente doméstico.

10

2 CONCEITOS DE DIREITO AMBIENTAL

O Instituto de Direito Ambiental é conceituado pelos doutrinadores de diversas

formas que a seguir são expostas.

Nas palavras de Antunes (2007, p.4), “a expressão Direito Ambiental é

extremamente ampla e pouco significativa”, assim entendida no Brasil, objetivando

“tratar de toda matéria que diga respeito à proteção ambiental”, mesmo assim o

autor, preferiu utilizar o termo “Direito Ambiental”, a fim de estar sintonizado com

uma tendência geral, qual seja, autores bem como organismos internacionais

estudiosos da proteção legal do meio ambiente. Vejamos definição de Antunes

(2007, p. 9):

Entendo que o Direito Ambiental pode ser definido como um direito que tem por finalidade regular a apropriação econômica dos bens ambientais, de forma que ela se faça levando em consideração a sustentabilidade dos recursos, o desenvolvimento econômico e social, assegurando aos interessados a participação nas diretrizes a serem adotadas, bem como padrões adequados de saúde e renda. Ele se desdobra em três vertentes fundamentais, que são constituídas pelos: (i) direito ao meio ambiente; (ii) direito sobre o meio ambiente; e (iii) direito do meio ambiente. Tais vertentes existem, na medida em que o direito ao meio ambiente é um direito humano fundamental que cumpre a função de integrar os direitos à saudável qualidade de vida, ao desenvolvimento econômico e à proteção dos recursos naturais. Mais do que um ramo autônomo do Direito, o Direito Ambiental é uma concepção de aplicação da ordem jurídica que penetra, transversalmente, em todos os ramos do Direito. O Direito Ambiental, tem uma dimensão humana, uma dimensão ecológica e uma dimensão econômica que devem ser compreendidas harmonicamente. Evidentemente que, a cada nova intervenção humana sobre o ambiente, o aplicador do Direito Ambiental deve ter a capacidade de captar os diferentes pontos de tensão entre as três dimensões e verificar, no caso concreto, qual delas é a que está mais precisada de tutela em um dado momento.

Mukai (1994, p. 10), não concordando com o Direito Ambiental ser concebido

como ramo autônomo do Direito, àquela época, assim o conceituou:

O Direito Ambiental (no estágio atual de sua evolução no Brasil) é um conjunto de normas e institutos jurídicos pertencentes a vários ramos do Direito, reunidos por sua função instrumental para a disciplina do comportamento humano em relação ao seu meio ambiente. (“Aspectos jurídicos da proteção ambiental no Brasil”, Revista de Direito Público, São Paulo, v. 17, nº73, ps. 288-95, jan./mar. 1985).

11

Diferentemente de Mukai (1994, p. 10) e levando-se em conta a evolução do

conceito de Direito Ambiental na última década, Chiuvite (2009), considera Direito

Ambiental um ramo novo e “autônomo, devido à natureza específica de seu objeto –

ordenação da qualidade do meio ambiente com vista a uma sadia qualidade de

vida”.

Já Nogueira (2008, p. 43) apud Carvalho (2001, p.126) conceitua Direito

Ambiental como:

O conjunto de princípios, normas e regras destinados à proteção preventiva do meio ambiente, à defesa do equilíbrio ecológico, à conservação do patrimônio cultural e a viabilização do desenvolvimento harmônico e socialmente justo, compreendendo medidas administrativas e judiciais, com a reparação material e financeira dos danos causados ao meio ambiente e aos ecossistemas, de modo geral.

O Professor Édis Milaré, (2000, p. 109), define o Instituto como “Direito do

Ambiente”, assim o conceituando:

Sem entrar no mérito das disputas doutrinárias acerca da existência ou não dessa disciplina jurídica, podemos, com base no ordenamento jurídico, ensaiar uma noção do que vem a ser o Direito do Ambiente, considerando-o como o complexo de princípios e normas coercitivas reguladoras das atividades humanas que, direta ou indiretamente, possam afetar a sanidade do ambiente em sua dimensão global, visando à sua sustentabilidade para as presentes e futuras gerações.

Cabe aqui citar conceito do STF, através do voto do Ministro Celso de Mello

(relator), em Mandado de Segurança, que assim conceituou o direito ao meio

ambiente:

Típico direito de terceira geração que assiste, de modo subjetivamente indeterminado, a todo gênero humano, circunstância essa que justifica a especial obrigação – que incumbe ao Estado e a própria coletividade – de defendê-lo e de preservá-lo em benefício das presentes e futuras gerações.

2.1 DIREITO AMBIENTAL COMO DIREITO DE TERCEIRA GERAÇÃO

12

Temos a lição de Bonavides, (1993, p.481) a respeito do Direito Ambiental

inserido na categoria de direitos de terceira geração, ressaltando a titularidade

coletiva atribuídos a todas as formações sociais:

Com efeito um novo pólo jurídico de alforria do homem se acrescenta historicamente aos da liberdade e da igualdade. Dotados de altíssimo teor de humanismo e universalidade, os direitos da terceira geração tendem a cristalizar-se neste fim de século enquanto direitos que não se destinam especificamente à proteção dos interesses de um indivíduo, de um grupo ou de um determinado Estado. Tem primeiro por destinatário o gênero humano mesmo, num momento expressivo de sua afirmação como valor supremo em termos de existencialidade concreta. Os publicistas e juristas já os enumeram com familiaridade, assinalando-lhes o caráter fascinante de coroamento de uma evolução de trezentos anos na esteira da concretização dos direitos fundamentais. Emergiram eles da reflexão sobre temas referentes ao desenvolvimento, à paz, ao meio ambiente, à comunicação e ao patrimônio comum da humanidade. (grifo nosso)

Já o Ministro Celso de Mello (MS 22.164-0) expõe a questão ambiental diante

da evolução do tema a partir da agenda internacional:

A questão do meio ambiente, hoje, especialmente em função da Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente (1972) e das conclusões da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio de Janeiro/92), passou a compor um dos tópicos mais expressivos da nova agenda internacional (GERALDO EULÁLIO DO NASCIMENTO E SILVA, “o direito ambiental internacional”, in Revista Forense 317/127), particularmente no ponto em que se reconheceu ao Homem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao gozo de condições de vida adequada, em ambiente que lhe permita desenvolver todas as suas potencialidades em clima de dignidade e de bem estar. (grifo do autor)

13

2.2 DIREITO AMBIENTAL NA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA

A idéia de meio ambiente se deu a partir da tomada de consciência da

limitação dos recursos naturais e sua reprodução também limitada, em função do

crescimento econômico, que foram objetos do “Relatório do Clube de Roma” (Limites

para o Crescimento/1970), concluso por grupo de especialistas contratados pelos

países mais ricos do mundo na época, o que resultou no chamamento pelas Nações

Unidas, da primeira conferência mundial sobre o meio ambiente e desenvolvimento,

a Conferência de Estocolmo/72 (informação verbal) 1.

A Constituição Federal atual foi a primeira Constituição a tratar propriamente

de meio ambiente. O termo “meio ambiente” apareceu no regime constitucional

pátrio apenas em 1988, conforme ensina o mestre Machado (2007, p. 117), “a

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 é a primeira Constituição

Brasileira em que a expressão ‘meio ambiente’ é mencionada”.

As disposições sobre meio ambiente na Constituição de 1988 estão inseridas

em diversos títulos e capítulos. O Título VIII (“Da Ordem Social”), em seu Capítulo

VI, trata do meio ambiente, no art. 225, que contém seis parágrafos:

TÍTULO VIII

Da Ordem Social

CAPÍTULO VI

DO MEIO AMBIENTE

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a

1 Dados fornecidos pelo Profº. e Advogado Raul Silva Teles do Valle na aula proferida para TV Justiça, em

Brasília, em Julho de 2009

14

supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. § 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei. § 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. § 4º - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. § 5º - São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais. § 6º - As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.

O Ministro Celso de Mello (MS 22164-0 SP) ressalta que os preceitos acima

descritos “traduzem a consagração constitucional, em nosso sistema de direito

positivo, de uma das mais expressivas prerrogativas asseguradas às formações

sociais contemporâneas”, qual seja, o reconhecimento de que todos têm direito ao

meio ambiente ecologicamente equilibrado.

Antes do advento desta Constituição, as anteriores tratavam do uso de

recursos naturais, quais sejam, por exemplo, uso de florestas, minérios, água, solo e

demais. Portanto era omissa quanto ao meio ambiente como um todo, regulando o

uso da matéria prima fundamental para o desenvolvimento econômico do país.

Como comparativo, a inclusão do meio ambiente no regime constitucional

pátrio precedeu inclusive a de países mais desenvolvidos, como por exemplo, a

15

França que só teve incluso o meio ambiente na Constituição Francesa em 28 de

fevereiro de 2005, quando da aprovação pela Câmara dos Deputados e o Senado,

que reunidos em Congresso, na cidade de Versalhes, aprovaram a Charte de

l’Environnement (Carta do Meio Ambiente), contendo 10 artigos, conforme descreve

Machado (2007, p. 72), igualando o meio ambiente com os Direitos do Homem e do

Cidadão de 1789 e os Direitos Econômicos e Sociais de 1946.

16

3 DIREITO AMBIENTAL E RESÍDUOS

De acordo com dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza

Pública e Resíduos Especiais, o Brasil gerou no ano de 2009, mais de 57 milhões de

toneladas de resíduos sólidos. (FIEMG, 2010 ou 2011).

Porém esses resíduos não recebem a correta gestão e gerenciamento, tendo

como destino último vazadouros a céu aberto (lixões). Segundo os resultados da

Pesquisa Nacional de Saneamento Básico de 2008 do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística - IBGE – 50,8% dos municípios brasileiros despejam seus

resíduos nesses “lixões”.

Segundo dados do Departamento de Limpeza Urbana da Secretaria Municipal

de Obras (Semov), do município de Governador Valadares, via sítio Direito Cidadão

(internet), esta cidade produz cerca de 170 toneladas de lixo úmido por dia e mais

120 toneladas de material reciclável.

Para Machado (2007, p. 561), “os resíduos sólidos têm sido negligenciados

tanto pelo público como pelos legisladores e administradores, devido provavelmente

à ausência de divulgação de seus efeitos poluidores”, e também observa este autor,

que os resíduos sólidos, considerados como poluente, possui menor potencial

irritante que os resíduos líquidos e gasosos, já que, colocado na terra não é disperso

amplamente como poluentes do ar e da água, talvez por isso não constar na pauta

dos responsáveis por legislar e administrar.

No entanto, após mais de duas décadas de espera, o Projeto de Lei do

Senado 354/1989 (Projeto de Lei 203/1991) foi aprovado pela Câmara dos

Deputados e pelo Senado Federal e sancionado pelo Presidente da República,

dando origem à Lei 12.305/2010 que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos

– PNRS.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos estabelece uma ordem de prioridade

para gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, que está disposto no art. 7º, II, da

referida lei, qual seja: não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento

dos resíduos sólidos, bem como disposição final ambientalmente adequada dos

rejeitos.

17

3.1 RESÍDUOS SÓLIDOS: CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO

Segundo a Lei 12.305/2010 (PNRS), em seu art. 3º, XVI, entende-se por

resíduos sólidos:

O material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível.

Ensina Machado (2007, p. 561) a respeito do termo “resíduo sólido”:

Como entendemos no Brasil, significa lixo, refugo e outras descargas de materiais sólidos, incluindo resíduos sólidos de materiais provenientes de operações industriais, comerciais e agrícolas e de atividades da comunidade, mas não inclui materiais sólidos ou dissolvidos nos esgotos domésticos ou outros significativos poluentes existentes nos recursos hídricos, tais como a lama, resíduos sólidos dissolvidos ou suspensos na água, encontrados nos efluentes industriais, e materiais dissolvidos nas correntes de irrigação ou outros poluentes comuns da água.

Citando a Lei 11.445/2007, que estabelece as diretrizes nacionais para o

saneamento básico, “o lixo originário de atividades comerciais, industriais e de

serviços cuja responsabilidade pelo manejo não seja atribuída ao gerador pode, por

decisão do poder público, ser considerado resíduo sólido urbano” (art. 6º).

Assim sendo, mesmo anterior à lei que trata do saneamento básico

(05/01/2007), a Câmara Municipal de Governador Valadares, Estado de Minas

Gerais, instituiu através da Lei Complementar nº. 87 de 16 de novembro de 2006, a

taxa de coleta de resíduo sólido, considerando resíduos sólidos, para fins desta

mesma lei, os resíduos sólidos comuns de estabelecimentos públicos, institucionais,

de prestação de serviços, comerciais e industriais (art. 2º, parágrafo único, II).

Quanto a classificação, dispõe a Lei 12.305/2010, que os resíduos sólidos

classificam-se quanto à origem e quanto à periculosidade, observe:

18

Art. 13. Para os efeitos desta Lei, os resíduos sólidos têm a seguinte

classificação:

I - quanto à origem:

a) resíduos domiciliares: os originários de atividades domésticas em

residências urbanas;

b) resíduos de limpeza urbana: os originários da varrição, limpeza de

logradouros e vias públicas e outros serviços de limpeza urbana;

c) resíduos sólidos urbanos: os englobados nas alíneas “a” e “b”;

d) resíduos de estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços: os

gerados nessas atividades, excetuados os referidos nas alíneas “b”, “e”, “g”,

“h” e “j”;

e) resíduos dos serviços públicos de saneamento básico: os gerados

nessas atividades, excetuados os referidos na alínea “c”;

f) resíduos industriais: os gerados nos processos produtivos e instalações

industriais;

g) resíduos de serviços de saúde: os gerados nos serviços de saúde,

conforme definido em regulamento ou em normas estabelecidas pelos

órgãos do Sisnama e do SNVS;

h) resíduos da construção civil: os gerados nas construções, reformas,

reparos e demolições de obras de construção civil, incluídos os resultantes

da preparação e escavação de terrenos para obras civis;

i) resíduos agrossilvopastoris: os gerados nas atividades agropecuárias e

silviculturais, incluídos os relacionados a insumos utilizados nessas

atividades;

j) resíduos de serviços de transportes: os originários de portos, aeroportos,

terminais alfandegários, rodoviários e ferroviários e passagens de fronteira;

k) resíduos de mineração: os gerados na atividade de pesquisa, extração ou

beneficiamento de minérios;

II - quanto à periculosidade:

19

a) resíduos perigosos: aqueles que, em razão de suas características de

inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade, patogenicidade,

carcinogenicidade, teratogenicidade e mutagenicidade, apresentam

significativo risco à saúde pública ou à qualidade ambiental, de acordo com

lei, regulamento ou norma técnica;

b) resíduos não perigosos: aqueles não enquadrados na alínea “a”.

Parágrafo único. Respeitado o disposto no art. 20, os resíduos referidos na

alínea “d” do inciso I do caput, se caracterizados como não perigosos,

podem, em razão de sua natureza, composição ou volume, ser equiparados

aos resíduos domiciliares pelo poder público municipal. (grifo do autor)

O Ministério Público Federal - ressalte-se aqui que este juntamente com o dos

estados é legitimado para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por

danos causados ao meio ambiente - por meio de Programa de Gestão Ambiental,

disponível em seu sítio na rede mundial de computadores2 ensina ainda, a diferença

entre lixo e resíduo e as formas de se valorizar este resíduo, conforme também

veremos em capítulo próprio mais adiante por meio do associativismo. Eis a coleta

seletiva, uma dessas formas:

Existem algumas formas de se valorizar o RESÍDUO. Uma delas é através da realização da COLETA SELETIVA. Coleta seletiva é um processo de separação e recolhimento dos resíduos descartados por empresas e pessoas, destinando-os a reciclagem ou a outro fim como a descontaminação e o descarte adequado.

Também vale a pena destacar a Política dos 5R's, que é um processo educativo que gera uma atitude ética em relação ao RESÍDUO:

A) R eduzir – diminuir a geração de resíduos. Exemplo: diminuir a quantidade de papel usado, evitando impressões desnecessárias; escolher produtos com menos embalagens;

B) R epensar – inovar as práticas de consumo. Exemplo: usar lâmpadas de Led que são mais econômicas que as fluorescentes, optar por usar pilhas recarregáveis que tem vida útil mais longa;

C) R eaproveitar – dar novo uso aos resíduos. Exemplo: usar o papel descartado para fazer blocos de anotações, doar objetos obsoletos para instituições que poderão fazer uso deles;

D) R eciclar – retornar os resíduos ao processo produtivo. Exemplo: papel usado virando papel novo, latas de refrigerante virando novas latas;

E) R ecusar – rejeitar produtos cujos resíduos gerem impactos ambientais negativos significativos. Exemplo: recusar as sacolas descartáveis de plástico; recusar garrafas de água descartáveis. (grifo do autor)

2 Disponível em: < http://pga.pgr.mpf.gov.br/pga/residuos>. Acesso em: 20 out. 2011.

20

3.2 RESÍDUOS LÍQUIDOS: BREVES CONSIDERAÇÕES

Os resíduos líquidos possuem um amplo conceito e classificação, por isso há

necessidade de algumas explicações de caráter generalizado.

Segundo Machado (2007, p. 574) preleciona, utilizando-se de legislação

estrangeira (Lei 94-580/1976, dos EUA), o resíduo líquido, designado aqui como

rejeito, está inserido inclusive na definição de rejeito sólido: “a definição de rejeito

sólido inclui ‘materiais sólidos, líquidos, semi-sólidos ou gasosos’ [...]”.

Numa publicação destinada aos trabalhadores da área florestal, a empresa

brasileira Fíbria (Unidade Aracruz)3, com forte presença no mercado global de

produtos florestais assim definiu resíduos líquidos:

Depois de utilizada, a água passa a ser um resíduo, pois já está poluída e imprópria para o consumo. Além da água contaminada, também são resíduos líquidos os restos e sobras de produtos químicos, como óleos, graxas, agrotóxicos e outros.

A Universidade Estadual Paulista, através da Faculdade de Engenharia de

Guaratinguetá citando a Norma NBR 9648 (ABNT 1986), assim definiu os resíduos

líquidos ou esgotos sanitários:

“Esgoto sanitário é o despejo líquido constituído de esgoto doméstico e industrial, água de infiltração e a contribuição parasitária”. esgoto doméstico: é o despejo líquido resultante do uso da água para higiene e necessidade fisiológicas humanas. esgoto industrial é o despejo líquido resultante dos processos industriais, respeitados os padrões de lançamento. água de infiltração é toda água proveniente do subsolo, indesejável ao sistema separador e que penetra nas canalizações. contribuição parasitária é a parcela do deflúvio superficial inevitavelmente absorvida pela rede de esgoto sanitário.

3.2.1 Recursos Hídricos

3 ARACRUZ. Educação Ambiental: publicação dirigida aos trabalhadores da área florestal.

21

Mais do que definir quais são os resíduos ou rejeitos líquidos, faz-se

necessário dar maior importância aos recursos hídricos e a legislação que o protege.

Existe na legislação infraconstitucional pátria, o Código de Águas, nascido do

DEC 24.643/1934 (Decreto do Executivo) de 10 de julho de 1934, cuja

implementação “ficou a cargo de órgãos federais, no que respeita às águas de

domínio da União, e de órgãos estaduais, nas de domínio dos Estados” (MILARÉ, p.

386).

Este decreto, segundo consta na Base da Legislação Federal da Presidência

da República, não foi revogado expressamente4, porém possui disposições que

foram revogadas pela legislação ambiental atual, haja vista trazerem em seus

dispositivos normas que permitem a poluição dos recursos hídricos, o que

contemporaneamente é proibido, quando não, exige-se o imediato tratamento deste

precioso recurso natural, conforme salienta bem Milaré (2001, p. 387):

O Código de Águas tratava das “águas nocivas” em seus arts. 109 a 116. Estes proibiam “conspurcar5 ou contaminar as águas, com prejuízos de terceiros”. Contudo, admitiam que, se interesses relevantes da agricultura ou da indústria o exigissem, as águas poderiam ser “inquinadas”6 mediante expressa autorização administrativa, devendo ser indenizados os terceiros lesados pelo favor concedido. Assim mesmo, “os agricultores ou industriais deverão providenciar para que elas se purifiquem, por qualquer processo, ou sigam o seu esgoto natural” (art. 111). Essas disposições retratam o espírito do tempo: a preocupação não é com a água, em si, nem com sua flora ou fauna, mas com o prejuízo de terceiros.

Levando-se em conta os aspectos da responsabilidade civil ambiental

atualmente, “independente de qualquer vínculo com os afetados, o poluidor é

obrigado a indenizar os danos causados ao meio ambiente em si e a terceiros

afetados pela conduta danosa” (Chiuvite, 2009), decorrente do dever geral de

indenizar (responsabilidade extracontratual), reforçando a revogação dos

dispositivos mencionados acima, que permitiam tamanha mácula ao meio ambiente.

4 Informação disponível em: <https://legislacao.planalto.gov.br/LEGISLA/Legislacao.nsf/viwtodos/095D7D85E2DFCBEA0325792D00674E58?OpenDocument&seq=1.> . Acesso em: 18 out. 2011. 5 Segundo dicionário Silveira Bueno, “conspurcar” significa: sujar, enodoar, macular. 6 “Inquinadas”, do verbo “inquinar”, segundo dicionário Silveira Bueno, significa: poluir, corromper, infectar.

22

Em 1981 surgiu a Lei 6.938 que dispõe sobre a Política Nacional do, Meio

Ambiente e instituiu o Sistema Nacional do Meio Ambiente – Sisnama, que é

integrado por órgãos federais, estaduais e municipais, os quais são responsáveis

pela proteção ambiental.

O Sisnama possui como órgão superior o Conselho Nacional do Meio

Ambiente – Conama, com a atribuição de “estabelecer normas, critérios e padrões

relativos ao controle e à manutenção da qualidade do meio ambiente com vistas ao

uso racional dos recursos ambientais, principalmente os hídricos” (art. 8º, VII).

A importância dada aos recursos hídricos é perceptível com o termo

“principalmente”, utilizado pelo legislador. Esta mesma Lei enfatiza as águas,

quando no art. 3º, V, define os recursos ambientais como sendo: “a atmosfera, as

águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o

subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora”.

23

4 ESTUDOS DE CASO

“O poder público, o setor empresarial e a coletividade são responsáveis pela

efetividade das ações voltadas para assegurar a observância da Política Nacional de

Resíduos Sólidos” e de suas diretrizes e demais determinações estabelecidas nesta

Lei e em seu regulamento, assim estabelece o art. 25 da Política Nacional de

Resíduos Sólidos (Lei nº. 12.305/2010).

Quanto à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com as

questões do meio ambiente, a Política Nacional do Meio Ambiente visará, segundo

estatui a Lei 6.938/1981, nos arts. 4º., I, IV, V, VI e VII e art. 5º., Parágrafo único:

□ à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico; - ao estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais;

□ ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso racional de recursos ambientais;

□ à difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de dados e informações ambientais e à formação de uma consciência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico;

□ à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida;

□ à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos.

□ As atividades empresariais públicas ou privadas serão exercidas em consonância com as diretrizes da Política Nacional do Meio Ambiente.

Diante de legislação ambiental tão densa e diversificada que confere

responsabilidades aos geradores de resíduos e ao poder público, mister é

demonstrar o que efetivamente esses geradores de resíduos têm feito para cuidar

do meio ambiente e promover o crescimento econômico e a melhoria da qualidade

de vida das pessoas e dos demais seres vivos, independentemente do setor

empresarial a que pertencem.

24

4.1 VALE

Como primeiro caso a ser estudado no presente trabalho, apresenta-se a

Vale, que segundo consta em seu sítio na rede mundial de computadores:

É a segunda maior mineradora do mundo e a maior empresa privada da América Latina. Com sede no Brasil e atuação em 38 países, a empresa emprega atualmente mais de 126 mil pessoas, entre profissionais próprios e terceirizados. Somos o maior produtor mundial de minério de ferro e o segundo maior produtor de níquel. Produzimos ainda cobre, carvão, manganês, ferro-ligas, fertilizantes, cobalto e metais do grupo da platina. Atuamos também no setor de Logística, Siderurgia e Energia. Estamos presentes nos cinco continentes, de forma responsável e comprometida com o desenvolvimento sustentável. Hoje, temos acionistas distribuídos em todos os continentes e negociamos ações nas bolsas de São Paulo, Nova York, Hong Kong, Paris e Madrid. Todas as atividades da Vale são guiadas por uma política de transparência, respeito ao direito dos acionistas, proteção ao meio ambiente, desenvolvimento dos empregados e melhoria da qualidade de vida nas comunidades em que operamos. "Somos globais, não só porque estamos no mundo todo. Mas também por que pensamos no mundo." Acreditamos na inovação, como base do nosso desenvolvimento, para criar a mineração do futuro e alcançarmos a visão de ser a maior e melhor mineradora do mundo. Valorizamos e investimos nas pessoas que atuam conosco para a conquista de novos desafios.7 (grifo nosso)

A empresa crê como missão “transformar recursos minerais em riqueza e

desenvolvimento sustentável”.

Como visão, busca “ser a maior empresa de mineração do mundo e superar

os padrões consagrados de excelência em pesquisa, desenvolvimento, implantação

de projetos e operação de negócios”.

Possui como valores:

□ Ética e transparência;

□ Excelência de desempenho;

□ Espírito desenvolvimentista;

□ Responsabilidade econômica, social e ambiental;

□ Respeito à vida;

□ Respeito à diversidade, e

□ Orgulho de ser Vale.

7 Disponível em: <http://www.vale.com/pt-BR/Paginas/default.aspx>.

25

Concernente à sustentabilidade, por ser “uma das empresas líderes globais

no setor de mineração”, a empresa informa que tem “o compromisso com o

desenvolvimento sustentável”, para isso, diz investir “em uma gestão responsável

das questões econômicas, ambientais e sociais, de maneira integrada”. Seu

objetivo, continua a empresa, é de que os “negócios produzam riquezas locais,

regionais e globais, permitindo a construção de um legado positivo ao longo do ciclo

de vida de nossos empreendimentos”.

Como política de desenvolvimento sustentável da empresa, esta acredita que

“operar com sustentabilidade é atuar com consciência e responsabilidade

socioeconômica e ambiental em todo o ciclo de vida” de suas atividades,

melhorando continuamente, tendo como base a legislação:

Atuar em plena conformidade com a legislação e demais requisitos aplicáveis e buscar melhorias contínuas que nos levem, em todos os territórios de atuação, a superar progressivamente padrões internacionais em saúde e segurança, condições de trabalho, gestão ambiental, relações trabalhistas e respeito aos direitos humanos.

A empresa aprovou no ano de 2009 a política de direitos humanos. Uma

iniciativa que estabelece diretrizes e princípios para a atuação da empresa,

reforçando os conceitos abordados em seu Código de Conduta Ética.

Com base nessa política, a empresa lançou o Guia de Direitos Humanos que

visa orientar seus empregados e definir os processos que assegurem o exercício

das atividades pautadas no respeito e na promoção dos direitos humanos.

Em agosto de 2010, a empresa aderiu à “Campanha Contra a Exploração

Sexual de Crianças e Adolescentes”, articulada pela Associação Brasileira Terra dos

Homens e a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.

A título de curiosidade e reflexão sobre a preocupação com o meio ambiente

por parte de um poeta, pessoa física, natural do mesmo local onde a Vale iniciou sua

existência de pessoa jurídica, Itabira-MG, são apresentados a seguir um dado e uma

poesia.

Em seu histórico a empresa apresenta o que em 1970 era o maior trem do

mundo, quando ainda era Companhia Vale do Rio Doce:

26

Entra em circulação o maior trem do mundo em bitola métrica, com 150 vagões e 1.550 m de extensão, puxado por locomotivas diesel elétrica de 3.900 HP. Implantamos o Sistema Integrado de Comunicação e Controle de Tráfego Centralizado da EFVM.

Parafraseando ou não, o dado histórico apresentado pela empresa, é

interessante o que Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) quis dizer ainda

naquela época em seu belíssimo texto a seguir:

O maior trem do mundo Leva minha terra Para a Alemanha Leva minha terra Para o Canadá Leva minha terra Para o Japão O maior trem do mundo Puxado por cinco locomotivas a óleo diesel Engatadas geminadas desembestadas Leva meu tempo, minha infância, minha vida Triturada em 163 vagões de minério e destruição O maior trem do mundo Transporta a coisa mínima do mundo Meu coração itabirano Lá vai o trem maior do mundo Vai serpenteando, vai sumindo E um dia, eu sei não voltará Pois nem terra nem coração existem mais.8

4.2 CENIBRA

A seguir, como segundo caso a ser estudado, apresenta-se a empresa

Cenibra9, localizada no leste de Minas Gerais, controlada, desde o ano de 2001,

pela Japan Brazil Paper and Pulp Resources Development Co., Ltd. – JBP, quando

adquiriu a participação da Cia. Vale do Rio Doce – CVRD, atual Vale, assumindo o

controle acionário da Cenibra. “A JBP é um grupo de empresas japonesas, de larga

experiência no relacionamento com o Brasil”.

8 Disponível em: < http://www.cedeplar.ufmg.br/economia/dissertacoes/2003/Nildred_Stael_Fernandes_Martins.pdf>. 9 Disponível em: < http://www.cenibra.com.br/cenibra/Cenibra/Empresa.aspx?&codigo=divFilhos3.1&familia=2&nivel=3&item=2 >.

27

Conforme disponibilizado em seu sítio, na rede mundial de computadores, a

empresa atua em 54 municípios, onde desenvolve diversos projetos

socioambientais, com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento da região.

Possui como princípios:

□ Valorizar a inovação, a competência, o compromisso e a contribuição dos profissionais;

□ Praticar a ética, a verdade e o respeito em todos os relacionamentos;

□ Preservar o ambiente como base do desenvolvimento;

□ Fazer tudo com qualidade, confiabilidade e competitividade, e

□ Agir no presente com visão de futuro.(grifo nosso)

E como compromissos:

Promover a gestão integrada da qualidade, do meio ambiente, da segurança, da saúde ocupacional, da ética e da responsabilidade social, por considerá-los elementos essenciais para a busca constante de excelência empresarial, melhoria contínua e de desempenho do sistema integrado de gestão; Conhecer, respeitar e praticar toda e qualquer legislação, norma, regulamento, carta de compromisso e códigos de boa prática que sejam aplicáveis, de maneira compulsória ou por livre iniciativa, aos aspectos de qualidade, meio ambiente, direitos humanos, ética, responsabilidade social e de perigos e riscos envolvendo segurança e saúde ocupacional, em todas as atividades desenvolvidas e executadas pela CENIBRA e pelas empresas prestadoras de serviços; Prevenir, eliminar ou reduzir a poluição e os riscos de lesões e doenças ocupacionais que possam comprometer o bem-estar individual e social, afetando adversamente as partes interessadas e a propriedade alheia ou própria; Incorporar nas atividades de manejo florestal e cadeia de custódia os princípios, critérios e requisitos da Forest Stewardship Council - FSC e do Programa de Certificação Florestal - CERFLOR; Manter diálogo permanente com clientes, fornecedores, empregados, comunidades e demais partes interessadas.(grifo nosso)

A empresa desenvolve “uma série de ações visando o manejo das áreas ao

longo de cursos d’água, lagoas e nascentes, onde se localizam as matas ciliares”.

Os trabalhos de reabilitação destes ecossistemas naturais se baseiam no plantio de mudas de espécies nativas e cuidados com as já existentes, na adubação e no controle de pragas e ervas invasoras. Somente nas margens do Rio Doce, na região da RPPN Fazenda Macedônia, mais de 200 mil mudas de espécies nativas foram plantadas ao longo de 30 quilômetros.

28

“A Empresa mantém vigilância constante destas áreas especiais prevenindo a

ocorrência de incêndios, pisoteio pelo gado e captura de animais silvestres,

garantindo as condições necessárias para a reabilitação”.

É bom destacar que a empresa divide seu meio ambiente em florestal,

mencionado acima, e fabril, com ênfase nesse trabalho para o tratamento dos

efluentes hídricos e a disposição dos resíduos sólidos.

Quanto aos efluentes hídricos, a empresa disponibiliza informações acerca do

tratamento de tais rejeitos:

Diversos projetos de pesquisa vêm sendo desenvolvidos pela empresa, no sentido de garantir e evidenciar a excelente performance ambiental de seus efluentes hídricos, destacando-se os estudos de biomonitoramento do Rio Doce, onde diversas variáveis biológicas são quantificadas à montante, na zona de mistura e à jusante do emissário geral da fábrica, bem como a avaliação da toxicidade dos efluentes setoriais que compõem o efluente bruto, a caracterização microbiológica dos organismos presentes no tratamento biológico e os trabalhos operacionais para a redução de nutrientes residuais nos efluentes tratados.

Tratando dos resíduos sólidos, a empresa desenvolve “novas estratégias para

a gestão de seus resíduos sólidos, pautada nos três pilares básicos da

sustentabilidade ambiental: a redução, a reutilização e a reciclagem”. (grifo

nosso)

Inteligentemente, a empresa conduziu diversos trabalhos por todos os seus

setores fabris, “com o objetivo de definir, planejar e implantar metas para transformar

a gestão de resíduos em uma unidade de negócios, tanto ambiental quanto

comercialmente viável e rentável”. Implantando “ferramentas de controle para a real

quantificação dos resíduos gerados, sua destinação e reaproveitamento”.

Os principais resíduos sólidos gerados no processo correspondem:

□ ao lodo biológico produzido no tratamento de efluentes;

□ às cascas de Eucalipto;

□ à lama de cal (CaCO3) e outros materiais alcalinos de sua planta de caustificação (Dregs e Grits);

29

□ além dos rejeitos da depuração da polpa marrom e branqueada, entulhos de obras civis, lixo institucional e mais recentemente, às fibras provenientes do tratamento primário de efluentes.

“Todos estes resíduos são considerados como de Classe II (não-inertes)

pelas normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)”.

A reutilização e a reciclagem de diversos materiais “proporcionará uma

significativa redução nos custos de aquisição de insumos florestais, transporte e

disposição destes resíduos, aumentando de forma significativa a vida útil do aterro

industrial”.

Quanto à disposição de resíduos considerados perigosos, “tais como óleos,

graxas, embalagens de agroquímicos, baterias, lâmpadas fluorescentes, ocorre de

forma específica, após segregação na Central de Triagem de Resíduos (CTR)”.

Interessante que, “os materiais que não possuem destinação correta ou

tecnicamente não implementada são enviados para a célula de resíduos

perigosos, dotada de diversas facilidades e segurança para o manejo destes

materiais”. (grifo nosso)

Foi consolidado em 2001 o programa de coleta seletiva de lixo institucional,

que apresentou reduções na geração deste resíduo ao longo dos anos, contribuindo

para a redução progressiva dos resíduos enviados ao aterro industrial.

Simultaneamente à redução nos quantitativos, “o aumento de seletividade do

lixo institucional indica que as contaminações com resíduos perigosos (óleos,

graxas, etc.) estão sendo controladas”.

Os Direitos Humanos não foram esquecidos pela empresa, no entanto, pela

pesquisa realizada, foi verificado que os tópicos relativos a este tema, estavam

disponibilizados de forma aleatória, com destaque para o “Programa Qualidade de

Vida Vivendo Melhor”, que tem o objetivo de “promover o desenvolvimento de

projetos educativos e preventivos, visando à valorização e desenvolvimento do ser

humano e à melhoria contínua da qualidade de vida dos empregados, familiares,

comunidades e parceiros”.

Entre as atividades desenvolvidas, incluem-se orientações nutricionais, sociais e esportivas, acompanhamento a gestantes, atividades como ioga, ginástica laboral e corrida rústica, além de prevenção de doenças como estresse, tabagismo, alcoolismo e AIDS:

30

Projeto Cegonha (para empregados e esposas gestantes). Semana de Bem Com a vida (atividades físicas para todos os empregados, bem como palestras educativas e caminhada ecológica). Projeto de Acompanhamento Para Melhora do afastado – AMA (Prestar auxílio constante ao empregado durante seu afastamento, permitindo a continuidade ou retorno à vida social da Empresa, diminuindo assim, os impactos sociais). Projeto Integração Família Empresa (Criar condições para que a família participe da vida social da Empresa, receba orientações e valorize o trabalho desenvolvido pelos empregados). Projeto Ginástica Laboral (Orientar, estimular e desenvolver recursos para que haja mudança de comportamento e de estilo de vida. Desenvolvida com foco voltado para a prevenção da doença ocupacional.) Projeto Adolescer (Trabalhar as transformações e incertezas geradas no período de transição entre a infância e a idade adulta, levando o adolescente a refletir e repensar os seus valores e atitudes, contribuindo para o amadurecimento pessoal e melhoria das relações familiares).

Para não dilatar o presente estudo, diversos outros projetos institucionais

deixaram de ser citados, mas pelo acima exposto, há que se concluir que a empresa

é comprometida com o meio ambiente e principalmente com seu maior patrimônio: o

empregado colaborador.

31

5 RECICLAGEM: EXPERIÊNCIA DE UMA ASSOCIAÇÃO E UMA PRÁTICA

PESSOAL SUSTENTÁVEL

As conseqüências do despejo e do rejeito inadequado de todo resíduo são

vistas claramente por todo o ambiente: “lixões” a céu aberto, logradouros

emporcalhados, bacias hidrográficas que mais parecem esteiras hídricas a levar por

cada cidade que passam os rejeitos e a falta de educação de um povo que possui

uma moderna legislação ambiental ainda um tanto ineficiente quanto à sua exata

aplicação e conscientização.

Além de as grandes indústrias serem obrigadas por lei a protegerem o meio

ambiente, é válido registrar a ação individual de pequenos grupos na preservação do

meio ambiente, ainda que em pequena escala. É o caso da Associação dos

Catadores de Materiais Recicláveis Natureza Viva (ASCANAVI) e do autor

juntamente com sua genitora, Sra. Bernadete Ramos de Oliveira Augusto.

Figura 1 – Símbolo da reciclagem: repetir o ciclo, restaurar aquilo que ainda pode ser reaproveitado.

Fonte: www.mundoverde.com.br

32

Salienta-se que ações em pequena escala, se executadas por milhões de

pessoas representarão muito mais que o trabalho das empresas citadas no capítulo

anterior. A consciência ecológica é um dever de todos os cidadãos que prezam o

seu país, pois o bem que ela proporciona reverte-se para todos.

Conforme estabelecido no art. 225, caput, da Constituição Federal de 1988,

impõe-se “à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e

futuras gerações”.

5.1 ASCANAVI

Utilizando-se de pesquisa de campo, o autor dirigiu-se in loco a fim de

conhecer o trabalho da Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis

Natureza Viva (ASCANAVI), localizada neste município.

Surgida entre os anos de 1999 e 2002, após equipe formada pelo padre da

paróquia Sagrada Família da Igreja Católica do bairro Jardim Pérola, para organizar

os catadores que trabalhavam no “lixão” próximo, a associação hoje conta com 48

catadores divididos em 4 equipes de 12 cada uma. Na equipe de catadores existe

um líder, e dentre esses líderes, está Gessi Lima dos Santos, líder da equipe “D” e

coordenador de meio ambiente da associação, atuando ativamente em palestras de

educação e conscientização ambiental em escolas e empresas da região.

Como Santos informou, ele é mais um dos beneficiados pelo associativismo

ambiental, pois juntamente com sua esposa, vivia antes do que catava no “lixão” ao

lado, que hoje é vigiado por seguranças municipais com acesso permitido somente

aos caminhões que diariamente despejam os rejeitos não recicláveis recolhidos por

toda a cidade.

As equipes separam todos os tipos de plástico (PP, PEAD, PET verde e

transparente e outros), caixas de leite “tetra pak”, que há cinco anos atrás não eram

recicladas e hoje aproveita-se toda a embalagem composta de papelão, resina

(plástico) e alumínio, e demais materiais recicláveis que chegam por meio dos

caminhões de coleta seletiva sob responsabilidade da Prefeitura Municipal,

33

chegando a aproximadamente 120 toneladas por mês após serem processadas e

beneficiadas para venda.

Figura 2 – Associados da Ascanavi..

Fonte: Foto Alexandre Ramos Augusto.

Quanto melhor o material for separado e limpo, maior será o valor agregado

para venda às indústrias, localizadas nos Estados de São Paulo e Paraná, e, por

conseguinte proporcionando uma renda maior do que o salário mínimo que cada um

recebe atualmente.

Como demonstrado, a associação contribui para o “meio ambiente

ecologicamente equilibrado” a que todos têm direito, proporcionado “sadia qualidade

de vida” aos cidadãos. Porém mais do que o meio ambiente equilibrado, a

associação demonstra o valor social do trabalho e dá a dignidade aos seus

associados, conforme preceitua o art. 1º da Constituição Federal de 1988.

5.2 EXPERIÊNCIA PESSOAL

Água e óleo não se misturam! Quem duvidaria de uma afirmação como essa?

No entanto, foi esse o resultado - uma mistura de água e óleo - de uma pesquisa realizada pelo físico-químico Ric Pashley, da Universidade Nacional da Austrália, conforme noticiou em 19 de fevereiro de 2003 a New

34

Scientist, revista norte-americana de divulgação científica. Para conseguir a façanha, Pashley colocou água e óleo num recipiente e o submeteu a sucessivos congelamentos e descongelamentos, processo pelo qual pode-se retirar gás de um líquido. Quando quase todo o gás dissolvido na água foi extraído, aconteceu o inacreditável: "A mistura ocorreu espontaneamente, formando uma emulsão embaçada. Eu fiquei tão surpreso como qualquer pessoa", declarou Pashley. Como costuma acontecer nessas ocasiões, para não perder a primazia do feito, ele só divulgou o resultado da pesquisa depois de sua publicação numa revista científica de renome, o Journal of Physical Chemistry B, vol 107, p 1714. Ainda é preciso que outros pesquisadores repitam a experiência e confirmem o seu resultado, ou seja, que essa mistura efetivamente ocorre, nessas condições. Uma vez confirmada, no entanto, as conseqüências dessa pesquisa são imprevisíveis - não pelo ineditismo, mas por suas implicações científicas.10

Baseados na impossibilidade da mistura de água e óleo, mesmo que

provisoriamente, e desejosos de economizar com materiais de limpeza e mais ainda,

a fim de não causarem maior impacto ambiental, principalmente à água e ao solo, o

autor juntamente com sua genitora (figura 4), iniciaram a reciclagem do óleo de

cozinha utilizado em sua residência e de demais amigos, vizinhos e inclusive de sua

orientadora do presente trabalho acadêmico, a qual por diversos anos guardou uma

boa quantidade do líquido com o intuito de doá-lo para este fim.

Utilizando-se de receita disponível facilmente em diversos meios de

comunicação, os dois cidadãos, autor e mãe, têm logrado êxito na produção de

sabão em barra (figura 2) feito a partir do óleo de cozinha, conhecido tecnicamente

como óleo vegetal. Assim cumprem sua parte de exercício pleno de cidadania ao

realizarem este trabalho cuidando da qualidade da água, conforme os ditames do

art. 225, caput, da Constituição Federal.

Além do mais, com este trabalho, o autor dignifica a educação recebida em

seu lar, a consciência de ser um cidadão responsável pelo mundo em que vive, que

cuida da natureza por saber que é dela que vem o sustento de toda a vida neste

planeta. O artigo 1.634, inciso I, do Código Civil/2002, é incisivo ao falar da

competência dos pais para dirigir aos filhos a “criação e a educação”.

O Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.069/1990, em seus artigos 3º.

e 4º., caput, trata dos direitos fundamentais que a criança e o adolescente possuem.

Dessa forma, a família do autor foi muito feliz ao conceder, em seu convívio diário, o

10 Óleo e Água não se misturam. Alberto Gaspar (Doutor em Educação pela USP, Prof. de Física da Unesp - Guaratinguetá e autor da Ática). Disponível em: <http://ucsnews.ucs.br/ccet/defq/naeq/material_didatico/textos_interativos_17.htm>.

35

exemplo e os ensinamentos que permitiram ações de cidadania e respeito ao meio

ambiente, como se pode ver no depoimento aqui prestado.

Se toda família concedesse aos filhos em seu lar os ensinamentos primordiais

para a formação geral e, principalmente, uma consciência cidadã/ecológica, o

mundo seria mais limpo, mais agradável e mais produtivo em todos os sentidos.

Figura 3 – Óleo vegetal e sabão em barra feito a partir do óleo.

Fonte: Foto de Alexandre Ramos Augusto

Figura 4 – O autor e sua mãe, com os produtos inicial

e final, óleo e sabão. Fonte: Foto de Alexandre Ramos Augusto.

36

Ambos, autor e genitora, sabem o bem que fazem ao meio ambiente, haja

vista que diversas fontes11 demonstram que um litro de óleo contamina um milhão

de litros d’água, o suficiente para uma pessoa consumir durante 14 anos.

E mais, segundo explica o professor do Centro de Estudos Integrados sobre

Meio Ambiente e Mudanças Climáticas da Universidade Federal do Rio de Janeiro

(UFRJ) Alexandre D'Avignon, “em contato com a água do mar, esse resíduo líquido

passa por reações químicas que resultam em emissão de metano. Você acaba

tendo a decomposição e a geração de metano, através de uma ação anaeróbica

[sem ar] de bactérias” 12.

A Lei 6.905/1998 dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas

de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente (lei de crimes ambientais) para

quem “causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam

resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou

a destruição significativa da flora” (art. 54).

Ora, supondo-se que cada residência despeja no solo ou na rede de esgoto

disponível todo o seu rejeito líquido, mais especificamente, o óleo vegetal

proveniente de seus cozimentos, e, por conseguinte, o poder público municipal fosse

omisso no tratamento desses resíduos e sequer conscientizasse toda a população,

estar-se-ia diante de um “crime ambiental”, mas não é assim que dispõe a referida

lei.

Tão grave é a situação hipotética acima, que o mesmo art. 54 da Lei

6.905/1998, em seu parágrafo 2º, inciso III, estabelece pena de reclusão de um a

cinco anos se o crime “causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do

abastecimento público de água de uma comunidade”.

Recentemente nesta cidade, foi veiculado matéria em jornal13 de grande

circulação em que os munícipes reclamavam da má qualidade da água fornecida.

Em nota a assessoria de imprensa do órgão responsável pelo abastecimento de

água, justificou dizendo que “o sabor indesejável na água se deu devido ao

11 Disponível em: < http://www.sanej.com.br/informacoes.asp>. Acesso em: 20 out. 2011. Também disponível

em: <http://pga.pgr.mpf.gov.br/praticas-sustentaveis/sabao/sabao-feito-com-oleo-de-

cozinha?searchterm=%C3%B3leo+vege. Acesso em: 20 out. 2011. 12 Disponível em:< http://pga.pgr.mpf.gov.br/praticas-sustentaveis/sabao/sabao-feito-com-oleo-de-

cozinha?searchterm=%C3%B3leo+vege >. Neste endereço também está disponível a receita para se fazer o

sabão a partir da utilização do óleo vegetal. Acesso em 20 out. 2011. 13 Disponível em: < http://drd.com.br/!noticia.asp?id=50089267153100002 >. Acesso em: 20 out. 2011.

37

rompimento de uma adutora de água tratada responsável pelo abastecimento de

cerca de 70% da zona urbana da cidade”.

38

6 CONCLUSÃO

O presente trabalho acadêmico objetivou estudar os resíduos e em particular

os sólidos e líquidos, bem como suas implicações na degradação ambiental e sua

ligação direta com o Direito Ambiental.

As conseqüências do despejo e rejeito inadequado de todo resíduo, são

vistas claramente por todo o ambiente: “lixões” a céu aberto, logradouros

emporcalhados, bacias hidrográficas que mais parecem esteiras hídricas a levar por

cada cidade que passam os rejeitos e a falta de educação de um povo que possui

uma moderna legislação ambiental ainda um tanto ineficiente quanto à sua exata

aplicação e conscientização.

Mas este cenário aos poucos começa a ser modificado por iniciativas

particulares e parte do poder público e principalmente por toda a coletividade

responsável pelo meio ambiente seja ele natural, artificial, cultural ou do trabalho.

Verificou-se que com a aplicação da legislação disponível e principalmente

com boa vontade de todos, é possível um desenvolvimento equilibrado da vida em

todas as suas formas.

Foi possível comprovar que todos, pessoas físicas e jurídicas, são

responsáveis pelo meio ambiente, por um crescimento econômico sustentável, pela

qualidade da vida no planeta.

Constatou-se que a formação da cidadania e da consciência ecológica podem

ter início no meio familiar em que as pessoas são criadas e educadas.

Constatou-se, ainda, que há legislação que atenda no momento à maioria das

necessidades ambientais. Foi possível verificar que o Poder Público pode e deve

promover ações em prol dos direitos humanos e da proteção do meio ambiente.

É sábio conscientizar e relembrar ao próprio homem, ser humano no todo,

que este cuidado com o meio ambiente já nasce com ele, é intrínseco à sua

personalidade, que cuidar do meio em que vive, é cuidar de si próprio.

Conclui-se que o Direito ambiental considerado como ramo autônomo da

ciência “Direito”, é capaz de contribuir para com o cuidado do meio ambiente e

promoção do crescimento econômico e a melhoria da qualidade de vida das

pessoas e dos demais seres vivos, todos necessitados de amparo legal.

39

REFERÊNCIAS

ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 10 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007. ARACRUZ. Educação Ambiental: publicação dirigida aos trabalhadores da área florestal. PEA – Programa de Educação Ambiental – Semeando um futuro melhor. Aracruz: 2005. Disponível em: < http://www.aracruz.com.br/doc/pdf/educacaoAmbiental/Informativo_n_03.pdf>. Acesso em: 18 out. 2011. BRASIL. Lei nº. 6.938 (1981). Política Nacional do Meio Ambiente. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm>. Acesso em: 18 out. 2011. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado, 1988. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Mandado de Segurança n. 22.164-0-SP, Impetrante: Antonio de Andrade Ribeiro Junqueira. Impetrado: Presidente da República. Relator Min. Celso de Mello. Diário de Justiça da União, Brasília, 17 de novembro de 1995. Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=85691>. Acesso em: 29 jul. 2011. BRASIL. Lei nº. 12.305 (2010). Política Nacional de Resíduos Sólidos. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12305.htm>. Acesso em: 23 jul. 2011. CÂMARA MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES. Lei Complementar nº. 87 (2006). Institui a taxa de coleta de resíduos sólidos – TRS, e dá outras providências. Disponível em: < http://www.camaragv.mg.gov.br/upload/legislacao/%7B582D38FE-9889-4388-8F90-E5029DE88098%7D.pdf>. Acesso em 03 ago. 2011. CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Edição Revisada de acordo com o texto Oficial em Latim. 11 ed. São Paulo: Edições Loyola, 2001.

40

CENIBRA. Disponível em: < http://www.cenibra.com.br/>. Acesso em: 19 out. 2011. CHIUVITE, Telma Bartholomeu Silva. Resumão Jurídico: Direito Ambiental. 5 ed. São Paulo: Barros, Fischer & Associados e Exord, 2009. FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS. Política Nacional de Resíduos Sólidos: conceitos e informações gerais. Minas Gerais, [2010 ou 2011]. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Nacional de Saneamento Básico: 2008. Rio de Janeiro, 2010. Lixão de Governador Valadares dará lugar a horto florestal. Disponível em: <http://www.direitocidadao.com.br/ver_noticia.php?codigo=2631>. Acesso em 03 ago. 2011. MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 15 ed. São Paulo: Malheiros, 2007. MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente – Doutrina – Prática – Jurisprudência - Glossário. 2 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. Práticas Sustentáveis. Sabão feito com óleo de cozinha – uma forma de diminuir o efeito estufa e a contaminação das águas. Disponível em: <http://pga.pgr.mpf.gov.br/praticas-sustentaveis/sabao>. Acesso em: 20 out. 2011. MUKAI, Toshio. Direito Ambiental Sistematizado. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1994. NOGUEIRA, Sandro D’Amato. Resumo de Direito Ambiental. 1 ed. Leme: BH Editora, 2008. SCARABELLI, Jéssica. Valadarenses reclamam da má qualidade da água. Diário do Rio Doce, Governador Valadares, 20 out. 2011. Disponível em: http://drd.com.br/!noticia.asp?id=50089267153100002. Acesso em: 20 out. 2011.

41

TV JUSTIÇA. Supremo Tribunal Federal. Saber Direito: Direito Ambiental: aula 01 de 08 de jul. 2009. Disponível em: <http://videos.tvjustica.jus.br/#>. Acesso em: 25 set. 2011. UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – UNESP – Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá. Sistemas de Coleta e Remoção dos Resíduos Líquidos. Disponível em: < http://www.feg.unesp.br/~caec/downloads/4/aulaa11.doc >. Acesso em: 18 out. 2011. VALE. Sustentabilidade. Disponível em: < http://www.vale.com/pt-br/sustentabilidade/paginas/default.aspx>. Acesso em: 19 out. 2011.