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ESPECIAL EDUCAÇAO REGIONAL PARA A VEJA NORDESTE

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Agora é irreversível. Com o novo Enem (Exame Na-cional do Ensino Médio), a educação brasileira vai sofrer um processo de mudança, para melhor, mes-mo que seja a médio ou longo prazo. Os motivos são vários, mas, fundamentalmente, a mudança re-side no fato de que o exame vai avaliar competên-cias e habilidades, não conhecimentos. Depois que Ministério da Educação (MEC) apre-sentou uma proposta de reformulação do Exame e ele passou a ser utilizado como forma de seleção unificada por algumas Instituições Federais de En-sino Superior (IFES), as escolas conteudistas terão que rever seus métodos e objetivos, pois agora a missão é maior: nada de preparar pessoas para serem aprovadas no vestibular, disputarem um es-paço no mercado de trabalho, competirem por um lugar ao sol; as escolas terão que formar cidadãos. Indivíduos críticos, conscientes, solidários, justos, éticos, produtivos, capazes de compreenderem fenômenos e de atuarem de maneira proativa numa sociedade multirreferenciada e plural. “O novo Enem trará o empoderamento do sujeito”, antecipa Wagner Andriola, psicólogo, mestre em Psicologia Social e do Trabalho pela Universidade de Brasília (UNB), doutor em Filosofia e Ciências da Educação pela Universidad Complutense de Madrid, consultor do MEC e especialista em TRI – Teoria da Resposta ao Item, o modelo estatístico adotado para o Enem e que vai avaliar as habili-dades e os conhecimentos dos estudantes, per-mitindo comparar suas proficiências. “O Enem é um divisor de águas na educação brasileira. Ele existe desde 1998, mas o que é novo é que hoje ele não cobra conteúdos ou memorização, ele valoriza o raciocínio. Os conteúdos continuarão sendo ensinados, mas

com um novo olhar: a relevância que eles têm para a vida do aluno”, avalia Silvio Mota, supervisor geral do pré-universitário de uma grande rede de escolas fortalezenses que, tradicionalmente, preparava es-tudantes para desaguarem nos grandes concursos do País. Na prática, isso quer dizer que não interessa mais se o aluno tem na ponta da língua o significado de “prosopopeia” ou “catacrese”, tampouco se vai saber fazer uma equação algébrica. “É muito mais impor-tante que ele consiga ler, compreender plenamente a questão que está posta e saber como aquilo se aplica na vida”, atesta Mota.Por reconhecer a revolução social que o Enem vai fazer, Silvio saiu na frente e elaborou diversos tex-tos para se adaptar aos novos tempos, tanto que grandes jornais locais e nacionais estão reprodu- zindo esses materiais, fazendo esse novo conheci-mento chegar a um número incontável de pessoas, professores e estudantes, somados aí os 40 mil das escolas públicas que recebem esse material em casa. “Estamos cumprindo nossa função social, ampli-ando oportunidades para aqueles que se deparam com esse desafio. E o novo Enem pede atitudes as-sim”, explica.

Desorganizando para se organizar

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Texto: Isabelle Câmara | Fotos: Ethi Arcanjo | Direção de Arte: Aldiane Oliveira

Competênciase habilidades

Elaborar propostas (EP): recorrer aos conheci-mentos desenvolvidos na escola para elaboração

de propostas de intervenção solidária na realidade, respeitando os valores humanos e considerando

a diversidade sociocultural.

A espinha dorsal do novo Exame Nacional do En-sino Médio (Enem) está nas matrizes de referência que serão cobradas. Essas matrizes estabelecem as competências e habilidades do candidato que se es-pera que a prova avalie. Com base nessas matrizes, o conteúdo mais específico da prova é definido. O novo Enem também cria mecanismos de avaliação dos cinco eixos cognitivos, que serão comuns a to-das as áreas do conhecimento. “Dessa forma, o estu-dante deixa de ser um escore. Isso é muito bonito”, encanta-se Silvio Mota.Para cada área do conhecimento, foi definido um conjunto de competências e habilidades passíveis de serem exploradas nas questões das provas. As habi-lidades se referem às aptidões intrínsecas aos huma-nos. “O homem possui as habilidades de respirar, de caminhar, de mover os braços etc. As competências se referem às capacidades aprendidas e que estão fundadas em habilidades. Por exemplo: o homem pode adquirir a competência de nadar, através do aprendizado de técnicas de controle da respiração, de movimentos harmonizados de braços e pernas etc. Logicamente, o Enem busca avaliar competên-cias mais complexas, que devem ser desenvolvidas para que sejam empregadas pelos futuros universi-tários com vistas à geração de conhecimento cientí-fico, proposição de ações para resolver problemas sociais, promoção da inovação tecnológica, dentre outras”, sugere Wagner Andriola.O novo Enem é composto por testes em quatro áreas do conhecimento humano: linguagens, códi-gos e suas tecnologias, incluindo redação; ciências humanas e suas tecnologias; ciências da natureza e suas tecnologias e matemática e suas tecnologias. Cada grupo de testes será composto por 45 itens de múltipla escolha, aplicados em dois dias, constitu-indo um conjunto de 180 itens. Além disso, tem a redação, que deverá ser feita em língua portuguesa e é estruturada na forma de texto dissertativo-argumentativo, a partir de um tema da atualidade. Na redação algumas competências po-dem ser avaliadas, como domínio da norma culta da língua escrita; compreensão da proposta da re-

dação, aplicando conceitos das várias áreas do con-hecimento; seleção, organização e interpretação de informações, fatos e opiniões; capacidade de argu-mentação e defesa de um ponto de vista; e elabora-ção de proposta de solução para o problema abor-dado, mostrando respeito aos direitos humanos.

Dominar linguagens (DL): dominar a norma culta da Língua Portuguesa e fazer uso das linguagens matemática, artística e científica e das línguas es-

panhola e inglesa.

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Eixos cognitivos

Compreender fenômenos (CF): construir e apli-car conceitos das várias áreas do conhecimento

para a compreensão de fenômenos naturais, de processos histórico-geográficos, da produção

tecnológica e das manifestações artísticas.

Enfrentar situações-problema (SP): selecionar, organizar, relacionar, interpretar dados e infor-

mações representados de diferentes formas, para tomar decisões e enfrentar situações-problema.

Construir argumentação (CA): relacionar infor-mações, representadas em diferentes formas, e

conhecimentos disponíveis em situações concre-tas, para construir argumentação consistente.

TRI: Novo procedimento deaferição do aprendizado Um procedimento estatístico que gera medidas quase invariáveis e que permite comparar as pro-ficiências dos avaliados em diferentes momentos. Através da TRI os estudantes podem ter suas ha-bilidades e competências avaliadas, mesmo diante de suas complexidades. A TRI também traz outros benefícios para a educação: acabam-se os “bizús” e as respostas “decorebas”. “Ademais, a TRI mini-miza injustiças”, afirma Wagner Bandeira Andriola, psicólogo, especialista em Psicometria e em TRI, mestre em Psicologia Social e do Trabalho pela Universidade de Brasília (UNB), doutor em Filoso-fia e Ciências da Educação pela Universidad Com-plutense de Madrid e consultor do Ministério da Educação (MEC). A TRI surgiu para tentar solucionar problemas da sua antecessora, a Teoria Clássica dos Testes (TCT), que ainda é usada para fundamentar as análises estatísticas de muitos vestibulares brasileiros. Uma das mais graves limitações da TCT foi destacada pelo psicólogo norte-americano Louis Leon Thur-stone, nos idos de 1930: “Um instrumento de me-dida não pode ser seriamente afetado pelo objeto de medida. Na extensão em que sua função de me-dir for assim afetada, a validade do instrumento é prejudicada ou limitada. Se um metro mede dife-rentemente pelo fato de estar medindo um tapete, uma pintura ou um pedaço de papel, então nesta mesma extensão a confiança neste metro como

instrumento de medida é prejudicada. Dentro dos limites de objetos para os quais o instrumento de medida foi produzido, sua função deve ser indepen-dente das características do objeto”.Andriola explica: “Se duas pessoas acertarem 120 questões das 180 propostas, elas podem ter notas finais diferentes, visto que as questões têm graus de dificuldades distintos, variáveis entre fáceis, médias e difíceis”. De acordo com o especialista, a TRI busca respeitar dois princípios distintos e complementa-res: a convergência e a separabilidade. “O princípio da convergência está fundamentado na ideia de que o instrumento utilizado para medir as com-petências deve maximizar a probabilidade de esco-lher os melhores candidatos, independentemente de estes alunos serem submetidos a outros instru-mentos de medida em outras situações de seleção. Em síntese: os resultados devem convergir para a escolha dos melhores candidatos, independente dos instrumentos de medida utilizados para tal”.Andriola vai além. Para ele, a TRI tem o mérito de avaliar o indivíduo de maneira mais humana, inde-pendente de estratégias fossilizadas de ensino. “É uma tentativa do MEC de reorientar o Ensino Médio para desenvolver novas habilidades e competên-cias. No médio prazo, todas as escolas, desde a Educação Infantil, terão que se adaptar a essa nova realidade”, prevê.

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O Ministério da Educação cria o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), de caráter voluntário, com o objetivo de avaliar o desempenho do estudante ao fim do Ensino Médio. Mais de 157 mil estu-dantes se inscrevem e apenas 115.600 participam.

O Exame alcança a marca expres-siva de 1,6 milhão de inscritos e de 1,2 milhão de participantes.

O Enem se populariza porque o Ministério da Educação instituiu o Programa Universidade para Todos (ProUni) e vinculou a concessão de bolsas em IES privadas à nota obtida no exame. Além disso, cerca de 500 Instituições de Ensino Superior (IES) já usam o resultado do exame como critério de seleção para o ingresso no ensino superior, seja comple-mentando ou substituindo o vestibular.

1998 2001 2004

O Enem alcançava a marca histórica de 3 milhões de inscritos e 2,2 mi-lhões de partici-pantes.

2005

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Para ilustrar esse cálculo, imaginemos que João acertou duas questões: a fácil e a intermediária (conforme a figura acima). Sua nota será 2, que equivale a dois acertos. Pedro também acertou duas questões: a intermediária e a difícil. Nos vestibulares tradicionais (que usam a TCT) os candidatos teriam o mesmo desempenho, pois acertaram o mesmo número de questões.No entanto, pela lógica da TRI, Pedro terá maior nota que João, pois uma das questões acerta-das por Pedro é qualitativamente mais complexa (a questão difícil). Esta questão exige maior proficiência do aluno para a sua correta resolução. Portanto, Pedro, que a acertou, demonstrou possuir habilidades e competências mais complexas que João. A injustiça cometida pela TCT, que igualou João e Pe-dro, foi desfeita pela TRI, que colocou Pedro à frente de João.

O cálculo das notas do Enem passa por algumas fases de elaboração das questões:1. Escolha das competências e das habilidades a serem avali-adas, conforme a matriz de referências do INEP/MEC.2. Elaboração das questões.3. Análise qualitativa das questões por especialistas da área de conhecimento e por revisor técnico-pedagógico.4. Pré-teste das questões aprovadas na análise qualitativa, através do emprego de amostras de alunos do Ensino Médio do 2º ano.5. Determinação das propriedades métricas dos itens: pro-babilidade de acerto ao acaso, dificuldade e discriminação, que possibilitam gerar a Curva Característica do Item (figura abaixo). Esses parâmetros tornam o item invariável, pois são os mesmos para qualquer aluno.6. Hierarquização dos itens conforme a dificuldade destes (fácil, intermediário e difícil) e as competências avaliadas.7. Organização das distintas provas do Enem.8. Aplicação das Provas do Enem.9. Identificação dos padrões de respostas certas e erradas, de cada aluno.10. Cálculo da nota de cada aluno.

•CálCulO DA NOtA NO ENEM•

Este foi o úl-timo ano que a prova teve 63 questões aplica-das em um dia de prova.

2008

O Enem atinge a marca histórica de 4.576.126 inscritos. A prova passa a ter 180 questões aplicadas em dois dias. O MEC começa a adotar a TRI – Teoria de Resposta ao Item. Neste mesmo ano, a aplicação do Enem, planejado para outubro, teve de ser cancelada poucos dias antes da sua realização devido ao roubo de cadernos de prova e ao vazamento de seu conteúdo, revelando a fragilidade na segurança.

2009

O Ministério da Educação apresenta uma proposta de reformulação do Exame. Ele passa a ser utilizado como forma de seleção unificada por algumas Insti-tuições Federais de Ensino Superior (IFES). O Exame passa a avaliar competências e habilidades, não conhecimentos.

2010

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Wagner Andriola: “A TRI minimiza injustiças”

Correndo contra o tempoNada de finais de semana na praia ou nos bares. Para a maioria dos pré-universitários de Fortaleza, aqueles que vão se submeter ao novo Exame Nacio-nal de Ensino Médio (Enem), os dias de sábado e do-mingo são dedicados ao estudo, seja na própria es-cola, em grupos organizados ou em idas ao teatro, cinema, bibliotecas e galerias de arte. Sim, porque o novo Enem exige do estudante o conhecimento das linguagens artísticas. “Tenho aprendido muito sobre música, literatura, teatro. Antes esses conhe-cimentos eram transmitidos, quando eram, de modo pasteurizado, agora não”, avalia Lara Caval-cante Malveira, 17. “Estamos lendo os clássicos da literatura, aprendendo sobre a Tropicália!”, comem-ora Tainah Saboya, 17. Mas, em coro, elas afirmam: a decisão da Univer-sidade Federal do Ceará (UFC) de adotar o Enem como único método seletivo deixou os estudantes atônitos. “Essa mudança foi muito estressante. Pas-samos muito tempo de nossas vidas nos prepa-rando para realizar provas específicas. De repente, mudança total”, reclama Lara. “Eu estava torcendo para que o vestibular tradicional se mantivesse”, complementa Thaís Abreu Luedy, 17. Mas as garotas também reconhecem os benefícios das mudanças. “Eu acho que o Enem quer mudar o ensino brasileiro”, pondera Thaís. “Creio que a longo

ou médio prazo o país será melhor, pois pessoas melhores estarão sendo formadas também pelas escolas”, concorda Tainah. “Com esse tipo de ava-liação, saímos da cultura ‘decoreba”’, compreende Lara. “E como tudo é novo para todo mundo, esse clima de competição acirrada diminui, pois estamos todos no mesmo nível”, finaliza Thaís. Para diminuir o estresse típico do momento, as garotas têm algumas saídas. Estudam juntas e se ajudam, pois entendem que não são mais concor-rentes. Tainah também faz Muay Thai; Thaís toca guitarra, violão e joga boliche nas pouquíssimas horas vagas; e Lara encontra tempo para namorar e também tocar violão.

Dicas De como chegar lÁ- Exercitar (porque as questões ensinam);- Treinar as habilidades (o novo Enem não tem histórico);- Alimentar-se bem, saudavelmente; - Conhecer mais as linguagens artísticas, apreciar a arte;- Repousar- Praticar uma atividade física. - Carga horária de seis a sete horas diárias (incluindo sábados)- Inclusão de revistas, jornais e internet no âmbito es-colar- Contextualização de fatos do cotidiano- Professores de plantão para tirar dúvidas- Pequena quantidade de alunos por turma- Estudo direcionado para Enem e outras modalidades de ingresso- Ambiente saudável

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Para diminuir o estresse típico do momento, as garotas Tainah, Lara e Thaís estudam juntas,

praticam esportes e se dedicam às artes

O professor Silvio Mota é um dos pioneiros no Estado em conceber e testar questões

preparatórias para o novo Enem

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ENEM não assusta piauiense

O Exame nacional do Ensino Médio, que é referência para ingresso de alunos do ensino médio em algumas universidades e faculdades, espe-cialmente as federais, não intimida o piauiense. Desde 2009, a nova dinâmica de provas com enuncia-do mais longo e uma tendência à busca por conhecimentos da atu-alidade é a novidade na pauta das escolas de ensino médio e pré-ves-tibulares. O segredo para uma leva de jovens estudantes é uma carga horária escolar acima da média e dedicação. Para os estudantes, o Enem é apenas mais uma forma de ingresso no ensino superior.O Enem também aponta as me-lhores escolas que oferecem o ensino médio.No ranking mais recente do Inep – Instituto Nacio-nal de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, que apresenta o desempenho dos alunos em 2009, quatro escolas particulares de Teresina estão entre os 26 melhores resultados em nível nacional. Sig-nifica um ensino de excelência, que coloca o aluno de Teresina em pé de igualdade com estudantes de estados como São Paulo e Rio de Janeiro, com quatro e oito escolas entre as melhores, respectiva-mente. Para Rosângela Fonseca Napoleão do Rego, coor-denadora pedagógica da escola com o 26° melhor desempenho nacional, o resultado é um conjunto de fatores. “Trabalhamos o aluno desde o início da escolaridade, em torno dos três anos de idade, e o acompanhamos até o final do ensino médio”, disse. Sobre as novas exigências do Enem, ela afirma que são trabalhadas em sala de aula há tempos. “As crianças são alfabetizadas, reconhecem as letras e sons e trabalham essas informações inseridas em um contexto. Recentemente, nós abordamos o tema folclore, quando colocamos a lenda do Ca-

beça de Cuia (lenda do Rio Parnaíba em que um pescador se transforma em um ser mítico) no uni-verso infantil. Não deixamos para ajustar ensino apenas no ensino médio, procuramos inserir infor-mações atuais, trabalhamos com revistas e fatos da internet aliados às disciplinas que normalmente são abordadas em sala de aula. O que mudou de 2009 para cá foi o número de simulados que inserimos na programação escolar. Agora eles fazem parte do calendário”, disse.O Enem é apenas uma das formas de se ingressar na faculdade. Ainda se mantém vestibulares de faculdades particulares, vestibulares tradicionais, específicos e PSIU - Programa Seriado de Ingresso à Universidade. “Não podemos fugir das questões mais diretas, por conta da presença de vestibular tradicional. Claro que causa ansiedade, mas é im-portante sublimar este sentimento e focar no que é mais importante para o aluno. Porque o bom aluno, que estuda desde sempre, não terá dificuldades. Afinal, ninguém constrói a educação de qualidade de um dia para o outro, é um processo”, informou.Para Lucas Silveira Terto, Brian Lucas Mendonça, Mariana de Carvalho Moreira e Lia Andrade Portela,

Texto e fotos: Clicia Cronemberger

Alunos de escola campeã não tem medo do ENEM

todos com 17 anos e cursando o terceiro ano do ensino médio, o Enem não assusta. O perfil deles é semelhante, estudam na mesma escola desde os quatro anos de idade e se acostumaram a seguir uma rotina de carga horária escolar que aumenta a cada ano. No terceiro ano do ensino médio, as aulas são até sábados à tarde e o tempo livre do domingo é preenchido por estudos relacionados às discipli-nas da semana. Mariana acredita que o Enem seja apenas mais uma forma de ingresso na faculdade desejada. “Ele permite que a gente concorra em outras faculdades sem ter que viajar para outra ci-dade. Isso facilita o trânsito”, disse a concorrente a uma vaga em Medicina.Lucas também opta por Medicina. Ele concorda com a colega de turma e afirma que o Enem é uma forma melhor de ingresso, já que opta por questões relacionadas ao cotidiano, faz o candidato pensar e deixa de lado o “decoreba”. “São questões úteis”, avalia. Sobre o fato de concorrer em outras universidades sem sair de Teresina, ele disse que é um ganho. “Posso passar aqui ou em São Paulo. Significa o resultado de um trabalho ao longo dos anos. Com plantão dos professores nos finais de se-mana para tirar dúvidas, provas durante a semana e simulados. O conhecimento gruda, é estudo e mais estudo”, informa. Único do grupo a querer estudar fora de Teresina, Brian defende a versatilidade da prova. “Tem uma abordagem cotidiana e acaba se tornando mais fácil. Apesar de ser uma prova mais longa, aproxima o candidato do cotidiano e possi-bilita o ingresso em outras faculdades, não é só uma concorrência regional, mas com o Brasil todo”, disse.Todos, porém, querem melhorar a cidade onde vivem. Mesmo Brian que está concorrendo a uma vaga em medicina na UnB. “Teresina é uma cidade jovem em pleno crescimento. Vamos crescer junto com ela”, disse Lia, candidata a uma vaga em Direito. Lucas disse que a vitória futura é o espelho do esfor-ço dos pais. “Eles trabalham muito e pagam nossos estudos, nos esforçamos para dar o retorno. Quere-mos dar este orgulho para eles”, finalizou.Quem já chegou lá afirma que o caminho é se pre-parar desde sempre. Apesar da nota de corte não ter sido utilizada para o Enem, Daniel Vitor Barbosa Magalhães chegou em primeiro lugar no vestibular de Medicina da UFPI e em 5º lugar na UESPI. Estu-dante de escola do ensino médio melhor avaliada pelo Enem em Teresina, ele disse que a turma do terceiro ano foi dividida em grupos específicos para cada área. “A carga horária era bem puxada, a gente estudava mais no colégio e só revisava em casa. Se for comparar as duas provas, que fiz pelo PSIU para

a UFPI e pela UESPI, específica, não foi muito difícil, só a específica que foi complexa, principalmente a de Química”, informou.Atendendo às duas vertentes do ensino, o IFPI – In-stituto Federal do Piauí, recebe desde 2009 todos os seus alunos de ensino superior através das notas do Enem. Com 7.400 alunos no ensino médio nas modalidades integral e subsequente, ele prepara os alunos para a vida sem perder o foco no ingresso às faculdades tanto federais quanto particulares. Ligado à SETEC/MEC – Secretaria de Educação Tecnológica Profissional, também se destacou no exame entre os institutos federais e atingiu o 12º lugar entre as escolas brasileiras. Os braços da ins-tituição se estendem em Teresina, Picos, Parnaíba e Floriano e oferecem cursos de nível médio, pro-fissionalizante e superior. Os planos são de colocar o aluno de baixa renda em pé de igualdade com alunos da rede particular. “Preparamos o estudante para o Enem e para vestibulares da Universidade Federal do Piauí, que utiliza provas gerais, para a Universidade Estadual do Piauí, que faz provas es-pecíficas e para os vestibulares das faculdades par-ticulares”, afirma o reitor da IFPI, professor Francisco das Chagas Santana.Com o Enem, ele abriu portas para que alunos de outros estados pudessem estudar aqui. “Temos es-tudantes do Paraná e de São Paulo”, informou. O mé-todo para preparar o aluno para o Enem é integrado com o professor. “Fazemos diagnósticos e reunimos reitores das unidades para discutirmos propostas de ensino. Apostamos na formação do professor e pos-

Reitor do IFPI quer futuro melhor para aluno da escola pública

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sibilitamos que ele se melhore através de incentivo ao mestrado, doutorado e conhecimento científico. O resultado é o planejamento pedagógico onde o professor tem a opção de participar, colocando questões do dia a dia, como é solicitado no Enem. O aluno é preparado para a vida e o ensino superior não está desligado dela”, disse. Além de oferecer o ensino, o IFPI busca incentivar o aluno a se voltar integralmente à formação profissional. Dentre os in-centivos, bolsa para quem quer estudar sem ter que trabalhar, além de refeições diárias. O futuro inclui seguro de vida para os alunos, centro de lazer com piscina e quadra de esportes e salas multimídia com quadros interativos. “Precisamos oferecer um ambi-ente saudável para que as pessoas estudem e tra-balhem aqui”, finalizou.O exame também não passa despercebido na rede estadual de ensino. De acordo com Maria Pereira da Silva Xavier, secretária de educação do estado do Piauí, a metodologia utilizada pelo estado passa pelo planejamento com professores. “O acesso ao nível superior trabalha habilidades e competências. Significa o saber aplicado ao cotidiano. Nesse sen-tido, estamos preparando professores através de capacitações”, informou. A tarefa é levar informação a professores dos 224 municípios do estado, onde há pelo menos uma escola de nível médio. Dados da própria secretaria apontam 511 escolas de en-sino médio e 100 anexos escolares, uma espécie de braço da escola na zona rural dos municípios. Há também o reforço dos cursinhos populares, com

aulas presenciais para alunos do terceiro ano do ensino médio ou para quem ainda não conseguiu uma vaga na universidade. “É específico para o novo conteúdo do Enem”, disse.O tempo do aluno em sala de aula também aumen-tou de cinco para seis horas diárias para suprir as necessidades das novas disciplinas como filoso-fia, informática, sociologia e espanhol. Os sábados também são utilizados, mas ainda não é uma regra. Diferente da escola particular, onde os alunos obri-gatoriamente têm aulas no sábado pela manhã e, não raro, à tarde, até agosto deste ano, apenas dez sábados foram utilizados para repor aulas. Mesmo assim, a secretária de educação do estado afirma que a implantação da escola de ensino médio nas cidades estimulou os alunos do interior a concorrer-em a uma vaga nas universidades federal e estadual do Piauí. Em 2009, esta leva de novos candidatos conquistou 64,23% das vagas do vestibular especí-fico da UESPI (Universidade Estadual do Piauí), que só deve adotar o Enem em 2011. Outra arma para o aluno da rede pública é o desafio com a presença de xadrez em mais de 150 escolas. “Estimulamos também eles a desenvolverem projetos como a rá-dio escola no Premen e na Unidade Escolar Helvídio Nunes, ambas em Teresina, e projetos de meio am-biente, desenvolvidos em escolas estaduais de Par-naíba, Bom Jesus e Floriano. Queremos prepará-los para a vida”, afirma.

IFPI oferece ensino de nível médio, profissionalizante e superior

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