variação e normalização...

17
Variação e normalização linguística Hoje vou de autocarro. Amanhã apanho o comboio. Hoje vou de ônibus. Amanhã pego o trem. Jesu! Jesu! Que é ora isso? Vaiamos, irmãa, vaiamos dormir (en) nas ribas do lago, u eu andar vi a las aves meu amigo. Que bacana! Que giro! Maria Serafina Roque

Upload: hathuan

Post on 03-Dec-2018

233 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Variação e normalização linguística

Hoje vou de autocarro. Amanhã apanho o comboio.

Hoje vou de ônibus. Amanhã pego o

trem.

Jesu! Jesu! Que é ora isso?

Vaiamos, irmãa, vaiamos dormir

(en) nas ribas do lago, u eu andar vi

a las aves meu amigo.

Que bacana!

Que giro!

Maria Serafina Roque

Variação e normalização linguística

• Uma língua, apesar de una, tem a capacidade de se

diferenciar, pois sofre alterações:

Ao longo do tempo (não falamos hoje como falávamos na época medieval,

ou noutros tempos passados).

Dentro do espaço geográfico onde é falada (o português falado em Lisboa

não é exatamente igual ao falado no Porto ou nos Açores).

Dentro da sociedade (em função quer do nível social e cultural dos falantes,

quer da situação de comunicação).

Variação linguística

Variação e normalização linguística

• A variação histórica é resultado da mudança linguística, graças à qual

a língua do passado é diferente da língua do presente.

• A mudança linguística observa-se a todos os níveis gramaticais e

resulta da combinação de diferentes fatores de mudança: os fatores

internos, que são constituídos pela própria estrutura da língua, e

os factores externos, de natureza sobretudo geográfica e social

(proximidade de outras línguas; emergência de novas formas de

comunicação, etc.).

Sintaxe:

– “E assi escapou o comde Joham Fernandez de nom seer morto”.

Morfologia:

– “a senhor” > “a senhora”

Variação histórica

Variação e normalização linguística

• Fonologia

– Thunu(m) > atum -> Prótese;

– Humile > humilde -> Epêntese

– Ante > antes -> Paragoge

– Apoteca(m) >bodega -> Aférese

– Pigmenta > pimenta -> Síncope

– Lege(m) > lee > lei -> Apócope

Variação histórica

Inserção de segmentos

Supressão de segmentos

Variação e normalização linguística

– Ipse > esse; nostru(m) > nostro > nosto > nosso -> Assimilação

– Temoroso > temeroso; anima > anma > alma -> Dissimilação

– Manum > mânu > mão; mihi >mim -> Nasalização

– Arena > area > areia -> Ditongação

– Medo / medroso; mata /matagal -> Redução vocálica

– Lana(m) > lãa > lã -> Crase

– Semper >sempre; apium > aipo -> Metátese

Variação histórica

Alteração de segmentos

Transposição de

segmentos

Variação e normalização linguística

• A existência de variação linguística não impede que a identidade da

língua portuguesa seja garantida pela existência e uso de uma língua

padrão ou norma, utilizada em situações mais formais e, de um

modo geral, entendida por todos os falantes, independentemente

das suas condições sociais e económicas, da sua cultura ou da sua

região. É a língua padrão que garante a normalização linguística, pois

funciona como modelo para os falantes.

• O facto de existir um registo considerado padrão não impede que

existam outras variedades sociais e/ou regionais, que dependem de

vários fatores, nomeadamente de variedades geográficas, sociais e

situacionais.

Língua Padrão

Variação e normalização linguística

• A língua portuguesa é falada numa vasta área geográfica, como se

pode constatar:

Variedades geográficas

Variação e normalização linguística

• O contacto com outras línguas, motivado por circunstâncias

históricas, levou ao surgimento de variedades do português.

• Consideram-se as variedades seguintes:

– Variedade europeia;

– Variedade brasileira;

– Variedades africanas.

Variedades geográficas

Variação e normalização linguística

• Variedade europeia

– A variedade europeia corresponde ao português falado em

Portugal continental, na Madeira e nos Açores.

– Mesmo dentro da chamada variedade europeia existem

diferenças, evidentes sobretudo na oralidade.

Variedades geográficas

Distinguem-se claramente os

ditongos ei e ou (tesouro; leite)

Reduzem-se claramente os

ditongos ei e ou (ô; ê)

Variação e normalização linguística

• Variedade europeia

– Mas também existem diferenças aoutros níveis, por exemplo, a nível

do Léxico.

Variedades geográficas

à minha beira = ao pé de mim

testo = tampa

albarda = sela

alcagoita = amendoim

Dialetos

Variação e normalização linguística

• Variedade brasileira

– Corresponde ao português falado no Brasil.

– Apresenta diferenças relativamente à variedade europeia a vários

níveis.

Variedades geográficas

Domínio Variedade europeia Variedade brasileira

Fonético

Há várias diferenças na forma como as mesmas palavras são

pronunciadas.

Tio

Captura

*Tchio

*Capitura

Variação e normalização linguística

• Variedade brasileira

Domínio Variedade europeia Variedade brasileira

Morfológico e

Sintático

Existem várias diferenças. Por exemplo, na seleção e

colocação do pronome pessoal átono, na seleção da forma

verbal, ou no uso de preposições.

Deu-me um empurrão.

A Ana está a fazer o trabalho.

Vou ao cinema.

Eu encontrei-a na rua.

Me deu um empurrão.

Ana está fazendo o trabalho

Vou no cinema.

Eu encontrei ela na rua.

Variedades geográficas

Variação e normalização linguística

• Variedade brasileira

Domínio Variedade europeia Variedade brasileira

Lexical

Há, entre outras particularidades, palavras diferentes para

registar realidades idênticas.

Autocarro, casa de banho,

comboio, elétrico, esquadra,

hospedeira de bordo, rapaz,

talho, …

Ônibus, banheiro, trem,

bonde, delegacia,

aeromoça, moleque,

açougue, …

Variedades geográficas

Variação e normalização linguística

• Variedades africanas

– Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Guiné-

Bissau são países africanos que falam português, sendo que há

algumas particularidades próprias de cada um destes países. Deste

modo, considera-se a existência de variedades africanas que

registam, também, algumas diferenças relativamente à variedade

europeia, por exemplo:

Variedades geográficas

Variação e normalização linguística

• Variedades africanas

• A nível morfológico e sintático: uso do pronome pessoal lhe em

vez de o ou a.

O pai lhe chamou.

• A nível lexical: uso de palavras diferentes para referir realidades

idênticas.

Depressar (Moçambique) = ir depressa (Portugal);

Ginguba (Angola) = amendoim (Portugal);

Garina (Angola) = rapariga (Portugal);

Machimbombo (Angola) = autocarro (Portugal);

Matabicho (Moçambique) = pequeno-almoço (Portugal);

Musseque (Angola) = bairro de lata (Portugal).

Variedades geográficas

Variação e normalização linguística

• Fatores como o estatuto social, a idade, o sexo, a escolaridade, o

tipo de educação recebida, a etnia, bem como a partilha de uma

linguagem própria de um grupo sócio-profissional conduzem ao uso

de variedades sociais.

– Um adolescente não fala como um adulto, nem uma pessoa que

possua um elevado nível de escolaridade fala como alguém que

possua um nível de escolaridade baixo.

Variedades sociais

Variação e normalização linguística

• Cada falante tenta, de um modo geral, adaptar a língua às diferentes

situações de comunicação do dia a dia e aos seus interlocutores. A

relação entre os falantes condiciona as escolhas que se fazem quando

alguém se dirige a alguém.

– Não falamos do mesmo modo quando estamos em família,

quando estamos entre amigos ou quando falamos com o

presidente da escola.

Variedade situacional