em síntese… -...

22
Em síntese… Camões Lírico Maria Serafina Roque

Upload: trinhcong

Post on 08-Nov-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Em síntese… - profserafina.weebly.comprofserafina.weebly.com/uploads/1/6/6/2/1662499/lirica_camoniana_.pdf · Mote: Tema, do autor ou alheio, que se desenvolve nas glosas ou voltas

Em síntese…

Camões Lírico

Maria Serafina Roque

Page 2: Em síntese… - profserafina.weebly.comprofserafina.weebly.com/uploads/1/6/6/2/1662499/lirica_camoniana_.pdf · Mote: Tema, do autor ou alheio, que se desenvolve nas glosas ou voltas

A época

• Renascimento – movimento cultural que se caracteriza

pelo gosto pelos textos da Antiguidade Clássica e que reflete

a crença nas potencialidades do Homem, “medida de todas

as coisas”.

– O Renascimento teve origem em Itália, no século XIV, e alastrou-se

pela Europa nos séculos XV e XVI.

– Em Portugal, este movimento artístico, filosófico e literário marca o

século XVI. É considerado um período áureo da Literatura, ao qual se

associam notáveis personalidades, entre as quais Camões.

– A lírica camoniana concilia o “doce” estilo “novo” e a corrente

tradicional, daí que se afirme que a sua lírica não se constitui em

rutura com o passado, mas sim em continuidade.

Page 3: Em síntese… - profserafina.weebly.comprofserafina.weebly.com/uploads/1/6/6/2/1662499/lirica_camoniana_.pdf · Mote: Tema, do autor ou alheio, que se desenvolve nas glosas ou voltas

As correntes tradicional e

renascentista da lírica camoniana

Page 4: Em síntese… - profserafina.weebly.comprofserafina.weebly.com/uploads/1/6/6/2/1662499/lirica_camoniana_.pdf · Mote: Tema, do autor ou alheio, que se desenvolve nas glosas ou voltas

A corrente tradicional

• Apesar de ter sido marcado pelo Renascimento,

Camões não rompeu com a velha tradição da lírica

galaico-portuguesa.

“A novidade da sua obra não se constitui em rutura,

mas sim na continuidade e no aproveitamento de toda

a tradição medieval peninsular, o que aliás é

característico da maioria das manifestações do

Renascimento Português.”

Matos, M. Vitalina, A Lírica de Luís de Camões, Ed. Comunicação, 1981

Page 5: Em síntese… - profserafina.weebly.comprofserafina.weebly.com/uploads/1/6/6/2/1662499/lirica_camoniana_.pdf · Mote: Tema, do autor ou alheio, que se desenvolve nas glosas ou voltas

Corrente tradicional: a cantiga Verdes são os campos,

Da cor do limão:

Assim são os olhos

Do meu coração.

Campo, que te estendes

com verdura bela;

ovelhas, que nela

vosso pasto tendes,

de ervas vos mantendes

que traz o Verão,

e eu das lembranças

do meu coração.

Gados que pasceis

com contentamento,

vosso mantimento

não no entendereis;

isso que comeis

não são ervas, não:

são graças dos olhos

do meu coração.

Glosas ou voltas – 8, 9 ou 10 versos

Mote – 4 ou 5 versos

Mote: Tema, do autor ou

alheio, que se desenvolve

nas glosas ou voltas.

Glosa: Estrofe que retoma,

desenvolvendo-o, o

sentido de um dado tema

ou mote, do qual repete

um ou mais versos em

posição certa.

http://textosepretextos2.podomatic.com/entry/2012-03-22T16_13_20-07_00

Page 6: Em síntese… - profserafina.weebly.comprofserafina.weebly.com/uploads/1/6/6/2/1662499/lirica_camoniana_.pdf · Mote: Tema, do autor ou alheio, que se desenvolve nas glosas ou voltas

Corrente tradicional: o vilancete

Mote seu

Se Helena apartar

do campo seus olhos,

nascerão abrolhos.

Voltas

A verdura amena,

gados que pasceis,

sabei que a deveis

aos olhos d’ Helena.

Os ventos serena,

faz flores d’ abrolhos

o ar de seus olhos.

Faz serras floridas,

faz claras as fontes...

Se isto faz nos montes,

que fará nas vidas?

Trá-las suspendidas,

como ervas em molhos,

na luz de seus olhos.

Os corações prende

com graça inumana;

de cada pestana

um’ alma lhe pende.

Amor se lhe rende

e, posto em giolhos,

pasma nos seus olhos.

Etimologicamente, vilancete quer dizer "cantiguinha vilã“.

Formalmente:

-> 1 mote de 2 ou 3 versos – expõe-se o

assunto;

-> 1 número variável de voltas ou glosas

de 7 versos – desenvolve-se o tema;

-> Cada volta é constituída:

-> pela cabeça – 4 primeiros versos;

-> pela cauda – 3 últimos versos;

-> o último verso da cabeça rima

com o primeiro da cauda;

-> os 2 últimos versos da cauda

rimam com os 2 últimos do

mote .

Page 7: Em síntese… - profserafina.weebly.comprofserafina.weebly.com/uploads/1/6/6/2/1662499/lirica_camoniana_.pdf · Mote: Tema, do autor ou alheio, que se desenvolve nas glosas ou voltas

Corrente tradicional: a esparsa

Os bons vi sempre passar

no mundo graves tormentos;

e pera mais me espantar,

os maus vi sempre nadar

em mar de contentamentos.

Cuidando alcançar assim

o bem tão mal ordenado,

fui mau, mas fui castigado:

Assim que, só pera mim

anda o Mundo concertado.

Esparsa - Trova que não é precedida

nem de mote nem de glosa,

constituída por uma única estrofe de

redondilha maior de 8 a 16 versos.

http://www.youtube.com/watch?v=iMLpHvuwoc4&feature=youtu.be

Page 8: Em síntese… - profserafina.weebly.comprofserafina.weebly.com/uploads/1/6/6/2/1662499/lirica_camoniana_.pdf · Mote: Tema, do autor ou alheio, que se desenvolve nas glosas ou voltas

Corrente tradicional: trovas Sois uma dama

das feias do mundo

de toda a má fama

sois cabo profundo

a vossa figura

não é para ver

em vosso poder

não há formosura

fostes dotada

de toda a maldade

perfeita beldade

de vós é tirada

sois muito acabada

de tacha e de glosa

pois, quanto a fermosa

em vós não há nada

de grão merecer

sois bem apartada

andais alongada

do bem parecer

bem claro mostrais

em vós fealdade

não há i maldade

que não precedais

de fresco carão

vos vejo ausente

em vós é presente

a má condição

em ter perfeição

mui alheia estais

mui muito alcançais

de pouca razão

Trovas - Composição

em redondilhas não

sujeita a mote.

Page 9: Em síntese… - profserafina.weebly.comprofserafina.weebly.com/uploads/1/6/6/2/1662499/lirica_camoniana_.pdf · Mote: Tema, do autor ou alheio, que se desenvolve nas glosas ou voltas

Corrente tradicional: endechas

Aquela cativa

Que me tem cativo,

Porque nela vivo

Já não quer que viva.

Eu nunca vi rosa

Em suaves molhos,

Que pera meus olhos

Fosse mais fermosa.

Nem no campo flores,

Nem no céu estrelas

Me parecem belas

Como os meus amores.

Rosto singular,

Olhos sossegados,

Pretos e cansados,

Mas não de matar.

Ũa graça viva,

Que neles lhe mora,

Pera ser senhora

De quem é cativa.

Pretos os cabelos,

Onde o povo vão

Perde opinião

Que os louros são belos.

Pretidão de Amor,

Tão doce a figura,

Que a neve lhe jura

Que trocara a cor.

Leda mansidão,

Que o siso acompanha;

Bem parece estranha,

Mas bárbara não.

Presença serena

Que a tormenta amansa;

Nela, enfim, descansa

Toda a minha pena.

Esta é a cativa

Que me tem cativo;

E. pois nela vivo,

É força que viva.

Endechas a ũa cativa com quem andava de amores na Índia,chamada Bárbora

A endecha é uma composição lírica, com um

caráter um pouco melancólico. É constituída

por quadras e carateriza-se pela utilização da

redondilha menor ou pelo verso de 6 sílabas.

http://textosepretextos2.podomatic.com/entry/2012-03-22T17_59_27-07_00

Page 10: Em síntese… - profserafina.weebly.comprofserafina.weebly.com/uploads/1/6/6/2/1662499/lirica_camoniana_.pdf · Mote: Tema, do autor ou alheio, que se desenvolve nas glosas ou voltas

Corrente tradicional Em síntese:

-> Na poesia de influência tradicional, é evidente o aproveitamento da temática

da poesia trovadoresca e das formas palacianas.

Temas

-> Saudade, sofrimento amoroso, beleza da mulher, contacto com a natureza,

ambiente pastoril, ambiente cortesão com as suas "cousas de folgar" e as suas

futilidades, humor, …

Verso

-> Medida velha: verso de 5 sílabas métricas (redondilha menor) e de 7 sílabas

métricas (redondilha maior).

Variedade estrófica

-> As formas poéticas mais frequentes são as da poesia palaciana do século

anterior: os vilancetes, as cantigas, as esparsas, as endechas e as trovas.

Page 11: Em síntese… - profserafina.weebly.comprofserafina.weebly.com/uploads/1/6/6/2/1662499/lirica_camoniana_.pdf · Mote: Tema, do autor ou alheio, que se desenvolve nas glosas ou voltas

Corrente renascentista: influências • Petrarca – poeta e humanista italiano cuja influência se fez

sentir em toda a Europa.

• Em Camões, as influências petrarquistas manifestam-se,

sobretudo:

conceção do amor (visto como

algo suscetível de transportar o

enamorado a um estado de elevação

suprema, podendo provocar-lhe o gosto

pela dor amorosa, ou conduzi-lo à luta

entre a razão e o desejo ou à perturbação

emocional perante a amada. O amor pode

ainda provocar uma análise introspetiva

sobretudo sobre os paradoxos do

sentimento amoroso).

Page 12: Em síntese… - profserafina.weebly.comprofserafina.weebly.com/uploads/1/6/6/2/1662499/lirica_camoniana_.pdf · Mote: Tema, do autor ou alheio, que se desenvolve nas glosas ou voltas

Corrente renascentista: influências

conceção da mulher (vista como fonte

de perfeição moral, a mulher é idealizada, bela, imaculada, perfeita, e faz sofrer porque está longe, por isso, o poeta desabafa as suas mágoas à solidão da natureza, que se torna o reflexo dos seus estados de alma e sua confidente. A influência petrarquista manifesta-se, ainda, na busca do isolamento e na antecipação do sofrimento).

Page 13: Em síntese… - profserafina.weebly.comprofserafina.weebly.com/uploads/1/6/6/2/1662499/lirica_camoniana_.pdf · Mote: Tema, do autor ou alheio, que se desenvolve nas glosas ou voltas

Corrente renascentista: influências

conceção de uma natureza amena

(locus amoenus, que consiste numa descrição da

paisagem ideal, em ambiente de tranquilidade,

bucólico ou pastoril, frequentemente associado aos

estados de enamoramento).

Page 14: Em síntese… - profserafina.weebly.comprofserafina.weebly.com/uploads/1/6/6/2/1662499/lirica_camoniana_.pdf · Mote: Tema, do autor ou alheio, que se desenvolve nas glosas ou voltas

Corrente renascentista: influências • Dante – poeta, escritor, teórico literário, filósofo moralista e

pensador político italiano.

• Em Camões, as influências de Dante manifestam-se,

sobretudo:

conceção do amor enquanto

estado suscetível de provocar tormentos

infernais. Toda a poesia camoniana relacionada

com a tristeza, o desagrado, a dor, o infortúnio

do poeta, a saudade e o amor não

correspondido é inspirada em Dante .

Page 15: Em síntese… - profserafina.weebly.comprofserafina.weebly.com/uploads/1/6/6/2/1662499/lirica_camoniana_.pdf · Mote: Tema, do autor ou alheio, que se desenvolve nas glosas ou voltas

Corrente renascentista: influências • Platão – um dos pensadores mais influentes de toda a

história da filosofia, nasceu em Atenas cerca de 427 a. C..

• Em Camões, as influências platónicas manifestam-se,

sobretudo:

conceção do amor platónico ou

contemplativo, isto é, um amor idealizado e

espiritualizado.

conceção do amor investido de um

poder transformador.

Page 16: Em síntese… - profserafina.weebly.comprofserafina.weebly.com/uploads/1/6/6/2/1662499/lirica_camoniana_.pdf · Mote: Tema, do autor ou alheio, que se desenvolve nas glosas ou voltas

Corrente renascentista: canção Fermosa e gentil Dama, quando vejo

a testa de ouro e neve, o lindo aspeito,

a boca graciosa, o riso honesto,

o marmóreo colo e branco peito,

de meu não quero mais que meu desejo,

nem mais de vós que ver tão lindo gesto.

Ali me manifesto

por vosso a Deus e ao mundo; ali me

inflamo

nas lágrimas que choro;

e de mim, que vos amo,

em ver que soube amar-vos, me namoro;

e fico por mim só perdido, de arte

que hei ciúmes de mim por vossa parte.

Se porventura vivo descontente

por fraqueza de esprito, padecendo

a doce pena que entender não sei,

fujo de mim e acolho-me, correndo,

à vossa vista; e fico tão contente

que zombo dos tormentos que passei.

(…)

A canção camoniana consiste numa forma

lírica que obedece a uma estrutura constante.

(…) contém (…) estrofes regulares cujo

número de versos varia entre 7 e 20,

terminando com uma estrofe menor (…) (que)

servia para invocar a pessoa amada ou para

condensar a temática do poema. A canção

clássica recorre sempre ao metro heroico

clássico (10 sílabas), alternando com o

quebrado correspondente (seis sílabas).

Na canção camoniana é constante a temática

amorosa.

Canção camoniana. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora,

2003-2012. [Consult. 2012-04-16].

Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/$cancao-

camoniana>.

http://www.youtube.com/watch?v=NOqpzWfO710

Page 17: Em síntese… - profserafina.weebly.comprofserafina.weebly.com/uploads/1/6/6/2/1662499/lirica_camoniana_.pdf · Mote: Tema, do autor ou alheio, que se desenvolve nas glosas ou voltas

Corrente renascentista: elegia Se quando contemplamos as secretas

causas, por que o mundo se sustenta,

o revolver dos céus e dos planetas;

e se quando a memória se apresenta

este curso do sol, que é tão medido

que um ponto só não mingua nem se aumenta;

(…)

se quando, enfim, revolve subtilmente

tantas cousas a leve fantasia,

sagaz, escrutadora e diligente;

vê bem, se da razão só não desvia,

o altíssimo Ser, puro e divino,

que tudo pode, manda, move e cria;

sem fim e sem começo, um ser contino;

um Padre grande, a quem tudo é possível,

por mais árduo que seja ao homem indino;

um saber infinito, incompreensível;

ũa verdade que nas cousas anda,

que mora no visível e invisível.

(…)

(…) de origem grega (…), designa uma

composição poética lírica, em tom melancólico

e terno. (…) Na Antiguidade Clássica, a elegia

era formada por dísticos (…) inicialmente era

cantada com acompanhamento de flauta, mas

lentamente foi perdendo a associação musical

para passar a ser recitada ou simplesmente lida.

(…) No final da Idade Média e já por

influência do Classicismo, a elegia é retomada

por (…) Petrarca e Jacopo Sannazaro. Em

Portugal, esta composição foi cultivada (…)

por Camões. (…)

Elegia. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-

2012. [Consult. 2012-04-17].

Disponível na www: <URL:

http://www.infopedia.pt/$elegia>.

Page 18: Em síntese… - profserafina.weebly.comprofserafina.weebly.com/uploads/1/6/6/2/1662499/lirica_camoniana_.pdf · Mote: Tema, do autor ou alheio, que se desenvolve nas glosas ou voltas

Corrente renascentista: ode Se de meu pensamento

tanta razão tivera de alegrar-me

quanta de meu tormento

a tenho de queixar-me,

puderas, triste lira, consolar-me.

E minha voz cansada,

que noutro tempo foi alegre e pura,

não fora assi tornada,

com tanta desventura,

tão rouca, tão pesada, nem tão dura.

A ser como soía,

pudera levantar vossos louvores;

vós, minha Hierarquia,

ouvíreis meus amores,

que exemplo são ao mundo, já, de dores.

Alegres meus cuidados,

contentes dias, horas e momentos,

oh! quão bem alembrados

sois de meus pensamentos,

reinando agora em mim, duros tormentos!

(…)

A ode é uma composição poética

que teve origem na Grécia Antiga

e era cantada e acompanhada

musicalmente pela lira. Na

verdade, trata-se de um canto

laudatório, pelo que se carateriza

pelo tom elevado e sublime

usado para tratar o tema.

Page 19: Em síntese… - profserafina.weebly.comprofserafina.weebly.com/uploads/1/6/6/2/1662499/lirica_camoniana_.pdf · Mote: Tema, do autor ou alheio, que se desenvolve nas glosas ou voltas

Corrente renascentista: soneto Tanto de meu estado me acho incerto,

Que em vivo ardor tremendo estou de frio;

Sem causa, juntamente choro e rio,

O mundo todo abarco, e nada aperto.

É tudo quanto sinto um desconcerto:

Da alma um fogo me sai, da vista um rio;

Agora espero, agora desconfio;

Agora desvario, agora acerto.

Estando em terra, chego ao céu voando;

Num' hora acho mil anos, e é de jeito

Que em mil anos não posso achar um' hora.

Se me pergunta alguém porque assim ando,

Respondo que não sei; porém suspeito

Que só porque vos vi, minha Senhora.

O soneto português quinhentista segue as

regras do modelo italiano: 14 versos

decassílabos ordenados em quatro estâncias,

2 quadras com o esquema rimático ABBA-

ABBA, precedendo 2 tercetos que, na sua

forma mais perfeita, também estão sujeitos

ao esquema rimático CDC-DCD, embora

sejam igualmente muito comuns os tercetos

com as três rimas que seguem o esquema

CDE-CDE.

O desenvolvimento (do tema) está sempre

subordinado à obrigatoriedade da rima das

estrofes e termina numa nítida pausa final

de cada estância. Por norma, toda a

composição do soneto termina em beleza

por um verso que encerra um pensamento

elevado.

http://www.youtube.com/watch?v=BZ59-sy84rE

Page 20: Em síntese… - profserafina.weebly.comprofserafina.weebly.com/uploads/1/6/6/2/1662499/lirica_camoniana_.pdf · Mote: Tema, do autor ou alheio, que se desenvolve nas glosas ou voltas

Corrente renascentista: soneto Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,

Muda-se o ser, muda-se a confiança;

Todo o mundo é composto de mudança,

Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,

Diferentes em tudo da esperança;

Do mal ficam as mágoas na lembrança,

E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,

Que já coberto foi de neve fria,

E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,

Outra mudança faz de mor espanto:

Que não se muda já como soía.

http://textosepretextos2.podomatic.com/entry/2012-04-18T07_57_28-07_00

Amor é fogo que arde sem se ver;

É ferida que dói e não se sente;

É um contentamento descontente;

É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;

É solitário andar por entre a gente;

É nunca contentar-se de contente;

É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;

É servir a quem vence, o vencedor;

É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor

Nos corações humanos amizade,

Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

http://textosepretextos2.podomatic.com/entry/2012-04-18T08_04_31-07_00

Page 21: Em síntese… - profserafina.weebly.comprofserafina.weebly.com/uploads/1/6/6/2/1662499/lirica_camoniana_.pdf · Mote: Tema, do autor ou alheio, que se desenvolve nas glosas ou voltas

Em síntese: Corrente Tradicional Corrente Renascentista

Influência da poesia trovadoresca e

da poesia palaciana.

Influência greco-latina e italiana.

Temas

Saudade; sofrimento amoroso;

ambiente pastoril; ambiente

cortesão; humorismo.

Amor de influência platónica e

petrarquista; sensualidade; beleza divinal

da mulher; saudade; destino adverso;

mudança; desconcerto do mundo.

Verso Medida velha - verso de

5 sílabas métricas (redondilha

menor) e de 7 (redondilha maior).

Medida nova - verso de 10 sílabas

métricas (decassílabo; de acentuação nas

6ª e 10ª sílabas – heróico, ou nas 4ª, 8ª ou

10ª sílabas - sáfico).

Variedade

estrófica

Vilancete, cantiga, esparsa, trova, … Soneto, canção, écloga, elegia, ode.

Page 22: Em síntese… - profserafina.weebly.comprofserafina.weebly.com/uploads/1/6/6/2/1662499/lirica_camoniana_.pdf · Mote: Tema, do autor ou alheio, que se desenvolve nas glosas ou voltas

Referências Matos, M. Vitalina, (1981). A Lírica de Luís de Camões. Lisboa:

Ed. Comunicação.

Pais, Amélia Pinto, (1987). Eu cantarei de amor: Lírica de Luís

de Camões. Porto: Areal Editores.

Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012.

[Consult. 2012-04-16].