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Um jornal da F Um jornal da F Um jornal da F Um jornal da F Um jornal da Famecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – P amecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – P amecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – P amecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – P amecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – Porto Alegre, março orto Alegre, março orto Alegre, março orto Alegre, março orto Alegre, março-abril de 2006 – -abril de 2006 – -abril de 2006 – -abril de 2006 – -abril de 2006 – ANO 8 – Nº 46 ANO 8 – Nº 46 ANO 8 – Nº 46 ANO 8 – Nº 46 ANO 8 – Nº 46 Vandalismo reabre debate ecológico JULIANA FREITAS Projeto de reflorestamento da Aracruz é criticado por militantes da biodiversidade PÁGINA CENTRAL Mudas de eucalipto danificadas por mulheres do MST e Via Campesina, no laboratório de Barra do Ribeiro, em março, provocaram discussões sobre meio ambiente Gincana da solidariedade mobiliza PUCRS PÁGINA 8 Procurador denuncia Procurador denuncia Procurador denuncia Procurador denuncia Procurador denuncia mensalão e acusados mensalão e acusados mensalão e acusados mensalão e acusados mensalão e acusados Foi Lula quem nomeou Antônio de Souza PÁGINA 5 ALAN MARDRILIS/PGR JULIANA FREITAS ELSON SEMPÉ Inaugurado laboratório digital na Famecos PÁGINA 10 Reitor Clotet firmou convênio

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Page 1: Vandalismo reabre debate ecológicoprojetos.eusoufamecos.net/memoria/wp-content/uploads/... · 2013. 4. 10. · 222 OPINIÃO PPPorto Alegre, março-abril de 2006 HIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTOOO

Um jornal da FUm jornal da FUm jornal da FUm jornal da FUm jornal da Famecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – Pamecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – Pamecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – Pamecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – Pamecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – Porto Alegre, marçoorto Alegre, marçoorto Alegre, marçoorto Alegre, marçoorto Alegre, março-abril de 2006 – -abril de 2006 – -abril de 2006 – -abril de 2006 – -abril de 2006 – ANO 8 – Nº 46ANO 8 – Nº 46ANO 8 – Nº 46ANO 8 – Nº 46ANO 8 – Nº 46

Vandalismo reabre debate ecológico

JULIANA FREITAS

Projeto de reflorestamento da Aracruz é criticado por militantes da biodiversidadePÁGINA CENTRAL

Mudas de eucalipto danificadas por mulheres do MST e Via Campesina, no laboratório de Barra do Ribeiro, em março, provocaram discussões sobre meio ambiente

Gincana da solidariedade mobiliza PUCRSPÁGINA 8

Procurador denunciaProcurador denunciaProcurador denunciaProcurador denunciaProcurador denunciamensalão e acusadosmensalão e acusadosmensalão e acusadosmensalão e acusadosmensalão e acusados

Foi Lula quem nomeou Antônio de Souza

PÁGINA 5

ALAN MARDRILIS/PGRJULIANA FREITAS

ELSON SEMPÉ

Inaugurado laboratóriodigital na Famecos

PÁGINA 10

Reitor Clotet firmou convênio

Page 2: Vandalismo reabre debate ecológicoprojetos.eusoufamecos.net/memoria/wp-content/uploads/... · 2013. 4. 10. · 222 OPINIÃO PPPorto Alegre, março-abril de 2006 HIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTOOO

PPPPPorto Alegre, marçoorto Alegre, marçoorto Alegre, marçoorto Alegre, marçoorto Alegre, março-abril de 2006-abril de 2006-abril de 2006-abril de 2006-abril de 200622222 O P I N I Ã OO P I N I Ã OO P I N I Ã OO P I N I Ã OO P I N I Ã O HIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTOOOOO

Jornal mensal da Faculdade de ComunicaçãoSocial (Famecos) da Pontifícia UniversidadeCatólica do Rio Grande do Sul (PUCRS).Avenida Ipiranga 6681, Jardim Botânico, Por-to Alegre, RS, Brasil.E-mail: [email protected]: http://www.pucrs.br/famecos/hipertexto/045/index.php

Reitor: Ir. Joaquim ClotetVice-reitor: Ir. Evilázio Teixeira

No dia-a-dia de um jornal de cir-culação nacional como O Estado deS. Paulo, as notícias brotam dos maisdiversos cantos do país e do mun-do, e chegam das formas mais diver-sas. São leitores que mandam suges-tões de pauta e correções das matéri-as via fórum de discussão, releasesque enchem as caixas de e-mails, agên-cias de notícias que enviam notas in-formativas em inglês e espanhol acada dois minutos. O ritmo é frené-tico, ainda mais quando se trata daversão on-line do veículo. A respos-ta tem que ser imediata e a atualiza-ção constante distancia a possibilida-de do furo.

Quando entrei no Hipertexto emagosto de 2003, imaginava essa reali-dade ainda estava bem distante e quedificilmente teria uma oportunidadenum jornal grande antes de me for-mar. Comecei então a participar dasreuniões no Cicom, discuti dezenasde pautas com o Tibério e a Ivone,aprendi a editar, a diagramar e avisualizar o jornalismo com eles. En-trevistei engenheiros que explicassempor que raios não existem ambien-

tes com calefação em Porto Alegre,uma artista plástica que percorresse aBienal do Mercosul, antropólogosque analisassem a transgressão nasociedade brasileira, médicos que dis-cutissem as células-tronco, sem-te-tos que moravam embaixo da Ponteda Azenha e viviam em condiçõessub-humanas, e muitos outros.

Na hora de procurar uma opor-tunidade de estágio aqui em São Pau-lo, tive certeza que uma pasta carre-gada de reportagens publicadas faz adiferença. Sem falar na importânciado conhecimento de línguas, histó-ria, geografia, cinema, artes plásticas,política, relações internacionais, eco-nomia, esportes. E o melhor de tudoisso foi ter começado cedo, deixandode lado algumas baladas, lendo livrosque explicassem como o mundofunciona, conversando com pessoasmais velhas e especialistas em algumassunto. E escrevendo muito.

A construção de uma carreira co-meça desde o primeiro semestre dafaculdade e não basta manter o olharatento, gostar de escrever e assistir àsaulas. É recomendável produzir pau-tas diferenciadas, conhecer ambien-tes opostos ao seu cotidiano, colher

A volta da Alemanha com gosto de quero mais

Ritmo frenético em estágio no EstadãoAS ESTRELAS DO HIPERTEXTO

Diretora da Famecos: Mágda CunhaCoordenadora/Jornalismo: Cristiane Finger

Produção dos Laboratórios de JornalismoGráfico e de Fotografia.

Professores responsáveis:Tibério Vargas Ramos e Ivone Cassol (redaçãoe edição), Celso Schröder (arte e editoração ele-trônica) e Elson Sempé Pedroso(fotojornalismo).

ESTAGIÁRIOSGerente de Produção: Thaís AlmeidaEditor: Fábio Flores RauschEditora de fotografia: Daiana Bein EndruweitEditora de arte: Manuela KananRepórteres: Alessandra Brites, Amanda Gularte,Carmel Mostardeiro, Francisco D. Prato, GabrielaRodrigues, Gabriela Semensato, GuilhermeZauith, Jéssica Gustafson Costa, Jesus AlbertoBardini, Júlia Pedrozo Pitthan, Julianne MaiaGazzoni, Laion Machado Espíndula, Lucca Rossi,

Mariana Gomide, Mauro Belo Schneider, NatáliaGonçalves, Rafael Terra, Raíssa de Deus Genro,Renan V. Garavello, Raphael Leite Ferreira, TatianaFeldens, Vinícius Roratto Carvalho, Wagner Ma-chado da Silva..Repórteres fotográficos: Ana Carolina Pan, CarlaRuas, Fabrícia Albuquerque, Fernanda Fell, JulianaFreitas, Lucas Uebel, Manuela Kanan, MarinaVolpatto, Rodrigo Tolio.Diagramadores: Bruno Bertuzzi, Julia Pitthane Manuela Kanan.

Hipertexto

Após um semestre na Alema-nha, a saudade e a vontade de estarde volta crescia. Lembranças de cole-gas, amigos e familiares, de bate-paposem compromissos e das gargalha-das nas reuniões do Hipertexto nosmomento de edição do jornal. Paraencurtar a distância, a internet foiuma ferramenta imprescindível, exer-cendo papel fundamental na comu-nicação entre os dois mundos.

As notícias que recebia do Brasileram as mesmas: corrupção na polí-tica, violência e medo nas cidades.Grêmio voltando à primeira divisão,Inter perdendo outra chance de sercampeão brasileiro. Na Europa, mui-tas coisas aconteciam. Eleições para achancelaria alemã, preparativos paraa Copa do Mundo, realizações degrandes feiras e eventos internacio-nais. Apesar do deslumbramento,percebi a Alemanha como um país

Apoio cultural: Zero Hora. Impressão: Pioneiro, Caxias do Sul. Tiragem: 5.000

dados (que misturem histórias devida, estatísticas e a investigação daversão oficial), montar um texto pre-ciso e colocar o nome na rua.

Da Famecos para o estágio noEstadão, a experiência no Hipertextofoi decisiva. O exercício da apuração

detalhada num jornal que dá espaçopara grandes reportagens ajuda adimensionar a relevância de um fato.E para começar treinando como gentegrande, nada melhor do que abusardos laboratórios e do conhecimentodesses mestres do jornalismo.

contraditório em muitos aspectos.Chega ser difícil defini-lo, mas tenhocerteza de que foi muito importantea experiência em termos pessoais epara crescimento e amadurecimentoprofissional. Amizades novas e con-cretas surgiam a todo o momento.O conhecimento torna-se contínuoe percebemos que não conhecemosnada do mundo ainda. Temos mui-to chão pela frente e muito a apren-der e vivenciar.

A cada dia, uma descoberta, ou-tro anseio, um caminho diferente.Para todos aqueles que pensam queo velho continente é o primeiro mun-do, observo que, na Europa, tam-bém há muitas coisas erradas, tor-nando nossos afazeres diários maisdifíceis. Essa grande potência euro-péia – que um dia entrou para a his-tória por ser comandada pelo dita-dor Adolf Hitler e hoje se destacapor ter à frente uma mulher de pu-nho forte, Angela Merkel –, é tam-

bém limitada e, em alguns aspectosnão sabe resolver problemas básicos.O Brasil pode ter tudo de ruim, maso paraíso não é na Alemanha.

Procurei aprender e conhecer omáximo possível naquele país ondeestive estudando por seis meses. Ti-nha a certeza de que em cada cantodeste mundo iria encontrar diversi-dades, inovações, misturas entre ve-lho e novo, antigo e moderno, ilus-tre e inexpressivo. No meio disso,pessoas iguais a nós que anseiampelas mesmas necessidades, desafi-os e objetivos.

A moldura podia até ser diferen-ciada: em alguns momentos mais co-lorida, em outras opaca. Além detudo isso, mais pessoas, acolhedo-ras, amigas, injustas, grosseiras, di-vertidas, amáveis que se tornarão parasempre inesquecíveis. Esses são osmaiores sentidos da vida: arriscar, co-nhecer, aprender, introspectar, sele-cionar, sem jamais deixar de viver.

EDITORIAL

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Belisa na redação de um dos jornais mais influentes do País

ARQUIVO PESSOAL

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Brasilidade em frente a um dos castelos de Sanssouci, em Potsdam

A segunda edição do ano doHipertexto, primeira realizada nestesemestre, mostra não uma “novacara”, porém um jornal commaquiagem diferente, desde o tradi-cional jornalismo gráfico até tendên-cias atuais, como espaços brancos.

Com uma equipe renovada eaperfeiçoada pela manutenção de unse retorno de outros, continua a pre-ocupação com os principais temas emdebate, seja no âmbito acadêmico, ouda sociedade, em geral.

Ao longo dos últimos meses,têm ocorrido levantamentos e análi-ses, nestas páginas, junto às maisdiversas fontes, sobre as implicaçõeslamentáveis dos escândalos decorrupção que assolam o Estado bra-sileiro. Por isso, a importância da ini-ciativa do Ministério Público Federalde investigar e trazer à tona diversospontos sobre o mensalão. O desejoé que a sociedade receba esclarecimen-to objetivo a respeito do assunto.

Além de questões conjunturais,o jornal quer destacar o papel dosseus repórteres no decorrer das pu-blicações, não só pela redação de ma-térias qualificadas, mas, também,pelo acesso aos veículos mais notá-veis do país.

Fábio Flores Rausch, editor

Novo tempoNovo tempoNovo tempoNovo tempoNovo tempo

ARQUIVO PESSOAL

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População desconhece riscos e descartamedicamentos no lixo doméstico

“O que faço com os remédios quenão vou mais usar ou que já estãovencidos?, pergunta a dona de casaMarta Gomes ao seu oftalmologis-ta, recebendo como resposta o con-selho para “jogar no lixo”. Poucodesconfiada, fez nova investida:“Mas não há riscos para o meio am-biente ou para as pessoas que tive-rem contato com esses medicamen-tos?” Com naturalidade, disse odoutor: “Então despeje o líquido ouos comprimidos no ralo e depoisjogue o recipiente fora”.

Se a falta de informação ou o des-caso grassam entre profissionais daprópria área da saúde, imagine entrea população. Pesquisa realizada emDivinópolis – cidade do interior deMinas Gerais – por estudantes dosegundo período do curso de farmá-cia da Unifenas, por exemplo, com-prova a ignorância do público. Deacordo com o levantamento realiza-do em 2005, 82,8% dos entrevista-dos usa o lixo doméstico para efetu-ar tais descartes. O res-tante disse devolverpara as farmácias oucontinuar usando osmedicamentos.

Entre universitári-os e comerciantes a si-tuação é a mesma. O es-tudante de publicidade da PUC/RSAndré Almeida Cardoso admite quejoga no lixo orgânico todos os com-primidos e cápsulas restantes de al-gum tratamento ou que estejam forado prazo de validade. “Quando é lí-quido, despejo no vaso sanitário.”Proprietária de uma tabacaria e bancade revistas, Vera Rolim garante quedoa os remédios que não precisamais para uma farmácia popular dePorto Alegre. “Quanto aos vencidos,jogo no lixo seco”. Mais elaborada éa solução da estudante de Direito,Susi Daiane Tavares Ramos. Ela des-mancha os remédios velhos em umcopo com água para depois despejarnos fundos de casa.

Medicamentos como analgésicos,antialérgicos e anti-sépticos, entreoutros, fazem parte do dia-a-dia dapopulação. O que a maioria das pes-soas ignora é o passivo ambientalcausado pelo manuseio ou descarteinadequado dessas substâncias. Aquestão é saber como se livrar destafarmácia caseira em casos de medica-ção vencida ou sobras.

Empurra-empurraAlém da desinformação, a ausên-

cia de estrutura dos órgãos respon-sáveis para lidar com os resíduos demedicamentos agrava o problema.De acordo com Anderson Araújo deLima, coordenador da Equipe de

Vigilância de Serviço e Produto deInteresse da Saúde, da Secretaria deSaúde de Porto Alegre, medicamen-tos com prazo de validade excedidodevem ser devolvidos ao fabricante.Anderson explica, entretanto, que“não está formalizado essa rede dedevolução, principalmente por havermuitos laboratórios de empresasmultinacionais, o que inviabilizariao retorno”.

O diretor da Divisão de DestinoFinal do Departamento Municipal deLimpeza Urbana (DMLU), Eduar-do Medeiros, contesta a declaração deLima e afirma que o fato de haverempresas multinacionais fornecendomedicamentos não é empecilho paraa devolução. “Todas elas tem sedeno Brasil, e tem distribuidores, quesão responsáveis diretos pelo reco-lhimento”. Conforme Medeiros, ocidadão que tiver em sua casa algumtipo de químico vencido ou que nãotenha mais utilização deve procuraruma farmácia ou o laboratório for-necedor e fazer a devolução, jamaissendo depositados em lixos domés-

ticos. “Ele tambémdeve avisar o DMLUquando tiver em suacasa Resíduos de Ser-viço e Saúde (RSS) –como materiais usa-dos parahemodiálise, fraldas

geriátricas ou outro tipo de utensílioou medicamento hospitalar – paraque possamos ir até o local e fazer acoleta de forma separada”.

A intenção é boa, mas não é oque ocorre na prática. A dona de casaSilvia Stülp conta que ligou para oDMLU de Porto Alegre. Queria sa-ber como proceder com as fraldasgeriátricas usadas por sua tia. O res-ponsável no Departamento sugeriuque fosse descartado junto ao lixodoméstico de banheiro. De acordocom ele a quantidade diária seriamuito pequena – entre três a quatrofraldas – e o órgão apenas realizaria orecolhimento se tratando de umageriatria.

Embora o diretor do DMLU te-nha recomendado a devolução paraos estabelecimentos de compra,Marlise Canam, farmacêutica respon-sável por uma das unidades da Far-mácia do Sesi na Avenida Azenha,informa que a loja não aceita a devo-lução por ser inviável administrati-vamente. “Tudo que entra e sai da-qui precisa de nota fiscal. Quandodevolvemos remédios vencidos, en-viamos junto notas fiscais de todoseles. Isso não seria possível commedicação devolvida”, disse Marlise.Para ela, a melhor solução seriacontatar o próprio Departamento deLimpeza Urbana ou a Secretaria deVigilância Sanitária da cidade.

Legenda

Sociedade desinformada enfrenta jogo de empurra-empurra entre instituições públicas e privadas

O perigo das pilhas e baterias usadasENERGIA QUE POLUI

O jogo de empurra-empurra en-tre fabricantes, comerciantes e órgãospúblicos contradiz a legislação nacio-nal sobre o tema. Segundo EduardoMedeiros, a resolução 358 / 29 deabril de 2005 – do Conselho Nacio-nal do Meio Ambiente (Conama),“todo gerador é responsável pelo seuresíduo”. Ele explica que o DMLU,ao encontrar “resíduos de serviço esaúde” disposto em lugares irregu-lares – como, por exemplo, caixas dexarope ou de comprimidos jogadosem um terreno baldio – tenta pri-meiro descobrir o responsável pelodescarte. Caso isso não ocorra, frisa,“o laboratório será notificado e iráresponder por crime ambiental”.

Além disso, os serviços de lim-peza urbana não realizam trabalhosde coleta em residências. Esse servi-ço é restrito aos consultórios e hos-pitais, informa Anderson Araújo deLima. Contatada, a Agência Nacio-nal de Vigilância Sanitária (Anvisa)amplificou a contradição. A assesso-ria de imprensa do órgão informouque a agência não responde pelo con-trole do lixo doméstico, apenas porresíduos utilizados em hospitais.Anderson questiona a informação.Segundo ele, muitas pessoas conti-nuam o tratamento em seus lares,utilizando os mesmos utensílios(como seringas) e químicos dos hos-pitais, o que caracteriza a responsabi-

lidade do órgão.Em Porto Alegre, além do

DMLU, empresas terceirizadas, comlicenciamento da Fundação Estadu-al de Proteção Ambiental (Fepam),estão aptas a recolher esses materiaisquímicos. A farmácia do Sesi, con-forme Marlise Canan, contrata os ser-viços da Ambientus. A empresa re-colhe mensalmente os medicamen-tos vencidos e trata os resíduos porincineração – processo de destruiçãotérmica realizado sob alta tempera-tura e utilizado para tratamento deresíduos de alta periculosidade.aisriscos de se descartar incorretamentemedicamentos e demais resíduos deserviço e saúde no meio ambiente.

Todos os dias são descartadosno lixo pilhas e baterias de telefonecelular. Grande parte da populaçãonão tem orientação sobre como sedesfazer deste tipo de lixo, que nasua maioria é nocivo ao meio am-biente. O despejo inapropriadodeste material pode causar polui-ção do ecossistema onde for depo-sitado e afetar permanentementelençóis freáticos, rios, mares e la-gos. A intoxicação por estes mate-riais não permite a limpeza da águapara torná-la potável e pode com-prometer o suprimento de regiõesdevido ao descuido de pessoas.

O problema hoje é o que fazer

com as pilhas e baterias de celular.Segundo a resolução n° 257 do Con-selho Nacional do Meio Ambiente(Conama), as pilhas e baterias po-dem ser descartadas em lixo comumdesde que atendam aos limites tole-ráveis pelo meio ambiente estabele-cido em lei. Em Porto Alegre, todasas pilhas e baterias devem ser enca-minhadas ao local de origem, sejaonde foram adquiridas ou fabricadas,segundo o engenheiro químicoEduardo Fleck, responsável pelosresíduos no Departamento Munici-pal de Limpeza Urbana (DMLU).

Os fabricantes e importadoresdevem identificar os seus produtosnas embalagens ou nas próprias ba-terias e pilhas que vão para o comér-

cio. “No Rio Grande do Sul, princi-palmente em Porto Alegre, onde sedá mais ênfase a este assunto, o esta-do estabelece em lei a devolução des-te lixo ao comerciante ou ao fabri-cante que são obrigados a receber osprodutos usados de volta”, alerta oengenheiro. No caso de não aceita-rem a devolução, devem ser denun-ciados ao DMLU para que a fiscaliza-ção comprove e aplique multa, casoo problema não seja resolvido. Areciclagem destes produtos deve serrealizada com cautela observandotodas as leis. Na impossibilidade dese reutilizar as pilhas e baterias, elasdevem ter destinação final por des-truição térmica atendendo tambémas normas fixadas em lei.

Como se livrardos remédios

vencidos?

Quem gera é responsável pelo resíduoQuem gera é responsável pelo resíduoQuem gera é responsável pelo resíduoQuem gera é responsável pelo resíduoQuem gera é responsável pelo resíduo

PORPORPORPORPOR F F F F FRANCISCORANCISCORANCISCORANCISCORANCISCO P P P P PRATORATORATORATORATO

MANUELA KANAN

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Page 4: Vandalismo reabre debate ecológicoprojetos.eusoufamecos.net/memoria/wp-content/uploads/... · 2013. 4. 10. · 222 OPINIÃO PPPorto Alegre, março-abril de 2006 HIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTOOO

PPPPPorto Alegre, marçoorto Alegre, marçoorto Alegre, marçoorto Alegre, marçoorto Alegre, março-abril de 2006-abril de 2006-abril de 2006-abril de 2006-abril de 200644444 A M B I E N T EA M B I E N T EA M B I E N T EA M B I E N T EA M B I E N T E HIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTOOOOO

Quarenta milhões de trabalhado-res, aposentados e pensionistas rece-bem um salário mínimo, cerca de20% da população brasileira, e, a par-tir deste mês, passam a ganhar R$350. A quantia anterior era de R$ 300.O ganho real, reajuste de 16,67%menos inflação, é de 13%. O aumen-to foi regulado pelo Índice Nacionalde Preços ao Consumidor (INPC),que foi de 5,05% no ano passado. Amedida ocorreu através da edição deuma medida provisória pelo gover-no federal, já que o Congresso nãohavia votado um projeto de lei até ofim de março.

O brasileiro tem, agora, confor-me o Departamento Intersindical deEstatística e Estudos Sócio-econô-micos (Dieese), o maior poder com-pra dos últimos dez anos, com 70%de ganho sobre a inflação do perío-do, acumulada em 192,23%, sob umreajuste de 400%. Em 1995, o míni-mo era de R$ 100. Mesmo assim,

Mínimo eleva poder de compra, mas não cobre o necessárioainda em um patamar consideradobaixo para a maioria dos economis-tas, ele continua sem satisfazer àsnecessidades básicas do cidadão bra-sileiro. Em 2005, elevação foi de 15%.

O supervisor regional do Dieeseno Rio Grande do Sul, RicardoFranzoi, afirma que o valor está abai-xo do salário mínimo necessário. Oconceito da instituição define, segun-do pesquisa encerrada em fevereiroúltimo, a quantia de R$ 1.474,71como capaz de atender: moradia, ali-mentação, educação, saúde, lazer, ves-tuário, higiene, transporte e Previ-dência Social, com reajuste periódicopara preservar o poder aquisitivo. “AConstituição da República contem-pla esses princípios, mas, visto queainda não definiu os índices de cálcu-lo para cada item, o Dieese baseia asua análise na Carta anterior a 1988”,explica Franzoi.

Em 1º de abril de 2003, início demandato, o presidente Luiz InácioLula da Silva reajustou o salário deR$ 200 para R$ 240. Os R$ 350 mos-

tram que ele não cumpriu a promes-sa de campanha eleitoral de duplicaro mínimo. Mesmo assim, de acordocom o Dieese, nos quatro anos, oaumento total foi de 27,3% contra23,8% do 2º mandato do antecessor,Fernando Henrique Cardoso.

Espaço para aumentar“O valor poderia ser mais eleva-

do, porém as contas públicas, comjuros altos, são um impeditivo paraum aumento”, percebe o supervisordo Dieese sobre o mínimo. Ele acre-dita que juros menores trariam maisfacilidade ao governo no pagamentode dívidas aos bancos. A economiana rolagem, diz Franzoi, “seriatransferida para o salário, com forta-lecimento do mercado interno”. Noentanto, o juro cobrado, orientadopela taxa básica, a Selic, hoje a 15,75%anuais, tem uma dupla função noBrasil: conter aumentos da inflaçãooficial, orientada pelo Índice de Pre-ços ao Consumidor Amplo (IPCA),que ficou em 5,27% no último ano,

e atrair capital estrangeiro.Uma política de recuperação do

salário mínimo, na opinião do coor-denador do Núcleo da Pesquisa so-bre Emprego e Desemprego da Fun-dação de Economia e Estatística(FEE), Raul Bastos, não tem um efei-to significativo sobre a inflação, poiso valor ainda é depreciado. Ele acre-dita como improvável que o aumen-to do custo do trabalhador para aempresa determine desemprego.“Ao ser elevado, o salário favorece oaumento de demanda de produtos,através do ganho na capacidade deconsumo da população, algo positi-vo sobre o nível de emprego”. Paraele, mais capacidade de crescimentoeconômico é “fundamental” para re-cuperar o poder de compra do míni-mo. O Produto Interno Bruto bra-sileiro, soma das riquezas de um país,é de R$ 1,9 trilhão e cresceu 2,3% em2005, acima, apenas, do Haiti, emguerra civil, na comparação com paí-ses do continente americano.

Outro empecilho que prejudica

o índice de reajuste do salário míni-mo é o impacto anual que causa nascontas da Previdência Social. Dadosdo governo federal indicam que oúltimo aumento representará umacréscimo de R$ 5,6 bilhões, além dosrecursos já reservados na propostaorçamentária deste ano para garantira continuidade da elevação do pisosalarial. Com isso, as contasprevidenciárias alcançarão um déficitprevisto de cerca de R$ 50 bilhões nofim de dezembro.

O Dieese sugere que, além dosajustes macroeconômicos, o aperfei-çoamento das discussões em tornodo valor se encarregue de levar o mí-nimo a um patamar desejado. “Coma criação do comitê quatripartítede, apressão para aumentos substantivosserá ainda maior”, prevê Franzoi. Oinstrumento de discussão foi criadoneste ano e reúne governo, empresá-rios, trabalhadores e aposentados,que devem se encontrar periodica-mente, para definir uma quantiaconsensual.

– O senhor diz que a economiavai bem quando se tem instituiçõesfortes. É somente isso?

– Bom, não somente institui-ções. Você pode ter algumas que se-jam fortes, mas que encorajam ativi-dades ruins. As instituições não sãonecessariamente boas. Todas as soci-edades estruturam a interação huma-na, no entanto, nos países pobres elassão estruturadas para seremineficientes e incompetentes. Nospaíses ricos são feitas para serem maisprodutivas. Vocês devem desenvol-ver esse tipo, se forem inteligentes.

– No Brasil, que tipo de insti-tuições temos?

– Vocês têm uma mistura. Algu-mas que são boas e produtivas eoutras que encorajam você a seremineficientes.

– Sobre as atuais denúncias aogoverno Lula. Isso mostra que nos-

North aconselhaBrasil a reversuas instituições

sas instituições são ineficientes?– Não vou falar sobre o Brasil.– O que o Brasil precisa para se

tornar um país mais competitivo?– Vocês precisam criar o que eu

chamo de uma sociedade “openacess” (de acesso aberto). Essa é aque é preciso desenvolver um meca-nismo de eficiência e competitividadeem ambos cenários econômico e, ain-da mais importante, no cenário polí-tico. E isso é uma coisa que vocêsnão têm. O cenário econômico devocês é parcialmente “open acess”,mas o político não é nem um pouco.O que resulta é que vocês têm umestado que dificulta que vocês consi-gam produtividade e criatividade, oque viria naturalmente com a socie-dade de “open acess”. Então vocêsprecisam se direcionar para esse tipode sociedade.

– Como atingir essa sociedade?

– Bom, é complicado, se fossefácil todo mundo faria isso. É com-plicado porque você tem que passarpor um processo de transformaçãodo tipo de trocas, de pessoais paraimpessoais. Você sabe o que o quesão as trocas pessoais? É o que a gen-te está tendo nesse momento, falan-do diretamente. Mas em trocas im-pessoais você acredita num Estadode Direito e em normas que encora-jam as pessoas a fazer a coisa certa.Isso é uma coisa que você não temaqui, bom vocês têm parcialmente.

– Diminuindo os custos de tran-sação e adicionando tecnologia naprodução, a gente consegue chegarao desenvolvimento econômico?

– Bom, uma parte da economiaé preocupada com o tipo do traba-lho, a terra e o capital da produção,além da tecnologia que você usa.Outra parte da produção se interessapelos custos de operação no sistemaeconômico e político, isso é o custode transação. Se você tiver custos detransação baixos, você também teráprodutividade. Vocês precisam con-seguir baixos custos de transação nasnegociações políticas e econômicas.

Se vocês tiverem isso, serão ricos.– Um país que não tem burocra-

cia no seu processo é um país a cami-nho do crescimento?

– É mais complicado que isso. Éverdade que se você tiver um montede burocracia você normalmente teráaltos custos de transação. Custos detransação crescem porque é difícil fa-zer tratos com pessoas que você nãoconhece, quando você não acredita naspessoas com quem está negociando.Então, tudo isso requer custos detransação muito elaborados para quevocê possa negociar com segurança.Quanto mais baixo os custos, maisrico o país fica. É simples assim.

– Quanto mais simples, melhor?– Se o mais simples significar

mais produtivo, sim.– Como o Brasil pode baixar

seus custos de transação?– Desenvolvendo mercados im-

pessoais mais eficientes. O Brasil têmque passar das trocas pessoais paraas impessoais. As pessoas têm quefazer negócios sem se importar se co-nhecem ou não o outro, sem preci-sar oferecer favores para que a pessoanegocie consigo. O importante é ter

regras claras para estipular o que cadaum deve fazer. Isso diminuirá oscustos de transação.

– Estados Unidos e Brasil têmquase as mesmas origens: ambosforam colonizados por europeus. Porque os americanos despontaramcomo economia mais importante domundo e o Brasil parou?

– A diferença é que os EstadosUnidos foram colonizados pelosbritânicos. E isso lhe deu, como po-dem recordar, um governo próprio,um Estado de Direito e regras espe-cíficas de propriedades, tudo o queos portugueses e espanhóis não dei-xaram aqui na sua colonização. Nósestamos muito na frente de vocêspor causa dessa vantagem. O Brasilainda está vivendo na época das tro-cas pessoais. Quem você conhece ecoisas desse estilo dominam a eco-nomia e a política aqui. As institui-ções evoluem com o passar do tem-po, mas a herança cultural determinagrande parte do que o Brasil é hoje.Se vocês evoluíram para instituiçõesineficientes, como eram na coloniza-ção portuguesa, é difícil escapar com-pletamente.

Em meio ao burburinho do XIX Fórum da Liberdade, que se realizou nocampus da PUCRS, em Porto Alegre, dias 3 e 4 de abril, a figura de umsenhor de cabelos brancos e barba passeava, anônima até então, pelos corredoresdo prédio de eventos da Universidade. Um pouco desorientado entre as pessoasque apreciavam os estandes montados para o evento liberalista, estava o professornorte-americano Douglass North, prêmio Nobel de Economia em 1993. Northé um dos principais ícones da escola neo-institucionalista da economia. Ele prevêque as instituições devam ser conjunto de normas que favoreçam o desenvolvimentodo país. Antes de começar a entrevista, ele coloca somente uma única regra paraa conversa: “Não falarei sobre o Brasil porque não falo de coisas que não domi-no”. Mas, no fim, conseguimos convencê-lo a dar alguns conselhos aos líderesbrasileiros. Veja a entrevista exclusiva ao Hipertexto:

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Fórum da Liberdade reuniu em Porto Alegre pensadores, economistas, políticos e empresários

MANUELA KANAN

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“Querem que o PMDB continuecomo um vagãozinho e não como agrande locomotiva que é”. Com essafrase, o governador GermanoRigotto encerrou discurso no audi-tório Dante Barone, da AssembléiaLegislativa, durante a consulta infor-mal do partido, no dia 19 de março.Deu seu recado à ala governista doPartido, liderada pelos senadoresRenan Calheiros (AL) e José Sarney(AP), que até a noite anterior luta-vam contra a realização das prévias.

O discurso inflamante de Rigotto,pouco o ajudou naquele momento.A decisão da suspensão das préviasfora confirmada um dia antes pelopresidente do Superior Tribunal deJustiça, ministro Edson Vidigal, oque por si só invalidava qualquer re-sultado. Com uma fórmula “mági-ca”, que transformou a maioria dosvotos absolutos (7.574 contra 4.910)favoráveis a Rigotto em 38,2% con-tra 49,4% para o ex-governador doRio de Janeiro, Antony Garotinho,declarado vencedor. Segundo as re-gras acertadas antes entre os dois ad-versários, os votos tiveram pesosdiferentes, dependendo darepresentatividade de cada diretórioregional. Rigotto contestou, masvoltou atrás logo depois, afirmandoque os dois haviam concordado comos critérios estabelecidos.

O que parecia assunto encerrado,pode estar apenas começando. De-pois de muito impasse, o TribunalSuperior Eleitoral decidiu, por novevotos a dois, que a verticalização dascoligações deve ser mantida nas elei-ções deste ano. A decisão se baseiano preceito constitucional que deter-mina aos partidos políticos uma atu-ação nacional, o que os obriga a res-peitar nos Estados as coligações fei-tas na disputa para presidente. Comessa determinação, a maioria dos par-tidos, é provável, optará por não lan-çar candidato à presidência, privilegi-ando coligações estaduais diversas emcada região. Enquanto uma correntedo PMDB reivindica que o partidodeve ter um candidato próprio, a basegovernista passa a ver mais vantagemnas candidaturas e composições es-taduais, o que pode levar à coligação

com o PT. O presidente Lula nãoesconde o desejo de uma aliançaentre os dois partidos. O apoio doPMDB a sua candidatura reforçariaa possibilidade de uma reeleiçãologo no primeiro turno. Nas pes-quisas de intenção de voto realiza-das até agora, Lula está em largavantagem sobre o segundo candi-dato. Ainda assim, o PMDB deveser cauteloso na sua decisão. Pri-meiro, porque PT e PMDB são ri-vais na maioria dos Estados e, emsegundo, porque questões éticasmarcarão debates com custo eleito-ral para a situação.

Na oposição, PSDB e PFL for-malizaram uma aliança para dispu-tar as eleições de outubro. O anún-cio foi feito após reunião entre oprefeito do Rio de Janeiro, CesarMaia, e o candidato tucano à suces-são presidencial, Geraldo Alckmin.Segundo Alckmin, o apoio do PFLé de âmbito nacional. O candidatopefelista a vice na chapa de Alckminainda não está definido. A aliançaentre os dois partidos não é nenhu-ma novidade. Na última vez que secoligaram, Fernando Henrique Car-doso foi eleito. Cogita-se, ainda, apossibilidade do PSDB fazer umasuperaliança com PMDB, PPS ePFL, esse último já confirmado.“Nossa primeira tendência ainda épela candidatura própria. Não pre-valecendo, passa a ser uma aliançacom o Alckmin, baseada na impo-sição dos fatos”, afirmou MichelTemer, presidente do PMDB, aojornal Folha de S. Paulo.

Mesmo na incerteza quanto aoapoio da própria legenda, AntonyGarotinho está se movimentandopoliticamente, contatando com li-deranças regionais, em especial comcandidatos aos governos estaduais.Isso mostra que Garotinho aindanão se deu por vencido e tentará atodo custo derrotar as resistênciasà candidatura própria. Em reunião,no dia 5 de abril, a executiva nacio-nal do PMDB, decidiu, após muitadiscussão, suspender a convençãoextra que decidiria sobre o lança-mento ou não de candidato ao Pa-lácio do Planalto. Com isso, Garo-tinho adia o confronto com os ad-versários da candidatura própria.

Rigotto ganha no votoe perde na fórmula

Prévias do PMDB adiam o sonho de ser presidente

ELISA VIALI

Mais do que o resultado de di-vergências entre partidos, a prática domensalão ganhou uma constataçãofidedigna. O procurador-geral da Re-pública, Antônio Fernando de Sou-za, denunciou ao Supremo TribunalFederal, em 11 de abril, 40 pessoasenvolvidas no pagamento de mesa-das do governo Lula a políticos alia-dos para votarem projetos na Câma-ra dos Deputados. A medida com-provou o que o já cassado ex-depu-tado pelo PTB Roberto Jeffersonadiantou ao jornal Folha de S. Paulo,em maio do ano passado. A análisedo procurador foi encaminhada nodia 30 de março, mas, segundo ele,tiveram a divulgação adiada para nãoexercer qualquer influência na vota-ção do relatório final da CPI dosCorreios, que fora aprovado no Con-gresso, em 5 de abril, com 17 votosfavoráveis contra quatro.

Em 36 páginas, o documento doMinistério Público Federal denomi-na a cúpula do Partido dos Traba-lhadores de “sofisticada organizaçãocriminosa”, cujo objetivo foi “desvi-ar dinheiro público e comprar apoiopolítico”, para “garantir a continui-dade no poder”. Os antigos dirigen-tes do PT são chamados de integran-tes de uma “quadrilha”, dividida emtrês núcleos. O primeiro, de caráterpolítico, foi comandado pelo ex-mi-nistro-chefe da Casa Civil, ex-depu-tado cassado José Dirceu, pelo ex-presidente da sigla José Genuíno,pelo ex-tesoureiro Delúbio Soares,além do ex-secretário-geral Sílvio Pe-reira, cuja “função primordial” eranegociar cargos no governo. O segun-

do, responsável pela publicidade, in-clui o lobista Marcos Valério e seussócios. O último núcleo é o financei-ro, composto pela diretoria do Ban-co Rural. O banco mineiro BMGtambém teria integrado este grupo efará parte das próximas investigações.

O procurador ainda esclareceuque a prática do tráfico de dinheironão é recente, pois o lobista e seugrupo atuaram, também, na campa-nha do tucano Eduardo Azeredo aogoverno de Minas Gerais, em 1998.Hoje, ele é senador pelo PSDB. Deacordo com a denúncia, o esquemacorrupto foi levado para PT, depoisque o deputado petista Virgílio Gui-marães apresentou Valério paraDelúbio. Agora, o documento tra-mita no Supremo, onde aguarda pa-recer do relator do inquérito, minis-tro Joaquim Barbosa.

Para o filósofo e professor daUniversidade Federal do Rio Grandedo Sul Denis Rosenfield, o país atra-vessa o que chama de “tirania dasidéias”. Ele explicou ao Hipertexto,durante o Fórum da Liberdade, rea-lizado no campus da PUCRS, entreos dias 3 e 4 deste mês, que pensa-mentos atrasados têm causado umaineficácia da gestão pública. “O papel

Mensalão existiu em umpaís onde faltam líderesPPPPPOROROROROR F F F F FÁBIOÁBIOÁBIOÁBIOÁBIO F F F F FLORESLORESLORESLORESLORES R R R R RAUSCHAUSCHAUSCHAUSCHAUSCH

Procurador-geral da República denunciou 40 envolvidos

das instituições, além do funciona-mento do Estado, devem ser repen-sados, pois o cidadão espera maiseficiência dos governos, ao invés demás administrações”, observa.Rosenfield também condenou o queclassifica como “captura corporativa”,quando segmentos da classe políticautilizam a máquina estatal para ob-ter vantagens particulares.

Por um líderDiante do quadro de denúncias

envolvendo corrupção na esfera pú-blica, o diretor da ARD ConsultoresAssociados, Raul Velloso, revelou,também com exclusividade para oHipertexto, que o momento exige“um líder que esteja imune aos pro-blemas do meio político, em condi-ções de enfrentá-los com a força ne-cessária”. Ele sugere o nome do ex-governador de São Paulo para presi-dir o país. Geraldo Alckmin, toda-via, enfrenta recentes denúncias doseu último mandato, como o fatode sua esposa, Maria Lúcia Alckmin,ter recebido, entre 2001 e 2003, 400peças de roupas do estilista RogérioFigueiredo. Tomando como exem-plo a determinação da Comissão deÉtica da Presidência da República, ovalor de R$ 100 é o limite permitidopara brindes a funcionários públicosfederais. O governo Alckmin tam-bém sofre acusação de que teria pagouma temporada a professores públi-cos estaduais no spa doacupunturista Jou Eel Jia. O proble-ma estaria na razão de sua filha sersócia de Thomaz, filho mais novodo ex-governador tucano, em umamicroempresa que abastece com pro-dutos o spa de Jia.

O ex-ministro da Fazenda An-tônio Palocci viu-se forçado a deixaro cargo no último dia 27 de março,após três anos e três meses à frenteda pasta. Ele esteve envolvido emmais um esquema de corrupção e foiindiciado pela Polícia Federal. O mo-tivo foi a denúncia do caseiroFrancenildo dos Santos Costa à CPIdos Bingos. “Confirmo até a mor-te”, sustentou ao referir que viraPalocci, pelo menos, dez vezes na casa,em Brasília, onde o ex-ministro, comlobistas, supostamente, realizavanegócios irregulares. Palocci já acu-mulava denúncias referentes ao perí-odo em que era prefeito da cidade doInterior paulista de Ribeirão Preto,onde, entre 2001 e 2002, teriaintermediado doações ilegais para acampanha eleitoral do Partido dosTrabalhadores. O ex-ministro, con-

tudo, negou. “Jamais patrocinei, nes-ses três anos, malfeitorias com osrecursos públicos, tampouco atenteide alguma forma contra a democra-cia e as instituições do meu país”.

A situação de Palocci piorou de-pois que ele foi acusado de mentir àCPI dos Bingos, quando rebateu aafirmação do caseiro de que teria fre-qüentado a casa montada por seusex-assessores. Um conjunto de ex-tratos, publicado pela revista Época,na edição de 20 de março, da conta depoupança número 1048-8, em nomede Santos Costa, levantou mais dú-vidas. Desde o início do ano,Francenildo recebeu depósitos de R$38.860, em dinheiro. A ordem para aquebra do sigilo do caseiro partiu doentão presidente da Caixa Econômi-ca Federal, Jorge Mattoso, que se de-mitiu. A ação teria sido a mando de

Palocci. O ex-assessor de Comunica-ção do ex-ministro, o jornalista Mar-celo Netto, é o suspeito de ter repas-sado o extrato bancário à revista e foiindiciado em inquérito da Polícia Fe-deral, dia 17 de abril.

A quebra do sigilo bancário docaseiro levou o advogado deFrancenildo, Wlício Chaveiro do Nas-cimento, a entrar com duas ações naJustiça Cívil, uma contra a Caixa Eco-nômica Federal, no valor de R$ 17,5milhões, e outra junto à revista Épo-ca, pedindo indenização de R$ 4,226milhões, ambas por danos morais.A primeira por ter violado um direi-to constitucional de “forma vil”. Nocaso da revista, por haver publicadomatéria “de caráter tendencioso”, in-sinuando, “nas entrelinhas”, subor-no da oposição, como entende Cha-veiro do Nascimento.

O caseiro que derrubou um ministro

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Procurador Antônio de Souza

LUIZ ANTONIO SILVA

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AnúncioO cultivo de monoculturas no

país ganhou espaço na discussão pú-blica, após o protesto de duas milmilitantes da Via Campesina, a maio-ria mulheres, que danificaram instala-ções da empresa Aracruz em Barra doRibeiro (56 km de Porto Alegre) nodia 8 de março. Enquanto as grandesinstituições debatem sobre a manifes-tação do Movimento das MulheresCamponesas (MMC), especialistascomo o biólogo e pesquisador doCentro de Pesquisa e Conservação daNatureza Pró-Mata da PUCRS,Ricardo Silva Pereira Mello, chamamatenção para o problema dehomogeneização dos ecossistemas eos princípios da biodiversidade nasregiões de monoculturas.

Para Mello, a raiz do problema nãoestá relacionada às árvores de eucalipto,ou pinus, ou de soja, mas na manu-tenção do poder econômico, do culti-vo em larga escala, da concentração derenda e dos hectares de terra nas mãosde poucos. “É a forma como os pe-quenos produtores são excluídos dopoder de decisão. Poucos vão colheros frutos dessa homogeneização ge-ral. Não se trata apenas das perdas dosolo, mas da forma que se dá o cultivo

A Aracruz Celulose é a líder mun-dial na produção de celulose branque-ada de eucalipto. Responde por cercade 30% da oferta global do produtodestinada à fabricação de papéis deimprimir, escrever, sanitários, e papéisespeciais de alto valor agregado. Suasoperações florestais alcançam os esta-dos do Espírito Santo, Bahia, MinasGerais e Rio Grande do Sul, com apro-ximadamente 261 mil hectares de plan-tios renováveis de eucalipto, intercala-dos com cerca de 139 mil hectares dereservas nativas, fundamentais paraassegurar o equilíbrio do ecossistema.A filial de Guaíba produz 400 mil to-neladas de celulose branqueada ao ano,com alta tecnologia. Há 45 anos, nomesmo solo, antes produzia 20m3por hectare, hoje 60m3/hec.

Químico de formação e gerente dequalidade do meio ambiente ClóvisZimmer trabalha na gestão ambientale na análise dos impactos do pontode vista sustentável. “Entra energia ematéria- prima, sai ruído, cheiro e pro-duto. Há 20 anos, o cheiro era insu-portável, hoje já diminuímos drasti-camente”. Ele destaca que a empresagera empregos para a região de Guaíba:“muitos que lá vivem, trabalham naAracruz”. Porém, reconhece que a co-brança do Estado é pouca em relaçãoà legislação, fazendo com que as em-presas busquem certificadosterceirizados, como o ISO 14000,certificação ambiental que orienta naimplantação ou aprimoramento deum sistema de gestão ambiental.

Zimerman mostra que as toras demadeira vindas das colheitas vão paraa lavagem, após, seguem até apicadeira. Em seguida os pequenospedaços sobem por uma esteira até ao primeiro forno, que apenas queimao produto, seguindo até o forno prin-cipal que cozinha e dá um tratamento

Monocultura e ambiente,vandalismo acelera debateCientistas alertam para a homogeneização dos ecossistemas e biodiversidade

do eucalipto, não há problema em seplantar a mesma árvore em pequenosblocos de áreas, respeitando a matanativa. Estamos falando também dediversidade econômica que é impor-tantíssima para o desenvolvimento delongo prazo”, enfatizou.

Quem mais sofre com amonocultura é a população regionalque fica nas mãos de grandescorporações. “Existem municípiosque vivem em função de empreendi-mentos de grandes empresários. Ouseja, o que eles decidirem a comunida-de vai lá e faz. Portanto, estamos pon-do em jogo a liberdade das pessoas.Da falta de escolha e de oportunida-des para o pequeno empresário queacaba também tendo de cultivar oeucalipto, exemplifica o biólogo quecoordena o Centro de Pesquisa Pró-Mata.

Segundo o conceito debiodiversidade atual, “não podemosdiferenciar o ser humano do meioambiente. O homem é um animal efaz parte da natureza. Os prejudica-dos com a plantação de uma culturaem larga escala não são só as demaisespécies de animais e a flora”, explicao pesquisador. Entende que falta umapolítica coesa do Estado em relação àpreservação da diversidade ecológica e

assinala o problema das constantesmudanças de políticas públicas a cadatroca de governo.

A engenheira-agrônoma e inte-grante da ONG Amigos da TerraLuciana Raquel Picoli reforça os argu-mentos do pesquisador. Alega que,nesse governo, os ambientalistas fo-ram chamados para trabalhar no Mi-nistério do Meio Ambiente, enquan-to no Ministério da Agricultura fica-ram os do agronegócio. E, eles nãoestão em sintonia”. Toda a grandemonocultura, além de trabalhar comuma cultura, traz problemas. “Vocêprecisa de muito inseticidas para com-bater as pragas, de muito fertilizante,e tudo isso se infiltra no solo, poden-do atingir os lençóis freáticos”, adver-te.

A monocultura nos pampas gaú-chos ameaça 26 espécies animais emextinção, 18 de pássaros, quatro demamíferos, anfíbios, répteis e insetos.Para Luciana, esse projeto de reflores-tamento ocorre por motivos bempontuais: “a terra é barata, a pecuáriada região está quebrada e ainda existeuma campanha para desenvolver aMetade Sul”. A região que já sofre dé-ficit hídrico, poderá ver isso aumentarcom a plantação de eucaliptos, alerta.“Estudos feitos no Uruguai compro-

vam a seca de córregos e rios, onde selocalizavam essas plantações em largaescala. No Uruguai, são 700 mil hecta-res de eucalipto cultivados”, infor-mou. A engenheira-agrônoma recla-ma ainda falta de cobertura da impren-sa dos problemas de interesse da po-pulação. Considera intrigante a posi-ção dos meios de comunicação quenão informaram, por exemplo, sobreos abusos cometidos por empresasde celulose em algumas regiões doPaís, como a invasão de terras indíge-nas, no Espírito Santo.

A falta de atenção do governo edos meios jornalísticos às questõessociais acabam gerando ações extre-mistas, como a de Barra do Ribeiro,sustenta o coordenador técnico daONG Curicaca, Alexandre Krob. Paraele, a política oficial de reflorestamen-to concentra o capital e não gera em-pregos. “Na produção de eucalipto,temos uma grande utilização de altatecnologia e, cada vez menos, mão-de-obra, enquanto o governo deveriaincentivar políticas que fortalecessemo pequeno agricultor, a agricultura fa-miliar e a permanência no campo”.Segundo ele, esse modelo de produ-ção concentra e contribuí para o êxodorural, aumentando a população urba-na e litorânea.

químico para a formação da fibra decelulose. “No primeiro processo ob-têm-se a celulose marrom e extrai-seum licor conhecido como lignina queserve como combustível auto-susten-tável para a fábrica. A celulose mar-rom é banhada em produtos quími-cos para tornar-se branca e pastosa. Apartir dessa pasta faz-se as fibras decelulose que já saem embaladas para aprodução do papel, seguem de cami-nhão para outras regões do Brasil edo porto da empresa até o porto deRio Grande para os Estados Unidos,que compra 30% da produção, Euro-pa e Ásia”.

A engenheira florestal MaurenKayna coordena as atividades de edu-cação ambiental da empresa na comu-nidade, junto com a prefeitura e asso-ciações de moradores. Explica que exis-te um “painel de odor” controladopela população e um “muro acústico”para diminuir os ruídos. “Tudo paravivermos em harmonia com os habi-tantes de Guaíba”.

Sobre os eucaliptos, Mauren alegaque não consomem mais água do queoutras árvores do mesmo porte e nãohá influência do Rio Guaíba. Segun-do ela, a raiz do eucalipto é de sistemaradicular e porosa, com 2m de pro-fundidade no solo o que ajuda na dis-tribuição de água melhorando suaqualidade. “O corte é depois de seteanos, com colheitas manuais e mecâ-nicas. No tronco (cepa) nascem novosbrotos e há uma seleção dos melho-res para replantio. Os novos eucaliptossão plantados entre as fileiras dos jácortados, o espaçamento é de 3m”.

Mudas no laboratórioAs mudas de eucalipto da Aracruz

são produzidas em laboratório situa-do em Barra do Ribeiro. Com 17 hec-tares e capacidade para 30 milhões demudas, foi alvo de ação do MST e ViaCampesina em março. O tratamento

dos brotos chega a ser maternal. Se-mentes selecionadas são cuidadosa-mente plantadas por funcionários trei-nados com vestimentas próprias paraeste tipo de trabalho. Nos viveiros quese prolongam como um tapete verdecobertos por plásticos especiais, evita-se a radiação solar direta. A irrigação eiluminação artificial são controladaspor computadores. Tudo para o pe-queno radicular (muda de eucalipto)crescer forte e bem alimentado. Os téc-nicos passam com pranchetas e ano-tam tudo.

Segundo o engenheiro florestal eassistente técnico do viveiro FrancoQuevedo, o broto é produzido no jar-dim clonal de onde se tira o melhorgalho levado para um pequeno galpãopara os primeiros tratos especiais,como seleção de cor, pouca irrigação esombra constante. Assim, segue emcarrinhos até a “Casa de Vegetação”,onde, por 45 dias, a temperatura am-biente será de 26° a 27° e a muda rece-berá sais especiais e mais água. Após,é transportada até o crescimento por30 dias, recebendo mais luz solar, águae sal, até o ponto de “rustificação”, ouseja, pronto para se adaptar ao climanormal e ser plantado na terra até ossete anos, idade do corte.

Lagartinho PintadoGavião CinzaÁgua ChilenaMaçarico AcaneladoJunqueiro do Bico RetoPapa Moscas do CampoNoivinha de Rabo PretoPatatibaCorruíra do CampoCardeal AmareloLobo GuaráGato PalheiroVeado Campeiro

(Fonte: Luciana Picoli)

ALERTALíder mundial em celuloseincentiva cultivo de eucalipto

JULIANA FREITAS

JULIANA FREITAS

São plantadas, no Brasil, árvores em 261 mil hectarespara serem cortadas em um prazo de sete anos

Uma manhã no GreenpeaceAnimais em riscode extinção devidoà monoculturade eucaliptos:

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Dezenove marinheiros, entre ho-mens e mulheres se acotovelavam noscompartimentos apertados do navioquebra-gelo na sexta-feira, 31 de mar-ço, no cais do porto em Porto Alegre.A correria e o empenho demonstra-dos tinham razão de ser. Naquela diae nos seguintes, o barco seria aberto àvisitação pública e marcaria também oingresso de Porto Alegre como a 29ºCidade Amiga da Amazônia. De acor-do com a assessoria de comunicação,mais de cinco mil porto-alegrenses vi-sitaram as instalações do barco.

Eles são os tripulantes do MYArctic Sunrise, navio utilizado peloGreenpeace e que, ironicamente, foiconstruído em Amsterdã, naHolanda, durante a década de 1970para caçar focas no Hemisfério Norte.O navio foi alvo dos ambientalistasdurante uma perseguição contra a prá-

tica. Hoje, navega pelos oceanos mun-do afora pela “saúde do planeta”, co-mentam seus tripulantes. Capaz delevar 30 pessoas, o navio, que vinhade uma passagem pela Argentina,trouxe a Porto Alegre um grupo deapaixonados pelo meio ambiente.Entre eles, vários gringos: holande-ses, canadenses, franceses, americanos,brasileiros e até argentinos. Para secomunicar em meio a esta salada mis-ta de culturas e idiomas tão díspares,o inglês rolava solto no convés.

Quem não domina o idioma, apelapara a mímica. É o caso da assistentede cozinha do navio, a brasileiríssimaIracema Martins Lopes. Para ela, quenão sabe outra língua a não ser a doescritor José de Alencar, a conversaçãoera intermediada pelas outras pessoasdo barco. “Não falo nada de inglês.Quando não tem ninguém por pertopara ajudar, apelo para os gestos. Sóassim consigo me comunicar”, conta.

Incentivo destinado ao cultivo de eucalipto para aproveitamento na indústria da celulose gera polêmica com ambientalistasA fábrica da Aracruz em Guaíba transforma árvores em 400 miltoneladas de celulose branqueada por ano com alta tecnologia

Ricardo Mello, do Pró-Mata

Muda cultivada em laboratório

MANUELA KANAN

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JULIANA FREITAS

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Gincana naPUC promoveintegraçãoEquipe Tchê foi vencedora da primeiraedição que superou as expectativas

A integração da comunidade uni-versitária, desde a formação das equi-pes até o encerramento, foi a grandeconquista da PUCRS com a realiza-ção da sua primeira gincana, em 2006,conforme a pró-reitora de AssuntosComunitários, Jacqueline Medeiros.A promoção também foi uma for-ma de recepção de início de ano.

No dia 1º de abril, cerca de milpessoas envolvidas com a institui-ção, entre alunos, professores, funci-onários, ex-alunos e pais de estudan-tes, participaram do último dia daatividade, mesmo com o sol quentee um Gre-Nal de final de Gauchão.As equipes vencedoras da Gincanaforam a Tchê, da Sesmit, (com 3.490pontos) e a Equifuzarca, do campusde Viamão que obteve 2.420 pon-tos. Representaram a Famecos os ti-mes Comunintegração, com 20 par-ticipantes, liderado pela professoraBeatriz Dornelles, e Integral Ação, 19membros, coordenado pela profes-sora Ana Cláudia Nascimento.

O dia começou com uma carreatado parque da Redenção até a PUCRS,

com cerca de 200 veículos. MárciaPetry, assistente de direção da Pró-Reitoria de Assuntos Comunitáriosdestacou a participação de motos,carroças e cavalos. À tarde, no está-dio do Complexo Esportivo daPUC, as equipes ouviram o grupoda Associação Canoense de Defici-entes Físicos. Após, começaram asprovas. Foram formados corredorespara cada uma das equipes, com umamesa (onde ficou o representante querealizaria a prova) em uma ponta e onome do time na outra. Os traba-lhos foram julgados por uma comis-são. Havia também perguntas de co-nhecimentos gerais que poderiam serrespondidas por qualquer participan-te da equipe. Cada resposta certa ga-rantia prêmios, como DVDs e apa-relhos de televisão.

No estádio, a criatividade foi gran-de: chapéus de todas as formas, pe-rucas coloridas, adereços, apitos, ba-lões e cornetas agitaram as torcidas.Os temas para nomear os 47 timesforam os mais variados. Tchê eTrilegal eram os representantes dotradicionalismo. Alguns indicam afaculdade frequentada: Equipe

Menino Jesus de Praga ganha certificação

Tágoras, Quântica, Pró-Saúde e aComunintegração. Outras queriammesmo era se divertir: Equifuzarca eEquifesta. Teve também uma equi-pe mais feminina: Lady Godiva. AGrande Família, Somos Todos Di-ferentes e Anjos da Paz figuraram olado espiritual da gincana.

Ao final, todas as equipes saíramcom medalhas. Isso porque, segun-do Jacqueline, a intenção não foi a decompetir, mas de participar e se inte-grar. As primeiras colocadas foram aTchê, da Sesmit, (com o escore de3.490) e a Equifuzarca, do campusde Viamão (com 2.420 pontos). Ogrupo Somos Todos Diferentes, deUruguaiana, foi destacado por ter se

saído muito bem na prova de doa-ção de sangue. Uma mobilização tãogrande de doações nunca tinha acon-tecido na cidade, conforme a pró-reitora de Assuntos Comunitários.Os grupos serão homenageadoscom uma recepção, que inclui luau,música ao vivo, resgate de atividadesantigas (como o café na brasa), chur-rasco e baile à fantasia ao som dogrupo A3. A recepção será dia 20 demaio, em uma área rural de Viamão.A Comunintegração ficou em 14ºlugar, com 1.650 pontos. A IntegralAção teve um escore de 850 e alcan-çou a 33ª posição. A orquestra dauniversidade tocou na premiação.

No encerramento, Jacqueline ob-

servou que, apesar do cansaço, o diaproporcionou sentimentos de alegriae integração. O reitor Joaquim Clotetagradeceu a presença de todos e des-tacou ter provas de que o ato faz daPUCRS uma grande universidade,porque tem grandes alunos, profes-sores, funcionários, ex-alunos, mú-sicos [referindo-se ao concerto] e pró-reitores. De acordo com Jacqueline,por ser a primeira edição e, portantonão ter tradição, a idéia foi bem aco-lhida pela comunidade universitária,o que se refletiu no número de parti-cipantes, além do esperado. Isso ga-rante uma nova edição no próximoano e a inclusão da gincana no calen-dário da PUCRS.

O atendimento às crianças por-tadoras de lesão cerebral grave reali-zado pela Casa do Menino Jesus dePraga, de Porto Alegre, é de grandequalidade. Em síntese, é isso o queatesta a certificação ISO 9001:2000recebida pela instituição no final demarço. A casa é a primeira instituiçãono Brasil a prestar esse tipo de aten-dimento especializado.

Localizada no bairro Intercap, emPorto Alegre, a instituição filantró-pica foi fundada em 1984 com oapoio da comunidade e de empre-sas. Ela tem a capacidade atual de aten-der a 42 crianças com lesão cerebralgrave e deficiência motora permanen-te. São 45 funcionários remuneradose 84 voluntários que cuidam das cri-anças e da casa. Existe também umaequipe multidisciplinar com atendi-mento 24 horas.

Em 2002 teve início o processopara receber o Certificado de Siste-mas de Gestão da Qualidade combase na norma ISO 9001:2000. AONG Parceiros Voluntários solici-tou a ajuda do Grupo Gerdau queindicou a empresa Lucem para acapacitação dos funcionários e volun-

tários, que por semanas foram trei-nados para tornarem a casa uma ins-tituição merecedora da certificação. Acertificação contribui para aumentara expectativa de vida das crianças, pro-move a motivação profissional, as-segura e busca a constante melhoriados resultados. Ele é valido por trêsanos e a cada seis meses serão realiza-das novas auditorias que irão decidirsobre a manutenção do certificado.

No evento realizado em março, apresidente da Parceiros Voluntários,Maria Helena Johanpeter, ressaltoua importância da união entre empre-

sas e comunidades. Enfatizou que opapel da empresa não é apenas dedoadora e patrocinadora, mas dequem repassa o conhecimento paraas organizações. Quando pergunta-da se a Parceiros Voluntários já temoutros projetos como este para ou-tras organizações do terceiro setor,ela comenta da falta de empresas quese disponibilizem a prestar esse tipode serviço, de ajuda e solidariedade.No evento, o presidente da CMJP,Adílio Schneider Finger, recebeu ocertificado das mãos do auditor daDQS do Brasil, Alexandre Kranz.

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Alunos, pais, ex-alunos, professores e funcionários se envolveram em desafios e brincadeiras

JULIANA FREITAS

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Adílio Finger recebeu o certificado entregue por Alexandre Kranz

Desde os anos 90, as empresase instituições despertaram a consci-ência de que podem e devem assu-mir um papel diversificado junto àsociedade, visando não apenas ocapital. A partir desse conceito o 4ºFórum Mundial de Publicidadedebateu com profissionais de co-municação o tema “Ações de Res-ponsabilidade Social”, no Centrode Eventos da PUCRS, em 21 demarço. Como evidenciou o patronodo Fórum, o presidente da Associ-ação dos Membros dos Tribunaisde Conta do Brasil, Vitctor Faccioni,o objetivo é “estimular as ativida-des de cunho social, voltadas aobem público”.

O primeiro painel se dedicouàs Ações de Responsabilidade So-cial do Poder Público e teve comoconferencista o vice-governador,Antônio Hohlfeldt, que apontouo papel social do Estado. Segundoele, “o estado existe para servir,nesse sentido toda ação do estadoé uma ação de responsabilidadesocial”. Hohlfeldt ressaltou, “senão compreendermos que o esta-

do só existe para a sociedade, sejacomo cidadãos ou governantes, cor-remos o risco de um desvio de fococomo estamos assistindo no paíshoje”. Apresentou projetos do go-verno em áreas como saúde, educa-ção e defensoria pública.

Agnelo Pacheco, da AgneloPacheco Comunicação, emocionou opúblico com diversos vídeos publi-citários em defesa das crianças, sobreo abuso sexual, campanhas do NatalSem Fome. Destacou que é obriga-ção do publicitário fazer trabalhovoltado para o social. “O que faze-mos no dia-a-dia é despertar desejo,mas a comunicação bate nas portasdos que não podem, dos miseráveis”

MANUELA KANANPUBLICIDPUBLICIDPUBLICIDPUBLICIDPUBLICIDADE COM VISÃO SOCIALADE COM VISÃO SOCIALADE COM VISÃO SOCIALADE COM VISÃO SOCIALADE COM VISÃO SOCIAL

Faccioni na abertura do Fórum

MANUELA KANAN

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PPPPPorto Alegre, marçoorto Alegre, marçoorto Alegre, marçoorto Alegre, marçoorto Alegre, março-abril de 2006-abril de 2006-abril de 2006-abril de 2006-abril de 2006 99999ECONOMIAECONOMIAECONOMIAECONOMIAECONOMIA IPERIPERIPERIPERIPERTEXTTEXTTEXTTEXTTEXTOOOOOHHHHH

Ação de inconstitucionalidade do projeto tramita no STF

Bancos tentam fugir doCódigo do ConsumidorPORPORPORPORPOR J J J J JÚLIAÚLIAÚLIAÚLIAÚLIA P P P P PITTHANITTHANITTHANITTHANITTHAN

Responsabilizar bancos por su-miço de dinheiro de contas e fun-dos de poupança, cobrança por car-tão não-solicitado, incidência de ju-ros abusivos e outros casos comunsna relação entre instituições finan-ceiras e seus clientes pode se tor-nar ainda mais difícil. Isso porquetramita no Supremo Tribunal Fede-ral (STF) uma Ação Direta deInconstitucionalidade - a Adin nº2591 - que pretende transferir aregulação entre os clientes e as ins-tituições financeiras para o Conse-lho Monetário Nacional.

Dois ministros já divulgaramvoto parcialmente favorável aosbancos, entre eles o ex-presidentedo STF, Nelson Jobim, e o relatordo processo, ministro CarlosVelloso. Com o pedido de vistas deEros Grau, o processo não foi con-cluído, e deve ser arrastado por nomínimo mais um mês. O juiz Nérida Silveira foi o único que a consi-derou improcedente.

A ação é movida pela Confede-ração Nacional do Sistema Finan-ceiro (Consif), que congrega a Fe-deração Nacional dos Bancos(Febraban), a Federação Nacionaldas Empresas Distribuidoras de Tí-tulos e Valores Mobiliários, a Fede-ração Interestadual das Instituiçõesde Crédito, Financiamento e Inves-timentos e a Federação Nacional

das Empresas de Seguros Privadose Capitalização. Proposta em de-zembro de 2001, a Adin nº 2591pretendia isentar todos os serviçosprestados por instituições bancári-as da jurisdição do CDC.

Na avaliação do gerente jurídi-co do Instituto Brasileiro de Defe-sa do Consumidor (Idec), MarcosDiegues, o voto parcial dos doisministros deixou apenas sobre a pro-teção do CDC “coisas inúteis”.Questões referentes às taxas de ju-ros como cadernetas de poupança,depósitos bancários, cartões de cré-dito, contratos de seguro, entre ou-tros, ficaram de fora, atendendo àsolicitação da Consif.

O gerente geral jurídico daFebraban, Antônio Carlos Negrão,alega que a Resolução 2.878 do Con-selho Monetário Nacional, conhe-cida popularmente como Código deDefesa do Cliente Bancário, repro-duz a maioria das regras do CDC,mais contempla exigências maisamplas e específicas da relação en-tre clientes e instituições bancárias.“As instituições financeiras estãotodas submetidas ao cumprimentodessa resolução, que pode chegar atéao cancelamento da autorização dosbancos para funcionar”, explica.

Pela configuração atual, qual-quer um pode mover uma ação dequalquer lugar do país. Para aFebraban, só um órgão nacionalpoderia fiscalizar o sistema financei-

ro. “Do jeito que estamos, qualquersujeito ou entidade pode ingressarcom uma Ação Civil Pública, o queacaba sendo custoso, tanto para oestado quanto para os bancos, e emmuitos casos revela-se improceden-te”, disse Negrão.

Em relatório divulgado em mar-ço deste ano em que o CDC com-pleta 16 anos, pela Fundação de Pro-teção e Defesa do Consumidor, aárea de assuntos financeiros foi res-ponsável por 3.122 reclamações, oque corresponde a 24% do totalcontabilizado, e lhe garante o segun-do lugar entre “as mais reclamadas”.Os principais assuntos foram co-brança indevida, problemascontratuais e vendas enganosas.

No Procon de São Paulo, setedas 20 empresas mais indiciadas porclientes insatisfeitos eram bancos. OCredicard Banco S. A. é o sétimoda lista, com 314 processos, a CaixaEconômica, a 11ª, com 137, e oBanco do Brasil, na 18ª, com 105reclamações estavam na lista.

DescompassoEmbora o governo federal

anuncie redução na taxa Selic, nadase altera no gigantesco faturamentobancário. Justamente porque não hálegislação que proteja o consumidorde possíveis elevações edescompasso entre os juros cobra-dos pelos bancos e os fixados peloestado.

Na opinião do economista eprofessor da Pucrs, AlfredoMeneghetti Neto, deveria haver umacampanha nacional para a utilizaçãomínima de empréstimos por parteda população. “O lucro é extraordi-nário porque os bancos chegam àmargem de 1.000% ao ano, taxa queé cobrada no cheque especial”,exemplifica.

Outra questão importante e quecolabora para que as taxas de jurobancárias não acompanhem a Selic

Na rua, oferta de crédito aos transeuntes. E depois como pagar?

é o chamado “spread bancário”. Elerepresenta a diferença entre a taxaque os bancos despendem para cap-tar recursos no mercado - o quepagam para seus aplicadores - e ataxa de juros cobrada para empres-tar recursos aos clientes. Comoexemplo, Meneghetti compara o lu-cro de quem aplica em caderneta depoupança – em torno de 0,8% - e oganho médio de 4% ao mês sobre odinheiro emprestado.

MARINA VOLPATTO

O que era para ser uma solução,gerou dúvidas e discussão. Consi-derado uma conquista de igualdadepara Região Sul do Estado, o novoformato do posto carimbador denota fiscal, localizado ao lado daPonte do Guaíba, tem sido motivode diálogos freqüentes entre auto-ridades do governo estadual e ser-vidores públicos.

O Sindicato dos Técnicos doTesouro do Estado (Afocefe) e al-guns deputados afirmam que a que-da será responsável pela diminuiçãoda arrecadação do Impostosobre Circulação de Mercadorias eServiços (ICMS), tributo que érevertido em serviços à população.No contraponto, o governo estadu-al argumenta que a mudança virá emacréscimo às finanças do Tesouro.

Em 23 de janeiro, a Secretariada Fazenda Estadual anunciou amudança no sistema de fiscalização,visando intensificar a ação naregião da Grande Porto Alegre. O

Posto Fiscal de Guaíba foireformulado passando a atuar du-rante 24 horas por meio de 20 equi-pes volantes. “As equipes volantesserão mais eficientes, fiscalizandoqualquer carga, em qualquer pontoda grande Porto Alegre, indepen-dente do horário”, disse o entãosecretário da Fazenda, agora chefeda Casa Civil, Paulo Michelucci, ex-plicando a remodelação do posto.

Durante anos empresários e li-deranças da Metade Sul lutaram porum sistema de fiscalização seme-lhante ao aplicados nas demais re-giões do Estado. Solicitavam a de-sativação do único posto fixo inter-no no Rio Grande do Sul ou a ins-talação de outros semelhantes nasdemais regiões, igualando a burocra-cia do sistema.

Apesar da Secretaria da Fazen-da dizer que o Estado arrecadarámais com o novo modelo do postodo ICMS, o deputado estadual Es-tilac Xavier (PT) é categórico aoafirmar que o fechamento do postoserá um estímulo à sonegação fis-

cal, e só agravaria as dificuldadesfinanceiras do Estado. Na mesmadireção, o presidente da Afocefe,Carlos De Martini Duarte, sustentaque o posto era responsável por umareceita anual de R$ 400 milhões deICMS. Por isso, sua desativaçãopode comprometer a arrecadação.

O secretário Michelucci contestaos números. É taxativo: “O postonunca arrecadou 400 milhões porano. Este valor corresponde a todaa arrecadação anual feita pelos con-tribuintes obrigados a pagar o im-posto no momento do início dasoperações, e que hoje é realizada nosbancos credenciados pela ReceitaEstadual. A arrecadação mensal doPosto Fiscal Guaíba, nos últimosmeses, foi da ordem de R$ 47 mil”,explicou.

Michelucci tem convicção deque a nova estrutura do posto trarámais racionalidade e eficiência aoserviço de fiscalização. Com estamudança, assegura, toda a RegiãoMetropolitana estará sob fiscaliza-ção as 24 horas do dia.

Polêmica na remodelação do Posto do ICMSELISA VIALI

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Governo estadual muda modelo de fiscalização em Guaíba

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PPPPPorto Alegre, marçoorto Alegre, marçoorto Alegre, marçoorto Alegre, marçoorto Alegre, março-abril de 2006-abril de 2006-abril de 2006-abril de 2006-abril de 20061 01 01 01 01 0 I N T E R N E TI N T E R N E TI N T E R N E TI N T E R N E TI N T E R N E T HIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTOOOOO

Fraudes prejudicam internautas do OrkutAdulteração de perfis e uso mal-intencionado de informações do site preocupam usuários

Ao acessar o Orkut, há algunsmeses, a estudante de jornalismo daPUCRS Laura Ruschel teve uma sur-presa: encontrou um pedido de au-torização de amizade de si mesma.Quando abriu o perfil que solicitavao visto, constatou ser uma versãofalsa de sua própria página, criada poralguém que pretendia atingi-la, utili-zando-se de fotos que a estudantehavia disponibilizado em seu álbum,acrescido de informações nada agra-dáveis sobre ela.

O site de relacionamentos Orkuté atualmente o mais visado pelosinternautas mal-intencionadas, devi-do a sua falta de segurança e difícilrastreamento por decisão do servi-dor central, Google. Centenas de pes-soas reclamam da criação de falsosperfis, do uso indevido de fotosdisponibilizadas em álbuns pesso-ais e comunidades com temas ofen-sivos e agressivos.

Desde meados de 2004, a ma-neira de os jovens brasileiros se rela-cionarem teve uma grande alteraçãodevido ao surgimento deste site derelacionamento. Em dois anos, 10milhões de brasileiros fizeram cadas-tro neste sócio do Google, por onde épossível se enviar e-mails e recados,fazer contato com comunidades di-versas e até mesmo trocar ofensas ecometer crimes. Estudos estão emandamento para direcionar e soluci-

onar as reclamações quanto ao usoindevido do que é disponibilizado.A invasão de privacidade aumenta,tornando a relação Orkut/usuárioum caso de amor e ódio.

Laura Ruschel criou sua conta noOrkut em julho de 2004 e, desdeentão, não tinha nenhuma queixa dosite, apenas elogios. “Eu achava tudouma maravilha, até que fizeram essafalsa conta em meu nome, com a in-tenção de me detonar junto às pes-

soas próximas que poderiam duvi-dar da minha pessoa e das coisas queeu fazia”. Imediatamente, os amigosde Laura enviaram e-mails para a ad-ministração do site, utilizando obotão “denunciar falsidade”, locali-zado à esquerda da página de perfil.Infelizmente, a intenção dos amigosnão surgiu muito efeito, pois o per-fil falso continua ativo. O Orkut pa-rece não ter previsto que este tipo deofensa poderia ser gerada. Quando

o usuário envia uma solicitação deremoção para os administradores, re-cebe, após duas semanas, uma res-posta automática – em inglês – su-gerindo um contato amigável entreo dono do perfil original e do far-sante, o que também não surte efei-to algum. Essas fraudes on-line sãoestimuladas pela lentidão da justiça,que acaba por desestimular as víti-mas a buscarem seus direitos. A faltade uma legislação própria para ainternet também dificulta na puni-ção dos infratores que seguem im-punes.

Rastreamento on-lineA maioria dos usuários não crê

na eficiência do rastreamento on-linepara localizar o computador que ge-rou uma informação falsa. O profes-sor André Pase, da Famecos, ressaltaque é registrado, nos servidores dossites, minuto a minuto o protocolode internet (IP), correspondente a um“RG on-line”, de quem acessou de-terminado conteúdo, identificandoqual provedor utilizado.

Se a postagem feita no site Orkuté rastreada, pode-se encontrar, noprovedor Google, a hora, o IP e porqual provedor a pessoa acessou paradisponibilizar a informação. Porém,o Google não dá acesso a essas infor-mações gravadas em seus históricos.“É justamente este o impasse entrea justiça brasileira e o site. Não podehaver comprovação de crime se as

Você chega à sua casa e liga o com-putador. Conecta a internet, verificao Orkut, a conta bancária, conversacom os amigos sem perceber que umdesconhecido, situado ao lado de suacasa ou em outro continente, acom-panha seus movimentos na rede esabe sua senha de acesso à internet,do cartão de crédito e como invadirsua página pessoal do Orkut.

“Isso acontece no mundo intei-ro, todos os dias, tanto com quemse preocupa com segurança on-line ecompram antivírus, quanto comquem se acha imune, pois é usuáriodoméstico”, explica o técnico deinformática Felipe Rodrigues, de 19anos. É preciso desmistificar a inva-são on-line: não é necessário muitoconhecimento ou genialidade para oinvasor baixar programas trojan,como NetBus, BackOrifice e oSubSeven. Todos são disponíveis nainternet, sem nenhuma restrição.

O Internet Protocol, também co-nhecido por IP, é o numero que iden-tifica cada computador e modem demaneira única. Programas trojan (in-vasor) trabalham com o recebimen-

to automático do IP da vítima, pormeio de programas de conversaçãocomo os MSN, MIRC e pop-ups .

Com seu IP, o hacker tem acessoas suas senhas, fotos, documentos econteúdos pessoais. Mesmo comantivírus é possível ser prejudicadopelos piratas, pois o tempo que oprograma leva para reconhecer a in-vasão, todas as informações já foramusurpadas. Assim, com procedimen-tos banais, sua privacidade é abalada.

Cartão de CréditoAs senhas de cartão de crédito são

mais complicadas de serem descober-tas, pois as empresas de grande por-te, como bancos e sites de compra,investem pesado em tecnologia e atéma contratação de hackers para pro-tegerem seus portais. Porém, nada éimpossível. Com um pouco de prá-tica e uma boa conexão, é feito odownload de programas que utilizamo browser do próprio site da empresapara ter acesso ao banco de dadosdos clientes catalogados, contendodiretamente os números do cartãode crédito, senha, endereço, CPF ecarteira de identidade.

Os famosos spams, e-mails de pes-

soas desconhecidas que, normal-mente, contêm correntes com men-sagens sentimentais, também po-dem conter vírus e são portas empotencial para a invasão. O design doe-mail é muito profissional comlogos, fontes, e linguajar igual ao debancos, de setores do governo ou delojas e programas de televisão pro-metendo dinheiro e prêmios. Traba-lhando com o encantamento do serhumano por dinheiro e facilidades,os crackers/hackers constroem o e-mailcom cadastro a ser preenchido. Aoresponder, seus dados são capitados.Se isso acontecer, contate seu bancourgente.

O hacker S.B., 17 anos, explicaque o rastreamento dos ladrões vir-tuais é muito difícil, pois os e-mails eprovedores usados são, com freqüên-cia, de fora do Brasil. “O procedimen-to não pode ter falhas, porque nósmesmos nos entregamos”, referin-do-se ao fato de pessoas que traba-lham para o governo nessas investi-gações são ex-hackers e, por isso, en-tendem do modo operante. Roubode cartão de crédito é crime federal ecom freqüência esse fraudadores sãomenores de idade da alta sociedade.

PORPORPORPORPOR A A A A AMANDAMANDAMANDAMANDAMANDA G G G G GULARTEULARTEULARTEULARTEULARTE

Como age um espião invisível

provas não são fornecidas para a jus-tiça agir”, explica Pase.

O conteúdo das comunidadestambém preocupa o Ministério Pú-blico Federal, como foi publicado noportal de noticias Ibest em 29 de mar-ço. O MP enviou à Justiça Federal pe-didos de quebra de sigilo de dez co-munidades que tratam de pedofilia eracismo. Constavam nos tópicos des-tas comunidades indícios de delitoscometidos pelos integrantes defóruns virtuais. O Ministério Públi-co Federal tenta firmar um termo decooperação com a empresa norte-americana com para facilitar a trocade informações – a divulgação doshistóricos de IP – sobre crimes co-metidos no interior da comunidadevirtual.

A advogada Ana CoutinhoDahmer aconselha às vítimas doOrkut a recorrer à justiça para remo-ver o perfil farsante, e exigir a puni-ção de quem o executou, caso exis-tam evidências provando a autoriado mesmo. “Não existe uma legisla-ção para a internet, bem como nãopodemos classificar textos postadosno Orkut como crimes da Lei deImprensa. Uma maneira de recorreré identificar se a ofensa gerada édirecionada a uma pessoa especifica-mente – calúnia, injúria ou difama-ção – ou se ofende um grupo de pes-soas, como podemos verificar no ra-cismo”. Os ofendidos podemregistar queixa na polícia ou no MP.

O primeiro Laboratório de Do-cumentos Digitais, resultado de umaparceria entre a PUCRS e amultinacional Hewlett-PackardDevelopment Company, está instaladona Famecos. O objetivo do projetode pesquisa, desenvolvido em con-junto com as Faculdades deInformática e de Comunicação Soci-al, é estudar e aplicar a personalizaçãode documentos digitais, possibili-tando que um usuário de determi-nado serviço possa selecionar em umsite as informações que deseja obter.

Novo Laboratório impulsionadesenvolvimento tecnológico

Inaugurado em 10 de abril, noprédio 7, da Famecos, o laboratórioconta com três scanners, três impres-soras laser coloridas, uma impresso-ra formato A1 inkjet e uma PlotterA0. Na solenidade de inauguração, oreitor Joaquim Clotet disse ter fica-do muito feliz com o diálogo ocorri-do entre universidade e empresa, naocasião representada por HowardTaub, da HP Labs – Palo Alto. “Foiuma longa negociação entre a PUCRSe a HP. Esse diálogo é necessário parao progresso da tecnologia em bene-fício da comunidade nacional”, ob-servou o reitor.

ELSON SEMPÉ

ELSON SEMPÉ

Howard Taub e o reitor Clotet descerram a placa de inauguração

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PPPPPorto Alegre, marçoorto Alegre, marçoorto Alegre, marçoorto Alegre, marçoorto Alegre, março-abril de 2006-abril de 2006-abril de 2006-abril de 2006-abril de 2006 1111111111C U LC U LC U LC U LC U LT U R AT U R AT U R AT U R AT U R A IPERIPERIPERIPERIPERTEXTTEXTTEXTTEXTTEXTOOOOOHHHHH

Grande SerGrande SerGrande SerGrande SerGrande Sertão Vtão Vtão Vtão Vtão Veredas:eredas:eredas:eredas:eredas:entre o erentre o erentre o erentre o erentre o erudito e popularudito e popularudito e popularudito e popularudito e popular

A obra Grande Sertão: veredas, escritaem 1956 por João Guimarães Rosa,possui linguagem peculiar, por vezesdifícil, cheia de neologismos. Retrata aexistência humana e seu papel entre osdeuses, o amor, medo, coragem, ódio,fé, morte e a miséria, sentimentos uni-versais, vivenciados pelo jagunçoRiobaldo no sertão baiano.

Escrito no período do desenvolvi-mentista de Juscelino Kubitschek, nosanos 50, quando simbolicamente a pro-dução industrial ultrapassa a rural, Gran-de Sertão: veredas (vereda significa cami-nho, trilha) revela a batalha entre jagun-ços, uma vingança que leva o persona-gem principal a conhecer Diadorim, com-panheiro por quem de-senvolve profundaamizade, misto de pai-xão, que ao final revela-se mulher. A obra re-trata a dualidade entreo bem e o mal, que levao personagem principala questionar a existên-cia do diabo. A estru-tura é de uma grandeentrevista dada ao “se-nhor”, mais letrado eculto a quem Riobaldoconta sua vida.

As comemoraçõesdos 50 anos de publicação de GrandeSertão permitem refletir sobre o impac-to que provocou no seu lançamento.Críticos disseram que Rosa inventavaum novo idioma, outros que escreviapara lingüistas lerem. Um marco da li-teratura, o livro faz uma aproximaçãoentre a cultura erudita e popular, com-binando rigor etimológico e tradição oral.Como escreveu o filósofo Vilém Flusser,Rosa se apoiava tanto no sertão quantona biblioteca.

O professor da Universidade de SãoPaulo (USP), João Adolfo Hansen, aoparticipar do Colóquio InternacionalGuimarães Rosa, realizado entre 10 e12 de abril, no Centro Municipal de Cul-tura, em Porto Alegre, disse que Gran-de Sertão não é apenas geográfico, étambém da alma, onde as coisas se mis-turam: bem e mal, homem e mulher.Segundo Hansen, Rosa pretendia trans-formar a sua experiência em arte, paraisso era preciso figurar no próprio tex-to a sua relação com esse mundo comoum ato estético e social. A verdadeiraquestão crítica em Rosa não é a inter-pretação, mas a interação que ocorrecom o leitor. “Não se pode ler a repre-sentação do livro como documento, elaé a representada e não a representante”.

Hoje a obra é mais marcante doque há 50 anos, observa a professorada Universidade Federal do Rio Gran-de do Sul, Kathrin Rosenfield,organizadora do colóquio. Mesmo sen-do mais estudada do que lida, a obrapermite uma reflexão sobre o proble-ma do imaginário histórico do Brasil.Para Kathrin, o livro “nos dá um dosraros patamares, como a pedra angularna qual a água bate e pode criar uma

figura mais complexa do que a mono-tonia de um correr sem fim, Guima-rães Rosa é isso hoje. É uma leituraque já não é mais tão difícil, mas para ogosto muito simplificado de hoje con-tinua sendo. Está na hora de voltar-mos a lê-lo pelo prazer do texto, poisfornece imagens muito ricas, este seriao desafio mais importante hoje”.

Rosa dá o mapa da mina dos sen-timentos brasileiros mais profundos,ligados a certos núcleos de sofrimen-to e de alegria que são tipicamente bra-sileiros, argumenta a professora. “Issodeveria ser deixado aflorar, como umaprópria forma do brasileiro se reconci-liar com os seus sentimentos, que sãoas emoções das grandes culturas, sãosentimentos do mundo inteiro: o

luto, o medo, a ale-gria”.

Para Hansen, o li-vro lembra Euclidesda Cunha, pois “falaem terra, no homem eem luta, mas as seme-lhanças ficam por aí.Cervantes tambémestá próximo na me-dida em que a fala oralde Riobaldo se asseme-lha a de Sancho e a le-trada a de Quixote”.Nesse contexto, a pro-fessora Kathrin acredi-

ta que se pode chegar a Simões LopesNeto como referência forte na lingua-gem oral. Uma retrata a fala do serta-nejo e a outra do gaúcho. Hansen con-ta que uma pesquisa da USP consta-tou que, em 1985, ano de adaptaçãoda obra pela TV Globo, as pessoascorreram às livrarias para comprá-la.Em seguida devolveram, porque aconsideraram ilegível.

Marli Fantini, professora da Uni-versidade Federal de Minas Gerais, as-sinala que o romance gera desconfian-ça de estéticas não conhecidas. Sobre aquestão da linguagem, Marli acrescen-ta que “Rosa mistura compêndios, emque ele anota e compara formas de gra-mática latina, húngara, sânscrita ou ja-ponesa para penetrar no tecido da lín-gua e desvendar-lhe a estrutura”.Exemplifica com uma frase do pró-prio Rosa, dita em 1965, em entrevis-ta ao jornalista alemão GüntherLorenz: “No sertão, fala-se a língua deGoethe, Dostoiévski, Flaubert, porqueo sertão é o terreno da eternidade, dasolidão, onde o interior e o exterior nãopodem ser separados”.

A oralidade do personagem é en-tendida por alguns críticos como imi-tação da fala caipira. Para outros, o ro-mance se apropria da linguagem bar-roca e rebuscada. Marli diz que as tra-vessias de Riobaldo são significadas naimagem simbólica que aparece no fimdo livro, representando o infinito. “Oromance começa com travessão e ter-mina com a palavra travessia”. Afinal,como diz Riobaldo: “Viver – não é? –é muito perigoso. Por que ainda nãose sabe. Porque aprender-a-viver é queé o viver, mesmo.”

“Ainda há muito a se fazer”Discurso de Josué Guimarães, como paraninfo daturma de jornalismo da PUC em1978, continua atual

A literatura imortalizou o escritorJosué Guimarães entre os brasileiros,em particular os gaúchos. Mas a ficçãorepresentada por Dona Anja, CamiloMortágua, A Ferro e Fogo e outras obrasnão impedem o leitor de esquecer dojornalista e articulista Josué Guimarães.O jornalismo foi a atividade escolhidamuito cedo e para qual se dedicou porquase 40 anos. Josué sabia como pou-cos transmitir a paixão pela profissão eapontar o sentido social do jornalis-mo. Foi o que fez com maestria nanoite de 21 de agosto de 1978, ao dis-cursar, como paraninfo, na formaturado curso de Jornalismo da Famecos,na PUCRS.

Com emoção, ele exaltava a pro-fissão escolhida pelos formandos,mas também alertava para as dificul-dades que os jovens enfrentariam.“Todas as profissões têm seus per-calços e caminhos complicados. Maso jornalista tem um poder enormede interferir na sociedade em que elevive. Se a ética e a verdade não o gui-arem, seu trabalho perde todo o sen-tido”, ensinou. Nos pequenos ges-tos, mostrava os traços de seu cará-ter. A então formanda Gilmara Gil,integrante da comissão de formatu-ra, lembra que o paraninfo se negoua usar a toga, pois nunca havia se for-

mado em um curso superior.O discurso do paraninfo foi for-

te. Os tempos difíceis no jornalismonunca desanimaram Josué, mas opossibilitaram enxergar o poder daprofissão quando exercida com ho-nestidade. “Como o Legislativo e oJudiciário, somos um poder desar-mado, mas a nossa função não estána ponta de uma baioneta e nem deuma bala de fuzil, mas na verdadeque dizemos e na forma como repe-timos as verdades diante daqueles quenos querem calar pelo simples fato epela simplória razão de que são elesque têm o dedo no gatilho”. A frasecarregava um sentimento oprimidopela censura, que calava os que queri-am falar na época da ditadura militar,no entanto serve perfeitamente parao jornalismo de hoje. A censura nãocala jornalistas como naquela época,porém interesses outros interferemna produção jornalística.

Em 1978, o então diretor da su-cursal da Folha de São Paulo em PortoAlegre dizia que “é preciso que iden-tifiquemos o inimigo, ao mesmotempo em que tenhamos as fórmu-las capazes de neutralizá-lo, pois as-sim estaremos desempenhando opapel que cabe à imprensa na vidados povos, sem concessões ao co-modismo, sem dobrar a espinha di-ante dos poderosos, sem recuar quan-

do no ameaçam, sem temer a pobre-za e o desemprego (...) o importanteé saber discernir entre o que interessaaos poderosos e o que aflige a massade desprotegidos que formam ogrande caudal humano deste país”.Quase três décadas depois, as ques-tões sociais continuam as mesmas, aúnica diferença é que se agravaram.

Olhar para o passado por meio daspalavras de um jornalista que lutoupara exercer a sua profissão eticamenteé oportuno nos 20 anos de sua morte.O mais “jornalístico” daquele discur-so de 1978 é sua impressionante atua-lidade por conta da quase estagnaçãoeconômica do Brasil nesse período.“Vivemos num país subdesenvolvi-do, endividado, onde o subemprego éa tônica, o desemprego uma realidade,no qual a má distribuição de renda che-ga a se um escândalo, onde asmultinacionais ditam as leis (...)”.

Enquanto os problemas se perpe-tuam sem solução, cabe aos profissio-nais decidir como contribuir para seencontrar uma saída. “Muitos pode-rão virar as costas para a dura realidade,mas acredito que a esmagadora maio-ria decidirá por arregaçar as mangas edar de si, generosamente, bravamente,tudo o que puder”, disse. O discursoguardado por Gilmara Gil agora inte-gra o acervo do escritor na Faculdadede Letras da PUCRS.

Josué Marques Guimarães nas-ceu em São Jerônimo, em 7 de janei-ro de 1921. Em 1930, sua família semudou para Porto Alegre. Seus pri-meiros textos foram escritos 1934,para o jornal do Colégio Cruzeiro doSul, além de peças teatrais encenadasnos finais de ano. No colégio Cru-zeiro, ele fundou o Grêmio LiterárioHumberto de Campos.

Iniciou sua carreira jornalística noRio de Janeiro, em 1939, na revistasO Malho e Vida Ilustrada. Voltou aPorto Alegre nesse mesmo ano e, em1944, iniciou suas atividades no Diá-rio de Notícias. Como jornalista eleexerceu as funções de repórter e se-

cretário de redação, diretor, colunista,comentarista, cronista, editorialista,ilustrador, diagramador, analista po-lítico e correspondente internacional.Em 1948, deixou o Diário de Notíciaspara ser repórter exclusivo e corres-pondente da revista O Cruzeiro noParaná, Santa Catarina, Rio Grandedo Sul, Uruguai e Argentina.

Em 1961, no governo JoãoGoulart, assume a direção da AgênciaNacional, empresa estatal de notícias.Depois de 1964, Josué se refugiou emSantos, onde passou a viver na clan-destinidade sob o nome de SamuelOrtiz. Em 1969, foi descoberto pelosórgãos de segurança, voltou a Porto

Alegre, mas respondeu o inquérito emliberdade.

Em 1970, publicou seu primeirolivro, Os Ladrões, uma coletânea de con-tos. Ao todo foram 24 obras, entreromances, novelas, coletâneas de arti-gos e contos, literatura infantil, alémda participação em diversas antologi-as. De 1974 a 1976, se torna correspon-dente da Empresa Jornalistica CaldasJúnior na Africa e em Portugal, ondeacompanha a Revolução dos Cravos.Ainda em 76, retorna ao Brasil e im-planta, no Rio Grande do Sul, a sucur-sal da Folha de São Paulo, que dirigiu eonde atuou como comentarista políti-co até seu falecimento em 1986.

Trajetória no jornalismo foi intensa

FERNANDA FELL

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Reprodução do discurso datilografado para ser lido na solenidade de formatura, na PUCRS

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50 anos da obra de Guimarães Rosa

FERNANDA FELL

Page 11: Vandalismo reabre debate ecológicoprojetos.eusoufamecos.net/memoria/wp-content/uploads/... · 2013. 4. 10. · 222 OPINIÃO PPPorto Alegre, março-abril de 2006 HIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTOOO

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Cinco anos após a última con-quista regional, o Grêmio é o novocampeão gaúcho. E a forma não po-deria ter sido melhor: em cima doInternacional, dentro do estádio Bei-ra-Rio. Embora os dois clássicos te-nham terminados em empate, otricolor foi beneficiado pelo regula-mento que garantia vantagem paraquem marcasse gol na casa do adver-sário. Muito mais que o 34º títuloGaúcho, a conquista trouxe de voltaa auto-estima para jogadores e torce-dores no ano que o clube retorna àprimeira divisão.

O primeiro Grenal, disputado dia1º de abril no estádio Olímpico, foimarcado pelo mistério nas escalaçõese alegria nas arquibancadas pelo re-torno do maior clássico, que não de-cidia campeonato desde 1999. Nahora de entrar em campo, o técnicoMano Menezes modificou a equipe,optando por uma formação maisdefensiva, surpreendendo AbelBraga. O jogo foi de muita marcaçãoe acabou em um 0x0, que soou comovitória para os donos da casa, queentraram na decisão como “zebra”.

Na semana seguinte as emoções

se transferiram para Beira-Rio, ondesomente uma torcida sairia vencedo-ra. Nas arquibancadas, recorde e showde público com mais de 57 mil pes-soas presentes. Com a bola rolando,tudo foi decidido nos 45 minutosfinais. Aos 12, motivado pela torci-da, o Inter largou na frente com golde Fernandão. Mas a alegria coloradadurou pouco mais de 15 minutos.Aos 33, Pedro Júnior, que entrara napartida há poucos minutos, desviade cabeça e iguala o marcador. O pla-car de 1x1 garantiu a volta da taça parao Olímpico, pelo saldo qualificado.Festa total para os pouco mais de 6mil gremistas dentro do Beira-Rio.

Como diz o ex-dirigentecolorado e vereador de Porto AlegreIbsen Pinheiro, “grenal arruma acasa”. E desta vez foi a tricolor. Oresultado desta “arrumação” podeser visto na estréia do CampeonatoBrasileiro, onde a equipe derrotou opoderoso Corinthians – atual cam-peão – por 2x0. Ao Inter, restou osonho de conquistar a Libertadoresda América – onde terminou a pri-meira fase como um dos melhorestimes da competição – e a disputado Brasileirão, em que é o atual vice-campeão e um dos favoritos.

Grêmio: Título e avolta da auto-estimaA conquista do Gauchão 2006 fezrenascer o orgulho de ser gremista

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LUCAS UEBEL

LUCAS UEBEL

Inter segue na Libertadores

Apesar de deixar escorregar opentacampeonato gaúcho, o Interna-cional segue bem na Libertadores egarantiu sua vaga na próxima fase docampeonato com louvor, líder dogrupo 6. Goleou o Maracaibo, daVenezuela, no Beira-Rio, diante de17 mil torcedores, com o placar de 4a 0, em uma partida com horário deboate, que iniciou na noite na terça-feira, 18 de abril, e terminou nos pri-meiros minutos da madrugada do

dia seguinte.Na primeira etapa da competi-

ção, o Inter foi o brasileiro melhorclassificado, em uma chave que con-tava com a presença dos campeõesvenezuelano, uruguaio (Nacional)e mexicano (Pumas). O único viceera o próprio clube gaúcho. Comseu desempenho, garantiu dispu-tar o segundo jogo da próxima faseeliminatória em Porto Alegre. Osmeias Alex e Chiquinho foram ins-critos para a Libertadores nos luga-res de Gustavo e Álvaro.

Comemoração gremista depois de anos sem o título gaúcho

A festa do Grêmio com a taça em pleno Beira-Rio para desespero de 52 mil colorados presentes

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