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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA E BIOLOGIA MOLECULAR PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOQUÍMICA CARLOS ALBERTO DE ALMEIDA GADELHA CRISTALIZAÇÃO, ESTRUTURA TRIDIMENSIONAL E ATIVIDADE BIOLÓGICA DE UMA LECTINA DE SEMENTES DE Canavalia maritima FORTALEZA CE 2005

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Page 1: UTILIZAÇÃO DE LECTINAS NA CARACTERIZAÇÃO BIOQUÍMICA …€¦ · MSc. Frederico Bruno Mendes Batista Moreno. Este último, que tive a oportunidade de acompanhar e conviver ao

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA E BIOLOGIA MOLECULAR

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOQUÍMICA

CARLOS ALBERTO DE ALMEIDA GADELHA

CRISTALIZAÇÃO, ESTRUTURA TRIDIMENSIONAL E ATIVIDADE

BIOLÓGICA DE UMA LECTINA DE SEMENTES DE Canavalia maritima

FORTALEZA – CE

2005

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CARLOS ALBERTO DE ALMEIDA GADELHA

CRISTALIZAÇÃO, ESTRUTURA TRIDIMENSIONAL E ATIVIDADE BIOLÓGICA

DE UMA LECTINA DE SEMENTES DE Canavalia maritima

TESE APRESENTADA À COORDENAÇÃO DO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

BIOQUÍMICA, COMO REQUISITO PARCIAL PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE

DOUTOR EM BIOQUÍMICA PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ.

FORTALEZA – CE

2005

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G12c Gadelha, Carlos Alberto de Almeida

Cristalização, estrutura tridimensional e atividade biológica de uma

lectina de sementes de Canavalia maritima / Carlos Alberto de Almeida

Gadelha. 163 f.: il., color. enc.

Tese (doutorado) - Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2005.

Orientador: Prof. Dr. Benildo Sousa Cavada Área de concentração: Bioquímica

l. Lectinas – Cristalização, estrutura tridimensional e atividades

biológicas 2. Canavalia maritima I. Cavada, Benildo Sousa II. Universidade Federal do Ceará, Pós-graduação em Bioquímica III. Título

CDD 574.192

CDU 678.562:66.065

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Esta tese foi apresentada como parte dos requisitos necessários à

obtenção do grau de Doutor em Bioquímica, outorgado pela Universidade

Federal do Ceará e encontra-se à disposição dos interessados na Biblioteca

Central da referida Universidade.

A transcrição de qualquer trecho desta dissertação é permitida, desde que

sejam respeitadas as normas da ética científica.

Carlos Alberto de Almeida Gadelha

TESE APROVADA EM 24 / 02 / 2005

Professor Dr. Benildo Sousa Cavada

Orientador de Tese

Presidente

Prof. Dr. Valder Nogueira Freire Prof. Dr. Jorge Luiz Martins

Co-orientador Conselheiro

Prof. Dr. Marcos Hikari Toyama Prof. Dr. Vicente de Paulo Teixeira Pinto

Conselheiro Conselheiro

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A Deus pela vida, existência e orientação espiritual,

Aos meus pais Moacir e Maria Inês, pela orientação para a vida,

A minha querida esposa Tatiane Santi e a minha amada filha Ana,

Ao meu orientador, Dr. Benildo S. Cavada pela orientação científica,

Aos meus amigos e companheiros de profissão,

Dedico

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AGRADECIMENTOS

De modo muito especial ao Professor Doutor Benildo Sousa Cavada

pela orientação criteriosa desse trabalho, pela dedicação, compreensão,

amizade e pela oportunidade que me proporcionou para crescer

cientificamente e profissionalmente. Mas, sobretudo, pela visão futurística,

humildade e pelo exemplo de criatura humana que sempre soube demonstrar

nos momentos mais difíceis de nossa caminhada de inquietação científica.

Ao Professor, amigo e companheiro de guerra Plínio Delatorre, sem a

qual não seria possível a realização das etapas de cristalização, difração de

raios-X e resolução da estrutura tridimensional da lectina de sementes de

Canavalia maritima; sobretudo, pelo exemplo de humildade e por ter

acreditado, estimulado e tido paciência no transcorrer das etapas

supracitadas. E como não poderia jamais esquecer, a todos os membros do

grupo de cristalografia do BioMol-Lab: Bruno Anderson Mathias da Rocha,

Emmanuel Prata e Beatriz Tupinambá Freitas, pelas inúmeras contribuições

à realização deste trabalho.

Aos professores Valder Nogueira Freire (“lâmpada científica”), Jorge

Luiz Martins (“auto-ajuda”), Walter Filgueira de Azevedo Jr. (“raiz de apoio

científico”), Alexandre Holanda Sampaio (“amigo de fé”) e José Luis de Lima

Filho (“raciocínio crítico”) por tudo que já citei e pelas valiosas sugestões e

discussões apresentadas, no intuito de engrandecer este trabalho científico.

Aos Professores Juan Calvete (Instituto de Biomedicina de Valência-

Espanha), Walter Filgueira de Azevedo Jr. (Universidade Estadual Paulista

Júlio de Mesquita Filho - SP) e André Luiz Herzog (Universidade Estadual do

Ceará – CE) pelo apoio e incessantes contribuições ao BioMol-Lab nas linhas

de pesquisa de química, cristalografia e estrutura de proteínas.

Aos mais que irmãos João Batista Cajazeiras e Ricardo Pires dos

Santos pelas incessantes contribuições em todo o desenrolar deste trabalho

de tese ... Fica uma dívida de gratidão cujo valor é incalculável no universo

meramente físico.

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Perdi alguns familiares (in memorian) e amigos (in vivo) durante a

realização desta nova etapa de crescimento profissional, mas também Deus

propiciou o surgimento de novos amigos dos quais jamais poderia esquecer

neste momento, como: Dárcio Ítalo Alves Teixeira, Renato Isidro, Edson

Holanda Teixeira, Rolando Rivas Castellón, Plínio Delatorre, Celso Shiniti

Nagano e Luciano da Silva Pinto.

Pelo trabalho conjunto e integrado na cristalização e resolução de

estrutura tridimensional de lectinas vegetais, meu sincero agradecimento aos

amigos e colegas do grupo de Biocristalografia: Dra. Fernanda Candury e

MSc. Frederico Bruno Mendes Batista Moreno. Este último, que tive a

oportunidade de acompanhar e conviver ao longo de sua passagem pela

iniciação científica, mestrado e ingresso no doutorado e que, semeou em

mim a idéia de trabalhar com cristalografia de proteínas e bioinformática.

Ao Prof. José Auri Pinheiro pelos valiosos ensinamentos na área de

química orgânica, que muito me facilitaram o entendimento dos mecanismos

de reação encontrados nas diversas práticas cotidianas do laboratório de

bioquímica.

Agradeço a Deus pela oportunidade de estar presente nos momentos

de crescimento de velhos e valiosos amigos como: Vicente de Paulo Teixeira

Pinto, Eder Almeida Freire, Wladimir Ronald Lobo, Creuza Maria Silveira de

Araújo Farias, Claúdia Ferreira dos Santos e Kátia Bonfim Leite.

Aos mestrandos e amigos Emmanuel Marinho e Kyria Nascimento dos

Santos pela ajuda, amizade, convivência e companheirismo demonstrados ao

longo dessa jornada.

Aos bolsistas, ex-bolsitas, estagiários e ex-estagiários da iniciação

científica do BioMol-Lab: Liazinha, Tayaná, Raquel, Karla, Cecília, Gustavo,

Victor, George, Lucas e demais novatos, pela participação silenciosa, mas

não menos importante para o desenvolvimento deste e de outros trabalhos

científicos do BioMol-Lab.

Agradeço a todos os professores e funcionários do Departamento de

Bioquímica e Biologia Molecular da UFC, em especial aos Professores José

Tadeu Abreu de Oliveira e Ilka Maria de Vasconcelos pelas sempre abertas

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portas do conhecimento científico, no esclarecimento de dúvidas e utilização

“semi-completa” de materiais e equipamentos de seus laboratórios. Sou grato

ainda ao Departamento de Engenharia de Pesca, na pessoa dos Professores

Alexandre Holanda Sampaio, Silvana Saker Sampaio e Wladimir Ronald

Lobo, pelo apoio que também tive quando da utilização de materiais e

equipamentos de seus laboratórios.

De modo especial à Chefia do Departamento de Biologia Molecular,

Centro de Ciências Exatas e da Natureza e Pró-Reitoria de Pesquisas e Pós-

Graduação da Universidade Federal da Paraíba através do PICDT (Programa

de Incentivo à Capacitação de Docentes e Técnicos) - CAPES, pelo

empenho, confiança, ajuda e incentivo demonstrados durante meu

afastamento para capacitação docente.

As minhas primeiras professoras, Sras. Neves, Penha e Luzinete pelos

primeiros passos no aprendizado e aos mestres, em geral, que abriram novos

horizontes em minha vida. E aos eternos amigos Pe. Rafael Gasperoni, Ana

Maria de Sousa Isidro, Tio Rafael, Tio José e Tia Bibi, meus saudosos

agradecimentos pelos exemplos e ensinamentos em vida.

De modo muito especial e particular, gostaria de compartilhar e

comemorar este momento especial com as pessoas que mais amo, minha

esposa Tatiane, minha filha Ana Carolina, meus pais, Moacir e Maria Inês, e

meus sogros, Expedito e Terezinha, que nos bastidores da família tornaram

possível minha chegada ao final de mais essa etapa de crescimento

profissional e emocional. Da mesma forma, sou grato ao apoio espiritual e

emocional dos meus entes queridos Márcia, Luiza e Fernando, minha

cunhada Silvane e do amigão Nieto e demais parentes, amigos e familiares.

A todas as pessoas amigas, colegas ou não, que não foram citadas

anteriormente, mas que participaram direta ou indiretamente com ajuda

ocasional, sugestões, críticas ou conforto espiritual para a realização deste

trabalho. Minha mais especial gratidão !!!

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A realização deste trabalho científico só foi possível graças ao

auxílio das seguintes instituições:

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(CNPq), pelos constantes auxílios de pesquisa concedidos ao BioMol-Lab

(Laboratório de Moléculas Biologicamente Ativas do Departamento de

Bioquímica e Biologia Molecular do Centro de Ciências da Universidade

Federal do Ceará).

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

(CAPES), pelos convênios estabelecidos com o Curso de Pós-Graduação em

Bioquímica do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular do Centro

de Ciências da Universidade Federal do Ceará.

Fundação Cearense de Amparo à Pesquisa (FUNCAP), pelos

constantes auxílios de pesquisa concedidos ao BioMol-Lab.

Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP),

através do projeto SMOLBNet, 01/07532-0 do Prof. Dr. Walter Filgueira de

Azevedo Jr.

Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) através de convênio com o

Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) de Campinas-SP, para coleta

dos dados de difração de raios-X dos cristais de proteínas.

Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico

(PADCT/CNPq), pelos constantes auxílios de pesquisa concedidos ao

BioMol-Lab.

Universidade Federal do Ceará pelo apoio oferecido durante a

realização deste Curso de Pós-Graduação.

Laboratório de Moléculas Biologicamente Ativas (BioMol-Lab), onde

grande parte deste trabalho foi realizado.

Laboratório de Sistemas Biomoleculares do Departamento de Física

da Universidade Estadual de São Paulo (UNESP), São José do Rio Preto,

São Paulo, onde parte deste trabalho foi realizado.

Laboratório de Farmacologia dos Canais Iônicos (LAFACI) do

Departamento de Fisiologia da Universidade Estadual do Ceará, onde foram

realizados os experimentos de atividade anti e pró-inflamatório, nocicepção e

contractilidade do músculo cardíaco.

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“Nunca se vence uma guerra

lutando sozinho.”

RAUL SANTOS SEIXAS

“Só devemos fazer uso da palavra

para melhorar o silêncio.”

MONGE DESCONHECIDO

“Meditai se só as nações fortes podem fazer ciência...

ou se é a ciência que as fazem fortes.“

OSWALDO CRUZ

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RESUMO

Cristais da lectina de sementes de Canavalia maritima (ConM) nativa

foram obtidos pelo método da difusão de vapor em gota suspensa com

solução do reservatório contendo tampão Hepes 0,1M pH 8.43 com 4% v/v

de polietilenoglicol 400 e 2M de sulfato de amônio. Através de “soaking” dos

cristais com ligantes glicídicos foram produzidos cristais da lectina

complexada aos açucares maltose e trealose. Os cristais obtidos de ConM

nativa difrataram a uma resolução máxima de 1,56 Å, pertencendo ao grupo

primitivo ortorrômbico, P21212 com parâmetros de célula de a=67.9, b=71.0,

c=97.6 Å e apresentando um dímero na unidade assimétrica (VM = 2,4 A3 Da-

1). Com base nas densidades eletrônicas dos resíduos da estrutura

tridimensional resolvida, constatou-se que a sequencia de Perez et al (1991)

apresentava erros, que quando corrigidos e comparados com a seqüência de

ConA, aumentaram para 98% o grau de similaridade entre as duas lectinas. A

estrutura de ConM nativa exibe um alto grau de enovelamento terciário, típico

das lectinas de leguminosas, com visível conservação do sítio de ligação a

metais e loops envolvidos na oligomerização molecular. Embora a

especificidade e o número de pontes de hidrogênio formadas na interação

com os dissacarídeos maltose e trealose seja a mesma, estruturalmente

ocorrem diferenças no padrão de formação de pontes de hidrogênio,

principalmente na distribuição do número de pontes de hidrogênio entre os

dois resíduos de glicose dos dissacarídeos. Os ensaios de atividade biológica

mostraram que o efeito relaxante concentração-dependente da lectina de

sementes de Canavalia maritima em anéis de aorta isolados ocorre

provavelmente através da interação com um sítio de ligação lectina-

específico presente no endotélio, resultando em liberação de óxido nítrico.

Palavras-chave: Lectina, Canavalia maritima, cristalografia.

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ABSTRACT

Crystals of Canavalia maritima seeds lectin (ConM) were obtained

using the vapor diffusion method in hanging drop by sparse matrix with

reservatory solution containing 0,1 M HEPES, pH 8,43, 4% Polyethylene

Glycol 400 and 2 M ammonium sulfate. The soaking technic was used to

produce lectin crystals complexed with the carbohydrates maltose and

trehalose. ConM native crystals diffracted to 1.56 Å resolution, belonging to

the primitive orthorhombic space group P21212, with unit-cell parameters

a=67.9, b=71.0, c=97.6 Å, consisting in a dimer in the asymmetric unit (VM =

2,4 A3 Da-1), with two metal binding sites per monomer, and loops involved in

the molecular oligomerization. The structure was solved by standard

molecular replacement techniques. The wrong amino acids residues

previously suggested by manual sequencing by Perez et al. (1991) are now

determinated as I17, I53, S129, S134, G144, S164, P165, S187, V190, S169,

T196 and S202. These modifications confer 98% of similarity between ConM,

ConA and ConBr. ConM structure presents a high level of tertiary protein

folding, typically of legume lectins. Despite the specificity and the numbers of

hydrogen bonds formed in the interaction with the disaccharides maltose and

trehalose be the same, structurally changes occurs in the pattern of formation

of the hydrogen bonds, especially in the distribution in the number of

hydrogen bonds between the two glucose residues of the disaccharides. Our

biological activity data show that the relaxant concentration-dependent effect

of the seed lectin of Canavalia maritima on isolated aortic rings probably

occurs via interaction with a specific lectin-binding site on the endothelium,

resulting in a release of nitric oxide.

Key-words: Lectin, Canavalia maritima, crystallography.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 Cristais de proteínas e suas diferentes formas. (A) -

lactamase, (B) miosina V, (C) gp 120 de HIV e (D)

lisozima...................................................................................

24

FIGURA 2 Mecanismo da cristalização de macromoléculas....................

25

FIGURA 3 Diagrama de fases da solubilidade de uma proteína.............

31

FIGURA 4 Técnicas da gota suspensa e gota sentada do método de

difusão por vapor. A baixa pressão de vapor da solução do

reservatório R retira água da solução da amostra S, para

reduzir o volume da amostra Vs ao seu volume inicial Vo.

Consequentemente, a concentração da solução da amostra

[S], aumenta para um valor maior do que o da sua

solubilidade intrínseca So........................................................

37

FIGURA 5 Componentes de um cristal. A unidade assimétrica é a parte

do cristal que não apresenta simetria. Um operador de

simetria (como por exemplo, um eixo rotacional C2) gera o

motivo da rede. A repetição deste motivo por translação

gera a célula unitária, que é a unidade básica repetitiva do

cristal.......................................................................................

43

FIGURA 6 As 14 redes de Bravais em cristalografia [Adaptado de

G.H.STOUT & L.H.JENSEN (1989), X-Ray Structure

Determination, a Practical Guide, 2ed., JOHN WILEY &

SONS].....................................................................................

45

FIGURA 7 Analogia da formação da imagem por raios de luz e raios-X.

47

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FIGURA 8 Efeitos do refinamento da estrutura. Mapa de densidade

eletrônica de um nucleotídeo guanina, de um fragmento de

DNA, antes (A) e depois do refinamento (B)...........................

56

FIGURA 9 Fotos de Canavalia marítima Thouars. Planta (A), flores (B),

vargens e sementes (C)..........................................................

60

FIGURA 10 Foto de exsicata com folhas, flores e frutos de Canavalia

maritima Thouars do Herbário Prisco Bezerra do

Departamento de Biologia da UFC.........................................

62

FIGURA 11 Diferentes cristais obtidos a partir da realização do

screening de cristalização da lectina de sementes de

Canavalia maritima. Cristais obtidos nas condições 4 (A), 14

(B), 16 (C) e 39 (D) do “Crystal Screen I” da Hampton

Research (Hampton Research, Riverside, CA, USA).............

75

FIGURA 12 Eletroforese em gel de poliacrilamida na presença de SDS e

2-mercaptoetanol de farinha de sementes de Canavalia

maritima (A) e da lectina ConM obtida durante duas

diferentes cromatografias de afinidade (B). Poço 1:

marcadores de peso molecular (Citocromo C, 12.4 KDa;

Inibidor de Tripsina, 20.1 KDa; Anidrase Carbônica, 29 KDa,

Ovoalbumina, 45 KDa e Albumina sérica bovina, 66 KDa);

poço 2: farinha de sementes de Canavalia maritima (20

mg/ml) e poços 3 e 4: ConM (1 mg/ml)...................................

76

FIGURA 13 Cristal da lectina de Canavalia marítima obtido por

otimização da condição 39 (Tampão Hepes 0,1M pH 7,5

com 2% v/v de polietilenoglicol 400 e 2M de sulfato de

amônio) do Crystal Screen I da Hampton Research

(Hampton Research, Riverside, CA, USA).............................

77

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FIGURA 14 Padrão de difração de raios-X de cristal de ConM nativo....... 78

FIGURA 15 Detalhe dos resíduos corrigidos na sequência manual de

ConM a partir dos dados do mapa de densidade eletrônica.

Os resíduos modificados foram os seguintes: (A) V17 por

I17, (B) S53 por I53, (C) M129 por S129, (D) T134 por

S134, (E) S144 por G144, (F) P164 por S164, (G) S165 por

P165, (H) G169 por S169, (I) T187 por S187, (J) T190 por

S190, (K) A196 por T196 e (L) P202 por S202. .....................

83

FIGURA 16 Uma visão geral da estrutura tetramérica da lectina de

sementes de Canavalia maritima (ConM). Nos "loops"

superficiais em cada um dos monômeros podem ser vistos

os sítios de ligação a Ca2+ (bolas verdes) e Mn2+ (bolas

violetas)...................................................................................

86

FIGURA 17 Alinhamento de seqüências de algumas lectinas de

sementes de espécies pertencentes a subtribo Diocleinae.

Lectinas de Canavalia ensiformis (ConA), C. brasiliensis

(ConBr), C. gladiata (CGL), C. maritima (ConM), D.

guianensis (Dguia) e Cratylia mollis (Cra) As cores

vermelhas representam os aminoácidos pequenos e os

hidrofóbicos (AVFPMILW); o azul marca os resíduos

acídicos (DE); o magenta os resíduos básicos (RHK); o

verde representa os que possuem cadeias laterais com

hidroxilas, aminas e básicas, além da glutamina

(STYHCNGQ); e o cinza refere-se aos demais. Os símbolos

“*” significam que os resíduos na coluna indicada são

idênticos em todas as seqüências; “:” indica que foram

observadas substituições conservativas e “.” indica

modificações semi-conservativas...........................................

87

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FIGURA 18 Contatos entre monômeros. (A); Visão lateral dos contatos

entre os dímeros canônicos (B); Contato tipo “cross-link”

entre os dímeros canônicos (C); O círculo vermelho (C1)

representa pontes de hidrogênio que estabilizam o

tetrâmero em interação do tipo “cross-link”; os círculos

vermelhos (C2 e C3) mostram interações por ponte de

hidrogênio nos cantos dos dímeros (D)..................................

89

FIGURA 19 Densidades Densidades eletrônicas das regiões de loops da estrutura da

lectina de sementes de Canavalia maritima (ConM). Loop N-

terminal (A), Loop 159-164 (B), Loop 148-153 (C) e Loop

116-124 (D).............................................................................

91

FIGURA 20 O duplo sítio de ligação a metais do monômero de ConM

nativa.......................................................................................

92

FIGURA 21 Potencial de superfície da estrutura tetramérica de ConM

nativa. Os potenciais eletrostáticos negativos dos sítios de

ligação a carboidratos estão destacados por uma seta

amarela...................................................................................

93

FIGURA 22 Detalhe da densidade eletrônica do dissacarídeo maltose no

sítio de ligação a carboidratos da ConM.................................

95

FIGURA 23 Detalhe da densidade eletrônica do dissacarídeo trealose

no sítio de ligação a carboidratos da ConM............................

96

FIGURA 24 Detalhe do sítio de ligação a carboidratos da ConM

complexada com o dissacarídeo maltose...............................

97

FIGURA 25 Detalhe do sítio de ligação a carboidratos da ConM

complexada com o dissacarídeo trealose...............................

98

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FIGURA 26 Gráfico de Ramachandran da estrutura final de ConM nativa

calculada pelo programa PROCHECK (LASKOWASKI et al.,

1993).......................................................................................

100

FIGURA 27 Desvio médio padrão na distância espacial entre as cadeias

A (azul) e D (vermelho) de ConM nativa e seus respectivos

monômeros no modelo 3ENR (BOUCKAERT et al., 2000;

BERMAN et al., 2000).............................................................

101

FIGURA 28 Gráfico de Ramachandran da estrutura final de ConM

complexada com o dissacarídeo maltose calculada pelo

programa PROCHECK (LASKOWASKI et al., 1993)..............

102

FIGURA 29 Gráfico de Ramachandran da estrutura final de ConM

complexada com o dissacarídeo trealose calculada pelo

programa PROCHECK (LASKOWASKI et al., 1993)..............

103

FIGURA 30 Desvio médio padrão na distância espacial entre as cadeias

A (azul) e D (vermelho) de ConM complexada com o

dissacarídeo maltose e seus respectivos monômeros no

modelo 3ENR (BOUCKAERT et al., 2000; BERMAN et al.,

2000).......................................................................................

105

FIGURA 31 Desvio médio padrão na distância espacial entre as cadeias

A (azul) e D (vermelho) de ConM complexada com o

dissacarídeo trealose e seus respectivos monômeros no

modelo 3ENR (BOUCKAERT et al., 2000; BERMAN et al.,

2000).......................................................................................

106

FIGURA 32 Indução do relaxamento em aorta isolada de ratos

dependente de óxido nítrico pela ConM. Os gráficos

mostram os efeitos da adição de ConM (1-100 µg/mL) em

anéis de aorta de rato pré-contraídos com 0,1 µM de

fenilefrina (PE) com endotélio intacto (A), sem endotélio

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intacto (B) e com endotélio intacto previamente tratado com

L-NAME (C). W indica lavagem da preparação com solução

de Tyrode................................................................................

110

FIGURA 33 Dados médios dos experimentos comparando as respostas

nos tecidos com (●, n =7) e sem (■, n = 6) endotélio intacto

e com endotélio intacto previamente tratado com L-NAME

(□, n=5). Os valores foram expressos em percentagem (%)

de mudanças a partir da contração induzida por fenilefrina

(PE) e foram considerados como significativamente

diferentes entre tecidos com endotélio intacto e desnudo

quando p<0.05........................................................................

111

FIGURA 34 Imagens de microscopia de fluorescência de cortes

histológicos de anéis de aorta de rato. Controle (A) e tecidos

incubados com ConM marcada com fluoresceína (B)............

112

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 Ensaio de Inibição por açúcaresa da atividade

hemaglutinante das lectinas de Canavalia maritima (ConM)

e Dioclea grandiflora (DGL) realizado por Ramos et al.

(1996).....................................................................................

9

TABELA 2 Fatores que afetam a cristalização de proteínas.................... 26

TABELA 3 Alguns tampões usados na cristalização de proteínas........... 39

TABELA 4 Precipitantes usados na cristalização de proteínas................ 40

TABELA 5 Os 7 sistemas cristalinos........................................................ 44

TABELA 6 Os 65 grupos espaciais possíveis em cristais de proteínas... 46

TABELA 7 Dados estatísticos finais do refinamento da estrutura da

lectina nativa de sementes de Canavalia maritima (ConM)....

79

TABELA 8 Dados estatísticos finais do refinamento da estrutura de

ConM complexada com o dissacarídeo maltose....................

80

TABELA 9 Dados estatísticos finais do refinamento da estrutura de

ConM complexada com o dissacarídeo trealose....................

81

TABELA 10 Diferenças entre resíduos de ConM seqüenciada

manualmente por Perez et al., (1991) e sequência de

ConM* determinada com base nas densidades eletrônicas

da estrutura tridimensional resolvida por cristalografia de

raios-X.....................................................................................

84

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ABREVIATURAS

Resíduos de aminoácidos (código protéico – IUPAC – IUB, 1972)

Código de 1 letra Código de 3 letras Aminoácido

A ALA Alanina C CYS Cisteína D ASP Ácido aspártico E GLU Ácido glutâmico F PHE Fenilalanina G GLY Glicina H HIS Histidina I ILE Isoleucina K LYS Lisina L LEU Leucina M MET Metionina N ASN Asparagina P PRO Prolina Q GLN Glutamina R ARG Arginina S SER Serina T THR Treonina V VAL Valina W TRP Triptofano Y TYR Tirosina

PAGE Eletroforese em gel de poliacrilamida

SDS Dodecil sulfato de sódio

Tris Tris-hidroxiaminometano

MALDI “Matrix-Assisted Laser Desorption Ionization

TOF “Time of Fligth” (tempo de vôo)

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO........................................................................... 1

1.1 Considerações gerais................................................................. 1

1.2 A família Leguminosae............................................................... 2

1.3 O gênero Canavalia................................................................... 4

1.4 Canavalia maritima Thouars...................................................... 5

1.5 Lectinas vegetais........................................................................ 6

1.6 Lectinas de leguminosas............................................................ 6

1.6.1 Especificidade por carboidratos................................................. 8

1.6.2. Função biológica........................................................................ 9

1.6.3 Atividade biológica..................................................................... 10

1.6.4 Estrutura molecular.................................................................... 11

1.6.4.1 O monômero das lectinas de leguminosas................................ 12

1.6.4.2 Sítio de ligação a carboidratos das lectinas de leguminosas.... 13

1.6.4.3 Sítio de ligação a íons metálicos das lectinas de leguminosas.. 15

1.6.4.4 Sítios hidrofóbicos das lectinas de leguminosas........................ 16

1.6.4.5 Estrutura quaternária das lectinas de leguminosas................... 17

1.7 Cristalização e estrutura tridimensional de proteínas................ 18

1.7.1 Breve histórico e contexto atual da cristalização de proteínas.. 19

1.7.2 O que é um cristal?.................................................................... 21

1.7.3 Cristalização de proteínas.......................................................... 22

1.7.3.1 Fatores que afetam a cristalização............................................ 25

1.7.3.1.1 Pureza........................................................................................ 27

1.7.3.1.2 Solubilidade................................................................................ 27

1.7.3.1.3 Supersaturação.......................................................................... 29

1.7.3.1.4 Diagrama de fases de uma proteína.......................................... 29

1.7.3.1.5 Temperatura............................................................................... 31

1.7.3.1.6 pH............................................................................................... 32

1.7.3.1.7 Precipitantes e força iônica........................................................ 32

1.7.4 Soaking e crioproteção de cristais de proteínas........................ 34

1.7.5. Técnicas de cristalização de proteínas...................................... 35

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1.7.5.1 Cristalização por difusão de vapor............................................. 36

1.7.6 O método da matriz esparsa...................................................... 37

1.7.7 Simetria e grupos espaciais....................................................... 41

1.7.8 Difração de raios-X..................................................................... 47

1.7.8.1 Índices de Miller......................................................................... 49

1.7.8.2 Fator de espalhamento atômico................................................. 50

1.7.8.3 Fator de estrutura....................................................................... 50

1.7.8.4 Espalhamento de raios-X de um cristal...................................... 51

1.7.8.5 Densidade eletrônica.................................................................. 52

1.7.8.6 O problema da fase.................................................................... 52

1.7.9 Substituição molecular............................................................... 52

1.7.9.1 Função de Patterson.................................................................. 53

1.7.9.2 Função de rotação..................................................................... 54

1.7.9.3 Função de translação................................................................. 54

1.7.10 Refinamento............................................................................... 55

1.7.10.1. Refinamento de corpo rígido...................................................... 57

1.7.10.2 Refinamento posicional.............................................................. 58

2. OBJETIVOS............................................................................... 59

2.1 Objetivo geral............................................................................. 59

2.2 Objetivos específicos................................................................. 59

3. MATERIAIS................................................................................ 60

3.1 Material vegetativo..................................................................... 60

3.1.1 Descrição botânica de Canavalia maritima Thouars.................. 61

3.2 Animais....................................................................................... 62

3.3 Materiais para purificação de proteínas..................................... 63

3.4 Materiais para cristalização e soaking de cristais...................... 63

3.5 Material para resolução da estrutura tridimensional.................. 64

3.6 Avaliação da resposta contrátil de ConM................................... 64

3.7 Experimento histológico com lectina marcada........................... 64

3.8 Outros materiais......................................................................... 64

4. MÉTODOS................................................................................. 65

4.1 Obtenção da lectina pura (ConM) de sementes de C. marítima 65

4.2 Cristalização de ConM............................................................... 66

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4.3 Soaking de cristais de ConM com carboidratos......................... 67

4.4 Coleta de dados e difração de raios-X....................................... 68

4.5 Substituição molecular e refinamento........................................ 69

4.6 Avaliação da resposta contrátil de ConM................................... 69

4.7 Interação de FITC-ConM com endotélio e músculo liso da

aorta de rato...............................................................................

71

4.7.1 Processamento das amostras e obtenção de cortes

histológicos.................................................................................

71

4.7.2 Marcação da lectina com FITC.................................................. 72

4.7.3 Tratamento dos cortes histológicos com FITC-ConM................ 72

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................. 74

5.1 Cristalização da ConM nativa..................................................... 74

5.2 Difração de raios-X..................................................................... 77

5.3 Substituição molecular e refinamento........................................ 82

5.3.1 ConM nativa............................................................................... 82

5.3.2 ConM complexada com dissacarídeos...................................... 84

5.4 Estrutura tridimensional de ConM nativa................................... 85

5.5 Estrutura tridimensional de ConM complexada à maltose e

trealose.......................................................................................

94

5.6 Avaliação da qualidade das estruturas...................................... 99

5.6.1 ConM nativa............................................................................... 99

5.6.2 ConM complexada aos dissacarídeos maltose e trealose......... 101

5.7 Atividade biológica..................................................................... 107

6. CONCLUSÃO............................................................................ 113

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................... 114

8. APÊNDICE................................................................................. 138

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1

1. INTRODUÇÃO

1.1 Considerações gerais

Proteínas que interagem não covalentemente com carboidratos são

muito comuns na natureza. Um exemplo disso são enzimas carboidrato-

específicas e anticorpos anti-carboidratos. Nos últimos anos uma dada classe

dessas proteínas, as lectinas, conquistou definitivamente a vanguarda da

pesquisa científica (LIS & SHARON, 1998).

Lectinas têm sido encontradas em muitos organismos, desde vírus e

bactérias até plantas e animais. São mais frequentemente purificadas por

cromatografia de afinidade em ligantes imobilizados e, mais recentemente,

através de técnicas de DNA recombinante. Em plantas, as lectinas

purificadas de espécies da família Leguminosae, formam o grupo mais

estudado de proteínas que se ligam a carboidratos (VAN DAMME et al.,

1998).

As lectinas representam um grupo heterogêneo de proteínas

oligoméricas que variam amplamente em tamanho, estrutura, organização

molecular, bem como na constituição de seus sítios de interação. No entanto,

muitas delas pertencem a famílias de proteínas distintas que compartilham

semelhanças de seqüência e características estruturais. Estas semelhanças

encontradas nas seqüências de aminoácidos de lectinas já conhecidas

facilitam a detecção e identificação de novas lectinas.

Apesar das lectinas terem sido descritas pela primeira vez na virada

do século XIX, seu estudo só começou a tomar impulso nos anos 60

(SHARON & LIS, 1989a; SHARON & LIS, 1987; KOCOUREK, 1986). Naquele

momento elas se mostraram como inestimáveis ferramentas para

investigações estruturais e funcionais de carboidratos complexos, e no

exame das transformações que ocorrem na superfície celular durante os

processos fisiológicos e patológicos, desde a diferenciação celular ao câncer

(GOLDSTEIN et al., 1997). No presente, lectinas tem sido foco de intensa

atenção devido ao fato de agirem como determinantes de reconhecimento

em vários processos biológicos (SHARON & LIS, 1989b; SHARON & LIS,

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2

1993) como: limpeza de glicoproteínas do sistema circulatório; controle do

tráfego intracelular de glicoproteínas; adesão de agentes infecciosos as

células hospedeiras; recrutamento de leucócitos para os locais de

inflamação; bem como na interação entre células do sistema imune, na

doença e nas metástases. Investigações das lectinas e de sua função no

reconhecimento celular, bem como a aplicação destas proteínas para o

estudo dos carboidratos em solução e nas superfícies celulares, têm

produzido notável contribuição para os avanços da glicobiologia (DWEK,

1996). O desenvolvimento nesta última área está tendo um significante

impacto na pesquisa sobre as lectinas, de maneira que as duas estão

seguindo adiante lado a lado.

Durante a década que se passou, houve um incrível progresso na

elucidação das características que são importantes na ligação a carboidratos

das lectinas. Isto foi possível graças ao refinamento de velhas técnicas e ao

desenvolvimento de novas. Em particular, a cristalografia de raios X de alta

resolução de lectinas complexadas com seus ligantes permitiu a identificação

de grupos químicos na proteína e no carboidrato e de tipos de ligações

envolvidas nestas interações. Uma informação adicional sobre a contribuição

individual dos aminoácidos na atividade da lectina tem sido obtida a partir dos

experimentos de mutagênese sítio-dirigida e também a partir dos estudos de

modelamento molecular de proteínas. De especial interesse são os estudos

dos complexos lectina-oligossacarídeos, uma vez que fornecem a base para

o entendimento de como as lectinas reconhecem seus ligantes naturais (LIS

& SHARON, 1998).

1.2 A família Leguminosae

A família Leguminosae ou Fabaceae é composta por 650 gêneros e

18000 espécies sendo, portanto, uma das maiores famílias de plantas

floríferas do reino vegetal, juntamente com as famílias Compositae e a

Orchidaceae (BURKART, 1979; POLHILL et al., 1981). Segundo Schultz

(1968) esta família de plantas é extraordinariamente rica em plantas úteis

para o homem, boa parte pertencente originariamente à flora brasileira.

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3

Quando comparadas com outras famílias, as leguminosas são

notavelmente "generalistas", apresentando desde gigantescas espécies

florestais até efêmeros e diminutos exemplares, com grande diversidade em

suas formas de desenvolvimento, modos de reprodução e defesa.

Apresentam dispersão universal, pois se estendem por todos os habitats

terrestres, do Equador aos confins de desertos secos e gelados, sendo que

muito desta diversidade encontra-se centralizada em áreas de topografia

variada com climas sazonais.

De acordo com Hymowitz (1990), os grãos de leguminosas possuem

uma grande gama de variações e estas variações estão silenciosamente

aguardando por exploração comercial. Graham e Vance (2003) citam que

apesar de ter um maior número de espécies, desempenharem funções

críticas nos ecossistemas naturais, agricultura e agroindústria, as

leguminosas continuam no segundo lugar, perdendo apenas para as

gramíneas, em importância para a alimentação humana. Milhares de

espécies de leguminosas existem, mas somente algumas, como os feijões

(Phaseolus vulgaris L. , por exemplo) e a soja (Glycine max), são utilizadas

para alimentação. O que limita o uso dos grãos de leguminosas na

alimentação humana são os fatores antinutricionais presentes nas sementes

de muitas leguminosas. Dentre eles, destacam-se os inibidores de -amilase,

arcelinas, lectinas, fitatos, substâncias fenólicas e taninos (KIGELL, 1999),

entre outros. Aliado a isso, outros problemas como baixa resistência a

doenças, intolerância à salinidade, qualidade protéica e produtividade,

limitam a utilização dos grãos de leguminosas. Apesar disso, em países

como Brasil e México, o feijão continua sendo a principal fonte de proteínas

da alimentação. Pensando na solução de alguns destes problemas, foi criado

recentemente por pesquisadores, um consórcio Internacional denominado

Phaseomics, englobando transcriptomas genômicos e proteômicos aplicados

à cultura do feijão (BROUGHTON et al., 2003).

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4

1.3 O gênero Canavalia

O gênero Canavalia possui aproximadamente 60 espécies pantropicais

com predominância neotropical, já que em torno de 37 destas espécies estão

distribuídas na área neotropical e cerca 15 espécies na área paleotropical,

principalmente na parte oriental do Oceano Índico e porção ocidental do

Oceano Pacífico; umas poucas espécies são encontradas no Hawaii e

somente uma espécie, Canavalia maritima, é comum nas praias e litorais das

costas tropicais e subtropicais de ambos os hemisférios. Pelo menos 4

espécies de Canavalia são cultivadas como forrageira e alimento. Em Cuba,

C. ensiformis e C. gladiata são espécies geralmente cultivadas enquanto que

as demais espécies, são silvestres em seus respectivos habitats naturais

(MATOS et al., 2004). Canavalia ensiformis foi cultivada na América como

alimento na era pré-colombiana (SAUER, 1964; SAUER & KAPLAN, 1979;

D’ARCY, 1980; AYMARD & CUELLO, 1991) e ainda hoje é utilizada como

adubo verde. A importância do gênero Canavalia para a alimentação animal

se concentra no alto conteúdo de proteínas assimiláveis (27-29%) que

possuem nas folhas, flores, frutos e sementes (WOLFF & KWOLEX, 1971) e

por seus diversos usos dados em épocas muito antigas (NAS, 1979; SAUER

& KAPLAN, 1979). O gênero Canavalia foi classificado junto com o gênero

Galactia como promiscuo e efetivo devido ao fato de nodularem de forma

efetiva com um espectro amplo (DATE & HALLIDAY, 1980). Por outro lado,

as espécies de Canavalia estão incluídas entre as poucas sementes de

leguminosas, junto com Lathyrus sativus e espécies de Mucuna que possuem

toxinas tais como alcalóides e aminoácidos não protéicos em níveis que

podem representar um problema para a humanidade. De sorte, que nenhum

destes cultivos é de importância econômica fundamental, sendo que as

mesmas servem como forragem, cobertura verde e são usadas na

alimentação humana somente nos casos de pobreza extrema, no qual as

propriedades venenosas unem-se a outros problemas e o efeito combinado

pode ser severamente nocivo ou mesmo letal (JOHNS, 1994).

O gênero Canavalia se distingue dentro da tribo Diocleinae, a qual

pertence, por diversos caracteres morfológicos. A Classificação do gênero

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5

Canavalia dentro da subtribo Diocleinae é sustentada por diversas

características tais como: folíolos e cálix eglandulares; inflorescências no

geral nodosas; presenças de bractéolas; sementes com hilo linear; presença

do aminoácido não-protéico canavanina; e número de cromossomos 2n=22

(LACKEY, 1981). Estes caracteres definem Canavalia como uma entidade

taxonômica homogênea, a qual serve de referência para sua rápida

identificação entre os demais gêneros que fazem parte desta subtribo

(MATOS et al., 2004).

O Gênero Canavalia está dividido em 4 subgêneros: Catodonia,

Wenderotia, Canavalia e Maunaloa. Catadonia e Wenderotia são próprios do

Novo Mundo; Canavalia é comum ao Velho e ao Novo Mundo; e Maunaloa é

um subgênero endêmico do Hawaii (SAUER, 1964; GILLETT et al., 1971;

FANTZ, 1976; AYMARD & CUELLO, 1991).

1.4 Canavalia maritima Thouars

Esta espécie é vulgarmente conhecida como feijão de praia e

apresenta como sinônimos botânicos Canavalia rosea (SW.) e Dolichos

maritimus Aublet. Embora seja mais comum à denominação C. maritima

Thouars desde o ano de 1813, em alguns países utiliza-se mais a

denominação Canavalia rosea (SW.), que data de 1825. Distribui-se

universalmente pelo Novo Mundo: Estados Unidos (Flórida); México; América

Central (Guatemala, Honduras, Belice, El Salvador, Nicaragua, Costa Rica,

Panamá); Antilhas Maiores (Cuba, República Dominicana, Bermudas, Haiti,

Jamaica, Porto Rico, Ilhas Virgens, Barramas, Ihas Caiman, Ilha Swan, San

Andrés); Antilhas Menores; Trinidad e Tobago; América do Sul (Brasil,

Colômbia, Venezuela, Equador, Galápagos, Peru, Guianas Francesas,

Guianas, Suriname). Velho Mundo: África (Mauritânia, Senegal, Guinea

Portuguesa, República da Guinea, Serra Leoa, Libéria, Costa do Marfim,

Ghana, Togo, Dahomey, Nigéria, Camarões, São Thomé, Gabão, República

do Congo, Angola, Moçambique, Tanganyika, Kenya, Zanzibar, Madagascar,

Rodriguez, Seychelles); Ásia (Índia, Ilha Nicobar, Burma, Malaia, Singapura,

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Tailândia, Camboja, Vietnam, China, Formosa); Oceania (Filipinas, Norte de

Borneo, Indonésia, Nova Guínea Ocidental, Noroeste de Nova de Guínea;

Papua, Ilha Salomão, Nova Caledônia, Ilha Hawaii); Austrália (MATOS et al.,

2004).

Canavalia maritima é uma espécie comum em ambientes marinhos,

sobretudo nas praias e costas tropicais e subtropicais de ambos os

hemisférios. Nestes locais aparece sobre rochas ou matagais, onde é

pioneira nos solos arenosos das dunas e praias (D’ARCY, 1980). Canavalia

maritima e provavelmente outras espécies cultivadas de Canavalia, formam

parte da flora que se situa à deriva continental, sujeitas a serem dispersas

pelas correntes marinhas. De acordo com Matos et al. (2004) no caso de

Canavalia maritima isto é favorecido pelo fato das sementes serem flutuantes

e indefinidamente impermeáveis à água, por pelo menos um ano.

1.5 Lectinas vegetais

Muitas plantas possuem proteínas que se ligam-se a carboidratos,

vulgarmente conhecidas como lectinas. Estas proteínas são definidas

atualmente, como proteínas e/ou glicoproteínas de origem não imune que

apresentam pelo menos um sítio de ligação reversível a carboidratos ou

glicoconjugados (PEUMANS & VAN DAMME, 1995).

1.6 Lectinas de leguminosas

A família das lectinas de leguminosas compreende o maior número de

lectinas, tanto do ponto de vista de caracterização química, físico-química e

biológica como do ponto de vista estrutural (SHARON & LIS, 2003). As

lectinas de leguminosas formam uma família de proteínas que se liga a

carboidratos, encontradas em sementes, e em menor extensão em caule e

folhas, de plantas pertencentes à família Leguminosae (SHARON & LIS,

1990; LORIS et al., 1998). Há décadas são usadas como modelo para o

estudo de interações proteína-carboidrato, devido a surpreendente variedade

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de especificidades por carboidratos, fácil obtenção e purificação

(HAMELRYCK et al., 1998). As lectinas de leguminosas apresentam em

comum uma grande similaridade de seqüência de aminoácidos que parecem

contribuir para a manutenção da estrutura tridimensional da cavidade

hidrofóbica e das folhas -pregueadas, como é o caso dos resíduos de

aminoácidos envolvidos no sítio de ligação a metais e, em menor proporção,

dos resíduos de aminoácidos envolvidos no sítio de ligação a carboidratos

(CUNNINGHAM et al., 1975).

As lectinas de sementes de leguminosas de espécies representantes

da sub-tribo Diocleinae como: Canavalia ensiformis, Canavalia brasiliensis,

Canavalia bonariensis, Canavalia gladiata, Canavalia maritima, Dioclea

grandiflora, Dioclea guianensis, Dioclea violacea, Dioclea virgata, Cratylia

floribunda e Cratylia mollis são proteínas com especificidade por glicose,

manose e seus derivados, oligoméricas, geralmente tetraméricas formadas

por subunidades iguais com massa variando de 25 a 30 KDa, cada

subunidade contendo pelo menos um sítio de ligação a carboidratos e um

sítio de ligação aos íons metálicos Ca2+ e Mn2+ (DAM et al., 1998).

Concanavalina A (ConA), isolada por James Sumner em 1919 (LIS &

SHARON, 1998) e extraída de sementes de Canavalia ensiformis, onde

chega a perfazer mais de 15% do conteúdo de proteínas totais da semente

(LORD, 1985; CARRINGTON et al., 1985), é a lectina de leguminosa mais

estudada e caracterizada. A lectina é tetramérica e cada subunidade ou

monômero apresenta massa de 27 KDa (WANG et al., 1975; LORD, 1985).

Cada subunidade é formada por um sítio de ligação a carboidratos numa

cavidade próxima aos resíduos de aminoácidos que se ligam aos íons

metálicos Ca2+ e Mn2+. ConA interage com glicose e manose através de

pontes de hidrogênio e forças de van der Waals (DEREWENDA et al., 1989;

NAISMITH & FIELD, 1996). ConA pode ainda, alterar sua estrutura

quaternária de acordo com o pH. Desta forma, em pH maior que 7,0 a lectina

é predominantemente tetramérica, enquanto que em pH inferior a 6,0 ocorre

uma predominância da forma dimérica (CUNNINGHAM et al., 1975).

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1.6.1 Especificidade por carboidratos

A lectina mais estudada no mundo, ConA, purificada da farinha

de sementes de Canavalia ensiformis (BITTIGER & SCHNEBLI, 1976),

pertence a subtribo Diocleinae (família, Leguminosae; sub-família,

Papilionoideae; tribo, Phaseoleae). Nesta subtribo, várias espécies

pertencentes aos gêneros Canavalia (CAVADA, 1980), Dioclea (CAVADA et

al., 1996a), Cratylia (OLIVEIRA et al., 1991), Cymbosema (ROCHA, 1998),

Cleobulia (GUIMARÃES, 1998) e Galactia (ALMANZA et al., 2004), já tiveram

lectinas isoladas de suas sementes. As lectinas isoladas de espécies dessa

subtribo geralmente apresentam especificidade por glicose/manose. Todavia,

na tribo Phaseoleae foram encontradas lectinas com diferentes

especificidades, como as lectinas galactose-específicas de sementes de

Glycine max (Allen & Neuberger, 1975) e de Erythrina velutina (MORAES et

al., 1996) e as isolectinas de sementes de Phaseolus vulgaris (LEAVITT et

al., 1977), que apresentam especificidade por oligossacarídeos complexos

contendo galactose. A subtribo Diocleinae, pertencente a esta mesma tribo,

possui um grupo de lectinas com alto grau de similaridade de seqüências

(mesmos resíduos nas mesmas posições ou resíduos com substituições

conservativas) mas com diferentes potencias com relação a várias atividades

biológicas (CAVADA et al., 2001). Devido a este fato, estas lectinas, também

conhecidas como lectinas “ConA-like”, constituem um modelo fantástico para

estudos de relações estruturas/funções de proteínas. Torna-se

evidentemente claro o quanto é importante estabelecer o refinamento

estrutural do maior número destas lectinas, tanto delas na forma pura como

co-cristalizadas com diferentes carboidratos e glicoconjugados.

Estudando a especificidade por carboidratos da lectina de Canavalia

maritima e de Dioclea grandiflora, Ramos et al. (1996) encontraram que

ambas as lectinas reagem de forma similar com açucares simples e seus

derivados, inclusive com ácido N-acetilmurâmico e N-acetilneuramínico

(Tabela 1). Entretanto, os mesmos autores relataram que algumas

discrepâncias ocorreram para alguns dos açucares checados, como rafinose,

glicose e frutose.

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Tabela 1 - Ensaio de Inibição por açúcaresa da atividade hemaglutinante das

lectinas de Canavalia maritima (ConM) e Dioclea grandiflora

(DGL) realizado por Ramos et al. (1996).

Açucares Lectinas

ConM DGL

-D(-) frutoseb 4,2 16,7

maltoseb 1,0 4,2

L(-) sorboseb 8,3 16,7

D(+) trealoseb 1,0 2,1

-D(+) melibioseb 2,1 2,1

sacaroseb 8,3 16,7

D(+) rafinoseb 16,7 NI

Ácido N-acetilmurâmicoc 4,2 4,2

Ácido N-acetilneuramínicoc 8,3 8,3

-D(+) galactoseb NI NI

Ácido Poligalacturônicod NI NI

P-nitrofenil-6-O--D(+)

galactopiranosídeoe

NI NI

-D(+) manoseb 2,1 2,1

-D(+) glicoseb 4,2 16,7

a:concentração mínima requerida para inibir 1 unidade de hemaglutinação;

NI: não inibiu mesmo nas seguintes concentrações: 33,3mMb, 8,3mMc,

0,33%d e 3,3mM e.

1.6.2 Função biológica

Apesar das lectinas de plantas terem sido descobertas há mais

de um século, e de hoje algumas destas moléculas terem se tornado tão

importantes que possam ser consideradas como insumos básicos em

biotecnologia, a função ou funções destas proteínas dentro das plantas onde

ocorrem permanecem ainda obscuras. Entretanto, muitas funções têm sido

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propostas para as lectinas, tais como: proteção contra patógenos e insetos,

transporte e armazenamento de carboidratos, reconhecimento celular (dentro

da célula, entre células ou entre organismos), proteínas de reserva ou

reguladores de crescimento (PUSZTAI, 1991). Especula-se ainda, com fortes

evidências científicas, que estas proteínas possam estar envolvidas na

mediação de processos simbióticos entre leguminosas e bactérias do gênero

Rhizobium (MARTINEZ et al., 2004). Mais uma vez, fica nítida a idéia de

quanto maior o número de estrutura tridimensional de lectinas de

leguminosas for estabelecido, maior suporte existirá para se especular sobre

a(s) função(ões) destas proteínas dentro dos organismos onde ocorrem.

1.6.3 Atividade biológica

Apesar do desconhecimento da real função das lectinas dentro das

plantas onde ocorrem, é impressionante a versatilidade de aplicações que

têm sido estabelecidas para estas macromoléculas biológicas, existindo,

atualmente um amplo e crescente mercado de comercialização destas

proteínas. Sem querer fazer aqui uma revisão exaustiva sobre o tema, já que

não é o foco do presente estudo, e se atendo somente as lectinas “ConA-

like”, purificadas de sementes de espécies da sub-tribo Diocleinae, que são,

como dito anteriormente, altamente similares entre si, é incrível a

variabilidade de aplicações biológicas e de diferenças de potência de uma

dada atividade biológica quando se comparam os efeitos de várias destas

lectinas entre si. Assim têm sido obtidos resultados importantes quanto a

atividade linfoproliferativa (BARRAL NETTO et al., 1992), indução da síntese

de interferon gama in vitro (BARRAL NETTO et al., 1992) e in vivo (BARRAL

NETTO et al., 1996), indução de edema de patas (BENTO et al., 1993),

ativação de macrófagos (RODRIGUEZ et al., 1992), indução da secreção de

histamina por basófilos e mastócitos (GOMES et al., 1994), atividade pro- e

anti-inflamatória (ALENCAR et al., 1999; ASSREUY et al., 1999), diferentes

efeitos renais em experimentos ex vivo (TEIXEIRA et al., 2001; HAVT et al.,

2002; HAVT et al., 2003), indução da síntese de várias citocinas tanto in vitro

como in vivo (CAVADA et al., 2001), efeito anti-cariogênico (NAPIMOGA et

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al., 2005), efeito de reconhecimento de células neoplásicas (PINTO, 2001),

indução da síntese de NO (ANDRADE et. al., 1999), indução de apoptose

(BARBOSA et al., 2001) entre outros. Não é exagero reafirmar que estas

lectinas apresentam alto grau de similaridade (mais de 95 % em alguns

casos) entre suas seqüências de aminoácidos, mas mesmo assim

apresentam comportamento diferenciado entre si quando testados em um

mesmo modelo de atividade biológica. Evidentemente que para explicar estas

diferenças se fazem necessários estudos estruturais finos tanto destas

proteínas purificas como delas complexadas com diferentes carboidrados e

glicoconjugados.

1.6.4 Estrutura molecular

Apesar da necessidade de se estabelecer a estrutura das lectinas de

sementes de espécies da subtribo Diocleinae, tanto na forma pura como

complexadas com diferentes carboidratos e glicoconjugados, e com isso se

tentar esclarecer as diferenças encontradas com relação a diferentes

atividades biológicas, poucos estudos existem acerca destas proteínas. Do

ponto de vista de estudos de estrutura molecular, a única proteína que tem

sido estudada de uma forma mais ou menos exaustiva é a ConA (SHARON &

LIS, 2003), além de alguns estudos pontuais com as lectinas de sementes de

Dioclea grandiflora (AINOUZ et al., 1987), Canavalia brasiliensis (SANZ-

APARICIO, 1997), Dioclea guianensis (WAH et al., 2001) e Cratylia mollis

(CORREIA & COELHO, 1995). Esta constatação deixa patente a

necessidade de se estabelecer a estrutura tridimensional de várias destas

lectinas, resolvendo-se cristais tanto das proteínas puras como de co-cristais

delas com diferentes monossacarídeos, oligossacarídeos, polissacarídeos e

glicoproteínas para aumentar o volume de informações estruturais sobre as

mesmas e tentar, então, formular hipóteses sobre os mecânismos

moleculares de ação destas proteínas nos diferentes modelos biológicos que

atuam. Além disto, e não menos importante, estes estudos permitirão

correlações importantes de estruturas versus função e estruturas versus

atividades biológicas deste grupo de lectinas.

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1.6.4.1 O monômero das lectinas de leguminosas

As lectinas de leguminosas no geral, são compostas por 2 ou 4

subunidades, iguais ou diferentes e com massa molecular em torno de 25 a

30 kDa. Freqüentemente, estas subunidades são constituídas por um único

esqueleto polipeptídico estabilizado por ligações não covalentes do tipo

pontes de hidrogênio, interações hidrofóbicas e eletrostáticas, podendo ou

não formar dímeros canônicos. As lectinas da tribo Vicieae (gêneros Pisum,

Vicia, Lathyrus, e Lens) são dímeros onde cada subunidade igual é formada

por 2 cadeias polipeptídicas diferentes, uma cadeia polipeptídica leve (cadeia

α) com massa de 5-7 kDa e uma cadeia polipeptídica pesada (cadeia β) com

massa de 15-19 kDa, estabilizadas por ligações não covalentes (ROUGÉ et

al., 1987; SHARON & LIS, 1989a). Já as lectinas de espécies pertencentes a

sub-tribo Diocleinae são tetrâmeros compostos por uma mistura de

subunidades intactas formadas por uma cadeia polipeptídica (cadeia ) com

237 resíduos de aminoácidos e de subunidades fragmentadas, nas quais a

mesma cadeia polipeptídica está dividida em dois fragmentos ( e ), devido

ao fato de não ter havido a formação de uma ligação peptídica entre os

resíduos 118 e 119 (CHRISPEELS et al., 1986). Apesar de não estarem

unidos covalentemente, os fragmentos são mantidos juntos por ligações não

covalentes e formam um protômero cuja estrutura tridimensional é a mesma

da subunidade formada pela cadeia integra (cadeia ), sem descontinuidade

da estrutura primária (BECKER et al., 1975; SHARON & LIS, 1989ª).

Os diferentes monômeros ou subunidades de lectinas de leguminosas

são extremamente semelhantes e suas estruturas podem ser descritas como

um sanduíche , plano, formado por seis fitas pregueadas (a folha traseira)

e sete fitas curvadas pregueadas (a folha frontal). Uma terceira pequena

folha pregueada, consistindo de cinco fitas, mantém juntas as duas folhas

maiores (BANERJEE et al., 1996). O sítio de ligação a carboidratos é mantido

no lado côncavo do sanduíche , formado pela folha curvada (a folha da

frente), próxima ao duplo sítio de ligação a metais. A topologia do monômero

está relacionada a um enovelamento de mão direita tipo “jellyroll” (STIRK et

al., 1992), mas este contém três inserções, uma das quais está diretamente

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envolvida na ligação a carboidratos e metais. Muitas proteínas de

processamento ou que se ligam a carboidratos possuem topologia

relacionada ao enovelamento do tipo “jellyroll” (como -D-glucanase, KEITEL

et al., 1993), galectinas, lectinas de leguminosas, proteína soro amilóide,

PNGase F (NORRIS et al., 1994, KUHN et al., 1994), celobiohidrolase I

(DIVNE et al., 1994) e dois membros da família das espermadesinas

(ROMAO et al., 1997; VARELA et al., 1997 , ROMERO et al., 1997) e o sítio

de ligação a carboidratos parece sempre ocorrer no lado côncavo do

sanduíche , na folha frontal das lectinas de leguminosas. (NORRIS et al.,

1994; LEONIDAS et al., 1995). Norris et al. (1994) sugeriram que a interação

dessa folha curvada com os “loops” de conexão que se enovelam sobre a

folha é especialmente adaptada ao sítio de ligação a carboidratos. A

similaridade entre a topologia das lectinas de leguminosas, proteína soro

amilóide e as galectinas pode ser resultado de um processo de evolução

convergente. Além disso, a arquitetura em sanduíche é especialmente

adaptada para gerar uma grande variedade de estruturas quaternárias, que

são importantes para a ligação de epitopos multivalentes ou ligantes “cross-

linkados” (HAMELRYCK et al., 1998).

Segundo Cunningham et al. (1975) é na região N-terminal de ConA

onde estão concentrados os resíduos de aminoácidos carregados, enquanto

na região C-terminal há uma predominância de resíduos hidrofóbicos,

envolvidos na ligação da lectina ao carboidrato.

1.6.4.2 Sítio de ligação a carboidratos das lectinas de leguminosas

As lectinas de leguminosas desenvolveram um conservado sítio de

ligação a carboidratos, no qual quatro resíduos conservados em sua estrutura

conferem afinidade de ligação, um “loop” variável confere especificidade e

alguns sub-sítios, ancoram resíduos adicionais de carboidratos ou grupos

hidrofóbicos (HAMELRYCK et al., 1998).

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De acordo com Sharma e Surolia (1997), o sítio de reconhecimento a

carboidratos é formado de diversos “loops” com diferentes graus de

variabilidade. As conformações destes “loops” são determinadas pela

presença na estrutura de íons de metais de transição, como o Ca2+ e o Mg2+,

(BOUCKAERT et al., 1995; LORIS et al., 1998; BOUCKAERT et al., 2000;

LESCAR et al., 2002), cuja ausência resulta em instabilidade local e na perda

da capacidade de ligar-se a carboidratos (LORIS et al., 2004).

O sítio de ligação a carboidratos da ConA, está localizado numa

depressão na superfície da proteína e distante de 10 a 14 Å do íon Mn+2

(ALTER & MAGNUSON, 1974; HARDMAN & AINSWORTH, 1976). Os

resíduos de aminoácidos envolvidos na ligação a carboidratos são TYR12,

ASN14, ASP16, LEU99, TYR100, ASP208 e ARG228 (HARDMAN &

AINSWORTH, 1976). De todos eles, somente ASP208 é conservado em

todas as lectinas de leguminosas já seqüenciadas (KONAMI et al., 1991).

Lectinas de leguminosas podem ser divididas em cinco grupos, de

acordo com a especificidade do sítio de ligação a monossacarídeos

(SHARON & LIS, 1990): Fucose específicas; GlcNAc/GlcNAc(b1-4)GlcNAc

específicas; Glc/Man específicas; Gal/GalNAc específicas e aquelas que não

se ligam a monossacarídeos simples. Dentro desses grupos, alguns

representantes idiossincráticos podem ser encontrados, como por exemplo a

DBL (Dolichos biflorus lectin), que se liga a GalNac, mas não a Gal (ETZLER

& KABAT, 1970). No sítio de ligação a carboidratos desta lectina, três dos

quatro resíduos conservados (a tríade GLY-ASN-ASP) fazem pontes de

hidrogênio com o carboidrato, enquanto que o quarto resíduo aromático

empilha-se sobre a porção hidrofóbica do carboidrato. Estes quatro resíduos

estão organizados na posição correta por dois íons metálicos ligados (um íon

Ca2+ e um íon metálico de transição), diretamente ou via moléculas de água.

Mais importante ainda é o fato de que os íons metálicos estabilizam uma

pouco usual ligação cis-peptídica entre um resíduo de alanina (ALA) e um

resíduo de ácido aspártico (ASP), posicionando assim a cadeia lateral de

ASP na correta posição para a ligação ao carboidrato (BOUCKAERT et al.,

1995). Galactose e Glicose podem ambos interagir favoravelmente com os

quatro conservados resíduos, mas devem adotar diferentes orientações

relativas para esses resíduos devido as diferentes conformações do O4.

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Consequentemente, em lectinas de leguminosas glicose específicas como a

ConA (lectina de sementes de Canavalia ensiformis) e as lectinas de

leguminosas da tribo Vicieae, O4 e O6 interagem com a tríade GLY-ASN-

ASP (BOURNE et al., 1990; LORIS et al., 1994; NAISMITH et al., 1994),

enquanto que nas lectinas de leguminosas galactose específicas como EcorL

(Erythrina coralodendron lectin), SBA (Soybean agglutinin) ou PNA (Peanut

agglutinin), O3 e O4 interagem (BANERJEE et al., 1996; SHAANAN et al.,

1991; DESSEN et al., 1995).

Próximo ao sítio de ligação a carboidratos, sub-sítios podem estar

presentes ancorando ligantes adicionais como agliconas hidrofóbicas ou

monossacarídeos específicos. As interações produzidas por estes sub-sítios

são muito fracas para se ligar a esses grupos independentemente, sendo que

somente a função de fixação de um resíduo de açúcar central ligado no sítio

de ligação a carboidratos se torna importante. Três diferentes sub-sítios já

foram descritos. A exata especificidade destes sub-sítios pode variar de

lectina para lectina (HAMELRYCK et al., 1998). O primeiro deles se liga a

grupos hidrofóbicos, conforme descrito por Kanellopoulos et al. (1996) para a

ConA; o segundo liga-se tanto a monossacarídeos como a grupos

hidrofóbicos [(Fuc em ECorL (MORENO et al., 1997)], apenas grupos

hidrofóbicos como nas lectinas da tribo Vicieae (LORIS et al., 1994;

KORNIFELD et al., 1981; BOURNE et al., 1994a) e grupo N-acetil de GalNac

como na lectina de Dolichos biflorus (IMBERTY et al., 1994); e o terceiro tipo

de sub-sítio, se liga a monossacarídeos, como Man em ConA (NAISMITH &

FIELD, 1996; LORIS et al., 1996), Fuc nas lectinas da tribo Vicieae (BOURNE

et al., 1994b; SOKOLOWSKI et al., 1997) e na lectina de Dolichos biflorus

(IMBERT et al., 1994; CASSET et al., 1996).

1.6.4.3 Sítio de ligação a íons metálicos das lectinas de leguminosas

Nas lectinas da sub-tribo Diocleinae, cada subunidade possui um sítio

de ligação aos íons metálicos Mn2+ e Ca2+. Na ConA, o sítio de ligação a

Mn2+ é denominado S1 e o sítio de ligação a Ca2+, denominado S2, sendo

ocupados por estes íons metálicos na proteína nativa (HARDMAN &

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AINSWORTH, 1972). O sítio de ligação ao Mn2+ é formado pelos resíduos de

aminoácidos GLU8, ASP10, ASP19, HIS24 e duas moléculas de água. Os

resíduos de aminoácidos VAL32 e SER34 estão envolvidos de forma indireta

na ligação do íon Mn2+, pois cada um desses resíduos estabelece uma ponte

de hidrogênio com uma das duas moléculas de água que estão interagindo

direto com o íon. O sítio de ligação ao Ca2+ é formado pelos resíduos de

aminoácidos ASP10, ASN14, ASP19, TYR12 e duas moléculas de água

(diferentes das moléculas de água do sítio de ligação ao Mn2+). Da mesma

forma que no sítio de ligação a Mn2+, existem dois resíduos de aminoácidos,

ASP208 e ARG228, que estão envolvidos indiretamente na ligação ao íon

Ca2+; cada um dos resíduos estabelece uma ponte de hidrogênio com uma

das duas moléculas de água do sítio de ligação ao Ca2+. Dois outros

resíduos, ASP10 e ASP19, são compartilhados pelos dois cátions

(HARDMAN & AINSWORTH, 1972; BECKER et al., 1975). Wang et al. (1975)

estudando a estrutura tridimensional da lectina de Canavalia ensiformis

(ConA), revelaram que os resíduos de aminoácidos de 1 a 42 estão

diretamente envolvidos com ligação aos metais Ca2+ e Mn2+, enquanto que os

resíduos 43 a 129 estão envolvidos nas interações das subunidades para

formarem dímeros e tetrâmeros.

Segundo Brewer et al. (1983), a ligação do Mn2+ ao sítio S1 da apo-

ConA (ConA desmetalizada) induz uma mudança conformacional na proteína

que resulta na formação do sítio S2. A ligação do Ca2+ ao sítio S2 induz a

formação do sítio de ligação a carboidratos.

1.6.4.4 Sítios hidrofóbicos das lectinas de leguminosas

Algumas lectinas de leguminosas possuem ainda sítios hidrofóbicos

que não interferem com os sítios de ligação a carboidratos (ROBERTS &

GOLDSTEIN, 1982, ROBERTS & GOLDSTEIN, 1983a,b). A função in vivo

desses sítios de ligação permanece obscura, mas o fato de estarem

presentes em lectinas de leguminosas de diferentes espécies sugere que

apresentam uma importante função biológica (HAMELRYCK et al., 1998). Um

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desses sítios apresenta alta afinidade (106 M-1) por adenina e certos

derivados da adenina (ROBERTS et al., 1986).

Este sítio já foi encontrado em lectinas tetraméricas e lectinas

diméricas de leguminosas. Estudos de ligação sugerem que um ou dois sítios

por molécula estão presentes em lectinas tetraméricas que se ligam a

adenina. Nas lectinas de leguminosas, estes sítios são de dois tipos, os que

ocorrem dentro da subunidade ou os que se estabelecem no centro do

tetrâmero. Na ConA, o sítio da subunidade liga-se ao hormônio vegetal ácido

indolacético do grupo das auxinas (EDELMAN & WANG, 1978) e o outro

sítio, existe como uma cavidade única por tetrâmero, que se liga a adenina e

também citocinas, que são hormônios derivados da adenina (SHARON & LIS,

1990).

1.6.4.5 Estrutura quaternária das lectinas de leguminosas

Uma das características mais marcantes das lectinas de leguminosas

é a sua variabilidade de estrutura quaternária; embora a estrutura de seus

monômeros seja altamente similar, eles podem se associar em números

diferentes de tetrâmeros e dímeros (HAMELRYCK et al., 1998). O tão

conhecido dímero canônico consiste de dois monômeros que se associam

através da formação de uma folha contínua com doze fitas voltados para

fora de duas folhas traseiras planas, ao longo do comprimento do dímero.

ConA, a primeira estrutura de lectina de leguminosa reportada (BECKER et

al., 1975), consiste de dois dímeros canônicos que se empacotam entre si

com as partes centrais de suas contínuas doze fitas de folha . As fitas dos

dois dímeros estão num ângulo de quase 90o, e a interface consiste

principalmente de interações eletrostáticas. O tetrâmero da ConA foi

cristalizado em diferentes grupos espaciais, demonstrando que se trata de

um tetrâmero totalmente flexível, onde pequenas rotações e/ou translações

das subunidades são possíveis (NAISMITH et al., 1994). Isto pode também

ser ilustrado através do “mutante natural” da ConA, a ConBr (lectina de

sementes de Canavalia brasiliensis), cuja estrutura quaternária difere muito

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pouco daquela da ConA, presumivelmente devido a uma mutação (ASP

58GLY 58) na interface dímero-dímero (SANZ-APARICIO et al., 1997).

1.7 Cristalização e estrutura tridimensional de proteínas

Se uma figura vale mais que milhares de palavras, uma estrutura

macromolecular não tem preço para um físico-bioquímico. Não existe melhor

caminho para entender a função das macromoléculas na célula que possuir

uma imagem a nível atômico de suas partes e compreender como estas

interagem com outras moléculas. Na busca pela determinação dessa imagem

ou estrutura da macromolécula em resolução atômica, embora um grande

número de novos microscópios de alta resolução tenham sido desenvolvidos,

o único método que resulta em estruturas tridimensionais confiáveis das

macromoléculas biológicas a níveis atômicos de resolução é a difração de

raios X de cristais simples (VAN HOLDE et al., 1998; DRENTH, 1994;

BUNDELL & JOHNSON, 1976).

A cristalografia, ou estudo da geometria dos cristais foi um dos tópicos

que mais interesse despertou nos primórdios da investigação das

propriedades macroscópicas dos sólidos. Esta especialidade teve sua grande

impulsão no início do século passado, com a descoberta dos raios-X. No

entanto, ainda hoje os cristalógrafos são numerosos e os problemas com que

se defrontam não perderam a atualidade, sobretudo no que se relaciona as

estruturas cristalinas extremamente complexas formadas por compostos

orgânicos, sistemas biológicos ou pelos novos materiais artificialmente

sintetizados (CULLITY, 1998).

A cristalografia de proteínas objetiva o estudo estrutural tridimensional

das proteínas através de experimentos de difração de raios-X de um cristal

protéico, tornando possível a determinação espacial da posição atômica de

todos os átomos que constituem a proteína. Esta técnica é realizada em três

etapas distintas: 1) Crescimento do cristal, 2) Coleta do padrão de difração de

raios-X do cristal, e 3) Construção e refinamento de um modelo estrutural que

se ajuste ao padrão de difração de raios-X obtido para a macromolécula

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estudada. Nenhuma destas etapas é mais importante que as outras, e todas

as três etapas devem ser completadas para determinação da estrutura final

da macromolécula.

1.7.1 Breve histórico e contexto atual da cristalização de proteínas

A cristalização de proteínas foi desenvolvida na segunda metade do

século XIX por três razões, (a) fornecia meio para purificação de proteínas

específicas numa mistura impura num tempo em que poucos outros meios

existiam, (b) servia como demonstração de que uma proteína tinha sido

purificada, e (c) era uma interessante curiosidade de laboratório. No início, a

cristalização de vários tipos de hemoglobina não era nada além disso

(HANSEN et al., 2002), apesar da tentativa de relacionar a forma do cristal da

hemoglobina com sua evolução já ter sido feita por volta do ano 1900

(REICHERT & BROWN, 1909). As duas primeiras razões eram dominantes

no final do século XIX e bioquímicos como Osborne usaram-nas

extensivamente no isolamento e caracterização de proteínas, particularmente

das proteínas de sementes. O significado dessas primeiras pesquisas para

nós hoje é que quaisquer proteínas específicas podem ser purificadas de

uma preparação bastante impura, mas o mais importante é que estes

pioneiros foram cruciais para o estabelecimento de muitos dos fundamentos

do crescimento de cristais de proteínas que se encontram hoje em uso

(McPHERSON, 2004).

Entre 1900 e 1940 a ênfase estava no estudo das enzimas, e

novamente, a cristalização, agora nas mãos de Summer, Northrup, Kunitz,

Herriott e seus colegas (SUMNER, 1926; SUMNER & DOUNCE, 1937;

SUMNER & SOMERS, 1943; NORTHROP et al., 1948) provou ser uma

importante ferramenta no estabelecimento das propriedades e natureza das

macromoléculas catalíticas. A partir dos anos 30, uma nova aplicação para a

cristalização de proteínas surgiu como resultado dos estudos de Bernal e

Crowfort (1934), Perutz (1964), e outros, usando análise por difração de

raios-X. Atualmente, ainda que a cristalização continue sendo um

procedimento admirado e respeitado por enzimologistas e químicos de

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proteínas, a cristalografia de raios-X e a determinação da estrutura de

macromoléculas e seus complexos permanecem como o principal objetivo

daqueles envolvidos em cristalização.

Uma mudança fundamental na investigação e aplicação da

cristalização de proteínas ocorreu na década de 80. Isto ocorreu devido ao

desenvolvimento da tecnologia do DNA recombinante que permitiu, pela

primeira vez aos pesquisadores, preparar grandes quantidades de proteínas

raras e indefiníveis. Hoje, a maior parte das proteínas enviadas para difração

em raios-X é de fontes recombinantes. Como conseqüência desse fato,

trabalha-se agora com amostras de proteínas mais homogêneas e com

grande reprodutibilidade, o que tem acelerado o progresso da cristalografia

de raios-X, expandindo suas aplicações e atração por bioquímicos e

biologistas moleculares (McPHERSON, 1982, 1994).

No presente, e num futuro previsível, a única técnica capaz de produzir

imagens a nível atômico das macromoléculas biológicas é a análise por

difração de raios-X de cristais simples. E, como o seu próprio nome sugere, a

aplicação da cristalografia de raios-X é absolutamente dependente dos

cristais de macromoléculas, não somente de cristais simples, mas de cristais

de suficiente tamanho e qualidade que permitam uma exata coleta de dados.

A qualidade da imagem da estrutura final é diretamente determinada pela

perfeição, tamanho e propriedades físicas da espécie cristalina, e,

consequentemente, o cristal passa a ser a o elemento-chave do processo

como um todo e o determinante definitivo de seu sucesso (McPHERSON,

2004).

O objetivo comum dos centros e consórcios de genômica estrutural é

de decifrar o mais rápido possível as estruturas tridimensionais de uma

gigantesca variedade de proteínas recombinantes derivadas de seqüências

genômicas conhecidas. Embora a cristalografia de raios-X continue sendo o

principal método necessário para se obter informações a nível de resolução

atômica de macromoléculas, tendo contribuído com cerca de 20000 das

26059 estruturas resolvidas e depositadas no Protein Data Bank até junho de

2004, seu passo limitante permanece sendo a obtenção de cristais que sejam

úteis na determinação de estruturas. Existem muitos métodos que descrevem

como cristalizar proteínas de forma satisfatória para difração de raios-X

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(DUCRUIX & GIEGÉ, 1999; McPHERSON, 1982, 1999; BERGFORS, 1999)

mas não existe até então nenhuma abordagem completa para cristalização

de proteínas. Métodos de elevada velocidade de processamento foram

desenvolvidos nos últimos anos para clonar, expressar, purificar, cristalizar e

determinar a estrutura tridimensional de uma proteína produzida a partir de

um gene usando dispositivos automatizados, kits comercializados e

protocolos consolidados. Contudo, o número médio de estruturas de

proteínas determinadas tem sido baixo quando comparado com o número

total de proteínas purificadas (PUSEY et al., 2005).

Quando se cristaliza proteínas para análise por difração de raios-X,

necessita-se, usualmente, de macromoléculas homogêneas, altamente

puras, e o objetivo é de produzir cristais grandes e perfeitos. É importante

enfatizar que embora o número de cristais necessários seja pouco, quase

sempre a quantidade de proteína disponível é muito limitada. O que traz

graves limitações nos procedimentos e estratégias que devem ser utilizados

para a obtenção desses cristais. Embora novas metodologias, como radiação

síncrotron (HELLIWELL, 1992) e criocristalografia (GARMAN & SCHNEIDER,

1997), tenham conduzido para baixo o tamanho necessário dos cristais, não

aliviaram a necessidade de perfeição do cristal. É também bom lembrar que a

análise por raios-X é um evento singular confinado ao laboratório de pesquisa

e o produto final é o conhecimento científico básico. Os cristais, por si

mesmos, não possuem valor medicinal ou farmacêutico, mas funcionam

como soluções intermediárias no processo cristalográfico, pois fornecem

padrões de difração de raios-X que servem como dados brutos, que ao final

permitirão a visualização direta das macromoléculas ou de seus complexos

(McPHERSON, 2004).

1.7.2 O que é um cristal ?

Cristais são sólidos que, apresentam uma exata repetição de motivos

simétricos. Num cristal as moléculas estão arranjadas de maneira ordenada

ou seja, de forma regular, simétrica e repetitiva. Um cristal pode, no entanto,

ser especificamente quebrado a fim de se obter fragmentos que são versões

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menores do cristal original. Isto pode ser feito indefinidamente, até que se

chegue à unidade básica que descreve um cristal, a célula unitária. Desse

modo, um cristal pode ter sido gerado de uma molécula através da repetição

indefinida de alguns ajustes translacionais e rotacionais. Isto é de grande

utilidade; para determinar a estrutura de um cristal, precisa-se somente

determinar a estrutura de pelo menos um componente simétrico da célula

unitária. Assim, para descrever um cristal, precisa-se pelo menos descrever a

unidade simétrica e a simetria dada pelo cristal (VAN HOLDE et al., 1998).

Segundo Ducruix e Giegé (1999), cristais são geralmente regulares com

formas e faces definidas (Figura 1), o que indica que possuem alta pureza e

perfeição em relação às moléculas que o compõe.

Cristais de proteínas são frágeis devido às fracas interações (pontes

de hidrogênio e interações hidrofóbicas) que mantém sua rede cristalina e ao

elevado conteúdo de solvente presente em seu interior (20-75%); como

conseqüência disso, são mantidos em repouso num ambiente

hermeticamente fechado e saturado com o solvente, a fim de que se possa

evitar a desidratação do cristal, que poderia acarretar o rompimento das

interações fracas da rede cristalina, resultando na desintegração do cristal. O

elevado conteúdo de solvente de alguns cristais permite a difusão de

pequenas moléculas, o que pode ser usado em estudos de cristalização de

proteínas complexadas com seus ligantes, através do soaking de cristais.

A propriedade de desviar a luz polarizada de alguns cristais de

proteínas os diferencia dos cristais de sal. Isto é possível porque cristais de

proteínas são formados por L-aminoácidos. Este é o motivo de só existirem

65 grupos espaciais em cristais de proteínas, dos 230 possíveis (BLUNDELL

& JOHNSON, 1976).

1.7.3 Cristalização de proteínas

Uma das etapas mais críticas na resolução da estrutura de uma

proteína é a sua cristalização. Ao contrário do que qualquer um poderia

esperar quando se considera a complexidade do processo de cristalização,

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na prática a montagem do “screening” de cristalização de proteínas é

relativamente simples. Uma solução fracamente tamponada de proteína é

combinada em proporção 1:1 com um “cocktail” de cristalização, colocada em

um local mais ou menos fechado, e deixada em repouso até se aproximar de

um ponto de equilíbrio cinético. Neste contexto, as principais variáveis são a

solução de proteína, as condições químicas do “screening”, o método de

cristalização e a maneira usada para avaliar os resultados. Somente estas

fontes de variação já são suficientes para introduzir no experimento muita

incerteza e dificuldades. Isto porque os experimentos de cristalização não

são tão triviais quanto eles aparentam, o “dever de casa” em cristalização

envolve um pouco mais que pipetar soluções e fechar placas (RUPP &

WANG, 2004). Existe, então, uma grande quantidade de variáveis que devem

ser controladas para que os experimentos de cristalização tornem-se

possíveis, dentre elas, podem ser citadas: pureza das moléculas, solubilidade

e supersaturação, temperatura, pH, sais, etc (BERGFORS, 1999).

Do ponto de vista fenomenológico, cristalização é uma separação de

fase em sistema termodinamicamente metastável, supersaturado, sob

parâmetros cinéticos controlados, tendo como resultado favorável à formação

de um cristal. O cumprimento desse critério termodinâmico somente implica

que a cristalização é possível, ou seja, que é necessário mas não é condição

suficiente para a cristalização (RUPP & WANG, 2004).

A cristalização é um processo de ordenação, no qual os átomos e

moléculas assumem posições regulares no estado sólido. Em geral, o

processo de cristalização, em seu estágio inicial envolve o fenômeno de

nucleação, onde um núcleo de crescimento é formado, através da deposição

de faces cristalinas (Figura 2). Este processo pode ser considerado como um

equilíbrio dinâmico entre as partículas no estado líquido e no estado sólido.

Desta maneira o cristal cresce quando o equilíbrio é deslocado no sentido da

solidificação (STOUT & JENSEN, 1989).

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Figura 1 - Cristais de proteínas e suas diferentes formas. (A) -lactamase,

(B) miosina V, (C) gp 120 de HIV e (D) lisozima.

Para formar um cristal, macromoléculas têm que sair de solução ou

precipitar, de uma maneira ordenada. Uma molécula sai de solução quando

sua solubilidade ultrapassa a solubilidade intrínseca So (Figura 2), que

depende de alguns fatores externos como temperatura, pressão e solvente.

Assim, como estratégia para cristalização pode-se aumentar a concentração

da proteína, por remoção do solvente; diminuir a temperatura para diminuir a

solubilidade intrínseca ou modificar a força iônica do solvente. Para haver

crescimento de cristais é necessário levar a concentração do material em

solução a uma condição de supersaturação. O passo inicial é a nucleação de

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uma rede cristalina mínima, uma etapa de baixa probabilidade de ocorrer

num meio supersaturado. O cristal cresce por adição de moléculas a

superfície da semente (núcleo), e ocorre em concentrações próximas a

solubilidade intrínseca da molécula (VAN HOLDE et al., 1998).

Figura 2 - Mecanismo da cristalização de macromoléculas.

1.7.3.1 Fatores que afetam a cristalização

Existem muitos fatores que afetam a cristalização de macromoléculas

(McPHERSON, 1982; McPHERSON, 1999). A Tabela 2 resume alguns deles.

Estes fatores parecem, no geral, afetar a possibilidade de nucleação, grau de

crescimento do cristal e o tamanho e a qualidade dos cristais protéicos

formados (McPHERSON, 2004).

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Assim, para um planejamento racional das condições de cristalização

é necessário o controle dos parâmetros físicos, químicos e bioquímicos. Num

experimento de cristalização de proteínas é importante controlar fatores como

pureza, solubilidade e supersaturação, temperatura, pH e força iônica, para

evitar o crescimento de núcleos pequenos e indesejáveis (DRENTH, 1994).

Tabela 2 - Fatores que afetam a cristalização de proteínas.

Físicos Químicos Bioquímicos

Temperatura

pH

Purezas ou impurezas das

macromoléculas

Superfície Tipo de precipitante Ligantes, inibidores e efetores

Metodologia Concentração do precipitante Estado de agregação das

macromoléculas

Gravidade Força iônica Modificações pós-translacionais

Pressão Íons específicos Origem da macromolécula

Tempo Grau de supersaturação Proteólise/hidrólise

Vibração/som/pertubações

mecânicas

Ambiente oxidante ou redutor Modificações químicas

Campos magnéticos e eletrostáticos Concentração de macromoléculas

Modificações genéticas

Propriedades dielétricas do meio Íons metálicos Simetria inerente da macromolécula

Viscosidade do meio Crosslinkers e poli-íons Estabilidade da macromolécula

Grau de equilíbrio Detergentes, surfactantes e

amfólitos

Ponto isoelétrico

Nucleantes homogêneos ou

heterogêneos

Impurezas não macromoleculares

Histórico da amostra

Fonte: McPHERSON (2004) Introduction to Protein Crystallization, Methods 34, 254-265.

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1.7.3.1.1 Pureza

Extrações protéicas possuem vários reagentes e aditivos como

lipídios, ligantes ou cofatores que permanecem ao longo do processo de

purificação e só são descobertos quando a estrutura é determinada (LUECKE

et al., 1999; LAMERS et al., 2000; KLAHOLZ & MORAS, 2000). Estes

contaminantes podem influenciar de forma crucial o processo de cristalização

(RUPP & WANG, 2004). Segundo Ducruix & Giegé (1999), proteínas

desnaturadas ou amostras com micro-heterogeneidades afetam severamente

o processo de nucleação e crescimento de cristais. Assim, a purificação da

macromolécula que se deseja cristalizar é um passo limitante para a

formação de cristais. Pureza, entretanto, não é uma condição primordial para

a cristalização, visto que, cristais de proteínas podem ser obtidos de misturas

de proteína com contaminantes. Mas, tais cristais, são na maioria das vezes

bem pequenos, ou então, crescem como massas policristalinas, que não são

adequadas para estudos cristalográficos por difração de raios X. Para o uso

de técnicas de difração de raios X é necessário o uso de cristais com

próximas a 0,2mm, contudo com o aparecimento de fontes de raios X mais

intensas, tais como síncrotrons, tem sido possível a resolução de estruturas

de macromoléculas biológicas cujos cristais apresentavam dimensões

menores que 0,1mm. Como regra geral, pode-se dizer que, a baixa pureza da

macromolécula biológica é a causa bioquímica mais comum da falta de

sucesso na cristalização da mesma. Investir na completa purificação de uma

proteína é uma prioridade, cujo retorno é garantido. Quando todos os

esforços para cristalizar uma proteína falharem, o melhor recurso para

obtenção de sucesso é a sua completa purificação (McPHERSON, 2004).

1.7.3.1.2 Solubilidade

A solubilidade de um composto químico em um solvente, a uma dada

temperatura, é definida como a quantidade de composto dissolvida numa

solução em equilíbrio com um excesso de composto não dissolvido. Para

facilitar o entendimento da solubilidade de uma substância, considere-se o

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exemplo do sal sulfato de amônio a 25 oC, que se dissolve até que sua

concentração atinja 4,1 moles por litro de água, o excesso permanece não

dissolvido. Mais sal pode ser dissolvido quando se eleva a temperatura, e

quando a temperatura é trazida de volta a 25 oC, a solução atinge à

supersaturação. O excesso de sal cristalizará, até que a concentração do sal

atinja seu valor de solubilidade a 25 oC (4,1 moles por litro de água).

No caso das proteínas, a solubilidade também é definida pelas

características do solvente, usualmente a água. Como a água é o solvente

universal de diversas substâncias químicas usadas na dissolução da solução

protéica até um dado pH (tampão), força iônica (sais), etc; estes compostos

podem afetar diretamente ou indiretamente sua solubilidade. Isto se dá por

interação direta com diferentes grupos funcionais ou de forma indireta,

através da alteração das propriedades físico-químicas do solvente,

modificando a carga líquida da proteína e consequentemente, resultando em

mudanças das forças que estabilizam a estrutura tridimensional das proteínas

(interações dipolo-dipolo, pontes de hidrogênio, interações de van der Waals

e eletrostáticas). A estabilidade das macromoléculas biológicas em solução

baseia-se na competição das interações solvente-soluto com interações

intramoleculares, as quais são necessárias para manter a estrutura da

macromolécula. O balanço das interações que controlam a solubilidade e/ou

a conformação de uma macromolécula podem ser modificadas por

temperatura, pH, sais, competidores de pontes de hidrogênio, aditivos

hidrofóbicos e solventes orgânicos (VON HIPPEL & SCHLEICH, 1969).

Conhecer a solubilidade da proteína que se deseja trabalhar é pré-

requisito para o melhor controle das condições de cristalização. Embora as

bases teóricas da solubilidade das macromoléculas biológicas ainda sejam

controversas, especialmente no que tange aos efeitos dos sais, os dados

sobre a solubilidade quase sempre se originam de determinações

experimentais. Nos últimos anos, métodos quantitativos permitiram tais

determinações, usando pequenas quantidades de proteína (MIKOL & GIEGÉ,

1989; RIES-KAUTT & DUCRUIX, 1989). O principal resultado destes

métodos foi a demonstração experimental da complexidade do

comportamento da solubilidade, enfatizando a importância da determinação

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de diagramas de fase para o planejamento racional de experimentos de

crescimento de cristais de macromoléculas biológicas.

1.7.3.1.3 Supersaturação

Para se cristalizar uma macromolécula biológica em um dado solvente,

é necessário levar a solução a um estado de supersaturação.

Supersaturação é a aadição de mais quantidade de uma dada substância do

que pode ser dissolvida. Quanto mais supersaturada a solução protéica maior

a probabilidade que um núcleo crítico se forme e menores são os núcleos

necessários para induzir a formação do cristal. A força necessária para

conduzir a nucleação consiste em elevar a concentração da macromolécula

bem acima de sua solubilidade intrínseca. Este é um estado

termodinamicamente instável. A supersaturação pode ser atingida através da

evaporação lenta do solvente ou pela variação de alguns parâmetros como

temperatura, pH e força iônica. Em cristalografia de proteínas este estado se

consegue pelas técnicas de difusão de vapor ou por evaporação lenta (VAN

HOLDE et al., 1998).

Uma macromolécula biológica segue as mesmas leis da

termodinâmica, como qualquer outro tipo de molécula (inorgânica ou

orgânica) no que se refere à supersaturação, nucleação, e crescimento de

cristais (BOISTELLE & ASTIER, 1988). Todavia, macromoléculas biológicas

apresentam peculiaridades, porque as interações necessárias para solubilizá-

las num solvente são similares, e podem ser competitivas com as interações

intermoleculares que são responsáveis pela estrutura tridimensional da

macromolécula.

1.7.3.1.4 Diagrama de fases de uma proteína

Como a solubilidade de uma macromolécula biológica depende de

diversos parâmetros, podemos avaliar a importância de um dado parâmetro a

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partir de uma representação bidimensional. Assim, a solubilidade de uma

proteína pode ser plotada em um gráfico chamado diagrama de fases onde a

concentração da proteína é grafada num eixo e no outro eixo, é indicado um

parâmetro a sofrer variação, normalmente a concentração de um precipitante.

Um diagrama deste tipo está representado na Figura 3, e compreende as

seguintes regiões: (1) Curva S, que separa as zonas supersaturadas e

hiposaturadas. Em um experimento onde as concentrações do agente de

cristalização e da macromolécula biológica correspondem às condições da

curva S, a solução saturada da macromolécula está em equilíbrio com a

macromolécula cristalizada. Isto corresponde à situação final do processo de

crescimento do cristal a partir de uma solução supersaturada, ou da

dissolução de cristais em uma solução hiposaturada. (2) Região

hiposaturada, situada abaixo do limite de solubilidade, nesta a solução está

hiposaturada e a macromolécula biológica nunca irá cristalizar. (3) Região

supersaturada, situada acima do limite de solubilidade, a concentração da

macromolécula biológica é maior que a concentração no equilíbrio para uma

dada concentração de precipitante. Dependendo da cinética para se atingir o

equilíbrio e do nível de supersaturação, esta região pode ser dividida em três

áreas: Área 1 ou zona metaestável, onde uma solução supersaturada pode

não nuclear, ou seja, pode não gerar cristais, por um longo período de tempo,

a menos que a solução seja mecanicamente pertubada ou uma semente (um

pequeno cristal) seja introduzida, processo conhecido como semeadura

(seeding); Área 2 ou zona de nucleação, onde o excesso da macromolécula

biológica se separa sob a forma cristalina e Área 3 ou zona de precipitação,

onde o excesso de macromolécula imediatamente se separa da solução em

um estado amorfo.

Na prática, a zona metastável (área 1) corresponde à zona ideal para

o crescimento dos cristais sem nucleação de novos cristais; a zona de

nucleação (área 2) é onde os cristais nucleiam e crescem, e zona de

precipitação (área 3) é a zona onde as proteínas não nucleiam e precipitam

saindo da solução.

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Figura 3 – Diagrama de fases da solubilidade de uma proteína.

1.7.3.1.5 Temperatura.

A temperatura altera a solubilidade das macromoléculas biológicas em

um determinado solvente, baixas temperaturas favorecem o processo de

cristalização. Ao contrário, um aumento da temperatura aumenta a cinética

entre as macromoléculas, desfavorecendo a sua ordenação para a formação

de cristais. Na formação de bons cristais, que sirvam para a coleta de dados

de difração de raios-X, deve-se ter no meio o mínimo de perturbação possível

favorecendo um melhor empacotamento das moléculas e baixa mosaicidade.

Dessa forma, a temperatura é um fator que deve ser primordialmente

controlado nos experimentos de cristalização (DRENTH, 1994).

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1.7.3.1.6 pH

O pH é um fator químico fundamental para o crescimento de cristais

de proteínas. Uma variação do pH modifica a carga líquida da proteína e

desta forma sua natureza do polieletrólito. Além disso, se pontes salinas

estão envolvidas na estrutura tridimensional, estas podem se quebrar e a

macromolécula pode modificar sua conformação, dificultando o processo de

ordenação das moléculas para formação de cristais (DRENTH, 1994;

McPHERSON, 2004).

Estudando modelos preditivos para a cristalização de proteínas com

base nos tipos e concentrações de reagentes de cristalização e valores de

pH e pI de proteínas já cristalizadas e resolvidas, Rupp e Wang (2004)

observaram que o pH 6,5 é o que apresenta melhor propensão significativa à

cristalização de proteínas e que os pH 4,5 e 8,5 são aqueles que menos

apresentam propensão à cristalização de proteínas.

1.7.3.1.7 Precipitantes e força iônica

A maioria dos kits comerciais de cristalização de proteínas possui

reagentes precipitantes como sulfato de amônio e polietilenoglicol. Estes

precipitantes objetivam criar uma condição de supersaturação e, atualmente

são classificados em quatro grandes categorias: saís, solventes orgânicos,

polímeros e solventes orgânicos não-voláteis (McPHERSON, 2004).

A solubilidade de macromoléculas em soluções salinas concentradas

é complicada, mas pode ser vista como simplesmente uma competição entre

os íons do sal, principalmente os ânions, e as macromoléculas pela ligação

as moléculas de água, que é essencial para a manutenção da solubilidade

(COHN & EDSALL, 1943; COHN & FERRY, 1943). Em suficientemente altas

concentrações de sal as macromoléculas ficam incomodamente privadas de

solvente, de modo que buscam fazer associações entre si para satisfazer

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suas necessidades eletrostáticas. Neste ambiente, tanto cristais ordenados,

como precipitados amorfos desordenados podem ser formados. Alguns íons

salinos, principalmente cátions, são necessários para garantir a solubilidade

das macromoléculas. Em condições de força iônica muito baixa, a

disponibilidade de cátions é insuficiente para manter a solubilidade

macromoléculas, e nestas condições, pode também, haver formação de

cristais (McPHERSON, 2004).

A dependência de solubilidade da proteína pela concentração de saís

no meio foi estudada em termos dos fenômenos de “salting-in” e “salting-out”

foi estudada pela primeira vez por Green (1932). O aumento da solubilidade

de uma macromolécula biológica a baixa concentração salina (< 0,5M) é

chamada “salting-in”. Este fenômeno é explicado pelas interações

eletrostáticas não específicas entre a macromolécula carregada e as

espécies iônicas do sal. Segundo a teoria de Debye-Hückel para soluções

iônicas, um aumento na força iônica reduz a atividade dos íons em solução e

aumenta a solubilidade do composto iônico. Uma forma alternativa de se

tratar este fenômeno é considerar o “salting-in” como o resultado da

competição entre grupos carregados na superfície da macromolécula e íons

na solução. Na ausência de íons de solvente a macromolécula precipita

devido à atração de Coulomb entre cargas opostas em diferentes partes da

macromolécula. Se os íons são adicionados à solução eles blindam os

grupos carregados na macromolécula e aumentam a sua solubilidade. Outra

forma de precipitar uma macromolécula é feita pela adição de sal (“salting-

out”), que serve para imobilizar as moléculas de água, desta forma

aumentando a concentração efetiva da proteína, ou seja, diminuindo a sua

solubilidade. No fenômeno de “salting-out” a solubilidade da macromolécula

biológica se deve principalmente aos efeitos hidrofóbicos (McPHERSON,

2004).

Solventes orgânicos reduzem a constante dielétrica do meio,

consequentemente a blindagem dos campos elétricos que mediam as

interações macromoleculares em solução. À medida que a concentração do

solvente orgânico é aumentada, a atração entre as macromoléculas aumenta

e o solvente torna-se menos efetivo, deixando o estado sólido favorecido.

(ENGLARD & SEIFTER, 1990).

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Alguns polímeros, como os polietilenoglícois produzem efeitos de

exclusão por volume que induzem a separação de macromoléculas em

solução. Diferentemente das proteínas os precipitantes poliméricos não

possuem conformação consistente, estorcendo-se e retorcendo-se

randomicamente em solução, ocupando mais espaço do que deviam. Isto

resulta em menos espaço de solvente disponível para as macromoléculas

que então segregam-se, agregam-se e por fim, formam cristais (INGHAM,

1990; McPHERSON, 1976). Uma das maiores vantagens do polietilenoglicol

(PEG) sobre outros precipitantes é que muitas proteínas cristalizam numa

razoavelmente estreita faixa de concentrações (4-18%) de PEG

(McPHERSON, 2004).

Estudando modelos preditivos para a cristalização de proteínas com

base nos tipos e concentrações de reagentes de cristalização e valores de

pH e pI de proteínas já cristalizadas e resolvidas, Rupp e Wang (2004)

confirmaram a evidência empírica de que o PEG, como composto com pH

próximo ao fisiológico é o reagente com maior propensão significativa à

cristalização de proteínas.

1.7.4 Soaking e crioproteção de cristais de proteínas

Quando se necessita determinar a estrutura de uma proteína

complexada a um ligante, uma das alternativas disponíveis é o “soaking”. O

“soaking” de cristais consiste em banhar o cristal já formado numa solução

contendo um excesso do ligante; podendo ser feito ao mesmo tempo do

tratamento de crioproteção, antes da coleta de dados. Geralmente, o ligante

é diluído na própria condição de cristalização. O “soaking” por 10-30 minutos

é suficiente para popular à proteína no cristal se o sítio de ligação estiver

accessível na rede cristalina. Se as moléculas de proteínas estão arranjadas

de forma que dificultem a ligação do ligante ao sítio, ou se os cristais não

toleram “soaking” por muito tempo ou ainda se ocorrer de dissolverem-se,

então a co-cristalização com o ligante deve ser tentada (McPHERSON,

2004).

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A maior parte dos experimentos de coleta de dados de cristais é feito a

baixa temperatura (100 K) para minimizar a degradação dos cristais pelos

radicais livres gerados pela exposição aos raios-X. Isto é especialmente

importante quando se usa fontes de raios-X síncrotron. Para evitar que

cristais quebrem ao serem congelados, é necessário tratar os cristais de

proteína com um crioprotetor antes de serem submetidos ao congelamento.

Na presença do crioprotetor, a proteína e sua fina camada de solvente

circundante formaram um vidro amorfo na qual o cristal sofrerá o mínimo de

danos e manterá suas propriedades de difração (McPHERSON, 2004).

Se na condição de cristalização tiver boas concentrações de

polietilenoglicol (PEG), muito pouco ou nenhuma crioproteção será

necessária. Assim, a escolha pelo crioprotetor dependerá da composição da

solução da condição de cristalização. Se na condição de cristalização da

proteína já tiver um crioprotetor, é quase sempre ideal que se aumente sua

concentração até o valor ideal. Isto é particularmente conveniente para

soluções contendo polietilenoglicol. Entretanto, polietilenoglicois possuem

baixa solubilidade em soluções contendo altas concentrações de saís; nestes

casos, outros crioprotetores como glicerol, glicose ou sacarose são mais

suaves para a maioria das proteínas, apresentam solubilidade alta numa

grande variedade de soluções e são uma excelente escolha. Na maioria dos

casos, recomenda-se dissolver os crioprotetores numa concentração de 30 %

v/v ou w/v, somente para os PEGs 400-20000 é que a concentração pode

variar na faixa de 25-40 v/v ou w/v. Qualquer que seja a escolha de

crioproteção, é importante observar se o cristal não quebra, desintegra ou

racha durante o “crio-soaking” (McPHERSON, 2004).

1.7.5 Técnicas de cristalização de proteínas

Várias técnicas já foram desenvolvidas para facilitar o processo de

cristalização de proteínas. As duas técnicas mais amplamente utilizadas são

à difusão de vapor e a micro-diálise, ambas projetadas para variar o ambiente

da solução de forma a reduzir a solubilidade da molécula de maneira

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controlada. Em ambos os casos, a macromolécula é inicialmente dissolvida

em uma solução tamponada, usualmente contendo uma mistura de saís e

solventes. Esta solução da amostra é fisicamente separada de um grande

volume de solvente depositado num local denominado reservatório. A

amostra e a solução do reservatório são colocadas em um sistema fechado

(Figura 4), e o solvente ou saís são removidos da solução da amostra

visando deixar as macromoléculas menos solúveis. Na técnica da micro-

diálise, o solvente é transferido por equilíbrio entre as pressões osmóticas da

amostra e do reservatório através de uma membrana semipermeável (VAN

HOLDE et al., 1998).

1.7.5.1 Cristalização por difusão de vapor

Nos métodos de cristalização baseados na difusão por vapor, os

solventes são transferidos de acordo com a pressão de vapor da amostra

versus a pressão de vapor do solvente no reservatório. A técnica foi utilizada

pela primeira vez na cristalização da tRNA (HAMPEL et al., 1968). Neste

sistema, água é retirada da amostra, que sistematicamente diminue seu

volume até que a pressão de vapor da água na amostra entre em equilíbrio

com a pressão de vapor da água presente na solução do reservatório. As

duas mais comuns técnicas de difusão por vapor são os métodos da gota

suspensa (“hanging drop”), onde a gota literalmente fica pendurada sobre o

reservatório, e o da gota sentada (“sitting drop”), onde a gota fica sentada

num poço circundado pela solução do reservatório. Um outro método que usa

a técnica de difusão por vapor é a gota sanduíche (“sandwich drop”). Destes,

o método da gota suspensa é um dos mais usuais e consiste no preparo de

gotas em lamínulas de vidro, com volume variando de 1 a 10 L de solução

da amostra acrescidas de igual quantidade da solução do reservatório (VAN

HOLDE et al., 1998; RUPP & WANG, 2004).

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Figura 4 – Técnicas da gota suspensa e gota sentada do método de difusão

por vapor. A baixa pressão de vapor da solução do reservatório R

retira água da solução da amostra S, para reduzir o volume da

amostra Vs ao seu volume inicial Vo. Consequentemente, a

concentração da solução da amostra [S], aumenta para um valor

maior do que o da sua solubilidade intrínseca So.

1.7.6 O método da matriz esparsa

Existem hoje no mercado, disponíveis para comercialização por diversas

empresas, uma grande variedade de kits de “screening” de cristalização. Por

exemplo, a Hampton Research comercializa os “crystal screens” I e II

baseados no método da matriz esparsa de Jancarik e Kim (1991); a Decode

Biostructures comercializa os ““screenings Wizard I e II” baseados numa

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matriz esparsa randômica e a Jena Bioscience comercializa os “screenings”

JB Screen 1-10 e o JB Screen Mixed com 240 condições (HUI & EDWARDS,

2003). Estes kits podem ser usados em conjunto com as diversas técnicas de

cristalização atualmente existentes, tornando-os a primeira e melhor escolha,

para quem deseja tentar iniciar a cristalização de uma nova proteína. Com

esses kits, nada mais é requerido além de combinar uma série de potenciais

soluções de cristalização com uma proteína de interesse com o auxílio de

uma micropipeta, selar o sistema e esperar pelo sorriso do sucesso. Às vezes

isso ocorre, às vezes não, e é neste momento que o cristalografo de

proteínas deve começar a usar própria inteligência para diagnosticar o

problema e inventar o remédio (McPHERSON, 2004).

O desenvolvimento desses práticos kits, onde um número limitado de

condições de cristalização é tentado usando-se pequenas quantidades de

proteínas, só foi possível à medida que aumentavam o número de proteínas

cristalizadas com sucesso, uma vez que as condições de cristalização se

assemelhavam e o número de precipitantes, tampões e aditivos mostrava-se

limitado. A partir da observação dos resultados preliminares destes

experimentos, tanto nas tentativas com sucesso ou não na primeira vez, foi

possível determinar quais tampões, aditivos e agentes precipitantes seriam

os mais favoráveis e a partir daí procederam-se sucessivos melhoramentos

até se conseguir cristais adequados (CARTER & CARTER, 1979).

Com base nessas observações, e considerando como apenas três os

principais fatores que afetam a cristalização (pH e materiais tampões, aditivos

e agentes precipitantes) a Dra. Jaru Jancarick, propôs o método da matriz

esparsa (JANCARICK & KIM, 1991), onde várias condições diferentes são

tentadas ao mesmo tempo para se cristalizar proteínas. Assim foram

escolhidas apenas as principais variáveis que afetam o processo de

cristalização, já que considerar todas as possibilidades para cristalização

seria inviável dado ao elevado número de variáveis físicas, químicas e

bioquímicas (Tabela 2) e a sua natureza combinatória.

No que diz respeito a variável pH e tampões, foram escolhidas cinco

diferentes condições de pH 4,6; 5,6; 6,5; 7,5 e 8,5; e para cada valor de pH

foi escolhido o tampão químico que havia mostrado ser o mais adequado

para a cristalização de proteínas. A escolha de aditivos também foi baseada

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na experiência de muitos laboratórios. Para os agentes precipitantes foram

escolhidos quatro tipos: 2-propanol, como agente volátil, 2-metil-2,4-

pentanediol (MPD) e polietileno glicol (PEG) como agentes não-voláteis, além

de vários agentes de salting-out (JANCARICK & KIM, 1991). Os principais

tampões e suas faixas de pH, bem como os precipitantes utilizados na

cristalização de proteínas encontram-se nas Tabelas 3 e 4, respectivamente.

Por tentativa e erro a matriz multidimensional de Jancarick e Kim

(1991) foi simplificada de uma proposta original de 58 condições de

cristalização para 50 condições, a forma como é comercializada atualmente

pela Hampton Research.

Tabela 3 - Alguns tampões usados na cristalização de proteínas.

Tampão

Faixa de tamponamento

Citrato de Sódio

3,0 – 6,2

Acetato de sódio

3,7 - 5,6

MES

5,5 - 6,7

Cacodilato de Sódio

~ 6,5

Imidazol

~ 6,5

HEPES

6,8 – 8,2 Tris

7,0 - 9,0

Fonte: McPHERSON (2004) Introduction to Protein Crystallization, Methods 34, 254-265.

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Tabela 4 – Precipitantes usados na cristalização de proteínas.

Saís

Polímeros

Solventes

orgânicos

Voláteis

Solventes

orgânicos

não voláteis

Fosfato ou Sulfato de

Amônio

Polietilenoglicol (PEG)

400, 4000,...etc

Etanol

2-Metil-2,4-

Pentanediol

Sulfato de Lítio Jeffamine T Propanol e

Isopropanol

2,5-Hexadendiol

Citrato de Sódio ou de

Amônio

Jeffamine M 1,3-Propanediol Etileno Glicol 400

Fosfato de Sódio ou

Potássio

Monoetilésteres de

Polietilenoglicol

2-Metil-2,4-

Pentanediol

Cloreto de Sódio,

Potássio ou Amônio

Monoesteratos de

Polietilenoglicol

Dioxano

Acetato de Sódio ou

Amônio

Poliaminas Acetona

Sulfato de Cálcio ou

Magnésio

Butanol

Cetil-trietil Saís de

Amônio

Acetonitrila

Cloreto de Cálcio

Dimetil Sulfóxido

Nitrato de Amônio ou

Sódio

Metanol

Formato de Sódio ou

Magnésio

1,3-Butirolactona

Tartarato de Sódio ou

Potássio

Etileno Glicol 400

Sulfato de Cádmio

Fonte: McPHERSON (2004) Introduction to Protein Crystallization, Methods 34, 254-265.

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1.7.7 Simetria e grupamentos espaciais

Existem dois níveis de simetria nos sólidos cristalinos. O mais

diretamente associado ao conceito de cristal é o da simetria translacional.

Isto significa que existem 3 vetores básicos, a1, a2 e a3 tais que uma

operação de translação do tipo

l=n1a1+n2a2+n3a3,

Onde n1, n2 e n3 são números inteiros quaisquer, positivos e

negativos, que conectam dois pontos do cristal que possuam vizinhança

absolutamente idêntica. O segundo nível de simetria se manifesta numa

escala local e diz respeito às várias operações de rotação e reflexão que

podem ser executadas com a unidade cristalina sem deslocá-la

translacionalmente. Ou seja, trata-se da chamada simetria do ponto.

A rede cristalina é um conceito geométrico empregado para

caracterizar o arranjo microscópico de um cristal. A cada ponto da rede

cristalina é agregado um átomo ou um conjunto de átomos. Se for imposta a

condição de simetria translacional expressa pela equação supracitada,

resultará num número muito limitado de redes cristalinas possíveis: são as

chamadas redes cristalinas de Bravais. As redes de Bravais são entidades

geométricas que podem ser precisamente definidas. A duas definições dadas

a seguir são equivalentes:

(i) Uma rede de Bravais é um conjunto infinito de pontos que ocupam

posições no espaço de tal forma que se nos colocarmos sobre qualquer um

deles, observaremos exatamente o mesmo arranjo e orientações dos demais

pontos. Isto significa que qualquer um dos infinitos pontos pode ser

equivalentemente tomado como origem de um sistema de referência ligado

ao cristal;

(ii) Uma rede de Bravais (tridimensional) consiste de todos os pontos

cujos vetores de posição l se apresentam nos moldes da equação

supracitada. Nesta, a1, a2, a3 são três vetores básicos, denominados vetores

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primitivos e n1, n2, n3, conforme já foi dito, assumem todos os valores inteiros,

positivos ou negativos (ni=0, 1, 2,...).

Diz-se que os vetores primitivos são geradores da rede cristalina. A

superfície definida pelos vetores primitivos é chamada de cela unitária

primitiva ou sela primitiva, simplesmente. Uma cela primitiva preenche todo o

espaço sob a ação de operações de translação. Assim como os vetores

primitivos não são unicamente definidos, as celas primitivas também não o

são. No entanto, toda a cela primitiva contém exatamente um ponto de rede

(AZAROFF, 1990).

O empacotamento dos átomos em função de um mínimo de energia

proporciona um posicionamento simétrico entre as moléculas formando uma

rede cristalina ordenada. A menor unidade que através de rotação e

translação pode gerar toda uma célula unitária (menor unidade de repetição

possível) é denominada unidade assimétrica, que pode ser constituída de

uma única molécula ou de várias. Portanto a combinação de operações de

simetria a partir de uma unidade assimétrica leva a formação de um cristal,

ou seja, os átomos podem se posicionar em planos que através de

operações de simetria como translação, rotação, reflexão ou inversão pode-

se gerar toda uma rede cristalina (Figura 5) com repetição ordenada da célula

unitária (DRENTH, 1994).

Embora os pontos de uma rede cristalina sejam necessariamente

encontrados com maior freqüência nos cantos da célula unitária, não são

restritos a esse único posicionamento. Outros pontos da rede cristalina

podem ser encontrados no centro das faces ou no centro de massa da célula

unitária. Se pontos da rede forem encontrados apenas nos cantos a célula

unitária é primitiva e a rede (Tabela 5, Figura 6) de Bravais é designada P. Se

pontos da rede forem encontrados em cada face de lados opostos, a célula

unitária é centralizada e a rede de Bravais é designada C. Se forem

encontrados em todas as seis faces, define-se como face-centralizado e a

rede de Bravais é designada F. Por último, uma célula unitária contendo um

ponto da rede no centro de massa é corpo-centralizada e a rede de Bravais é

designada I. Existe uma correspondência entre a localização dos pontos de

rede e a simetria dos eixos. Por exemplo, se uma célula unitária é

ortorrômbica, pode possuir pontos de rede nos cantos, nos centros das faces

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Figura 5 - Componentes de um cristal. A unidade assimétrica é a parte do

cristal que não apresenta simetria. Um operador de simetria

(como por exemplo, um eixo rotacional C2) gera o motivo da rede.

A repetição deste motivo por translação gera a célula unitária,

que é a unidade básica repetitiva do cristal.

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Tabela 5 – Os 7 sistemas cristalinos.

Sistema

Redes de Bravais

possíveis

Métrica da Célula Unitária

Triclínico P a ≠ b ≠ c ≠ ≠

Monoclínico P, C a ≠ b ≠ c = = 90º ≠

Ortorrômbico P, C, I, F a ≠ b ≠ c = = = 90º

Tetragonal P, I a = b ≠ c = = = 90º

Trigonal P

(ou R) a = b ≠ c a = b = c

= = 90º, =120º

= = <120º, ≠ 90º

Hexagonal P a = b ≠ c = = 90º, ≠ 120º

Cúbico P, I, F a = b = c = = = 90º

Fonte: STOUT & JENSEN (1989) X-Ray Structure Determination, a Practical Guide 2ed., John Wiley & Sons

ou no centro da célula unitária, definindo P, C, I ou F como possíveis redes

cristalinas. Juntos, o tipo de rede e a simetria da célula unitária definem o

grupo espacial de um cristal. A abreviação taquigráfica para os grupos

espaciais incorpora o tipo de rede de Bravais (L) e a simetria da célula

unitária (RT onde R é a rotação e T designa o elemento translacional) na

forma L RT RT RT. Assim, o grupo espacial P 21 21 21 é uma célula primitiva

possuindo três eixos de ordem 2 paralelos entre si (VAN HOLDE et al., 1998).

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Figura 6 – As 14 redes de Bravais em cristalografia [Adaptado de

G.H.STOUT & L.H.JENSEN (1989), X-Ray Structure

Determination, a Practical Guide, 2ed., JOHN WILEY &

SONS].

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As operações de simetria podem ocorrer através de rotação de eixo de

simetria, de rotação de eixo de simetria seguido de translação, através de

reflexão e de inversão. A combinação das operações de simetria (rotação de

eixo, inversão e reflexão) leva a formação possível de 32 grupos simétricos

que quando combinados com as 14 redes de Bravais (que pertencem aos 7

sistemas cristalinos – Tabela 5) geram uma possibilidade de 230

grupamentos espaciais. Em cristais de proteínas não existe a possibilidade

de operações de simetria do tipo reflexão e inversão, pois as moléculas

protéicas são compostas de L-aminoácidos e, portanto, o número de

combinações possíveis fica restrito a apenas 65 grupamentos espaciais

(Tabela 6) dos 230 possíveis (DRENTH, 1994).

Tabela 6 – Os 65 grupos espaciais possíveis em cristais de proteínas.

Sistema

Classe

Símbolo do Grupo Espacial

Triclínico

1

P1

Monoclínico 2 P2, P21, C2

Ortorrômbico 222 C222, P222, P212121, P21212, P2221, C2221, F222, I222, I212121

Tetragonal 4

422 P4, P41, P42, P43, I4, I41 P422, P4212, P4122, P41212, P4222, P42212 P43212, P4322, I422, I4122

Trigonal 3 32

P3, P31, P32, R3 P312, P321, P3121, P3112, P3212, P3221, R32

Hexagonal 6 622

P6, P65, P64, P63, P62, P61

P622, P6122, P6222, P6322, P6422, P6522

Cúbico 23

432 P23, F23, I23, P213, I213

P432, P4132, P4232, P4332, F432, F4132, I432, I4132

Fonte: VAN HOLDE et al. (1998) Principles of physical biochemistry. New Jersey: Prentice

Hall. 657 p. il.

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1.7.8 Difração de raios-X

Devido à natureza eletromagnética dos raios-X, é possível fazer uma

analogia da formação de uma imagem deste com a formação de imagem por

raios de luz (Figura 7). No microscópio ótico o objeto é iluminado por feixes

de luz, que ao serem espalhados, são coletados por uma lente objetiva, que

recombina todos os raios de luz para formar a imagem do objeto. Da mesma

forma, quando um cristal é exposto a feixes de raios-X, que após serem

espalhados são coletados por uma placa de imagem; a imagem também

pode ser reconstruída, mas para isso é necessário o conhecimento do padrão

de difração, a fase e a intensidade de cada feixe difratado, que funcionam

como a lente objetiva do microscópio ótico. Porém, num experimento de

difração de raios-X toda a informação relativa à fase é perdida, só obtemos

informações sobre as intensidades e a posição relativa dos feixes difratados

(BLUNDELL & JOHNSON, 1976).

Figura 7 – Analogia da formação da imagem por raios de luz e raios-X.

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O comprimento de ondas dos raios-X serve perfeitamente para a

determinação de átomos separados entre si por uma ligação covalente. A

energia dos quantums para esse tipo de radiação é de cerca de 8000 eV, que

é aproximadamente a energia dos elétrons em seus orbitais. Esta

equivalência de energia leva à interações onde os elétrons de um átomo

serão os principais responsáveis pelo espalhamento dos raios-X. O número

de elétrons em um determinado volume de espaço (a densidade eletrônica)

determina quão forte um átomo espalha os raios-X. A interferência do

espalhamento de raios-X é responsável pelo fenômeno geral da difração

(VAN HOLDE et al., 1998). Durante a difração de raios-X por um cristal, o

que é medido é o conjunto de intensidades Ihkl Fhkl2, onde a intensidade é

proporcional ao quadrado do fator de estrutura. A difração de raios-X por

cristais ocorre como resultado da interação dos raios-X com a distribuição

eletrônica da carga do retículo cristalino. A natureza ordenada da distribuição

eletrônica das cargas, onde mais elétrons estão distribuídos em torno do

núcleo atômico, um arranjo regular e uma periodicidade translacional, faz

com que a superposição de espalhamentos de raios-X formem regiões de

interferências construtivas e destrutivas conforme a diferença de fase,

produzindo um padrão de difração.

Um feixe de raios X quando interage com os elétrons da matéria é

espalhado por dois processos distintos: o espalhamento Thomson e o

espalhamento Compton. No espalhamento Thomson, o campo elétrico

oscilante associado ao feixe de raios X que incide sobre um elétron, obriga

este elétron a oscilar em torno da sua posição de equilíbrio. Sabemos que

toda partícula carregada acelerada emite radiação. Assim o elétron,

submetido a um campo elétrico oscilante, emite uma onda eletromagnética,

que possui o mesmo comprimento de onda da radiação incidente, mas

defasada de 180o em relação à radiação incidente. Este espalhamento é

também denominado espalhamento elástico (BLUNDELL & JOHNSON

1976). O espalhamento Compton é uma forma completamente diferente de

espalhamento e ocorre devido ao comportamento de partícula da radiação.

Os fótons incidentes são desviados de sua trajetória pelo átomo com perda

de energia. O espalhamento Compton é também denominado espalhamento

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inelástico. Experimentalmente, a radiação espalhada pelos materiais consiste

de duas partes. A primeira é aquela associada ao espalhamento de Thomson

e possui o mesmo comprimento de onda da radiação incidente, a segunda

parte tem comprimento de onda maior que a radiação incidente, com o

aumento do comprimento de onda sendo dependente do ângulo de

espalhamento (CULLITY, 1956).

1.7.8.1 Índices de Miller

Cristais apresentam alto grau de ordenação interna, ou seja, são

formados por repetições translacionais de moléculas ou átomos em todas as

direções. Esta periodicidade interna é descrita por uma pequena unidade de

volume uniforme da qual o cristal pode ser considerado um derivado,

chamada celula unitária. Cada célula unitária é caracterizada por três vetores

denominados a, b e c que definem suas arestas pelos ângulos , e

(DELATORRE et al., 2000).

A lei dos índices racionais estabelece que cada uma das faces de um

cristal pode ser descrita com relação a três eixos coplanares, através de três

inteiros pequenos, que são designados por h, k, l. A importância destes

índices deve-se ao fato de que estes não só descrevem as faces de um

cristal, como também, os grupos de planos paralelos do reticulo cristalino.

Portanto, os feixes de difração de um cristal, podem ser descritos pelos

mesmos, como feixes refletidos por estes planos. Estes inteiros são

denominados índices de Miller (STOUT & JANSEN, 1989). Sob as condições

da equação de von Laue, os índices de Miller definem um número inteiro de

comprimentos de onda que resultam numa reflexão observada de um cristal

tridimensional (VAN HOLDE et al., 1998).

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1.7.8.2 Fator de espalhamento atômico

Em um átomo, o elétron não é uma carga livre. Ele está ligado ao

núcleo e ocupa uma região limitada do espaço. Portanto, sua carga deve ser

representada por uma distribuição espacial de carga (r). Quando incidi-se

um feixe de radiação com direção s0 no centro de um sistema de

coordenadas, a radiação espalhada por um átomo numa direção s é:

onde f(S) é o fator de espalhamento atômico, S é igual a (s-s0) e r é a

posição da densidade de carga espalhadora r(r)dv.

Como usualmente assume-se que a densidade de carga de todos os

átomos é esfericamente simétrica, e consequentemente centro simétrico, o

fator de espalhamento atômico também é esfericamente simétrico e real. O

fator de espalhamento atômico da maioria dos átomos existentes foram

calculados e encontram-se tabelados na International Tables of

Crystallography, Volume III (BUNDELL & JOHNSON, 1976; DRENTH, 1994).

1.7.8.3 Fator de estrutura

Numa célula unitária composta por n átomos, com seu próprio núcleo

como origem, os átomos difratarão de acordo com o seu fator de

espalhamento atômico (ƒ). Se a origem for transferida para a origem da

célula unitária, o espalhamento total pode ser escrito em termos de uma

somatória sobre as contribuições individuais dos átomos, dependendo do

arranjo dos mesmos na célula unitária (GLUSKER & TRUEBLOOD, 1985;

AZAROFF, 1990). Este espalhamento é chamado de fator de estrutura e é

dado por:

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51

1.7.8.4 Espalhamento de raios-X de um cristal

Na obtenção do espalhamento de raios-X de um cristal é necessário

somar o fator de estrutura F (S) de cada célula unitária a partir de uma única

origem. O espalhamento só será notado quando a diferença de fase entre as

ondas espalhadas por células unitárias sucessivas for um múltiplo inteiro.

Sob estas circunstâncias as ondas se somam para formar uma onda

espalhada mais intensa. De maneira suscinta, numa rede unidimensional, só

é observado espalhamento quando a.S = h. Quando se leva o problema para

o plano tridimensional, com uma célula unitária definida pelos vetores a, b e

c, a condição para ocorrer difração é que as condições a.S=h, b.S=k e c.S=l

sejam satisfeitas. Cada reflexão encontrada em um padrão de difração de um

cristal pode ser ordenada como um conjunto único de índices de Miller a

partir das condições de von Laue para a difração (BUNDELL & JOHNSON,

1976; VAN HOLDE et al., 1998).

A equação do fator de estrutura, F(hkl), representa uma amostragem

da transformada do espalhamento de raios-X de uma molécula G(S) nos

pontos hkl do retículo recíproco:

Se a posição de todos os átomos da cela unitária é conhecida então o

correspondente padrão de difração pode ser calculado. Quando se coleta

dados de raios-X difratados por um cristal, a atual tecnologia em uso somente

permite que seja que se tenha acesso a intensidade I(hkl) da radiação

espalhada, todo o resto de informação a respeito da fase da radiação

espalhada é perdida (BUNDELL & JOHNSON, 1976).

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52

1.7.8.5 Densidade eletrônica

O padrão de difração é a transformada de Fourier da densidade

eletrônica da estrutura e inversamente a densidade eletrônica da estrutura é

a transformada de Fourier do padrão de difração. Desta forma se os fatores

de estrutura, F(h,k,l), são conhecidos para todas as reflexões, h,k,l, então a

densidade eletrônica, (x,y,z) que representa a estrutura do cristal, pode ser

calculada para cada ponto x,y,z, na célula unitária (DRENTH, 1994).

1.7.8.6 O problema da fase

Para calcular a densidade eletrônica é necessário o conhecimento do

módulo, F(hkl), e da fase, (hkl), do fator de estrutura. Durante um

experimento de difração de raios X, só se registram as intensidades ou seja,

o módulo F(hkl), sendo que toda a informação sobre a fase é perdida.

Portanto é impossível determinar a estrutura diretamente das medidas do

padrão de difração, visto que parte da informação está perdida (DRENTH,

1994; MCREE, 1993). Assim, o problema da determinação da fase é o

problema básico em qualquer determinação de estrutura. Há quatro principais

métodos para resolução do problema da fase: substituição molecular,

substituição isomórfica múltipla, dispersão anômala múltipla e métodos

diretos (DRENTH, 1994).

1.7.9 Substituição molecular

Após a coleta dos dados de difração de raios-X de um cristal simples,

obtêm-se as diferentes intensidades referentes a cada um dos índices de

reflexões. Para que a estrutura da macromolécula biológica seja determinada

por cristalografia, é necessário conhecer não somente as intensidades devido

a cada uma das reflexões, como também à fase relativa a cada uma delas.

Entretanto, neste momento, surge um problema, nenhuma informação acerca

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53

das fases pode ser obtida no experimento de difração. Partindo da

observação de que moléculas com seqüências primárias homólogas

possuem enovelamentos similares, é possível simular um modelo inicial do

cristal a ser resolvido, e deste modelo obter as informações necessárias

sobre a fase da radiação difratada pelo cristal real. Esta forma de resolver o

problema da fase é denominada método da substituição molecular, cujo

objetivo é encontrar uma primeira estrutura, passível de refinamento, da

proteína desconhecida. O método é limitado pois pressupõe a existência de

alguma estrutura resolvida, que tenha algum grau de similaridade com a

estrutura que se deseja resolver. De sorte, a limitação deste método vem

desaparecendo com o crescente número de novas estruturas depositadas no

Protein Data Bank, transformando o método numa potente ferramenta na

resolução da estrutura tridimensional das macromoléculas biológicas,

principalmente pela capacidade de resolver estruturas de proteínas de uma

mesma família (DRENTH, 1994; DELATORRE, 2000).

Na prática a maior dificuldade do método é colocar o modelo

empregado na mesma posição que a molécula real ocupa na sua rede

cristalina. Este procedimento implica em movimentos de rotação e translação

do modelo, cujas coordenadas espaciais de seus átomos referem-se ao seu

posicionamento no próprio cristal.

1.7.9.1 Função de Patterson

Espalhado dentro das intensidades observadas nos dados de difração

de raios-X está à informação da fase para cada um dos átomos individuais, e

também informação sobre as posições relativas dos átomos na célula

unitária. Quando se tenta resolver a estrutura de um cristal, por que não se

usa simplesmente as intensidades observadas para construir uma

transformada de Forrier que seja uma função das posições atômicas? Esta é

à base da função de Patterson (P). A função de Patterson possui picos nos

mapa de contorno de Patterson que correspondem às diferenças dos vetores

entre posições atômicas. A partir disso, observa-se que há uma perda de

informação à medida que se vai dos átomos no espaço real até as diferenças

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dos vetores derivados da função de Patterson. Um bom indicador dessa

perda de informação é encontrado na simetria de um mapa de Patterson. A

simetria da célula unitária de um cristal pode ser descrita como sendo um dos

230 diferentes grupos espaciais. Contudo, a simetria do mapa de Patterson, é

limitada a somente 24 grupos, que podem ser gerados por remoção de todos

os elementos de translação dos operadores simétricos do grupo espacial do

cristal original. Assim, a função de Patterson é um mapa vetorial de

distâncias inter-atômicas da estrutura e pode ser calculada a partir de um

conjunto de dados de difração (VAN HOLDE et al., 1998; FADEL, 2000).

1.7.9.2 Função de rotação

A função de rotação é usada para encontrar a orientação correta do

modelo na rede cristalina. Isto pode ser obtido por um teste de concordância

entre as funções de Patterson calculadas do modelo e os vários dados

relativos das orientações observadas diretamente no experimento de difração

(DRENTH, 1994).

1.7.9.3 Função de translação

De posse da correta orientação da molécula na unidade assimétrica, o

próximo passo é encontrar os parâmetros translacionais para posicionar o

modelo corretamente no eixo de simetria. A melhor maneira para isso é

através do método da tentativa e erro. O modelo é transladado para dentro

da unidade assimétrica, os fatores de estrutura são calculados para esta

nova posição (Fcalc) e comparados com os fatores de estrutura observados

(Fobs). A qualidade da translação é monitorada através do cálculo de fatores

de controle. Os fatores usualmente utilizados são: o fator R (Rfactor) e o

coeficiente de correlação (CC). Para concordâncias perfeitas no processo de

substituição molecular, os valores de Rfactor devem ser 0% e do coeficiente de

correlação (CC) 100%. Na prática, valores de Rfactor inferiores a 40% e de

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coeficiente de correlação (CC) superiores a 50% indicam que a substituição

molecular encontrou um modelo passível de refinamento (DRENTH, 1994).

De posse das rotações e translações necessárias para posicionarmos o

modelo corretamente na célula unitária, estas transformações são aplicadas

e os fatores de estrutura F(hkl) são calculados. As fases obtidas para cada

reflexão são assumidas como as fases correspondentes aos fatores de

estrutura observados, e esta informação será utilizada como ponto de partida

de um processo de refinamento, para obtenção da estrutura da molécula

difratada (DRENTH, 1994).

1.7.10 Refinamento

Refinamento é o processo de encontrar uma melhor concordância

entre o modelo proposto para a estrutura da molécula e a sua estrutura real.

Esta concordância deve refletir numa igualdade entre os fatores de estrutura

calculados (Fcalc) e os fatores de estrutura observados (Fobs). O

acompanhamento da qualidade deste processo se faz através do cálculo do

fator R (Rfactor) durante o processo. Como R pode ser minimizado

artificialmente, e considerando-se a redundância dos dados de raios-X

(BRÜNGER, 1992), uma pequena porcentagem das reflexões (em geral entre

5 e 10%) é excluída do refinamento e utilizada como um conjunto de teste no

cálculo de um novo fator R chamado Rfree, que será isento de minimização

artificial. Desta forma existem dois parâmetros de controle, o Rfactor e o Rfree.

Assim, partindo-se de um modelo com Rfactor por volta de 50%, um bom

refinamento é aquele que reduz este valor para 20% ou menos, com Rfree de

até 10% acima de Rfactor. Isto garante um bom ajuste do modelo aos dados

(Figura 8). Para macromoléculas, uma regra geraI é que o modelo refinado

para um Rfactor menor que 20% (0,2) indica um bom ajuste, e dessa forma

pode ser apresentado como uma solução para a estrutura (VAN HOLDE et

al., 1998).

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Figura 8 – Efeitos do refinamento da estrutura. Mapa de densidade eletrônica

de um nucleotídeo guanina, de um fragmento de DNA, antes (A)

e depois do refinamento (B).

A minimização, que consiste da modificação das coordenadas

posicionais x, y e z e dos fatores de temperatura (B-factor) de cada átomo da

molécula a ser refinada, é um trabalho que apresenta uma grande quantidade

de parâmetros a serem ajustados. Para exemplificar isso, considere uma

molécula de proteína hipotética que, possuindo aproximadamente 4500

átomos (excetuando-se os hidrogênios que por possuírem somente um

elétron, usualmente são desconsiderados nos processos de refinamento)

exige o refinamento de 18.000 variáveis (x, y, z, B). Para isso, se tem como

informação, aproximadamente 54.000 reflexões medidas. Três para um é

uma relação parâmetros/variáveis muito pobre para solucionar este

problema. Um bom procedimento de refinamento necessita em média de um

número de parâmetros conhecidos 10 vezes superior ao número de variáveis

a serem refinadas (GIACOVAZZO et al., 1992). Se o número de reflexões

independentes (parâmetros), que depende da resolução, não for

suficientemente maior que o número de coordenadas a serem calculadas

(variáveis), a relação parâmetros/variáveis pode ser melhorada através de

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informações estereoquímicas (distâncias, ângulos e outros parâmetros

geométricos entre os átomos nos resíduos de aminoácidos e nas cadeias

polipeptídicas dos aminoácidos). Simetrias não cristalográficas também

podem ser utilizadas. Estas informações podem ser aproveitadas de duas

maneiras diferentes, por procedimentos de refinamento denominados de

“constraint” e de “restraint” (DRENTH, 1994; BRÜNGER, 1992).

Se estas informações fixam ligações e ângulos, e permitem que partes

da molécula sejam consideradas como corpos rígidos, o número de variáveis

é então reduzido, melhorando a relação parâmetros/variáveis pelo processo

chamado “constraint”. Por outro lado, se as informações estereoquímicas são

utilizadas permitindo variações de parâmetros em torno de valores padrão, o

número de observações aumenta, melhorando assim a relação

parâmetros/variáveis pelo processo chamado “restraint” (DRENTH, 1994).

Na prática, um refinamento completo é feito em etapas distintas.

Primeiro o refinamento de corpo rígido e depois o refinamento posicional.

1.7.10.1 Refinamento de corpo rígido

O refinamento de corpo rígido é um tipo de refinamento que usa o

procedimento “constraint”, onde partes da estrutura ou ela toda, são refinados

como parâmetros individuais. Este procedimento é realizado como passo

inicial do refinamento, após a substituição molecular, possibilitando um

melhor posicionamento da molécula na unidade assimétrica. As coordenadas

de saída do refinamento de corpo rígido são usadas como coordenadas de

entrada para o refinamento posicional (AZEVEDO, 1997).

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1.7.10.2 Refinamento posicional

O refinamento posicional é um tipo de refinamento que usa o

procedimento “restraint”. Neste, a função a ser minimizada consiste do termo

cristalográfico clássico S somado a vários outros termos estereoquímicos

dentre os quais: minimização clássica (S1),das distâncias atômicas (S2), dos

desvios planares (S3), dos volumes chirais (S4), dos contatos de van der

Waals (S5), dos ângulos de torsão (S6), dos desvios do modelo (S7), dos

desvios na fase (S8).

Alternativamente, alguns programas de refinamento minimizam uma

somatória composta pelo termo de raios-X (S1) e termos de energia potencial

relacionados aos parâmetros restringidos. O programa X-PLOR é um

exemplo disso, pois ao termo de raios-X podem ser adicionados, dentre

outros, os termos de energia wbondEbond, wanglEangl, wdiheEdihe, wimprEimpr,

wvdwEvdw, welecEelec, wpvdwEpvdw, wpeleEpele, onde w são os pesos de cada energia

E e os índices correspondem a energia das ligações covalentes, dos ângulos

de ligação, ângulos de torção, dos ângulos de torção usados para imposição

de planalidade e chiralidade, intramolecular de van der Waals (calculada pelo

potencial de Lennard-Jones), de repulsão ou atração eletrostática

intramolecular, de van der Waals para interações oriundas de simetrias

cristalográficas e não cristalográficas, eletrostática para interações oriundas

de simetrias cristalográficas e não cristalográficas, respectivamente

(DRENTH, 1994; BRÜNGER, 1992).

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2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

O principal objetivo deste trabalho foi a cristalização e resolução da

estrutura tridimensional da lectina de sementes Canavalia maritima (ConM),

tanto na forma pura (nativa) como complexada com carboidratos visando um

melhor entendimento da interação proteína-carboidrato e das bases

estruturais de possíveis diferenças encontradas em ensaios de atividade

biológica quando comparada a outras lectinas da sub-tribo Diocleinae.

2.2 Objetivos específicos

- Obtenção de cristais da lectina pura (nativa) e complexada com

carboidratos de sementes de Canavalia maritima (ConM);

- Análise dos dados de difração de raios-X de ConM nativa e

complexada com carboidratos;

- Resolução da estrutura tridimensional de ConM nativa e complexada

com carboidratos;

- Estabelecer correlações entre estrutura e função que contribuam

para elucidar a razão de proteínas tão similares estruturalmente,

apresentarem consideráveis diferenças em sua atividade biológica;

- Avaliar as respostas de contractibilidade e efeito de relaxamento da

lectina em vasos da aorta torácica de ratos;

- Relacionar as características estruturais da lectina com as respostas

de contractibilidade e efeito de relaxamento em vasos da aorta torácica de

ratos.

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3. MATERIAIS

3.1 Material vegetativo

O presente trabalho foi desenvolvido com sementes quiescentes de

Canavalia maritima Thouars, coletadas na Praia da Bessa, município de João

Pessoa, estado da Paraíba. As sementes foram usadas para extração da

lectina de Canavalia maritima (ConM) e as demais partes vegetativas,

estudadas, identificadas, herbarizadas e depositadas, sob a forma de

exsicata, no Herbário Prisco Bezerra (EAC), Departamento de Biologia da

UFC, sob número EAC 34708. Fotos da planta “in loco” e herbarizada são

mostradas nas Figuras 9 e 10, respectivamente. Uma descrição botânica da

espécie é feita em seguida.

Figura 9 - Fotos de Canavalia marítima Thouars. Planta (A), flores (B),

vargens e sementes (C).

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3.1.1 Descrição botânica de Canavalia maritima Thouars

Planta com ramas rasteiras ou então trepadeiras perenes, robustas

medindo de 1,8-10 m de comprimento. Talos seríceo-pubescentes com pelos

brancos quando jovens, mas posteriormente glabros. Folhas pinadas,

trifoliadas. Folíolos de 5-10 (12) X 4-10 cm, amplamente obovados, ovados

ou orbiculares, ocasionalmente curtos, acuminados, mucronados,

amplamente cuneados, arredondados ou então truncados na base,

coríaceos, esparsamente puberulentos com curtos pelos brancos sobre

ambas as superfícies ou moderadamente densa sobre a superfície inferior e

sobre os peciólulos; pecíolo medindo de 2-7 (10) cm de comprimento; ráquis

de 1,3-3,7 cm de comprimento; peciólulos com 3-5 (9) mm de comprimento;

estípulas decíduas, lanceoladas medindo 4 mm de comprimento.

Inflorescências axilares, pendentes ou retas, prostadas porém

ascendentes no ápice, medindo de 4-18 (30) cm de comprimento sobre um

pedúnculo de 10-21 cm de comprimento, com 6-30 flores; pedicelos de 3 mm

de comprimento; bracteolas obtusas de 1,5-2 mm de comprimento.

Flores rosadas, púrpuras ou malva-azuladas. cálice tubular, medindo

de 10-12 mm de comprimento; pubescência curta, branca, esparsada a

moderadamente densa; lábio superior muito mais curto que o tubo, borda

superior constrita por detrás, não apiculada no ápice; dente mais inferior de 2

mm de comprimento, agudo, ligeiramente excedendo os lóbulos laterais

agudos. Estandarte arredondado ou elíptico, de 2,5-3 cm de comprimento e

1,5-2,1 cm de largura, emarginado; asas e quilha de cor fucsia pálida.

Vargens lineares, oblongas, moderadamente compridas medindo de 7-

15 X 2-2.5 cm, no início são apresso-pubescentes, posteriormente glabras,

as vezes com pregras, espiralmente deiscentes ou as vezes com deiscência

esplosiva, cor tostado-pálida, cada valva com bordos suturais e um bordo

extra a 3 cm do bordo ventral.

Sementes medindo de 12-18 X 7-12 (13) mm, em número de 4-9,

ovóides a subglobosas, não obliquas com a base não bruscamente afinada;

pardas com rachaduras mais escuras ou listas variando de amarelo pálido a

quase negro, elipsoidais, ligeiramente compridas, hilo de 7-8,5 (10) mm de

comprimento.

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Figura 10 – Foto de exsicata com folhas, flores e frutos de Canavalia

maritima Thouars do Herbário Prisco Bezerra do

Departamento de Biologia da UFC.

3.2 Animais

Foram utilizados ratos (Rattus novergicus) machos da linhagem Wistar

(200-300g) procedentes do Biotério Central do Campus do Pici da

Universidade Federal do Ceará (UFC). Estes animais receberam ração e

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água ad libitum sob condições adequadas de luz e temperatura e foram

manipulados de acordo com os padrões estabelecidos pelo Comitê de Ética

da Universidade Estadual do Ceará (UECE).

3.3 Materiais para purificação da proteína

Moinho elétrico do tipo Wiley com peneira de 60 mesh, moinho de café

(Moulinex 843), câmara fria (12ºC), centrífuga refrigerada, bomba peristáltica,

agitador magnético, massa magnética, coluna cromatográfica contendo gel

de Sephadex® G-50, espectrofotômetro UV/VIS, cloreto de sódio (NaCl),

cloreto de cálcio (CaCl2), cloreto de manganês (MnCl2), sacos de diálise e

água desionizada ultrapura tipo Mili-Q. Todos os reagentes utilizados foram

de grau analítico.

3.4 Materiais para cristalização e soaking de cristais

Pipetas automáticas de 0-10 L e 100-100L, ponteiras descartáveis

de 0-10 L e 100-100L, kits de cristalização I e II da Hampton Research

(Hampton Research, Riverside, CA, USA), placas de Linbro®, corante Izit

Crystal Dye™, lamínulas, graxa de silicone, microscópio tipo lupa com

aumento de até 10x, câmara de cristalização à 20oC, microcentrífuga,

HEPES, sulfato de amônio ((NH4)2SO4), polietileno glicol 400, D-glicose, D-

glicose 6-fosfato, D-manose, metil--D-glicopiranosídeo, N-acetil-

manosamina, D-frutose, D-galactose, D-rafinose, D-melibiose, D-trealose, L-

sorbose, maltose, sacarose, lactose e água desionizada ultrapura tipo Mili-Q.

Os carboidratos, bem como os demais reagentes usados apresentavam alto

grau de pureza certificado pelo fabricante (Sigma Co. USA).

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3.5 Material para resolução da estrutura tridimensional

Supercomputadores com matriz gráfica avançada e sistema

operacional Linux, contendo pacote de programas CCP4 (Collaborative

Computational Project, Number 4, 1994).

3.6 Avaliação da resposta contrátil de ConM

Solução de Tyrode (NaCl 136 mM, KCl 5 mM, NaHCO3 11,9 mM,

MgCl2 0,98 mM, CaCl2 2 mM, NaH2 PO4 0,36 mM, glucose 5,5 mM); gás

oxigênio, gás carbônico, aerador, transdutor de força conectado a um sistema

de aquisição de dados computadorizados (Chart 4.2; PowerLab

ADInstruments, Inc., Espanha), acetilcolina (ACh), fenilefrina (PE) e metil

éster de L-nitro arginina (L-NAME).

3.7 Experimento histológico com lectina marcada

Formaldeído, álcool etílico absoluto, xilol, lâminas histológicas,

parafina histológica, micrótomo Olympus, modelo CUT 4055 II, microscópio

de fluorescência Olympus com câmera digital acoplada, fluoresceína

isotiocianato (FITC), glicose, o carbonato de sódio, bicarbonato de sódio,

etilenoglicol, N-butanol e coluna PD 10 (Pharmacia LKB).

3.8 Outros materiais

Acrilamida, N,N'- Metileno Bisacrilamida e Coomassie Brilliant Blue R

foram obtidos da Sigma Chemical Co., St. Louis, USA. Beta-mercaptoetanol e

Dodecil Sulfato de Sódio, da Merck, Darmstadt, Alemanha.

Os demais reagentes utilizados foram de grau analítico.

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4. MÉTODOS

4.1 Obtenção da lectina pura (ConM) de sementes de Canavalia

maritima.

Sementes maduras de Canavalia maritima foram coletadas na praia do

Bessa, município de João Pessoa, estado da Paraíba, região nordeste do

Brasil. As sementes foram trituradas em moinho elétrico do tipo Wiley,

acoplado com peneira de 60 mesh e o material obtido foi repassado em

moinho de café (Moulinex 843), resultando em uma farinha bastante fina que

foi estocada em frascos hermeticamente fechados mantidos em câmara fria

(12ºC).

A metodologia usada para a obtenção da lectina pura de sementes de

Canavalia maritima foi a mesma utilizada para Canavalia bonariensis,

conforme descrito por Cavada et al. (1996). Para tanto, a farinha fina de

sementes foi submetida à extração protéica (1:10, m/v) com solução de NaCl

0,15 M por 1 hora sob agitação constante à temperatura ambiente (25 ºC),

após o que as suspensões foram centrifugadas a 10.000 x g durante 20

minutos a 4ºC. O sobrenadante obtido foi filtrado em papel de filtro qualitativo

e o extrato protéico resultante foi aplicado a uma coluna de Sephadex® G-50

(5 x 25 cm), previamente equilibrada com solução de NaCl 0,15 M contendo

5mM de CaCl2 e 5mM de MnCl2. O extrato protéico permaneceu em contato

com a matriz de afinidade por 12 horas sob fluxo contínuo de 60 mL/hora. O

material não retido foi eluído com a mesma solução de equilíbrio (NaCl 0,15

M contendo 5mM de CaCl2 e MnCl2) num fluxo de 120 mL/hora até que a

absorbância em comprimento de onda de 280 nm chegasse próximo a zero.

O material retido (lectina) na coluna foi eluído com tampão glicina 0,1M pH

2.6, contendo 0.15 M de NaCl e em seguida, dializado exaustivamente em

água Milli-Q, congelado e liofilizado.

A pureza das preparações de ConM foi monitorada por eletroforese em

gel de poliacrilamida na presença de SDS e 2- mercaptoetanol, seguindo de

perto a metodologia descrita por Laemli (1970), adaptada para o uso de géis

de separação em placas. O gel de aplicação (contendo 3,5% de

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poliacrilamida) foi montado em tampão Tris-HCl 0,5 M, pH 6,8 e SDS a 1 %.

O gel de separação com um gradiente de 5 a 20 % de poliacrilamida foi

montado em tampão Tris-HCl 3 M, pH 8,8 contendo SDS a 1 %. As amostras

submetidas à eletroforese (farinha de sementes de Canavalia maritima e pico

retido dializado e liofilizado contendo a lectina) foram suspensas em tampão

Tris-HCl 0,0625 M, pH 8,3 contendo SDS a 1 %. Para a farinha de sementes

foi utilizada uma concentração de 20 mg/mL e para lectina (ConM) foi

utilizada uma concentração de 1 mg/mL. Após ter sido adicionado 10 L de 2-

mercaptoetanol, as amostras foram incubadas a 100ºC por 10 minutos e

centrifugadas em centrífuga de Eppendorf a 15.000 x g por 5 minutos. Azul

de bromofenol (para marcação da frente da corrida eletroforética) a 0,02 % e

cristais de sacarose (para tornar as amostras mais densas) foram

acrescentados às amostras antes de serem aplicadas ao gel. Alíquotas de10

L foram aplicadas nos poços do gel. A corrida eletroforética foi feita à

corrente constante (20 mA) por um período médio de 2 horas. Logo a seguir

o gel foi colocado para corar com solução de Coomassie Brilliant Blue R-250

0,05%, preparado com metanol, ácido acético e água (1:3,5:8, v/v/v), sendo o

excesso retirado com a mesma solução na ausência de corante, permitindo a

visualização das bandas protéicas.

Posteriormente, a preparação lectínica também foi avaliada por

espectrometria de massa (MS) em espectrômetro Applied Biosystems

Voyager STR. O aparelho foi previamente calibrado com a proteína

mioglobina, atuando em modo linear e ajustado para uma voltagem de

aceleração de 25kV, usando ácido sinapínico como matriz.

4.2 Cristalização de ConM

A lectina de Canavalia maritima (ConM) foi diluída homogeneamente

em tampão Tris-HCl 1 mM pH 7,0 contendo 5 mM CaCl2 e 5 mM de MnCl2

numa concentração de 40 mg/ml e utilizada em todos os experimentos.

Todas as soluções foram preparadas com água deionizada ultra pura do tipo

Milli-Q, previamente submetida a tratamento por osmose reversa.

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Para encontrar a melhor condição de cristalização para ConM, a

lectina foi inicialmente submetida a um screening de cristalizacão pelo

método de difusão de vapor em gota suspensa (Jancarik & Kim, 1991) em

placas Linbro® de 24 poços, utilizando-se os kits “Crystal Screens I e II”

comercializados pela Hampton Research (Hampton Research, Riverside, CA,

USA) nas condições de temperatura ambiente (293K) da Unidade de

Cristalização do BioMol-Lab. Na preparação do screening, as gotas foram

montadas em lamínulas siliconizadas utilizando-se iguais volumes da lectina

e da solução do poço (2 µL), encaixadas com a gota voltada para baixo no

respectivo poço da placa Linbro®, que foi previamente adicionado de 200 μL

da solução do poço e teve sua abertura lubrificada com graxa de silicone

para manutenção da vedação do poço.

Cristais de tamanho exagerado foram obtidos em quatro condições do

screen I. Após análise mais criteriosa dos cristais, feita por meio de

verificação do desvio da luz polarizada em microscópio óptico e coramento

do cristal com Izit Crystal Dye™; foi tentada a otimização da condição 39

(Tampão Hepes 0,1M pH 7,5 com 2% v/v de Polietileno Glicol 400 e 2M de

sulfato de amônio), através de variações de pH na faixa de 5,5 a 9,5 e na

concentração do precipitante, desde sua ausência até uma concentração de

10% v/v.

4.3 Soaking de cristais de ConM com carboidratos

Visando a obtenção de cristais de ConM complexados com açúcares

específicos, alguns dos melhores cristais, obtidos conforme metodologia

descrita no item anterior (item 4.2), tiveram suas gotas banhadas com 1 L

de uma solução com concentração de 1mM de diferentes carboidratos

específicos para lectina, diluídos no mesmo tampão da condição

anteriormente otimizada. Os açúcares utilizados foram escolhidos com base

nos resultados do ensaio de inibição da atividade hemaglutinante por

açúcares da lectina de sementes de Canavalia maritima publicado por Ramos

et al. (1996) da lectina e pela própria disponibilidade para uso de alguns

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carboidratos. Os açúcares usados no screening de soaking foram os

seguintes: D-glicose, D-glicose 6-fosfato, D-manose, metil--D-

glicopiranosídeo, N-acetil-manosamina, D-frutose, D-galactose, D-rafinose,

D-melibiose, D-trealose, L-sorbose, maltose, sacarose e lactose.

4.4 Coleta de dados e difração de raios-X

Os dados de difração de raios-X em cada caso (lectina pura ou lectina +

açúcar) foram coletados a partir de um único cristal, mantido a uma

temperatura de 100 K com nitrogênio. Para prevenir a formação de gelo, o

cristal, previamente laçado no “loop”, foi banhado numa solução de

crioproteção contendo 75 % da solução de cristalização (Tampão Hepes

0,1M pH 8,43 com 4% v/v de polietilenoglicol 400 e 2M de sulfato de amônio)

e 25 % de glicerol e só então, instalados na cabeça do goniômetro para

serem submetidos à coleta de dados na linha de raios-X. A coleta de dados

foi feita num comprimento de onda de 1,4727 Å usando-se fonte de radiação

Sincrotron proveniente da estação CPr do Laboratório Nacional de Luz

Sincrotron (LNLS) situado no município de Campinas-SP. A coleta de dados

de difração de raios-X foi feita numa placa detectora de imagem MAR de

34,5cm (MAR research), com tempo de exposição de 42,5 segundos por

imagem, com os cristais variando numa distância de 60-90 mm do detector

(CCD). Foram coletadas 120 imagens do cristal contendo a lectina pura de

ConM a uma resolução de 1,56 Å, 120 imagens do cristal de ConM

complexada com o açúcar maltose a uma resolução de 1,87 Å e 160 imagens

do cristal de ConM complexada com o açúcar trealose a uma resolução de

2,00 Å, todas numa amplitude de oscilação de 1,0o. Os conjuntos de dados

completos foram indexados, integrados e escalados usando os programas

MOSFLM (Leslie, 1994) e SCALA do pacote de programas CCP4

(Collaborative Computational Project, Number 4, 1994). Os índices de Miller k

e l foram invertidos por l e k, respectivamente.

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4.5 Substituição molecular e refinamento

A estrutura do cristal da ConM nativa foi determinada por substituição

molecular utilizando-se como modelo de busca a estrutura resolvida da

lectina de Canavalia ensiformis complexada com Zinco e Cálcio a pH 6,15

(Bouckaert et al., 2000), depositada no Protein Data Bank (PDB) código

3ENR (Berman et al., 2000). Depois de serem calculadas as funções de

rotação e translação, os melhores resultados usando o programa MolRep

(Vargin & Taplyakov, 1997) indicaram um coeficiente de correlação de 65,2%

e um Rfactor of 53,2 %.

A estrutura inicial foi submetida a refinamentos de corpo rígido (rigid

body) e restrito (restrained) usando o programa REFMAC5 do pacote de

programas CCP4 (Collaborative Computational Project, Number 4, 1994),

tendo Rfactor e Rfree convergido para 23.38 % e 27.36 %, respectivamente. Os

resíduos I17 V17, I53S53, A70G70, S134K134, G144S144,

S164P164, P165S165, S169T169, V187T187, S190G190,

E192D192 e T196K196 foram substituídos e a conformação de suas

cadeias laterais ajustadas de modo a satisfazer as necessidades do mapa de

densidade eletrônica. Posteriormente outros resíduos da seqüência de

aminoácidos foram trocados com base, também, no mapa de densidade

eletrônica. Ao final, foram adicionadas 285 moléculas de água ao modelo

com o uso do programa XtalView (McRee, 1999) do pacote de programas

CCP4, que submetido a um segundo refinamento restrito (restrained) resultou

em valores de Rfactor de 19,83% e Rfree de 24,82%.

4.6 Avaliação da resposta contrátil de ConM

Os experimentos de avaliação da resposta contrátil de ConM foram

realizados na Universidade Estadual do Ceará para isso, foi necessário uma

prévia aprovação do protocolo experimental pelo Comitê de Ética Institutional

da Universidade Estadual do Ceará. Para o desenvolvimento do experimento,

ratos machos da linhagem Wistar com peso na faixa de 200-300g foram

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sacrificados por deslocamento cervical inconsciente. A aorta torácica foi

rápidamente cortada e depositada em solução de Tyrode (composition in:

NaCl 136 mM, KCl 5 mM, NaHCO3 11,9 mM, MgCl2 0,98 mM, CaCl2 2 mM,

NaH2 PO4 0,36 mM, glucose 5,5 mM). Os tecidos foram então retirados do

tecido conectivo e cortados em aneis de cerca de 3 mm. Em determinados

experimentos, o endotélio foi removido por esfregaço mecânico da superfície

interna.

Para medida das respostas contráteis, os anéis de aorta foram fixados

numa câmara de banho de orgãos, preenchida com solução 10 mL de

solução de Tyrode, aerada com uma mistura de 95% de oxigênio e 5% de

dióxido de carbono, mantida a 37°C. Uma tensão de repouso de 2 g foi

aplicada e os tecidos foram deixados em equilíbrio durante 60 minutos. A

tensão ativa foi desenvolvida isometricamente por meio de um transdutor de

força, conectado a um sistema de aquisição de dados computadorizados

(Chart 4,2; PowerLab ADInstruments, Inc., Espanha). A presença de

endotélio foi determinada pela adição de acetilcolina (ACh, 1µM) e de

fenilefrina (PE, 0,1µM) aos anéis de aorta pré-contraídos. Consideraram-se

os tecidos possuidores de endotélio intacto como sendo aqueles na qual a

acetilcolina foi maior que 75% do tônus induzido.

Na avaliação dos efeitos relaxantes sob anéis de aorta, ConM foi

adicionada aos tecidos em concentrações cumulativas na faixa de 1 a 100

µg/mL. Com ou sem endotélio, pré-contraídos com fenilefrina (0,1µM).

Adicionalmente, foi feito em seguida uma investigação do possível

envolvimento de fator de relaxação derivado endotélio (NO) no efeito da

lectina. Para isso, um inibidor da óxido nítrico sintase, o metil éster de L-nitro

arginina (L-NAME), foi adicionado numa concentração de 100µM ao tecidos

pré-contraídos e com endotélio intacto, antes de proceder uma resposta

cumulativa a concentração de ConM. A análise estatística dos dados foi

apresentada como a média de n experimentos. As comparações de média

foram feitas usando-se o teste t de Student (emparelhado ou não, conforme

fosse apropriado) ou pela análise simples de variância (ANOVA) seguida pelo

teste de múltiplas comparações de Tukey. Os valores foram considerados

como significativamente diferentes dos controles quando p < 0.05.

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71

4.7 Interação de FITC-ConM com endotélio e músculo liso da aorta de

rato

Visando verificar as alterações histológicas do endotélio e aorta de rato

submetida à incubação com ConM fluoresceinada, bem como visualizar a

interação da lectina com os tecidos constituintes da aorta, foi realizado um

experimento de avaliação da interação de FITC-ConM com endotélio e

músculo liso de aorta de rato. Para isso, a metodologia foi dividida em três

etapas consecutivas: (a) processamento das amostras e obtenção dos cortes

histológicos; marcação da lectina com FITC e tratamento (incubação) dos

cortes histológicos com a lectina fluoresceinada. Uma descrição detalhada

destas etapas é dada a seguir.

4.7.1 Processamento das amostras e obtenção dos cortes histológicos

As amostras de aorta de ratos foram inicialmente fixadas em

formaldeído a 10% tamponado durante 24 horas, desidratadas em série

alcoólica de concentração crescente (70% por 1 hora, 80% por 1 hora, 90%

por uma hora, 95% por uma hora e álcool absoluto em dois banhos de uma

hora cada), diafanizadas em xilol (duas passagens de duas horas),

impregnadas em parafina histológica (duas passagens de duas horas em

estufa a 60oC) e incluídas em blocos de parafina. Os blocos foram cortados

em micrótomo Olympus, modelo CUT 4055 II, em seções com 5 m de

espessura. Por fim, as amostras seccionadas foram desparafinizadas em xilol

(2 3 minutos) e hidratadas em série de soluções alcoólicas de concentração

decrescente (álcool absoluto 2 minutos, 95% 2 minutos, 70% 2 minutos

e água destilada).

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72

4.7.2 Marcação da lectina com FITC

O processo de marcação da lectina com fluoresceína isotiocianato

(FITC) obedeceu ao protocolo estabelecido por Pinto (2001). Para isso,

alíquotas contendo 1 mg de lectina acrescida do monossacarídeo inibidor

(1,0 M) foram dissolvidas em 2,0 mL de solução de conjugação (1,5 mL de

tampão carbonato/bicarbonato de sódio 0,2M; pH 9,3, contendo 0,5 mL de

etilenoglicol). Apos rápida agitação em vortex, 500µl de uma solução de FITC

(0,05mg, em etilenoglicol) foram adicionados e a mistura submetida à

agitação contínua durante 5h a 4°C e ao abrigo da luz. Após incubação, a

fração contendo o complexo lectina/FITC foi separada da FITC não

conjugada por meio de cromatografia de exclusão molecular em coluna PD

10 (Pharmacia LKB – 9,0ml), previamente equilibrada com água Milli Q

saturada com N-butanol 5%, com fluxo continuo mantido por força da

gravidade. Imediatamente antes da cromatografia, 450µl da solução de

equilíbrio foram adicionados à amostra, a qual foi, em seguida, aplicada à

coluna. O pico I, correspondente à fração lectina/FITC, foi retirado com 3,5

mL de solução N-butanol 5%, enquanto a FITC não conjugada foi eluída no

Pico II com 10mL da mesma solução.

A lectina fluoresceinada (ConM) foi conservada sob forma liofilizada

até que, imediatamente antes da sua utilização, foi diluída em solução de

NaCl 0,15 M a uma razão de 1:10 (p/v) e mantida sob proteção da luz.

4.7.3 Tratamento dos cortes histológicos com FITC-ConM

As lâminas contendo secções de transversais de aorta de rato foram

submetidas ao tratamento com a lectina fluoresceinada (FITC-ConM) de

acordo com o seguinte protocolo: Inicialmente, 5 a 6 gotas da solução de

ConM fluoresceinada (diluída 1:10 em NaCl 0,15M) foram distribuídas sobre

os cortes histológicos desparafinizados e hidratados (volume suficiente para

cobrir completamente os cortes histológicos) e estes foram incubados em

estufa a 37,0 oC por 1 hora. Terminado o período de incubação, as amostras

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73

foram lavadas com suaves esguichos de solução NaCl 0,15M para remoção

do excesso de lectina e eliminação de ligações inespecíficas, e procedeu-se

a observação dos cortes por microscopia de fluorescência em microscópio de

fluorescência Olympus com câmera digital acoplada.

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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Muitas lectinas já foram cristalizadas e suas estruturas tridimensionais

determinadas. Existem mais de 50 entradas de lectinas da subtribo

Diocleinae que podem ser acessadas no Protein Data Bank (BERMAN et al.,

2000); a bastante conhecida e estudada lectina de sementes de Canavalia

ensiformis, Concanavalina A (ConA), representa aproximadamente 90%

desses dados.

5.1 Cristalização de ConM nativa

Cristais de ConM cresceram em diversas condições pelo método de

difusão de vapor em gota suspensa (JANCARIK & KIM, 1991). Os cristais

foram obtidos nas condições 4 (Tampão Tris-HCl 0,1 M pH 8,5 com sulfato de

amônio 2,0 M), 14 (Tampão HEPES-Na 0,1 M pH 7,5 com 0,2 M cloreto de

cálcio dihidratado e 28% v/v de Polietilenoglicol 400), 16 (Tampão HEPES-Na

0,1 M pH 7,5 com 1,5M de sulfato de lítio) e 39 (Tampão Hepes 0,1M pH 7,5

com 2% v/v de polietilenoglicol 400 e 2M de sulfato de amônio) do Screen I

da Hampton Research (Hampton Research, Riverside, CA, USA) nas

condições de temperatura ambiente (293K) da Unidade de Cristalização do

BioMol-Lab (Figura 11). É possível que a grande variedade de condições

onde foram encontrados cristais esteja associada ao elevado grau de pureza

da amostra de proteína usada em todos os experimentos, o que pode ser

comprovado no padrão de bandas encontrado na eletroforese em gel de

poliacrilamida (Figura 12) e também através de análise por espectrometria de

massa (dados não mostrados).

Os experimentos de otimização das condições de cristalização

demonstraram que os melhores cristais para difração de raios-X foram

aqueles obtidos em Tampão Hepes 0,1M pH 8,43 com 4% v/v de

polietilenoglicol 400 e 2M de sulfato de amônio, onde constatou-se uma

redução no tamanho dos cristais para dimensões de aproximadamente 0,8 x

0,4 x 0,4 mm em 7 dias (Figura 13).

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Figura 11 - Diferentes cristais obtidos a partir da realização do screening de

cristalização da lectina de sementes de Canavalia maritima.

Cristais obtidos nas condições 4 (A), 14 (B), 16 (C) e 39 (D) do

“Crystal Screen I” da Hampton Research (Hampton Research,

Riverside, CA, USA).

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Figura 12 - Eletroforese em gel de poliacrilamida na presença de SDS e 2-

mercaptoetanol de farinha de sementes de Canavalia maritima

(A) e da lectina ConM obtida durante duas diferentes

cromatografias de afinidade (B). Poço 1: marcadores de peso

molecular (Citocromo C, 12.4 KDa; Inibidor de Tripsina, 20.1 KDa;

Anidrase Carbônica, 29 KDa, Ovoalbumina, 45 KDa e Albumina

sérica bovina, 66 KDa); poço 2: farinha de sementes de

Canavalia maritima (20 mg/ml) e poços 3 e 4: ConM (1 mg/ml).

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O “soaking” de cristais de ConM nativa com carboidratos específicos

funcionou apenas para a formação de cristais complexados com os

dissacarídeos maltose e trealose. Isto ocorreu devido à presença de canais

de solvente que propiciaram a difusão do ligante até o sítio de ligação a

carboidratos; a acessibilidade do sítio de ligação na rede cristalina e a

tolerância do cristal ao “soaking” prolongado sem haver quebra ou

dissolução.

Figura 13 - Cristal da lectina de Canavalia marítima obtido por otimização da

condição 39 (Tampão Hepes 0,1M pH 7,5 com 2% v/v de

polietilenoglicol 400 e 2M de sulfato de amônio) do Crystal

Screen I da Hampton Research (Hampton Research, CA, USA).

5.2 Difração de raios-X

Os padrões de difração de raios-X (Figura 14) obtidos a partir do cristal

de ConM nativo foram escalonados numa faixa de 24,40 - 1,95 Å com um

total de 34308 reflexões únicas, revelando 97,9 % (97,9 %) de completeza.

Quando os dados do cristal foram indexados, mostraram pertencer ao grupo

de Laue primitivo ortorrômbico. Feita a integração das imagens, foi

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determinado que os cristais pertencem ao grupamento espacial P21212.

Considerando a presença de duas moléculas (474 resíduos; 25,5 KDa por

molécula) na unidade assimétrica, o coeficiente de Matthews (VM;

MATTHEWS, 1968) foi de 2,4 Å3 Da-1, indicando um conteúdo de solvente de

47,3%. A Tabela 7 mostra um resumo detalhado das estatísticas para os

dados coletados do cristal de ConM nativo.

Figura 14 – Padrão de difração de raios-X de cristal de ConM nativo.

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Tabela 7 – Dados estatísticos finais do refinamento da estrutura da lectina

nativa de sementes de Canavalia maritima (ConM).

Parâmetro Valores

Difração de raios-X

Grupo espacial P21212

Parâmetros da célula unitária (Å)

a 67.9164

b 71.0205

c 97.6173

Limites de resolução (Å) 24.4 – 1.95

Conteúdo da unidade assimétrica Um dímero

Total de reflexões únicas 34308

Completeza (%) 97.9 (97.9)

Rmerge (%) 12.2 (18.4)

<I/σ(I)> 3.4 (3.0)

Substituição Molecular

Correlação (%) 65,2

Rfactor (%) 53.2

Refinamento

Rfactor (%) 19.83

Rfree (%) 24.82

Distribuição dos resíduos no gráfico de Ramachandran (%)

Regiões mais permitidas 88.2 (365 resíduos)

Regiões adicionalmente permitidas 10.9 (45 resíduos)

Regiões generosamente permitidas 1.0 (4 resíduos)

Regiões não permitidas 0 (nenhum resíduo)

Desvio médio padrão

Para comprimento de ligações (Å) 0.021

Para ângulo de ligação (º) 1.925

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As Tabelas 8 e 9 apresentam um resumo detalhado das estatísticas

para os dados coletados de cristais de ConM complexada com os

dissacarídeos maltose e trealose.

Tabela 8 – Dados estatísticos finais do refinamento da estrutura de ConM

complexada com o dissacarídeo maltose.

Parâmetro Valores

Difração de raios-X

Grupo espacial P21212

Parâmetros da célula unitária (Å)

A 66.6736

B 71.7148

C 97.2345

Limites de resolução (Å) 31.57 – 1.71

Conteúdo da unidade assimétrica Um dímero

Total de reflexões únicas 43953

Completeza (%) 99.9 (99.9)

Rmerge (%) 6.5 (30.0)

<I/σ(I)> 8.8 (2.3)

Substituição Molecular

Correlação (%) 48,3

Rfactor (%) 63.0

Refinamento

Rfactor (%) 20.73

Rfree (%) 26.10

Distribuição dos resíduos no gráfico de Ramachandran (%)

Regiões mais permitidas 89,4 (370 resíduos)

Regiões adicionalmente permitidas 9,7 (40 resíduos)

Regiões generosamente permitidas 1,0 (4 resíduos)

Regiões não permitidas 0 (nenhum resíduo)

Desvio médio padrão

Para comprimento de ligações (Å) 0,021

Para ângulo de ligação (º) 1,932

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Tabela 9 – Dados estatísticos finais do refinamento da estrutura da lectina de

ConM complexada com o dissacarídeo trealose.

Parâmetro Valores

Difração de raios-X

Grupo espacial P21212

Parâmetros da célula unitária (Å)

a 67.0327

b 71.0860

c 97.3321

Limites de resolução (Å) 35.57 – 1.78

Conteúdo da unidade assimétrica Um dímero

Total de reflexões únicas 32114

Completeza (%) 98.4 (98.4)

Rmerge (%) 6.6 (26.3)

<I/σ(I)> 7.7 (2.3)

Sustituição Molecular

Correlação(%) 54,8

Rfactor (%) 58,0

Refinamento

Rfactor (%) 19.27

Rfree (%) 24.42

Distribuição dos resíduos no gráfico de Ramachandran (%)

Regiões mais permitidas 87.2 (361 residuos)

Regiões adicionalmente permitidas 11.8 (49 resíduos)

Regiões generosamente permitidas 0.7 (3 resíduos)

Regiões não permitidas 0.2 (1 resíduo)

Desvio médio padrão (r.m.s.d.)

Para comprimento de ligações (Å) 0.021

Para ângulo de ligação (º) 1.940

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Os dados de difração de raios-X do cristal de ConM complexada com

maltose foram escalonados numa faixa de 31.57 – 1.71 Å com um total de

43953 reflexões únicas, revelando 99,9 % (99,9 %) de completeza. Já os

dados de difração de raios-X do cristal de ConM complexada com trealose

foram escalonados numa faixa de 35.57 – 1.78 Å com um total de 32114

reflexões únicas, revelando 98,4 % (98,4 %) de completeza.

5.3 Substituição molecular e refinamento

5.3.1 ConM nativa

A estrutura do cristal de ConM nativa foi determinada por substituição

molecular utilizando-se como modelo a estrutura resolvida da lectina de

Canavalia ensiformis complexada com Zinco e Cálcio a pH 6,15, tendo sido

retiradas as moléculas de água. A estrutura encontra-se depositada no

Protein Data Bank (PDB) código 3ENR (BOUCKAERT et al., 2000; BERMAN

et al., 2000). Depois de serem calculadas as funções de rotação e translação,

os melhores resultados usando o programa MolRep (VARGIN &

TEPLYAKOV, 1997) indicaram um coeficiente de correlação de 65,2% e um

Rfactor de 53,2 % (Tabela 7).

A estrutura inicial foi submetida a refinamentos de corpo rígido (“rigid

body”) e posicional (“restrained”) usando o programa REFMAC5 do pacote de

programas CCP4 (COLLABORATIVE COMPUTATIONAL PROJECT,

NUMBER 4, 1994), tendo Rfactor e Rfree convergido para 23,38 % e 27,36 %,

respectivamente. Após a substituição dos resíduos que diferem do modelo

3ENR, ajuste manual das cadeias laterais com base no mapa de densidade

eletrônica, foi observado que alguns resíduos da seqüência publicada por

Perez et al. (1991) não correspondiam as densidades eletrônicas observadas

no mapa. Os resíduos modificados com base no mapa de densidade

eletrônica foram os seguintes: V17 por I17, S53 por I53, M129 por S129,

T134 por S134, S144 por G144, P164 por S164, S165 por P165, G169 por

S169, T187 por S187, T190 por S190, A196 por T196 e P202 por S202

(Figura 15 e Tabela 10). Feitas as devidas modificações e a adição das

moléculas de água, o modelo submetido a um segundo refinamento

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posicional (“restrained”) resultou em valores de Rfactor de 19,83% e Rfree de

24,82%.

Figura 15 - Detalhe dos resíduos corrigidos na sequência manual de ConM a

partir dos dados do mapa de densidade eletrônica. Os resíduos

modificados foram os seguintes: (A) V17 por I17, (B) S53 por I53,

(C) M129 por S129, (D) T134 por S134, (E) S144 por G144, (F)

P164 por S164, (G) S165 por P165, (H) G169 por S169, (I) T187

por S187, (J) T190 por S190, (K) A196 por T196 e (L) P202 por

S202.

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Tabela 10 - Diferenças entre resíduos de ConM seqüenciada manualmente

por Perez et al., (1991) e sequência de ConM* determinada

com base nas densidades eletrônicas da estrutura

tridimensional resolvida por cristalografia de raios-X.

Resíduo

ConM

ConM*

17

V

I

53 S I

129 M S

134 T S

144 S G

164 P S

165 S P

169 G S

187 T S

190 T V

196* A T

202

P

S

* Resíduo não determinado por Perez et al. (1991) durante o sequenciamento.

5.3.2 ConM complexada com dissacarídeos

A estrutura dos cristais de ConM complexada com os dissacarídeos

maltose e trealose foi determinada por substituição molecular utilizando-se

como modelo a estrutura resolvida da lectina de Canavalia maritima (ConM)

nativa. Calculadas as funções de rotação e translação, os melhores

resultados usando o programa MolRep (VARGIN & TEPLYAKOV, 1997) para

maltose e AMoRe (NAVAZA, 1994) para trealose, indicaram um coeficiente

de correlação de 48,3% e um Rfactor de 63,0 % (Tabela 8) para maltose e 54,8

% e 58,0 % para trealose (Tabela 9).

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A estrutura inicial foi submetida a refinamentos de corpo rígido (“rigid

body”) e posicional (“restrained”) usando o programa REFMAC5 do pacote de

programas CCP4 (COLLABORATIVE COMPUTATIONAL PROJECT,

NUMBER 4, 1994). Ao final foram adicionadas 245 moléculas de água ao

modelo de ConM complexada com maltose e 253 moléculas de água ao

modelo de ConM complexada com trealose com o uso do programa XtalView

(McREE, 1999), que submetido a um segundo refinamento restrito

(restrained) resultou em valores de Rfactor de 20,73% e Rfree de 26,10% para

ConM complexada com maltose, e Rfactor de 19,27% e Rfree de 24,42% para

ConM complexada com trealose.

5.4 Estrutura tridimensional de ConM nativa

A estrutura tridimensional completa de ConM nativa é mostrada na

Figura 16. O tetrâmero consiste de dois dímeros canônicos de lectinas de

leguminosas, sendo cada monômero formado por uma cadeia polipeptídica

de 237 resíduos de aminoácidos.

A Figura 17 mostra o alinhamento de seqüências primárias de

algumas lectinas da sub-tribo Diocleinae, onde observa-se um alto grau de

similaridade da ConM quando comparado a sua seqüência com a de outras

lectinas da mesma sub-tribo. A seqüência sugerida por Perez et al. (1991)

mostrava 91% de similaridade entre ConA e ConM, mas como alguns

resíduos da sequência de ConM foram corrigidos neste trabalho, com base

na densidade eletrônica da estrutura resolvida, esta similaridade entre ConA

e ConM aumentou para 98%.

A seqüência manual de aminoácidos publicada por Perez et al. (1991)

para ConM possui 12 resíduos de aminoácidos que não estão corretos. Os

resíduos de aminoácidos determinados com base na densidade eletrônica da

estrutura tridimensional resolvida de ConM (Figura 15) são isoleucina (I17),

isoleucina (I53), serina (S129), serina (S134), glicina (G144), serina (S164),

prolina (P165), serina (S169), serina (S187), serina (S190), treonina (T196) e

serina (S202). Com base na seqüência de aminoácidos determinada por

densidade eletrônica, 14 dos 19 tipos de aminoácidos encontrados na

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composição de ConM (a proteína não possui resíduos de cisteína)

correspondem em quantidade aqueles previamente calculados por Perez et

al. (1991) através de análise da composição de aminoácidos.

Figura 16 – Uma visão geral da estrutura tetramérica da lectina de sementes

de Canavalia maritima (ConM). Nos "loops" superficiais em cada

um dos monômeros podem ser vistos os sítios de ligação a Ca2+

(bolas verdes) e Mn2+ (bolas violetas).

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Figura 17 - Alinhamento de seqüências de algumas lectinas de sementes de

espécies pertencentes a subtribo Diocleinae. Lectinas de Canavalia

ensiformis (ConA), C. brasiliensis (ConBr), C. gladiata (CGL), C.

maritima (ConM), D. guianensis (Dguia) e Cratylia mollis (Cra) As

cores vermelhas representam os aminoácidos pequenos e os

hidrofóbicos (AVFPMILW); o azul marca os resíduos acídicos (DE); o

magenta os resíduos básicos (RHK); o verde representa os que

possuem cadeias laterais com hidroxilas, aminas e básicas, além da

glutamina (STYHCNGQ); e o cinza refere-se aos demais. Os símbolos

“*” significam que os resíduos na coluna indicada são idênticos em

todas as seqüências; “:” indica que foram observadas substituições

conservativas e “.” indica modificações semi-conservativas.

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Os monômeros são formados por 16 fitas β interconectadas por voltas

e “loops” e por três α-helices. Dois dímeros canônicos associados por fitas β

em contato cruzado (cross-link) formam a estrutura quaternária da ConM. Os

contatos da interface beta-beta e as pontes de hidrogênio estabilizam os

dímeros canônicos, conforme mostrado na Figura 18. Oito resíduos nos sítios

C1 e C2 (Figura 18A,B) interconectam os dímeros canônicos. A interação em

C1 é uma ligação cruzada entre ácido aspártico (ASP78) e arginina (ARG60)

nas cadeias A e D (Figura 18C), e nas cadeias B e C. Outras interações na

mesma linha ocorrem entre resíduos treonina (TRE49) e serina (SER119)

estabilizam a estrutura (Figura 18D).

A presença de um tetrâmero no cristal indica que a associação dos

dímeros da ConM não é estericamente proibida e pode ocorrer em condições

favoráveis. Existe presumivelmente um equilíbrio dinâmico entre dímero e

tetrâmero em solução. Numerosos outros exemplos de formação de

multímeros em estruturas de cristais de lectina (HAMELRYCK et al., 2000) e

em solução já foram relatados (CHO et al., 1995).

A habilidade das lectinas de formarem tetrâmeros pode dessa forma

ser fisiologicamente relevante no contexto de formação de ligações cruzadas

com o receptor, o qual frequentemente ocorre em sistemas de transdução de

sinal. Isto pode permitir uma hábil regulação, baseada nas concentrações

locais de lectinas na superfície celular, o pH local e outros fatores (BUTS et

al., 2001). Estruturas já determinadas da ConA apresentam regiões de

densidade eletrônica fraca nos resíduos N-terminais e em “loops” de

superfície nos resíduos 118-122, 149-151, 160-163 (NAISMITH et al., 1994;

DEACON et al., 1997; BOUCKAERT et al., 1999). A densidade eletrônica

para os “loops” de ConM é fraca ou simplesmente não aparece em duas

dessas regiões 118-121 e 160-163. Algumas estruturas refinadas a nível de

resolução atômica não mostram, também, densidades eletrônicas em seus

“loops”, mas outras estruturas resolvidas a nível de resolução atômica

possuem melhor densidade eletrônica do que estruturas de alta resolução,

como foi observado por Kantardjieff et al. (2002) no “loop” formado entre duas

serinas (SER161 e SER164).

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89

Figura 18 – Contatos entre monômeros. (A); Visão lateral dos contatos entre

os dímeros canônicos (B); Contato tipo “cross-link” entre os

dímeros canônicos (C); O círculo vermelho (C1) representa

pontes de hidrogênio que estabilizam o tetrâmero em interação

do tipo “cross-link”; os círculos vermelhos (C2 e C3) mostram

interações por ponte de hidrogênio nos cantos dos dímeros (D).

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90

Isto é possível devido à existência de arranjos individuais multi

conformacionais que não permitem a criação de densidade eletrônica

suficientemente localizada para discernir qualquer “loop” definido

(KANTARDJIEFF et al., 2002). A lectina de sementes de Canavalia gladiata

(CGL) difere de outras lectinas ConA-like nos “loops” a nível de resolução

atômica (1,9 Å) (dados não mostrados), pois sua estrutura apresenta uma

excelente densidade eletrônica nos “loops” 149-151 e 160-163. Esta ausência

de densidade eletrônica nas regiões de loop da ConM (Figura 19) ocorre em

muitas outras estruturas.

Na ConM nativa, os aminoácidos envolvidos na ligação a metais são

conservados, e a estrutura dos sítios de ligação a Mn2+ e Ca2+ mostra

similaridade com aqueles determinados em outras lectinas de leguminosas.

Os monômeros da ConM contém os ions mangânes e cálcio nas

proximidades do sítio de ligação a carboidratos (Figura 20). A ligação do íon

metálico cálcio induz à isomerização trans para cis da ligação peptídica entre

a alanina (ALA207) e o ácido aspártico (ASP208), que é conservada em

todas as estruturas de cristais de lectinas de leguminosas. Esta ligação cis-

peptidíca contribui para a estabilização do bolsão de ligação através da

orientação das posições dos resíduos asparagina (ASN14) e a arginina

(ARG228). Cada um dos ions metálicos é coordenado por quatro cadeias

laterais de aminoácidos e duas moléculas de água: ácido glutâmico (GLU8),

ácido aspártico (ASP10), ácido aspártico (ASP19) e histidina (HIS24) com

Mn2+ e ácido aspártico (ASP10), tirosina (TYR12), asparagina (ASN14) e

ácido aspártico (ASP19) com Ca2+. No caso do íon cálcio, uma das moléculas

de água forma uma ponte entre o metal e o grupo carbonil da cadeia principal

do resíduo de ácido aspártico (ASP 208), estabilizando desse modo a pouco

usual ligação cis-peptídica entre alanina (ALA207) e ácido aspártico

(Asp208).

Como já havia sido descrito nas lectinas ConA-like, o sítio de ligação a

carboidratos de ConM apresenta potencial eletrostático negativo (Figura 21),

conforme calculado pelo programa Swiss PdbViewer 3.7. Uma vez ligado o

carboidrato, esta superfície negativa é coberta pela carga neutra do

carboidrato (HAMODRAKAS, 1997).

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Figura 19 – Densidades eletrônicas das regiões de loops da estrutura da

lectina de sementes de Canavalia maritima (ConM). Loop N-

terminal (A), Loop 159-164 (B), Loop 148-153 (C) e Loop 116-

124 (D).

A B

C D

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Figura 20 - O duplo sítio de ligação a metais do monômero de ConM nativa.

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93

Figura 21 – Potencial de superfície da estrutura tetramérica de ConM nativa.

Os potenciais eletrostáticos negativos dos sítios de ligação a

carboidratos estão destacados por uma seta amarela.

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94

5.5 Estrutura tridimensional de ConM complexada à maltose e trealose

As Figuras 22 e 23 apresentam detalhes das densidades eletrônicas

dos dissacarídeos maltose e trealose no sítio de ligação a carboidratos da

ConM. Observa-se que a densidade eletrônica está presente para ambos os

dissacarídeos, embora seja mais intensa para o dissacarídeo trealose.

Nas Figuras 24 e 25 encontram-se detalhes do sítio de ligação a

carboidratos da ConM complexada com os dissacarídeos maltose e trealose,

com destaque para os resíduos envolvidos na formação de pontes de

hidrogênio com o açúcar e sua orientação com relação ao sítio de ligação a

íons metálicos.

Ramos et al. (1996) construíram um modelo tridimensional da ConM a

partir do alinhamento de seqüência com a ConA e utilizaram este modelo

para simulação de encaixe dos açúcares glicose e manose no sítio de ligação

a carboidratos. Como resultado, encontraram que o sítio de ligação a

carboidratos da ConM é bastante similar ao da ConA. De fato, os sítios de

ligação a carboidratos de ConM complexada com os dissacarídeos maltose e

trealose são formados por uma rede de pontes de hidrogênio idênticas

aquelas descritas para a ConA por Derewenda et. al. (1989). Tanto para a

estrutura tridimensional de ConM complexada com maltose como por

trealose (Figuras 24 e 25), são 8 as pontes de hidrogênio que conectam o

dissacarídeo aos resíduos de aminoácidos que formam o sítio de ligação a

carboidratos. Os resíduos de aminoácidos envolvidos na formação de pontes

de hidrogênio com o dissacarídeo maltose são leucina (LEU99), tirosina

(TIR100) e arginina (ARG228), que formam, cada um, a partir de sua cadeia

principal, duas pontes de hidrogênio. Além desses resíduos, tirosina (TIR12)

e asparagina (ASN14), pertencentes ao sítio de ligação a íons metálicos

bivalentes, formam, cada um, uma ponte de hidrogênio entre suas cadeias

laterais e a molécula da maltose.

As pontes de hidrogênio formadas entre a ConM e a molécula de

trealose no sítio de ligação a carboidratos, assim como na interação com a

maltose, envolvem os resíduos leucina (LEU99), tirosina (TIR100) e arginina

(ARG228), sendo que as interações diferem em quantidade e origem (cadeia

lateral ou principal) para cada um deles. De um total de 8 pontes de

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hidrogênio, nenhuma delas é formada por resíduos pertencentes ao sítio de

ligação a íons metálicos bivalentes. As pontes de hidrogênio foram formadas

entre a trealose e as cadeias laterais da treonina (TRE226), da arginina

(ARG228) e do aspártico (ASP218), sendo que este último resíduo é

responsável pela formação de duas pontes de hidrogênio com o açúcar. Os

resíduos glicina (GLI224), arginina (ARG228), leucina (LEU99) e tirosina

(TIR100) formam, cada um deles, uma ponte de hidrogênio entre o açúcar e

sua cadeia principal.

Figura 22 - Detalhe da densidade eletrônica do dissacarídeo maltose no sítio

de ligação a carboidratos da ConM.

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Figura 23 - Detalhe da densidade eletrônica do dissacarídeo trealose no sítio

de ligação a carboidratos da ConM.

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Figura 24 - Detalhe do sítio de ligação a carboidratos da ConM complexada

com o dissacarídeo maltose.

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Figura 25 - Detalhe do sítio de ligação a carboidratos da ConM complexada

com o dissacarídeo trealose.

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99

Embora a especificidade de ConM seja a mesma para ambos os

dissacarídeos (RAMOS et al., 1996; Tabela 1), estruturalmente apresenta

diferenças no padrão de formação de pontes de hidrogênio, principalmente

na distribuição do número de pontes de hidrogênio entre os dois resíduos de

glicose dos dissacarídeos (Figuras 24 e 25). Enquanto ConM complexada a

maltose forma sete pontes de hidrogênio com um dos resíduos de glicose e

apenas uma ponte com o outro, ConM complexada a trealose forma cinco

pontes de hidrogênio com um dos resíduos de glicose e três pontes com o

outro. Isto pode está relacionado à configuração da ligação glicosídica dos

dissacarídeos, pois enquanto maltose apresenta dois resíduos de glicose

unidos por ligação (14), trealose apresenta seus resíduos unidos por

(11).

Para ambas as estruturas, nota-se que os resíduos leucina (LEU99),

tirosina (TIR100) e arginina (ARG228), são conservados no sítio de ligação a

carboidratos, sendo que arginina (ARG228) apresenta-se como um resíduo

fundamental no estabelecimento da afinidade entre a ConM e carboidratos

(LORIS et al., 1998; LORIS et al., 2004).

5.6 Avaliação da qualidade das estruturas

5.6.1 ConM nativa

Feita uma análise da qualidade estereoquímica da estrutura final da

ConM através do programa PROCHECK (LASKOWSKI et al., 1993),

verificou-se que o modelo final apresentou boa configuração estereoquímica

(Figura 26); com 88,2 % dos resíduos nas regiões mais permitidas, 10,9 %

nas regiões adicionalmente permitidas, 1 % nas regiões generosamente

permitidas e nenhum resíduo em regiões não permitidas. Como uma das

saídas deste programa é o gráfico de Ramachandran (RAMACHANDRAN &

SASISKHARAN, 1968), que afere as medidas dos ângulos diédricos e ,

portanto trata-se de um bom indicador da qualidade do modelo.

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100

Figura 26 – Gráfico de Ramachandran da estrutura final de ConM nativa

calculada pelo programa PROCHECK (LASKOWASKI et al.,

1993).

Diferenças mais significativas entre a estrutura da ConM e o modelo

da ConA estão nas regiões 68-70, 119-122, 135-137, 149-153, 161-163 e

170-171 (Figura 27). Sendo que algumas dessas diferenças estruturais entre

as subunidades de ConM, ocorrem principalmente nas regiões dos loops.

Estas regiões ou estão envolvidas nos contatos do cristal ou possuem

pequenos contatos com outras partes da proteína. As diferenças

apresentadas entre os modelos provavelmente são reais uma vez que os

átomos envolvidos possuem baixos fatores de temperatura.

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101

Figura 27 - Desvio médio padrão na distância espacial entre as cadeias A

(azul) e D (vermelho) de ConM nativa e seus respectivos

monômeros no modelo 3ENR (BOUCKAERT et al., 2000;

BERMAN et al., 2000).

5.6.2 ConM complexada aos dissacarídeos maltose e trealose

No gráfico de Ramachandran (RAMACHANDRAN & SASISKHARAN,

1968) para ConM complexada ao dissacarídeo maltose (Figura 28) constata-

se que 89,4 % dos resíduos estão nas regiões mais permitidas, 9,7 % nas

regiões adicionalmente permitidas e 1 % nas regiões generosamente

permitidas. Já para o modelo final de ConM complexada ao dissacarídeo

trealose o gráfico de Ramachandran (Figura 29) mostra que 87,2 % dos

resíduos estão nas regiões mais permitidas, 11,8 % nas regiões

adicionalmente permitidas, 0,7 % nas regiões generosamente permitidas e

0,2 % nas regiões não permitidas.

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Figura 28 – Gráfico de Ramachandran da estrutura final de ConM

complexada com o dissacarídeo maltose calculada pelo

programa PROCHECK (LASKOWASKI et al., 1993).

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Figura 29 – Gráfico de Ramachandran da estrutura final de ConM

complexada com o dissacarídeo trealose calculada pelo

programa PROCHECK (LASKOWASKI et al., 1993).

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104

Observando-se os gráficos (Figuras 30 e 31 para maltose e trealose,

respectivamente) de desvio médio padrão (r.m.s.d.) na distância espacial

entre as cadeias de ConM complexada com os dissacarídeos maltose e

trealose com relação aos seus respectivos monômeros no modelo, constata-

se alterações nas regiões dos resíduos de aminoácidos do sítio de ligação à

íons metálicos bivalentes. É evidente ainda, variações nas regiões C-

terminais (partindo do resíduo 180) das estruturas de ConM complexada a

ambos os dissacarídeos, principalmente nas áreas onde são encontrados

resíduos envolvidos na formação de pontes de hidrogênio no sítio de ligação

a carboidratos.

Da mesma forma que para a estrutura da ConM nativa, algumas

diferenças estruturais entre as subunidades de ConM complexadas com os

dissacarídeos maltose e trealose foram observadas na região dos loops.

Entretanto, a região dos resíduos 115-124 foi a única região de loop que

divergiu do modelo para a estrutura de ConM complexada com o açúcar

trealose. Já na estrutura de ConM complexada com maltose as regiões dos

loops 117-123 e 160-166 foram as que mais divergiram do modelo.

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Figura 30 - Desvio médio padrão na distância espacial entre as cadeias A

(azul) e D (vermelho) de ConM complexada com o dissacarídeo

maltose e seus respectivos monômeros no modelo 3ENR

(BOUCKAERT et al., 2000; BERMAN et al., 2000).

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Figura 31 - Desvio médio padrão na distância espacial entre as cadeias A

(azul) e D (vermelho) de ConM complexada com o dissacarídeo

trealose e seus respectivos monômeros no modelo 3ENR

(BOUCKAERT et al., 2000; BERMAN et al., 2000).

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107

5.7 Atividade Biológica

A fenilefrina (0.1 µM) induziu contrações estáveis do tônus de anéis de

aorta nas preparações com endotélio intacto da ordem 0,58 ± 0,1 g (n=5;

Figura 32A, Figura 33) e de 1,07 ± 0,09 g em anéis de aorta no qual o

endotélio foi mecanicamente removido (n=6; Figura 32B, Figura 33). A adição

cumulativa de ConM aos tecidos pré-contraídos induziram um significante,

relaxamento concentração-dependente nas preparações com endotélio

preservado, começando em 10 µg/mL, com completa reversão evidente na

dose de 30 µg/mL (IC50 of 9,8 ± 0,6 µg/mL; Figura 32A, Figura 33). Contudo,

nenhum efeito relaxante foi observado nos tecidos em que o endotélio foi

previamente removido (Figura 32B, Figura 33).

O efeito relaxante da ConM em anéis de aorta com endotélio intacto foi

totalmente bloqueado pelo inibidor da óxido nítrico sintase L-NAME (100 µM;

n=5; Figura 32C, Figura 33). Mais importante ainda, foi à observação de que

o relaxamento induzido por ConM em tecidos pré-contraídos por uso de

fenilefrina, foi estritamente dependente da presença de um endotélio intacto,

tendo sido completamente inibido pela remoção mecânica da camada de

tecido endotelial ou pelo uso de um inibidor (L-NAME) da óxido nítrico sintase

(NOS). O óxido nítrico (NO), o principal mediador de relaxamento endotélio-

dependente na aorta de ratos, é produzido a partir do aminoácido arginina

pelas isoformas endoteliais da óxido nítrico sintase (eNOS) em resposta a

agonistas como acetilcolina, bradiquinina e substância P (FLEMING &

BUSSE, 1999). Esses agonistas provocam elevação intracelular das

concentrações de cálcio e uma conseqüente ativação da calmodulina que

estimula as isoformas endoteliais da óxido nítrico sintase (eNOS). Porém, as

isoformas endoteliais da óxido nítrico sintase (eNOS), também podem ser

ativadas por mecanismos dependentes de cálcio (FLEMING et al., 1998;

VENEMA, 2002). Uma característica geral dos eventos mediados pelo óxido

nítrico (NO) nos vasos sangüíneos é a sua inibição por análogos da L-

arginina, como o metil éster de L-nitro arginina (L-NAME) (MONCADA et al.,

1991; TARE et al., 2000). Uma vez que no presente estudo, L-NAME mostrou

capacidade tanto para inibir como para reverter o relaxamente induzido pelas

concentrações cumulativas administradas de ConM, é provável que óxido

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108

nítrico esteja sendo liberado como resultado da interação da lectina com

células endoteliais. Isto ativa a guanilato ciclase do músculo liso, com

conseqüente relaxamento do vaso (KARAKI et al., 1997; MONCADA et al.,

1991). A possibilidade de ligação de lectinas à células do endotélio vascular

já foi anteriormente observada e relatada por diversos autores (SIMIONESCU

et al., 1982; MILLS & HAWORTH, 1986). Da mesma forma, já foi

demonstrado que a lectina de germen de trigo (WGA) e a concanavalina A

(ConA) podem liberar fatores de relaxamento endotélio-derivados em aorta

de coelho (KLEHA et al., 1991); e mais recentemente, que a lectina da alga

Bryothamnion triquetrum indux relaxamento em aortas de rato através de

liberação de óxido nítrico (NO) (LIMA et al., 2004). Além disso, Cavada e

colaboradores (2001) hipotetizaram que as lectinas com especificidade de

ligação para os mesmos ligantes possuem efeitos biológicos similares.

Porém, algumas atividades biológicas, como liberação de histamina, podem

ser úteis na agregação das lectinas em grupos. Estudos de microcalorimetria

por titulação isotérmica feitos por Dam e colaboradores (1998) mostraram

que as lectinas estudadas da subtribo Diocleinae podem ser divididas em

dois grupos: aquelas com relativamente altos K e -∆H de Canavalia

ensiformis (ConA), C. brasiliensis, D. guianensis e D. virgata, todas elas com

boa atividade de liberação de histamina; e aquelas com significativamente

baixos K e -∆H ao complexo oligossacarídeo biantenário como as lectinas

de sementes de D. grandiflora, Cratylia floribunda, D. rostrata e D. violacea,

que possuem baixas atividades de liberação de histamina. Assim, ConM

parece pertencer ao ultimo grupo de lectinas da sub-tribo Diocleinae, e como

se poderia esperar, apresenta baixa atividade de liberação de histamina,

conforme previamente relatado por Gomes e colaboradores (1994) e Ferreira

e colaboradores (1996) em ensaios de produção de mastócitos na cavidade

peritoneal de ratos. As lectinas de C. brasiliensis, D. rostrata e D. virgata

lectins induzem liberação de histamina em mastócitos na cavidade peritoneal

de ratos semelhante à de concanavalina A (ConA). Uma menos potente e

eficaz liberação de histamina foi observada para as lectinas de C. maritima,

D. guianensis e D. violacea enquanto que mais baixas atividades de liberação

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109

de histamina foram observadas para as lectinas de D. grandiflora, C.

bonariensis e Cratylia floribunda (GOMES et al., 1994).

Uma evidencia da interação da lectina com estruturas vasculares pode

ser visualizado no corte histológico transversal de aorta de rato (Figura 34).

Quando comparada ao controle (Figura 34A), a imagem do tecido tratado

com a lectina marcada com fluoresceína (Figura 34B) mostra um

espessamento das fibras elásticas na túnica média, além de uma sensível

maior fluorescência no lado interno do anel de aorta, que corresponde ao

endotélio do vaso.

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Figura 32 – Indução do relaxamento em aorta isolada de ratos dependente de

óxido nítrico pela ConM. Os gráficos mostram os efeitos da

adição de ConM (1-100 µg/mL) em anéis de aorta de rato pré-

contraídos com 0,1 µM de fenilefrina (PE) com endotélio intacto

(A), sem endotélio intacto (B) e com endotélio intacto

previamente tratado com L-NAME (C). W indica lavagem da

preparação com solução de Tyrode.

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Figura 33 – Dados médios dos experimentos comparando as respostas nos

tecidos com (●, n =7) e sem (■, n = 6) endotélio intacto e com

endotélio intacto previamente tratado com L-NAME (□, n=5). Os

valores foram expressos em percentagem (%) de mudanças a

partir da contração induzida por fenilefrina (PE) e foram

considerados como significativamente diferentes entre tecidos

com endotélio intacto e desnudo quando p<0.05.

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Figura 34 – Imagens de microscopia de fluorescência de cortes histológicos

de anéis de aorta de rato. Controle (A) e tecidos incubados com

ConM marcada com fluoresceína (B).

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6. CONCLUSÃO

Foi estabelecida a estrutura tridimensional completa por refinamento

cristalográfico da lectina purificada de sementes de Canavalia maritima

(ConM) com atividades relaxantes sobre anéis de aorta. As estruturas

refinadas, resolvidas por meio de técnicas de substituição molecular, foram

obtidas tanto de cristais da lectina nativa (1,95 Å) como de cristais da

proteína complexada com os dissacarídeos maltose (1,71 Å) e trealose (1,78

Å). A estrutura nativa consiste de um dímero na unidade assimétrica, com

dois sítios de ligação a metais por monômero e contatos por pontes de

hidrogênio que através de interação do tipo “cross-link” participam na

oligomerização molecular. Os resultados de atividade biológica da ConM

indicam que a lectina exerce ação relaxante concentração-dependente em

anéis isolados de aorta, ocorrendo provavelmente por meio de interação com

um sítio lectina-específico presente no endotélio, resultando na liberação de

óxido nítrico.

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114

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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8. APÊNDICE

APÊNDICE A – Artigo Publicado

Gadelha, C.A.A., Moreno, F.B.M.B, Santi-Gadelha, T., Cajazeiras, J.B.

Rocha, B.A.M, Rustiguel, J.K.R., Freitas, B.T., Canduri, F., Delatorre, P.,

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