revista conviver #16

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ANS nº 397397 Uma publicação trimestral da Unimed Campina Grande | Distribuição Gratuita | Ano III | Número 16 | Outubro de 2012 REVISTA ISSN 1983-1102 www.cg.unimed.com.br Campina Grande 100 LUIZ GONZAGA MAIS DE 40 LÉGUAS DE SAUDADE UMA EDIÇÃO COMEMORATIVA AO CENTENÁRIO DO REI DO BAIÃO CONVIVER BEM É DAR AO OUTRO O DIREITO DE SER FELIZ

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Publicação trimestral da Unimed Campina Grande.

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Uma publicação trimestral da Unimed Campina Grande | Distribuição Gratuita | Ano III | Número 16 | Outubro de 2012

REVISTA

ISSN 1983-1102

www.cg.unimed.com.br Campina Grande

100 LUIZ GONZAGA

MAIS DE 40 LÉGUAS DE SAUDADEUMA EDIÇÃO COMEMORATIVA AO CENTENÁRIO DO REI DO BAIÃO

CONVIVER BEM É DAR AO OUTRO O DIREITO DE SER FELIZ

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Dr. Fernando Rabello: referência em Dermatologia

Como vai doutor?

Água é vida!O prazer em atender: Atendimento ao cliente Unimed

Baião: o sentimento universal na melodia sertanejaLuiz Gonzaga: a voz que redescobriru o Nordeste

Museu Luiz Gonzaga: um passado sempre presente

A cantiga da saudadeO Maior São João do Mundo: Luiz Gonzaga cantou primeiro

HIV no idoso

Doutor, ela só pensa em namorarLuiz Gonzaga e o poético coração de um povo

Ser tão Luiz Gonzaga

Semana do Bebê Campina GrandeAcessibilidade do surdo na sociedade brasileira

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The Beatles e o encontro simbólico com o Rei do Baião

Trófeu Gonzagão: O Oscar da música nordestina

Pingos de silêncio

Índice

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O inesquecível amigo DidioNo tom de Antônio Barros e Cecéu

O Maior São João do Mundo

Olha pro céuO Açude Velho em estado de arte

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Colunistas

MEDICINA: CIÊNCIA DA VIDADra. Andréa de Amorim Pereira BarrosMédica Cooperada da Unimed Campina Grande e professora de Infectologia da UFCG.

NATUREZA MÉDICADr. Flawber Antônio CruzPerito médico do INSS - Especialista em Pediatria - Membro do Conselho Regional de Medicina.

UMA MARCA NO SEU TEMPODr. José Morais LucasMédico Anestesiologista, cooperado da Unimed Campina Grande, Membro da Academia Campinense de Letras.

SENSIBILIDADE CRÔNICAMica GuimarãesJornalista, professor do curso de Comunicação Social da Universidade Estadual da Paraíba, radialista.

CONVIVAEquipe Conviver

HISTÓRIAS E ESTÓRIASDr. José Alves NetoMédico Ultrassonografista, Cooperado da Unimed Campina Grande.

Participações especiais

Dr. Evaldo da NóbregaMembro da Academia de Letras de Campina Grande. Oficial Médico do Exercito Brasileiro. Cirurgião Colo-proctologista. Ex-Superintendente e Diretor do HUCG.

Luciana Pimentel FigueiredoBacharel em Ciências Contábeis pela UEPB. Especialista em Libras pela UNICID; Especialista em língua inglesa pela PUCRS; Graduanda em Letras/Libras pela UFPB--Virtual. Atualmente é Coordenadora Pedagógica da Uptime.

Johniere Alves RibeiroFormado em Letras pela UCFG. Mestre em Literatura e Interculturalidade pela UEPB. Professor na área de Lín-gua Portuguesa em graduações e pós-graduações.

Gabriel AlvesJornalista formado pela UEPB e mestrando em Desen-volvimento Regional pela UEPB/UFCG. Atua na Unidade de Comunicação da Federação das Indústrias do Estado da Paraíba

Heloisy MedeirosEnfermeira bacharel e licenciada pela Universidade Estadual da Paraíba. Especialista em Saúde da Família e Mestranda em Saúde Pública pela Universidade Estadual da Paraíba. Coordenadora do setor de Promoção a Saúde da Unimed Campina Grande.

Aline DurãesJornalista, Graduada em Letras-Inglês/UEPB. Especia-lista em Mídia e Assessoria de Comunicação/CESREI e Mestre em Literatura e Interculturalidade/UEPB.

Francisco de Assis CostaRadialista, jornalista, servidor do Fisco estuadual, bacharel em comunicação soc ial,direito e faz parte dos estudiosos da vida e obra de LUIZ GONZAGA,em Campina Grande.

URBE CAMPINENSEGeorge GomesHistoriador, pesquisador da memória de Campina Grande.

NATURALMENTERosângela Alves de SoutoGraduada em Ciências Biológicas pela UEPB; Mestre em Agronomia pela UFPB; Doutora em Recursos Naturais pela UFCG.

Geuma Ângela Cavalcante MarquesGraduada em Enfermagem e Obstetrícia pela Funda-ção Universidade Regional do Nordeste. Especialista em Saúde da Família pela Universidade Federal da Paraíba, e em Educação Profissional na área de saú-de pela Fundação Sérgio Arouca - ENSP.

Dr. Guilherme Veras MacenaGraduado em Medicina pela UFPE - Residência em Clínica Médica no Hospital Barão de Lucena em Re-cife – Residência em Cardiologias no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia em São Paulo/SP.

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Da Unimed

Diante dos 100 anos que marcam o legado do Rei do Baião, a ser celebrado no dia

13 de dezembro, a Unimed Campina Grande, no alto dos seus 40 anos de criação, ressalta que são léguas de saudade e experiência ainda a serem vi-vidas para celebrarmos uma história secular; mas o que não diminui nossa alegria é saber que, es-sencialmente, a história de Luiz Gonzaga e a da Unimed Campina Grande se unem pelo respeito às raízes do nosso povo, que não teve limitações na oportunidade do trabalho e da cultura para se mostrar de forma íntegra para esta nação.

Na história da música popular brasileira, im-possível dissociar a íntima relação entre a obra de um artista com suas raízes. Que olhar o Brasil te-ria para a cultura nordestina se não tivéssemos a obra de Luiz Gonzaga? A força poética de suas canções, a voz singular de um marcante intérprete que soube escolher, nas suas parcerias, a tradução mais fiel de um sentimento chamado nordestini-dade.

De Exu, em Pernambuco, até o sul maravi-lha, Luiz Gonzaga percorreu muitos caminhos tocando em bares e beiras de cais do Rio de Janei-ro para perceber, enfim, que, ao assumir as suas raízes, cantando as dores e amores do seu povo, pôde, sim, ser fiel ao caminho que o levou ao su-cesso.

Ao assumir, de forma autêntica, a sua san-fona e o seu chapéu de couro, Luiz Gonzaga conseguiu imortalizar uma obra, graças ao com-promisso e à autenticidade dedicada à cultura nordestina. Quantos nomes trilharam e ainda seguem este grande legado deixado pelo imortal “Seu Lua”? O pernambucano do século, como foi eleito em 2009, concorreu com nomes como Gil-berto Freire, Capiba, João Cabral de Melo Neto, fez, com simplicidade e dignidade, o maior cons-

UMA SECULAR HISTÓRIA DE COOPERAÇÃO COM NOSSA CULTURA

truto representativo da alma de um povo, talvez entendendo sempre que, para se chegar em algum lugar, como costumava dizer, bastava ter “tendên-cia e definição”. Esta a dimensão da sua inigua-lável marca.

Foi nesta terra, cantada pelo Rei do Baião, que o espírito de vanguarda, deixado pelos velhos tropeiros, foi herança para que o pioneirismo do cooperativismo médico crescesse e mostrasse que a força solidária, associada à determinação por se-guir um caminho, constituem a força capaz de im-pedir que uma história de sucesso desafine. Pois foi no ritmo desse “Baião de Dois” que, no dia 20 de dezembro de 1971, a medicina e o cooperativis-mo se uniram, e 37 médicos puderam construir a nossa saga.

Através dessa cooperativa médica, foi possí-vel que o sonho da valorização de uma classe de trabalho e o exercício ético e empenhado na medi-cina pudessem ser sinônimos de qualidade a assis-tência à saúde no campo suplementar. Saciando a sede daqueles que, tal qual o vôo simbólico da Asa Branca, batiam as asas para outras localidades na esperança da concretização dos seus ideais.

A Unimed, nesta edição, faz uma justa ho-menagem ao tenor do sertão nordestino que, com seu canto aboiado, imortalizou a sensibilidade de uma nação, não impondo fronteiras, nem tampou-co diferenças para quem ouvia suas canções. So-mos todos brasileiros ao ouvirmos Luiz Gonzaga, temos, na sua poesia, o bálsamo para os males da alma, já que para os desafios do corpo você pode contar com a Unimed. Boa leitura!

Dr. Francisco Vieira de OliveiraPresidente da Unimed

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DIRETORIA 2010/2014

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO 2010/2014Dr. Francisco Vieira de OliveiraDr. Alexandre de Castro Batista LeiteDra. Teresa Cristina Mayer Ventura da NóbregaDr. Norberto José da Silva Neto

VOGAISDr. Antônio Dimas CabralDr. Emílio de Farias JúniorDra. Gesira Soares de Assis FlorentinoDr. Giovannini Cesar Abrantes L. de FigueiredoDra. Waldeneide Fernandes AzevedoCONSELHO TÉCNICO E DE ÉTICA 2010/2014Dr. Carlos Roberto de S. OliveiraDra. Deborah Rose Galvão DantasDr. Ericsson Albuquerque MarquesDr. José Protásio VieiraDr. Juarez Carlos RitterDr. Saulo Gaudêncio de BritoCONSELHO FISCAL 2012Efetivos: Dr. Crismarcos Rodrigues da SilvaDra. Maria das Graças Loureiro ChagasDr. José Tadeu P. VitorinoSuplentes:Dra. Kátia Maria Lima VidalDr. Luiz Barros SobrinhoDr. Pedro Saulo Pereira dos SantosASSESSORIA JURÍDICADr. Giovanni Bosco Dantas MedeirosDra. Maria Rodrigues SampaioDra. Ramona GuedesCOMITÊ DE COMUNICAÇÃODr. Evaldo Dantas NóbregaDr. José Alves NetoDr. José Morais LucasDr. José Moisés Medeiros NetoDIREÇÃO/EDIÇÃODra. Teresa Cristina Mayer Ventura da NóbregaAlice Rosane CorreiaRibamildo Bezerra de LimaUlisses PraxedesYonnara AraújoJORNALISTA RESPONSÁVELRibamildo Bezerra - DRT 625/99REDAÇÃOUlisses Praxedes - DRT 2287/08

FOTOGRAFIALeonardo dos Santos SilvaCAPAUlisses Praxedes

ASSESSORIA DE MARKETINGAlice Rosane CorreiaREVISÃOMarcelo Coutinho de Oliveira RochaDIAGRAMAÇÃOFernanda Castro

IMPRESSÃOGráfica Moura RamosCIRCULAÇÃO2.000 exemplaresDistribuição GratuitaEdição Trimestral

ESPAÇO DO LEITOR

ATENDIMENTO(83) 2101.6576/[email protected]

PARA ANUNCIAR, LIGUE:(83)2101.6580(Alice)[email protected]

PARA SE CORRESPONDER COM A REDAÇÃO(83)[email protected]

Todo conteúdo veiculado nesta publicação é de responsabilidade dos seus autores.

A Revista Conviver é uma publicação sem fins lucrativos, custeada pelo material publicitário, veiculado na mesma.

CONVIVER É TORNAR NATURALMENTE O DIFERENTE

IGUAL A TODOS

Foto: Julio Cezar Peres

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Da redação

Nesta décima sexta edição da Revista Conviver, ano em que a Unimed Campina Grande celebra quatro décadas,

abrimos um justo espaço para um olhar mais contemplativo para a obra e histórias deixadas pelo Rei do Baião em seu centenário. Uma presença que é vida e melodia a superar qualquer lacuna físi-ca, afinal uma obra se imortaliza quando a lembrança a eterniza.

Contando com o auxílio luxuoso de grandes colaboradores, dos quais destacamos o jornalista Xico Nóbrega que, implicita-mente, com o seu jeito modesto e não menos talentoso, imprimiu, em incentivo, as diretrizes e as abordagens realizadas nas maté-rias referentes ao nosso homenageado, a Revista Conviver ousa ser a ponte a estreitar o caminho entre a arte e a informação junto ao seu público, palmilhada pela sensibilidade em cada linha aqui escrita.

É possível entender este propósito quando nos deparamos com um relato histórico do próprio Luiz Gonzaga, resgatado aqui como registro, quando, no final da década de 70, o Rei do Baião já vislumbrava, em Campina Grande, o grande palco das manifes-tações nordestinas para o Brasil. Uma ideia que reverberou pelo tempo e foi materializada nas mãos de um poeta que deu ao povo o seu merecido parque, um São João do tamanho do sonho do inesquecível Ronaldo Cunha Lima. São versos, rimas e ritmos que descrevem todo o nosso jeito de ser, que, na voz e na verve de An-tonio Barros e Céceu, já romperam fronteiras, mostrando que o mundo se identifica e carrega um pouco da nossa nordestinidade.

Portanto, contrariando um pouco o seu Lua, é possível afirmar que não existe légua tirana que separe um povo, unido por uma memória e práticas que conservem a sua história. Este é o princí-pio maior da Unimed a qual, junto com a sua gente, mostra que a cooperação em qualquer aspecto é liga que se dá pelo sabor da parceria e crescimento conjunto, pois tal qual cantou Luiz:

“Ai, ai ai, ó baião que bom tu soisSe o baião é bom sozinho, que dirá baião de dois...”

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A informação veio da em-presa britânica Today

Translations que reuniu a opinião de mil tradutores para concluir o que todos nós já sabemos: que a palavra “saudade”, em português, é tida como uma das mais difíceis do mundo para se traduzir. Ocupando o sétimo lugar numa lista de dez pa-lavras que no mundo não se descre-ve de forma consensual, a palavra “saudade” pode até ser entendida como sentimento nostálgico, sen-tir falta de alguma coisa ou alguém, mas na prática, sabemos que a ex-periência é diferenciada para quem vive a saudade no seu íntimo. É esta

vivência cultural provocada pela sau-dade, que a Revista Conviver tenta traduzir nessa edição. Fugindo do saudosismo gratuito, justificamos este sentimento presente na obras que superam o próprio tempo dos nossos homenageados, como Luiz Gonzaga e o poeta Ronaldo Cunha Lima, lembrados pelos ecos que ain-da reverberam cultural e socialmen-te. Já disse o poeta Mário Quintana que “o tempo não para, só a saudade é que faz as coisas pararem no tem-po”. Conviver é isso: a experiência diária de um sentimento que só coo-pera quando é verdadeiro, saudoso e sem tradução.

SAUDADE: SENTIMENTO MAIOR QUE A PALAVRA

Leitores

Convivendo com você

EDIÇÃO ANTERIOR

Foi com satisfação que através do Dr. José Augusto Neto, tive contato com a Revista Conviver, especificamente a publicação dos 40 anos. Gostaria de parabenizar a todos que fazem o corpo editorial desta revista, pela capacidade em ordenar momentos his-tóricos, homenagens das mais justas, artigos de cunho técnico científico, contos e rese-nhas de articulistas médicos e de outras profissões. Com a leitura, além de desfrutarmos dos conteúdos, desfrutamos da descoberta em observarmos a verve de colegas para a escrita lúdica, consciente e clara. Deveria, esta revista, ser disponibilizada a um maior público, não só aos cooperados da tão honrosa UNIMED/Campina Grande.

Josuel CavalcanteCirurgião e Traumatologista Bucomaxilofacial

Sem sombra de dúvidas a revista Conviver é um veículo de entretenimento e informação inestimável. Com uma leitura leve e agradável, parabenizo pela reportagem “ A maratona de chegar lá”, de Ribamildo Bezerra, que nos envolve na história da maratona e nos faz repensar sobre nossos limites. Fé e coragem aliados ao objetivo de chegar lá devem ser incorporados nas nossas metas de vida.

Heluan Ruana A. de Medeiros Profissional de Educação Física

Conviver é uma revista que tem dado uma contribuição ímpar dentro do âmbito das publicações especializadas. Oferece um material de qualidade e que tem servido ao seu propósito fundamental que é ser um veículo de utili-dade pública. Espero ansioso a chegada de cada edição.

Geovanne SantosJornalista

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Na falta de um pro-fissional da medici-na especialista em

Dermatologia, alguns médicos em Campina Grande que faziam Clí-nica Geral, Clínica Médica ou Pe-diatria, tratavam as doenças da pele como uma segunda especialidade, e, de certa forma, ocuparam bem esse espaço. Porém, com a chegada do Dr. Fernando de Carvalho Rabello em nossa cidade no ano de 1958, na condição de único especialista em Dermatologia e dedicando-se, exclusivamente, às doenças da pele, este conceito mudou, de modo que o Dr. Rabello passou a ser, verda-deiramente, o primeiro Dermato-logista, não só de Campina Gran-de, mas de todo o Compartimento da Borborema. Ao se inscrever no Conselho Regional de Medicina da Paraíba, obteve o nº 220.

Com competência, o Dr. Fer-nando Rabello soube ocupar bem este espaço, e, mesmo tendo en-cerrado as suas atividades médicas, recentemente, ainda hoje é a princi-pal referência da especialidade em nossa cidade, status que vai manter por muito tempo. Seguindo os seus passos, está a sua filha, Dra. Lucia-na Rabello Oliveira, dermatologista como ele, que deverá conquistar a fatia maior da sua fiel clientela, não só pela transferência natural de pai para filha, mas, sobretudo, pelos méritos pessoais, que são indiscu-

Unimed - uma marca no seu tempo

Dr. Fernando Rabello:REFERÊNCIA EM DERMATOLOGIA

tíveis.Filho de Francisco de Almei-

da Rabello e de Albertina Carvalho de Almeida Rabello, o Dr. Fernan-do nasceu em 10 de julho de 1932, no distrito de Macujê, que faz parte do município de Aliança, localizado na Mata-Norte do vizinho estado de Pernambuco.

Fernando Rabello terminou o curso de medicina na Universi-dade Federal de Pernambuco em 08 de dezembro de 1957, sendo da mesma turma os doutores Mauro Farias e Emanuel Alves, que tam-bém exerceram a profissão nesta cidade, ambos falecidos. Em Reci-fe, foi um fiel adepto do Professor Jorge Lobo, titular da cadeira, re-ferência nacional na especialidade e chefe do Serviço de Dermatolo-gia; Fernando acompanhou o Dr. Jorge Lobo desde os tempos de estudante, tendo, após concluir a sua especialização, dele recebido o conselho para se instalar em Cam-pina Grande, cidade progressista, pólo regional e com um bom mer-cado de trabalho, principalmente na medicina, onde havia uma ca-rência em dermatologia. Seguindo os conselhos do Mestre, veio para Campina Grande, onde se encon-tra há mais de meio século. Já em Campina, inclusive trabalhando no Hospital Alcides Carneiro, hoje Hospital Universitário, surgiu a oportunidade de complementar os

seus conhecimentos na especiali-dade, indo para o Rio de Janeiro, onde fez pós-graduação no Hos-pital dos Servidores do Estado, pertencente ao IPASE, considera-do, na época, o melhor hospital do Rio de Janeiro e um dos melhores do Brasil.

Na iminência de seu aniver-sário de 80 anos de idade – tal-vez quando esta edição estiver em circulação já os tenha completado – pode-se dizer que Fernando Ra-bello é um homem realizado pro-fissionalmente, posto que também cumpriu muito bem a sua missão como cidadão e chefe de família.

Depois de Fernando, os seus irmão médicos, Gildo Rabello e Luciano Rabello, respectivamente Gastroenterologista e Oftalmo-logista, seguiram os seus passos e também vieram para Campina

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Por Dr. José Morais Lucas |

Grande. Hoje, numa reunião social da família Rabello em nossa cidade, reúnem-se, facilmente, cinquenta pessoas deste importante clã de ori-gem pernambucana, porém, bem ramificado na Paraíba. Logicamen-te, neste contexto, além dos descen-dentes consanguíneos dos irmãos Fernando, Gildo e Luciano, entram os parentes colaterais, como espo-sas, genros, noras etc.

O seu currículo é vasto, ten-do sido professor fundador da Fa-culdade de Medicina de Campina Grande, onde exerceu a Cátedra de Dermatologia, tendo também ocu-pado o cargo de Diretor desta Esco-la Superior, no período 1975/1979. Foi também professor-adjunto de Dermatologia na Universidade Fe-deral da Paraíba e coordenador da disciplina, além de assessor de En-sino do Departamento de Medicina

Interna, Social e Preventiva desta instituição.

Consta também, no seu cur-rículo, que ocupou os cargos de vice-presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia da Paraíba, secretário da Sociedade Médica de Campina Grande nas gestões de Fiúza Chaves, Ulisses Pinto e José Arnóbio, membro titular do Co-legiado do curso de Medicina da UFPB, membro titular do Consepe da UFPB e presidente da II Câmara do Consepe na Universidade Fede-ral da Paraíba.

No seu rico histórico ainda são encontrados os títulos adian-te citados: Membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e do Colégio Ibero-Latino-Americano de Dermatologia; Presidente da XI Jornada Norte-Nordeste de Der-matologia; Médico dermatologista do Hospital Alcides Carneiro, IPA-SE, onde também foi presidente do Centro de Estudos; Chefe do Serviço de Dermatologia do Hos-pital Pedro I; Membro Titular do Conselho Regional de Medicina da Paraíba; Médico plantonista do SA-MDU, em Areia; Médico do Centro de Saúde Dr. Francisco Pinto; Só-cio fundador da Sociedade Brasilei-ra de Dermatologia – Regional PB; Coautor do livro texto CONTRO-LE DA HANSENÍASE, editado pelo Ministério da Saúde. Em 1971, foi um dos fundadores da Unimed Campina Grande, tendo exercido cargos na Diretoria dessa coopera-tiva médica em várias gestões.

Maria Luiza Silveira Rabello, sua primeira esposa, faleceu quan-do tinha 65 anos de idade. Era pro-

fessora de inglês, fundadora e dire-tora do curso Yázigi desta cidade. Deste matrimonio nasceram todos os seus quatro filhos, a saber: Már-cia (falecida); Luciana; Fernando e Marcelo. Márcia lhe deu um casal de netos; Mayra (falecida) e Rodri-go, que é advogado e está cursando um mestrado na sua área. Luciana, médica dermatologista, é casada com o também médico Francisco Vieira, ortopedista e presidente da Unimed Campina Grande; Viei-ra e Luciana são os pais de Lucas, Letícia e Lorena. Fernando Filho é empresário e casado com Daniele, ambos donos da empresa “O Ver-galhão”, tendo como filhos, Maria, Felipe e Fernanda. Marcelo, en-genheiro, tem como esposa Célia, médica que não exerce a profissão, dedicando-se inteiramente à dire-ção do Yázigi; Neli e Rafael são os filhos do casal.

Casou-se em segundas núp-cias com a odontóloga Renilza Bezerra Fernandes, com quem vive muito bem. Ela também era viúva.

Esta história não poderia dei-xar de ser contada, pois o Dr. Fer-nando Rabello, que hoje vive em função da família, é um homem tranquilo, que deu importante con-tribuição à medicina campinense como o primeiro dermatologista, como professor do curso médico e como dirigente universitário.

Campina só tem a agradecer--lhe.

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Unimed - uma marca no seu tempo:

COMO VAI DOUTOR?PROJETO DE RELACIONAMENTO COM O MÉDICO

COOPERADO UNIMED: CUIDANDO DO MÉDICO ENQUANTO ELE CUIDA DO SER HUMANO

Como vai doutor? É com essa pergunta que um representante da Uni-

med Campina Grande adentra aos consultórios dos nossos médicos. O novo projeto de relacionamento da Unimed Campina Grande traz o princípio de que o relacionamento da cooperativa com o seu coope-rado é de suma importância, visto que é dessa relação harmoniosa que se tem o bom andamento da insti-tuição. Conhecer e atuar de forma intensiva em seu próprio negócio o faz sentir participante do cotidiano da cooperativa e do trabalho solidá-rio.

Uma maior integração com o cooperado Unimed Campina Gran-de é a motivação principal deste projeto, que se baseia na ampliação

dos canais de comunicação com o médico, implementando confiança e segurança em querer participar das ações da cooperativa. Esta participa-ção e o bom relacionamento entre cooperado, cooperativa e cliente tra-

zem vários benefícios para todos os lados, a exemplo de uma melhoria na prestação de serviços, uma vez que o cooperado conhece e atua in-cisivamente na realidade dos trâmi-tes administrativos.

A Unimed Campina Grande se aproxima do seu cooperado precisando saber como está:

|Coo

pera

do|

• A sua saúde• O seu check-up• A sua família• O seu trabalho• Os seus projetos

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Para o alcance desses objeti-vos estão sendo utilizados meios de aproximação com o cooperado que extraiam de conversas o seu real entendimento acerca do que seja a cooperativa. Essa aproxima-ção acontece em visitas presenciais de representantes da Unimed aos consultórios através do programa denominado “Como vai Doutor?”, como ressaltado acima. “Temos, na implementação deste projeto e em todas as estratégias incluídas nele, uma ótima ferramenta para estrei-tarmos o relacionamento com os nossos colegas cooperados. É uma boa oportunidade para que possa-mos trabalhar em conjunto pela co-operativa e pelos nossos clientes.”, destaca o presidente da Unimed Campina Grande, Dr. Francisco Vieira de Oliveira.

Além de servir como método diagnóstico da situação, as visitas também estreitam os laços e apre-sentam novos canais de comunica-ção entre o cooperado e a coope-rativa. Seguindo a mesma linha que visa a aprimorar esse relacionamento temos, já em circulação, o Informati-vo do Cooperado, que traz informações relevantes sobre sua atividade profissional e so-bre a cooperati-va. Também se destacam, como meios de contato, o envio de SMSs e E-mails, através dos quais sempre são levados conhe-cimento e informa-ção ao médico.

Após ter sido consolidada esta aproximação e de se verificar uma consciência participativa bem disse-minada, todos ganham. O Projeto de Relacionamento com o Coope-rado veio para cumprir esse papel e integrar o médico ao seu negócio, tendo, como resultando, um traba-

lho sério, qualificado e mais saúde na vida dos nossos clientes. Afinal, sabemos que fazer parte de uma cooperativa é saber que o sucesso é fruto do mérito e da responsabili-dade de cada um, sempre buscando a realização coletiva.

Quais as vantagens?

• Permitir que a Unimed fique mais próxima do cooperado, assim poderá conhecê-lo melhor e saber mais sobre o que ele pensa, espera e deseja da sua cooperativa.

• Estabelecer um melhor suporte para as suas necessida-des de atendimento ao cliente.

• A aproximação irá diminuir falhas de comunicação e me-lhorará o rendimento do trabalho.

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16 | Revista Conviver www.cg.unimed.com.br

Unimed - uma marca no seu tempo

|Clie

nte|

ÁGUA É VIDa!CAGEPA E UNIMED: A RESPONSABILIDADE DE UMA

ASSISTÊNCIA SAUDÁVEL

A palavra Sanear vem do Latim Sanu, tornar saudável, higienizar,

limpar. Saneamento é o conjunto de medidas utilizadas para preservar as condições do meio ambiente, pre-venir doenças e melhorar as condi-ções de saúde pública. As principais atividades do saneamento estão li-gadas à coleta e ao tratamento dos resíduos produzidos pelo homem, como esgoto e lixo tornando-os inofensivos à saúde.

No histórico da Unimed Campina Grande e da Companhia de Água e Esgotos da Paraíba – CAGEPA há um ponto de conver-gência: assistir, com eficiência, para preservar a qualidade de vida.

Para entender a importância deste órgão de abastecimento em nosso Estado, é necessário um olhar histórico para compreender que, desde os primórdios, o ho-mem manteve a sua relação de so-brevivência graças à qualidade da água que consumia; prova disso é que, mesmo em seu estado gregá-rio, as comunidades sempre busca-vam acomodar-se próximo aos ma-

nanciais deste precioso recurso.

“Mas como é lindo ver depois pro entre o mato

Deslizar calmo regato transparente como um véu

No leito azul das suas águas murmurando

E por sua vez roubando as estrelas lá do céu”

Luar do Sertão - Luiz Gonzaga

Com o surgimento das cida-des na Idade Antiga e o crescimen-to da população foram necessários o desenvolvimento de projetos de engenharia e de armazenamento de água. Na região da Mesopotâmia, a Babilônica já possuía projetos de saneamento, a exemplo dos coleto-res de esgotos, datados do ano de 3.750 A.C.

O primeiro sistema público de abastecimento de água conhecido no mundo é o de aqueduto (cons-trução destinada ao transporte de água que abastecia fontes públicas) de Jerwan, que foi construído na Assíria, em 691 A.C, caracterizado por ter tido a cerâmica como maté-ria prima destinada à construção de canais que viriam a dar origem ao que chamamos hoje de canos.

Na história da humanidade, cada vez que o sistema de sanea-mento era falho, as pestes e epide-mias dizimavam vidas, um capítulo paralelo que motivou a pesquisa no campo das vacinas. Algumas curio-sidades na história do saneamento tam-bém podem

ser destacadas, a exemplo do tabu que era tomar banho nos monasté-rios e conventos, algo que só viria a acontecer duas ou três vezes ao ano, no período de pasça ou no natal.

Destacam-se os curiosos rei-nados de Luiz XIII e Luiz XIV, que costumavam dar audiência en-quanto usavam o vaso sanitário, daí a tradição da expressão “estar no trono”.

Fora no período da Revolução Industrial, na transição do século XIX para o século XX, que surgi-ram as Companhias de Água e Es-gotos, as quais passaram a demons-trar uma maior preocupação no contexto de saneamento, haja vista um maior volume de pessoas que mudaram do campo para cidade em busca de traba- l h o , assim como o volu-me de detritos jogados por muitas indústrias nos mananciais.

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Revista Conviver | 17www.cg.unimed.com.br

Na capital da Paraíba, o pri-meiro projeto destinado à implan-tação de um sistema de esgotamen-to sanitário foi apresentado em 26 de junho de 1922, quando foi au-torizado um empréstimo para a construção de uma rede de esgotos em João Pessoa. Outras experiên-cias de implantação de sistemas de abastecimento foram implemen-tadas em vários municípios parai-banos, embaladas pela criação das comissões municipais de abasteci-mento.

Campina Grande foi uma das pioneiras no Estado ao institucio-nalizar o saneamento da cidade, através da criação da Sociedade de Economia Mista (SANESA), a qual era responsável por adminis-trar o sistema de abastecimento de água do município no ano de 1955. Onze anos depois, em 1966, foram constituídas, no dia 30 de dezem-bro, a Sanecap Companhia de Sa-neamento da Capital e a CAGEPA – Companhia de Água e Esgotos da Paraíba, que tinha abrangência estadual. As três empresas funcio-

naram paralelamente até 1972, quando houve a

unificação de todas as companhias, que passaram a funcionar sob a de-nominação CAGEPA. Desde en-tão, praticamente todas as cidades paraibanas passaram a ser atendi-das pela companhia.

A CAGEPA é, hoje, um patri-mônio da Paraíba avaliado em 389 milhões de reais sendo responsável pelo abastecimento de água em 181 municípios e 22 localidades. A em-presa também é responsável, atual-mente, pela coleta de esgotos em 22 municípios do Estado.

Todo o atendimento da CA-GEPA e feito através de Gerências Regionais, distribuídas em toda a Paraíba; a do Litoral é a Sede da Companhia em João Pessoa, a ge-rência do Brejo é localizada na ci-dade de Guarabira; quanto à região da Borborema, esta possui a sua gerência em Campina Grande; na região das Espinhas, a CAGEPA tem sede na cidade de Patos; na região do Rio do Peixe atua na ci-dade de Sousa e do Alto Piranhas de modo que é a gerência da CA-GEPA, de Cajazeiras, quem admi-

nistra o abastecimento desta região. O fortalecimento destas gerências tem proporcionado uma forte ad-ministração dos recursos hídricos das suas regiões o que favorece o estreitamento do relacionamento com os administrações municipais de cada localidade.

Com uma límpida e transpa-rente história de grandes serviços prestados à comunidade paraibana, a Unimed Campina Grande se orgu-lha de ter, como cliente nobre, esta companhia que, assim como nós, busca saciar a sede de mais qualida-de de vida junto ao nosso povo.

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Unimed - uma marca no seu tempo

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abor

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|

O mercado competitivo de hoje exige, cada vez mais, uma aten-

ção maior ao cliente, o qual, por sua vez, adquire mais conhecimento dos seus direitos e se torna mais preocu-pado com a qualidade do produto e

O PRAZER EM ATENDER: ATENDIMENTO AO CLIENTE UNIMED

do atendimento que lhe é prestado em qualquer instituição. A definição de um atendimento realizado, com excelência, ao cliente depende do produto ou serviço oferecido e da atenção que se dedica ao público. Na condição de fornecedor de serviços,

a Unimed Campina Grande propi-cia a seus usuários uma maior aten-ção que reflita seu reconhecimento pela preferência. Por esse motivo, destacamos, nesta edição, o setor de Atendimento ao Cliente.

Há 40 anos no mercado, a coo-perativa busca estratégias que visem otimizar o relacionamento junto ao seu cliente. Uma das soluções en-contradas foi a informatização de todo o processo, agilizando ainda mais os trâmites realizados por te-lefone e presencialmente. Segundo a teleatendente Janaína Cavalcan-te, a informatização dos processos facilitou não só a vida dos clientes como a dos próprios colaborado-res: “Agora podemos agilizar nosso trabalho e dar uma maior atenção ao nosso cliente. Isso faz com que o atendimento tenha mais qualida-de e o usuário tenha suas demandas supridas por completo”, ressalta.

Por falar nessas modalida-des de trabalho, ressaltamos que a Unimed Campina Grande sub-dividiu o setor de Atendimen-to ao Cliente em “Atendimento” (presencial) e “Teleatendimento” (por telefone); este último foi im-plantado em 1999 pela cooperativa visando facilitar e estreitar a comu-nicação entre usuário, prestador e operadora, oferecendo facilidade e praticidade no que se refere ao esclarecimento de dúvidas e au-torizações através do Sistema de Atendimento Via Web – SAW. Na época, este constituiu um verda-deiro desafio, uma vez que rotinas administrativas e burocráticas fo-ram modificadas completamente.

Atualmente, os setores de

Equipe de atendimento ao cliente da Unimed Campina Grande

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Atendimento Presencial e Telea-tendimento contam com dez cola-boradores cada. Em cada setor, os profissionais se dividem em dois turnos para abranger o máximo de horário possível à disposição do cliente Unimed. O Atendimen-to presencial funciona das 7:30 às 18h (sem intervalo para almoço) e o Teleatendimento de 7 às 19h (Tam-bém sem intervalo). “Apesar de estes horários contemplarem, qua-se na totalidade, os atendimentos que os clientes necessitam, a Uni-med Campina Grande, atendendo à exigências da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), está em

fase de conclusão dos estudos para expansão dos horários de atendi-mento para 24 horas por dia, sete dias por semana”, declara a Geren-te Administrativa Maria das Graças, mais conhecida como Gal.

Outro serviço que a Uni-med Campina Grande implan-tou, antecipando-se às exigências da Resolução Normativa 259 da ANS, foi a Central de Marcação de Consultas, que procura facilitar o agendamento de consultas e pro-cedimentos dos clientes aos mé-dicos cooperados e serviços cre-denciados. O Sistema identifica, de acordo com a necessidade do usu-

ário, qual médico/serviço possui a disponibilidade de atendê-lo com a maior brevidade possível, não ultrapassando os limites de tempo de espera dispostos na Resolução Normativa.

A realidade é dinâmica e o mer-cado incisivo! As exigências não pa-ram de surgir e as mutações no siste-ma fazem com que nos reinventemos a cada dia. Essa é uma premissa que faz com que a Unimed Campina Grande invista cada vez mais em um atendimento ágil e qualificado ao seu cliente. Ele é o nosso bem maior, e é da vida de cada um que nós cuida-mos como se fosse única.

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Pontode vista

O SENTIMENTO UNIVERSAL NA

MELODIA SERTANEJA

Na seca de 1915, uma das mais severas do século passado, todo

o desafio do nordestino era em-balado por um gênero musical, o baião. Das “incelenças” de novena, dos lamentos dos cegos ao pedir esmolas, das bandas de pífanos, da sonoridade das violas dos cantado-res de repente, era a batida do baião que estava presente. Calcula-se que o baião seja tão antigo quanto o sertão que lhe deu berço, com uma história de mais de três séculos en-tre as manifestações eruditas, sacras e populares na região sertaneja.

Em sua essência primitiva, o baião não pode ser considerado uma música alegre, também está muito distante de ser uma expressão triste, mas em seu quadradismo melódico, com marcação determinada, traz o lamento, a saudade e a contemplação como evocação poética, uma mani-festação telúrica das raízes do sertão.

Melodicamente, o som do baião tem sua sonoridade bem evi-dente na batida dos violeiros que, na busca de inspiração para o mote, entre um desafio e outro do repente, dão o tempero e a cadência ao to-que através de acordes bem caracte-rísticos. “Eu tenho a impressão que nasci e cresci ouvindo a música da minha terra. É sim, na minha terra

“De onde é que vem o baião?Vem debaixo do barro do chão

De onde é que vêm o xote e o xaxado?Vêm debaixo do barro do chão

De onde vêm a esperança, a sustança espalhando o verde dos teus olhos pela plantação?”

De onde vem o baião? - Gilberto Gil

a música era o baião; Aliás, em todo o polígono da seca, só se tocava o baião.”, afirmou, certa vez, Hum-berto Teixeira, cearense da cidade de Iguatú no Ceará, em entrevista para o Museu da Imagem e do Som, um dos importantes compositores e parceiros de Luiz Gonzaga, ao lado de Zé Dantas e Zé Marcolino.

Conhecido como “Doutor do Baião” Humberto Teixeira era advo-gado por formação, poeta, escritor e músico por exercício prático; quan-do morou no Rio de Janeiro, Hum-berto era conhecido, no início da década de 40, pela sociedade cario-ca, por compor em vários gêneros, a exemplo de valsas, toadas, modinhas e sambas, a exemplo do sucesso “Deus me perdoe” em parceria com seu cunhado Lauro Maia, em 1946. Mas é um ano antes, quando co-nhece Luiz Gonzaga, que Humber-to viria a dar um impulso ao baião fazendo-o romper com a fronteira

do regionalismo: “ – Luiz era um caboclo sorridente e falante, conhe-cido como grande instrumentista e quis me conhecer, já que buscava um letrista que se interessasse pelos ritmos nordestinos” destacava.

O Brasil pós Segunda Guerra estava se estabilizando com o cresci-mento econômico, a industrialização se expandia no sul do país sendo um dos pontos a motivar a migração dos nordestinos . Paralelamente a isso, o som de gêneros musicais estrangei-ros à época, como o bolero, o tango e o jazz davam sinais de uma certa saturação, o Brasil precisava ouvir o Brasil. “Podemos dizer que foi arre-batadora a invasão desse ritmo no sul maravilha, Gonzagão e Humberto eram muito antenados, eles tiveram a astúcia de perceber que o baião era a música que aproximava, culturalmen-te, os nordestinos dos lares que eles tinham deixado para trás” ressalta, Lírio Ferreira, diretor do documen-

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tário “O Homem que engarrafava nuvens” (2010), que conta a historia de Humberto Teixeira e o ápice do baião no Brasil e no mundo.

Nas palavras de Luiz Gonza-ga, o encontro marcou a redesco-berta de um gênero que já existia e que, pela sua riqueza, trazia um uni-verso de possibilidades dentro do universo poético a que se propunha aquela parceria; “O baião já existia como música de folclore, eu o tirei do bojo da viola do cantador; a pa-lavra já existia, uns dizem que vem do baiano, outros que vem de baia grande, ou simplesmente do termo baiar corruptela do verbo bailar. O que não existia era um música que caracterizasse o baião como ritmo”, afirmava Luiz Gonzaga.

Curiosamente, a primeira mú-sica gravada do gênero, chamada “Baião”, não foi pela voz de Luiz Gonzaga, ainda que ele, juntamen-te com o Humberto Teixeira, assi-nassem a autoria da obra. O versos “Eu vou mostrar pra vocês/ Como se dança o baião/E quem quiser aprender/É só prestar atenção” fo-ram interpretados pelo grupo 4 Ases e um Curinga pelo selo Odeon, já que a RCA (selo fonográfico norte--americano em que G o n z a g a gravava s e u s

discos) não apostava muito na voz daquele que, futuramente, viria a ser batizado como o Rei do Baião.

Anos depois, já com o nome consagrado, Luiz Gonzaga foi vi-sitado pelo diretor da RCA, mister Evans, que queria conhecer aquele que ocupava todas as suas prensas de fazer disco, dizem que o ame-ricano ao ver aquele caboclo usou um lenço na boca para conversa-rem. Queria evitar entrar em conta-to com a saliva do interlocutor, que acreditava ser contagiosa.

Para o crítico musical Tarik de Sousa, o baião em muito se bene-ficiou pelo encontro de Gonzaga e Humberto, “Luiz Gonzaga era o perfil popular, um cantor de multi-dões afinado com os anseios da sua gente, já Humberto Teixeira era um literato, somou muito do seu eru-ditismo para construção de obras que deram ao baião uma significa-ção poética jamais vista”. De fato, as primeiras músicas gravadas do gênero por Luiz Gonzaga traziam ousadas inovações, a exemplo da presença da sanfona que substituía a rabeca, regionalmente utilizada e com sonoridade similar ao lado da viola. O lirismo, presente na poe-sia de Humberto, chegou a dar um caráter épico a algumas composi-ções da dupla, a exemplo da saga Asa Branca (1947), Juazeiro(1949) e Assum Preto (1950). “Humber-

to fazia uma música poética de primeira ordem salpicando um pouco de cidade grande com o Sertão”, costumava afirmar Luiz.

O baião logo se tor-nou a coqueluche nacional

no início da década de 50, onde a imprensa da época reconhecia não haver motivo para negar a forte influência desse gênero junto ao gosto popular. É nesta época que Luiz Gonzaga grava o registro da consolidação do Baião, como gê-nero nacional, a música a Dança da Moda, já em parceria com Zé Dantas ; No Rio tá tudo mudado/Nas noites de São João/Em vez de polca e rancheira/O povo só pede e só dança o baião...

A parceria com Zé Dantas deu ao baião um caráter mais po-litizado, pela abordagem social, evocando problemas do Nordeste, aumentando ainda mais a recepção dos nordestinos para esse gênero musical. Músicas como “A Volta da Asa Branca”, de 1950, “Aldo-gão” e “Vozes da Seca”, de 1953, e “Paulo Afonso”, de 1955. Além dessas, a dupla fez “Vem, Morena”, em 1949, “Cintura Fina”, em 1950, “O Xote das Meninas” e “ABC do Sertão”, em 1953, e “Riacho do Navio”, em 1955, num total de 43 composições. Para Luiz Gonzaga, o parceiro Zé Dantas veio poten-cializar, ainda mais, o crescimento do baião no Brasil, “Zé Dantas era puro, era autêntico, era o Nordeste vivo, tinha cheiro da terra”, costu-mava ressaltar.

A época dourada do baião transcorreu, aproximadamente, de 1945 a 1955, período em que Luiz Gonzaga conquistou e consolidou uma imensa popularidade, tanto nas zonas rurais, como nos centros urbanos do país. Esse gênero musi-cal chegou a ser gravado por ilustres nomes da MPB, a exemplo de Mar-

Por Ribamildo Bezerra

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lene, Emilinha Borba, Ivon Curi, e até Carmem Miranda. A cantora Carmélia Alves foi aclamada como a “Rainha do baião” e, Luiz Gon-zaga, o Rei. Pouco depois, Claudete Soares tornou-se a princesa e, Luiz Vieira, o príncipe do baião.

No exterior, chegou a ganhar imitações, no filme italiano “Arroz amargo” de 1949, a atriz italiana in-terpreta a música “O baião de Ana” de autoria dos seus conterrâneos V. Roman e F. Gionda. Em 1953, a música do filme “O cangaceiro”, baseado no baião “Muié rendeira”, recebeu a menção especial no festi-val de Cannes na França.

Houve ainda um caso escan-

daloso em que a jazzista norte--americana Peggy Lee gravou Wan-dering Swallow, um plágio do baião Juazeiro sem os devidos créditos aos seus criadores. Os autores da versão em inglês disseram ter se inspirado no folclore, algo que o advogado Humberto Teixeira se mostrou tão competente quanto compositor que era, para resolver a questão. Outros baiões ganharam versões estrangeiras com menos tumulto. Asa Branca, por exemplo, pode ser cantada em inglês; Paraíba, até em japonês. Para Gilberto Gil, músico assumidamente apaixonado pelo baião, este gênero chegou a in-fluenciar até mesmo a bossa nova

Mesmo tendo gravado em 1949 a música “Forró de Mané Vito” o termo forró ainda não se re-feria a um gênero musical. O nome Forró era usado só para designar o local onde aconteciam os bailes e só mais tarde foi caracterizado como estilo musical, derivado do Baião. Na definição de Luiz Gonzaga, Forró é baile de ponta de rua, den-tro da zona boêmia, de letra pro-vocante e geralmente insultuosa, contando proezas e valentias. A di-ferença básica apontada por muitos músicos quando indagados sobre a diferença entre o Baião e o Forró é que a batida do Baião é mais “qua-drada”, ou seja, tem menos balanço que o Forró que, também pela in-trodução da guitarra, e mesmo da bateria na sua orquestração, possi-

“Desconfio que até a batida de João Gilberto seja devedora ao baião, e para quem pensa que este gênero morreu, é bom lembrar que o baião vai se renovando a cada volta da história do Brasil”, pontua.

Para seu maior divulgador, o baião nunca irá morrer, pois este é o caminho mais belo que o sertane-jo tem para decantar o seu povo e a vida da sua gente “... os trabalha-dores, o campo, as coisas bonitas e fortes do nosso sertão. A influên-cia do baião estará presente mes-mo nos novos ritmos, desde que a descrição da realidade do sertanejo seja fiel e telúrica, essa é a maior he-rança do baião”, afirmava seu Lua.

Sobre Baião, Forró e Blues dos de Arkansas, também cantavam

a distância de casa real ou metafórica permeada por uma lúdica saudade. Assim como no baião, a esperança da volta às raízes, edificada pelos migrantes nordestinos, também era cantado de forma eloquente pelos cantores de blues que traduziam o clamor de muitos ex-escravos, es-perançosos pelo retorno à vida no campo.

Baião e blues também se ba-seiam em um acorde que não se re-solve, se sustentam na instabilidade. A harmonia é trabalhada para fins expressivos, evitando maiores ou-sadias na escala musical; em outros tipos de canções, geralmente ocor-re um fechamento do tema, a sen-sação de ponto final; com o baião e o blues, não, predomina a instabi-lidade, o último acorde fica no ar, continua suspenso, uma volta para casa nunca concretizada.

bilitou que a música se “mexesse” mais, na prática o forró já nasce um gênero musical dançante. Para Dominguinhos, tido como um dos herdeiros de Gonzagão,

Um dos motivos que Domin-guinhos expressa como empecilho para que hoje não se esteja mais to-cando Baião, é justamente o fato de as pessoas não saberem o que é o Baião e o que é o Forró. É justa-mente aí que está a perda da “me-mória”, ou seja, as pessoas perde-ram o referencial.

É com o blues, gênero musical do sul dos Estados Unidos, que o baião também impressiona, tama-nha é a similaridade poética e so-nora existente nesses dois gêneros musicais. Os negros que deixaram o campo e partiram para a perife-ria das grandes cidades americanas como Chicago, Memphis e a região do Delta do rio Mississipi, nos esta-

Pontode vista

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Luiz GonzagaA VOZ QUE REDESCOBRIU O NORDESTE

O Nordeste e o Brasil unem os seus seg-mentos culturais para

a comemoração do centenário de nascimento de um dos seus mais preciosos talentos dentre tantos ou-tros que também deixaram marcas indeléveis na luta pelo reconheci-mento dos nossos valores, tantas ve-zes renegados e até ridicularizados. Isto por falta de quem mostrasse que o Nordeste não era apenas po-voado por cangaceiros pavorosos, coronéis radicais reprimindo uma gente sofrida e sem qualquer impor-tância no cenário político, econômi-co social e cultural nos anos 30 do século passado.

Refiro-me ao extraordinário me-nino prodígio Luis Gonzaga do Nas-cimento – Rei do Baião – Gonzagão. Nascido no amanhecer de uma sexta--feira, 13 de dezembro de 1912, num

Por Francisco de Assis Costa

casebre humilde na Fazenda Caiçara, no pé da serra do Araripe, próximo ao riacho da Brigida, atual município de Exú – Pernambuco. Muito cedo Luiz Gonzaga começou a freqüentar tudo que era festa na região localizada nas divisas do oeste de Pernambuco com o Ceará. De novenas aos famosos “sambas”, como eram conhecidas as improvisadas festas de forró. Ali, os trabalhadores faziam promessas e pe-diam ajuda aos santos juninos (Santo Antônio, São João e São Pedro) para que lhes protegessem com boa co-lheita de feijão de corda, milho verde, mandioca e algodão. Aí as coisas “me-lhoravam” para o “Mestre Januário”, pois, contando com boa safra, os fes-tejos eram multiplicados com bailes todos os finais de semana. Luiz com seis ou sete anos foi flagrado pelo pai bolindo com as sanfonas guardadas em um quartinho anexo ao casebre.

Um namoro as escondidas com a jovem Nazarena. Milfont (Nazinha) provocou sério cons-trangimento culminando sua fuga de casa aos 18 anos incompletos para Fortaleza. Lá após aumentar a idade para 21 anos alistou-se no 23º Batalhão de Caçadores, onde após percorrer vários esta-dos ganhou o apelido de “Bico de Aço”. No estado de Minas Gerais conheceu vários artistas que o ensinavam e o incentiva-vam a aprimorar-se na arte de to-

car acordeom, já que como o seu pai, dominava foles de oito baixos, muito mais difícil de ser dominado.

O apoio moral do coronel Ma-noel Aires de Alencar, advogado e político, dono da fazenda Gameleira, no Araripe que ordenou suas filhas a ensinar o adolescente Luiz Gon-zaga a ler e escrever. Somando-se a este gesto, outros estudos na escola de Escoteiros do sargento Aprígio da PM do Rio de Janeiro, que residiu pouco tempo ali.

Servindo ao exército em ple-na revolução de 30, Luiz Gonzaga, muito admirado pela sua espirituo-sidade e fino humor, também tinha uma verdadeira paixão por Virgolino Ferreira da Silva, o famoso capitão Lampião (1898-1938), rei do canga-ço, verdadeiro herói dos meninos do sertão. Daí, anos depois a razão dele ter caracterizado as suas vestimentas como os cangaceiros nordestinos. Foi esta transformação que mudou a vida de Luiz Gonzaga para o mundo artístico, ate então nunca inventada.

Ao desembarcar no Rio de Ja-neiro em 1939, Luiz Gonzaga, já fora do exército, recebeu abrigo no Bata-lhão de Guardas. Deveria ficar ali es-perando embarque no Loyd Brasileiro para o Recife até chegar de trem ao Crato, menos de 70 quilômetros de Exú. Não tinha planos de ficar no Rio de Janeiro, e nem tão pouco tentar a vida artística, embora fosse proprietá-

Pontode vista

Foto: Acervo Museu

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rio de uma linda sanfona de 80 baixos. Um amigo o viu limpando a sanfona e falou de um ambiente no Mangue, onde o futuro artista poderia ganhar dinheiro, na então Capital Federal.

Descoberto pelo guitarrista Xavier Pinheiro, dono do ponto que ele ocupou, passou a acompanhá-lo. Xavier o levou para morar em sua casa no Morro de São Carlos. Este instrumentista, também conhecido por Baiano, logo se tornou novo mestre e protetor de Luiz Gonzaga. Foi ele quem ensinou os truques de ganhar dinheiro na vida noturna nos cabarés do mangue carioca.

Os programas de calouros nas rádios, a partir de 1940, eram suces-sos e verdadeiros celeiros de revela-ções artísticas em todos os ritmos e gêneros. O apresentador mais im-portante era Ary Barroso. Foi no seu programa, que Luiz Gonzaga des-pontou como instrumentista, ape-nas tocando sanfona. Ele só veio ser admitido como cantor em 1946/47, após superar vários degraus, testes, desafios e imprevistos, até atenden-do exigências de estudantes nordes-tinos do Ceará que ameaçaram não lhe darem ajuda caso não tocasse coisas do (sons) de música do “pé de serra”. Dias depois ele ensaiou o que memorizou do pai e surpreendeu o estudante cearense Armando Falcão e outros cearenses e pernambucanos com uma mistura de chamego na sanfona que quase botam no chão o frequentado cabaré naquela marcan-te noite.

Um “olheiro” da gravadora Americana RCA Victor vinha se-guindo as suas apresentações e o apontam como grande revelação

naquele momento em que a música internacional perdia espaço. Contra-tado, Luiz Gonzaga começou a se bater com os diretores de Rádios e produtores que não admitiam vê-lo cantando, mas só tocando. Pruden-te, aceitou e venceu seus algozes.

Seu sonho era encontrar um le-trista (compositor) para o gênero mu-sical que pretendia propagar a partir do Rio de Janeiro chegando aos ou-vidos dos nordestinos que naquela época povoavam a então Capital Fe-deral e São Paulo. Lauro Maia o le-vou ao advogado cearense Humber-to Teixeira e logo os dois firmaram uma exitosa parceria de sucesso com a fenomenal Asa Branca, Meu Pé de Serra, Juazeiro, entre outras músicas inesquecíveis. A parceria explodiu e se firmou com a chegada do seu conterrâneo Zé Dantas, que produ-ziu A volta da Asa Branca, letra I, Riacho do Navio, Xote das Meninas e músicas com motivações para os festejos juninos do Sul ao Nordeste.

Com o ascendente sucesso, Luiz Gonzaga atraiu outros com-positores nordestinos como Miguel Lima, João Silva, Zé Marcolino, Onil-do Almeida,Severino Ramos, Anto-nio Barros, Zé Clementino, Jandui Filizola, Raimundo Grangeiro, João do Vale, Luiz Bandeira, Domingui-

nhos e o seu filho Luiz Gonzaga Junior, o “Gonzaguinha” grande or-gulho e herdeiro, porém faleceu dois anos depois de sua morte. Desta legião de compositores foram gravadas 675 músicas em 52 anos de vida artística, além de compor 30 músicas sozinho, gravadas por ele e outros intérpretes. Também partici-pou de mais de 50 discos de outros cantores nordestinos influenciados e lançados diretamente por ele ao lon-go da vida encerrada em 2 de agosto de 1989, aos 76 anos de idade.

Como grande reconhecimen-to do seu valor, em 2000 o povo de Pernambuco escolheu Luiz Gon-zaga como o “Pernambucano do século”. Também, o ex-presidente Lula, sancionou uma Lei Federal de autoria da paraibana Luiza Erundi-na, declarando o dia 13 de dezem-bro data do nascimento do famoso Rei do Baião- Luiz Gonzaga , como o dia nacional do forró.

Sem a existência de Luiz Gon-zaga não se contaria com o milioná-rio acervo da música popular nor-destina e brasileira. E, muito menos, a legião de músicos que surgiram e se revelaram grandes talentos artísticos a partir do que propagou, produziu e defendeu por mais de 50 anos Luiz – Lua – Gonzaga – O Gonzagão.

Pontode vista

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Pontode vistaPor Ribamildo Bezerra

Minha sanfona minha voz o meu baiãoEste meu chapéu de couro e também o meu gibão

Vou juntar tudo dar de presente ao museuÉ a hora do Adeus

De Luiz rei do baião

Hora do Adeus - Luiz Gonzaga

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Pontode vista

Na mitologia grega, as Musas, divinda-des que inspiravam

as artes, possuíam um templo pró-prio chamado museum, palavra do latim, de onde derivaria o termo museu. Esses espaços se justificam como depositários da memória de um povo. E é pelas memórias do professor José Nobre de Medeiros, ou simplesmente Zé Nobre, que mergulhamos numa extraordinária história de admiração, que se trans-formou em amizade, e que, tendo como cenário Campina Grande, consolidou-se num compromisso de preservação memorial, materia-lizado na criação do Museu Luiz Gonzaga .

Sendo hoje um dos espaços mais visitados por turistas e pesqui-sadores, o museu paraibano guarda, ainda, uma das mais importantes coleções de discos de Luiz Gon-zaga de todo País, compreendendo todas as fases da discografia dele, desde o disco de 78 rotações por minuto (os rpm com duas músicas), os acetatos (disco: propaganda de produtos, jingles políticos), discos 10 e 12 polegadas, de 33 rotações (os LPs de 8, 12 músicas), e com-pactos simples e duplos (2 a 4 mú-sicas), de 33 e 45 rpm.

Além da importante discogra-fia, iconografia e fonografia do Rei do Baião, o Museu Luiz Gonzaga de Campina Grande (PB) guarda, ainda, preciosas coleções completas e incompletas de discos de diversos artistas brasileiros, especialmente os de origem nordestina expoentes da MPB: Jackson do Pandeiro; Ma-rinês; Dominguinhos; Trio Nordes-

tino; Zé Calixto; Genival Lacerda; Ary Lobo; Os Três do Nordeste e diversos outros cantores, composi-tores e músicos.

Mas essa história tem início nos idos dos anos de 1954, na cida-de de Currais Novos no Rio Grande do Norte. O município conhecido como a capital brasileira do minério xelita, um componente de ligas es-peciais de largo uso industrial, foi o berço cultural do menino Zé Nobre que lapidou o seu gosto musical, es-cutando sucessos de Luiz Gonzaga, Chico Alves, Vicente Celestino, Au-gusto Calheiros, Dalva de Oliveira, Orlando Silva, através da difusora do Mercado Público.

Luiz Gonzaga e seu pai, Janu-ário, já eram figuras conhecidas na região, isto por que o pai do Rei do Baião tocara fole na Fazenda Bar-ra Verde, de propriedade de Tomaz Salustino, Juiz de Direito, Desem-bargador, Vice-Governador de Es-tado, um dos pioneiros na explora-ção de xelita em Currais Novos.

Mas, naquele ano de 1954, algo chamara a atenção do garoto Ze Nobre, e não era necessaria-mente o show do Rei do Baião no coreto da Praça Cristo Rei de Cur-rais Novos, “Fiquei impactado com a figura do anão Oswaldo, ritmista e percussionista de Luiz Gonzaga, também conhecido como Salário

Mínimo que, vestido como um cangaceiro, dançava xaxado em cima de uma camionete, anunciava o show de logo mais; era primeira vez que via um anão dançar daque-le jeito. Hoje, passados tantos anos, percebo a grande noção que Luiz Gonzaga tinha do Marketing, quan-do nem se conhecia esta palavra”, destaca.

A cidade do Recife seria, na vida do já rapaz José Nobre de Medeiros, outro ponto de proximi-dade junto à vida do Rei do Baião. Prestando serviços na ex-Supe-rintendência de Desenvolvimento do Nordeste, SUDENE, ele passa a ver, com mais frequência, o seu ídolo junto àquela autarquia: “A Su-dene tinha a missão de desenvolver a região nordestina, e, como Luiz Gonzaga era a expressão maior da nossa música, ele tinha livre trânsi-to na autarquia, a ponto de ter car-ro e motorista à sua disposição para andar pela região e divulgar os seus trabalhos e empreendimentos de-senvolvidos no Nordeste”, lembra.

A partir de 1973, viajando pe-los estados do Nordeste, pela Com-panhia Nordestina de Sondagens e Perfurações, CONESP, subsidiária da Sudene, Zé Nobre começa a ad-quirir os discos de Luiz Gonzaga. No começo, apenas como fã-cole-cionador da obra do Rei do Baião.

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No ano de 1988, Zé Nobre, já homem casado pai de filhos e filhas, vivendo em Campina Grande, deci-de ir ao encontro de Luiz Gonzaga, no Hotel Ouro Branco, a intenção era dar-lhe, de presente, uma asa--branca, esculpida em mármore, para o acervo do museu dele do Parque Aza Branca em Exu – PE.

O Rei do Baião agradeceu co-movido pela gentileza do fã. Em seguida, faz uma proposta inusita-da. Ele pergunta a Zé Nobre se ele poderia ir a Exu (PE) num prazo de quinze dias.

– “É o seguinte, você num veio me dar uma asa-branca para o Mu-seu do Baião? Vamos fazer o seguin-te: eu vou lhe dar o museu todinho para você montar aqui em Campina Grande. Tá bom assim?” Zé Nobre não acredita no que ouve: – “Mas mestre, quem sou eu para assumir tamanha responsabilidade?”

Na oportunidade, o sobrinho de Luiz, Joquinha Gonzaga, estava de testemunha. E em 1990, na festa do aniversário de Luiz Gonzaga, no Parque Aza Branca de Exu, Joqui-nha Gonzaga recordou às tias desse fato envolvendo Zé Nobre e Luiz Gonzaga: – “Pia, tia, o homem que tio deu o museu lá em Campina foi esse aí. Mas saiba que, se tives-se vindo, não levaria o museu não, viu?”

Embora o museu do Exu, fe-lizmente, não tenha sido transferido para a Paraíba, Zé Nobre aprovei-tou esse impulso inicial, e resolveu concretizar o sonho do seu museu próprio, providenciado a sua insta-lação em área de sua propriedade, onde reuniu o acervo que guardava em casa.

Localizado no bairro do Cru-zeiro, na Rua Presidente Costa e Silva, quem chega ao Museu Luiz Gonzaga, se depara com três está-tuas de aproximadamente 1,90cm de altura pesando 800 kg cada uma,

representando a tríade da cultura e fé nordestina, Luiz Gonzaga, Padre Cícero e Frei Damião.

Ao entrar no Museu o visi-tante encontrará, à disposição, um acervo de 200 quadros que mos-tram a história da música nordesti-na, com discos originais e fotos em alta resolução que contam a história de Gonzaga em momentos espe-ciais, inclusive em comerciais. Ob-jetos pessoais do Gonzagão, desde o inconfundível gibão à inseparável sanfona, podem ser apreciados em perfeito estado para alegria dos vi-sitantes.

Todo um acervo de áudio e vídeo nos ajudam a entender quem era a pessoa por traz do mito do Rei do Baião; são arquivos raros da década de 50 até a atualidade, que contam a história da música popular nordestina e como o rádio acabou sendo um importante meio para consolidação da nossa musica-lidade.

O sanfoneiro e cantor Do-minguinhos é um dos grandes cola-boradores do Museu Luiz Gonzaga paraibano, hoje reconhecidamente uma das principais entidades bra-sileiras de preservação, fomento e difusão da vida e obra de Luiz Gonzaga, ao lado do Museu Aza Branca, em Exu (PE) e do Memo-rial Luiz Gonzaga do Recife (PE).

“É o seguinte, você num veio

me dar uma asa-branca para o

Museu do Baião? Vamos fazer o

seguinte: eu vou lhe dar o museu

todinho para você montar aqui em

Campina Grande. Tá bom assim?”

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Pontode vista

|Nat

urez

a Méd

ica|

Pelas ruas pelas quais andamos, estamos sem-pre em busca do tempo

perdido. Por certo, somos feitos muito mais de coisas idas, bem pou-co de coisas de agora, em nada de coisas que virão, estas ainda suspen-sas na atmosfera da espera e do des-tino. Para Proust, que escrevia com palavras de letrado, na passagem do tempo dos homens, a natureza do coração é de desejar coisa diversa da que vai possuir. Assim, faz-se o tempo perdido das pinturas e sen-tidos dos desejos por coisas que se foram.

Ter saudade é o desejo de se buscar o que nessa ida do tempo se perdeu, do que se quis e não se pôde, do que se teve e logo esque-ceu. Perder, quando não magoa, ao menos sugere um princípio de me-lancolia; faz-nos esperar que cente-nas de sabiás voando na superfície de espera e destino carreguem nos-so psiu, nossa súplica, para as ilu-sões que pelos caminhos do mundo se distanciaram de nós; ou impele, à natureza do coração, promessas de retorno ao sertão que havíamos deixado sob o sol de nossos sonhos; ou ilumina nossos olhos com a luz dos amores que partiram roubados nas asas de um assum.

Lembrar é exercício da me-mória, restauração de nós mesmos no passado que ressurge em átimos

inalcançáveis. Tal como o fazem os museus, nos afeta o olhar, nos aguça a visão, com suas reminiscências de cores e movimentos e cenas. Faz--nos rir; nos faz chorar. E passam as lembranças como quando ter-minamos o corredor da exposição, ou fechamos o álbum de retratos, e voltamos ao pouco que somos das coisas de agora.

Saudade, arte da memória em reacender desejo e sonho, subver-te a matéria sólida dos homens, e atinge-lhes o coração. Feito lâmina, corta, feito escassez, dá fome, fei-to seca, dá sede, feito ressaca, dá desgosto, feito arrebentação, finda. Saudade faz doer. Amarga feito o jiló que engana a sede, engana a fome, de desejo do que nem é mais de se ver, de se tocar.

Traz, ao homem letrado, sus-

piros de nostalgia, deixa o matuto doido a sofrer, ambos querendo o que não se tem, lamentando a falta do amor ideal, da estória sem lacu-na, os braços calorosos do xodó. Todos têm de algo que ficou, ou de algo que partiu, o exato desejo, o mesmíssimo gosto, entremeado entre as lembranças, guardados no silêncio das ausências.

Ter saudade é nos sabermos perda. Sabermo-nos da vida efême-ra, da vida que passa, do rosto que foi moço, do braço que foi forte, da cabeça que foi astuta, da alma que ansiava.

Saudade é a chuva que não veio em setembro, em outubro, em novembro, na reza do plantador. É chão que, de tão árido, rachou, pé de milho que, de tão seco, desistiu.

Mas, quem nunca se cortou,

“Ai quem me dera voltar pros braços do meu xodóSaudade assim faz roer, e amarga que nem jiló.

Mas ninguém pode dizer que me viu triste a chorar...Saudade, o meu remédio é cantar!”

Que nem Jiló - Luiz Gonzaga

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Por Dr. Flawber Cruz |

nunca sentiu-se de fome, de sede; quem nunca se desgostou, quem nunca se findou, ou findará? Quem diz nunca ter saudade, que destino e que espera terá? Pois que o futuro, timidamente, se abre de penumbra e murmúrio, enquanto o passado já tilintou no ar sanfona e zabumba na festa de roçados que esverdearam, de açudes que ingurgitaram, de amores que se batizaram de chuva.

Saudade é fogueira bem ace-sa, ronco de trovão, chão bem mo-lhado, cheiro de quem se dançou o primeiro baião, saliva de primeiro beijo, barriga de mulher prenha, choro de menino nascendo, abraço do derradeiro amigo, apelo de mãe, permissão de pai, lamento de partir, jura de voltar.

Saudade é teima em não que-rer passar, é a astúcia de desenhar, nas lembranças, a continuidade do menino no homem, o retorno do silêncio ao xote. A eternidade do pai na substância do filho. Para Gonzaga, que cantava com pala-vras de matuto, a saudade se faz boa quando o homem se lembra só por lembrar, e assim não se sofre, não se destoa a cantiga.

Do matuto Gonzaga, ao inte-lectual Proust, saudade de um lado geme à espera do erro, do amor partido, da ilusão velada. Mas, em sendo saudade, peleja contra o que se perdeu, apenas perde quem ga-nhou, ou tentou ganhar. Assim, de outro lado, saudade é cantiga de paixão que aquietou, de semente que germinou, de reencontro da gente com quem a gente havia se acostumado a viver.

Em parte, a medida da vida é de lembrança e saudade. Enquan-to lembrança se pode ter de tudo, saudade apenas se tem do que foi bom. Quanto mais saudade, mais

“Saudade é cantiga de paixão

que aquietou, de semente que germinou, de reencontro da

gente com quem a gente havia se acostumado a

viver”

se teve do bom da vida. Do nostál-gico, ao que se rói da vontade que se foi, saudar-se com o passado é querer um tanto de bem da nossa história, dando fartura a quem po-deremos ser, dando estiagem a nos-sa descrença, dando inverno para a semente de nossas promessas.

Esta vida de quando em tem-pos a terra arde, a água falta, a fome é feroz, de quando em tempos res-ta de coragem e cara, esta vida de quando em tempos avançamos fei-to rês desgarrada, tem seu remédio, e seu aconchego, no gemido da san-fona, em cantar-se de saudade.

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Nosso patrimônio

|Entre

vista

|

*A presente entrevista é um registro do Jornal Diário da Borborema, publicada no ano de 1979 e organizada por Ribamildo Bezerra, especial-mente para a edição 16 da Revista Conviver.

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A expressão “cantar primeiro” ou “cantar a pedra”, traz, em seu

contexto, divagações sobre acon-tecimentos futuros. No dia 26 de junho de 1979, o Jornal Diário da Borborema publica uma entrevis-ta com Luiz Gonzaga, intitulada “Luiz Gonzaga quer ajudar o san-foneiro, o músico e o turismo de Campina Grande”. Trata-se de um diálogo mantido com o futuro, uma ponte com a nossa contemporanei-dade, que mostra o quanto de visio-nário tinha o Rei do Baião. Temas como o duplo sentido no forró, e até a erotização na música são abor-dados de forma direta como era o jeito do seu “Lua”, quem seria seu sucessor, e os caminhos trilhados por Gonzaguinha também são te-mas abordados neste registro que se mostra mais atual do que nunca. Luiz ainda fala do filme “O ninho da Asa Branca”, projeto que não chegou a ser concretizado, e ainda da sua influência para apaziguar um capítulo triste escrito na cidade de Exu (PE): a sangrenta disputa polí-tica entre as famílias Alencar e Sam-paio. Briga essa que motivou a ida da família Gonzaga para o Rio de Janeiro em 1949.

Graças ao arquivo do Pro-fessor José Nobre de Medeiros, e o apoio na transcrição de Heloisy Medeiros, a Revista Conviver traz esse documento jornalístico ma-terializado num diálogo entre o passado e o presente, e o que se eterniza, são os ecos de tudo aqui-lo que fazemos ou falamos visan-do ao bem comum. Luiz Gonzaga sabia disso:

DB: Como você encara a colonização cul-tural através da música?LG: “Você sabe o que é dinheiro, tem pessoa que faz até negócio, eu não digo um punhado, meia dúzia de dólar, vendem até a alma. Mas eu acho que eles não estão fazen-do mal assim a nós, porque quan-do um país está querendo evoluir, progredir, prosperar, os governos, os jornais, está faltando é investi-mento, é capital estrangeiro. O que está faltando é capital estrangeiro, chega o capital estrangeiro, aí se re-solve tudo, se planta, os governos dão tudo. A RCA, onde eu gravo há quase 40 anos, é uma bruta de uma multinacional, mas entrei lá analfa-beto, ou semi-analfabeto.

Consegui aprender a tocar lá dentro, a cantar, fui cartaz, conti-nuo a cantar lá dentro. Consegui uma situação boa graças ao disco, e a RCA ainda é multinacional, então sou eu que vou dizer: bota pra fora, bota pra fora esses gringos?

Não... vamos é viver bem com eles, de comum acordo. Agora o que existe é o mal brasileiro, mal informado, desassociado, que fica ai tocando tudo quanto é bagulho importado em detrimento do que é nosso, aí eu vejo um mal muito forte contra nós. Agora os grin-gos estão aí caladinhos, o que eles fazem questão é dos números, eles não dão nem palpite”.

DB: Dizem que foi Gilberto Gil quem relançou você numa época em que sua mú-sica era considerada cafona...LG: “Que foi, foi, tanto ele como Caetano, como João Gilberto, como muitos outros baianos aí, você sabe que é muito bacana saber que essa juventude universitária que entrou na música, entrou com for-ça, com muito Brasil dentro deles, reconhecendo os valores velhos. Ah!, isso foi maravilhoso, e eu fui beneficiado... obrigado, Gil... obri-gado, Caetano... Gal... obrigado, Maria Betânia... minha bichinha... sucesso danado”.

DB: Você está em plena forma conforme atestam seus últimos trabalhos. Se paras-se agora encerraria sua carreira ciente de ter dado sua contribuição relevante à mú-sica popular brasileira?LG: “Sim, já me sinto assim, e não é de hoje, mas a questão é que o povo brasileiro com a sua generosidade continua me prestigiando, e a prova está aí, olha eu aqui de novo. Então, a bondade não é minha, porque eu estou cantando pior, mas eles acham que eu continuo bom, então o bra-sileiro é um bom caráter, obrigado, mande mais tutu para eu ganhar.”

‘‘...riqueza é

uma vaidade,é um

estado de espírito,

é uma besteira’’

Por Ribamildo Bezerra*

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Nosso patrimônio

DB: Como você vê as músicas de duplo sentido, já que você é cantor nordestino e não faz esse gênero?LG: “Não, às vezes eu dou uma apelaçãozinha, assim de forma que eu acho válida. Você sabe que tem por aí produtos que, para aparecer, botam mulheres nuas, ou apresen-tando assim um pedacinho das par-tes, num chega a mostrar as partes em sua totalidade, mas mostra uma beradinha, porque nós nordestinos não vamos apelar dentro daquilo que nós sabemos fazer, então é vá-lido. Agora quem não pode apelar sou eu, nem devo”.

DB: Falam os jornais de Pernambuco que você pretende encerrar sua carreira no próximo ano, com um filme autobiográfico e a implantação de um centro de turismo em Recife, para apresentação de música regional...LG: “Tenho algumas coisas em vis-ta, já encaminhadas, estou regres-sando. Estou preparando uma pro-priedade em Exú, deve estar quase pronta, com coisas essenciais para funcionar aquilo que eu pretendo criar, aqui como Manoel da Carne de Sol que tem uma fazendinha, com um gadinho, eu também tenho a minha, estou com uma indústria de farinha, de feijão enlatado, feijão de corda, estou criando um gadinho em Santa Gertrudes, vou criar um estilo moderno de animais. Estou nesse sistema lá em Exú para man-ter no Recife a casa que vou insta-lar, restaurante, forró, comendo no centro, e também um estúdio que a RCA pretende montar, um estú-dio para gravar com os caboclos do nordeste inteiro.

E eu não tenho muito tempo

para esperar, que já estou meio ve-lho, com 67 anos, então daqui para oitenta que tenho de fazer uma le-nha danada”.

DB: Como vai o filme “O ninho da Asa Branca”?LG: “É o filme que vou rodar em Exú, vamos fazer as primeiras to-madas agora na missa do vaqueiro, e depois vamos rodar o filme a par-tir de setembro, vou fazer um filme de doze a quinze milhões, esse di-nheiro não é meu não. Tenho qua-renta dias para fazer este filme.

Um sertão maravilhoso, sertão alegre, espirituoso, cheio de música, inteligente, moças bonitas, o sertão e Luiz Gonzaga, é como será o filme”.

DB: Gonzaguinha está acontecendo no cenário nacional? O que ele leva do pai, Luiz Lua Gonzaga, no campo da músi-ca? Você deu a mão a Gonzaguinha ou foi o talento dele?LG: “Não, o Gonzaguinha nas-ceu com música no sangue, eu dei o berço. Então ele é um rapaz que segue o caminho dele, a trilha dele. Você ouvindo as músicas dele per-cebe isso, que foi criado com liber-dade. Agora é que estamos encos-tando um no outro – você é bom velho, mas eu também sou, mas eu gosto de você – eu digo – eu tam-bém te amo. A ideia de cantarmos juntos foi dele, dei liberdade para ele organizar da maneira que quiser,

tem até um erro na gravação que eu disse vamos fazer outra?... ele disse, não, vai assim ora, tem muita coisa que o senhor fez por aí e deu certo. Eu disse – inclusive você”.

DB: Nas brigas da família Alencar e Sampaio você quis apaziguar a situação. Deu resultado?LG: “Deu, mas não que eu fosse o autor do resultado positivo, foi sorte minha o que aconteceu para desgra-ça dos outros. Dr. Eraldo Gueiros, ex-Governador de Pernambuco, antecessor de José de Moura achou que eu, como filho de Exú , como artista conhecido no Brasil inteiro, possivelmente, daria resultado eu re-gressando a Exú e olhasse esses pro-blemas. Mas não sou doutor, não te-nho cultura, não sou político. Então ele disse, não, a sua presença lá, veja os problemas mais fortes e fale pra mim. Eu fui, encontrei boa recepti-vidade”. Mas não fui o pacificador de Exú, foram o próprios aconteci-mentos que deram resultado”. DB: Quem será o seu sucessor no baião?LG: “Dominguinhos, eu acho o mais chegado a mim, não por ser o mais talentoso, e para substituir Luiz Gonzaga eu não procuraria um talento, um músico só por ser bom, só por ser espetacular. É a pessoa dele, a maneira de amar o Nordeste, o carinho que ele tem de tocar o forró criado pelo velho”.

DB: Você que conhece muito deste Bra-sil, como vê a política e a situação do país?LG: “É como aquele cabra de lampião que a polícia de Campina Grande estava no encalço dele para prendê-lo e matar. De ordem para

“Então o brasileiro é um bom caráter”

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matar o homem porque ele tinha mais de vinte crimes nas costas, para matar o homem de uma ma-neira que não assustasse a ninguém, e não matasse covardemente para salvar o bom nome da polícia parai-bana. Descobriram que ele fazia fei-ra aqui, todo sábado ele estava aí, a policia investigou, pegou o homem, mas o homem sabia que no dia que a políicia botasse a mão nele devia morrer, mas o cabra era valente de-mais, ele também achava que devia muito além até que se matasse não era covardia não. Então, quando a polícia o descobriu na feira, combi-naram para não matar, mas surrá-lo até o quartel, e quando ele chegar no quartel, se ainda estivesse vivo -– morre depois, mas não fomos nós que matamos. Então, quando botaram a mão nele disseram – você está preso – agarraram o ho-mem e o pau comeu. Vinha o povo atrás, a meninada, e o pau pá... pá... pá... e ninguém protestava. De re-pente apareceu uma mulher no so-brado e disse – mas que covardia; dar num homem preso desse jeito – aí o preso olhou para ela e disse – deixe dona, como vai... vai bem?”

DB: O que você pensa do presidente João Batista de Figueiredo?LG: “Olha eu não conhecia não. Conhecia o pai dele, mas depois que ele foi lançado, ora, você acha que o General Geisel ia lançar um cara que não tivesse capacidade, o próprio Geisel foi lançado pelo Médice, então, está provado que o homem é genial, estou encantado pela personalidade dele. O homem que não gosta de cavalo não gosta de mulher também não”.

DB: Você acha que a música terá melho-ria neste governo, que diminuirá a entrada da música estrangeira no país, como é um dos propósitos do Ministro da Educação?LG: “Se ele acabar com a música estrangeira, eu vou ficar com pena dele. Se acabar com a música es-trangeira como é que nós vamos saber em que grau estamos.

Deixa ela aqui, é como o Nor-deste, temos seca, mas precisamos dela para brigar e vencermos a pa-rada. Agora acabar com um troço para a gente não ter com quem bri-gar. Se ele acabar com o excesso aí eu vou aplaudir. Deixa os gringos aí, agora vamos arroxá-los”.

DB: Você se considera um homem rico?LG: “Olha, a riqueza é uma vaida-de, é um estado de espírito, é uma besteira. Tem muito nego rico que não está ligando para isso e tem

muito nego na miséria se achando que é rico. Eu tenho uma besteiri-nha pra deixar os meninos, agora os meus filhos são tão maravilhosos que eu nem penso em deixar para eles, eu penso nos meu netos”.

DB: Como você sente este amor brasileiro por tudo que você fez e continua fazendo pela nossa música? Encerrando a carreira dará a mão para alguém que queira seguir seu estilo?LG: “A RCA resolveu montar um estúdio em Pernambuco por uma má criação que eu tive a coragem de soltar para eles. Eu disse que ia pa-rar o ano que entra, quarenta anos de música na RCA mas levava uma grande mágoa comigo, de não ter criado na RCA um nome, um car-taz, um artista, um colega do meu gênero, e citei Abdias como o ele-mento que foi levado do Nordeste por mim e ficou no meu conjunto uns tempos com Marinês, depois entrou na CBS como produtor e hoje é solista de oito baixos. Já criou mais de vinte cartazes, faz uma mé-dia de oito a dez LPs no ano, ?então um auxiliar meu se tornou mais im-portante do que eu dentro da RCA, que só cuidei de mim mesmo, em beneficio próprio, e eu me conside-ro um velho rigoroso, cachorro da mulesta, nordestino, durão, espero ainda continuar lutando, e agora criando um estúdio em Recife para eu gravar com o povo do Nordes-te, porque não me considerava ter ajudado os meus irmãos, na minha maneira de ver as coisas. Então era objetivo da RCA, e disse – vamos assinar o contrato, quantos anos? - Eu vou morrer velho aqui dentro mas assino”.

“Tem até um erro na gravação que eu disse, vamos

fazer outra?... ele disse, não, vai assim ora, tem muita coisa que o senhor fez por aí e deu certo. Eu disse – inclusive

você – .”

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Nosso patrimônio

DB: Sua música tem a mesma exaltação no interior do Sul do país como tem no interior do Nordeste?LG: “Eu acho que tem mais. Lá eles interpretam a música como cultu-ral, uma música que exalta a vida de um povo, a poesia de um povo. E aqui, no Nordeste, na minha terra, eles me recebem como Luiz Gon-zaga, só”.

DB: Você que faz seus protestos atra-vés da música, e hoje, com a abertura, o Brasil está protestando através de greve. Como você vê esses movimentos?LG: “É isso mesmo, é a abertura, está tudo aberto aí, agora tem mui-to nego fechado também. Mas está tudo muito bom”.

DB: O que você acha da criação dos no-vos partidos?LG: “Acho válido, agora lamen-tarei se vierem com quatro, cinco, seis, dez, é uma nojeira. Se vence-mos até aqui com dois, agora que não pode encher demais, porque tem que dar uma furadinha para sair um pouco de água. Agora uns quatro dá, uma meia direita, uma meia-esquerda, um centro, cinco no máximo”.

DB: Quem é o berço do forró, Campina Grande ou Exú?LG: “Eu quero crer até que, é pos-sível que o berço do forró seja Cam-pina Grande, porque antes de ser forrozeiro já vinha forró aqui. Mas como quem lançou o forró primei-ro fui eu, me considero dono do berço porque: Seu delegado, digo a vossa / senhoria /Eu sou fio de uma famia / Que não gosta de fuá

/Mas tresantontem No forró de Mané Vito/ Tive que fazer bonito /A razão vou lhe explicar .O forró de Zé Dantas, primeiro gravado e cantado”.

DB: Qual a música que mais o marcou?LG: “Para o povo foi Asa Bran-ca, mas para mim foi triste parti-da poesia de Patativa do Assaré. Quando o verde dos teus olhos/Espalhar na plantação/ Eu te as-seguro não chore não viu eu vol-tarei viu/ Meu coração/. Triste Partida: Setembro passou/ Ou-tubro e Novembro/ já estamos em dezembro meu Deus que é de nós/ Assim fala o pobre do seco Nordeste, com medo da peste, da fome feroz”.

DB: Porque, numa música do seu novo LP, você fala nos bancos do Nordeste?LG: “O matuto de repente ficou muito feliz, sabendo que o ban-co dá dinheiro, ele pode comprar mais uma vaquinha – E que o matuto deu de garra dos papéis/ foi bater ao Banco de Juazeiro/ Tirou dinheiro e comprou cinco vaquinhas/ E para tanto contra-tou logo vaqueiro/ O tangedor comprou logo um alazão/ coita-da da baiada encabulada/ com o chocalho tocando assim/ eu sou do banco do banco/do Banco do Brasil, do Banco do Nordeste/ Cabra da Peste/ No Ceará eu sou do BI C/ Mas em Pernambuco eu sou é do BANDEP, BANDEP, BANDEP/ há he gadão/ que zuada é esse vaqueiro/ para que tanto barulho com cinco vaqui-nhas tão mansinha”.

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Medicina preventiva Por Dra. Andréa Barros |

Reconhecida no mun-do científico a partir de 1981, a AIDS re-

velava-se uma doença que acome-tia a faixa etária mais sexualmente ativa, entre os 20 e 50 anos, mais frequentemente no sexo masculi-no, com crescimento posterior no sexo feminino. Tal mudança com-provou que a doença incide em homens e mulheres, caracterizan-do-se como doença sexualmente transmissível, predominantemente dentre os heterossexuais, desde a década de 90.

A doença começa a ser des-crita em homens, mulheres, jo-vens e crianças; estas adquirem o vírus de sua mãe durante a ges-tação. O perfil epidemiológico de mais mulheres infectadas não só faz crescer o número de crianças expostas, como também retrata outro lado da sociedade: o abuso de meninas por homens mais ve-lhos que as prostituem e as con-taminam.

Na história do HIV, have-mos de lembrar o ganho de so-brevida que a terapia combinada,

“Eu quero um ovo de codorna pra comer

O meu problema ele tem que resolver...

Eu tô madurão passei da flor da idade

Mas ainda tenho alguma mocidade,

Vou cuidar de mim pra não acontecer

Vou comprar ovo de codorna pra comer”

Ovo de Codorna - Luiz Gonzaga

o coquetel, permitiu aos porta-dores do vírus, muitos dos quais, hoje, estão atingindo o envelhe-cimento.

Mas, não podemos deixar de mostrar que muitos pacientes idosos nos procuram com sinais clínicos da síndrome, inclusive já investigados por outros colegas, que nem sequer suspeitam de uma doença sexualmente transmissível porque, ante uma equivocada cul-tura estabelecida, presume-se que o idoso não possua vida sexual ativa.

Analisando os fatores, a par-tir da óptica da sociedade, a AIDS é doença de homossexuais, de jo-vens, alguns julgam que seja típica de drogados. Ao olhar o idoso, in-conscientemente /desconhecida-mente, o estamos julgando como um aposentado da vida, doente por demência ou câncer, cumprin-do o tempo que lhe resta sem di-reito à diversão ou interações so-

ciais outras.Então, o diagnóstico tam-

bém não é imediato, há um re-tardo na comprovação da doença neste grupo, levando a um com-prometimento mais severo de um organismo que, por si só, já não tem a mesma capacidade imuno-lógica.

Outro fator importante é

|Medicina: ciência da vida|

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Medicina preventiva

que o idoso também não rece-be informação nem aconselha-mento sobre AIDS, porque nós achamos que tal doença não lhe cabe, e porque falar de sexo com os mais velhos ainda seja consi-derado tabu.

Ainda nesta análise multi-fatorial, encontramos pessoas solitárias, viúvas ou não, apo-sentadas, com algum dinheiro ou não, que mantêm aceso um desejo sexual espontâneo, procu-rando amparo em profissionais do sexo ou companhias furtivas. Por acharem que não gerarão fi-lhos, o uso do preservativo não é nem remotamente lembrado, ainda mais se se considerar que tal procedimento poderia inibir a ereção.

Com o advento do uso das drogas para disfunção erétil, a camada de homens que redes-cobriu a vida sexual foi também fator muito importante para o au-mento do número de infectados pelo HIV entre os idosos, como também o despreparo psicológi-co de ainda ter que acrescentar o preservativo a esta nova realidade. Temos, realmente, uma geração de pessoas que contraiu AIDS, em decorrência de terem rein-gressado na vida sexual sem se protegerem das doenças sexuais, devido ao avanço farmacêutico nessa esfera.

Quando o paciente idoso adoece ou é levado ao médico para realização do check-up, médicos e familiares fazem avaliações diges-tivas, cardiológicas, urinárias, pul-

monares, prostáticas, enfim, não estamos treinados para enxergar a AIDS como enfermidade passível de ser detectada nessa classe de pa-cientes, pois, realmente, as doen-ças mais comuns ocorrem nesses sistemas orgânicos; só que, muitas vezes, uma diarreia prolongada, um emagrecimento, são julgados como câncer digestivo ou de ou-tro local, mas raramente pensamos em diarreia como manifestação do HIV para eles. Na mesma linha, pneumonias repetidas em idosos são justificadas pela idade, pelo ta-bagismo, mas não por possibilida-de de HIV.

Muitas vezes assistimos a fi-lhos e familiares espantarem-se desde a solicitação do exame, e a famosa pergunta ao final do diag-nóstico positivo: “– Como é que o senhor pegou isto? (...)”

Esta surpresa familiar atra-palha no seguimento, pois au-menta o preconceito, faz o idoso sentir-se afastado dos que deve-riam acolhê-lo, omitindo sinto-mas, retardando consultas, não aderindo ao tratamento preconi-zado. Todos esses pontos nega-tivos das relações familiares pre-judicam o doente, fazendo com que o vírus se aproveite mais de um organismo debilitado, favore-cendo uma evolução mais célere para o insucesso e aumentando a chance de morte do idoso com AIDS.

Sabemos, também, que os idosos geralmente já usam me-dicamentos para outras doenças como hipertensão ou insuficiên-

cia cardíaca, por exemplo. A soma de mais remédios também contri-bui para que a adesão ao coquetel não ocorra.

Diante do idoso com precária situação financeira, a síndrome vi-ral e a síndrome social caminham juntas para o abandono terapêuti-co, porque muitos dos nossos ido-sos não possuem nenhuma assis-tência.

Para alguns, o isolamen-to social é ditado de outra for-ma – depressão. A depressão, já frequente entre os mais velhos, também ganha mais espaço no cotidiano, prejudicando o segui-mento regular dos cuidados à saúde.

Mesmo passados mais de 30 anos do conhecimento oficial da AIDS, o preconceito e a de-sinformação ainda imperam em todas as faixas etárias e classes sociais, mesmo com o alerta pro-ferido há muitos anos por Luiz Gonzaga, que cantava: “ eu que-ro ovo de codorna pra comer, o meu problema ele tem que resol-ver, eu tô madurão, passei da flor da idade”.

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Por Dr. Evaldo Dantas da Nóbrega

A adolescência é uma das mais intrigantes, in-compreendidas e com-

plexas fases da vida de uma pessoa, independentemente do seu gênero. Na puberdade há quem já queira ser adulto, achando-se cheio de vontade, não mais aceitando as opiniões ou sugestões dos mais experientes; isso porque muitos se sentem totalmente amadurecidos para pensar, decidir e agir. Assim, pelas suas intransigên-cias, às vezes são carinhosamente chamados de aborrescentes.

O romancista cearense José de Alencar, no seu livro intitulado “Til”, ao se reportar sobre um casal de adolescentes, descrevendo so-bre a convivência dos personagens Berta e Miguel, entre outros jovens ali citados, a certa altura registrou: “Eram dois, ele e ela, ambos na flor da beleza e da mocidade. O viço da saúde rebentava-lhes no encarna-do das faces, mais aveludadas que a açucena escarlate recém-aberta ali com os orvalhos da noite, explici-tando a seiva d’alma”.

Contextualizando essa temáti-ca, cabe aqui dizer que, como uma espécie de cortina de fumaça, a be-leza plástica na juventude normal-mente chega a esconder os proble-

“Mas o doutor nem examina, Chamando o pai de lado lhe diz logo em surdina

Que o mal é da idade que prá tal meninaNão tem um só remédio em toda medicina...

Ela só quer, só pensa em namorar...”

Xote das meninas - Luiz Gonzaga

mas por eles vividos, na condição de seres humanos em desenvolvi-mento. Assim, vê-se que é mesmo na adolescência que são mais evi-dentes as buscas dos seres humanos em relação às novas descobertas – principalmente em seus próprios corpos. A curiosidade deles está à flor da pele, mesmo porque estão bem estimulados pela significativa profusão hormonal própria dessa idade. Destarte, com suas reações endócrinas incrementadas, inevita-velmente acontece grande alteração em seus organismos, em particular no desenvolvimento físico-mental, na sexualidade e, ainda, nos seus comandos cognitivos, influencian-do nas relações de convívio familiar e também nos seus círculos de ami-zades de um modo geral.

Na verdade, o despertar da sexualidade desses púberes deve ser realmente vista com cautela e

muito bem estudada da forma mais holística possível, até porque isso envolve conceitos amplos e com-plexos. Isso implica em reanalisar novas formas de relacionamentos que necessitam ser bem alicerçadas em entendimentos multidimensio-nais, visando a um aprofundamen-to científico-educacional pautado em estudos da medicina, da ética jurídica e, até mesmo, focando-se em fatos históricos e culturais, isso em respeito à delicada situação en-frentada por eles, adolescentes.

Percebemos, com efeito, que a mentalidade desses jovens funcio-na como uma espécie de caixa-preta recheada de interrogações, impulsivi-dades, fobias ou excesso de ousadia e confiança, ainda que de forma irres-ponsável, como dirigir alcoolizado e em alta velocidade. No entanto, acre-ditamos que tudo isso pode - e deve - ser enfrentado calmamente pela uti-

Medicina preventiva

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Medicina preventiva

lização de informações claras e diálo-gos precisos, com a devida compre-ensão de ambas as partes, até que, aos poucos, os adolescentes comecem a assumir as suas próprias identidades individuais. Também essas aborda-gens e conversações contribuem para a concreta melhoria dessas relações, ao tempo em que vão lhes fortalecen-do estruturalmente do ponto de vista físico-psicológico, além de igualmen-te começarem a desmistificar os seus tremendos desafios no campo da se-xualidade.

Na contemporaneidade, de for-ma mais genérica, nós todos vivemos diante de situações bastante diversifi-cadas e complexas, as quais envolvem perigos e riscos às nossas vidas, mui-to especialmente porque viver impli-ca estar, diuturnamente, em contato com instrumentos e mecanismos de comunicação que fragilizam a segu-rança das pessoas. Tal vulnerabilidade tem relação também com a internet, o telefone celular e as conhecidas re-des sociais, que praticamente expulsa-ram, do nosso convívio, aquelas tra-dicionais formas de correspondência que fazíamos através de conversas, cartas, telegramas etc. Apesar de nos possibilitar uma enorme facilidade de comunicação, isto pode se tornar, in-felizmente, um prato cheio de presas fáceis para a atuação de pessoas ines-crupulosas e criminosas. São ilicitudes estas que eles exercem por encontra-rem nas crianças e nos adolescentes os seus alvos preferidos em face da imaturidade mental e do despreparo nos relacionamentos interpessoais próprios dessas pessoas ainda em desenvolvimento físico-psicológico. Daí porque a real necessidade de uma

constante e imprescindível vigilância dos pais, dos educadores escolares e das autoridades competentes do nos-so país, visando a acompanhar, mais de perto, tal problemática e de forma a conscientizá-las sobre tais perigos.

Precisamos estar alertas com os nossos queridos entes familiares que costumam navegar virtualmente pela internet, mas sem lhes tolher a liber-dade ou a individualidade, evitando--se agressividades ou formas destru-tivas e intimidativas. Aqui, podemos citar, como exemplo, os frequentes casos de pedofilia, de gravidez inde-sejada, de sequestros de jovens e de envolvimentos com drogas, dentre outros crimes que aumentaram de-pois do advento dos contatos sociais via internet, o que ensejou uma sig-nificativa preocupação, especialmen-te para os pais. Assim agindo, bem que se poderia trabalhar melhor para a diminuição dos casos de perversi-dades sexuais, através da persistência na conscientização dos adolescentes, que são frágeis e estão diante de uma enorme vulnerabilidade nos dias de

hoje, em todo o mundo. E até por-que há uma verdadeira carência nas escolas e nos lares em relação a uma abordagem crítica e eficaz que alcan-ce e faça bom enfrentamento quanto aos distúrbios afetivo-sexuais pre-sentes nessa específica faixa etária da nossa vida social. Sabendo que a fa-mília é a célula mater da sociedade, a nossa maior esperança ainda repousa na crença do poder da infinita mise-ricórdia divina, visando a contornar, o mais rapidamente possível, tais si-tuações que denigrem e prejudicam a vida de milhares de adolescentes em todo o nosso planeta.

Concluindo, dizemos que, à luz da medicina, em relação àquela conhecidíssima música O Xote das Meninas (Ela só quer /Só pensa em namorar!...), cantada por Gon-zagão, ainda enfrentamos muitas dificuldades quando tentamos en-tender o porquê e como ocorrem as coisas na mente dessa juventude; é que, nessa conturbada fase da vida, o jovem, imaturo ainda, está diante do primeiro amor, o que lhe poderá acarretar vários problemas, inclusi-ve no viés da sexualidade!

“Vê-se que é mesmo na

adolescência que são mais evidentes

as buscas dos seres humanos em relação às

novas descobertas - principalmente em seus próprios

corpos”

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Medicina preventivaPor Dr. Guilherme Veras Mascena

A metáfora que liga o coração aos senti-mentos e inspira me-

nestréis mundo afora não começou com nosso poeta centenário, Luiz Gonzaga. Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) já imaginava que o cora-ção era fonte de calor e estava na origem de sensações como dor, prazer e desejo, atribuindo, ao co-ração, uma função “nervosa”. As palpitações eram a própria expres-são dos sentimentos mais ardentes. Séculos depois Galeno (129 d.C. – 217 d. C.), um destacado médico de seu tempo, fez importantes desco-bertas como a distinção entre veias e artérias, hipotetizando o controle do coração pelo cérebro.

Graças ao apoio do compadre, amigo e músico, Percy Marques Ba-tista que, de Recife, se prontificou a procurar quais as músicas de Luiz Gonzaga versavam sobre o tema, confesso que foram gratas as des-cobertas sobre as múltiplas refe-rências na obra do poeta nordesti-no que falam sobre o mais inquieto dos órgãos de nosso corpo.

O estudo histológico do cora-ção mostra uma elaborada rede de fibras musculares que têm a proprie-dade de relaxar e se contrair numa média de 37 milhões de vezes por ano. Os nervos que suprem o cora-

ção têm função cardiorreguladora com vistas a adequar a frequência de batimentos às nossas demandas fisiológicas.

Mas, esse é um texto sobre Gonzagão, o “Lua”, ou sobre fisio-logia cardíaca? Falemos então do Rei do Baião, expressão maior da cultura nordestina, nascido na ci-dade de Exu, em Pernambuco que, no dia 13 de dezembro desse ano, se vivo estivesse, completaria 100 anos, e que tão bem metaforizou, com lúdica inspiração, o nosso ór-gão dos “sentimentos”.

Comecemos uma das mais be-las e emblemáticas canções, com-postas e cantadas pelo rei do baião:

“Olha pro céu, meu amorVê como ele está lindo

Olha praquele balão multicorComo no céu vai sumindo

Foi numa noite, igual a estaQue tu me deste o teu coração

O céu estava, assim em festaPois era noite de São João

Havia balões no arXote, baião no salão

E no terreiroO teu olhar, que incendiou

Meu coração”

Olha pro céu(Luiz Gonzaga e José Fernandes)

LUIZ GONZAGA E O POÉTICO CORAÇÃO

DE UM POVO

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Nada mais ardente do que “entregar seu coração” ao outro. O incêndio a que Lula se refere na canção há de ser facilmente enten-dido pelo leitor que já esteve apai-xonado...

Vejam outros trechos de ou-tras lindas canções:

Essa percepção que temos no peito quando sentimos boas e más emoções se deve ao fato de no cora-ção haver receptores para substân-cias específicas como adrenalina/noradrenalina. Esses hormônios são produzidos pelas glândulas su-prarrenais em situações, digamos, de emergência. Num cenário de

Medicina preventiva

“Minha vida é andarPor esse país

Pra ver se um diaDescanso feliz

Guardando as recordaçõesDas terras por onde passei

Andando pelos sertõesE dos amigos que lá deixei.

Chuva e solPoeira e carvãoLonge de casaSigo o roteiro

Mais uma estação

E alegria no coração.Minha vida é andar...

Mar e terraInverno e verão

Mostra o sorrisoMostra a alegria

Mas eu mesmo nãoE a saudade no coração

Minha vida é andar...”

A vida do viajante(Luiz Gonzaga e Hervê Cordovil)

“...Esse teu fungado quenteBem no pé do meu pescoço

Arrepia o corpo da genteFaz o véio ficar moço

E o coração de repenteBota o sangue em arvoroço ...”

Vem Morena(Luiz Gonzaga)

emoção diante de um evento ou numa preparação para persegui-ção ou fuga, doses maciças dessas substâncias caem na circulação san-guínea e promovem as alterações necessárias para as circunstâncias: aumento da pressão arterial e da circulação para os músculos e acele-ramento dos batimentos cardíacos, dentre outras. Mas como o cérebro, guia principal dessas emoções, co-necta-se com esse sistema? É que os corpos celulares dos neurônios pré-ganglionares que se ligam às glândulas adrenais também estão conectados ao sistema límbico e a seus importantes núcleos, como o hipocampo e a amígdala e, em meio do qual, está situado o hipotál amo. O sistema límbico é, digamos, o processador emocional da infor-mação sensorial que dá contornos coloridos a estímulos em preto e branco. Nossa, parece até poesia, reflexo de um coração “incendia-do” pelas canções do Gonzagão.

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Responsabilidade socioambiental Por Rosângela Souto |

“Gostaria que lembrasse muito de mim, que sou filho de Januário

e de Santana, que decantei os pássaros, os animais, os valentes,

os covardes, os pobres, os beatos e o Nordeste, gostaria que lembrasse

que este sanfoneiro amou muito seu povo e o seu Nordeste”.

A música vem desempenhando, ao longo da história, um importante papel no desenvolvimento do ser humano, seja

no aspecto religioso, moral ou social; tornou-se uma ferramenta de grande valia para a formação de valo-res indispensáveis ao exercício da cidadania. Ela é, além da arte de combinar os sons, uma maneira de expressar diversos tipos de opiniões e sentimentos, assim como um eficiente estímulo à interação social e à sensibilização dos povos. Um dos grandes colabo-radores para a riqueza da Musica Popular Brasileira

|Naturalmente|

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I SEMANA DO BEBÊ:

Responsabilidade socioambiental

(MPB) foi o mestre Luiz Gonzaga, um sertanejo à frente do seu tempo, responsável por musicalizar e mos-trar para o mundo a saga da vida no Sertão através de um gênero musi-cal denominado Forró.

As canções de Luiz Gonza-ga fizeram muito sucesso em todo país, pois além de um ritmo dan-çante e de natureza lúdica, suas letras retratavam as peculiaridades nordestinas e regionais como sím-bolos de nacionalidade. No entan-to, vale lembrar que no início de sua jornada, não só sua música sofreu preconceito, como ele próprio, em vista dos trajes com que se apresen-tava – o chapéu de couro e a rou-pa de cangaceiro – que tornavam visível uma identidade nordestina. Mesmo com as adversidades, com o tempo, o forró foi conquistando o gosto de uma boa parte da socie-dade paulista e carioca, devido ao fato de essas cidades se terem trans-formado em fonte de esperança às populações rurais e aos habitantes da Região do Nordeste na década de 40. Nesta época os nordestinos começam a migrar à “terra civili-zada” pela falta de perspectiva de mudança do padrão social da região marcada pelas constantes secas, onde reinavam o coronelismo e os grandes latifúndios, onde a estrutu-ra social esteve e ainda está marca-da por um processo de cristalização das desigualdades sociais. E é esta realidade dura que o Rei do Baião queria fazer chegar ao Sul através da sua música, assumindo, desta maneira, a “voz do Nordeste”.

Luiz Gonzaga, antes de qual-quer condição, era um homem

apaixonado por sua terra, conhecia cada detalhe do lugar onde nasce-ra – da geografia à cultura – pois nada escapava aos olhos do filho de Santana e Januário. Falava dos cangaceiros, da caatinga, dos man-dacarus, carcarás e gaviões, do solo rachado pela seca, da asa branca e da preocupação com o meio am-biente deteriorado pela ação huma-na. Cantava a saudade de seu povo, de um dia poder voltar pro seu ser-tão, como se percebe claramente na música Riacho do Navio (“ah, se eu fosse um peixe ao contrário do rio/ nadava contra as águas e nesse desafio/ saia lá do mar pro riacho do navio... pra ver o meu brejinho, fazer umas caçadas/ ver as pegas do boi, andar na vaquejada/ dor-mir ao som do chocalho e acordar na passarada/ sem rádio e sem no-tícias da terra civilizada”), música de sua autoria com o folclorista Zé Dantas. Também cantava a dor de uma terra castigada pelo clima e pelo descaso dos nossos governan-tes – Asa Branca retratou brilhan-

temente esse seu desencanto (Que braseiro, que fornalha/ nem um pé de plantação... morreu de sede meu alazão...) – pois a falta de água e apoio político assolavam a vida e a esperança do povo no sertão.

As composições de Luiz Gon-zaga e seus parceiros não só trans-mitiam a saudade por sua terra, as tradições nordestinas e a vida sofri-da do sertanejo, mas também incor-poravam toda uma postura política de defesa ao meio ambiente, como podemos observar na música Xote Ecológico (Não posso respirar, não posso mais nadar/ a terra está morrendo, não dá mais pra plan-tar/ se plantar não nasce se nascer não dá... e nem o Chico Mendes sobreviveu...). Embora o mestre Lua, como carinhosamente era cha-mado, não tenha se amparado em teorias científicas, ele demonstrou muita propriedade na forma com que tratou as questões de ordem ecológica. Devido a sua vasta ex-periência de vida e nordestinidade, desenvolveu saberes, sensibilidades e valores que o tornaram, de cer-ta forma, um educador ambiental. Dessa forma, as vias de acesso que conduziram Luiz Gonzaga aos ritos de entrada para o campo ambien-tal podem ter sido sua paixão por tudo o que sempre povoou a paisa-gem nordestina e, por isso mesmo, a necessidade de preservá-la como elemento de tradição e identidade, além da consciência de que suas músicas – capazes de tocar o cora-ção do sertanejo e do povo em ge-ral – serviam de instrumento para uma militância eficaz pelas causas sociais e ambientais.

“Falava dos canga-ceiros, da caatinga, dos mandacarus,

carcarás e gaviões, do solo rachado pela seca, da asa

branca e da preocu-pação com o meio

ambiente”

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Por Heloisy Medeiros e Geuma MarquesResponsabilidade socioambiental

Toda história positiva tem um bom come-ço, algo suficiente que

a torne marcante. A realização da I Semana do Bebê no município foi o passo inicial para que um importan-te capítulo de vanguarda fosse idea-lizado e construído a partir da união de interesses interinstitucionais que convergiram para a valorização da saúde do núcleo familiar.

Com o tema intitulado “Crian-ça feliz é criança saudável”, a 1ª Se-mana do Bebê em Campina Grande buscou mobilizar toda a sociedade para fomentar os cuidados com a pri-meira infância, a relação afetiva entre seus cuidadores, a saúde integral das crianças nesta faixa etária, fortalecer o vínculo familiar, orientar e educar para a prevenção e criação de canais de comunicação, que divulguem a importância da primeira infância para um desenvolvimento sadio da huma-nidade. A Semana do Bebê, que já é realizada há 12 anos no município de Canela-RS, cidade precursora do pro-jeto, teve o objetivo de reunir ações entre governos e sociedade em torno da garantia dos direitos das gestantes, mães e seus filhos. Com o apoio do UNICEF (Fundo das Nações Unidas para Infância) a experiência foi siste-matizada e apresentada na publicação “Como realizar a Semana do Bebê em seu município”; Tal evento tem

sido um exemplo seguido por muitas cidades do Brasil e até por outros paí-ses, a exemplo de Portugal, Argentina e Uruguai.

Investir nos seis primeiros anos de vida é fundamental para o desen-volvimento de meninas e meninos, e é nesta fase da vida que a criança desenvolve grande parte do poten-cial cognitivo que terá quando adulto, fato este que reflete em um impacto incisivo nos processos de aprendiza-gem e de construção de relações so-ciais, fatores que influenciarão a vida afetiva, profissional e social desse ser.

Tendo iniciado em Canela, no ano 2000, a experiência da Semana do Bebê vem ganhando característi-cas próprias junto à realidade de cada município que abraça a ideia. Com o endosso do UNICEF, cujo objetivo é priorizar ações que garantam o direi-to de cada criança brasileira a sua so-brevivência e ao seu desenvolvimen-to, a Semana do Bebê vem estimular programas e projetos voltados para a primeira infância, cujas práticas sejam entendidas como novas tecnologias sociais que identifiquem e ampliem os positivos resultados obtidos neste contexto.

A abertura oficial da I Semana do Bebê ocorreu no dia 25 de março em uma das principais áreas de con-vívio social de Campina Grande, o Parque da Criança. Numa ensolarada

manhã de domingo, entidades gover-namentais e não governamentais, rea-lizaram, para comunidade presente, a apresentação dos indicadores sobre a realidade da primeira infância no mu-nicípio. Segundo o Sistema de Infor-mações de Nascidos Vivos – SINASC, o número de partos cesarianos ainda é maioria em Campina Grande, repre-sentando 52% do número de partos realizados. Quanto ao aleitamento materno, segundo o Sistema de In-formação da Atenção Básica – SIAB, das 5.680 crianças nascidas vivas no município, 61% delas são alimentadas, exclusivamente, com leite materno até os 4 meses, e 30% é o percentual de crianças que continuam mamando até os dois anos, mas de forma comple-mentar. Quando a questão é Pré-natal, o número de consultas realizadas pelo Sistema Único de Saúde em Campina Grande foi assim quantificado: mães que realizam de 4 a 6 consultas: 31%; mães que realizaram de 07 ou mais consultas: em torno de 51%.

No decorrer das ações, destaque para a celebração do “Bebê Cidadão”, que foi escolhido em dois Hospitais Amigos da Criança FAP e CLIPSI, e o “Bebê Prefeito”, no Instituto de Saúde Elpídio de Almeida, com o objetivo de fazer-se conhecer junto à sociedade o trabalho destas instituições que, com o referendo da Organização Mundial da Saúde e UNICEF, orientam e apoiam

I SEMANA DO BEBÊ: CAMPINA UNIDA PELA PRIMEIRA INFÂNCIA

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as mães para o sucesso da amamenta-ção, desde o pré-natal até o puerpério. Ainda dentro das ações programadas, realizamos o I Seminário de Nutrição e Alimentação Saudável: Da Gestação à Primeira Infância, entres os dias 27 e 28 de março, cuja temática principal traduziu um olhar de responsabilidade e informação no processo de nutrição saudável com foco no combate e pre-venção às doenças crônicas não trans-missíveis.

Numa singular e positiva provo-cação, a escolha do “Bebê Unimed” marcou uma ação de caráter inédito no qual a saúde suplementar foi inse-rida dentro do contexto dos preceitos de uma gestação e nascimento saudá-vel, conforme preconiza o Ministério da Saúde. A participação da Unimed também se deu na exitosa realização do I Curso de Gestante da Unimed Campina Grande – o Unigestante, en-tre os dias 28 e 29 de março que, de forma prática, buscou somar esforços visando a sensibilizar a comunidade sobre a importância do pré-natal, do parto natural, da amamentação e da imunização, com o propósito de po-tencializar, positivamente, os nossos indicadores de saúde. O curso foi re-alizado gratuitamente para clientes da Unimed e gestantes do SUS. Ainda

inserido no tópico gestação, o Hospi-tal CLIPSI realizou o Curso de Orien-tação à Gestante e seu Companheiro – Casal Grávido, ministrado por uma equipe multidisciplinar, o que garantiu o sucesso do evento.

A I Semana do Bebê culminou com um olhar sobre a saúde feminina através do II Colóquio de Fisioterapia da Saúde da Mulher – Assistência ao Ciclo Gravídico-puerperal, como pre-cursora da saúde infantil, promovido pela Faculdade de Ciências Médicas e que ocorreu nos dias 29 e 30 de março. Como extensão da democratização do saber junto às escolas municipais, foi realizado o Ciclo de Palestras que in-cluiu, dentre os temas, questões como violência à gestante, à criança e à gesta-ção na adolescência. Paralelamente, nas Unidades de Saúde do Município, eram realizadas programações de caráter lúdico-educativas, e contextualizadas à semana do evento. Outro importante marco foi o desfile de gestantes, além das ações descentralizadas nas Unida-des de Saúde da Família, que deram um toque especial à semana junto as suas comunidades, abrilhantando esse even-to, e, o mais importante, que é destacar a importância do vínculo e do cuidado com a primeira infância.

O dia 31 de março marcou o

fim da Semana com a Serenata do Bebê, onde artistas renomados, como a grande Tina, Cátia e Gabimar, Ale-xandre Tan e Janine Lima resgataram a força melódica e poética das canti-gas de ninar. Na oportunidade, foram premiadas as redações escolhidas em concurso realizado nas escolas munici-pais, cuja temática referiu-se ao slogan “Criança Feliz é Criança Saudável”; a serenata ainda contou com a bênção ecumênica dirigida às várias verten-tes religiosas que professaram a sua fé para o êxito da semana. O evento foi antecedido pela realização de um passeio ciclístico a convidar a cidade para o evento ápice de fechamento da I Semana do Bebê Campina Grande.

O êxito da semana do bebê foi conquistado graças à união entre a Secretaria Municipal de Saúde e a Unimed Campina Grande, através da Comissão Organizadora composta por Dra. Graça Caldeira, Dra. Joelza Guerra, Dra. Geuma Marques e Dra. Heloísy Medeiros, e do apoio das se-cretarias municipais de Cultura, Edu-cação Ação Social, Esporte e Lazer, do Ministério Público do Trabalho, Fadi-nha Moda Infantil, Hyundai, Facisa/FCM, Fome Zero, Aluízio Bicicletas, Jumbinho, SESI, Ruan Filmes, Dou-tores da Brincadeira e Grupo Cáritas.

Responsabilidade socioambiental

Unimed Campina Grande representada pela Diretora de Mercado Dra Teresa Cristina

Saúde Suplementar e Saúde Pública integrados em nome da primeira infância

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Tal foi o êxito da realização da I SEMANA DO BEBÊ em Campina Grande, que a cidade foi contemplada, entre os 16 municípios sele-cionados, para compartilhar experiências du-rante a I Mostra Internacional das Semanas do Bebê, realizada no mês de maio, no município de Canela, durante a 13ª Semana do Bebê da cidade no Rio Grande do Sul, sendo aplaudida e elogiada por representantes de todo o Brasil e de outros países presentes. Tendo a importante participação da Unimed como um ‘case’ inédito, além de uma grande referência de mobilização municipal em nome de uma causa.

Como conquistas já codificadas, ressalta--se a criação da lei municipal de autoria dos Vereadores Cassiano Pascoal e Olímpio Oli-veira, que instituiu, oficialmente no calendário de ações do município, a Semana do Bebê, vo-tação obtida por unanimidade pela Câmara dos Vereadores. A Unimed Campina Grande pas-sou a realizar, periodicamente, o Curso Uniges-tante em quatro edições anuais, preservando o seu caráter gratuito e não restritivo apenas a clientes da cooperativa. O CD gravado com

as cantigas de ninar interpretadas por artis-tas campinenses durante a Serenata do Bebê deve ser lançado como trabalho a integrar as ações culturais promovidas pelo município, e distribuído gratuitamente nas creches do muni-cípio, como forma lúdica de embalar o sono das crianças, uma ideia materializada por sugestão obtida das redes sociais. A oficina de massa-gem Shantala, realizada pela fisioterapeuta Dra. Valéria Cordeiro, será realizada de forma contínua nas unidades de saúde da família, es-timulando precocemente o vínculo afetivo entre mães e bebês. A Secretaria Municipal de Saúde inaugurou, em sua Maternidade Pública, leitos dirigidos à prática do método Mãe Canguru, um tipo de humanização e assistência neona-tal que implica no contato precoce pele a pele entre mãe e o bebê prematuro. Como continui-dade, foram ministrados cursos para gestantes na maternidade pública Instituto de Saúde Elpí-dio de Almeida (ISEA). Exemplos mais do que concretos da solidez das transformações pro-porcionadas pela realização da I SEMANA DO BEBÊ CAMPINA GRANDE, foram as práticas consolidadas com o respaldo da comunidade, uma produtiva semente a germinar frutos de di-mensões sociais realizadoras.

CONQUISTAS REAIS E TRANSFORMADORAS

Parceria entre Unimed Campina Grande e Prefeitura Municipal é destaque em Canela-RS

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Responsabilidade socioambiental

“Lá no meu sertão pros caboclo lêTêm que aprender um outro ABC

O jota é ji, o éle é lêO esse é si, mas o erre

Tem nome de rê”

ABC do Sertão - Zé Dantas e Luiz Gonzaga

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Por Luciana Pimentel Figueiredo

A trajetória histórica do ontem e do hoje mos-tra o quanto as pesso-

as, que se diz serem portadoras de deficiência, foram excluídas da so-ciedade. A surdez foi uma delas ao longo dessa trajetória.

O surdo era tido como um ser irracional, não educável, não cida-dão. Pessoas nascidas surdas eram tidas como castigadas, enfeitiçadas, doentes e privadas de serem edu-cadas, eram forçados aos trabalhos mais desprezíveis. Eram considera-das como incapazes perante a lei. Em algumas sociedades eram até sacrificadas. Assim, começou a his-tória dos surdos: triste, silenciosa e dolorosa.

O Encontro de Salamanca, em Junho de 1994, assim conheci-do como Declaração de Salamanca, termo assinado por 392 representa-ções governamentais e mais de 25 organizações internacionais, visou à inclusão dos portadores de ne-cessidades especiais regulares. Esta declaração foi uma das mais inte-grativas, posto que fomentou um maior acesso à políticas inclusivas do surdo e dos demais portadores de deficiência na sociedade

O Brasil assinou esta decla-ração, e nela baseou as suas leis de políticas inclusivas, mas há muito a ser feito em prol da causa. Os di-reitos de acesso necessitam de uma maior aplicabilidade delas. Temos que entender o surdo como um sujeito agente, que possui uma cul-tura, uma língua e valores que pre-cisam ser compreendidos, e nunca vistos como incapazes ao longo da história.

A lei n.º 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a língua brasileira de sinais – libras, em seu preâmbulo estabelece que o atendi-mento ao surdo nos serviços públi-cos deve ser diferenciado pelo uso e difusão da libras, vejamos o que ela dispõe em um de seus artigos:

Desde 2002, o Brasil lançou uma lei que estabelece um direito que, na prática não tem sido cum-prido dentro do que foi estabele-cido para que o surdo tenha o seu direito assegurado como cidadão dentro da sociedade brasileira.

A inclusão, tão bem divulga-da pelos meios de comunicação, precisa também estar incluída dentro da sociedade de ouvintes (termo usado pelos surdos para designar as pessoas que não são surdas).

O desconhecimento da Li-bras começa a partir do próprio nome, da sua existência como língua dos surdos brasileiros, e que ela é reconhecida por lei. Faz-se necessário uma difusão

da cultura surda, onde sua lín-gua seja disponibilizada cada vez mais dentro dos setores de aten-dimento públicos e privado para que o acesso comece realmente a acontecer.

O surdo deve ser entendi-do não como um deficiente au-ditivo, mas sim como um sujeito normal, agente e capaz de exer-cer os seus direitos em socieda-de, assim como instituído em lei. Muitos paradigmas ainda devem ser quebrados, e a melhor forma de fazermos o rompimento será a integração entre as suas cultu-ras, ouvintes e surdos, trocando saberes e poderes em prol do crescimento da sociedade como um todo.

“Os estabelecimentos prestadores de serviçõs públicos, as instituições financeiras e os órgãos da administração pública direta, indireta e funda-cional deverão viabilizar o tratamento diferencia-do aos surdos por meio do uso e difusão de LI-BRAS e da tradução e interpretação de LIBRAS e Língua Portuguesa, realizados por servidores e empregados capacitados para essa função.”

Art. 17:

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48 | Revista Conviver www.cg.unimed.com.br

T h e b e at l e s E O E N CO N T RO S I MBO L I CO CO M O R E I D O BA I AOLuiz Gonzaga é um dos

músicos mais inventi-vos do cancioneiro na-

cional; estabeleceu, em suas canções, uma relação direta com o povo nor-destino, principalmente com o ser-tanejo. Desse sertão, cantou sua dor e seu sofrimento como ninguém; re-presentou, em seus versos, a fauna, a flora e a cultura regional, tão castiga-da pela falta das chuvas.

Gonzangão é, sem dúvida, um dos pilares de nossa música, tanto que Nelson Mota – em uma de suas colunas publicadas no dia 13 de fe-vereiro de 2012 afirma que: “Luiz Gonzaga, o célebre rei do baião, foi o primeiro a colocar o Nordeste no mapa da música popular brasileira”.

Mesmo apresentando letras de caráter regionalista, conseguiu influenciar artistas de renome no Brasil e no exterior. Mas, talvez, te-nha sido esta característica que fez com que seus versos ficassem obs-curecidos pelo requinte da batida do violão e do som sincopado da Bossa Nova. Todavia, os jovens da MPB, na busca de um “tom” nacionalista

para a nossa música, revisitam a co-letânea gonzagueana e a reconduz ao seu devido lugar: o sucesso. Isto porque, em seus repertórios, pas-saram a inserir músicas do mestre Lua, como é o caso dos seguintes artistas: Caetano Veloso; Gilberto Gil; Tom Zé; Chico Buarque; Maria Betânia; Geraldo Vandré; Elba e Zé Ramalho... E, na atualidade: Lenine; Marisa Monte; Bicho de Pé; Rastapé etc, que dão seguimento ao legado daquele menino artista, forjado nas feiras do interior pernambucano.

Alguns movimentos como a Tropicália, liderado pelo próprio Caetano, Gil e Tom Zé; e o Mang- beat trazem consigo, direta ou in-diretamente, a essência das músicas de Luís. Dessa forma, entendemos que o sanfoneiro pernambucano se

associa a outros grandes nomes da nossa música, na construção de uma “sonoridade tipicamente brasileira”.

O som da “sanfona” do filho de Januário conquistou o mundo, como bem apresenta o título do livro de Gildson Oliveira: “Luís Gonzaga, o matuto que conquis-tou o mundo”(2000). São vários os livros, as dissertações e as teses sobre o fenômeno do rei do baião, mas algumas são curiosas, por te-rem sido também lançadas fora do Brasil, a saber: “Vida Do Viajante: A Saga De Luiz Gonzaga (1997)” da francesa Dominique Dreyfus; “Luiz Gonzaga: A Síntese Poética E Musical Do Sertão (2000)”, da professora Elba Braga Ramalho, tese defendida em Liverpool.

E, por falar em Liverpoool, no

´

Artes em movimento

“Percorri o mundo inteiroPra ver se encontrava um destino melhorMas até no estrangeiro esse bom brasileiro

Também é o maior”

Estrela de ouro - Luiz Gonzaga

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ano de 1968, há quem diga que o compositor Carlos Imperial espa-lhou, no Rio de Janeiro, que THE BEATLES acabara de gravar a mú-sica “Asa branca” de Luís, logo se descobriu que tudo não passava de uma brincadeira. Todavia, quem sabe se não era uma “brincadeira profética”, pois, em 2012, a “Bea-tles songs” rederam-se ao baião, e um dos meninos de Liverpool, teve que reconhecer o garoto de Exu.

Uma reportagem no estadão.com.br/cultura, intitulada “Salve a terra de Luiz Gonzaga”, diz o se-guinte sobre Paul McCartney em Recife: “...os Beatles se encontraram com o Rei do Baião, uma das fusões nunca imaginadas do mundo do pop. E, justamente, no centenário de nascimento de Gonzagão, o que

configura uma jogada de mestre [...] O elogio a Luiz Gonzaga, em seu centenário, mostra uma disposição de McCartney em usar sua popula-ridade para despertar, em suas pla-teias, o melhor delas mesmas.”

Não que necessitamos de opi-niões de estrangeiros – na música ou na academia – para, só assim, referendarmos a genialidade e a im-portância do velho Lula. Contundo, é no mínimo inusitada uma declara-ção como aquela de Carlos Imperial se concretizar nos elogios de Paul.

Por isso, não podíamos, no ano do centenário de Luís, deixar de pres-tar uma homenagem àquele que enri-queceu a música popular brasileira e pôs a cultura nordestina num lugar de destaque até então jamais visto.

Sendo assim, viva Luís Gonzaga!

Por Johniere Alves Ribeiro

“No ano de 1968, há quem diga

que o compositor Carlos Imperial

espalhou, no Rio de Janeiro, que THE

BEATLES acabara de gravar a música “Asa branca” de

Luís”

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Artes em movimento

O OSCAR DA MÚSICA NORDESTINATroféu celebra a cultura popular e homenageia Centenário do “Rei do Baião”

Uma noite marcada pela celebração da cultura popular do

Nordeste. Esta é a tônica do Troféu Gonzagão, que há mais de 10 anos tem buscado fortalecer e valorizar a tradição regional. Considerado o “Óscar da Música Nordestina”, o evento abre espaço à musicalidade típica da sanfona, que se mistura às batidas do triângulo e da zabumba para dar o brilho regional à festa.

O Troféu Gonzagão é um re-conhecimento público à trajetória de artistas regionais que cantam e tocam a música do Nordeste. A premiação acontece em Campina Grande e tem dois grandes objeti-vos: homenagear os nomes de des-taque da música popular nordestina e premiar os artistas regionais que promovem o resgate e incentivo da cultura.

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Por Gabriel Alves

O evento nasceu pela iniciativa do Centro de Ortodontia Integrado de Campina Grande, mas há qua-tro anos ganhou o apoio cultural da Federação das Indústrias do Estado da Paraíba (FIEP), através do Pro-jeto SESI Cultura Tradição da Pa-raíba. Por meio do Projeto, o SESI promove o acesso do trabalhador aos bens culturais, oferecendo vá-rias atividades como oficinas de músicas e danças populares, o For-ró do Industriário, além de estudos e exposições culturais. O Projeto também possui um espaço (Barraca da Cultura) durante o São João de Campina Grande, onde desenvolve o resgate da cultura regional.

O Troféu Gonzagão já home-nageou artistas consagrados como Marinês, conhecida como a “Rai-nha do Xaxado”, e também o parai-bano Jackson do Pandeiro, consi-derado o maior ritmista da história da música popular brasileira. Tanto Marinês quanto Jackson do Pandei-ro foram grandes responsáveis pela nacionalização de canções nascidas entre o povo nordestino. Em 2012, o Troféu homenageia o Centenário daquele que dá nome ao evento: Luiz Gonzaga.

Artistas como Antonio Bar-ros e Ceceu, Flávio José, Genival Lacerda, Geraldo Azevedo, Elba Ramalho, Alcimar Monteiro, Os

Três do Nordeste, Pinto do Acor-deom, Dorgival Dantas, Sirano e Sirino, Biliu de Campina, Inaudete Amorim, entre tantos outros, são alguns dos ídolos nordestinos que já cantaram no evento ao longo desses anos.

Conhecido pela mistura de ritmos nordestinos, o cantor Ca-pilé (natural de Campina Gran-de) considera o Troféu Gonzagão como combustível para manter acesa a chama da cultura. Para ele, a homenagem ao Centenário do “Rei do Baião” não é mais que a obrigação do povo nordestino. “Seria muito bom se pudéssemos homenagear o saudoso Luiz Gon-zaga todos os dias. Ele merece nosso reconhecimento, pois foi através de sua música que o artista do Nordeste passou a ter voz no país”, comentou.

Em uma terra tão farta de ta-lento como o Nordeste, o Troféu Gonzagão acaba se transforman-do em um reconhecimento públi-co ao artista nordestino, que tem no sangue o gosto pelo forró. A mistura da perfeita afinação de sua gente, aliada ao gingado gostoso de seu povo forrozeiro só poderia mesmo se consagrar como a mais autêntica representação da cultura popular do Brasil. E como todos já sabem, o Forró é um ritmo demo-crático, ou seja, todas as idades são bem-vindas a um bom arrasta-pé. Basta trazer o fôlego para encarar as maratonas de dança e aproveitar o melhor da festa com animação e rebolado.

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Artes em movimento

Luiz Gonzaga nasceu em Exu, Pernam-buco, em 13 de dezembro de 1912. Foi um compositor popular. Aprendeu a ter gosto pela música ouvindo as apresentações de artistas nordestinos em feiras e festas religiosas. Saiu de casa em 1930 para servir o exército como voluntário. Viajou pelo Brasil como cornetei-ro, tendo baixa na função em 1939. Quando migrou para o Rio de Janeiro fez de tudo um pouco, inclusive tocar em bares de beira de cais. Entretanto, foi exatamente quando esta-va no Sul do país que se atentou para tocar as músicas do distante Nordeste. Pensando nisso, compôs dois chamegos: “Pés de Serra” e “Vira e Mexe”.

Sabendo que o rádio era o melhor vín-culo de divulgação musical daquela época (ano de 1941) resolveu participar do concurso de calouros de Ary Barroso, onde solou sua música “Vira e Mexe” e ganhou o primeiro prê-mio. Isso abriu caminho para que pudesse vir a ser contratado pela emissora Nacional.

No decorrer dos anos, Luiz Gonzaga foi simbolizando o que melhor se tem da música nordestina. Ele foi o primeiro músico a assumir a nordestinidade representada pela a sanfona e pelo chapéu de couro. Cantou as dores e os amores de um povo que ainda não tinha voz.

Nos seus vários anos de carreira nunca perdeu o prestígio, apesar de ter se distancia-do do palco várias vezes. Os modismos e os novos ritmos desviaram a atenção do público, mas, o velho “Lua” nunca teve seu brilho dimi-nuído. Quando morreu, em 1989, tinha uma carreira consolidada e reconhecida. Ganhou o prêmio Shell de Música Popular em 87 e tocou em Paris em 85. Seu som agreste atravessou barreiras e foi reconhecido e apreciado pelo povo e pela mídia, tocando sua sanfona e se vestindo como típico nordestino.

Sobre o Rei do Baião

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Por Mica Guimarães |Artes em movimento

Só a seca era fartura naquelas plagas es-quecidas. Mesmo que chuva houvesse, não chegaria lá; se perderia no meio

do caminho. Verde, nem de esperança. As fo-lhas ressequidas lembravam retirantes perambu-lando no solo escaldante. E uma cena tristonha foi retirada de um arquivo do cinema novo. Um coitado de mochila sobre as costas, tentando se livrar de mosquito renitente, que passeia em seus lábios rachados, sem perceber que ele, também, calcava os pés sobre o chão em brasa. “Vida in-setífuga”, disse o inseto, olhando o pobre-diabo.

Seca, seca de não querer nem mais chorar. Seca, semente de desertos, de nômades, de cami-nhos incertos, regurgitando solidão, sob o ritmo monótono de passos em busca mesmo do lugar errado. Afinal, quem sabe, se apenas chegar não é o propósito de toda vida sobre a terra, e que toda viagem é exitosa, se chegar ao fim?

Apesar dos pensamentos, das ideias mis-turadas e de ter de ocupar a mente para que a desolação não fosse mais forte que ele, o em-poeirado retirante tirou o chapéu da cabeça, parou, balançou o cantil-goles-contados, olhou para o céu, e duvidou se Deus estaria lá real-mente. “Será que Deus entende fala tão rude? Não conheci escola. Perdi meu tempo cavando terra pela vida, mas acho que o tempo todo es-tive cavando minha sepultura”. Levou o cantil à boca, tomou meio gole, e voltou a pensar na imponderabilidade do além.

Era ainda meio-dia, mas seu corpo era meia-noite. O sol teria muito trabalho. O pen-samento em Deus era recorrente. Veio-lhe o versículo bíblico que seu velho pai sempre cita-

PINGOS DE SILÊNCIO

“Oh! Deus, perdoe este pobre coitadoQue de joelhos rezou um bocado

Pedindo pra chuva cair sem parar...”

Súplica Cearense - Luiz Gonzaga

va, quando em aflição: o justo viverá pela fé. E passou a refletir. “Deus é justo; é Ele mesmo a justiça. Se Ele só entende a reza dos letrados, dos doutores, não é justo”, e, sem querer, sor-riu um riso de menino em lampejo.

Adiante, lembrou do inseto que há pouco insistia em seus lábios. E imaginou uma compa-ração. Se o mosquito fosse um homem e ele fos-se deus. O mosquito querendo conversar, bem próximo à sua língua. Ele pensando em seus problemas, na complexidade de sua vida, como poderia ouvir o apelo de criatura tão insignifi-cante, cujo idioma desconhece por completo, e que talvez nem fosse este o melhor meio de comunicação entre seres aparentemente tão dís-pares!...

Daí, outro lampejo. O homem intuiu algo valioso. Deus não entende, nem fala línguas. Diante Dele, todo mudo se faz entender, e que é na ausência de todo pensamento que o diá-logo se dá, desprezando todo ruído. E mais: Deus entende qualquer homem através do idioma universal, que é o silêncio. Nada pedir, pois Deus já sabe. Silenciar, para que o léxico divino fale, compondo, assim, a melhor ora-ção. Chuva? A alma do homem transbordou em espírito...

Revista Conviver | 53

|Sensibilidade crônica|

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Artes em movimento

|Hist

ória

s e es

tória

s|

Das minhas lembran-ças de molecagens hi-lárias e românticas, as

que mais deixaram saudades foram as do meu amigo Didio (Edimilson Garcia de Menezes, irmão do Dr. João Edilson de Menezes, um dos melhores cirurgiões de Campina Grande que, com sua coragem iné-dita, foi um dos cabeças para a im-plantação do Hospital de Urgência e Emergência Dom Luiz Gonzaga, em Campina Grande).

Saí da cidade de Patos para es-tudar em João Pessoa e ingressei no Lyceu Paraibano, preparando-me para enfrentar o vestibular de Medi-cina. Morei, inicialmente, no bairro de Jaguaribe, onde fui surpreendido com um ótimo time de futebol na minha rua que logo me convidou para jogar. Havia um campinho de futebol no cruzamento entre a Rua João Machado com a Rua Vasco da Gama, onde, atualmente, existe um posto de gasolina.

Nos finais das tardes, aconte-ciam os confrontos dos times que ali participavam das disputas rápidas de futebol. E assim, começou a minha amizade com Didio. Passei a pre-senciar algumas molecagens, outras tantas tomei conhecimento e, com vocês, dividirei algumas das histórias do meu querido amigo de juventude.

TESTANDO ACABAR UM NAMOROA menina já se afeiçoara a ele quando ele resolveu testar o fim do namoro. Faço aqui uma observação que o pai

O INESQUECÍVEL AMIGO DIDIOda moça não ficava atrás da velha, era homem duro e metido a arroxado. Certa noite, num pequeno instante que eles ficaram a sós – a mãe foi atender a um telefonema, disse: – Resolvi acabar o nosso namoro, pois não estou mais a fim. A moça ime-diatamente começou a chorar. Nesse momento, ele levantou a cabeça e viu o pai da moça entrando no terraço. Então, rapidamente, afagou seu ros-to, enxugou suas lágrimas, passou a mão no seu cabelo e disse: – Linda, estava só brincando, era só para ver se você gostava de mim de verdade! Sorte, ela logo se consolou.

NAMORO ACABADO NA LAGOA,Didio estava doido para aca-

bar um namoro antigo. Vinha ele e a namorada, a pé, do cinema Plaza em João Pessoa, quando, circundando pela calçada da Lagoa, ele olhou para cima, viu uma palmeira imperial e dis-se para a namorada: – Veja que pé de coco alto. Ela, toda cheia de sapiência, respondeu: – Didio, isto não é um pé de coco, é uma palmeira imperial. Ele, todo bocão, retruca: – Não! Tenho certeza que é um pé de coco baiano! – É não, Didio, eu tenho certeza que é uma palmeira imperial. – Não, você não sabe, é um pé de coco! – Se fosse um pé de coco, Didio, teria cocos, e não esses cachos de pequenos coqui-nhos. Era tudo o que ele queria: – Olhe, vamos acabar esse namoro, por-que se por agora como namorados, já está havendo incompatibilidade de gênios, dê por vista, quando casarmos!

AS TROCAS DE ETIQUETAS DE PREÇOS DAS BOLAS DE PLÁSTICOS NO BOMPREÇO DA RUA JOÃO MACHADO COM A RUA TABAJARA

Aos finais de tarde, como já mencionei, íamos jogar bola, no campinho que ficava no início da Rua Vasco da Gama em João Pessoa. Frequentemente, a bola se acabava, furava ou ficava meio oval. A bola era feita de um plástico meio gros-so e ficava quase no peso de uma de futebol de salão. Era a hora de uma bola nova. Então, ele saia com Everaldo, entravam no Bompreço e trocavam as etiquetas de duas bolas, uma de maior valor pela de menor valor, passando em seguida no caixa e pagando pela bola mais barata.

ESPANTANDO OS NAMORADOS DA IRMÃ

A irmã de Didio era uma more-ninha bem feita de corpo, simpática, dos cabelos pretos e lisos feito cabe-los de índios. Como era bonita, não tinha dificuldade para arrumar na-morado, no entanto, corria o risco de não noivar e nem casar. Didio, quan-do sabia que a irmã estava de namo-rado, tomava uma cachaça que já era quase do cotidiano, e descia o cacete no rapaz que estava de namoro com a irmã. Chegou a uma situação que ninguém queria mais namorar com a moça, com medo de Didio.

BRIGA NO CABARÉ DA MACIEL PINHEIRO EM JOÃO PESSOA

Muitas das vezes, Didio, saia todo de branco, do curso de Odonto-logia que fazia, direto para o cabaré na rua Maciel Pinheiro. Numa das ocasi-ões, um rapaz entroncado pediu uma

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Por Dr. José Alves Neto |

lapada de cana ao pessoal que estava no cabaré, e a turma negou. Didio tomou a iniciativa e disse: – Venha cá, e pode pedir uma lapa passada a palheta. O cara tomou e agradeceu. O tempo passou e certo dia, Didio entrou em um daqueles inferninhos na Maciel Pinheiro e engraçou-se de uma rapariga que estava bebendo, à mesa, com quatro rapazes, gerando um fuzuê imenso, partiram e come-çaram a dar uma sova imensa. Ele no chão, deitado, brigando, dando mur-ros e levando, parecendo um grande “faixa preta” naquele “boi de fogo”, quando de repente, viu-se aliviado dos murros e os caras saindo de cima, nesse momento, todo quebrado, apa-receu um anjo da guarda que estava metendo o braço nos agressores do meu amigo, colocando todos para correr. Com os olhos edemaciados e todo quebrado perguntou ao cara quem ele era. Falou seu salvador: – Tá lembrado de mim? – Eu sou aquele cara que um certo dia você pa-gou uma lapada para mim...

O DODGE DART DO PAI Seu Menezes, pai de Didio, com-

prou um Dodge Dart. Com medo do “santo filho” tirar o seu carro novo às escondidas, comprou um Volks usado e deu-lhe, dizendo: – Você agora tem o seu carro e não pegue no meu.

Didio pegou esse seu Volks, e vivia dando “cavalo-de-pau”, subin-do nas calçadas do Jardim Glória, em Jaguaribe, até que um dos dias, estou-rou um dos pneus, ficando o carro impossibilitado de sair para a farra do sábado à noite. Ora, ora, não contou conversa. Entrou na sua casa, colo-cou o carro do pai em ponto-morto,

empurrou o carro e tirou-o da gara-gem. Quando o carro estava na rua, ligou-o e partiu para suas aventuras. Até aí, tudo bem. O pior foi o que aconteceu. Há, no cruzamento entre as ruas das Trincheiras e João Ma-chado, a Igreja Nossa Senhora de Lourdes na qual, nos sábados à noite, é celebrada a missa das 19h. Grande parte da população de João Pessoa frequenta essa missa, como as pesso-as que frequentam à missa tem uma boa condição financeira, ficavam (fi-cam) carros enfileirados de um lado e do outro em uma mesma “mão” da rua. Certa noite de sábado, quando a igreja estava repleta de homens cren-tes em Deus, carros fazendo quatro fileiras, duas em cada “mão” da rua, o meu amigo Didio, sobe acelerado na rua Trincheiras, puxa o freio de mão do Dart do seu pai, e entra de vez na rua João Machado. Ouviu-se o baru-lho de vidros quebrados de um carro batendo em vários carros e em dispa-rada, fugindo em direção do bairro, em Jaguaribe. O povo de dentro da igreja saiu apavorado para ver o es-trago de cinco carros amassados sem saberem até hoje o autor daquele mo-mento de filme americano. Mas, o pai do meu amigo viu o seu Dodge Dart, novo, porém todo amassado nas late-rais feito um maracujá maduro.

Caro amigo Didio, não terás o direito de ver escritas tuas travessuras, mas fiques sabendo que sempre tives-tes um amigo de escola e de campo de futebol que sempre te admirou. Fostes cheio de molecagens, mas, não fostes perverso ou malvado. Eras cheio de traquinagem, mas, eras um ótimo ami-go. Quando os meus filhos pergunta-rem: – Quem eram estes teus amigos?

Com muita saudade e orgulhoso, res-ponderei: – São meus velhos amigos do passado, que o tempo e a distância não conseguiram apagar. Com muita propriedade, Antônio Ademir Fer-nandes escreveu sobre a amizade:

AMIZADE VERDADEIRAA amizade verdadeira é aquela

que não te explora,Que está sempre ao seu lado,

Que te procura em cada aurora,Que te apoia mesmo que você

esteja errado.Que te aceita não pelo que tens,

Mas simplesmentese doa como amigo

E se preocupa se tu não vens,Que te procura e te dá abrigo.

Que nas horas difíceis te dá força,Depositando, em ti,

toda a confiançaE pra fazer você feliz se esforça

Para que sua vida tenha mais esperança.A verdadeira amizade

é eterna e sincera,Contenta-se na mais pura

simplicidade,Nasce, cresce, vive e prospera.

Amizade verdadeira é transparente,Sabe guardar segredo,

É linda, pura, eterna e decente,Não te trata como um mero

brinquedo.

José Alves Neto Médico Itaporanguense

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Artes em movimento

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Por Ribamildo Bezerra

É como o mote e a ins-piração, a letra e a melodia difícil de dis-

sociar quando existe uma marcante harmonia entre dois lados. Assim é a história de Antonio Barros e Céceu, unidos pelo amor e pela música e que construíram um legado músical que ajuda a contar a história da mú-sica nordestina. Se elencarmos pelo menos 10 músicas de forró com-postas nas ultimas quatro décadas no mínimo quatro serão de autoria da dupla. Um marco em 40 anos de união como marido e mulher, e mais de 700 composições na parceria mu-sical. Antonio Barros e Céceu acer-taram o compasso da vida, assim nas canções e de todas as suas melodias, a mais harmônica chama-se Mayra Barros, filha e companheira na estra-da da música. Então, deixemos que letras de suas canções falem por si:

“Eu faço a moda e o cantor can-ta/ A moda sai cabeça e o cantor diz na garganta”

Eu faço a moda – Antonio Barros

Antonio Barros da Silva, ou simplesmente Antonio Barros, é paraibano natural da cidade de Queimadas município localizado na Região Metropolitana de Campina Grande. Antonio Barros sempre trouxe o mote certo para a sua moda contar cantando. A sua vivência na zona rural foi determinante na sua musicalidade. O jovem garoto que costumava pegar uma lata vazia de 20 litros que colocava a cabeça den-

tro, batia do lado de fora com as duas mãos, fazendo ritmo, enquan-to cantava para ouvir sua própria voz com efeito reverberado, mal sa-bia que seu talento ajudaria a escre-ver grande parte da história musical nordestina “Já trilhava uma carreira na música e me influenciava bas-tante pelos cantores de músicas ro-mânticas como Nelson Gonçalves, Orlando Silva, Silvio Caldas etc; e, lógico, que é através de inspiração e motivação por amor a arte”, afirma.

“Quando eu estava prá nascer/ De vez em quando eu ouvia /Eu ouvia a mãe dizer:/Ai meu Deus como eu queria / Que esse ca-bra fosse ‘home’...”

Homem com H – Antonio Barros e Céceu

Para seguir sua carreira musical teve que mostrar que era HOMEM COM H, aos dezenove anos vai tra-balhar como músico tocando pan-deiro na Rádio Caturité em Campina Grande, um ano depois já estava na

Rádio Tamandaré em Recife, Per-nambuco, trabalhando como músi-co “Em Recife convivi com Jackson do Pandeiro, com o qual construí uma amizade e de onde obtive apoio e incentivo quando optei por morar no Rio de Janeiro”, afirma.

Na época, alguns artistas já co-meçavam a gravar Antonio Barros, a exemplo do próprio Jackson do Pandeiro, Genival Lacerda e Zito Borborema, leque esse que se ex-pandiu quando fixou residência na então capital do Brasil; nomes como Luiz Gonzaga, Marinês, Trio Nor-destino passaram a cantar as com-posições desse talentoso paraibano.

“O forró daqui é melhor do que o teu / O sanfoneiro é muito melhor / As moreninhas a noite inteira / Na brincadeira levanta pó / É animado ninguém cochi-la / Chega faz fila pra dançar...”

É proibido Cochilar – Antonio Barros

Para Antonio Barros, um dos momentos mais marcante da sua vida, e registrado, foi quando co-nheceu o Rei do Baião. “Conhecer Luiz juntamente com Zé Dantas no Rio de Janeiro me fez construir um ambiente musical de relevância no meu início de carreira, algo mar-cante que influenciaria em toda a minha trajetória como compositor.

“Tum, tum, bate coração/Oi, tum, coração pode bater/Oi, tum, tum, tum, bate, coração/Que eu morro de amor com muito prazer...”

“Quando Antônio Barros

e Cecéu se encontraram, em 1971, foi

amor à primeira música”

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Artes em movimento

dos e como parceria na música, é natural que a influencia afetiva na vida de pessoas que se amam, se separam e voltam esteja presente nas nossas canções, pois falar deste sentimento tão presente em nosso cotidiano é motivador; o amor aca-ba sendo uma importante fonte de inspiração em nosso trabalho. Além de tudo, bebemos desta fonte cul-tural chamada nordeste. um cordão umbilical que nos acompanha des-de a infância e que há de ser a eter-na aliança em tudo o que fazemos”.

“E haja fum, haja fum, haja fum,/ forró com esse fole é forró número 1...”

Forró número 1 – Cecéu

Um grande desafio para qual-quer pesquisador é elencar os gran-des sucessos da dupla sem correr o risco de omissão; para Cecéu exis-tem músicas que já ultrapassaram as cem regravações “A Música ‘Pro-curando Tu’ já ultrapassa as 134 re-gravações, só de composições que inclui, ‘Bate coração’, ‘É proibido cochilar’, ‘Homem com H’, Forró do poeirão’, ‘Forró de tamanco’,

‘Pra Virar Lobisomem’, ‘É ma-drugada’, canções que se tornaram verdadeiros clássicos nordestinos, e que já romperam as fronteiras nacionais, algumas sendo gravadas por cantores internacionais em Por-tugal, Itália e Israel”, reforça Cecéu.

“Quem não quiser dançar saia do meio do salão / Porque a dança hoje é pra quem tem dis-posição...”

Forró do Poeirão- Antonio Barros e Cecéu

‘’Inegável a força com que as nossas canções ganham com in-terpretações magistrais com Elba Ramalho, Dominguinhos, Gilberto Gil, Luiz Gonzaga para citarmos algum nomes; as características que predominam nestes ícones está na alma nordestina de vivência e de contextualização de uma realidade

Bate Coração – Antonio Barros e Cecéu

Quando Antonio Barros e Cecéu se encontraram em 1971, foi amor a primeira música. Cecéu ain-da era Mary Maciel Ribeiro, filha de Campina Grande, que costumava ir à escola cantarolando várias músi-cas que gostava de ouvir no rádio tardes enquanto trabalhava na mer-cearia de secos e molhados de seu pai. “Mariêta ta, Mariêta ta, Mariêta ta, entalada com cajá...”, essa era uma das músicas que gostava de cantar, nem sabia que era uma com-posição de Antonio Barros. “Numa das vindas ao Nordeste conheci a Cecéu e o amor foi a primeira vista, percebendo também a sintonia de nós dois na arte, pois ela também escrevia seus poemas.” destaca o apaixonado compositor de olhos fi-xos brilhantes dirigido a sua amada.

“Ninguém desata esse nó/Nin-guém desata esse nó / Ninguém desata esse nó/ Quanto mais aperta mais fica melhor...”

Ninguém desata este nó - Antonio Barros e Ceceu

Para Cecéu não existe fórmula para o sucesso, mas compromisso com o que se faz: “Buscamos rea-lizar um trabalho bem feito, com sinceridade e carinho, desinteressa-damente, fazendo apenas por amor à arte, e isso ocasiona, normalmen-te, numa reação positiva, para quem trabalha, o sucesso vem espontane-amente. Bom, são 40 anos de casa-

“Para Cecéu, não existe fórmula para o sucesso,

mas compromis-so com o que se

faz”

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que eles conhecem tão bem. É, li-teralmente, para levantar poeira”, afirma Antonio Barros.

“Eu sou o estopim da bomba/É você quem me faz ser assim/Se não quer ver o estouro da bomba/Não encosta esse fogo em mim”

Estopim da Bomba – Antonio Barros e Ceceu

Se o assunto é o polêmico for-ro estilizado, acreditem, a bomba não estoura, com certa franqueza a dupla demonstra respeito às dife-renças existentes atuais no gênero “Não temos nada a comentar a esse respeito, nosso trabalho já nos toma todo empenho e não precisamos cri-ticar ou elogiar qualquer outro estilo musical”, responde Cecéu.

“Você faz de mim neném/ Você me bota no colo/ Me dá tudo que

eu quero /Cuida bem do que é seu... Um neném bonitinho /Sa-fadinho, sem vergonha como eu”

Um Neném – Antonio Barros e Cecéu

Como filha de Peixe, Mayra Barros, filha da dupla, optou por nadar no mesmo mar musical, um talentoso peixinho filho de verda-deiros tubarões; “Nossa filha Mayra Barros é uma cantora que já assu-miu a sua autonomia musical; sa-bemos que ela bebeu de nossa fon-te a qual já bebemos das fontes da verdadeira música nordestina e da música romântica. Mayra conviveu, logicamente, desde que nasceu com nossas obras sendo criadas, acompa-nhando todo o processo de compo-sição”, orgulha-se Antonio Barros.

“Sabemos da responsabilida-de que recai sobre Mayra, pois o público sempre aguarda dos herdei-

ros de algum artista de peso, uma forma responsável de efetuar seu trabalho. E ainda bem que ela está sempre se sobressaindo de forma positiva, pois é muito dedicada e tem bom senso”, coruja Cecéu.

“...Nessa onda violenta, a canoa se arrebenta /E o pesado vai pro fundo/O que é bom já nasce fei-to, por isso vamos com jeito/Pro maior forro do mundo...”

O Maior Forró do Mundo – Antonio Barros e Cecéu

“Nós não conseguimos imagi-nar passar um São João sem cantar em Campina, afinal foi aqui onde tudo começou”, brinca Cecéu. Acho que fazemos parte dessa cultura. Aqui é o nosso berço cultural, tanto é a importância de nossa região de ori-gem que já compusemos uma música intitulada Rainha da Borborema.

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Cidade

O MAIOR SÃO JOÃO DO MUNDO

A tradição de festejar São João foi trazida pelos portugueses e

difundida pelas margens dos rios, riachos, ribeiras e nos oitões das casas grandes de fazenda, com seus currais de pau-a-pique, nas cape-las de padroeiros, mata à dentro com muita alegria, de um costume agradável, logo, o modo de se co-memorar São João Menino era o melhor para a conversão dos cariris canibais. Em 1583, Fernão Cardim (Jesuíta) escreveu a respeito das três festas religiosas, celebradas pelos indígenas com maior alegria, aplau-so e gosto inicial, “a primeira é as fogueiras de São João, porque suas aldeias ardem em fogos, e para sal-tarem as fogueiras não os estorva a roupa, ainda que algumas vezes chamusque o couro”.

A fazenda de gado foi o em-brião do sítio campinense, e Cam-pina Grande, encravada no Agres-te, era circundada por fazendas de gado e lavouras de subsistência, foi lentamente evoluindo o incipiente aldeamento, no dizer da historiado-ra Josefa Gomes de Almeida e Silva. Percebe-se que o aldeamento foi um acontecimento posterior às cons-truções das fazendas. Aos poucos, os nativos preados nas matas pelo Capitão-mor, Teodósio de Oliveira Lêdo, e levados às margens do ria-cho das piabas (atualmente, o Açude

“No clube a ano novoBom na rua é carnaváNata só presta em casa

São João no arraiá”

São João no arraiá - Luiz Gonzaga

Velho) e aí serem aldeiados, foi mais uma pequena aglomeração dentro do complexo social já existente.

As dificuldades enfrentadas pelos pioneiros criadores de gado, que havia nos arrabaldes de Cam-pina Grande, desde a segunda me-tade do Século XVII, eram diversas tais como: períodos de estiagem e ataques dos índios cariris (pois, muitos eram ferozes canibais). E, ainda, o franciscano Frei Vicente do Salvador, na segunda década do Século XVII, dava notícias de que “os nativos só acodem todos com muita vontade nas festas em que há algumas cerimônias, porque são mui amigos de novidades, por cau-sa das fogueiras e capelas”. Confor-me Lino Gomes da Silva, “foi fun-dada a primeira igreja em Campina Grande no dia 09 de maio de 1702 sobre o orago de São João”.

Com isso, percebemos uma relação de poder entre o criador de gado e o índio, ou seja, uma relação de dominação de um sobre o outro, a partir da desterritorialização dos índios após o grande conflito, no fim do Século XVII. Porém, nes-se momento de fragilização deles , ocorreu o seu apreamento, e milha-res deles (de índios) dispersavam-se

pelas matas e, com as instalações das missões católicas fundadas pe-los capuchinhos, muitos nativos passaram a assimilar costumes cató-licos. São João é o santo batizador, o qual se comemora durante o mês de Junho, e este mês é o momen-to das invernadas, é o santo para o qual se faz a festa da colheita e da apartação do gado, tradições trazi-das, principalmente, pelos portu-gueses, transmitidas, culturalmente, pelos seus descendentes criadores de gado nas fazendas. Entretanto, esses senhores tinham patentes mi-litares e apresentavam-se como au-toridades. Acumulavam as funções de pecuaristas, mestres de campo da conquista, chefes de arraias e co-bradores do fisco.

Nisto, percebe-se que houve uma relação de saber e de poder en-tre o criador de gado e o índio, entre o Estado, a Igreja e o referido nativo; pois o criador de gado é o mesmo personagem histórico autorizado a prear o índio. Quando imbuído da patente de Capitão-mor, Teodósio de Oliveira Lêdo exerceu o papel de cristão devoto quando da ausência dos padres jesuítas “trouxe um fra-de do convento de São Francisco, da capital da capitania, que veio a

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Por George Gomes |

C a m p i -na Grande para cate-

quizar os índios”. Os índios ca-

tequizados passa-ram pelo processo de

transculturação, fenôme-no estabelecido na zona de

contato. O termo transcultu-ração tem sido usado por et-nógrafos “para descrever gru-

pos subordinados ou ‘marginais’ selecionam e inventam a partir de materiais a eles transmitidos por uma cultura dominante ou metro-politana”. Percebe-se ao mesmo tempo, que o índio assimilou, dos portugueses, várias tradições cató-licas e, ao mesmo tempo, tradições culturais dos índios foram assimi-ladas pelos portugueses, tais como comer beiju, tapioca, bem como a assimilação da culinária advinda do milho, apropriada posteriormente, durante a realização dos festejos a São João. Da mesma forma, os cria-dores de gado que levaram a men-sagem de conversão para o “gentio bravo” são os mesmos que passa-ram a assar milho nas fogueiras, assimilando, consideravelmente, tradições culturais dos índios, ocor-

rendo assim, uma troca de práticas culturais entre esses atores sociais.

Atualmente, a cidade de Cam-pina Grande é a referência maior em nível nacional, e até mesmo internacional, no que se refere aos festejos de São João, e pelo fato de ter dado maior visibilidade a eles, essa tradição, advinda dos tempos da fundação de Campina Grande, vem passando por outras formata-ções, pois em fins da década de 70 e início da década de 80 do século passado, o executivo municipal re-solveu construir uma grande palho-ça coberta de palha de coco para que a população de Campina Gran-de, a partir de então, saísse dos seus bairros para dar continuidade aos festejos de São João Menino, debai-xo do referido palhoção, tendo em vista o fato de que a população já comemorava em suas casas acen-dendo fogueiras, fazendo canjica, pamonha, milho cozido e assado nas fogueiras de São João. Campina Grande sempre teve essa identida-de cultural de festejar São João!

A partir da primeira metade da década de 80, o antigo palhoção do Açude Novo foi derrubado e em seu lugar foi construída a pirâmide, denominada forródromo, inspirada

no sambódromo do Rio de Janeiro. A pirâmide lembra um dos tipos de fogueiras de São João, precisamen-te, aquela do tipo vertical. Além disso, os festejos de São João, em Campina Grande, passaram a ter outras roupagens, tais como quadri-lhas redesenhadas, passos reinven-tados, forrós reelaborados, sem que tivessem perdido os antigos passos do xote, do xaxado e do baião.

O São João de Campina Gran-de, ao se revestir de outros signifi-cados, quer sejam quanto ao aspec-to do turismo, do desenvolvimento sustentável ou quanto ao aspecto folclórico propriamente dito, tem suas raízes nos tempos coloniais da Paraíba, da Fé Católica, pois a festa que ocorre durante o mês de Junho está relacionada ao nascimento de São João Batista, portanto, São João Menino foi o protótipo do Menino Jesus, tanto é que todos os anos, no Parque do Povo, é hasteado o estan-darte e, durante os festejos, a ima-gem sagrada de São João Menino fica na capela cenográfica da Vila Nova da Rainha, no mesmo Parque do Povo, para que os fiéis possam pagar suas promessas e acender ve-las em homenagem ao padroeiro do Maior São João do Mundo.

A festa social do Maior São João do Mundo tem o seu lado espiritual através da realização do Círio de São João. Nos tempos modernos, a festa tradicional de São João foi nomeada de: o “Maior São João do Mundo”.

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Cidade

OLHA PRO CÉU

A morte de Ronaldo Cunha Lima no dia 07 de julho, aos 76

anos, vitimado por um câncer de pulmão, encerra um capítulo de ho-mens públicos que, na Paraíba, sou-beram unir intelectualidade e ações políticas que influenciaram, direta-mente, a história do estado.

Um perfil de marcante pre-sença que, contextualizando emo-ções e atitudes, soube ser plural nas várias leituras que se podem fazer de uma personalidade que é, ao mesmo tempo, poética e prática, construindo a imagem do lúdico e inesquecível político.

“Aqui morreram tantos poetas! Tanta

Guitarra morta este lugar encerra!...

Aqui é o Campo-Santo, aqui é a Terra!

Em que a alma chora e em que a Saudade canta!”

(Terra Fúnebre - Augusto dos Anjos)

Na memória afetiva das mui-tas histórias sobre Ronaldo Cunha Lima, uma pode ser utilizada como exemplo de dois perfis que já não se delimitavam, o homem público e o poeta. Era o ano de 1988, quando o então prefeito de Campina Grande ganhava uma notoriedade nacional

BRILHA UMA ESTRELA POÉTICA DE SONHO E CORAGEM

por participar de um quizz show, programa de perguntas e respostas: “Sem Limites”, cujo tema versou sobre a obra de Augusto dos An-jos na extinta TV Manchete. Ao ser perguntado pelo apresentador Luiz Armando, já falecido, sobre como se aprendia a fazer verso na base do repente, Ronaldo respondeu:

“Para fazer verso de improvisoAssim na ocasião,Apenas é preciso

Ter um pouco de juízo eSentimento no Coração”

O vencedor daquela edição do programa, daria uma pequena mos-tra ao Brasil não só por sua mar-cante capacidade intelectual, mas por uma inquestionável empatia a agregar em toda sua trajetória, fiéis seguidores, seja no campo da poe-sia, como no da política.

De personalidade humanista, Ronaldo José da Cunha Lima era fi-lho da cidade de Guarabira, mas foi em Campina Grande que sua alma “nasceu”. Aprendeu a tomar “banho de poeira” com o povo, pois o jovem, vendedor de jornais e que também foi garçon, logo cedo percebeu que, na faculdade das ruas, habita o jeito lúdico de se gostar de gente, de se co-nhecer os sentimentos de um povo e entender que a poesia nem sempre habita a clausura das bibliotecas.

Nascido em 18 de março de 1936, o Poeta era viciado em viver, o filho de Dona Francisca Bandeira e Sr. Demóstenes Cunha Lima não media a ‘vida pelo tamanho mas sim pela largura’, expressão que costumava dizer. Por isso, adminis-trou e foi administrado pelo cora-ção, sendo, como político, advoga-do ou poeta, um ser muito sensível e honesto com suas paixões.

Em 50 anos de vida pública, Ronaldo em muito contribuiu para uma cidade onde os sentimentos são hiperlativos, tendo iniciado sua vida pública como vereador (1959 a 1963); deputado estadual por dois mandatos (1963-1967 e 1967 a 1969); e prefeito de Campina Gran-de (1969), cargo que exerceu por pouco mais de dois meses por ter seus direitos políticos cassados por dez anos, com base no artigo 4º do Ato Institucional nº 5, também co-nhecido como AI-5 na época da re-pressão.

Era o momento do advogado Ronaldo da Cunha Lima já casado

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Por Ribamildo Bezerra

com Maria da Glória Rodrigues, assumir a responsabilidade de uma prole que representaria, no futuro, o espelho de um consolidado clã, representado pelos quatro filhos Ronaldo, Cássio, Glauce e Savigny Cunha Lima.

Paralelamente ao ofício da ad-vocacia, estão as histórias do poeta Ronaldo que ajudam na construção da figura popular e suas extraordi-nárias histórias, como a do “habeas pinho”, uma poética petição dirigi-da ao Dr. Artur Moura, então Juiz de Direito da 2ª vara para que fosse liberado um violão, apreendido pela polícia em pleno “ofício” de sere-nata. Em um dos versos Ronaldo assume a defesa do instrumento apresentando sérios argumentos que livrariam o violão de uma pos-sível “culpabilidade”:

“Mande soltá-lo, pelo Amor da noiteQue se sente vazia

em suas horas,Para que volte a sentir

o terno açoiteDe suas cordas leves

e sonoras.Libere o violão,

Dr. Juiz,Em nome da Justiça

e do Direito!É crime, porventura,

o infeliz,Cantar as mágoas que lhe enchem o peito?”(Habeas Pinho – Ro-

naldo Cunha Lima)

Curiosamente, a obra teria sido redigida em uma madrugada do mês de junho, pe-ríodo do ano que nunca mais seria o mesmo muitos anos depois após o seu retorno à vida pública em Campina Grande, como prefeito da cidade, a partir do ano 1982. O re-torno à cidade querida foi apenas a consolidação de laços que nunca se partiram, haja vista que, mesmo no Rio de Janeiro, era leitor fiel do ex-tinto jornal Diário da Borborema:

“Volto à minha Campina / No templo e no Evangelho! / E ao entrar nesta cidade / Afoguei minhas saudades / Nas águas do Açude Velho”

(Ronaldo Cunha Lima)

Como político, Ronaldo Cunha Lima nunca perdeu um voto de confiança, sendo diplomado em todos os cargos os quais se candi-datou; vereador, prefeito, deputado estadual, deputado federal, gover-nador e senador . Sempre pautou sua vida pública por marcantes mo-mentos, onde a emoção era o fator

decisivo, tenham sido eles positivos ou não em sua trajetória.

Ao projetar Campina Grande para o Brasil com a marca do Maior São João do Mundo, Ronaldo cria o espaço apoteótico do forró, O PARQUE DO POVO, em 1986, cenário de 30 dias de festa, deixan-do uma marca tão sua, imortalizada numa placa inaugural:

“Que este meu gesto marqueO nascer de um tempo novo

O povo pediu o parque Eu fiz o Parque do Povo”

(Ronaldo Cunha Lima - Prefeito)

Como Governador, conquis-tou o reconhecimento da Universi-dade Estadual da Paraíba junto ao Ministério da Educação, além de implantar dois importantes proje-tos que marcariam sua administra-ção, a eletrificação e o Projeto Coo-perar. Na educação, foi um grande incentivador na criação de creches no Estado, e para não fugir à regra utilizava da poesia para sensibilizar alunos das escolas estaduais a pre-servarem os livros distribuídos gra-tuitamente:

“No livro que você lê/ Se apren-de bem direitinho/ Cada página é um caminho/ Que se abre pra você/ Se for muito bem usado/ O livro que a escola deu/ De certo, será usado/ Por outro co-lega seu”

(Ronaldo Cunha Lima - Gover-nador)

A complexidade humana, pre-sente na história de Ronaldo, pode

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Cidade

ser conferida através de depoimen-tos de pessoas que com ele desfru-taram da sua convivência, a exemplo do senador pelo estado de São Pau-lo, Aloysio Nunes: “Era irresistível a conversa de Ronaldo Cunha Lima. Em pouco tempo, ele me contou sobre toda a sua vida política; o so-frimento da cassação, dos direitos de cidadão, de político, quando prefeito de Campina Grande; sua trajetória pelos cargos que ocupara”.

Aloysio destacou o amor que Ronaldo Cunha Lima tinha pelo fi-lho, Cássio, “Um amor que, segun-do o senador, o levou a ultrapassar os limites da sensatez, lembrando o episódio em que o ex-governador proferiu tiros contra seu adversário político Tarcísio Burity em reação a

críticas que estariam sendo feitas ao filho Cássio Cunha Lima, então su-perintendente da SUDENE, numa entrevista concedida por Burity mi-nutos antes em uma emissora da TV da Capital”. Na época, Ronaldo Cunha Lima era o governador da Paraíba.

O fato é que Ronaldo Cunha Lima foi intenso durante toda a sua trajetória, e, inegavelmente, uma personalidade que se sobressaiu para o campo dos inesquecíveis, mesmo já tendo recebido o título de imortal pela Academia Paraibana de Letras em 1994, onde ocupava a cadeira de número 14, cujo patrono foi o imortal Eliseu Elias Cezar.

Conseguiu convergir, poetica-mente, o clássico e o popular, po-liticamente amigos e adversários à altura, sendo uma personalidade a unir os mais diversos sentimentos e opiniões sobre o que construiu. Não existiu um só Ronaldo, mas vários ‘Ronaldos’, lidos por prismas tão particulares como marcantes, algo que apenas o julgamento da história poderá definir, de forma consolida-da, através dos inúmeros aspectos que marcam a sua personalidade.

Na tarde do domingo do dia 08 de julho poucas horas antes do seu sepultamento, de forma inces-sante sob o teto da sua catedral popular, a pirâmide do Parque do Povo, Ronaldo conseguiu exempli-ficar que, acima de qualquer opinião sobre sua história, sua personalida-de conseguiu atingir um patamar inédito de reverência, onde amigos e adversários vestiram um só luto, estampado na saudade.

Nas palavras do seu filho, o Senador Cássio, a certeza de que

Ronaldo cumpriu uma trajetória franca com seus sentimentos, pre-valece no humanismo que norteou a vida do pai: “Peço perdão pelos erros cometidos pelo poeta, saben-do que, ao longo desta trajetória, Ronaldo se notabilizou pela frater-nidade, pelo amor e pela correção nas relações de lealdade”.

Ao longo das 15 obras de po-esias publicadas, das quais muitas versaram sobre o amor, Ronaldo Cunha Lima continuará indescri-tível, oculto entre a voz dos apai-xonados e reticente no registro dos seus críticos. Um ser iluminado pelo talento, porém ainda revestido de nublagem, tal qual as nuvens que serviram de cenário para a tarde do seu ocaso.

Na passagem do seu cortejo, Campina foi só mobilidade, como outrora foram suas passeatas em tempos de campanha, só que desta vez era o silêncio que falava mais alto; onde os acenos de lenços bran-cos constituíram a forma prosaica dos anônimos campinenses em ho-menagear o homem público Ronal-do Cunha Lima, que até no sobre-nome fez rima com esta cidade.

Assim como Augusto dos Anjos, poeta que sempre bebeu da fonte como um grande manancial de sonetos, Ronaldo Cunha Lima ainda esconderá, por muito tempo, uma face lúdica da vida que ainda merece ser descoberta. Na tarde daquele domingo, uma chuva fina caía durante o cortejo; segundo um poeta anônimo, que o acompanha-va no meio da multidão, aquelas go-tas eram lágrimas que a natureza, na cidade de Campina, também chora-va por Ronaldo Cunha Lima.

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Por Aline DurãesCidade

Observar o Açude Ve-lho de Campina Gran-de é um dos prazeres

que todo cidadão da cidade ou turista desfruta quando se encontra na Rai-nha da Borborema; contudo, no perí-odo de 13 a 20 de maio passado, essa passividade sofreu um abalo. Nestes dias além de admirar o açude, o tran-seunte foi convidado a “andar” por sobre suas águas, através da interven-ção “Com Roldão Mangueira nem Pedro Afunda”. Ação realizada pelo artista plástico Jarrier Alves com co-autoria de Nivaldo Rodrigues, mem-bros do Coletivo Mídias.

A instalação, que é parte do projeto “A Cidade em Estado de Arte: Intervenções Urbanas”, con-tou com o apoio do Fundo de In-centivo à Cultura (FIC) Augusto dos Anjos, e consistiu na fixação de uma passarela de 147 metros – constru-ída com material reciclável – que ligou duas extremidades do açude, do Centro Universitário de Cultura e Arte (CUCA) à Casa da Cidadania.

Para a construção da passarela ecológica foram necessárias 8.000 gar-rafas PET, o que, segundo análise dos organizadores do evento, representa o consumo diário dessas embalagens pela população da cidade. A arrecada-ção delas foi realizada por alunos de escolas públicas, após sensibilização feita pelo Coletivo Mídias sobre o im-pacto do descarte irresponsável desse material no meio ambiente, além de

O AÇUDE VELHO EM ESTADO DE ARTEOITO MIL MOTIVOS PARA A PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE

parceria com a Cotramare, cooperati-va de catadores de materiais recicláveis e a empresa Inove Embalagens.

“Instigar a população a refletir sobre a preservação do meio ambien-te através da arte é uma das propostas essenciais da intervenção. A escolha por matérias recicláveis é um caminho que socialmente deve ser construído, sobretudo porque reciclar é economi-zar energia, poupar recursos naturais e trazer de volta, ao ciclo produtivo, o que jogamos fora. Fundamentado neste pensamento, todo o material uti-lizado na construção da passarela será reutilizado. As garrafas voltarão para a cooperativa e as telas e madeiras serão reaproveitadas em oficinas de escultu-ra e xilogravura nas escolas públicas do estado”, disse Jarrier Alves.

O evento artístico também pro-vocou a reflexão sobre o estado atual do Açude Velho. Todas as pessoas que ali passaram foram convidadas a colaborar com o abaixo-assinado que solicita a revitalização das águas do manancial, hoje degradado e assore-ado. “Por meio da cidadania cultural, que são iniciativas que passam pela cultura – mas que têm impacto na vida de cidadão dos sujeitos envol-vidos com a arte –, acreditamos que aguçamos, no espectador, um olhar reflexivo. Uma análise sobre a po-luição do açude de forma geral e sua parcela de responsabilidade pessoal tanto neste aspecto, quanto no des-carte de materiais no meio ambien-

te”, comentou Nivaldo Rodrigues.

OS BORBOLETAS AZUIS E O FIM DO MUNDO

Com ricas possibilidades advin-das da arte, a intervenção contem-plou, ainda, o resgate de uma parcela da história de Campina Grande. Os visitantes puderam conhecer a res-peito de uma importante figura da cidade, responsável pela fundação da Casa de Caridade Jesus no Horto, o senhor Roldão Mangueira.

Este líder religioso acreditava que o mundo iria acabar no dia 13 de maio de 1980 e as pessoas que comungavam desta fé, popularmente conhecidos por Borboletas Azuis, se prepararam para o grande dia. A co-moção foi geral e a mídia, não só bra-sileira, como a internacional, acom-panhou o desenrolar da previsão.

A profecia não se cumpriu, mas muitas estórias cercam esse episódio. Uma delas conta que o senhor Rol-dão Mangueira teria dito que anda-ria sobre as águas do Açude Velho, já que o mundo teria fim por meio de um dilúvio que duraria 120 dias. A travessia simbólica deste líder reli-gioso foi realizada na intervenção por meio de uma escultura de seis metros que também invadiu as águas do açu-de. Baseado neste mito a ação buscou homenagear, pela demonstração de genuína fé, o movimento messiânico Borboletas Azuis que, na época, foi alvo de agressões e hostilidades.

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