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LEGUMINOSAS NA FRUTICULTURA USO E INTEGRAÇÃO EM PROPRIEDADES FAMILIARES DO SUL DO BRASIL Carlos Roberto Martins Cesar Bauer Gomes Luis Fernando Wolff Joel Henrique Cardoso Editores Técnicos

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LEGUMINOSAS NA FRUTICULTURAUSO E INTEGRAÇÃO EM PROPRIEDADES FAMILIARES DO SUL DO BRASILCarlos Roberto MartinsCesar Bauer GomesLuis Fernando WolffJoel Henrique CardosoEditores Técnicos

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Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuáriaEmbrapa Clima Temperado

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

EmbrapaBrasília, DF

2019

Leguminosas na fruticultura Uso e Integração em Propriedades Familiares do Sul do Brasil

Carlos Roberto MartinsCesar Bauer GomesLuis Fernando Wolff

Joel Henrique CardosoEditores técnicos

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Embrapa Clima TemperadoBR 392 km 78 Caixa Postal 403

CEP 96010-971 Pelotas, RSFone: (53) 3275-8100

www.embrapa.brwww.embrapa.br/fale-conosco/sac

Todos os direitos reservados.A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte,

constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610).Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Embrapa Clima Temperado

Marilaine Schaun Pelufê – CRB10/1274 © Embrapa, 2019

L521 Leguminosas na fruticultura: uso e integração em propriedades familiares do sul do Brasil / Carlos Roberto Martins ... [et al.], editores técnicos. – Brasília, DF: Embrapa, 2019. 66 p. ; il. color; 21 x 29,7 cm.

ISBN 978-85-7035-873-8

1. Leguminosa. 2. Fruticultura. 3. Fruta de clima temperado. I. Gomes, Cesar Bauer. II. Wolff, Luis Fernando. III. Cardoso, Joel Henrique. IV. Título.

CDD 631.87

Comitê Local de Publicações

PresidenteAna Cristina Richter Krolow

Vice-PresidenteEnio Egon Sosinski

Secretária-ExecutivaBárbara Chevallier Cosenza

MembrosAna Luiza Barragana Viegas, Fernando Jackson, Marilaine Schaun Pelufê, Sônia Desimon

Revisão de textoBárbara Chevallier Cosenza

Normalização bibliográficaMarilaine Schaun Pelufê

Projeto GráficoFernando Jackson

Foto de capaCarlos Roberto Martins

1ª edição1ª impressão (2019): 300 exemplares

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Autores

Carlos Roberto MartinsEngenheiro-agrônomo, doutor em Fruticultura, pesquisador da Embrapa Clima TemperadoPelotas, RS.

Cesar Bauer GomesEngenheiro-agrônomo, doutor em Fitopatologia, pesquisador da Embrapa Clima Temperado Pelotas, RS.

Cristiano BelléEngenheiro-agrônomo, mestre em Agronomia, doutorando do Programa de Pós-graduação em Fitossanidade, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS.

Fabrício Sanches MedeirosEstudante de Biologia, Universidade Federal de Pelotas, estagiário em sistemas agroflo-restais, Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS.

Flávio Luiz Carpena CarvalhoEngenheiro agrícola, mestre em Agronomia, pesquisador da Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS.

Joel Henrique CardosoEngenheiro-agrônomo, doutor em Agroecologia, pesquisador da Embrapa Agroindústria Tropical, Fortaleza, CE.

Jerônimo Vieira de Araújo FilhoEngenheiro-agrônomo, doutor em Fitopatologia, professor da Universidade Federal de Pelotas, RS.

Jaqueline Tavares SchaferEngenheira-agrônoma, doutora em Fitossanidade, Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS.

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Luis Fernando WolffEngenheiro-agrônomo, doutor em Recursos Naturais e Gestão Sustentável, pesquisador da Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS.

Maurício Gonçalves BilharvaEngenheiro-agrônomo, mestre em Sistemas de Produção Agrícola Familiar, doutoran-do do Programa de Pós-graduação em Fruticultura de Clima Temperado, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS.

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Apresentação

Devido ao grande valor nutricional das leguminosas, tanto para humanos quanto para criações de animais, para a segurança alimentar e nutricional, e ainda para a sustentabilidade ambiental, a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou 2016 o “Ano Internacional das Leguminosas”. O objetivo é conscientizar a população mundial sobre a importância do papel desse grupo de plantas, como parte de uma produção sustentável de alimentos, para segurança alimentar e nutricional do mundo. Nesse contexto, o caminho em direção à valorização de plantas como as leguminosas, de forma a aumentar a biodiversidade e seus benefícios, deve ser amplamente divulgado.

O cultivo de frutíferas na região Sul do Brasil se beneficia da integração com leguminosas e ou-tras plantas, para produção de frutas de maneira mais equilibrada e sustentável. Nesse sentido, a Embrapa Clima Temperado, juntamente com várias instituições parceiras, vem realizando e atuan-do na construção e consolidação de uma base científica e tecnológica para o desenvolvimento sustentável da fruticultura.

Desejamos aos leitores que aproveitem toda a riqueza de conhecimentos apresentados para o fortalecimento da fruticultura e da integração com uso de leguminosas, com o intuito de apoiar de maneira qualificada a busca de alternativas para a diversificação da agricultura, especialmente a familiar de base ecológica.

Clenio Nailto PillonChefe-Geral da Embrapa Clima Temperado

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Prefácio

A fruticultura é um dos segmentos produtivos mais importantes no cenário agrícola brasileiro, não só em termos de produção, que acaba elevando o País ao destaque internacional, mas também pela sua capacidade de mobilização, organização e incorporação tecnológica aos pomares.

Embora todo processo produtivo tenha evoluído bastante nas últimas décadas, a produção de frutas requer ainda saltos importantes de soluções e inovações tecnológicas. Também demanda reafirmar constantemente as práticas e manejos racionais, de forma a permitirem não somente a manutenção de bons níveis de produtividade, aliados à redução dos custos de produção e sem prejuízos à quali-dade das frutas, como também permitirem ao máximo a preservação e o uso eficiente dos recursos naturais e, ainda, a geração de serviços ambientais. Tais avanços são necessários para que se possa vislumbrar a longevidade e a sustentabilidade da produção de frutas no Brasil

A fruticultura, especialmente em propriedades de base familiar no Sul do Brasil, baseia-se numa série de práticas integradoras e de manejo conservacionista dos pomares, sendo que o uso de le-guminosas pode ser empregado de forma isolada e/ou conjuntamente, para atender a uma série de objetivos que podem e devem ser ressaltados como fatores indissociáveis à produção moderna de frutas. Dentre eles, estão inclusos a produção de alimentos, o aumento da diversidade biológica, o convívio com pragas e doenças, a fixação biológica de nitrogênio, conservação do solo, o enrique-cimento da relação carbono e nitrogênio (C/N), a ciclagem de nutrientes e, o aumento da matéria orgânica do solo. Entretanto, apesar dos benefícios do emprego das leguminosas e outros grupos de plantas no manejo dos pomares, essas tecnologias ainda carecem de empenho sistemático de apoio e divulgação para que ocorra uma maior conscientização e adoção por parte dos produtores. A presente publicação tem por objetivo informar e enfatizar estratégias de uso, manejo e benefícios do uso integrado, especialmente de leguminosas na produção de frutas, como adubação verde e cobertura permanente dos pomares, espécies leguminosas arbóreas associadas a frutíferas em sistemas agroflorestais, espécies vegetais para produção apícola em pomares frutícola, bem como no manejo de fitonematoides em pomares de frutíferas, na região de clima temperado não somente restrita ao Rio Grande do Sul.

Carlos Roberto MartinsEditor Técnico

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Sumário

Capítulo 1 – Adubação verde e cobertura vegetal em pomares: leguminosas e outros grupos de plantas ...11

Capítulo 2 – Leguminosas arbóreas e fruticultura: contribuições agroflorestais para a sustentabilidade dos pomares...........................................................................................................................................................23

Capítulo 3 – Leguminosas para a produção apícola integrada a pomares frutícolas .....................................42

Capítulo 4 – Emprego de leguminosas no manejo de fitonematoides em espécies frutíferas ........................47

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Capítulo 1 – Adubação verde e cobertura vegetal em pomares: leguminosas e outros grupos de plantasCarlos Roberto MartinsFlavio Luiz Carpena CarvalhoMauricio Gonçalves Bilharva

Desde os primórdios da agricultura, o uso das plantas para melhorar a fertilidade do solo vem sendo praticado nas diferentes formas de cultivo das propriedades agropecuárias. Pela integração da agricultura com a pecuária, os agricultores incrementavam a alimentação dos seus rebanhos e ainda melhoravam a produtividade das lavouras especialmente com uso de leguminosas. Essas plantas tiveram, têm, e ainda terão um papel preponderante na produção de adubo verde, forragem e alimentos para consumo humano. Leguminosas de grande importância mundial na utilização para alimentação humana, como o feijão (Phaseolus vulgaris), por exemplo, também pode ser cultivado consorciado com frutíferas, especialmente nos pomares de pequenas propriedades familiares.

A família Fabaceae, ou Leguminosae, possui distribuição cosmopolita, abrangendo cerca de 650 gêneros e, aproximadamente, 18 mil espécies (Carvalho, 2010; Mercante et al., 2014). No Brasil, ocorrem cerca de 200 gêneros e 1.500 espécies. É possível encontrar plantas de diferentes esta-turas, desde rasteiras (herbáceas), arbustivas e, até mesmo, arbóreas, empregadas em diferentes funções nos sistemas produtivos.

O uso de leguminosas na fruticultura de clima temperado, devido aos seus atributos, mais que qual-quer outro grupo botânico de plantas, desempenha funções primordiais nos pomares. De maneira integrada ou isolada, empregam-se espécies vegetais, em especial leguminosas, como plantas de cobertura do solo (proteção), melhoradora do solo (recuperadora), como adubação verde (adubado-ra), produção de forragem (biomassa) e, também, para a produção de alimentos (grãos e legumes).

Atualmente, a fruticultura, preconizada como produtiva e ambientalmente equilibrada, baseia-se numa série de práticas e de manejo conservacionistas dos pomares, em que a preocupação com a manutenção e a melhoria das condições do solo, água e da ampla biodiversidade, compõe eixos fundamentais de sustentação da produção de frutas. No empenho de uma fruticultura sustentável e que se mantenha produtiva por longos períodos, é indispensável a fertilidade do pomar (Possa, 2004) por meio da adubação.

A produção de frutas nas diferentes regiões edafoclimáticas apresenta uma infinidade de possibi-lidades de consorciação e associação com espécies vegetais como as leguminosas. A Embrapa, a exemplo de várias instituições de pesquisa, tem buscado, por meio de trabalhos de pesquisa, aprimorar e encontrar espécies de leguminosas e gramíneas que cresçam e se desenvolvam em sinergismo com as frutíferas.

A vertente da adubação verde nos pomares representa uma tipificação dessa evolução, na qual essas espécies de leguminosas aportam nitrogênio ao solo e as plantas, pela fixação biológica e ciclagem de nutrientes, promovendo benefícios quanto às características químicas, físicas e bioló-gicas do solo com reflexos significativos na produção e qualidade das frutas. Além disso, contribui para o controle integrado de plantas infestantes (momentaneamente indesejáveis) e protege o solo na forma de cobertura verde, proporcionando a diversificação de nichos biológicos aos pomares, com reflexos no convívio em equilíbrio com pragas e doenças.

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A adubação verde não se restringe ao uso de leguminosas, ampliando-se às gramíneas (exemplo: aveia – Avena sp.) e crucíferas (exemplo: nabo – Raphanus sp.), que, embora não contribuam para fixação biológica de nitrogênio, fornecem coberturas mais estáveis e de decomposição mais gra-dual, por possuírem relação C/N superior a 30 (Ambrosano et al., 2014). Outro aspecto é que essas demais espécies apresentam características que agregam as leguminosas. O nabo, por exemplo, apresenta uma raiz pivotante que favorece a captação de nutrientes em regiões do solo com maior profundidade. No caso das gramíneas, a produção de afilhos (ou perfilhos) possibilita uma cober-tura do solo mais rápida, evitando perdas. Um exemplo comumente adotado pelos produtores no Rio Grande do Sul, e também nos outros estados do Sul do Brasil, consiste na associação da aveia-preta (Avena sp.) e ervilhaca (Vicia sp.). Empregadas como adubação verde, desde a implantação dos pomares à renovação de áreas, trazem benefícios ao cultivo de citros, figueira, goiabeiras, macieiras, nogueiras, pessegueiros e videiras (Figura 1). Medeiros et al. (1990) estudaram o efeito alelopático de gramíneas (Avena sativa L. – aveia; e Lolium multiflorum L. – azevém) e leguminosas (Medicago sativa – alfafa; Trifolium repens L. – trevo-branco; e Vicia sp. – ervilhaca) e, dentre tais espécies, as gramíneas e a ervilhaca apresentaram potencial alelopático com a redução de espé-cies indesejadas.

Figura 1. Cultivo de figueira com adubação verde de aveia e ervilhaca no primeiro ano de implantação (A) e em plantas adultas (B).

As plantas de cobertura, quando adequadamente escolhidas e manejadas, desempenham diversas funções. Além da adubação, proteção e conservação do solo, também exercem funções de atra-ção a insetos benéficos aos pomares (abelhas, por exemplo); contribuem, ainda, para a redução de danos por formigas, possibilitam o manejo para redução de danos e prejuízos com nematoides, trazendo uma série de benefícios que se traduzem em reflexos na produtividade e longevidade dos pomares.

Uso de leguminosas para adubação verde em pomares

Atualmente, a adubação verde é considerada uma prática simples e indispensável aos pomares modernos, consistindo em realizar-se o plantio, cultivo e manejo de plantas em consórcio, seja no período de formação do pomar, e/ou na fase de produção de frutas. Para isso, podem ser emprega-das e manejadas espécies que crescem espontaneamente no pomar, plantas nativas e/ou introdu-zidas, tendo o propósito maior de beneficiar as plantas frutíferas.

É importante ressaltar que a adubação verde também recebe a denominação de plantas de cober-tura (tratadas neste capítulo como sinônimos), com ou sem incorporação posterior ao solo, sendo uma técnica de melhoria do solo, que nele incorpora N e compostos orgânicos e proporciona condi-

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ções de aumentar o seu teor de matéria orgânica (húmus) (Wutke et al., 2014), além de conservar a umidade e, consequentemente, propiciar condições para maior produção e qualidade das frutas (Martins et al., 2002). Essas plantas “adubadoras” são incorporadas ou mantidas em cobertura sobre a superfície do solo, de acordo com seu ciclo produtivo (anual, semiperene ou perene), que, por sua vez, determinaram a forma de cultivo, especialmente no manejo de inclusão ao sistema solo-planta, ou seja, no seu corte (roçadas) e/ou as roladas (“amassadas”).

A adubação verde com algumas leguminosas permite o incremento de nitrogênio ao solo, pois essas são mais tenras devido à relação C/N ser próxima de 20, na fitomassa, decompondo de ma-neira mais rápida, favorecendo a mineralização e a liberação de nutrientes reciclados no solo e do N fixado simbioticamente (Wutke et al., 2014). Isso ocorre pela captação do Nitrogênio, elemento no estado gasoso, existente no ar, o qual é disposto nas raízes por meio de fixação biológica feita por bactérias (rizóbios), que, num processo de simbiose, favorece o crescimento das folhas, frutos e raízes, interferindo positivamente em toda a planta. A fixação biológica é feita por bactérias do gênero Ryzhobium, que, harmonicamente, se associam às raízes das plantas e formam nódulos nos quais o nitrogênio captado do ar se transforma em amônia (NH3), de maneira que as plantas possam absorvê-las e se beneficiar no seu crescimento e desenvolvimento. Assmann et al. (2007) relatam que o trevo-branco (Trifolium repens), por exemplo, pode chegar a dispor de 500 kg de N/ha/ano. Além da incorporação de N, as leguminosas proporcionam benefícios sobre as característi-cas físicas, químicas e biológicas do solo.

Outro fator se a destacar com uso de plantas adubadoras é a possibilidade de incremento da di-versificação do ambiente produtivo, favorecendo as interações bióticas e, sobretudo, a biodiversi-dade. Normalmente, nos pomares, predominam os monocultivos de plantas frutíferas, quando não o monocultivo varietal, que acabam proporcionando a simplificação e a especialização do sistema produtivo, caracterizando, ao longo do tempo, uma fragilidade fitotécnica, por desencadear altera-ções na dinâmica natural das plantas espontâneas, insetos-pragas, inimigos naturais (Figura 2), polinizadores e de microrganismos fitopatogênicos, que, por sua vez, trazem problemas constantes ao manejo dos pomares.

Figura 2. Presença de joaninha (Coccinella septempunctata) em pomares com cobertura do solo, a qual é um inimigo natural de afídeos.

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Daí a importância do uso de espécies vegetais com diferentes características ao longo dos anos, nos pomares, que possuam características potencialmente adubadoras, mas que também promo-vam diversas melhorias ao ambiente produtivo. E, se possível, implantar mais de uma espécie herbácea conciliada com espécies nativas torna o ambiente mais heterogêneo. Na Figura 3, apre-senta-se, resumidamente, os benefícios do uso de plantas de cobertura do solo como adubação verde, especialmente as leguminosas, em pomares de frutíferas.

Figura 3. Síntese dos benefícios da adubação verde nos pomares de frutíferas.

Os sistemas de cultivo de plantas frutífera nas propriedades do Sul do Brasil, em especial no RS, devem priorizar a integração permanente de plantas de cobertura do solo aos pomares, nas dife-rentes estações do ano, protegendo as características naturais do solo, nascentes e cursos d’água, além de favorecer o crescimento e a produtividade das plantas frutíferas, promovendo melhoria nas condições ambientais para a produção de frutas ao longo do tempo.

Nos atuais preceitos de sustentabilidade da fruticultura, uma das práticas que deve ser restrita ou até mesmo extinta dos pomares é o emprego de equipamentos como o arado e grade para o controle de plantas infestantes na entrelinha das frutíferas, que além de promover a compactação da camada subsuperficial do solo, impedindo o estabelecimento e desenvolvimento das frutíferas, expõe demasiadamente o solo às intempéries climáticas (Figura 4).

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Figura 4. Uso de aração constante para controle de plantas espontâneas nas entrelinhas de plantio

As espécies vegetais como leguminosas, associadas a outras espécies ou não, além de serem usadas como adubo verde nos pomares, acabam propiciando o efeito protetor do solo (Figura 5), reduzem as perdas de solo, água e adubo, causadas seja pela erosão, tanto hídrica, quanto eólica, ou até mesmo pela incidência direta dos raios solares, que provocam a maior perda de água nas plantas por evapotranspiração. Esses benefícios e condições são estabelecidos quando as plantas de cobertura são manejadas adequadamente ao conjunto do pomar de frutas, que dependem das espécies frutícolas e das condições de solo de cada região.

Figura 5. Pomar de figueira em formação com restos de leguminosa de inverno (ervilhaca) na entrelinha e com a cobertura de inverno (aveia) na linha de plantio.

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Na Tabela 1, são apresentados os benefícios gerais que o uso de plantas de cobertura do solo pode proporcionar nos pomares frutícolas.

Tabela 1. Benefícios do uso de plantas de cobertura do solo em pomares• Redução da erosão (hídrica e eólica) do solo

• Favorecimento da infiltração de água no solo

• Manutenção do teor de matéria orgânica

• Redução das oscilações de temperatura do solo

• Descompactação do solo

• Redução da lixiviação de nutrientes

• Redução da população de plantas espontâneas (efeito supressor e/ou alelopatia)

• Diminuição da necessidade de intervenção com herbicidas

• Produção de biomassa

• Manutenção ou recuperação da estrutura do solo

Aspectos importantes a se considerar na escolha, implantação e manejo dos adubos verde e/ou cobertura de solo em pomares frutícolas

A escolha das espécies de adubos verdes para implantar nos pomares deve ser planejada, passan-do por alguns cuidados para que não estabeleça uma relação desarmoniosa, ou seja, não ocorram prejuízos ao crescimento das plantas e à produção de frutas, finalidade de um pomar, principal-mente por não competir por água e nutrientes. Outros aspectos que devem ser considerados são a disponibilidade de sementes da espécie a ser implantada; o preço da semente; conhecimento da época de crescimento e desenvolvimento da espécie, sendo que o manejo adequado da adubação verde não prejudicará o crescimento e desenvolvimento das frutíferas no pomar. Além disso, deve ser considerado o histórico da área, adaptação das plantas ao clima e solo, sistema de produção, produtividade de fitomassa e a tradição de uso do produtor (Wutke et al, 2014).

A utilização de leguminosas, bem como de outras espécies, como gramíneas e crucíferas (Raphanussp.), em áreas frutícolas, é condicionada conforme as características regionais e dos locais onde foram instalados os pomares, principalmente, quanto às condições microrregionais de solo e clima. A determinação das plantas a serem consorciadas com as frutíferas deve levar em consideração fa-tores limitantes à implantação e desenvolvimento de plantas de cobertura e de adubo verde, como, por exemplo, a ocorrência de geadas, temperatura, disponibilidade de água e fertilidade do solo, entre outros aspectos.

Outras características que interferem na escolha das espécies, seja para adubação verde ou cober-tura do solo, é que essas tenham boa produção de matéria seca (biomassa) e que não sofram danos significativos com distúrbios fisiológicos e biológicos (ataque de pragas e doenças). É importante, também, que as plantas produzam boa quantidade de sementes e que mantenham, após a colheita, um bom poder germinativo e que a espécie apresente um potencial para a ressemeadura natural.

Outros elementos desejáveis é que a espécie não seja exigente quanto ao preparo e a fertilidade do solo, principalmente quanto ao estabelecimento e o rápido crescimento das espécies. É preponde-rante, ainda, que a espécie a ser escolhida não exija muitos tratos culturais durante seu desenvol-vimento, o que dificultaria seu manejo e aumentaria os custos.

As espécies utilizadas nos pomares da região clima temperado, em especial no RS, são comumen-te classificadas em plantas de inverno e de verão. As plantas de inverno são compostas por legu-minosas, gramíneas e crucíferas, sendo plantadas no final do outono e início de inverno (Figura 6),

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enquanto que as plantas de verão, normalmente são plantadas no início da primavera e manejadas até seu final de ciclo, que ocorre durante o verão (Figura 7).

Figura 6. Pomares de videira (A) e de pessegueiro (B) com plantas de cobertura e adubadoras no período de inverno.

Figura 7. Pomar de citros com feijão-de-porco (Canavalia ensiformis) (A) e calopogônio (Calopogonium sp.) (B) durante o verão.

É importante ressaltar que as espécies mais adequadas para a utilização como adubação verde, principalmente na agricultura de base familiar, devem ter como pressuposto básico o custo não elevado das sementes e, ainda, que essas possam serem colhidas para outras semeaduras, ou ainda apresente ressemeadura natural, reduzindo os custos com a aquisição. Assim, podem ser in-dicados na produção de frutíferas de clima temperado, o uso de ervilhaca comum (Vicia sativa) e de aveia-preta (Avena strigosa), no inverno, e feijão-miúdo (Vigna unguiculata) e milheto (Pennisetumamericanum), no verão. Considerando-se que as leguminosas, pela sua baixa relação C/N, decom-põem-se rapidamente, é interessante que sejam cultivadas consorciadas com gramíneas, para que se tenha o solo coberto por um período maior.

Nas Tabelas 2 a 5, apresenta-se uma síntese de informações e características de plantas de cober-tura e adubação verde, adaptadas da obra de Lima Filho et al. (2014a, 2014b), a qual foi comple-mentada pelos trabalhos de Bortolini et al. (2012), Fontaneli (2016a, 2016b) e Santos (2016).

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Tabela 2. Plantas de cobertura e para adubação verde – leguminosas de inverno.

Nome científico Nome comum Época de semeadura

Densidadede semeadura

Ressemeaduranatural Inoculação Germinação

e pureza Ciclo

Cicer arietinum Grão-de-bico Março-maio 40 a 80 kg ha-1 ---- ---- ---- Anual

Lathyrus sativus Chícaro Março-abrilEm linha: 70 e 100 kg ha-1

Insuficiente Não ---- AnualA lanço: 85 e 115 kg ha-1

Lotus corniculartus Cornichão Abril-junho 8 a 10 kg ha-1 Baixa Sim ---- Perene

Lupinus albus Tremoço Abril-maio 50 a 60 kg ha-1 ---- ---- Pureza: 98%Germinação: 75% Anual

Ornithopus sativus Serradela Abril-maio 20 a 30 kg ha-1 Baixa Sim Pureza: 97%Germinação: 60% Anual

Pisum sativum Ervilha Julho Em linha: 210 kg ha-1 ---- ---- ---- Anual

Pisum sativum ssp. arvense Ervilha-forrageira Abril-junho

Em linha: 80 kg ha-1

Insuficiente Não Pureza: 98%Germinação: 70% Anual

A lanço: 90 kg ha-1

Trifolium pratense Trevo-vermelho Março-abril 6 a 8 kg ha-1 Boa Não Pureza: 97%Germinação: 60% Bienal

Trifolium repens Trevo-branco Março-junho 2 a 4 kg ha-1 Boa Sim ---- Perene

Trifolium resupinatum Trevo-persa Março-maio 4 a 5 kg ha-1 Boa Sim Pureza: 95%Germinação: 70% Anual

Trifolium subterraneum Trevo-subterrâneo Abril-maio 8 a 10 kg ha-1 Boa Sim Pureza: 97%Germinação: 60% Anual

Trifolium vesiculosum Trevo-vesiculoso Abril-maio 6 a 8 kg ha-1 Baixa Sim Pureza: 95%Germinação: 70% Anual

Vicia sativa Ervilhaca Abril-maioEm linha: 40 kg ha-1

Boa Não Pureza: 95%Germinação: 70% Anual

A lanço: 60 kg ha-1

Tabela 3. Plantas de cobertura e para adubação verde – leguminosas de verão.

Nome científico Nome comum Época de semeadura

Densidade de semeadura

Ressemeaduranatural Inoculação Germinação e

pureza Ciclo

Arachis pintoi Amendoim-forrageiro SetembroEm linha: 5 kg ha-1

Suficiente Não Pureza: 70%Germinação: 60% Perene

A lanço: 8 kg ha-1

Cajanus cajan Guandu Setembro-janeiro

Em linha: 25 kg ha-1

Insuficiente Não Pureza: 95%Germinação: 60% Perene

A lanço: 50 kg ha-1

Canavalia ensiformis Feijão-de-porco Outubro-novembro

Em linha: 100 kg ha-1

Insuficiente Não Pureza: 95%Germinação: 70% Anual

A lanço: 120 kg ha-1

Crotalaria sp. Crotalária Outubro-novembro

Em linha: 12 a 25 kg ha-1

Insuficiente Não Pureza: 95%Germinação: 70% Anual

A lanço: 25 a 30 kg ha-1

Dolichos lablab Lab-lab Outubro-novembro

Em linha: 8 kg ha-1

Insuficiente Não Pureza: 95%Germinação: 70% Anual

A lanço: 10 kg ha-1

Medicago sativa Alfafa Setembro-abril 10 a 15 kg ha-1 Boa Sim Pureza: 70%

Germinação: 60% Perene

Mucuna sp. Mucunas Outubro-novembro

Em linha: 60 a 70 kg ha-1

Suficiente Não Pureza: 95%Germinação: 70% Anual

A lanço: 70 a 80 kg ha-1

Vigna unguiculata Feijão-miúdo Outubro-novembro

Em linha: 50 kg ha-1

Insuficiente Sim Pureza: 98%Germinação: 70% Anual

A lanço: 60 kg ha-1

Fonte: Adaptados de Bortolini et al. (2012); Lima Filho et al. (2014a; 2014b); Fontaneli (2016a, 2016b) e Santos (2016).

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Tabela 4. Plantas de cobertura e para adubação verde – gramíneas e crucífera de inverno.

Nome científico Nome comum Época de semeadura Densidade de semeadura Ressemeadura natural Germinação e pureza Ciclo

Avena sativa Aveia-branca Março-abril 55-70 Kg ha-1 Insuficiente Pureza: 95%Germinação: 75% Anual

Avena strigosa Aveia-preta Março-abril 40-80 Kg ha-1 Insuficiente Pureza: 95%Germinação: 75% Anual

Holcus lanatus Capim-lanudo Março-maio 4-8 Kg ha-1 Boa Pureza: -Germinação: - Anual

Lolium multiflorum Azevém Março-junho 20-30 Kg ha-1 Boa Pureza: 95%Germinação: 70% Anual

Raphanus sativus Nabo-forrageiro Março-maio 15-30 Kg ha-1 Boa Pureza: 60%Germinação: 95% Anual

Secale cereale Centeio Março-maio 50-70 Kg ha-1 Insuficiente Pureza: 95%Germinação: 70% Anual

Fonte: Adaptado de Mittelmann (2006) e Lima Filho et al. (2014a; 2014b).

Tabela 5. Plantas de cobertura e para adubação verde – gramíneas de verão.

Nome científico Nome comum Época de semeadura Densidade de semeadura Ressemeadura natural Germinação e pureza Ciclo

Cynodon spp. Tifton 85 Outubro-dezembro 2,5 T ha-1 (muda) ---- Pureza: -Germinação: - Perene

Paspalum notatum Pensacola Setembro-outubro 15-40 Kg ha-1 ---- Pureza: -Germinação: - Perene

Pennisetum glaucum Milheto Setembro-janeiro 12-35 Kg ha-1 Insuficiente Pureza: -Germinação: - Anual

Sorghum sudanense Capim-sudão Setembro-dezembro 10-25 Kg ha-1 Insuficiente Pureza: 95%Germinação: 75% Anual

Fonte: Adaptado de Mittelmann (2006) e Lima Filho et al. (2014a; 2014b).

As sementes da espécie a ser utilizada devem preferencialmente apresentar o Renasem (Registro Nacional de Sementes e Mudas). A seleção de uma cultivar propicia o conhecimento de seu cres-cimento e desenvolvimento, além de haver a caracterização e a certificação, o que facilita o seu manejo.

A semente precisa apresentar um bom poder germinativo e um alto grau de pureza, sendo que, nesse caso, haverá um requerimento menor de sementes para o crescimento e desenvolvimento da espécie a ser adotada. Há também outros atributos a considerar na escolha da semente, como sanidade e vigor.

Na realização do estabelecimento da espécie existem critérios importantes, como o tipo de se-meadura, a lanço ou em linha, pois dentro desse aspecto, a densidade de semeadura é variável. Além disso, cada tipo de semeadura depende do grau de tecnificação da propriedade rural. No caso da implantação da semeadura em linha, deve-se ter cuidado com o espaçamento, pois a in-tenção é uma maior cobertura do solo, em espaço de tempo mais curto, fazendo-se necessário um ajuste adequado da semeadora, ou quando manual, de um maior adensamento no momento da semeadura.

A profundidade de semeadura é outro critério importante no sucesso da consorciação, pois, con-forme o tamanho da semente, a profundidade oscila e interfere na sua germinação. Um exemplo é o estabelecimento de espécies do gênero Trifolium, que, em grande parte, apresentam sementes pequenas, o que se configura em uma profundidade máxima, geralmente, de 2 cm, pois, se exceder esse limite, a semente poderá não ter reservas suficientes para emergência da plântula. Também há casos de propiciar desuniformidade de germinação, por a semeadura de sementes apresentar-se em diferentes profundidades, como no caso da Figura 8.

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LEGUMINOSAS NA FRUTICULTURA USO E INTEGRAÇÃO EM PROPRIEDADES FAMILIARES DO SUL DO BRASIL

A época de semeadura também é um critério fundamental no estabelecimento de legumi-nosas nos pomares do RS, sendo que cada espécie apresenta o período do ano mais adequado. Um detalhe importante a ser ob-servado é a umidade do solo, pois, se hou-ver em excesso ou o solo estiver muito seco (baixa umidade), a uniformidade do estande de plantas de cobertura pode ser comprome-tida. Se houver a possibilidade de irrigação, no caso de escassez pluviométrica, as con-dições e épocas de implantação serão mais flexíveis.

É importante ressaltar que algumas espé-cies requerem a escarificação das sementes (raspagem ou abrasão do tegumento a fim de rompê-lo, de modo a permitir a emergên-cia da plântula). Esse processo, quando rea-lizado de forma natural, ocorre através da in-gestão por animais, ação de microrganismos e/ou conforme as condições climáticas No caso de escarificação de modo artificial, essa poderá ser realizada por meio de vários

métodos, como por exemplo a escarificação mecânica com uma lixa, choque térmico (imersão em água quente seguido de água fria) e imersão em ácido sulfúrico, entre outros, o que dependerá da espécie na qual estará sendo utilizada (Fowler; Bianchetti, 2000).

As espécies do gênero Trifolium, na implantação, requerem a utilização de inoculante, o que pre-dispõe estirpe de rizóbios para a melhor germinação e emergência. Cada espécie apresenta uma estirpe adequada, para se obter a máxima fixação biológica de nitrogênio.

Ainda há algumas espécies implantadas por meio de mudas, como o amendoim-forrageiro, porém, seu período de maior crescimento e desenvolvimento se dá no verão, época de desenvolvimento da fruticultura. No caso da implantação, o cuidado é maior no plantio, pois há necessidade de irrigação para o pegamento devido.

Considerações finais

O cultivo de frutíferas na região Sul do Brasil se beneficia da integração com leguminosas e outros grupos de plantas, como plantas de cobertura e/ou adubação verde, que além de proteger o solo e melhorar as condições do ambiente produtivo, promove consideravelmente a produção de frutas de maneira mais equilibrada e sustentável.

Na condução das espécies leguminosas, o cuidado fica condicionado à inexistência de competição entre a leguminosa e a espécie frutícola que esteja sendo cultivada, sendo de suma importância a adequação do ciclo de crescimento e desenvolvimento das plantas. Para que não ocorra com-petição, o conhecimento técnico e popular sobre as espécies leguminosas, fundamentalmente no aspecto do manejo, é de grande relevância para que não ocasione perdas na produção frutícola.

Figura 8. Desuniformidade de germinação por diferenças de profundi-dade de semeadura das sementes.

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Além disso, outro aspecto fundamental é o cuidado com alguns adubos verdes que podem ser hospedeiros de fitonematoides, o que deve ser usado com extremo rigor. Por outro lado, existem espécies de adubos verdes que, por serem não hospedeiras ou não hospedeiras ideais dos nema-toides, podem ser usadas para suprimir algumas espécies de fitonematoides. Esses aspectos ao abordados no capitulo especifico de emprego de plantas de cobertura no manejo de fitonematoides.

O manejo das plantas de cobertura como adubo verde nos pomares, especialmente das legumi-nosas em propriedades de base familiar, torna-se uma recomendação fundamental pela diminui-ção dos custos de produção, redução do uso de fertilizantes químicos, melhor aproveitamento dos nutrientes do solo, maximizando a sua capacidade produtiva, bem como a das plantas. Mas é importante o agricultor ter um manejo adequado dos adubos verdes, levando em consideração o solo e clima, conjuntamente com sistema de cultivo e espécie frutícola a ser explorada. Além disso, a escolha das espécies e a forma de manejar essas plantas dependem das condições socioeconô-micas da propriedade.

Por fim, a adoção tecnológica dessa prática deve ser constantemente incentivada pelas distintas instituições de pesquisa, ensino e extensão, procurando adequar-se regionalmente com vistas à adaptação e à busca de soluções viáveis aos problemas e dificuldades que possam ocorrer aos diferentes sistemas de cultivo de frutíferas.

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LEGUMINOSAS NA FRUTICULTURA USO E INTEGRAÇÃO EM PROPRIEDADES FAMILIARES DO SUL DO BRASIL

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Capítulo 2 – Leguminosas arbóreas e fruticultura: contribuições agroflorestais para a sustentabilidade dos pomaresJoel Henrique Cardoso

Os sistemas agroflorestais (SAFs) são estratégias de uso do solo que integram o componente ar-bóreo de maneira intencional em áreas de cultivo agrícola, criações animais ou em consócios de lavoura e pecuária (Nair, 1993). As árvores são organismos de grande porte, que têm a capacidade de atuar como captadores de energia e materiais, concentrando esses elementos na sua biomassa e imediações, de modo a alterar as condições ambientais de forma paulatina e continuada.

As espécies arbóreas cumprem inúmeras funções para o ser humano, de modo que os SAFs po-dem contar com estas espécies para outros usos, que vão além da produção da lenha e da madeira. Muitas das espécies arbóreas são frutíferas e, como tal, integram os SAFs, cumprindo a importante função de produção de alimentos para o homem e animais. Além de fibras e alimentos, as arbóreas podem produzir combustíveis, com destaque para a lenha, que, em determinadas realidades, ainda é a principal fonte energética para a cocção de alimentos (Brito, 2007).

Da mesma forma, a estratégia agroflorestal não está restrita a uma função, havendo as práticas agroflorestais que são estabelecidas com mais foco em determinados papéis que as árvores cum-prem, como a ciclagem de nutrientes, proteção da camada arável do solo, redução da velocidade dos ventos ou barreira à entrada de corpos ou organismos indesejados, conforme será apresentado a seguir.

O componente arbóreo é parte fundamental das práticas e sistemas agroflorestais, mas os demais componentes possuem grande relevância para o bom funcionamento do sistema de cultivo. Esse mesmo raciocínio vale às espécies leguminosas arbóreas, pois, apesar da importante função que essas plantas cumprem na natureza e nos sistemas cultivados, entende-se que o seu uso em SAFs deve ser contextualizado de acordo com as necessidades e oportunidades existentes em cada rea-lidade, decorrentes das características de clima, solo e relevo, assim como de oferta de sementes e outros tipos de propágulos.

Desta forma, buscou-se apresentar um conjunto de informações sobre sistemas agroflorestais e a possibilidade das leguminosas nesses sistemas. Primeiramente, são discutidos alguns conceitos e tipificadas as práticas e sistemas, sem a pretensão de esgotar esta classificação, mas de contribuir para que essas estratégias de cultivo possam ser reconhecidas e valorizadas pelos agentes locais.

A seguir, são apresentadas informações sobre as espécies leguminosas arbóreas fixadoras de nitrogênio, sem abrir mão de que plantas leguminosas não fixadoras de nitrogênio, assim como de outras famílias botânicas e de porte herbáceo, também precisam de atenção, pois os sistemas agroflorestais devem ser pensados como organismos vivos, em que cada um dos elementos possui função vital para o bom funcionamento do sistema.

Por último, tenta-se apontar como as espécies leguminosas têm sido incorporadas em algumas ex-periências agroflorestais no estado do Rio Grande do Sul, ainda que toda a abordagem sobre SAFs e leguminosas busque contemplar questões relativas aos cinco biomas brasileiros.

A intenção deste capítulo é apontar alguns caminhos a estudantes, técnicos e agricultores, para que exercitem a busca por soluções locais. Os sistemas agroflorestais e as espécies leguminosas

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arbóreas são ferramentas potenciais para que a agricultura brasileira como um todo, e a fruticultura, em particular, avance na direção da sustentabilidade.

Sistemas agroflorestais

Os sistemas agroflorestais (SAFs) são estratégias de uso do solo capazes de produzir alimentos, fibras e combustíveis com quantidade e qualidade suficientes para satisfazer as necessidades hu-manas (Jamnadass et al., 2013), prestando serviços ambientais como a recuperação da fertilidade dos solos, da quantidade e qualidade das águas superficiais, manutenção da biodiversidade e re-gulação da velocidade dos ventos, controle de temperaturas e umidade, além de atenuar efeitos de enxurradas, furacões e outros cataclismos (Holtz-Giménez, 2001).

Em boa medida, os efeitos benéficos prestados pelos SAFs são potencializados pelas espécies arbóreas, que ocupam espaços verticais não aproveitados pelos demais cultivos e criações. As árvores com caules longos, copas altas e raízes profundas, são elementos importantes na busca de um uso mais eficiente da água, luz e nutrientes. Além disso, essas plantas de grande porte e longevas, quando bem escolhidas e manejadas de maneira adequada, são capazes de aportar nu-trientes, filtrar a luz solar, e criar condições favoráveis para minhocas, insetos benéficos, pássaros e roedores (Ashton; Montagnini, 2000).

Os diferentes tipos de agrofloresta consistem em ajustes entre espécies, que são distribuídas no espaço e no tempo com o interesse de evitar conflitos e promover a cooperação mútua, gerando benefícios ao ambiente e às famílias agricultoras que os cultivam.

Tipificação do uso do componente arbóreo em áreas de cultivo

As tipificações são sempre incompletas, mas é uma maneira de organizar a informação com o obje-tivo de facilitar a identificação, troca e construção coletiva do conhecimento. Desde logo, a tipifica-ção que apresentaremos pode ser aperfeiçoada, uma vez que as práticas e sistemas agroflorestais são sistemas de uso da terra flexíveis e extremamente adaptáveis. A seguir, descreveremos um conjunto de tipos de práticas e sistemas agroflorestais, e detalharemos as suas funções dentro das unidades de produção agrícola, com o interesse de disseminar conhecimentos para que as famílias agricultoras e profissionais possam criar e adaptar a partir dessa sistematização.

A conceituação que se segue está embasada em um conjunto grande de autores, a exemplo de Nair (1993), Young (1997), Vivan (2006) e May e Trovato et al. (2008) que, contrastadas com experiên-cias que os autores deste capítulo têm tido a oportunidade de vivenciar, resultaram nesta aproxima-ção teórica de algo tão criativo e oportuno como são as estratégias de uso do componente arbóreo em sistemas de produção agrícola.

Para organizar as informações, estruturou-se a tipificação do uso do componente arbóreo integrado a áreas de cultivo, em práticas e sistemas agroflorestais. As práticas agroflorestais consistem em estratégias de cultivo que tratam de responder a uma função preponderante dentro do sistema, en-quanto que os diferentes tipos de sistemas agroflorestais englobam diversas estratégias de cultivo e, consequentemente, respondem a várias funções do sistema de produção de um agroecossistema.

As práticas agroflorestais foram agrupadas em duas categorias principais, que são as barreiras físi-cas e a ciclagem de nutrientes, apontando-se três tipos principais de prática de barreira física e dois tipos principais de prática de ciclagem, enquanto que os sistemas agroflorestais foram classificados em cinco tipos distintos, não havendo para esses um agrupamento em categorias.

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Práticas agroflorestais

Barreiras físicas

As árvores e cultivos podem servir como barreiras capazes de servirem de obstáculos para as gotas de chuva, plantas indesejáveis e sol forte (cobertura do solo), para animais (cercas vivas), para o vento (quebra-ventos), fogo e outros elementos em movimento (raios solares, poeira, gotículas de agrotóxicos, sementes, inóculos de doenças, ataque de insetos, etc.). Os tipos de barreiras discuti-dos aqui são cobertura verde do solo, cercas vivas e quebra-ventos.

Cobertura verde do solo

Função: as plantas, com destaque para as árvores e arbustos, são excelentes coberturas do solo. A ação direta do sol e das gotas de chuva sobre o solo fazem com que a matéria orgânica seja de-gradada, além do fluxo da água levar os nutrientes para fora da área de cultivo, alterando a estrutura do solo e tornando-o mais suscetível aos processos degradantes da erosão.

Tipos: as coberturas podem ser constituídas de plantas que duram até um ano, até dois anos ou plantas que podem durar muitos anos. A maioria das plantas pode servir como cobertura, no en-tanto, elas exigem manejo para que o seu desenvolvimento auxilie a família agricultora a alcançar esse objetivo. As coberturas verdes não podem comprometer o bom desenvolvimento dos cultivos ou criações, seja por competição por água, nutrientes ou luz, seja por produzir substâncias tóxicas aos cultivos e animais, ou por dificultar a realização de determinadas práticas culturais.

Algumas plantas possuem características especialmente interessantes para servir como cobertura verde. As leguminosas e as gramíneas são as mais utilizadas, no entanto, existem plantas que não são dessas famílias botânicas, mas que podem ser utilizadas com essa finalidade. Exemplos de cobertura verde consagrados são feijão-de-porco [Canavalia ensiformis (L.) DC], feijão-guandu [Cajanus cajan (L.) Mill sp.], feijão-miúdo ou caupi [Vigna unguicula (L.) Walp.), crotalária (Crotalariaspp.), aveia preta (Avena sativa L.), milheto [Pennisetum glaucum (L.) R. Br], capim-elefante (Pennisetum purpureum Schum.), trevo (Trifolium sp.), mucunas (Mucuna spp).

Apesar de menos frequente, as árvores e arbustos podem cumprir a função de cobertura verde, no entanto, essa prática exige outra lógica de planejamento, uma vez que as árvores permanecem por muito mais tempo na área de cultivo e que as suas folhas e ramos exigem outro tipo de manejo, diferente das plantas anuais que não produzem madeira.

As árvores protegem os solos com seus ramos e folhas, que podem ser podados e organizados sobre a área de cultivo, de forma a cumprir a mesma função das coberturas verdes anuais. A poda é um processo determinante para essa prática, pois, através dela, o manejador pode determinar a entrada de luz e controlar as plantas espontâneas por processos de abafamento.

As coberturas verdes anuais dão maior flexibilidade para os agricultores, que podem dispor de toda a área para o cultivo em determinado momento do ano, quando as plantas protetoras do solo já cumpriram o seu papel. No entanto, as perenes não exigem plantios anuais, aliviando os agriculto-res da obrigação de reservar um período para o desenvolvimento dos cultivos de cobertura verde, além de todo o planejamento, em termos de preparo do solo e obtenção de sementes.

Além da função de cobertura do solo, as coberturas verdes aportam matéria orgânica e trazem os nutrientes para a superfície do solo. Independente se as plantas de cobertura são anuais ou arbó-

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reas, a família agricultora precisa compreender que essa prática serve para incorporar nutrientes do ar e acelerar a ciclagem de nutrientes, de forma a elevar a oferta de sais minerais para as plantas. Desta forma, a parte aérea da cobertura verde sempre deve ser depositada sobre o solo, gerando o mesmo efeito das folhas e ramos da serrapilheira em áreas florestadas, que sustentam inúmeras formas de vida e disponibilizam nutrientes de forma contínua para a floresta como um todo.

Cercas vivas

Função: a cerca viva, como o nome indica, serve como barreira física à movimentação de animais, com destaque para animais domésticos. Essas barreiras podem exercer outras funções como pro-teção a ventos e deriva de agrotóxicos que se deslocam com as massas de ar. Ademais, as cercas vivas podem servir como local de abrigo para animais silvestres e podem proporcionar sombra aos animas domésticos.

Tipos: as cercas vivas diferenciam-se de outras estruturas físicas como muros de pedra, tijolos, telas, tecidos, cercas de palanque ou bambu, por terem como componente principal as plantas. Essas plantas podem ser arbóreas ou arbustivas, o que caracteriza essa estrutura como uma prá-tica agroflorestal. A disposição das plantas pode variar, havendo cercas vivas que são faixas de vegetação que podem ter plantas de porte herbáceo, arbustivo e arbóreo, ou cercas vivas que são implantadas através de estacas vivas que servem de suporte para outras estruturas como arames ou bambus.

Quebra-vento

Função: os quebra-ventos são faixas de vegetação que reduzem a velocidade das massas de ar, protegendo as áreas de cultivo ou animais domésticos. Como as cercas vivas, essas faixas arbo-rizadas também podem prestar outros serviços, como servir de abrigo para predadores de insetos que combatem as pragas, regular a temperatura, umidade, insolação e a evaporação da água do solo e das plantas (evapotranspiração), gerando maior conforto para animais ou cultivos, ou servin-do como corredores ecológicos.

Tipos: os quebra-ventos podem ser feitos com uma única espécie arbórea ou com duas ou mais. Ao implantar essa prática agroflorestal, temos de ter o cuidado de utilizar espécies que cumpram rapidamente a função de barreira para os cultivos. Os quebra-ventos biodiversos podem mais facil-mente proteger os cultivos da ação do vento, podendo haver em sua composição uma gama de es-pécies com características complementares, que podem ser implantadas bastante adensadas. Os quebra-ventos biodiversos, além de serem mais resistentes à ação dos ventos, podem possibilitar outros serviços à unidade de produção, como madeira, lenha e alimentos para a família e animais.

Ciclagem de nutrientes

A ciclagem de nutrientes promovida por plantas deve ser planejada considerando espécies, arranjos (disposição das plantas no espaço) e cronogramas (épocas de plantio e de manejos), de forma que as plantas cicladoras cumpram da melhor forma possível o seu papel de provedora de nutrientes para as espécies que irão produzir seus frutos para as famílias agricultoras. As estratégias de cicla-gem de nutrientes apresentadas são aleias e adubação verde.

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Aleias

Função: as aleias ou alamedas consistem em linhas ou faixas de espécies arbóreas com grande capacidade de ciclagem de nutrientes. Algumas leguminosas arbóreas são especialmente interes-santes para essa função, por terem a capacidade de estabelecer associações que permitem a incorporação de nitrogênio do ar.

As faixas ou linhas de espécies arbóreas são plantadas em consórcio com outras espécies, e na, época adequada, são podadas e dispostas de forma organizada sobre o solo, aportando nutrientes, suprimindo a vegetação espontânea, alimentando animais e protegendo a superfície da ação degradante do sol e da chuva.

Tipos: as aleias variam em função das espécies utilizadas e de acordo com a disposição das plan-tas ao longo da linha de cultivo. Podem ser plantadas bastante adensadas ou com espaçamento maior entre plantas e linhas. A distribuição espacial das plantas irá influenciar os demais cultivos ou criações que se desenvolvem na área, alterando as condições microclimáticas e interferindo na dinâmica ecológica da área de cultivo.

Adubação verde

Função: os adubos verdes servem para melhorar a fertilidade dos solos de uma determinada área de cultivo. As plantas que servem para adubação verde exercem a função de cobertura do solo, sendo o contrário, também verdadeiro. A incorporação dos adubos verdes é uma prática pouco re-comendada, uma vez que se perde a ação protetora da palhada.

Tipos: os tipos de adubação verde vão variar de acordo com as espécies utilizadas. Existem inú-meras espécies com potencial de melhorar os solos, com destaque para a as leguminosas fixadoras de nitrogênio (FBN – fixação biológica de nitrogênio). Na adubação verde, deve-se buscar utilizar mais de uma espécie, sendo recomendado colocar gramíneas e leguminosas no consórcio. A adu-bação verde torna-se mais eficiente na medida em que se agreguem mais espécies, formando os coquetéis de sementes de adubos verdes. Os adubos verdes podem ser plantados antes, durante ou depois do cultivo que se quer adubar, possibilitando, além do aporte de nutrientes, uma série de possíveis benefícios que podem ser explorados por quem cultiva a área, como alimento para inse-tos que atacariam os cultivos, pontos de fuga para os insetos que predam as pragas, impedimento à germinação ou desenvolvimento de plantas espontâneas, conservação de umidade no solo, redu-ção da incidência direta de vento, chuva e sol sobre o solo.

Sistemas agroflorestais

Sistema de pousio ou cultivos sucessivos

O pousio, ou cultivo sucessivo, é o sistema agroflorestal mais antigo e mais amplamente utilizado em todo o mundo. Esse tipo de manejo da terra possui inúmeros nomes e consiste na ação de deixar a vegetação natural recuperar a terra. Após o período de descanso ou pousio, a vegetação é novamente derrubada, podendo ser queimada ou não, e a área é novamente submetida a um novo cultivo. Após alguns anos, quando os cultivos começam a produzir menos, os agricultores abandonam a área e deixam a vegetação natural recuperar o solo. O tempo de pousio depende da fertilidade natural dos solos, tipo de cultivo praticado e do manejo do solo realizado pelo agricultor.

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Os cultivos sucessivos mais tradicionais, que, no Brasil, são denominados de roça ou coivara, podem exigir intervalos de até 30 anos de pousio após dois ou três anos de cultivos consecutivos. Esse tempo longo de pousio, deve-se ao uso do fogo e prática de manejo do solo, que, além de degradar toda a matéria orgânica, destrói inúmeras formas de vida que durante os anos estiveram colonizando o ambiente degradado.

Esse tipo de sistema agroflorestal pode ser mais brando, sempre que a família agricultora optar por processos de preparo da terra que excluam a queimada, aproveite a matéria orgânica que se formou no período de pousio e pratique técnicas conservacionistas dos solos, como o plantio em curvas de nível, estratégias de contenção do escorrimento de águas superficiais (terraços, plantas de cobertura), uso de adubos verdes e redução em frequência e/ou intensidade, de aração e grada-gem, de forma a caminhar para a prática do cultivo mínimo ou plantio direto.

Sistema Taungya ou cultivo nas entrelinhas

O Sistema Taungya é tão comum no mundo tropical quanto o sistema de pousio. Esse tipo de sistema agroflorestal é caracterizado pelo cultivo das entrelinhas de culturas perenes, enquanto é possível o desenvolvimento das culturas anuais. A origem do termo Taungya é de Myanmar (Burma) e significa cultivo (ya) na montanha (taung).

Este tipo de sistema agroflorestal pode estar vinculado ao problema social ocasionado pela con-centração da terra, quando empresas do setor florestal disponibilizam a agricultores as áreas de entrelinhas para os cultivos anuais em troca de trabalhos de capina, controle de formigas e poda de formação das espécies madeireiras.

Economicamente, esse tipo de uso da terra tende a ser bastante interessante, pois permite produzir alimentos enquanto as espécies de ciclo longo se desenvolvem, o que dilui os custos de manejo dos cultivos, pois um mesmo trato cultural (capina, irrigação, adubação) pode atender as demandas das espécies anuais e perenes de forma simultânea.

As possibilidades deste sistema são inúmeras, podendo variar em termos de distribuição espacial e composição de espécies. De forma geral, as taungyas são compostas por uma espécie florestal e cultivo solteiro ou consorciado com espécies de ciclo curto. Esse tipo de cultivo avança na dire-ção da monocultura florestal, perdendo em número de espécies (biodiversidade) e possibilidades de uso da terra (multifuncionalidade), que são as características mais interessantes de um sistema agroflorestal.

Quintal agroflorestal

O quintal agroflorestal é um nome genérico de inúmeras composições de espécies arbóreas e de ervas localizadas nas proximidades da casa. O quintal delimita uma zona ou região que cumpre diversas funções no local de moradia, como oferta de alimentos para a família e animais (diversos tipos de frutas, raízes, folhas, flores), lenha, madeira, remédios, condimentos, além de propiciar conforto térmico, embelezar o local, proteger espiritualmente, dar sorte, ser utilizado em rituais, servir de abrigo para animais, etc.

Normalmente, o quintal consiste num aglomerado de plantas, distribuídas aleatoriamente e com vá-rios estratos de vegetação, bastante semelhante às florestas tropicais. Essa zona circunda sempre a casa e pode variar significativamente de um local para outro. Para visualizar o quintal, é neces-sário estar com o olhar atento, pois as plantas podem estar distribuídas de forma tão dispersa que

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o observador não identifique a sua existência, ainda que ele se faça presente e cumpra as suas funções.

Em cada local ou região, o quintal possui em sua composição um conjunto de espécies que o ca-racterizam, com destaque para as espécies frutíferas (bananeiras, citros, café, goiaba, mamão, frutíferas nativas), que normalmente são a origem do próprio quintal. Além das espécies frutíferas, a família e os animais vão trazendo para aquele local mudas, estacas, sementes de inúmeras outras espécies, que normalmente são colocadas sem obedecer a uma distribuição linear, como é próprio dos plantios que demandam a existência de caminhos lineares, com destaque para aqueles que são trabalhados com máquinas.

A composição do quintal está fortemente atrelada à cultura da família, que planta nas proximidades da casa um conjunto de plantas que lhe prestam serviços. Isso permite relacionar um tipo de quintal a um determinado território ou grupo étnico. Existem inúmeros nomes para designar quintal agroflo-restal, de forma que, no Brasil, os nomes genéricos que parecem ser mais utilizados são chácara, pomar, quinta ou quintal.

O quintal agroflorestal é um local de experimentação, ou seja, quando alguém da família encontra uma fruta saborosa ou consegue uma planta que lhe interessa, a proximidade da casa é o local cer-to para testá-la, uma vez que ali será mais fácil cuidá-la e observá-la. Por ser a área mais próxima da casa, diariamente o quintal recebe uma quantidade de resíduos orgânicos que são gerados pela família e animais domésticos. Além de resíduos orgânicos, o quintal recebe continuamente semen-tes de espécies comestíveis, que são lançadas ao solo. As condições do solo são continuamente melhoradas. As árvores e animais que vivem no quintal protegem e melhoram a terra, depositando folhas, ramos, troncos, fezes e todo tipo de resíduo orgânico, que aumenta a vida do solo (insetos, minhocas, ácaros, colêmbolos, fungos e bactérias) e o torna mais fértil.

Além das espécies vegetais introduzidas pelo homem, os animais silvestres procuram os quintais para satisfazer suas necessidades de abrigo e alimentação. Os pássaros, morcegos, além de ou-tros animais terrestres que se alimentam de frutas e sementes, visitam frequentemente os quintais e aportam a esse local, sementes de inúmeras espécies vegetais, o que faz com que os quintais fiquem cada vez mais ricos em espécies. Por ser uma área manejada pela família, muitas dessas plantas são eliminadas e aportam biomassa ao sistema agroflorestal, enquanto algumas outras são conservadas, seja por servirem como alimento para a família, ou por ter algum outro atributo de interesse que recomende mantê-la.

O quintal agroflorestal é, ao mesmo tempo, um local muito adequado para a família adaptar estra-tégias de cultivo, testando espécies cultivadas em outras regiões, conforme já foi comentado, ou pode servir para se cultivar espécies nativas, que o passarinho trouxe, mas que nenhum membro da família jamais havia pensado em plantar. Os quintais agroflorestais mediam a relação homem e natureza, e se bem conduzidos, farão o ambiente mais agradável para a família e para inúmeras outras espécies que viverão naquele local.

Jardinagem agroflorestal

Os jardins agroflorestais, como os quintais agroflorestais, consistem em um nome genérico de mui-tas composições de espécies arbóreas e ervas. A diferença entre esses dois sistemas está no fato de que os jardins não estão localizados na proximidade da casa, que é uma zona privilegiada em termos de aporte de nutrientes e de cuidados dispensados pela família.

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Os jardins agroflorestais também diferem dos quintais agroflorestais pelo fato desses últimos esta-rem altamente relacionados ao conforto térmico, embelezamento, proteção e segurança alimentar e nutricional da família, enquanto que o jardim tem um forte componente de produção de exceden-tes para a comercialização. O jardim é manejado com mais intensidade, seja por meio do manejo de uma ou mais espécies de interesse do sistema, ou porque toda a vegetação sofre intervenções periódicas, que visam cumprir determinadas funções de interesse da família.

O jardim agroflorestal é um tipo de sistema que está fortemente associado ao uso comunitário da terra. As comunidades tradicionais, como os povos indígenas e quilombolas, manejam estas áreas para atender suas demandas de madeira e lenha. Existem jardinagens agroflorestais mais sofisti-cadas, como as praticadas no sul da Bahia, para o cultivo de cacau, no Paraná e Santa Catarina, para o cultivo de erva-mate no sub-bosque das Matas de Araucária, ou o cultivo de bananeiras, citros e café no sub-bosque da Floresta Atlântica, na região litorânea de Santa Catarina e Paraná. Os jardins agroflorestais também podem servir para a criação de animais, caracterizando os deno-minados sistemas silvipastoris.

Sistema silvipastoril

O silvipastoril é um tipo de sistema agroflorestal que integra a criação de animais com plantios de árvores. Quando o sistema tem árvores, cultivos anuais e criações, pode ser denominado de agros-silvipastoril. A ideia central dos sistemas silvipastoris é a complementaridade entre a vegetação e os animais que comem as plantas, buscando as melhores interações para que os produtos de origem vegetal e animal aumentem em quantidade e qualidade.

De forma geral, os sistemas pastoris caracterizam-se pela presença de forrageiras para a alimenta-ção de animais. No entanto, nos sistemas silvipastoris ou agrossilvipastoris, deve-se compreender que o elemento arbóreo pode dificultar a presença das pastagens, que normalmente são exigentes em luminosidade. O mesmo pode acontecer com os cultivos anuais, que também necessitam de maiores quantidades de luminosidade solar, algo que pode ser prejudicado pela ação da copa das árvores.

Outro cuidado necessário em sistemas silvipastoris, está relacionado ao pisoteio e pastejo dos animais sobre as culturas anuais e espécies arbóreas. Nesta condição, é necessário que a família agricultora administre os processos, de forma que o espaçamento das árvores, a escolha de espé-cies forrageiras e a distribuição espacial e temporal de cada um dos elementos impeçam aquelas ações que possam causar prejuízos ao sistema.

Os sistemas silvipastoris normalmente adotam espaçamento maior entre as linhas de árvores, e as espécies forrageiras desejadas são aquelas que resistem melhor ao sombreamento. Os agricultores que adotarem sistemas silvipastoris devem ter o cuidado de proteger as espécies arbóreas da ação de pastejo e pisoteio dos animais, seja utilizando cercas ou escolhendo espécies arbóreas que não sejam apreciadas ou que tenham acúleos e espinhos, de forma que iniba a ação dos animais. Cuidados especiais devem ser tomados com as cabras e ovelhas, que podem atacar a casca das árvores, causando anelamento e morte das plantas.

Em determinadas condições, as espécies arbóreas podem ser utilizadas como forragem aos ani-mais. As plantas leguminosas, como glirícidia e leucena são amplamente utilizadas para essa fina-lidade e cumprem uma função importante no processo de complementação alimentar dos animais, pois suas folhas possuem uma elevada concentração de proteína.

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As espécies leguminosas de forma geral, com destaque para aquelas com capacidade de realizar a fixação biológica de nitrogênio (FBN), assumem importantes funções nos diferentes tipos de prá-ticas e sistemas agroflorestais, seja por sua capacidade de se estabelecer e acelerar processos de recuperação dos solos, seja pela sua capacidade de produzir alimentos para o homem e outros organismos, como herbívoros, biota do solo e pequenos animais, que tem nas raízes e parte aérea, com destaque para os frutos (legumes) e sementes das leguminosas, uma importante fonte de ami-noácidos (Elevitch; Wilkinson, 1999).

Por último, mas não menos relevantes, estão os processos de decomposição da matéria orgânica dessas plantas, que disponibilizam nitrogênio aos cultivos vegetais que não realizam a fixação bio-lógica de nitrogênio, processo que reduz ou elimina a necessidade de aplicar adubos nitrogenados (O’connell; Rance, 1999), principalmente os sintéticos, que são fontes de N instáveis, que conso-mem grandes quantidades de energias fósseis para serem produzidas, contaminando a atmosfera e lençóis freáticos (Matson, 1998).

Espécies leguminosas em SAFs

As leguminosas são uma das mais importantes famílias botânicas, apresentando 730 gêneros e 19.325 espécies, subordinadas a três subfamílias: Caesalpinoideae, Mimosoideae e Papilionoideae, muito distintas entre si e distribuídas em todos os hábitos terrestres. No Brasil, são encontradas cerca de 188 gêneros nativos e 2.100 espécies, presentes em todos os tipos de vegetação, em especial na Mata Atlântica, onde a família possui elevada representatividade (Fernandes, 2007).

Neste trabalho, conforme Lewis e Schire (2003), optou-se pela nomenclatura Leguminosae ao in-vés de Fabaceae, recomendado pela APG II (2003). Lewis e Schire (2003) defendem que o nome Fabaceae é ambíguo por já ter sido usado como família da subfamília Papilionoideae, por Cronquist (1981) e outros autores (Martins, 2007). Também foi considerada a divisão de Leguminosae em três subfamílias, Caesalpinoideae, Mimosoideae e Papilionoideae, de acordo com Lewis et al. (2005).

A seguir, apresenta-se uma lista de espécies leguminosas arbóreas com potencial para serem utili-zadas em SAFs, levando-se em consideração que essa listagem não pretende esgotar as possibi-lidades, mas dar ao leitor algumas opções para que se tenha em consideração alguns critérios na hora de se planejar a espécie a ser utilizada (Tabela 1). Entre as espécies arbóreas recomendadas para SAFs, ainda predominam as que não são nativas, apesar da grande diversidade de legumino-sas endêmicas no País.

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Tabela 1. Usos e produtos das leguminosas arbóreas e arbustivas FBN exóticas e nativas mais populares, por tipo climá-tico (trópico úmido, subtropical úmido e semiárido)

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Trópicos úmidos (biomas Amazônia, Mata Atlântica e Cerrado – precipitação superior a 1.000 mm/ano e temperaturas médias superiores a 20 ºC)

Espécies exóticas

Acacia mangium * * * 25

Albizia lebbeck > * * * * * * * * * * 20

Cajanus cajan > * * * * * 3 - 5

Calliandra colothyrsus * > * * * * * 8

Enterolobium cyclocarpum > * * * * * * * 35

Erythrina poeppigiana > * * * * * 30

Gliricidia sepium * > * * * * * > * * 10

Leucaena leucocephala * * * > * * * * 18

Sesbania sesban * * * > * * * * 4

Espécies nativas

Anadenanthera colubrina * * * 15

Enterolobium contorticiliquum > > * * 20

Inga edulis > * * * * * * * 18

Inga marginata * > * * * > * * 12

Inga sessilis * > * * > * * 18

Piptadenia gonoacantha > * * * 15

Paraptadenia rigida > * * * 12

Myrocarpus frondosus * * * 20

Subtropicais úmidos (Mata Atlântica e Pampa) (precipitação superior a 1.000 mm/ano, temperaturas médias inferiores a 20 ºC)

Espécies exóticas

Acacia mearnsii * * * * * * 10

Caliandra colothyrsus * > * * * * * 8

Erytrina poeppigiana > * * * * * 30

Leucaena esculenta * * * > * * 8

Espécies nativas

Apuleia leiocarpa * * 30

Ateleia glazioviana * * 15

Enterolobium contorticiliquum > > * * 15

Erythrina crista-galli > * * 5

Erytrina falcata * * 15

Inga marginata * > * * * * 10

Mimosa scabrella * * * * * * 15

Mimosa bimucronata * * * 6

Paraptadenia rigida * * * 12

Albizia policephala > > * * 10

Vachaelia farnesiana

Semiárido (Caatinga) (precipitação inferior a 1.000 mm/ano, temperaturas médias superiores a 20 ºC)

Espécies exóticas

Leucaena leucocephala * * * > * * * * 18

Sesbania sesban * * * > * * * * 4Cajanus cajan > * * * * * 3 - 5

Espécies nativas

Mimosa caesalpiniifolia * * * * * * * *

Anandenanthera colubrina * * * 15

Fonte: Adaptado de Elevitch e Wilkinson (1999).

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Frente à necessidade de aliar processos de conservação da biodiversidade local por meio da estra-tégia de uso em sistemas de produção, os SAFs apresentam-se como uma excelente oportunidade para que as famílias agricultoras mantenham materiais genéticos nativos em seus agroecossiste-mas, atenuando-se os conflitos de interesse entre as populações locais e os agentes de controle e fiscalização ambiental que respondem à legislação ambiental, e suas demandas de conservação da biodiversidade e manutenção dos serviços ambientais, prestados pelos elementos da paisagem natural.

Em função do grande potencial dos SAFs à agricultura brasileira, considerando-se a riqueza de es-pécies leguminosas nativas e exóticas que se adaptam às mais diferentes regiões ecogeográficas do País, faz-se necessário definir um conjunto de fatores para a seleção das espécies.

O conjunto de critérios deve ser paulatinamente ampliado, devendo-se ter alguns cuidados iniciais, como a não introdução de espécies com risco de invasão em ambientes naturais. Destaca-se que, em condições de manejo, que é o caso dos SAFs, normalmente esse risco é reduzido.

Outro importante fator a ser considerado é saber se as espécies leguminosas escolhidas realizam ou não a fixação biológica de nitrogênio (FBN), devendo-se, sempre, escolher espécies que rea-lizem essa função com maior eficiência. A alta eficiência em FBN está diretamente relacionada à adaptação das espécies às condições edafoclimáticas do local, considerando-se a sua taxa de crescimento.

Por último, no momento de definir que espécies leguminosas interessam, deve-se ter em conside-ração quais produtos e serviços são oferecidos. Em se tratando de espécies arbóreas, todos os critérios anteriores tornam-se ainda mais determinantes, uma vez que, ao contrário das espécies herbáceas, a grande maioria é pouco cultivada e, por consequência, são desconhecidos muitos aspectos do processo produtivo dessas espécies, como estratégias de multiplicação, taxa de cres-cimento, produção de biomassa por unidade de área, resistência a podas sucessivas, capacidade de rebrote, velocidade de decomposição da biomassa, presença de compostos tóxicos a outros cultivos, espécies companheiras, demandas por nutrientes, ciclagem de nutrientes e respostas a estresses climáticos.

Assume-se que uma boa maneira de avançar mais rapidamente nesse universo de falta de informa-ções sobre as espécies leguminosas arbóreas, é adotar estratégias de pesquisa-ação participativa. Esta sugestão é especialmente válida para as espécies de porte arbóreo, dada à longevidade e necessidade de grandes áreas para estudos mais detalhados em estação experimental. A pesquisa-ação participativa se vale da pluralidade metodológica para a construção coletiva de conhecimen-tos, que valoriza saberes tradicionais e faz emergir novos, por meio de processos participativos, de maneira que todas as fases da pesquisa devem ser pensadas e executadas pela comunidade de pares interessada em superar problemas comuns a todos os envolvidos.

No processo de pesquisa-ação participativa, devem-se priorizar os materiais genéticos mais adap-tados ao território, ou seja, espécies nativas e espécies e variedades locais que coevoluíram com as populações locais. Além de estas espécies serem mais adaptadas, entende-se que estes trabalhos contribuirão significativamente para a autonomia e diferenciação dos atores locais, num contexto globalizado que valoriza a diferença e exige estratégias endógenas de desenvolvimento.

Pensando-se nas espécies leguminosas FBN no contexto agroflorestal, deve-se ter em conta suas funções na natureza para projetar como podem ser usadas pelas famílias agricultoras. Esse pro-cesso possibilita uma troca intensa de conhecimentos entre técnicos e agricultores, o que permite o aprendizado coletivo de toda a comunidade de pares (Funtowicz; Ravetz, 1993).

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A Tabela 2 oferece um ponto de partida para a construção do conhecimento sobre as FBN por parte dos agentes interessados no uso das leguminosas em SAFs.

Tabela 2. Funções na natureza e projeção de usos das espécies leguminosas FBN em sistemas de produção.

Funções na natureza das FBN Usos em sistemas de produção agropecuária

Fornecer fertilidade para outras plantas nos ecossistemas pela de-composição de sua matéria orgânica

FBN podem ser podadas e sua biomassa serve como cobertura morta e fertilizante para os cultivos.

Melhorar as condições ambientais para que outras espécies pos-sam se estabelecer, melhorando a fertilidade e atenuando as seve-ras condições dos ambientes inóspitos à vida.

Incrementar fertilidade e matéria orgânica em uma área de bai-xa fertilidade que se deseja cultivar.

Cumprem diversos papéis e fazem inúmeras conexões que facili-tam a colonização do espaço por formas de vida mais exigentes e de estágios sucessionais avançados.

Fornecem alimento para os animais, sombra, proteção de ven-tos, forragem para abelhas, lenha e promovem melhores condi-ções para as espécies cultivadas em agroecossistemas.

Fonte: Adaptado de Elevitch e Wilkinson (1999).

A seguir, apresenta-se uma breve reflexão sobre sistemas agroflorestais e o uso de espécies legu-minosas nos sistemas de produção no estado do Rio Grande do Sul.

Espécies leguminosas em sistemas agroflorestais no Rio Grande do Sul

No contexto do Rio Grande do Sul, as arbóreas leguminosas nativas não têm sido muito utilizadas em sistemas de produção, apesar de haver um número significativo de espécies presentes nas di-ferentes regiões fitogeográficas do estado.

Reitz et al. (1983) citaram 55 espécies de árvores e arvoretas leguminosas para o estado do Rio Grande do Sul, distribuídas em 28 gêneros. Tais números servem apenas como uma referência, uma vez que aquela publicação foca em espécies com interesse madeireiro e também pelo fato de, nas últimas duas décadas, a classificação botânica ter sofrido grandes alterações.

Ainda assim, um número menor de espécies apontadas por aqueles autores, realizam a FBN. Canosa et al. (2012) apontam 174 espécies nativas do Brasil com capacidade de FBN, sendo que apenas 44 possuem registros de ocorrência na vegetação nativa do Rio Grande do Sul. Os autores chamam a atenção para o fato de que essa informação está baseada em referências bibliográficas, havendo uma importante lacuna de conhecimentos sobre esse tema, o que orienta a necessidade de mais estudos.

Ainda que não se tenham informações mais precisas sobre outras leguminosas FBN no Rio Grande do Sul, destaca-se que essa é uma área de estudos que merece maior atenção pelas instituições de ensino e pesquisa, uma vez que tal conhecimento pode ser de grande valia no processo de pla-nejamento de plantios florestais com interesse de restauração e recuperação de áreas degradadas, bem como para o desenvolvimento de estratégias de cultivo agroflorestal.As 44 espécies aqui apontadas representam uma significativa contribuição para aqueles que bus-cam integrar espécies nativas em suas áreas de cultivo, no entanto, cabe a cada agente ou institui-ção interessada em utilizar leguminosas FBN em seus plantios, aprofundar conhecimentos, com a finalidade de melhor projetar o comportamento dessas espécies com relação aos possíveis usos, tolerâncias e exigências. Assume-se que muito pode ser respondido pelas instituições de pesquisa, mas considera-se que avanços mais significativos serão alcançados à medida que mais experiên-cias sejam realizadas.

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Tabela 3. Relação de espécies leguminosas fixadoras biológicas de nitrogênio (FBN) de porte arbóreo e arbustivo com ocorrência no Rio Grande do Sul.

Nome científico Nome vulgar Hábito Formação vegetal

CaesalpinoideaeApuleia leiocarpa grápia árvore FOM; FED

Ateleia glazzioviana

Chamaecrista flexuosa camponesa-roxa subarbusto RES

Chamaecrista nictitans subsp. disadena feijão-baiano subarbusto FED

Chamaecrista repens angiquinho subarbusto FCA

Gleditsia amorphoides faveiro; sucará árvore FOM; FED

MimosoideaeAbarema langsdorffii olho-de-pomba árvore RES; FOD; FED

Albizia edwallii angico-pururuca árvore FED

Albizia niopoides angico-branco árvore FED

Calliandra tweedi topete-de-cardeal arbusto FOD; FOM; FED; FESD; RES;

Enterolobium contortisiliquum timbaúva árvore FOD; FED; FESD; RES

Inga lentiscifolia ingá árvore FOD; FOM

Inga marginata ingá-feijão árvore RES; FOD; FES; MC; FOM

Inga sessilis ingá-ferradura árvore RES, FOD, FOM, FES, MC

Inga striata ingá-banana árvore FOD, FES, FED, RES

Inga vera ingá-banana árvore FOD, FES, MC

Mimosa bimucronata maricá arbusto ou árvore RES, FOD, FESD, MC

Mimosa dolens juquiri subarbusto ou arbusto FCA, FOM

Mimosa gracilis erva ou subarbusto FCA

Mimosa scabrella bracatinga árvore FED; FOM

Mimosa uliginosa arbusto FCA

Parapiptadenia rigida angico-vermelho árvore FOD; FOM; FED; FESD

Senegalia bonariensis unha-de-gato arbusto FED, MC, FOD, RES

PapilionoideaeDalbergia ecastaphyllum arbusto RES, MAN

Dalbergia frutescens rabo-de-bugio arbusto

Erythrina crista-galli corticeira-do-banhado árvore FOD, FESD, MC, MP, FOM

Erythrina falcata corticeira-da-serra árvore FOD, FOM, FESD, MC, MP

Lonchocarpus campestris pau-canzil; embira-de-sapo árvore FOM, FES, FED, FCA

Lonchocarpus cultratus rabo-de-bugio; embira-de-sapo árvore FOD, RES, FES, FOM, FED, MC

Lonchocarpus nitidus farinha-seca; rabo-de- bugio árvore FED; FOD

Machaerium nyctitans bico-de-pato árvore RES, FOD, FES, MC, MP, FED, FOM

Machaerium stipitatum farinha-seca árvore FOD, FES, MC, FED, FOMFonte: Adaptado de Canosa et al. (2012).Formação vegetal: FOD – Floresta Ombrófila Densa; FOM – Floresta Ombrófila Mista; FES – Floresta Estacional Semidecidual; FED – Floresta Estacional Decidual; MC – Mata Ciliar; RES – Restinga; MP – Mata Paludosa; CER – Cerrado; FCA – Formações Campestres; AFL – Afloramentos Rochosos; RUD – Ruderal. Domínio Fitogeográfico: compreende todo o domínio da espécie no Brasil, além da Mata Atlântica.

Entende-se que as leguminosas arbóreas e arbustivas FBN merecem atenção especial, no entanto, sabe-se que a possibilidade de usos de espécies arbóreas e arbustivas pode ser potencializada à medida que sejam consorciadas com leguminosas herbáceas FBN, estratégia fundamental para su-prir a necessidade de N nos primeiros anos de implantação dos cultivos florestais ou agroflorestais.

Adverte-se, também, que a função de adubação por meio de podas em leguminosas FBN para su-prir demandas de nitrogênio, não deve servir para desencorajar o plantio de arbóreas, que apesar de não cumprir esta função, podem ser altamente eficientes na ciclagem de nutrientes. Mesmo as leguminosas pouco eficientes ou não fixadoras de nitrogênio podem ser usadas como adubadeiras em práticas e sistemas agroflorestais. Sendo assim, faz-se menção a algumas leguminosas gaú-chas com potencial de uso em sistemas agroflorestais ou projetos de restauração e recuperação de áreas degradadas, tendo-se em consideração a diversidade fitogeográfica do estado.

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Nas regiões de campos, a maioria das espécies citadas na Tabela 3 não ocorre naturalmente, ha-vendo, sim, uma presença importante de algumas leguminosas arbóreas como o espinilho [Vachellia caven (Molina) Seigler & Ebinger], cina-cina (Parkinsonia aculeata L.) e algarrobo (Prosopis affinisSpreng.), que, apesar de não serem FBN, podem ser boas opções para processos de revegetação e plantios agroflorestais. Além dessas espécies, deve-se ter em consideração para a região de campos, toda a diversidade de espécies leguminosas herbáceas, além de algumas já reconhecida-mente FBN como os maricás [Mimosa bimucronata (DC.) Kuntze] e corticeiras (Erythrina cristagalliL.), que são especialmente adaptados a áreas de banhados, campos e áreas ribeirinhas.

A bracatinga (Mimosa spp.), ingás (Inga spp.), assim como angico (Parapiptadenia rigida) e espé-cies dos gêneros Lonchocarpus spp., Machaerium spp., são leguminosas FBN que merecem espe-cial consideração para SAFs em solos bem drenados, cumprindo de forma bastante interessante a função de plantas adubadeiras e fornecedoras de lenha, além de serem muito adequadas em consórcios, protegendo as plantas de estratos inferiores de estresses climáticos como ventanias, geadas e incidência direta dos raios solares. As leguminosas arbóreas, com suas folhas compostas, produzem com facilidade o efeito sunfleck, que promove uma maior eficiência fotossintética das folhas tenras e com alto teor de fitocromos das espécies de subdossel. Os fedegosos (Senna spp.), apesar de não serem FBN, têm sido bastante utilizados em SAFs do RS, dada sua rusticidade e rápido crescimento, o que possibilita adubar os solos e condicionar o ambiente nos primeiros anos (Figura 1).

Figura 1. Leguminosas arbóreas com ocorrência natural no Rio Grande do Sul. a) Flores de fedegoso [Senna corymbosa (Lam.) H. S. Irwin & Barneby]; b) flores e folhas de pata-de-vaca (Bauhinia forficata Link); c) flores de quebra-foice (Calliandra tweediei Benth.); d) árvore de timbaúva [Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong] após o inverno.

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De forma mais contundente, na categoria de espécies leguminosas arbóreas com função de aduba-deira e condicionadora ambiental, cita-se a timbaúva [Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong], que possui uma ampla ocorrência em todo o território nacional, sendo medianamente tolerante a geadas, o que permite o seu cultivo em todo o RS. Essa espécie acumula características muito interessantes, sendo de fácil implantação por semeadura direta ou mudas, rápido crescimento, boa rebrota, caducifólia, baixa relação C/N nas folhas e ramos, baixa densidade e rápida decomposição da madeira.

Outra leguminosa nativa de interesse para SAFs no Rio Grande do Sul é a canafístula [Peltophorumdubium (Spreng.) Taub.], que possui boa taxa de crescimento, se comparada a outras espécies florestais nativas ou mesmo exóticas madeiráveis, além de bom potencial energético, sendo essa uma espécie que tem apresentado bom desempenho em agroflorestas do Vale do Caí (Figura 2).

Figura 2. Sistema agroflorestal com angico (A) e canafístula como espécie emergente em SAF com tangerina no estrato médio (B).

Leguminosas arbóreas exóticas

As possibilidades de leguminosas arbóreas e arbustivas nativas do Rio Grande do Sul são inúme-ras, mas existem outras espécies que, apesar de não ocorrerem naturalmente no estado ou mesmo no país, devem ser aproveitadas para compor os consórcios agroflorestais.

Entre as leguminosas arbóreas exóticas destaca-se a acácia-negra (Acacia mearnsii De Wild.), que é a espécie florestal mais cultivada em todo o estado do RS, sendo utilizada com fins energé-

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ticos e para a produção de tanino. A acácia-negra possui grande potencial para compor consórcios agroflorestais, havendo experiências bastante interessantes de consórcio com espécies cítricas, conforme pode ser observado na Propriedade Agroecológica Schiavon (Figura 3), que integra a rede de unidades experimentais participativas de sistemas agroflorestais (UEPs/SAFs), estratégia de pesquisa-ação agroflorestal da Embrapa Clima Temperado.

Figura 3. Sistema agroflorestal biodiverso que tem a acácia-negra como espécie emergente do estrato superior, Pelotas, RS.

A experiência de pesquisa-ação agroflorestal da Embrapa Clima Temperado.

Com o interesse de gerar conhecimentos e promover o aprendizado sobre sistemas agroflorestais com espécies frutíferas, tem-se conduzido unidades experimentais participativas de sistemas agro-florestais (UEPs/SAFs) em estação experimental e em propriedade de agricultores familiares.

Nas unidades, têm-se utilizado com grande intensidade as espécies leguminosas herbáceas e algumas arbóreas. Destaca-se que as leguminosas herbáceas têm a função de proteger os solos, ciclar nutrientes e reduzir a infestação com espécies espontâneas. Essas são normalmente planta-das nas entrelinhas, definindo-se o local de plantio em função do hábito de crescimento e arquite-tura das plantas.

As leguminosas arbóreas são utilizadas com o objetivo de aportar nutrientes por meio de podas periódicas e de filtrar a luz solar, criando condições ideais para o desenvolvimento das plantas de sub-bosque.

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Em função das condições de clima subtropical existentes na Serra dos Tapes, localizada na zona intermediária da face oriental da Serra do Sudeste, tem-se utilizado como plantas de cobertura e adubadeiras nas UEPs/SAFs, a ervilhaca (Vicia sativa) consorciada com aveia (Avena strigosa) noinverno, sendo testadas outras leguminosas alternativas, como a ervilha (Pisum sativum), chícha-ro (Lathyrus sativus), fava (Vicia faba) e tremoço (Lupinus albus), ainda em fase exploratória (ver Capítulo 1).

No verão, têm-se utilizado consórcios de leguminosas herbáceas formados por feijão-miúdo (Vigna unguiculata), feijão-de-porco (Canavalia ensiformis), crotalárias (C. juncea e C. spectabilis), fei-jão-guandu (Cajanus cajan), mucunas (M.pruriens, M. aterrina e M. deeringiana). As leguminosas herbáceas de verão são consorciadas com gramíneas anuais de verão, como milheto (Pennisetumglaucum) e sorgo (Sorghum bicolor) (ver Capítulo 1).

Além dessas plantas recicladoras de nutrientes, com destaque para o nitrogênio, que é fixado em grande quantidade pelas leguminosas, têm-se incrementado as entrelinhas dos SAFs da Serra dos Tapes com espécies perenes de rápido crescimento, como o margaridão (Thitonia diversifolia) e capim-elefante (Penisetum purpureum), estabelecendo-se verdadeiras fábricas de ciclagem de nu-trientes, que têm o propósito de suprir a demanda de nutrientes dos cultivos anuais e das espécies arbóreas, com destaque para as frutíferas.

Além das leguminosas arbóreas fixadoras de nitrogênio como a timbaúva (Enterolobium contotici-liquun), acácia-negra (Acacia mearnsii), bracatinga (Mimosa sp.) e ingá (Inga marginata), têm-se testado nas UEPs/SAFs outras leguminosas arbóreas não fixadoras de nitrogênio, como fedego-so (Senna sp.) e a Cannabaceae, conhecida como criúva ou pau-pólvora (Trema micrantha), que apesar de não ser uma leguminosa, apresenta um conjunto de características interessantes para cumprir a função de adubadeira em SAFs.

A unidade de SAF existente em estação experimental tem a finalidade de pesquisa e demonstra-ção para os visitantes interessados neste tema. Em decorrência da necessidade de avançar os estudos sobre sistemas agroflorestais, foi desenhada uma unidade de 0,25 hectares (45 m x 55 m), que possui nove linhas com um número grande de espécies arbóreas, que conta com duas espécies com função explícita de produção de biomassa e ciclagem de nutrientes (T. micrantha e E.contortisiliquum), uma espécie arbórea exótica (uva-do-japão – Holvenia Dulce) e nove espécies arbóreas nativas com interesse de produção de lenha e madeira (canafístula – Peltophorum du-bium; cedro – Cedrela fissilis; tarumã de espinho – Citharexylum montevidensis; pêssego do mato – Prunus ; açoita-cavalo – Luehea divaricata; guajuvira – Cordia americana), consorciadas com as espécies frutíferas goiaba, butiá, duas cultivares de laranja (Valência e Salustiana), duas cultivares de tangerina (Satsuma okitsu e Ortanique); duas cultivares de caqui (Fuyu e Kyoto) e quatro culti-vares de pecaneira (Jackson, Barton, Cape fear e Shawni).

A unidade foi implantada no final de 2013 e encontra-se com três anos de acompanhamento. Até o momento, já foram colhidos cultivos de verão como milho e mandioca, no primeiro ano, e amendoim e abóboras, no segundo, além de alguns plantios experimentais como ervilha, linhaça, salsa e fava.

Além dos cultivos anuais, já foram colhidas goiabas no primeiro e segundo ano, e tangerinas Satsuma Okitsu, no segundo. As colheitas de frutíferas devem acontecer com plenitude a partir do terceiro ano, uma vez que se observa uma boa frutificação nas espécies cítricas, goiabas e caquis (Figura 4).

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Figura 4. Unidade demonstrativa de SAF com tangerina cultivar Satsuma Okitsu(sup. esq.) e goiaba cultivar Paluma (sup. dir.), ambas em frutificação. Vista panorâmica do sistema no terceiro ano desde a implantação (inf.). Estação Experimental Cascata, Embrapa Clima Temperado, Pelotas, 2016.

Considerações finais

Tanto em ambientes naturais, como na agricultura, as leguminosas despontam como uma das fa-mílias botânicas mais importantes para a manutenção dos ciclos biogeoquímicos que possibilitam a vida no planeta. Em sistemas agroflorestais, que podem ser entendidos como estratégias de cultivos que buscam imitar a dinâmica e estrutura dos ecossistemas naturais para produzir fibras, combustíveis, alimentos e serviços ambientais de interesse das sociedades humanas, as espécies leguminosas promovem múltiplos serviços.

Reforça-se que a fixação biológica de nitrogênio (FBN) realizada por espécies leguminosas arbó-reas ainda é uma prática pouco valorizada pela sociedade como um todo, o que exige um esforço por parte de todos aqueles que lutam por uma agricultura sustentável na direção de divulgar e pro-mover esse tema, que, no Ano Internacional da Leguminosas, foi especialmente trabalhado.

Concomitantemente, põe-se em evidência o múltiplo-uso como uma estratégia genérica, pois, ape-sar do valor inestimável das leguminosas FBN, conforme se tentou demonstrar neste capítulo, a utilidade dessas espécies está condicionada a um conjunto de exigências dos sistemas de cultivo.

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Assim, reforça-se que, antes de dispensarmos uma espécie com potencial de uso, seja ela legumi-nosa, ou não, fixadora de N, ou não, precisamos conhecer o seu potencial para cumprir as funções que desejamos, ou seja, mais do que biomassa, nossos sistemas de cultivo precisam ser intensivos em conhecimentos.

As espécies arbóreas, de modo geral, possuem um número enorme de possibilidades de uso, que muitas vezes não conhecemos ou não valorizamos. Assim, sugere-se um exercício contínuo de pensar sobre nossas necessidades e como as plantas são capazes de cumpri-las. Com este intuito, tentou-se abordar o potencial das espécies leguminosas arbóreas para a fruticultura, com o objetivo de que nossos pomares se transformem em agroflorestas.

Apesar da grande lacuna de conhecimentos existentes e de grandes perdas em termos de diver-sidade genética, sabe-se que a riqueza de espécies e a criatividade brasileira permanecem muito grandes. Cabe a cada um buscar informações e experimentar sem pré-conceitos, pois somente assim avançaremos para uma agricultura verdadeiramente sustentável.

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Capítulo 3 – Leguminosas para a produção apícola integrada a pomares frutícolasLuis Fernando Wolff

Existe uma relação muito estreita entre as abelhas e os vegetais superiores. As abelhas se utilizam das plantas com flores como recurso alimentar, ao passo que e as plantas se beneficiam da polini-zação cruzada, realizadas por esses insetos para garantir sua diversidade genética, a produção de sementes e a consequente perpetuação da espécie (Jaffé et al., 2015). Desta forma, quanto mais abundantes forem as floradas, e quanto mais perto delas estiverem as colmeias, maior será a pro-dutividade dos apiários e dos pomares (Wolff, 2008).

A criação de abelhas de forma integrada em pomares frutícolas (Figura 1) pode se tornar uma ativi-dade economicamente vantajosa para qualquer estabelecimento rural, utilizando simultaneamente, tanto o potencial melífero dos pomares implantados, quanto o da vegetação nativa, adequando-se aos sistemas de manejo e interferindo pouco no uso e ocupação do solo e na mão–de-obra de outras atividades. Em propriedades agrícolas familiares, sua integração é especialmente benéfica, pois, como destacam Wolff e Sevilla-Guzmán (2013), aproveita a mão de obra existente e gera ocu-pação e renda, podendo contribuir na fixação das famílias no campo. Na região sul do Rio Grande do Sul, confirmou-se o potencial econômico e a capacidade de promoção de desenvolvimento en-dógeno que a apicultura apresenta (Wolff; Winkel, 2016).

Figura 1. Inclusão de colmeias em sistemas de produção com leguminosas, como o trevo-branco (Trifolium repens) em pomares de maçã, ampliando-se o leque de benefícios obtidos.

Sistemas de produção integrada são estratégias de uso da terra nos quais diferentes espécies ve-getais e animais se desenvolvem em associações vantajosas entre si. Nesse contexto, a criação de abelhas desponta como atividade geradora de positivos efeitos econômicos, ambientais e sociais (Tabela 1), fatores de relevância para o desenvolvimento regional (Wolff; Gomes, 2015), no qual o setor vem se destacando pelas questões da inclusão social, do agronegócio e do empreendedoris-

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mo. Esse é o caso de cooperativas apícolas no bioma Pampa, cujo fortalecimento do capital físico e humano vem favorecendo o enfrentamento de obstáculos e a construção de caminhos ao acesso de mercados (Wegner et al., 2015) e possibilitando o aumento qualitativo e quantitativo do mel produzido, com melhoria da qualidade de vida dos cooperados (Winkel, 2016; Winkel et al., 2016).Tabela 1. Síntese de contribuições oriundas da apicultura e meliponicultura no âmbito econômico, ambiental e cultural

Valor econômico Valor ambiental Valor culturalserviços de polinização dos cultivos e ganhos em produtividade

fecundação e propagação de espécies arbóreas e campestres

valorização da cosmovisão e saberes tradicionais

alimentação das famílias com produtos das colmeias (mel e pólen)

alimentação da fauna frugívera nativa pela maior oferta de frutos

reforço de usos medicinais e tradições locais

venda dos produtos (mel, cera, pólen, própolis, geleia real, veneno das abelhas)

promoção da biodiversidade e equilíbrio nos ecossistemas e cultivos

aplicação em rituais indígenas e quilombolas

Devido ao grande valor nutricional das leguminosas, tanto para humanos, quanto para criações animais, para a segurança alimentar e para a sustentabilidade ambiental, a ONU declarou o ano de 2016 como o “Ano Internacional das Leguminosas” (FAO, 2016). Composta por vegetais que pos-suem frutos em forma de vagem, a família das Leguminosas (Fabaceae) é a terceira maior família, no mundo, de plantas com flores, e sua inserção em sistemas apícolas é especialmente vantajosa.

Muitas de suas espécies são visitadas pelas abelhas por lhes fornecerem néctar e pólen (D’avila; Marchini, 2005; Camacho; Franke, 2008; Pinheiro; Sazima, 2007), além de gerarem grãos, vagens e folhas para a alimentação humana ou de animais, e de atuarem na adubação e recuperação dos solos, adicionando-se, ainda, a possibilidade de sua aplicação madeireira e energética. Alguns exemplos disso são listados adiante (Tabela 2), de espécies de plantas leguminosas de valor apícola Tabela 2. Lista de leguminosas com valor apícola para sistemas integrados de fruticultura com abelhas.

Sistemas Integrados Leguminosas com Valor Apícola

Agroflorestas

Timbaúva (Enterolobium contortisiliquum)

Espinilho (Vachellia caven)

Coronilha (Gleditsia amorphoides)

Angico (Parapiptadenia rigida)

Guandu (Cajanus cajan)

Quebra-foice (Calliandra tweediei)

Ingá feijão (Inga marginata)

Ingá de macaco (Inga sessilis)

Maricá (Mimosa bimucronata)

Forrageiras

Alfafa (Medicago sativa)

Trevo nativo (Trifolium polymorphum)

Trevo branco (Trifolium repens)

Cornichão (Lotus corniculatus)

Ervilhaca (Vicia sativa)

Pega-pega (Desmodium cuneatum)

Hortaliças

Vagem (Phaseolus vulgaris)

Ervilha (Pisumsativum)

Fava (Vicia faba)

Lentilha (Lens culinaris)

Grão-de-bico (Cicerarietinum)

Grãos

Soja (Glycine max)

Feijão preto (Phaseolus vulgaris)

Feijão mulato (Phaseolus vulgaris)

Amendoim (Arachis hypogaea)

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Sistemas de fruticultura envolvendo a criação de abelhas são usuais em certas regiões e especial-mente apropriados para locais declivosos e inadequados ao manejo intensivo dos solos, tornando-se, o mel, um importante produto dentro do agroecossistema (Magdalena et al., 2016). Por meio da integração de leguminosas nesses sistemas, os fruticultores promovem a biodiversidade nos cultivos, oportunizam abrigo para predadores e parasitoides, criam microclimas favoráveis às frutei-ras, reciclam nutrientes e, ainda, fornecem néctar e pólen para abelhas e outros insetos benéficos, aumentando a sustentabilidade global do sistema de produção.

Tais sistemas podem envolver abelhas melíferas africanizadas (Hymenoptera: Apidae: Apini: Apismellifera) ou mesmo abelhas indígenas sem ferrão (Hymenopetra: Apidae: Meliponini) de diversas espécies, nos quais fruteiras e plantas leguminosas, cultivadas ou espontâneas, possibilitam a ma-nutenção dos enxames e a otimização da produção de mel, pólen, própolis, geleia real, cera de abelhas ou veneno das abelhas, a apitoxina.

Nesses sistemas, benefícios múltiplos podem ser gerados pelo plantio de leguminosas na forma de pastagens (alfafa, trevos, cornichão, ervilhaca, pega-pegas), de árvores (timbaúva, espinilho, coro-nilha, angico, guandu, quebra-foice, maricá) (Figura 2) ou de cultivos alimentares, como hortaliças (feijão-vagem, ervilha, favas) ou lavouras (soja, feijões, amendoim, lentilha, grão-de-bico), maneja-das de forma integrada e em favor da produção de alimentos e da proteção ambiental.

Figura 2. Abelha recolhendo néctar em flor de quebra-foice (Calliandra tweediei).

Desenhos específicos para maximizar a produção de mel podem ser planejados em sistemas frutí-colas com leguminosas, incluindo espécies que florescem em diferentes períodos, floradas desejá-veis para obtenção de méis típicos ou monoflorais, distribuições espaciais adequadas das plantas para seu maior florescimento ou para a proteção climática às colmeias.

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Em adubação verde com espécies de leguminosas (Figuras 3 e 5), exóticas ou nativas, a presença maciça de abelhas pode aumentar a quantidade ou a qualidade das sementes produzidas, melho-rando sua colheita e comercialização ou favorecendo sua ressemeadura natural.

Figura 3. Em trevo-branco (Trifolium repens) a polinização contribui para o aumento da produtividade e da qualidade de sementes.

O plantio consorciado de leguminosas de maior porte em pomares, além de criar a condição de quebra-ventos, correção do solo e biomassa para cobertura verde e adubação orgânica (Figura 4), pode propiciar a produção de madeira, lenha, carvão e resinas. Também pode ter a finalidade de proteger os apiários contra ventos frios e sol intenso, facilitando o voo das abelhas e melhorando a polinização e a coleta de néctar e pólen feitas por elas.

Figura 4. Forrageiras leguminosas, como a ervilhaca, melhoram a qualidade da pastagem oferecida aos animais e favorecem a produção das colmeias.

Figura 5. Abelha recolhendo néctar em florada de timbaúva.

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LEGUMINOSAS NA FRUTICULTURA USO E INTEGRAÇÃO EM PROPRIEDADES FAMILIARES DO SUL DO BRASIL

Em pomares sob sistema agroflorestal com leguminosas, as abelhas aproveitam todas as florações das árvores, arbustos e culturas consorciadas. Conforme a espécie de frutífera e de leguminosa em questão, podem ser obtidos méis típicos e com propriedades especiais, como o mel de angico (Parapiptadenia rigida), de coronilha (Gleditsia amorphoides) ou de espinilho (Vachellia caven),peculiares da região Sul do Rio Grande do Sul. Muito procurados pelos consumidores, são os méis de laranjeira (Citrus x sinensis) e de macieira (Malus domestica), clássicos nas regiões de produção dessas fruteiras, os Campos de Cima da Serra e o Vale do Caí, respectivamente.

Assim, sistemas frutícolas com leguminosas de valor apícola são uma alternativa de sustentabilida-de para a agricultura familiar e contribuem para a melhoria da nutrição e da renda dos agricultores (MMA, 2008), tendo em vista que o mel é um alimento de extraordinário valor nutritivo e medicinal. E as fruteiras, por sua vez, beneficiam-se do efeito polinizador oriundo da visitação pelas abelhas às flores.

Nesse sentido, por meio das plantas leguminosas, agricultores promovem a biodiversidade nos pomares, oportunizam abrigo para predadores e parasitoides, criam microclimas favoráveis às cul-turas agrícolas, reciclam nutrientes e, ainda, fornecem néctar e pólen para abelhas e outros insetos benéficos, aumentando a sustentabilidade global do sistema de produção.

Referências

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Capítulo 4 – Emprego de leguminosas no manejo de fitonematoides em espécies frutíferasCesar Bauer Gomes Jaqueline Tavares Schafer Cristiano BelléJerônimo Vieira de Araújo Filho

Diferentes espécies frutíferas são afetadas por fitonematoides que, além de interferirem diretamen-te no desenvolvimento normal da planta, podem atuar como vetores de viroses importantes ou, em conjunto com outros fatores, desencadearem a sua morte. Os prejuízos causados por esses fitopatógenos variam principalmente com a resistência genética da cultivar ou do porta enxerto da fruteira e com o nível populacional do nematoide no solo. Dessa forma, o emprego de práticas de manejo, como o plantio de mudas sadias em áreas isentas de patógenos, o uso de porta-enxertos resistentes/tolerantes, a aplicação de resíduos orgânicos com ação nematicida, a rotação de cultu-ras com espécies/coberturas verdes más hospedeiras ou antagonistas à fitonematoides, o controle biológico, dentre outras, são medidas de controle que contribuem enormemente na supressão e/ou contenção do aumento das populações dos nematoides na área infestada (Gomes et al., 2014).

O uso de produtos químicos em fruteiras é possível para uma gama restrita de espécies cultivadas no país, em função da falta de registro para essas culturas, denominadas minor crops (Agrofit, 2017). No mais, estratégias dessa natureza podem ser limitadas devido aos riscos à saúde humana e ao meio ambiente. Nesse sentido, abordar-se-ão neste capítulo, os principais nematoides que afetam o desenvolvimento e produtividade de diferentes frutíferas cultivadas na região sul do Brasil; e, a seguir, as respectivas medidas de manejo desses parasitas, utilizando-se o emprego de legu-minosas com foco principal em sistemas de produção agrícola de base familiar.

Pessegueiro e ameixeira

Nematoide-das-galhas (Meloidogyne spp.)

O gênero Meloidogyne, mundialmente conhecido como nematoide-das-galhas radiculares [root knot nematodes (RKN), em inglês], é considerado um dos principais patógenos da cultura do pesseguei-ro e da ameixeira (Prunus spp.), em diversas regiões do mundo (Carneiro et al., 1993; Nyczepir; Esmenjaud, 2008). As principais espécies que parasitam essas fruteiras são M. javanica Treub, M. incognita Kofoid & White, M. arenaria Neal e M. hapla Chitwood (Gomes; Carneiro, 2014). De ocor-rência restrita na cultura do pessegueiro, espécies como M. floridensis e M. hispanica são relatadas na Europa e nos EUA, respectivamente (Hirschmann, 1986; Handoo Et Al., 2004). Estudo recente menciona larga prevalência (75%) em pomares chilenos, de outra espécie emergente, M. ethiopica(Meza et al., 2016), porém, ainda não foi relatada no Brasil. Além disso, já foi relatada a ocorrência de M. morocciensis Rammah & Hirschmann em pessegueiro no Rio Grande do Sul (Gomes et al., 2009).

Apesar de M. javanica ser relatado no Rio Grande do Sul, estado com a maior área cultivada com pêssego e ameixa do país, como a espécie predominante (Gomes et al., 2009), M. incognita é reportada como a principal espécie nas regiões produtoras de pêssego do Brasil (Carneiro et al., 1993; Rossi et al., 2000).

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Plantas de pessegueiro e ameixeira parasitadas pelo nematoide apresentam formação de galhas no sistema radicular, que resultam na paralisação do crescimento e na morte da região da coifa da raiz. As plantas atacadas apresentam, consequentemente, sinais de enfraquecimento, baixa produção, desfolhamento precoce, queda prematura dos frutos e deficiência nutricional (Gomes; Carneiro, 2014). No entanto, em porta-enxertos suscetíveis (Gomes; Carneiro, 2014), os sintomas parecem ser pronunciados sob condições de seca (Stirling, 1975), bem como em solos de textura mais are-nosa em associação a temperaturas mais altas (Nyczepir; Esmenjaud, 2008).

Em alguns casos, têm sido verificado que a infecção de plantas de Prunus sp. por Meloidogynespp., pode favorecer a ocorrência de outros patógenos, como Agrobacterium tumefaciens, agenteetiológico da galha da cora (Dhanvantari et al., 1975), ou mesmo em associação com Fusariumoxysporum (Wehunt; Weaver, 1972).

Nematoide-anelado (Mesocriconema spp.)

As principais espécies de Mesocriconema que acometem essas culturas são Mesocriconema xe-noplax e M. curvata. Esses nematoides estão amplamente distribuídos e têm sido detectados nas Américas do Norte e do Sul, Europa, África e Ásia (Gomes; Carneiro, 2014). Com efeito, M. xeno-plax é a espécie mais frequente nos pomares de pessegueiro e ameixeira no Rio Grande do Sul (Carneiro et al., 1993), estando intimamente ligada à síndrome da morte precoce do pessegueiro [Peach Tree Short Life (PTSL), em inglês].

O parasitismo das plantas pelo nematoide ectoparasita M. xenoplax pode resultar em destruição, atrofiamento e morte do sistema radicular, causando danos diretos. Além disso, seu parasitismo também afeta a dormência e a capacidade da planta de tolerar estresses ambientais. Assim, plantas debilitadas associadas a elevadas populações de M. xenoplax, sob condições de déficit ou excesso hídrico, podas drásticas, baixo pH, baixa fertilidade do solo e altas amplitudes térmicas, são predis-postas à manifestação da PTSL (Ritchie; Clayton, 1981). Desse modo, M. xenoplax é considerado o agente causal primário da síndrome PTSL (Nyczepir et al., 1983).

Os sintomas da PTLS incluem, desde a presença de ramos secos, até a morte completa da planta. Além disso, no final da dormência, árvores com problemas podem apresentar brotação e floração anormais, morte dos brotos, ou mesmo brotação tardia na parte interna da copa e nos ramos mais grossos. Nos ramos de plantas enfermas, observam-se zonas alternadas de tecido sadio e escure-cido, que atingem a parte interna do lenho. Durante a poda, ou quando esses ramos são cortados, sente-se um odor semelhante ao do vinagre, sinal característico da PTSL. Nesse estádio, em que a planta está muito debilitada, pode-se verificar a presença de perfurações nos ramos, geralmente as-sociados ao ataque de Scolytus spp. (Carneiro Et Al., 1993; Gomes, 2005; Gomes; Carneiro, 2014).

Elevadas populações de M. xenoplax têm sido associadas à PTSL causada por Pseudomonassyringae em pomares de pessegueiro e damasco, nos EUA e México (Lownsbery et al., 1977; Mckenry, 2000; Luna Guerrero et al., 2011), porém, não há relatos da morte de plantas associados a essa bactéria, no Brasil. Nyczepir e Lewis (1984) relacionaram a presença de necroses de raízes atacadas por nematoides e a incidência de F. oxysporum, sobretudo em altas populações desse nematoide. Embora na literatura haja relato de antagonismo entre o nematoide-anelado e o nema-toide-das-galhas na manifestação de morte de plantas de pessegueiro (Nyczepir et al., 1999), em ameixeira, a relação parece ser sinérgica na manifestação da síndrome (Gomes et al., 2000).

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Nematoide-adaga (Xiphinema spp.)

Outros nematoides de importância para o pessegueiro e a ameixeira são espécies filiadas ao gênero Xiphinema, conhecidos como nematoide-adaga. De acordo com Nyczepir e Esmenjaud (2008), sete espécies estão relacionadas a frutas de caroço: X. diversicaudatum, X. vuittenezi e cinco espécies de grupo X. americanum (X. americanum, X. brevicolle, X. californicum, X. pachtaicum e X. rivesi).Esses nematoides alimentam-se como ectoparasitas, e causam necroses radiculares e dilatações na ponta das raízes finas. Sob condições de elevada infestação, é comum a redução na produção e no crescimento das plantas.

Entre as espécies desse gênero, X. americanum é considerado o nematoide de maior importância econômica e, no Rio Grande do Sul, está disseminado nos pomares de pessegueiro (Carneiro et al., 1993). Além disso, esse parasita pode atuar como vetor de viroses na cultura do pessegueiro, sendo as principais: peach rosette mosaic virus (PRMV), tomato ringspot virus (ToRSV) e stem pit-ting que, por sua vez, causa a morte da planta. Apesar da ampla distribuição de X. americanum em pomares no Rio Grande do Sul, não foi relatada a ocorrência dessas viroses no Brasil, assim como também não foi confirmada a sua patogenicidade em Prunus spp. (Gomes; Carneiro, 2014).

Nematoide-das-lesões (Pratylenchus spp.)

O nematoide-das-lesões pode afetar o estabelecimento, desenvolvimento e a longevidade do po-mar, bem como a produção de frutas. Entre as espécies desse gênero, P. penetrans, P. vulnus, P. coffeae e P. brachyurus são consideradas as mais importantes na produção de frutas e de amên-doas. Não obstante, P. penetrans e P. vulnus são as mais danosas ao pessegueiro e à ameixeira (Nyczepir; Esmenjaud, 2008).

No pessegueiro, o nematoide-das-lesões causa não apenas degeneração do sistema radicular, mas também predispõe a planta a infecções causadas por outros agentes fitopatogênicos. Em vá-rias partes do mundo, P. penetrans e P. vulnus também são agentes causais primários de doenças de replantio, problema caracterizado pelo atrofiamento e amarelecimento das plantas, geralmente acompanhado de necrose radicular (Nyczepir; Esmenjaud, 2008). Apesar de ambas as espécies ocorrerem no Brasil, ainda não há relatos de danos em pessegueiros.

Figueira

No Brasil, espécies de Meloidogyne e o nematoide-dos-cistos (Heterodera fici) constituem os maio-res problemas fitossanitários para os ficicultores (Pereira, 2010). No entanto, M. incognita é de ocor-rência generalizada (Lima-Medina et al., 2006; 2013; Dias-Arieira et al., 2010), e o nematoide-dos-cistos, Heterodera fici, de frequência mais restrita ao Estado de São Paulo (Rossi, 2002), apesar de já relatado no Rio Grande do Sul (Brancalion et al., 1981). Além desses fitonematoides, também são associadas à cultura, Aphelenchoides sp., Aphelenchus avenae, Criconemella onoensis, C. sphaerocephala, H. dihystera, P. brachyurus, P. zeae, e M. javanica (Campos, 1997).

Nematoide-das-galhas (Meloidogyne spp.)

Dentre os fitonematoides que afetam a figueira (Ficus carica), o nematoide das galhas é o mais fre-quentemente reportado. Relatos de danos são feitos no Mediterrâneo, na África e nas Américas do Sul e do Norte, sendo tal patógeno reconhecido como um dos maiores fatores limitantes à produção comercial de figos nos Estados Unidos, na França e no Brasil (El-Borai; Duncan, 2005).

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Em levantamentos realizados por Lima-Medina et al. (2006; 2013) no Rio Grande do Sul e em São Paulo, detectou-se a ocorrência do nematoide das galhas em 80 % das amostras coletadas, e iden-tificou-se diferentes espécies e populações atípicas de Meloidogyne nos pomares de figueira, sendo M. incognita a espécie mais frequente.

Plantas parasitadas por esse nematoide apresentam raízes com grande número de galhas e ne-croses nos tecidos, o que compromete sua capacidade de absorver água e nutrientes. Plantas se-veramente atacadas entram em declínio rapidamente, sendo um dos primeiros sintomas a redução do porte da planta e dificuldade de brotação após a poda (informação pessoal)1, além de sintomas evidentes de enfraquecimento como amarelecimento, podendo, também, serem levadas à morte (Santos; Maia, 1999).

Goiaba

Até pouco tempo, doenças causadas por fitonematoides na cultura da goiabeira (Psidium guajava)não eram conhecidas pelos produtores. Sintomas gerais como plantas subdesenvolvidas e frutos pequenos eram associados exclusivamente a problemas nutricionais. Atualmente, sabe-se que vá-rios gêneros de fitonematoides estão associados à cultura, dentre eles: Meloidogyne spp., P. bra-chyurus, Rotylenchulus reniformis, Helicotylenchus sp., Aphelenchus sp. e Mesocriconema sp. No entanto, espécies de Meloidogyne constituem, sem dúvida, o principal problema nematológico da cultura.

Nematoide-das-galhas (Meloidogyne sp.)

São relatadas cinco espécies do nematoide-das-galhas associadas à goiabeira: M. incognita, M.javanica, M. arenaria, M. hapla e M. enterolobii em diferentes regiões do globo (El Borai; Duncan, 2005). No Brasil, a última é reconhecida como a de maior importância econômica para a cultura, não apenas por estar amplamente distribuída em diferentes regiões produtoras do país (Carneiro et al., 2001; Paes et al., 2012; Paes-Takahashi et al, 2015), mas também por apresentar ampla gama de hospedeiros (Freitas et al., 2010).

A elevada incidência de espécies de Meloidogyne em regiões produtoras de goiaba pode ser atribuí-da a vários fatores, entre os quais, a suscetibilidade do hospedeiro, a textura do solo, a população de hospedeiro nativo, o plantio de mudas contaminadas e o sistema irrigado de cultivo. M. enterolo-bii é a espécie dominante nos pomares de goiaba no Brasil e no mundo, havendo uma estimativa de redução de aproximadamente 75% de produtividade dos pomares infestados, podendo, em alguns casos, comprometer até 100% da produção e/ou levar as plantas à morte (Carneiro et al., 2007; Pereira et al., 2009).

Os sintomas na parte aérea da goiabeira são evidenciados pelo forte bronzeamento e o acinzen-tamento dos bordos das folhas e ramos, seguidos de amarelecimento total da parte aérea, culmi-nando com o desfolhamento generalizado e morte da planta. Os frutos ficam menores e ocorre o amadurecimento precoce. Os sintomas do patógeno no sistema radicular são a formação de um grande número de galhas e de necroses, ocorrendo uma diminuição drástica das raízes finas. O nematoide infecta todos os tipos de raízes, desde as radicelas superficiais até as mais lignificadas, que costumam estar a mais de 50 cm de profundidade (Carneiro et al., 2001). Além disso, segundo Gomes et al. (2011), existe um efeito sinérgico entre Fusarium solani (Mart.) Sacc. e M. enterolobii,

1 Informação pessoal fornecida pelo pesquisador Cesar Bauer Gomes.

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pois as podridões na raiz ocorrem somente quando os dois patógenos estão envolvidos no proces-so patológico.

Morango

Diferentes fitonematoides são associados à cultura do morango (Fragaria spp.), entre eles: M.hapla, M. javanica, M. incognita, P. vulnus, P. penetrans, A. besseyi, A. fragariae, A. ritzemabosi, Longidorus elongatus, D. dipsaci, Xiphinema spp., Helicotylenchus spp., Belonolaimus longicauda-tus. Somente três são considerados de maior importância no Brasil: A. besseyi, A. fragariae e M.hapla (Campos, 1997; Noling, 1999; Gomes; Cofcewicz, 2003).

Nematoide parasita de folhas (Aphelenchoides spp.)

Prejuízos de 50% causados por A. besseyi em morangueiro foram registrados no sul dos EUA e na Austrália. No Brasil, pode ser encontrado parasitando arroz e morango. Embora sua presença tenha sido constatada em 1969, no Rio Grande do Sul, e posteriormente relatada em vários outros estados: São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, Minas Gerais, Santa Catarina e Espírito Santo, não se dispõe de informações sobre danos no morangueiro. A. fragariae constitui-se um importante patógeno da cultura nos EUA. Na Polônia, foram registradas reduções entre 31% e 62% na produção. A ocorrência dessa espécie em morangueiro, no Brasil, foi relatada pela primeira vez na região do Vale do Rio Caí, no Rio Grande do Sul, em 1996 (Potter; Noling, 1984; Gomes; Cofcewicz, 2003).

Os sintomas causados pelo nematoide ectoparasita A. besseyi são característicos e estão presentes nas folhas procedentes de brotos infestados. Elas não se desenvolvem, apresentando-se pequenas, estreitas e anormais de coloração verde-escura. A planta apresenta-se enfezada, com produção mínima ou nula de frutos. Já plantas parasitadas por A. fragariae, apresentam crescimento lento, porte reduzido, encurtamento dos entrenós, florescimento reduzido, deformação das folhas centrais e morte da coroa. Folhas de morangueiros infectados por A. fragariae ficam quebradiças e com tamanho reduzido. Também podem ser notadas na superfície das folhas atacadas, regiões pratea-das, sintoma muitas vezes confundido com danos causados por produtos químicos. Em casos de infecções severas, o nematoide pode provocar a morte da planta (Gomes; Cofcewicz, 2003).

Nematoide-das-galhas (Meloidogyne spp.)

Embora já tenha sido constatada a presença de M. incognita, M. javanica e M. fallax em moranguei-ro, M. hapla é a espécie desses nematoides endoparasitas de raízes mais comumente encontrada e associada a danos, por ocorrer principalmente em regiões de clima subtropical e temperado, sendo, por isso, mais tolerante ao frio, e, portanto, adaptada ao período de cultivo do morango, cujas tem-peraturas são mais amenas (Potter; Noling, 1984; Van Der Sommen et al., 2005). No Brasil, apenas M. hapla tem sido encontrada em áreas de plantios dos estados de São Paulo, e Minas Gerais; no entanto, ocorre também parasitando espécies vegetais distintas em outros estados das regiões Sul e Sudeste. Os sintomas na parte aérea incluem redução no crescimento, amarelecimento e murcha temporária das folhas, culminando com baixa produção. Plantas novas ou recém-transplantadas morrem prematuramente. Em ataques severos, as plantas infectadas não respondem à adubação pela falta de raízes sadias para a absorção dos nutrientes. É possível visualizar pequenas galhas nas raízes, das quais partem inúmeras raízes laterais, resultando num sistema radicular muito den-so (Gomes; Cofcewicz, 2003, Salgado, 2007; Costa et al., 2011).

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Videira

Doenças e pragas estão entre os principais fatores limitantes de produtividade na cultura da videira (Vitis spp.). Dentre esses, danos provocados por fitonematoides podem ocorrer desde a implanta-ção das mudas no pomar às plantas adultas, influenciando, consequentemente, na qualidade dos frutos, produção e nos custos despendidos (Somavilla et al., 2012), caracterizando esses patóge-nos como um dos fatores limitantes de produtividade (Naves, 2005). Na cultura da videira, especi-ficamente, entre as principais espécies assinaladas até o momento, pontificam-se aquelas filiadas aos gêneros Meloidogyne, Tylenchulus (T. semipenetrans), Xiphinema, e Pratylenchus, respectiva-mente (Pinkerton et al., 2005; Raski, 2009; Esmenjaud; Bouquet, 2009; Karanastasi et al., 2008).

Os danos quantitativos são atribuídos à ação direta e/ou indireta dos espécimes; fato que varia consoante a espécie infestante. Espécies de ocorrência localizada e/ou patogenicidade ainda não bem estabelecida têm sido recordadas frequentemente no exterior, tais como Rotylenchus vitis(Cantalapiedra-Navarrete et al., 2012). No primeiro caso, os nematoides atuam como agentes etioló-gicos principais, sendo capazes de, ao alimentar-se profusamente nas raízes, ocasionar processos patológicos. No segundo, incluem-se espécies capazes de atuar como vetores (vírus fitopatogên-cios) e/ou agentes de predisposição, facilitando a atuação posterior de agentes secundários, tais como fungos e/ou bactérias oportunistas (doenças complexas) (Gutiérrez-Gutiérrez et al., 2011). Globalmente, estima-se que os danos provocados por esses vermes na cultura sejam da ordem de 20% (Esmenjaud; Bouquet, 2009). Os gêneros das principais espécies parasitas serão descritas doravante.

Nematoide-das-galhas (Meloidogyne spp.)

O gênero Meloidogyne é considerado o principal grupo de nematoides fitopatogênicos de im-portância econômica. Mundialmente, as espécies mais frequentes e relacionadas a danos são: Meloidogyne javanica, M. incognita, M. arenaria e, ocasionalmente, M. hapla. Coexistência de es-pécies de Meloidogyne pode ser comum em campos infestados (Karanastasi et al., 2008). No Brasil, registra-se, ainda, a ocorrência M. morocciensis e M. ethiopica. A espécie mais frequente é M.javanica (Somavilla, 2011). Outra espécie também relatada parasitando a cultura é M. ethiopica,sendo essa espécie responsável por sérios prejuízos à videira e ao quivi, no Chile, onde tem sido associada à baixa produtividade dos pomares afetados e à morte de plantas (Carneiro et al., 2007). Contudo, apesar de M. ethiopica ter sido detectado e relacionado ao declínio de plantas de quivi, no Sul do Brasil, ainda não foi registrado em videira no País.

Plantas afetadas pelo nematoide das galhas apresentam, genericamente, sintomas na parte aérea, como redução do vigor, folhas de tamanho reduzido e tonalidades diversas, e, nas raízes, com pe-quenos engrossamentos; no entanto, raízes com galhas grandes têm sido observadas em plantas de videira parasitadas por M. ethiopica. Em casos de infecções severas, essas galhas radiculares coalescem formando engrossamentos mais alongados, e a produtividade das plantas pode decres-cer a cada ciclo. No Brasil, há poucos relatos de danos causados por espécies de Meloidogyne na cultura, devido, provavelmente, ao uso de porta-enxerto resistentes, como Paulsen 1103 (Somavilla, 2011), amplamente utilizado na implantação de novos vinhedos no País desde o início da década de 1990 (Camargo et al., 2011). No entanto, dependendo do material utilizado e da(s) espécie(s) do nematoide, podem ocorrer danos, conforme relato da presença de M. incognita em pomar de videira no Estado de Pernambuco (Somavilla et al., 2012). Nesse local, as plantas afetadas apre-sentavam sintomas de menor vigor, folhas amarelecidas e folhagem mais esparsa, além de raízes

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com muitas galhas em meio ao cultivo de feijão-de-porco (Canavalia ensiformis), também atacado pelo nematoide.

Em termos práticos, nem sempre é fácil o diagnóstico visual do nematoide-das-galhas, pois, muito frequentemente, os sintomas podem ser confundidos com galhas causadas por filoxera (Daktulospharia vitifoliae), afídeo amplamente disseminado na Serra gaúcha e que ataca as folhas e raízes da videira, causando engrossamentos das raízes, sintoma muito parecido com aquele cau-sado por Meloidogyne sp. (GOMES, 2003).

Nematoide-das-lesões (Pratylenchus spp.)

Diversas espécies de Pratylenchus spp. causam lesões nas raízes da videira. Dentre as principais espécies do gênero, se destacam: P. penetrans, P. crenatus, P. neglectus, P. vulnus, P. thornei, P. scribneri, P. minius e P. brachyurus. Já no Brasil, têm sido detectado P. brachyurus, P. jordanen-sis, P. thornei (Campos et al., 2003; Raski, 2009) e Pratylenchus sp. (Gomes et al., 2009; Keb et al., 2016). Na literatura, os prejuízos decorrentes do ataque do nematoide-das-lesões em videi-ra são contraditórios. De acordo com Raski (2009), são relatados danos mais severos causados pelo nematoide-das-lesões do que aqueles provocados pelo nematoide-das-galhas; e, uma vez que ocorre o declínio do pomar, a videira não responde mais às práticas culturais; porém, segundo McKenry (2000), Pratylenchus spp. parece ser um fraco competidor com Meloidogyne spp., e, mes-mo sendo frequentemente encontrado, raramente causa danos no vinhedo. Apesar desses nema-toides serem relatados em pomares de videira de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul, até o mo-mento não há registros de sintomas ou impacto econômico relacionados a sua presença na cultura.

Nematoide-adaga (Xiphinema spp.)

Diversas espécies de Xiphinema estão mundialmente associadas ao cultivo da videira, entre elas, principalmente X. americanum e X. italiae. No Brasil, têm sido constatadas quatro espécies: X. ame-ricanum, X. index, X. brasiliensis e X. krugi (Campos et al., 2003). Esses nematoides ectoparasitas podem causar danos diretos, como manchas enegrecidas e necróticas e/ou galhas nas pontas das raízes, nas plantas atacadas (Raski, 2009). No entanto, os maiores prejuízos devem-se ao fato de algumas espécies serem vetores de importantes viroses, como é o caso de X. index, vetor da de-generescência da videira (Grapevine fanleaf virus, GFLV), uma das principais viroses da cultura, na Europa e nos EUA. No Brasil, o GFLV está entre as quatro viroses de maior ocorrência na videira, entretanto, sua incidência é baixa. Especula-se que a baixa frequência dessa doença deva-se, prin-cipalmente, ao uso de mudas livres do vírus e à ausência do vetor no País.

Nematoide-anelado (Mesocriconema xenoplax)

Entre os nematoides anelados associados a danos em videira, M. xenoplax é o mais importante para a cultura por ser cosmopolita e polífago (Loof; De Grisse, 1989). Plantas de videira parasitadas por esse nematoide podem apresentar sintomas de nanismo, folhas de menor tamanho, sistema radicular com menor desenvolvimento e com as radicelas atrofiadas. O impacto desse nematoide varia com a cultivar, a idade da planta e pode ser influenciado por estresses ambientais, no entanto, os danos parecem ser mais evidentes em replantio (Pinkerton et al., 2005), apesar de haver poucos estudos nesse patossistema.

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Em um estudo sobre a nematofauna associada ao declínio da videira, conduzido na serra gaúcha, observou-se associação do nematoide anelado (Mesocriconema sp.) a 100% das amostras prove-nientes de pomares de Bento Gonçalves e Farroupilha que apresentava esse problema (Gomes et al., 2009). Em trabalho recente conduzido em nossas condições, verificou-se a patogenicidade de M. xenoplax sobre diferentes cultivares de V. labrusca e um porta-enxerto (V. berlandieri x V. ripa-ria) de videira (Kuhn, 2015). Conforme o mesmo autor, todos os genótipos testados se mostraram suscetíveis a esse nematoide, no entanto, verificou-se correlação negativa entre reprodução do nematoide e peso da parte área e/ ou raiz apenas para as cultivares de videira (V. labrusca).

Nematoide-dos-citros (Tylenchulus semipenetrans)

O nematoide-dos-citros (T. semipenetrans) é registrado em videira nos estados de São Paulo (Curi et al., 1988), Minas Gerais (Maximiniano et al., 1999) e Rio Grande do Sul (Gomes et al., 2009). Danos causados por essa espécie em videiras, no País, foram relatados na região paulista de Jundiaí, na cultivar Niágara Rosa sobre o porta-enxerto Traviú, cujas plantas afetadas apresenta-vam sintomas de enfezamento, morte de brotações, redução da floração e produção (Curi; Silveira, 1988). Apesar dos sintomas serem pouco específicos em V. vinifera, relata-se redução do cresci-mento, vigor e produção das plantas em pomares com elevados níveis populacionais do nematoide (Rahman et al., 2008). O fato de esse nematoide estar associado a danos na videira, nos Estados Unidos e na Austrália, está relacionado aos plantios próximos ou circundados por plantações de citrus (Campos et al., 2003). Embora ainda precise ser melhor estudada a interação T. semipene-trans-videira a campo, em nossas condições, deve-se evitar sua disseminação ou introdução em áreas de videiras ainda não infestadas.

Amora, framboesa e mirtilo

A despeito da grande rusticidade da amoreira-preta, framboesa (Rubus spp.) e do mirtilo (Vacciniumspp.) a doenças e pragas diversas, essas são parasitadas por diversas espécies de fitonematoides (Rich, 2002; Zuckerman, 1962; Wehunt et al., 1991). Algumas espécies de nematoides têm sido associadas a danos diretos (patogenicidade direta), outros, associados mais comumente ao esta-belecimento de doenças de etiologia complexa, tais como problemas de replantio (replant disease,em inglês) e declínio do pomar (Jagdale et al., 2013), e, por fim, outros nematoides têm sido relacio-nados como prováveis vetores de importantes viroses nas culturas em apreço (Converse; Ramsdell, 1982).

No que concerne ao mirtilo, embora nem sempre com patogenicidade bem definida, grande nú-mero de espécies fitoparasitas tem sido associado à cultura em diferentes regiões produtoras do mundo, máxime nos EUA. Algumas são endoparasitas (migradores e sedentários), outras, grande maioria, tipicamente ectoparasitas. Sob esse aspecto, Clark e Robbins (1994) realizaram levan-tamento contemplando campos cultivados com diferentes espécies cultivadas de Vaccinium (V. ashei e V. corymbosum), e encontraram diferentes formas fitoparasitas, filiados aos mais diversos gêneros, tais como A. christiei, H. magnistylus, H. dikystera, H. zuckermani, Meloidogyne sp., M.ornata, Paratylenchus sp., P. minor, Paratrichodorus sp., P. christiei, Pratylenchus sp. T. ewingi, Tylenchorhynchus sp., e X. americanum. Neste estudo, as espécies encontradas com maior fre-quência foram X. americanum e M. ornata. Em estudo bem mais recente, também realizado na América do Norte, Zasada et al. (2010) encontraram, em pomares do nordeste dos EUA e Canadá, elevada frequência de Paratrichodorus, Pratylenchus e, novamente, X. americanum, corroborando, portanto, estudos prévios. Zuckerman (1962) realizou estudos em condições de casa de vegeta-

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ção com a interação mirtilo-P. minor, obtendo resultados conclusivos acerca da patogenicidade do nematoide em apreço. P. minor, não apenas se reproduziu profusamente, mas também foi capaz de reduzir significativamente o crescimento radicular das plantas. No mais, é valido mencionar que M. carolinenses foi descrita infectando e causando expressivos danos nos EUA (Eisenback, 1982).

Em relação à amora e framboesa, panorama nematológico deveras similar tem sido observado. Desse modo, os registros incluem principalmente espécies de Aphelenchoides, Paratylenchus,Pratylenchus, Meloidogyne e Xiphinema (Wehunt et al., 1991).

Nematoide-das-galhas (Meloidogyne spp.)

O gênero Meloidogyne pode causar danos significativos em espécies de Rubus, especialmente em solos arenosos. Plantas desse gênero, infectadas por este nematoide, apresentam grandes engros-samentos nas raízes. No Brasil, é relatada a ocorrência de espécies como M. incognita (Lordello; Lordello, 1991) e M. hapla associadas a galhas radiculares causadas, muito provavelmente, por A.tumefacians (Rossi; Ferraz, 2005).

Apesar de M. carolinensis ser descrita em espécies de mirtilo, como acima mencionado, registros da espécie têm sido muito limitados. M. carolinensis foi encontrada parasitando espécies selvagens e cultivadas de Vaccinium, nos idos de 1967, apenas no Estado de North Carolina. Foi considera-da, pois, espécie indígena do referido local, recebendo a alcunha de blueberry root knot nematode(Eisenback, 1982). Estudos acerca dos limites de dano econômico, infelizmente, não foram toma-dos a efeito, na oportunidade. Felizmente, no Brasil, até o presente momento, é considerada espé-cie quarentenária.

Nematoide-das-lesões (Pratylenchus spp.)

Danos decorrentes do parasitismo por P. vulnus e P. penetrans em plantas do gênero Rubus são frequentemente registrados em países como os EUA e outros, na Europa (Nyczepir; Halbrendt, 1993). Vale destacar que, em pomares estrangeiros, P. penetrans figura espécie sabidamente pato-gênica a frutíferas de clima temperado, tais como espécies de Rubus e outras (Potter; Noling, 1984; Mcelroy, 1991). Uma vez que as raízes são infectadas por Pratylenchus spp., ao se alimentar, o nematoide locomove-se nos tecidos, causando necroses, apodrecimentos e, consequentemente, o declínio da mesma (Rich, 2006). No Brasil, todavia, não há registros dessas espécies na amoreira-preta. Em levantamento nematológico realizado no Rio Grande do Sul, Gomes et al. (2006) verifi-caram a presença de níveis populacionais de 70-80 nematoides/10g de raízes de amoreira-preta cv. Tupy para P. zeae e P. jordanensis, respectivamente.

No que concerne à ocorrência de espécies de Pratylenchus associadas à cultura do mirtilo, relatos de parasitismo de P. scribneri e outras não identificadas têm sido mencionadas em campos comer-ciais da América do Norte (Clark; Robbins, 1994). P, penetrans, por outro lado, embora seja parasita economicamente importante para outras espécies de frutíferas de clima temperado, não tem sido assinalado na cultura do mirtilo naturalmente. Com efeito, Forge et al. (2012), avaliando a reação (resistência/suscetibilidade) e estimativas de danos em quatro cultivares de mirtilo perante P. pene-trans, observaram que esse parasita não se reproduziu em nenhum genótipo. Concluíram, portanto, que mirtilo não é hospedeiro de P. penetrans.

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Nematoide-adaga (Xiphinema spp.)

Como mencionado previamente, algumas espécies de Xiphinema parasitam a amoreira-preta. Diferentes viroses recentemente detectadas nessa frutífera são transmitidas pelo nematoide-ada-ga e podem causar redução significativa do crescimento e produção (Martin et al., 2004). Tomato ringspot virus (ToRSV), por exemplo, ocorre em muitas espécies de plantas perenes, causando drásticas reduções na produtividade, sendo economicamente importante para várias culturas. Na amoreira-preta causa perdas na produção que podem chegar a até 80% (Cabi, 2000). Apesar do ToRSV ser classificado como uma patógeno exótico (Marinho et al., 2006), esse vírus é transmitido por X. americanum e outras espécies relacionadas (Brown et al., 2004), os quais são amplamente disseminados no Rio Grande do Sul (Sperandio, 1992). Em estudo realizado no Brasil, Rossi e Ferraz (2005) detectaram a presença de X. elongatum em São Paulo. Conforme Brown et al. (2004), essa espécie pode transmitir Raspberry Ringspot e Tomato Black Ring, que são viroses associadas ao gênero Rubus. Portanto, medidas preventivas no sentido de evitar o plantio de amoreira-preta infectado com essas viroses podem restringir contaminações futuras, especialmente pela produção de mudas em local infestado com o nematoide.

Em relação à cultura do mirtilo, são diversos registros de parasitismo por espécies de Xiphinema,mais especificamente X. americanum senso lato (Clark; Robbins, 1984). Essa espécie é associada, no mais das vezes, à transmissão de importantes viroses da cultura. À guisa de exemplificação, Converse e Ramdsdell (1982) e Fuchs et al. (2010) verificaram sólida correlação entre pomares com plantas infectadas (sintomáticas) por Tomato Ringspot Virus (ToRSV) e Tobacco Ringspot Virus(TRSV), ambas nepoviroses, e a ocorrência de X. americanum nos Estados do Oregon e New York. No Brasil, registros das viroses e seus vetores na cultura do mirtilo praticamente inexistem até o momento.

Nematoide-agulha (Longidorus spp.) e o nematoide anelado (Mesocriconema spp)

Este nematoide causa pequenos danos diretos, porém, o dano principal é a transmissão de viroses. Raspberry ringspot virus (RRV) é transmitido pelo Longidorus elongatus e L. macrosoma. Tomato black ring virus (TBRV) é transmitido por L. elongatus e L. attenuatus. L. elongatus é encontrado na América do Norte, porém, ele não está associado à RRV, por não causar danos diretos a Rubus spp.

Na cultura do mirtilo, no entanto, ênfase maior tem sido dada em relação à presença de espécies de Mesocriconema, notadamente M. ornata. Há hipóteses de que essa espécie de nematoide tenha proporcionado a predisposição de pomares a uma enfermidade complexa, conhecida comumente como doença de replantio (Blueberry replant disease – BRD, em inglês). No Estado da Geórgia, por exemplo, Mesocriconema ocorreu em mais de 55% das amostras obtidas, e, quando plantas foram inoculadas em condições controladas, observou-se reduções de crescimento radicular, assim como aumento nas populações do parasito (Jagdale et al., 2013). Evidências de campo solidificam essa hipótese. Sob este aspecto, Noe et al., trataram solo infestado com moléculas fumegantes, reduzin-do consideravelmente a população de M. ornata e promovendo, via de regra, aumento de vigor nas plantas das parcelas tratadas.

Manejo de fitonematoides

Medidas de manejo no controle de fitonematoides, especialmente em espécies frutíferas, devem ser iniciadas já na instalação do pomar, após análise nematológica do solo para implantação das mudas, as quais devem ser livres de qualquer praga. No entanto, em áreas infestadas por fitone-

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matoides, deve-se levar em conta, para a tomada de decisão quanto às medidas de manejo, quais espécies ocorrem no solo, bem como seus respectivos níveis populacionais. Nessa condição, o primeiro passo a ser dado é o uso de porta-enxerto-resistentes ou tolerantes aos nematoides-praga presentes no local. Caso o produtor opte por uma espécie frutífera altamente rentável, porém, sus-cetível ou parcialmente tolerante a tais pragas, em função da falta de material resistente no merca-do, deve-se, primeiramente, proceder ao emprego de outras medidas. Dessa forma, práticas que visem à supressão das populações desses fitoparasitas no solo, a níveis abaixo do limiar de dano econômico, como as técnicas de solarização, biofumigação, calagem e adubação equilibrada do solo, poda conduzida tardiamente, controle de pragas e outras doenças, e, rotação de culturas com espécies vegetais más hospedeiras de fitonematoides (Tabela 5) dentre outras pragas, parecem também refletir na tolerância da planta aos nematoides.

O emprego da rotação de culturas com plantas más hospedeiras de nematoides em áreas altamen-te infestadas é uma tática que, há muito tempo, vem sendo utilizada nos EUA para controle de M.xenoplax e Meloidogyne spp. em pessegueiro em pré-plantio. No Brasil, várias culturas de inverno e verão (leguminosas, gramíneas e crucíferas) foram testadas a campo em esquemas de rotação e/ou sucessão para redução das populações de M. javanica e M. xenoplax, tendo-se em vista a reu-tilização das áreas infestadas com esses nematoides. Em trabalhos realizados na Embrapa Clima Temperado, em Pelotas-RS, observou-se reduções drásticas nas populações de ambas as espécies em condições de campo. Com o emprego das combinações nabo-forrageiro/milheto/aveia-branca/milho, aveia-branca/mucuna-anã/trigo/sorgo e aveia-preta/feijão-de-porco/milheto/nabo-forrageiro, foram verificadas reduções dos níveis populacionais do nematoide anelado no solo entre 82% e 95%, sendo observada a maior supressão nos dois primeiros cultivos, com posterior estabilização de seus níveis, independentemente do sistema estudado. Já para M. javanica, houve redução drás-tica de suas populações no solo submetido a todos os sistemas, no primeiro cultivo, não havendo diferenças entre os cultivos posteriores (Gomes et al., 2006; 2011).

No caso específico de leguminosas, deve-se ter o cuidado na escolha das espécies vegetais. Plantas como as crotalárias (Crotalaria spp., por exemplo, são coberturas verdes muito adequadas para uso em pré-plantio em solo infestado, contra várias espécies do nematoide-das-galhas (M. javanica, M. ethiopica, M. enterolobii e M. incognita) e das lesões (P. zeae e p. brachyurus) em pré-plantio a frutas de caroço, videira, figueira e goiabeira. Porém, C. juncea e C. spectabili reproduzem bem o nematoide anelado no solo, se cultivadas isoladamente, podendo tornar-se um problema para o pessegueiro, a ameixeira e a videira, futuramente. Da mesma forma, apesar do feijão-de–porco (Canavalia ensiformis) ser uma excelente cobertura verde para uso em rotação, suprimindo o nema-toide anelado no solo, melhorando a sua qualidade, multiplica bem os nematoides-das-galhas M. in-cognita, M. enterolobii e M. javanica, sendo os dois primeiros patógenos agressivos principalmente à figueira e à videira; e o último à goiabeira (Tabela 5). Já o feijão–guandu (Cajanus cajan), é uma cultura má hospedeira de M. javanica, M. ethiopica, Pratylenchus brachyurus e P. zeae, importantes fitopatógenos para várias fruteiras, entretanto, é altamente suscetível ao nematoide da goiabeira, M.enterolobii, e por isso deve-se evitar o seu plantio em áreas com essa praga.

As mucunas (Mucuna spp.) também são excelentes opções para uso em pré-plantio, ao plantio das mudas, por suprimirem grande número de espécies de fitonematoides do gênero Meloidogyne. No entanto, em solo infestado com M. xenoplax, deve ser utilizada em rotação com outras espécies, por reproduzir esses nematoide (tabela 5).

As leguminosas tropicais forrageiras Macrotyloma axillare cv. Java e Stylosanthes capitata cv. Campo Grande são opções de uso em áreas infestadas com M. javanica, antes do plantio das

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mudas de videira, haja vista que alguns porta-enxertos e cultivares (pé-franco) são suscetíveis a essa espécie. No entanto, o feijão–caupi (Vigna unguiculata), apesar de muito usado com cobertura verde em regiões tropicais, é suscetível a Meloidogyne spp. e P. brachyurus; exceto a M. ethiopica,patógeno agressivo à videira.

Na supressão de fitonematoides do solo pelo cultivo de plantas más hospedeiras, é importante a intercalação entre plantas de famílias botânicas diferentes na rotação de culturas, incluindo, além das leguminosas, gramíneas como aveia, azevém, milheto, milho, sorgo, dentre outras. No entanto, à semelhança das leguminosas, é importante a consulta de um de técnico, pois existe especificida-de entre cultivares e resistência a fitonematoides (Carneiro et al., 1998; Asmus et al., 2005; Inomoto et al., 2006ab; Borges et al., 2010; Brida, 2012). Por exemplo, muitas cultivares de milho são más hospedeiras de M. javanica, M. arenaria e M. hapla, no entanto, multiplicam muito bem M. incognita e Pratylenchus spp. Da mesma forma, o tremoço (Lupinus luteus), o girassol (Helianthus annuus) e a ervilhaca-comum (Vica sativa) são culturas com maior suscetibilidade ao nematoide-das-galhas (Santos; Ruano, 1987), podendo limitar não só a produção, mas a sobrevivência das plantas, no caso específico de M. incognita em figueira e/ou M. enterolobii em goiabeira, por exemplo. Já as euforbiáceas, como a mamona, são plantas más hospedeiras de várias espécies de Meloidogyne(Santos et al., 2012). Além da escolha das espécies vegetais para rotação, também se deve levar em conta sua adaptabilidade às condições climáticas locais e o retorno econômico no contexto do fruticultor.

Para algumas interações fruteiras-nematoide, no entanto, subsídios ainda não se encontram dis-poníveis. Sob tal aspecto, por exemplo, o uso de leguminosas e gramíneas na redução de M.ornata, principal nematoide associado a problemas de replantio em campos infestados de mirtilo (Vaccinium sp.), ainda não foi devidamente estudado e publicado; afinal, é um problema nemato-lógico emergente. Subsídios para o provimento de estratégias culturais e químicas para o manejo desse parasita, certamente estão em desenvolvimento. Para X. americanum, outro nematoide im-portante para cultura do mirtilo, apesar de espécies de Brassica constituírem boas hospedeiras do nematoide, seu uso pela técnica da biofumigação tem reduzido consideravelmente os níveis popu-lacionais, constituindo-se alternativa viável de manejo (Zazada et al., 2010).

Apesar de algumas cultivares de morango serem suscetíveis ao nematoide das galhas, a maioria é resistente ou imune a diversas espécies de Meloidogyne e Pratylenchus. Dessa forma, muitas cultivares de morango podem ser usadas em rotação de culturas em áreas contaminadas por essas pragas.

O emprego de práticas de manejo para o controle de outros nematoides-praga como o nema-toide-adaga (Xiphinema spp.), o nematoide-dos-citros (T. semipenetrans) e os parasitas de folha (Aphelenchoides spp.) também são importantes para assegurar o bom desenvolvimento das plan-tas no pomar. Porém, as estratégias de controle baseiam-se principalmente na exclusão (plantio mudas livres de patógenos em local isento de fitonematoides) e no uso de material resistente ou tolerante às referidas pragas, uma vez que existe pouca informação relacionada ao uso de plantas má hospedeiras/antagonistas no controle desses nematoides.

O uso de coberturas verdes no manejo de fitonematoides em pomares já estabelecidos, embora mais difícil, pode, em certos casos, contribuir para a redução dos danos causados pelo(s) nema-toides(s)-praga, dependendo da suscetibilidade da cultura e do nível de infestação do solo. Nesse sentido, somam-se estratégias de manejo, integrando-se o uso de coberturas verdes, resíduos orgânicos, controle biológico e o uso de porta-enxerto tolerante, quando for o caso. Em pomar or-gânico de pessegueiro infestado com o nematoide anelado, cuja copa foi semeada com milheto,

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verificou-se o efeito antagônico dessa cultura sobre as populações do patógeno (Gomes et al., 2008). O cultivo de milheto, no verão, e de aveia, no inverno, associado à incorporação de torta de mamona, parece não só contribuir no manejo dessa praga, como também melhorar as condições do solo e qualidade dos frutos (Bernardo et al., 2014). No entanto, deve-se ter cuidado para evitar a competição das coberturas com o pessegueiro, bem como também evitar doses muito elevadas de tal resíduo, tendo em vista que podem favorecer a ocorrência de podridões de frutos.

Inúmeros benefícios do uso de coberturas verdes também podem contribuir para a melhoria de pomares de videira. Na África do Sul, essa prática em pomares de videira inclui muitas vantagens, como regulação da temperatura e redução da evapotranspiração e erosão do solo, aumento da matéria orgânica e supressão de plantas daninhas (Fourie et al., 2015). De acordo com Rahman e Somers (2005), a incorporação de resíduos de culturas, como a mostarda nas entrelinhas ou mesmo na linha de plantio, pode favorecer a redução das populações do nematoide das galhas M. javanicado vinhedo. Algumas leguminosas como a mucuna, e a crotalária, dentre outras plantas (Tabela 6), são relatadas como antagonistas à Meloidogyne spp., por conter ou liberarem substâncias tóxicas a tais fitoparasitas (Ferraz; Freitas, 2004). Porém, atenção especial deve ser dada a qual(s) espé-cie(s) vegetal (s) utilizar na área infestada, uma vez que culturas boas hospedeiras de nematoides podem dinamizar problemas causados por nematoides; como é o caso do uso de feijão-de-porco consorciado com videira sobre porta-enxerto suscetível a M. incognita (Somavilla et al., 2011).

Embora com poucos resultados práticos, recentemente, a utilização de agentes biocontroladores tem demonstrado potencial no manejo d de M. incognita, M. xenoplax e X. index em videira em pesse-gueiro, figueira e videira, respectivamente (Aballay et al., 2011; Mota, 2012; Wille, 2013). No entanto, a falta de produtos biológicos com registro de uso no MAPA, para fruteiras, ainda é uma realidade. Outro aspecto a ser abordado refere-se à disseminação dos fitonematoides no pomar. Dessa forma, a realização de práticas de contenção desses fitoparasitas para evitar a sua distribuição para áreas não contaminadas, é de elevada importância. Gomes et al. (2014), avaliando a dinâmica populacio-nal do nematoide anelado em pomar de pessegueiro instalado em terreno ondulado, verificou que à medida que o declive do solo aumentava do ponto mais alto para o mais baixo, verificaram que o número de nematoides do solo também aumentava. Considerando-se esses resultados, torna-se evidente a necessidade da construção de curvas de níveis em áreas com declividade acentuada, tanto para evitar o arraste e deposição de organismos fitoparasitas dentro de uma mesma gleba cultivada, como também para isolar viveiros de áreas contaminadas com esses patógenos.

Práticas agrícolas como calagem, adubação equilibrada, poda conduzida tardiamente, e controle de outras pragas, parecem também refletir na tolerância da planta aos nematoides. Exemplos da implementação dessas medidas podem contribuir para o aumento da longevidade e sobrevivência das plantas no pomar, como é o caso da interação entre M. incognita e a figueira e a ocorrência da síndrome PTSL em pessegueiro/ameixeira, associada a M. xenoplax. Porém, o sucesso desse manejo está na dependência da ocorrência e nível populacional dos nematoides, do estado das plantas e das condições edafoclimáticas do local (Campos, 1997; Gomes et al., 2005).

Considerando-se a diversidade de fatores envolvidos no manejo de fitonematoides, o controle satis-fatório raramente é alcançado por uma única medida. Assim, é desejável a integração de diferentes estratégias, como resistência genética, controle biológico, rotação de culturas com espécies vege-tais más hospedeiras e/ ou antagonistas de nematoides, podendo, assim, ao longo do tempo, ser reestabelecido o equilíbrio das populações do patógeno no solo e contribuir para a melhoria dos diferentes agrossistemas, em um programa de manejo de fitonematoides.

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Tabela 1. Leguminosas e seu potencial em rotação de culturas como plantas de coberturas no controle de fitonematoides.

Espécie de nematoide Leguminosa Referência

Meloidogyne javanica Cajanus cajan (cv. IAPAR 43)12 Araújo Filho 2, 2008; Miamoto et al., 2016

M. javanica Crotalaria spectabilis1 Miamoto et al., 2016

M. javanica Crotalaria juncea (cv. IAC-KR1)1 Miamoto et al., 2016

M. javanica Crotalaria ochroleuca1 Miamoto et al., 2016

M. javanica Mucuna deeringiana1 Miamoto et al., 2016

M. javanica Macrotyloma axillare (cv. Java)1 Miamoto et al., 2016

M. javanica Stylosanthes capitata (cv. Campo Grande)1 Miamoto et al., 2016

M. javanica Mucuna aterrima1 Inomoto et al. 2006b

M. javanica Crotalaria breviflora1 Inomoto et al. 2006b

M. javanica Vigna unguiculata2*,1 Goulart et al., 2004

M. javanica Canavalia ensiformis2 Carneiro et al., 1998

M. ethiopica Crotalaria grantiana1 Lima, 2008

M. ethiopica Crotalaria apioclice1 Lima, 2008

M. ethiopica Crotalaria spectabilis1 Lima, 2008

M. ethiopica Vigna unguiculata1 Lima, 2008

M. ethiopica Cajanus cajan (cv. Iapar 43)1 Lima, 2008

M. ethiopica Mucuna deeringiana1 Lima, 2008

M. enterolobii Mucuna aterrima1 Rosa et al., 2015

M. enterolobii Canavalia ensiformis2 Scherer, 2009

M. enterolobii Mucuna cinereum1 Rosa et al., 2015

M. enterolobii Dolichos lab-lab1 Rosa et al., 2015

M. enterolobii Mucuna deeringiana1 Rosa et al., 2015

M. enterolobii Cajanus cajan (cv. Iapar 43)2 Rosa et al., 2015

M. enterolobii Crotalaria spectabilis1 Rosa et al., 2015

M. enterolobii Crotalaria breviflora1 Rosa et al., 2015

M. enterolobii Crotalaria mucronata1 Rosa et al., 2015

M. enterolobii Crotalaria ochroleuca1 Rosa et al., 2015

M. enterolobii Crotalaria juncea1 Rosa et al., 2015

M. enterolobii Vigna unguiculata2 Silva e Silva, 2009

M. incognita Crotalaria juncea1 Carneiro et al., 1998

M. incognita Crotalaria spectabilis1 Carneiro et al., 1998

M. incognita Mucuna deeringiana1 Carneiro et al., 1998

M. incognita R.1 Vigna unguiculata1,2 Silva et al., 2007

M. incognita Canavalia ensiformis2 Carneiro et al., 1998

Mesocriconema xenoplax Canavalia ensiformis1 Carneiro et al., 1998

M. xenoplax Crotalaria juncea2 Carneiro et al., 1998

M. xenoplax Crotalaria spectabilis2 Carneiro et al., 1998

M. xenoplax Mucuna deeringiana (cv. Anã)2 Gomes et al., 2010

Pratylenchus brachyurus Crotalaria spectabilis1 Inomoto et al., 2006b

P. brachyurus Crotalaria breviflora1 Inomoto et al., 2006b

P. brachyurus Cajanus cajan (cv. IAPAR 43)1 Inomoto et al., 2006b

P. brachyurus Vigna unguiculata2 Siqueira; Inomoto, 2006

P. zeae Crotalaria juncea1 Sundaraj e Metha, 1990

P. zeae Cajanus cajan1 Araújo Filho, 20081Espécie vegetal má hospedeira; e boa hospedeira2 do nematoide.

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Tabela 2. Espécies vegetais e seu efeito antagonista a fitonematoides (Adaptado de Ferraz e Freitas, 2004).

Espécie de nematoide Leguminosa Referência

Meloidogyne incognita Acacia auriculiformis Babu et al., 1992

M. incognita Crotalaria spectabilis Fassuliotis; Skucas, 1969

M. incognita Derris sp. Birch et al., 1992; 1993

M. incognita Lonchocarpus spp. Birch et al., 1992; 1993

M incognita Mucuna aterrima Barbosa et al., 1999; Nogueira et al., 1996

M javanica Derris sp. Birch et al., 1992; 1993

M. javanica Lonchocarpus spp. Birch et al., 1992; 1993

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