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USO DE REA NAS UNIVERSIDADES CORPORATIVAS DO SERPRO, CAIXA E CORREIOS: oportunidade para a educação no Brasil 1 Denise Paulsen Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso Intensivo de Pós-Graduação em Administração Pública (CIPAD – 8) Pós-Graduação lato sensu, Nível de Especialização Programa FGV Management Brasília, março de 2014. 1Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional .

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Page 1: Uso de rea nas universidades corporativas do serpro caixa e correios   oportunidade para a educação no brasil

USO DE REA NAS UNIVERSIDADES CORPORATIVAS DO SERPRO, CAIXA

E CORREIOS: oportunidade para a educação no Brasil1

Denise Paulsen

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso Intensivo de Pós-Graduação em Administração Pública (CIPAD – 8)

Pós-Graduação lato sensu, Nível de Especialização Programa FGV Management

Brasília, março de 2014.

1Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.

Page 2: Uso de rea nas universidades corporativas do serpro caixa e correios   oportunidade para a educação no brasil

“No mundo em que o conteúdo é abundante e está

disponível, ganha peso a capacidade de mediar,

moderar e organizar. A ferramenta de busca se

torna quase tão importante como quem produz, o DJ

se torna quase tão importante quanto o músico, e

quem for capaz de combinar elementos e fazer a

curadoria será fundamental.”

José Marcelo Zacchi

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Resumo

Para enfrentar as mudanças do mundo contemporâneo, as corporaçõesprocuram garantir, através da educação continuada de seus empregados, aatualização constante e o estímulo à inovação e criatividade que faça frenteas mudanças tecnológicas. Ao mesmo tempo, identificam-se mundialmenteiniciativas que buscam fortalecer a transparência como a Open GovernmentPartnership e Open Acess, relacionada à liberação de artigos científicos.Neste contexto, surgem os movimento pela educação aberta e pelosRecursos Educacionais Abertos – REA. Os recursos educacionais abertospodem ser identificados a partir da permissão para reutilizar, revisar,remixar e redistribuir. Este estudo analisa os portais das universidadescorporativas do Serpro, Caixa e Correios, a fim de identificar se osconteúdos são REA. Após a análise, concluiu-se que conteúdos produzidospelas respectivas organizações não podem ser identificados comoRecursos Educacionais Abertos. Por fim, o estudo aponta que, com relaçãoàs universidades corporativas estudadas, poderia se intensificar omovimento para a adoção de REA enfrentando as barreiras políticas,técnicas, jurídicas e da cultura organizacional, de forma a potencializar osrecursos disponíveis para a capacitação e aperfeiçoamento dosempregados, servidores públicos e de toda a população brasileira.

Palavras-chave: Educação aberta; recursos educacionais abertos; REA;educação corporativa; Serpro; Uniserpro; Caixa, Correios.

Page 4: Uso de rea nas universidades corporativas do serpro caixa e correios   oportunidade para a educação no brasil

Lista de Ilustrações

Figura 1: Logomarca do movimento dos Recursos Educacionais Abertos,da UNESCO.

Figura 2: Níveis e formas de reutilização de REAs.Figura 3: Exemplos de uso de licenças Creative Commons.Quadro 1: Dispêndios com Pessoal e Encargos Sociais – Caixa, ECT e

Serpro (dados extraídos pela autora).Quadro 2: Dispêndios da Caixa, ECT e Serpro com programas de

qualificação (elaborado pela autora).Quadro 3: PNQ – número de trabalhadores qualificados e investimentos

(período 1995-2004).

Page 5: Uso de rea nas universidades corporativas do serpro caixa e correios   oportunidade para a educação no brasil

Lista de AbreviaturasBDTD Biblioteca Digital de Teses e Dissertações

by-nc Uso Não Comercial (Licença CC)

by-nc-nd Uso Não Comercial – Proibição de Realização de ObrasDerivadas (Licença CC)

by-nc-sa Uso Não Comercial – Partilha nos Termos da Mesma Licença CC

by-nd Proibição de realização de obras derivadas (Licença CC)

by-sa Partilhe nos Termos da Mesma Licença CC

Caixa ou CEF Caixa Econômica Federal

CC Creative Commons

COL Commonwealth of LearningCorreios ou ECT

Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos

DEST Departamento de Coordenação e Governança da Empresas Estatais

EAD Educação a Distância

ENAP Escola Nacional de Administração Pública

e-PING Padrões de Interoperabilidade de Governo Eletrônico

ESAF Escola de Administração Fazendária

MC Ministério das Comunicações

MF Ministério da Fazenda

MPOG Ministério do Planejamento e Gestão

MTE Ministério do Trabalho e Emprego

OA Open Acess

OCDEOrganização para a Cooperação e DesenvolvimentoEconômico

OGP Open Government Partnership

OPAL Open Educational Quality Initiative

PDG Programa de Dispêndios Globais

PLANFOR Plano Nacional de Qualificação Social e Profissional

PlanSeQ Planos Setoriais de Qualificação

PlanTeQ Planos de Qualificação Territorial

PNE Plano Nacional de Educação

PNQ Plano Nacional de Qualificação

ProEsQs Projetos Especiais de Qualificação

PSID Programa Serpro de Inclusão Digital

REA Recursos Educacionais Abertos

RFB, Receita Federal do Brasil

Sebrae Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

Serpro Serviço Federal de Processamento de Dados

STN Secretaria do Tesouro Nacional

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura

Uniserpro Universidade Corporativa Serpro

Page 6: Uso de rea nas universidades corporativas do serpro caixa e correios   oportunidade para a educação no brasil

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO p. 9

1.1 Contextualização 9

1.2 Objetivo 14

1.3 Relevância do Estudo 14

1.4 Metodologia 16

2 REFERENCIAL TEÓRICO 16

3 ANÁLISE DOS SÍTIOS DAS UNIVERSIDADESCORPORATIVAS

24

3.1 Uniserpro 24

3.2 Universidade Caixa 25

3.4 Universidade Correios 26

3.5 Portal Unifica 27

4 CONCLUSÃO 27

REFERÊNCIAS

Page 7: Uso de rea nas universidades corporativas do serpro caixa e correios   oportunidade para a educação no brasil

1. INTRODUÇÃO

1.1 Contextualização

As organizações do mundo do trabalho enfrentam o desafio de

desenvolver suas competências corporativas, assim como as competências

administrativas e de seus empregados (competências individuais).

Para construir uma organização que aprende (SENGE, 2010), é

necessário:

a. Estimular a motivação individual para o crescimento e

aprendizagem pessoal;

b. Mudar os modelos mentais que podem obstruir as organizações,

mantendo práticas ultrapassadas e impedindo o aprendizado

organizacional;

c. Criar visões compartilhadas, que estimulem o desenvolvimento

dos indivíduos e suas visões pessoais;

d. Favorecer a aprendizagem em equipe, promovendo a elaboração

de uma lógica comum, onde o resultado das habilidades do grupo

é mais significativo do que as individualidades;

e. Reforçar o pensamento sistêmico para compreender as forças e

inter-relações que modelam o os processos no mundo.

Na sociedade contemporânea, ou sociedade em rede (CASTELLS,

1999), calcada nas tecnologias de comunicação e informação, as organizações

buscam suprir suas necessidades de desenvolvimento de competências

promovendo elas próprias a formação profissional que atenda às necessidades

do seu negócio.

Pode-se dizer que as corporações, não satisfeitas com os resultados

produzidos pelo ensino tradicional, criaram um modelo sob medida, abrigado

dentro do ambiente organizacional, que são as universidades corporativas.

Page 8: Uso de rea nas universidades corporativas do serpro caixa e correios   oportunidade para a educação no brasil

As universidades corporativas são consideradas estratégicas para o

desenvolvimento e aprendizado organizacional dos empregados, contribuindo

para o fortalecimento da cultura organizacional, com foco no escopo

estratégico da organização. Sua atuação abarca tanto o público interno como o

público externo (clientes, fornecedores e comunidade), visando promover

melhores condições para a empresa atingir seus objetivos estratégicos.

Comparada ao modelo tradicional, as universidades corporativas

apresentam as seguintes características (GOULART, 2005, p. 42):

a. Cursos que atendem as necessidades específicas da

organização;

b. Aprendizagem por meio de atividades práticas, estudos de caso,

jogos, etc.;

c. Aprendizagem contínua;

d. Vinculação do conhecimento, estruturado ou não, às

necessidades estratégicas da organização;

e. Foco nos valores e crenças da organização.

As organizações, tanto privadas quanto públicas, estruturam-se com

foco no desenvolvimento integral das pessoas, considerando o investimento

em formação e capacitação dos empregados como condição para que se

realizem os objetivos corporativos. As corporações procuram garantir, através

da educação continuada de seus empregados, a atualização constante e o

estímulo à inovação e criatividade que faça frente as mudanças tecnológicas

que alteram os padrões de competitividade.

A sobrevivência de uma organização depende de sua capacidade de

adaptar-se às mudanças do ambiente – sociais, econômicas, tecnológicas e

culturais – assim como da possibilidade de tornar-se uma organização que

aprende.

A necessidade de aprimoramento contínuo das organizações depende

de uma infraestrutura de informação qualificada. A capacidade de adaptação e

inovação condizentes com a rapidez das mudanças ambientais, requer uma

Page 9: Uso de rea nas universidades corporativas do serpro caixa e correios   oportunidade para a educação no brasil

inteligência organizacional estruturada tanto em tecnologias de informação e

comunicação, como em conteúdos informacionais – bases de dados, produtos

e serviços. A inteligência competitiva é “[...] um processo sistemático que

transforma pedaços esparsos de dados em conhecimento estratégico”.

(TARAPANOFF, 2001, p. 45)

Neste contexto, as universidades corporativas assumem um relevante

papel no processo de gestão da informação e do conhecimento nas

organizações.

Tradicionalmente, os ativos de informação e conhecimento das

organizações permanecem confinados em suas estruturas, de forma

condizente com modelos de negócio igualmente tradicionais. No entanto,

pergunta-se: o mesmo deve ocorrer nas empresas públicas? Será que o país

poderia potencializar as suas capacidades se houvesse um maior

compartilhamento de informações e conhecimento entre suas organizações?

De acordo com a e-PING – Padrões de Interoperabilidade de GovernoEletrônico,

“políticas e especificações claramente definidas parainteroperabilidade e gerenciamento de informações são fundamentaispara propiciar a conexão do governo, tanto no âmbito interno como nocontato com a sociedade e, em maior nível de abrangência, com oresto do mundo – outros governos e empresas atuantes no mercadomundial”. (E-PING, 2014, p.7)

Fazem parte da política da e-PING as recomendações para adoção de

padrões abertos nas especificações técnicas e a priorização de uso de

software livre. De forma transversal, encontra-se a recomendação para a

disponibilização de dados em formato aberto, ou seja, “[..] dados que podem

ser livremente usados, reutilizados e redistribuídos por qualquer pessoa –

sujeitos, no máximo, à exigência de atribuição da fonte e compartilhamento

pelas mesmas regras”2. (OPEN DATA HANDBOOK, 2012)

Seguindo o mesmo princípio, o Plano Nacional de Educação – PNE,

ainda em tramitação no Congresso Nacional (BRASIL, 2010), recebeu as

2 Open Data Handbook, é uma iniciativa ligada à Open Knowledge Foundation - OKF, movimento global para abrir o conhecimento no mundo.

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seguintes propostas, que visam contribuir para fomentar a educação de

qualidade no Brasil:

a. “Selecionar, certificar e divulgar tecnologias educacionais paraeducação infantil, o ensino fundamental e ensino médio, asseguradaa diversidade de métodos e propostas pedagógicas, com preferênciapara software livre e recursos educacionais abertos, bem comoacompanhamento dos resultados do sistema de ensino que foremaplicadas;

b. Implementar o desenvolvimento de tecnologias educacionais, ede inovação das práticas pedagógicas nos sistemas de ensino,inclusive a utilização de recursos educacionais abertos, queassegurem a melhoria do fluxo escolar e a aprendizagem de alunos.”(ROSSINI; GONZALEZ, 2012, p. 58)

Nesta mesma linha, cabe mencionar a sansão da Lei de Acesso a

Informação Pública (BRASIL, 2011), que regula o acesso a dados e

informações detidas pelo governo, e que posiciona o Brasil como membro co-

líder da Parceria de Governo Aberto, ou Open Government Partnership (OGP)

(BRASIL, 2011).

O Brasil também é líder no movimento Open Acess (OA), que promove o

acesso aberto à produção científica, representado pela Biblioteca Digital de

Teses e Dissertações (BDTD) – uma biblioteca digital nacional de teses e

dissertações eletrônicas que integra os sistemas de informação de teses e

dissertações existentes nas instituições de ensino e pesquisa brasileiras.

Estas iniciativas compõe um cenário favorável para o livre acesso ao

conhecimento, que pode ser identificado a partir da permissão para executar as

seguintes ações, no que diz respeito à produção de conteúdos:

1. “Reutilizar: o direito de utilizar o conteúdo em sua formaoriginal ou modificada (por exemplo, fazer uma cópia do conteúdo).

2. Revisar: o direito de adaptar, ajustar, modificar ou alterar opróprio conteúdo (por exemplo, traduzir o conteúdo para outroidioma).

3. Remixar: o direito de combinar o conteúdo original ou revisadocom outro conteúdo para criar algo novo.

4. Redistribuir: o direito de compartilhar cópias do conteúdooriginal, as revisões ou as “misturas” com outros (por exemplo, daruma cópia do conteúdo a um colega).” (BARBOSA; ARIMOTO, p.19)

Page 11: Uso de rea nas universidades corporativas do serpro caixa e correios   oportunidade para a educação no brasil

O presente estudo analisará os portais das universidades corporativas

das empresas públicas Serpro, Caixa e Correios, que recentemente se uniram

na criação do portal Unifica, para o compartilhamento de conteúdos dos cursos

já utilizados na capacitação de seus empregados. Também participa da

iniciativa o Sebrae, que é uma entidade privada sem fins lucrativos e que não

fará parte do escopo deste trabalho.

A seguir, um breve resumo das referidas organizações.

1.1.1 Serpro

O Serpro, criado no dia 1º de dezembro de 1964, é uma empresa

pública vinculada ao Ministério da Fazenda, com sede em Brasília e presença

em 11 capitais. O negócio da empresa é a prestação de serviços em

Tecnologia da Informação e Comunicações para o setor público, contando com

mais de 11 mil empregados.

A Universidade do Serpro – Uniserpro, foi criada em 2003 para reunir os

programas de capacitação da empresa. Por meio da UniSerpro Virtual,

disponibiliza serviços educacionais na modalidade a distância para os Clientes

Receita Federal do Brasil – RFB, Secretaria do Tesouro Nacional – STN,

Ministério do Planejamento e Gestão – MPOG, Escola de Administração

Fazendária – ESAF, Escola Nacional de Administração Pública – ENAP, entre

outros.

1.1.2 CAIXA

A Caixa Econômica Federal – CEF é uma instituição financeira sob a

forma de empresa pública, criada em 12 de agosto de 1969, vinculada ao MF.

A CAIXA possui mais de 120 mil colaboradores, entre empregados

concursados, prestadores de serviço, jovens aprendizes e estagiários. Deste

total, cerca de 85 mil empregados fazem parte do quadro permanente da

empresa.

A Universidade CAIXA, foi criada em 1996, dispõe de um Campi Virtual

e estruturas físicas em São Paulo e Brasília, para as ações educacionais com

metodologia de sala de aula.

Page 12: Uso de rea nas universidades corporativas do serpro caixa e correios   oportunidade para a educação no brasil

1.1.3 CORREIOS

A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT, criada em 20 de

março de 1969, é uma empresa pública, vinculada ao Ministério das

Comunicações. A infraestrutura, presente na totalidade dos municípios

brasileiros, dá acesso aos serviços postais e a serviços financeiros. A empresa

possui 125.481 mil funcionários, distribuídos nos 27 estados do Brasil.

Em dezembro de 2001, foi criada a Universidade Corporativa dos

Correios, com o objetivo de aglutinar as ações educacionais dentro da

empresa.

1.2.Objetivo

Esta pesquisa tem por objetivo verificar se os materiais de ensino

disponibilizados nos sítios das universidades corporativas do Serpro, Caixa e

Correios podem ser considerados recursos educacionais abertos.

1.3.Relevância do Estudo

De acordo com dados do Programa de Dispêndios Globais – PDG

2009/2012, publicado pelo Departamento de Coordenação e Governança da

Empresas Estatais – DEST, órgão de assessoria direta do MPOG, neste

período, as despesas com pessoal e encargos sociais das empresas

analisadas, distribuem-se da seguinte forma:

PDG 2009/2012 – Pessoal e Encargos Sociais*

CAIXA 9.499.673.792

CORREIOS 6.493.747,48

SERPRO 1.373.782,208*Valores em milhões de R$

Quadro 1: Dispêndios com Pessoal e Encargos Sociais – Caixa, ECT e Serpro (dadosextraídos pela autora)Fonte: Programa de Dispêndios Globais 2009/2012 (MPOG, [2012])

Os gastos com programas de qualificação, em períodos distintos, foram:

Page 13: Uso de rea nas universidades corporativas do serpro caixa e correios   oportunidade para a educação no brasil

Período Investimento* Empregados

CAIXA 2011 73,8 120 mil

CORREIOS Abr. 2012/ abr.2013 29,5 126 mil

SERPRO 2009/2010 (até out.) 6,21 12 mil *Valores em milhões de R$

Quadro 2: Dispêndios da Caixa, Correios e Serpro com programas de qualificação (elaboradopela autora)Fonte: CAIXA, 2011; CORREIOS, 2013; SERPRO,2011)

Os dados acima, embora genéricos, ilustram a grandiosidade da

responsabilidade das universidades corporativas das respectivas empresas,

essenciais para a sociedade brasileira, como se depreende da missão

estabelecida para cada uma delas:

CAIXA

Atuar na promoção da cidadania e do desenvolvimento sustentável do

País, como instituição financeira, agente de políticas públicas e parceira

estratégica do Estado brasileiro.

CORREIOS

Fornecer soluções acessíveis e confiáveis para conectar pessoas,

instituições e negócios, no Brasil e no mundo.

Serpro

Prover e integrar soluções em Tecnologia da Informação e

Comunicações para o êxito da gestão e da governança do Estado, em

benefício da sociedade.

É possível inferir, a partir do que está posto, a função social das

empresas, que vai além de suas naturezas jurídicas. Muito embora atuem em

ramos diferentes, pode-se afirmar que são organizações com uso intensivo de

inteligência suportada por uma infraestrutura de comunicação e informação

capaz de gerar conteúdos relevantes.

Page 14: Uso de rea nas universidades corporativas do serpro caixa e correios   oportunidade para a educação no brasil

1.4.Metodologia

A pesquisa define-se como descritiva, pois tem como base a análise de

dados e informações existentes nos sítios dos Correios, da Caixa e do Serpro.

Optou-se pela pesquisa documental e bibliográfica, com a utilização de

documentos eletrônicos e publicações sobre o tema.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Está em curso um movimento mundial pela educação aberta que se ba-

seia em recursos educacionais abertos, em tecnologias abertas que facilitam a

aprendizagem colaborativa e flexível e com a partilha de práticas de ensino en-

tre educadores. (DECLARAÇÃO DA CIDADE DO CABO, 2007)

Figura 1: logomarca do movimento dos Recursos Educacionais Abertos, da UNESCO. Simboli-

zando: educação humana, liberdade, progresso, não exclusão, abertura, colaboração, cresci-

mento, difusão.

Fonte: http://oer.kmi.open.ac.uk/wp-content/uploads/2012/06/logo.jpg

“Esse movimento emergente de educação combina a tradição de par-tilha de boas ideias com colegas educadores e da cultura da Internet,marcada pela colaboração e interatividade. Esta metodologia de edu-cação é construída sobre a crença de que todos devem ter a liberda-de de usar, personalizar, melhorar e redistribuir os recursos educacio-nais, sem restrições. Educadores, estudantes e outras pessoas quepartilham esta crença estão se unindo em um esforço mundial paratornar a educação mais acessível e mais eficaz.” (DECLARAÇÃO DACIDADE DO CABO, 2007)

Segundo SANTOS (2012), a educação aberta pode ser entendida a

partir das seguintes práticas e definições:

• “liberdade do estudante decidir onde estudar, podendo ser desua casa, do seu trabalho ou até mesmo da própria instituição deensino e/ou polos de aprendizagem;

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• possibilidade de estudo por módulos, acúmulo de créditos ouqualquer outra forma que permita ao estudante aprender de formacompatível com o ritmo necessário para seu estilo de vida;

• utilização da autoinstrução, com reconhecimento formal ouinformal da aprendizagem por meio de certificação opcional;

• isenção de taxas de matrícula, mensalidades e outros custosque seriam considerados uma barreira ao acesso à educação formal;

• isenção de vestibulares e da necessidade de apresentarqualificações prévias, que poderiam constituir uma barreira de acessoà educação formal;

• acessibilidade dos cursos para alunos portadores de algumadeficiência física, bem como dos que têm alguma desvantagemsocial;

• provisão de recursos educacionais abertos, utilizados tanto naeducação formal quanto na informal.” (SANTOS, 2012, p. 72)

Neste contexto, consideram-se tecnologias abertas os softwares de

código aberto usados para fins educacionais e os ambientes abertos, que são

as configurações de ensino-aprendizagem que incluem os novos recursos

tecnológicos abertos.

Segundo a Open Educational Quality Initiative – OPAL, práticas abertas

são “práticas ao redor da criação, uso, e gestão de recursos educacionais

abertos com vistas à inovação e melhora da qualidade da educação” (OPAL,

2011).

Considera-se, aqui, que uma cultura de compartilhamento e

transparência deva ser fomentada como parte de um ciclo virtuoso. As práticas

pedagógicas abertas postuladas pela OPAL podem ser consideram de nível

avançado quando envolverem práticas sociais (coach e mentoria, por

exemplo), co-criação (criação colaborativa) e compartilhamento, bem como

objetivos e métodos altamente regulados pelos alunos, em oposição ao ensino

com foco na transferência de conhecimento. (OPAL, 2011).

O termo Recurso Educacional Aberto, ou REA, foi cunhado no Fórum

sobre Softwares Didáticos Abertos, promovido pela UNESCO, em 2002, e

designa

"os materiais de ensino, aprendizagem e investigação em quaisquersuportes, digitais ou outros, que se situem no domínio público ou quetenham sido divulgados sob licença aberta que permite acesso, uso,

Page 16: Uso de rea nas universidades corporativas do serpro caixa e correios   oportunidade para a educação no brasil

adaptação e redistribuição gratuitos por terceiros, mediante nenhumarestrição ou poucas restrições. O licenciamento aberto é construídono âmbito da estrutura existente dos direitos de propriedadeintelectual, tais como se encontram definidos por convençõesinternacionais pertinentes, e respeita a autoria da obra".(DECLARAÇÃO DE PARIS, 2012)

Posteriormente, este conceito foi revisado pela Unesco/COL em

colaboração da Comunidade REA-Brasil, em 2011, recebendo a seguinte

redação:

“Recursos Educacionais Abertos são materiais de ensino,aprendizado e pesquisa em qualquer suporte ou mídia, que estão sobdomínio público, ou estão licenciados de maneira aberta, permitindoque sejam utilizados ou adaptados por terceiros. O uso de formatostécnicos abertos facilita o acesso e o reuso potencial dos recursospublicados digitalmente. Recursos Educacionais Abertos podemincluir cursos completos, partes de cursos, módulos, livros didáticos,artigos de pesquisa, vídeos, testes, software, e qualquer outraferramenta, material ou técnica que possa apoiar o acesso aoconhecimento.” (REA BRASIL)

A definição adotada pela Fundação William e Flora Hewlett, organização

precursora no apoio ao movimento REA, seguindo os mesmos princípios,

acrescenta que "REA são recursos com o contexto, com um propósito, com

estruturas pedagógicas. Eles não são peças de informação autônomas."

(ROSSINI, 2010)

A filosofia do movimento REA, posiciona os recursos educacionais

abertos na categoria de bens comuns e públicos, resgatando o espírito original

do conhecimento, de cunho social e coletivo.

De acordo com as quatro as liberdades mínimas, ou permissões,

concedidas aos usuários dos REA (review, reuse, remix e redistribute), veja

abaixo os níveis e formas de reutilização:

Page 17: Uso de rea nas universidades corporativas do serpro caixa e correios   oportunidade para a educação no brasil

Figura 2: Níveis e formas de reutilização de REAsFonte: OKADA, 2011.

Sob estes aspectos, os recursos educacionais abertos podem ser vistos

como peças de um quebra-cabeça, ou um Tangram3 infinito, que contribuem

para configurações mais flexíveis de ensino e aprendizado e para a ampliação

do acesso à cultura e a educação na sociedade.

A partir da literatura disponível, é possível elencar algumas razões

pelas quais os REA são considerados relevantes para a educação. Os REA

(adaptado de ROSSINI, 2010):

• Facilitam o acesso universal ao conhecimento;

• Garantem a liberdade e a criatividade de produção;

• Promovem práticas de colaboração, participação e compartilhamen-

to;

• Contribuem para o melhor aproveitamento dos recursos públicos in -

vestidos em material;

3 Tangram: quebra-cabeças chinês, composto de 7 peças, com o qual é possível montar mais de 1.700 combinações.

Page 18: Uso de rea nas universidades corporativas do serpro caixa e correios   oportunidade para a educação no brasil

• Contribuem para a qualificação do conteúdo existente, permitindo

que sejam apropriados e adaptados às realidades locais, bem como

com a produção de conteúdos regionais;

• Contribuem para uma educação acessível, que contemple distintas

formas de aprendizagem;

• Contribuem para o compartilhamento de recursos de aprendizagem

entre instituições, acadêmicos e nas comunidades de prática;

• Contribuem para fomentar o desenvolvimento e a utilização de ferra-

mentas, padrões técnicos abertos e processos de apoio à liberação

de recursos abertos que poderão melhorar a produtividade e contri -

buir com a inovação.

Do ponto de vista das instituições educacionais públicas, os projetos de

REA, justificam-se porque as instituições:

• Buscam maximizar os recursos destinados ao desenvolvimentode recursos educacionais;

• Visam a melhoria da qualidade dos recursos educacionais, aomesmo tempo em que se beneficiam da redução de custos resultantedo compartilhamento e reutilização dos REA.

• O compartilhamento dos REA pode acelerar o desenvolvimentode novos recursos de aprendizagem, promovendo a qualificaçãointerna, inovação e reutilização, ao mesmo tempo em que ajuda ainstituição a manter bons registros dos materiais e seu uso interno eexterno4. (ROSSINI, 2010)

Por fim, cabe sinalizar a relevância de se compreender a legislação que

rege os direitos autorais e sua relação com os REA, considerando que esta é

uma questão central para os recursos educacionais e condicionam a sua

interoperabilidade técnica. Para os REA, a interoperabilidade técnica diz

respeito a facilidade, em maior ou menor grau, de uso e recombinação dos

recursos e a comunicação entre as plataformas (hardware, software).

No caso da lei brasileira dos direitos autorais, os direitos sobre

conteúdos, materiais ou recursos são reservados ao autor (direitos

patrimoniais). A regra impede a livre utilização das obras sem o consentimento

4 Estas ações contribuem para a promoção da gestão do conhecimento (nota da autora).

Page 19: Uso de rea nas universidades corporativas do serpro caixa e correios   oportunidade para a educação no brasil

explícito do autor, admitidas as exceções detalhadas no seu art. 46. (BRASIL,

1998)

Para que os direitos autorais dos recursos educacionais sejam cedidos

ou licenciados de forma aberta, é necessário que o autor adote licenças

abertas como as do Creative Commons – CC. A adoção de licenças abertas

significa que o autor ou detentor dos direitos autorais optou por conceder os

direitos de cópia, reprodução, redistribuição, utilização da obra original para

criação de obras derivadas, recombinação, ou outros. Toda a obra com

licença aberta será considerada de acesso aberto, ou seja, um REA, em

acordo com as liberdades mínimas já expostas anteriormente. Sob estas

condições, o REA poderá ser usado livremente pela sociedade, respeitadas

as particularidades das licenças CC.

A figura abaixo demonstra as possibilidades de uso das licenças CC,

da menos permissiva à mais permissiva (da mais aberta a menos aberta).

Figura 3: Exemplos de uso de licenças Creative CommonsFonte: http://creativecommons.org/examples

Page 20: Uso de rea nas universidades corporativas do serpro caixa e correios   oportunidade para a educação no brasil

São 7 as licenças disponíveis, segundo o CREATIVE COMMONS

(2014):

1) Declaração de Domínio Público (CCO)

Usando CC0, o autor renuncia a todos os direitos autorais e direitos

relativos a uma obra, na medida do possível, sob a lei vigente.

2) Atribuição (by)

Nos termos desta licença a utilização da obra é livre, podendo os

utilizadores fazer dela uso comercial ou criar obras derivadas a partir

da obra original. Essencial é, apenas, que seja dado o devido crédito

ao seu autor.

3) Atribuição – Partilhe nos Termos da Mesma Licença (by-sa)

Quando um autor opte pela concessão de tal licença pretenderá, não

só que lhe seja dado crédito pela criação da sua obra, como também

que as obras derivadas desta sejam licenciadas nos mesmos termos

em que o foi a sua própria obra.

4) Atribuição – Proibição de realização de obras derivadas (by-nd)

Esta licença permite a redistribuição, comercial ou não comercial,

desde que a sua obra seja utilizada sem alterações e na integra. É

também essencial que seja dado o devido crédito ao autor da obra

original.

5) Atribuição – Uso Não Comercial (by-nc)

De acordo com esta licença o autor permite uma utilização ampla da

sua obra, limitada, contudo, pela impossibilidade de se obter através

dessa utilização uma vantagem comercial. É também essencial que

seja dado o devido crédito ao autor da obra original.

6) Atribuição – Uso Não Comercial – Partilha nos Termos da

Mesma Licença (by-nc-sa)

Esta licença permite a redistribuição, comercial ou não comercial,

desde que a obra seja utilizada sem alterações e na integra. É

Page 21: Uso de rea nas universidades corporativas do serpro caixa e correios   oportunidade para a educação no brasil

também essencial que seja dado o devido crédito ao autor da obra

original.

7) Atribuição – Uso Não Comercial – Proibição de Realização de

Obras Derivadas (by-nc-nd)

Esta é a licença menos permissiva, permitindo apenas a

redistribuição. Mediante adoção desta licença, não só não é

permitido o uso comercial, como também ficam inviabilizadas as

obras derivadas.

3. ANÁLISE DOS SÍTIOS DAS UNIVERSIDADES CORPORATIVAS

3.1 UNISERPRO

O Programa de Capacitação e Desenvolvimento Corporativo do Serpro,

coordenado pela Uniserpro, contempla: Plano de Capacitação Tecnológica,

Plano de Capacitação Desenvolvimento Institucional, Programa de

Desenvolvimento Gerencial, Programa de Integração do Serpro e Plano de

Eventos Corporativos. Segundo o Balanço Social SERPRO 2009/2010, no

período registraram-se 39.965 participações.

Os cursos podem ser acessados por empregados ou a parceiros com os

quais a empresa mantém convênios. O portal oferece a opção de acesso para

visitantes. Os cursos abertos, oferecidos no portal da Escola Aberta de

Inclusão Sociodigital, estão disponíveis também na Uniserpro. Não há

indicação do uso de licenças abertas para o conteúdo utilizado na capacitação

dos usuários do portal.

A Uniserpro adotou o Moodle, que é desenvolvido sob a filosofia de

software livre, como ambiente virtual de aprendizagem para o oferecimento de

cursos a distancia, bem como para o apoio a cursos presenciais e

comunidades virtuais de aprendizagem.

A Uniserpro executa ações de inclusão digital em comunidades em

situação de vulnerabilidade social no Brasil e em países que recebem

Page 22: Uso de rea nas universidades corporativas do serpro caixa e correios   oportunidade para a educação no brasil

cooperação brasileira, através do Programa Serpro de Inclusão Digital – PSID,

que conta com 522 telecentros doados, sendo 12 no exterior. Por meio da

Escola Aberta de Inclusão Sociodigital, o PSID oferece cursos abertos online,

que podem ser utilizados livremente, nos termos da licença CC, por qualquer

órgão do governo brasileiro ou de países estrangeiros, bem como por qualquer

pessoa interessada em promover a disseminação do conhecimento.

A referência sobre o uso de licenças abertas foi encontrada na página

institucional do Serpro5. No sítio da Escola Aberta de Inclusão Sociodigital6, não

foi encontrada a indicação do uso de licenças abertas. A lista de cursos refere-

se a “cursos abertos”.

3.2 Universidade CAIXA

A Universidade CAIXA, foi criada em 1996, dispõe de um Campi Virtual

e estruturas físicas em São Paulo e Brasília, para as ações educacionais com

metodologia de sala de aula. As de atividades de ensino a distância são

oferecidas por de meio de cursos de e-learning no ambiente da intranet e da

internet.

Os cursos ofertados pela Universidade são voltados majoritariamente

para o público interno, sendo possibilitado o acesso aos usuários cadastrados

pelas instituições que possuem Acordo de Cooperação Técnico-Científica e

Cultural com a Universidade CAIXA. Alguns cursos são oferecidos

gratuitamente ao público em geral, de forma online ou offline, e podem ser

acessados na página de abertura da Universidade7. Não foi encontrada

menção ao uso de licenças abertas para os conteúdos.

Os Acordos de Cooperação Técnico-científica e Cultural entre a

Universidade CAIXA e organizações públicas ou privadas têm como objetivo

permuta de ações educacionais (Cursos, EAD, Palestras, Participações em

eventos), metodologias de ensino-aprendizagem, tecnologias e experiências

em Gestão de Conhecimento, Gestão de Competências, espaços de

capacitação físicos e virtuais, entre outras ações.

5 https://www.serpro.gov.br/conteudo-oserpro/estrutura/organograma/unise-universidade-corporativa-do-serpro

6 https://inclusao.serpro.gov.br/ 7 http://universidade.caixa.gov.br/

Page 23: Uso de rea nas universidades corporativas do serpro caixa e correios   oportunidade para a educação no brasil

O programa de qualificação da CAIXA envolve atividades e programas

de formação técnica, treinamento e desenvolvimento, bem como de orientação

sobre temas relacionados à cidadania e à responsabilidade socioambiental.

Em 2011, um total de 78.394 pessoas participaram de atividade de

treinamento (presencial ou a distância), estimando-se a realização de 165

horas de treinamento, em média, por pessoa, num total de 3,9 milhões de

horas de treinamentos implementados no período.

A Universidade CAIXA oferece cursos voltados às temáticas da

cidadania, da responsabilidade social e ambiental e dos direitos humanos. Em

2011, atividades desse tipo tiveram 95.705 participações, num total de 1,3

milhão de horas de atividades realizadas.

3.3 Universidade Correios

Em dezembro de 2001, foi criada a Universidade Corporativa dos

Correios8, com o objetivo de aglutinar as ações educacionais dentro da

Empresa. A Universidade registrou cerca de 6,5 milhões de horas de

treinamento no período de abril de 2012 à abril de 2013. Além disto, foram

distribuídas 3.200 bolsas de estudo para cursos de idiomas, graduação e pós-

graduação. Seu público-alvo abrange, além dos empregados, os terceirizados,

clientes, fornecedores, parceiros, reguladores e operadores postais,

organismos internacionais, e comunidade.

Os materiais de estudo providos pela Universidade referem-se aos

cursos que compõem as matrizes de movimentação de cargos nos Correios. O

acesso ao portal da Universidade requer permissão. Não foi encontrada

menção ao uso de licenças abertas para os conteúdos.

3.4 Portal Unifica

No dia 14 de março de 2012, foi lançado o portal Unifica, que reúne

conteúdos de quatro universidades corporativas. A iniciativa pretende contribuir

para evitar o desperdício de gastos e o insulamento das entidades e órgãos da

administração. A rede de universidades corporativas visa beneficiar os 200 mil

8 http://www.correios.com.br/sobreCorreios/educacaoCultura/universidadeCorreios/default.cfm/

Page 24: Uso de rea nas universidades corporativas do serpro caixa e correios   oportunidade para a educação no brasil

empregados da Caixa, ECT, Serpro e do Sebrae (que está fora do escopo

deste trabalho, pois trata-se de uma organização privada).

O portal dispõe de uma área restrita, para acesso do público interno das

organizações conveniadas, e uma área de acesso livre, que reúne os cursos

que já são ofertados ao público em geral através dos portais próprios. Não foi

encontrada menção ao uso de licenças abertas para os conteúdos.

4. CONCLUSÃO

De acordo com a análise realizada nos portais das universidades

corporativas do Serpro, CAIXA e Correios, e também do portal Unifica, os

conteúdos produzidos pelas respectivas organizações não são identificados

como Recursos Educacionais Abertos.

Mesmo para os cursos abertos oferecidos pelo Serpro, através da Escola

de Inclusão Sociodigital, embora haja menção sobre o uso de licenças CC, não

foi possível comprovar o tipo de licença atribuída. Da mesma forma, nos cursos

disponíveis de forma aberta no portal da Universidade Caixa, não existe

qualquer referência ao uso de licenças flexíveis.

Diante destas constatações, retomam-se as perguntas iniciais deste

trabalho:

Será que os ativos de informação e conhecimento produzidos nas

empresas e organizações públicas devem permanecer restritos? Será que o

país poderia potencializar as suas capacidades se houvesse um maior

compartilhamento de informações e conhecimento entre suas organizações e a

sociedade?

Em novembro de 2013, o projeto de lei “Affordable College Textbook Act

of 2013”, que propõe a redução dos custos com livros e materiais didáticos a

partir da adoção de Recursos Educacionais Abertos, foi apresentado no

Congresso Americano.

Page 25: Uso de rea nas universidades corporativas do serpro caixa e correios   oportunidade para a educação no brasil

Embora os Estados Unidos sejam considerados o berço da internet, esta

condição isolada não foi capaz produzir os avanços desejados na educação

daquele país até o momento. Para garantir a inovação, os americanos buscam

promover o acesso aos recursos educacionais abertos.

Como já foi visto, é preciso unir conteúdo, infraestrutura e boas práticas

educacionais para que estejam dadas as condições para o desenvolvimento da

educação. Segundo dados do REA Brasil9, com o uso de livros com licenças

flexíveis no lugar de livros didáticos convencionais, poderia haver uma redução

de custos na ordem de 80 a 100% no orçamento destinado para este fim.

O modelo proposto no Congresso americano prevê a oferta dos livros

abertos on-line com acesso livre possibilitando que o material seja

personalizado e distribuído de acordo com as liberdades mínimas dos REAs.

No Brasil, a lógica do mercado editorial mantém o custo dos livros

elevado, embora o governo federal seja o maior comprador. Esta situação se

constitui numa barreira para o acesso dos estudantes, tanto ao ensino superior,

como à educação básica.

Por outro lado, a baixa efetividade dos programas de qualificação de

trabalhadores brasileiros evidencia-se na análise dos dados do Plano Nacional

de Qualificação – PNQ.

O PNQ, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), tem como objetivo

“[...] promover a qualificação social e profissional, acertificação e a orientação dos trabalhadores, priorizandoas pessoas discriminadas no mercado de trabalho porquestões de gênero, etnia, idade e/ou escolaridade.Articula-se às políticas de educação, desenvolvimento einclusão social, a fim de fortalecer a probabilidade deacesso e permanência do trabalhador no mundo dotrabalho.” (MTE, 2012)

Segundo dados MTE, o Plano Nacional de Qualificação,

“[...] atua basicamente através de três tipos deinstrumentos: Planos de Qualificação Territorial

9 http://rea.net.br/site/projeto-de-lei-sobre-rea-e-apresentado-ao-congresso-nos-estados-unidos/

Page 26: Uso de rea nas universidades corporativas do serpro caixa e correios   oportunidade para a educação no brasil

(PlanTeQ), em convênio com Estados e, desde 2004,também com Municípios ou Consórcios Intermunicipais;Projetos Especiais de Qualificação (ProEsQs), paradesenvolver metodologias em qualificação profissional,em convênio com instituições de educação profissional ecentrais sindicais; e Planos Setoriais de Qualificação(PlanSeQ), para atender demandas de qualificação emcadeias produtivas e setores específicos de atividadeeconômica, em parceria com entidades públicas eprivadas.” (MTE, 2012)

Desde sua criação, o PNQ10 atendeu:

Período Trabalhadoresqualificados

Investimento

1995-2000 11,4 milhões R$ 1,75 billhões

2001 2,9 milhõesR$ 410 milhões

2002 645 mil

2003 143 milR$ 99,4 milhões

2004 142 mil

Quadro 3: PNQ – número de trabalhadores qualificados e investimentos (período 1995-2004)Fonte: http://portal.mte.gov.br/observatorio/plano-nacional-de-qualificacao.htm (tabelaelaborada pela autora)

O público-alvo do Plano são os “trabalhadores desocupados, com

prioridade de acesso para populações mais vulneráveis econômica e

socialmente (por fatores como baixa renda, baixa escolaridade e/ou

discriminação de gênero, raça/etnia, idade, deficiência etc.).” (MTE, 2012)

Como pode ser visto o número de trabalhadores qualificados pelo Plano

vem se reduzindo, assim como os recursos aplicados.

Diante do exposto, entende-se que esta realidade poderia ser melhorada

se o Brasil adotasse, de forma mais contundente, uma política coordenada

para os Recursos Educacionais Abertos. Não só no que se refere a livros

didáticos, como também para conteúdos de cursos completos, partes de

cursos, módulos, artigos de pesquisa, vídeos, testes, software, e qualquer outra

ferramenta, material ou técnica que possa apoiar o acesso ao conhecimento.

10 Antigo Plano Nacional de Qualificação Social e Profissional – PLANFOR, implantado em 1995 e reformulado em 2003.

Page 27: Uso de rea nas universidades corporativas do serpro caixa e correios   oportunidade para a educação no brasil

No caso das universidades corporativas estudadas, o enfrentamento das

barreiras políticas, técnicas, jurídicas e da cultura organizacional, poderia

contribuir para potencializar os recursos disponíveis para a capacitação e

aperfeiçoamento dos empregados, servidores públicos e de toda a população

brasileira.

Page 28: Uso de rea nas universidades corporativas do serpro caixa e correios   oportunidade para a educação no brasil

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