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URBANIZAÇÃO E RURALIDADE: CONCEPÇÕES TEÓRICAS E ESTUDO EMPÍRICO EM PELOTAS-RS
Carlos Vinícius da Silva Pinto Universidade Federal do Rio Grande – FURG
Giancarla Salamoni
Universidade Federal de Pelotas – UFPEL
Resumo Este trabalho propõe compreender a relevância analítica das categorias rural/campo e urbano/cidade na configuração da dinâmica da agricultura realizada em espaços urbanos. Tem-se como estudo de caso o município de Pelotas, Estado do Rio Grande do Sul, mais especificamente a área urbana do município, ou seja, o Distrito Sede, para entender as contigüidades do campo e da cidade, em áreas normativamente definidas pelo perímetro urbano, e que convergem para a manutenção de expressões da ruralidade e da produção de alimentos. Assim, diversos elementos se constituem como estratégias de reprodução social e territorial da agricultura urbana em Pelotas. Busca entender os referenciais que definem o espaço no Modelo Urbano do Município, estabelecido como “Rururbano” pelo III Plano Diretor Municipal (2008), que é caracterizado como um espaço em transição e sujeito aos processos de expansão do perímetro urbano.
Palavras-Chave: Relações cidade-campo. Rural e urbano. Rururbano. Agricultura urbana.
Introdução
Inicialmente, chama-se a atenção para o fato de que, nos últimos anos, as abordagens
sobre as categorias Cidade-Campo e Urbano-Rural aparecem com um novo sentido e
não mais a partir de uma visão dualista que colocam em lados opostos e independentes
as dinâmicas de uma ou outra forma de organização espacial. Por outro lado, a
perspectiva do continuum, aprofundada por Redfield (1956) nas décadas de 1940 e
1950, e que deu base à interpretação de que o rural estaria cada vez mais sob influência
do urbano, conforme Biazzo (p.135, 2008), “por conseguinte, criou-se a ideia de
progressiva extinção de sociedades, modos de vida ou espaços ditos ‘rurais’.”
Posteriormente, a aproximação dos conceitos vem traduzindo as mudanças da realidade
e, consequentemente, da abordagem teórica sobre o tema e que no Brasil ganha sentido
a partir da década de 90 do século XX. O espaço rural e agrário/agrícola brasileiro
sempre ocupou lugar de importância na formação socioeconômica do país, as
transformações, como a modernização da agricultura, ou, cada vez mais, a
industrialização de áreas não-urbanas, passam a dar destaque para mudanças ocorridas
tanto na cidade e nos processos de urbanização, quanto no campo e na constituição do
rural contemporâneo. Assim, quando se discute a respeito das categorias rural e urbano
não pode deixar de relacionar como marco histórico o processo de modernização da
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agricultura, intensificado no Brasil a partir da década de 1960, momento em que as
relações entre cidade e campo são intensificadas, tanto no que diz respeito às atividades
econômicas estabelecidas, quanto às relações sociais desenvolvidas. Rosa e Ferreira
afirmam que:
Especialmente no estado de São Paulo, sabe-se que antes da modernização da agricultura e da instalação dos Complexos Agroindustriais (CAI’s) cada espaço – campo e cidade – tinha funções, paisagens e relações bem definidas. Porém, com a intensificação das atividades capitalistas e com uma maior integração entre esses espaços, a articulação e os fluxos passaram a ser cada vez mais frequentes e ícones do urbano e do rural, a indústria e o trabalhador rural, respectivamente, tornam-se presenças marcantes no campo e na cidade (ROSA; FERREIRA, 2006, p. 18).
Silva (2010) aponta que a discussão enfocando temas como “nova ruralidade”, “novo
rural” e “inovações do rural”, são bastante comuns atualmente e que a abordagem
tradicional de campo e cidade, de rural e de urbano, trata estas espacialidades de forma
separada e distante e, em alguns casos, com reduzidos pontos de interligação.
Entretanto, outros estudos buscam entender o rural brasileiro no sentido de que as
transformações deste espaço advêm da ligação com o urbano.
De acordo com as novas dinâmicas que ocorre atualmente no espaço urbano e,
sobretudo, no espaço rural brasileiro é que pesquisadores de diversas áreas do
conhecimento como Economia, Sociologia e Geografia têm atribuído a eles outras ou
novas definições no intuito de compreender e explicar a diversidade de ambos os
espaços incorporando indicativos diferenciados para as análises. Como explicam Bispo
e Mendes (2010):
Um dos indicativos a ser apontado nos estudos analíticos dos espaços rurais e urbanos defende que no Brasil encontram-se cada vez mais indícios do desaparecimento das sociedades rurais e, portanto, da sujeição desse espaço social à hegemonia da industrialização e da urbanização. Nela, as diferenças entre rural e urbano deixam de existir, e considera que o campo é cada vez mais identificado com a cidade, submetido a homogeneidade nas formas econômicas e sociais de organização e da produção. Entre os autores que compartilham dessa opinião tem-se Campanhola e Graziano da Silva (2000), Graziano da Silva (2002) e Carlos (2004). (BISPO e MENDES, p. 2, 2010).
Em contrapartida a este entendimento, outros autores tratam as transformações do rural como afirmação de sua importância e permanência como categoria empírica e analítica.
Outro indicativo a ser apontado nos estudos analíticos dos espaços rurais e urbanos no Brasil, é representado por uma posição teórica oposta a apresentada, anteriormente. Essa posição teórica advoga que o rural não se “perde” frente às transformações profundas por que passa a modernidade, ao contrário, reafirma sua importância e particularidade. Entre os autores que
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partilham dessa linha de pensamento destacam-se: Carneiro (1998; 1997), Resende (2007), Bagli (2006) e Rua (2007). (BISPO e MENDES, p. 2, 2010).
Diante disso, o objetivo desta pesquisa é analisar as relações cidade-campo e rural-
urbano em seu escopo teórico para, então, compreender as dinâmicas presentes no
espaço urbano do município de Pelotas/RS. Toma-se como objeto de análise o processo
histórico de urbanização, em diferentes escalas, para enfim entender a prática da
agricultura no interior da cidade de Pelotas, mais precisamente na área definida
normativamente como Rururbano.
Abordagens teóricas sobre o rural e o urbano, campo e cidade e as dificuldades de
conceituação
As diversas questões conceituais e metodológicas com as quais os pesquisadores de
diversas áreas do conhecimento vêm se defrontando no que se refere à delimitação do
rural-urbano e campo-cidade, não apenas no Brasil, mas também em outros países, têm
demonstrado a complexidade e diversidade de situações empíricas e de definição
normativa e analítica para tais termos.
De modo geral, costumam-se pensar o campo e a cidade como situações distintas.
Entretanto, é correto afirmar que essa realidade vem se alterando, profundamente, no
último século. Embora entendidos como distintos, campo e cidade estão, atualmente,
mais próximos do que se imagina, e é justamente a partir daí que se encontram os
dilemas na sua definição teórica e empírica. (RODRIGUES, 2009)
A concepção dos conceitos propostos na discussão, do que é o rural e do que é o urbano
vai além do marco legal e das definições sobre o campo e a cidadei, e é justamente neste
sentido que se faz confusão ao tratar destes elementos de análise. Explica Biazzo:
“Rural” e “urbano”, na maioria das vezes, aparecem como categorias operatórias, utilizadas como referências a bases empíricas e, na abordagem atual dominante entre os geógrafos, são lidas como conjuntos de formas concretas a compor os espaços produzidos pelas sociedades. Tal significado se aproxima do uso no senso comum e também se encontra bastante consolidado entre autores de diversos campos de saber como Sorokin, Zimmerman e Galpin (1930), Redfield (1956), Mendras (1969), Léfèbvre (1970), Sarraceno (1994), Kayser (1996) e, no Brasil, Graziano da Silva (1999), Veiga (2002) ou Abramovay (2003). (BIAZZO, p. 134, 2008).
Marques (2002) destaca a existência de duas grandes abordagens que define campo e
cidade, uma é a análise dicotômica e a outra é a abordagem sobre o continuum rural-
urbano. Quando se trata da visão dicotômica, o campo se opõe a cidade, a partir de uma
concepção dualista da realidade; no entanto, na abordagem do continuum, a
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industrialização é o elemento que estreita as relações entre o campo e a cidade. Marques
(2002) ainda salienta que, os pensadores da sociologia clássica Sorokin, Zimmermann e
Galpin (1986) são usados como referencial teórico para entender a abordagem
dicotômica que ressalva as distinções entre rural e urbano. A autora sintetiza os
elementos expostos por Sorokin et al. e que contribuiriam para classificar o rural e o
urbano:
(1) diferenças ocupacionais ou principais atividades em que se concentra a população economicamente ativa; (2) diferenças ambientais, estando à área rural mais dependente da natureza; (3) diferenças no tamanho das populações; (4) diferenças na densidade populacional; (5) diferenças na homogeneidade e na heterogeneidade das populações; (6) diferenças na diferenciação, estratificação; e complexidade social; (7) diferenças na mobilidade social e (8) diferenças na direção da migração. (MARQUES, 2002, p.100).
Wanderley (2001) salienta que o conceito de continuum é abordado por duas vertentes
teórico-metodológicas. A primeira destaca o urbano como lugar de progresso e da
modernidade e o rural como expressão do atraso e das formas tradicionais, estando
predestinado à redução de suas características históricas pela expansão urbana. Atrelada
à teoria da urbanização do campo, o ponto de vista do continuum corresponderia ao fim
da realidade rural. A outra vertente do continuum aproxima o rural-urbano, pois,
independente da aproximação de suas características e semelhanças, suas
especificidades não desaparecem, reafirmando a existência e permanência do rural.
O “novo rural” brasileiro, na visão de Graziano da Silva (1999), caminha neste sentido e
é entendido como marcado pela modernização/urbanização do campo e pelo
crescimento de atividades não-agrícolas no espaço rural, explicando, assim, em parte as
transformações do mundo rural contemporâneo. Essa ideia encontra-se fundamentada na
expressão do continuum entre o rural e o urbano. No mesmo sentido, Ianni (1997, p.60)
afirma que “o desenvolvimento intensivo e extensivo do capitalismo no campo
generaliza e enraíza formas de sociabilidade, instituições, padrões, valores e ideais que
expressam a urbanização do mundo.”
A dificuldade em fazer tal distinção nas delimitações entre o rural e o urbano, em
especial no caso do Brasil, é justamente a normatização que o país utiliza como
metodologia para definir a contagem da população urbana e ruralii. Beaujeu-Garnier
(1997) diz que no Brasil, as sedes municipais ou distritos sedes são os espaços em que a
população residente é considerada urbana, ainda, declaram como urbanos os residentes
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em lugares com certa forma de administração, como as sedes distritais. Veiga (2003)
complementa afirmando que:
O entendimento do processo de urbanização do Brasil é atrapalhado por uma regra muito peculiar, que é a única no mundo. Este país considera urbana toda a sede de município (cidade) e de distrito (vila), sejam quais forem suas características. O caso extremo é no Rio Grande do Sul, onde a sede do município de União da Serra é uma “cidade” na qual o Censo Demográfico de 2000 só encontrou 18 habitantes. Nada grave se fosse extravagante exceção. (VEIGA, 2003, p. 31-2)
Assim, a definição legal e a diferenciação dos espaços urbano e rural no Brasil se
baseiam nestes critérios, muito embora, existam contraposições defendidas por
estudiosos como Veiga (2003), o qual afirma que o “Brasil é menos urbano do que se
calcula”, criticando a forma atual de definição feita pelo Decreto de Lei 311 de 1938. A
observação feita por Veiga (2003) é a seguinte:
[...] o Brasil essencialmente rural é formado por 80% dos municípios, nos quais residem 30% dos habitantes. Ao contrário da absurda regra em vigor - criada no período mais totalitário do Estado Novo pelo Decreto-lei 311/38 - esta tipologia permite entender que só existem verdadeiras cidades nos 455 municípios do Brasil urbano. As sedes dos 4.485 municípios do Brasil rural são vilarejos e as sedes dos 567 municípios intermédios são vilas, das quais apenas uma parte se transformará em novas cidades. (VEIGA, 2004, p. 10).
O mesmo autor acrescenta que:
Essa anômala divisão territorial surgiu em 2 de março de 1938, no ápice do Estado Novo, quando o Decreto-Lei 311 determinou que “a sede do município tem a categoria de cidade”. Após 63 anos de estragos surge um bom estatuto da Cidade que, lamentavelmente, é omisso sobre a questão. Urge, portanto, que um outro revogue este entulho varguista e estabeleça critérios mais adequados ao século 21. (VEIGA, p. 57-58, 2003).
Por outro lado, Carlos (2004) aponta que a pretensão da tese de Veiga (2003) aparece
somente no titulo do livro “Cidades Imaginárias: O Brasil é menos urbano do que se
calcula”, pois o autor não faz uma reflexão de forma concreta e aprofundada sobre o
assunto, não apresentando argumentos sólidos para o que propõe no titulo do livro.
Muito embora, a crítica também é feita sobre a análise que o autor faz de estatísticas de
países centrais, e que são transpostas para explicar o “desenvolvimento” no caso
brasileiro.
A abordagem sobre as transformações nas relações cidade/campo parece ter sido
esquecida por Veiga (2003) ao questionar a “anômala” divisão territorial que o Brasil
faz, como dito por ele, para a concepção dos espaços tratados. Carlos (2004) critica esta
questão ao fazer referência, mesmo considerando ser ultrapassada a legislação atual, ao
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posicionamento do autor, pois devem ser levadas em consideração as novas dinâmicas
entre o rural e o urbano e o campo e a cidade. Nas palavras de Carlos (2004):
Os argumentos desenvolvidos nos artigos do livro caminham na direção oposta ao que o autor quer provar. Veiga ao mesmo tempo em que assinala o fato de que o Brasil é menos urbano do que se calcula, reconhece que há, hoje, uma profunda transformação nas relações cidade/campo, mas não enfrenta a necessidade de desvendamento do conteúdo e sentido destas transformações. (CARLOS, 2004, p. 130)
A mesma autora ainda faz ressalva às relações sociais de cada espaço para que haja uma
concepção do real rural-urbano no Brasil:
O que o Autor parece ignorar, é que cidade e campo se diferenciam pelo conteúdo das relações sociais neles contidas e estas, hoje, ganham conteúdo em sua articulação com a construção da sociedade urbana, o que demonstra, por exemplo, o desenvolvimento do que chama de pluriatividades. Portanto há na conclusão do Autor uma inversão: no Brasil a constituição da sociedade urbana caminha de forma inexorável, não transformando o campo em cidade, mas articulando-o ao urbano de um “outro modo”, redefinindo a antiga contradição cidade/campo: este é a meu ver o desafio da análise. Significa dizer que o processo atual de urbanização não se mede por indicadores referentes ou derivados do aumento da taxa anual de crescimento da população urbana, e muito menos pela estrita delimitação do que seria “urbano ou rural”, como faz o Autor. Significa que nossas análises devem ultrapassar os dados estatísticos (que por sinal são poucos no livro). (CARLOS, 2004, p. 130) [grifos do autor].
A delimitação espacial/normativa que define o rural e o urbano diz muito pouco a
respeito do processo de urbanização brasileira, principalmente, no momento atual. Em
primeiro lugar, porque não se confunde processo de urbanização com densidade
demográfica. Nem tampouco, cidade, com sede de município, como faz Veiga (2003)
em sua análise. Conforme esclarece Carlos (2004):
[...] longe de analisar processos se prende a números e é com eles que acredita apoiar suas ideias sobre a urbanização brasileira. O problema é que “urbano” e “rural” longe de serem meras palavras são conceitos que reproduzem uma realidade social concreta. (CARLOS, 2004, p. 130).
Na atualidade, pode-se pensar em novas dinâmicas na organização espacial pela
incorporação de tecnologias no campo e sistemas produtivos que surgiram a partir da
incorporação do conhecimento cientifico, os quais são desenvolvidos na cidade, é o que
afirma Sobarzo (2006). Ainda, o mesmo autor, ao fazer uma referência a Lefebvre,
acrescenta:
Para Lefebvre, a diferença entre cidade e campo (que alguns equivocadamente igualam aos termos urbano e rural) tem experimentado alterações no tempo. Num primeiro momento, observa-se uma clara diferenciação em função da divisão do trabalho. Na era industrial, verifica-se a “absorção” do campo pela cidade (localização das primeiras indústrias,
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obtenção de matérias-primas, migração) e a “explosão” da cidade no campo (extensão do tecido urbano, invasão do campo pela tecnologia, modo de vida e símbolos da cidade, expansão das trocas e da mercadoria). A construção do “urbano” supõe a superação dessa divisão, a sociedade urbana se estende, planetariamente, mas sem supor o desaparecimento das atividades agrícolas: cidade e campo permanecem, as relações se transformam e suas formas ganham novos conteúdos. (SOBARZO, 2006, p. 61)
Além disso, as novas formas de produção e trabalho que ocorrem no campo modificam
a configuração espacial deste, levando em consideração que o rural sempre esteve
associado à produção agrícola e hoje se apresenta com características e atividades que
antes estavam restritas a cidade, como a indústria, turismo, serviços, moradia, entre
outras. Enfim. “Em função dessas transformações, surge no plano teórico uma série de
denominações a cerca deste rural: “novos atores sociais no campo”, “renascimento da
ruralidade”, ”novo rural” etc.” (ROSA; FERREIRA, 2006, p. 190).
Um estudo empírico em Pelotas: breve contextualização histórica e as relações
entre a cidade e o campo
O estudo a respeito do processo de urbanização e crescimento físico da cidade de
Pelotas acompanha a própria história de surgimento do município, perpassando por
questões como formação econômica de caráter agrícola, a importância do município na
Região Sul do estado do Rio Grande do Sul, além dos processos socioprodutivos que
ocorreram em Pelotas para caracterizar a atual configuração municipal.
O município em questão localiza-se na porção sul do estado do Rio Grande do Sul,
(figura 01) ocupando uma área de 1.608,77 km², situa-se as margens do canal São
Gonçalo e conta com uma população de 327.778 habitantes, segundo dados do IBGE
(2010), é a terceira maior população do estado por município, superada apenas por
Porto Alegre e Caxias do Sul. É o município com maior população da região sul do
estado, exercendo assim uma posição de centralidade na hierarquia urbana, com relação
aos municípios próximos. A maioria da população, cerca de 93,3% dos habitantes
(IBGE, 2010) é urbana e apenas 6,7% vivem na área rural do município, questão
relevante quando se trata de analisar as categorias rural e urbano em um lugar onde as
fronteiras entre campo e cidade se confundem.
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Figura 01- Mapa de localização do estado do Rio Grande do Sul, do município de Pelotas e Porto Alegre. Fonte: Elaborado pelo autor, 2012.
A indústria do charque foi responsável pela opulência e desenvolvimento econômico da
região de Pelotas e por conta disso as necessidades de desligamento político de Rio
Grande era cada vez mais intensa. Sendo assim, por decreto, no ano de 1930 a Freguesia
de São Francisco de Paula foi elevada a categoria de Vila e, mais tarde, em junho de
1935 recebe os foros de cidade.
Neste contexto, Vieira (2005) compreende que a produção do espaço urbano em Pelotas
possui uma íntima relação com os fatos de ordem histórica e, via de regra, em todas as
cidades a história reflete em sua organização espacial os acontecimentos que marcaram
a formação da sociedade ao longo do tempo.
Entende-se, a partir disso, que em Pelotas, desde o início de sua ocupação, os fatores de
ordem econômica, político e social influenciaram a configuração física do espaço
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urbano, evoluindo para a atual configuração territorial. É possível perceber, então, que o
espaço ocupado pelo sítio da cidade corresponde à produção e reprodução das relações
históricas ocorridas tanto em escala local quanto regional, levando-se em consideração
que o seu desenvolvimento aconteceu devido à instalação da atividade charqueadora,
possibilitando assim a sua emancipação do município de Rio Grande.
O crescimento da cidade, a partir do núcleo original, sucedeu-se durante os anos
seguintes tendo como fator de destaque a sua localização no contexto regional, atraindo
um contingente populacional significativo para as atividades ligadas a indústria,
comércio e serviços, intensificado pelo êxodo rural e pela migração de municípios
menores, localizados nas proximidades de Pelotas. Segundo Conceição(2009):
Com a diversificação industrial deste período, surge uma consequente modificação espacial propiciando o aparecimento de um comércio forte e variado, fornecendo gêneros para toda a região, surge também um setor de prestação de serviços, que se tornaria mais tarde uma especialização funcional da cidade. (CONCEIÇÃO, 2009, p. 9)
O primeiro Plano Diretor Municipal de Pelotas foi elaborado em 1963 e o segundo
somente em 1980. No entanto, em 2008 é finalizada a Lei Municipal Nº 5.502 que
estabelecia o III Plano Diretor Municipal Integrado. Sendo assim, de acordo o artigo II
da Lei:
O Plano Diretor Municipal de Pelotas é o instrumento básico da política de desenvolvimento municipal, abrangendo os aspectos físicos, sociais, econômicos e administrativos do crescimento da cidade, visando a orientação da atuação do Poder Público e da iniciativa privada, bem como ao atendimento das necessidades da comunidade, sendo a principal referência normativa para as relações entre o cidadão, as instituições e o espaço físico municipal. (PELOTAS, 2008, p. 1)
De acordo com essa Lei Municipal, é entendido que a elaboração do III Plano Diretor de
Pelotas deverá adequar os espaços da cidade às funções que a mesma pode exercer,
sendo fundamental para seu desenvolvimento. Sendo assim, o Modelo Urbano Geral
(fig. 02) foi elaborado a partir das funções econômicas e sociais, como a habitação e
produção de bens econômicos no perímetro urbano.
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Figura 02: Mapa do Distrito Sede do Município de Pelotas com o Modelo Urbano
Geral.
Fonte: Prefeitura Municipal de Pelotas, III Plano Diretor Municipal Integrado, 2008.
Busca-se, então, a partir do estabelecido pelo III Plano Diretor e pelo Modelo Urbano,
analisar uma área em particular definida como Zona Rururbanaiii, região do perímetro
urbano definida pela caracterização e composição de elementos ligados a ruralidade, a
produção de alimentos e pelas relações entre a cidade e o campo. É possível
compreender que a atual configuração do perímetro urbano do município acompanhou
os vetores do crescimento físico da cidadeiv (figura 03). No entanto, a existência de
“vazios urbanos”, passíveis de ocupação do solo para fins residenciais, apresentam um
fator conflitante neste sentido, sobretudo na Zona Norte da cidade, pois encontram-se
nesta região as propriedades ruraisv.
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Figura 03: Mapa do atual Perímetro Urbano de Pelotas evidenciando os vazios
urbanos e os vetores de crescimento físico da cidade a partir do núcleo central.
Fonte: XAVIER e BASTOS, 2010, p. 591.
As discussões a respeito das relações entre o campo e a cidade podem ser entendidas, no
caso de Pelotas, pela expansão urbana ao longo de sua história. O Rururbano aparece
como categoria normativa dentro da dinâmica do crescimento urbano de Pelotas e não
de forma conceitualvi. Nesse caso, essa classificação exprime o caráter diferenciado da
organização espacial dessa área em relação às demais áreas da cidade, principalmente,
no que diz respeito às relações sociais e de produção dadas pela presença da agricultura
urbana.
Estratégias e perspectivas de reprodução socioespacial da agricultura urbana em Pelotas/RS Apesar do desenvolvimento da indústria e, consequentemente, da expansão da
urbanização, em termos gerais, a agricultura sempre desempenhou papel central na vida
social e econômica de muitos países, regiões e lugares. E, associar a presença da
produção agrícola em espaços urbanos é de longe uma tarefa incomum para qualquer
um que pense no rural e no urbano, ainda como um sentido dualista.
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Conforme escreve Diniz (1984. p.15), “O estudo da agricultura é de fundamental
importância para a humanidade”, dessa forma, é que se pretende abordar a análise da
produção de alimentos presente no espaço urbano do município de Pelotas, além de
entender a maneira como as famílias garantem sua reprodução social e territorial nestes
lugares, mesmo diante da expansão do processo de urbanização. Ainda, Diniz (1984)
acrescenta:
É importante esclarecer que a agricultura é uma das atividades mais complexas na superfície terrestre, e o homem, apesar de com ela conviver há milhares de anos, ainda não conseguiu controlá-la inteiramente. Inegavelmente, um estudo de caráter espacial pode contribuir enormemente para decifrar seus enigmas, pois não resta dúvida que variáveis essencialmente espaciais, como distância, padrão, forma etc., integram o complexo agrário. (DINIZ, 1984, p. 15)
No contexto da agricultura realizada em espaços urbanos e, neste caso, na cidade de Pelotas,
compreende-se que a discussão na busca por um conceito para esta modalidade de produção de
alimentos é bastante ampla, sobretudo, pela importância que vem ganhando esta prática nas
periferias das grandes cidades. Todavia, a agricultura urbana pode ser compreendida da seguinte
forma:
Uma ampla compreensão de agricultura urbana deve levar em consideração as várias atividades familiares para obter segurança alimentar e para gerar renda. A produção alimentar individual e comunitária nas cidades vai ao encontro de necessidades adicionais da população urbana, tais como desenvolvimento urbano sustentável, geração de emprego e renda, proteção ambiental, entre outros aspectos (CRIBB; CRIBB, 2009, p. 3)
A produção agrícola no interior do perímetro urbano do município de Pelotas apresenta uma
diversidade significativa na produção de alimentos. O conhecimento da realidade empírica do
espaço pesquisado confirma a presença de propriedades onde a fonte de renda principal advém
da agricultura e o trabalho familiar aparece como base da organização socioprodutiva. Assim, a
pesquisa de campo revelou que, em grande parte das propriedades visitadas, a estrutura
produtiva associa família-produção-trabalhovii. Contudo, busca-se aqui a análise da produção de
alimentos no espaço urbano de Pelotas, de uma forma geral, pois, cabe ressaltar, a presença de
alguns lotes onde a organização socioprodutiva remete ao modelo patronalviii de agricultura.
Para a delimitação da área de estudo foi utilizada uma base cartográfica do Distrito Sede do
Município de Pelotas/RS. Quanto ao estudo da área pesquisada foi escolhida, com base no
Modelo Urbano, a região do Rururbano (Figura 04) na qual foi analisada a dinâmica da
produção de alimentos neste espaço da cidade.
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Figura 04: Mapa do estado do Rio Grande do Sul, da divisão distrital do município de Pelotas e da localização da área de estudo. Fonte: Adaptado do III Plano Diretor Municipal Integrado (2008), organizado pelo autor, 2011.
O entendimento do processo histórico da ocupação do solo para fins urbanos na área pesquisada
possibilita a observação de que a atual delimitação do perímetro urbano em Pelotas incorporou
propriedades, que por decisão normativa da Câmara Municipal, fazem parte da área urbana do
município. Assim, o denominado “rururbano” se insere no contexto da organização territorial da
cidade de Pelotas e, nesse sentido, essa área apresenta uma densidade demográfica menor,
marcada pela presença de vazios urbanos, possibilitando a permanência de lotes com finalidade
de produção agrícola dentro dos limites da cidade.
Para fins do conhecimento da realidade empírica, optou-se por um processo de
amostragem não-estatístico, onde a preocupação principal foi conhecer qualitativamente
as propriedades que praticam a agricultura urbana. Depois de definida a amostra de
caráter intencional, o levantamento dos dados primários ocorreu por meio de entrevistas
com os agricultores urbanos, baseadas em questionário semi-aberto. O questionário foi
elaborado a partir da divisão de subsistemas internos da agricultura, sendo o subsistema
social o que permite identificar quem é o produtor; o subsistema funcional caracteriza
os elementos técnicos e, por último, o subsistema de produção trata de caracterizar o
output do sistema da agricultura (DINIZ, 1984). Estes subsistemas garantem o
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estabelecimento de relações entre os elementos da organização socioprodutiva na área
estudada.
Além da análise do sistema da agricultura, buscou-se compreender a agricultura em
espaços urbanos como resultado das novas dinâmicas das relações entre cidade-campo,
em Pelotas, sobretudo, acompanhado do processo de ocupação do solo na zona norte da
cidade. Para entender o sistema da agricultura, dentro do contexto da agricultura urbana,
aparece também como elemento importante a valorização da produção agrícola pelo
mercado citadino local. Tendo como ponto de partida a caracterização dos subsistemas
social, de produção e técnico, foi possível estabelecer um conjunto de inter-relações
entre a cidade e o campo e do rural com o urbano, conforme demonstra o esquema
analítico da figura 05.
Figura 05: Esquema analítico da organização da agricultura e as relações cidade-campo e rural-urbano. Fonte: Elaborado pelo autor, 2011.
Quanto à caracterização do proprietário, Diniz (1984) afirma que este está intimamente
ligado ao tipo de propriedade a ele se insere. A quantidade de pessoas do grupo familiar,
que desempenham atividades fora da propriedade para complementar à renda da família
é comum entre os filhos, sobretudo os mais velhos, destacando nesse sentido, que a
busca por renda extra propriedade em alguns casos faz parte de projetos individuais de
alguns membros da família. A renda não-agricola representa uma importante alternativa
a alguns agricultores que dela fazem uso. E, neste caso, a ideia de pluriatividade,
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relacionada comumente ao espaço rural, também compõe as estratégias dos agricultores
urbanos. “[...] essa noção é introduzida no Brasil pelo debate acadêmico nos anos 90 por
meio de estudos centrados na análise das estratégias de reprodução social da agricultura
familiar” (CARNEIRO, p. 165, 2006).
Carneiro (2006) ainda diz que pela trajetória dos estudos abordando a pluriatividade
adquiriu reconhecimento e importância para a economia agrícola do chamado “novo
rural” brasileiro. A conclusão feita por Silva (1997) é de que não se pode mais
caracterizar o espaço rural como determinada e exclusivamente por sua configuração
agrícola. No caso desta análise, dentro da dinâmica da agricultura realizada em espaços
urbanos, a pluriatividade ganha conotação urbana, ou seja, mesmo a concepção teórica
tratando desta característica presente atualmente no espaço rural, as atividades não-
agrícolas estão representadas pelo ingresso de renda extra para as famílias de
agricultores, advinda de ocupações urbanas.
Assim, as atividades realizadas por alguns membros que compõe a propriedade
ocorrem tanto no centro da cidade de Pelotas, quando estas estão ligadas ao comércio,
por exemplo, ou até mesmo nos bairros em que se inserem, como o caso do emprego em
olariasix, e nos frigoríficos também instalados no Rururbano. Outra fonte de renda não
agrícola, exercida pelas mulheres, é a atividade artesanal que compõem a renda da
família.
Para o conhecimento empírico foram entrevistados vinte e um proprietários que
possuem seus lotes nos bairros Sanga Funda e Arco Iris, ambos localizados na região
definida normativamente como rururbano. Com base no levantamento dos dados, foi
constatado que o tamanho dos lotes é bastante variável. As propriedades visitadas
apresentaram dimensões físicas de 3 a 54 hectares, cabe ressaltar, que alguns dos
maiores lotes encontravam-se mais distantes do centro da cidade, e mais próximos dos
limites da divisão do perímetro urbano com o rural, no entanto, isso não é uma regra
geral.
Tendo em vista a caracterização das propriedades, a propriedade individual cuja terra
pertence a um único proprietário e, de acordo com Diniz (1984, p. 59) “(...) em grande
parte dos casos a propriedade individual está associada a um tamanho pequeno e ao
trabalho familiar.” No caso da área pesquisada, o levantamento de campo constatou que
a condição legal da terra, na maioria dos casos é própria, obtidas por meio de compra ou
herança. Quanto à caracterização do proprietário, Diniz (1984) afirma que este está
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intimamente ligado ao tipo de propriedade a ele se insere. A quantidade de pessoas do
grupo familiar, que desempenham atividades fora da propriedade para complementar à
renda da família é comum entre os filhos, sobretudo os mais velhos. As mulheres, na
maioria das vezes, ajudam na administração da propriedade e em poucos casos elas são
chefes da família.
As estratégias socioprodutivas presentes no espaço “rururbano” pelotense encontram-se
ligadas intimamente à possibilidade de obtenção de alimento e renda para as famílias.
No que tange variedade de alimentos produzidos nos bairros pesquisados, Arco Iris e
Sanga Funda, é possível notar que entre os principais produtos cultivados para a
comercialização destaca-se a produção de tomate, cebola, batata, alface, couve,
beterraba e agrião, além de leite e ovos. A fruticultura também serve como fonte de
renda, e alimentos como o morango, abacaxi, melancia e laranja são comuns em boa
parte dos lotes pesquisados. A criação de animais também é muito diversa, com a
presença de bovinos, aves, equinos, suínos e peixes. Também é possível encontrar a
criação de abelhas para a produção de mel.
As estratégias produtivas variam, em cada família, de acordo com suas necessidades e
condições de produção. Ainda, percebe-se que famílias com lotes de menor área física
produzem menos, portanto, a renda é menor do que as que possuem lotes maiores.
Dentro das técnicas produtivas empregadas nas lavouras está a prática da rotação de
cultivos e pousio e a rotação de cultivos sem pousio, esta última acontece
principalmente quando a intensidade na produção é maior e ocorre a aplicação de
insumos químicos. As relações técnicas de produção aparecem ligadas a força
mecânica, nas propriedades de maior dimensão, e no restante delas se observa a
utilização da força animal e do aluguel de maquinário como o trator. A partir disso, a
caracterização do segundo subsistema da agricultura, responde a pergunta de como é
feita a produção, dentro de questões como a intensidade e as técnicas de trabalho
aplicadas.
A pesquisa de campo revelou ainda, que a demanda do mercado local é parcialmente
atendida, uma vez que os alimentos produzidos na zona rural também abastecem a
cidade. Com relação ao comércio dos alimentos produzidos no espaço rururbano de
Pelotas, percebe-se que a comercialização de legumes, frutas e hortaliças é realizada em
feiras, em diferentes pontos da cidade, supermercados e também diretamente para o
CEASAx. O acesso até os pontos de venda é facilitado, pois a produção e
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comercialização se encontram em um espaço próximo. Essa proximidade facilita a
redução do custo final do produto e as condições do mesmo, no que diz respeito à
qualidade dos alimentos perecíveis.
Algumas Considerações Finais
Diante de questões pertinentes sobre o tema proposto, como a compreensão de
categorias analíticas e normativas que permitem o entendimento de fenômenos
relacionados ao rural e ao urbano e a dinâmica das transformações que ocorrem nestes
espaços, este trabalho buscou associar as questões que envolvem o mundo rural e a
sociedade urbana. Para tanto, o estudo apresentou uma compreensão teórica e empírica
a respeito do que ocorre com a realidade no Brasil e no contexto da cidade de Pelotas e
sua organização socioespacial.
Entende-se, assim, que ruralidade é um modo de vida ligado intimamente ao campo e às
práticas e hábitos rurais, ou seja, dedicação, principalmente, às atividades
socioprodutivas relacionadas ao trabalho da família na terra e assim, garantir sua
reprodução biológica e social. Entretanto, a ruralidade ultrapassa os limites do rural
quando presente no espaço urbano, representada pela presença de hábitos e práticas
rurais no perímetro urbano dos municípios.
A área rururbana de Pelotas produz alimentos diversificados que, em sua totalidade, são
comercializados no próprio perímetro urbano do município. Além de servir para o
autoconsumo familiar, também, destina-se para o abastecimento dos mercados locais.
As perspectivas do “rururbano” pelotense como fornecedor de alimentos para a cidade
de Pelotas e geração de renda para as famílias produtoras representam as estratégias de
reprodução socioprodutivas e estão relacionadas à localização dos agricultores urbanos,
pela proximidade com o consumidor final, favorecendo os mesmos em relação aos
localizados na área rural. Além disso, a criação de animais atende ao mercado
agroindustrial de leite e de carne da região.
É interessante entender essa proximidade dos agricultores urbanos com a cidade a partir
da ligação, não só da facilidade de atingir o mercado local que é bastante próximo,
diminuindo custos de transporte e facilitando o manejo dos produtos perecíveis, mas
também, a da possibilidade da família continuar no espaço que lhe garante renda e, ao
mesmo tempo, acessar os serviços que a cidade proporciona.
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Entende-se que essas estratégias são resultado de um processo histórico e normativo de
configuração do perímetro urbano, que por sua vez, possibilitou que em sua organização
espacial mantivesse características – formas e funções – relacionadas ao espaço rural. E,
garantindo aos moradores dessas áreas, tanto pelos cultivos agrícolas quanto pela
criação de animais, a produção de alimentos para o autoconsumo e, ainda, alternativa à
falta de empregos na cidade, na geração de renda familiar.
Notas
i Objetiva-se neste sentido, tratar a diferença dos usos das categorias rural e urbano buscando um entendimento terminológico. Não se trata de propor uma nova concepção teórica e sim de entender a diferenciação do campo de rural e cidade de urbano, sobretudo tratados erroneamente do ponto de vista setorial da economia. ii O Decreto-Lei Nº 311/1938 passou a regulamentar as unidades territoriais administrativas no país da seguinte forma: Art. 3º A sede do município tem a categoria de cidade e lhe dá o nome. Art. 4º O distrito se designará pelo nome da respectiva sede, a qual, enquanto não for erigida em cidade, terá a categoria de vila. (DECRETO-LEI Nº 311/1938). iii Rururbano, neste caso, aparece como uma categoria normativa definida pelo III Plano Diretor Municipal de Pelotas para caracterizar uma determinada área do perímetro urbano que fez parte do projeto de expansão física da cidade de Pelotas sobre o rural. Diferente da definição de “Rurbano” que seria a urbanização dos espaços rurais proposto no Projeto Rurbano de Jose Graziado da Silva e outros pesquisadores que abordam as dinâmicas do “Novo Rural Brasileiro”. iv O crescimento físico da cidade de Pelotas acompanhou vetores de crescimento em que as limitações físicas da geografia do município moldassem a forma atual. A presença de alguns fatores impede este crescimento em algumas direções, como a Zona Sul, onde o Canal São Gonçalo é o agente natural que bloqueia a expansão da malha urbana do município. v A existência de lotes produtores de alimentos no espaço urbano de Pelotas aparece como conseqüência da expansão do perímetro urbano da cidade sobre áreas rurais abarcando uma população com características ligadas a ruralidade. vi Não confundir Rururbano, que mais seria a influência socioespacial do campo sobre a cidade, com “Rurbano” onde o continnum rural-urbano é marcado pelo sentido da urbanização do rural conforme a mecanização e modernização do campo nos últimos anos. vii Nesta pesquisa não será utilizada a categoria analítica da agricultura familiar, ainda que se reconheça a presença desse tipo de organização socioprodutiva no caso pesquisado. Assim, toma-se como conceito norteador a agricultura urbana, ressaltando que este conforma, na área de estudo, uma aproximação com o conceito de agricultura familiar.
viii De acordo com o relatório da FAO/INCRA (1994) a agricultura patronal possui uma organização centralizada, produz grande concentração de renda, tem ênfase na especialização, trabalho assalariado predominante e principalmente o emprego de tecnologias voltadas para a redução de mão-de-obra. ix Outra característica econômica do Rururbano pelotense é a presença de diversas olarias nos bairros que o compõe. O bairro Sanga Funda, por exemplo, se destaca com esta atividade econômica. x CEASA’S são representadas pelas Centrais de Abastecimento, que são empresas estatais ou de capital misto destinadas a promover, desenvolver, regular, dinamizar e organizar a comercialização de produtos da hortifruticultura, na forma de atacado e em uma região.
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