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1 Urbanização Perimetropolitana e a Organização Espacial das Residências Secundárias no Estado do Rio de Janeiro Pedro Henrique Oliveira Gomes Palavras-chave: Urbanização Perimetropolitana; Segunda Residência; Rio de Janeiro-RJ. Resumo Os recentes estudos sobre a urbanização brasileira destacam duas dimensões sócio-espaciais de análise. Numa primeira, alguns autores indicam para o surgimento de novas regiões metropolitanas e a conseqüente perda ou estagnação da dinâmica demográfica das metrópoles tradicionais. Por outro, pesquisadores constatam um crescimento de importância das cidades médias na estrutura urbana brasileira. Ambos os processos não são excludentes, sendo suas razões vinculadas aos diferentes fatores e interesses políticos, econômicos e sociais dos diversos agentes que produzem e organizam o espaço urbano no período pós-1970. Neste trabalho, o nosso foco será a investigação sobre a questão da residência secundária em cidades de porte médio situadas no estado do Rio de Janeiro, tendo como pano de fundo um processo urbano não-metropolitano, denominado por nós como urbanização perimetropolitana. O caminho teórico e metodológico trilhado foi baseado num arcabouço teórico construído sobre o fenômeno especificado e na análise dos dados domiciliares contidos no censo demográfico do IBGE de 2000, considerando, conforme a literatura consultada, que os domicílios de uso ocasional são indicadores potenciais para a investigação das residências secundárias. Além disso, serão trabalhados os dados sobre domicílios vagos, pensando-os como uma forma de reserva do mercado imobiliário para a efetivação do fenômeno especificado anteriormente. Por fim, a realização deste estudo servirá mais como um elemento de compreensão e investigação da dinâmica de estruturação territorial fluminense no tempo recente. Ou seja, não buscamos nele resultados conclusivos, mas sim, elementos que nos levem a maiores reflexões sobre o fenômeno de segunda residência, com atenção particular a estrutura territorial do Rio de Janeiro. Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Caxambu- MG – Brasil, de 29 de setembro a 03 de outubro de 2008. Estudante de graduação de Geografia - UFRJ e Bolsista de iniciação científica no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR) - UFRJ.

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GOMES, P. H. O.. Urbanização perimetropolitana e a organização espacial das residências secundárias no estado do Rio de Janeiro. In: XVI Encontro Nacional de Estudos populacionais, 2008, Caxambu. As desigualdades sócio-demográficas e os direitos humanos no Brasil. Caxambu: ABEP, 2008.

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Urbanização Perimetropolitana e a Organização Espacial das Residências Secundárias no Estado do Rio de Janeiro ∗

Pedro Henrique Oliveira Gomes♣

Palavras-chave: Urbanização Perimetropolitana; Segunda Residência; Rio de Janeiro-RJ.

Resumo

Os recentes estudos sobre a urbanização brasileira destacam duas dimensões sócio-espaciais de análise. Numa primeira, alguns autores indicam para o surgimento de novas regiões metropolitanas e a conseqüente perda ou estagnação da dinâmica demográfica das metrópoles tradicionais. Por outro, pesquisadores constatam um crescimento de importância das cidades médias na estrutura urbana brasileira. Ambos os processos não são excludentes, sendo suas razões vinculadas aos diferentes fatores e interesses políticos, econômicos e sociais dos diversos agentes que produzem e organizam o espaço urbano no período pós-1970.

Neste trabalho, o nosso foco será a investigação sobre a questão da residência secundária em cidades de porte médio situadas no estado do Rio de Janeiro, tendo como pano de fundo um processo urbano não-metropolitano, denominado por nós como urbanização perimetropolitana.

O caminho teórico e metodológico trilhado foi baseado num arcabouço teórico construído sobre o fenômeno especificado e na análise dos dados domiciliares contidos no censo demográfico do IBGE de 2000, considerando, conforme a literatura consultada, que os domicílios de uso ocasional são indicadores potenciais para a investigação das residências secundárias. Além disso, serão trabalhados os dados sobre domicílios vagos, pensando-os como uma forma de reserva do mercado imobiliário para a efetivação do fenômeno especificado anteriormente.

Por fim, a realização deste estudo servirá mais como um elemento de compreensão e investigação da dinâmica de estruturação territorial fluminense no tempo recente. Ou seja, não buscamos nele resultados conclusivos, mas sim, elementos que nos levem a maiores reflexões sobre o fenômeno de segunda residência, com atenção particular a estrutura territorial do Rio de Janeiro.

∗ Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Caxambu- MG – Brasil, de 29 de setembro a 03 de outubro de 2008. ♣ Estudante de graduação de Geografia - UFRJ e Bolsista de iniciação científica no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR) - UFRJ.

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Urbanização Perimetropolitana e a Organização Espacial das Residências Secundárias no Estado do Rio de Janeiro∗

Pedro Henrique Oliveira Gomes♣

Introdução

O processo de urbanização recente tem se configurado num duplo processo, conforme estudiosos brasileiros e latino-americanos vêem explicitando nas três últimas décadas. Numa primeira apreensão, constata-se o surgimento de novas centralidades metropolitanas e uma conseqüente diminuição no ímpeto da dinâmica demográfica das grandes metrópoles tradicionais; para numa segunda apreensão, percebermos um ganho de importância das cidades médias na rede urbana. As razões deste duplo processo são de naturezas e escalas múltiplas, que respeitam os interesses de cada agente dentre o conjunto de atores que produz e organiza o território brasileiro no período posterior a década de 1970. No Brasil, diversos estudos já foram realizados, explicitando que as duas grandes metrópoles nacionais (São Paulo e Rio de Janeiro) vêm enfrentando um processo de perda e estagnação da sua dinâmica demográfica e que, ao mesmo tempo, um conjunto de cidades médias e pequenas torna-se centralidades urbanas em excelência para a atração de grandes contingentes populacionais e de atividades econômicas sofisticadas (vide trabalhos de Santos, 1991; Santos, 2001; Martine, 1994).

O foco deste trabalho será o estudo do fenômeno da segunda residência em cidades médias fluminenses, tendo como pano de fundo um processo de urbanização não-metropolitana. Na nossa linha de pesquisa, este processo vem sendo analisado como uma nova lógica de urbanização, no qual debruçamos-nos em estudos sobre municípios localizados em áreas perimetropolitanas – ou seja, com espaços localizados no entorno das regiões metropolitanas (vide trabalho de Randolph, 2005). Deste modo, buscamos reconhecer nas cidades médias a espacialização do fenômeno da segunda residência como uma das práticas sócio-espaciais desta nova lógica urbana, denominada por nós como urbanização perimetropolitana.

O caminho metodológico trilhado será a análise dos dados domiciliares contidos no censo demográfico do IBGE de 2000. No entanto, priorizaremos os dados referentes a domicílios não-ocupados, que possuem como variáveis: domicílios fechados, domicílios de uso ocasional e domicílios vagos. Baseado na literatura, utilizaremos a variável “domicílios de uso ocasional” como indicador potencial para a investigação do fenômeno de segunda residência, e a variável “domicílios vagos” como um indicador potencial na análise do mercado imobiliário como agente que incorpora novas formas urbanas para a efetivação do fenômeno de segunda residência.

Com base nestes procedimentos, o estudo terá por objetivo: a) verificar o comportamento espacial do fenômeno das residências secundárias em cidades de porte médio

∗ Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Caxambu- MG – Brasil, de 29 de setembro a 03 de outubro de 2008. ♣ Estudante de graduação de Geografia - UFRJ e Bolsista de iniciação científica no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR) - UFRJ.

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selecionadas e situadas no estado do Rio de Janeiro; b) examinar a fenômeno da residência secundária segundo a situação dos domicílios: rural ou urbano; e c) subsidiar uma análise que permita verificar e levantar questões acerca da influência do fenômeno de segunda residência no processo de urbanização perimetropolitana.

A realização deste estudo servirá mais como um elemento de compreensão e investigação da dinâmica de estruturação territorial fluminense no tempo recente, pois, considerando os esforços já realizados na pesquisa sobre as novas formas de urbanização contemporânea, o turismo de segunda residência se tornou uma prática sócio-espacial bastante corrente nos inúmeros casos já registrados na nossa pesquisa. Deste modo, o seu estudo servirá para nos auxiliar na construção de uma hipótese mais consolidada.

1. Urbanização perimetropolitana e a situação das cidades médias

De acordo com Randolph & Gomes (2007), na literatura latino-americana, há um grande debate em torno de uma nova expressão do processo de urbanização na era da globalização, que se dirige às áreas não-metropolitanas. Em torno deste debate, os autores identificaram duas grandes interpretações: uma de acordo com a lógica tradicional da urbanização capitalista e outra com características bem diferentes, sugerindo a existência de uma nova lógica urbana.

Considerando a lógica tradicional, Mattos (2001) nos indica uma discussão internacional em torno do espraiamento da fronteira metropolitana, na qual ela é entendida como o advento de uma nova geografia de cobertura global baseada na valorização das cidades à medida que alcançam novas funções dentro da complexa rede de cidades mundiais. No entanto, conforme Mattos (2001) aponta, esse processo não passa de uma metropolização expandida, ou seja, um processo de incorporação de novas áreas e aldeias da periferia metropolitana. Essa tendência não seria nova, mas sim uma culminação lógica e previsível de uma etapa da urbanização capitalista na era da globalização.

Numa outra perspectiva, Aguilar (2002) desenvolve sua proposição baseada no estudo sobre o desenvolvimento econômico e metropolitano da Cidade do México, na qual aponta para um horizonte com características bem diferentes da lógica tradicional. Segundo o pesquisador, os diversos estudos sobre o papel das grandes cidades dentro da economia global negligenciam o desenvolvimento de periferias distantes da metrópole, e por causa disto, não percebem as novas características das regiões metropolitanas do tempo recente. Segundo Aguilar, as expandidas e cada vez mais difusas periferias metropolitanas ao redor dessas cidades tomaram e impuseram maior complexidade ao território, sendo sumamente importantes para entender a mudança da natureza das megacidades, conforme nos indica na seguinte citação:

“[...] em anos mais recentes, podemos apreciar que na medida em que diminuiu o crescimento da grande metrópole, continuou um importante crescimento de cidades intermediarias próximas a primeira, com a qual tem se aumentado uma marcada concentração de atividades produtivas e de população urbana em uma região central que contém a maior cidade do país, mas cobre um território muito mais amplo” (Aguilar, 2002 apud Randolph e Gomes, 2007: p. 01-02).

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Admitindo esta última perspectiva, nossa investigação tratará as cidades de porte médio não-metropolitanas como espaços em excelência de novas dinâmicas territoriais resultantes de processos sócio-espaciais paralelos.

No Brasil, a partir da década de 1970, o processo de urbanização tomou um novo rumo, indo em direção a áreas fora do âmbito metropolitano, quando cidades pequenas e médias começaram a receber grandes contingentes populacionais e um número considerável de empresas estatais e privadas. Considerando o aspecto demográfico, a tabela 1 nos mostra a evolução crescente na quantidade de municípios de pequeno e médio porte no Brasil entre 1960 e 2000.

1960 1970 1980 1991 2000Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00Até 50.000 90,42 91,47 87,32 85,93 86,93De 50.001 a 500.000 9,33 8,26 12,24 13,53 12,53Acima de 500.001 0,25 0,27 0,44 0,53 0,54

Fonte: Sidra/IBGE.

TABELA 1Porcentagem de Municípios segundo Tamanho Populacional

Classes de Tamanho Ano

Esse processo ficou caracterizado como uma desconcentração demográfica e uma descentralização produtiva, motivado por políticas públicas que visavam reorganizar o território brasileiro, estando de acordo com as intervenções urbanas e regionais planejadas no II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND). Segundo Santos, neste momento, as cidades de porte médio “passam a acolher maiores contingentes de classes médias e um número crescente de letrados, indispensáveis à produção material, industrial e agrícola, que se intelectualiza” (2001: p. 203). Assim, observamos, no Brasil, um fenômeno paralelo de metropolização e de desmetropolização, pois ao mesmo tempo crescem cidades grandes e cidades médias, ostentando ambas as categorias um notável incremento demográfico, conforme Davidovich (1995) comenta.

Na rede urbana brasileira, concordamos com Milton Santos que as cidades são os pontos de interseção e superposição entre as horizontalidades e verticalidades, no qual as cidades médias são consideradas espaços de visibilidade para “suprimento imediato e próximo da informação requerida pelas atividades agrícolas e desse modo se constituem em intérpretes da técnica e do mundo” (2001: p. 281). São, na escala regional, espaços de demanda de consumo de bens e serviços sofisticados de pequena escala. Portanto, o estudo das cidades médias apresenta-se como fundamento importante nas investigações sobre as novas lógicas urbanas. Entretanto, para não incorrer em nenhum erro teórico e/ou metodológico, a noção de cidades médias adotada neste trabalho será baseada em dois parâmetros metodológicos.

Primeiro, consideraremos como cidades médias o conjunto de municípios com tamanho populacional entre 50.000 e 500.000 habitantes, conforme Andrade e Serra (2001) sugerem, pois analisando a totalidade dos municípios segundo o tamanho populacional, destacamos como conjunto intermediário os espaços dentro desta faixa de tamanho. A utilização deste parâmetro demográfico servirá apenas como uma forma de organização dos dados, pois sabemos que ele não é capaz de nos proporcionar informações essenciais das cidades. Por isso, num segundo momento, utilizaremos o critério geográfico, ou seja, a posição geográfica das cidades será considerada. Assim, as cidades selecionadas não poderão

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estar contidas em regiões metropolitanas, e no caso do Rio de Janeiro, elas deverão estar localizadas até cerca de 180 Km do núcleo metropolitano. A razão para tal seleção está relacionada aos objetivos deste trabalho que é investigar o fenômeno especificado na área perimetropolitana e em cidades consideradas como centros regionais, conforme é explicitado por Sposito:

“Em primeiro lugar, há um consenso sobre o fato de que as cidades de porte médio que compõem áreas megalopolitanas, metropolitanas ou aglomeradas não são, de fato, cidades médias, pois que, se do ponto de vista demográfico, assim poderiam ser qualificadas, do ponto de vista econômico, compõem uma área urbana estruturada funcionalmente, com grau significativo de integração ou coesão interna [...]. Essa primeira constatação leva a conclusão de que o não pertencimento a áreas urbanas de grande porte é uma das condições para que se constitua o caráter de ‘cidade média’ [...]. Em segundo lugar, tanto maiores poderão ser os papéis urbanos de uma cidade, quanto mais distante ela estiver de outras que, pertencentes a níveis superiores da hierarquia urbana, possam oferecer mais bens e serviços a sociedade” (2001: p. 627).

Com base neste caminho teórico-metodológico, nossa reflexão se desenvolverá em torno de uma hipótese da qual o processo de urbanização não-metropolitana, denominada por nós como urbanização perimetropolitana, estaria configurado numa estrutura territorial policêntrica, onde cada cidade média exerceria seu papel regional, mas que em bloco estaria orientada para uma formação sócio-espacial complexa e diferenciada em comparação às características presentes nas áreas metropolitanas. Em alguns estudos já realizados, baseados em aspectos demográficos, observou-se que o crescimento demográfico e a mobilidade pendular alcançam resultados elevados, particularmente quando investigamos o caso da área perimetropolitana do Rio de Janeiro. No gráfico 1, podemos constatar que o desempenho da área perimetropolitana do Rio de Janeiro está acima do observado na região metropolitana, quando analisamos o dinamismo de crescimento da população.

Gráfico 1Relação de dinamismo populacional entre RMRJ e APeMRJ

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

0,30

0,35

1970-1980 1980-1991 1991-2000

Período

Perc

entu

al

Região metropolitana Área Perimetropolitana

Fonte: IBGE – 2000.

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Portanto, neste trabalho, iremos nos debruçar sobre a análise do fenômeno da segunda residência na área perimetropolitana do Rio de Janeiro, enfocando também neste comportamento entre as cidades de porte médio selecionadas.

2. O fenômeno da segunda residência no processo de urbanização: o caso do Rio de Janeiro.

O estado do Rio de Janeiro é constituído por 91 municípios, sendo 17 deles pertencentes à região metropolitana. Considerando o tamanho populacional, em 2000, o número de municípios com até 50.000 habitantes contabilizava 59 unidades espaciais. Enquanto que os municípios considerados de porte médio, ou seja, entre 50.000 e 500.000 habitantes, alcançavam o número de 28 unidades espaciais. Por último, acrescentam-se os que alcançam uma população acima de 500.000 que são quatro municípios.

A dimensão espacial deste trabalho será desenvolvida sobre três recortes espaciais de análise. O primeiro recorte será na escala metropolitana, considerando a composição atual da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ). O segundo recorte será a área perimetropolitana do Rio de Janeiro (APeMRJ), constituída por municípios localizados no entorno metropolitano. O terceiro recorte será o conjunto de municípios de porte médio (16 municípios), situados na área perimetropolitana do Rio de Janeiro e distanciados até 180 Km do núcleo metropolitano, conforme é apresentado na tabela 2.

TABELA 2

Constituição dos recortes de análise – Rio de Janeiro

RECORTE ESPACIAL MUNICÍPIOS

Região Metropolitana

Rio de Janeiro, Belford Roxo, Duque de Caxias, Guapimirim, Itaboraí, Japeri, Magé, Mesquita, Nilópolis, Niterói, Nova Iguaçu, Paracambi, Queimados, São Gonçalo, São João de Meriti, Seropédica e Tanguá.

Área Perimetropolitana

Paraty, Angra dos Reis, Mangaratiba, Itaguaí, Piraí, Mendes, Rio Claro, Engenheiro Paulo de Frontin, Miguel Pereira, Vassouras, Paty de Alferes, Petrópolis, Teresópolis, Cachoeiras de Macacu, Rio Bonito, Maricá, Saquarema, Iguaba Grande, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Armação de Búzios, Araruama, Nova Friburgo, São Pedro da Aldeia, Silva Jardim, Rio das Ostras, Casimiro de Abreu, São José do Vale do Rio Preto, Areal, Pinheiral e Barra do Piraí.

Cidades de Porte Médio selecionadas

Saquarema, São Pedro da Aldeia, Valença, Três Rios, Maricá, Itaguaí, Araruama, Barra do Piraí, Resende, Angra dos Reis, Cabo Frio, Teresópolis, Barra Mansa, Nova Friburgo, Volta Redonda, Petrópolis.

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Para dar conta da temática, nossa análise foi desenvolvida a partir de três hipóteses que possibilitam uma visão integrada entre o processo de urbanização perimetropolitana e o fenômeno da segunda residência: primeiro, a residência secundária entendida como expressão de uma expansão urbana que extravasa os limites da área de influência imediata da metrópole; segundo, a residência secundária como estratégia de expansão da demanda metropolitana do setor imobiliário, que visa alcançar novos espaços de consumo; e terceiro, a residência secundária como estratégia de refúgio dos grupos sociais de média e alta renda devido a traumas psicossociais da cidade caótica.

2.1. A residência secundária como objeto de análise.

O fenômeno da residência secundária é uma temática pouco trabalhada no Brasil, mas que em outros países já foi bastante explorada, como em Portugal, Espanha e França. Na literatura nacional, encontramos alguns trabalhos que a abordam como uma atividade turística que gera impactos sócio-ambientais (ver trabalhos sobre o caso paulista com Tulik, 1995; e o caso nordestino com Assis, 2000). Entretanto, como fenômeno participante do processo de urbanização, encontramos poucos trabalhos (vide Benhamou, 1971; Coelho, 1986; Ribeiro, 2007).

De acordo com ASSIS (2003), a residência secundária pode ser caracterizada como uma forma espacial vinculada ao turismo de fins de semana ou temporada de férias, e é determinada por um conjunto de fatores sociais, econômicos e espaciais que lhe dão complexidade, como a disponibilidade de tempo livre, de renda excedente e a distância da residência permanente.

Como um fato sócio-espacial característico da sociedade contemporânea, o fenômeno da residência secundária se tornou corrente no Brasil na década de 1950,

“sob a égide do ‘nacional-desenvolvimentismo’ que foi responsável pela implantação da indústria automobilística, pela ascensão do rodoviarismo como matriz principal dos transportes e pela emergência de novos estratos sociais médios e urbanos que, aos poucos, começariam a incorporar entre seus valores sócio-culturais a ideologia do turismo e do lazer. Ou seja, o veraneio se transformou em valor social cuja satisfação levaria o turismo, de um modo muitas vezes predatório e desordenado, a regiões acessíveis a grandes centros urbanos do Centro-Sul, e com atributos ambientais valorizados – zonas costeiras ou serranas” (BECKER, 1995).

Associado ao processo de urbanização, a residência secundária aparece como uma das práticas sócio-espaciais que transformam e redefinem a relação centro-periferia no território. Na literatura, encontramos uma série de referências que evidenciam esta associação, explicando que o processo urbano está configurado numa trajetória constante de busca de espaços com amenidades sociais e ambientais com potencialidades para a prática do veraneio. Segundo Benhamou (1971), o turismo de segunda residência é um fenômeno ligado ao movimento geral da urbanização e a modificação das condições sócio-econômicas dos indivíduos. Ou seja, o fenômeno tem por característica participar de processos espaciais de expansão do tecido urbano além dos limites imediatos das metrópoles (vide trabalhos de ASSIS, 2003; RIBEIRO, 2007).

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2.2. A organização espacial das residências secundárias no estado do Rio de Janeiro.

O conteúdo analítico deste estudo visa a identificação e a diferenciação do comportamento espacial do fenômeno de residência secundária entre os três recortes de análises destacados anteriormente. Para isso, foram trabalhados os dados domiciliares presentes no censo demográfico de 2000. Os dados domiciliares são constituídos por dois tipos de dados: domicílios ocupados e não-ocupados. Aqui nos enfocaremos sobre os dados de domicílios não-ocupados, devido a serem as variáveis que ajudarão na resolução dos objetivos propostos. Os domicílios não-ocupados apresentam três variáveis: domicílios fechados, domicílios de uso ocasional e domicílios vagos.

Quando observamos a distribuição dos domicílios segundo a espécie do domicílio nos três recortes espaciais (ver gráfico 2), percebemos que a distribuição dos domicílios ocupados possui maior ocorrência na região metropolitana, seguido pelo grupo de cidades de porte médio selecionadas. Essa constatação pode estar relacionada ao desenvolvimento sócio-espacial existente na região metropolitana (local de trabalho e núcleo das atividades econômicas sofisticadas) e nas cidades de porte médio (possíveis centros regionais de atividades econômicas em pequena escala), como também é bom frisar que são as áreas que concentram boa parte da população nas proximidades da metrópole do Rio de Janeiro. Com relação aos domicílios não-ocupados, constatamos que a área perimetropolitana, seguida pelas cidades de porte médio, concentra uma quantidade de domicílios acima do observado na região metropolitana. Esses resultados nos mostram uma tendência da taxa de ocupação domiciliar ser maior nas proximidades da metrópole. No entanto, é preciso verificar o conteúdo desta taxa de não-ocupação dos domicílios na área perimetropolitana e nas cidades de porte médio.

GRÁFICO 2Relação entre domicilios ocupados e não-ocupados nos três recortes de análise

85,30

14,70

66,52

33,48

72,19

27,81

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

90,00

Ocupados Não-ocupadosTipo de domicílio

%

Região Metropolitana Área Perimetropolitana Cidades de Porte Médio

Fonte: IBGE – 2000.

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Em busca de subsídios para verificar o conteúdo desta taxa de não-ocupação, é preciso dedicar-se a análise das três variáveis contidas no indicador domicílios não-ocupados, pois podemos levantar maiores considerações sobre o comportamento do fenômeno nos três recortes de análise (ver gráfico 3).

GRÁFICO 3

Comparação ente domicílios fechados, de uso ocasional e vagos nos três recortes de análise.

10,25

15,73

74,01

2,56

63,79

33,66

3,30

56,10

40,60

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

Fechados Uso Ocasional VagosTipo de domicílio não-ocupado

%

Região Metropolitana Área Perimetropolitana Cidades de Porte Médio

Fonte: IBGE – 2000.

Com a variável “domicílios de uso ocasional”, podemos analisar o comportamento da residência secundária, pois, segundo o IBGE (2000), tal variável representa o total de domicílios que servem como moradia temporária, durante as férias e/ou fins de semana. A análise desta variável nos traz as seguintes constatações:

a) A residência secundária possui uma maior presença na área perimetropolitana, seguida pelas cidades de porte médio. Isso nos leva a acreditar que o fenômeno possui características não-metropolitanas, mas, principalmente, tende a ocorrer em áreas próximas a centros regionais.

b) A presença elevada de segunda residência em cidades de porte médio e na área perimetropolitana pode estar associada a um estágio intermediário de urbanização não-metropolitana, pensando num processo contínuo de ocupação de áreas de baixa densidade demográfica.

Com a variável “domicílios vagos”, podemos utilizá-los como uma forma de reserva do mercado imobiliário para a efetivação do fenômeno de residência secundária. A análise desta variável nos trouxe as seguintes constatações:

a) O elevado número de domicílios vagos na região metropolitana pode estar associado ao fenômeno característico do mercado imobiliário metropolitano, quando se reservam áreas para posterior processo de sobrelucro por antecipação.

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b) O índice elevado de domicílios vagos nas cidades de porte médio selecionadas e na área perimetropolitana pode nos levar a acreditar que existe um processo de reprodução das lógicas imobiliárias do sistema capitalista.

Entretanto, ainda precisamos verificar qual a situação dos domicílios de uso ocasional entre os três recortes espaciais (ver gráfico 4), ou seja, verificar onde se dá este fenômeno na escala intraurbana. Deste modo, qual é a situação do domicilio na distribuição espacial da residência secundária?

GRÁFICO 4Distribuição dos domicílios de uso ocasional por situação de domicílio - 2000

4,28

12,26 12,81

87,1987,74

95,72

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

90,00

100,00

Região Metropolitana Área Perimetropolitana Cidades de Porte Médio

%

Urbano Rural

Podemos constatar que a residência secundária é um fenômeno predominantemente urbano no Rio de Janeiro, pois a quantidade de domicílios de uso ocasional é maior nas áreas urbanas, porém, conforme se distancia da metrópole a sua ocorrência tende a aumentar nas áreas rurais. Esse resultado não gera surpresa por que a taxa de urbanização na área metropolitana é bastante avançada, porém, no caso da área perimetropolitana e das cidades de porte médio, acreditávamos que haveria um maior equilíbrio na distribuição dos domicílios. Logo, essa constatação pode nos levar a pensar que o fenômeno de segunda residência no Rio de Janeiro pode estar associado a um desejo de refúgio dos males proporcionados pelos problemas sócio-ambientais característicos das áreas urbanas metropolitanas.

3. Considerações finais

Este trabalho teve por objetivo investigar o comportamento espacial da residência secundária no estado do Rio de Janeiro, admitindo este fenômeno como uma das práticas sócio-espaciais presentes no processo de urbanização perimetropolitana. Para isto, foram utilizados dados censitários sobre domicílios contidos no censo demográfico de 2000. A nossa análise foi pautada na distribuição do fenômeno por três recortes espaciais: região metropolitana, área perimetropolitana e cidades de porte médio selecionadas.

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O comportamento espacial do fenômeno da segunda residência possui maior intensidade na área perimetropolitana e nas cidades médias, no entanto, tal comportamento pode ser fruto do processo natural e contínuo de alcance dos lugares potenciais para a efetivação do veraneio. Isso na trajetória histórica do Rio de Janeiro se conformou segundo a lógica da sociedade naquele momento, indo das praias urbanas, passando pelos sítios da periferia imediata e as casas de veraneio na periferia distante. Tudo isso baseado no processo de expansão do tecido urbano, quando vilas mais distantes da metrópole vão sendo absorvidas pelo fenômeno urbano.

Os objetivos propostos no início do trabalho foram alcançados com certo êxito. Porém, não tínhamos nenhuma pretensão de chegar a conclusões. O nosso grande interesse era com base na literatura e na fonte de dados consultada, levantar questionamentos que pudessem orientar futuros trabalhos e/ou colaborar na ampliação da discussão sobre temática no âmbito acadêmico e na geração de dados censitários. Deste modo, nesta parte final, levantaremos questões com base nas constatações levantadas durante o trabalho. Questões que não estão interligadas necessariamente, mas que podem ser desenvolvidas tanto em unidade como em conjunto.

Primeiro, pensando na segunda residência como expressão do tecido urbano em expansão, podemos considerar este fenômeno como um estágio intermediário de uma expansão urbana para áreas não-metropolitanas, configurado num processo de transição entre ocupação temporária para uma ocupação permanente.

Segundo, a residência secundária, entendida como um fato sócio-espacial característico da sociedade pós-industrial, pode ser considerada uma forma espacial apropriada pela urbanização capitalista para reprodução das lógicas urbanas tradicionais nas áreas não-metropolitanas.

Terceiro, a segunda residência, entendida como expressão da prática sócio-espacial de grupos sociais de renda solvável que buscam uma separação entre o espaço de trabalho e o espaço de consumo, pode ser associada a uma nova lógica de urbanização.

Espera-se que tenhamos conseguido chegar ao nosso objetivo que foi inteiramente levantar questões sobre o fenômeno da segunda residência, particularmente, tendo como pano de fundo um processo de urbanização com novas formas e novos conteúdos.

Referências

AGUILAR, A. G. Las mega-ciudades y las periferias expandidas. EURE, vol. 28, número 85, 2002. pp. 121-149.

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