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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE- UNIVALE- FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CURSO DE PSICOLOGIA Cristiana Trindade D‟Ávila Magalhães STRESS, EMOÇÕES E HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA: O lado fisiológico do comportamento Governador Valadares 2011

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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE- UNIVALE- FACULDADE DE

CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

CURSO DE PSICOLOGIA

Cristiana Trindade D‟Ávila Magalhães

STRESS, EMOÇÕES E HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA:

O lado fisiológico do comportamento

Governador Valadares

2011

CRISTIANA TRINDADE D´ÁVILA MAGALHÃES

STRESS, EMOÇÕES E HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA:

O lado fisiológico do comportamento

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Habilitação em Psicologia, da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, do Curso de Psicologia da Universidade Vale do Rio Doce.

Orientador: João Carlos Muniz Martinelli

Governador Valadares

2011

CRISTIANA TRINDADE D´ÁVILA MAGALHÃES

STRESS, EMOÇÕES E HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA

O lado fisiológico do comportamento

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Habilitação em Psicologia, da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, do Curso de Psicologia da Universidade Vale do Rio Doce.

Orientador: João Carlos Muniz Martinelli

Governador Valadares_____ de _____de ______.

Banca Examinadora:

_______________________________

Prof. João Carlos M. Martinelli- Orientador

Universidade Vale do Rio Doce

________________________________

Prof. Carlos Alberto

Universidade Vale do Rio Doce

_________________________________

Prof. Max Pereira Gonçalves

Universidade Vale do Rio Doce

RESUMO

O objetivo deste trabalho é apresentar a inter- relação das emoções, especificamente do stress emocional, com estruturas dos sistemas cardiovascular, nervoso e endócrino em processos orgânicos atuantes no desenvolvimento de patologias e a contribuição deste aspecto no desencadeamento da hipertensão arterial sistêmica (HAS).

Foi verificado mediante revisão da literatura que pesquisas recentes, outras nem tão recentes assim, têm colocado em evidência a grande influência potencial das emoções em sua relação com a debilitação fisiológica. O sistema límbico atuante na caracterização de padrões emocionais, como excitação, reações a dor e ao prazer, raiva e atividades sexuais e pela ativação do sistema nervoso autônomo, encarregado das funções vegetativas vitais como pressão arterial e respiração, tem papel essencial na associação emoção e patologia. Os fenômenos psicológicos podem ser, então, compreendidos neste contexto de um corpo estrutural, funcionalmente integrado na sua relação mútua com o meio.

A escolha do tema se justifica nos altos índices percentuais da taxa de mortalidade por doenças do aparelho circulatório decorrentes da HAS e a contribuição do stress para a etiologia desta doença, ressaltando a importância do aprimoramento da intervenção da psicologia.

Palavras-Chave: Stress. Emoções. Hipertensão arterial sistêmica. Sistema límbico. Sistema nervoso autônomo. Psicologia.

ABSTRACT

This study presents the interrelationship of emotions, particularly emotional stress, with structures of the cardiovascular, nervous and endocrine processes active in the development of organic diseases and the contribution of this in the onset of hypertension.

It was verified through literature review that recent research, some not so recent as well have put in evidence the great potential influence of emotions in their relation with physiological weakness. The limbic system acting on the characterization of emotional patterns, such as excitement, reactions to pain and pleasure, anger and sexual activity and the activation of the autonomic nervous system, in charge of vital vegetative functions such as blood pressure and respiration, plays an essential role in the association of emotion and pathology. Psychological phenomena can then be understood in the context of a structural body, functionally integrated into their mutual relationship with the environment.

The choice of theme was justified by the high percentage rates of mortality from circulatory diseases resulting from hypertension and the contribution of stress to the etiology of this disease, underscoring the importance of improving the intervention of psychology. Keywords: Stress. Emotions. Hypertension. Limbic system. Autonomic nervous system. Psychology.

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Classificação da Pressão Arterial segundo a VI Diretrizes Brasileira de

Hipertensão Arterial....................................................................................................19

Tabela 2 – Classificação da Hipertensão Arterial segundo a VI Diretrizes Brasileira

de Hipertensão Arterial...............................................................................................22

LISTA DE SIGLAS

PA - Pressão Arterial

DC - Débito Cardíaco

RVP - Resistência Vascular Periférica

FC- Frequência Cardíaca

VS- Volume Sistólico

PAS- Pressão Arterial Sistólica

PAD- Pressão Arterial Diastólica

HAS - Hipertensão Arterial Sistêmica

ICC- Insuficiência Cardíaca Congestiva

HVE- Hipertrofia Ventricular Esquerda

IAM- Infarto Agudo do Miocárdio

AVE- Acidente Vascular Encefálico

SL- Sistema Límbico

SNA- Sistema Nervoso Autônomo

SNC- Sistema Nervoso Central

ACTH- Hormônio Adrenocorticotrófico

CRH- Hormônio Liberador de Corticotrofina

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10

REVISÃO DA LITERATURA ..................................................................................... 14

Capítulo I ................................................................................................................... 14

2 PRESSÃO ARTERIAL E HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA ....................... 14

2.1 CLASSIFICAÇÃO E VARIAÇÕES NORMAIS DA PA ...................................... 18

2.2 HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS) .............................................. 21

2.2.1 Fatores de risco para a HAS .................................................................................................. 23

2.2.2 Principais patologias relacionadas à hipertensão secundária.............................................. 26

2.2.3 Complicações derivadas da HAS........................................................................................... 28

2.2.4 Características de Personalidade do Hipertenso ................................................................. 30

Capítulo II .................................................................................................................. 34

3. DAS EMOÇÕES ÁS FUNÇÕES DE CONDUTA E REAÇÕES AUTONÔMICAS:

SISTEMA LÍMBICO E SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO. ..................................... 34

3.1 UMA INTRODUÇÃO AO SISTEMA LÍMBICO.................................................. 36

3.2 HIPOTÁLAMO E SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO: EQUILÍBRIO INTERNO.

............................................................................................................................... 39

3.3 ESTRUTURAS LÍMBICAS E SUAS FUNÇÕES DE CONDUTA. ..................... 43

3.3.1 Dor e prazer: recompensa e castigo ..................................................................................... 43

3.3.2 Conduta de defesa afetiva: Raiva, Medo, Luta e Fuga ......................................................... 45

Capítulo III ................................................................................................................. 49

4 O STRESS E SUAS IMPLICAÇÕES. ..................................................................... 49

4.1 STRESS E ESTRESSORES ........................................................................... 49

4.2 ESTRESSORES INTERNOS E EXTERNOS ................................................... 51

4.3 OS MECANISMOS FISIOLÓGICOS DO STRESS E OS DANOS ORGÂNICOS

............................................................................................................................... 52

4.4 AS FASES DO STRESS .................................................................................. 55

Capitulo IV ................................................................................................................. 59

5 STRESS E HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA ............................................ 59

CONCLUSÃO ............................................................................................................ 64

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 66

10

1 INTRODUÇÃO

A proposta deste trabalho realizado por revisão da literatura é a de conhecer

as estruturas orgânicas e os processos fisiológicos envolvidos na perspectiva

emocional do soma e entender como as emoções se relacionam a padrões de

comportamento e patologias orgânicas.

Como prediz o tema deste trabalho a intenção maior é a de transitar pelo

universo orgânico, fisiológico e estrutural das emoções a fim de conhecer melhor os

mecanismos e porções neurais encarregados da integração, associação e

interpretação emocional de estímulos sensoriais.

Este trabalho tem o intuito de identificar algumas funções e estruturas

orgânicas relacionadas às emoções e em consequência ao processo do stress, que

mediante alterações no seu mecanismo, desencadeadas por um estressor, atuam

no desenvolvimento de doenças.

A hipertensão arterial sistêmica foi escolhida como foco por ser uma das

principais preocupações em saúde pública devido às conseqüências drásticas que

esta doença pode ter.

Para focalizar o assunto, foi realizada uma abordagem sobre o stress e a

hipertensão arterial sistêmica (HAS), considerando a atualidade do tema e a

importância de estudos direcionados ao aprimoramento das intervenções

psicológicas nesta área.

Em primeiro lugar tornou-se necessário um melhor conhecimento sobre o que

é pressão arterial (PA), para o que foi descrito o processo cardiovascular, no qual a

PA é uma medida de seu funcionamento. A primeira parte do capítulo I discorre

sobre conceitos biológicos, e tem como objetivo compreender o mecanismo

denominado pressão arterial. Nos tópicos seguintes são abordadas as variações

normais da PA em situações cotidianas, mostrando que a reatividade emocional a

acontecimentos diários como tomar um café, se preparar para um encontro amoroso

e até acordar de uma noite de sono pode elevar a PA. A alteração patológica

classificada como HAS também foi descrita, indicando os parâmetros de sua

classificação, segundo as VI Diretrizes de Hipertensão Arterial (2010), assim como

11

observado os preocupantes registros de porcentagens de indivíduos no Brasil e no

mundo que sofrem desta doença. Finalmente, foram apontados alguns fatores de

risco, como a hereditariedade, a etnia, o consumo de bebidas alcoólicas e cigarro e

a obesidade, entre outros.

Verificou-se que a maioria dos óbitos ocasionados por episódios

cardiovasculares ocorria em indivíduos hipertensos e as principais patologias

decorrentes da HAS foram descritas. A hipertensão arterial primária é a que mais

atinge a população, á este tipo de HAS não é possível atribuir uma causa específica

e o tratamento abrange um controle de perspectiva multifatorial, já a hipertensão

arterial secundária ocorre devido a uma patologia pré- existente; como disfunções

renais e tumores. O diagnóstico da HAS pode ser realizado por profissionais da

saúde mediante métodos como o da esfingmomanômetria e o MAPA, um método

automático que mede a PA do individuo durante suas atividades rotineiras. O

diagnóstico precoce e a adesão ao tratamento pode evitar a progressão da doença e

proporciona uma melhora significativa na qualidade de vida do portador de HAS.

Em seguida, para atingir o objetivo do trabalho, o Capítulo II examina

aspectos do sistema límbico, a divisão subcortical do sistema nervoso central que,

mediante conexões complexas entre suas estruturas, se apropria do estímulo e o

torna vivo, multicolorido e único, cheio de subjetividade e sentido, embebido dos

efeitos de dor, prazer, raiva, paixão, medo, coragem. Esta conjectura teatral,

configurada pelo entrelace do interno com o externo, nos torna singulares, apesar do

outro que nos precede. E são as características desta singularidade que muitas

vezes nos iludem e constroem armadilhas.

O capítulo III deste trabalho se baseia na descrição das implicações que o

stress pode ter para a saúde do indivíduo de acordo com a intensidade da reação a

estressores, abordando os mecanismos fisiológicos do stress, seus danos orgânicos

e as fases deste processo, descritas por Lipp. Os estudos de HIGGINS (2010) em

genética comprovaram que experiências de vida configuram nosso cérebro,

mediante alterações de processos químicos que podem levar a uma maneira de

pensar e sentir propícias a desencadear patologias físicas e/ou psíquicas.

“[...] a experiência de vida pode literalmente mudar a mente de uma pessoa ao envolver quimicamente o DNA, embora não interfira no código genético. Em especial, situações traumáticas, abuso de drogas ou carência de afeto na infância levam moléculas satélite a grudar no DNA. Em vez de se

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ajustarem á essência básica da estrutura, esses “intrusos moleculares” modificam a expressão genética, fechando ou alterando a construção de proteínas, o que afeta o estado mental do indivíduo, da mesma forma que a velocidade de uma linha de produção influi na produção total e, por fim, no resultado final da empresa.” (HIGGINS, 2010, p. 47).

O stress emocional é produto do caráter sentimental que a amígdala através

do hipotálamo, em conexão com outras estruturas límbicas, proporciona a um

estimulo considerado ameaçador à homeostase interna. O hipotálamo ativa o

sistema nervoso autônomo (SNA) e envia sinais através da hipófise para as

glândulas supra-renais que liberam hormônios reforçadores do sistema simpático,

responsável por reações vegetativas como o aumento da pressão arterial e da

freqüência cardíaca, entre outros mecanismos que objetivam deixar o corpo em

estado de prontidão.

Estas alterações neuroendócrinas, persistentes por um longo período ou

desencadeadas por grande intensidade emocional, mesmo que por um tempo não

relevante, enfraquecem funções endócrinas. Isso diminui as respostas imunes

(STERN, 2010), devido a níveis elevados de cortisol, o que propicia o

desenvolvimento de conseqüências negativas, entre elas, patologias graves como a

HAS. Lipp (1996) identifica quatro fases no processo do stress: alerta, resistência,

quase exaustão e exaustão. Depois das duas primeiras etapas o organismo perde o

autocontrole na tentativa de recuperação da homeostase, pois a reserva de energia

reparadora chega ao fim. É nesta contingência interna que as doenças se instalam

(LIPP, 1996).

As reações de certos indivíduos a estressores chegam à fase de quase

exaustão, esta etapa se caracteriza pela preocupação e ansiedade excessivas que,

segundo Stern (2010) agrava o comprometimento do organismo e reduz a reação de

enfrentamento ao stress. Estas pessoas não reagem de forma adequada a

estressores demonstrando uma menor variação cardíaca em períodos de

inquietação; a freqüência cardíaca, neste caso, se mantêm elevada mesmo em

repouso. Segundo Lipp (1996), no caso de indivíduos hipertensos a reação ao stress

se manifestou exagerada com altos picos na PA, em contraponto com indivíduos

normotensos. De acordo com Stern,

Em 2006, um grupo de pesquisadores da Universidade Colúmbia, do

National Institute on Aging e da Universidade de Leiden, na Holanda,

revisou mais de 20 estudos e descobriu que o excesso de inquietação pode

13

sobrecarregar o organismo e causar problemas cardiovasculares (STERN,

2010, p.44).

O capítulo IV mostra a culminação desses achados, integrando todos os

capítulos ao tema Stress, Emoções e Hipertensão Arterial.

As patologias derivadas da HAS, por comprometer seriamente o sistema

cardiovascular, são a maior causa de óbito e morbidez no mundo e a ausência de

sintomas na hipertensão arterial agrava ainda mais o quadro (MEDGRUPO, 2009).

Identificar as características psicológicas destes indivíduos e sua forma de

enfrentamento ao stress, assim como estabelecer uma visão orgânica dos

processos mentais e comportamentais que levam à enfermidade se torna essencial

a estudos que objetivam o aprimoramento da intervenção psicológica no tratamento

de pacientes somáticos.

Segundo Medgrupo (2009) o tratamento não se restringe a meramente

regularizar a PA, afirma que ao tratar um hipertenso, ”[...] devemos ter sempre em

mente: o objetivo primordial não é simplesmente baixar os níveis pressóricos. O

principal é a redução dos riscos de morbimortalidade cardiovascular do nosso

paciente.” (p.39). Do exposto depreende-se a importância dos estudos e pesquisas

da psicologia sobre o decurso estrutural e fisiológico dos mecanismos orgânicos

envolvidos na interação dos processos emocionais, traços de personalidade e

episódios patológicos do sistema circulatório.

14

REVISÃO DA LITERATURA

Capítulo I

2 PRESSÃO ARTERIAL E HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA

Para que os tecidos de um organismo funcionem adequadamente necessitam

da qualidade da função de suas células. O equilíbrio e as condições saudáveis do

meio ambiente em que as células vivem são essenciais para o bom funcionamento

das mesmas (SOUZA & ELIAS, 2006). Este meio ambiente só pode ser mantido

pelo fluxo sanguíneo contínuo que irriga os tecidos através do sistema circulatório

(SOUZA & ELIAS, 2006).

O sangue é o meio líquido composto por hemácias, leucócitos e plaquetas,

inseridos em um líquido amarelado denominado plasma (GUYTON, 1976), condutor

de nutrientes, oxigênio, água, hormônios e diversas substâncias necessárias á

alimentação e função das células dos diferentes tecidos do corpo (SOUZA & ELIAS,

2006). Segundo Otoni, (2005), o sucesso dessa dinâmica só é possível mediante o

funcionamento integral de intercomunicação do sistema cardiovascular assim,

O sistema cardiovascular possui três funções primordiais: o transporte de oxigênio e de outros nutrientes para as células do organismo, remover as excretas metabólicas resultantes do metabolismo celular, e promover o transporte de substâncias pela corrente sanguínea de um local do corpo para outro como é o caso dos hormônios, água e eletrólitos (OTONI, 2005, p. 90).

Os elementos funcionais que formam esse sistema são: O coração, as

artérias, as veias e os capilares e vasos linfáticos (SOUZA & ELIAS, 2006). O

coração é o músculo propulsor que fornece energia para o funcionamento

ininterrupto do sistema circulatório, e em aves e mamíferos,“[...] é uma bomba

pulsátil, de quatro câmaras, compostas de dois átrios e dois ventrículos.” (GUYTON,

1976, p. 143). A quantidade de vezes que o coração bate por minuto denomina-se

freqüência cardíaca (FC). Entre um batimento e outro ocorre o ciclo cardíaco que é

exercitado mediante os movimentos de sístole (contração) e diástole (relaxamento).

Na sístole é provocada a expulsão de sangue das câmaras cardíacas e na diástole

acontece o enchimento das câmaras cardíacas com volume sanguíneo (OTONI,

15

2005), ou ainda, a função sistólica é a capacidade que o ventrículo tem de bombear

o material sanguíneo para as artérias e a função diastólica é a capacidade

ventricular de se encher com o sangue proveniente das grandes veias

(MEDGRUPO, 2009). Pode-se, por sua vez, dividir o sistema circulatório em dois

segmentos: a circulação pulmonar ou pequena circulação e a circulação periférica,

sistêmica ou grande circulação (GUYTON, 1976).

Segundo Souza e Elias (2006), a interação destas duas circulações

elementares do ciclo cardiovascular pode ser resumida em um processo básico. No

coração, os átrios são câmaras que recebem o sangue venoso e o expele para os

ventrículos para que estes possam bombear o sangue para as artérias e estas para

os tecidos através dos capilares. Dessa forma,

“[...] Os átrios atuam como bomba primária para os ventrículos, e os ventrículos fornecem, então, a fonte principal para mover o sangue através do sistema vascular.” (GUYTON, 1976, p. 146).

O átrio direito recebe o sangue que retorna dos tecidos para o coração pelas

veias cavas superior e inferior, este sangue venoso é expulsado pelo átrio direito

para o ventrículo direito que bombeia o sangue pela artéria pulmonar para os

pulmões onde ele é oxigenado pelo processo de trocas gasosas com o ar (SOUZA &

ELIAS, 2006). O sangue rico em oxigênio retorna dos pulmões para o coração, pelas

veias pulmonares, para o átrio esquerdo que expele este sangue para o ventrículo

esquerdo, e este, com grande força de contração, bombeia o sangue para o corpo

inteiro passando primeiro pela aorta depois pelas demais artérias até chegar aos

capilares que irrigaram as células dos diferentes tecidos (SOUZA & ELIAS, 2006).

Sendo assim, “Os ventrículos fornecem a principal força que impulsiona o sangue

para os pulmões e sistema circulatório periférico.” (GUYTON, 1976, p. 143).

Segundo Guyton (1976), o volume de sangue bombeado, pelo movimento de sístole

cardíaca, de cada ventrículo, para os pulmões e para as artérias, é chamado de

volume sistólico (VS).

As artérias são vasos de paredes resistentes e flexíveis, encarregadas de “[...]

transportar o sangue sob alta pressão aos tecidos.”(GUYTON, 1976, p.210) e

subdividem-se em ramos, a medida que se afastam do coração” ( SOUZA & ELIAS,

2006, p. 52,). Assim,

As artérias periféricas nascem da aorta e se dirigem ao crânio, ao tórax e membros superiores, abdome e membros inferiores. Das artérias principais

16

nascem outras artérias que se dirigem as diferentes regiões ou órgãos onde continuam a se ramificar, como os ramos de uma arvore, até distribuir ramos para todos os pontos do organismo.” (SOUZA & ELIAS, 2006, p.60.)

Ao se aproximar dos tecidos, as artérias já possuem um calibre reduzido e

são chamadas de arteríolas que se ramificam em “[...] uma fina rede vascular,

composta pelos capilares que irrigam todos os tecidos.” (SOUZA & ELIAS, 2006,

52). As células destes tecidos são alimentadas, através dos capilares, pelo fluido

sanguíneo rico em nutrientes e oxigênio (GUYTON, 1976). Estas células teciduais,

por sua vez, eliminam excretas e dióxido de carbono que será transportado pelas

hemácias (90%) e pelo plasma (10%), através das veias, ao coração e depois aos

pulmões,

“Nas células teciduais, o oxigênio reage com diversos resíduos orgânicos para formar grandes quantidades de dióxido de carbono. Este por sua vez, entra nos capilares teciduais e é levado pelo sangue de volta aos pulmões” (GUYTON, 1976, p. 477)

Na extremidade do agrupamento dos capilares formam-se vênulas, estas

recolhem o sangue dos capilares e “[...] coalescem gradualmente em veias

progressivamente maiores.” (GUYTON, 1976, p.210). As vênulas recebem o sangue

residual das células, pelos capilares, que será conduzido através das veias,

acompanhando o trajeto das artérias em sentido inverso, ao coração (SOUZA &

ELIAS, 2006). O sangue pobre em nutrientes e oxigênio desemboca nas veias

cavas, superior e inferior, que drenaram o sangue para o átrio direito iniciando assim

outro ciclo cardíaco (SOUZA & ELIAS, 2006).

Segundo Lipp e Rocha (1996), “Pressão arterial é a força que o sangue

exerce contra as paredes dos vasos sanguíneos do corpo durante o ciclo

cardíaco.”(p. 19). De acordo com Souza e Elias (2006), a cada sístole (contração

ventricular), quando o sangue é bombeado para as artérias, a parede arterial

distende e aumenta de volume ao receber o sangue ejetado pelo ventrículo

esquerdo. Quando o músculo cardíaco encontra-se em diástole, as paredes arteriais

se contraem para continuar impulsionando o fluir do sangue pelo sistema circulatório

aos vasos mais periféricos, a fim de irrigar efetivamente os tecidos mais distantes

(SOUZA & ELIAS, 2006).

Tão logo o sangue é expelido pelo ventrículo esquerdo verifica-se que a

pressão arterial, no momento de sístole cardíaca, aumenta devido ao volume de

sangue que penetra em sua cavidade aumentando seu diâmetro, “A entrada de

17

sangue na aorta e demais artérias faz com que suas paredes se distendam e a

pressão no seu interior se eleva.” (SOUZA & ELIAS, 2006, p. 59). Já quando o

coração encontra-se em diástole a pressão arterial (PA) diminui em relação á

pressão sistólica, mas as paredes arteriais continuam exercendo pressão em força

de contração devido a necessidade de manter em movimento o fluido sanguíneo

para que atravesse os capilares e chegue ás células teciduais (OTONI, 2005).

Nesse sentido,

“A entrada de sangue para as artérias faz com que as paredes das mesmas sejam estiradas e a pressão aumente [...] Em seguida, ao final da sístole, após o ventrículo esquerdo ter cessado de ejetar sangue [...]a retração elástica das artérias mantém alta pressão nas artérias, mesmo durante a diástole.” (OTONI, 2005, p. 103).

A pressão elevada nas artérias no momento de sístole ventricular é

denominada pressão arterial sistólica (PAS), e a pressão arterial quando o músculo

do coração se encontra em diástole é chamada de pressão arterial diastólica (PAD)

(LIPP & ROCHA, 1996). A espessura e flexibilidade das paredes arteriais, ou seja, a

capacidade das artérias de aumentar e diminuir seu diâmetro de acordo com o

volume sanguíneo necessário para suprir as necessidades do organismo em

diferentes circunstâncias, como na pratica de exercício físico, ou em momentos de

stress, por exemplo, define a resistência nas artérias ao fluxo de sangue a qual é

denominada de resistência vascular periférica (RVP). Por sua vez,

“A resistência é proporcional ao diâmetro das artérias, o qual varia dependendo da espessura de suas paredes internas e de sua elasticidade, isto é, da habilidade das artérias de se contraírem e se expandirem” (LIPP & ROCHA, 1996, p.21).

Já a pressão é a força que impulsiona o fluir sanguíneo, esta oposta á

resistência encontrada ao fluxo nas artérias, sendo que

“O fluxo através do vaso sanguíneo é determinado inteiramente por dois fatores: (1) o gradiente de pressão que tende a empurrar o sangue através do vaso e (2) o impedimento ao fluxo sanguíneo através do vaso, que se denomina resistência vascular.” (GUYTON, 1976, p. 199).

A pressão arterial esta diretamente relacionada a três fatores: a frequência

cardíaca, o volume sistólico e a resistência vascular periférica. A relação entre a

quantidade de vezes que o coração bate por minuto (FC) e a quantidade de sangue

bombeado por minuto (VS) determina o que é definido como débito cardíaco (DC),

mais especificamente, a frequência cardíaca multiplicada pelo o volume sistólico é

igual ao débito cardíaco, DC= FC x VS (MEDGRUPO, 2009). A pressão arterial,

então, resulta da operação do valor do débito cardíaco vezes a resistência vascular

18

periférica, PA= DC x RVP. Assim, quanto maior for a resistência nas artérias e/ou o

débito cardíaco maior será a pressão. Conforme Lipp e Rocha,

“É por isto que quando as artérias se contraem em virtude do stress, a pressão sobe. Por outro lado, a quantidade de sangue que é expelida pelo coração depende da freqüência do batimento cardíaco, da força do batimento e da quantidade de fluido no sistema circulatório, de modo que se o coração bate mais forte ou de modo muito acelerado, a pressão também sobe [...]” (LIPP & ROCHA, 1996, p. 21).

2.1 CLASSIFICAÇÃO E VARIAÇÕES NORMAIS DA PA

A maneira tradicional de realização de medidas da pressão arterial é efetuada

com um esfigmomanômetro, onde a PA é calibrada em milímetros de mercúrio

(mmHg). Segundo Medgrupo (2009), esse aparelho foi desenvolvido por Riva-

Rocca, um médico italiano, em 1896. O esfigmomanômetro é utilizado por diversos

profissionais da saúde: médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas e

farmacêuticos e sua técnica de medição consiste na compressão da artéria braquial,

a principal artéria do braço.

A aferição é realizada por um sistema mecânico composto por uma

braçadeira feita por uma bolsa inflável de borracha (manguito) a qual é envolvida por

um tecido rígido formando o cuff, este é conectado por um tubo de borracha a um

manômetro e por outro tubo a uma válvula em sua extremidade operada pelo

profissional com a finalidade de inflar o cuff . As vibrações provenientes da artéria

braquial (sons de Korotcoff) são auscultadas através de um estetoscópio e mediante

o manômetro medidas a pressão sistólica e diastólica. (MEDGRUPO, 2009). Dado o

valor da mensuração da pressão arterial, diz-se que: “A medida da pressão arterial,

por sua importância, deve ser estimulada e realizada, em toda avaliação de saúde,

por médicos de todas as especialidades e demais profissionais da área da saúde.”

(III CONSENSO BRASILEIRO DE HIPERTENSÃO ARTERIAL, 1999, cap.I).

19

TABELA 1- Classificação da pressão arterial

Classificação PAS (mmHg) PAD (mmHg)

Ótima < 120 <80

Normal < 130 < 85

Limítrofe 130- 139 85-89

Fonte: VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial (2010).

Esta classificação é aplicada a pessoas com mais de 18 anos, que se

incluídas nas categorias da Tabela 1 são consideradas normotensas (VI

DIRETRIZES BRASILEIRAS DE HIPERTENSÃO ARTERIAL)

De acordo com Lipp e Rocha (1996), as variações da pressão arterial ocorrem

durante o dia em todas as pessoas, mesmo as normotensas, em reação a uma

atividade física, ao cigarro, ao álcool, a medicamentos e ao nível de stress

experimentado em situações rotineiras, que altera funções orgânicas e psíquicas.

Sendo o comportamento da pressão arterial bastante dinâmico, variando com a hora

do dia e com uma série de outros fatores, “A medida da PA deve ser feita com o

paciente em repouso, com o menor estresse possível e sem o efeito de nenhuma

substância pressórica circulante” (MEDGRUPO, 2009, p.28).

São fatores importantes, como fontes transitórias na elevação da PA, a

atividade física e intelectual assim como o estresse emocional, e neste caso, por

exemplo, “Durante ou logo antes de uma reunião importante, uma prova ou um

encontro amoroso, a PA sistólica aumenta em média 20mmHg e a PA diastólica em

15mmHg.” (MEDGRUPO, 2009, p.28). Um simples comportamento como o ato de

falar eleva a PA sistólica e diastólica em cerca de 7mmHg cada uma (MEDGRUPO,

2009). A PA também aumenta consideravelmente ao fumar um cigarro, consumir

uma dose de bebida alcoólica ou tomar um café, a ingestão de uma grande

quantidade de sódio também é um fator muito conhecido que contribui

significativamente para a elevação da PA (LIPP & ROCHA, 1996).

Um método automático considerado mais eficiente que a medida da PA em

consultório é a Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial (M.A.P.A), aplicado

20

nos pacientes durante suas atividades rotineiras, inclusive durante o sono, em um

período de 24 horas, com intervalos programados (III CONSENSO BRASILEIRO DE

HIPERTENSÃO ARTERIAL, 1999). Esta forma de aferição demonstrou uma

variação da PA referente também aos ciclos de sono e vigília,

“[...] a medida automática da PA com intervalos programados demonstrou uma variação circadiana da PA, que costuma cair, em média, 10/75mmHg durante as horas de sono, aumentar repentinamente nas primeiras horas após o despertar, estabilizando-se durante o restante do dia em níveis que oscilam conforme outros fatores.” (MEDGRUPO, 2009, p.28).

Segundo Lipp e Rocha (1996), nas pessoas normotensas as alterações da

pressão arterial não produzem malefícios, pois, a elasticidade normal das artérias

promove a restauração do funcionamento do organismo. Já em indivíduos que

possuem uma predisposição a desenvolver hipertensão, com reatividade constante,

alternando entre maior e menor intensidade o mecanismo de contração e

relaxamento das artérias, isto pode ocasionar um aumento na espessura das

paredes arteriais, tornando-as mais rígidas, o que aumentaria a RVP provocando a

hipertensão (LIPP, 1996). “Esta teoria é conhecida como hipótese da reatividade que

“[..] professa que quanto mais freqüente for o aumento da pressão arterial numa

pessoa com propensão a ser hipertensa, maior é a probabilidade de ela vir a ser

hipertensa.” (LIPP, p.23, 1996). A reatividade diz respeito ás variações da pressão

arterial sob estímulos estressores diversos e se difere da hipertensão que independe

do comportamento do individuo, por exemplo, em uma situação de repouso (LIPP,

1996).

A regulação da pressão arterial, e sua variabilidade, são creditadas além dos

sistemas endócrino e excretor, ao sistema nervoso, especificamente ao sistema

nervoso autônomo que recebe comandos de estruturas localizadas no sistema

nervoso central (SNC), hipotálamo, tronco encefálico e medula espinhal. Segundo

Guyton (1976), o hipotálamo, porção do sistema límbico responsável, junto a outras

estruturas, por atribuir caráter emocional ás sensações captadas pelo córtex

cerebral, é de importância determinante ao controle da pressão arterial e outros

mecanismos internos do organismo Este assunto será abordado com mais detalhes

no capítulo II deste trabalho.

21

2.2 HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS)

Após a invenção do esfigmomanômetro foi observado que a grande maioria

dos episódios de acidentes cardiovasculares acontecia em indivíduos que

apresentavam uma pressão arterial elevada, sendo colocado em evidência um alto

risco de padecimento por “[...] insuficiência cardíaca, congestiva, encefalopatia,

insuficiência renal progressiva, acidente vascular encefálico e morte precoce.”

(MEDGRUPO, 2009, p.27).

“A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma condição clínica multifatorial caracterizada por níveis elevados e sustentados de pressão arterial (PA). Associa-se frequentemente a alterações funcionais e/ou estruturais dos órgãos-alvo (coração, encéfalo, rins e vasos sanguíneos) e a alterações metabólicas, com consequente aumento do risco de eventos cardiovasculares fatais e não-fatais.” (VI DIRETRIZES BRASILEIRAS DE HIPERTENSÃO, 2010, p. 01).

O mecanismo fisiológico da hipertensão é caracterizado por uma resistência

arterial de alta intensidade devido a valores elevados do débito cardíaco resultante

da multiplicação do volume sistólico (VS), pela frequência cardíaca (FC) (LIPP &

ROCHA, 1996), ou seja, na pessoa hipertensa o coração precisa trabalhar mais

intensamente para suprir a demanda do organismo de irrigação sanguínea a todos

os tecidos. Segundo Medgrupo (2009), a HAS não manifesta sintomas e até hoje, na

maioria da população, só é diagnosticada após um episódio cardiovascular,

chamando a atenção para uma série de cuidados preventivos e classifica a HAS

como um dos maiores problemas de saúde pública. Conforme Cipullo et al,

O controle da pressão arterial é crítico para a prevenção de lesão a órgãos induzida pela hipertensão, mas a natureza assintomática dessa doença faz com que ela seja sub-diagnosticada e consequentemente, sub-tratada, apesar de sua alta prevalência (CIPULLO et. al., 2010, p.01).

O diagnóstico correto da hipertensão arterial se refere a uma doença que

pode ter conseqüência grave e fatal o que indica a emergência da necessidade de

tratamento. Devido à variabilidade fisiológica da PA, em circunstâncias cotidianas, o

médico precisa obter a média de vários valores aferidos, em diferentes situações e

horas do dia, para estabelecer o comportamento da PA do seu paciente e poder

afirmar se ele é ou não hipertenso, a não ser que a PA esteja em valores muito

22

altos, maior que 180x110, os quais já comportam o diagnóstico de HAS

(MEDGRUPO, 2009).

Sobre os parâmetros para a identificação da HAS, a VI Diretrizes Brasileiras

de Hipertensão (2010) classifica:

TABELA 2- Classificação da Hipertensão Arterial

Classificação PAS (mmHg) PAD (mmHg)

Hipertensão Estágio I 140- 159 90- 99

Hipertensão Estágio II 160- 179 100- 109

Hipertensão Estágio III ≥ 180 ≥ 110

Hipertensão Sistólica Isolada

≥ 140 < 90

Fonte:VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial

Não obstante, o diagnóstico de hipertensão só pode ser considerado quando

a pressão arterial do individuo se mantém elevada independente das contingências

(LIPP & ROCHA, 1996).

Uma pessoa é considerada hipertensa quando sustenta uma pressão arterial

sistólica (PAS) igual ou superior a 140 mmHg e uma pressão arterial diastólica

(PAD) de 90 mmHg, esta medida é considerada no estágio I, hipertensão leve.

Quando a PAS atinge 160 mmHg e a PAD 100 mmHg a hipertensão chega ao

estágio II e seu grau é moderado. Já no estágio III, a hipertensão corresponde ao

nível grave, suas medidas atingem uma PAS maior ou igual a 180 mmHg e uma

PAD de 110 mmHg (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001). No entanto, esta classificação

não diz respeito ao risco de morbidade do individuo, “[...] um hipertenso classificado

no estágio I, se também for diabético, pode ser estratificado como grau de risco

muito alto.” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001, p.16). A resistência à insulina leva à

hipertensão e esta agrava a intolerância à glicose (MEDGRUPO, 2009)

Os índices percentuais da taxa de mortalidade por doenças do aparelho

circulatório decorrentes da hipertensão arterial são preocupantes, “Em 2001, cerca

de 7,6 milhões de mortes no mundo foram atribuídas à elevação da PA (54% por

23

acidente vascular encefálico- AVE e 47% por doenças isquêmicas do coração- DIC)”

(VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão, 2010, p.01). Considerada uma doença

cardiovascular crônica a hipertensão arterial sistêmica é a origem da “[...] maior parte

de eventos cerebrovasculares, cardíacos e renais da população mundial, muitos

deles preveníveis pelo precoce e adequado tratamento da doença.” (MEDGRUPO,

2009, p.27).

2.2.1 Fatores de risco para a HAS

Como foi mencionado na definição de HAS pela VI Diretrizes Brasileiras de

Hipertensão (2010), sua causa deriva da complexa interação de múltiplos fatores,

esta influência relaciona questões como hereditariedade, comportamento e

disfunções orgânicas.

Segundo dados do Medgrupo (2009), no Brasil a HAS atinge uma

porcentagem preocupante de 20-30%, entre os adultos. Este índice aumenta

proporcionalmente à idade do individuo, “Nos pacientes acima de 60 anos, cerca de

65% apresentam-se hipertensos” (MEDGRUPO, 2009, p. 27). A idade é um fator

preponderante ao considerar a HAS, pois, quanto mais jovem maior a elasticidade

arterial, sendo assim, a maior capacidade de dilatação e contração da parede das

artérias em jovens possibilita uma regulagem mais eficiente das “[...] alterações do

DC sem grandes variações na pressão arterial.” (LIPP & ROCHA, 1996, p. 25).

Atualmente, o aumento da hipertensão em crianças e adolescentes merece a

devida atenção, uma vez que sugere a mudança de hábitos decorrente da rápida

evolução tecnológica e o estabelecimento de um estilo de vida menos saudável

como sedentarismo e tipo de alimentação industrializada, pobre em nutrientes e rica

em gorduras, que em consequência elevou também os índices de obesidade nesta

faixa etária. O sedentarismo e a obesidade são fatores contribuintes à instalação da

HAS (MEDGRUPO, 2009).

“Indivíduos sedentários apresentam risco aproximado 30% maior de desenvolver hipertensão que os ativos. O exercício aeróbio apresenta efeito hipotensor maior em indivíduos hipertensos que normotensos.” (V DIRETRIZES BRASILEIRAS DE HIPERTENSÃO, 2006, p. 31)

24

Na obesidade, a pressão arterial aumenta devido à maior quantidade de

volume sanguíneo necessária para irrigar a reserva de gordura extra, o que faz com

que o coração trabalhe mais para cumprir sua função (LIPP & ROCHA, 1996).

Segundo a VI Diretrizes Brasileiras de hipertensão Arterial (2010), está bem

estabelecida a hereditariedade genética como um fator de risco ao desenvolvimento

da HAS. Observa-se no fator étnico, que negros e miscigenados, por exemplo,

manifestam uma predisposição a se tornarem hipertensos; a raça parece ser

determinante para o desenvolvimento da HAS ocorrendo com uma freqüência maior

e de uma forma mais grave em negros do que em brancos (MEDGRUPO, 2009 e III

CONSENSO DE HIPERTENSÂO ARTERIAL, 1999). Com relação a gênero e etnia,

a “Hipertensão é mais prevalente em mulheres afrodescendentes com excesso de

risco de hipertensão de até 130% em relação às mulheres brancas.” (V DIRETRIZES

BRASILEIRAS DE HIPERTENSÃO ARTERIAL, 2006).

Sobre o fator entre sexos, acredita-se que as mulheres antes da menopausa

estejam relativamente protegidas pelo estrogênio, pois a HAS é desencadeada com

menor freqüência em mulheres nesta fase do que em homens, em contrapartida no

período pós-menopausa os índices acusam uma inversão da porcentagem, ao

encerrar o ciclo menstrual ou no período de gravidez a mulher é mais predisposta a

desenvolver HAS (MEDGRUPO, 2009 E III CONSENSO BRASILEIRO DE

HIPERTENSÃO ARTERIAL, 1999, cap. 6).

O nível sócio-econômico também se manifesta como uma estratificação

importante referente ao estabelecimento da HAS,

Nível socioeconômico mais baixo está associado a maior prevalência de hipertensão arterial e de fatores de risco para elevação da pressão arterial, além de maior risco de lesão em órgãos-alvo e eventos cardiovasculares. Hábitos dietéticos, incluindo consumo de sal e ingestão de álcool, índice de massa corpórea, aumentado estresse psicossocial, menor acesso aos cuidados de saúde e nível educacional são possíveis fatores associados (V DIRETRIZES BRASILEIRAS DE HIPERTENSÃO ARTERIAL, 2006, p. 31).

O consumo elevado de bebidas alcoólicas também é circunstância

desencadeante da HAS. A ingestão exagerada de álcool como substância tóxica,

leva a uma hiperatividade do organismo para sua eliminação, intensificando a função

do sistema cardiovascular. Assim,

Verifica-se redução média de 3,3 mmHg (2,5 a 4,1 mmHg) na pressão sistólica e 2,0 mmHg (1,5 a 2,6 mmHg) na pressão diastólica com a redução no consumo de etanol. Estudo observacional indica que o consumo de

25

bebida alcoólica fora de refeições aumenta o risco de hipertensão, independentemente da quantidade de álcool ingerida.” (V DIRETRIZES BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO ARTERIAL, 2006, p. 31)

O excesso de consumo de sódio contribui para a ocorrência da hipertensão

arterial afetando o funcionamento normal dos rins, responsáveis pelo equilíbrio

hidrosalino do corpo através da excreção de sal e água. O sódio colabora para a

retenção de liquido no organismo aumentando o volume total de fluidos corporais, no

entanto, o que desencadeia uma pressão arterial elevada. Outra forma de influência

do sódio na PA é a de potencializar a reação do sistema nervoso ao stress. Segundo

Lipp e Rocha (1996), o sódio ocasiona uma maior sensibilidade ao hormônio

noradrenalina, liberado em situações nas quais o corpo se posiciona para o

enfrentamento de contingências ameaçadoras. De acordo com a V Diretrizes

Brasileiras de hipertensão Arterial (2006), as populações culturalmente acostumadas

a um consumo exacerbado de sal manifestam índices elevados quando se trata da

relação progressiva entre idade e HAS, comparada a povos que mantém um

consumo reduzido de sódio, onde a prevalência de hipertensão é menor e a pressão

arterial não se eleva com a idade.

O tabagismo interfere de forma severa no aumento da pressão arterial, os

batimentos aceleram intensificando a função cardíaca e elevando a PA, tornando

mais rápido e agravando o processo de desenvolvimento da HAS. Foram verificados

danos nas paredes vasculares e um espessamento significativo das paredes

arteriais em fumantes. Segundo os autores, quando a pessoa para de fumar diminui

o risco de sofrer acidentes cardiovasculares e cinco anos após, seu risco é igual ao

de uma não fumante (LIPP& ROCHA, 1996).

Sobre o fator stress, o aumento da pressão arterial é, ás vezes, uma questão

de sobrevivência quando o corpo se prepara para trabalhar em uma situação que

requer maior energia e atenção, sendo necessário que o sistema circulatório

trabalhe mais intensamente para uma irrigação abundante do cérebro e músculos

preparando o corpo para reagir. “Em momentos de stress seu corpo prepara-se ou

para lutar ou para fugir da situação através de uma série de mudanças, tais como o

aumento na produção de adrenalina e uma maior constrição dos vasos sanguíneos.”

(LIPP & ROCHA, 1996, p. 61). Assim, as mudanças fisiológicas fazem aumentar a

atividade cardíaca e a RVP elevando a pressão arterial, e este é um mecanismo

natural de sobrevivência do organismo, tendendo a voltar ao seu estado de equilíbrio

26

assim que o individuo relaxar. Mas quando estas situações permanecem por um

longo período ou mesmo que sejam breves, mas intensas, o corpo permanece em

estado de alerta e o sistema circulatório se acostuma a trabalhar de forma

exacerbada a fim de suprir a demanda do sistema nervoso central, aí é quando a

probabilidade da pessoa desenvolver hipertensão aumenta significativamente (LIPP

& ROCHA, 1996). Assim,

“[...] em momentos difíceis todo o seu organismo fica tenso, como se estivesse em vigília, esperando o sinal para se defender, lutar ou fugir. Os músculos ficam tensos, o estômago digere mal a comida, os ombros ficam elevados, a pessoa não consegue dormir direito, fica irritadiça e reage exageradamente a qualquer provocação.” (LIPP & ROCHA, 1996, p. 62)

Alguns medicamentos também podem ocasionar um aumento considerável da

pressão arterial, dentre eles, os principais, por serem os mais utilizados são: “ Os

anticoncepcionais orais, os anti-inflamatórios, os derivados de cortisona, algumas

drogas psicotrópicas e os inibidores de apetite.” (LIPP & ROCHA, 1996, p.36).

Nos casos de uma hipertensão secundária, ou seja, derivada de uma causa

específica, como uso de medicamentos, doenças renais, intoxicação sanguínea por

debilidade de órgãos responsáveis pela excreção, tumores e em casos raros

decorrente de distúrbio glandulares da tireóide ou da hipófise, pode-se identificar

facilmente o distúrbio e tratá-lo eliminando dessa forma a hipertensão. Mas na

maioria dos casos de HAS, em média 95% (MEDGRUPO, 2009), a causa não é

detectável, a hipertensão, nessa circunstância, é considerada primária, ou essencial

e a o tratamento é realizado levando em contas os fatores de risco já mencionados:

hereditariedade, obesidade, sedentarismo, sódio, álcool, fumo e stress é de grande

importância (LIPP & ROCHA, 1996).

Identificar o diagnóstico da HAS como primária ou secundária é de extrema

importância para a instalação de medidas de prevenção não-farmacológicas, ou o

melhor tratamento quando da condição já instalada.

2.2.2 Principais patologias relacionadas à hipertensão secundária

- Doenças Parenquitamentosas Renais: Segundo MEDGRUPO (2009), cerca

de 85% dos indivíduos que sofrem de insuficiência do parênquima renal são

27

hipertensos sendo a causa mais comum da HAS secundária. Estas pessoas retêm

muito líquido pelo comprometimento do funcionamento do rim, a principal função

deste órgão é a de regular a excreção de sal e água, filtrando o material liquido

ingerido (GUYTON, 1996). Em conseqüência disso, o volume do sangue aumenta

intensificando a resistência das artérias e elevando a pressão arterial. Por sua vez,

“quando se consegue uma normatização do equilíbrio hidrossalino, a PA diminui

tendendo a se normatizar. Os diuréticos constituem-se então em grande arma

terapêutica” (LIPP & ROCHA, 1996, p. 34).

- Estenose da artéria renal ou Hipertensão renovascular: É a segunda causa

mais comum de HAS (MEDGRUPO, 2009). Acontece devido a “Um obstáculo ao

livre fluxo de sangue da artéria renal, produzido por um estreitamento da artéria [...]”

(LIPP,1996, p 35). Nesse caso chega uma quantidade menor de sangue ao rim e a

causa não se refere ao volume de sangue, mas ao aumento da resistência da artéria

e o uso de diuréticos podem agravar o quadro (MEDGRUPO, 2009). A desobstrução

da artéria renal pode ser feita se a patologia for descoberta a tempo (MEDGRUPO,

2009).

- Hiperaldosterismo Primário: Ocorre devido à hiperplasia, proliferação celular

anormal que origina inflamação, neste caso observa-se a secreção aumentada dos

hormônios ou tumores nas glândulas supra-renais (MEDGRUPO, 2009) que se

localizam acima dos rins. Um tipo de hormônio produzido pelas supra-renais são os

mineralocorticóides que atuam no metabolismo de minerais, seu principal

representante é a aldosterona que atua na reabsorção de sódio e, por conseguinte,

de sal e água, “A reabsorção de sódio provoca, por atração iônica, reabsorção

também de cloretos. A reabsorção de sal (NaCl), por sua vez, reabsorve água (por

osmose)” (BALLONE, 2002). Portanto, um aumento na secreção de aldosterona pela

supra- renal promove um aumento do volume de líquidos corporais e assim de

sangue o que eleva o débito cardíaco e a pressão arterial (GUYTON, 1976). No caso

de tumores a extração dos mesmos pode resolver o problema da HAS e, no caso de

uma secreção excessiva de aldosterona, o tratamento é feito com altas doses de um

antagonista, a espironolactona (MEDGRUPO, 2009).

Outras glândulas endócrinas como a tireóide e a hipófise, quando

desequilibradas funcionalmente ou quando apresentam tumores também podem

28

levar a um quadro de hipertensão, o quadro se verifica também na presença de

tumores do ovário e do testículo (LIPP & ROCHA, 1996).

2.2.3 Complicações derivadas da HAS

Segundo Lipp e Rocha (1996), a diminuição da expectativa de vida em

hipertensos se dá devido às complicações que um quadro de HAS pode apresentar.

Muitas vezes a HAS não aparece nos atestados de óbito, este menciona apenas a

conseqüência da hipertensão que levou o individuo a morte apontando para eventos

cardíacos, cerebrais, renais e nos grandes vasos. “A HAS afeta basicamente dois

elementos: os vasos sanguíneos (especialmente as artérias e arteríolas) e o

coração.” (MEDGRUPO, 2009). As complicações mais freqüentes e perigosas

decorrentes da hipertensão ocorrem por um comprometimento vascular. O alto

débito cardíaco, geralmente por retenção excessiva de sódio e água nos rins, causa

um aumento progressivo da RVP, o que vai enrijecendo a parede dos vasos e

remodelando sua estrutura, o estágio da HAS e, então, pode evoluir com o passar

dos anos (MEDGRUPO, 2009).

A doença cardiovascular (DCV) é a maior causa de mortalidade em países desenvolvidos. No Brasil, a DCV é responsável por cerca de 30% da mortalidade geral e por 1,2 milhões de hospitalizações, com um custo aproximado de 650 milhões de dólares/ano. A hipertensão (HT) é a mais prevalente de todas as DCV, afetando mais de 36 milhões de brasileiros adultos, sendo o maior fator de risco para lesões cardíacas e cerebrovasculares e a terceira causa de invalidez. A HT provavelmente está envolvida em 50% das mortes causadas por DCV. (CIPULLO et. al, 2010, p.1)

A HAS pode causar:

Aterosclerose

De acordo com Medgrupo (2009), o óbito decorrente de eventos

cardiovasculares tem como causa principal a aterosclerose. Esta é uma patologia

que atinge a parede arterial interior pela formação de placas, chamadas de

ateromas, que obstruem parcialmente o lúmen arterial causando isquemia, ou seja,

a decorrente falta de nutrição do órgão abastecido pela artéria obstruída

(MEGRUPO, 2009). Este quadro pode progredir formando um trombo oclusivo, a

29

consequência seria o desencadeamento de “[...] síndromes isquêmicas agudas

potencialmente fatais (AVE isquêmico, infarto agudo do miocárdio, isquemia

mesentérica aguda, gangrena de membro inferior.) (MEDGRUPO, 2009, p.31).

Geralmente a aterosclerose acontece na bifurcação das artérias de grande calibre

(aorta) ou médio calibre (coronárias, carótidas, mesentéricas, renais femorais)

(MEDGRUPO, 2009).

Hipertrofia Ventricular Esquerda (HVE)

Na HAS, o aumento do trabalho cardíaco, que ocorre mediante a intensa

hipertrofia das fibras do coração acaba por aumentar a massa do ventrículo

esquerdo, responsável pelo bombeamento de sangue para a aorta. “O aumento

crônico da contração ventricular impõe uma sobrecarga sistólica ao VE e como

resposta fisiológica o miocárdio começa a se hipertrofiar.” (MEDGRUPO, 2009).

Segundo Medgrupo (2009), mediante exames de ecocardiograma, foi revelado que

50% dos hipertensos não tratados apresentam Hipertrofia Ventricular Esquerda

(HVE), esta patologia é a primeira complicação da hipertensão. Arritmias cardíacas

são freqüentes nos hipertróficos, arritmias graves e complexas podem ocorrer o que

explica o alto índice de morte súbita. (LIPP& ROCHA, 1996; MEDGRUPO, 2009).

Além do risco de eventos cardiovasculares existe também uma correlação da HVE e

um maior risco de acidente vascular encefálico (AVE) (MEDGRUPO, 2009).

Insuficiência cardíaca congestiva (ICC)

A quantidade de sangue que o ventrículo direito bombeia para os pulmões é a

mesma que o ventrículo esquerdo bombeia para o resto de corpo. Quando os

ventrículos deixam de trabalhar em harmonia acusando anormalidade da função

sistólica ou diastólica, ou seja, “[...] uma inabilidade do ventrículo de se encher ou de

ejetar sangue.” (MEDGRUPO, 2009, p. 11), acontece a insuficiência cardíaca (IC).

Devido à incapacidade do ventrículo direito ou esquerdo de bombear o sangue

adequadamente, um resíduo do fluido sanguíneo se acumula no leito venoso e

capilar causando uma congestão, “O aumento resultante da pressão venocapilar

provoca distensão venosa e extravazamento de liquido para o interstísio,

determinando o acúmulo de fluido (edema).” (MEDGRUPO, 2009). Ainda segundo

MEDGRUPO (2009), a HAS é a primeira ou a segunda causa de insuficiência

cardíaca no Brasil e no mundo, indicando um risco proporcional ao estágio em que a

30

PA se encontra e um elevado risco de IC em idosos. Na hipertensão a ICC é comum

acontecer após a hipertrofia ventricular esquerda (MEDGRUPO, 2009).

Doença Cerebrovascular

O evento cerebrovascular mais comum é o acidente vascular encefálico

(AVE) isquêmico caracterizando 80% dos AVEs, geralmente estes episódios

acontecem devido a uma aterosclerose da carótida ou de uma artéria cerebral

(MEDGRUPO, 2009). A doença cerebrovascular sustenta o primeiro lugar de causa

de morte no Brasil, atingindo índices maiores que o infarto agudo do miocárdio (IAM)

e a ICC e além disso, é ainda a maior causa de morbidade, “[...] levando muitos

indivíduos a largarem o trabalho definitivamente e as vezes tornarem-se

completamente dependentes de outras pessoas” (MEDGRUPO, 2009, p. 33).

2.2.4 Características de Personalidade do Hipertenso

Segundo Lipp & Rocha (1996), a experiência clínica com pacientes

hipertensos tem demonstrado interessantes padrões de comportamento destes

indivíduos. A autora ressalta que a observação em questão não é aplicável a todas

as pessoas que sofrem de HAS, e que pessoas que não apresentam hipertensão

também podem possuir as mesmas características.

De acordo com Pereira e Maia (2001), desde 1919, a probabilidade da

relação entre hipertensão e traços de personalidade vem sendo estudada, com o

investimento de pesquisadores que relataram estilos de personalidade e propuseram

uma associação com reações cardiovasculares.

Em 1939, Alexander mencionou como importante característica encontrada

em pacientes com HAS, a dificuldade de lidar com conflitos internos e com

sentimentos de hostilidade, raiva, agressão e dependência, outros autores a partir

deste estudo identificaram que a inabilidade de lidar emocionalmente com estas

expressões era representada pela somatização e pela demonstração exagerada do

mesmo (PEREIRA & MAIA, 2001).

31

Houve casos nos quais se observou que o hipertenso parecia ser submisso e

passivo, a importância de manter sob controle as próprias emoções demonstrou ser

um fator que estas pessoas apresentavam com freqüência, até na maneira como

encaravam a doença mostravam-se despreocupadas quando interrogadas sobre ela

(LIPP & ROCHA, 1996). Outro dado interessante destas pesquisas é que as

manifestações de raiva e agressividade eram de mais fácil expressão por portadores

de HAS do que a de sentimentos positivos, relacionados a amor e afeto (LIPP &

ROCHA, 1996). O caráter conflituoso da relação do portador de HAS com seus

sentimentos denota que a expressão emotiva é constantemente resguardada ao

ponto de nem o individuo em questão chegar a experimentá-la ou elaborá-la

conscientemente, o que caracteriza o hipertenso pelo distanciamento, supressão,

submissão e complacência.

Cumes e col. perceberam em seu trabalho que os indivíduos hipertensos relatam: não ocorrência de eventos significantes em suas vidas, inabilidade para novas experiências ou expressar sentimentos, possivelmente, como resultado de uma disfunção como a alexitimia, minimização perceptual onde um evento relativamente importante foi amenizado ou esquecido. (NOMURA et. al, 1995, p.13)

Nesse caso, a incapacidade de lidar com o agente estressor se manifesta na

somatização, o seja, no transbordar do embotamento emocional através da

excitação de órgãos-alvo por mecanismos vegetativos. Este caráter psicossomático

ou psicofisiológico em indivíduos hipertensos foi observado por Lipp (1996) em um

de seus estudos realizados com o objetivo de detectar as alterações da pressão

arterial durante uma entrevista psicológica, que abordava tópicos de conhecimentos

gerais em indivíduos com HAS. A reatividade do hipertenso quando discorria sobre

um assunto que detinha importante carga afetiva acontecia através de uma brusca e

imediata elevação da PA. No entanto, quando este paciente foi requisitado a “[...]

avaliar quanto de tensão ele havia sentido durante a entrevista, afirmou

categoricamente que não havia sentido tensão nenhuma” (LIPP & ROCHA, 1996, p.

89). Este é o caso de um paciente que havia acabado de perder o emprego, mas

este dado não era conhecido pelo entrevistador que realizava perguntas padrões a

todos os participantes, “Quando se mostrou a ele os dados registrados do aumento

de sua pressão no momento exato em que falava sobre o desemprego, este

paciente mostrou-se imensamente surpreso.” (LIPP, 1996, p.89).

32

Ao expressarem hostilidade, as pessoas sofrem aumento imediato na pressão

arterial e freqüência cardíaca, no hipertenso a PA atinge picos mais elevados, estes

indivíduos muitas vezes acabam dando a impressão de serem muito descontrolados

e irados (LIPP & ROCHA, 1996).

Segundo Pereira e Maia (2001), estudos sobre as características de

indivíduos hipertensos acrescentaram que além do maior nível de hostilidade, estas

pessoas demonstravam pouca assertividade e uma tendência a ansiedade exibindo

um padrão de personalidade mais impulsivo e de alta reatividade. Em 1939

Alexander se referiu ao estado de alerta à preparação do organismo para enfrentar

uma situação ameaçadora, adaptando o corpo para lutar ou para fugir e que

conflitos emocionais desencadeavam uma forma de agir do organismo que poderia

re-configurar mecanismos nervosos mantendo o indivíduo em constante fase de

alerta (NOMURA et. al, 1995).

O sistema cardiovascular é diretamente afetado pelo sistema nervoso e pelas

ações endócrinas, os estímulos do ambiente e manifestações externas e internas do

corpo se correlacionam com a nossa interpretação emocional, no sentido que

eventos da vida adquirem mediante experiências pessoais, sugerindo assim, que as

alterações intrínsecas do corpo provocadas pelas emoções podem evoluir para um

caso patológico, “De acordo com essa interpretação, a patologia pode não ser

somente ocasional, mas apresenta um sinal de como o indivíduo se relaciona com o

meio e consigo próprio (LIPP [ORG.], 1996, p.72).

De acordo com Lipp e Rocha (1996), mediante estudos feitos sobre o tema,

foi possível identificar o conjunto de algumas características encontradas nas

pessoas hipertensas e classificá-las em padrões de comportamento tipo A e tipo B,

os indivíduos que manifestam padrão de comportamento tipo A se caracterizam por

apresentar,

“[...] uma sensação de urgência de tempo, a hostilidade expressa ou reprimida, um dinamismo acima da média, a busca constante de sucesso e realizações, e tensão em tudo o que a pessoa faz, seja uma tarefa intelectual ou física, seja comer ou divertir-se.” (LIPP & ROCHA, 1996)

Já o Tipo B é antagonista do Tipo A, neste grupo encontram-se pessoas

portadoras de HAS que apresentam uma relação com o ambiente externo “mais

sociável, mais ligada aos aspectos humanos, mais interessada no ser em vez do

fazer e que não sofre da doença da pressa.” (LIPP & ROCHA, 1996, p.89).

33

O hipertenso é no geral, inassertivo, hostil no íntimo, embora aparentemente calmo e amigável; uma pessoa com pouco, ou nenhum, contato com seus próprios sentimentos e sensações físicas, com dificuldades de contato interpessoal e com um grande senso de justiça, bem como um grande desejo de ter sempre controle do seu ambiente e de seus sentimentos. (LIPP & ROCHA, 1996, p.91)

Os estilos de personalidade relativos aos comportamentos Tipo A, por

manterem um nível de stress, são freqüentemente associados ao desenvolvimento

de doenças cardiovasculares e eventos relacionados, identifica-se um alto índice de

infartos do miocárdio em pessoas categorizadas neste grupo (LIPP & ROCHA 1996;

MEDGRUPO, 2009).

34

Capítulo II

3. DAS EMOÇÕES ÁS FUNÇÕES DE CONDUTA E REAÇÕES AUTONÔMICAS:

SISTEMA LÍMBICO E SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO.

Foram estudos realizados separadamente por um psicólogo americano,

William James (1842-1910) e um fisiologista dinamarquês, Carl Lange (1834- 1900)

que deu origem a teoria James-Lange afirmando que “as circunstâncias que

produzem as emoções eliciam um conjunto apropriado de respostas fisiológicas,

como o tremor, a sudorese e o aumento dos batimentos cardíacos” (ALLYN &

BACON, 2002, p.359). Estas condições ambientais que afetam os órgãos dos

sentidos, desencadeiam comportamentos na forma de eliciação de respostas

vegetativas, motoras e eventos internos, produzindo a resposta emocional.

Interpretações pessoais, emocionais ou cognitivas passam a se associar direta ou

indiretamente a esses eventos fisiológicos, podendo desencadear também as

emoções observadas, exatamente pela relação que passa a coexistir. Ao sistema

nervoso, juntamente com o sistema endócrino, cabe o controle sob a maioria das

funções orgânicas. A combinação de suas partes forma um conjunto de

propriedades sensitivas associativas e integrativas que se associam a como o

organismo vai responder a diversas contingências externas e internas (GUYTON,

1976). Este dinamismo funciona de certa forma que sinais sensoriais dos órgãos dos

sentidos são conduzidos pelos nervos aferentes para o sistema nervoso central, e

pelos nervos eferentes transmitidos sinais estimulatórios do sistema nervoso central

para os órgãos efetores, como músculos e glândulas (GUYTON,1976).

“[...] o sistema nervoso controla as atividades rápidas, como as contrações musculares, os fenômenos viscerais de breve evolução e até mesmo a intensidade de secreção de algumas glândulas endócrinas.[...] recebe milhares de unidades de informação dos diferentes órgãos sensoriais e a seguir integra todas elas para determinar a resposta a ser executada pelo organismo.” (GUYTON, 1976, p. 534).

A eficácia deste sistema no controle das funções corporais acontece por uma

determinada configuração no processo de elaboração dos estímulos sensoriais que

permite ao organismo executar uma resposta motora apropriada para cada tipo de

situação, “Portanto, uma das principais funções do sistema nervoso é processar a

35

informação sensorial de tal forma que se produzam respostas motoras adequadas”

(GUYTON, 1976, p. 535).

Segundo Guyton (1976), a função das estruturas encefálicas basais ou

subcorticais é principalmente coordenar operações abaixo do nível consciente,

funções autonômicas vitais como pressão arterial e respiração e também reflexos na

alimentação, e padrões emocionais, como excitação, reações a dor e ao prazer,

raiva e atividades sexuais.

As respostas emocionais podem ser consideradas: autonômicas, que por

meio do direcionamento de um maior fluxo sanguíneo para os músculos e para o

cérebro facilita o comportamento em contingências que exigem um maior gasto de

energia; hormonais, pela secreção de adrenalina e noradrenalina (catecolaminas) e

hormônios esteróides que servem de reforço às respostas autonômicas aumentando

o fluxo de sangue e convertendo os nutrientes encontrados nos músculos em

glicose; e comportamentais que se refere aos movimentos apropriados dos

músculos à determinada circunstância eliciadora (ALLYN & BACON, 2002, p.341).

Assim,

“[...] as emoções estão geralmente acompanhadas por respostas autonômicas, endócrinas e motoras esqueléticas, que dependem de áreas subcorticais do Sistema Nervoso, as quais preparam o corpo para a ação. Está se aprendendo que as emoções são resultados de múltiplos sistemas do cérebro e do corpo que estão distribuídos pela pessoa toda, sendo impossível separar emoção da cognição, nem a cognição do corpo.” (BARRETO & SILVA, 2010, p.2)

Neste capítulo nos ocuparemos em relacionar o sistema límbico, considerado o

“sistema das emoções” (ESPERIDÃO et. al, 2007, p.6), ás reações do sistema

nervoso autônomo identificando as estruturas envolvidas no comportamento

emocional e sua conexão com o controle de funções essenciais a sobrevivência.

Segundo Lipp e Rocha (2001), a homeostase do organismo depende de uma

serie de fatores externos e internos, interligados. Externos referentes ao ambiente

ao qual o individuo se expõe em suas atividades de trabalho, família, lazer, dentre

exigências à adaptação a eventualidades nestes contextos. Os fatores internos

dizem respeito à interpretação cognitiva e emocional que o individuo desenvolve em

relação ao ambiente e aos eventos da vida (LIPP & ROCHA, 2001) e as respostas

fisiológicas decorrentes deste processo. A complexidade de nossas respostas

emocionais e a extensão do seu repertorio envolve a interação da nossa percepção

36

que relaciona meio externo e interno mediante processos cerebrais, que resultam

em reações corporais intrínsecas na promoção de respostas, para a adaptação do

corpo à determinada situação ambiental.

“As informações que chegam ao cérebro percorrem um determinado trajeto ao longo do qual são processadas. Em seguida, direcionam-se para as estruturas límbicas [...] para adquirirem significado emocional, dirigindo-se, ato continuo, para determinadas regiões do córtex cerebral, permitindo que sejam tomadas decisões e desencadeadas ações- processos relacionados á autonomia- função geralmente dependente do córtex frontal e pré-frontal.” (ESPERIDÃO et. al, 2007, p.15).

A integração de carga afetiva aos processos cognitivos, ocorre em áreas

específicas do córtex cerebral, regiões que mantêm importante relação com áreas

límbicas.

Pelos estudos realizados foi levantada a hipótese que são sinais emitidos por

uma estrutura do sistema límbico, chamada amígdala, que apropria valores

emocionais e motivacionais aos estímulos sensoriais e os envia a estas regiões

corticais, possibilitando a transformação de experiências do sujeito em reações

emocionais (ESPERIÃO et. al, 2007). No córtex cerebral estas informações já

personalizadas, de acordo com as experiências emocionais de cada individuo, são

integradas promovendo uma avaliação do comportamento que será adotado, ou

seja, tanto processos límbicos como corticais contribuem para a tomada de decisões

por diferentes mecanismos (ESPERIDÃO et . al, 2007).

Então, quando um indivíduo reage por uma determinada decisão

comportamental, motora e por respostas autonômicas, estas formas de atuação são

creditadas á mecanismos de associação emocional realizados no sistema nervoso

central que pelo repertorio de vivências adquiridas promove uma determinada forma

de pensar diante de situações cotidianas (ESPERIDÃO et al, 2007).

As respostas autonômicas são diretamente influenciadas por um componente

essencial do sistema límbico, o hipotálamo “[...] e este age mediante o

processamento de todas as informações que chegam ao cérebro.” (ESPERIDÃO et .

al, 2007, p. 17)

3.1 UMA INTRODUÇÃO AO SISTEMA LÍMBICO

37

O sentido que cada um desenvolve sobre os estímulos do mundo é produto

de funções neuropsicofisiólogicas (LIPP, 2000) e “A identificação das estruturas

neurais relacionadas com a emoção, tem um interesse particular na compreensão

do comportamento humano” (BARRETO & SILVA, 2009, p. 1).

Segundo Guyton (1976) o sistema encarregado das condutas referentes ao

controle emocional do comportamento, “[...] aos impulsos subconscientes motores e

sensitivos e ás sensações intrínsecas de dor e prazer.” (p. 670), é o Sistema Límbico

(SL). Este sistema é formado por estruturas subcorticais localizadas na região basal

do encéfalo. Certas partes desta organização, principalmente o hipotálamo e

elementos correlatos, são responsáveis também pela manutenção do equilíbrio

interno do organismo exercendo papel fundamental no controle das suas funções

vegetativas (GUYTON, 1976).

As funções vegetativas são atribuídas, aos exercícios involuntários atuantes

na manutenção harmônica do corpo e dizem respeito, por exemplo, ao controle da

temperatura corporal, do volume hídrico, da pressão arterial, do peso corpóreo, entre

outras.

O principal desempenho do SL em conjunto com outros componentes

específicos do sistema nervoso refere-se, à interpretação emocional sobre eventos

externos (LIPP, 1996), às respostas comportamentais e viscerais (autônomas e

endócrinas) (GUYTON, 1976), e ao controle motivacional do processo de

aprendizado (ESPERIDÃO et. al, 2007). Segundo Barreto e Silva,

A partir do desenvolvimento de novas técnicas especializadas de pesquisa em neurofisiologia e em neuroimagem, mais recentemente, vem-se ampliando o interesse pelo estudo das bases neurais dos processos envolvidos nas emoções, a partir da caracterização e das investigações sobre o SL. Com base em diferentes resultados, sabe-se que há uma profunda integração entre os processos emocionais, os cognitivos e os homeostáticos, de modo que sua identificação será de grande valia para a melhor compreensão das respostas fisiológicas do organismo ante as mais variadas situações enfrentadas pelo indivíduo (BARRETO & SILVA, 2010, p.2).

Sobre as estruturas incluídas no SL ainda existe controvérsia entre os

autores. Embora a definição sobre os elementos integrantes deste sistema seja

imprecisa, podem-se relacionar estruturas que exercem participação essencial no

processo neural das emoções e que estão integradas funcionalmente (ESPERIDÃO

et. all, 2007).

38

Joseph Papez foi o anatomista estadunidense que apropriou a concepção de

sistema, antes descrito por Broca como lobo límbico (relacionado ao olfato), e

descreveu um circuito pelo qual suas diferentes porções se conectavam e estariam

coordenadas entre si. Os componentes do circuito de Papez são: giro do cíngulo,

giro para-hipocampal, hipotálamo, tálamo e hipocampo (ESPERIDÃO et. al, 2007).

Após uma revisão dessas estruturas o sistema límbico passou a implicar também

outros elementos em sua constituição, que são: a amígdala, os núcleos da base, a

área pré-frontal, o cerebelo e o septo. Por razão funcional, o hipocampo foi excluído,

ainda que o reconhecimento de sua relação com o processo emocional se

mantivesse,

“[...] (o hipocampo, inicialmente inserido, não parece ter participação decisiva nos mecanismos neurais das emoções tendo papel, outrossim, na consolidação da memória, incluída aquela de conteúdo emocional, daí estar relacionado- ainda que não seja pertencente- ao SL)” (ESPERIDÃO et. al, 2007, p.5).

“Estas estruturas, funcionalmente, se relacionam com os instintos, emoções e

memória e, através do hipotálamo, com a manutenção da homeostase.” (BARRETO

& SILVA, 2010, p.3).

Segundo Esperidão et. al (2007), pode-se relatar algumas atuações já

estudadas dos componentes do circuito neural das emoções: O giro do cíngulo está

relacionado á depressão, ansiedade e agressividade, esta região atua na

determinação dos conteúdos da memória e um aumento em sua atividade é notado

quando se recorre à mentira. O giro para-hipocampal tem função importante relativa

ao armazenamento da memória. O hipotálamo está intimamente relacionado ás

emoções e ao comportamento e, dependendo da área que for estimulada, o

hipotálamo pode provocar sede e fome e aumentar o nível de atividade do

organismo, induzindo algumas vezes à fúria e/ou à luta, enquanto a excitação de

outras porções leva à sensação de saciedade, redução de ingestão alimentar e

tranqüilidade, essa estrutura também implica as reações de medo e punição assim

como o impulso sexual, exercendo papel fundamental no funcionamento do sistema

nervoso autônomo que é encarregado do manejo das funções viscerais. O tálamo

relaciona-se ao comportamento emocional, a funções como sensibilidade e

motricidade e ativação do córtex cerebral. O hipocampo desempenha importantes

funções relacionadas ao comportamento e a memória, à tomada de decisões e ao

funcionamento do sistema imunológico. A ativação da amígdala está envolvida em

39

contextos de natureza emocional marcantes como encontros agressivos e sexuais,

ao aprendizado emocional, ao armazenamento da memória afetiva e a associação

entre estímulos e recompensa. O septo corresponde às reações relacionadas à raiva

e ao prazer, assim como ao controle neurovegetativo do organismo, observando-se

alterações na pressão arterial e no ritmo respiratório quando uma determinada área

desta estrutura é estimulada. A área pré-frontal, atualmente apontada como a “sede

da personalidade”, participa ativamente na tomada de decisões e na adoção de

estratégias na resposta comportamental social e física, indicando uma relação à

capacidade de seguir sequências ordenadas de pensamentos, e a tipos de controle

do comportamento emocional. O cerebelo atua em funções motoras e em processos

cognitivos e afetivos, quando danificado, produz alterações em funções importantes

do organismo,

“O dano cerebelar está associado a disfunções em tarefas executivas, de aprendizagem, memória processual e declarativa, processamento de linguagem e funções visuais e espaciais, além de disfunções na personalidade no afeto e na cognição.” (ESPERIDÃO et. al, 2007, p.8)

Cada uma destas estruturas participantes do sistema límbico exerce papeis

específicos e essenciais à elaboração do significado e memória emocional que se

integra à razão, principalmente pelo córtex pré- frontal. Decorrente do sentido que

adquirem determinados acontecimentos para o individuo, ocorrem reações viscerais

pelo controle do sistema nervoso autônomo através do hipotálamo.

3.2 HIPOTÁLAMO E SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO: EQUILÍBRIO INTERNO.

Ao abordar o tema stress e hipertensão arterial, descrever a função do

hipotálamo torna-se de grande importância, pois este componente funcional das vias

neurais das emoções atua em reação as agitações emocionais desencadeadas, no

ajustamento do organismo às variações ambientais.

O hipotálamo está localizado, de um ponto de vista fisiológico, na posição

central do sistema límbico (GUYTON, 1976), e é fundamental á conexão entre seus

elementos sendo considerado a “[...] via de saída mais importante, através da qual o

sistema límbico controla muitas das funções capitais do organismo, especialmente

as vegetativas, que são funções involuntárias essenciais a vida.” (GUYTON, 1976, p.

40

670). A atividade indispensável do hipotálamo, relativa ao controle autonômico e a

homeostasia interna, esta diretamente relacionada à demanda do processo das

emoções e as expressões destas,

“[...] as áreas cerebrais envolvidas no controle motivacional, na cognição e na memória fazem conexões com diversos circuitos nervosos, os quais, através de seus neurotransmissores, promovem respostas fisiológicas que relacionam o organismo ao meio (sistema nervoso somático) e também á inervação de estruturas vicerais (sistema nervoso visceral ou da vida vegetativa), importantes á manutenção da constância do meio interno (homeostasia).” (ESPERIDÃO et. al, 2007, p.3)

O mecanismo intrínseco que ocasiona reação da atividade orgânica por

estímulos externos acontece pela atividade de sinas sensitivos processados pelo

córtex cerebral, encarregado também das funções motoras e integrativas (de

associação), que incita, mediante impulsos direcionados ao hipotálamo, medula

espinhal e tronco encefálico, respostas reflexas que ativam o sistema nervoso

autônomo (SNA) para controle da atividade dos órgãos viscerais (GUYTON, 1976).

No sistema límbico a regulação do funcionamento cardiovascular,

gastrintestinal, da alimentação, da água corporal e da temperatura do corpo, é

coordenada principalmente pelo hipotálamo que envia sinais de comando ao SNA.

Esta estrutura exerce ainda controle sob o mecanismo da fome, da sede, da

contractilidade uterina e da ejeção de leite, e da função secretora dos hormônios da

hipófise (GUYTON, 1976).

No sistema cardiovascular, a estimulação de regiões hipotalâmicas interfere

no aumento e na diminuição da pressão arterial e da freqüência cardíaca, a

transmissão destes efeitos acontece principalmente através do bulbo e da ponte no

tronco encefálico (GUYTON, 1996).

Segundo Guyton (1976), o hipotálamo tem papel fundamental na integração

das respostas fisiológicas ao estresse emocional e contribui indiretamente para o

controle do grau de excitação e atenção. Verifica-se que um núcleo específico do

hipotálamo chamado dorsomedial, é um componente essencial das vias centrais

mediadoras das respostas cardiovasculares ao estresse emocional,

“A estimulação de regiões hipotalâmicas dorsais [...] provoca vigília, interesse e excitação. Além disso, o sistema nervoso simpático de um modo geral também é excitado, aumentando a pressão arterial, causando a dilatação da pupila e aumentando as outras atividades associadas á atividade simpática.” (GUYTON, 1976, p.674)

41

O sistema nervoso visceral ou da vida vegetativa, o “[...] responsável pela

comunicação entre o cérebro, o coração, os vasos sanguíneos e os órgãos internos

[...]” (LIPP, 1996, p.20), que promove a manutenção do equilíbrio interno do

organismo, seja na estimulação da secreção de hormônios, seja na regulagem da

atividade cardíaca, é o sistema nervoso autônomo (SNA) que sob direção de centros

localizados no hipotálamo, tronco encefálico e medula espinhal, garante ao corpo o

controle intrínseco de adaptação, regulando a atividade dos órgãos viscerais

(glândulas, músculos liso e cardíaco), de acordo com a necessidade do organismo

(GUYTON, 1976). “Este sistema ajuda a controlar a pressão arterial, a motilidade e a

secreção gastrintestinal, a emissão urinária, a sudorese, a temperatura corporal e

muitas outras atividades[...]” (GUYTON, 1976, p.679).

O SNA é constituído por duas divisões anatômica e funcionalmente distintas:

o sistema nervoso simpático e o parassimpático (LIPP, 1996). Geralmente um

mesmo órgão visceral possui inervação simpática e parassimpática, cada um

exercendo efeitos antagônicos. De acordo com Ballone (2002), o simpático na

maioria das vezes é recrutado sempre que o organismo encontra-se numa situação

de emergência ou de stress, ou seja, quando tem que se gastar energia. Já a

atividade parassimpática está relacionada a efeitos contrários sobre um mesmo

órgão inervado pelo simpático, e está relacionada às funções de economia e

obtenção de energia (BALLONE, 2002).

Segundo Esperidão et al. (2007), tais ocorrências exercem relação intrínseca

a um mecanismo de neurocepção, que se caracteriza pela capacidade do individuo

de agir conforme sua percepção de segurança ou ameaça a respeito do meio onde

ele se encontra. A estimulação simpática pode produzir “[...] efeitos excitatórios em

alguns órgãos, e inibitórios em outros, analogamente, a estimulação parassimpática

leva á excitação de alguns órgãos e a inibição de outros.” (GUYTON, 1976, p. 683).

De qualquer maneira, um determinado estado do organismo é uma conseqüência do

balanço entre as atividades simpáticas e parassimpáticas que se integram e se

complementam.

Esses efeitos são produzidos, por exemplo, nas funções oculares, enquanto o

parassimpático contrai a pupila havendo um excesso de luz, o simpático dilata este

órgão quando a luz é escassa a fim de encontrar um equilíbrio no exercício peculiar

da visão (GUYTON, 1976). Nas glândulas nasais, lacrimais, salivares e muitas

42

gastrintestinais a estimulação para a produção de secreção vem do sistema nervoso

parassimpático; o simpático atua apenas na constrição dos vasos locais que acaba

por reduzir a quantidade de excreção (GUYTON, 1976). Já nas glândulas

sudoríparas a atividade excitatória do sistema nervoso simpático faz as mesmas

secretarem uma grande quantidade de suor sendo que não há modificação diante da

estimulação parassimpática (GUYTON, 1976). No sistema gastrintestinal, o

peristaltismo é estimulado pela ação parassimpática, que atua no funcionamento

normal do intestino, já a excitação dos nervos simpáticos “[...] inibe o peristaltismo e

aumenta o tônus dos esfíncteres. O resultado local é uma diminuição considerável

da propulsão dos alimentos pelo tubo digestivo” (GUYTON, 1976, p. 684).

O sistema nervoso simpático é de extrema importância para a regulação da

circulação sanguínea, atuando no aumento da freqüência e intensidade dos

batimentos do coração, elevando também o metabolismo cardíaco, o sistema

parassimpático é atuante antagônico destas funções simpáticas. O aumento da

propulsão do fluxo de sangue nas artérias conduz a um aumento significativo da

pressão arterial, a atuação parassimpática que acalma a atividade cardíaca

provocando uma diminuição da eficiência do bombeamento do coração reduz a

pressão até um certo grau (GUYTON, 1976). Na circulação periférica, a maioria dos

vasos sanguíneos sofre vasoconstrição pela estimulação dos nervos simpáticos, a

atuação parassimpática não existe neste caso, exceto na dilatação dos vasos da

face que provoca o efeito ruborizado (GUYTON, 1976).

“[...] com raras exceções, todos os vasos do corpo são inervados por fibras simpáticas.[...] A inervação das arteríolas, pequenas artérias, vênulas e pequenas veias permite que o sistema simpático altere a resistência dos vasos e, desse modo, altere a taxa do fluxo sanguíneo através dos tecidos.” (GUYTON, 1976, p.227)

Devido à extensa inervação destes vasos pelo sistema nervoso simpático, lhe

é permitido atuar no controle do volume dos vasos, o que também ocasiona uma

mudança integral no sistema circulatório (GUYTON, 1976). A manutenção da

disposição adequada de sangue para as células do organismo requer uma pressão

arterial apropriada,

“A distribuição do fluxo de sangue para os leitos vasculares é controlada pelas variações do diâmetro das arteríolas. Esta forma de controle depende da manutenção de uma pressão adequada dentro do sistema arterial.” (SOUZA & ELIAS, 2006, p.63).

43

O que se pode observar é que a função do sistema nervoso simpático, sob

controle do hipotálamo e outros centros nervosos, é a que prepara o corpo para agir

diante das exigências ambientais externas ou internas com o objetivo de atingir a

adaptação do organismo a uma determinada situação, “Quando em momentos

estressantes, você sentir o coração batendo mais rápido, as mãos suadas e a

sensação de estar alerta, lembre-se que é o seu sistema nervoso simpático que está

em ação” (LIPP, 1996).

3.3 ESTRUTURAS LÍMBICAS E SUAS FUNÇÕES DE CONDUTA.

3.3.1 Dor e prazer: recompensa e castigo

“Muitas estruturas hipotalâmicas e outras estruturas límbicas desempenham papel importante em relação à característica afetiva das aferências sensitivas, ou seja, o seu caráter agradável ou desagradável.[...] A estimulação elétrica de determinadas regiões acalma o animal enquanto que a estimulação elétrica de outras produz dor ou medo intenso, ou reações de defesa ou de fuga, e demais elementos de castigo.Evidentemente estes dois centros de função oposta modificam a conduta do animal.” (GUYTON, p.673, 1976)

Regiões do hipotálamo e do septo são os principais centros de recompensa,

quando estimuladas provocam intensas sensações de prazer e satisfação. As

amígdalas, assim como determinadas áreas do tálamo, gânglios da base e

mesencéfalo também possuem centros de recompensa menos potentes, de atuação

provavelmente secundária (GUYTON, 1976). Segundo Esperidão et al (2007),

mediante técnicas de indução à alegria, observou-se ativação dos gânglios basais e

da amígdala como resposta à visualização de imagens ou recordações que

remetessem à felicidade, prazer sexual ou estimulação competitiva bem sucedida,

assim como a sensação de satisfação através de ajustes homeostáticos do

organismo.

Guyton (1976) atribui à excitação dos centros de punição de porções

mesencefálicas, do hipotálamo e tálamo, aos sentimentos de dor, desgosto, castigo

e uma tendência a fuga.

44

Segundo Allyn e Bacon (2002), a estrutura que exerce maior influência na

expressão a estímulos aversivos no SNC é a amígdala, especificamente, pela

excitação neural do núcleo central frente a situações ameaçadoras, lesões nessa

região anulam ou diminuem respostas emocionais diversificadas, principalmente a

inibição decorrente da sensação de medo,

“Após a destruição do núcleo central, os animais não apresentam mais sinais de medo ao serem confrontados com estímulos que haviam sido pareados a eventos aversivos. Eles também são mais dóceis quando manipulados pelos humanos, têm níveis sanguíneos dos hormônios do estresse mais baixos e apresentam menor probabilidade de desenvolverem úlceras ou outras doenças induzidas pelo stress.” (ALLYN & BACON 2002, p.343 apud. COOVER et. al, 1992).

Também foi observado que os centros que provocam punição inibem

completamente aqueles que promovem as sensações de prazer “[...] demonstrando

que a dor pode ter prioridade sobre o prazer e a recompensa.” (GUYTON, 1976, p.

674).

A determinação da conduta do individuo mediante o seu repertório de

condicionamento sobre as sensações de recompensa e castigo é essencial ao

estudo do funcionamento de processos comportamentais que podem vir a ter grande

importância na sua saúde física e comportamental. De acordo com Esperidão et al.

(2007), agimos ou deixamos de agir devido à memória de sentimentos satisfatórios

ou aversivos, estas sensações modificam o tipo de informação que recebemos e

determinam padrões de comportamento persistentes. Interferindo nas motivações e

no controle do corpo estes centros adquirem uma grande importância.

Pela manipulação do cérebro de animais também se pode observar que

experiências sensitivas de caráter neutro, ou seja, isentas da sensação de

recompensa ou de castigo são desprezadas e esquecidas facilmente, enquanto que,

vivências apropriadas de significado emocional são memorizadas e as respostas a

estes estímulos intensificadas. Segundo Guyton,

“Os registros elétricos mostram que os estímulos sensitivos novos e inéditos sempre excitam o córtex cerebral. Porém a repetição dos estímulos durante um longo tempo significa extinção quase completa da resposta cortical quando o estimulo não provoca sensações de recompensa ou de castigo. Assim o animal se habitua ao estimulo sensitivo e, portanto, ignora-o. Se um estímulo se associa com recompensa ou castigo, e não é indiferente, a resposta cortical se torna progressivamente cada vez mais intensa quando se repete o estímulo, ao invés de desaparecer, e se diz que a resposta se reforçou” (GUYTON, 1976, p.674).

45

Diante de estados decorrentes da estimulação frequente ou intensa dos

centros punitivos, a tristeza é considerada fisiológica e a depressão patológica.

Esperidão et al (2007) menciona que o prejuízo neurocognitivo, incluindo em

porções límbicas, decorrente de estados depressivos se torna mais evidente com o

passar do tempo à medida que estudos sobre os mecanismos envolvidos são

aprofundados. Em colaboração a este contexto, foi observado que na interação de

uma predisposição biológica a um nível de tristeza elevado ocorreram alterações

prejudiciais também no sistema imunológico (ESPERIDÃO et al, 2007). Segundo

Guyton (1976), foi verificado mediante experimentos em animais que a estimulação

dos centros de castigo por 24 horas ou mais poderá ocasionar a morte do animal

pelo desencadeamento de uma forma de adoecimento grave.

O cerebelo manifestou envolvimento nos mecanismos de associação entre o

choro e o riso e as contingências cognitivas e ambientais em questão; lesões em

sua estrutura provocam uma passagem incompleta das informações e, como

conseqüência, gera um comportamento inadequado ao seu contexto (ESPERIDÃO

et al, 2007).

De acordo com Guyton (1976), o hipocampo é uma das fontes principais de

ingresso de sinais ao hipotálamo e outras porções límbicas. Essa estrutura é

encontrada no córtex cerebral e desempenha a função de associação dos sinais

sensoriais de modo que desencadeie reações límbicas adequadas. O hipocampo ao

enviar as informações integradas aos centros de recompensa e castigo do

hipotálamo, exerce controle também sobre a informação que será armazenada na

memória, aquela que a pessoa aprenderá ou deixará de aprender. (GUYTON, 1976).

3.3.2 Conduta de defesa afetiva: Raiva, Medo, Luta e Fuga

Segundo Guyton, (1976), experiências realizadas em animais verificam que a

estimulação por eletródios, de centros encefálicos específicos relacionados à

punição principalmente de porções hipotalâmicas, oferecem intensa sensação de

castigo, fazendo com que o animal: adote uma posição de defesa, mostre suas

garras, balance a cauda, uive, cuspa, rosne, erice o pelo, abra muito seus olhos e

dilate as pupilas. Esta demonstração indica que a raiva se manifesta sob castigo

46

severo e que a menor provocação adicional provavelmente ocasionará um ataque

selvagem.

Foram observadas as reações de ansiedade e uma tendência a fuga quando

outras áreas do centro hipotalâmico relacionadas ao castigo eram estimuladas, as

mesmas porções que produziam reações de medo. Estes comportamentos resultam

da ativação de vários mecanismos autônomos, somáticos e endócrinos, pois

dependem do envolvimento de diversas estruturas e sistemas orgânicos para serem

expressos (GUYTON, 1976).

Em decorrência de interligações com o hipotálamo e outras estruturas, a

amígdala exerce importante função na expressão do sentimento de raiva e parece

ter papel determinante na sensação de medo, observando-se a importância dessa

estrutura na aprendizagem emocional aversiva e na memória emocional, por

participar da expressão de emoções intensas. Como já foi mencionado no tópico

anterior, “[...] quando as pessoas enfrentam situações que produzem respostas

emocionais fortes, elas têm maior probabilidade de lembrar destas situações.”

(ALLYN & BACON, 2002, p. 347). Segundo estes mesmos autores, estudos com

humanos verificaram que mediante a ativação do hipotálamo foram produzidas

respostas autonômicas relacionadas ao medo e a ansiedade, mas a estimulação da

amígdala era a que gerava o sentimento de medo nas pessoas e os distúrbios de

ansiedade são, para alguns pesquisadores, relacionados a uma hiperatividade do

núcleo central da amígdala.

Segundo Esperidão et al (2007), um estudo recente por exame de imagem,

ressonância magnética funcional (fRMI), certificou que o indivíduo diante de faces

amedrontadas mostrou uma ativação bilateral da amígdala, a visualização de figuras

que mostravam expressões faciais enfurecidas provocaram estimulação da

amígdala direita.

Pela técnica de condicionamento desenvolvida por Pavlov em 1927 que

desde então, “Há servido como base para la compreensión de la complejidad de la

conducta humana y de otras espécies y como fundamento de la compreensión de

las relaciones entre la conducta y el sistema nervioso” (GUTIERREZ, 2005, p.2),

pode ser observada e melhor estudada a reação da amígdala no desencadear da

sensação de medo. Nesta técnica, um estímulo emocionalmente neutro era

47

associado a um estímulo aversivo. Por exemplo, um som específico (estimulo

condicionado) era associado a um choque elétrico (estimulo incondicionado). Após

repetidas experiências da associação destes estímulos notou-se que,

“[...] o estimulo condicionado foi capaz de provocar respostas observadas, tipicamente, na presença de perigo, como comportamento de defesa (respostas de fuga ou luta), ativação do sistema nervoso autônomo (alterações no fluxo sanguíneo e frequência cardíaca), respostas neuroendócrinas (liberação de hormônios hipofisários e supra-renais), entre outros.” (ESPERIDÃO et al, 2007, p.11).

O medo condicionado é, então, o medo aprendido, aquele que é

desencadeado pelo aviso de uma situação ameaçadora. O medo incondicionado era

ocasionado por um evento que provocasse susto ou estranhamento como, por

exemplo, em “Situações como exposições a sons fortes e súbitos, altura elevada e

estímulos visuais grandes não identificados, que surgem na parte superior do campo

visual de modo repentino [...]” (ESPERIDÃO et al, 2007, p. 11). Foi observado

depois desta técnica experimental que lesões na amígdala intervinham na aquisição

e expressão do medo condicionado.

Guyton (1976) reconhecia a importância do papel da amígdala na conduta

afetivo-defensiva, e nas de grande intensidade emocional descrevendo efeitos

vegetativos desta glândula mediados pelo hipotálamo como: o aumento ou

diminuição da pressão arterial, da freqüência cardíaca, da motilidade e secreção

gastrintestinal e ainda defecação e micção, dilatação pupilar, piloereção e a

secreção dos diversos hormônios da hipófise. Além disso, na reação de apreensão a

estimulação da amígdala também pode inibir ou alterar a respiração e ainda causar

efeito de paralisação interrompendo todos os movimentos espontâneos de um

animal (GUYTON, 1976).

Allyn e Bacon (2002), mencionam que experiências realizadas por

imageamento funcional evidenciaram ainda a excitação do córtex cingulado nas

manifestações de raiva e irritação: sua porção anterior direita foi ativada quando

pessoas escutavam narrativas sobre aspectos de sua vida que possivelmente

provocariam raiva. Ao soar de uma música sem melodia e ritmo que causava

irritabilidade, foi observada a ativação bilateral desta estrutura. Segundo os mesmos

autores, foi verificada a estimulação do córtex cingulado também por traços de

personalidade: pessoa extrovertida, parte anterior do córtex cingulado, e introvertida,

48

na porção pré- frontal condizendo com o efeito inibidor do comportamento por esta

região (ALLYN & BACON, 2002).

Este capítulo apresentou os mecanismos nervosos e as estruturas atuantes

em momentos de stress. Foi visto que através do sistema límbico e da ativação do

SNA são produzidas reações autonômicas e as sensações de medo, raiva, prazer,

tristeza, dor. De acordo com a intensidade destas reações, consequências maléficas

à saúde física e/ ou psicológica podem aparecer.

49

Capítulo III

4 O STRESS E SUAS IMPLICAÇÕES.

4.1 STRESS E ESTRESSORES

A palavra stress, de origem latina, vem do verbo "stringo", que significa apertar, cerrar, comprimir, espreitar, restringir, diminuir e reduzir, de acordo com o dicionário Webster's (1950). No século XVII, o termo passou a ser utilizado para designar angústia, opressão, injustiça e adversidade. Posteriormente, nos séculos XVIII e XIX, o vocábulo foi usado para denotar opressão ou uma forte influência atuando sobre um objeto físico ou uma pessoa). (SPIELBERGER, 1979 apud SILVA & MARTINEZ, 2005, p.2)

Na área da saúde, o termo stress foi usado em 1925 por Seyle, que mediante

experiências realizadas em pacientes atendidos nos ambulatórios, mais tarde

denominou a condição de stress como “Síndrome de Adaptação Geral” referente “a

somatória das reações corporais resultantes da exposição às fontes de stress”

(SEYLE, 1965 apud. SILVA & MARTINEZ, 2003, p. 2).

O termo stress aponta para “[...] uma reação desencadeada por qualquer

evento que confunda, amedronte ou emocione a pessoa profundamente” (LIPP &

ROCHA, 1996), se referindo a uma ação adaptativa orgânica frente a situações de

perigo. Esta reação do corpo causa a quebra da homeostase no funcionamento dos

órgãos e tecidos, pois na tentativa de adaptação dos mecanismos internos quando o

individuo se confronta com uma circunstancia ameaçadora, são alteradas funções

psicológicas e físicas.

Qualquer tipo de mudança tanto as positivas quanto as negativas exigem do

organismo uma energia adaptativa que pode em determinada contingência, atuar de

forma excessiva e em consequência “[...] enfraquecer sua resistência física e mental,

dando origem a inúmeras doenças psicofisiológicas que podem ser interpretadas

como tendo em sua gênese o estresse emocional excessivo” (TOATES, 1999 apud.

LIPP, 2001, p.1).

Segundo Silva e Martinez (2003), a ansiedade, angústia, preocupação

excessiva, dúvidas quanto a si próprio, dificuldade de concentração e

50

hipersensibilidade, são algumas manifestações psicológicas do stress. A raiva e o

medo também são reações observadas no stress assim como a apatia, depressão, o

desanimo, e a sensação de desalento. O stress excessivo tem ainda o potencial

para desencadear surtos psicóticos e crises neuróticas (LIPP [ORG.], 1996).

Das reações essenciais á sobrevivência, o stress pode desenvolver além dos

distúrbios psicológicos, doenças graves, contribuindo para a etiologia de patologias

psicofisiologicas como também para o agravamento do estado enfermo. Vale

ressaltar que ao stress não pode ser atribuído o papel de causa exclusiva destas

doenças, dentre elas estão: a hipertensão arterial essencial, úlceras gástricas,

obesidade, câncer, psoríase, tensão pré- menstrual, vitiligo, colite ulcerativa e

retração de gengivas (LIPP [ORG.], 1996).

A conceitualização do termo stress não se refere a uma condição estática,

mas a um processo que abrange etapas que serão descritas mais adiante neste

capítulo. Segundo Lipp,

“[...] no momento em que a pessoa é sujeita a uma fonte de stress, um longo processo bioquímico instala-se, cujo inicio manifesta-se de modo bastante semelhante, com o aparecimento de taquicardia, sudorese excessiva, tensão muscular, boca seca e a sensação de estar alerta.” (LIPP [ORG.], 1996,p. 20).

O prejuízo decorrente de um desgaste geral do organismo depende da

persistência da situação por um longo período, da intensidade do fator estressante

para o sujeito, da vulnerabilidade física ou psicológica e da capacidade de

administração do stress que o individuo adquiriu durante a vida (LIPP et. al, 2005).

O desenvolvimento do stress pode acarretar grande dano à saúde e a qualidade de

vida da pessoa.

Qualquer fator, seja ele, considerado de forma positiva ou negativa pelo

individuo, como resposta do organismo a um evento estímulo, que exige mudança e

atinge o equilíbrio interno, é denominado estressor. Desse modo, tanto uma

promoção no trabalho como um acidente pode ser considerado um estressor porque

a pessoa necessitara despender de energia adaptativa para poder lidar com estes

acontecimentos (HOLMES & RAHE, 1967 apud. LIPP [ORG.], 1996, p. 20).

A hiperatividade do sistema nervoso autônomo é muitas vezes fundamental

por exercer papel indispensável nos mecanismos de sobrevivência levando o corpo

a um estado de prontidão e alerta, o problema ocorre quando este mecanismo é

51

ativado mesmo sem a presença de um estressor, ou quando ocorre como resposta

exagerada ao estímulo (LIPP et. al, 2005).

4.2 ESTRESSORES INTERNOS E EXTERNOS

Lipp (1996) deixa implícito em seus textos, a existência de estressores

biológicos e aprendidos. Menciona o frio, a fome e a dor como estressores que

atuam no desenvolvimento do stress automaticamente e não dependem da

interpretação do individuo (LIPP [ORG.], 1996), desencadeiam por natureza os

mecanismos orgânicos reativos. A autora se refere a estressores internos àqueles

correspondentes a crenças irracionais atribuídas a valores adquiridos durante a vida,

padrão tipo A de comportamento, falta de assertividade e dificuldade de expressão

dos sentimentos, entre outros.

Para que um evento externo atue como estressor ele precisa ser interpretado

pelo sujeito como uma situação exigente de adaptação pela provocação de alguma

mudança. Este mecanismo ocorre pela captação do estímulo sensorial integrado no

córtex cerebral e enviado ao sistema límbico encarregado de proporcionar valor

emocional á informação. A reação ao estímulo acontecerá de acordo com o

repertório de experiências individuais, de representações obtidas pela pessoa em

decorrência de sua história de vida, é em congruência com o sentido já adquirido,

em especial na infância e na adolescência que o sistema límbico respondera

(EVERLY, 1989 apud. LIPP [ORG.], 1996). Segundo Oliveira et al,

“Na infância e adolescência ocorrem alterações na atividade de várias regiões do cérebro como parte do processo de maturação. Dessa forma, eventos estressantes vivenciados precocemente são fatores de grande influência para o desenvolvimento cerebral.” (OLIVEIRA et.al, 2010, p.2)

Deste modo, a forma como o individuo aprende a lidar com situações e

constrói valores e crenças, perdura ao longo de sua vida pela instalação de uma

configuração de ação do sistema límbico que predispõem de conceitos predicativos

como, por exemplo: bom ou mau, amedrontador ou encorajador. Quando estas

crenças são adequadas podem “[...] auxiliar o ser humano a adquirir estratégias de

vida, que facilitem no manejo do stress.”, mas quando não são assertivas servem

como fontes em potencial para o desenvolvimento do stress (LIPP [ORG.], 1996).

52

A classificação de estressores como externos (HOLMES & RAHE, 1967 apud.

LIPP et. al, 2005) se refere aos eventos que ocorrem nas diversas áreas da vida de

um indivíduo como na social, política, financeira, profissional, pessoal, enquanto que

os estressores internos (MEICHENBAUM, 1987 apud. LIPP et. al, 2005) dizem

respeito ao universo cognitivo e emocional da pessoa adquirido mediante a

experiência com o meio. Assim,

Os primeiros são constituídos dos eventos que ocorrem na vida de uma pessoa, sejam eles, pequenos dissabores, a situação político-econômica do país, dificuldade financeira, nascimento de filhos, entre outros. Por estressores internos se entende tudo aquilo que faz parte do mundo interno, das cognições do indivíduo, seu modo de ver o mundo, nível de assertividade, crenças, valores, características pessoais, padrão de comportamento, vulnerabilidades, ansiedade e o seu tema de vida. (BRASIO, 2003; RANGÉ, 2003 apud LIPP et. al, 2005)

O efeito cumulativo ou a intensidade do evento estressor pode promover o

desenvolvimento do stress através do tempo que decorrerá de um processo dividido

em fases, ou períodos distintos.

4.3 OS MECANISMOS FISIOLÓGICOS DO STRESS E OS DANOS ORGÂNICOS

Situações que exigem uma reação mais vigorosa física e mental requerem

uma atividade exacerbada do sistema nervoso simpático e do sistema endócrino.

Segundo Ballone (2003), uma determinada circunstância, ao adquirir

característica ameaçadora para o indivíduo através do sistema límbico, estimula o

hipotálamo a secretar um hormônio chamado, hormônio liberador de corticotrofina

(CRH) que estimula a hipófise a secretar o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH).

Nas glândulas supra- renais ou adrenais, o córtex adrenal é excitado pelo

ACTH para a excreção de corticosteróides, um grupo dos hormônios esteróides.

Desse grupo, em momentos de stress, são liberados os glicocorticóides que entre

outras funções, ajudam a quebrar as proteínas e a convertê-las em glicose,

contribuindo para transformar gordura em energia, frente a agentes estressores. O

cortisol é o melhor representante dos glicocorticóides, conhecido como hormônio do

stress, trabalha no metabolismo da glicose, no aumento da pressão arterial e na

supressão do sistema imune (ALLYN & BACON, 2002; BALLONE, 2003). Um outro

tipo de hormônio corticosteróide também é liberado pela estimulação do córtex

53

adrenal através do ACTH em momentos de stress, o mineralocorticóide aldosterona

que como descrito no capítulo I é encarregado da reabsorção de sódio no organismo

e por conseguinte de sal e água.

O hipotálamo, também estimula a divisão simpática do sistema nervoso

autônomo que excita as glândulas adrenais, especificamente, a medula adrenal, a

secretar catecolaminas como a adrenalina e a noradrenalina. Estas duas são

formadas a partir da dopamina, a adrenalina tem efeito sobre a musculatura

cardíaca, o metabolismo e junto com a noradrenalina atua na circulação periférica.

(BALLONE, 2003). A adrenalina afeta o metabolismo da glicose, “[...] tornando os

estoques de nutrientes dos músculos disponíveis para o fornecimento da energia

necessária durante exercícios exaustivos” (ALLYN & BACON, 2002, p. 570). Juntas,

a adrenalina e a noradrenalina, atuam aumentando o fluxo sanguíneo para os

músculos (ALLYN & BACON, 2002).

O aumento ou diminuição na produção dos hormônios das supra- renais são

os principais indicadores biológicos da resposta ao estresse, associando-se a

ansiedade, depressão e estados confusionais até surtos psicóticos (BALLONE,

2003). Segundo Allyn e Bacon,

O CRH também é secretado no cérebro especialmente em regiões límbicas como o núcleo central da amígdala. Os efeitos comportamentais, induzidos por uma injeção intracerebral de CRH, são similares àqueles produzidos pelas situações aversivas; assim alguns elementos da resposta relacionadas ao stress parecem ser desencadeados pela liberação de CRH pelos neurônios cerebrais” (ALLYN & BACON, 2002, p. 571).

Como se pode observar, a conexão do SN com o Sistema Endócrino é

realizada mediante o hipotálamo, o centro da vasta modificação adaptativa orgânica.

De acordo com Ballone (2003) e Guyton (1976), em situações de stress a

hipófise também libera, dentre outros hormônios, a vasopressina ou hormônio

antidiurético, tendo ação direta no aumento da PA por atuar na vasoconstrinção e na

retenção de água pelos rins; e a prolactina, atuante na produção de leite pelas

glândulas mamárias, que se liberada em grande quantidade provoca alterações no

ciclo menstrual e até infertilidade. A estimulação da hipófise pelo hipotálamo em

momentos de stress também promove a secreção de endorfinas responsáveis por

modificar o limiar da dor mediante um efeito anestésico, assim como provocar

alterações no humor e estados de depressão e ansiedade (BALLONE, 2002).

54

A debilidade da saúde de indivíduos que passaram por situações

estressantes já tem sido observada em estudos que datam o século passado, por

exemplo, uma pesquisa realizada verificou a vulnerabilidade de controladores de

tráfico aéreo a um aumento da pressão arterial, e foi observado que ocorre um maior

índice de HAS naqueles que trabalham em aeroportos mais movimentados, com a

probabilidade deste quadro se agravar durante a vida (COBB & ROSE, 1973 apud.

ALLYN & BACON, 2002).

Hans Seyle (1976) verificou que a exposição prolongada a glicocorticóides

ocasionaria alguns efeitos prejudiciais do stress como: o aumento da pressão arterial

que pode provocar episódios vasculares cardíacos e cerebrais, os danos ao tecido

muscular, diabetes, infertilidade, inibição do crescimento, inibição das respostas

inflamatórias o que dificulta o trabalho do corpo para recuperar-se de ferimentos e a

supressão do sistema imune que deixa o indivíduo mais vulnerável a infecções

(ALLYN & BACON, 2002).

Pesquisas indicam que na velhice, a degeneração da formação hipocampal

(formação do sistema límbico no lobo temporal), a qual inclui o hipocampo e exerce

papel importante sobre a aprendizagem e a memória, é uma das causas da perda

de memória em idosos. O dano cerebral é mais uma conseqüência grave do stress

prolongado. As pesquisas com animais têm demonstrado que a exposição

prolongada a glicocorticóides provoca a destruição de neurônios da formação

hipocampal. Segundo Allyn e Bacon (2002), em pesquisa com humanos, Jensen,

Genefke e Hyldebrandt (1982), verificaram mediante exame de Tomografia

Computadorizada, degeneração cerebral em indivíduos que haviam sido submetidos

à tortura.

Allyn e Bacon (2002), mencionam que uma quantidade maior de hormônios

glicocorticóides no organismo pode anular a secreção de hormônios sexuais

esteróides como a testosterona e que o stress em mulheres grávidas exerce efeito

similar sobre o feto, “o comportamento e a estrutura cerebral de seus descendentes

machos parecem menos masculinizados [...]” (ALLYN & BACON, 2002, p. 573).

Experiências com ratos identificaram ainda a reação intensa a estressores na

idade adulta, quando suas mães haviam sido submetidas á estressores durante a

gestação (TAKAHASHI et al, 1992 apud. ALLYN & BACON), e que esta reação

55

ocorria devido a uma secreção prolongada de glicocorticóides (BARBAZANGES et

al, 1996 apud. ALLYN & BACON, 2002).

Estudos apontam também para a secreção constante de CRH como possível

causa de uma reação freqüente ao stress excessivo, a diminuição do apetite com a

conseqüente perda de peso corpóreo.

4.4 AS FASES DO STRESS

Seyle (1952), a princípio, identificou três etapas do processo relativo ao

stress, apontando para reações que foram divididas nas seguintes fases: alerta,

resistência e exaustão. Após diversos estudos realizados na área, Lipp (2000)

inseriu uma nova fase, que ocorreria antes da exaustão e a denominou, fase de

“quase exaustão.” (SILVA & MARTINEZ, 2005). Estas quatro fases serão descritas a

seguir:

Fase de alerta:

Acontece no momento exato em que o individuo se depara com um agente

estressor, nesse momento o organismo se prepara para lutar ou fugir, com a

conseqüente quebra da homeostase (LIPP [ORG.], 1996). O organismo hiperativo

manifesta reações neuroendócrinas magnificadas, originárias da integração e

interpretação emocional do sistema límbico à situação vigente que incita o

hipotálamo a direcionar estímulos ao SNA, especialmente á sua porção simpática e

á hipófise. Mediante a secreção do CRH, o hipotálamo estimula a hipófise a excretar

o hormônio ACTH que estimulara as glândulas supra-renais a excretarem seus

hormônios especialmente, o cortisol, a adrenalina e a noradrenalina (BALLONE,

2003).

Devido à ativação do sistema nervoso simpático e ao processo ocorrido no

eixo hipotálamo-hipófise-supra-renal, as alterações do corpo manifestam seu

posicionamento para enfrentar o estressor. Segundo Ballone (2002), nesta fase de

alerta as primeiras mudanças adaptativas acontecem através:

a) do aumento da PA e da FC fazendo o sangue circular mais rápido e

melhorar a atividade muscular e cerebral facilitando a ação e o movimento.

56

b) da contração do baço: com o objetivo de melhorar a oxigenação do

organismo em áreas estratégicas, elevando a condução de glóbulos

vermelhos.

c) da liberação de glicose pelo fígado a fim de proporcionar energia aos

músculos e cérebro.

d) da reconfiguração de distribuição sanguínea, aumentando o volume de

sangue para os músculos e cérebro, e diminuindo o sangue dirigido à pele e

vísceras.

e) do aumento da freqüência respiratória e dilatação dos brônquios para a

uma melhor captação de oxigênio

f) da dilatação das pupilas para aumentar a eficiência visual

g) do aumento do número de linfócitos na corrente sanguínea com o objetivo

de preparar os tecidos para possíveis danos por agentes externos

agressores.

Lipp e Rocha (1996) expõem que as alterações fisiológicas desencadeiam

reações como: a sensação de nó no estômago, mãos e pés frios, boca seca, tensão

nas costas, insônia e aperto da mandíbula.

As manifestações do stress são ações de preservação da vida que levam o

organismo a um estado de prontidão, assim que o estressor desaparece, ou quando

o corpo deixa de perceber e associar uma determinada circunstância a um

estressor, estas manifestações orgânicas são interrompidas, voltando ao estado de

equilíbrio interno (LIPP & ROCHA, 1996). Se, no entanto, por alguma razão o

organismo é continuadamente submetido à estimulação estressante, ou se vive uma

experiência intensa de stress mesmo que seja por um período de tempo irrelevante,

poderá não recuperar seu funcionamento normal e é obrigado a manter o esforço de

adaptação (LIPP [ORG.], 1996). O processo do stress, neste caso, passa para a

Fase de Resistência.

Fase de resistência:

Quando o stress persiste, o organismo continua tentando restabelecer sua

homeostase de um modo reparador.

57

“A energia adaptativa de reserva é utilizada na tentativa de reequilíbrio. Se essa reserva é suficiente, a pessoa recupera-se e sai do procesos de stress. Se, por outro lado, o estressor exige mais esforço de adaptação do que é possível para aquele individuo, então o organismo se enfraquece e torna-se vulnerável a doenças.” (LIPP [ORG.], 1996, p.23).

De acordo com Ballone (2002), esta fase se caracteriza, basicamente, pela

hiperatividade da glândula supra-renal o que faz aumentar seu volume. Pode-se

observar também um aumento dos glóbulos brancos do sangue (leucocitose), uma

atrofia do baço e das estruturas linfáticas, o que propicia a vulnerabilidade orgânica

(BALLONE, 2002).

A pessoa pode começar a sentir um cansaço constante, dificuldade de

memória, dúvidas quanto a si próprio, dificuldade de concentração, uma baixa na

libido, hipersensibilidade emotiva, tontura e apatia além de surgirem problemas

estomacais e herpes (LIPP & ROCHA, 1996).

Na fase de resistência, se o estressor é eliminado o organismo ainda

consegue se restabelecer. Mas se a resistência própria do indivíduo não for

suficiente, o que envolve questões como genética e debilidade orgânica devido a um

acidente ou doença, ou ainda se os estressores ocorrerem concomitantemente a

esta parte do processo, o stress progride para a fase de quase exaustão.

Fase de quase exaustão:

É quando começa a falhar a tentativa de reorganização pelos mecanismos de

adaptação, aparecendo a insuficiência das reservas de energia. Nos indivíduos pré-

dispostos, as doenças começam a aparecer, tais como, picos de hipertensão,

diabetes, psoríase, entre outras. (LIPP, 2000 apud SILVA E MARTINEZ, 2005).

Fase de exaustão:

Ao chegar a este ponto, os sintomas somáticos se manifestam de uma forma

exacerbada, podendo levar á morte. A energia orgânica é limitada e as modificações

biológicas que aparecem nessa fase incapacitam o organismo de atingir o equilíbrio

por si só o que ocasiona a falência adaptativa.

Segundo Lipp e Rocha (1996), as pessoas neste estado, têm a tendência de

pensar e falar somente no estressor e a exaustão física e psicológica assim como, a

inabilidade de trabalhar, grande irritabilidade, medo e ansiedade aguda, são

características desta fase. Doenças graves como hipertensão crônica, úlceras,

58

sérias disfunções da digestão, depressão grave, câncer, além de problemas

dermatológicos entre outros, se apresentam de forma catastrófica.

O stress não é a causa das doenças decorrentes deste processo, mas um

fator importante que provocando um funcionamento de magnitude atípica das

funções adaptativas, contribui para a vulnerabilidade do organismo. Assim,

Convém observar que o stress não é o elemento patogênico das doenças, ele conduz a um enfraquecimento do somático e do psicológico de tal modo que aquelas patologias programadas geneticamente se manifestam devido ao estado de exaustão presente (LIPP & MALAGRIS, 1995 apud SILVA & MARTINEZ, 2005).

Relacionando os mecanismos endócrinos, nervosos e comportamentais

referentes ao stress à suas implicações psicológicas que precedem e agravam o

quadro, é possível constatar a importância da intervenção psicológica na prevenção

de doenças como a hipertensão arterial sistêmica que pode levar a eventos

vasculares fatais.

59

Capitulo IV

5 STRESS E HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA

Os hormônios das adrenais atuantes em situações de stress e a

hiperatividade do SNA, de sua divisão simpática, aumentam o fluxo sanguíneo e,

consequentemente, o débito cardíaco, e devido a isso a exposição ao stress

prolongado pode ocasionar um aumento permanente na PA desencadeando a HAS.

A intensidade com que as pessoas reagem a estressores é crucial quando se

investiga a probabilidade do desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Como

descrito, as patologias decorrentes da HAS, a hipertrofia ventricular esquerda (HVE)

e a aterosclerose podem ocasionar eventos fatais ou prejudiciais ao organismo,

como AVE, Insuficiência cardíaca congestiva (ICC) e infarto agudo do miocárdio

(IAM). Segundo Allyn e Bacon (2002), “Os dois fatores de risco mais importantes

nestas doenças são a elevação da pressão arterial e os altos níveis de colesterol no

sangue” (p. 575).

A intensidade da reação emocional frente a estressores difere entre

indivíduos, um estudo realizado em macacos revelou que quanto mais intensa a

resposta ao stress são maiores os riscos de eventos cardiovasculares.

Manuck et al (1983, 1986) alimentaram um grupo de macacos com uma dieta rica em colesterol, o que aumentou a probabilidade de desenvolverem doenças coronarianas. Eles mediram, então, a reação emocional desses animais ao serem ameaçados de captura. [...] Os animais que apresentaram as reações negativas mais fortes, eventualmente, desenvolveram as maiores taxas de doenças coronarianas. Possivelmente esses animais reagiam mais fortemente a todos os tipos de estressores e suas reações tinham efeitos deletérios sobre a sua saúde (ALLYN & BACON, 2002, p. 575)

As alterações persistentes do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal podem

provocar um funcionamento irregular de alguns sistemas como o cardiovascular,

gastrointestinal, a pele, o sistema imunológico entre outros. A disfunção patológica

ocorre mediante a excitação intensa de um determinado setor ou órgão e

geralmente atinge aquele „mais vulnerável‟ no organismo dependendo da

predisposição (LIPP [ORG.], 1996; BALLONE, 2002), ou da condição em que se

encontra com relação ao seu estado de funcionamento.

60

No caso da HAS, o stress através de sua ação neuroendócrina tem o poder

de aumentar a PA em resposta a estímulos psicológicos (LIPP & ROCHA, 1996).

Viu-se que o SNA tem papel essencial no gerenciamento da PA e que seu

manejo é o produto da interação do sistema nervoso simpático que produz

aumentos da FC e da força do batimento cardíaco, bem como da RVP e do sistema

nervoso parassimpático que é capaz de reduzir o ritmo cardíaco. (LIPP [ORG.],

1996). O stress é um ativador do sistema nervoso simpático, as alterações

constantes da PA em pessoas predispostas a desenvolver HAS se tornam de

grande risco. O SNA é controlado pelo hipotálamo que se encontra no sistema

límbico ou “sistema das emoções” observando- se então uma relação direta entre a

interpretação pessoal de uma determinada circunstância, a identificação emocional

de um agente estressor e as oscilações da PA. O capítulo I mostrou que PA= DC x

RVP e que DC= FC x VS, e, nesse sentido, o sistema nervoso simpático influencia

no aumento da PA porque afeta ambos os lados da equação, tanto a RVP quanto o

batimento cardíaco.

Foi ressaltada neste trabalho a importância do funcionamento adequado dos

rins para uma PA normal, pois atuam; na excreção de sal e água promovendo o

equilíbrio hidrosalino e controlando o volume sanguíneo, e também na produção de

renina que regula a entrada e saída de sangue pelos capilares. A liberação

exagerada de aldosterona pelo córtex adrenal, em momentos de stress, aumenta a

reabsorção de sal e água aumentando o volume sistólico e assim a pressão arterial.

Em resumo, quando há uma situação considerada estressante o SNC ativa o

hipotálamo que envia sinais para a hipófise, esta estimula a produção dos hormônios

do córtex adrenal. O hipotálamo também ativa o sistema nervoso simpático que

estimula a produção dos hormônios da medula adrenal reforçadores da função

simpática. Estes efeitos promovem a aceleração dos batimentos cardíacos para

enviar uma maior quantidade de sangue aos músculos e fortalecê-los, processo que

exige uma força de contração mais intensa das paredes dos vasos sanguíneos,

provocando a elevação da PA.

Frente a um estressor, a hiperatividade das funções simpáticas e a diminuição

das funções parassimpáticas alteram o ciclo sono vigília e também as funções

gastrintestinais, desencadeiam reações afetivo-defensivas preparando o individuo

61

para lutar ou fugir e podem gerar sentimentos de raiva, medo e ocasionar um estado

de ansiedade. Dependendo da relevância do estressor, seja relacionada a um longo

período de tempo ou a uma intensidade significativa, o estado de alerta pode

permanecer, causando sérios danos orgânicos e afetando a qualidade de vida da

pessoa. Segundo Lipp e Rocha,

Quando a situação de alerta é mantida por períodos muito longos pode levar ao desenvolvimento de hipertensão crônica, em pessoas geneticamente propensas à hipertensão, porque proporciona um aumento da espessura das paredes das pequenas artérias ao mesmo tempo que diminui sua elasticidade. Além disso, o stress, através da ativação do sistema nervoso simpático, afeta o sistema de produção de renina dos rins e, consequentemente, o equilíbrio de sal e água no organismo (LIPP & ROCHA, 1996, p. 69).

As terminações nervosas conhecidas como barorreceptores, encontradas nos

vasos sanguíneos também contribuem para a regulação da PA, elas captam as

alterações da pressão e enviam sinais ao SNA para que este regule o calibre das

artérias e normatize a PA ou a mantenha dentro de certos limites. Se a pressão

arterial sobe muito a comunicação entre os barorreceptores e o SNA acontece e

este imediatamente dilata os vasos sanguineos e diminui a FC, o contrário também

ocorre quando a PA cai. Pessoas submetidas a um stress continuo e intenso que

passam por constantes elevações da PA, podem desenvolver uma insensibilidade

dos barorreceptores que deixam de captar um aumento considerado significativo da

pressão e vão remodelando seu funcionamento a partir de níveis mais altos da PA

(LIPP & ROCHA, 1996).

A elevação da pressão arterial por fatores estressores acontece em muitas

pessoas, isso não quer dizer que todas desenvolverão HAS.

Segundo Lipp e Rocha (1996) registros constam que em momentos de stress

a elevação da PA em indivíduos hipertensos é maior do que em normotensos, que

filhos de pessoas hipertensas também demonstram maior reatividade cardiovascular

ao stress e afirmam em seus estudos a correlação entre stress e HAS.

O stress não é por si só o fator causal da HAS “Há muitas pessoas que não

tem stress e que sofrem de hipertensão, como também há outras que tem stress e

não são hipertensas” (LIPP & ROCHA, 1996). Ao desenvolvimento da HAS é

atribuída uma contribuição multifatorial: condições genéticas, étnicas,

socioeconômicas e referentes aos hábitos, como o consumo de bebidas alcoólicas

ou cigarros assim como o stress excessivo são considerados fatores de risco.

62

Diversos estudos já foram realizados com o intuito de observar a relação

entre stress, emoções, características de personalidade e patologias e foi

identificada uma relação direta do stress com constructos psicológicos de ansiedade

e raiva (SPIELBERGER E MOSCOSO 1996 apud. LIPP et. al, 2007), comprovada a

correlação entre as emoções e o stress e verificadas também às diferenças de

acordo com o tipo de emoção nas alterações das PAS e da PAD ou de ambas

(HOLT-LUNSTAD et. al, 2003; SPIELBERGER et. al, 1991 apud. LIPP et. al, 2007).

Estudos ainda identificaram a relação entre alexitimia, reatividade ao stress e

doenças somáticas (SANDIN, SANTED, CHOROT & VALIENTE, 1996 apud LIPP et.

al, 2007), enquanto em outro trabalho foi verificada a relação entre alexitimia, estado

de ansiedade, depressão, raiva e stress (SANDIN et al (1996), apud LIPP et. al,

2007).

Um ponto levantado neste trabalho foi referente à característica de

personalidade do hipertenso. Uma destas características é a alexitimia descrita

como uma incapacidade de expressão dos sentimentos pela pessoa, apontando

para um déficit no contato do sujeito com suas próprias emoções. “Alexitimia,

definida por Sifneos (1972) como uma dificuldade da pessoa de identificar e de

expressar vários tipos de emoções [...]” (LIPP et. all, 2007, p.4), é um déficit de

reconhecimento da propriedade nos sentimentos e uma consequente falta de

exteriorização, de comoção, se manifestou claramente na abordagem clínica de

muitos pacientes hipertensos (LIPP et. al, 2007).

Outras manifestações comuns observadas nos portadores de HAS foi um

caráter inassertivo, definido por “Wolpe (1973) como a inabilidade não só de

defender os direitos pessoais e expressar opinião, mas também em termos da

dificuldade de expressar afetos [...]” (LIPP et. al, 2007, p.4), e uma tendência à

agressividade. Lipp e Rocha (1996), verificaram uma resposta cardiovascular com

grandes picos na PA quando o individuo hipertenso foi submetido a situações que

exigissem assertividade.

Outro estudo realizado por Lipp et.al. (2007) no Laboratório de Estudos

Psicofisiológicos do Stress da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, com

oitenta indivíduos hipertensos no estágio I, sendo 28 homens e 52 mulheres com

uma idade média de 42,1 anos, verificou que pessoas inassertivas e/ ou alexitímicas

ao inibir as emoções, mostraram uma reatividade cardiovascular que se manifestava

63

mais na PAS, em contrapartida quando requeridas a demonstrar emoção mostravam

uma PAD mais elevada.

Considerando a importância do controle do stress mediante treino psicológico

em pacientes hipertensos, como sugere a VI Diretrizes de Hipertensão Arterial

(2010), também vale ressaltar a influência das características de personalidade dos

indivíduos com HAS na reação ao stress e atentar para medidas de intervenção

psicológica que amenizem tais características, como no caso da inassertividade e a

alexitimia.

64

CONCLUSÃO

Pesquisas recentes, outras nem tão recentes assim, têm colocado em

evidência a grande influência potencial das emoções em sua relação com a

debilitação fisiológica, e este tema se torna ainda mais interessante quando na falta

de contato do sujeito com as próprias emoções os mesmos efeitos no

comprometimento do funcionamento orgânico são desencadeados.

Através da interação comportamental, são associados processos interligados

ao arcabouço da cognição: atenção, percepção, memória, raciocínio, juízo,

imaginação, pensamento e linguagem; a emoções e sentimentos, o que conduz a

incerteza de previsões futuras e planejamento de nossas ações. A porção

subcortical do SNC, o sistema límbico, regula o processamento das emoções e as

atividades autonômicas do corpo numa cadeia de relação mútua com praticamente

todos os órgãos. Essas ações fazem parte do mesmo circuito da racionalidade

através do nível cortical do SNC, em especial, do córtex pré-frontal, e são essas

operações que, em conjunto, por estarem já associadas a um sentido devido às

experiências de vida, promovem o comportamento individual e social.

Todos esses aspectos, emoção e razão, biologia e comportamento,

entrelaçados, da forma como procedem, podem ocasionar distúrbios

psicofisiologicos. Um estado doentio do corpo, ou seja, alterações negativas em sua

condição orgânica, pode estar associado a pensamentos e reações inadequadas

frente aos desafios cotidianos e vice- versa.

Vimos neste trabalho que o cérebro e o resto do corpo são indissociáveis,

integrados em seus componentes, entre reguladores bioquímicos endócrinos e

neurológicos e que a inter-relação sistêmica deste organismo com o meio externo

pode alterar suas funções comportamentais e biológicas. Os fenômenos

psicológicos podem ser compreendidos neste contexto de um corpo estrutural,

funcionalmente integrado na sua relação mútua com o meio.

Uma vez considerada a possibilidade de uma vulnerabilidade humana a

eventos emocionais, em particular, ao stress, que pode desencadear patologias com

a probabilidade de se tornarem fatais ou induzir ao estado de doença como a HAS, a

questão recai sobre as possibilidades de intervenção psicológica. A resposta deve

65

estimar a importância de estados ativados na expressão do stress pelo

comportamento prejudicado: o pensamento. Desse modo, frente à possibilidade de

intervir na pré-disposição da reação a agentes estressores mediante reestruturação

cognitiva e levando em conta que características de personalidade, presença ou não

de transtornos mentais, disponibilidade de suporte social e estratégias de adaptação

diante de uma situação estressante, são fatores de extrema importância no impacto

psicofisiológico em indivíduos portadores de HAS; torna-se essencial o

aprimoramento da medida psicológica.

66

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