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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE - UNIVALE PROGRAMA DE MESTRADO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS NÚCLEO DE PESQUISA EM IMUNOLOGIA Michele Mendonça Dias Abreu AVALIAÇÃO TEMPORAL DA INFECÇÃO POR S. MANSONI EM ÁREAS ENDÊMICAS DO MUNICÍPIO DE GOVERNADOR VALADARES, MINAS GERAIS: Um Estudo de Painel GOVERNADOR VALADARES-MG 2011

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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE - UNIVALE PROGRAMA DE MESTRADO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

NÚCLEO DE PESQUISA EM IMUNOLOGIA

Michele Mendonça Dias Abreu

AVALIAÇÃO TEMPORAL DA INFECÇÃO POR S. MANSONI EM ÁREAS ENDÊMICAS DO MUNICÍPIO DE GOVERNADOR VALADARES, MINAS GERAIS:

Um Estudo de Painel

GOVERNADOR VALADARES-MG

2011

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MICHELE MENDONÇA DIAS ABREU

AVALIAÇÃO TEMPORAL DA INFECÇÃO POR S. MANSONI EM ÁREAS ENDÊMICAS DO MUNICÍPIO DE GOVERNADOR VALADARES, MINAS GERAIS:

Um Estudo De Painel

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado para obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas da UNIVALE.

Orientadora: Dra. Lúcia Alves de Oliveira Fraga Co-Orientadora: Dra. Elizabeth Castro Moreno

GOVERNADOR VALADARES-MG

2011

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MICHELE MENDONÇA DIAS ABREU

AVALIAÇÃO TEMPORAL DA INFECÇÃO POR S. MANSONI EM ÁREAS ENDÊMICAS DO MUNICÍPIO DE GOVERNADOR VALADARES, MINAS GERAIS:

Um Estudo De Painel

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado para obtenção do título de mestre em Ciências Biológicas da UNIVALE.

Governador Valadares, ___ de ____________ de _____.

Banca Examinadora:

__________________________________________

Dr. Stefan Michael Geiger

Universidade Vale do Rio Doce- UNIVALE

__________________________________________

Dr. Cristiano Lara Massara

Centro de Pesquisas Rene Rachou- CPqRR/FIOCRUZ/BH

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EXECUÇÃO DO TRABALHO:

Laboratório de Pesquisa em Imunologia da Universidade Vale do Rio Doce

(UNIVALE), Governador Valadares, MG.

Centro de Pesquisas Rene Rachou (CPqRR ) - FIOCRUZ – Belo Horizonte, MG.

COLABORADORES:

Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE) Dra Lucia Alves de Oliveira Fraga Dra Alda Maria Soares Silveira Dra Elaine Speziali Ms. Denise Coelho Maria de Fátima da Silva Marlucy Rodrigues Lima Lilia Cardoso Pires Wallace Olímpio

Fundação Hemominas-Minas Gerais

Drª Elizabeth Castro Moreno

ÓRGÃOS FINANCIADORES:

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-CNPq

Uniformed Services University of the Health Sciences - USUHS

Universidade Vale do Rio Doce - UNIVALE

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Dedico este trabalho aos meus

familiares que sempre me

apoiaram incondicionalmente

para a sua concretização.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por sua bondade e misericórdia, e por ter me

dado sabedoria para conduzir este trabalho.

Aos meus pais, Ronaldo e Neida pelo amor e ensinamentos. Se hoje me tornei essa

pessoa vitoriosa, agradeço a vocês! Sem vocês nada disso seria possível.

Ao meu amado Rodrigo, que participou de todos os momentos importantes desta

trajetória, obrigado pelo apoio, carinho e amor incondicional . Te amo!

Ao meu filho Pedro, uma benção de Deus, ainda sem entender a ausência e os

momentos de distância, me deu forças para continuar. Você é a razão da minha

vida.

À minha irmã Fernanda que apesar da distância sempre me apoiou em todos os

desafios da minha vida. Você é muito especial para mim.

Aos meus avós, Dailton e Yeda pelos conselhos, carinho e apoio que sempre

deram. Amo vocês!

À minha sogra Esther e meu sogro Janel, pela atenção, paciência e amor. Meus

sinceros agradecimentos. Amo vocês!

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À orientadora Doutora Lúcia Alves Oliveira Fraga, pela dedicação, carinho e

respeito. Obrigada por acreditar em mim e no desenvolvimento deste trabalho.

À Doutora Elizabeth Castro Moreno pelos ensinamentos e orientações, sempre

muito prestativa e paciente.

À minha amiga Patrícia Barreto, que me acompanhou nesta etapa da minha vida e

que me apoiou com seu carinho e atenção.

Aos técnicos do laboratório Lilian, Marluce, Walace e Fátima pela ajuda na

construção dos dados. A participação de vocês foi fundamental.

Às amigas Érica, Rosiane e Alessandra que compartilharam momentos bons e ruins

desta trajetória, vocês são vitoriosas!

Aos colegas de Mestrado, pela convivência e experiências.

Aos moradores de Córrego do Bernardo e Córrego do Melquíades, pela

colaboração.

À todos aqueles que puderam contribuir direta ou indiretamente para a

concretização de mais esse trabalho.

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“Só sabemos com exatidão quando

sabemos pouco; a medida que vamos

adquirindo conhecimentos, instala-se a

dúvida.”

Johann Wolfgang Von Goethe

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RESUMO

A esquistossomose causada pelo trematódeo Schistosoma mansoni, é uma doença endêmica no Brasil, apresentando alta prevalência na região norte e nordeste de Minas Gerais. O município de Governador Valadares localizado no leste de Minas Gerais na região do Vale do Rio Doce e possui 12 distritos, entre eles estão os distritos de Córrego do Bernardo (CB) e Córrego do Melquíades (MQ). Estes distritos têm sido objetos de investigação pelo Núcleo de Pesquisas em Imunologia da Univale desde 1990 e são considerados endêmicos para a esquistossomose. O trabalho objetivou organizar os dados secundários e reavaliar as estimativas de prevalência da esquistossomose e outras enteroparasitoses nestas localidades, através de uma análise detalhada das séries históricas existentes no laboratório no período de 1990 a 2009. Os dados disponíveis em planilhas de Excel e impressos foram consolidados, para se obter uma visão geral dos trabalhos já realizados e definir os parâmetros a serem utilizados no estudo de painel. Nos primeiros anos de intervenção, 1990 em (CB) e 1997/98 em (MQ) a prevalência da esquistossomose encontrava-se elevada 67,7% (CB) e 59,8% (MQ). Ao longo dos anos ocorreram reduções significativas das taxas de prevalência em Córrego do Bernardo. No ano de 1995 a prevalência reduziu para 43,1% e em 2009 para 12,5%, obtendo uma redução total da prevalência da esquistossomose de 81,5%. O distrito de Córrego do Melquíades apresentou um comportamento diferente em relação a prevalência da doença. De 59,8% em 1997/98 reduziu para 18,6% (2001). Em 2009 atingiu o valor de 31,9%, apresentando uma redução total de 47,0%. O ajuste das taxas de prevalência permitiu compará-las para inferir sobre os riscos de adquirir a doença nestas localidades. Em 1990, o risco relativo (RR) e atribuível (RA) em CB foi de 1,13 e 6,8, respectivamente. Com o passar dos anos e das ações realizadas em CB, ocorreram mudanças das taxas de prevalência e dos riscos da doença neste distrito. No Córrego do Melquíades, em 2009, o risco relativo (RR) foi de 2,9 e o risco atribuível (RA) de 21,8. A elevação da taxa de prevalência e dos riscos em MQ indica transmissão ativa da esquistossomose na localidade contribuindo para manutenção dos casos de reinfecção da doença. O estudo permitiu concluir que há necessidade de uma reestruturação nas ações de controle da esquistossomose na região, com implementação de medidas adequadas de prevenção e tratamento dos casos de forma periódica e sistematizada. Palavras chave: Schistosoma mansoni. Avaliação temporal. Áreas endêmicas.

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ABSTRACT

Schistosomiasis caused by the trematode Schistosoma mansoni is an endemic disease in Brazil, with high prevalences in the north and northeast of Minas Gerais state. The city of Governador Valadares has 12 districts, and among them are the districts of Corrego do Bernardo and Corrego do Melquiades. These districts have been the subject of research activities by the Center for Research in Immunology Univale, since 1990 and are considered highly endemic for schistosomiasis. Through a detailed analysis of historical data available in the laboratory from 1990 to 2009, the study aimed to organize secondary data and review the estimates of prevalences of schistosomiasis and other parasitic infections in these locations. Available data in Excel spreadsheets were printed and consolidated, to obtain an overview of existing work and define the parameters to be used in the panel study. The prevalence of schistosomiasis was high in the first year of intervention, ranging from 67.7% (CB) in 1990 to 59.8% (MQ) in 1997/98. Over the years, significant reductions in prevalence rates have been observed at the CB site. In 1995 the prevalence dropped to 43.1% and to 12.5% in 2009, reaching a total reduction of schistosomiasis prevalence of 81.5%. The district of MQ showed a different pattern. The prevalence of 59.8% in 1997/98 decreased to 18.6% in 2001. However, in 2009 an increase up to 31.9% was notified, which represents a total reduction of 47.0%. The adjustment of prevalence rates allowed us to compare the risks of acquiring the disease in these two localities and make implications about transmission of schistosomiasis. In 1990, the relative risk (RR) and the attributable risk (AR) in CB was 1.13 and 6.8, respectively. Over the years and the performed interventions in CB, there were changes in prevalence rates and risks of the disease in this district. In MQ in 2009, the relative risk (RR) was 2.9 and the attributable risk (AR) was 21.8. The increase of the prevalence and of the risks in MQ indicates active transmission of schistosomiasis in this village, maintaining cases of reinfection of the disease. The study concluded that there is a need to restructure actions of control against schistosomiasis in the region, which might be done by the implementation of appropriate measures for prevention and by treatment of cases on a regular and systematic basis.

Keywords: Schistosoma mansoni. Time point. Endemic areas.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 1- Prevalência da esquistossomose por faixa etária na população, do

Distrito de Córrego do Bernardo, Município de Governador

Valadares, Minas Gerais...................................................................

38

Gráfico 2- Prevalência da esquistossomose por faixa etária na população, do

Distrito de Córrego do Melquíades, Município de Governador

Valadares, Minas Gerais...................................................................

40

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Levantamentos realizados sobre a esquistossomose no período de 1990 a 2009 em Córrego do Bernardo, Município de Governador Valadares, Minas Gerais......................................................................

33

Tabela 2- Levantamentos realizados sobre a esquistossomose no período de 1997/98 a 2009 em Córrego do Melquíades, Município de Governador Valadares, Minas Gerais......................................................................

33

Tabela 3- Caracterização demográfica da população do distrito de Córrego do Bernardo Município de Governador Valadares, Minas Gerais...................................................................................................

34

Tabela 4- Caracterização demográfica da população do distrito de Córrego do Melquíades, Município de Governador Valadares, Minas Gerais....................................................................................................

34

Tabela 5- Estrutura etária da população dos distritos de Córrego do Bernardo (1995) e de Córrego do Melquíades (2001), Município de Governador Valadares, Minas Gerais........................................................................

35

Tabela 6- Taxas de Prevalência da esquistossomose, por 100 habitantes nos distritos de Córrego do Bernardo e Córrego do Melquíades, Município de Governador Valadares, Minas Gerais nos diferentes anos de intervenção.............................................................................................

35

Tabela 7- Redução relativa da prevalência da esquistossomose na população dos distritos de Córrego do Bernardo e Córrego do Melquíades, Município de Governador Valadares, Minas Gerais.....................................................................................................

36

Tabela 8- Distribuição proporcional de casos de esquistossomose por faixa etária na população do distrito de Córrego do Bernardo, Município de Governador Valadares, Minas Gerais.....................................................................................................

37

Tabela 9- Distribuição proporcional de casos de esquistossomose por faixa etária na população do distrito de Córrego do Melquíades, Município de Governador Valadares, Minas Gerais.....................................................................................................

37

Tabela 10- Prevalência da esquistossomose por faixa etária na população do distrito de Córrego do Bernardo, Município de Governador Valadares, Minas Gerais..........................................................................................

38

Tabela 11- Coortes etárias e percentual de redução nas taxas de prevalência por esquistossomose, no distrito de Córrego do Bernardo, Município de Governador Valadares, 19 anos após a primeira intervenção..............

39

Tabela 12- Prevalência da esquistossomose por faixa etária na população do distrito de Córrego do Melquíades, Município de Governador Valadares, Minas Gerais........................................................................

40

Tabela 13- Coortes etárias e percentual de redução nas taxas de prevalência por esquistossomose, no distrito de Córrego do Melquíades, Município de Governador Valadares, 10 anos após a primeira intervenção.............................................................................................

41

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Tabela 14- Taxas de Prevalência por faixa etária e cálculo das taxas de prevalência ajustadas para esquistossomose na população dos distritos de Córrego do Bernardo e Córrego do Melquíades em 1990 e 1997/98, Município de Governador Valadares, Minas Gerais.............42

Tabela 15- Taxas de Prevalência por faixa etária e cálculo das taxas de prevalência ajustadas para esquistossomose na população dos distritos de Córrego do Bernardo e Córrego do Melquíades em 1995 e 2001, Município de Governador Valadares, Minas Gerais....................

43

Tabela 16- Taxas de Prevalência por faixa etária e cálculo das taxas de prevalência ajustadas para esquistossomose na população dos distritos de Córrego do Bernardo e Córrego do Melquíades 2009, Município de Governador Valadares, Minas Gerais..............................

43

Tabela 17- Caracterização do risco relativo e atribuível de casos de esquistossomose na população dos distritos de Córrego do Bernardo e Córrego do Melquíades, Município de Governador Valadares, Minas Gerais..........................................................................................

44

Tabela 18- Quantificação da carga parasitária para S. mansoni na população dos distritos de Córrego do Bernardo e Córrego do Melquíades, Governador Valadares, Minas Gerais...............................

45

Tabela 19- Distribuição da freqüência de indivíduos mono e co-parasitados nos distritos de Córrego do Bernardo e Córrego do Melquíades,Município de Governador Valadares, Minas Gerais.....................................................................................................

45

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LISTA DE ABREVIATURAS

CB - Córrego do Bernardo

COPASA - Companhia de Saneamento de Minas Gerais

DP - Desvio Padrão

ESF - Estratégia Saúde da Família

MQ - Córrego do Melquíades

OMS - Organização Mundial de Saúde

PCE - Programa de Controle da Esquistossomose

PECE - Programa Especial de Controle da Esquistossomose

SAAE - Serviço Autônomo de Água e Esgoto

SISPCE - Sistema de Informação sobre o PCE

SMS/GV - Secretaria Municipal de Saúde de Governador Valadares

STATA - Data Analysis and Statistical Software

SUCAM - Superintendência de Campanhas de Saúde Pública

SUS - Sistema Único de Saúde

USF - Unidade de Saúde da Família

WHO - World Health Organization

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................. 16

1.1 ESQUISTOSSOMOSE.................................................................................. 16

1.1.1 Ciclo de transmissão................................................................................ 18

1.1.2 Aspectos Clínicos..................................................................................... 18

1.1.3 Aspectos Epidemiológicos...................................................................... 20

2 JUSTIFICATIVA............................................................................................... 24

3 OBJETIVOS..................................................................................................... 25

3.1 OBJETIVO GERAL........................................................................................ 25

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS......................................................................... 25

4 METODOLOGIA............................................................................................... 27

4.1 DELINEAMENTO.......................................................................................... 27

4.2 ÁREA DE ESTUDO....................................................................................... 28

4.3 POPULAÇÃO ESTUDADA............................................................................ 28

4.4 INSTRUMENTO E COLETA DE DADOS...................................................... 29

4.5 SELEÇÃO DAS SÉRIES TEMPORAIS......................................................... 30

4.6 EXAME PARASITOLÓGICO DE FEZES...................................................... 31

4.7 ANÁLISES DOS RESULTADOS................................................................... 31

4.8 ASPECTOS ÉTICOS..................................................................................... 32

5 RESULTADOS................................................................................................. 33

6 DISCUSSÃO.................................................................................................... 47

6.1 REDUÇÃO RELATIVA DAS TAXAS DE PREVALÊNCIA DOS DISTRITOS 49

6.2 PERFIL DEMOGRÁFICO SEXO E IDADE DA POPULAÇÃO RESIDENTE

DE CB E MQ........................................................................................................

49

6.3 DISTRIBUIÇÃO PROPORCIONAL DE CASOS DA DOENÇA..................... 50

6.4 TAXA DE PREVALÊNCIA DA ESQUISTOSSOMOSE POR FAIXA

ETÁRIA................................................................................................................

50

6.5 ANÁLISE DA COORTE ETÁRIA................................................................... 52

6.6 RISCO RELATIVO E ATRIBUÍVEL PARA PADRONIZAÇÃO DAS TAXAS

DE PREVALÊNCIA..............................................................................................

53

6.7 INFECÇÃO PELO S. mansoni: MONOPARASITADOS E CO-

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PARASITADOS .................................................................................................. 55

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................. 58

8 CONCLUSÃO................................................................................................... 59

REFERÊNCIAS................................................................................................... 60

ANEXO...............................................................................................................................69

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1 INTRODUÇÃO

1.1 ESQUISTOSSOMOSE

A esquistossomose mansônica é uma infecção causada pelo Schistosoma

mansoni, endêmica no Brasil e em 54 países e territórios distribuídos pela América

do Sul, Caribe e África. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS)

existem cerca de 200 milhões de pessoas infectadas em todo o mundo

(LAMBERTUCCI et al., 1987; WHO, 2002).

Os aspectos clínicos da doença foram descritos pela primeira vez, em 1847,

pelo japonês Fuji. No Egito, o parasito tornou-se conhecido em 1852, com a

descrição de Theodor Bilharz, daí a denominação bilharziose utilizada em alguns

países. Quarenta anos mais tarde, o renomado médico inglês Patrick Manson

levantou a hipótese da existência de duas espécies de Schistosoma parasito do

homem (KATZ; ALMEIDA, 2003).

Em 1907, a doença foi descrita pelo inglês Sambom, que deu nome a

patologia, em homenagem a Manson e, em 1908, Pirajá da Silva, registra o primeiro

caso de infecção humana por S. mansoni no Brasil (BERGQUIST, 2008).

A concessão de vastas extensões de terra à nobreza feudal fez surgir a

necessidade da mão de-obra escrava, importada da África juntamente com o

parasito Schistosoma mansoni . As condições geográficas e climáticas favoreceram

a instalação do parasito no Brasil. É importante ressaltar que as grandes plantações

canavieiras no Nordeste, em áreas com grande aporte hídrico, associada a precárias

condições de vida e provável existência dos caramujos transmissores contribuíram

fortemente para o desenvolvimento dessa doença (BARRETO, 1982; LOUREIRO,

1989).

No Brasil, estima-se que a esquistossomose atinja entre 2 a 8 milhões de

indivíduos que representam aproximadamente 0,04% da população. As regiões

mais afetadas são o Nordeste e o Sudeste (QUININO et al., 2009). Considerada

uma doença de notificação compulsória pelo Ministério da Saúde, em 2007 foram

confirmados 100 mil novos casos. E, somente no Estado de Minas Gerais, foram

registrados mais de 20 mil casos da doença (BRASIL, 2008).

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A transmissão da esquistossomose e outras enteroparasitoses em humanos é

influenciada por um grande número de características associadas ao agente, ao

ambiente e ao próprio homem. Estas características são importantes não somente

para a manutenção do ciclo de vida do parasito, mas também por determinar a

gravidade da doença (KLOOS, 2008).

Muitos fatores de risco estão relacionados à distribuição das cercárias (

forma infectante do hospedeiro vertebrado), na superfície da água, a presença do

hospedeiro intermediário-caramujo, e também relacionado ao hospedeiro humano

como idade, sexo, contato com água, resposta imune, fatores genéticos e

fisiológicos (KLOOS, 2008).

A importância e a persistência da doença não estão relacionadas somente à

prevalência e à distribuição geográfica no mundo, mas também ao mecanismo de

escape do molusco frente ao moluscicida, precárias condições de moradia e

saneamento básico, atividades econômicas ligadas ao uso da água principalmente

em zonas rurais, e a baixa adesão aos programas de controle. Além disso, há de se

considerar a baixa efetividade dos mecanismos naturais de defesa imunológica, bem

como a inexistência de uma vacina eficaz (COURA; AMARAL, 2004).

1.1.1 Ciclo de transmissão

O ciclo biológico do S. mansoni é complexo, pois é formado por duas fases

parasitárias: uma no hospedeiro definitivo (vertebrado/homem) e outra no

hospedeiro intermediário (invertebrado/caramujo do gênero Biomphalaria). As

etapas evolutivas consistem no verme adulto (macho e fêmea), ovo, miracídio,

esporocisto, cercária e esquistossômulo (KATZ ; ALMEIDA, 2003).

Segundo Pan (1965) apud Castro (2009), o ciclo inicia-se quando o

hospedeiro vertebrado infectado elimina ovos nas fezes, que ao atingir águas doces,

paradas ou de fraca correnteza, liberam a forma larvária ciliada denominada

miracídio. O miracídio é o primeiro estágio de vida livre do Schistosoma, apresenta

um formato oval e revestido por numerosos cílios, mede em torno de 150 a 170µm

de comprimento e de 60 a 70 µm de largura. O miracídio ao penetrar nas partes

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18

moles do molusco, do gênero Biomphalaria perde parte de suas estruturas. As

células remanescentes se reorganizam e, em 48 horas, transformam-se em um saco

alongado repleto de células germinativas, denominado esporocisto. O período de

vida dos esporocistos é de 18 a 21 dias. A partir do 14º dia, inicia-se a formação dos

esporocistos secundários. Estes sofrem uma série de modificações, especialmente

em seu crescimento e interior, formando milhares de cercarias. No final de 25 a 30

dias após a penetração dos miracídios, as cercárias são liberadas na água e nadam

a procura do hospedeiro vertebrado (GRYSEELS et al.,2006; CASTRO, 2009 ).

O processo de infecção pelo S. mansoni se inicia com a penetração ativa das

cercárias na pele ou mucosas do hospedeiro. A penetração é consumada pela ação

lítica e mecânica devido aos movimentos intensos da cercaria. Este processo pode

durar até 15 minutos, quando a cercária perde sua cauda. Após atravessar a pele, a

cercária passa a ser chamada de esquistossômulo, que são adaptados ao meio

interno isotônico do hospedeiro definitivo, penetrando em vasos sangüíneos e vasos

linfáticos. Os esquistossômulos migram em direção aos vasos sangüíneos e dirigem-

se aos pulmões, fígado, onde ocorre a maturação dos vermes em 4 a 6 semanas na

veia portal (KATZ; ALMEIDA, 2003; GRYSEELS et al.,2006). Em seguida, os vermes

migram para as veias mesentéricas, se acasalam e iniciam a postura de ovos. Parte

dos ovos ganha a circulação e fica alojado no fígado contribuindo para o

desenvolvimento da doença, enquanto outros ovos podem depositar-se nas paredes

intestinais, podendo alcançar a luz intestinal e serem eliminados pelas fezes,

reiniciando o ciclo biológico do parasito (CASTRO, 2009) .

1.1.2 Aspectos clínicos

A infecção pelo S. mansoni pode induzir diferentes manifestações clínicas que

são dependentes da localização do parasito, intensidade da infecção e resposta

imune do hospedeiro. Cerca de 70-80% dos indivíduos infectados permanecem

clinicamente assintomáticos. A doença apresenta 2 fases, a aguda e a crônica. A

fase aguda pode ser dividida em dois períodos: fase pré-postural e pós-postural. A

fase pré-postural ocorre nas primeiras semanas de infecção e inicia-se com a

penetração das cercárias podendo desencadear o quadro de dermatite cercariana

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apresentando coceira e vermelhidão no local da penetração (TORRES, 1976;

CASTRO, 2009).

O indivíduo infectado pode permanecer assintomático ou apresentar febre,

sudorese, cefaléia, dores musculares, cansaço, inapetência, emagrecimento, tosse,

dor abdominal. Após o período de instalação e maturação do verme no sistema

porta-hepático inicia-se a postura de ovos, caracterizando a fase aguda pós-

postural, podendo apresentar sintomas como mal-estar, febre alta, náuseas,

cefaléia, anorexia, calafrios, tosse, sudorese, diarréia, emagrecimento, eosinofilia,

leucocitose e hepatoesplenomegalia (CASTRO, 2009).

A fase crônica inicia-se por volta do sexto mês de infecção, podendo durar

vários anos. Nesta fase, podem surgir os sinais de progressão da doença para

diversos órgãos, atingindo graus extremos de gravidade, como hipertensão

pulmonar e portal, ascite e ruptura de varizes do esôfago. Existem evidências de que

a intensidade de infecção é um dos principais determinantes das manifestações

clínicas mais severas na esquistossomose. A fase crônica apresenta as formas

clínicas intestinal, hepatointestinal, hepatoesplênica compensada e hepatoesplênica

descompensada (WARREN, 1972; ANDRADE et.al., 1997; BRASIL, 2005). A forma

intestinal caracteriza-se por diarréias repetidas que podem ser

mucossangüinolentas, com dor ou desconforto abdominal, perda de apetite e

cansaço. Porém, pode apresentar-se assintomática. A forma hepatointestinal

caracteriza-se pela presença de diarréias e epigastralgia. Ao exame físico, o

paciente apresenta hepatomegalia, podendo-se notar, à palpação, nodulações que

nas fases mais avançadas, correspondem a áreas de fibrose decorrentes de

granulomatose periportal ou fibrose de Symmers. Na forma hepatointestinal os

sintomas são os mesmos que na forma intestinal, porém mais acentuados ( BRASIL,

2005).

Na forma hepatoesplênica compensada ocorre hepatoesplenomegalia com

lesões perivasculares intra-hepáticas em quantidade suficientes para gerar

transtornos na circulação portal, com certo grau de hipertensão que provoca

congestão passiva do baço. Nessa etapa, inicia-se a formação de circulação

colateral e de varizes do esôfago, com o comprometimento do estado geral do

paciente (CASTRO, 2009).

Já a forma hepatoesplênica descompensada inclui as formas mais graves da

esquistossomose mansônica, responsáveis pelos óbitos. Caracteriza-se por fígado

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volumoso ou já contraído pela fibrose perivascular, esplenomegalia avantajada,

ascite, circulação colateral, varizes do esôfago, hematêmese, anemia acentuada,

desnutrição e quadro de hiperesplenismo (CASTRO, 2009)..

A presença da forma hepatosplênica representa o indicador de maior

gravidade da doença em populações de algumas regiões do país, particularmente

naquelas áreas onde a endemia mostra maior prevalência e piores condições

socioeconômicas (KLOETZEL, 1962; BARBOSA, 1965; KATZ & BRENER, 1966;

KLOETZEL, 1967).

Podem ser consideradas ainda outras formas, tais como, as pulmonares e

cárdio-pulmonares, verificadas em estágios avançados da doença onde predomina

uma arteriolite obstrutiva, insuficiência cardíaca direita e perturbações respiratórias

severas. Outra forma importante a ser considerada é a neuroesquistossomose. Já

foram encontrados ovos de S. mansoni em praticamente todos os órgãos e tecidos

do corpo humano (FERRARI, 2004).

Os estudos de campo em diversas áreas endêmicas do Brasil têm contribuído

para a compreensão da história natural da doença, de sua epidemiologia, evolução

das formas clínicas, suas relações com a carga parasitária, reinfecções sucessivas,

características imunológicas do hospedeiro, terapêutica específica e controle. Muitos

desses aspectos ainda não estão completamente esclarecidos (BINA et al., 2003).

1.1.3 Aspectos epidemiológicos

A esquistossomose é uma doença característica de áreas rurais pobres, com

baixo desenvolvimento sócio-econômico onde normalmente os habitantes têm

contato freqüente com águas superficiais contaminadas ou consumo direto, e onde

não existem sistemas adequados de esgotamento sanitário (WHO, 2002).

Os surtos agudos da esquistossomose estão cada vez mais freqüentes em

regiões de ecoturismo e em áreas urbanas. A geografia destas regiões com

cachoeiras, piscinas naturais e pequenos córregos, disponíveis aos turistas para

atividades de lazer, tornam estes lugares privilegiados, principalmente nos finais de

semana (ENK et al.; 2004; MASSARA et al., 2008).

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A migração de trabalhadores rurais para centros urbanos, também é um fator

importante que está associado à doença, contribuindo para sua expansão. As

mudanças na ocupação e no uso da terra geram a dispensa de mão de obra pelos

antigos agricultores, agora pequenos empresários, donos de estabelecimentos

turísticos. Outros permanecem no campo, ficando desempregados, vivendo em

condições miseráveis, e excluídos do desenvolvimento gerado por essa

transformação (CARVALHEIRO, 1986).

No Brasil, a esquistossomose vem sendo alvo de programas de controle de

abrangência nacional, que visam, sobretudo, reduzir a sua prevalência (BRASIL,

1998). Ações do PECE (Programa Especial de Controle Esquistossomose) tiveram

início em 1975, sendo executado pela Superintendência de Campanhas de Saúde

Pública (SUCAM), que direcionava suas atividades principalmente para o tratamento

em massa dos pacientes com oxaminiquina (FAVRE et al., 2001).

A partir de 1980, instituiu-se como programa de rotina no Brasil o Programa

de Controle da Esquistossomose (PCE), nome pelo qual é conhecido até hoje. E,

mais precisamente na década de 1990, com a criação do Sistema Único de Saúde

(SUS), as ações de controle desta doença foram descentralizadas para estados e

municípios (BRASIL, 1999).

Com a municipalização das ações de controle, fizeram-se necessárias a

normatização e implementação de atividades a serem realizadas pelos municípios,

com destaque para a delimitação epidemiológica, inquéritos censitários, tratamento

de infectados, controle dos caramujos, medidas de saneamento ambiental,

educação em saúde, vigilância epidemiológica e a alimentação anual do Sistema de

Informação sobre o PCE (SISPCE) (BURLANDY-SOARES et al., 2003; BRASIL,

2004).

Atualmente o controle da esquistossomose tem como primeiro objetivo, o

controle da morbidade com a redução da forma mais grave da doença que

compromete o fígado entre outros órgãos. E como segundo, reduzir a transmissão

da infecção humana e dos caramujos, com a finalidade de interromper o ciclo do

parasito uma vez que o tratamento quimioterápico não tem sido totalmente eficiente

(KATZ ; PEIXOTO, 2000).

Para que o controle da doença seja efetivo, é necessário a implementação de

estratégias tais como: impedir a expansão geográfica da endemia, a fim de se evitar

a instalação de focos urbanos, mantendo a vigilância ativa nas periferias das áreas

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urbanas, em virtude do grande fluxo migratório para as cidades; submeter ao exame

parasitológico de fezes, todo indivíduo suspeito residente e/ou procedente de área

endêmica para esquistossomose, com quadro clínico sugestivo das formas agudas,

crônicas ou assintomático e com história de contato com as coleções de águas; para

os casos positivos deve ser realizado o tratamento ambulatorial e acompanhamento

de cura (três exames de fezes em dias sucessivos) (BRASIL, 2005); realizar

inquéritos malacológicos, com pesquisas das coleções hídricas nas localidades

freqüentadas pela população local e pelos turistas, bem como a implantação de

saneamento básico associada a programas educativos nas escolas, destas

comunidades e para os turistas (MASSARA et al., 2008 ).

Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), uma área é considerada

de alta endemicidade quando apresenta elevadas taxas de prevalência e alta

intensidade de infecção, ocorrendo geralmente, em crianças entre 5 e 15 anos de

idade e a presença de formas crônicas em adultos (WHO,1983). Pode-se considerar

regiões de média e alta endemicidade aquelas com prevalência superior a 10%, com

indivíduos com mais de 120 ovos por grama de fezes, apresentando sintomas

clínicos da esquistossomose. Área de baixa endemicidade seria aquela com

prevalência inferior a 10%, com a maioria dos infectados assintomáticos e

eliminando menos de 96 ovos por grama de fezes (WHO, 1985; KATZ, 1986).

Segundo Cook et al. (1974) o levantamento epidemiológico de áreas

endêmicas para esquistossomose tem revelado que a carga parasitária da

população apresenta uma acentuada variação desde um número pequeno de ovos

(12 ovos/g) até milhares de ovos por grama de fezes. Esta variabilidade pode refletir

não só a freqüência de contato com águas contaminadas, bem como a

susceptibilidade à infecção dos indivíduos residentes em áreas endêmicas.

A infecção está associada a diversos fatores, tais como contato com água

Dalton (1978) apud Pereira (2006); Kloos et al. (1998) apud Pereira (2006);

Gazzinelli et al.(1998, 2001) apud Pereira (2006); Bethony et al. (2001, 2004) apud

Pereira (2006) fatores socioeconômicos e demográficos Costa e Costa (1983) apud

Pereira (2006); Lima; Costa (1998) apud Pereira (2006); Bethony et al.(2001) apud

Pereira (2006); Ximenes et al. (2003) apud Pereira (2006); Massara et al. (2004),

imunológicos Butterworth et al. (1985) apud Pereira (2006), Wilkins et al.(1987)

apud Pereira (2006); Correa-Oliveira et al. (2000) apud Pereira (2006); Silveira et

al.(2002) e genéticos Dessein et al. (1992) apud Pereira (2006); Abel; Dessein

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(1997) apud Pereira (2006); Bethony et al. (1999) apud Pereira (2006), dos

indivíduos que moram em áreas endêmicas. No entanto todos esses estudos têm,

de um modo geral, avaliado cada fator separadamente sem apresentar um quadro

completo de análise dos fatores de risco aos quais os indivíduos moradores de uma

área endêmica estão submetidos.

Outros estudos têm sido realizados para entender como os fatores

epidemiológicos e socioeconômicos podem afetar a transmissão e a prevalência da

infecção (BETHONY et al., 2002).

A relação entre atividades de contato com água, idade, prevalência e

intensidade de infecção variam significativamente entre áreas estudadas. Mesmo

que estas localidades apresentem diferentes padrões de contato, a relação

entre idade e intensidade de infecção ocorre quase sempre em indivíduos mais

jovens que apresentam maior carga parasitária quando comparados aos mais idosos

(KABATEREINE et al., 1999 apud PEREIRA, 2006).

A curva de distribuição da prevalência e intensidade de infecção na

esquistossomose, de um modo geral, atinge um pico na faixa etária de 5 a 20 anos,

ocorrendo um decréscimo desses níveis, nas faixas subsequentes. Sugerindo que

indivíduos mais idosos residentes em áreas endêmicas apresentam maior redução

nas taxas de infecção, possivelmente devido a fatores imunológicos e menor tempo

de exposição (KABATEREINE et al. 1999 apud PEREIRA, 2006).

Os parâmetros epidemiológicos, como prevalência, incidência, intensidade de

infecção e morbidade, variam amplamente, mesmo dentro de uma região. Essa

diversidade pode ser explicada, principalmente, pelos fatores humanos e ambientais

(DOUMENGE et al., 1987).

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2 JUSTIFICATIVA

O presente estudo propõe realizar uma avaliação retrospectiva da ocorrência

da esquistossomose em duas áreas endêmicas do Município de Governador

Valadares em Minas Gerais, considerando a tendência temporal da doença após as

intervenções de controle. Utilizando um estudo de painel pretende-se avaliar a

evolução da prevalência da esquistossomose pela comparação dos resultados

obtidos em um estudo seccional de base populacional (inquérito epidemiológico-

2009) com dados secundários da década de 1990. Pretende-se avaliar as

estimativas da ocorrência da doença no decorrer dos anos e sua associação com a

carga parasitária, sexo, idade e presença de co-infecções.

O estudo permitirá também, por análise de uma coorte histórica, a

identificação de indivíduos resistentes e susceptíveis à infecção, e a seleção de

grupos populacionais para estudos de caráter imunológico e clínico.

O Município de Governador Valadares, está situado na região leste do Estado

de Minas Gerais, a 324 km da capital Belo Horizonte. Possui 12 distritos e entre eles

estão o Córrego do Bernardo (CB) e Córrego Melquíades (MQ), objetos desse

estudo. Ambos ficam aproximadamente, a 50 km do centro da cidade. Esses

distritos são considerados endêmicos para esquistossomose e tem sido estudados

desde 1990 pelo grupo de pesquisa da Univale, em colaboração com o Laboratório

de Imunologia Celular e Molecular do CPqRR-FIOCRUZ Centro de Pesquisa René

Rachou/ Fiocruz, Minas Gerais.

O delineamento deste estudo foi escolhido, pois estas áreas vêm sendo

trabalhadas com levantamentos periódicos sobre a ocorrência da esquistossomose,

entretanto, com avaliações independentes e específicas no tempo. E, ainda, não foi

realizada uma análise que contemple as mudanças no perfil da transmissão

ocorridas no tempo, através de um estudo sistemático de dados pré-existentes e

dados atuais sobre a doença na população.

O trabalho se propõe a uma análise detalhada dos dados coletados durante

um período de 19 anos (Córrego do Bernardo) e 10 anos (Córrego do Melquíades),

reavaliá-los, utilizando um estudo epidemiológico para tratamento dessas

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informações de forma sistemática e padronizada, o que permitirá comparações

temporais entre as duas áreas.

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3 OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Avaliar as mudanças temporais ocorridas na infecção por S. mansoni pela

comparação dos resultados de diferentes estudos seccionais, na população de

Córrego do Bernardo e Córrego do Melquíades, distritos de Governador Valadares,

MG

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

a) Reavaliar as estimativas de prevalência da esquistossomose e

ocorrência de outras enteroparasitoses no Córrego do Bernardo (1990-

2009) e Córrego do Melquíades (1997-2009) pela análise detalhada

das séries históricas existentes no Núcleo de Pesquisa em Imunologia

da UNIVALE.

b) Calcular as taxas de prevalência da esquistossomose e as estimativas

da ocorrência de outras enteroparasitoses por faixa etária em três

momentos: ano do primeiro levantamento realizado pela UNIVALE, 4 a

5 anos após, e no ano da última intervenção (inquéritos amostrais

realizados nas duas localidades).

c) Comparar os resultados dos levantamentos realizados na década de

90 com os resultados dos inquéritos populacionais realizados em 2009

considerando as alterações no tempo das seguintes características:

sexo, idade, proporção de positivos para esquistossomose, taxas de

prevalência, carga parasitária, proporção de indivíduos tratados e de

re-infectados e proporção de co-infecção.

d) Avaliar a redução da prevalência da esquistossomose, utilizando a

análise da coorte.

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4 METODOLOGIA

4.1 DELINEAMENTO

Trata-se de um estudo descritivo para avaliação dos levantamentos

periódicos sobre a ocorrência da esquistossomose, realizados nestas áreas ao longo

dos anos. Devido a uma grande quantidade de informações disponíveis no

laboratório, havia a necessidade de uma avaliação das mudanças do perfil da

morbidade ocorridas no tempo. Com o intuito de avaliar a situação atual da doença e

estabelecer comparações, foram utilizados os dados dos inquéritos epidemiológicos

amostrais obtidos em 2009 nas duas áreas.

O delineamento epidemiológico escolhido para avaliar a evolução da

prevalência da esquistossomose no tempo foi o estudo de painel. Este é um tipo de

estudo longitudinal, que consiste em uma série de estudos seccionais realizados em

uma população em diferentes intervalos de tempo e é usado para monitorar

mudanças na morbidade de doenças na população (SZKLO; NIETO, 2000).

Diferencia-se dos estudos de coorte onde os mesmos indivíduos são acompanhados

no tempo.

Este delineamento foi escolhido devido a grande quantidade de informações

disponíveis no laboratório e a necessidade de uma avaliação das mudanças no perfil

da morbidade ocorridas no tempo. Os estudos até então realizados apenas

descreviam os levantamentos periódicos sobre a ocorrência da esquistossomose,

com avaliações independentes e específicas no tempo.

Além do estudo de painel, foi realizada uma avaliação longitudinal (coorte

histórica) da infecção nos indivíduos que participaram de todas as intervenções

conduzidas pela UNIVALE. A coorte histórica é um tipo de estudo longitudinal que

diferencia-se da coorte prospectiva pois a observação da exposição foi iniciada em

algum momento no passado e o desfecho ocorre no presente.

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4.2 ÁREA DE ESTUDO

O estudo da esquistossomose nos distritos de Córrego do Bernardo e

Córrego do Melquíades teve início na década de 90. Esses dois distritos têm sido

estudados periodicamente pelo Laboratório de Imunologia da UNIVALE, devido a

alta prevalência para esquistossomose (GAZZINELLI et al. 1992; ALVES-OLIVEIRA

et al. 1993; WEBSTER et al., 1997; BETHONY et al., 2001; SILVEIRA et al., 2002).

As primeiras intervenções realizadas em Córrego do Bernardo (CB) 1990 e

Córrego do Melquíades (MQ) 1997/98 foram descritas por Alves-Oliveira et al.,

(1993); Bethony et al. (2001) e mostraram uma prevalência para a esquistossomose

de 67,7% e 62,0% respectivamente.

4.3 POPULAÇÃO ESTUDADA

A linha de base (baseline) utilizada neste estudo foi a primeira intervenção em

cada distrito quando as populações foram cadastradas e caracterizadas de acordo

com as variáveis identificadoras e demográficas. Ao longo dos anos, foram

realizadas outras intervenções nestes dois distritos, sendo que todos os moradores

foram convidados a participar. Os dados avaliados na série histórica referem-se aos

participantes que fizeram exames de fezes durante os levantamentos.

Com o intuito de avaliar a prevalência atual da esquistossomose e comparar

com a série histórica, foram realizados inquéritos epidemiológicos em 2009,

utilizando uma amostra da população residente nos dois distritos, cuja metodologia

foi estabelecida por Magueta, ( 2010) e descrita resumidamente a seguir.

O cálculo da amostra para os inquéritos epidemiológicos foi realizado

utilizando os seguintes parâmetros: estimativa da prevalência da esquistossomose

(20% em cada distrito), nível de significância de 0,05, precisão de 5% e tamanho da

população local. O cálculo da estimativa foi baseado em dados de estudos

anteriores desenvolvidos pelo Laboratório de Pesquisa em Imunologia da Univale e

em inquéritos coproscópicos do Programa de Controle da Esquistossomose (PCE)

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(ALVES-OLIVEIRA et al., 1993; GAZZINELLI et al.,1992; WEBSTER et al.,1997;

BETHONY et al., 2001; SILVEIRA et al., 2002).

Para a seleção dos participantes utilizou-se a amostragem aleatória simples

das famílias residentes nestas duas áreas, sendo assim, foram sorteadas

inicialmente 54 famílias para cada área, considerando uma média de

aproximadamente 4 moradores por residencia. O sorteio foi realizado pelo número

de cadastro das famílias na Estratégia de Saúde da Família (ESF), fornecido pela

Secretaria Municipal de Saúde de Governador Valadares (SMS-GV). O cálculo da

amostra e a seleção dos participantes foram feitos com auxílio do programa Epi info

v. 3.5.

4.4 INSTRUMENTO E COLETA DE DADOS

As primeiras intervenções realizadas nestas áreas na década de 1990

envolveram um cadastramento de todas as residências com número de identificação

da família e registro dos moradores. Os cadastros foram atualizados nos diferentes

anos de intervenção.

Após o cadastramento, foram coletadas três amostras de fezes, em 3 dias

consecutivos, e para cada amostra foram preparadas duas lâminas para avaliação

da presença de ovos de S. mansoni e de outras parasitoses (KATZ et al.,1972).

Amostras de sangue foram coletadas para pesquisas imunológicas e posteriormente

procedia-se ao tratamento em massa de toda população utilizando-se oxaminiquina

(Mansil ®) e/ou praziquantel.

As informações coletadas nesses levantamentos foram digitadas em planilhas

de Excel nos computadores do Laboratório de Imunologia da UNIVALE, originando

assim os dados secundários utilizados neste estudo. Este cadastro incluía o nome

completo, número de identificação, número da casa, identificação da família, grau de

parentesco, data de nascimento e idade. Além das variáveis demográficas, as

planilhas continham a média de ovos por grama de fezes para S. mansoni, e a

indicacao da presença de ovos de Ascaris lumbricoides, ancilostomideo, Enterobius

vermicularis e Trichuris trichiuri, e cistos de Entamoeba histolytica, data da coleta do

exame e número de amostras coletadas.

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Na última intervenção realizada em 2009 foi feito um inquérito epidemiológico

na população destes dois distritos para avaliar a prevalência da doença. Os dados

dos inquéritos foram obtidos utilizando-se questionários fechados e pré-codificados,

especialmente elaborados para a pesquisa, e aplicados através de entrevistas

individuais (MAGUETA, 2010).

4.5 SELEÇÃO DOS ANOS DE INTERVENÇÃO

A seleção dos períodos de estudo a serem avaliados foi realizada após

cuidadoso levantamento de todos os anos em que ocorreu intervenção nos dois

distritos.

Os critérios utilizados para esta seleção foram: (I) ano da primeira intervenção

em cada distrito, (II) anos com maior número de participantes, (III) e maior número

exames parasitológicos de fezes realizados pelo método Kato-Katz (KATZ et

al.1972).

Para estabelecer uma comparação entre os resultados dos diferentes anos da

série histórica, as variáveis identificadoras foram renomeadas e codificadas. Novas

variáveis foram criadas e padronizadas em todos os anos do estudo, como por

exemplo, sexo, faixa etária, carga parasitária e co-infecção.

Devido a aspectos éticos e para que os dados das diferentes planilhas

pudessem ser associados, o nome dos participantes foi excluído, passando-se a

adotar duas variáveis identificadoras: ID (identificação do paciente do inquérito) e

IDLAB (identificação dos dados das planilhas).

Após feita as correções, letras e números das planilhas, que não forneciam

informações necessárias ao banco, foram removidos. Posteriormente, os dados

foram transferidos para os bancos definitivos no programa Stata v.11 (Stata corp,

1983). A transferência das planilhas do programa Excel para o programa Stata v.11

foi possível pelo programa Stata transfer.

Os dados primários obtidos dos inquéritos epidemiológicos realizados em

2009 foram digitados em banco de dados utilizando o Programa Epi-Data 3.1 e

posteriormente convertidos também para o Stata v.11(Stata corp, 1983)

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4.6 EXAME PARASITOLÓGICO DE FEZES

O exame parasitológico de fezes foi realizado de acordo com o método Kato-

Katz (Katz et al.,1972), em todos os momentos do estudo, quer seja nos anos

referentes à serie histórica e no inquérito epidemiológico.

Para cada participante foram fornecidos 3 frascos para a coleta das amostras

de fezes. A presença de ovos foi determinada pelo exame de duas lâminas para

cada amostra, e os resultados para S. mansoni foram expressos como a média

aritmética das três determinações e definidos como opg (número de ovos por grama

de fezes). Os exames foram realizados por técnicos do Núcleo de Pesquisa em

Imunologia da UNIVALE, com experiência comprovada na técnica para identificação

de ovos de enteroparasitos.

Para identificação de outros helmintos e cistos de protozoários foi utilizado o

método HPJ nas intervenções.

No inquérito epidemiológico realizado em 2009, a primeira amostra de fezes

foi também analisada pelo método de sedimentação HPJ (HOFFMAN; PONS &

JANER, 1934 apud CASTRO, 2009).

4.7 ANÁLISES DOS RESULTADOS

A caracterização das populações foi feita utilizando a distribuição de

freqüência das variáveis qualitativas estudadas e medidas de tendência central para

as variáveis quantitativas. Foram utilizados o teste Qui-quadrado e a análise de

variância para comparação dos resultados das séries temporais e entre os distritos.

O cálculo da prevalência foi realizado utilizando como numerador, o total de

pessoas positivas para esquistossomose e como denominador, a população

amostrada exposta ao risco de desenvolver a doença em cada distrito. Portanto, as

taxas específicas por idade são calculadas com a população de cada faixa etária.

A comparação das taxas de prevalência entre os dois distritos foi feita pelo

método de padronização direta, utilizando-se como referência a população de

Governador Valadares, segundo o último censo realizado pelo IBGE (2000).

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4.8 ASPECTOS ÉTICOS

Todas as intervenções realizadas nas áreas endêmicas no período de 1997

a 2009 foram aprovadas pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Univale segundo os

registros ( PQ-019/08-11, PQ-000503-2, PQ-0009 03-12, PQ-011 03-12, PQ-013 04-

9, PQ-011 05-4, PQ-023 06-12, ) e conduzidas frente a resolução 196/96 do

Conselho Nacional de Saúde. O consentimento pós-informado foi obtido de todos os

participantes. Em caso de menores, a inclusão só foi feita após assinatura do

consentimento pelos pais ou guardião.

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5 RESULTADOS

As tabelas 1 e 2 apresentam o número de participantes, e numero de exames

parasitológicos realizados, bem como o número de indivíduos infectados pelo

S.mansoni em todos os anos em que ocorreram intervenções nos dois distritos.

Estas intervenções iniciaram em 1990 em CB, com participação de 365

indivíduos e em 1997 em MQ, com 739 indivíduos. Foram realizadas intervenções

intermediárias antes de 2009 em Córrego do Bernardo e Córrego Melquíades.

Tabela 1- Intervenções realizadas no período de 1990 a 2009 pela UNIVALE para pesquisa da esquistossomose em Córrego do Bernardo, Município de Governador Valadares, Minas Gerais

1990 (1) 1991 1992 1995 2003 (*) 2007(*) 2009 (2)

População cadastrada 382 453 536 1030 91 44 212

N. de participantes com exame parasitológico

365 294 375 803 91 44 192

Infectados S mansoni (N)%

247

(67,7)

83

(28,2)

120

(32,0)

346

(43,1)

12

(13,2)

5

(11,3)

24

(12,5)

(1) 1990 a 1995 dados obtidos do cadastramento realizado pela UNIVALE (2) (População amostrada) Dados da Secretaria Municipal de Saúde SMS-GV (*) (População amostrada) Dados do Laboratório de Imunologia, UNIVALE

Tabela 2- Intervenções realizadas no período de 1997/98 a 2009 pela UNIVALE para pesquisa da esquistossomose em Córrego do Melquíades, Município de Governador Valadares, Minas Gerais

1997/ 1998 (1)

1999 2000 2001 2002 2004 2005 2007 2009 (2)

População cadastrada 836 877 877 879 877 973 973 877 239 N. de participantes com exame parasitológico

739 458 561 478 54 949 442 76 188

Infectados S mansoni (N)%

442 (59,8)

131 (28,6)

16 (2,9)

89 (18,6)

11 (20,3)

65 (6,8)

50 (11,3)

21 (27,6)

60 (31,9)

(1) 1997 a 2007 dados obtidos do cadastramento realizado pela UNIVALE (2) (População amostrada) dados da SMS-GV

Considerando os critérios pré-estabelecidos na metodologia, foram

selecionados para análise os anos de intervenção, 1990, 1995 e 2009 no distrito de

CB. No distrito de MQ os anos de 1997/1998, 2001 e 2009. Dessa forma, foi

possível representar o marco inicial, intermediário e final das intervenções realizadas

nos dois distritos.

As tabelas 3 e 4 mostram a composição da população cadastrada nos

diferentes tempos de intervenção e a população amostrada no inquérito, por sexo e

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idade, em cada um dos distritos. Não foram observadas diferenças significativas na

distribuição por sexo ao longo dos anos (χ2, p=0.405 e p=0,921). Por outro lado

observou-se um aumento significativo da média de idade no tempo (Kruskal-Wallis,

p=0,0001, Dunn, p=0.001).

Com o intuito de verificar se os dois distritos eram comparáveis em relação a

estrutura da população por sexo e idade, características que poderiam influenciar a

proporção de infectados em cada área, os dados demográficos dos dois distritos, no

ano de 2009, foram avaliados. Verificou-se que a população dos dois distritos

apresentavam a mesma composição em relação ao sexo (χ2 p=0,168) e em relação

a idade (Mann-Whitney, p>0,05).

Tabela 3- Caracterização demográfica da população do distrito de Córrego do Bernardo, Município de Governador Valadares, Minas Gerais Característica 1990

(n= 381) (4)

1995 (n= 1021) (4)

2009(1) (n=208) (4)

Valor de p

Sexo N (%) N (%) N (%)

Masculino 192(50,4) 501(49,0) 93 (44,7) 0,405(2) Feminino 189(49,6) 520(51,0) 115 (55,3)

Idade

Media ± DP 23,21±19,32 32,64±28,45 33,1 ±23,0 Min-Max 1-79 1-99 1-88 Mediana (1Q/3Q) 16(8/35) 20(11/48) 28 (13/52) 0,0001(3)

(1) População amostrada no inquérito (2) χ2 (3) Kruskal-Wallis (4) Excluído os indivíduos sem informação Tabela 4- Caracterização demográfica da população do distrito de Córrego do Melquíades, Município de Governador Valadares, Minas Gerais Característica 1997/98

(n= 836) 2001 (n=879)

2009(1)

(n=238) Valor de p

Sexo(1) N (%) N (%) N (%)

Masculino 409(48,9) 429(48,8) 122 (51,3) 0,921(2) Feminino 427(51,1) 450(51,2) 116 (48,7) Idade

Media ± DP 27,50±20,69 31,24±20,7603 38,75±22,15 Min-Max 0-95 3-99 1-86 Mediana(1Q/3Q) 20(11/43) 24(15/46) 30(13/52) 0,0001(3)

(1) População amostrada no inquérito; excluído um participante sem informação (2) χ2 (3) Kruskal-Wallis

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35

Para investigar possíveis diferenças na estrutura etária dos distritos, foram

utilizados os dados populacionais mais recentes, antes da ultima intervenção

amostral (inquérito). Assim, a distribuição proporcional dos dados da população

cadastrada no ano de 1995 em CB foi comparada aquela de 2001 em MQ (tabela 5).

Tabela 5- Estrutura etária da população dos distritos de Córrego do Bernardo (1995) e Córrego do Melquíades (2001), Município de Governador Valadares, Minas Gerais Faixa etária

CB (1995) MQ (2001)

(anos) N/( %) N/( %)

0-20 516 (50,1) 368 (41,8) 21-50 274 (26,6) 335 (38,1) >51 240 (23,3) 176 (20,1) Total 1030 879

χ2, p=0,0000

Observa-se que em MQ há um percentual maior de pessoas na faixa etária de

21 a 50 anos (38,1%), em relação à CB (26,6 %), e um maior percentual de pessoas

na faixa etária de 0-20 em CB (50,1%) quando comparado á MQ (41,8%), sugerindo

que os dois distritos apresentavam diferentes estruturas etárias no passado.

As taxas de prevalência em CB e MQ obtidas nos levantamentos realizados

são apresentadas na tabela 6.

Tabela 6- Taxas de Prevalência da esquistossomose, por 100 habitantes nos distritos de Córrego do Bernardo e Córrego do Melquíades, Município de Governador Valadares, Minas Gerais nos diferentes anos de intervenção N (1) N° positivos Taxa de

prevalência (%)

IC 95% Valor de p (2)

CB 1ª Avaliação (1990) 365 247 67,7 62,7-72,3 2ª Avaliação (1995) 803 346 43,1 39,7-46,5 0,0000 3ª Avaliação (2009)(1) 192 24 12,5 8,4-17,8 0,0000 MQ 1ª Avaliação (1997/1998) 739 442 59,8 56.2-63.3 2ª Avaliação (2001) 478 89 18,6 15.32-22,3 0,0000 3ª Avaliação (2009)(¹)

188

60 31,9 25.5-38,8

(1) N: Participantes do exame parasitológico (2) χ2

Observou-se uma redução significativa (χ

2, p=0,0000) na prevalência da

esquistossomose em CB e MQ no decorrer dos anos. Isto é, a taxa de prevalência

da doença no primeiro ano de intervenção era significativamente maior em CB

(67,7%) e em MQ (59,8%) quando comparada com os outros anos. Constatou-se

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36

um decréscimo das taxas de prevalência ao longo do tempo, com exceção da

terceira intervenção em MQ (2009).

As diferenças observadas nas taxas de prevalência foram quantificadas em

valores relativos (tabela 7).

Tabela 7- Redução relativa da prevalência da esquistossomose na população dos distritos de Córrego do Bernardo e Córrego Melquíades, Município de Governador Valadares, Minas Gerais Intervenções Prevalência (%) Redução relativa (%) Total da redução

relativa (%) CB

1990 67,7 - - 1995 43,1 36,4 - 2009 12,5 71,0 81,5

MQ

1997/98 59,8 - 2001 18,6 68,9 2009 31,9 71,5 46,6

A redução relativa foi utilizada com o intuito de quantificar as variações

(aumento ou diminuição) nas taxas de prevalência, e assim avaliar a efetividade das

intervenções realizadas ao longo dos anos nos dois distritos.

O distrito de CB apresentou uma redução relativa de 36,4% na prevalência da

esquistossomose entre os anos de 1990 e 1995. Comparando-se o levantamento

realizado em 1995 com o inquérito de 2009, observou-se uma redução de 71,0%. A

redução relativa total foi de 81,5%. Em MQ houve uma redução relativa de 68,9% na

prevalência da doença entre os anos de 1997/98 e 2001. Entretanto, de 2001 a 2009

houve um aumento de 71,5% na prevalência. Portanto, a redução relativa total em

MQ foi menor (46,6%).

A distribuição proporcional de casos por faixa etária é representada nas

tabelas 8 e 9, onde essa proporção é dada em relação ao total de casos de

esquistossomose. Observa-se em todas as avaliações, que a maioria dos casos de

esquistossomose em CB e MQ ocorreu em crianças e jovens menores de 20 anos.

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Tabela 8- Distribuição proporcional de casos de esquistossomose(1) por faixa etária na população do distrito de Córrego do Bernardo, Município de Governador Valadares, Minas Gerais Faixa etária 1990 1995 2009 (anos)

Pos (%)(1) Pos(%) Pos(%)

0-10 79(31,9) 82(23,1) 2(9,5)

11-20 76(30,8) 93(26,9) 8(38,1)

21-30 25(10,1) 34(9,8) 2(9,5)

31-40 29(11,7) 20(5,8) 2(9,5)

41-50 14(5,7) 31(8,9) 1(4,8)

51-60 11(4,5) 22(6,4) 5(23,8)

>60 13(5,3) 64(18,5) 1(4,8)

T Total 247 346 21 (2)

(1) Número de positivos por faixa etária /total de positivos (2) excluídos indivíduos sem informação

Tabela 9- Distribuição proporcional de casos de esquistossomose(1) por faixa etária na população do distrito de Córrego do Melquíades, Município de Governador Valadares, Minas Gerais Faixa etária ( anos)

1997/98 Pos ( % ) (1)

2001 Pos ( % )

2009 Pos ( % )

0-10 100 (22,6) 21( 23,6) 18(30,0)

11-20 119(26,9) 34(38,2) 11(18.3)

21-30 48 (10,9) 10(11,2) 8(13,3)

31-40 50(11,3) 11(12,4) 5(8,3)

41-50 48(10,9) 4(4,5) 5(8,3)

51-60 30(6,8) 3(3,4) 7(11,7)

>60 47(10,6) 6(6,7) 6(10,0)

Total 442 (100,0) 89(100,0) 60(100,0)

(1) Número de positivos por faixa etária /total de positivos

Entretanto, a distribuição proporcional dos casos não fornece dados

suficientes para estabelecer o risco de ter esquistossomose em relação às faixas

etárias. É necessário levar em consideração a distribuição etária da população, para

fazer inferências a respeito do risco. O indicador mais apropriado para medir risco é

a taxa de prevalência por faixa etária, onde o denominador utilizado é a população

por faixa etária.

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38

As tabelas 10 e 11 e os gráficos 1 e 2 apresentam as prevalências de

esquistossomose por faixas etárias na população nos distritos de CB e MQ

respectivamente.

Tabela 10- Prevalência da esquistossomose por faixa etária na população do distrito de Córrego do Bernardo, Município de Governador Valadares, Minas Gerais

Faixa Etária (anos)

1990 1995 2009

N Pos (%) n Pos (%) n Pos( %)

0-10 125 79(63,2)(a) 198 82(41,4) 31 2(6,5) (b) 11-20 85 76(89,4)(a) 216 93(43,1) 41 8(19,5)(b) 21-30 36 25(69,4) 69 34(49,3) 20 2(10,0) 31-40 42 29(69,4) 59 20(33,1) 17 2(11,8) 41-50 26 14(53,8) 76 31(40,8) 21 1(4,8) 51-60 22 11(50,0) 60 22(36,6) 25 5(20,0) >60 29 13(44,9) 125 64(51,2) 37 1(3,5)

Total 365 247(67,7) 803 346(43,1) 184(c) 21(11,4)

(a) valor de p= 0,0000 (χ2) em 1990 entre as faixas etárias 0-10 anos e 11-20 anos (b) valor de p= 0,0000 (χ2) em 2009 entre as faixas etárias 0-10 anos e 11-20 anos (c) excluídos oito indivíduos sem informação

Gráfico 1 – Prevalência da esquistossomose por faixa etária na população do distrito de Córrego do Bernardo, Município de Governador Valadares, Minas Gerais

Observa-se que no primeiro levantamento realizado no distrito de CB (1990)

foram identificadas altas taxas de prevalência (maiores que 40%) em todas as faixas

etárias, indicando que o risco de ter esquistossomose era elevado para todas as

idades.

0-10 11-20 21-30 31-40 41-50 51-60 >600

25

50

75

100

199019952009

Faixa etária (anos)

Pre

valê

nci

a (%

)

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39

Houve uma diminuição significativa das taxas de prevalência nos anos

subseqüentes em todas as faixas etárias, exceto na faixa etária maior que 60 anos,

que de 44,9% em 1990 passou para 51,2% em 1995. Nos anos de 1990 e 2009 a

prevalência na faixa etária de 11-20 anos foi significativamente maior (p=0,0000) que

na faixa de 0-10 anos. Por outro lado, em 1995, não houve diferença significativa

das taxas (p=0,4773) entre essas duas faixas etárias.

A Tabela 11 apresenta o percentual de redução das taxas de prevalência por

faixa etária no período estudado. Observa-se uma queda nas taxas de prevalência

19 anos após a primeira intervenção. Aparentemente, a queda na taxa de

prevalência na faixa etária de 0 a 10 anos foi de 89,72% (de 63,2% para 6,5%).

Entretanto, a análise de coorte mostra que a redução real da prevalência nessa faixa

etária foi de 84,2% (de 63,2% para 10,0%).

Observa-se que, aparentemente as maiores reduções nas taxas de

prevalência ocorreram nas faixas etárias de 21 a 30 anos (98,6%), maiores que 60

anos (92,2%), 41 a 50 anos (91,1%) e 0 a 10 anos (89,7%). Entretanto quando

analisadas as coortes etárias no ano da primeira intervenção, observa-se que, na

avaliação realizada 19 anos depois, as faixas etárias onde ocorreram as maiores

reduções reais nas taxas de prevalência foram: 41 a 50 anos (93,5%), 21 a 30 anos

(93,1%) e 11 a 20 anos (86,8%).

Tabela 11- Coortes etárias e percentual de redução nas taxas de prevalência por esquistossomose, no distrito de Córrego do Bernardo 19 anos após a primeira intervenção, Município de Governador Valadares, Minas Gerais

Faixa Etária (anos)

Taxa de Prevalência Redução aparente

Redução real

1990 2009 % % 0-10 63,2 6,5 89,7

11-20 89,4 19,5 78,2

21-30 69,4 10,0 98,6 84,2 (0-10 anos)

31-40 69,4 11,8 83,0 86,8(11-20 anos)

41-50 53,8 4,8 91,1 93,1 (21-30 anos)

51-60 50,0 20,0 60,0 75,0 (31-40 anos)

>60 44,9 3,5 92,2 93,5(41-50 anos)

Nota:Redução aparente: prevalência inicial (1990) na faixa etária – prevalência final (2009) na mesma faixa etária x100/prevalência inicial. Redução Real: prevalência inicial (1990) da coorte etária – prevalência final (2009) da mesma coorte etária após 19 anos x100/prevalência inicial.

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Tabela 12- Prevalência por faixa etária na população do distrito de Córrego do Melquíades, Município de Governador Valadares, Minas Gerais Faixa Etária (anos)

1997/1998 2001 2009

n Pos(%) n Pos (%) n Pos(%)

0-10 167 100 (59,9) 77 21(27,2) 36 18(50,0) (c)

11-20 201 119(59,2) (a) 108 34(31,5) (b) 31 11(35,5)

21-30 77 48(62,3) 55 10(18,2) 22 8(36,4)

31-40 82 50(61,0) 58 11(19,0) 19 5(26,3)

41-50 79 48(60,8) 59 4(6,8) (b) 20 5(25,0)

51-60 54 30(55,6) (a) 50 3(6,0) (b) 24 7(29,2)

>60 79 47(59,5) 71 6(8,5) (b) 36 6(16,7) (c)

Total 739 442(59,8) 478 89(18,6) 188 60(31,1) (a) valor de p=(0,0004) em 1997 entre as faixas etárias 11-20 anos e 51-60 anos (b) valor de p=(0,0001) em 2001 entre as faixas etárias11-20 anos e 41-50 anos, p=(0,0002) 51-60 anos, p=(0,0001) acima de 60 anos. (c) valor de p=(0,0002) em 2009 entre as faixas etárias 0-10 anos e acima de 60 anos.

Os dados da tabela 12 mostram que no ano de 1997/98 em MQ as taxas de

prevalência foram altas (≥ 50%) em todas as faixas etárias.

Por outro lado em 2001, houve redução das taxas de prevalências em todas

as faixas etárias. Na idade de 11-20 anos a prevalência foi significativamente maior

quando comparada com as faixas etárias acima de 40 anos (χ2 p=0,0001).

Em 2009, ao comparar a taxa de prevalência entre as faixas etárias, observa-

se que a taxa de prevalência na faixa etária de 0-10 anos foi significativamente

maior que a prevalência em pessoas acima de 60 anos (χ2 p= 0,002).

Apesar dos dois distritos apresentarem estruturas etárias diferentes (tabela 5),

observamos que a taxa de prevalência da doença, em ambos os distritos, é maior na

faixa etária de 0 a 20 anos quando se compara com as outras idades.

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Gráfico 2- Prevalência da esquistossomose por faixa etária na população do distrito de Córrego do Melquíades, Município de Governador Valadares, Minas Gerais

A tabela 13 apresenta o percentual de redução das taxas de prevalência por

faixa etária nos diferentes estudos seccionais 10 anos após a primeira intervenção.

É interessante observar, que aparentemente as maiores reduções nas taxas de

prevalência ocorreram nas faixas etárias de 21a 30 anos (58,4%), e de 41a 50 anos

(58,9%)

Observa-se que, aparentemente, a queda na taxa de prevalência na faixa

etária de 0 a 10 anos foi de 16,5% (de 59,9% para 50,0%). Mas, quando se avalia a

análise de coorte, visualizamos uma queda real da prevalência nessa faixa etária de

40,7% (de 59,9% para 35,5%). A faixa etária de 51 a 60 também apresentou uma

queda importante nas taxas de prevalência: a prevalência diminuiu de 55,6% para

16,7%, o que representa uma queda de 69,9% na prevalência nesta coorte etária.

Tabela 13- Coortes etárias e percentual de redução nas taxas de prevalência por esquistossomose, no distrito de Córrego do Melquíades 10 anos após a primeira intervenção, Município de Governador Valadares, Minas Gerais Faixa Etária (anos)

Taxa de Prevalência Redução aparente Redução real

1997/98 2009

% %

0-10 59,9 50,0 16,5 -

11-20 59,2 35,5 40,0 40,7 (0-10 anos )

21-30 62,3 36,4 58,4 38,5 (11-20 anos)

31-40 61,0 26,3 56,9 57,8 (21-30 anos)

41-50 60,8 25,0 58,9 59,0 (31-40 anos)

51-60 55,6 29,2 47,5 52,0 (41-50 anos)

>60 59,5 16,7 71,9 69,9 ( 51-60 anos)

Nota: Redução aparente: prevalência inicial (1990) na faixa etária – prevalência final (2009) na mesma faixa etária x100/prevalência inicial. Redução Real: prevalência inicial (1990) da coorte etária – prevalência final (2009) da mesma coorte etária após 10 anos x100/prevalência inicial.

0-10 11-20 21-30 31-40 41-50 51-60 >600

25

50

75

100

1997/9820012009

Faixa etária (anos)P

reva

lên

cia

(%)

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42

Para estimar a verdadeira prevalência e comparar os dois distritos, é

importante levar em conta a diferença na distribuição das faixas etárias entre os

distritos e ajustá-la. O ajuste da prevalência por idade é realizado pelo método direto

de padronização, utilizando uma população padrão de distribuição etária conhecida.

As taxas de prevalência por faixa etária em CB e MQ são aplicadas sobre a da

população padrão, obtendo como resultado o número de casos esperados em cada

estrato etário. Quando se divide o total de casos esperados pela população padrão

obtém-se a taxa de prevalência ajustada. Utilizou-se a população de Governador

Valadares como padrão. As tabelas 14, 15 e 16 apresentam as taxas de prevalência

dos distritos de CB e MQ devidamente ajustadas em cada ano de intervenção.

Tabela 14- Taxas de prevalência por faixa etária e cálculo das taxas de prevalências ajustadas para esquistossomose na população dos distritos de Córrego do Bernardo e Córrego Melquíades em 1990 e 1997/98, Município de Governador Valadares, Minas Gerais

Faixa etária (anos)

População padrão (1) GV

CB( 1990 )

MQ(1997/98 )

Prevalëncia (2)

No. Esperado de casos

Prevalëncia (3)

No. Esperado de casos

0-10 45424 63,2% 28.707,9 59,9% 27.208,9 11-20 51374 89,4% 45.928,3 59,2% 30.413,4 21-30 44468 69,4% 30.860,7 62,3% 27.703,5 31-40 37813 69,4% 26.242,2 61,0% 23.065,9 41-50 31160 53,8% 16.764,0 60,8% 18.945,3 51-60 18372 50,0% 9.186,0 55,6% 10.214,8 >60 21138 44,9% 9.490,0 59,5% 12.577,1 Total 249749 67,7% 167.179,1 59,8% 150.128,9

Prev ajustada(4) CB= 66,9% Prev ajustada(4) MQ = 60,1%

(1) Governador Valadares, 2000 (IBGE-2000) (2) (3) Taxa de prevalência dos levantamentos 1990 e 1997/98. (4) Soma do numero de casos esperado na população padrão/total da população padrão x 100

Observa-se nas tabelas 14, 15 e 16 que as taxas ajustadas são ligeiramente

diferente das taxas brutas, e permitem a comparação dos distritos nos diferentes

anos de intervenção.

Com os coeficientes ajustados, observa-se que a prevalência nos

levantamentos iniciais era maior em CB (1990) do que em MQ (1997/98), o que

representa um risco relativo estimado de 1,11 (66,9/60,1). Para cada indivíduo

infectado em MQ, havia 6,8 indivíduos infectados em CB (66,9 – 60,1) tabela 17.

No levantamento de 1995 em CB a taxa de prevalência ajustada foi de 42,3%,

e em MQ (2001) foi de 19,5%. Os coeficientes ajustados indicam que a prevalência

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em CB é 2,2 vezes maior que em MQ (42,3/19,5), isto é, existiam 22,8 indivíduos

infectados em CB para cada indivíduo infectado em MQ (42,3-19,5) tabela 17.

Tabela 15- Taxas de prevalência por faixa etária e cálculo das taxas de prevalências ajustadas para esquistossomose na população dos distritos de Córrego do Bernardo e Córrego Melquíades em 1995 e 2001, Município de Governador Valadares, Minas Gerais

Faixa etária

(anos)

População

padrão (1)

GV

CB(1995) MQ( 2001)

Prevalência(2)

N. esperados de casos

Prevalência (3)

N. esperados de casos

0-10 45424 41,4% 18.805,5 27,2% 12.355,3 11-20 51374 43,1% 22.142,2 31,5% 16.182,8 21-30 44468 49,3% 21.922,7 18,2% 8.093,2 31-40 37813 33,1% 12.516,1 19,0% 7.184,5 41-50 31160 40,8% 12.713,3 6,8% 2.118,9 51-60 18372 36,6% 6.724,2 6,0% 1.102,3 >60 21138 51,2% 10.822,7 8,5% 1.796,7 Total 249749 43,1% 105.646,7 18,6% 48.833,7 Prev. ajustada CB(4) 42,3% Prev. ajustada MQ(4)19,5% (1) Governador Valadares, 2000 (IBGE-2000) (2) (3) Taxa de prevalência dos levantamentos1995 e 2001 (4) Soma do numero de casos esperado na população padrão/total da população padrão x 100 Tabela 16. Taxas de prevalência por faixa etária e cálculo das taxas de prevalências ajustadas para esquistossomose na população dos distritos de Córrego Bernardo e Córrego Melquíades em 2009, Município de Governador Valadares, Minas Gerais

(1) Governador Valadares, 2000 (IBGE-2000) (2) (3) Taxa de prevalência dos levantamentos de 2009 (4) Soma do numero de casos esperado na população padrão/total da população padrão x 100

Faixa etária

(anos)

População padrão (1)

GV

CB (2009)

MQ (2009)

Prevalëncia (2)

No. Esperado

de casos

Prevalëncia (3)

No. Esperado

de casos 0-10 45424 6,5 % 2952,5 50,0% 22.712,0 11-20 51374 19,5 % 10.017,9 35,5% 18.237,8 21-30 44468 10,0% 4.446,8 36,4% 16.186,4 31-40 37813 11,8% 4.461,9 26,3% 9.944,8 41-50 31160 4,8% 1.495,7 25,0% 7.790,0 51-60 18372 20,0% 3.674,4 29,2% 5.364,6 >60 21138 10,8% 2.282,9 16,7% 3.530,0 Total 249749 12,5%

29.332,1 31,0%

83.765,6

Prev. ajustada CB(4) 11,7% Prev. ajustada(4) MQ 33,5%

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44

Na tabela 16 observa-se que no inquérito epidemiológico em 2009, CB

apresenta uma taxa de prevalência ajustada (11,7%), cujo valor é menor do que a

observada (12,5%), já em MQ a taxa ajustada (33,5%) é maior do que a observada

(31,0%). Os coeficientes ajustados indicam que a prevalência em MQ é 2,9 vezes

maior que em CB (33,5/11,7), o que representa 21,8 habitantes a mais em MQ

quando comparado com CB( tabela 17).

Tabela 17- Caracterização do risco relativo e atribuível de casos de esquistossomose na população dos distritos de Córrego Bernardo e Córrego do Melquíades, Município de Governador Valadares, Minas Gerais

Intervenção CB MQ RR (7) RA (8)

(1990/1997/98) 66,9 (1) 60,1 (2) CB>MQ 1,1 6,8

(1995/2001) 42,3 (3) 19,5(4) CB>MQ 2,2 22,8

(2009) 11,7(5) 33,5(6) MQ>CB 2,9 21,8

(1)(2) Prevalência ajustada em Córrego do Bernardo(1990) e Córrego Melquíades (1997/98). ( 3) (4) Prevalência ajustada em Córrego do Bernardo (1995) e Córrego Melquíades (2001). (5) (6) Prevalência ajustada em Córrego do Bernardo e Córrego Melquíades ( 2009). (7) RR:Risco relativo: Prevalência ajustada CB / Prevalência ajustada MQ. (8) RA:Risco atribuível: Prevalência ajustada CB (-) Prevalência ajustada MQ.

A padronização dos dados é um método muito utilizado na análise de

indicadores de saúde. A comparação sem a padronização impossibilita que os

coeficientes (taxas) estejam corretos, uma vez que estes são muito influenciados

pela estrutura etária. As diferenças observadas nas taxas de prevalência entre os

dois distritos não podem ser atribuídas a diferenças na estrutura etária das

populações, e sim aos coeficientes, aos riscos relativos e atribuíveis em cada

levantamento, segundo a tabela 17.

Para caracterizar os distritos em áreas de alta, média ou baixa endemicidade,

é necessário, além da prevalência, identificar a intensidade de infecção na

população.

A tabela 18 apresenta a intensidade de infecção para S. mansoni na

população de Córrego do Bernardo e de Córrego Melquíades, nos diferentes anos

de intervenção.

Observa-se que no distrito de CB, a carga parasitária representada pela

mediana do número de ovos por grama de fezes (opg), reduziu significativamente

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nos ano de 1990 para 2009 (p=0,001) e 1995 para 2009 (p=0,001). Da mesma forma

em MQ, houve também uma redução significativa de ovos por grama de fezes (opg)

de 1997 para 2001 (p=0,001) e de 1997 para 2009 (p=0,001). É interessante notar

que embora tenha ocorrido uma redução significativa da carga parasitária em MQ,

houve um aumento da taxa de prevalência entre os anos de 2001 e 2009.

Diferentemente em CB a redução da prevalência acompanhou a redução da carga

parasitária.

Tabela 18- Quantificação da carga parasitária para S. Mansoni na população dos distritos de Córrego do Bernardo e Melquíades, Município de Governador Valadares, Minas Gerais 1990(n=247) 1995(n=346) 2009(n=24) Valor p Córrego Bernardo Carga parasitária (opg)

Media ± DP 258,7 ± 611,6 192,3 ± 404,5 21,8 ± 22,4 Min-Max 12-6360 12-5016 4-76

Mediana (1Q/3Q) Prevalência ajustada

72(24-192) 66,9%

48(24-192) 42,3%

14(7/30) 11,7%

0,001 (1)

1997(n=442) 2001(n= 89) 2009(n=60) Córrego Melquiades Carga parasitária (opg)

Media ± DP 206,0 ± 462,06 77,3 ± 150,75 84,2 ±143,5 Min-Max 12-5208 4-720 4-664

Mediana (1Q/3Q) Prevalência ajustada

60(24/180) (1)

60,1%

24(10/54) 19,5%

24 (8-82) 33,5%

0,001 (2)

Nota :n= indivíduos positivos para ovos de S. mansoni. (1) Kruskall wallis. Diferenças significativas entre 1990/2009, 1995/2009. (2) Kruskall wallis . Diferenças significativas entre 1997/2001 e 1997 /2009.

A tabela 19 apresenta as freqüências da infecção por S. mansoni e das co-

parasitoses nos distritos de Córrego do Bernardo e Melquíades.

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Tabela 19- Distribuição da freqüência de indivíduos mono e co-parasitados nos distritos de Córrego do Bernardo e Córrego Melquiades, Município de Governador Valadares, Minas Gerais CB 1990 1995 2009

Somente S. mansoni 108(43,7) 87(25,1) 19 (79,2)

Co- parasitados 139(56,2) 259(74,9) 5 (20,8)

Total 247(100) 346(100) 24(100)

Valor de p(1) p=0,231 p=0,000 p= 0,461

MQ 1997 2001 2009

Somente S. mansoni 362(81,9) 73(82,1) 35 (58,3)

Co- parasitados 80(18,1) 16(17,9) 25 (41,7)

Total 442(100) 89(100) 60 (100)

Valor de p(1) p=0,195 p=0,890 p=0,162

Nota: (1) χ

2

A tabela 19 apresenta a freqüência de indivíduos infectados somente por S.

mansoni e dos indivíduos co-parasitados. Pode-se observar que no distrito de CB a

porcentagem de indivíduos infectados monoparasitados por S. mansoni era de

43,7% em 1990, em 1995 de 25,1% e em 2009 ocorreu um aumento para 79,2%.

Entretanto, na intervenção de 1995 constatou-se que o número de indivíduos co-

parasitados (74,9%), foi significativamente maior em relação aos indivíduos

monoparasitados por esquistossomose (25,1%). Por outro lado no distrito de

Córrego do Melquíades não foram observadas diferenças significativas entre os

grupos mono e co-parasitados.

As co-infecções observadas nas intervenções estão registradas com maiores detalhes no anexo I.

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6 DISCUSSÃO

A esquistossomose vem sendo estudada nos distritos rurais de Córrego do

Bernardo e Córrego do Melquíades pelo Núcleo de Pesquisa em Imunologia da

UNIVALE desde 1990. O presente estudo teve como objetivo avaliar as mudanças

temporais ocorridas na infecção por S. mansoni nestas áreas. A metodologia

utilizada (estudo de painel e análise de coorte) permitiu analisar o comportamento da

prevalência da infecção ao longo do tempo. Por meio dos diferentes procedimentos

foi possível avaliar a prevalência da doença e obter estimativas confiáveis das taxas.

Nos primeiros anos de intervenção, 1990 (CB) e 1997/98 (MQ), a prevalência

da doença encontrava-se elevada 67,7% (CB) e 59,8% (MQ). A intensidade de

infecção avaliada pela média do número de ovos por grama de fezes (opg) foi de

258,7 opg em CB (1990) e de 206,0 opg em MQ (1997/98). As reduções sucessivas

das taxas de prevalência e da carga parasitária ocorridas ao longo dos anos

atingiram valores de 12,5% em CB (2009) com uma carga parasitária média de 21,8

(opg). Entretanto, em MQ (2009) a prevalência da doença aumentou para (31,9%),

ocorrendo uma discreta elevação da carga parasitária 84,2 (opg).

Relatos de moradores residentes no Córrego do Bernardo evidenciam que no

início da década de 90, existia apenas um posto de saúde vinculado a Secretaria

Municipal de Saúde SMS-GV, cujo atendimento médico ocorria apenas 1 vez ao

mês. Além disso, a freqüência de consultas médicas variava conforme as condições

climáticas (período de chuvas). Somente após a criação do PSF rural é que o

atendimento médico tornou-se mais regular. Diferentemente, em Córrego do

Melquíades a situação em 1997 era ainda mais precária, uma vez que não havia

atendimento médico pela inexistência de um posto de saúde na localidade. A

assistência em saúde era realizada por meio da Unidade Móvel de Saúde, que

conduzia, mensalmente, os profissionais a esta localidade. Com a implantação do

PSF rural a região do Córrego do Melquiades foi beneficiada pela instalação de um

posto de saúde no Córrego dos Prazeres, que distancia da área central do Córrego

do Melquiades. Dessa forma, a assistência em saúde em MQ encontra-se

comprometida em relação ao Córrego do Bernardo.

As estimativas de prevalência da infecção pelo S. mansoni avaliadas ao longo

dos anos no distrito de Córrego do Bernardo, mostraram que houve redução

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significativa das taxas de prevalência, bem como da intensidade de infecção. Alguns

fatores implantados como: tratamento específico da parasitose, fornecimento de

água tratada, eliminação correta dos dejetos, combinados à educação para a saúde

constituíram medidas mais eficazes para o controle da esquistossomose nesta

localidade. Em razão disto observamos que CB, passou a ser considerado uma

área de baixa endemicidade com uma queda da prevalência de 67,7% (1990) para

12,5% (2009). Por outro lado, no distrito de Córrego do Melquíades observamos um

comportamento distinto, sendo que a taxa de prevalência de 59,8% (1997/98)

reduziu para 31,9% (2009), permanecendo ainda como uma área de alta

endemicidade. Assim podemos sugerir que o distrito de MQ requer um melhor ajuste

e intensificação dos programas de controle da esquistossomose a médio e a longo

prazo.

A elevação da prevalência em MQ constatada em 2009 indica a transmissão

ativa da esquistossomose nessa localidade e a presença de outros fatores

comportamentais e ambientais que contribuem para a manutenção dos casos de

reinfecção.

A realização de estudos epidemiológicos de forma periódica em áreas

endêmicas permite avaliar ao longo do tempo, o comportamento da endemia. As

mudanças temporais ocorridas na infecção pelo S. mansoni tem sido investigadas

por outros autores conforme descrito a seguir.

Marçal-Junior et al. (1991) verificaram que o programa de controle da

esquistossomose (PCE) foi eficaz na cidade de Pedro Toledo, estado de São Paulo.

Após o acompanhamento por 8 anos da população, os autores constataram

diminuição da prevalência de 22,8% em 1980 para 6,0% em 1988 e do número de

ovos nas fezes de 58,5 (opg) para 35,1 (opg). Na localidade de Peri-Peri, Coura-

Filho et al. (1992), acompanharam o PCE durante 13 anos de 1974 a 1987, e

mostraram uma redução de 39,1% do índice de infecção e de 5,6% nos casos de

esplenomegalia. Posteriormente, Coura-Filho (1998), em outro estudo, avaliou o

PCE em Taquaraçu de Minas, MG no período de 1985 a 1995, e demonstrou uma

diminuição de 26,6% da prevalência, bem como da intensidade de infecção que

reduziu de 91,2 opg para 30,7 opg.

Em Capitão Andrade, MG, um estudo retrospectivo realizado por Conceição

et al. (2007), por um período de trinta anos (1973-2003) mostrou que a prevalência

da esquistossomose de 60,8% (1973) reduziu para 36,2% em (1984). No período de

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1984 a 1994 verificou-se uma queda de 36.2% para 27,3% e finalmente a taxa de

prevalência atingiu valores de 19,3% na ultima avaliação compreendida entre os

anos de 1994 a 2003. Os autores consideram que a manutenção da alta taxa de

prevalência e da gravidade das formas clínicas naquela localidade ocorra devido ao

fenômeno da reinfecção.

Os estudos relatados por Sarvel (2011), demonstraram que em Comercinho,

o índice de infecção para esquistossomose em 1981 era de 70,4% reduzindo para

1,7% em 2005. A média geométrica do número de ovos de S. mansoni em 1981 era

de 334 (opg), segundo Costa (1983). Em 1988 a média encontrada foi de 105 (opg)

relatada por Cury (1991), e posteriormente em 2005, constatou-se uma ligeira

elevação da média para 172 (opg). Acredita-se que devido a vários fatores, tais

como tratamento quimioterápico, saneamento básico, melhoria das condições de

moradia que ocorreram ao longo dos anos, Comercinho deixou de ser uma área

hiperendêmica e passou a ser considerada uma área de baixa endemicidade.

Como constatado em nossa pesquisa, outros estudos relatados na literatura

demonstraram a efetividade dos programas de controle da esquistossomose em

áreas endêmicas, que refletem reduções importantes das taxas de prevalência bem

como da intensidade de infecção( VASCONCELOS et al., 2009).

6.1 REDUÇÃO RELATIVA DAS TAXAS DE PREVALÊNCIA DOS DISTRITOS

Considerando a redução da prevalência ao longo dos anos, surgiu a

necessidade de quantificar os valores exatos de variação das taxas de prevalência

em nosso estudo. Assim a análise de redução relativa, foi utilizada como uma

ferramenta epidemiológica de escolha.

Costa (1996) empregou a redução relativa das taxas para avaliar a eficácia

do programa de Controle da Doença de Chagas em Montalvânia, em um estudo de

painel de 18 anos. Em nossa pesquisa observamos uma redução total das taxas de

prevalência de 81,5%, no distrito de Córrego do Bernardo no período de 1990-2009.

No entanto, no distrito de Córrego do Melquíades no período de 1997/98-2009,

observamos uma menor redução da taxa de prevalência (46,6%). Os dados obtidos

por Magueta (2009), a partir do inquérito epidemiológico, descrevem o perfil

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socioeconômico das populações destes dois distritos. Córrego do Melquíades é uma

área de difícil acesso, com uma população residente de baixo poder aquisitivo e

conta com inúmeras coleções hídricas que favorecem a transmissão da

esquistossomose. Além disso, foi observado por esta autora que a utilização da

água do córrego nesta região é significativamente maior quando comparada à CB.

6.2 PERFIL (DEMOGRÁFICO SEXO E IDADE) DA POPULAÇÃO RESIDENTE DE

CB E MQ

Não foi observada diferença entre o número de homens e mulheres no

momento das intervenções, nos dois distritos. Entretanto, quando se analisou a

variável idade, verificou-se que além do aumento significativo da média de idade das

duas populações ao longo dos anos, estes distritos também apresentavam

estruturas etárias distintas. No entanto, após a padronização, as diferenças na

estrutura etária dos moradores dos distritos, foram eliminadas, de modo que estas

localidades passaram a apresentar, teoricamente, a mesma proporção de jovens e

idosos, sugerindo que as diferenças na prevalência e intensidade de infecção por

S.mansoni não estejam relacionadas à estrutura etária.

O fato destas populações apresentarem um aumento da média de idade,

pode ser justificado por estas comunidades serem autóctones. Além disso, a

introdução das Unidades de Saúde da Família (USF) na zona rural pode ter

contribuído para o aumento da expectativa de vida desta população.

6.3 DISTRIBUIÇÃO PROPORCIONAL DE CASOS DA DOENÇA

A distribuição proporcional da infecção pelo S. mansoni em relação à idade,

mostrou que a maioria dos casos ocorreu em crianças e jovens menores de 20 anos.

Este fato se deve provavelmente a maior exposição e contato com as águas

contaminadas. Semelhantemente, em um estudo realizado em Ndombo no norte do

Senegal, Sow et al. (2011), observaram que banho e lazer foram as principais

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atividades de contato com a água, e realçaram que a maior freqüência e duração do

contato ocorria na faixa etária de 10 a 19 anos de idade.

A distribuição proporcional apresenta algumas limitações quando se avalia o

risco de ter a esquistossomose em relação a faixa etária, pois o percentual é dado

em relação ao total de casos da doença. Portanto, é necessário considerar a

distribuição etária da população para se fazer inferências a respeito do risco. Sendo

assim, o indicador mais apropriado é a taxa de prevalência por faixa etária.

6.4 TAXA DE PREVALÊNCIA DA ESQUISTOSSOMOSE POR FAIXA ETÁRIA

Em nosso trabalho encontramos uma prevalência maior da doença nas faixas

etárias de 0 a 20 anos de idade quando comparada com as outras faixas etárias,

nos dois distritos. Estes dados são confirmados por diversos autores, que indicaram

o pico de infecção na faixa de 10-19 anos (COSTA et al., 1985; MARÇAL-JUNIOR et

al., 1991; PIERI et al., 1998; RODRIGUES et al., 2000; DISCH et al., 2002).

Um estudo realizado em Córrego do Bernardo por Gazzinelli et al., (1992) e

Alves-Oliveira et al., (1993) mostrou que a curva de distribuição das taxas de

prevalência por idade associada com intensidade de infecção pelo S. mansoni era

semelhante às investigações encontradas em outras áreas endêmicas.

A curva típica de distribuição das taxas de prevalência e intensidade de

infecção por faixa etária, em populações residentes de áreas endêmicas, sugere que

indivíduos mais idosos apresentam níveis menores de infecção. Várias hipóteses

tentam explicar a maior susceptibilidade dos indivíduos mais jovens à infecção

(PEREIRA et al., 2010). Alguns autores acreditam que a resistência associada à

idade se deve ao fato de que os adultos possuem menor contato com as fontes

infectantes (WARREN, 1972; GAZZINELLI et al., 2001; ENK et al.,2004; SOW et al.,

2011). Além disso, a resistência adquirida com a idade a partir dos anos de

exposição com as fontes de contaminação pode justificar o típico declínio da

prevalência e da intensidade da infecção em adultos (DUNNE et al., 1998; CALDAS

et al., 2000). Nesse sentido, Pereira et al. (2010), demonstraram que alguns fatores

podem explicar a diminuição da prevalência e da carga parasitária nas faixas etárias

maiores. Fatores como níveis de IgE total, número de eosinófilos e freqüência de

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contato com a água estavam associados com a prevalência e com a intensidade de

infecção pelo S. mansoni. Além disso, observaram um aumento dos níveis de IgE

total dependente da idade. Estes autores concluíram que níveis elevados de IgE

total podem contribuir para a redução da intensidade de infecção e da prevalência

da esquistossomose.

Em Virgem das Graças, no Vale do Jequitinhonha Pereira et al. (2010),

constataram que a prevalência da doença atingia um pico na idade de 15 a 29 anos.

Entretanto, foi na faixa etária de 6 a 14 anos que a intensidade de infecção mostrou-

se mais elevada com uma contagem de ovos de 93,2 (opg) superior a observada em

outras faixas etárias 22,7(opg).

Estudos da prevalência em escolares de 7 a 14 anos demonstram que há

uma forte correlação entre a prevalência da doença no grupo dos escolares e a

prevalência na comunidade em geral, concluindo que esta faixa etária poderia ser

utilizada como indicador da prevalência para aplicar o tratamento em massa em uma

população (RODRIGUES et al., 2000). Estudos no Egito sobre os padrões da

infecção pelo S. mansoni mostraram que as taxas de prevalência eram elevadas até

a idade de 16 anos (BARAKAT et al, 2000).

6.5 ANÁLISE DA COORTE ETÁRIA

A análise da coorte foi utilizada para verificar a evolução da prevalência por

faixa etária em diferentes tempos do estudo, e observar as mudanças das taxas no

fator idade. Essa análise permite acompanhar os mesmos indivíduos, com

características semelhantes durante um período. Este tipo de estudo foi realizado

por Costa (1996) que avaliou a eficácia do programa de controle da Doença de

Chagas.

Constatamos uma redução real de 84,2% (de 63,2% para 10,0%) da

prevalência na faixa etária de 0 a 10 anos, considerando o período de 19 anos de

intervenção em CB. Da mesma forma, quando foi analisada a coorte na faixa de 11-

20 anos, observou-se uma redução de 86,8% (89,4% para 11,8%) neste distrito. Em

comparação, as coortes dos indivíduos adultos jovens e adultos (21 a 30 anos e de

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41 a 50 anos) apresentaram maiores reduções das taxas de prevalência (93,1% e

93,5 %) respectivamente.

No distrito de Córrego do Melquiades as maiores reduções das taxas de

prevalência ocorreram na coorte mais idosa, de 51 a 60 anos, apresentando uma

queda importante na taxa de prevalência de 69,9% (de 55,6% para 16,7%).

Entretanto, a coorte etária de 0-10 anos mostrou uma redução real menor da

prevalência, de 40,7% (de 59,9% para 35,5%), quando comparado com CB.

Podemos inferir que a redução real das taxas de prevalência por faixa etária

confirma a efetividade das ações realizadas em ambos os distritos no período de 10

e 19 anos de intervenção. No distrito de Córrego do Melquíades observamos

reduções menores da prevalência por faixa etária e da prevalência geral da doença,

sugerindo que as características fisicas comprometem o controle da

esquistossomose neste distrito.

Kloos, et al. (2001), relataram as características físicas do distrito de MQ,

onde a população residente dividida em 14 vilarejos encontra-se rodeada por 12

córregos menores. A principal fonte de subsistência é a agricultura, seja pela

plantação de arroz, feijão, milho ou banana. A topografia da região apresenta

altitudes que variam de 250 a 900m, permitindo uma distribuição hídrica nas

montanhas com rápido escoamento para os córregos. Segundo os autores, a

distribuição dos córregos e canais parece ser a principal fonte de criação dos

habitats de caramujo, favorecendo a manutenção do ciclo do S. mansoni .

6.6 RISCO RELATIVO E ATRIBUÍVEL PARA PADRONIZAÇÃO DAS TAXAS DE

PREVALÊNCIA

Para comparar as taxas de prevalência entre os distritos, utilizou-se o recurso

estatístico de padronização. Assim, no distrito de CB as taxas ajustadas de

prevalência foram de 66,9% (1990), 42,3% (1995) e 11,7% (2009). Em MQ após o

ajuste verificou-se as seguintes taxas de prevalência: 60,1% (1997/98), 19,5%(2001)

e 33,5% (2009). Vale ressaltar que as taxas padronizadas ou ajustadas são

consideradas índices fictícios, elaboradas para permitir fácil comparação entre

grupos populacionais que diferem em certas características. O ajuste permite

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eliminar as diferenças possibilitando a comparação entre duas populações com

estruturas etárias diferentes (CURY, 2001).

O método de padronização direta é muito utilizado em estudos de

mortalidade. Campanário & Maia (2004) avaliaram os dados de mortalidade por sexo

e idade das microrregiões e dos municípios que apresentavam registro civil

incompleto. Para realizar o ajuste dos dados, estes autores utilizaram como fonte

padrão as informações da mortalidade infantil estimada pelo Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE). Silva et al. (2006), em outro estudo avaliaram os

fatores de risco para mortalidade infantil no município de Maracanaú, região

metropolitana de Fortaleza, e compararam por ajuste o risco relativo destes fatores

na mortalidade infantil.

Comparando-se as taxas de prevalência ajustadas nos respectivos distritos,

calculamos o risco relativo (RR) e atribuível (RA) para adquirir a doença. Os dados

mostraram que o RR para infecção por S.mansoni em CB foi de 1,13, ou seja, os

indivíduos residentes em CB (1990) tinham 1,11 vezes mais chances de adquirir a

doença quando comparado com MQ (1997/98). Do mesmo modo, o RA para a

doença foi de 6,8 casos a mais em CB. No ano de 1995, em CB o risco de adquirir a

esquistossomose era 2,2 vezes maior, quando comparado à MQ (2001), sendo que

o número de pessoas infectadas era de 22,8 casos a mais do que MQ. Mas, em

2009, os indivíduos residentes em MQ apresentaram um RR de 2,9, ou seja, nesta

última intervenção houve uma modificação no risco de adquirir a doença nestas

localidades. Foi observado também um número maior de pessoas infectadas em MQ

em relação a CB (21,8 casos).

A redução das taxas de prevalência e dos riscos relativos e atribuíveis em

adquirir a doença em Córrego do Bernardo foi modificando ao longo dos anos, e

pode estar associado às melhorias das condições típicas desta localidade tais como:

construção de rodovias pavimentadas e a implantação da Estratégia de Saúde da

Família que facilitou o acesso aos serviços de saúde. Além disso, a implantação do

sistema de abastecimento de água tratada contribuiu para a redução da taxa de

prevalência. Por outro lado, o aumento da taxa de prevalência e dos riscos de

adoecer em Córrego do Melquíades em 2009 pode estar relacionado a outros

fatores, tais como: dificuldade de acesso e de locomoção da população a outros

locais com melhores recursos, a existência de várias coleções hídricas em região

peridomiciliar e ao sistema precário de abastecimento de água tratada nesta

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localidade. Este abastecimento tem sido feito pela instalação de caixas d’agua que

se encontram na parte mais alta da localidade, e permite a distribuição da água

para as residências através de um sistema de canos. Periodicamente a água contida

nesses recipientes recebe um tratamento químico.

6.7 INFECÇÃO PELO S. mansoni: MONOPARASITADOS E CO-PARASITADOS

O baixo desenvolvimento sócio-econômico, a inexistência de água tratada e o

esgotamento sanitário inadequado contribuem para a manutenção das doenças

parasitárias, e especialmente pelas co-infecções (GEIGER, 2008).

Observamos em nosso estudo que na medida em que as taxas de infecção

pelo S. mansoni encontravam-se elevadas, havia uma tendência de redução nas

proporções de co-parasitoses e vice-versa.

Em Córrego do Bernardo (1995) foram encontradas proporções

significativamente superiores de indivíduos co-parasitados (74,9%) quando

comparadas com os indivíduos monoparasitados (25,1%). Nas co-infecções podem

ocorrer associações sinérgicas, como demonstrado por Raso et al. (2004) e Fleming

et al. (2006) na infecção por ancilostomideo e outras espécies de helmintos.

Associação positiva (sinérgica) foi observada entre indivíduos coinfectados com S.

mansoni e ancilostomideo. Estes indivíduos apresentavam uma elevada carga

parasitária tanto para S. mansoni como para ancilostomídeo. Por outro lado, estes

autores observaram que indivíduos infectados com A. lumbricoides e S. mansoni

apresentavam baixa carga parasitária para S. mansoni, e este tipo de associação foi

considerado antagônico.

As vias de transmissão podem explicar as diferenças nas relações de

sinergismo ou antagonismo entre os parasitos, considerando que a infecção por

ancilostomideo e A. lumbricoides ocorre através de uma exposição com solo

contaminado, em contraste a infecção por S. mansoni que é transmitida pelo contato

com água contaminada. Nosso estudo não permite afirmar a existência de

associações sinérgicas ou antagônicas entre os helmintos investigados, para isso

seria necessário avaliar a taxa de prevalência e intensidade de infecção de cada

helminto separadamente e compará-la com a infecção por S. mansoni.

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Um decréscimo significativo da prevalência e da intensidade de infecção por

S. mansoni, foi constatado no período de 1990 a 2009, nas áreas endêmicas

investigadas. Algumas medidas, podem ter influenciado nossos resultados, pois

existem muitas informações que estabelecem uma relação de causa-efeito na

redução da prevalência. Um fator importante é a disponibilização do abastecimento

de água tratada nestas localidades, pois se sabe que várias áreas endêmicas

apresentam uma redução considerável da prevalência para a esquistossomose com

a implementação deste serviço (COSTA et al.,1985; KLOOS et al. ,1998;

VASCONCELOS et al., 2009).

Apesar de ter sido introduzido o uso de água tratada nos distritos de Córrego

do Bernardo e Córrego do Melquíades, o serviço de abastecimento de água em

C’orrego do Melquiades ainda não funciona regularmente. Esse fato pode explicar

as razões pelas quais estes distrito possui uma maior prevalência e um risco

superior de adoecer em relação ao Córrego do Bernardo.

Segundo Massara et al. (2004), a continuidade e expansão da

esquistossomose no Brasil não podem ser explicadas apenas por fenômenos

biológicos, mas também político e social. Apesar dos avanços no conhecimento da

doença e da implantação de programas de controle com conseqüente redução da

prevalência, e de formas graves, em algumas regiões ainda é possível observar uma

expansão da transmissão.

As ações intervencionistas em Córrego do Bernardo e Córrego do Melquíades

foram realizados ao longo dos anos, de forma não sistemática e descoordenada.

Acredita-se que estes fatores tenham contribuído para a permanência da

transmissão da esquistossomose nestas localidades, uma vez que o sucesso do

controle da doença depende da efetividade e da coerência nas ações (Farias et al.,

2007).

O controle da esquistossomose pode ter duas abordagens: controle da

morbidade com o objetivo de reduzir o aparecimento da forma grave da doença e o

controle da transmissão interrompendo o ciclo evolutivo do parasito. O controle da

morbidade é feito especialmente pela utilização de quimioterapia, enquanto o

controle da transmissão exige além do tratamento, melhorias sanitárias. Com

melhorias dos serviços públicos, condições de higiene e empenho dos governos é

possível controlar a transmissão, uma vez que educação em saúde e saneamento

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têm papéis importantes podendo oferecer oportunidades efetivas e resultados

duradouros.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados deste estudo indicaram redução significativa das taxas de

prevalência da esquistossomose em áreas rurais por meio do tratamento

quimioterápico específico.

Sabe-se que nenhuma medida isolada é capaz de garantir o controle da

esquistossomose e, para seu sucesso é necessário uma ação periódica com uma

abordagem multidisciplinar. As principais ações para o controle da infecção a longo

prazo incluem implementação de saneamento básico, suprimento de água potável,

educação em saude e participação efetiva da comunidade. O tratamento específico

associado às medidas de controle é extremamente relevante para reduzir a

intensidade de infecção e as formas graves, embora não seja suficiente para

interromper definitivamente a transmissão da doença.

O estudo de painel conduzido neste trabalho demonstrou ser um método

adequado para avaliar o impacto das intervenções (tratamento dos indivíduos

infectados e fornecimento de água tratada). A efetividade das ações em reduzir a

prevalência da esquistossomose após o início das atividades na década de 90 foi

constatada neste estudo.

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8 CONCLUSÃO

O estudo demonstrou que repetidas ações de tratamento para

esquistossomose nas populações dos distritos de Córrego do Bernardo e Córrego

do Melquiades, em Governador Valadares, Minas Gerais, foram eficazes na redução

de prevalência da doença. Entretanto, há necessidade de uma reestruturação nas

ações de controle na região, com implementação de medidas adequadas de

prevenção e tratamento dos casos de forma periódica e sistematizada, para a

redução da transmissão a níveis mais baixos do que os encontrados atualmente.

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ANEXO

Distribuição da frequência de co-parasitoses na população dos distritos de Córrego do Bernardo e

Córrego Melquíades, Governador Valadares, Minas Gerais.

Nota :(1) População amostrada no inquérito (2)

χ2 ( qui-quadrado)

(3) ( *) χ

2 ( 1997 e 2001)

1990 1995 20091) Valor de p CB Pos (%) Pos (%) Pos (%)

S mansoni+ascaris 24 (9,71 ) 22(6,36) - 0,0000(2) S mansoni + ancilostomídeos 126 (51,0) 251(72,5) 3(12,5) 0,0000(2) S mansoni+trichuris 5(2,0) 7(2,02) -

Smansoni+entamoeba 4(1,62) 5(1,5) - 1997/98 2001 2009 MQ Pos (%) Pos (%) Pos (%)

S mansoni+ascaris 66(14,9) 4(4,50)

5(8,33) Valor de p 0,0018

*0,0009(3) S mansoni + ancilostomideos 66(14,9) 12(13,50) 2(3,33) 0,0014(2)

*0,0009(3) S mansoni+trichuris

16(3,6) - -

Smansoni+entamoeba 3 (0,7) 3 (3,40) - 0,012(2)

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