universidade vale do rio doce – univale faculdade … · faculdade ciÊncias da saÚde – facs...

64
UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE – UNIVALE FACULDADE CIÊNCIAS DA SAÚDE – FACS CURSO DE ENFERMAGEM Breno Cangussú Serretti Leonel Celma Maria de Jesus Silva Osânia Alves Damasceno Souza Regimara Martins Damasceno Wellika Martins Lelis O CONHECIMENTO DAS FAMÍLIAS SOBRE A ASSISTÊNCIA PRESTADA AOS SEUS FAMILIARES EM PERMANÊNCIA DIA NO CERSAM DE GOVERNADOR VALADARES Governador Valadares 2009

Upload: vuongnhan

Post on 26-Jan-2019

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE – UNIVALE

FACULDADE CIÊNCIAS DA SAÚDE – FACS

CURSO DE ENFERMAGEM

Breno Cangussú Serretti Leonel

Celma Maria de Jesus Silva

Osânia Alves Damasceno Souza

Regimara Martins Damasceno

Wellika Martins Lelis

O CONHECIMENTO DAS FAMÍLIAS SOBRE A ASSISTÊNCIA PRESTADA

AOS SEUS FAMILIARES EM PERMANÊNCIA DIA NO

CERSAM DE GOVERNADOR VALADARES

Governador Valadares

2009

1

BRENO CANGUSSÚ SERRETTI LEONEL

CELMA MARIA DE JESUS SILVA

OSÂNIA ALVES DAMASCENO SOUZA

REGIMARA MARTINS DAMASCENO

WELLIKA MARTINS LELIS

O CONHECIMENTO DAS FAMÍLIAS SOBRE A ASSISTÊNCIA PRESTADA

AOS SEUS FAMILIARES EM PERMANÊNCIA DIA NO

CERSAM DE GOVERNADOR VALADARES

Trabalho de Conclusão de Curso como exigência para obtenção do título de bacharel em Enfermagem pela Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE. Orientadora: Patrícia Malta Pinto

Governador Valadares

2009

2

Breno Cangussú Serretti Leonel

Celma Maria de Jesus Silva

Osânia Alves Damasceno Souza

Regimara Martins Damasceno

Wellika Martins Lelis

O CONHECIMENTO DAS FAMÍLIAS SOBRE A ASSISTÊNCIA PRESTADA

AOS SEUS FAMILIARES EM PERMANÊNCIA DIA NO

CERSAM DE GOVERNADOR VALADARES

Trabalho de Conclusão de Curso como exigência para obtenção do título de bacharel em Enfermagem pela Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE.

Governador Valadares, 23 de junho de 2009.

Banca examinadora:

___________________________________________________________ Profª Patrícia Malta Pinto – Orientadora

Universidade Vale do Rio Doce

___________________________________________________________ Profª Erick da Silva Ramalho

Universidade Vale do Rio Doce

___________________________________________________________ Profª Yara Maria Diniz Figueiredo

Universidade Vale do Rio Doce

___________________________________________________________ Profª Sheila Aparecida Ribeiro Furbino

Universidade Vale do Rio Doce

3

Dedicamos este trabalho primeiramente a Deus, pois

sem Ele nada seria possível e não estaríamos aqui

reunidos, desfrutando juntos destes momentos que nos

são tão importantes.

Aos pais, maridos e filhos, pelo esforço, dedicação e

compreensão, em todos os momentos desta e de outras

caminhadas.

4

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a Deus, pelo dom da vida e pela presença paciente e misericordiosa

em todos os momentos de nossas vidas.

Aos pais, maridos, filhos pelo apoio incondicional e confiança em nossa vitória.

Aos colegas e amigos de sala que durante quatro anos compartilharam conosco

momentos de alegrias e tristezas.

À professora Yara, pelo apoio e incentivo para a realização deste trabalho.

À Secretaria Municipal de Saúde e ao CERSAM-GV, pela liberação da instituição

que nos abriu as portas permitindo a concretização desta pesquisa.

Em especial, a nossa orientadora Patrícia Malta, pela valiosa orientação e dedicação

permitindo a concretização deste trabalho.

5

RESUMO

Este Trabalho de conclusão do curso de Enfermagem da UNIVALE tem como objetivo identificar o conhecimento e entendimento que as famílias dos portadores de transtorno mental têm sobre o tratamento prestado ao seu familiar no Centro de Referência em Saúde Mental do município de Governador Valadares - CERSAM. Para tanto, a pesquisa consubstanciou em dados teóricos, destacando-se, Gonçalves e Sena (2001); Foucault (2005); Lucchese (2005). Abordou-se no trabalho a história da psiquiatria, reforma psiquiátrica, a estruturação do CERSAM e conceitos de família e a relação desta com o portador de transtorno mental. Além disso, o estudo apontou existir um desafio a ser enfrentado que é a dificuldade de articulação entre a família e o serviço de saúde mental em prol da assistência do usuário, dificultando a manutenção do doente mental na família. Através da análise dos dados, feita por uma pesquisa de abordagem quantitativa e qualitativa descritiva, chegou-se a uma conclusão que as famílias pesquisadas não têm interação com o serviço prestado pelas redes substitutivas e pelos CAPS, em suas modalidades de atendimento.

Palavras-chave: Saúde mental, Família e Conhecimento.

6

ABSTRACT

This Work of conclusion of the course of Nursing of UNIVALE has as objective identifies the knowledge and understanding that the families of the bearers of mental upset have on the treatment rendered relative in the Center of Reference in Mental Health of the district of Governador Valadares - CERSAM. For so much, the research based in theoretical data, standing out, Gonçalves and Sena (2001); Foucault (2005); Lucchese (2005). it was Approached in the work the history of the psychiatry, it reforms psychiatric, the structuring of CERSAM and family concepts and the relationship of this with the bearer of mental upset. Besides, the study pointed a challenge to exist to be faced that it is the occurrence of an important contradiction between the proposals of the psychiatric reform and the devolution or maintenance of the mental patient in the family. Through the analysis of the data, done by a research of quantitative and qualitative approach descriptive, it was reached a conclusion that the families don't have interaction with the service rendered by the nets substitute and for CAPS, in their service modalities. Key-words: Mental health, Family and Knowledge.

7

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 1 – Total de pacientes inscritos em Permanência Dia no CERSAM-GV

- Maio/2009........................................................................................................... 36

Gráfico 2 – Tempo de Permanência Dia no CERSAM-GV – Maio/2009.............. 37

Gráfico 3 – Tempo de tratamento no CERSAM-GV – Maio/2009...........……….. 38

Gráfico 4 – Motivos que levaram a família encaminhar seu familiar ao CERSAM

-GV-Maio/2009….................................................................................................. 39

Gráfico 5 – Compreensão dos familiares sobre o que e CERSAM

-GV-Maio/2009........................................................................................………... 40

Gráfico 6 – Conhecimento dos familiares sobre o tratamento oferecido ao

Paciente assistido - Maio/2009............................................................................ 41

Gráfico 7 – Crença na existência de outra forma de tratamento – Maio/2009..... 42

Gráfico 8 – Suporte psicológico oferecido aos familiares pelo CERSAM

-GV-Maio/2009..................................................................................................... 43

Gráfico 9 – Benefícios recebidos por órgãos públicos para auxiliar o familiar

– Maio/2009......................................................................................................... 44

Gráfico 10 – Conhecimento da família sobre o profissional de referencia do

Familiar-Maio/2009.............................................................................................. 45

Gráfico 11 – Satisfação acerca da assistência prestada no CERSAM

-GV-Maio/2009...................................................................................................... 46

Gráfico 12 – Percepção da família em relação tratamento ao familiar atendido

em outra unidade de saúde-Maio/2009................................................................ 47

Gráfico 13 – Tipo de responsável e/ou cuidador do portador de transtorno

Mental-Maio/2009................................................................................................. 48

Gráfico 14 – Conhecimento da família sobre a Reforma Psiquiátrica

e Desospitalizacao-Maio/2009.............................................................................. 49

8

LISTA DE ABREVIATURAS

a. C - Antes de Cristo

G. V. – Governador Valadares

9

LISTA DE SIGLAS

CERSAM – Centro de Referencia em Saúde Mental

CAPS – Centro de atenção psicossocial

CAPS AD – Centro de Atenção psicossocial álcool e outras drogas

HPSP – Hospital Psiquiátrico São Pedro

NASF – Núcleo de atenção a Saúde da Família

NIAPS – Núcleo integrado de atenção psicossocial

PSF – Programa de Saúde da Família

SUS – Sistema Único de Saúde

10

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................11 2 REVISÃO DA LITERATURA ..........................................................................................14

2.1 DA HISTÓRIA DA LOUCURA À REFORMA PSIQUIÁTRICA: UMA REVISÃO 14 2.2 A FAMÍLIA E O PORTADOR DE TRANSTORNO MENTAL.................................23 2.3 O CERSAM-GV E A PERMANÊNCIA DIA ...............................................................28

3 METODOLOGIA................................................................................................................33 4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E ANÁLISE ..................................................36 5 CONCLUSÃO......................................................................................................................51 REFERÊNCIAS .....................................................................................................................54 ANEXOS .................................................................................................................................60

11

1 INTRODUÇÃO

Esta pesquisa trata-se de um trabalho de conclusão do curso de

enfermagem cujo tema é: O conhecimento das famílias sobre a assistência prestada

aos seus familiares em Permanência Dia no CERSAM de Governador Valadares.

A ideia de trabalhar e problematizar essa temática partiu da experiência

vivenciada pelo grupo, em que a mãe de um amigo precisava de abrigo, pois ele não

tinha condições sócioeconômicas para os cuidados necessários. Embora a paciente

apresentasse uma estabilidade em seu quadro psíquico, os familiares não queriam

assumir a responsabilidade. Diante da dificuldade dessa pessoa, resolveu-se ajudá-

lo a encontrar um abrigo, o que pareceu ser uma luta em vão devido às novas

mudanças ocorridas com a Reforma Psiquiátrica, como objetivo a

desinstituicionalização e desospitalização.

A partir dessa vivência, perceberam-se as dificuldades que um portador de

transtorno mental, sem suporte familiar adequado, enfrenta para se integrar na

sociedade e como é importante o conhecimento do familiar sobre a proposta de

tratamento oferecida pela rede substitutiva.

A pergunta que suscitou a pesquisa foi: A família conhece o atendimento

prestado pelo CERSAM-GV ao seu familiar?

O trabalho teve como objetivo pesquisar sobre o conhecimento que as

famílias dos usuários do serviço saúde mental de Governador Valadares têm sobre

a assistência prestada no CERSAM.

Com essa proposta de análise, o desenvolvimento foi estruturado em três

partes, sendo a primeira, revisão de literatura, teve como embasamento teórico um

diálogo com autores, destacando-se, Gonçalves e Sena (2001); Foucault (2005);

Lucchese (2005), com abordagem sobre a construção histórica da loucura, os

princípios da reforma psiquiátrica brasileira, bem como, as singularidades do cuidar

de um doente mental na família, as dificuldades por ela enfrentadas, além da

contextualização do CERSAM de Governador Valadares no estudo.

Sabe-se que a assistência em saúde mental tem passado por

significativas transformações, e novas propostas de atendimento têm surgido

excluindo de vez do contexto da assistência em saúde mental, as práticas

12

segregativas e isoladas do contexto social e familiar do portador de transtorno

mental.

Para Lucchese (2005), hoje a palavra de ordem é a promoção da saúde,

objetivando a reinserção e o resgate, autonomia e cidadania do portador de

sofrimento mental. A autora salienta que a loucura vem sendo estigmatizada ao

longo dos tempos e o tratamento recebido pelos ditos loucos era sinal de exclusão,

de reclusão e asilamento. O doente mental, o excluído do convívio dos iguais, dos

ditos normais, era então afastado dos donos da razão, dos produtivos e dos que não

ameaçavam a sociedade.

A proposta da Reforma Psiquiátrica visa socialização dos portadores de

sofrimento mental, destacando o desafio de dotar esse indivíduo de um mínimo de

recursos vitais que lhe permita independência para as atividades de vida diária e

exercício de cidadania. O sofrimento mental traz questões que devem ser

consideradas pela sociedade, na forma pela qual se pensa o conceito de cidadania,

uma vez que essas pessoas são privadas de seus direitos de uma forma

particularmente brutal. Um pobre, na rua ou na favela, pode ainda tentar defender-se

de muitas maneiras, adequadas ou não: pode esmolar, gritar, roubar e etc., no

entanto, um portador de sofrimento mental não tem sequer essas tristes alternativas,

pois está privado de qualquer chance de fazer-se ouvir (MINAS GERAIS , 2006).

Gonçalves e Sena (2001) alertam que há necessidade de distinguir nos

projetos da reforma a maneira como lidam com a desinstitucionalização. O conceito

de desinstitucionalização vem sofrendo uma verdadeira metamorfose, abrindo novas

possibilidades para o campo da reforma psiquiátrica.

Acrescentam Gonçalves e Sena (2001) a ocorrência de uma contradição

importante entre as propostas da reforma psiquiátrica e a devolução ou manutenção

do doente mental na família. O doente mental está sendo entregue à família sem o

devido conhecimento das reais necessidades e condições da família, especialmente,

das cuidadoras em termos materiais, psicossociais, de saúde e qualidade de vida,

aspectos esses profundamente interligados.

A família, muitas vezes, dedicada ao seu familiar doente, precisa se

reorganizar e, assim, sobrecargas lhes são acarretadas devido às mudanças em suas

rotinas, gastos financeiros além dos orçamentos previstos, ocasionando um grande

desgaste físico e emocional no cuidado ao doente.

13

No capítulo Metodologia, explicou-se que a pesquisa de campo

desenvolvida foi de abordagem quantitativa e qualitativa descritiva, no CERSAM de

Governador Valadares, no mês de maio de 2009, onde foi aplicado um questionário

semiestruturado aos familiares dos pacientes em Permanência Dia.

No capítulo seguinte foram apresentados os dados com suas análises,

por amostragens, através de gráficos.

Com as coletas e as análises dos dados concluiu-se que as famílias não

têm interação com o serviço prestado pelas redes substitutivas e pelos CAPS, em

que concernem suas modalidades de atendimento.

14

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 DA HISTÓRIA DA LOUCURA À REFORMA PSIQUIÁTRICA: UMA REVISÃO

A constituição histórica do conceito de loucura começa com a história da

espécie humana e a sintomatologia apresenta-se ligada à vida social, assim a

definição de loucura sofreu modificações ao longo do tempo (JORGE; SILVA, 2000

apud LUCCHESE, 2005).

Na antiguidade pré-clássica, que compreende o período da invenção da

escrita até 600 anos a.C, as doenças eram explicadas como resultantes da ação

sobrenatural. No período clássico, filósofos gregos introduziram a ideia organicista

da loucura, isto é, o organismo humano é diferente de uma máquina.

Até o começo da Idade Média os tratamentos dispensados eram de apoio

e conforto aos doentes mentais. Os ditos loucos gozavam de certo grau de

liberdade.

Na Idade Média, século XV, desenvolveu-se duas tecnologias de cuidado

com a loucura: a inquisição e o banimento na Nau dos Loucos. A primeira foi uma

forma cruel de silenciar os detentores de saberes laicos, que ameaçavam o saber

secular aprisionado pelo clero. Nesse contingente, morreram mulheres que eram

consideradas bruxas, além de anatomistas, astrólogos, cantores e poetas que

disseminavam, por meio da arte, críticas sociais, além das histéricas, devassos,

pródigos e hereges (SILVA; FONSECA, 2003).

As pessoas consideradas loucas eram colocadas na Nau dos Loucos e

vagavam pelos rios europeus, até ancorar em algum lugar que o recolhiam ou que

os remetessem novamente ao destino da sua própria sorte.

Na paisagem imaginária da Renascença, a Nau dos Loucos ocupava um

espaço fundamental. Foucault (2005) via nessa circulação dos loucos mais do que

uma simples utilidade social visando à segurança dos cidadãos e evitando que os

loucos ficassem vagando dentro da cidade. Todo esse desejo de embarcar os

loucos em um navio simbolizava uma inquietude em relação à loucura no final da

Idade Média.

15

No Renascimento o conceito de loucura se tornou ainda mais complexo.

Eram considerados cidadãos, os iguais, os ditos racionais e os normais. Aos

alienados, os desprovidos de razão, não eram reconhecidos como cidadãos e não

podiam participar das decisões sociais.

Baumgart (2006) mostra que com a retirada do doente mental da

convivência com os outros homens, ele passa a ser um “desprovido”, já que a

enfermidade mental resultaria com o decorrer do tempo num desaparecimento de

suas funções superiores. O culto à razão disseminado nesse período renascentista e

bem representado pela dúvida Cartesiana1 parece sentir-se ameaçado pela “não

razão” da loucura e, assim, ela de uma forma bem genérica passa a ser rotulada

sempre como uma não verdade.

Os loucos eram presos em casas de internação junto com mendigos,

desempregados, sifilíticos, místicos, feiticeiros, enfim a prisão era a forma

encontrada para manter a ordem. Nessa época a loucura ainda não era considerada

doença e sim abandono do caminho do bem e da razão.

Sabe-se que o século XVII criou vastas casas de internamento e, que

mais de um habitante em cada cem da cidade de Paris, viu-se fechado numa delas

por alguns meses (FOUCAULT, 2005).

Eles são mais mal tratados que os criminosos; eu os vi nus, ou vestidos de trapos, estirados no chão, defendidos da umidade do pavimento apenas por um pouco de palha. Eu os vi privados de ar para respirar, de água para matar a sede, e das coisas indispensáveis à vida. Eu os vi entregues às mãos de verdadeiros carcereiros, abandonados à vigilância brutal destes. Eu os vi em ambientes estreitos, sujos, com falta de ar, de luz, acorrentados em lugares nos quais se hesitaria até em guardar bestas ferozes, que os governos, por luxo e com grandes despesas, mantêm nas capitais (ESQUIROL, 1818 apud ROSA, 2003, p. 56).

Com essa citação, percebe-se que desde a Idade Média já existiam

mecanismos de exclusão do louco, ainda não é nesse ponto que a loucura vai ser

percebida como um fenômeno que requeira um saber específico, pois os primeiros

estabelecimentos criados para circunscrever a loucura destinavam-se simplesmente

a retirar do convívio social as pessoas que não se adaptavam a ele. Somente no

1Refere-se à filosofia de René Descartes que é caracterizada pelo racionalismo, pela consideração do problema como método para obtenção da verdade.

16

próximo período histórico é que se transformará essa relação (SILVEIRA; BRAGA,

2005).

O internamento seria assim a eliminação espontânea dos “a-sociais”. A

era clássica teria neutralizado, com segura eficácia – tanto mais segura quanto cega

– àqueles que, não sem hesitação, nem perigo, eram distribuídos entre as prisões,

casas de correção, hospitais psiquiátricos ou gabinetes de psicanalistas

(FOUCAULT, 2005).

No final da Idade Média até a Idade Moderna o tratamento antes

humanitário foi mudado para espancamentos, privação de alimentos, tortura

generalizada e indiscriminada, aprisionamento dos doentes para que estes se

livrassem dessa possessão, e o doente mental passou a ser visto como o possuído

pelo demônio.

Para Foucault (2005) houve todo um aspecto, quase pedagógico, que fez

da casa de internamento uma espécie de casa de força para a verdade: aplicou-se

uma coação moral tão rigorosa quanto necessária para que a luz se tornasse

inevitável. O autor ainda acrescenta que a loucura é o ponto mais baixo da

humanidade na qual Deus consentiu sua encarnação, querendo mostrar com isso

que nada existe de inumano no homem que não possa ser resgatado e salvo. É

essa a lição que a loucura ainda fornece o século XVII.

Com o advento da psiquiatria em fins do século XVIII, ocorre a crítica do

internamento generalizado, e institui-se o asilo como lugar de confinamento e

tratamento especializado destinado aos loucos. O alienismo, como foi denominado

essa primeira psiquiatria, consolida-se nesse espaço asilar reformado, produzindo

uma nova percepção da loucura que se torna dominante, inscrevendo-a no domínio

médico como doença e incapacidade para o trabalho, ou impossibilidade de

integração social (PASSOS; FONSECA, 2003).

A partir desse século, o “louco” inicia um longo processo de exclusão

social, visto que passou a ser privado do convívio social, pois representava uma

ameaça à paz e à ordem social, e essa situação perdurou por dois séculos

(LUCCHESE, 2005).

Historicamente, é no século XIX que a loucura recebeu seu status de

doença mental. Até esse momento, os loucos eram confundidos com outras vítimas

da segregação. Isso ocorria em hospitais gerais porque eram espaços

17

indiscriminados, voltados para o abrigo dos diversos desvalidos (SOUZA; SPADINI,

2005).

Nesse mesmo século iniciou-se o conceito da doença. Phillippe Pinel,

considerado o pai da psiquiatria, entendeu que o doente mental precisava ser

tratado como um doente que necessitava de um espaço próprio e de atendimento

médico (LOPES, 2001).

Analisa essa autora que Pinel teve o mérito em libertar os doentes

mentais das correntes. Tal procedimento possibilitou o nascimento da psiquiatria

positiva e o asilo, cujos manicômios que eram destinados somente a doentes

mentais. Desenvolveram-se com isso várias experiências e formas de tratamento

nos hospitais La Bicêtre e Salpêtrière que se difundiram da França para o resto da

Europa.

O tratamento Moral era a reeducação do alienado, implicando respeito às

normas e desencorajamento das condutas inconvenientes:

A função disciplinadora do manicômio e do médico deve ser exercida como um perfeito equilíbrio entre firmeza e gentileza. Mais ainda, a permanência demorada do médico em contato com os doentes melhora seu conhecimento sobre os sintomas e sobre a evolução da loucura (LOPES, 2001, p. 02).

Com o tempo, as ideias corretivas para o comportamento dos hábitos dos

doentes, passaram a ser recursos de imposição da ordem e da disciplina

institucional, recursos esses que visavam naquele momento ao bem da instituição.

Tudo era justificado para submeter o doente mental (LOPES, 2001).

No início do século XIX o tratamento do doente era uma releitura

distorcida do tratamento moral de Pinel e utilizava medidas físicas e higiênicas como

duchas, banhos frios, chicotadas, máquinas giratórias e sangrias. Aos poucos, o que

era considerado como uma doença moral passou também a ter uma concepção

orgânica, de acordo com o pensamento de vários discípulos de Pinel. As técnicas de

tratamento usadas pelos que defendiam as teorias organicistas eram as mesmas

empregadas pelos adeptos do tratamento moral, todas com explicações e

justificativas fisiológicas para sua utilização. A partir daí prevaleceram as teorias

organicistas da doença mental decorrentes de descobertas experimentais da

18

neurofisiologia e da anatomia patológica. Mesmo assim, entrando no século XX a

ideia de submissão do louco persistia (LOPES, 2001).

Os hospitais psiquiátricos no Brasil surgiram no final do século XIX,

profundamente influenciados pela psiquiatria francesa e pelo tratamento moral. O

primeiro foi o Asilo Pedro II, no Rio de Janeiro e o Hospício São Pedro de Porto

Alegre, hoje Hospital Psiquiátrico São Pedro (HPSP), inaugurado em 1884.

O século XX foi marcado pelo aumento do número de manicômios, maus

tratos, isolamento, abandono, péssima condição de isolamento e hospedagem. Com

isso, a internação favorecia a cronicidade da doença e visava lucros, assim a

assistência psiquiátrica alcançou níveis desproporcionais (MINAS GERAIS, 2006).

Lucchese (2005) e Resende (2000) afirmam que nessa época são

consolidadas as práticas asilares e florescem as terapias: medicamentosas,

eletroconvulsoterapia, choque insulínico, lobotomia, contenção física e estada em

solitárias.

Assim, as Santas Casas passam a incluir entre seus hóspedes, os

doentes mentais, destinando-lhes tratamento diferenciado dos demais, pois eram

trancados em porões, sem assistência médica. Aqueles que não eram atendidos

nesse local restavam-lhes as prisões, onde o doente dividia celas com criminosos,

bêbados e arruaceiros (LUCCHESE, 2005).

Nesses hospitais, o cuidado com o louco era limitado, incluindo a

alimentação e, às vezes, o vestuário. Não havia uma assistência especializada.

Ocorriam espancamentos e contenção em tronco, como forma de tratamento de

seus delírios e agitação, o doente era entregue aos guardas e carcereiros, jogados

em porões fétidos e sofriam maus tratos, resultando em alto índice de mortalidade

(GUSSI 1987; TAVARES, 1997; BARROS; ERGY, 2001 apud LUCCHESE, 2005).

Freud2 fez uma crítica ao asilo e colocou o homem no centro da atenção

psiquiátrica fazendo a história dos sintomas e do homem, o que resultou na

psicanálise. No século XX, foram significativas as contribuições trazidas pela

neuropsiquiatria (SOUZA; SPADINI, 2005).

Após a segunda guerra mundial essa forma de tratar o louco mudou,

principalmente, na Europa em decorrência da necessidade de reabilitar os egressos

de guerra para o retorno ao mercado de trabalho.

2 Sigmund Freud (1856-1939) médico neurologista judeu-austríaco criador da psicanálise.

19

A II Grande Guerra subverteu a estabilidade socioeconômica, a política

mundial, destacando-se a do Continente europeu. Esses se viram de um momento

para o outro privados de boa parte de sua mão de obra ativa que sustentava o

andamento da vida das nacionalidades lançadas às frentes de batalha, gerando

fissuras profundas nas suas estruturas econômicas que, já fragilizadas, tinham ainda

que manter uma longa guerra, representando um desgaste suplementar ao

funcionamento da economia (BIRMAN; COSTA, 1994).

Com isso houve a “escassez da mão de obra” e a necessidade da

revalorização do trabalho humano para torná-lo disponível para o processo

produtivo. Eram situações históricas de guerra em que se reforçou a solidariedade

nacional e as exigências de recuperação das pessoas, especialmente os soldados,

lesados nos conflitos bélicos.

Vasconcelos (1992) apud Rosa (2008) elenca exatamente essas

condições históricas como propiciadoras para a emergência de processos de

reforma psiquiátrica, isto é, para processos de alterações nos saberes e nas práticas

de intervenção psiquiátrica, que pretendem modificar a relação entre a sociedade e

a loucura.

Enquanto o mundo caminhava no sentido da desospitalização, no Brasil

o caminho era inverso. A história política social do Brasil é observada nos anos 50

com a crescente industrialização do país e o crescimento do complexo médico

hospitalar, no qual a assistência era prioritariamente previdenciária e os

investimentos da esfera pública se destinavam à construção de grandes hospitais

para previdenciários e de compras de serviços de hospitais privados (OGATA,

2000).

No fim dos anos 50 a situação psiquiátrica brasileira era caótica,

superlotação, maus tratos, condições de abrigos deploráveis. Ocorreu nesse período

a descoberta das drogas antipsicóticas.

Tavares (1997) apud Ferreira (2006) descreve a década de 50 do século

XX por meio de dois grandes marcos: o primeiro é o surgimento dos neurolépticos e

antipsicóticos; o segundo, a utilização da psicanálise. As drogas determinaram a

medicalização do doente e a psicanálise induziu a valorização dos aspectos

psicológicos do comportamento humano, refletindo em uma tímida relação dos

aspectos clínicos da doença com os psicólogos. Mesmo diante de tais avanços, os

20

hospitais asilares continuavam a crescerem motivados pelo poder público e a

assistência de enfermagem mantém-se controladora e disciplinadora.

Lucchese (2005) relata que a situação perdurou desde a criação do

hospício D. Pedro II, em 1841, até as últimas décadas do século XX, quando as

maiores frentes de indignação à assistência ao portador de sofrimento psíquico

(profissionais da área de saúde, familiares e doentes) vieram a público e iniciaram

um movimento para mudar a situação de maus tratos, superlotação dos hospitais

asilares e inovação dos modelos assistenciais.

Na década de 60 começaram a surgir movimentos que buscavam a

mudança do modelo assistencial psiquiátrico, no qual a psiquiatria era questionada,

sobretudo suas bases de conhecimento, surgindo a antipsiquiatria que vem

descrever a loucura como um produto da realidade social (OGATA, 2000).

Para Amarante (1995), a partir da reabertura democrática, no final da

década de 1970, começou-se um processo de denúncia da submissão dos usuários

de serviços de saúde mental, (majoritariamente mantidos em asilos psiquiátricos

com torturas, tratamentos medicamentosos em dosagem excessiva, eletrochoques e

contenção física prolongada) com o episódio conhecido como a "crise da DINSAM",

ocorrido nos quatros hospitais da Divisão Nacional de Saúde Mental do Ministério da

Saúde, no Rio de Janeiro, no primeiro trimestre de 1978. Esse um movimento que

envolveu grande número de "bolsistas", profissionais que atuavam na prestação de

assistência nas unidades (AMARANTE, 1995).

O Movimento da Reforma Psiquiátrica no Brasil tem caráter

autenticamente democrático e social, pois busca os direitos do doente como ser

humano, defendendo sua cidadania e novas formas de tratamento. Além disso, luta

por mudanças de hábitos culturais, por novas tecnologias e por uma nova ética na

assistência ao doente mental. Assim, a reforma coloca um novo olhar à psiquiatria,

ou seja, da saúde mental. Com essa nova concepção, houve a criação de novos

modelos de atendimento, como serviços básicos e comunidades terapêuticas

(SOUZA; SPADINI, 2005).

A partir da organização do Movimento de Trabalhadores em Saúde

Mental (MTSM), foram denunciadas corrupções, fraudes, negligência, ausência de

recursos e "psiquiatrização do social" no âmbito do subsetor da saúde mental

(AMARANTE, 1995).

21

Salienta Amarante (1995) que esse movimento teve tal formado com

intuito de impulsionar as discussões acerca da desinstitucionalização.

A reforma psiquiátrica no Brasil é um movimento histórico de caráter

político, social e econômico, influenciado pela ideologia de grupos dominantes. A

práxis - ação concreta - da reforma psiquiátrica faz parte do cotidiano de um bom

número de profissionais de saúde mental (GONÇALVES; SENA, 2001).

Os mesmos autores afirmam que o movimento aponta as inconveniências

do modelo que fundamentou os paradigmas da psiquiatria clássica e tornou o

hospital psiquiátrico a única alternativa de tratamento, facilitando a cronicidade e a

exclusão dos doentes mentais em todo o país.

Além desses pontos, o movimento tem como uma das vertentes principais

a desinstitucionalização com consequente desconstrução do manicômio e dos

paradigmas que o sustentam. A substituição progressiva dos manicômios por outras

práticas terapêuticas é uma exigência incontornável para a recuperação da

cidadania do doente mental, e vem sendo objeto de discussão não só entre os

profissionais de saúde, mas também em toda a sociedade (GONÇALVES; SENA,

2001).

Para Amarante (1994 p. 999), a Reforma Psiquiátrica brasileira teve

importantes desdobramentos, a partir da década de 80 do século XX, que a definem

como “o conjunto de iniciativas políticas, sociais, culturais, administrativas e jurídicas

que visam transformar a relação da sociedade para com o doente”. Assim, a reforma

psiquiátrica almejada busca transformações amplas, envolvendo o saber médico-

psiquiátrico e as relações sociais nos campos da ética, cultura e cidadania.

Na mesma década, no Congresso Nacional, o deputado Paulo Delgado

(PT/MG) faz o Projeto de Lei que propõe a regulamentação dos direitos da pessoa

com transtornos mentais e a extinção progressiva dos manicômios no país. É o

início das lutas do movimento da Reforma Psiquiátrica nos campos legislativos e

normativos (BRASIL, 2005).

Somente após 12 anos de tramitação no Congresso Nacional, a Lei n.

10.216 (ANEXO A) foi finalmente sancionada pelo Presidente da República em 6 de

abril de 2001, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de

transtornos mentais. A lei em questão proíbe, em todo o Brasil, a construção de

novos hospitais psiquiátricos e a contratação pelo serviço público de leitos e

unidades particulares para esse fim e estabelece que os tratamentos devem ser

22

realizados, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental e, como

finalidade primordial, procurar a reinserção social do doente mental em seu meio. A

internação só será indicada quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem

insuficientes.

Rotelli (2001) adverte para a distinção entre desinstitucionalização e

desospitalização. Essa última, apenas retira as pessoas de dentro dos hospitais

psiquiátricos, sem proporcionar uma rede de atenção que a substitua e sem criar

uma alteração na forma da sociedade lidar com o “problema mental“.

Com a desospitalização, surgem novos serviços, denominados de CAPS e

Hospitais-Dia. Tais serviços são caracterizados como estruturas intermediárias entre

a internação integral e a vida comunitária. Eles são impulsionados pelos projetos de

reforma psiquiátrica, que vêm sendo implementados em grande parte dos Estados

brasileiros (ANTUNES; QUEIROZ, 2007).

As modalidades de atendimento no CAPS constituem um universo de

prática, que visa dar suporte ao paciente em crise, envolvendo não só o tratamento

clínico, mas uma compreensão da situação que o circunda, com intervenções que

têm por objetivo assegurar sua reinserção no contexto social e familiar. Esse

procedimento, nos primórdios da psiquiatria, não o acompanhava, além de

permanecer totalmente alheio e sem participar ou interessar-se pelo "tratamento"

que era oferecido (AMARANTE, 1994).

O adoecer psíquico é facilmente percebido, pois em geral, os indivíduos

que adoecem apresentam comportamentos diferentes daqueles que normalmente

são aceitos pela sociedade. Assim, não sendo entendida pela comunidade como

uma doença de causa já bem conhecida, tem sua definição pela determinação

cultural e de valores, e não apenas por fatores biológicos. Existindo assim, o

paradigma da exclusão social que se resume em isolamento dos doentes que não

são aceitos dentro dos padrões habituais (LUCCHESE, 2005).

Observa-se ao longo desta retrospectiva histórica, que aquele

denominado louco passa por diversas formas inscrição social, da convivência que

era permitida tanto na Idade Média, ao enclausuramento e maus tatos que se

sustentou, até a reforma psiquiátrica que veio propor a assistência humanizada,

tratamento de portas abertas e retorno ao convívio familiar e social.

Essa situação aponta para uma nova realidade, a família que até meados

da década de 80 não tinha participação ativa e nem convivência com o portador de

23

transtorno mental, agora se vê parte ativa e fundamental para o bom andamento do

tratamento, ou seja, a loucura agora se encontra na sala de estar.

Quanto ao processo de desinstitucionalização do paciente de saúde

mental, distingui-se pelo objetivo que possui em viabilizar a saída dos pacientes dos

hospitais e seu retorno para suas casas, para junto de suas famílias.

2.2 A FAMÍLIA E O PORTADOR DE TRANSTORNO MENTAL

Com as novas mudanças ocorridas no campo da Reforma Psiquiátrica a

unidade familiar assume um importante papel no cuidado e na ressocialização

daqueles que sofrem de enfermidade mental. Portanto, é necessário conhecer o

universo familiar e como seus integrantes reagem e convivem com o sofrimento

psíquico (BORBA; SCHWARTZ; KANTORSKI, 2008).

Nesse contexto ela passa a ser incorporada no processo terapêutico,

contribuindo com reabilitação psicossocial do usuário.

Dois desafios atuais apresentam-se no campo da Saúde Mental:

compreender as famílias, considerando-se a especificidade e a diversidade dos

contextos culturais onde estão inseridas, e prestar-lhes assistência condizente com

esses contextos e sua dinâmica própria (SOUZA; SCATENA, 2009).

A família é constituída num espaço onde os indivíduos iniciam seus

processos de formação. É a base para incorporar padrões de comportamento,

valores morais, sociais, éticos e espirituais, entre tantos outros. O núcleo familiar

participa da formação da personalidade e contribui para a consolidação do caráter,

adoção de noções de ética e solidariedade (MACÊDO; MONTEIRO, 2006)

Para Kaloustian (1994) a família é o espaço indispensável para a garantia

da sobrevivência, do desenvolvimento e da proteção integral dos filhos e demais

membros, independentemente do arranjo familiar ou da forma como vem se

estruturando.

A família é o primeiro sujeito que referencia e totaliza a proteção e a

socialização dos indivíduos, independente das múltiplas formas e contornos que ela

assuma, é nela que se inicia o aprendizado dos afetos e das relações sociais

(BORBA; SCHWARTZ; KANTORSKI, 2008).

Na cultura ocidental, uma família é definida especificamente como um

grupo de pessoas do mesmo sangue, ou unidas legalmente (como no casamento e

24

na adoção). Muitos etnólogos argumentam que a noção de "sangue" como elemento

de unificação familiar deve ser entendida metaforicamente; dizem que em muitas

sociedades e culturas não ocidentais a família é definida por outros conceitos que

não "sangue" (SETTON, 2002).

O conceito de família tem se ampliado, novas relações têm se

estabelecido e segundo Setton (2002), a família vem se transformando através dos

tempos, acompanhando as mudanças religiosas, econômicas e sócio-culturais do

contexto em que se encontram inseridas. Esse é um espaço sócio-cultural que deve

ser continuamente renovado e reconstruído.

Nesse sentido é importante compreender a visão de família predominante

na sociedade, a representação social que se tem de família é aquela da classe

dominante, que estabeleceu padrões sociais de “ser família" e ficou como modelo

para toda a sociedade não levando em conta as determinações sociais e históricas

de cada indivíduo.

De acordo com Silva (2002), este modelo de família burguesa está

ultrapassado, não podemos dizer que família é a célula mater da sociedade, porque

nos últimos séculos o mundo passou por intensas transformações sociais e

marcantes mudanças culturais e valorativas.

As mudanças ocorridas na família relacionam-se com a luta pela

sobrevivência. Vivemos numa sociedade onde é preciso trabalhar muito, onde a

supervalorização do trabalho é uma exigência do mundo capitalista; o amor, o

casamento, a família, a sexualidade e o trabalho, antes vividos a partir de papéis

preestabelecidos, agora não são mais, pois muitas vezes uma só pessoa tem que

viver vários papéis ao mesmo tempo (SILVA, 2002).

Mas, mesmo apresentando conformações diferentes, a função de família

ainda se mantém a mesma, segundo Moraski e Hildebrandt (2005) a família é

entendida como um grupo capaz de interagir entre si e de compartilhar significados

de suas experiências existenciais, constituindo-se no alicerce da sociedade. Cada

família traz em si uma história de vida, de valores, de crenças, de conceitos e

culturas, perpetuados ao longo de sua trajetória social.

Percebe-se em todas as definições de família, o enfoque que se é dado é

a função de suporte e formação aos seus membros, portanto, esse núcleo é peça

importante no processo de tratamento, pois é no seio dessa família que inicia o

25

processo de adoecimento e de seu reconhecimento, resultando a busca de

tratamento.

Para Serra (1999) apud Setton (2002) a família tem como função

primordial a de proteção tendo sobretudo, potencialidades para dar apoio emocional

para a resolução de problemas e conflitos, podendo formar uma barreira defensiva

contra agressões externas. Para Fallon (1999) apud Setton (2002) reforça ainda

que, a família ajuda a manter a saúde física e mental do indivíduo, por constituir o

maior recurso natural para lidar com situações potenciadoras de stress associadas à

vida na comunidade.

Moreno (2000) elucida que a família é o receptáculo da vida e também a

célula básica da sociedade. Portanto, sofre os danos causados pela doença mental,

principalmente por esta ser uma patologia com manifestações na esfera social.

A forma como a família vai se relacionar com o processo de adoecimento,

será pautada na sua história e nas concepções socioculturais:

A família é um sistema no qual se conjugam valores, crenças, conhecimentos e práticas, formando um modelo explicativo de saúde-doença, através do qual a família desenvolve sua dinâmica de funcionamento, promovendo a saúde, prevenindo e tratando a doença de seus membros (ELSEN, 2002 apud SIMIONATO; OLIVEIRA, 2003, p. 01).

As famílias como agregações sociais, ao longo dos tempos, assumem ou

renunciam funções de proteção e socialização dos seus membros, como resposta às

necessidades da sociedade pertencente. Nessa perspectiva, as funções da família

regem-se por dois objetivos, sendo um de nível interno, como a proteção

psicossocial dos membros, e o outro de nível externo, como a acomodação a uma

cultura e sua transmissão. A família deve então, responder às mudanças externas e

internas de modo a atender às novas circunstâncias sem, no entanto, perder a

continuidade, proporcionando sempre um esquema de referência para os seus

membros (MINUCHIN, 1990 apud SETTON, 2002).

Segundo Duvall e Miller apud Setton (2002) pode-se definir como

funções familiares, as seguintes: “geradora de afeto”, entre os membros da família;

“proporcionadora de segurança e aceitação pessoal”, promovendo um

desenvolvimento pessoal natural; “proporcionadora de satisfação e sentimento de

utilidade”, através das atividades que satisfazem os membros da família;

26

“asseguradora da continuidade das relações”, proporcionando relações duradouras

entre os familiares; “proporcionadora de estabilidade e socialização”, assegurando a

continuidade da cultura da sociedade correspondente; “impositora da autoridade e

do sentimento do que é correto”, relacionado com a aprendizagem das regras,

normas, direitos e obrigações características das sociedades humanas.

Para além destas funções, Stanhope (1999) apud Setton (2002)

acrescenta ainda uma função relativa à saúde, na medida em que a família protege

a saúde dos seus membros, transmite apoio e resposta às necessidades básicas em

situações de doença.

O aparecimento da doença é algo que desestabiliza o meio famíliar e

cada família reagirá de uma forma.

O fato de uma pessoa da família apresentar um transtorno mental afeta

os familiares de diversas maneiras. Eles podem experimentar uma variedade de

emoções, como a culpa, a raiva e até mesmo a negação da doença. Não se pode

esperar que a família seja capaz de fornecer auxílio imediato e apoio ao paciente

(CABRAL; CHAVES, 2005).

De acordo com Nasi e Hildebrandt (2004), com o surgimento da doença

os familiares demonstram-se ansiosos e despreparados para tal situação, isso

porque há poucas respostas para as suas inquietações, por isso ficam nervosos,

ansiosos e com medo,

Segundo Navarini e Hirdes (2008), o diagnóstico de doença mental pode

gerar também um sentimento inexplicável, um vazio, uma baixa condição da

qualidade de vida. Além dos já citados como o medo, a tristeza, a vergonha e a

piedade.

O modo como a família interpreta a doença mental de um dos seus

membros influencia as práticas de cuidado adotadas por ela e, assim, o sucesso na

reabilitação depende das relações estabelecidas entre aquele que cuida e o que é

cuidado (TRAJANO, 2009).

Segundo Borba, Schwartz e Kantorski (2008), a convivência com o

transtorno mental implica em sobrecarga caracterizada por dificuldades como:

problemas no relacionamento com o familiar, estresse por conviverem com o humor

instável e a dependência do portador de sofrimento psíquico, bem como o medo das

recaídas e do comportamento no período das crises.

27

O adoecimento provoca diversos impactos no seio familiar, sentimentos

diversos e contraditórios, o adoecimento de seu membro reflete em toda a estrutura

familiar, portanto, essa família necessita ser acolhida e não somente

responsabilizada.

De acordo com Borba, Schwartz e Kantorski (2008), as possibilidades de

trocas afetivas que, de fato, sejam verdadeiras ficam reduzidas, impondo aos

familiares a vivência de sentimentos e emoções que são difíceis de elaborar e

entender. Isso evidencia a necessidade de intervenção que acolha o sofrimento

apresentado, considerando a subjetividade e individualidade das pessoas.

Hoje, o sistema de atenção à saúde mental, pautado em todo o processo

de reforma psiquiátrica não pode desconsiderar o contexto familiar, bem como o

social no programa de tratamento da pessoa com transtorno mental, seria uma

assistência falha ao negligenciar esses aspectos.

A ênfase do modelo atual em saúde mental é o tratamento do portador

de sofrimento psíquico no seio da família. Ela passa a ser incorporada no processo

terapêutico, contribuindo com reabilitação psicossocial do usuário. Antes, ela se

mantinha afastada, como simples observadora dos acontecimentos; hoje, o serviço

precisa estar com as portas abertas à inserção dessa família, integrando-a e

incentivando sua participação frente às atividades desenvolvidas pelo serviço, ao

mesmo tempo, dando suporte para que essa possa conjuntamente contribuir para a

manutenção da saúde do usuário do serviço (BIELEMANN et al., 2009).

A estrutura familiar adequada é importante para viabilizar uma proposta

de reinserção na sociedade. Sendo a família a matriz que sustenta seus membros,

dá-se a necessidade de valorizar o envolvimento com o portador de transtorno

mental, uma vez que, o elo afetivo é estabelecido entre as partes.

Nesse contexto, Souza e Spadini (2005) afirmam que as ações dirigidas à

família de portadores de transtorno mental devem estruturar-se de modo a favorecer

e fortalecer a relação familiar/profissional/serviço, entendendo que o familiar é

fundamental no tratamento dispensado ao doente mental.

Além disso, é necessário que os integrantes “sadios” do núcleo familiar dêem conta de todas as atividades cotidianas, inclusive aquelas atribuídas ao doente mental antes da exacerbação dos sintomas. Com isso a família vai se desgastando em conviver com a pessoa portadora de transtorno mental acarretando sobrecarga física e emocional, privando-se da sua

28

própria saúde para poder prestar assistência adequada ao doente. É o comportamento imprevisível do doente mental que debilita as expectativas sociais e origina incerteza e insegurança nos seus familiares (NASI; STUMM; HILDEBRANDT, 2004, p. 05).

Com base nessa citação, acredita-se que, qualquer tentativa de tratar o

indivíduo isoladamente de sua família é inútil para ele, pois os principais passos para

a promoção da saúde mental e seu tratamento devem ser planejados dentro do

contexto familiar. Isso porque, quando uma pessoa apresenta um problema mental,

não apenas ela sofre, mas também toda a sua família e, assim, todos precisam de

apoio e acompanhamento (SARACENO, 1996).

A família é responsável por promover o contato entre o doente e os

serviços de saúde existentes. Além disso, cabe a ela elaborar e redimensionar

valores e expectativas relacionadas ao cotidiano e ao futuro de seu familiar com

sofrimento psíquico. No entanto, existe a necessidade dos profissionais da área de

saúde mental em não se centrar apenas na pessoa doente, mas em toda a estrutura

da sociedade na qual está inserida (BIELEMANN et al., 2009).

Ao envolver a família no tratamento do portador de transtorno mental, e

ao dar suporte a essa para enfrentar as dificuldades no relacionamento com a

loucura e a sobrecarga, a carga emocional da família e do próprio usuário é

amenizada, aumentando o nível de interação e empatia entre eles (BORBA;

SCHWARTZ; KANTORSKI, 2008).

A família desenvolve estratégias e possui uma maneira peculiar de cuidar

que, às vezes, não se constitui na melhor forma, mas é a maneira como ela se

articulou para conseguir viver, uma vez que cuidar do portador de transtorno mental

não é tarefa fácil, principalmente no quadro avançado de cronificação (BORBA;

SCHWARTZ; KANTORSKI, 2008).

2.3 O CERSAM-GV E A PERMANÊNCIA DIA

Resgatando a história da saúde mental em Governador Valadares,

observa-se que até 1992, assim como no resto do país, a lógica de assistência a

saúde mental era pautada na internação. As pessoas com transtorno mental eram

29

encaminhadas para outras cidades como Barbacena e Belo Horizonte, visto que o

município de Governador Valadares não contava com hospital psiquiátrico e muito

menos com leitos em hospitais gerais para internações psiquiátricas (CAMPOS,

2002).

De acordo com Campos (2002), somente em 1992 foi inaugurado um

serviço especializado, o NIAPS (Núcleo integrado de Atenção Psicossocial) para

onde eram transferidos e cadastrados todos os pacientes da região. O NIAPS era

um dispositivo de atendimento ambulatorial em saúde mental e desde sua fundação

sofreu por excesso de demanda, por ser o único para atender Governador Valadares

e microrregião, voltado para atendimento em saúde mental de todos os tipos de

casos que eram encaminhados para essa unidade. Mesmo o município contando

com um serviço de saúde mental, havia os encaminhamentos para a internação

psiquiátrica feitas diretamente pelo hospital municipal, assistência social e em outros

municípios.

O mesmo autor enfatiza que com o avanço do processo de reforma

psiquiátrica e de expansão de novos dispositivos substitutivos de assistência à

saúde mental pelo país, o município de Governador Valadares se viu confrontada

com a necessidade de também implantar um CAPS para substituir a precária

estrutura ambulatorial, pois esse era considerado um dos principais dispositivos de

atendimento em saúde mental, segundo a lógica de uma alternativa ao hospital

psiquiátrico.

Segundo Maciel e Cunha (2008), os dispositivos substitutivos constituem

uma rede de serviços que se origina da política antimanicomial para substituir os

manicômios, lutando contra a exclusão dos portadores de sofrimento mental e contra

as más condições de atendimento a esses pacientes. O papel dos serviços

substitutivos era acabar com os manicômios num processo gradativo e dedicar

cuidados aos pacientes, com mais humanidade, tratando a saúde e cidadania como

um direito de todos os pacientes portadores de sofrimento mental.

A forma de abordagem é pautada pela busca do consentimento e da

participação do paciente e seus familiares em seu tratamento; da garantia de seu

pleno acesso aos serviços públicos; pela afirmação de seus direitos e pela sua

politização como protagonista do controle social (LOBOSQUE, 2003).

30

Somente em 2002 houve a implantação do CAPS II (CERSAM--GV), no

Município de Governador Valadares, que deste então vem tentando trabalhar de

acordo com os princípios da reforma psiquiátrica.

De acordo com a portaria Ministerial GM 336 de 02 de fevereiro de 2002,

cabe ao CAPS II a seguinte assistência aos pacientes:

a) atendimento individual (medicamentoso, psicoterápico, de orientação,

entre outros);

b) atendimento em grupos (psicoterapia, grupo operativo, atividades de

suporte social, entre outras);

c) atendimento em oficinas terapêuticas executadas por profissional de

nível superior ou nível médio;

d) visitas domiciliares;

e) atendimento à família;

f) atividades comunitárias enfocando a integração do doente mental na

comunidade e sua inserção familiar e social;

g) os pacientes assistidos em um turno (04 horas) receberão uma refeição

diária: os assistidos em dois turnos (08 horas) receberão duas

refeições diárias.

Hoje, o CERSAM-GV conta com aproximadamente 12.600 pacientes

inscritos e uma demanda sempre crescente.

O CERSAM-GV é composto por uma equipe multiprofissional formado por

Psicólogo; Assistente Social; Enfermeiro; Médico Clínico; Médico Psiquiatra;

Terapeuta Ocupacional; Profissionais de Nível Médio como atendentes, Técnicos de

Enfermagem e um Segurança.

As pessoas que chegam às unidades são atendidas por um de seus

profissionais de plantão que se torna referência do caso. Para cada paciente é

elaborado um plano de tratamento específico e as modalidades de uso da Instituição

são diversas. Em outras palavras, há pacientes inscritos na Permanência Dia, isto é,

permanecem todo o dia ou parte dele no CERSAM-GV e retornam para seus lares

no fim da tarde. A frequência dessa permanência é bastante variável. Com a

estabilização do quadro do paciente, juntamente com a manifestação de seu

interesse, deixar de frequentar cotidianamente o Serviço e, enfim, com o aval da

equipe, os pacientes em Permanência Dia passam ao regime ambulatorial. Nesse

caso, o usuário vai ao CERSAM-GV na periodicidade definida pelos profissionais de

31

sua referência, tanto para busca de medicamento, quanto para o atendimento

clínico.

O profissional que faz o primeiro atendimento, normalmente, passa a ser

o responsável pela condução do caso desse paciente.

Não somente o usuário, mas também sua família e a própria Instituição

tem esse profissional como referência em tudo o que disser respeito ao paciente,

desde a elaboração do plano de tratamento até a sua alta do serviço (PINTO, 2006).

Segundo Pinto (2006), em função da diversidade de profissionais

presentes na equipe, observa-se uma variedade de discursos, predominando o

discurso analítico, o discurso psicoterápico e o discurso médico. Com essa

diversidade de discursos possibilita práticas divergentes, como forma de viabilizar a

assistência e priorizar o atendimento aos casos graves. Para tanto, foi implantado

um protocolo de acolhimento, visando orientar a equipe.

A mesma autora afirma que no CERSAM-GV os atendimentos estão

pautados na remissão de sintomas, O que se experimenta no CERSAM-GV é muita

inquietação, tensão e discordância sobre o que fazer e como fazer. Porém, o guia é

claro, e demonstra como fazer para obter a tranquilidade e calmaria. Contudo, o

cotidiano do serviço remete a certo caos, como impossibilidades e impasses diante

das crescentes demandas do atendimento e, essas dificuldades do serviço, têm

afetado a construção clínica e implicando em diversos atravessamentos, propiciando

uma prática que foge aos princípios da reforma psiquiátrica.

O que caracteriza esse trabalho em equipe é a busca de resultados

comuns, cuja competência individual deve se conjugar em esforços para a

realização de ações de responsabilidade do conjunto de pessoas, numa relação de

interatividade, fundamental no desempenho coletivo. Nesse sentido, interatividade

diz respeito à permissividade, à participação, criatividade, complementaridade e

conduta centrada na própria responsabilidade e cooperativismo, levando a

resultados mais qualitativos (BOOG, 1994).

Entende-se que as equipes dos profissionais não são apenas como uma

forma de dividir o trabalho, em que cada um faz “a sua parte”, sem necessitar

preocupar-se com o produto total. Uma equipe de saúde deve compor-se de

profissionais de formações diferentes, assegurando assim a diversidade de suas

feições e a troca de suas experiências. Naturalmente, as especificidades das

diferentes profissões devem ser respeitadas. Contudo, o que caracteriza realmente o

32

trabalho em equipe é a capacidade de participar coletivamente da construção de um

projeto comum de trabalho, num processo de comunicação que propicie as trocas.

Assim, não se deve se limitar à aplicação de conhecimentos técnicos - que são

indispensáveis - mas aprender a atuar coletivamente, sem refugiar em interesses

corporativos ou individuais (MINAS GERAIS, 2006).

Nesse sentido, sua atuação evoluiu de uma postura de custódia, centrada

no atendimento das necessidades físicas e gerais dos pacientes, para,

progressivamente, incorporar uma abordagem psicológica e social, o que lhe

conferiu reconhecimento da equipe na abordagem ao paciente. A reorientação do

trabalho do enfermeiro vem exigindo dos profissionais uma melhor qualificação, já

que, se antes suas funções eram precisas e bem definidas, com a inserção em

novos modelos de atendimento, assumem responsabilidades inexploradas e ainda

pouco precisas (PEDUZZI,1998).

Bontempo (2004) esclarece que a Permanência Dia é um dispositivo

clínico intermediário entre a internação e o atendimento ambulatorial, e os motivos

para indicação dessa forma de tratamento podem ser: agitação psicomotora; hetero

e autoagressividade; observação para esclarecimento de diagnóstico; tentativa de

autoextermínio; ajuste de medicamento com casos até de adoecimento mental

associados ao uso abusivo de drogas e situação de risco pessoal e social.

Como dispositivo de atenção à saúde mental o Município conta com uma

rede específica dessa área composta pelo CERSAM-GV, CAPS-AD, Centro de

Convivência e o Ambulatório de Saúde Mental.

O município conta também com o apoio de equipes do Núcleo de apoio à

Saúde da Família (NASF) nos Programas de Saúde da Família - PSFs da cidade.

33

3 METODOLOGIA

De acordo com Minayo (1999) a pesquisa é entendida como uma

atividade básica da ciência na sua indagação da realidade. É a pesquisa que

alimenta a atividade de ensino e a alimenta frente à realidade do mundo.

Assim, o método utilizado foi uma pesquisa de campo transversal

exploratória com abordagem quantitativa e qualitativa descritiva associada com

pesquisa bibliográfica em relação ao tema proposto.

Para Richardson (1999, p.148) “O estudo de corte transversal, os dados

são coletados em um ponto no tempo, com base em uma amostra selecionada para

descrever uma população neste determinado momento”.

A primeira razão para se conduzir uma pesquisa quantitativa foi descobrir

quantas pessoas de uma determinada população compartilham uma característica

ou um grupo de características. Ela é especialmente projetada para gerar medidas

precisas e confiáveis que permitam uma análise estatística (INSTITUTO ETHOS DE

PESQUISA, 2008).

A pesquisa quantitativa é definida como sendo aquela que tem como

suporte, medidas e cálculos mensuráveis.

A pesquisa qualitativa trabalha com o subjetivo dos sujeitos e se preocupa

com uma realidade que não pode ser quantificada. De acordo com Siqueira (2005, p.

121) “Pode-se afirmar que não existe uma supremacia de uma abordagem sobre a

outra. Podem, até mesmo, ser usadas simultaneamente, consideradas como

complementares, permitindo um estudo mais eficiente do fenômeno estudado”.

Na abordagem qualitativa, o pesquisador procura aprofundar-se na

compreensão dos fenômenos que estuda – ações dos indivíduos, grupos ou

organizações em seu ambiente e contexto social – interpretando-os segundo a

perspectiva dos participantes da situação enfocada, sem se preocupar com

representatividade numérica, generalizações estatísticas e relações lineares de

causa e efeito. Assim sendo, a interpretação, a consideração do pesquisador como

principal instrumento de investigação e a necessidade do pesquisador é estar em

contato direto e prolongado com o campo, para captar os significados dos

comportamentos observados, revelando-se como características da pesquisa

34

qualitativa (ALVES, 1991; GOLDENBERG, 1999; NEVES, 1996; PATTON, 2002

apud FERREIRA, 2006).

Os métodos qualitativos trazem contribuição ao trabalho de pesquisa, pois

apresentam uma mistura de procedimentos de cunho racional e intuitivo capazes de

contribuir para a melhor compreensão dos fenômenos. Segundo Aaker (2001) a

pesquisa qualitativa combinada ao método de pesquisa quantitativa pode ter

bastante utilidade para o estudo de determinados assuntos. E para melhor entender

o fenômeno abordado nesta pesquisa, será utilizada uma abordagem quantitativa

associada com abordagem qualitativa.

Richardson (1999) esclarece que o estudo exploratório é indicado quando

se tem uma ideia sobre o tema, mas que se busca mais informação sobre

determinado problema para melhor conhecer o fenômeno.

Segundo Costa (2001, p. 62) “a pesquisa descritiva é a mais tradicional

das pesquisas, ela descreve a característica de uma determinada população ou de

um determinado fenômeno”.

Campo é o lugar material onde acontecem os fatos fenômenos e processos, e a pesquisa de campo é aquela que recolhe os dados in natura como percebidos pelo observador. Os dados que captam no campo são sempre matéria prima para um raciocínio e conclusões a respeito dos fatos fenômenos e processos (COSTA, 2001, p. 62).

O campo de pesquisa foi a Permanência Dia do CERSAM - Centro de

Referência em Saúde Mental de Governador Valadares, tendo como objeto de

pesquisa, familiares de usuário atendidos na Permanência Dia deste centro.

O universo entrevistado foram os familiares dos usuários inscritos na

Permanência Dia do CERSAM-GV no mês de maio de 2009, totalizando 09

entrevistados. Dessa forma, foi entrevistado somente 01(um) familiar do paciente em

Permanência Dia, que é o membro da família responsável pelo acompanhamento do

tratamento feito nesse centro.

O familiar foi convidado a participar da pesquisa no CERSAM-GV durante

o processo de levar ou buscar o usuário para o tratamento na unidade.

A participação na pesquisa foi voluntária com consentimento livre e

esclarecido, com aprovação do Comitê de Ética. As coletas de dados foram

realizadas pelos acadêmicos do 8º período de Enfermagem da UNIVALE, em salas

35

apropriadas, garantindo privacidade dos entrevistados, através da aplicação de

questionário semi-estruturado (ANEXO A) aos familiares dos usuários da

Permanência Dia do CERSAM de Governador Valadares,

Esta pesquisa foi realizada por amostra probabilística aleatória simples e

finita. Para Lakatos (2007, p. 44) “A escolha de um indivíduo, entre uma população,

é ao acaso, e quando cada membro da população tem a mesma probabilidade de

ser escolhido”. Por amostra finita a autora esclarece que ocorre quando o universo é

menor que 100.000 participantes.

Critério para inclusão na pesquisa:

a) ser familiar de pacientes inscritos no CERSAM-GV e em permanência-

dia, entendendo como Permanência Dia o atendimento intensivo

destinado aos pacientes que, em função de seu quadro clínico atual,

necessitem de acompanhamento diário;

b) ser familiar que está acompanhando o tratamento em permanência-

dia;

c) ser familiar que aceite participar da pesquisa;

d) ser familiar maior de 18 anos.

O critério para exclusão:

a) não serão incluídos na pesquisa usuários que não têm família;

b) não aceitar participar da pesquisa;

c) ser familiar menor de 18 anos.

Ressalta-se ainda que, ao método utilizado na pesquisa, foram inseridos

relatos dos familiares transcritos integralmente - com todas as marcas da oralidade -

para consolidar e exemplificar as análises dos dados colhidos.

36

4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E ANÁLISE

Muitos familiares se veem desassistidos e sem ter o que fazer se recusam

a levar o paciente para casa. É importante ressaltar que quando uma família se

recusa em levar seu doente para casa é porque ela já foi abandonada pelo Estado,

pela falta de programas assistenciais que lhes garantam seus direitos (SILVA, 2002).

Esse louco por não ter na maioria dos casos uma família em condições de

dar-lhe cuidados e mantê-los em casa vai para as ruas e vive sua loucura nesses

espaços (FOUCAULT, 2005).

Com a criação dos serviços substitutivos, o dispositivo residencial

terapêutico se apresenta um instrumento de grande potencial, destinado a cuidar

dos portadores de transtornos mentais que não possuam suporte social e laços

familiares, com vistas a viabilizar sua inserção social (CADERNOS IPUB, 2006).

Assim, com a relevância desses dados teóricos, durante o processo de

pesquisa, pôde-se constatar que 25% do total de usuários em Permanência Dia não

tiveram seus familiares entrevistados por não ter um familiar envolvido no

tratamento, conforme dados no gráfico 1 a seguir.

Gráfico 1 – Total de pacientes inscritos em Permanência Dia no CERSAM-GV – Maio/2009

Fonte: Pesquisa realizada no CERSAM de Governador Valadares – Maio/2009

75%

25%

Tem acompanhante Não tem acompanhante

37

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

60 dias 7 dias 330 dias 90 dias 30 dias 2 dias 4 dias

de

entr

evis

tad

os

Gráfico 2 – Tempo de Permanência Dia no CERSAM de Governador Valadares – Maio/2009

Fonte: Pesquisa realizada no CERSAM de Governador Valadares – Maio/2009

O gráfico 2 aponta que a média do paciente em Permanência Dia é

variável, e de acordo com dados coletados no CERSAM-GV, esse tempo está

relacionado a critérios clínicos e sofre influência de fatores familiares e sociais.

Ao se estabelecer o projeto terapêutico do paciente de CAPS deve-se

definir a forma e a frequência do paciente no serviço.

Essas definições, considerando a gravidade do quadro e a intensidade

dos cuidados necessários, são feitas por meio de um acordo entre o técnico de

referência, o paciente e a família, variando ao longo do tratamento, conforme a

evolução do caso. Os critérios não podem ser burocratizados, dependendo

unicamente das condições clínicas de cada paciente (MINAS GERAIS, 2006).

Há alguns pacientes que não melhoram, ou melhoram muito lentamente

com recaídas muito próximas, de forma tal que acabam por tornar-se frequentadores

habituais do serviço, por ser essa a solução clinica mais adequada e, muitas vezes,

por um longo período de tempo (LOBOSQUE, 2003).

Após a estabilização do paciente, a continuidade do tratamento pode ser

em domicílio. Salienta Brasil (2005) que a distribuição da medicação dos pacientes

em atenção intensiva ou semi-intensiva poderá ser diária, semanal ou mensal, de

acordo com a capacidade da família em oferecer suporte adequado na

administração dos medicamentos aos pacientes.

38

11%

34%

11%

22%

22%2 meses

13 anos

8 anos

3 anos

não soube informar

Gráfico 3 – Tempo de tratamento no CERSAM de Governador Valadares – Maio/2009

Fonte: Pesquisa realizada no CERSAM de Governador Valadares – Maio/2009

Pôde-se detectar no gráfico 3 que os pacientes se encontram inscritos no

CERSAM-GV por longo período e, o tempo de inscrição no centro, não representa o

tempo de Permanência Dia.

Observou-se que 67% dos pacientes estão inscritos há mais de 3 anos na

unidade. Isso representa a peculiaridade da doença mental, em que na sua maioria

se trata de doenças crônicas passíveis de estabilização, mas que se tornam agudas

em determinados momentos.

O tempo de tratamento no CERSAM-GV varia muito, alguns pacientes

permanecem em tratamento desde o início do serviço em Governador Valadares,

outros iniciaram o tratamento em outros locais e são devolvidos ao CERSAM-GV.

Porém, a doença mental é considerada crônica e, por sua vez, o CERSAM-GV será

sempre sua referência.

De acordo com Castro e Piccinini, 2002, apud Ferreira (2006), a doença

crônica tem recebido cada vez mais atenção por parte dos profissionais de saúde e

das instituições dedicadas tanto ao tratamento quanto a pesquisa.

Nesse sentido, tem-se desenvolvido novas formas de se relacionar e

cuidar das pessoas portadoras de doenças crônicas, utilizando-se novas maneiras

de abordar o paciente e a família, priorizando a manutenção, mantendo o paciente o

mais possível em sua casa com os familiares, além de uma organização de equipes

que desenvolvam visitas domiciliares permanentes (SANTOS; SEBASTIANI, 1998).

39

É sabido que existem falhas na continuidade do tratamento para os

portadores de transtorno mental que afetam negativamente os resultados obtidos.

Alguns estudos apontam a dificuldade em manter o tratamento quando os pacientes

saem dos serviços de referência e são encaminhados para centros de saúde

(OLIVEIRA; CAIAFFA; CHERCHIGLIA 2008).

Solicitação Médica

Epilepsia

crise

Esquizofrenia

Gráfico 4 – Motivos que levaram a família encaminhar seu familiar ao CERSAM-GV – Maio/2009

Fonte: Pesquisa realizada no CERSAM de Governador Valadares – Maio/2009

A maioria dos pacientes está em Permanência Dia por estar em crise e

apenas 33% estão por outros motivos. Abaixo, duas transcrições de relatos feitos

por familiares para corroborar os dados do gráfico 4:

“Ela é uma fraca, não aguenta nada, qualquer coisinha ela entra em crise

(M.A.S)”; “Aos dezoito anos ela arrancou a roupa, brincos, cordões, pulseiras, jogou

tudo pro alto e saiu correndo nua pela rua. Depois disso nunca mais foi a mesma (O.

P.L.)”.

Esse dado pode ser confirmado por Maciel e Cunha (2008) que afirma

que o CERSAM tem como proposta o atendimento de urgências psíquicas, bem

como o acompanhamento de pacientes de saúde mental em crise, ou seja,

psicóticos e neuróticos graves, egressos ou não do sistema hospitalar tradicional.

De acordo com Pinto (2006), como todo serviço de saúde mental, o

CERSAM segue as orientações da Portaria GM n. 336, de 19 de fevereiro de 2002,

e do manual do Ministério da Saúde que determinam que as pessoas atendidas nos

11% 11% 11%

67%

40

CAPS são aquelas que apresentam um intenso sofrimento psíquico que as

impossibilitam de viver e realizar seus projetos de vida. São, preferencialmente,

pessoas com transtornos mentais severos e/ou persistentes, ou seja, pessoas com

graves comprometimentos psíquicos, incluindo os transtornos relacionados às

substâncias psicoativas (álcool e outras drogas) e também crianças e adolescentes

com transtornos mentais.

Há também pacientes muito graves que não se encontram em crise:

psicóticos por vezes “estáveis”, porém vivendo em situação de isolamento e apatia;

outros que vivem conflitos constantes com suas famílias; outros, ainda, que tiveram

sua integridade psíquica profundamente prejudicada por um longo tempo de

sofrimento mental e/ou por uma história de cronificação institucional. ((MINAS

GERAIS, 2006).)

67%

33%

Sim

Não

Gráfico 5 – Compreensão dos familiares sobre o que é CERSAM de Governador Valadares –

Maio/2009 Fonte: Pesquisa realizada no CERSAM de Governador Valadares – Maio/2009

Um dado importante é que 67% dos usuários não souberam responder o

que é CERSAM-GV e qual sua finalidade em relação a 33% que afirmam saber de

dados apresentados no gráfico 5.

Esse dado pôde apontar para uma não inclusão desses familiares

pesquisados no processo de tratamento de seu familiar.

Rosa (2008) esclarece que a família, sobretudo na fase inicial do

transtorno mental, tem um papel fundamental na construção de uma nova trajetória

41

para seu ente enfermo, mas seus recursos emocionais, temporais e econômicos e

seus saberes têm que ser bem direcionados, cabendo nesse ponto uma contribuição

importante dos trabalhadores e dos serviços psiquiátricos. Portanto, cabe ao serviço

de saúde orientar a família, explicar o que se faz nesse setor.

Há uma tendência predominante em abordar a família como informante

da enfermidade, da trajetória do portador de transtorno mental e como visita. Mas

essa realidade não é mais possível nos serviços de saúde mental, esses devem

modernizar e impelida a incluir a família em seus projetos terapêuticos (ROSA,

2008).

56%

44%Sim

Não

Gráfico 6 – Conhecimento dos familiares sobre o tratamento oferecido ao paciente assistido –

Maio/2009 Fonte: Pesquisa realizada no CERSAM de Governador Valadares – Maio/2009

De acordo com os dados coletados e apresentados no gráfico 6, 44% dos

familiares entrevistados afirmam não saber qual tratamento é oferecido ao seu

familiar. De acordo com Benoit (1998), a respeito do que ocorre na família, a equipe

pouco sabe das coisas, ou melhor, recebe informações contraditórias e paradoxais.

E 56% relatam conhecer o tratamento, porém afirmam que o tratamento

está centrado na consulta médica e medicação, isso demonstra ainda a prevalência

do modelo médico.

Para Nasi, Stumm e Hildebrandt (2004) a família enfrenta situações de

dificuldades por não apresentar um conhecimento suficiente sobre a doença

42

vivenciada pelo seu familiar. Com isso, essa geralmente não compreende a

sintomatologia e a evolução do quadro clínico da patologia.

Gráfico 7 – Crença na existência de outra forma de tratamento – Maio/2009

Fonte: Pesquisa realizada no CERSAM de Governador Valadares – Maio/2009

Observou-se no gráfico 7, 67% acreditam que exista outra forma de

tratamento e 33% acreditam que não. Um relato que simboliza um desabafo de um

familiar diante a essa questão: “A única coisa que eu queria é ver meu filho

estabilizado (E. C. F.)”.

Segundo Rosa (2008, p. 247), a leitura lesional da doença busca, em

geral, uma causa orgânica para explicar o transtorno mental, até como forma de

aplacar o sentimento de culpa. Há uma intensa demanda por exame de

eletroencefalograma, sobretudo nas primeiras crises e nas primeiras internações

psiquiátricas. “As pessoas quando vêm fazer eletro querem que dê problema...

querem que dê positivo”. Querem ver objetivada a doença. A família transfere,

assim, toda sua esperança de cura para esfera organizacional, sobretudo para

intervenção médica.

67%

33%

SimNão

43

33%

67%

Sim Não

Gráfico 8 – Suporte psicológico oferecido aos familiares pelo CERSAM-GV – Maio/2009 Fonte: Pesquisa realizada no CERSAM de Governador Valadares – Maio/2009

De acordo com dados apresentados no gráfico 8 a maioria, 67%, dos

entrevistados afirma não receber nenhum tipo de apoio por parte do serviço, 33,3%

relatam ter apenas conversas com os psicólogos. Porém, essas conversas referem-

se aos pacientes, e não especificamente a ele, o cuidador: “Teve um dia que eu

fiquei tão estressada que fiquei oito dias sem ver cama. Tive que trancar ela num

quartinho, mas ela quebrava tudo (M.S.S.)”.

De acordo com os dados analisados percebeu-se uma contradição com a

proposta do serviço que precisa estar com as portas abertas à inserção dessa

família, integrando-a e incentivando-a na participação frente às atividades

desenvolvidas, ao mesmo tempo, dando suporte para que essa possa

conjuntamente contribuir para a manutenção da saúde do usuário do serviço

(BIELEMANN et al., 2009).

O sistema de atendimento que propõe a permanência do doente no

interior da família requer a necessidade de rever a relação entre o serviço, o

paciente e o núcleo da família. Esse triângulo pede transformações e envolvimento

dos seus integrantes (GALLIO, 1982).

Atualmente, entende-se a importância da participação da família no

tratamento, em cooperação com a equipe de saúde para recuperação do paciente.

Assim, um dos componentes principais para recuperação da pessoa que

se trata em um serviço de saúde mental é a ativa inserção da sua família no

desenvolvimento de estratégias que visem à reabilitação psicossocial.

44

Sim

Não

0

1

2

3

4

5

6

de

entr

evis

tad

os

Gráfico 9 – Benefícios recebidos pela família por órgãos públicos para auxiliar o familiar – Maio/2009

Fonte: Pesquisa realizada no CERSAM de Governador Valadares – Maio/2009

Dos entrevistados, 33% afirmam receber aposentadoria do familiar e 67%

não possuem nenhum benefício de órgãos públicos: “Gostaria que o INSS voltasse a

dar o auxilio doença dela porque a minha pensão não ta dando (M.S.S.)”.

A importância do apoio social é relativa, pois depende qual é o órgão que

oferece e quais são as necessidades de quem recebe. Os familiares tendem a

perceber o apoio social recebido como insuficiente. De qualquer forma, esse apoio

recebido pelas famílias, que têm um de seus membros doentes, tende a ser menor

do que o apoio social às famílias onde isso não ocorre (CASTRO; PICCININI, 2002,

apud FERREIRA, 2006).

Rosa (2008) afirma que a dificuldade financeira da família em arcar com

despesa diária dos portadores de transtorno mental é um entrave para o usufruto do

serviço de hospital-dia. Isso dificulta a assiduidade do paciente no serviço.

A família precisa ser vista não apenas como um recurso de um “lugar”

como outro qualquer. Evidentemente, é um espaço de afeto e relações

personalizadas significativas, mas nem sempre é vivenciada como um afeto positivo

tanto pelo portador de transtorno mental como pela própria família. O cuidado da

família não envolve somente amor, mas sim condições materiais concretas para o

paciente (SILVA, 2002).

33% 67%

45

Sim

Não

Gráfico 10 – Conhecimento da família sobre o profissional de referência do familiar – Maio/2009

Fonte: Pesquisa realizada no CERSAM de Governador Valadares – Maio/2009

O gráfico 10 aponta que dentro da população entrevistada, 78%

conhecem e sabem o nome do profissional que acompanha seu familiar no serviço,

e 22% afirmam não saber quem é o profissional de referência.

Esse dado demonstrou que a família consegue reconhecer o profissional

que é a referência de seu familiar. O paciente é atendido por um profissional de nível

superior: psicólogo, psiquiatra, assistente social, terapeuta ocupacional etc – um

desses é o técnico de referência do paciente. É da alçada do técnico de referência

estabelecer e sustentar o vínculo com o paciente, traçar as linhas de seu projeto

terapêutico individual, definir com ele a frequência dos atendimentos e do

comparecimento ao serviço. Além disso, fazer os contatos com a família e com

outras pessoas do seu espaço social, sempre quando necessário (MINAS GERAIS,

2006).

Segundo Lobosque (2003) é preciso que o sujeito saiba sempre como

encontrar seu terapeuta – quem ele é, quando virá, quem responderá pessoalmente

por ele durante sua ausência.

22%

78%

46

56%

44% Sim

Não

Gráfico 11 – Satisfação acerca da assistência prestada no CERSAM de Governador Valadares –

Maio/2009 Fonte: Pesquisa realizada no CERSAM de Governador Valadares – Maio/2009

Nos dados analisados e apresentados no gráfico 11, observou-se que

56% veem resultados no tratamento e relatam que é satisfatório. 44% acreditam que

não é o melhor tratamento e que há muito a melhorar: “Uma coisa que pode ser

resolvida num minuto aqui toma o dia todo (E.C.F)”; “Deveria ter um lugar para o

passar a noite para pacientes que não tem onde ficar (A.V.L)”.

O gráfico apresenta uma incoerência ao analisar o resultado, visto que se

a família não tem a interação direta com o serviço, conforme demonstrado no gráfico

8, não deveria dizer que é satisfatório.

Segundo Rosa (2008), a família utiliza vias indiretas para resolver falhas

que detecta na assistência prestada, como a reclamação. Mas, é uma reclamação

de cunho leve, pois há o medo de não contar com o recurso ou de entrar em

confronto com a instituição.

47

33%

56%

11%

Sim

Não

Não soube responder

Gráfico 12 – Percepção da família em relação tratamento ao familiar atendido em outra unid.de saúde

– Maio/2009 Fonte: Pesquisa realizada no CERSAM de Governador Valadares – Maio/2009

Dos familiares entrevistados 56% não percebem um tratamento

diferenciado do seu familiar em outros serviços, 33% acreditam que tem certo

preconceito (ou presença do medo) e 11% não souberam responder.

Os próprios trabalhadores da unidade básica – os dos Programas de

Saúde da Família ao lado dos da Saúde Mental – podem desenvolver certas

iniciativas: eventos culturais, atividades esportivas ou de lazer, festas, encontros,

mostrando a esses usuários que se pode estar próximos a eles de uma ou outra

maneira, sem atrelar somente à presença de consultas ou remédios (MINAS

GERAIS, 2006).

Baseado nos princípios e diretrizes do SUS, o acesso deve ser igualitário

às ações e serviços de promoção, proteção e recuperação da saúde, o que implica a

ausência de discriminação ou privilégios de qualquer natureza, fazendo com que o

acesso ao serviço seja função exclusiva da necessidade do paciente. (fonte)

48

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

Mãe mãe/pai Irmã Prima Conhecida

de

entr

evis

tad

os

Gráfico 13 – Tipo do responsável e/ou cuidador do portador de transtorno mental – Maio/2009

Fonte: Pesquisa realizada no CERSAM de Governador Valadares – Maio/2009

Observou-se que a mulher é a principal cuidadora do doente mental, 33%

é cuidado pela mãe, 22% pela mãe/pai, 22% irmã, 11% pela prima e 11% por

conhecida. Alguns relatos de familiares esboçam esse quadro assinalado:

Ela tem um filho de 1 ano e 8 meses eu que sô vó, mãe, pai, sou sozinha pra cuidar de todo mundo, ninguém me ajuda. Essa boba ainda é apaixonada com o pai, mas ele num ta nem ai pra ela, nunca quis saber deles (M.A.S); É só eu e ela, ela me agride muito minha cabeça é toda dolorida de tanto ela arrancar meus cabelos (M.S.S.); Ele fala que vai me matar e matar o pai dele, eles falam que as pessoas esquizofrênicas matam o que ele mais ama, mas eu não tenho medo (E.C.F); Ela me Judêia demais só você vendo (choro) (M.S.S.).

Os dados encontrados na pesquisa confirmam os dados fornecidos por

Rosa (2008) que elucida que a mãe figura como principal cuidadora, na sua

ausência ou impossibilidade, a filha/irmã que, frequentemente, a mais velha assume

o lugar da mãe. O que se pode interpretar dessas informações é que o cuidado é

majoritariamente um encargo da família de origem e é um trabalho feminino.

49

Gráfico 14 – Conhecimento da família sobre a Reforma Psiquiátrica e Desospitalização – Maio/2009 Fonte: Pesquisa realizada no CERSAM de Governador Valadares – Maio/2009

Esse dado é muito significativo, pois 100% dos familiares entrevistados

afirmaram não saber responder o que é Reforma Psiquiátrica e Desospitalização.

Sua primeira crise foi aos 18 anos, internamos ele em vários hospitais, Barbacena, Galba Veloso, mas era muito judiado. Eu chegava lá pra visita ele tava amarrado, com a boca seca pedino água, todo sujo e cagado. (C.M. S.S.) Eu já falei com ela, se continuar assim vô interna ela de novo (M.S.S.).

Isso demonstra que este grupo entrevistado não tem conhecimento sobre

a proposta de tratamento de seu familiar ou a base política que sustenta uma clínica.

Bezerra (2007) aponta alguns desafios no campo da reforma psiquiátrica

e um desses desafios é fazer da loucura e do sofrimento psíquico uma questão que

ultrapasse as fronteiras do discurso técnico, e do saber psiquiátrico em especial.

Deve-se insistir na dimensão existencial e humana que facilmente se esconde por

trás dos jargões e protocolos médico-psicológicos, trazendo para o debate público

do tema atores de diversos segmentos sociais.

Outro ponto a se destacar é que várias mudanças ocorreram ao longo do

processo da reforma psiquiátrica e trouxeram melhores condições de tratamento e

reabilitação para os portadores de sofrimento mental. Entretanto, fizeram surgir

também novas implicações para a relação família/portador de transtorno mental,

com consequente intensificação das exigências de comprometimento da família para

os pacientes. Diversos autores concordam que a reforma psiquiátrica tem sido

tratada apenas como desospitalização, sem as condições necessárias para viabilizar

100%

Não

50

uma proposta de ressocialização e reabilitação, e sem o devido conhecimento das

reais necessidades e condições da família (GONÇALVES; SENA, 2001; OLIVEIRA;

ALESSI, 2005; PONTES; FRAGA, 1997; SADIGURSKY; TAVARES, 1997, apud

FERREIRA, 2006).

51

5 CONCLUSÃO

De acordo com teóricos pesquisados, a loucura é uma patologia que

existe sem se saber ao certo seu início na humanidade, e a forma de tratamento

sofreram diversas mudanças ao longo da história. Até o final da década de 80 os

“ditos loucos” eram excluídos da sociedade, atualmente toda política de assistência

a pessoa com transtorno mental aponta para a necessidade de reinserção da

dessas pessoas na família e comunidade, isto é um processo imprescindível para a

efetivação do tratamento e isto é a base da reforma psiquiátrica.

Após as mudanças na forma de assistência ocorridas com a Reforma

Psiquiátrica, houve grande evolução no campo da saúde mental, trazendo desafios

de ressocialização do portador de transtorno mental, através de sua reinserção na

família e na sociedade, porém essas mudanças ainda enfrentam dificuldades para a

sua efetivação e como um dos desafios pode-se citar a aceitação dessas pessoas.

A aceitação do portador de sofrimento mental deve iniciar dentro do seio

familiar, pois se a própria família o discrimina torna-se mais difícil a aceitação da

comunidade no qual está inserido. Com a pesquisa, certificou-se que é muito

importante o envolvimento da família com o serviço no sentido de ser bem informada

sobre a doença e do tratamento oferecido ao seu familiar, para haver o suporte

necessário e imprescindível nesse processo de reintegração social e promoção ao

bem-estar físico e psicológico do paciente.

Outro desafio é o desconhecimento que a população tem com relação ao

que vem a ser a reforma psiquiátrica e seus princípios. Esse dado pode ser

comprovado pelas entrevistas, já que 100% dos familiares demonstraram total

desconhecimento sobre o assunto.

Com a realização desse estudo observou-se que a interação entre a

população pesquisada e o serviço se encontra precária, uma vez que grande parte

dos familiares não conhecem as propostas de assistência prestada ao seu familiar, o

que pode ser confirmada no gráfico 5, cujo percentual de 67% não conhecem as

propostas de assistência prestada pelo CERSAM-GV. A pesquisa aponta que

mesmo com o relato do desconhecimento do que vem a ser o CERSAM e sua

proposta de trabalho, 67% das pessoas entrevistadas afirmaram ter buscado esse

serviço diante da crise psiquiátrica do seu familiar.

52

Outro dado que vem apontar uma incoerência é que 78% dos

entrevistados sabem dizer qual o profissional de referência do usuário, mas os

resultados encontrados apontam para a dificuldade de interação entre o serviço de

saúde mental e a família. Percebe-se que eles sabem qual é a população que deve

ser atendida no CERSAM, quais os profissionais de referência, porém 44% dos

entrevistados não sabem qual é o tratamento oferecido no CERSAM, e dos 56% que

sabem qual tratamento é oferecido, apontam para a consulta médica e medicação

como alternativa para essa patologia.

Observa-se que para que ocorra essa ressocialização não basta apenas

devolvê-los às suas famílias, ou estabilizar o quadro psiquiátrico é preciso trabalhar

essas famílias para que elas sejam preparadas para assumir papel de geradora de

afeto, segurança e proporcionadora de estabilidade e socialização. Não só o usuário

necessita de apoio, mas o serviço precisa garantir recursos e condições para que as

famílias tornem efetivo o processo de tratamento e reabilitação psicossocial.

È importante destacar que a família é a principal cuidadora da pessoa com

transtorno mental, tendo a mulher a maior implicação neste cuidado, na pesquisa

33% dos usuários são cuidados pela mãe, 22% pela mãe/pai, 22% irmã, 11% pela

prima sendo 11% por pessoa conhecida, isto vem reforçar a necessidade do serviço

em estar próximo destas famílias, pois é no núcleo familiar que o cenário onde a

vida do usuário vai se construir.

É preciso que o serviço amplie as propostas de intervenção familiar,

buscando formas alternativas, seja lidando com as reações emocionais ou da forma

de organização da família, objetivando assim diminuir conflitos, auxiliando nos

momentos de crise, melhorando a relação paciente/família/sociedade.

Espera-se que a superação das dificuldades impulsione um progressivo

movimento de transformação das práticas dos profissionais da saúde para que se

aliem à família, que cuida da pessoa com transtorno mental, ajudando-a no cuidado

de si e do usuário.

Portanto, toda a equipe que atua na saúde mental inclusive a

enfermagem, tem papel importante no acompanhamento dos familiares da pessoa

com transtorno mental devendo identificar os problemas existentes, acolher as

diversas demandas, apoiar, trabalhar em conjunto na busca das soluções para os

problemas encontrados e estimular o relacionamento familiar em prol de um

tratamento efetivo pautado nos princípios da reforma psiquiátrica.

53

E, ainda, faz-se necessário a reciclagem dos profissionais que atuam

nessa área, para assim ampliar seus conhecimentos e utilizarem meios efetivos para

compreenderem esse processo, beneficiando usuários e familiares.

Reportando-se aos autores pesquisados, conclui-se que há uma

conformidade teórica em afirmar a necessidade da família na formação de seus

membros e como parte fundamental no processo de tratamento. Nesse contexto

pode-se afirmar a necessidade de articulação do serviço de saúde mental

(CERSAM-GV) e a família, para efetivação de um tratamento adequado para se

alcançar o objetivo maior da reforma psiquiátrica, que é não apenas tratar

tecnicamente de maneira adequada, mas, sobretudo, construir um espaço social

onde a loucura encontre algum cabimento.

Acredita-se, enfim, que o desafio está lançado, pois é preciso que os

profissionais tenham perfil, coragem, competência, audácia e ciência. Nesse

sentindo espera-se que o espírito de transformação e união contribua para a

reconstrução da parceria e da responsabilidade entre família/serviço.

54

REFERÊNCIAS AAKER, D. A., KUMAR, V. e DAY, G. S. Pesquisa de Marketing. São Paulo: Editora Atlas, 2001. AMARANTE, P. Loucos pela vida: a trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil. 20. ed. Rio de Janeiro: SDE/ENSP, 1995. AMARANTE, Paulo Duarte de Carvalho. Psiquiatria social e reforma psiquiátrica. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 1994. ANTUNES, Sônia Marina Martins de Oliveira; QUEIROZ, Marcos de Souza. A configuração da reforma psiquiátrica em contexto local no Brasil: uma análise qualitativa. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.23, n.1, Jan. 2007. BAUMGART, Amália. Lecciones Introductoriais de Psicopatologia. 2. ed. Buenos Aires: Eudeba, 2006. BENOIT, Jean-Claude. Pacientes, Famílias e Terapeutas em Busca de um Sistema Institucional em Psiquiátrica. São Paulo: PSY ll, 1998. BEZERRA JR. Benilton. Desafios da Reforma Psiquiátrica no Brasil. Rev. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 2007. BIELEMANN,Valquíria de Lourdes Machado; et al. A inserção da família nos centros de atenção psicossocial sob a ótica de seus atores sociais. Texto contexto – enferm, Florianópolis, v.18, n.1, jan./mar. 2009. BIRMAN, J; COSTA, J. F. Organizações de instituições para uma psiquiatria comunitária. In P. Amarante. Psiquiatria social e reforma psiquiátrica. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1994. p. 41-72. BONTEMPO, Valéria Lima. DOS CUIDADOS INTENSIVOS À DIREÇÃO DE TRABALHO NO UM A UM. 2004. Revista Clinicaps. Disponível em: <http://pepsic.bvs-psi.org.br/Permanência Diaf/clinic/v1n3/v1n3a06> Acesso em: 03 de abr. de 2009. BOOG, GG. (Org.). Manual de treinamento e desenvolvimento. 2. ed. São Paulo: Makron Books, 1994.

55

BORBA, Letícia de Oliveira; SCHWARTZ, Eda; KANTORSKI, Luciane Prado. A sobrecarga da família que convive com a realidade do transtorno mental. Acta paul enferm, São Paulo, v.2.1, n. 4, 2008. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. DAPE. Coordenação Geral de Saúde Mental. Reforma psiquiátrica e política de saúde mental no Brasil. Documento apresentado à Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental: 15 anos depois de Caracas. Brasília: OPAS, 2005. CABRAL, Rita Regina Fabri; CHAVES, Ana Cristina. Conhecimento sobre a doença e expectativas do tratamento em familiares de pacientes no primeiro episódio psicótico: um estudo transversal. Rev. Psiquiátrica, Porto Alegre, v. 27, n.1, jan./abr. 2005. CAD. Saúde Pública. A configuração da reforma psiquiátrica em contexto local no Brasil: uma análise qualitativa. Rio de Janeiro, jan, 2007. CADERNOS IPUB, 22. Desinstitucionalização. A experiência dos Serviços Residenciais Terapêuticos. Rio de Janeiro: UFRJ/IPUB, 2006. CAMPOS, R. História da Política em Saúde Mental no Município de Governador Valadares. Monografia (Especialização em Saúde Mental). Belo Horizonte: FUNED/ESP-MG, 2002. COSTA, J. F. Ordem Médica e norma familiar. Rio de Janeiro: Graal, 2001. FERREIRA, Priscila Pereira. Dificuldades Enfrentados por Familiares de Pacientes Psiquiátricos em Tratamento Ambulatorial. 2006. Monografia apresentada ao curso de Psicologia da UNIVALE, Governador Valadares, 2006. FOUCAULT, Michael. História da Loucura na Idade Clássica. 6. ed. São Paulo: Perspectiva, 2005. GALLIO, G; CONSTANTINO, M. Tosquelles a Escola da Liberdade. Saúde Loucura. São Paulo, n.4, p. 85-128, 1992. GONÇALVES, Alda Martins; SENA, Roseni Rosângela de. A Reforma Psiquiátrica no Brasil: contextualização e reflexos sobre o cuidado com o doente mental na família. Revista Latino-Americana de Enfermagem, [s.l], v. 9, n.2, 2001.

56

INSTITUTO ETHOS DE PESQUISA. Disponível em: <http://www.ethos.com.br> Acesso em: 02 de mar. de 2008. KALOUSTIAN, Silvio Manoug. Família brasileira, a base de tudo. São Paulo: Cortez, 1994. LAKATOS, Eva Maria. Metodologia Cientifica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2007. LOBOSQUE, Ana Marta. Experiências da Loucura. Rio de Janeiro: Ed. Garamond, 2003. LOPES, Maria Helena Itaqui. 2001. Pesquisas em hospitais psiquiátricos. Disponivel em: <http://www.ufrgs.br/bioetica/psiqpes.htm>. Acesso em: 12 de maio de 2009. LUCCHESE, Roselma. A enfermagem psiquiátrica e Saúde Mental: a necessária constituição de competências na formação na e pratica do enfermeiro. 2005. 251. Tese de Doutorado. Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. São Paulo. 2005. MACÊDO, Virgílio César Dourado de; MONTEIRO, Ana Ruth Macêdo. Educação e saúde mental na família: experiência com grupos vivenciais. Texto contexto enferm, Florianópolis, v. 15, n. 2, abr./jun. 2006. MACIEL, Silmara Cristina; CUNHA ,Giane Alves de Melo e Assis. Saúde Mental - Luta Antimanicomial, Reforma Psiquiátrica e CERSAMs: Campo de Atuação das Políticas Públicas. Disponível em: <http// www.webartigos.com> Acesso em: 20 de dez. de 2008. MINAS GERAIS. Secretaria de Estado de Saúde. Atenção em Saúde Mental. Belo Horizonte, 2006. MINAYO, Maria Cecília de Souza. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 12. ed. Petrópolis: Vozes, 1999. MORASKI, Tarciana Raquel; HILDEBRANDT, Leila Mariza. As percepções de doença mental na ótica de familiares de pessoas psicóticas. Revista Eletrônica de Enfermagem, [s.l], v. 07, n. 2, p. 195-206, 2005.

57

MORENO, V. Vivência do familiar da pessoa em sofrimento psíquico. Ribeirão Preto: USP 2000. Tese apresentada ao Programa de Doutorado Interunidades das Escolas de Enfermagem de Ribeirão Preto e São Paulo, Universidade de São Paulo, 2000. NASI, Cíntia; STUMM, Lílian Konageski; HILDEBRANDT, Leila Mariza. Convivendo com o doente mental psicótico na ótica do familiar. Revista Eletrônica de Enfermagem, [s.l], v. 6, n. 1, 2004. NAVARINI, Vanessa; HIRDES, Alice. A família do portador de transtorno mental: identificando recursos adaptativos. Texto contexto-enferm, Florianópolis, v.17, n. 4, out./dez. 2008. OGATA, M.N. Contribuição à historia da enfermagem psquiatrica brasileira. Ribeirão Preto: Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/ USP, 2000. OLIVEIRA, Graziella Lage; CAIAFFA, Waleska Teixeira; CHERCHIGLIA, Mariangela Leal. Saúde mental e a continuidade do cuidado em centros de saúde de Belo Horizonte, MG. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 42, n.4, 2008. PASSOS, Izabel Cristina Friche; FONSECA, Mônica Soares Beato da. Concepções e Práticas sociais em Torno da Loucura: Alcance e Atualidade da História da Loucura de Foulcault para investigações e etnográfica. Psiché, São Paulo, v. VII, Universidade de São Marcos, dez. de 2003. PEDUZZI, M. Contribuição ao Estudo da atuação do enfermeiro psiquiátrico no atendimento ambulatorial, multiprofissional, de pacientes egressos do hospital dia. [dissertação]. São Paulo: Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP; 1998. PINTO, Patrícia Malta. Atendimento à Crise: O mal estar de um serviço. 2006. Artigo. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2006. RESENDE, H. Politica de Saúde Mental no Brasil: uma revisão histórica. In: Tundis AS, Costa R. Cidania e Loucura: política de saúde mental no Brasil. 6. ed. Petropolis: Vozes, 2000. RICHARDSON, Roberto Jarry e colaboradores. 3. ed. Pesquisa Social: Métodos e Técnicas. São Paulo: Atlas S. A, 1999. ROSA, L. Transtorno Mental e o Cuidado na Família. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2003.

58

ROSA, L. Transtorno Mental e o Cuidado na Família. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2008. ROTELLI, F; LEONARDIS, O de MAURI, D. Desinstitucionalização, uma outra via. 2. ed. A reforma psiquiátrica italiana no contexto da Europa Ocidental e dos “Países avançados”, em desinstitucionalização. São Paulo: Hucitec, 1990. SANTOS, C. T. dos; SEBASTIANI, R. W. Acompanhamento psicológico à pessoa portadora de doença crônica. In: CALMON, V. A. A. (Org.). E a psicologia entrou no Hospital. Pioneira: 1998, p. 147-176. SARACENO, B. Reabilitação psicossocial: uma estratégia para a passagem do milênio. In: PITTA, A. Reabilitação Psicossocial no Brasil. São Paulo: Hucitec, 1996. SETTON, M. G. J. Família, escola e mídia: um campo com novas configurações. Educação Pesquisa, São Paulo, v. 28, n.1, jan./jun. 2002. SILVA, Ana Luisa Aranha e; FONSECA, Rosa Maria Godoy Serpa da. Os nexos entre concepção do processo saúde/doença mental e as tecnologias de cuidados. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v.11, n.6, nov./dez. 2003. SILVA, Rosangela Castro Ribeiro. A família do portador de transtorno mental. 2002. Monografia de especialização. PUCPR, 2002. SILVEIRA, Lia Carneiro; BRAGA, Violante Augusta Batista. Acerca do conceito de loucura e seus reflexos na assistência de saúde mental. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v.13, n. 4, jul./ago. 2005. SIMIONATO, Marlene Aparecida Wischral.; OLIVEIRA, Raquel Gusmão. Funções e Transformações da Família ao Longo Da História. I Encontro Paranaense de Psicopedagogia – ABPppr – nov. 2003. SIQUEIRA, Sueli. O trabalho e a pesquisa científica na construção do conhecimento. 2. ed. Governador Valadares: Univale, 2005. SOUZA, Maria Conceição Bernardo de Mello e; SPADINI, Luciene Simões. A doença mental sob o olhar de pacientes e familiares. Revista Latino-Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v.13, n. 2, 2005.

59

SOUZA, R. C.; SCATENA, M. C. M. Produção de sentidos acerca da família que convive com o doente mental. Revista Latino-Americana de Enfermagem. Ribeirão Preto, v. 13, n. 2, mar./abr. 2005. Disponível em: <http/www.scielo.com /scielo.php>. Acesso em: 10 abr. de 2009. TRAJANO, Elziane Mota dos Anjos. Avaliação da concepção familiar sobre a esquizofrenia. Piauí: Revista Espaço Acadêmico, [s.l], n. 85, 2009.

60

ANEXOS

61

ANEXO A

PARECER CEP/UNIVALE 009/2009

62

ANEXO B

QUESTIONÁRIO

Questionário a ser aplicado aos familiares dos usuários de Permanência Dia do CERSAM. 1. Iniciais_________________Idade:__________Sexo:______________________ 2. Tempo de Permanência Dia__________________________________________ 3. Endereço________________________________________________________ 4. Tempo de tratamento no CERSAM____________________________________ 5. Grau de parentesco do Responsável entrevistado: ___________________________________________________________________ 6. Porque seu parente está no CERSAM? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 7. Você sabe o que é o CERSAM? ( ) Sim ( ) Não Caso a resposta anterior seja positiva, comente o que você sabe. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 8. Você conhece o tratamento oferecido ao seu familiar? ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 9. O que você pensa sobre o tratamento oferecido ao seu familiar no CERSAM? ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 10. Você acredita que possa existir outra forma de tratamento? _________________________________________________________________ 11. Você tem algum conhecimento a respeito da Reforma Psiquiátrica? ( ) Sim ( ) Não

63

12. O que é reforma Psiquiátrica? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 13. Já ouviu falar em desospitalização? ( ) Sim ( ) Não Caso afirmativo: o que é? ______________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 14. Como é o apoio que sua família recebe do serviço de saúde mental? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 15. Vocês recebem algum benefício dos órgãos públicos para auxiliar na assistência de seu familiar? ( ) Sim ( ) Não Qual?____________________________________________________________ 16. Sua família recebe apoio psicológico dos profissionais do CERSAM? ( ) sim ( ) não 17. Você sabe quem é o profissional de referência de seu parente? _________________________________________________________________ 18. Como você acha que o CERSAM poderia contribuir para melhorar a assistência do familiar assistido? ___________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________________ 19. A assistência do CERSAM é satisfatória? ( )Sim ( ) Não 20. Tem alguém que cuida e é responsável dele? ( ) Sim ( ) Não Quem?___________________ 21. Percebe um tratamento diferente, quando seu familiar é atendido em outra unidade de saúde, pelo fato do mesmo ser portador de sofrimento mental? ( ) Sim ( ) Não

Gov. Valadares, ____de ___________ 2009.