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UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI – URCA
MESTRADO NACIONAL PROFISSIONAL EM ENSINO DE FÍSICA
As leis da Termodinâmica com abordagem da Modelagem Científica de Mario
Bunge e uma sequência de Ciclos de Modelagens de David Hestenes desenvolvida
em uma turma do ensino médio na cidade de Acopiara
Maria Géssica da Silva
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação da Universidade
Regional do Cariri no Curso de Mestrado
Nacional Profissional em Ensino de Física
(MNPEF-Polo31), como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de Mestre em
Ensino de Física.
Orientador:
Dr. Claudio Rejane da Silva Dantas
Co-orientador:
Dr. Wilson Hugo Cavalcanti Freire
Juazeiro do Norte – CE, 2019
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As leis da Termodinâmica com abordagem da Modelagem Científica de Mario
Bunge e uma sequência de Ciclos de Modelagens de David Hestenes desenvolvida
em uma turma do ensino médio na cidade de Acopiara
Maria Géssica da Silva
Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação da
Universidade Regional do Cariri no Curso de Mestrado Profissional de Ensino
de Física (MNPEF), como parte dos requisitos necessários à obtenção do título
de Mestre em Ensino de Física.
Aprovada por:
Juazeiro do Norte, CE, 2019
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Dedico
As pessoas que mais me ajudaram em toda
minha trajetória estudantil, desde o tempo
que estive cursando Licenciatura em Física,
até o término das disciplinas do mestrado,
meus pais Ana Maria de Figueiredo e
Francisco Fernandes da Silva; meu esposo
Francisco Gilvan Estevão de Oliveira.
5
Agradecimentos
A Deus que no seu infinito amor sempre me cobriu de bênçãos e nas horas mais difíceis
me deu força, coragem para nunca desistir.
Ao professor Dr. Cláudio Rejane da URCA, meu orientador, que com toda sua
dedicação me ajudou, me ensinou e orientou, a desenvolver este trabalho. Usando
sempre da simplicidade e humanidade com os seus alunos, sempre entendendo os
problemas pessoais de cada um.
Ao meu esposo Gilvan que sempre esteve do meu lado, desde o momento que decidi me
submeter à seleção do mestrado, me dando força nos momentos de cansaço físico e
mental.
Aos meus pais Ana Maria e Francisco Fernandes, que sempre trabalharam e lutaram
para que eu tivesse oportunidade de estudar, me apoiando e incentivando em toda minha
trajetória estudantil.
A todos os meus professores desde o Ensino fundamental até a universidade, que
sempre deram o melhor de si, para nos proporcionar o melhor ensino.
A todos os professores do Mestrado Nacional Profissional em Ensino de Física da
URCA, em nome do professor Francisco Augusto Silva Nobre, que contribuíram
diretamente ou indiretamente para um maior aprendizado dos mestrandos.
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RESUMO
O trabalho objetiva investigar a aprendizagem de conceitos da Termodinâmica focando
um ciclo de modelagem em uma turma do Ensino Médio de uma escola pública estadual
do município de Acopiara (região Centro Sul do Ceará). Nessa investigação buscou-se:
(i) explorar modelos representacionais com acepção de Mario Bunge acerca das Leis da
Termodinâmica e o funcionamento de um motor a combustão interna de uma moto; (II)
desenvolver e avaliar uma sequência de ensino para promover o estudo de
conhecimentos científicos por trás do funcionamento do motor à combustão baseada na
abordagem da instrução por modelagem de David Hestenes; (iii) elaboração de um
material de apoio didático (Material Instrucional) para apoiar outros professores que
desejem, a partir dos resultados desta experiência, realizar investigações em seu
contexto escolar considerando a temática da modelagem científica. Como suporte
teórico analítico desta dissertação, usamos as ideias de Mario Bunge (2017) que defende
a modelagem científica para o estudo e compreensão da natureza por meio dos
conceitos sobre referente, objeto-modelo e modelo conceitual. Procuramos entender as
seguintes questões: (a) A aprendizagem dos estudantes de uma turma do ensino médio
sobre as Leis da Termodinâmica poderá ser facilitada com a abordagem da modelagem
didática científica, especificamente a partir da construção de um modelo conceitual do
funcionamento de um motor a combustão de uma moto? (b) O desenvolvimento de uma
sequência de ensino por meio da abordagem da modelagem científica poderá despertar
interesse dos estudantes e possibilitará a promoção de aspectos conceituais da
Termodinâmica? (c) É possível o desenvolvimento progressivo dos modelos
representacionais dos estudantes em direção à modelagem conceitual de um objeto real
de seu cotidiano? A experiência mostra que os estudantes tiveram dificuldades iniciais
de representação de uma situação real do funcionamento do motor da moto, no processo
didático foram progredindo e se apropriando de aspectos teóricos conceituais da física
por trás desta tecnologia. Todos os estudantes se envolveram de forma ativa na
elaboração dos modelos, de forma colaborativa, participando das discussões. Foi
percebida uma evolução qualitativa no processo de aprendizagem dos estudantes.
Houve o desenvolvimento de aprendizagem, uns aprenderam um pouco mais que
outros, mas houve uma melhoria em suas aprendizagens sobre o assunto e um despertar
para sempre estarem aprendendo por meio da investigação dentro ou fora da escola.
Palavras-chave: Instrução por modelagem, modelo representacional, modelo teórico,
Termodinâmica, Motor de uma moto.
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ABSTRACT
The objective of this work is to investigate the learning of thermodynamics concepts
focusing on a modeling cycle carried out in a high school class of a state public school
in the city of Acopiara (Center South region of Ceará). In this process we sought to: (i)
explore students' representational models about the laws of thermodynamics and the
operation of an internal combustion engine of a motorcycle; (ii) develop and evaluate a
teaching sequence to promote the study of scientific knowledge behind combustion
engine operation based on David Hestenes' modeling instruction approach; (iii)
preparation of a didactic support material (Instructional Material) to support other
teachers who wish, from the results of this experience, to carry out investigations in
their school context considering the theme of scientific modeling. As analytical
theoretical support of this dissertation, we use the ideas of Mario Bunge (2017) who
defends the scientific modeling for the study and understanding of nature through the
concepts about referent, object-model and conceptual model. We seek to understand the
following questions: (a) The learning of students in a high school class on the Laws of
Thermodynamics can be facilitated by approaching scientific didactic modeling,
specifically by constructing a conceptual model of the operation of a motor. combustion
of a motorcycle? (b) Will the development of a teaching sequence through the approach
of scientific modeling arouse students' interest and enable the promotion of conceptual
aspects of thermodynamics? (c) Is it possible for the progressive development of
students' representational models toward conceptual modeling of a real object in their
daily lives? Experience shows that students had initial difficulties of mental
representation of a real situation of motorcycle engine operation, in the didactic process
were progressing and appropriating conceptual theoretical aspects of physics behind this
technology. All students were actively involved in the elaboration of the models,
collaboratively, participating in the discussions. A qualitative evolution was noticed in
the students learning process. Learning has developed, some have learned a little more
than others, but there has been an improvement in their learning on the subject and an
awakening forever to be learning through research in or out of school.
Keywords: Instruction by modeling, representational models, theoretical model
Thermodynamics, Motor of a motorcycle
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Lista de figuras
Figura 1: Diagrama demonstrando o fluxo de energia de uma máquina térmica. .......... 48 Figura 2: a) e b) Grupo de estudantes trabalhando na construção de um modelo
representacional sobre o funcionamento de um motor a combustão interna de uma moto.
........................................................................................................................................ 59 Figura 3: A construção de um modelo representacional por estudantes que possuem
experiência de mecânica de motos em seu cotidiano. .................................................... 59 Figura 4: (a, b e c) Momentos de interação entre os estudantes e a professora na
elaboração dos mapas mentais. ....................................................................................... 60 Figura 5: Representação do funcionamento de um motor de uma moto produzido pela
equipe 01. ....................................................................................................................... 61 Figura 6: Representação do funcionamento de um motor de uma moto produzido pela
equipe 02. ....................................................................................................................... 61
Figura 7: Representação do funcionamento de um motor de uma moto produzido pela
equipe 03. ....................................................................................................................... 62
Figura 8: Representação do funcionamento de um motor de uma moto produzido pela
equipe 04. ....................................................................................................................... 62 Figura 9: Representação do funcionamento de um motor de uma moto produzido pela
equipe 05. ....................................................................................................................... 63
Figura 10: Representação do funcionamento de um motor de uma moto produzido pela
equipe 06. ....................................................................................................................... 63 Figura 11: Representação do funcionamento de um motor de uma moto produzido pela
equipe 07. ....................................................................................................................... 63 Figura 12: Fragmentos do livro do Grupo de Reelaboração do Ensino de Física (Gref)
que trata da discussão da Termodinâmica para explicar o funcionamento dos motores.
Fonte: GREF (1998, p. 78) ............................................................................................. 66 Figura 13: Momento de leitura do texto do Gref sobre o motor a combustão. .............. 67
Figura 14: Construção de novas sessões de Whiteboard pelos grupos........................... 68
Figura 15: Construção de um modelo conceitual pela equipe 1 após discussões teóricas.
........................................................................................................................................ 69 Figura 16: Construção de um modelo conceitual pela equipe 2 após discussões teóricas.
........................................................................................................................................ 69 Figura 17: Construção de um modelo conceitual pela equipe 3 após discussões teóricas.
........................................................................................................................................ 69 Figura 18: Construção de um modelo conceitual pela equipe 4 após discussões teóricas
........................................................................................................................................ 70
Figura 19: Construção de um modelo conceitual pela equipe 5 após discussões teóricas.
........................................................................................................................................ 70
Figura 20: Construção de um modelo conceitual pela equipe 6 após discussões teóricas.
........................................................................................................................................ 71 Figura 21: Construção de um modelo conceitual pela equipe 7 após discussões teóricas.
........................................................................................................................................ 71 Figura 22: Representação do funcionamento de um motor de uma moto produzido pela
equipe 07. ......................................................................... Erro! Indicador não definido. Figura 23: Construção de novas sessões de Whiteboard pelos grupos.Erro! Indicador
não definido. Figura 24: Construção de um modelo conceitual pela equipe 2 após discussões teóricas.
.......................................................................................... Erro! Indicador não definido.
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Figura 25: Construção de um modelo conceitual pela equipe 4 após discussões teóricas
.......................................................................................... Erro! Indicador não definido. Figura 26: Construção de um modelo conceitual pela equipe 5 após discussões teóricas.
.......................................................................................... Erro! Indicador não definido.
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Sumário
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 12
1.1 Algumas considerações sobre minha trajetória docente e a necessidade da
permanente formação continuada .......................................................................... 12
1.2 Problematização do tema, questões de pesquisa e objetivos ............................ 15
2 MODELAGEM CIENTÍFICA NA VISÃO DE MARIO BUNGE, A
INSTRUÇÃO POR MODELAGEM DE DAVID HESTENES E IMPLICAÇÕES
PARA O ENSINO DE FÍSICA ................................................................................... 20
2.1 A modelagem científica na visão de Mario Bunge .......................................... 20
2.2 A instrução por Modelagem de David Hestenes: modelos representacionais e
modelos conceituais ............................................................................................... 23
2.3 Sequência de ensino seguindo a Instrução por Modelagem de Hestenes ........ 25
2.3.1 Desenvolvimento do modelo ................................................................. 25 2.3.2 Aplicação do modelo: discussão de problemas selecionados vinculados
à estrutura sistêmica do modelo conceitual dos estudantes ................... 27
2.4 Breve revisão de literatura sobre modelagem científica em algumas revistas de
ensino de Física ...................................................................................................... 27
3 METODOLOGIA ...................................................................................................... 32
3.1 A abordagem qualitativa de investigação e a pesquisa ação ............................ 32
3.2 O contexto da escola: aspectos da realidade escolar ........................................ 33
3.3 Os participantes da pesquisa e a escolha do tema de estudo (Termodinâmica)35
3.4 Os instrumentos de coleta de dados: diário de campo, entrevista, questionário,
observações ............................................................................................................ 35
3.5 A construção de uma sequência de ensino baseado na abordagem de Ciclos de
Modelagem de David Hestenes .............................................................................. 36
3.6 A elaboração de um material de apoio para auxiliar outras experiências
didáticas (Produto Educacional) ............................................................................ 40
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4 DISCUSSÃO CONCEITUAL SOBRE AS LEIS DA TERMODINÂMICA ....... 41
4.1 Calor ................................................................................................................. 41
4.2 Trabalho realizado em um sistema com pressão constante .............................. 42
4.3 Energia interna ................................................................................................. 43
4.4 Primeira Lei da Termodinâmica ...................................................................... 44
4.4.1Tipos de processos termodinâmicos ....................................................... 45
4.5 Segunda Lei da Termodinâmica ...................................................................... 46
4.5.1 Processos Reversíveis e Irreversíveis .................................................... 47
4.5.2 Máquinas Térmicas ................................................................................ 47 4.5.5 Enunciando a Segunda Lei da Termodinâmica...................................... 49 4.5.6 Entropia .................................................................................................. 50
5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS DO ESTUDO ....................................... 51
5. 1 Análise e interpretação de cada uma das etapas da sequência de modelagem 51
5.1.1 Descrevendo sobre a Discussão do tema ............................................... 53 5.1.2 Descrevendo a etapa de Sessão de Laboratório de investigação .......... 57
5.1.3 Descrevendo a etapa de Sessão de Whiteboard..................................... 58 5.1.4 Descrevendo a etapa de Resolução colaborativa .................................. 64
5.1.5 Descrevendo a nova etapa de Sessão de Whiteboard ............................ 67 5.1.6 Descrevendo a etapa da Avaliação ........................................................ 72
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 74
7 REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 76
APÊNDICES ................................................................................................................. 79
ANEXO A: Questionário inicial para explorar concepções dos estudantes sobre
conceitos da Termodinâmica .......................................................................................... 80
ANEXO B: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ............................................ 81 ANEXO C: Aulas teóricas de física sobre Termodinâmica ........................................... 83
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1 INTRODUÇÃO
1.1 Algumas considerações sobre minha trajetória docente e a necessidade da
permanente formação continuada
A essência do ato de ensinar, baseado em minhas experiências como docente
da disciplina de Física na educação básica, é poder despertar a curiosidade e interesse
em cada um dos estudantes para promoção da educação científica. Que este
conhecimento construído possa servir para apoiar soluções de problemas que
cotidianamente aparecem em suas vidas e que possa fornecer subsídios para poder
ampliar seus conhecimentos, permanentemente.
Nesta abertura deste trabalho de dissertação considero oportuno dizer que
desde pequena sempre gostei de estudar e demonstrei afinidades para a área das ciências
da natureza e aspirações para o campo da docência. Ser professora sempre foi um
sonho. Considero essa profissão muito nobre, já que os docentes, mesmo enfrentando
diariamente desafios, procura atrair os estudantes para o mundo do conhecimento
promovendo o desenvolvimento intelectual das futuras gerações e contribuindo com a
mudança de suas vidas. Toda minha formação escolar básica foi realizada em escolas
públicas do município de Acopiara, CE, entre os anos de 2000 e 2010. Posso dizer que o
desejo de seguir a carreira docente foi motivado pela observação das práticas dos
professores que tive neste valioso processo de instrução escolar.
Posteriormente, consegui ingressar na faculdade de Física na Universidade
Estadual do Ceará - UECE, no campus da Faculdade de Educação, Ciências e Letras
(FECLI) no município de Iguatu, região centro sul do Ceará (cidade que fica cerca de 36
km de Acopiara). Durante essa formação, pude perceber que o mundo universitário
estava distante da realidade escolar (muitas teorias estudadas apresentavam um discurso
ideal de escola, de aprendizagem, do ato de ensinar). Na graduação em física existia
uma grande evasão de estudantes. A cada semestre fui notando muitas desistências de
colegas. Por exemplo, em uma turma que iniciou com cerca de vinte e cinco pessoas,
por volta do quinto semestre, somente permaneceram sete alunos, dentre eles estava eu,
a única mulher da turma.
Durante a faculdade fui bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior – CAPES. Participei na ocasião do Programa de Bolsas de
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Iniciação à Docência - PIBID. A partir da experiência nesse programa de iniciação a
docência tive a oportunidade de um primeiro contato, como docente em formação, com
uma sala de aula de Física. Oportunidade esta em que pude conhecer alguns aspectos da
área do ensino de física, particularmente em relação ao ensino experimental.
Neste período de formação inicial enfrentei muitas dificuldades como, por
exemplo, a distância da minha cidade até a Universidade; o cansaço de um dia de
trabalho (no sétimo semestre já atuava na área, lecionando em uma extensão de ensino
que fica a 20 km da cidade, com estradas de difícil acesso) e a noite precisar ficar até
mais tarde estudando. Os setes alunos da minha turma permaneciam juntos e em 2015
colamos grau, com a maior turma já formada em Física pela UECE-FECLI até então. É
importante dizer que fui a primeira mulher a obter formação em Licenciatura em Física
nesse curso desde sua fundação, no ano de 2000 (UECE, 2000), sendo a primeira turma
aberta em 2002.1, onde até o semestre 2018.2 formou-se aproximadamente 35 alunos.
Mesmo antes de concluir o curso de licenciatura, devido ao problema da
carência de professores em minha região, iniciei como professora de física em uma
escola pública estadual na cidade de Acopiara (com aproximadamente 51.160
habitantes, segundo o ultimo censo do IBGE em 2010, com duas escolas estaduais).
Essa escola na qual ainda leciono, em regime de contrato temporário1, atualmente é a
maior escola de ensino médio da região (Em 2015 a matrícula era cerca de mil e
quinhentos alunos). A escola possui uma estrutura grandiosa (com 13 salas em pleno
funcionamento, 1 laboratório de Física, 1 laboratório de Química e outro de Biologia,
sala de Multimeios, quadra poliesportiva). Entretanto, têm-se muitas dificuldades com
relação a grande quantidade de alunos por sala e por ter três unidades anexas (salas da
escola em distritos distantes da sede). Essas unidades anexas são distantes do município
(entre 20 a 40 km), em um deles o acesso é por estradas difíceis, sem asfalto. Durante
esses anos conheci a realidade de todos os anexos, pois trabalhei em todos (em 2018,
ano de realização do trabalho desta dissertação, estava lotada tanto na escola sede como
em um dos anexos). Foi escolhida uma turma da escola sede para o desenvolvimento de
uma intervenção didática que fez parte desta investigação como será clareado no
capítulo de metodologia desta dissertação).
1 Fui aprovada como professora efetiva no concurso da Secretaria de Educação do Estado do Ceará
realizado no ano de 2018 aguardando a homologação.
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Atualmente (ano de 2019) atuo no anexo mais distante da sede, cerca de 40
km. Leciono em dois horários, tarde e noite. Ao todo, atendo 166 alunos distribuídos
entre as séries 1º ano, 2º ano e 3º ano do ensino médio.
Uma das maiores dificuldades que enfrento nesta escola é a implementação de
aulas experimentais de física. Na escola sede existe um laboratório de Física com
diversos experimentos e o suporte de um professor, que atende a muitos estudantes
devido as turma serem bem numerosas (aproximadamente 45 estudantes), mas na
Unidade Anexa, onde sou professora, apesar das turmas não serem grandes (cerca de
menos de 30 alunos) o maior problema é a não existência de um laboratório de ciências.
E esta problemática como será visto foi uma das inspirações para investirmos no campo
da modelagem científica para proporcionar um ensino de física mais envolvente para os
estudantes. A ausência e pouca consideração para o ensino de aulas experimentais é
uma realidade não só na escola em que trabalho, mas presente na maioria das escolas da
rede estadual de ensino do Estado do Ceará (opinião baseada em muitas conversas e
escutas de outros professores).
Baseada em minha formação docente e experiência reais de ensino,
mergulhada no cotidiano escolar, enfrentando diariamente problemas reais e desafios
inesperados, fui percebendo que é preciso que o professor possa estar constantemente
buscando encontrar formas de inovar suas aulas. Um dos caminhos era a necessária
perseguição da formação continuada para melhor aperfeiçoamento de minha prática
profissional. Neste contexto foi que despertei o interesse de tentar a seleção para o
Programa de Mestrado Nacional Profissional em Ensino de Física – MNPEF (Polo31)
da Universidade Regional do Cariri – URCA, campus Crajubar localizado no Município
de Juazeiro do Norte- CE, no ano de 2017. Com a realização deste curso pude ter
contato e aprofundamentos conceituais na área da Física e contatos com discussões de
conhecimentos na área do ensino de física, por exemplo, teorias de aprendizagens para o
ensino de física, aspectos teóricos sobre o ensino de física no ensino fundamental e
médio, tecnologias da comunicação e informação, práticas experimentais.
É importante dizer que o desafio do professor e da professora no ambiente
escolar é estar sempre investigando diferentes estratégias de ensino e aprofundar
alternativas que possam auxiliar sua prática, visando impulsionar o desenvolvimento
das aprendizagens dos alunos. Estou ciente que não existe uma receita pronta que o
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professor deve adotar para obter o êxito em sala de aula, compete tornar estas técnicas
adaptáveis à sua realidade (argumento fundamental para pensar estratégias de ensino em
caráter do mestrado profissional em ensino de Física). Para isso, entendemos que nós
professores precisamos ter uma formação de qualidade na unidade, indissociando a
teoria e prática, adquirindo uma formação para interagir, modificar o que for necessário
para nossa prática e que se chegue aos objetivos desejados, e que os alunos consigam
ampliar suas habilidades a partir dos conhecimentos que possuem.
A seguir esclarecemos melhor a escolha da temática de investigação,
problemas e etapas teórico/ metodológico deste trabalho.
1.2 Problematização do tema, questões de pesquisa e objetivos
Ensinar Ciências da Natureza, particularmente o componente física, tem sido
um desafio histórico já previsto no discurso da legislação educacional brasileira. Por
exemplo, os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN específicos das Ciências da
Natureza (BRASIL, 1999) e os Parâmetros Curriculares Nacionais Complementares -
PCN+ (BRASIL, 2002) voltados para o Ensino de Física do Ensino Médio apontavam a
necessária renovação do ensino de Ciência. Esses documentos já apontavam a
necessidade de superação de um ensino de física tradicional (baseado em um ensino
memorístico por resolução repetitiva de exercícios e fórmulas, sem compreensão).
Documento recente, de caráter obrigatório, tal como a Lei da Base Nacional Comum
Curricular – BNCC (BRASIL, 2018) estabelece conteúdos a serem tratados na educação
básica e obriga o ensino de Ciências a contemplar o caráter investigativo dos estudantes.
Essas legislações educacionais comumente defendem que os conhecimentos científicos
possam servir para que os estudantes usem-nos socialmente na resolução de seus
problemas cotidianos, assim convergindo como um dos maiores desafios para a
formação científica de qualidade de todos os cidadãos.
Desta forma, baseada em minha experiência profissional e, em uma
problemática destacada na legislação, a componente física, sendo uma disciplina da área
de ciências da natureza, possui suas dificuldades centradas principalmente em dois
aspectos: a falta de relação dos conceitos científicos estudados na escola com a
realidade (fenômenos reais) vivenciada no dia a dia dos estudantes; também a pouca
habilidade dos discentes com o formalismo matemático necessário.
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No passado, segundo Maritan (1963), os estudiosos obtinham solução de
diversos problemas partindo, principalmente, de observações dos fenômenos do
cotidiano em sua volta. Nesse tempo, entretanto, havia uma dificuldade imensa de
representar matematicamente esses fenômenos observados, ou seja, uma forma de
construção de modelos simples para uma compreensão teórica de um objeto da
realidade. O fenômeno, na prática, em geral, era representado por equações matemáticas
grandiosas, que contribuía mais para desistência de muitos do que para investirem na
área da ciência.
Reiteramos que atualmente o ensino de Física passa por uma situação ainda
mais delicada, pois as aulas, muitas vezes se limitam apenas à reprodução de cálculos
matemáticos (com muita abstração) sem sentido conceitual para o aluno e distante de
sua realidade, como foi discutido anteriormente. Esta lógica, em minha opinião,
contribui mais para que os estudantes cheguem à conclusão de que a Física é uma
disciplina complicada e que é impossível de aprendê-la.
Ainda baseado em experiências profissionais (docência no ensino de Física na
Educação Básica da Secretaria de Educação do Estado do Ceará), em muitos momentos
de situações reais de aulas de ciências, o professor se depara com frequência com
diversas perguntas lançadas pelos estudantes. Por exemplo: Qual a finalidade deste
conteúdo para minha vida? Para que todo esse conhecimento vai me servir?
Então o professor, na maioria das ocasiões, fica sem saber o que responder
frente à obrigação de transmitir o conteúdo curricular prescritivo. Conjecturamos que
esta inquietação dos alunos pode estar diretamente relacionada a um desinteresse deles
pelo formalismo matemático que representa muitas explicações dos fenômenos físicos.
Por exemplo, no primeiro ano do Ensino Médio, o ensino da cinemática em geral é
tratado por meio da valorização de funções e gráficos para representar aspectos dos
movimentos de um corpo. Lógica esta que consome uma etapa significante da carga
horária da componente curricular física (em nossa opinião o calculo não é a parte mais
importante do conhecimento dos fenômenos físicos, mas sim uma representação, uma
forma de desvendar algumas curiosidades que envolvem estes fenômenos).
Resultados de pesquisas na área do ensino de Ciências revelam diversas
alternativas metodológicas voltadas para melhoria do processo de ensino e
aprendizagem (exemplos: sequências didáticas; uso de tecnologias digitais; ensino
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investigativo; ensino por projetos; uso da história e epistemologia da ciência;
metodologias ativas). Dentre a multiplicidade de estratégias didáticas destacamos, em
particular, a abordagem da modelagem científica, usada para apoiar o estudo científico
dos fenômenos da natureza.
A modelagem científica é bastante considerada no ensino de Física, pois está
associada à compreensão dos fenômenos reais. Buscando entender melhor esta
estratégia, adotamos para suporte teórico analítico desta dissertação as ideias de Mario
Bunge (2017), que defende a modelagem científica para o estudo e compreensão da
natureza. Este autor discute os significados conceituais desta teoria acerca de um objeto-
modelo e um modelo teórico. Para ele, um modelo teórico é um objeto hipotético-
dedutivo que diz respeito a um objeto-modelo que, de acordo com ele, pode ser uma
representação esquematizada de um fenômeno físico que pode ser uma situação real ou
fictícia. Este pensador afirma que a modelagem cientifica pode ser considerada como
uma maneira de criar modelos que possa aproximar uma situação ideal de uma real,
servindo de meio para auxiliar a compreensão dos alunos pela de assimilação. No
capítulo II buscou-se aprofundar melhor aspectos conceituais da teoria da modelagem
científica.
Baseados no aprofundamento da abordagem da modelagem científica, o que
buscamos entender neste trabalho de dissertação de mestrado são as seguintes questões:
A aprendizagem dos estudantes de uma turma do ensino médio sobre as Leis da
Termodinâmica poderá ser facilitada com a abordagem da modelagem didático
científica, especificamente a partir da construção de um modelo conceitual do
funcionamento de um motor a combustão de uma moto?
O desenvolvimento de uma sequência de ensino por meio da abordagem da
modelagem científica poderá despertar interesse dos estudantes e possibilitará a
promoção de aspectos conceituais da Termodinâmica?
É possível o desenvolvimento progressivo dos modelos representacionais dos
estudantes em direção à modelagem conceitual2 de um objeto real de seu cotidiano?
2 Segundo Moreira (2014) o modelo conceitual serve para fornecer uma ideia simbólica do real. O autor afirma que
neste são atribuídos algumas propriedades visando inclui-lo em uma teoria que seja capaz de representar teórica e
matematicamente e a construção de um modelo conceitual se inicia com um processo de esquematização e
simplificação da realidade.
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A escolha do entendimento de um “motor a combustão interna” partiu do interesse
dos estudantes em entenderem cientificamente esta tecnologia bastante presente em
seu cotidiano. Como salientamos, a maioria precisa se deslocar de localidades
distantes para vir à escola e o meio de transporte muito usado na cidade de Acopiara
são as motos, na zona urbana e também na zona rural.
Neste trabalho procuramos, como objetivo maior, investigar a aprendizagem
sobre as leis da Termodinâmica usando a abordagem da Instrução por Modelagem
focando um ciclo de modelagem efetivada em uma turma do Ensino Médio de uma
escola pública estadual do município de Acopiara (região Centro Sul do Ceará). Como
objetivos específicos buscaram-se:
Explorar os modelos representacionais dos estudantes acerca das Leis da
Termodinâmica e o que pensam sobre os mecanismos de funcionamento de
um motor a combustão interna. Busca-se associar conceitos físicos com
fenômenos práticos (mais próximo da realidade concreta dos estudantes);
Desenvolver e avaliar uma sequência de ensino para promover o estudo de
conhecimentos científicos por trás do funcionamento do motor à combustão
de uma moto baseada na abordagem dos Ciclos de Modelagens proposta
por David Hestenes;
Investigar a ocorrência do desenvolvimento de aprendizagens dos
estudantes sobre aspectos da Termodinâmica com a utilização da proposta
de ensino focando a Instrução por Modelagem;
Construir um material de apoio didático (Material Instrucional) para apoiar
outros professores que desejam, a partir dos resultados desta experiência,
realizar investigações em seu contexto escolar considerando a temática da
modelagem científica.
Brandão, Araújo e Veit (2008) afirmam que o modelo em si, não é detentor de
todo conhecimento necessário. Estes autores afirmam que é preciso agregar e considerar
os conhecimentos que os alunos já possuem, ou seja, os conhecimentos que eles
adquirem anteriormente. Dizem, estes autores, que o modelo é uma representação de um
fenômeno, não se constituindo no fenômeno real, e que é possível, é que em algum
momento pode haver falha ao representar a realidade.
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Como referencial metodológico de apoio à realização da intervenção na escola,
escolhemos a sequência de ensino de “Instrução por Modelagem” proposta por David
Hestenes. No capítulo 2 é apresentada uma discussão sobre a abordagem da modelagem
científica defendida por Mario Bunge. O capítulo segue com uma discussão sobre as
etapas de uma sequência de Instrução por modelagem defendida por David Hestenes,
que como veremos constitui referência metodológica deste trabalho de dissertação. O
estudo desta proposta foi inspirador para elaboração adaptada de uma sequência de
ensino específica para uma turma de ensino médio de uma escola pública de Acopiara.
Ainda neste capítulo apresentamos uma seção sobre uma breve revisão de literatura
sobre a abordagem da modelagem científica no ensino de ciências. No Capítulo 3 está
presente a construção da metodologia adotada neste trabalho conjuntamente com a
elaboração da sequência de ensino. O estudo é de natureza qualitativa de caráter de
pesquisa-ação como será melhor aprofundado neste capítulo. No capítulo 4
apresentamos uma discussão de alguns aspectos conceituais do estudo da
Termodinâmica que é o assunto estudando e que faz parte de toda elaboração da
sequência de ensino. O capítulo 5 traz uma discussão analítica descritiva sobre os
principais resultados evidenciados nesta investigação de mestrado. No capítulo 6
encontram-se algumas considerações conclusivas.
20
2 MODELAGEM CIENTÍFICA NA VISÃO DE MARIO BUNGE, A
INSTRUÇÃO POR MODELAGEM DE DAVID HESTENES E IMPLICAÇÕES
PARA O ENSINO DE FÍSICA
2.1 A modelagem científica na visão de Mario Bunge
Bunge (2017) ressalta que as teorias científicas, em geral, são apresentadas por
meio de uma linguagem matemática para representar fenômenos da realidade. Desta
forma, para ele qualquer teoria em particular, pode ser considerada como um modelo
matemático de um pedaço da realidade. Este pensador defende que a finalidade de
construção de um modelo conceitual é para fornecer uma imagem simbólica do real,
como forma de apreensão deste real.
A finalidade do trabalho com modelo é a tentativa de se eliminar
complexidades reais afirma Bunge (2017). Para ele esta abordagem serve de busca para
soluções mais precisas e que possam ser mais fácil de interpretar, por exemplo, uma
forma de investigação de problemas mais complexos (interpretamos que a modelagem é
uma estratégia usualmente empregada no contexto da física para melhor entendimento
de um fenômeno a partir de seu recorte).
No livro “Teoria e Realidade” Bunge (2017) fornece um exemplo interessante
sobre a compreensão de um “modelo teórico”. Ele ensina que não basta representar um
líquido como uma rede de moléculas ou mesmo o cérebro como uma rede de neurônios,
mas defende que é preciso fazer uma descrição detalhada sobre seu funcionamento
seguindo as leis gerais que as definem. Mario Bunge, fundamentado neste procedimento
propõe que seja possível a elaboração de uma teoria do objeto-modelo que define como
um modelo teórico da realidade. É neste sentido que ele entende que quanto mais se
exige fidelidade a um objeto real isso leva ao comprometimento da necessidade de
complicação dos modelos teóricos.
O que seria então um objeto-modelo para Mario Bunge? Ele interpreta como
sendo uma representação de um objeto real ou imaginário, que pode ser um objeto
perceptível ou imperceptível podendo ser esquematizado a este objeto. Ele diz que este
objeto pode ser uma coisa ou um fato (BUNGE, 2017). Bunge (2017) compreende que
um objeto-modelo, mesmo depois de aperfeiçoado (entendemos como sendo isolado da
natureza), não servirá muito, a não ser se for encaixado em uma conjuntura de ideias em
que seja possível estabelecer relações dedutivas. Ele argumenta que toda representação
21
esquemática de um objeto pode ser chamada de objeto-modelo, dizendo que se o objeto
representado for algo concreto seu modelo é entendido como sendo uma idealização do
mesmo.
Mario Bunge ressalta que esta representação pode ser pictórica, por exemplo,
por meio de um desenho, ou mesmo conceitual, neste caso, por exemplo, uma fórmula
conceitual. No processo de representação Bunge diz que o objeto-modelo pode deixar
escapar certos traços de seus referentes (ele atribui este termo aos fenômenos ou objeto
da realidade) que pode possuir aspectos da imaginação capturando somente de forma
aproximada relações entre os aspectos que ele incorpora.
Um objeto pode ser representado esquematicamente por meio de um desenho
(que pode ser um desenho animado) para representar um modelo concreto diz Bunge
(2017). Para ele esta esquematização será parcial devido poder desconsiderar certas
propriedades dos objetos reais que não necessitam serem representadas. Ele ainda
enfatiza que um mesmo objeto poderá ser representado de várias formas a depender de
nossa imaginação, isto é, pode ter vários objetos-modelos, mas segundo ele,
dificilmente um modelo teórico pode variar porque eles devem fazer parte das teorias
científicas. Afirma o autor que o modelo teórico está relacionado com a evolução do
conhecimento, desta forma, não sendo possível sofrer variação arbitrariamente.
Bunge (2017) afirma que:
As teorias específicas ou modelos teóricos encerram objetos-modelo do tipo
conceitual mais do que representações visuais literais ou figurativas. Sem
dúvida, é possível sempre descrever o modelo com o auxílio de um diagrama
e mesmo, às vezes, com a ajuda de um modelo material – tais como os
modelos esféricos das moléculas: este auxilia a compreender as ideias difíceis
e algumas vezes a inventá-las. Não obstante, nem diagrama nem análogos
materiais podem representar o objeto de uma maneira tão precisa e completa
como o faz um conjunto de enunciado. (ibid., p. 25)
Bunge (2017) enfatiza que os desenhos por mais importantes que possam ser
para as representações em ciência (principalmente na ciência experimental) não
integram completamente as teorias. Para ele as teorias são constituídas por sistemas de
proposições e defende que “toda teoria, mesmo abstrata, pode ser acompanhada de
diagramas mais ou menos representativos dos objetos de que trata a teoria” (ibid., p.
26).
22
Todo modelo teórico é parcial e aproximado porque ele apreende somente uma
parte das particularidades do objeto que está sendo representado descreve Bunge (2017).
Converter coisas concretas em imagens conceituais, ou objeto-modelo, de
forma cada vez mais sofisticada para posteriormente expandi-la em modelos teóricos
mais complexos e fiéis aos fatos segundo Bunge (2017) é á única maneira de poder
captar a realidade pelo pensamento. Desta forma, para ele, os objetos-modelo e modelos
teóricos são considerados como esboços hipotéticos dedutivos de algo e situações tidas
como reais.
Bunge (2017) enfatiza que “os objetos-modelos mantêm-se estéreis a não ser
que sejam introduzidos ou desenvolvidos em alguma teoria.” (ibid., p. 32). Ele afirma
que para o desenvolvimento de um modelo teórico o objeto-modelo precisa ser
expandido e engajado em uma estrutura teórica herdando suas leis. Explica, o autor, que
o modelo teórico de um objeto concreto não corresponde à complexidade de seu
referente, mas atesta que este objeto é mais rico do que o objeto-modelo (para ele o
objeto modelo possui uma lista de características do objeto concreto). Como exemplo,
ele cita que um planeta ao ser modelado como uma massa pontual, ou como uma bola,
não se está afirmando muita coisa, mas para construção de um modelo teórico este
planeta (objeto-modelo) deve ser inserido em um sistema de leis, por exemplo, no caso
particular da física, em certas leis de movimento (conhecimentos científicos).
Uma questão inquietante problematizada por Mario Bunge, em relação aos
modelos, foi saber se os modelos podem mesmo representar a realidade, pois sendo uma
maneira de idealização poderia ser um recuo da realidade. Bunge (2017) conclui que os
objetos-modelo e os objetos teóricos tratam de objetos reais. Mas, de acordo com ele, é
responsabilidade do experimentador comprovar a semelhante suposição da realidade
feita. Ele entende que nenhuma outra forma revelou ser melhor sucedida como método
para a possibilidade da apreensão da realidade, ou seja, propor modelos e testá-los
exaustivamente.
A seguir apresentamos uma proposta de apoio didático para o trabalho com
modelagem científica, a instrução por modelagem defendida por David Hestenes.
Reiteramos que esta proposta serviu de embasamento para elaboração de uma proposta
de sequência didática para o desenvolvimento de uma intervenção didática neste
trabalho que será clareada no capítulo 3.
23
2.2 A instrução por Modelagem de David Hestenes: modelos representacionais e
modelos conceituais
Esta seção descreve a teoria da modelagem proposta pelo americano David
Orlin Hestenes que culmina com a elaboração da estratégia chamada de Instrução por
Modelagem. Hestenes (2010) diz que a Instrução por Modelagem está baseada na ideia
de que o desenvolvimento cognitivo em ciências e em matemática está relacionado ao
processo de construção, validação e a aplicação de modelos conceituais. Para ele um
dos desafios no ensino e aprendizagem científica é fazer a articulação entre os modelos
representacionais dos alunos, estruturados nas representações sobre os fenômenos reais,
e os modelos conceituais (representações sistemáticas e científicas) (SOUZA; ROZA,
2016).
Souza e Rozal (2016) defendem que é necessário fazer com que os estudantes
percebam as relações dos conteúdos com situações que são vivenciadas em seu
cotidiano (este pensamento, mostra intensa relação com a abordagem da modelagem
científica proposta por Mario Bunge é interessante para o pensar práticas de ensino de
física que possam despertar interesse dos estudantes).
A Teoria da Modelagem é uma abordagem cognitiva que afirma que os
indivíduos conseguem elaborar modelos representacionais para servir de orientação nas
interações com a realidade (SOUZA, SANTO, 2017).
Souza e Santo (2017) dizem que os alunos geralmente usam representações
(simbólica, linguagem oral e escrita, pictórica, linguagem matemática) para enfrentarem
soluções de problemas em ciências e matemática. Segundo esses autores, a Teoria da
Modelagem surgiu a partir dos últimos trintas anos e foi desenvolvida por David
Hestenes. Esta teoria busca vincular a construção dos modelos representacionais com
modelos científicos embasando a formação científica em ciência e matemática.
A conceituação de modelos representacionais foi desenvolvida pelo psicólogo
Johnson-Laird (2005). Ele afirma que quando os indivíduos percebem o mundo eles
conseguem construir modelos representacionais usados para representar a natureza em
seu entorno. Para ele estes modelos, em geral, são influenciados pelos seus
conhecimentos prévios, modelos fundamentados nas percepções e intuições dos
indivíduos.
24
Souza e Santo (2017) dizem que os modelos representacionais são usados para
representações das diversas observações realizadas pelas pessoas em sua vida cotidiana.
Estes autores ressaltam que estes modelos representacionais interagem fortemente com
os conhecimentos científicos (em se tratando em educação em ciências) que contribui
para o processo de construção de novos modelos, mas aperfeiçoados (resultantes de um
longo processo de ressignificações cognitivas). Eles argumentam que na escola os
alunos já vêm com certos modelos representacionais pré-elaborados que são oriundos de
suas formas de vida cotidiana. Alertam os autores que, em geral, os professores
fornecem uma programação curricular que desconsidera os modelos representacionais
dos estudantes e afirmam que este fato pode dificultar a aprendizagem em ciências.
Os modelos conceituais seria para Hestenes (2006) os que são representados
externamente por sistemas simbólicos. Ele diz que no caso particular da física um
conceito desta área é representado em geral por um símbolo observável (atribuindo
forma e significado). Por exemplo, o autor exemplifica que o conceito de força na física
é simbolizado pela equação F = m.a representando a forma matemática que engloba os
significados da Segunda Lei de Newton.
Hestenes (2006) define um modelo conceitual como um constructo3 em que seu
referente (entendido como um objeto da realidade) é pensado como uma construção
simbólica. Um modelo conceitual é produzido, então, quando é possível uma
codificação da estrutura de um modelo representacional através de um sistema
simbólico. Este modelo é visível e pode ser manipulado (HESTENES, 2010, SOUZA;
SANTOS, 2017).
A abordagem da Instrução por Modelagem centra na elaboração e aplicação de
modelos conceituais de fenômenos físicos para apoiar o processo de ensino e
aprendizagem de ciências. Nesta perspectiva os alunos são estimulados a argumentarem
sobre os conhecimentos científicos. Neste processo os estudantes são convidados a
investigarem um fenômeno para construírem uma representação (um modelo
conceitual). Estes modelos podem perpassar conhecimentos das leis gerais da física e
que ultrapassem o nível conceitual dos mesmos (ERIC BREWE, 2008).
3 Entendido como um representação da realidade, uma espécie de moldes, padrões que o ser humano
elabora em sua mente para dar sentido a realidade em seu entorno (MOREIRA, 2011; KELLY, 1963).
25
Hestenes (2010) afirma que o foco da Instrução por Modelagem consiste em
um processo investigativo, onde o estudante poderá ter uma participação mais integrante
durante o processo de compreensão de um fenômeno físico. Nesta estratégia o professor
possui o papel de ser um agente incentivador do processo de pesquisa dos alunos. A
seguir apresentamos uma proposta de ciclo por modelagem para apoiar o ensino
defendido por David Hestenes.
2.3 Sequência de ensino seguindo a Instrução por Modelagem de Hestenes
Hestenes (2010) diz que o ciclo de modelagem pode ser construído em duas
etapas: uma de desenvolvimento do modelo e outra de aplicação. Resumidamente ele
afirma que as fases do trabalho com modelagem são: (i) a construção; (ii) análise; (iii)
validação; e (iv) aplicação do modelo. Para ele a sequência didática para elaboração de
um modelo (sequência de ensino para aulas de ciências) pode seguir as seguintes etapas:
discussão do tema; laboratório de investigação; Sessão de whiteboard; aplicação do
Modelo; resolução colaborativa; Nova Sessão de whiteboard e avaliação. Abaixo
apresentamos um detalhamento das etapas propostas pelo autor.
2.3.1 Desenvolvimento do modelo
2.3.1.1 Discussão do tema
Nesse tema, segundo o autor, poderá surgir de várias formas, por exemplo: de
um experimento, situações problemas, simulações, situações fenomenológica do
cotidiano. De acordo com Hestenes (2010) a discussão e negociação do tema devem
estar relacionada a uma teoria científica. Ele sugere que se identifiquem as seguintes
estruturas do modelo: sistêmica; geométrica; descritiva; interação e temporal4.
Segundo Souza e Rozal (2016) o termo “tema” pode sugerir diversas
possibilidades para a sequência do ciclo de modelagem. Para eles, pode ser uma
situação do cotidiano, ou uma notícia de jornal, um experimento, uma simulação
computacional, um vídeo, um problema aberto, construção de artefatos etc. Afirmam
estes autores que pode também partir de uma determinada curiosidade dos estudantes ou
mesmo uma situação interessante que parta de seu interesse. Neste sentido, a escolha do
4 Maneira dos alunos usarem ferramentas representacionais para servir de modelagem de uma estrutura de
sistemas reais. Esse reconhecimento da estrutura sistêmica como etapa fundamental no processo de
construção de um modelo que se inicia com a identificação da composição e interação do sistema a ser
modelado seguido da criação de certo diagrama deste sistema para representa-lo (SOUZA; ROZAL,
2016).
26
objeto de estudo, neste trabalho de dissertação, se deu pelo grande interesse dos
estudantes em buscar entender, como funcionam o motor de uma moto, explorando
quais as leis da Física que estão por trás desta tecnologia. Reafirmamos que a maioria
dos estudantes utiliza este transporte bastante comum em seu dia a dia. O conteúdo de
física para a compreensão do motor da moto está relacionado com o campo da
Termodinâmica, as Leis que regem o estudo da energia e do rendimento de uma
máquina. Toda explanação conceitual sobre este assunto está descrito no capítulo 4
desta dissertação.
2.3.1.2 Laboratório de investigação
Etapa proposta para encontrar grandezas científicas que englobam o fenômeno
que farão parte do modelo conceitual. Momento que David Hestenes sugere a divisão da
turma em grupos colaborativos (entre três e cincos membros). Etapa de incentivo dos
estudantes para procedimentos e pesquisas em várias fontes e que se usem diferentes
inscrições simbólicas, tais como: verbal, escrita, algébrica, diagramática e gráfica, na
tentativa de propor respostas para as questões de modelagem.
2.3.1.3 Sessão de whiteboard
Nesta fase o autor sugere o trabalho com miniquadros brancos para incentivar a
socialização de experiências e resultados de pesquisa dos estudantes. Os quadros
brancos são usados para representação dos modelos conceituais construídos pelos
estudantes. Nesta ocasião os mesmos terão espaço para explicar o desenvolvimento de
seu modelo e trata-se de um momento interessante para socializarem suas construções e
pensamentos.
Hestenes afirma que o professor, nesta etapa, cumpre o papel de orientador e
norteador do discurso dos estudantes em relação ao enquadramento de seus argumentos
ao discurso científico. Souza e Santo (2017) salientam que “os estudantes associem seus
modelos representacionais às inscrições simbólicas ao interpretá-las cientificamente
em meio a explicações, justificativas e previsões” (ibid., p. 34). Estes autores afirmam
que esta etapa pode ajudar na reformulação, renegociação de modelos representacionais
dos estudantes que são incompatíveis com o conhecimento científico trabalhado.
27
2.3.2 Aplicação do modelo: discussão de problemas selecionados vinculados à
estrutura sistêmica do modelo conceitual dos estudantes
2.3.2.1 Resolução colaborativa
Esta fase é para incentivar os estudantes a elaborarem relatórios escritos e
desenvolvam o pensamento crítico no momento de resolução de problemas.
2.3.2.2 Nova Sessão de whiteboard
Momento de realização de outra seção de apresentação da resolução de
problemas de aplicação em que os grupos devem organizar suas respostas para posterior
socialização com os outros participantes buscando justificar seus procedimentos e
pensamentos. Novamente o professor mantem seu papel de orientador. (HESTENES,
2010).
2.3.2.3 Avaliação
A avaliação, segundo Hestenes (2010), deve ser baseada em um processo
formativo e de busca das aprendizagens dos estudantes, pensada durante todo processo
de modelagem.
Souza e Rozal (2016) enfatizam que a abordagem por meio da Instrução por
Modelagem é uma maneira de fazer com que os estudantes possam articular seu
modelos representacionais com modelos conceituais (científicos) neste processo de
construção, validação e aplicação de modelos. Reiteram que os estudantes são
orientados a atuarem em grupos colaborativos e são estimulados a socializarem seu
pensamento através de argumentações científicas e o professor, sempre ajudando no
processo de pesquisa organizando as ações inerentes aos ciclos de modelagens (esta é
uma orientação relevante sobre o estímulo ao trabalho em equipe que buscamos
valorizar no processo de intervenção feita em uma sala de aula de física como pode ser
conferido no capítulo 5 de análise e discussão dos dados). Os quadros brancos, segundo
os autores, são usados para representar sinteticamente as ideias dos alunos.
2.4 Breve revisão de literatura sobre modelagem científica em algumas revistas de
ensino de Física
Buscamos fazer uma breve revisão de literatura para revelar trabalhos que
investigam aspectos da modelagem científica em sala de aula. Exploramos por meio da
plataforma de periódicos da Capes artigos produzidos relacionado à temática. Inserimos
28
como palavras descritoras os termos: instrução por modelagem e modelagem científica.
Foi possível selecionar 11 artigos associado à discussão sobre modelagem científica
(BRANDÃO et al. 2008, 2011; MOREIRA, 2014; HEIDEMANN et al. 2012, 2016a,
2016b, 2018; SOUZA, ROZAL, 2016; SCHELLER et al., 2017; SOUZA, SANTO,
2017; CORRALLO et al. 2018). As principais revistas exploradas foram: Caderno
Brasileiro de Ensino de Física; Revista Física na Escola; Investigação em Ensino de
Ciência; Revista da Educação em Ciência e Matemática; Ciência e Educação; Revista
Brasileira de Ensino de Ciência e Tecnologia.
Brandão et al. (2008) problematizam que o ensino de ciências por meio de
modelos pode propiciar uma visão mais holística sobre a natureza e construção do
conhecimento. Os autores propõe uma alternativa para o ensino de física, através da
modelagem científica focando o ensino da cinemática, problematizando os conceitos de
idealização e aproximações. Eles defendem que um modelo teórico não tem o intuito de
representar a realidade de forma completa estando inserido dentro de um sistema de
validade. Dizem esses autores que não existem modelos corretos, mas adequados.
Brandão et al. (2011) defendem o processo de modelagem científica no ensino de física
associado a um campo conceitual com implicações para o ensino e a pesquisa. Os
autores fazem uma conexão entre as ideias de Mario Bunge sobre modelagem científica
e a Teoria dos Campos Conceituais (TCC) de Weil-Barais e Gérard Vergnaud. Eles
interpretam a TCC como sendo um conjunto de problemas, situações, conceitos,
relações, estruturas, conteúdos e também operações de pensamento que estão
entrelaçados na estrutura cognitiva de um sujeito (destacam os exemplos fornecidos
pelos teóricos de campos conceituais tais como a mecânica e o eletromagnetismo).
Ainda na discussão do artigo anterior os autores explicam que a construção de
conceitos seguem três etapas: os conjuntos de situações que dão sentido aos conceitos
(S); invariantes operatórios que possibilitam os sujeitos operacionalizarem os conceitos,
tais como objetos, propriedade e relações (I) e o conjunto de representações simbólicas
(R). Eles defendem que os estudantes e o professor possuem invariantes operatórios que
podem estar associados aos conceitos de modelo e de modelagem científica em física
vinculada aos termos de idealização e aproximação.
Moreira (2014) destaca a importância do uso da modelagem em aulas de
professores de ciências e matemática e seus aspectos epistemológicos. Ele descreve a
visão epistemológica de Mario Bunge como uma forma de ensinar buscando uma
imagem simbólica da realidade, que ele denomina de objeto-modelo e modelo teórico,
29
como foi visto neste capítulo na parte de revisão teórica sobre a modelagem científica.
Em seguida o autor discute que o construtor do modelo procura adequá-lo a uma teoria
que explique tanto teoricamente como matematicamente, ou seja, precisa funcionar na
parte conceitual e na experimental. Para ele caso isso não aconteça o objeto-modelo
precisa ser melhorado ou refutado. Destaca o autor que tudo isso precisa partir do aluno
e que ele precisa ser o protagonista da sua busca do conhecimento.
Moreira (2014) diz que a escola contemporânea prioriza o ensino da resposta
correta, onde as disciplinas de ciências são dadas como exatas e acabadas. Isso na sua
perspectiva é incorreto, pois a Física, por exemplo, é cheia de variáveis aproximadas
para se obter os dados desejados. O que Moreira (2014) que deixar claro, em nosso
entendimento, é que no ensino da Termodinâmica, por exemplo, é usado todo um
conjunto de variáveis que estão ajustadas para gases ideais e a teoria é ensinada como
algo que dará as respostas e resultados exatamente como foi calculado. Entretanto,
quando testamos na realidade, existem outras inúmeras variáveis que temos que
considerar e aproximar, já que não existem na realidade gases ideais, por isso a
disciplina de Física está distante de ser algo exato.
Heideman et al. (2016a; 2018) defendem uma associação entre aulas de
laboratórios de física com a modelagem científica. Os autores alertam que em geral as
aulas de laboratórios de física proporcionam uma aprendizagem mecânica com mera
reprodução de roteiros prescritos com pouca consideração dos aspectos teóricos que
estão em torno dos experimentos. Eles propõem uma ressignificação do ensino dos
conceitos de oscilações mecânicas, fluidos e Termodinâmica por meio de atividade que
chamam de episódios de modelagens que levam à formação de concepções
epistemológicas não ingênuas sobre a natureza da ciência. Em outro trabalho defendem
o processo de modelagem científica como um campo conceitual próprio da física
(HEIDEMANN, 2016b).
Souza e Rozal (2016), inspirados nas ideias de Hestenes, acerca da instrução
por modelagem, elaboram uma proposta de ciclos de modelagem temática vislumbrando
o desenvolvimento da alfabetização científica dos estudantes. Scheller et al. (2017)
investigaram como estudantes dos anos inicias da educação básica conseguem resolver
problemas com auxílio da estratégia de atividade de modelagem. Os autores revelam
que os estudantes elaboraram modelos estabelecendo relações numéricas, produzindo
generalizações e previsões. Evidenciam que os estudantes elaboram significados e
30
expressão de seus pensamentos usando linguagem natural e diversas estratégias, como
por exemplo, figuras e esquemas. Evoluíram no processo para a utilização de quadros,
tabelas, generalizando a partir do processo de modelagem. O Ensino através da
modelagem científica vem sendo pensado como metodologia a ser desenvolvida com
alunos desde as séries iniciais.
Scheller (2017) diz que o ensino por meio da instrução por modelagem pode
ser usado no ensino da matemática e ao mesmo tempo para o incentivo à ciência e à
pesquisa. Afirmam os autores que esta abordagem pode auxiliar os discentes a buscarem
repostas as suas curiosidades, sejam elas de caráter científico ou do senso comum. Além
disso, defendem que esta metodologia pode proporcionar a serem seres ativos,
protagonistas do seu próprio conhecimento e a não esperar as receitas prontas fornecidas
pelos professores. Diz que para resolver algumas situações-problema, por exemplo,
cada um deve dominar a linguagem necessária, interpretá-la, investigá-la e solucioná-la.
Scheller et al. (2017) afirma que Mario Bunge tem feito algumas críticas aos
que se apoiam em uma visão relativista e idealista para traçar metodologias que, para
ele, são devaneios. Os autores dizem que Bunge critica alguns autores que distanciam o
ensino e aprendizagem da realidade do aluno e neste caso dão maior importância a
coisas não realistas, sendo um equívoco na visão destes pensadores.
No artigo “Construção e Realidade: O Realismo Científico de Mario Bunge e
o Ensino de Ciências através de Modelos”, o autor Pietrocola (1999) traça críticas às
visões construtivistas de alguns autores que, segundo ele, valorizam o desenvolvimento
individual e que apesar de não assumirem posições realistas eles não podem exclui-las.
Emerge deste contexto uma mútua exclusão entre posições realistas e
construtivistas: admitir a possibilidade de acesso a um determinado nível de
realidade relacionada ao mundo em que vivemos, implicaria em negar que
tenhamos de construir este acesso por nossa própria ação. E de forma inversa,
admitir que estejamos condenados a interpretar de forma ativa (a partir de
referentes individuais ou coletivos) toda informação oriunda do mundo físico,
implicaria em negar a existência de possíveis níveis de realidade associados ao
mesmo. Esta exclusão realista não está, em geral, presente nos textos
construtivistas. Porém é certo, que eles raramente assumem posições
explicitamente realistas. (Pietrocola, 1999)
Para Bunge (Westphal & Pinheiro, 2004) é extremamente necessário levar em
conta a ideologia da sociedade, pois a mesma pode interferir estimulando ou inibindo o
desenvolvimento cientifico. Ele acredita, segundo Westphal & Pinheiro (2004), que o
31
realismo ontológico5é a melhor forma de construção do conhecimento, já que este
significa que o conhecimento adquirido é reflexo do mundo e do meio em que os seres
estão inseridos.
Corrallo et al. (2018) apresenta uma proposta de associação entre os ciclos de
modelagem com a automatização de atividades experimentais com a plataforma de
prototipagem Arduíno6. O estudo corresponde a uma formação continuada para
professores da educação básica e estudantes de licenciatura. Os autores destacam que os
professores consideraram importante esta possibilidade de relacionar ferramentas
tecnológicas com a estratégia dos ciclos de modelagem. Revelam que os professores
foram receptivos quanto à proposta e que tinham interesse de usar em suas aulas, mas
afirmaram que existe muita dificuldade para essa consideração, citando a carga
excessiva de trabalho, poucas aulas de física, infraestrutura deficiente. Souza e Santos
(2017) por meio de uma revisão de literatura concluem que a Teoria da Modelagem
possui implicações fundamentais para a educação científica e matemática.
Em uma análise geral interpretamos que os artigos analisados defendem o uso
da abordagem da modelagem científica para ajudar a compreensão dos fenômenos
físicos pelos estudantes. Vimos propostas de ensino de física por modelagem científica
que vise uma formação dos estudantes de forma mais participativa e reflexiva rompendo
com atitudes passivas em sala de aula. Como vimos, existem propostas de vincular o
ensino de laboratório experimental com a abordagem da modelagem didática científica
para superar procedimentos receituários deste espaço.
No capítulo que segue apresentamos a os passos metodológicos assumidos
neste trabalho. Adiantamos que representa um trabalho investigativo de natureza
qualitativa considerando a pesquisa ação.
5Realismo Ontológico é “a convicção de que o mundo existe independentemente de nós. Para Bunge, todas as
operações da ciência, principalmente a formulação de teorias e o teste experimental das mesmas implicam essa crença
e ficariam privadas de sentido sem ela” (CUPANI & PIETROCOLA, 2002, p. 101).
6 É uma placa eletrônica constituída de mcrocontrolador que possui circuitos de entrada/saída que podem
ser integrada a um computador. Ele é composto por uma quantidade grande de sensores e componentes. Em
geral o material pode ser encontrado em módulos (placas que possui sensores, resistores, capacitores, leds)
(Fonte: site do arduíno https://www.arduino.cc/).
32
3 METODOLOGIA
3.1 A abordagem qualitativa de investigação e a pesquisa ação
A pesquisa qualitativa possui um caráter mais subjetivo e descritivo de um
fenômeno. É uma ideologia onde o professor busca avaliar a real aprendizagem do
aluno, baseado em diversos critérios, por exemplo, a observação detalhada do professor
nas dificuldades enfrentadas para o desenvolvimento da atividade, análise profunda dos
modelos representacionais de cada individuo, o esforço e a colaboração de cada um.
Bokdan e Biklen (1994) dizem que a investigação qualitativa é aquela que
considera o processo de interpretação. Estes autores destacam algumas características da
investigação qualitativa, citamos algumas:
(i) A fonte principal de coleta de dados é no ambiente natural e o investigador é o
instrumento principal (é uma informação importante para este trabalho, pois todo
processo de intervenção foi realizado na escola de atuação docente da autora);
(ii) A investigação qualitativa deve ser descritiva e o investigador necessita fazer a
análise em profundidade;
(iv) Todos os resultados revelados não são usados para tentativas de confirmação de
hipóteses elaboradas antecipadamente, mas as abstrações propositivas são feitas a partir
das análises dos dados;
(v) Valoriza a forma como as pessoas dão sentidos às suas vidas principalmente na
atribuição de significados de suas ações;
Entendemos esta investigação como sendo uma pesquisa ação. Para Stake
(2011) esta modalidade corresponde ao estudo da ação com o intuito de aperfeiçoá-la.
Este método de investigação, segundo o autor, pode ser desenvolvido pelas pessoas que
estão diretamente envolvidas na ação. Assim, Stake (2011) afirma que a pesquisa ação
participante está menos preocupada na teorização e foca muito mais no desempenho
centrando o estudo empírico em questões tais como: o que estou fazendo? O que
deveríamos estar fazendo de maneira diferente? (ibid. p. 176).
Desta forma consideramos a pesquisa ação, pois estamos interessados em
melhorar a prática docente por meios da avaliação de formas alternativas de ensino de
33
física. No caso em particular a discussão de conceitos da Termodinâmica com a
estratégia da modelagem didático-científica. Na sequência apresentamos a
contextualização do espaço de investigação.
3.2 O contexto da escola: aspectos da realidade escolar
A escola onde desenvolvemos a intervenção é uma escola pública estadual do
município de Acopiara na região central do estado do Ceará. Como já foi dito a escola
sede encontra-se na cidade e possui três extensões ou unidades anexas distantes, na zona
rural.
É importante dizer que atuávamos, no período de realização da intervenção
didática (Dezembro de 2018 a Janeiro de 2019), como professora no regime de contrato
temporário com carga horária de 40h distribuídas na escola sede como também na
unidade anexa com a seguinte lotação: no anexo com 6 turmas (turno da tarde com 1°,
2º e 3º anos e turno da noite com 1º, 2º e 3 anos); na sede era responsável por três
disciplinas de física em três segundos anos (segundo G, C e D). Cada aula era de 50min.
Também era responsável por três disciplinas chamadas Núcleo de Trabalho, Pesquisa e
Práticas Sociais (NTPPS) em cada um desses segundo anos (quatro aulas de 50min
cada), onde trabalhava a elaboração de projetos e questões sócio-emocionais dos
estudantes. Foi escolhido o segundo ano C da escola sede para o desenvolvimento da
intervenção com a justificativa de ser uma turma que apresentava dificuldade para
aprendizagem de física (foi utilizado as aulas de física e as aulas reservadas para o
NTPPS totalizando 6 aulas semanais). Ao todo foram 15 aulas usadas para intervenção.
Uma análise do Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola revela que a
instituição escolar cumpre o papel de ensinar e formar cidadãos. Em relação à
infraestrutura na escola sede, esta conta com área total de 3.072m2. Possui 12 salas de
aula, 01 Centro de Multimeios, 01 sala de Vídeo, 03 laboratórios de Ciências que
integra as componentes Física, Química e Biologia, 02 laboratórios de informática, 01
auditório, 01 secretaria, 01 sala da coordenação escolar, 01 sala da direção, 01 sala de
professores, 01 almoxarifado, 01 cantina, 01 anfiteatro, 06 banheiros, estacionamento,
01 academia ao ar livre, pátio coberto, 01 despensa, 01 quadra de esporte coberta,
corredores com rampas para atender as exigências de acessibilidade de pessoas
portadoras de necessidades especiais-PNE e, ainda, tem toda sua área protegida por
grades em seu entorno. (PPP, pag. 4). Essa escola é da rede regular de ensino, onde se
34
trabalha diversos projetos entre eles Núcleo de Trabalho, Pesquisa e Práticas Sociais
(NTPPS), que funciona de acordo com alguns planos, contemplando não só a formação
social do discente, mas também o desenvolvimento de pesquisas, incentivando os
alunos a serem pesquisadores. A matrícula no ano de 2018 foi de 1.308 (ano da de
realização da intervenção). Neste ano de 2019 encontram-se matriculados cerca de
1.530 alunos distribuídos em 38 turmas, conta-se com o número significativo de 71
professores, todos formados em suas respectivas áreas de atuação.
A escola sempre participa de programas governamentais e de avaliações
externas como: Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas e Particulares
(OBMEP), Olimpíada Brasileira de Física (OBF), Exame Nacional do Ensino Médio
(ENEM), Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (SPAECE) e
ainda os vestibulares das diversas instituições. Os trabalhos são voltados para a
melhoria dos resultados e para oferecermos aos nossos discentes uma oportunidade de
transformação de suas realidades difíceis, por meio da educação. Não temos os
melhores resultados da Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação
(CREDE 16)7, mas também não são os piores e como somos a maior escola da região e
recebemos alunos em todos os níveis de aprendizado, então é muito difícil alcançarmos
bons resultados nas avaliações externas. Por isso precisamos trabalhar com
metodologias diferenciadas, como estamos defendendo nesta dissertação de mestrado,
através de sequências de ensino e modelagem científica.
No ano de 2018, tínhamos três turmas de NTPPS, onde trabalhávamos além da
parte social projetos de caráter cientifico. Estes projetos, de forma simplificada,
objetivavam mostrar aos alunos a estrutura e os passos de uma pesquisa cientifica. Além
dessas turmas, estávamos responsáveis por cinco turmas onde lecionávamos a
componente Física. Duas destas eram de primeiro ano, duas de segundo ano e uma de
terceiro ano.
Sempre tive a preocupação em mostrar o que a Física tinha a oferecer para a
sociedade, e o que os acontecimentos diários tinham em comum com as aulas. Faz-se
necessário fazer esse trabalho, não só de aprendizado, mas de conscientização, já que a
7 Ao todo são 20 coordenadorias regionais no estado do Ceará distribuídas em todas as regiões. A
CREDE 16 localiza-se na cidade de Iguatu, CE e integra a cidade de Acopiara, CE.
35
maioria dos alunos desenvolveu a cultura de que a Física estava apenas na sala de aula,
e não em praticamente tudo que vivenciamos em nosso dia a dia.
3.3 Os participantes da pesquisa e a escolha do tema de estudo (Termodinâmica)
A pesquisa-ação foi aplicada na turma C do 2º ano do ensino médio da escola.
Haviam 42 alunos matriculados. O critério de escolha desta turma foi principalmente
em função de que a maioria dos estudantes tinha dificuldades de aprendizagem em
Física e eram em geral muito dispersos (resultados revelados em provas escritas e
observação do envolvimento dos estudantes em aulas). Do total eram 25 alunos do sexo
masculino e 17 do sexo feminino. Desde o início os estudantes demonstraram muita
curiosidade em participar da experiência didática, principalmente porque revelaram
interesse em entenderem os aspectos científicos que discutiam o funcionamento do
motor de uma moto. Reiteramos que o meio de transporte mais usado pelos estudantes
era a moto fortemente presente na sua realidade. Apesar de usarem bastante este
transporte, a maioria desconhecia a ciência por trás de seu funcionamento. Como
veremos no capítulo de análise, os estudantes possuem explicações de senso comum
sobre o funcionamento, mas distantes dos aspectos conceituais da Termodinâmica (ex.
Conservação da energia; energia térmica; temperatura; trabalho de uma máquina
térmica; pressão; rendimento de uma máquina). Desta forma partimos do pressuposto
que estudar estes assuntos, considerando a modelagem científica, pode facilitar o
entendimento destes conceitos da física para este nível de ensino.
3.4 Os instrumentos de coleta de dados: diário de campo, entrevista, questionário,
observações
Na realização da intervenção fizemos uso de diversos instrumentos de coletas
de dados entre eles: o questionário; a entrevista; o diário de campo (da professora
investigadora e dos alunos) e observações das situações didáticas dos momentos das
aulas. Um questionário inicial foi preciso para explorarmos os saberes existentes dos
estudantes sobre conceitos elementares da Termodinâmica (resultado explorado pela
aplicação de um questionário inicial que pode ser visto no Apêndice A), por exemplo,
entendimento dos estudantes sobre os significados de:
1. Temperatura;
2. Calor;
3. Conservação da energia;
4. Trabalho mecânico na Termodinâmica;
36
5. Energia interna;
6. Conhecimentos deles em relação à questão: se ao colocarmos alimentos em uma
panela de pressão e fornecermos energia térmica a mesma que, ao passar do
tempo aquecerá provocando a eliminação de vapor, se neste caso, há
conservação da energia.
7. Processos reversíveis e irreversíveis;
8. Transformação cíclica.
Com o intuito de estimular a produção escrita dos estudantes, foi entregue, no
primeiro dia da intervenção, um diário de campo para cada grupo de trabalho. Neste
diário de campo os estudantes foram orientados a registravam suas observações das
aulas, das situações didáticas, suas dúvidas, suas expectativas, delineavam a
organização das tarefas (as ações desenvolvidas pelos estudantes serão melhor
esclarecidas na seção seguinte que descreve a sequência de ensino elaborada). O sistema
planejado era que em cada aula um membro do grupo ficasse responsável para fazer a
produção escrita gerada pelas decisões consensuais de toda equipe. Ao final da aula o
caderno de campo era entregue à professora para que avaliasse a produção dos
estudantes e servindo de parâmetro para diagnosticar as dificuldades e progresso dos
estudantes.
Como parte dos instrumentos de dados também consideramos o registro feitos
com instrumentos de imagens e vídeos para captar os momentos didáticos. Foi preciso
solicitar autorização a direção e aos pais dos estudantes por meio de um termo de
consentimento livre e esclarecido (Apêndice B).
Realizamos uma entrevista com cada membro de cada grupo para
investigarmos suas opiniões acerca da experiência de ensino sobre o estudo da
Termodinâmica por meio da abordagem da modelagem científica vivenciado por eles.
3.5 A construção de uma sequência de ensino baseado na abordagem de Ciclos de
Modelagem de David Hestenes
Elaboramos uma sequência de ensino para nortear a apresentação do estudo da
Termodinâmica por meio da inserção da abordagem da modelagem didático científica.
A sequência foi pensada para ser desenvolvida em 15h aulas como já foi anunciado. De
forma geral descrevemos a seguir:
Etapa I: Na etapa inicial de discussão do tema foi projetado um
questionário onde os alunos poderiam responder o que sabiam sobre conceitos básicos
37
da Termodinâmica. Nesta primeira etapa buscamos incentivá-los a responderem de
forma livre o que pensavam sobre aspectos conceituais da física que explica o
funcionamento de um motor.
Etapa II: Na segunda etapa, a de Laboratório de Investigação, devem ser
formada equipes e os alunos foram incentivados a desenharem um modelo
representacional sobre como acham que funciona um motor à combustão de uma moto
(momento de exploração dos saberes existentes dos estudantes). Na aula seguinte foi
dada uma aula expositiva sobre as leis da Termodinâmica (por meio do uso da aula
expositiva na lousa e apresentação de slides) (APÊNDICE C) e suas relações com os
motores. Para complementar foi sugerido uma leitura de recorte do livro Grupo de
Reelaboração do Ensino de Física (GREF) (poderá ser visto no capítulo de análise dos
dados).
Etapa III: Na terceira etapa realizamos uma primeira sessão de
Whiteboard. Segundo a sequência proposta por Hestenes nesta etapa deveria ser
entregue para cada equipe um quadro branco para os estudantes imprimirem suas
produções (desenhos, mapas, e etc.). Mas na realidade ao procurarmos adquirir os
quadros brancos percebemos que o custo ficou alto e inviável. Para contornar esta
problemática realizamos uma adaptação considerando o uso de cartolinas de papel
brancas e pinceis coloridos fornecidos pela coordenação da escola. Na cartolina foram
estimulados a fazer um modelo representacional (antes do acesso as discussões
conceituais).
Etapa IV: Na quarta etapa a resolução colaborativa foi proporcionada por
meio do fornecimento aos alunos de atividades de casa, exercícios do próprio livro
didático. Os estudantes puderam usar diversas outras fontes de pesquisa dentre elas o
uso da internet (desde a pesquisa na internet como o contato pelas redes sociais com os
colegas que moram distante).
Etapa V: A quinta etapa foi reservada para a realização de uma nova
sessão de Whiteboad. Usando outra cartolina, os estudantes elaboraram um modelo
conceitual na tentativa de revelarmos a apropriação de aprendizagens. Nesta etapa
promovemos uma socialização de resultados e discussões conceituais da
Termodinâmica com toda turma.
38
Etapa V: A última etapa foi um momento de realização da avaliação do
professor acerca do desempenho dos alunos e a percepção da evolução de cada um. E
ainda a avaliação de cada equipe sobre a sequência desenvolvida.
No quadro 01 abaixo sintetizamos as etapas seguidas da sequência de ensino.
Apresentamos a proposta de atividades que podem ser realizadas em cada momento de
aula.
Quadro 01: Sequência de Ensino Instrução por Modelagem para o estudo do motor de
uma moto
Desenvolvimento do modelo
Etapa I: Discussão do tema
1º e 2º aulas
Identificar os conhecimentos prévios dos alunos através de um questionário que
irá abordar temas de Termodinâmica;
instigar a curiosidade dos alunos por meio de uma situação fenomenológica do
cotidiano, o funcionamento do motor da moto. Com isso espera-se obter
subsidio para a aula seguinte.
Etapa II: Laboratório de investigação
3ºe 4º aulas
dividir a turma em grupos de seis pessoas;
entregar cadernos de campo, para as anotações da equipe;
Entrega de quadro branco para cada grupo para a produção de um modelo
representacional sobre o funcionamento do motor de uma moto;
Etapa III: sessão de Whiteboard
5º aula e 6º aulas
Apresentação das produções dos estudantes de seus modelos representacionais
7º e 8º aulas
Aula expondo os conceitos termodinâmicos dos livros com diversos tipos de
procedimentos e pesquisas tais como: Leitura de texto do livro GREF, mídia
visual e escrita no caderno de campo;
O aluno nesta etapa busca aprofundar aspectos teóricos sobre o campo da
Termodinâmica para fundamentar cientificamente sobre o funcionamento do
39
motor;
Aplicação do modelo
Etapa IV: Resolução colaborativa
9º, 10º e 11º aulas
Discussões de exercícios do livro;
Atividades para os estudantes fazerem em casa;
uso da internet;
Etapa V: nova sessão de Whiteboad
12º, 13º e 14º aulas
elaboração de um modelo conceitual na tentativa de revelarmos a
apropriação de aprendizagens;
O professor neste momento atuará como orientador, e os alunos farão
um debate para defender o seu modelo de motor usando os
conhecimentos adquiridos nas aulas e mais uma vez o quadro para
ajudar a visualização de cada modelo;
os alunos irão desenhar novamente e explicar o modelo do motor,
mostrando o que entenderam;
socialização dos resultados das produções dos estudantes associando
agora com os conceitos vistos anteriormente;
o professor atuando como articulador;
Discussão de todas as dúvidas e conceituações dos discentes, fazendo
assim as correções necessárias.
Etapa V: avaliação
15º aula
avaliação será feita através da observação de cada etapa do desenvolvimento
dos alunos, com base nos modelos do motor, nos relatórios e no debate;
avaliação feita pelos estudantes sobre a experiência vivenciada.
40
3.6 A elaboração de um material de apoio para auxiliar outras experiências
didáticas (Produto Educacional)
Um dos objetivos deste trabalho é a produção de um material de apoio didático
para outros professores de ciências que desejem inserir em suas aulas a abordagem aqui
defendida que é o ensino da Termodinâmica por meio da modelagem científica. Desta
forma o produto final gerado desta dissertação será uma sequência de ensino usando os
conceitos de modelagem aplicados as aulas de Termodinâmica que estão descritos
juntamente com algumas informações teóricas sobre a modelagem de Bunge e a
sequências de ensino de Hestenes em um caderno pedagógico anexado neste trabalho. O
caderno contará com uma breve apresentação da abordagem, seus aspectos teóricos e
metodológicos. No caderno constará também uma proposta de uma sequência de ensino
sem necessidade de ser considerada de forma fixa e rígida, mas aberta a possíveis
ajustes e adaptações que depende de cada contexto escolar. Contará de um breve relato
da experiência de intervenção realizada na escola de Acopiara, CE. Este caderno
pedagógico pode ser conferido no Anexo D.
A seguir desenvolvemos um capítulo de apresentação e reflexão dos principais
conceitos inerentes à área da Termodinâmica que será de fundamental importância
como referência de conteúdo na elaboração da sequência proposta. Alguns aspectos
conceituais são descritos de forma mais aprofundada em nível superior, mas é
importante dizer que consideramos a apresentação específica de assunto a nível do
ensino médio no esboço da sequência de ensino por modelagem.
41
4 DISCUSSÃO CONCEITUAL SOBRE AS LEIS DA
TERMODINÂMICA
A Termodinâmica começou a se desenvolver a partir da necessidade do homem
em diminuir os custos da produção em série. Este fato foi impulsionado pela primeira
Revolução Industrial que culminou no interesse econômico de melhorias das máquinas
em prol de seu aproveitamento máximo. Segundo Baldow & Jr (2010) “A revolução
industrial constituiu-se em um dos principais fatores externalistas para o
desenvolvimento da física e, em particular, da Termodinâmica nos séculos XVIII e
XIX”.
Ao tratarmos a Física assim como a Termodinâmica como algo necessário para
o desenvolvimento da sociedade, fica mais simples de entender o quanto é importante
aprendermos sobre esse conteúdo. Portanto, neste capítulo serão apresentados
conceitualmente as Leis da Termodinâmica sempre tentando associar com fenômenos
observados no cotidiano, relacionado a esta área como uma forma de contextualizar e
problematizar esse conteúdo.
Freire (2019) ressalta que a Termodinâmica foca o estudo de fenômenos
térmicos. Ele diz que esta área específica da Física contempla estudos especificamente
de processos de aquecimento, resfriamento, expansões, compressões de sistemas
materiais de caráter macroscópico. O autor considera um sistema termodinâmico como
corpos materiais macroscópico simples ou homogêneo formados por vários
componentes divididos por paredes e o meio externo a este sistema compreendido como
a vizinhança do mesmo.
A primeira Lei da Termodinâmica vai além do conceito de conservação da
energia, envolve por sua vez, as considerações sobre energia térmica e trabalho como
formas de transferência de energia, isso interfere diretamente na energia interna do
sistema. Para uma melhor compreensão das Leis da Termodinâmica é necessário
aprofundar-se nos conceitos de Energia térmica, Trabalho e Energia Interna o que
tentaremos explicar a seguir.
4.1 Calor
Os processos de transmissão de energia térmica podem ocorrer por meio da
condução, quando dois objetos de temperaturas diferentes se encostam e o que tem
42
maior temperatura cede energia o que tem menos temperatura, por convecção quando o
fluido que está quente, portanto menos denso sobe e o fluido de menor temperatura e
mais denso desce formando as chamadas correntes de convecção e ainda por radiação,
que é a transmissão de energia térmica por meio de ondas eletromagnéticas. A energia
térmica pode ser fornecida quando o objeto se aquece e retirada quando o objeto se
resfria. Quando há aquecimento ocorre uma expansão e no resfriamento ocorre uma
contração dos fluidos, foi com isso que os motores começaram a ser criados.
A quantidade de energia térmica pode ser representada pela equação abaixo:
(4.1)
Onde é a quantidade de energia térmica, é a massa do fluido, é o calor
específico e é a variação da temperatura.
4.2 Trabalho realizado em um sistema com pressão constante
Para Freire (2019) “calor e trabalho são possíveis formas de transferência de
energia entre sistema e vizinhança” (ibid. p.41).
Considerando um gás contido em um reservatório fechado por um êmbolo que
se move livremente sem atrito, podemos fornecer energia térmica ao mesmo, neste caso
as moléculas irão, cada vez mais, ficar agitadas exercendo uma pressão no êmbolo.
Entretanto, como o embolo se move facilmente esta pressão permanece constante
durante todo processo, então podemos dizer que a transformação é isobárica. O
resultado é o deslocamento do êmbolo por conta de uma força exercida pela pressão.
Com esse deslocamento, é perceptível que houve um aumento do volume, ou seja, o
volume variou. O trabalho realizado está diretamente ligado com a variação do volume;
se a variação for positiva, isto é, se o volume aumentar, o trabalho é positivo e dizemos
que o trabalho foi realizado pelo gás sobre o meio externo. Se a variação for negativa,
ou seja, o volume diminuir, o trabalho é negativo e dizemos que o trabalho foi realizado
sobre o gás pelo meio externo (YOUNG, 2008).
Segundo Young (2008) o gás exerce uma força nas paredes do recipiente no
qual nos permite calcular o trabalho
(4.2)
43
Sabendo que a força é dada pela equação , então substituindo na
equação (4.2), temos:
(4.3)
Neste sentido, pode-se ressaltar que tem dimensões de volume, com isso
a equação que permite calcular o trabalho em uma transformação gasosa é:
∫
(4.4)
Onde é o trabalho, é a pressão, é o volume final e é o volume
inicial.
Essa equação é válida no caso da transformação ser isobárica, ou seja, pressão
constante. Entretanto, se a pressão variar pode-se calcular o trabalho por meio do
cálculo da área da figura representada no gráfico, supondo que a pressão varie
continuamente ( linearmente).
Gráfico 1: Representação de um gráfico no qual o tabalho é igual a área da figura.
Neste caso deve-se calcular a área do trapézio para encontrar o valor do
trabalho.
(4.5)
4.3 Energia interna
A energia interna do sistema se relaciona com as condições do gás, já que é a
junção de vários tipos de energia. Freire (2019) explica que conforme o princípio de
conservação de energia, a diferença entre a energia térmica que entrou no sistema e o
trabalho realizado (que sai do sistema) a energia acrescida neste sistema é descrita como
a energia interna do sistema.
0
20
40
60
Pre
ssão
Volume
44
“energia térmica, que se associa ao movimento de agitação térmica das
moléculas; energia potencial de configuração, associadas às forças internas
conservativas; energias cinéticas atômico-moleculares, ligadas a rotação das
moléculas, as vibrações intramoleculares e aos movimentos intra-harmônicos
das partículas elementares.” (JÚNIOR, GILBERTO, & SOARES, 1993)
Durante uma transformação gasosa, por exemplo, a energia interna pode variar
ou não, isso depende da temperatura do sistema se irá aumentar, diminuir ou
permanecer constante. A energia interna inicial do sistema é representada por ,
enquanto a energia final é , e quando há aumento na temperatura a variação da energia
é positiva, e se houver queda na temperatura a variação é negativa. Esta é representada
por
A variação da energia interna, segundo Freire (2019) é representada pela
equação:
( ) ( ) (4.6)
4.4 Primeira Lei da Termodinâmica
A Primeira Lei da Termodinâmica tem como principal característica a
conservação da energia, isso significa que a energia térmica fornecida ao sistema
isolado (que não permite a trocas com o meio externo) é usada para realizar trabalho e
para aumentar a energia interna (YOUNG, 2008). Ou seja, a energia interna faz o
balanço entre a energia térmica fornecida e o trabalho realizado, permitindo que a
energia sempre se conserve. A equação que descreve é:
(4.7)
Podemos usar como exemplo o motor da moto que será objeto de estudo na
proposta de ensino desta dissertação. A quantidade de energia térmica fornecida pela
queima da gasolina serve para realizar trabalho (quando há a expansão do gás, fazendo
o motor funcionar, e com isso, a moto se mover) e aumentar a energia interna do motor
(aquecimento do motor).
Segundo Young (2008) quando definimos energia interna falamos da junção de
diversas energias; matematicamente isso se torna muito difícil, pelas inúmeras equações
45
de energia que teríamos que resolver. Então, usando a primeira lei da Termodinâmica é
possível calcular a variação da energia interna através da equação (4.7), basta sabermos
os valores de e de . Entretanto, apesar de deduzir o valor de , não sabemos o
valor de ou , a menos que possamos definir um desses estados e neste caso
encontrar o outro estado com a equação (4.6). Além disso, surge outra indagação, se o
trabalho e a energia térmica fornecida dependem do caminho, então a energia interna
também irá depender? Segundo Young (2008) apesar de e dependerem do percurso
percorrido, a relação não depende. Para ele, a variação da energia interna
durante processos termodinâmicos depende unicamente do estado inicial e do estado
final do sistema e não do caminho que conduz um estado a outro.
4.4.1Tipos de processos termodinâmicos
A) Processo adiabático
Estes processos se caracterizam por não haver troca de energia térmica, são
processos que ocorrem muito rapidamente que não dá tempo de trocar energia térmica
com o meio externo. Como exemplo desse processo citamos um desodorante
antitranspirante ao ser usado, a pressão no interior é grande, entretanto ao ser liberado a
pressão baixa rapidamente, então a temperatura também irá baixar por serem
diretamente proporcionais. Como a temperatura baixou, a variação da energia interna
será negativa, enquanto o trabalho realizado será positivo por ter ocorrido uma expansão
(YOUNG, 2008).
No caso anterior, a equação (4.7) se reduz a . No caso de haver uma
compressão adiabática, por exemplo, no caso de uma bola ao ser chutada, o trabalho é
negativo, por ter havido uma redução no volume. Neste processo a bola é deformada e
então a energia interna aumenta (as moléculas ficam mais próximas e aumenta a
temperatura). Com isso a equação (4.7) inverte o sinal negativo e se restringe a
(YOUNG, 2008).
B) Processo Isométrico
Este processo se caracteriza por uma transformação gasosa a volume constate.
Isso interfere na primeira lei da Termodinâmica diretamente, pois o trabalho realizado
depende da variação do volume. Um exemplo seria uma garrafa de refrigerante
46
lacrada, ao tirarmos da geladeira, estamos fornecendo energia térmica e sua energia
interna irá aumentar, pois sua temperatura aumenta, entretanto, a nível macroscópico o
volume permanece constante. Sendo assim, a equação (4.7) da primeira lei se torna
(YOUNG, 2008).
C) Processo Isobárico
O processo isobárico se desenvolve a parti de uma transformação gasosa a
pressão constante, neste caso nenhuma das grandezas são nulas. Então a equação (4.7)
continua completa.
Um exemplo dessa transformação é uma panela, sem ser de pressão,
cozinhando os alimentos, o ar acima da panela se mantém constante (YOUNG, 2008).
D) Processo Isotérmico
Este processo se caracteriza por acontecer com a temperatura constante. Para
que isso ocorra a energia térmica precisa ser fornecido lentamente para que haja tempo
de trocar energia térmica com o meio e manter o equilíbrio térmico. Quando isso
acontece, em alguns casos, como o gás ideal, temos e então a equação (4.7) fica
.
Para complementar a Primeira Lei da Termodinâmica, foi enunciada a Segunda
Lei da Termodinâmica (YOUNG, 2008).
4.5 Segunda Lei da Termodinâmica
A Segunda Lei da Termodinâmica expressa que a energia térmica flui
naturalmente de um corpo quente para um corpo frio (YOUNG, 2008). Seria possível
acontecer o contrário?
Na natureza não, é impossível que ocorra fluxo de energia térmica
naturalmente do frio para o quente, se usarmos da racionalidade essa afirmação faz
sentido, já que o quente é quem mais tem energia térmica, sendo natural que forneça
47
para o que tem menos energia. Contudo este raciocínio não científico pode não fazer
sentido para alguns, então a explicação da ciência, segundo Young (2008), é que existe
um fluxo natural das coisas na natureza, ele cita outro exemplo. Para este autor, pode-se
transformar totalmente energia mecânica em energia térmica (por exemplo, quando
usamos o freio para parar um automóvel. Existe a possibilidade de conversão parcial da
energia térmica em energia mecânica como no caso de um motor de moto).
Com isso podemos obter a ideia de reversibilidade e irreversibilidade, estas
grandezas dependem do sentido do processo termodinâmico.
4.5.1 Processos Reversíveis e Irreversíveis
Os processos reversíveis são aqueles que podemos inverter o processo e obter o
que tínhamos antes. Por exemplo, o ar comprimido dentro de uma seringa, ao
comprimir bem devagar e depois soltarmos, o gás se expande e volta ao estado inicial.
Este processo só pode ocorrer se tiver um equilíbrio termodinâmico, ou seja, nenhuma
mudança de estado físico (YOUNG, 2008).
Já os processos irreversíveis são bem comuns na natureza, por exemplo, uma
gota de tinta na água, uma vez misturada à água é impossível voltar ao estado inicial.
Ou um ovo que se quebra e a energia térmica transferido de um corpo quente para um
corpo mais frio (YOUNG, 2008).
Portanto, os processos irreversíveis estão mais comuns na natureza, já os
processos reversíveis só ocorrem de acordo com algumas condições. Então, se formos
relacionar com a desordem, podemos dizer que os processos irreversíveis tem um grau
maior de desorganização, já que ocorrem naturalmente sem a necessidade de que se
controle nenhuma variável. Já os processos reversíveis só ocorrem de acordo com
determinadas condições. Com isso é necessária uma menor desordem, mais à frente
vamos calcular este grau de desordem usando o conceito de entropia (YOUNG, 2008).
4.5.2 Máquinas Térmicas
Segundo Martini et al. (2016) a água foi um dos elementos mais importantes
para a Revolução Industrial do século XVIII, já que através do seu aquecimento ela
pode mudar seu estado físico e mover diversas coisas, rodas, marteletes, turbinas de
48
termelétricas entre outras. O que acontece é que a compressão e depois a liberação do
vapor de água pode mover diversas coisas, inclusive motores, é o que acontece com as
máquinas a vapor.
“[...] o aproveitamento do vapor de água no funcionamento das máquinas a
vapor, aperfeiçoadas por James Watts, por volta de 1765. Nos motores
movidos a vapor a água é aquecida até mudar para o estado de vapor. Esse
vapor é comprimido e em seguida é expulso da região de alta pressão [...]”.
(MARTINI et al., 2016)
“Qualquer dispositivo que transforme energia térmica parcialmente em
trabalho ou em energia mecânica denomina-se máquina térmica.” (YOUNG, 2008).
Então, sabendo dessa definição podemos dizer que os seres humanos, assim como os
animais são máquinas térmicas, já que a energia vinda dos alimentos é usada para
realizar trabalho. Além de alguns seres vivos, temos os motores de motocicletas, que
usam a queima da gasolina (energia térmica em trânsito) para realizar trabalho e
aumentar a energia interna como vimos na primeira Lei da Termodinâmica.
As máquinas térmicas funcionam retirando energia térmica de uma fonte
quente, realizando trabalho e rejeitando o restante da energia térmica para uma fonte
fria. Nas termelétricas, por exemplo, a fonte quente é a queima de combustíveis fósseis,
a realização de trabalho é o aquecimento da água que vira vapor e a fonte fria é
geralmente um rio, ou um lago. Nas motocicletas a fonte quente vem da queima da
gasolina, o trabalho é o funcionamento do motor e a fonte fria é o ambiente ao redor. A
energia térmica rejeitada é visto como um desperdício, mas até os dias atuais nenhum
cientista conseguiu criar uma máquina que converta energia térmica totalmente em
trabalho.
Figura 1: Diagrama demonstrando o fluxo de energia de uma máquina térmica.
Fonte Quente
Fonte Fria
Trabalho
49
Seria excelente que toda a energia térmica fornecida fosse transformada em
trabalho, mas como vimos acima é impossível. O que é possível é que a máquina
desperdice o mínimo de energia térmica para a fonte fria, então sua eficiência será
maior. Para calcularmos a eficiência usaremos para a energia térmica retirado da
fonte quente, para a energia térmica rejeitada para a fonte fria e para o trabalho
realizado. Então sabemos que
(4.8)
Nesta configuração o trabalho pode ser calculado por
(4.9)
E a eficiência da máquina térmica é dada por
(4.10)
Quando substituímos (4.9) em (4.10) temos:
(4.11)
4.5.5 Enunciando a Segunda Lei da Termodinâmica
Segundo YOUNG (2008) a segunda lei da Termodinâmica se enuncia da
seguinte forma
É impossível para qualquer sistema passar por um processo no qual absorve
energia térmica de um reservatório a uma dada temperatura e converte o calor
completamente em trabalho mecânico de modo que o sistema termine em um
estado idêntico ao estado inicial (YOUNG, 2008).
Se a segunda lei não fosse verdadeira poderíamos fazer com que uma moto
funcionasse apenas resfriando o motor, ou uma termelétrica funcionasse apenas
resfriando o ambiente. Estes feitos não violaria a primeira lei, já que ela só afirma que a
energia não pode ser criada, nem destruída, apenas transformada. Já a segunda lei limita
a disponibilidade se energia, a forma como é gasta e como é usada.
50
4.5.6 Entropia
A Segunda Lei da Termodinâmica, diferentemente das outras leis, não foi
formulada com base em uma equação, mas apenas em uma impossibilidade. Entretanto
podemos relacionar a segunda lei com o conceito de entropia (YOUNG, 2008).
Ao aumentarmos a temperatura dos processos, aumentamos a desordem já que
as moléculas se agitam mais e ocorre um acréscimo na energia cinética. Com a entropia
é possível termos uma previsão de desordem.
Se tomarmos como exemplo um gás, depois do aquecimento as moléculas se
expandem desordenadamente e mostra uma relação de proporcionalidade
,
“Introduzimos o símbolo para representar a entropia do sistema, e definimos a
variação infinitesimal de entropia [...]”. A relação durante um processo reversível
infinitesimal é
(4.12)
Para generalizar para todos os processos de entropia podemos integrar a
entropia do processo infinitesimal, neste caso teremos a entropia do processo reversível.
∫
(4.13)
Segundo Young (2008) a equação 4.13 não depende do percurso que leva o
sistema do estado inicial ao estado final, pois é sempre a mesma em odos os processos
possíveis entre os dois estados. Então podemos concluir que a entropia tem um valor
definido para um dado estado do sistema.
Estes foram os principais conceitos da Termodinâmica aprofundados nesta
dissertação. A proposta de utilização da modelagem científica a partir da compreensão
do motor de uma moto pelos estudantes irá centrar no entendimentos pelos estudantes
sobre o energia térmica, a conservação da energia, o rendimento de um máquina, etc.
Apresentamos no capítulo que se segue as principais discussões produzidas no processo
de intervenção.
51
5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS DO ESTUDO
Baseando-nos na proposta de ciclos de modelagens de David Hestenes, como
discutido na metodologia desta pesquisa, planejamos e desenvolvimentos a intervenção
pedagógica em uma turma do ensino médio em uma escola pública de Acopiara, onde a
autora deste trabalho é professora. Como pôde ser percebido no capítulo anterior,
organizamos uma sequência de ensino seguindo os seguintes passos metodológicos, que
foi uma adaptação feita da proposta defendida por Hestenes, sendo: Discussão do tema,
Laboratório de investigação, Sessão de Whiteboard (que em português significa quadro
branco), Resolução colaborativa, nova Sessão de Whiteboard e Avaliação.
É necessário dizer que ao planejarmos a aula conectamos pressupostos teóricos
e metodológicos do referencial sobre modelagem científica de Mario Bunge e da
modelagem didático-científica de David Hestenes. Particularmente, no processo de
intervenção e desenvolvimento da sequência de ensino, buscamos problematizar a
construção de um objeto modelo e, posteriormente, a evolução para um modelo teórico
referente ao conhecimento sobre o funcionamento de um motor de combustão interna de
uma moto (lembramos que a escolha para explorar o motor de uma moto partiu dos
próprios estudantes, justificada por ser uma tecnologia comumente presente em seu
cotidiano, pois muitos deles usam a moto como meio de transporte para ir até a escola).
Um fato importante é que o pensar o conteúdo (Termodinâmica) para a intervenção
pedagógica foi realizada levando em consideração o conteúdo que os alunos estavam
estudando no programa estabelecido para a série.
5. 1 Análise e interpretação de cada uma das etapas da sequência de modelagem
Trabalhar com modelagem cientifica tem muitas vantagens, sendo que a
principal é a oportunidade que os estudantes têm de problematizar o significado e um
objeto modelo e terem curiosidade e interesse de saberem a associação existente a teoria
da física a ser estudada no segundo ano, ou seja, a área da Termodinâmica. Reiteramos
que realizamos a intervenção em uma turma de 2º ano do EM, com aproximadamente
45 estudantes. A realização aconteceu no período do quarto e último bimestre do ano de
2018. É importante dizer que o desenvolvimento da sequência didática se deu durante o
período de 28/11 de 2018 e 03/01 do ano de 2019. No total foram 15 aulas de 50 min e
o foco foi o estudo da Termodinâmica relacionada com a perspectiva da modelagem
52
cientifica. Como já dito, as aulas foram na disciplina de física juntamente com aulas do
NTPPS. As 15 aulas foram fundamentais para uma melhor abordagem da estratégia
diferenciada (seis aulas por semana, dentre elas duas eram de Física e quatro de Núcleo
de Trabalho, Pesquisa e Práticas Sociais).
Para melhor entender o que foi realizado abaixo se encontra o quadro 2 que
relaciona os passos da Modelagem científica com a sequência de ensino de David
Hestenes. A mesma foi uma sugestão de acréscimo da Prof. Dra Neusa Teresinha
Massoni.
Quadro 02: Passos da Modelagem Científica em uma Sequência Didática na acepção de Mario Bunge
1) Propor perguntas
coerentes e interessantes
sobre a realidade - o
Referente (fenômeno,
objeto, sistema...)
Referente
Como funciona o motor de uma moto?
OK!
2) Construir Objeto-
Modelo: simplificar,
esquematizar o objeto/fato
(oferecer imagem simbólica
do objeto real) Objetos-modelo abordam
certas relações entre teoria e
realidade
Desenho pictórico do motor de moto: entrada de
combustível, combustão e descarga
OK!
3) Construir o
Modelo Teórico –
especificar o
comportamento ou
mecanismos internos do
objeto - “caixa translúcida”
Modelos teóricos
permitem criar explicações
e previsões
Especificando o mecanismo interno do motor a 4
tempos
Parcial
(aumentar p
tamanho das
imagens
/modelos feitos
pelos alunos)
4) Inserir o modelo teórico
em uma TEORIA GERAL •Explicar os mecanismos
com uma teoria aceita / criar
uma
Termodinâmica - Ciclo de Otto
Inconcluso
(pode ser
feito!)
5) Teste dos Modelos Proporcionar aos estudantes oportunidades de coleta
dados (podem ser empíricos, computacionais,
Pode ser feito!
53
simulação, etc.)
5.1.1 Descrevendo sobre a Discussão do tema
Na primeira aula, dia 28/11/2018, inicialmente foi solicitado aos alunos que
respondessem um questionário inicial sem identificação, já que a ideia era selecionar as
principais dificuldades conceituais dos discentes acerca da Termodinâmica. Na ocasião
os mesmos precisavam demonstrar sua opinião sobre alguns conceitos de
Termodinâmica (temperatura, energia térmica, conservação de energia). Como veremos
nesta discussão, os estudantes tinham muitas dúvidas. O intuito do questionário, antes
do início da intervenção, era problematizar fenômenos do cotidiano dos estudantes que
estavam vinculados com conhecimentos da Termodinâmica, ou seja, o que eles
entendiam sobre o assunto.
A primeira questão foi saber a opinião deles sobre o significado do conceito de
temperatura. Surgiram diversas respostas aceitáveis cientificamente e outras distantes
da linguagem científica, vejamos alguns recortes:
Estudante A: “é a energia de um corpo”.
Estudante B: “é o clima”.
Estudante C: “temperatura é aquilo que define o que está quente ou frio”.
Estudante D: “é um tempo abafado ou quente”
Pudemos perceber que os estudantes em sua maioria não possuíam um
entendimento próximo da linguagem científica acerca do conceito de temperatura. Não
associavam este conceito ao grau de agitação das partículas dos materiais. Era comum
relacionarem este conceito com energia, clima, sensações de quente e frio.
Interpretamos que são opiniões mais próximas do senso comum, do que escutam em seu
cotidiano sobre o termo.
Com relação à questão sobre o entendimento do conceito de energia térmica
reservamos alguns recortes para discussão e análise neste trabalho, vejamos:
Estudante A: “a temperatura do nosso corpo”.
Estudante B: “é a temperatura que um corpo sente”.
54
Estudante C: “é quando está quente”.
Estudante D: “é a temperatura de alguma coisa, quando o tempo está quente”.
Estudante E: “é a energia transferida entre dois corpos ou mais”.
Apesar dos estudantes já terem tido a oportunidade de estudar esse conceito em
aulas anteriores suas respostas revelam ainda dificuldades de compreensão do conceito.
Não fácil de entender que é o de energia térmica (o conceito de energia térmica, assim
como o de temperatura, já fora estudado nos primeiros dias de aula), especulamos que,
por isso, apareceram várias respostas parecidas com a definição científica. Entretanto,
nem todos os alunos conseguiram recordar do assunto, com isso algumas respostas se
distanciaram do caráter científico permanecendo concepções resistentes de seu senso
comum. A maioria como pode ver, associava energia térmica como sendo a temperatura
que um corpo possui. Uma minoria dos estudantes, como em uma da resposta acima,
entendia o energia térmica como uma forma de fluxo de energia.
Em relação as suas concepções sobre o significado da conservação da energia
a unanimamente os estudantes relacionavam com formas de economia da energia
elétrica, isso pode ser notado no fragmento abaixo:
Estudante A: “é energia parada, sem uso”.
Estudante B: “é uma forma de guardar energia, assim como as placas solares”.
Estudante C: “é um local que a energia fica concentrada por um tempo”.
Estudante D: “é uma maneira de não gastar energia sem precisão”.
Podemos perceber que os estudantes apresentavam dificuldades de principio
fundamental da física que é o “princípio da conservação”. As respostas dos estudantes a
questão mostra veementemente a necessidade de inserirmos uma estratégia didática
alternativa para problematizarmos conceitos fundamentais. Com a proposta aqui
defendida acreditamos que pensar o ensino das teorias da física por meio da
problematização do que seja a realidade (um referente), um objeto modelo, um modelo
conceitual pode, de alguma forma, ajudar a compreensão dos estudantes acerca destes
conceitos da Termodinâmica.
55
Buscamos explorar algum entendimento dos estudantes sobre o significado do
conceito de trabalho mecânico na Termodinâmica. A maioria associou como sendo
máquinas que trabalham ou trabalho feito por uma máquina. “uma máquina que
trabalha” (Estudante A); “trabalho mecânico” (Estudante B); “é o trabalho feito por
uma máquina” (Estudante C). Um fato preocupante é que a maioria dos estudantes não
soube responder a questão.
Com relação ao entendimento acerca do conceito de energia interna a maioria
do que responderam associou a uma energia que vem de dentro, ou que tem dentro dos
corpos: “energia do seu corpo” (Estudante A); “energia em um só lugar” (Estudante B);
“energia concentrada em um só lugar” (Estudante C). Entendemos que o conceito de
energia interna parecia ainda muito abstrato pela maioria dos estudantes, eles ainda não
possuíam o domínio conceitual científico, sendo um fato natural devido a ainda não
terem tido a oportunidade de um maior aprofundamento sobre o assunto. Assim como
outros conceitos, por exemplo, de trabalho mecânico, a maioria dos estudantes não
arriscou responder. Com relação o questionamento feito se há conservação de energia
na situação em que colocamos alimentos em uma panela de pressão seguido de seu
aquecimento provocando a saída de vapor, a maioria dos estudantes afirmou que
havia sim um processo de conservação de energia. Um estudante respondeu que no
início do processo de aquecimento havia a conservação de energia e em seguida, no
início da liberação do vapor, não haveria mais a conservação. Neste caso, este aluno
entendeu que no inicio, como a panela não estava liberando vapor haveria sim uma
conservação de energia, mas após o momento que a água começasse a ferver, a energia
não se conservaria mais. Esta explicação revela o quanto os estudantes tinham
dificuldade nesse conceito.
Acerca do entendimento sobre processos reversíveis e irreversíveis
unanimamente compreendiam como sendo algo que pode ser desfeito e algo que não
pode ser desfeito, respectivamente. Vejamos algumas respostas:
Estudantes A: “São fontes que não acabam”.
Estudante B: “reversíveis é quando consegue e irreversíveis é quando não consegue”.
Estudante C: “reversível é aquilo que pode mudar e irreversível é o que não pode
mudar”.
56
A maioria das respostas a esta questão foram simplistas e objetivas, por
exemplo: “são coisas que podem ser reversíveis e irreversíveis”. Como pode ser
percebido os estudantes traziam conhecimentos limitados sobre estes conceitos por
ainda não terem tido a oportunidade de um maior estudo em séries anteriores.
Em relação ao entendimento sobre transformações cíclicas surgiram diversas
explicações, tais como: era um ciclo infinito; era uma transformação contínua; uma
energia em forma de círculos. Por exemplo, nos fragmentos escritos abaixo:
Estudante A: “quando há um ciclo infinito, no qual tenha varias fases”.
Estudante B: “é uma transformação que nunca acaba”.
Estudante E: “é uma transformação em círculos.”
A noção de uma transformação cíclica revelou ser bastante abstrata para a
maioria dos estudantes. Percebemos que os estudantes, entendiam que um motor a
combustão de uma moto, por exemplo, funcionava seguindo uma sequência de etapas
(admissão, compressão, combustão, escape), mas sem ainda um domínio científico da
física escolar.
O rendimento da máquina foi um conceito em que os estudantes forneceram
explicações próximas à linguagem científica. Para alguns estudantes o rendimento de
uma máquina era entendido como sendo até onde esta máquina poderia funcionar ou a
quantidade de energia que cada máquina precisa para funcionar. Citamos algumas
respostas: “uma máquina que produz bem” (Estudante F); “a máquina que trabalha
melhor” (Estudante G); “fazer com que a máquina continue rendendo” (Estudante H).
Questionamos sobre a possibilidade de se converter energia de um sistema
totalmente em trabalho. A metade dos estudantes respondeu que era possível
transformar toda energia recebida de uma fonte em trabalho útil. Outra metade
discordava, dentre estes uma estudante exemplificou. Ela fez uma analogia com o
próprio corpo humano, afirmando que a energia oriunda dos alimentos que consumimos
não era totalmente convertida em atividades diárias (andar; falar; pensar; gesticular). Foi
um assunto que despertou muitas dúvidas, como pode ser percebido em algumas
respostas na sequência:
57
Estudante H: “sim, através da alimentação conseguimos energia e assim obtemos
energia para gastar com trabalho”.
Estudante L: “sim, com energia se trabalha mais.”
Percebemos nas respostas dos estudantes acima que estes apresentavam
dúvidas acerca da relação entre energia e trabalho. Alguns estudantes associavam estes
conceitos com as funções corporais, por exemplo, o corpo gasta energia realizando
atividades motoras e com outras funções do nosso corpo.
Os últimos 20 minutos de aula foram reservados para discussões. Buscamos
ouvir o que sabiam sobre máquinas térmicas. A maioria dos estudantes afirmou
desconhecer sobre o assunto e que nunca ouvira falar sobre o assunto em sua trajetória
escolar. Após apresentarmos alguns exemplos sobre máquinas térmicas, todos os
estudantes demonstraram interesse em buscar saber sobre o funcionamento do motor da
moto (reiterando que era uma forma de máquina térmica mais próxima da realidade
deles).
5.1.2 Descrevendo a etapa de Sessão de Laboratório de investigação
Nesta etapa de desenvolvimento da sequência, dia 28/11/2018, foi feito a
divisão das equipes, onde os alunos se agruparam por afinidade formando sete equipes
de seis pessoas. Após esse momento apresentamos, aos estudantes o tema:
Termodinâmica. Na oportunidade, para além de aspectos conceituais, também
contextualizamos o conteúdo com abordagem da história da ciência (não de maneira
profunda, devido o tempo limitado para um maior aprofundamento desta abordagem).
Iniciamos discutindo brevemente sobre a história das máquinas a vapor culminando
para apresentar um pouco sobre o desenvolvimento dos motores a combustão centrando
particularmente para o entendimento do funcionamento do motor da moto (de forma
superficial, apenas para introdução da atividade da sessão de whiteboard).
Buscamos explorar concepções dos estudantes sobre o que sabiam acerca do
funcionamento do motor da moto que eles comumente usavam como transporte.
Percebemos que foi um assunto motivador. Eles logo ficaram bastante empolgados
fazendo diversas perguntas (ex. o que acontece dentro do motor? Por que esquenta
tanto o cano da moto? E se acabar a gasolina um dia?).
58
Após a discursão com os alunos sobre o tema abordado, foi entregue a cada
equipe um kit com um caderno de campo, um pincel e uma cartolina. Conforme a
estratégia sobre modelagem didática científica proposta por David Hestenes essa etapa
deveria ser feita com pequenos quadros brancos. Ao procurarmos adquirir vários
quadros brancos deparamo-nos com a dificuldade de encontra-los na cidade de Acopiara
tendo que encomendar a produção que tinha um custo elevado. Desta maneira
resolvemos usar cartolinas brancas, material mais acessível.
5.1.3 Descrevendo a etapa de Sessão de Whiteboard
Como atividade desta etapa sugerimos que elaborassem um modelo
representacional na cartolina para imprimirem uma representação do que entendiam
sobre o funcionamento desta tecnologia e os fenômenos físicos possíveis em eu entorno.
Foi um momento de muita concentração dos estudantes e conversas entre eles. O nosso
papel foi mediar, orientar e escutar todos. É importante dizer que alguns dos alunos
trabalham ou já trabalharam em uma oficina mecânica de motos socializando
experiência com os colegas do grupo. Foi um momento interessante, pois alguns destes
alunos em aulas anteriores não participavam da aula, ficavam calados e esta
oportunidade socializaram seus saberes com seus colegas participando bastante.
Foi pedido aos alunos que desenhassem uma representação de como pensavam
o funcionamento de um motor a combustão interna de uma moto. Pedimos também que
fosse possível eles apontar a estrutura de um motor, partes essenciais necessários para o
efetivo funcionamento. Foi uma situação didática em que todos tiveram curiosidade.
Alguns desejavam rapidamente pesquisar na internet por meios de seus celulares, mas
neste primeiro momento recomendamos que pudessem expor suas ideias sem ainda
investigar em livros e sites. Nas figuras 2a e 2b podemos perceber um momento de
trabalho e um dos grupos.
a)
59
b)
Figura 2:a) e b) Grupo de estudantes trabalhando na construção de um modelo representacional
sobre o funcionamento de um motor a combustão interna de uma moto.
Alguns alunos tiveram menos dificuldade, pois tinham experiência em oficina
e conheciam a parte interna do motor, entretanto a maioria só conseguiu desenhar a
parte externa do motor que era como eles estavam acostumados a ver.
Na figura 3 abaixo registramos um momento em que um dos membros da
equipe que tem experiência da mecânica de motos explica aos seus colegas e a
professora algumas partes da estrutura de um motor.
Figura 3: A construção de um modelo representacional por estudantes que possuem experiência
de mecânica de motos em seu cotidiano.
Duas aulas de 50 min cada não foi suficiente para os estudantes produzissem
seus modelos (isso foi no dia 28 de novembro de 2018). Estavam todos envolvidos e
queriam realizar a atividade. Observamos que antes de produzirem seus desenhos existia
um momento de muita interação e negociação entre cada membro da equipe, buscando
um consenso sobre a representação do motor. Tivemos que negociar com a professora
da aula seguinte para usarmos sua aula para que os estudantes pudessem finalizar a
60
atividade. A aula foi concedida e eles tiveram um maior tempo para tarefa. Pudemos
perceber que quando os estudantes estão focados em um trabalho que eles têm interesse
o tempo de aula parece ser curto, a aula é produtiva, a interação é intensa. A
concentração de todos foi uma experiência valiosa de desenvolvimento de
aprendizagens. A todo instante passávamos em cada uma das equipes para observar suas
construções e dialogar com os grupos. Nas figuras 4a, 4b e 4c pode ser visto esses
momentos de interação.
a)
b)
c)
Figura 4: (a, b e c) Momentos de interação entre os estudantes e a professora na elaboração dos
mapas mentais.
61
Sugerimos que os estudantes, além de fazerem seus desenhos, pudessem pintar.
Em muitas escutas, percebemos que a maioria tinha dificuldade de entender o que
realmente acontecia dentro de um motor. Ouvimos alguns estudantes dizer em que
queriam entender como funcionava o motor afirmando que iriam pesquisar na internet
depois da aula.
Disponibilizamos nas figuras 5, 6, 7, 8, 9, 10 e 11 a seguir todos os desenhos
das equipes que mostram uma representação acerca do funcionamento de um motor de
uma moto antes deles terem a oportunidade de discussão teórica.
Figura 5: Representação do funcionamento de um motor de uma moto produzido pela equipe
01.
Figura 6: Representação do funcionamento de um motor de uma moto produzido pela equipe
02.
62
Figura 7: Representação do funcionamento de um motor de uma moto produzido pela equipe
03.
Figura 8: Representação do funcionamento de um motor de uma moto produzido pela equipe
04.
63
Figura 9: Representação do funcionamento de um motor de uma moto produzido pela equipe
05.
Figura 10: Representação do funcionamento de um motor de uma moto produzido pela equipe
06.
Figura 11: Representação do funcionamento de um motor de uma moto produzido pela equipe
07.
64
Percebemos que as equipes 01 e 06 tiveram uma representação mais limitada
sobre o funcionamento do motor. Estas equipes centraram nas partes mais externas do
motor. As equipes 02, 03, 04 e 05 produziram uma representação mais completa de
partes externas e internas do motor denominando algumas estruturas (ex. pistão,
engrenagens, velas). As equipes 03, 04 e 05 atentaram para a necessidade do uso do
óleo no interior do motor. E a equipe 07 se aproximou dos conhecimentos que iriamos
abordar, já que desenhou o motor completo com a fonte quente, e a fonte fria e ao ligar
realiza-se trabalho. Todas as representações evidencia que os estudantes já possuem
certo conhecimento sobre o funcionamento do motor por ser um dispositivo comumente
presente em seu dia a dia.
Como afirma Bunge (2017) um objeto (no nosso caso o motor de uma moto)
pode ser representado por meio de um desenho resultando em uma representação do
objeto concreto. O autor alerta que esta representação não é fiel ao mundo real, mas um
esquema parcial. Como vimos os estudantes destacaram seus modelos representacionais
na tentativa de representar o que compreendiam sobre o motor de uma moto.
5.1.4 Descrevendo a etapa de Resolução colaborativa
Após a finalização da atividade de construção dos modelos representacionais
sobre o funcionamento do motor de uma moto, na aula seguinte, solicitamos que os
grupos pudessem socializar suas produções (aulas no dia 03/12/2018). Os estudantes
demonstraram certa inquietação neste momento, pois não tinham o hábito de
seminários, tinham certa resistência para falar para toda turma, na frente. Enfrentaram o
desafio e explicaram seus desenhos. As explicações foram bem objetivas onde puderam
socializar seus desenhos sem muitos aprofundamentos
No dia 04/12/2018 iniciamos uma discussão teórica sobre a Termodinâmica
(usando a sequência de slides que pode ser conferido no Apêndice C). Percebemos que
durante as aulas expositivas muitos estudantes ficavam dispersos, não se concentravam.
Entendemos que quando era uma aula em que eles eram os protagonistas na busca do
conhecimento, ao invés de serem passivos em que o professor transmite a informação,
demonstravam mais interesse. Mas entendemos que era necessário apresentar alguns
conceitos fundamentais sobre a Termodinâmica e aspectos históricos desta área.
65
Buscamos, para atrair os estudantes, inserir outros recursos digitais (vídeos,
animações) na intenção de cativar atenção dos mesmos. Nestas aulas teóricas discutimos
os conceitos de realização de trabalho, quantidade de energia térmica e energia interna,
sempre relacionando os conceitos físicos com o funcionamento do motor. Esta ligação
de um assunto bastante teórico com um fenômeno real provocou interesse dos
estudantes.
Persistia, entre a maioria dos estudantes, uma dúvida acerca do princípio da
conservação da energia, pois não conseguiam entender que ela se transformava e não
podia surgir do “nada”. Como estratégia, retomamos o exemplo do funcionamento do
corpo humano que necessita usar a energia dos alimentos para gerar energia para
desenvolvermos as nossas atividades. Esta analogia ajudou a facilitar o entendimento
sobre o princípio de conservação da energia na natureza.
No dia 20/12/2018 continuamos com as aulas teórico-expositivas. Desta vez
discutindo os conceitos de reversibilidade e irreversibilidade. Na ocasião, os estudantes
assistiram a um vídeo bastante curioso. O vídeo mostravam fenômenos cotidianos que
aconteciam de forma invertida, ou seja, as coisas aconteciam de trás para frente. Nesta
aula apresentamos a segunda lei da Termodinâmica e o funcionamento do motor de
quatro tempos, que é o tipo de motor usado nas motos que os alunos têm maior contato.
Nesta aula surgiram diversas dúvidas sobre qual o nome das peças que
compõem os motores. Por exemplo, a maioria desconhecia o componente chamado de
biela (peça que tem a função de transformar um movimento retilíneo em movimento
circular contínuo. Ele é conectado ao pistão em sua parte maior e ao virabrequim em sua
parte menor, assim, converte o movimento de sobe e desce do pistão em movimento
rotativo que é transmitido para as rodas). Ouvimos de alguns estudantes que até
conheciam a expressão “bater a biela” em seu cotidiano, mas não sabiam que era uma
parte fundamental do motor. Sobrou um pouco de tempo no final da aula, então
aproveitei para orientar a leitura de um texto do livro Grupo de Reelaboração do Ensino
de Física (GREEF) (ver fragmentos do texto na figura 13 a seguir). A orientação é que
pudessem ler e apontar algumas curiosidades no texto. O texto foi entregue para cada
um dos estudantes para levarem para fazerem leitura em casa e discussão na aula
seguinte.
66
Figura 12: Fragmentos do livro do Grupo de Reelaboração do Ensino de Física (Gref) que trata
da discussão da Termodinâmica para explicar o funcionamento dos motores. Fonte: GREF
(1998, p. 78)
67
No dia planejado para discussão do texto percebemos que a minoria dos alunos
realizou a atividade de leitura e ainda alguns se esqueceram de trazer o texto (aula do
dia 27/12/2018). Tivemos que sugerir uma leitura em sala de aula, entregando o texto
novamente para os que não trouxeram. Na figura 13 abaixo disponibilizamos um
momento de leitura inicialmente feita de forma individual e em seguida houve uma
discussão com toda turma.
Figura 13: Momento de leitura do texto do Gref sobre o motor a combustão.
Com relação ao texto explorado percebemos que a maioria aprovou, eles se
envolveram bastante. O conteúdo do texto continha explicações teóricas
complementadas com diversas imagens de situações reais. Em uma das explicações
sobre potência de um motor, alguns estudantes associaram os significados de cavalos de
potência do motor aos cavalos animais. Percebemos que os estudantes vincularam a
leitura com as discussões feitas nas aulas teóricas.
5.1.5 Descrevendo a nova etapa de Sessão de Whiteboard
Na aula do dia 27/12/2018 solicitamos aos grupos de estudantes que pudessem
refazer seus desenhos (mapas mentais) feitos em aulas anteriores, mas desta vez com a
apropriação teórica das discussões feitas. Os estudantes sempre queriam tirar dúvidas
chamando-nos a todo momento. Na figura 14 pode ser visto um recorte desta situação
didática.
68
Figura 14: Construção de novas sessões de Whiteboard pelos grupos.
Pudemos notar uma evolução de seus modelos representacionais para a
construção de um modelo teórico. Como nos ensina Mario Bunge, o processo de
modelagem deve partir da representação de um fenômeno real da natureza na tentativa
de se chegar a uma representação conceitual. Para isso, entendemos que o referente, que
consiste em uma situação da realidade, no caso o motor de uma moto, pode ser
representado inicialmente como um objeto-modelo (por meio do desenho dos estudantes
como forma de isolar o fenômeno) em seguida, após a apropriação dos estudantes sobre
a teoria da Termodinâmica puderam aperfeiçoar seus modelos pictóricos, e então
entender e avançar para um modelo conceitual.
É importante dizer que, este momento didático (dia 03/01/2019) se aproximava
do período de férias dos estudantes. Eles tinham realizados suas avaliações em forma de
provas finais de final de bimestre que era comum acontecer na escola. Nessa aula
tivemos um problema da infrequência (aproximadamente 15 estudantes faltaram vindo
em torno de 28 estudantes), pois alguns não tiveram interesse de vir à escola, mas foi
possível, mesmo com várias ausências, finalizarmos as atividades.
A seguir mostramos algumas produções dos estudantes nesta nova sessão de
Whiteboard, inspirado nas orientações de David Hestenes.
69
Figura 15: Construção de um modelo conceitual pela equipe 1 após discussões teóricas.
Figura 16: Construção de um modelo conceitual pela equipe 2 após discussões teóricas.
Figura 17: Construção de um modelo conceitual pela equipe 3 após discussões teóricas.
70
Figura 18: Construção de um modelo conceitual pela equipe 4 após discussões teóricas
Figura 19: Construção de um modelo conceitual pela equipe 5 após discussões teóricas.
71
Figura 20: Construção de um modelo conceitual pela equipe 6 após discussões teóricas.
Figura 21: Construção de um modelo conceitual pela equipe 7 após discussões teóricas.
72
Podemos perceber que as novas representações de todas as equipes
relacionavam melhor uma explicação mais conceitual unindo o fenômeno real com um
aprofundamento teóricos do campo da Termodinâmica. Como pode ser notados nos
novos desenhos os estudantes buscaram representar as partes internas do motor
identificando seus elementos e funções. Em relação aos primeiros desenhos destacamos
que na construção de um “modelo conceitual” as representações dos alunos tenderam a
certa padronização. Bunge (2017) afirma que um mesmo objeto pode ser representado
de muitas formas que depende da imaginação, em contrapartida, o objeto-modelo não
deve variar muito devido a estar enquadrado em teorias científicas.
5.1.6 Descrevendo a etapa da Avaliação
Nesta etapa sugerimos que pudessem opinar, em forma de um pequeno texto,
sobre a experiência vivenciada (foi solicitado por escrito seguido de escutas aos
estudantes). Abaixo destacamos algumas dessas opiniões:
Estudante Q (representante da equipe 01): “Nessas aulas vimos como se funciona um
motor de uma moto, também estudamos a função de cada peça, com isso aprendemos
bastante e tivemos a chance de conhecer coisas que jamais tínhamos visto antes.”
Estudante R (representante da equipe 02): “Com as aulas aprendemos muito, foi muito
produtivo, gostamos muito. Foi uma forma mais fácil de aprender, pois foi bem
dinâmica.”
Estudante S (representante da equipe 03) “Aprendemos um pouco de cada peça do
motor, como economizarmos bastante energia. Sem dúvidas gostamos muito e
aproveitamos.”.
Estudante T (representante da equipe 04) “Essas aulas foram importantes para
compreendermos mais como funciona um motor de uma moto e todas as peças que
precisa para ele funcionar.”
Estudante U (representante da equipe 05): “Nas aulas iniciadas no dia 28/11
começamos a desenhar um motor de uma moto por dentro do jeito que agente
imaginava, achamos muito difícil, mas conseguimos. E no dia 03/12 terminamos de
pintar o motor da aula passada e apresentamos. Já no dia 17/12 a professora Géssica
resolveu dar uma aula de Física expositiva, pois estava muito perto da semana de
73
prova. E no dia 20/12 estudamos sobre conceitos de reversível e irreversível e no dia
27/12 nessa aula a professora passou umas questões para agente responder e desenhar
mais um motor. Hoje dia 03/01 de 2019 terminamos de pintar o motor e fazer este
relatório. Concluímos que a Termodinâmica é essencial em nosso dia a dia.”
Estudante V (representante da equipe 06) “Nós aprendemos a desenhar um motor de
uma moto. Todas as aulas valeram muito a pena, pois conseguimos entender a forma de
fazer um motor.”
Estudante X (representante da equipe 07) “No dia 28 de novembro de 2018 iniciamos as
aulas com um questionário, no dia 03/12 fizemos um motor e pintamos. No dia 20/12
estudamos a segunda lei da Termodinâmica, no dia 27/12 respondemos perguntas,
desenhamos e pintamos um motor. A nossa equipe agradece os ensinamentos da
Professora Géssica.”
Como podemos perceber a experiência de estudo da Termodinâmica por meio
da abordagem da modelagem científica foi recebido com muita aceitação pelos
estudantes. Em suas opiniões revelam que tiveram dificuldades iniciais de representação
de uma situação real (o funcionamento do motor da moto), mas que foram progredindo
e se apropriando de aspectos teóricos da física por trás desta tecnologia. Todos os
estudantes se envolveram de forma ativa na elaboração dos modelos, de forma
colaborativa e participaram de todas as discussões. Dificuldades também existiram e
que escutamos dos estudantes, por exemplo, muitas paradas em virtude de terem que
realizar provas bimestrais exigidas pela escola, o tempo longo entre os encontros, as
poucas aulas de física, certa resistência de alguns estudantes em participarem e serem o
centro do processo de produção do conhecimento e a necessidade de investigação. Foi
percebida também uma evolução qualitativa no processo de aprendizagem dos
estudantes. A turma 2º ano C que antes percebia como já dissemos fundamentado em
nossa experiência profissional resultante de observação de muitas aulas, era uma turma
que tinham dificuldade de aprendizagem e era muito indisciplinada. É muito gratificante
ver os alunos empolgados para desenvolver as atividades propostas, e com isso observar
a aprendizagem de cada um, uns aprenderam um pouco mais que outros, mas houve
uma melhoria em suas aprendizagens e um despertar para sempre estarem aprendendo
por meio da investigação dentro ou fora da escola.
74
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A abordagem da instrução por modelagem revelou ser uma estratégia potencial
de apoio ao estudo da Termodinâmica em uma turma do ensino médio. A escolha do
mecanismo de funcionamento do motor de uma moto serviu de base como tecnologia do
cotidiano presente da realidade dos estudantes. Foram os próprios alunos que
manifestaram o interesse de explorar os conceitos da física que podiam explicar o
funcionamento do motor.
O referencial sobre modelagem científica de Mario Bunge foi importante para
embasamento teórico acerca desta estratégia. A apropriação da realidade por meio da
modelagem científica revelou ser um desafio para os estudantes. A construção de seus
modelos representacionais evidenciou que a maioria já possuía conhecimentos
científicos ou não sobre o assunto. Como vimos inicialmente os estudantes
concentraram sua atenção em partes externas do motor, naturalmente por observarem
cotidianamente a moto em funcionamento.
Neste estudo centramos especificamente no estudo da Termodinâmica usando a
modelagem científica e focando o estudo do funcionamento do motor de uma moto. É
fundamental argumentarmos que outros assuntos podem ser abordados e discutidos com
essa estratégia. Por exemplo, autores como Brandão et al. (2008) exemplificam outros
assuntos da física que o professor pode incluir: (i) situação a ser modelada - o
escoamento da água no interior de uma tubulação. Objeto_modelo – fluido contínuo
sem viscosidade/ fluido contínuo com viscosidade. Teoria Geral – Mecânica dos
fluidos. Modelo-teórico – Modelo do fluido ideal/ Modelo do fluido viscoso; (ii)
Situação a ser modelada – Comportamento da matéria em nível microscópico. Objeto-
modelo – Sistema Planetário. Teoria geral – Mecânica Clássica e Eletromagnetismo.
Modelo teórico – Modelo atômico de Rutheford. Desta forma podemos trabalhar vários
assuntos do programa da física escolar na perspectiva da modelagem científica.
De forma geral, vimos que a abordagem por Instrução por Modelagem valoriza
o processo investigativo pelos estudantes. Percebemos uma intensa participação ativa
dos mesmos em cada etapa do desenvolvimento da sequência sempre com a mediação
da professora. Acreditamos que foi possível compreendermos as questões iniciais de
investigação, reproduzimos cada uma delas novamente: (i) A aprendizagem dos
75
estudantes de uma turma do ensino médio sobre as Leis da Termodinâmica poderá ser
facilitada com a abordagem da modelagem didática científica, especificamente a partir
da construção de um modelo conceitual do funcionamento de um motor a combustão de
uma moto? A partir da experiência firmamos que os estudantes se comprometeram com
interesse e desejo de aprender os conceitos da física, conceitos fundamentais foram
problematizados. É preciso dizer que necessitaríamos de um maior tempo para
compreendermos melhor a questão, mas a breve intervenção mostra que a instrução por
modelagem ajudou os estudantes a entenderem o assunto, até mesmo para revelar
dificuldade dos estudantes (por exemplo, o difícil entendimento do princípio da
conservação da energia, rendimento de uma máquina térmica). (ii) O desenvolvimento
de uma sequência de ensino por meio da abordagem da modelagem científica poderá
despertar interesse dos estudantes e possibilitará a promoção de aspectos conceituais da
Termodinâmica? Os resultados mostram que foi essencial a realização das aulas
norteadas por uma sequência de ensino planejada. Também a experiência pode servir de
parâmetro para melhorias em futuras novas intervenções. Por exemplo, oferecer mais
espaço para os estudantes registrarem suas produções nos cadernos de campo. De forma
geral os estudantes tiveram acesso a conceitos fundamentais da Termodinâmica por
meio da estratégia da modelagem científica. (iii) É possível o desenvolvimento
progressivo dos modelos representacionais dos estudantes em direção à modelagem
conceitual de um objeto real de seu cotidiano? Os resultados evidenciam que os
estudantes tiveram uma evolução progressiva de suas aprendizagens, apesar de
resistirem mudar suas concepções acerca dos fenômenos, por exemplo, em relação ao
conceito de energia térmica associado a uma sensação térmica de quente e frio
distanciando do entendimento científico de um fluxo de energia entre os corpos.
76
7 REFERÊNCIAS
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79
APÊNDICES
80
ANEXO A: Questionário inicial para explorar concepções dos estudantes
sobre conceitos da Termodinâmica
Questionário
1) Em sua opinião, o que é temperatura?
2) O que é energia térmica?
3) Você saberia dizer o que seria conservação da energia?
4) O que é trabalho mecânico na Termodinâmica?
5) O que é energia interna?
6) Se você coloca alimentos em uma panela de pressão e fornece energia térmica a
ela, neste caso com o passar do tempo ela irá aquecer e começar a soltar vapor,
neste caso há conservação da energia?
7) O que são fatos reversíveis e irreversíveis?
8) O que é uma transformação cíclica?
81
ANEXO B: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Universidade Regional do Cariri – URCA
Centro de Ciência e Tecnologia - CCT
Mestrado Nacional Profissional em Ensino de Física - MNPEF
Polo 31 URCA – Juazeiro do Norte – CE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)
Estimada Diretora(o)/ Cooordenador(a)/ Pai ou Mãe: _________________________
Por este meio informamos o desenvolvimento da pesquisa “O estudo das leis da
Termodinâmica usando a abordagem da Modelagem Científica de Mario Bunge
através da proposta de Ciclos de Modelagens de David Hestenes em uma turma do
ensino médio de uma escola pública da cidade de Acopiara, CE”. A pesquisa está
sendo realizada pela professora MARIA GÉSSICA DA SILVA, mestranda em Ensino
de Física do Programa de Pós-Graduação em Mestrado Profissional em Ensino de Física
– MNPEF da Universidade Regional do Cariri - URCA. O objetivo desta pesquisa é
investigar a aprendizagem sobre as leis da Termodinâmica usando a abordagem da
Instrução por Modelagem focando um ciclo de modelagem efetivada em uma turma do
Ensino Médio de uma escola pública estadual do município de Acopiara (região central
do Ceará). Com esse foco, propusemo-nos a responder às seguintes questões de
pesquisa: (i) A aprendizagem dos estudantes de uma turma do ensino médio sobre as
Leis da Termodinâmica poderá ser facilitada com a abordagem da modelagem
científica, especificamente a partir da construção de um modelo conceitual do
funcionamento de um motor a combustão de uma moto? (ii) É possível o
desenvolvimento progressivo dos modelos representacionais dos estudantes em direção
à modelagem conceitual de um objeto real de seu cotidiano?
Realizaremos uma pesquisa em sala de aula, seguindo uma sequência planejada de
ensino, utilizaremos recursos de questionários, entrevistas e gravações em áudio e vídeo
de algumas aulas que comporão o processo de geração dos dados. Ressalto que o
material gerado neste estudo será tratado de forma anônima e confidencial, isto é, em
nenhum momento será divulgado o nome da escola e dos estudantes participantes da
pesquisa. Quando for necessário exemplificar determinada situação, a privacidade dos
participantes será assegurada uma vez que manterei o nome dos alunos em segredo. Os
dados coletados serão utilizados apenas NESTA pesquisa e os resultados serão
publicados em eventos e/ou revistas científicas.
82
A participação é voluntária A qualquer momento você pode desistir de autorizar a
participação do estudante e pedir para retirar o seu consentimento, seja antes ou depois
da coleta de dados, independentemente do motivo e sem nenhum prejuízo ao estudante.
Sua recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador ou com a
instituição.
A sua participação no estudo não traz riscos e nem complicações legais. O
benefício será a contribuição da pesquisa para fortalecer o campo de estudos científicos
que trata sobre o ensino de Física, particularmente sobre a abordagem da modelagem
científica. O estudante não terá nenhum tipo de despesa para participar desta pesquisa,
bem como nada será pago por sua participação.
Você receberá uma cópia deste termo onde consta o telefone e o endereço
da pesquisadora, podendo tirar suas dúvidas sobre a pesquisa e sobre a sua participação,
agora ou a qualquer momento.
Após estes esclarecimentos, solicito abaixo o seu consentimento de forma
livre para autorizar a participar do estudante nesta pesquisa.
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Tendo compreendido a temática, os objetivos, a forma como será desenvolvida a
pesquisa, a minha colaboração no estudo, e estando consciente dos riscos e dos
benefícios que a participação do estudante implica, concordo em autorizar a
participação do estudante na pesquisa e para isso eu dou o meu consentimento livre e
esclarecido.
Acopiara, Dezembro de 2018
_________________________________________
NOME COMPLETO DO (A) DIRETOR (A) / COORDENADOR (A) / PAI OU MÃE
MARIA GÉSSICA DA SILVA
Pesquisadora
___________________________________
Assinatura da pesquisadora
CONTATOS DO (A) PESQUISADOR (A): ENDEREÇO:
TELEFONE:
CELULAR:
E-MAIL:
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ANEXO C: Aulas teóricas de física sobre Termodinâmica