formaÇÃo do enfermeiro para a atenÇÃo bÁsica:...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR UFC
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM SADE DA FAMLIA
MESTRADO ACADMICO EM SADE DA FAMLIA
MARIA DA CONCEIO COELHO BRITO
FORMAO DO ENFERMEIRO PARA A ATENO BSICA:
ANLISE DA ORIENTAO TERICA, CENRIOS DE PRTICA E
ORIENTAO PEDAGGICA A PARTIR DE UM CURSO DE
GRADUAO
SOBRAL, CEAR
2014
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MARIA DA CONCEIO COELHO BRITO
FORMAO DO ENFERMEIRO PARA A ATENO BSICA:
ANLISE DA ORIENTAO TERICA, CENRIOS DE PRTICA E
ORIENTAO PEDAGGICA A PARTIR DE UM CURSO DE
GRADUAO
Dissertao de Mestrado apresentada ao
Programa de Ps-Graduao em Sade da
Famlia da Universidade Federal do Cear
(UFC), Campus Sobral, Cear, como requisito
para a obteno do Ttulo de Mestre em Sade da
Famlia.
rea de Concentrao: Sade da Famlia
Linha de Pesquisa: Estratgias de Educao
Permanente e Desenvolvimento Profissional em
Sade da Famlia (EEPDPSF)
Orientadora: Profa. Dra. Maria Socorro de
Arajo Dias
SOBRAL, CEAR
2014
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MARIA DA CONCEIO COELHO BRITO
FORMAO DO ENFERMEIRO PARA A ATENO BSICA: ANLISE DA
ORIENTAO TERICA, CENRIOS DE PRTICA E ORIENTAO
PEDAGGICA A PARTIR DE UM CURSO DE GRADUAO
Dissertao apresentada Coordenao do
Programa de Ps-Graduao em Sade da
Famlia da Universidade Federal do Cear
(PPGSF-UFC), como requisito para obteno
do Ttulo de Mestre em Sade da Famlia.
rea de concentrao: Sade da Famlia.
Aprovada em: ___/___/______.
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________
Profa. Dra. Maria Socorro de Arajo Dias Orientadora
Universidade Estadual Vale do Acara (UVA)
________________________________________________
Profa. Dra. Maristela Ins Osawa Vasconcelos - Titular
Universidade Estadual Vale do Acara (UVA)
________________________________________________
Profa. Dra. Maria de Ftima Antero Sousa Machado - Titular
Universidade Regional do Cariri (URCA)
________________________________________________
Profa. Dra. Cibelly Aliny Siqueira Lima Freitas - Suplente
Universidade Estadual Vale do Acara (UVA)
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Deus por abenoar minha caminhada, e a
minha Me por ser meu porto seguro sempre.
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AGRADECIMENTOS
Que a vida me ensine a amar cada vez mais, de um jeito mais leve. (Caio Fernando Abreu)
A Deus, por ser presena forte em minha vida, e me permitir a cada dia lutar pelos meus
objetivos.
A minha me, por quem tenho um amor eterno e desmedido, e a quem destino toda a minha
admirao. Exemplo de bravura e perseverana que sempre levarei comigo.
Aos meus irmos, por sempre incentivarem a minha caminhada.
Ao meu noivo, Joo, por ser um apoio firme na minha vida, pegando na minha mo
diariamente com um voc vai conseguir. Com voc todo o caminho mais suave. Amo
voc!!
Universidade Estadual Vale do Acara, o meu apreo e valorizao.
Ao Grupo LabSUS... em especial Digenes, Rayanne, Lilma, e Fiama, que tanto me
ajudaram no desenvolvimento deste estudo. Sem vocs, no teria conseguido!
Aos meus alunos do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual Vale do Acara, pela
oportunidade de compartilhar saberes e vidas.
minha querida Flvia Martins, um anjo que colaborou muito com este estudo.
s minhas queridas Sheila e Samira... Obrigada pela pacincia e zelo, sempre.
minha mestra e amiga, professora Cibelly Freitas, com quem dei os primeiros passos na
pesquisa!! Devo muito do que sou a voc.
terceira turma de Mestrado em Sade da Famlia, com quem vivenciei momentos nicos.
Aos meus professores de Mestrado em Sade da Famlia, por suas contribuies valiosas.
Aos participantes desse estudo, que destinaram um pouco do seu tempo trazendo questes a
serem problematizadas... Muito obrigada!!
s profas.
Maristela e Ftima Antero, por terem aceitado participar da minha banca, e a refletir
sobre o meu estudo... Obrigada!!
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A minha orientadora, profa. Socorro Dias. Agradeo pelo aprendizado e a confiana
depositada nesses dois anos de convivncia... Isso me permitiu descobrir novas formas de
olhar e compreender a vida. E que venham mais dois anos... mais dois anos... mais dois anos...
A todos que direta ou indiretamente contriburam para este trabalho, muito obrigada!!
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Educar-se impregnar de sentido cada momento da vida, cada ato cotidiano.
(Paulo Freire)
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BRITO, M. C. C. Formao do enfermeiro para a ateno Bsica: anlise da orientao
terica, cenrios de prtica e orientao pedaggica de um curso de graduao. 2014. 123f.
Dissertao (Mestrado em Sade da Famlia) Universidade Federal do Cear (Campus
Sobral), Programa de Ps-Graduao em Sade da Famlia, Sobral-CE.
RESUMO
Os profissionais de sade devem estar mais envolvidos com as diversas faces e interfaces que
influenciam o indivduo e coletividades. Nesse propsito, os enfermeiros devem comear a
compreender este fenmeno a partir da graduao, sendo necessria uma transposio dos
limites fsicos das Universidades, de forma a levar os estudantes a uma interao terica e
prtica. Propostas de reorientao profissional foram sendo incitadas h anos nesta
direcionalidade. No campo da sade, a ltima e atual proposta institucional o Pr-Sade.
Desse modo, este estudo objetivou analisar a formao do enfermeiro para atuao na
Ateno Bsica, no Curso de graduao em Enfermagem da Universidade Estadual Vale do
Acara (UVA), segundo os eixos orientadores do Pr-Sade: orientao terica, cenrios de
prtica e orientao pedaggica. Trata-se de um estudo exploratrio-descritivo, com
abordagem quanti-qualitativa, realizado entre os anos de 2012 e 2014, tendo como unidades
de anlise o Projeto Poltico Pedaggico e Programa Semestral Docente do Curso, discentes
(27), docentes (13) e enfermeiros preceptores (13) do Internato na Ateno Bsica. A coleta
dos dados foi realizada mediante anlise documental, questionrio e entrevistas, em que se
adotou a Triangulao de Mtodos como referencial metodolgico na coleta e anlise, e a
Anlise Temtica de Minayo para a organizao dos dados. O Projeto de Pesquisa foi
aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual Vale do Acara
(UVA) com o Parecer N 421.861. Os resultados inferidos permitiram verificar a observncia
de aspectos da formao do enfermeiro para a Ateno Bsica na UVA com base no Pr-
Sade, como a estruturao modular, o incentivo a prtica investigativa, a insero
progressiva no campo de prtica desde o incio da formao, e a utilizao de metodologias
ativas no processo ensino-aprendizagem, configurando a lgica do aprender fazendo.
Observou-se a necessidade de fortalecimento da integrao ensino-servio vivenciado na
formao do enfermeiro da UVA. Torna-se necessria a discusso crtica e reflexiva sobre as
prticas, por todos os participantes no processo (professores, profissionais dos servios,
estudantes) visando transformao da prpria prtica e da gesto das organizaes
envolvidas, de modo a fortalecer uma formao do enfermeiro para o SUS.
Descritores: Formao profissional; Enfermeiro; Ateno Bsica; Pr-Sade.
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BRITO, M. C. C. Nursing education for primary care: an analysis of theoretical
orientation, practice scenarios and teaching mentoring of a graduate degree. 2014. 123 pages.
Dissertation (Master's in Family Health) - Federal University of Cear (Campus Sobral),
Postgraduate Program in Family Health, Sobral-Cear.
ABSTRACT
Health professionals should be more involved with the various faces and interfaces that
influence individuals and collectivities. In that purpose, the nurses must begin to understand
this phenomenon from graduation, requiring a transposition of the physical limits of the
universities, in order to lead students to a theoretical-practical interaction. Proposals for
professional reorientation were being urged for years in this directionality. In the field of
health, the last and current institutional proposal is the Pro-health. Thereby, this study aimed
to analyze the formation of nurses for performance in basic attention, in the undergraduate
program in nursing at the State University of Acara, according to the axes guiding Pro-
health: theoretical orientation, practical scenarios and pedagogical orientation. This is a
descriptive-exploratory study, quantitative and qualitative approach, carried out between 2012
and 2014, having as units of analysis the Pedagogical political project and Biannual Program
Teacher of the course, students (27), teachers (13) and nurses preceptors (13) of the boarding
school in the basic attention. The data collection was carried out through documentary
analysis, questionnaire and interviews, in which they adopted the triangulation of methods
such as methodological referential in collection and analysis, and thematic analysis of the data
organization Minayo. A research project approved by the Research Ethics Committee (CEP)
Valley State University of Acara (UVA). The results inferred allowed to verify compliance
with aspects of the formation of the nurse for basic care at UVA on the basis of the Pro-
health, how the modular structure, the encouragement of research practice, the progressive
insertion in the field of practice since the beginning of the training, and the use of active
methodologies in teaching-learning process, configuring the logic of "learning by doing". It
was noted that the need to strengthen the teaching-service integration experienced in the
formation of the nurse of the grape. Becomes necessary to critical discussion and reflective
about the practice by all participants in the process (teachers, professionals, students services)
for the processing of own practice and the management of the organizations involved, in order
to strengthen training of nurses to the SUS.
Descriptors: Vocational Training; Nurse; Basic Attention; Pro-Health.
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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
UVA Universidade Estadual Vale do Acara
SUS Sistema nico de Sade
Pr-Sade - Programa Nacional de Reorientao da Formao Profissional em Sade
ESF Estratgia Sade da Famlia
MS Ministrio da Sade
DCN - Diretrizes Curriculares Nacionais
IES- Instituies de Ensino Superior
DNSP - Departamento Nacional de Sade Pblica
LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional
SESu - Secretaria de Educao Superior
MEC - Ministrio da Educao e Cultura
DCENF - Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduao em Enfermagem
SGTES - Secretaria de Gesto do Trabalho e da Educao na Sade
DEGES - Departamento de Gesto da Educao na Sade
PET-Sade - Programa de Educao pelo Trabalho para a Sade
PROVAB - Programa de Valorizao do Profissional da Ateno Bsica
UnA-SUS - Universidade Aberta do SUS
INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira
OPAS - Organizao Pan-Americana da Sade
PPP - Projeto Poltico Pedaggico
PSD - Programa Semestral Docente
CSF Centro(s) de Sade da Famlia
SDSS - Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Sade do Municpio
TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
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CEP - Comit de tica em Pesquisa
PNAB - Poltica Nacional de Ateno Bsica
ACS Agente Comunitrios de Sade
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Apresentao dos Eixos de desenvolvimento do Pr-Sade ................................. 41
Quadro 2. Matriz Curricular do Curso de Enfermagem da UVA (2009). .............................. 66
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Framework elaborado para orientao da anlise no estudo. Sobral-CE, 2014. ... 58
Figura 2 Esquema metodolgico do estudo. Sobral-CE, 2014. ........................................... 61
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Distribuio da carga horria especfica para Ateno Bsica no Curso de
Enfermagem da UVA. Sobral-CE, 2014. ................................................................................ 68
Tabela 2 - Atividades curriculares desenvolvidas pelos discentes no processo de formao no
Curso de Enfermagem da UVA. Sobral-CE, 2014. ................................................................ 72
Tabela 3 - Perodo de Iniciao ao Campo de Prtica segundo os discentes. Sobral-CE, 2014.
.................................................................................................................................................. 75
Tabela 4 - Interao ensino-servio segundo os discentes do Curso de Enfermagem da UVA.
.................................................................................................................................................. 79
Tabela 5 - Metodologia predominante no Curso de Enfermagem da UVA segundo os
discentes. Sobral-CE, 2014. .................................................................................................... 84
Tabela 6 - Formao com foco na anlise crtica da Ateno Bsica segundo os discentes.
Sobral-CE, 2014. ..................................................................................................................... 86
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SUMRIO
1 INTRODUO ............................................................................................................... 20
1.1 Aproximao com o objeto de estudo .......................................................................... 20
1.2 Contextualizao do objeto .......................................................................................... 21
1.3 Justificativa e relevncia do estudo .............................................................................. 24
2 OBJETIVOS .................................................................................................................... 27
2.1 Geral ............................................................................................................................. 27
2.2 Especficos .................................................................................................................... 27
3 REVISO DE LITERATURA ....................................................................................... 29
3.1 Formao superior em Enfermagem ............................................................................ 29
3.2 As Leis de Diretrizes e Bases da Educao Nacional e Diretrizes Nacionais para o
Curso de Graduao em Enfermagem ................................................................................ 32
3.3Formao do enfermeiro: movimentos instituintes e institudos com vistas a
formao para a Ateno Bsica ........................................................................................ 36
3.4Programa Nacional de Reorientao da Formao Profissional em Sade (Pr-
Sade) ................................................................................................................................. 40
4 METODOLOGIA ............................................................................................................ 45
4.1 Tipo e abordagem do estudo ......................................................................................... 45
4.2 Unidades de anlise ...................................................................................................... 46
4.3 Perodo e Cenrios do estudo ....................................................................................... 47
4.4 Referencial metodolgico ............................................................................................. 51
4.5 Coleta de informaes .................................................................................................. 53
4.5.1 Anlise documental ................................................................................................... 54
4.5.2 Entrevista semiestruturada ......................................................................................... 54
4.5.3 Questionrio .............................................................................................................. 55
4.6 Anlise das informaes ............................................................................................... 56
4.7 Aspectos ticos e legais do estudo ................................................................................ 58
4.8 Esquema metodolgico ................................................................................................ 61
5 RESULTADOS E DISCUSSO .................................................................................... 63
5.1Integrao ensino-servio: evidncias inferidas a partir do Projeto Poltico
Pedaggico do Curso de Enfermagem da UVA ................................................................. 63
5.2 H escolas que so como gaiolas e h escolas que so como asas: discutindo a
formao do enfermeiro com base no Pr-Sade ............................................................... 70
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A orientao terica ................................................................................................ 71
Os cenrios de prtica ............................................................................................. 74
A orientao pedaggica ......................................................................................... 83
6 CONSIDERAES FINAIS .......................................................................................... 90
REFERNCIAS ................................................................................................................. 94
APNDICES ...................................................................................................................... 106
Apndice A Termo de Fiel Depositrio ........................................................................... 107
Apndice B Roteiro de anlise dos Projetos Polticos Pedaggicos ............................... 108
Apndice C Roteiro de entrevista semiestruturada Docentes dos
Mdulos/Disciplinas ........................................................................................................... 109
Apndice D Roteiro de entrevista semiestruturada Docentes do Internato da Ateno
Bsica ................................................................................................................................. 110
Apndide E Roteiro de entrevista semiestruturada Enfermeiros preceptores do
Internato da Ateno Bsica ............................................................................................... 111
Apndice F Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Docentes) .......................... 112
Apndice G Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Discentes) ......................... 113
ANEXOS ............................................................................................................................ 114
Anexo 1 Questionrio proposto por Matsumoto (2010) .................................................. 115
Anexo 2 Parecer Consubstanciado do CEP ..................................................................... 121
Anexo 3 Poema H escolas que so gaiolas e h escolas..., de Rubens Alves ............ 124
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H escolas que so gaiolas e h escolas...
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Captulo 1 Introduo
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1 INTRODUO: o alar voo
De tudo ficaram trs coisas... A certeza de que estamos comeando... A certeza de que preciso continuar... A certeza de que podemos ser interrompidos
antes de terminar... Faamos da interrupo um caminho novo... Da queda, um passo de dana... Do medo, uma escada...
Do sonho, uma ponte... Da procura, um encontro! (Fernando Sabino)
1.1 Aproximao com o objeto de estudo
O processo de formao faz parte do nosso contexto de vida. Desde o nascimento at o
tornar-se adulto, o indivduo passa por experincias que o faz decidir entre uma ou outra coisa
que o faz bem ou no. Esse contato com as experincias que torna o indivduo capaz de
realizar escolhas (no desconsiderando a influncia de determinantes). Logo, o processo de
formao intrnseco ao ser humano, cabendo a este potencializ-lo. Consonante com esta
premissa que passo a discorrer sobre meu processo de formao.
Enquanto graduanda do Curso de Enfermagem na Universidade Estadual Vale do
Acara (UVA), em Sobral/CE, no perodo de 2007.1 a 2011.1, sempre me inquietei com
algumas estratgias de ensino que pareciam no responder as necessidades de aprendizagem
de ns estudantes e, por conseguinte, da comunidade, considerando a ateno ao princpio da
responsabilidade social imputada a Universidade. Instigava-me ainda uma quase
indissociabilidade terica e prtica e relativa desatualizao dos processos de ensino no que se
referiam as aes estratgicas (novas polticas, projetos, normas, decretos, etc.) do Sistema
nico de Sade (SUS).
Discusses e questionamentos foram sendo deflagrados, e iniciativas de mudanas
passaram a ser sinalizadas por um grupo de docentes e discentes da UVA. At que, alinhado a
um movimento nacional, o Curso de Enfermagem da UVA comeou a discutir mais
firmemente, a partir de 2005, uma proposta de reorientao da formao do enfermeiro sob os
moldes do Programa Nacional de Reorientao da Formao Profissional em Sade (Pr-
Sade).
Ainda graduanda, passei a vivenciar transformaes nos micros espaos do Curso,
aliadas a movimentos de resistncias de alguns; s vezes, de muitos. reconhecido que todo
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processo de mudana gera desconfortos; face ao exposto, s vezes me questionava se as
propostas que vinham sendo construdas, apesar de to desejadas, responderiam as
necessidades, e se seriam suficientes para favorecer a integrao teoria-prtica, de modo a
alinhar-se s Polticas estratgicas do SUS, a exemplo da reorientao da formao para
atuao na Ateno Bsica, entendendo esta como uma das principais formas de acesso ao
SUS.
Anos se passaram... Um novo currculo foi implantado para o Curso de Enfermagem
da UVA em 2009.2; embora minha formao continuasse a ser orientada pelo currculo
anterior. Neste sentido, acompanhei distncia expresses de conquistas de alguns e de
incredibilidade de outros. Grandes desafios para docentes e discentes!
Em 2012, retorno ao mesmo Curso, um ano e meio aps a concluso do Curso de
graduao. Passei a integrar o corpo docente dele, como professora substituta, e novos
questionamentos e desafios se apresentaram. Fui desafiada a refletir de modo comparativo
entre os dois cenrios: estudante de graduao orientada por currculo disciplinar e, depois,
docente desse mesmo Curso, sob a gide de currculo modular, integrado, conforme diretrizes
do Pr-Sade, tomando em considerao, portanto, a formao do profissional generalista,
entendo a Ateno Bsica como acesso prioritrio.
Enquanto mestranda em Sade da Famlia pude inferir o quo complexo e denso este
campo de conhecimento e prtica. E uma nova questo passou a fazer parte do meu ser
mestranda em Sade da Famlia: estaria a formao do enfermeiro consonante para a atuao
na Estratgia Sade da Famlia, esta enquanto estruturante da Ateno Bsica? Vi, na
dissertao de mestrado uma possibilidade de responder melhor este e outros questionamentos
que se desdobraram.
1.2 Contextualizao do objeto
O desafio contemporneo do setor educacional formar cidados competentes na
prtica dos saberes, com capacidade de compreender e se adaptar no mundo, e de encontrar
solues para as situaes cotidianas sobre as quais se deve refletir para ressignificar o saber
(NBREGA-THERRIEN et al, 2010). Nesse contexto, Opitz et al (2008) abordam que o
ensino-aprendizagem desenvolvido no mago da universidade exerce um papel social de
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importncia mpar, pois por meio deste que se determinam transformaes no sistema
social, poltico, econmico e cultural da sociedade.
Assim, o papel do ensino nas instituies foi se transformando, e a universidade foi e
constantemente solicitada a enfrentar novos desafios e mudanas. Atualmente, o papel do
ensino nas universidades buscar caminhos que consolidem projetos pedaggicos coerentes
com as exigncias impostas pelos avanos tecnolgicos e cientficos, ou seja, capacitar
profissionais para cumprir os desafios da modernidade, sem perder de vista as perspectivas de
uma educao/ensino que atenda s demandas sociais da populao, possibilitando assim uma
realidade mais igualitria e humana (OPITZ et al, 2008).
O exposto tende a indicar que constitui desafio permanente, portanto, o reforo de uma
robusta articulao entre as instituies formadoras e o servio. H que se corrigir o
descompasso entre a orientao da formao dos profissionais de sade e os princpios, as
diretrizes e as necessidades do Sistema nico de Sade (SUS), em especial no que diz
respeito formao para a ateno bsica (GIOVANELLA et al, 2009). Com tal fim, a
Estratgia Sade da Famlia (ESF) tida como estratgia prioritria para o fortalecimento da
Ateno Bsica (BRASIL, 2006).
De acordo com Alves e Aerts (2011), a ESF, proposta pelo Ministrio da Sade (MS)
em 1994, incorpora e reafirma os princpios do SUS e est estruturada com nfase na ateno
bsica sade, em especial da sade da famlia. Tem por objetivo aumentar o acesso da
populao aos servios de sade, propiciando longitudinalidade e integralidade na ateno
prestada aos indivduos e grupos populacionais. Pretende trabalhar com o modelo de
vigilncia da sade, com a responsabilizao da equipe de sade pela populao moradora em
seu territrio, incentivando a participao popular, criao de parcerias intersetoriais e a
incumbncia da equipe pelo atendimento integral dos indivduos e grupos.
Costa e Miranda (2009) abordam que o processo de implantao do SUS trouxe
modificaes para a organizao das prticas de ateno e de gesto do sistema de sade,
mediante a formulao e ampliao de propostas de novos modelos assistenciais, envolvendo
a diversificao dos servios de sade, os novos processos de qualificao dos trabalhadores e
a natureza do trabalho em sade. Assim, novos paradigmas devem nortear a formao dos
trabalhadores da rea.
Nesse contexto da educao superior, segundo o Ministrio da Sade, a flexibilizao
preconizada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional n 9.394, de 20 de
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dezembro de 1996, confere s Instituies de Ensino Superior novos graus de liberdade que
possibilitam o desenho de currculos inovadores, adequados s realidades regionais e s
respectivas vocaes das escolas. A ruptura do currculo mnimo pelas Diretrizes Curriculares
Nacionais (DCN) representa um avano, pelo fato de induzir maior articulao das
Instituies de Ensino Superior (IES) com a sociedade, e concretizar a relevncia social da
ao acadmica. Na rea da sade, as DCN reforam a necessidade de orientar a formao
profissional para o trabalho no SUS (BRASIL, 2007), sistema de sade vigente no pas, e
orientado pela Ateno Bsica.
Surge, em 2005, por meio da Portaria Interministerial MS/MEC n 2.101, o Pr-sade,
que objetivou incentivar a transformao do processo de formao, gerao de conhecimento
e prestao de servios populao para abordagem integral do processo sade-doena. Tem
como eixo central a integrao ensino-servio, com a consequente insero dos estudantes no
cenrio real de prticas que a Rede SUS, com nfase na ateno bsica, desde o incio de
sua formao (BRASIL, 2007).
Entendendo que a reorientao para a ateno bsica, como direciona o SUS, no pode
depender apenas de uma transformao espontnea das instituies acadmicas, o papel
indutor do Pr-Sade o de conferir direcionalidade ao processo de mudana e facilitar a
consecuo dos objetivos propostos, em busca de uma ateno sade mais equnime e de
qualidade (BRASIL, 2007).
Desse modo, as instituies de ensino em Enfermagem devem compreender currculo
como algo em movimento, que influencia e influenciado pelos atores que o colocam em
prtica diariamente em uma determinada realidade social, em um determinado mundo de
apegos e significados e que investem o melhor de si em busca de seus desejos, metas e valores
(DELLAROZA; VANNUCHI, 2005), aspectos que corroboram com as diretrizes do Pr-
Sade, uma vez que este tem como intencionalidade central o fortalecimento da formao dos
profissionais de sade para a ateno bsica.
Diante disso, incitam-se os seguintes questionamentos: O Projeto Poltico Pedaggico
do Curso de Enfermagem da UVA incorpora a formao para ateno bsica como
componente estratgico na formao do enfermeiro? Em quais mdulos evidenciam-se a
formao para ateno bsica? Com que intensidade? H evidncias de integrao teoria-
prtica no campo da ateno bsica? Como os docentes compreendem a formao do
enfermeiro para a Ateno Bsica? Como (estratgias educacionais, contedos, atualizaes)
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os docentes desenvolvem a formao do enfermeiro para a Ateno Bsica? Como os
discentes analisam a formao do enfermeiro para a Ateno Bsica? Como os preceptores da
ateno bsica contribuem e analisam a formao do enfermeiro para a Ateno Bsica?
1.3 Justificativa e relevncia do estudo
Este estudo no almeja realizar uma avaliao da implantao do Pr-Sade, mas
averiguar se as diretrizes propostas por esse programa esto sendo atendidas na formao dos
enfermeiros na Universidade Estadual Vale do Acara (UVA), em particular quelas relativas
formao para atuao na Ateno Bsica.
Entende-se que o SUS configura-se como um sistema que veio contrapor o sistema,
que era caracterizado como hospitalocntrico e biologicista, buscando centrar-se na sade e
qualidade de vida dos indivduos e coletividade. Para isso, tornava-se necessrio um
redirecionamento na prtica profissional, em que pessoas deixassem de ser vistas como
objetos do cuidado para um cuidado humanizado e interacionista, alm de buscar
compreender as entrelinhas que permeiam o processo sade-doena-cuidado.
Diante disso, os profissionais de sade devem estar mais envolvidos com as diversas
faces e interfaces que influenciam o indivduo e coletividades. Nesse propsito, os
enfermeiros devem comear a compreender este fenmeno a partir da graduao, sendo
necessria uma transposio dos limites fsicos das Universidades, de forma a levar os
estudantes a uma interao terica e prtica. Propostas de reorientao profissional foram
sendo incitadas h anos nesta direcionalidade. No campo da sade, a ltima e atual proposta
institucional o Pr-Sade.
Justifica-se este estudo buscando, portanto, compreender se as mudanas do sistema
educativo do Curso de Enfermagem da UVA esto sintonizadas com as polticas de sade
atuais, alm de que ainda tmida a produo acadmica sobre o tema. Espera-se identificar
aspectos que potencializem ou restrinjam a formao de enfermeiros para atuao na Ateno
Bsica, e inferncias de como o Pr-Sade contribuiu/contribui com esta procura.
Do exposto delineia-se a relevncia do estudo. A partir dos resultados identificados no
estudo pretende-se contribuir com o processo de formao dos enfermeiros, considerando que
as instituies formadoras necessitam apropriar-se das mudanas introduzidas pelo SUS nos
cursos de graduao da sade, incorporando o cotidiano das relaes da ateno e da
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estruturao do cuidado sade (BRASIL, 2004), entendendo que essas mudanas
repercutiro na qualidade da ateno sade aos usurios do sistema de sade brasileiro.
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Captulo 2 Objetivos
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2 OBJETIVOS: o voar alm do horizonte
Nenhum vento sopra a favor de quem no sabe pra onde ir.
(Sneca)
2.1 Geral
Analisar a formao do enfermeiro para atuao na Ateno Bsica, no Curso de
graduao em Enfermagem da Universidade Estadual Vale do Acara (UVA), segundo os
eixos orientadores do Programa Nacional de Reorientao da Formao Profissional em
Sade (Pr-Sade): orientao terica, cenrios de prtica e orientao pedaggica.
2.2 Especficos
Examinar no Projeto Poltico Pedaggico do Curso de Enfermagem, os mdulos
orientados para o desenvolvimento de competncias para a ateno bsica;
Analisar o contedo programtico dos mdulos orientados para o desenvolvimento de
competncias para a ateno bsica;
Compreender a viso dos docentes acerca da formao do enfermeiro para atuar na
ateno bsica;
Discorrer sobre o processo de ensino-aprendizagem orientado pelos docentes com
vistas formao do enfermeiro para a Ateno Bsica e sua pertinncia com as
diretrizes propostas pelo Pr-sade;
Descrever a formao do enfermeiro para a Ateno Bsica a partir dos enfermeiros
preceptores do Internato;
Averiguar, junto aos discentes, a consonncia e/ou dissonncia da Matriz Curricular
do Curso de Enfermagem em relao formao para a ateno bsica proposta pelo
Pr-Sade.
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Captulo 3 Reviso de Literatura
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3 REVISO DE LITERATURA: fortalecendo-se para um voo desbravador
preciso sentir a necessidade da experincia, da observao, ou seja, a necessidade de sair de
ns prprios para acender escola das coisas, se as queremos conhecer e compreender.
(mile Durkheim)
3.1 Formao superior em Enfermagem
O processo de formao do enfermeiro vem sofrendo transformaes ao longo dos
anos, estando sua trajetria e o perfil dos egressos sempre atrelados ao modelo poltico-
econmico-social vigente do pas. Essa trajetria, contudo, no se deu de forma linear; ela
encontrou desafios que foram superados nos limites conjunturais de cada momento histrico
da sociedade (SILVA et al, 2010).
Essas transformaes no setor sade ocorreram na organizao do trabalho com
repercusses na incorporao tecnolgica, associada s alteraes no perfil epidemiolgico e
no padro demogrfico da populao brasileira. Nesse contexto, importante reconhecer as
modificaes que decorrem da implantao de novos modelos tecnolgicos e assistenciais,
com exigncias no perfil dos profissionais (SILVA; SENA, 2006).
Os autores supracitados referem que no Brasil essas modificaes ocorrem no bojo do
processo de consolidao do SUS com esforos para se concretizar os princpios ticos,
doutrinrios, organizacionais e operativos no que diz respeito sade, definindo-a como um
direito de todos e um dever do Estado, cabendo a esse garantir polticas pblicas sociais e
econmicas que assegurem o bem-estar fsico, mental e social da populao.
Assim, a mudana de paradigma na assistncia em sade, como referem Esperidio e
Munari (2005), implica tambm em oferecer aos futuros profissionais uma prtica pedaggica
com viso de totalidade, com a responsabilidade e preocupao de provocar interaes e
relaes dos alunos consigo mesmos, com seus semelhantes, em uma rede complexa de
interrelaes pressupondo a compreenso da existncia de conexes que ajudam a entender o
significado do contexto.
Diante disso, a formao dos profissionais de sade, inserida no contexto da formao
dos demais profissionais, deve estar norteada pela definio de reas de competncias
(conhecimentos, habilidades e atitudes) que possibilitem a atuao e a interao
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multiprofissional. As diretrizes gerais para a educao dos profissionais de sade do sculo
XXI descrevem que o desenvolvimento de competncias deve estar dirigido busca da
integralidade da ateno sade, contribuindo para a formao de um profissional que
agregue aptides para tomada de decises, comunicao, liderana, gerenciamento e educao
permanente (BRASIL, 2001a).
Segundo Silva e Sena (2006), para fazer frente s exigncias que se apresentam e se
modificam, rapidamente, na formao dos profissionais de sade, necessrio que haja
mudanas no processo ensino-aprendizagem, tornando-o adequado contemporaneidade,
complexidade e imprevisibilidade, caractersticas do processo de trabalho em sade. Assim,
o processo de formao do enfermeiro dever se dar luz da dinamicidade do contexto e de
necessidades futuras, no campo de sade e de educao, para as quais a formao profissional
deve estar orientada por uma educao desenhada por reas de competncias, onde as
demandas do mercado estejam consideradas. No entanto, esse fator no deve ser o nico
elemento a ser priorizado na definio do perfil profissional, preparando os profissionais de
enfermagem no apenas para atender as demandas do mercado de trabalho, mas, sobretudo,
para transformar as condies impostas por esse mercado.
Ito et al (2006) mencionam que o ensino de Enfermagem no pas passou por vrias
fases de desenvolvimento ao longo dos anos, tendo como reflexo de cada mudana o contexto
histrico da Enfermagem e da sociedade brasileira. Considera-se que o ensino oficial
sistematizado da Enfermagem Moderna no Brasil foi introduzido em 1923, pelo Decreto n
16300/23, no Rio de Janeiro, mediante a organizao do Servio de Enfermeiras do
Departamento Nacional de Sade Pblica (DNSP), ento dirigida por Carlos Chagas e
posteriormente denominada Escola Anna Nery. Esse ensino tinha como propsito formar
profissionais que garantissem o saneamento urbano, condies necessrias continuidade do
comrcio internacional, que se encontrava ameaado pelas epidemias. Essa capacitao,
conforme Galleguillos e Oliveira (2001), estava a cargo de enfermeiras norte-americanas da
Fundao Rockefeller, enviadas ao Brasil com o intuito de organizar o servio de enfermagem
de sade pblica e dirigir uma escola de enfermagem.
Nos Anos 30, segundo Therrien et al (2008), intensificou-se a criao de escolas de
enfermagem impondo a necessidade de criao do padro de formao Ana Nery, uma vez
que a profissionalizao da enfermeira se constituiu em uma prtica homognea em mos de
agentes diversos, submetidos a treinamentos distintos. Nos anos 40/50 a tnica da
enfermagem passou a ser hospitalar em detrimento da sade pblica. Os trabalhadores, agora
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urbanos, protegidos por sistema de seguridade social, reivindicavam atendimento para todos
nos hospitais. Nesse sentido a formao de enfermagem era a hospitalar com predomnio da
aprendizagem tcnica.
Nos anos 60, com a Reforma Universitria, implantou-se a formao superior em
enfermagem, o reconhecimento da carreira da enfermeira em seus trs nveis: superior,
tcnico e auxiliar (LDB 4.024/61). Em 1962, legislao especfica promoveu o ento ensino
mdio para superior. Objetivava-se a ampliao das funes da enfermeira, alm das funes
assistenciais, acresciam-se as administrativas e as de docncia. Alm disso, ensino da tcnica
em si vai dando lugar ao ensino da tcnica com fundamentao cientfica (THERRIEN et al,
2008).
Os mesmos autores referem ainda que, comparando os currculos de 1949 e 1962, o
primeiro surge em uma fase em que prevalecia o esprito poltico supostamente liberal, com
um capitalismo que ainda comportava a privatizao da sade de forma empresarial,
privilegiando as enfermidades de massa pelas disciplinas nos currculos que enfocavam a rea
preventiva. O segundo surge em um momento em que a economia brasileira comea a mostrar
um processo concentrador de renda, o que leva a preocupao primordial do currculo de
enfermagem para a formao de profissionais para o trabalho tambm em clnicas
especializadas. No cenrio de ento se observa a ampliao das instituies de previdncia
social e crescimento da rea curativa hospitalar.
Nos anos 70, cenrio de controle dos movimentos sociais, mantm-se a excluso da
sade pblica do currculo mnimo. Galleguillos e Oliveira (2001) expem que em
consonncia com o capitalismo favorvel ao consumo desmedido de medicamentos, bem
como de equipamentos mdico-cirrgicos, fundamentais s empresas de sade, o Parecer do
Conselho Federal de Enfermagem N 163/72 reformulou o currculo mnimo de Enfermagem,
criando habilitaes em Sade Pblica, Enfermagem Mdico-Cirrgica e Obstetrcia durante a
graduao, o que fragilizava ainda mais a formao geral.
Na dcada de 80 surgiram novas propostas de sade, visando uma melhor organizao
do sistema, trazendo os pressupostos de equidade, integralidade e universalidade, como
princpios norteadores das polticas no setor sade, exigindo profissionais com formao
generalista, capazes de atuar em diferentes nveis de ateno sade. Assim, houve
discusses entre as entidades de classe, escolas, instituies de sade entre outros acerca da
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necessidade de reformulao do currculo de 1972, pois o mesmo no seria mais capaz de
atender as necessidades impostas pelo setor da sade no Brasil (ITO et al, 2006).
Nos anos 90/2000 identifica-se mais claramente uma busca de (re) definio das
funes da enfermeira; visando reconhecimento e autonomia. Uma adequao de currculos s
novas polticas e sistema de sade vigente, o SUS. Uma busca mais concreta de legitimao
da enfermeira como profissional independente com atuao nas reas de assistncia, gerncia,
ensino e pesquisa. O cenrio conta com a concretizao da implantao da nova proposta de
sistema de sade, SUS, com a municipalizao e distritalizao desse sistema, com maior
autonomia para os estados e municpios. Observa-se a volta de algumas doenas endmicas
como a dengue, e no cenrio farmacutico surge a conquista dos genricos. Constata-se ainda
com o SUS, os processos de implantao e consolidao dos Conselhos de Sade e a presena
da excluso social e dos danos ambientais (THERRIEN et al, 2008).
Em todas as mudanas curriculares no ensino de Enfermagem no Brasil, denuncia-se a
predominncia do modelo mdico/hospitalar no ensino de graduao. A legislao sobre o
ensino de enfermagem desde a criao da Escola Anna Nery, compreendendo os currculos de
1923, 1949, 1962 e 1972, revelam que a formao do enfermeiro era centrada no plo
indivduo/doena/cura e na assistncia hospitalar, seguindo o mercado de trabalho especfico
de cada poca (ITO et al, 2006).
3.2 As Leis de Diretrizes e Bases da Educao Nacional e Diretrizes Curriculares
Nacionais para o Curso de Graduao em Enfermagem
A Enfermagem brasileira vem discutindo as mudanas na formao da sua fora de
trabalho desde a dcada de 1970, momento este em que estava sendo organizado o
Movimento da Reforma Sanitria, o qual apresentou grandes contribuies para a
reformulao da Constituio Nacional. Nesta fica determinado que o setor sade deva
organizar-se por meio de um Sistema nico de Sade (SUS) e, para que haja a sua
implementao, uma das estratgias necessrias para a reorganizao do modelo de ateno
dever ser a reformulao dos processos de formao dos profissionais (REZENDE et al,
2006).
Diante disso, podem-se verificar na histria da formao superior de enfermeiros no
Brasil, segundo Pinto e Pepe (2007), quatro mudanas curriculares, sem que nenhuma delas
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promovesse mudanas significativas na prtica dos profissionais. Considera-se que isso se
deve ao fato da prtica pedaggica dos formadores de enfermeiros no terem acompanhado as
mudanas curriculares pretendidas, no que tange aos seus pressupostos filosfico-
metodolgicos e objetivos, mantendo traos marcantes da prtica pedaggica tradicional. Essa
prtica perpetua o modelo biomdico-tecnicista que se ope formao do enfermeiro
requerido pela contemporaneidade.
Nesse contexto de mudanas, as escolas de Enfermagem, em um movimento de
apropriao e desenvolvimento dos saberes peculiares, passaram a transmiti-los em escala
ampliada para a formao dos futuros enfermeiros, com uma constituio curricular inscrita
na ordem da fragmentao do eixo de formao, no ensino centrado no modelo mdico, na
dicotomizao de conceitos, especializao precoce, entre outros. Contudo, as necessidades
de mudanas desse modelo foram discutidas com a Reforma Curricular proposta em 1994,
como expem De Domenico e Ide (2005).
Posteriormente, uma nova possibilidade de reestruturao curricular veio com a
publicao da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDB), em 1996. Nesta lei h
dispositivos inovadores que buscam flexibilizar o ensino e qualificar suas estruturas,
incluindo a criao de Comisses de Especialistas da Secretaria de Educao Superior (Sesu),
institudas pelo Ministrio da Educao e Cultura (MEC) com o intuito de substituir os
currculos mnimos da formao universitria (BRASIL, 1996).
Ito et al (2006) referem em virtude da LDB Lei n 9.394 de 20 de dezembro de
1996, ocorreram inovaes e mudanas na educao nacional, onde prevista uma
reestruturao dos cursos de graduao, com a extino dos currculos mnimos e a adoo de
diretrizes curriculares especficas para cada curso.
Salienta-se que as Leis de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDB)
fundamentam o processo de formao na educao superior por meio do desenvolvimento de
competncias e habilidades; do aperfeioamento cultural, tcnico e cientfico do cidado; da
flexibilizao dos currculos; da implementao de Projetos Pedaggicos inovadores, numa
perspectiva de mudana para a formao profissional. Essas premissas apontam novas
configuraes para os padres curriculares, at ento vigentes, indicando a necessidade de
uma reestruturao dos cursos de graduao com mudanas paradigmticas no contexto
acadmico, direcionando a construo de Diretrizes Curriculares para cada Curso de
Graduao (BRASIL, 1996).
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A partir da LDB, concretizou-se, em 7/8/2001, o Parecer 1133 do CNE/CES, que veio
reforar a necessidade da articulao entre Educao Superior e Sade, objetivando a
formao geral e especfica dos egressos/profissionais, com nfase na promoo, preveno,
recuperao e reabilitao da sade (BRASIL, 2001b).
A atual LDB oferece s escolas as bases filosficas, conceituais, polticas e
metodolgicas que devem orientar a elaborao dos projetos pedaggicos. A LDB visa
formao de profissionais que possam a vir a ser crticos, reflexivos, dinmicos, ativos, diante
das demandas do mercado de trabalho, apto a aprender a aprender, a assumir os direitos de
liberdade e cidadania, enfim, compreender as tendncias do mundo atual e as necessidades de
desenvolvimento do pas (FRANQUEIRO, 2002).
Aps Parecer que concretizou a nova LDB, foi aprovada a Resoluo CNE/CES N 03
de 7/11/2001, que definiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduao em
Enfermagem DCENF (BRASIL, 2001c).
As DCENF tiveram, de acordo com Fernandes et al (2005), sua materialidade
concretizada, a partir de propostas que emergiram da mobilizao das (os) enfermeiras (os),
atravs da sua associao de classe, de entidades educacionais e de setores da sociedade civil
interessados em defender as mudanas da formao na rea da sade. Elas expressam os
conceitos originrios dos movimentos por mudanas na educao em enfermagem,
explicitando a necessidade do compromisso com princpios da Reforma Sanitria Brasileira e
do Sistema nico de Sade (SUS), como ratificado tambm por Silva et al (2010). Elas
devem ser apreendidas, destarte, como produto de uma construo social e histrica, trazendo,
no seu contedo, os posicionamentos da enfermagem brasileira como ponto de partida para as
mudanas necessrias formao da (o) enfermeira (o); como referncia para que as
escolas/cursos, no uso de sua autonomia, construam, coletivamente, seus Projetos
Pedaggicos, respeitando a especificidade regional, local e institucional.
Destaca-se que as Diretrizes Curriculares norteiam o perfil do formando/egresso
primando pela tendncia em valorizar os aspectos tico-humanistas na capacitao de
competncias, nas habilidades gerais e especficas, na perspectiva da integralidade da
assistncia, com senso de responsabilidade social e compromisso com a cidadania, como
promotor da sade integral do ser humano (ESPERIDIO; MUNARI, 2005)
Considerando-se a criao DCENF, Santos (2006) refere que os cursos de enfermagem
do pas passam por reflexes acerca dos seus Projetos Pedaggicos, torna-se necessrio
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conhecer e compreender o documento sobre as DCN, como uma prvia para essa
reestruturao. Dentre os vrios pontos importantes das DCN encontra-se o Art. 3 que diz
respeito ao perfil do formando, egresso/profissional: Enfermeiro, com formao generalista,
humanista, crtica e reflexiva. Profissional qualificado para o exerccio de Enfermagem, com
base no rigor cientfico e intelectual e pautado em princpios ticos. Capaz de conhecer e
intervir sobre os problemas/situaes de sade-doena mais prevalentes no perfil
epidemiolgico nacional, com nfase na sua regio de atuao, identificando as dimenses
biopsicossociais dos seus determinantes. Capacitado a atuar, com senso de responsabilidade
social e compromisso com a cidadania, como promotor da sade integral do ser humano
(BRASIL, 2001b).
Segundo Fernandes et al (2005), a busca da implementao de uma mudana para
adequar a formao profissional diversidade e complexidade do mundo contemporneo
implica o enfrentamento a desafios, tais como: o afastamento das prticas de ensino centrado
no professor para as atividades de aprendizagem centradas no aluno; a superao do modelo
disciplinar fragmentado para a construo de um currculo integrado, em que o eixo da
formao articula a trade prtica/trabalho/cuidado de enfermagem; a sada da oferta da teoria
ministrada de forma isolada, antecedendo a prtica, para a articulao teoria/prtica; o
abandono da concepo de sade como ausncia de doena para a concepo de sade
enquanto condies de vida; o rompimento da polarizao individual/coletivo e
biolgico/social para uma considerao de interpenetrao e transversalidade; a mudana da
concepo de avaliao como processo punitivo para a de avaliao como instrumento de (re)
definio de paradigmas.
Essa realidade, por sua vez, vem requerer, das instituies formadoras, a
implementao de aes de mudanas buscando a reorientao do processo de formao
voltado para o desenvolvimento de competncias e habilidades, para o exerccio de prticas e
saberes capazes de darem respostas aos princpios propostos pela Reforma Sanitria e do
SUS, como expressam Silva et al (2010).
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3.3 Formao do enfermeiro: movimentos instituintes e institudos com vistas
formao para a Ateno Bsica
Em meados da dcada de 70 o sistema de sade brasileiro entra em crise. Paim (2009)
menciona que em um estudo censurado pela ditadura militar na V Conferncia Nacional de
Sade, em 1975, descrevia o sistema de sade brasileiro da poca com seis caractersticas:
insuficiente; mal distribudo; descoordenado; inadequado; ineficiente; e ineficaz. Certamente
esse estudo encontrou dificuldades de explicitar mais quatro adjetivos daquele "no sistema":
autoritrio; centralizado; corrupto; e injusto.
Em meio a isso surge um movimento social composto por populares, estudantes,
pesquisadores e profissionais da sade, a Reforma Sanitria. Esta foi um movimento
imbricado com a perspectiva de reforma social, com a construo de um Estado democrtico,
para alm de uma reforma setorial. No bastava superar, entre outros, o intenso processo de
privatizao capitaneado pela medicina previdenciria, a dicotomia curativa-preventiva e o
corporativismo na sade, que caracterizava o modelo anterior. Aliado reestruturao
institucional e do processo de trabalho, a partir da redefinio do modelo assistencial, eram
necessrias mudanas no contedo e na forma de pensar e fazer sade, que se expressa na
ampliao do conceito de sade, e avanar a conscincia sanitria acerca dos problemas de
sade, suas causas e as lutas por sua transformao (MATTA, 2008).
O mesmo autor ainda refere que esse arcabouo conceitual e operacional est na base
da diretriz que define a participao social no SUS, assim como da mudana na formao
profissional em sade, entendida como uma condio necessria, mas no suficiente, para a
transformao das relaes de trabalho, da prestao de servios populao e para a prpria
participao do trabalhador no planejamento e avaliao das aes dos servios de sade.
Com vistas a superar o carter alienado da escola e do trabalho em sade no que diz
respeito aos determinantes sociais do processo sade-doena e da organizao do setor,
prope-se o aprofundamento da estratgia de integrao ensino-servio, que a formao alie a
dimenso tcnica e a dimenso poltica, e a construo de um novo compromisso tico-
poltico dos trabalhadores da sade pautado na questo democrtica, na relao solidria com
a populao, na defesa do servio pblico e da dignidade humana.
Por integrao ensino-servio entende-se, de acordo com Albuquerque et al (2008), o
trabalho coletivo, pactuado e integrado de estudantes e professores dos cursos de formao na
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rea da sade com trabalhadores que compem as equipes dos servios de sade, incluindo-se
os gestores, visando qualidade de ateno sade individual e coletiva, qualidade da
formao profissional e ao desenvolvimento/satisfao dos trabalhadores dos servios.
Matsumoto (2010) refere que diante dessas mudanas, novas discusses foram
surgindo acerca do processo sade-doena e as formas de abord-lo, bem como da educao
superior, mais especificamente as graduaes da rea da sade, que tambm passavam a
necessitar de adequaes ao novo modelo de ateno.
Diante disso, as Instituies de Ensino Superior (IES), em especial nos cursos da rea
da sade, tm procurado adotar em suas propostas curriculares, a flexibilidade, a
interdisciplinaridade, a contextualizao, a unicidade da relao teoria-prtica e o respeito aos
valores ticos, estticos e polticos. Estes aspectos so considerados essenciais na formao de
profissionais competentes para lidar com os desafios do sculo XXI (SCHERER; SCHERER,
2012).
esperado, portanto, que os estudantes sejam preparados para lidar com a
complexidade do ser humano, o meio em que vivem e viabilizar recursos que possibilitem a
construo de uma conscincia crtica a respeito do contexto em que eles prprios esto
inseridos. Nesta perspectiva, a inteno do ensino a de privilegiar abordagens ativas, crtico-
reflexivas, que permitam a construo de competncia abrangendo aes polticas, ticas e
tcnicas, valorizando o estudante como ser integral (CLAPIS et al, 2004).
Com tal propsito, diversas so as mobilizaes significativas que tm sido feitas no
sentido de se empregar transformaes nos modelos de formao dos profissionais, buscando
integrar a universidade aos segmentos da sociedade civil e com as comunidades em uma
parceria que potencialize as alternativas de mudanas pedaggicas, organizativas e de
interaes institucionais. Essa questo se faz necessria para que a academia demonstre sua
relevncia no contexto social e para permitir a formao dos estudantes a partir de problemas
da realidade concreta (SILVA; SENA, 2006).
Como estratgia potencializadora dessas mobilizaes, segundo Souza e Miyadahira
(2012), tem-se as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduao em Enfermagem,
como mencionado anteriormente. Contudo, h o desafio de transpor as exigncias das
diretrizes curriculares, formando profissionais que superem o domnio terico-prtico exigido
pelo mercado de trabalho, enquanto agentes inovadores da realidade, inseridos e valorizados
no mundo de trabalho.
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Contudo, s a partir de 2000 que polticas voltadas para a formao em sade e
relacionadas ao novo modelo de sade comearam a ser efetivamente implantada. Assim,
buscando o desenvolvimento do SUS e passando a compor o Ministrio da Sade, no ano de
2003, foi criada a Secretaria de Gesto do Trabalho e da Educao na Sade (SGTES), com o
objetivo de tratar a gesto dos recursos humanos como questo estratgica. Deste modo, esta
secretaria assumiu a responsabilidade de formular polticas orientadoras da gesto, formao,
qualificao e regulao dos trabalhadores da sade no Brasil (MATSUMOTO, 2010).
Esta Secretaria possui duas reas tcnicas: a gesto do trabalho e a gesto da educao
na sade. Neste estudo foram abordadas apenas as iniciativas relacionadas gesto da
educao na sade. Assim, o Departamento de Gesto da Educao na Sade (DEGES)
responsvel pela definio e desenvolvimento de polticas relacionadas formao de pessoal
da sade, tanto no nvel superior como no nvel tcnico-profissional (BRASIL, 2013a).
No que se refere Educao Superior, o DEGES busca o aperfeioamento profissional
e a educao permanente dos trabalhadores da sade, por meio da Coordenao Geral de
Aes Estratgicas em Educao na Sade, atuando nas seguintes linhas de trabalho
(BRASIL, 2013a):
Articulao entre o Ministrio da Sade e o Ministrio da Educao resultando em
uma ao intersetorial para a formao e o desenvolvimento de recursos humanos para
a rea da sade;
Implementao das Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduao na
rea da sade;
Criao da Rede Multicntrica de Apoio Especializao em Sade da Famlia e
Comunidade;
Amplo apoio e financiamento Residncia Mdica no Brasil, como nfase no apoio
aos Programas de Residncia em Medicina de Famlia e Comunidade;
Implantao e implementao do Programa de Residncia Multiprofissional em Sade
da Famlia e Comunidade.
So estratgias do DEGES na Educao Superior: Programa de Educao pelo
Trabalho para a Sade (PET-Sade); Pr-Residncia; Programa de Valorizao do
Profissional da Ateno Bsica (PROVAB); Telessade; Universidade Aberta do SUS (UnA-
SUS); Projeto de Estgios e Vivncias no SUS (Ver-SUS); e Programa Nacional de
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Reorientao da Formao Profissional em Sade (Pr-Sade). Apresentam-se em linhas
gerais essas estratgias.
1) Programa de Educao pelo Trabalho para a Sade (PET-Sade): regulamentado
pela Portaria Interministerial N 421, de 03 de maro de 2010, apresenta suas aes
direcionadas para o fortalecimento de reas estratgicas para o SUS, de acordo com seus
princpios e necessidades. Configura-se como uma das estratgias do Pr-Sade;
2) Pr-Residncia: em 2009 o Ministrio da Sade d incio a uma nova modalidade
de financiamento de Residncias Mdicas, Multiprofissionais e em rea profissional em
sade. Com isso, objetiva oferecer condies de sustentabilidade, visando a continuidade das
aes dos programas de residncia e o consequente aprimoramento da formao de
especialistas no Brasil;
3) Programa de Valorizao do Profissional da Ateno Bsica (PROVAB): visa
estimular a atuao de profissionais na Ateno Bsica em periferias de grandes cidades,
municpios do interior, ou em reas mais remotas.
4) Programa Nacional Telessade Brasil: trata-se de uma ao do Programa "Mais
Sade", foi instituda pela Portaria GM 35/2007, e revogada pela Portaria GM 402/2010. Tem
por objetivo melhorar a qualidade do atendimento da Ateno Bsica no SUS, integrando
ensino e servio por meio de ferramentas de tecnologias da informao;
5) Universidade Aberta do SUS (UnA-SUS): instituda em junho de 2008, a UnA-SUS
objetiva criar condies para o funcionamento de uma rede colaborativa de instituies
acadmicas, servios de sade e gesto do SUS, destinada a atender s necessidades de
formao e educao permanente do SUS.
6) Projeto de Estgios e Vivncias no SUS (Ver-SUS): faz parte de uma estratgia do
Ministrio da Sade e do Movimento Estudantil da rea da sade de aproximar os estudantes
universitrios do setor aos desafios inerentes consolidao do SUS em todo o territrio
nacional. Representa, tambm, um compromisso do gestor do SUS com a aprendizagem dos
estudantes que se preparam para este setor. Trata-se de uma ao que propicia aos estudantes
universitrios dos cursos da sade a conhecer mais de perto o SUS. uma oportunidade de
vivenciar os desafios, as dificuldades e os avanos deste sistema.
Vale salientar que o municpio de Sobral conta com um Sistema Sade Escola, no qual
a Escola de Sade da Famlia Visconde de Sabia atua como importante poltica social, por
meio de um grupo de trabalho que potencializa a integrao ensino-servio. Soares et al
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(2208) apontam que o Sistema Sade Escola de Sobral resultado do esforo empreendido
por um conjunto de atores que trabalham, colaboram e apoiam-se no interior da rede local de
sade tendo como premissa a integrao entre servio-ensino e ensino-servio, qualificando o
processo de gesto participativa e democrtica.
Em razo do Pr-Sade ser o fundamentador terico deste estudo, alm do principal
programa direcionado a graduao, adentra-se para um captulo voltado para a aproximao
desse Programa, bem como dos conceitos por ele utilizados, de modo a construir um mapa
conceitual a ser utilizado neste estudo.
3.4 Programa Nacional de Reorientao da Formao Profissional em Sade (Pr-
Sade)
O modelo de sade centrado na doena e no atendimento vigorou durante muito tempo
no Brasil. Porm, com a implantao do SUS, h um esforo em reorganizar e incentivar a
Ateno Bsica como forma de substituio do modelo at ento vigente. Essa mudana,
orientada pelos princpios da Reforma Sanitria, passou a exigir tambm adequaes das
polticas de gesto do trabalho e da educao em sade, integrando ensino-servio, de modo
que os profissionais pudessem estar capacitados para atuao segundo o modelo que estava
sendo proposto (MATSUMOTO, 2010).
Este modelo representado principalmente pela Estratgia Sade da Famlia (ESF),
que busca ampliar a cobertura da populao, assegurando um padro de servios compatvel
com a melhoria da qualidade de vida, com maior resolubilidade da ateno e garantia de
acesso aos demais nveis do Sistema de Sade. Contudo, uma srie de desafios permeia essa
Estratgia: o de constituir-se efetivamente como o primeiro nvel de ateno do SUS; o de
romper com o modelo hospitalocntrico e privativista; o de caracterizar-se como principal
porta de entrada do Sistema, articulada com os demais nveis de ateno por meio da
referncia e contrarreferncia; a ateno da equipe ao cidado, por meio do vnculo e a
corresponsabilizao do processo sade-doena com a comunidade; e a construo de lugar
valorizado socialmente para os profissionais que fizerem opo pela Sade da Famlia
(BRASIL, 2007).
Assim, em parceria com a Secretaria de Educao Superior (SESU), o Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira (INEP/MEC) e o apoio da
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Organizao Pan-Americana da Sade (OPAS), foi institudo o Programa Nacional de
Reorientao da Formao Profissional em Sade (Pr-Sade), cujo objetivo a integrao
ensino-servio, visando reorientao da formao profissional, assegurando uma abordagem
integral do processo sade-doena com nfase na Ateno Bsica, promovendo
transformaes nos processos de gerao de conhecimentos, ensino e aprendizagem e de
prestao de servios populao (BRASIL, 2009).
A Portaria Interministerial MS/MEC n 2.101, de 03 de novembro de 2005, instituiu o
Pr-Sade, que inicialmente contemplava os cursos de graduao das profisses que integram
a Estratgia de Sade da Famlia, a saber: enfermagem, medicina e odontologia. Com a
publicao da Portaria Interministerial MS/MEC N 3.019, de 27 de novembro de 2007, o
programa foi ampliado para os demais cursos de graduao da rea da sade, alm dos cursos
j contemplados na primeira fase (BRASIL, 2009).
A perspectiva do programa que os processos de reorientao da formao ocorram
ao mesmo tempo em diferentes eixos, de modo que haja integrao das instituies de ensino
superior com o servio pblico de sade, respondendo s necessidades de sade da populao
na formao dos profissionais, na produo do conhecimento e na prestao de servios,
colaborando para o fortalecimento do SUS (BRASIL, 2009).
So propostos trs eixos para desenvolvimento do Pr-Sade, sendo que cada um
deles apresenta trs vetores especficos. Cada um dos vetores pode ser hierarquizado em
outros trs estgios, que vo desde uma situao mais tradicional ou conservadora, atribuda
como estgio I, at o estgio III, momento no qual se alcanam a situao e o objetivo
desejados, tida como imagem objetivo1. Esses aspectos podem ser visualizados no Quadro 1.
Quadro 3. Apresentao dos Eixos de desenvolvimento do Pr-Sade.
EIXO A - ORIENTAO TERICA
Vetores
1- Determinantes de
Sade e Doena
Imagem
objetivo
Estgio III
Prioriza os determinantes de sade e doena, com adequada
articulao biolgico-social.
2 - Pesquisa
relacionada
realidade local
Equilbrio na produo de investigaes sobre as necessidades da
populao e sobre os aspectos biomdicos/tecnolgicos.
3 - Ps-graduao e
Educao
Permanente
Articulao com as necessidades assistenciais.
1 Construo efetiva da integrao ensino-servio, que envolve tanto a ateno bsica quanto os outros nveis de ateno,
aproveitando amplamente a capacidade instalada da rede de servios, complementada pela utilizao dos servios prprios da IES - hospitais universitrios, ambulatrios especializados, clnicas odontolgicas e outros - funcionalmente integrados ao SUS. A interao recproca entre os gestores dos sistemas educacionais e do SUS permitir a criao das condies reais para o aproveitamento de ambos os sistemas, com melhor qualidade tcnica na ateno e no processo ensino-aprendizagem (BRASIL, 2007).
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EIXO B CENRIOS DE PRTICAS
Vetores
1 - Interao
ensino-servio
Imagem
objetivo
Estgio III
Integra orientao terica com a prtica nos servios pblicos de
sade, em nvel individual e coletivo.
2 - Diversificao
dos cenrios do
processo de
aprendizagem
Atividades clnicas de Ateno Bsica da rede do SUS, Unidades
Bsicas de sade, Unidades do Programa de Sade da famlia,
com prioridade ambulatorial, ou em servios prprios da IES que
subordinam suas centrais de marcao de consulta s
necessidades locais do SUS. Internato ou equivalente
desenvolvido em sua totalidade na rede do SUS.
3 - Articulao dos
servios
universitrios com
o SUS
Servios prprios completamente integrados ao SUS, sem central
de marcao de consultas ou de internaes prprias das
instituies acadmicas. Desenvolvimento de mecanismos
institucionais de referncia e contra-referncia com a rede do
SUS.
EIXO C ORIENTAO PEDAGGICA
Vetores
1 - Anlise crtica
da ateno bsica
Imagem
objetivo
Estgio III
O processo de ensino-aprendizagem toma como eixo, na etapa
clnica, anlise crtica da totalidade da experincia da ateno
sade, com nfase no componente de Ateno Bsica.
2 - Integrao do
ciclo bsico/ciclo
profissional
Ensino com integrao do ciclo bsico com o profissional ao
longo de todo o curso. Um dos mtodos orientadores da
integrao a problematizao.
3 - Mudana
metodolgica
Ensino baseado na problematizao em pequenos grupos,
ocorrendo em ambientes diversificados com atividades
estruturadas a partir das necessidades de sade da populao.
Avaliao formativa e somativa, incluindo todos os aspectos da
formao do estudante (conhecimentos, atitudes e habilidades).
Fonte: BRASIL. Ministrio da Sade. Ministrio da Educao. Programa Nacional de Reorientao da
Formao Profissional em Sade - Pr-Sade. Braslia: Ministrio da Sade, 2007.
Estes eixos se constituem como direcionalidade do processo de modificaes da
formao em sade. A descrio apresentada sobre cada um deles um exemplo que orienta a
necessidade de consider-los como elementos estruturantes da mudana (BRASIL, 2009).
A partir desses eixos, almeja-se atingir os seguintes objetivos especficos do Pr-
Sade:
Reorientar o processo de formao dos profissionais da sade, de modo a oferecer
sociedade profissionais habilitados para responder s necessidades da populao
brasileira e operacionalizao do SUS;
Estabelecer mecanismos de cooperao ente os gestores do SUS e as escolas, visando
melhoria da qualidade e resolubilidade da ateno prestada ao cidado,
integrao da rede pblica de servios de sade e formao dos profissionais de
sade na graduao e na educao permanente;
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Incorporar, no processo de formao da rea da sade, a abordagem integral do
processo sade-doena, da promoo da sade e dos sistemas de referncia e
contrarreferncia;
Ampliar a durao da prtica educacional na rede pblica de servios bsicos de
sade, inclusive com a integrao de servios clnicos da academia no contexto do
SUS.
Neste aspecto, a essncia do Pr-Sade a aproximao da academia com os servios
pblicos de sade, mecanismo essencial para transformar o aprendizado, com base na
realidade socioeconmica e sanitria da populao brasileira (BRASIL, 2007).
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Captulo 4 Metodologia
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4 METODOLOGIA: o caminho de voos desbravadores
H um tempo em que preciso abandonar as roupas usadas, que j tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre
aos mesmos lugares. o tempo da travessia: e, se no ousarmos faz-la, teremos ficado, para sempre, margem de ns mesmos.
(Fernando Teixeira de Andrade)
4.1 Tipo e abordagem do estudo
Partindo do pressuposto estabelecido por essa pesquisa e tendo como objetivo
principal analisar a formao do enfermeiro para atuao na Ateno Bsica, no Curso de
graduao em Enfermagem da Universidade Estadual Vale do Acara (UVA), segundo os
eixos orientadores do Programa Nacional de Reorientao da Formao Profissional em
Sade (Pr-Sade), adotou-se como estratgia metodolgica um estudo exploratrio-
descritivo, e documental, com abordagem quanti-qualitativa.
A pesquisa qualitativa tenta interpretar os fenmenos sociais (interaes,
comportamentos, etc.) em termos dos sentidos que as pessoas lhes atribuem. Essa abordagem
significa que, com frequncia, o pesquisador tem que questionar suposies do senso comum
ou ideias tidas como garantidas (POPE; MAYS, 2009). Com relao pesquisa quantitativa,
Apolinrio (2011) refere que se trata de uma modalidade de pesquisa na qual variveis
predeterminadas so mensuradas e expressas numericamente. Nesse sentido, examinar um
dado objeto sob as perspectivas das duas abordagens possibilitou uma anlise mais completa.
Gil (2010) define as pesquisas exploratrias como aquelas que apresentam como
propsito proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torn-lo mais
explcito ou a construir hipteses. J as pesquisas descritivas tm como objetivo a descrio
das caractersticas de determinada populao, alm se serem elaboradas com a finalidade de
identificar possveis relaes entre variveis.
Sendo assim, as pesquisas exploratrio-descritivas, segundo Gil (2002), visam
proporcionar uma viso geral de um determinado fato, do tipo aproximativo.
http://pensador.uol.com.br/autor/fernando_teixeira_de_andrade/
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4.2 Unidades de anlise
Por Unidades de Anlise entende-se expresso mais ampla para sujeito de pesquisa;
objeto, organismo, conceito ou pessoa que est sendo estudado em uma pesquisa
(APOLINRIO, 2011). Dessa premissa, adotou-se esse termo no decorrer deste estudo ao se
referir aos objetos selecionados para anlise, que foram:
1. Projeto Poltico Pedaggico (PPP), com nfase nos ementrios dos mdulos, e Programa
Semestral Docente (PSD) e contedos programticos, na proporo entre a carga horria total
da matriz curricular e o quantitativo previsto para aes formativas para a Ateno Bsica do
Curso de Enfermagem da UVA;
2. Discentes que se encontravam, no momento da coleta de dados, no semestre mais avanado
(nono semestre) do Curso de Enfermagem da UVA ps-implantao do currculo orientado
pelo Pr-Sade. A escolha pelo semestre mais avanado se justificou pelo fato do currculo
ainda estar em fase de implementao; ou seja, no haver no momento da coleta dos dados
egressos do Curso em estudo. Atendendo a este critrio, foram identificados 30 discentes,
sendo que 27 aceitaram participar do estudo;
3. Docentes do curso em estudo responsveis pelos mdulos que apresentem no ementrio e
PSD temas relacionados ao desenvolvimento de competncias Ateno Bsica. Foram
selecionados 20 docentes, sendo que 13 participaram do estudo; e
4. Enfermeiros da ateno bsica que atuam como preceptores do Internato da Ateno
Bsica. Inicialmente foram identificados os Centros de Sade da Famlia (CSF) que tinham
Internos do Curso de Enfermagem da UVA no perodo correspondente a coleta de dados, que
totalizaram 10 CSF; nestes foi solicitada a participao na pesquisa junto a 23 enfermeiros
que estavam acompanhando internos da UVA, sendo que 13 aceitaram participar do estudo.
Entende-se o PPP como o principal instrumento poltico e tcnico de balizamento para
orientao da formao de um determinado curso, que deve ser elaborado de forma coletiva
no mbito da instituio. O PPP uma ao intencional que deve ser definida coletivamente,
como consequente compromisso coletivo. Assim, denominado de poltico porque reflete as
opes e escolhas de caminhos e prioridades na formao do cidado, como membro ativo e
transformador da sociedade. E pedaggico por expressar as atividades pedaggicas e didticas
que levam a escola a alcanar objetivos educacionais (NBREGA-THERRIEN et al, 2010).
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Os mesmos autores ainda expressam que o Projeto deve expressar uma tentativa de
comunicao, de interao dos aspectos subjetivos e objetivos, de reflexividade e de
criatividade, cujo desencadeamento depende da iniciativa e envolvimento dos sujeitos
implicados nesse processo como coletividade em ao. Parte-se, assim, de um processo
interativo-colaborativo fundamentado na racionalidade e na integrao dos saberes pertinentes
ao contexto analisado, o que no tarefa simples.
Com vistas a potencializar a anlise do PPP, foi incorporado coleta o PSD,
documento no qual constavam: as atividades a serem desenvolvidas pelos docentes nos
mdulos; a discriminao dos contedos abordados por cada docente; a carga horria total do
mdulo e de cada contedo ministrado; e o momento de incio e trmino do mdulo.
A incorporao dos docentes e discentes do Curso de Enfermagem neste estudo partiu
do pressuposto de que o papel do professor e o do aluno envolve um desafio de ensinar e
aprender de forma ativa e contextualizada. Ao professor, cabe planejar recursos, orientar e
acompanhar atividades para promover situaes que possibilitem uma aprendizagem
significativa e crtica reflexiva. Ao aluno cabe posicionar-se como sujeito ativo e crtico,
responsvel pela construo de seu prprio conhecimento, desenvolvendo competncias para
resolver problemas em sua rea de atuao, exercer a sua cidadania e assumir o seu papel
social na construo de sua realidade (GARANHANI; VALLE, 2012). Denota, portanto,
consonncia com as diretrizes do Pr-Sade, sendo sujeitos essenciais ao processo de anlise
do Curso de Enfermagem contemplado no estudo.
J os enfermeiros que atuam como preceptores no Internato da Ateno Bsica foram
incorporados ao estudo devido ao fato de os mesmos acompanharem os discentes no
momento de colocar em prtica os conhecimentos concernentes a Ateno Bsica, e com isso
incorporar mais indcios se o processo de formao est coerente com o proposto pelo Pr-
Sade.
4.3 Perodo e Cenrios do estudo
O perodo de desenvolvimento deste estudo foi compreendido entre os anos de 2012 e
2014. Teve como cenrios o Curso de Enfermagem Universidade Estadual Vale do Acara
(UVA), e a Ateno Bsica, que serve de mbito de prtica dos discentes do Curso de
Enfermagem desta Universidade; ambos os cenrios localizados na cidade de Sobral-CE.
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Sobral, situado na Regio Noroeste do Cear, apresenta, segundo o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatstica IBGE (BRASIL, 2013), uma rea territorial de 2.122,897 Km2, e
uma populao estimada em 197.663 habitantes. A referida cidade integra uma rede
assistencial hierarquizada e regionalizada do Sistema nico de Sade (SUS) no estado do
Cear, com capacidade instalada para realizao de servios em seus diferentes nveis de
complexidade, que o faz ser municpio sede para a Microrregional de Sobral e Plo da
Macrorregio Norte do Cear.
Apresentam-se os cenrios do estudo:
O Curso de Enfermagem da Universidade Estadual Vale do Acara (UVA)
No ano de 1968, por meio do Decreto Municipal N 214 de 23 de outubro, assinado
pelo prefeito de ento, Jernimo de Medeiros Prado, com a assessoria de Padre Sadoc foi
criada a Fundao Universidade Vale do Acara-UVA. Tendo como primeiro curso a ser
reconhecido, a Faculdade de Cincias Contbeis, autorizada pelo Decreto do Presidente
Emlio Garrastazu Mdici, de N 66.764 de 19 de junho de 1970 e reconhecida pelo Decreto
N 75.233 de 16 de janeiro de 1975. Em 22 de setembro de 1975 criado pelo Conselho
Diretor da UVA, o Centro de Pesquisas Histricas e Geogrficas de Sobral. Pelo Decreto N
68.623 de 17 de maio de 1971 autorizado o funcionamento do Curso de Engenharia
Operacional. Em 27 de abril de 1972, o Conselho Estadual de Educao emite parecer
favorvel ao funcionamento da Faculdade de Enfermagem e Obstetrcia (ARAJO, 2005).
A Faculdade de Enfermagem e Obstetrcia surge a partir de estudo histrico da
genealogia das famlias de Sobral, realizado pelo Padre Francisco Sadoc de Arajo, que
identificou inmeros casos de homens que haviam casado por duas, trs e, at quatro vezes.
Tal fato o levou a entrevistar alguns destes homens sobre o porqu de tantos casamentos. O
dado de carter epidemiolgico-sanitrio identificado foi que as mulheres morriam em sua
maioria, de parto. Ao investigar melhor, o referido padre identificou que o motivo de tantos
bitos devia-se a falta de conhecimento tcnico-cientfico das parteiras leigas. Aps os
esforos empreendidos junto ao Conselho Diretivo da UVA e ao Conselho Estadual de
Educao o curso de Enfermagem e Obstetrcia passou h funcionar (UVA, 2002).
No ano de 1984, a UVA foi estadualizada, por meio de Lei Estadual N 10.033 de 10
de outubro de 1984, passando a denominao de Universidade Estadual Vale do Acara-
UVA. A UVA reconhecida pelo Conselho de Educao do Cear por meio do Parecer N
318/94 de 08/03/1994, homologado pelo Governador Ciro Ferreira Gomes, e sancionado pela
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Portaria Ministerial N 821 de 31/05/1994 do Ministrio da Educao e Desporto (UVA,
2013).
Atualmente a UVA conta com 19 cursos de graduao: Administrao, Cincias
Biolgicas, Cincias Contbeis, Cincias da Computao, Cincias da Matemtica, Cincias
Sociais, Direito, Educao Fsica, Enfermagem, Engenharia Civil, Filosofia, Fsica,
Geografia, Histria, Letras, Pedagogia, Qumica, Tecnologia em Construo de Edifcios, e
Zootecnia (UVA, 2013).
Atualmente, o Curso de Enfermagem da UVA conta com um corpo docente formado
por 30 professores, destes, quatro so doutores e dos 13 professores com titulao de mestre,
quatro esto cursando doutorado, atendendo a exigncia da LDB, em seu Artigo 52 quando
destaca que um tero do corpo docente, pelo menos, deve ter titulao acadmica de mestrado
ou doutorado. O acesso discente de 35 alunos por semestre, o que permitir uma mdia de
275 alunos nos 10 semestres letivos do Curso.
Ateno Bsica Sade do municpio de Sobral-CE
Por ateno bsica entende-se como um conjunto de aes de sade, no mbito
individual e coletivo, que abrange a promoo e a proteo da sade, a preveno de agravos,
o diagnstico, o tratamento, a reabilitao, a reduo de danos e a manuteno da sade com o
objetivo de desenvolver uma ateno integral que impacte na situao de sade e autonomia
das pessoas e nos determinantes e condicionantes de sade das coletividades (BRASIL,
2012). Depois de conceituada, retratam-se alguns aspectos histricos da Ateno Bsica em
Sobral-CE.
At o ano de 1996, Sobral tinha como principal caracterstica um governo municipal
quase ausente na formulao e execuo das suas polticas pblicas. Esta caracterstica
perpassava todos os setores da administrao, e de forma bastante acentuada, o da sade.
Quase toda a rede dos servios assistenciais de sade pertencia a entidades
filantrpicas, entidades privadas e ao governo estadual. Como o municpio no se apresentava
habilitado em nenhuma forma de gesto do SUS, o financiamento de sua rede assistencial se
limitou ao pagamento por contraprestao de servios. At mesmo a oferta de servios mais
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especializados era inconstante, variando ao sabor de interesses corporativos e das condies
pontuais de financiamento, mas nunca a partir de sua realidade epidemiolgica.
Mesmo os servios ambulatoriais de Ateno Bsica estavam centralizados nos
hospitais, apresentando baixa cobertura e pouca, ou quase nenhuma resolubilidade. Os Postos
de Sade municipais estavam quase todos localizados dentro de escolas municipais, dispondo
geralmente de duas pequenas salas, sem maiores condies de funcionamento.
Segundo Andrade et al (2004), a construo do Sistema Municipal de Sade de
Sobral, enquanto um conjunto de servios coordenados por gesto local, com rea geogrfica
definida e metas para melhoria da situao de sade da populao claramente estabelecidas,
iniciouse em 1997. O primeiro passo foi a realizao de um diagnstico de sade do
municpio com base em dados secundrios, logo em seguida, a realizao de um Seminrio de
Planejamento Estratgico Participativo, organizado pela Secretaria Municipal de
Desenvolvimento Social e Sade do Municpio (SDSS).
Durante o Seminrio de Planejamento Estratgico realizado em 1997 foram definidos
os seguintes objetivos para a organizao do Sistema Municipal de Sade:
a) Inverso do modelo de ateno sade hospitalocntrico, ento vigente, para um
modelo baseado na ateno integral sade;
b) Utilizao da estratgia de promoo da sade no novo modelo, articulando aes
intersetoriais e privilegiando a ateno primria de sade;
c) Adoo dos princpios doutrinrios do SUS estabelecidos na Constituio Brasileira
de 1988;
d) Estruturao dos servios de Ateno Bsica com base na Estratgia Sade da
Famlia (ESF).
Desse modo, o municpio de Sobral-CE implantou, em 1997, a ESF a partir da criao
de 31 equipes de sade da famlia, cada uma composta por um mdico, um ou dois
enfermeiros, auxiliares de enfermagem e agentes comunitrios de sade, possibilitando a
cobertura de toda a populao do municpio (FREITAS et al, 2010). De acordo com
Albuquerque (2010), a ESF surge como importante eixo estruturante na reorganizao dos
servios de sade, principalmente na ateno bsica, construindo um novo modelo de ateno
com enfoque na promoo da sade e na preveno de doenas.
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Sobral conta, atualmente, com 28 Centros de Sade da Famlia (CSF), sendo 15 na
zona urbana (sede), e 13 na zona rural (distritos). Do total de CSF, 10 serviam como campo
de prtica para o Curso de Enfermagem da UVA no momento da coleta de informaes, todos
localizados na sede do municpio.
4.4 Referencial metodolgico
Para conduo dessa investigao utilizou-se como referencial metodolgico a
Triangulao de Mtodos proposta por Minayo (2005). A escolha se fundamentou na
premissa de que um mtodo, por si s, no possui elementos mnimos para responder s
questes que uma investigao especfica suscita. Dessa forma, apresenta como contribuio
metodolgica a iluminao da realidade sob diversos ngulos, propiciando maior claridade
terica e permitindo aprofundar uma discusso interdisciplinar de forma interativa e
intersubjetiva.
Com tal propsito, torna-se crucial um processo reflexivo, que aponta ser possvel
exercer uma superao dialtica sobre o objetivismo puro, em funo da riqueza de
conhecimento que pode ser agregada com a valorizao do significado e da intencionalidade
dos atos, das relaes e das estruturas sociais. A postura dialtica leva a compreender que
dados subjetivos (significados, intencionalidade, interao, participao) e dados objetivos
(indicadores, distribuio de frequncia e outros) so inseparveis e interdependentes. Ela
permite criar um processo de dissoluo de dicotomias: entre quantitativo e qualitativo; entre
macro e micro; entre interior e exterior; entre sujeito e objeto. Aspectos esses que acentuam a
consonncia do referencial com a abordagem que foi utilizada no estudo.
Ressalta-se que a triangulao de mtodos conserva sua especificidade no dilogo
inter ou transdisciplinar. Trabalham-se, portanto, de forma dialtica, a integrao dos
contrrios e a distino entre eles. Ao se juntarem, as especificidades metodolgicas no se
dissolvem, continuam a existir no trato com questes que exigem uma ou outra abordagem.
Para atender essa especificidade dialgica, a triangulao conta com alguns princpios
atualmente trabalhados pelas teorias da auto-organizao e da complexidade e consideradas a
partir da prpria natureza dos processos sociais. So eles:
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a) Causalidade complexa ope-se viso de linearidade entre causa-efeito,
enfatizando dimenses complexas, incalculveis interaes e i