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UNIVERSIDADE PAULISTA Eva Aparecida de Gois Caio TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO “FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO ENSINO SUPERIOR DIANTE DOS NOVOS PARADIGMAS EDUCACIONAIS NO SÉCULO XXI” Estância Turística de Piraju 2010

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Page 1: Universidade paulista formação de professores e o ensino superior diante dos novos paradigmas educacionais no século xxi 12_06_2010

UNIVERSIDADE PAULISTA

Eva Aparecida de Gois Caio

TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO“FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO ENSINO SUPERIOR DIANTE DOS NOVOS

PARADIGMAS EDUCACIONAIS NO SÉCULO XXI”

Estância Turística de Piraju

2010

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UNIVERSIDADE PAULISTA

Eva Aparecida de Gois Caio

TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO“Formação De Professores do Ensino Superior diante dos Novos Paradigmas

Educacionais no Brasil no Século XXI”

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Paulista – UNIP, como parte dos requisitos para Obtenção do título de Especialista em Formação de Professores para o Ensino Superior, sob orientação da Profa. Me. Haydée Diva Traldi Meneses.

Estância Turística de Piraju – SP

2010

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GOIS CAIO, Eva aparecida de.“Formação De Professores do Ensino Superior diante dos Novos Paradigmas Educacionais no Brasil no Século XXI”

Eva Aparecida de Gois Caio. 2010.59 f(folhas). : il. ; 30 cm.

Trabalho de Conclusão de Curso (Especialista em Formação de Professores para o Ensino Superior)

Universidade Paulista – UNIP - Pólo Piraju, 2010.

Não contém anexos.Orientadora: Profa Me. Haydée Diva Traldi Meneses

1. Tecnologia na Educação 2. Formação de Professores 3. Novos Paradigmas Educacionais do Século XXI 4. Novas metodologias de Ensino 5. Sociedade da Informação

CDD:

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Eva Aparecida de Gois Caio

TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO

“Formação De Professores e o Ensino Superior diante dos Novos Paradigmas

Educacionais no Brasil no Século XXI”

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Paulista – UNIP, como parte dos requisitos para Obtenção do título de Especialista em Formação de Professores para o Ensino Superior, sob orientação do Profa. Me. Haydée Diva Traldi Meneses.

APROVADO EM:____ / ____ / ____

BANCA EXAMINADORA

__________________________

Profa. Or. Me. Haydée Diva Traldi Meneses

___________________________

Prof. Me.

____________________________

Prof. Me.

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DEDICATÓRIA

Dedicado aos que desejam, acreditam e buscam por meios de alcançar a excelência na educação, ainda que na adversidade.

Aos que se dedicam à construírem uma sociedade mais integrada, justa e digna em todos os setores, através do trabalho educacional.

Aos que promovem mudanças em suas atitudes e instigam a melhoria da qualidade de vida.Aos que contribuíram para a realização deste trabalho, ressaltando minha família.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais, João Caetano de Góis e Irene de Góis, alguns amigos e ao meu esposo, Fábio Aparecido de Gois Caio, pelo apoio e incentivo em todos os momentos, pela

parceria, companheirismo e manifestação de carinho a cada instante da realização da pesquisa e elaboração da monografia.

Agradeço também à tutora Luciana, que me auxiliou em todos os momentos de dúvida em relação ao curso como um todo e, especialmente, ao trabalho monográfico.

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A educação é uma coisa admirável,

mas é bom recordar que

nada do que vale a pena saber

pode ser ensinado.

Oscar Wilde

O que é ensinado em escolas e universidades

não representa educação,

mas são meios para obtê-la.

Ralph Emerson

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RESUMO

Muitas mudanças ocorreram através da história no quadro educacional brasileiro, traduzindo a dinamicidade social vinculada à alterações em ambientes escolares. Professores mudam suas formas de ensinar, os alunos aprendem de maneiras diferentes, ambos constroem juntos o conhecimento até então não percebido, e isto tudo acontece contemporaneamente devido à evolução, invenção e ampliação de acesso às tecnologias de informação e comunicação (TICs), representadas principalmente pelo computador conectado à internet, que permitem difusão e disponibilidade de dados a todos, cotidianamente, e que deve auxiliar as atividades escolares em todos os momentos. Ao professor, neste contexto, cabe educar-se continuamente para atender à demanda e à necessidade educacional de seu tempo, aproximando-se dos alunos e fazendo destas ferramentas disponíveis suas aliadas no processo ensino-aprendizagem, pois estará imergindo no mundo real de seus alunos, aproximando o conhecimento sistematizado da vida particular dos mesmos, dando significado às atividades realizadas nas escolas. Claramente, como se ensina de modo diferente, também modifica-se a forma de avaliar, os instrumentos de ensino são outros e os de avaliação também – não se deve julgar o conteúdo reproduzido pelo aluno, mas sua formação global em relação ao conteúdo trabalhado. A modernização e adequação da educação, conforme o espaço e o tempo histórico em que ela acontece, contribui para a melhoria da qualidade do processo ensino/aprendizagem e seus resultados finais, mas para isso precisa acontecer de modo consciente, através do compromisso docente de formar seres autônomos e capazes de inserir-se na sociedade como um todo, inclusive no mercado de trabalho. Professores diante de novos paradigmas precisam demonstrar sua atitude de busca da própria formação para melhor formarem seus alunos, aprender de uma maneira diferente e autônoma para formar seres igualmente independentes segundo novas metodologias, críticos, reflexivos – outros futuros formadores de opinião; Deste modo os docentes universitários, não apenas estarão atendendo a uma exigência legal, mas favorecendo seus alunos e o desenvolvimento de seu próprio trabalho. Reflexões sobre este assunto e a comprovação das necessárias mudanças educacionais são a essência desta monografia, e acontecerão pelo levantamento bibliográfico e análise de literatura pertinente ao tema.

Palavras Chave: Tecnologia na Educação; Formação de Professores; Novos Paradigmas Educacionais do Século XXI; Novas metodologias de Ensino; Sociedade da Informação

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ABSTRACT

Many changes have occurred throughout history in Brazilian education, reflecting the social dynamics linked to changes in school environments. Teachers change their ways of teaching, students learn in different ways, both construct knowledge together hitherto perceived, and it all happens simultaneously due to the evolution, invention and expansion of access to information and communication technologies (ICTs), mainly represented by Internet-connected computer, enabling data availability and dissemination to everyone, everyday and that should help the school activities at all times. The teacher in this context it educate themselves continuously to meet demand and the educational need of their time, approaching the students and making these tools available in their allied teaching-learning process, because you will be immersed in the real world of their students by closing the knowledge on the private life of them, giving meaning to the activities performed in schools. Clearly, how to teach differently, also changes to how to assess the teaching tools are others and the assessment as well - you should not judge the content played by the student, but his comprehensive training on the content worked. The modernization and adaptation of education, as space and time in history when it happens, helps to improve the quality of teaching / learning process and its outcomes, but for that to happen consciously, through the commitment of teachers to form beings autonomous and able to enter into society as a whole, including the labor market. Teachers facing new paradigms need to demonstrate their attitude to search the very best training for graduate students, learn differently and to form autonomous beings equally independent in accordance with new methodologies, critical, reflexive - other future opinion makers; Thus teachers university, not only will be given a legal requirement, but encouraging their students and develop their own work. Reflections on this subject and proof of necessary educational changes are the essence of this monograph, and will happen by the literature review and analysis of literature concerning the theme.

Keywords: Technology in Education, Teacher Education; new educational paradigms of the XXI Century, new teaching methodologies; Information Society

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................07

CAPÍTULO I – Dos incentivos e indicações Legais..........................................................11

1.1 – Do direito ao Ensino Superior que favoreça a implantação de

Tecnologias na Educação ......................................................................................................13

1.2 – Inclusão Digital na Educação para Formação Cidadã e Inclusão Social......................16

CAPÍTULO II – Alguns conceitos e reflexões: Tecnologias educacionais

na Sociedade da......................................................................................20

2.1 – TICS – Tecnologias da Informação e Comunicação....................................................21

2.2 – Sociedade da Informação..............................................................................................22

2.3 – As Tecnologias Educacionais.......................................................................................24

CAPÍTULO III – O professor do Ensino Superior e os

Novos Paradigmas Educacionais .......................................................26

3.1 – Introdução de novas tecnologias na educação..............................................................28

3.2 – O novo papel do professor universitário na sociedade contemporânea........................30

3.2.1 – Formação Continuada para uma Educação de Qualidade..........................................34

3.2.2 – O Computador como Ferramenta de Ensino..............................................................37

3.2.3 – A Internet como aliada do processo educacional.......................................................40

3.2.4 – Novas formas de ensinar, novas perspectivas para avaliar........................................44

CAPÍTULO IV: Novos paradigmas educacionais e a

Educação à Distância no Ensino Superior............................................47

4.1 – Os novos paradigmas educacionais e o ensino superior...............................................48

4.2 – A Educação à distância como aliada à transformação do ensino superior...................50

CONCLUSÃO......................................................................................................................54

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................................57

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INTRODUÇÃO

A atuação profissional de qualidade realizada pelo professor está intimamente ligada

à metodologia escolhida por ele para envolver os alunos no processo ensino-aprendizagem de

seu ambiente acadêmico, a sala de aula, e isto é válido para todos os níveis de ensino.

Formar professores que, ao se formarem, trabalhem do mesmo modo como os seus o

fizeram não é suficiente para satisfazer as necessidades da sociedade contemporânea. A

velocidade da mudança de conceitos, paradigmas e tendências educacionais acompanham a

dinamização da sociedade e a descoberta (evolução em alguns casos) de novas tecnologias, e

estas avançam amplamente na área de informação e comunicação. Conhecer estes

fundamentos é essencial para uma educação de qualidade.

Essas TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação) fazem parte do cotidiano de

todos os homens e mulheres do século XXI, desde ao acordar pela manhã com um

despertador e assistir a um telejornal, ou folhear uma revista no trabalho, ouvir um programa

de emissora de rádio pelo aparelho do carro, receber torpedos no celular, até realizar

pesquisas pela internet, entre outros. A informação está disponível a todo o momento, basta

um toque.

Através da comunicação facilitada pelas TICs o acesso constante à informações torna

desnecessária a função de transmissor do conhecimento pelo docente, dando a este

profissional um outro papel, o de mediador do conhecimento. Assim, ele não mais dirá o que

deve ser aprendido, mas como aprender, onde buscar os dados necessários para a construção

do conhecimento.

Para tanto, é preciso instigar nos alunos o desenvolvimento da crítica à informação,

pois sem devida análise dos dados pode-se construir um conhecimento deturpado de

determinada realidade: os questionamentos não apenas podem ser feitos como são

fundamentais na seleção de informações e na criação de novos conceitos, novas possibilidades

de trabalho e de vida social.

Torna-se, assim, imprescindível que se reflita e se discuta sobre o novo papel do

professor, sobre a formação que este deve ter desde universitário, a fim de que consigam

formar alunos de acordo com o que a sociedade contemporânea precisa: capazes de buscar

dados e informações, de aprenderem a fazer sozinhos, de conviverem com o outro e a serem

cidadãos. Neste sentido vale lembrar os quatro pilares da educação: aprender a aprender, a

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fazer, a ser e a conviver, citados no livro “Educação, um tesouro a se descobrir”, organizado

por Dellors (1998) e publicado pela UNESCO, um dos estudiosos cujo trabalho servirá de

base a este trabalho monográfico, cujo objetivo é tratar da formação de professores

universitário para a educação do Século XXI sob novas perspectivas e paradigmas, aptos a

trabalhar com as novas tecnologias com seus futuros alunos, tanto os alunos de fundamental e

médio quanto os graduandos de faculdades.

Um professor que não consegue reconhecer a necessidade de mudar sua prática

pedagógica em função das mudanças sociais, que mantém seus objetivos imbricados no

passado, não pode mais ser um profissional admitido entre o holl de bons professores. É

preciso haver um embasamento teórico-filosófico que norteie a ação dos professores, que não

podem deixar de formar-se continuamente se quiserem exercer bem sua atividade: A

formação continuada permite ao professor entender as mudanças sociais e os reflexos que esta

traz para a sala de aula, refletidas pelas ações e desejos dos alunos.

É preciso que o professor se aproxime da realidade do aluno que manipula as TICs

muito mais que ele mesmo, em muitos casos, e faça dessa proximidade um trunfo para buscar

novos meios de ensinar e aprender. A tecnologia vem auxiliar o trabalho do professor de

modo a motivar o aluno a fazer algo novo de nova maneira, e não insistir em fazer de modo

diferente coisas velhas. A escola reflete a sociedade em seu tempo e espaço: ela não pode

ensinar neste século com os mesmos objetivos e com a mesma metodologia do século

passado, isso não atrai os alunos, não os envolve, não os motiva, eles não se comprometem e

não aprendem.

O objetivo da educação, hoje, não é mais reproduzir o conhecimento, mas criar um

novo com base nos que se possui, acrescentando sempre – diferente do ensino tradicional de

pouco tempo atrás. Entretanto, não apenas os professores conseguirão transformar o quadro

atual da educação, embora sejam peças fundamentais para a mudança, o poder para tanto não

lhes cabe. O professor pode ter certa autonomia em sala, mas efetivas mudanças acontecerão

se envolverem-se todas as esferas da sociedade, principalmente as governamentais.

Neste contexto, o Governo Federal, diante de discussões internacionais e nacionais

veio a alterar a regulamentação educacional no fim do século XX, para implantar, há longo

prazo, durante o Século XXI, as diretrizes concebidas como pertinentes. Estão entre tais

regulamentações as Leis de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional e os Parâmetros

Curriculares Nacionais, dentre outros textos legais, que serão abordados no Primeiro Capítulo

deste trabalho, assim como a necessidade de um Ensino Superior de melhor qualidade.

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Conhecer as tecnologias educacionais é um dos pontos necessários para que estas

novas indicações legais se cumpram, que as metodologias sejam adequadas de modo a atender

a chamada Sociedade da Informação. Para isso é imprescindível que alguns termos, conceitos

e reflexões acerca da introdução de tecnologias educacionais no processo educativo sejam

entendidos, refletidos e, posteriormente, postos em prática para afastar o fracasso do processo

ensino-aprendizagem do Século XXI. Estes termos serão discutidos no Segundo Capítulo.

O aprendizado do aluno universitário deve ser voltado para sua independência, para

sua auto-avaliação e sua formação integral para que ele se insira na sociedade como um

cidadão ativo, um profissional capaz de exercer suas atividades com competência, com

habilidade, eficiência e eficácia. Se um professor aprender durante seus anos de Ensino

Superior que ‘a educação pode acontecer de qualquer maneira’ ele será ao fim do processo um

profissional sem desenvolvimento algum, pois ele ‘estudará de qualquer modo’, se voltar a

estudar, e ‘ensinará de qualquer jeito’, quando estiver lecionando, não permitindo mudanças

satisfatórias na educação básica. Nesse sentido, o Terceiro Capítulo vem tratar da nova

postura que o professor universitário, principalmente, precisa aprender para que a sociedade

como um todo se estruture mais consciente e questionadora, uma população que lute por seus

direitos adquiridos, conseguidos pela justiça e o cumprimento dos deveres em benefício

próprio, individual e coletivo.

Não que este novo papel do professor seja fácil a se desempenhar, como pode ser

visto no Capítulo III, é preciso muito estudo, determinação e vontade. Assim como muitas

podem ser as conquistas, os caminhos a serem percorridos são inúmeros, os desafios da

educação perante a diversidade de informações disponíveis pela mídia em suas diversas

vertentes, entre elas o computador conectado à internet, devem ser vistos de frente pelo

professor, e como aliados.

O Ensino do Século XXI vem sendo amplamente marcado, principalmente, pela

introdução do computador em ambientes escolares, ou mesmo ele próprio como sendo um

ambiente escolar, no caso da Educação à Distância. Todavia, não apenas pessoas distantes

podem se comunicar pelo computador, muitas vezes é esta ferramenta conectada à rede

mundial que une ainda mais professores e alunos da modalidade de ensino presencial.

Conhecer alguns conceitos e práticas de utilização do computador na educação,

explorando suas possibilidades e as diferentes metodologias em detrimento das famosas aulas

expositivas apenas, portanto, se torna obrigação do professor contemporâneo. Em vistas disto,

algumas possibilidades de uso desta ferramenta serão, imersas no texto, citadas ao leitor como

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uma indicação do que pode ser feito através desta máquina – que não deve vir para substituir

o homem, mas para auxiliar sua atividade cotidiana e melhorar os resultados finais.

É relevante considerar, ainda, a existência do feedback, através do qual o aluno

permite que o professor acompanhe seu desenvolvimento e escolha o melhor caminho a seguir

para dar continuidade ao seu trabalho, através da reflexão sobre suas ações e os resultados

alcançados. Deste modo, o professor universitário deve ter claras quais as possibilidades de

avaliar seu aluno, e seu próprio trabalho, a fim de que o sucesso de suas tarefas como

educador, efetivamente, aconteça ao longo do ano letivo, e, para além dele, para a vida do

aluno. Só assim os desafios serão superados e o processo educacional alcançará excelência.

Sob o norte dos textos publicados por estudiosos do assunto como Valente (2000),

Almeida (2002), Dellors (1998), Kensky (2001), Levy (2005), Moran (2004), Assmann

(2000), entre outros, serão utilizados os textos legais supracitados como base de uma revisão e

análise de literatura – metodologia escolhida para construção deste trabalho que tenciona

concluir pela comprovação da necessidade de mudar as formas de ensinar para melhorar a

qualidade de ensino, mudando (para melhor) os resultados de avaliações externas e,

principalmente, a auto-avaliação discente, além da inserção do mesmo no mercado de

trabalho.

O processo educacional da humanidade é um ciclo em que se ensina, se aprende, se

modifica o jeito de ensinar para modificar-se o meio de aprender, e, consequentemente, os

resultados obtidos de modo a satisfazer a sociedade de seu tempo, por isso ela é – tanto

quanto a humanidade – dinâmica e flexível, mas que precisa de pessoas interessadas e

comprometidas com as transformações necessárias.

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CAPÍTULO I: DOS INCENTIVOS E INDICAÇÕES LEGAIS

A educação precisa mudar, acompanhar a sociedade em que está inserida. Esta

questão suscitada pelas mídias é comum e corriqueira, assim como encontrar pessoas que

rogam por mudanças, mas não se movem a fazê-la por inúmeros fatores culturais e sociais.

O cenário da educação mudou, é fato. A sociedade evoluiu e a informação a cada dia

está mais acessível a qualquer cidadão devido à disseminação dos meios de comunicação,

principalmente as mediadas pelas tecnologias, com merecido destaque à digital – como a

internet. Contudo, a reforma educacional depende sim do professor, mas não pode partir

apenas dele, pois lhe foge o poder de promover tal transformação.

O quadro educacional precisa do apoio e do incentivo dos órgãos estatais para

poderem ser discutidos, reestruturados, e para que os resultados sejam, efetivamente,

satisfatórios, observando o Art. 205 da Constituição Federal promulgada em 1988 que diz ser

objetivo da educação o “pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da

cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

Em vistas da necessidade desta reforma, Delors1 (1998), coloca que a

responsabilidade das mudanças na educação é primeiramente dos governantes:

(...) só os responsáveis políticos podem, tendo em conta todos os elementos, suscitar debates de interesse geral, que são de necessidade vital para a educação. Trata-se de um assunto que diz respeito a todos, é o nosso futuro que está em causa e a educação pode, precisamente, contribuir para a melhoria do destino de todos e de cada um de nós. (DELORS, 1998, p.28)

O Governo Federal do Brasil, em parceria com as demais esferas governamentais do

país e diante de órgãos internacionais (como a Unesco e o Banco Mundial, por exemplo),

possui um compromisso internacional com a qualidade de educação dos brasileiros, o que

envolvem projetos, metas e programas a serem seguidos. A mais comentada nos últimos anos

foi o Plano Decenal de Educação para Todos, que não apenas visa à democratização do

ensino, mas o melhoramento das condições em que o processo educacional vem acontecendo.

1 Jacques Delors é presidente da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, e organizador do Relatório para a UNESCO sobre os resultados dessa reunião: “Educação, um tesouro a se descobrir”, publicado em 1998.

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Tendo em vista o quadro atual da educação no Brasil e os compromissos assumidos internacionalmente, o Ministério da Educação e do Desporto coordenou a elaboração do Plano Decenal de Educação para Todos (1993-2003), concebido como um conjunto de diretrizes políticas em contínuo processo de negociação, voltado para a recuperação da escola fundamental, a partir do compromisso com a equidade e com o incremento da qualidade, como também com a constante avaliação dos sistemas escolares, visando ao seu contínuo aprimoramento. (PCN Vol. 1, 1998)

Neste documento pode-se notar que a década de educação (1993-2003) seria

destinada a estruturar a educação do país, instituindo novas metas e meios para que a

educação recebida pelas crianças, jovens e adolescentes seja condizente com as necessidades

do conjunto global da sociedade. Como um dos primeiros resultados deste trabalho foi a

elaboração, promulgação e publicação da LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional, em que, o decorrer de suas páginas, fica clara a finalidade da educação para esta

nova época: “o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da

cidadania e sua qualificação para o trabalho” (LDBN 9394/96, Art 2º), além de “forncecer-lhe

meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores” (LDBN 9394/96, Art. 22).

Desde o Ensino Fundamental, esta lei já predispõe que o aluno deve, além de saber

ler, escrever e calcular, ter “a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político,

da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade” (LDBN 9394/96,

Art. 32, II). A educação básica2, regulamentada nesta lei, traz ainda como item de formação

ao educando que termine os estudos do ensino médio, entre outros “a compreensão dos

fundamentos científicos-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a

prática, no ensino de cada disciplina” (LDBN 9394/96, Art 35, IV).

Deste modo, aos estudantes fica garantida uma estrutura, legalmente, para que possa

estudar para a vida, e não apenas para fins de avaliações bimestrais: o aluno precisa aprender

para seu convívio em sociedade – tanto em sua comunidade, quanto sob aspectos nacionais e

mundiais – sendo capaz de tomar posicionamentos, atitudes, desenvolver projetos para

melhoria de sua qualidade de vida e do coletivo a que pertence.

Uma das iniciativas mais significativas, pelo que se percebe pelas discussões atuais,

é a implantação das tecnologias em sala de aula, pois além de favorecer o desenvolvimento do

aluno elas apresentam a oportunidade de comunicação entre pessoas do mundo inteiro, a troca

de informação e dos resultados de ações de diversos campos, matéria-prima essencial para

formação do conhecimento e desenvolvimento de cada um.

Assim sendo, torna-se direito, e não privilégio, o acesso a estas tecnologias no

ambiente escolar.2 Composta por “educação infantil, ensino fundamental e ensino médio”. (LDBN 9394/96, Art. 21)

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1.1 – Do direito ao Ensino Superior que favoreça a implantação de Tecnologias na

Educação

A fim de planejar a distribuição das ferramentas tecnológicas necessárias a nova era

da educação que se desenvolve, o poder público precisa saber quantos alunos efetivamente

estão matriculados em cada região do país, mais do que nunca, até então, e a potencialidade

de aumentar o atendimento educacional a todos os brasileiros em idade escolar do ensino

regular, preferencialmente: “§ 2º O poder público deverá recensear os educandos no ensino

fundamental, com especial atenção para o grupo de 6 (seis) a 14 (quatorze) anos de idade e de

15 (quinze) a 16 (dezesseis) anos de idade”. (Redação dada pela Lei nº 11.274, de 2006)

Para tanto, o Censo Escolar realizado a cada ano vem sendo cada vez mais detalhado,

tanto no que tange ao número de alunos quanto aos equipamentos disponíveis na escola,

inclusive sua utilização (se é voltada para a parte pedagógica e/ou administrativa somente ou

se os alunos gozam de suas possibilidades também, além da forma que isto é organizado).

Esta ação não apenas está prevista em lei como tem acontecido mais rapidamente

pelo auxílio da internet desde o ano de 2007 no Estado de São Paulo, quando o Censo Escolar

passa a utilizar os dados do Sistema Prodesp como informações básicas e, através das

respostas aos questionários virtuais fornecidos pela direção escolar nos formulários

disponíveis no site da educação (www.educacao.sp.gov.br) – contrariando o processo anterior

de impressão dos mesmos, preenchimento manual e conferência dos dados por terceiros antes

de serem destinados ao órgão competente.

Além do Censo Escolar, a Demanda Anual feita pelo levantamento prévio do número

de alunos a serem atendido nas escolas para o ano seguinte. Deste modo podem direcionar os

materiais conforme a necessidade e emergência das diversas localidades do país, favorecendo

o ensino e o desenvolvimento do trabalho dos professores que atuam na área.

Nesse contexto nota-se que o Ensino Superior fica sob aspecto secundário na

educação do país, sendo voltados os esforços para se melhorar o ensino básico. Contudo,

neste ponto, levanta-se a questão sobre como formar melhor os alunos da educação básica se

seus professores não tiverem tido formação voltada para tanto? Esta formação acontecerá

durante a vida, será lapidada com a experiência – claro – mas é dentro das universidades que

futuros professores começarão seu trajeto de formação para desenvolverem seu trabalho, e por

isso a atenção também deve estar voltada para esta modalidade de ensino.

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É necessário que os docentes tenham formação para utilizar novos recursos em suas

atividades educativas cotidianas, a risco de todo o equipamento que o governo se esforça em

providenciar se torne apenas lixo eletrônico, inutilizado antes mesmo de se tornar obsoleto.

Diante disso, além comprometimento do professor com sua profissão de tomar a iniciativa e

capacitar-se continuamente, o governo garante que:

§ 3o O Distrito Federal, cada Estado e Município, e, supletivamente, a União, devem: (...) III - realizar programas de capacitação para todos os professores em exercício, utilizando também, para isto, os recursos da educação a distância; (...) § 4º Até o fim da Década da Educação somente serão admitidos professores habilitados em nível superior ou formados por treinamento em serviço. (LEI nº 11.330, de 2006)

Ao pretender formar novos professores, os docentes universitários precisam

disponibilizar conhecimentos sobre as funções do professor em suas diversas possibilidades

de atuação, pois, não sabendo se os professores formados pela instituição de ensino superior

serão admitidos em rede pública municipal, estadual, federal ou rede particular, se torna

fundamental que se observe, entre outros documentos, o que diz o Estatuto do Magistério,

publicado no Estado de São Paulo (Estado escolhido por ser o local foco de pesquisa dentre os

demais Estados brasileiros) em seu art. 61, que trata dos direitos dos professores:

I – ter a seu alcance informações educacionais, bibliografia, material didático e outros instrumentos, bem como contar com assistência técnica que auxilie e estimule a melhoria de seu desempenho profissional; II – ter assegurada a oportunidade de freqüentar cursos e formação, atualização e especialização profissional; III – Dispor, no ambiente de trabalho, e instalações e material técnico-pedagógico suficientes e adequados para que possa exercer com eficiência e eficácia suas funções; IV – ter liberdade de escolha e de utilização de materiais, de procedimentos didáticos e de instrumento de avaliação do processo ensino-aprendizagem, dentro dos princípios psico-pedagógicos, objetivando alicerçar o respeito à pessoa humana e a construção o bem comum. (Lei Complementar 444/84 Estatuto do Magistério, arts. 61-63 e art. 95)

Quando o professor sabe seus direitos (bem como se compromete com seus deveres

assumidos, também acessíveis na legislação vigente), tem como reivindicar que eles

realmente aconteçam, deixando de ser apenas uma garantia impressa para se tornar,

efetivamente, um meio de realização de sua atividade profissional.

Outro fator relevante, neste sentido, é que o professor universitário, formador de

outros professores, precisa ter consciência de que o Ensino Superior tem algumas

particularidades, que visam alcançar finalidades predeterminadas:

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Art. 43. A educação superior tem por finalidade: I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo; II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua; III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive; IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação; V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional e possibilitar a correspondente concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do conhecimento de cada geração; VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade; VII - promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição. (LEI 9394/96)

Estas funções do ensino superior contribuem para a formação do profissional

graduado crítico e em condições de formar outros cidadãos, especificamente, ao se falar em

cursos de graduação de formação de professores.

Quando um professor tem desde seus tempos de faculdade o entendimento de seu

meio, desenvolve seu espírito crítico e criativo, busca dados, refuta informações repressoras e

inverdades do cotidiano, situações indignas de sobrevivência, ele se torna apto a exercer sua

função social para mediar o conhecimento a outros alunos, permitindo que seu discurso e suas

ações eduquem seus pupilos para uma sociedade mais igualitária e consciente das causas e

consequências de seus atos – e isso se torna quase impossível se o professor não for um

pesquisador, um produtor de novos conhecimentos.

É função de um formador de professores, conforme os textos legais, indicar os

caminhos para realização de estudos, para cumprimento de seu papel social depois de

graduado.

Visto que o mercado de trabalho é a principal via de inserção social, e que este setor

está cada vez mais equipado tecnologicamente, é tarefa do professor não apenas instigar que

se as tecnologias sejam utilizadas em meio acadêmico, mas orientar como estas ferramentas

podem ser agregadas ao processo educacional a fim de favorecer o aprendizado e o

desenvolvimento de habilidades necessárias a utilização deste material. Para tanto, as

universidades precisam ofertar,

(...) como meio de adquirir qualificações profissionais, conciliando ao mais alto nível, o saber e o saber-fazer, em cursos e conteúdos constantemente adaptados às necessidades da economia; como recinto privilegiado da educação ao longo de toda

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a vida, abrindo as portas aos adultos que desejem retomar seus estudos, adaptar e enriquecer os seus conhecimentos, ou satisfazer seu gosto de aprender em qualquer domínio da vida cultural; (...) (DELORS, 1998, p.24)

Além disso, as faculdades e universidades precisam ter como meta de ensino a

qualificação do profissional, não apenas o acesso aos mecanismos que movimentam a

economia do país: “É sua tarefa, também, formar no domínio técnico e profissional, as futuras elites

e os diplomados de nível médio e superior de que os seus países necessitam, para poderem sair do

ciclo de pobreza e de subdesenvolvimento em que atualmente se encontram enredados. (DELORS,

1998, p.25). Deste modo não apenas os estudantes, mas a sociedade como um todo se alimentará desta

boa formação para seu desenvolvimento em todas as esferas, melhorando a qualidade de vida dos

cidadãos.

1.2 – Inclusão Digital na Educação para Formação Cidadã e Inclusão Social

Antes de qualquer comentário a respeito da inclusão digital, sobre seu processo e

implicações, é necessário, entender do que se trata tal termo tão em voga neste início de

século. No anseio de explicar, não em sua amplitude, mas, sim, em poucas linhas, o termo

Inclusão Digital, segundo a professora Rondelli (2003) da Universidade Federal do Rio de

Janeiro, pode ser entendido da seguinte maneira:

Inclusão digital é, dentre outras coisas, alfabetização digital. Ou seja, é a aprendizagem necessária ao indivíduo para circular e interagir no mundo das mídias digitais como consumidor e como produtor de seus conteúdos e processos. Para isto, computadores conectados em rede e softwares são instrumentos técnicos imprescindíveis. Mas são apenas isso, suportes técnicos às atividades a serem realizadas a partir deles no universo da educação, no mundo do trabalho, nos novos cenários de circulação das informações e nos processos comunicativos. (RONDELLI, 2003)

Neste contexto, vale lembrar que através dos sistemas de computação é que as

transações bancárias, pagamentos comerciais e outras atividades são realizadas, ainda que

passe despercebido pelas pessoas. Pelo uso da tecnologia suas relações cotidianas estão sendo

pautadas, inclusive as do mercado de trabalho; Deste modo, percebe-se o quanto a inclusão

digital está ligada à cidadania e à inserção social por meio das relações interpessoais.

Entendendo que a cidadania envolve diversos aspectos, entre outros, o econômico, que

está diretamente ligado ao mercado de trabalho, como comentado acima, este é fator

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fundamental de inclusão social. Diante da escolha uma profissão, ou mesmo perante a

necessidade de se auto-sustentar (ou prover a família), o indivíduo se torna ferramenta

humana e descobridor de si, de suas potencialidades, se sente útil enquanto ser social,

contribui para o desenvolvimento do país, mas encontra, ao mesmo tempo, um dos desafios

que mais assola o Brasil há décadas: o desemprego, a falta de oportunidade.

Embora muitas vagas venham sendo criadas nos últimos anos, a falta de qualificação

da mão-de-obra, principalmente a falta de conhecimento de informática em geral, vem sendo

cada vez mais um entrave para o acesso do cidadão ao seu preenchimento – o que vem

reforçar a idéia da necessidade de estudar, de ser um alfabetizado digital para se tornar,

também, incluso social e exercer plenamente sua cidadania. Nota-se que a sociedade, neste

contexto, pede por uma formação mais específica, que atenda as necessidades do mercado de

trabalho e do cidadão, que perceba a novas perspectivas de uma sociedade em movimento e

criação, e, “(...) Exatamente para poder criar esta nova sociedade, a imaginação humana deve

ser capaz de se adiantar aos avanços tecnológicos, se quisermos evitar o aumento do

desemprego, a exclusão social ou as desigualdades de desenvolvimento”. (DELORS, 1998,

p.18)

Assim sendo, o domínio das tecnologias deve ser proporcionado a todos, elas não

devem servir para aumentar as diferenças entre os que possuem acesso às mesmas ou não.

Segundo Delors

Trata-se de fazer com que os que têm mais necessidades, por serem mais desfavorecidos, possam beneficiar-se destes novos instrumentos de compreensão do mundo. Deste modo, os sistemas educativos, ao mesmo tempo que fornecem os indispensáveis modos de socialização, conferem, igualmente, as bases de uma cidadania adaptada às sociedades de informação. (DELORS, 1998, p.66)

A referida inclusão digital vem sendo apontada como o caminho mais curto para

acesso à cidadania e para uma possibilidade de se atuar dinamicamente na sociedade, de

tornar-se sujeito de sua própria história e contribuir com a história e desenvolvimento do país

de modo positivo. Entretanto, deve-se entendê-la não apenas como a possibilidade de acesso

às mídias digitais, como o computador, mas seu domínio por parte de quem delas fizer uso: é

preciso que se veja e se saiba dar significado ao uso das ferramentas para que realmente haja

sentido em utilizá-las.

Dizer que inclusão digital é somente oferecer computadores seria análogo a afirmar que as salas de aula, cadeiras e quadro negro garantiriam a escolarização e o aprendizado dos alunos. Sem a inteligência profissional dos professores e sem a

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sabedoria de uma instituição escolar que estabelecessem diretrizes de conhecimento e trabalho nestes espaços, as salas seriam inúteis. Portanto, a oferta de computadores conectados em rede é o primeiro passo, mas não é o suficiente para se realizar a pretensa inclusão digital. (RONDELLI, 2003)

É preciso, a fim de se realizar efetivamente um processo de Inclusão Digital no

Brasil, que haja políticas de Inclusão digital que abandonem o pensamento simplista, que

revejam as ações feitas e se baseiem nos resultados do passado para adequar à realidade as

necessidades da população, conforme pontua Neto (2006). As pessoas tem que perceber

relevância em suas ações, utilidade nas atividades que desenvolvem, dar meios para a

realização pessoal e profissional, “isto significa transformar operador ou formulador da

inclusão digital em um indivíduo apto para enfrentar o desafio onipresente da complexidade”.

(NETO, 2006, p.4)

É no interior das Instituições de Ensino Superior que os futuros professores estudam

e pensam esta complexidade social, oriunda da complexidade humana, e começarão a elaborar

suas estratégias de ensino. Para tanto é necessário que se tenha consciência de que em sala de

aula usa-se tecnologia apenas para melhor desenvolver os conteúdos: “(...) Isso exclui, por

exemplo, as apresentações em Power Point que apenas tornam as aulas mais divertiras (ou

não!), os jogos de computador que só entretém as crianças, ou aqueles vídeos que

simplesmente cobrem buracos de um planejamento mal feito”. (POLATO, 2009, p.51). As

tecnologias trazem benefícios para a educação tanto quanto malefícios, dependendo do modo

como for utilizada pelo profissional docente.

Para um adulto ser cidadão, aprender a usar a tecnologia a seu favor, incluir-se social

e digitalmente, precisa ser educado para isso desde a infância – daí a importância da formação

do professor, e da compreensão do ambiente social, do sistema político, da tecnologia, das

artes e dos valores que fundamentam a sociedade, como diz a Indicação CEE (Conselho

Estadual de Educação/SP) nº 08/2001; Isso contribuirá para que todos os alunos tenham

acesso igualitário à ciência e à tecnologia a fim de se firmar uma Base Nacional Comum de

Formação, de acordo com o parecer CEB (Conselho de Educação Brasileiro) nº 004/98, art.

3º, subitem 6, alínea “a”, item IV; A educação, portanto, como um todo precisa da integração

das tecnologias em suas atividades diárias a fim de atender os anseios da população, formar

pessoas aptas a adentrarem ao mercado de trabalho de modo competente.

Isto não é privilégio de alguns bons professores, é meta para a educação do país,

como enuncia o Plano Nacional de Educação (PNE) e a Constituição Federal: “a articulação e

o desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis e a integração das ações do Poder

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Público (...) que conduzam a, entre outros: (...) III – melhoria de qualidade do ensino; IV –

formação para o trabalho; V – promoção humanística, científica, tecnológica do país.” (art.

214 - CF).

Também na Constituição Federal (1988), em seu art. 218, diz que “O Estado apoiará

a formação e recursos humanos nas áreas de ciências, pesquisa e tecnologia, e concederá aos

que dela se ocupem, meios e condições especiais para o trabalho”. Fica clara, assim, a

preocupação de adequar o ensino à realidade em que se encontra. Não é uma totalidade de

pessoas que possuem as tecnologias de comunicação em seus lares ou à sua disposição

diariamente, mas precisam saber como utilizá-las para, ao ser necessário, não ficar excluso

das situações em que este conhecimento seja imperioso.

A sociedade contemporânea não pede por pessoas que entendam e reproduzam o

conhecimento, mas que consigam buscar dados e construam o seu próprio, só assim ele terá a

oportunidade de não ser incluído na sociedade e terá condições para atuar crítica e

conscientemente no seio da mesma. Isso é função dos “sistemas educativos [que] devem dar

resposta aos múltiplos desafios das sociedades da informação, na perspectiva de um

enriquecimento contínuo dos saberes e do exercício de uma cidadania adaptada às exigências

do nosso tempo”. (DELORS, 1998, p.66)

Por este motivo, serão explicitados alguns conceitos sobre as tecnologias da

informação e da comunicação para depois serem tratados o novo papel do professor e suas

diversas possibilidades de trabalho nos capítulos seguintes.

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CAPÍTULO II: ALGUNS CONCEITOS E REFLEXÕES SOBRE

TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO

A Tecnologia nem sempre está disponível aos cidadãos, seja pela renda familiar,

pelas condições geográficas (pois muitos lugares não contam com energia elétrica, tampouco

é atendido pelas empresas de serviço telefônico), ou outros fatores diversos. Tal situação

causa distanciamento cada vez maior entre países em desenvolvimento e os desenvolvidos,

podendo desencadear o aparecimento de pólos do conhecimento: um que o gera e outro que o

recebe. Os esforços para que essa distância desenvolvimentista não se alargue ainda mais

devem se voltar para a disseminação do conhecimento e o acesso à informação, assim esta

disparidade atual pode se tornar, de certo modo, vantajosa aos países menos desenvolvidos,

ou em desenvolvimento – como é o caso do Brasil. No relatório feito à Unesco, Delors

comenta que

Uma espécie de “compressão” tecnológica parece ser a solução em muitos casos: não é necessário que os países em desenvolvimento passem, sucessivamente, por todas as etapas percorridas pelos países desenvolvidos e terão, muitas vezes, vantagem em optar logo pelas tecnologias mais inovadoras. (DELORS, 1998, p.191-192)

A disseminação da informação não fica a cargo, exclusivamente, das Instituições

escolares, atualmente, outros meios de comunicação, inclusive, e principalmente, os de massa

(como TV, Rádio, Jornal e Revista) se encarregam disto. Entretanto, ainda é nas instituições

escolares que a principal fonte de informação especializada se concentra, sejam em

bibliotecas (inclusive as digitais e/ou virtuais), ou mesmo em sala de aula – mas vale salientar

que as aulas precisam ser inovadoras, coerentes e condizentes com a sociedade

contemporânea e suas necessidades, que os professores optem pelas tecnologias de ponta e

melhorem, deste modo, os resultados de seu trabalho.

As Instituições, portanto e impreterivelmente, precisam estar aptas a atender alunos e

outras pessoas que busquem estes dados, e, assim, pode ser que esta ‘vantagem’ seja sentida

pela população em vistas do preparo dos profissionais da educação, e, devido a isso, o

conhecimento sobre seus conceitos e possíveis formas de utilização, se torna imprescindível

para dar-se continuidade ao trabalho.

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2.1 – TICS – Tecnologias da Informação e Comunicação

Antes das atualmente famosas tecnologias da informação e da comunicação

simbolizadas pelo computador, principalmente conectado à internet, outras inovações

antecederam o campo de discussão social, principalmente no setor da educação. Assim como

os computadores, merecem destaque entre as tecnologias desenvolvidas para o fim de

informar e facilitar vias de comunicação, outras inovações que o acompanharam:

As inovações que marcaram todo o século XX, quer se trate do disco, do rádio, da televisão, da gravação audiovisual, da informática ou da transmissão de sinais eletrônicos por via hertziana, por cabo ou por satélite, revestiram uma dimensão não puramente tecnológica, mas essencialmente econômica e social. A maior parte destes sistemas tecnológicos, hoje miniaturizados e a preço acessível, invadiu uma boa parte dos lares do mundo industrializado e é utilizada por um número cada vez maior de pessoas no mundo em desenvolvimento. Tudo leva a crer que o impacto das novas tecnologias ligadas ao desenvolvimento das redes informáticas vai se ampliar muito rapidamente a todo o mundo. (DELORS, 1998, p. 186)

As Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs), conforme nota-se no texto

de Delors, são essenciais para multiplicar fontes de dados e facilitar o acesso dos mesmos a

quem de interesse, mundialmente. Fato é que neste cenário se desponta a cada dia o

computador, que se torna ferramenta de armazenamento de dados, produção de material, local

de acesso a informações, entre outras possibilidades:

As tecnologias informáticas multiplicaram por dez as possibilidades de busca de informações e os equipamentos interativos e multimídia colocam à disposição dos alunos um manancial inesgotável de informações: * computadores de qualquer capacidade e complexidade; * programas de televisão educativa por cabo ou satélite; * equipamento multimídia; * sistemas interativos de troca de informações incluindo correio eletrônico e acesso direto a bibliotecas eletrônicas e a bancos de dados; * simuladores eletrônicos; * sistemas de realidade virtual em três dimensões. (DELORS, 1998, p.190.191)

Enfim, enumerar quais as tecnologias de informação e comunicação se torna

desnecessário ao levar-se em consideração que estas fazem parte do cotidiano, ainda que

muitos não se dêem conta disto. Em nada se parecem com as tecnologias do passado (como

ferramentas de trabalho – martelos, alavancas, roldanas, entre outros), como diz Assman, mas

envolve a humanidade e lhes proporciona um desenvolvimento cognitivo incomensurável em

relação às outras:

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“As novas tecnologias da informação e da comunicação já não são meros instrumentos no sentido técnico tradicional, mas feixes de propriedades ativas. São algo tecnologicamente novo e diferente. As tecnologias tradicionais serviam como instrumentos para aumentar o alcance dos sentidos (braço, visão, movimento etc.). As novas tecnologias ampliam o potencial cognitivo do ser humano (seu cérebro/mente) e possibilitam mixagens cognitivas complexas e cooperativas. Uma quantidade imensa de insumos informativos está à disposição nas redes (entre as quais ainda sobressai a Internet). (ASSMAN, 2000, p.9)

O aparecimento destas tecnologias abriu tantas oportunidades de trabalho e

desenvolvimento humano (individual e social) que difundiram-se pelo mundo, facilitando o

trabalho, a comunicação, a disseminação de dados e a produção do conhecimento, dando

origem a uma nova era aos homens contemporâneos, onde o que mais vale é o conhecimento

que se tem. Nesta era, a sociedade assume uma nova face no planeta: tendo deixado de ser

escravista, agropecuária, industrial, entre outras estruturas sociais, a sociedade assume a

forma de Sociedade da Informação, conforme tratar-se-á abaixo.

2.2 – Sociedade da Informação3

De acordo com o tópico anterior, a sociedade da informação não apareceu

simplesmente, é resultado de um processo evolutivo das tecnologias que possibilitou a

veiculação rápida e em grande escala de informações, além de permitir a comunicação entre

pessoas diferentes em distâncias imensas – inclusive em tempo real – abrangendo todo o

planeta. Neste sentido, Delors diz que

As novas tecnologias fizeram a humanidade entrar na era da comunicação universal; abolindo as distâncias, concorrem muitíssimo para moldar a sociedade do futuro, que não corresponderá, por isso mesmo, a nenhum modelo do passado. As informações mais rigorosas e mais atualizadas podem ser postas ao dispor de quem quer que seja, em qualquer parte do mundo, muitas vezes, em tempo real, e atingem as regiões mais recônditas. Em breve, a interatividade permitirá não só emitir e receber informações, mas também dialogar, discutir e transmitir informações e conhecimentos, sem limite de distância ou de tempo. (DELORS, 1998, p. 39-40)

3 “A Sociedade da Informação é um conceito utilizado contemporaneamente. Busca identificar a sociedade e a economia que faz o melhor uso possível das Tecnologias de Informação e da Comunicação. Numa Sociedade da Informação, as pessoas aproveitam as vantagens das tecnologias em todos os aspectos das suas vidas: no trabalho, em casa e no lazer”. (in http://www2.ufp.pt/~lmbg/livro_ict03.htm). Ainda neste sentido, segundo Assman, “A expressão “sociedade da informação” deve ser entendida como abreviação (discutível!) de um aspecto da sociedade: o da presença cada vez mais acentuada das novas tecnologias da informação e da comunicação. Serve para chamar a atenção a este aspecto importante. Não serve para caracterizar a sociedade em seus aspectos relacionais mais fundamentais”. (ASSMANN, 2000, p.8)

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Justamente por não ser esta época igual a nenhuma outra do passado, não

desencadeará no futuro nada similar ao que já se conhece, e é por este motivo que as

instituições de ensino não podem se ater a metodologias de ensino anteriores nos dias atuais,

esta prática não condiz com a realidade atual, nem preparará as gerações para o futuro. É

preciso ter consciência que antes os jovens e as crianças não tinham acesso a outras formas de

lazer que não fossem as brincadeiras coletivas, as histórias em quadrinhos ou passeios pelos

parques, praças ou rodas de amigos, mas hoje “A experiência da abundância e da liberdade de

escolha no que se refere à música, à televisão e que aos poucos se estende também a outras

tecnologias informacionais passou a fazer parte do cotidiano de muitíssima gente”.

(ASSMANN, 2000, p.13), tornando até mesmo a individualidade egoísta um risco eminente a

ser combatido com prudência.

Como dito ao início do trabalho, a sociedade está em processo de construção, de

criação, as novidades são muitas, contínuas e crescentes. Principalmente as tecnologias de

armazenamento e transmissão de informação são amplamente utilizadas, e são acompanhadas

por inovações organizacionais, comerciais e jurídicas, alterando os padrões de vida do homem

em todas as suas relações com o outro e consigo próprio. Nem mesmo a sociedade da

informação como um todo, conforme se conhece hoje, está impassível de mudanças, segundo

Assman (2000) “No futuro, poderão existir modelos diferentes de sociedades da informação,

tal como hoje existem diferentes modelos de sociedades industrializadas. Esses modelos

podem divergir na medida em que evitam a exclusão social e criam novas oportunidades para

os desfavorecidos”. (ASSMANN, 2000, p.9).

A intenção de se utilizar destas tecnologias da informação e da comunicação de

forma mais igualitária busca, exatamente, esta transformação social, quiçá para uma

sociedade educativa, como Delors (1998) transcreve na obra analisada, que se baseia na

aquisição, atualização e utilização dos conhecimentos disponíveis, que para ele são as três

funções principais do processo educativo. Para o autor,

Com o desenvolvimento da sociedade da informação, em que se multiplicam as possibilidades de acesso a dados e a fatos, a educação deve permitir que todos possam recolher, selecionar, ordenar, gerir e utilizar as mesmas informações. A educação deve, pois, adaptar-se constantemente a estas transformações da sociedade, sem deixar de transmitir as aquisições, os saberes básicos frutos da experiência humana. (DELORS, 1998, p.19-20)

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Essa utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação dão um caráter ainda mais

particular para tais inovações, dão uma face educacional ao uso das máquinas, que passam a ser

conhecidas como Tecnologias Educacionais devido ao seu uso, conforme tratado no item seguinte.

2.3 – As Tecnologias Educacionais

Sinteticamente, pode-se dizer que “Entendem-se por tecnologias educacionais as

técnicas, aparatos, ferramentas e utensílios com potencial de utilização no desenvolvimento e

apoio aos processos educacionais, seja para realizá-los ou para a melhoria de sua qualidade”.

(in www.mec.gov.br). Esta qualidade de ensino está intimamente ligada ao processo

educativo e à metodologia utilizada pelo professor, pois disponibilizar a informação somente

não condiz com a atividade docente inovadora, tampouco o fato de difundir informação

apenas não a caracteriza a sociedade da informação, neste formato de sociedade as

informações precisam fazer parte do desencadeamento de um vasto e continuado processo de

aprendizagem. Neste sentido, Sorde & Lüdke afirmam que

“A escola é um dos espaços que mais sofrem as consequências das mudanças que ocorrem na sociedade. Advoga-se que as escolas devem rejuvenescer seus objetivos e processos de trabalho tidos como defasados em relação às demandas do mercado. Espera-se que respondam com prontidão aos desafios impostos pelos novos contextos sociais, que implicam mudanças paradigmáticas na forma de ensinar, aprender, avaliar. Mesmo concordando com essas premissas, não podemos abster-nos de examinar com mais rigor essas idéias, de modo a superar análises apressadas e superficiais dos fenômenos sociais em geral e dos educativos em particular”. (SORDE & LÜDKE, 2009, p.13)

O processo educativo como um todo envolve uma série de ações, de regulamentação

política e institucional para, então, chegar às escolas a possibilidade de se trabalhar,

efetivamente, sob novas perspectivas e paradigmas – visto que a autonomia dos professores

muitas vezes é limitada pelo próprio sistema educacional.

Todavia, a responsabilidade maior do sucesso da educação é do professor, pois é ele

quem coordena as ações educativas e se utiliza dos materiais disponíveis, que trabalha sob a

égide da legislação vigente, que atende diretamente seus alunos e percebe neles as

necessidades mais urgentes em relação ao aprendizado. Devido a isso o preparo do professor

está cada vez mais em foco, se ele não tiver uma formação inicial e continuada, como

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compreender as mudanças sociais e quais suas ações necessárias para contribuir com a

inserção social de seu aluno, nos diversos setores a que tem direito de exercer sua cidadania?

Sob esta questão, nota-se que a preocupação com a seleção dos docentes para

adentrar as salas de aula estão cada vez mais rigorosos – o professor precisa atender à sua

sociedade a riscos de não ser mais professor atuante. Porém, não apenas o recrutamento está

sendo mais criterioso, é preciso que – uma vez em sala de aula – o professor receba

capacitação condizente com o que se espera de seu trabalho. Delors (1998) também pontua

este quadro em seu texto salientando que

É preciso tentar em especial recrutar e formar professores de ciências e de tecnologia e iniciá-los nas novas tecnologias. De fato, por todo o lado, mas, sobretudo nos países pobres, o ensino científico deixa a desejar quando todos sabemos quanto é determinante o papel da ciência e da tecnologia na luta contra o subdesenvolvimento e a pobreza. Importa pois, em particular nos países em desenvolvimento, remediar as deficiências do ensino das ciências e da tecnologia, nos níveis elementar e secundário, melhorando a formação dos professores destas disciplinas. (DELORS, 1998, p.162)

Deste modo percebe-se que a preocupação com a formação do professor não é

apenas a inicial, a dos professores de educação básica, mas a formação de novos professores

formados nas disciplinas específicas de ciências e tecnologia e/ou capacitação dos atuantes, a

fim de que se produza mais e melhor nos países em desenvolvimento e mais pobres. Saber a

ciência que se lecionará é imprescindível tanto quanto aprender a dar aulas de modo

diferenciado a seres diferentes presentes em uma mesma sala, ainda que numerosa tanto

quanto heterogênea – não se faz diferente com o ensino inovador, independentemente da

disciplina a ser ensinada, a ciência e a tecnologia precisa margear o trabalho a fim de que o

aluno passe a ter o conhecimento da área estudada e a novas formas de percebê-la, fazê-la e a

buscas mais dados sobre ela.

Nesse sentido o papel do professor na sociedade da informação mediada pelas

tecnologias educacionais muda completamente, não mais transmite conhecimentos, mas

indica caminhos, como será comentado adiante.

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CAPÍTULO III: O PROFESSOR DO ENSINO SUPERIOR NA

SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO

O princípio de todo o processo educativo formal está na educação básica, que precisa

ser de qualidade a fim de que cada um possa utilizar de todas as possibilidades de aprender e

de aperfeiçoar-se, durante e após a escolaridade. Neste ponto a educação precisa ir ainda mais

longe, deseja-se que na escola o aluno desenvolva ainda mais o gosto e prazer por aprender, a

capacidade de aprender cada vez mais, de aprender a aprender, e este sentimento deve ser

transmitido pela escola. Os alunos formados atualmente precisam ser curiosos, autônomos,

capazes de – em muitas situações – ter seu lugar ‘alternado’ com o professor, tornando o

processo ensino-aprendizagem possibilidade de aprender e de ensinar a ambos.

Sob esta perspectiva, a sociedade se tornaria educativa, onde os indivíduos se

educam uns aos outros, permanentemente, proporcionando maior desenvolvimento social,

político, econômico, cultural, entre outros. Neste sentido, segundo Giardino,

O Brasil tem um grande desafio a enfrentar para transformar a educação em alavanca de desenvolvimento. O uso do microcomputador em educação, um meio tecnológico inovador, provoca a transformação no processo ensino-aprendizagem. Para viabilizar esta mudança de paradigma, precisamos investir maciçamente na capacitação de professores, que estão entre os quais mais podem beneficiar-se pela adoção das tecnologias como um instrumento de mudança e a capacitação continuada é uma fonte constante de motivação para a melhoria da qualidade de materiais de aprendizagem a custos mais baixos que os envolvidos em outras modalidades mais tradicionais. (GIARDINO, 2006, p.12-13)

Este desafio pode ser entendido pela falta destas capacitações, seja pelo espaço, pelo

alto custo, ou qualquer outro fator. Diante disto, e da tarefa docente a ser realizada, o

professor não pode desanimar e deixar seu trabalho continuar como está, ou como vem

desenvolvendo há anos. Embora seja legalmente garantida sua formação em exercício – como

comentado no início do trabalho – o Governo não conseguiu ainda abranger os projetos de

formação em exercício para todos os professores, limitando ainda as vagas; Nem por isso o

processo educacional aguarda que novas vagas surjam e que os professores sejam preparados,

a necessidade de mudanças é eminente.

Todavia as mudanças não acontecem apenas pelas necessidades exteriores, mas pela

motivação de cada um. Nesse sentido os próprios professores precisam perceber a realidade

em que estão inseridos e buscar respostas para superar os desafios que aparecerem.

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As transformações sociais são muitas e em todos os sentidos, caracterizando a sociedade

contemporânea como complexa e incerta, imprevisível quanto aos novos desafios, que,

segundo Kenski (2002), “se refletem diretamente na ação docente. O professor de todos os

níveis de ensino não pode mais se postar diante do conhecimento como “aquele que sabe”,

mas sim como “aquele que pesquisa”. (KENSKI, 2002, p.102). Pesquisar para formar-se a si

próprio e assim exercer melhor sua função é educar-se ao longo de toda a vida, como prevê

em inúmeros pontos o relatório transcrito por Delors. Principalmente no ensino superior

espera-se que as possíveis falhas do ensino básico sejam supridas e a formação se dê a

contento, mas como o próprio autor coloca, este pedido aos professores é muito.

Pede-se-lhes muito, agora que o mundo exterior invade cada vez mais a escola, principalmente através dos novos meios de informação e de comunicação. De fato, os professores têm na sua frente jovens cada vez menos enquadrados pelas famílias ou pelos movimentos religiosos, mas cada vez mais informados, terão de ter em conta este novo contexto, se quiserem fazer-se ouvir e compreender pelos jovens, transmitir-lhes o gosto de aprender, explicar-lhes que informação não é conhecimento e que este exige esforço, atenção, rigor, vontade. (DELORS, 1998, p.26-27)

Sendo assim, embora seja um pedido alto, os professores precisam alcançá-lo se

pretendem que o processo educacional do qual participam tenha sucesso. Delors (1998)

pontua a necessidade de meios, tanto em quantidade como em qualidade, disponíveis ao

professor para que exerça bem sua função, tanto no que tange a livros quanto aos meios de

tecnologia da informação. Contudo, fica a cargo do professor utilizar este material com

discernimento, responsabilidade, instigando nos alunos a participação, a curiosidade,

incentivando que se sintam motivados a aprender e o façam por prazer. Mas, como ninguém

vive sozinho em se tratando de sociedade, de ser humano, Delors (1998) salienta que os

professores devem trabalhar em equipe, principalmente no que tange ao ensino médio, dando

ares de transdisciplinaridade e transversalidade aos conteúdos a serem trabalhados. Segundo

ele, isso “levará à diminuição do insucesso, fará emergir determinadas qualidades naturais dos

alunos, e facilitará, portanto, uma melhor orientação dos estudos e dos percursos individuais,

na perspectiva de uma educação ao longo de toda a vida”. (DELORS, 1998, p.27-28). O

aprendizado sobre o trabalho em equipe e a valorização de se trabalhar deste modo deve

iniciar-se, senão antes, dentro das universidades, além das outras atribuições que estas

instituições de ensino já possuem:

É preciso, enfim, que o ensino superior continue a desempenhar o papel que lhe cabe, criando, preservando e transmitindo o saber em níveis mais elevados. Mas as

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instituições de ensino superior desempenham, também, uma função determinante na perspectiva de uma educação repensada no espaço e no tempo. Devem juntar a eqüidade à excelência, abrindo-se plenamente aos membros de todos os grupos sociais e econômicos, sejam quais forem os seus estudos anteriores. As universidades, em especial, devem dar o exemplo inovando, com métodos que permitam atingir novos grupos de estudantes, reconhecendo as competências e os conhecimentos adquiridos fora dos sistemas formais e dando particular atenção, graças à formação de professores e de formadores de professores, a novas perspectivas de aprendizagem. (DELORS, 1998, p.122)

Formar professores que bem atuem no Século XXI é compromisso importantíssimo

para o desenvolvimento da sociedade, e devem ser assumidos pelas instituições de ensino,

pelos professores (de todas as modalidades), do Governo, das famílias, da sociedade em geral

– a educação não se faz para um ou por um sujeito, mas pelo trabalho de todos, desde quem

produz o material a ser estudado, de quem estuda, de quem o escolhe e o distribui, de quem o

explora, de quem conduz o processo, até aquele que recebe o resultado disso na vida

cotidiana.

Conforme visto até aqui, devido ao formato social contemporâneo, uma das

premissas urgentes é introduzir as novas tecnologias na educação, que isso depende da

formação do professor e que esta por sua vez depende de movimento por parte das instituições

governamentais, particulares, e principalmente de si próprio e de seu compromisso consigo e

com a sociedade. Por isso, algumas formas de se introduzir as tecnologias na educação e

possibilidades de uso seguem como assuntos da presente discussão.

3.1 – Introdução de novas tecnologias na educação

As novas tecnologias desenvolvidas pela humanidade são apenas ferramentas, que

podem ser usadas para o bem ou para o mal, para ensinar ou para disfarçar o mal

planejamento, para preencher o tempo das aulas que não se quer dar. É preciso, antes de

selecionar qual a tecnologia a ser usada para determinada aula, ter consciência de que “Da

soma entre tecnologia e conteúdos nascem oportunidades de ensino (...) Mas é preciso avaliar

se as oportunidades são significativas”. (POLATO, 2009, p.51). Se o aluno não se envolver

com a ferramenta selecionada ou se esta estiver fora da realidade do aluno, se a atividade

proposta não for compatível com o desenvolvimento do mesmo, o ensino perde o sentido, não

tem significado, não há aprendizado.

A escola precisa rever quais os pontos do desenvolvimento tecnológico que não

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foram implantados em suas unidade, passando a contextualizar os modelos e conceitos

filosóficos e pedagógicos, adaptando-se. Porém, vale ressaltar, a tecnologia deve ser

implantada, a realidade escolar contextualizada com o uso de tais mídias, mas em momento

algum deve valorizá-la em detrimento de seu próprio criador – o homem, pois a tecnologia

deve estar a serviço dele como uma ferramenta, e não o contrário.

Assim, o professor utiliza-se dos equipamentos eletrônicos para recuperar a origem, a

memória do saber apenas, estabelecendo ordem e direcionamento para a realização destas

práticas com base nos conhecimentos, vivências e posicionamentos apreendidos nos diversos

ambientes e equipamentos, assim como Kenski coloca em seu discurso no livro Ensinar a

Ensinar (2002, p.99). Estas ações se comunicam diretamente com o fato de que os programas

escolares devem ser permanentemente renovados e deste processo os professores devem fazer

parte, apontando caminhos e finalidades do uso das tecnologias com base nos resultados

obtidos e nas perspectivas de ensino. Nesse sentido vale lembrar que estas experiências e

perspectivas quanto ao uso nas novas tecnologias precisam ser o objetivo claro de inovação:

Colocamos tecnologias na universidade e nas escolas, mas em geral, para continuar fazendo o de sempre – o professor falando e o aluno ouvindo – com um verniz de modernidade. As tecnologias são utilizadas mais para ilustrar o conteúdo do professor do que para criar novos desafios didáticos. O cinema, o rádio, a televisão trouxeram desafios, novos conteúdos, histórias, linguagens. Esperavam-se muitas mudanças na educação, mas as mídias sempre foram incorporadas marginalmente. A aula continuou predominantemente oral e escrita, com pitadas de audiovisual, como ilustração. Alguns professores utilizavam vídeos, filmes, em geral como ilustração do conteúdo, como complemento. Eles não modificavam substancialmente o ensinar e o aprender, davam um verniz de novidade, de mudança, mas era mais na embalagem. (MORAN, 2004)

Os meios tecnológicos permitem, em relação aos conteúdos a serem trabalhados,

“uma difusão mais ampla de documentos audiovisuais, e o recurso à informática, por

apresentar novos conhecimentos, ensinar competências ou avaliar aprendizagens, oferece

grandes possibilidades”, segundo Delors (1998, p.161). Tais oportunidades não devem ser

desperdiçadas pelo professor, e serão caso elas sejam utilizados conforme Moran afirma

serem, ainda que o fato seja negado por quem o pratica.

Como dito acima, as tecnologias são ferramentas, dependem da opção e escolha de

uso do professor para que o resultado de seu uso com os alunos seja satisfatório ou desastroso.

Segundo Delors (1998, p.161), as tecnologias da comunicação quando bem utilizadas podem

“tornar mais eficaz a aprendizagem e oferecer ao aluno uma vida sedutora de acesso a

conhecimentos e competências, por vezes difíceis de se encontrar no meio local”, e isto se dá

pelo fato de que a “tecnologia pode lançar pontes entre países industrializados e os que não o

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são, e levar professores e alunos a alcançar níveis de conhecimento que, sem ela, nunca

poderiam atingir” (DELORS, 1998, p.161). Claro que esta dificuldade não diz respeito à

competência de cada um, mas a distância, ao custo, entre outros fatores, são empecilhos que

teriam de ser transpostos pelos mesmos, cuja aproximação presente não se faz possível,

apenas a virtual.

Além disso, o professor pode buscar suprir suas dificuldades pedagógicas através

destas tecnologias, como assistindo um programa educacional de TV, acessando páginas

educacionais, lendo livros on-line, realizando cursos a distancia, entre outras formas de

utilização destes meios, melhorando assim sua competência pedagógica e o nível de seus

próprios conhecimentos.

Ou seja, a introdução das tecnologias educacionais nas instituições de ensino exige

mudanças no quadro educacional, principalmente em relação ao papel do professor que ensina

aos alunos a avaliar e a gerir a informação a que tem acesso de modo prático e significativo,

reflexivo e crítico, diferentemente de sua ação docente anterior de transmissor do

conhecimento. Assim sendo, o processo de educação, hoje, revela-se muito mais próximo da

vida real dos envolvidos do que os métodos tradicionais, começando a surgir em salas de aula

novos tipos de relacionamento, que dependem da postura do professor e de seu entendimento

acerca de suas novas funções e desafios neste novo quadro social.

3.2 – O novo papel do professor universitário na sociedade contemporânea

Como visto, não apenas a sociedade é dinâmica quanto o desempenho do professor

durante o desenvolvimento de suas atividades precisa ser para acompanhar a sociedade,

atender seus anseios e proporcionar aos alunos as condições favoráveis à inclusão digital,

inserção social, e exercício da cidadania. Neste momento, entretanto, entende-se como

necessário também “(...) repensar a formação de professores de maneira a cultivar nos futuros

professores, precisamente, as qualidades humanas e intelectuais aptas a favorecer uma nova

perspectiva de ensino (...)” (DELORS, 1998, p.157), pois só assim o docente poderá

compreender em sua plenitude qual seu novo papel no cenário da educação da sociedade

contemporânea. Partindo dessa premissa, quanto a formação dos professores, Delors (1998)

coloca que o crescimento do volume de informações e conhecimentos é gigantesco, mais que

a outras profissões, até, se dê importância à formação do professor nas instituições de ensino

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superior, pois “ estas têm um papel decisivo a desempenhar na formação de professores, na

instauração de relações estreitas com os estabelecimentos de formação pedagógica que não

pertencem ao ensino superior e na preparação de professores de formação pedagógica”.

(DELORS, 1998, p.142-143)

Ao incluir a tecnologia em seu dia-a-dia como ferramenta de ensino no sentido de

motivar o aluno, de aproximar a realidade dele do cotidiano e o conteúdo da escola de modo a

dar mais significado ao que está aprendendo, e, percebendo que pode buscar seu

conhecimento sozinho com o auxílio destas tecnologias, o professor precisa entender que sua

função é muito mais que transmitir dados, é orientar o aluno quanto a como e onde pesquisar,

no caso da internet ou de jornais, revistas, é preciso que se leve em consideração a ideologia

de cada instrumento e responsáveis por sua criação. Neste sentido o professor se tornou um

mediador na relação do aluno e seu conhecimento, quando, através da interação,

envolvimento, motivação e autonomia na busca do conteúdo, o aluno aprende melhor.

Sob este contexto, Kenski (2002, p.105), afirma que são exigidas novas qualificações

para os professores, mas que ao mesmo tempo eles tem à disposição inúmeras oportunidades

de ensino e de aprendizagem que se apresentam:

Os projetos de educação permanente, as diversas instituições e cursos que podem ser oferecidos para todos os níveis de ensino e para todas as idades, a internacionalização do ensino – através das redes – criam diferentes oportunidades educacionais para aqueles professores que aceitam estes desafios e se colocam abertos a estas novas e estimulantes funções. (KENSKI, 2002, p.105)

A sociedade da informação realmente deixa muitos desafios à cargo do professor, da

escola de modo geral, administrar as novas informações, orientar os alunos, formar-se

continuamente a fim de estar sempre atualizado e em sintonia com a realidade temporal em

que vive, conviver em grupo e com uma realidade diferente da ideal, contudo, ao aceitar ser

professor, estes desafios todos – e os demais que surgirem – devem ser entendidos como

sendo todos aceitos.

Não só por aceitar os desafios, mas a fim de cumprir as exigências da profissão, o

professor precisa conhecer suas obrigações diante das instituições em que vão trabalhar.

Assim, como dito a princípio, ainda que o professor não adentre à rede estadual de ensino, o

professor universitário precisa prepará-lo para tanto. Por este motivo, a Lei complementar

444/84 do Estatuto do Magistério dos docentes do Estado de São Paulo, diz que o professor

tem por obrigação, entre outros itens:

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III – Empenhar-se em prol do desenvolvimento do aluno, utilizando processos que acompanhem o progresso científico da educação; (...) IX – respeitar o aluno como sujeito do processo educativo e comprometer-se com a eficácia de seu aprendizado. (...) XIII – considerar os princípios psico-pedagógicos, a realidade sócio-econômica da clientela escolar e as diretrizes da Política educacional na escolha e utilização de materiais, procedimentos didáticos e instrumentos de avaliação do processo ensino/aprendizagem. (Lei Complementar 444/84 Estatuto do Magistério, arts. 61-63 e art. 95)

Se o ensino superior não estiver embasado pela ciência e atualizado com seus

avanços e novas descobertas, ainda ao se formar o aluno já estará obsoleto na sociedade, é

preciso que o professor se dedique e faça parte deste quadro evolutivo, inserindo o aluno neste

mesmo meio para que ele também se torne num pesquisador comprometido com seu próprio

aprendizado. Considerando a realidade do aluno e a política educacional, conforme consta no

Estatuto, a utilização do materiais e as metodologias utilizadas devem estar de acordo com o

tempo histórico em que a educação acontece, bem como o processo avaliativo deve favorecer

o desenvolvimento do aluno, e não apenas classificá-lo segundo o que não sabe – neste ponto

o professor precisa dominar as técnicas de planejamento, reflexão, ação e redirecionamento de

seu trabalho, ajustando as possíveis falhas de modo a suprir as dificuldades dos alunos,

contribuindo para a sua plena formação.

Diante disto, entende-se que o papel de educador como o detentor e único

responsável pela educação já não se corporificar mais: é indispensável que ele próprio se

adapte aos novos meios de ensinar. Conforme se pode analisar no texto de Kenski (2001,

p.95), o ato de ensinar não é discutido como uma função do professor tão somente, mas como

“organizações de aprendizagem”, onde o mérito de ensinar na sociedade da informação seria

voltada para que os alunos consigam utilizar-se dos “bons programas eletrônicos”, não

dependendo diretamente do docente que o aprendizado aconteça – ele orienta e os alunos

através da pesquisa aprendem sozinhos, principalmente a encontrar caminhos para a

construção de seu próprio conhecimento. Assim sendo, o aluno – em continuidade ao

processo educacional, além de ler e escrever precisa se manifestar oralmente a fim de

contribuir com outros acerca de seu aprendizado e propicie ao professor meios de avaliá-lo e

auxiliá-lo na aquisição de seu saber, que igualmente deve fazer uso da fala para instigar os

alunos a buscarem dados e informações, a refletirem, a compreenderem melhor o que estão

lendo, acessando ou usando enquanto ferramenta, com ênfase nas tecnologias (que muitas

vezes ainda são desconhecidas pelos alunos):

Na escola, território em que supostamente predomina a leitura e a escrita, a oralidade nunca foi apartada. É através da voz e dos gestos do professor que os

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alunos são encaminhados na compreensão e análise dos saberes existentes nos textos, nos livros, nos sites e CD-ROMs. A forma oral de transmissão das informações faz recortes, seleciona, valoriza e reinterpreta a suposta objetividade do texto. É através da fala do professor que os saberes socialmente valorizados são trabalhados com todas as leituras que o professor tem diante daqueles conhecimentos. (KENSKI, 2001. p.101)

É através da fala do professor que sua compreensão de mundo, visão política,

domínio do assunto e paixão pelo sabre são demonstrados aos alunos. Contudo, aulas que se

utilizem apenas da fala caem na tradicional aula expositiva, em que os alunos não participam,

apenas ouvem e reproduzem o que ouve. O professor precisa utilizar a fala não como meio de

exposição do conteúdo (pois para saber sobre determinado assunto basta realizar uma leitura

por qualquer via de disseminação de informação), mas, sim, de diálogo, fazendo com que o

aluno participe das aulas e se sintam integrados ao processo ensino-aprendizagem como peça

e ator fundamental de seu próprio desenvolvimento. Segundo o texto de Kenski, inclusive

pelo diálogo, o trabalho do professor implica na ativação das várias memórias dos alunos, de

modo a interligá-las, transcendendo os limites da escola, ainda que isto aconteça de modo

informal, sem registros em planos de ensino e/ou planejamentos, mas pela partilha do

conhecimento acumulado pelas experiências e situações vividas:

As memórias de um grupo social – incorporadas nas linguagens, histórias, lendas, canções, relações interpessoais, brincadeiras e rituais, festas, tradições, nos hábitos e nos mitos – estão permanentemente presentes nas escolas de todos os tempos, através das ações e interações espontâneas entre professores, alunos e demais pessoas que por ali circulam. (KENSKI, 2001, p.97)

Deste modo, o professor se enquadra no papel de agente de memória, sendo

responsável pela preservação das recordações, da história, da cultura local, sem deixar de

buscar na cultura mundial os novos conhecimentos produzidos. Assim como Kenski pontua

sobre o professor assumir a postura de agente de memória, diz que “Um outro papel estrutural

do docente é ser agente das inovações. O profissional que vai auxiliar na compreensão,

utilização, aplicação e avaliação crítica das inovações surgidas em todas as épocas, requeridas

ou incorporadas à cultura escolar.” (KENSKI, 2002, p.97). Em conformidade com suas

afirmações, pode-se dizer que, ao negligenciar sua nova função de mediador do conhecimento

através de metodologias inovadoras, o professor nega seu papel de educador, colocando-se a

si mesmo longe de suas atribuições profissionais de professor, e neste sentido é

imprescindível que, enquanto formador de opiniões e de novos professores, o professor

universitário assuma sua nova postura e exerça sua função em prol do aluno e da sociedade

como um todo, influenciando em uma formação para toda a vida e ao longo dela.

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3.2.1 – Formação Continuada para uma Educação de Qualidade

Mesmo sendo este ponto extremamente relevante, esmiuçá-lo profundamente em um

único tópico poderia ser visto como desnecessário por vir surgindo ao longo deste texto em

diversos momentos, entretanto, compreende-se que o conceito de educação continuada precisa

também ser abordado de modo particular a fim de que não seja visto apenas como um

complemento das atividades a serem realizadas, mas como uma ferramenta de

desenvolvimento humano e social, individual e coletivo, que favorece a quem se forma e a

quem convive com ele, criando laços de aprendizado mútuo.

A educação ao longo de toda a vida não é um ideal longínquo mas uma realidade que tende, cada vez mais, a inscrever-se nos fatos, no seio de uma paisagem educativa complexa, marcada por um conjunto de alterações que a tornam cada vez mais necessária. Para conseguir organizá-la é preciso deixar de considerar as diferentes formas de ensino e aprendizagem como independentes umas das outras e, de alguma maneira, sobrepostas ou concorrentes entre si, e procurar, pelo contrário, valorizar a complementaridade dos espaços e tempos da educação moderna. Em primeiro lugar, como dissemos, o progresso científico e tecnológico e a transformação dos processos de produção resultante da busca de uma maior competitividade fazem com que os saberes e as competências adquiridos, na formação inicial, tornem-se, rapidamente, obsoletos e exijam o desenvolvimento da formação profissional permanente. (DELORS, 1998, p.104)

Em vistas disso pode-se dizer que o profissional que não estiver continuamente, ao

longo de toda a vida, buscando dados novos e adequando-se ao seu tempo e espaço, devido a

velocidade de mudanças proporcionada por esta revolução que a Sociedade da Informação

coloca à população mundial, ficará à margem do processo de desenvolvimento de sua nação,

abrindo mão de sua atuação cidadã que implica, entre outras coisas, em contribuir para a

formação de novas gerações com vistas no passado e perspectivas de futuro conforme a

realidade presente. Deste modo, o conceito de educação ao longo de toda a vida é

fundamental e imprescindível para novas portas serem abertas neste século, possivelmente

todas, segundo o texto de Delors, isto porque este conceito “Ultrapassa a distinção tradicional

entre educação inicial e educação permanente. Aproxima-se de um outro conceito proposto

com freqüência: o da sociedade educativa, onde tudo pode ser ocasião para aprender e

desenvolver os próprios talentos”. (DELORS, 1998, p. 117)

A sociedade educativa, como já citada no decorrer do texto, seria um ideal a ser

alcançado pela sociedade da informação, onde não apenas a informação se difunde pelo

planeta, mas o conhecimento, onde uns educam aos outros e a si mesmo o tempo todo.

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Os professores devem, também, dentro das instituições de ensino superior,

preocupar-se com uma concepção pedagógica que estimule a capacidade questionadora,

interativa, criativa, analítica de diferentes hipóteses, transcendendo a utilidade imediata em

prol da cognição do aluno. Uma das finalidades essenciais da formação dos professores “quer

inicial quer contínua, é desenvolver neles as qualidades de ordem ética, intelectual e afetiva

que a sociedade espera deles de modo a poderem em seguida cultivar nos seus alunos o

mesmo leque de qualidades”. (DELORS, 1998, p.161)

Os valores éticos, intelectuais e afetivos precisam ser cultivados entre os alunos

universitários, principalmente neste caso em foco, futuros professores, para que estes sigam

arraigados a si e que transpareçam junto ao seu trabalho com seus futuros alunos, dando

continuidade nesta preservação de qualidades, beneficiando a sociedade mundial em

transformação com o incentivo do respeito às diferenças, à integração das diversas

comunidades mundiais e, ao mesmo tempo, a consolidação da identidade local. Isso envolve

mais que metodologias, mas atitudes do professor em sala, como diz Almeida (2000)

Diante desse contexto de transformação e de novas exigências em relação ao aprender, as mudanças prementes não dizem respeito à adoção de métodos diversificados, mas sim à atitude diante do conhecimento e da aprendizagem, bem como a uma nova concepção de homem, de mundo e de sociedade. Isso significa que o professor terá papéis diferentes a desempenhar, o que torna necessário novos modos de formação que possam prepará-lo para o uso pedagógico do computador, assim como para refletir sobre a sua prática e durante a sua prática (reflexão na prática e sobre a prática, conforme Shön, 1992) acerca do desenvolvimento, da aprendizagem e de seu papel de agente transformador de si mesmo e de seus alunos. (ALMEIDA, 2000, p.16)

O principal motivo pelas transformações que vem ocorrendo são as tecnologias da

informação e da comunicação, e justamente por meio delas é possível construir um campo

imenso de educação não formal, onde através da troca de saberes a sociedade educativa pode

se construir, agregando diferentes tempos e espaços de aprendizagem, enriquecendo saberes

não apenas durante o período de formação inicial, mas continuamente.

Todavia, mesmo sendo tão importante, muitos ainda não entendem este fator como

relevante e abrem mão de estar sempre em processo de ensino e aprendizado, principalmente

de aprendizado com vistas a melhorar o ensino e a si próprio enquanto pessoa. Porém, estas

correm o risco de se tornarem pessoas alienadas da realidade na qual estão imersas, não que

sua formação inicial não tenha importância, é a base para que se continue a construir-se ao

longo da vida, mas a idéia de complementação entre ambas e do entrelaçamento entre os

saberes deve ser difundida entre os alunos universitários por parte do professor a fim de que

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esta realidade não se repita posteriormente, e que todos os alunos, futuros profissionais,

possam retomar seus estudos por prazer, por necessidade, por realização de cada um.

É preciso ainda que não se considere apenas a postura do professor universitário de

formação inicial estimular seus alunos a aprenderem permanentemente, algumas ações

administrativas também devem ser realizadas. Às universidades é fundamental que se criem

políticas de ensino, planejamentos de atividades que atendam à essa necessidade de formação

continuada, que supra a demanda de profissionais da educação que querem e precisam estar

sempre atualizados, pois a qualidade de ensino é determinada tanto ou mais pela formação

continuada dos professores e sua experiência que sua formação inicial, como diz Delors

(1998), e para este fim, concorrem os meios tecnológicos que possibilitam maior integração

entre os professores, discussão de diferentes práticas e acesso a diversos projetos educacionais

e seus resultados espalhados pelo mundo, a fim de que estimulem a reflexão dos professores

em formação e que, se perceberem possibilidade, adéquem o projeto à sua realidade local, à

realidade de seus alunos, dando maior significado à sua atividade pedagógica. Segundo este

autor, as universidades precisam desenvolver tais programas de formação contínua, e podem

contar com algumas ferramentas de baixo custo, como a modalidade de ensino a distância,

que vem ao encontro das particularidades de educandos quem nem sempre podem estar

presentes nas instituições, seja devido ao trabalho, à família ou outros motivos que não

correspondem à alçada universitária. O importante é que o professor em estado de formação

continuada aprimore cada vez mais sua habilidade e sua competência de saber-fazer.

Finalizando esta idéia de formação continuada, mas não esgotando as inúmeras

possibilidades e implicações desta no meio acadêmico, fica a reflexão de Delors sobre

educação durante a vida toda:

Por todas estas razões, parece impor-se, cada vez mais, o conceito de educação ao longo de toda a vida, dadas as vantagens que oferece em matéria de flexibilidade, diversidade e acessibilidade no tempo e no espaço. É a idéia de educação permanente que deve ser repensada e ampliada. É que, além das necessárias adaptações relacionadas com as alterações da vida profissional, ela deve ser encarada como uma construção contínua da pessoa humana, dos seus saberes e aptidões, da sua capacidade de discernir e agir. Deve levar cada um a tomar consciência de si próprio e do meio ambiente que o rodeia, e a desempenhar o papel social que lhe cabe enquanto trabalhador e cidadão. (DELORS, 1998, p.18)

Portanto, conforme dito a princípio, a formação continuada envolve muito mais que

o processo de simples atualização, mas de formação do ser humano, do profissional, do

cidadão, enfim, do homem sob suas diversas faces e papéis sociais. É imprescindível que o

professor universitário consiga entender os mecanismos e as novas tendências educacionais,

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os novos paradigmas que orientam e conduzem o processo educacional ao início do século

XXI, principalmente no que diz respeito à introdução de novas tecnologias no meio

educacional, como os computadores, tão em evidência nos dias atuais. E, por este motivo,

algumas sugestões sobre seu uso seguem neste texto.

3.2.1 – O Computador como Ferramenta de Ensino

É fato diversas tecnologias podem ser utilizadas no processo educativo

proporcionando ótimos resultados aos professores e alunos, abrindo um leque de

oportunidades de trabalho sem igual até então na história da educação, que acolheu tanto ao

lápis, caneta, cadernos e livros didáticos (idealizados por Commenius e que revolucionaram a

educação), até as mídias digitais como, o caso do computador, atualmente:

Anteriormente, outras tecnologias foram introduzidas na educação. A primeira revolução tecnológica no aprendizado foi provocada por Comenius (1592-1670), quando transformou o livro impresso em ferramenta de ensino e de aprendizagem, com a invenção da cartilha e do livro-texto. Sua idéia era utilizar esses instrumentos para viabilizar um novo currículo, voltado para a universalização do ensino. Hoje, apesar de se supor que atingimos um ensino universalizado quanto ao acesso, o mesmo não se pode afirmar quanto à democratização do conhecimento. (ALMEIDA, 2000, p. 13)

Isto acontece pelo fato de que os computadores, ainda, não são de fácil acesso a toda

a população, muitos não tem instalações de energia, atendimento telefônico, poder aquisitivo

para adquirir o equipamento, entre outros fatores – conforme citado anteriormente. A

democratização do conhecimento através das inovações propostas demanda um preparo e

abastecimento de recursos às escolas por parte dos responsáveis por sua organização, sejam

elas instituições públicas ou particulares. A necessidade desta democratização se faz urgente,

pois o uso dos computadores tem abarcado, a cada dia, um espaço maior na sociedade em

seus diversos setores.

O uso dos computadores interfere inclusive no modo de as demais tecnologias, como

por exemplo, as “Câmeras digitais e celulares popularizam a fotografia. Saber tratar e

modificar imagens em softwares de edição é uma competência cada vez mais valorizada. E

programas de desenhos no computador ampliam as formas de criação”. (POLATO, 2009,

p.58). A criatividade explorada neste caso é ponto fundamental, além da habilidade de

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trabalhar com a ferramenta e a competência de realizar um trabalho que lhe proporcione

atividade profissional e realização pessoal.

Mas não apenas neste sentido o computador pode ser utilizado, para redigir-se textos,

fazer cálculos, montar apresentações em vídeo, fazer mixagem de músicas, ou utilizá-lo para

pesquisas por meio de CD-ROOMs, programas especializados e ainda – o acesso à internet.

Seus benefícios e possibilidades são inúmeros, o computador tanto é uma ferramenta de

ensino como pode ser objeto de estudo, saber sobre seu funcionamento, seus mecanismos, o

desenvolvimento de seus softwares – a área da informática como um todo é fator essencial

para o acesso ao mercado de trabalho e inserção social do indivíduo.

É relevante, contudo, que os professores de ensino superior consigam direcionar seu

trabalho de modo a preparar futuros professores a explorar esta diversidade de atividades

pedagógicas que, além de compreenderem um processo educacional amplo em si, com

finalidade nela própria, podem atuar como ferramenta de apoio à construção de conhecimento

nas diversas áreas trabalhadas pelas escolas. Um exemplo disto, também citado por Polato

(2009), são os meios de produção de texto, em que os alunos conseguem digitar seus textos e

organizá-los de modo a dar mais coesão e coerência: “Em termos de organização textual, a

vantagem é poder mudar de lugar, ampliar, cortar e eliminar frases e parágrafos,

experimentando novas soluções para a composição sem precisar escrever tudo de novo a cada

nova versão”. (POLATO, 2009, p.52), além disso, os editores de texto propiciarem correções

gramaticais por meio de sugestões e/ou apontamentos de erro.

Obviamente o trabalho do professor não pode se centrar unicamente nas formas de se

utilizar as tecnologias digitais, o conteúdo ainda é o principal foco do processo educacional,

pois, sem as informações sobre as diversas áreas do conhecimento não há material cognitivo

para se estruturar novos saberes:

“Nenhuma das inovações tecnológicas substitui o trabalho clássico na disciplina, centrado na resolução de problemas. Estratégias como o cálculo mental, contas com algoritmos e criação de gráficos e de figuras geométricas com o lápis, borracha, papel, régua, esquadro e compasso seguem sendo essenciais para o desenvolvimento do raciocínio matemático. Entretanto, saber usar calculadoras e conhecer os princípios básicos de planilhas eletrônicas do tipo Excel são hoje demandas sociais.” (POLATO, 2009, p.52)

Entende-se assim que o uso do computador, assim como das demais tecnologias, na

educação devem compor um conjunto de ações que primam pelo desenvolvimento integral do

aluno, não devendo ser abandonadas as atividades anteriores, mas demonstrado que há mais

de uma maneira de executá-las. Por exemplo, pode-se criar planilhas de despesas mensais

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com régua, lápis, borracha, caneta, fazer uso de cálculos mentais, assim como se pode auxiliar

a tarefa pela utilização da calculadora posteriormente, pois compreende-se que o aluno precise

aprender a manusear esta ferramenta – tanto quanto deve ser explorado a forma de fazer esta

mesma planilha em espaço digital através de planilhas eletrônicas. O saber não se restringe a

uma única forma de ser construído, suas diversas maneiras devem ser, ao máximo, exploradas

com os alunos: eles terão de ensinar estes valores e saberes aos seus futuros alunos,

independente da área, da disciplina que lecionem. Até mesmo porque nem todas as atividades

desejadas podem ser realizadas presencialmente pelos alunos, como cita Polato (2009): “por

meio das novas tecnologias amplia-se a experimentação e a observação, procedimentos

indispensáveis ao método científico. Comecemos pela realização de experimentos. Por razões

de segurança, não é todo tipo de experiências que dá para fazer no ambiente escolar”.

(POLATO, 2009, p.56)

Devido a esta área ainda ser nova, por isso inovadora, não existe teoria que lhe dê

suporte pleno, por isso ela faz uso de outras no caminho de estruturar a sua própria, como o

construtivismo de Piaget, pois possibilita o desequilíbrio das informações anteriores diante da

disponibilização das novas, promovendo um processo de assimilação, reflexão, e acomodação

de um saber novo, baseado no conhecimento anterior e em consonância com o novo. Também

faz uso do sócio-construtivismo de Levy Vigotsky, que sugere a apreensão de conteúdos

através das interações sociais, tanto com o ambiente quanto com outros seres humanos.

Ao analisar as possibilidades de introduzir os recursos computacionais nas práticas educacionais com o objetivo de transformar o processo ensino-aprendizagem, não se pode ter como referência nenhum quadro teórico anteriormente estruturado. É preciso delinear uma base conceitual que represente um movimento de integração entre diferentes teorias e que possa conduzir à compreensão do fenômeno educativo em sua unicidade e concretude. (ALMEIDA, 2000, 22)

Conforme reflexão que pauta este texto, a realidade é diferente de todas as outras

pelas quais a sociedade mundial já vivenciou, portanto não pode-se manter as mesmas

atitudes no decorrer das atividades. Vale, entretanto, ressaltar que esta mudança de atitude

deve ser coerente com os princípios de ética, de valorização do ser humano, de tolerância com

o outro, de construção de uma sociedade igualitária, pois “o uso inteligente do computador

não é um atributo inerente ao mesmo, mas está vinculado a maneira como nós concebemos a

tarefa na qual ele será utilizado” (VALENTE, 1997). O computador, embora uma ferramenta

espetacular de ensino e inserido em outras atividades humanas, não é capaz de pensar, de

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refletir, de optar por um ou outro caminho a ser seguido – capacidades exclusivamente do ser

humano.

Em continuidade às propostas de trabalho com o computador, da realização de

pesquisas off-line através de recursos multimídia, está o uso da internet, uma das mais comuns

entre as diversas sugestões de uso dos computadores, referindo-se à criação de blogs, troca de

e-mails e mensagens instantâneas. Percebe-se que a comunicação é a principal forma de

utilização do computador para a troca de dados de todas as espécies, inclusive acadêmicos,

dando ares de redescoberta ao processo de oralidade e transmissão de dados, mundialmente:

“O maior estímulo está na possibilidade de realizar videoconferências pela rede mundial (...)”.

(POLATO, 2009, p.56). Tais videoconferências auxiliam o aluno a receberem informações

extra-institucionais, ampliando seus horizontes e possibilidades de reflexão sobre assuntos

comuns ou diferentes dos abordados nas universidades, pois podem ser acessadas por

mediação das instituições ou não.

Entre outros fatores, este é um dos que faz ser tão importante que o computador

esteja conectado à internet; sem ela o computador já é uma ótima ferramenta de trabalho, com

inúmeras possibilidades de uso, conforme visto, mas, quando conectado, sua potencialidade

supera as possibilidades de uso em tão grande escala que se torna imprescindível.

3.2.3 – A Internet como aliada do processo educacional

O computador nem sempre teve o mesmo formato como se vê hoje, em modelos

compactos, de menor custo. A evolução da internet, a exemplo dos microcomputadores,

notebooks e laptops existentes hoje, passou por inúmeras transformações, tanto no que se

refere aos objetivos de utilização, quanto ao que tange ao público que a pode acessar.

A invenção da internet constitui-se em um dos elementos de maior expressividade da revolução tecnológica. Inicialmente, após a Segunda Guerra Mundial, os exércitos norte-americanos e russo faziam uso dela para a comunicação militar. Até então, a Internet era restrita a esse uso e apenas algumas potências mundiais a acessavam. (SILVA, 2006)

Com o passar dos anos, a internet, assim como os computadores, expandiram suas

potencialidades a descobriram-se novas utilizações devido a inúmeras possibilidades de

trabalho. A transmissão de dados feita para recolher informações sobre os inimigos, percebeu-

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se, poderiam se tratar de quaisquer outros assuntos. Contudo, a troca destes elementos

acontecia de modo lento, não havia especialização de nenhum setor para que a velocidade

fosse alterada, até então. Através de estudos sobre a difusão destas redes de comunicação,

países desenvolvidos passaram a utilizá-la como ferramenta em diversos setores da sociedade,

mas apenas há poucos anos esta tecnologia passou a se espalhar pelos países em

desenvolvimento, até mesmo porque o custo ainda era alto para adquiri-la.

Contudo, a fascinação pelas oportunidades das relações comerciais e as possibilidades

de comunicação do meio científico, a internet expandiu-se violentamente, e passou a fazer

parte do cotidiano das pessoas do mundo todo. Entretanto, embora a disseminação da internet

abranja inúmeras localidades, devido a fatores sociais comentados anteriormente como o

poder aquisitivo ou localização geográfica, muitos estão exclusos de participarem deste

movimento digital; além disso, ainda há um outro entrave: nem todos que tem acesso à

internet sabe, realmente, como utilizá-la. Por este motivo, Lévy (2005) afirma que

A disseminação da Internet em países como o Brasil (onde apenas 7% da população está conectada) deve ser vista dentro de um processo histórico. Muitos séculos se passaram desde a invenção do alfabeto até a construção de uma civilização da escrita. Quando se inventou o alfabeto, por volta do ano 1000 a.C., não foi imediatamente que as pessoas aprenderam a ler e escrever. Há dez anos mais ou menos que a maioria – não a totalidade – da população mundial sabe ler e escrever. Foram necessários, portanto, três mil anos para se chegar a essa situação. Quanto à web, deve-se levar em conta que ela existe há menos de dez anos” (LÉVY, 2005)

Mesmo com tantas dificuldades para que a internet se institua como ferramenta

social, não se pode negar o fato de seu poder de disseminação de informações, de dados

relevantes para a construção do conhecimento – e, portanto – sua ampla potencialidade de

utilização em sala de aula como ferramenta de ensino.

O computador desconectado não amplia o trabalho do professor em possibilidades

tanto quanto quando este está ligado à rede mundial de computadores. Isto se dá pelo fato de

que lugares recônditos do mundo se tem acesso às mesmas informações que se tem nos

grandes centros, através da mesma ferramenta. O fantástico é que, deste ponto de vista, as

diferenças entre pessoas (sejam financeiras, culturais, étnicas e outras) não existem, todos que

acessam a internet tem as mesmas possibilidades de exploração e de aprendizado por

consequência. Deste modo, o computador não se torna apenas uma ferramenta a mais para o

ensino, mas propicia a promoção da igualdade. Além disso, não há limites para acesso às

informações que trafegam na rede, apenas é necessário que haja orientação quanto ao seu uso:

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“A internet apresenta leitura quase inesgotável de fontes de pesquisa. Para que se faça bom proveito de tanta riqueza, a classe precisa ter claros os objetivos da investigação. Em seguida, é importante discutir onde encontrar informação confiável. Nesse ponto, seu trabalho é ensinar que, diferentemente do que a garotada costuma acreditar, fatos históricos não são contados de maneira neutra. Qualquer relato traz embutido certa dose de opinião do autor (...)”.(POLATO, 2009, p.53)

A comparação entre diversos sites sobre um mesmo assunto auxilia o

desenvolvimento da criticidade do aluno, que consegue, ao fim do processo, perceber a

ideologia política, a intencionalidade, a parcialidade das informações. Cabe a ele o

discernimento sobre os dados, filtrando as informações mais pertinentes e imparciais – ainda

que os textos lidos nunca sejam desprovidos de posicionamentos políticos e ideológicos.

Deste modo, entende-se que o significado do que se lê é tão importante quanto o fato de se

aprender a ler, no sentido de decodificação do sistema escrito.

Esta nova forma de trabalhar em sala de aula, tanto quanto o movimento de expansão

da internet, também é um processo histórico, pois substitui muitas práticas pedagógicas não

mais condizentes com a sociedade contemporânea, amplamente dominada por costumes de

cibercultura, ou seja, a cultura construída através de mecanismos cibernéticos. Lévy (2005)

aponta que a utilização, a reflexão de como se fazer uso destas informações disponíveis não é

fato isolado da contemporaneidade, é, sim, mais um fato imerso na totalidade da história atual

da qual toda a humanidade faz parte. Diz o autor: “(...), acho que não devemos esquecer a

cultura antiga nem fazer tabula rasa do passado. É sobre ela que podemos construir o novo.

Portanto, o capital cultural é, de certa maneira, a memória gravada da evolução cultural, que

até nos oferece uma enorme quantidade de idéias”. (LÉVY, 2005)

É importantíssimo que se analise, se planeje e se conduza as aulas sob estas novas

perspectivas de ensino no sentido de alfabetizar digitalmente os alunos, salientando, mais uma

vez, que futuros professores precisam desenvolver esta habilidade para, com competência,

trabalhar as potencialidades de seus alunos no que diz respeito ao meio digital. Segundo

Almeida (2000), lançando mão dos textos de Papert (1985), o professor competente consegue

compreender que “A verdadeira alfabetização computacional não é apenas saber como usar o

computador e as idéias computacionais. É saber quando é apropriado fazê-lo” (PAPERT,

1985:187, in ALMEIDA, 2000, p.55). Ao identificar as situações de uso, unindo o “como”, o

“quando” e o “para que” fazer uso das ferramentas digitais (computadores – conectados ou

não, dependendo do objetivo do professor), o professor modifica a forma de ensinar, segundo

Giardino (2006), amplia as possíveis situações de aprendizado até mesmo dentro de salas de

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aula, em modalidades presenciais de ensino, principalmente quando os computadores estão

conectados:A rede de computadores apresenta-se hoje como elemento que pode modificar significativamente a educação presencial. As paredes das salas de aula abrem-se e esses tradicionais locais de ensino-aprendizagem têm o tamanho do mundo. As pessoas podem comunicar-se, trocar informações, dados, pesquisas a qualquer hora e de qualquer lugar. (GIARDINO, 2006, p.08)

A escola não é o único local privilegiado para que o aprendizado aconteça, saber

aproveitar o cotidiano das crianças e jovens em sala de aula será uma habilidade

imprescindível para o professor do século XXI desempenhar seu papel – e sua formação

precisa trabalhá-la. Valente diz que “A vida das crianças está tão relacionada com o uso

dessas mídias que é inglório tentar competir com a informática” (VALENTE, 1997), portanto,

é preciso que elas percebam na escola um local de discussão sobre as coisas de seu mundo; a

escola não é mais uma ilha em que se discutem assuntos isolados do cotidiano, mas deve

trazer o dia-a-dia para dentro de seus limites e explorá-los para que haja significância no

trabalho realizado.

Neste contexto pode-se dizer que as redes de comunicação é uma parte desta rotina

dos alunos, e eles precisam de orientação sobre o melhor uso da ferramenta que possuem, dos

dados que lhes são disponibilizados, ainda que ao trocar de endereços de sites a serem

explorados os assuntos não sigam linearidade de fatos,

Por meio da manipulação não linear de informações, do estabelecimento de conexões entre elas, do uso de redes de comunicação e dos recursos multimídia, o emprego da tecnologia computacional promove a aquisição do conhecimento, o desenvolvimento de diferentes modos de representação e de compreensão do conhecimento. (ALMEIDA, 2000, p.12)

Ao conseguir que o aluno compreenda a dimensão do trabalho do professor, o

docente universitário alcança seu objetivo. As tecnologias são, como foram os livros

didáticos, ferramentas a serem utilizadas, e bem utilizadas para que o aprendizado possa

acontecer, e este apenas se comprovará quando as tecnologias da informação e da

comunicação forem utilizadas pelos alunos para encontrar as informações necessárias a ele

para enfrentar os desafios da vida social que lhe surgirem, desde estabelecer conexões entre

fatos históricos para uma pesquisa escolar, por exemplo, até encontrar um mapa virtual.

Contudo, avaliar o aprendizado dos alunos não se restringe a técnicas do passado, é preciso

que esta etapa do processo ensino-aprendizagem acompanhem as demais mudanças do ensino,

a riscos de o aluno não desenvolver-se conforme a proposta educacional vigente.

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3.2.4 – Novas formas de ensinar, novas perspectivas para avaliar

Compreende-se que o processo ensino-aprendizagem é um conjunto de ações como

planejamento, metodologias de ensino utilizadas e formas de avaliar os resultados obtidos

diante dos objetivos propostos. Portanto, ainda que não seja o foco deste trabalho – mas pela

relevância – não se pode deixar de constar comentários sobre a avaliação sob este novo

contexto que vem se estruturando no setor da educação, ainda que seja tratada sob um olhar

generalizado acerca de seus diversos aspectos.

A educação inovadora, talvez mais que a tradicional, deixa inseguranças ao professor

sobre o aprendizado dos alunos, porém, leva a questionamentos sobre as formas de avaliar, o

que diferencia-a do modelo educacional anterior. É preciso saber até onde o aluno conseguiu

aprender para dar prosseguimento na apresentação de novos conteúdos, mas, o preocupante é

que “(..) Avalia-se exaustivamente tudo e todos, por motivações distintas, mas as medidas

educacionais (resultados dos estudantes) continuam informando que os alunos não têm

aprendido aquilo que as escolas pensam estar ensinando...” (SORDE & LÜDKE, 2009, p.13).

Aparece aí a dúvida maior: o que precisa ser alterado? Motivar mais os alunos?

Trabalhar sua autonomia? Valorizar sua auto-estima? Permitir que seu amadurecimento

apareça conforme seu desenvolvimento interno, trabalhando suas dificuldades, mas

permitindo que prossiga nos estudos ainda que não apresente resultados satisfatórios num

primeiro momento, como é o caso do programa de progressão continuada adotado pelo

governo do Estado de São Paulo? Bem, junto a estas questões podem se juntar inúmeras

outras, mas tal aprofundamento foge da proposta desta pesquisa, basta que se reflita sobre o

seguinte ponto: “Não basta que os alunos não sejam reprovados na escola. Importa que

aprendam para que possam ocupar um lugar na sociedade e nela atuar como sujeitos

históricos.” (SORDE & LÜDKE, 2009, p.14). A realidade de trabalho dos professores de

educação básica no quesito avaliação é componente fundamental para a formação do

professor e não pode ser deixado para segundo plano nas universidades, ao formar um novo

docente é preciso que se tenha como objetivo que não apenas ele se desenvolva para a função,

mas saiba como orientar seu trabalho para também desenvolver seus futuros alunos.

Pode-se propiciar maior rendimento em relação ao aprendizado quando a práxis

pedagógica dos conteúdos está em sintonia com a vida extra-escolar das crianças, não apenas

através do uso de tecnologias, mas quando utilizados, e bem utilizados, a construção do

conhecimento pode acontecer pela interação da criança com a máquina – interação esta

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direcionada pelo professor, respeitando a individualidade da criança do jovem, privilegiando a

prática do aluno como metodologia de ensino.

Entre outros fatores, pode-se dizer que

Educar hoje é mais complexo porque a sociedade também é mais complexa e também o são as competências necessárias. As tecnologias começam a estar um pouco mais ao alcance do estudante e do professor. Precisamos repensar todo o processo, reaprender a ensinar, a estar com os alunos, a orientar atividades, a definir o que vale a pena fazer para aprender, juntos ou separados. (MORAN, 2004)

O processo de avaliação deve ter como objetivo ponderar o uso de tecnologias em

sala de aula, o resultado que os alunos apresentam, verificar se os alunos estão tendo

oportunidade de desenvolver sua autonomia e praticar sua cidadania, e – caso alguma resposta

não seja satisfatória – é com base nos resultados da avaliação que o professor reorientará sua

atuação, não importando quantas vezes isso seja feito, o que vale é que os alunos

compreendam os conteúdos e o professor perceba que seus objetivos foram alcançados.

Assim, mais que uma ferramenta de medição do aprendido pelo aluno, de

classificação quanto ao que os alunos sabem ou não sabem, o professor usa a avaliação dentro

desta nova perspectiva de ensino, como um apontador de novos rumos, ou para que ele

continue trilhando pelo mesmo caminho por notar o aprendizado efetivo. Por isso, não deve

ser considerado apenas um ou outro aspecto, o que o aluno é capaz de reproduzir do conteúdo

apresentado, mas o que ele constrói em conjunto e individualmente com seus colegas, sua

capacidade de trabalhar em grupo e encontrar alternativas, com base no trabalhado em sala ou

como atividade extra-escolar, para resolver situações-problema do cotidiano.

Sob este olhar, o professor precisa avaliar o seu trabalho e não apenas o aluno, sem

deixar, no entanto, de considerar seus avanços e suas dificuldades. Segundo a concepção

inovadora, em ambientes presenciais e virtuais, ao final da avaliação o professor precisa

trabalhar posturas sociais contemporâneas como “(...) a cooperação, a interatividade e o

respeito às diferenças; são aspectos que precisam ser priorizados em todas as instâncias e

setores educacionais.” (KENSKI, 2002, p. 100).

Da mesma maneira, o professor precisa discutir os resultados do processo com os

alunos, pois estes precisam ter a consciência de sua evolução acadêmica, dos objetivos do

professor e do trabalho que realiza, em que parte precisa se esforçar mais para conseguir

dominar as ferramentas necessárias e a utilizar suas potencialidades, transformando-as em

habilidades. A este processo denomina-se auto-avaliação, que tanto quanto pelo professor,

pode e deve ser desenvolvida pelo aluno: o sucesso educacional é de interesse de ambos, e

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ambos devem contribuir para tal conquista. O docente precisa não apenas instigar a auto-

avaliação, mas indicar qual o procedimento para realizá-la. Deste modo o professor estará em

consonância com seu novo papel no setor da educação, que é antes de tudo orientar seus

alunos visando sua formação, vindo assim, a juntar-se com a auto-avaliação a conduta

chamada de avaliação formativa, que visa formar a totalidade do aluno no que se refere a

todas as aptidões que seu curso deve proporcionar.

A orientação precisa considerar, ainda, que os alunos são seres únicos, provenientes

de diferentes culturas, idiomas e realidades sociais, e por este motivo devem ser trabalhados

em detrimento às fobias preconceituosas, o respeito próprio e o mútuo, além de estabelecer

pontes entre os estudantes que têm acesso ilimitado aos mais avançados equipamentos e tecnologias e os que dependem exclusivamente do espaço escolar para ingressar e vivenciar experiências nas novas dimensões de ensino. É assim capaz de realizar na ação docente interações e intercâmbios entre linguagens, espaços, tempos e conhecimentos (pontes temporais, sociais, tecnológicas) diferenciados. (KENSKI, 2002, p. 100)

Com a intenção de competir para uma sociedade mais harmônica e educativa (como

citada por Delors (1998), a avaliação precisa, portanto, atuar como fator de medição do

aprendizado, identificação das dificuldades e orientação ao trabalho do professor atuante sob

os novos paradigmas educacionais, que aliás precisam ser claros ao docente. Assim sendo, o

professor universitário precisa ter em mente quais são estes paradigmas e contribuir para que

os docentes em formação desenvolvam em si o hábito de inovar e adaptar-se às necessidades

de seu tempo.

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CAPÍTULO IV: NOVOS PARADIGMAS EDUCACIONAIS E A EDUCAÇÃO À

DISTÂNCIA NO ENSINO SUPERIOR

Os novos paradigmas educacionais implicam também em novas possibilidades de

explorar diversos conteúdos com os alunos, tanto em modalidade presencial como à distância.

O que se percebe em comum nestes casos são as metodologias assumidas pelo professor que

visam um único objetivo: a maior autonomia dos alunos que devem construir seu próprio

conhecimento, ainda que devidamente orientados pelo professor.

As máquinas vieram para auxiliar o trabalho docente e possibilitar acesso à educação

mais democráticos, mas em momento algum toma o lugar do professor; o docente hoje deve

ser flexível, adaptar-se a diversas realidades e permitir que seus alunos se desenvolvam o

melhor possível independentemente de suas possibilidades regionais ou financeiras, antes é

privilegiado o ser humano e suas potencialidades.

Este capítulo visa aprofundar os ideais da educação sob as perspectivas dos novos

paradigmas, objetivos, metodologias de ensino referentes à modalidade de Ensino Superior.

4.1 – Os novos paradigmas educacionais e o ensino superior

Ao longo do trabalho vem sendo discutido o panorama educacional da

contemporaneidade, os novos paradigmas educacionais vigentes. Entretanto, para estabelecer

uma síntese entre o conteúdo tratado e os novos paradigmas, é preciso entender o que

significa o termo paradigma. Segundo Morin (1996), este termo “comporta um certo número

de relações lógicas, bem precisas, entre conceitos; noções básicas que governam todo

discurso” (MORIN, 1996, p. 287) e completa a seguir: “o paradigma primeiro impõe

conceitos soberanos e impõe, entre esses conceitos, relações que podem ser de conjunção, de

disjunção, o que não contradiz a idéia de que, uma vez constituídas, as redes sejam mais

importantes” (idem). Deste modo, pode-se entender que paradigmas se relacionam a conceitos

estabelecidos socialmente, que estão acima de escolhas individuais e que precisam dos

indivíduos para se concretizar, que ora aproximam, ora distanciam ações em situações

similares, e que – acima de tudo – compõe um conjunto complexo de realizações a serem

compreendidas, refletidas e postas em prática pelas pessoas.

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Na educação, portanto, estabelecer um novo paradigma pode ser entendido como

construir parâmetros de trabalho que envolva os valores, crenças, técnicas, metodologias,

intencionalidade, planejamento, execução e avaliação destas ações, dando ares de

democratização e homogeneização do processo ensino-aprendizagem, visando à produção

científica e a organização da sociedade tanto quanto a atuação cidadã consciente do aluno.

A educação brasileira vem sofrendo esta transformação desde o século XX, a passos

não tão largos quanto à dinâmica da sociedade sugere. Segundo Morin (2002), a educação

precisa de uma reforma paradigmática que atenda as necessidades dos alunos; que estes

saibam solucionar problemas e aplicar os conteúdos aprendidos no seu cotidiano.

O professor deve deixar de atuar como transmissor de conteúdos e assumir a postura

de orientador, de facilitador da aprendizagem, de mediador do conhecimento. Assim, sua

função passa a ser aconselhar, indicar, interagir com os alunos. Toda ação pedagógica deve ter

a intenção de educar, o que tira o professor da posição de centro do processo ensino-

aprendizagem para cedê-la ao aluno, cujas características sociológicas e psicológicas passam

a ser consideradas. Isto torna a escola um ambiente favorável para a transformação individual,

a consolidação da personalidade do sujeito e a construção da cidadania.

Obviamente, o trabalho do professor se tornou tanto mais complexo quanto o próprio

paradigma educacional em formação, precisam gerar metodologias capazes de desenvolver

em seus alunos os quesitos necessários para sua inserção social. Assim, o paradigma da

educação atual pode, perfeitamente, ser denominado por paradigma da complexidade, como

diz Morin (2000); este retoma o contexto dos conteúdos, a visão global e multidimensional, a

complexidade do ser humano, no intuito de suprir as demandas da Sociedade do

Conhecimento através de ações individuais e coletivas que requerem novas atitudes em

relação aos desafios da realidade em que se vive.

Para tanto, o professor precisa problematizar o conteúdo, discutir o projeto de ensino

com os alunos, contextualizar o assunto, utilizar-se de aulas dialogadas e de pesquisas, além

da produção individual, grupal, e discussão crítica-reflexiva acerca da produção final de cada

projeto, dos avanços e estagnações – remetendo ao processo de auto-avaliação comentado

anteriormente.

Sob o novo paradigma, o foco do ensino-aprendizagem está numa metodologia

(desenvolvida pelo professor e diferente em cada situação específica) capaz de motivar os

alunos, estimulá-los a saber mais, a buscar conhecimento por curiosidade, por prazer – ainda

que para fins práticos do dia-a-dia. Em contrapartida, o aluno deve tornar-se um estudioso

autônomo, capaz de buscar informações e construir seu conhecimento imbuído de todas as

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características de cientista, do seu docente, formando seus próprios conceitos e opiniões – o

aluno é centro do processo, mas responsável por seu próprio crescimento.

A sala de aula deve manter-se como um ambiente de cooperação e construção,

baseado na troca de experiências entre aluno/aluno e aluno/professor, que aprendem juntos.

Os assuntos são experienciados por cada um, de diferentes maneiras em cada situação, sempre

havendo crescimento a ambos quanto aos conteúdos curriculares – que por sua fez devem

atender a uma estrutura flexível e aberta, que permita aos alunos traçar seus próprios

caminhos rumo a objetivos comuns entre ele, seus colegas de estudo e o professor.

A fim de auxiliar o desenvolvimento da atividade docente, principalmente do ensino

superior que prepara o aluno não apenas para a vida, mas para que sejam capazes de preparar

outros homens para o mundo, estão as tecnologias, como a televisão, o computador, a

conexão com a internet – o visual atrai, é sempre acompanhado por som, possibilita maior

memorização, e interesse a quem aprende, e como visto, a utilização é cheia de possibilidades,

depende da criatividade do professor e do grupo com o qual trabalha.

Outro ponto diferenciador do paradigma atual com o desenvolvido no ensino

tradicional é que o equipamento não é utilizado apenas pelo professor, mas o aluno também

pratica, testa, busca, consolida e produz conhecimento fazendo uso das máquinas em um

ambiente conectado com o mundo – não é o conteúdo da escola que precisa ser adequado a

realidade do aluno, mas esta deve ser compreendida pela escola, acolhida para a sala de aula,

onde as experiências serão partilhadas com os colegas de classe (ou de outras escolas por

meio das vias digitais de comunicação, como em fóruns de debates).

Outro ponto importante a ser destacado nesta mudança de paradigma é o erro, antes

marginalizado, hoje valorizado como pela fundamental para o aprendizado, pois, sem ele não

se experimenta hipóteses, não se chega à conclusão alguma, portanto. O erro, segundo Morin

(2000), é uma oportunidade de desenvolver-se uma situação de aprendizado. Trabalhar com o

erro é um dos sete saberes fundamentais que o professor precisa para desempenhar a contento

sua função de educador do século XXI.

O professor é um exemplo de conduta para o aluno, ainda, mas é um ser humano

passível de erros e de ignorância acerca de alguns assuntos específicos – justamente por isso

se aproxima dos alunos. Em momentos como esse é que o docente pode estimular o aluno a

aprender através de pesquisas, dando o exemplo de ir em busca de algo que ainda não se sabe,

partilhando as descobertas posteriormente e discutindo as informações encontradas.

Eis nesta ação outro fator que compõe o quadro da nova educação que se estrutura, o

educar através da pesquisa. Segundo Demo (1996), é de suma importância que haja pesquisa

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em todos os níveis de ensino, principalmente no superior, pois é a partir da pesquisa que o

aluno desenvolve sua capacidade crítica e realiza questionamentos construtivos, relacionando

a prática de sua vida, com a teoria encontrada, com a qualidade formal, com o contexto

político das informações. Assim, os alunos se emancipam do professor e podem atuar como

docentes, mais evoluídos profissional e pessoalmente, tornando-os sujeitos de sua própria

história aptos a adquirirem seu conhecimento por si próprio, por meio de pesquisas.

O aluno participativo, ativo, produtivo e re-construtivo supera a passividade do

método tradicional, torna-se parceiro do professor no processo educativo e exerce um papel

fundamental no processo indicando os pontos que precisam ser discutidos para que consiga

aprender, a se desenvolver.

Pode-se dizer que, assim, o professor universitário que atua como inovador e trabalha

nas perspectivas dos novos paradigmas da educação estão, efetivamente, contribuindo para

que seus alunos tenham competência4 ao realizar seu trabalho com seus futuros alunos,

adequados ao seu tempo e espaço histórico.

4.2 –A Educação à distância como aliada à transformação do ensino superior

Segundo Shummanz (2000), o ensino superior brasileiro passava na virada do século

por importante revolução, ainda que silenciosa, abrangente e que tende a efetivar melhorias. O

alto índice de alunos do ensino médio que buscam o ensino superior, seja pela credencial que

os cursos superiores proporcionam, seja pela possibilidade de aumentarem seus recursos

financeiros, vem fazendo com que o setor público volte-se para o cuidado da equidade quanto

ao acesso à oportunidades educacionais, pois é de sua responsabilidade que cidadãos,

independente de sua origem social, racial, classe econômica ou fatores culturais, tenham a

possibilidade de formar-se num curso de graduação e pós-graduação.

No entanto, ao observar a realidade do povo brasileiro e sua imensa área geográfica, o

difícil acesso a determinadas regiões, compreende-se a dificuldade de que moradores destes locais

consigam adentrar a um curso universitário. Isso pode não ser desculpa para que o ensino superior

não avance, mas com certeza é um empecilho.

Com possibilidade de driblar este problema surgem as tecnologias de comunicação e

4 “faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações etc) para solucionar com pertinência e eficácia uma série de situações” (PERRENOUD, 2000, p. 19)

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informação, assim como a internet:

Hoje, um dos mais importantes destes recursos é o acesso à Internet, e às bases de dados e informações que são a matéria prima de quem trabalha com o conhecimento e a informação. [...] O barateamento das comunicações e a difusão da Internet já estão tendo um impacto importante nas instituições de ensino brasileiras, que tenderá a aumentar cada vez. (SCHWARTZMAN,2000)

Como uma nova forma de acessar o conhecimento e disponibilizá-lo à remotas áreas,

desde que tenham chego as tecnologias do computador conectado à internet (que encontram

neste ponto novos obstáculos), a educação à distância vem crescendo, tanto em forma de mix

com o curso presencial como de modo independente, como diz Moran (2002). As diversas

modalidades de ensino, segundo o autor, dividem o atual sistema educacional em três formas:

Hoje temos a educação presencial, semi-presencial (parte presencial/parte virtual ou a distância) e educação a distância (ou virtual). A presencial é a dos cursos regulares, em qualquer nível, onde professores e alunos se encontram sempre num local físico, chamado sala de aula. É o ensino convencional. A semi-presencial acontece em parte na sala de aula e outra parte a distância, através de tecnologias. A educação a distância pode ter ou não momentos presenciais, mas acontece fundamentalmente com professores e alunos separados fisicamente no espaço e ou no tempo, mas podendo estar juntos através de tecnologias de comunicação. (MORIN, 2002)

Muitas ainda são as dificuldades para que a educação à distância, mediada pelas

tecnologias de comunicação, sejam realmente efetivadas. Uma delas é a alteração de certos

padrões, que podem ser entendidos também como paradigmas educacionais, ligados

diretamente a organizações, governos e profissionais, além da própria sociedade que resistem

diante das possíveis mudanças.

Outra dificuldade é a falta de acesso, até mesmo à energia elétrica, que impossibilita

o acesso aos recursos tecnológicos, inclusive o aspecto financeiro para aquisição do material.

Estes recursos podem democratizar o acesso à informação, matéria prima para a construção

do conhecimento. Neste sentido, Moran (2002) diz que “Por isso, é da maior relevância

possibilitar a todos o acesso às tecnologias, à informação significativa e à mediação de

professores efetivamente preparados para a sua utilização inovadora. E neste sentido é que a

argumentação deste trabalho se apóia: a necessidade do professor estar bem preparado para

que possa proporcionar aos seus alunos um ensino de qualidade, ainda que não esteja próximo

a ele de modo presencial.

Com objetivo de formar pessoas autônomas, capazes de se auto-formar, de buscar os

dados necessários para construírem seu conhecimento, e assim orientarem seus futuros alunos

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a fazerem o mesmo, as ferramentas que facilitam este processo devem ser consideradas

grandes aliadas. É através da comunicação que o ensino superior prepara seus futuros

professores para exercerem bem suas funções, e esta comunicação não deve acontecer

somente entre professores e alunos, mas entre todos os participantes deste processo: “As

tecnologias interativas, sobretudo, vêm evidenciando, na educação a distância, o que deveria

ser o cerne de qualquer processo de educação: a interação e a interlocução entre todos os que

estão envolvidos nesse processo”. (MORAN, 2002). Deste modo pode-se dizer que a

educação à distância atende ao que se almeja conquistar dos alunos universitários, que

discutam entre si sobre os assuntos temas de aulas e que, juntos, construam o conhecimento

da turma, que será diferentemente igual para todos os membros do grupo.

Dentro de processos de educação à distância ou semi-presenciais, é comum haver

espaços nos sites para contribuição dos alunos, para chats e conferências diversos, permitindo

que não apenas os métodos de trabalho sejam diferentes de outros tempos, o próprio conceito

de curso e aula também mudam:

Hoje, ainda entendemos por aula um espaço e um tempo determinados. Mas, esse tempo e esse espaço, cada vez mais, serão flexíveis. O professor continuará "dando aula", e enriquecerá esse processo com as possibilidades que as tecnologias interativas proporcionam: para receber e responder mensagens dos alunos, criar listas de discussão e alimentar continuamente os debates e pesquisas com textos, páginas da Internet, até mesmo fora do horário específico da aula. Há uma possibilidade cada vez mais acentuada de estarmos todos presentes em muitos tempos e espaços diferentes. Assim, tanto professores quanto alunos estarão motivados, entendendo "aula" como pesquisa e intercâmbio. Nesse processo, o papel do professor vem sendo redimensionado e cada vez mais ele se torna um supervisor, um animador, um incentivador dos alunos na instigante aventura do conhecimento (MORAN, 2002)

Professores universitários se veem na obrigação de alterar suas formas de ensino,

dando espaço às novas possibilidades de trabalho no ensino superior para atender às

necessidades de seus alunos, que precisam, quando ainda em formação, aprender educar para

uma educação do futuro, a educação do século XXI.

De agora em diante, as práticas educativas, cada vez mais, vão combinar cursos presenciais com virtuais, uma parte dos cursos presenciais será feita virtualmente, uma parte dos cursos a distância será feita de forma presencial ou virtual-presencial, ou seja, vendo-nos e ouvindo-nos, intercalando períodos de pesquisa individual com outros de pesquisa e comunicação conjunta. Alguns cursos poderemos fazê-los sozinhos, com a orientação virtual de um tutor, e em outros será importante compartilhar vivências, experiências, idéias. (MORAN, 2002)

Assim, pode-se dizer que os novos caminhos que o ensino superior vem assumindo

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nesta última década disponibiliza aos alunos atuais e futuros uma verdadeira revolução quanto

ao entendimento das formas de ensinar.

Professores não são mais sucumbidos a espaços de salas de aulas e podem auxiliar,

ao mesmo tempo em que trabalha em ensino presencial, o processo educativo de quaisquer

lugar em que esteja diante de um computador conectado à internet, lançando discussões

pertinentes aos assuntos que foram ou ainda serão tratados com os alunos na modalidade

presencial de ensino. Esta mistura, como citado por Moran, não faz parte de uma realidade

ainda inexistente, mas estão cada vez mais presentes nas faculdades e universidades, tomando

conta de todos os espaços e exigindo preparo e flexibilidade dos professores para adaptarem-

se à esta nova realidade.

As tecnologias da comunicação e informação não podem representar ameaças ao

trabalho do professor, mas uma possibilidade metodológica a mais que pode ser usada

exclusivamente isolada, ou em conjunto à presencial. Porém, de qualquer modo os alunos

precisam ter contato com tais tecnologias para realizarem suas pesquisas, acessar a

informações indicadas pelo professor.

Estas ferramentas devem ser exploradas a todo momento por professores e alunos e

estão sendo cada vez mais: é raro ver-se uma instituição de ensino superior sem um

laboratório de informática conectado à internet, ou mesmo sem midiatecas (ainda que em

construção).

O ensino superior, ainda que de modo bem acanhado diante das mudanças ocorridas

no ensino fundamental e médio, passa por esta transformação para adequar-se à sociedade e

tempo em que está inserida. Cabe aos professores buscarem por conhecerem novas

possibilidades e adequarem sua prática pedagógica a estas mudanças para não sucumbirem e

serem profissionais de qualidade.

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CONCLUSÃO

A educação no Brasil tem passado por diversas transformações através da história,

tanto quanto aos objetivos quanto no que se refere às metodologias utilizadas, ao perfil do

profissional docente. No século XXI estas mudanças estão acontecendo novamente e

precisam ser velozes, tanto quanto o fator que as impulsiona – o surgimento da Sociedade da

Informação.

Diante disso, novas versões à regulamentação das instituições de ensino, suas metas,

objetivos, propostas de trabalho, estão sendo implantadas após publicação. Estas versões

visam tornar possível que as pessoas, através da educação, se formem cidadãs autônomas,

conscientes e ativas de seu papel na sociedade, que desenvolva a si mesmo e possibilite o

crescimento do outro através de suas ações.

Para tanto, devido ao contexto social contemporâneo, a inclusão digital vem sendo

utilizada como meio de inserção do individuo na sociedade, no mercado de trabalho,

contribuindo para sua realização pessoal e melhoria em sua qualidade de vida. Entendendo

que a Sociedade da Informação é difundida principalmente pelas tecnologias da informação e

comunicação, representados principalmente pelo computador conectado, estas tecnologias

estão adentrando as dependências escolares, assumindo um papel de tecnologias educacionais,

ou seja, ferramentas a serviço da educação.

Entretanto, este processo não é fácil. Nem todos os cidadãos tem acesso, até então, a

estas tecnologias, bem como muitos professores. Ou, ainda, mesmo que se tenha acesso a elas,

é necessário que se saiba utilizar, tanto as possibilidades quanto os desafios que esta

ferramenta proporciona. Analisando este contexto, o professor de universidade encontra-se

em um dilema – é preciso saber usar esta ferramenta para si, para se formar e para preparar

seus alunos para atuarem como docentes ao fim da graduação, ao mesmo tempo, para

adequar-se à realidade social imediata.

O professor, deste modo, assume um novo papel: não é mais o detentor de todo o saber

nem atua como transmissor do conhecimento, de todas as informações – os meios de

comunicação armazenam dados e os acessam, os difundem, de maneira mais eficaz que o ser

humano. Entretanto, é sabendo a respeito do funcionamento das tecnologias e do acesso a

estas informações e orientando, com base nelas, a construção do novo conhecimento por parte

do aluno, que o professor passa a atuar.

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Contudo, levando em consideração que estes meios de comunicação estão em avanço

constante, o professor precisa estar sempre estudando de modo a dominá-los e a bem utilizá-

los, pois como no caso de qualquer ferramenta, os bons resultados dependem do bom uso de

quem as manuseia. A formação inicial do professor passa a não ser mais suficiente, ele precisa

estar aprendendo sempre para poder ensinar melhor, o que reafirma a necessidade, como

comentado no corpo do trabalho, de uma formação continuada do professor a fim de que a

educação que seu trabalho proporciona seja de qualidade.

As tecnologias de comunicação e informação inseridas em sala de aula vem sendo,

através dos tempos, alteradas, acompanhando o dinamismo, a velocidade da evolução social,

e, por ser o meio mais eficiente de se trocar informações em curtos espaços de tempo (como

os e-mails), ou mesmo em tempo real (como as mensagens instantâneas), os computadores e a

internet merecem destaque. Estas ferramentas são as parceiras mais novas e mais eficazes, no

momento, para que o aluno consiga aprender conteúdos atendendo aos novos tempos, aos

novos paradigmas educacionais.

O professor passa a orientar, a pesquisar com seus alunos, a trocar dados, a mostrar

formas de utilização, e, junto a esta forma diferente de ensinar, surge a necessidade de avaliar

de modo diferente os alunos. Apenas notas de provas ao final de cada conteúdo não condiz

com o aprendizado do mesmo, sejam por fatores psicológicos ou físicos, de quaisquer ordens,

os alunos podem ser prejudicados ao serem avaliados deste modo. O processo de ensino

aprendizagem deve ser considerado em sua totalidade, os avanços dos alunos, primando pela

sua formação.

Os novos paradigmas educacionais alteraram o quadro referente ao ensinar e ao

aprender, fez repensar o papel dos professores de modo que consigam atender as novas

exigências da sociedade do conhecimento, formando profissionais capacitados. Ao ensino

superior cabe a tarefa de bem formar estes profissionais, de todas as áreas, principalmente, às

instituições que oferecem cursos de formação de professores, pois estes formarão outros

profissionais sob estas novas perspectivas de vida, com habilidades de resolver problemas de

maneira eficaz e imediata, capaz de tomar decisões, de viver em grupo.

Retoma-se assim o princípio do trabalho que cita os quatro pilares da educação: ser,

fazer, conhecer e conviver. Não se pode formar um professor que não tenha desenvolvido

estes aspectos humanos, pois seu trabalho será marcado por relações interpessoais que visam

o desenvolvimento destas mesmas aptidões em seus alunos, habilidades fundamentais para o

convívio harmônico em uma sociedade que aprende o tempo todo.

Portanto, pode-se afirmar que o professor precisa atender a estas novas necessidades,

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rever suas práticas e principalmente seu papel, superar o paradigma tradicional e buscar

incorporar o paradigma da complexidade, que atende as necessidades do momento histórico

em que se vive. O paradigma da complexidade tem origem no próprio homem, complexo.

Suas relações e descobertas, tão complexos quanto ele, exigem mudanças de posturas, uma

prática inovadora que se conquista a partir da construção destes mesmos paradigmas.

Esta mudança de posturas, por sua vez, implicam na implementação e mesmo

transformação das universidades conforme se conhece até o momento. Já em fase de

transição, lenta na verdade, as instituições de ensino superior estão assumindo novas formas

de ensinar para terem resultados diferentes de outros tempos – os alunos não são passivos, não

são reprodutores de conhecimento: eles agem diante das situações e produzem soluções para

os problemas, e a tecnologia é uma importante aliada neste processo. Conclui-se que,

comprovadamente, a sociedade não admite mais formatos educacionais ultrapassados, que

remetem a reprodução de conteúdos e de uma mesma sociedade, que mesmo sendo educada

sob este formato, se transformou.

A escola é dinâmica tanto quanto a comunidade mundial, seu curso histórico não pode

ficar parada no tempo, e um dos maiores contribuintes para este movimento de mudanças é a

modalidade do ensino superior devido a possibilidade de pesquisa e à cientificidade da

mesma, portanto, estes aspectos não podem ser desconsiderados. A formação do professor

para que o Ensino Superior bem desempenhe seu papel diante dos novos paradigmas, é

fundamental.

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