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FORMAÇÃO DE PROFESSORES INCLUSIVOS: UMA NOVA FORMA DE EDUCAR PARA A VIDA Angélica Aparecida Spigaroli [email protected] Departamento de Educação da FCT/UNESP Rua Roberto Simonsen, 305 – Jd. Universitário, CEP: 19060-900 Presidente Prudente/SP Elisa Tomoe Moriya Schlünzen [email protected] Departamento de Matemática da FCT/UNESP Rua Roberto Simonsen, 305 – Jd. Universitário, CEP: 19060-900 Presidente Prudente/SP Resumo: A presente pesquisa cientifica teve como objetivo proporcionar e analisar a formação de uma professora de Sala Especial para utilizar as Tecnologias de Informação e Comunicação – TIC através do desenvolvimento de Projetos Pedagógicos. Assim, através de acompanhamentos semanais, buscou-se oferecer subsídios para que a docente fizesse uso dessas ferramentas para potencializar diferentes habilidades dos alunos com necessidades especiais mentais, procurando criar um ambiente de aprendizagem Construcionista, Contextualizado e Significativo – CCS e refletindo sobre sua prática pedagógica. A realização dessas atividades proporcionou que, a partir da adoção de um novo fazer pedagógico, os alunos atuassem como construtores de seu conhecimento e obtivessem subsídios para que se efetuasse sua inclusão digital e social. Palavras-Chave: Desenvolvimento de Projetos, Tecnologias de Informação e Comunicação, Formação de Professores.

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Page 1: Universidade Federal do Rio Grande do Sul - … · Web viewEstamos vivenciando um momento significativo na sociedade do conhecimento, uma vez que o constante processo de informatização

FORMAÇÃO DE PROFESSORES INCLUSIVOS: UMA NOVA FORMA DE EDUCAR PARA A VIDA

Angélica Aparecida [email protected]

Departamento de Educação da FCT/UNESPRua Roberto Simonsen, 305 – Jd. Universitário, CEP: 19060-900

Presidente Prudente/SP

Elisa Tomoe Moriya Schlü[email protected]

Departamento de Matemática da FCT/UNESPRua Roberto Simonsen, 305 – Jd. Universitário, CEP: 19060-900

Presidente Prudente/SP

Resumo: A presente pesquisa cientifica teve como objetivo proporcionar e analisar a formação de

uma professora de Sala Especial para utilizar as Tecnologias de Informação e Comunicação – TIC

através do desenvolvimento de Projetos Pedagógicos. Assim, através de acompanhamentos

semanais, buscou-se oferecer subsídios para que a docente fizesse uso dessas ferramentas para

potencializar diferentes habilidades dos alunos com necessidades especiais mentais, procurando

criar um ambiente de aprendizagem Construcionista, Contextualizado e Significativo – CCS e

refletindo sobre sua prática pedagógica. A realização dessas atividades proporcionou que, a partir da

adoção de um novo fazer pedagógico, os alunos atuassem como construtores de seu conhecimento e

obtivessem subsídios para que se efetuasse sua inclusão digital e social.

Palavras-Chave: Desenvolvimento de Projetos, Tecnologias de Informação e Comunicação, Formação de Professores.

Área Temática: Bloco III (Comunicação e Tecnologia para Todos)

IntroduçãoEstamos vivenciando um momento significativo na sociedade do conhecimento, uma vez

que o constante processo de informatização exige que as pessoas adquiram habilidades para

adaptarem-se as mudanças nela ocorridas. Nesse sentido, a busca de estratégias para tornar as TIC

mais acessíveis tem sido um grande desafio para os profissionais, sobretudo da Educação, tendo

como prioridade favorecer a Inclusão e o acesso de todas as pessoas independente de suas limitações

físicas e cognitivas. Este fato torna extremamente importante buscar uma formação dos educadores

adequada, possibilitando aos profissionais da área educacional o conhecimento de uma metodologia

que considere as habilidades dos alunos, os conceitos já construídos pelos educandos, suas

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vivências, as informações existentes em toda parte na sociedade do conhecimento e os saberes

sociais que devem ser aprendidos. Para tanto, é fundamental que gere nos educadores uma constante

reflexão sobre o seu fazer pedagógico no sentido de que adquiram uma nova postura para atender às

diversidades entre eles, poder buscar alternativas para que se promova a Inclusão Social e Digital

nas escolas brasileiras. Assim, deve-se buscar uma prática pedagógica que atenda as necessidades de

todos os educandos, contrapondo-se a discriminação e a segregação que se especializa em

determinadas dificuldades.

Considerando os seres com necessidades especiais, de acordo com Valente (1991), as

limitações que as pessoas Portadoras de Necessidades Especiais – PNE’s encontram para interagir

com o meio impedem o desenvolvimento de habilidades que formam a base do seu processo de

aprendizagem, no qual acabam agindo passivamente. Mas, para Schlünzen (2000) estas limitações

podem ser compensadas ou superadas pelas habilidades que possuem. Para a pesquisadora, as

tecnologias são ferramentas que potencializam as produções do PNE’s, possibilitando-os a

expressão de suas idéias e desejos, sendo uma grande saída para inclusão destes seres. Além disso,

Valente (2001) esclarece que as TIC são de fácil adaptação às diversas necessidades individuais, os

computadores também foram inseridos na Educação Especial, apontando que:

O computador se torna o caderno eletrônico para o deficiente físico, um meio que o surdo pode usar para estabelecer relações entre o fazer e os conceitos utilizados nestas ações, um instrumento que integra diferentes representações de um determinado conhecimento para o deficiente visual, o mediador da interação da criança autista e o mundo, um objeto de desafio para a criança deficiente mental e o recurso com o qual a criança carente pode realizar-se e participar efetivamente de atividades socioculturais significativas (VALENTE, 2001, p.29-30).

Diante do exposto, no processo de inclusão, faz-se necessário analisar as possibilidades de

uso das TIC no processo de ensino-aprendizagem.

Em relação ao uso dos computadores, Valente (2001) define que existem duas abordagens

que vem sendo adotadas, inclusive na Educação Especial. Uma delas é denominada de

Instrucionismo, onde se implementam informações no computador que são transmitidas aos alunos

por um software educacional como complementação ou reforço de atividades desenvolvidas em sala

de aula. Como conseqüência tem-se um aluno impedido de desenvolver sua autonomia e habilidades

fundamentais para a sua integração em uma sociedade globalizada devido ao caráter passivo de sua

formação. A outra abordagem, conhecida como Construcionismo, consiste no uso do computador

para auxiliar no processo de construção do conhecimento, uma vez que permite ao aluno

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desenvolver um objeto de seu interesse, tornando-se construtor ativo de sua aprendizagem.

Schlünzen (2000) defende esta abordagem afirmando que é:Contextualizada porque o tema do projeto parte do contexto da criança, desenvolvendo-se a partir da vivência dos alunos, relacionando-o com a sua realidade” e significativa porque “no desenvolvimento do projeto, os alunos irão se deparando com os conceitos das disciplinas curriculares e o professor mediará a formalização dos conceitos, para que o aluno consiga dar significado ao que está sendo aprendido... (SCHLÜNZEN, 2000, p27).

Assim, o simples uso do computador não está vinculado à mudança no paradigma

educacional existente, é preciso estar vinculado a uma metodologia adequada, para tornar-se uma

ferramenta na qual as crianças poderão produzir algo concreto expressando suas idéias,

proporcionado o sentimento de que também são capazes. Um fato que nos permite aceitar que este

equipamento pode favorecer a inclusão está pautado na afirmação de Schlünzen (2000, p 30) “o

computador pode também tornar a criança com necessidades especiais um ser ativo e controlador no

processo ensino-aprendizagem, o que significativamente auxilia no seu desenvolvimento

intelectual”.

No entanto, a pesquisadora salienta que se torna visível à necessidade de mudanças na

escola, nas práticas pedagógicas e conseqüentemente no processo de formação do professor, no

currículo, na avaliação e no papel do aluno. A utilização da Informática na Educação propõe uma

reflexão a esse respeito, de modo que o computador seja usado em uma abordagem construcionista,

o professor passe a atuar como facilitador da aprendizagem e não mais como transmissor de

informações.

Assim, a formação do professor precisa levar em conta a construção de uma prática

reflexiva, na qual pondere suas atitudes enquanto age e também sobre a ação desenvolvida, tendo

dessa maneira consciência de suas limitações e respeitando a autonomia de seus alunos. De acordo

com Nardi (2001, p. 94), o processo de formação do professor é algo contínuo, que começa com a

formação inicial e prossegue com a reelaboração de seus saberes, buscando construir na escola um

espaço de trabalho, pesquisa e formação.

Nesse sentido, buscou-se realizar um trabalho de formação em serviço da professora da

Sala Especial, com alunos que tinham como diagnóstico mais marcante o atraso mental, que recebeu

um microcomputador em sua classe, mas que não dispunha de metodologia para utiliza-lo na

construção do conhecimento de seus alunos. Dessa maneira, pretendeu-se “construir com a

professora o ‘como fazer’, baseado nas mudanças necessárias, para articular o uso do computador e

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todos os benefícios potencializadores que ele traz para a Educação Especial e para sua nova prática

pedagógica” (SCHLÜNZEN, 2000).

Atividades Desenvolvidas

O presente trabalho é a síntese das reflexões e atividades desenvolvidas no Projeto de

Pesquisa de Iniciação Científica “Formação de Professores das Salas Especiais no Desenvolvimento

de Projetos, usando as Novas Tecnologias”1 no qual, contou-se como sujeito da pesquisa a

professora de uma sala de Educação Especial de uma escola estadual da cidade de Presidente

Prudente – SP – Brasil. Esta sala conta atualmente com 8 alunos com necessidades educativas

especiais , com faixa etária entre 9 e 17 anos, a maioria no nível alfabético.

O objetivo do trabalho foi o de criar neste ambiente, condições para melhorar a abordagem

educacional até então desenvolvida, que caracterizava-se por uma prática tradicional na qual os

alunos eram meros receptores de informações. Dessa maneira, passou-se a realizar

acompanhamentos semanais na escola e no laboratório do Grupo de Pesquisa e Suporte em

Educação e Tecnologia – GPSETE, da FCT/UNESP de Presidente Prudente, no qual a professora,

no decorrer do desenvolvimento da pesquisa, passou a realizar atividades pedagógicas utilizando os

computadores disponibilizados neste local. Nessa dinâmica, através da observação e intervenção na

ação pedagógica, ou seja, em um processo de reflexão na ação e sobre a ação criaram-se condições

para que a educadora refletisse sobre sua prática, de modo que deixasse de assumir o papel de

transmissora de informações para adotar uma postura de aprendiz e de facilitadora do processo

ensino-aprendizagem.

Assim, optou-se por estratégia de trabalho o desenvolvimento de projetos pedagógicos que,

de acordo com Hernandez e Ventura (1988), possibilitam a busca de um equilíbrio entre a

flexibilidade, na qual oportunizamos a adaptação às diferenças de ritmos de aprendizagem e de

experiências de vida; e a organização (em que há hierarquia, normas, maior rigidez) que permite o

estabelecimento de critérios para administração do tempo, dos conteúdos aprendidos, entre outros.

De acordo com o autor, educar por meio de projetos implica em transpor barreiras para que as

diferenças sejam aceitas e as habilidades sejam evidenciadas, uma vez que o professor media o

1 Projeto de Pesquisa do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica PIBIC/Reitoria da Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” – UNESP – no período de outubro de 2002 a julho de 2003, na Faculdade de Ciências e Tecnologia, Campus de Presidente Prudente-SP.

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pensamento do aluno entre aquilo que ele já sabe, com os conceitos que devem ser formalizados por

meio da realização de atividades.

O trabalho com projetos começou a ser desenvolvido em 2002 e continua sendo realizado

até o presente momento. O tema gerador “A Horta: Pé no Chão” foi escolhido inicialmente pela

professora em 2002, posteriormente os alunos da sala optaram por dar continuidade ao projeto

intitulado “A Horta da Classe Especial”, em 2003. Com o desenvolvimento dos projetos, a

professora pôde adotar uma postura interdisciplinar, pois buscou a parceria de um agrônomo e de

professores de um colégio técnico agrícola para a montagem e manutenção da horta na escola. Essa

prática aponta para as afirmações de Josgrilbert (2001), nas quais compreende-se que “a

interdisciplinaridade é muito mais do que um conjunto de disciplinas, é uma libertação de modelos

pré-determinados, é saber unir a arte com a ciência, é saber usar a utilidade do tempo; é uma relação

entre pessoas...”.

Dessa maneira, buscou-se desenvolver as atividades de modo a potencializar a articulação

de conteúdos de diversas áreas do conhecimento, proporcionando aos alunos o contato com

diferentes ferramentas, formas de construir seu conhecimento, de se relacionarem e de se

expressarem.

No desenvolvimento das atividades, uma vez por semana, a professora levava os alunos à

horta para fazerem o plantio e manutenção, assim como observar o desenvolvimento das hortaliças.

Nesses momentos, surgiam questionamentos por parte dos alunos que eram levados para serem

refletidos e formalizados, na sala de aula, por meio de estudos e também de produções que eram

realizadas.

Na Figura 1 observa-se os alunos utilizando recursos pedagógicos como fita métrica para

medir os canteiros da horta, posteriormente interessaram-se também em medir a altura uns dos

outros, o que oportunizou um trabalho com conceitos matemáticos em sala de aula, utilizando o

computador para potencializar a construção de uma tabela com o aplicativo Excel, como ilustra a

Figura 2.

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Figura 1- Uso de fita métrica para medir os canteiros. Figura 2- Tabela construída pelos alunos a partir de experiências

vividas.

Através do trabalho com projetos a professora pôde também remeter seus alunos a outras

problemáticas advindas do tema gerador “Horta” e participar de outros projetos desenvolvidos pela

escola, tais como “Reciclagem” e “A Escola dos Nossos Sonhos”, nos quais pode-se trabalhar de

forma interdisciplinar, proporcionando uma aprendizagem contextualizada e significativa aos

educandos, que passaram a atuar como multiplicadores das ações realizadas. Assim, o processo de

aprendizagem efetuou-se de forma contínua, não se limitando ao ambiente escolar, pois envolveu

também a participação das famílias e da sociedade na qual eles estão inseridos. Pode-se observar

abaixo, na figura 3, um exemplo de atividade realizada com o uso do software Micromundos,

expressando um cenário sobre a conservação do meio ambiente, tema este discutido em sala de aula

e vivenciado na horta e nas casas dos alunos.

Figura 3- Trabalho conscientizando sobre a poluição ambiental.

Cabe salientar que, nesses trabalhos houve o afloramento de habilidades por parte dos

educandos. Pois, mostraram-se conscientes dos efeitos da poluição no planeta e da necessidade de

sua preservação, expressando suas idéias através de desenhos e textos, bem como de discussões em

sala de aula, partindo de acontecimentos de seu contexto e alcançando proporções maiores, tais

Altura dos alunos

0

0,5

1

1,5

2

1 3 5 7 9 11

Altura dos alunosNome AlturaDenis 1,56Everson 1,32Gabriela 1,53Johnny 1,63José Roberto 1,53Matheus 1,35Marlúcia 1,61Priscila 1,43Nayara 1,43Carlos 1,41Wesley 1,57

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como sua cidade, seu estado, seu país e o mundo em que vivem. Essa dinâmica de atividade reflete

as idéias de Leite (1996, p.27), quando afirma que “ao participar de um projeto, o aluno está

envolvido em uma experiência educativa em que o processo de construção de conhecimento está

integrado às práticas vividas”.

Confirmando a afirmação, os alunos tiveram a oportunidade de participar de um concurso

organizado por uma Ong, levando-os a serem premiados por alcançarem o segundo lugar. Assim,

tiveram também o reconhecimento da escola, que lhes prestou homenagem pela produção e

participação no evento. Tudo isso, lhes proporcionou o sentimento de que são capazes, contribuindo

para o aumento da auto-estima de cada um e superação de preconceitos e rótulos que encontram na

sociedade devido as suas necessidades especiais.

Além disso, a professora pôde trabalhar a alfabetização com os alunos, por meio de

produções textuais realizadas por eles, nas quais podiam expressar os pontos de interesse de seus

trabalhos, tanto na horta quanto no computador. A Figura 4 ilustra o relato de um dos alunos sobre

os trabalhos realizados. Dessa maneira, tanto a professora quanto a pesquisadora conheceram os

objetos de interesse dos educandos e, assim, proporcionaram atividades que permitiram que eles

atuassem conforme as suas habilidades, construindo e produzindo de acordo com o que mais se

identificavam, tornando a aprendizagem Construcionista, Contextualizada e Significativa - CCS2

(SCHLÜNZEN, 2000).

Figura 4- Produção textual dos alunos após desenvolvimento de atividades no laboratório de informática.

A riqueza de conceitos explorados com o projeto despertou o interesse de divulgar as

experiências vividas. Assim, após visitarem sites na internet que abordavam a temática da horta, foi

2 CCS – Construcionista, Contextualizado e Significativo. Construcionista porque o aluno usa o computador como uma ferramenta para produzir um produto palpável na construção do seu conhecimento e que é de seu interesse (VALENTE, 1997). Contextualizado porque o tema do projeto parte do contexto da criança, desenvolvendo-se a partir da vivência dos alunos, relacionando-o com a sua realidade. Significativo por dois motivos: primeiro, no desenvolvimento do projeto, os alunos irão se deparando com os conceitos das disciplinas curriculares e o professor mediará a formalização dos conceitos, para que o aluno consiga dar significado ao que está sendo aprendido; segundo, porque cada aluno atuará conforme as suas habilidades e o seu interesse, resolvendo o problema de acordo com aquilo que mais se identifica.

Eu fiz um trator andar em movimento. Eu fiz um castelo, uma árvore, uma flor.A menina ensinou eu entrar no filminho do furacão.A mulher ensinou o trenzinho ficar grande.Eu entrei no programa do piano.Eu troquei a roupinha da tartaruguinha por uma flor, sol, cachorro, carrinho, estrela, menininha, nuvem.Nayara

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proposto aos alunos que implementassem a construção de uma Home Page, intitulada por eles como

“Horta da Classe Especial”, na qual poderiam mostrar seu trabalho com a horta, disponibilizando

informações sobre como construir, explicando passo a passo o processo com fotos e textos,

abordando temáticas ligadas ao tema, apresentando os autores e disponibilizando contato com

possíveis interessados, como se pode observar na Figura 5.

Figura 5- Página interna demonstrando o primeiro passo de construção da horta.

Assim, visando proporcionar aos alunos a sua inclusão social e concretizar a prática de um

ambiente CCS, foi realizada a venda das hortaliças cultivadas, que foram comercializadas para a

comunidade que cerca a escola. Nessa atividade, os educandos foram instigados a fazer um

marketing das vendas, confeccionando cartazes no software Word para divulgar os preços das

hortaliças e comunicar a data para a vizinhança. Em seguida, foi efetuada a Feirinha da Classe

Especial, que oportunizou aos alunos sua saída às ruas para oferecer as hortaliças nas casas e centros

comerciais próximos. A professora os acompanhava dando-lhes a autonomia para realizar as vendas.

Deste modo, eram eles que faziam as ofertas, distribuíam e entregavam as hortaliças. Além disso,

recebiam o dinheiro e faziam os cálculos para o troco. Na Figura 6, pode-se observar os alunos

durante a venda, contribuindo para que pudessem compartilhar situações novas.

Figura 6- Venda das hortaliças à comunidade.

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Com o desenvolver de todas as atividades, os alunos puderam atribuir significado a tudo

que foi construído durante o projeto. A professora pôde aprimorar seus conhecimentos e sua prática

pedagógica com esta metodologia, potencializando as habilidades de seus educandos. Dessa

maneira, buscou-se proporcionar à professora e aos alunos da Classe Especial a vivência em um

ambiente CCS que, de acordo com Schlünzen (2000): é um ambiente favorável que desperta o interesse do aluno e o motiva a explorar, a pesquisar, a descrever, a refletir a depurar as suas idéias. É aquele cujo problema nasce de um movimento na sala de aula, no qual os alunos, junto com o professor, decidem desenvolver, com auxílio do computador, um projeto que faz parte da vivência e do contexto dos alunos (Schlünzen 2000, p. 82).

Assim, obteve-se resultados positivos tanto no aspecto da formação da professora, que

utilizou o computador como ferramenta na construção do conhecimento, quanto dos alunos, que

tiveram uma melhora significativa em sua aprendizagem e desenvolvimento.

Resultados e Considerações Finais

A realização dessa pesquisa, utilizando o trabalho com projetos pedagógicos tendo como

ferramenta potencializadora as TIC, proporcionou uma reflexão e transformação na prática

pedagógica da professora da Classe Especial. Essa mudança contribuiu para a criação de um

ambiente CCS, no qual os alunos com necessidades especiais mentais puderam desenvolver suas

habilidades e mostraram-se cidadãos capazes de agir e atender às expectativas da sociedade.

Dessa forma, ao usar as TIC, os alunos com necessidades especiais puderam desenvolver

suas produções com a qualidade estética equivalente à de alunos considerados “normais”, bem como

oportunizou um resgate da auto-estima e desmistificação da crença de que pessoas especiais não são

capazes. Além disso, a professora pôde trabalhar com os conteúdos disciplinares de forma

contextualizada e significativa, permitindo que os educandos tivessem uma aprendizagem vinculada

às práticas vivenciadas, que possibilitaram o contato dos educandos com a comunidade escolar e

local, com as quais interagiram realizando trocas de experiências, pesquisas e construção de

conhecimento.

Como resultado maior, o desenvolvimento dessas atividades contribuiu como fator

principal para que ocorra, no próximo ano letivo, a inclusão de seis dos oito alunos da classe

especial em salas regulares de ensino. Assim, conclui-se que em um processo reflexivo, usando as

TIC e como estratégia a Pedagogia de Projetos, foi possível realizar um novo fazer pedagógico,

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contribuindo a inversão do quadro de exclusão atual. Diante desse contexto, vivenciou-se a

possibilidade de que, tanto os indivíduos considerados “normais” quanto as pessoas especiais, que

são deixadas à margem por não corresponderem aos padrões pré-estabelecidos, possam atuar no

mercado de trabalho e na sociedade em geral, em uma educação de qualidade para todos.

Bibliografia

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SCHLÜNZEN, E. T. M. et al. O Desenvolvimento de Projetos e o uso do Computador no Ambiente de Aprendizagem para Crianças com Necessidades Especiais Físicas. RIBIE, Viña Del Mar, 2000, 9 p.

VALENTE, J. A. Liberando a Mente: Computadores na Educação Especial. Campinas: Gráfica da UNICAMP, 1991.

________. José Armando. “Aprendendo para a Vida: O Uso da Informática na Educação Especial”. In: VALENTE, J. A. e Freire, F. M. P. Aprendendo para a Vida: Computadores na Sala de Aula. São Paulo: Cortez, 2001.