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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE GENÉTICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR [DISSERTAÇÃO DE MESTRADO] IDENTIFICAÇÃO DE MODIFICAÇÕES PÓS- TRADUCIONAIS EM HOMÓLOGOS DE FATORES DE INICIAÇÃO DA TRADUÇÃO EM TRYPANOSOMA BRUCEI AMARANTA MUNIZ MALVEZZI RECIFE 2010

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IDENTIFICAÇÃO DE MODIFICAÇÕES PÓS-TRADUCIONAIS EM HOMÓLOGOS DE FATORES DE

INICIAÇÃO DA TRADUÇÃO EM TRYPANOSOMA BRUCEI

AMARANTA MUNIZ MALVEZZI

RECIFE 2010

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UUNNII VVEERRSSII DDAADDEE FFEEDDEERRAALL DDEE PPEERRNNAAMM BBUUCCOO CCEENNTTRROO DDEE CCII ÊÊNNCCII AASS BBII OOLL ÓÓGGII CCAASS

DDEEPPAARRTTAAMM EENNTTOO DDEE GGEENNÉÉTTII CCAA

PPRROOGGRRAAMM AA DDEE PPÓÓSS--GGRRAADDUUAAÇÇÃÃOO EEMM GGEENNÉÉTTII CCAA EE BBII OOLL OOGGII AA MM OOLL EECCUULL AARR

DDII SSSSEERRTTAAÇÇÃÃOO DDEE MM EESSTTRRAADDOO

Identificação de modificações pós-traducionais em homólogos de fatores de iniciação da tradução em Trypanosoma brucei

AMARANTA MUNIZ MALVEZZI

RECIFE 2010

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Genética e Biologia Molecular da Universidade Federal de Pernambuco como requisito para obtenção do grau de Mestre em Genética pela UFPE

Orientador: Dr. Osvaldo Pompílio de Melo Neto

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Malvezzi, Amaranta Muniz

Identificação de modificações pós-traducionai s em homólogos de fatores de iniciação da tradução em Trypanosoma brucei / Amaranta Muniz Malvezzi. – Recife: O Autor, 2010. 71 folhas : il., fig., tab.

Orientador: Osvaldo Pompílio de Melo Neto. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco. CCB.

Genética e Biologia Molecular, 2010.

Inclui bibliografia.

1. Regulação de expressão gênica 2. Genética molecular 3. Protozoário 4. Trypanossoma 5. Tripanosomíase africana I. Título.

572.865 CDD (22.ed.) UFPE/CCB-2010-129

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“A coisa mais bela que o homem pode experimentar é o mistério. É esta a emoção fundamental que está na raiz de toda ciência e arte. O homem que desconhece esse encanto, incapaz de sentir admiração e estupefação, esse já está, por assim dizer, morto e tem os olhos extintos.”

Albert Einstein

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AAooss mmeeuuss ppaaiiss..

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AAggrr aaddeecciimmeennttooss

Ao meu orientador Dr. Osvaldo Pompílio de Melo Neto, que me deu a oportunidade e

confiança para que eu pudesse realizar este trabalho. Também pela orientação e paciência no

decorrer desse tempo.

A todos os amigos da microbiologia: Bruna Caiado, Rodrigo Pontes, Éden Freire,

Christian Reis, Franklin Magalhães, Tamara Lima, Danielle Moura, Mariana Marques,

Adelino Lima, Kellyanne Carvalho, Eduardo Nunes, Diego Tavares, Janaína Nascimento e

Marília Barbosa, os quais enriqueceram meu conhecimento científico e tornaram o dia-a-dia

do laboratório mais agradável.

Aos funcionários da microbiologia Isaac Martins, Cláudio Eduardo, Silvana Santos,

Yara Nakasawa e Bruna Lima, pois é através da ajuda deles que a execução do nosso trabalho

torna-se possível.

A Drª Viviane Gouveia, ao Dr. Tercílio Calsa e a Isadora Louise pelo suporte

fornecido para a realização dos experimentos de eletroforese bidimensional.

A Deus, por permitir e me dar forças para chegar até aqui e poder alcançar meus

objetivos.

A todas minhas amigas que estão sempre do meu lado, mesmo quando estão centenas

de quilômetros distantes: Valéria Dias, Patrícia Toniolo, Mariana Palma, Deborah Ott, Rita

Muniz, Solange Vasconcelos e Debora Lopes.

Ao meu namorado Isaac Santos, pelo incentivo, apoio e carinho que sempre me deu.

Aos meus irmãos e a minha família em geral, que sempre me ajudaram quando

precisei e sempre contribuíram de alguma forma para garantir minha formação profissional.

Aos meus pais, em especial, pois nunca pouparam esforços para que eu seguisse meu

caminho e que apesar dos momentos difíceis sempre me incentivaram, apoiaram e fizeram de

tudo que estava ao alcance deles para que eu obtivesse sucesso em minha vida.

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Sumário Lista de abreviaturas............................................................................................................................ ix

LL iissttaa ddee ff iigguurr aass ..................................................................................................................................... xi

LL iissttaa ddee ttaabbeellaass .................................................................................................................................... xii

RReessuummoo................................................................................................................................................ xiii

AAbbsstt rr aacctt ............................................................................................................................................... xiv

II nntt rr oodduuççããoo.............................................................................................................................................xv

1. Revisão da literatura........................................................................................................................17

1.1 Kinetoplastídeos .......................................................................................................................... 17

1.2 Trypanosoma brucei e a tripanosomíase africana humana.......................................................... 18

1.2.1 O ciclo evolutivo do T. brucei...................................................................................... 19

1.3 Regulação da expressão gênica nos tripanossomatídeos............................................................. 21

1.3.1 Promotores, RNA polimerases e transcricão policistrônica............................................. 21

1.3.2 Controle da estabilidade e degradação dos mRNAs........................................................ 23

1.4 Síntese protéica em eucariotos .................................................................................................... 24

1.4.1 O processo da iniciação da tradução............................................................................. 24

1.4.2 Complexo eIF4F e PABP............................................................................................. 26

1.4.2.1 eIF4E.................................................................................................................. 27

1.4.2.2 eIF4G................................................................................................................... 27

1.4.2.3 eIF4A................................................................................................................... 28

1.4.2.4 PABP................................................................................................................... 29

1.4.3 Síntese protéica em tripanossomatídeos........................................................................ 29

1.5 Modificações pós-traducionais de fatores de tradução via fosforilação...................................... 30

1.5.1 Vias de sinalização que regulam a fosforilação dos fatores de iniciação da tradução......... 31

1.5.1.1 mTOR.................................................................................................................. 32

1.5.1.2 MAPK................................................................................................................. 32

1.5.1.3 Outras vias........................................................................................................... 33

1.5.2 Eventos de fosforilação nos fatores de iniciação da tradução em mamíferos.................... 33

1.5.2.1 eIF4E................................................................................................................... 33

1.5.2.2 EIF4G.................................................................................................................. 33

1.5.2.3 PABP................................................................................................................... 34

1.5.3 Eventos de fosforilação nos tripanossomatídeos ............................................................ 34

2. Objetivo geral ...................................................................................................................................36

2.1 Objetivos específicos................................................................................................................... 36

33.. MM aatteerr iiaaiiss ee mmééttooddooss..........................................................................................................................37

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3.1 Cultivo de células de T. brucei. ................................................................................................... 37

3.2 Curvas de crescimento de T. brucei na fase prociclíca................................................................ 37

3.3 Curvas de crescimento de T. brucei na fase sanguínea. .............................................................. 38

3.4 Diferenciação de T. brucei.......................................................................................................... 38

3.5 Purificação dos anticorpos por imunoadsorção........................................................................... 39

3.6 Ensaios de Western-blot. ............................................................................................................. 39

3.7 Fracionamento celular ................................................................................................................. 40

3.8 Ensaios de desfosforilação. ......................................................................................................... 40

3.9 Imunoprecipitação....................................................................................................................... 40

3.10 Purificação de fosfoproteínas .................................................................................................... 41

3.11 Eletroforese bidimensional........................................................................................................ 41

44.. RReessuull ttaaddooss .........................................................................................................................................43

4.1 Estabelecimento das curvas de crescimento de T. brucei na fase prociclíca............................... 43

4.3 Diferenciação de formas sanguíneas em formas procíclicas de T. brucei................................... 45

4.4 Análise da expressão de fatores selecionados em curvas de crescimento de T. brucei na fase prociclíca. ...................................................................................................................................... 46

4.5 Análise da expressão de fatores selecionados em curvas de crescimento de T. brucei na fase sanguínea. ...................................................................................................................................... 47

4.6 Análise do crescimento de T. brucei na forma procíclica sob indução de estresse. .................... 48

4.7 Ensaios de desfosforilação com fosfatase alcalina...................................................................... 50

4.8 Investigação da modificação pós-traducional dos fatores de iniciação através da purificação de fosfoproteínas. ............................................................................................................................... 50

4.9 Estudo das isformas dos fatores alvo através da eletroforese bidimensional. ............................. 51

4.10 Impacto das mudanças pós-traducionais na interação TbEIF4E3/ TbEIF4G4. ......................... 53

55.. DDiissccuussssããoo ...........................................................................................................................................55

66.. CCoonncclluussõõeess.........................................................................................................................................59

77.. RReeffeerr êênncciiaass bbiibbll iiooggrr ááff iiccaass................................................................................................................60

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ix

Lista de abreviaturas 4EBP’s – 4E Binding Proteins (Proteinas de ligação ao 4E)

ADP – Adenosina Difosfato

AREs – AU-rich Elements (Regiões ricas em repetições dos nucleotídeos AU)

ATP – Adenosina Trifosfato

BARP – (brucei Alanine Rich Protein)

BSF – Bloodstream form (Forma sanguine)

CaMKI – Calmodulin-dependent protein Kinase I

CCA – Citrato/Cis-Aconitato

Dcp1/Dcp2 – Decapping Protein 1e 2

DMSO – Dimetilsulfóxido

DNA – Ácido Desoxirribonucléico

DTM – Differentiating Trypanosome Medium

DTT – Ditiotreitol

ECL – Enhanced Chemioluminescence (Deteção por quimioluminescência)

eIFs – Eukariotic Initiation Factors (Fatores de Iniciação Eucarióticos)

ERK – Extracellular Signal-Regulated Kinase

GPEET – (Gly-Pro-Glu-Glu-Thr)

GTP – Guanosina Trifosfato

HAT – Human African Trypanosomiasis

Hsp70 – Heat Shock Protein 70

IEF – Isoelectric Focusing

JNK – c-Jun N terminal kinase

kDa – Kilodálton

kDNA – kinetoplast DNA (DNA do cinetoplasto)

MAPK – Mitogen-activated Protein Kinase

MAPKK – MAPK Kinase

MAPKKK – (MAPK Kinase Kinase)

MEK – Map or Erk Kinase

Met – Metionina

MKK2 – Map Kinase Kinase 2

MKs – MAPK-activated Protein Kinases

MNK1 – MAPK-Interacting Kinase 1

Mnks – MAPK-Interacting Kinases

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x

mRNA – Ácido Ribonucléico Mensageiro

Msk – Mitogen and stress-activated protein Kinase

mTOR – mammalian Target Of Rapamycin

ORF – Open Reading Frame (Sequência aberta de leitura)

Pak2 – p21-activated protein Kinase 2

PARP – Procyclic Acidic Repetitive Protein

PBS – Phosphate Buffered Saline (Solução salina tamponada com fosfato)

PCF – Procyclic form (Forma procíclica)

pH – Potencial Hidrogeniônico

PI – Ponto Isoelétrico

PIKK – Phosphoinositide-3-kinase-related Kinase

PVDF – Polyvinylidene Fluoride (Polivinilideno Fluorado)

RNA – Ácido Ribonucléico

RNA pol – RNA Polimerase

SDS-PAGE – Sodium Disulfate – Polyacrilamide Gel Eletrophoresis (Gel de poliacrilamida

em condições desnaturantes)

Ser – Serina

SFB – Soro Fetal Bovino

SL – Sequência Spliced Leader ou mini-éxon

Tbpgt – Trypanosoma brucei Putative Glucose Transporter

TBS – Tris buffered Saline (Solução salina tamponada com TRIS)

TCA – Ácido Tricloroacético

Thr – Treonina

tRNA – Ácido Ribonucléico Transportador

tRNAi – tRNA Iniciador

Tyr – Tirosina

uORFs – upstream Open Reading Frames

UTR – Untranslated Region (Região não traduzível)

VSG – Variant surface Glycoprotein (Glicoproteína Variante de Superfície)

W – Triptofano

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xi

LL iissttaa ddee ff iigguurr aass Figura 1. Mapa da África ilustrando o status epidemiológico de países considerados endêmicos para a doença do sono . .......................................................................................... 18

Figura 2. Fotomicrografia mostrando a presença do Trypanosoma brucei no sangue ........... 19

Figura 3. Diagrama esquemático do ciclo de vida do Trypanosoma brucei.. .......................... 20

Figura 4. Processamento de mRNAs nos tripanossomatídeos. ................................................ 22

Figura 5. Representação esquemática da iniciação da tradução............................................... 26

Figura 6. O eIF4GI humano e seus domínios de ligação para outras proteínas........................28

Figura 7. Mecanismo de atuação das proteínas quinases. ........................................................ 31

Figura 8. Curva de crescimento de T. brucei na fase procíclica. ............................................. 44

Figura 9. Curvas de crescimento de T. brucei na fase sanguínea............................................. 45

Figura 10. Análise da expressão de fatores selecionados em curvas de crescimento de T. brucei na fase prociclíca.. ......................................................................................................... 47

Figura 11. Análise da expressão de fatores selecionados em curvas de crescimento de T. brucei na fase sanguínea. ......................................................................................................... 48

Figura 12. Comparação do perfil de expressão dos homólogos EIF4E3, EIF4E4 e TbEIF4G4 em curvas de crescimento realizadas na presença e na ausência de SFB. ............................... 49

Figura 13. Ensaio de desfosforilação.. ..................................................................................... 50

Figura 14. Purificação de fosfoproteínas.................................................................................. 51

Figura 15. Eletroforese bidimensional. .................................................................................... 53

Figura 16. Imunoprecipitação do TbEIF4E3............................................................................ 54

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xii

LL iissttaa ddee ttaabbeellaass

Tabela 1. Número de quinases e fosfatases que constituem o quinoma e fosfatoma em T. brucei, T. cruzi e L. major........................................................................................................ 35

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xiii

RReessuummoo

O Trypanosoma brucei é um protozoário unicelular causador da doença do sono em humanos,

e cujo ciclo de vida se alterna entre dois hospedeiros, sendo a forma procílica encontrada em

insetos vetores e a forma sanguínea em mamíferos suscetíveis. Nesse parasita a regulação da

expressão gênica ocorre basicamente em nível pós-transcricional e a biossíntese de proteínas,

principalmente na etapa denominada iniciação da tradução, é um ponto potencialmente crítico

dessa regulação. Análises genômicas identificaram um número consideravelmente grande de

proteínas quinases, o que levou a especulação de que a fosforilação de proteínas, dentre as

modificações pós-traducionais, também seja um mecanismo chave para eventos dessa

regulação. Em eucariotos, o complexo eIF4F (formado pelas subunidades eIF4A, eIF4E e

eIF4G), auxiliado pela proteína de ligação ao poli-A (PABP), atua na iniciação da tradução e

tem sua atividade regulada por modificações como fosforilação. Este trabalho buscou analisar

a expressão de homólogos selecionados de eIF4E, eIF4G e PABP de T. brucei (TbEIF4E1,

TbEIF4E3 e 4, TbEIF4G4 e 5) e investigar a ocorrência de modificações pós-traducionais que

possam estar associadas ao controle da sua função. Primeiro, curvas de crescimento foram

geradas e extratos protéicos produzidos a partir de células derivadas de pontos selecionados

destas curvas. Foi possível observar que todas as proteínas selecionadas eram expressas ao

longo das curvas em ambas as formas do ciclo de vida do parasita, porém com padrões de

expressão distintos. Os TbEIF4E1 e 3 são as proteínas menos e mais expressas,

respectivamente, em ambas as formas procíclica e sanguínea. Os TbEIF4E3 e 4 e o TbEIF4G4

foram representados por mais de uma isoforma, ao contrário dos demais fatores estudados, e

observou-se que as três proteínas eram encontradas sob formas fosforiladas. Através da

eletroforese bidimensional foi possível visualizar que TbPABP1, TbEIF4E3 e TbEIF4E4

possuem 2, 5 e 4 isoformas, respectivamente, enquanto o TbEIF4AI, não fosforilado, possui

apenas uma. Adicionalmente, foi demonstrado que a fosforilação do TbEIF4G4 não impede

sua a interação com o TbEIF4E3. Esses resultados indicam que a fosforilação é um

mecanismo que parece possuir um papel predominante na regulação da função dos fatores

estudados.

Palavras-chave: tripanossomatídeos, eIF4E, fosforilação.

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xiv

AAbbssttrr aacctt Trypanosoma brucei is a unicellular protozoan which in humans causes the sleeping sickness

and whose life cycle alternates between two hosts, its procyclic form being found in insect

vectors and its bloodstream form in susceptible mammals. Regulation of gene expression in

this parasite occurs primarily at the post-transcriptional level and protein synthesis, mainly its

initiation stage, is a potentially critical point of regulation. Genomic analysis identified a

considerably large number of protein kinases, leading to speculation that protein

phosphorylation, among the post-translational modifications, may also be a key mechanism

for such regulation events. In eukaryotes, the eIF4F complex (formed by subunits eIF4A,

eIF4E and eIF4G), assisted by the poly(A)-binding protein (PABP), works in translation

initiation and has its activity regulated by modifications such as phosphorylation. This study

sought to analyze the expression of selected eIF4E, eIF4G and PABP homologues in T. brucei

(TbEIF4E1, TbEIF4E3 and 4 TbEIF4G4 and 5) and to investigate the occurrence of post-

translational modifications which may be associated with control of their function. First,

growth curves were generated and protein extracts made from cells derived from selected time

points. All the chosen proteins were observed to be expressed throughout the curves in both

forms of the parasite’s life cycle, but with distinct expression patterns. TbEIF4E1 and 3 are

the least expressed and the most expressed proteins, respectively, in both procyclic and

bloodstream forms. TbEIF4E3 and 4 and TbEIF4G4 were represented by more than one

isoform, unlike the other proteins studied, and the three proteins were found in

phosphorylated forms. Through two-dimentional electrophoresis it was possible to visualize 2,

5 and 4 isoforms for TbPABP1, TbEIF4E3 and TbEIF4E4, respectively, whilst only one non-

phosphorylated isoform was observed for the TbEIF4AI. In addition, it was shown that

phosphorylation of TbEIF4G4 does not prevent its interaction with TbEIF4E3. These results

indicate that phosphorylation is a mechanism that may have a predominant role in regulating

the function of the translation factors studied.

Keywords: trypanosomatids, eIF4E, phosphorylation.

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xv

II nnttrr oodduuççããoo

O Trypanosoma brucei, protozoário unicelular e patógeno responsável pela doença do

sono, é uma das espécies mais conhecidas de tripanosomatídeos, organismos que se destacam

por possuir uma série de particularidades nos seus processos biológicos que os distinguem dos

demais eucariotos. Nesses organismos, diferentes linhas de evidências indicam a biossíntese

de proteínas, ou tradução, como um ponto crítico de regulação da expressão gênica, embora

pouco se conheça em detalhes sobre este processo. Em outros eucariotos a etapa de iniciação

da tradução é a etapa mais complexa do processo e aquela mais sujeita a mecanismos de

regulação. Nessa etapa participa um número elevado de fatores de iniciação da tradução (eIFs

de eukaryotic initiation factors), dentre os quais o complexo eIF4F e a proteína de ligação ao

poli-A (PABP), que atuam no reconhecimento do mRNA e facilitam o recrutamento do

ribossomo para iniciar a síntese de proteínas, propriamente. O complexo eIF4F é formado por

três subunidades: eIF4E, a proteína de ligação ao cap, que reconhece o mRNA na sua

extremidade 5’; eIF4A, uma RNA helicase; e eIF4G, a proteína que estrutura o complexo e

media sua interação com parceiros funcionais, como a PABP. Em estudos prévios foram

identificados seis homólogos de eIF4E, cinco de eIF4G e dois de PABP conservados em

diferentes espécies de tripanosomatídeos. Esta multiplicidade de homólogos para estes fatores

constitui um fato inédito para organismos unicelulares e sugere uma maior complexidade na

sua etapa de iniciação da tradução.

Em estudos prévios, os homólogos de eIF4E, eIF4G e PABP de Leishmania major

tiveram seus genes clonados, expressos em Escherichia coli e utilizados para a produção de

soro policlonal. Estes soros foram utilizados para se analisar a expressão de homólogos

selecionados em amostras representativas das fases do ciclo de vida de espécies de

Leishmania. Nestes ensaios foi observado, para vários homólogos, um padrão de migração em

gel compatível com a existência de isoformas originárias de modificações pós-traducionais,

possivelmente fosforilação. Além disso, para um mesmo homólogo, a expressão de isoformas

distintas se mostrou variável de acordo com as fases de crescimento do parasita, sugerindo

que modificações pós-traducionais poderiam modular sua atividade em resposta às condições

ambientais.

Tendo como referência os resultados obtidos a partir de espécies de Leishmania o

presente trabalho fez uso de soros disponíveis contra os homólogos de eIF4E e eIF4G de T.

brucei, para identificar modificações pós-traducionais e suas implicações na regulação da

síntese protéica. Inicialmente foi analisada a expressão de cada um desses homólogos de

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xvi

forma a definir quais são representados por isoformas com padrões diferenciados de

expressão ao longo do cultivo destes organismos. Homólogos selecionados foram então

testados quanto a sua modificação por fosforilação por meio de ensaios de desfosforilação

utilizando fosfatase alcalina e também através de experimentos de purificação de

fosfoproteínas. Em seguida foram correlacionados padrões de modificação de fatores de

tradução com o perfil de migração de isoformas selecionadas em gel bi-dimensional. Os

experimentos executados devem levar a um maior conhecimento tanto do processo de síntese

de proteínas como também dos mecanismos pós-traducionais de regulação da expressão

gênica nos tripanosomatídeos.

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17

1. Revisão da literatura

1.1 Kinetoplastídeos

Os kinetoplastídeos são um grupo notável de protistas. Eles abrangem uma enorme

variedade de espécies de vida livre e de patógenos que parasitam invertebrados, vertebrados e

até mesmo plantas (Simpson et al., 2006). Esses protozoários flagelados se distinguem por

conter uma organela chamada cinetoplasto, o qual é composto por uma rede de moléculas de

DNA circulares (kDNA) e localiza-se dentro de uma grande mitocôndria que contém

numerosas cópias do genoma mitocondrial (Hellemond et al., 2005). Do ponto de vista de sua

biologia celular, os diferentes kinetoplastídeos são todos protozoários móveis com um único

flagelo que se origina próximo a sua única e grande mitocôndria e do qual emana uma “bolsa”

da membrana celular, onde a endocitose ocorre; seus peroxissomos são modificados para

realizar glicólise e são então conhecidos como glicossomos; sua membrana celular é revestida

de moléculas espécie-específicas, as quais são críticas para sua sobrevivência; são tipicamente

assexuados e se dividem por fissão binária (Stuart et al., 2008). Apesar das similaridades

existentes, as doenças causadas por suas formas patogênicas são bem distintas.

Dentro da ordem Kinetoplastida se destacam as espécies da família Trypanosomatidae,

tendo em vista àquelas causadoras de doenças em humano, tais como a doença do sono, a

doença de Chagas e as leishmanioses, causadas por espécies dos gêneros Trypanosoma e

Leishmania, que matam e debilitam milhares de pessoas em todo o mundo (Simpson et al.,

2006) e que fazem parte do grupo de doenças conhecido como “doenças negligenciadas”

(Kennedy, 2008). Esses patógenos humanos possuem devastadoras consequências para a

saúde e a economia (Simarro et al., 2008; Stuart et al., 2008) e apresentam um complexo ciclo

de infecção que implica em vários estágios de desenvolvimento, envolvendo um hospedeiro

invertebrado e outro vertebrado.

Cerca de 500 milhões de pessoas, localizadas primariamente em áreas tropicais e

subtropicais do mundo, estão em risco de se infectar com kinetoplastídeos patogênicos, e é

estimado que mais de 20 milhões de indivíduos estejam de fato infectados, resultando em

intenso sofrimento e mais de 100.000 mortes por ano (Stuart et al., 2008). Apesar dessas

doenças matarem milhares de pessoas em regiões tropicais subdesenvolvidas, o tratamento

disponível para elas é geralmente inadequado, e os governos e a indústria farmacêutica até

recentemente têm demonstrado pouco interesse em desenvolver novas drogas para seu

tratamento (Kennedy, 2008).

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18

1.2 Trypanosoma brucei e a tripanosomíase africana humana

A tripanosomíase africana humana (HAT- Human African Trypanosomiasis), também

conhecida como doença do sono, é uma das maiores ameaças à saúde de 60 milhões de

pessoas em 36 países na África Subsaariana e é considerada a terceira mais importante doença

parasitária que afeta a saúde humana, depois da malária e esquistossomose (Kennedy, 2008).

A espécie do Trypanosoma brucei, agente causador desta enfermidade, pode ser

subdividida em três subespécies, sendo que duas causam tripanossomíase africana humana.

Na África central e ocidental, T. b. gambiense causa uma forma crônica da doença do sono e

nas regiões do sul e leste africano, T. b. rhodesiense causa uma forma aguda da doença

(Figura 1) (Kennedy, 2008; Simarro et al., 2008).

Figura 1. Mapa da África ilustrando o status epidemiológico de países considerados endêmicos para a doença do sono (Simarro et al., 2008).

Todos os organismos do grupo T. brucei são transmitidos pela mosca tsé-tsé do gênero

Glossina (ordem Diptera), as quais são encontradas exclusivamente na África (Simarro et al.,

2008). Os parasitas se disseminam na corrente sanguínea do hospedeiro uma a três semanas

depois da picada inicial, e invadem os linfonodos e órgãos sistêmicos incluindo o fígado,

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19

baço, coração, sistema endócrino e olhos determinando o estágio 1, ou estágio hemolinfático

da doença (Figura 2). Se não tratada, dentro de poucas semanas no caso de infecção causada

por T. b. rhodesiense, ou muitos meses no caso de infecção por T. b. gambiense, os parasitas

atravessam a barreira hematoencefálica e entram no sistema nervoso central, dando início ao

estágio 2, ou estágio encefálico da doença (Barrett et al., 2003; Kennedy, 2008; Stuart et al.,

2008).

Figura 2. Fotomicrografia mostrando a presença do Trypanosoma brucei no sangue (Kennedy, 2008).

O tratamento atual para HAT conta com cinco drogas disponíveis, e todas apresentam

efeitos adversos, problemas de eficácia e administração. Suramina e pentamidina são

utilizadas para tratar o primeiro estágio da doença causado por infecção com T. b. rhodesiense

e T. b. gambiense, respectivamente. Melarsoprol é efetivo contra o segundo estágio da doença

causado por T. b. rhodesiense e T. b. gambiense e eflornitina é apenas ativa para o segundo

estágio da infecção causada por T. b. gambiense. Uma combinação de melarsoprol e

nifurtimox tem se mostrado eficiente nos casos de tratamento do segundo estágio que são

refratários ao tratamento apenas com melarsoprol (Barret et al., 2003; Kennedy, 2008; Stuart

et al., 2008).

1.2.1 O ciclo evolutivo do T. brucei

A infecção do T. brucei no hospedeiro mamífero é iniciada quando formas

metacíclicas são inoculadas pela picada de uma mosca tsé-tsé infectada. Estas se desenvolvem

em formas sanguíneas do tipo alongadas, que se multiplicam no sangue para estabelecer a

infecção. À medida que o seu número aumenta, um fator derivado do parasita promove parada

da divisão celular e a geração de formas mais curtas e espessas. Uma vez que essas células

são ingeridas pelas moscas tsé-tsé elas se transformam em formas procíclicas (Fenn e

Matthews, 2007). Esse processo de diferenciação de formas sanguíneas em formas procíclicas

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20

também pode ser reproduzido in vitro mediante a redução da temperatura e exposição dos

parasitas a citrato/cis-aconitato (CCA) (Czichos et al., 1986). Outros fatores também podem

atuar estimulando a diferenciação, como a exposição da superfície dos parasitas a tratamento

com protease (Sbicego et al., 1999) e submissão dos parasitas a condições de estresse como a

redução do pH (Figura 3) (Rolin et al., 1998).

As formas procíclicas se desenvolvem inicialmente como formas iniciais, e que

expressam como proteínas de superfície prociclinas do tipo GPEET (Gly-Pro-Glu-Glu-Thr),

mas à medida que se transformam nas formas procíclicas tardias os níveis dessa expressão são

reduzidos. Através de uma divisão assimétrica essas células originam uma forma longa e uma

forma curta, sendo esta última capaz de aderir nas glândulas salivárias e se transformar em

formas epimastigotas proliferativas, as quais expressam na superfície BARP (brucei Alanine

Rich Protein). Eventualmente células epimastigotas sofrem maturação gerando formas

metacíclicas, que expressam VSG (Variant Surface Glycoprotein – Glicoproteínas Variantes

de Superfície) e estão prontas para serem transmitidas para um novo hospedeiro mamífero

(Fenn e Matthews, 2007).

Figura 3. Diagrama esquemático do ciclo de vida do Trypanosoma brucei. O parasita Trypanosoma brucei apresenta diferentes formas celulares durante a transição entre o hospedeiro vertebrado e invertebrado. Meta= metacíclico (metacyclic); SL= sanguineo alongado (bloodstream slender); SIF= fator de indução de formas curtas (stumpy induction factor); ST= formas curtas (stumpy forms); PC= formas procíclicas (procyclic forms); PV= formas proventriculares (proventricular forms); Epi= formas epimastigotas (epimastigote forms) (Fenn e Matthews, 2007).

Assim, durante todo o seu ciclo de vida, o T. brucei se alterna de uma maneira bem

regulada entre células proliferativas e células em diferenciação. Esses eventos ocorrem em

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resposta aos diferentes ambientes dos hospedeiros e envolvem coordenadas cascatas de vias

de sinalização e um preciso controle da expressão gênica.

1.3 Regulação da expressão gênica nos tripanossomatídeos

A regulação da expressão gênica é um processo central que define o fenótipo de uma

célula ou organismo. Na grande maioria dos casos, esse processo é controlado através de

regulação da transcrição, no qual sequências do DNA juntamente com proteínas de ligação ao

DNA direcionam a transcrição de genes codificadores de proteínas pela RNA polimerase

(RNA pol) II. Os tripanosomatídeos se destacam entre os demais eucariotos, e mesmo em

comparação com procariotos, uma vez que os únicos genes codificantes de proteínas

regulados em nível transcricional são aqueles que codificam as proteínas de superfície

prociclinas e VSGs. Estes genes, contudo, são transcritos pela RNA Pol I, que é usada

exclusivamente para a transcrição de DNA ribossomal em outros organismos (Clayton e

Shapira, 2007; Bayele, 2009). A forma de regulação mais comum de seus transcritos maduros,

sintetizados e processados de forma única, como descrita a seguir, parece ocorrer ao nível

pós-transcricional. Exemplos desse tipo de regulação nos tripanosomatídeos já foram

observados controlando a estabilidade e/ou degradação de mRNAs específicos. Múltiplas

evidências, entretanto, apontam para um componente importante de controle da tradução dos

mRNAs, na síntese protéica, na regulação da sua expressão gênica. Da mesma forma o

controle da atividade de proteínas, via modificações pós-traducionais, também parece exercer

um papel relevante nessa regulação nestes organismos (Clayton e Shapira, 2007).

1.3.1 Promotores, RNA polimerases e transcricão policistrônica

O genoma do T. brucei contém aproximadamente 8.000 genes que são transcritos

principalmente de forma policistrônica pela RNA polimerase II e essa transcrição se inicia em

poucos sítios do genoma (Berriman et al., 2005). Poucos promotores para a RNA pol II foram

identificados até o momento, mas nenhum deles tem as características de um promotor típico

tais como as caixas TATA e CCAAT. Estes promotores incluem os genes do spliced leader

(SL), actina, heat shock protein 70 (HSP70), PARP (Procyclic Acidic Repetitive Protein) e

VSG (Clayton et al., 1990; Zomerdijk et al., 1990; Ben Amar et al., 1991; Sherman et al.,

1991; Brown et al., 1992; Lee, 1996; Lee e van der Ploeg, 1997; Wilson et al., 1999; Gilinger

and Bellofatto, 2001). Recentemente foi caracterizado um putativo promotor do gene Tbpgt

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(Trypanosoma brucei Putative Glucose Transporter) que é transcrito pela RNA pol II e que

possui as caixas TATA e CCAAT e um elemento iniciador, evidenciando que a maquinaria de

transcrição presente nos eucariotos pode ser conservada nos tripanossomatídeos com uma

estrutura do promotor similar à de leveduras. Este estudo foi a primeira descrição de um

promotor que possui elementos canônicos para a pol II dentro do grupo dos kinetoplastídeos

(Bayele, 2009).

Diferentemente dos óperons bacterianos, a maioria dos genes em uma unidade

policitrônica nos kinetoplastídeos, não são funcionalmente relacionados. Esses policistrons

formam mRNAs monocistrônicos maduros através do mecanismo de processamento em

trans-splicing, que é um processo similar ao cis-splicing, mas que ocorre entre dois RNAs

precursores transcritos em diferentes locais do genoma (Palenchar e Bellofatto, 2006; Clayton

e Shapira, 2007; Jäger et al., 2007). Durante o trans-splicing uma sequência de 39

nucleotídeos, denominada spliced leader e ligada ao cap típico dos tripanossomatídeos, é

adicionada na região 5’ do mRNA. Nos tripanosomatideos o cap é modificado por sete

metilações, composta de 2’-O-metilações na ribose dos primeiros quatro nucleotídeos

(AACU), com metilações adicionais sobre as bases do primeiro (m6,6A) e do quarto (m3U)

nucleotídeos, formando a estrutura altamente complexa m7guanosina(5’)ppp-N6,N6,2-O-tri-

metil-adenosina-p-2-O-metiladenosina-p-2-O-metil-citosina-p-3,2-O-di-metil-uridina, que foi

denominada de cap4 (Bangs et al., 1992; Mittra et al., 2008). O sítio aceptor para o

processamento no pré-mRNA é o dinucleotídeo AG quando localizado imediatamente após

uma região rica em pirimidinas. Esse processo acontece interligado à poliadenilacão dos

RNAs na sua regiao 3’, levando a formação dos mRNAs monocistrônicos maduros prontos

para serem traduzidos. O sítio de poliadenilação é localizado cerca de 100-300 nucleotídeos

acima do sinal de trans-splicing, dessa forma, esta região serve tanto de sinal para a

poliadenilação do cistron (gene) anterior, como para a adição da sequência SL no cistron

posterior (Figura 4) (Liang et al., 2003; Clayton e Shapira, 2007).

Figura 4. Processamento de mRNAs nos tripanossomatídeos. Um mesmo trato de polipirimidinas (Py) serve com sinal de trans-splicing para o mRNA contendo a ORF2 (Open Reading Frame-Sequência aberta de leitura), e de sinal de poliadenilação para o mRNA contendo a ORF1 (Benz et al., 2005).

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Estudos também demonstraram que a omissão do evento de splicing em determinados

sítios também pode ser parte dos mecanismos pós-transcricionais que regulam a expressão

gênica nos tripanosomatídeos, através da geração de moléculas de RNAs prematuras não-

traduzíveis. Esses RNAs intermediários são formados no núcleo e então exportados para o

citoplasma. Dependendo das necessidades da célula, eventualmente esses RNAs podem ser

reimportados para o núcleo para serem processados em monocistrons, gerando mRNAs que

podem ser traduzidos (Jäger, 2007).

1.3.2 Controle da estabilidade e degradação dos mRNAs

Os níveis de mRNAs em células eucarióticas são regulados em parte via controle de

sua estabilidade (Mitchell e Tollervey, 2001; Wilusz et al., 2001). O tempo de meia-vida de

cada mRNA pode ser alterado em resposta a vários sinais internos e externos. Esses sinais são

capazes de modificar a expressão gênica através da regulação das vias de turnover do RNA. O

processo que regula a estabilidade dos mRNAs é mediado por uma complexa rede de

interações entre proteínas e entre proteínas e RNAs. Para que essas interações ocorram são

fundamentais a presença do cap e da cauda poli(A) dos mRNAs. A remoção dessas estruturas

leva a uma instabilidade dos mRNAs e ao turnover da molécula de RNA (Milone et al.,

2002).

Processos envolvidos no controle da estabilidade e na degradação do mRNA, como a

desadenilação e a remoção do cap (decapping), parecem ocorrer também nos mRNAs dos

tripanossomatídeos. A desadenilação, processo em que enzimas conhecidas como

desadenilases promovem a redução e/ou eliminação da cauda poli-A, já foi demonstrada em

extratos de trypanosomas e ocorre durante a degradação de mRNAs in vivo (Haile et al.,

2003; Li et al., 2006). A atividade de deccaping foi verificada em extratos de Leptomonas

seymouri, onde foi observado que as enzimas responsáveis pela remoção do cap são

funcionalmente equivalentes às enzimas de levedura Dcp1/Dcp2 (decapping protein 1e 2)

(Milone et al., 2002).

Em mamíferos, as regiões 3’ UTRs (Untranslated Region - Região não traduzível)

contêm sequências envolvidas no controle da meia-vida dos transcritos e na modulação da

eficiência da tradução. Em particular, sequência ricas em nucleotídeos AU (AU-rich elements

– AREs) são capazes de ligar motivos de reconhecimento do RNA, os quais modificam a

meia-vida dos RNAs (Barreau et al., 2005). Sequências similares às AREs de mamíferos

estão presentes em vários mRNAs regulados nos kinetoplastídeos (D'Orso e Frasch, 2001;

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24

Quijada et al., 2002) e alguns motivos de ligação a sequências desse tipo já foram

identificados no genoma dos tripanossomatídeos (De Gaudenzi et al., 2005).

1.4 Síntese protéica em eucariotos

A expressão gênica é regulada em múltiplos estágios, incluindo a tradução de mRNAs

em proteínas. Comparado com a regulação transcricional, o controle traducional de RNAs

existentes permite mudanças mais rápidas na concentração de proteínas específicas,

facilitando a manutenção da homeostase celular (Sonenberg e Hinnebusch, 2009).

O processo de tradução pode ser dividido em iniciação, elongação, terminação e

reciclagem dos ribossomos (Acker e Lorsch, 2008; Sonenberg e Hinnebusch, 2009). Enquanto

as fases de elongação e terminação envolvem a atuação de um grupo limitado de fatores, a

etapa da iniciação da tradução em eucariotos é um evento complexo que é assistido por mais

de 25 polipetídeos (Gebauer e Hentze, 2004). Assim essa etapa, que se encerra com a

identificação do códon AUG inicial da sequência codificadora e com a montagem do

ribossomo sobre o mesmo, é a mais sujeita a eventos regulatórios.

1.4.1 O processo da iniciação da tradução

A iniciação da tradução é o conjunto de eventos que conduz a formação do ribossomo

80S no mRNA, no qual o códon AUG é pareado com o anticódon do Met-tRNAi (tRNA

codificante da metionina inicial) no sítio peptidil (P) do ribossomo. O códon AUG de

iniciação da tradução é geralmente identificado pelo processo de rastreamento (scanning), no

qual a subunidade menor ribossomal mais o Met-tRNAi, formando um complexo de pré-

iniciação, se liga ao mRNA na região 5’ e se desloca ao longo da 5’UTR até encontrar um

códon AUG no contexto correto. Consequentemente, estruturas no RNA que impedem a

habilidade dos ribossomos em interagir com a 5’UTR, bloqueando o deslocamento dos

ribossomos, reduzem a eficiência da iniciação (Besse e Ephrussi, 2008; Sonenberg e

Hinnebusch, 2009).

O mRNA é ativado para a ligação do complexo de pré-iniciação através de fatores de

iniciação eucarióticos (eIFs – Eukariotic Initiation Factors), os quais reconhecem a estrutura

cap (7-metil-Guanosina) na região 5’ do mRNA ou a cauda poli(A), na sua região 3’, com a

ajuda da proteína de ligação a cauda poli-A (PABP) (von der Haar et al., 2004) (Figura 5).

Esse processo de ativação pode ser abolido através da inativação dos eIFs, reduzindo a

tradução da maioria dos mRNAs em condições de estresse e privação (Pestova et al., 2007;

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Sonenberg e Hinnebusch, 2009). O complexo de pré-iniciação 43S contendo o Met-tRNAi e

os eIFs 1, 1A, 2, 3, 5 e mais a subunidade menor ribosomal é recrutado para o cap do mRNA,

sendo esse processo facilitado pela proteína de ligação ao cap eIF4E e seus parceiros, eIF4G e

eIF4A, dentro do fator heterotrímerico eIF4F. Esse complexo desloca-se no sentido 5’-3’pela

região 5’ não-traduzida do mRNA (5’-UTR), inspecionando sucessivas trincas, à medida que

elas entram no sítio P, por complementaridade com o anticódon do Met-tRNAi (von der Haar

et al., 2004; Pestova et al., 2007). O Met-tRNAi é ancorado ao complex 43S através do eIF2-

GTP, e no momento em que acontece um pareamento correto com o códon AUG ocorre a

parada do processo de rastreamento e uma hidrólise irreversível do GTP no complexo ternário

eIF2-GTP/Met-tRNAi (Gebauer e Hentze, 2004; Kapp e Lorsch, 2004; Besse e Ephrussi,

2008). Nessa etapa o eIF1 atua regulando a seleção do códon AUG correto e o fator eIF5

estimula a hidrólise do GTP ligado ao eIF2. Esta hidrólise promove a liberação dos fatores

ligados à subunidade 40S e sua associação à subunidade 60S, o que reconstitui o ribossomo

80S e o torna apto a aceitar o segundo aminoacil-tRNA no seu sítio A (aminoacil), de acordo

com a sequência do segundo anticódon, e realizar a primeira ligação peptídica (Sonenberg e

Hinnebusch, 2009). A fase de elongação da tradução que se segue é caracterizada pela adição

de aminoácidos no peptídeo crescente e pela translocação dos ribossomos ao longo do mRNA.

Finalmente, a terminação da tradução é associada com a liberação do peptídeo sintetizado e

pela dissociação das subunidades 60S e 40S do ribossomo que são recicladas para novo ciclo

de tradução (Kapp e Lorsch, 2004; Acker e Lorsch, 2008; Besse e Ephrussi, 2008).

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26

Figura 5. Representação esquemática da iniciação da tradução. A iniciação da tradução requer a associação do complexo eIF4F (que consiste do fator eIF4E, eIF4A e eIF4G) e da PABP com o cap na região 5’ do mRNA e com sua cauda poli-A. O fator eIF2 liga o Met-tRNAi à subunidade ribossomal 40S. O fator eIF3 é um complexo multimérico e interage com o eIF4G, o qual atua como um adaptador para o recrutamento do mRNA, e contém sítios para a ligação do eIF4E, PABP, eIF4A e para a quinase do eIF4E MNK1. Os fatores eIF1, eIF1A, eIF2, eIF3, eIF5 se ligam à subunidade 40S durante determinados momentos da iniciação da tradução. As proteínas 4E-BPs (4E Binding Proteins - Proteínas de ligação ao 4E) competem com o eIF4G pela ligação com o eIF4E. De maneira a favorecer a tradução cap-dependente, a fosforilação do 4E-BP, através da via mTOR (Mammalian Target of Rapamycin), enfraquece a ligação com o eIF4E, o qual passa a se ligar ao eIF4G promovendo a tradução.

1.4.2 Complexo eIF4F e PABP

Como foi visto, os fatores de iniciação do complexo eIF4F, auxiliados por outros

fatores da tradução, permitem o reconhecimento do mRNA pela subunidade ribossomal 40S e

o início do processo da tradução. O eIF4F é composto por três polipeptídeos: (1) eIF4A, uma

RNA helicase ATP-dependente que remove as estruturas secundárias ao longo da 5’UTR do

mRNA, permitindo o recrutamento da subunidade ribossomal 40S e seu deslocamento até o

códon de inciação da tradução; (2) eIF4E, responsável pelo reconhecimento específico do cap

na extremidade 5’ do mRNA e (3) eIF4G, proteína que possui sítios de ligação para o eIF4E,

eIF4A, PABP e eIF3. Desta forma, o eIF4F interage tanto com o cap (através do eIF4E)

quanto com o eIF3 associado a subunidade 40S ribosomal (através do eIF4G), o que permite a

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ligação entre o mRNA e o ribossomo (Figura 5) (Gingras et al., 1999; Sonenberg e Dever,

2003; Brook et al., 2009).

1.4.2.1 eIF4E

O fator eIF4E é uma proteína de 25 KDa responsável pelo reconhecimento do cap,

sendo essencial na tradução cap-dependente. A maioria dos eucariotos expressa múltiplos

membros da família eIF4E. Este fator apresenta a forma de mão em concha, sendo a parte

côncava responsável pelo reconhecimento e ligação ao cap e a parte convexa interage com o

eIF4G. O reconhecimento específico do cap acontece através de interações entre a guanosina

metilada e os anéis aromáticos de dois triptofanos conservados (W56 e W102 em

camundongo). Uma estabilização adicional é mediada pelo radical metil do cap, o qual

introduz cargas positivas nessa estrutura aumentando a estabilidade do empacotamento

(Marcotrigiano et al., 1997; Gingras et al., 1999; von der Haar et al., 2004). Além de atuar no

processo de iniciação da tradução o eIF4E também atua no controle da estabilidade e no

processo de exportação nuclear de alguns mRNAs (von der Haar et al., 2004).

A atividade do eIF4E no complexo eIF4F é regulada por proteínas da família 4E-BPs

(4E-BP1, 4E-BP2 e 4E-BP3), as quais competem com o fator eIF4G para se ligarem ao eIF4E

e assim inibirem a tradução cap-dependente. A ligação das 4E-BPs ao eIF4E é regulada

mediante a fosforilação através da via de sinalização mTOR. Quando hiperfosforiladas, as 4E-

BPs não conseguem interagir com o eIF4E, tornando-se hábeis a realizar esta interação apenas

quando hipofosforiladas (Sonenberg e Hinnebusch, 2009).

Apesar de alterações nos níveis de expressão do fator eIF4E não interferirem ou então

apenas afetar moderadamente a tradução global, essas alterações podem ter grandes efeitos na

fisiologia celular, uma vez que a superexpressão do eIF4E pode causar transformação maligna

das células e está associada a uma série de tumores humanos (von der Haar et al., 2004).

1.4.2.2 eIF4G

Em mamíferos, a família do eIF4G é composta por três grandes proteínas (eIF4GI,

eIF4GII e p97) que têm papéis críticos na iniciação da tradução cap-dependente e cap-

independente. eIF4GI e eIF4GII parecem ser funcionalmente equivalentes, pois as duas

proteínas se ligam aos mesmos fatores de tradução e as duas possuem atividade estimulatória

da tradução in vitro e in vivo (Gradi et al., 1998). A p97, por sua vez, só possui homologia

com a região carboxi-terminal dos dois eIF4Gs, e não possui os sítios de ligação para o eIF4E

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e a PABP na sua região amino-terminal. Ensaios de tradução in vitro demonstraram que p97

ativa a tradução cap-independente (Hundsdoerfer et al., 2005). Outro estudo observou que a

depleção de p97, ao contrário de eIF4GI, não impediu a tradução de certos mRNAs contendo

uORFs (upstream Open Reading Frames), sugerindo que esse fator promove a iniciação da

tradução de diferentes classes de mRNAs (Ramírez-Valle et al., 2008).

A complexidade do eIF4G pode ser refletida pela sua estrutura, a qual possui vários

sítios de ligação para outras proteínas, atribuindo a este fator um papel multifuncional.

Através da interação do eIF4G com a PABP ocorre uma mudança conformacional que

aumenta a interação do complexo eIF4F com o cap promovendo a circularização do mRNA

(Prevôt et al., 2003; Sonenberg e Dever, 2003). Assim o eIF4G atua como uma plataforma

interagindo com diversos fatores e favorecendo o processo de iniciação da tradução (Figura

6).

Figura 6. O eIF4GI humano e seus domínios de ligação para outras proteínas. O eIF4GI possui na sua região N-terminal os sítios de ligação para a PABP e eIF4E. Na região central desta proteína, encontra-se o domínio central de ligação ao eIF4A e ao eIF3. Na parte C-terminal, se encontra um segundo sítio de ligação ao eIF4A e o sítio de ligação da quinase Mnk1 (Prevôt et al., 2003).

1.4.2.3 eIF4A

Três homólogos de eIF4A já foram estudados em humanos: eIF4A-I, eIF4A-III e

eIF4A-II (Sudo et al., 1995; Li et al., 1999; Hernández e Vazquez-Pianzola, 2005). O fator de

iniciação da tradução eIF4A-I, é uma RNA helicase que é ativa durante a iniciação da

tradução (Hernández e Vazquez-Pianzola, 2005). Uma grande quantidade de informações

bioquímicas e genéticas demonstram que o eIF4A participa na iniciação da tradução como

parte do complexo eIF4F. O eIF4A provavelmente também interage diretamente com o eIF4B

e essa interação deve levar a uma ligação mais eficiente ao RNA alvo e, consequentemente, a

uma elevação nas atividades de helicase e ATPase. Assim, o eIF4A atua desfazendo estruturas

secundárias na região 5’UTR do mRNA como parte do complexo eIF4F, durante a etapa de

ligação do complexo de pré-iniciação 43S ao mRNA e durante o rastreamento na busca pelo

códon AUG de iniciação da tradução (Cordin et al., 2006). Já o eIF4A-III faz parte do

complexo de junção de éxons (EJC de exon junction complex), o qual é formado durante o

processo de retirada dos íntrons (splicing) dos mRNAs e o eIF4A-II pode ser considerado

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uma isoforma do eIF4A-I, mas sua real função é desconhecida (Hernández e Vazquez-

Pianzola, 2005).

1.4.2.4 PABP

As PABPs possuem papel crucial nas vias da expressão gênica. Elas se ligam à cauda

Poli(A) dos mRNAs maduros ou recém-sintetizados e atuam em vários processos como

poliadenilação, exportação, tradução e turnover dos transcritos aos quais se ligam. Além

disso, essas proteínas fornecem uma plataforma para a ligação de outros fatores que também

agem nesses processos e inibem a ligação de fatores que degradam o mRNA (Mangus et al.,

2003; Brook et al., 2009).

No citoplasma, a associação da PABP com a cauda poli(A) dos mRNAs promove a

interação entre suas extremidades 5’ e 3’, o que estimula a inciação da sua tradução. A

circularização do mRNA promove o recrutamento da subunidade ribossomal 40S e esse

processo é dependente de interações entre o fator eIF4G e a PABP e de interações paralelas

entre o eIF4G e a proteína de ligação ao cap eIF4E (Tarun e Sachs, 1996; Tarun et al., 1997;

Wells et al., 1998). A interação cooperativa entre essas proteínas aumenta a afinidade do

eIF4E pelo cap do mRNA, estimula a atividade de ligação ao RNA da PABP e eleva as

atividades de RNA helicase e ATPase do eIF4A e eIF4B (Haghighat e Sonenberg, 1997; Le et

al., 1997; Ptushkina et al., 1998; Bi e Goss, 2000; Borman et al., 2000). A combinação desses

efeitos assegura uma tradução preferencial de mRNAs contendo o cap e a cauda poli-(A) e

também pode favorecer a reciclagem dos ribossomos da região 3’ para a 5’ do mesmo mRNA

(Bi e Goss, 2000; Sachs, 2000).

1.4.3 Síntese protéica em tripanossomatídeos

O processo de tradução nos tripanossomatídeos ainda é pouco compreendido, e até o

momento existem poucas informações sobre a atuação dos diversos fatores que atuam no

evento da iniciação da tradução. Trabalhos preliminares de caracterização de homólogos

individuais de PABP (Batista et al., 1994; Bates et al., 2000) e eIF4A (Skeiky et al., 1998) já

foram realizados há algum tempo, porém sem uma maior investigação de seu papel funcional.

Com o sequenciamento dos genomas das espécies T. brucei, T. cruzi e L. major foi possível a

identificação de sequências que apresentavam homologia à maioria dos fatores eucarióticos de

iniciação da tradução. Apesar de possuírem diferentes graus de similaridades, estas sequências

apresentam semelhanças entre as espécies de tripanosomatídeos, o que indica que elas devem

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30

ser conservadas e desempenham papéis importantes nestes parasitas. Um dado novo foi a

existência de múltiplas sequências para homólogos de eIF4E (6 homólogos - EIF4E1, EIF4E2,

EIF4E3, EIF4E4, EIF4E5 e EIF4E6) e eIF4G (EIF4G1, EIF4G2, EIF4G3, EIF4G4 e EIF4G5)

(Dhalia et al., 2005), além de dois homólogos de PABP conservados em todos os

tripanosomatídeos (PABP1 e PABP2 - em Leishmania existe um terceiro homólogo de PABP

não conservado).

Em L. major, foi constatado que dentre as isoformas estudadas, os fatores LmEIF4E1 e

LmEIF4E4 se ligaram ao cap 4 e ao 7-metil-GTP com maior eficiência, sendo por isso

considerados os candidatos mais prováveis a serem ativos na tradução (Yoffe et al., 2006).

Além disso, tanto em T. brucei como em L. major, apenas o LmEIF4AI parece estar

envolvido na iniciação da tradução. Em L. major, apenas o LmEIF4AI foi capaz de interagir

com o domínio HEAT do fator LmEIF4G3 e, em T. brucei, essa proteína apresentou

localização citoplasmática, e a redução no seu nível intracelular reduziu drasticamente a

síntese protéica (Dhalia et al., 2006). Em relação aos homólogos do eIF4G em L. major, o

LmEIF4G3 já teve sua caracterização iniciada e foi possível observar que essa proteína

interage com o LmEIF4AI e com o eIF4A humano, dando indícios de que esse fator atua no

processo de iniciação da tradução (Dhalia et al., 2005). Recentemente, um estudo sobre o

papel do hómologo eIF4G3 de L. major demonstrou que em um ensaio utilizando uma coluna

m7GTP-sefarose, esse fator foi eluido juntamente com outras subunidades do complexo

eIF4F e que ele se liga diretamente ao LmEIF4E. Posteriormente, a interação LmEIF4G3 a

homólogos de eIF4E também foi confirmada através de ressonância magnética nuclear (Yoffe

et al., 2009).

1.5 Modificações pós-traducionais de fatores de tradução via fosforilação

As modificações pós-traducionais representam o mecanismo mais comum pelo qual as

funções das proteínas podem ser alteradas. Em muitos casos, múltiplas modificações podem

ocorrer em um único polipeptídio que podem envolver complexos mecanismos regulatórios

que controlam as funções das proteínas (Yang, 2005). A fosforilação é a modificação pós-

traducional mais estudada (Cohen, 2001) e, uma vez que existem aproximadamente 500

proteínas quinases no genoma humano (Manning et al., 2002), as quais podem se auto-regular

e possuem no mínimo um alvo específico, o número de sítios de fosforilação regulatórios

deve ser da ordem de milhares (Figura 7). Aproximadamente um terço de todas as proteínas

eucarióticas é modificado por fosforilação em resíduos de serina (Ser), treonina (Thr), ou

tirosina (Tyr) durante seu tempo de atividade na célula. Esses eventos de fosforilação

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31

controlam então um enorme número de funções celulares (Roach, 1991; Cohen, 2000;

Holmberg et al., 2002; Walsh et al., 2005). Assim, não é de surpreender que eventos de

fosforilação anormais sejam observados em muitas doenças humanas, inlcuindo câncer,

diabetes, hipertensão, ataques cardíacos e artrite reumatóide (Cohen, 2001). Na tradução, a

fosforilação de proteínas tais como as proteínas ribossomais (Roux e Blenis, 2004), eIFs

(Topisirovic et al., 2004; Rush et al., 2005), fatores de elongação (Knebel et al., 2002) e a

PABP (Pierrat et al., 2007), contribuem para a regulação geral da expressão gênica no nível

de síntese protéica.

Figura 7. Mecanismo de atuação das proteínas quinases. O ciclo catalítico básico para a fosforilação de um substrato por uma quinase inicia-se com a ligação do ATP ao sítio ativo da quinase. Esta etapa é seguida pela ligação do substrato ao sítio ativo. Uma vez ligado, o fosfato do ATP é transferido para um resíduo de serina, treonina, ou tirosina do substrato. Após o evento de fosforilação o substrato desliga-se da quinase e uma molécula de ADP é liberada (Ubersax e Ferrell, 2007).

1.5.1 Vias de sinalização que regulam a fosforilação dos fatores de iniciação da tradução

É evidente que o status de fosforilação pode regular a atividade de fatores da tradução

e recentes avanços têm fornecido abundantes evidências de que em particular duas cascatas de

sinalização possuem papéis críticos nesse processo: a mTOR/PI3K/Akt e MAPK (Raught e

Gingras, 2007).

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32

1.5.1.1 mTOR

As proteínas TOR (target of rapamycin) são proteínas quinases de alto peso

molecular, conservadas evolutivamente, e que possuem papéis chave no crescimento e

proliferação celular (Lorberg e Hall, 2004). Essas quinases fazem parte da família PIKK

(Phosphoinositide-3-Kinase-related Kinase) (Richardson et al., 2004) e, quando complexadas

com a proteína raptor, são fortemente inibidas pelo antibiótico rapamicina (Kim et al., 2002).

As proteínas mTOR (Mammalian Target Of Rapamycin) atuam como checkpoint no

controle da tradução, recebendo sinais de hormônios/fatores de crescimento e de sensores de

nutrientes, e assim permitem que a tradução ocorra somente na presença de nutrientes

suficientes para suprir a síntese protéica. Um grande número de estudos indica que a

fosforilação de vários fatores de tradução (eIF4B, eIF4GI, e eEF2) é mediada pela sinalização

da via mTOR (Holz et al., 2005; Raught e Gingras, 2007).

Além do exposto, as proteínas mTOR controlam um dos eventos críticos na formação

do complexo de iniciação da tradução. A fosforilação do 4E-BP1 através de mTOR impede a

interação entre 4E-BP1 e eIF4E , liberando o eIF4E para interagir com o eIF4G, estimulando

assim a tradução cap-dependente (Cully e Downward, 2009). Entretanto, ao contrário dos

componentes que ativam a cascata de mTOR, o mecanismo de sinalização para as moléculas

ativadas pela via mTOR permanece pouco compreendido (Raught e Gingras, 2007).

1.5.1.2 MAPK

Cada cascata de sinalização que envolve uma MAPK (Mitogen-Activated Protein

Kinase) inicia-se a partir da ativação de uma MAPKKK (MAPK Kinase Kinase), que fosforila

e ativa uma MAPKK (MAPK Kinase), a qual por sua vez fosforila e ativa uma MAPK. As

MAPKs podem fosforilar e ativar quinases adicionais, conhecidas coletivamente como MKs

(MAPK-activated protein Kinases). A cascata clássica consiste de Raf (MAPKKK), MEK1 ou

2 (Map or Erk Kinase; MAPKK), e ERK 1 ou 2 (Extracellular Signal-Regulated Kinase;

MAPK). A proteína Raf é responsável por acoplar a cascata de ERK à GTPase Ras: a ativação

de Ras através de fatores de crescimento ou ésteres de forbol ativa a cascata inteira,

resultando na ativação de ERK. Em adição à fosforilação direta de vários substratos nucleares,

a ativação de ERKs pode também fosforilar e ativar três distintas famílias de MK: as famílias

Rsk, MsK, e Mnk (Raught e Gingras, 2007). Outras cascatas de MAPK são

especializadas em transmitir os sinais de estresse (Johnson e Lapadat, 2002). As proteínas

quinases ativadas pelo estresse incluem as famílias JNK e p38MAPK. MKs são ativadas por

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p38MAPK, sendo que algumas dessas MKs também são ativadas através de ERK (MnK1 e as

MsKs) (Roux e Blenis, 2004).

Várias famílias de MKs parecem ser importantes para o controle da iniciação da

tradução: (1) As Mnks (MAPK-interacting Kinases) são fosforiladas e ativadas por ERKs

(Mnk1 e Mnk2) e por p38MAPKs (MnK1), repassando assim os sinais vindos através da

estimulação de fatores de crescimento e estresse (Fukunaga e Hunter, 1997; Wang et al.,

1998). As Mnks conectam as MAPKs à iniciação da tradução via fosforilação do eIF4E e a

quinase Msk1 (Mitogen and Stress-activated protein Kinase 1) media a fosforilação do 4E-

BP1 induzida por radiação ultravioleta do tipo B (Liu et al., 2002).

1.5.1.3 Outras vias Apesar de não serem bem caracterizados, outros módulos de sinalização têm sido

implicados no controle da iniciação da tradução. Pak2 (p21-Activated protein Kinase 2) é

ativada em resposta a vários tipos de estresse celular e pode ser responsável por fornecer um

sinal inibitório para a tradução via fosforilação do eIF4GI (Ling et al., 2005). A sinalização

através da via Ca2+/Cam também possui um papel no controle da tradução, uma vez que a

fosforilação da proteína eIF4GII é mediada por CaMKI (calmodulin-dependent protein kinase

I) (Qin et al., 2003).

1.5.2 Eventos de fosforilação nos fatores de iniciação da tradução em mamíferos

1.5.2.1 eIF4E

A fosforilação do eIF4E de mamíferos ocorre principalmente em um único resíduo,

Ser-209 (Joshi et al., 1995; Whalen et al., 1996), e é mediada através das quinases Mnk1 e

Mnk2 (Fukunaga e Hunter, 1997; Wang et al., 1998; Pyronnet et al., 1999; Waskiewicz et al.,

1999). As Mnks interagem fisicamente com o eIF4G, localizando efetivamente as quinases

nos seus substratos (Pyronnet et al., 1999). O nível de fosforilação do eIF4E pode ser elevado

em decorrência do estímulo de fatores de crescimento, insulina, tratamento das células com

soro e através de certas citocinas (Scheper e Proud, 2002).

1.5.2.2 EIF4G

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Mapeamento de fosfopetídeos através de análise bidimensional e espectometria de

massa demonstraram que três sítios de fosforilação, Ser-1148, Ser-1188, e Ser-1232, foram

identificados na região que une os domínios amino e carboxi-terminal do eIF4GI (Raught et

al., 2000). Estes resíduos não são conservados no eIF4GII ou p97. A via de sinalização de

PI3K/mTOR atua regulando a fosforilação de todos os três resíduos em resposta a estimulação

hormonal ou mitogênica. Estudos proteômicos em larga escala, identificaram sítios de

fosforilação adicionais no eIF4GI: Tyr-594 (Rush et al., 2005), Ser-1146 (Kim et al., 2005) e

Ser-1210 (Beausoleil et al., 2004). A quinase Pak2, em resposta ao estresse celular, fosforila a

Ser-896 do eIF4GI e inibe a tradução, possivelmente através da inibição da ligação ao cap ou

da dissociação do complexo eIF4G- eIF4E (Ling et al., 2005).

O eIF4GII também foi identificado como uma fosfoproteína em um screnning de

fosforilação utilizando a CaMKI, uma proteína quinase dependente de Ca2+/calmodulina,

(Qin et al., 2003). Consistente com essa informação, a fosforilação do eIF4GII demonstrou

ser sensível à ionomicina (ionóforo de cálcio). O sítio de fosforilação da CaMKI no eIF4GII

localiza-se na Ser-1156.

1.5.2.3 PABP

A PABP também é uma fosfoproteína e atua em conjunção com o eIF4E e o eIF4G

para estimular a tradução cap-dependente. Até pouco tempo atrás, a fosforilação da PABP1

ainda não tinha sido demonstrada em vertebrados, mas múltiplas formas fosforiladas das

PABPs já haviam sido descritas em planta, levedura e ouriço do mar (Drawbridge et al., 1990;

Gallie et al., 1997). Em células HeLa, análises bidimensionais utilizando um inibidor da

quinase MKK2 (U0126), fez com que a PABP migrasse como uma proteína mais básica, e

apareceu como um único spot no gel, sugerindo que a regulação da fosforilação da mesma

seja efetuada através da via p38MAP Kinase/MKK2 (Ma et al., 2009).

1.5.3 Eventos de fosforilação nos tripanossomatídeos

Devido ao fato do ciclo de vida dos tripanosomatídeos abranger uma grande variedade

de ambientes, frequentemente ocorrem mudanças adaptativas necessárias em muitos

processos celulares, resultando em alterações na expressão gênica, nos níveis protéicos e em

modificações pós-traducionais de proteínas. Uma modificação pós-traducional bem

documentada nos tripanossomatídeos é a fosforilação (Brenchley et al., 2007; Haile e

Papadopoulou, 2007). Muitas alterações na fosforilação de proteínas durante o ciclo de vida

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desses parasitas têm sido relatadas e acredita-se que eles contam com a fosforilação de muitas

moléculas que atuam em funções estágio-específicas para regular o ciclo celular. Em

concordância com essa afirmação, análises de bioinformática identificaram nos genomas dos

tripanossomatídeos uma grande quantidade de proteínas quinases e fostases (Parsons et al.,

2005; Brenchley et al., 2007) (Tabela 1).

Tabela 1. Número de quinases e fosfatases que constituem o quinoma e fosfatoma em T. brucei, T. cruzi e L. major.

Enzimas T. brucei T. cruzi L. major

Quinases 176 190 199

Fosfatases 78 86 88

Recentemente um estudo em larga escala identificou 491 fosfoproteínas em T. brucei

na forma sanguínea. Em adição à fosforilação em resíduos de serina e treonina, também foi

descrito a fosforilação em vários resíduos de tirosina nas proteínas analisadas. Além disso, a

fosforilação em proteínas quinases também foi demonstrada em T. brucei, sugerindo que

algumas vias de sinalização descritas em outros eucariotos possam estar presentes nesses

protozoários (Nett et al., 2009). De fato, estudos têm demonstrado que muitas proteínas em

Leishmania e Trypanosoma apresentam-se como múltiplas isoformas, sugerindo que

mudanças pós-traducionais são extensivas nesses organismos. Em muitos casos, diferentes

isoformas são específicas para um determinado estágio do ciclo de vida (Jones et al., 2006;

McNicoll et al., 2006). Assim, em diferentes estágios do ciclo de vida de espécies de

Leishmania e Trypanosoma, padrões diferenciados de fosforilação de proteínas foram

observados, sugerindo que proteínas quinases, e também fosfatases, estejam envolvidas nos

processos de diferenciação (Aboagye-Kwarteng et al., 1991; Parsons et al., 1991; Parsons et

al., 1993; Dell and Engel, 1994; Parsons et al., 1995; Bengs et al., 2005; Aguirre-Garcia et al.,

2006). Tendo em vista o que se conhece sobre os mecanismos de controle da expressão gênica

em tripanosomatídeos, e a ausência de regulação transcricional da expressão gênica, é

provável que estes eventos de modificações pós-traducionais possam afetar a expressão

diferencial de genes e também possam agir ao nível da síntese protéica.

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36

2. Objetivo geral

Investigar a ocorrência de isoformas induzidas por modificações pós-traducionais em

homólogos de fatores de iniciação da tradução de T. brucei. Identificar a natureza destas

modificações e investigar como variam ao longo do ciclo de vida dos parasitas, analisando sua

ação sobre a atividade dos fatores e quais as suas implicações para os mecanismos de

regulação da síntese protéica, e da expressão gênica como um todo, nestes organismos.

2.1 Objetivos específicos

1. Estabelecer a metodologia para diferenciação de formas sanguíneas em formas

procíclicas de T. brucei, realizando curvas de crescimento e diferenciação voltadas a

obtenção de extratos protéicos com fins de avaliar a expressão de proteínas durante as

diferentes fases do seu ciclo de vida.

2. Analisar a expressão de homólogos selecionados de eIF4G e eIF4E de T. brucei

durante diferentes fases de desenvolvimento do parasita com ênfase na identificação

de isoformas e padrões de expressão diferenciados, associados a modificações pós-

traducionais.

3. Investigar a natureza das modificações pós-traducionais identificadas, se fosforilação

ou não, por meio de ensaios de desfosforilação utilizando fosfatase alcalina.

4. Investigar se os fatores em estudo fazem parte da fração de proteínas de T. brucei

correspondente ao fosfoproteoma, através da utilização de uma resina de afinidade

para fosfoproteínas.

5. Realizar eletroforose bidimensional para identificar spots que possam estar associados

a diferentes padrões de isoformas dos fatores de tradução.

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37

33.. MM aatteerr iiaaiiss ee mmééttooddooss

3.1 Cultivo de células de T. brucei

A manutenção da linhagem de T. brucei selvagem (427), na sua fase procíclica, foi

realizada em meio SDM-79, a 27 ºC, suplementado com hemina e soro fetal bovino. O

crescimento dos parasitas foi monitorado por meio de contagem em câmara de Neubauer.

Nestas condições, as culturas eram repassadas para novo meio a cada três dias. No caso das

formas sanguíneas de T. brucei (427 e AnTaT 1.1), os procedimentos descritos acima também

se aplicam, com exceção de que estas foram cultivadas em meio HMI-9, suplementado com

10% de soro fetal bovino, sendo o repasse realizado a cada dois dias, e então mantidas a 37ºC

em estufa de CO2 a 5% (Hirumi and Hirumi, 1989).

3.2 Curvas de crescimento de T. brucei na fase prociclíca

Para realização das curvas de crescimento de T. brucei na fase prociclíca inicialmente

foi feito um pré-inóculo de 20 a 30 mL de cultura com uma concentração inicial de 2 a 4x106

células/mL, utilizando para isso alíquotas da cultura de manutenção. Estas culturas eram

acompanhadas diariamente até que fosse atingida a fase estacionária de crescimento (em torno

de 8x106 células/mL), quando era então retirada a alíquota do ponto de 0h da curva de

crescimento contendo 5x105 células/mL .Outra alíquota do pré-inóculo era utilizada para

realizar a expansão da cultura para um volume de 300 mL do respectivo meio de cultura, de

forma a ajustar a concentração inicial da cultura também para 5x105 células/mL. Após esse

momento, alíquotas contendo um número equivalente de células foram retiradas a cada 24

horas até a ocorrência da morte celular. Estas alíquotas foram utilizadas para a produção de

extratos protéicos totais, sendo as células coletadas através de centrifugação durante 5

minutos (1000 g a 4ºC), lavadas com PBS e o sedimento ressuspendido em tampão de

proteína SDS-desnaturante (Laemmli 2x). Em seguida, os extratos foram fracionados em

SDS-PAGE e utilizados nos experimentos de Western-blot com os soros contra as diferentes

proteínas alvo.

Curvas de crescimento em condições de estresse celular também foram realizadas. As

etapas inicias da curva foram realizadas de maneira idêntica às curvas convencionais, ou seja,

através de um pré-inóculo na fase estacionária foram retirados o ponto de 0 h contendo 5x105

células/mL e uma outra alíquota foi utilizada para realizar a expansão para um meio de cultivo

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sem soro fetal bovino. As etapas subsequentes também foram realizadas do mesmo modo das

curvas convencionais.

3.3 Curvas de crescimento de T. brucei na fase sanguínea

Para realização das curvas de crescimento das duas linhagens de T. brucei na fase

sanguínea (427 e AnTaT 1.1) utilizou-se os mesmos procedimentos. Inicialmente foi feito um

pré-inóculo de 50 a 70 mL de cultura com uma concentração inicial de 2 a 4x105 células/mL,

utilizando para isso alíquotas da cultura de manutenção. Estas culturas eram acompanhadas

diariamente até que fosse atingida a fase estacionária de crescimento (em torno de 106

células/mL), quando era então retirada a alíquota do ponto de 0 h da curva de crescimento

contendo 2,5x105 células/mL.Outra alíquota do pré-inóculo foi utilizada para realizar a

expansão da cultura para um volume de 400 mL do respectivo meio de cultura, de forma a

ajustar a concentração inicial da cultura também para 2,5x105 células/mL. Após esse

momento, alíquotas contendo um número equivalente de células foram retiradas no tempo de

6 horas e depois a cada 24 horas até a ocorrência da morte celular. Estas alíquotas foram

utilizadas para a produção de extratos protéicos totais, e o procedimento adotado para tal fim

foi o mesmo já descrito para as formas procíclicas. Em seguida os extratos foram fracionados

em SDS-PAGE e utilizados nos experimentos de Western-blot com os soros contra as

diferentes proteínas alvo.

3.4 Diferenciação de T. brucei

Também foram realizadas curvas de crescimento para diferenciação da forma

sanguínea em procíclica de T. brucei. Para tal fim, foi utilizada a linhagem pleomórfica

AnTaT 1.1, a qual foi cultivada em meio HMI-9 a uma concentração inicial de 5 x 105 cel/ml

e incubadas a 37°C. Quando a cultura atingiu a concentração de aproximadamente 2 x 106

células/mL, foi adicionado 6mM de Cis-aconitato e a cultura foi transferida para uma

incubadora a 27°C. Após 24 horas os parasitas em diferenciação foram coletados através de

centrifugação a 1500g, 25ºC por 8 minutos e transferidos para o meio de cultura de

procíclicos SDM-79. Alternativamente quando a cultura atingiu a concentração de

aproximadamente 2 x 106 células/mL, os parasitas foram coletados e transferidos para o meio

de cultivo DTM acrescido de 6mM de Cis-aconitato. Assim como descrito no item 2, foram

produzidos extratos protéicos a partir de alíquotas retiradas a cada 24 horas, para que fosse

avaliada a eficiência da diferenciação através de ensaios de Western-blot. Como controle

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39

positivo desse experimento foi utilizado o anticorpo monoclonal para detecção de prociclina

GPEET da empresa abcam (ab65362), uma vez que essa proteína é somente expressa na

forma procíclica do T. brucei.

3.5 Purificação dos anticorpos por imunoadsorção

Com o objetivo de aumentar a especificidade dos soros utilizados nos ensaios de

Western-blot, os anticorpos dirigidos contra as proteínas TbEIF4E1, TbEIF4E3-4, TbEIF4G4-

5 e LmPABP1 foram purificados por imunoadsorção. A produção de soro policlonal

específico para cada homólogo já havia sido realizada em trabalhos anteriores. Estes soros

foram retirados por meio de uma punção cardíaca e permaneceram conservados a -80°C.

Para realizar a purificação, cerca de 100 a 200 µg das proteínas recombinantes foram

fracionados individualmente por eletroforese em gel SDS-PAGE para posterior transferência

para membrana de PVDF (Immobilon-P Millipore). Em seguida, a membrana foi corada com

Rouge Ponceau 0,2%/TCA 1%, para a visualização da banda referente à proteína de interesse.

A região dessa banda foi excisada da membrana e fragmentada. Após três lavagens de 10

minutos com PBS, os fragmentos foram incubados durante 30 minutos a 4ºC numa solução de

leite 5% em PBS / Tween-20 0,05%. Em seguida, os fragmentos foram incubados, sob

agitação, com o soro policlonal contra as respectivas proteínas recombinantes, por um período

de 18 h a 4ºC. Após esta etapa, foram realizadas três lavagens de 10 minutos com PBS e

posterior tratamento com solução ácida de glicina 0,1 M (pH 2,5), para a eluição dos

anticorpos específicos. A solução foi então separada dos fragmentos da membrana e

neutralizada com Tris-HCl pH 8,0 e PBS duas vezes concentrado. Os anticorpos purificados

foram armazenados a -80 ºC.

3.6 Ensaios de Western-blot

Amostras das proteínas recombinantes e dos extratos dos parasitas diluídas em tampão

de proteína foram fracionadas em gel SDS-PAGE e transferidas para uma membrana de

PVDF. Após a transferência, a membrana foi incubada inicialmente em solução de leite 5%/

TBS Tween-20 1% e em seguida foi incubada em solução de leite 2,5-5%/ TBS Tween-20

1%, com seu respectivo anticorpo purificado, em diluições variadas. A membrana foi lavada

três vezes com TBS Tween-20 1% e incubada em solução de leite 2,5-5%/ TBS Tween-20 1%

com segundo anticorpo (anti-IgG de coelho) conjugado à peroxidase na diluição de 1:10.000.

Após três lavagens de 10 minutos com TBS Tween-20 1%, foi adicionada à membrana uma

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40

mistura de luminol 1,2 mM, iodofenol 0,4 mM (em DMSO) e peróxido de hidrogênio 0,03%

para a reação de quimioluminescência (ECL). Após incubação de 1 minuto nessa mistura, a

membrana foi seca e exposta a um filme (Hyperfilm – Amersham Biosciences) por 1 e 10

minutos, que então foi revelado por uma solução de dektol (1:2) e fixado em solução de ácido

acético.

3.7 Fracionamento celular

Alíquotas de culturas da forma procíclica de T. brucei contendo 2x108 células foram

centrifugadas a 5.000 rpm durante 5 minutos a 4ºC e o sedimento foi lavado com PBS. Este

sedimento foi então ressuspendido em 1 mL de tampão de lise (20 mM de HEPES-KOH pH

7,4, 75 mM de acetato de Potássio, 4 mM de acetato de Magnésio e 2 mM de DTT ) acrescido

de 100 µL de inibidor de protease e 1 mM de fluoreto de sódio. Em seguida as amostras

foram submetidas a cinco ciclos de congelamento e descongelamento em nitrogênio líquido.

Para obtenção da fração solúvel as amostras contendo as células lisadas foram centrifugadas a

4ºC durante 15 minutos a 10.000 g, o sedimento formado corresponde à fração nuclear e o

sobrenadante à fração citoplasmática. Alíquotas dos lisados foram ressuspendidas em tampão

de proteína para serem analisadas através de SDS-PAGE e o restante das amostras foi

armazenado em freezer -80ºC.

3.8 Ensaios de desfosforilação

Inicialmente foram produzidos lisados celulares, como descrito acima e uma amostra

desses lisados contendo 106 células foi incubada de 1 a 3 horas a 37ºC, com 20 unidades de

fosfatase alcalina em tampão contendo TRIS-HCL 50 mM pH 9,3, MgCl2 1 mM, ZnCl2 100

µM e spermidina em um volume final de 10 µL. Após o período de incubação, o produto do

ensaio foi analisado através de Western-blot.

3.9 Imunoprecipitação

Para a imunoprecipitação das proteínas de interesse, inicialmente foi feita uma

suspensão contendo uma quantidade variável de anticorpo específico, 30 µL de proteína A

sefarose 50% e 0,5 mL de PBS. A suspensão foi misturada e incubada durante a noite a 4ºC

em um agitador. Após essa etapa, a suspensão foi centrifugada rapidamente a 4ºC a 16.000 g,

o sobrenadante contendo os anticorpos não ligados removido e a resina lavada por cinco vezes

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41

com tampão de lise. Logo em seguida, beads da resina ligados aos anticorpos foram

incubados por 2 horas a 4ºC com alíquotas de lisados previamente preparados (2x107-4x107

céls). Após esse período, a suspensão foi rapidamente centrifugada a 16.000 g a 4ºC. O

sobrenadante contendo as proteínas não ligadas foi retirado e guardado para ser analisado

posteriormente. Os beads foram lavados cinco vezes com PBS e o último sobrenadante

aspirado de maneira a restar aproximadamente 20 µL do mesmo sobre os beads da resina.

Para avaliar a eficiência da imunoprecipitação, alíquotas dos beads e dos lisados utilizados no

processo foram ressuspendidas em tampão de proteína para serem analisadas através de SDS-

PAGE.

3.10 Purificação de fosfoproteínas

Utilizando-se o sistema PhosphoProtein Purification Kit (Qiagen) para purificação de

fosfoproteínas foi possível obter a separação da fração de proteínas fosforiladas das proteínas

não fosforiladas de lisados da forma procíclica de T. brucei. Inicialmente, uma alíquota da

cultura de 2x108 células foi centrifugada a 5000 rpm a 4ºC e lavada com HEPES 50 mM pH

7,0. O sedimento foi ressupsendido em 5 mL do tampão de lise do kit (25 mM MES, 1M

NaCl, 0.25% CHAPS) contendo inibidores de proteases e a nuclease benzonase (utilizada na

degradação de ácidos nucléicos) e então incubado por 30 minutos a 4ºC, sendo brevemente

agitado a cada 10 minutos. Após o período de incubação, o lisado celular foi centrifugado a

10.000 g a 4ºC durante 30 minutos. O sobrenadante foi coletado e a concentração protéica foi

determinada através do método de Bradford. Após o equilíbrio da coluna de purificação de

fosfoproteínas, um volume de lisado contendo 0,1 mg/mL foi passado pela mesma permitindo

que todas as proteínas fosforiladas ficassem retidas na coluna de afinidade. Em sequência a

coluna foi lavada com tampão de lise e a fração não-ligada foi coletada e armazenada para

avaliar a eficiência da purificação e para análise das proteínas não fosforiladas. Para obtenção

da fração protéica fosforilada foram realizadas quatro eluições utilizando o tampão de eluição

de fosfoproteínas (fosfato de potássio 50 mM e NaCl 50 mM). A concentração protéica de

todas as eluições foi determinada através do método de Bradford, e amostras das eluições e da

fração não-ligada foram fracionadas em SDS-PAGE e transferidas para membranas de PVDF

para detecção das proteínas de interesse através de ensaios de Western-blot.

3.11 Eletroforese bidimensional

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42

De uma cultura de T. brucei da forma procíclica na fase exponencial de crescimento,

foram coletados 5x108 parasitas por centrifugação a 2000 g por 10 minutos a 4ºC. O

sedimento foi lavado com PBS e homogeneizado a 4ºC em tampão de lise (uréia 7M, tiouréia

2M, CHAPS 4%, Tris base 40mM, adicionado de um coquetel de inibidores de protease

(Complete, EDTA-free - Roche). Para favorecer a lise, as amostras foram submetidas a um

ciclo de congelamento/descongelamento em nitrogênio líquido e a 30ºC, e então foram

centrifugadas a 14000 g por 2 minutos a 4ºC, para remover os restos celulares. O

sobrenadante foi transferido para outro tubo e alíquotas foram utilizadas para quantificar as

proteínas através do método de Bradford. Depois de quantificadas as amostras foram

aliquotadas e estocadas em freezer -80ºC. Para a focalização isoelétrica os extratos protéicos

foram purificados por precipitação com o sistema 2-D clean-up (GE-Healthcare) seguido de

solubilização em tampão IEF (Isoelectric focusing; Uréia 8 M, Chaps 4%, 2M Thiouréia e

traços de azul de bromofenol) e aplicação em fitas immobiline dry-strips (GE-HealthCare) de

11 cm , com faixas de pH entre 3-10 ou 6-11. Para isso as fitas foram hidratadas com a

solução de proteínas solubilizadas contendo cerca de 75-100 µg de proteína. A focalização

isoelétrica foi feita com base nas condições recomendadas pelo fabricante. Para a segunda

dimensão as fitas foram equilibradas em tampão de equilíbrio (6 M Uréia, glicerol 30%, SDS

2%, 50 mM Tris-HCl pH 8.8 e traços de azul de bromofenol), sendo a primeira etapa na

presença de 10 mg/mL de DTT e a segunda com 25 mg/mL de iodoacetamida. Em seguida as

fitas foram montadas em cima de géis desnaturantes de poliacrilamida a 12,5% para se

realizar a segunda dimensão em condições convencionais. Na busca pelas isoformas de

fatores selecionados foram realizadas duplicatas de géis onde um destes foi utilizado para

ensaios de Western-blot, visando observar os fatores de interesse e suas isoformas, enquanto o

outro foi corado com nitrato de prata para que fosse possível identificar os spots

correspondentes àquelas observadas no Western-blot.

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43

44.. RReessuull ttaaddooss

4.1 Estabelecimento das curvas de crescimento de T. brucei na fase prociclíca.

Inicialmente, para realização das curvas de crescimento de T. brucei na forma

prociclíca (PCF), buscou-se otimizar as condições de crescimento desse parasita. Para tal, a

alíquota do ponto de 0h da curva de crescimento foi retirada de um pré-inóculo que tivesse

atingido a fase estacionária de crescimento. A partir do mesmo pré-inóculo, realizou-se a

expansão da cultura para um volume maior do meio de cultivo. Após essa etapa, essas

culturas foram monitoradas diariamente de acordo com determinados critérios como a

morfologia celular, motilidade dos parasitas e crescimento celular. Em intervalos regulares de

crescimento, até a ocorrência da morte celular, amostras dessas curvas foram retiradas para

posterior análise.

Sendo a forma procíclica um microrganismo de fácil cultivo, foi possível observar

que as curvas feitas da maneira descrita acima, mantinham um padrão de crescimento

característico, sendo possível identificar claramente as fases de crescimento lag, log,

estacionária e de declínio (Figura 8). Logo após a expansão da cultura, as células entravam na

fase lag, a qual é caracterizada por um baixo crescimento dos parasitas. Após o período de

readaptação celular, acontecia o crescimento exponencial favorecido pela grande

concentração de nutrientes disponíveis no meio de cultura. A cultura atingia a fase

estacionária com uma concentração celular de aproximadamente 8x106 células/mL, momento

em que os nutrientes tornavam-se escassos e os produtos tóxicos, resultantes do metabolismo

celular, mais abundantes. Ao atingir a concentração celular de aproximadamente 2 a 6x107

células/mL, os parasitas entravam em processo declínio, ocorrendo a morte celular total

depois de passados de 9 a 10 dias após o início da curva.

Curva de crescimento de T. brucei PCF

050

100150200250300350400

0 24 48 72 96 120 144 168 192 216

Tempo (horas)

nº d

e ce

ls/m

L (x

105)

Fase log

estacionária declínio

Fase lag

Curva de crescimento de T. brucei PCF

050

100150200250300350400

0 24 48 72 96 120 144 168 192 216

Tempo (horas)

nº d

e ce

ls/m

L (x

105)

Fase log

estacionária declínio

Fase lag

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44

Figura 8. Curva de crescimento de T. brucei na fase procíclica. Na figura podem ser identificadas as fases de crescimento lag, log, estacionário e de declínio. 4.2 Estabelecimento das curvas de crescimento de T. brucei na fase sanguínea

As curvas de crescimento de T. brucei na fase sanguínea (BSF) foram realizadas com

duas linhagens diferentes, a linhagem monomórfica selvagem 427 e a linhagem AnTaT 1.1, a

qual é pleomórfica e passível de sofrer diferenciação em determinadas condições de cultivo.

Os procedimentos adotados para a realização das curvas foram os mesmos para ambas as

linhagens.

A forma sanguínea do T. brucei apresenta um padrão de crescimento muito distinto da

forma procíclica. Apesar de ser mais sensível a pequenas alterações no meio de cultivo do que

a forma procíclica, o sanguíneo é caracterizado por um perfil de crescimento exponencial,

sendo difícil caracterizar todas as fases de crescimento desse parasita, o qual atingia dentro de

poucos dias a fase de declínio com uma concentração celular em torno de 5x106 para a

linhagem 427 (Figura 9A) e 2x106 para a AnTaT 1.1 (Figura 9B).

Para dar início a curva de crescimento, a alíquota do ponto de 0 h da curva de

crescimento foi retirada de um pré-inóculo que tivesse atingido a fase estacionária de

crescimento. A partir do mesmo pré-inóculo, realizou-se a expansão da cultura para um

volume maior do meio de cultivo. A partir destas culturas foram retiradas alíquotas em

intervalos selecionados até a ocorrência da morte celular, que geralmente ocorria dentro de até

96 horas após o início da curva.

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45

Figura 9. Curvas de crescimento de T. brucei na fase sanguínea. (A) Curva de crescimento de T.brucei na fase sanguínea da linhagem 427. (B) Curva de crescimento de T.brucei na fase sanguínea da linhagem AnTaT 1.1.

4.3 Diferenciação de formas sanguíneas em formas procíclicas de T. brucei

Para o estabelecimento da diferenciação de T. brucei foram realizados testes com duas

metodologias diferentes. Para tal fim foram avaliadas a eficiência do método que utiliza o

meio SDM-79 e outro que utiliza o DTM (Differentiating Trypanosome Medium) para

diferenciação de formas sanguíneas em procíclicas. Após a transferência para o meio de

cultivo de diferenciação (tanto para o SDM-79, quanto para o DTM) no período após 24 a 48

horas foi observada uma cultura heterogênea de formas sanguíneas, algumas células com

morfologia celular intermediária entre os sangúineos e procíclicos e raras formas

características de procíclicos. Porém, apesar de algumas células sofrerem o processo de

diferenciação, não foi observado o crescimento da cultura e a densidade celular se manteve

idêntica desde o momento do início da curva até a morte dos parasitas, que ocorreu dentro de

aproximadamente 10 dias. Esses testes foram repetidos na tentativa de se otimizar o processo

de diferenciação, mas tal evento não ocorreu de maneira sincronizada e uma cultura

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46

homogênea de procíclicos não pode ser obtida. Esses resultados nos levaram a especular que o

insucesso da diferenciação pode ter sido devido ao fato de a cultura de AnTaT 1.1 ter sido

cultivada in vitro por um longo tempo, o que pode ter alterado as características fenotípicas do

parasita necessárias para que ocorresse a diferenciação em formas procíclicas.

4.4 Análise da expressão de fatores selecionados em curvas de crescimento de T. brucei na fase prociclíca

Com o intuito de caracterizar o padrão de expressão dos homólogos dos fatores eIF4G

e eIF4E ao longo do ciclo de vida de T. brucei, partiu-se para a análise da expressão das

respectivas proteínas em extratos de células obtidos ao longo da curva de crescimento. Para a

produção dos extratos protéicos totais, as alíquotas coletadas durante a realização das curvas

de crescimento foram submetidas a centrifugação e os sedimentos foram ressuspendidos em

tampão de amostra para SDS-PAGE. Os extratos protéicos totais foram utilizados em ensaios

de Western-Blot com os anticorpos purificados contra os fatores de iniciação TbEIF4E1,

TbEIF4E3, TbEIF4E4, TbEIF4G4 e TbEIF4G5.

A maioria dessas proteínas na forma prociclíca foram detectadas utilizando-se 106

células, e como controle do número de parasitas presentes em cada amostra foi utilizada a

proteína TbEIF4AI, uma vez que já foi descrito que essa proteína é expressa de maneira

constitutiva ao longo do ciclo de vida de T. brucei (Dhalia et al., 2006). Assim, foi observado

que todas as proteínas em estudo (TbEIF4E1, 3 e 4 e TbEIF4G4 e 5) estão presentes nesta

fase do ciclo de vida, porém possuem padrões de expressão distintos (Figura 10). O

TbEIF4E4 e TbEIF4G4 apresentaram duas isoformas ao longo de toda a curva de

crescimento. Por outro lado, o TbEIF4E3 apresentou duas isoformas da fase lag até a

logarítmica, mas na fase estacionária apresentou somente uma isoforma. A presença de mais

de uma isoforma para o fator TbEIF4G4 é mais evidente do que para os fatores TbEIF4E3 e

TbEIF4E4, os quais apresentaram isoformas de tamanhos bem próximos, tornando mais

difícil sua visualização. Já as proteínas TbEIF4E1, TbEIF4G5 e TbPABP1 são expressas de

maneira constitutiva e possuem apenas uma isoforma, ressaltando porém que a detectação do

TbEIF4E1 só foi possível com uma concentração de células cinco vezes maior do que o

necessário para as demais proteínas (Figura 10).

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47

Figura 10. Análise da expressão de fatores selecionados em curvas de crescimento de T. brucei na fase prociclíca. O controle utilizado no experimento foi a proteína TbEIF4AI que se expressa constitutivamente ao longo do ciclo evolutivo.

4.5 Análise da expressão de fatores selecionados em curvas de crescimento de T. brucei na fase sanguínea

Com o mesmo objetivo, e da mesma maneira descrita para a forma prociclíca de T.

brucei, foram realizados ensaios de Western-Blot com os extratos protéicos totais da sua

forma sanguínea obtidos ao longo da curva de crescimento.

A caracterização do perfil de expressão das proteínas TbEIF4E1, 3 e 4, TbEIF4G4 e 5

e TbPABP1 nessa fase do ciclo de vida de T. brucei, tanto para a linhagem 427 como para a

AnTaT 1.1, foi mais complexa do que para os ensaios de caracterização no procíclico. A

maioria dessas proteínas na forma prociclíca foi detectada utilizando-se 106 células, porém

para a forma sanguínea essas proteínas foram detectadas, ainda com um sinal fraco,

utilizando-se 2,5x106 células (a exceção é o TbEIF4E3, detectável com 106 células). Aqui

também foi utilizado como controle do número de parasitas presentes em cada amostra a

proteína TbEIF4AI.

Com os ensaios realizados, foi observado que todas as proteínas em estudo também

estão presentes nesta fase do ciclo de vida. Devido à pouca abundância do TbEIF4E1 e da

TbPABP1 em T. brucei, os ensaios para caracterizá-los só conseguiram detectar baixíssimas

quantidades dessas proteínas na linhagem de AnTaT 1.1 e 427, respectivamente (Figura 11 A

e B). O TbEIF4G5 é expresso constitutivamente nas duas linhagens, e foi detectado com

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somente uma isoforma (Figura 11 A e B). O TbEIF4G4 apresentou duas isoformas ao longo

de toda a curva nas linhagens 427 e AnTaT 1.1 (Figura 11 A e B), porém nessa última, as

duas isoformas possuem pesos moleculares ainda mais próximos do que o que foi observado

para essa proteína na linhagem 427, tanto na forma sanguínea, quanto na procíclica. Já o

TbEIF4E3 na linhagem 427 é expresso sob a forma de duas bandas até 24 horas (Figura 11A),

e na AnTaT 1.1, aparentemente, essa proteína possui o mesmo perfil de expressão, porém as

duas bandas, assim como o TbEIF4G4, possuem tamanhos bem próximos (Figura 11B).

Diferentemente do observado para outros fatores, cujos padrões de expressões mantiveram-se

idênticos ao longo das curvas de crescimento nas formas sanguíneas e procíclicas, a proteína

TbEIF4E4, nas formas sanguíneas tanto da linhagem 427 como da AnTaT 1.1, foi expressa

sob a forma de duas bandas até o ponto de 24 h, porém, mais especificamente no ponto de 6 h,

momento entre a expansão da cultura e a fase que precede o crescimento celular acelerado,

essas isoformas foram diferencialmente modificadas em relação aos outros pontos da curva,

podendo serem nitidamente visualizadas mais de uma banda para esse fator (Figura 11 A e B).

TbEIF4E4

TbEIF4G4

TbEIF4E3

TbEIF4G5

TbPABP1

TbEIF4AI

TbEIF4E4

TbEIF4G4

TbEIF4E3

TbEIF4G5

TbEIF4AI

TbEIF4E1

0h 6h 24h 48h 72h 0h 6h 24h 48h 72h

A) T. brucei BSF 427 B) T. brucei BSF AnTaT 1.1

Figura 11. Análise da expressão de fatores selecionados em curvas de crescimento de T. brucei na fase sanguínea. A) Expressão dos fatores TbEIF4E3, TbEIF4E4, TbEIF4G4, TbEIF4G5 e TbPABP1 ao longo da curva de crescimento da linhagem sanguínea 427. B) Expressão dos fatores TbEIF4E1, TbEIF4E3, TbEIF4E4, TbEIF4G4 e TbEIF4G5 ao longo da curva de crescimento da linhagem sanguínea AnTaT 1.1. O controle utilizado no experimento foi a proteína TbEIF4AI que se expressa constitutivamente ao longo do ciclo evolutivo.

4.6 Análise do crescimento de T. brucei na forma procíclica sob indução de estresse Levando em consideração os resultados prévios obtidos, os quais demonstraram que os

fatores TbEIF4E3, TbEIF4E4 e TbEIF4G4 são detectados nos ensaios de Western-blot com

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49

mais de uma isoforma, especulou-se que essas seriam consequência de modificações pós-

traducionais, possivelmente fosforilação, uma vez que já foi observado que fatores de início

da tradução em mamíferos são fosforilados (Raught e Gingras, 2007). Sabidamente, uma

grande variedade de condições fisiológicas de estresse pode alterar o perfil de expressão

protéica celular. De forma a analisar se um ambiente estressante para o crescimento celular

poderia afetar a expressão dos homólogos selecionados levando a um estado hiperfosforilado

ou hipofosforilado, foi realizada uma curva de crescimento da forma procíclica na ausência de

soro fetal bovino (SFB), o qual é essencial para o adequado crescimento deste parasita. As

primeiras etapas da curva foram realizadas de maneira idêntica às curvas convencionais,

exceto que uma alíquota do pré-inóculo foi expandida para um meio de cultivo sem SFB. No

momento da expansão, a densidade celular foi ajustada para 5x105 cels/mL. Ao longo da

curva, foi observado que os parasitas mantiveram suas características morfológicas, porém

não houve crescimento celular e a cultura manteve a densidade em torno de 3.105 céls/mL, ao

contrário da curva controle realizada com SFB, na qual os parasitas cresceram

exponencialmente. Como pode-se observar na figura 12, o padrão de expressão de alguns

fatores analisados através de Western-blot aparentemente não foi afetado pela deprivação do

SFB, ou então mudanças mínimas no estado de fosforilação aconteceram, tornando difícil a

análise através da eletroforese unidimensional.

Figura 12. Comparação do perfil de expressão dos homólogos TbEIF4E3, TbEIF4E4 e TbEIF4G4 em curvas de crescimento realizadas na presença e na ausência de SFB. Como controle do número de parasitas presentes na amostra, foi utilizado a proteína TbEIF4AI.

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50

4.7 Ensaios de desfosforilação com fosfatase alcalina

Estes ensaios foram realizados com o intuito de desvendar se a ocorrência de mais de

uma isoforma nas proteínas estudadas é realmente devido a modificações pós-traducionais do

tipo fosforilação. Lisados celulares de T. brucei 427 da forma procíclica foram incubados com

fosfatase alcalina de bezerro, uma vez que esta atua degradando os resíduos de fosfato. Como

controle positivo destes experimentos foi utilizada a PABP1 de Leishmania cuja fosforilação

já foi demonstrada previamente (Bates et al., 2000). Como pode ser analisado na figura 13, a

isoforma de maior peso molecular do fator TbEIF4E3, o qual foi utilizado como teste neste

ensaio, continuou sendo detectada, embora tenha sido possível visualizar uma discreta

diminuição na sua intensidade. Posteriormente, ainda tentou-se utilizar outro tipo de fosfatase

alcalina em ensaios subsequentes, porém o perfil da proteína não foi alterado. Diante dos

resultados insatisfatórios obtidos através desses experimentos, decidiu-se investigar a natureza

dessas isoformas por meio de outros experimentos como a purificação de proteínas

fosforiladas através do Phosphoprotein Purification Kit da Qiagen e através de experimentos

utilizando a eletroforese bidimensional.

Figura 13. Ensaio de desfosforilação. Neste experimento pode-se observar o lisado controle, o lisado incubado a 37ºC na ausência da enzima CIP por 2 horas e o lisado incubado a 37ºC na presença da enzima CIP por 2 horas. Através desse experimento foi possível observar uma discreta desfosforilação das proteínas avaliadas.

4.8 Investigação da modificação pós-traducional dos fatores de iniciação através da purificação de fosfoproteínas

Para obtenção e análise do fosfoproteoma do T. brucei 427 foi utilizado o

Phosphoprotein Purification Kit da Quiagen. Através deste kit, foi possível purificar as

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51

proteínas fosforiladas deste microrganismo. O lisado total do parasita foi passado por uma

coluna de bioafinidade, à qual as proteínas fosforiladas ficaram ligadas. Após a eluição das

proteínas ligadas a resina, amostras desta purificação foram analisadas através de Western-

blot para identificar em quais das frações as proteínas em estudo (TbEIF4E3, TbEIF4E4,

TbEIF4G4) estariam presentes. Como controle positivo para as proteínas não fosforiladas foi

utilizado o TbEIF4AI, uma vez que não há quaisquer indícios de essa proteína ser fosforilada

no Trypanosoma brucei. Através dessa purificação, foi possível detectar os fatores TbEIF4E3

e 4 e o TbEIF4G4 nas eluições 2, 3 e 4 (Figura 14). Como esperado, o TbEIF4AI não foi

detectado nas eluições, comprovando que este fator não faz parte do fosfoproteoma do

parasita. Esses resultados comprovaram que as proteínas em estudo são realmente

fosforiladas. Amostras dessa purificação também foram utilizadas na realização de

eletroforese bidimensional.

Figura 14. Purificação de fosfoproteínas. Através desta purificação apenas as proteínas fosforiladas são detectadas nas eluições, como foi o caso do TbEIF4E3, TbEIF4E4 e TbEIF4G4.

4.9 Estudo das isoformas dos fatores alvo através da eletroforese bidimensional

A eletroforese bidimensional é uma técnica poderosa e usada amplamente para a

análise de proteínas extraídas de amostras biológicas. Este método é capaz de separar as

proteínas de acordo com dois parâmetros independentes através de duas etapas. A etapa da

primeira dimensão, a focalização isoelétrica, separa as proteínas de acordo com os seus pontos

isoelétricos (PI); a etapa da segunda dimensão, SDS-PAGE, separa as proteínas de acordo

com os seus pesos moleculares. Dessa maneira, cada spot presente no gel resultante da

eletroforese bidimensional, corresponde potencialmente a uma única proteína da amostra.

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52

Assim, informações como o pI da proteína, o aparente peso molecular e a quantidade de cada

proteína podem ser obtidas. Além disso, essa técnica é única na habilidade em detectar

modificações pós-traducionais, uma vez que essas modificações podem alterar tanto o peso

molecular como o pI das proteínas.

A eletroforese bidimensional foi realizada utilizando o lisado total do parasita e esses

experimentos foram realizados em duplicatas, assim foram obtidos dois géis que

representavam o conteúdo protéico total do parasita, sendo um corado com prata e o outro

transferido para membrana de PVDF. Para identificar a presença das proteínas de interesse a

partir desses géis, foram realizados Western-blots, através dos quais foi possível detectar o

TbEIF4E3, TbEIF4E4, TbEIF4AI e TbPABP1 (Figura 15). O fator TbEIF4E3 se apresentou

sob a forma de cinco spots e na faixa de PI entre oito e nove. Por outro lado o fator TbEIF4AI,

de acordo com os resultados da purificação de fosfoproteínas, apresentou-se como um único

spot. Já a proteína TbEIF4E4 foi detectada na faixa de PI entre nove e 10 sob a forma de 4

spots e a TbPABP1 como dois spots na faixa de PI entre oito e nove. A presença desses

múltiplos spots para cada proteína, pode representar que cada proteína está sendo alvo de

sucessivas fosforilações, uma vez que os spots apresentam tamanhos moleculares

progressivamente maiores para cada um dos fatores analisados e além disso o pI das proteínas

também foram modificados, tornando-se mais ácidos à medida que aumentam o número de

fosforilações.

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53

Figura 15. Análise por eletroforese bidimensional das proteínas TbEIF4AI, TbEIF4E3, TbEIF4E4 e TbPABP1. As fosfoproteínas foram fracionadas através da eletroforese bidimensional e então transferidas para uma membrana de PVDF. Através de ensaios de Western-blot utilizando anticorpos contra as diversas proteínas, foi possível visualizar as diversas isoformas dos fatores TbEIF4E3 e 4 e da TbPABP1, além de um único spot para o fator TbEIF4AI.

4.10 Impacto das mudanças pós-traducionais na interação TbEIF4E3/ TbEIF4G4

A identificação da interação de proteínas em complexos estáveis em um sistema

celular pode ser alcançada através do procedimento de imunoprecipitação, no qual a proteína

alvo e seus parceiros podem ser isolados através da ligação dessas moléculas a ligantes

específicos imobilizados em suportes insolúveis. Para isso, lisados celulares foram incubados

com uma suspensão de anticorpos específicos para a proteína de interesse, ligados na proteína

A sefarose e para controle negativo do experimento esses lisados também foram incubados

com soro pré-imune na presença da proteína A sefarose. Esse procedimento foi realizado para

imunoprecipitar o TbEIF4E3. Como pode ser observado na figura 14, a imunoprecipitação

dessa proteína foi bem sucedida, e adicionalmente foi possível verificar que o TbEIF4G4 co-

imunoprecipitou com o TbEIF4E3. Como ambas as isoformas do TbEIF4G4 foram

encontradas no imunoprecipitado é possível sugerir que a sua fosforilação não impede a sua

associação com o TbEIF4E3.

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Figura 16. Imunoprecipitação do TbEIF4E3. O TbEIF4E3 foi completamente depletado do lisado, demonstrando que toda a proteína foi imunoprecipitada. Ademais, na imunoprecipitação do TbEIF4E3, também foi detectada a presença do TbEIF4G4, sendo também possível visualizar na imunoprecipitação dessas proteínas suas isoformas fosforiladas. IP C-= imunoprecipitação do controle negativo; IP TbEIF4E3= imunoprecipitação do fator TbEIF4E3; LIS APÓS IP C-= lisado após imunoprecipitação do controle negativo; LIS APÓS IP TbEIF4E3= lisado após imunoprecipitação do TbEIF4E3.

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55

55.. DDiissccuussssããoo O controle da expressão gênica em T. brucei e em outros kinetoplastídeos baseia-se

amplamente em alterações nos níveis dos transcritos, cujos níveis são regulados através da

estabilidade e degradação dos mRNAs, e possivelmente também em alterações no seu padrão

de tradução (Clayton, 2002). Estudos prévios em Leishmania e Trypanosoma sugerem que,

enquanto diferenças na abundância de transcritos possam ser quantificadas ao longo da

diferenciação celular, essas mudanças não são tão pronunciadas quanto em organismos que

regulem a sua expressão gênica através da iniciação da transcrição, e a porcentagem de genes

cujos níveis de mRNAs variam ao logo do ciclo de vida é bem menor que a de proteínas (10%)

(McNicoll et al., 2006). Por outro lado, , até o momento poucas informações foram obtidas no

âmbito da regulação em nível pós-traducional, apesar de ser um dos mecanismos de maior

relevância dentre os aspectos da biologia desses parasitas. É possível que o grande número de

homólogos dos fatores de iniciação eIF4E e eIF4G e as modificações pós-traducionais

presentes nestes fatores possam acrescentar outras vias pelas quais a expressão gênica pode

ser regulada nesses organismos.

Através da análise da expressão dos fatores TbEIF4E1, TbEIF4E3 e 4 e TbEIF4G4 e 5,

nas fases procíclica e sanguínea, foi possível observar que o padrão de expressão deles

diferiram ao longo das curvas de crescimento. Dentre as proteínas em estudo algumas se

apresentaram sob a forma de no mínimo duas bandas (TbEIF4E3, TbEIF4E4 e TbEIF4G4),

nas duas fases do ciclo de vida de T. brucei. Em Leishmania, se observou que a banda de

maior peso molecular do EIF4E3 diminui de intensidade ao longo de uma curva de

crescimento mas se intensifica novamente na fase estacionária, enquanto que a banda de

maior peso molecular do EIF4E4 aumenta ao longo da curva e depois desaparece no final

(Pereira, 2008). Este comportamento, entretanto, não foi observado para nenhum dos fatores

analisados de T. brucei. Nossos resultados contudo mostraram, de forma mais proeminente,

uma segunda banda de maior peso molecular do fator TbEIF4E4 apenas para a forma

sanguínea, e somente no ponto de 6 horas da sua curva de crescimento. Já o TbEIF4G4

apresentou-se como duas isoformas ao longo de todas as curvas da forma procíclica e

sanguínea, ambas fosforiladas, diferentemente também do que acontece em Leishmania

amazonensis, uma vez que neste organismo foi observado que seu ortólogo é expresso de

maneira estágio específica, sendo sua expressão drasticamente reduzida em células da fase

amastigota (Reis,C.R., dados não publicados).

Os fatores TbEIF4E1 e TbEIF4G5 se apresentaram sob a forma de bandas únicas,

indicando que aparentemente não são fosforilados, e o perfil de expressão também não variou

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ao longo das curvas de crescimento realizadas. Dentre todos os homólogos estudados, a

proteína menos abundante em células de T. brucei foi o TbEIF4E1 e a mais abundante foi o

TbEIF4E3, tanto na forma procíclica quanto na sanguínea. A quantificação do TbEIF4E1 e do

TbEIF4E3 realizada em ambas as formas do T. brucei, é consistente com os níveis de

expressão dessas proteínas visualizados nos experimentos de Western-blot, sendo detectado

cerca de 1,5-5x103 e 2-4x104 moléculas/célula na forma sanguínea e 3-8x103 e 5-10x104

moléculas/célula na forma procíclica para o TbEIF4E1 e para o TbEIF4E3, respectivamente

(Freire, 2010).

A permanência da expressão de todos os fatores analisados (TbEIF4E1, TbEIF4E3-4,

TbEIF4G4-5 e a TbPABP1) durante as duas fases do ciclo de vida do T. brucei, leva a crer

que essas proteínas são essenciais para a manutenção da homeostasia celular. De acordo com

essa afirmação, ensaios de interferência de RNA para avaliar a viabilidade celular após a

depleção dos níveis das proteínas TbEIF4G4 e TbEIF4E3 em T. brucei, resultaram em morte

rápida da cultura (Moura, 2007; Freire, 2010). A depleção do TbEIF4G4 também induziu

mudanças na morfologia celular, resultando em parasitas com formas arredondadas (Moura,

2007).

Através da purificação de fosfoproteínas realizada nesse trabalho foi possível

determinar que a presença de mais de uma isoforma nas proteínas alvo (TbEIF4E3, TbEIF4E4

e TbEIF4EG4) na forma procíclica é devido a modificações pós-traducionais do tipo

fosforilação. A análise do TbEIF4AI nesse mesmo experimento confirmou que esse fator não

é fosforilado. Um recente trabalho também identificou, na forma saguínea do T. brucei,

formas fosforiladas do TbEIF4E3 (Nett et al., 2009). A confirmação da fosforilação dessas

proteínas em ambas as formas do ciclo de vida do organsimo torna possível pressupor que

esta modificação está associada a mecanismos que atuem constantemente na regulação da sua

atividade.

Os experimentos de imunoprecipitação aqui realizados demonstraram que ambas as

formas fosforiladas do TbEIF4G4 co-imunoprecipitaram com o TbEIF4E3. Em animais após

a alimentação, foi observado um aumento na formação do complexo eIF4F, e esse evento foi

associado com uma elevação de dez vezes no nível de fosforilação da Ser-1148 do eIF4GI

(Vary e Lynch, 2006). È possível que as modificações pós-traducionais observadas no

TbEIF4G4 e em outros fatores possam estar atuando regulando a especificidade de interação

entre parceiros na iniciação da tradução, como já foi visto para a PABP (Le et al., 2000), mas

até o momento não está claro como isso ocorre.

Dados na literatura já haviam relatado que uma das isoformas da PABP1 em

Leishmania é na verdade a mesma proteína na sua forma fosforilada (Bates et al., 2000). A

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visualização da TbPABP1 sob a forma de dois spots, dá indícios de que essa proteína também

é fosforilada no T. brucei, evidenciando uma conservação nos mecanismos de regulação entre

esses parasitas. Estudos com gérmen de trigo têm demonstrado que a PABP no seu estado

hiperfosforilado interage mais eficientemente com o eIF4G do que a sua forma

hipofosforilada (Gallie et al., 1997; Le et al., 2000; Ma et al., 2009), e aumenta sua ligação

cooperativa à cauda poli(A), sugerindo que sua capacidade de homodimerizar é aumentada

(Le et al., 2000). Outro estudo demonstrou em células HeLa que durante o período de

recuperação após choque de calor houve um aumento na associação da PABP1 com o eIF4G,

e um concomitante aumento no nível de fosforilação. Assim o aumento no status de

fosforilação da PABP após choques de calor pode ser um passo importante para restaurar os

níveis normais de tradução.

Em formas procíclicas do T. brucei, um estudo demonstrou que cerca de 80% das

proteínas analisadas através de gel 2-D foram identificadas sob a forma de quatro ou menos

spots (ex.: β-tubulina, HSP70), os quais apresentaram mudanças no pI, apesar de a massa

molecular apresentar discreta ou nenhuma alteração, o que demonstra que a modificação de

proteínas é bastante comum nesse parasita (Jones et al., 2006). De acordo com essas

informações, no presente trabalho foi possível visualizar claramente diversas isoformas para

os fatores TbEIF4E3 e 4, com pequenas diferenças de massa molecular e pI. Os efeitos da

fosforilação do eIF4E de vertebrados na tradução cap-depentente in vitro são insignificantes.

Entretanto, a hiperfosforilação forçada do eIF4E através da superexpressão de Mnks em

células de mamíferos levou a uma redução nos níveis de tradução (Knauf et al., 2001). A

fosforilação também parece produzir uma modesta diminuição na afinidade do eIF4E por

mRNA capeados ou análogos de nucleotídeos capeados (Scheper e Proud, 2002) e análises

mutacionais indicam que a fosforilação também é necessária para que ocorra transformação

celular (Topisirovic et al., 2004).

Em eucariotos superiores, um dos papéis da fosforilação de proteínas é regular vias

necessárias para a proliferação e diferenciação celular (Parsons et al., 1993). Uma

comparação entre o estágio sanguíneo e o procíclico de T. brucei demonstrou que a atividade

e a abundância de muitas proteínas quinases, são reguladas durante o desenvolvimento do

parasita (Parsons et al., 1993; Hua e Wang., 1994). Trabalhos adicionais necessitam ser

realizados para identificar o real papel da fosforilação dos fatores estudados durante o evento

da iniciação da tradução. Ensaios de eletroforese bidimensional comparando as diversas fases

da curva de crescimento de cada forma do parasita, a análise da associação dos homólogos

com polissomos, e a possível identificação das quinases e fosfatases que atuam regulando o

nível de fosforilação podem ajudar a esclarecer as vias de regulação que controlam a

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expressão gênica desses parasitas. Essas modificações pós-traducionais podem desempenhar

papel central na regulação da síntese protéica desses parasitas. Os dados obtidos, juntamente

com dados futuros, serão úteis para a identificação de mecanismos conservados na iniciação

da tradução entre os tripanossomatídeos e eucariotos superiores.

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66.. CCoonncclluussõõeess • As proteínas TbEIF4E1, TbEIF4E3, TbEIF4E4, TbEIF4G4, TbEIF4G5 e a TbPABP1

são expressas nas duas principais formas do ciclo de vida do T. brucei em níveis

relativamente constantes.

• TbEIF4E3, TbEIF4E4 e TbEIF4G4 são proteínas modificadas pós-traducionalmente

através da fosforilação e o TbEIF4AI não é fosforilado.

• TbPABP1, TbEIF4E3 e TbEIF4E4 são representados por 2, 5 e 4 isoformas,

respectivamente, enquanto o TbEIF4AI é representado por apenas uma.

• Diferentes fosforilações do TbEIF4G4 não parecem alterar sua interação com o

TbEIF4E3.

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