expressÃo, purificaÇÃo e caracterizaÇÃo …

85
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE MEDICINA DE SOBRAL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOTECNOLOGIA ANTÔNIA SÂMIA FERNANDES DO NASCIMENTO DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL DA BDH-2 RECOMBINANTE, UMA ESPERMADESINA PRESENTE NO PLASMA SEMINAL DE BODE (Capra hircus) SOBRAL / CE FEVEREIRO - 2010

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Page 1: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE MEDICINA DE SOBRAL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOTECNOLOGIA

ANTÔNIA SÂMIA FERNANDES DO NASCIMENTO

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL

DA BDH-2 RECOMBINANTE, UMA ESPERMADESINA PRESENTE

NO PLASMA SEMINAL DE BODE (Capra hircus)

SOBRAL / CE

FEVEREIRO - 2010

Page 2: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

ANTÔNIA SÂMIA FERNANDES DO NASCIMENTO

DEFESA DE DISSERTAÇÃO:

EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL

DA BDH-2 RECOMBINANTE, UMA ESPERMADESINA PRESENTE

NO PLASMA SEMINAL DE BODE (Capra hircus)

Dissertação desenvolvida no

Departamento de Bioquímica e

Biologia Molecular da Universidade

Federal do Ceará, durante o curso de

Pós-Graduação em Biotecnologia e

apresentada como requisito parcial para

obtenção do título de Mestre em

Biotecnologia.

Orientador: Prof. Dr. Benildo Sousa Cavada

Co-Orientadora: Profa. Dr

a. Kyria Santiago do

Nascimento

SOBRAL / CE

FEVEREIRO – 2010

Page 3: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

N193e Nascimento, Antônia Sâmia Fernandes do

Expressão, purificação e caracterização estrutural da BDH-2

recombinante, uma espermadesina presente no plasma seminal do bode

(Capra hircus) / Antônia Sâmia Fernandes do Nascimento, 2010.

84 f. ;il. color. enc.

Orientador: Prof. Dr. Benildo Sousa Cavada

Co-orientadora: Profa. Dra. Kyria Santiago do Nascimento

Área de concentração: Biotecnologia

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Ceará, Campus de

Sobral, Sobral-Ce, 2010.

1. Caprino-criação 2. Lectinas I. Cavada, Benildo Sousa (orient.) II.

Nascimento, Kyria Santiago (co-orient.) III. Universidade Federal do Ceará

– Pós-Graduação em Biotecnologia IV. Título

CDD 660.6

CDD 639.2

Page 4: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

ANTÔNIA SÂMIA FERNANDES DO NASCIMENTO

DEFESA DE DISSERTAÇÃO:

EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL DA BDH-2

RECOMBINANTE, UMA ESPERMADESINA PRESENTE NO PLASMA SEMINAL

DE BODE (Capra hircus)

Dissertação desenvolvida no Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da

Universidade Federal do Ceará durante o curso de Pós-Graduação em Biotecnologia e

apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de mestre em Biotecnologia

Dissertação aprovada em: 02/02/2010

_________________________________

Antônia Sâmia Fernandes do Nascimento

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________

Professor Dr. Benildo Sousa Cavada (Orientador)

Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular

Universidade Federal do Ceará-UFC

___________________________________________

Dr. João Batista Cajazeiras

Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular

Universidade Federal do Ceará-UFC

___________________________________________

Professor Dr. Jorge Luiz Martins

Departamento de Química e Geociência de Pelotas

Universidade Federal de Pelotas-UFPe

Page 5: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

A Deus,

À minha família,

A meus amigos,

Dedico

Page 6: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Benildo Sousa Cavada, pela acolhida em seu laboratório, pela

orientação, incentivo e por todas as oportunidades ofertadas. Agradeço pelos ensinamentos e

acima de tudo pelo exemplo de pesquisador, prova de que conhecimento não é obstáculo à

humildade.

À Profa. Dr

a. Kyria Santiago do Nascimento, querida Mme Kyrie, antes de tudo

pela amizade ilimitada, pelo empenho em ver meu crescimento e me ajudar nessa caminhada.

Obrigada pela paciência, alegria do dia-a-dia e por tornar o ambiente de trabalho um local

prazeroso de se conviver.

Ao Dr. João Batista Cajazeiras (Bapte), pela amizade, conselhos e incentivos, cuja

ajuda foi indispensável na execução de todas as etapas deste trabalho.

Ao Prof. Rodrigo Maranguape pelos ensinamentos em Biologia Molecular, cuja

orientação me forneceu bases sólidas para meu amadurecimento profissional.

Ao Prof. Dr. André Luis Coelho da Silva, pela ajuda na execução dos

experimentos de dicroísmo circular e pelos conselhos e discussões compartilhadas.

A todos os professores que compõem o curso de Biotecnologia pelos valiosos

ensinamentos durante meu Mestrado, em especial ao nosso coordenador Prof. Dr. Edson

Holanda Teixeira, pela enorme dedicação ao curso ainda tão recente, mas com grande

potencial.

A toda a equipe do BIOMOL-LAB (Helton, Ito, Raniere, Rafael, Camilinha,

Julinha, Eduárdico, Júnior, Kássia, Alfa, Fernando, Sukita, Talitos, Guilherme, Arthur,

Rômulo e Luciana) pelas boas risadas que demos juntos, pelo aprendizado e principalmente

pela amizade, em especial, aos companheiros de laboratório Bruninho e Sarita, indispensáveis

na realização deste trabalho, obrigada pela força, apoio e incentivo.

Aos meus inestimáveis companheiros da primeira turma de mestrado em

Biotecnologia: Mayron, Cynara, Ticiana, Fábio, Fabiano, Isana, Edmundo, Togashi e Niedja,

com os quais compartilhei bons momentos de aprendizagem.

Aos integrantes do Núcleo de Biotecnologia de Sobral (NUBIS) em especial a

Dôra, Daniel, João, Jackson e Antônio pela “calorosa” receptividade no NUBIS, pelo

companheirismo e incentivo.

Page 7: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

Às minhas queridas amigas Bébé, Melzinha e Manélica sempre tão presentes e

incentivadoras, muito obrigada por compartilharem comigo este momento e por tudo de bom

que acrescentam em minha vida.

A minha grandiosa família e de forma mais que especial a minha querida irmã

Pauliana, sem a qual não imagino minha caminhada, sempre tão presente e incentivadora,

muito obrigada por proporcionar este momento tão feliz em minha vida.

A Deus, por estar sempre ao meu lado e conceder-me a graça de viver esta vitória.

A todas as pessoas que de alguma forma contribuíram para a realização deste

trabalho, faço de minha conquista uma forma de gratidão e de reconhecimento por tudo

quanto recebi de vocês.......muito obrigada!

Page 8: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

“Se não houver frutos, valeu a beleza das flores, se não houver flores, valeu a sombra das

folhas, se não houver folhas, valeu a intenção da semente.”

Henfil.

Page 9: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS--------------------------------------------------------------------------------------------------------10

LISTA DE TABELAS--------------------------------------------------------------------------------------------------------13

LISTA DE ABREVIATURAS----------------------------------------------------------------------------------------------14

RESUMO-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------16

ABSTRACT--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------17

1. INTRODUÇÃO-------------------------------------------------------------------------------------------------------------18

1.1 CAPRINOCULTURA---------------------------------------------------------------------------------------------------- -18

1.2 PLASMA SEMINAL---------------------------------------------------------------------------------------------------- -19

1.3 LECTINAS----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- -20

1.3.1 HISTÓRICO E DEFINIÇÃO------------------------------------------------------------------------------------------20

1.3.2 OCORRÊNCIA E FUNÇÕES-------------------------------------------------------------------------------------- ---21

1.3.3 CLASSIFICAÇÃO DAS LECTINAS VEGETAIS-----------------------------------------------------------------24

1.3.4 LECTINAS ANIMAIS------------------------------------------------------------------------------------------------- -26

1. Lectina do Tipo C------------------------------------------------------------------------------------------------------------26

1.1 Colectinas----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- ---27

1.2 Selectinas--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------29

1.3 Lectinas endocíticas---------------------------------------------------------------------------------------------------- ----30

2. Galectinas------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- --30

3. Siglecs ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- -----32

1.4 ESPERMADESINAS--------------------------------------------------------------------------------------------------- ---33

1.4.1 ESPERMADESINAS SUÍNAS ---------------------------------------------------------------------------------------34

1. AWN, AQN-1 e AQN-3----------------------------------------------------------------------------------------------------34

2. PSP-I e PSP-II------------------------------------------------------------------------------------------------------------- ---36

1.4.2 ESPERMADESINAS BOVINAS-------------------------------------------------------------------------------------38

1.4.3 ESPERMADESINA EQÜINA-----------------------------------------------------------------------------------------39

1.4.4ESPERMADESINA OVINA-------------------------------------------------------------------------------------------40

1.4.5.ESPERMADESINAS CAPRINAS------------------------------------------------------------------------------------41

2. JUSTIFICATIVA----------------------------------------------------------------------------------------------------------43

3. OBJETIVOS----------------------------------------------------------------------------------------------------------------45

3.1 OBJETIVO GERAL-------------------------------------------------------------------------------------------------------45

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ----------------------------------------------------------------------------------------- ---45

4. MATERIAIS E MÉTODO-----------------------------------------------------------------------------------------------46

4.1 CONSTRUÇÃO DO VETOR DE EXPRESSÃO PROCARIÓTICO----------------------------------------------46

4.2 PCR COLONY PARA SELEÇÃO DOS CLONES POSITIVOS--------------------------------------------------47

4.3 EXPRESSÃO HETERÓLOGA DA rBdh-2---------------------------------------------------------------------------48

4.3.1 INDUÇÃO DA EXPRESSÃO DA rBdh-2 POR IPTG---------------------------------------------------------48

4.3.2 INDUÇÃO DA EXPRESSÃO DA rBdh-2 POR TEMPERATURA-----------------------------------------49

4.4 EXTRAÇÃO DE PROTEÍNAS TOTAIS DA E. coli TOP 10 RECOMBINANTE-----------------------------49

4.5 PURIFICAÇÃO DA r-Bdh2 POR CROMATOGRAFIA DE AFINIDADE EM COLUNA HIS-TRAP-----50

4.6 PURIFICAÇÃO DA BODESINA RECOMBINANTE rBdh-2 POR CROMATOGRAFIA DE TROCA

IÔNICA EM COLUNA DEAE-SEPHACEL-------------------------------------------------------------------------51

4.7 ELETROFORESE EM GEL DE POLIACRILAMIDA-------------------------------------------------------------52

4.8 IMUNOBLOTTING----------------------------------------------------------------------------------------------- -------52

4.9 DICROÍSMO CIRCULAR (CD)-------------------------------------------------------------------------------------- --53

4.10 ENSAIO DE TERMOESTABILIDADE DA rBdh-2 UTILIZANDO DICROÍSMO CIRCULAR------------55

5. RESULTADOS-------------------------------------------------------------------------------------------------------------56

5.1 CONSTRUÇÃO DO VETOR DE EXPRESSÃO PROCARIÓTICO----------------------------------------------56

Page 10: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

5.2 PCR COLONY PARA SELEÇÃO DOS CLONES POSITIVOS---------------------------------------------------57

5.3 PURIFICAÇÃO DA PROTEÍNA RECOMBINANTE r-Bdh2 POR CROMATOGRAFIA DE AFINIDADE

EM COLUNA HIS-TRAP - INDUÇÃO POR TEMPERATURA-------------------------------------------------------58

5.4 PURIFICAÇÃO DA r-Bdh2 POR CROMATOGRAFIA DE AFINIDADE EM COLUNA HIS-TRAP COM

METAL IMOBILIZADO (IMAC) – INDUÇÃO POR IPTG------------------------------------------------------------59

5.5 CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DA rBdh-2 SEMI PURIFICADA - ANÁLISE

ELETROFORÉTICA E IMUNOBLOTTING------------------------------------------------------------------------------60

5.6 PURIFICAÇÃO DA PROTEÍNA RECOMBINANTE rBdh-2 POR CROMATOGRAFIA DE TROCA

IÔNICA EM COLUNA DEAE-SEPHACEL-------------------------------------------------------------------------------61

5.7 CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DA rBdh-2 PURIFICADA - ANÁLISE ELETROFORÉTICA E

IMUNOBLOTTING------------------------------------------------------------------------------------------------------------62

5.8 CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL DA rBdh-2 POR DICROÍSMO CIRCULAR (CD)-------------------62

5.9 ENSAIO DE TERMOESTABILIDADE DA rBdh-2 POR DICROÍSMO CIRCULAR-------------------------64

6. DISCUSSÃO--------------------------------------------------------------------------------------------------------------- --66

7. CONCLUSÃO---------------------------------------------------------------------------------------------------------------72

8. PERSPECTIVAS-----------------------------------------------------------------------------------------------------------73

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS---------------------------------------------------------------------------------74

Page 11: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Representação esquemática da interação lectina-carboidrato na superfície celular

(SHARON & LIZ, 2004). p.22.

Figura 2: Representação esquemática de Merolectinas, Hololectinas, Quimerolectinas e

Superlectinas (VAN DAMME et al., 1998). p.24.

Figura 3: Representação esquemática mostrando a organização molecular das lectinas do

tipo-C. p. 27.

Figura 4: Representação esquemática mostrando a organização molecular das colectinas

(KAWASAKI, 1998). p. 28.

Figura 5: Representação esquemática das galectinas baseado na arquitetura estrutural de suas

subunidades (HIRABAYASHI E KASAI, 1993) . p.31.

Figura 6: Representação esquemática montrando a capacitação do espermatozóide e

fecundação no oviduto de mamíferos. Adaptado de TOPFER-PETERSEN et al., (2008). p.

35.

Figura 7: Comparação da seqüência de aminoácidos do N-terminal das espermadesinas de

suínos (AQN-1, AWN), eqüino (AWN) e bovino (aSFP) e caprino (BSFP). A: Alinhamento

feito através do CLUSTAL W. Asteriscos representam resíduos de aminoácidos idênticos em

todas as sequências; Dois pontos representa substituições conservadas; ponto representa

substituições semi-conservadas. B: Cladograma obtido por alinhamento através do CLUSTAL

W. (Adaptado de TEIXEIRA et al., 2006). p.41.

Figura 8: Representação esquemática do vetor de expressão procariótico pTrcHis-Bdh-2.

pBR322 ori: origem de replicação; Amp: gene de resistência a ampicilina; Lac1q: gene

repressor lac; LacO: operador lac; ATG: códon de iniciação; 6XHis: sequência que codifica

para a cauda de histidina; EK: sítio de clivagem para a enteroquinase; Bdh-2: fragmento do

cDNA da Bdh-2; rrnB: seqüência de terminação da transcrição. p. 47.

Figura 9: Representação esquemática da Interação entre resíduos vizinhos da cauda de

histidina (His-tag) e a matriz contendo níquel imobilizado. Os sítios livres na esfera de

interação do níquel interagem com os anéis de imidazol da proteína recombinante (azul). p.

50.

Figura 10: A: Espectropolarímetro J-815 da JASCO utilizado para a realização das medidas

de CD da bodesina rBdh-2; B: Cubeta de quartzo com 1 mm de caminho ótico. p. 54.

Figura 11: Representação esquemática da sequência nucleotídica do sistema de

expressãopTrcHis-Bdh-2 e da sequencia de aminoácidos traduzida. O vetor plasmidial é

mostrado em letras sublinhadas. O códon de iniciação (ATG) e os dois códons de parada estão

dentro das caixas cinzas. O sítio de ligação do ribossomo está representado em letras itálica. A

6xHis tag e a sequencia de reconhecimento da enteroquinase são mostrados em negrito . p. 56.

Page 12: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

Figura 12: Amplificação da ORF codificadora da bodesina Bdh-2. A primeira coluna indica o

padrão de massa molecular de 250 pb DNA Ladder da Invitrogen. A seta corresponde a ORF

da Bdh-2 amplificada. p. 57.

Figura 13: Perfil cromatográfico da purificação da proteína rBdh-2 utilizando cromatografia

de afinidade em coluna His-Trap contendo metal imobilizado. O tampão de eluição da fração

protéica não ligante foi fosfato de sódio com imidazol 10mM. O tampão de eluição da fração

protéica retida na coluna foi fosfato de sódio com gradiente de imidazol de 0-500mM. O fluxo

da cromatografia foi de 1,0 mL/min e as frações protéicas foram monitoradas a 216 nm (rosa)

e 280 nm (azul). p. 58.

Figura 14: Perfil cromatográfico da purificação da proteína recombinante rBdh-2 através de

cromatografia de afinidade em coluna HisTrap no sistema Äkta Purifier (GE Healthcare). O

tampão de eluição da fração protéica não retida utilizado foi fosfato de sódio com uréia 8 M e

imidazol 10mM. O tampão de eluição da fração retida nos metais da coluna de afinidade foi

fosfato de sódio com uréia 8 M e gradiente de imidazol de 0-500mM. O fluxo da

cromatografia foi de 1,0 mL/min e as frações protéicas foram monitoradas a 280 nm (azul). p.

59.

Figura 15: A: Perfil da detecção da bodesina recombinante r-Bdh2 fusionada com cauda de

histidina. 1: T0 ( Extrato total antes da indução por IPTG); 2: T2 (Extrato total após indução

por IPTG 1,5mM por 2 horas); 3: Fração insolúvel da indução por IPTG ; 4: Fração solúvel da

indução por IPTG; 5: Fração retida em coluna de HisTrap; 6: Fração não retida em coluna de

HisTrap. p. 60.

Figura 16: Perfil cromatográfico da purificação da proteína rBdh-2 em coluna de troca iônica

DEAE-Sephacel no sistema Äkta Purifier. O tampão de eluição da fração protéica não retida

na matriz cromatográfica foi Tris 20mM pH 7,4. O tampão de eluição de fração protéica

retida na matriz cromatográfica foi Tris 20mM pH 7,4 com NaCl 1,0M. O fluxo da

cromatografia foi de 1,0 mL/min e as frações protéicas foram monitoradas a 280 nm (azul). p.

61.

Figura 17: A: Perfil eletroforético em gel de poliacrilamida 15% na presença de SDS corado

com prata. 1- Fração retida em coluna de DEAE-Sephacel; 2- Fração não retida em coluna de

DEAE-Sephacel. B: Análise por imunoblotting. p. 62.

Figura 18: Espectro de dicroísmo circular da rBdh-2. As medidas foram realizadas no

espectropolarímetro da Jasco J-815 utilizando 100 L da rBdh-2 (DO = 0,300) em tampão

Tris 20 mM pH 7.0. Os espectros foram obtidos variando o comprimento de onda entre 190 a

250 nm e registrados como uma média de 8 varreduras a 25 oC, utilizando uma cubeta de

quartzo com caminho óptico de 1 mm. p. 63.

Figura 19: Espectros de dicroísmo circular da rBdh-2 obtidos sob diferentes temperaturas. As

medidas foram realizadas utilizando uma alíquota de 100 L da rBdh-2 (DO = 0,300) em

tampão Tris 20 mM pH 7.0. Os espectros foram obtidos variando o comprimento de onda

entre 200 a 250 nm e registrados como uma média de 8 varreduras, com a temperatura

variando de 5 a 55 oC (em intervalos de 5

oC), utilizando uma cubeta de quartzo com caminho

óptico de 1 mm. p. 64.

Page 13: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

Figura 20: Curva de termoestabilidade da estrutura secundária rBdh-2 obtida através da

análise de dicroísmo circular (CD). p. 65.

Page 14: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Composição da estrutura secundária da rBdh-2 obtida da desconvolução do

espectro de CD. p.63

Page 15: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

LISTA DE ABREVIATURAS

µm: micrometro

aSFP: (acidic seminal fluid protein) Proteína ácida do plasma seminal

Atms: Atmosferas

AWN, AQN-1, AQN-3: Espermadesinas suínas

Bdhs: Bodesinas

BSFP: (Buck Seminal Fluid Protein) Proteína do plasma seminal de bode

Ca2+

: Íon cálcio

CD: (Circular Dichoism) Dicroísmo circular

cDNA: DNA complementar ao RNA mensageiro

CL-P1: Colectina de placenta

ConA: Concanavalina A, lectina de Canavalia ensiformes

CRD: Domínio de reconhecimento de carboidratos

CRISP: (Cystein Rich Secretory Protein) Proteína secretória rica em cisteína

CUB: C de subcomponentes do complemento (Clr, Cls), U de proteína do

embrião do ouriço-do-mar (Uegf) e B de proteína 1 morfogenética do osso (Bmp1).

CV: volumes de coluna

E. coli: Bactéria Escherichia coli

HPLC: (High Performance Liquid Chromatography) Cromatografia Líquida de

alta performance

Ig C2-set: Região constante do anticorpo

Ig V-set: Região variável do anticorpo

IPTG: Isopropyl-D-thiogalactoside

kDa: KiloDaltons

LB-Broth: Meio de cultivo para bactéria Lauria Bertani-Broth

MASP-1, -2 ou -3: MBL associado à serina protease

IL: Interleucina 1

TNF-α: Fator de necrose tumoral alfa

MBL: Lectina ligante de manana

CL-L1: Colectina do fígado 1

CL-L2: Colectina do fígado 2

MPB: Proteína ligante de manose

Page 16: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

CL-43: Colectina-43 bovina

Fn-tipo II: Fibronectinas do tipo II

nm: nanometro

ORF: (Open Reading Frame) Janela aberta de leitura

pb: Pares de base

pB1: Proteína suína fibrinogênio tipo-II

PSP-I: (Porcine Seminal Plasma Protein) Proteína do plasma seminal de suíno I)

PSP-II: (Porcine Seminal Plasma Protein I I) Proteína do plasma seminal de suíno II)

r-Bdh2: Bodesina 2 recombinante

RIP: (Ribosome-Inactivating Protein) Proteína inativadora de ribossomos

RNA: Ácido ribonucléico

rpm: Rotações por minuto

RSP: (Ram Seminal Plasma Protein) Proteína do plasma seminal de carneiro

RT- PCR: (Reverse Transcriptase- Polymerase chain reaction) Reação em cadeia da

polimerase acoplada a transcrição reversa

SDS-PAGE: Dodecil sulfato de sódio-Poliacrylamida gel eletroforesys (eletroforese em gel

de poliacrilamida na presença de SDS

Siglecs: Lectinas da superfamília das imunoglobulinas com afinidade para ácido siálico

SP-A: Proteína pulmonar surfactante A

SPADH-1 e SPADH-2: Espermadesinas bovinas

SP-D: Proteína pulmonar surfactante D

S-S: Ponte dissulfeto

SSP-7: (Stallion Seminal Plasma Protein) Proteína do plasma seminal do garanhão

TxLC-1: (first Tulipa hybrid lectin with complex specificity) lectina de tulipa

Page 17: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

RESUMO

O cDNA da bodesina Bdh-2 presente no plasma seminal de caprino (Capra hircus) foi

subclonado no vetor de expressão pTrcHis TOPO utilizado para transformar células E.coli

Top 10 One Shot. Os clones recombinantes foram selecionados através de crescimento em

meio LB-Broth contendo 50 µg/mL de ampicilina e amplificação do gene por PCR. A síntese

da proteína recombinante rBdh-2 fusionada com cauda de histidina foi monitorada através de

SDS-PAGE seguido por immunobloting usando anticorpo monoclonal anti histidina. A

produção da rBdh-2 através da indução a baixas temperaturas não se mostrou satisfatória. A

maior produção da rBdh-2 ocorreu com IPTG 1,5 mM após 2 horas de indução. O método

utilizado para a purificação da proteína recombinante rBdh-2 foi através de cromatografia de

afinidade em coluna His-Trap seguida por cromatografia de troca-iônica em coluna de DEAE-

Sephacel. A estrutura secundária da rBdh-2 foi avaliada através do perfil espectral de

dicroísmo circular (CD) que confirmou a predominância de estruturas secundárias do tipo

folhas-β, a presença de um baixo conteúdo de estruturas não-ordenadas e de hélices- . A

rBdh-2 manteve sua estrutura estável até 35 °C. No entanto, mudanças significativas foram

observadas a partir de 40 °C referentes à descaracterização do espectro de CD.

Page 18: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

ABSTRACT

The Bdh-2 bodhesin cDNA present in seminal plasma of goat was subcloned in the

expression plasmid pTrcHis TOPO used to transform E. coli Top10 One shot cells. The

recombinant clones were selected by growth in 50 µg/mL ampicillin-containing LB-Broth

medium and PCR amplifications. The recombinant protein synthesis was monitored by SDS-

PAGE followed by immunoblotting using monoclonal anti-His antibody. The production of

the rBdh-2 through low temperature was not satisfactory. A greater production of the rBdh-2

occurred with IPTG 1.5 mM after 2 h of induction. The method utilized to the purification of

the rBdh-2 was realized in affinity chromatography on a His-Trap column following ion-

exchange chromatography on a DEAE-Sephacel column. The secondary structure of the

rBdh-2 was evaluated through spectral profile circular dichroism (CD) and confirmed the

prevalence of secondary structures like β-sheets, the presence of a low content of unfolded

structures and helices- . The rBdh-2 structure remained stable up to 35 °C. However,

significant changes were observed from 40 °C related to a distortion of the spectrum of CD.

Page 19: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

19

1. INTRODUÇÃO

1.1 CAPRINOCULTURA

A região Nordeste concentra cerca de 93% do contingente populacional de

caprinos do Brasil, estimado em cerca de 9 milhões de cabeças, o que coloca nosso país como

o 11° produtor mundial (IBGE, 2005; FAO, 2005). O grande efetivo de caprinos da região

Nordeste leva a caprinocultura a ser uma importante alternativa para o desenvolvimento social

e econômico dessa região.

Os caprinos foram introduzidos no Nordeste do Brasil ainda no período colonial e

sua cultura (caprinocultura) é considerada mundialmente uma atividade milenar. Estes

animais trazidos para o Brasil, ao longo do tempo, passaram por processos adaptativos através

dos quais adquiriram características únicas como, por exemplo, a rusticidade, que permite que

estes animais se desenvolvam mesmo sob condições adversas, como as encontradas no

Nordeste brasileiro. Podem ainda ser uma alternativa para a produção de leite, carne e pele,

tornando-os importantes como fontes básicas de proteína animal para a população.

As raças de caprino naturalizadas do Nordeste brasileiro, como por exemplo, as

raças Moxotó e Canindé, apesar de bem adaptadas, apresentam algumas desvantagens, como

um baixo volume do plasma seminal (SIMPLICIO et al., 1999). Devido a este fato, associado

à necessidade de aumento da produtividade, na década de 20 foram feitas tentativas de

realizar um melhoramento genético do rebanho caprino nordestino, importando da Espanha e

de Portugal animais de raça pura e exótica como a Saanen e a Anglo-Nubiana.

Porém, foi nos últimos anos, que ocorreram mudanças significativas para a

consolidação da cadeia produtiva da caprinocultura no Brasil, com a introdução de

biotecnologias modernas como inseminação artificial e produção de embriões tanto in vitro

como in vivo que vêm aumentando o número de animais de alto valor genético e contribuindo

para a conservação e multiplicação de animais de alta linhagem.

A caprinocultura vem despertando a atenção de governantes, técnicos e produtores

e isso tem se refletido na intensificação de pesquisas voltadas para a produção animal. Essas

pesquisas demandam o conhecimento aprofundado do processo reprodutivo em diversos

aspectos. Dentro dessa vertente, o plasma seminal caprino tem recebido considerável atenção

pela sua capacidade de influenciar a fertilidade potencial dos espermatozóides.

Page 20: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

20

1.2 PLASMA SEMINAL

Em caprinos, a eficiência reprodutiva dos machos, é um fator essencial a ser

considerado para viabilizar, com sucesso, o processo de reprodução.

Para isso, Inúmeros parâmetros químicos e físicos têm sido utilizados como

indicadores confiáveis do potencial reprodutivo dos animais. Dentre estes indicadores, o

plasma seminal apresenta fatores que influenciam a funcionalidade dos espermatozóides e do

trato genital feminino durante o transporte espermático (YANAGIMACHI, 1994).

O plasma seminal ou sêmem é um fluido no qual estão suspensos os

espermatozóides de mamíferos, bem como uma variedade de componentes orgânicos

(lipídeos, proteínas e carboidratos) e inorgânicos (sais minerais e íons) e são secretados pelos

testículos, epidídimo e glândulas sexuais acessórias que providenciam não somente suporte

metabólico e fonte de energia para os espermatozóides, mas também influenciam sua

funcionalidade (CABALLERO et al., 2005).

Dentre os inúmeros componentes presentes no plasma seminal, destacamos as

proteínas. Esta classe de biomoléculas exerce um importante papel durante a maturação das

células espermáticas e no desenvolvimento do trato reprodutivo do macho. Além disso, as

proteínas presentes no plasma seminal controlam os mecanismos moleculares de transporte do

espermatozóide ao longo do trato reprodutivo da fêmea (CABALLERO et al., 2005).

As principais proteínas presentes no plasma seminal de espécies unguladas

pertencem a três diferentes classes de proteínas amplamente distribuídas: Fibronectinas do

tipo II (Fn-tipo II), proteínas secretórias ricas em cisteína (CRISPs) e espermadesinas

(TÖPFER-PETERSEN et al., 2005).

Fibronectinas do tipo II. Fibronectinas do tipo-II são caracterizadas pela presença

de dois (Fn-tipo II curta) ou quatro (Fn-tipo II longa) módulos conservados de fibronectinas

arranjados em seqüência (SCHÄFER et al., 2003).

As formas curtas são amplamente sintetizadas no trato genital masculino,

enquanto as formas longas são expressas exclusivamente no epidídimo (EKHLASI-

HUNDRIESER et al., 2005). As Fn-tipo II encontram-se fortemente associadas à superfície

do espermatozóide durante o trânsito epididimário e no momento da ejaculação, exercem

diversas ações na membrana plasmática, as quais podem iniciar o processo de capacitação

(MANJUNATH &THERIEN, 2002).

Page 21: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

21

CRISPs ou Proteínas Secretórias Ricas em Cisteína. Esta classe de proteínas

compreende moléculas que são caracterizadas pela presença de 16 resíduos de cisteína

conservados nas estruturas protéicas. Estes resíduos estão envolvidos na formação de pontes

dissulfeto (YAMAZAKI & MORITA, 2004). Várias funções têm sido relatadas para CRISPs

no trato reprodutor masculino, dentre elas podemos citar a capacidade de agir no processo de

fecundação, maturação espermática e adesão de células espermatogênicas (MAEDA et al.,

1999).

Espermadesina. A terceira classe de proteínas que se encontra em maior número

no plasma seminal de espécies unguladas são as espermadesinas descritas como uma nova

classe de lectinas animais. Estas proteínas estão associadas principalmente a funções

reprodutivas, atuando em diversas etapas durante o processo de fecundação (CALVETE et

al.,1994).

1.3 LECTINAS

1.3.1 HISTÓRICO E DEFINIÇÃO

Lectina é uma classe de proteínas que foi inicialmente descoberta em 1860 por

Weir Mitchell, que durante seus estudos observou o fenômeno de hemaglutinação de

eritrócitos quando associados ao veneno de cascavel (Crotalus durissus). Em 1888, Hermman

Stillmark observou o mesmo fenômeno ao utilizar em seus experimentos extrato protéico de

sementes de mamoma (Ricinus communis).

O primeiro termo dado as proteínas hemaglutinantes foi proposto em 1898 por

Elfstrand referindo-se a proteínas citotóxicas hemaglutinantes vegetais. A idéia de que a

toxicidade era uma característica intrínseca das lectinas teve que ser abandonada, quando em

1907 Landsteiner e Raubitschek reportaram pela primeira vez a presença de lectinas não-

tóxicas em leguminosas como Phaseolus vulgaris, Pisium sativum, Lens culinaris e Vicia

sativa (LANDSTEINER & RAUBITSCHEK, 1907).

Em 1936, Sumner e Howell observaram que a hemaglutinação produzida pela

proteína presente em sementes de Canavalia ensiformis denominada Concanavalina A

(ConA) era inibida quando a mesma estava associada a sacarose presente na cana de açúcar

(SUMNER & HOWELL, 1936). Porém, somente em 1952, Watkins e Morgan demonstraram

Page 22: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

22

que as propriedades hemaglutinantes das lectinas, até então estudadas, eram baseadas numa

atividade específica de ligação a açúcar.

No final da década 40, W. C. Boyd e Shapleigh descobriram que certas

hemaglutininas eram específicas para eritrócitos dos grupos sanguíneos humanos. A

descoberta dessa seletividade levou Boyd, em 1954, a propor um novo termo para nomear

esta classe de proteínas hemaglutinantes. Assim, foi proposto o termo lectina oriunda do latim

legere, cujo significado é escolher, selecionar (BOYD & SHAPLEIGH, 1954).

À medida que novas propriedades iam sendo descobertas, novas definições iam

sendo atribuídas às lectinas. Atualmente, o conceito mais aceito data de 1995 e foi proposto

por Peumans e Van Damme. Estes autores definem lectinas como um grupo de proteínas de

origem não imune que possuem pelo menos um sítio não-catalítico de ligação a carboidratos,

de forma específica e reversível, não alterando sua estrutura (PEUMANS & VAN DAMME,

1995a).

Desde Weir Mitchell e Stillmark até os dias atuais, inúmeras moléculas biológicas

foram identificadas e caracterizadas como lectinas. Mas, somente a partir da década de 70,

essas moléculas passaram a ser tema de investigação em vários grupos de pesquisa

distribuídos no mundo.

1.3.2 OCORRÊNCIA E FUNÇÕES

Lectinas podem ser encontradas nos mais diversos grupos de organismos como

algas, plantas, bactérias, vírus, fungos, animais invertebrados e vertebrados. Desses

organismos, diferentes proteínas já foram isoladas e caracterizadas mostrando o potencial de

interação a diferentes carboidratos. Sendo assim, as lectinas representam uma classe de

proteínas que podem ser utilizadas como ferramentas valiosas em diversos estudos.

A ubiquidade das lectinas reflete sua participação efetiva em atividades biológicas

muito diversas atuando tanto intra como intercelularmente, tanto em processos fisiológicos

como em processos patológicos.

As interações moleculares baseadas no reconhecimento específico entre lectinas e

glicanos desempenham um papel chave em inúmeros processos celulares. Isso se deve, em

parte, ao enorme potencial codificador da estrutura dos glicanos em comparação com outras

macromoléculas como proteínas e ácidos nucléicos. Portanto, lectinas são também

Page 23: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

23

consideradas moléculas capazes de decodificar glicocódigos presentes nos mais diversos tipos

celulares (PEUMANS & VAN DAMME, 1995).

Os processos de interação das lectinas a carboidratos ocorrem, por exemplo, por

meio de pontes de hidrogênio e interações hidrofóbicas estabelecidas entre os carboidratos e

os resíduos aminoacídicos do sítio ativo da lectina (WEIS & DRICKAMER, 1996).

Devido a essa característica primordial de ligar-se a carboidratos, as lectinas

desempenham várias atividades biológicas como citotoxicidade em células e organismo,

adesão celular, interações célula-matriz, indução de apoptose e aglutinação de células e

bactérias (SALES et al., 2000; DANGUY et al., 2002) (Figura 1).

Figura 1 - Representação esquemática da interação lectina-carboidrato na superfície celular (SHARON & LIS,

2004).

As lectinas têm sido usadas também no estudo da arquitetura da superfície celular,

tipagem de grupos sanguíneos e isolamento e caracterização estrutural de oligossacarídeos.

Além disso, as lectinas apresentam efeitos biológicos de grande interesse como

Page 24: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

24

imunossupressão e mitogenicidade, por isso são amplamente utilizadas em imunologia e

biologia celular (Revisado em SHARON & LIS, 2004).

Algumas lectinas discriminam diferentes tipos de células, incluindo conjuntos e

subconjuntos de células linfóides (MACIEL et al., 2004), e reconhecem células cancerosas

em diferentes estágios de desenvolvimento (SHARON & LIS, 2004). Essas considerações têm

induzido sua exploração como marcadores histoquímicos e como agentes para separação de

células.

Diversas lectinas podem ainda apresentar aplicações terapêuticas, podendo ser

utilizadas no combate de diferentes patógenos. A lectina isolada da alga vermelha Solieria

filiformis foi eficiente ao inibir o crescimento das bactérias gram-negativas Serratia

marcescens, Salmonella typhi, Klebsiella pneumoniae, Enterobacter aerogenes, Proteus sp, e

Pseudomonas aeruginosa (HOLANDA et al., 2005). Lectinas específicas de manose obtidas

de monocotiledôneas apresentam ainda atividade antiretroviral, podendo ser utilizadas no

combate a síndrome da imunodeficiência adquirida em humanos (SIDA) (BALZARINI et al.,

1991). Isso se deve ao fato dessas lectinas ligarem-se a glicoproteína da cápsula viral

relacionada ao reconhecimento e adesão a linfócitos, gp120, impedindo a invasão dessas

células (BALZARINI et al., 1992).

Devido ao fato de algumas lectinas possuírem a habilidade para mediar

mucoadesão, citoadesão e a citoinvasão de drogas (GABOR et al., 2004), essas moléculas têm

sido exploradas quanto à sua utilização em sistemas de liberação de drogas. Lectina de folhas

de Bauhinia monandra e a lectina de Lens culinaris foram incorporadas e também adsorvidas

na superfície de nanopartículas, mostrando ser potenciais ferramentas para a utilização em

medicamentos de administração oral com liberação controlada (RODRIGUES et al., 2003).

A família das leguminosas é a mais bem estudada quanto ao isolamento e

caracterização de lectinas. Essa família apresenta lectinas com alto grau de homologia e

similaridade. São encontradas geralmente em cotilédones e endospermas, estando também

presentes em folhas, raízes, tubérculos e flores. A grande maioria das lectinas conhecidas é

proveniente de sementes (PEUMANS & VAN DAMME, 1995b).

Fisiologicamente, acredita-se que as lectinas vegetais atuam como: (i)

transportadores e armazenadores de carboidratos (NAKAMURA et al., 2004), (ii) ligação

entre bactérias fixadoras de nitrogênio à raiz das plantas, (iii) inibição do crescimento de

fungos, (iv) proteção das plantas contra ataque por insetos (WANG et al., 2000) e (v)

regulação hormonal do crescimento e desenvolvimento das plantas (SANZ-APARICIO et al.,

1997).

Page 25: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

25

Em animais invertebrados as lectinas estão presentes principalmente na hemolinfa

e nos órgãos sexuais. Já nos animais vertebrados as lectinas encontram-se distribuídas em

todos os tecidos e órgãos desempenhando as mais diversas funções como reconhecimento

específico entre espermatozóide e óvulo na fecundação, interações entre células e célula-

matriz extracelular, durante a embriogênese e no desenvolvimento do organismo,

diferenciação e proliferação celular (GABIUS, 1997).

1.3.3 CLASSIFICAÇÃO DE LECTINAS VEGETAIS

Com base nas características estruturais de lectinas de plantas, Peumans e Van

Damme classificaram lectinas como merolectinas, hololectinas, quimerolectinas e

superlectinas (PEUMANS & VAN DAMME, 1998) Descritas a seguir (Figura 2).

Figura 2: Representação esquemática de Merolectinas, Hololectinas, Quimerolectinas e Superlectinas

(PEUMANS & VAN DAMME, 1998).

Page 26: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

26

- Merolectinas: inclui lectinas que possuem apenas um sítio de ligação a

carboidrato e, consequentemente, não são capazes de aglutinar células ou precipitar

glicoconjugados. Como exemplo, podemos citar as proteínas manose-ligantes de orquídeas

(VAN DAMME et al., 1996) e a heveína, uma proteína quitina ligante encontrada no látex da

seringueira (VAN PARIJIS et al., 1996).

- Hololectinas: compreendem aquelas lectinas que têm dois ou mais sítios de

ligação a um mesmo carboidrato, sendo capazes de aglutinar células ou precipitar

glicoconjugados. Nesse grupo encontramos as lectinas mais estudadas. Como exemplo tem-se

a lectina de semente de Canavalia brasiliensis, ConBr (SANZ-APARICIO et al., 1997).

- Quimerolectinas: englobam as lectinas que possuem um ou mais sítios de

ligação a carboidratos, além de apresentarem atividade catalítica (ou outra atividade biológica

não carboidrato ligante) associada a um outro domínio molecular, portanto, diferente do sítio

de ligação a carboidrato. Como representantes dessa classe, podemos citar a PPL2, uma

lectina obtida a partir de sementes de Parkia platycephala, que apresenta de forma

independente um domínio ligante de quitina e outro com atividade endoquitinásica

(CAVADA et al., 2006).

- Superlectinas: possuem dois sítios de ligação a carboidratos, os quais são

estruturalmente diferentes e reconhecem açúcares não relacionados. Um exemplo desse grupo

é a lectina de tulipa TxLC-1 (first Tulipa hybrid lectin with complex specificity) que possui

subunidades com um sítio específico para manose e outro para N-acetil-galactosamina,

atuando de maneira totalmente independente (PEUMANS & VAN DAMME, 1998).

As lectinas vegetais podem ser classificadas em sete famílias, de acordo com

VAN DAMME et al. (1998):

Lectinas de leguminosas;

Lectinas de monocotiledôneas;

Lectinas ligantes a manose;

Lectinas ligantes a quitina;

RIPs tipo 2;

Lectinas relacionadas a jacalina;

Lectinas relacionadas a amarantina;

e Lectinas de floema de Curcubitacea.

Page 27: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

27

1.3.4 LECTINAS ANIMAIS

Lectinas animais apresentam similaridades em suas seqüências primárias exibindo

características estruturais comuns. No entanto, é com base nas características dos domínios de

reconhecimento a carboidratos (CRDs) que foi feita a classificação das lectinas animais

(DRICKAMER, 2001).

Pelo menos 12 famílias estruturais de lectinas animais são descritas, entre elas as

lectinas Tipo-S, Tipo-I, Tipo-P, Tipo-L, Eglectinas, Calreticulinas/Calnexinas, Anexinas,

Discoidinas, Eel Aglutininas, Tipo-Fibrinogênio e Pentraxinas. No entanto, a família das

lectinas animais mais bem estudadas são as galectinas, lectinas tipo C e as siglecs, que

compreendem as três maiores famílias de lectinas animais (KILPATRICK, 2002).

Porém nem todas as lectinas animais conhecidas se agrupam em alguma dessas

famílias, devido as suas singularidades, e mesmo dentro de uma mesma família, suas funções

biológicas podem variar muito (KILPATRICK, 2002).

1. Lectinas Tipo C

Lectinas Tipo C são assim denominadas devido à necessidade de requererem o íon

cálcio (Ca2+

) para se ligarem a açúcares. Esse metal é de extrema importância, pois viabiliza a

ligação da lectina ao seu açúcar específico e, consequentemente, sua atividade biológica. Esta

é uma família de lectinas altamente diversa, tanto em relação a estrutura quanto a

especificidade a carboidratos. Algumas são solúveis, enquanto outras estão ligadas a

membrana e possuem um domínio CRD extracelular conservado, designado C-CRD de 115 a

150 aminoácidos (DRICKAMER, 1988).

O íon Cálcio presente no CRD está diretamente envolvido no reconhecimento a

carboidrato, ligando-se a uma de suas hidroxilas. Este envolvimento contribui para a

manutenção da estrutura funcional da lectina, interagindo com dois resíduos de glutamato

presentes no CRD (BERG et al., 2002). Os CRDs das lectinas tipo-C encontram-se

incorporados em variados contextos de organização molecular (Figura 3), o que permite

classificá-las em duas categorias: a) Lectinas do tipo-C solúveis, e b) Lectinas do tipo-C

transmembrana.

Page 28: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

28

Lectinas do Tipo-C solúveis

Lectinas do Tipo-C transm em brana

Lecticanas

Colectinas

Selectinas Receptores

Lectinas transm em brana com DRC em tandem

DCR

Tipo-C

Dom ínio

Tipo- EGF

Dom ínio

regulatório do

com plem ento

Dom íno

Tipo-Ig

Dom ínio

de ligação

Tipo-Proteína

Dom ínio Tipo-

F ibronectina

Dom ínio

Transm em brana

Figura 3: Representação esquemática mostrando a organização molecular das lectinas do tipo-C.

É possível classificar estas lectinas em subgrupos a partir de sua seqüência

nucleotídica e a partir de domínios de natureza não lectínica, pelo fato da família de lectinas

do tipo-C apresentar proteínas com estruturas primárias muito variáveis (KILPATRICK,

2002). Os membros de cada subgrupo dividem características comuns quanto à natureza e

arquitetura de seus CRDs.

Dentre os subgrupos das lectinas tipo C, destacam-se as colectinas, selectinas e

lectinas endocíticas, descritas a seguir.

1.1 Colectinas

As colectinas são assim chamadas devido a seu domínio colagenoso, estão

presentes predominantemente em mamíferos e são as únicas da família das lectinas tipo C que

são solúveis e não ligadas à membrana.

Elas são proteínas de estruturas tridimensionais únicas, agrupadas conforme sua

estrutura primária, com um CRD do tipo-C combinado a um domínio do tipo colágeno, na

presença de uma pequena região rica em cisteínas na posição N-terminal. As cadeias básicas

de polipeptídeos das colectinas (30-45kDa) organizam-se em tripla hélice por enovelamento

das regiões tipo colágeno. Essas subunidades em tripla hélice podem se agrupar assumindo

novas estruturas em forma de cruz (conglutininas) ou em formato de um “buquê de flores”

(KAWASAKI, 1998) (Figura 4).

Page 29: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

29

Subunidade

polipepetídeo

U nidade estrutural

3 polipeptídeos

Lectina

O psonização

de

Previne infecções

de H IV e Influenza

D C R Tipo-CR egião de

enovelam ento

Tripla hélice

Tipo-C olágeno

N -term inal rico

em C isteínas

Figure 4: Representação esquemática mostrando a organização molecular das colectinas (KAWASAKI, 1998).

As colectinas incluem três grupos de proteínas séricas: as proteínas ligantes de

manose (MBP)1 ou lectina ligante de manana (MBL)

2, conglutinina bovina e colectina-43

bovina (CL-43). Além disso, englobam também duas proteínas pulmonares surfactantes (SP-

A e SP-D). Há também um grupo de colectinas não secretadas: colectina do fígado-1 e -2

(CL-L1 e CL-L2)3 e a colectina de placenta (CL-P1). Os CRDs das colectinas atuam

estabelecendo ligações com um íon de Ca2+

, sendo também capazes de se ligarem a

grupamentos hidroxilas 3- e 4- (extremidade não redutora) dos açúcares: N-acetil-

glicosamina, manose, N-acetil-manosamina, fucose e glicose (TURNER, 2003). Isso permite

às colectinas interagirem com os domínios glicídicos dispostos sobre a superfície de vírus,

bactérias, fungos e protozoários.

As colectinas do tipo MBL, quando ligadas à superfície de alguns parasitas, são

capazes de ativar o sistema imune, através do sistema complemento. Essa ativação é mediada

pelo complexo MBL associado às proteases serínicas -1, -2 ou -3 (MASP-1, -2 ou -3). As

MBLs podem ainda, interagir diretamente com receptores das células fagocitárias agindo

como opsoninas, apresentando a capacidade de reconhecer e fagocitar microorganismos.

1 Mannose-binding protein

2 Mannan binding Lectin

3 Collectin liver-1 and 2 (CL-L1, CL-L2)

Page 30: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

30

1.2 Selectinas

As selectinas são lectinas de membrana que apresentam especificidades por

carboidratos fucosilados, especialmente sialyl-lewis X e mucinas.

As selectinas podem ser agrupadas em tipo E, L e P de acordo com sua

ocorrência. As selectina tipo E estão confinadas às células endoteliais, as do tipo L estão

presentes em leucócitos e as selectinas do tipo P são mais abundantes em células plaquetárias.

As selectinas são moléculas cruciais para a interação leucócito-endotélio, estando

primariamente envolvidas na comunicação intercelular e nos processo de reconhecimento e

fagocitose dos microorganismos. Vários dados indicam que as selectinas mediam o contato

inicial ou rolamento dos leucócitos sobre o endotélio, durante a passagem destas células do

interior dos vasos sanguíneos para o tecido nos processos inflamatórios agudos e crônicos.

As selectinas estão intimamente envolvidas no processo de adesão de leucócitos à

parede do endotélio. Essa adesão é iniciada por fracas interações, que permitem o rolamento

do leucócito na superfície do endotélio. Mediando esse processo inicial estão envolvidas a P-

selectina e a L-selectina e depois, interações mais fortes são estabelecidas pela E-selectina, o

que proporciona a diapedese dos leucócitos para o tecido linfóide e sítios inflamatórios

subjacentes.

As selectinas P, E e L são glicoproteínas de membrana, cujos domínios lectínicos

interagem de forma dependente de Ca2+

, a porções de oligossacarídeos que estão presentes em

glicoproteínas da superfície de leucócitos (VARKI, 2004). A selectina P aparece nas

membranas das células endoteliais quando estas são ativadas por trombina e histamina, ao

passo que selectina E é expressa após a indução de sua síntese por citocinas inflamatórias,

como IL-1 ou TNF-α. A selectina L, que expressa-se constitutivamente na superfície dos

leucócitos, media o rolamento dos neutrófilos na superfície das células endoteliais.

Estruturalmente estas moléculas apresentam um domínio semelhante ao fator de

crescimento epidérmico, um domínio lectínico e uma série de domínios semelhantes às

proteínas do complemento (KILPATRICK, 2002). O domínio lectínico é o responsável pela

propriedade adesiva das selectinas, uma vez que a adesividade de leucócitos ao endotélio

pode ser inibida por açúcares específicos a esse domínio. Consequentemente, a presença do

açúcar pode levar a inibição da migração de leucócitos.

Page 31: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

31

1.3 Lectinas Endocíticas

As lectinas endocíticas são uma classe de lectinas do tipo C que funcionam como

receptores de membrana com diferentes especificidades como N-acetilgalactosamina,

galactose e manose. As lectinas endocíticas do tipo II são proteínas transmembranais,

constituídas de um domínio citoplasmático N-terminal, uma região hidrofóbica, um domínio

transmembrana e uma região C-terminal composta pelo domínio CRD (LIS & SHARON,

1998).

2. Galectinas

As galectinas originalmente eram conhecidas como lectinas do tipo S ou tiol

dependentes. Hoje são assim chamadas devido a sua capacidade de se ligarem

especificamente a resíduos de β-galactose (CUMMINGS, 2004).

Estas proteínas não apresentam pontes dissulfeto e glicosilações e sua ligação a

carboidratos independe de íons metálicos. Elas são caracterizadas por apresentarem baixo e

médio peso molecular (14-35KDa), afinidade a galactosídeos e um domínio de

reconhecimento a carboidrato altamente homólogo denominado S-CRD. Este domínio possui

em média 135 resíduos de aminoácidos e sua integridade parece ser requerida para a atividade

das galectinas (CUMMINGS, 2004).

Este grupo é constituído de lectinas solúveis, porém durante seu processamento

seus genes podem sofrer splicing e formas alteradas da proteína podem ser expressas de modo

que elas fiquem ancoradas a membrana celular. Após sua síntese, as galectinas residem no

citosol, onde podem atuar na organização do citoesqueleto, e no núcleo, onde participam do

transporte e splicing de RNAs. Alternativamente, elas podem também ser secretadas das

células.

As galectinas ocorrem em quase todos os tipos celulares devido a uma

preservação evolucionária em seus CRDs. Nos tecidos conectivos as galectinas geralmente

estão ligadas a carboidratos contendo unidades de N-acetillactosamina. Isso foi evidenciado

não apenas por estudos de análise filogenética, mas também por estudos estruturais

(SHARON & LIS, 2003).

Atualmente, 14 galectinas de mamíferos já foram identificadas e numeradas

sequencialmente, de acordo com a ordem de depósito das sequencias publicadas no Genome

Page 32: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

32

Data Base. Os membros da família das galectinas também já foram identificados em várias

outras espécies, incluindo aves, anfíbios, peixes, esponjas e fungos (BUCK et al., 1998;

AHAMED et al.,1996), sendo adotado o mesmo critério de nomenclatura (numeração

seqüencial) para lectinas isoladas de outros organismos.

Baseado na arquitetura estrutural das subunidades das galectinas, estas proteínas

podem ser classificadas em (i) proto, (ii) repetições em tandem e (iii) tipo-quimera. Galectinas

do tipo proto apresentam domínios simples de ligação a carboidratos, as galectinas do tipo

repetições em tandem apresentam dois domínios homólogos e as do tipo quimera apresentam

um domínio galectínico com outro domínio não lectínico. Estes três tipos de galectinas podem

ser representados pelas galectinas 1, 9 e 3, respectivamente (Figura 5) (HIRABAYASHI E

KASAI,1993).

Figure 5: Representação esquemática das galectinas baseado na arquitetura estrutural de suas subunidades

(HIRABAYASHI E KASAI, 1993).

As galectina 1, 2, 5, 7 e 10 (representantes do tipo-proto), usualmente formam um

dímero não covalente com dois CRDs idênticos, em condições não desnaturantes. Desta

forma devem ter dois sítios equivalentes (idênticos) de ligação a carboidratos.

Em contrapartida, a galectina-3, único representante do tipo-quimera até o

momento, possui dois domínios distintos. Um domínio tipo-colágeno N-terminal (não CRD) e

um domínio com CRD característico de uma galectina que permite formar uma ligação

cruzada entre um motivo de natureza glicídica e outro de natureza não glicídica.

Os membros do grupo de repetições em tandem, representadas pelas galectinas 4,

6, 8 e 9, possuem em um único polipeptídeo dois CRDs com elevada homologia estrutural,

mas com especificidades a carboidratos diferentes, sendo que assim, reconhecem carboidratos

distintos.

Page 33: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

33

As galectinas geralmente são proteínas abundantes em alguns tipos celulares. As

galectinas 4 e 6 estão mais abundantes em células epiteliais do trato gastrointestinal, as

galectinas 5 são bastante expressas nos eritrócitos e as galectinas tipo 7 expressas nos

queratinócitos.

Quanto ao seu papel fisiológico, acredita-se que as galectinas ajam como

moduladoras da interação célula-substrato e sejam essenciais para a diferenciação celular

normal e crescimento dos animais multicelulares (LEFFLE, 2004).

Nos últimos anos, inúmeros dados experimentais têm demonstrado a participação

das galectinas em diversos processos fisiopatológicos in vitro como em processos de adesão

celular modulando as interações célula-célula e célula-matriz extracelular, na regulação do

crescimento celular, em processos inflamatórios imunomodulados, durante os processos de

apoptose, dos processos de embriogênese, durante a reprodução e também durante os

processos de metástase (LEFFLE, 2004).

3. Lectinas Siglecs

Os membros desta família de proteínas são todos específicos para ácido siálico,

um monossacarídeo encontrado em abundância na superfície das células. Sua nomenclatura é

derivada do termo em inglês (Sialic acid-binding, Ig-like- lectins).

Siglecs, também conhecidas como lectinas da superfamília de imunoglobulinas

com afinidade ao ácido siálico, formam uma subclasse distinta de lectinas do tipo-I. As

Siglecs são proteínas transmembranares, com um único segmento inserido na membrana,

apresentando um domínio extracelular com alto grau de homologia. Todos os membros desse

grupo apresentam, na região extracelular (N-terminal), um domínio Ig V-set (região variável

do anticorpo) com um sítio de ligação para ácido siálico, seguido de um número variável de

domínios Ig C2-set (região constante do anticorpo). Na sua maioria, as Siglecs possuem um

motivo tipo imuno-receptor tirosina em seu domínio intracelular, sugerindo sua participação

em eventos de sinalização celular (ANGATA & BRINKMAN-VAN DER LINDEN, 2002;

VARKI, 2004).

Nem todas as lectinas animais conhecidas se agrupam em alguma das famílias

acima descritas, devido as suas singularidades, sendo o caso, por exemplo, das

espermadesinas, um grupo de lectinas animais presentes no plasma seminal de algumas

espécies domésticas.

Page 34: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

34

1.4 ESPERMADESINAS

As espermadesinas são lectinas que geralmente apresentam massas moleculares

em torno de 12 a 16 kDa. Elas são encontradas no plasma seminal e/ou perifericamente

associadas à superfície dos espermatozóides de animais domésticos como suínos, bovinos,

equinos, ovinos e caprinos (TÖPFER-PETERSEN et al., 2008). Funcionalmente, elas são

capazes de interagir com alguns receptores de açúcar que se encontram na superfície celular.

A capacidade de se ligar a moléculas de açúcar é também uma característica da atividade

biológica das proteínas pertencentes à família das lectinas.

Todas as lectinas animais contêm um domínio de reconhecimento a carboidrato

(CRD) em sua sequência de aminoácidos. Entretanto, as espermadesinas diferem

estruturalmente da maioria das lectinas, pois elas são caracterizadas por apresentarem um

domínio denominado CUB (ROMERO et al., 1996). Esta sigla é devido às proteínas onde

estes domínios foram primeiramente identificados: C de subcomponentes do complemento

(Clr, Cls), U de proteína do embrião do ouriço-do-mar (Uegf) e B de proteína morfogenética

óssea-1 (Bmp1) (BORK & BERCKMANN, 1993).

O domínio CUB é encontrado em todas as espermadesinas já descritas. Sua

estabilização se dá através de duas pontes dissulfeto conservadas entre resíduos de cisteínas

vizinhos. Os domínios CUBs apresentam cerca de 40 a 60% de similaridade em suas

estruturas primárias (CALVETE et al., 1995). A estrutura tridimensional de dois membros da

família das espermadesinas suínas (PSP-I e PSP-II) revelou pela primeira vez conhecimentos

sobre a estrutura do domínio CUB (ROMERO et al., 1996).

Essa estrutura consiste de subunidades formando um β sanduíche feito de duas

folhas β. Cada folha β contém quatro fitas antiparalelas e a outra fita paralela (ROMERO et

al., 1997; ROMÃO et al., 1997; VARELA et al., 1997).

A função biológica das espermadesinas ainda está sendo estudada, no entanto, elas

são consideradas proteínas com uma vasta variedade de interações bioquímicas. Dentre elas, a

capacidade de se ligar a carboidratos e fosfolipídeos e atuar como inibidores de proteinases

(TOPFER-PETERSEN et al., 1998; CALVETE & SANZ, 2007). Além disso, elas atuam

como lectinas ligadoras de glicoproteínas presentes na zona pelúcida durante etapas do

processo de fecundação (DOSTÀLOVÀ et al., 1994a; CALVETE et al., 1994).

Até o presente momento, já foram encontradas espermadesinas em espécies

domésticas de suínos (HAASE et al., 2005), bovinos (EINSPANIER et al., 1991), equinos

Page 35: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

35

(REINERT et al., 1996), ovinos (BERGERON et al,. 2005) e caprinos (TEIXEIRA et al.,

2002; MELO et al., 2008).

Nenhuma espermadesina foi encontrada até o presente momento no plasma

seminal de humanos, cães ou ratos. Parece claro que os genes das espermadesinas foi

funcionalmente inativado em humanos por mutações que silenciaram esses genes. Cópias

inativas dos genes das espermadesinas também já foram encontradas no genoma de cães e

chimpanzés enquanto a região inteira contendo um ancestral hipotético dos genes das

espermadesinas parece ter sido deletado do genoma de ratos e camundongos (LEEB, 2005).

1.4.1 ESPERMADESINAS SUÍNAS

Em suínos, a família das espermadesinas exibe a maior diversidade de membros

perfazendo cinco diferentes genes que codificam para cinco polipeptídeos denominados

AQN-1, AQN-3, AWN, PSP-I, PSP-II e suas isoformas glicosiladas (SANZ et al., 1991;

KWOK et al., 1993a).

Estas moléculas foram originalmente definidas como proteínas ligadoras de

polissulfatos. Esta definição baseou-se no fato de que polímeros sulfatados como fucoidan,

heparina, condroitin sulfato e polivinil sulfato, podem inibir a ligação de proteínas de baixo

peso molecular a glicoproteínas da zona pelúcida, presentes no fluido seminal (PARRY et al.,

1992).

Estudos têm indicado a vesícula seminal como principal fonte produtora das

espermadesinas, embora as proteínas suínas sejam sintetizadas também pelo epidídimo e

glândulas do trato genital masculino como cabeça e cauda do epidídimo, testículo e próstata, o

que foi evidenciado por abordagens investigativas através de RT-PCR, Western blot e

imunohistoquímica (EKHLASI-HUNDRIESER et al., 2002; HOSHIBA & SINOWATZ,

1998).

1. AWN, AQN-1 E AQN-3

A nomenclatura adotada para as espermadesinas suínas é baseada nos três

primeiros resíduos de aminoácidos presentes na região N-terminal da estrutura primária de

cada uma delas. A espermadesina AWN apresenta alanina (A), triptofano (W) e asparagina

(N), AQN-1 e AQN-3 apresentam alanina (A), glutamina (Q) e asparagina (N), onde os

Page 36: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

36

números 1 e 3 indicam a posição de eluição destes peptídeos durante a cromatografia

realizada em coluna de fase reversa acoplada a HPLC (JONÁKOVÁ et al., 1991) .

AWN é uma das principais espermadesinas encontradas na zona pelúcida quando

o espermatozóide encontra-se presente e é sintetizada na “reti testis” e principalmente no

epitélio da vesícula seminal de suínos (DOSTÀLOVÀ et al, 1995a). Dados demonstram que

essa proteína é o único membro desta família presente no espermatozóide epididimário, tendo

sido quantificado em 6 a 7x106 móleculas/célula (DOSTÀLOVÀ et al., 1994b). Tem sido

relatado que elas desempenham um papel importante na maturação dos espermatozóides

(CALVETE et al., 1994). A espermadesina AWN é classificada como uma proteína de

superfície do espermatozóide (RODRIGUEZ-MARTINEZ et al., 1998). AWN permanece

vinculada à região peri-acrossomal da membrana plasmática espermática após o transporte

através do trato genital feminino, da capacitação in vivo e pode estar associada ao

reconhecimento de gametas (RODRIGUEZ-MARTINEZ et al., 1998) (Figura 6).

Figura 6: Representação esquemática montrando a capacitação do espermatozóide e fecundação no oviduto de

mamíferos (Adaptado de TOPFER-PETERSEN, 2008).

Estudos imunohistoquímicos têm demonstrado que após a síntese de AWN na

“reti testis”, esta espermadesina é transportada para o epidídimo. Curiosamente, AWN não é

expressa somente no epidídimo e vesícula seminal, mas também no útero e na tuba uterina do

trato genital da fêmea suína (EKHLASI-HUNDRIESER et al., 2002). Tal achado desfaz

Page 37: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

37

considerações prévias de que as espermadesinas seriam moléculas exclusivas do trato

reprodutor masculino.

AWN, AQN-1 e AQN-3 são proteínas que se ligam ao espermatozóide e parecem

estar envolvidas na interação com carboidratos presentes em ovócitos secundários para a

fecundação. As proteínas AQN-1 e AQN-3 estão ligadas predominantemente na superfície da

cabeça espermática e sua contribuição tem sido demonstrada para a formação do reservatório

espermático ovidutal através da interação com glicoconjugados do epitélio do oviduto.

(WAGNER et al., 2002; EKHLASI-HUNDRIESER et al., 2005).

No que diz respeito às interações bioquímicas, apenas AWN e AQN-3 são capazes

de interagir com a matriz fosforil-etanolamina, sugerindo que estas espermadesinas podem

ligar-se diretamente aos lipídios da membrana espermática (DOSTÀLOVÀ et al., 1995b).

Vale ressaltar que fosforil-etanolamina é o principal substituinte de fosfolipídios de

membrana do esperma de suínos. Agregados de espermadesinas poderiam então tornar-se

revestidos no topo desta primeira camada, servindo como fatores de estabilização que

protegem a membrana acrossômica de uma possível reação acrossômica prematura. Estas

espermadesinas são cogitadas para estabilizar a membrana plasmática durante a reação

acrossômica e são liberadas a partir da superfície espermática principalmente durante a

capacitação (DOSTÀLOVÀ et al., 1994).

AQN-1 liga-se a membrana lipídica do espermatozóide através de mecanismo

indireto. Esta ligação forma um heterodímero com a proteína suína tipo Fn-2, pB1, que pode

se associar ao espermatozóide através da membrana ligando-se a fosforilcolina por meio do

sítio da pB1(EKHLASI-HUNDRIESER et al., 2007).

2. PSP- I E PSP- II

As espermadesinas PSP-I e PSP-II são denominadas Porcine Seminal Plasma

Protein e correspondem as mais abundantes proteínas presentes no plasma seminal de suíno

(NIMTZ et al., 1999). Vale ressaltar que elas representam mais de 50% da fração composta

pelas espermadesinas (KWOK et al., 1993b).

PSP-I é uma glicoproteína composta por 109 resíduos de aminoácidos, com massa

molecular da ordem de 11 kDa (forma-não glicosilada). Esta espermadesina, apesar de ter

uma seqüência única de aminoácidos, apresenta duas glicoformas, oriundas de diferentes

modificações pós-traducionais (CALVETE et al., 1995a).

Page 38: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

38

Uma glicoforma pode ser encontrada na fração ligante a heparina do plasma

seminal (AQN-2) e contém resíduos de fucose, N-acetilglicosamina e manose. A outra

glicoforma contém resíduos de galactosamina, galactose e ácido siálico e é preferencialmente

recrutada por PSP-II para formar heterodímeros. Assim o padrão de glicosilação pode

determinar a capacidade de ligação da espermadesina e, consequentemente, sua função

biológica (CALVETE et al., 1995a).

A espermadesina PSP-II, principal componente protéico do plasma seminal de

suínos, é composta por 116 resíduos de aminoácidos e apresenta uma massa molecular (forma

não glicosilada) de aproximadamente 12 kDa (CALVETE et al., 1995a). Apresenta a

capacidade de ligar-se a polissacarídeos polissulfatados, tais como heparina e fucoidan, de

forma específica e dose-dependente e a oligossacarídeos contendo grupos manose-6-fosfato.

No entanto, apesar disso, o complexo PSP-I/PSP-II não apresenta essa afinidade, indicando

que a dimerização bloqueia estericamente ou modifica os sítios envolvidos na interação

proteína-carboidrato (SOLIS et al., 1998). Adicionalmente o monômero PSP-II apresenta um

sítio putativo de ligação para glicoproteínas da zona pelúcida (CALVETE et al., 1995b),

conferindo essa capacidade a PSP-I/PSP-II. Tal fato poderia sugerir um papel destas

espermadesinas na interação de gametas. Entretanto, o heterodímero liga-se apenas à

superfície do espermatozóide, sendo facilmente removido durante o processo de capacitação

dos espermatozóides in vitro (DOSTÀLOVÀ et al., 1994).

A PSP-I e PSP-II isoladas têm a capacidade de se ligar a heparina, embora, na

forma heterodimérica glicosilada esta interação a heparina não ocorra. Além disso, o

heterodímero e a subunidade PSP-II, mas não a PSP-I, apresentam afinidade por inibidor de

tripsina e glicoproteínas da zona pelúcida (CALVETE et al., 1995a).

PSP-I e PSP-II, na forma heterodimérica, foram as primeiras espermadesinas a

serem cristalizadas (ROMERO et al., 1996) e terem a estrutura tridimensional determinada

na qual foi revelada a arquitetura do domínio CUB das espermadesinas.

Funcionalmente, recentes estudos evidenciam uma atividade imunosupressiva para

a glicoforma PSP-I e PSP-II. Elas são imuno-estimulatórias para atividades de linfócitos in

vitro (NIMTZ et al., 1999), enquanto o heterodímero PSP-I/PSP-II induz o recrutamento de

neutrófilos na cavidade peritoneal de ratos (ASSREUY et al., 2002; ASSREUY et al., 2003) e

de suínos (RODRÍGUEZ- MARTINEZ et al., 2005) o que pode evitar uma possível infecção

do trato reprodutor baixo e fornecer uma estratégia para prover um ambiente uterino livre de

células para os embriões gerados (ASSREUY et al., 2003). Além disso, essas espermadesinas

têm mostrado exercer influências na qualidade de espermatozóides altamente diluídos para

Page 39: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

39

fins biotecnológicos (CENTURÍON et al., 2003; CABALLERO et al., 2004; GARCIA et al.,

2006).

Tais descobertas apontam essas proteínas para uma potencial utilização como

aditivo ao meio diluidor de sêmen, podendo incrementar os parâmetros espermáticos. Além

disso, não parece haver influência desta espermadesina sobre a capacidade de fecundação in

vitro dos espermatozóides previamente incubados com a proteína (CABALLERO et al.,

2004). No entanto, quando PSP-I/PSP-II é acrescentada ao meio de maturação dos oócitos ou

ao meio de fecundação, ocorre acentuada diminuição na taxa de fecundação, bem como no

número de espermatozóides circundando os oócitos. Não se sabe se esses efeitos inibitórios

são exercidos diretamente sobre os espermatozóides ou bloqueando os receptores na zona

pelúcida (glicoproteínas) do oócito (CABALLERO et al., 2005).

1.4.2 ESPERMADESINAS BOVINAS

Em bovinos somente duas espermadesinas foram identificadas, a SPADH-1

(aSFP) e a SPADH-2 (Z13) (WEMPE et al., 1992; TEDESCHI et al., 2000).

A espermadesina aSFP (acidic seminal fluid protein) é um peptídeo não

glicosilado de 12,9 kDa purificado a partir do plasma seminal bovino e que não apresenta a

capacidade de se ligar a heparina. Esta proteína é principalmente expressa na vesícula seminal

e em menor proporção no epidídimo, não tendo sido detectada em nenhum outro tecido

bovino (EINSPAINER et al., 1991). No animal adulto, a aSFP é o principal componente do

fluido seminal, sendo sua concentração na faixa de 2 a 7 mg/mL (DOSTÀLOVÀ et al.,

1994b; EINSPANIER et al., 1993).

A estrutura primária de aSFP demonstra que esta proteína é composta por 114

resíduos de aminoácidos e apresenta duas pontes dissulfeto (EINSPANIER et al., 1994).

A aSFP liga-se mais fracamente à superfície do espermatozóide bovino no

ejaculado, sendo quantitativamente liberada durante a capacitação in vitro (DOSTÀLOVÀ et

al., 1994b). A aSFP, além de apresentar fraca ligação à membrana do espermatozóide, não

apresenta capacidade de ligação à zona pelúcida, indicando que a mesma não está envolvida

na interação de gametas.

Por outro lado, em concentrações fisiológicas, a aSFP parece proteger o

espermatozóide contra lesões oxidativas por reduzir a peroxidação lipídica (SCHONECK et

al., 1993). Além disso, a aSFP parece estimular de forma dose-dependente a divisão celular

Page 40: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

40

de linfócitos estimulando a secreção de progesterona pelo endométrio bovino e pelas células

ovarianas (EINSPANIER et al., 1991).

Após a cristalização, a estrutura tridimensional de aSFP foi determinada

apresentando similaridade às espermadesinas suínas PSP-I e PSP-II. No entanto, algumas

características exclusivas para esta proteína foram demonstradas, o que pode explicar as

diferentes propriedades biológicas dos diferentes membros da família das espermadesinas

(ROMÃO et al., 1997).

Recentemente uma nova proteína da família das espermadesinas do plasma

seminal bovino foi purificada, sendo denominada SPADH-2 ou Z13. Os dados indicam que a

proteína é um dímero de 26 kDa, quando a amostra é preparada em condições nativas, e um

monômero de 13 kDa na presença de agentes redutores (TEDESCHI et al., 2000).

Z13 é um polipeptídeo que apresenta 116 resíduos de aminoácidos, os quais

apresentam 53% de similaridade com a aSFP, 49% de similaridade com PSP-I e 38% com

PSP-II. A PSP-II se liga a heparina somente no estado monomérico e ao formar dímero com

PSP-I perde essa capacidade. Uma explicação similar não pode ser dada para a Z13, que não

apresentou capacidade de se ligar a heparina nem na forma monomérica nem na forma

dimérica.

A mais significativa diferença entre Z13 e as outras espermadesinas é a existência

de um quinto resíduo de cisteína na posição 89 (C89) dessa molécula. Este aminoácido pode

estar envolvido na formação de uma ponte dissulfeto intercadeia responsável pela dimerização

da proteína Z13. Assim, quando em solução aquosa, Z13 provavelmente apresenta-se como

um homodímero com uma ponte dissulfeto intercadeia envolvendo os resíduos C89 de cada

molécula (TEDESCHI et al., 2000).

1.4.3 ESPERMADESINA EQUINA

HSP-7 ou SSP-7 (Stallion Seminal Plasma Protein) foi isolada do plasma seminal

de cavalos (REINERT et al.,1996) e apresenta sequência de aminoácidos similar à

espermadesina suína AWN, com diferença apenas em três aminoácidos (REINERT et al.,

1996; EKHLASI-HUNDRIESER et al., 2002.

Em contraste com a AWN suína, a HSP-7 foi primeiramente detectada em

espermatogônias e, posteriormente, na “reti testis”, no epidídimo e na vesícula seminal. Em

Page 41: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

41

acordo com sua ampla distribuição celular, HSP-7 já foi detectada em alguns espermatozóides

isolados dos tecidos. Durante a passagem através dos ductos epididimários, quantidades

adicionais de HSP-7 associam-se ao segmento equatorial do espermatozóide (HOSHIBA &

SINOWATZ, 1998).

Tanto a AWN suína como a HSP-7 apresentam a capacidade comum de ligar-se a

carboidratos da zona pelúcida. Em função disso, essas espermadesinas podem desempenhar

um importante papel como moléculas de adesão primária nas etapas iniciais do processo de

fecundação (TOPFER-PETERSEN & CALVETE, 1996; TOPFER-PETERSEN et al., 2005).

1.4.4 ESPERMADESINA OVINA

RSP (Ram Seminal Plasma Protein) foi isolada do plasma seminal de ovinos. O

isolamento de proteínas do plasma seminal ocorreu através de cromatografia de afinidade em

coluna com gel de agarose. Este procedimento identificou a presença de uma proteína

denominada RSP com 15,5 kDa, sendo a principal proteína do plasma seminal ovino,

representando 45% do peso total de proteínas. Esta conclusão foi possível através do cálculo

de sua massa.

A sequência N-terminal desta proteína foi suficiente para identificá-la como uma

espermadesina. Os 25 primeiros resíduos de aminoácidos identificados na RSP indicaram

sequência idêntica com a espermadesina AQN-1, purificada do plasma seminal de suíno

(BERGERON et al., 2005).

Além disso, como descrito para a espermadesina AQN-1, a espermadesina de

ovino (RSP) mostrou especificidade a heparina. Isto sugere que esta proteína apresenta um

papel similar na capacitação espermática ou ligação do espermatozóide no epitélio ovidutal ou

na zona pelúcida (BERGERON et al., 2005).

Page 42: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

42

1.4.5 ESPERMADESINAS CAPRINAS

Em 2002 foi isolada a primeira espermadesina caprina denominada BSFP (Buck

Seminal Fluid Protein) presente no plasma seminal caprino (TEIXEIRA et al., 2002). A

BSFP, através de sua sequência N-terminal, mostrou homologia com as espermadesinas

suínas (AQN-1 e AWN), equina (HSP-7) e bovina (aSFP) (Figura 7). BSFP não apresentou

capacidade de se ligar a heparina (TEIXEIRA et al., 2006), uma propriedade biológica de

alguns membros da família das espermadesinas.

Figura 7: Comparação da seqüência de aminoácidos do N-terminal das espermadesinas de suínos (AQN-1,

AWN), equino (AWN), bovino (aSFP) e caprino (BSFP). A: Alinhamento feito através do CLUSTAL W.

Asteriscos representam resíduos de aminoácidos idênticos em todas as sequências; dois pontos representa

substituições conservadas; ponto representa substituições semi-conservadas. B: Cladograma obtido por

alinhamento através do CLUSTAL W (Adaptado de Teixeira et al., 2006).

A BSFP apresentou massa molecular de 12,591 kDa determinada por

espectometria de massa (MALDI-TOF) (TEIXEIRA et al., 2006).

Por métodos cromatográficos clássicos, somente uma espemadesina foi isolada e

caracterizada do plasma seminal de bode. Após essa análise, estudos genômicos revelaram a

presença de quatro cDNAs codificando as principais formas das espermadesinas de caprinos

coletivamente designadas de bodesinas 1, 2, 3 e 4 ou Bdhs (MELO et al., 2008; MELO et al.,

2009).

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43

Todas as sequências de aminoácidos deduzidas continham a assinatura do

domínio CUB da família das espermadesinas e foram 49 a 52% similares a AWN suína. Entre

as quarto Bdhs, a Bdh-2 foi a mais similar ao fragmento N-teminal da BSFP previamente

isolada por Teixeira et al (MELO et al., 2008).

Os genes da BSFP identificados e isolados foram clonados, caracterizados e sua

expressão ao longo do trato genital foi investigada, utilizando os cDNAs da vesícula seminal,

testículos, epidídimos, glândulas bulboretais e ductos deferentes de caprino (MELO et al.,

2008).

O perfil de expressão das Bdhs foi avaliado por qRT-PCR e revelou que na

vesícula seminal Bdh-2 é a isoforma predominantemente expressa. Os transcritos de

bodesinas foram detectados em todos os tecidos examinados, exceto no ducto deferente. O

perfil de expressão dos genes das bodesinas se mostrou diferenciado nos diferentes tecidos

examinados, o que pode indicar que cada isoforma pode ter uma função biológica específica

no trato genital do bode.

Cajazeiras et al clonaram e expressaram o cDNA da Bdh-2 em Escherichia coli a

fim de produzir Bdh-2 recombinante. A expressão desta recombinante foi realizada em

função da dificuldade de se obter quantidades de Bdh-2 suficiente por métodos

cromatográficos clássicos que possibilitasse a realização de estudos funcionais e estruturais.

Dessa forma, a produção de Bdh-2 recombinante seria uma alternativa promissora

para a realização de diversos estudos.

Futuros experimentos são necessários para caracterizar a função particular de cada

espermadesina caprina e para aumentar o conhecimento dos mecanismos reprodutivos nessa

espécie, bem como para se estabelecer o padrão estrutural de cada uma dessas proteínas. Fica

claro, entretanto, que devido ao baixo rendimento das proteínas nativas obtidas diretamente a

partir do líquido seminal, uma estratégia viável de se obter quantidades significativas de cada

uma das espermadesinas caprinas é através da clonagem e expressão de cada um dos seus

genes em sistemas heterólogos.

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44

2. JUSTIFICATIVA

Com a biotecnologia é possível usar conhecimentos sobre os processos biológicos

e sobre os organismos vivos, para gerar novos insumos que tragam benefícios a sociedade

como um todo.

Atualmente, no Brasil muitos pecuaristas utilizam da técnica de fertilização in

vitro para obter linhagens animais com parâmetros que tornam os animais mais atraentes pelo

mercado nacional e internacional. De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias

Exportadoras de Carnes (ABIEC), em 2008 o Brasil liderou o ranking dos maiores

exportadores de carne bovina no mundo, somando o volume de 2,2 milhões de toneladas

equivalente carcaça e receita cambial de US$ 5,3 bilhões. Estes valores representaram uma

participação de 28% do comércio internacional, exportando para mais de 170 países. Com

tantas vantagens competitivas, o Brasil segue na disputa e conquista de novos mercados de

modo que a carne bovina brasileira continue sendo apreciada por consumidores no mundo

todo. Transformar a carne brasileira em produto destacado, com alto valor agregado, e não

em mais uma commodity, é um dos grandes desafios que a cadeia do agronegócio tem que

enfrentar.

O Brasil além de grande produtor de carne bovina, alternativamente tem grande

potencial pecuário para criar outras espécies como suína, ovina e caprina. Estas espécies

também conferem grande valor econômico de produtividade ao país. De acordo com a

Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína, o Brasil exportou

607,49 mil toneladas de janeiro a dezembro de 2009, um crescimento de 14,75% em volume

em relação ao mesmo período de 2008, obtendo uma receita anual em torno de US$ 1,2

bilhão.

No entanto, dentre as espécies ruminantes, no Nordeste brasileiro destaca-se os

caprinos, especialmente os das raças Moxotó e Canindé, cuja rusticidade lhes conferem

resistência ao calor. Diferentemente das espécies bovinas e suínas, a carne caprina é pouco

consumida mundialmente. No entanto, o aumento da produtividade desta espécie ruminante

será uma importante fonte de renda principalmente para os pecuaristas nordestinos.

Sabe-se que o sucesso do aumento da produtividade bovina e suína envolve

tecnologias como a fertilização in vitro. Muito provavelmente, as espermadesinas atuam

fisiologicamente como um fator importante na fertilização in vitro por mostrar exercer

Page 45: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

45

influências na qualidade de espermatozóides altamente diluídos para fins biotecnológicos

(CABALLERO et al., 2004; GARCIA et al., 2006).

No entanto, o possível papel fisiológico reprodutivo das espermadesinas ainda

está sendo estudado. Especula-se que elas possam participar do processo de capacitação,

reconhecimento e ligação entre os gametas masculinos e femininos (CALVETE et al., 1994).

A espermadesina suína na forma heterodimérica PSP-I/PSP-II contribui para a

manutenção ou melhoramento da viabilidade e da motilidade dos espermatozóides

(CABALLERO et al., 2005). Além disso, quando a espermadesina suína encontra-se em

solução com espermatozóides de suíno, verifica-se o aumento significativo do percentual de

espermatozóides viáveis.

Já a espermadesina bovina SPADH-1 (aSFP) parece proteger o espermatozóide

contra lesões oxidativas, reduzindo a peroxidação lipídica (SCHONECK et al., 1993).

A espemadesina equina HSP-7 tem a capacidade de ligar-se a carboidratos da

zona pelúcida, podendo assim, desempenhar um importante papel como molécula de adesão

primária nas etapas iniciais do processo de fecundação (TOPFER-PETERSEN et al., 2005).

Na espécie caprina o baixo volume do plasma seminal, característico desta

espécie, tornou-se um obstáculo como fonte de espermadesinas para estudos na área de

reprodução, bioquímica e aplicações biotecnológicas. Para isso torna-se necessário a produção

desta proteína na sua forma recombinante. Assim, esta dissertação visa obter uma

espermadesina caprina recombinante para caracterizá-la físico-quimica e estruturalmente. Este

estudo é de suma importância para abrir um novo caminho na pecuária brasileira, auxiliando

no conhecimento de fertilização in vitro desta espécie ruminante e assim, contribuindo para o

aumento da produtividade de caprinos. Alternativamente, o domínio desta técnica para

caprinos contribuirá para o crescimento da economia local e nacional, ao exemplo existente

da produtividade da carne bovina e suína brasileira que dominam o mercado mundial.

Page 46: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

46

3. OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Expressar, purificar e caracterizar estruturalmente a Bdh-2 recombinante, uma

espermadesina presente no plasma seminal de bode (Capra hircus).

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Avaliar a expressão da bodesina Bdh-2 recombinante produzida em sistema

bacteriano (E. coli TOP 10);

Estabelecer o método mais adequado de purificação da proteína rBdh-2;

Caracterizar a estrutura secundária da rBdh-2 através do perfil espectral de

dicroísmo circular (CD) bem como estimar as frações destas estruturas na conformação global

da proteína;

Avaliar as mudanças conformacionais na estrutura secundária da rBdh-2

promovidas por alterações na temperatura.

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47

4. MATERIAIS E MÉTODO

4.1 CONSTRUÇÃO DO VETOR DE EXPRESSÃO PROCARIÓTICO

O cDNA que codifica a espermadesina Bdh-2 foi isolado de acordo com o método

descrito por MELO et al., (2008). A região que codifica a Bdh-2 foi amplificada por PCR e os

fragmentos amplificados foram subclonados no vetor de expressão pTrcHis TOPO utilizando

o kit de expressão pTrcHis TOPO TA (Invitrogen). Os plasmídeos recombinantes foram

utilizados para transformar células Top 10 One Shot fornecidas pelo Kit, segundo

metodologia de CAJAZEIRAS et al ., (2009).

O plasmídeo pTrcHis utilizado como vetor de expressão neste estudo foi

desenhado para facilitar a expressão de proteínas de origem eucariótica em sistema

procariótico utilizando como hospedeiro a bactéria E.coli. O vetor possui um forte promotor

transcricional denominado trc que confere altos níveis de expressão protéica em E.coli. O

vetor possui ainda uma seqüência denominada operador lacO para ligação do repressor Lac

codificado pelo gene LacIq. Na falta de IPTG, o repressor lac se liga a sequência lacO,

reprimindo a transcrição. Com a adição de IPTG a expressão é induzida.

O pTrcHis possui uma seqüência de terminação rrnB que reduz a terminação

prematura da transcrição, possui ainda um gene que confere resistência a ampicilina e

apresenta uma seqüência nucleotídica na região N-terminal do sítio múltiplo de clonagem que

codifica seis histidinas denominada His-tag, seguido pelo sítio de clivagem para a

enteroquinase. Dessa forma, o cDNA da Bdh-2 foi subclonado em fusão com esta sequência a

fim de facilitar a purificação da proteína recombinante através de cromatografia de afinidade

em metal imobilizado (IMAC) (Figura 8)

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48

Figura 8: Representação esquemática do vetor de expressão procariótico pTrcHis-Bdh-2. pBR322 ori: origem

de replicação; Amp: gene de resistência a ampicilina; Lac1q: gene repressor lac; LacO: operador lac; ATG:

códon de iniciação; 6XHis: sequência que codifica para a cauda de histidina; EK: sítio de clivagem para a

enteroquinase; Bdh-2: fragmento do cDNA da Bdh-2; rrnB: seqüência de terminação da transcrição (Adaptado

de CAJAZEIRAS et al., 2009).

4.2 PCR COLONY PARA SELEÇÃO DOS CLONES POSITIVOS

Um clone positivo, selecionado por crescimento em meio LB-Broh contendo 50

µg/mL de ampicilina, foi confirmado por PCR utilizando primers flaqueadores de inserto

pTrcHis Forward e pTrcHis Reverse adquiridos na Invitrogen.

A reação de PCR foi realizada no termociclador Mastercycler Gradient S

(Eppendorf, Hamburg, Germany). As condições da reação de PCR envolveram uma

desnaturação inicial a 94 °C por dois minutos, seguidos por 30 ciclos de desnaturação a 94 °C

por 50s, anelamento a 55 °C por 50s e extensão a 72 °C por 50s, seguida por extensão final a

72 °C por 8 minutos. Os amplicons foram avaliados em gel de agarose 1%, corados com

brometo de etídeo a 5 mg/mL e visualizados sob iluminação ultravioleta.

Page 49: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

49

4.3 EXPRESSÃO HETERÓLOGA DA rBdh-2

Para a expressão heteróloga da proteína rBdh-2 fusionada com cauda de histidina

partiu-se de um clone positivo detectado por PCR. Foram utilizadas duas diferentes

metodologias, uma proposta por CAJAZEIRAS et al., (2009) que induz a expressão da

bodesina recombinante através de isopropyl-D-thiogalactoside, IPTG (USB Corporation,

Cleveland, OH, USA) e outra proposta neste trabalho que utiliza temperatura como um

indutor da expressão da proteína recombinante rBdh-2 na forma solúvel.

4.3.1 INDUÇÃO DA EXPRESSÃO DA rBdh-2 POR IPTG

Para indução por IPTG foram feitos 5 pré-inóculos da bactéria em 5 mL de meio

LB-Broth, onde 4 pré-inóculos foram denominados experimentais e 1 pré-inóculo foi

denominado controle. Todos os pré-inóculos continham 50 µg/mL de ampicilina e foram

cultivados a 37 °C overnight.

Cada pré-inóculo foi reinoculado em um meio contendo 500 mL de meio de

cultura com a mesma concentração de ampicilina, totalizando 2 L de cultura. As bactérias

foram deixadas sob agitação aproximadamente 3 horas em agitador até atingirem crescimento

na fase log cujo valor de DO600nm

(Densidade Ótica) alcançasse 0,6-0,8. Posteriormente, uma

alíquota de 1 mL foi retirada (amostra experimental e amostra controle) para ser utilizada

como controle negativo da indução de expressão da proteína recombinante, sendo

denominado T0 (tempo zero) imediatamente antes da indução por IPTG. As proteínas

expressas nestas amostras foram analisadas em gel de poliacrilamida SDS-PAGE 15%.

Todo o restante da cultura bacteriana foi submetida à indução da expressão da

rBdh-2 utilizando IPTG na concentração de 1,5 mM por duas horas segundo metodologia

proposta por CAJAZEIRAS et al., (2009). Uma alíquota de 1 mL foi retirada após indução

para verificar a eficiência da expressão da proteína. A proteína expressa foi analisada em gel

de poliacrilamida SDS-PAGE 15% e este período de indução foi denominado T2 (tempo

dois), ou seja, tempo após as duas horas de indução. O mesmo foi feito para a amostra

controle.

Page 50: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

50

4.3.2 INDUÇÃO DA EXPRESSÃO DA rBdh-2 POR TEMPERATURA

Para indução por temperatura foi utilizada a mesma metodologia descrita

anteriormente, porém, ao invés de se utilizar IPTG como indutor utilizou-se baixa

temperatura. As culturas bacterianas, após atingirem crescimento em uma DO600

entre 0,6-0,8,

foram mantidas a 14 °C por 24h, a fim de se obter a maior quantidade de proteína na fração

solúvel. Uma alíquota de 1 mL foi retirada antes (T0) e após (T24) a indução para se verificar

a eficiência da expressão da proteína. Esta análise foi realizada em gel de poliacrilamida SDS-

PAGE 15%.

4.4 EXTRAÇÃO DE PROTEÍNAS TOTAIS DA E. coli TOP 10 RECOMBINANTE

A extração da proteína recombinante de ambas as induções (IPTG e temperatura)

envolveu a lise das bactérias. As células da cultura bacteriana após 2 horas de indução com

IPTG 1,5 mM ou de crescimento a 14 °C overnight foram centrifugadas a 7.000 rpm (rotações

por minuto) por 10 minutos a 4 °C. O sobrenadante correspondendo ao meio de cultura foi

descartado e o precipitado (pellet) de bactérias foi mantido no gelo a fim de minimizar a ação

de proteases.

Em seguida, usando uma pipeta sorológica de 10 mL, as células foram

ressuspensas completamente adicionando-se 25 mL de solução de lise (Tampão fosfato de

sódio contendo imidazol 10 mM em pH 7,4) para cada 500 mL de pellet de cultura bacteriana.

Em seguida, esse volume foi mantido em gelo e sonicado em pulsos de 20 segundos 15 vezes

com potência de 30 W a intervalos de 15s. Após essa etapa, procedeu-se a centrifugação a

7.000 rpm por 20 minutos a 4 °C.

O sobrenadante da indução por IPTG e da indução por temperatura foi transferido

cuidadosamente e separadamente para um tubo de microcentrífuga de 15 mL estéril. Em

seguida, a amostra foi filtrada em filtro de 0,45 µm (MILLIPORE) e submetida à análise por

SDS-PAGE 15%.

O sobrenadante da indução por temperatura foi submetido à cromatografia de

afinidade em coluna com metal imobilizado (IMAC).

O pellet da cultura induzida por temperatura foi descartado e o pellet da cultura

induzida por IPTG foi ressuspendido completamente em solução de lise contendo uréia 8 M

para solubilizar as proteínas expressas em corpos de inclusão. Em seguida, a amostra foi

Page 51: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

51

centrifugada a 7.000 rpm por 20 minutos à 4 °C, sendo o sobrenadante submetido a

eletroforese em gel de poliacrilamida SDS-PAGE 15% para avaliar a expressão da proteína

recombinante. O pellet contendo os debris celulares foi descartado.

As proteínas solúveis totais foram quantificadas pelo método de Bradford e em

seguida passadas no filtro de 0,45 μm (MILLIPORE) imediatamente antes da purificação por

cromatografia de afinidade em metal imobilizado (IMAC) no sistema ÄKTA Purifier (GE

Healthcare).

4.5 PURIFICAÇÃO DA rBdh-2 POR CROMATOGRAFIA DE AFINIDADE EM

COLUNA HIS-TRAP

A estratégia empregada para a purificação da bodesina recombinante rBdh-2

contendo cauda de histidina utilizou as vantagens da cromatografia de afinidade em metal. Os

íons metálicos são imobilizados através do uso de um agente quelante presente na matriz

cromatográfica capaz de possibilitar a ligação da proteína ao metal. Alguns aminoácidos

como a histidina apresentam alta especificidade de ligação por metal imobilizado (Figura 9).

Figura 9: Representação esquemática da interação entre resíduos vizinhos da cauda de histidina (His-tag) e a

matriz contendo níquel imobilizado. Os sítios livres na esfera de interação do níquel interagem com os anéis de

imidazol da proteína recombinante (azul).

Dessa maneira, proteínas ricas em histidina podem ser especificamente eluídas da

resina cromatográfica carregada com íons metálicos, e então isoladas por este método.

Page 52: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

52

A coluna utilizada na cromatografia de afinidade contendo metal imobilizado para

a purificação da bodesina recombinante rBdh-2 foi a His-Trap HP de 5 mL (GE Healthcare).

As condições cromatográficas consistiram em equilibrar His-Trap HP, com 5 CV (volumes de

coluna), com tampão de equilíbrio (Tampão fosfato de sódio e Imidazol 10 mM em pH 7,4)

para aplicar extrato protéico advindo da indução por temperatura. O mesmo tampão

acrescidos de uréia 8 M foi utilizado para equilibrar His-Trap HP para aplicar extrato protéico

advindo da indução por IPTG.

O extrato total protéico das induções (por temperatura e IPTG) foi separadamente

aplicado à coluna HisTrap HP em um fluxo de 1 mL/min, a fim de possibilitar uma maior

interação das proteínas expressas, contendo cauda de histidina presentes no extrato total, com

os metais imobilizados da coluna. As proteínas que não interagiram com o metal da coluna

foram eluídas com 5 CV de tampão de equilíbrio e a fração ligante a matriz cromatográfica

foi eluída em tampão de equilíbrio em gradiente de 0-500 mM de imidazol. Nestas

cromatografias as amostras foram coletadas e o conteúdo protéico foi avaliado a 216 e 280

nm. As amostras, tanto da fração ligante como da fração não ligante, foram coletadas para

análise em gel de eletroforese em poliacrilamida a 15% e por immunoblotting.

4.6 PURIFICAÇÃO DA BODESINA RECOMBINANTE rBdh-2 POR

CROMATOGRAFIA DE TROCA IÔNICA EM COLUNA DEAE-SEPHACEL

A fração protéica retida na cromatografia de afinidade foi dializada contra tampão

Tris 20 mM pH 7,4 e o conteúdo protéico foi concentrado em filtros amicon de 10KDa

(MILLIPORE). Posteriormente, este concentrado protéico foi submetido à cromatografia de

troca iônica em coluna (1 mL de volume) de DEAE-Sephacel Hi-Trap (GE Healthcare).

As condições cromatográficas consistiram em equilibrar a coluna com 5 CV do

mesmo tampão em que a amostra estava solubilizada (Tris 20 mM em pH 7,4). Em seguida, 1

mL de amostra foi aplicada na coluna em fluxo de 1,0 mL/min e com este mesmo fluxo a

fração não ligante à matriz cromatográfica foi eluída com 5 CV no tampão de equilíbrio. A

fração ligante a matriz foi eluída com 10 CV em gradiente de NaCl de 0-1M no mesmo

tampão de equilíbrio. As amostras foram coletadas em coletor de fluxo em volumes de 1 mL e

o conteúdo protéico foi avaliado a 216 e 280 nm.

Page 53: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

53

As frações ligante e não-ligante foram submetidas à análise por eletroforese em

gel de poliacrilamida SDS-PAGE 15% e imunoblotting.

4.7 ELETROFORESE EM GEL DE POLIACRILAMIDA

Alíquotas das frações citadas anteriormente foram ressuspensas em tampão de

amostra (azul de bromofenol 5%, SDS 20% e glicina 10%). Para os testes em condições

redutoras, as mesmas foram acondicionadas em tampão contendo β-mercaptoetanol a

concentração final de 10%. Antes da aplicação da amostra no gel de poliacrilamida, a mesma

foi aquecida a 100 °C por 5 minutos.

A metodologia desenvolvida por LAEMMLI (1970) foi utilizada para caracterizar

o perfil eletroforético das proteínas obtidas nas várias etapas de purificação. O gel de

separação foi preparado com 1,25 mL de acrilamida-bisacrilamida 30%; 1,25 mL de tampão

Tris-HCl 1,5M pH 8,8; 2,425 mL de água destilada; 50 μL de SDS 10%; 5 μL de TEMED

concentrado e 25 μl de persulfato de amônio 10%. O gel de concentração continha 0,33 mL

de acrilamida-bisacrilamida 30%; 625 μL de tampão Tris-HCl 0,5 M pH 6,8; 1,5 mL de água

destilada; 25 μL de SDS 10%; 5 μL de TEMED e 12,5 μL de persulfato de amônio. O tampão

de corrida continha 25 mM de trisma-base; 192 mM de glicina e SDS 1%.

A eletroforese foi processada em uma amperagem constante de 20 mA durante 2

horas. Os géis foram mergulhados em solução corante contendo Coomasie Blue R250 0,1%

em água, metanol e ácido acético glacial (5: 5: 2 v/v) por 1 hora a temperatura ambiente,

sendo, em seguida, descolorados com solução descorante constituída de etanol 30% e ácido

acético 10%.

4.8 IMMUNOBLOTTING

Para a detecção da bodesina recombinante rBdh-2 fusionada com cauda de

histidina, as amostras após terem sido separadas por eletroforese em gel de poliacrilamida

SDS-PAGE foram transferidas para membrana de nitrocelulose (GE Healthcare). Como

tampão de transferência foi utilizado Tris-HCl 25 mM pH 8,3, glicina 192 mM e metanol 20%

(v/v). Para isto, foi utilizada uma voltagem constante de 25 V, amperagem de 25 mA,

Page 54: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

54

temperatura ambiente no período de 2 horas usando o sistema de eletroforese Mini VE Blot

Module Apparatus (GE Healthcare).

Os sítios inespecíficos foram bloqueados com incubação do gel overnight a 4 °C

ao tampão de bloqueio TTBS constituído de Tris-HCl 100 mM pH 7,5, NaCl 150 mM e

Tween 20 1% adicionados a de leite desnatado (Molico/Nestle) a concentração de 5% (p/v).

Em seguida, a membrana foi incubada com anticorpo monoclonal anti-

polihistidina na diluição de 1:1.500 (v/v) adquiridos na Sigma-Aldrich, St. Louis, MO, USA e

diluído no tampão de bloqueio, seguido de incubação por 3 horas a temperatura ambiente.

Após três lavagens da membrana, foi adicionado o anticorpo conjugado (anti-rabbit alkaline

phosphatase conjugate) diluído no tampão de bloqueio na proporção de 1:5000 seguido de

incubação por 1 hora a temperatura ambiente.

Após lavagem da membrana com TTBS, a mesma foi incubada por 60 minutos

com fosfatase alcalina anti IgG de rato (Sigma-Aldrich) diluída na proporção de 1:100 (v/v).

Em seguida, a membrana foi lavada três vezes com TTBS e uma vez com TBS (100 mM Tris-

HCl, pH 7,5, 150 mM NaCl). A bodesina recombinante rBdh-2 foi visualizada adicionando o

substrato NBT/BCIP para fosfatase alcalina (Sigma-Aldrich), sendo a reação parada com água

destilada.

4.9 DICROISMO CIRCULAR (CD)

De acordo com a conformação estrutural que as proteínas adquirem (hélices- ,

folhas-β ou estruturas desordenadas), é possível caracterizar a estrutura secundária destas

moléculas devido ao perfil espectral de CD particular destes arranjos, bem como estimar as

frações destas estruturas na conformação global da proteína.

As medidas de CD foram realizadas em um espectropolarímetro J-815 da JASCO

(Figura 10A). Utilizou-se uma alíquota de 100 L da rBdh-2 (OD = 0,3) em tampão Tris 20

mM pH 7,0. As medidas foram feitas numa cubeta de quartzo com 1 mm de caminho ótico

(Figura 10B) a temperatura controlada de 25 °C.

Page 55: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

55

A B

Figura 10: A: Espectropolarímetro J-815 da JASCO utilizado para a realização das medidas de CD da bodesina

rBdh-2; B: Cubeta de quartzo com 1 mm de caminho ótico.

Primeiramente foi obtido um espectro do branco, ou seja, apenas da solução

tampão Tris 20 mM pH 7,0 (no qual a amostra foi diluída) para que não houvesse

interferência. As contribuições do tampão obtidas sob condições idênticas foram subtraídas e

todos os espectros de CD foram corrigidos a fim de eliminar quaisquer efeitos de ruído. Foi

feita então, uma varredura de 190 a 250 nm aplicando a velocidade de 50 nm/mim,

registrando 8 acumulações. Utilizou-se como fonte de luz uma lâmpada de xenônio com 16

atmosferas de pressão.

Os programas utilizados para processar os dados foram Spectra ManagerTM

II,

Origin® e Protein Secondary Structure Estimation Program Jasc for windows (que faz parte

do pacote de softwares adquiridos junto com o equipamento).

As contribuições de estrutura secundária obtidas pelo espectro de CD da rBh-2

foram realizadas utilizando o programa Convex Constraint Analysis (CCA) – Selcon3. Este

programa é um método de deconvolução que extrai as componentes comuns de um grupo

qualquer de espectros, calculando assim, suas curvas básicas.

Teoricamente, a partir da combinação destas curvas básicas, pode-se obter

qualquer curva contida no grupo de espectros. A este grupo de espectros dá-se o nome de

espectros de referência. O Selcon3 utiliza o algarítimo simplex que extrai dos espectros de

referência suas cinco componentes puras, isto é, as curvas associadas à conformação

secundária de proteínas ( -hélice, folha- , volta- , estrutura não ordenada e contribuições

aromáticas).

Page 56: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

56

4.10 ENSAIO DE TERMOESTABILIDADE DA rBdh-2 UTILIZANDO DICROÍSMO

CIRCULAR

Com o objetivo de avaliar as mudanças conformacionais na estrutura secundária

da rBdh-2 promovidas por alterações na temperatura, uma alíquota de 100 L da bodesina

recombinante (OD = 0,300 diluída em tampão Tris 20 mM pH 7,0) foi submetida a diferentes

medidas de CD variando-se a faixa de temperatura de 5 a 55 °C. Os espectros de CD foram

determinados em intervalos de 5 °C.

Page 57: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

57

5. RESULTADOS

5.1 CONSTRUÇÃO DO VETOR DE EXPRESSÃO PROCARIÓTICO

Neste trabalho foi utilizado como template para PCR, os clones produzidos por

Melo et al (2008) que continham insertos de cDNA de 607 pares de bases. Em particular, o

fragmento clonado da Bdh-2 compreende uma ORF (Open Reading Frame) de 318 pb

incluindo o códon de parada com 278 pb na região 3’ não traduzida (Figura 11).

Figura 11: Representação esquemática da seqüência nucleotídica do sistema de expressão pTrcHis-Bdh-2 e da

sequência de aminoácidos traduzida. O vetor plasmidial é mostrado em letras sublinhadas. O códon de iniciação

(ATG) e os dois códons de parada estão dentro das caixas cinzas. O sítio de ligação do ribossomo está

representado em letras itálica. A 6xHis tag e a sequencia de reconhecimento da enteroquinase são mostrados em

negrito. Adaptado de CAJAZEIRAS et al., 2009.

Page 58: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

58

Os insertos de cDNA estavam em frame com o códon de iniciação ATG do vetor

pTrcHis TOPO. Este fato assegurou uma correta tradução da sequência de aminoácidos da

rBdh-2. O vetor pTrcHis-bdh-2 produzido codificou uma cadeia polipeptídica de 140

aminoácidos, dos quais 105 resíduos correspondiam a rBdh-2. Os 35 resíduos de aminoácidos

extra codificados são referentes ao plasmídeo que correspondem a seis histidina (6xHis) na

região N-terminal e ao sítio de clivagem para enteroquinase.

5.2 PCR COLONY PARA SELEÇÃO DOS CLONES POSITIVOS

A figura 12 representa um clone positivo selecionado por crescimento em meio

LB-Broth contendo 50 µg/mL de ampicilina confirmado por PCR, analisado em gel de

agarose 1%, corado com brometo de etídeo e visualizado sob iluminação ultravioleta.

O tamanho do produto de PCR foi de aproximadamente 350 pb, o que é

compatível com o tamanho da ORF da bodesina Bdh-2 utilizada neste estudo. Uma vez

confirmada à presença do inserto no clone selecionado foi dada sequência aos experimentos

de expressão heteróloga da proteína.

Figura 12: Amplificação da ORF codificadora da bodesina Bdh-2. A primeira coluna indica o padrão de massa

molecular de 250 pb DNA Ladder da Invitrogen. A seta corresponde a ORF da Bdh-2 amplificada.

Page 59: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

59

5.3 PURIFICAÇÃO DA PROTEÍNA RECOMBINANTE r-Bdh2 POR

CROMATOGRAFIA DE AFINIDADE EM COLUNA HIS-TRAP - INDUÇÃO POR

TEMPERATURA

A purificação da proteína recombinante expressa através da indução por

temperatura envolveu primeiramente a lise das bactérias através de sonicação. O sobrenadante

obtido da cultura bacteriana, após sonicação seguida de centrifugação, foi passado em filtro de

0,45 µm (MILLIPORE) e submetido à cromatografia de afinidade em coluna His-Trap

contendo metal imobilizado (IMAC) utilizando o sistema cromatográfico ÄKTA Purifier (GE

Healthcare).

A figura 13 mostra o perfil cromatográfico obtido a partir do extrato total

bacteriano submetido à indução de expressão protéica por temperatura.

Figura 13: Perfil cromatográfico da purificação da proteína rBdh-2 utilizando cromatografia de afinidade em

coluna His-Trap contendo metal imobilizado. O tampão de eluição da fração protéica não ligante foi fosfato de

sódio com imidazol 10mM. O tampão de eluição da fração protéica retida na coluna foi fosfato de sódio com

gradiente de imidazol de 0-500mM. O volume de amostra aplicado na coluna foi de 70 mL e o fluxo da

cromatografia foi de 1,0 mL/min. As frações protéicas foram monitoradas a 216 nm (rosa) e 280 nm (azul).

Page 60: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

60

5.4 PURIFICAÇÃO DA rBdh-2 POR CROMATOGRAFIA DE AFINIDADE EM

COLUNA HIS-TRAP COM METAL IMOBILIZADO (IMAC) – INDUÇÃO POR

IPTG

A purificação da proteína recombinante expressa através da indução por IPTG

também envolveu primeiramente a lise das bactérias através de sonicação. A fração insolúvel

da cultura induzida por IPTG foi passada em filtro de 0,45 μm (MILLIPORE) imediatamente

antes de ser submetida à cromatografia de afinidade utilizando uma coluna contendo níquel

imobilizado. A figura 14 mostra o perfil cromatográfico obtido do extrato total bacteriano

cuja expressão protéica foi induzida por IPTG 1,5mM.

Figura 14: Perfil cromatográfico da purificação da proteína recombinante rBdh-2 através de cromatografia de

afinidade em coluna His-Trap no sistema Äkta Purifier (GE Healthcare). O tampão de eluição da fração protéica

não retida utilizado foi fosfato de sódio com uréia 8 M e imidazol 10mM. O tampão de eluição da fração retida

nos metais da coluna de afinidade foi fosfato de sódio com uréia 8 M e gradiente de imidazol de 0-500mM. O

volume de amostra aplicado na coluna foi de 100 mL e o fluxo da cromatografia foi de 1,0 mL/min. As frações

protéicas foram monitoradas a 280 nm (azul).

Page 61: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

61

5.5 CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DA rBdh-2 SEMI PURIFICADA -

ANÁLISE ELETROFORÉTICA E IMMUNOBLOTTING

Alíquotas referentes a cada passo da indução da expressão da proteína

recombinante rBdh-2 foram utilizadas para análise eletroforética seguidas por

immunoblotting.

Após a expressão da bodesina rBdh-2 na forma recombinante através da indução

por IPTG, o extrato total foi submetido à cromatografia de afinidade em coluna His-Trap

com metal imobilizado utilizando o sistema Äkta Purifier (GE Healtcare). As frações eluídas

durante o processo cromatográfico foram submetidas à análise por SDS-PAGE seguidas por

immunoblotting.

A figura 15 mostra a detecção da bodesina recombinante rBdh-2 fusionada com

cauda de histidina, as amostras após terem sido separadas por eletroforese em gel de

poliacrilamida SDS-PAGE 15% foram transferidas para membrana de nitrocelulose (GE

Healthcare).

Figura 15: Perfil da detecção da bodesina recombinante rBdh-2 fusionada com cauda de histidina. 1: T0 (

Extrato total antes da indução por IPTG); 2: T2 (Extrato total após indução por IPTG 1,5 mM por 2 horas); 3:

Fração insolúvel da indução por IPTG ; 4: Fração solúvel da indução por IPTG; 5: Fração retida em coluna de

HisTrap; 6:Fração não retida em coluna de HisTrap.

Page 62: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

62

5.6 PURIFICAÇÃO DA PROTEÍNA RECOMBINANTE rBdh-2 POR

CROMATOGRAFIA DE TROCA IÔNICA EM COLUNA DEAE-SEPHACEL

A fim de otimizar o processo de purificação da rBdh-2 e, conseqüentemente,

eliminar a presença de proteínas contaminantes, foi realizada cromatografia de troca iônica

em coluna de DEAE-Sephacel (GE Healtcare) no sistema Äkta Purifier (GE Healtcare).

A figura 16 representa o perfil cromatográfico da purificação da proteína

recombinante semi purificada em cromatografia de afinidade em coluna de His-Trap (GE

Healtcare). O método complementar para a purificação da proteína recombinante rBdh-2 foi a

cromatografia de troca iônica em coluna de DEAE-Sephacel (GE Healtcare).

Figura 16: Perfil cromatográfico da purificação da proteína rBdh-2 em coluna de troca iônica DEAE- Sephacel

no sistema Äkta Purifier. O tampão de eluição da fração protéica não retida na matriz cromatográfica foi Tris 20

mM pH 7,4. O tampão de eluição de fração protéica retida na matriz cromatográfica foi Tris 20mM pH 7,4 com

NaCl 1,0 M. O fluxo da cromatografia foi de 1,0 mL/min e as frações protéicas foram monitoradas a 280 nm

(azul).

Page 63: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

63

5.7 CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DA rBdh-2 PURIFICADA - ANÁLISE

ELETROFORÉTICA E IMMUNOBLOTTING

Alíquotas referentes à fração protéica não-ligante e ligante à coluna de troca

iônica (DEAE-Sephacel) foram utilizadas para análise eletroforética seguidas por

immunoblotting.

Figura 17: A- Perfil eletroforético em gel de poliacrilamida 15% na presença de SDS corado com prata.1A-

Fração retida em coluna de DEAE-Sephacel; 2A- Fração não retida em coluna de DEAE-Sephacel. B- Análise

por immunoblotting. 1B- Fração retida em coluna de DEAE-Sephacel; 2B- Fração não retida em coluna de

DEAE-Sephacel

5.8 CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL DA rBdh-2 POR DICROÍSMO CIRCULAR

(CD)

O espectro de CD obtido para a proteína recombinante rBdh-2 apresentou uma

banda positiva em 202 nm e uma banda negativa em 216 nm (Figuras 18). Isso caracteriza a

predominância de estruturas secundárias do tipo folhas-β sendo confirmado através do uso do

programa Convex Constraint Analysis (CCA) – Selcon3. Este programa confirmou também a

presença de um baixo conteúdo de estruturas não-ordenadas e de hélices- (Tabela 1).

Page 64: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

64

Figura 18 - Espectro de dicroísmo circular da rBdh-2. As medidas foram realizadas no espectropolarímetro da

Jasco J-815 utilizando 100 L da rBdh-2 (DO = 0,300) em tampão Tris 20 mM pH 7,0. Os espectros foram

obtidos variando o comprimento de onda entre 190 a 250 nm e registrados como uma média de 8 varreduras a 25

°C, utilizando uma cubeta de quartzo com caminho óptico de 1 mm.

Tabela 1 – Composição da estrutura secundária da rBdh-2 obtida da deconvolução do espectro de CD.

Componente Composição da rBdh-2 (%)

Hélice- 3

Não-ordenada 20

Volta-β (β-turn) 31

Folha- β 46

Page 65: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

65

5.9 ENSAIO DE TERMOESTABILIDADE DA rBdh-2 UTILIZANDO DICROÍSMO

CIRCULAR

A figura 19 mostra os espectros de CD da rBdh-2 sob as diferentes condições de

temperaturas testadas.

Figura 19- Espectros de dicroísmo circular da rBdh-2 obtidos sob diferentes temperaturas. As medidas foram realizadas

utilizando uma alíquota de 100 L da rBdh-2 (DO = 0,300) em tampão Tris 20 mM pH 7,0. Os espectros foram

obtidos variando o comprimento de onda entre 200 a 250 nm e registrados como uma média de 8 varreduras,

com a temperatura variando de 5 a 55 oC (em intervalos de 5

oC), utilizando uma cubeta de quartzo com caminho

óptico de 1 mm.

A curva de transição foi determinada em função da temperatura, monitorando-se o

ponto em 216 nm (Figura 20).

Page 66: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

66

Figura 20 - Curva de termoestabilidade da estrutura secundária rBdh-2 obtida através da análise de dicroísmo circular

(CD).

Como resultado, observou-se que a rBdh-2 manteve sua estrutura estável até 35

oC. No entanto, mudanças significativas foram observadas a partir de 40°C referentes à

descaracterização do espectro de CD.

Page 67: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

67

6. DISCUSSÃO

Os plasmídeos de expressão recombinante requerem, entre outros, um forte

promotor transcricional para controlar os altos níveis de expressão dos genes e um repressor

adequado para minimizar a transcrição basal na falta do indutor. O mais comum indutor é a

molécula de açúcar IPTG.

O pTrcHis TOPO utilizado neste trabalho é um vetor plasmidial baseado no

pBR322, contendo um promotor trc, o operador Lac (LacO) e o gene LacIq. O operador lac é

o sítio de ligação do repressor lac, que é codificado pelo gene lacIq, para providenciar uma

expressão regulável pelo promotor trc. Assim na falta de IPTG, o repressor lac se liga a

seqüência do operador lac reprimindo a transcrição. Para induzir a expressão da rBdh-2, foi

adicionado IPTG na concentração final de 1,5 mM como proposto por CAJAZEIRAS et al

(2009).

De maneira ideal, quando se pensa em expressão de proteínas recombinantes,

espera-se que o sistema expresse uma proteína em grande quantidade, estável, não tóxica para

a bactéria, solúvel e que possa ser facilmente purificada.

O sistema mais amplamente utilizado para expressão de proteínas heterólogas é o

que utiliza E. coli como célula hospedeira. Este sistema é bastante difundido devido à

facilidade de manuseio, reprodutibilidade, baixo custo de se cultivar esta bactéria e

abundância de proteínas expressas (CHOI & LEE, 2004). Entretanto, algumas proteínas,

simplesmente não são expressas em E.coli, pois muitas vezes para serem funcionais

necessitam sofrer processamentos pós-traducionais (glicolisações, fosforilações,

processamento de cadeias polipeptídicas, etc) que não são realizados por bactérias. Outras

vezes são expressas, porém, na forma insolúvel como corpos de inclusão (SØRENSEN &

MORTENSEN, 2005). Neste trabalho foi utilizada E.coli TOP 10 como célula hospedeira

para a produção da proteína de interesse rBdh-2, uma vez que a mesma não apresenta

modificações pós-traducionais.

Os corpos de inclusão são agregados estruturalmente complexos que

frequentemente ocorrem como uma resposta a um estresse, quando uma proteína

recombinante é expressa em altos níveis (VAN DEN BERG et al., 1999).

As proteínas recombinantes insolúveis normalmente enriquecem os corpos de

inclusão em 50 a 95% do material protéico (CARBONNELL & VILLAVERDE, 2002). A

Page 68: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

68

exposição de resíduos hidrofóbicos na superfície das proteínas favorece a formação desses

agregados.

Pouco é conhecido sobre os mecanismos de formação dos corpos de inclusão

(VILLAVERDE & CARRIO, 2003). Entretanto, se sabe que sua formação em sistema de

expressão recombinante é o resultado de um desequilíbrio entre a agregação das proteínas in

vivo e sua solubilização, específico para cada proteína em relação a uma dada bactéria. A

formação de corpos de inclusão não é um agregado inerte, mas age como um reservatório

transiente para intermediários protéicos fracamente enovelados in vivo (CARRIO AND

VILLAVERDE, 2001).

Um problema que pode surgir na formação de corpos de inclusão tem relação com

a estrutura nativa da proteína e, consequentemente, com sua atividade biológica. De fato, o

procedimento realizado para purificação de uma proteína recombinante a partir dos corpos de

inclusão é, primeiramente, a sua solubilização em condições desnaturantes. Isso pode

comprometer a re-solubilização da proteína após purificação e dessa maneira torná-la inativa.

A indução da expressão de proteínas recombinantes em sistema procariótico a

baixas temperaturas pode ser utilizada como uma alternativa para a redução da formação de

corpos de inclusão uma vez que a exposição de resíduos hidrofóbicos na superfície das

proteínas pode levar, eventualmente, a agregações protéicas.

Vale ressaltar que a indução de superexpressão induz também a expressão de

proteases indesejadas que, entretanto, ao se reduzir a temperatura, têm suas atividades

reduzidas. Além disso, a atividade e a expressão de chaperonas são aumentadas em

temperaturas mais amenas o que favorece um aumento da estabilidade e um aumento

potencial para se adquirir um correto enovelamento da proteína.

Diante das dificuldades apresentadas quanto a utilização de proteínas

recombinantes a partir de corpos de inclusão e as vantagens apresentadas pela utilização de

baixas temperaturas na indução de proteínas exógenas em sistema bacteriano, tentou-se, neste

trabalho, produzir a proteína recombinante rBdh-2 na fração solúvel através da indução da

expressão a baixas temperaturas, como sugerido por vários trabalhos.

IMAC (Cromatografia de afinidade em metal imobilizado) é frequentemente

utilizada para purificação de proteínas recombinantes contendo grupos sulfidrilas, em

particular contendo o aminoácido histidina (HIS). Íons metálicos agem como quelantes destes

aminoácidos possibilitando a ligação da proteína contendo cauda de histidina ao metal

imobilizado. Alguns aminoácidos, principalmente a histidina, apresentam alta especificidade

de ligação por metal imobilizado. Dessa maneira, proteínas ricas em histidina podem ser

Page 69: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

69

especificamente eluídas da resina carregada com íons metálicos (Ni2+

) e então isoladas por

este método.

IMAC foi a estratégia utilizada para a purificação da proteína recombinante rBdh-

2. Como pode-se observar através do perfil cromatográfico da figura 13, não houve fração

retida na coluna de His-Trap contendo níquel a partir do extrato bacteriano induzido por

temperatura. Provavelmente a proteína de interesse rBdh-2 foi expressa em baixa quantidade

ou até mesmo não foi expressa com este tipo de indução de expressão. Isto indica que este

método não é o mais adequado para expressar a proteína recombinante rBdh-2, necessitando

utilizar um método mais eficiente.

Alternativamente, para a expressão heteróloga da proteína rBdh-2 fusionada com

cauda de histidina foi utilizada a metodologia proposta por CAJAZEIRAS et al., (2009) que

induz a expressão da bodesina recombinante através de isopropyl-D-thiogalactoside, IPTG.

Análises investigativas através de immunoblotting (figura 15) mostraram a

presença de uma banda diferenciada na fração induzida do extrato total da indução da

produção da rBdh-2 por IPTG o que denota o sucesso no protocolo de expressão utilizado.

Em adição, houve a presença de uma segunda banda na mesma fração de indução com massa

molecular aparente acima do esperado para a rBdh-2, este banda provavelmente se deve a

ligações inespecíficas do anticorpo utilizado para análise por immunoblotting, uma vez que

não podemos atribuir essa banda a uma possível oligomerização da proteína em questão, visto

termos utilizado as amostras na presença de SDS que, teoricamente, agiria como agente

redutor desfazendo possíveis oligomerizações.

Após a lise celular também foi evidenciado que a proteína recombinante rBdh-2

esteve presente em grande quantidade na fração insolúvel ou expressa na forma de corpos de

inclusão no sistema de expressão utilizado. Por outro lado, não foi constatada a presença da

proteína de interesse na fração solúvel induzida por IPTG.

Nesta dissertação, a expressão da proteína recombinante rBdh-2 foi observada

duas horas após indução com IPTG 1,5 mM na fração insolúvel do citoplasma, ou seja, houve

formação de corpos de inclusão, o que pode significar que a proteína foi produzida em grande

quantidade. Porém, apesar dessa bodesina ter sido expressa na forma de corpos de inclusão,

não encontramos dificuldades nos procedimentos de re-solubilização, uma vez que a mesma

apresentou-se totalmente solúvel até mesmo após a remoção do agente caotrópico uréia.

Como se pode observar, o perfil cromatográfico da Figura 14 (indução da

expressão de proteínas por IPTG) apresentou-se bastante diferente da cromatografia mostrada

na Figura 13 (indução da expressão de proteínas por Temperatura).

Page 70: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

70

O IPTG neste caso atuou de forma eficiente induzindo a expressão da proteína

recombinante rBdh-2 com cauda de histidina em grande quantidade no sistema procariótico

utilizado E.coli TOP 10. Isso possibilitou sua purificação em coluna His-Trap como mostrado

no resultado da cromatografia de afinidade. Uma fração protéica eluída em tampão fosfato

com uréia 8 M e gradiente de imidazol de 0-500 mM monitorada a 280 nm foi obtida

indicando a presença de proteínas, muito provavelmente a rBdh-2.

Porém, a presença de vários picos congruentes no topo na fração retida pode

indicar a presença de proteínas contaminantes.

Picos congruentes podem ser um resultado da exposição de resíduos hidrofóbicos

na superfície da proteína ligada à cauda de histidina o que pode possibilitar a ligação de

outros peptídeos à proteína de interesse. No momento da eluição durante etapas

cromatográficas, além da proteína de interesse ser eluída, peptídios e/ou proteínas

contaminantes também podem ser carreadas. Para isso, torna-se necessário então, a utilização

de um processo cromatográfico alternativo para a purificação da proteína de interesse.

Nesta dissertação, a cromatografia de afinidade em His-Trap eluiu a bodesina

recombinante com alguns contaminantes, que foram removidos através da cromatografia de

troca iônica em matriz de DEAE-Sephacel. Como observado pelo perfil cromatográfico da

rBdh-2 em cromatografia de troca iônica DEAE-Sephacel, este método foi eficiente para

purificar a rBdh-2 das proteínas contaminantes. Vale ressaltar que esta matriz cromatográfica

apresenta cargas positivas em seus ligantes o que permite a separação de proteínas baseadas

em suas cargas líquidas.

A primeira fração protéica, representada na figura 16, mostra um pico simétrico e

representa a proteína recombinante rBdh-2 purificada o que foi observado por análise através

de immunoblotting (Figura 17). Nesta análise, a proteína recombinante mostrou-se livre das

proteínas contaminantes com massa molecular aparente em torno de 16 kDa, sendo o método

de purificação da rBdh-2 por cromatografia de troca iônica bastante satisfatório.

Esta proteína em pH 7,4 apresenta carga líquida positiva e por isso não ficou

retida na matriz cromatográfica. Os contaminantes representados pelo segundo pico não

simétrico, neste valor de pH, apresentaram carga líquida negativa e, portanto, ficaram retidos

na matriz de DEAE-Sephacel. Os contaminantes só foram eluídos na presença de NaCl, que

em solução se dissociam em Na+ (altamente eletropositivo) e Cl

- (altamente eletronegativo),

ocupando os espaços antes tomados pelas proteínas contaminantes, eluindo-as da matriz

carregada. Neste método de cromatografia de troca iônica, o valor de pH do tampão foi

extremamente importante para o sucesso da purificação da proteína recombinante rBdh-2.

Page 71: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

71

Considerando que a expressão de proteínas heterólogas provenientes da

manipulação de genes alvos representa uma das etapas da tecnologia do DNA recombinante,

o subsequente estudo desta proteína pode fornecer evidências sobre o seu papel no mecanismo

reprodutivo da espécie caprina.

A produção de proteínas recombinantes possibilita a obtenção de proteínas de

interesse em escala preparativa suficiente para diversos estudos estruturais e funcionais. O

baixo volume do plasma seminal na espécie caprina apresentou-se como uma forte barreira

para a obtenção da bodesina Bdh-2 e, consequentemente, para o aprofundamento dos estudos

funcionais envolvendo essa biomolécula. Portanto, a expressão de proteína recombinante em

sistema heterólogo foi uma alternativa promissora para a produção em larga escala dessa

espermadesina recombinante.

Porém, é importante ressaltar que o objetivo principal na produção de proteínas

recombinantes é que as mesmas sejam funcionais. Recentemente, duas espermadesinas foram

produzidas com sucesso em sistema procariótico, a AQN-1 suína e a aSFP bovina

(EKHLASI-HUNDRIESER et al., 2008). Os autores demonstraram que a recombinante tipo

selvagem bem como alguns mutantes exibiram características semelhantes quanto à

capacidade de ligação a manose, quando comparadas com as proteínas nativas advindas do

plasma seminal.

No trabalho desenvolvido nesta dissertação, o sistema de expressão foi construído

para produzir a espermadesina Bdh-2 fusionada com cauda de histidina, em células de E.coli

TOP 10. Dessa forma, foi proposto que, depois de solubilizada, a rBdh-2 mesmo com cauda

de histidina mantém a mesma atividade biológica putativa que a proteína nativa, BSFP,

isolada do plasma seminal. Tendo em vista que a etiqueta de 6 histidinas é pequena, sendo

pouco imunogênica e parece não influenciar na conformação da molécula como verificado em

outros trabalhos.

Corroborando com a proposta desta dissertação, os dados de dicroísmo circular

indicam que a proteína recombinante rBdh-2 provavelmente mantém sua conformação

estrutural similar a estrutura da proteína nativa BSFP.

A técnica de dicroísmo circular (Circular Dichroism, CD) refere-se à absorção

diferenciada da luz circularmente polarizada à direita e à esquerda. A luz circularmente

polarizada é gerada quando a fonte de luz oscila em duas direções perpendiculares entre si

(horizontal e vertical), com amplitudes iguais, mas com uma diferença de fase /2. Quando

isto acontece, a trajetória do vetor resultante de propagação da luz é helicoidal. Assim, a

Page 72: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

72

onda resultante será circularmente polarizada à direita ou à esquerda conforme a diferença de

fase for + /2 ou - /2 (CAMPBELL & DWEK, 1984; CANTOR, 1980).

Peptídeos e proteínas são amplamente estudados por CD, pois estão repletos de

centros quirais (carbonos α, C ) distribuídos ao longo da cadeia principal em hélices alfa,

folhas beta, estruturas desordenadas e voltas denominadas estruturas secundárias. Portanto, é

possível caracterizar a estrutura secundária dessas macromoléculas e quantificá-las por seus

espectros de CD.

A região do UV-distante nos espectros de CD, entre 180 e 260 nm, fornece

informações capazes de caracterizar e discriminar as estruturas presentes nestas moléculas

(SREERAMA et al., 2001).

A estimativa do conteúdo de estrutura secundária de uma proteína é feita com

base num grupo de proteínas de referência que possuem estrutura secundária e espectros de

CD conhecidos. Com o auxílio de programas computacionais, que utilizam diferentes

métodos de deconvolução, são extraídas as componentes comuns dos espectros de CD da

proteína analisada e a porcentagem que as mesmas representam no espectro (SREERAMA et

al., 2000).

O espectro de CD obtido para a rBdh-2 apresentou uma banda positiva em 202 nm

e uma banda negativa em 216 nm (Figura 18 ). Este espectro indica que a rBdh-2 apresenta

um padrão de enovelamento protéico característico de proteínas da família das

espermadesinas, que possuem uma predominância de estruturas do tipo folhas-β

(MENÉNDEZ et al., 1995). A predominância do conteúdo de folhas-β foi confirmado usando

o programa Convex Constraint Analysis (CCA) – Selcon3 que confirmou também, um baixo

conteúdo de estruturas não-ordenadas e de hélices- (Tabela 1). Esse resultado é compatível

com o modelo estrutural proposto para o domínio CUB (BORK & BECKMAN, 1993).

Os dados de CD obtidos da variação térmica foram analisados assumindo-se que

este é um processo irreversível de dois estados da molécula (nativo e desnaturado). Como

resultado, observou-se que a rBdh-2 manteve sua estrutura estável até 35 °C. No entanto,

mudanças significativas foram observadas a partir de 40 °C referentes à descaracterização do

espectro de CD, sugerindo a perda da estrutura secundária e consequentemente, a

desnaturação da proteína. Esses resultados apontam que, por ser uma proteína recombinante e

não glicosilada, a rBdh-2 apresenta uma estabilidade térmica menor que de outras

espermadesinas nativas, como a aSFP e a PSP-I/PSPII (MENÉNDEZ et al., 1995).

Page 73: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

73

7. CONCLUSÃO

A bodesina Bdh-2 recombinante foi produzida de forma satisfatória em sistema

bacteriano (E. coli TOP 10)

O método mais adequado de purificação da proteína recombinante rBdh-2 foi

através de cromatografia de afinidade em coluna His-Trap seguida por cromatografia de

troca-iônica em coluna de DEAE-Sephacel;

A estrutura secundária da rBdh-2 avaliada através do perfil espectral de

dicroísmo circular (CD) confirmou a predominância de estruturas secundárias do tipo folhas-

β, a presença de um baixo conteúdo de estruturas não-ordenadas e de hélices- .

A rBdh-2 manteve sua estrutura estável até 35 °C. No entanto, mudanças

significativas foram observadas a partir de 40 °C referentes à descaracterização do espectro de

CD.

Page 74: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

74

9. PERSPECTIVAS

A rBdh-2 viabilizará a produção de anticorpos específicos que servirão como

ferramentas para verificar o nível de expressão e as funções da bodesina nativa a partir do

plasma seminal.

A espermadesina recombinante rBdh-2 viabilizará estudos na área de fecundação

in vitro. O domínio desta técnica poderá resultar em aumento da produtividade caprina,

potencializando a economia local e também nacional. Entretanto, o real efeito fisiológico da

rBdh-2 no papel da fecundação in vitro ainda está por ser determinado.

A produção da Bdh-2 na sua forma recombinante possibilitará ainda a sua

caracterização físico-quimica e estrutural.

Page 75: EXPRESSÃO, PURIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO …

75

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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