purificação do cloreto de sódio

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  • 7/28/2019 Purificao do cloreto de sdio

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    GUAQUASETUDO...ECLORETODESDIO: PURIFICAODOCLORETODESDIO

    CLEMENTINA TEIXEIRA*, VNIA ANDR, SLVIA CHAVES,HERMNIO DIOGO, NUNO LOURENO, FILIPE MENESES

    *Centro de Qumica Estrutural e Departamento de En-genharia Qumica e BiolgicaInstituto Superior Tcnico - Av. Rovisco Pais, [email protected]

    entro de umica Estrutural e Depa

    PREMBULO

    A Qumica como a msica: podeser tocada de muitas maneiras, comnotas que neste caso so as molcu-las, os tomos, os ies, os electrese respectivas associaes. Pode ir depimba a erudita. Pode ir de chata amuito criativa. Pode ter muito de inspi-rao e menos de transpirao, ou aocontrrio. Pode-se oferecer, pode-seesconder e com certeza vender. Quer

    queiramos, quer no, ela omnipre-sente nas nossas vidas, nas nossasmortes, em tudo quanto nos rodeia.Mesmo que se esconda atrs do mo-lecular.

    Foi assim que se escondeu MichaelDavidson da Universidade da Flridae as suas Molecular Expressions1um autntico tsunami de divulgaocientfica que est a revolucionara web, e que faz todos os Coelhos

    Brancos que percorrem a Cincia2

    [1]saltarem fora das tocas e lanaremtudo quanto tm na gaveta, neste mo-mento de uma forma um tanto catica, laia do velho ditado, Em tempo deguerra no se limpam armas .

    Este artigo dedicado ao Chefe, aoProfessor Alberto Romo Dias. En-quanto lutava pela vida, lutvamosns, num espao virtual no Overworldda Web, em defesa do trabalho dosltimos anos, o qual tivemos o prazerde lhe mostrar, h algumas semanas,num perodo de falsas melhoras en-tre cirurgias: a qumica apresentadanas suas mais vivas cores, patentesnas reaces observadas, filmadase fotografadas ao microscpio, sema cosmtica da luz polarizada, semefeitos especiais. Ao dar-nos o privil-gio de nos inserirmos no seu grupo deinvestigao, fez-nos despertar paraa Qumica Inorgnica, nas suas ver-tentes de Qumica de Coordenao,

    Organometlica, Qumica dos Elemen-tos, sempre valorizando a divulgaocientfica como forma de chegar aosalunos a quem protegia, respeitava e

    amava como se fossem seus filhos:aqueles que biologicamente nuncateve, mas que foram seus durante asua presena no Tcnico e que con-tinuaro a s-lo, durante as suasvidas. Em tempo de expresses, as-sim foram as impresses que nelesdeixou. Deixou-nos tambm a Lq [2]e outras obras, deixou-nos a sementedo seu trabalho como pedagogo e in-vestigador, numa imensa rede trans-versal de pessoas, de cincia, de con-ceitos, sem preconceitos, de filosofiade vida. Uma rede de cooperao, re-forando as nossas mtuas atracese vencendo as nossas repulses,cadaum no seu lugar, mais acima ou maisabaixo, mas sempre estrategicamentecolocado, num esforo conjunto comoque numa imensa rede, a nossa redecomo que cristalina. Assim a saiba-mos manter.

    Romo Dias, com certeza perdurarsnas expresses da nossa cultura.

    Para Alberto Romo Dias

    QUMICAE ENSINO

    Palavras chave: cloreto de sdio, crescimento de cristais, cristais On the Rocks, microscopia qumica, fotografia cientfica,

    fotomicrografia, cincia e arte.

    Key words: sodium chloride, crystal growth on the rocks, chemical crystals, photomicrographs, micrographs, chemical micros-

    copy, science and art.

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    Figura 1 Da reaco abstrao: a Qumica nas mais vivas cores!

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    INTRODUO

    O cloreto de sdio daria um compn-dio, ou vrios, se algum se dedicasse

    a escrever exaustivamente sobre assuas propriedades e aplicaes. Soaos milhares e crescem de forma

    vertiginosa os portais da Web quelhe fazem referncia, principalmentedurante o corrente ano, reflectindo avaga gigante de divulgao cientfica jreferida1 [3, 4]. Ser com certeza umardua tarefa depurar toda a informaoa apresentada, posto que carece dereviso cuidada e muito repetitiva.

    O primeiro ponto que gostaramosde realar diz respeito aos principaismotivos que levaram a esta pesquisa,

    resumidos no Quadro 1.

    No Quadro 2 propem-se outros te-mas de estudo que podero tornaro projecto do sal mais envolvente einterdisciplinar: literatura nacional eestrangeira, temas de poesia, msica,romance histrico, histria, religio,educao visual, fotografia, cinema,

    arte, artes grficas e suas aplicaesindustriais.

    A primeira pesquisa que lhe suge-rimos literria e liga-se obra deColleen McCullough,3 Os Favoritosda Fortuna (Quadro 2). Embora sejapreciso flego para a ler, pois que muito volumosa, est bem traduzida,documentada e remonta poca con-turbada de Caio J lio Csar com adescrio das assembleias da plebe e

    toda uma epopeia que mostra bem a

    Quadro 1 Razes pelas quais se deve estudar o cloreto de sdio

    influncia marcante da civilizao ro-mana na nossa cultura e maneira deser. Como muita gente sabe, a palavrasalrio deriva do latimSalarium e a es-trada atravs da qual se transportavao sal utilizado na antiguidade para opagamento de ordenados era a Via

    Salria - uma espcie de autoestradada poca que cortava transversal-mente a pennsula da bota, partin-do do centro de Roma (vide plantasda cidade na mesma obra) ligando-aaos portos do Piceno, na costa leste.

    A nossa pesquisa leva-nos depois paraa Idade Mdia e para o tempo das cru-zadas, das ordens militares religiosas,os Hospitalrios, Cavaleiros de Maltae Os Templrios, nas lutas com Sala-dino em Jerusalm, tema abordado

    nas obras de J uliette Benzoni (srieOs Cavaleiros)4 e muitas outras obras:citem-se, por exemplo, as de WalterScott e a srie os Reis Malditos deMaurice Druon. Todo este enquadra-mento que se prope relaciona-se coma designao de cristais malteses queaparece frequentemente nas publica-es versando sobre cristalizao ecrescimento de cristais e tambm emtratados de medicina, associados acertas doenas detectadas pela an-lise da urina ao microscpio: a cruz

    de malta foi a designao que algumremotamente escolheu para um de-feito cristalino resultante da inclusode molculas de solvente em cristais,como se pode observar nas fotomicro-grafias da Figura 2 e no Quadro 2. Defacto essa cruz assemelha-se mais cruz de Ptea, e, como o leitor poderconstatar, as cruzes de Malta, de Pteae de Cristo (introduzida por D. Dinis nosculo XIV e usada nas nossas carave-las) esto completamente misturadasna Web, o que mostra bem a confuso

    que a grassa. Voltando ao tema do sal:ser que os cristais de NaCl com a cruzinspiraram o design da cruz de Ptea?O sal era muito utilizado como medi-camento e desinfectante e os mongesda Idade Mdia eram bem conhecidoscomo curandeiros. Deixamos-lhe estetema para pesquisar e para obser-var as cruzes dos monumentos queabundam no nosso Pas, como, porexemplo, a verdadeira cruz de Maltano Convento das Maltezas, sede doCentro Cincia Viva de Estremoz; o

    Convento de Cristo em Tomar da Or-dem dos Templrios. So apenas doiscasos e muitos mais ir com certezadescobrir, fazendo turismo c dentro.

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    As fotomicrografias da Figura 2 foramobtidas com ampliao de 10X emlupa estereoscpica. Alguns cristaisapresentam as faces arredondadas

    j com sinais de envelhecimento porterem permanecido no frigorfico du-rante trs meses. Outros foram es-quecidos e deixados a evaporar at

    secura numa sala com ventilao deextraco muito forte, da o trocadilhocom a designao LEFT (Licenciaturaem Engenharia Fsica Tecnolgica)[3,5].

    ALGUNSTPICOSSOBREOCLORETODESDIO

    O cloreto de sdio encontra-se na Na-tureza bastante puro e cristalino, cons-

    tituindo o mineral halite, mais vulgar-mente designado por sal-gema. Estepode ser transparente, translcido eainda apresentar diferentes tonali-dades devido presena de incluses:branco, acinzentado, rosa, averme-lhado, laranja, violeta, azul, verde1[4].A sua explorao mineira ento feitaa partir destes depsitos subterrneosde origem sedimentar, antigos lagosou veios de gua salgada (por exem-plo, nas minas do Salir e outras, noAlgarve, na Polnia, etc.). Porm, a

    sua principal provenincia da guado mar, da qual um dos constituintesmaioritrios (Tabela 1): cerca de 35gde NaCl/Kg de gua [4]. (Esse teorpode atingir valores muito elevados,por exemplo, cerca de 300 g/l no MarMorto). Nestes casos, a explorao feita a cu aberto e em grande escalanas salinas, por evaporao naturalao sol e ao vento (Aveiro, Figueirada Foz, reserva do Sapal no Algarve,reserva do Samouco no Montijo, SaltLake no Utah (EUA), etc.).

    Em 2002 a produo mundial atingiu219 milhes de toneladas, sendo osprincipais produtores os Estados Uni-dos (40,3), a China (32,9), a Alema-nha (17,7), a ndia (14,5) e o Canad(12,3) [4] .

    O vulgar sal das cozinhas ou sal demesa constitudo em cerca de 99%(em massa) por cloreto de sdio, NaCl,e diversos componentes, alguns dosquais em quantidades vestigirias.

    Entre estes encontram-se algumas im-purezas associadas ao seu processode extraco e substncias proposita-damente includas na sua constituio,

    No infantrio da APIST, cruzes dacruz de Ptea, inspiradas nos cristaistabulares malteses

    A primeira imagem mostra os cristaistabulares malteses de cloreto de sdio,

    fotografados com lupa binocular estereos-cpica, exibindo uma cruz erradamentedesignada de cruz de malta, designaoessa que, apesar de incorrecta, se tornoucomum5. O mesmo smbolo aparece nacruz das Farmcias e na fotografia central,numa jia de ouro branco com aparas dediamantes e safiras azuis, fotografada comuma lupa estereoscpica. Ambas se pare-cem mais com a cruz de Ptea. direita,a porta do castelo de Belmonte, exibindoa Cruz de Cristo. A Histria de Portugal, osDescobrimentos (1500-1815), as cruzadas,os Castelos, os Conventos, os Pelourinhostodos contm muitos destes motvos. Suge-re-se tambm a procura da presena dosal nas obras de Fernando Pessoa, DavidMouro Ferreira, Antnio Gedeo (Lgrimade Preta), na Cano do Mar interpretada

    por Dulce Pontes, numa cano interpretadapor Amlia Rodrigues e Vinicius de Morais:o sal das minhas lgrimas de amor encheu o

    mar, que existe entre ns dois pra nos unir eseparar. Esta leva-nos ao Brasil e da a todosos Pases de expresso Portuguesa.

    Descobre a letra A no desenho ou, a partrda letra, faz o desenho. Podes tentar fa-zer desenhos a partr de todas as letras enmeros e construir um alfabeto diferente.O sal o smbolo da hospitalidade e da ami-zade, porque o seu sabor indestruvelHomero.

    O sal o smbolo da incorruptbilidade

    uma vez que o termo aliana de sal tra-duz uma relao com Deus que no podeser destruda, citao da Bblia.

    As designaes Beco (e Padro) do ChoSalgado, em Belm, Lisboa, correspondemao local onde se erigia o palcio do Duquede Aveiro, D. Jos de Mascarenhas, executa-do em 1759 juntamente com os Tvoras,acusados de conspirarem contra D. Jos I. Oseu palcio foi destrudo e o solo foi salgado

    para que nada a crescesse. Tambm as cin-zas dos executados foram lanadas ao Tejo,no local onde comea o mar salgado.

    Uma outra referncia histrica o mo-

    vimento de protesto desencadeado porGhandi, na ndia, em 1930 (Marcha do Sal,contra o imposto colonial sobre o sal), bemdocumentado nofilme Ghandi.

    No tulo do filme Sangue, Suor e Lgri-mas, o sal a substncia comum aos trsfluidos do organismo.

    Quadro 2 Temas de pesquisa histrica e literria

    Figura 2 Fotomicrografias de cristais inicos de NaCl quase todos malteses [3]

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    designadas por aditivos, que lhe me-lhoram as propriedades nutricionais, deprocessamento industrial e armazena-gem. Actualmente o mercado ofereceuma vastssima gama de produtos parafins culinrios, com imensos suple-mentos alimentares e diferindo ligeira-

    mente na sua composio e granulo-metria. No nosso Pas, destaca-se aflor de sal, que tem sido bastante divul-gada, fazendo concorrncia nos merca-dos de gastronomia gourmet.

    Entre os aditivos mais frequentes en-contra-se o iodo, na forma de iodetode potssio (KI), iodeto de sdio (NaI)ou iodato de potssio (KIO3), comofonte de iodo para a preveno deDistbios de Deficincia de Iodo(DDI)que se encontram associados, por

    exemplo, a problemas de bcio, abor-tos prematuros e deficincias mentaisno ser humano. A dose recomendadade iodo para um adulto de 0,15 mg/dia. O teor de iodo presente no sal demesa comercializado varia entre 20 e60 mg por kg de produto final.

    Espcie Concentrao/mol.l-1 Espcie Concentrao/mol.l-1

    Cl 0,55 Na+ 0,47

    SO42

    0,028 Mg2+ 0,054

    HCO3/CO

    32 2,3x10-3 Ca2+ 0,010

    Br 8,3x10-3 K+ 0,010

    F 7x10-5 Sr2+ 9,1x105

    H3BO

    34,3x10-4

    Diversos aditivos tm sido utilizadoscomo anti-aglomerantes ou agentesanti-caking: o carbonato de magnsiofoi o primeiro composto a ser utilizadopara esse fim (1911) e mais recente-

    mente so usados os complexosferrocianeto de sdio Na4[Fe(CN)6](menos de 100 ppm), ferricianeto depotssio K3[Fe(CN)6], alumino-silicatode sdio, silicato de magnsio, fosfatode clcio e outros. Estas substnciaspermitem reduzir o teor em humidade,evitando a colmatao e melhorandoas propriedades defluxo de transporteno processamento industrial. Comefeito, sendo o NaCl uma substncia

    j de si levemente higroscpica, estaafinidade pela humidade vem refora-da no sal pela presena de contami-nantes com propriedades similares: ocloreto de magnsio, substncia deli-

    quescente, e o cloreto de clcio, muitohigroscpico.

    As solues aquosas de cloreto desdio puro so transparentes. To-davia, quando dissolvido em gua,o sal de cozinha forma uma soluo

    ligeiramente turva devido pre-sena dos agentes retardadores dahumidade base de alumino-silica-tos, os quais formam uma suspen-so, dada a sua baixa solubilidade.

    O sal comercializado contm aindauma pequena percentagem de car-bonato e sulfato de magnsio, tam-bm presentes na gua do mar. Alegislao impe que para fins ali-mentares o teor de MgCO3 seja infe-rior a 1%, recorrendo-se, para estafinalidade, a sucessivas lavagens.

    Do ponto de vista de constituioqumica, no existe diferena entresal grosso e sal refinado, variandoapenas a granulometria, sendo esteltimo obtido por triturao seguida

    de peneirao do primeiro. Como bvio, a granulometria mais reduzidado sal refinado torna-o mais fcil dedissolver.

    Mais recentemente surgiu a comer-

    cializao de sal light que consistenuma mistura 1:1 de cloreto de s-dio e cloreto de potssio. O efeito doKCl caracteriza-se por ter um menortempo de reteno no organismo hu-mano em comparao com o NaCl.Assim sendo, contribui para a diminui-o da quantidade de gua retida epara a melhoria do aspecto fsico doconsumidor. As designaes light ediettico tm significados diferentese a sua aplicao torna-se, por vezes,

    muito confusa. A primeira implica umareduo de 25% de calorias, no mni-mo, em comparao com a verso con-vencional. Na segunda, h eliminao

    de um ingrediente. Por exemplo, ali-mentos dietticos prescrevem-se aosdiabticos, suprimindo ou reduzindo oacar, enquanto que a restrio parahipertensos incide sobre o sal. Existemcontudo produtos que pelas suas ca-ractersticas so includos em ambasas designaes (light e diettico),como o caso da Coca-Cola light,uma vez que no contm acares.A diminuio calrica num produto deconsumo implica a reduo de um in-grediente com aprecivel valor calri-co tal como hidratos de carbono, gor-duras ou protenas. Neste contexto, adesignao de sal light no se referea uma reduo no valor calrico doproduto, mas sim ao diferente efeitometablico no organismo humano doKCl em relao ao NaCl. Logo, a sua

    designao deveria ser diettico, dadoque se suprime NaCl, em favor de KCl.

    O cloreto de sdio responsvel pelatroca de gua das clulas com o meioque as circunda, por intermdio defenmenos de osmose, ajudando--as a absorver nutrientes e a eliminarresduos. Esta propriedade justificao seu emprego na composio dossais de banho e de outras soluesteraputicas que se destinam a ate-nuar processos inflamatrios associa-dos reteno de gua nos tecidoscelulares (solues salinas relaxantespara os ps e outras usadas em fi-sioterapia para combater dores nosossos e articulaes). A utilizao an-cestral das salmouras para preservaralimentos (o bacalhau! os presuntos!),baseia-se no mesmo princpio. O saltambm tem um papel importante nacontraco muscular. Todavia, estassociado a problemas de hiperten-so e do foro cardiovascular, da que o

    seu consumo deva ser moderado. Poroutro lado, a reduo de NaCl tambmno pode ser excessiva, podendo pro-vocar baixa de sdio no organismo,provocando alteraes no sistemanervoso central, com alucinaes,delrio, perda de conscincia e outrossintomas.

    Do total de sal actualmente extrados cerca de 5% utilizado no con-sumo humano. As restantes uti-

    lizaes so das mais diversas: nofabrico de raes, na sntese deprodutos qumicos como fonte desdio e cloro (produo de sdio,

    Tabela 1 Composio aproximada da gua do mar [6]

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    cloro, NaOH, carbonato de sdio, bi-carbonato de sdio, cloreto de clcio,sulfato de sdio, cloratos, cido clo-rdrico, etc.), nas indstrias do papel,cermica, cosmticos, estando aindaassociado utilizao de corantesem txteis, no fabrico de sabes, emmetalurgia, etc.. Nas misturas frigor-ficas gelo-sal, a formao de um eu-tctico permite baixar a temperaturaa -21C em aplicaes laboratoriaiscontroladas [4]. Em termos prticose sem controlo do isolamento trmicodo sistema e mistura das fases emequilbrio o ponto de fuso baixa ape-nas a -9C, permitindo derreter a neve:cerca de 51% da produo mundial deNaCl usada para a remoo da nevena limpeza de estradas em pasesde clima frio. ainda utilizado na de-sinfeco de piscinas, atravs de umprocesso electroltico para a produode cloro. Monocristais de NaCl de ele-vada pureza so usados no fabricode janelas pticas para espectrofo-tmetros UV-VIS e infravermelhos.

    Enfim, como poderamos ns viversem um composto to simples, quenem molcula tem para nos chatear,enfim, sem uma pitada de sal nas nos-sas vidas?

    A CRISTALIZAO COMO TCNICADE PURIFICAO E DE CRESCIMENTODECRISTAIS[1]

    Monsieur de La Palice est mortMort devant Pavie

    Un quart dheure avant sa mortIl tait encore en vie!

    Cano popular francesa, sec. XVI, conformecitao [7]

    ...E como partindo de cloreto de sdiose chega a cloreto de sdio...

    Os termos cristalizao, recristaliza-o, precipitao fsica e qumica,confundem-se frequentemente na lite-ratura.

    Na linguagem corrente, quando se dizque algo est cristalizado, pretende-seafirmar que est parado, preso numa

    forte rede que tolhe os movimentos,qual unidade constituinte dum cristal!Numa cristalizao h essencialmenteformao de cristais. (E pronto, sem

    ambiguidades, c est o nosso amigofrancs.) A designao por demaisabrangente, embora se aplique commais frequncia a processos fsicos. Otermo recristalizao implica que numdado processo se vai cristalizar denovo uma substncia que j antes se

    apresentava cristalina e que, portanto,mantm a sua identidade qumica du-rante toda a operao: ao recristalizarsal de cozinha, cloreto de sdio, vol-tamos a obter de novo o cloreto desdio, s que separado de impurezas,aditivos e com cristais de tamanho ehbitos diferentes [1]. A recristalizao assim entendida como um processode purificao:

    O termo precipitao tambm se podetornar ambguo, pois que tambmele, fazendo parte do nosso lxicocomum, frequentemente utilizado:uma pessoa precipita-se quando tomadecises demasiado rpidas, quandoanda demasiado depressa, quandocai no abismo. Quando se mede ograu de pluviosidade tambm se usaa designao de precipitao: afase lquida constituda por pequenasgotculas de gua dispersas no seiode uma fase gasosa, o ar, atinge uma

    dimenso crtica superior a cerca de10 micrmetros e comea a cair, pelaaco da gravidade, precipitando naforma de gotas de chuva.

    A precipitao, no caso restrito dassolues lquidas, implica que hajaformao de uma fase slida no seioda fase lquida, ou seja, h formaode uma substncia insolvel, ou muitopouco solvel. Nas solues aquosasos precipitados so frequentemente

    mais densos e obedecem s leis dagravidade, caindo. Porm, haver ca-sos em que este processo se tornamuito moroso, dando origem a suspen-ses que devero ser centrifugadas.Poder ainda ocorrer a formao deum precipitado menos denso queficareventualmente suspenso na superfcielivre do lquido. Existem ainda casosanmalos como a precipitao dehidrxidos e silicatos nos jardins de s-lica que, embora mais densos, sobem,

    desafiando as leis da gravidade, poisesto ligados a fenmenos de osmosebem mais complicados de interpretar.Na precipitao fsica mantm-se a

    identidade qumica da substncia.Pode ocorrer devido a uma diminuiode solubilidade provocada por abaixa-mento de temperatura, adio de umagente precipitante que induza a alte-rao da sua solubilidade, alteraoda constante dielctrica, etc..

    Na precipitao qumica acontecemais do que isso e o processo vemdar origem a uma nova espciequmica. Tal o caso da formao deum sal duplo ou da vulgar reaco dedupla permuta inica ou reaco demettese, reaces exemplificadasno Quadro 3.

    Alis exactamente com este ltimosentido que, em geral, se classificam asreaces em soluo como reacesde precipitao. A formao de cristaise respectivo crescimento dependem defactores termodinmicos (solubilidade)e cinticos (nucleao e crescimentopropriamente dito). Define-se solu-bilidade molarS como a quantidademxima de soluto expressa em molesque se consegue dissolver numa dadaquantidade de solvente, at perfazerum litro de soluo a uma dada tem-

    peratura. Nestas condies a soluodiz-se saturada, e corresponde situa-o de equilbrio heterogneo entre afase slida e a fase lquida. A constantetermodinmica deste equilbrio de-signa-se por produto de solubilidade,Kps, e para efeitos do seu clculo Stem que vir expressa em mol.l-1. Foraisso, pode ser expressa em quaisqueroutras unidades, por exemplo, g/l ououtras equivalentes. Abaixo desta con-centrao limite as solues dizem-seinsaturadas e acima, sobressaturadas.

    O Grau de Sobressaturao (GS)permite medir o afastamento em rela-o ao equilbrio [1,8].

    Ao iniciar uma cristalizao essen-cial ter uma ideia da solubilidade dasubstncia com que se vai trabalhare da sua variao com a tempera-tura. Consideram-se solveis todasas substncias de solubilidade supe-rior a 10-2 M. Para substncias poucosolveis ou insolveis, como , porexemplo, o caso dos sais de chumbo,o equilbrio atinge-se a concentraes

    muito baixas e, em geral, existem ta-belados os valores de Kps a 25C, quepodem atingir valores to baixos quan-to 10-49 (sulfureto de prata), ou menos.

    NaCl (c)(impuro)NaCl(aq) NaCl(c)(puro)+impurezas(c/aq) (1)

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    Quando as substncias so muitosolveis, normalmente no indicadoo seu Kps, mas sim a variao dasolubilidade com a temperatura. Paraa grande maioria dos sais comuns, a

    solubilidade aumenta com a tempera-tura. Porm, existem casos em que di-minui (so exemplos sais com hidratosde diferentes estequiometrias como o caso do sulfato de sdio deca--hidratado) e outros em que se man-tm praticamente constante, como ocaso do cloreto de sdio: em 100g degua dissolvem-se 34,2g a 0C, 35,9ga 25C e 38,1g a 80oC. A solubilidade, como j se disse, uma propriedadetermodinmica que nos indica quala quantidade mxima de soluto que

    uma soluo comporta, a cada tem-peratura. Nada nos diz, porm, comoessa substncia se agrega: essaquantidade mxima distribui-se porgrandes ou pequenos cristais? Porpoucos ou muitos cristais? a cinticada formao de cristais que nos dessa resposta ou seja, a nucleao,o crescimento e as respectivas veloci-dades (Figura 3 e Quadro 4). Mesmoque a solubilidade varie pouco com atemperatura, esta afecta os parme-tros cinticos, os quais so favoreci-

    dos pela sua diminuio.As concentraes elevadas, ou seja,elevados GS, tambm afectam a ci-ntica como se v na Figura 3: onmero e o tamanho dos cristais for-mados dependem muito da sobres-saturao atingida. Segundo Pom-beiro [8], a velocidade de nucleaoVn (formao de ncleos cristalinos)comea por aumentar muito ligeira-mente com o GS, passando depoisa aumentar num regime exponen-cial. Por outro lado, a velocidade de

    crescimento dos ncleos cristalinosVc, segundo o mesmo autor, propor-cional ao GS, o que evidenciadopela equao de Von Weimarn [8]:

    Vc=k.(GS) (4)

    Para valores baixos do GS, a veloci-dade de crescimento superior ve-locidade de nucleao: a tendnciapara o crescimento dos ncleos j

    formados superior de formaode novos ncleos. Para valores maiselevados de GS, a tendncia para aformao de novos ncleos predomi-na sobre a de crescimento dos n-cleos j formados. Em suma, baixosvalores de GS conduzem a poucoscristais mas bem desenvolvidos, en-quanto que valores de GS elevadosconduzem a um nmero superior decristais mas de dimenses reduzidas.

    Formao de um sal duplo pela adio estequiomtrica dos sais componentes:Formao de schnite de magnsio e amnio

    MgSO4.7H

    2O (aq) + (NH

    4)

    2SO

    4(aq) (NH

    4)

    2Mg(SO

    4)

    2.6H

    2O(s)+H

    2O (l) (2)

    Reaco de mettese ou dupla permuta inica:Solues de iodeto de potssio reagem com solues de nitratode chumbo para formar nitrato de potssio em soluo e iodetode chumbo muito pouco solvel, que precipita (precipitado amarelocanrio).

    2KI (aq) + Pb (NO3)

    2(aq) 2KNO

    3(aq) + PbI

    2(s) (3)

    Quadro 3 Exemplos de reaces de precipitao

    Quadro 4 As fases do crescimento de cristais (adaptado de [1])

    I - Nucleao homognea: Num ponto da soluo homognea (ou lquido), gera-se uma situa-o de instabilidade termodinmica: GS>0, subarrefecimento, abaixamento de presso, etc..

    Esta condio de instabilidade consttui uma maneira de vencer a barreira de actvao dosistema, semelhana do que se passa numa reaco qumica. Formam-se ento pares inicos(no caso do NaCl ou substncias inicas) ou pequenos agregados de 3-4 unidades estruturais eem seguida cachos (clusters) que se dissolvem e refazem a cada instante, podendo coalescer,

    juntando-se a unidades estruturais semelhantes e na sua vizinhana.

    Ao mesmo tempo estes agregados vo mudando de estrutura at minimizarem a sua energiade superfcie. Quando atngem um tamanho mnimo crtco (1-10 nm, correspondente a cercade 1000 unidades estruturais) passam a persistr na soluo. A partr da estes ncleos submi-croscpicos crescem, e comeam a formar a rede cristalina.

    II - Crescimento: favorecido pela presena de defeitos na rede cristalina em construo. Osdeslocamentos (A) podem levar formao de pontos estratgicos para abrigar o ncleo,impedindo a sua remoo e melhorando o seu desenvolvimento quando assenta em patama-res, na interseco de duas e de trs faces, etc.. controlado por fenmenos de transferncia:de massa (soluto atravs da soluo e para dentro da rede; solvente para fora desta); de calor,resultante da passagem para o estado slido, etc.. Em soluo estagnada a velocidade destes

    processos de difuso pode ser o factor limitatvo da cintca de crescimento dos cristais.

    direita: Instantneo de vdeo mostrando a dissoluo do NaCl observada numa lupa estereos-cpica.

    III - Interrupo do crescimento: pode ser motvado por se ter atngido o equilbrio correspon-dente soluo saturada: estas condies correspondem ao esgotamento dos nutrientes(GS=0) - na soluo deixa de haver excesso de soluto que possa passar fase slida. O cresci-mento tambm pode parar pela criao de gradientes de concentrao persistentes, quando adifuso muito lenta. Da fazer-se frequentemente o crescimento de cristais no em repouso,

    mas com fluxo de nutrientes em torno de uma semente colocando-a, por exemplo, numa mesarotatva. Tcnicas mais recentes de crescimento de cristais a bordo de naves espaciais, emcondies de microgravidade, permitem obter cristais mais perfeitos, pois so eliminadas ascorrentes de conveco associadas formao de defeitos e o acesso aos nutrientes igual emtodas as direces, o que evita o desenvolvimento de hbitos distorcidos.

    A - Grau de sobressaturao da solu-

    o GS=(S-S)/S em funo do tempotS- concentrao do soluto em cadainstante;S- concentrao da soluo saturada,em equilbrio, a cada temperatura.Quanto maior o GS, menor o tem-po necessrio para serem observadosos primeiros cristais.

    B - Funes hipotticas de variao davelocidade de nucleao V

    ne da veloci-

    dade de crescimento Vccom GS.

    Figura 3 Alguns dos parmetros que condicio-nam o crescimento de cristais [1, 8]

    QUMICA106

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    CRESCIMENTODECRISTAISDECLORETODESDIO

    A preparao de cristais depende dofim em vista e das caractersticas quese pretendem obter no produto final.

    Podemos purificar o sal por recris-

    talizao, sem nos interessar o seutamanho e hbito cristalino - o queacontece na produo industrial degranulado: obtm-se cristais andri-cos (sem forma geomtrica definida)de baixo teor em gua para melhoraras propriedades de fluxo. Mas tam-bm podemos desejar grandes cristaismuito puros, para aplicaes em es-pectroscopia, em que o hbito cbico privilegiado, para facilitar o corte napreparao de janelas pticas. Nesteprojecto a nossa opo foi associara purificao ao crescimento comdefeitos cristalinos, i.e., a produode malteses. Na Figura 4 podem-seobservar cristais de NaCl de hbitosdiferentes, todos desenvolvidos pelamesma tcnica de evaporao lenta,na presena de modificadores dehbito, adicionados em quantidadesmuito pequenas - apenas uma pitadano sal em soluo, neste caso, a pon-ta de uma micro-esptula. Em algunscasos, apenas alguns ppm so sufi-cientes para que o sal mostre as suasfaces escondidas. A forma do reci-

    piente tambm importante: quando ocrescimento feito em copo de formaalta, com uma altura de lquido con-sidervel, h tendncia para formarcubos; em recipientes de forma baixa,como os cristalizadores, ou num sim-ples tabuleiro pyrex de ir ao forno,com uma altura pequena de lquido, aformao de cristais tabulares mais

    feitas no Inverno, a temperaturas decerca de 7C. No Vero pode ser usa-do o frigorfico, mas o abrir e fecharda porta cria perturbaes que levam formao de mais ncleos e cristaisem maior nmero e mais pequenos.Quando o valor do produto inico[Na+] [Cl] exceder o produto de solu-

    bilidade Kps, isto , quando a soluoestiver sobressaturada, inicia-se entoa precipitao e crescimento. A forma-o e o crescimento dos cristais sointerrompidos pelo operador quandoestes atingirem um tamanho conve-niente e evitando ir at secura, postoque isso levar precipitao de todasas impurezas que se querem separar.Alis, esse foi o erro cometido nosfamosos cristais LEFT! na Figura2. No final, os cristais so separadosdas guas-mes por nova filtrao trompa ou apenas com papel de filtronum funil de filtrao e lavados compequenas quantidades de gua gela-da, deixando-se a seguir a secar ao ar.Industrialmente o tamanho dos cristaisdo sal de mesa no deve ser muitogrande, para reduzir a quantidade degua neles retida por aprisionamentomecnico [8] (gua retida nos limitesdos gros cristalinos) e para facilitaro seu processamento industrial (en-sacamento). Do mesmo modo, a for-mao dos malteses por reteno dagua na rede cristalina tambm evi-

    tada, posto que pode libertar-se maistarde, por fenmenos de crepitao,devido elevada tenso de vapor dagua, dando origem colmatao. Naliteratura confundem-se muito os ter-mos utilizados para a formao destetipo de defeito cristalino, podendo serreferido como ocluso molecular etambm incluso [8].

    Figura 4 Observao ao microscpio (lupaestereoscpica) de cristais de cloreto de s-dio recristalizado a partir de amostras desal de cozinha impuro e sais de banho

    1 - Cristais tabulares malteses e cristaisandricos de cloreto de sdio com tartrazi-na (corante amarelo) e roxo, no identifica-do;

    2- Efeito do aumento do GS, com formaode cristais mais pequenos;

    3- Cristais cbicos formados em copos deprecipitao de forma alta;

    4 - Cristais recristalizados;

    5 a 7- Formao de cristais dendrticos pelaadio de sal refinado ou de ferricianeto depotssio;

    8 - Cristais aciculares obtidos pela adiode cool polivinlico;

    9- Cristalizao com corante adicionado;

    10- Adio de ureia;

    11- Cristais octadricos obtidos por adiode formamida.

    provvel pois apenas podem crescerpara os lados e no para cima. Pode-mos ainda observar cristais acicu-lares (whiskers) de NaCl obtidos pelaadio de lcool polivinlico6; cristaisoctadricos obtidos na presena deformamida; tabulares hexagonaisna presena de ureia; tornados den-

    drticos e brancos na presena deferricianeto de potssio, e at maiseficazmente modificados com uma pi-tada de sal refinado. Embora se tenhatentado o crescimento de cristais pornucleao heterognea, com rochasvulcnicas (Figura 6) e com a mesmacomposio da soluo, em copo deprecipitao alto, o facto que o NaCl um dos casos raros em que o supor-te rugoso no tem qualquer influncia.O estudo dos modificadores ser pu-blicado num outro trabalho [1 e refs. acitadas, 9-11].

    Nos casos analisados o mtodo maisexpedito para o crescimento de cris-tais de cloreto de sdio sempre aevaporao do solvente, uma vez quea solubilidade varia muito pouco coma temperatura. Dissolve-se a amostraa quente, para a sua dissoluo sermais rpida, at condies prximasda saturao (15g de soluto/45g degua). A moagem prvia em almofariztambm facilita a dissoluo. Aps fil-trao para separao das impurezas

    insolveis, deixa-se evaporar lenta-mente e em repouso. Quanto maislenta for a evaporao da gua maislento ser o aumento do GS, peloque se formaro menos ncleos eos cristais sero maiores (velocidadede nucleao inferior velocidade decrescimento). Os resultados so muitomelhores quando as preparaes so

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    Nas utilizaes espectroscpicas jreferidas, privilegiam-se os mono-cristais de grandes dimenses, mas asua pureza deve ser muito elevada eo teor em gua muito reduzido, postoque a sua presena na rede diminuia transparncia das amostras, dimi-

    nuindo a qualidade dos cristais e asua transmitncia.

    PURIFICAOE CRESCIMENTODE CRIS-TAISNO INFANTRIODAAPIST

    O trabalho de purificao de amostrasde sais de banho e sal de cozinha im-puro por recristalizao permitiu in-troduzir conceitos relativos aos esta-dos fsicos da matria, noo de

    cristal, de ligao qumica, tendo sidofeita tambm a viagem ao interior damatria, e a observao ao microsc-pio (Figuras 5 e 6). Foi tambm ex-plorada a construo de um alfabeto,fazendo desenhos a partir de letras ede nmeros (Quadros 1 e 2) e tam-bm apresentado a crianas do 1ciclo do ensino bsico. Ao contrriodo que se possa partida imaginar, agrande preocupao das crianasentre os cinco e sete anos aprender

    a ler e escrever, sendo que qualquerproposta de actividade nesta rea spoder ser benfica, aumentando oseu carcter interdisciplinar. A adapta-o destas fichas est a ser realizadano primeiro ano do 1 ciclo do ensinobsico, orientada pelos respectivosprofessores.

    Figura 5 Purificao do cloreto de sdio (sais de banho e sal de cozinha). Na gravura 4 do slide docentro pode-se observar o efeito de creeping mencionado no texto

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    Figura 6 Viagem ao interior da matria: o estudo do cloreto de sdio. 1-Experincia de purificao do sal no Infantrio da APIST;

    2,3-Crescimento de cristais de NaCl em rocha vulcnica; 4-Observando cristais com uma lente de Fresnel Agrupamento Ribeiro Sanches, Penamacor;

    5,7-Cristais de NaCl de hbito octadrico ampliados 63X; 6-Observao de cristais de sais de banho coloridos com a lupa estereoscpica Nikon,

    acoplada a uma cmara digital Sony; 8-Rede cristalina do NaCl; 9-Sal amorfo, obtido por

    fuso/solidificao a 801 oC.

    Podemos observar o mundo nossa volta tal como ele se nos apresenta. Isso no custa muito a fazer, basta manter os olhosbem abertos. Podemos depois passar a utilizar lupas, como fazem os ourives, os antiqurios, os relojoeiros e todos aqueles quevem mal, ou precisam de ver um pouco mais de perto - facilmente obteremos imagens ampliadas para o dobro, para o triplo...

    Porm, graas ao desenvolvimento cientfico e tecnolgico, podemos fazer muito mais ...

    Basta utilizar um simples microscpio comum e a nossa viso dos objectos ampliada at cem vezes o seu tamanho e por afora, 400, 500 vezes, at que perdemos as nossas referncias e quase camos na abstraco, se no soubermos o que estamosa observar.

    Se formos mais ambiciosos a nossa curiosidade levar-nos- muito mais longe! Podemos penetrar nos puzzles das redes cristali-nas dos cristais, ampliando-as 105 vezes, cem milhes de vezes, passando do angstrm ao centmetro. Estes modelos de redescristalinas so construdos a partir das estruturas obtidas pelos mtodos de difraco de raios X. Nelas podemos localizar os iessdio e cloreto na rede cristalina rigorosa do cloreto de sdio.

    Rede cristalina rigorosa do cloreto desdio, sistema cbico

    Cl- rede cbica de faces centradas,CFC; seis ies Na+ rodeiam cadaanio (NC=6)

    Na+- CFC, preenchendo os interst-cios octadricos da rede dos aniescloreto. NC=6

    Modelo miniatura Beevers.

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    NOTAS

    1 Michael Davidson, Molecular Expres-sions: Images from the Microscope,

    http://micro.magnet.fsu.edu.Outros portais

    associados. Galerias de fotomicrografia,

    Cincia e Arte, tutoriais sobre ptica,

    histria da microscopia e utilizaes do Mi-croscpio com luz polarizada para fotogra-

    far e filmar tudo quanto se possa imaginar,

    sempre com efeitos especiais: cerveja,

    cocktails, hamburgers, sementes de ssa-

    mo, vinhos, medicamentos, frmacos, Blue

    jeans, chips, meteoritos, metais, ligas e

    tambm alguns cristais, etc. Todas as fo-

    tografias ficam lindssimas, fortemente co-

    loridas mas indistintas, caindo no domnio

    da abstraco. Estabelecem links com to-

    dos quantos pedem autorizao para a uti-

    lizao de imagens, aumentando ainda

    mais a visibilidade do site. Tambm inclui

    pequenos vdeos de cristalizao e tuto-

    riais sobre cristais at data ainda pouco

    desenvolvidas, mas preparam-se para

    uma grande ofensiva nesse campo. So

    sites de pendor fortemente comercial, que

    mostram como a ligao Universidade e

    Empreendorismo pode ser frutuosa, renta-

    bilizando trabalhos de investigao, com

    reflexos positivos na Economia. Depois do

    Power of Ten, Potncias de Dez, deve ser

    dos trabalhos de maior relevncia que se

    fizeram nos ltimos anos. Em Julho de2007, eram mencionadas 220 000 entra-

    das na Web, crescendo exponencialmente

    de dia para dia.

    2O Coelho Branco da obra Alice no Pasdas Maravilhas aparece neste artigo comouma primeira citao. Foi por convite doProfessor Romo Dias e do ProfessorJ orge Calado que este artigo foi escrito.

    Quando foi pedida ao Prof. Romo Dias a

    reviso do texto, perguntaram-lhe se de-

    veria retirar o Coelho Branco. Deixem l

    ficar o Coelho Branco. No fundo, sempre

    achou graa irreverncia na escrita.

    3 Escritora muito conhecida pela autoriados Pssaros Feridos, obra que deu ori-

    gem famosa srie protagonizada porRichard Chamberlain, o padre de Bricas-

    sart, na Austrlia.

    4 Infelizmente a obra de J uliette Benzonitem muitos erros de traduo em Portu-

    gus, pelo que se alertam os professores e

    educadores para a sua correco.

    5Durante o seminrio citado na ref. 3, o Pro-fessor Bernardo Herold alertou-nos para o

    facto da cruz de Malta ser diferente e com

    oito pontas. Sugere-se ao leitor a pesquisa

    na Web para encontrar a verdadeira cruz deMalta.

    6Durante o seminrio da ref. 3, fui alertadapara a incorreco desta designao a

    designao correcta poli(lcool vinlico). No

    entanto, como ela usada na literatura, re-

    solvi mant-la.

    REFERNCIAS

    [1] C. Teixeira, Os Cristais no Ensino e Di-vulgao da Qumica, Colquio Cin-cias (Fundao Calouste Gulbenkian)25 (2000) 20-36, disponibilizado naWeb,http://zircon.dcsa.fct.unl.pt/dspace.

    [2] Alberto Romo Dias e colaboradores,Lq, Ligao Qumica, Instituto Supe-rior Tcnico, IST Press, 2006.

    [3] C. Teixeira, Ionic Expressions of Sodi-um Chloride: LEFT! What can we

    PURIFICAO E CRESCIMENTO DE CRIS-TAIS.

    Esta seco foi adaptada de um an-tigo trabalho de Introduo s Tcni-cas Laboratoriais de Qumica. O in-teresse deste trabalho resulta daimportncia que o crescimento decristais est a ter na rea de Enge-

    nharia de cristais, com os estudos deco-cristalizao, formao de poli-morfos, formao de hidratos, alte-rao do hbito cristalino, etc..

    teach with these crystals? Seminriosdo Departamento de EngenhariaQumica e Biolgica, DEQB, 29 deJ unho de 2007.

    [4] Wikipedia: http://en.wikipedia.org/wiki/Sodium_chloride e portais associados.Como a submisso de artigos na wiki-pedia no sujeita a reviso,

    necessrio e conveniente confi

    rmar ainformao a inserida.

    [5] V. Andr, H. Diogo, N. Loureno, C.Teixeira, gua, quase tudo e cloretode sdio, 2004, Laboratrios deQumica Geral, LEFT, IST, 2004-2007.Trabalho prtico da cadeira de Qumi-ca Geral de Licenciatura em Engenha-ria Fsica Tecnolgica.

    [6] A. Amaral, C. Correia, Qumica, 12ano de escolaridade, Porto Editora,1998.

    [7] M. F. Cames, A pureza qumica e oSenhor de La Palice, Qumica, Boletimda Sociedade Portuguesa de Qumica,96 (2005) 69-71.

    [8] A.J .L. Pombeiro, Tcnicas e OperaesUnitrias em Qumica Laboratorial,Fundao Calouste Gulbenkian 2 Ed.,Lisboa, 1991.

    [9] C. Teixeira, O Livro das Pedras, Insti-tuto Superior Tcnico, 1996.

    [10] C. Teixeira, Mdulos de Experinciasde Qumica, Instituto Superior Tcni-co, 2004.

    [11] C. Teixeira, Atlas de Crescimento de

    Cristais, Sais anidros, Instituto Supe-rior Tcnico, 2004.

    AGRADECIMENTOS

    Projecto Cincia Viva-A Qumica Desco-bre a Criana - CV/VI/ID976

    OBJECTIVOSDOTRABALHO:

    - Ilustrar os conceitos envolvidos nacristalizao como tcnica de purifica-o e de crescimento de cristais.- Purificao do cloreto de sdio porrecristalizao: dissoluo, filtrao eprecipitao.- Observao do hbito e tamanhodos cristais obtidos por quatro tcni-

    cas de cristalizao diferentes: i) pre-cipitao por efeito do io comum(Cl); ii) precipitao por utilizao demistura de solventes (gua-etanol)

    com variao da constante dielctricae da solubilidade; iii) precipitao porevaporao lenta do solvente, tem-peratura ambiente e iv) precipitaopor evaporao lenta do solvente e abaixa temperatura, no frigorfico.

    TCNICA EXPERIMENTAL

    Reagentes e suas funes:

    NaCl impuro (impurezas de origem cu-linria: pretende-se reciclar sal de mesaque tenha sido usado para fins culin-

    ACTIVIDADEDE LABORATRIO

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    rios; impurezas qumicas adicionadas,CaCl2; tambm pode ser adicionadoMgCl2, mas a separao mais lenta;areia; as demais impurezas e aditivosmencionados na introduo terica)

    HCl (1 M) (para a produo de HCl(g))

    NH4Cl (para a produo de HCl(g))

    Etanol a 95% (agente precipitante poralterao da constante dielctrica)

    Soluo de Na2CO3 a 10% (m/v)(agente de precipitao do clcio)

    Material de vidro e equipamento

    - Balana tcnica- P laca de aquecimento- Frigorfico

    - Hotte- Lupa estereoscpica NIKON comcmara digital SONY

    - Secador de cabelo- Copo de precipitao de 100 ml- Proveta de 100 ml ou 50 ml- Esguicho com gua destilada- Vareta de vidro- 2 Kitasatos- 2 Cadinhos filtrantes G4- Borracha de suporte de filtrao- Trompa de vcuo- Pipetas descartveis ou pipetas de

    Pasteur- 2 Tubos de ensaio- 2 Cristalizadores- 2 Papeis de filtro e elsticos- Caixinhas de plstico- Etiquetas

    Procedimentos

    * Pese, numa balana tcnica, cercade 15 g de cloreto de sdio impuro.

    * Adicione a esta amostra cerca de 50ml de gua destilada e aquea atdissolver a maior quantidade poss-

    vel, deixando as impurezas insolveisem suspenso.

    * Deixe a soluo arrefecer ligeira-mente e filtre-a trompa em cadinhoG4: deste modo eliminar impurezasque sejam insolveis a quente.

    * Para eliminar o catio Ca2+, preci-pite-o sob a forma de carbonato declcio (CaCO3). Para isso adicionegota a gota (com agitao) ao filtradoobtido no ponto anterior, soluo deNa2CO3 a 10% (m/v). Pare a adio

    de soluo de carbonato de sdioquando deixar de observar turvaoda soluo: isto significa que todo oio Ca2+existente estar precipitado.Para confirmar o fim da precipitao,filtre um pouco da soluo de NaCl qual adicionou Na2CO3, e junte maisumas gotas da soluo de carbonatode sdio. A no formao de precipi-tado garante a inexistncia de ioCa2+. Separe o precipitado por filtra-o trompa utilizando um cadinho

    G4.* O excesso de io carbonato introdu-

    zido no passo anterior agora elimi-nado por adio soluo de HClconcentrado, at pH bastante cido,com aquecimento. Observe a liberta-

    o de CO2.

    * Divida em trs partes a soluo queacabou de filtrar.

    * Numa das partes, num tubo de en-saio, faa borbulhar cloreto de hidro-gnio gasoso, preparado pela adiode cido sulfrico concentrado sobrecloreto de sdio ou cloreto de amnio(esta segunda verso mais efi-ciente). Esta operao deve ser feitanuma hotte.

    * A outra das partes, tambm em tubode ensaio, adicione lentamenteetanol at observar o aparecimentode um precipitado. Para induzir oaparecimento do precipitado esfre-gue com uma vareta de vidro asparedes do tubo de ensaio.

    * A ltima das partes deve ser divididapor dois cristalizadores: um, cobertocom um papel defiltro, identificado, eposto num local onde possa perma-necer em repouso e de prefernciaonde no ocorram grandes variaesde temperatura; o segundo deve sercolocado destapado no frigorfico,identificado e deixado em repouso. Atemperatura do frigorfico deve serregulada de forma a evitar a congela-o das solues (5C). Logo queobserve cristais desenvolvidos nes-

    tes dois ltimos cristalizadores, re-colha-os por filtrao, lave-os compequenas quantidades de gua ge-lada e etanol, seque-os a frio eguarde-os em caixinhas rotuladasaps observao ao microscpio.

    Equao qumica do passo em que

    juntou o HCl: _____________

    Equao qumica do passo em quejuntou carbonato de sdio:_____________

    Equao qumica do passo em quepreparou cloreto de hidrognio gaso-so: _____________

    Anotao da forma e tamanho doscristais:

    a) Quando borbulhou HCl gasoso_____________

    (obtm-se um precipitado microcris-talino, devido ao aumento da concen-

    trao do io cloreto, e ao desloca-

    mento do equilbrio pelo efeito do iocomum)

    b) Quando adicionou etanol._____________

    (Pretende-se demonstrar o efeito daalterao da constante dielctrica dosolvente; friccionar o tubo de ensaiocom uma vareta de vidro permite des-poletar a nucleao)

    c) Quando deixou a evaporar lenta-mente. _____________

    (Obtm-se cristais tabulares malte-ses.

    H sempre a ocorrncia de cree-

    ping, formao de cristais pequenosque trepam pelas paredes do cris-talizador).

    d) Quando colocou no frigorfico._____________

    (Obtm-se cristais tabulares malteses,maiores e em menor nmero, mas de-moram muito mais tempo a cristalizar;tambm se observa a reduo docreeping).

    e) Qual o processo que consideramais eficaz para a obteno de cris-tais de NaCl ? _____________

    PURIFICAODEUM COMPOSTO INICO - FOLHADERESULTADOSEOBSERVAES

    QUMICA 106 - JUL/SET 07