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Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde Coletiva A regulação assistencial no Sistema Único de Saúde: o caso da Central de Regulação de Cuiabá/MT. Alexandre Giraux Cavalcanti Dissertação apresentada ao Programa de Pós- graduação em Saúde Coletiva, como parte dos requisitos necessários para obtenção do título de Mestre em Saúde Coletiva. Área de Concentração: Saúde Coletiva Orientadora: Profª Dra Maria Angélica dos Santos Spinelli Cuiabá/MT 2011

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Universidade Federal de Mato Grosso

Instituto de Saúde Coletiva

A regulação assistencial no Sistema Único de Saúde:

o caso da Central de Regulação de Cuiabá/MT.

Alexandre Giraux Cavalcanti

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

graduação em Saúde Coletiva, como parte dos

requisitos necessários para obtenção do título

de Mestre em Saúde Coletiva.

Área de Concentração: Saúde Coletiva

Orientadora: Profª Dra Maria Angélica dos

Santos Spinelli

Cuiabá/MT

2011

A regulação assistencial no Sistema Único de Saúde:

o caso da Central de Regulação de Cuiabá/MT.

Alexandre Giraux Cavalcanti

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

graduação em Saúde Coletiva do Instituto de

Saúde Coletiva da Universidade Federal de

Mato Grosso, como parte dos requisitos

necessários para obtenção do título de Mestre

em Saúde Coletiva.

Área de Concentração: Saúde Coletiva

Orientadora: Profª Dra Maria Angélica dos

Santos Spinelli

Cuiabá/MT

2011

Dados Internacionais de Catalogação na Fonte

C376r Cavalcanti, Alexandre Giraux.

A regulação assistencial no Sistema Único de Saúde : o caso da

Central de Regulação de Cuiabá/MT / Alexandre Giraux Cavalcanti. --

2011.

99 f. : il. color. ; 30 cm.

Orientadora: Maria Angélica dos Santos Spinelli.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Mato Grosso,

Instituto de Saúde Coletiva, Programa de Pós-Graduação em Saúde

Coletiva, Cuiabá, 2011.

Inclui bibliografia.

1. Sistema Único de Saúde. 2. Regulação - SUS - Cuiabá. 3. Central

de Regulação - Cuiabá. 4. Cirurgias – Regulação de vagas. I. Título.

CDU 614.39(817.2)

Ficha Catalográfica elaborada pelo Bibliotecário Jordan Antonio de Souza - CRB1/2099

Permitida a reprodução parcial ou total desde que citada a fonte

Dedicatória

A minha esposa Iluska, que sempre me incentivou

a prosseguir nesta caminhada, grande amor da

minha juventude, da idade adulta e, certamente,

da minha velhice, se assim Deus permitir.

Aos meus queridos filhos Raquel e Davi, presente

maior que pudemos receber de nosso Pai.

AGRADECIMENTOS

A Deus pela saúde e oportunidade de realizar esse trabalho e aos meus pais pelo

incentivo que sempre me deram nos estudos.

Ao Tribunal de Contas da União pelo investimento que fez em mim, ao permitir a

redução de carga horária durante o curso de mestrado e ao conceder-me licença para

capacitação, período fundamental para redação desse trabalho.

Ao amigo e Secretário de Controle Externo no Estado de Mato Grosso, Carlos

Augusto de Melo Ferraz, pelo grande incentivo e sincero apoio durante todo o curso

de mestrado.

À minha orientadora, Profª Dra Maria Angélica dos Santos Spinelli, pela paciência e

dedicação que sempre dispensou a mim ao longo de todo o processo de construção

desse trabalho.

Ao Prof. Dr João Henrique Gurtler Scatena por ter contribuído, em todas as etapas

deste trabalho, de forma preciosa e construtiva para a conclusão desta dissertação de

mestrado.

Ao Prof Dr Luiz Odorico Monteiro de Andrade por prestigiar o Programa de

Mestrado em Saúde Coletiva do ISC/UFMT com sua presença na Banca

Examinadora.

À Diretoria de Regulação, Controle e Avaliação / SMS Cuiabá pela receptividade e

disponibilidade durante a execução dos trabalhos.

Aos colegas de curso, docentes e funcionários do ISC pelo convívio amistoso e

saudável durante esses dois anos de caminhada.

CAVALCANTI AG. A regulação assistencial no Sistema Único de Saúde: o caso da

Central de Regulação de Cuiabá/MT. [dissertação de mestrado]. Cuiabá: Instituto de

Saúde Coletiva da UFMT; 2011.

RESUMO

Introdução - A Política Nacional de Regulação, implantada pelo Ministério da

Saúde em 2008, pretendeu consolidar a utilização de Complexos Reguladores, com

suas respectivas Centrais de Regulação, para organizar o fluxo de atendimento

assistencial no Sistema Único de Saúde. Essa ferramenta de gestão, além de

retroalimentar a Programação Pactuada e Integrada entre diferentes unidades

federativas, deve processar, mediante emprego de diferentes critérios, toda demanda

por procedimentos de média e alta complexidade, de tal forma que o usuário seja

encaminhado para a melhor alternativa de atenção à saúde, de acordo com as

características de cada caso e com a disponibilidade de serviços. Objetivo – Analisar

o mecanismo de regulação no que tange ao processamento da demanda por cirurgias

eletivas por parte da Central de Regulação de Cuiabá-MT. Métodos – Trata-se de um

estudo de caso, com predominância de investigação qualitativa, no qual foram

coletados dados que compõem uma triangulação de informações geradas por

entrevistas, observação participante e documentos. A pesquisa foi realizada nas

instalações da Central de Regulação de Cuiabá/MT. Ela teve como universo empírico

pessoas envolvidas no fluxo interno do processo de regulação dos pedidos de

cirurgias eletivas. Os dados foram analisados seguindo e adaptando a análise

temática de conteúdo. Resultados – Os erros no preenchimento dos pedidos

prejudicam a eficiência do mecanismo regulatório, o que causa atraso no

atendimento do usuário do SUS; a oferta é menor que a demanda por cirurgias

eletivas, fato que dificulta o acesso dos pacientes às vagas; não há um protocolo

oficial para que o médico regulador possa analisar os pedidos; o direcionamento dos

pacientes para as unidades prestadoras consideram as referências para a realização do

procedimento solicitado e a existência de vagas com data mais próxima do

agendamento; as informações gerenciais provenientes do mecanismo regulatório não

são devidamente aproveitadas pela gestão no planejamento das ações e serviços em

saúde; existem vários mecanismos de fuga ao fluxo regulatório; e os problemas que

acometem o sistema de saúde também repercutem no trabalho da Central de

Regulação de Cuiabá.

Descritores: Regulação; Acesso; Sistema Único de Saúde.

CAVALCANTI AG. Regulating care within the Unified Health System: the case of

the Central Regulation of Cuiabá/MT. [Master's thesis]. Cuiabá: Institute of Public

Health of UFMT; 2011.

ABSTRACT

Introduction - The National Regulation Policy, implemented by the Ministry of

Health in 2008, intended to consolidate the use of Regulator Complexes with their

respective Regulation Centers, to organize the flow of assistance services in the

Unified Healthcare System (UHS). This management tool, in addition to retrofeed

the Integrated and Contracted Program among different Federal Bodies, must process

all requests of medium and high complexity procedures through the use of different

criteria, in a way that the end users will be routed to the best health care option based

on the characteristics of each case and service availability. Objective - To analyze

the regulatory mechanism of the Cuiabá Regulation Center (MT), concerning the

process demand of elective surgeries. Methodology - This is a predominantly

qualitative case study, which used data generated by interviews, participative

observation and documents. The survey was conducted on the premises of the Cuiabá

Regulation Center (MT) and sampled people involved in requests of elective

surgeries. Data were analyzed by following and adapting the thematic content

analysis. Results - Errors in application fulfillment affects the efficiency of the

regulatory mechanism, which delays end-user services at the UHS; availability does

not cope with demand of elective surgeries, an issue that hinders end-users' access to

health care; doctors have no official protocol to evaluate applications for surgeries;

routing of patients takes into consideration not only the nature of requested

procedure but also the earliest date of availability; managerial information of the

regulatory mechanism is not fully utilized to plan actions and services; there are

various possibilities to bypass the regulatory mechanism, and system-wide problems

of the Unified Healthcare Systems also affects the performance of the Cuiabá

Regulation Center (MT).

Keywords: Regulation; Access, Unified Healthcare System

ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO 12

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DA REGULAÇÃO NO SUS 14

2. OBJETIVOS 24

3. MÉTODOS 25

3.1 COLETA E ANÁLISE DE DADOS 27

3.1.1 Questões Éticas 31

3.1.2 Limitações da Pesquisa 31

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 32

4.1 COMPLEXO REGULADOR EM MATO GROSSO 32

4.2 A CENTRAL DE REGULAÇÃO DE CUIABÁ 37

4.3 PROCESSOS E FLUXOS REGULATÓRIOS 46

4.3.1 Conceitos de Regulação 46

4.3.2 Descrição do Fluxo Regulatório 48

4.3.3 Mecanismos de Fuga ao Fluxo Regulatório 58

4.4 DISPONIBILIDADE E ACESSO ÀS VAGAS

ADMINISTRADAS PELA GERÊNCIA DE CIRURGIAS

ELETIVAS

63

4.4.1 Disponibilidade de Serviços 63

4.4.2 Critérios Utilizados para Escolha dos Prestadores de Serviços 66

4.4.3 Critérios Utilizados para Priorizar o Acesso 69

4.4.4 Acessibilidade aos Serviços 72

4.5 RETROALIMENTAÇÃO DAS INFORMAÇÕES GERADAS

PELA CENTRAL DE REGULAÇÃO

80

5. CONCLUSÕES 85

REFERÊNCIAS 89

APÊNDICES 94

APÊNDICE 1 – Termo de Concentimento 94

APÊNDICE 2 – Roteiro de entrevista 95

ANEXOS 97

ANEXO 1 – Escriórios Regionais de Saúde 97

ANEXO 2 – Fotografias da Central de Regulação 98

Lista de Tabelas

Tabela 1 Leitos cirúrgicos do SUS, segundo hospital e tipo de prestador

– Cuiabá 2010.

63

Tabela 2 Demanda por cirurgias à Central de Regulação – Cuiabá (ano

de 2010).

64

Tabela 3 Distribuição de leitos cirúrgicos específicos disponíveis e de

cirurgias ortopédicas realizadas no período de janeiro de 2008

a julho de 2010, demandas à Central de Regulação nos anos

de 2008 e 2009.

65

Tabela 4 Distribuição percentual das solicitações de cirurgias

ortopédicas à Central de Regulação de Cuiabá, segundo sua

situação.

73

Tabela 5 Distribuição percentual das solicitações de cirurgias

ortopédicas à Central de Regulação de Cuiabá que estão na

fila, segundo grau de prioridade.

74

Tabela 6 Distribuição percentual dos pacientes que receberam alta após

cirurgia ortopédica, segundo “grau de prioridade” – Central de

Regulação de Cuiabá.

75

Tabela 7 Distribuição percentual das cirurgias ortopédicas realizadas,

segundo a oportunidade das solicitações à Central de

Regulação de Cuiabá.

77

Tabela 8 Distribuição percentual das solicitações de cirurgias

ortopédicas posteriores à data de alta, segundo “grau de

prioridade”.

78

Lista de Quadros

Quadro 1 Dimensões e categorias analíticas do estudo. 26

Quadro 2 Instrumentos de coleta de dados primários. 28

Quadro 3 Instrumentos de coleta de dados secundários. 29

Quadro 4 Perfil dos Dirigentes e Técnicos entrevistados. Central de

Regulação de Cuiabá – 2010

42

Lista de Figuras

Figura 1 Organograma funcional da Diretoria de Regulação, Avaliação

e Controle da Secretaria Municipal de Saúde de Cuiabá.

40

Figura 2 Mapa de Processamento dos pedidos de cirurgias eletivas por

parte da Central de Regulação de Cuiabá.

49

12

1. INTRODUÇÃO

Atuo, desde o início de 2008, na área de controle externo dos recursos

federais em Mato Grosso. Minhas atividades sempre estiveram ligadas a processos

relacionados com a função saúde. Nesse mesmo ano, em virtude de minha atuação

nesse ramo, tomei conhecimento de distorções existentes no mecanismo regulatório

no país, as quais ameaçavam a legitimidade das Centrais de Regulação, ao processar

o pedido encaminhado pelas unidades solicitantes direcionando pacientes para um

determinado estabelecimento de saúde em detrimento de outro, sem observação do

princípio da equidade ou de qualquer outro critério objetivo.

Tal fato despertou o meu interesse sobre esse assunto. Qual deveria ser o

papel de uma Central de Regulação ao receber as demandas das unidades de saúde

solicitantes? Como deveria ser esse processamento para que ele fosse adequado aos

princípios que norteiam o Sistema Único de Saúde – SUS?

Pouco tempo depois, participei de um levantamento, em Brasília, para

avaliar quais seriam as áreas mais relevantes para realização de auditorias na área de

saúde. Ficou constatado, nesse trabalho, que os Complexos Reguladores

gerenciavam, nas grandes capitais, o acesso dos usuários do SUS aos procedimentos

de média e alta complexidade, os quais representavam um importante volume de

despesa no que concerne à função orçamentária em tela, além do gasto envolvido

com a implantação desses complexos.

Em decorrência disso, foi realizado, no ano de 2009, um trabalho de

auditoria de natureza operacional relacionado à Política Nacional de Regulação

envolvendo nove estados, entre eles Mato Grosso. Neste estado da federação, tive a

oportunidade de compor a equipe de auditoria. O Relatório de Fiscalização que

consolidou as informações coletadas em todo país resultou no Acórdão nº 1189/2010

prolatado pelo Plenário do Tribunal de Contas da União – TCU. Já as informações

coletadas no Estado de Mato Grosso foram tratadas por esta Corte de Contas no

Acórdão TCU nº 635/2010 – Plenário.

13

Esse tipo de fiscalização realizada pelo TCU busca examinar, de forma

independente e objetiva, os aspectos relacionados à economicidade, eficiência,

eficácia e efetividade de organizações, programas e atividades governamentais, com

a finalidade de promover o aperfeiçoamento da gestão pública (TCU, 2010a).

Nessas fiscalizações, o escopo dos trabalhos esteve relacionado à regulação

da assistência à saúde, que, segundo o Ministério da Saúde, tem por finalidade a

organização, o gerenciamento e a priorização do acesso e dos fluxos assistenciais no

SUS (MS, 2008). Contudo, alguns aspectos ligados à regulação da atenção à saúde

foram discutidos nesses trabalhos de auditoria, tais como a análise da contratação de

serviços de saúde, entre outros aspectos.

Depois dessa experiência, surgiu de minha parte uma inquietação a respeito

de como se processa a regulação assistencial de acordo com a visão dos sujeitos que

labutam diariamente com essa questão. Então, quais seriam os critérios utilizados

para priorizar as demandas de um paciente em detrimento dos outros? Da mesma

forma, como são selecionados os prestadores de serviços que deverão receber uma

demanda específica? Nesse procedimento, consideram-se os pactos estabelecidos

entre os entes federativos para referenciar a demanda por procedimentos de média e

alta complexidade no estado, tal como está consubstanciado na Programação

Pactuada e Integrada?

Aumenta a relevância e também o desafio deste trabalho o fato de existirem

poucos estudos na literatura a respeito do assunto, uma vez que a Política Nacional

de Regulação foi implantada no ano de 2008, apesar de, na prática, as ações nessa

área existirem desde 2002.

Nesta pesquisa, pretendi descrever o mecanismo de regulação sob o ponto

de vista de dirigentes e técnicos de uma Central de Regulação e analisá-lo com base

nas normas delineadas pelo Ministério da Saúde e nos princípios constitucionais do

Sistema Único de Saúde.

Optei por desenvolver um estudo de caso sobre a Central de Regulação de

Cuiabá/MT. A escolha justificou-se pela sua estrutura ser responsável pela regulação

da maior parte de toda capacidade de atendimento de média e alta complexidade do

Estado de Mato Grosso, uma vez que se trata da principal Central de Regulação de

todo complexo estadual.

14

Decidi operacionalizar o estudo contemplando a Gerência de Cirurgias

Eletivas, devido à experiência obtida na auditoria operacional. Nesse trabalho, pude

verificar que esse setor, sob a égide da Coordenadoria de Regulação da Diretoria de

Regulação, Controle e Avaliação – DRAC da Secretaria Municipal de Saúde de

Cuiabá, recebe demandas da capital e do interior do estado para o atendimento de

especialidades, cujas vagas são limitadas quando comparadas à demanda. Portanto,

diante dessas circunstâncias, o mecanismo regulatório praticado pela equipe dessa

Gerência é importante para qualificar o acesso da população de Mato Grosso aos

procedimentos de média e alta complexidade que exigem internações eletivas.

Sob a responsabilidade dessa Gerência, existem procedimentos em que a

oferta é menor que a demanda, como é o caso de Ortopedia. Assim, a descrição

quantitativa dos resultados da regulação feita nessa especialidade pode ser um bom

exemplo para contribuir com a análise da eficácia do mecanismo regulatório efetuado

por esse órgão.

Esses dados, associados às informações geradas pelas entrevistas com a

equipe da Gerência de Cirurgias Eletivas e com os dirigentes desse órgão, à

observação participante sobre as atividades diárias de regulação e aos documentos

produzidos pela Secretaria Municipal de Saúde de Cuiabá que tratam sobre o órgão

estudado caracterizam o estudo de caso da Central de Regulação de Cuiabá/MT e

foram objeto de análise na presente pesquisa.

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DA REGULAÇÃO NO SUS

A Constituição da República Federativa do Brasil (BRASIL, 1988) instituiu

o Sistema Único de Saúde – SUS, mediante o artigo 198, o qual expressa, que as

ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada

e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes:

I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo;

15

II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem

prejuízo dos serviços assistenciais;

III - participação da comunidade.

O caráter universal e igualitário do acesso às ações e serviços de saúde para

sua promoção, proteção e recuperação foi destacado no artigo 196 da Carta Magna,

apresentando ainda que o direito à saúde deva ser garantido mediante políticas

sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos.

Dessa forma, entende-se que há um grande desafio para a gestão alcançar

todos os objetivos traçados pelo texto constitucional. No entanto, políticas de saúde

têm sido formuladas e implantadas nesse sentido, buscando ainda a equidade na

distribuição dos recursos, bens e serviços disponíveis (EVANGELISTA et al., 2008).

A integralidade na assistência à saúde é um dos princípios constitucionais

do SUS – assim como a universalidade e equidade – e, portanto deve, também, ser

contemplada na elaboração das políticas de saúde brasileiras. Contudo, a definição a

respeito deste princípio apresenta diversas vertentes. PINHEIRO e MATTOS (2001)

destacaram que a integralidade sempre foi uma das “bandeiras de luta” dos que

defendem um sistema público de saúde. Eles afirmam que, independentemente do

sentido que seja dado a esse princípio, o termo implica recusa ao reducionismo, à

objetivação dos sujeitos e uma abertura para o diálogo entre as partes atuantes no

SUS. HORTALE (2004) ressaltou o emprego do termo integralidade como

articulação entre níveis de prestação de serviços de saúde, como integração entre os

setores público e privado, como uma importante diretriz na gestão dos serviços e

como proposta de modelo de atenção.

Para implementar esse modelo de atenção integral, várias estratégias

políticas e de gestão foram propostas por várias entidades e personalidades

importantes do movimento sanitário de todo país. No âmbito jurídico, foram

promulgadas as Leis Orgânicas da Saúde – nº. 8.080/90 (BRASIL, 1990a) e nº

8.142/90 (BRASIL, 1990b) – e, no âmbito do Ministério da Saúde, as Normas

Operacionais (NOB e NOAS). As Leis Orgânicas regulamentaram o SUS, agregando

todos os serviços estatais – federais, estaduais e municipais – e os serviços privados.

As normas operacionais têm regido o processo de descentralização da gestão do

sistema de saúde e definido as relações entre as três esferas de governo.

16

Diversos municípios brasileiros não têm estrutura adequada para gerenciar a

saúde de sua população. Apesar de todas essas dificuldades, a descentralização tem

transferido responsabilidades de gestão dos serviços, prerrogativas e recursos para os

governos municipais (TEIXEIRA e SOLLA, 2005). Vários esforços foram

despendidos para aperfeiçoar esse processo de descentralização do SUS, que

culminaram com a aprovação da Norma Operacional de Assistência à Saúde - NOAS

01/2002 (MS, 2002). Esse documento, a despeito de suas limitações, apresentou

alguns resultados positivos, tais como o fortalecimento das ações de regulação,

controle e avaliação da regionalização na pauta prioritária dos gestores do SUS nas

três esferas de governo e a ampliação do emprego da Programação Pactuada e

Integrada – PPI (SOLLA, 2006).

Segundo a Portaria GM/MS nº 399, de 22/02/2006, a PPI:

resulta de um processo que visa definir a programação das ações de saúde em

cada território e nortear a alocação dos recursos financeiros para saúde a partir de

critérios e parâmetros pactuados entre os gestores, obedecendo às diretrizes

estabelecidas do Plano Diretor de Regionalização (PDR). Sua mudança ocorre a

cada gestão estadual, sem prejuízo das atualizações necessárias. A PPI deve

explicitar os pactos de referencia entre municípios, gerando a parcela de recursos

destinados à própria população e à população referenciada (MS, 2006a).

A PPI foi criada pela Portaria que instituiu a NOB - 96 (MS, 1996) para que

a organização das redes e o planejamento das ações não ocorressem de forma

fragmentada e, assim, pudesse facilitar e organizar o acesso da população aos

serviços de saúde, propiciando, ainda, um melhor aproveitamento dos recursos

baseados na concepção de regiões de saúde.

Com base na Portaria MS/GM n. 373/2002, que regulamentou a NOAS

01/2002, GUIMARÃES (2005) definiu região de saúde da seguinte maneira:

base territorial de planejamento da atenção à saúde, não necessariamente

coincidente com a divisão administrativa do estado, a ser definida pela Secretaria

Estadual de Saúde, de acordo com as especificidades e estratégias de

regionalização da saúde em cada estado, considerando-se as características

demográficas, sócio-econômicas, geográficas, sanitárias, epidemiológicas, oferta

de serviços, relações entre municípios, entre outras [...] Por sua vez, a menor

base territorial de planejamento regionalizado, seja uma região ou uma

microrregião de saúde, pode compreender um ou mais módulos assistenciais",

definido, segundo a mesma portaria, como um "conjunto de municípios, entre os

quais há um município-sede (GUIMARÃES, 2005; p. 1018).

17

A estrutura econômico-social no país é bastante heterogênea, gerando

desequilíbrio na oferta de serviços e de profissionais de saúde, imputando grandes

obstáculos para universalidade no acesso entre diferentes regiões (SOLLA, 2006). A

fragilidade da capacidade de gerar assistência integral por parte dos municípios,

quando isolados, fortaleceu a concepção de regiões de saúde como estratégia de

atenção no SUS.

A Norma Operacional da Assistência à Saúde – NOAS-SUS 01/2001 (MS,

2001) regulamentou as diretrizes gerais para a organização regionalizada da

assistência à saúde no Brasil. Com base em sua segunda edição, NOAS/SUS 01/2002

(MS, 2002), os ajustes entre o Ministério da Saúde e os demais níveis de governo

consideraram as prioridades assistenciais de cada estado, considerando também as

regiões e microrregiões definidas no Plano Diretor de Regionalização da Saúde

(PDR).

Plano Diretor de Regionalização: instrumento de ordenamento do processo de

regionalização da assistência em cada estado e no Distrito Federal, baseado nos

objetivos de definição de prioridades de intervenção coerentes com as

necessidades de saúde da população e garantia de acesso dos cidadãos a todos os

níveis de atenção (MS, 2002).

Segundo GUIMARÃES (2005), as regiões de saúde devem ser organizadas

tendo como referência os municípios-sede capazes de ofertar um conjunto de ações

de média complexidade para a sua própria população e para a população dos

municípios a ele adscritos.

A regionalização solidária da assistência à saúde foi estabelecida como eixo

da descentralização no “Pacto pela Saúde”, proposto pelas portarias GM nº 399/06

(MS, 2006a) e nº 699/06 (MS, 2006b). Segundo SOLLA (2006), a proposta

estabelecida nesses instrumentos normativos não conseguiu ir além do já definido

pela NOAS, porquanto somente criou um mecanismo de gestão regional, com

participação dos gestores municipais e do gestor estadual.

Apesar do esforço institucional de buscar soluções para gerar integralidade

na assistência à saúde da população, ao criar regiões de saúde para um melhor

aproveitamento da oferta de serviços, a demanda cresceu e, com ela, os desafios para

18

proporcionar equidade no acesso. Esse contexto favoreceu o argumento a favor da

utilização de ferramentas de gestão, tais como as Centrais de Regulação

(EVANGELISTA, 2008), instrumento já previsto na NOAS 01/2001 (MS, 2001) e

retomado pelo Pacto pela Saúde, em 2006 (MS, 2006a).

Conforme citado anteriormente, o planejamento da rede regionalizada de

saúde utiliza como uma de suas ferramentas a PPI. Esse instrumento ajuda a

organizar a rede, conferindo-lhe visibilidade e formalizando os fluxos de referência

estabelecidos entre os gestores municipais e o gestor estadual, além de ser a base

para distribuição, entre os municípios, dos recursos federais transferidos para os

estados. Assim, a PPI da assistência à saúde deveria fornecer subsídios para o

processo de regulação do acesso aos serviços de saúde.

Por outro lado, os complexos regulatórios de acesso configuram-se como

uma das ferramentas de excelência para o monitoramento dos pactos firmados, que

consiste no conjunto de atividades que buscam acompanhar rotineiramente a

execução física e financeira das ações e dos fluxos pactuados naquele instrumento de

gestão (MS, 2006c). Esse mecanismo de retroalimentação, proporcionado pelos

dados gerados pelo processo de regulação da assistência, poderia viabilizar o ajuste

da programação pactuada de tal forma que o planejamento da distribuição dos

recursos e da conformação dos fluxos assistenciais não ficassem distantes da

realidade.

Nesse contexto, na perspectiva de fortalecer o processo de regionalização,

hierarquização e integração das ações e serviços de saúde, estabelecido por normas

operacionais, foi instituída a Política Nacional de Regulação do Sistema Único de

Saúde pela Portaria GM/MS nº 1.559/08 (MS, 2008). A relevância das ações de

regulação está expressa no objetivo dessa política, que busca orientar uma produção

eficiente, eficaz e efetiva de ações de saúde, de forma a contribuir para a melhoria do

acesso, integralidade, resolutibilidade e humanização dessas ações e proporcionar ao

usuário do SUS uma melhor oferta das ações públicas voltadas à saúde.

Segundo o inciso III do artigo 2º da referida Portaria, a regulação do acesso

à assistência tem, dentre seus objetos, a priorização do acesso e dos fluxos

assistenciais no âmbito do SUS, baseado em protocolos, classificação de risco e

demais critérios de priorização.

19

Regulação do Acesso à Assistência: também denominada regulação do acesso ou

regulação assistencial, tem como objetos a organização, o controle, o

gerenciamento e a priorização do acesso e dos fluxos assistenciais no âmbito do

SUS, e como sujeitos seus respectivos gestores públicos, sendo estabelecida pelo

complexo regulador e suas unidades operacionais e esta dimensão abrange a

regulação médica, exercendo autoridade sanitária para a garantia do acesso

baseada em protocolos, classificação de risco e demais critérios de priorização

(MS, 2008).

As atividades diárias praticadas pelas Centrais de Regulação – unidades

operacionais do Complexo Regulador –, quais sejam as ações de regulação, são

definidas pelo processamento da demanda da solicitação de procedimentos. Para o

acesso aos serviços disponibilizados pelas Centrais, deveriam ser consideradas, além

de questões clínicas, o cumprimento de protocolos estabelecidos para oferecer a

alternativa assistencial mais adequada a cada caso. Os protocolos clínicos tratam da

forma de intervenção por patologia, para subsidiar as decisões terapêuticas. Enquanto

que os protocolos operacionais pretendem ordenar o fluxo de pacientes entre os

níveis de complexidade, definindo os limites resolutivos de cada um deles (MS,

2006d).

O acesso à assistência de saúde é um conceito que varia entre autores com

relação ao enfoque adotado (TRAVASSOS e MARTINS, 2004). Para

PENCHANSKY e THOMAS (1981), o acesso a serviços de saúde representa um

conjunto de dimensões específicas que descrevem a relação entre clientes e o sistema

de cuidados de saúde. Nesta pesquisa, foram utilizadas, na análise dos dados, as

dimensões que tratam sobre a disponibilidade de serviços, bem como sua

acessibilidade para o usuário do SUS.

Disponibilidade – relação entre o volume e o tipo de serviços (e recursos)

existentes e o volume e tipo de necessidade dos clientes;

Acessibilidade – relação entre a localização do serviço e a localização dos

clientes, considerando-se os recursos necessários ao transporte dos clientes,

tempo de viagem, distância e custo (PENCHANSKY e THOMAS, 1981).

Ao pesquisar na literatura a respeito de trabalhos que tratam da atuação das

Centrais de Regulação no SUS, percebeu-se a existência de poucas referências sobre

esse assunto. Apesar disso, pode-se citar, além de um estudo de caso sobre a Central

de Marcação de Consutas da Grande Florianópolis (LOCKS, 2002), estudos recentes

20

que também tiveram como foco algumas Centrais de Regulação no país

(FERREIRA, 2007, TORRES, 2007, EVANGELISTA et al., 2008, e SILVA, 2008).

LOCKS (2002) buscou a identificação das causas do “estrangulamento” das

consultas especializadas na Central de Marcação de Consultas da Grande

Florianópolis, no período de 1998 a 2000. Ao analisar a oferta dessas consultas

perante a demanda, a autora verificou que, em pelo menos metade das

especialidades, há um déficit, sendo as prováveis causas a falta de profissionais ou

sua baixa produção. A autora destacou que a Central deveria ser utilizada pelos

gestores estaduais como fonte de informação a respeito da real necessidade dos

usuários. Dessa maneira, esses parâmetros assistenciais funcionariam como uma

espécie de instrumento de regulação para ajustar as deficiências do sistema de saúde.

FERREIRA (2007) avaliou a repercussão da implantação do Complexo

Regulador do Sistema Público Municipal de Serviços de Saúde para a rede de

atenção de Ribeirão Preto-SP. A autora analisou a gestão e o nível operacional do

Complexo Regulador, mostrando que o Complexo Regulador provocou alterações

positivas na acessibilidade e na equidade da rede de atenção em saúde local.

Destacou-se o potencial da regulação como ferramenta estratégica para a avaliação e

a gestão do sistema de saúde. No entanto, para que haja uma maior contribuição por

parte do Complexo Regulador ao SUS seria necessário maior investimento na

divulgação de suas práticas e no aperfeiçoamento de suas atividades.

TORRES (2007) realizou estudo de caso descritivo com abordagem

qualitativa, com o objetivo de compreender o funcionamento da regulação dos leitos

hospitalares no Sistema Único de Saúde na cidade do Salvador-BA, de acordo com a

percepção dos funcionários da Central Estadual de Regulação. O estudo pretendeu,

ainda, identificar as dificuldades enfrentadas pelos profissionais dessa Central ao

viabilizar o serviço de acordo com as necessidades dos usuários Os resultados

obtidos evidenciaram que os gestores dessa Central de Regulação passam por

dificuldades relacionadas à sua organização e funcionamento. Dentre eles, o

quantitativo insuficiente de leitos hospitalares e as deficiências de especialidades

prejudicam o grau de disponibilidade de serviços de saúde para o usuário do sistema.

A autora concluiu que, apesar de os seus profissionais conviverem com limitada

autonomia e com escassez de recursos, a Central Estadual de Regulação tenta

21

facilitar o acesso dos pacientes aos serviços de saúde, na tentativa de consolidar a

proposta do SUS de assegurar os princípios de universalidade, integralidade e

equidade na assistência à saúde.

EVANGELISTA et al. (2008) estudaram as características de acesso às

internações por doenças isquêmicas do coração realizadas pelo Sistema Único de

Saúde, em 2002, mediante atuação da Central de Internações de Belo Horizonte-MG.

Os autores verificaram que a maioria das internações (75,1%) ocorreu diretamente

nos hospitais, sem intermediação da Central de Internação. O estudo mostrou

diferenças nas características das internações realizadas pelas duas vias de acesso. A

via direta foi mais utilizada por pacientes com idade maior ou igual a 70 anos,

internados por insuficiência coronariana aguda, na clínica cirúrgica e no fim de

semana. Já as internações viabilizadas pela Central de Internação foram mais

acessadas por residentes em outros municípios, em hospitais não públicos e com

utilização de UTI. O número de dias de internação também foi diferente entre as

vias.

SILVA (2008) avaliou a Central de Regulação da Segunda Microrregional

de Saúde do Estado do Ceará no atendimento à demanda do cidadão nos atributos de

eficiência, eficácia, integralidade e hierarquização dos serviços, sob a perspectiva da

Política Nacional de Regulação. Ao analisar as atividades de regulação dessa

microrregional, observou que os gestores locais não planejam suas ações e

desconhecem os parâmetros de necessidades dos usuários; não há avaliação dos

procedimentos programados diante dos que foram efetivamente produzidos; os

gestores desconhecem a capacidadede de oferta de serviços da rede assistencial; e em

algumas Secretarias de Saúde não há ações de controle, avaliação e auditoria para

subsidiar o setor de regulação. Concluiu que a regulação não viabiliza a otimização

dos serviços de referência disponíveis para os usuários de acordo com suas

necessidades.

No que concerne ao Estado de Mato Grosso, ressalta-se estudo de caso

sobre as práticas regulatórias no SUS, sob a perspectiva do usuário. SANTOS (2008)

analisou o itinerário percorrido por um morador da cidade de São José do Rio

Claro/MT para buscar cuidados diante de uma emergência cardiocirculatória. Pode-se

captar a influência que as redes de contato informais do usuário exerceram sobre o

22

itinerário terapêutico, pois, mesmo diante do insucesso no encaminhamento oficial do

paciente por parte da unidade de saúde de seu município, o usuário foi transportado

para o Hospital Pronto-Socorro de Cuiabá. Em que pese o paciente ter dado entrada

nessa unidade, teoricamente considerada como porta de entrada para o sistema

regulatório, a sua inserção no mecanismo regulador não se concretizou. Procedimento

que, certamente, sobrecarrega a capital, além de comprometer a estratégia de

regionalização da saúde, uma vez que, pelo fluxo, o usuário do sistema deveria ser

encaminhado para a Regional de Diamantino. Não obstante as limitações do estudo de

um caso foi evidenciada a discrepância entre o que está formalmente estruturado e o

que acontece na prática. Percebeu-se que, frente à falta de eficiência do sistema

regulatório, o paciente busca alternativas para ser atendido. A distância a ser

percorrida pelo usuário e a demora no procedimento regulatório significam riscos para

o estado de saúde do paciente que poderiam ser diminuídos se houvesse uma perfeita

integração entre os diferentes níveis de atenção. A autora constatou ações

fragmentadas, medicamente centradas e pontuais, o que vai de encontro a qualquer

princípio de integralidade que se possa conceber. A pesquisadora chamou a atenção

para a importância de os formuladores de política compreenderem a lógica do usuário

para ajustar o modelo de atenção à sua realidade.

OLIVEIRA (2006) buscou descrever e analisar o funcionamento da Central

de Regulação da região Sul de Mato Grosso. A autora concluiu que esse tipo de órgão

é um novo instrumento de gestão, cujo objetivo é fortalecer o sistema de saúde

público. Contudo, ela percebeu que a Central de Regulação estudada apresentou

algumas fragilidades na sua interação com os serviços de saúde e com os gestores.

No que tange ao conceito sobre regulação, SANTOS e MERHY (2006)

definiram o termo como a capacidade de intervir nos processos de prestação de

serviços, alterando ou orientando a sua execução. Pode ser feita por intermédio de

mecanismos indutores, normalizadores, regulamentadores ou restritores. A

intervenção entre a demanda e a prestação direta dos serviços, nos seus diversos

aspectos, pode ser caracterizada como mecanismo de regulação, o qual pode se dar

tanto do ponto de vista do acesso cotidiano das pessoas – microrregulação, quanto no

aspecto das definições das políticas mais gerais das instituições – macrorregulação.

Esta última consiste nos mecanismos mais estratégicos de gestão, quais sejam:

23

planejamento das ações, controle, orçamento, relações com outras políticas sociais e

estabelecimento de regras para as relações com o setor privado na saúde.

A microrregulação ou regulação assistencial se materializa no cotidiano da

operação do sistema, com base nas regras gerais estabelecidas na macrorregulação.

Consiste em articular e conjugar as respostas potenciais do sistema, para o conjunto

dinâmico das demandas das populações, operacionalizando o acesso aos serviços.

Implica, também, avaliar o que foi planejado e, assim, dotar a gestão de uma

inteligência face à quantidade de informações geradas nesse mecanismo (SANTOS e

MERHY, 2006).

No presente estudo, o foco foi a microrregulação. Assim, buscou-se o

entendimento da concepção prática da ação regulatória, cuja definição teórica é o

processo de operacionalização, monitoramento e avaliação da solicitação de

procedimentos, realizada por um profissional de saúde, sendo observados, além das

questões clínicas, o cumprimento de protocolos de regulação estabelecidos para

disponibilizar a alternativa assistencial mais adequada a cada caso (MS, 2006d).

Pretendeu-se analisar o mecanismo de regulação, enfatizando as práticas dos

atores envolvidos no processo de regulação. Vários aspectos foram abordados, entre

os quais se destaca o entendimento sobre os critérios de priorização para

encaminhamento dos pacientes, bem como para a escolha dos prestadores de

serviços, no âmbito do processamento regulatório da demanda.

Foi realizada, também, a análise do acesso aos serviços disponíveis de

cirurgias eletivas na especialidade de ortopedia, a título de exemplo, em

contraposição às demandas por essas internações, por parte dos municípios do

interior e da capital, e as respostas a esses pedidos dadas pela Central de Regulação

de Cuiabá-MT, desde janeiro de 2008 até julho de 2010.

Buscou-se, ainda, o entendimento de como os dados da PPI estavam

inseridos no processamento da demanda por serviços de saúde, bem como a

apreensão da existência de um mecanismo de retroalimentação dessa ferramenta de

pactuação pela Central de Regulação de Cuiabá/MT. Assim, esperou-se agregar à

análise a verificação da sintonia entre o planejamento e a execução das ações de

saúde no estado.

24

2. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Analisar o mecanismo de regulação, o seu fluxo e o processamento da

demanda por procedimentos eletivos realizados pela Central de Regulação de

Cuiabá-MT.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Contextualizar a Central de Regulação de Cuiabá no Complexo Regulador

de Mato Grosso;

Caracterizar os critérios adotados pela Central de Regulação de Cuiabá para

priorização de encaminhamento dos pacientes e seleção da instituição provedora do

serviço, bem como os fluxos de acesso e atendimento dos usuários.

Caracterizar as demandas por cirurgias eletivas na especialidade de

ortopedia e as respostas dadas pela Central de Regulação de Cuiabá-MT desde

janeiro de 2008.

Verificar se as informações geradas pela Programação Pactuada e Integrada

são consideradas no processamento dos pedidos, por parte da Central de Regulação

de Cuiabá-MT.

Comparar os critérios e procedimentos praticados pela Central de Regulação

de Cuiabá frente às normas delineadas pelo Ministério da Saúde e aos princípios

constitucionais do Sistema Único de Saúde.

25

3. MÉTODOS

Segundo DESLANDES e GOMES (2004), quando a organização interna

dos grupos e as lógicas que sustentam suas práticas é o objeto de pesquisa, o foco do

trabalho se constitui na apreensão dos costumes, ritos, suas normas e hierarquias, as

interações de seus membros, dentre outros aspectos.

Nesse contexto, o presente estudo tem como predominância a abordagem

qualitativa, uma vez que a mais relevante fonte de dados foi a perspectiva dos

dirigentes e técnicos da Central de Regulação sobre o processamento da demanda por

procedimentos eletivos. De acordo com DESLANDES e ASSIS (2002), apesar de

haver grande diversidade nesse tipo de investigação, existe o propósito comum em

analisar o significado atribuído pelos sujeitos aos fatos, às relações e às práticas,

avaliando tanto as interpretações, quanto as práticas dos sujeitos.

Considerando os diferentes desenhos metodológicos desse tipo de

investigação, destaca-se o estudo de caso por permitir a exploração das

peculiaridades dessa Central de Regulação, sem que haja preocupação com

generalizações para outras instituições similares no país. Cabe ressaltar, como

limitação, que cada estudo é, em última instância, uma aproximação da realidade do

caso (DESLANDES e GOMES, 2004). O estudo de caso possibilita análise com

profundidade sobre alguns aspectos do objeto de investigação (YIN, 2005).

Além disso, buscaram-se dados quantitativos para caracterizar os serviços

disponíveis de cirurgias eletivas na especialidade de ortopedia, a título de exemplo,

bem como as demandas por esses serviços por parte dos municípios do interior e pela

capital e as respostas dadas pela Central de Regulação de Cuiabá-MT, desde janeiro

de 2008 até julho de 2010. Todavia, não foram realizadas análises das variáveis

quanto a sua tendência central ou dispersão. Esses dados compuseram uma

triangulação de informações com o intuito de dar maior subsídio à análise e maior

consistência aos achados da pesquisa.

26

Portanto, o presente estudo consistiu em uma investigação qualitativa a

respeito do mecanismo de regulação adotado pela Central de Regulação de Cuiabá-

MT. As dimensões e as categorias analíticas do estudo estão expostas no quadro 1.

Quadro 1: Dimensões e categorias analíticas do estudo.

Dimensões Categorias analíticas (preliminares)

Concepções de regulação

Critérios de priorização e risco ligados à demanda dos pacientes.

Critérios de encaminhamento para os prestadores de serviços.

Utilização dos dados gerados pelo mecanismo de regulação no

planejamento do SUS no estado.

Acessibilidade

Caracterização das demandas.

Identificação do atendimento das demandas.

Disponibilidade Caracterização dos serviços disponíveis.

Uma das principais características dos métodos qualitativos é

compreender a visão do grupo pesquisado. Trabalhou-se com elevado número de

questões, dirigidas a um grupo pequeno de pessoas, o qual foi escolhido de acordo

com critérios previamente definidos conforme os objetivos do estudo. Para que seja

feita a escolha, é necessário um conhecimento prévio do contexto a ser investigado

(VICTORA et al., 2000).

A pesquisa foi realizada nas instalações da Central de Regulação de

Cuiabá e seu universo empírico contou, principalmente, com pessoas envolvidas no

fluxo interno do processo de regulação dos pedidos de cirurgias eletivas. Esse setor

foi escolhido devido à oferta de serviços ser inferior à correspondente demanda, fato

que exige um mecanismo qualificado de regulação. Entrevistaram-se todos os

profissionais previamente definidos. Os relatos promovidos pelos informantes, com

base nos conteúdos previstos nas entrevistas semi estruturadas (quadro 2), foram

destacados em todo o texto desta dissertação e referenciados de acordo com a função

27

dos entrevistados na Central de Regulação (dirigente – D; técnico de regulação – T; e

médico regulador – M).

Buscou-se apreender as diferentes percepções dos entrevistados sobre as

práticas e atividades, no âmbito da Central de Regulação, pertinentes às categorias e

dimensões definidas na pesquisa, conforme sugerido por VICTORA et al. (2000) e

DESLANDES e GOMES (2004). Os dados foram coletados nos meses de junho a

agosto de 2010.

3.1 COLETA E ANÁLISE DE DADOS

A aceitação do pesquisador por parte dos sujeitos investigados é

fundamental para a qualidade do dado obtido. Por isso, é importante que o

pesquisador planeje a sua entrada no local da pesquisa de forma cuidadosa

(VICTORA et al., 2000). Inicialmente, houve uma exposição dos objetivos e fases da

pesquisa aos dirigentes da Diretoria de Regulação, Controle e Avaliação – DRAC.

Em seguida, procurou-se compreender, da maneira mais abrangente

possível, a forma de organização da Central de Regulação de Cuiabá. Assim,

utilizou-se dois tipos de dados: os primários, advindos das entrevistas e observações,

e os secundários, documentos produzidos pela Secretaria Municipal de Saúde de

Cuiabá, pela própria Central de Regulação, pelo Tribunal de Contas da União, entre

outros, apresentados nos quadros 2 e 3.

Cabe destacar que os documentos fornecidos pela Secretaria Municipal de

Saúde de Cuiabá não proporcionaram muitas informações sobre a Central de

Regulação. Além disso, observou-se que certos dados solicitados à DRAC não foram

apresentados, pois não estavam normatizados por essa Diretoria, tais como os

protocolos de regulação.

No âmbito da pesquisa social, quando o estudo de caso é feito sobre uma

organização, esse objeto é geralmente estudado a partir de observação participante e

entrevistas (DESLANDES e GOMES, 2004).

28

Quadro 2: Instrumentos de coleta de dados primários.

DADOS PRIMÁRIOS

Procedimentos Instrumentos Conteúdo Fonte dos

dados

Entrevista

estruturada

Formulário com

perguntas

fechadas

Dados demográficos e ocupacionais

Dirigentes do

órgão, técnicos

e médicos

reguladores

Entrevista semi

estruturada

Roteiro

temático

- Concepções sobre microrregulação.

- Descrição do procedimento de regulação:

Fluxos internos (ênfase nos técnicos);

Critérios de priorização do atendimento dos

pacientes (ênfase nos médicos reguladores); e

Critérios utilizados para seleção dos

prestadores de serviço (ênfase nos médicos

reguladores).

- Formas de organização e do processo de decisão da

Central de Regulação.

- Acompanhamento dos resultados e avaliação dos

dados produzidos pelo mecanismo regulatório (ênfase

nos dirigentes).

- Utilização pela Central de Regulação dos dados da

PPI no processamento do pedido (ênfase nos médicos

reguladores);

- Identificação dos aspectos facilitadores e dos

obstáculos no âmbito do mecanismo regulatório.

- Pontos fortes e fracos do processo de regulação.

- Mecanismos de interação com outras instâncias

políticas e institucionais (ênfase nos dirigentes).

Dirigentes do

órgão, técnicos

e médicos

reguladores

Observações e

anotações de

campo

Diário de campo

Registro de conversas informais, observações e

reflexões que permitam:

- identificar fatores que facilitam ou dificultam o

fluxo da informação nesse processo;

- perceber como é feito o processamento das

demandas; e

- fotografias do local de trabalho.

Observação dos

elementos ou

situações no

contexto

29

Quadro 3: Instrumentos de coleta de dados secundários.

DADOS SECUNDÁRIOS

Procedimentos Instrumentos Conteúdos Fonte dos

dados

Coleta de documentos Solicitação

formal

- Organograma e Fluxograma da Central de

Regulação;

- Regimento Interno da Secretaria Municipal de

Saúde de Cuiabá-MT;

- Plano de Trabalho Anual da Secretaria Municipal

de Saúde de Cuiabá-MT;

- Relatório de Gestão da Secretaria Municipal de

Saúde de Cuiabá-MT; e

- Acórdão TCU nº 1189/2010-P e 635/2010-P.

DRAC,

SMS

Cuiabá e

TCU.

Coleta de informações

produzidas por acesso

ao banco de dados da

Central de Regulação

Solicitação

formal

- Dados a respeito das demandas, nos anos de 2008

e 2009, por cirurgias eletivas na especialidade de

ortopedia, a título de exemplo, provenientes dos

municípios do interior e da capital e as respostas

dadas pela Central de Regulação até julho de 2010.

Banco de

dados do

sistema

AGHOS

(DRAC).

Quanto ao primeiro instrumento, pretendeu-se acompanhar e observar, por

um certo período, as atividades da Central de Regulação, especialmente as práticas

da Gerência de Cirurgias Eletivas. Buscou-se, com isso, descrever e compreender o

processo de regulação dos pedidos de cirurgias eletivas nas instalações da Central de

Regulação de Cuiabá-MT.

Já no que tange às entrevistas, foram solicitadas informações sobre como

funcionam os diferentes setores, as atividades desenvolvidas, os processos decisórios

e as responsabilidades profissionais dos segmentos estudados (Apêndice 2). Elas

foram conduzidas em uma sala disponibilizada pela Direção do órgão para permitir

um melhor registro das conversas e para proporcionar um ambiente reservado para o

entrevistado.

Em relação à analise documental, foram buscados documentos que tratavam

sobre a organização e o funcionamento da Central, bem como relatórios de auditoria

sobre o desempenho operacional desse órgão, que poderiam ajudar a entender o

contexto no qual se insere a Central de Regulação de Cuiabá.

30

Com base no acompanhamento do fluxo de regulação e entrevistas foi

construído um Mapa de Processo. Essa metodologia, empregada em auditorias de

natureza operacional (TCU, 2010a), permitiu a visualização diagramática das etapas

de um determinado processo de trabalho e facilitou a análise de possíveis pontos de

entrave na obtenção do resultado final, no caso o acesso do paciente à vaga

necessária.

Além disso, dados provenientes do processamento da demanda por cirurgias

ortopédicas permitiram exemplificar a disponibilidade de serviços, bem como a

acessibilidade às vagas para os usuários do SUS em Mato Grosso. Foram trabalhadas

informações do banco de dados fornecidas pelo sistema informatizado de regulação

(AGHOS) da Central de Regulação de Cuiabá. As informações referem-se aos

pedidos, por esse tipo de cirurgia, efetuados nos anos de 2008 e 2009, bem como o

seu respectivo atendimento, no período de janeiro de 2008 a julho de 2010.

As entrevistas semi-estruturadas foram gravadas e posteriormente

transcritas. Os registros de conversas informais, observações e reflexões foram feitos

no diário de campo eletrônico. Além disso, os dados básicos de cada sujeito

envolvido na pesquisa foram inseridos nesse arquivo. Algumas fotografias também

fazem parte desse banco de dados, como sugerido por VICTORA et al. (2000). Os

documentos colhidos foram organizados em pastas apropriadas e replicados

eletronicamente para compor o diário de campo eletrônico.

À medida que os dados foram coletados, realizou-se uma primeira

sistematização das informações. Tratava-se de uma composição das informações de

diferentes origens, consistindo uma parte intermediária entre a coleta e a análise final

dos achados.

Os dados das entrevistas foram trabalhados consoante adaptação da análise

temática de conteúdo. Essa análise baseia-se no conteúdo mediante condições

empíricas do texto, estabelecendo categorias para sua interpretação (CAREGNATO

e MUTTI, 2006). Assim, procurou-se descobrir os núcleos de sentido que compõem

uma comunicação, cuja presença ou frequência signifiquem alguma coisa para o

objeto visado (MINAYO, 1992).

A utilização de todos esses dados tem respaldo na proposta de triangulação

das informações, com o intuito de dar maior consistência à análise do objeto dessa

31

pesquisa, de acordo com VICTORA et al. (2000) e MERCADO-MARTÍNEZ e

BOSI (2004).

3.1.1 Questões Éticas

As pessoas que participaram do estudo foram abordadas a respeito de suas

atividades no mecanismo de regulação delimitado neste trabalho. As informações

pessoais obtidas nas entrevistas são sigilosas. Foram solicitados consentimentos para

participação no estudo, os quais estão registrados em Termo de Consentimento Livre

e Esclarecido (Apêndice 1), que contém informações sobre os objetivos deste

trabalho e os procedimentos desenvolvidos, de acordo com as normas de pesquisas

com seres humanos da Resolução 196 do Conselho Nacional de Saúde (CNS, 1996).

O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética do Hospital

Universitário Júlio Müller-UFMT, credenciado pela Comissão Nacional de Ética em

Pesquisa do Ministério da Saúde, em abril de 2010, mediante o protocolo número

784/CEP-HUJM/10. O referido projeto recebeu aprovação final por esse pleno em

14/4/2010.

3.1.2 Limitações da Pesquisa

Além das limitações atinentes a um estudo de caso, das quais se pode

destacar a impossibilidade de generalizar as conclusões para outras Centrais de

Regulação, ressalta-se que a pesquisa ampara-se na experiência de dirigentes e

técnicos da instituição estudada sobre o mecanismo regulatório.

Não houve, nesse estudo, a intenção de buscar a percepção dos dirigentes e

médicos vinculados ao setor conveniado ao SUS, nem dos usuários do sistema, sobre

os diferentes fatos apresentados sobre a Central de Regulação de Cuiabá.

32

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 COMPLEXO REGULADOR EM MATO GROSSO

A Política Nacional de Regulação do Sistema Único de Saúde (MS, 2008),

instituída pelo Ministério da Saúde em 2008, estabeleceu que todas as unidades da

federação devam implantar tal política como instrumento que possibilite a plenitude

das responsabilidades sanitárias assumidas pelas esferas de governo.

Entretanto, o Estado de Mato Grosso, desde 1998, já havia iniciado a

organização de suas Centrais de Regulação. O Sistema Estadual de Referência e

Contra-Referência para Atenção à Saúde em Mato Grosso foi criado mediante

Resolução CIB Nº 21, de 05/06/98. A consolidação das Centrais de Regulação,

subprojeto desse sistema, pretendia obedecer à lógica da regionalização do Sistema

de Saúde, tanto que a regulação deveria estar fortemente articulada e integrada à

Programação Pactuada e Integrada – PPI (SCHRADER, 2002).

Segundo SCHRADER (2002), o complexo regulador do Estado de Mato

Grosso deveria responder de forma sistemática às demandas de saúde em seus

diferentes níveis e etapas do processo de assistência, facilitando o acesso do usuário

aos serviços do SUS, centralizando os encaminhamentos para o atendimento,

evitando duplicidade e paralelismos de ações. Nesse sentido, entendeu-se que uma

Central de Regulação, sob a égide do interesse social e coletivo, deveria ordenar,

regular e definir o acesso à atenção à saúde, devendo fazê-lo de forma rápida,

qualificada e integrada.

Especificamente, as Centrais de Regulação em Mato Grosso deveriam

atingir os seguintes objetivos:

Promover a regulação dos serviços do SUS, de forma a integrar a atenção, a

promoção, a prevenção, o tratamento, a reabilitação e a hierarquização dos níveis

de complexidade no atendimento ao usuário, ou seja, ter a porta de entrada do

33

sistema organizada pela atenção básica, via modelo de saúde da família e pela

urgência e emergência;

Estruturar o fluxo entre os três níveis de assistência hospitalar e ambulatorial de

complexidade e de referência e contra-referência, com base na proposta da PPI,

entendendo-se como nível primário, a atenção básica, como nível secundário, as

especialidades e serviços de apoio e diagnóstico de média complexidade e o

nível terciário, como a rede hospitalar e os serviços de alta complexidade;

Garantir também a contra-referência, com fluxos e encaminhamentos orientados

ao usuário e ao seu domicílio, na atenção básica;

Propor e acompanhar os contratos e convênios, em conjunto com os serviços de

controle e avaliação e gerenciar a oferta de serviços, quantitativa e

qualitativamente, no processo de PPI;

Estimular a participação do usuário, no sentido de torná-lo um parceiro

informado dos seus direitos e deveres, ativo e influente na melhoria do

atendimento que recebe;

Humanizar o atendimento nas Centrais, treinando e acompanhando,

permanentemente, os funcionários que trabalham diretamente com o usuário

(SCHRADER, 2002).

Antes da formalização do complexo regulador estadual, em abril de 1993,

foi criada a Central de Vagas no Hospital e Pronto Socorro Municipal de Cuiabá –

HPSM. Nesse período, as normas e o fluxo para efetuação das internações

hospitalares de urgência e emergência foram estabelecidos. Ela deveria servir de

centro de orientação de referências aos diversos municípios do estado. A partir de

1996, a Central de Vagas se instalou no prédio do Centro de Especialidades Médicas

(CEM), onde funcionou até 2001, quando ocorreu a mudança para a nova sede da

Central de Regulação Estadual de Cuiabá (CALLEJAS, 2008).

O complexo regulador da assistência à saúde foi instituído mediante a

Portaria SES/MT nº 183, de 27/12/2002, definindo como instrumentos gerenciais e

operacionais o Plano Diretor de Regionalização – PDR; a Programação Pactuada e

Integrada – PPI; o Cadastro de Estabelecimentos de Saúde; o Sistema de

Informações Ambulatoriais – SIA e Sistema de Informações Hospitalares – SIH; os

convênios e contratos de prestação de serviços estabelecidos entre os municípios e o

Estado de Mato Grosso, dependendo do nível de habilitação de cada um, e o

Cadastro Nacional de Usuários do SUS (CALLEJAS, 2008).

O Complexo Regulador de Mato Grosso, formado em 2002 pela Central

Estadual de Regulação do SUS (CER/SUS) de Cuiabá, Centrais Regionais e Centrais

Municipais, foi concebido e implementado pela SES/MT, em parceria com os

municípios, com a missão de facilitar o fluxo do usuário em todo o estado.

34

Em 2010, existiam em Mato Grosso mais de cem Centrais de Regulação,

instaladas nas Secretarias Municipais de Saúde, as quais encaminham pacientes para

as cidades de maior porte, de acordo com os ajustes estabelecidos nas Regiões de

Saúde. Esse denso número de Centrais Municipais de Regulação está em sintonia

com a política apoiada pela Coordenação Geral de Regulação e Avaliação do

Ministério da Saúde, que consiste na existência de Centrais nos municípios que

possuam serviços especializados. Em decorrência disso, a região Centro-Oeste é a

que possui o maior número de Centrais de Regulação no país (TCU, 2010c).

O gerenciamento das Centrais Regionais é de responsabilidade da SES/MT,

em parceria com o órgão local, podendo ser o Consórcio Intermunicipal de Saúde de

Municípios ou a Secretaria Municipal local. Desde 2003, há uma pressão dos órgãos

de controle sobre a SES/MT a fim de minimizar os problemas gerenciais enfrentados

pelos municípios do interior do estado na área da saúde. A partir dessa época, o

Estado de Mato Grosso procurou desenvolver a descentralização da regulação dos

serviços de saúde (SANTOS, 2008).

Atualmente, existem dezesseis Centrais Regionais, uma ligada a cada

Escritório Regional de Saúde (Anexo 1).

As Centrais Regionais regulam as demandas oriundas dos municípios sob sua

jurisdição, sendo de sua responsabilidade: a) o recebimento dos pedidos de

exames e procedimentos de alta complexidade; b) a regulação daquilo que é

possível executar dentro da região jurisdicionada; c) o encaminhamento daquilo

que não é possível ser feito nesse local à Central Municipal de Regulação de

Cuiabá, que fará a regulação; e d) realização de uma espécie de filtro inicial das

urgências e emergências. Se for possível o atendimento em hospitais da região,

essas centrais impedem o deslocamento dos usuários para a capital (TCU,

2010b).

No caso de Cuiabá, a administração e o gerenciamento conjunto da

CER/SUS entre a SES/MT e a SMS de Cuiabá, por meio da Portaria SES/MT nº 4 de

2002, foi considerado um modelo inovador de gestão. Sua atuação, em 2002,

abrangia a regulação das seguintes áreas: sistemas de transplantes; serviços de apoio

diagnóstico-terapêutico de média e alta complexidade; leitos hospitalares ou vagas;

consultas especializadas; urgência e emergência; retaguarda ambulatorial e

tratamento fora do domicílio; e apoio e informação ao usuário (SCHRADER, 2002).

Assim, a co-gestão da Central Estadual de Regulação de Cuiabá entre o

35

Estado de Mato Grosso e a capital provocou melhora no monitoramento e no

controle dos contratos com os prestadores de serviços privados. Além disso, a gestão

estadual preconizava, nessa época, uma política de consolidação do Programa Saúde

da Família na atenção básica e o fomento à regionalização e interiorização do

cuidado especializado à saúde mediante apoio aos consórcios intermunicipais e aos

hospitais regionais, o que poderia proporcionar um contexto favorável para o bom

funcionamento do complexo regulador estadual (SPINELLI et al., 2008).

Contudo, a partir de 2003, iniciou-se um processo de desarticulação e de

ruptura com a política que vinha sendo implantada anteriormente pelo setor, com alta

rotatividade de secretários de estado de saúde e marcada centralização das decisões

na SES. Outro fato relevante foi a priorização do investimento na atenção

especializada em detrimento ao estímulo à atenção básica (SPINELLI et al., 2008).

Em 2007, o cenário era de crise no SUS Cuiabá: rotatividade dos gestores,

racionalização da oferta de serviços especializados, desarticulação entre a direção da

Secretarias de Saúde e suas equipes técnicas e precariedade dos vínculos

empregatícios da maioria dos funcionários da saúde municipal (SPINELLI et al.,

2008).

O contexto de turbulência política contribuiu para que, em 2009, houvesse a

saída da Secretaria de Estado de Saúde da gestão da Central de Regulação de Cuiabá.

O estado passou a assumir, separadamente, a responsabilidade pela gerência das

Casas de Apoio, da regulação dos transplantes e dos Tratamentos Fora de Domicílio

– TFD. Estas duas últimas atividades passaram a ser exercidas no âmbito de uma

nova Central Estadual de Regulação.

No momento, a Central de Regulação da capital está sob a gestão da

Diretoria de Regulação Controle e Avaliação, subordinada à Secretaria de Saúde

Municipal de Cuiabá, e sua atividade abrange o controle das vagas de cirurgias

eletivas, tratamento oncológico, exames e procedimentos de média e alta

complexidade, consultas especializadas, além de urgências e emergências (D2).

Atualmente, a Central Estadual de Regulação, administrada pela SES/MT,

tem papel importante na regulação dos casos de urgência e emergência provenientes

do interior do estado. Ela recebe a demanda para esse tipo de assistência,

principalmente das Centrais Regionais, quando não é possível acolher o paciente na

36

região de saúde em que o paciente procura por atendimento. Nessas situações, a

Central Estadual de Regulação avalia a necessidade de remoção desse paciente para

Cuiabá ou para outras regiões de saúde mais próximas do usuário. Caso seja

confirmada a necessidade de transferência desse paciente, essa Central busca a vaga

e coordena o transporte desse paciente para unidade executante da assistência (TCU,

2010b).

Existe um esforço por parte da SES/MT no sentido de desenvolver o

mecanismo regulatório sob responsabilidade das Centrais Regionais. Há um

investimento financeiro, principalmente por parte do Ministério da Saúde, com o

objetivo de modernizar a estrutura dessas Centrais. Está em fase inicial de

implantação um plano para informatizar boa parte da rede de assistência no interior

do estado e para instalação do SISREG III em todo complexo regulador mato-

grossense (TCU 2010b). Caso, esse projeto de modernização das Centrais Regionais

seja concretizado e haja um maior investimento na assistência de média e alta

complexidade nos principais pólos regionais do estado, será dado um importante

passo para a efetivação da regionalização da saúde em Mato Grosso, bem como será

amenizado o excesso de demanda por serviços de saúde na capital.

Existem problemas na comunicação entre a atual Central Estadual de

Regulação e a Central de Regulação de Cuiabá. Os gestores da SES/MT responsáveis

pela regulação estadual, bem como as Centrais Regionais, não têm livre acesso aos

dados do mecanismo regulatório disponíveis no sistema AGHOS, instalado na

Central da capital. Dessa forma, há um prejuízo na integração e agilidade das

informações no complexo regulador (TCU, 2010b).

37

4.2 A CENTRAL DE REGULAÇÃO DE CUIABÁ

A Política Nacional de Regulação do Sistema Único de Saúde, normatizada

pela Portaria GM/MS 1559/08, deve ser implantada em todas as unidades federadas,

respeitadas as competências das três esferas de gestão, como instrumento que

possibilite a estruturação das ações de regulação, controle e avaliação e o

fortalecimento dos instrumentos de gestão do SUS, que garantem a organização das

redes e fluxos assistenciais, provendo acesso equânime, integral e qualificado aos

serviços de saúde (MS, 2008).

As ações de que trata tal política estão organizadas em três dimensões de

atuação, necessariamente integradas entre si:

I - Regulação de Sistemas de Saúde: tem como objeto os sistemas municipais,

estaduais e nacional de saúde, e como sujeitos seus respectivos gestores públicos,

definindo a partir dos princípios e diretrizes do SUS, macrodiretrizes para a

Regulação da Atenção à Saúde e executando ações de monitoramento, controle,

avaliação, auditoria e vigilância desses sistemas;

II - Regulação da Atenção à Saúde: exercida pelas Secretarias Estaduais e

Municipais de Saúde, conforme pactuação estabelecida no Termo de

Compromisso de Gestão do Pacto pela Saúde; tem como objetivo garantir a

adequada prestação de serviços à população e seu objeto é a produção das ações

diretas e finais de atenção à saúde, estando, portanto, dirigida aos prestadores

públicos e privados, e como sujeitos seus respectivos gestores públicos,

definindo estratégias e macrodiretrizes para a Regulação do Acesso à Assistência

e Controle da Atenção à Saúde, também denominada de Regulação Assistencial

e controle da oferta de serviços executando ações de monitoramento, controle,

avaliação, auditoria e vigilância da atenção e da assistência à saúde no âmbito do

SUS; e

III - Regulação do Acesso à Assistência: também denominada regulação do

acesso ou regulação assistencial, tem como objetos a organização, o controle, o

gerenciamento e a priorização do acesso e dos fluxos assistenciais no âmbito do

SUS, e como sujeitos seus respectivos gestores públicos, sendo estabelecida pelo

complexo regulador e suas unidades operacionais e esta dimensão abrange a

regulação médica, exercendo autoridade sanitária para a garantia do acesso

baseada em protocolos, classificação de risco e demais critérios de priorização

(MS, 2008).

De acordo com as diretrizes do Ministério da Saúde, a área técnica da

regulação do acesso deve ser estabelecida por unidades operacionais denominadas

Centrais de Regulação, as quais, em cojunto, formam o Complexo Regulador.

38

Conforme sua organização e estruturação, as atribuições da regulação do acesso

podem ser definidas da seguinte forma:

I - garantir o acesso aos serviços de saúde de forma adequada;

II - garantir os princípios da eqüidade e da integralidade;

III - fomentar o uso e a qualificação das informações dos cadastros de usuários,

estabelecimentos e profissionais de saúde;

IV - elaborar, disseminar e implantar protocolos de regulação;

V - diagnosticar, adequar e orientar os fluxos da assistência;

VI - construir e viabilizar as grades de referência e contra-referência;

VII - capacitar de forma permanente as equipes que atuarão nas unidades de

saúde;

VIII - subsidiar as ações de planejamento, controle, avaliação e auditoria em

saúde;

IX - subsidiar o processamento das informações de produção; e

X - subsidiar a programação pactuada e integrada (MS, 2008).

Uma Central de Regulação Municipal, em geral sob gestão e gerência da

Secretaria Municipal de Saúde, regula o acesso da população própria às unidades de

saúde sob gestão municipal, no âmbito do município, e garante o acesso da

população referenciada, conforme a Programação Pactuada e Integrada – PPI (MS,

2008).

O município de Cuiabá é a principal referência do Estado de Mato Grosso

para prestação de serviços de saúde de média e alta complexidade do SUS. Assim, a

Central de Regulação de Cuiabá-MT tem papel importante no complexo regulador

deste estado, uma vez que gerencia o acesso às vagas disponíveis para prestação de

serviços de saúde na capital mato-grossense.

A Central de Regulação de Cuiabá está inserida na estrutura da Diretoria de

Regulação, Avaliação e Controle – DRAC, a qual está subordinada à Secretaria-

Adjunta de Assistência da Secretaria Municipal de Saúde de Cuiabá-MT. A DRAC

possui duas Coordenadorias sob sua gestão: a Coordenadoria de Controle e

Avaliação – CCA e a Coordenadoria de Regulação – CREG (Figura 1).

A CREG é a responsável pela regulação do acesso às vagas administradas

pela Secretaria Municipal de Saúde de Cuiabá. Ela é composta pela Gerência de

Urgência e Emergência e pela Gerência Integrada de Regulação, de acordo com o

39

tipo de serviço de saúde necessário ao usuário do SUS (Figura 1). Este último setor,

na verdade, é composto por quatro Gerências que tratam especificamente da

regulação do acesso às consultas especializadas, às cirurgias eletivas, aos exames

especializados, ao tratamento oncológico e terapia renal. Existe uma instância

específica para gerenciamento das demandas do interior, responsável pelo

recebimento e triagem dos pedidos para os demais setores da Gerência Integrada de

Regulação (D2). As demandas são processadas por toda equipe da CREG que, para

isso, conta com o suporte do sistema informatizado AGHOS, para organizar as

informações pertinentes a atividade regulatória (D3).

A Central de Regulação de Cuiabá-MT recebe e gerencia os pedidos de

urgência e emergência, já triados pela Central Estadual de Regulação, originários do

interior do estado, bem como a própria demanda da capital, para esse tipo de

atendimento, encaminhada pelos serviços de saúde locais. No que concerne aos

pedidos de exames e procedimentos de média e alta complexidade eletivos, a Central

de Cuiabá recebe as solicitações do interior do estado, via malote, encaminhadas

pelas dezesseis Centrais de Regulação Regionais, além de sua própria demanda local,

pela mesma via de comunicação. No que tange às consultas de especialidades, o

gerenciamento é feito mediante uma central telefônica. O setor responsável organiza

a demanda por meio do cadastramento de funcionários das unidades solicitantes de

todo o estado e define os horários para o atendimento telefônico das pessoas

cadastradas (TCU, 2010b).

A partir do momento em que o paciente é atendido pelo prestador de

serviço, a Coordenação de Controle e Avaliação inicia os trabalhos pertinentes à

supervisão médica e administrativa dos procedimentos realizados. Essa Coordenação

é composta pelos setores de Contratualização e Habilitação dos Serviços

Ambulatoriais e Hospitalares; setores de Supervisão Ambulatorial e Hospitalar; Setor

de Supervisão Médica e Administrativa; e Setor de Pré Autorização. Atualmente,

existe um entendimento de que o controle financeiro da prestação de serviço é bem

desenvolvido por essa coordenação. No entanto, é preciso desenvolver as atividades

pertinentes à avaliação da qualidade dos atendimentos aos pacientes contemplados

com as vagas reguladas (D4).

40

Figura 1: Organograma funcional da Diretoria de Regulação, Avaliação e Controle da Secretaria Municipal de Saúde de Cuiabá.

Fonte: Documento fornecido pela DRAC – julho de 2010

Diretoria de Regulação, Avaliação e Controle

Supervisão

Hospitalar

Coordenadoria

de Regulação

Auditoria Coordenadoria de

Controle e Avaliação

Coordenadoria

Geral

Logístico Gerência da

Informação

Gerência de

RH

Supervisão

ambulatorial

SIA Consolidação

do

Faturamento

SIH Consolidação

do

faturamento

Pré

autorização

Supervisão

médica e

Administrativa

Contratualização

e habilitação SIA

/ SIH

Gerência Integrada de

Regulação:

Consultas;

Cirurgias;

Exames;

Oncologia e terapia renal; e

Interior.

Gerência de Urgência

e Emergência

Manutenção,

limpeza e

segurança

CNES

Habilitação

41

As duas coordenações são gerenciadas por um Diretor de Regulação,

Avaliação e Controle, assessorado por um Coordenador Geral. Periodicamente, são

realizadas reuniões internas com toda a chefia da DRAC para tratar dos assuntos

pertinentes à regulação, controle e avaliação. O processo decisório é pautado pela

hierarquia entre as gerências e suas coordenações, as quais são norteadas pelas

diretrizes estabelecidas pela direção da DRAC. As Portarias do Ministério da Saúde

têm influência importante no trabalho regulador, na medida em que normatizam a

aplicação de boa parte dos recursos destinados à prestação dos serviços de saúde

(D2).

Não há uma gestão integrada entre a DRAC e setores administrativos da

Secretaria Municipal de Saúde. Isso repercute negativamente no entrosamento entre

as atividades de regulação e a de gestão do sistema de saúde em Cuiabá. Os dados

gerados pelo mecanismo regulador na DRAC não realimentam o planejamento do

SUS nem a redefinição das prioridades da assistência em Cuiabá. A Secretaria de

Estado de Saúde ao deixar a gestão da Central de Regulação também não redefiniu

novos mecanismos de gestão.

A Central de Regulação de Cuiabá funciona em uma edificação que ocupa

parte de um quarteirão (foto 1 – Anexo 2). O espaço disponível para as atividades do

órgão é amplo (foto 2 – Anexo 2). Na parte principal do prédio, funciona boa parte

dos setores ligados à Coordenadoria de Regulação. Esse espaço é organizado por

divisórias que delimitam os setores responsáveis por cada Gerência de Regulação.

Na parte anexa do prédio, funciona a Coordenadoria de Controle e Avaliação. Nesse

espaço, também estão situados o gabinete da Diretoria de Regulação, Controle e

Avaliação e a Gerência de Urgência e Emergência.

Conforme já comentado anteriormente, para apreender as práticas cotidianas

de regulação do acesso executada pela Central, foram entrevistados dirigentes e

técnicos do ligados à Gerência de Cirurgias Eletivas, mais especificamente quatro

dirigentes da Central de Regulação; três técnicos envolvidos com o processamento

interno do fluxo dos pedidos de acesso às cirurgias eletivas e três médicos

reguladores.

A composição atual da Gerência de Cirurgias conta com seguinte efetivo:

dez médicos reguladores (quatro deles são específicos para análise de cirurgias

42

oncológicas) e onze técnicos de regulação (D2). O perfil dos entrevistados está

descrito no Quadro 4. Observa-se que todos possuem curso superior completo.

Dentre eles há uma heterogeneidade no tempo de vínculo, entre 3 e 36 anos, com o

serviço público e no tipo de formação profissional. Cabe destacar, também, que

houve predominância de servidores estatutários no grupo pesquisado.

Quadro 4: Perfil dos Dirigentes e Técnicos entrevistados. Central de Regulação de

Cuiabá – 2010.

Entrevistados Nível de escolaridade Formação profissional Tempo de vínculo com o

serviço público

Tipo de vínculo com

a instituição:

Dirigentes

Superior completo Medicina 3 anos Contrato

Superior completo Enfermagem 26 anos Estatutário

Superior completo Psicopedagogia 11 anos Contrato

Superior completo Ciências contábeis 11 anos Contrato

Técnicos de

regulação

Superior completo Assistente Social 5 anos Estatutário

Superior completo Assistente Social 8 anos Estatutário

Superior completo Assistente Social 25 anos Estatutário

Médicos

reguladores

Superior completo Medicina 20 anos Estatutário

Superior completo Medicina 36 anos Estatutário

Superior completo Medicina 28 anos Estatutário

Segundo dirigentes e médicos reguladores, a Central de Regulação possui

boa estrutura física. Apesar disso, reconheceu-se a necessidade de maiores

investimentos em sua manutenção.

Na época em que a Central era gerenciada em conjunto pelo município de

Cuiabá e pelo estado de MT, a estrutura era mais bem conservada e administrada

(D3).

“Eu acho que a estrutura física é boa, é excelente. (...) o que precisa é dar

manutenção, porque se deixou de dar manutenção, porque ali era uma boa

gestão, uma boa gestão entre o estado e o município, e funcionou bem, cada um

com as suas responsabilidades. Então, você naquela época, você não via ter

problema com computador, você não via ter problema de estrutura física, porque

as atribuições estavam bem definidas, você entendeu? Cada um fazia o seu papel,

né?” (D3)

Essa opinião é compartilhada por um dos técnicos de regulação, ao

reconhecer que a estrutura já foi melhor, principalmente na época da co-gestão (T2).

43

Quanto à infra-estrutura de trabalho, as deficiências são apontadas de forma

mais veemente pelos dirigentes e técnicos de regulação. Para eles existem problemas

ligados à falta e inadequação de mobiliário, equipamentos e climatização, conforme

pode ser visto na opinião desse técnico de regulação:

“Precária (...) questão de espaço físico mesmo, armários, arquivo, coisas assim...

Cadeiras, maior espaço, mesas... Ar-condicionado, nós ficamos numa sala que

não tem ar-condicionado...” (T3)

Os médicos reguladores não têm queixas com relação às suas condições de

trabalho. Interessante notar que, não raramente, esses profissionais não quiseram

opinar sobre outros setores, que não aquele em que eles atuam.

“o que nós precisamos a direção da central nos atende, agora os outros setores eu

não posso te informar.” (M3)

Com relação à rede informatizada e ao sistema operacional utilizado

(AGHOS), os dirigentes e técnicos destacaram o seu bom funcionamento e a boa

visão da situação dos pedidos que ele proporciona. No entanto, há possibilidade de o

sistema informatizado de regulação ser mais bem aproveitado, considerando suas

potencialidades (D3). Os médicos reguladores comentaram que, com certa

frequência, o sistema apresenta lentidão, devido à sobrecarga causada pelo grande

volume de dados manipulados.

As Centrais de Regulação que compõem o Complexo Regulador Estadual

não têm acesso aos dados gerenciados pelo sistema AGHOS. Esse assunto foi alvo

de recomendação específica do TCU, a fim de aumentar a transparência e controle do

que é efetivamente regulado pela Central de Regulação de Cuiabá para os

prestadores de serviços gerenciados pela SMS Cuiabá.

“9.3. determinar à Secretaria Municipal de Saúde de Cuiabá/MT que: (...)

9.3.13. disponibilize as informações geradas pelo sistema de informação adotado

pela central de regulação, inclusive mediante acesso via internet, para os

municípios do interior do Estado, a fim de que seja viabilizado e facilitado o

controle, por parte desses entes, daquilo que foi solicitado e executado por

Cuiabá, confrontando ainda com o pactuado na PPI, com fundamento na Portaria

GM/MS 399, de 22/2/2006 e no art. 6º, da Portaria GM/MS 1.559/2008;

9.3.14. disponibilize acesso ao sistema de informação adotado pela sua Central

de Regulação ao Estado de Mato Grosso, a fim de que esse ente possa monitorar

o cumprimento pelo Município das programações físico-financeira definidas na

44

PPI, inclusive no que tange aos atendimentos efetuados aos municípios do

interior, com base na Portaria GM/MS 399, de 22/2/2006, e no art. 6º da Portaria

GM/MS 1.559/2008” (TCU, 2010b).

No que tange à estrutura de pessoal, os dirigentes reconhecem que há

necessidade de um maior investimento na capacitação dos seus funcionários. Os

baixos salários e os frequentes pedidos de demissão acabam sobrecarregando alguns

setores (D2). Em que pesem as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores, foi

destacado seu elevado grau de comprometimento com a missão da instituição (D4).

Quanto à suficiência do efetivo de funcionários, apesar de existirem setores

que precisariam de maior número de trabalhadores, um dirigente destacou a

necessidade de remanejamento de funções e readequação de papéis. Como exemplo,

referiu-se ao grande numero de médicos reguladores atuando na análise dos pedidos.

Na visão da direção, a DRAC deveria priorizar as atividades de controle e avaliação

do acesso aos serviços de saúde. Portanto, esses médicos poderiam ser deslocados de

sua função reguladora e, contribuir com a avaliação da qualidade do atendimento

prestado pelos hospitais vinculados ao SUS Cuiabá (D4).

As interferências políticas e a rotatividade no cargo de Secretario Municipal

de Saúde têm repercutido negativamente na Central de Regulação, pois provocam

constantes mudanças na direção e em toda equipe de coordenação, o que prejudica a

continuidade do trabalho do setor (M2).

“Tem o problema político que é um negócio muito desagradável, que cada vez

que muda o secretário, mudam todos os coordenadores, mudam todos os

funcionários, então, às vezes o trabalho fica meio confuso e quando anda,

finalmente, aí para, porque aquela pessoa tem uma outra visão de fazer as coisas,

e não... Esse problema político interfere muito nessas mudanças que tem de

secretário, aí muda a coordenação, aí vai, efeito dominó, acho que isso é o que

mais atrapalha o fluxo do funcionamento da central. Não fosse isso, as coisas

seguiriam, que aí um vem implanta uma coisa, o outro vem depois já não quer

aquilo mais. Não tem continuidade, se perde esse trabalho. O problema político é

no SUS inteiro.” (M2)

Para se ter uma noção da repercussão que isso provoca na Central de

Regulação, o TCU registrou, no período 2009-2010, três alterações da equipe de

Diretoria, bem como seu respectivo Coordenador de Regulação. Sem contar as

alterações em outras funções como, por exemplo, as gerências de regulação.

45

A Central de Regulação de Cuiabá sofre com a falta de uma carreira que

profissionalize o trabalho regulador. Até mesmo para remanejar pessoal dentro da

estrutura da DRAC, há resistência devido ao arrimo político da indicação dos cargos.

Isso certamente impede que haja um desenvolvimento contínuo das atividades da

Central e, como consequência, a ocorrência de retrocessos na gestão do órgão é

frequente. Assim, retarda-se o processo de amadurecimento do mecanismo de

regulação garantidor da atenção integral e de um SUS mais equânime. Torna-se

premente ampliar a discussão sobre a introdução, na administração pública, de

modelos profissionais de gestão que contraponham ao clientelismo, como no

exemplo citado sobre a indicação política para a ocupação de cargos e de

trabalhadores na saúde (JUNQUEIRA et al., 2010).

46

4.3 PROCESSOS e FLUXOS REGULATÓRIOS

Nessa Seção, buscou-se compreender o conceito atribuído ao termo

“regulação” por parte dos dirigentes e técnicos da Central de Regulação de Cuiabá,

bem como seus entendimentos e críticas a respeito do fluxo processual de regulação

dos pedidos de procedimentos eletivos. Além disso, foram abordados os diferentes

meios de fuga à regulação do acesso às vagas.

4.3.1 Conceitos de Regulação

As concepções de regulação, segundo os entrevistados, situam-se entre as

mais pragmáticas e aquelas de caráter mais amplo que priorizam os princípios do

SUS. No que se refere ao primeiro grupo, as citações mais frequentes conceberam

regulação como o mecanismo de dar acesso aos serviços de saúde, considerando-se o

respeito à prioridade (D1, T3, M2 e M3) e ao grau de necessidade do paciente (T1 e

M2) atribuídos pelo médico regulador, de acordo com a avaliação da patologia com

base nas informações constantes da guia de internação (M3), a cronologia de entrada

do paciente (D1, T1 e T3) e a limitação do atendimento para toda a demanda (M2),

procurando equacioná-la dentro dos limites financeiros (T3).

Percebe-se que essa definição é bem adaptada à atual realidade da Central

de Regulação de Cuiabá, na medida em que cita as restrições ligadas à amplitude da

demanda em contraposição aos limites financeiros. Outro aspecto interessante é a

consciência da limitação da decisão do médico regulador, a qual se baseia nas

informações escritas repassadas por outro profissional que atendeu o paciente na

unidade de origem.

47

No que tange ao segundo grupo, as definições caminhavam na mesma

direção que a anterior, no entanto apresentaram trechos mais subjetivos para elaborar

o conceito com propósito mais centrado no usuário e nas diretrizes do SUS. Com

base nesses relatos, pode-se destacar as seguintes idéias sobre regulação:

maneira de democratizar o acesso, mediante a qualificação do usuário em

sua demanda (D4);

instrumento de gestão para gerar igualdade no acesso (D3); e

uso do princípio da equidade entre os usuários (T1).

Alguns entrevistados complementaram suas opiniões com questões práticas

que contextualizam o tema regulação. Isso pode ser constatado, por exemplo, no

comentário feito a respeito da necessidade de se evitar, nesse processo, que os

prestadores priorizem suas demandas ao escolherem apenas os pacientes que lhe são

mais interessantes, invertendo a finalidade da Central de Regulação na definição das

prioridades do atendimento nas cirurgias eletivas (D4).

O uso das informações geradas pelo mecanismo regulatório no

replanejamento da gestão, defendida por SANTOS e MERHY (2006), também

esteve presente em uma definição sobre o tema:

“instrumento de gestão que tanto vai subsidiar o gestor pra fazer a programação

do que necessita, do que o paciente, do que a comunidade necessita de acesso,

quais os serviços necessários. A regulação fornece também indicadores (...) que

grupo tá tendo mais acesso a determinado exame, por quê? O ideal seria isso,

pegar essas informações e retroalimentar quem tá na ponta, pro gestor fazer uma

análise, pra ele poder fazer uma programação mais voltada pra realidade e até

acompanhar a qualidade da assistência.” (D3)

Pode-se dizer que o conceito de regulação está atrelado ao de economia,

cuja definição é pautada no estudo da escassez e da escolha. O que varia é o nível de

escassez dos recursos e quão difíceis são as escolhas (CONASS, 2007). O

mecanismo de regulação em saúde se configura também nesse tipo de administração,

já que se baseia na intervenção entre a demanda e a prestação direta dos serviços, nos

seus diversos aspectos (SANTOS e MERHY, 2006).

O papel exercido pelas Centrais de Regulação, ao processar os pedidos, é

apenas uma face desse desafio de gerenciar a escassez de vagas perante a demanda

por serviços de saúde. Contudo, além de ter potencial para promover equidade no

48

acesso às vagas ofertadas, caso as escolhas sejam qualificadas por critérios

meticulosamente trabalhados, as centrais são instrumentos capazes de fornecer

informações valiosas para a macrorregulação e, assim, viabilizar ajustes mais

vinculados à realidade do sistema de saúde. Essa possibilidade pode ser retratada, por

exemplo, na identificação de falhas ou aspectos a serem trabalhados na Atenção

Básica do sistema.

4.3.2 Descrição do Fluxo Regulatório

Com base no processamento dos pedidos de cirurgias eletivas pela equipe da

Gerência responsável por esse setor da Central de Regulação de Cuiabá, provenientes

das unidades solicitantes, pôde-se construir um Mapa de Processo – Figura 2.

A etapa inicial do processo se caracteriza pelo encaminhamento à Central de

Regulação de Cuiabá-MT, principalmente via malote, dos laudos médicos que

contêm os pedidos de cirurgias eletivas, oriundos das unidades solicitantes da capital

e das cidades do interior de Mato Grosso. Estes demandantes são os estabelecimentos

de saúde responsáveis pela atenção básica, como, por exemplo, as unidades do

Programa de Saúde da Família – PSF, os serviços de atenção secundária, como as

Policlínicas, e, também os hospitais credenciados ao SUS.

Os pedidos originados nos municípios do interior do estado de Mato Grosso

sofrem uma primeira triagem, em sua respectiva Região de Saúde. SANTOS (2008)

descreveu esse processo da seguinte forma:

“A partir do primeiro atendimento nas unidades básicas de saúde, se o usuário

precisa de avaliação, o médico do PSF o encaminha para o serviço de regulação

municipal, com um relatório de encaminhamento (escrito) para avaliação de

especialista ou para realização de exames complementares. A microregulação ou

regulação local através de telefone/fax, e conforme a disposição dos serviços

especializados disponíveis no município, autoriza e agenda o atendimento

solicitado. Caso o serviço solicitado não exista no município, é acionado o

serviço de autorização de procedimento e agendamento do Consórcio Regional,

ou DIRES, a que ele pertence”. (SANTOS, 2008)

49

Figura 2: Mapa de Processamento dos pedidos de cirurgias eletivas por parte da Central de Regulação de Cuiabá.

Fonte: autor desta pesquisa com base nas informações disponibilizadas pela Gerência de Cirurgias Eletivas da Central de Regulação de Cuiabá – julho 2010.

Receber laudos

com pedidos das

unidades

solicitantes

Inserir

informações

contidas nos

laudos no sistema

informatizado

“DOC”.

Médico Regulador:

conferir todas as

informações e verificar

se existem

inconsistências ou falta

de informações no laudo.

Decidir: laudos

estão corretos e

completos?

Não

Sim

Devolver laudo para

unidade solicitante.

Recomeçar

processo

Decidir: Qual

é a prioridade

do caso?

Decidir:

1. segue para

atendimento?

2. vai para fila?

Fila Atendido

Enviar laudo para o

hospital de referência.

Receber AIH após alta para

conferência e pagamento.

Aguardar vaga.

Pedido

atendido

A informatização do

pedido poderia aumentar

a eficiência do processo.

50

Essa atividade é realizada em cada uma das dezesseis Centrais Regionais de

Regulação do Estado de Mato Grosso (Anexo 1), que verificam a pertinência do

pedido e se a demanda pode ser atendida na região.

Se não existirem referências para o atendimento necessário ao paciente nos

municípios sede adjacentes e a capital disponibilizar o procedimento necessário, a

solicitação é enviada para Central de Regulação de Cuiabá (TCU, 2010b).

Ao receberem os pedidos das unidades solicitantes, os técnicos de regulação

inserem os dados da solicitação e do laudo médico no sistema informatizado de

regulação. Via sistema, as demandas são encaminhadas aos médicos reguladores.

Estes avaliam a pertinência do pedido de acordo com a descrição do quadro clínico

do paciente constante no laudo preenchido pelo médico da unidade sanitária de

origem e verificam se existem inconsistências ou falta de dados nessa documentação.

Os laudos levam, em média, três dias para serem avaliados pelos médicos

reguladores – Figura 2 (D2).

Até recentemente, os pedidos e laudos eram totalmente conferidos pelos

técnicos de regulação. A partir do momento em que os técnicos contaram com a

participação dos médicos reguladores para conferência dos dados clínicos, a crítica

ao preenchimento incorreto dos laudos ganhou mais legitimidade por parte da

Central (D2).

“antigamente eram só funcionários leigos que faziam a devolução desses laudos.

Sabe lá se esses laudos não estavam corretos e o funcionário que não entendeu?

Ele como médico conhece a função de outro médico. Se ele falar que realmente

esse laudo está errado, ele vai assinar, ele vai colocar a assinatura dele ali e vai

devolver para o outro médico profissional para ele reconhecer que ele realmente

estava errado.” (D2)

Se houver erro na documentação e o médico regulador der parecer favorável

à necessidade de sua correção, o laudo médico é devolvido, via malote, para a

unidade solicitante. Sanadas as incorreções, a solicitação dará nova entrada na

Central de Regulação para o seu processamento. Caso o pedido esteja apto, os

médicos reguladores o classificam de acordo com a gravidade de cada caso nos

seguintes grupos: Eletivo 1, 2 ou 3.

51

Considerando-se a prioridade do pedido e a disponibilidade de vagas para a

especialidade de cirurgia solicitada, o paciente poderá ter acesso direto à execução do

procedimento ou aguardará em fila para futuro atendimento (Figura 2).

Na primeira possibilidade, o laudo autorizado é encaminhado ao prestador

de serviço para que a cirurgia seja agendada e posteriormente realizada. Na segunda

hipótese, quando o caso não requerer urgência, ou devido à falta de oferta do serviço

naquele momento, o paciente aguarda em fila a oportunidade de realizar o

procedimento.

Todas as unidades executantes têm acesso ao sistema informatizado de

regulação. Assim, após a alta do paciente, os hospitais devem alimentar o sistema

com as informações sobre o caso atendido e enviar a Autorização de Internação

Hospitalar – AIH para a Coordenadoria de Controle e Avaliação para conferência e

pagamento. A equipe de supervisão dessa coordenação confere no prontuário do

paciente a documentação que comprova a realização do procedimento.

Em julho de 2010, encontrava-se em processo de implantação um novo

sistema que permitiria a permanência do laudo na Central de Regulação, uma vez

que tornaria possível a visualização da autorização do médico regulador, por parte

das unidades executoras. Tal procedimento permite que, ao liberar uma vaga, o

hospital obtenha a informação em tempo real e contate o paciente para realizar a

cirurgia, dando mais agilidade ao processo (T1).

As críticas a esse mecanismo referem-se à velocidade da etapa inicial do

fluxo interno do processamento dos pedidos, desde a entrada da solicitação na

Central de Regulação até a análise pelos médicos reguladores. Esse processo vem

ganhando agilidade nos últimos anos. Entretanto, sua eficiência é prejudicada pelos

erros existentes no preenchimento dos laudos, que provocam a devolução de pedidos

às unidades de origem (D2). A falta de informações administrativas está presente em

cerca de 30% dos pedidos. Isso pode gerar desperdício dos horários marcados com os

profissionais, pois diminui a probabilidade de um contato oportuno com o usuário

contemplado com a vaga (D4). Assim, há um esforço para que conste do cadastro os

telefones e outros dados do paciente.

Os dirigentes pretendem que, até julho de 2011, os consultórios da rede

assistencial da capital estejam munidos de computadores interligados em rede com a

52

Central de Regulação de Cuiabá (M2 e D4). Nesse sentido, está sendo realizado um

teste piloto com o Hospital Geral Universitário e o Hospital Universitário Júlio

Müller. No entanto, os erros no preenchimento dos pedidos continuam acontecendo

com certa frequência (D2).

“Acontece muitas vezes, na solicitação dentro do sistema, muitos erros (...) nós

estamos com o Hospital Geral e o Hospital Júlio Müller fazendo essa solicitação

(via sistema). Daqui a uns dias, teremos várias unidades fazendo essa solicitação,

e essa solicitação vai vir de forma errada. O fluxo dela vai talvez diminuir, mas

vão descrever os laudos no sistema errado, entendeu, então vai ocasionar esse

problema.” (D2)

Pode-se afirmar que a informatização das unidades solicitantes e sua

interligação com a rede utilizada pela Central de Regulação de Cuiabá poderiam

gerar ganhos na eficiência do processo, uma vez que a velocidade na comunicação

das informações constante dos pedidos seria bem maior que a atual. Os casos de

incorreções nas solicitações poderiam ser mais rapidamente solucionados e os

pacientes seriam menos prejudicados por questões formais.

Registra-se, mais uma vez, a falta de integração, via sistema AGHOS

(sistema informatizado adquirido pela SMS Cuiabá), entre a Central de Regulação de

Cuiabá e as outras Centrais que compõem o Complexo Regulador de Mato Grosso, o

que gera morosidade nas trocas de informação sobre as solicitações de atendimento

ao usuário do SUS (TCU, 2010b).

Cuiabá/MT não disponibiliza acesso ao seu sistema de informação às demais

centrais de regulação existentes no estado, que somente conseguem as

informações via telefone e pela troca de ofícios entre as Secretarias de Saúde. As

informações são encaminhas esporadicamente aos municípios do interior do

estado. Em decorrência da falta de integração, os sistemas tornam-se “ilhas”,

cujas informações restringem-se à utilização pela própria secretaria de saúde

(TCU, 2010b).

O Ministério da Saúde vem desenvolvendo, desde 1999, o Sistema de

Regulação – SISREG. Trata-se de um sistema on line para gerenciamento de todo

complexo regulador. Possui módulos que podem ser utilizados pelas unidades

solicitantes dos serviços de saúde, pelos reguladores e pelas unidades executantes

(MS, 2007). Esse instrumento promete tornar possível a integração das informações

sobre a regulação do acesso com aquelas utilizadas pelos demais subsistemas do

53

Sistema Nacional de Informação em Saúde. Eles teriam os mesmos padrões de

informação, tabelas, cadastros, entrada de dados, identificações comuns, que

possibilitassem cruzamentos, extração de indicadores e constituísse, de fato, um

instrumento para as ações da regulação e avaliação da assistência (SANTOS e

MERHI, 2006). Mesmo com a disponibilidade desse sistema, fornecido

gratuitamente pelo Ministério da Saúde às unidades federadas interessadas, Cuiabá

continua optando por adquirir o sistema AGHOS. Cabe esclarecer que a utilização do

SISREG não é obrigatória aos entes federados. Todavia, é importante que, dentro do

complexo regulador, os sistemas sejam compatíveis e possam trocar informações de

forma ágil.

No que concerne às falhas na precisão e clareza da demanda originária de

toda rede assistencial, um dirigente afirmou que apesar de a Central de Regulação ser

um ponto chave para o acesso aos serviços de saúde, outras questões, como a

qualidade da Atenção Básica e os atributos referentes à formação dos profissionais

da saúde, comprometem também o fluxo regulado (D4).

“A central de regulação, ela não é responsável por todos os problemas que nós

temos, ela é um ponto chave no acesso, mas nós temos problemas gravíssimos na

básica, nós temos problemas de formação médica, nós temos problemas de

orientação dos agentes de saúde, nós temos problemas de infra-estrutura

operacional dos postos de saúde, o modo como eles atuam.” (D4)

Sobre essa questão, a DRAC depende de uma atuação da SMS Cuiabá e da

SES/MT, no sentido de qualificar as equipes médicas atreladas à atenção básica para

que a demanda seja encaminhada de uma forma mais técnica para as Centrais de

Regulação. Esses profissionais precisariam receber mais investimentos em

capacitação para compreender melhor o seu papel no sistema de saúde. Em 2010, foi

feita orientação a esses órgãos para que incluíssem em seu planejamento anual

atividades especialmente voltadas para divulgação da política de regulação do

Estado, perante os usuários e os profissionais de saúde, entre outros atores

envolvidos, a fim de evitar dificuldades de acesso a serviços de saúde ocasionados

por desorientação (TCU, 2010b).

54

Existe consenso entre os grupos entrevistados de que, após a análise e

aprovação do pedido pelo médico regulador, o processo, não raramente, é lento

devido à oferta insuficiente de vagas comparada à demanda.

A oferta é definida nos contratos e credenciamentos dos prestadores de

serviços, os quais são estabelecidos pelos limites financeiros da Secretaria de Saúde

de Cuiabá. Além disso, nesses ajustes, consideram-se a capacidade física e técnica de

atendimento de cada serviço de saúde, em cada uma de suas especialidades. A

Coordenadoria de Controle e Avaliação é a responsável por ajustar esses limites

financeiros aos contratos com os prestadores e a Coordenadoria de Regulação

gerencia o acesso às vagas com base nos tetos fixados (D1 e D2).

Um dos motivos apontados como causa da oferta limitada de serviço é a

defasagem da tabela de repasse por procedimento adotada pelo Ministério da Saúde

(D1 e M2). Isso causa impacto negativo no volume de recursos transferidos da União

para o município de Cuiabá. Esse fator foi apontado como obstáculo para o bom

funcionamento da Central de Regulação, uma vez que cria dificuldades para o gestor

contratar prestadores que tenham interesse em dispor seus serviços para o usuário do

SUS (D1, T2 e D4).

Esse discurso se alinha ao utilizado pelos prestadores privados de serviços

de saúde, na medida em que os preços médios de consultas e internações praticados

pelas empresas de planos e seguros de saúde são três a seis vezes superiores aos das

instituições públicas. Parte considerável dos compromissos das entidades médicas

tem sido ocupada com a negociação de valores de procedimentos. A Frente

Parlamentar da Saúde, criada em 1993, consolidou uma agenda reunindo interesses

públicos e privados, sendo um dos principais pontos tratados os valores de

remuneração dos procedimentos médico-hospitalares das tabelas do Ministério da

Saúde e daquela elaborada pela Associação Médica Brasileira, que serve como

referência para as empresas de planos e seguros de saúde. Dessa forma, a busca pelo

aumento de recursos para o financiamento das instituições privadas de saúde atrai

tanto os pleitos por aumento de recursos para o SUS, quanto os relativos à ampliação

das isenções fiscais, créditos e anistias de dívidas para estabelecimentos e

prestadores privados e produtores de insumos para os serviços de saúde (BAHIA,

2009).

55

Outro posicionamento referiu-se ao insuficiente investimento em hospitais

públicos como uma das causas para limitação das vagas oferecidas para internações.

Tal fato faz com que o SUS fique dependente da oferta privada de serviços de saúde

(M3). Em Cuiabá, segundo CNES, apenas 38% dos leitos a disposição do SUS em

Cuiabá eram providos por instituições públicas de saúde em 2010.

Cabe destacar que, tanto o excesso de demanda provocada, por exemplo,

pela falta de uma atuação mais eficaz da atenção básica frente aos problemas mais

elementares de saúde da população (SANTOS, 2008 e TORRES, 2007), quanto a

restrição orçamentária à oferta de serviços de média e alta complexidade, são

ameaças importantes para a concretização de dois princípios constitucionais do SUS,

quais sejam, a universalidade do acesso e a atenção integral à saúde.

A limitação econômica para investimento nos serviços de saúde de média e

alta complexidade também sofre interferência do modo como a instância estadual

administra a prevenção e a promoção da saúde no seu território. Deve-se impedir que

os recursos sejam totalmente consumidos pelos cuidados curativos (TORRES, 2007).

Outro fator que interfere na eficiência do processo após a aprovação do

pedido por parte dos médicos reguladores, diz respeito à seleção dos “laudos

teoricamente mais atraentes”, por parte de prestadores de serviços, em detrimento de

outros casos já contemplados com a vaga, cujos laudos ficam em poder dos hospitais

cadastrados pelo SUS. Tal fato tem causado prejuízos à fila organizada pela Central

de Regulação e provocado a negativa de atendimento para alguns usuários do SUS

(D2, D3 e D4).

A Central deixa de exercer sua função reguladora, que é assumida, nesse

caso, pelos setores conveniados. Isso é um reflexo do que se observa no setor saúde

no Brasil. Pode-se notar a consolidação de mercados privados em saúde dinâmicos e

fortes, sob incentivo do Estado, com a persistência de iniquidades que colidem com a

noção da saúde como direito de cidadania (VIANA e MACHADO, 2008).

“Nós temos dificuldades de acesso muito maior por conta do prestador, que

seleciona o paciente, que não quer determinadas patologias, eles fazem seleção,

eles fazem cadastro de reserva.” (D3)

56

O fato de haver pacientes preteridos em relação a outros, sem qualquer

justificativa embasada em critérios objetivos, por parte dos estabelecimentos de

saúde, fere o princípio da igualdade de acesso aos serviços de saúde expresso no

artigo 196 da Constituição Federal (BRASIL, 1988).

A Central de Regulação tem buscado soluções para esse problema.

Recentemente, houve uma modificação processual para tentar impedir os hospitais de

acumularem laudos já autorizados pelos médicos reguladores. O novo fluxo tem

como premissa o encaminhamento de um novo paciente para o prestador somente

quando ele já atendeu a última solicitação da Central de Regulação (D2).

“nós vamos controlar, o máximo que a gente pode, em obrigar os hospitais a

realizarem as cirurgias conforme a fila (...) como eu falei pra você, eu mando um

laudo de ortopedia pro hospital, enquanto o hospital não realizar aquele paciente,

não vai outro.” (D2)

A medida já vem surtindo algum efeito benéfico quanto ao atendimento

integral das autorizações encaminhadas pela Central de Regulação aos prestadores.

Dessa forma, a fila, pelo menos teoricamente, tem mais chances de ser respeitada. No

entanto, houve diminuição na velocidade do fluxo de encaminhamento de laudos

para os estabelecimentos de saúde executantes (D2). Essa é uma solução paliativa

para o problema. A causa está relacionada com a falta de controle da Central de

Regulação sobre os prestadores cadastrados, uma vez que os contratos não estão

formalizados ou estão com vigência expirada. As cláusulas que poderiam dar

legitimidade à SMS Cuiabá para sancionar as unidades de saúde privadas ao não se

submeterem adequadamente ao mecanismo de regulação não estão formalizadas

(TCU 2010b).

Dirigentes e técnicos de regulação informaram que, posteriormente ao

atendimento do usuário, a unidade de saúde que executou o procedimento é

responsável pela alimentação do sistema informatizado de regulação com os dados

sobre a alta do paciente. Dessa forma, o controle e a organização da fila, gerenciados

pela Central de Regulação, dependem da qualidade dessa informação.

Os prestadores não realizam essa atividade de forma oportuna e regular ou

até mesmo deixam de fazê-la, situação que requer dos funcionários da Central a

57

confirmação, via telefone, da realização da cirurgia. Essa situação também foi

relatada por TORRES (2007) em Salvador-BA. Assim, não raramente, a alimentação

desse sistema é, na prática, efetuada pelos próprios trabalhadores da Central de

Regulação (D2).

“No Sistema automaticamente a Unidade Executora alimenta o sistema

colocando que aquele paciente foi internado (...) Depois que esse paciente realiza

esse procedimento o próprio hospital dá alta para esse paciente, ai a alta se muda

de internação para alta. Ai a gente sabe que o procedimento foi realizado no

paciente. (...) Na verdade, eles tinham que estar alimentando isso em tempo real.

Eles não fazem essa alimentação no tempo real. Eles deixam pra dias depois, ou

nem mesmo alimentam o sistema. Ai, como que a gente sabe? Ligando no

hospital. Na nossa concepção, a gente acredita que o hospital fez o procedimento

no paciente, mas pelo sistema não tem como saber, porque eles não fazem a

alimentação (...) A gente mesmo que coloca a informação, a gente vai lá e dá

baixa, a gente pede aqui pro médico fazer isso... eles é que deviam fazer isso,

mas eles não fazem, entendeu?” (D2)

Finalmente, o processo de monitoramento, acompanhamento e avaliação do

atendimento da demanda processada pela Central de Regulação e do seu grau de

resolutibilidade é falho, impedindo que os chamados “nós críticos” sejam

identificados (D3 e D4). Perde-se, muitas vezes, a oportunidade de a regulação

retroalimentar a gestão com informações sobre as distorções do processo (D3).

Portanto, ao analisar todo fluxo regulatório, percebe-se um esforço da

Central de Regulação de Cuiabá para tornar mais ágil o trâmite interno das

informações. Por outro lado, nota-se certa resignação para soluções de problemas

externos à Central. Questiona-se, assim, a ausência de ação gerencial da Secretaria

Municipal de Saúde que poderia considerar a função da Central de Regulação no

suporte ao bom funcionamento do Sistema de Saúde. Não há sinais de bom

entrosamento entre a DRAC e a administração da Secretaria.

Quanto ao relacionamento com a SES/MT, a partir do momento em que

deixou a co-gestão da Central de Regulação de Cuiabá percebe-se que o

distanciamento político entre os governos do estado e da capital também se reflete na

esfera administrativa das instâncias regulatórias desses entes. A Programação

Pactuada e Integrada - PPI, coordenada pela SES, até o momento, ainda é um mero

instrumento de rateio dos recursos provenientes do governo federal entre os

municípios de Mato Grosso. Como será exposto com mais detalhes na Seção 4.5, a

58

PPI poderia ser um efetivo meio de planejamento das ações de saúde compartilhadas

pelos municípios do estado, regidos pela coordenação da SES.

4.3.3 Mecanismos de Fuga ao Fluxo Regulatório

Certos descaminhos utilizados por usuários do sistema, gestores, prestadores

de serviços e políticos tem potencial para descaracterizar a função regulatória da

Central. Trata-se de situações em que cada indivíduo busca a satisfação dos seus

interesses ocasionando graus distintos de prejuízo ao mecanismo regulador, na

medida em que enfraquece a concepção de sistema voltado para saúde dos usuários.

Nesse contexto, as liminares concedidas pelo poder judiciário são uma das

principais vias, mencionadas pelos entrevistados, para obter acesso às vagas de

cirurgias eletivas sem ter que se submeter à Central de Regulação (D1, D2, T1, T2,

T3, D3 e D4). O poder judiciário tem prolatado decisões liminares que interferem no

mecanismo regulatório, ao fazer com que determinados pacientes sejam atendidos de

forma imediata, desconsiderando-se a fila organizada pela Central de Regulação (D1,

D2 e D3). Existem algumas especialidades que só têm vagas contempladas por

liminares (D2).

Nesse contexto, destaca-se a atuação do Ministério Público que é procurado

por aqueles pacientes que se julgam prejudicados pela falta de acesso aos serviços de

saúde do SUS (D1 e D3). Houve críticas à atuação do Ministério Público por atuar

nesse setor sem entender de forma profunda o mecanismo regulatório. Algumas

interferências desse órgão parecem não ter observado o princípio da igualdade, ao

contemplar pacientes que a Central julga como não tendo prioridade em relação aos

outros casos (D3). Apesar disso, reconheceu-se que em alguns casos, principalmente

quando certos hospitais têm resistência para atender pacientes específicos, a atuação

do Ministério Público trouxe benefícios ao sistema (D3).

59

Diante desse contexto, acredita-se que a Secretaria Municipal de Saúde de

Cuiabá deveria se aproximar do Ministério Público para que eles possam

compreender melhor o contexto no qual trabalha a Central de Regulação, o

mecanismo regulatório, o relacionamento com os prestadores, entre outras questões

(D1 e D3). Nesse sentido, pretende-se disponibilizar acesso ao sistema informatizado

de regulação para o Ministério Público (D1).

“O que nós recebemos muito são liminares. (...) toda a liminar que chega aqui

pra gente nós atendemos rapidamente. Isso já foge a fila de espera. É o paciente

que tá na fila que acaba recebendo o acesso mais rápido devido à liminar. Mais

isso não é o correto. O que nós precisamos fazer é trazer o Ministério Público pra

junto da Secretaria de Saúde. Pra quê? Para o Ministério Público tenha a visão da

forma que está sendo feito o contrato com o hospital e ajude a Secretaria a cobrar

aquele contrato. (...) que tenha a liminar, mas que tenha substanciado porquê o

motivo daquela liminar(...) estamos voltando com o sistema novamente lá, pra o

Ministério Público ter a visão conforme a fila de espera, tá?” (D1)

Outra medida tomada foi a criação de uma Câmara Técnica no âmbito da

Central de Regulação com o objetivo de, eventualmente, assessorar o poder

judiciário nas suas decisões a respeito dos pedidos dos pacientes que porventura se

sintam prejudicados em relação ao acesso aos serviços de saúde (D4).

O mecanismo regulador também é distorcido quando os médicos solicitantes

concedem ao candidato à vaga um status de urgência, apesar de sua condição de

saúde não indicar esse tipo de priorização. Nesse caso, esse profissional pode

distorcer as informações para tornar o caso mais grave, com intenção de tornar o

processo mais ágil; no entanto, deixa para trás outras pessoas que estão na fila, cujas

condições clínicas seriam similares a desse indivíduo hipotético (D3).

Essa questão está interligada com o tratamento dado aos protocolos de

regulação, uma vez que há necessidade de analisar cada caso pautado em um

parâmetro objetivo. Os protocolos precisam ser implantados e divulgados, no âmbito

da regulação e das unidades solicitantes. Ao identificar as distorções nos pedidos, os

setores de controle e avaliação e de auditoria deveriam atuar (D3).

Nos casos de urgência, cabe à Central de Regulação e ao Controle e

Avaliação supervisionar se realmente aquele caso mereceria esse tipo de prioridade.

Não tendo essa supervisão, os pacientes classificados como eletivos acabam sendo

60

penalizados, pois aguardam sua vez de acordo com a prioridade dada ao seu caso e

uma urgência simulada, não. (D1)

Conforme será apresentado adiante, em julho de 2010 observou-se que,

dentre o universo de pacientes que tiveram acesso às cirurgias ortopédicas solicitadas

em 2008 e 2009 à Central de Regulação, 48,16% foram classificados como

“urgência”. Por outro lado, apenas 30,84% foram provenientes do grupo de

“eletivos”.

Esse fato pode ter relação com o aumento do acesso pela chamada “porta de

entrada” dos hospitais, que são referentes às demandas de urgência e emergência de

cada prestador de serviço. Atualmente, esse tipo de acesso ocupa cerca de 80% das

vagas de cirurgias, sendo o restante para a Gerência de Cirurgias Eletivas.

Antigamente, as cirurgias eletivas ocupavam a maioria das vagas hospitalares (D2).

“a porta de entrada está dificultando muito o processo de cirurgias eletivas por

que a porta de entrada de alguns hospitais ficaram acima da quantidade do teto

financeiro que pode ser liberado (...) para que esse teto não atinja, eu tenho que

mandar quantidade de menos paciente eletivos (...) hoje na verdade a urgência e

emergência praticamente tomou o lugar da eletiva e a eletiva ficou com a

urgência e emergência (...) os hospitais alegam que os contratos são muito

antigos e que têm que fazer os atendimentos, que nunca foi estipulado realmente

essa porta de entrada, é coisa muito antiga, então nessa contratualização seria

determinado realmente qual seria a quantidade exata que a urgência e

emergência poderá ocupar nos hospitais e quanto a eletiva vai ocupar também.”

(D2)

O acesso pela chamada “porta de entrada” dos hospitais deveria ser bem

definido por contrato, resultante de uma definição do modelo assistencial e da rede

de assistência por parte da Secretaria Municipal de Saúde, que definiria as regras

para esse tipo de acesso. Assim, com base nessas informações, o setor de Controle e

Avaliação faria a supervisão nos hospitais (D3).

Foi destacada, também, a interferência dos hospitais na efetividade do

atendimento de pacientes encaminhados pela Central de Regulação. Conforme

relatado anteriormente, os dirigentes informaram que hospitais credenciados pelo

SUS em Cuiabá têm selecionado os melhores casos para operar, deixando pacientes

que já foram autorizados pela Central de Regulação sem efetuarem suas cirurgias,

algumas vezes contribuindo para o óbito dessas pessoas (D2 e D3). Foi ressaltado

61

que esse fato é agravado pela falta de acompanhamento da Central de Regulação dos

pacientes contemplados com as vagas (D3).

Outra questão levantada tratou de pedidos políticos para favorecimento de

alguns pacientes que necessitam de atendimento na rede SUS. Apesar de ser

ressaltado que há respeito à fila por parte da equipe da Central de Regulação, os

pedidos são analisados pelos dirigentes e pelo corpo técnico, sendo algumas vezes

acatados pela Central de Regulação (D1 e D2). Alguns políticos não entendem o

processo regulatório. Eles acabam interferindo no trabalho da Central de Regulação e

buscam utilizá-la com objetivos eleitorais, ao tentar facilitar o acesso de seus

apadrinhados (D3 e D4).

“Questões políticas, isso é o que mais interfere na regulação. É político que

também não entende o processo. Tem uma idéia equivocada, distorcida e não

ajuda (...) o político, ele sendo a pessoa que deveria elaborar propostas pra

melhorar o sistema, ele piora, porque ele usa da regulação em favor próprio. Usa

a regulação pra objetivos eleitorais (...) acaba facilitando o acesso. Eu dou acesso

aquela, a determinada pessoa porque foi o político tal que pediu, é parente, e não

é... o papel da regulação não é esse.” (D3)

Para impedir que haja esse tipo de burla ao mecanismo regulatório, existe

orientação para que os gerentes supervisionem suas equipes, para que sejam

selecionados alguns casos específicos para investigação e, além disso, tem sido

restringido o acesso ao sistema de regulação fora do horário de expediente (D4).

No âmbito dos médicos reguladores, relatou-se que não há interferências

políticas diretas (M1, M2 e M3). No entanto, reconhece-se que as constantes

mudanças na direção da Secretaria Municipal de Saúde têm interferência nos outros

setores da Central e que, principalmente em épocas de eleição, os políticos exercem

pressão sobre a Central de Regulação (M2).

“É importante ter em perspectiva que os interesses e as disputas colocados entre

os atores sociais se fazem dentro de dado contexto histórico e político. Portanto,

a regulação adquire características conforme a base política que a sustenta e sua

orientação origina-se nas premissas e lutas dessas bases (SANTOS, 2008).

Outra estratégia utilizada para o não enfrentamento da burocracia do

mecanismo regulatório se consubstancia no frequente encaminhamento dos pacientes

do interior direto para Cuiabá, sem passar pela regulação. Isso provoca a

62

superlotação do Pronto Socorro de Cuiabá, que não tem estrutura suficiente para

receber esse volume de demanda (M3). Essa unidade é uma importante via de acesso

às vagas administradas pela Central de Regulação para os pacientes que vêm do

interior sem estabelecer um contato prévio com esse órgão (M3).

Dessa forma, a acessibilidade às vagas torna-se crítica para esse usuário do

SUS. Ao utilizar a via informal em busca de cuidados, além da dificuldade para

conseguir os recursos necessários para o transporte para a capital e do desgaste

provocado pelo tempo de viagem, esse usuário também não tem garantias de acesso

às vagas disponíveis, na medida em que ele não foi encaminhado via complexo

regulador.

Segundo pesquisa realizada pelo TCU, 33% das SMS responderam que os

pacientes são encaminhados diretamente de ambulância para o município de

referência mais próximo, sem passar pelo departamento de regulação, por

considerar que dessa forma se asseguraria a rapidez e a eficiência do

atendimento. Outros 31% responderam que encaminham pacientes para o

município mais desenvolvido, independentemente das pactuações realizadas, já

que o mais importante seria a saúde do paciente, além do fato de o SUS garantir

a universalidade do atendimento. Já para 41%, encaminham-se os pacientes na

maioria das vezes para a capital do estado, já que os serviços pactuados com os

municípios mais próximos não oferecem o melhor atendimento (TCU, 2010c).

Em meio às ações fragmentadas e burocráticas da assistência à saúde, o

usuário, diante da aflição causada pela sua morbidade, não deseja esperar que o

sistema se organize para acolhê-lo. O paciente reúne todos os seus contatos, formais

ou não, para conseguir acesso aos serviços dos quais necessita para sobreviver.

Portanto, há uma distância entre o que é legítimo para os gestores da regulação e para

o cidadão que precisa de atendimento.

63

4.4 DISPONIBILIDADE E ACESSO ÀS VAGAS ADMINISTRADAS

PELA GERÊNCIA DE CIRURGIAS ELETIVAS

Nessa Seção, pretende-se apresentar a distribuição de vagas administradas

pela Central de Regulação de Cuiabá que estão disponíveis para os usuários do SUS

em Mato Grosso que necessitam de cirurgias, bem como o perfil de acessibilidade a

essas vagas. Para esse fim, também será utilizada como exemplo a demanda por

cirurgias ortopédicas processadas por essa Central.

4.4.1 Disponibilidade de Serviços

Atualmente, a Central de Regulação de Cuiabá utiliza a base de dados do

CNES para controlar a disponibilidade de vagas para a demanda por serviços (T2).

Conforme a Tabela 1, existem 315 leitos vinculados ao SUS em Cuiabá para

execução dos mais variados tipos de cirurgia.

Tabela 1 – Leitos cirúrgicos do SUS, segundo hospital e tipo de prestador – Cuiabá

2010.

Hospital

Público Privado /

filantrópico Total

N % N % N %

AMECOR 7 3,21 7 2,22

Femina Hospital Infantil e Maternidade 2 0,92 2 0,63

Hospital do Câncer de Mato Grosso 48 22,02 48 15,24

Hospital Geral Universitário 36 16,51 36 11,43

Hospital e Maternidade Bom Jesus 17 7,80 17 5,40

Hospital e Pronto Socorro Municipal de Cuiabá 71 73,2 71 22,54

Hospital Militar 4 1,83 4 1,27

Hospital Santa Helena 20 9,17 20 6,35

Hospital Universitário Júlio Müller 26 26,8 26 8,25

Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá 74 33,94 74 23,49

Sotrauma Hospital 10 4,59 10 3,17

TOTAL: 97 30,79 218 69,21 315 100

Fonte: CNES, 2011.

64

Sobressaem-se a Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá e o Hospital e Pronto

Socorro Municipal de Cuiabá, que juntos concentram quase 50% da oferta de leitos

cirúrgicos. Pode-se observar, também, que apenas cerca de 30% do total de leitos

cirúrgicos são estatais. Tal fato denota a dependência da Secretaria Municipal de

Saúde de Cuiabá dos serviços privados.

Em várias especialidades, a demanda por cirurgias supera a capacidade de

oferta administrada pela Central de Regulação de Cuiabá, o que gera o incremento de

filas de espera pelo atendimento. De acordo com a Tabela 2, em apenas um ano

houve 11.946 pedidos de cirurgias.

Tabela 2 – Demanda por cirurgias à Central de Regulação – Cuiabá (ano de 2010).

TIPO DE CIRURGIA QTD

Cardiovascular e linfática 1.176

Endocrinológica 216

Gastroenterológica 62

Gastroenterológica e órgãos anexos 2.878

Geral 604

Ginecológica 1.122

Múltipla 384

Obstétrica - parto e outros procedimentos cirúrgicos 108

Odontológica 106

Oftalmológica 221

Ortopédica e traumatológica 1.767

Otorrinolaringológica 626

Pelvi-gloso-mandibulectomia 10

Plástica 1.203

Torácica 400

Urológica 1.063

TOTAL: 11.946 Fonte: Central de Regulação de Cuiabá – Sistema AGHOS, 23/2/2011.

A título de exemplo, verificou-se a distribuição das cirurgias ortopédicas

realizadas entre as unidades executantes (Tabela 3). Pode-se notar que a Central de

Regulação dispõe, principalmente, de seis referências para execução de cirurgias

ortopédicas. Apesar disso, o rol de estabelecimentos que realizaram esses

procedimentos conta com mais três hospitais, os quais, juntos, contabilizaram cerca

de três por cento do total de cirurgias executadas. Ao todo, existem 77 leitos

65

disponíveis para realização de cirurgias ortopédicas no SUS Cuiabá. No período de

janeiro de 2008 a julho de 2010, foram registradas 5237 cirurgias ortopédicas

realizadas nesses hospitais de referência.

Tabela 3 – Distribuição de leitos cirúrgicos específicos disponíveis e de cirurgias

ortopédicas realizadas no período de janeiro de 2008 a julho de 2010, demandas à

Central de Regulação nos anos de 2008 e 2009.

Unidade Executante Leitos cirúrgicos

disponíveis N (%)

Hospital Bom Jesus* 13 506 9,66

Hospital do Câncer de Mato Grosso* 7 72 1,37

Hosp. e Pronto Socorro Municipal de Cuiabá 17 1896 36,20

Hospital Geral Universitário 5 511 9,76

Hospital Militar* 2 9 0,17

Hospital Ortopédico Ltda ** _ 30 0,57

Hospital Santa Helena 3 310 5,92

Hospital Júlio Müller 12 41 0,78

Sta Casa de Misericórdia de Cuiabá 8 836 15,96

Sotrauma Hospital de Acidentados Traumatologia 10 1026 19,59

Total 77 5237 100

* Foram computados os leitos cirúrgicos disponíveis para Cirurgia Geral, uma vez que não há nesses hospitais leitos

específicos para ortopedia e traumatologia. **O Hospital Ortopédico realizou apenas 30 cirurgias nesse período, pois esse prestador foi desvinculado do SUS em 2008.

Fonte: Central de Regulação de Cuiabá, julho de 2010.

O TCU verificou que no país, inclusive em Cuiabá, há insuficiência de

atuação dos gestores do SUS em otimizar a capacidade instalada da rede vinculada

ao SUS, devido à baixa qualidade no planejamento da contratação dos prestadores de

serviços, à grande parte dos contratos não estar formalizado por instrumentos

jurídicos, à discrepância significativa entre os dados constantes do CNES e os

previstos nos contratos e, ainda, à ausência de acompanhamento e fiscalização dos

contratos com os prestadores privados (TCU, 2010c).

O fato de a SMS Cuiabá não ter contrato formalizado com boa parte dos

prestadores de serviços a ela vinculados ou apresentar acordos fora de vigência,

deixa a DRAC sem instrumentos coercitivos para fazer valer os termos do ajuste com

66

essas unidades executantes. Isso leva a gestão, em diversas situações, a ser submissa

aos interesses desses últimos (T3). Cabe destacar que, após a Constituição Federal de

1988, na qual foi definido o SUS e o caráter complementar do setor privado regido

pelo direito público, impôs-se a necessidade da formal contratação seguida de regular

procedimento licitatório (SANTOS, 2008).

Dos nove prestadores de serviço para realização de cirurgias ortopédicas em

Cuiabá, apenas dois são públicos. Portanto, há um modelo de estímulo e expansão do

setor privado no SUS Cuiabá, conforme conduzido à época dos IAPs, INPS e

INAMPS, na segunda metade do século passado, em detrimento de um modelo

pautado pela égide do público, conforme preconizado pela Reforma Sanitária e a

legislação que a institucionalizou (SANTOS e MERHI, 2006).

4.4.2 Critérios Utilizados para Escolha dos Prestadores de Serviços

As unidades públicas de saúde estão vinculadas ao SUS, portanto estão

aptas a receberem os encaminhamentos provenientes da Central de Regulação.

Segundo registro no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde – CNES, em

2010, do total de serviços de saúde cadastrados em Cuiabá (pertencentes ou não ao

SUS), aproximadamente 89% estão sob gestão do setor privado e 11%, do sistema

público de saúde. Apesar de os serviços estatais responderem por cerca de 66% de

toda a produção ambulatorial nesse ano de referência, apenas 38% dos leitos a

disposição do SUS em Cuiabá eram providos por instituições públicas de saúde.

No que concerne ao setor privado, para que um determinado

estabelecimento possa receber um paciente encaminhado pela Central de Regulação

é necessário que ele esteja cadastrado no SUS e que, teoricamente, tenha contrato

firmado com a Secretaria Municipal de Saúde de Cuiabá. Assim, considerando o

interesse, a capacidade de atendimento, as especialidades que possui e os

profissionais vinculados a sua estrutura, as unidades executoras privadas conveniadas

67

oferecem os serviços ao município, o qual os adquire conforme os limites financeiros

e o planejamento de sua demanda.

Expostos os requisitos para receberem os pacientes, passa-se a descrever o

mecanismo de escolha do prestador. O setor administrativo, no qual atuam os

técnicos de regulação, é o responsável pelo encaminhamento dos pacientes após a

autorização do médico regulador (D4). Considerando a classificação atribuída pelos

médicos reguladores, os técnicos alocam os pedidos mais urgentes nas unidades

hospitalares de referência para execução da cirurgia que dispõem de vagas mais

imediatas (D2).

“Se for um paciente eletiva 1, a gente sabe muitas vezes que hospital realiza mais

cirurgia que outro, então a gente vai direcionar para aquele onde a fila anda mais

rápido e aquele paciente que pode aguardar a gente encaminha para o outro

hospital.” (D2)

Dessa forma, um dos principais critérios baseia-se na existência de vagas

com data mais próxima a do agendamento (tempestividade do atendimento),

principalmente quando existe mais de um hospital apto para atender o usuário (D2,

T1 e D4). Consideram-se as características do estabelecimento hospitalar, a

qualificação dos profissionais para dada intervenção (M1) e por último, mas não

menos importante, a preferência do usuário, no caso de haver mais de uma referência

disponível (D3).

Outro critério, citado pelos três grupos entrevistados, está pautado na

continuidade da atenção ao paciente. Aos pacientes que já iniciaram tratamento em

um estabelecimento, a Central de Regulação procura viabilizar o acompanhamento

da atenção no hospital de origem (D2, T3, M3 e D4).

A Central de Regulação pretende inserir um dispositivo contratual que

assegure aos hospitais o direito de preencherem 20% de suas vagas SUS, atualmente

administradas pela Central de Regulação, com aqueles pacientes que já iniciaram o

tratamento no âmbito de suas instalações. Acredita-se que isso diminuiria o trabalho

da Central e acabaria com eventuais problemas de descontinuidade no

acompanhamento de alguns pacientes (D4).

68

Além dos critérios já descritos, é considerada a preferência do profissional

para operar em determinado hospital (D2) e para atuar em certos tipos de cirurgia,

apesar de isso não estar formalizado (D4).

“Muitas vezes o que acontece é que o profissional atende em vários

estabelecimentos, aí ele que determina onde ele vai operar.” (D2)

“Não está definido, por exemplo, tal profissional faz só esse tipo de cirurgia, isso

não tá definido. Isso é subliminar, né? De um conhecimento que as pessoas têm.”

(D4)

Assim, de acordo com médicos reguladores, para a escolha do prestador

considera-se principalmente o pedido do médico que solicitou a cirurgia (M1 e M3).

O Ministério da Saúde entende que as Centrais de Regulação são

instrumentos de gestão capazes de realizar o processamento do pedido de tal forma

que o estado possa oferecer ao usuário do sistema a alternativa assistencial mais

adequada a cada caso (MS, 2006d).

A Central de Regulação não deveria ser uma simples central de marcação de

consultas. A escolha do estabelecimento de saúde, que antes era livremente feita por

parte do usuário, foi substituída pelo gestor uma vez que ele deveria ter informações

suficientes para dizer para cada usuário qual é a melhor opção e a mais adequada

para o seu caso. Trata-se de um processamento do pedido.

O Manual de Implantação de Complexos Reguladores do Ministério da

Saúde expõe que regulação assistencial deve estar “voltada para a disponibilização

da alternativa assistencial mais adequada à necessidade do cidadão, de forma

equânime, ordenada, oportuna e qualificada” (MS, 2006d).

Dessa forma, entende-se que os critérios descritos pelos entrevistados não

traduzem o que o Ministério da Saúde preconizou para as Centrais de Regulação.

Não há uma padronização para estabelecer o destino do paciente de forma ordenada.

Os interesses dos profissionais e dos estabelecimentos de saúde que solicitam o

procedimento são os fatores mais relevantes no mecanismo de escolha. Portanto, essa

atividade se aproxima de um simples agendamento, distante de uma análise

qualificada para alocação mais adequada do paciente.

69

4.4.3 Critérios Utilizados para Priorizar o Acesso

A condição clínica do paciente é o principal critério utilizado para priorizar

o atendimento de um pedido em detrimento de outros. Conforme já mencionado

nessa pesquisa, existem limitações na avaliação dos médicos reguladores, na medida

em que esses profissionais não examinam diretamente o paciente. Eles recebem

informações escritas e documentais sobre o usuário, enviadas pelo médico que o

atendeu na unidade de origem.

Em geral, faltam detalhamento e clareza nas solicitações encaminhadas

pelas unidades de saúde. A insuficiência de informações dificulta o trabalho dos

médicos reguladores ao atribuir prioridade para cada caso (D4).

“(...) problema da ponta do atendimento, de toda a rede de atendimento, onde não

é explícito no laudo, os sintomas e os motivos dessa demanda (...) quem pega

não tem idéia de qual é a necessidade, não tem a mínima idéia, mas é assim que é

feito, quando o exame é classificado em grau um, dois e três, eletiva um, dois e

três.” (D4)

A avaliação do médico regulador é uma etapa importante para o destino do

pedido. Todavia, a avaliação inicial do médico que solicitou a cirurgia é que vai

direcionar para qual setor da Central de Regulação será encaminhada a demanda,

qual seja, se ela irá para a Gerência de Cirurgias Eletivas ou se irá para a Gerência de

Urgências e Emergências. Sobre o assunto, assim se posicionou um dos médicos

reguladores:

“De acordo com a solicitação do colega que fez aquele pedido, no próprio laudo

vem lá, urgência e eletivo. Se é caso de urgência, não passa nem por nós aqui,

vai direto pra urgência, que é um setor a parte que é de urgência. Agora, se é

eletiva, cai aqui pra nós, médicos reguladores, e nessa eletiva nós temos, eletiva

um, eletiva dois, eletiva três.” (M3)

Segundo os médicos reguladores, para atribuir uma prioridade ao pedido

que foi direcionado para a Gerência de Cirurgias Eletivas, considera-se, também, a

idade e as morbidades que acompanham a condição principal que provocou a

demanda pela cirurgia.

70

Interessante observar que as condições sociais do usuário não são

consideradas ao atribuir prioridade aos pedidos. Ao analisar o conceito de eqüidade,

verifica-se que o termo não é o mesmo que igualdade e que o conceito aplicado no

setor saúde considera a discriminação positiva, ou seja, dar mais a quem mais

necessita, tratar desigualmente os desiguais (CONASS, 2007). Portanto, sob esse

aspecto esse mecanismo carece de tratamento equânime entre os usuários do SUS em

Cuiabá.

Na opinião de um dirigente, para organizar o acesso aos serviços de saúde a

Central de Regulação deveria estabelecer certo equilíbrio no atendimento da

demanda entre as unidades de saúde. Segundo ele, cada unidade deveria ter uma

previsão da quantidade de pacientes que poderiam ser encaminhados por mês,

considerando um determinado parâmetro constantemente acompanhado e avaliado

pela Central de Regulação. No entanto, não existe esse critério, pois todos os

pacientes, seja qual for a origem, estão entrando numa fila única. (D3)

No que concerne à classificação, o pedido pode receber três tipos de

prioridades: “Eletiva 1”, que, teoricamente, teriam que ser atendidos em no máximo

trinta dias; “Eletiva 2”, a serem contemplados até o prazo de noventa dias; e “Eletiva

3”, atendidos em até cento e vinte dias (D2 e D4).

Ao estabelecer essa classificação, os médicos reguladores não utilizam

protocolos clínicos formalizados pela Central de Regulação. Até o final do ano de

2010, está prevista a implantação de alguns protocolos, como, por exemplo, para

exames de alto custo (D4). Acredita-se que eles poderiam organizar melhor o

mecanismo regulatório, por exemplo, diminuindo a realização de exames e cirurgias

consideradas desnecessárias.

Existe um receio a respeito da implantação imediata de protocolos, uma vez

que a rede não está preparada para essas novas regras, bem como os médicos não

estão treinados nesse sentido e, portanto, isso poderia dificultar ainda mais o acesso

para os usuários.

“Nós temos protocolos definidos já pra 50, 60% das nossas demandas, mas nós

não conseguimos implementar (...) quando você bloqueia, você cria um

problema pior pro paciente, porque ele tem que voltar com esse pedido pro

médico acrescentar coisas, solicitar esclarecimento (...) esse protocolo tem que

71

ser colocado lá na ponta, e quando a gente põe, a gente bloqueia mais ainda o

acesso, porque a rede não está organizada, o médico não tem o treinamento,

então falta isso. O protocolo, ele hoje, ele colocaria uma dificuldade muito

grande no acesso, mas de qualquer maneira, até o final do ano, deve colocar o

mínimo, por exemplo, mamografia, ressonância magnética, que tem um custo

alto, tomografia; ressonância de joelho, já pediu um ultrassom antes? Bloquear

isso no sistema é imediato, tá pronto, já temos o protocolo, só não ligamos,

entendeu?” (D4)

Os protocolos clínicos existiam, estavam encadernados e à disposição dos

médicos. Porém, atualmente, não estão mais acessíveis nem fisicamente, nem no

sistema (M2). No momento, são utilizados como referência os protocolos

organizados pelo SUS (M1).

Apesar de a Política Nacional de Regulação já ter normatizado que a

garantia do acesso deveria ser baseada em protocolos, classificação de risco e demais

critérios de priorização, foi constatado que dentre um universo de dezesseis estados

auditados, apenas três (Secretarias Municipais de Curitiba e de Belo Horizonte e a

Secretaria Estadual de Minas Gerais) possuíam esses instrumentos oficializados

(TCU, 2010c).

Os protocolos clínicos e operacionais são necessários para a padronização

dos procedimentos adotados na microrregulação. As Centrais de Regulação devem

adotar regras mínimas que orientem as decisões dos médicos reguladores e demais

operadores, a fim de minimizar a subjetividade do processo e as interferências de

caráter pessoal.

A Coordenação Geral de Regulação e Avaliação disponibiliza no sítio eletrônico

do Ministério da Saúde diversos protocolos operacionais e de regulação, já

adotados em algumas localidades do país, para consulta e referência a estados e

municípios. A padronização dos protocolos deve ser vista com cautela, pois

existe uma variabilidade aceitável em virtude, por exemplo, da capacidade

técnica instalada, da resolutividade das unidades de saúde e das referências

intermunicipais e interestaduais, que devem ser consideradas em cada estado ou

município. Ao invés de se falar em padronização, o gestor entende que o

Ministério da Saúde proponha um modelo de referência que seja flexível a

adequações locais (TCU, 2010c).

A Secretaria de Saúde de Cuiabá já foi alertada pelo TCU a respeito da

necessidade de se construir protocolos clínicos para orientar o mecanismo

regulatório. As regras estabelecidas têm que ser transparentes, de tal forma que todos

72

os interessados nesse processo – usuários, prestadores de serviços, unidades da rede e

profissionais de saúde, entre outros – possam conhecê-las (TCU, 2010b). Dessa

forma, a transparência no acesso aos serviços ganharia força, na medida em que os

critérios seriam mais claros. Não se trata de tarefa simples, pois o assunto envolve

diversos entraves, entre eles a limitação da liberdade do médico na sua função na

rede e na Central de Regulação. Assim, seria necessária uma ampla discussão a

respeito do teor desses protocolos para que ele ganhasse legitimidade suficiente para

ser aceito entre as partes envolvidas.

4.4.4 Acessibilidade aos Serviços

A partir do momento em que os médicos reguladores avaliam os pedidos, é

possível atribuir às solicitações, dentro do sistema informatizado de regulação, as

seguintes classificações:

solicitação rejeitada e/ou cancelada;

autorização clínica;

em atendimento; e

alta.

Se houver alguma inconsistência ou falta de dados, ou se a solicitação não

estiver em sintonia com a descrição do quadro clínico do paciente constante no laudo

preenchido pelo médico da unidade sanitária de origem, as solicitações são

devolvidas para correção, se for o caso. Nesse tipo de situação, o registro no sistema

recebe o rótulo de “solicitação rejeitada” ou “cancelado”.

Quando o pedido é aprovado pelo médico regulador, mas não há

disponibilidade de acesso imediato às vagas, ele receberá no sistema informatizado

de regulação o rótulo de “autorização clínica”.

A partir do momento em que o paciente é contemplado com a vaga, ele

poderá receber as seguintes chancelas no sistema: “solicitado”; “solicitação

autorizada”; ou “internado”. Finalmente, na oportunidade em que o usuário realizou

sua cirurgia e recebeu alta, o sistema registrará o status de “alta” para esse paciente.

73

Para se ter uma noção do resultado do processamento dos pedidos por parte

da Central de Regulação, será demonstrada a situação, em julho de 2010, das

solicitações realizadas nos anos de 2008 e 2009 na especialidade de Ortopedia,

reconhecida entre os profissionais entrevistados nesta pesquisa como uma das que

apresenta o maior desequilíbrio entre demanda e oferta de serviços.

Com base nos dados apresentados na Tabela 4, verifica-se que existe um

elevado percentual – cerca de 30% do total – de solicitações rejeitadas e canceladas

por parte da Central de Regulação. Esse quantitativo coincide com a informação de

um dirigente a respeito das devoluções dos pedidos às unidades de origem. Isso

indica a necessidade de um maior investimento na qualidade das informações da

demanda. A construção e divulgação de protocolos clínicos e operacionais em toda

rede assistencial pode ser um dos fatores capazes de diminuir esse percentual.

Observa-se que cerca de 58% dos pedidos foram atendidos e,

aproximadamente, 11% da demanda ainda aguardava na fila para ter acesso a

cirurgia prescrita. Considerando-se que a informação, obtida em julho de 2010,

refere-se aos pedidos efetuados em 2008 e 2009, calcula-se que esses pacientes

estavam aguardando no mínimo há seis meses por uma vaga. Portanto, a

disponibilidade de serviços de cirurgias ortopédicas reservadas à Gerência de

Cirurgias Eletivas é insuficiente, uma vez que o usuário passou por todas as etapas

do processo regulador e não obteve acesso às vagas no momento adequado à sua

situação.

Tabela 4 – Distribuição percentual das solicitações de cirurgias ortopédicas à Central

de Regulação de Cuiabá, segundo sua situação.

Estado da solicitação N (%)

Cancelado / Solicitação rejeitada 2805 31,06

Autorização clínica (fila) 978 10,83

Em atendimento 11 0,12

Alta 5237 57,99

Total 9031 100

Em atendimento = internado + solicitado + solicitação autorizada. Situação em julho de 2010 das cirurgias ortopédicas demandadas apenas nos anos de 2008 e 2009.

Fonte: Central de Regulação de Cuiabá, julho de 2010.

74

De acordo com SANTOS (2008), a solicitação de encaminhamento pode

passar por até cinco níveis/serviços diferentes, dispostos como unidades de controle

entre a solicitação do serviço na unidade básica de saúde e o retorno de sua resposta

em forma de agendamento, a saber, na organização do transporte para viagem do

usuário, na reserva da casa de apoio para a estada dele e de seu acompanhante em

Cuiabá. Assim, existe excesso de burocracia da solicitação ao acesso à vaga e,

mesmo que o usuário enfrente todo o trâmite exigido pelo sistema, não há garantia de

um atendimento oportuno.

Dessa forma, verifica-se que, pelo menos no caso de Ortopedia, as metas

estabelecidas para o atendimento, conforme o grau de prioridade, estão

acentuadamente extrapoladas, já que, na pior das hipóteses (Eletiva 3), os pacientes

eletivos teriam que ser atendidos em até cento e vinte dias.

A Tabela 5 apresenta o perfil da fila para cirurgias ortopédicas de acordo

com a classificação de prioridades atribuída pelo médico regulador. Os dados

demonstram que 19,53% dos pacientes receberam o mais alto grau de prioridade para

os pacientes eletivos: “Eletiva 1”. A meta para o atendimento desses pacientes é de

no máximo 30 dias. Conforme já destacado, esses usuários estavam na fila há pelo

menos seis meses.

Percebe-se, nesses casos, que há problemas em relação ao modo como os

recursos da oferta são organizados para admitir os usuários do sistema. Dessa forma,

há desafios a serem vencidos pela Central de Regulação de Cuiabá para melhorar o

acesso desses pacientes às vagas para realização de cirurgias ortopédicas.

Tabela 5 – Distribuição percentual das solicitações de cirurgias ortopédicas à Central

de Regulação de Cuiabá que estão na fila, segundo grau de prioridade.

Grau de prioridade N (%)

Eletiva 12 1,23

Eletiva 1 191 19,53

Eletiva 2 770 78,73

Eletiva 3 5 0,51

Total 978 100

Situação em julho de 2010 das cirurgias ortopédicas demandadas apenas nos anos de 2008 e 2009. Fonte: Central de Regulação de Cuiabá, julho de 2010.

75

Dentre o universo de pacientes que receberam alta, foi feita a comparação

entre aqueles classificados como urgências e emergências, e os usuários oriundos da

Gerência de Cirurgias Eletivas, conforme Tabela 6.

Registra-se que apenas cerca de trinta por cento dos pacientes contemplados

com vagas para cirurgias ortopédicas foram provenientes da Gerência de Cirurgias

Eletivas. Cabe destacar, também, que os pacientes considerados urgentes

conseguiram ter acesso a 48,16% das vagas oferecidas pela Central de Regulação e

os de emergência, a 21%.

Tabela 6 – Distribuição percentual dos pacientes que receberam alta após cirurgia

ortopédica, segundo “grau de prioridade” – Central de Regulação de Cuiabá.

Grau de prioridade N (%)

Eletiva 44 0,84

Eletiva 1 590 11,27

Eletiva 2 970 18,52

Eletiva 3 11 0,21

Urgência 2522 48,16

Emergência 1100 21,00

Total 5237 100

Situação em julho de 2010 das cirurgias ortopédicas demandadas apenas nos anos de 2008 e 2009. Fonte: Central de Regulação de Cuiabá, julho de 2010.

Essa situação já havia sido alertada por um dos dirigentes, que expressou

sua preocupação com o fato de, ultimamente, haver uma inversão entre os limites

concedidos para a Gerência de Cirurgias Eletivas e o atribuído para os atendimentos

de urgência e emergência realizados mediante a chamada “porta de entrada” dos

hospitais conveniados (D2). No levantamento apresentado, os casos de urgência e

emergência tiveram acesso a quase 70% das vagas disponíveis para realização de

cirurgias ortopédicas.

No passado, o maior percentual seria destinado para os casos eletivos, no

entanto, hoje, essa situação é desfrutada pelas urgências e emergências.

Ao olhar para esses dados, resta uma dúvida: qual seria a diferença clínica

entre o paciente classificado como “Eletiva 1”, que teria que ser atendido em até

76

trinta dias, e um paciente rotulado de “Urgência”, encaminhado para a Gerência de

Urgência e Emergência? Não foram encontradas quaisquer normas internas da

DRAC que pudessem elucidar a distinção entre essas duas condições.

As definições dos termos “urgência” e “eletivo” para o Ministério da Saúde

deixam margem para interpretações subjetivas ao exame de um caso concreto.

Devido ao grande número de julgamentos e dúvidas que as definições de urgência e

emergência suscitam no meio médico e no sistema de saúde, o Ministério optou por

utilizar apenas o termo “urgência”, para todos os casos que necessitem de cuidados

agudos, tratando de definir o “grau de urgência”, a fim de classificá-las em níveis,

assim dispostos (MS, 2006f):

Nível 1 : Emergência ou Urgência de prioridade absoluta. Casos em que haja

risco imediato de vida e/ou a existência de risco de perda funcional grave,

imediato ou secundário;

Nível 2 : Urgência de prioridade moderada. Compreende os casos em que há

necessidade de atendimento médico, não necessariamente de imediato, mas

dentro de poucas horas.

Nível 3 : Urgência de prioridade baixa. Casos em que há necessidade de uma

avaliação médica, mas não há risco de vida ou de perda de funções, podendo

aguardar várias horas.

Nível 4 : Urgência de prioridade mínima. Compreendem as situações em que o

médico regulador pode proceder a conselhos por telefone, orientar sobre o uso de

medicamentos, cuidados gerais e outros encaminhamentos (MS, 2006f).

No que tange ao termo “eletivo”, existe apenas uma definição em uma

minuta1 do Ministério da Saúde que assim se posicionou: procedimento cirúrgico

eletivo é todo aquele procedimento cirúrgico terapêutico executável em ambiente

ambulatorial ou hospitalar, com diagnóstico estabelecido e com possibilidade de

agendamento prévio, sem caráter de urgência ou emergência.

Com base nesses conceitos, ao compararmos os níveis 3 e 4 de urgência,

pode-se entender que eles poderiam também serem enquadrados como eletivos.

No âmbito da Central de Regulação de Cuiabá, ao supor que hipotéticos

pacientes classificados como “Eletiva 1” e “Urgência” têm condições clínicas

semelhantes, um analista poderia chegar à conclusão de que o fato de um paciente ser

encaminhado para a Gerência de Cirurgias Eletivas o torna com menos chances de

conquistar a vaga a curto prazo do que um usuário que teve sua demanda

encaminhada para a Gerência de Urgência e Emergência.

77

Mesmo que essa suposição não seja verdadeira, o fato de os pacientes

eletivos ocuparem apenas 30 por cento do total de vagas contempladas, solicitadas

nos anos de 2008 e 2009, sugere um problema de equidade no acesso às cirurgias

ortopédicas.

Apesar disso, os médicos reguladores da Gerência de Urgência e

Emergência realizam uma triagem dos pacientes que dão entrada nesse setor. Eles

avaliam se o usuário realmente necessita de atenção urgente para a sua situação

clínica. Caso seja constatado que o caso não esteja enquadrado como urgência, a

solicitação é encaminhada internamente para a Gerência de Cirurgias Eletivas (D2).

Outra questão que chamou atenção ao analisar esses dados, diz respeito à

oportunidade do pedido efetuado em comparação com a data de alta do paciente.

Verificou-se que, dentro do universo de pacientes que obtiveram acesso, até julho de

2010, às cirurgias ortopédicas solicitadas em 2008 e 2009, certa quantidade teve o

pedido registrado no sistema informatizado após a data de alta do paciente (Tabela

7).

Tabela 7 – Distribuição percentual das cirurgias ortopédicas realizadas, segundo a

oportunidade das solicitações à Central de Regulação de Cuiabá.

Oportunidade da solicitação da vaga à Central de

Regulação N (%)

Posterior à internação do paciente 1447 27,63

Anterior à internação do paciente 3790 72,37

Total 5237 100

Situação em julho de 2010 das cirurgias ortopédicas demandadas apenas nos anos de 2008 e 2009. Fonte: Central de Regulação de Cuiabá, julho de 2010.

Percebe-se que 27,63% desses pacientes tiveram seus pedidos registrados

após a alta efetuada pelo hospital. Esse procedimento é logicamente aceitável nos

casos de emergência, uma vez que as questões administrativas, nesses casos, são

postergadas. Contudo, se houver comparação com o percentual de emergências

atendidas, 21% do total (tabela 6), chega-se à conclusão de que pelo menos 6,63%

dos pacientes que realizaram cirurgias ortopédicas, inexplicavelmente, tiveram seus

1 http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/minuta_cirurgias_180610.pdf

78

pedidos atendidos antes de oficialmente demandados, mesmo não sendo casos de

emergência.

Com o intuito de averiguar qual o perfil de distribuição dos pedidos

realizados posteriormente à alta do paciente, conforme o grau de prioridade no

atendimento, foi elaborada a Tabela 8. Constata-se que a premissa de que todas as

emergências são solicitadas posteriormente à alta do paciente não é verdadeira. Além

disso, percebe-se que quase noventa por cento desse fenômeno está atrelado às

“urgências”.

Desses 1297 pacientes em urgência, verificou-se que 92% deles foram

provenientes do Hospital e Pronto Socorro de Cuiabá, que é uma das principais

portas de entrada para os pacientes oriundos do interior de Mato Grosso e até mesmo

da capital. Essa grande demanda provoca superlotação nesse hospital (M3), o que

certamente causa dificuldades administrativas para sua direção. Talvez esse seja um

fator que colabore para o atraso nos pedidos de autorização para a Central de

Regulação.

Interessante notar que existem também 21 casos de “eletivas 1 e 2” cuja

solicitação foi posterior ao atendimento do paciente. Apesar de esse dado ser pouco

expressivo se comparado ao volume total, ele pode ser considerado relevante, pois é

um indício de que há problemas na administração da fila de pacientes eletivos.

Tabela 8 – Distribuição percentual das solicitações de cirurgias ortopédicas

posteriores à data de alta, segundo “grau de prioridade”.

Grau de prioridade N (%)

Eletiva 1 11 0,76

Eletiva 2 10 0,69

Urgência 1297 89,63

Emergência 129 8,91

Total 1447 100 Situação em julho de 2010 das cirurgias ortopédicas demandadas apenas nos anos de 2008 e 2009. Fonte: Central de Regulação de Cuiabá, julho de 2010.

Diante desse contexto, a Diretoria de Regulação, Controle e Avaliação

deveria acionar sua equipe de auditoria para investigar os casos mais suspeitos de

solicitação posterior à alta do paciente. A transparência no procedimento de

79

regulação é um fator importante para a garantia da equidade no acesso, portanto além

de divulgar os resultados dessa investigação interna para o público interessado, a

DRAC deveria normatizar os casos lícitos em que são permitidas solicitações à

Central de Regulação posteriores à realização dos procedimentos.

80

4.5 RETROALIMENTAÇÃO DAS INFORMAÇÕES GERADAS PELA

CENTRAL DE REGULAÇÃO

Nesta seção, discute-se o papel da Central de Regulação no

acompanhamento e análise dos resultados dos procedimentos eletivos realizados pela

rede de assistência do SUS em Cuiabá. Além disso, foi levantado se os dados

produzidos e processados pela Central de Regulação retroalimentam a avaliação e

planejamento da gestão do sistema de saúde no Estado de Mato Grosso e na sua

capital.

Pode-se dizer que há um mecanismo previsto para controlar a eficácia do

atendimento, pois após a liberação do paciente por parte da Central de Regulação, as

unidades executoras, ao darem alta, deveriam, em tempo real, alimentar o sistema

informatizado a respeito dos dados sobre esse procedimento. Isso não ocorre de

forma geral, o que obriga a Gerência de Cirurgias Eletivas a efetuar esse controle por

meio de ligações telefônicas (D2). Está prevista a inserção de cláusulas nos novos

contratos com os prestadores de serviços que os obriguem a alimentar, em tempo

real, as informações a respeito do agendamento e atendimento dos pacientes no

sistema informatizado de regulação (D2).

Assim, apesar de haver fragilidade nesse mecanismo de alimentação e das

consequências que isso pode acarretar na confiabilidade das informações inseridas no

sistema informatizado de regulação, alguns entrevistados afirmaram que é possível

emitir relatórios sobre o andamento do atendimento dos pacientes que já passaram

pela Central de Regulação com base nesse banco de dados (T1, T3 e M1).

Em que pese existirem informações sobre a realização do procedimento, não

é realizado um acompanhamento da qualidade dos serviços prestados (T3, D3 e D4).

De acordo com um dirigente da Central, existem protocolos preparados para avaliar a

qualidade dos atendimentos, cujos dados seriam inseridos no sistema de regulação.

No entanto, ainda não existe pessoal disponível para colher essas informações nos

hospitais que prestam os serviços. (D4)

81

“(...) têm ferramentas já prontas no sistema pra verificar a qualidade? Sim. Ah,

sim, aí temos um problema de pessoal, nós não temos pessoal pra fazer a

avaliação no momento, então, também cabe um rearranjo. (...) Mas temos

instrumentos e temos ferramentas no próprio sistema pra avaliação? Temos.

Então, nós temos um protocolo pronto que não ligamos, (...) Avaliação de

qualidade de assistência, do prestador, todos esses protocolos tão prontos: da

internação, do atendimento, da consulta, da rede própria, da rede prestadora, mas

não implantamos.” (D4)

Apesar de não haver um mecanismo sistematizado para aferir a qualidade da

atenção prestada pelos hospitais, existe a atuação de uma equipe de auditoria, ligada

ao Setor de Controle e Avaliação, que acompanha o serviço executado, basicamente

no que concerne a regularidade no faturamento dos procedimentos (D1, T2, D3 e

D4).

Existe desinformação a respeito de uma possível atuação da Central de

Regulação no que tange à contra-referência do paciente atendido. (M1)

Contra-referência diz respeito ao menor grau de complexidade, quando a

necessidade do usuário, em relação aos serviços de saúde, é mais simples, ou

seja, “o cidadão pode ser contra-referenciado, isto é conduzido para um

atendimento em nível mais primário”, devendo ser este a unidade de saúde mais

próxima de seu domicilio (FRATINI et al., 2008).

Dessa forma, não existe um protocolo definido pela Central de Regulação

de Cuiabá quanto ao encaminhamento do paciente para as unidades básicas de

origem do usuário após o atendimento cirúrgico eletivo. Sob esse aspecto, o sistema

se mostra fragmentado em detrimento à vocação do SUS de atenção integral ao

usuário. Um exemplo da visão contrária a esse princípio é a necessidade de o

paciente ter que voltar para fila após cada intervenção, no caso de indicação de uma

série de cirurgias relacionadas ao seu problema de saúde (T3).

A rede de atenção em Mato Grosso está longe de oferecer um continuidade de

cuidados, pois apresenta uma assistência fragmentada, medicamente centrada e

pontual em suas ações, que contraria qualquer princípio de integralidade e de

integração dos serviços que se possa conceber (SANTOS, 2008).

O Ministério da Saúde ressaltou que a qualificação do processo de

referência e contra-referência passa também pela informatização das Unidades de

Saúde, melhorando o fluxo de informação entre os diversos estabelecimentos de

saúde e seus respectivos gestores e centrais de regulação (TCU, 2010c).

82

De uma forma geral, não existe acompanhamento das informações geradas

pelo mecanismo de regulação e o seu aproveitamento por parte dos gestores para

identificar distorções, nós críticos, e a partir desse diagnóstico propor soluções para

as demais instâncias do sistema de saúde. A abundante fonte de informações também

não é repassada para as unidades solicitantes, seja em Cuiabá ou em todo o Estado de

Mato Grosso. (D3)

Apesar de os dados não serem plenamente utilizados para retroalimentar a

gestão, algumas utilizações pontuais foram relatadas: exposição da situação da fila

em algumas especialidades (D2); alguns dados foram encaminhados para o Setor de

Controle e Avaliação para orientar o processo de reformulação dos contratos com os

prestadores de serviços (D4); e primeiras tentativas para orientar o planejamento da

gestão, o que ocorreu no mês de abril de 2010 e de forma mais robusta proposta para

o planejamento de 2013 (D4).

Dessa forma, percebe-se que não há uma sintonia entre o planejamento,

execução e avaliação da política de atenção à saúde em Mato Grosso, especialmente

no que concerne à sua capital Cuiabá.

Uma evidência dessa situação é a falta de utilização dos dados da

Programação Pactuada e Integrada – PPI nas ações da Central de Regulação de

Cuiabá, ao contrário do que prescreve o Ministério da Saúde em Portaria específica:

Art. 3º Os objetivos gerais do processo de Programação Pactuada e Integrada da

Assistência em Saúde são: (...)

V - fornecer subsídios para os processos de regulação do acesso aos serviços de

saúde (MS, 2006c).

De acordo com os dirigentes da Central, a PPI ainda não é considerada no

mecanismo regulatório (D1, D2 e D4). No setor de internações eletivas a fila é

formada por todos os usuários do Estado de Mato Grosso que demandam o serviço,

independente da origem do paciente (D2). Apesar disso, verifica-se que o interior,

em virtude das pactuações, encaminha os pacientes para Cuiabá, fato que influencia

o mecanismo regulatório (T2).

O motivo mais forte apontado pelos dirigentes para a não-inclusão da PPI na

regulação foi a impossibilidade de identificar com eficácia a origem dos pacientes

(D1 e D4).

83

“Os mecanismos de controle são muito ruins. Nós não temos idéia de onde está

vindo o cidadão que recebe o atendimento (...) a gente vê ônibus de tal lugar,

ônibus de tal lugar lotado de gente que não, não tem endereço próprio aqui,

modifica seus endereços, né, então a pactuação é falha.” (D4)

Essa dificuldade é enfrentada em todo país. O Ministério da Saúde tentou

implantar o Cartão SUS com o objetivo de criar uma espécie de câmara automática

de compensação nacional, resolvendo grande parte dos problemas existentes com a

PPI e com o financiamento dos procedimentos dos municípios e estados com

recursos federais (TCU, 2010c).

Conquanto a confiabilidade dos dados do cadastro de usuários do Cartão

Nacional de Saúde (Cartão SUS) seja imprescindível para correta identificação

da origem dos pacientes e, por conseguinte, orientar o processo de regulação,

constatou-se problemas que afetam essa confiabilidade, como a multiplicidade de

cartões para um mesmo usuário, o que ainda é um entrave para a regulação

(TCU, 2010c).

Para tentar resolver esse problema, Cuiabá está tentando identificar os

pacientes por meio de cadastramento por digital (dados biométricos) para impedir

que um mesmo paciente seja registrado diversas vezes no sistema (problema ocorrido

com o cartão SUS). Existe a intenção de expandir esse procedimento para todo o

Estado de Mato Grosso, porém isso é um processo demorado e complexo. A partir do

momento que for possível identificar com precisão a origem de cada paciente, será

viável o ajuste financeiro entre os municípios e, assim, a “PPI viva”, revisada a cada

três meses na CIB, poderá se tornar uma realidade (D1 e D4).

No sistema informatizado de regulação existe uma ferramenta para

monitorar a PPI, no entanto, segundo dirigente da Central, em virtude do grande

volume de pacientes que adulteram o seu endereço para serem atendidos como se

fossem residentes em Cuiabá e do volume de pacientes do interior que vem para a

capital sem ser regulados, não faz sentido estabelecer ainda esse controle. Nessa

ferramenta, o sistema bloqueia o atendimento em caso de extrapolação do que foi

pactuado pelo município. (D4)

A auditoria do TCU já havia identificado essa situação. No texto do seu

relatório, a Corte de Contas afirmou que a PPI não estando alimentada no sistema de

regulação significa afirmar que o planejamento que ela contempla é inócuo,

84

tornando-se esse instrumento de pactuação um mero rateio dos recursos (TCU,

2010b).

Dos 16 casos estudados, constatou-se que apenas no Estado de Minas Gerais e

em sua capital, Belo Horizonte, a regulação estava operando de acordo com a

PPI no momento da auditoria (outubro de 2009), o que pode ser atribuído à

integração dos sistemas da PPI e da Regulação, assim como à importação dos

dados ser feita de forma automática (por carregamento de bases), também

constatada unicamente naquelas localidades (TCU, 2010c).

Ainda no que tange ao relacionamento entre a PPI e o mecanismo

regulatório, percebe-se que a Central de Regulação de Cuiabá é uma fonte rica de

dados e, portanto, deveria retroalimentar a programação, com vistas a reorientar o

planejamento das ações de saúde e melhor atender às demandas do cidadão,

conforme preveem as Diretrizes para a Programação Pactuada e Integrada da

Assistência em Saúde (MS, 2006e).

Em decorrência disso, ao longo do tempo a PPI vai se distanciando da

realidade. Esse distanciamento provoca a desvalorização do instrumento de

pactuação e a desobediência aos pactos firmados. Não há motivo que leve os gestores

a respeitarem um pacto que nada condiz com a realidade dos problemas da população

e dos serviços de saúde. Assim, a programação vem sendo utilizada de forma isolada,

com seu uso restrito à dimensão financeira, de repartição de recursos, sem que sejam

exploradas suas potencialidades de planejamento contínuo e desenvolvimento da

assistência.

85

5. CONCLUSÕES

O Complexo Regulador no Estado de Mato Grosso foi criado para responder

de forma sistemática às demandas de saúde em seus diferentes níveis e etapas do

processo de assistência, facilitando o acesso do usuário aos serviços do SUS.

Atualmente, há um esforço por parte da SES/MT no sentido de desenvolver o

mecanismo regulatório sob responsabilidade das Centrais Regionais, que fazem parte

desse complexo. Há um investimento financeiro, principalmente por parte do

Ministério da Saúde, com o objetivo de modernizar a estrutura dessas Centrais. Caso,

esse projeto de modernização das Centrais Regionais seja concretizado e haja um

maior investimento na assistência de média e alta complexidade nos principais polos

regionais do estado, será dado um importante passo para a efetivação da

regionalização da saúde em Mato Grosso, bem como será amenizado o excesso de

demanda por serviços de saúde na capital.

O município de Cuiabá é a principal referência do Estado de Mato Grosso

para prestação de serviços de saúde de média e alta complexidade do SUS. Assim, a

Central de Regulação de Cuiabá tem papel importante no complexo regulador deste

estado. O gerenciamento em conjunto entre a SES/MT e a SMS Cuiabá, desde 2002,

foi considerado um modelo inovador de gestão. Contudo, o contexto de turbulência

política, iniciado em 2003, culminou com a saída da SES/MT, em 2009, da gestão da

Central de Regulação de Cuiabá. Atualmente, existem problemas de comunicação

entre essa Central e o restante do complexo regulador que dificultam o trabalho de

coordenação do SUS por parte da SES-MT.

Considerando-se as informações colhidas nessa pesquisa, pode-se afirmar

que a Central de Regulação de Cuiabá apresenta problemas relacionados à falta de

um plano de carreira para os profissionais de regulação, o que gera rotatividade de

pessoal nos cargos e, assim acaba por refletir na continuidade das ações da Central de

Regulação. Há interferência política nas nomeações dos cargos.

Os profissionais entrevistados possuem diferentes concepções sobre o termo

regulação. Entretanto, destacou-se a visão prática ressaltada por boa parte dos

86

participantes, os quais conceberam o seguinte conceito: “mecanismo de dar acesso

aos serviços de saúde, considerando-se o respeito à prioridade e ao grau de

necessidade do paciente atribuídos pelo médico regulador, de acordo com a avaliação

da patologia com base nas informações constantes da guia de internação, a

cronologia de entrada do paciente e a limitação do atendimento para toda a demanda,

procurando equacioná-la dentro dos limites financeiros”.

Quanto ao processo de regulação da demanda por cirurgias eletivas, cabe

ressaltar que, desde a entrada do pedido na Central de Regulação até a avaliação dos

laudos de solicitação por parte dos médicos reguladores, o fluxo da informação é

ágil. Entretanto, existe um alto índice de solicitações com problemas no

preenchimento dos dados, fato que provoca a devolução de vários pedidos para a

unidade de saúde que solicitou o procedimento cirúrgico. Isso acarreta prejuízos ao

usuário do sistema de saúde, uma vez que há um atraso relevante no acesso aos

serviços de saúde requisitados. Cabe destacar, também, que o trânsito inicial do

pedido, entre a unidade solicitante e a Central de Regulação, poderia ser feito

virtualmente pelo sistema informatizado de regulação, pois isso aumentaria a

eficiência do mecanismo regulatório. Atualmente, isso é realizado por malote.

Percebe-se um esforço da Central de Regulação de Cuiabá para tornar mais

ágil o tramite interno das informações. Por outro lado, nota-se certa resignação para

soluções de problemas externos à Central. Questiona-se, assim, a atuação da

Secretaria Municipal de Saúde nas ações que poderiam dar suporte ao bom

funcionamento do Sistema de Saúde e, consequentemente da Central. Não há sinais

de bom entrosamento entre a DRAC, a administração da SMS e da SES. Essa última

não exerce com efetividade a coordenação do planejamento das ações em saúde do

estado, fato materializado em uma Programação Pactuada e Integrada que não se

reflete nas ações regulatórias das centrais em todo o estado.

No que concerne a possíveis mecanismos de fuga ao fluxo regulatório,

pôde-se destacar as frequentes liminares concedidas pelo poder judiciário,

desconsiderando-se a fila organizada pela Central de Regulação. Além disso, existem

diferentes formas para forjar uma situação de urgência ou emergência para casos em

que é possível aguardar dias ou semanas pelo procedimento requerido. Essa prática

prejudica os pacientes que efetuam sua demanda corretamente pela Gerência de

87

Cirurgias Eletivas. O fato de não existirem contratos formalizados entre a SMS

Cuiabá e grande parte dos prestadores de serviços agrava esse quadro de

irregularidades no acesso, na medida em que causa prejuízos ao poder coercitivo do

Estado em fazer valer as cláusulas ajustadas entre as partes envolvidas na prestação

dos serviços. Há, também, tentativas de interferências políticas para beneficiar certos

usuários em detrimento de outros.

Quanto aos critérios utilizados para a escolha do prestador de serviço,

avalia-se dentre as unidades de referência credenciadas, aquela que possui vaga mais

imediata para o usuário a ser operado. Considera-se também a continuidade da

atenção ao paciente, na medida em que tem preferência para realizar a cirurgia

aquela unidade que o encaminhou para Central de Regulação.

Os critérios de priorização do atendimento entre os casos eletivos

consideram, especialmente, os dados clínicos descritos nos laudos de solicitação.

Além disso, a idade e as morbidades que acompanham a condição principal que

provocou a demanda pela cirurgia apresentam alguma influência nessa classificação.

Não há protocolos de regulação oficialmente estabelecidos pela Central de

Regulação para avaliar os pedidos.

A partir do momento em que o médico regulador avalia e classifica o

pedido, conforme a prioridade atribuída ao caso, há um excessiva demora no

atendimento dos pacientes processados pela Gerência de Cirurgias Eletivas. As

possíveis causas dessa lentidão no acesso relacionam-se à pouca quantidade de oferta

em relação à demanda; e à pouca quantidade de vagas disponibilizadas para os casos

eletivos em relação à Gerência de Urgências e Emergências.

Verificou-se, também, que não há um aproveitamento efetivo do volume de

informações geradas pelo mecanismo regulatório para a gestão do SUS em Cuiabá e

no Estado de Mato Grosso. As informações da Programação Pactuada e Integrada

não são consideradas na prática de regulação, bem como não há uma

retroalimentação dos dados gerados pela administração do acesso às vagas para o

monitoramento e ajuste desse pacto.

A Coordenação de Controle e Avaliação tem intenção de avaliar a qualidade

dos serviços prestados aos usuários. No entanto, atualmente não há pessoal treinado e

disponível para esse fim. O foco atual de suas ações é a supervisão da execução

88

financeira dos serviços. Portanto, a própria Central reconhece o desafio de se tornar,

além de um instrumento de qualificação no acesso, uma instituição preocupada com

os resultados de suas ações para materializar o princípio de atenção integral à saúde.

89

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responsabilidades dos municípios na atenção básica; define o processo de

reorganização da assistência; cria mecanismos para o fortalecimento da capacidade

de gestão do sistema único de saúde e procede a atualização dos critérios de

habilitação de estados e municípios. Diário Oficial da União. 29 jan 2001; Seção

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Ministério da Saúde. Portaria nº 373, de 22 de fevereiro de 2002. Aprova, na forma

do Anexo desta Portaria, a Norma Operacional da Assistência à Saúde – NOAS-SUS

01/2002, que amplia as responsabilidades dos municípios na Atenção Básica;

estabelece o processo de regionalização como estratégia de hierarquização dos

serviços de saúde e de busca de maior equidade; cria mecanismos para o

fortalecimento da capacidade de gestão do Sistema Único de Saúde e procede à

atualização dos critérios de habilitação de estados e municípios. Diário Oficial da

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Contas da União - BTCU ESPECIAL. 23 mar 2010a.

TCU – Tribunal de Contas da União. Relatório de Auditoria Operacional realizada

junto à Secretaria Estadual de Saúde do Estado de Mato Grosso e à Secretaria

Municipal de Saúde de Cuiabá/MT, visando avaliar a regulação assistencial existente

no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS, constante do Acórdão TCU nº

635/2010 – Plenário. Brasília-DF; 2010b.

TCU – Tribunal de Contas da União. Relatório de Auditoria Operacional integrante

da Fiscalização de Orientação Centralizada destinada a verificar a implantação,

implementação e operacionalização de complexos reguladores e centrais de

regulação nos três níveis governamentais, visando avaliar a regulação assistencial

93

existente no âmbito do Sistema Único de Saúde, constante do Acórdão TCU nº

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2005.

94

APÊNDICE 1. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA

Você está sendo convidado(a) para participar, como voluntário, da pesquisa “a regulação

assistencial no Sistema Único de Saúde: o caso da Central de Regulação de Cuiabá/MT”.

Após ser esclarecido(a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do

estudo, assine ao final deste documento, que está em duas vias, uma delas é sua e a outra é do

pesquisador responsável.

Em caso de recusa você não terá nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador ou com

a instituição que recebe assistência. Em caso de dúvida, você poderá procurar o Comitê de Ética em

Pesquisa do Hospital Universitário Júlio Müller - UFMT- pelo telefone (65) 3615-8254.

O objetivo deste estudo é analisar o mecanismo de regulação no que tange ao processamento

da demanda por procedimentos eletivos, realizado pela Central de Regulação de Cuiabá-MT.

Sua participação nesta pesquisa consistirá em uma entrevista, que será gravada pelo

pesquisador, na qual serão feitas questões a respeito das atividades diárias do mecanismo de

regulação. Os benefícios para o participante da pesquisa são aqueles advindos da melhoria das práticas

referentes à regulação assistencial em Cuiabá/MT. Os riscos relacionados com sua participação na

pesquisa são mínimos, uma vez que os dados referentes a sua identificação serão confidenciais.

Você receberá uma cópia desse termo onde tem o nome, telefone e endereço do pesquisador

responsável, para que você possa localizá-lo a qualquer tempo. Seu nome é Alexandre Giraux

Cavalcanti, Mestrando em Saúde Coletiva / ISC / UFMT, telefone de contato é o 65 9973-9206 / 65

3642-6615 e e-mail [email protected] .

Considerando os dados acima, CONFIRMO estar sendo informado por escrito e

verbalmente dos objetivos desta pesquisa e em caso de divulgação por foto e/ou vídeo AUTORIZO a

publicação.

Eu__________________________________, idade:____, sexo:____, Naturalidade:______________,

portador(a) do documento RG Nº:______________, declaro que entendi os objetivos, riscos e

benefícios de minha participação na pesquisa e concordo em participar.

Cuiabá-MT, ___ de ______________de 20___

___________________________________

Assinatura do participante

____________________________________

Alexandre Giraux Cavalcanti / Pesquisador

95

APÊNDICE 2. Roteiro de entrevista

Entrevista nº: Data:

Idade: Sexo:

Nível de escolaridade: Formação profissional:

Função na Instituição:

Tempo de vínculo na instituição:

Tipo de vínculo com a instituição:

Tempo de vínculo com o serviço público:

Teve alguma capacitação para atuar na instituição:

Área Temática Perguntas

Concepções sobre microrregulação

1. O que você entende por regulação?

Fluxos internos

2. Como o pedido pode dar entrada na CReg?

3. O que você tem a dizer sobre o fluxo interno dos pedidos?

4. Como a CReg busca a informação sobre as vagas

disponíveis? (buscar maior detalhamento na entrevista com

os técnicos)

Critérios de priorização do

atendimento dos pacientes

5. O que é considerado para priorizar o atendimento de um

pedido em detrimento de outros? (buscar maior detalhamento

na entrevista com os médicos reguladores)

Critérios utilizados para selecionar

os prestadores de serviços

6. O que é considerado para priorizar um estabelecimento de

saúde em detrimento do outro para atender ao pedido regulado?

(buscar maior detalhamento na entrevista com os médicos

reguladores)

Informações gerenciais

(buscar maior detalhamento na

entrevista com os dirigentes)

7. Como é a estrutura de organização da Central de Regulação?

8. Como funciona o processo de decisão a respeito das

diretrizes do mecanismo de regulação?

9. Como a Central de Regulação acompanha os resultados de

suas ações?

10. Existe algum tipo de avaliação sobre os dados gerados no

mecanismo regulatório para a gestão do SUS? Caso positivo, de

96

que forma é realizada?

Utilização dos dados da PPI no

processamento dos pedidos

11. De que forma as pactuações entre os municípios

influenciam o mecanismo de regulação?

Avaliação sobre o procedimento

regulatório

12. Na sua opinião, quais são os aspectos facilitadores e os

obstáculos no âmbito do mecanismo regulatório?

13. Na sua opinião, quais são os pontos fortes e fracos do

processo de regulação?

Mecanismos de integração com

outras instâncias políticas

14. Quais as instâncias políticas que interagem no processo

regulatório? De que forma interferem?

Considerações finais

15. Como a regulação pode contribuir para a melhora do SUS?

16. No que concerne ao processo de regulação, você tem algo a

acrescentar ao que foi falado na sua entrevista?

97

ANEXO 1. Escritórios Regionais de Saúde

98

ANEXO 2. Fotografias da Central de Regulação de Cuiabá

Foto 1: Vista externa da Central de Regulação de Cuiabá.

99

Foto 2 – Espaço físico no qual funciona a maior parte das atividades da

Coordenadoria de Regulação da DRAC