universidade federal de mato grosso instituto ... - ri…ri.ufmt.br/bitstream/1/160/1/diss_2015_rita...

59

Upload: vodang

Post on 30-Nov-2018

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

GRUPO PESQUISADOR EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL,

COMUNICAÇÃO E ARTE

RITA DE CÁSSIA LEVENTI ALEIXES

JUSTIÇA CLIMÁTICA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS TEIAS DO

FÓRUM DE DIREITOS HUMANOS E DA TERRA DE MATO

GROSSO

CUIABÁ–MT

2015

2

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

GRUPO PESQUISADOR EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL,

COMUNICAÇÃO E ARTE

RITA DE CÁSSIA LEVENTI ALEIXES

JUSTIÇA CLIMÁTICA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS TEIAS DO

FÓRUM DE DIREITOS HUMANOS E DA TERRA DE MATO

GROSSO

Árvore da Vida (PORTINARI, 1957)

CUIABÁ-MT

2015

3

RITA DE CÁSSIA LEVENTI ALEIXES

JUSTIÇA CLIMÁTICA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS TEIAS DO FÓRUM

DE DIREITOS HUMANOS E DA TERRA DE MATO GROSSO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação, na Área de Concentração Educação, Linha de Pesquisa Movimentos Sociais, Política e Educação Popular – Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte.

Orientadora: Profa. Dra. Michèle Sato

Coorientadora: Profa. Dra Regina Silva

CUIABÁ–MT

2015

4

Dados Internacionais de Catalogação na Fonte.

A366j ALEIXES, Rita de Cássia Leventi. JUSTIÇA CLIMÁTICA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS TEIAS DO FÓRUM DE DIREITOS HUMANOS E DA TERRA DE MATO GROSSO / Rita de Cássia Leventi ALEIXES. -- 2015 102 f. : il. color. ; 30 cm.

Orientadora: Profa. Dra. Michèle Sato. Coorientadora: Profa. Dra. Regina Silva. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Mato Grosso, Instituto de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação, Cuiabá, 2015. Inclui bibliografia. 1. Justiça Climática. 2. Educação Ambiental. 3. Direitos Humanos. 4. Fórum de Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso.

Ficha catalográfica elaborada automaticamente de acordo com os dados fornecidos

pelo(a) autor(a).

Permitida a reprodução parcial ou total, desde que citada a fonte.

5

DISSERTAÇÃO APRESENTADA À COORDENAÇÃO DO PROGRAMA DE

PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO DA UFMT

RITA DE CÁSSIA LEVENTI ALEIXES

JUSTIÇA CLIMÁTICA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS TEIAS DO FÓRUM

DE DIREITOS HUMANOS E DA TERRA DE MATO GROSSO.

BANCA EXAMINADORA

Michèle Sato – Orientadora – Presidente da Banca

Regina Silva – Coorientadora – Membro da Banca

Tânia Maria Lima – Banca Interna

Marcos Sorrentino – Banca Externa

Michelle Jaber – Banca Interna (suplente)

Cuiabá-MT, 18 de maio de 2015.

6

DEDICATÓRIA

Figura 1 - Bird drinking water1

Autoria: Edwin Kats

À Vera e Francisco,

amados Pais que me ensinaram que sabedoria precede o conhecimento (ambos in memorian).

Às minhas filhas Mariana, Vitória e Gabriela, amores de minha vida, pelo apoio e cuidado.

À Milton, para além de esposo, grande amigo e companheiro.

À Luzia, Simony, Fernando, Matheus, João Pedro, Gonçalo, Nayara, Letícia, família que amo. Sem vocês, jamais seria possível.

1 Disponível em: < http://batyar.com/wp-content/uploads/2014/05/0_db34b_8e9a28ff_XXL.jpg> Acesso em: 10 fev. 2015.

7

A G RA D EC IM E NT O S

A Deus, em sua suprema e diversas formas, por permitir este caminhar. A todos e todas de um grupo de pessoas que possibilitaram encontros,

aprendizagens, alegrias, superações e tudo aquilo que faz relevar ainda mais o sentido de humanidade em um encontro de sonhos coletivos.

À amada professora Doutora Michèle Sato pelo exemplo de dedicação acadêmica, mas principalmente pela generosidade de, ao perceber as minhas dificuldades, alumiar os trilhos da pesquisa.

A muito querida professora Doutora Regina Silva, pela coorientação neste trabalho, exemplo de amor e persistência acadêmica.

Ao professor Doutor Marcos Sorrentino pela generosidade em participar deste percurso, registrando meu sincero orgulho em tê-lo como examinador em minha banca de defesa.

À professora Doutora Tânia Maria Lima, em seu jeito especial de sempre instigar, de modo firme e ao mesmo tempo com admirável gentileza, a necessidade de superação das fragilidades acadêmicas, naturais as trilhas da pesquisa.

À professora Doutora Michele Jaber pelo constante carinho creditado a mim, durante todo o tempo e espaço de convivência. Agradeço muito o prazer de estar contigo nesta caminhada.

A todos os colegas do GPEA, em especial a Lushi em sua alegria, Denize amiga sempre, Giseli Nora sempre energia contagiante, Rosana com sua constante determinação.

À Maria Eliete (Lika) e sua exemplar intensidade, ao querido Herman sempre por perto com seus ‘ver-sos’, a Ivan Belém pela alegria e ao Júlio pelo peculiar bom humor.

À amiga Elizete, irmã de alma, por possibilitar momentos inesquecíveis de risos (e algumas angústias), minha sincera admiração pela integridade e persistência com que supera medos e busca seus sonhos, na certeza que estaremos sempre juntas, alheias aos diversos caminhos que possamos no futuro trilhar.

Ao inesquecível colega André (in memorian), querido menino que em sua luta nos ensinou o sentido do amor à vida, ao Direito e à Justiça, traduzidos na paixão pela pesquisa.

Aos professores e técnicos, servidores do Instituto de Educação da UFMT, do Programa de Pós-Graduação em Educação, pela atenção dispendida em todos os momentos, em especial à professora Márcia, aos colegas Mariza e Marcos.

À especial Luisa, sempre disposta à ajudas preciosas, mas principalmente por nos contagiar com o seu constante sorriso, capaz de amenizar dificuldades burocráticas administrativas inerentes aos passos de uma vida acadêmica.

A todas as Pessoas Especiais que militam junto ao Fórum de Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso, ainda que não entrevistadas nesta pesquisa, mas com as quais convivi durante esta pesquisa, pelo acolhimento e confiança dispensados a mim, e, principalmente, com as quais aprendi a manter a esperança e os sonhos de construção de uma sociedade melhor.

Muitíssimo obrigada àqueles que aceitaram ser os sujeitos desta pesquisa, os quais, com carinho e compreensão, renunciaram de precioso tempo pessoal para

8

propiciar momentos inesquecivelmente educativos a esta pesquisadora: Gilberto Vieira, Michelle Jaber, Roberto Tadeu, Roberto Rossi, João Inácio, José Inácio, Elizete Gonçalves, Romário Augusto, Paulo César e Denize Amorim.

9

ALEIXES, Rita de Cássia Leventi. A Justiça Climática e a Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso. 2015. 103 f. Dissertação (Mestrado em Educação), Universidade Federal de Mato Grosso, Instituto de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação, Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte (GPEA). Cuiabá, 2015. Orientadora: Dra. Michèle Sato. Coorientadora: Dra. Regina Silva.

RESUMO

O Fórum de Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso (FDHT-MT) é uma instância

da sociedade civil que agrega diversos sujeitos e entidades – a maioria de organizações

não-governamentais (Ongs) – que buscam proteger os Direitos Humanos e também as

vidas não humanas e seus ambientes. O fórum possui 11 Grupos de Trabalho (GT),

entre esses o GT “Meio Ambiente e Grupos Sociais” composto por 7 entidades que,

juntas, buscam usar táticas para combater as violações socioambientais. O objetivo da

pesquisa foi compreender de que maneira os participantes deste GT percebem a

dimensão ambiental e climática em suas formas de luta e organização, se trabalham

com o conceito de justiça climática e também se consideram o fórum como uma

estrutura educadora capaz de promover a aprendizagem entre seus participantes.

Compreendendo diferentemente mudança climática e justiça climática, considero que

os grupos sociais vulneráveis e as comunidades economicamente desfavorecidas estão

mais expostos aos riscos e desastres provocados pelas alterações extremas do clima, e

sofrerão mais os efeitos dos câmbios de forma injusta. Com inspiração metodológica

na pesquisa participante, os integrantes do fórum foram entrevistados com perguntas

não-estruturadas, algumas gravadas por meio eletrônico, outras por transcrições

manuscritas, mas todas expressamente autorizando a utilização de imagens e das

entrevistas, bem como a identificação de seus nomes completos. Os resultados revelam

que os membros do FDHT-MT possuem uma visão que entrelaça o ambiente com a

sociedade humana na intrincada teia que tece os cuidados da vida. Possuem

organizações, projetos, programas e ainda respondem a demanda dos Movimentos

Sociais, muitas vezes fugindo do próprio escopo da constituição original das

entidades. Embora concebam a mudança climática, e estejam preocupados com os

efeitos deste fenômeno, raras são as organizações que possuem ações diretas com os

princípios da Justiça Climática. Todos os participantes compreendem que o fórum é

uma estrutura educadora capaz de promover aprendizagens que tecem as políticas

públicas sobre Direitos Humanos e da Terra. Esta constatação autoriza afirmar que o

fórum é uma instância da Educação Ambiental popular, capaz de propor, construir e

sustentar as políticas públicas que visem a inclusão social, a proteção ecológica e a

democracia.

Palavras-chave: Justiça Climática. Educação Ambiental. Direitos Humanos.

Movimentos Sociais.

10

ALEIXES, Rita de Cássia Leventi. Climate justice and environmental education in the

webs of human rights Forum and of the land of Mato Grosso. 2015. 103 f. Dissertation

(master of education), Universidade Federal de Mato Grosso, Institute of Education,

Postgraduate Program in Education, Group Researcher in Environmental Education

GPEA. Cuiabá, 2015. Advisor: Dr. Michèle Sato. Co-Advisor: Dr. Regina Silva.

ABSTRACT

The Human Rights Forum and of the land of Mato Grosso (FDHT-MT) is an instance

of civil society that aggregates various subject and entities - the majority of non-

governmental organizations – that seek to protect human rights and non-human also.

The Forum has 11 working groups (WG), among these the GT "environment and social

groups" composed of 7 entities, which together seek to use tactics to combat the

environmental violations. The objective of the research was to understand in what way

the participants of this GT realize the environmental dimension and climate in its

forms of struggle and organization, if they work with the concept of climate justice and

also consider the Forum as an educator structure able to promote learning among its

participants. Understanding contrary to climate change and climate justice, I believe

that the vulnerable social groups and economically disadvantaged communities are

more exposed to risks and disasters caused by extreme climate changes, and will suffer

more the effects of currency exchange unfairly. Methodological research inspired

participant, the members of the Forum were interviewed with unstructured questions,

some recorded by electronic means, other by handwritten transcriptions, but all

expressly authorizing the use of images and interviews, as well as the identification of

their full names. The results show that the members of the FDHT-MT have a vision

that interweaves the environment with the human society on the intricate web that

weaves the cares of life. Have organizations, projects, programs and still respond to

demands of social movements, often fleeing from the scope of the original Constitution

of the entities. Although devise climate change, and are concerned about the effects of

this phenomenon, rare are the organizations that have direct action with the principles

of climate justice. All participants understand that the Forum is an educational

framework able to promote learning that weave public policy on human rights and of

the Earth. This authorizes state that the Forum is an instance of popular environmental

education, able to propose, to build and sustain public policies aimed at social

inclusion, environmental protection and democracy.

Keywords: Climate Justice. Environmental Education. Human Rights. Social.

11

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Bird drinking water ............................................................................................... 6

Figura 2 – ‘Mística’ de abertura realizada pelo Grupo Fé e Vida – Cáceres-MT -

Abertura de evento 5ª Conferência sobre DHT-MT (2014) ............................................. 16

Figura 3 – ‘Ciranda’ de Glenio Bianchetti (1988) .............................................................. 29

Figura 4 - Representação da dinâmica dos Grupos de Trabalhos no FDHT-MT ......... 31

Figura 5 - Reunião V Conferência Estadual de Direitos Humanos e da Terra de Mato

Grosso, Cuiabá-MT, 2014 ...................................................................................................... 34

Figura 6 - Representação da transversalidade das lutas sociais por direitos em redes

de MS ....................................................................................................................................... 37

Figura 7 - Puxada de Rede, de Cândido Portinari (1959) ............................................... 48

Figura 8 - ‘Ciranda’, de Antônio Poteiro ............................................................................ 58

Figura 9 - ‘Mística’ de Encerramento – Grupo Fé e Vida – Cáceres-MT. Cerimonia

abertura de evento coordenado pelo FDHT-MT (2014) ................................................... 85

12

LISTA DE QUADRO E GRÁFICO

Quadro 1 - Tipologia de Concepções sobre Ambiente na EA (SAUVÉ, 1997)..............59

Gráfico 1 - Principais Táticas de Lutas do FDHT, indicadas pelos entrevistados ....... 75

13

LISTA DE SIGLAS

ABHP Associação Brasileira de Homeopatia Popular

ADDC Associação de Defesa dos Direitos do Cidadão

CBE/CBA Comunidades Eclesiais de Base – Cuiabá

CBFJ Centro Burnier Fé e Justiça

CDHHT Centro de Direitos Humanos Henrique Trindade

CEBI/MT Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos de Mato Grosso

CEDDH Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos

CONSEMA Conselho Estadual de Meio Ambiente

CIMI Conselho Indigenista Missionário.

CJMT Coletivo Jovem de Meio Ambiente – Mato Grosso

CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

CPM Centro Pastoral para Migrantes

CPT Comissão Pastoral da Terra

CUT Central Única dos Trabalhadores

DCNEA Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental

DH Direitos Humanos

DHT-MT Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso

DNEDH Diretrizes Nacional para a Educação em Direitos Humanos

DPE/MT Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso

EA Educação Ambiental

EDHPSFA Escritório de Direitos Humanos da Prelazia de São Félix do Araguaia

FAPEMAT Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso

FBMC Fórum Brasileiro sobre Mudanças Climáticas

FDHT-MT Fórum de Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso

FLEC Fórum de Lutas das Entidades de Cáceres

FMMC Fórum Matogrossense sobre Mudanças Climáticas

FORMAD Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento

GPEA Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte

GT Grupo de Trabalho

IC Instituto Caracol

INAU Instituto Nacional de Ciências e Tecnologia em Áreas Úmidas

INHURAFE Instituto Humana Raça Fêmina

INPE Instituto de Pesquisas Espaciais

IPCC Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

Teixeira

JC Justiça Climática

MMA Ministério do Meio Ambiente

14

MMJC Marcha Mundial por Justiça Climática

MPF Ministério Público Federal

MS Movimentos Sociais

MST Movimento dos Trabalhadores Sem Terra

MT Mato Grosso

MNDH Movimento Nacional de Direitos Humanos

NESA Núcleo de Economia Socioambiental

NMS Novos Movimentos Sociais

ONU Organizações das Nações Unidas

OPAN Operação Amazônia Nativa

PC Pastoral Carcerária

PBMC Painel Brasileiro sobre Mudanças Climáticas

PM Pastoral do Migrante

PNEDH Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos

PNUA Programa das Nações Unidas para o Ambiente

RBJA Rede Brasileira de Justiça Ambiental

REDD Redução de Emissões de Gases do Efeito Estufa

REMTEA Rede Mato-grossense de Educação Ambiental

SEMA Secretaria Estadual do Meio Ambiente

SEDUC Secretaria Estadual de Educação

SINDJOR Sindicato dos Jornalistas de Mato Grosso

SINTEP Sindicato dos Trabalhadores no Ensino do Público

SFV Sociedade Fé e Vida

UFMT Universidade Federal de Mato Grosso

UNFCCC Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima

UNICEN Faculdade de Direito de Tangará da Serra

UNIVAG Universidade de Várzea Grande

USP Universidade de São Paulo

15

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO – O tempo e os fios da Teia ........................................... 16

1.1 Iniciando a tessitura ..................................................................................................... 17

1.2 Andanças e o encontro pessoal com a pesquisa ...................................................... 22

CAPÍTULO 2. OBJETIVOS – Planejando o arranjo da teia .............................................. 29

2.1 O Fórum de Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso .................................. 30

2.2 Direitos Humanos, Justiça Ambiental e Mudanças Climáticas ............................. 35

2.3 Justiça Climática e Educação Ambiental................................................................... 42

CAPÍTULO 3. METODOLOGIA – Na tessitura da teia ................................................... 48

3.1 Ações Investigativas e Método ................................................................................... 49

3.2 Os processos da pesquisa ............................................................................................ 54

CAPITULO 4. RESULTADOS – Arquitetura da Teia ....................................................... 58

4.1 Diálogos em Roda ........................................................................................................ 59

4.2. Justiça Climática e Equidade ..................................................................................... 64

4.3 O FDHT-MT enquanto estrutura Educativa ............................................................ 77

CAPÍTULO 5. O Entrelaçamento entre Teias de Fios ...................................................... 85

5.1 No balançar entre fios e esperanças da teia .............................................................. 86

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 92

APÊNCIDES .........................................................................................................................102

16

Figura 2 – ‘Mística’ de abertura realizada pelo Grupo Fé e Vida/Cáceres- MT. Abertura da 5ª Conferência Estadual sobre Direitos Humanos-MT (2014)

Autoria: Regina Silva

CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO – O tempo e os fios da Teia

IDENTIDADE Preciso ser um outro, para ser eu mesmo[...]

No mundo que combato morro no mundo por que luto nasço

(MIA COUTO, 2001)

17

1.1 Iniciando a tessitura

Em tempos atuais, as novas maneiras de mobilizações populares tornaram-se

temas centrais em quase todos os segmentos organizados como forma de ecoar lutas

coletivas frente a conhecidos problemas sociais, a exemplo da corrupção na gerência

de recursos públicos, desrespeito a direitos fundamentais como educação, saúde,

alimentação de qualidade, trabalho e moradia dignos, degradação do meio ambiente,

entre outros.

A respeito dos desafios no campo ambiental, urge especial preocupação com as

ações sociais voltadas à compreensão coletiva sobre os fatores e consequências

oriundas de eventos climáticos extremos, em âmbito local e mundial, trazendo a lume

a importância dos movimentos sociais congregar as discussões sobre a Justiça

Climática (JC) e a Educação Ambiental (EA), nas lutas pela construção e efetivação de

políticas públicas.

Nesta pesquisa, apresento os caminhos e compreensões vivenciadas durante este

trabalho acadêmico, abarcando três grandes elementos teóricos: Justiça Climática,

Educação Ambiental e Direitos Humanos (DH) nas ações de luta de um determinado

movimento social: o Fórum de Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso (FDHT-

MT).

Em 2011, uma reunião de entidades de defesa dos Direitos Humanos atuantes no

Estado de Mato Grosso contou com participantes do movimento ecologista, propondo

a inclusão do meio ambiente como componente essencial à efetivação dos direitos

humanos.

A partir disso, foi fundado o FDHT-MT abraçando uma dimensão mais inclusiva,

menos antropocêntrica e mais justa do ponto de vista da luta socioambiental,

admitindo que o ambiente não é mais objeto de consideração humana, mas é sujeito

na sua existência com a humanidade, na medida em que evita “[...] polarizar em

extremismos do antropocentrismo ou do biocentrismo”, reconhecendo a existência de

uma “[...] rede de vida mais horizontalizada capaz de enxergar toda forma de vida e

todos os elementos da natureza” (SATO; SILVA; JABER-SILVA, 2013, p. 124).

18

Para Santos (2007, p. 23), compreender os direitos humanos na conjuntura de uma

economia globalizada e capitalista, implica reconhecer a existência de uma

globalização hegemônica neoliberal e uma globalização contra-hegemônica. E,

distinguindo os enfraquecimentos atuais dos “[...] direitos humanos e suas relações

com as dimensões da injustiça global é possível construir a partir deles, mas para além

deles, ideias e práticas de resistências fortes”.

Especialmente, ter como prioridade inibir desigualdades entre regiões ou grupos

sociais, provenientes dos impactos e conflitos socioambientais assim considerados

aqueles cujo “[...] cerne do conflito gira em torno das interações ecológicas” (SATO;

SILVA; JABER-SILVA, 2013, p. 88). Nesse diapasão, inclui-se aqueles decorrentes de

eventos relacionados às mudanças climáticas, oriundas de um modelo de crescimento

econômico que maximiza o lucro e estimula um modelo de produção e de consumo

que impacta fortemente o meio ambiente e altera profundamente os fundamentos

éticos relacionados à proteção ambiental e aos direitos humanos.

Amoldo neste trabalho, a Justiça Climática como um indispensável componente nas

ações empreendidas pelos novos Movimentos Sociais que estimulem firmes reflexões

tanto nas instâncias institucionalizadas (órgãos e agentes políticos responsáveis por

políticas públicas); quanto no ambiente escolarizado e nos espaços coletivos

organizados pela sociedade civil.

Numa das pontas da tríade proposta, sustento que uma Educação Ambiental,

estabelecendo-se como processo permanente de aprendizagem, deve firmar “[...]

valores e ações indispensáveis à transformação humana e social e preservação

ecológica [...] estimulando a formação de sociedades socialmente justas e

ecologicamente equilibradas [...]” (SATO, 2002, p. 17).

Uma Educação Ambiental assinalada em ações e espaços educativos não formais,

tende a caracterizar-se como essencialmente política, capaz de potencializar e

fortalecer atuações coletivas adequadas a enfrentar padrões e comportamentos

hegemonicamente estabelecidos, inclusive por antagonizar-se em muitos momentos

com a esfera institucional.

Como objetivo geral desta pesquisa, intencionei compreender se o conjunto das

atividades promovidas pelo FDHT-MT, em suas principais táticas (CERTEAU, 2005)

19

de lutas enquanto movimento social, constitui uma proposição da educação popular,

assumindo a Justiça Climática, os Direitos Humanos e a Educação Ambiental como

marcos de partida desta jornada científica.

Como dito anteriormente, o FDHT-MT foi fundado no ano de 2011, pela

articulação de diversas entidades da sociedade civil organizada, já experientes na luta

pela defesa dos Direitos Humanos em Mato Grosso.

Com a criação do fórum, as lutas políticas sociais tomaram contornos mais

fortalecidos e visíveis nas pautas de diálogo com o governo, podendo afirmar que o

movimento tático de lutas do FDHT-MT é um processo de aprendizagem constante,

constituindo-se parte da educação popular (FREIRE, 1987).

Dentre as diversas frentes de atuação do FDHT-MT, destaco a construção de dois

relatórios estaduais (JABER-SILVA; SILVA; SATO, 2011; WERNER; SATO; ROSSI,

2013), que por movimentos coletivos conseguiram desenhar um panorama geral das

violações dos direitos humanos e do ambiente no Estado de Mato Grosso.

No blog do FDHT-MT2, as visitações diárias são frequentes e de todo o mundo,

que além das principais manchetes, também conta com espaços temáticos específicos,

como sobre impactos socioambientais oriundos da Copa Mundial de 2014, o Programa

Estadual de Educação em Direitos Humanos, Povos Indígenas, Justiça Climática, entre

outros.

Os objetivos específicos delimitados no desenvolvimento desta pesquisa foram:

1) Conhecer de que maneira o ambiente é considerado nas atividades de algumas

entidades partícipes no FDHT-MT; 2) Compreender como alguns participantes do

fórum, em especial do Grupo de Trabalho ‘Ambiente e Grupos sociais’, percebem a

questão climática; 3) Identificar quais são as principais táticas de lutas que envolvem

a proteção socioambiental, com especial consideração à justiça climática; 4) Apreender

se o FDHT-MT pode ser considerado como um espaço educador que promove EA.

Foram entrevistados 10 (dez) representantes de entidades que participam do

FDHT-MT, sendo 08 (oito) diretamente partícipes no GT Ambiente e Grupos Sociais,

quais sejam: 02 (dois) entrevistados do CBFJ-Centro Bunier Fé e Justiça; 02 (dois)

entrevistados do CJMT-Coletivo Jovem para o Meio Ambiente; 01 (um) entrevistado

2 O blog oficial do FDHT-MT está disponível em: <http://direitoshumanosmt.blogspot.com.br/>.

20

da CPT - Comissão Pastoral da Terra; 01 (um) entrevistado do CIMI-Conselho

Indigenista Missionário; 01 (uma) entrevistada do IC-Instituto Caracol; e 01 (uma)

entrevistada da UFMT - Universidade Federal de Mato Grosso. Além dessas,

entrevistei 01 (um) representante do FORMAD - Fórum Mato-grossense para o Meio

Ambiente e Desenvolvimento; e 01 (um) representante da DPE/MT - Defensoria

Pública do Estado de Mato Grosso.3

A consolidação deste trabalho aconteceu com a minha inserção no grupo que se

pretendia compreender, enquanto representante do Instituto Caracol, condição que

me oportunizou compartilhar em atividades e reuniões desenvolvidas no cotidiano do

FDHT-MT, durante os anos de 2013 e 2014.

A respeito, o IC é uma organização civil não governamental, fundada em

setembro de 2008, tendo como princípio basilar de suas atividades a Educação

Ambiental que favoreça a construção coletiva de espaços da “[...] sociedade civil para

a militância, participação e controle social das políticas públicas relacionadas à

dimensão socioambiental”.4

A construção desta pesquisa foi realizada com a participação conjunta dos

entrevistados, tornando-se estes coautores, na medida em que compartilhamos

atividades, estudos e militâncias desenvolvidas junto ao Fórum, assumindo que a

pesquisa serve para “[...] constatar, constatando se intervém, e intervindo educa e se

educa” (FREIRE, 1996, p. 32).

As entrevistas realizadas foram interpretadas por referências conceituais teóricas

detalhadas ao longo desta pesquisa, no sentido de dar mais qualidade aos processos

de compreensão do objeto pesquisado.

Além disso, evidencio as contradições ou descompassos, bem como as

potencialidades práticas inerentes ao movimento social pesquisado (FDHT-MT), e

possíveis consequências na construção de uma efetiva sustentabilidade política e

socioambiental. Procuro inspiração na pesquisa participante enquanto trilha

metodológica, por compreendê-la como:

3Os trechos de entrevistas, inseridos neste trabalho, foram transcritos e integram acervo pessoal desta pesquisadora. 4O Instituto Caracol mantém perfil na rede social facebook, desde 2009. Disponível em: <https://www.facebook.com/caracolinstituto>.

21

[...] um repertório múltiplo e diferenciado de experiências de criação coletiva de conhecimentos, destinados a superar a oposição sujeito/objeto no interior de processos que geram saberes e na sequência das ações que aspiram gerar transformações a partir também desses conhecimentos. (BRANDÃO, 2006, p.

12-13).

Na pesquisa envolvo a Educação Popular como referencial teórico-metodológico

trazido enquanto processo educativo que se realiza tanto no ensino formal, no espaço

da informalidade, como no interior dos Movimentos Sociais.

A Educação Popular fortalece uma concepção educativa assentada no “[...]

envolvimento permanente do sujeito no domínio político; ativo na construção e

reconstrução das estruturas sociais e econômicas nas quais se dão as relações de poder

e se gestam as ideologias” (FREIRE, 1997, p. 11).

A práxis Freireana consolida uma cultura de cidadania e responsabilidade

socioambiental, oriunda de interações horizontais principalmente entre o sujeito e os

diversos atores coletivos ligados aos temas educação, ambiente, participação política,

entre outros direitos sociais.

Este trabalho está elaborado em cinco capítulos.

No Capítulo 1 apresento um trilhar no tempo, não apenas da minha biografia

acadêmica e profissional, mas dos contextos responsáveis pela identificação desta

pesquisadora com o tema aqui pesquisado, os passos trilhados antes e durante a

realização deste trabalho acadêmico, os aspectos éticos e a importância acadêmica

desta investigação.

O Capítulo 2 foi pensado com o fito de evidenciar o FDHT-MT, ente coletivo

escolhido para realização da pesquisa; apresento uma descrição de cada entidade e os

seus respectivos representantes entrevistados; algumas referências teóricas e

metodológicas ligadas às formas de atuação daquele Fórum e uma preliminar reflexão

conceitual sobre Justiça Climática, Direitos Humanos e Educação Ambiental.

A opção metodológica que inspira a pesquisa foi delineada no Capítulo 3, pela

descrição das ações investigativas utilizadas por meio da pesquisa participante de

Paulo Freire e Carlos Brandão.

No Capítulo 4 reflito sobre os resultados colhidos no presente trabalho,

dialogando, nessa compreensão, com alguns teóricos referenciados e, respondendo

22

questões, a exemplo de como o ambiente e a justiça climática são percebidos pelos

sujeitos entrevistados; as principais táticas de lutas e resistências de enfrentamento das

atividades contribuintes para a mudança climática e suas consequências

socioambientais apresentados pelos entrevistados; como eles percebem as injustiças

sociais e a diversidade de sujeitos na arena de lutas, e, por fim, se o processo construído

no FDHT-MT pode ser considerado uma instância do exercício da Educação

Ambiental.

Na pesquisa, os resultados demonstram os textos e contextos que possibilitam a

apreensão do ambiente como um componente transversal nas atividades cotidianas

das entidades que integram o FDHT-MT; as táticas de lutas que buscam garantir a

construção e implantação de políticas públicas, participação e controle social, o

reconhecimento da importância da ocupação de espaços institucionalizados ou não,

como forma de exercício de direitos.

A relevância do Fórum desponta ao mesmo tempo que possibilita encontros e

diálogos com uma multiplicidade de outros movimentos, explorando o formato de sua

atuação em rede. Alguns entrevistados destacam a necessidade de formação e

discussões teóricas com participação da comunidade acadêmica científica, atribuindo

a essa ação importância fundamental e inerente a natureza do FDHT-MT, além de

reconhecer em quais condições aquele Fórum caracteriza-se em um espaço educativo.

Demarcado como Capítulo 5 deste trabalho, apresento uma entrelaçada reflexão

de todo o caminho, que não ouso atribuir como conclusão, mas como singelo marco

de partida para uma pesquisa que necessita ter diversos outros capítulos.

1.2 Andanças e o encontro pessoal com a pesquisa

A leitura e estudos realizados nesta pesquisa reavivaram memórias de caminhos

percorridos por mim desde a graduação no curso de Direito. Enquanto assessora junto

ao Ministério Público Federal (MPF), comecei minhas experiências práticas no

acompanhamento de diversificadas ações judiciais relacionadas a defesa do meio

ambiente natural, proteção do patrimônio histórico cultural, dos interesses de povos

23

indígenas (Bororo, Xavante, Cinta-Larga, Nambikwara, Pareci, Rikbaktsa, Suyá), bem

como, outras demandas de natureza coletiva.

Assim, despertou meu interesse pessoal e profissional pelas lutas empreendidas

por movimentos sociais organizados, como o Conselho Indigenista Missionário

(CIMI), Associações de Bairros populares localizados na periferia urbana dos

municípios de Cuiabá-MT e Várzea Grande-MT, envolvidos nas lutas pelo direito à

moradia, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em parceria com

instituições públicas federais, estaduais e municipais, entre estas a própria

Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

Nessa fase embrionária de formação profissional, por assim dizer, compreendi

que aqueles MS buscavam no espaço institucionalizado uma atuação judiciária

direcionada não apenas a aplicação sistematizada de normas e leis vigentes, mas para,

além disso, uma ação que efetivasse a proteção a direitos fundamentais de natureza

individual e coletiva.

Algumas atuações conjuntas entre entidades governamentais, sociedade civil

organizada e MPF traduziram-se na efetivação de direitos coletivos e difusos, pois,

além de pioneiras no contexto judiciário nacional, notoriamente potencializaram uma

ressignificação das normas jurídicas voltadas aos interesses de segmentos sociais em

condições de vulnerabilidade, esta compreendida como “[...] um conjunto de

características, de recursos materiais ou simbólicos e de habilidades inerentes a

indivíduos ou grupos, que podem ser insuficientes ou inadequados para o

aproveitamento das oportunidades disponíveis na sociedade” (MONTEIRO, 2011, p.

35).

Cite-se, por exemplo, as lutas de grupos e associações de mutuários pela

efetividade do direito à moradia, por meio do equilíbrio socioeconômico nos contratos

firmados no âmbito dos Programas Sociais integrantes do Sistema Financeiro da

Habitação, administrado por Governos Federal, Estadual e Municipal.

Igualmente, diversas medidas judiciais protetivas para demarcação do território

indígena Maraiwatsede, localizado entre os municípios de São Félix do Araguaia e

Alto de Boa Vista; foram associadas as ações cíveis e criminais ajuizadas contra

invasores de áreas indígenas localizadas em Mato Grosso.

24

Essa experiência inicial possibilitou conhecer potencialidades e fragilidades na

atuação institucional, inclusive em razão das limitações oriundas de uma legislação

edificada quase sempre em molde hegemônico, revelando que a atuação dos entes

institucionalizados e os interesses almejados pelas lutas sociais, muitas das vezes,

confrontavam-se, em razão das prioridades assumidas por cada um dos atores sociais.

Mesmo existindo aparente comunhão de interesses entre representantes da

sociedade organizada, entes governamentais e, até mesmo, instituições de ensino e

pesquisa, todos comprometidos com a luta pela garantia à participação democrática

na construção e efetivação de políticas públicas e programas sociais direcionados à

garantia de direitos humanos fundamentais, restavam nítidos os desafios de uma

atuação conjunta.

Sobre esse contexto, Santos (2009, p. 13) afirma que a “[...] complexidade dos

Direitos Humanos reside em que eles podem ser concebidos e praticados, quer como

forma de localismo globalizado, quer como forma de cosmopolitismo ou, por outras

palavras, quer como globalização hegemônica, quer como globalização contra-

hegemônica”.

Desde então, percebi-me nas cirandas de diálogos entre movimentos sociais e

instituições oficiais federais, estaduais e municipais, a exemplo da Secretaria Estadual

do Meio Ambiente, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Instituto

Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, entre outros entes

públicos ou representantes da sociedade civil.

Após essa experiência na esfera institucional, assumi caminho autônomo

passando a atuar na advocacia privada, em defesa de direitos de consumidores

hipossuficientes, mutuários de programas habitacionais e a defesa do meio ambiente.

Em 2001, especializei-me em Direito Agroambiental pela Universidade Federal de

Mato Grosso, momento em que, academicamente, aprofundei os estudos direcionados

as legislações ambientais.

Na docência, ministrei aulas em cursos de graduação e pós-graduação em

Instituições de Ensino Superior, a exemplo da Univag – Centro Universitário Várzea-

grandense, Unicen – Faculdade de Direito de Tangará da Serra, e por último, na

25

Faculdade de Direito da UFMT, especialmente em disciplinas de ramos de Direito

Público como Direito Ambiental, Administrativo e Direito do Consumidor, etc.

Desde o início dessa vivência prática, uma inquietação passou a tomar corpo

quando percebido que as normas jurídicas, por si só, muitas vezes não conseguiam

concretizar-se em resultados emancipatórios, fosse para antigos ou mesmo para novos

conflitos sociais.

Daí, entre as razões para a escolha do Mestrado em Educação, em especial pela

linha de pesquisa de Movimentos Sociais, Política e Educação Popular, está a pretensão

de compreender e contribuir, por meio da pesquisa, para o fortalecimento de ações que

concretizem esperanças e sonhos vivenciados no contexto coletivo e individual,

especialmente através dos resultados que certamente constarão neste trabalho de

pesquisa.

A experiência até então vivenciada possibilita assumir com mais propriedade e

responsabilidade a luta cotidiana pelo direito à participação democrática (ampla e

equitativamente acessível), acreditando-a fortalecedora de grupos sociais na busca por

uma maior autonomia política do indivíduo, diante do reconhecimento dos seus

efetivos direitos e obrigações. Com isso, acalento a persistente inquietação ao pensar o

papel da lei e da educação na busca da emancipação necessária à efetiva Justiça

Democrática e Social, além da singular oportunidade de aprimoramento pessoal e

como componente indispensável para a minha permanência no meio acadêmico.

A partir do ingresso no Mestrado, pelas leituras iniciais realizadas para o

desenvolvimento da pesquisa pretendida, um elemento se fez instigador: a Justiça

Climática, refletida pela necessidade de, nas ações dos movimentos sociais, estimular

um diálogo educativo que possibilite compreender e lidar com os novos cenários

ambientais extremos e consequências das mudanças climáticas.

Esta pesquisa está inserida nas atividades do Grupo Pesquisador em Educação

Ambiental, Comunicação e Arte (GPEA).

Criado e coordenado, desde 1997, pela Dra. Michèle Sato, e a partir de 2014

coordenado pela Dra. Regina Silva, as pesquisas no GPEA têm por princípio “[...]

fortalecer não somente o campo teórico (Episteme) da EA, mas também pelas

26

vivências, intervenções e metodologia (práxis), além de colaborar com os valores éticos

(axioma) e participativos da construção de políticas públicas” (GPEA/UFMT). 5

No Blog oficial do GPEA é possível conhecer não apenas os projetos científicos

protagonizados pelo grupo, como os integrantes do grupo pesquisador, além de

acessar um diversificado e valioso acervo de referências bibliográficas sobre os temas

educação ambiental, comunicação, arte e temas relacionados.

Este trabalho não se apresenta como uma pesquisa esparsa e fragmentada. Ao

contrário, pretende torna-se coerente ao conjunto de estudos já realizados pelo

GPEA/UFMT, por ser este um grupo pesquisador com extensa experiência de

participação em projetos de pesquisas, tendo como agências de fomento a Fundação

de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (FAPEMAT), Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e Instituto Nacional de Ciência e

Tecnologia em Áreas Úmidas (INAU 2).

A investigação se aproxima no objetivo com outros projetos desenvolvidos pelo

grupo, qual seja, formar consciências políticas, pois alguns deles integram um projeto

maior denominado ‘Justiça climática no ambiente Pantaneiro’.

Denominado subprojeto 5.3 - “Justiça climática no ambiente Pantaneiro”, parte

do Laboratório 5 do Projeto “Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Áreas

Úmidas (INAU)”, teme como objetivo promover a formação em vários níveis e idades

à construção de Projetos Ambientais Escolares Comunitários ao enfrentamento do

clima.

Partindo da orientação do Intergovernamental Painel on Climate Change (IPCC), o

referido projeto defende que a maior parte da população brasileira, mas

principalmente as pessoas com baixo poder econômico, estará mais vulnerável aos

efeitos desastrosos oriundos da mudança climática.

Assim, um dos objetivos iniciais do projeto Justiça Climática é justamente

conhecer como a população percebe a mudança climática, razão em envolver o FDHT-

MT para este cenário investigativo.

A importância acadêmica desta pesquisa é possibilitar uma reflexão sobre a

relação entre Justiça Climática, Educação Ambiental e Movimentos Sociais, estes que

5Blog GPEA/UFMT. Disponível em: <http://gpeaufmt.blogspot.com.br/>. Acesso em: 20 nov. 2014.

27

se constituem espaços não apenas de mobilização, mas, inclusive, de formação política,

capazes de contribuir para a edificação da cidadania democrática-participativa e para

o reconhecimento da responsabilidade individual para o exercício político. É fato que

os novos movimentos coletivos podem contribuir no aprimoramento de defesa e

exercício dos direitos coletivos e individuais.

Para tanto, pautamo-nos em Sato (2014a, grifo da autora)6 ao utilizar a palavra

“prognóstico” como um sinal precursor, uma previsão ou um estudo antecipado,

considerando que “[...] no contexto fenomenológico da incompletude humana, nada é

conclusivo e está sempre sujeito à transmutação. Assim, [...] a palavra ‘prognóstico’,

ainda que soe estranha à tradição ambiental ou educativa, gera possiblidades de novas

reinvenções investigativas”.

Isso considerado, importa frisar que os aportes acadêmicos, coadunando-se aos

objetivos da linha de pesquisa Movimentos Sociais, Política e Educação Popular, ante

as proposições de educação popular nas ações de um determinado movimento social,

contribuem incisivamente para os estudos de espaços social e coletivamente

organizados, nas lutas pelo exercício de uma participação democrática.

A respeito das entrevistas, vale ressaltar que os pesquisados foram previamente

esclarecidos acerca dos objetivos do estudo, e expressamente concordaram ao assinar,

individualmente, o respectivo Termo de Consentimento Livre e Esclarecimento, bem

assim sobre a importância de sua autorização para dar início a essa técnica de coleta

de informações (Apêndice A).

Importa, ainda, enfatizar que todos os sujeitos do estudo foram esclarecidos que

poderiam ter a identidade preservada e garantia do sigilo das informações, se assim

pretendessem, além de esclarecer que seria permitido a desistência de participar desse

estudo, sem qualquer prejuízo físico, psicológico, biológico e/ou material, a qualquer

momento, se assim desejassem.

De acordo com a Pró-reitoria de Pesquisa da UFMT, ao GPEA é dispensada a

submissão de pesquisas ao conselho de ética por não envolver investigação com seres

6Material acadêmico elaborado e disponibilizado pela Dra. Michèle Sato, intitulado “Minutos de Orientação”. Blog oficial do GPEA/UFMT. Disponível em: <http://gpeaufmt.blogspot.com.br/2014/06/minutos-de-orientacao-diagnostico.html>. Acesso em: 25 maio 2014.

28

humanos, que se relaciona com vidas, patentes ou informações do conhecimento

tradicional.

Experimentando rico aprendizado pelo fortalecimento do conhecimento teórico

e no campo social, participei ativamente de mobilizações e ações institucionais, a

exemplo de integrar a comissão de sistematização junto a Secretaria Estadual de

Educação de Mato Grosso, formada para coordenar os trabalhos de construção de um

Plano Estadual de Educação em Direitos Humanos de Mato Grosso.

E, na ajuda para elaboração do Relatório de DH e da Terra de Mato Grosso –

edição 2013, bem como outros subsídios nas ações cotidianas do Fórum, junto a entes

oficiais, como formulações de pedidos e denúncias para informações e providências

administrativas.

Consciente que este estudo trará informações de uma realidade localizada,

pretendemos cooperar minimamente para que se iniciem processos de reflexão interna

e externa junto ao nosso objeto de pesquisa, centrado em sua dimensão histórica,

intencionando converter a tradicional relação sujeito-objeto, em uma relação do tipo

sujeito-sujeito, criando solidariamente conhecimentos e valores (BRANDÃO, 2006), a

respeito dos temas aqui tratados.

Hoje, estou associada ao Instituto Caracol, uma organização não governamental

que, em parceria com a UFMT, desenvolve projetos de cunho socioeducativo, inclusive

buscando desenvolver projetos de educação ambiental como componente essencial na

luta pela justiça climática.

O Instituto Caracol é um dos elos mais importantes da Rede Mato-Grossense de

Educação Ambiental, surgindo no bojo dos movimentos do GPEA, que via a

necessidade de um espaço da sociedade civil, para o enfrentamento de políticas

hegemônicas governistas que favoreciam o agronegócio.

Assim, o IC faz parte das estruturas colegiadas para políticas públicas, como o

Conselho Estadual de Meio Ambiente (CONSEMA), Conselho Estatual de Defesa dos

Direitos Humanos (CEDDH), a Comissão das lutas femininas, entre outros espaços.

29

Figura 3 – ‘Ciranda’ de Glenio Bianchetti (1988) 7

Fonte: Peregrinacultural’s Weblog (2013).

CAPÍTULO 2. OBJETIVOS – Planejando o arranjo da teia

Tempo, tempo, tempo, tempo,

...compositor de destinos... tambor de todos os ritmos... entro num acordo contigo... por seres tão inventivo... e pareceres contínuo... És um dos deuses mais lindos ... tempo, tempo, tempo (Música ‘Oração ao Tempo’, de Caetano Veloso, 1979).8

7Disponível em: <https://peregrinacultural.wordpress.com/2013/10/10/brincadeiras-de-criancas-arte-brasileira/>. Acesso em: 20 out. 2014. 8‘Oração ao tempo’ é uma composição musical de autoria de Caetano Veloso, lançada no álbum Cinema Transcendental, em 1979. Disponível em: <http://letras.mus.br/caetano-veloso/discografia/>. Acesso em: 03 mar. 2015.

30

2.1 O Fórum de Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso

Convidada a participar de uma reunião junto ao FDHT-MT, acompanhando a

Dra. Michèle Sato que representa a UFMT nesse fórum, exaltou-nos inequívoco que

aquele espaço seria o nosso objeto de pesquisa, compreendo-o como um coletivo social

autônomo e organizado em rede, mesclado por uma heterogeneidade de atores sociais,

com o objetivo principal de combater as várias formas de violações em DHs e danos

socioambientais, presentes nos territórios mato-grossenses.

Já na segunda reunião de trabalho que participei no fórum, oficialmente passei a

integrá-lo na condição de representante do Instituto Caracol (IC), com direito a

manifestação sobre as decisões do FDHT-MT, independente da minha condição de

mestranda. Portanto, esta dissertação trará a 1ª pessoa do singular nas interpretações

e trilhas inspiradoras de uma pesquisa participativa, mas em alguns momentos

assumirá a 1ª pessoa do plural sobre as ações táticas e de lutas do próprio fórum que

se dinamiza pelo “articulamento” coletivo (SATO, 2004, p. 2).

Para Sato, a noção de “articulação” é abandonada para, talvez, surgir uma noção

inacabada de “articulamento” em pleno processo de debate e construção o qual estará

longe de ser finalizado, propondo:

[...] construir uma EA sob a noção neologista de ‘articulamento’, oferecendo a ideia da ‘incompletude’, do não finalizada ou ainda por estar descoberta. Alguma coisa tão original revolucionária que muitos haverão de negar, porque suas cartesianas visões do mundo não lhes permitem compreender inovações. Ainda que a luta seja recente, mas como enormes dissabores nas disputas territoriais, o que interessa é construir uma linguagem comprometida com a postura de com-viver na diferença, aceitando a existência da pluriculturalidade onde a biodiversidade é um consenso incondicional. (SATO, 2004, p. 2, grifos da autora).

O FDHT-MT teve seu lançamento ‘oficial’ em meados de junho de 2011, após

uma reunião com representantes de diversos segmentos sociais, realizada no Centro

de Formação Olga Benário Prestes. E, o FDHT-MT originou-se exatamente pela

confluência de diálogos entre os movimentos e segmentos organizados sociais e

ambientais, fortalecido pela experiência de militância e ações coletivas e parceria com

31

outras entidades, porém deliberadamente concentradas na defesa dos DHs, muitas

dessas protagonizadas pelas diversas instituições que inclusive ainda hoje o integra.

A composição do FDHT-MT inclui um conjunto de 28 entidades agrupadas por

11 eixos temáticos, quais sejam: 1) Educação e comunicação; 2) Saúde; 3) Migrações,

trabalho escravo e tráfico de pessoas; 4) Meio Ambiente e Grupos Sociais; 5) Presídio,

tortura e comitê da verdade; 6) Políticas e Conselhos; 7) Programas de Proteção; 8)

Copa e megaeventos; 9) Terra e conflitos; 10) Gênero, diversidade sexual e geracional;

e 11) Religiões, imbuídas sempre na efetivação de processos emancipatórios e de

justiça social (Figura 4).

Figura 4 - Representação da dinâmica dos Grupos de Trabalhos no FDHT-MT

Elaborado por: Michèle Sato (2012).

32

As 28 entidades que integram o FDHT-MT, estão identificadas adiante por ordem

alfabética, objetivando demonstrar a amplitude da atuação desse movimento, não

obstante o recorte que se faz imperioso para o desenvolvimento nos limites de uma

pesquisa em Mestrado.

São elas:

1) Associação Brasileira de Homeopatia Popular-ABHP;

2) Associação de Defesa dos Direitos do Cidadão-ADDC;

3) Central Única dos Trabalhadores-CUT;

4) Centro Burnier Fé e Justiça-CBFJ;

5) Centro de DHs Henrique Trindade-CDHHT;

6) Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos de Mato Grosso–CEBI/MT;

7) Centro Pastoral Para Migrantes-CPM;

8) Conselho Indigenista Missionário em Mato Grosso-CIMI/MT;

9) Coletivo Jovem de Meio Ambiente-CJMT;

10) Comissão Pastoral da Terra-CPT/MT;

11) Comunidades Eclesiais de Base–CEB/Cuiabá;

12) Defensoria Pública de Mato Grosso-DPE;

13) Escritório de Direitos Humanos da Prelazia de São Félix do Araguaia;

14) Fórum de Lutas das Entidades de Cáceres-FLEC;

15) Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento-FORMAD;

16) Grupo Pesquisador em EA, comunicação e arte–GPEA-MT;

17) Instituto Caracol-IC;

18) Instituto Humana Raça Fêmina-INHURAFE;

19) Movimento dos Trabalhadores Sem Terra-MST;

20) Movimento Nacional de Direitos Humanos-MNDH-MT;

21) Operação Amazônia Nativa-OPAN;

22) Pastoral Carcerária-PC;

23) Pastoral do Migrante-PM;

24) Rede Mato-grossense de EA-REMTEA;

25) Sindicato dos Jornalistas de Mato Grosso-SINDJOR;

33

26) Sindicato dos Trabalhadores no Ensino do Público de Mato Grosso –

SINTEP/MT;

27) Sociedade Fé e Vida – Cáceres; e

28) Universidade Federal de Mato Grosso-UFMT.

O FDHT-MT estrutura suas atividades de diversos modos. Além de reuniões

mensais presenciais, vale-se, igualmente, das novas tecnologias da informação, tendo

uma lista de discussão pelo sistema Google, nas redes sociais Facebook, e em seu Blog.

O seu perfil criado na rede social Facebook abarca quase 1.531 amigos (FACEBOOK,

2015).9

Apesar de direcionar a sua atuação em demandas coletivas, em algumas ocasiões,

o fórum recebeu denúncias de pessoas ameaçadas, a exemplo de ilustração, temos o

caso do rapaz que noticiou os efeitos indesejáveis do terreno baldio no interior do MT,

e foi ameaçado pelo proprietário do imóvel. O FDHT-MT escreveu uma carta de apoio,

após apuração dos fatos, o rapaz publicou em seu blog e as ameaças pararam.

Outro caso interessante foi de um rapaz deficiente mental, morador no interior

de Mato Grosso, que desapareceu de casa. Sua mãe contatou representantes do fórum,

e sua fotografia e endereço foram divulgados no blog e Facebook (2014)10. Depois de

uma semana o rapaz foi encontrado. Isto porque alguém ligou para a mãe, alegando

ter visto a foto no Facebook do fórum.

E, ainda, em razão de algumas circunstâncias, representantes do FDHT-MT

visitam região e localidades denunciadas como áreas de conflitos sociais, no sentido

de dar apoio aos movimentos de grupos sociais em situação de risco.

Suas ações coletivas são resultantes muito de um articulamento, principalmente,

com entidades da sociedade civil organizada local, nacional e, em alguns casos,

internacional. Ao mesmo tempo, o FDHT-MT desenvolve intensa atividade de

mobilização coletiva com o objetivo de discutir políticas públicas voltadas à defesa dos

DHs e proteção socioambiental.

9Facebook. Perfil FDHT-MT. Disponível em: <https://www.facebook.com/direitoshumanosMT/friends>. Acesso em: 10 fev. 2015. 10Facebook. Perfil FDHT-MT. Disponível em: <https://www.facebook.com/direitoshumanosMT?fref=ts>. Acesso em 10 fev. 2015.

34

Regularmente empenha-se em organizar e participar de encontros coletivos

organizados em locais comunitários nos bairros e municípios de Mato Grosso, a

exemplo da V Conferencia Estadual de Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso,

coordenada pelo FDHT-MT (Figura 5).

Figura 5 - Reunião V Conferência Estadual de DH e da Terra de Mato Grosso, Cuiabá-MT, 2014

Autoria: Regina Silva e Michelle Jaber (2014). Fonte: Acervo de Denize Amorim.

Decorrente dessas articulações, o FDHT-MT consegue potencializar elaboração

coletiva de relatórios, denúncias, manifestos de Apoio, notas de Repúdio, bem como

Documentos Bases construídos a partir de uma discussão coletiva com representantes

comunitários de segmentos sociais e de comunidades tradicionais, essenciais a

formulação de Políticas Públicas.

Outro aspecto importante é que o FDHT-MT constrói suas ações primando pela

horizontalidade em suas decisões, sem prejuízo de estabelecer como mediador

35

administrativo o representante do CBFJ. Suas táticas de lutas resultam de um processo

de consulta coletiva entre todos representantes no fórum, contribuindo para a

construção e manutenção desse espaço coletivo e democrático.

Os diálogos e discussões temáticas, no mais das vezes, são iniciados e encerrados

por meio de ferramentas eletrônicas das redes sociais, além de utilizá-las para informes

e coordenação de ações coletivas, como a exemplo de dar apoio imediato a

determinada ação de enfrentamento nacional ou mesmo formular manifesto de

repúdio.

A lista de discussão não é aberta, exigindo que o interessado seja indicado por

algum membro do fórum. O gerenciamento da lista, do blog, das redes sociais e dos

sistemas de comunicação é realizado pelo GPEA/UFMT.

A organização e atuação em forma de rede permite ao FDHT-MT interligar-se a

diferentes realidades e espaços sociais, fortalecidos por meio de debates, trocas de

experiências, diálogos reflexivos e deliberações coletivas, firmados em valores e

projetos comuns.

2.2 Direitos Humanos, Justiça Ambiental e Mudanças Climáticas

Nesta pesquisa, marcos conceituais normativos julgo complementares e

facilitadores para uma melhor compreensão sobre a temática aqui tratada. Alguns dos

documentos institucionais aqui mencionados estão reproduzidos em meio magnético,

anexo a esta dissertação (Apêndice B).

Evidente que as soluções aos desafios sociais, ambientais e econômicos pautados

nas lutas pelo enfrentamento das desigualdades sociais, mesmo em uma perspectiva

abrangente, dinâmica e complexa, não se delimitam apenas pelas diretrizes

regulatórias atualmente em vigor.

Ao mesmo tempo, não se pode desconhecer a importância de documentos

internacionais, como a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), a

Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem (1948), o Pacto de San José da

Costa Rica / Convenção Interamericana de Direitos Humanos (1968), o Protocolo de

San Salvador sobre direitos econômicos, sociais e culturais (1988), voltados ao

36

fortalecimento das lutas dos movimentos sociais, no enfrentamento das desigualdades

sociais que atingem direitos fundamentais da pessoa humana envolvendo o meio

ambiente.

No Brasil, em 1988, a então promulgada Constituição Federal evidenciou a

preocupação com a construção de um Estado Brasileiro Democrático fundado na

dignidade da pessoa humana e na cidadania plena como componentes

principiológicos orientadores das relações institucionais em território brasileiro.

Em 2009, por Decreto Executivo Federal sob nº 7.037/2009, foi aprovado o

Programa Nacional de Direitos Humanos – PNDH-3, estabelecendo entre suas

diretrizes a interação democrática entre Estado e sociedade civil, e principalmente o

fortalecimento dos Direitos Humanos como instrumento transversal das políticas

públicas e de interação democrática.

O Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH) instituído como

política pública de responsabilidade dos Governos Federal e Estaduais, no âmbito da

educação formal e não formal, estabelece como um dos princípios a mobilização e

organização de processos participativos em “[...] defesa dos direitos humanos de

grupos em situação de risco e vulnerabilidade social, denúncia de violações e

construção de proposta para sua promoção, proteção e reparação” (BRASIL, PNEDH,

2009, p. 44).

Com a edição das Diretrizes Nacionais para Educação em Direitos Humanos -

DNEDH (BRASIL, 2012), o processo educativo em DHs vem sendo acreditado como

fundamental “[...] tanto para o acesso ao legado histórico dos Direitos Humanos,

quanto para a compreensão de que a cultura dos Direitos Humanos é um dos alicerces

para a mudança social”.

A partir disso, o fortalecimento da “educação em direitos humanos, com

finalidade de promover a educação para a mudança e a transformação social”,

fundamentalmente implica em efetivar o princípio da sustentabilidade socioambiental

(BRASIL, DNEDH, 2012). A educação em direitos humanos, no sentir de Maués e Weyl

(2007, p. 108), provoca a “[...] constante pesquisa desse aberto e dinâmico ‘objeto’ ”,

observando que:

37

Para além das pautas normativas – sem distar delas –, estamos diante da necessidade de ampliar os processos compreensivos acerca do humano, de sua natureza, da sua cultura como uma dimensão de sua natureza, de suas normas como uma das dimensões de sua forma, de seu viver.

Sobre o tema, Santos (2007, p. 23) alerta para a necessidade de reconhecer que

“[...] a complexidade dos Direitos Humanos reside em que eles podem ser concebidos

e praticados, quer como globalização hegemônica (localismo globalizado), quer como

globalização contra-hegemônica (cosmopolitismo)”. E, continua:

O multiculturalismo progressista pressupõe que o princípio da igualdade seja prosseguido de par com o princípio do reconhecimento da diferença. A hermenêutica diatópica pressupõe a aceitação do seguinte imperativo transcultural: temos o direito a ser iguais quando a diferença nos inferioriza; temos o direito a ser diferentes quando a igualdade nos descaracteriza (SANTOS, 2009, p.18).

Para Scherer-Warren (2012, p. 36), por meio das articulações em rede de

movimentos sociais implementam-se debates de temas transversais “[...] relacionados

a várias faces da exclusão social, e a demanda de novos direitos, [...] trazendo para esse

movimento a necessidade da ideia de indivisibilidade dos direitos humanos” (Figura

6).

Figura 6 - Representação da transversalidade das lutas sociais por direitos em redes de MS

Fonte: Scherer-Warren (2012).

38

Assim, a Justiça Ambiental e as Mudanças do Clima são temáticas que se

relacionam transversalmente com os direitos humanos, na medida em que se

interlaçam as lutas pelos direitos ecológicos, direitos políticos, direitos

socioeconômicos, entre outros.

Avançando nessa discussão, Acselrad (2010, p. 114) aduz que também as lutas

por justiça ambiental, tal como caracterizadas no caso brasileiro, combinam a defesa

dos direitos a ambientes culturalmente específicos (comunidades tradicionais); a

proteção ambiental equânime contra a segregação socioterritorial; e a defesa dos

direitos de acesso equânime a natureza.

A Rede Brasileira de Justiça Ambiental (RBJA), organização não governamental,

em 2002, constituía-se como movimento social referindo-se a Justiça Ambiental como

o “[...] ao tratamento justo e ao envolvimento pleno de todos os grupos sociais,

independentemente de sua origem ou renda nas decisões sobre o acesso, ocupação e

uso dos recursos naturais em seus territórios” (RBJA, 2002, online).11

Para a RBJA, são princípios da Justiça Ambiental: 1) os recursos ambientais como

bens coletivos, [...] cujos modos de apropriação e gestão devem ser objeto de debate

público e de controle social; 2) os direitos das populações do campo e da cidade a uma

proteção ambiental equânime contra a discriminação sócio-territorial e a desigualdade

ambiental; 3) garantias à saúde coletiva, através do acesso equânime aos recursos

ambientais, de sua preservação, e do combate à poluição, à degradação ambiental, à

contaminação e à intoxicação química ― que atingem especialmente as populações que

vivem e trabalham nas áreas de influência dos empreendimentos industriais e

agrícolas; 4) os direitos dos atingidos pelas mudanças climáticas, exigindo que as

políticas de mitigação e adaptação priorizem a assistência aos grupos diretamente

afetados; 5) a valorização das diferentes formas de viver e produzir nos territórios,

reconhecendo a contribuição que grupos indígenas, comunidades tradicionais,

agroextrativistas e agricultores familiares dão à conservação dos ecossistemas; 6) o

direito a ambientes culturalmente específicos às comunidades tradicionais, e 7) a

alteração radical do atual padrão de produção e de consumo.

11Embora a terminologia ‘recursos naturais’ seja utilizada pela RBJA, tem-se que a perspectiva presente nesse termo associa de modo ilegítimo a ideia de uso do solo, água, plantas e animais, em contexto absolutamente extrativista e servível à e descontrolada manipulação reprodutiva e tecnológica.

39

Dentre os princípios assumidos pela RBJA, merece destaque, nesta pesquisa, o

princípio – 4, sobre a proteção dos direitos dos grupos diretamente afetados pelas

mudanças climáticas, exigindo efetividade de políticas de mitigação e adaptação para

os grupos sociais mais vulneráveis.

Na leitura dos marcos principiológicos orientadores das ações da RBJA, percebe-

se que as lutas por Justiça Ambiental se aliam com as “[...] lutas populares pelos

direitos sociais e humanos, a qualidade coletiva de vida e a sustentabilidade

ambiental” (RBJA, 2002, online).

A respeito das mudanças do clima e suas consequências, a Convenção Quadro

das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) atribuiu expressa diferença

conceitual entre mudanças climáticas e variabilidade climática (IPCC, 2014, p. 5).

A mudança climática implica em alterações climáticas que possam direta ou

indiretamente ser atribuída à atividade humana, indicando uma tendência de

alteração da média no tempo. Por sua vez, a variabilidade climática é considerada uma

variação das condições climáticas em torno da média climatológica, aquelas

decorrentes exclusivamente de causas naturais (ANGELOCCI; SENTELHAS, 2007).

No Brasil, a Política Nacional sobre Mudança do Clima, instituída pela Lei

Federal nº 12.187, em 28.12.2009, considera mudança do clima quando “[...] possa ser

direta ou indiretamente atribuída à atividade humana que altere a composição da

atmosfera mundial e que se some àquela provocada pela variabilidade climática

natural observada ao longo de períodos comparáveis” (BRASIL, 2009).

Com a criação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas12,

reuniu-se cientistas de 130 países objetivando “[...] avaliar informações científicas,

técnicas e socioeconômicas relevantes para a compreensão da mudança climática

induzida, seus impactos e opções de mitigação e adaptação em potencial”, no âmbito

do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA, 1988, não paginado?).

O IPCC já concluiu quatro relatórios completos de avaliação, diretrizes e

metodologias, relatórios especiais e documentos técnicos, inclusive sobre os impactos,

condições de adaptação e vulnerabilidades humanas (IPCC, 2014).

12Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), órgão criado em 1988, pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA) e da Organização Meteorológica Mundial (OMM). Disponível em <http://www.ipcc-wg2.gov/>. Acesso em: 20 dez. 2014.

40

Em 1992, surge a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do

Clima elaborada durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento, realizada no Rio Janeiro – Brasil, destacando expressiva

preocupação quanto a anomalias nos dados de variações de temperatura observados

por cientistas, “[...] que indicavam uma tendência de aquecimento global devido a

razões antrópicas” (MMA, 2010).

O Brasil foi o primeiro a ratificar a Convenção do Clima, em 1994, e hoje é um

dos Estados firmatários da Convenção que mantém posição de liderança, alcançando

importante protagonismo dentro das negociações ali compromissadas (BRASIL,

MMA, 2010, online).

Em 2000, constituiu-se o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC)13

tendo por objetivo auxiliar o governo na incorporação das questões sobre mudanças

climáticas nas diversas etapas das políticas públicas, e também conscientizar e

mobilizar a sociedade para a discussão e tomada de posição sobre os problemas

decorrentes da mudança do clima por gases de efeito estufa.

O FBMC está organizado por câmaras temáticas, compostas por representantes

de diversos setores econômicos, sociais e técnico-científicos do País com

responsabilidade na implantação das medidas relacionadas à Convenção-Quadro das

Nações Unidas sobre Mudança do Clima.

Na condição de política pública, a abordagem brasileira sobre mudanças

climáticas consolida-se inicialmente com a edição do Plano Nacional sobre Mudança

Climática (BRASIL, 2008), passando este a ser considerado como um dos principais

instrumentos de planejamento e implementação da Política Nacional sobre Mudança

do Clima (BRASIL, 2009), estruturado em quatro eixos: oportunidades de mitigação;

impactos, vulnerabilidades e adaptação. O Plano possui caráter dinâmico e sujeita-se

a revisões e avaliações de resultados periodicamente

A Política Nacional sobre Mudança do Clima ganha status legislativo com a

edição da Lei Federal nº 12.187/2009, orientando impositivamente ao

13 O FBMC foi criado originalmente pelo Decreto nº 3.515, de 20 de junho de 2000, sofreu alterações

normativas pelo Decreto Presidencial de 28.08.2000. Para conhecer os órgãos e entidades que atualmente participam do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas. Disponível em: http://www.forumclima.org.br/pt/o-forum/composição>. Acesso em: 20 maio 2014.

41

comprometimento político de integração e harmonização dos “princípios, objetivos,

diretrizes e instrumentos” dos programas e das políticas públicas governamentais

compatibilizarem-se com o respectivo marco regulatório sobre o tema Mudanças

Climáticas.

Coadunado a essa proposta, o Painel Brasileiro sobre Mudanças Climáticas

apresenta o ‘Primeiro Relatório de Avaliação Nacional (PBMC, 2014), destacando a

relevância do crescente número de publicações científicas disponíveis para avaliar as

condições de adaptação e de vulnerabilidade, bem como a crescimento da base de

publicações sob o enfoque multidisciplinar, possibilitando maior foco nos impactos e

nas respostas sociais, além de uma cobertura integral continuada a nível regional,

contexto favorável à mobilização social. Ressalta, ainda, que:

A situação atual do clima exige grandes mudanças no estilo de vida, uma verdadeira revolução energética e a transformação do modo como lidamos com os recursos naturais. Nesse sentido, um processo de adaptação substancial é fundamental para se tentar reverter o panorama atual. [...] Todas as esferas de governo, a indústria, o comércio e a sociedade precisam estar envolvidos no desenvolvimento de uma resposta nacional adequada. Portanto, o entendimento dessas alterações climáticas em cada região é essencial para um planejamento estratégico e o processo de tomada de decisão. (PBMC, 2014, p. 10).

Em contexto mais local, temos o Fórum Mato-grossense de Mudanças Climáticas

(FMMC), instituído pela Lei Estadual nº 9.111, de 15.04.200914, criado com o objetivo

geral de mobilizar e conscientizar a sociedade mato-grossense sobre o fenômeno das

Mudanças Climáticas e propõe a promoção e a articulação dos órgãos e entidades

públicas e privadas com o Forum Brasileiro de Mudanças Climáticas.

Porém, apenas em 2010, o Fórum Mato-grossense aprovou o seu regimento

interno, definindo expressamente alguns de seus principais objetivos:

14Vinculado à Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMA), o Fórum Mato-grossense de Mudanças

Climáticas tem sua composição definida no Decreto Estadual nº 2.197, de 22 de outubro de 2009. Seu

Regimento Interno foi aprovado em 2010, em encontra-se disponível no site oficial da SEMA. Disponível

em:

<http://www.sema.mt.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=26&Itemid=45>.

Acesso em: 20 maio 2014.

42

I - promover a articulação dos órgãos e entidades públicas e privadas com o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas e com a Comissão Interministerial de Mudanças Climáticas, visando à formulação e implementação eficiente de políticas públicas relativas às mudanças climáticas globais;

II - propor normas para a instituição de uma Política Estadual de Mudanças Climáticas, em articulação com a Política Nacional de Mudanças Climáticas e outras políticas públicas estaduais e federais correlatas;

III - estimular a cooperação entre as três esferas de governo, organismos nacionais e internacionais, agências multilaterais, organizações não-governamentais nacionais e internacionais, instituições privadas, academia, setor empresarial, entre outros, no campo das mudanças climáticas globais. (MATO GROSSO, 2009).

Em 2012, foi aprovado pelo FMMC a proposta de anteprojeto de Lei do Sistema

Estadual de REDD+ de Mato Grosso. E, com a edição da Lei Estadual nº 9.878, de

07.01.2013, restou regulamentado o Sistema Estadual de Redução de Emissões de

Gases do Efeito Estufa (REDD+) para o Estado de Mato Grosso.

2.3 Justiça Climática e Educação Ambiental

Este trabalho abarca a Justiça Climática como um componente fundamental para

o desenvolvimento de medidas que potencializem condições de enfretamento humano

e ambiental frente às consequências de mudanças climáticas extremas.

Para Sato (2013, p. 41), o conceito de Justiça Climática referendado pela RBJA,

pode ser traduzido como “[...] o direito ao acesso justo e equitativo aos ambientes

naturais, [...], assim como a garantia de que nenhum grupo social suporte uma parcela

desproporcional da degradação ambiental”.

Milanez (2011, p. 84) expressa que a Justiça Climática “[...] surge como um

desdobramento do paradigma da justiça ambiental e da percepção de que os impactos

das mudanças climáticas atingem de forma e intensidade diferentes grupos sociais

distintos”.

43

Malerba e Leroy (2008, p. 48), por sua vez, defendem que é uma categoria

sociopolítica, construída no plano político, no plano econômico, no plano institucional,

no plano jurídico, e na sociedade. Preceituam que:

A Justiça Climática é entendida como o conjunto de princípios que asseguram que nenhum grupo de pessoas, sejam grupos étnicos, raciais ou de classe, suporte uma parcela desproporcional de degradação do espaço coletivo provocada pelo câmbio climático tal que afete gravemente a qualidade de vida, inviabilize a sua reprodução e os obriga a migrar.

O componente Justiça Climática ganha maior visibilidade política a partir de

diversas mobilizações organizadas pela sociedade civil, que sustentadas em estudos

científicos e conhecimentos populares, reivindicam a efetividade dos direitos

fundamentais a dignidade da pessoa humana, inseridos em marcos regulatórios

instituídos no contexto internacional e nacional, e nos quais definiram-se conceitos,

princípios e obrigações aos países signatários, fortalecendo as discussões sobre a

temática Justiça Climática.

A ‘Marcha Mundial por Justiça Climática, Sustentabilidade e Contra o

Aquecimento Global’ (MMJC, 2013), que atua como fórum e ocorre em 100 países, tem

entre seus objetivos básicos a democratização de informação sobre a Emergência

Climática a fim de alcançar a mobilização da sociedade mundial; realizar a Marcha

Mundial do Clima anualmente, com ações que pressionem os Governos a cumprirem

legislação local e mundial sobre o Clima; e, ainda, a luta pela mudança imediata da

“matriz energética suja para a limpa” e “por medidas para socorrer as vítimas

nacionais e mundiais da emergência climática”.

Oportunamente, a Rede Brasileira de Justiça Ambiental manifestou

expressamente sua compreensão a respeito da Justiça Climática, considerando-a como

uma temática com características específicas que exsurge a partir do novo contexto

social sobre eventos extremos oriundos das mudanças climáticas, ressalvando:

Globalmente, os países mais pobres e os ditos emergentes são vítimas de injustiça climática por parte dos países industrializados que, historicamente, são os primeiros responsáveis por nos levar a essa situação.

44

Mas, por sua vez, os países pobres e emergentes não podem se eximir das suas responsabilidades, primeiro porque governos, setor privado e boa parte das suas sociedades buscam copiar o mesmo modelo e, segundo, porque repetem no seu interior as desigualdades ‘Norte-Sul’.

Em relação às mudanças climáticas, também operam mecanismos sociopolíticos que destinam a maior carga dos danos produzidos por essas mudanças sobre populações de baixa renda, segmentos raciais discriminados, parcelas marginalizadas e mais vulneráveis da cidadania (RBJA, grifos do autor).

A Justiça Climática, hoje, mostra-se um movimento independente, com

características particulares e princípios específicos, envolvendo garantias às

comunidades e segmentos sociais frente aos impactos e outras formas de danos

coletivos oriundos de eventos extremos relacionados as mudanças climáticas. É

considerada um componente fundamental para o desenvolvimento de ações que

potencializem condições de enfretamento humano e ambiental frente as consequências

de mudanças climáticas.

Como particularidade, os movimentos de lutas por Justiça Climática acontecem

em contextos socioeconômicos que apresentam um caráter transfronteriço, pois

envolvem Estados não limítrofes, em razão da natureza dos danos e impactos

ambientais, e respectivas consequências oriundos de fenômenos extremos no clima.

No Brasil, esse movimento independente que se criou por Justiça Climática,

inspirado na Convenção do Clima e em outros marcos regulatórios, orientando-se

fortemente em princípios específicos como da precaução, da prevenção, da

participação cidadã, do desenvolvimento sustentável, das responsabilidades comuns

e da equidade, firmando a inequívoca conexão entre justiça climática e direitos

humanos.

O princípio da equidade serve para assegurar a observância dos diferentes

contextos socioeconômicos,

[...] distribuindo os ônus e encargos decorrentes entre os setores econômicos e as populações e comunidades interessadas de modo equitativo e equilibrado e sopesar as responsabilidades individuais quanto à origem das fontes emissoras e dos efeitos ocasionados sobre o clima. (BRASIL, PNMC, 2009).15

15 Lei Federal que dispõe sobre o Plano Nacional sobre Mudanças Climáticas.

45

Nas interseções conceituais entre justiça climática e direitos humanos,

confiamos na necessidade de um olhar inteiro, sistêmico dos conflitos socioambientais,

para tanto propondo agregar uma Educação Ambiental que considere as

particularidades de cada indivíduo e ou grupo, em seus respectivos contextos,

consubstanciado por um processo educador que potencialize os atores nele

envolvidos, “[...] promovendo a ampliação de sua conectividade com instituições

educativas ambientais diversas e o fortalecimento desse processo, possibilitando assim

a sua continuidade” (SORRENTINO, 2010, p. 09).

Ao elaborar um documento descritivo contendo proposta de campanha sobre

educação ambiental e mudanças climáticas, incluindo “estratégia” (sic) de execução,

Tamaio (2010, p. 4) destaca a seriedade da “[...] modalidade difusa de EA no processo

de enfrentamento do aquecimento global e suas implicações, podendo contribuir para

o esclarecimento, engajamento e participação da sociedade civil em ações individuais

e coletivas”.

A Educação Ambiental em sua percepção política, não se limita a compreensão

unitária dos resultados negativos das modificações ambientais em seu sentido

ecológico, mas protesta pela necessidade de apreender os seus “[...] objetivos

multidimensionais”, para em seu processo construtivo trazer eloquência para uma

concepção de democracia participativa, esta enquanto princípio natural do movimento

de construção de uma efetiva cidadania ambiental (SATO, 2002, p. 23).

Relevando a importância dos espaços coletivos sociais, Gohn (2010a, p. 16),

afirma que os Novos Movimentos Sociais (NMS) destacam-se em uma típica ciranda

educativa de formação popular, envolvendo temas como inclusão social e cultura

política, em uma ressignificação dos ideais clássicos de Igualdade (para Justiça Social),

Fraternidade (para Solidariedade) e Liberdade (para Inclusão Social).

Isso porque, a conjuntura política de uma sociedade significa um fator

determinante no desenvolvimento e fortalecimento dos NMS, principalmente, quando

no contexto social predomina uma crise de legitimidade do regime político vigente e

a crescente degradação das condições socioeconômicas de uma coletividade (JACOBI,

1993, p. 138).

46

Nesse contexto multidimensional, elegendo a justiça climática como porta de

entrada dos diálogos investigativos junto ao FDHT, a Educação Ambiental poderá

ensejar uma reflexão individual e ao mesmo tempo coletiva que possibilite debater

sobre a necessidade de formação popular direcionada aos desafios derivados de lutas

por Justiça Climática, principalmente junto aos grupos e comunidades mais

vulneráveis.

As Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos16 impõem sejam

observadas pelos sistemas de ensino e respectivas instituições, o uso de concepções e

práticas educativas capaz de promover uma educação para mudança e transformação

social sustentada, inclusive, na dignidade humana e na sustentabilidade

socioambiental.

E, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental - DCNEA,

editada pela Resolução nº 2, de 15.06.2012, reconhecem que:

[...] o papel transformador e emancipatório da Educação Ambiental torna-se cada vez mais visível diante do atual contexto nacional e mundial em que a preocupação com as mudanças climáticas, a degradação da natureza, a redução da biodiversidade, os riscos socioambientais locais e globais, as necessidades planetárias evidenciam-se na prática social. (DCNEA, 2012).17

Além disso, as Diretrizes Nacionais para a EA (DCNEA, 2012) propõem:

[...] construir outras práticas que considerem a interferência do ambiente na qualidade de vida das sociedades humanas nas dimensões, local, regional e planetária; bem como o estabelecimento das relações entre as mudanças do clima e o atual modelo de produção, consumo, organização, visando à prevenção de desastres ambientais e à proteção das comunidades.

16 Resolução CNE/CP nº 1, de 30 de maio de 2012. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Educação em Direitos Humanos. Disponível em < http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&id=17810&Itemid=866>. Acesso em: 25 fev. 2015. 17 Resolução CNE/ CP nº 2, de 15 de junho de 2012. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/publicacao13.pdf>. Acesso em: 25 fev. 2015.

47

Assim, a Educação Ambiental tem reconhecido o seu papel transformador, e uma

vez estabelecida no contexto educativo, potencializa a construção de uma educação

voltada a reflexão sobre as relações entre modelo de desenvolvimento econômico e

mudança climática, associado a responsabilidade de prevenção de desastres

ambientais e, principalmente, proteção das comunidades tradicionais.

48

Figura 7 - Puxada de Rede, de Cândido Portinari (1959)

Autor: Cândido Portinari (1959). Fonte: <www.portinari.org.br>.

CAPÍTULO 3. METODOLOGIA – Na tessitura da teia

A pesquisa é participante porque, como uma

alternativa solidária de criação de conhecimento social, ela se inscreve e participa de processos relevantes de

uma ação social transformadora de vocação popular e emancipatória (BRANDÃO, 2006, p. 32)

49

3.1 Ações Investigativas e Método

Pesquisadores que optam por uma abordagem qualitativa, contrapõem-se a ideia

de existência de um único modelo de pesquisa para todas as ciências. Na pesquisa

qualitativa o investigador é ao mesmo tempo sujeito e objeto de pesquisa (SILVEIRA;

CORDOVA, 2009).

Entre as variadas formas de pesquisa qualitativa, inspiramo-nos na pesquisa

participante como instrumento de conhecimento e compreensão crítica de eixos e

esferas da realidade cotidiana, e “[...] deve ser encarada como um instrumento de

trabalho não menos confiável e rigoroso do que a pesquisa acadêmica, pelo fato de se

propor como uma atividade mais coletiva, mais participativa e mesmo mais popular”

(BRANDÃO, 2006, p. 38).

No pensar de Minayo (2010, p. 51), discutindo sobre essa abordagem

investigativa:

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se

ocupa, nas Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode

ou não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo

dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores

e das atitudes. Esse conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui

como parte da realidade social, pois o ser humano se distingue não só

por agir, mas pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro

e a partir da realidade vivida e partilha com seus semelhantes. Desta

forma, a diferença entre abordagem quantitativa e qualitativa da

realidade social é de natureza e não de escala hierárquica.

Significando um instrumento de “[...] conhecimento sistemático da vida social,

[...]pretender realizar no interior das experiências práticas das ‘causas populares’ [...]

integrações e interações entre esferas de competência científica, pedagógica, ética e

política” (BRANDÃO, 2006, p. 39).

A pesquisa participante pode ser identificada como “[...] um momento de um

trabalho popular de dimensão pedagógica e política [...] mais ampla e de maior

continuidade do que a própria pesquisa” (BRANDÃO, 2006, p. 40).

Isso considerando, frisemos que o método que inspira esta pesquisa coaduna-se

às condições e às necessidades das classes e segmentos mais carentes e vulneráveis das

50

estruturas sociais contemporâneas, “[...] levando em conta suas aspirações e

potencialidades de conhecer e agir [...] que procura incentivar ao desenvolvimento

autônomo (autoconfiante) a partir das bases e uma relativa independência do exterior”

(FALS, 1999, p. 43).

A pesquisa participante assume como princípios metodológicos, na leitura de

Fals (1999, p. 49): a) autenticidade e compromisso; b) antidogmatismo; c) restituição

sistemática; d) feedback para os intelectuais orgânicos; e) ritmo e equilíbrio de ação-

reflexão; e f) ciência modesta e técnicas dialogais.

A autenticidade e compromisso resultou no compromisso pessoal com uma

postura honesta e dedicada frente ao todo o grupo pesquisado, principalmente em

relação às causas e ações de lutas populares acompanhadas ativamente no decorrer da

pesquisa.

Por “antidogmatismo” compreende-se o compromisso do pesquisador de evitar

ideias pré-concebidas ou os dogmas científicos, “[...] que impedem os grupos de

entenderem melhor os problemas e agir em defesa deles [...] deixar a postura da ciência

que apregoa a imparcialidade e da relação sujeito-objeto” (AMORIM, 2011, p. 77), e

por isso escolhemos converter o momento da pesquisa em uma parceria com o

movimento social pesquisado.

No contexto de uma pesquisa participante, deve ainda o pesquisador empenhar-

se para que ocorra uma “restituição sistemática”, ou seja, possibilitar ordenadamente

que o grupo pesquisado elabore outros níveis de consciência política.

Para isso, optamos nos diálogos para a pesquisa por uma comunicação

diferenciada do cotidiano meramente científico ou jurídico, observando os níveis de

participação do grupo; preferindo a simplicidade na forma de comunicação,

possibilitando garantir ampla acessibilidade a todos os integrantes; utilização de

técnicas dialogais para romper a tradicional relação que impõe diferença e, portanto,

distanciamento entre objeto e sujeito.

Outro princípio é o “feedback para os intelectuais orgânicos”. Segundo Gramsci

(1982, p. 3), os intelectuais orgânicos têm como característica a centralização de um

conjunto geral de relações sociais. Assim,

51

Cada grupo social, nascendo no terreno originário de uma função

essencial no mundo da produção econômica, cria para si, ao mesmo

tempo, de um modo orgânico, uma ou mais camadas de intelectuais

que lhe dão homogeneidade e consciência da própria função, não

apenas no campo econômico, mas também no social e no político.

Esses intelectuais são grupos de pessoas idôneas, com experiências, que são

encontrados no próprio grupo pesquisado e que contribuem para aspectos práticos e

políticos do trabalho no campo (AMORIM, 2001, p. 78).

Os sujeitos que se propõe a pensar a realidade social, acabam por tornar-se

operadores entre a sociedade civil, movimentos sociais e Estado, podendo ser

denominados de intelectuais orgânicos. Para Gramsci (1982, p. 7/8) intelectual é:

Um “filósofo”, um artista, um homem de gosto, participa de uma concepção do mundo, possui uma linha consciente de conduta moral, contribui assim para manter ou para modificar uma concepção do mundo, isso é, para promover novas maneiras de pensar.

Nesta pesquisa, todos os entrevistados foram escolhidos em razão de

reconhecida idoneidade, uma notória e longa experiência nas ações de lutas para

defesa de direitos socioambientais, bem como reconhecidos militantes em direitos

humanos, todos representantes de movimentos sociais organizados, e por isso

considerados na pesquisa como intelectuais orgânicos.

Além disso, adotamos como proposta o uso de ‘técnicas dialogais’, formada na

disposição desta pesquisadora em aprender com os sujeitos pesquisados, e com o

grupo envolvido na pesquisa.

Pela pesquisa participante apreendemos as informações necessárias por

entrevistas não-estruturadas, com o objetivo de conhecer o movimento de criação, a

estrutura organizacional das entidades entrevistadas, integrantes no GT ambiente, o

funcionamento e dinâmica no contexto proposto no marco do FDHT-MT, por meio de

seu cotidiano, tentando apreender um pouco dos sentidos que o grupo e os

entrevistados definiram como importantes e reais.

Brandão (2006, p. 31) define a pesquisa participante como “[...] um instrumento

científico, político e pedagógico de produção partilhada de conhecimento social e,

também, um múltiplo e importante momento da própria ação popular”. Na leitura de

52

Brandão (2007, p. 51), as pesquisas participantes são postas em práticas dentro dos

movimentos sociais populares ou se reconhecem estando a serviço de tais

movimentos, convergindo com a proposta de educação popular.

Influenciado por Freire (2011, p. 55), Brandão diz ser necessário reconhecer a

pluralidade nas relações com o mundo, criticidade, ao diálogo como modo de

aprendizagem libertadora, vínculos estes que ambos autores estabeleceram com a

ascensão popular. Observemos as ponderações deste último:

É através do exercício de uma pesquisa e da interação entre os diferentes conhecimentos que uma forma partilhável de compreensão da realidade social pode ser construída. O conhecimento científico e o popular articulam-se criticamente em um terceiro conhecimento novo

e transformador. (BRANDÃO, 2006, p. 54).

Prosseguindo na discussão, recorremos a Amorim (2011, p. 77) que, nessa mesma

linha de percepção oferece suas contribuições ao asseverar que:

Numa abordagem mais ligada aos contextos de seu surgimento, a pesquisa participante requer autonomia e envolvimento com a base do que se está pesquisando. A pesquisa participante é essencialmente voltada para os grupos sociais que buscam uma atuação política como forma de garantir seus direitos.

Nesta travessia epistemológica, a práxis que se revela por meio da pesquisa

participante coaduna com a política de um fórum que se orienta pelos direitos

humanos e tem a coragem de incluir a dimensão ambiental como intrínseca à sua

organicidade. Episteme, práxis e axioma se unem em uma espiral que Sato (2013)

considera como dimensões inseparáveis da pesquisa em Educação Ambiental.

O trabalho envolve o encontro com as potencialidades e limitações e o sentido

que o sujeito coletivo atribui aos fatos e acontecimentos ligados ao tema da pesquisa,

as respectivas táticas de lutas implementadas em defesa do meio ambiente, por

considerá-la forte elemento de formação sobre a natureza indivisível e universal dos

direitos humanos, a educação política e a justiça ambiental, como fundamento da

dignidade da pessoa humana e da cidadania.

Ao analisar as ações e dinâmicas desenvolvidas no grupo escolhido, pretende-se

evidenciar as contradições ou descompassos ou mesmo a potencialidade prática que

traz esse movimento social, propondo uma EA que acontece nas relações humanas

53

cotidianamente, inspirada na educação popular freireana, para significar uma leitura

do mundo para a sua transformação, utilizando como ferramenta o diálogo, este

sinônimo de esforço humano e superação contra a não cidadania.

Brandão (2007, p. 55) argumenta sobre a pesquisa participante que:

A investigação, a educação e a ação social convertem-se em momentos metodológicos de um único processo dirigido à transformação social. Mesmo quando a pesquisa sirva a uma ação social local, e limitada como foco sobre uma questão específica da vida social, é o seu todo o que está em questão.

E é a possibilidade de transformação de saberes, de sensibilidades e de motivações populares em nome da transformação da sociedade desigual, excludente e regida por princípios e valores do mercado de bens e de capitais, em nome da humanização da vida social, que os conhecimentos de uma pesquisa participante devem ser produzidos, lidos e integrados como uma forma alternativa emancipatória de saber popular.

No encontro da educação popular com os movimentos sociais, a referência

teórico-prática firma-se na essencialidade dos diálogos de Paulo Freire. A Educação

Popular foi definida por Freire (1999, p. 19) como:

[...] o esforço de mobilização, organização e capacitação das classes populares; capacitação científica, e técnica. Entendo que esse esforço não se esquece, que é preciso poder, ou seja, é preciso transformar essa organização do poder burguês que está aí, para que se possa fazer escola de outro jeito.

Com isso, possibilita-se consolidar uma cultura de cidadania e responsabilidade

socioambiental, oriunda de interações horizontais principalmente entre o indivíduo e

os diversos atores coletivos, ligados aos temas educação ambiental, direitos humanos

e justiça climática.

No limite desta pesquisa também se observa as principais táticas de luta

cotidianas utilizadas pelo fórum, e que se traduzem pela arte e ‘maneiras de fazer’,

práticas pelas quais os sujeitos se reapropriam do espaço organizado pela ordem

econômica dominante, para tornar visíveis as resistências do homem/mulher comum

(CERTEAU, 2005).

54

As ações investigativas desenvolvidas durante este trabalho, acabaram por

traduzir, em alguns contextos, “[...] um trabalho de educação popular junto com e a

serviço” (BRANDÃO, 2006, p. 43), do grupo e movimentos sociais partícipes, a

exemplo da atuação desta pesquisadora, junto ao Consema, como representante do

Instituto Caracol.

3.2 Os processos da pesquisa

Embora possamos afirmar que a dimensão ambiental esteja transversalmente

presente em cada Grupo de Trabalho (GT), nesta pesquisa direciono os estudos para

entrevistar os participantes que integram o GT Ambiente e Grupos Sociais, por

entender mais diretamente apropriado com os objetivos acadêmicos aqui assumidos.

Foram escolhidas oito entidades, alcançando realizar um total de 10 entrevistas,

assim distribuídas:

a) As entidades Instituto Caracol, Comissão Pastoral da Terra, Centro Bunier Fé

e Justiça, Coletivo Jovem de Meio Ambiente, Conselho Indigenista

Missionário e Universidade Federal de Mato Grosso integram diretamente o

Grupo de Trabalho ‘Ambiente e Grupos Sociais’; e

b) As entidades Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento,

e Defensoria Pública Estadual, apesar de não integrarem o Grupo de Trabalho

“Ambiente e Grupos Sociais”, foram escolhidas em razão do envolvimento e

do significativo histórico de atuação institucional na defesa do meio ambiente

e grupos sociais vulneráveis.

As entrevistas foram realizadas entre janeiro e maio de 2014, observando a

agenda individual dos entrevistados e desta pesquisadora, esta que já participava das

reuniões ordinárias e realizadas no FDHT-MT, na condição de representante do

Instituto Caracol.

Isso acabou por favorecer uma convivência quase que cotidiana com os

entrevistados, vez que as ações desencadeadas pelo Fórum – a exemplo das próprias

reuniões mensais de trabalho, possibilitavam constantes descobertas e aprendizagens

55

sobre os saberes populares ali representados, criando diálogos que serviram para

delimitar o recorte desta pesquisa. Antes de cada entrevista, foram colhidas

autorizações, que integram este trabalho na condição de apêndice.

As informações foram coletadas por anotação manuscrita, e, em alguns casos em

gravação digital de áudio, inexistindo necessidade de significativas correções

gramaticais. Nesta última hipótese, posteriormente procedi às respectivas transcrições

conforme os limites dados a nossa pesquisa, qual seja, pautando-se pelos informes

disponíveis sobre as questões das ações de lutas empreendidas pelos FDHT-MT, e em

referência à Justiça Climática e a Educação Ambiental.

Foram lançadas, aos entrevistados, perguntas não estruturadas sem apresentar

tendências, buscando um diálogo espontâneo com o nosso entrevistado, no modo de

perguntas sem qualquer rigidez de sequência, a seguir descritas:

Como o ambiente está presente na sua organização?

Vocês têm debatido ou se preocupado com a mudança climática?

As atividades do agronegócio, desde a queimada, desflorestamento, uso

abusivo do agrotóxico, monocultura e até o trabalho escravo têm sido

consideradas grandes responsáveis da exclusão social e crime ambiental.

Essas atividades estão sendo consideradas como uma das grandes

responsáveis da mudança climática, pois há alta produção do CO2 (outros

gases estufa). Outras atividades de transporte, energia ou consumo

também são causadoras do aquecimento global”. O que você propõe como

tática de luta contra essas atividades?

A lei preconiza que “Somos todos iguais perante a lei”. Você concorda?

Você acredita que a mudança climática atingirá todos/todas na mesma

proporção e intensidade?

Você acredita que o FDHT-MT é também uma instância da educação, isto

é, aprendemos e ensinamos coletivamente?

Com isso, as reflexões propostas são: compreender como a Justiça Climática é

percebida pelos sujeitos entrevistados; se as táticas de lutas nas atividades do FDHT-

56

MT contribuem para o enfrentamento das causas que agravam as mudanças

climáticas? Como os sujeitos entrevistados apreendem a Justiça Climática e a

diversidade de sujeitos na arena de lutas; e, por fim, se o processo construído no

FDHT-MT pode ser considerado uma instância da educação ambiental?

As demais informações, necessárias à pesquisa, foram coletadas por meio de

buscas, quando existentes, de imagens e textos de referências, disponibilizados nos

sites oficiais de cada uma das entidades entrevistadas.

Após a realização das entrevistas junto às entidades integrantes do FDHT-MT,

optamos pela seguinte ordem de apreensão metodológica:

a) selecionar os trechos principais das entrevistas;

b) transcrever as partes principais das entrevistas;

c) sistematizar os resultados das entrevistas entre grupos de objetivos;

d) englobar as ideias em cada categoria;

e) interpretar a pesquisa à luz dos conceitos subjacentes ao objeto investigado.

O conteúdo de cada entrevista foi submetido a nova aprovação dos

entrevistados, para que pudessem integrar este trabalho.

Mesmo após a realização das entrevistas, e já na fase de compilação das

informações colhidas, continuei acompanhando alguns eventos coordenados pelo

FDHT-MT, a exemplo do Seminário Nacional de Direitos Humanos, acontecido em

setembro de 2014, inclusive, auxiliando por alguns dias nos trabalhos de apoio da

Relatoria; na V Conferência Estadual sobre o Plano Estadual de Direitos Humanos e da Terra,

em dezembro de 2014, com o principal objetivo de possibilitar a discussão com o

segmento social as propositivas para o Plano Estadual de Direitos Humanos em MT.

Por minha formação e experiência jurídica, acabei me dedicando especialmente

a leitura dos marcos regulatórios internacionais, nacional e regional, apreendendo o

desafio de um novo olhar sobre eles, não apenas sob a ótica legal, mas de modo a

concentrar as interpretações mais pertinentes aos objetivos e princípios envolvendo a

proteção aos direitos humanos, a defesa de uma cidadania política e participativa, e a

proteção ambiental.

Integrar-me ao grupo, como pesquisadora e, ao mesmo tempo, como

representante do Instituo Caracol integrante do fórum pesquisado, possibilitou-me

57

um amadurecimento em razão da pesquisa, onde a “[...] autoria individual integrou-

se em uma produção intelectual e social coletiva e [...]tornar também a investigação

científica e social uma forma solidária de participação” (BRANDÃO, 2006, p. 11). Em

outras palavras, um rico aprendizado pela partilha, na convivência direta, de relatos

de vida e de experiências de militância, e também sobre os obstáculos cotidianos

vivenciados por cada um dos entrevistados.

Sem dúvidas, uma participação permeada de duplo sentido, por uma prática

pessoal e coletiva de valor pedagógico, como descreve Brandão (2006, p. 31).

Um olhar sobre histórias individuais, contudo que ao mesmo tempo é

coletivamente comum, aproximando-os, pois, em militância, que, uma vez

compreendida, percebe-se que tais vivências foram fundamentos para a maioria dos

direitos sociais, individuais e difusos que atualmente estão literatizados em nossas

normas jurídicas – e talvez propositadamente - sem deixar transparecer que são

resultados de lutas sociais históricas.

58

Figura 8 - ‘Ciranda’, de Antônio Poteiro

Fonte: Instituto Antônio Poteiro (2002). 18

CAPITULO 4. RESULTADOS – Arquitetura da Teia

Os bons e os maus resultados dos nossos ditos e obras vão se distribuindo, [...] por todos os dias do futuro, incluindo aqueles infindáveis, em que já cá não estaremos para poder comprová-lo, para congratular-nos ou pedir perdão, aliás, há quem diga que isso é a imortalidade de que tanto se fala. (SARAMAGO, 1995, p. 84).

18Disponível em <institutoantoniopoteiro.blogspot.com>. Acesso em: 30.06.2015.

59

4.1 Diálogos em Roda

A educação e o meio ambiente são considerados direitos fundamentais,

alicerçados no princípio da dignidade da pessoa humana e reconhecidos em

construções coletivas importantes, como a Declaração Universal dos Direitos

Humanos, pois considera que o reconhecimento da dignidade e de direitos iguais e

inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz mundial (ONU, 1948).

O reconhecimento internacional significa um avanço histórico na luta pela

universalização e fortalecimento do meio ambiente e dos direitos humanos e

liberdades fundamentais. Sauvé (2005, p. 319) afirma que a “[...] relação com o meio

ambiente é eminentemente contextual e culturalmente determinada”.

Para Sauvé (1997, p. 76) ao menos “seis concepções paradigmáticas” podem

identificar o meio ambiente, ressaltando ser adequada a escolha de processos

pedagógicos que integrem essas visões complementar e cumulativamente. O Quadro

1 apresenta um resumo dessa tipologia:

Quadro 1 - Tipologia de Concepções sobre Ambiente na EA (SAUVÉ, 1997, p. 4-5)

Ambiente Relação Características Metodologias

Como natureza Para ser apreciado e preservado

Natureza como catedral, ou como um útero, pura e original

• Exibições; • Imersão na natureza

Como recurso Para ser gerenciado Herança biofísica coletiva, qualidade de vida

• Campanha dos 3 Rs; • Auditorias

Como problema Para ser resolvido Ênfase na poluição, deterioração e ameaças

• Resolução de problemas; • Estudos de caso

Como lugar para viver

EA para, sobre e no para cuidar do ambiente

A natureza com os seus componentes sociais, históricos e tecnológicos

• Projetos de jardinagem; • Lugares ou lendas sobre a natureza

Como biosfera Como local para ser dividido

Espaçonave Terra, ‘Gaia’, a interdependência dos seres vivos com os inanimados

• Estudos de caso em problemas globais; • Estórias com diferentes cosmologias

Como projeto comunitário

Para ser envolvido A natureza com foco na análise crítica, na participação política da comunidade

• Pesquisa(ção) participativa para a transformação comunitária; • Fórum de discussão

Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira ( INEP).

60

No diálogo19 com os sujeitos desta pesquisa, é possível reconhecer que o meio

ambiente se apresenta fortemente no cotidiano das entidades entrevistadas, como um

componente basilar e interferente na atuação individual e coletiva dos movimentos

sociais aqui representados.

Entre os entrevistados, cinco afirmam compreender o meio ambiente, pautando-

se na classificação de Sauvé (2005, p. 318), como biosfera, espaço em que se vive juntos,

“[...] a terra como uma matriz de vida, esse jardim compartilhado que alimenta o

universo simbólico de inúmeros povos [...]”. Adiante, trechos de algumas dessas

entrevistas:

[...] um espaço essencial, onde os outros direitos desses povos vão se dá, então, o laço principal é o território [...] (Gilberto Vieira, CIMI).

[...] esse território enquanto espaço de reprodução de vida, reprodução culturais, de convivência como outro e com o meio em que a pessoa vive [...] (Roberto Rossi, CBFJ).

[...] no sentido mais amplo, um dos elementos fundamentais, ambiente como espaço de vida, de cultura, de relação, de construção social. É o local onde a vida acontece (Paulo Cesar, CPT).

[...] o ser humano não está por estar aqui neste lugar, [...] ele veio com as condições favoráveis para existir aqui, junto com todos os seres vivos. São os direitos também da terra que devem ser respeitados, porque também deve-se respeitar a vida de todos (Denize Amorim, IC).

A associação do termo ambiente com o local de vida tem “[...] como ponto de

partida uma abordagem que considera a conduta territorial como parte integral de

todos os grupos humanos” (LITTLE, 2002, p. 3).

Para Silva (2011, p. 131) a concepção de território remete:

[...] aos aspectos ecológicos, históricos, sociais, culturais, políticos e econômicos, fundamentalmente, ligados às bases materiais e simbólicas da vista. Para nós, o território é o espaço construído materialmente e, simbolicamente, onde permeiam identidades, racionalidades e temporalidades distintas.

19Neste tópico, as declarações concedidas pelos entrevistados serão apresentadas em trechos específicos, utilizando-se letras diferentes e recuo diferenciado, para diferenciar do texto e das citações teóricas.

61

Nesse sentir, pensar o ambiente como um todo, como um conjunto de diversas

partes ligadas, é pensar uma complexidade que se compõe de múltiplos elementos

diferentes, inseparáveis e constitutivos de um tecido independente e interativo. Uma

complexidade significada pela “[...] união entre a unidade e a multiplicidade”

(MORIN, 2002, p. 38).

Para tanto, Carvalho (2012, p. 157) propõe:

[...] construir uma cultura ecológica que compreenda natureza e sociedade como dimensões intrinsecamente relacionadas e que não podem mais ser pensadas seja nas decisões governamentais, seja nas ações da sociedade civil — de forma separada, independente ou autônoma.

Sorrentino (2005, p. 289), afirma que a:

Educação Ambiental entra nesse contexto orientada por uma racionalidade ambiental, transdisciplinar, pensando o meio ambiente não como sinônimo de natureza, mas uma base de interações entre o meio físico-biológico com as sociedades e a cultura produzida por seus membros.

Para Morin (2002, p. 159) é indispensável uma reforma conceitual que possibilite

“[...] gerar um pensamento do contexto e do complexo”.

Corroborando essa ideia, Silva (2011, p. 131) expressa que uma “[...] guinada

conceitual se dá quando um sentido político cultural é trazido como componente ao

debate” ambiental.

Continuando essa trilha, entre os demais interlocutores, quatro dos entrevistados

enfatizam uma compreensão ambiental com acentuada associação entre meio

ambiente e problemas ambientais, ao relevar uma ideia imediatamente associativa

com os “problemas” e “impactos ambientais”, “mudanças climáticas”, “trabalho

escravo e queimadas”, como se vê adiante:

[...] toda a questão ambiental [...], os problemas ambientais em nível da plataforma de direitos humanos [...], tanto os direitos econômicos, sociais, ambientais e culturais [...] (Inácio Werner, CBFJ). Um dos objetivos é exigir políticas públicas que diminuam os impactos, que punam os infratores, as empresas e os proprietários que causam grandes impactos ambientais, [...] (João Inácio, FORMAD).

62

[...] que a ideia de meio ambiente seja algo que ajude a vida sustentável [...] com proposta de mudança, de mostrar todos os problemas ambientais [...] (Romário Augusto, CJMT). [...] a gente propunha colóquios de formação e a gente trazia esses temas, trabalho escravo, mudanças climáticas, queimadas [...] (Elizete

Gonçalves, CJMT).

Esse pensamento agrupa proposições em que o meio ambiente é associado

principalmente como um conjunto de problemas ambientais.

Nesse horizonte conceitual, urge a ideia de um ambiente maculado gravemente

pela aceleração crescente dos problemas ambientais, que propõe “[...] levar as pessoas

a se informar sobre problemáticas ambientais, assim com a desenvolver habilidades

voltadas a resolvê-las” (SAUVÉ, 2005, p. 21).

Diante das diversas possibilidades teóricas e práticas no campo da EA,

consideradas como correntes teóricas distintas mas que não são entre si excludentes,

ao contrário, em alguns de seus planos compartilham características comuns, a

compreensão deste grupo de entrevistados, na cartografia de Sauvé (2005, p; 17) sugere

uma EA cujo modelo pedagógico está centrado no “[...] desenvolvimento sequencial

de habilidades para resolução de problemas ambientais [...], com seus componentes

sociais e biofísicos e suas controvérsias[...]”, inscrevendo-se naquela que se denomina

corrente resolutiva.

Para Amorim (2011, p. 101), tão salutar quanto reconhecer que pela EA pode-se

compreender e modificar uma determinada realidade, desafiando o atual modelo de

desenvolvimento imposto socialmente, “[...] é importante conhecer o olhar das pessoas

que militam em outras áreas socioambientais sobre a percepção quanto à Educação

Ambiental”.

Nesse processo, uma EA que revolucione, científica e politicamente, servirá para

[...] fomentar processos que impliquem o aumento do poder das maiorias hoje submetidas, de sua capacidade de autogestão e o fortalecimento de sua resistência à dominação capitalista de sua vida (trabalho) e de seus espaços (ambiente) ” (SORRENTINO, 2005, p. 287).

63

Sato (2001, p. 25, grifo da autora) provoca-nos a refletir sobre a necessidade de

[...] inovação ética dos sujeitos, que possibilite [...] um novo olhar das técnicas, da produção econômica e das relações sociais [...] onde a dimensão ambiental deve estar presente nas diversas áreas do conhecimento, respeitando as organizações, os objetos e as necessidades das múltiplas relações.

Silva (2011, p. 131) defende uma ideia em seus estudos: a construção de políticas

públicas que, considerando a inequívoca “[...] existência da pluralidade de grupos

sociais diversos”, construam-se para e com a indispensável participação social,

permitindo a “[...] formulação de políticas socioambientais na defesa de suas

identidades e de seus territórios”.

Por fim, ainda há outro olhar sobre o ambiente, descrito e identificado como

“lugar para viver”, aquele espaço para habitar, que necessita ser cuidado, e cuja

natureza se caracteriza por seus componentes sociais, históricos, e por isso a

necessidade de reformular o atual modelo de desenvolvimento, conforme se vê

adiante:

Hoje se fala muito em meio ambiente. Eu também relaciono que nós somos o próprio meio ambiente. Ele, o ser humano, faz parte de todo esse meio ambiente, de que valeria esse meio ambiente sem a família humana. A Declaração Universal de Direitos Humanos fala de uma família humana, que devemos tratar a nossa casa, a nossa terra, nosso planeta, com todo o respeito, todo cuidado, para mim isso trata de meio ambiente. Os Direitos Humanos têm agora uma relação íntima com o Meio Ambiente (Roberto Curvo, DPE).

Aqui, o ambiente denota a necessidade de considerar a interdependência das

realidades socioambientais. A terra como matriz da vida, o lugar de solidariedade que

nos leva a refletir mais profundamente sobre os modos de desenvolvimento das

sociedades humanas (SAUVÉ, 2005, p. 318).

Então, cinco dos entrevistados apresentaram respostas referindo-se ao meio

ambiente predominantemente como ‘biosfera’, ou seja, como lugar de vida de diversos

povos. Outra parte significativa dos entrevistados, quais sejam: quatro sujeitos da

pesquisa associaram o meio ambiente aos ‘problemas’ ambientais, observando uma

reflexão-ação à solução de algumas das questões ambientais atuais, causado por um

negativo comportamento humano, e que coloca em risco todos os sistemas de vida da

64

terra. E, um dos partícipes da pesquisa ressalvou o entendimento do meio ambiente

enquanto ‘meio de vida’, segundo as representações teóricas sistematizadas por Sauvè

(2005).

Sato (2001, p. 12, grifo da autora) lembra que uma categorização tradicional não

significa conclusão ou esgotamento conceitual, “[...] pois uma ação ou pensamento

pode estar conectado com o outro. Igualmente, não existe ‘certo’ ou ‘errado’. São

apenas concepções sobre o mundo [...]”.

Em razão disso, é possível expressar que entre uns e outros dos entrevistados,

existem olhares diferenciados quanto ao significado em particular do ambiente, que

pode ser atribuída a atuação histórica pessoal e coletiva exercitada pela entidade

representada nos espaços de militança social.

Mesmo assim, percebe-se que o ponto de diálogo entre as percepções emergidas

nas entrevistas realizadas, firma-se nas declarações que alcançam o meio ambiente

como um espaço para além do geográfico e impregnam nas suas afirmações a inclusão

e participação como componentes fundamentais na preservação e conservação

ambiental.

4.2. Justiça Climática e Equidade

De logo, é de suma importância destacar que as entrevistas realizadas para esta

pesquisa ocorreram muito antes do escândalo da falta de água em estados brasileiros,

a exemplo do ocorrido no Estado de São Paulo, que se deu acentuadamente em 2014 e

janeiro de 2015. Em realidade, esse SUSTO pegou a maioria. É preciso considerar tal

fenômeno para que as respostas evocadas sejam consideradas antes do efeito ‘falta

d’água’ que, hoje todos sabem, está diretamente relacionada com o clima.

As negociações e assinatura da Convenção ‘Quadro das Nações Unidas sobre

Mudança Climática’ na Conferência Rio 92 (BRASIL, 1992), demarcaram a

preocupação com a necessidade de formação de um regime internacional de proteção

climática, considerando os efeitos atuais e esperados das mudanças do clima, e

65

elegendo como importantes Princípios a “Equidade” e “Responsabilidade ambiental

Comuns, porém diferenciadas”, quando consignou que os países partes devem:

[...] proteger o sistema climático com benefício das gerações presentes e futuras da humanidade, com base na equidade, e em conformidade com suas responsabilidades comuns, mas diferenciadas e respectivas capacidades. E, decorrência, as Partes países desenvolvidos devem tomar a iniciativa no combate à mudança do clima e a seus efeitos.

Viola (2002, p. 26) alerta que o “[...] regime de Mudança Climática é um dos mais

complexos e relevantes regimes internacionais porque implica profundas inter-

relações entre a economia e o ambiente global”.

Entretanto, as perspectivas estabelecidas pela instituição de uma política pública

especialmente direcionada sobre o tema não têm sido suficientes para a efetivação dos

compromissos normatizados, de forma a evitar “eventos” de Injustiça Climática, aqui

compreendida quando “[...] os impactos das mudanças climáticas atingem de forma e

intensidade diferentes grupos sociais distintos” (MILANEZ, 2011, p. 84).

Nesta pesquisa, ao arguir sobre mudanças climáticas e justiça climática, os

entrevistados em sua maioria demonstraram, direta ou indiretamente, alguma

familiaridade com os temas, compreendendo a abordagem conceitual proposta ao

descrevendo ações e diálogos coletivos promovidos no âmbito de suas respectivas

entidades, sobre as questões aqui delimitadas. Veja-se exemplo de como foi citado:

Não tem tido muitas discussões sobre o tema. A CPT tem refletido nacionalmente, mas a questão ainda muito forte é a luta pelo território, a luta pela terra (Paulo César, CPT).

Esse é um tema que a gente já debateu, em razão de ter sido esse o tema da Conferência Nacional da Juventude [...] mas agora [...] não tem debatido tanto [...] a gente propunha colóquios, de formação e a gente trazia esses temas, trabalho escravo, mudanças climáticas, queimadas (Elizete Gonçalves, CJMT).

É possível, até com certa facilidade, constatar pelas redes sociais mantidas pelas

organizações aqui representadas, que referidas entidades desempenham importante

atuação na articulação nacional e internacional sobre a temática Justiça Climática,

66

inclusive ao promoverem e participarem de fóruns, cursos de formação, seminários e

estudos em parcerias.

Mesmo assim, dentre todos os entrevistados, seis reconhecem que, nas ações de

luta de âmbito regional, não incluem expressamente em suas ações de luta o

componente Justiça Climática, ainda que reconhecendo a temática mudança climática

como uma questão transversal em suas atividades, conforme textualizado em algumas

das entrevistas:

A mudança climática está no conjunto e nas suas ações como uma questão mais transversal [...]. É possível que o FORMAD, comece a se preocupar em mobilizar e fazer o monitoramento dos impactos socioambientais [...]. Então o enfrentamento se dá nessas ações, mas não como o clima em si [...] (João Inácio, FORMAD). Não tem tido muitas discussões sobre o tema. Essa questão da mudança climática ela entra na CPT mais como forma de resistência das próprias famílias camponesas (Paulo Cesar, CPT).

Esses olhares evidenciam que, mesmo as mudanças climáticas sendo um tema

que nos últimos anos alcançou grande visibilidade nos meios científico e político, o

mesmo não se pode afirmar sobre o movimento por Justiça Climática, mesmo este se

apresentando singular, e se referindo as “disparidades em termos de impactos sofridos

e responsabilidades no que tange aos efeitos e às causas das mudanças do clima”,

segundo Milanez (2011, p. 87).

Jacobi (2011, p. 136) afirma que “[...] convém à espécie humana [...] um olhar mais

atento sobre os efeitos e vulnerabilidades a que todos estamos expostos diante das

mudanças climáticas”. E, complementa, essas mudanças globais colocam aos

educadores desafios de “[...] conter e minimizar a crise ambiental que vem acelerando

essas mudanças”. Esse desafio implica em lidar com a necessidade de mitigação e

adaptação às mudanças climáticas (p. 138).

Mas, talvez não se possa abarcar a Justiça Climática sem refletir no decorrer deste

capítulo sobre eventuais potencialidades e fragilidades de algumas das concepções

conceituais trazidas pela Política Nacional sobre Mudança do Clima (BRASIL, PNMC,

2009), tendo como uma de suas diretrizes “[...] reduzir os efeitos adversos da mudança

67

do clima e a vulnerabilidade dos sistemas ambiental, social e econômico [...]”,

considerando:

Os diferentes contextos socioeconômicos de sua aplicação, distribuindo os ônus e encargos decorrentes entre os setores econômicos e as populações e comunidades interessadas de modo equitativo e equilibrados e sopesar as responsabilidades individuais quanto à origem das fontes emissoras e dos efeitos ocasionados sobre o clima. (BRASIL, PNMC, 2009).

Para tanto, a Política Nacional sobre Mudanças Climáticas preceitua sobre

medidas de ‘Adaptação’ como sendo:

[...] as iniciativas e medidas para reduzir a vulnerabilidade dos sistemas naturais e humanos frente aos efeitos atuais e esperados da mudança do clima”. Entre essas ações prevê além da “disseminação de informações, a educação, a capacitação e a conscientização pública sobre mudança do clima.

A partir disso, para um estado que garanta uma distribuição equitativa da

responsabilidade socioambiental, ao mesmo tempo respeitando as diversas

identidades sociais, a EA tem papel fundamental, nos dizeres de Sorrentino (2005, p.

288):

A educação ambiental nasce como um processo educativo que conduz a um saber ambiental materializado nos valores éticos e nas regras políticas de convívio social e de mercado, que implica a questão distributiva entre benefícios e prejuízos da apropriação e do uso da natureza. Ela deve, portanto, ser direcionada para a cidadania ativa considerando seu sentido de pertencimento e co-responsabilidade que, por meio da ação coletiva e organizada, busca a compreensão e a superação das causas estruturais e conjunturais dos problemas ambientais.

Importantes pesquisas têm sido desenvolvidas em estudos que associam

educação ambiental e mudança climática, a exemplo do RESCLIMA20 (ESPANHA,

20 O projeto RESCLIMA, sobre “A relação entre ciência e cultura popular nas representações

sociais das mudanças climáticas: contribuições para a educação e comunicação sobre riscos

climáticos”, explora a lógica complexa que preside a construção do conhecimento popular sobre as mudanças climáticas e o papel que cultura científica desempenha neste processo.

Disponível em http://www.resclima.info/node/97?language=pt. Acessado em 20 mar.2015.

68

2013-2016), buscando identificar motivações que influenciam em nível de

comprometimento ou preocupação individual e coletiva, diante das alterações

climáticas e suas consequências sociais extremas.

A respeito, Jacobi (2011, p. 137) afirma que:

[...] é comum as pessoas se sentirem paralisadas ou confusas com a avalanche de informações, assumindo posições comodistas do tipo: “O que eu posso fazer, se sempre foi assim?” É necessário superar tanto o fatalismo quanto a inércia, como se os fatos refletissem um poder superior, resultando numa imobilidade, em que a realidade é vista como imutável, uma “[…] impossibilidade de fazer algo diante do poder dos fatos, sob os quais fica vencido o homem” (Freire, [1964] 2007, p. 114).

Para Gaudiano e Cartea (2009, p. 14) há consenso sobre três componentes

importantes: a) o conhecimento sobre o problema de natureza complexa; b) os

elementos morais e sociopolíticos implicados no assunto; e, c) os processos

psicossociais e cognitivos que condicionam a representação as Mudanças Climáticas.

Acrescendo boa leitura, Sato (2002, p. 30) nos propõe transportar a pedagogia

Freireana, libertadora e humanista (e não humanitária), à Educação Ambiental, em

suas diversas fases:

A primeira fase deve considerar a possibilidade de transformar as sociedades através das ações participativas e políticas dos estudantes; A segunda fase, a pedagogia escolar cessa e tende a se transformar na pedagogia humana, num processo permanente de libertação. A descoberta da ‘libertação’, no entanto, não pode ser puramente intelectual, ela deve envolver a ação com a reflexão, a qual Paulo Freire chama de práxis.

A essencialização da práxis educativa Freireana na Educação Ambiental tem por

escopo o fortalecimento das condições de adaptação principalmente de grupos e

comunidades mais vulneráveis, enquanto parte substancial da resposta global às

mudanças do clima. Esse sentir foi revelado nas entrevistas realizadas para esta

pesquisa, como se vê adiante:

Sofrem maiores impactos as pessoas que estão mais empobrecidas. Na região do Araguaia, e mesmo no rio Paraguai, nós tivemos secas tão violentas, por exemplo, abaixou tanto o nível de água nesses rios, que

69

os pescadores que vivem da pesca artesanal ficaram sem trabalho e sem alimentação. A falta de água, por conta da estiagem, de nascentes que estão secando no Cerrado na região do município de Diamantino-MT, eu vi isso lá. Quem é afetado por isso: os mais pobres (Roberto

Rossi, CBFJ). Algumas catástrofes ambientais que estão acontecendo com base nas mudanças climáticas afetam a todos [...] mas falando do ponto de vista social, acaba tendo um peso maior nas populações mais frágeis [...], os primeiros que estão morrendo, são as pessoas vulneráveis que estão nos morros, que às vezes nem são morros de terra, mas de lixos acumulados que viraram morros nas cidades” (Paulo César, CPT). Essa luta por justiça ambiental é justamente por compreender que os grupos sociais vulneráveis são os mais atingidos pelas mudanças climáticas. Quem mais sofre são os mais pobres, os grupos sociais que estão à margem, que estão invisibilizados (Michelle Jaber, UFMT).

Então, eis aqui um desafio: como criar condições equânimes no processo de

adaptação climática, garantindo ativa proteção aos direitos fundamentais dos grupos

sociais mais vulneráveis, sem incorrer em desumanização desses segmentos sociais?

Podemos pensar com Freire (2011, p. 58), quando nos chama a compreender que

‘adaptação’ é um conceito passivo, e

Esse aspecto passivo se revela no fato de que não seria o homem capaz de alterar a realidade, pelo contrário, altera-se a si para adaptar-se. A adaptação daria margem apenas a uma débil ação defensiva.

Por outro lado,

A integração ao seu contexto, resultante de estar não apenas nele, mas com ele, e não a simples adaptação, acomodação ou ajustamento, comportamento próprio da esfera de contatos, ou sintoma de sua desumanização. A integração resulta da capacidade de ajustar-se à realidade acrescida da de transformá-la, a que se junta a de optar, cuja nota fundamental é a criticidade. O homem integrado é o homem sujeito. (FREIRE, 2011, p. 58, nota do autor).

Em razão disso, os processos de adaptação frente aos desafios do câmbio

climático necessitam orientar-se pelos princípios da equidade, da participação

democrática, a fim de garantir respeito aos direitos e garantias fundamentais dos

70

grupos sociais mais vulneráveis, mantendo a integridade de uma identidade ecológica,

histórica, social, cultural, política e econômica.

Equivale, assim, pensar efetivas ações educativas que, entre outras coisas,

promova “[...] adaptação à vulnerabilidade das populações e da nossa espécie aos

efeitos das mudanças climáticas” (JACOBI, 2011, p. 144).

A Justiça Climática pressupõe processos de adaptação que, identificando

vulnerabilidades, adote medidas de integração apropriadas; construídas a partir da

participação direta dos segmentos sociais e coletivos respectivamente atingidos, e que

jamais resulte em uma “[...] massificação que implique no desenraizamento do

homem. Na sua ‘destemporalização’. Na sua acomodação. No seu ajustamento”

(FREIRE, 2011, p. 59, grifo do autor).

A implementação de ações de adaptação, em observância ao princípio da Justiça

Climática, talvez seja o maior desafio do atual contexto social, pois não restam dúvidas

que:

“O problema, os efeitos, as catástrofes atingem mais quem está mais descoberto. Você pode até adaptar uma forma de plantar soja, milho ou algodão, mas você não consegue mudar a forma de vida de um retireiro, de um ribeirinho, de um indígena, essas mudanças vão impactar mais aqueles que precisam desse planeta sadio” (Inácio José, CBFJ).

A participação das comunidades tradicionais e dos grupos sociais em condição

de vulnerabilidade são essenciais para a construção de medidas de adaptação que

preservem a diversidade desses segmentos, edificadas a partir de cada cotidiano.

Sorrentino (2006, p. 49-50), sobre a questão do aquecimento global e das mudanças

climáticas, afirma:

Esses grupos serão capazes de promover tais mudanças comportamentais e de valores que o momento atual está a exigir e que as convenções e acordos governamentais ou o mercado têm sido incapazes de realizar.

São mudanças construídas a partir do cotidiano de cada um, de cada casa, bairro e cidade, mas exigem a decidida ação governamental e das organizações empresariais e da sociedade civil organizada.

71

O IPCC, em seu ‘Resumen para responsables de politicas’, destaca a necessidade de

criação de políticas públicas e de processos educativos que sensibilize e integre pela

educação, promova troca de conhecimento tradicional e local, que estimule a pesquisa-

ação participativa e de aprendizagem social; e Plataformas de partilha de

conhecimentos e aprendizagem (IPCC, 2014, p. 27).

Essa preocupação claramente desponta entre os entrevistados, e foi textualmente

citada em uma das entrevistas, como se vê:

Sobre as mudanças climáticas, os pobres vão sentir mais, porque eles não têm essa condição de se defender, de poder mudar [...], os grupos sociais mais vulneráveis vão perder a sua terra, e aí, para os grupos sociais quilombolas, indígenas, seringueiros, perder a sua terra, você perde a sua identidade, vai atingir aquele que tá mais vulnerável, a mudança climática vai atingir em peso, vai continuar acentuando mais, por isso é uma questão humanitária até de políticas públicas (Denize Amorim – IC).

Ao zelar pela equidade na distribuição da responsabilidade ambiental e as

consequências oriundas do cambio climático, respeitando as diversidades de sujeitos,

os princípios da dignidade humana e da participação democrática concretizam as

demais diretrizes e princípios basilares de marcos regulatórios sobre a proteção aos

direitos humanos, seja no contexto nacional ou transnacional.

Isso porque, a garantia de igualdade em direitos está diretamente relacionada ao

respeito à dignidade humana nas relações entre os diversos sujeitos sociais, pertinentes

à ampliação de direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais, mas

importando observar as respectivas e diferentes concepções sujeitas a diversidade de

contextos históricos, sociais, políticos e culturais diversos.

Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Ambiental

(DCNEA), o princípio da igualdade se refere “[...] ao enfrentamento dos preconceitos

e das discriminações, garantindo que diferenças não sejam transformadas em

desigualdades” (DCNEA, 2012). E, orienta ainda que

[...] igualdade e diferença são valores indissociáveis que podem impulsionar a equidade social. Trata-se aqui de pensar para além do conceito de Igualdade, zelando pela consolidação do sentido de

72

Equidade na distribuição de responsabilidade social, respeitando as diversidades de sujeitos.

Para Silva (2011, p. 169), é necessária

[...] inspiração de novas concepções de mundo, num processo democrático, em eterna construção e reconstrução, capaz de conciliar a diferença, a diversidade, a equidade, a consciência e a defesa do direito à dignidade e a autonomia de todos os povos.

Ao apresentar arguição sobre o princípio da igualdade de direitos frente aos

impactos extremos oriundos das mudanças do clima, os entrevistados são unânimes

no sentido de lembrar a desigualdade socioeconômica como fato gerador de uma

injustiça climática, vez que as pessoas ou comunidades menos favorecidas ficam mais

expostas às consequências dos desastres extremos oriundos de mudanças climáticas.

Algumas dessas falas:

A mudança climática não atinge a todos do mesmo jeito [...] a gente percebe que os mais afetados são os pobres, as mulheres e a população negra, [...] países mais ricos e desenvolvidos já começaram mecanismos de como se prevenir em relação as mudanças climáticas [...] nisso os pobres estão extremamente excluídos, tanto da discussão quanto da prevenção (Elizete Gonçalves, CJMT).

Os mais pobres são os mais impactados, são aqueles que perdem tudo nas enchentes, [...], pessoas que estão morando em acampamentos provisórios [...]. Outras pessoas que têm um nível de renda melhor, [...] se precisar elas reconstroem seu imóvel, ou se mudam dali, [...]. Há um dado mundial que é o deslocamento populacional, já por conta das mudanças climáticas, populações que tem migrado, e essas populações que tem migrado são justamente aquelas que não encontram condições de sobrevivência naqueles lugares, justamente por serem os mais pobres (Gilberto Vieira, CIMI).

Se fala hoje da escassez da água, daqui a alguns dias será um grande comércio, já está sendo, como o petróleo. Quem tiver condições de ter a água potável, e isso já está ocorrendo, até em Cuiabá-MT. [...] E a água é um vetor muito importante para trazer doenças, não tenho dúvidas que é diferente o atingimento dessa mudança climática para uma pessoa de classe média para uma pessoa de poder aquisitivo mais deficitário. (Roberto Curvo, DPMT).

73

A mudança climática atinge mais aqueles que são os mais pobres, são os excluídos [...]. E, quem se enriqueceu com a exploração da natureza, gerando impactos ambientais tem forças para se defender [...] têm condições de buscar recursos para se defender[...], as consequências não são iguais, vão atingir mais aqueles excluídos desse sistema (João Inácio-FORMAD).

As entrevistas realizadas demonstram compreensão firme entre aqueles que

participam do FDHT-MT, sobre a desigualdade social proveniente pela escolha de um

modelo de desenvolvimento econômico que impõe um ônus diferenciado entre os

segmentos sociais, quanto aos problemas socioambientais advindos dos impactos

sociais oriundos das mudanças climáticas.

Vale menção em destaque a referência anotada por uma das entrevistadas, ao

relacionar a condição de vulnerabilidade a partir da capacidade dos sujeitos ao acesso

de bens e serviços, a afirmar que:

[...] o peso de impacto de um cidadão americano não é o mesmo se comparado a um cidadão africano, considerando o consumo que ele tem. Da mesma forma, se tem uma desigualdade no consumo, tem uma desigualdade nas consequências provocadas por esse consumo. Quem tem mais condições de consumir, normalmente sofre menos (Michelle Jaber, UFMT).

Para Monteiro (2011, p; 35), vulnerabilidade social pode ser assim concebida:

[... ]essa relação irá determinar maior ou menor grau de deterioração de qualidade vida dos sujeitos. Dessa forma, a diminuição dos níveis de vulnerabilidade social pode se dar a partir do fortalecimento dos sujeitos para que possam acessar bens e serviços, ampliando seu universo material e simbólico, além de suas condições de mobilidade social. Para isso, as políticas públicas constituem-se de fundamental importância.

Porém, muito embora as consequências nativas das mudanças do clima tenham

alcance generalizado, grupos sociais em condição de vulnerabilidade socioeconômica

obviamente estão mais vulneráveis a eventos e impactos extremos ocorridos no

ambiente em que vivem.

74

E, ainda que em alguns contextos, aparentemente esteja a Justiça Climática

colocada em segundo plano, essa temática tem sido destacada em pesquisas

acadêmicas, buscando identificar motivações que influenciam no nível de

comprometimento ou preocupação individual, e por que não dizer, coletivo, diante

das alterações climáticas e suas consequências sociais extremas.

O Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, em seu relatório sobre Mudanças

Climáticas, Pobreza e Desigualdades assevera que, não obstante a importância da

edição do Plano Nacional sobre Mudança do Clima e da própria Política Nacional

sobre Mudança do Clima, ambos normativos deixaram lacunas sobre a adaptação

humana ao câmbio climático.

Além disso:

O Plano, em seu estágio atual, confere reduzida atenção a medidas de adaptação voltadas às populações em situação de pobreza. Da mesma forma, o Plano não leva em conta o potencial das diversas iniciativas locais de adaptação desenvolvidas por organizações e movimentos sociais em distintos territórios brasileiros. (FBMC, 2011, p. 2).

Em relatório recentemente divulgado, estudos realizados demonstram que a “[...]

maioria da população brasileira não está preparada para enfrentar as mudanças

climáticas” (IPCC, 2013).

Como forma de enfretamento para a situação de conflito aqui atestada, os

entrevistados foram arguidos sobre quais as táticas e ações de lutas possíveis contra as

atividades consideradas como grandes responsáveis pela mudança do clima. As

respostas vieram em frases livres, sem interferências, que sistematizadas agregam-se

em quatro grandes grupos categoriais, conforme estampados no Gráfico 1:

75

Gráfico 1 - Principais Táticas de Lutas do FDHT, indicadas pelos entrevistados

Nota: A organização da tabela observa ordem numérica.

Nas entrevistas, registramos que os respondentes indicaram mais de uma tática

ou ação de luta, considerando expressões diferenciadas. As táticas que mais se

destacaram foram as ações de articulação institucionais, ações de controle e

monitoramento de Políticas Públicas, informação popular, mobilizações e participação

em conselhos. A seguir, apresentamos alguns trechos dessas entrevistas:

“A mudança climática está no conjunto e nas ações das entidades como uma questão transversal, [...] Ela sempre, vai demorar a produzir seus efeitos e quando ela vem, vem como uma forma de resposta, de catástrofe. Então, a leitura que se faz da conscientização, da percepção das consequências, desse modelo de produção, não permite uma concretização para você criar uma mobilização social [...], para forçar ações, exigir ações governamentais que sejam de prevenção, para que isso não se suceda” (João Inácio, FORMAD). “Nós precisamos nos articular em um projeto comum, em mobilizações sociais, tentar envolver a sociedade civil organizada, no sentido de pressionar o Governo, o Estado e o município, no sentido de sensibilizar a sociedade brasileira em relação a essas questões e tentar mobilizar a população por meio de campanhas e outras atividades” (Roberto Rossi, CBFJ).

0

2

4

6

8

10

12

14

Experiencia Parcerias Educação Mobilização

Principais Táticas de Lutas

76

Percebe-se que diversas táticas, indicadas pelos entrevistados, sugerem ações

“dentro do campo de visão do inimigo”, como denominaria Certeau (2005, p. 100), ou

ainda, em espaços que não são ‘controlados’ pelos interesses de grupos sociais

vulneráveis, como na hipótese dos enfrentamentos realizados pelas entidades

participantes e por representantes do próprio FDHT-MT, no Conselho Estadual de

Direitos Humanos de Mato Grosso e no Conselho Estadual do Meio Ambiente, entre

outros Conselhos Estaduais.

Nesses espaços, o que se percebe é a necessidade de uma hábil utilização das

ocasiões que se apresentam, em um jogo sutil de controle de tempo, de oportunidades

que se opõe as imposições de um poder estratégico assegurado por um espaço definido

de poder. Assim, o FDHT-MT em sua atuação, utiliza-se de táticas como

[...] procedimentos que valem pela pertinência que dão ao tempo – às circunstâncias que o instante preciso de uma intervenção transforma em situação favorável, à rapidez de movimentos que mudam a organização do espaço [...]. (CERTEAU, 2005, p. 102).

Focault (1997, p. 19) diz que “[...] a relativa estabilidade da lei obriga um jogo de

substituições sutis e rápidas”, ideia que poderíamos, por analogia, utilizar no que diz

respeito às ações de enfretamento protagonizadas por movimentos sociais, nas lutas

por Justiça Climática.

No FDHT-MT o cotidiano se inventa de várias maneiras, e que

[...] sem negar os espaços institucionais, faz corresponder a uma ‘produção’ astuciosa, dispersa, mas ao mesmo tempo ubiquamente, silenciosa, quase invisível, pois não se faz notar com produtos próprios, mas nas maneiras de empregar os produtos impostos por uma ordem economicamente dominante. (CERTEAU, 2005, p. 39).

O FDHT-MT tem a grandiosidade de um movimento social que atua e sobrevive

no ‘espaço’ controlado, e por isso impondo que esse movimento opere ação por ação,

ocupando ora lugares de poder e ora lugares de ausência de poder, mas em nenhum

momento se tornando submisso; pelo contrário, o tempo todo criando e mobilizando-

se com o objetivo de criar novas e apropriadas formas de enfrentamento de contextos

socialmente injustos, para fazer valer os direitos humanos fundamentais.

77

4.3 O FDHT-MT enquanto estrutura Educativa

Segundo Gohn (2011a, p. 333), uma das “[...] premissas básicas a respeito dos

movimentos sociais é que: são fontes de inovação e matrizes geradoras de saberes [...]

de caráter político-social”.

E o FDHT-MT atua exatamente dentro desse contexto, desenvolvendo ações com

objetivo conjunto de formar e estimular modos de participação popular, seja utilizando

os novos canais tecnológicos de comunicação on line, como redes sociais (facebook),

blog, mensagens eletrônicas, seja promovendo ações coletivas educativas como

oficinas, seminários e conferências, associando um processo educativo dialógico em

relação aos sujeitos que o compõem, sem deixar de apresentar-se relevante para a

organização de ações coletivas.

A forma de atuação do FDHT-MT em rede constitui-se uma vantagem, pois

consolida uma organização mais flexível e adaptável, integrando-se aos ensinamentos

de Castells (2006, p. 18), para quem graças à “[...] capacidade de descentralizar a sua

performance ao longo de uma rede de componentes autónomos [...]”, e ao mesmo tempo

capaz de organizar atividades descentralizadas, contribui para a possibilidade de

partilhar e, principalmente, democratizar as tomadas de decisão no âmbito da gestão

pública.

Alguns relatos confirmam esta compreensão:

Vejo que conseguimos nos afirmar enquanto sujeitos. [...] nós sabemos que a política ela é uma questão tanto de pressão por um lado, mas de uma vontade política de quem executa a política, e a gente percebe claramente que o Fórum, o foco e a razão para onde aponta o Fórum ele diverge daquilo que é o pensamento da política macro daquele que pensa o estado, enquanto executor da política, [...] se não tivesse o Fórum como é que seria? Nós não sabemos, pois com toda a pressão pautando o governo e a mídia, o Governo não age, e age muitas vezes na direção contrária, o que seria então se nós enquanto articulação não tivéssemos todo essa força? O Fórum construiu uma força contrária à essa execução, [...] se posicionando por diversas vezes, [...] pro Governo do Estado com aquilo que não concorda com o que está sendo feito. [...] Então o Governo percebe que o Fórum em si consegue a partir dos diversos atores ser um contraponto, [...] nesse sentido o próprio relatório de direitos humanos qualificou o Fórum, mostrou que o Fórum é um sujeito que tem proposta. (Inácio, CBFJ, Entrevista).

78

As ações do FDHT-MT firmam-se fortemente nos princípios articulatórios e

mobilizatórios, visando aprimorar a discussão e formulação de ideais para mudanças

socioambientais, e também encaminhar objetivamente políticas sociais, trabalhando

para colocá-las como prioridade nas agendas públicas.

Essa ideia também se traduz em trechos de outras entrevistas:

A diversidade das composições do Fórum, a Educação Ambiental, os direitos humanos mais amplos, há uma representação de diferentes setores da sociedade que trazem para dentro do fórum diferentes visões, às vezes, no mesmo tema [...]” (Gilberto, CIMI).

Como tem muitos grupos de diversos segmentos, de diferentes áreas de atuação, quilombolas, indígenas, ribeirinhos, .... Essas pessoas partilham seus conhecimentos no momento das reuniões, e a gente consegue perceber a montagem de um quebra-cabeça, que o indígena não está sozinho, o quilombola não está sozinho, ... e você aprende muito com isso, [....] (Michelle Jaber, UFMT).

Ao relevar a diversidade em sua organização, o FDHT-MT insere em suas ações

um aspecto que Scherer-Warren (2012, p. 98, grifo da autora) trata como “ ‘[...] direito

à diferença’, uma condição que pode inserir conflitos salutares nos diálogos” entre os

movimentos sociais, a exemplo quando faz incluir em seu espaço de formação, os

grupos de trabalhos sobre Religiões, bem assim sobre Gênero e Diversidade Sexual. A

autora desdobra a discussão, salientando que:

Porém, o fato de que nessas redes desenvolvem-se relações dialógicas resultante de uma pedagogia política que contemple o ideário de horizontalidade e de democratização das relações e intervenções políticas, contribui para uma abertura com o outro, com o reconhecimento das diversidades e das diferenças culturais e políticas (SCHERER-WARREN, 2012, p. 100).

Algumas das entrevistas coletadas nesta pesquisa, demonstram essa

compreensão:

Essa diversidade, eu acho um ponto extremamente importante dentro do fórum, temos condições de aprofundar um tema a partir de diferentes olhares e de um processo dialético, por assim dizer, esses segmentos podem também tomar contato com diferentes visões e também amadurecer suas práticas, os seus discursos, suas análises. [...] as visões que vão colocando, partilhando naquele espaço, vão

79

ajudando na minha própria formação pessoal e contribuindo para que eu possa contribuir para com o espaço do Fórum, até com o meu desconhecimento, [...] é eminentemente educativo e formativo (Gilberto, CIMI). O fórum é pedagógico porque ele nos coloca frente a frente, ele coloca que a demanda dos que estão atingidos pela Copa, é uma demanda que tem que ter o apoio de outras entidades também, e cada entidade ela naturalmente por estar ali. Ela tem que se colocar diante disso, então acho que é pedagógico porque nos dá uma visão maior do conjunto, sabendo que o conjunto é maior ainda do que o fórum (Paulo, CPT, Entrevista).

Segundo Gohn (2012, p. 23), a experiência educativa é inerente o exercício da

prática cotidiana nos movimentos sociais ao levar ao acúmulo de experiência “[...]

aprende-se a acreditar no poder da fala e das ideias, [...]a elaborar discursos e práticas

segundo os cenários vivenciados, estratégicas de conformismo e resistência,

passividade e rebelião, segundo os agentes com os quais se defronta”, possibilitando

a articulação entre o saber popular e o saber científico, técnico, codificado.

As entrevistas demonstram que os entrevistados acreditam na importância da

diversidade dos atores partícipes, bem como na natureza educativa do fórum

enquanto espaço coletivo, indicando que o conhecimento ali compartilhado se

estabelece através de constantes diálogos.

Sato (2014, p. 11-12), coordenadora do Projeto Justiça Climática e Educação

Ambiental (Universal-CNPq nº 14/2014), sustenta que “[...] o estudo sobre o clima

transcende o espectro da ciência neutra, revelando claramente os campos políticos que

se manifestam e, por isso mesmo, em uma arena fértil que nela, a educação ambiental

deve se presentificar, não apenas nas discussões conceituais, mas no posicionamento

da governança e das políticas públicas. No projeto se propõe, ainda, que,

Na ausência de debate sobre educação ambiental e justiça climática, mister a construção de uma rede de diálogos [...] multidisciplinar que busque compreender os fenômenos climáticos e os desastres naturais, atuando na educação popular com comunidades vulneráveis e espaços educadores [...]. (SATO, 2014, p. 11-12).

Ao trazer a educação não formal como um novo campo de atuação, Gohn (1998,

p. 516) chama a atenção para a necessidade de compreender a educação em seu

80

conceito mais amplo, de forma associada “[...] a outro conceito: o de cultura”,

significando uma abordagem que, entre outras coisas, os conhecimentos adquiridos ao

longo da vida dos cidadãos, “[...] pela leitura, interpretação e assimilação dos fatos,

eventos e acontecimentos, que os indivíduos fazem, de forma isolada ou em contato

com grupos e organizações”.

Não por acaso, os espaços coletivos de mobilização e organização social têm

alcançado destaque privilegiado nesses últimos anos, por sua potencialidade

transformadora e educadora.

Para Ferreira-Silva (2008, p. 3), entender o contexto social que emana nas

discussões científicas acerca da mudança do clima é indispensável para as

problematizações abordadas das ações dos MS. Ainda, afirma:

O entendimento das características do campo científico que originam as proposições acerca da Mudança do Clima é uma questão importante da qual os movimentos sociais não podem se furtar de acompanhar e compreender.

A luta dos novos movimentos sociais para implementações efetivas de políticas

públicas que garantam direitos fundamentais, inibindo injustiças sociais e ambientais

também impulsionam o crescimento e reconhecimento da educação não formal,

potencializando que outras instituições sejam capazes de atuar em diálogo e parceria,

implicando também, nesse caso, como um processo educativo, como bem traduz o

representante da DPE e do CJMT, nas entrevistas feitas por esta pesquisadora:

Se o Fórum é uma instância educativa? Sim. Lógico tem uma ação civil pública que o MP propôs contra o Estado de MT para que crie um programa de proteção aos defensores de DHs, olha só quantas coisas o Fórum faz, hoje o fórum está fazendo junto com o Conselho Estadual de Direitos Humanos um seminário que vai tratar a questão da tortura e nós conseguimos envolver praticamente as quatro instituições – defensoria pública, ministério público, poder judiciário, assembleia legislativa [...]. Eu acho de uma importância muito grande, e tenho que essa é uma forma de conscientizar, e de formar as pessoas (Roberto Curvo, DPE).

É inegável o potencial educacional do fórum, do modo questionador

mesmo, de mostrar quais os problemas, e como poderia ser

solucionado (Romário Augusto, CJMT).

81

Para Gohn (2012, p. 15), a relação movimentos sociais-educação tem como

elemento de união, a questão da cidadania. Argumenta, ainda, que o caráter educativo

dos movimentos sociais se constrói em várias dimensões, quais sejam: da organização

política; da cultura política e da dimensão espacial-temporal.

A organização política é justamente a consciência adquirida progressivamente

por meio do conhecimento sobre quais são os direitos e os deveres dos indivíduos na

sociedade de hoje; bem assim como funciona tal órgão público, as entidades e

instituições responsáveis pela “[...] gestão de determinado bem ou equipamento

público”, em um processo que, indubitavelmente, no mais das vezes, conflituoso,

possibilita aos participantes “[...] apropriarem-se de informações, desenvolvendo um

conhecimento sobre as engrenagens tidas como técnicas, e, sobretudo, identificando

os interesses envolvidos” (GOHN, 2012, p. 22).

Nessa mesma linha de reflexão, importa enfatizar que determinadas ações

desenvolvidas, muito fortemente promovem a divulgação e possibilitam a descoberta

sobre os modos de funcionamento de poderes e instituições públicas, a exemplo das

formas de divulgação dos seguintes manifestos assinalados pelo FDHT-MT, com

repercussão nacional e internacional, cujos trechos do conteúdo técnico,

contextualizados historicamente, seguem na subsequência de cada um dos títulos

indicados, a seguir:

a) MANIFESTO DE REPÚDIO ÀS ATROCIDADES PRATICADAS CONTRA OS POVOS INDÍGENAS – MATO GROSSO E MATO GROSSO DO SUL, BRASIL:

Em Mato Grosso, uma situação igualmente preocupante e escandalizadora é vivida na Terra Indígena Marãiwatsédé, de onde os Xavante foram literalmente expulsos em 1966. Retornaram em agosto de 2004 para seu território, mas passando antes dez meses à beira da estrada e mesmo depois da unânime decisão favorável no Tribunal Regional Federal de Brasília, este povo ainda não tem integralmente seu território tradicional. Nesta indefinição, postergando a retirada dos invasores do território, o Estado cria o ambiente para as ameaças, para a destruição do pouco que resta da natureza do território e contribui para que os invasores permaneçam no local. O clima de tensão persiste, com risco de acirramento do conflito com os invasores a qualquer momento. Marãiwatsédé se inscreve na circunstância da mais perversa barbárie da política mato-grossense, em que testemunhamos os

82

descalabros das invasões de terra, desmatamento, fome, doenças, abandono e violência. (PPA Berlin News, 2012).

b) AGENDA MATO GROSSO SUSTENTÁVEL E DEMOCRÁTICO: ELEIÇÕES 2014:

O documento Agenda Mato Grosso Sustentável e Democrático: Eleições 2014 é assinado por trinta e seis entidades que atuam em diversos setores da sociedade e apresenta setenta e duas propostas para o avanço da política ambiental e de direitos humanos em Mato Grosso. As propostas são divididas em dois grandes eixos: Terra e Justiça Ambiental e Vida, Povos e Direitos que, de acordo com as organizações, representam a complexidade socioambiental do estado. As organizações propõem aos candidatos que o diálogo se estabeleça não somente durante a campanha eleitoral, mas que a concreção e a sustentabilidade desta proposta se efetive entre governo e sociedade civil na superação das desigualdades, na inclusão dos diferentes, no combate à corrupção, na proteção ecológica e outros processos que fazem parte da democrática reforma política que poderá inaugurar novos cenários da qualidade de vida, aponta o documento. (FDHT-MT, 2014).

Outros manifestos como o enfrentamento ao trabalho escravo, a luta junto ao

Governo Estadual e Governo Federal pela garantia de condições de assistência digna

aos haitianos, migrantes em Mato Grosso, também se traduziram em bandeira de luta

junto ao FDHT-MT. Alguns depoimentos corroboram com a ideia sobre a concepção

educativa envolvida nas ações do fórum. Vejamos:

A gente participou de projetos de editais e parcerias, sempre importantes para o CJMT, como a UFMT, a SEDUC, e algumas Escolas. Fazia-se cursos de formação com jovens sobre o Meio Ambiente (MA), a exemplo do curso de extensão chamado gestação ambiental, que era para trabalhar justamente políticas públicas para a juventude, educação ambiental, formação política como trabalhar politicamente nessa temática, de como a gente pode atuar no fortalecimento organizacional, como trabalhar grupos de jovens que possam trabalhar juventude e meio ambiente (Elizete Gonçalves, CJMT).

Mesmos as ações de protestos coordenadas pelo FDHT-MT, são articuladas de

modo, e ao mesmo tempo, a denunciar, mas também se traduzem em informes

educativos capazes de divulgar informações e formular suas denúncias, são tendentes

a estimular reflexões em todo o tecido social.

83

Assim, é possível afirmar que o FDHT-MT tem um caráter educativo e de

aprendizagem para os seus protagonistas, mas por sua atuação é capaz de tematizar a

condições sociais da atualidade, e realizando parcerias com outras entidades da

sociedade civil e política, adquire maior poder de participação social, como se diz:

“Um grupo unido, tem muito mais força, e você consegue alimentar a sua esperança. Então, vejo o Fórum como um espaço que, além de provocar essa mudança, mais um espaço de partilhar as energias, de estímulo, [...], então o Fórum é totalmente educativo, como tem muitos grupos de diversas segmentos e de áreas de atuação, pessoas que trabalham com indígenas, quilombolas, assentados [...], então essas pessoas partilham seus conhecimentos nos momentos das reuniões, e, a gente passa a perceber que se trata de um conjunto de ações que acaba por violar os direitos humanos de todos” (M. Jaber, entrevista) .

Gohn (2012, p. 22) destaca que, quando isso ocorre, a construção da cidadania

coletiva se realiza “[...] possibilitando a elaboração de estratégias de formulação de

demandas e táticas de enfrentamento dos oponentes, [...], organizam-se táticas e

estratégias para a obtenção do bem por ser um direito social”.

Associada a dimensão de “organização política” acresça-se a “dimensão da

cultura política”. Equivale dizer que nas práxis cotidianas, importa a experiência

vivenciada no passado concomitante com aquela exercitada no presente, e nessa fusão,

aprende-se a “[...] acreditar no poder da fala e das ideias, [...] a calar e a se resignar

quando a situação é adversa, [...] onde se elabora estratégias de conformismo e

resistência, passividade e rebelião, segundo os agentes com os quais se defronta”

(GOHN, 2012, p. 23).

Consideramos que a prática educativa exercitada pelo FDHT-MT como “[...]

processos cujos produtos são realimentadores de novos processos”, conforme

preleciona Gohn (2012, p. 24).

Em uma dimensão espaço-temporal, o FDHT-MT realiza encontros e seminários

que contribuem para a formação de uma visão que historiciza os problemas e as

condições de vida dos grupos e comunidades envolvidas diretamente ou

indiretamente em suas ações de lutas.

84

Esse reconhecimento leva à identificação de uma dimensão importante no cotidiano das pessoas, a do ambiente construído, do espaço gerado e apropriado pelas classes sociais na luta cotidiana. A dimensão espaço-temporal resgata elementos da consciência fragmentada das classes populares, ajudando sua articulação. (GOHN, 2012, p. 25).

A importância da democratização cultural do indivíduo, alcançado pelo processo

educativo, busca a integração entendida por Freire (2011, p. 58), significando a “[...]

capacidade de ajustar-se à realidade acrescida de transformá-la, a que se junta a de

optar, cuja nota principal é a criticidade”.

A EA associa-se a práxis da educação popular no desenvolvimento de processos

educativos, para traduzir-se como um ato político em sentido lato sensu, objetivando

potencializar a formação de sujeitos políticos, capazes de participação transformadora

da sociedade.

Assume-se, portanto, que:

[...] mais do que resolver os conflitos, ou preservar a natureza através

de intervenções pontuais, esta EA considera que a transformação das

relações dos grupos humanos com o meio ambiente está inserida

dentro do contexto da transformação da sociedade. (MATO GROSSO,

SEDUC, 2004, p. 52).

Nas ações educativas promovidas pelo FDHT-MT, o sentido de uma Educação

Ambiental que significa um processo essencial para a necessária mudança de valores

da modernidade, tendo a participação real como seu princípio básico. E, assim, ser um

processo democrático, por meio do qual o indivíduo e a coletividade constroem

valores sociais, adquirem conhecimentos, tomam atitudes, exercem habilidades

voltadas para a conquista de uma verdadeira qualidade de vida, num contexto de

justiça ambiental e inclusão social (SILVA, 2011).

O FDHT-MT é um movimento que tem o privilégio da práxis, orientando-se pela

educação popular criada por Freire (2011, p. 117), para convergir suas ações em

processos de democratização e respeito à diversidade cultural, propondo aos seus

participantes, a “[...] superação da inexperiência democrática por uma nova

experiência, a da participação” [...] de uma “educação para a decisão, para

responsabilidade social e política”.

85

Figura 9 ‘Mística’ de Encerramento – Grupo Fé e Vida – Cáceres-MT. Cerimonia abertura de evento coordenado pelo FDHT-MT (2014)

Autoria: Regina Silva e Michelle Jaber. Fonte: Acervo Denize Amorim.

CAPÍTULO 5. O Entrelaçamento entre Teias de Fios

“Vagalumes driblam as trevas “

(MANOEL DE BARROS, 2013)

86

5.1 No balançar entre fios e esperanças da teia

Nesses últimos anos, os impactos ambientais associados às mudanças climáticas

foram tematizados como programas de governança e políticas públicas no âmbito

nacional e internacional.

Segundo o Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), o aquecimento global tem

impactos profundos no planeta: extinção de espécies animais e vegetais, alteração na

frequência e intensidade de chuvas que interfere na atividade agrícola, e intensificação

de fenômenos como tempestades severas, inundações, vendavais, ondas de calor e

secas prolongadas, conforme relatório divulgado em seu site oficial (IPCC, 2013).

Mesmo assim, segundo o núcleo de economia socioambiental da Universidade

de São Paulo (NESA-USP), responsável pela pesquisa levantamento de informações

do Observatório de Políticas Públicas de Mudanças Climáticas (Observatório Fórum

Clima), diversos estados brasileiros inclusive Mato Grosso, Pará e Minas Gerais não se

preocuparam em efetivar as respectivas políticas estaduais sobre mudanças climáticas.

Em Mato Grosso, desde 2009, e como já anteriormente registrado, foi instituído o

Fórum Mato-grossense de Mudanças Climáticas, com objetivos específicos, entre eles:

[...] II - propor normas para a instituição de uma Política Estadual de Mudanças Climáticas, em articulação com a Política Nacional de Mudanças Climáticas e outras políticas públicas correlatas; [...] VI - promover a realização de estudos, pesquisas e ações de educação e capacitação nos temas relacionados às Mudanças Climáticas, que atendam ao desenvolvimento sustentável do Estado; (MATO GROSSO, 2009).

Infelizmente, o respectivo projeto de lei do Plano Estadual de Mudanças

Climáticas foi encaminhado à Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso, mas

desde 2010 aguarda aprovação.

Não obstante a complexidade científica de analisar fielmente os impactos

desencadeados por eventos climáticos extremos, os seus efeitos imediatos na vida

cotidiana são de fácil compreensão, como exemplo a escassez de água que compromete

o regular abastecimento à população, principalmente em conjuntos residenciais

87

populares localizados em bairros periféricos aos centros urbanos, em sua maioria

direcionados à população de baixa renda.

Aos gestores públicos cabe o desafio de enfrentar uma determinada ‘condição

de vulnerabilidade’, aqui compreendida como o grau de incapacidade do atual modelo

de desenvolvimento regional de lidar com os efeitos adversos do clima – mudanças

climáticas, para promover a integração e harmonização das políticas públicas sociais,

estipulando metas e prazos para implementação de medidas e ações de mitigação e

adaptação, que sirvam de orientação aos diversos segmentos produtivos e de

consumo.

Exatamente considerando todo esse contexto, esta pesquisa, pelas informações

alcançadas junto ao grupo pesquisado, indica que o ambiente constitui um

componente transversal nas atividades cotidianas de cada uma das entidades que

integram o FDHT-MT.

Para o enfrentamento do modelo de desenvolvimento atual, que favorece as

alterações climáticas, é importante a realização de ações que impliquem em garantir a

construção e implantação de políticas públicas, participação e controle social,

ocupação de espaços institucionalizados como forma de exercício de direitos.

Nas ações de lutas edificadas pelo FDHT-MT, os movimentos sociais

organizados podem, por uma educação ambiental política, se construir e reconstruir

para uma ação que vai além do simples ato de mobilizar, mas sim legitimamente

investir-se do direito de compartilhar continuamente com cada um dos envolvidos

naqueles movimentos, para a construção e, principalmente no controle democrático-

participativo para implementação de políticas públicas que efetivamente garantam-

lhe o exercício dos direitos individuais, coletivos e fundamentalmente sociais.

A própria Constituição Federal de 1988, denominada por uma maioria como

Constituição Cidadã é resultado de inúmeras lutas coletivas oriundas de ações de

movimentos sociais ou de outros segmentos organizados, e, somente por isso, foi

capaz de assegurar direitos importantes sob a ótica coletiva.

Gohn (2012, p. 15) alerta que “[...] é importante diferenciar as ações coletivas

advindas das associações civis das promovidas por movimentos sociais, no que se

refere especialmente ao caráter de aprendizagens”, vez que as ações coletivas

88

empreendidas pelos MS “[...] buscam especialmente a inclusão social, mediados por

ONGs e entidades do terceiro setor”.

Assim, é preciso qualificar as ações empreendidas pelos diversos movimentos

sociais, que podem ter caráter emancipatório e transformador, como também podem

ter natureza meramente integrativa e conservadora (GOHN, 2010, p. 8).

A militância do FDHT-MT para implementações efetivas de políticas públicas

que garantam direitos fundamentais, contrapõe-se expressamente contra injustiças

sociais e ambientais, impulsionando o crescimento e reconhecimento desse espaço

coletivo de luta, sustentado na educação popular, caracterizando-se por ações de

índole emancipatória e transformadora.

Embora o FDHT-MT aparente adaptação no interior de estruturas sociais

estabelecidas como centros de poder dominante, essa entidade continua heterogênea

ao sistema onde participa esboçando “astúcias de interesses” e “desejos diferentes”

daqueles defendidos pela cultura hegemônica.

A educação popular se coloca como complemento no cotidiano dos participantes,

fazendo com que suas ações de luta, muitas vezes, sejam também eixos de mobilização

social.

A respeito das táticas e ações de lutas, o FDHT-MT bem que poderia ser

traduzido segundo Certeau (2005, p. 77), como um espaço onde ‘Justiça’ e ‘Injustiça’

são textos e contextos refletidos continuamente, em uma luta cotidiana que busca o

reconhecimento de iniquidades diversas, impostas na atual ordem social “[...] não só a

dos poderes estabelecidos mas, de modo mais profundo, a da história [...]”, e quase

sempre ignorando a relação de forças desfavorável a si.

O FDHT-MT procura gerar “[...] o pensamento do contexto e do complexo; que

ligue o que está separado e compartimentado, que respeite o diverso ao mesmo tempo

que reconhece o uno, que tente discernir as interdependências” (MORIN, 2002, p. 159).

Sauvé (2005, p. 317)22 considera ser necessário reconstruir nosso sentimento de

pertencer à natureza, bem como reconhecer os vínculos existentes entre a diversidade

22SAUVÉ, Lucie. EA: possibilidades e limitações. Revista Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 317-322, maio/ago. 2005. Disponível em: <file:///C:/Users/USUARIO/Google%20Drive/Disserta-Artigos/Educa%C3%A7%C3%A3o%20Ambiental-%20Possibilidades%20e%20Limita%C3%A7%C3%B5es.pdf>. Acesso em: 05 abr. 2014.

89

biológica e a cultural, valorizando essa diversidade ‘biocultural’. Com isso, buscando

uma adequada intervenção, deve-se considerar os modos diversos e complementares

de entender o meio ambiente.

Considerando que os processos decisórios e os debates científicos relacionados à

problematização do entendimento das causas e efeitos envolvendo a justiça climática

são complexos, Sorrentino (2006, p. 56, grifo do autor) aduz que:

Os documentos sobre as Convenções Internacionais de Meio Ambiente, especialmente aqueles relacionados às mudanças climáticas, perda da biodiversidade, desertificação, segurança alimentar e diversidade cultural, são essenciais [...]. Para cumprir um papel educacional, ‘empoderador’ dos indivíduos e grupos no sentido de contribuírem para a recuperação, conservação e melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida de cada um e de todos, uma ação de educação ambiental de larga escala exige a cooperação de um sistema capilarizado de apoio e referência para as ações de cidadania, contribuindo para qualificá-las para a solução de problemas e para o processo de aprendizagem aprofundado de seus sujeitos e atores.

Em pesquisa realizada “[...] com a finalidade de incluir no debate nacional

referente à questão do clima o impacto sobre populações vulneráveis [...], intitulada

‘Mudanças Climáticas e Pobreza: O que pensam as Comunidades?’, o FBMC (2009, p.

3, grifo do autor) destaca a importância de fortalecer a capacidade das comunidades

de construir uma agenda de iniciativas voltadas para a prevenção e adaptação aos

efeitos das mudanças climáticas, bem como fortalecer seu protagonismo no diálogo

com governos para formulação de políticas públicas adequadas.

No conceito teórico atribuído por Scherer-Warren (2006, p. 113), os MS ao

perceberem a necessidade de organização, articulam-se em ‘rede de movimento

social’, pressupondo a “[...] identificação de sujeitos coletivos em torno de valores,

objetivos ou projetos em comum, os quais definem os atores ou situações sistêmicas

antagônicas que devem ser combatidas e transformadas”.

Compreendendo as redes de movimentos sociais como “[...] redes sociais

complexas, que transcendem organizações empiricamente delimitadas e que

90

conectam, de forma simbólica, solidarística e estratégica, [...] a partir de um campo de

conflito e de um projeto de transformação social” (SHERER-WARREN, 2012, p. 25), é

possível superar tanto o “fatalismo quanto a inércia” (JACOBI, 2011, p. 137), para uma

mobilização ante os eventos extremos oriundos das mudanças climáticas.

A princípio é natural reconhecer uma confluência teórica-normativa entre Justiça

Ambiental e Justiça Climática, diante de alguns dos marcos referenciais se originarem

em espaços comuns, representados por alguns dos principais documentos usados para

subsidiar os programas, projetos e ações para a defesa do meio ambiente e das

condições sociais.

Frente as proposições acerca da formação política para o enfrentamento desse

novo contexto socioambiental, propõe-se que políticas públicas sejam implementadas

sob uma ótica inclusiva e, principalmente, direcionada aos segmentos sociais

historicamente mais vulneráveis, estes que inegavelmente são cruelmente atingidos

pelos atuais impactos climáticos.

Para Orellana (2010, p. 155), a “[...] maior atenção à dimensão humana nos

estudos sobre as mudanças climáticas, pode majorar a probabilidade de que as

medidas relacionadas às mudanças climáticas respeitem os Direitos Humanos”,

constituindo-se a partir disso, o desafio nuclear para se alcançar uma Justiça Climática.

A Educação em Direitos Humanos tem por escopo principal uma formação ética, crítica e política. A primeira se refere à formação de atitudes orientadas por valores humanizadores, como a dignidade da pessoa, a liberdade, a igualdade, a justiça, a paz, a reciprocidade entre povos e culturas, servindo de parâmetro ético-político para a reflexão dos modos de ser e agir individual, coletivo e institucional. A formação crítica diz respeito ao exercício de juízos reflexivos sobre as relações entre os contextos sociais, culturais, econômicos e políticos, promovendo práticas institucionais coerentes com os Direitos Humanos. A formação política deve estar pautada numa perspectiva emancipatória e transformadora dos sujeitos de direitos. Sob esta perspectiva promover-se-á o empoderamento de grupos e indivíduos, situados à margem de processos decisórios e de construção de direitos, favorecendo a sua organização e participação na sociedade civil. (DNEDH, 2012).

Se na educação não formal a cidadania é o objetivo principal, e pensada em

termos coletivos (GOHN, 1998, p. 518), é certo que os MS exercem papel fundamental

91

para a consolidação de espaços de diálogos de construção de comportamentos sociais

dispostos a fortalecer a luta pelos direitos humanos e por Justiça Climática.

Concluir uma pesquisa científica não quer dizer necessariamente que tenhamos

que pôr um ponto-final, mesmo porque, na medida em que procuramos finalizar um

estudo, deparamo-nos constantemente com questões emergentes que surgem no

caminhar da pesquisa e que carecem de aprofundamento científico.

Nessa acepção, atinamo-nos para o fato de que o assunto englobando o temário

Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da

Terra de Mato Grosso não está esgotado, havendo muito para se refletir e debater

acerca das injustiças climáticas e seus impactos nas populações em situação de

vulnerabilidades sociais e ambientais. Ainda há muito a se indagar!

92

REFERÊNCIAS

ACSELRAD, Henri. Ambientalização das lutas sociais – o caso do movimento por

justiça ambiental. Revista Estudos Avançados, São Paulo, v. 24, n. 68, p. 104-119, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ea/v24n68/10.pdf>. Acesso em: 22 nov. 2014. ANGELOCCI, Luiz Roberto; SENTELHAS, Paulo Cesar. Variabilidade, anomalia e

mudança climática. Material didático da disciplina LCE306 - Meteorologia Agrícola - Turmas 1, 4, 5 e 6 Departamento de Ciências Exatas- setor de Agrometeorologia. ESAL/USP – 2007. Disponível em: <http://www.lce.esalq.usp.br/aulas/lce306/variabilidade.pdf>. Acesso em: 30 maio 2015. AMORIM, Denize Aparecida Rodrigues de. O processo educativo na formação de um grupo de trabalho de mobilização social no caso do zoneamento de Mato Grosso. 2011. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal de Mato Grosso, Instituto de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação, Cuiabá, 2011. BARROS, Manoel de. Manoel de Barros: poesia completa. LeYa. 1. Reimpressão. São Paulo, 2013. BRANDÃO, Carlos Rodrigues; STRECK, Danilo Romeu (Org.). Pesquisa participante:

o saber da partilha. Aparecida: Ideias & Letras, 2006. BRANDÃO, Carlos Rodrigues; BORGES, Maristela Correa. A pesquisa participante: um momento da educação popular. Revista Ed. Popular, Ed. UFU, Uberlândia, v. 6, n.1, p. 51-62, 2007. BOGOTÁ. Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem. 1948. Disponível em: <http://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/b.Declaracao_Americana.htm>. Acesso em: 17 abr. 2014. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Convenção Quadro das Nações Unidas sobre

Mudança do Clima (UNFCCC). Publicado em Portal MMA Oficial [on line]. Brasília, DF. 1992. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/clima/convencao-das-nacoes-unidas>. Acesso em: 20 nov. 2014. ______. Ministério do Meio Ambiente. Programa Nacional sobre Mudança do Clima. Decreto Federal nº 7.037, de 21.12.2009, Brasília: DF, 2008. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/smcq_climaticas/_arquivos/plano_nacional_mudanca_clima.pdf>. Acesso em: 20 out. 2013. ______. Presidência da República. Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica). Decreto Federal nº 678, de 06.11.1992, Brasília, DF.

93

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D0678.htm> Acesso em: 20 out. 2014. ______. Presidência da República. Protocolo de San Salvador sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Decreto Federal nº 3.321, de 30.12.1999, Brasília, DF. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3321.htm> Acesso em: 20 out. 2014. ______. Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos. Plano Nacional de

Educação em Direitos Humanos. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Brasília, DF, 2009. ______. Ministério da Educação. Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos

Humanos. Resolução nº 1, de 30.05.2012. Diário Oficial da União. Brasília: DF, 21 maio 2012, Seção 1, p. 48. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Decreto/D7037.htm> Acesso em: 10 dez. 2014. ______. Congresso Nacional. Política Nacional sobre Mudança do Clima. Lei Federal

n. 12.187, de 29.12.2009. Brasília: DF, 2008. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12187.htm>. Acesso em: 20 out. 2013. ______. Grupo de Trabalho Mudanças Climáticas, Pobreza e Desigualdades. Mudanças Climáticas e pobreza. COEP – Comitê de Entidades no Combate à Fome e Pela Vida (Coord.). Brasília: DF, 2009. Disponível em: http://www.coepbrasil.org.br/portal/Publico/apresentarArquivo.aspx?TP=1&ID=746dee7f-9dc2-4cd5-982d-234c2fe3c333&NOME=Folder%20O%20que%20Pensam%20as%20Comunidades.pdf. Acesso em: 20 mar. 2014. CARTEA, Pablo Ángel Meira (Coord.). Cuarto Seminário Compostela de Investigación em Educacion Ambiental e para a Sostenibilidade. Universidade de Santiago de

Compostela – publicacións, 4v., 2008. Cursos e Congressos. 27-28 out. 2008. p. 139-159. Santiago de Compostela, Disponível em: <http://www.resclima.info/sites/default/files/publicaciones/ACTAS_Investigaci%C3%B3n%20en%20Educaci%C3%B3n%20Ambiental%20e%20para%20a%20Sostenibilidade_1.pdf>. Acesso em: 12 nov. 2014. CARVALHO, Isabel et al. (Col.). Uma Cartografia das correntes em educação Ambiental. In: Educação Ambiental: pesquisa e desafios. ISBN 85.363-0518-5. Porto Alegre: Ed. Artmed, 2005. CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Educação Ambiental a formação do sujeito

ecológico. 6ª ed. São Paulo: Cortez, 2012.

94

CASTELLS, Manuel; CARDOSO, Gustavo (Org.). A sociedade em rede: do conhecimento à ação política. Conferência promovida pelo Presidente da República

em 04 e 05 mar. 2005. Centro Cultural de Belém. Presidência da República. Jan. 2006. Ed. 1012466. Lisboa, PT. Disponível em: <http://www.cies.iscte.pt/destaques/documents/Sociedade_em_Rede_CC.pdf>. Acesso em: 10 nov. 2014. CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano. 11ª ed. Petrópolis: Vozes, 2005. COUTO, Mia. Poema ‘Identidade’. Coleção Raiz de Orvalho e Outros Poemas. 2001. Site Citador. Disponível em: <http://www.citador.pt/poemas/identidade-mia-couto>. Acesso em: 20 jan. 2015. FRANÇA. Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. 1789. França. Disponível em: <http://www.fd.unl.pt/docentes_docs/ma/mla_MA_19926.pdf>. Acesso em: 17 abr. 2014. FALS, O. Aspectos teóricos da pesquisa participante: considerações sobre o significado e o papel da ciência na participação popular. In: BRANDÃO, C. R. (Org.). Pesquisa

participante. p. 42-62, São Paulo: Brasiliense, 1999. FERREIRA-SILVA, Luciana. Educação Ambiental Crítica, Movimento Social e Mudança Climática. Revista Pesquisa em Debate, v. 5, n. 1, p. 01-15, jan./jun. 2008. Disponível em: <http://www.pesquisaemdebate.net/docs/pesquisaEmDebate_8/artigo_2.pdf> Acesso em: 20 mar. 2014. FÓRUM BRASILEIRO DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS. 2000. Disponível em:

<http://www.forumclima.org.br/pt/o-forum/o-que-e>. Acesso em: 20 maio. 2014. FÓRUM DE DIREITOS HUMANOS E DA TERRA – MATO GROSSO. BLOG Oficial. 2011. Disponível em: <http://direitoshumanosmt.blogspot.com.br/>. Acesso em: 20 jun. 2014. _____. NOTA DE REPÚDIO. Manifesto de Repúdio às Atrocidades Praticadas contra os Povos Indígenas – Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, Brasil. PPABerlin News (Pindorama Press Agentur Berlin). Multimídia Press Service – Jornalismo Independente da Nijinski Arts Internacional e.v.. Jornalista responsável: Ras Adauto, dju/ Ver.Di. Deutschland.. Publicado em 14.03.2012. Disponível em: <http://ppaberlin.com/2012/03/14/manifesto-de-repudio-as-atrocidades-praticadas-contra-os-povos-indigenas-mato-grosso-e-mato-grosso-do-sul-brasil/>. Acesso em: 12 jan. 2015. _____. NOTA PÚBLICA. Agenda Mato Grosso Sustentável e Democrático: eleições 2014. Fórum de Direitos Humanos Mato Grosso. Disponível em:

95

<ttp://direitoshumanosmt.blogspot.com.br/p/eleicoes-2014.html>. Acesso em: 30 out. 2014. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 1987. ______. Pedagogia da autonomia. Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, p. 32, 1996. ______. Política e Educação. p.11, São Paulo: Cortez, 1997. ______. Que fazer: teoria e prática em Educação Popular. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 1999. ______. Educação como prática da liberdade. 14. ed. Rev. e Atual. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011. GAUDIANO, Édgar Gonzalez; CARTEA, Pablo Meira. Educación, comunicación y cambio climático – Resistencias para la acción social responsable. In: Trayectorias, vol. 11, núm. 29, julio-diciembre, pp. 6-38. Universidad Autónoma de Nuevo León. México. 2009. GOHN, Maria da Glória. Educação não formal: um novo campo de atuação. Ensaio:

aval. pol. públ. educ., Rio de Janeiro, v. 06, n. 21, out. 1998. Disponível em: <http://educa.fcc.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40361998000400005&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 16 fev. 2015. ______. Movimentos Sociais e redes de mobilizações civil no Brasil contemporâneo. Petrópolis: Vozes, 2010a. ______. Paulo Freire e a formação dos sujeitos coletivos. Rio de Janeiro: Vozes, 2010b. ______. Movimentos sociais na contemporaneidade. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 16, n. 47, p. 333-339, maio/ago. 2011a. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v16n47/v16n47a05.pdf>. Acesso em: 20 out. 2014. ______. Educação não formal e cultura política: impactos sobre o associativismo do terceiro setor. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2011b. ______. Movimentos Sociais e Educação. São Paulo: Cortez, 2012. (Coleção questões da nossa época, v. 37). GRAMSCI, Antônio. Os intelectuais e a organização da cultura. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Col. Perspectivas do Homem. v. 48, 4ª Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982.

96

GRÜN, Mauro. Ética e Educação Ambiental: a conexão necessária. 12. ed. Campinas: Papirus, 2009. GUIMARÃES, Mauro. A dimensão Ambiental na Educação. 3. ed. Campinas: Papirus, 2000. (Coleção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico). JABER-SILVA; SILVA; SATO, Michèle. Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Relatório de Direitos Humanos e da Terra 2011. Cuiabá. Disponível em: <http://direitoshumanosmt.blogspot.com.br>. Acesso em: 17 jul. 2013. JACOBI, Pedro. Movimentos Sociais e políticas públicas. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1993. 174 p. JACOBI, Pedro Roberto. Mudanças Climáticas globais: a resposta da Educação. Revista Brasileira de Educação. Núm. 46, Vol.16, p. 135-148, Rio de Janeiro Jan./Apr. 2011. INSTITUTO CARACOL. Facebook. Disponível em: <https://www.facebook.com/caracolinstituto?fref=ts>. Acesso em: 26 jun. 2014. LIMA, Artema Santana Almeida (Coord.). Projeto de Educação Ambiental – PrEA – Caderno 2. Conceitos em Educação Ambiental. Secretaria de Estado de Educação, Mato Grosso. Cuiabá: Tanta Tinta, 2004. 94 p. :il, 31 cm (Série Caderno, 2). Disponível em: <http://www.seduc.mt.gov.br/educadores/Documents/Pol%C3%ADticas%20Educacionais/Superintend%C3%AAncia%20de%20Diversidades/Educa%C3%A7%C3%A3o%20Ambiental/Prea/Livro_02.pdf>. Acesso em: 20 dez. 2014. LITTLE, Paul. Territórios sociais e povos tradicionais no Brasil: por uma antropologia da territorialidade. Série Antropologia. Brasília, DF: Universidade de Brasília, 2002. LEROY, Jean Pierre. Justiça Climática. Rede Brasileira de Justiça Ambiental. Disponível em: <http://www.justicaambiental.org.br/_justicaambiental/pagina.php?id=1837>. Acesso em: 21 nov. 2013. MAUÉS, Antônio; WEYL, Paulo. Fundamentos e Marcos Jurídicos da Educação em Direitos Humanos. In: SILVEIRA, Rosa Maria Godoy et al. Educação em Direitos

Humanos: fundamentos teórico-metodológicos, Brasília, p. 103-115. 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ep/v31n2/a10v31n2.pdf>. Acesso em: 20 nov. 2013. MALERNA, Juliana; LEROY, Jean Pierre. Justiça Climática e Ambiental. In: Fórum Brasileiro de Ongs e Movimentos Sociais para o meio ambiente e o Desenvolvimento. Mudanças Climáticas e o Brasil: contribuições e diretrizes para incorporar questões de mudança de clima em políticas públicas. Brasília: DF, 2008. Disponível em:

97

<http://mudancasclimaticas.cptec.inpe.br/~rmclima/pdfs/publicacoes/2007/Mudancas_Clima.pdf>. Acesso em: 25 jan. 2015. MATO GROSSO (Estado). Lei Estadual nº 9.111, de 15.04.2009. Instituição do Fórum Mato-grossense de Mudanças Climáticas. Disponível em: <http://www.sema.mt.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=26&Itemid=45>. Acesso em: 20 maio 2014. ______. Decreto Estadual nº 2.197, de 22.10.2009. Aprovação Regimento Interno – Composição do Fórum Mato-grossense de Mudanças Climáticas. Disponível em <http://www.sema.mt.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=26&Itemid=45>. Acesso em: 20 maio 2014. ______. Lei Estadual nº 9.878, de 07.01.2013. Institui o Sistema Estadual de Redução de Emissões de Gases do Efeito Estufa - REDD+ de Mato Grosso. Fórum Mato-grossense de Mudanças Climáticas. Disponível em: <http://www.sema.mt.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=26&Itemid=45>. Acesso em: 20 maio 2014. MILANEZ, Bruno; FONSECA, Igor Ferraz da. Justiça Climática e eventos climáticos extremos: uma Análise da percepção social no Brasil. Terceiro Incluído. NUPEAT–IESA–UFG, Goiânia, v. 1, n. 2, p. 82–100, jul./dez. 2011. Artigo 13. ISSN 2237-079X –Disponível em: <http://www.coepbrasil.org.br/portal/Publico/apresentarArquivo.aspx?TP=1&ID=3bee7a0f-a6eb-4fcf-bc2b-7007356cf3af&NOME=justi%C3%A7a%20climatica.pdf>. Acesso em: 20 mar. 2014. MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 29. ed. Petrópolis: Vozes, 2010. (Coleção temas sociais). MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2002. MONTEIRO, Simone Rocha da Rocha Pires. O marco conceitual da vulnerabilidade social. Revista Sociedade em Debate, Pelotas, v. 17, n. 2, p. 29-40, jul./dez. 2011. Disponível em: <http://revistas.ucpel.tche.br/index.php/rsd/article/view/695/619>. Acesso em: 20 mar. 2015. OBERMAIER, Martin; ROSA, Luiz Pinguelli. Mudança Climática e adaptação no Brasil: uma análise crítica. Revista Estudos Avançados, São Paulo, v. 27, n. 78, 2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142013000200011&script=sci_arttext>. Acesso em: 21 out. 2013.

98

ORELLANA, Isabel. La comunidade de aprendizaje em educación ambiental. Uma estratégia pedagógica. Revista Tópicos em Educación Ambiental, v. 3, n. 7, Mundi Prensa México, 2001. ORELLANA, MARCOS A. Mudança Climática e os objetivos de desenvolvimento do Milênio: o direito ao desenvolvimento, cooperação internacional e o mecanismo de desenvolvimento limpo. SUR. Revista Internacional de Direitos Humanos. Sur – Rede Universitária de Direitos Humanos, São Paulo, v. 7, n. 12, jun. 2010. Disponível em: <http://www.surjournal.org/conteudos/getArtigo12.php?artigo=12,artigo_08.htm> Acesso em: 26 ago. 2013. PAINEL INTEGOVERNAMENTAL SOBRE MUDANÇA DO CLIMA (IPCC). Quarto Relatório de Avaliação do IPCC. Sumário para os Formuladores de Políticas. 2007, p. 42. Disponível em: <https://www.ipcc.ch/pdf/reports-nonUN-translations/portuguese/ar4-wg3-spm.pdf>. Acesso em: 10 out.2014. ______. Grupo Intergubernamental De Expertos Sobre El Cambio Climático. IPCC. Cambio Climático 2014. Impactos, adaptacíon y vulnerabilidade. Resumen para

responsables de políticas. Disponível em: <http://www.ipcc-wg2.gov/>. Acesso em: 30 nov. 2014. PAINEL BRASILEIRO DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS (PBMC). Impactos, vulnerabilidades e adaptação às mudanças climáticas. Grupo de Trabalho 2 do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas ao Primeiro Relatório da Avaliação Nacional sobre Mudanças Climáticas [Assad, E. D., Magalhães, A. R. (Ed.)]. COPPE. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 414 p. ISBN: 978-85-285-0207-7. Disponível em: <http://www.ccst.inpe.br/wp-content/themes/ccst-2.0/pdf/sumario_executivo.pdf>. Acesso em: 10 mar.2014. REDE BRASILEIRA DE JUSTIÇA AMBIENTAL – RBJA. Site oficial. Brasil, 2002. Disponível em: em: <http://www.justicaambiental.org.br/_justicaambiental/pagina.php?id=229>. Acesso em: 10 mar. 2014. PARIS. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), Paris, 1948. Disponível em: <http://www.dudh.org.br/declaracao/>. Acesso em: 21 abr. 2014. SANTOS, Boaventura de Sousa. Los nuevos movimientos sociales. Revista del

Observatorio Social de América Latina/OSAL, Buenos Aires, CLACSO, n. 5, set. 2001. ______. Os direitos humanos na zona de contacto entre globalizações rivais. Natal, v. 8, n. 1, p. 23-40, jan./jun. 2007. Disponível em: <http://www.boaventuradesousasantos.pt/media/Direitos%20humanos%20globaliza%C3%A7%C3%B5es%20rivais_Cronos2007.pdf>. Acesso em: 10 abr. 2014.

99

______. Epistemologias do Sul. Revista Crítica de Ciências Sociais, Coimbra, v. 80, p. 5-10, 2008. ______. Direitos humanos: o desafio da interculturalidade. Revista Direitos Humanos

[on line], n. 2, p. 10-18, 2009. SANTOS, J. E.; SATO, M. A Contribuição da Educação Ambiental à Esperança de

Pandora. São Carlos, RiMa, 2001. SATO, Michèle. Educação Ambiental. São Carlos: Rima, 2002. _____. Paisagens incompletas pantaneiras. In: REUNIÃO ANUAL DA SBPC: Ciência na Fronteira - Ética e Desenvolvimento, 56., 2004, Cuiabá, UFMT; SBPC [simpósio de Educação Ambiental: construção de sociedades sustentáveis no Pantanal], jul. 2004, p. 1-7. Disponível em: <http://www.sbpcnet.org.br/livro/56ra/banco_conf_simp/autores/Allison%20Ishy.htm>. Acesso em: 25 jun. 2014.

______. Pot-Pourri da ecologia de resistência. SORRENTINO, Marcos (Org.). Educação ambiental e políticas públicas: conceitos, fundamentos e vivências. Curitiba: Appris, 2013. p. 461-484. ______. Reflexões sobre o Clima. Blog do Grupo Pesquisador em Educação

Ambiental, Comunicação e Arte – GPEA. PowerPoint. slide 41, 2013. Disponível em: <https://onedrive.live.com/view.aspx?resid=6F738C9CF42A30B0!5532&app=PowerPoint&authkey=!AGIHjv83cmyALS0 >. Acesso em: 20 out. 2013. ______. Minutos de Orientação – DIAGNÓSTICO & PROGNÓSTICO. Blog do Grupo

Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte – GPEA. Jun-2014.

Disponível em: <http://gpeaufmt.blogspot.com.br/2014/06/minutos-de-

orientacao-diagnostico.html>. Acesso em: 25 mai. 2014.

______. Projeto de Pesquisa Justiça Climática e Educação Ambiental. Referência de Chamada UNIVERSAL MCTI/CNPQ/Universal 14/2014. Disponível em: <http://www.cnpq.br/web/guest/chamadaspublicas?p_p_id=resultadosportlet_WAR_result

adoscnpqportlet_INSTANCE_0ZaM&idDivulgacao=4742&filtro=resultados&detalha=chamad

aDetalhada&exibe=exibe&id=47-353-2455&idResultado=47-353-2455> . Acesso em: 15

fev. 2014. SATO, Michèle; SILVA, Regina; JABER-Silva, Michelle. In: WERNER, Inácio; SATO, Michèle; ROSSI, Roberto (Org.). Relatório de Direitos Humanos e da Terra 2011, (ISBN: 978-85-911436-5-8). Cuiabá: Centro Bunier Fé e Justiça, 2011. 83 p. SATO, Michèle; SILVA, Regina; JABER-Silva, Michelle. In: WERNER, Inácio; SATO, Michèle; ROSSI, Roberto (Org.). Relatório de Direitos Humanos e da Terra 2013, (ISBN: 978-85-913365-1-7). Cuiabá: Centro Bunier Fé e Justiça, 2013. p. 120-125.

100

SAUVÉ, Lucie. Educação Ambiental e desenvolvimento sustentável: uma análise complexa sobre as concepções tipológicas sobre o ambiente. Revista de Educação

Pública, Cuiabá, v. 6, n. 10, p. 72-103, jul./dez. 1997. Disponível em: <http://www.ufmt.br/revista/arquivo/rev10/educacao_ambiental_e_desenvolvim.html>. Acesso em: 20 maio 2014. ______. Educação Ambiental: possibilidades e limitações. Revista Educação e

Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 317-322, maio/ago. 2005. Disponível em: <file:///C:/Users/USUARIO/Google%20Drive/DissertaArtigos/Educa%C3%A7%C3%A3o%20Ambiental-%20Possibilidades%20e%20Limita%C3%A7%C3%B5es.pdf>. Acesso em: 05 abr. 2014. SARAMAGO, José. Ensaio sobre a cegueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. SCHERER-WARREN, Ilse. Redes Emancipatórias: nas lutas contra a exclusão e por direitos humanos. Curitiba: Editora Appris, 2012, 36 p., il., 21 cm. (Coleção Ciências Sociais). SILVA, Regina Aparecida da. Do invisível ao visível: o mapeamento dos grupos sociais do Estado de Mato Grosso. 2011. 222 f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade de São Carlos, São Carlos, 2011. SILVEIRA, Denise Tolfo et al. (Org.). A pesquisa científica. Métodos de Pesquisa. Série Educação à Distância. Universidade Aberta do Brasil/UFRGS. Porto Alegre: Editora da UFRGS, p. 120, 2009. Disponível em: <https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/52806/000728684.pdf?sequence=1>. Acesso em: 20 dez.2014. SORRENTINO, Marcos et al. Educação Ambiental como política pública. Educação e

Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 285-299, maio/ago. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ep/v31n2/a10v31n2.pdf>. Acesso em: 20 nov. 2013. SORRENTINO, Marcos. Do diversionismo cotidiano às políticas públicas nacionais e internacionais voltadas a enfrentar as mudanças climáticas: a formação do educador ambiental popular. Ambientalmente Sustentable, Coruña, Espanha, v. 1, n. 1-2, p. 49-68, 2006. Disponível em: <http://www.ambientalmente.es/index.php/RAS/article/view/6>. Acesso em: 14 jun. 2014. SORRENTINO, Marcos et al. Laboratório de Educação e Política Ambiental (Oca)-Universidade de São Paulo (Brasil). Revista ambientalMENTEsustentable, São Paulo, ano 5, v. 1, n. 9-10, p. 7-35, jan./dez. 2010. TAMAIO, Irineu. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Relatório de proposta de campanha sobre EA e Mudanças Climáticas. Brasília: DF,

101

2010. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/estruturas/educamb/_arquivos/produto_ii_relatorio_finalcampanha_irineu_tamaio_20.pdf>. Acesso em: 20 maio 2014. VELOSO, Caetano. Música ‘Oração ao Tempo, Álbum Cinema Transcendental, 1979. Disponível em: <http://letras.mus.br/caetano-veloso/discografia/>. Acesso em: 03 mar. 2015.

VIOLA, Eduardo. O Regime Internacional de Mudança Climática e o Brasil. Revista

Brasileira de Ciências Sociais, vol. 17, núm. 50, p. 25-46. São Paulo: 2002. Disponível em: < http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=10705003>. Acesso em 15 Jun. 2015.

WERNER; SATO; ROSSI, Roberto. Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Relatório de Direitos Humanos e da Terra 2013. Cuiabá. Disponível em: <http://direitoshumanosmt.blogspot.com.br>. Acesso em: 17 jul. 2013.

102

APÊNDICES

APÊNDICE A – Termos de Consentimento Livre e Esclarecimento

APÊNDICE B - Marcos Regulatórios referenciados neste trabalho

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

APENDICE B

MARCOS NORMATIVOS REFERENCIADOS NESTE TRABALHO

1789

DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO DE 1789 Os representantes do povo francês, constituídos em ASSEMBLEIA NACIONAL, considerando que a ignorância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos do homem são as únicas causas das desgraças públicas e da corrupção dos Governos, resolveram expor em declaração solene os Direitos naturais, inalienáveis e sagrados do Homem, a fim de que esta declaração, constantemente presente em todos os membros do corpo social, lhes lembre sem cessar os seus direitos e os seus deveres; a fim de que os actos do Poder legislativo e do Poder executivo, a instituição política, sejam por isso mais respeitados; a fim de que as reclamações dos cidadãos, doravante fundadas em princípios simples e incontestáveis, se dirijam sempre à conservação da Constituição e à felicidade geral. Por consequência, a ASSEMBLEIA NACIONAL reconhece e declara, na presença e sob os auspícios do Ser Supremo, os seguintes direitos do Homem e do Cidadão: Artigo 1º- Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundar-se na utilidade comum. Artigo 2º- O fim de toda a associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses Direitos são a liberdade. a propriedade, a segurança e a resistência à opressão. Artigo 3º- O princípio de toda a soberania reside essencialmente em a Nação. Nenhuma corporação, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que aquela não emane expressamente. Artigo 4º- A liberdade consiste em poder fazer tudo aquilo que não prejudique outrem: assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão os que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes limites apenas podem ser determinados pela Lei. Artigo 5º- A Lei não proíbe senão as acções prejudiciais à sociedade. Tudo aquilo que não pode ser impedido, e ninguém pode ser constrangido a fazer o que ela não ordene.

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

Artigo 6º- A Lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de concorrer, pessoalmente ou através dos seus representantes, para a sua formação. Ela deve ser a mesma para todos, quer se destine a proteger quer a punir. Todos os cidadãos são iguais a seus olhos, são igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segundo a sua capacidade, e sem outra distinção que não seja a das suas virtudes e dos seus talentos. Artigo 7º- Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela Lei e de acordo com as formas por esta prescritas. Os que solicitam, expedem, executam ou mandam executar ordens arbitrárias devem ser castigados; mas qualquer cidadão convocado ou detido em virtude da Lei deve obedecer imediatamente, senão torna-se culpado de resistência. Artigo 8º- A Lei apenas deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias, e ninguém pode ser punido senão em virtude de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legalmente aplicada. Artigo 9º- Todo o acusado se presume inocente até ser declarado culpado e, se se julgar indispensável prendê- lo, todo o rigor não necessário à guarda da sua pessoa, deverá ser severamente reprimido pela Lei. Artigo 10º- Ninguém pode ser inquietado pelas suas opiniões, incluindo opiniões religiosas, contando que a manifestação delas não perturbe a ordem pública estabelecida pela Lei. Artigo 11º- A livre comunicação dos pensamentos e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do Homem; todo o cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente, respondendo, todavia, pelos abusos desta liberdade nos termos previstos na Lei. Artigo 12º- A garantia dos direitos do Homem e do Cidadão carece de uma força pública; esta força é, pois, instituída para vantagem de todos, e não para utilidade particular daqueles a quem é confiada. Artigo 13º- Para a manutenção da força pública e para as despesas de administração é indispensável uma contribuição comum, que deve ser repartida entre os cidadãos de acordo com as suas possibilidades. Artigo 14º- Todos os cidadãos têm o direito de verificar, por si ou pelos seus representantes, a necessidade da contribuição pública, de consenti- la livremente, de observar o seu emprego e de lhe fixar a repartição, a colecta, a cobrança e a duração. Artigo 15º- A sociedade tem o direito de pedir contas a todo o agente público pela sua administração.

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

Artigo 16º- Qualquer sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos, nem estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição. Artigo 17º- Como a propriedade é um direito inviolável e sagrado, ninguém dela pode ser privado, a não ser quando a necessidade pública legalmente comprovada o exigir evidentemente e sob condição de justa e prévia indemnização.

1948

DECLARAÇÃO AMERICANA DOS DIREITOS E DEVERES DO

HOMEM (1948)

Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem (1948)

Resolução XXX, Ata Final, aprovada na IX Conferência Internacional

Americana, em Bogotá, em abril de 1948

A IX Conferência Internacional Americana,

Considerando: Que os povos americanos dignificaram a pessoa humana e que suas Constituições nacionais reconhecem que as instituições jurídicas e políticas, que regem a vida em sociedade, têm como finalidade principal a proteção dos direitos essenciais do homem e a criação de circunstâncias que lhe permitam progredir espiritual e materialmente e alcançar a felicidade. Que, em repetidas ocasiões, os Estados americanos reconheceram que os direitos essenciais do homem não derivam do fato de ser ele cidadão de determinado Estado, mas sim do fato dos direitos terem como base os atributos da pessoa humana. Que a proteção internacional dos direitos do homem deve ser a orientação principal do direito americano em evolução. Que a consagração americana dos direitos essenciais do homem, unida às garantias oferecidas pelo regime interno dos Estados, estabelece o sistema inicial de proteção que os Estados americanos consideram adequado às atuais circunstâncias sociais e jurídicas, não deixando de reconhecer, porém, que deverão fortalecê-lo cada vez mais no terreno internacional, à medida que essas circunstâncias se tornem mais propícias; Resolve adotar a seguinte: Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem Preâmbulo

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos e, como são dotados pela natureza de razão e consciência, devem proceder fraternalmente uns para com os outros. O cumprimento do dever de cada um é exigência do direito de todos. Direitos e deveres integram-se correlativamente em toda a atividade social e política do homem. Se os direitos exaltam a liberdade individual, os deveres exprimem a dignidade dessa liberdade. Os deveres de ordem jurídica dependem da existência anterior de outros de ordem moral, que apoiam os primeiros conceitualmente e os fundamentam. É dever do homem servir o espírito com todas as suas faculdades e todos os seus recursos, porque o espírito é a finalidade suprema da existência humana e a sua máxima categoria. É dever do homem exercer, manter e estimular a cultura por todos os meios ao seu alcance, porque a cultura é a mais elevada expressão social e histórica do espírito. E, visto que a moral e as boas maneiras constituem a mais nobre manifestação da cultura, é dever de todo homem acatar-lhe os princípios. CAPÍTULO I Direitos Artigo 1º Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança de sus pessoa. Artigo 2º Todas as pessoas são iguais perante a lei e têm os direitos e deveres consagrados nesta Declaração, sem distinção de raça, língua, crença, ou qualquer outra. Artigo 3º Toda pessoa tem o direito de professar livremente uma crença religiosa e de manifestá-la e praticá-la pública e particularmente. Artigo 4º Toda pessoa tem o direito à liberdade de investigação, de opinião e de expressão e difusão do pensamento, por qualquer meio. Artigo 5º Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra os ataques abusivos à sua honra, à sua reputação e à sua vida particular e familiar. Artigo 6º Toda pessoa tem direito a constituir família, elemento fundamental da sociedade e a receber proteção para ela. Artigo 7º Toda mulher em estado de gravidez ou em época de lactação, assim como toda criança, têm direito à proteção, cuidados e auxílios especiais. Artigo 8º Toda pessoa tem direito de fixar sua residência no território do Estado de que é nacional, de transitar por ele livremente e de não abandoná-lo senão por sua própria vontade. Artigo 9º Toda pessoa tem direito à inviolabilidade do seu domicílio.

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

Artigo 10 Toda pessoa tem direito à inviolabilidade e circulação da sua correspondência. Artigo 11 Toda pessoa tem direito a que sua saúde seja resguardada por medidas sanitárias e sociais relativas à alimentação, roupas, habitação e cuidados médicos correspondentes ao nível permitido pelos recursos públicos e os da coletividade. Artigo 12 Toda pessoa tem direito à educação, que deve inspirar-se nos princípios de liberdade, moralidade e solidariedade humana. Tem, outrossim, direito a que, por meio dessa educação, lhe seja proporcionado o preparo para subsistir de uma maneira digna, para melhorar o seu nível de vida e para poder ser útil à sociedade. O direito à educação compreende o de igualdade de oportunidade em todos os casos, de acordo com os dons naturais, os méritos e o desejo de aproveitar os recursos que possam proporcionar a coletividade e o Estado. Toda pessoa tem o direito de que lhe seja ministrada gratuitamente pelo menos, a instrução primária. Artigo 13 Toda pessoa tem direito de tomar parte na vida cultural da coletividade, de gozar das artes e de desfrutar dos benefícios resultantes do progresso intelectual e, especialmente das descobertas científicas. Tem o direito, outrossim, de ser protegida em seus interesses morais e materiais, no que se refere às invenções, obras literárias, científicas ou artísticas de sua autoria. Artigo 14 Toda pessoa tem direito ao trabalho em condições dignas e o direito de seguir livremente sua vocação, na medida em que for permitido pelas oportunidades de emprego existentes. Toda pessoa que trabalha tem o direito de receber uma remuneração que, em relação à sua capacidade de trabalho e habilidade, lhe garanta um nível de vida conveniente para si mesma e para sua família. Artigo 15 Toda pessoa tem direito ao descanso, ao recreio honesto e à oportunidade de aproveitar utilmente o seu tempo livre em benefício de seu melhoramento espiritual, cultural e físico. Artigo 16 Toda pessoa tem direito à previdência social, de modo a ficar protegida contra as consequências do desemprego, da velhice e da incapacidade que, provenientes de qualquer causa alheia à sua vontade, a impossibilitem física ou mentalmente de obter meios de subsistência. Artigo 17 Toda pessoa tem direito a ser reconhecida, seja onde for, como pessoa com direitos e obrigações, e a gozar dos direitos civis fundamentais. Artigo 18 Toda pessoa pode recorrer aos tribunais para fazer respeitar os seus direitos. Deve poder contar, outrossim, com processo simples e breve, mediante o qual a justiça a proteja contra atos de autoridade que violem, em seu prejuízo, qualquer dos direitos fundamentais consagrados constitucionalmente. Artigo 19

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

Toda pessoa tem direito à nacionalidade que legalmente lhe corresponda, podendo mudá-la, se assim o desejar, pela de qualquer outro país que estiver disposta a concedê-la. Artigo 20 Toda pessoa, legalmente capacitada, tem o direito de tomar parte no governo do seu país, quer diretamente, quer através de seus representantes, e de participar das eleições, que se processarão por voto secreto, de uma maneira genuína, periódica e livre. Artigo 21 Toda pessoa tem o direito de se reunir pacificamente com outras, em manifestação pública, ou em assembleia transitória, em relação com seus interesses comuns, de qualquer natureza que sejam. Artigo 22

Toda pessoa tem o direito de se associar com outras a fim de promover, exercer

e proteger os seus interesses legítimos, de ordem política, econômica, religiosa,

social, cultural, profissional, sindical ou de qualquer outra natureza.

Artigo 23

Toda pessoa tem direito à propriedade particular correspondente às

necessidades essenciais de uma vida decente, e que contribua a manter a

dignidade da pessoa e do lar.

Artigo 24

Toda pessoa tem o direito de apresentar petições respeitosas a qualquer

autoridade competente, quer por motivo de interesse geral, quer de interesse

particular, assim como o de obter uma solução rápida.

Artigo 25

Ninguém pode ser privado da sua liberdade, a não ser nos casos previstos pelas

leis e segundo as praxes estabelecidas pelas leis já existentes. Ninguém pode ser

preso por deixar de cumprir obrigações de natureza claramente civil. Todo

indivíduo, que tenha sido privado da sua liberdade, tem o direito de que o juiz

verifique sem demora a legalidade da medida, e de que o julgue sem protelação

injustificada, ou, no caso contrário, de ser posto em liberdade. Tem também

direito a um tratamento humano durante o tempo em que o privarem da sua

liberdade.

Artigo 26

Parte-se do princípio de que todo acusado é inocente, até que se prove sua

culpabilidade. Toda pessoa acusada de um delito tem direito de ser ouvida em

uma forma imparcial e pública, de ser julgada por tribunais já estabelecidos de

acordo com leis preexistentes, e de que se lhe não inflijam penas cruéis,

infamantes ou inusitadas.

Artigo 27

Toda pessoa tem o direito de procurar e receber asilo em território estrangeiro,

em caso de perseguição que não seja motivada por delitos de direito comum, e

de acordo com a legislação de cada país e com as convenções internacionais.

Artigo 28

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

Os direitos do homem estão limitados pelos direitos do próximo, pela segurança

de todos e pelas justas exigências do bem-estar geral e do desenvolvimento

democrático.

CAPÍTULO SEGUNDO

Deveres

Artigo 29

O indivíduo tem o dever de conviver com os demais, de maneira que todos e

cada um possam formar e desenvolver integralmente a sua personalidade.

Artigo 30

Toda pessoa tem o dever de auxiliar, alimentar, educar e amparar os seus filhos

menores de idade, e os filhos têm o dever de honrar sempre os seus pais e de

auxiliar, alimentar e amparar sempre que precisarem.

Artigo 31

Toda pessoa tem o dever de adquirir, pelo menos, a instrução primária.

Artigo 32

Toda pessoa tem o dever de votar nas eleições populares do país de que for

nacional, quando estiver legalmente habilitada para isso.

Artigo 33

Toda pessoa tem o dever de obedecer à Lei e aos demais mandamentos legítimos

das autoridades do país onde se encontrar.

Artigo 34

Toda pessoa devidamente habilitada tem o dever de prestar os serviços civis e

militares que a pátria exija para a sua defesa e conservação, e, no caso de

calamidade pública, os serviços civis que estiverem dentro de suas

possibilidades.

Da mesma forma tem o dever de desempenhar os cargos de eleição popular de

que for incumbida no Estado de que for nacional.

Artigo 35

Toda pessoa está obrigada a cooperar com o Estado e com a coletividade na

assistência e previdência sociais, de acordo com as suas possibilidades e com as

circunstâncias.

Artigo 36

Toda pessoa tem o dever de pagar os impostos estabelecidos pela lei para a

manutenção dos serviços públicos.

Artigo 37

Toda pessoa tem o dever de trabalhar, dentro das suas capacidades e

possibilidades, a fim de obter os recursos para a sua subsistência ou em benefício

da coletividade.

Artigo 38

Todo o estrangeiro tem o dever de se abster de tomar parte nas atividades

políticas que, de acordo com a lei, sejam privativas dos cidadãos do Estado onde

se encontrar.

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

1969

CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (1969)*

(PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA RICA) PREÂMBULO

Os Estados Americanos signatários da presente Convenção,

Reafirmando seu propósito de consolidar neste Continente, dentro do quadro das instituições democráticas, um regime de liberdade pessoal e de justiça social, fundado no respeito dos direitos humanos essenciais;

Reconhecendo que os direitos essenciais da pessoa humana não derivam do fato de ser ela nacional de determinado Estado, mas sim do fato de ter como fundamento os atributos da pessoa humana, razão por que justificam uma proteção internacional, de natureza convencional, coadjuvante ou complementar da que oferece o direito interno dos Estados americanos;

Considerando que esses princípios foram consagrados na Carta da Organização dos Estados Americanos, na Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e na Declaração Universal dos Direitos do Homem, e que foram reafirmados e desenvolvidos em outros instrumentos internacionais, tanto de âmbito mundial como regional;

Reiterando que, de acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, só pode ser realizado o ideal do ser humano livre, isento do temor e da miséria, se forem criadas condições que permitam a cada pessoa gozar dos seus direitos econômicos, sociais e culturais, bem como dos seus direitos civis e políticos; e

Considerando que a Terceira Conferência Interamericana Extraordinária (Buenos Aires, 1967) aprovou a incorporação à própria Carta da Organização de normas mais amplas sobre os direitos econômicos, sociais e educacionais e resolveu que uma Convenção Interamericana sobre Direitos Humanos determinasse a estrutura, competência e processo dos órgãos encarregados dessa matéria;

Convieram no seguinte:

PARTE I - DEVERES DOS ESTADOS E DIREITOS PROTEGIDOS Capítulo I - ENUMERAÇÃO DOS DEVERES

Artigo 1º - Obrigação de respeitar os direitos

1. Os Estados-partes nesta Convenção comprometem-se a respeitar os direitos e liberdades nela reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa que esteja sujeita à sua jurisdição, sem discriminação alguma, por motivo de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de qualquer outra natureza, origem nacional ou social, posição econômica, nascimento ou qualquer outra condição social.

2. Para efeitos desta Convenção, pessoa é todo ser humano.

Artigo 2º - Dever de adotar disposições de direito interno

Se o exercício dos direitos e liberdades mencionados no artigo 1 ainda não estiver garantido por disposições legislativas ou de outra natureza, os Estados-partes comprometem-se a adotar, de acordo com as suas normas constitucionais e com as

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

disposições desta Convenção, as medidas legislativas ou de outra natureza que forem necessárias para tornar efetivos tais direitos e liberdades.

Capítulo II - DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS

Artigo 3º - Direito ao reconhecimento da personalidade jurídica

Toda pessoa tem direito ao reconhecimento de sua personalidade jurídica.

Artigo 4º - Direito à vida

1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido pela lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente.

2. Nos países que não houverem abolido a pena de morte, esta só poderá ser imposta pelos delitos mais graves, em cumprimento de sentença final de tribunal competente e em conformidade com a lei que estabeleça tal pena, promulgada antes de haver o delito sido cometido. Tampouco se estenderá sua aplicação a delitos aos quais não se aplique atualmente.

3. Não se pode restabelecer a pena de morte nos Estados que a hajam abolido.

4. Em nenhum caso pode a pena de morte ser aplicada a delitos políticos, nem a delitos comuns conexos com delitos políticos.

5. Não se deve impor a pena de morte a pessoa que, no momento da perpetração do delito, for menor de dezoito anos, ou maior de setenta, nem aplicá-la a mulher em estado de gravidez.

6. Toda pessoa condenada à morte tem direito a solicitar anistia, indulto ou comutação da pena, os quais podem ser concedidos em todos os casos. Não se pode executar a pena de morte enquanto o pedido estiver pendente de decisão ante a autoridade competente.

Artigo 5º - Direito à integridade pessoal

1. Toda pessoa tem direito a que se respeite sua integridade física, psíquica e moral.

2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada de liberdade deve ser tratada com o respeito devido à dignidade inerente ao ser humano.

3. A pena não pode passar da pessoa do delinquente.

4. Os processados devem ficar separados dos condenados, salvo em circunstâncias excepcionais, e devem ser submetidos a tratamento adequado à sua condição de pessoas não condenadas.

5. Os menores, quando puderem ser processados, devem ser separados dos adultos e conduzidos a tribunal especializado, com a maior rapidez possível, para seu tratamento.

6. As penas privativas de liberdade devem ter por finalidade essencial a reforma e a readaptação social dos condenados.

Artigo 6º - Proibição da escravidão e da servidão

1. Ninguém poderá ser submetido a escravidão ou servidão e tanto estas como o tráfico de escravos e o tráfico de mulheres são proibidos em todas as suas formas.

2. Ninguém deve ser constrangido a executar trabalho forçado ou obrigatório. Nos países em que se prescreve, para certos delitos, pena privativa de liberdade acompanhada de trabalhos forçados, esta disposição não pode ser interpretada no sentido de proibir o

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

cumprimento da dita pena, imposta por um juiz ou tribunal competente. O trabalho forçado não deve afetar a dignidade, nem a capacidade física e intelectual do recluso.

3. Não constituem trabalhos forçados ou obrigatórios para os efeitos deste artigo:

a) os trabalhos ou serviços normalmente exigidos de pessoa reclusa em cumprimento de sentença ou resolução formal expedida pela autoridade judiciária competente. Tais trabalhos ou serviços devem ser executados sob a vigilância e controle das autoridades públicas, e os indivíduos que os executarem não devem ser postos à disposição de particulares, companhias ou pessoas jurídicas de caráter privado;

b) serviço militar e, nos países em que se admite a isenção por motivo de consciência, qualquer serviço nacional que a lei estabelecer em lugar daquele;

c) o serviço exigido em casos de perigo ou de calamidade que ameacem a existência ou o bem-estar da comunidade;

d) o trabalho ou serviço que faça parte das obrigações cívicas normais.

Artigo 7º - Direito à liberdade pessoal

1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoais.

2. Ninguém pode ser privado de sua liberdade física, salvo pelas causas e nas condições previamente fixadas pelas Constituições políticas dos Estados-partes ou pelas leis de acordo com elas promulgadas.

3. Ninguém pode ser submetido a detenção ou encarceramento arbitrários.

4. Toda pessoa detida ou retida deve ser informada das razões da detenção e notificada, sem demora, da acusação ou das acusações formuladas contra ela.

5. Toda pessoa presa, detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença de um juiz ou outra autoridade autorizada por lei a exercer funções judiciais e tem o direito de ser julgada em prazo razoável ou de ser posta em liberdade, sem prejuízo de que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser condicionada a garantias que assegurem o seu comparecimento em juízo.

6. Toda pessoa privada da liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal competente, a fim de que este decida, sem demora, sobre a legalidade de sua prisão ou detenção e ordene sua soltura, se a prisão ou a detenção forem ilegais. Nos Estados-partes cujas leis prevêem que toda pessoa que se vir ameaçada de ser privada de sua liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal competente, a fim de que este decida sobre a legalidade de tal ameaça, tal recurso não pode ser restringido nem abolido. O recurso pode ser interposto pela própria pessoa ou por outra pessoa.

7. Ninguém deve ser detido por dívidas. Este princípio não limita os mandados de autoridade judiciária competente expedidos em virtude de inadimplemento de obrigação alimentar.

Artigo 8º - Garantias judiciais

1. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou Tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou na determinação de seus direitos e obrigações de caráter civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza.

2. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto não for legalmente comprovada sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas:

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

a) direito do acusado de ser assistido gratuitamente por um tradutor ou intérprete, caso não compreenda ou não fale a língua do juízo ou tribunal;

b) comunicação prévia e pormenorizada ao acusado da acusação formulada;

c) concessão ao acusado do tempo e dos meios necessários à preparação de sua defesa;

d) direito do acusado de defender-se pessoalmente ou de ser assistido por um defensor de sua escolha e de comunicar-se, livremente e em particular, com seu defensor;

e) direito irrenunciável de ser assistido por um defensor proporcionado pelo Estado, remunerado ou não, segundo a legislação interna, se o acusado não se defender ele próprio, nem nomear defensor dentro do prazo estabelecido pela lei;

f) direito da defesa de inquirir as testemunhas presentes no Tribunal e de obter o comparecimento, como testemunhas ou peritos, de outras pessoas que possam lançar luz sobre os fatos;

g) direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se culpada; e

h) direito de recorrer da sentença a juiz ou tribunal superior.

3. A confissão do acusado só é válida se feita sem coação de nenhuma natureza.

4. O acusado absolvido por sentença transitada em julgado não poderá ser submetido a novo processo pelos mesmos fatos.

5. O processo penal deve ser público, salvo no que for necessário para preservar os interesses da justiça.

Artigo 9º - Princípio da legalidade e da retroatividade

Ninguém poderá ser condenado por atos ou omissões que, no momento em que foram cometidos, não constituam delito, de acordo com o direito aplicável. Tampouco poder-se-á impor pena mais grave do que a aplicável no momento da ocorrência do delito. Se, depois de perpetrado o delito, a lei estipular a imposição de pena mais leve, o deliquente deverá dela beneficiar-se.

Artigo 10 - Direito à indenização

Toda pessoa tem direito de ser indenizada conforme a lei, no caso de haver sido condenada em sentença transitada em julgado, por erro judiciário.

Artigo 11 - Proteção da honra e da dignidade

1. Toda pessoa tem direito ao respeito da sua honra e ao reconhecimento de sua dignidade.

2. Ninguém pode ser objeto de ingerências arbitrárias ou abusivas em sua vida privada, em sua família, em seu domicílio ou em sua correspondência, nem de ofensas ilegais à sua honra ou reputação.

3. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais ingerências ou tais ofensas.

Artigo 12 - Liberdade de consciência e de religião

1. Toda pessoa tem direito à liberdade de consciência e de religião. Esse direito implica a liberdade de conservar sua religião ou suas crenças, ou de mudar de religião ou de crenças, bem como a liberdade de professar e divulgar sua religião ou suas crenças, individual ou coletivamente, tanto em público como em privado.

2. Ninguém pode ser submetido a medidas restritivas que possam limitar sua liberdade de conservar sua religião ou suas crenças, ou de mudar de religião ou de crenças.

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

3. A liberdade de manifestar a própria religião e as próprias crenças está sujeita apenas às limitações previstas em lei e que se façam necessárias para proteger a segurança, a ordem, a saúde ou a moral públicas ou os direitos e as liberdades das demais pessoas.

4. Os pais e, quando for o caso, os tutores, têm direito a que seus filhos e pupilos recebam a educação religiosa e moral que esteja de acordo com suas próprias convicções.

Artigo 13 - Liberdade de pensamento e de expressão

1. Toda pessoa tem o direito à liberdade de pensamento e de expressão. Esse direito inclui a liberdade de procurar, receber e difundir informações e idéias de qualquer natureza, sem considerações de fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou em forma impressa ou artística, ou por qualquer meio de sua escolha.

2. O exercício do direito previsto no inciso precedente não pode estar sujeito à censura prévia, mas a responsabilidades ulteriores, que devem ser expressamente previstas em lei e que se façam necessárias para assegurar:

a) o respeito dos direitos e da reputação das demais pessoas;

b) a proteção da segurança nacional, da ordem pública, ou da saúde ou da moral públicas.

3. Não se pode restringir o direito de expressão por vias e meios indiretos, tais como o abuso de controles oficiais ou particulares de papel de imprensa, de frequências radioelétricas ou de equipamentos e aparelhos usados na difusão de informação, nem por quaisquer outros meios destinados a obstar a comunicação e a circulação de idéias e opiniões.

4. A lei pode submeter os espetáculos públicos a censura prévia, com o objetivo exclusivo de regular o acesso a eles, para proteção moral da infância e da adolescência, sem prejuízo do disposto no inciso 2.

5. A lei deve proibir toda propaganda a favor da guerra, bem como toda apologia ao ódio nacional, racial ou religioso que constitua incitamento à discriminação, à hostilidade, ao crime ou à violência.

Artigo 14 - Direito de retificação ou resposta

1. Toda pessoa, atingida por informações inexatas ou ofensivas emitidas em seu prejuízo por meios de difusão legalmente regulamentados e que se dirijam ao público em geral, tem direito a fazer, pelo mesmo órgão de difusão, sua retificação ou resposta, nas condições que estabeleça a lei.

2. Em nenhum caso a retificação ou a resposta eximirão das outras responsabilidades legais em que se houver incorrido.

3. Para a efetiva proteção da honra e da reputação, toda publicação ou empresa jornalística, cinematográfica, de rádio ou televisão, deve ter uma pessoa responsável, que não seja protegida por imunidades, nem goze de foro especial.

Artigo 15 - Direito de reunião

É reconhecido o direito de reunião pacífica e sem armas. O exercício desse direito só pode estar sujeito às restrições previstas em lei e que se façam necessárias, em uma sociedade democrática, ao interesse da segurança nacional, da segurança ou ordem públicas, ou para proteger a saúde ou a moral públicas ou os direitos e as liberdades das demais pessoas.

Artigo 16 - Liberdade de associação

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

1. Todas as pessoas têm o direito de associar-se livremente com fins ideológicos, religiosos, políticos, econômicos, trabalhistas, sociais, culturais, desportivos ou de qualquer outra natureza.

2. O exercício desse direito só pode estar sujeito às restrições previstas em lei e que se façam necessárias, em uma sociedade democrática, ao interesse da segurança nacional, da segurança e da ordem públicas, ou para proteger a saúde ou a moral públicas ou os direitos e as liberdades das demais pessoas.

3. O presente artigo não impede a imposição de restrições legais, e mesmo a privação do exercício do direito de associação, aos membros das forças armadas e da polícia.

Artigo 17 - Proteção da família

1. A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e deve ser protegida pela sociedade e pelo Estado.

2. É reconhecido o direito do homem e da mulher de contraírem casamento e de constituírem uma família, se tiverem a idade e as condições para isso exigidas pelas leis internas, na medida em que não afetem estas o princípio da não-discriminação estabelecido nesta Convenção.

3. O casamento não pode ser celebrado sem o consentimento livre e pleno dos contraentes.

4. Os Estados-partes devem adotar as medidas apropriadas para assegurar a igualdade de direitos e a adequada equivalência de responsabilidades dos cônjuges quanto ao casamento, durante o mesmo e por ocasião de sua dissolução. Em caso de dissolução, serão adotadas as disposições que assegurem a proteção necessária aos filhos, com base unicamente no interesse e conveniência dos mesmos.

5. A lei deve reconhecer iguais direitos tanto aos filhos nascidos fora do casamento, como aos nascidos dentro do casamento.

Artigo 18 - Direito ao nome

Toda pessoa tem direito a um prenome e aos nomes de seus pais ou ao de um destes. A lei deve regular a forma de assegurar a todos esse direito, mediante nomes fictícios, se for necessário.

Artigo 19 - Direitos da criança

Toda criança terá direito às medidas de proteção que a sua condição de menor requer, por parte da sua família, da sociedade e do Estado.

Artigo 20 - Direito à nacionalidade

1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade.

2. Toda pessoa tem direito à nacionalidade do Estado em cujo território houver nascido, se não tiver direito a outra.

3. A ninguém se deve privar arbitrariamente de sua nacionalidade, nem do direito de mudá-la.

Artigo 21 - Direito à propriedade privada

1. Toda pessoa tem direito ao uso e gozo de seus bens. A lei pode subordinar esse uso e gozo ao interesse social.

2. Nenhuma pessoa pode ser privada de seus bens, salvo mediante o pagamento de indenização justa, por motivo de utilidade pública ou de interesse social e nos casos e na forma estabelecidos pela lei.

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

3. Tanto a usura, como qualquer outra forma de exploração do homem pelo homem, devem ser reprimidas pela lei.

Artigo 22 - Direito de circulação e de residência

1. Toda pessoa que se encontre legalmente no território de um Estado tem o direito de nele livremente circular e de nele residir, em conformidade com as disposições legais.

2. Toda pessoa terá o direito de sair livremente de qualquer país, inclusive de seu próprio país.

3. O exercício dos direitos supracitados não pode ser restringido, senão em virtude de lei, na medida indispensável, em uma sociedade democrática, para prevenir infrações penais ou para proteger a segurança nacional, a segurança ou a ordem públicas, a moral ou a saúde públicas, ou os direitos e liberdades das demais pessoas.

4. O exercício dos direitos reconhecidos no inciso 1 pode também ser restringido pela lei, em zonas determinadas, por motivo de interesse público.

5. Ninguém pode ser expulso do território do Estado do qual for nacional e nem ser privado do direito de nele entrar.

6. O estrangeiro que se encontre legalmente no território de um Estado-parte na presente Convenção só poderá dele ser expulso em decorrência de decisão adotada em conformidade com a lei.

7. Toda pessoa tem o direito de buscar e receber asilo em território estrangeiro, em caso de perseguição por delitos políticos ou comuns conexos com delitos políticos, de acordo com a legislação de cada Estado e com as Convenções internacionais.

8. Em nenhum caso o estrangeiro pode ser expulso ou entregue a outro país, seja ou não de origem, onde seu direito à vida ou à liberdade pessoal esteja em risco de violação em virtude de sua raça, nacionalidade, religião, condição social ou de suas opiniões políticas.

9. É proibida a expulsão coletiva de estrangeiros.

Artigo 23 - Direitos políticos

1. Todos os cidadãos devem gozar dos seguintes direitos e oportunidades:

a) de participar da condução dos assuntos públicos, diretamente ou por meio de representantes livremente eleitos;

b) de votar e ser eleito em eleições periódicas, autênticas, realizadas por sufrágio universal e igualitário e por voto secreto, que garantam a livre expressão da vontade dos eleitores; e

c) de ter acesso, em condições gerais de igualdade, às funções públicas de seu país.

2. A lei pode regular o exercício dos direitos e oportunidades, a que se refere o inciso anterior, exclusivamente por motivo de idade, nacionalidade, residência, idioma, instrução, capacidade civil ou mental, ou condenação, por juiz competente, em processo penal.

Artigo 24 - Igualdade perante a lei

Todas as pessoas são iguais perante a lei. Por conseguinte, têm direito, sem discriminação alguma, à igual proteção da lei.

Artigo 25 - Proteção judicial

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

1. Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápido ou a qualquer outro recurso efetivo, perante os juízes ou tribunais competentes, que a proteja contra atos que violem seus direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição, pela lei ou pela presente Convenção, mesmo quando tal violação seja cometida por pessoas que estejam atuando no exercício de suas funções oficiais.

2. Os Estados-partes comprometem-se:

a) a assegurar que a autoridade competente prevista pelo sistema legal do Estado decida sobre os direitos de toda pessoa que interpuser tal recurso;

b) a desenvolver as possibilidades de recurso judicial; e

c) a assegurar o cumprimento, pelas autoridades competentes, de toda decisão em que se tenha considerado procedente o recurso.

Capítulo III - DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS

Artigo 26 - Desenvolvimento progressivo

Os Estados-partes comprometem-se a adotar as providências, tanto no âmbito interno, como mediante cooperação internacional, especialmente econômica e técnica, a fim de conseguir progressivamente a plena efetividade dos direitos que decorrem das normas econômicas, sociais e sobre educação, ciência e cultura, constantes da Carta da Organização dos Estados Americanos, reformada pelo Protocolo de Buenos Aires, na medida dos recursos disponíveis, por via legislativa ou por outros meios apropriados.

Capítulo IV - SUSPENSÃO DE GARANTIAS, INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO

Artigo 27 - Suspensão de garantias

1. Em caso de guerra, de perigo público, ou de outra emergência que ameace a independência ou segurança do Estado-parte, este poderá adotar as disposições que, na medida e pelo tempo estritamente limitados às exigências da situação, suspendam as obrigações contraídas em virtude desta Convenção, desde que tais disposições não sejam incompatíveis com as demais obrigações que lhe impõe o Direito Internacional e não encerrem discriminação alguma fundada em motivos de raça, cor, sexo, idioma, religião ou origem social.

2. A disposição precedente não autoriza a suspensão dos direitos determinados nos seguintes artigos: 3 (direito ao reconhecimento da personalidade jurídica), 4 (direito à vida), 5 (direito à integridade pessoal), 6 (proibição da escravidão e da servidão), 9 (princípio da legalidade e da retroatividade), 12 (liberdade de consciência e religião), 17 (proteção da família), 18 (direito ao nome), 19 (direitos da criança), 20 (direito à nacionalidade) e 23 (direitos políticos), nem das garantias indispensáveis para a proteção de tais direitos.

3. Todo Estado-parte no presente Pacto que fizer uso do direito de suspensão deverá comunicar imediatamente aos outros Estados-partes na presente Convenção, por intermédio do Secretário Geral da Organização dos Estados Americanos, as disposições cuja aplicação haja suspendido, os motivos determinantes da suspensão e a data em que haja dado por terminada tal suspensão.

Artigo 28 - Cláusula federal

1. Quando se tratar de um Estado-parte constituído como Estado federal, o governo nacional do aludido Estado-parte cumprirá todas as disposições da presente Convenção, relacionadas com as matérias sobre as quais exerce competência legislativa e judicial.

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

2. No tocante às disposições relativas às matérias que correspondem à competência das entidades componentes da federação, o governo nacional deve tomar imediatamente as medidas pertinentes, em conformidade com sua Constituição e com suas leis, a fim de que as autoridades competentes das referidas entidades possam adotar as disposições cabíveis para o cumprimento desta Convenção.

3. Quando dois ou mais Estados-partes decidirem constituir entre eles uma federação ou outro tipo de associação, diligenciarão no sentido de que o pacto comunitário respectivo contenha as disposições necessárias para que continuem sendo efetivas no novo Estado, assim organizado, as normas da presente Convenção.

Artigo 29 - Normas de interpretação

Nenhuma disposição da presente Convenção pode ser interpretada no sentido de:

a) permitir a qualquer dos Estados-partes, grupo ou indivíduo, suprimir o gozo e o exercício dos direitos e liberdades reconhecidos na Convenção ou limitá-los em maior medida do que a nela prevista;

b) limitar o gozo e exercício de qualquer direito ou liberdade que possam ser reconhecidos em virtude de leis de qualquer dos Estados-partes ou em virtude de Convenções em que seja parte um dos referidos Estados;

c) excluir outros direitos e garantias que são inerentes ao ser humano ou que decorrem da forma democrática representativa de governo;

d) excluir ou limitar o efeito que possam produzir a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e outros atos internacionais da mesma natureza.

Artigo 30 - Alcance das restrições

As restrições permitidas, de acordo com esta Convenção, ao gozo e exercício dos direitos e liberdades nela reconhecidos, não podem ser aplicadas senão de acordo com leis que forem promulgadas por motivo de interesse geral e com o propósito para o qual houverem sido estabelecidas.

Artigo 31 - Reconhecimento de outros direitos

Poderão ser incluídos, no regime de proteção desta Convenção, outros direitos e liberdades que forem reconhecidos de acordo com os processos estabelecidos nos artigo 69 e 70.

Capítulo V - DEVERES DAS PESSOAS

Artigo 32 - Correlação entre deveres e direitos

1. Toda pessoa tem deveres para com a família, a comunidade e a humanidade.

2. Os direitos de cada pessoa são limitados pelos direitos dos demais, pela segurança de todos e pelas justas exigências do bem comum, em uma sociedade democrática.

PARTE II - MEIOS DE PROTEÇÃO

Capítulo VI - ÓRGÃOS COMPETENTES

Artigo 33 - São competentes para conhecer de assuntos relacionados com o cumprimento dos compromissos assumidos pelos Estados-partes nesta Convenção:

a) a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, doravante denominada a Comissão; e

b) a Corte Interamericana de Direitos Humanos, doravante denominada a Corte.

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

Capítulo VII - COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS

Seção 1 - Organização

Artigo 34 - A Comissão Interamericana de Direitos Humanos compor-se-á de sete membros, que deverão ser pessoas de alta autoridade moral e de reconhecido saber em matéria de direitos humanos.

Artigo 35 - A Comissão representa todos os Membros da Organização dos Estados Americanos.

Artigo 36 - 1. Os membros da Comissão serão eleitos a título pessoal, pela Assembléia Geral da Organização, a partir de uma lista de candidatos propostos pelos governos dos Estados-membros.

2. Cada um dos referidos governos pode propor até três candidatos, nacionais do Estado que os propuser ou de qualquer outro Estado-membro da Organização dos Estados Americanos. Quando for proposta uma lista de três candidatos, pelo menos um deles deverá ser nacional de Estado diferente do proponente.

Artigo 37 - 1. Os membros da Comissão serão eleitos por quatro anos e só poderão ser reeleitos um vez, porém o mandato de três dos membros designados na primeira eleição expirará ao cabo de dois anos. Logo depois da referida eleição, serão determinados por sorteio, na Assembléia Geral, os nomes desses três membros.

2. Não pode fazer parte da Comissão mais de um nacional de um mesmo país.

Artigo 38 - As vagas que ocorrerem na Comissão, que não se devam à expiração normal do mandato, serão preenchidas pelo Conselho Permanente da Organização, de acordo com o que dispuser o Estatuto da Comissão.

Artigo 39 - A Comissão elaborará seu estatuto e submetê-lo-á à aprovação da Assembléia Geral e expedirá seu próprio Regulamento.

Artigo 40 - Os serviços da Secretaria da Comissão devem ser desempenhados pela unidade funcional especializada que faz parte da Secretaria Geral da Organização e deve dispor dos recursos necessários para cumprir as tarefas que lhe forem confiadas pela Comissão.

Seção 2 - Funções

Artigo 41 - A Comissão tem a função principal de promover a observância e a defesa dos direitos humanos e, no exercício de seu mandato, tem as seguintes funções e atribuições:

a) estimular a consciência dos direitos humanos nos povos da América;

b) formular recomendações aos governos dos Estados-membros, quando considerar conveniente, no sentido de que adotem medidas progressivas em prol dos direitos humanos no âmbito de suas leis internas e seus preceitos constitucionais, bem como disposições apropriadas para promover o devido respeito a esses direitos;

c) preparar estudos ou relatórios que considerar convenientes para o desempenho de suas funções;

d) solicitar aos governos dos Estados-membros que lhe proporcionem informações sobre as medidas que adotarem em matéria de direitos humanos;

e) atender às consultas que, por meio da Secretaria Geral da Organização dos Estados Americanos, lhe formularem os Estados-membros sobre questões relacionadas com os direitos humanos e, dentro de suas possibilidades, prestar-lhes o assessoramento que lhes solicitarem;

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

f) atuar com respeito às petições e outras comunicações, no exercício de sua autoridade, de conformidade com o disposto nos artigos 44 a 51 desta Convenção; e

g) apresentar um relatório anual à Assembléia Geral da Organização dos Estados Americanos.

Artigo 42 - Os Estados-partes devem submeter à Comissão cópia dos relatórios e estudos que, em seus respectivos campos, submetem anualmente às Comissões Executivas do Conselho Interamericano Econômico e Social e do Conselho Interamericano de Educação, Ciência e Cultura, a fim de que aquela zele para que se promovam os direitos decorrentes das normas econômicas, sociais e sobre educação, ciência e cultura, constantes da Carta da Organização dos Estados Americanos, reformada pelo Protocolo de Buenos Aires.

Artigo 43 - Os Estados-partes obrigam-se a proporcionar à Comissão as informações que esta lhes solicitar sobre a maneira pela qual seu direito interno assegura a aplicação efetiva de quaisquer disposições desta Convenção.

Seção 3 - Competência

Artigo 44 - Qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade não-governamental legalmente reconhecida em um ou mais Estados-membros da Organização, pode apresentar à Comissão petições que contenham denúncias ou queixas de violação desta Convenção por um Estado-parte.

Artigo 45 - 1. Todo Estado-parte pode, no momento do depósito do seu instrumento de ratificação desta Convenção, ou de adesão a ela, ou em qualquer momento posterior, declarar que reconhece a competência da Comissão para receber e examinar as comunicações em que um Estado-parte alegue haver outro Estado-parte incorrido em violações dos direitos humanos estabelecidos nesta Convenção.

2. As comunicações feitas em virtude deste artigo só podem ser admitidas e examinadas se forem apresentadas por um Estado-parte que haja feito uma declaração pela qual reconheça a referida competência da Comissão. A Comissão não admitirá nenhuma comunicação contra um Estado-parte que não haja feito tal declaração.

3. As declarações sobre reconhecimento de competência podem ser feitas para que esta vigore por tempo indefinido, por período determinado ou para casos específicos.

4. As declarações serão depositadas na Secretaria Geral da Organização dos Estados Americanos, a qual encaminhará cópia das mesmas aos Estados-membros da referida Organização.

Artigo 46 - Para que uma petição ou comunicação apresentada de acordo com os artigos 44 ou 45 seja admitida pela Comissão, será necessário:

a) que hajam sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdição interna, de acordo com os princípios de Direito Internacional geralmente reconhecidos;

b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses, a partir da data em que o presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisão definitiva;

c) que a matéria da petição ou comunicação não esteja pendente de outro processo de solução internacional; e

d) que, no caso do artigo 44, a petição contenha o nome, a nacionalidade, a profissão, o domicílio e a assinatura da pessoa ou pessoas ou do representante legal da entidade que submeter a petição.

2. As disposições das alíneas "a" e "b" do inciso 1 deste artigo não se aplicarão quando:

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

a) não existir, na legislação interna do Estado de que se tratar, o devido processo legal para a proteção do direito ou direitos que se alegue tenham sido violados;

b) não se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aos recursos da jurisdição interna, ou houver sido ele impedido de esgotá-los; e

c) houver demora injustificada na decisão sobre os mencionados recursos.

Artigo 47 - A Comissão declarará inadmissível toda petição ou comunicação apresentada de acordo com os artigos 44 ou 45 quando:

a) não preencher algum dos requisitos estabelecidos no artigo 46;

b) não expuser fatos que caracterizem violação dos direitos garantidos por esta Convenção;

c) pela exposição do próprio peticionário ou do Estado, for manifestamente infundada a petição ou comunicação ou for evidente sua total improcedência; ou

d) for substancialmente reprodução de petição ou comunicação anterior, já examinada pela Comissão ou por outro organismo internacional.

Seção 4 - Processo

Artigo 48 - 1. A Comissão, ao receber uma petição ou comunicação na qual se alegue a violação de qualquer dos direitos consagrados nesta Convenção, procederá da seguinte maneira:

a) se reconhecer a admissibilidade da petição ou comunicação, solicitará informações ao Governo do Estado ao qual pertença a autoridade apontada como responsável pela violação alegada e transcreverá as partes pertinentes da petição ou comunicação. As referidas informações devem ser enviadas dentro de um prazo razoável, fixado pela Comissão ao considerar as circunstâncias de cada caso;

b) recebidas as informações, ou transcorrido o prazo fixado sem que sejam elas recebidas, verificará se existem ou subsistem os motivos da petição ou comunicação. No caso de não existirem ou não subsistirem, mandará arquivar o expediente;

c) poderá também declarar a inadmissibilidade ou a improcedência da petição ou comunicação, com base em informação ou prova supervenientes;

d) se o expediente não houver sido arquivado, e com o fim de comprovar os fatos, a Comissão procederá, com conhecimento das partes, a um exame do assunto exposto na petição ou comunicação. Se for necessário e conveniente, a Comissão procederá a uma investigação para cuja eficaz realização solicitará, e os Estados interessados lhe proporcionarão, todas as facilidades necessárias;

e) poderá pedir aos Estados interessados qualquer informação pertinente e receberá, se isso for solicitado, as exposições verbais ou escritas que apresentarem os interessados; e

f) pôr-se-á à disposição das partes interessadas, a fim de chegar a uma solução amistosa do assunto, fundada no respeito aos direitos reconhecidos nesta Convenção.

2. Entretanto, em casos graves e urgentes, pode ser realizada uma investigação, mediante prévio consentimento do Estado em cujo território se alegue houver sido cometida a violação, tão somente com a apresentação de uma petição ou comunicação que reúna todos os requisitos formais de admissibilidade.

Artigo 49 - Se se houver chegado a uma solução amistosa de acordo com as disposições do inciso 1, "f", do artigo 48, a Comissão redigirá um relatório que será encaminhado ao peticionário e aos Estados-partes nesta Convenção e posteriormente transmitido, para

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

sua publicação, ao Secretário Geral da Organização dos Estados Americanos. O referido relatório conterá uma breve exposição dos fatos e da solução alcançada. Se qualquer das partes no caso o solicitar, ser-lhe-á proporcionada a mais ampla informação possível.

Artigo 50 - 1. Se não se chegar a uma solução, e dentro do prazo que for fixado pelo Estatuto da Comissão, esta redigirá um relatório no qual exporá os fatos e suas conclusões. Se o relatório não representar, no todo ou em parte, o acordo unânime dos membros da Comissão, qualquer deles poderá agregar ao referido relatório seu voto em separado. Também se agregarão ao relatório as exposições verbais ou escritas que houverem sido feitas pelos interessados em virtude do inciso 1, "e", do artigo 48.

2. O relatório será encaminhado aos Estados interessados, aos quais não será facultado publicá-lo.

3. Ao encaminhar o relatório, a Comissão pode formular as proposições e recomendações que julgar adequadas.

Artigo 51 - 1. Se no prazo de três meses, a partir da remessa aos Estados interessados do relatório da Comissão, o assunto não houver sido solucionado ou submetido à decisão da Corte pela Comissão ou pelo Estado interessado, aceitando sua competência, a Comissão poderá emitir, pelo voto da maioria absoluta dos seus membros, sua opinião e conclusões sobre a questão submetida à sua consideração.

2. A Comissão fará as recomendações pertinentes e fixará um prazo dentro do qual o Estado deve tomar as medidas que lhe competir para remediar a situação examinada.

3. Transcorrido o prazo fixado, a Comissão decidirá, pelo voto da maioria absoluta dos seus membros, se o Estado tomou ou não as medidas adequadas e se publica ou não seu relatório.

Capítulo VIII - CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS Seção 1 - Organização

Artigo 52 - 1. A Corte compor-se-á de sete juízes, nacionais dos Estados-membros da Organização, eleitos a título pessoal dentre juristas da mais alta autoridade moral, de reconhecida competência em matéria de direitos humanos, que reúnam as condições requeridas para o exercício das mais elevadas funções judiciais, de acordo com a lei do Estado do qual sejam nacionais, ou do Estado que os propuser como candidatos.

2. Não deve haver dois juízes da mesma nacionalidade.

Artigo 53 - 1. Os juízes da Corte serão eleitos, em votação secreta e pelo voto da maioria absoluta dos Estados-partes na Convenção, na Assembléia Geral da Organização, a partir de uma lista de candidatos propostos pelos mesmos Estados.

2. Cada um dos Estados-partes pode propor até três candidatos, nacionais do Estado que os propuser ou de qualquer outro Estado-membro da Organização dos Estados Americanos. Quando se propuser um lista de três candidatos, pelo menos um deles deverá ser nacional do Estado diferente do proponente.

Artigo 54 - 1. Os juízes da Corte serão eleitos por um período de seis anos e só poderão ser reeleitos uma vez. O mandato de três dos juízes designados na primeira eleição expirará ao cabo de três anos. Imediatamente depois da referida eleição, determinar-se-ão por sorteio, na Assembléia Geral, os nomes desse três juízes.

2. O juiz eleito para substituir outro, cujo mandato não haja expirado, completará o período deste.

3. Os juízes permanecerão em suas funções até o término dos seus mandatos. Entretanto, continuarão funcionando nos casos de que já houverem tomado conhecimento e que se

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

encontrem em fase de sentença e, para tais efeitos, não serão substituídos pelos novos juízes eleitos.

Artigo 55 - 1. O juiz, que for nacional de algum dos Estados-partes em caso submetido à Corte, conservará o seu direito de conhecer do mesmo.

2. Se um dos juízes chamados a conhecer do caso for de nacionalidade de um dos Estados-partes, outro Estado-parte no caso poderá designar uma pessoa de sua escolha para integrar a Corte, na qualidade de juiz ad hoc.

3. Se, dentre os juízes chamados a conhecer do caso, nenhum for da nacionalidade dos Estados-partes, cada um destes poderá designar um juiz ad hoc.

4. O juiz ad hoc deve reunir os requisitos indicados no artigo 52.

5. Se vários Estados-partes na Convenção tiverem o mesmo interesse no caso, serão considerados como uma só parte, para os fins das disposições anteriores. Em caso de dúvida, a Corte decidirá.

Artigo 56 - O quorum para as deliberações da Corte é constituído por cinco juízes.

Artigo 57 - A Comissão comparecerá em todos os casos perante a Corte.

Artigo 58 - 1. A Corte terá sua sede no lugar que for determinado, na Assembléia Geral da Organização, pelos Estados-partes na Convenção, mas poderá realizar reuniões no território de qualquer Estado-membro da Organização dos Estados Americanos em que considerar conveniente, pela maioria dos seus membros e mediante prévia aquiescência do Estado respectivo. Os Estados-partes na Convenção podem, na Assembléia Geral, por dois terços dos seus votos, mudar a sede da Corte.

2. A Corte designará seu Secretário.

3. O Secretário residirá na sede da Corte e deverá assistir às reuniões que ela realizar fora da mesma.

Artigo 59 - A Secretaria da Corte será por esta estabelecida e funcionará sob a direção do Secretário Geral da Organização em tudo o que não for incompatível com a independência da Corte. Seus funcionários serão nomeados pelo Secretário Geral da Organização, em consulta com o Secretário da Corte.

Artigo 60 - A Corte elaborará seu Estatuto e submetê-lo-á à aprovação da Assembléia Geral e expedirá seu Regimento.

Seção 2 - Competência e funções

Artigo 61 - 1. Somente os Estados-partes e a Comissão têm direito de submeter um caso à decisão da Corte.

2. Para que a Corte possa conhecer de qualquer caso, é necessário que sejam esgotados os processos previstos nos artigos 48 a 50.

Artigo 62 - 1. Todo Estado-parte pode, no momento do depósito do seu instrumento de ratificação desta Convenção ou de adesão a ela, ou em qualquer momento posterior, declarar que reconhece como obrigatória, de pleno direito e sem convenção especial, a competência da Corte em todos os casos relativos à interpretação ou aplicação desta Convenção.

2. A declaração pode ser feita incondicionalmente, ou sob condição de reciprocidade, por prazo determinado ou para casos específicos. Deverá ser apresentada ao Secretário Geral da Organização, que encaminhará cópias da mesma a outros Estados-membros da Organização e ao Secretário da Corte.

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

3. A Corte tem competência para conhecer de qualquer caso, relativo à interpretação e aplicação das disposições desta Convenção, que lhe seja submetido, desde que os Estados-partes no caso tenham reconhecido ou reconheçam a referida competência, seja por declaração especial, como prevêem os incisos anteriores, seja por convenção especial.

Artigo 63 - 1. Quando decidir que houve violação de um direito ou liberdade protegidos nesta Convenção, a Corte determinará que se assegure ao prejudicado o gozo do seu direito ou liberdade violados. Determinará também, se isso for procedente, que sejam reparadas as consequências da medida ou situação que haja configurado a violação desses direitos, bem como o pagamento de indenização justa à parte lesada.

2. Em casos de extrema gravidade e urgência, e quando se fizer necessário evitar danos irreparáveis às pessoas, a Corte, nos assuntos de que estiver conhecendo, poderá tomar as medidas provisórias que considerar pertinentes. Se se tratar de assuntos que ainda não estiverem submetidos ao seu conhecimento, poderá atuar a pedido da Comissão.

Artigo 64 - 1. Os Estados-membros da Organização poderão consultar a Corte sobre a interpretação desta Convenção ou de outros tratados concernentes à proteção dos direitos humanos nos Estados americanos. Também poderão consultá-la, no que lhes compete, os órgãos enumerados no capítulo X da Carta da Organização dos Estados Americanos, reformada pelo Protocolo de Buenos Aires.

2. A Corte, a pedido de um Estado-membro da Organização, poderá emitir pareceres sobre a compatibilidade entre qualquer de suas leis internas e os mencionados instrumentos internacionais.

Artigo 65 - A Corte submeterá à consideração da Assembléia Geral da Organização, em cada período ordinário de sessões, um relatório sobre as suas atividades no ano anterior. De maneira especial, e com as recomendações pertinentes, indicará os casos em que um Estado não tenha dado cumprimento a suas sentenças.

Seção 3 - Processo

Artigo 66 - 1. A sentença da Corte deve ser fundamentada.

2. Se a sentença não expressar no todo ou em parte a opinião unânime dos juízes, qualquer deles terá direito a que se agregue à sentença o seu voto dissidente ou individual.

Artigo 67 - A sentença da Corte será definitiva e inapelável. Em caso de divergência sobre o sentido ou alcance da sentença, a Corte interpretá-la-á, a pedido de qualquer das partes, desde que o pedido seja apresentado dentro de noventa dias a partir da data da notificação da sentença.

Artigo 68 - 1. Os Estados-partes na Convenção comprometem-se a cumprir a decisão da Corte em todo caso em que forem partes.

2. A parte da sentença que determinar indenização compensatória poderá ser executada no país respectivo pelo processo interno vigente para a execução de sentenças contra o Estado.

Artigo 69 - A sentença da Corte deve ser notificada às partes no caso e transmitida aos Estados-partes na Convenção.

Capítulo IX - DISPOSIÇÕES COMUNS

Artigo 70 - 1. Os juízes da Corte e os membros da Comissão gozam, desde o momento da eleição e enquanto durar o seu mandato, das imunidades reconhecidas aos agentes diplomáticos pelo Direito Internacional. Durante o exercício dos seus cargos gozam,

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

além disso, dos privilégios diplomáticos necessários para o desempenho de suas funções.

2. Não se poderá exigir responsabilidade em tempo algum dos juízes da Corte, nem dos membros da Comissão, por votos e opiniões emitidos no exercício de suas funções.

Artigo 71 - Os cargos de juiz da Corte ou de membro da Comissão são incompatíveis com outras atividades que possam afetar sua independência ou imparcialidade, conforme o que for determinado nos respectivos Estatutos.

Artigo 72 - Os juízes da Corte e os membros da Comissão perceberão honorários e despesas de viagem na forma e nas condições que determinarem os seus Estatutos, levando em conta a importância e independência de suas funções. Tais honorários e despesas de viagem serão fixados no orçamento-programa da Organização dos Estados Americanos, no qual devem ser incluídas, além disso, as despesas da Corte e da sua Secretaria. Para tais efeitos, a Corte elaborará o seu próprio projeto de orçamento e submetê-lo-á à aprovação da Assembléia Geral, por intermédio da Secretaria Geral. Esta última não poderá nele introduzir modificações.

Artigo 73 - Somente por solicitação da Comissão ou da Corte, conforme o caso, cabe à Assembléia Geral da Organização resolver sobre as sanções aplicáveis aos membros da Comissão ou aos juízes da Corte que incorrerem nos casos previstos nos respectivos Estatutos. Para expedir uma resolução, será necessária maioria de dois terços dos votos dos Estados-membros da Organização, no caso dos membros da Comissão; e, além disso, de dois terços dos votos dos Estados-partes na Convenção, se se tratar dos juízes da Corte.

PARTE III - DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS Capítulo X - ASSINATURA, RATIFICAÇÃO, RESERVA, EMENDA, PROTOCOLO

E DENÚNCIA

Artigo 74 - 1. Esta Convenção está aberta à assinatura e à ratificação de todos os Estados-membros da Organização dos Estados Americanos.

2. A ratificação desta Convenção ou a adesão a ela efetuar-se-á mediante depósito de um instrumento de ratificação ou adesão na Secretaria Geral da Organização dos Estados Americanos. Esta Convenção entrará em vigor logo que onze Estados houverem depositado os seus respectivos instrumentos de ratificação ou de adesão. Com referência a qualquer outro Estado que a ratificar ou que a ela aderir ulteriormente, a Convenção entrará em vigor na data do depósito do seu instrumento de ratificação ou adesão.

3. O Secretário Geral comunicará todos os Estados-membros da Organização sobre a entrada em vigor da Convenção.

Artigo 75 - Esta Convenção só pode ser objeto de reservas em conformidade com as disposições da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, assinada em 23 de maio de 1969.

Artigo 76 - 1. Qualquer Estado-parte, diretamente, e a Comissão e a Corte, por intermédio do Secretário Geral, podem submeter à Assembléia Geral, para o que julgarem conveniente, proposta de emendas a esta Convenção.

2. Tais emendas entrarão em vigor para os Estados que as ratificarem, na data em que houver sido depositado o respectivo instrumento de ratificação, por dois terços dos Estados-partes nesta Convenção. Quanto aos outros Estados-partes, entrarão em vigor na data em que eles depositarem os seus respectivos instrumentos de ratificação.

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

Artigo 77 - 1. De acordo com a faculdade estabelecida no artigo 31, qualquer Estado-parte e a Comissão podem submeter à consideração dos Estados-partes reunidos por ocasião da Assembléia Geral projetos de Protocolos adicionais a esta Convenção, com a finalidade de incluir progressivamente, no regime de proteção da mesma, outros direitos e liberdades.

2. Cada Protocolo deve estabelecer as modalidades de sua entrada em vigor e será aplicado somente entre os Estados-partes no mesmo.

Artigo 78 - 1. Os Estados-partes poderão denunciar esta Convenção depois de expirado o prazo de cinco anos, a partir da data em vigor da mesma e mediante aviso prévio de um ano, notificando o Secretário Geral da Organização, o qual deve informar as outras partes.

2. Tal denúncia não terá o efeito de desligar o Estado-parte interessado das obrigações contidas nesta Convenção, no que diz respeito a qualquer ato que, podendo constituir violação dessas obrigações, houver sido cometido por ele anteriormente à data na qual a denúncia produzir efeito.

Capítulo XI -

DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS

Seção 1 - Comissão Interamericana de Direitos Humanos

Artigo 79 - Ao entrar em vigor esta Convenção, o Secretário Geral pedirá por escrito a cada Estado-membro da Organização que apresente, dentro de um prazo de noventa dias, seus candidatos a membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos. O Secretário Geral preparará uma lista por ordem alfabética dos candidatos apresentados e a encaminhará aos Estados-membros da Organização, pelo menos trinta dias antes da Assembléia Geral seguinte.

Artigo 80 - A eleição dos membros da Comissão far-se-á dentre os candidatos que figurem na lista a que se refere o artigo 79, por votação secreta da Assembléia Geral, e serão declarados eleitos os candidatos que obtiverem maior número de votos e a maioria absoluta dos votos dos representantes dos Estados-membros. Se, para eleger todos os membros da Comissão, for necessário realizar várias votações, serão eliminados sucessivamente, na forma que for determinada pela Assembléia Geral, os candidatos que receberem maior número de votos.

Seção 2 - Corte Interamericana de Direitos Humanos

Artigo 81 - Ao entrar em vigor esta Convenção, o Secretário Geral pedirá a cada Estado-parte que apresente, dentro de um prazo de noventa dias, seus candidatos a juiz da Corte Interamericana de Direitos Humanos. O Secretário Geral preparará uma lista por ordem alfabética dos candidatos apresentados e a encaminhará aos Estados-partes pelo menos trinta dias antes da Assembléia Geral seguinte.

Artigo 82 - A eleição dos juízes da Corte far-se-á dentre os candidatos que figurem na lista a que se refere o artigo 81, por votação secreta dos Estados-partes, na Assembléia Geral, e serão declarados eleitos os candidatos que obtiverem o maior número de votos e a maioria absoluta dos votos dos representantes dos Estados-partes. Se, para eleger todos os juízes da Corte, for necessário realizar várias votações, serão eliminados sucessivamente, na forma que for determinada pelos Estados-partes, os candidatos que receberem menor número de votos.

____________

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

Adotada e aberta à assinatura na Conferência Especializada Interamericana sobre Direitos Humanos, em San José de Costa Rica, em 22.11.1969 - ratificada pelo Brasil em 25.09.1992

2009

DECRETO Nº 7037, DE 21 DE DEZEMBRO DE 2 009 - Aprova o Programa Nacional de Direitos Humanos - PNDH-3 e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso VI, alínea “a”, da Constituição, DECRETA: Art. 1º. Fica aprovado o Programa Nacional de Direitos Humanos - PNDH-3, em consonância com as diretrizes, objetivos estratégicos e ações programáticas estabelecidos, na forma do Anexo deste Decreto. Art. 2º. O PNDH-3 será implementado de acordo com os seguintes eixos orientadores e suas respectivas diretrizes: I - Eixo Orientador I: Interação democrática entre Estado e sociedade civil: a) Diretriz 1: Interação democrática entre Estado e sociedade civil como instrumento de fortalecimento da democracia participativa; b) Diretriz 2: Fortalecimento dos Direitos Humanos como instrumento transversal das políticas públicas e de interação democrática; e c) Diretriz 3: Integração e ampliação dos sistemas de informações em Direitos Humanos e construção de mecanismos de avaliação e monitoramento de sua efetivação; II - Eixo Orientador II: Desenvolvimento e Direitos Humanos: a) Diretriz 4: Efetivação de modelo de desenvolvimento sustentável, com inclusão social e econômica, ambientalmente equilibrado e tecnologicamente responsável, cultural e regionalmente diverso, participativo e não discriminatório; b) Diretriz 5: Valorização da pessoa humana como sujeito central do processo de desenvolvimento; e c) Diretriz 6: Promover e proteger os direitos ambientais como Direitos Humanos, incluindo as gerações futuras como sujeitos de direitos; III - Eixo Orientador III: Universalizar direitos em um contexto de desigualdades: a) Diretriz 7: Garantia dos Direitos Humanos de forma universal, indivisível e interdependente, assegurando a cidadania plena; b) Diretriz 8: Promoção dos direitos de crianças e adolescentes para o seu desenvolvimento integral, de forma não discriminatória, assegurando seu direito de opinião e participação; c) Diretriz 9: Combate às desigualdades estruturais; e d) Diretriz 10: Garantia da igualdade na diversidade;

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

IV - Eixo Orientador IV: Segurança Pública, Acesso à Justiça e Combate à Violência: a) Diretriz 11: Democratização e modernização do sistema de segurança pública; b) Diretriz 12: Transparência e participação popular no sistema de segurança pública e justiça criminal; c) Diretriz 13: Prevenção da violência e da criminalidade e profissionalização da investigação de atos criminosos; d) Diretriz 14: Combate à violência institucional, com ênfase na erradicação da tortura e na redução da letalidade policial e carcerária; e) Diretriz 15: Garantia dos direitos das vítimas de crimes e de proteção das pessoas ameaçadas; f) Diretriz 16: Modernização da política de execução penal, priorizando a aplicação de penas e medidas alternativas à privação de liberdade e melhoria do sistema penitenciário; e g) Diretriz 17: Promoção de sistema de justiça mais acessível, ágil e efetivo, para o conhecimento, a garantia e a defesa de direitos; V - Eixo Orientador V: Educação e Cultura em Direitos Humanos: a) Diretriz 18: Efetivação das diretrizes e dos princípios da política nacional de educação em Direitos Humanos para fortalecer uma cultura de direitos; b) Diretriz 19: Fortalecimento dos princípios da democracia e dos Direitos Humanos nos sistemas de educação básica, nas instituições de ensino superior e nas instituições formadoras; c) Diretriz 20: Reconhecimento da educação não formal como espaço de defesa e promoção dos Direitos Humanos; d) Diretriz 21: Promoção da Educação em Direitos Humanos no serviço público; e e) Diretriz 22: Garantia do direito à comunicação democrática e ao acesso à informação para consolidação de uma cultura em Direitos Humanos; e VI - Eixo Orientador VI: Direito à Memória e à Verdade: a) Diretriz 23: Reconhecimento da memória e da verdade como Direito Humano da cidadania e dever do Estado; b) Diretriz 24: Preservação da memória histórica e construção pública da verdade; e c) Diretriz 25: Modernização da legislação relacionada com promoção do direito à memória e à verdade, fortalecendo a democracia. Parágrafo único. A implementação do PNDH-3, além dos responsáveis nele indicados, envolve parcerias com outros órgãos federais relacionados com os temas tratados nos eixos orientadores e suas diretrizes. Art. 3º. As metas, prazos e recursos necessários para a implementação do PNDH-3 serão definidos e aprovados em Planos de Ação de Direitos Humanos bianuais. Art. 4º. Fica instituído o Comitê de Acompanhamento e Monitoramento do PNDH-3, com a finalidade de: I - promover a articulação entre os órgãos e entidades envolvidos na implementação das suas ações programáticas; II - elaborar os Planos de Ação dos Direitos Humanos; III - estabelecer indicadores para o acompanhamento, monitoramento e avaliação dos Planos de Ação dos Direitos Humanos; IV - acompanhar a implementação das ações e recomendações; e

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

V - elaborar e aprovar seu regimento interno. § 1º. O Comitê de Acompanhamento e Monitoramento do PNDH-3 será integrado por um representante e respectivo suplente de cada órgão a seguir descrito, indicados pelos respectivos titulares: I - Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, que o coordenará; II - Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República; III - Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República; IV - Secretaria-Geral da Presidência da República; V - Ministério da Cultura; VI - Ministério da Educação; VII - Ministério da Justiça; VIII - Ministério da Pesca e Aqüicultura; IX - Ministério da Previdência Social; X - Ministério da Saúde; XI - Ministério das Cidades; XII - Ministério das Comunicações; XIII - Ministério das Relações Exteriores; XIV - Ministério do Desenvolvimento Agrário; XV - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; XVI - Ministério do Esporte; XVII - Ministério do Meio Ambiente; XVIII - Ministério do Trabalho e Emprego; XIX - Ministério do Turismo; XX - Ministério da Ciência e Tecnologia; e XXI - Ministério de Minas e Energia. § 2º O Secretário Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República designará os representantes do Comitê de Acompanhamento e Monitoramento do PNDH-3. § 3º O Comitê de Acompanhamento e Monitoramento do PNDH-3 poderá constituir subcomitês temáticos para a execução de suas atividades, que poderão contar com a participação de representantes de outros órgãos do Governo Federal. § 4º O Comitê convidará representantes dos demais Poderes, da sociedade civil e dos entes federados para participarem de suas reuniões e atividades. Art. 5º Os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e os órgãos do Poder Legislativo, do Poder Judiciário e do Ministério Público, serão convidados a aderir ao PNDH-3. Art. 6º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação. Art. 7º Fica revogado o Decreto no 4.229, de 13 de maio de 2002. Brasília, 21 de dezembro de 2009; 188o da Independência e 121o da República.

2013

LEI Nº 9.878, 07/01/2013 – Cria o SISTEMA ESTADUAL DE REDUÇÃO DE EMISSÕES POR DESMATAMENTO E DEGRADAÇÃO FLORESTAL.

Lei Nº 9878 DE 07/01/2013

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

Cria o Sistema Estadual de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal, Conservação, Manejo Florestal Sustentável e Aumento dos Estoques de Carbono Florestal - REDD+ no Estado de Mato Grosso e dá outras providências. Autor: Poder Executivo A Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso, tendo em vista o que dispõe o Art. 42 da Constituição Estadual, aprova e o Governador do Estado sanciona a seguinte Lei: CAPÍTULO I DO SISTEMA ESTADUAL DE REDUÇÃO DE EMISSÕES POR DESMATAMENTO E DEGRADAÇÃO FLORESTAL, CONSERVAÇÃO, MANEJO FLORESTAL SUSTENTÁVEL E AUMENTO DOS ESTOQUES DE CARBONO FLORESTAL - REDD+ Art. 1º. Fica criado o Sistema Estadual de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação florestal, Conservação, Manejo Florestal Sustentável e Aumento dos Estoques de Carbono Florestal - REDD+, que será regido por esta lei e seu Regulamento e abrangerá todos os biomas existentes no território do Estado de Mato Grosso. Art. 2º. Para os efeitos desta lei considera-se: I - REDD+: Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação florestal, Conservação, Manejo Florestal Sustentável e Aumento dos Estoques de Carbono Florestal; II - emissões: liberação de gases de efeito estufa, aerossóis ou seus precursores na atmosfera, e em área específica e período determinado; III - desmatamento: supressão total da vegetação nativa em uma determinada área visando a sua conversão para um uso alternativo do solo; IV - degradação florestal: destruição parcial da vegetação nativa em uma determinada área devido a atividades humanas ou agentes naturais; V - conservação: manejo do uso humano da natureza, compreendendo a preservação, a manutenção e a utilização sustentável do ambiente e dos recursos naturais, em uma determinada área de vegetação nativa, estando ela ou não sob ameaça de desmatamento ou degradação florestal; VI - manejo florestal sustentável: administração da floresta para a obtenção de benefícios econômicos, sociais e ambientais, respeitando-se os mecanismos de sustentabilidade do ecossistema objeto do manejo, e considerando-se, cumulativa ou alternativamente, a utilização de múltiplos produtos e subprodutos madeireiros e não madeireiros, bem como a utilização de outros bens e serviços de natureza florestal; VII - estoque de carbono florestal: quantidade de carbono armazenado na vegetação nativa, presente na biomassa viva dos troncos, galhos, folhas e raízes; resíduos lenhosos, e nos troncos caídos e galhos quebrados, liteira e outros restos de vegetação morta; VIII - aumento dos estoques de carbono florestal: ações de promoção da regeneração natural e de recuperação, restauração e enriquecimento da vegetação nativa em uma determinada área, que resultem no incremento dos estoques de carbono florestal; IX - povos e comunidades tradicionais: grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição; X - agricultor familiar: aquele que pratica atividades no meio rural, atendendo, simultaneamente, aos requisitos de não deter, a qualquer título, área maior do que 4 (quatro) módulos fiscais, de utilizar predominantemente mão de obra da própria família nas atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento, de ter renda familiar predominantemente originada de atividades econômicas vinculadas ao próprio

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

estabelecimento ou empreendimento, e de dirigir seu estabelecimento ou empreendimento com sua família; XI - consentimento livre, prévio e informado: existência comprovada de um acordo legítimo de determinada comunidade com a sua participação em um Programa ou Projeto de REDD+, obtido sem nenhuma forma de coação, previamente ao início da implementação do referido Programa ou Projeto, e baseado em uma comunicação clara e inequívoca da proposta, em linguagem de fácil compreensão para o público envolvido, permitindo a efetiva compreensão dos seus elementos e implicações; XII - linha de base: estimativa da quantidade futura de emissões ou remoções de gases de efeito estufa que ocorreria sem as atividades de REDD+, calculada a partir de médias históricas, projeções ou modelagens, utilizando-se de metodologias aprovadas no âmbito do Sistema Estadual de REDD+; XIII - nível de referência: projeção da quantidade futura de emissões ou remoções de gases de efeito estufa, determinada a partir da linha de base, utilizada para contabilizar a quantidade de reduções de emissões ou aumentos de remoções resultantes de atividades de REDD+ a serem registradas no Sistema Estadual de REDD+; XIV - vazamento: aumento de emissões por desmatamento ou degradação florestal resultante de uma determinada atividade de REDD+, ocorrendo fora da área de abrangência dessa atividade; XV - permanência: longevidade de um reservatório de carbono e estabilidade de seus estoques; XVI - unidade de REDD+: quantia correspondente a uma tonelada de dióxido de carbono (CO2) de reduções de emissões ou aumentos de remoções mensurados e verificados no âmbito do Sistema Estadual de REDD+. Seção I - Dos Princípios, Objetivos e Diretrizes Art. 3º. São princípios do Sistema Estadual de REDD+: I - a compatibilidade das atividades de REDD+ com a conservação de ambientes naturais e da diversidade biológica e com o uso sustentável das florestas, assegurando que essas atividades não resultem na conversão de vegetação nativa; II - a complementaridade e consistência das ações de REDD+ com as políticas existentes na esfera estadual ou federal e com os instrumentos e acordos internacionais dos quais o Brasil seja signatário sobre os temas de mudanças climáticas, da prevenção e controle do desmatamento, da conservação e do uso sustentável das florestas e da biodiversidade, da gestão territorial e ambiental e da garantia dos direitos dos povos e comunidades tradicionais e indígenas; III - a participação plena e efetiva nas atividades de REDD+ e na gestão e no monitoramento do Sistema Estadual de REDD+ dos diferentes grupos sociais que exerçam um papel relevante na conservação dos ecossistemas naturais e que sejam envolvidos ou afetados pelos Programas, Projetos e Ações de REDD+; IV - a repartição justa e equitativa dos benefícios oriundos das atividades de REDD+; V - a valorização e o respeito aos conhecimentos, direitos e modos de vida dos povos e comunidades tradicionais e indígenas e agricultores familiares; VI - o consentimento livre, prévio e informado das comunidades envolvidas nas atividades de REDD+; VII - a transparência e publicidade das informações. Art. 4º. O Sistema tem por objetivo promover a redução progressiva, consistente e sustentada das emissões de gases de efeito estufa decorrentes de desmatamento e degradação florestal, bem como a conservação, o manejo florestal sustentável e a manutenção e aumento dos estoques de carbono florestal, com vistas ao alcance das

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

metas do Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento e Queimadas do Estado de Mato Grosso, da Política Estadual de Mudanças Climáticas, quando estabelecida, e da Política Nacional de Mudança do Clima e demais legislação pertinente. § 1º As metas de redução de emissões por desmatamento e degradação florestal, os níveis de referência dessas emissões e a data para início da contabilização das reduções dessas emissões no Sistema Estadual de REDD+ serão definidos por decreto com base no Plano e na Política referidos no caput deste artigo, sempre respeitando o disposto na Política Nacional de Mudança do Clima e demais legislações federais em vigor, devendo ser revistos periodicamente, ouvido previamente o Fórum Estadual de Mudanças Climáticas. § 2º As metas de redução de emissões por desmatamento e degradação florestal e os níveis de referência dessas emissões existentes na data de publicação desta lei serão observados para a aplicação do Sistema Estadual de REDD+. Art. 5º. São diretrizes do Sistema Estadual de REDD+: I - identificar vetores e tratar de forma efetiva e permanente as causas estruturais do desmatamento e da degradação florestal; II - promover a conservação e a restauração dos ecossistemas naturais e valorizar seus serviços; III - promover o manejo florestal sustentável de uso múltiplo das formações florestais; IV - promover a recuperação das áreas degradadas; V - promover a adoção de práticas sustentáveis de uso do solo nas áreas já antropizadas que contribuam para a conservação, o manejo florestal sustentável e a manutenção e aumento dos estoques de carbono florestal; VI - promover o desenvolvimento socioeconômico regional bem como a melhoria da qualidade de vida das populações locais, incluindo os povos indígenas e comunidades tradicionais; VII - garantir a compatibilidade e integração dos objetivos, normas, metodologias e atividades de REDD+ com as iniciativas pertinentes de níveis internacional, nacional, estadual, municipal e de Projeto; VIII - assegurar o monitoramento e a transparência de informações sobre as emissões do desmatamento e da degradação florestal e as ações destinadas a reduzi-las; IX - estabelecer mecanismos que assegurem a permanência e eliminem os riscos de vazamento de emissões decorrentes das atividades de REDD+. Seção II Da Estrutura do Sistema Art. 6º. Integram o Sistema Estadual de REDD+: I - o Conselho gestor; II - o Painel científico; III - a Secretaria de Estado de Meio Ambiente; IV - o Fórum Estadual de Mudanças Climáticas. Art. 7º. O Conselho gestor, órgão diretor e deliberativo do Sistema Estadual de REDD+, será composto por até 12 membros, com composição paritária entre órgãos de governo e organizações da sociedade civil, sendo: I - 03 (três) representantes de órgãos do governo estadual atuantes nos temas correlatos a REDD+, sendo obrigatoriamente um representante da Secretaria de Estado de Meio Ambiente - SEMA, que presidirá o Conselho;

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

II - 03 (três) representantes convidados de órgãos do governo federal atuantes nos temas correlatos a REDD+; III - 01 (um) representante de cada um dos seguintes grupos da sociedade civil: a) setor de base florestal; b) agricultura familiar; c) agropecuária empresarial; d) povos indígenas; e) organizações não governamentais socioambientais com reconhecida atuação no tema de REDD+; f) organizações de classe com reconhecida atuação no tema de REDD+. § 1º Os representantes dos diferentes grupos da sociedade civil serão indicados pelos seus pares, entre os membros do Fórum Estadual de Mudanças Climáticas; § 2º A Secretaria de Estado de Meio Ambiente - SEMA providenciará apoio para despesas de viagem para viabilizar a participação nas reuniões do Conselho gestor dos membros da sociedade civil que não residirem na localidade em que ocorrerem essas reuniões. Art. 8º. O Conselho gestor terá as seguintes atribuições: I - opinar sobre o método de linha de base e os níveis de referência de emissões do desmatamento e degradação florestal a serem adotados pelo Estado; II - avaliar e aprovar a repartição da linha de base de emissões do desmatamento e degradação florestal entre as diferentes regiões do Estado ou categorias de uso e ocupação da terra existentes no Estado e demais mecanismos de distribuição e repartição dos benefícios; III - avaliar e aprovar a criação de Programas de REDD+ e a previsão de alocação de reduções de emissões ou aumentos de remoções aos mesmos; IV - avaliar e aprovar as normas e metodologias a serem aplicadas e os instrumentos específicos a serem implementados nos Programas e Projetos de REDD+; V - definir critérios para a aprovação de Projetos de REDD+ bem como para a previsão de alocação e a alocação de unidades de REDD+ a esses Projetos de que trata o Art. 16; VI - definir critérios para a aprovação de Ações de preparação e apoio ao REDD+ e a destinação de recursos de que trata o Art. 18; VII - definir a quantidade total de reduções de emissões e aumentos de remoções a ser alocada a Projetos e Programas de REDD+ e à Reserva do Sistema, bem como a quantidade mínima a ser mantida na Reserva do Sistema; VIII - apreciar os resultados de auditorias independentes do Sistema Estadual de REDD+ e recomendar o seu permanente aperfeiçoamento; IX - apreciar os relatórios de monitoramento dos Programas e Projetos de REDD+ e Ações de preparação e apoio ao REDD+ e deliberar sobre os encaminhamentos a serem dados; X - avaliar e aprovar a gestão e os critérios de aplicação de recursos financeiros do Fundo Estadual de REDD+; XI - tratar e resolver eventuais conflitos que possam surgir na implementação do Sistema Estadual de REDD+. § 1º Sempre que necessário, o Conselho gestor ouvirá o Painel científico para obter subsídios na realização de suas atribuições.

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

§ 2º Os membros do Conselho gestor poderão formular e submeter propostas referentes a todos os temas de competência deliberativa do Conselho, sem prejuízo da competência de formulação do órgão executor de que trata o Art. 10. Art. 9º. O Painel científico, órgão consultivo, tem por finalidade assessorar e subsidiar os demais órgãos do Sistema Estadual de REDD+ a respeito dos métodos, parâmetros e critérios técnicos e científicos adotados no âmbito desse Sistema. § 1º O Painel científico será composto por pesquisadores, técnicos e especialistas reconhecidos, convidados pelo presidente do Conselho gestor, com a anuência do Conselho, ou pelo Governador do Estado; § 2º A Secretaria de Estado de Meio Ambiente - SEMA providenciará apoio para despesas de viagem para viabilizar a participação nas reuniões do Painel científico dos membros que não residirem na localidade em que ocorrerem essas reuniões. Art. 10º. A Secretaria de Estado de Meio Ambiente - SEMA exercerá o papel de órgão executor, responsável pela implementação do Sistema Estadual de REDD+, competindo-lhe: I - formular as propostas de normas, critérios e procedimentos referentes a Projetos e Programas de REDD+ a serem submetidas ao Conselho gestor; II - realizar periodicamente o inventário e implantar e administrar a contabilidade e o registro das reduções de emissões e aumentos de remoções; III - conduzir a construção de Programas de REDD+, zelando pela participação ativa das partes interessadas e populações potencialmente envolvidas ou afetadas, incluindo a realização de consultas públicas, conjuntamente com o Fórum Mato-grossense de Mudanças Climáticas; IV - implantar e manter atualizado o Cadastro dos projetos e das ações de REDD+; V - aprovar os Projetos de REDD+, determinar a previsão de alocação de unidades de REDD+ e autorizar o registro das reduções de emissões para os mesmos, conforme disposto no Art. 16; VI - aprovar as Ações de preparação e apoio ao REDD+, e determinar a destinação de recursos de que trata o Art. 18; VII - monitorar os Programas e Projetos de REDD+ e as Ações de preparação e apoio ao REDD+, realizando relatórios periódicos e submetendo os mesmos à apreciação do conselho gestor; VIII - administrar o Fundo Estadual de REDD+, nos termos do Art. 29; IX - dar ampla publicidade às informações relevantes do Sistema Estadual de REDD+, com periodicidade adequada, incluindo informações sobre os métodos e critérios utilizados, o Cadastro de projetos e ações de REDD+, a alocação e registro de reduções de emissões, o monitoramento dos Programas, Projetos e Ações de REDD+, o monitoramento das emissões do desmatamento e degradação florestal, e a contabilidade das reduções de emissões e aumentos de remoções; X - contratar auditorias independentes para avaliação do Sistema Estadual de REDD+; XI - manter em funcionamento uma Ouvidoria para receber e dar o devido encaminhamento às sugestões ou reclamações do público. Parágrafo único. Fica o Poder Executivo autorizado criar, no âmbito da Secretaria de Estado do Meio Ambiente-SEMA/MT, a Superintendência de Mudanças Climáticas, com 04 (quatro) coordenadorias, estruturas estas, necessárias à execução das atribuições estabelecidas neste artigo.

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

Art. 11º. Ao Fórum Estadual de Mudanças Climáticas compete mobilizar e promover a participação das partes interessadas visando à implantação e ao desenvolvimento do Sistema Estadual de REDD+, considerando seus objetivos específicos instituídos pela Lei nº 9.111, de 15 de abril de 2009. Parágrafo único. O Fórum Estadual de Mudanças Climáticas, ouvido quando necessário o Painel Científico, deverá ser consultado sobre a definição da linha de base, dos níveis de referência e das metas de redução das emissões do desmatamento e degradação florestal, e informado periodicamente sobre os demais aspectos da implementação do Sistema Estadual de REDD+. Seção III Dos Instrumentos Art. 12º. São instrumentos do Sistema Estadual de REDD+: I - os Programas, Projetos e Ações de Preparação e Apoio de REDD+; II - o Cadastro de Projetos e Ações de REDD+; III - a Contabilidade estadual de REDD+; IV - o Registro estadual de REDD+; V - a Reserva do Sistema Estadual de REDD+; VI - a Gestão de recursos, bens e serviços de REDD+; VII - a Distribuição e repartição de benefícios de REDD+; VIII - a Cooperação Municipal, Nacional e Internacional. Subseção I Dos Programas, Projetos e Ações de Preparação e Apoio de REDD+ Art. 13º. Serão criados Programas de REDD+ pelo poder público, com a participação dos grupos da sociedade civil envolvidos ou afetados e após aprovação do Conselho gestor, com a finalidade de promover, orientar e disciplinar a implementação do Sistema Estadual de REDD+. § 1º Os Programas de REDD+ são conjuntos de diretrizes, normas e instrumentos de incentivos, podendo incluir instrumentos econômicos, fiscais, administrativos e creditícios para fomento e desenvolvimento de atividades compatíveis com os objetivos do Sistema Estadual de REDD+, aplicáveis a determinados grupos sociais ou setores da economia, a temas ou tipos de atividades específicos, ou a determinadas regiões geográficas do Estado. § 2º Os Programas de REDD+ deverão ter objetivos quantificados de reduções de emissões ou aumento de remoções. § 3º Os Programas de REDD+ deverão ter mecanismos participativos de gestão e monitoramento. § 4º Os Programas de REDD+ deverão apresentar conformidade com os Planos Estaduais e Nacionais de Prevenção e Combate aos Desmatamentos e Queimadas e de

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

Mudanças Climáticas, o Zoneamento Socioeconômico-Ecológico, a Política Florestal do Estado e demais normas e políticas nacionais e estaduais aplicáveis. § 5º A Secretaria de Estado de Meio Ambiente - SEMA coordenará a construção dos Programas de REDD+ e deverá promover a participação de que trata o caput. § 6º Na aprovação do Programa de REDD+, será feita uma previsão de alocação de reduções de emissões ou aumento de remoções ao mesmo, considerando os resultados esperados do Programa e as metas do Estado para o período e a área correspondente. Art. 14º. Podem constituir Projetos de REDD+ conjuntos de atividades desenvolvidas por agentes públicos e privados no âmbito dos Programas de REDD+, que, de forma mensurável, verificável e comunicável, contribuam entre outras finalidades para: I - reduzir o desmatamento e a degradação florestal e as emissões de gases de efeito estufa associadas; II - garantir a conservação de áreas de vegetação nativa; III - estimular o manejo sustentável de florestas nativas, madeireiro ou não madeireiro; e IV - promover o aumento dos estoques de carbono florestal, mediante atividades de recuperação e restauração de áreas com espécies florestais nativas, excluídos o plantio em monocultura e a conversão de formações vegetais nativas ou de áreas em processo adiantado de regeneração natural. § 1º Atividades de promoção da adoção de práticas agropecuárias sustentáveis permitindo melhorar o uso das áreas já antropizadas e reduzir a pressão de desmatamento e degradação florestal, quando desenvolvidas em conjunto e de forma complementar com atividades previstas nos incisos II a IV deste artigo, poderão ser incluídas em Projetos de REDD+, nos termos a serem definidos em regulamento. § 2º Atividades consistentes com o disposto no caput e nos incisos deste artigo, quando não estiverem enquadradas em Programas de REDD+ existentes, poderão constituir Projetos-pilotos de REDD+, nos termos a serem definidos em regulamento, podendo servir de referência para a construção de Programas de REDD+. Art. 15º. Os Programas e Projetos de REDD+ devem respeitar os seguintes critérios e salvaguardas: I - transparência sobre a destinação dos benefícios públicos e privados recebidos; II - conformidade com os Programas de REDD+ aplicáveis, no caso dos Projetos de REDD+; III - emprego de métodos aprovados pelo Conselho gestor para a definição da linha de base e nível de referência, a prevenção dos vazamentos, a mensuração, verificação e comunicação dos resultados e a garantia da permanência; IV - justiça e equidade na repartição dos benefícios econômicos e sociais; V - contribuição com o desenvolvimento socioeconômico regional e com a melhoria da qualidade de vida das populações locais; VI - participação plena e efetiva, na sua construção e modelo de gestão, dos atores sociais envolvidos ou potencialmente afetados; VII - respeito aos conhecimentos, direitos e modos de vida das populações indígenas e agricultores familiares, quando aplicável.

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

Parágrafo único. Os Programas e Projetos de REDD+ também deverão respeitar os critérios e salvaguardas que venham a ser estabelecidos pela legislação federal, os acordos internacionais em que o Brasil seja signatário e o regulamento desta lei. Art. 16º. Os Projetos de REDD+, para serem integrantes do Sistema Estadual de REDD+ e receberem alocações de reduções de emissões ou aumentos de remoções, deverão ser aprovados e monitorados pela SEMA, nos termos a serem definidos em regulamento. § 1º A aprovação do Projeto de REDD+ é o processo responsável por atestar seu atendimento aos princípios e critérios do Sistema Estadual de REDD+. § 2º Na aprovação do Projeto de REDD+, será feita uma previsão de alocação de reduções de emissões ou aumento de remoções ao mesmo, considerando os resultados esperados do Projeto e previsão de alocação ao Programa de REDD+ correspondente. § 3º Os Projetos de REDD+ deverão implementar atividades periódicas de mensuração, comunicação e verificação dos seus resultados, incluindo dos critérios e salvaguardas de que trata o Art. 15; § 4º A alocação e registro de determinada quantidade de reduções de emissões ou aumento de remoções aos Projetos será feita de acordo com os resultados aferidos na verificação. § 5º Os Projetos não aprovados não receberão alocação de reduções de emissões ou aumentos de remoções, mas suas reduções de emissões ou aumentos de remoções eventualmente certificadas em outro sistema de registro deverão ser comunicados à SEMA para inserção na Contabilidade estadual de REDD+. Art. 17º. Podem constituir Ações de preparação e apoio ao REDD+ conjuntos de atividades desenvolvidas por agentes públicos e privados, necessárias à consecução dos objetivos de REDD+, que contribuam para: I - disseminar informações, realizar consultas e desenvolver capacidades técnicas sobre mudanças climáticas e REDD+ para gestores públicos e a sociedade em geral; II - desenvolver e implantar a estrutura de gestão e os instrumentos do Sistema Estadual de REDD+; III - promover a regularização fundiária e ambiental dos imóveis rurais, incluindo os assentamentos da reforma agrária e as unidades de conservação; IV - fortalecer os sistemas de monitoramento, fiscalização e responsabilização do desmatamento, da exploração florestal e das queimadas ilegais. § 1º As Ações de preparação e apoio ao REDD+ devem ser complementares ou integradas aos Programas de REDD+ aplicáveis. § 2º As Ações de preparação e apoio ao REDD+ não poderão substituir atividades já desenvolvidas com recursos oriundos do orçamento público. Art. 18º. As Ações de preparação e apoio ao REDD+, para serem integrantes do Sistema Estadual de REDD+ e receberem destinação de recursos do Fundo Estadual de REDD+, deverão ser aprovadas e monitoradas pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente- SEMA nos termos a serem definidos em regulamento. § 1º A destinação de recursos do Fundo Estadual de REDD+ de que trata o caput será feita considerando o orçamento de cada Ação de preparação e apoio ao REDD+, os recursos já obtidos de outras fontes para a Ação e os recursos disponíveis no Fundo, e deverá ser aprovada pelo Conselho gestor.

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

§ 2º As Ações de preparação e apoio ao REDD+ deverão monitorar e reportar periodicamente resultados quantificáveis utilizando indicadores correspondentes aos seus objetivos, dos quais dependerá a continuidade dos repasses de recursos do Fundo Estadual de REDD+. Subseção II Do Cadastro de Projetos e Ações de REDD+ Art. 19º. O Cadastro de projetos e ações de REDD+ é um instrumento de controle do Sistema Estadual de REDD+ pelo qual os Projetos de REDD+ e as Ações de preparação e apoio ao REDD+ são incluídos nesse Sistema e as informações referentes a esses Projetos e Ações são inseridas e mantidas e disponibilizadas para a sociedade. § 1º Todos os Projetos de REDD+ e Ações de preparação e apoio ao REDD+ com abrangência total ou parcial no território do Estado de Mato Grosso devem ser cadastrados no Sistema Estadual de REDD+. § 2º Os documentos apresentados e gerados nos processos de aprovação e monitoramento referidos nos Art. 16 e Art. 18 integram o Cadastro de projetos e ações de REDD+. Art. 20º. As informações contidas no Cadastro de projetos e ações de REDD+ são de natureza pública e serão disponibilizadas ao governo federal para fins de integração num futuro sistema ou regime nacional de REDD+. Subseção III Da Contabilidade Estadual de REDD+ Art. 21º. A contabilidade estadual de REDD+ é o instrumento de contabilização das reduções de emissões do desmatamento e da degradação florestal e dos aumentos de remoções resultantes de atividades de aumento dos estoques de carbono florestal ocorridos no território do estado, expressos em toneladas de dióxido de carbono (CO2). Art. 22º. As metas de reduções de emissões e as previsões de alocação de reduções de emissões ou aumentos de remoções aos Programas e Projetos de REDD+ serão contabilizadas na Contabilidade estadual de REDD+, visando permitir o planejamento do Sistema e viabilizar a captação de recursos para a implementação desses Programas e Projetos. Parágrafo único. O total das previsões de alocação de reduções de emissões aos Programas e Projetos de REDD+ não poderá exceder a meta de reduções de emissões do Estado para o período correspondente, considerando, ainda, a quantidade a ser destinada à Reserva do sistema. Art. 23º. A quantidade total de reduções de emissões do desmatamento e da degradação florestal ocorridas no território estadual será mensurada, comunicada, verificada e contabilizada periodicamente na Contabilidade estadual de REDD+. § 1º A mensuração de que trata o caput será realizada pela SEMA com base no inventário estadual de emissões e na estimativa anual de emissões oriundas do desmatamento e da degradação florestal, comparada com a linha de base e os níveis de referência.

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

§ 2º A comunicação de que trata o caput consiste na divulgação dos métodos, dados e resultados das mensurações e será realizada pela SEMA. § 3º Na contabilização e na comunicação sobre as reduções de emissões e aumentos de remoções alcançados, os resultados eventualmente obtidos com recursos dos mercados de carbono serão informados e destacados do total. § 4º Na contabilização e na comunicação sobre as reduções de emissões alcançadas, as reduções de emissões da degradação florestal serão informadas separadamente das reduções de emissões do desmatamento. § 5º A verificação de que trata o caput será feita por uma terceira parte independente, contratada para essa finalidade. Art. 24º. As alocações de reduções de emissões ou aumentos de remoções aos Programas e Projetos de REDD+ e à Reserva do sistema também serão contabilizadas na Contabilidade estadual de REDD+. Subseção IV Do Registro Estadual de REDD+ Art. 25º. As reduções de emissões ou aumentos de remoções mensurados e verificados no âmbito do Sistema Estadual de REDD+, expressos em unidades de REDD+, poderão ser alocados a Programas e Projetos de REDD+ e à Reserva do Sistema, ou usados diretamente pelo Estado para obter recursos financeiros visando viabilizar investimentos e ações que contribuam com os objetivos do Sistema Estadual de REDD+. § 1º A quantidade total de unidades de REDD+ a ser alocada a Projetos e Programas de REDD+ e à Reserva do Sistema será definida periodicamente pelo Conselho gestor, considerando os Programas e Projetos de REDD+ existentes e a meta de Reserva do Sistema. § 2º A alocação de unidades de REDD+ aos Projetos de REDD+ será feita em função da quantidade de reduções de emissões ou aumento de remoções mensuradas, verificadas e comunicadas de cada Projeto de REDD+, de acordo com as regras do Programa de REDD+ aplicável, as disposições de distribuição e repartição dos benefícios referidas nos Arts. 30 e 31 e os critérios a serem definidos pelo Conselho gestor. § 3º As unidades de REDD+ alocadas a Programas de REDD+ e não alocadas a Projetos de REDD+ poderão ser usadas pelo Estado para obter recursos financeiros de fontes nacionais ou internacionais, oriundos de doação, de mecanismos de pagamento por performance ou, ainda, de mercados de carbono, visando financiar esses Programas. § 4º As unidades de REDD+ não alocadas a Programas e Projetos de REDD+ ou à Reserva do sistema poderão ser usadas pelo Estado para obter recursos financeiros junto às fontes elencadas no § 3º deste artigo, a serem destinados ao Fundo Estadual de REDD+, visando viabilizar Ações de preparação e apoio do REDD+.

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

§ 5º Os proponentes de Projetos de REDD+ a quem forem alocadas unidades de REDD+, poderão usar as mesmas para obter recursos financeiros das fontes referidas no § 3º deste artigo. Art. 26º. O Registro Estadual de REDD+ é o instrumento de registro no Sistema Estadual de REDD+ das alocações de unidades de REDD+ e das transações de títulos oriundos das unidades de REDD+ registradas. § 1º Toda alocação de unidades de REDD+ aos Programas e Projetos de REDD+ ou à Reserva do Sistema de REDD+ deverá ser inserida no Registro estadual de REDD+, de forma a prevenir qualquer risco de dupla contagem de reduções de emissões ou aumentos de remoções. § 2º Toda transação de unidades de REDD+ registradas também deverá ser inserida no Registro estadual de REDD+, de forma a garantir sua rastreabilidade. § 3º As informações contidas no Registro Estadual de REDD+ são de natureza pública e serão disponibilizadas ao governo federal para fins de integração no sistema ou regime nacional de REDD+. § 4º O Registro Estadual de REDD+ poderá ser operado diretamente pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente - SEMA ou por uma terceira parte devidamente homologada, nos termos desta lei e dos seus regulamentos. Subseção V Da Reserva do Sistema Estadual de REDD+ Art. 27º. Fica instituída a Reserva do Sistema Estadual de REDD+, a ser constituída por parte das unidades de REDD+ geradas, visando assegurar o funcionamento desse sistema em caso de não permanência ou reversão das reduções de emissões ou aumentos de remoções. § 1º O Conselho gestor estabelecerá a quantidade mínima de unidades de REDD+ a ser mantida na Reserva do sistema. § 2º As unidades de REDD+ geradas entre a data do início da contabilização e a regulamentação desta lei poderão ser alocadas à Reserva do sistema ou a Programas e Projetos de REDD+. § 3º As unidades de REDD+ da Reserva do sistema poderão ser utilizadas para alocação a Programas e Projetos de REDD+ de que trata o art. 25, caso seja verificada na contabilidade do sistema, em um determinado ano, um aumento de emissões do desmatamento ou da degradação florestal, ou uma redução dessas emissões menor que os resultados aferidos pelos Programas e Projetos de REDD+. § 4º As unidades de REDD+ da Reserva do sistema também poderão ser utilizadas como garantia de permanência para Projetos de REDD+ contra eventuais reversões de reduções de emissões ou de aumentos de remoções devidas a causas naturais de força maior, tais como secas, inundações ou outras, ou não intencionais. § 5º As unidades de REDD+ da Reserva do sistema que estiverem além da quantidade mínima de que trata o § 1º deste artigo poderão ser usadas para obtenção de recursos de que trata o Art. 25, § 3º. § 6º As condições de utilização de unidades de REDD+ da Reserva do sistema de que tratam os §§ 3º, 4º e 5º deste artigo deverão ser aprovadas pelo Conselho gestor. Subseção VI Da Gestão de Recursos, Bens e Serviços de REDD+

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

Art. 28º. Fica o Estado autorizado, por meio de sua Administração Direta ou Indireta, a alienar títulos decorrentes de reduções de emissões ou aumentos de remoções de sua titularidade, desde que devidamente contabilizadas ou registradas. § 1º Os títulos referidos no caput poderão ser alienados em Bolsas de Valores, Mercadorias e de Futuros e entidades administradoras de mercados de balcão organizado, autorizadas a funcionar pela Comissão de Valores Mobiliários - CVM, no Mercado Brasileiro de Reduções de Emissões (MBRE) ou em outros mercados nacionais ou internacionais que respeitem a legislação nacional e internacional em vigor. § 2º O Estado poderá, por sua Administração Direta ou Indireta, mediante instrumento contratual específico, prestar serviço a agentes públicos e privado para comercialização de ativos e títulos de sua titularidade decorrentes de reduções de emissões e aumentos de remoções. Art. 29º. Fica o Poder Público estadual autorizado a criar o Fundo Estadual de REDD+, vinculado à SEMA, com o objetivo de receber e aplicar recursos para a gestão do Sistema Estadual de REDD+ e a implementação de Ações de preparação e apoio ao REDD+. § 1º O Fundo Estadual de REDD+ será constituído com recursos provenientes de dotações orçamentárias, doações e parcerias de agentes públicos e privados, nacionais e internacionais que visem à redução de emissões por desmatamento e degradação florestal e ao aumento de remoções, bem como com recursos obtidos junto aos mercados de carbono, incluindo a venda pelo Estado de títulos oriundos de reduções de emissões ou aumentos de remoções devidamente registradas, entre outras fontes a serem definidas em regulamento. § 2º Os recursos captados pelo Fundo Estadual de REDD+ serão aplicados para as seguintes finalidades: a) Desenvolvimento, implantação e funcionamento do Cadastro Estadual de REDD+, da Contabilidade Estadual de REDD+, incluindo o inventário, mensuração, verificação e comunicação das reduções de emissões e aumento de remoções, e do Registro Estadual de REDD+, bem como de outros instrumentos eventualmente necessários ao Sistema Estadual de REDD+; b) Realização das Ações de preparação e apoio ao REDD+, conforme previsto no Art. 18; c) Elaboração de Programas e Projetos de REDD+; d) Custeio das atividades e funções dos órgãos do Sistema Estadual de REDD+. § 3º A Secretaria de Estado de Meio Ambiente - SEMA terá a responsabilidade pela gestão do Fundo Estadual de REDD+, sendo que os critérios para aplicações de recursos deverão ser aprovados pelo Conselho gestor. Subseção VII Da Distribuição e Repartição de Benefícios Art. 30º. A linha de base e os níveis de referência das emissões do desmatamento e degradação florestal de que tratam os §§ 1º e 2º do Art. 4º serão objetos de uma repartição entre as diferentes regiões do Estado ou categorias de uso e ocupação da terra existentes no Estado, observadas e ressalvadas eventuais disposições aplicáveis ou em contrário na legislação federal.

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

§ 1º A repartição de que trata o caput será espacialmente explícita e apresentada em um mapa cobrindo o território estadual, que será disponibilizado à sociedade junto com a metodologia empregada em sua elaboração. § 2º A repartição de que trata o caput levará em consideração uma combinação dos níveis históricos de desmatamento e degradação florestal nas diferentes áreas e dos estoques de carbono florestal remanescentes nas mesmas. § 3º A linha de base calculada e os níveis de referência definidos para cada área se aplicarão aos Programas e Projetos de REDD+ a serem desenvolvidos nas mesmas. § 4º O Conselho gestor definirá critérios e metodologias para a repartição de que trata o caput, levando em consideração metodologias existentes e sendo empregadas para Projetos de REDD+ em desenvolvimento ou implementação, e aprovará o produto final, cuja elaboração será de responsabilidade da Secretaria de Estado de Meio Ambiente - SEMA. Art. 31º. Outros mecanismos de distribuição e repartição dos benefícios, incluindo cotas de unidades de REDD+ para os Programas de REDD+ e normas para a aplicação e distribuição de recursos financeiros auferidos com Projetos de REDD+, dentre outros, poderão ser desenvolvidos e estabelecidos por iniciativa do Conselho gestor. Subseção VIII Da Cooperação Municipal, Nacional e Internacional Art. 32º. O Estado de Mato Grosso poderá estabelecer acordos de cooperação com municípios, com outros estados e com a União, bem como com instituições públicas e privadas de outros países para implementação dos objetivos do Sistema Estadual de REDD+. CAPÍTULO II DA ELEGIBILIDADE E CONDIÇÕES DE APLICAÇÃO Art. 33º. Para os efeitos desta lei, são elegíveis para inclusão em Programas e Projetos de REDD+, no âmbito do Sistema Estadual de REDD+, ressalvadas as competências dos órgãos federativos e municipais, áreas de vegetação nativa ou áreas destinadas à recuperação dessa vegetação situadas em: I - unidades de conservação legalmente instituídas; II - terras indígenas; III - territórios quilombolas; IV - outras áreas legitimamente ocupadas por populações tradicionais; V - assentamentos rurais da reforma agrária; VI - propriedades e posses rurais de domínio privado; VII - outros imóveis rurais de domínio público. § 1º O desenvolvimento de Programas e Projetos de REDD+ em propriedades e posses rurais de domínio privado está condicionado à comprovação da sua regularidade ambiental, mediante Cadastro Ambiental Rural e da sua regularidade fundiária, não podendo existir disputa sobre os direitos de propriedade e posse, conforme documentação a ser estabelecida em regulamento. § 2º Áreas de Reserva Legal e de Preservação Permanente e de Reserva Legal devidamente regularizadas conforme legislação em vigor serão elegíveis para Programas e Projetos de REDD+.

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

§ 3º A eventual participação de áreas de domínio da União ou de municípios no Sistema Estadual de REDD+ se dará mediante estabelecimento de acordos de cooperação conforme Art. 32, entre outras modalidades legalmente admissíveis. § 4º A aprovação de um Programa ou Projeto de REDD+ não constitui prova de posse ou propriedade da terra. § 5º A elegibilidade das áreas de que trata o caput condiciona-se à comprovação de vínculo da área ao Programa ou Projeto de REDD+ por período compatível com a permanência dos estoques de carbono florestal e respectivo efeito benéfico ao sistema climático, conforme critérios a serem aprovados pelo Conselho gestor. Art. 34º. Podem ser proponentes legítimos de Projetos de REDD+ no âmbito do Sistema Estadual de REDD+: I - O poder público e seus órgãos de administração direta e indireta, na abrangência de seus respectivos territórios e competências; II - Os proprietários ou possuidores legítimos de áreas rurais, individual ou coletivamente, dentro dos limites de suas propriedades e posses, que desenvolverem atividades de REDD+; III - Os detentores de direitos de uso ou usufruto de áreas rurais ou de recursos florestais, dentro dos limites das áreas objeto desse direito, que desenvolverem atividades de REDD+, desde que o instrumento legal que estabelecer esses direitos não contenha disposições em contrário. § 1º No caso de Projetos de REDD+ propostos pelo poder público, os proprietários ou possuidores legítimos de áreas rurais e os detentores de direitos de uso ou usufruto de áreas rurais ou de recursos florestais têm a prerrogativa de aceitar ou não a implementação da ação proposta em suas respectivas áreas e de participar da definição da repartição dos benefícios a serem auferidos como resultado da ação de REDD+. § 2º Proponentes legítimos poderão se associar ou consorciar entre si ou a terceiros para propor e executar Projetos de REDD+. Art. 35º. Os recursos auferidos de Programas e Projetos de REDD+ em unidades de conservação, no âmbito do Sistema Estadual de REDD+, devem ser aplicados segundo os critérios previstos na Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e pelo Decreto nº 4.340, de 22 de agosto de 2002 que o regulamenta. § 1º Os recursos não aplicados na área do Projeto devem ser destinados exclusivamente ao desenvolvimento e implementação do Programa onde se insere o Projeto, ou ao cumprimento dos demais objetivos do Sistema Estadual de REDD+. § 2º O desenvolvimento de Programas e Projetos de REDD+ em unidades de conservação no âmbito do Sistema Estadual de REDD+ deverá ter o acompanhamento do respectivo órgão gestor, com o intuito de assegurar os objetivos de conservação da unidade e a proteção e a promoção dos direitos das populações tradicionais legalmente residentes, quando existentes. Art. 36º. Os Programas e Projetos de REDD+ desenvolvidos nas áreas referidas nos incisos II, III e IV do Art. 33 localizadas no território mato-grossense, para fins de sua

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

participação no Sistema Estadual de REDD+, deverão atender aos critérios previstos nesta lei, além da legislação federal em vigor. § 1º Para o disposto no caput, os Programas e Projetos de REDD+ desenvolvidos em terras indígenas deverão ter o acompanhamento do órgão federal responsável, com o intuito de assegurar a proteção e a promoção dos direitos dos povos indígenas. § 2º Para o disposto no caput, os Projetos de REDD+ deverão se basear em um plano de gestão de longo prazo da referida área que assegure a capacidade de produção de subsistência da comunidade, considerando a previsão de crescimento da população, bem como a preservação de sua cultura e modos de vida. Art. 37º. Nos Programas e Projetos de REDD+ desenvolvidos nas áreas referidas nos incisos II a V do Art. 33, para fins de sua participação no Sistema Estadual de REDD+, deve ser garantida a participação das populações legalmente residentes em todas as etapas e processos de tomada de decisão, incluindo os referentes à definição, negociação e repartição dos benefícios estabelecidos, observado o princípio do consentimento livre, prévio e informado, mediante procedimento a ser definido em regulamento. Parágrafo único. Para o disposto no caput, os Programas e Projetos de REDD+ devem contribuir para a proteção e recuperação ambiental, a redução da pobreza, a promoção de alternativas econômicas sustentáveis, da autonomia, da inclusão social e a melhoria das condições de vida das pessoas, comunidades e povos que vivem nas áreas de aplicação e de influência destes, vedada a utilização dos recursos auferidos para finalidades distintas desses objetivos. Art. 38º. Para fins de sua participação no Sistema Estadual de REDD+, Programas e Projetos de REDD+ desenvolvidos em unidades de conservação de uso sustentável e em assentamentos rurais devem obedecer às regras previstas no Art. 37. Art. 39º. No caso de Programas e Projetos de REDD+ em propriedades privadas, a transmissão intervivos ou causa mortis do imóvel não elimina nem altera o vínculo com o Programa ou Projeto de REDD+. Parágrafo único. Para propriedades privadas, a participação em Programas ou Projetos de REDD+ deverá ser registrada à margem da matrícula dos referidos imóveis. CAPÍTULO III DISPOSIÇÕES FINAIS Art. 40º. Deverá ser contratada pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente - SEMA, periodicamente, auditoria externa independente para avaliar a eficácia, a eficiência e os impactos socioambientais e econômicos da implementação do Sistema Estadual de REDD+, à qual será dada ampla divulgação e plena transparência. Art. 41º. O regulamento desta lei estabelecerá os preços públicos a serem cobrados para os atos referentes às diferentes etapas do cadastro de Projetos e Ações de REDD+ e registro de reduções de emissões ou aumento de remoções, dentre outros necessários à implementação do Sistema Estadual de REDD+. Art. 42º. Os Projetos de REDD+ já existentes ou em desenvolvimento na data de publicação desta lei deverão efetuar seu cadastro conforme o disposto no Art. 18, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias a partir da regulamentação desta lei, e cumprirem os

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

demais critérios e requisitos previstos nesta lei, para integrarem o Sistema Estadual de REDD+. Art. 43º. O detalhamento da implementação do Sistema Estadual de REDD+, bem como eventuais casos omissos nesta lei, serão definidos em regulamento próprio. Art. 44º. Fica estabelecido o prazo de um ano a partir da publicação desta lei, prorrogável por igual período, para a regulamentação desta lei e a instalação e implementação das estruturas e instrumentos nela previstos. Art. 45º. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. Palácio Paiaguás, em Cuiabá, 07 de janeiro de 2013.

2015

PORTARIA Nº 372, PR/SDH – Dispõe sobre o Comité Nacional de Educação em Direitos Humanos – CNEDH.

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS PORTARIA Nº 372, DE 25 DE AGOSTO DE 2015 PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS DOU de 26/08/2015 (nº 163, Seção 1, pág. 9) Dispõe sobre o Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos - CNEDH, no âmbito da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República - SDH/PR. O MINISTRO DE ESTADO CHEFE DA SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, SUBSTITUTO no uso das atribuições que lhe confere o art. 87, parágrafo único, incisos I e II, da Constituição Federal, e considerando o que dispõe a Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada e proclamada pela Resolução 217 A (III) da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948, bem como os demais atos e instrumentos internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil é signatário; considerando o que dispõe o Plano de Ação Internacional da Década das Nações Unidas para a Educação em Matéria de Direitos Humanos (1995 a 2004), promulgada pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, por meio da Resolução 49/184; considerando o que dispõe o Programa Mundial de Educação em Direitos Humanos (2005-2019), instituído pelas Nações Unidas pela Resolução nº 59/113/2004; considerando o que dispõe a Declaração das Nações Unidas sobre a Educação e Formação em Direitos Humanos, aprovada pela Resolução A/66/137/2011; considerando o previsto na Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, e na Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, que institui o Plano Nacional de Educação (PNE), bem como em todas as legislações nacionais referentes à organização da educação em todos os níveis e modalidades;

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

considerando o que dispõem o Programa Nacional de Direitos Humanos 3 (PNDH-3), aprovado pelo Decreto nº 7.037 de 21 de dezembro de 2009, e o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH), aprovado em 10 de dezembro de 2006; considerando o disposto nas Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos, aprovadas pela Resolução nº 1, de 30 de maio de 2012, com fundamento no Parecer nº 8/2012 do Conselho Pleno do Conselho Nacional de Educação; considerando o Decreto nº 8.243, de 23 de maio de 2014, que institui a Política Nacional de Participação Social; considerando a Lei nº 13.019, de 31 de julho de 2014, que estabelece o Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil; considerando a competência da SDH/PR de coordenar a política nacional de direitos humanos, bem como a competência da Secretaria Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos (SNPDDH/SDH/PR) de implementar o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos e de coordenar o Programa de Educação em Direitos Humanos, conforme determinam, respectivamente, o inciso II do art. 1º e os incisos I e II do art. 10, do Anexo I do Decreto nº 8.162, de 18 de dezembro de 2013, que aprova a Estrutura Regimental da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República; considerando a Portaria nº 98, de 9 de julho de 2003, que institui o Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos, bem como as Portarias nº 83, de 21 de fevereiro de 2008, nº 222, de 14 de abril de 2008 e nº 15, de 28 de janeiro de 2015, que trazem alterações à sua estrutura; e considerando a Educação em Direitos Humanos como o processo sistemático e multidimensional, orientador da formação para a vida e para a convivência, no exercício cotidiano dos Direitos Humanos como forma de vida e de organização social, política, econômica e cultural nos níveis regionais, nacionais e planetário, conforme dispõem o PNEDH e as Diretrizes Nacionais para a EDH, resolve: Art. 1º - Esta Portaria dispõe sobre a reestruturação do Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos - CNEDH, instância colegiada de natureza consultiva, vinculado à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República - SDH/PR, com a finalidade de: I - contribuir para a consolidação da Política Nacional de Educação em Direitos Humanos; II - assessorar a SDH/PR na formulação e proposição de diretrizes de ação e na implementação de políticas, programas e projetos de educação em direitos humanos; e III - promover a articulação entre a SDH/PR e órgãos e entidades que promovam a educação em direitos humanos. Art. 2º - Ao CNEDH compete:

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

I - contribuir para a implementação, monitoramento, avaliação e revisão da Política Nacional de Educação em Direitos Humanos, por meio da proposição de diretrizes e estratégias de ação; II - contribuir para a implementação, divulgação, monitoramento, avaliação e revisão do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos -PNEDH, por meio da proposição de diretrizes e estratégias de ação; III - contribuir para a implementação, divulgação, monitoramento e avaliação das Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos por meio da proposição de diretrizes e estratégias de ação; IV - subsidiar a avaliação e o monitoramento da implementação do Eixo Orientador V - Educação e Cultura em Direitos Humanos, do Programa Nacional de Direitos Humanos 3 -PNDH-3; V - estimular no âmbito do Poder Executivo, nas esferas estadual, municipal e do Distrito Federal, por meio de ações de articulação, a criação e o fortalecimento de órgãos encarregados da formulação e implementação de políticas de educação em direitos humanos, tais como coordenações de educação em direitos humanos, assim como o desenvolvimento de programas, planos, projetos e ações de educação em direitos humanos; VI - estimular nas esferas estadual, municipal e distrital, por meio de ações de articulação, a criação e o fortalecimento de instâncias colegiadas com integrantes da sociedade civil visando à participação social na formulação, no monitoramento e na avaliação de políticas de educação em direitos humanos, tais como comitês estaduais, municipais e do Distrito Federal de educação em direitos humanos; VII - propor medidas e ações com vistas à promoção e ao fortalecimento da educação popular em direitos humanos, compreendendo aquela realizada pelas organizações da sociedade civil e pelos movimentos sociais; VIII - promover o diálogo e a troca de experiências com outros comitês e conselhos de direitos, de políticas ou setoriais, para estabelecimento de estratégias comuns de atuação; IX - propor a elaboração de estudos, pesquisas e a produção de materiais necessários ao desenvolvimento e à promoção da educação em direitos humanos; e X - contribuir na implementação das demais ações de educação em direitos humanos demandadas pela SDH/PR. Art. 3º - O CNEDH será constituído de 16 (dezesseis) membros titulares, com igual número de suplentes, observada a seguinte composição: I - um representante dos seguintes órgãos: a) Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República - SDH/PR;

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

b) Ministério da Educação; c) Ministério da Justiça d) Ministério da Cultura; e e) Ministério das Comunicações. II - um representante dos seguintes organismos internacionais: a) Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - Unesco; e b) Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura - OEI. III - 2 (dois) representantes de Instituições de Ensino Superior - IES, públicas, privadas ou comunitárias; IV - 4 (quatro) representantes de entidades da sociedade civil e movimentos sociais com relevante atuação na área de educação em direitos humanos; e V - 3 (três) especialistas com relevante atuação e notório saber na área de educação em direitos humanos. § 1º - Para cada membro titular de que tratam os incisos deste artigo, será indicado o seu respectivo suplente. § 2º - Os representantes, titular e suplente, de que tratam os incisos I e II deste artigo serão indicados pelos dirigentes dos respectivos órgãos e organismos internacionais. § 3º - As IES de que trata o inciso III deste artigo serão selecionadas por meio de edital a ser expedido pela SDH/PR, conforme dispõe o art. 5º desta Portaria, para exercer um mandato de 2 (dois) anos, permitida uma recondução, mediante novo processo de seleção. § 4º - As IES de que trata o inciso III deste artigo indicarão seus representantes, os quais deverão ter, no mínimo, 5 (cinco) anos de experiência comprovada na área de EDH, recomendando-se que sejam indicados a partir de processo seletivo interno. § 5º - As entidades da sociedade civil ou movimentos sociais de que trata o inciso IV deste artigo, serão selecionados por meio de edital a ser expedido pela SDH/PR, conforme dispõe o art. 6º desta Portaria, para exercer um mandato de 2 (dois) anos, permitida uma recondução, mediante novo processo de seleção. § 6º - As entidades da sociedade civil organizada ou movimentos sociais de que trata o inciso IV deste artigo indicarão seus representantes, os quais deverão ter, no mínimo, 3 (três) anos de experiência comprovada na área de EDH, recomendando-se que sejam indicados a partir de processo seletivo interno. § 7º - Os especialistas de que trata o inciso V deste artigo devem ter comprovada experiência profissional ou acadêmica de, no mínimo, 7 (sete) anos na área de educação

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

em direitos humanos, além de pós-graduação stricto sensu em área relacionada aos direitos humanos. § 8º - Os especialistas de que trata o inciso V deste artigo serão indicados pelo Ministro de Estado Chefe da SDH/PR. Art. 4º - São convidados permanentes do CNEDH: o Conselho Nacional de Justiça, o Conselho Nacional do Ministério Público, o Colégio Nacional dos Defensores Públicos Gerais, o Conselho Nacional de Educação, a Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais , o Conselho Nacional de Secretários de Educação e a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação. Parágrafo único - A participação dos convidados indicados no caput nas reuniões do CNEDH deverá ser custeada com ônus próprio. Art. 5º - Convidados especiais poderão participar das reuniões do CNEDH sempre que deliberado em plenário, a fim de contribuírem com o debate acerca de determinada temática ligada à educação em direitos humanos. Art. 6º - A Presidência do CNEDH será exercida pelo Ministro de Estado Chefe da SDH/PR e a respectiva suplência pelo Secretário Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos da SDH/PR. Art. 7º - Compete à Presidência do CNEDH: I - convocar e presidir as reuniões do colegiado; II - solicitar aos membros do CNEDH a elaboração de estudos, informações, documentos técnicos e posicionamento sobre temas referentes à educação em direitos humanos; e III - constituir, por período determinado, grupos técnicos e de trabalho que visem a subsidiar os debates temáticos do CNEDH. Art. 8º - A Coordenação do CNEDH será exercida pela Coordenação- Geral de Educação em Direitos Humanos da SDH/PR, a quem compete prover o apoio administrativo e os meios necessários à execução dos trabalhos do colegiado. Art. 9º - As funções dos membros do Comitê não serão remuneradas e seu exercício será considerado serviço público relevante. Art. 10 - O CNEDH se reunirá quadrimestralmente ou, em caráter extraordinário, a critério da Presidência. Art. 11 - As despesas com os deslocamentos para Reuniões Ordinárias e Extraordinárias dos membros integrantes do CNEDH, de que tratam os incisos III a V do art. 4º desta Portaria, poderão ocorrer à conta de dotações orçamentárias da SDH/PR. Art. 12 - O CNEDH elaborará seu Regimento Interno, a partir de proposta apresentada pela Coordenação do Comitê, no prazo máximo de 90 (noventa) dias, contados da data de sua instalação, submetendo- o à aprovação do Ministro de Estado Chefe da SDH/PR.

Dissertação: Justiça Climática e Educação Ambiental nas teias do Fórum de Direitos Humanos e da Terra – Mato Grosso. Mestranda: Rita De Cássia Leventi Aleixes – UFMT/PPGE/IE/GPEA/2015.

Art. 13 - A designação dos membros do CNEDH será efetivada por meio de Portaria expedida pelo Ministro Chefe da SDH/PR. Parágrafo único - As alterações à Portaria de designação dos membros do CNEDH poderão ocorrer por meio diverso ao indicado no caput. Art. 14 - Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação. Art. 15 - Revogam-se as Portarias nº 98, de 9 de julho de 2003, nº 83, de 21 de fevereiro de 2008, nº 222, de 14 de abril de 2008 e nº 15, de 28 de janeiro de 2015. GERSON LUIS BEN