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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE AGRONOMIA, MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA CURSO DE ZOOTECNIA FELIPE CACITE NOVAS INFORMAÇÕES SOBRE A DEPRESSÃO DA GORDURA DO LEITE E MEGASPHAERA ELSDENII CUIABÁ 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE AGRONOMIA, MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA CURSO DE ZOOTECNIA

FELIPE CACITE

NOVAS INFORMAÇÕES SOBRE A DEPRESSÃO DA GORDURA DO LEITE E MEGASPHAERA ELSDENII

CUIABÁ 2016

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FELIPE CACITE

NOVAS INFORMAÇÕES SOBRE A DEPRESSÃO DA GORDURA DO LEITE E MEGASPHAERA ELSDENII

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso, apresentado como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Zootecnia. Orientador: Prof. Dr. Luciano da Silva

Cabral

CUIABÁ 2016

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À família Cacite,

Dedico.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à Deus, por ter me dado várias oportunidades e eu

ter escolhido dentre elas as melhores, ao meu Anjo da Guarda, por me guiar em

caminhos desconhecidos.

Agradeço com muita intensidade aos meus pais, primeiramente ao meu pai,

por ter sido enérgico e mostrado escolhas, oportunidades e consquências delas ao

longo da minha vida, à minha mãe que juntamente ao meu pai, mostrou o carinho, o

afeto e as coisas que a vida tem a nos ensinar em um lar. À minha irmã, que sempre

nos unimos para conquistar um bem maior, mostrou o quão diversa é a vida.

Agradeço a Universidade Federal de Mato-Grosso, em especial aos meus

coordenadores ao longo de minha vida acadêmica, à Secretaria de Relações

Internacionais, que esteve fornecendo suporte em todas as necessidades. Agradeço

aos meus professores, que abriram os meus olhos e mostraram que a Zootecnia é

muito além da produção animal, aqui em especial ao meu orientador, professor

Luciano da Silva Cabral, que me mostrou o incrível mundo da microbiologia.

Gostaria de agradecer ao Departamento de Agricultura dos Estados Unidos

da América, por permitir o intercâmbio de alunos internacionais aos seus centros de

pesquisas, em especial o US Dairy Forage Research Center. Agradeço do fundo do

meu coração ao meu supervisor de estágio, professor Paul J. Weimer, que me

recebeu duas vezes e me deu os conhecimentos necessários para o meu futuro

profissional. Também agradeço a técnica do laboratório de microbiologia do

USDFRC, Christine Odt, por me ajudar nas atividades práticas e diárias do

laboratório.

Por fim, agradeço aos meus amigos, que participaram da minha vida

acadêmica, desde trabalhos em grupo, encontrando soluções para determinados

problemas, ou fornecendo apoio durante o meu estágio e em ambos os programas

de mobilidade acadêmica internacional.

Agradeço a todos que, de forma direta ou indireta, contribuíram para o meu

engrandecimento profissional e a formação de uma pessoa, que se apaixonou pela

vida acadêmica. A todos vocês, muito obrigado.

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“Books are the legacies that a great genius leaves to mankind, which are

delivered down from generation to generation as presents to the posterity of

those who are yet unborn”.

Joseph Addison

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1. Organização do Serviço de Pesquisas Agrícolas ....................................... 12 Figura 2. Disposição dos primers de identificação das amostras .............................. 27 Figura 3. Porcentagem (%) de leituras de Megasphaera elsdenii ao longo do experi-

mento. ....................................................................................................... 31 Figura 4. Porcentagem (%) de gordura ao longo do periodo do experimento .......... 32

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Resumo das atividades realizadas na semana de inoculação da cultura nos animais ............................................................................................ 21

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LISTA DE ABREVIATURAS

ARS: Agricultural Research Service

ºC: graus Celsius

CLA: ácido linoléico conjugado

DNA: ácido desoxirribonucléico

EDTA: ácido etilenodiamino tetra-acético

EUA: Estados Unidos da América

g: gravidade

LC: Large Cocus (grande coco)

LTY: Lactato, Tripticase, e extrato de levedura

RNA: ácido ribonucléico

PCR: Reação em Cadeia de Polimerase

TAE: TRIS Acetato EDTA

US: United States

USDA: United States Department of Agriculture

USDFRC: United States Dairy Forage Research Center

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 1 2. OBJETIVOS ........................................................................................................... 4 3. REVISÃO ............................................................................................................... 5 Depressão da gordura do leite ............................................................................... 8 4. RELATÓRIO DE ESTÁGIO .................................................................................. 12 5. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS E DISCUSSÃO ............................................... 14 Preparo do meio de cultura .................................................................................. 14 O método de tubos rolados .................................................................................. 16 O método de placas de Petri ................................................................................ 18 O método de diluição até a extinção .................................................................... 19 O experimento com vacas leiteiras ...................................................................... 20 Purificação e extração do DNA ............................................................................ 22 Preparação da biblioteca de sequenciamento metagenômico do gene 16S........ 25 Eletroforese .......................................................................................................... 28 Sequenciamento metagenômico .......................................................................... 29 6. CONCLUSÕES .................................................................................................... 34 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 35 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 37

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RESUMO

A microbiologia e as novas tecnologias de biologia molecular evoluem ao longo dos

anos, e a utilização dessas técnicas são imprescindíveis para a ciência. Com isso,

objetivou-se como trabalho de conclusão de curso a atualização de técnicas de

produção de culturas anaeróbicas, extração e purificação de DNA e seu

sequenciamento. Realizou-se um experimento, em que a parte laboratorial foi

realizada no laboratório de microbiologia do US Dairy Forage Research Center, em

Madison, Wisconsin, e as inoculações e coleta de amostras na fazenda experimental

do USDFRC em Praire du Sac, Wisconsin/USA. Foram utilizados 9 vacas de raça

Holandesa e em lactação divididos em 3 grupos sendo 1 grupo controle, um

recebendo um inóculo da cepa 5045 e outro recebendo o inóculo da cepa 4257

isoladas previamente de Megasphaera elsdenii. Os animais foram inoculados e ao

longo do experimento, foram coletadas amostras de líquido ruminal e de leite para

análise da comunidade microbiana no rúmen e a porcentagem de gordura no leite.

Como resultados, notou-se a ocorrência da depressão da gordura no leite e também

alterações na população de Megasphaera elsdenii. Os dados mostraram que houve

mudanças individuais e entre as cepas, sugerindo que a depressão da gordura do

leite está relacionada às cepas de Megasphaera elsdenii. Por fim, os objetivos

propostos de atualização de novas informações relacionadas à microbiologia e

biologia celular foram alcançados.

Palavras-chave: microbioma ruminal, queda da gordura no leite, bactéria

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1. INTRODUÇÃO

A origem dos ruminantes é documentalmente citada nos textos bíblicos,

sendo o primeiro em Levíticos 11, 3: “você poderá comer dos animais de cascos

partidos, divididos em duas partes e que é um ruminante”. Ainda a domesticação dos

ruminantes evidenciadas em estudos mostra que eles foram domesticados entre

8.000 e 10.000 anos atrás (Luftus et al., 1994).

No entanto, antes de se comentar da domesticação dos ruminantes, que se

faz parte da história recente, como explicado por Luftus e seus colaboradores, deve-

se levar em consideração a origem da vida, pois, para tudo o que se sabe no

mundo, existiu um começo. Desde a criação do Universo, ou seja, 13,7 bilhões de

anos atrás, de acordo com a lei de Hubble, descrito por Turner (2013). Hubble

descreveu que todas as galáxias se afastam de um determinado ponto e esse

afastamento é possivel ser determinado através de um modelo matemático por ele

proposto, levando em consideração a velocidade e a distância que essas galáxias se

movem. Ainda, Turner comenta que o universo quanto mais se desenvolve, mais

escuro e frio ele se torna. Assim é possível observar que a origem do universo está

em regiões mais quentes e iluminadas, justificando a origem do universo pela teoria

mais aceita hoje que é a Teoria do Big Bang (Hubble, 1929).

Kuiper (1950) afirma que, a origem do Sistema Solar se deu por uma união de

massas que eram influenciadas por uma fonte de energia e a formação dos planetas

respondiam a essas influências e apresentam uma inclinação em relação ao Sol. E

de acordo com Wilson et al. (1978) e Turner (2013) a origem do Sistema Solar e a

origem da Terra datam de idades semelhantes, sendo a origem do sistema solar em

4,7 bilhões de anos e a Terra em 4,5 bilhões de anos. Turner ainda divide o Período

Pré-Cambriano em diferentes eras: Arqueozóica e Proterozóica, e o Período

Cambriano em Mesozóica, Paleozóica e Cenozóica.

Wilson et al. (1978) formularam um calendário geológico mostrando o que

teria acontecido com o desenvolvimento do planeta Terra desde sua origem. Na Era

Arqueozóica, eles descrevem que, surgiram as primeiras formas de vida em meio

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líquido. No final dessa era, bactérias e cianobatérias poderiam ter surgido. Uma

comparação pode ser feita com o livro do Gênesis, que trata da criação do mundo

conhecido pela humanidade, o livro traz a origem da vida na Terra de forma bem

resumida, tratando-a como “dias”, mas o que é um dia? O dia é uma metáfora para a

representação de um começo e um fim, em Gênesis, a primeira coisa a ser criada foi

a luz, ou seja, uma primeira sugestão do que seria o Big Bang proposto por

Hubble(1929) e Turner (2013).

A bíblia forma um compilado de escritos onde até o momento não tinha o

conhecimento dos microrganismos, todavia, existem vestígios da origem da vida

microbiana nesse período, através das bactérias e cianobactérias (Lal, 2008).

A partir do surgimento do homem moderno, a domesticação dos animais se

tornou necessária. Foram apresentadas duas diferentes evidências para a

domesticação de ruminantes, uma ocorrida na Índia e outra na África. As atuais

raças europeias e indianas foram mostradas na pesquisa que tiveram a mesma

origem, em evidencias encontradas em fósseis e também em análise genética

relacionado ao DNA mitocondrial, mostrando que as raças africanas não apresentam

o compartilhamento desse DNA. Apesar de serem raças zebuínas, suspeita-se que

apenas animais machos haviam sido utilizados na África na seleção dos animais.

Sendo assim, uma purificação das raças ali presente (Luftus et al., 1994).

Após a domesticação dos ruminantes, e a observação do interior desses

animais, notou-se que os ruminantes eram diferentes. Russell (2002) observou em

estudos que Aristóteles descreveu os ruminantes como um animal com o estomago

dividido em quatro compartimentos. Ele também cita que apenas em 1884 quando

Van Tappeiner dosou antibióticos no interior do rúmen e verificou que a digestão de

fibra foi inibida. Assim, iniciou-se o conhecimento de que havia pequenos seres que

colonizavam o rúmen.

Brock (1970), em seu livro afirma que somente em 1664 com Antonie van

Leeuwenhoek, um construtor de microscópios amador, reportou a existência de

“animáculos”, observando pela primeira vez a existência de microrganismos,

confirmado posteriormente por outros pesquisadores. O autor ainda apresenta uma

relação de simbiose entre o rúmen e os microrganismos ali presentes.

Hungate (1966) afirmou que o primeiro cientista que observou a produção de

gases e ácidos no rúmen foi Zuntz, em 1879, trazendo assim, novas informações ao

conhecimento científico ao longo dos anos. Dentre várias publicações aqui citadas e

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também a enorme quantidade de diferentes microrganismos presentes no rúmen,

desde vírus, bactérias e protozoários até fungos, Hungate afirma que são várias as

funções que eles exercem no rúmen, e as relações que eles possuem podem ser

inter e intraespecífica, na qual uma bactéria necessita de um subproduto metabólico.

Por sua vez, ocorre a predação de bactérias por protozoários e a quebra de

moléculas de grande tamanho por simbiose entre fungos e bactérias. Ainda que as

funções de grande parte desses microrganismos sejam desconhecidas. As novas

tecnologias fornecem artifícios para essas descobertas, além disso, a associação da

medicina e de outras ciências biológicas e da terra para uma abrangência maior do

entendimento desse mundo.

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2. OBJETIVOS

O objetivo com o estágio foi aprimorar técnicas em microbiologia, como

preparação de meios de cultura anaeróbicos, preparo de soluções tampão, utilização

da câmara anaeróbica, e técnicas de biologia molecular, extração e purificação de

DNA de culturas puras, e de líquido ruminal, além do sequenciamento do DNA

extraído aplicados na investigação da depressão da gordura do leite e na

identificação de bactérias ruminais.

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3. REVISÃO

É sabido que no rúmen existem milhares de espécies, dentre bactérias, virus,

fungos, protozoários e outros microrganismos, como citado por Hungate (1966). No

entanto, a descoberta de microrganismos no rúmen só ocorreu em 1843 por Gruby e

Delafond identificando protozoários e foi apenas em 1864, com Pasteur, que as

bactérias foram realmente registradas e também as primeiras descobertas que elas

produziam gases e ácidos. (Hungate, 1966).

O rúmen possuí grande diversidade de vida microbiana. Os microrganismos

que habitam o rúmen possuem diferentes funções e pertecem a diferentes

classificações biológicas. Esses organismos são divididos em arqueobactérias,

bactérias, protozoários e fungos.

As arqueobactérias são responsáveis pela formação de metano no rúmen ou

seja, a metanogênese. Esse processo ocorre através da utilização do H2 e do CO2

formando CH4. (Morgavi et al., 2010)

Os protozoários, em sua grande maioria, ingerem e degradam componentes

da parede celular, além de bactérias e também utilizam amido e celulose como fonte

de energia (Orpin, 1984; Hungate, 1966). Também observou-se que a grande

maioria dos protozoários presentes no rúmen são ciliados, e o restante apresentam

flagelos como estrutura de locomoção e predação de bactérias. Em animais

defaunados (sem protozoários) a população bacteriana é maior (Hungate, 1966).

Os fungos encontrados no rúmen, são anaeróbicos obrigatórios e utilizam

como fonte de energia carboidratos, dentre eles a glicose e frutose. Os fungos

também apresentam a capacidade de romper fisicamente a lignina, característica

importante na comunidade ruminal pois nenhum outro microrganismo do rúmen

possui essa característica (Gordon e Phillips, 1998).

Por fim, a principal comunidade microbiana no rúmen, as bactérias. Esses

organismos são os mais abundantes no rúmen e devido a sua grande variedade,

apresentam diferentes características e dentre elas está a utilização de diferentes

produtos como fonte principal de energia. De acordo com Hungate, 1966, as

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bactérias foram classificadas como fermentadoras de celulose, hemicelulose, amido,

açúcares, proteína, lipídios, e as utilizadoras de ácidos.

O primeiro grupo, as fermentadoras de celulose, tem como o organismo mais

abundante a espécie Bacteroides succinogenes. Esta bactéria utiliza a celulose

como principal meio de energia e ela é uma fixadora de CO2 e como produtos da

fermentação o succinato. Uma outra bactéria, Butyrivibrio fibrosolvens, apresenta a

fermentação da celulose mas não de forma rápida como a B. succinogenes, mas

tem como produtos da fermentação: H2, CO2, etanol, e ácidos acético, butírico,

fórmico e lático. A porcentagem de bactérias deste grupo em animais com dietas de

alta forragem é de aproximadamente 15,6% (Hungate,1966).

A hemicelulose é insolúvel em água mas solúvel em meio ácido. Diferentes

formas da hemicelulose são digeridas por uma grande variedade de bactérias, como

Eubacterium, Bacteroides ruminicola, Bacteroides amylogenes entre outras

(Hungate, 1966).

O próximo grupo são as fermentadoras de amido, essas bactérias são mais

abundantes em dietas com baixa concentração de forragem. Parte das bactérias

celulolíticas também são amilolíticas como cepas de Bacteroides succinogenes e

Butyrivibrio fibrosolvens. A principal bactéria deste grupo é a Streptococcus bovis, e

tem como principal produto de fermentação o lactato (Hungate, 1966).

Algumas bactérias fermentam monossacarídeos ou dissacarídeos, entre as

fermentadoras de açucares estão os Lactobacillus e Eubacterium ruminatium, esta

última gerando como produtos da fermentação: CO2, acetato, formato, lactato e

butirato (Hungate 1966).

As bactérias proteolíticas utilizam particulas presentes no rúmen e não

diretamente do que é fornecido na dieta. As fermentadoras de aminoácidos geram

amônia, e gases cabônico e hidrogênio. Ainda existem bactérias fermentadoras

utilizadoras de amônia (Hungate,1966).

As bactérias fermentadoras de lipídios citadas por Hungate, 1966, são duas,

uma Veillonella alcalescens, e outra Anaerovibrio lipolytica, sendo esta com produtos

da fermentação: acetato, propionato, butirato e o succinato.

No último grupo estão as utilizadoras de ácidos, tendo como importância a

Vibrio succinogenes como fermentadora de formato e a Megasphaera elsdenii

importante fermentadora de lactato. Estudos mostram uma relação entre a

população de M. elsdenii e de S. bovis (Hungate,1966; Russell et al., 1981).

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A bactéria em estudo neste estágio foi inicialmente descrita por Elsden e

Lewis (1953) como um organismo LC (large coccus). Esse organismo continha as

características de uma bactéria gram-negativa, no formato de cocos, anaeróbica e

que utiliza como fonte de energia, DL- Lactato, glicose, frutose, maltose, manitol,

com a produção de hidrogênio, dióxido de carbono, acetato, propionato, butirato,

pentanato e hexanato.

Mais tarde, Elsden e Lewis (1956) propuseram uma classificação desse

organismo ruminal LC, mas devido às características, não encontraram um gênero

para sua classificação, reportando que o organismo possui uma similiaridade com

bactérias do gênero Neisseria e Moraxella.

Em artigo publicado por Gutierrez et al. (1958), foi sugerida uma classificação

para o organismo ruminal LC. Segundo os autores, esse organismo apresentava as

seguintes características: células vivas e esféricas com tamanho de 2,0 a 2,4 µm por

2,6 µm em pares ou em cadeias entre 16 e 20 células. Em esfregaços com

tingimento as bactérias apresentavam estrutura granular, sem observação de

cápsulas, imóveis, gram-negativas, todavia algumas cepas foram identificadas como

gram-positivas. Também apresentando diferenciais de tamanho quanto a culturas

antigas. A bactéria é anaeróbica obrigatória e é encontrada no rúmen de bovinos e

ovinos. Então essas características sugeriram que a bactéria pertencia ao gênero

Peptostreptococcus e a espécie designada Peptostreptococcus elsdenii.

As características morfológicas macroscópicas das colônias crescidas em

placas apresentam uma estrutura arredondada entre 1 e 4 mm de textura macia e

uma leve coloração com tons marrons. Dentre outras características, os substratos

utilizados como: lactato, glicose, frutose, e maltose, não metabolizando D- xilanose,

ramnose, salicina, manose, arabinose, esculina, rafinose, lactose, trealose, celobiose

e sorbitol, tendo como produtos da fermentação o lactato, dióxido de carbono,

hidrogênio, acetato, propionato, butirato e valerato. Os autores (Gutierrez et al.,

1958) ainda afirmam que na fermentação da glicose, além dos produtos

supracitados, também há a produção de ácido capróico.

Hungate (1966) resumiu algumas características da bactéria conhecida na

época como P. elsdenii afirmando que além das informações apresentadas por

Gutierrez et al, 1958, a bactéria em questão necessita de acetato e aminoácidos no

meio de cultura apresentando boa assimilação desses aminoácidos. Os aminoácidos

assimilados são L-serina que é metabolizada em dióxido de carbono, amônia e

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acetato, e L-treonina fermentada em dióxido de carbono, amônia, propionato, e

pequenas quantidades de acetato e valerato (Hungate, 1966).

No entanto, em um estudo apresentado por Rogosa (1971), este autor propôs

que a bactéria conhecida como Peptostreptococcus elsdenii deveria ser

reclassificada para um novo gênero: Megasphaera, o que significa grande esfera. O

autor justificou a mudança de gênero mostrando que o organismo LC descoberto por

Elsden e Lewis (1953), não apresentava as características de outras bactérias

pertencentes àquele grupo, como sendo organismos proteolíticos ou capazes de

metabolizar produtos da fermentação de proteínas. O autor também adicionou que a

P. elsdenii não era uma bactéria gram–positiva, mas sim, gram-negativa, sendo

realizado o teste de pigmentação e observação em microscopia eletrônica.

Sendo assim, Rogosa atualizou as informações da bactéria sendo ela

diplococos, podendo formar cadeias, células grandes chegando a diâmetros

superiores a 2µm, sem estruturas de locomoção, e não esporodifícam. Gram-

negativas, anaeróbicas obrigatórias, requerimentos nutricionais complexos, quimio-

heterotrófica, produtora de gases, e com a fermentação de glicose e lactato, há a

formação de ácidos graxos de cadeia curta, dióxido de carbono e hidrogênio. Tendo

como produtos da utilização do lactato a produção de acetato, propionato, ácidos

com quatro carbonos na estrutura como o butirato, e valerato. Quanto à fonte

principal de energia, a glicose, a bactéria apresentou uma produção menor de

acetato, propionato, butirato e valerato e apresentou grande produção de coproato.

Em 1989, Marounek et al, testaram diferentes cepas da bactéria em diferentes

fontes de carboidratos e também testaram a resistência à agentes antimicrobianos

utilizados como aditivos. Os autores ratificaram a preferência por lactato pela

bactéria bem como os produtos da fermentação do lactato e também da utilização da

glicose como uma fonte alternativa de energia apontado também estudo semelhante

realizado por Weimer e Moen (2013). Somando a isso, Marounek et al. (1989),

perceberam que algumas cepas apresentavam resistência a determinados agentes

antimicrobianos e outras não.

Depressão da gordura do leite

Alguns autores, associaram a Depressão da Gordura do Leite (DGL), com a

Megasphaera elsdenii (Weimer et al, 2010; Weimer et al, 2015; Maia et al, 2007).

Weimer et al, 2010, verificaram que vacas com DGL apresentaram uma abundância

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maior na população de M. elsdenii no rúmen do que animais que não apresentavam

a DGL. Essa associação foi feita também utilizando dietas com grande consumo de

carboidratos não-fibrosos.

Storry e Sutton (1969), notaram que mesmo em animais com dietas de alta

quantidade de grãos e pH ruminal baixo não apresentavam redução do teor de

gordura no leite. Mas, Counotte et al (1981), em sua pesquisa observaram que a

participação da Megasphaera elsdenii na digestão de lactato em dietas normais está

entre 60 e 80%. No entanto em dietas ricas em carboidratos rapidamente

fermentáveis e baixa fibra, a participação da Megasphaera elsdenii aumentou.

Posteriormente, foi afirmado que de fato a bactéria tem um papel importante na

depressão da gordura do leite, (Kim et al., 2002)

Bauman e Griinari (2003) em sua revisão verificaram uma assimilação entre

dietas com alto e baixo teor de fibra, eles observaram que, a produção de acetato e

propionato em diferentes dietas apresentam concentrações diferentes. Em dietas de

alta forragem, a porcentagem de acetato foi maior, enquanto a de propionato era

menor. As dietas de baixo teor de fibra, apresentaram uma redução na porcentagem

de acetato e um aumento na de propionato. No entanto em estudos citados

anteriormente,(Hungate, 1966; Gutierrez et al. 1958) mostram que parte das

bactérias utilizam o acetato como substrato. Assim, Daves (1967), afirma que a

proporção de acetato registrado não representa totalmente a produção real de

acetato. Visto que dietas de alta concentração de alimentos energéticos são

rapidamente fermentadas no rúmen, existe uma alteração na comunidade

microbiana deste compartimento, tornando necessária a adaptação dos animais

(Counotte e Pris, 1981).

Bauman e Lock (2004) citaram que em dietas com baixo teor de fibra, e

principalmente de vacas em lactação, são utilizados alimentos ricos em lipídios.

Esses alimentos ricos em ácidos graxos de cadeia longa e de cadeia ramificada, na

foma de óleos são insaturados, parecem ser tóxicos à microbiota ruminal,

necessitando da bio-hidrogenação efetuada por algumas bactérias, conforme

verificado por Kim et al. (2002), cepas da bactéria aqui em estudo, podem bio-

hidrogenar o ácido linoleico ao isômero trans-10, cis- 12 CLA em presença de lactato

ou lactato e tripticase. Os principais ácidos graxos presentes nessas dietas são os

ácidos linoleico e o linolênico. A bio-hidrogenação do ácido linoléico gera como o

primeiro produto um CLA, ácido linoleico conjugado, cis-9, trans-11 CLA, sendo o

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mais abundante no rúmen. Mas outro CLA apresenta grande interesse, o isômero:

trans-10, cis- 12 CLA, pois este CLA está associado à inibição da produção de

gordura nas glândulas mamárias, conforme demonstrado em pesquisa de Bauman e

Lock (2004).

Maia et al. (2007), em seu trabalho testou uma série de organismos ruminais

quanto a toxicidade dos ácidos graxos poli-insaturados, dentre os organismos estava

uma das cepas utilizadas por Kim et al. (2002) a cepa J1. Ambos os trabalhos

verificaram que essa cepa em questão não apresentou uma bio-hidrogenação

satisfatória do ácido graxo, o que se sugere que seja uma característica ligada a

determinadas cepas da bactéria e não necessariamente uma aplicação geral como

uma característica da espécie em estudo. Maia et al., ainda afirmam que outras

espécies ali presentes realizam maior bio-hidrogenação dos ácidos graxos.

No último trabalho publicado por Weimer et al. (2015) foram realizados 3

experimentos, em todos eles utilizando técnicas para identificar a persistência da

Megasphaera elsdenii no rúmen. No entanto, os autores verificaram que durante o

primeiro experimento a cepa utilizada para realizar as dosagens no rúmen

apresentaram uma redução ao longo do tempo, mas, em uma das vacas utilizadas

apresentou um pequeno aumento no último dia de coleta dos dados, sugerindo que

naquele animal, talvez a colonização do rúmen foi realizada efetivamente. Porém,

não se pode afirmar que aquela bactéria encontrada seria realmente a cepa

utilizada. No restante dos experimentos verificou-se que a bactéria ao longo do

tempo também passou a diminuir sua abundância.

Por fim, Weimer et al. (2015), formulam alguns questionamentos se a bactéria

realmente não permaneceu abundante no rúmen por questões de não fornecer um

ambiente menos competitivo, como o esvaziamento do rúmen, parcialmente, ou,

fornecer uma fonte de energia para a bactéria a fim de que isso favoreça a

colonização dele. Os autores ainda sugerem que impulsionando a dieta ao limite de

dietas que estão sujeitas a causar a depressão da gordura do leite poderiam ser

fatores colaborativos as causas da depressão da gordura do leite (Weimer et al,

2015).

Como é de conhecimento em diferentes áreas da ciência, a utilização de

ácido linoléico é benéfica, pois tem os seguintes efeitos desejáveis: prevenção de

doenças cornonárias, corrige possíveis deficiências de ácidos graxos essenciais

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ocorridas na infância, previnindo doenças autoimunes, os cânceres de mama,

próstata e cólon, hipertensão moderada e artrite reumatoide (Connor ,2000).

Contudo, no estudo foi apresentardo as dificuldades de melhorar a qualidade

do leite com ácidos graxos poli-insaturados. (Lanier e Carl, 2015) Os autores

comentam que um dos fatores que dificultam o enriquecimento do leite é o processo

de bio-hidrogenação que ocorre no rúmen pelas bactérias e a conversão do ácido

linoleico e linolênico em CLA e uma dessas isomerias, causa queda da podução da

gordura do leite (Bauman e Gruiinari, 2013; Lanier e Carl, 2015).

Outra observação feita por Lanier e Carl (2015) é a limitação da formação de

micelas no intestino, a absorção de ácidos graxos de cadeia longa pelas células

epiteliais. Além de citar a absorção desses ácidos graxos pelas células do tecido

mamário. Os autores ainda se referem à transgenia para aumentar a presença de

acidos graxos poli-insaturados no leite.

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4. RELATÓRIO DE ESTÁGIO

O U.S. Dairy Forage Research Center (USDFRC) é uma das 90 unidades de

pesquisas subordinadas ao Agricultural Research Service (ARS) (Serviço de

Pesquisas Agrícolas) pertencente ao U.S. Department of Agriculture (Departamento

de Agricultura dos Estados Unidos). O ARS possui um orçamento anual de 1,1

bilhão de dólares americanos, contando com mais de 6.000 empregados e 2.000

cientistas e pós-doutores. E sua organização está descrita na figura 1.

Figura 1. Organização do Serviço de Pesquisas Agrícolas

Departamento de Agricultura dos EUA

Secretaria de Agricultura

Subsecretaria, Pesquisa, Educação e Economia

Serviço de Pesquisas Agrícolas

Região do Pacífico Oeste

Regiões Planas

Região Centro - Oeste

Região Nordeste

Região do Sudeste

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O U.S. Dairy Forage Research Center é o único centro de pesquisas do

Serviço de Pesquisas Agrícolas que tem como missão melhorar o uso da forragem

na nutrição de vacas leiteiras. O mesmo possui um grupo de 17 cientistas e uma

fazenda experimental administrada em parceria com a University of Wisconsin

Agricultural Research Station (Estação de Pesquisa Agrícola da Universidade de

Wisconsin) e conta com uma área de 2.006 acres e possuindo atualmente 350

vacas. O mesmo também possui outro centro de pesquisa na cidade de Marshfield

além de fazenda experimental na cidade de Stratford, com 115 vacas em lactação e

530 novilhas.

O estágio ocorreu no U.S. Dairy Forage Research Center (Centro de

Pesquisa Americano de Forragem e Bovinocultura Leiteira) localizado no campus da

Universidade de Wisconsin, na cidade de Madison, no estado de Wisconsin, e na

fazenda experimental do mesmo centro de pesquisas, localizado na cidade de

Prairie du Sac, no mesmo estado, entre os dias 16 de outubro de 2015 e o dia 13 de

abril de 2016. A supervisão foi realizada pelo Dr. Paul James Weimer,

microbiologista, pesquisador e professor associado ao Departamento de

Bacteriologia da Universidade de Wisconsin, bem como pela Christine Odt, técnica

em ciência biológica laboratorial.

A carga horária do estágio fora de no mínimo de 4 horas diárias, podendo

chegar a 6 horas, alguns dias permanecendo por mais de 12 horas, devidos às

atividades de suma importância, tornando-se indispensável a minha saída do

laboratório não havendo a possibilidade de realizá-las em outro dia. Nos dias que o

período de 6 horas foi extrapolado, era permitido uma flexibilização dos horários nos

dias posteriores.

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5. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS E DISCUSSÃO

Preparo do meio de cultura

O preparo do meio de cultura seletivo mara Megasphaera elsdenii foi

necessário para as atividades durante o experimento. Durante a fase inicial, foi

necessário o isolamento da bactéria e para tal, 3 diferentes métodos foram testados.

O primeiro, a utilização de tubos, o segundo a utilização de placas e o terceiro

utilizando o método de diluição até a extinção. Os dois primeiros métodos receberam

uma adição, de 3% do volume da solução, de ágar.

A preparação do meio de cultura de todos os métodos foram preparados

conforme descrito a seguir:

Equipamentos:

- Cilindro de gás carbônico (CO2);

- Bomba de vácuo;

- Autoclave;

- Banho-maria.

Materiais::

- Método 1: tubos de cultura de 50 mL de capacidade, para a técnica de

isolamento em tubos, tampas de borracha suporte para compressão

das tampas.

- Método 2: frascos de 125 mL, tampas de borracha e lacres de

alumínio.

- Método 3: tubos de ensaio com capacidade para 25 mL, tampas de

borracha e lacres de alumínio.

Reagentes e solutos:

Meio Dehority Modificado (MDM) em g/L:

- 1,02g de extrato de levedura;

- 1,02g de trypticase;

- 1,17g de cloreto de sódio (NaCl);

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- 1,17g de sulfato de amônio ((NH4)2SO4);

- 0,065g de cloreto de cálcio dihidratado (CaCl2.2H2O);

- 0,065g de sulfato de magnésio heptahidratado (MgSO4.7H2O);

- 0,026g de sulfato de manganês monohidratado (MnSO4·H2O);

- 0,026g sulfato de ferro (2) heptahidratado (FeSO4.7H2O);

- 0,026g sulfato de zinco dihidratado (ZnSO4·2H2O);

- 0,0026g cloreto de cobalto dihidratado (CoCl2.2H2O);

- 3% de ágar*

LTY (Para o método 2 é colocado 10 vezes o volume a seguir):

- 0,40 mL monopotássio fosfato (KH2PO4) de 22,5 g/L;

- 0,40 mL carbonato de sódio (Na2CO3) de 80 g/L;

- 0,2 mL lactato de sódio 4mM.

Inibidores (Para o método 2 é colocado 10 vezes o volume a seguir):

- 0,05 mL de monensina 200mM;

- 0,1 mL de molibidato de sódio 100mM;

- 0,1mL de 2-bromoetanosulfonato 1mM;

- 0,1 mL de 1,8-di-hidroxi-antraquinona 3M.

Preparação do meio:

Para todos os métodos: preparar o MDM com aquecimento, sob asperção de

gas carbônico. No método 3, o ágar não é adicionado.

Para o método 1 e 3, é adicionado 8,8 mL do meio em cada tubo de cultura

sob aspersão de CO2, onde imediatamente após, os tubos foram vedados com

tampas de borracha e lacres de alumínio. E no método 2 é colocado 80 mL dentro

dos frascos e também são selados.

A seguir, os tubos passaram por um processo de retirada do ar do seu

interior, o qual consistiu de 3 minutos de vácuo alternando com 30 segundos de

injeção de CO2, repentindo 3 vezes o procedimento. E são autoclavados.

Após os tubos serem autoclavados, os tubos com ágar são deixados em

banho-maria e todos os tubos e frascos recebem os inibidores e LTY.

Isolamento:

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As cepas de M. elsdenii foram provenientes de vacas canuladas no rúmen,

sendo elas os animais com maior pré-disposição à depressão da gordura do leite

levando em consideração a porcentagem de gordura no leite sendo inferior a 3,2%

(Weimer et al, 2015). Dentre os animais do rebanho foram selecionadas 6 vacas,

das quais foram coletados 25mL de líquido ruminal filtrado em uma camada

quadrupla de gaze e armazenado em tubos tipo plástico com tampa de rosca e

acondicionados em gelo, transportados em caixa térmica. Adiante, os tubos com

tampa em rosca foram homogeneizados indivualmente e manualmente, e um após o

outro, foram abertos e coletado com o auxílio de uma agulha e seringa esterilizadas,

foram retirados 0,2 mL de liquido ruminal e inoculando em cada tubo contendo o

meio de cultura MDM e também LTY e os inibidores e colocadas em incubadora à

39°C e transferidas a cada 2 dias.

Os 3 métodos apresentam técnicas diferentes de inoculação e isolamento. E

serão descritos de maneira distinta.

O método de tubos rolados

Para a realização deste método é nescessário realizar a diluição seriada das

amostras inoculadas. Para isso, é necessário tubos contendo 9,8 mL de uma

solução de 20mM de fosfato de potássio dibásico anidro (K2HPO4) em condição de

anaerobiose e estéril. Como descrito anteriormente, é o método utilizando os tubos e

o procedimento está descrito à seguir:

Equipamentos:

- Rolador de tubos;

- Caixa térmica com gelo e água;

- Incubadora.

Materiais:

- Tubos de cultura de 50 mL de capacidade com o meio LTY e os inibidores;

- Tubos com a solução de K2HPO4;

- Seringas e agulhas.

Procedimento de inoculação:

Os tubos contendo a solução tampão de K2HPO4, são colocados em

sequência e identificados de 1 à 6 e com a identificação das amostras. As amostras

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a serem diluídas são as incubadas à partir do líquido ruminal previamente coletado.

Individualmente, com uma seringa e uma agulha esterilizadas, é retirado 0,2 mL do

inóculo e injetado no tubo 1 e homogeneizado, então com outro conjunto de seringas

e agulhas, retira-se 0,2 mL do tubo 1 e transferido para o tubo 2. Este procedimento

foi repetido até o tubo de número 4. A partir deste tubo, o volume a ser transferido foi

alterado para 1,2 mL. Este processo se repete até a diluição chegar ao tubo número

6.

Os tubos com ágar são identificados com o número correspondente de cada

diluição (1 até 6) e da amostra proveniente. Utilizando outro conjunto de agulhas e

seringas esterilizadas, transfere-se 0,2mL de cada diluição no respectivo tubo com

ágar, e este é imediatamente acoplado horizonalmente em um rotor na qual o tubo é

rotacionado em seu próprio eixo, e para a solidificação do ágar o tubo é aspergido

com água gelada. Este procedimento é necessário para que as bactérias não sejam

inviabilizadas devido a temperatura do tubo. Em seguida, o tubo é armazendo em

incubadora à 39ºC. O crescimento das colônias deve ser acompanhado diariamente.

Procedimento de isolamento:

Equipamentos:

- Autoclave;

- Camara anaeróbica;

- Incubadora.

Materias

- Tubos com as culturas;

- Haste de metal com garra;

- Tubos esterilizados com solução tampão de K2HPO4;

- Seringas e agulhas;

- Pipetas de Pasteur;

- Tubos com o meio de cultura MDM líquido, LTY e inibidores sem ágar;

- Álcool 70.

Inicialmente as seringas, agulhas, pipetas, os tubos com a solução são

esterilizados, e juntamente com a mistura colocados dentro da câmara anaeróbica

no dia anterior para que o oxigênio remanecente fosse perdido.

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No momento da coleta das colônias, uma haste de metal com garra para fixar

os tubos é colocada dentro da câmara anaeróbica, juntamente com os tubos

contendo ágar e as colônias e os tubos com o meio liquido. As colônias são

selecionadas e os critérios para a escolha das colônias foram os seguintes:

tamanho, distância em relação a outras colônias e morfologia. Foram coletadas

aproximadamente 5 colônias de cada grupo de diluição, as diluições que

apresentaram as melhores colônias para a retirada foram à partir da terceira diluição.

Abre-se o tubo a ser utilizado, e com o auxílio da pipeta de Pasteur

esterilizadas a colônia é retirada, em seguida, ela é diluída em um tubo contendo

aproximadamente 0,07 mL da solução tampão e com uma seringa e agulha estéreis

o conteúdo foi colocado dentro do tubo com o meio de cultura com a tampa que

estava submergida em álcool para evitar contaminação. Após realizar esse

procedimento com todos os tubos, os mesmos foram colocados em uma incubadora

de 39ºC e acompanhados diariamente para checar se as bactérias estavam se

multiplicando.

O método de placas de Petri

Equipamentos:

- Camara anaeróbica;

- Incubadora.

Materias:

- Frascos com meio LTY e os inibidores de crescimento;

- Placas de Petri;

- Ansa de inoculação;

- Agulhas e seringas;

- tubos contendo o meio de cultura liquido;

Ao dia anterior a preparação das placas, as placas de Petri sem o meio de

cultivo foram colocadas dentro da câmara anaeróbica para trocas gasosas.

No dia de preparação das Placas, coloca-se dentro da câmara e são

imediatamente abertos espalhando-se o conteúdo nas placas e deixados em

repouso para o ágar solidificar. Também são colocadas dentro da câmara

anaeróbica as ansas de inoculação descartáveis, agulhas e seringas.

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No dia seguinte, observa-se o ágar do meio, caso estiver sólido, as amostras

a serem inoculadas são colocadas dentro da câmara, caso contrário sólidos espera-

se mais um dia para a inoculação.

No dia da inoculação o procedimento foi o seguinte: destampar a placa de

Petri, segurando a tampa, colocando-se uma gota na extremidade esquerda. Com a

alça de inoculação posicionada sobre a gota, foram feitos movimentos verticais, da

esquerda para a direita, até percorrer aproximadamente 30% da placa, então, no

limite superior da placa, o ágar é marcado com a ansa. A placa então é rotacionado

aproximadamente 90º, e com a ansa passando por apenas alguns milímetros e uma

vez sobre o conteúdo já espalhado, repetindo os movimentos verticais da esquerda

para a direita, sem tocar onde já havia sido espalhado, até aproximadamente 50%

dos 70% restante. A placa foi rotacionada novamente aproximadamente 60º, e

repetindo o que fora realizado anteriormente, mas dessa vez os movimentos da

esquerda para a direita se seguiram até a extremidade oposta, passando novamente

sobre os primeiros 30% que já haviam sido espalhados.

Esta técnica permite a diluição ao longo da placa, sem a necessidade de

utilização dos tubos com a solução tampão. Após a preparação de todas as placas,

elas foram colocadas na incubadora dentro da câmara até apresentarem o

crescimento das colônias.

O método de diluição até a extinção

Equipamentos:

- Incubadora.

Materias:

- Agulhas e seringas;

- Tubos contendo o meio de cultura LTY e inibidores.

Os tubos são identificados e em cada transferência as agulhas e seringas são

trocadas. Do tubo inicial com o inóculo original, é transferido 0,1mL do inóculo ao

tubo de número 1. Então 0,1 mL do tubo 1 é transferido para o tubo 2. Este

procedimento é repetido até o tubo de número 4. Os tubos de número 5 e 6,

receberam 1,1 mL do tubo anterior. Os dois últimos tubos receberam um volume

maior para permitir que algumas células pudessem chegar aos últimos tubos e assim

eles apresentassem uma cultura pura ou mais limpa que os anteriores. E, de fato,

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das 5 amostras, apenas 1 tubo se mostrou livre de contaminação. Os tubos foram

incubados em estufa à 39°C.

Passados dois dias de incubação, observa-se em microscópio a presença ou

não de outras células no tubo, e para confirmar a pureza da cultura, é realizada uma

nova diluição até a extinção com o mesmo formato de diluições, e o tubo com o

maior grau de diluição é selecionado por apresentar a cultura mais pura. Após a

primeira transferência, coloca-se 1 mL do meio de cultura em 1 mL de glicerol em

frasco selado, esterilizado e anaeróbico, com injeção de gás carbônico (CO2) e

congelado em freezer à -80ºC.

O experimento com vacas leiteiras

O experimento teve como foco causar a depressão da gordura do leite em

vacas em lactação dosadas com as cepas 4257 e 5045 de M. elsdenii. Utilizaram-se

9 animais divididos em 3 grupos, sendo um controle e nos outros dois cada grupo

recebeu 1 cepa da M.elsdenii isolada de vacas com depressão da gordura do leite,

as cepas foram isoladas em laboratório sendo que uma delas (cepa 5045) pelo

método da diluição até a extinção e a outra (cepa 4257) utilizando placas de Petri. O

experimento fora realizado na fazenda do Centro de Pesquisas na cidade de Praire

du Sac, Wisconsin.

Antes do início do experimento os animais foram organizados nos 3 grupos, a

ração e as sobras foram pesadas. Os animais foram também ordenhados 3 vezes ao

dia, sendo duas ordenhas pela manhã, e uma pela tarde, e coletadas amostras de

todas as ordenhas desde o período anterior ao experimento até o último dia. As

amostras foram enviadas para a análise da gordura do leite ao laboratório AgSource

Verona, localizado na cidade de Verona, também no estado de Wisconsin.

Previamente ao início da dosagem do experimento, efetuo-se um teste, no

qual, pegou-se um animal e esvazio-se aproximadamente 50% do conteúdo ruminal

verificando-se se a vaca teria algum comportamento como movimentos laterais

indicando desequilíbrio, e também a produção leiteira nos dias que se seguiram.

Não foi identificada nenhuma alteração nem quanto ao desempenho nem na

diferença da quantidade ingerida de alimento. Observou-se que imediatamente após

esvaziar o rúmem parcialmente, a vaca começou a se alimentar.

O experimento foi dividido em 3 partes, a parte anterior a dosagem, a parte de

dosagem e a parte posterior a dosagem.

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Na parte anterior a dosagem, os animais foram adaptados à uma dieta que

prédispõe os animais a entrarem em depressão. O leite foi analisado todos os dias.

Coletou-se 2 amostras, 4 e 3 dias anteriores ao período de dosagem, da

porção líquida do conteúdo ruminal e também anotado o pH. Nesse mesmo periodo,

separou-se aproximadamente 24 litros de cultura em 3 diferentes galões de vidro,

previamente esterilizados. Um desses galões destinou-se para o grupo controle,

outro recebeu ao dia anterior a dosagem a cepa 4257 e outro a cepa 5045. Cada

galão foi inoculado com 80 mL de inoculo preparado no dia anterior à inoculação

conforme mostrado na tabela 2.

Durante a semana de experimento, os animais dos 3 grupos foram

esvaziados parcialmente, a digesta foi colocada em baldes e pesada

individualmente. Foram coletadas amostras da porção líquida do conteúdo ruminal

imediatamente antes de dosar os animais, bem como o pH. Também retirou-se uma

amostra de líquido ruminal 1 hora após dosar, para permitir que ocorra uma

homogeneização do conteúdo ruminal. Durante a dosagem também se optou por

adicionar uma solução de lactato de sódio (100 g) para fornecer uma fonte inicial de

energia para a bactéria. No dia seguinte à dosagem, foram também coletadas

amostras de líquido ruminal. Todos os animais receberam a mesma quantidade de

lactato, incluindo os do grupo controle.

Tabela 1 - Resumo das atividades realizadas na semana de inoculação da cultura

nos animais

Domingo Segunda-feira

Terça-feira Quarta-feira

Quinta-feira

Sexta-feira Sábado

03/01/2016 04/01/2016 05/01/2016 06/01/2016 07/01/2016 08/01/2016 09/01/2016

Preparação dos galões

inoculação dos frascos

10/01/2016 11/01/2016 12/01/2016 13/01/2016 14/01/2016 15/01/2016 16/01/2016

Inoculação dos galões

Primeira dosagem

Inoculação dos galões

Segunda dosage

Inoculação dos galões

Terceira dosage

Preparação dos galões

Preparação dos galões

Inoculação dos frascos

Inoculação dos frascos

Dosou-se 3 vezes durante a semana do experimento e amostras foram

coletadas entre os dias das dosagens.

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Na terceira parte do experimento também se coletou amostras de líquido

ruminal e pH nos dias 1, 4, 6, 10, 13 e 17 a partir do último dia da terceira

inoculação. As amostras foram guardadas em freezer à -80ºC para futuras análises.

No entanto, nos dias de amostragem, parte delas fora direcionada para análise de

ácidos graxos voláteis. Nessa fase foram feitas as análises de biologia molecular

como extração e purificação de DNA e sequenciamento.

Purificação e extração do DNA

O método aqui utilizado para extração e purificação de DNA está descrito no

trabalho de Weimer e Stevenson (2007), e o protocolo está apresentado a seguir:

- Equipamentos:

o Centrifuga refrigerada;

o Microcentrífuga

o Homogeneizador bead beater;

o Banho-maria;

o Capela de exaustão

o Espectrofotômetro;

o Freezer;

o Refrigerador.

- Materiais:

o Pipetas de precisão;

o Kits de ponteiras para pipetas de precisão;

o Tubos para microcentrífuga;

o Tubos de rosca para microcentrífuga

o Buffer de extração de DNA;

o Microesferas de zircônia;

o Solução de 20% SDS;

o Fenol para DNA;

o Clorofórmio para DNA;

o Álcool 70 recém preparado;

o Isopropanol;

o Acetato de sódio 3M;

o TE;

o TRIS.

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Para a purificação do DNA, as amostras de liquido ruminal tiveram que ser

descongeladas em água em temperatura ambiente, e transferido aproximadamente

12mL do liquido para tubos de tampa em rosca para centrífuga. Em seguida, as

amostras foram centrifugadas por 25 minutos e numa velocidade de rotação de

8.000g (78.453,2m/s2) e temperatura de 4°C. Após as amostras serem

centrifugadas, a porção liquida é descartada. O pelete é ressuspendido em agitador

do tipo vortex com 3mL de buffer de extração (100mM TRIS/HCl, 10mM EDTA,

0,15M NaCl, com um pH de 8,0). A partir dessa nova mistura, transferiu-se 1000 µL

para tubos de rosca de 2mL para microcentrífuga contendo 0,5g de microesferas de

zirconia. É adicionado 50 µL de uma solução de 20% SDS (Dodecil sulfato de sódio)

e 700µL de fenol para DNA (pH 8,0). Esses tubos são colocados em um

homogeneizador bead beater por 2 minutos, deixados em banho-maria de 60°C por

10 minutos e colocados de volta no homogeneizador por mais 2 minutos. Logo após,

são colocados em uma microcentrífuga por 10 minutos numa velocidade de 12.000

rpm.

Após as amostras serem centrifugadas, a porção sobrenadante,

aproximadamente 1000µL, é transferida com o auxílio de pipetas de precisão e

ponteiras descartáveis para novos tubos de microcentrífuga, desprezando o material

sólido. Após essa primeira etapa, é adicionado 500µL de fenol para DNA. As

amostras devem ser agitadas no agitador tipo vortex por 10 segundos e

imediatamente colocadas na microcentrífuga com a mesma velocidade de rotação

por 10 minutos.

Na segunda extração, é adicionado aproximadamente 700µL do

sobrenadante para tubos novos e 500µL de fenol. Caso não seja possível transferir o

volume proposto, deve-se adicionar mais do buffer de extração, respeitando o

volume máximo de 100µL. As amostras são agitadas novamente e colocadas na

centrifuga, mas desta vez por 5 minutos.

Na terceira extração, retira-se desta vez 650µL da porção sobrenadante, e

adiciona-se 500µL de fenol. Observando se existe a necessidade de adicionar mais

buffer, agitar por 10 segundos e cetrifugar por 5 minutos.

A quarta e quinta extração são semelhantes. Transfere-se 650µL do

sobrenadante, para novos tubos, e adicionado 250µL de fenol para DNA e 250µL de

clorofórmio para DNA, verificando se a necessidade de adicionar mais buffer. Os

tubos são agitados e colocados novamente na centrífuga por 5 minutos.

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Na sexta extração, retira-se novamente 650µL do sobrenadante e transfere-

se em novos tubos, nessa penúltima etapa é colocado 500µL de clorofórmio para

DNA e buffer se for preciso, as amostras são agitadas no agitador, e centrifugadas

por 5 minutos.

Na sétima e última extração, retira-se 550µL da porção sobrenadante e

adiciona-se 400µL de clorofórmio, caso necessário, adiciona-se mais buffer. Por fim,

agita-se por 10 segundos e centrifugado por 5 minutos. A necessidade de adicionar

o buffer de extração em todas ou quase todas as etapas é em razão de não perder

grande quantidade de DNA na porção líquida, e manter o volume constante.

Após essas 7 etapas, coloca-se a porção sobrenadante em novos tubos, e o

volume retirado é anotado pois necessita-se calcular a quantidade de novos -

reagentes para adicionar no conteúdo retirado. Calcula-se a quantidade de 3M de

acetato de sódio pela fórmula: “volume do sobrenadante x 0,11” também calcula-se

o volume de isopropanol adicionado, pela fórmula “volume do sobrenadante x 0,66”.

A partir desse momento, caso seja observado com atenção pode-se verificar os

filamentos de DNA no líquido. Cuidadosamente o tubo deve ser agitado

manualmente aproximadamente 10 vezes, e colocado na centrifuga mantendo a

velocidade de 12 mil rotações por minuto, mas por um período de 20 minutos.

Após os 20 minutos retiram-se os tubos da centrífuga e no fundo do tubo

observa-se um pélete, o que significa que a extração foi realizada de forma correta,

descarte-se o liquido, e adiciona-se 1000µL de uma solução de álcool 70, e

centrifuga-se por 5 minutos. Descarta-se o liquido, e repete-se o procedimento mas

dessa vez com 500µL de álcool 70. Centrifuga-se por 3 minutos, e descarta-se o

liquido. Os tubos devem permanecer abertos, no entanto protegidos para não

ocorrer contaminação das amostras e permitir que percam umidade. No dia seguinte

adiciona-se 100µL de TE (10mM TRIS/HCl, 1 mM EDTA em pH 8,0) e estoca-se em

freezer -20°C.

Após o final da extração e purificação do DNA, todas as amostras devem ser

quantificadas em um equipamento de fluorometria Qubit 2.0 (ThermoFisher

Scientific, EUA), e os resultados são anotados para posterior diluição das amostras.

Essas amostras devem estar com a mesma concentração para a realização da

identificação das espécies presentes no rúmen.

Como a concentração de cada amostra é diferente, individualmente, elas

necessitaram ser diluídas em TRIS, para todas elas manterem a mesma

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concentração de 5ng/µL. Após a diluição, as amostras devem ser mantidas

refrigeradas em temperatura de 4°C para posterior preparação do sequenciamento.

Preparação da biblioteca de sequenciamento metagenômico do gene

16S

O gene 16S do DNA ribossômico é utilizado em estudos em uso de

sequenciamento e identificação filogenética em nível de gênero e espécie em

diferentes microrganismos. Esse gene contém aproximadamente 1500 pares de

bases. (Woo et al., 2008)

O protocolo utilizado, foi o protocolo descrito para a utilização do equipamento

Illumina MiSeq System.

A primeira etapa para a preparação é amplificar a área de interesse do DNA

contido nas amostras, para isso utiliza-se dois marcadores genéticos para sinalizar o

trecho a ser amplificado. Para esse processo foram necessários uma placa para

PCR com 96 câmaras de 0,2 mL e dentro de cada câmara se adicionado 2,5µL da

amostra que havia sido diluída para chegar à concentração de 5ng/µL, também foi

adicionado 5µL dos marcadores, primers, de início e 5µL de marcadores, primers, de

conclusão, sendo que ambos na concentração de 1mM. Por fim, se adiciona 12,5µL

de uma solução de buffers, DNA polimerase, nucleotídeos e MgCl2, a solução

utilizada é comercializada com o nome 2x KAPA HiFi HotStart Ready Mix, aqui

sendo utilizado o nome de “Solução KAPA”. Sela-se a placa utilizando-se um

microfilme ‘A’ e o PCR realiza-se em um equipamento de ciclo termal seguindo a

seguinte configuração:

95°C por 3 minutos;

25 ciclos de:

- 95°C por 30 segundos,

- 55°C por 30 segundos,

- 72°C por 30 segundos;

72°C por 5 minutos;

Manter em 4°C.

Retirando-se a placa com as amostras do primeiro PCR, necessita-se realizar

a primeira limpeza, nessa limpeza utiliza-se microesferas magnéticas “AMPure XP”.

Antes de começar o processo de limpeza as esferas devem ser agitadas em agitador

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do tipo vortez por 30 segundos, e a placa com as amostras devem ser centrifugadas

numa rotação de 1000g por um minuto.

Utilizando uma pipeta multicanal, adiciona-se 20µL da solução de

microesferas em cada compartimento da placa, homogeineizando as amostras na

placa. Repetir em todas as colunas e trocar de ponteiras em cada pipetada. Deixar a

placa descansar em temperatura ambiente por 5 minutos e em seguida colocar ela

em uma plataforma magnética por 2 minutos. Remover e descartar a porção

sobrenadante. Prepara-se uma solução de 80% etanol, e aplicar 200µL em cada

campo, deixa-se descansar por 30 segundos, remove-se e descarta o sobrenadante.

Repete-se o mesmo processo com a solução de etanol, mas, com uma pipeta com

menor capacidade, remover o restante de líquido de cada campo e deixar secando

ao ar por 10 minutos.

Passados os 10 minutos, remove-se a placa da placa magnética e mistura-se

os sólidos com 52,5µL de uma solução TRIS na concentração de 10mM.

Ressuspende-se cuidadosamente as microesferas. Encuba-se em temperatura

ambiente por 2 minutos, recoloca-se a placa na plataforma magnética e aguardar por

2 minutos. Usando-se uma pipeta multicanal, transfere-se 50µL do conteúdo

sobrenatante para uma nova placa para PCR.

A segunda reação de PCR codifica-se cada amostra utilizando-se primers que

irão identificar aquela amostra específica. Na placa utiliza-se um linha com 12

números diferentes e uma coluna com 8 números distintos, sendo assim gera-se

uma combinação de 96 sequências distintas conforme demonstrado na figura 2.

Inicialmente, transfere-se da placa anterior apenas 5µL de cada amostra para

uma nova placa, sendo que a anterior pode ser congelada em freezer a -20°C. Em

cada amostra coloca-se 5µL de um primer representando um número de uma coluna

e 5µL de outro primer representando um número de cada linha, sendo que todas as

amostras que se encontram na mesma coluna recebem o mesmo primer daquela

coluna e as amostras na mesma linha recebem o mesmo número do primer naquela

linha. Adiciona-se também 25µL de solução KAPA e 10µL de água para PCR.

Gentilmente mistura-se cada solução e sela-se com microfilme “A” e centrifuga-se a

placa por um minuto de rotação de 1000g.

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Figura 2. Disposição dos primers de identificação das amostras

Fonte: Trombetta et al. (2014).

Novamente, o PCR realiza-se em um equipamento de ciclo termal seguindo a

seguinte programação:

95°C por 3 minutos;

8 ciclos de:

- 95°C por 30 segundos,

- 55°C por 30 segundos,

- 72°C por 30 segundos;

72°C por 5 minutos;

Manter em 4°C.

Após o PCR, realiza-se uma nova limpeza utilizando-se as microesferas

magnéticas. Retira-se as amostras do equipamento, centrifuga-se a uma velocidade

de rotação reduzida, 280g por um minuto. Enquanto as amostras são centrifugadas,

o frasco com as microesferas é agitado por 30 segundos no agitador tipo vortex para

dispersão das mesmas. Em seguida adiciona-se 56µL das microesferas em cada

amostra e gentilmente mistura-se. Deixar em repouso em temperatura ambiente por

5 minutos. Então coloca-se a placa na base magnética por 2 minutos. Utiliza-se uma

pipeta multicanal, remove-se e descarta-se o sobrenadante. E adicionar 200µL de

uma solução recentemente preparada de álcool 80%, remove-se o sobrenadante e

adiciona-se novamente 200µL de álcool. Com o auxílio de uma pipeta, remove-se o

restante de líquidos e deixa-se secar ao ar por 10 minutos.

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Após perder a umidade, remove-e a placa da base magnética, e adiciona-se

27,5µL de solução TRIS com concentração de 10 mM em cada amostra mistura-se

delicadamente até ressuspender as microesferas. Deixa-se em repouso por 2

minutos e em seguida coloca-se sobre a placa magnética e aguarda-se 2 minutos.

Utilizando-se uma pipeta multicanal, transfere-se para uma nova placa 25µL de cada

amostra. Essas amostras são mantidas refrigeradas a 4°C para realização da

eletroforese em gel de agarose.

Eletroforese

A eletroforese foi realizada em gel de agarose a 1% utilizando-se o

equipamento Sub-Cell 96 (BioRad, EUA), solução buffer 1x TAE, e gel de agarose.

Para preparar o buffer 50X TAE é necessário 60,5g de TRIS, 14.3mL de ácido

acético glacial, e 25mL de 0,5M de EDTA (pH 8,0), e ajusta-se o volume para

250mL. Para diluir a solução de 50x TAE para 1x basta apenas diluir 5mL de 50x

TAE em 245 mL de água ultrapurificada. Portanto, para uma solução de 3L utilizou-

se 60mL de 50X TAE e dilui-se em 3,94L de água ultrapurificada. No equipamento

de eletroforese fora utilizado aproximadamente 2,5L desse buffer.

Para o gel de agarose fora utilizado 375mL do buffer 1X TAE, 3,75g de

agarose e 37µL. Tudo foi misturado e aquecido até a ebulição e deixado esfriar até

atingir uma temperatura de 60°C. Então, a solução do gel foi derramada dentro da

forma e o pente com a marcação dos compartimentos para colocar as amostras e

deixado refrigerar a 4°C, após 50 minutos, o pente foi removido e o gel junto com o

suporte foi colocado dentro do equipamento de eletroforese. Em seguida,

preencheu-se com o restante do buffer até o gel de agarose ficar completamente

submerso. As amostras provenientes das placas do PCR, foram misturadas em

partes iguais com um marcador molecular, e também utilizou-se um sinalizador

molecular de 100 pares de base para indicar a posição para cortar as regiões

necessárias no gel. As amostras percorrem no sentido ânodo-cátodo (200 V).

Após ocorrer a migração de aproximadamente ¾ das amostras no gel, o gel

foi transferido para uma base com luz ultravioleta, o equipamento utilizado fora o

Safe Imager 2.0 Blue Light Transilluminator (ThermoFisher, EUA). As bandas

sinalizadas foram cortadas, identificadas, armazenadas e refrigeradas a 4°C. O

procedimento seguinte foi separa o gel do DNA, para isso utilizou-se o protocolo de

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kit de recuperação de DNA Zymoclean (Zymo Research, EUA). Inicialmente, foi

necessário diluir o buffer de limpeza do DNA em etanol 100%.

O primeiro passo após a retirada do DNA refrigerado foi adicionar 3 vezes o

volume de agarose de um buffer específico para dissolver o gel de agarose, sem

prejudicar o DNA, então os tubos foram incubados em temperatura de 37-55°C por

um periodo de 5-10 minutos até o gel estar completamente dissolvido. Em seguida, a

mistura de gel de agarose e de buffer foi transferida para um tubo contendo uma

matriz de sílica no fundo permitindo a passagem da porção líquida, mas filtrando o

DNA. Centrifugado por um minuto e o resíduo foi descartado, em seguida esse DNA

na matriz foi lavado com o buffer de limpeza duas vezes sendo em cada uma dessas

vezes colocado 200µL de buffer e centrifugado em cada uma dessas vezes também

por um minuto. Então, a coluna é colocada em um novo tubo e um buffer de eluição

se adicionado diretamente na matriz e centrifugado por um minuto. O tubo então é

refrigerado. Esse procedimento foi realizado em todas as amostras.

Após a conclusão da separação do DNA dos tubos, se realizou uma nova

quantificação do DNA e o mesmo foi diluído em uma solução de 10mM TRIS pH 8,5

a uma concentração de 4nM em 10µL. Neste momento todas as amostras foram

combinadas sendo 5µL de cada amostra dentro de um novo tubo para

microcentrífuga, após a combinação, foi feita uma nova leitura utilizando-se o

espectrofotômetro para alta sensibilidade, e confirmado ou não a diluição na

concentração desejada, caso contrário, uma nova diluição é realizada até atingir a

concentração adequada e prosseguir com a etapa de sequenciamento.

Sequenciamento metagenômico

Para o sequenciamento, uma série de procedimentos devem ser realizados,

de acordo com o manual de instruções, como uma pré lavagem com Tween 20, duas

vezes. Durante as lavagens o cartucho para a preparação do DNA deve passar por

descongelamento em água, em temperatura ambiente, após descongelado coloca-

se em gelo.

Com a biblioteca das amostras de DNA em concentração de 4nM, novamente

são diluídas a uma concentração de 2nM, e em um tubo é colocado 10µL dessa

mistura e 10µL de 0,2N NaOH e em outro tubo, é colocado 3µL de TRIS 10nM pH

8,5, 5µL 0,2N NaOH e 2µL de 10nM PhiX (adaptador ligante em toda a biblioteca

sinalizado como controle para o sequenciamento). Os dois tubos foram agitados em

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agitador tipo vortex, e encubados a temperatura ambiente por 5 minutos. Em

seguida, os tubos foram diluidos em buffer de hibridização a chegarem à mesma

concentração de 20ρM.

Ambos os tubos foram diluidos novamente no buffer de hibridização ao atingir

uma concentração de 11ρM. As duas soluções então foram combinadas, sendo

mantido um máximo de 15% da solução de PhiX para evitar a sobreposição das

amostras dificultando a leitura do sequenciador. A mistura então foi colocada em

bloco aquecido a 96°C por 2 minutos e imediatamente após, a amostra foi

conservada em gelo.

Após o descongelamento do cartucho e deixado em repouso no banho de

gelo, ele deve ser agitado cuidadosamente e verificar se todas as posições estão

descongeladas e homogêneas. Com o auxílio de uma ponteira e uma pipeta, o selo

da posição que irá receber a amostra deve ser rompido, e com uma nova ponteira

deve ser carregado 600µL da mistura 85% biblioteca denaturada e 15% PhiX. O

cartucho deve ser colocado novamente em gelo. Trocam-se as luvas para evitar

contaminação, carregado-se uma nova célula de fluxo no equipamento de

sequenciamento, aqui neste trabalho utilizado o Illumina MiSeq, (Illumina, EUA)

Então os reagentes são carregados, e a tabela com as informações de cada

amostra são inseridas no sistema do equipamento e por fim se inicia o

sequenciamento. O perído de sequenciamento das amostras varia de acordo com a

quantidade de amostras, bem como o número de leituras realizadas pelo

equipamento.

Após o período total de leituras, o equipamento determinou através da leitura

da biblioteca, a composição bacteriana de cada amostra. O foco neste estudo foi

apenas analisar a população da bactéria Megasphaera elsdenii.

Como pode-se ser observados nas figuras 3 e 4, O primeiro gráfico, figura 3,

mostra a porcentagem de leituras da população de Megasphaera elsdenii no líquido

ruminal. Nos dias de inocular a bactéria foi coletado o líquido ruminal antes de dosar

a cultura nos animais e também uma hora após a inoculação. É possível observar

um aumento da população logo após as inoculações em todos os dias, com exceção

dos animais 4403, 5009, grupo controle, não apresentaram grandes variações

quanto à presença de Megasphaera elsdenii. No entanto, o que foram encontradas,

são populações nativas, e não foram inoculadas no experimento, como descrito

anteriormente. É possivel observar que após a última inoculação (19/01/16) ocorreu

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um grande aumento da população, mas, nos dias seguintes, a população entrou em

declínio. Ao final do experimento pode-se verificar que a população de M. elsdenii

começou a se estabilizar, e ocorreu um pequeno aumento na poulação em quase

todas as amostras, não sabendo se as populações presentes no rúmen são das

cepas inoculadas, ou da população nativa. No entanto, é possível verificar um

aumento da bactéria. Concomitantemente, é possível observar maiores alterações

quanto à porcentagem de gordura no leite.Weimer et al. (2015) observaram o

mesmo efeito em seu trabalho.

Figura 3. Porcentagem (%) de leituras de Megasphaera elsdenii ao longo do

experimento.

No gráfico seguinte, figura 4, é possível observar uma grande alteração na

porcentagem de gordura no leite após o período de inoculação da bactéria. Os

animais apresentaram uma queda na porcentagem de gordura no leite, não

desmostrado nos animais que estavam no grupo controle. O animal 4257

apresentou uma elevada produção de gordura ao final do seu período no

experimento, pois a vaca apresentou um quadro grave de mastite e por esta ocasião

a produção de leite não era elevada, aumentando o teor de gordura. O animal

precisou ser retirado do experimento. Estudos apontam que um animal é

considerado com depressão da gordura do leite, com porcentagem de gordura

inferior a 3,2%. (Weimer at al, 2015; Weimer at al., 2010). Os animais do grupo

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controle 4403 e 5009 não apresentaram teor de gordura no leite inferior a 3,2%. No

entanto, um terceiro animal, 4273, pertencente ao grupo controle, apresentou um

desempenho diferente, demonstrando que o animal mostrou sintomas da depressão

ao longo do experimento.

Figura 4. Porcentagem (%) de gordura ao longo do periodo do experimento

É possivel observar que 4273, foi o animal que permaneceu na area inferior a

3,2% de gordura no leite por mais tempo. Logo após a primeira dosagem, o animal

apresentou uma grande queda na produção da gordura, e apresentou dificuldades

para a recuperação ao longo do experimento, sendo assim, até o último dia, o

animal ainda não havia saido da área inferior a 3,2%, sugerindo que o animal

mostrou queda na gordura do leite com a cepa presente ali anteriormente, ou seja,

com sua própria comunidade microbiana. Os animais do grupo 1 (4257, 4294, 5298)

que receberam a cepa 4257, apresentaram um teor de gordura inferior as 3,2%,

ainda como particulari-dade o animal 5298, que apresentou uma maior dificuldade

para sair da região inferior a 3,2%. Pode-se afirmar que este animal, manteve o

número elevado na população de M.e. no rúmen, sugerindo que a população se

fixou, mas ao longo do tempo, o animal se recuperou, mas a população da bactéria

mostrou um crescimento no final do experimento.

Os animais do grupo 2 (4281, 4282, 5053) que receberam a cepa 5045

apresentaram pouca ou nenhuma interferência na redução da porcentagem de

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gordura no leite, e se recuperaram rapidamente. É possivel observar que a

porcentagem de gordura do leite ao final do experimento mostrou pouca variação a

partir do momento que o perfil de Megasphaera elsdenii. tornou-se ao que era

aproximadamente o mesmo ao início do experimento.

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6. CONCLUSÕES

Como conclusão verificou que a utilização de técnicas de biologia molecular e

microbiologia é possivel afirmar que ao inocular grandes quantidades de bactérias

no rúmen existem certas alterações na comunidade ruminal e também efeitos que

estão associados à resposta do animal. Porém, não se pode afirmar que a

Megasphaera elsdenii é o agente causador da depressão da gordura do leite, e

também é necessário avaliar a característica das cepas. Estudos devem ser

realizados para verificar se as cepas testadas e outras a serem isoladas realizam a

bio-hidrogenação do ácido linoléico e causam a depressão da gordura do leite.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estagiar em um país estrangeiro não traz apenas o aperfeiçoamento de uma

língua, mas uma imersão em costumes, culturas e filosofia de vida bem como

comportamentos sociais, tanto na relação interpessoal como também em res-

significação do modo de viver, pensar e agir.

A experiência de estagiar nos Estados Unidos da América, mais precisamente

no US Dairy Forage Research Center em Madison, trouxe um suporte técnico para a

pesquisa brasileira, e uma atualização dos conhecimentos adquiridos quanto a

microbiologia ruminal, e a aplicabilidade de um zootecnista na pesquisa para

compreender melhor a vida microbiana, especialmente no conhecimento global das

diferentes particularidades dos ruminantes, aqui neste trabalho, o objeto de estudo

os bovinos leiteiros. Além de melhorar as habilidades técnicas em laboratório,

percebeu-se que muitas vezes, não se deve seguir precisamente um manual ou um

protocolo, principalmente enquanto realizando pipetagens, ou a quantidade de buffer

a adicionar numa determinada amostra para manter o volume em uma quantidade

adequada, ou esperar alguns minutos a mais ou a menos. A sensibilidade e a

racionalidade andam juntos na pesquisa. Seguir um manual ou um protocolo com

extrema perfeição pode gerar também baixos resultados.

Quanto ao trabalho com os animais, também a sensibilidade e o cuidado,

devem ser respeitados, sempre se levando em consideração o bem-estar aprendido

e também sempre citado por todos os professores, independente da disciplina

ministrada. Todos sempre falavam do bem-estar animal, de como se aproximar dele,

ambiência, tonalidade da voz, olhares e toque. Apesar de todos os animais estarem

acostumados com seres humanos por perto, dois desses animais não permitiram a

aproximação de um dos investigadores, demonstrando claros sinais de atenção, e

estranhamento, sendo assim a melhor decisão seria afastar imediatamente do

animal e permitir que outro investigador realizasse os devidos procedimentos de

amostragem.

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Trabalhar com técnicas de próxima geração de sequenciamento de DNA,

abriu novas portas para trazer ao Brasil, uma nova técnica de investigação de

presença e abundância de espécies descritas na literatura e ainda desconhecidas,

sendo assim, pode-se gerar um conhecimento mais rápido e de melhor qualidade da

comunidade microbiana presente no rúmen.

Por fim, o estágio proporcionou um reconhecimento global de que as áreas de

diferentes ciências se comunicam, não deixando uma área em específico com maior

importância ou menor, cabe a nós utilizarmos de ferramentas que enriqueça a

pesquisa, na qual é um ponto a ser constantemente melhorado na vida acadêmica,

profissional e pessoal, a sociabilidade humana se mostra complementar e funda-

mental para a união de diferentes ciências e modos de pensar.

Concluo ressaltando que o estágio final trouxe uma interdisciplinaridade

singular, trazendo disciplinas como bovinocultura leiteira, comunicação e expressão

oral, antropologia, microbiologia, as disciplinas de base como química, e bioquímica,

nutrição de ruminantes, anatomia, fisiologia, comportamento e bem-estar animal,

bioclimatologia e também sociologia e extensão rural, e assim, definindo e

moldando o zootecnista que agora estou me tornando.

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REFERÊNCIAS

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