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1 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR BIGUAÇU CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM TATIANE TALITA SCHWAAB O PAPEL DAS ENFERMEIRAS PSIQUIÁTRICAS NO PROCESSO DE REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL DE MORADORES DE RESIDÊNCIAS TERAPÊUTICAS Biguaçu, Junho de 2007

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI

CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR BIGUAÇU

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

TATIANE TALITA SCHWAAB

O PAPEL DAS ENFERMEIRAS PSIQUIÁTRICAS NO PROCESSO D E

REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL DE MORADORES DE

RESIDÊNCIAS TERAPÊUTICAS

Biguaçu, Junho de 2007

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TATIANE TALITA SCHWAAB

O PAPEL DAS ENFERMEIRAS PSIQUIÁTRICAS NO PROCESSO D E

REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL DE MORADORES DE

RESIDÊNCIAS TERAPÊUTICAS

Biguaçu, Junho de 2007

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do titulo de Bacharel em Enfermagem pela Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação Biguaçu. Orientadora: Profª Msc. Valdete Preve Pereira

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TATIANE TALITA SCHWAAB

O PAPEL DAS ENFERMEIRAS PSIQUIÁTRICAS NO PROCESSO D E

REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL DE MORADORES DE

RESIDÊNCIAS TERAPÊUTICAS

Esta monografia foi julgada adequada para obtenção do titulo de Bacharel em

Enfermagem e aprovada pelo Curso de Graduação em Enfermagem da

Universidade do Vale do Itajaí – Centro de Educação Biguaçu.

Área de conhecimento: Ciência da Saúde / Enfermagem

Biguaçu (SC), junho de 2007.

Profª Msc. Valdete Preve Pereira

UNIVALI – CE BIGUAÇU

Orientadora

Profª Drª Lygia Paim

UNIVALI – CE BIGUAÇU

Membro da banca

Profº Msc Sérgio Luiz Sanceverino

IPq – SC

Membro da banca

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Dedico este trabalho

A meus pais Antonio Nilson e Rosani Maria Schwaab, por me dar a vida e me ensinar a viver com educação e respeito.

Em especial ao meu amor Jani, que esteve a meu lado nesta caminhada, me incentivando a não desistir mesmo nos momentos mais difíceis, pela paciência e compreensão por meus momentos de ausência, a minha grande amiga Janete por simplesmente ser minha amiga.

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AGRADECIMENTOS

A Deus pelo dom da vida, pela sua infinita bondade, por estar iluminando meu

caminho.

Agradeço, imensamente, a meus pais Antonio Nilson e Rosani Maria Schwaab por

estarem sempre presentes, apesar da distância, em todos os momentos ausentes

desta caminhada.

Ao meu grande amor Jani, pela compreensão e dedicação e que, com gestos

carinhosos e amor, me fortaleceu em todos os dias desta caminhada.

À banca examinadora: Enfermeira Drª Lygia Paim e Enfermeiro e Mestre Sergio Luiz

Sanceverino, respeitosamente, muito obrigada e um grande abraço.

Aos meus amigos do IPq-SC Liége e Arlindo e às participantes deste estudo que

carinhosamente se dispuseram a participar.

A minha Tia Lúcia e minha Avó Araci pelo carinho e confiança durante esta

caminhada.

A todos os meus familiares, amigos e amigas que souberam compreender minha

ausência.

A minha afilhada Jaqueline, tão pequenina, soube entender que, apesar da

distância, a amo muito.

As minhas amigas Janete e Zaine que sempre estiveram a meu lado me amparando

e me estimulando a seguir em frente, com suas palavras carinhosas e sábias.

As minhas queridas: Iracema, Iara, Cíntia e a todas as professoras agradeço em

nome de: Adriana Tholl, Haimée Martins, Maria Catarina, Tereza Gaio, Ledronete e

Ângela Maria pelo carinho e atenção.

A UNIVALI em nome da Coordenadora Maria Lígia dos Reis Belaguarda, e a todos

os colegas.

E a todas as pessoas que passaram pelo meu caminho.

Agradeço especialmente a Professora Valdete:

A minha amada Mestre, Valdete Préve Pereira, orientadora a me acompanhar rumo

ao meu crescimento não só profissional mas, principalmente pessoal, por apontar-

me os rumos e manter-se ao meu lado nesta caminhada.

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Agradeço por dividir e compartilhar momentos de sua vida abdicando de seus

momentos de lazer para a realização deste trabalho, e muito mais pela amizade que

construímos que tenho certeza, será para toda vida.

Muito obrigada por fazer parte desta conquista.

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O PAPEL DAS ENFERMEIRAS PSIQUIÁTRICAS NO PROCESSO D E REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL DE MORADORES DE RESIDÊNCI AS

TERAPÊUTICAS

RESUMO

Trata-se de um estudo qualitativo, exploratório descritivo, nos moldes da pesquisa convergente assistencial de Trentini & Paim (2004), cujo objetivo foi Explicitar os papéis exercidos pelas enfermeiras no âmbito dos serviços Residenciais Terapêuticos e sua relação com os previstos por Hildegard E. Peplau. Os sujeitos da pesquisa foram enfermeiros que atuam ou atuaram nos programas residenciais terapêuticos, vinculados ao Instituto de Psiquiatria do Estado de Santa Catarina, localizado no município de São José/SC, no período compreendido entre 08 e 27 de março de 2007. O referencial teórico utilizado teve como base a teoria das relações interpessoais de Hildegard E. Peplau, pois contempla o relacionamento interpessoal e os papéis da enfermagem. Os dados foram coletados a partir de entrevistas semi-estruturadas, registradas através de gravação em cassete e posteriormente o conteúdo gravado foi transcrito e categorizado. A análise dos dados seguiu as orientações preconizadas na pesquisa convergente assistencial de Trentini & Paim. Nos resultados, foram identificados os seguintes papéis assumidos pelas enfermeiras cuidadoras: substituta (mãe substituta): a presença verdadeira apoiando e impulsionando o processo de reabilitação psicossocial, educadora: a educação como instrumento de transformação no processo de Reabilitação Psicossocial, técnica: garantindo a assistência e potencializando o autocuidado, gerente: a direção do processo de reabilitação vai sendo dada, agente de socialização: uma ponte para a ressocialização, pessoa recurso: possibilitando a Reabilitação Psicossocial através da informação, líder: influenciando no sentido da participação, responsabilidade e Reabilitação Psicossocial e conselheira ou psicoterapêuta: ajudando a compreender sentimentos e experiências vividas, buscando soluções. Finalmente pode-se concluir que estes papéis vieram a contribuir para o estabelecimento das relações interpessoais na construção deste novo modo de cuidado à portadores de transtorno mental, possibilitado a esta clientela um amplo processo de reabilitação psicossocial e resgate de cidadania. Palavras chave : Enfermagem em saúde mental. Reabilitação psicossocial. Residência terapêutica.

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The Role of the Psychiatric Nursing in the Psychoso cial Rehabilitation Process as Residents of Therapeutic Houses

ABSTRACT The present work is a qualitative study, descriptive and exploratory, according to the model of the assistential convergent research by Trentini & Pain (2004), whose objective was to understand how nursing professionals perceive the process of psychosocial rehabilitation when dealing with patients who present mental disturbance, inserted in programs of therapeutic residence and to identify the roles performed by these professionals in this process. The subjects of the present research were nurses who take or took part of residence programs, connected to the Psychiatric Institute of Santa Catarina, in the city of São José, from March 8th to 27th, 2007. The theoretical support of this research was based on the interpersonal relationship theory by Hidegard E. Peplau, since it depicts interpersonal relationships and the nursing roles. The data were collected through semi-structured interviews which were recorded on cassette tapes and transcribed and categorized afterwards. The data analysis followed the orientation preconized in assistential convergent research by Trentini & Paim. According to the results, the following roles were assumed by the nurses in charge. Substitute (substitute mother): the effective presence supporting and stimulating the psychosocial rehabilitation process; Educator: education as a tool for transformation for the psychosocial rehabilitation process; Technician: the one that guarantees the assistance and potencializes self care; Manager: the direction to the rehabilitation process has been provided; socialization agent: a bridge to resocializing; Resource person: enabling the psychosocial rehabilitation through information; Leader: influencing in the sense of participation, responsibility and psychosocial rehabilitation; Advisor or Psychotherapist: helping to understand feelings and experiences, searching for solutions. Finally, we can conclude that these roles contributed to the establishment of interpersonal relationships in the process of construction of this new method of dealing with patients mentally disturbed, offering them a broader process of psychosocial rehabilitation to help them to recover their citizenship.

Key words : Therapeutic Houses, Rehabilitation Process, Nursing in sauté mental

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SUMÁRIO

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1 INTRODUZINDO O TEMA

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2 REVISÃO DE LITERATURA 15

2.1 História da psiquiatria 15

2.1.1 História da psiquiatria no Mundo 15

2.1.2 História da psiquiatria no Brasil 16

2.1.3 História da psiquiatria em Santa Catarina 17

2.2 Reforma psiquiátrica 20

2.3 Serviços Residenciais Terapêuticos 21

2.4 Enfermagem Psiquiátrica e em Saúde Mental 22

2.5 Reabilitação psicossocial

23

3 MARCO CONCEITUAL 25

3.1 Biografia de Hildegard E. Peplau 26

3.2 Conceitos 27

3.3 A teoria de Hildegard E. Peplau

28

4 MOSTRANDO O CAMINHO METODOLÓGICO 30

4.1 A caracterização do estudo 30

4.2 O contexto do estudo 30

4.3 As participantes do estudo 32

4.4 A imersão na prática assistencial 32

4.5 A coleta de dados 34

4.6 O registro e análise dos dados 34

4.7 Aspectos éticos

35

5 RESULTADOS E DICUSSÃO 38

5.1 SUBSTITUTA: (mãe substituta): a presença verdadeira apoiando e

impulsionando o Processo de Reabilitação Psicossocial

39

5.2 EDUCADORA: a educação como instrumento de transformação no

Processo de reabilitação psicossocial

43

5.3 CONSELHEIRA OU PSICOTERAPEUTA: ajudando a compreender

sentimentos e experiências vividas, buscando soluções

47

5.4 GERENTE: a direção do processo de reabilitação vai sendo dada 50

5.5 TÉCNICA: garantindo a assistência e potencializando o autocuidado 54

5.6 PESSOA RECURSO: possibilitando a reabilitação Psicossocial

através da informação

58

5.7 AGENTE DE SOCIALIZAÇÃO: uma ponte para a ressocialização 59

5.8 LÍDER: influenciando no sentido da participação, responsabilidade e 61

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1 INTRODUZINDO O TEMA

A função de oferecer cuidados de enfermagem ou simplesmente atender

às necessidades dos doentes existe desde o início da civilização. Antes de 1860,

a ênfase, nas instituições psiquiátricas, concentrava-se nos cuidados de custódia,

e os atendentes eram contratados para manter o controle dos pacientes. Com

freqüência, esses atendentes eram pouco mais que carcereiros com pouco

treinamento, sendo os cuidados psiquiátricos de qualidade muito baixa. A

enfermagem como profissão começou a emergir no final do século XIX e no

século XX já evoluíra para uma especialidade com papéis e funções próprias

(STUART & LARAIA, 2001).

A psiquiatria, que nasceu dentro dos asilos, hospitais e da necessidade de

abrigar, proteger, cuidar, investigar, diagnosticar e tratar os indivíduos que da

loucura fossem acometidos, exigia uma enfermagem com um corpo de

conhecimento próprio, que respondesse às necessidades da nova ciência.

O papel da enfermagem psiquiátrica começou a surgir no início da década

de 50. Em 1947, Weiss publicou um artigo que apresentava as diferenças entre

enfermeiros psiquiátricos e a prática geral e descrevia a “terapia da atitude” como

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sendo o uso dirigido de atitudes que contribuem para a recuperação dos

pacientes (STUART & LARAIA, 2001).

Em 1951, alguns trabalhos descritos por enfermeiras enfocam, pela

primeira vez, o relacionamento enfermeira-paciente e a natureza do seu processo

terapêutico.

Em 1952 Hildegard E. Peplau descreve as habilidades, as atividades e o

papel das enfermeiras psiquiátricas e traz grandes contribuições para o

desenvolvimento da enfermagem psiquiátrica (FUREGATO, 1999).

No decorrer do tempo as funções e papéis dos enfermeiros psiquiátricos

foram se ampliando com a instalação das comunidades terapêuticas, o advento

das drogas antipsicóticas e o uso cada vez maior de técnicas de “terapias de

enfermagem psiquiátrica”.

Em 1962, Peplau dá sua grande contribuição a esse tema, quando

esclarece a posição da enfermagem psiquiátrica, identificando o papel de

conselheira ou de psicoterapeuta como o âmago da enfermagem psiquiátrica e

outras funções, como: de mãe substituta, técnica, gerente, agente de

socialização e professora de saúde, eram vistas como subpapéis (STUART &

LARAIA, 2001).

Com as mudanças sociais impulsionadas pelo pós-guerra que

repercutiram nos vários ramos da ciência e inclusive na psiquiatria concretizada

nos preceitos da Reforma Psiquiátrica, fizeram com que nos anos de 60 e 70, o

foco da enfermagem começasse a mudar para a atenção primária e comunitária,

inclui-se no uso o termo Enfermagem em Saúde Mental. A enfermagem, então,

absorve uma abordagem expandida, mais holística, integrando os aspectos

psicossociais nos cuidados oferecidos aos pacientes (STUART & LARAIA, 2001).

No Brasil, no período compreendido entre as décadas de 80 a 90 a

Reforma Psiquiátrica provoca mudanças radicais no atendimento aos portadores

de doenças mentais, o modelo hospitalocêntrico começa a ser desmontado e

através das políticas públicas de saúde mental inicia a sua substituição por uma

atenção centrada na comunidade.

Surgem, então, vários modelos de atenção como os Núcleos de Atenção

Psicossocial (NAPS), os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), os Hospitais-

dia e os serviços Residências Terapêuticos, (sRT).

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Dentre estes modelos, os serviços Residenciais Terapêuticos1 (Anexo 1)

se constituem de uma proposta que oferece a oportunidade de pacientes

egressos de longos períodos de internação em hospitais psiquiátricos, de

novamente se inserirem na vida comunitária. Estes serviços se caracterizam por

casas localizadas no espaço urbano, constituídas para responder às

necessidades de moradia de pessoas portadoras de transtornos mentais graves.

Novamente, a enfermagem precisa desenvolver novas formas de cuidado

que atendam esses modelos de atenção em psiquiatria e saúde mental.

Tendo em vista as várias transformações ocorridas ao longo da história da

atuação da enfermagem e da psiquiatria, nasce em mim a vontade de conhecer,

estudar e aprofundar esses conhecimentos, haja vista que, no decorrer de nossa

formação acadêmica, poucas foram as informações passadas sobre a psiquiatria,

de uma forma geral.

Durante o estágio curricular da disciplina de Enfermagem Psiquiátrica,

desenvolvido no Instituto de Psiquiatria de Santa Catarina (IPq –SC), pude

observar diferenças na atenção de enfermagem oferecidas aos portadores de

transtornos mentais nas unidades de internação psiquiátrica, onde predominavam

os cuidados tradicionais, voltados para as necessidades biológicas e

psicológicas, cuidados estes centrados em procedimentos clínicos de terapias

psicológicas e alternativas, enquanto nos programas de Residências

Terapêuticas, onde eram atendidos também internos da mesma instituição, esta

atenção era fortemente voltada para cuidados de reabilitação psicossocial e

resgate de cidadania. Esta constatação me despertou interesse, pois dentro da

mesma instituição a enfermagem tinha duas atuações diferentes e peculiares,

porém fazendo parte do mesmo corpo técnico e administrativo.

Chamou-me a atenção a forma diferenciada de atendimento da

enfermagem no processo de reabilitação psicossocial2, voltada para resgate de

1 O Ministério da Saúde através da Portaria 106/2000 em seu artigo 1º, parágrafo único, entende como Serviços Residenciais Terapêuticos, as moradias ou casas inseridas de preferência na comunidade, destinadas aos portadores de transtornos psíquicos, egressos de internações psiquiátricas de longa permanência, que não possuam suporte social e laços familiares que viabilizem sua inserção social (BRASIL, 2000). 2 Reabilitação psicossocial na definição da International Association of Psychosocial Rehabilitation Services se caracteriza como “o processo de facilitar ao indivíduo com limitações, a restauração, no melhor nível possível de autonomia do exercício de suas funções na comunidade... o processo enfatizaria as partes mais sadias e a totalidade de potenciais do indivíduo, mediante uma abordagem compreensiva e um suporte vocacional, residencial, social, recreacional, educacional, ajustadas às demandas singulares de cada indivíduo e cada situação de modo personalizado” (PITTA, 1996, p. 19-20).

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habilidades pessoais e sociais, acompanhamento das atividades do cotidiano e

resgate de cidadania, porém o que mais me instigou foram as formas, a postura,

as funções e os papéis dos profissionais de enfermagem nesse processo de

cuidar.

A falta de compreensão teórica, acerca deste processo inovador de

cuidado, me impulsionou no sentido de encontrar um referencial que guiasse

esse estudo e, após muita leitura e contato com várias teorias de enfermagem, a

teoria de Hildegard E. Peplau me pareceu ser uma proposta adequada, pois

contempla o relacionamento interpessoal, os papéis da enfermagem e os

métodos de estudo do processo interpessoal.

A partir dessa decisão, optei por utilizá-la em meu trabalho de conclusão

de curso, tendo como sujeitos da pesquisa, justamente, algumas enfermeiras

psiquiatricas e de saúde mental, que atuaram e atuam nos programas de

residência terapêutica, surge, então, a seguinte questão norteadora desta

pesquisa: quais os papéis assumidos pelas enfermeiras psiquiátricas no

Processo de Reabilitação Psicossocial a moradores de Residências

Terapêuticas?

Visando responder à pergunta norteadora desta pesquisa, este estudo tem

como objetivo geral:

• Explicitar os papéis exercidos pelas enfermeiras no âmbito dos

serviços Residenciais Terapêuticos e sua relação co m os previstos

por Hildegard E. Peplau.

Na construção do Projeto de pesquisa, para alcançar o objetivo geral,

definimos os seguintes objetivos específicos:

• Identificar os papéis assumidos pelas enfermeiras p siquiátricas na

atenção a moradores de Residências Terapêuticas no processo de

reabilitação psicossocial;

• Recortar situações que tipifiquem os papéis assumid os pelas

enfermeiras psiquiátricas no cuidado a moradores de Residências

Terapêuticas.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 História da psiquiatria

2.1.1 História da psiquiatria no mundo

Ao longo dos tempos a sociedade sempre se preocupou com o que era

“diferente” aquele que se comporta diferente dos outros. Historicamente podemos

ver que a postura em relação ao doente mental sempre foi de mantê-lo afastado

da sociedade, ratificando minimamente a preocupação com a sua diferença

comportamental frente aos padrões socioculturais

Durante muito tempo a pessoa identificada como doente mental ficou a

cargo do cuidado dos religiosos, onde prevaleciam as crendices e superstições.

Os tidos como insanos eram flagelados, acorrentados, escurraçados e não

recebiam alimentos.

Até o século XVIII, os doentes mentais eram excluídos pela sociedade,

todos tinham medo deles, por isso eram mantidos isolados, acorrentados e

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tratados como criminosos, mesmo quando habitavam o mesmo domicilio de suas

famílias.

Ainda no século XVIII e inicio do século XIX, surge na França um

renomado Psiquiatra Francês que rompe as correntes dos loucos, desalojando-os

dos seus calabouços, sendo esse acontecimento registrado como primeira

revolução psiquiátrica. Pinel os libertou após séculos de maus tratos, rompendo

então com o pensamento que se tinha da loucura transformando-a em doença

mental, (BIRMAN, 1978).

Por muito tempo os hospitais psiquiátricos não puderam oferecer uma boa

assistência aos pacientes, pela superlotação, falta de recursos humanos, físicos,

financeiros e a falta de conhecimento técnico e científico, esses fatores entre

outros tornaram os hospitais em grandes depósitos humanos.

Com a Segunda Guerra Mundial, há o aparecimento de várias

problemáticas mentais, físicas e sociais que acometeram um enorme número de

homens jovens, (Amarante, 1998). Nesse período vários programas foram

introduzidos sendo, os mais importantes, as comunidades terapêuticas, que

permitiam que os pacientes vivessem e andassem mais livremente, como parte

da sociedade.

Após a Segunda Guerra Mundial, ocorreram muitas transformações na

sociedade em geral, que repercutiram também na assistência psiquiátrica. Além

da influência dos fatores político-sociais, há que se ressaltar as contribuições da

teoria psicanalítica de Freud, os conceitos da psiquiatria dinâmica, os avanços

das ciências sociais e o advento dos psicofármacos, (PEREIRA, 2003).

A partir de 1908 muitas mudanças aconteceram no sistema hospitalar

público, com movimentos de higiene mental e também pelos conceitos de

Sigmund Freud, que propuseram novas formas de exploração da mente,

(PEREIRA, 2003).

Durante este período, ocorreram muitas mudanças, dentre elas destacam-

se: a remoção das correntes nos asilos, a psicanálise de Freud e, também, as

terapias biológicas, entre elas: eletroconvulsivoterapia, psicocirurgias e o advento

dos psicofármacos, (ROEDER, 2003).

Vale destacar também um movimento de fundamental importância na

história da psiquiatria, movimento esse denominado de antipsiquiatria que surgiu

na década de 60, com a proposta de reformulação da assistência psiquiátrica e o

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questionamento da doença mental. Tendo como criador Franco Basaglia que não

negava a existência da doença mental, mas argumentava que a pessoa ao ser

classificada como doente mental perdia todas as suas outras referências sociais,

profissionais e culturais, e preconizava que o tratamento devia acontecer na

comunidade, minimizando, portanto, a finalidade do hospital psiquiátrico,

(PEREIRA, 2003).

2.1.2 História da psiquiatria no Brasil

No Brasil, a primeira instituição psiquiátrica foi o Hospício Pedro II, em

1852. Tal como aconteceu na história mundial anteriormente citada, não foi

diferente no Brasil. A partir do final do século XVIII as Santas Casas passaram a

acolher os doidos, estes eram amontoados em porões, sem assistência médica,

reprimidos por espancamentos ou contensão em troncos.

Durante o século XIX, a preocupação com a loucura exposta nas ruas

passou a ser um tema que preocupava os setores imbuídos nas modernas

noções de ciência. Surgem, assim, na medicina, discussões a respeito do

assunto. Um dos itens menos importante era o tema da loucura, pois se discutia

a questão dos esgotos, dos matadouros e cemitérios, das habitações das classes

pobres, da sífilis, da prostituição, enfim, da higiene e da modernização das

cidades, (CUNHA, 1989, p 16).

Ainda durante o século XIX, os debates médicos sobre a loucura

adquiriram importância no interior de um saber que projetava para si uma

crescente dimensão social e política, reforçados pelas iniciativas higienistas,

pelos princípios de moral, disciplina e do caráter científico do alienismo, tão

valorizado pelo novo regime republicano (CUNHA, 1989).

Críticas e denúncias dos trabalhadores em saúde mental, quanto aos

maus tratos e abandono dos pacientes psiquiátricos, deram inicio a um

movimento que até hoje mantem-se alerta no modelo vigente. As instituições

psiquiátricas evoluíram juntamente com os profissionais, buscou-se terapias

alternativas para o tratamento de pacientes crônicos, visando uma melhoria na

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qualidade de vida dessas pessoas, mesmo diante das limitações impostas pela

patologia.

2.1.3 História de psiquiatria em Santa Catarina

Em Santa Catarina, a história da saúde mental teve inicio antes mesmo da

criação do Hospital Colônia Santana, com o asilo de Azambuja em Brusque,

dirigido pelas Freiras da Irmandade da Divina Providência desde 1910, também

surgiu nesta mesma época o Hospício do Drº Schneider de Joinvile. Após a

inauguração do Hospital Colônia Santana todos estes pacientes passaram a ser

atendidos por esta mesma instituição, (COSTA, 2005).

Surge então, no Estado, a primeira proposta oficial de assistência aos

doentes mentais, a construção do Hospital Colônia que foi fundado em 10 de

novembro de 1941, na cidade de São José, município da Grande Florianópolis.

Este surge como uma solução para os problemas dos doentes mentais de Santa

Catarina, que até o momento não dispunham de uma instituição pública onde

fossem atendidos.

Na época, foi considerada como a mais moderna das instituições, com pés

direitos altos, amplos corredores internos que separavam o lado feminino do

masculino. As áreas de apoio incluindo cozinha central, refeitório comunitário,

lavanderia, unidade de clinica médica com centro cirúrgico, sala de exames,

unidades de internação amplas com posto de enfermagem e banheiros na parte

central e a mobília resumida apenas nas camas, possuía também um

almoxarifado.

Segundo Pereira (2003), o Hospital Colônia Sant’Ana foi considerado

modelo na época pelo tipo de construção e proposta técnico - científica pois,

possuía recursos variados e empregava o que havia de mais moderno em

assistência e tratamento aos pacientes.

Eram usados recursos fisioterápicos, balneoterapia, terapia hetero-familiar

(consistia na tentativa de adaptar o paciente em uma família adotiva, visando sua

reinserção social), e intervenções de caráter clínico, como: insulinoterapia,

cardiazol e eletrochoque, (PEREIRA, 2003).

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Os primeiros pacientes trazidos para o Hospital Colônia Sant’Ana vieram

do Asilo de Azambuja em Brusque-Sc, vieram também, doentes procedentes do

Hospício Dr. Schneider de Joinvile-SC, estes que antes eram acompanhados

pelas Irmãs da Congregação da Divina Providência, (BORENSTEIN et all, 2004).

Foram as Irmãs da Congregação da Divina providencia que assumiram

todos os serviços do Hospital Colônia Sant’Ana desde o inicio, sendo que, os

serviços de lavanderia, rouparia, limpeza, cozinha, costura, horta, farmácia e até

da enfermagem, eram elas que coordenavam, decidindo sobre tudo e sobre

todos, (BORENSTEIN et all, 2004).

De acordo com a autora anteriormente citada além das irmãs que atuavam

no serviço de enfermagem, haviam os enfermeiros e os vigilantes. Quanto ao

preparo, estes não recebiam nenhum tipo de treinamento básico, em geral os

funcionários mais antigos costumavam ensinar os mais novos.

Os funcionários de enfermagem do Hospital costumavam receber duas

vezes por ano um uniforme confeccionado nas oficinas da instituição. Os

enfermeiros tinham direito a uma calça azul marinho e um jaleco branco, além de

um par de sapatos. Os vigilantes recebiam uma farda amarelo-pardo, igual a

utilizada pela Polícia Militar, estas eram constituídas por calça, camisa, gravata,

paletó tipo jaqueta e um quepe. A roupa de verão era feita de um tecido mais leve

e, além disso, recebiam um par de sapatos. Já as Irmãs, recebiam a roupa da

Congregação que se constituía de um hábito e por cima deste colocavam um

avental branco, os sapatos eram fornecidos pelo hospital. (BORENSTEIN et all,

2004 p. 71).

O advento dos psicofármacos na década de 50 fez com que ocorresse um

gradual deslocamento da assistência prestada pelas religiosas para o de

abordagem medicamentosa, centrando o saber e o poder na figura do médico

(TEIXEIRA, 1993).

Em 1952 o Hospital chega a 800 pacientes internados, na década de 70

com um número assustador, 2.300 pacientes, sem que houvesse qualquer

expansão da área física.

A partir da década de 70 ocorrem várias reestruturações administrativas,

incluindo o serviço de enfermagem. Os pacientes passam a ser distribuídos em

12 enfermarias, 06 masculina e 06 femininas. Na década de 80 o Hospital chega

a abrigar 1.300 pacientes que viviam em situações precárias, (COSTA, 2005).

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Já em 1987, inicia-se o programa de unidades extra-hospitalares com a

criação da Unidade Ana Teresa(1987), a Pensão Protegida Feminina (1990), a

Unidade de Gestão Participativa (1993) e Pensão Masculina (1999), (COSTA,

2005).

Estes foram os primeiros passos para desenvolvimento de programas de

reabilitação psicossocial que estabeleceriam no futuro, como oficinas

terapêuticas, atividades de vida diária, festas, grupos de dança e passeios ou

viagens.

A partir de 1995 o Hospital Colônia Sant’Ana passou a chamar-se Instituto

de Psiquiatria de Santa Catarina, sofreu grandes mudanças em suas estrutura

seguindo as orientações preconizadas pelo Ministério da Saúde.

Atualmente o Instituto de Psiquiatria de Santa Catarina – IPq-SC conta

com 442 paciente internos.

2.2 Reforma psiquiátrica

O período pós-guerra torna-se cenário para o projeto de reforma

psiquiátrica contemporânea, atualizando críticas e reformas da instituição asilar.

Pinel em seu ato de “libertação” dos loucos ressignificou práticas e fundou um

saber/prática que aspirava reconhecimento e território de competência sobre um

determinado objeto: a doença mental. Fundou um monopólio de competência de

acordo com a realidade sócio-histórica vigente, (AMARANTE, 1998, pg 27).

Com o intuito de mudar esta realidade, surgem a partir do século XX,

movimentos que passam a defender a extinção dos hospitais psiquiátricos,

portanto sua substituição por outras alternativas de atendimento aos portadores

de transtornos psíquicos, de forma que estes pudessem passar a receber uma

assistência mais humanizada, (PEREIRA, 2003).

Surge então, o movimento da Reforma Psiquiátrica com os grupos

antimanicomiais e as propostas de desospitalização e de desinstitucionalização.

O início do processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil dá-se junto ao

Movimento sanitário, nos anos 70, em favor da mudança dos modelos de atenção

e gestão nas práticas de saúde coletiva, equidade na oferta dos serviços, e

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protagonismo dos trabalhadores e usuários dos serviços de saúde nos processos

de gestão e produção de tecnologias de cuidado, (BRASIL, 2005).

A Reforma Psiquiátrica tem uma história própria, inscrita num contexto

internacional de mudanças pela superação da violência asilar. A Reforma

Psiquiátrica é um processo político e social. É compreendida como um conjunto

de transformações de práticas, saberes, valores culturais e sociais, é no cotidiano

de vida das instituições, dos serviços e das relações interpessoais que o

processo da Reforma avança, marcado por impasses, tensões, conflitos e

desafios, (BRASIL, 2005).

Em meio a tantas transformações, no ano de 1989, dá entrada no

Congresso Nacional o Projeto de Lei do Deputado Paulo Delgado, que propõe

regulamentação dos direitos das pessoas com transtornos mentais e a extinção

dos manicômios no país. Após 12 anos de tramitação no Congresso Nacional,

somente em 2001, foi aprovado um substitutivo do Projeto de Lei de Paulo

Delgado, que traz modificações significativas, então denominada Lei Federal

10.216 que redireciona a assistência em Saúde Mental e dispõe sobre a proteção

dos direitos das pessoas com transtornos mentais, (BRASIL, 2005).

A partir da criação da Lei de Paulo Delgado, muitos estados Brasileiros

passam a adotar a substituição progressiva dos leitos psiquiátricos por uma rede

integrada de atenção à saúde mental. A partir daí, na década de 90, nascem os

primeiros CAPS, NAPS, Hospitais-dia e Residências Terapêuticas.

2.3 Serviços Residenciais Terapêuticos

As Residências Terapêuticas constituem-se como alternativas de moradia

para um grande contingente de pessoas que estiveram internadas há anos em

hospitais psiquiátricos por não contarem com o apoio da comunidade. Essas

Residências atendem também usuários de serviço de saúde mental, que não

contam com suporte da família nem da sociedade para a garantia do seu espaço

adequado de moradia.

Os Serviços de Residências Terapêuticas (SRT) são casas localizadas no

espaço urbano, constituídas para responder às necessidades de moradia de

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pessoas portadoras de transtornos mentais cronificados, egressas de hospitais

psiquiátricos ou não, (BRASIL, 2004).

As despesas básicas da casa são custeadas pela instituição psiquiátrica,

através de convenio com o SUS, que oferece os medicamentos, mantimentos,

água, energia, materiais diversos e serviços de manutenção.

O suporte de caráter disciplinar deverá considerar a necessidade de cada

um dos moradores, e não apenas projetos e ações baseadas no coletivo de

moradores, (BRASIL, 2004).

As Residências Terapêuticas devem ser capazes de garantir o direito à

moradia das pessoas egressas de hospitais psiquiátricos e de auxiliar o morador

em seu processo de reintegração na comunidade. Os direitos de morar e circular

livremente pela comunidade são fundamentais para a reintegração na sociedade,

a busca pela autonomia é fundamental nesse processo.

O programa de Residência Terapêutica é fundamental para as pessoas

que estão saindo do hospital psiquiátrico, o respeito por cada caso e ao ritmo de

readaptação de cada pessoa à vida em sociedade.

O processo de reabilitação psicossocial deve buscar de modo especial a

inserção do usuário na rede de serviços, organizações e relações sociais da

comunidade. Ou seja, a inserção em um Serviço de Residência Terapêutica é o

inicio de um longo processo de reabilitação que irá buscar a progressiva

reinserção social desses moradores, (BRASIL, 2004).

2.4 Enfermagem Psiquiátrica e em Saúde Mental

Historicamente na enfermagem psiquiátrica os trabalhadores de

enfermagem eram pessoas sem formação, sem preparo para exercer a função.

A enfermagem, até o século XVIII, era exercida por familiares e pessoas

leigas. No século XIX surge Florence Nightingale, na Inglaterra, que se destaca

por sua atuação na guerra da Criméia, defendendo um cuidado humano aos

doentes e a necessidade de educação e preparo das pessoas que cuidavam

destes, (PEREIRA, 2003). Nos antigos hospícios a enfermagem surgiu com a

função de vigiar, controlar e reprimir.

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Em 1873, Linda Richards aprimorou os cuidados de enfermagem nos

hospitais psiquiátricos e organizou práticas de enfermagem e programas

educacionais em manicômios públicos nos Estados Unidos (STUART & LARAIA,

2001).

Em 1952 Peplau publicou o livro Interperssonal Relations in Nursing, no

qual descreveu as habilidades, as atividades e o papel das enfermeiras

psiquiátricas. A mesma autora com a obra “Interpersonal Techniques: The Crux

of Psyquiatric Nursing”, publicado em 1962, identifica na enfermeira psiquiátrica

vários papéis (PEREIRA, 2003).

A enfermagem psiquiátrica vem se modificando juntamente com as

transformações da psiquiatria, dando ênfase ao relacionamento com o cliente

individualmente, à manutenção do ambiente terapêutico e à ampliação do campo

da enfermagem, para o contato com o cliente, família e comunidade, (COSTA,

2005).

Peplau, considerada a mãe da enfermagem psiquiátrica, considerou a

doença como uma experiência de aprendizagem. Através da evolução de uma

boa relação entre enfermeira e paciente, onde ambos podem desenvolver-se e

crescer mais como pessoas. Afirmou ainda que, para as enfermeiras serem

eficazes, necessitam desenvolver-se e amadurecer como pessoas. Assim o

paciente teria uma oportunidade maior de aprendizado sobre sua doença e sobre

si mesmo, (GEORGE, 2000).

O papel da enfermagem psiquiátrica como cuidadora toca a especificidade

do ser humano em toda a sua complexidade. Para cuidar devemos buscar a

essência da pessoa como algo que jamais adoece, compreender suas

particularidades, escutar sem repreender. Precisamos descontruir a imagem do

louco sem subjetividade e sem seus direitos para nos colocarmos

satisfatoriamente frente à imensidão do ser que demanda cuidados, e transformar

seu sofrimento com dignidade e acolhimento, (COSTA, 2005).

Acredito que a enfermagem psiquiátrica seja um processo, em que a

enfermeira ajuda as pessoas a se desenvolverem, a desenvolverem seus

relacionamentos interpessoais, ajudam o paciente psiquiátrico a se reintegrar a

comunidade.

Atualmente a enfermagem psiquiátrica está assumindo um novo papel

neste contexto de reabilitação psicossocial, onde estas passam a denominar-se

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enfermeiras em saúde mental, sob o novo olhar dos sRT, onde esta atua de

forma a potencializar que os pacientes moradores de RTs possam se reintegrar à

sociedade.

2.5 Reabilitação Psicossocial

O processo de reabilitação psicossocial pode ser considerado como um

processo de reconstrução, do exercício da plena cidadania. A reabilitação visa

também reintegrar o indivíduo à comunidade, o que envolve aspectos éticos,

econômicos e políticos.

Reabilitação é um processo que consiste em ajudar a pessoa para que ela

volte ao nível mais alto de seu mais pleno funcionamento. O objetivo é de ensinar

os indivíduos incapacitados pela doença mental a trabalhar e viver

independentemente, a superar bloqueios, tanto em oportunidades quanto na

motivação e seguir regimes de vida que tendem a manter ou restaurar o nível

mais alto de bem-estar. Muitos dos pacientes precisam de ajuda para

desenvolver novas habilidades e encontrar maneiras de superar seus déficits

funcionais, (STUART & LARAIA, 2001, pg 257).

Pitta (1996, pg 21), refere-se à Reabilitação Psicossocial como:

Uma atitude estratégica, uma vontade política, uma modalidade compreensiva, complexa e delicada de cuidados para pessoas vulneráveis aos modos de sociabilidade habituais que necessitem cuidados igualmente complexos e delicados.

A Reabilitação Psicossocial nasceu da necessidade de criar oportunidades

para que as pessoas com diagnósticos de doenças mentais vivessem,

aprendessem e trabalhassem em suas próprias comunidades. A Reabilitação usa

uma abordagem centrada na pessoa, que difere do modelo médico tradicional de

atendimento à saúde, (STUART & LARAIA, 2001).

A enfermagem psiquiátrica de reabilitação exige que o enfermeiro

direcione o foco de atendimento para três importantes elementos: o individuo, a

família e a comunidade.

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Neste contexto, o processo de Reabilitação Psicossocial deve buscar

resgatar a subjetividade do paciente, sua história de vida, suas relações

interpessoais, instituindo modalidades de tratamentos em serviços abertos,

flexíveis e criativos que atendam individualmente as necessidades e o

mantenham inserido no seu meio social.

3 MARCO CONCEITUAL

Como referência para a construção deste trabalho, utilizei a teoria das

relações interpessoais na enfermagem de Hildegard E. Peplau, com o objetivo de

compreender melhor qual o significado e importância das relações interpessoais

para pacientes portadores de transtornos mentais em busca da Reabilitação

Psicossocial com o auxilio de profissionais de enfermagem.

Hildegard E. Peplau é considerada uma pioneira na enfermagem. Em sua

teoria podemos ver que Peplau criou um marco conceitual teórico, no qual as

enfermeiras poderiam sistematizar o cuidado prestado, em especial na

enfermagem psiquiátrica. O ponto forte de sua teoria é a relação

enfermeira/paciente, suas idéias, acerca da enfermagem, são originadas dos

conceitos de desenvolvimento de habilidades pessoais e interpessoais durante a

aprendizagem.

Para Peplau a enfermagem pode ser encarada como terapêutica, por

auxiliar o individuo a encontrar a sua própria cura. A enfermagem pode ser ainda

um processo interpessoal por envolver mais de uma pessoa no cuidado em

busca de um objetivo comum, (GEORGE, 2000).

Considera ainda que, enfermeiro e paciente juntos podem desenvolver-se

e crescer cada vez mais. Afirma que, para as enfermeiras prestarem um cuidado

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adequado, elas precisam desenvolver-se como pessoas e amadurecer seus

conhecimentos para, assim, poder ajudar e contribuir na melhora e conseqüente

crescimento do paciente.

Durante estas fases da teoria de Peplau a proposição é de que a

enfermeira vai assumindo vários papéis e subpapéis, que surgem através das

relações enfermeira/paciente, quais sejam: substituta e/ou mãe substituta,

pessoa recurso, professora e/ou instrutora de saúde, líder, conselheira ou

psicoterapeuta, gerente, técnica, agente socializante.

O processo interpessoal é operacionalmente definido em quatro fases

distintas: orientação, identificação, exploração e solução. Estas fases distintas

podem ser correlacionadas com as etapas tradicionais do processo de

enfermagem, ou seja, levantamento de dados, diagnósticos de enfermagem,

planejamento e implementação de intervenções e avaliação, respectivamente,

(GEORGE, 2000).

3.1 Biografia de Hildegard E. Peplau

Hildegard E. Peplau nasceu em Reading na Pensilvânia, em 1º de

setembro de 1909. Na infância presenciou a epidemia de gripe ocorrida em 1918,

fato que de certa maneira influenciou em sua compreensão sobre o impacto da

enfermidade e da morte para as famílias, (ALMEIDA, 2005).

Na trajetória de sua carreira foi uma

pioneira na enfermagem. Sua carreira na

enfermagem teve inicio em 1931. O trabalho

em um acampamento de verão da “New

York University” a levou a exercer suas

atividades como enfermeira no “Bennington

College”, onde fez a graduação em

Psicologia Interpessoal no ano de 1943, a

partir daí começou a dedicar sua carreira na

enfermagem psiquiátrica.

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A experiência de enfermagem da Dra. Peplau

incluiu a enfermagem hospitalar especializada e geral, entre 1943 e 1945 compôs

o grupo de Enfermagem do Exército dos Estados Unidos e a pesquisa de

enfermagem, particularmente a prática em enfermagem psiquiátrica que ensinou

para a graduação durante muitos anos, (GEORGE, 2000).

No período de 1947 a 1953 Peplau formulou sua teoria, no ano de 1948

concluiu o livro “Interpesonal Relations in Nursing”, o qual só foi publicado 4 anos

depois, pois naquela época era considerado revolucionário uma enfermeira

publicar um livro sem que houvesse pelo menos um médico como co-autor,

(ALMEIDA, 2005).

Peplau publicou o livro Interpersonal Relations in Nursing em 1952,

referindo-se à obra como uma teoria parcial para a prática da enfermagem. Nesta

obra a teorista tratou das fases do processo interpessoal, dos papéis nas

situações de enfermagem, como um processo interpessoal.

Faleceu em 17 de Março de 1999, aos 89 anos, em sua casa em Sherman

Oaks, Califórnia, após uma trajetória que influenciou profundamente a

enfermagem.

3.2 Conceitos

Hildegard E. Peplau

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Na teoria de Peplau podemos encontrar quatro conceitos: ser humano,

saúde, sociedade, ambiente e enfermagem.

Peplau define saúde como “uma palavra simbólica que implica o

movimento de avanço da personalidade e de outros processos humanos em

curso na direção de uma vida criativa, construtiva, produtiva, pessoal e

comunitária”, (GEORGE, 2000).

Acredito em saúde como uma condição em que os indivíduos sejam

capazes de realizar seus desejos, satisfazer suas necessidades e mudar sua

realidade. Pode também ser caracterizada pelo estado de completa integridade

anatômica, fisiológica e psicológica; pela capacidade de desempenhar

pessoalmente funções.

Enfermagem , ela define como um processo interpessoal significativo

terapêutico. Funciona cooperativamente com outros processos humanos que

fazem a saúde possível com indivíduos e comunidades, (GEORGE, 2000).

Para mim, enfermagem é a arte de cuidar e a ciência, cuja essência, é o

cuidado ao ser humano em todas as formas, sendo este cuidado de modo

integral e respeitando todos os direitos do indivíduo, enquanto ser humano,

desenvolvendo atividades de promoção e proteção à saúde, prevenção e

recuperação de doenças.

De acordo com Peplau, ser humano é um organismo que vive em

equilíbrio instável. Vejo que o ser humano é capaz de desempenhar muitos

papéis e de transformar o ambiente, é um ser racional movido por sentimentos e

emoções e capaz de viver em comunidade.

No que diz respeito à sociedade e ambiente , ela refere que a enfermeira

deve considerar a cultura e tradições do paciente durante o período em que ele

estiver se adaptando às rotinas do ambiente em que convive, (GEORGE, 2000).

A sociedade somos nós, que vivemos em um ambiente e que nos

permitimos viver de várias formas; vivendo em sociedade temos direitos e

deveres que devem ser cumpridos e respeitados, uma vez que, adoecemos, mas

temos todo o direito de receber um atendimento digno e de qualidade livre de

preconceitos, visando nossa recuperação, sem medos e ressentimentos.

3.3 A teoria de Hildegard E. Peplau

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Peplau em seu primeiro livro, publicado em 1952, “Interpesonal Relations

in Nursing”, identifica os seguintes papéis que a enfermeira psiquiátrica assume,

estes são descritos como: uma pessoa recurso, como professora, como líder,

como substituta e conselheira, (STUAR & LARAIA, 2001).

Mais tarde em 1957 e 1962, Peplau identificou o papel de conselheira ou

de psicoterapeuta como estando na essência da enfermagem psiquiátrica.

Apareceram então, outras funções consideradas como sendo subpapéis: mãe

substituta, técnica, gerente, agente de socialização e professora de saúde,

(STUAR & LARAIA, 2001; TOWNSEND 2002).

Segundo Townsend (2002), papéis são conjuntos de valores e

comportamentos que são específicos de posições funcionais em estruturas

sociais.

Substituta: é aquela que serve como figura substituta de outra,

(TOWNSEND, 2002 p. 40).

Mãe substituta: neste subpapel a enfermeira satisfaz necessidades

básicas associadas á maternidade, como dar banho, alimentar, vestir, ajudar nas

eliminações, avisar, disciplinar e aprovar, (TOWNSEND, 2002 p. 74).

Pessoa a recurso : é aquela que fornece informações especificas e

necessárias que ajudam o cliente a compreender seu problema e a nova

situação, (TOWNSEND, 2002 p. 40).

Professora ou instrutora de saúde: é aquela que identifica necessidades

de aprendizagem e fornece informações ao cliente ou a seus familiares que

podem ajudar a melhorar a situação de vida, (TOWNSEND, 2002 p. 40).

Líder: é aquele que dirige a interação enfermeira-cliente e assegura que

sejam tomadas providencias apropriadas para facilitar o alcance dos objetivos

desejados, (TOWNSEND, 2002 p. 40).

Conselheira ou psicoterapeuta: é aquela que ouve enquanto o cliente

revê sentimentos relacionados às dificuldades que está tendo em algum aspecto

da vida. Foram identificadas “técnicas interpessoais” para facilitar a interação da

enfermeira no processo de ajudar o cliente a resolver problemas e tomar

decisões em relação a essas dificuldades, (TOWNSEND, 2002 p. 40).

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Técnica: neste subpapel a enfermeira realiza eficiente e corretamente

procedimentos técnicos, (TOWNSEND, 2002).

Gerente: Peplau neste papel que a enfermeira controla o ambiente para

melhorar as condições para a recuperação do paciente, (TOWNSEND, 2002).

A agente socializante: é vista por Peplau como tendo a função de

participar de atividades sociais com o paciente , (TOWNSEND, 2002).

4 MOSTRANDO O CAMINHO METODOLÓGICO

4.1 A caracterização do estudo

Trata-se de um estudo qualitativo, exploratório descritivo, valendo-se da

sugestão de Análise de dados dos autores da pesquisa Convergente assistencial

de Trentini & Paim (2004). Os profissionais da equipe de enfermagem atuam nos

programas de residência terapêutica expressando suas experiências e

sentimentos e oferecendo subsídios que poderão formar um novo corpo de

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conhecimento, a ser utilizado por outros profissionais na atuação com clientela

semelhante.

A pesquisa convergente assistencial esta acompanhada em todo seu

processo com a situação social tem a intenção de encontrar soluções para

problemas, de realizar mudanças e inovações, portanto, procura contribuir com a

melhoria deste contexto social pesquisado. Procurando “refletir a prática

assistencial a partir dos fenômenos vivenciados no seu contexto”, e onde o “ ato

de assistir/cuidar cabe como parte do processo da pesquisa” (TRENTINI & PAIM,

2004).

4.2 O contexto do estudo

O estudo foi desenvolvido nas dependências das Residências

Terapêuticas vinculadas ao IPq – SC, localizadas na comunidade de Santana,

município de São José, abrigam moradores com diferenciados níveis de

dependência.

Os programas de Residência Terapêutica pertencem a um projeto

avançado de atenção em psiquiatria que tem como objetivo a reabilitação

psicossocial, reinserção social e resgate da cidadania de seus moradores.

A implantação do projeto iniciou em dezembro de 1990, com a criação da

primeira Residência, chamada de Residencial do Pomar, seguida do Residencial

das Orquídeas, em junho de 1993, do Residencial Antúrio, em maio de 2001 e o

Residencial Atena, criada em novembro de 2005 (PEREIRA, 2003).

As Residências Terapêuticas fazem parte de um projeto de moradia, os

residentes são acompanhados semanalmente por uma equipe técnica composta

por enfermeiras, assistentes sociais e psicólogos e uma equipe de cuidadores

formada por técnicos e auxiliares de enfermagem. Este acompanhamento é feito

através de grupos de encontro, assembléias ou atendimento individual, onde são

tratados todos os assuntos pertinentes à manutenção do programa, como

também, ao acompanhamento técnico dos moradores. Mensalmente as

residentes são atendidas por um psiquiatra no ambulatório do Ipq – SC

(PEREIRA, 2003).

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O trabalho desenvolvido nas RTs segue as diretrizes de um mesmo

projeto, porém, diferencia na sua prática, considerando os diferentes níveis de

dependência clínica e institucional de seus moradores.

O funcionamento é de uma casa comum nos moldes de um lar. Em seu

cotidiano os moradores mantêm relacionamento tipo familiar, realizam atividades

domésticas, como: lavar, passar, cozinhar, limpar etc., através de uma escala,

respeitando, porém, as preferências e habilidades de cada morador. Alguns

desenvolvem atividades em oficinas terapêuticas e trabalhos protegidos,

oferecidos pela instituição hospitalar psiquiátrica.

As despesas básicas das residências são custeadas pela instituição

psiquiátrica, através de convênio com o SUS, que oferece os medicamentos,

mantimentos, água, energia, materiais diversos e serviços de manutenção.

Os residentes vêm de longas internações em hospitais psiquiátricos,

perderam seus vínculos com seus familiares consangüíneos e com suas

comunidades de origem, a maioria pertence à religião católica, não tem instrução

formal, alguns são solteiros, outros casados e alguns tiveram filhos, mas

perderam esses contatos.

4.3 As participantes do estudo

As participantes deste estudo foram enfermeiras que atuaram ou atuam

nos programas das Residências Terapêuticas e os critérios de escolha das

participantes foram: 1) concordar em participar do estudo; 3) ter disponibilidade

de horário para tratar especificamente do estudo. Deu-se através de convite feito

por mim a estas enfermeiras, onde expliquei os objetivos do estudo, bem como a

importância de suas participações na construção do conhecimento de

enfermagem. Esta participação ocorreu de forma espontânea, através de diálogo

e de um espírito cooperativo.

A prática foi realizada com cinco participantes que preencheram os

critérios de seleção do estudo. No projeto era previsto seis participantes,

iniciamos esta etapa entrando em contato com as enfermeiras para agendar as

entrevistas, assim uma das possíveis participantes que já não faz mais parte do

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grupo e atualmente desempenha outras funções fora do ambiente do Hospital

Psiquiátrico, por contar com pouco tempo disponível decidimos por não contar

com sua participação na presente pesquisa.

Estas participantes serão tratadas neste estudo por codinomes escolhidos

por mim, sendo estes nomes de Deusas da história grega.

4.4 A imersão na prática assistencial

Tendo em vista a necessidade de assistência para que o estudo se

caracterize como Pesquisa Convergente Assistencial (PCA), pude aproximar-me

das Residências Terapêuticas através do estágio de 180 horas do 8º período do

curso de Enfermagem.

Uma das atividades fundamentais para o funcionamento das RTs são as

assembléias, das quais participei em média de duas, em cada RT. Estas são

realizadas pela equipe técnica (Enfermeira, Psicólogo e/ou Terapeuta

Ocupacional). As assembléias acontecem em cada RT independente da outra,

em intervalos semanais conforme o exposto a seguir:

� Residencial das Orquídeas: segunda-feira pela manha;

� Residencial do Pomar: quarta-feira a tarde;

� Residencial Antúrio: terça-feira pela manhã;

� Residencial Atena: quinta-feira pela manha.

Durante minha participação nas assembléias pude perceber que a relação

entre profissionais e moradores é a melhor possível, pois os moradores

encontram nos profissionais um apoio, uma base para conseguirem retomar o

convívio social. Com esta estratégia pude me aproximar mais dos profissionais e

moradores das RT.

No Residencial das Orquídeas é desenvolvido um programa para

pacientes semi dependentes, aonde a abordagem das moradoras se dá de forma

diferenciada das outras, pois é neste ambiente que as pacientes egressas do

Hospital Psiquiátrico têm o primeiro contato com o meio externo, é o primeiro

local para o qual elas vão quando recebem alta Hospitalar, neste ambiente elas

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têm acompanhamento integral da equipe de enfermagem nas 24 horas do dia,

devido ao alto grau de dependência destas “novas moradoras”.

Nas demais RT o atendimento é feito através de supervisão semanal pela

equipe técnica e acompanhamento diário de meio período por cuidadores de

nível médio.

As Assembléias são realizadas com o objetivo de trabalhar os problemas

que vem acontecendo no decorrer dos dias, bem como rever as atividades

realizadas pelos moradores no cotidiano da casa buscando soluções para as

questões pendentes e urgentes. Neste sentido no Residencial das Orquídeas as

atividades são redirecionadas todas as semanas isso quer dizer que a cada

semana uma paciente ou moradora realiza atividades diferentes fazendo uma

forma de rodízio para que todas tenham contatos com as diferentes atividades

uma vez que o objetivo das Residências é dar oportunidade para que todos os

moradores resgatem suas habilidades pessoais e tenham possibilidades de

retomar o convívio da sociedade.

Nestas Assembléias os (as) moradores e profissionais agendam assuntos

no inicio da Assembléia, para serem discutidos no decorrer da conversa, estes

assuntos são variados, mas giram em torno da rotina da casa, pedidos para

passeios e algumas coisas pessoais como, por exemplo, a 2ª via de documentos.

Durante este período o ato de assistir/cuidar ocorreu através da nossa

participação nos grupos, assembléias e atividades em geral das Residências

Terapêuticas.

Um dos momentos onde pude participar da assistência aos moradores foi

durante a organização de uma festa de aniversário de dois moradores

contribuindo nas decisões pertinentes ao momento, definindo com eles qual o

cardápio do almoço, a compra dos refrigerantes, a decoração, enfim pude

participar com eles neste momento. Nesta faze percebi que já estávamos

construindo nosso relacionamento interpessoal.

4.5 A coleta de dados

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Para a coleta de dados foi feito convite as enfermeiras que estavam de

acordo com os critérios de seleção anteriormente estabelecidos.

A coleta de dados foi realizada através de um encontro individual com

cada uma das enfermeiras, totalizando cinco (5) encontros, estes encontros

aconteceram no período de 08 a 27 de março de 2007. Os dados foram

coletados sob a forma de entrevista semi-estruturada (Apêndice 3), onde as

enfermeiras podiam se expressar, dentro de uma linha de raciocínio.

Através dos depoimentos coletados podemos obter mais informações,

dando oportunidade para que o entrevistado pudesse expor seus sentimentos,

experiências e percepções com relação aos cuidados de enfermagem

dispensados aos portadores de Transtornos Mentais moradores das Residências

Terapêuticas, em processo de reabilitação psicossocial, como também,

relacionados aos papéis assumidos por esses profissionais neste cuidado.

A coleta dos dados foi completada nos momentos de convivência com o

grupo de moradores e profissionais que atuavam nas RT, como também durante

as atividades e assembléia, através de observação participante.

4.6 O registro e análise dos dados

O registro dos dados coletados a partir das entrevistas semi-estruturadas

foi feito por meio de gravação em fita cassete, posteriormente, o conteúdo

gravado foi transcrito, para posterior análise.

A análise dos dados seguiu as orientações sugeridas na pesquisa

convergente assistencial. Segundo Trentini & Paim esta modalidade de análise

de dados consta de quatro processos: apreensão, síntese, teorização e a

recontextualização, seguindo uma ordem crescente destas atividades de análise.

No processo de apreensão, que corresponde à coleta das informações,

foram utilizados os registros de NE que corresponde às notas de entrevista, NT

que correspondem às notas teóricas contendo as interpretações do pesquisador

e ND que são as notas do diário contendo os relatos diários da pesquisa, como:

os sentimentos, impressões e ações do pesquisador, e NO que correspondem a

notas de observação.

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O processo de síntese corresponde à imersão no conteúdo apreendido até

a completa familiarização das informações, de tal modo que a síntese se dá

desde as palavras-chave ás codificações.

No processo de teorização o pesquisador desenvolve um esquema teórico,

no qual as informações foram definidos e descritos os temas e conceitos

emergentes dos dados.

E por último, a fase de recontextualização, na qual o pesquisador dá

significado a determinados achados à procura de contextualizá-los em situações

similares de sua experiência no estudo. É como a devolução de dados

recolocando-os na assistência de modo mais reconceituado.

4.7 Os aspectos éticos

O início desta etapa se deu através da entrega de uma cópia do projeto ao

Comitê de Ética em Pesquisa da UNIVALI, que foi aprovado no dia 22/09/2006.

Posteriormente, outra cópia foi enviada à Comissão de Ética do Instituto de

Psiquiatria de Santa Catarina, seguido de uma solicitação formal para que

pudesse desenvolver a presente prática assistencial (Apêndice 1). Foi entregue

também, uma cópia à Gerência de Enfermagem.

A pesquisa foi realizada com enfermeiras que atuam ou atuaram nos

Programas de Residências Terapêuticas vinculadas ao IPq-SC, localizadas na

comunidade de Santana, município de São José, e que abrigam pacientes

egressos de Hospitais Psiquiátricos.

Os participantes do estudo receberam o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido que apresenta a justificativa, os objetivos e os procedimentos que

foram utilizados na pesquisa, sendo elaborado em duas vias, onde uma ficou

com o sujeito da pesquisa e outra com o pesquisador (Apêndice 2).

Foram assegurados a confidencialidade e o anonimato das participantes,

bem como a liberdade de recusa, em participar ou a retirar o consentimento, em

qualquer fase do estudo, sem prejuízo algum para as mesmas.

A partir da aproximação da teoria de enfermagem de Peplau, pode-se

perceber que a questão ética é preponderante nesta teoria, pois respeita à

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cultura, crença, valores e estilo de vida, tanto do paciente, quanto da enfermeira,

buscando o amadurecimento e desenvolvimento de ambos, como seres

humanos.

A ética deve permear todos os nossos momentos, tanto como pessoas,

quanto como profissionais. A enfermagem compreende conhecimentos científicos

e técnicos, acrescidos de práticas sociais, éticas e políticas vivenciadas no

ensino, pesquisa e assistência. Presta serviço ao ser humano dentro do contexto

de saúde e doença. Atua na promoção, proteção e recuperação da saúde, sem

esquecer a reabilitação das pessoas, respeitando a individualidade do cliente

dentro do contexto social no qual está inserido, (COSTA, 2005 pg 102).

A discussão e a reflexão sobre o comportamento ético em atividades de

saúde devem ser compreendidas dentro do enfoque de responsabilidade social e

ampliação dos direitos da cidadania, (PEREIRA, 2003).

A resolução 196/96 engloba todas as normas e regulamentos já

amplamente discutidos em todo o mundo e incorpora alguns aspectos novos

sobre a pesquisa com seres humanos, referindo que esta norma se destina a

qualquer pesquisa que, individualmente ou coletivamente, envolva o ser humano

de maneira direta ou indireta, no seu todo ou em suas partes. Esta resolução

agrega os quatro referenciais básicos da bioética – autonomia, não maleficência,

beneficência e justiça – visando garantir o cumprimento desses referenciais.

A atitude pertinência ética e moral foram a essência desta pesquisa, e se

constituíram o compromisso maior no estudo uma vez que, estive envolvida

durante o processo de sua execução com o indivíduo, compartilhando

informações, vivenciando valores e crenças participando em seu meio mais

privado e até de questões intimas reveladas em benefício do estudo.

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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para a análise das informações, foram utilizadas as etapas metodológicas

assumidas pelas autoras da Pesquisa Convergente Assistencial (PCA) , Trentini

e Paim (2004), onde são contemplados os quatro processos genéricos:

Apreensão , sendo esta a reunião de informações coletadas; fase de

Interpretação , que se divide em: Síntese , ou seja, no caso desta pesquisa, os

dados decodificados das informaçoes tematizadas na entrevista a identificação

dos papéis assumidos pelas enfermeiras, o domínio do tema pesquisado;

Teorização , dos dados interpretados; e a Transferência, os significados

advindos de determinados dados ou descobertas ligadas á questão problema,

sendo analisado criticamente para revertê-los como indícios de mudanças à

situação real de procedência do problema.

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Hildegard Peplau criou um marco conceitual teórico, no qual as

enfermeiras podiam sistematizar os cuidados que prestavam, em particular, a

enfermagem em saúde mental. Sua teoria concentra-se na relação

enfermeira/paciente e suas idéias, acerca da enfermagem, são originadas nos

conceitos de desenvolvimento de habilidades pessoais e interpessoais e na teoria

da aprendizagem.

À medida que o relacionamento da enfermeira e do paciente desenvolve-

se, ela pode escolher como praticar a enfermagem, usando diferentes

habilidades e capacidades técnicas e assumindo vários papéis, (George, 2000).

Os papéis a que Hildegard Peplau se refere em sua teoria, são funções

que as enfermeiras desenvolvem no seu dia-a-dia com os indivíduos que ela

cuida. Estes papéis são dinâmicos e mutáveis e vão surgindo na convivência

entre ambos, enfermeira e paciente.

Estes papéis podem ser descritos como uma série de normas que podem

ser ampliadas dependendo das situações. Os mesmos não acontecem de

maneira isolada, pois os pacientes os identificam nas enfermeiras de maneira

espontânea, por isso estes não acontecem isoladamente e sim

intererrelacionados.

Simpson (1992, p. 23), se referindo aos papéis assumidos pelas

enfermeiras psiquiátricas, diz que um papel pode ser descrito como uma série de

normas que uma pessoa utiliza em variadas situações. O autor afirma que a

relação profissional deve ser objetiva para capacitar o paciente e a enfermeira a

fim de que possam trabalhar de forma cooperadora e madura, neste processo de

cuidado.

Neste capítulo apresento e descrevo as categorias que resultaram da

análise de dados obtidas nas informações levantadas com as enfermeiras que

atuam ou atuaram nos programas de Residência Terapêutica.

Dos dados levantados emergiram oito categorias que correspondem aos

papéis assumidos pelas enfermeiras no desenvolvimento do processo de

Reabilitação Psicossocial dos moradores de das RTs.

As categorias são as seguintes:

• Substituta : (mãe substituta): a presença verdadeira apoiando e

impulsionando o Processo de Reabilitação Psicossocial;

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• Educadora : a educação como instrumento de transformação no

Processo de Reabilitação Psicossocial;

• Conselheira ou Psicoterapeuta : ajudando a compreender

sentimentos e experiências vividas, buscando soluções;

• Gerente : a direção do processo de reabilitação vai sendo dada;

• Técnica: garantindo a assistencai e potencializando o autocuidado;

• Pessoa recurso: possibilitando a Reabilitação Psicossocial através

da informação.

• Agente de socialização: uma ponte para a ressocialização;

• Líder: influenciando no sentido da participação, responsabilidade e

Reabilitação Psicosocial;

5.1 SUBSTITUTA (mãe substituta): a presença verdade ira apoiando e

impulsionando o Processo de Reabilitação Psicossoci al

Peplau, em sua teoria identifica o papel de substituta, onde a enfermeira

assume o lugar de outra pessoa. Este papel pode aparecer quando os pacientes,

mesmo que inconscientemente, criam situações para diminuir sentimentos de

insegurança e debilidade, assim sentem-se mais seguros e com maior controle

da situação, (SIMPSON, 1992).

Na medida em que enfermeiro e paciente vão se conhecendo o

relacionamento torna-se cada vez mais intenso de modo que ambos venham a se

reconhecer como seres humanos. O relacionamento interpessoal faz com que

enfermeira e paciente criem um vínculo sentimental, onde a enfermeira exerce o

papel do cuidado. Nos relatos de Hera, Afrodite, Deméter e Ártemis esse

relacionamento aparece como se o paciente fosse um filho, criando uma relação

familiar entre ambos.

Nos Programas Residências Terapêuticas o que se pode perceber é que

os moradores criam este vínculo, tanto que muitos se sentem como familiares

identificando os papéis de pai, mãe e irmãos, o que fica claro na fala de Hera

onde a mesma admite que “não tem como não criar vínculo sentimental”.

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A família pode ser considerada uma unidade dinâmica constituída por

indivíduos que se percebem como família, que convivem no mesmo espaço, com

objetivos comuns construindo uma história de vida. Os membros da família estão

unidos por laços consangüíneos, de interesse ou de afetividade, (SCHMITZ et all,

2004).

De acordo com Peplau (1988), apud Simpson (1992) o papel de

substituição é potencialmente útil, uma vez que ajuda o paciente a ver a si

mesmo e os demais como pessoas reais, e permite o desenvolvimento da

relação mais profunda e plena, conforme podemos perceber na fala abaixo:

A questão do afeto é muito grande, mesmo sabendo do teu papel é impossível você distanciar e às vezes você tem que estar interferindo por que é um papel muito intenso é como se você fosse mãe, mãe, mãe, (AFRODITE).

Deste modo a enfermeira pode auxiliar o paciente a escolher o que é

melhor para si e não fazer por ele. Nesta relação a enfermeira pode ajudá-lo a

compreender e solucionar seus problemas.

Ao analisar a fala das enfermeiras posso perceber que no

desenvolvimento deste papel há muito envolvimento emocional de ambas as

partes, uma vez que o relacionamento entre estes se reporta ao de uma família

quando se identificam e desempenham seus papéis como tal. De acordo com

Deméter na sua vivência ela refere que se sente meio mãe por ter que guiar

estes moradores, refere ainda que se não servir como referência, como mãe a

coisa não anda bem.

A partir desta fala pode-se afirmar que o grau de dependência dos

moradores ainda é muito grande e que a enfermeira sente-se responsável por

eles, uma vez que muitos deles não têm mais família, por isso é importante dar

um pouco de carinho, por serem as poucas ou até mesmo as únicas pessoas que

elas têm por perto, para eles as enfermeiras são referências do que é certo e o

que é errado.

Conforme relatos alguns moradores encontram na enfermeira a figura da

mãe, de acordo com a fala exposta a seguir:

Elas acabam nos tendo como referência, até algumas me chamam de mãe, mas ai eu falo que não sou a mãe delas, (DEMÉTER).

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Surge então outra questão, quando a enfermeira percebe a importância de

clarear com a paciente que ela está num papel de mãe, mas não é a mãe, pois

segundo Peplau uma substituta significa por definição “pessoa em lugar de”

enquanto que a substituta “toma o lugar de”. Nos papéis de substituição se põe

no lugar de outra pessoa.

Em alguns trechos dos relatos das enfermeiras pude perceber que em

alguns casos este relacionamento é algo que não deve ocorrer em todos os

momentos, pois, na percepção de Afrodite há casos em que o envolvimento

emocional pode contribuir para a limitação do outro, pois pode ser considerado

prejudicial para si mesmo, para o paciente e para o desenvolvimento de relações

interpessoais adequadas.

Afrodite relata em uma de suas falas que mesmo desempenhando o papel

de mãe às vezes é necessário interferir e chamar a atenção desses moradores

impondo limites.

Já, em outro momento, identificamos nos discursos das enfermeiras

aspectos positivos do envolvimento emocional que consideram ser muito

interessante, é muito difícil não se envolver com o estado emocional do paciente.

Às vezes a gente tem que ser mais afetiva, ser mais mãezona por que naquele momento ela estava precisando, (AFRODITE).

Dentro deste contexto nos reportamos à teoria de Hildegard Peplau, onde

esta descreve em sua obra em 1962 os subpapéis assumidos pela enfermeira, a

autora apresenta o subpapel de mãe substituta. Neste a enfermeira satisfaz

necessidades básicas associadas à maternidade, como dar banho, alimentar,

vestir, ajudar nas eliminações, avisar, disciplinar e aprovar, (TOWNSEND, 2002

p. 74).

No caso do autocuidado a enfermeira através da supervisão orienta e

auxilia o paciente, identificando a necessidade de estar ou não intervindo, por

exemplo, conforme fala a seguir onde Hera identifica a necessidade de

intervenção no caso em que uma moradora afirma ter realizado cuidados de

higiene, mas na verdade o que se percebe é que isso não aconteceu.

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Quando a gente vê que ela não tomou banho ai a funcionária vai lá no guarda roupa dela e encaminha para o banho e explica que ela tem que tomar banho, escovar os dentes, e que ela não pode ficar suja, (HERA).

Neste sentido podemos observar que a enfermeira desempenha um papel

fundamental de orientação e supervisão, para que estes indivíduos tenham

plenas condições de se manterem bem sozinhos, e com isso conquistem sua

autonomia e independência.

O autocuidado é um dos pontos muito importantes na reabilitação

psicossocial, uma vez que estes indivíduos vêm de longos anos de internação em

Hospitais psiquiátricos, sob a supervisão direta da enfermagem desacostumados

do autocuidado, por isso a importância deste papel assumido pelas enfermeiras,

de reabilitá-los para assumir seus próprios cuidados.

Segundo Orem (1991), apud Foster & Bennett (2000), o autocuidado

acontece quando os indivíduos são capazes de fazê-lo por si próprios, mas

quando estes não são capazes de fazê-lo a enfermeira deverá providenciar a

assistência necessária para que isso ocorra.

A mesma autora relata ainda que quando o cuidado é realizado

adequadamente, este ajudará a manter a integridade estrutural e o

funcionamento humano, contribuindo para o desenvolvimento deste.

No cotidiano da RT ficou evidenciada a importância da presença do

substituto, neste caso de mãe substituta, que apóia, compreende, da limites, que

se envolve afetivamente, e enfim, que através da presença verdadeira estabelece

e desenvolve a relação interpessoal que vai favorecer as transformações

necessárias no sentido do processo de reabilitação psicossocial.

5.2 EDUCADORA: a educação como instrumento de trans formação no

processo de Reabilitação Psicossocial

Dentro do contexto de reabilitação psicossocial a enfermeira psiquiátrica

desenvolve outro papel importante relacionado à educação destes moradores,

uma vez que estes estiveram por muitos anos sobre a proteção e assistência de

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hospitais psiquiátricos, onde estavam completamente dependentes da equipe

cuidadora.

A relação entre enfermeira e paciente evolui para uma relação de parceria,

expandindo as dimensões do papel da enfermagem psiquiátrica, (STUART &

LARAIA, 2001).

Neste papel a enfermeira identifica a necessidade de aprendizado e

fornece informações necessárias ao cliente ou seus familiares para melhorar a

situação de saúde, (TOWNSEND, 2002 p. 74).

No contexto desta clientela a situação de saúde mental esta comprometida

prejudicando sensivelmente o desenvolvimento das habilidades pessoais e

sociais destes moradores, tornando-se então necessário a ampliação de um

amplo processo de reabilitação psicossocial.

Então primeiramente devemos compreender o que é reabilitação

psicossocial, para depois abordarmos o papel de educação.

O termo reabilitação psicossocial tem sido pensado e definido por muitos

autores e profissionais de saúde mental. Pitta (1996, p. 12), se refere a ele como

“um processo pelo qual se facilita ao indivíduo com limitações para os afazeres

do cotidiano o aumento da contratualidade afetiva, social e econômica, que

viabilize o melhor nível possível de autonomia para a vida na comunidade”. A

autora entende que este processo deve ser permeado por uma ética de

solidariedade e que para a sua implementação é necessário que se considere o

jeito de pessoas e/ou movimentos sociais que as contextualizam.

Partindo deste pensamento, tornamos prática a fala anterior quando

Deméter relata que o trabalho nas RTs é de reabilitação ela diz que a enfermeira

tem o papel de ajudar o morador a reorganizar a vida dele para que ele possa

compreender que esta inserido em um processo de moradia, que está em uma

casa, conforme evidenciado a seguir.

Então você tem que se reorganizar, ensinar, meio que reestruturar esse processo de casa e fazer ela se reinserir nessa casa e ela têm que entender que ali é a casa dela, (DEMÉTER).

De acordo com Deméter, Atena, Hera, Afrodite e Ártemis a enfermeira

desempenha este papel através da reeducação, onde a mesma ajuda os

moradores a desempenhar suas funções, conforme esta fala:

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No início a gente teve que ensinar elas a fazer as atividades, as atividades são delegadas aos que tem condições de fazer, são pessoas que tem condições de reaprender, a gente faz esse papel de estar reensinando, (DEMÉTER).

Dentro deste contexto sabemos que a doença mental muitas vezes

incapacita os indivíduos para realizarem suas atividades, agravados por muitos

anos de internação em unidades hospitalares, com empobrecimento das

habilidades pessoais e sociais, sujeitos a combinação da experiência da doença

mental com os efeitos colaterais das medicações e a própria doença podem fazer

com que esses indivíduos pareçam estranhos ou até mesmo ajam de forma

incomum aos olhos da comunidade, por isso da importância que eles convivam

na sociedade, pois quanto mais elas conviverem na comunidade mais elas terão

oportunidade de se parecerem com as pessoas dali.

Segundo Stuart & Laraia (2001), as pessoas com transtornos mentais são

descritas frequentemente como pessoas apáticas, retraídas e socialmente

isoladas. Alguns doentes mentais apresentam dificuldades para se relacionarem

aos sintomas das doenças, como por exemplo, a depressão causa apatia e

retraimento, e a esquizofrenia leva a problemas de percepção e no

processamento de informações e na comunicação. Esses comportamentos fazem

com que estes indivíduos não sejam compreendidos, por isso a enfermeira deve

investir em cada um para da melhor forma potencializar o que de melhor há

nestas pessoas.

Essas considerações podem ser confirmadas na fala de Ártemis descrita

abaixo:

No processo de reabilitação psicossocial e de RTs alguns demoram a se adaptar, outros não, acham maravilhoso ir para a casa, ai eu trabalho toda essa questão da dificuldade do resgate do autocuidado, a questão do cuidado da casa , de respeitar o outro, (ÁRTEMIS).

Todo o processo de reeducação compreende um método de dar

possibilidades para que estes indivíduos tenham condições de vir-a-ser

evidenciando-se como pessoa, como ser humano, pois, segundo Atena a

enfermagem deve aprender a lidar com as dificuldades desses pacientes, de

reeducar para que eles aprendam a fazer sozinhos.

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O ensino pode ser um instrumento de integração que as enfermeiras usam

para facilitar o processo de reabilitação psicossocial. A enfermeira enquanto

educadora deve ser desafiada não somente para fornecer educação específica

aos indivíduos como também, para enfocar as necessidades de educação na

sociedade, para que quando estes estiverem no meio social sejam aceitos

normalmente. Podemos evidenciar esta afirmação na fala a seguir:

A gente aqui procura ter um ambiente mais parecido de uma casa, mais próximo de uma casa, é uma educação continuada em relação a tudo e como se comportar lá fora, a gente faz isso no dia-a-dia aqui dentro da casa e quando elas forem lá no meio social elas possam aplicar aquilo que elas aprenderam, preparar através da higiene, do autocuidado e da reeducação, (HERA).

A educação é um papel importante na enfermagem, uma vez que este

indica como os indivíduos podem ser capacitados para ter um comportamento

que conduzam a um ótimo autocuidado. Atena em suas falas deixa claro que este

processo de reeducação tem por finalidade fazer com que estes moradores se

desenvolvam e tenham condições de fazer sozinhos. A fala de Afrodite nos

mostra como foi o início da implantação de uma das RTs, onde as enfermeiras

juntamente com toda a equipe técnica trabalharam neste processo de

reeducação:

No inicio a gente ia pro tanque para as pacientes aprenderem a lavar a roupa, ter cuidado mínimo com essas coisas, quando entramos na casa, ai começamos fazendo faxina e nós junto com as pacientes, a gente pegava na vassoura com elas e ia ensinando, (AFRODITE).

Através da educação estes moradores podem desenvolver capacidades de

agir sobre a realidade e, se necessário, transformá-la, portanto, é através da

comunicação e troca de conhecimentos que estes indivíduos vão sendo

educados.

Em virtude disto pode-se perceber a importância da enfermeira no

desenvolvimento deste papel. Esta educação desenvolvida pela enfermeira

deverá levar o indivíduo ao entendimento das questões ligadas a ele para que

este esteja preparado para agir de acordo com a necessidade, dentro de um

contexto em que a educação a ele proposta, se dê de forma a transformar e criar

novas possibilidades para conviver no cotidiano.

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Dentro deste contexto aparece de forma importante a questão de lidar com

o tratamento medicamentoso que aparece nas falas de Deméter, Atena, Afrodite,

Hera e Ártemis, onde fica evidenciado o papel desempenhado pelas enfermeiras

na orientação e conscientização dos mesmos quanto à necessidade de aderência

e manejo do tratamento medicamentoso. Conforme a fala que segue:

A gente ensinava muito para as pacientes a questão de tomar as medicações, a gente as ensinava quando iam para casa o que tomar e em que horário e que não podia ficar sem as medicações a medicação é a base para que ela possa estar bem, a gente mostra o comprimido e ensina como tomar, ai a gente sempre fazia a ponte dizia pro responsável em casa não deixá-lo esquecer de tomar a medicação, (DEMÉTER).

Furegato (1999), relata que os indivíduos podem estar conquistando

liberdade que permitirá fazer suas escolhas de forma adequada para alcançar

sua própria realização.

Através do relacionamento terapêutico entre enfermeira e paciente

podemos perceber, pelos relatos, que tais discursos nos revelam que o

envolvimento é visto como essencial, pois só assim o profissional consegue

perceber as dificuldades do paciente favorecendo a ajuda.

Dentro desta idéia Atena relata que o processo de reabilitação psicossocial

é um processo de reeducação, onde os moradores devem aprender a se “virar”

sozinhos e ter iniciativas para resolver os problemas relacionados as RTs.

Os papéis assumidos pelas enfermeiras são utilizados de forma a

intermediar para prestar cuidados aos pacientes, neste caso para moradores de

RTs.

A gente tem que explicar para o paciente de várias formas, de várias linguagens dizer para ele que é esse medicamento que está mantendo ele bem, que possibilita ele estar aqui, possibilita eles estarem estáveis... (ATENA).

Segundo Smeltzer & Bare (2006), a educação é importante para o cuidado

de enfermagem, uma vez que ela determina como os indivíduos devem se

comportar para realizarem o autocuidado de forma correta, sendo que os

cuidados na enfermagem objetivam ainda a promoção, manutenção e

recuperação da saúde, como podemos perceber nesta fala:

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A gente dá um passo a cada dia, as vezes vai um para trás, mas sempre objetivando a reeducação, (DEMÉTER).

De acordo com Smeltzer & Bare (2006, p 51), o momento de ensino para

um adulto acontece quando o conteúdo e as competências, que estão sendo

ensinadas, são compatíveis com a tarefa a ser realizada.

Embora, cada papel seja específico, esses papéis se interrelacionam e são

encontrados frequentemente na enfermagem, eles são destinados para satisfazer

as necessidades de enfermagem e dos indivíduos que cuidamos.

A educação envolve muitos conflitos, desejos, necessidades e buscas.

As pessoas com doenças crônicas são as que têm maior necessidade de

educação, pois precisam de informações para que possam interagir nos

cuidados. Através da educação estes indivíduos estarão se adaptando à doença

e às novas formas de cuidado, objetivando uma vida mais saudável para atingir

seu potencial máximo de saúde, neste caso às vezes demora um pouco para

atingir as metas traçadas.

5.3 CONSELHEIRA OU PSICOTERAPEUTA: ajudando a compr eender

sentimentos e experiências vividas, buscando soluçõ es

Neste papel a enfermeira ouve enquanto o cliente revê sentimentos

relacionados às dificuldades que está tendo em algum aspecto da vida. Foram

identificadas “técnicas interpessoais” para facilitar a interação da enfermeira no

processo de ajudar o cliente a resolver problemas e tomar decisões em relação a

essas dificuldades, (TOWNSEND, 2000).

De acordo com Furegato (1996, p 37), o desenvolvimento do

relacionamento terapêutico enfermeira e paciente ocorre através de uma

seqüência de encontros, através do qual a enfermeira identifica a necessidade de

ajuda da pessoa, a partir daí implementa as ações de enfermagem adequadas e

necessárias. O relacionamento terapêutico ocorre quando enfermeira e paciente

se identificam, é através da comunicação interpessoal que a enfermeira poderá

ajudá-lo.

Peplau (1952) apud Stuart & Laraia (2001), refere que:

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Os conselhos, na enfermagem, têm a ver com ajudar um paciente a recordar e a compreender plenamente o que lhe esta acontecendo na situação atual, de modo que a experiência possa ser integrada com outras experiências de vida, ao invés de dissociadas delas, (STUART & LARAIA, 2001).

Segundo Travelbee (1982), o enfermeiro é um agente ativo que ajuda o

paciente a compreender seus sentimentos, dando oportunidade para que este

possa compreender suas experiências anteriores, auxiliando o individuo a

reconhecer o que está acontecendo, isto pode ser expresso através de

conversas e de aconselhamentos, onde a enfermeira auxilia o paciente a

compreender suas emoções:

Tem uma ou outra paciente que chora, sente muita falta da família, tem uma que a família mora longe e é muito pobre, então quando ela esta muito triste eu sento e converso, ouço, explico para ela, coloco por que não tem a presença da mãe e autorizo que ela ligue para a mãe, ai ela fica melhor, (HERA).

Peplau apud Townsend (2002, p. 74), sugere que a enfermeira que

trabalha na psiquiatria deve aprender técnicas de aconselhamento, pois segundo

ela uma relação terapêutica se estabelece com base em técnicas interpessoais,

onde a enfermeira terá conhecimentos relacionados a teorias de desenvolvimento

de personalidade e de comportamento humano.

Destacamos mais uma vez a relevância do relacionamento interpessoal

entre enfermeira e paciente, pois com esta nova forma de cuidar estaremos

contribuindo para mudar as formas anteriores de tratamento e assistência, que

eram baseados nas internações em hospitais psiquiátricos, onde eram isolados

do convívio social e submetidos à invalidação enquanto seres humanos. Esta

mudança só será possível se utilizarmos as novas formas de cuidado neste

momento advindas da Reforma Psiquiátrica, trabalhar a reabilitação psicossocial

no processo de RTs, possibilitando a esses indivíduos novas possibilidades de

ver a vida.

Uma relação se desenvolve a cada dia, como a relação enfermeira-

paciente, muitas vezes as pessoas não se dão conta de que estão buscando

ajuda e os outros não percebem que estão ajudando, esta relação pode estar

cheia de emoções e sentimentos entre as partes, (FUREGATO, 1996).

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De acordo com a mesma autora o mais elaborado de todos os tipos de

relacionamento é o relacionamento terapêutico, por ser um processo através do

qual as pessoas tentam inconscientemente ajudar as outras a aumentar suas

capacidades de adaptação, (FUREGATO, 1996).

Como há falta da família a gente começou a criar um sentimento entre elas, que a família não é só aquela relação de sangue, são pessoas que tu estas convivendo e que tens afeto, a gente trabalha essa questão no grupo de sentimento, (AFRODITE).

Para que haja um relacionamento terapêutico entre enfermeira e paciente,

além de conhecimentos específicos, é fundamental o envolvimento criativo de

ambas as partes visando o desenvolvimento de uma aliança terapêutica. A

enfermeira enquanto psicoterapeuta através do aconselhamento deve oferecer

ao paciente condições para que este possa desenvolver-se enquanto ser

humano.

Rudio (1990) apud Furegato (1999, p. 28), refere que quando paciente e

enfermeira se encontram, estes interagem comunicando-se através de diálogo

onde o assunto é o problema e a solução para este. Espera-se que este diálogo

possibilite ao indivíduo um maior crescimento, desenvolvimento, maturidade e

principalmente uma maior capacidade de enfrentar problemas. Esta questão fica

evidenciada na fala abaixo:

Se tiver alguma intercorrência, alguma alteração de comportamento eu vou trabalhar com esta paciente, ai eu chamo individual para conversar comigo, e também trabalho com ela nessa limitação, nessa alteração de conduta, e trabalho no grupo de sentimento, (HERA).

Através do diálogo, e do aconselhamento enfermeira e paciente podem

sentir-se estimulados pelo progresso do relacionamento de ambos, este

progresso pode servir de impulso para que estes se relacionem de forma a

buscar soluções para todos os problemas por eles encontrados. A relação entre

enfermeira e paciente propicia um meio para que o diálogo tenha lugar.

Para Furegato (1999), quando alguém se propõe a ajudar outra pessoa

esta deve concentrar-se na pessoa e não somente no problema, deste modo o

sujeito não será tratado como objeto. Quando há interação entre ambos estes

podem confiar um no outro de forma á construir um relacionamento de confiança.

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Afrodite relata que algumas pacientes precisam de atendimento individual,

pois em alguns casos quando elas vão para as RTs começam a retomar coisas

do passado, conflitos pessoais, emoções, e até mesmo se percebem enquanto

doentes, e isso pode interferir no dia-a-dia das mesmas, impedindo-as de

encontrar soluções para esses conflitos. É nesse momento que a enfermeira

deve estar preparada para ajudá-las a encontrar soluções.

5.4 GERENTE: a direção do processo de reabilitação vai sendo dad a

Neste papel a enfermeira controla e interage com o ambiente para

melhorar as condições de recuperação do cliente, (TOWNSEND, 2002, p 74). A

palavra gerenciamento é utilizada para definir as ações de direção uma

organização ou um grupo de pessoas, (JORGE et all, 2007).

A enfermeira neste processo de reabilitação psicossocial desempenha

várias funções, desde todo processo de implantação até o andamento das

atividades das RTs. Com relação ao gerenciamento as enfermeiras

desempenham diversas atividades nas RTs além das atividades diárias e

rotineiras. Ha atividades de grupo que são denominadas grupos terapêuticos e

Assembléias, estas são realizadas pelas enfermeiras responsáveis pelas RTs e

acontecem um vez por semana.

Como enfermeira a gente faz grupos terapêuticos, assembléia geral que é o encontro semanal onde eu vejo os pacientes coletivamente e todas as decisões são tomadas ali, (ATENA).

Estes encontros têm a finalidade de rever o contexto da casa, como está o

andamento das atividades, se está acontecendo os combinados dos encontros

anteriores e também, identificar possíveis problemas entre os moradores.

Dentro deste pensamento, vejo que a reabilitação psicossocial é um

processo de atenção ao doente mental, que pode estar presente, tanto nas

situações de crise aguda, quanto na assistência de pessoas com diferentes graus

de autonomia.

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Segundo Drucker (1972), gerente é um trabalhador que desempenha uma

função, onde através de seus conhecimentos e responsabilidades, trabalha de

forma a obter resultados. A enfermeira gerente deve tomar decisões e assumir

responsabilidades por sua contribuição no desenvolvimento das atividades com

os moradores das RTs. No desenvolvimento deste papel a enfermeira

supervisiona os moradores e dirige as atividades.

A supervisão é fundamental, eu chego aqui e a primeira coisa que eu faço é passar em todos os ambientes para ver se as atividades que foram propostas no grupo estão acontecendo, (HERA).

No decorrer da coleta de dados tive a oportunidade de participar de

algumas Assembléias realizadas nas RTs, onde pude perceber que a relação

entre profissionais e moradores é a melhor possível, pois os moradores

encontram nos profissionais um apoio, uma base para conseguirem retornar ao

convívio social. Percebi que os profissionais servem e se colocam como um

“espelho” para estas pessoas, é, a partir desta vivência, que eles percebem o que

é certo e o que é errado, o que é possível e o que não é.

Durante esta participação tive a aportunidade, quando da organização de

uma festa de aniversário de dois moradores, de participar juntamente com a

enfermeira do planejamento e organização da festa, na compra das comidas e

bebidas, bem como da decoração. Este momento proporcionou que me

aproximasse mais destes moradores bem como dos profissionais envolvidos

neste processo.

As Assembléias são realizadas com o objetivo de pontuar os problemas

que vem acontecendo no decorrer dos dias, bem como, rever as atividades

realizadas pelos moradores no dia-a-dia da casa solucionando as questões

pendentes e urgentes, como podemos ver na fala seguir:

Semanalmente tem reunião, ali a gente discute as atividades, algumas acontecem na dinâmica da casa com as funcionárias, ai elas trazem pro grupo, outros se encaixam naturalmente nas atividades, quando não tem a gente vê o que pode fazer, os que têm limitações não tem atividades e eu faço o grupo entender o por que, (ÀRTEMIS).

Utilizando de forma adequada seu papel, a enfermeira torna-se capaz de

identificar o grau de independência de cada paciente, através disso a mesma

pode determinar qual atividade é mais importante para cada individuo. O grau de

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dependência de cada individuo depende da gravidade da enfermidade deste, não

menos importantes são os antecedentes sociais do paciente, uma vez que este

influencia na capacidade dele para enfrentar seu estado atual. Dentro desta

perspectiva sabemos que os distúrbios psiquiátricos podem acometer os

indivíduos em diversas fases da vida, uma vez que a vulnerabilidade é agravada

por eventos naturais somados a predisposição psicossocial e psicológica.

A enfermeira, na posição de gerente no decorrer do seu trabalho, toma

decisões que terão impacto significativo nos resultados das atividades realizadas

pelos moradores das RTs.

Uma importante função da reabilitação psicossocial é capacitar os

indivíduos a compensar ou eliminar os déficits funcionais, e restaurar nelas a

capacidade de viver de maneira mais independente possível.

A reabilitação psicossocial neutraliza os sintomas negativos da doença,

como a dificuldade de cumprir tarefas, de se concentrar e de agir de maneira

correta. Atinge esta meta ensinando habilidades e técnicas para lidar com as

situações e ajudando o indivíduo a desenvolver um ambiente que lhe dê apoio

para readquirir o domínio da sua própria vida. As enfermeiras que trabalham com

a reabilitação psicossocial devem potencializar os pontos fortes de cada

indivíduo, promovendo o bem-estar e, sempre que possível, incluindo as famílias

e a comunidade no processo de recuperação.

A gente está direto na questão dos encaminhamentos, retornos, a marcação de consulta toda essa parte clinica e toda parte de gerenciamento, (ATENA).

O papel de gerenciamento contribui significativamente para um ambiente

participativo, na medida em que é garantido à equipe e aos moradores de RTs o

direito de desenvolver seu próprio processo de trabalho.

Para Chiavenato (2000), gerenciar é interpretar os objetivos propostos pela

organização e transformá-los em ação, a fim de alcançar os objetivos de maneira

mais adequada à situação.

Neste papel, a enfermeira é responsável pela direção de outras pessoas

que seguem suas ordens e orientações, ela deve olhar mais longe que os outros,

pois está ligada aos objetivos que as RTs se propõem para alcançá-los por meio

de atividades conjuntas entre enfermeira, equipe cuidadora e moradores. Para que

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isso aconteça, uma atividade importante é a Assembléia, que ocorre

semanalmente, onde a enfermeira revê as atividades da semana, como podemos

perceber:

Nas Assembléias eu vejo morador por morador, eu vejo a higiene, como ele se apresenta, como ele está aí eu revejo todos os contratos com eles porque a gente tem que trabalhar com paciente psiquiátrico de forma contratual, eu contrato com ele coisas que eu vou fazer para ele e ele para mim e para ele próprio e tudo isso visando esse processo de melhora dele, (ATENA).

O gerenciamento é importante, pois é um meio de fazer com que as

atividades sejam realizadas da melhor forma possível e de maneira eficaz.

Por ser um papel que envolve enfermeira e paciente, este pode ser

considerado como uma forma de comunicação, pois é um processo pelo qual os

envolvidos transmitem informações entre si, a enfermeira, em virtude de seus

conhecimentos, deverá interpretar seus significados de forma a contribuir para o

processo de reabilitação psicossocial.

No processo de reabilitação psicossocial deve haver uma colaboração

coletiva da equipe de enfermagem com a participação e o envolvimento desta em

sua totalidade, para que o resultado seja o compromisso de todos com a qualidade

da assistência prestada. Neste contexto, quando a enfermeira atua de forma

sistematizada, esta deixa de ser uma pessoa que somente coordena a equipe de

enfermagem, exercendo, além da atribuição gerencial, um papel de facilitadora de

discussões sobre a evolução do paciente, estabelecendo julgamentos e avaliações

sobre seu estado de saúde e as condutas que o reconduzam a uma vida ativa.

5.5 TÉCNICA: garantindo a assistência e potencializ ando o autocuidado

O foco deste papel, segundo Townsend (2002, p. 74), é na realização

competente, eficiente e correta de procedimentos técnicos.

O relacionamento terapêutico pode ser considerado como um desses

instrumentos de cuidado que permitem essa reintegração e reorganização da

pessoa portadora de transtornos mentais. Trata-se de uma tecnologia de

cuidado, que possui saberes e habilidades, destinada ao entendimento do ser

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humano em sua totalidade, de suas limitações, possibilidades, necessidades

imediatas e potencialidades. Permite a reflexão, o crescimento pessoal, o

reconhecimento do ser humano, como importante promotor do cuidado de si e o

desenvolvimento de habilidades para o enfrentamento do sofrimento e da

reintegração social.

Este papel está relacionado diretamente com as funções do dia-a-dia que

as enfermeiras exercem como administrar e principalmente supervisionar a

ingesta da medicação, nas falas de Afrodite, Atena, Deméter, Hera e Ártemis

pode-se perceber claramente a preocupação quanto à medicação:

A medicação com certeza é fundamental é onde a gente tem que tomar maior cuidado para que elas tomem a medicação, essas pacientes que a gente observa que jogam a medicação fora a gente macera algumas vezes e ela é supervisionada com maior cuidado, (HERA).

O cuidado no espaço das RTs depende muito do desenvolvimento de

habilidades interpessoais. Os relacionamentos podem desenvolver-se através da

comunicação, que não precisa ser necessariamente verbal, pois, muitas vezes

nos comunicamos através de ações, mesmo que inconscientemente. Para

estabelecer um relacionamento interpessoal devemos desenvolver habilidades e

comportamentos que nos levam ao estabelecimento deste.

A enfermeira enquanto técnica, além de desenvolver atividades

específicas da função, deverá compreender os indivíduos que cuida, ela aprende

a ouvir os outros de forma a pensar e ver o mundo da outra pessoa, conectando-

se aos sentimentos e percepções do outro, (ALFARO-LEFEVRE, 2000).

Trabalhando na perspectiva do outro nos possibilita identificar e priorizar as

necessidades e descobrir as metas.

A enfermeira, neste papel, desempenha funções especificas de orientação

e acompanhamento do trabalho da enfermagem, sendo evidenciadas por

habilidades que, tipicamente, são atividades básicas de enfermagem,

participando no planejamento da assistência de enfermagem: comunicação,

higiene, assistir pacientes em suas necessidades de alimentação, eliminação

(fisiológicas), e ajudar na mobilidade. Isto esta evidenciado na fala a seguir:

Eu vejo morador por morador, eu vejo a questão da higiene como ele se apresenta como ele esta, ai eu revejo todos os contratos com eles, tudo isso visando esse processo de melhora dele, (ATENA).

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Cianciarullo (2000), refere que a enfermagem, a partir de Florence

NIghtingale, em 1859, começou a ter um cunho cientifico. A observação foi então

valorizada, pois tornava a prática profissional mais que um simples cumprimento

de tarefas. A observação possui objetivos definidos, pode ser um instrumento de

coleta de dados que subsidia a transformação da realidade em que a enfermeira

atua.

A mesma autora refere que “o ser humano e o ambiente estão em

constante interação e em troca contínua de energia através de padrões rítmicos,

desta forma, um padrão energético diferente gera uma percepção diferenciada do

todo”. Analisando esta fala penso que a atuação da enfermagem deva dar a

devida importância aos instrumentos relacionados à arte de cuidar do ser

humano, com vistas a ampliarmos nossa visão de seres humanos inseridos no

mundo.

O papel de técnica inclui todos os modos de utilização dos instrumentos,

representa a forma de atingir objetivos, o modo de agir é um meio específico

usado em uma determinada ciência ou um aspecto desta, é um sinônimo do

processo e consiste na aplicação específica do método cientifico de resolução de

problemas.

É através da observação que o enfermeiro detecta a relação entre os

cuidados prestados e as modificações nos padrões de necessidades do ser

humano, assim nas falas de Ártemis aparece com muita freqüência a atuação da

enfermeira em relação ao autocuidado, sendo considerado por esta de muita

importância, mas uma das preocupações da mesma é com a invasão do seu

ambiente , como podemos ver:

Eu tenho que entender que a visão de casa não é minha a casa é deles, a visão de organização e de limpeza não é minha e eu tenho que respeitar e entender, (ÁRTEMIS).

Esta relação interpessoal enfermeira/paciente consiste em um processo de

comunicações entre ambos, através de comportamentos de comunicação verbais

e não verbais almejando atingir os objetivos propostos.

A responsabilidade assumida pelos enfermeiros neste processo é de

informar aos moradores todos os aspectos relacionados ao cuidado de saúde,

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assim estarão lhes ajudando a tomar decisões e assumir seu próprio cuidado.

Nesta perspectiva o paciente estará participando ativamente de seu cuidado.

De acordo com a teoria de Imogene King (LEOPARDI, 1999), quando dois

ou mais indivíduos interagem estes formam os sistemas interpessoais, estes por

sua vez compõe-se de papel, interação humana e comunicação.

A enfermeira, através da utilização do processo de enfermagem e da

sistematização do cuidado, participa de forma ativa na construção do plano de

cuidados apontando para a equipe de cuidadores e os próprios pacientes a

necessidade de aprendizagem em cada etapa que leva a reabilitação

psicossocial.

Quando a gente trabalha com prescrição de enfermagem, por exemplo, eu trabalho com prescrição de enfermagem: condutas sugeridas para os moradores, ali tem quem vai sair quem não vai quem tem que passar protetor solar, desde cuidados físicos até contratos, o que cada um se propõe a fazer naquela semana, ali estão os horários da saída encaminhamentos, dietas, aquele que tem que ingerir liquido, quem tem que tirar da cama, paciente que esta deprimido, então eu trabalho em cima de sinais e sintomas físicos e psíquicos manifestados no dia-a-dia deles, (AFRODITE).

Compreendo que o cuidado na enfermagem deva ser abrangente,

direcionando-se para a satisfação de todas as necessidades do paciente,

promovendo a continuidade e a qualidade do serviço para ele. A enfermagem

deve prestar o cuidado de forma integral, visando atendimento das necessidades

humanas básicas de cada indivíduo.

Para Travelbee (1979), a relação interpessoal é uma meta a ser atingida

como resultado das relações planejadas, sendo assim uma experiência de

aprendizagem para a enfermeira e paciente.

Ao promover a independência destes indivíduos a enfermeira estará

capacitando-os para viverem independentemente, porém, muitas vezes esta

independência total não acontece, tendo em vista o alto grau de

comprometimento dos indivíduos envolvidos, para isso a enfermeira deve agir de

forma a potencializar suas capacidades de independência ao máximo possível.

Neste processo o paciente deve estar envolvido de forma a se propor a alcançar

objetivos juntamente com a enfermeira, conforme fala abaixo.

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A gente garante que eles tenham uma assistência mais adequada possível, garante a questão de uma roupa melhorada além do que as necessidades básicas de higiene e alimentação, (DEMÉTER).

O processo de reabilitação deve ajudar o paciente a atingir uma melhor

qualidade de vida, visando mais dignidade, respeito e independência. Neste

processo de reabilitação o paciente estará se ajustando e, para isto, devem ser

enfatizadas as capacidades para se readaptarem ao meio social.

5.6 PESSOA RECURSO: possibilitando a Reabilitação P sicossocial através

da informação

Nesta pesquisa o papel da enfermeira como pessoa recurso ou pessoa a

quem recorrer, não foi um papel assumido com tanta importância como os outros

pois, grande parte deste papel foi assumido pela enfermeira, enquanto

conselheira ou psicoterapeuta.

A pessoa recurso é aquela que fornece informações específicas e

necessárias, que ajudam o cliente a compreender seu problema e a nova

situação, (TOWENSEND, 2002 p. 40).

Para o desenvolvimento deste papel a enfermeira utiliza-se de

intervenções voltadas para a reabilitação psicossocial, estas intervenções estão

voltadas para os pontos fortes de cada indivíduo, tendo como meta atender as

necessidades singulares de cada um, de forma coerente com os valores culturais

de cada indivíduo.

Neste sentido, as enfermeiras podem trabalhar os pontos fortes de cada

paciente de modo que estes possam reconhecer-se como pessoas

desenvolvendo sua identidade, percebendo sua doença e assim comportando-se

de forma a buscar ajuda.

Ajuda-lo a se perceber, ajuda-lo a se reinserir no mundo e na sociedade dando possibilidades para ele desenvolver a sua subjetividade e principalmente acreditar no individuo, (ATENA).

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Neste papel as enfermeiras devem estar dispostas a ouvir cada paciente

para poder ajudá-los, fornecendo as informações necessárias, para que estes

possam procurar solucionar seus problemas ou conflitos.

O paciente é uma pessoa, um ser humano único que no momento requer

nossa ajuda. O enfermeiro, através de seus conhecimentos e habilidades para

cuidar dos outros, dispõe-se a isto. Através da comunicação interpessoal, ambos

poderão atingir seus objetivos. As ações de cuidar propiciam que, cuidadores e

pacientes interajam.

A gente foi crescendo com elas dentro do ritmo delas a gente procurava identificar como elas estavam e esta tolerância é fundamental, cada um tem seu limite, e a gente tinha que respeitar e ver as prioridades, (AFRODITE).

Peplau (1988) apud Simpson (1992), consideram a enfermeira, neste

papel, como alguém que proporciona respostas específicas às perguntas

relacionadas aos problemas, aos quais o individuo refere. As enfermeiras

fornecem informações acerca das patologias, da reabilitação psicossocial, das

RTs e principalmente, dão suporte para a aproximação ao convívio social.

O enfermeiro, através de seus conhecimentos, deve ser capaz de fornecer

assistência que o paciente está necessitando, para, através deste conhecimento,

manter o melhor nível de saúde possível.

Neste papel a enfermeira necessita de muita percepção, para tomar

consciência do mundo ao ser redor, uma vez que, esta deve comunicar-se com

os pacientes de forma a trocar informações e significados sobre o mundo e sobre

seus problemas, estabelecendo uma relação interpessoal.

De acordo com Travellbee (1979), na relação interpessoal deve ocorrer um

interação entre os indivíduos, onde deve-se deixar de lado a hierarquia imposta

pelo poder, de modo que ambos possam compartilhar sentimentos, valores e

significados.

As relações entre as pessoas ocorrem, principalmente, através da

comunicação. É através deste mecanismo que se desenvolvem as relações

interpessoais, por meio de mensagens verbais, escritas, gestuais, emotivas e

outras. A interação entre enfermeira e paciente depende basicamente desta

comunicação , e para que esta ocorra, é fundamental que haja um bom

relacionamento, envolvendo a linguagem adequada, demonstração de interesse

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na conversa, atenção ao escutar o paciente e, principalmente, ser honesto em

suas colocações, o que podemos perceber na fala abaixo:

Não esquecendo de que a casa é deles, a rotina deve ser o mais próximo deles possível, e que só se interferirá quando realmente a coisa não estiver evoluindo ou alguma coisa grave esteja acontecendo, (ÁRTEMIS).

Durante os encontros pude perceber, através das falas das enfermeiras, que a

convivência destes moradores é a mais próxima possível, eles se reconhecem

enquanto família, e a convivência é de verdadeiros amigos, por vezes, há conflitos,

mas nada de anormal, como em qualquer família, não há nada que não possa ser

resolvido com um pouco de conversa e de bom senso. Estes encontros me

possibilitaram compreender o relacionamento entre enfermeira e paciente, assim

pude aproximar a teoria da prática, pude me relacionar com os pacientes e

conquistar novos amigos.

5.7 AGENTE DE SOCIALIZAÇÃO: uma ponte para a ressoc ialização

A enfermeira como agente de socialização deve compreender que a

ressocialização é o maior e o principal papel da reabilitação psicossocial, as

práticas de reabilitação psicossocial ajudam as pessoas a restabelecer seus

papéis na comunidade e a se reintegrarem na mesma, também devem visar a

melhoria da qualidade de vida desses indivíduos.

A principal função da enfermeira neste papel é participar de atividades

sociais com os moradores, (TOWNSEND, 2002).

As enfermeiras, no desenvolvimento deste papel, são responsáveis pela

promoção de relações entre os moradores e com a comunidade externa.

A gente faz churrasco com elas, faz festinha de aniversário, tenta comemorar com elas na medida do possível. Às vezes fazemos caminhadas tentando fazer esse contato social, (DEMÉTER).

É preciso que compreendamos que os moradores das RTs tem o direito de

cuidarem de suas vidas, uma vez que, a enfermeira desempenha o papel de

estar contribuindo para que eles possam assumir responsabilidades, respeitando

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as limitações, muitas vezes, impostas pelo transtorno mental. Nos RTs

pesquisados, as enfermeiras desempenham papel fundamental na motivação e

acompanhamento, para que os moradores desenvolvam de forma objetiva a sua

autonomia e processo de ressocialização. Conforme fala abaixo:

Tem pacientes que pegam ônibus e vão lá comprar suas coisas, e a gente vê como há uma evolução e alguns passeiam por ai tranqüilos sem ninguém dizer que são pacientes da Colônia, (DEMÉTER).

Neste processo de reabilitação psicossocial, as enfermeiras devem

incentivar e apoiar o envolvimento dos moradores nas atividades normais da

própria casa ou no desenvolvimento de atividades na comunidade. De acordo

com a fala de Ártemis alguns moradores, até, têm condições de assumir algum

tipo de trabalho, desde que no local, onde ele for trabalhar, as pessoas

compreendam as suas limitações. É desta forma que alguns deles já realizam

trabalhos na comunidade, conforme a fala abaixo:

Além de realizar as tarefas da casa têm alguns que trabalham com a horta, fazem mudas de plantas para vender, outro faz tear, outro trabalha na oficina de panificação, (ÁRTEMIS).

Como sabemos a psiquiatria sempre esteve carregada de preconceitos,

portanto, essa condição de estigmatização e discriminação podem ser percebidas

como barreiras, para a reinserção desses moradores na comunidade. Nos relatos

de Afrodite, Deméter, Atena, Hera e Ártemis evidenciam que a comunidade ainda

tem muito preconceito com os portadores de transtornos mentais, uma vez que

quando da implantação de uma das RTs a comunidade próxima a casa ficou

apavorada por ter que conviver com eles, este sentimento é identificado na fala

abaixo:

A comunidade entrou em pânico quando a gente foi fazer a última casa, por que a gente era obrigado a fechar 40 leitos e nós já estávamos preparando os pacientes, muitos que conhecem os pacientes tiveram resistência na época, hoje essas pessoas pegam os moradores para ir limpar quintal na casa delas. Com certeza é mais difícil trabalha com a comunidade do que com os pacientes, (ÁRTEMIS).

Travelbee (1979), afirma que o enfermeiro psiquiátrico cresce como ser

humano através do contato com os pacientes portadores de transtorno mental,

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pois neste contato aprende novas formas de ajudar o outro, revendo seus

conhecimentos sobre si e o ser humano, aumentando assim suas

responsabilidades.

No sentido de proporcionar um relacionamento entre enfermeira e morador

também pude me colocar enquanto neste sentido durante minha participação nas

assembléias onde estava pude estabelecer um relacionamento interpessoal

como os moradores, de forma estabelecermos momentos de conversa durante a

assembléia e atualmente quando os encontro na rua.

As Residências Terapêuticas devem ser capazes de garantir o direito a

moradia das pessoas egressas de hospitais psiquiátricos e de auxiliar o morador

em seu processo de reintegração na comunidade. Os direitos de morar e circular

livremente pela comunidade são fundamentais para a reintegração na sociedade

e a busca pela autonomia é fundamental nesse processo.

5.8 LÍDER: influenciando no sentido da participação , responsabilidade e

Reabilitação Psicosocial

Segundo TOWNSEND, (2002), líder é aquele que mantém a relação entre

enfermeira e paciente, acima disso assegura que sejam tomadas providências

apropriadas para facilitar o alcance dos objetivos desejados.

Este papel envolve ações que a enfermeira exerce quando assume a

responsabilidade pelos atos realizadas por outras pessoas, vizando atingir metas

no cuidado aos indivíduos. Para o desenvolvimento deste papel a enfermeira

deve utilizar-se de formas de comunicação, onde todos os envolvidos no cuidado

compreendam o processo.

Smeltzer & Bare, (2006, p. 15), afirmam que a liderança é um processo

pelo qual a enfermeira se utiliza de competências interpessoais para envolver os

indivíduos no cuidado e modificar comportamentos. Os componentes deste

processo são adaptados às variadas fases do mesmo e de acordo com o

ambiente onde este se desenvolve.

A enfermeira, enquanto líder, desempenha funções junto à equipe de

cuidadores e profissionais que participam do cuidado aos moradores de RTs,

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haja vista que esta equipe deva trabalhar unida e de forma cooperadora, visando

um atendimento de qualidade que satisfaça esses indivíduos. As falas das

enfermeiras evidenciam que estas desempenham este papel junto a equipe

multiprofissional e de enfermagem, pois são elas que estão a maior parte do

tempo com esses moradores.

No papel de líder, a enfermeira deverá atuar de forma democrática,

orientando os moradores das RTs para participarem ativamente de seus

cuidados, além disso, deverão participar de forma a atender as necessidades

destes indivíduos.

Outro aspecto importante da liderança relatado por Atena, Afrodite e

Ártemis está relacionado à implantação dos Projetos de RTs, onde as

enfermeiras atuam efetivamente na construção do mesmo, a partir da seleção

dos moradores e dos cuidadores. Conforme evidenciado na fala a seguir:

Embora a maioria dos projetos deram certo foi porque em cada local teve uma pessoa que foi o líder, mas que acaba assumindo vários papéis, principalmente o papel da solidariedade da co-participação, co-responsabilidade de fazer a coisa andar, mas isto é uma atitude muito individual, (ATENA).

Dentro deste cenário entendo que a enfermagem é um processo

significativo, terapêutico e interpessoal, pois funciona de forma cooperativa com

outros processos humanos que possibilitam a saúde dos indivíduos, nas

comunidades. Ela é um instrumento educativo, uma força de maturação que

aspira o progresso da personalidade na direção de uma vida criativa, construtiva

e produtiva. Dessa maneira, através deste pensamento a enfermeira poderá

cuidar destes moradores num processo educativo para que eles possam

desenvolver-se da melhor maneira possível visando o retorno ao convívio social.

O relacionamento terapêutico enfermeiro-paciente se torna um importante

instrumento de ajuda e entendimento do outro. Cada paciente possui

comportamentos específicos e diferentes maneiras de pensar e agir. A

enfermagem deve se adaptar à singularidade de cada ser humano,

compreendendo-o em todos os momentos de sua vida e planejando a assistência

de acordo com as necessidades.

A enfermeira, enquanto líder tem a responsabilidade de, através deste

papel, potencializar a capacidade de cada individuo para resgatar sua autonomia,

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autocuidado e principalmente o direito de conviver socialmente e em

comunidade. Conforme refere Deméter na fala abaixo:

O papel primordial é da responsabilidade, de saber o que você vai fazer e estar trabalhando com os profissionais e clientes, (DEMÉTER).

Mesmo neste papel de liderança, a enfermeira deve ser democrática e

flexível, permitindo ao paciente participar e desenvolver seus cuidados. O papel

de liderança deve ser entendido como algo dinâmico e não como uma estrutura

rígida sem espaço para a negociação, (SIMPSON, 1992).

Os objetivos do papel de líder devem contemplar a satisfação dos

indivíduos envolvidos nesta atuação, tanto para as enfermeiras quanto para os

pacientes.

Bons líderes devem ser sensíveis para identificar a necessidade de cada

indivíduo, para trabalhar este aspecto do cuidado objetivando a interposição de

barreiras encontradas pelos indivíduos, potencializando cada um enquanto ser

humano.

Chiavenatto (2000), define liderança como um fenômeno de influência

interpessoal e refere que: liderança é a influência exercida numa situação e

dirigida por meio do processo da comunicação humana para atingir os objetivos.

A liderança nos programas de RTs decorre de relacionamentos

interpessoais em que o líder exerce influência interpessoal de modo que a

pessoa agirá modificando o comportamento de outra.

Este papel, também, deve ser considerado como um processo contínuo de

escolha que permite aos indivíduos caminhar na direção de suas metas

transpondo barreiras.

Quando enfermeira e paciente se relacionam, temos que levar em

consideração que ambos têm visões e conceitos diferentes. No desenvolvimento

do relacionamento haverá elementos que podem definir e direcionar a relação,

quer dizer, os papéis vão se definindo, os valores de cada individuo vão surgindo

e assim estes vão encontrando formas de comunicação e de comportamento,

onde estes traçam suas metas que irão influenciar no alcance dos objetivos.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vivemos em tempos de grandes mudanças no campo da psiquiatria e da

saúde mental que culminaram com o movimento da Reforma Psiquiátrica. Este

movimento impulsionou outras formas de “pensar” e “fazer” no atendimento ao

portador de transtorno mental, preconizando a substituição da atenção

concentrada nos hospitais, para modelos comunitários que garantissem o

tratamento dos pacientes em espaços na comunidade e junto da família.

Um destes espaços de atuação comunitária em saúde mental está

representado pelos serviços Residenciais Terapêuticos que vem oferecer a

oportunidade, de pessoas internadas por longos períodos em hospitais

psiquiátricos, retornarem à sociedade através de amplo processo de reabilitação

psicossocial.

A enfermagem se inseriu nesta nova forma de atuação, necessitando,

porém, desenvolver novas tecnologias de cuidado, compatíveis com essas

mudanças.

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Com esta visão, neste estudo, procurei identificar os papéis assumidos

pelas enfermeiras no cuidado à portadores de transtornos mentais e moradores

de residências terapêuticas, compreendendo todo esse processo de reabilitação

psicossocial.

Compreendo que a reabilitação psicossocial pode ser considerada como

um processo de reconstrução do exercício de plena cidadania, visando a

reintegração do indivíduo à comunidade, o que envolve aspectos éticos,

econômicos e políticos.

Através da minha vivência no decorrer dos estágios, pude perceber que

este processo visa ensinar os moradores a trabalhar para viver

independentemente, a superar bloqueios, em prol de seu bem estar, buscando

também, a subjetividade do paciente, sua história de vida e as relações

interpessoais.

As Residências Terapêuticas constituem-se como alternativas de moradia

para pacientes egressos de hospitais psiquiátricos, que estiveram internadas há

anos e também, por não contarem com apoio da comunidade.

O programa de Residência Terapêutica é fundamental para as pessoas

que estão saindo do hospital psiquiátrico, pois o respeito por cada indivíduo, e o

ritmo de readaptação de cada pessoa à vida em sociedade, destinam-se todo

este processo de readaptação à sociedade, desmistificando o paciente

psiquiátrico.

O processo de reabilitação psicossocial deve buscar, de modo especial, a

inserção do usuário na rede de serviços, organizações e relações sociais da

comunidade.

Com a participação ativa no desenrolar da pesquisa, pude identificar os

papéis assumidos pelas enfermeiras no processo de cuidado, e acima de tudo,

compreender como acontece a interação entre enfermeira e paciente.

Em relação às Residências Terapêuticas percebi que a enfermagem

desempenha um papel fundamental, dando suporte e apoio para que cada

indivíduo consiga ir em busca dos seus direitos, conquiste a cidadania plena,

recupere sua autonomia e que realmente tenha uma retorno ao convívio social, o

que é indispensável para a sua reabilitação psicossocial.

Faz-se necessário reconhecer que a enfermagem deve ser vista,

sobretudo, como uma forma de interagir com o paciente e, por meio desta

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relação, fazer do adoecer uma oportunidade para o crescimento e o

amadurecimento pessoal de ambos, dando condições ao paciente de se

reconhecer enquanto ser humano, superando dificuldades, limitações e

preconceitos.

Nesse sentido, entendemos e ressaltamos a importância, do

relacionamento interpessoal, onde é necessário que os enfermeiros estejam

atentos as suas próprias necessidades e desenvolvam um processo de auto-

conhecimento, pois é difícil interagir com o outro, sem sermos capazes de

compreendermos a nós mesmos.

A partir desta perspectiva tenho a plena convicção que a enfermeira, neste

processo, desempenha o papel importante de acompanhar e orientar o morador

para que o mesmo se reconheça enquanto indivíduo e promova seu próprio

cuidado.

Para Furegato (1999), a relação interpessoal terapêutica é um processo

ativo de ampliação da capacidade de autonomia e liberdade da pessoa.

Entendo que a enfermagem, através deste relacionamento, dá

oportunidade para que cada indivíduo possa crescer enquanto ser humano e se

tornar independente, assumindo o seu papel no autocuidado e se reinserindo na

sociedade.

É através deste processo que a enfermagem estimula os moradores a

inovar, sentir, sonhar, imaginar, ao mesmo tempo em que são encorajados a

testar, analisar, verificar e, acima de tudo, criar novas possibilidades.

O indivíduo deve ser levado a se sentir vivo, em integração com suas

emoções e sentimentos durante todo o tempo, principalmente durante o

desenvolvimento deste papel pela enfermagem.

Durante a realização desta pesquisa percebi que as enfermeiras, no

desenvolvimento do cuidado, vão assumindo vários papéis, sendo estes de:

substituta (mãe substituta), educadora, técnica, agente de socialização, pessoa

recurso, líder e conselheira ou psicoterapêuta.

Os papéis assumidos pelas enfermeiras no processo de Reabilitação

Psicossocial, são funções que estas desenvolvem no seu dia-a-dia com os

indivíduos que cuida. Estes papéis são dinâmicos, mutáveis e vão surgindo na

convivência entre enfermeira e paciente.

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Estes são descritos como uma série de normas que podem ser ampliadas

dependendo das situações. Os mesmos não acontecem de maneira isolada, pois

os pacientes os identificam com as enfermeiras de maneira espontânea.

Estes papéis não acontecem de forma isolada, uma vez que quando a

enfermeira os assume, ela os desenvolve de maneira concomitante e

interrelacionada.

Através desta pesquisa pude compreender o processo interpessoal que se

desenvolve entre o profissional de enfermagem e os moradores da RT em

relação ao cuidado da enfermagem psiquiátrica. Muitas dúvidas foram sanadas e

abriu-se um leque para novas compreensões.

Acredito que o desenvolvimento deste trabalho, permitirá às enfermeiras

envolvidas neste cuidado, a reflexão sobre o tema proposto, contribuindo para a

melhor compreensão de seus papéis de forma a identificá-los no cotidiano do

cuidado.

A teoria das relações interpessoais de Hildegard E. Peplau, que contempla

o relacionamento interpessoal e os papéis da enfermagem, e com seus conceitos

e pressupostos, serviu de guia para a construção e aprimoramento deste

trabalho, mostrou-se adequada ao desenvolvimento do tema. Os conceitos e

pressupostos da teoria favoreceram a elaboração dos meus conceitos

relacionados ao processo interpessoal no que se refere a interação entre

enfermeira e paciente inseridos nos programas de RT.

A compreensão do processo interpessoal foi possível através da

participação e receptividade das enfermeiras envolvidas no estudo. No decorrer

do processo, elas se mostraram confiantes para compartilhar suas experiências,

emoções e sentimentos. Isto possibilitou que as mesmas participassem de forma

espontânea, relatando fatos importantes de sua atuação neste processo.

Quanto à metodologia segui o caminho de uma pesquisa exploratória

descritiva em cuja análise de informações segui o esquema básico registrado por

Trentini e Paim (2004) ao referir as etapas de apreensão, interpretação,

teorização e transferência, uma vez que não foi possível cumprir com o principio

da imersibilidade na assistência às RTs e lidar com simultaneidade com as duas

lógicas, da assistência e da pesquisa, no intuito de construir uma mudança

coletiva na assistência prestada. O estudo do objeto de pesquisa, ou seja, os

papéis desempenhados pelas enfermeiras psiquiátricas nestas RTs foi tomado a

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partir da informação das próprias enfermeiras quanto a suas atividades e

discutidas segundo os papéis atribuídos pela teoria das Relações Interpessoais

em Enfermagem, na ótica de Hildegard E. Peplau. Ao fazer tal relação, conclui-se

que as enfermeiras envolvidas neste estudo incorporam os papéis contribuindo

assim com o processo de Reabilitação Psicossocial.

Concluindo, acredito num saber enquanto processo de aprender e

construir conhecimentos, carregado de vivências e aprendizagens, em que os

pacientes são estimulados a se perceberem e a perceber os outros e se

desenvolverem como seres humanos, acredito ser esta a essência da

enfermagem no processo de Reabilitação Psicossocial.

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APÊNDICE 1

Termo de Compromisso de Orientação

TERMO DE COMPROMISSO DE ORIENTAÇÃO

Eu, Valdete Preve Pereira, professora da disciplina Saúde da Mulher, da

Criança, do Adolescente, do Adulto e do Idoso, do Curso de Graduação de

Enfermagem, da Universidade do Vale do Itajaí – Centro de Educação – Campus

Biguaçu, concordo em orientar a aluna: Tatiane Talita Schwaab no decorrer do

desenvolvimento da pesquisa, tendo como tema: “O papel do profissional de

enfermagem psiquiátrica no processo de reabilitação psicossocial à

moradores de Residências Terapêuticas”. Conforme projeto ora submetido à

aprovação.

Todos estamos cientes das Normas para Elaboração do Trabalho de

Conclusão do Curso, bem como, dos prazos de entrega das tarefas.

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Biguaçu, 18/08/06.

_____________________________

Tatiane Talita Schwaab

Acadêmica de Enfermagem.

______________________________________

Valdete Preve Pereira

Orientadora

APÊNDICE 2

Solicitação Prévia de Autorização da Instituição

Biguaçu, 18 de Agosto de 2006.

Senhor Diretor ,

Com nossos cordiais cumprimentos, solicitamos Vossa autorização, para

desenvolvermos nas dependências desta Universidade o Projeto de Trabalho de

Conclusão de Curso de Graduação em Enfermagem entitulado, “O papel do

profissional de enfermagem psiquiátrica no processo de reabilitação psicossocial

à moradores de Residências Terapêuticas”.

Este estudo tem por objetivo compreender como cuidadores de

enfermagem percebem o processo de reabilitação psicossocial no cuidado aos

portadores de transtornos mentais, inseridos nos programas de Residência

Terapêutica e conhecer os papéis assumidos por esses profissionais neste

processo.

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75

Salientamos que, os dados serão coletados pela pesquisadora aluna de

Enfemagem da UNIVALI – CE – Biguaçu, com cobertura de supervisão da

orientadora do projeto, Professora Valdete Preve Pereira. A coleta de dados

também, prevê a inclusão da técnica de depoimentos a serem gravados em

cassete.

Assumimos o compromisso ético de manter o sigilo das informações e

proteção da imagem e prestígio dessa Instituição, sendo que estes dados serão

utilizados em estudo acadêmico da pesquisadora.

Esperando desde já contar com seu inestimável apoio, agradecemos

antecipadamente.

Atenciosamente,

APÊNDICE 3

Termo de consentimento livre e esclarecido .

Este instrumento tem a intenção de obter o seu consentimento por escrito

para participar do estudo “O papel do cuidador de enfermagem psiquiátrica no

processo de reabilitação psicossocial a moradores de Residências Terapêuticas”,

durante o período de outubro e novembro de 2006, com o intuito de contribuir

para o levantamento de dados da Acadêmica de Enfermagem, Tatiane Talita

Schwaab, nesta Instituição.

O estudo tem por objetivo compreender como cuidadores de

enfermagem percebem o processo de reabilitação psicossocial no cuidado aos

portadores de transtornos mentais, inseridos nos programas de Residência

Terapêutica e conhecer os papéis assumidos por esses profissionais neste

processo, pretendendo contribuir para a melhoria do programa de Residência

Terapêutica.

________________________ Tatiane Talita Schwaab

Acadêmica de Enfermagem.

______________________________Valdete Preve Pereira

Orientadora

Excelentíssimo Senhor

ALCEU DE OLIVEIRA PINTO JUNIOR

Diretor do Centro de Educação - Biguaçu

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Os relatos obtidos serão confidenciais e, portanto, não utilizarei os

nomes dos participantes em nenhum momento, garantindo sempre o sigilo da

pesquisa e os preceitos éticos da profissão.

Saliento que após a coleta de dados, seu relato será entregue para

seu parecer final, estando você livre para argumentar, interferir ou recusar as

informações, como também, desistir de participar do estudo em qualquer

momento do desenvolvimento da pesquisa.

Será entregue a você uma cópia deste termo, e outra ficará arquivada

com a pesquisadora.

Certa de sua colaboração, agradeço a sua disponibilidade em

participar do estudo nos possibilitando a aquisição de novos conhecimentos, bem

como, as prováveis mudanças que repercutirão na prática da Enfermagem.

Eu,........................................................................................., consinto

em participar desta pesquisa, desde que respeite as respectivas proposições contidas neste termo.

Florianópolis, agosto de 2006

Atenciosamente,

APÊNDICE 4

Roteiro de entrevista/ Depoimento

QUESTÕES DA ENTREVISTA

• Quanto tempo trabalha/trabalhou nos programas de Residência terapêutica

(RT).

• Foi de sua escolha trabalhar nos Programas de RT, ou foi indicação de sua

chefia. (Houve alguma motivação?).

• Que outras experiências você teve na sua atuação como enfermeira.

• Como você se sentiu quando iniciou a sua atuação, neste Programa. O

programa já estava em andamento? Foi você que o implantou? Teve

dificuldades, facilidades?

_____________________________ Tatiane Talita Schwaab Acadêmica de Enfermagem

________________________________

Valdete Preve Pereira Orientadora

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• Para trabalhar com RPS é preciso conhecer o processo, portanto quando

você iniciou seu trabalho você já tinha algum conhecimento acerca das RTs

e RPS, ou você foi buscando conhecimento de acordo com a necessidade?

• Como os profissionais de nível médio buscam aprimorar seus

conhecimentos sobre as RTs. A Instituição da subsídios para que isso

ocorra?

• Quais os papéis assumidos pelos profissionais para garantir a qualidade do

processo de RPS e dos resultados?

• Quais as funções que você desenvolve no cuidado aos portadores de

transtornos mentais que você cuida.

• Quais as atividades propostas e programadas? (Atividades de vida diária,

atividades domésticas, lazer, atividades laborativas).

• Como se desenvolvem os ritmos domésticos na Residência Terapêutica,

existe rotinas diárias estabelecidas, programadas ou vão ocorrendo

naturalmente.

• O ambiente da RT favorece o processo de RPS? De que forma?

• Como se desenvolve o Processo de Reabilitação Psicossocial com os

moradores da RT.

• Qual o papel da enfermagem no tratamento farmacológico a portadores de

transtornos mentais?

• Você identifica em portadores de TM algum tipo de iatrogenia em decorrência

do longo tempo de internação ou até mesmo decorrente do tratamento

farmacológico?

• Que responsabilidades você assume na execução de suas tarefas diárias.

• Como se dá o relacionamento da equipe com os portadores de transtornos

mentais e entre os próprios moradores?

• Como são tratadas as questões de responsabilidade, iniciativas contatos com

a comunidade, direitos e deveres, e as questões de resgate de cidadania.

Qual a atuação da enfermeira junto a estas questões?

• Como são trabalhadas as questões do auto cuidado, da auto estima e auto

realização dentro do programa.

• Como você percebe o processo de reabilitação dos moradores neste

Programa.

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• Qual o relacionamento da equipe de enfermagem com a equipe

multidisciplinar? Existe trabalho conjunto?

• Você se sente realizado no desenvolvimento deste trabalho.

• Você percebe estigma e discriminação da sociedade com relação aos

trabalhadores e portadores de TM? Teve alguma experiência ou presenciou

algum acontecimento que confirma esta situação? Você acha que a RT da

oportunidade para minimizar este estigma?

• Em que você acha que a Reabilitação Psicossocial contribui para a

recuperação dos pacientes portadores de TM?

• Você acha que as Residências Terapêuticas preparam/contribuem para que

o portador de TM possa voltar ao convívio social com condições de assumir

responsabilidades, como por exemplo, um trabalho?

• As famílias são presentes no programa de RPS? Como se inserem neste

programa? Como a Enfermeira lida com a questão da ausência ou presença

da família?

• Você acha que a instituição da suporte psicológico aos portadores de TM e

seus familiares no processo de RPS?

• Como você acha que a comunidade se comporta frente a este Processo de

RPS, e como ela pode ou poderia participar/contribuir? Como a Enfermeira

lida com as questões positivas ou negativas da comunidade?

• Você participa do processo decisório quando da tomada de decisão frente às

mudanças das políticas de saúde necessárias as RTs?

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ANEXO 1

Portaria MS n. 106 de 11 de fevereiro de 2000

D. O. 31- E de 14-2-2000 pág. 49

Dispõe sobre a criação dos Serviços Residenciais Terapêuticos em Saúde Mental, para atendimento ao portador de transtornos mentais.

O Ministro de Estado da Saúde, no uso de suas atribuições, considerando:

a necessidade da reestruturação do modelo de atenção ao portador de

transtornos mentais, no âmbito do Sistema único de Saúde - SUS;

a necessidade de garantir uma assistência integral em saúde mental e eficaz para a reabilitação psicossocial; a necessidade da humanização do atendimento psiquiátrico no âmbito do SUS, visando à reintegração social do usuário;

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a necessidade da implementação de políticas de melhoria de qualidade da assistência à saúde mental, objetivando à redução das internações em hospitais psiquiátricos, resolve: Art. 1º Criar os Serviços Residenciais terapêuticos em Saúde Mental, no âmbito do Sistema Único de Saúde, para o atendimento ao portador de transtornos mentais. Parágrafo único. Entende-se como Serviços Residenciais Terapêuticos, moradias ou casas inseridas, preferencialmente, na comunidade, destinadas a cuidar dos portadores de transtornos mentais, egressos de internações psiquiátricas de longa permanência, que não possuam suporte social e laços familiares e, que viabilizem sua inserção social.

Art. 2º Definir que os Serviços Residenciais Terapêuticos em Saúde Mental constituem uma modalidade assistencial substitutiva da internação psiquiátrica prolongada, de maneira que, a cada transferência de paciente do Hospital Especializado para o Serviço de Residência Terapêutica, deve-se reduzir ou descredenciar SUS, igual nº de leitos naquele hospital, realocando o recurso da AIH correspondente para os tetos orçamentários do estado ou município que se responsabilizará pela assistência ao paciente e pela rede substitutiva de cuidados em saúde mental.

Art. 3º Definir que aos Serviços Residenciais Terapêuticos em Saúde Mental cabe :

a) garantir assistência aos portadores de transtornos mentais com grave pendência institucional que não tenham possibilidade de desfrutar de inteira autonomia social e não possuam vínculos familiares e de moradia; b) atuar como unidade de suporte destinada, prioritariamente, aos portadores de transtornos mentais submetidos a tratamento psiquiátrico em regime hospitalar prolongado; c) promover a reinserção desta clientela à vida comunitária.

Art. 4º Estabelecer que os Serviços Residenciais Terapêuticos em Saúde Mental deverão ter um Projeto Terapêutico baseado nos seguintes princípios e diretrizes:

a) ser centrado nas necessidades dos usuários, visando à construção progressiva da sua autonomia nas atividades da vida cotidiana e à ampliação da inserção social;

b) ter como objetivo central contemplar os princípios da reabilitação psicossocial, oferecendo ao usuário um amplo projeto de reintegração social, programas de alfabetização, de reinserção no trabalho, de mobilização de agentes comunitários, de autonomia para as atividades domésticas e pessoais e à formação de associações de usuários, familiares e voluntários;

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c) respeitar os direitos do usuário como cidadão e como sujeito em desenvolver uma vida com qualidade e integrada ao ambiente comunitário.

Art. 5º Estabelecer como normas e critérios para inclusão dos Serviços

Residenciais Terapêuticos em Saúde Mental no SUS:

a) serem exclusivamente de natureza pública;

b) a critério do gestor local, poderão ser de natureza não governamental, sem fins lucrativos, devendo para isso ter Projetos Terapêuticos específicos pela Coordenação Nacional de Saúde Mental;

c) estarem integrados à rede de serviços do SUS, municipal, estadual meio de consórcios intermunicipais, cabendo ao gestor local a responsabilidade de oferecer uma assistência integral a estes usuários, planejando as ações forma articulada nos diversos níveis de complexidade da rede assistencial.

d) estarem sob gestão preferencial do nível local e vinculado, tecnicamente ao serviço ambulatorial especializado em saúde mental mais próximo;

e) a critério do Gestor municipal/estadual de saúde os Serviços Residenciais

Terapêuticos poderão funcionar em parcerias com organizações não gov (ONGs) de saúde, ou de trabalhos sociais ou de pessoas físicas nos moldes das famílias de acolhimento, sempre supervisionadas por um serviço ambulatorial especializado em saúde mental.

Art. 6º Definir que são características físico-funcionais dos Serviços Residenciais Terapêuticos em Saúde Mental:

6.1 apresentar estrutura física situada fora dos limites de unidades gerais ou especializada seguindo critérios estabelecidos pelos gestores municipais e estaduais;

6.2 existência de espaço físico que contemple de maneira mínima:

6.2.1 dimensões específicas compatíveis para abrigar um número mo 8 (oito) usuários, acomodados na proporção de até 3 (três) por dormitório;

6.2.2 sala de estar com mobiliário adequado para o conforto e a boa comodidade dos usuários;

6.2.3 dormitórios devidamente equipados com cama e armário;

6.2.4 copa e cozinha para a execução das atividades domésticas com os equipamentos necessários (geladeira, fogão, filtros, armários etc.);

6.2.5 garantia de, no mínimo, três refeições diárias, café da manhã, almoço e jantar.

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Art. 7º Definir que os serviços ambulatoriais especializados e tal, aos quais os Serviços Residenciais Terapêuticos estejam vinculados possuam equipe técnica que atuará na assistência e supervisão das atividades, constituída no mínimo, pelos seguintes profissionais:

a) 1 (um) profissional de nível superior da área de saúde com formação, especialidade ou experiência na área de saúde mental;

b) 2 (dois) profissionais de nível médio com experiência e/ou capacitação específica em reabilitação psicossocial.

Art. 8º Determinar que cabe ao gestor municipal/estadual do SUS identificar os

usuários em condições de serem beneficiados por esta nova modalidade terapêutica, bem como instituir as medidas necessárias ao processo de transferência dos mesmos dos hospitais psiquiátricos para os Serviços Residenciais Terapêutica em Saúde Mental.

Art. 9º Priorizar, para a implantação dos Serviços Residenciais Terapêuticos em Saúde Mental, os municípios onde já existam outros serviços ambulatoriais de saúde mental de natureza substitutiva aos hospitais psiquiátricos, funcionando em consonância com os princípios da II Conferência Nacional de Saúde Mentais e contemplados dentro de um plano de saúde mental, devidamente discutido e aprovado nas instâncias de gestão pública,

Art. 10º. Estabelecer que para a inclusão dos Serviços Residenciais Terapêuticos em Saúde Mental no Cadastro do SUS, deverão ser cumpridas as normas gerais que vigoram para cadastramento no Sistema único de Saúde e a apresentação de documentação comprobatória aprovada pelas Comissões Intergestores Bipartite.

Art. 11. Determinar o encaminhamento por parte das Secretarias Estaduais e Municipais, ao Ministério da Saúde - Secretaria de Políticas de Saúde - Área Técnica da Saúde Mental, a relação dos Serviços Residenciais Terapêuticos em Saúde Mental cadastrados no estado, bem como a referência do serviço ambulatorial e equipe técnica aos quais estejam vinculados, acompanhado das FCA - Fichas de Cadastro Ambulatorial e a atualização da FCH - Ficha de Cadastro Hospitalar - com a redução do número de leitos psiquiátricos, conforme art. 2º desta portaria.

Art. 12. Definir que as Secretarias Estaduais e Secretarias Municipais de Saúde, com apoio técnico do Ministério da Saúde, deverão estabelecer rotinas de acompanhamento, supervisão, controle e avaliação para a garantia do funcionamento com qualidade dos Serviços Residenciais Terapêuticos em Saúde Mental.

Art. 13. Determinar que as Secretarias de Assistência à Saúde e a Secretaria Executiva, no prazo de 30 (trinta) dias, mediante ato conjunto, regulamentem os procedimentos assistenciais dos Serviços Residenciais Terapêuticos em Saúde Mental.

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Art. 14. Definir que cabe aos gestores de saúde do SUS emitir normas complementares que visem a estimular as políticas de intercâmbio e cooperação com outras áreas de governo, Ministério Público, Organizações Não Governamentais, no sentido de ampliar a oferta de ações e de serviços voltados para a assistência aos portadores de transtornos mentais, tais como: desinterdição jurídica e social, bolsa-salário ou outra forma de benefício pecuniário, inserção no mercado de trabalho.

Art. 15. Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação. - JOSÉ SERRA.