universidade do vale do itajaÍ centro de educaÇÃo de

65
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE PSICOLOGIA LER/DORT E FATORES DE ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO: a percepção de portadores participantes de uma associação em um município de Santa Catarina PAMELA SOARES Itajaí, (SC) 2008

Upload: others

Post on 17-Jul-2022

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE PSICOLOGIA

LER/DORT E FATORES DE ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO: a

percepção de portadores participantes de uma associ ação em um

município de Santa Catarina

PAMELA SOARES

Itajaí, (SC) 2008

Page 2: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

1

PAMELA SOARES

LER/DORT E FATORES DE ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO: a

percepção de portadores participantes de uma associ ação em um

município de Santa Catarina

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí. Orientador: Dr.ª Elizabeth Navas Sanches.

Itajaí SC, 2008.

Page 3: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

2

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente aos meus pais, Joel e Lezeli, por absolutamente

tudo, pelo apoio incondicional, pela confiança e compreensão das minhas

constantes ausências. Pelo exemplo de vida e estrutura familiar.

Ao Bernardo, por me ouvir, ou por muitas vezes, compreender meu silêncio.

Pelo apoio e incentivo e por acreditar em mim sempre. Pela paciência, carinho e

compreensão todos os dias.

Às minhas amigas: Paula, Fernanda e Nathalia, pelos momentos únicos de

alegria, por compartilharem minhas angústias, choraram comigo, e, principalmente,

sobreviverem aos meus maus momentos.

Às professoras Rosana Marques da Silva e Sueli Terezinha Bobato pela

participação na banca avaliadora e pelas relevantes sugestões ao trabalho. Ao

professor Luiz Roberto Agea Cutolo pelo auxílio prestado em uma fase importante

do trabalho.

Agradeço à Associação aonde está pesquisa teve a chance de concretização,

pela aceitação e ajuda. À toda a diretoria e atendentes, principalmente Elvira,

Gabriel e Nelsi, por me receberem e auxiliarem durante todo este processo.

A todos os portadores que aceitaram participar desta pesquia, pois mesmo

sabendo que iriam relembrar histórias e angústias, foram coniventes em participar.

À professora Elizabeth Navas Sanches, pelo grande aprendizado que me

proporcionou durante todo este trabalho, por sua dedicação, auxílio e empenho

durante todos os momentos.

Agradeço, finalmente, a Deus por colocar pessoas maravilhosas em minha

vida, por me dar forças para finalizar essa caminhada, e continuar fortalecendo-me

para enfrentar todos os momentos de minha vida.

Page 4: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

3

SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ............................................................................................... 02

LISTA DE QUADROS .............................................................................................. 04

RESUMO .................................................................................................................. 05

DEFINIÇÃO OPERACIONAL DOS TERMOS .......................................................... 06

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 07

2 EMBASAMENTO TEÓRICO ................................................................................. 10

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .............................................................. 22

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ..................................... 27

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 48

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 51

7 ANEXOS ................................................................................................................ 56

7.1 Anexo 1 – Parecer Conubstanciado do CEP ..................................................... 57

8 APÊNDICES .......................................................................................................... 60

8.1 Apêndice 1 – Roteiro para Entrevista ................................................................. 61

8.2 Apêndice 2 – Carta de Autorização .................................................................... 62

8.3 Apêndice 3 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ............................. 63

Page 5: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

4

LISTA DE QUADROS

QUADRO 01. Identificação dos Participantes .......................................................... 26

QUADRO 02. Classificação das Categorias e Subcategorias.................................. 28

Page 6: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

5

LER/DORT E FATORES DE ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO: a pe rcepção de

portadores participantes de uma associação em um mu nicípio de Santa

Catarina

Orientador: Prof.ª Elizabeth Navas Sanches, Drª

Defesa: Junho de 2008

Resumo

As Lesões por Esforço Repetitivo (LER) ou Distúrbios Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho (DORT), expressam o sofrimento advindo dos efeitos da ocupação na vida cotidiana do trabalhador contemporâneo. Esta pesquisa buscou compreender a percepção dos portadores de LER/DORT sobre sua doença, e fatores de organização do trabalho, dos participantes de uma associação de portadores de LER/DORT de um município de Santa Catarina. Especificamente, buscou-se conhecer sob o ponto de vista destes portadores, a relação existente entre o desenvolvimento das atividades profissionais e a dor; os fatores de organização do trabalho associados à sintomatologia dolorosa; a influência da doença no cotidiano dos portadores e o significado da doença para os trabalhadores. A pesquisa constituiu-se de um estudo de caso, de caráter exploratório com abordagem qualitativa. O estudo foi realizado com portadores de LER/DORT e a amostra foi delimitada em função da saturação dos dados, sendo constituída de oito portadores participantes da associação. Os critérios para seleção da amostra foram indivíduos com sintomas da doença e associados. O instrumento elaborado para a coleta de dados foi uma entrevista semi-estruturada, e suas informações foram submetidas à análise de conteúdo, pela análise de temas e categorias, as quais foram analisadas por sua freqüência e/ou significado, e estabelecidas tanto durante a realização das perguntas para a entrevista, como também construídas durante o processo de análise dos conteúdos. Com os resultados, foi possível compreender o sofrimento dos portadores desta doença, bem como os fatores de organização do trabalho que favorecem o desenvolvimento ou agravo da doença, os graus de dor que acometem os indivíduos, a história destes indivíduos, a dificuldade para obtenção de um diagnóstico preciso e efetivo e as conseqüências pessoais, sociais e profissionais destes portadores de LER/DORT. Palavras-chave: LER/DORT. Sintomatologia Dolorosa. Sofrimento Ocupacional. Trabalho.

Page 7: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

6

DEFINIÇÃO OPERACIONAL DOS TERMOS

Fatores Associados: Os fatores associados contribuem para a ocorrência e/ou

agravamento da doença, ou seja, são componentes relacionados à manifestação da

doença, no presente estudo, das LER/DORT (OLIVEIRA, 1998).

Sintomatologia Dolorosa: Os sintomas relacionados às LER/DORT são

formigamento, dormência, choque, sensação de peso e fadiga, com sinais

inflamatórios nas articulações. Sendo a princípio uma dor mal localizada, de

intensidade variável e apenas ligada ao movimento, posteriormente, passando a ser

contínua e intensa (HELOANI e CAPITÃO, 2003).

Page 8: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

7

1 INTRODUÇÃO

O trabalho carrega um duplo papel: ao mesmo tempo em que pode

proporcionar o desenvolvimento dos indivíduos, elevar a expectativa e qualidade da

vida, ser fonte de sustento, favorecer a auto-realização e valorização, quando

realizado sob condições inadequadas, pode prejudicar a saúde, provocar doenças,

encurtar a vida e até levar à morte. Deste modo, as organizações podem participar

de duas formas no desenvolvimento de patologias: como colaboradores do

adoecimento – causando desordens psíquicas nos indivíduos; ou como

desencadeadores das doenças ocupacionais – não apenas psíquicas, mas também

físicas e sociais, já que ambas as formas estão em articulação com o ambiente

organizacional (HELOANI e CAPITÃO, 2003; MENDES, 1995).

As transformações do trabalho têm repercussões ainda pouco conhecidas

sobre a saúde do trabalhador, como as Lesões por Esforço Repetitivo (LER) ou

Distúrbios Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho (DORT), que são

nomenclaturas para representar inúmeras doenças como tenossinovites e tendinites.

Na atualidade estas doenças vêm atingindo grandes proporções e as mais variadas

funções ocupadas pelos diversos profissionais de todo o mundo, todos com algo em

comum: o sobreuso das extremidades, principalmente, superiores do corpo, com

sintomas complexos e mal definidos e com a subjetividade destes sintomas referidos

por cada paciente (HELOANI e CAPITÃO, 2003; MACIEL, FERNANDES e

MEDEIROS, 2006; MONTEIRO, 1997; SALIM, 2003).

O crescimento das LER/DORT está relacionado às mudanças na organização

do trabalho e nas condições e exigências do mercado de trabalho, que como

conseqüência manifestam-se por meio destas doenças. Qualquer doença é

resultante de um fenômeno orgânico e seu caráter psíquico. O sofrimento causado

pela dor é conduzido pelos feixes neuronais e, também, talvez em maior grau, pelas

questõdes emocionais que suscita. O ônus do aumento da produtividade recaiu

sobre os trabalhadores; para estes, as exigências ultrapassam os limites da

resistência psíquica e biológica do homem, repercutindo também no plano individual.

Pesquisas realizadas quanto à relação existente entre o trabalho, os aspectos

relacionados a este e as condições de saúde, vêm comprovando que a execução de

Page 9: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

8

algumas tarefas contribui para o surgimento das LER/DORT, sendo essencial, antes

de buscar medidas preventivas ou eliminativas, conhecermos os fatores

desencadeantes dessas lesões de origem multifatorial (CODO e ALMEIDA, 1995;

MACIEL, FERNANDES e MEDEIROS, 2006; OLIVEIRA, 1998).

Vários são os fatores associados às LER/DORT: fatores biomecânicos,

socioeconômicos, psicossociais e pessoais. Porém, por conseqüência do tempo, a

presente pesquisa se limitará a investigação da influência dos fatores de

organização do trabalho, classificados em variedade das tarefas, realização de

horas extras de trabalho, realização de pausas durante a jornada de trabalho,

velocidade do trabalho, falta de material, encomendas extras, urgências,

emergências, retrabalho, falta de pessoal e sobrecarga (CODO e ALMEIDA 1995;

COUTO, NICOLETTI e LECH, 1998; OLIVEIRA, 1998).

Assim, considerando a relevância do estudo do tema, surgiu como pergunta

para a pesquisa: Qual a percepção dos portadores de LER/DORT, sobre sua doença

e os fatores de organização do trabalho, dos participantes de uma associação de

portadores de LER/DORT de um município de Santa Catarina? Para responder a

esta questão, o presente trabalho buscou compreender a percepção sobre a doença

e fatores de organização do trabalho, dos portadores de LER/DORT participantes de

uma associação de um município de Santa Catarina; conhecer, sob o ponto de vista

dos portadores, a relação existente entre o desenvolvimento das atividades

profissionais e a dor; descrever os fatores de organização do trabalho associados à

sintomatologia dolorosa nesses portadores; investigar a influência da doença no

cotidiano destes e analisar o significado da doença para estes portadores.

Para atender a estes propósitos, o trabalho está estruturado da seguinte

forma: Capítulo 1 corresponde à introdução e apresentação do tema, relevância do

estudo, problema de pesquisa e objetivos da pesquisa; o Capítulo 2 consiste da

fundamentação teórica, dividida em: - Processo Saúde-Doença, - LER/DORT, -

Fatores Associados, - Nexo Causal, - Prevenção e Tratamento. No Capítulo 3 são

apresentados os aspectos metodológicos, divididos em: - Local de Estudo, - Sujeitos

da Pesquisa, - Instrumento, - Coleta de Dados, - Análise de Dados, e –

Procedimentos Éticos. O Capítulo 4 está constituído da apresentação e discussão

dos resultados, dividido em: - Dados de Caracterização Geral e – Categorias e

Subcategorias de Análise, com as seguintes categorias e decorrentes subcategorias:

Hora Extra, Sobrecarga (Falta de Material, Falta de Pessoal e Encomendas Extras

Page 10: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

9

e/ou Urgências), Pausas (Indivíduos que realizam menos pausas do que o

adequado, Pausas subordinadas à realização de hora extra), Velocidade do trabalho

para alcance de metas de produção, Repetitividade, Poder e Submissão

Organizacionais, História da Dor (Diagnóstico Tardio e Retorno ao Trabalho), Graus

de Dor, Conseqüências e Significado de Ser Portador (Preconceito e Tristeza). No

Capítulo 5 são apresentadas as considerações finais. No Capítulo 6 estão as

referências bibliográficas utilizadas para a elaboração do trabalho, e por fim, nos

Capítulos 7 e 8 estão expostos Anexos, com o Parecer Consubstanciado do Comitê

de Ética em Pesquisa e os Apêndices com: Roteiro para Entrevista, Carta de

Autorização e Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, respectivamente.

Page 11: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

10

2 EMBASAMENTO TEÓRICO

2.1 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA

Para entender sobre as Lesões por Esforço Repetitivo (LER), ou Distúrbios

Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT), é necessário compreender o

processo de saúde-doença no trabalho. Um dos meios de o indivíduo buscar

reconhecimento e afeto é através do trabalho (SAINT’ANNA, 2001), mas o trabalho

também pode propiciar sofrimento ao ego e restringir a ação do indivíduo a um

mecanismo defensivo e repetitivo, fazendo com que as pessoas sintam-se exigidas

e desvalorizadas, degradando sua qualidade de vida. Tal processo pode levar ao

desenvolvimento de doenças ocupacionais, como as LER/DORT, que até pouco

tempo eram restritas a determinados nichos empresariais. Na atualidade estas

doenças se alastram rapidamente, impossibilitando muitos trabalhadores de

exercerem suas tarefas e deixando-os sentirem-se impotentes frente à sociedade e

a si mesmos (HELOANI e CAPITÃO, 2003; RANNEY, 2000).

Com relação à saúde, Rezende (1989) utiliza-se do conceito da OMS

definindo saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental e social e

não apenas a ausência de afecção ou doença, um atuar contínuo do indivíduo em

relação ao universo em que vive. A doença, por sua vez, seria uma desadaptação,

representada diferentemente por cada cultura, e para cada ser humano causando

diferentes reações, como a preocupação neurótica, a adaptação e uma busca por

modificar seu funcionamento habitual, a negação, reações obsessivas, ou

isolamento (JEAMMET, REYNAUD e COSOLI, 2000; REZENDE, 1989).

Quando se discute o paradigma saúde-doença, não podemos esquecer que

tratando das doenças humanas, estamos primeiramente tratando de um homem

doente, um ser que adoece e traz consigo não apenas a patologia, mas também

todos os problemas decorrentes desta (DEJOURS, DESSORS e DESRIAUX, 1993;

DIAS, 2001; MENDES, 1995; QUAYLE e LÚCIA, 2006; REZENDE, 1989).

A psicopatologia ou psicodinâmica do trabalho enfatiza a centralidade do

trabalho na vida dos trabalhadores, analisando os aspectos dessa atividade que

Page 12: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

11

podem favorecer a saúde ou a doença. Para Dejours, Dessors e Desriaux (1993), o

trabalho é um dado fundamental da saúde, não apenas de maneira negativa, mas

também positivamente, ou seja, a organização do trabalho tem efeitos negativos

(deterioração, doenças graves, rigidificação nos modos operatórios e

enclausuramento dos trabalhadores em um caminho único para a execução da

tarefa) ou positivos (fator de equilíbrio e desenvolvimento), no funcionamento

psíquico e na vida mental do trabalhador. Assim, a organização do trabalho e o

funcionamento psíquico, demonstram que algumas organizações são perigosas para

o equilíbrio psíquico; destruindo os trabalhadores, provocando doenças físicas e

mentais, e não permitindo a utilização das vias de descarga, acarretando no

acúmulo de energia psíquica, transformando-se em fonte de tensão e desprazer. Por

outro lado, existem organizações favoráveis à saúde, as quais oferecem um campo

de ação para a concretização das aspirações individuais.

O processo saúde-doença configura-se como o resultado de conflitos e

contradições, do confronto entre as necessidades e os desejos dos indivíduos e os

diferentes contextos do ambiente de trabalho, ou seja, uma articulação entre as

condições subjetivas e objetivas do trabalho trazendo como conseqüência o

sofrimento no trabalho.

De acordo com Tamayo (2004), são três os fatores que provocam o processo

de adoecimento e que podem dar lugar a uma doença ocupacional: esgotamento

emocional, despersonalização e baixo envolvimento emocional no trabalho. Neste

rol de fatores, Heloani e Capitão (2003) incluem a organização do trabalho: divisão

do trabalho, da tarefa, do sistema hierárquico, das relações de poder, etc.

O sofrimento no trabalho surge quando não há mais possibilidades de o

indivíduo se defender de seus sentimentos, e manter seu desejo e sua motivação.

Este sofrimento pode apresentar-se de duas formas: como um elemento promovedor

de saúde – quando este aumenta a resistência e fortalece a identidade individual; ou

como estresse – tanto pela intensidade quanto pelo fracasso nas defesas do

indivíduo, passando o trabalho a assumir seu papel de fator contributivo, provocando

ou agravando doenças como as LER/DORT, que estão entre as causas mais

comuns de morbidade e incapacidade dos trabalhadores (GHISLENI e MERLO,

2005; HELOANI e CAPITÃO, 2003; LIMONGI-FRANÇA e RODRIGUES, 1999;

MENDES, 1988; TAMAYO, 2004).

Page 13: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

12

As diferentes formas de adoecimento no trabalho se dão devido às respostas

do indivíduo às situações as quais este é submetido. O desejo do indivíduo e sua

satisfação fazem parte da organização do trabalho, mas na base da hierarquia da

pirâmide organizacional, não há muito lugar para o sujeito e a expressão de seus

desejos, conseqüentemente, quanto mais o indivíduo sobe nesta hierarquia, mais

espaço há para seu desejo, havendo no topo, muito mais abertura para este sujeito

e suas expressões. Porém, considerando-se o indivíduo situado no início da

hierarquia piramidal, há uma repressão do seu desejo pela organização, afetando

seu equilíbrio psíquico e somático, agravando, por conseguinte, o risco do

desenvolvimento de uma doença somática, pois, nessa situação, ou o indivíduo

tenta desviar o curso das coisas, ou passa a visualizar sua realização em outro

ambiente, ou continua no ambiente e dá espaço para o desenvolvimento do

sofrimento ocupacional (DEJOURS e ABDOUCHELI, 1994; TAMAYO, 2004).

Para a transformação de um trabalho fatigante em equilibrante, é preciso

flexibilizar a oganização do trabalho, dando mais liberdade ao trabalhador para que

este organize seu modo operatório e encontre prazer na execução de seu trabalho.

Se o trabalho favorece o livre funcionamento, ele será fator de equilíbrio, se ele

opõe, será fator de sofrimento e de doença (DEJOURS, DESSORS e DESRIAUX,

1993; TAKAHASHI e CANESQUI, 2003).

2.2 LER/DORT

Antes do século XIX, as LER/DORT apenas atingiam um pequeno número de

pessoas, principalmente os que trabalhavam com a escrita. Na Revolução Industrial,

com a substituição da pena de ave pela de aço, tornando o trabalho mais rápido, os

casos de LER aumentaram. Com o desenvolvimento do telégafro e o nascimento da

categoria de telegrafista, os casos cresceram e se propagaram para duas outras

categorias: os mecanógrafos/datilógrafos e os telefonistas. Nos anos 80 essa

doença assumiu seu status epidêmico, coincidindo com a intensa renovação

tecnológica, as mudanças da organização do trabalho e a modernização do trabalho.

Nesse contexto as LER/DORT deixam de ser um modo de adoecimento de poucas

Page 14: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

13

categorias, tornando-se um grave problema do trabalho, social e de saúde pública

(ANTONALIA, 2001; BARROS e GUIMARÃES, 1999; RIBEIRO, 1997).

No Brasil, a história das LER/DORT começa a ser notificada na classe dos

bancários no início dos anos 80, e, logo é propagada aos escriturários, caixas de

bancos, indústrias metalúrgica, química e de montagem eletro-eletrônico, caixas de

supermercado e embaladores. Passa, na década de 90, juntamente com a surdez, a

ser a doença do trabalho mais notificadas e a que demanda mais aos serviços de

saúde do trabalhador (ANTONALIA, 2001; MONTEIRO, 1997; RIBEIRO, 1997).

São definidas como patologias que acometem os músculos, tendões e vasos,

degenerando os tecidos e provocando lesões ou inflamações, acontecendo quando

o ritmo da lesão ultrapassa a velocidade de recuperação dos tecidos da região.

Constituem-se como uma soma de esforços e traumas repetitivos com grande

intensidade, caracterizada por dor crônica e afecções, de forma isolada ou

associada, com ou sem degeneração dos tecidos, afetando, principalmente, mas

não apenas, os membros superiores, região escapular e pescoço. Seu aparecimento

e evolução é de caráter insidioso, com origem multifatorial complexa, na qual

entrelaçam-se vários fatores causais (CODO e ALMEIDA, 1995; COUTO, 1995;

DIAS, 2001; HELOANI e CAPITÃO, 2003; LECH et al., 1998; MERLO, JACQUES e

HOEFEL, 2001; SILVA e MÁSCULO, 2002; TAMAYO, 2004).

Essas doenças têm diferentes nomes nos diferentes países, como por

exemplo, LTC (Lesões por Traumas Cumulativos) no Brasil, RSI (Repetitive Strain

Injury) na Austrália, OCD (Occupational Cervicobrachial Disorder) no Japão, e CTD

(Cumulative Trauma Disorders) nos Estados Unidos (CODO e ALMEIDA, 1995;

DIAS, 2001). Atualmente, no Brasil, foi adotada a nova terminologia Distúrbios

Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT), pois a divisão de atividades

previdenciárias admite que a terminologia LER declara explicitamente a

organização, a forma e condições do trabalho como suas causas (BARROS e

GUIMARÃES, 1999).

As LER/DORT tornaram-se visíveis pela entrada dos processos produtivos, e

expressam a relação de subjetivação entre trabalhador-trabalho, afetando

diretamente a qualidade de vida do trabalhador (GHISLENI e MERLO, 2005;

HELOANI e CAPITÃO, 2003; LIMONGI-FRANÇA e RODRIGUES, 1999; SILVA e

MÁSCULO, 2002). Nas empresas ocasionam absenteísmo e redução de lucro,

sendo responsáveis pela maior parte dos afastamentos do trabalho, redução de

Page 15: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

14

produtividade, dimunição da qualidade e custos com pagamentos de indenizações,

afastamentos, tratamentos e processos de reintegração ao trabalho (SILVA e

MÁSCULO, 2002; WALSH et al., 2004).

Contribuem para o seu surgimento, a execução de algumas tarefas, como:

repetição de movimento, esforço físico, pressão mecânica, vibração, ritmo de

trabalho acelerado, invariabilidade, monotonia de tarefas, trabalho muscular estático,

choques, retraimento de tensões, ausência de intervalos de descanso, aspectos

ambientais, posturas e movimentos inadequados mantidos por tempo prolongado

(GHISLENI e MERLO, 2005; GOLDBERG, 1980; LIMONGI-FRANÇA e

RODRIGUES, 1999; MACIEL, FERNANDES e MEDEIROS, 2006; MERLO,

JACQUES e HOEFEL, 2001; SILVA e MÁSCULO, 2002).

Caracterizam-se por uma dor mal localizada e com intensidade variável, mas

com sinais e sintomas inflamatórios nas articulações. Em geral não são facilmente

diagnosticadas. O primeiro sinal deste ciclo vicioso é a dor, leve ou moderada e

sempre ligada ao movimento, passando a ser contínua, difusa e intensa, com

períodos de exacerbação, caracterizando-se também por uma dor noturna e

demorada, com a ocorrência de vários sintomas como formigamento, dormência,

choque, sensação de peso e fadiga, levando o profissional a não realizar o trabalho

para fugir do incômodo da dor. Os estágios mais severos são acompanhados de

sinais e sintomas clínicos intensos, que envolvem parestesias e perda de força

muscular. A persistência desses sintomas tende a inibir atividades domésticas e

ocupacionais, algumas vezes as dores são tão freqüentes e intensas que trabalhar

sentido-as é tido pelo trabalhador como inerente ao próprio dia. Os períodos

prolongados de inatividade conduzem ao comprometimento da capacidade funcional

(LIMONGI-FRANÇA e RODRIGUES, 1999; TAMAYO, 2004; WALSH et al., 2004).

Como descrito acima, as LER/DORT podem ocasionar diferentes graus de

incapacidade funcional. Há diferentes nomenclaturas para os graus, por diferentes

autores, mas todos têm em comum o processo que ocorre durante as fases. Silva e

Másculo (2002), consideram do grau 0 ao IV. No grau 0 estariam as queixas,

localizadas ou não, no final do expediente e durante picos de produção,

acompanhadas de sensação de peso e desconforto, que cessam com diminuição do

rtimo de produção ou repouso.

Outros autores começam sua classificação pelo grau I, que tem como

características uma dor espontânea, com pontadas durante o trabalho, desconforto e

Page 16: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

15

sensação de peso, desaparecendo com repouso e sem irradiação nítida, porém

quando a massa muscular é comprimida surge uma leve dor. Neste grau o

prognóstico é bom (SILVA e MÁSCULO, 2002; TAKAHASKI e CANESQUI, 2003).

Uma dor intensa e intermitente durante a jornada de trabalho, acompanhada

ou não de calor e formigamento, com períodos de exacerbação, caracterizam o

grau II. Nesta fase a dor torna-se localizada e evidente pela redução da

produtividade e da sensibilidade do indivíduo. A recuperação é mais demorada

mesmo com repouso e o prognóstico é favorável (SILVA e MÁSCULO, 2002;

TAKAHASKI e CANESQUI, 2003).

No grau III, a dor é persistente, intensa e irradiada. Muitas vezes não

desaparece com repouso e é sentida pelo indivíduo mesmo fora da jornada de

trabalho. Ocorre a diminuição da tonacidade muscular e da produtividade,

ocasinando limitações de movimentos e dificuldades para realizar tarefas

domésticas. Definida por Takahaskhi e Canesqui (2003) como persistente e mais

forte, com irradiação mais definida, pode gerar a impossibilidade de executar da

função. A mobilização ou apalpação do grupo muscular acometido provoca dor forte.

Nessa etapa o retorno à atividade produtiva é problemático e o prognóstico é

reservado (SILVA e MÁSCULO, 2002).

No grau IV, com uma dor forte, contínua e insuportável, acentuada com os

movimentos, irradia-se por todo o membro, traz um grande sofrimento, perda de

força e controle dos movimentos e desenvolvimento de deformações. A capacidade

de trabalho é anulada, sendo caracterizada a invalidez e o prognóstico é sombrio

(SILVA e MÁSCULO, 2002; TAKAHASKI e CANESQUI, 2003).

Dependendo do grau em que o indivíduo se encontra, estas doenças

ocasionam a incapacidade parcial - quando o indivíduo pode retornar ao trabalho,

desde que em condições propícias e sob supervisão médica; ou o afastamento -

abalando as estratégias do doente (DIAS, 2001).

Essas doenças vêm se agravando pelo desconhecimento sobre a sua

patologia e ausência de intervenções ergonômicas nas condições de trabalho. Sua

maior visibilidade deve-se ao aumento da freqüência e da maior divulgação pela

mídia e pelos sindicatos de trabalhadores das categorias (DIAS, 2001; SILVA e

MÁSCULO, 2002).

Page 17: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

16

2.3 FATORES ASSOCIADOS AS LER/DORT

Para Chanlat et al. (1993), o espaço do trabalho exprime a identidade do

indivíduo, sua personalização e também a individualidade da organização. Entao, o

trabalho em si não é nocivo e perigoso, o que o torna assim é a maneira pela qual

este é organizado pelo homem. No caso das LER/DORT existe uma dimensão social

mais abrangente em sua determinação, que se compõe de duas dimensões

indissociáveis: a internalidade do processo e organização do trabalho (dimensão do

trabalho); e o modo de cada um sentir e refletir o mundo (dimensão individual)

(RIBEIRO, 1997; ROCHA, RIGOTTO e BUSCHINELLI, 1993).

O aspecto enigmático desta doença é comprovado por duas questões que

buscam ser respondidas para encontrar os fatores que as desencadeiam: “Por que

certas doenças podem ora manifestar-se, ora permanecerem silenciosas?” e “Por

que todos os funcionários não adquirem a doença se esta é causada pelo esforço

repetitivo?” (BARROS e GUIMARÃES, 1999; CODO e ALMEIDA, 1995; MONTEIRO,

1997; OLIVEIRA, 1998). Os fatores associados às LER/DORT são fatores que

contribuem para a ocorrência e/ou agravamento da doença. Na literatura sobre

LER/DORT, encontra-se um rol de diversos fatores associados à doença, sendo os

principais: organização do trabalho, biomecânicos, psicossociais e pessoais.

Nos fatores de organização do trabalho encontramos: variedade das tarefas,

realização de pausas, velocidade do trabalho, falta de material (interrompendo a

produção), encomendas extras, urgências e emergências, retrabalho, falta de

pessoal, posição estrangulada (causa da sobrecarga), processo de produção,

divisão técnica e social do trabalho, controle da organização sobre o tempo e ritmo

da execução das tarefas, hierarquia interna dos trabalhadores, etc. Dejours, Dessors

e Desriaux (1993) dividem a organização do trabalho em: divisão das tarefas –

conteúdo das tarefas, o modo operatório, todas as prescrições da organização do

trabalho; e divisão dos homens – como as pessoas são divididas em uma empresa,

e as relações humanas estabelecidas (COUTO, NICOLETTI e LECH, 1998).

Os fatores de organização do trabalho são considerados como os principais

responsáveis pelo desenvolvimento das LER/DORT, pois a organização do trabalho

repercute sobre a saúde mental do trabalhador, atingindo mais diretamente o

funcionamento psíquico, causando o sofrimento psíquico, doenças mentais e físicas.

Page 18: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

17

Todavia, também devem ser considerados os fatores biomecânicos e os fatores

psicossociais, que tem sua influência não totalmente esclarecida. Estes são

considerados por muitos autores como importantes para a determinação, já que as

características individuais são fatores de extrema importância no processo de

adoecimento (CODO e ALMEIDA, 1995; DEJOURS, DESSORS e DESRIAUX, 1993;

GHISLENI e MERLO, 2005; HELOANI e CAPITÃO, 2003; MONTEIRO, 1997;

ROCHA, RIGOTTO e BUSCHINELLI, 1993).

Os fatores biomecânicos ou etiológicos (força, repetitividade, posturas

assumidas, intervalos, horas extras e sobrecarga, etc.) são os mais discutidos e

evidentes, por serem mais facilmente observados e mensuráveis. Sozinhos podem

ocasionar a lesão, sua simples presença pode agravar ou causar a lesão, mesmo

sem a presença de outros fatores, porém, o peso desse fator pode ser aumentado

com a presença de outros fatores (CODO e ALMEIDA, 1995; COUTO, NICOLETTI e

LECH, 1998; MONTEIRO, 1997).

Quanto aos fatores psicossociais, Couto, Nicoletti e Lech (1998) defendem

que o individuo é capaz de sentir e reagir a fatores como falta de autonomia, pressão

desrazoável de produção, relações humanas inadequadas, esquemas rígidos, chefia

incapaz ou que não represente o grupo de trabalho, etc. Cada indivíduo tem sua

história particular e, consequentemente, responde de maneira diferente aos

estímulos do meio, apresentando relação significativa com a capacidade e a noção

que o indivíduo tem de sua capacidade para o trabalho (MERLO, JACQUES e

HOEFEL, 2001; MONTEIRO, 1997; WALSH et al., 2004).

Couto, Nicoletti e Lech (1998) consideram ainda os fatores pessoais, ou seja,

o estado que o indivíduo se encontra, sua experiência pessoal de desprazer com o

trabalho, insegurança e tensão.

2.4 NEXO CAUSAL

Não existe um consenso que tenha permitido uma classificação dos distúrbios

psíquicos vinculados ao trabalho. Existe uma concordância da importância etiológica

do trabalho, mas não a respeito do modo como se exerce a conexão

trabalho/psiquismo de forma suficiente a permitir um quadro teórico. O nexo entre

Page 19: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

18

adoecimento e situação de trabalho não é simples, uma vez que tal processo é

específico para cada indivíduo, envolvendo sua história de vida e de trabalho.

Todavia, o estabelecimento do nexo causal constitui-se em uma condição básica

para a implementação das ações de saúde do trabalhador nos serviços de saúde

(DIAS, 2001).

Para o estabelecimento do nexo é imprescindível uma descrição detalhada da

situação de trabalho, quanto ao ambiente, à organização e à percepção da influência

do trabalho no processo de adoecer. Porém, devido à burocracia, pode ser um

processo demorado, podendo até ser estabelecido apenas quando a incapacidade

estiver já instalada (BARROS e GUIMARÃES, 1999; MONTEIRO, 1997;

TAKAHASHI e CANESQUI, 2003).

Para Dias (2001), as principais dificuldades para o estabelecimento do nexo

ou da relação trabalho-doença são:

• Ausência ou imprecisão na identificação de fatores de risco e/ou situações

a que o trabalhador está ou esteve exposto,

• Ausência ou imprecisão na caracterização do potencial de risco da

exposição; o conhecimento insuficiente quanto aos efeitos para a saúde

associados com a exposição em questão,

• Desconhecimento ou não valorização de aspectos da história de

exposição e da clínica,

• Necessidade de métodos propedêuticos e abordagens por equipes

multiprofissionais, nem sempre disponíveis nos serviços de saúde.

2.5 PREVENÇÃO E TRATAMENTO

A primeira etapa para um programa efetivo de prevenção, constitui-se no

reconhecimento dos riscos, pois a cadeia de transmissão do risco deve ser

quebrada o mais precocemente possível. Isto poderá ser possível com a

identificação no ambiente de trabalho dos fatores com potencial de dano e

estimativa da probabilidade e a gravidade de que o dano possa ocorrer (DIAS,

2001).

Page 20: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

19

A prevenção se constitui na análise ergonômica do trabalho e eliminação dos

fatores que desencadeiam ou perpetuam o quadro. Medidas como o

reescalonamento do trabalho, a distribuição do trabalhador em esquemas rotatórios

de serviço, medidas de proteção coletiva e individual e estratégias de defesa

individuais e coletivas, devem ser tomadas, além de incluir a decisão do escalão

administrativo superior da empresa no zelo pela segurança dos funcionários. Para

um programa de prevenção efetivo, mudanças ergonômicas, organizacionais e

comportamentais devem ser utilizadas (CODO e ALMEIDA, 1995; MONTEIRO,

1997; SILVA e MÁSCULO, 2002; ZOCCHIO, 2001).

Fialho e Santos (1997) definem ergonomia como um “conjunto dos

conhecimentos científicos relativos ao homem e necessários para a concepção de

ferramentas, máquinas e dispositivos que possam ser utilizados com o máximo de

conforto, de segurança e de eficácia” (p. 20).

A aplicação da ergonomia pode iniciar desde o planejamento das máquinas,

do ambiente ou do local de trabalho, sempre inserindo o homem como um dos seus

componentes. O objetvo é a melhoria das condições de trabalho e da qualidade de

vida através da modificação do modo de trabalho, para adaptá-lo às características

dos seres humanos (FIALHO e SANTOS, 1997; GUIMARÃES e GRUBITS, 2004).

Os resultados da análise ergonômica “devem conduzir e orientar modificações

para melhorar as condições de trabalho sobre os pontos críticos que foram

evidenciados, assim como melhorar a produtividade e a qualidade dos produtos ou

serviços que serão produzidos ou realizados” (FIALHO e SANTOS, 1997, p. 25). A

ergonomia está se tornando cada vez mais promissora na contribuição para a

solução dos problemas decorrentes das doenças no trabalho; e, além de melhorar o

desempenho no trabalho, contribui para reduzir despesas com a previdência social e

treinamentos de mão-de-obra especializadas (MONTEIRO, 1997).

O desenvolvimento das LER/DORT é multicausal, sendo assim não há

tratamentos completamente efetivos. Todavia, quanto mais cedo o tratamento for

iniciado, menos invasivo este será, já que após a cronicidade raramente obtém-se

resultados positivos.

Lech et al. (1998) consideram que a conduta de tratamento para portadores

de LER/DORT deve iniciar com o tratamento conservador, com indicação de uso de

medicação e fisioterapia. Se não obtiver sucesso, deve-se mudar o indivíduo de área

de trabalho (caso este volte a trabalhar), e se mesmo assim melhoras não forem

Page 21: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

20

obtidas deve-se recorrer à intervenção cirúrgica. Deve-se também considerar que o

tratamento multidisciplinar auxilia a diminuir a cronicidade da doença, pois o principal

objetivo é a eliminação ou minimização dos fatores que causam ou agravam as

LER/DORT, favorecendo o processo natural de recuperação do organismo

(MONTEIRO, 1997).

As possibilidades de obter melhorias no tratamento dos portadores de

LER/DORT, em caso de incapacidade total e/ou temporária, o indivíduo deve se

afastar até sua melhora clínica ou mudança de função para tarefas que não

comprometam ou agravem sua doença. Se retornar à organização esta deve ter um

programa de prevenção. O programa deve contemplar atividades de sensibilização

aos colegas de trabalho para que estes conheçam as limitações do indivíduo, evitem

a exclusão, estimulando a colaboração. Ou seja, buscar estratégias para garantir a

participação dos trabalhadores e a sensibilização dos níveis para a implementação

das medidas preventivas (DIAS, 2001).

Um bom exemplo de trabalho de tratamento com pacientes portadores de

LER/DORT é o Modelo Assistencial de LER/DORT desenvolvido por Takahashi e

Canesqui (2003), o qual contou com a participação de psicólogos, fisioterapeutas e

terapeutas ocupacionais. Os mesmos autores concluem que as atividades

terapêuticas podem ter resultados positivos, auxiliando a encontrar um meio para

elaborar outros canais para a liberação da energia mobilizada pelos sofrimentos de

injustiça e impotência enfrentados pelo indivíduo. Tais atividades podem constituir

para o alívio do sofrimento, resgatando a capacitação funcional, emocional, social e

a autonomia.

O psicólogo pode trabalhar com a estimulação e elaboração de sentimentos

conseqüentes da perda funcional e emocional; a aceitação dos limites trazidos pela

doença, propiciando a aprendizagem da convivência com a dor e o estabelecimento

de novos comportamentos para a satisfação de suas aspirações. Também podem

ser desenvolvidos trabalhos em grupo que objetivem o desenvolvimento de aspectos

saudáveis, pelo uso da identificação e ressignificação da doença, para possibilitar

suporte emocional à reconstrução da identidade abalada (TAKAHASHI e

CANESQUI, 2003).

O fisioterapeuta pode auxiliar quanto ao desenvolvimento da percepção do

próprio corpo, possibilitar o conhecimento de suas estruturas e as alterações dos

Page 22: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

21

hábitos posturais, e consequentemente, a diminuição de sobrecargas físicas e

tensionais (TAKAHASHI e CANESQUI, 2003).

O terapeuta ocupacional pode trabalhar no desenvolvimento de posturas

corretas através da observação e do auto-conhecimento do próprio corpo, ensinando

e aplicando relaxamentos e atividades lúdicas, inclusive em grupo (TAKAHASHI e

CANESQUI, 2003).

Page 23: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

22

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa realizada foi de caráter exploratório, que segundo Gil (2002) tem o

objetivo de proporcionar maior flexibilidade à problemática da pesquisa, torná-la

mais explícita e permitir a construção de hipóteses. Seu objetivo principal é

aprimorar idéias, permitir ao pesquisador encontrar os elementos para a obtenção

dos resultados desejados de uma realidade específica e auxiliar no aumento da

experiência em torno de determinado problema (TRIVIÑOS, 1987).

Para esta pesquisa, como delineamento utilizou-se o estudo de caso, algo

comum nas pesquisas exploratórias. Pretende-se, com o uso do estudo de caso,

apreender e retratar uma situação em particular. Esta modalidade permite um estudo

amplo e exaustivo dos objetos, com a possibilidade de reunião de numerosas e

valiosas informações. Com isto pretende-se aprofundar os conhecimentos,

estabelecer, detalhar e auxiliar para a compreensão do problema de estudo (GIL,

2002; GODOY, 1995; LAVILLE e DIDONE, 1999; TRIVIÑOS, 1987).

Para o desenvolvimento da pesquisa utilizou-se como método a análise

qualitativa, o qual permite uma compreensão detalhada das situações apresentadas

pelos sujeitos entrevistados, na medida em que abrange suas peculiaridades e

considera os aspectos implícitos na fala dos participantes (RICHARDSON, 1999;

TRIVIÑOS, 1987).

3.1 LOCAL DE ESTUDO

A associação de portadores de LER/DORT foi fundada em 03 de Janeiro de

2003, por 17 membros, todos portadores da doença, que se conheceram e se

reuniam freqüentemente para debater o assunto antes da criação da associação. O

principal objetivo da associação é lutar pela humanização do atendimento dado aos

portadores de LER/DORT e buscar métodos de informação sobre a doença e

direitos dos portadores.

Page 24: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

23

A associação não possui fins lucrativos e os atendentes são todos voluntários,

contando atualmente com um estagiário do Curso de Direito. A associação recebe

auxílio de organizações como sindicatos de trabalhadores para a manutenção de

seu estabelecimento. Os voluntários se distribuem em diretorias e uma

coordenação.

Atualmente a associação não atende apenas casos de LER/DORT, e sim

todos os casos trabalhistas, de associados ou não, totalizando em torno de 35

pessoas por dia.

Contam com 481 associados, que contribuem com um valor mensal irrisório e

dispõem de benefícios como convênios com médicos, advogados, farmácias,

fisioterapeutas e clínicas.

3.2 SUJEITOS DA PESQUISA

A amostra foi delimitada em função da saturação dos dados, sendo

constituída de oito portadores de LER/DORT participantes da associação localizada

em um município de Santa Catarina. Como critério para seleção da amostra, a

princípio, seriam entrevistados apenas indivíduos que estivessem exercendo

atividade laboral, com sintomas da doença e associados. Porém, no início da coleta

de dados, chegou-se a conclusão de que a grande maioria dos associados já se

encontravam afastados de suas atividades laborais. Então foram entrevistados

indivíduos associados, com sintomas de LER/DORT, porém afastados do seu

trabalho.

3.3 INSTRUMENTO

O instrumento elaborado para a coleta de dados foi uma entrevista semi-

estruturada, elaborada de acordo com os objetivos da pesquisa (APÊNDICE A). A

característica principal desse instrumento de pesquisa é a utilização de um roteiro

para nortear o entrevistador, exigindo um conhecimento prévio dos aspectos que se

Page 25: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

24

deseja pesquisar. Seu objetivo é a obtenção de informações tanto objetivas como

subjetivas, contidas na fala dos entrevistados. Esta modalidade de entrevista

articula-se entre as duas modalidades, a estruturada e a não-estruturada e se inicia

por meio de alguns questionamentos básicos. Ao mesmo tempo em que o

entrevistador é importante, e a formulação dos pontos depende deste, o entrevistado

pode se expressar como desejar, tendo abertura para abordar questões que não

estão previstas, oferecendo ao pesquisador um amplo campo de interrogativas e a

emergência de novas hipóteses, ou seja, o informante é ativo durante a entrevista

(GHISLENI e MERLO, 2005; MINAYO, 1994; RICHARDSON, 1999; TRIVIÑOS,

1987).

3.4 COLETA DE DADOS

Primeiramente foi apresentado o objetivo do trabalho e solicitada a

autorização da associação para a realização da pesquisa (APÊNDICE B). De posse

da autorização, a pesquisadora foi até a associação para aguardar que as pessoas

que fossem ao local buscar atendimento pudessem conceder a entrevista

individualmente, respeitando o desejo e a disponibilidade dos indivíduos. Após

solicitada a autorização verbal para a realização da entrevista, foi explicado e

assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE C).

Triviños (1987) considera que a duração da entrevista semi-estruturada é

flexível, dependendo das circunstâncias e do teor do assunto estudado. Sendo

assim, na pesquisa, o tempo para a realização das entrevistas não foi delimitado,

variando de quarenta a sessenta minutos de duração. As entrevistas ocorreram nos

meses de janeiro e fevereiro de 2008.

Após a solicitação de permissão para a gravação, as entrevistas foram

gravadas, e posteriormente, transcritas.

3.5 ANÁLISE DOS DADOS

Page 26: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

25

Para a compreensão e categorização dos dados obtidos com as entrevistas,

as informações foram submetidas à análise de conteúdo, através da identificação de

unidades e categorias.

A análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das

comunicações, visando a obtenção de indicadores quantitativos ou não; é

interpretativa, pois busca a construção de ligações entre os elementos do texto e os

objetivos da pesquisa; busca trabalhar a palavra, considerando sua forma e

entendendo também a distribuição dos seus conteúdos. A análise de conteúdo tem

duas funções para sua aplicação: a verificação de hipóteses e/ou questões, ou a

descoberta além do que está sendo comunicado (BARDIN, 1991; MINAYO, 1994;

RICHARDSON, 1999; TRIVIÑOS, 1987).

A categorização inicia-se pelo desmembramento do texto em unidades

formando categorias para seu reagrupamento, com o objetivo de fornecer pela

condensação, uma representação simplificada dos dados, sendo utilizada para

operacionalizar elementos por meio da diferenciação, e reagrupá-los pelo gênero,

reunindo um grupo de elementos sob um título. Para a categorização deve ser

investigado o que cada um dos elementos têm em comum com os outros, pois é a

semelhança que irá permitir o agrupamento (BARDIN, 1991).

Para Minayo (1994) as categorias são utilizadas para o estabelecimento de

classificações, descrevendo informações, conexões e interpretações, servindo para

o agrupamento de idéias ou expressões em torno de um conceito que possa

abranger tudo. As categorias podem ser estabelecidas na fase exploratória, antes do

trabalho de campo (dedutivas), ou a partir da coleta de dados (indutivas). Nesta

pesquisa, as categorias foram analisadas por sua frequência e/ou significado.

Quanto à sua frequência as categorias foram pré-definidas, baseadas na literatura

levantada para pesquisa, e posteriormente agrupadas nas devidas categorias e

subcategorias. Já as categorias de significado foram definidas posteriormente. A

seguir são apresentadas as categorias:

• Hora Extra,

• Sobrecarga, com as subcategorias: falta de material, falta de pessoal e

encomendas extras e/ou urgências,

• Pausa, com as subcategorias: indivíduos que realizam menos pausas do

que o adequado e pausas subordinadas à realização de hora extra,

• Velocidade do trabalho para alcance de metas de produção,

Page 27: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

26

• Repetitividade,

• Poder e Submissão Organizacionais,

• História da Dor, com as subcategorias: diagnóstico tardio e retorno ao

trabalho,

• Graus de Dor,

• Conseqüências,

• Significado de ser Portador: preconceito e tristeza, como subcategorias.

3.6 PROCEDIMENTOS ÉTICOS

Esta pesquisa e seus instrumentos de coleta de dados foram balizados pelas

resoluções CNS - 196/1996, do Conselho Nacional de Saúde, quanto às diretrizes e

normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Também foi

seguida a resolução CPF nº 016/2000 referente à realização de pesquisa em

psicologia com seres humanos.

A participação dos entrevistados foi espontânea. Primeiramente foi-lhes

explicado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, no qual estavam descritos

os objetivos da pesquisa, e onde foram requeridas as assinaturas antes do início da

coleta dos dados.

O pesquisador comprometeu-se em garantir suas identidades, assegurando

que as informações não seriam utilizadas com o objetivo de prejudicar os

participantes, assim como foi garantido a estes que os dados apenas seriam

utilizados com finalidade acadêmica, mantendo seu anonimato. Também foi

garantido aos participantes o livre acesso às suas informações.

Page 28: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

27

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Este capítulo se dedica a estabelecer uma compreensão dos dados obtidos,

com base nos pressupostos teóricos que embasaram a pesquisa. Para isso, optou-

se pela realização de uma análise por meio de categorias de freqüência, definidas a

priori, e categorias de significado, definidas a posteriori, formuladas com base nos

objetivos da pesquisa. Estas categorias contêm as falas dos entrevistados,

expressando suas histórias, pensamentos e sentimentos.

A seguir, serão apresentados os dados de caracterização dos voluntários.

Participantes da Pesquisa Idade Sexo Estado

Civil

Número de

Filhos

Ramo de Atividade

Cargo Ocupado

Tempo de Trabalho

Atual Hospital

Atual Copeira

Atual 3 Anos

S1 42 Feminino Viúva 1 Antigo Têxtil

Antigo Costureira

Antigo 5 Anos

S2 25 Feminino Solteira 1 Têxtil Passadora 7 Meses

S3 45 Feminino Casada 2 Têxtil Costureira 8 Anos

Atual Têxtil

Atual Costureira

Atual 1 Ano

S4 38 Feminino Solteira 1 Antigo Têxtil

Antigo Costureira

Antigo 8 Anos

S5 31 Masculino Casado 0 Metalúrgica Montador 6 Anos

S6 42 Feminino Viúva 4 Transporte Servente 2 Anos

S7 45 Masculino Casado 2 Transporte Motorista 5 Anos

S8 41 Feminino Casada 1 Têxtil Costureira 6 Anos

Quadro 01: Dados de Identificação. Fonte: Entrevistas realizadas com os portadores de LER/DORT, participantes de uma associação em um município de Santa Catarina.

Page 29: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

28

Foram entrevistados oito participantes, sendo seis do sexo feminino, e

apenas dois do sexo masculino. Couto (1995) e Maciel, Fernandes e Medeiros

(2006) concordam que as mulheres têm de duas a três vezes mais risco de

desenvolvimento de LER/DORT, por alguns fatores: sua estrutura física tem menor

resistência (massa muscular, composição corporal e tamanho); os hormônios

(principalmente estrógenos) acumulam líquidos nos tecidos e dificultam a melhoria

nos casos de inflamação; e as atividades domésticas sobrecarregam os membros

superiores. Além desses autores, Monteiro (1997); Reis et al. (2000); Ribeiro (1997)

e Salim (2003), observaram a grande prevalência de mulheres acometidas pelas

LER/DORT, resultante do processo de segregação que coloca as mulheres com

tarefas específicas, repetitivas e monótonas.

A média de idade dos voluntários foi de aproximadamente 39 anos. O

voluntário mais jovem estava com 25 anos e as duas participantes com mais idade

apresentavam 45 anos. Maciel, Fernandes e Medeiros (2006), Reis et al. (2000),

Ribeiro (1997) e Salim (2003) constataram em suas pesquisas que a faixa etária

acometida pelas LER/DORT é de 20 a 39 anos, afastando do trabalho indivíduos

numa fase produtiva, que acabam não podendo contribuir no desenvolvimento da

economia e, além disso, passam a depender de benefícios da Previdência Social.

Em relação à estrutura familiar, a maioria dos entrevistados é casado e tem

apenas um filho.

O principal ramo de atividade foi o têxtil, sendo que cinco voluntários

trabalham ou já trabalharam neste setor: um dos entrevistados trabalhou em duas

empresas, ambas do ramo têxtil e com as mesmas funções. Dos cinco participantes,

quatro exercem atividades de costureira (costurando em várias máquinas, e

ajudando em outros setores quando necessário); e um trabalha como passadora

(passando peças e auxiliando os outros setores da empresa quando preciso). Uma

entrevistada trabalha atualmente em um hospital, como copeira (servindo os

pacientes), porém seu antigo emprego era no setor têxtil, como costureira. A

principal atividade apontada por Maciel, Fernandes e Medeiros (2006) em sua

pesquisa foi a confecção de roupas. Estes autores constataram também, que no

trabalho em indústrias têxteis a postura necessária para a realização do trabalho

influencia no desenvolvimento das LER/DORT, especialmente nas regiões da coluna

vertebral e pernas. Couto (1995) discute sobre a utilização das máquinas de costura

e de objetos como alicates e tesouras, que podem contribuir para ocasionar tendinite

Page 30: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

29

da fascia palmar, tenossivite estenosante, lesões crônicas dos nervos e dificuldades

para realizar as tarefas por anulação das extremidades comprometidas.

Dos outros três entrevistados, dois trabalham no setor de transportes, um

como motorista, exercendo atividades de direção, carga e descarga de caminhão;

um como servente, fazendo limpeza de ônibus. E um dos voluntários trabalha em

uma empresa de metalúrgica, como montador de peças.

O tempo médio de trabalho na organização que ocasionou a doença somou

seis anos, sendo que dois entrevistados tinham oito anos de trabalho e o mais jovem

trabalha há sete meses na organização. Maciel, Fernandes e Medeiros (2006)

concluem, quanto ao tempo de trabalho na organização, que os indivíduos que

exercem a mesma função há mais de seis meses, têm aproximadamente três vezes

mais chances de desenvolver LER/DORT.

4.1 CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS DE ANÁLISE

As categorias e subcategorias definidas foram analisadas por sua freqüência

e/ou significado e estão dispostas no quadro 02, para melhor compreensão.

CATEGORIAS SUBCATEGORIAS Hora Extra

Sobrecarga Falta de Material Falta de Pessoal

Encomendas Extras e/ou Urgências

Pausa

Indivíduos que realizam menos pausas do que o adequado

Pausas subordinadas à realização de hora extra

Velocidade do Trabalho para alcance de Metas de Produção

Repetitividade

Poder e Submissão Organizacionais

História da Dor Diagnóstico Tardio

Retorno ao Trabalho Graus de Dor

Conseqüências

Significado de ser Portador Preconceito

Tristeza Quadro 02: Categorias e Subcategorias de Análise. Fonte: Entrevistas realizadas com os portadores de LER/DORT, participantes de uma

associação em um município de Santa Catarina.

Page 31: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

30

A divisão dos dados em categorias foi utilizada para facilitar a apresentação,

discussão e análise dos dados. No entanto, neste trabalho, pode-se observar que

estas categorias estão interligadas entre si, ampliando a compreensão do fenômeno

estudado. As categorias hora extra, sobrecarga, pausa, velocidade do trabalho para

alcance das metas de produção e repetitividade estão relacionadas aos fatores de

organização do trabalho, e, assim como as demais categorias (poder e submissão

organizacionais, história da dor, graus de dor, conseqüências e significado de ser

portador) estão associadas à sintomatologia dolorosa.

4.1.1 CATEGORIA: Hora extra

A questão da realização de hora extra é discutida por Maciel, Fernandes e

Medeiros (2006) e concluem que os funcionários que as realizam, apresentam mais

queixas de dor, se comparados a indivíduos que não as realizam. Para Rocha,

Rigotto e Buschinelli (1993), o esforço físico despendido na extensão da jornada de

trabalho é uma das principais fontes de desgaste dos trabalhadores.

Sete entrevistados declararam realizar entre três a nove horas extras por dia.

Um dos participantes declarou a realização de hora extra também aos sábados,

como pode ser observado nos relatos abaixo.

“Fazia bastante horas” (S1).

“É bem puxado daí, porque tem que dar conta de acabar tudo [...] faz hora

extra” (S2).

“A gente fazia bastante hora extra [...] tinha semana que era a semana toda

[...] das 5 às 5 horas, e às vezes tinha dia que ia das 5 horas até às 10 horas da

noite [...] fazia muita hora daí, até da conta de acabar com tudo” (S3).

“No começo toda a vida eu nunca me negava a fazer hora, chegava até às 10

da noite, sábado também [...] era por produção [...] ficavam bem em cima” (S4).

“Bem trabalhado [...] uma média de 3 a 4 horas por dia, até mais às vezes”

(S5).

“Dobrava, trabalhava das 5 da manhã, às 11 da noite” (S6).

“A gente sempre fazia hora extra” (S8).

Page 32: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

31

Um destes entrevistados declarou que anteriormente fazia muita hora extra,

até dois dias seguidamente, mas que atualmente busca respeitar os limites de seu

corpo para evitar as dores:

“Razoável, eu vou no limite do corpo né, a hora que eu vejo que o corpo não

tá mais agüentando eu saio [...] não é todo dia” (S2).

A principal justificativa presente nas respostas dos entrevistados foi o fato de

a empresa trabalhar por produção.

Para entendermos a sociedade é fundamental entender o trabalho, pois este

seria como um elemento que dá suporte à sociedade e também ao indivíduo.

Possibilita que este imprima uma atividade subjetivante e defina-o enquanto ser

social, interligado a cada época histórica e sua correspondente forma de produção

(BARROS e GUIMARÃES, 1999; FIALHO e SANTOS, 1997; HELOANI e CAPITÃO,

2003; ROCHA, RIGOTTO e BUSCHINELLI, 1993).

Observa-se que o processo de trabalho passou por muitas modificações ao

longo dos séculos. No século XVII ocorre a divisão do trabalho, no século XVIII a

inserção das máquinas no ambiente de trabalho tornam o trabalho alheio à

subjetividade do trabalhador, e as tarefas cada vez mais repetitivas e fragmentadas.

Ou seja, a mecanização e automatização do trabalho tornaram este mais leve,

porém, aumentaram o ritmo e passaram a concentrar as forças aplicadas em

determinadas partes do corpo (CODO e ALMEIDA, 1995; FIALHO e SANTOS,

1997).

Se por um lado, o trabalho pode ajudar promovendo qualidade de vida, por

outro avassala o homem em todos os seus aspectos, ferindo o psiquismo humano, e

fazendo com que as pessoas se sintam exigidas e impotentes (HELOANI e

CAPITÃO, 2003). Como, por exemplo, o impacto das condições de trabalho sobre a

saúde, tanto física como psíquica do trabalhador. Todavia, o sofrimento físico é o

mais destacado, certamente por ser mais visível. O psíquico, por sua vez, acaba

aparecendo apenas nas verbalizações do indivíduo, não sendo muito compartilhado

por este trabalhador, que sofre sozinho e adoece coletivamente (GUARESCHI e

GRISCI, 1993; ROCHA, RIGOTTO e BUSCHINELLI, 1993; SPECTOR, 2004).

Guareschi e Grisci (1993) discutem aspectos importantes quanto ao

desenvolvimento de doenças como as LER/DORT. Enfatizam a consciência da dor

dos trabalhadores que se submetem ao trabalho excessivo, porém muitas vezes a

Page 33: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

32

necessidade financeira acaba sendo predominante e o trabalhador se deixa levar

pela ilusão dos bônus ou dos prêmios de produção.

4.1.2 CATEGORIA: Sobrecarga

A sobrecarga pode ser dividida em 2 graus: queixas de curta duração,

presença de dores na musculatura e tendões que passam com o fim do expediente

de trabalho; ou dores nos músculos, tendões e articulações, que não desaparecem,

ao contrário, prolongam-se (GRANDJEAN, 1998).

A categoria sobrecarga foi dividida em subcategorias: falta de material, falta

de pessoal, encomendas extras e urgências. Observou-se que as respostas relativas

a esta categoria implicam diretamente na realização de horas extras, trazendo os

prejuízos já citados.

A) Falta de Material

A falta de material é relatada por cinco pessoas, sendo que esta também

ocasiona, além da realização de hora extra, a troca dos funcionários nos setores das

empresas, fator que se configura como um aspecto positivo, já que realização de

trabalhos em outros setores evita o trabalho repetitivo.

“Na confecção quando não tinha material a gente ia embalar, cortar fio,

colocar etiquetas” (S1).

“Tem bastante setor lá dentro, daí a gente vai ajudar o pessoal da

embalagem, ou da talharia [...] vai trocando de setor pra ajudar” (S2).

“Ia pra outro setor daí, ou vai embalar, ou vai dobrar, depende do que faltava”

(S4).

“Se o material chega no dia daí tem que fazer hora extra pra entregar o

pedido” (S5).

“Ajudar os setores que precisam [...] embalar, etiquetar, ou cortar fio,

desmanchar peça” (S8).

Page 34: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

33

B) Falta de Pessoal

A falta de pessoal aparece em cinco relatos, trazendo como conseqüência a

realização de hora extra:

“Eles pedem pra gente ajudar, daí a gente cobre a falta, faz hora daí (na

confecção) [...] quando faltava gente a gente apurava [...] fazia hora, era obrigada”

(S1).

“A gente tem que dá conta de todas as máquinas [...] só sobrou eu e mais

uma” (S3).

“Fazia hora” (S4) (quando faltava alguém na empresa).

“Tens que suprir aquele que falta, tem que dobrar o serviço” (S5).

“Ficava cobrindo a pessoa” (S6).

C) Encomendas Extras – Urgências

As encomendas extras e urgências aparecem em três relatos. Além das horas

extras a serem realizadas também acontece a busca por terceirização, em um caso:

“É tudo com nós [...] quando é muito, assim que a gente não dá conta a gente

manda pra fora” (S2).

“Tem que trabalhar bastante, é bem cobrado” (S5).

“Tinha bastante encomenda com prazo curto [...] fazia bastante hora extra”

(S8).

As encomendas extras e urgências trazem como conseqüência o trabalho sob

pressão, que será discutido na categoria “Velocidade do Trabalho para Alcance das

Metas de Produção”.

4.1.3 CATEGORIA: Pausas

Page 35: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

34

As principais doenças de desgaste dos trabalhadores estão no grande esforço

físico despendido na extensão da jornada de trabalho e no contato com algumas

matérias-primas nocivas. As pausas são importantes, pois garantem a recuperação

do físico e evitam a fadiga e a monotonia (GRANDJEAN, 1998; MACIEL,

FERNANDES e MEDEIROS, 2006).

Em relação à realização de pausas durante a jornada de trabalho, os dados

extraídos dos relatos foram classificados em duas subcategorias.

A) Indivíduos que realizam menos pausas do que o ad equado

Três indivíduos relataram realizar menos pausas do que o recomendado pelo

sindicato de suas categorias:

“Parava 30 min de café [...] almoço tinha 1 hora ou 1hr30 min [...] mas fazia 30

minutos só” (S3).

“Almoço de 30 minutos e tinha café na parte da tarde de 15 minutos” (S4).

“Tomava um lanchinho, mais ou menos 15 minutos” (S6).

B) Pausa subordinada à realização de hora extra

Alguns entrevistados realizam intervalo apenas quando fazem hora extra:

“1hora de almoço e café quando a gente fazia hora extra era 15 min, senão a

gente não tomava” (S1).

“Tem 15 min pra café, depois o almoço que é normal de 1hora, e daí se ficar

depois das 6 horas ou 7 horas [...] é mais 15 min de café” (S2).

“1hora do almoço, e 15 min de café a gente tinha só quando tinha hora extra”

(S5).

“Não tem tempo pra parar [...] depende de o que a gente tem que fazer” (S7).

“Parava pro café 15 minutos, de manhã e de tarde, mas de tarde só se dava

ou se a gente ia ficar pra fazer hora, senão não parava, e tinha o almoço de 1 hora”

(S8).

Page 36: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

35

A fadiga, segundo Grandjean (1998), se apresenta em dois tipos: a fadiga

muscular (um acontecimento agudo que é sentido na musculatura), e a fadiga

generalizada (uma sensação difusa, subjetiva de cansaço). Trata-se de uma

diminuição na capacidade funcional de um organismo, ocasionando uma

degradação em nível qualitativo do trabalho (COUTO, 1995; LIDA, 2000).

A fadiga provoca uma sobrecarga na utilização do órgão, sistema ou

organismo, e também, desgasta psiquicamente o trabalhador, que começa a

simplificar sua tarefa (COUTO, 1995; LIDA 2000 e ROCHA, RIGOTTO e

BUSCHINELLI, 1993). Uma de suas conseqüências é a monotonia, que seria uma

reação do organismo a uma situação pobre em estímulos, ou em condições com

pequenas variações dos estímulos. Suas causas seriam as tarefas repetitivas com

longa duração, e com o mínimo grau de dificuldade, porém sem possibilidade de se

desligar mentalmente do trabalho, com a obrigação de atenção permanente. Este

processo expressa a dissociação entre mente e corpo e também entre trabalho e

prazer, levando o trabalhador a realizar seu trabalho por meio de coisas alheias a

seu interesse e vontade (GRANDJEAN, 1998; GUARESCHI e GRISCI, 1993).

4.1.4 CATEGORIA: Velocidade do Trabalho para Alcanc e de Metas de

Produção

Quanto à velocidade do trabalho executado, sete entrevistados declararam

que seu trabalho tem um ritmo intenso e devido à organização trabalhar por

produção, existe muita cobrança para o alcance das metas:

“Rápido era bem cobrado [...] era produção contadinha [...] eles contavam

tudo [...] era bem cobrado” (S1).

“O mais rápido que fizer é o melhor pra empresa” (S2).

“Tenho que dá conta da cobertura, reta e uma overloque [...] tenho que dá

conta [...] até da conta de acabar com tudo que tinha que fazer [...] era rápido, muita

pressão [...] ficavam bem em cima pra gente dar conta de tudo” (S3).

“Bem puxado sabe, era produção [...] era rápido, muita pressão [...] a gente,

na realidade era como um robô” (S4).

“Por produção, então não pode parar [...] bem cobrado” (S5).

Page 37: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

36

“Tinha que fazer rápido, tinha que ser bem ágil, não podia fazer devagar [...]

tinha um tanto, uma cota pra fazer, se não fizesse eles reclamavam” (S6).

“Produção [...] reclamando que tu era malandra [...] bem rápido [...] trabalhar

com produção é difícil, a gente se mata todo dia pra dar conta de tudo e ainda

parece que não é suficiente” (S8).

O trabalho realizado com o objetivo de produção acaba trazendo,

consequentemente, a fragmentação. Guareschi e Grisci (1993) aponta que quando

são realizadas apenas “migalhas” do trabalho, o indivíduo acaba não tendo a visão

total do processo, perdendo também o conhecimento sobre o que executa. Nesta

dinâmica torna-se alienado, sem fazer parte efetiva do processo de produção do

produto, assumindo para Guareschi (1998 apud GUARESCHI e GRISCI, 1993)

características próprias da máquina. Codo, Sampaio e Hitomi (1993) complementam

que a distância imposta pelo trabalho fragmentado ocasiona a distância do produtor

de si mesmo, o que Marx (s/d apud CODO, SAMPAIO e HITOMI, 1993) revela como

trabalho abstrato, desaparecendo-se as funções sociais, as necessidades humanas

e também a especificidade do trabalho.

4.1.5 CATEGORIA: Repetitividade

A fragmentação do trabalho, conseqüente da velocidade exigida para

cumprirem-se os objetivos de produção, conduz, como já discutido acima, à

repetitividade do trabalho, o que fica evidente em dois relatos:

“Só passar, o dia inteiro passando” (S2).

“É sempre igual” (S5).

Para Dejours e Abdoucheli (1994), as tarefas muito repetitivas sufocam os

desejos e reprimem o funcionamento mental. Para prevenir a repetitividade, Lida

(2000) destaca duas maneiras: através do alargamento do trabalho de modo

horizontal, ou seja, acrescentando-se tarefas semelhantes para cada indivíduo, sem,

no entanto, mudar a natureza do trabalho (como a utilização, por exemplo, de

rotações periódicas); ou pelo enriquecimento do trabalho verticalmente, através da

disponibilização de desafios e exigências de novas responsabilidades.

Page 38: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

37

4.1.6 CATEGORIA: Poder e Submissão Organizacionais

Embora as categorias anteriores: hora extra, sobrecarga, repetitividade,

pausas e velocidade do trabalho para alcance das metas de produção, tenham

trazido de modo implícito a submissão ao poder nas falas dos trabalhadores a

seguir, evidencia-se a subordinação às regras organizacionais impostas

verticalmente.

O poder pode ser utilizado como ferramenta para melhorias no funcionamento

das organizações. Porém, muitas vezes, alguns supervisores tentam maltratar os

subordinados através do seu uso, transformando o ambiente de trabalho em um

local desconfortável. Todavia, apesar de o supervisor tentar influenciar seus

subordinados, é o comportamento do subordinado que torna esta influência eficaz

ou não, ou seja, o poder envolve características individuais, pois a aceitação

depende também da capacidade de avaliação do indivíduo. Como já foi analisado

anteriormente, o medo alimenta a pressão, provocando a submissão às exigências

por produção, que reflete na aceleração dos ritmos e na intensificação do esforço

(CODO e ALMEIDA, 1995; HALL, 1984; QUAYLE e LÚCIA, 2006; SPECTOR, 2004).

“Era obrigada a fazer” (S1).

“Elas queriam assim daí fazer o que né [...] não mas tu não pode escolhe [...]

tá bom né, quem manda é a senhora [...] não podia pedir, não podia sair [...] ela

contava (as pecas produzidas)” (S3).

“Eu pedi pra trocar de lugar e eles nem aí [...] chorava direto [...] e eles nem

ai” (S4).

Poder é definido por Hall (1984), como um fenômeno recíproco onde cada

uma das partes envolvidas depende da outra. O poder não assume apenas uma

forma, ao contrário, a maioria das relações envolve o uso de mais de uma forma de

poder. Cinco tipos de poder são definidos pelo mesmo autor (1984):

• Poder de recompensa, quando há a capacidade de recompensar,

• Poder coercivo, quando o detentor é percebido como capaz de distribuir

punições pelo receptor,

• Poder legítimo, o receptor sente-se na obrigação de seguir as direções

dessa influência,

Page 39: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

38

• Poder referente, quando há uma identificação entre o receptor do poder e

o detentor do poder, e o receptor tenta se comportar como ele,

• Poder especializado, o receptor atribuiu ao detentor um conhecimento

especial.

O poder pode ser exercido verticalmente através as relação superior x

subordinado; ou horizontalmente, a exemplo das interunidades, trazendo

conseqüências importantes para o funcionamento das organizações. O exercício do

poder de maneira inadequada traz problemas quanto à vinculação na organização e

a eficácia organizacional (HALL, 1984).

O resultado do uso do poder, em sua maioria, é a obediência. Esta pode

ocorrer pelo conformismo comportamental, quando o indivíduo obedece sem

internalizar as normas envolvidas (ocorre principalmente no exercício do poder

coercivo e de recompensa), ou pelo conformismo atitudinal, quando existe a

obediência, mas também existe a internalização (ocorre nos tipos de poder

especializado, legítimo e referente). Porém, o conflito muitas vezes pode vir como

seu resultado (HALL, 1984). “A vida e o comportamento dos membros

organizacionais são afetados de maneira vital por suas posições relativas de poder”

(p. 111).

O conflito entre metas organizacionais e necessidades individuais é um

grande agente estressor e contribuidor ao desenvolvimento das LER/DORT. Isto

porque as pressões organizacionais são por vezes muito poderosas e os indivíduos

não têm liberdade para gerenciar suas atividades. Realizam horas extras com

jornadas de trabalho extensas, atividades repetitivas em ritmos elevados de

produção, acúmulo de funções, excesso de trabalho, inseridos em ambientes de

trabalho inadequados, com falta de reconhecimento do trabalho realizado,

ocasionando perda da identidade, estresse, esgotamento e insatisfação com o

trabalho (GHISLENI e MERLO, 2005; LIMONGI-FRANÇA e RODRIGUES, 1999).

4.1.7 CATEGORIA: História da Dor

Monteiro (1997) considera de extrema importância a busca da vivência em

relação à doença, e as consequências para a vida do portador de LER/DORT. Esta

Page 40: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

39

categoria foi estabelecida devido ao fato de todos os entrevistados terem em comum

um longo caminho até a comprovação do diagnóstico. Dividimo-na para melhor

visualização em: dificuldade no estabelecimento de um diagnóstico efetivo e desejo

de retornar ao trabalho, mesmo sabendo que não se encontram em condições para

tal.

A) Diagnóstico Tardio

A maior parte dos indivíduos sentia dores, mas não possuia um diagnóstico,

mostrando a disparidade entre a dor e a obtenção do diagnóstico:

“Fui no médico faz uns 10 meses” (S1).

“Desde dia 17-01-08” (S2).

“A dor começou faz uns seis anos” (S3).

“Mais de cinco anos que sinto essa dor [...] o diagnóstico acho que há uns três

anos” (S4).

“10 anos que eu já sinto dor [...] três anos que eu tenho o laudo” (S5).

“Sinto a dor desde 2004/2005” (S7).

“2002 eu comecei a sentir dor [...] há dois anos e seis meses que já tenho o

diagnóstico” (S8).

Codo e Almeida (1995) e Lech et al. (1998), destacam a importância da

realização de um diagnóstico amplo, o mais completo, correto e efetivo possível.

Lima, Neves e Pimenta (2005), discutem sobre as incertezas e controvérsias quanto

ao diagnóstico de indivíduos acometidos de LER/DORT, e concluem que a falta de

um diagnóstico preciso pode contribuir para o estabelecimento de crenças

disfuncionais sobre a dor. Ribeiro (1997) concorda e ainda complementa com a

questão da negação da doença, reforçada pela dubiedade médica, ultrapassando o

sofrimento físico, e extravasando para o psíquico. Neste momento, o indivíduo deixa

exposto tanto sua capacidade objetiva de fazer, quanto os limites impostos pela dor,

tornando mais dificultosa a inserção social no trabalho e a manutenção dos

relacionamentos.

Quando o papel de doente é oficializado por um diagnóstico, o doente pode

fugir das normas sociais sem sofrer a pressão da sociedade, o que no caso das

Page 41: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

40

LER/DORT é algo complicado, já que o diagnóstico é muitas vezes um processo

longo e tardio, e as dores são invisíveis aos terceiros (REZENDE, 1989).

“Ia nos médicos e eles não sabiam o que que eu tinha [...] fui em tantos

médicos em um ano, e ninguém sabia o que eu tinha daí eu voltei a trabalhar” (S4).

“Fiz exame e tudo pra ver se eu conseguia voltar, eu queria voltar [...] o

médico disse que não, se eu voltasse ia piorar [...] talvez vai ter que operar [...] já

que não posso mais trabalhar vou tentar me encostar mais um tempo [...] eu queria

voltar a trabalhar, mas é difícil” (S6).

“Passei por vários médicos e ninguém sabia o que era [...] fiz uma perícia,

mas depois voltei pro trabalho [...] não sabia o que era [...] não dá tanta bola pras

dor, mas depois piorou [...] o perito me disse que não era pra eu continuar num

serviço que me causou isso [...] mas será que do jeito que eu tô vou consegui

arrumar outro emprego?” (S7).

“Demorei pra saber que a dor que eu sentia [...] era LER [...] quero voltar a

trabalhar [...] com outra coisa que não me cause essa dor [...] queria voltar a

trabalhar, mas não quero mais ir pra lá, não quero mais costura não, quero fazer

outra coisa, uma coisa menos sofrida” (S8).

O meio mais eficaz para a realização de um diagnóstico, buscando promover

ações mais efetivas para o tratamento, e permitindo uma conduta mais diretiva e

humana aos indivíduos, deve envolver três abordagens: a doença, o trabalhador e o

trabalho. Ou seja, devem estar interligados: o diagnóstico clínico, psicológico e

organizacional (CODO e ALMEIDA, 1995).

Para Monteiro (1997), a invisibilidade é a principal característica da doença,

sendo assim, o diagnóstico deve basear-se não apenas nos resultados dos exames

complementares. Os dados médicos devem ser apenas o início para uma

investigação mais aprofundada, podendo utilizar-se também de questionários e

entrevistas, para a análise da queixa do trabalhador; e a análise do trabalho e da

atividade exercida, assim como medidas administrativas de pessoal e de

treinamento e modificações diretas nas condições do ambiente de trabalho (CODO e

ALMEIDA, 1995).

O quadro sintomatológico é complexo e de identificação difícil, sendo que o

diagnóstico pode ser adiado em virtude da inexistência de provas objetivas da

doença. O profissional que irá efetivar o diagnóstico não deve ter preconceitos, já

que o diagnóstico é na grande maioria das vezes, feito por exclusão, pois as

Page 42: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

41

características são difíceis de serem detectadas apenas pelos sentidos, ou mesmo

por exames complementares. Desta forma o diagnóstico vai basear-se na história

clínico-ocupacional, no exame físico detalhado e na análise das condições de

trabalho responsáveis pelo aparecimento da lesão, auxiliado por alguns tipos de

exames laboratoriais, raios-x e aletromiografia. Mas este irá basear-se

principalmente no discurso do paciente sobre a dor, sendo que falar sobre suas

dores é relatar uma vivência única e exclusiva deste indivíduo (ANTONALIA, 2001;

BARROS e GUIMARÃES, 1999; MONTEIRO, 1997).

Em suma, nos casos de LER/DORT, o diagnóstico preciso é difícil,

principalmente em se tratando dos níveis iniciais, sendo mais fácil nos casos agudos

e crônicos. Esse motivo constitui o principal problema das ações preventivas e dos

tratamentos para pacientes com LER/DORT (DIAS, 2001).

B) Retorno ao Trabalho

A sociedade estimula pessoas sadias e produtivas. Ao assumir o papel de

doente, o indivíduo se afasta de suas atividades usuais, distanciando-se da família e

dos amigos, renunciando, mesmo que temporariamente, ao seu papel social. O

afastamento do trabalho e a falta de um diagnóstico acompanham muitos medos,

inseguranças e angústias. Passa-se a temer o fato de não ter condições para voltar

a trabalhar e ser produtivo, sente-se triste e sem esperança pois não vê melhoras

em seu quadro e não tem mais onde almejar sua realização profissional. Por não ter

mais condições de retorno ao trabalho, teme-se a manutenção ou ruptura de suas

relações socias, não sabendo o que os outros pensarão e como irão reagir a esta

situação (REZENDE, 1989).

“Fica triste porque não dá pra volta pro trabalho” (S2).

“Eu parei de trabalha, é a pior coisa que tem [...] a única coisa era chora [...]

acostumada a sempre trabalha [...] só chorava, uma tristeza [...] só não queria parar

de trabalha [...] eu ainda vô conseguir trabalhar de novo [...] A minha esperança é

volta pra costura” (S3).

Page 43: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

42

“Eu tenho medo de voltar a trabalhar, eu penso em nunca mais trabalhar em

fábrica, eu penso em fazer alguma coisa, ter alguma coisa minha pra viver melhor, e

não sofrer mais” (S4).

“Tô há dois anos encostado, tô em tratamento um tempão, e não vejo

melhora” (S5).

“Se sente um estorvo, passa por malandro [...] trabalhei a vida toda, é difícil

enfrentar [...] me sinto humilhado [...] ficar parado pra quem trabalhou a vida toda é

horrível” (S7).

4.1.8 CATEGORIA: Graus de Dor

Quanto à classificação dos relatos nos graus de dor encontrou-se dificuldades

de enquadar os relatos nos respectivos graus de dor. Acredita-se que tal dificuldade

tenha se dado pelo fato da presente pesquisa não ter aprofundado o tipo de dor, e

também porque os graus tão bem definidos na literatura tornam-se, na prática muito

semelhantes. Este fato vai ao encontro do que Monteiro (1997) afirma sobre a

dificuldade em estipular de maneira certa qual grau de comprometimento o indivíduo

se encontra.

No grau III foram incluídos três indivíduos e observou-se a repetição de

alguns aspectos nas respostas dos voluntários, como: o fato de a dor não passar,

sensação de que o membro “puxa” e/ou formiga, impressão de que objetos estão

cortando o músculo, a dor diminui de intensidade quando evitam forçar o membro,

irradiação da dor pelos outros membros do corpo:

“Não passa nem em casa [...] coloca o pé no chão já começa a dor de novo

[...] nos dois braços dói, parece que tem uma coisa puxando [...] agora que tô

afastada do trabalho sinto a dor mais na perna que no braço porque tô tentando não

fazer muitas coisas com o braço, mas não dá pra não forçar a perna né” (S2).

“Dor na coluna, tenho tanto na coluna vertebral [cervical] como na lombar,

tenho no pescoço, tenho nos braços, nos ombros, nos dedos [...] agora que eu tô

afastado do serviço. Eu ainda tenho a dor, mas não é tanto como antes [...] como se

tivesse uma faca no braço, muita dor” (S5).

Page 44: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

43

“Dor nos dois braços, é uma dor forte, assim como se tivesse um prego, sei

lá, um vidro dentro dos braços [...] formiga direto” (S8).

Cinco entrevistados foram incluídos no grau IV, as respostas mais presentes

foram: ser uma dor forte, insuportável, não ter nada que possa ajudar a passar a dor,

queima, formiga e/ou treme os membros acometidos, a dor já se irradiou pelo corpo,

acostumaram-se a conviver com a dor:

“Uma dor forte, nunca pára, queima direto, formiga muito e dá pontadas, dói

bastante nos dedos [...] no ombro também, mas mais na mão, sinto sempre, não

posso mais fazer nada” (S1).

“Uma dor muito forte aqui dentro (costas), eu tenho bursite também [...] não

passa nunca, agora já me acostumei a passar o dia e a noite com dor” (S3).

“Insuportável [...] não passa de jeito nenhum [...] realmente incomoda [...] só

sentia no braço direito [...] comecei a sentir na perna direita toda, começo pelas

mãos, subiu pros braços e foi até na perna direta também [...] tô começando a sentir

no braço esquerdo também” (S4).

“É muito forte, incha os braços bastante, os pulsos chega a inchar, as pernas

também os dois joelhos, no pé embaixo, é uma dor terrível, de noite então” (S6).

“Muito na mão, não dá pra segurar [...] parece que treme por dentro sabe, dói

o braço também, os dois, fica formigando, não passa nunca [...] não passa, não tem

o que fazer pra passar [...] ombros dói bastante também” (S7).

Como pode-se observar não foram incluídos participantes, nos graus I e II,

talvez devido ao fato de o diagnóstico de LER/DORT ser um processo ainda tardio,

sendo que algumas vezes apenas é positivo quando o grau de comprometimento da

dor já está avançado.

4.1.9 CATEGORIA: Conseqüências

A doença modifica todo o estilo de vida do portador e de sua família, o

indivíduo doente traz não apenas a patologia, mas os problemas que são originários

desta. Couto (1995) lança uma pertinente questão em relação à patologia e às

atividades realizadas fora do ambiente organizacional: Porque muitos trabalhadores

que se afastam de seu trabalho não alcançam melhoras em seu quadro?. O mesmo

Page 45: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

44

autor conclui que o fato de muitas outras atividades serem desenvolvidas fora do

ambiente de trabalho, principalmente em casa, agravam o quadro de dor, ou seja, há

mais um fator contributivo, como por exemplo: lavar roupa, limpar móveis, encerar o

chão (COUTO, 1995; MONTEIRO, 1997; REZENDE, 1989).

As conseqüências que a patologia ocasiona estão subordinadas ao grau de

dor em que o indivíduo se encontra, trazendo limitações na vida diária e destruição

de projetos de vida (CODO e ALMEIDA, 1995). Observou-se, nas falas dos

entrevistados, vários tipos de conseqüências na vida destes portadores, mesmo

sabendo que todas estas poderiam estar integradas em uma única subcategoria

(limitações), acreditamos ser pretinente destacar também uma conseqüência que

apareceu em muitos relatos. Em relação às conseqüências encontradas, estas

foram subdivididas em conseqüências no cotidiano e limitações. Nesta última estão

relacionados aspectos sobre auto-cuidado e exclusão social.

Sete entrevistados relataram mudanças em seu cotidiano devido à dor:

“Não faço comida [...] não lavo a louça, não varro” (S1).

“Não posso passa cera no chão [...] lava roupa” (S2).

“Não dormia mais de tanto que puxava de dor [...] tem dias que a gente vai e

faz [...] sabe como é mulher [...] a gente vê alguma coisa e que fazer [...] depois eu

me arrependo, fico com dor [...] eu evito de fazer as coisas pra evitar a dor [...]

descontava no meu filho” (S4).

“Não posso fazer mais muita coisa [...] fico limitado [...] não posso ajudar

muito em casa, e nem fazer muita coisa não” (S5).

“Não consigo fazer quase nada, eu lavo uma louça [...] lavar uma roupa [...]

pra estender a roupa dói os braços, pra carregar balde [...] tomando direto remédio,

e não passa [...] de noite mesmo [...] dá um cansaço nos braços, você nem sabe o

que fazer depois, tem que ficar parada” (S6).

“Não dá pra fazer muita coisa [...] tento ajudar, mas a dor piora [...] é ruim ficar

em casa sem fazer nada” (S7).

“Um pouco tem que fazer, senão quem vai fazer pela gente [...] não da pra

prender as roupas, não da pra passar pano, lava o chão, nada” (S8).

Um entrevistado relatou algo que foi classificado como limitação no auto-

cuidado, dizendo não poder “nem pentear o cabelo”, relatando que quando seu filho

ou vizinha não estão em casa para ajudá-la é preciso buscar outros meios como a

utilização de chapéus.

Page 46: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

45

Um outro entrevistado relatou se sentir “excluída [...] isolada em casa”,

dizendo que não fala com ninguém, apresentando evidências de limitações em seus

relacionamentos, o que acaba trazendo conseqüências para sua vida social.

A doença afeta tanto o trabalho como o lar, já que o individuo se sente

incapaz, trazendo o sofrimento, tanto pela incapacidade de trabalho como por não

poder ser provedor de seu lar (MONTEIRO, 1997).

4.1.10 CATEGORIA: Significado de ser Portador

Saúde e doença têm seus conceitos embasados em estruturas sociais. A

doença transcende o doente, pois surge como uma ameaça ao equilíbrio orgânico e

social, por este motivo o homem luta contra ela, já que além de afetar suas relações,

cria ansiedade e medo, pois é um choque para o qual a pessoa não estava

preparada (REZENDE, 1989).

Dentro do contexto de desconfianca e falta de confirmação do diagnóstico ao

qual está inserido o portador, este se sinte pressionado para uma recuperação

rápida e manifesta medo de não poder voltar ao trabalho, impedindo inclusive o

reconhecimento de si mesmo e desestruturação de sua identidade. Algo definido por

Codo e Almeida (1995) como “ideologia da culpabilização”, onde a responsabilidade

recai sobre os trabalhadores, deslocando a atenção de seu verdadeiro produtor.

A) Preconceito

Segundo Limongi-França e Rodrigues (1999); Ribeiro (1997); Walsh et al.,

(2004), a doença, na maioria das vezes, é mal vista na sociedade, sendo um

aspecto importante a discriminação enfrentada pelo indivíduo portador de

LER/DORT, pois a identidade do trabalhador está ligada a busca pelo

reconhecimento social de uma pessoa.

O indivíduo, que anteriormente via e se identificava nos outros, sente estes

afastados, levando à negação e à busca por ocultar a dor, pois infelizmente, entre os

Page 47: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

46

primeiros sintomas das LER/DORT e o autoconhecimento do adoecido há um

espaço de tempo que leva o indivíduo a processar e viver em seu sofrimento. Neste

processo sente-se culpado, perde a auto-estima, ressente-se com as incriminações,

e sofre pelo seu maior temor: a morte social (RIBEIRO, 1997).

Em alguns casos, os supervisores vêem a doença como uma desculpa para

não trabalhar ou faltar e não perder o dia, mas na verdade é uma sinalização de

oportunidades de mudança. Mostra ao grupo de trabalho que existem problemas no

processo de trabalho e sinaliza ao empregador a queda da produção, dos

resultados, problemas com sindicatos e fiscalização, despesas médicas e

comprometimento da imagem da empresa (LIMONGI-FRANÇA e RODRIGUES,

1999; RIBEIRO, 1997; SALIM, 2003).

O diagnóstico da doença é aceito como uma explicação do porquê de não

trabalhar, mantendo assim a identidade e as qualidades de ser um homem

trabalhador. Porém, como já foi discutido, este é um processo muito tardio nos casos

de LER/DORT, e o adoecimento sem um diagnóstico ameaça a identidade deste

indivíduo (GHISLENI e MERLO, 2005; RIBEIRO, 1997), trazendo a questão do

preconceito, expressa na fala de um dos participantes:

“Passa por aproveitadores na empresa, e os outros também [...] como se a

gente só quisesse ganhar o benefício, mas se não pode trabalhar como vai no

médico, como vai comer, viver [...] parece que a gente é malandra [...] os outros

ainda duvidam” (S8)

B) Tristeza

O adoecimento surge como um ameaçador da identidade do trabalhador,

tendo como conseqüência a diminuição das possibilidades de criatividade, auto-

estima baixa, sentimento de que seu esforço não é socialmente reconhecido,

ocasionando frustração, raiva e sofrimento (GHISLENI e MERLO, 2005; LIMA,

NEVES e PIMENTA, 2005). O processo de sofrimento, de acordo com Codo,

Sampaio e Hitomi (1993) é uma ruptura entre a subjetividade e a objetividade.

De acordo com Heloani e Capitão (2003), o sofrimento do trabalho é

conseqüência da organização do trabalho, dos aspectos que moldam a percepção e

Page 48: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

47

possibilidades de apreensão do indivíduo. O processo de adoecimento é específico

para cada indivíduo, pois envolve sua história de vida e de trabalho, trazendo como

conseqüências a incapacitação profissional e a destruição de projetos de vida.

Portanto é preciso que se busquem novos referenciais para que o indivíduo possa

se reconhecer e ter a oportunidade de reorganizar sua história e de construir um

novo projeto de futuro (CODO, SAMPAIO e HITOMI, 1993; GHISLENI e MERLO,

2005; LIMA, NEVES e PIMENTA, 2005; TAKAHASHI e CANESQUI, 2003).

“Eu fiquei com depressão [...] a gente fala que tá com dor, mas eles não

acreditam” (S1).

“Tava deprimida [...] mal humorada por causa da dor, uma pessoa fria, ruim”

(S4).

“A gente tenta se animar um pouco, mas, tem dia que tu acorda desanimado

da vida [...] me sinto mal [...] tem gente que olha pra mim [...] acha que é um vadio

[...] não sabe o que que a gente sente por dentro [...] um homem desse tamanho”

(S5).

“É bem difícil [...] não tem como passá [...] os outros olham, acham que a

gente não quer trabalhar [...] olha assim pra mim eu não tenho nada né, mas só

sentindo na pele pra tu vê que a gente não ta mentindo” (S6).

“Fico triste, não quero ficar sem trabalhar” (S8).

Diante do que foi exposto, percebe-se que os achados deste trabalho vão ao

encontro de outros estudos nesta área do conhecimento, reforçando os aspectos da

organização do trabalho que estão associados ao desenvolvimento das LER/DORT,

e de como estes portadores são afetados tanto em sua vida profissional como em

seu cotidiano e em suas relações sociais. Tal processo desestrutura a identidade do

indivíduo doente e faze com que este se sinta impotente frente aos outros, e

principalmente, a si mesmo.

Page 49: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

48

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização da presente pesquisa surgiu do interesse pelo estudo das

LER/DORT e pela tentativa de compreender a percepção de portadores sobre esta

doença de origem multicausal que vem ganhando cada vez mais destaque no

contexto atual. Para atingir estes objetivos investigou-se os fatores de organização

do trabalho, com a finalidade de descobrir sua real influência no desenvolvimento

das LER/DORT, e como configuram-se na história de cada indivíduo, assim como

também foi investigada a percepção dos portadores em relação a si mesmos, e à

sua doença.

As LER/DORT afetam o sistema produtivo, trazendo como conseqüência os

custos sociais de uma doença instalada precocemente durante a idade mais

produtiva do indivíduo. Afeta não apenas o trabalhador, mas a organização, a

família, e consequentemente, toda a comunidade, acarretando em mais

conseqüências para o indivíduo doente, principalmente o fato de o sofrimento

psíquico estar subentendido pela incapacidade laboral (ANTONALIA, 2001; CODO,

SAMPAIO e HITOMI, 1993; MONTEIRO, 1997; RIBEIRO, 1997).

Foi possível, por meio da realização deste trabalho, conhecer a relação entre

o desenvolvimento das atividades profissionais e a dor, do ponto de vista dos

portadores, o que permitiu concluir que algumas atividades, e modo de realização de

tarefas, contribuem mais para o desenvolvimento das LER/DORT, e que quando

realizadas dentro de algumas circunstâncias, estas atividades podem influenciar o

surgimento ou agravo destas doenças.

Quanto aos fatores de organização do trabalho associados às LER/DORT

constatou-se que a realização de hora extra é fator recorrente no relato dos

participantes, sendo utilizada como solução, por muitos dos entrevistados, para

problemas como: retrabalho, sobrecarga, encomendas extras, urgências, falta de

material e de pessoal. A repetitividade também aparece como variável da

organização do trabalho que favorece o surgimento da doença, aborda questões

como a fragmentação do trabalho para alcance dos objetivos de produção e

conclusão das metas estabelecidas, assim como também evidencia a questão do

poder organizacional. Outras variáveis como o reduzido número de pausas e

Page 50: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

49

velocidade para alcance das metas de produção foram citadas nos fatores de

organização do trabalho, e também trazem como conseqüência a realização de

horas extras. Na categoria “velocidade para alcance de metas de produção”,

evidencia-se a grande cobrança, pressão e imposição, mesmo que indiretamente do

poder organizacional, confirmando achados da literatura. Observou-se que as

categorias definidas complementam-se entre si, estando interligadas nas respostas

fornecidas pelos indivíduos, e na compreensão de todos os fatores que influenciam

ou agravam as LER/DORT.

A influência da doença no cotidiano dos portadores foi investigada, permitindo

a conclusão de que a doença, e por conseguinte a intensidade da dor, trazem as

mais diversas conseqüências para os indivíduos portadores de LER/DORT. Impõem

limitações em seu dia-a-dia e cobra destes uma reestruturação de suas identidades

e uma aceitação das atividades que tornam-se incapazes de realizar. Aspectos que

aparece também é a tristeza por não conseguir mais suprir as expectativas sociais e

pessoais e o sofrimento que passam, mesmo que este não seja consciente, por

perderem ou estarem ameaçados de perder sua identidade enquanto ser produtivo.

O preconceito enfrentado por não corresponder mais ao que antes lhes era comum

de ser realizado, por ter medo de enfrentar essa situação sem um diagnóstico

preciso e aceito, por não saber o que os outros concluem de sua situação e de como

o estão vendo, e da pressão interna e externa pela recuperação rápida para voltar a

trabalhar, também aparecem caracterizando a percepção que estes portadores tem

de si e do mundo externo a eles. Para isso, conclui-se que a análise do significado

da doença para o portador deve levar em conta a categoria atividade, e vice e versa

(CODO, SAMPAIO e HITOMI, 1993).

No que diz respeito à manutenção da saúde existe um profundo

desconhecimento por parte dos trabalhadores entrevistados dos meios disponíveis

para a promoção da saúde e prevenção de doenças. Está na prevenção o sucesso

para o início de qualquer atitude no sentido de resolver a questão das LER/DORT, e

na qualidade de vida o caminho através do qual a psicologia passa a ocupar seu

verdadeiro espaço na avaliação da saúde dos indivíduos (ANTONALIA, 2001;

QUAYLE e LÚCIA, 2006). Rezende (1989) conclui que detrás da relação saúde-

doença, está o grande problema do poder, que é registrado desde a história da

humanidade, e usado também como um instrumento de dominação (BARROS e

GUIMARÃES, 1999).

Page 51: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

50

Foi possível identificar que a submissão ao imposto pela organização em

termos de ritmo, pausa, horas extras, alcance de metas e outras variáveis, já

mencionadas, agravam a doença, estando o poder implícito em todas estas

variáveis. O poder gera a perda de identidade (fato que se observa em outra variável

já exposta), porém sua aceitação depende do subordinado. Apesar de ser imposto

pelo supervisor são as características individuais que irão determinar se o

comportamento do indivíduo será de obediência, ou de conflito; e ocasiona a

aceleração do ritmo e intensificação da pressão, fato que foi relatado pelos

portadores, e que vai de encontro com a literatura.

Espera-se que esta pesquisa venha a contribuir para as pessoas que

trabalham no processo de diagnóstico e atendimento dos portadores de LER/DORT,

para que estes estejam cientes da invisibilidade que a doença traz e do sofrimento

ao qual o indivíduo está submetido, principalmente pelo fato de não poder mais

exercer suas funções, tanto no trabalho, como em seus lares. Que tenham

consciência de que o respeito à dignidade do ser humano não é apenas mais uma

opção humanitária, e sim, passa a ser um fator de sobrevivência (MONTEIRO,

1997).

Pretende-se despertar as organizações para que estas busquem ser um fator

equilibrante na vida de seus colaboradores e para que medidas de prevenção

possam ser estudadas e adotadas com o objetivo principal de prevenir doença como

as LER/DORT, e contribuir para uma melhor qualidade de vida no trabalho.

Aos portadores, objetiva-se que tenham mais conhecimento sobre sua

doença, sobre a contribuição do trabalho exercido por estes no desenvolvimento ou

agravo de sua dor, e as conseqüências que esta doença traz, fatos que, muitas

vezes não são percebidas por estes.

Como sugestões recomendamos um estudo mais aprofundado sobre os

outros fatores considerados associados à sintomatologia dolorosa. Outra sugestão

seria a realização de um estudo com os familiares dos portadores para maior

conhecimento das conseqüências e da convivência com o portador. Sugere-se

também uma pesquisa em nível mais profundo sobre os graus de dor dos

portadores. O grau de acometimento traz diversas conseqüências para a vida dos

indivíduos e pode demonstrar mais profundamente uma questão muito importante e

problemática nos casos de LER/DORT que seria o diagnóstico tardio e a

invisibilidade da doença.

Page 52: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

51

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANTONALIA, C. LER (Lesão por esforço repetitivo); DORT (Distúrbio s osteomusculares relacionados ao trabalho) : prejuízos sociais e fator multiplicador do custo Brasil. São Paulo: LTr, 2001. BARDIN, L. Análise de conteúdo . Lisboa: Edições 70, 1991. BARROS, C. A. de; GUIMARÃES, L. A. M. Lesões por Esforços Repetitivos, L.E.R.: aspectos psicológicos. In: GUIMARÃES, L. A. M.; GRUBITS, S. (Org.). Saúde mental e trabalho . Vol. I. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999. CHANLAT, J. F. (Org.). O indivíduo na organização : dimensões esquecidas. v. 2. São Paulo: Atlas, 1993. CODO, W.; ALMEIDA, M. C. C. G. (Org.). L.E.R.: diagnóstico, tratamento e prevenção: uma abordagem interdisciplinar. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995. CODO, W.; SAMPAIO, J. J. C.; HITOMI, A. H. Indivíduo trabalho e sofrimento : uma abordagem interdisciplinar. Petrópolis, RJ: Vozes, 1993. COUTO, H. de A. Ergonomia aplicada ao trabalho : o manual técnico da máquina humana. v. 2. Belo Horizonte: ERGO Editora, 1995. COUTO, H. de A.; NICOLETTI, S. J.; LECH, O. Como gerenciar a questão das LER/DORT: lesões por esforço repetitivo, distrúbios osteomusculares relacionados ao trabalho. Belo Horizonte: ERGO, 1998. DEJOURS, C.; ABDOUCHELI, E. Psicodinâmica do trabalho : contribuições da escola dejouriana a análise da relação prazer, sofrimento e trabalho. São Paulo: Atlas, 1994. DEJOURS, C. DESSORS, D. e DESRIAUX, F. Por um trabalho, fator de equilíbrio. Revista de Administração de Empresas . São Paulo. maio/jun, 1993. DIAS, E. C. (Org.). Doenças relacionadas ao trabalho : manual de procedimentos para os serviços de saúde. Brasília: Ministério da Saúde do Brasil, 2001.

Page 53: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

52

FIALHO, F.; SANTOS, N. dos. Manual de análise ergonômica do trabalho . 2. ed. Curitiba: GENESIS Editora, 1997. GHISLENI, A. P.; MERLO, Á. R. C. Trabalhador contemporâneo e patologias por hipersolicitação. Psicologia Reflexão Crítica , Porto Alegre, v. 18, n. 2, 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722005000200004&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 24 abr 2007. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa . 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. GODOY, A. S. A pesquisa qualitativa e sua utilização em administração de empresas. Revista de Administração de Empresas , São Paulo, v. 35, n. 4, jul/ago, 1995. GOLDBERG, P. A saúde dos executivos : como identificar sinais de perigo para a saúde e levar a melhor contra o estresse. Rio de Janeiro: ZAHAR, 1980. GRANDJEAN, E. Manual de ergonomia : adaptando o trabalho ao homem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. GUARESCHI, P. A.; GRISCI, C. L. I. A fala do trabalhador . Petrópolis, RJ: Vozes, 1993. GUIMARÃES, L. A. M.; GRUBITS, S. (Org.). Saúde mental e trabalho . Vol. II. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004. HALL, R. H. Poder e Conflito. In: ______. Organizações : estrutura e processos. 3. ed. Rio de Janeiro: Prentice Hall do Brasil, 1984. cap. 7, p. 92 - 112. HELOANI, J. R.; CAPITÃO, C. G. Saúde mental e psicologia do trabalho. São Paulo Perspectiva , São Paulo, v. 17, n. 2, 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-88392003000200011&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 02 mar 2007. JEAMMET, P.; REYNAUD, M.; CONSOLI, S. M. Psicologia médica . Rio de Janeiro: Medsi, 2000.

Page 54: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

53

LAVILLE, C.; DIONNE, J. A construção do saber : manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre: ARTMED, 1999. LECH, O.; HOEFEL, M. da G.; SEVERO, A.; PITAGORAS, T. Aspectos Clínicos dos Distúrbios Osteo-Musculares Relacionados ao Tra balho (DORT) (Lesões por Esforços Repetitivos) . [S.I.]: CREMS, 1998. LIDA, I. Ergonomia : projeto e produção. São Paulo: Edgar Blücher, 2000. LIMA, M. A. G.; NEVES, R.; SÁ, S.; PIMENTA, C. Atitude frente à dor em trabalhadores de atividades ocupacionais distintas: uma aproximação da psicologia cognitivo-comportamental. Ciência e saúde coletiva , Rio de Janeiro, v. 10, n. 1, 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232005000100023&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 24 abr 2007. LIMONGI-FRANÇA, A. C.; RODRIGUES, A. L. Stress e trabalho : uma abordagem psicossomática. São Paulo: Atlas, 1999. MACIEL, Á. C. C.; FERNANDES, M. B.; MEDEIROS, L. S. Prevalência e fatores associados à sintomatologia dolorosa entre profissionais da indústria têxtil. Revista brasileira de epidemiologia , São Paulo, v. 9, n. 1, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-790X2006000100012&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 19 abr 2007. MENDES, R. O impacto dos efeitos da ocupação sobre a saúde de trabalhadores: I. Morbidade. Revista de Saúde Pública , São Paulo, v. 22, n. 4, 1988. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89101988000400007&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 07 mar 2008. ______. (Org.). Patologia do trabalho . Rio de Janeiro: Editora Atheneu, 1995. MERLO, A. R. C.; JACQUES, M. da G. C.; HOEFEL, M. da G. L. Trabalho de grupo com portadores de LER/DORT: relato de experiência. Psicologia Reflexão Crítica , Porto Alegre, v. 14, n. 1, 2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722001000100021&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 02 jun 2007. MINAYO, M. C. de S. (Org.). Pesquisa social : teoria, método e criatividade. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.

Page 55: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

54

MONTEIRO, J. C. Lesões por esforços repetitivos : um estudo sobre a vivência do trabalhador portador de L.E.R. Florianópolis, SC, 1997. Disponível em http://www.eps.ufsc.br/disserta97/monteiro/index.html. Acesso em: 02 jun 2007. OLIVEIRA, C. Manual prático de LER . 2. ed. Belo Horizonte: Health, 1998. QUAYLE, J.; LÚCIA, M. C. S. de; et al. Adoecer : compreendendo as interações do doente com sua doença. São Paulo: Atheneu, 2006. RANNEY, D. Distúrbios osteomusculares crônicos relacionados ao trabalho . São Paulo: Roca, 2000. REIS, R. J.; PINHEIRO M. M. T.; NAVARRO, A.; MARTIN M. M. Perfil da demanda atendida em ambulatório de doenças profissionais e a presença de lesões por esforços repetitivos. Revista de Saúde Pública , São Paulo, v. 34, n. 3, 2000. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102000000300013&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 03 mar 2008. REZENDE, A. L. M. de. Saúde : dialética do pensar e do fazer. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1989. RIBEIRO, H. P. Lesões por Esforços Repetitivos (LER): uma doença emblemática. Caderno de Saúde Pública , Rio de Janeiro, v. 13, n. 2, 1997. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X1997000600008&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 02 jun 2007. RICHARDSON, R. J. Pesquisa social : métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1999. ROCHA, L. E.; RIGOTTO, R. M.; BUSCHINELLI, J. T. P. (Org.). Isto é trabalho de gente? vida, doença e trabalho no Brasil. São Paulo: Vozes, 1993. SAINT’ANNA, D. B. de. Corpos de passagem : ensaios sobre a subjetividade contemporânea. São Paulo: Estação Liberdade, 2001. SALIM, C. A. Doenças do trabalho: exclusão, segregação e relações de gênero. São Paulo Perspectiva , São Paulo, v. 17, n. 1, 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-88392003000100003&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 24 abr 2007.

Page 56: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

55

SILVA, G. W.; MÁSCULO, F. S. LER – Epidemia silenciosa que causa reflexos na saúde dos bancários. In: II Conference on Occupational and Environmental Health - Integrating the Americas . Salvador, 2002. SPECTOR, P. E. Psicologia nas organizações . São Paulo:Saraiva, 2004. TAKAHASHI, M. A. B. C.; CANESQUI, A. M. Pesquisa avaliativa em reabilitação profissional: a efetividade de um serviço em desconstrução. Caderno de Saúde Pública , Rio de Janeiro, v. 19, n. 5, 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X2003000500026&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 20 set 2007. TAMAYO, A. Cultura e saúde nas organizações . Porto Alegre: Artmed, 2004. TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais : a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987. WALSH, I. A. P.; CORRAL, S.; FRANCO, R. N.; CANETTI, E. E. F.; ALEM, M. E. R.; COURY, H. J. C. G. Capacidade para o trabalho em indivíduos com lesões músculo-esqueléticas crônicas. Revista de Saúde Pública , 2004, vol.38, n. 2. Disponível em: http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102004000200001. Acesso em: 15 set 2007. ZOCCHIO, A. Segurança e saúde no trabalho : como entender e cumprir as obrigações pertinentes. São Paulo: LTr, 2001.

Page 57: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

56

7 ANEXOS

Page 58: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

57

Page 59: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

58

Page 60: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

59

Page 61: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

60

8 APÊNDICES

Page 62: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

61

8.1 APÊNDICE A

Roteiro para Entrevista

Dados de Identificação

Idade:

Sexo:

Estado civil:

Número de filhos:

Grau de instrução:

Dados Profissionais

Ramo de atividade:

Cargo ocupado na empresa:

Função que desempenha no cargo:

Tempo de trabalho na organização:

Realização de horas extras:

Realização de pausas:

Variedade de tarefas:

Velocidade do trabalho:

Sobrecarga (retrabalho, falta de material, encomendas extras, urgências, falta de

pessoal):

Influência da dor no cotidiano:

Significado de ser portador de LER/DORT:

Page 63: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

62

8.2 APÊNDICE B

Carta de Autorização

Prezado Sr(a)

Cumprimento-o cordialmente.

Venho por meio desta solicitar seu consentimento para a realização da pesquisa de

TCC intitulada “LER/DORT e fatores de organização do trabalho: a percepção de

portadores participantes de uma associação em um município de Santa Catarina”,

junto aos associados a sua associação de portadores de LER/DORT. A pesquisa

tem por objetivos: compreender a percepção de portadores de LER/DORT sobre sua

doença e fatores de organização do trabalho, dos participantes de uma associação

de portadores de LER/DORT de um município de Santa Catarina; conhecer, sob o

ponto de vista destes portadores, a relação existente entre o desenvolvimento das

atividades profissionais e a dor; descrever os fatores de organizacao do trabalho

associados à sintomatologia dolorosa; investigar a influência da doença no cotidiano

dos portadores; e analisar o significado da doença para os portadores que exercem

funções laborais. Como instrumento para a coleta de dados será utilizado uma

entrevista semi-estruturada, e contará com a participação dos associados. Os dados

serão analisados pelo método de análise de conteúdo pela análise de temas

definidos a priori.

Cabe ressaltar que a referida pesquisa esta sob a supervisão da professora

Elizabeth Navas Sanches, docente do curso de Psicologia da Universidade do Vale

do Itajaí.

Sem mais para o momento,

Atenciosamente,

Pamela Soares Responsável pela associação.

Page 64: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

63

8.3 APÊNDICE C

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está convidado(a) para participar, como voluntário(a), em uma pesquisa. Após

ser esclarecido(a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do

estudo, assine ao final deste documento, que está em duas vias. Uma delas é sua e

a outra é do pesquisador responsável.

INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA:

Título da pesquisa: LER/DORT e fatores de organização do trabalho: a percepção

de portadores participantes de uma associação em um município de Santa Catarina.

Pesquisador: Elizabeth Navas Sanches

Telefone para contato: 47 33417542

Acadêmica: Pamela Soares

Telefone para contato: 47 33431250

Esta pesquisa constitui um trabalho de conclusão de curso de Psicologia da

Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, intitulado “LER/DORT e fatores de

organização do trabalho: a percepção de portadores participantes de uma

associação em um município de Santa Catarina”. A referida pesquisa tem por

objetivo compreender a percepção de portadores de LER/DORT sobre sua doença e

fatores de organização do trabalho, dos participantes de uma associação de

portadores de LER/DORT de um município de Santa Catarina. Sua participação

consistirá em responder a uma entrevista semi-estruturada com questões

relacionadas aos objetivos específicos. Para maior fidelidade dos conteúdos, a

entrevista será gravada e após a transcrição os dados serão apagados. A

participação não oferece riscos e contribui para aproximação da acadêmica ao

Page 65: UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO DE

64

mercado de trabalho, bem como na preparação dos acadêmicos para a inserção no

mesmo. Após o término da pesquisa, será realizada a devolutiva. Cabe ressaltar

ainda que seus dados pessoais serão mantidos em sigilo, sendo garantido seu

anonimato. A pesquisa contribui ainda para obter conhecimento, sob o ponto de

vista dos portadores da relação existente entre o desenvolvimento das atividades

profissionais e a dor; descrever os fatores de organização do trabalho associados à

sintomatologia dolorosa; investigar a influência da doença no cotidiano dos

portadores; e analisar o significado da doença para os portadores que exercem

funções laborais. Os resultados desta pesquisa serão utilizados somente para fins

acadêmicos. Em caso de dúvidas, o sujeito poderá entrar em contato com a

pesquisadora, a fim de obter as explicações devidas. O sujeito poderá, ainda, retirar

o consentimento a qualquer momento, sem conseqüências negativas para o mesmo.

- Nome do Pesquisador: Elizabeth Navas Sanches

- Assinatura do Pesquisador: ____________________

CONSENTIMENTO DE PARTICIAPAÇÃO DO SUJEITO E OU RESP ONSÁVEL

Eu, _______________________________________________, RG,

_________________,

Fui devidamente informado e esclarecido sobre a pesquisa, os procedimentos nela

envolvidos, e as condições decorrentes de minha participação. Foi me garantido que

posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto acarrete

qualquer penalidade.

Local e data:

______________________________________________________________

Nome:

___________________________________________________________________

Assinatura do Sujeito ou Responsável:

__________________________________________

Telefone para contato:

_______________________________________________________