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UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE CINCIAS
DEPARTAMENTO DE FSICA
SELECO E IMPLEMENTAO DE SENSORES
PTICOS PARA DETECO EM BIOSSENSORES
Srgio dos Santos Ortega Lrias
MESTRADO EM ENGENHARIA FSICA
ENGENHARIA FSICA
2008
UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE CINCIAS
DEPARTAMENTO DE FSICA
SELECO E IMPLEMENTAO DE SENSORES
PTICOS PARA DETECO EM BIOSSENSORES
Srgio dos Santos Ortega Lrias
Dissertao orientada pelo professor Doutor Jos Manuel Rebordo e
Doutor Antnio Cascalheira
MESTRADO EM ENGENHARIA FSICA
ENGENHARIA FSICA
2008
Agradecimentos
Gostaria de agradecer aos meus orientadores, Doutor Antnio Cascalheira e ao
Professor Doutor Jos Manuel Rebordo pelo apoio na realizao desta dissertao.
Professora Margarida Godinho pelo apoio prestado na realizao deste
trabalho.
Lumisense Lda. pela oportunidade de participar num projecto aliciante e aos
seus restantes colaboradores, Miguel Freitas e Diogo Ramadas. Ao Pedro Oliveira e ao
professor Jos Soares Augusto pela assistncia na electrnica.
Finalmente gostaria de agradecer ao Eng Hugo Lrias, Arch. Susanne Merk, Dr.
Julian Jones, Dr. Graeme Ross, Dr. Enrique Vecino Vzquez e Dr. Carl Jackson.
1
Indice:
RESUMO .................................................................................................................... 9
ABSTRACT .............................................................................................................. 11
1. A LUMISENSE LDA. ....................................................................................... 13
2. INTRODUO TERICA.............................................................................. 15
2.1. Electroquimioluminescncia ......................................................................... 15
2.2. Radiometria................................................................................................... 18
2.3. Fotomultiplicador.......................................................................................... 24
2.4. Detectores pticos de silcio........................................................................... 35 2.4.1. Fotododos .................................................................................................. 36 2.4.2. Fotomultiplicadores de Silcio (SiPM Silicon Photomultiplier) ................. 43
2.5. Concentradores pticos................................................................................. 61 2.5.1. Limites da concentrao .............................................................................. 61 2.5.2. Concentrador do tipo RR............................................................................. 63
3. PARTE EXPERIMENTAL .............................................................................. 65
3.1. Caracterizao da luz emitida pelas reaces de EQL ................................ 65
3.2. Quantificao da luz emitida pela reaco do luminol com perxido de hidrognio ................................................................................................................. 66
3.3. Calibrao de um LED azul para teste dos detectores ................................ 71
3.4. Fonte de tenso para polarizao dos detectores ......................................... 73
3.5. Electrnica para os detectores SensL com amplificador de transimpedncia 74
3.6. Electrnica para o detector MPPC da Hamamatsu..................................... 76
3.7. Electrnica para o detector SPMMicro da SensL sem amplificador de transimpedncia........................................................................................................ 78
3.8. Teste dos detectores com o LED calibrado................................................... 78
3.9. Comportamento do detector SPMMicro (TO18) com a temperatura......... 92
2
3.10. Teste de concentradores do tipo RR............................................................. 93
3.11. Montagem de um fluxmetro para calibrao de microbombas................. 97
3.12. Teste rpido de detectores........................................................................... 101
3.13. Calibrao dos detectores com solues calibradas de perxido de hidrognio ............................................................................................................... 102
4. RESULTADOS E DISCUSSO..................................................................... 103
4.1. Quantificao da radincia da luz emitida pela reaco do perxido de hidrognio com o luminol ....................................................................................... 103
4.2. Escolha do sensor ptico para implementao........................................... 103
4.3. Comportamento do detector SPMMicro (TO18) com a temperatura....... 105
4.4. Concentrador do tipo RR............................................................................ 105
4.5. Fluxmetro .................................................................................................. 106
4.6. Dispositivo de teste rpido dos sensores SPMMicro (TO18) ..................... 106
4.7. Futuros desenvolvimentos........................................................................... 106
5. CONCLUSES............................................................................................... 109
6. REFERNCIAS.............................................................................................. 111
3
ndice de Figuras:
Figura 2-1 Estrutura do Luminol .............................................................................. 16
Figura 2-2 Representao esquemtica da reaco de ECL do luminol em meio
alcalino [1,3]. ............................................................................................ 17
Figura 2-3 Pores do campo electromagntico de interesse para vrios campos de
estudo. UV refere-se a ultravioleta e IR a infravermelho [20].............. 18
Figura 2-4 Geometria para a definio de radincia [20]. ......................................... 20
Figura 2-5 Configurao para transferncia de fluxo luminoso entre uma fonte finita e
uma superfcie paralela a esta [20]. ............................................................ 21
Figura 2-6 Esquema de funcionamento de um tubo fotomultiplicador [24]............... 24
Figura 2-7 Diagrama de bandas de energia para o fotoctodo [25]............................ 26
Figura 2-8 PMT do tipo circular-cage [25] .............................................................. 29
Figura 2-9 PMT do tipo box-and-grid [25]............................................................... 30
Figura 2-10 PMT do tipo linear-focused [25] ........................................................... 30
Figura 2-11 Fenmeno de emisso secundria de um dnodo [25] ............................ 31
Figura 2-12 Rcio de emisso secundria [25] ......................................................... 31
Figura 2-13 Coeficientes de temperatura para os principais fotoctodos utilizados [25]
.................................................................................................................. 33
Figura 2-14 Caractersticas magnticas das principais configuraes de
fotomultiplicadores [25] ............................................................................ 34
Figura 2-15 Vista esquemtica de uma juno. (1) Regio de material neutro de tipo p;
(2) Regio com tomos de impurezas do tipo p; (3) Regio com tomos de
impurezas do tipo n; (4) Regio de material neutro de tipo n; Os electres
associados s impurezas de tomos do tipo n na regio (3) difundiram para a
regio (2) onde preencheram os buracos criados pelos tomos do tipo p. As
regies (2) e (3) tm carga e esto depletadas de portadores de carga livres
[26]. .......................................................................................................... 38
Figura 2-16 Formao de um potencial de contacto atravs de uma juno pn [26]. . 38
Figura 2-17 Diagrama esquemtico do fenmeno de efeito de tnel numa juno pn
[26] ........................................................................................................... 39
Figura 2-18 Curva de corrente voltagem para um diodo. I0 a corrente de saturao
[26] ........................................................................................................... 40
4
Figura 2-19 Ilustrao do processo de deteco de luz num fotodiodo. O electro foto
gerado difunde para a regio de depleo, onde o campo elctrico o empurra
atravs dela para a regio tipo n [26].......................................................... 41
Figura 2-20 Diagrama do processo de avalanche num fotododo [31]....................... 43
Figura 2-21 Diferentes modos de operao para detectores de silcio: Fotododo
(linear, sem ganho), Avalanche (linear, ganho de 10-200) e modo geiger
(contagem de fotes, foto = pulso de corrente) [40].................................. 44
Figura 2-22 O painel esquerda mostra uma viso esquematica de 4 pixis de um
SiPM. Cada pixel consiste de um fotodiodo e uma resistncia de quenching
que est ligada em srie com a linha de sada [45]. O painel direita mostra
o circuito equivalente simplificado de um SiPM. Esto esquematizados 2
pixis de um SiPM. O filtro passa-baixo na parte inferior direita simboliza a
rede de pistas de alumnio para transmisso do sinal dentro do SiPM. O
amplificador e a resistncia de carga no pertencem ao SiPM. [35]............ 47
Figura 2-23 Fotografia de um SiPM composto por 24x24 pequenos fotodiodos de
avalanche. Este dispositivo foi produzido pela MEPhI. [41] ...................... 47
Figura 2-24 O esquema mostra os diferentes cenrios que podem ocorrer quando um
foto atinge um SiPM: 1. Absoro do foto pelo substrato no depletado; 2.
Absoro na zona depletada e subsequente deslocao do fotoelectro para a
zona de elevado campo elctrico; 3. Absoro entre dois pixis; 4. Absoro
pelo SiO2 ou implantao no depletada abaixo da superfcie; 5. Refleco
superfcie. [35] .......................................................................................... 48
Figura 2-25 A figura mostra, sobrepostos, sinais de contagens no escuro de um SiPM.
A maior parte do tempo, apenas um dos pixeis d sinal. Com probabilidades
inferiores, 2, 3 ou mais pixeis podem ser disparados simultaneamente devido
ao crosstalk ptico. [35]............................................................................. 52
Figura 2-26 Na figura esquerda est representado esquematicamente o processo de
crosstalk ptico. No painel na figura direita demonstra-se
esquematicamente como a criao de trincheiras entre pixeis o podem
prevenir. [35]............................................................................................. 53
Figura 2-27 Resposta de 3 SiPMs diferentes com 576, 1024 e 4096 pixeis em funo
do nmero de foto electres [35] ............................................................... 53
Figura 2-28 Valor mdio do ganho sem a presena do campo magntico versus tenso
de polarizao [47] .................................................................................... 55
5
Figura 2-29 Comparao do valor do ganho com a superfcie do APD orientada
perpendicularmente com o campo magntico com a mdia do ganho sem a
presena do campo [47]............................................................................. 55
Figura 2-30 Comparao do valor do ganho com a superfcie do APD orientada
paralelamente com o campo magntico com a mdia do ganho sem a
presena do campo [47]. ............................................................................ 55
Figura 2-31 Vista de um pixel de um SiPM que usa resistncias individuais de poli-
silcio como resistncias de anulao de breakdown [46]. .......................... 57
Figura 2-32 Este esquema de [49] mostra uma estrutura de um MAPD com micro
poos. 1- Elctrodo de metal comum; 2- Camada de separao de xido de
Silcio; 7- Camada epitaxial de silcio com condutividade do tipo p; 8-
Camada de silcio com condutividade tipo p altamente dopada; 9- Regio
com os micro poos; 10- Regies onde se do as avalanches; 11- Micro
poos individuais. ...................................................................................... 57
Figura 2-33 Diagrama de um pixel que utiliza o conceito de retro iluminao [35]... 58
Figura 2-34 Diagrama esquemtico de um concentrador [51] ................................... 62
Figura 2-35 Posio de imagem e objecto para uma lente fina positiva..................... 63
Figura 3-1 Espectro de emisso do Luminol............................................................. 65
Figura 3-2 Sensibilidade do fotoctodo do PMT Hamamatsu H9858........................ 66
Figura 3-3 Variao do ganho com a voltagem de controlo para o PMT Hamamatsu
H9858 ....................................................................................................... 67
Figura 3-4 Sinal obtido no detector para uma concentrao de 100 M de perxido de
hidrognio. ................................................................................................ 68
Figura 3-5 Esquema da montagem experimental utilizada ........................................ 69
Figura 3-6 Variao da radincia de emisso da reaco do perxido com luminol em
funo da concentrao de perxido de hidrognio .................................... 70
Figura 3-7 Espectros de emisso do Luminol e do LED utilizado para os testes dos
detectores .................................................................................................. 71
Figura 3-8 Curva de calibrao da radincia do radiador lambertiano utilizado para
testes dos detectores .................................................................................. 72
Figura 3-9 Fonte de tenso para polarizao dos detectores...................................... 73
Figura 3-10 Detectores SensL equipados com amplificadores de transimpedncia.... 74
Figura 3-11 Circuito inversor utilizado como fonte de tenso de -5 V ...................... 74
6
Figura 3-12 Filtro passa baixo do tipo Butterworth de 2 ordem com frequncia de
corte aos 16 Hz.......................................................................................... 75
Figura 3-13 Diagrama de Bode do filtro utilizado. A azul encontra-se o atraso de fase
induzido pelo filtro e a vermelho a variao de amplitude induzida pelo
filtro, ambos em funo da frequncia. ...................................................... 75
Figura 3-14 Amplificador de instrumentao INA114.............................................. 76
Figura 3-15 MPPC da Hamamatsu ........................................................................... 76
Figura 3-16 Circuito de ligao do detector MPPC da Hamamatsu........................... 77
Figura 3-17 Esquema do amplificador no inversor utilizado. O ganho produzido por
este amplificador de 1001 ....................................................................... 77
Figura 3-18 SPMMicro da SensL com 1 mm de dimetro ........................................ 78
Figura 3-19 Variao do ganho do detector SPMMicro com amplificador de
transimpedncia em funo da tenso de polarizao para uma radincia de
4,63E-07 W/m2.sr ...................................................................................... 81
Figura 3-20 Integrao do sinal obtido pelo detector SPMMicro com amplificador de
transimpedncia em funo da radincia da fonte ...................................... 81
Figura 3-21 Exemplo do sinal obtido pelos detectores SPMMicro e SPMMini
equipados com as respectivas placas de amplificador de transimpedncia .. 82
Figura 3-22 Variao do rudo com a tenso de polarizao para o detector SensL
SPMMicro com amplificador de transimpedncia...................................... 83
Figura 3-23 Variao do ganho do detector SPMMini em funo da tenso de
polarizao para uma radincia de 1,85E-06 W/m2.sr ................................ 84
Figura 3-24 Integrao do sinal obtido pelo detector SPMMini em funo da radincia
da fonte ..................................................................................................... 84
Figura 3-25 Variao do NEP em funo da tenso de polarizao para o detector
SensL SPMMini ........................................................................................ 85
Figura 3-26 Variao ganho do detector MPPC da Hamamatsu em funo da tenso
de polarizao para uma radincia de 2,21E-06 W/m2.sr ............................ 86
Figura 3-27 Variao do sinal ptico obtido com o detector MPPC da Hamamatsu em
funo da radincia da fonte ...................................................................... 87
Figura 3-28 Seco de resposta linear do MPPC da Hamamatsu............................... 87
Figura 3-29 Variao do NEP em funo da tenso de polarizao para o detector
MPPC da Hamamatsu................................................................................ 88
7
Figura 3-30 Variao do ganho do detector SPMMicro em funo da tenso de
polarizao para uma radincia de 1,74E-06 W/m2.sr ................................ 89
Figura 3-31 Variao do sinal ptico obtido com o detector SPMMicro em funo da
radincia da fonte ...................................................................................... 89
Figura 3-32 Seco de resposta linear do SPMMicro (TO18) da SensL.................... 90
Figura 3-33 Variao do NEP em funo da tenso de polarizao para o detector
SPMMiro (TO18) da SensL....................................................................... 90
Figura 3-34 Curva de sensibilidade espectral relativa para o detector SPMMicro
(TO18) de SensL ....................................................................................... 91
Figura 3-35 Prottipo da placa de circuito integrado que aloja o detector ptico....... 92
Figura 3-36 Variao das contagens de fundo com a temperatura para o detector
SensL SPMMicro (TO18).......................................................................... 93
Figura 3-37 Diagrama do sistema de concentrador RR ideal obtido do programa Pre-
designer da Linos Photonics. ..................................................................... 94
Figura 3-38 Lentes escolhidas para usar como concentrador ptico .......................... 95
Figura 3-39 Curva de transmisso de Optical Crown Glass com 10mm de espessura 95
Figura 3-40 Curva de transmisso de vidro BK7 com 10mm de espessura................ 96
Figura 3-41 Princpio de deteco de lquido num capilar utilizando a diferena de
ndices de refraco. (a) Capilar cheio de ar dispersa a luz. (b) Capilar cheio
de lquido foca a luz [61] ........................................................................... 98
Figura 3-42 O fototransstor funciona em configurao de emissor comum. O capilar
cheio de liquido transmite a luz infravermelha melhor que o capilar cheio de
ar. Deste modo a voltagem de sada para a gua mais baixa VW < VA ..... 99
Figura 3-43 Exemplo do resultado obtido pelo sistema de calibrao de microbombas
................................................................................................................ 100
Figura 3-44 Curva de calibrao da bomba peristltica do laboratrio .................... 101
Figura 3-45 Curva de calibrao para concentraes de perxido de hidrognio..... 102
Figura 4-1 Comparativo entre os detectores testados .............................................. 104
Figura 4-2 Fotododo Hamamatsu S5821 ............................................................... 108
Figura 4-3 Proposta de desenho para o equipamento desenvolvido pela Lumisense
Lda.......................................................................................................... 108
8
ndice de tabelas:
Tabela 3-1 Valores de ganho para as respectivas voltagens de controlo .................... 67
Tabela 3-2 Resultados do clculo da radincia das reaces de luminol com perxido
de hidrognio............................................................................................. 69
Tabela 3-3 Resultados obtidos do teste de lentes como concentrador ptico. ............ 96
9
Resumo
Um biossensor pode ser definido como um sistema contendo um elemento
biolgico capaz de reconhecer um analto particular e converter a presena e
concentrao deste com um sistema transdutor, num sinal elctrico atravs da adequada
combinao da interface biolgica de reconhecimento. Esse processo de converso pode
passar pela emisso de luz, por quimioluminescncia (CL) que por seu lado pode ser
electroquimicamente catalisada ou seja electroquimioluminescncia (ECL).
Este trabalho aborda a seleco e implementao de sensores pticos de baixo
custo para utilizao na deteco de luz de muito baixa intensidade em reaces de ECL
e est divido em duas partes, a primeira refere-se quantificao da luz emitida nestas
reaces de ECL utilizando um fotomultiplicador, a segunda visa o estudo e
caracterizao de fotomultiplicadores de silcio, SiPM, capazes de substituir a utilizao
de fotomultiplicadores tradicionais neste tipo de aplicao. O estudo destes
fotomultiplicadores de silcio feito de modo a obter dados relativamente ao seu
funcionamento, electrnica necessria, ao nvel de contagens de fundo, ao ganho
intrnseco e limites de deteco. Com base neste estudo o trabalho visa a escolha de um
destes detectores para implementao num dispositivo porttil de anlise que utiliza este
mtodo de electroquimioluminescncia.
Palavras-chave: Sensores pticos; Fotomultiplicadores de silcio; SiPM;
Electroquimioluminescncia.
10
11
Abstract
A biosensor can be defined as a system containing a biological element capable
of recognizing a particular compound and converting its presence and concentration
with a transducer system, into an electrical signal through the adequate combination of
the recognition biological interface. This process of conversion may involve the emition
of light, quimioluminescence (CL) that can be electrochemically catalised,
electrochemioluminescence (ECL).
The purpose of this work is the selection and implementation of low cost optical
sensors for use in low light sensing in ECL. The work is divided in two parts, the first
refers to the quantification of the light emission in ECL reactions trough the use of a
photomultiplier tube. The second part refers to the study and characterization of silicon
photomultipliers (SiPM) capable of substitution of regular photomultiplier tubes in this
kind of application. The study of these silicon photomultipliers is done in order to
obtain data relative to their operation, electronics necessary to its correct functioning,
dark counts, gain and minimum detection limits. Using the information gathered during
this study, this work aims at the selection of one of these SiPM for implementation in a
portable device witch uses ECL as a method of analysis.
Keywords: Optical sensors; Silicon photomultiplier; SiPM;
Electrochemioluminescence.
12
13
1. A Lumisense Lda.
Um biossensor pode ser definido como um sistema contendo um elemento
biolgico capaz de reconhecer um analto particular e converter a presena e
concentrao deste com um sistema transdutor, num sinal elctrico atravs da adequada
combinao da interface biolgica de reconhecimento.
O desenho de sistemas para biossensores requer um mtodo de imobilizao
verstil que se possa adaptar a diferentes enzimas (mantendo a sua actividade biolgica)
associado a um transdutor simples que permita a concomitante deteco.
O modo operativo do biossensor em desenvolvimento na Lumisense Lda
consiste na oxidao enzimtica do substrato com produo de perxido de hidrognio
(H2O2), o qual reage com o luminol resultando na emisso de luz (quimioluminescncia,
CL). O biosensor ser construindo com as enzimas e luminol imobilizados, num mdulo
de estado slido. As reaces de CL so electroquimicamente catalisadas
(electroquimioluminescncia; ECL).
A deteco da luz emitida feita com recurso a um fotomultiplicador com
resultados satisfatrios e lineares, j confirmados em laboratrio, em reaces de ECL.
O desenvolvimento realizado na Lumisense Lda visa o fabrico de um aparelho porttil
para realizar as anlises, para tal, a empresa acha necessrio reduzir a dimenso e o
custo do detector ptico a implementar no dispositivo. Este trabalho visa o estudo de um
substituto para as funes realizadas pelo fotomultiplicador levando em conta as
restries impostas pela portabilidade do aparelho, isto , de dimenso, custo e consumo
energtico. Para este propsito foram escolhidos detectores de silcio conhecidos como
fotomultiplicadores de silcio ou SiPM. Para a realizao deste estudo tambm
necessrio proceder montagem e teste da electrnica necessria ao funcionamento
correcto e estvel destes detectores, mantendo em mente as restries de portabilidade e
baixo consumo.
14
15
2. Introduo terica
2.1. Electroquimioluminescncia
A electroquimioluminescncia (ECL), tem-se tornado num valioso mtodo de
deteco em qumica analtica [1-5]. Esta envolve a gerao de espcies na superfcie de
um elctrodo que passam por um processo de reaces de transferncia de electres
para formar estados excitados que emitem luz.
A ECL permite a deteco de analtos em concentraes muito baixas numa
grande gama linear. A ausncia de uma fonte de luz de excitao produz um sinal com
pouco fundo permitindo uma deteco muito sensvel sem recorrer a instrumentao
dispendiosa. A iniciao electroqumica da reaco ECL introduz tambm um grande
controlo temporal sobre a reaco. A selectividade e sensibilidade podem ser
optimizadas pela escolha adequada de material, tamanho e posio dos elctrodos.
O uso de ECL no desenvolvimento de biosensores tem a capacidade de
diferenciar entre interferentes electroqumicos mais comuns observados em sensores
que se baseiam apenas em electroqumica [6,7].
Os biosensores que se baseiam na ECL do luminol so particularmente
vantajosos devido estabilidade e baixo custo dos reagentes quando comparados com
outros reagentes de quimioluminescncia (CL), mesmo considerando o seu consumo
irreversvel. O processo baseia-se no perxido de hidrognio produzido no decurso de
reaces catalisadas por oxidases e na reaco envolvida de reaco ECL com o luminol
para gerar um sinal luminoso proporcional concentrao de substrato numa gama
definida. Tais sistemas so acima de tudo interessantes uma vez que se podem estender
deteco de muitas substncias seleccionando a enzima (oxidase) apropriada [3].
O maior problema na deteco em ECL atingir as condies experimentais,
favorveis para ambas as reaces electroqumicas e de CL, que levem produo
ptima de luz. A seleco de condies como a fora inica e pH ainda mais
complicada quando a soluo tem tambm de suportar uma reaco enzimtica.
Normalmente necessrio um meio alcalino para que a reaco CL catalisada de
perxido com luminol ocorra em condies ptimas, e a emisso de luz e eficincia
decresce dramaticamente quando o pH reduzido para o valor neutro que geralmente
16
necessrio para a mxima actividade da enzima oxidase, o que implica a necessidade de
atingir um compromisso entre as condies necessrias [4].
A quimioluminescncia electrogerada ou electroquimioluminescncia (ECL)
tem-se tornado nos ltimos anos num importante e valioso mtodo de deteco em
qumica analtica, permitindo a deteco de analtos em baixas concentraes [8-10].
Electroquimioluminescncia a luminescncia gerada pelo relaxamento de
molculas no estado excitado produzidas na reaco iniciada por via electroqumica [8].
A ECL permite combinar as vantagens da quimioluminescncia (CL), elevada
sensibilidade, baixo sinal de fundo e simplicidade, com a possibilidade de localizao
espacial, selectividade e controlo sobre a reactividade, que promovida pela utilizao
de tcnicas electroqumicas para iniciar a reaco de luminescncia na superfcie do
elctrodo [8,11]. Exemplos de aplicao da ECL incluem esquemas de deteco simples
em sistemas em fluxo como HPLC, FIA, imunoensaios, ensaios enzimticos e baseados
em sondas de ADN em que o luminol tem sido usado [8,11-13].
O luminol (Lum) ou 3-aminoftalhidrazina um derivado da anilina, cuja
estrutura se encontra representada na Figura 2-1 [12]. Este um composto
quimioluminescente tpico, sendo um dos primeiros a ser conhecido [14]; apresenta
elevada eficincia de luminescncia e sendo o primeiro e mais importante reagente
usado em estudos de electroquimioluminescncia [15].
Figura 2-1 Estrutura do Luminol
A reaco de ECL do luminol com o perxido de hidrognio em meio alcalino
ilustrada na Figura 2-2 envolve a desprotonao do luminol com a formao do anio
que electroqumicamente oxidado [8,10,16]. A subsequente oxidao, do composto
diazo resultante, na presena de perxido de hidrognio d origem ao 3-aminoftalato no
17
estado excitado. Dependendo do potencial aplicado esto envolvidos na electro-
oxidao do luminol diferentes passos mecansticos. O perxido de hidrognio pode
participar na forma de anio perxido, HOO-, ou como radical superxido, O2-
electroquimicamente formado [8,10,16].
Figura 2-2 Representao esquemtica da reaco de ECL do luminol em meio alcalino [1,3].
Diversos compostos tm sido usados como catalisadores de luminescncia do
luminol, entre eles encontram-se o ferroceno e derivados, ies metlicos e anilina e seus
derivados [11,17,18]. Diversos catalisadores electrogerados que promovem a reaco
convensional de CL podem ser usados para aumentar a ECL do sistema
luminol/perxido de hidrognio [15]. Sanchez et al. [19] propem um mecanismo de
aumento de quimioluminescncia do luminol atravs da formao de um radical do
intensificador (I) que reagindo com o luminol deve estar na origem desse efeito. Nesse
estudo, reportado que a anilina, assim como os seus derivados do para-fenol,
apresentam um efeito intensificador.
18
2.2. Radiometria
Radiometria um sistema de conceitos, terminologia, relaes matemticas,
instrumentos de medida e unidades de medida planeados para descrever e medir
radiao e a sua interaco com a matria. Embora os conceitos de radiometria possam
ser usados para descrever radiao nuclear, incluindo campos de fluxo de partculas
carregadas, estes so geralmente apenas usados para radiao electromagntica.
A radiometria lida com a distribuio da radiao no espectro electromagntico,
esta distribuio chamada de distribuio espectral ou espectro. Na Figura 2-3 est
ilustrado o espectro electromagntico com legenda para vrias pores do espectro de
interesse para diferentes campos de estudo [20].
Em radiometria existem quatro quantidades que so fundamentais. Estas e as
suas unidades no sistema internacional (SI) so:
Fluxo radiante , em watts;
Irradincia E, em watts/m2;
Intensidade radiante I, em watts/sr;
Radincia L, em watts/(sr.m2).
Figura 2-3 Pores do campo electromagntico de interesse para vrios campos de estudo.
UV refere-se a ultravioleta e IR a infravermelho [20].
19
Fluxo radiante tambm denominado por potncia radiante uma vez que
dimensionalmente o . Existe uma quantidade adicional, energia radiante, que
necessria para a definio de fluxo radiante e das restantes quantidades listadas acima.
Energia radiante Q, a quantidade de energia que se propaga para, atravs, ou
que emerge de, uma superfcie com uma determinada rea num dado perodo de tempo.
Todos os comprimentos de onda contidos na radiao esto includos. A unidade o
joule (J) [20,21].
Fluxo (potncia) radiante , fluxo de energia radiante por unidade de tempo,
a sua unidade o watt, ou seja, joule por segundo (J.s-1). A equao que o define :
= dQ/dt [20,21].
Irradincia E, a quantidade de fluxo radiante por unidade de rea numa
superfcie na qual incidente, passa por, ou emerge de, um ponto na superfcie
especificada. Todas as direces no ngulo slido hemisfrico acima ou abaixo do
ponto na superfcie devem ser includos. A unidade de irradincia o watt por metro
quadrado (W.m-2) e a equao que a define : E = d/ds0. Onde d um elemento de
fluxo radiante e ds0 um elemento de rea da superfcie. A irradincia funo da
posio na superfcie.
A irradincia que sai de uma superfcie denominada por emitncia M, e tem as
mesmas unidades e equao que a define [20,21].
Intensidade radiante I, o fluxo radiante por unidade de ngulo slido que
incide em, passa por, ou emerge de, um ponto no espao e se propaga numa direco
especfica. As unidades so watts por steradiano (W.sr-1) e equao que a define :
I = d /d [20,21].
Radincia L, o fluxo radiante por unidade de rea projectada e por unidade de
ngulo slido incidente em, que passa por, ou emerge de, numa direco especfica de
um ponto especfico numa superfcie. As suas unidades so o watt por metro quadrado
por steradiano (W.(m2.sr)-1) e a equao que a define :
L =d2/dds =d2/(dds0cos )
20
onde ds = ds0cos a projeco da rea ds0 na superfcie que contem o ponto onde est
a ser definida a radincia, projectada na direco de propagao para um plano
perpendicular a esta. d o elemento de ngulo slido na direco especificada e o
ngulo entre a direco de propagao e a normal superfcie no ponto especificado. Na
Figura 2-4 encontra-se um esquema da geometria para a definio de radincia [20,21].
Figura 2-4 Geometria para a definio de radincia [20].
Fonte lambertiana:
Em radiometria existe a necessidade de um conceito importante, qualquer
superfcie, real ou imaginria, cuja radincia seja independente da direco um
radiador lambertiano, porque obedece lei dos co-senos de Lambert. Esta lei diz que a
intensidade radiante observada de um radiador lambertiano directamente proporcional
ao co-seno do ngulo entre a linha de viso do observador e a normal superfcie: I()
= I(0) cos . A consequncia mais importante da lei dos co-senos de Lambert de que a
radincia deste tipo de superfcie constante independentemente da direco de
observao, por isto, um radiador lambertiano pode ser visto como uma janela para um
fluxo radiante isotrpico [20].
21
Transferncia de fluxo:
Considere-se uma fonte lambertiana finita e um ponto de observao a uma
distncia H. Supondo que apenas se est interessado na irradincia no ponto P numa
superfcie paralela fonte. A situao est esquematizada na Figura 2-5, onde o fluxo
para P provm de uma fonte finita a uma distncia H.
Figura 2-5 Configurao para transferncia de fluxo luminoso entre uma fonte finita e uma superfcie
paralela a esta [20].
Olhando para um elemento infinitesimal de rea ds0 dentro de uma fonte planar
com a forma de um disco de raio r0, o ponto de observao P fica na perpendicular
fonte que passa pelo seu centro, onde colocada a origem de um sistema de eixos
ordenados no plano da fonte. O elemento de irradincia no ponto P, causado pelo
elemento ds0 na fonte, a uma distancia R dada por:
2
20 cosR
LdsdE =
22
O termo em cos2 deve-se a que o ngulo entre a linha de viso e a perpendicular
superfcie quer da fonte quer do receptor serem iguais. Da figura tambm se retira que:
rdrdds =0
222 rhR +=
e o integral correspondente transferncia de fluxo dado por:
+=
2
0 022
20 cosr drdrH
rLE
onde r0 define o raio mximo da fonte. No entanto,
tanHr =
Logo necessrio exprimir em funo de r ou r em funo de para resolver o
integral. Escolhendo a ltima, substitumos r por H tan e dr por d(H tan ) obtendo
+=0
0222
2
)tan(tancostan2
HdhH
HLE
como
dHHd 2sec)tan( =
de modo a que
+=0
02tan1
tan2
dLE
23
Podemos transformar o integrando numa forma mais fcil de integrar
substituindo tan por sin /cos e multiplicando o integrando por cos2 /cos2 para
ficar com
cossintan1
tan2 =+
A equao fica:
2
0
sincossin20
LdLE ==
O que d um resultado razovel, vai para zero quando 0 tende para zero e
aproxima-se de L quando 0 se aproxima de 90 (ou seja uma fonte infinita) [20].
24
2.3. Fotomultiplicador
O tubo fotomultiplicador um detector ptico fotemissivo no qual a radiao
absorvida por uma superfcie fotossensvel que normalmente contm metais alcalinos
(Csio, Sdio ou Potssio). Quantas de luz incidente geram fotoelectres, atravs do
efeito fotoelctrico, que so colectados por um nodo polarizado positivamente. A isto
chama-se um foto tubo de dodo, que pode ser considerado a base para o funcionamento
de um tubo fotomultiplicador pela adio de uma srie de dnodos polarizados que
servem de multiplicadores de emisso secundria [22].
Em regies espectrais nas quais a eficincia quntica elevada (
25
A luz que penetra um tubo fotomultiplicador detectada e produz um sinal de
sada pelo seguinte processo:
1 A luz atravessa a janela de entrada.
2 A luz excita elctrodos no fotoctodo de modo a emitir fotoelectres
para o vcuo por efeito fotoelctrico externo.
3 Os electres so acelerados e focados, pelos elctrodos de focagem,
para o primeiro dnodo onde so multiplicados por meio de emisso secundria de
electres. Esta emisso secundria repetida em cada um dos sucessivos dnodos.
4 Os electres secundrios multiplicados emitidos pelo ltimo dnodo
so finalmente colectados pelo nodo. [24,25]
Emisso de fotoelectres: A emisso fotoelctrica est classificada como efeito
fotoelctrico externo no qual fotoelectres so emitidos para o vcuo a partir de um
material e efeito fotoelctrico interno no qual fotoelectres so excitados para a banda
de conduo de um material. No fotoctodo ocorre o primeiro efeito, o segundo
representado pelos efeitos fotocondutivo ou fotovoltaico.
Uma vez que o fotoctodo um semicondutor o processo pode ser descrito
utilizando o modelo de bandas de energia como se mostra na Figura 2-7 (a) fotoctodo
alcalino e (b) fotoctodo semicondutor do tipo III-V.
26
(a) Fotoctodo alcalino
(b) Foto ctodo semicondutor III-V
Figura 2-7 Diagrama de bandas de energia para o fotoctodo [25]
Num modelo de bandas de energia para um semicondutor existe: uma banda de
energia proibida, ou hiato de energia, o qual no pode ser ocupado por electres; a
afinidade electrnica, que um intervalo entre a banda de conduo e a barreira do nvel
de vcuo (vacuum level); a funo de trabalho () que um nvel energtico entre o
nvel de Fermi e o nvel de vcuo. Quando fotes atingem o fotoctodo, electres na
banda de valncia absorvem a energia (h) ficando num estado excitado que vo
difundir para a superfcie do fotoctodo. Se os electres difundidos tiverem energia
suficiente para passar o nvel de vcuo, estes so emitidos para o vcuo como
fotoelectres. Este processo pode ser expresso por um processo estatstico, e a eficincia
quntica (), isto , o rcio de electres difundidos para fotes incidentes dada por
27
sv P
kLkPRv )
/111()1()(
+=
Onde:
R Coeficiente de reflexo
k Coeficiente de absoro total dos fotes
Pv Probabilidade de que a absoro de luz possa excitar electres para
um nvel superior ao nvel de vcuo
L Percurso mdio de electres excitados
Ps Probabilidade de que os electres que chegam superfcie do
fotoctodo sejam libertados para o vcuo
Frequncia da luz
Na equao acima, se adequadamente escolhido o material, que determina os
parmetros R, k e Pv, os factores que dominam a eficincia quntica sero, L (percurso
mdio dos electres excitados) e Ps (probabilidade dos electres serem emitidos para o
vcuo). L torna-se maior com o uso de um cristal mais adequado e Ps depende
grandemente da afinidade electrnica.
A Figura 2-7 (b) mostra o modelo de bandas de energia para um composto
semicondutor III-V. Se uma camada superficial de material electropositivo, como por
exemplo Cs2O, for aplicada a este fotoctodo forma-se uma camada de depleo o que
vai fazer com que esta estrutura de bandas seja deslocada para baixo. Esta deslocao
pode tornar a afinidade electrnica negativa. Este estado chamado de NEA (Negative
Electron Affinity). O estado NEA aumenta a probabilidade (Ps) de que os electres que
atinjam a superfcie do fotoctodo possam ser emitidos para o vcuo. Em particular,
melhora a eficincia quntica para comprimentos de onda mais longos com uma energia
de excitao menor. Para alm disso aumenta o comprimento do percurso mdio dos
electres excitados (L) devido existncia da camada de depleo.
Os fotoctodos podem ser classificados, pelo processo de emisso de
fotoelectres, nos modos de reflexo e transmisso. O fotoctodo de modo de reflexo
usualmente feito numa placa metlica e os fotoelectres so emitidos na direco oposta
da luz incidente. O fotoctodo em modo de transmisso normalmente depositado na
forma de um filme fino sobre uma placa de vidro que opticamente transparente. Os
fotoelectres so emitidos na mesma direco que a luz incidente. O fotoctodo de
28
reflexo maioritariamente utilizado em fotomultiplicadores de janela lateral que
recebem a luz atravs da lateral da campnula de vidro enquanto que o fotoctodo de
transmisso utilizado em fotomultiplicadores de tipologia head-on que detectam a
luz incidente atravs da ponta de uma campnula cilndrica.
O comprimento de onda de resposta mxima e o maior comprimento de onda
detectvel (comprimento de onda de corte) so determinados pela combinao de metais
alcalinos usados para o fotoctodo e o seu processo de fabrico. Como designao
internacional, a sensibilidade do fotoctodo em funo do comprimento de onda est
registado como um nmero S pela JEDEC (Joint Electron Devices Engineering
Council). Este nmero S indica a combinao de uma combinao de material para o
fotoctodo e para a janela e actualmente esto registados nmeros de S-1 a S-25. No
entanto, os nmeros, para alm dos S-1, S-11, S-20 e S-25 so raramente utilizados
[25].
Trajectria dos electres: De forma a colectar eficientemente fotoelectres e
electres secundrios num dnodo, e tambm para minimizar a divergncia temporal no
tempo de trnsito dos electres, o desenho dos elctrodos tem de ser optimizado por
anlise da trajectria dos electres.
O movimento dos electres dentro de um fotomultiplicador influenciado pelo
campo elctrico que dominado pela configurao dos elctrodos, arranjo espacial e
tambm pela voltagem aplicada ao elctrodo. A anlise numrica da trajectria dos
electres feita recorrendo a computadores de grande capacidade e muito rpidos. Este
mtodo divide a rea a ser analisada numa espcie de padro de grelha de forma a
introduzir as condies fronteira, e obtida uma aproximao repetindo a computao
at que o erro convirja para um nvel pr determinado. Resolvendo a equao para o
movimento baseado na distribuio de potencial usando este mtodo, pode prever-se a
trajectria dos electres.
Ao desenhar um fotomultiplicador, a trajectria dos electres do fotoctodo para
o primeiro dnodo, deve ser desenhada tendo em considerao a forma do fotoctodo
(planar ou esfrica), a forma e disposio dos elctrodos de focagem e a voltagem
aplicada, de forma a que os electres emitidos pelo fotoctodo sejam eficientemente
focados no primeiro dnodo. A eficincia de coleco do primeiro dnodo o rcio entre
o nmero de electres que atingem a rea efectiva do primeiro dnodo e o nmero de
fotoelectres emitidos. Este valor normalmente superior 60 at 90 %. Para algumas
29
aplicaes nas quais o tempo de trnsito dos electres tem de ser minimizado, o
elctrodo deve ser desenhado no s para configurao ptima mas tambm para
campos elctricos mais elevados que os usuais.
A seco de dnodos normalmente composta por vrios, podendo ir acima dos
dez, estgios de elctrodos de emisso secundria (dnodos) com uma superfcie curva.
Para melhorar a eficincia de coleco de cada dnodo e minimizar a divergncia no
tempo de trnsito dos electres, a configurao e arranjo espacial devem ser
determinados pela anlise da trajectria dos electres. O arranjo espacial deve ser feito
de modo a prevenir que ies ou fotes possam realizar o percurso inverso ao planeado.
Alm destas, vrias outras caractersticas de um fotomultiplicador podem ser
calculadas por simulao computorizada. Por exemplo, a eficincia de coleco,
uniformidade, e tempo de trnsito dos electres podem ser calculados usando uma
simulao de Monte Carlo colocando as condies iniciais de fotoelectres e electres
secundrios. Isto permite a avaliao colectiva de fotomultiplicadores. As figuras 2-8, 2-
9 e 2-10 mostram em corte fotomultiplicadores com configuraes de dnodos em: jaula
circular (circular-cage); caixa e grelha (box-and-grid); e de focagem linear (linear-
focused) respectivamente, e mostra tambm as trajectrias tpicas dos electres [25].
Figura 2-8 PMT do tipo circular-cage [25]
30
Figura 2-9 PMT do tipo box-and-grid [25]
Figura 2-10 PMT do tipo linear-focused [25]
Multiplicador de electres (seco dos dnodos): Como foi dito anteriormente, a
distribuio do potencial e o arranjo dos elctrodos est planeado para um desempenho
ptimo. Fotoelectres emitidos pelo fotoctodo so multiplicados pelo primeiro dnodo
at ao ltimo dnodo, com o ganho de corrente a ir dos 10 at valores como 108 vezes
at serem direccionados para o nodo.
Os materiais de emisso secundria mais utilizados para o fabrico dos dnodos
so antimnio alcalino, xido de berlio (BeO), xido de magnsio (MgO), fosforeto de
glio (GaP) e fosforeto de glio e arsnico (GaAsP). Estes materiais so depositados
sobre um elctrodo substrato de nquel, ao inoxidvel ou uma liga de cobre-berlio. A
Figura 2-11 mostra o modelo da multiplicao por emisso secundria de um dnodo.
31
Figura 2-11 Fenmeno de emisso secundria de um dnodo [25]
Quando um electro primrio com energia inicial Ep atinge a superfcie de um
dnodo, electres secundrios so emitidos. Este nmero de electres secundrios
emitidos por electro primrio chama-se rcio de emisso secundria. A Figura 2-12
mostra o valor desta taxa para vrios materiais de dnodo em funo da voltagem de
acelerao dos electres primrios.
Figura 2-12 Rcio de emisso secundria [25]
32
Idealmente, a amplificao ou ganho de um fotomultiplicador com n estgios de
dnodo e um rcio de emisso secundria mdia por estgio ser de n.
Devido variedade de estruturas de dnodos e o seu ganho, resposta temporal e
linearidade diferirem dependendo do nmero de estgios de dnodos e outros factores, a
escolha ptima de tipo de dnodos tem de ser feita de acordo com a aplicao.
nodo: O nodo do fotomultiplicador um elctrodo que colecta os electres
secundrios multiplicados no processo de cascata atravs dos vrios estgios de dnodos
e proporciona a sada de sinal da corrente colectada para um circuito externo.
Os fotomultiplicadores tm a vulnerabilidade de serem mais sensveis
temperatura que a maioria dos componentes electrnicos normais, logo a sua utilizao
deve ter em conta essa sensibilidade. Para medies precisas, temperatura ambiente, o
fotomultiplicador tem de ser utilizado com controlo de temperatura ou tcnicas
fotomtricas comparativas para compensao dos desvios. No caso de controlo de
temperatura de salientar que o fotomultiplicador se encontra em vcuo, e a conduo
de calor atravs deste lenta, pelo que recomendvel que este seja mantido
temperatura a que vai funcionar durante cerca de uma hora para que as suas
caractersticas se tornem estveis. As caractersticas de temperatura podem ser divididas
na sensibilidade do nodo, do ctodo (foto ctodo) e ganho (dnodo). As caractersticas
de temperatura para a sensibilidade do ctodo so dependentes do comprimento de
onda, em geral o coeficiente de temperatura pode variar significativamente de um valor
negativo para positivo para o limite de comprimento de onda mximo. Pelo contrrio as
caractersticas de temperatura do ganho no tm virtualmente dependncia do
comprimento de onda ou da voltagem aplicada. A Figura 2-13 mostra a variao do
coeficiente de temperatura em funo do comprimento de onda para os principais
fotomultiplicadores [25].
33
Figura 2-13 Coeficientes de temperatura para os principais fotoctodos utilizados [25]
A utilizao de fotomultiplicadores, com o foto ctodo a funcionar em modo de
transmisso, a temperaturas muito baixas vai aumentar a resistncia de superfcie do
ctodo e, consequentemente pode levar ao efeito de saturao da corrente do foto
ctodo, o que pode levar perda de linearidade do sinal de sada em funo da luz
incidente. Este efeito particularmente visvel em certos fotoctodos do tipo bialkali, o
que leva necessidade de precauo na utilizao deste tipo de fotomultiplicadores
[25].
Outro factor importante relativamente utilizao de fotomultiplicadores
temperatura ambiente o aumento da corrente escura (dark current), ou seja, o sinal
de corrente que tem origem nos fotoelectres gerados termicamente no fotoctodo. Esta
corrente deve-se ao facto de que o foto ctodo composto por um material com um
hiato de energia muito baixo, o que permite que a excitao trmica seja suficiente para
a ejeco de electres do foto ctodo sem necessidade de excitao por fotes que
passem pela janela de entrada. Este fenmeno pode ser reduzido ou mesmo suprimido
pela reduo da temperatura de funcionamento do fotomultiplicador.
A presena de campos magnticos tambm um factor relevante ao
funcionamento do fotomultiplicador porque os electres viajam pelo vcuo, e a presena
de campos magnticos, ainda que pequenos como o caso do campo magntico
terrestre, vo influenciar a trajectria dos electres. Este efeito particularmente
relevante em fotomultiplicadores nos quais a distncia entre o fotoctodo e o primeiro
34
dnodo grande ou em casos nos quais a rea de coleco do primeiro dnodo pequena
face rea do fotoctodo. Para a maior parte dos fotomultiplicadores pode haver uma
reduo de at 50 por um campo magntico por uma densidade de fluxo magntico de
0,1 a alguns militesla. A sensibilidade mais vulnervel a um fluxo magntico na
direco paralela superfcie da fotoctodo. Fotomultiplicadores de janela lateral
sofrem menos dos efeitos de campos magnticos porque a distncia entre o fotoctodo e
o primeiro dnodo pequena, assim como no caso de fotomultiplicadores do tipo metal
package. A Figura 2-14 mostra as caractersticas magnticas de fotomultiplicadores
com configuraes tpicas [25].
Figura 2-14 Caractersticas magnticas das principais configuraes de fotomultiplicadores
[25]
35
2.4. Detectores pticos de silcio
Os sensores pticos de silcio inserem-se no grupo de detectores foto condutivos,
neste tipo de detectores a radiao absorvida por um material foto condutivo,
normalmente um semicondutor, quer sob a forma de filme ou em volume. Cada quanta
incidente de luz pode libertar um par electro-buraco ou um portador de carga ligado a
impurezas do material aumentando assim a condutividade elctrica. Estes dispositivos
so operados em srie com uma resistncia de carga e uma voltagem de polarizao.
Como a impedncia de foto condutores pode variar consideravelmente com o tipo de
dispositivo e condies de operao de valores to baixos quanto 50 ohms at 1014
ohms, o valor da resistncia de carga e do pr-amplificador tm de ser apropriadamente
escolhidos. Fotocondutores que utilizam a excitao de electres da banda de valncia
para a banda de conduo so designados por detectores intrnsecos, aqueles que
funcionam excitando electres para a banda de conduo ou buracos para a banda de
valncia de um estado intermdio introduzido por uma impureza so designados por
detectores extrnsecos. Detectores intrnsecos so mais comuns para comprimentos de
onda mais curtos, at cerca de 20m, e os extrnsecos so mais comuns para maiores
comprimentos de onda. Uma diferena chave entre detectores intrnsecos e extrnsecos
que os intrnsecos no necessitam de tanto arrefecimento para atingir a alta sensibilidade
a uma dada banda espectral como os extrnsecos. Assim, detectores intrnsecos como o
HgCdTe funcionam at 15 a 20 m a 77 K, enquanto que detectores extrnsecos com
uma banda espectral de funcionamento semelhante tm de ser arrefecidos a
temperaturas abaixo de 40 K.
Uma outra distino que pode ser feita se o material semicondutor tem um
hiato de energia directo ou indirecto. Esta diferena torna-se mais relevante perto do
limite de comprimentos de onda longos da resposta espectral onde detectores feitos de
materiais de hiato directo como o caso do InGaAs, InSb, ou HgCdTe tm uma
frequncia de corte mais abrupta que os de material de hiato indirecto como o silcio e o
germnio.
Fotocondutores podem ter uma elevada eficincia quntica da regio do visvel
at comprimentos de onda do infra-vermelho longnquo mas com a falta da
amplificao quase ideal dos fotomultiplicadores. So por este motivo mais
36
comummente utilizados na regio espectral acima de 1m, regio na qual no existem
fotoemissores eficientes. Fotocondutores tm no entanto um ganho em corrente que
igual ao tempo de recombinao dividido pelo tempo de trnsito do portador
maioritrio. Este ganho em corrente leva a uma maior responsividade do que possvel
com detectores foto voltaicos (sem fenmeno de avalanche). Para aplicaes onde a
deteco foto voltaica seja limitada pelo rudo de amplificao, a mais alta
responsividade torna possvel uma maior sensibilidade com o fotocondutor. Em geral, a
utilizao a temperaturas mais baixas est associada a maiores comprimentos de onda
para suprimir rudo devido a transies induzidas termicamente entre nveis de energia
prximos. Idealmente, so limitados pelo rudo de gerao-recombinao dos
portadores de carga gerados pelos fotes. O tempo de resposta inferior a 1s e em
alguns casos o tempo de resposta pode ser inferior o 1ns para pequenos detectores. A
resposta ao longo de um elemento fotocondutor pode ser no uniforme devido a
mecanismos de recombinao nos contactos elctricos, e este efeito pode variar com a
polarizao elctrica aplicada [22,23].
2.4.1. Fotododos
Um fotododo baseia-se numa juno entre duas zonas de dopagem oposta num
semicondutor. Estas zonas adjacentes criam uma regio depletada de portadores de
carga, produzindo uma alta impedncia. No silcio e no germnio, este arranjo permite a
construo de detectores que trabalham em alta sensibilidade mesmo temperatura
ambiente. Em semicondutores cujos hiatos de energia permitam o funcionamento
intrnseco na regio de 1-15m, uma juno necessria a maior parte das vezes para
atingir uma boa performance a qualquer temperatura. Uma vez que este tipo de
detectores funciona por meio de absoro intrnseca em vez de extrnseca, podem
atingir elevadas eficincias qunticas em pequenos volumes. No entanto, no existem
fotododos de elevada performance para comprimentos de onda maiores que
aproximadamente 15m devido falta de semicondutores intrnsecos de alta qualidade
com hiatos de energia muito baixos. As tcnicas normais de fabrico de semicondutores
permitem que os fotodiodos sejam construdos em arrays com muitos milhares, at
mesmo milhes, de pixels. Os fotododos so os detectores tipicamente escolhidos para
37
1-6 m e so normalmente teis, no s a comprimentos mais longos do infravermelho
mas tambm no visvel e no ultravioleta prximo.
Os dodos so fabricados fazendo crescer regies dopadas opostamente
adjacentes uma outra numa pea nica de material ou implantando ies de impurezas
de tipo oposto do dominante do material usando um acelerador de ies. O material do
tipo n tem um excesso (e o de tipo p tem uma deficincia) de electres
comparativamente com os necessrios formao das ligaes cristalinas. Como
resultado disto, se a excitao trmica for adequada para os libertar, electres perto da
juno entre os dois tipos de dopagem difundem do material do tipo n para o de tipo p
onde se combinam com os buracos presentes, criando uma regio espacial, a qual tem
uma carga total negativa no caso do tipo p e uma carga total positiva no material tipo n.
Este processo ilustrado na figura 2-12. A regio na qual as cargas difundiram da
regio n para a de tipo p tem quase totalmente ligaes completas e uma depleo de
potenciais portadores de carga, criando uma elevada resistncia nessa regio.
A difuso de cargas na juno auto limitada j que essa difuso vai criar uma
diferena de potencial atravs da juno, que oposta difuso de electres adicionais
para o material de tipo p. A voltagem para a qual existe um equilbrio o potencial de
contacto, V0. O material de cada lado da regio de depleo tem uma resistncia
elctrica relativamente pequena devido dopagem, e consequentemente, no h
praticamente diferena de potencial atravs desta, praticamente toda a diferena de
potencial aparenta estar na juno. O diagrama de nveis energticos e de potencial
encontra-se na Figura 2-16 [26-28].
38
Figura 2-15 Vista esquemtica de uma juno. (1) Regio de material neutro de tipo p; (2)
Regio com tomos de impurezas do tipo p; (3) Regio com tomos de impurezas do tipo n; (4) Regio de
material neutro de tipo n; Os electres associados s impurezas de tomos do tipo n na regio (3)
difundiram para a regio (2) onde preencheram os buracos criados pelos tomos do tipo p. As regies (2)
e (3) tm carga e esto depletadas de portadores de carga livres [26].
(a) antes do contacto (b) depois do contacto
Figura 2-16 Formao de um potencial de contacto atravs de uma juno pn [26].
39
A dimenso de V0 determinada pelos nveis de Fermi de ambos os lados da
juno. O nvel de Fermi no material de tipo n antes do contacto est a uma energia
mais elevada que no material de tipo p. Electres vo fluir entre os materiais at que os
respectivos nveis de Fermi sejam iguais.
Se for aplicada uma polarizao externa de modo a ser adicionada ao potencial
de contacto (isto , a voltagem positiva ligada ao material de tipo n), diz-se que o
diodo est polarizado inversamente. Nestas condies, o potencial atravs da regio de
depleo aumentado pelo potencial externo, o que vai aumentar a sua dimenso e
assim tambm a sua resistncia. Se a polarizao for aumentada, a juno vai
eventualmente desfazer-se (breakdown) e tornar-se altamente condutora. Para valores
normais de polarizao inversa, o breakdown d-se por efeito de tnel. A polarizao
inversa faz com que o nvel Ecn (a banda de conduo do material de tipo n) seja mais
baixo que Evp (banda de valncia do material de tipo p) como est esquematizado na
Figura 2-17.
Figura 2-17 Diagrama esquemtico do fenmeno de efeito de tnel numa juno pn [26]
40
Deste modo energeticamente mais favorvel para um electro penetrar na
camada de depleo sem ter de se deslocar primeiro para a banda de valncia, Ecp, do
material de tipo p. Se a camada de depleo for fina o suficiente, a funo de onda do
electro pode estender-se para alm dela e existe uma probabilidade finita de que o
electro passe atravs da juno. Para valores elevados de polarizao inversa, o
breakdown d-se por fenmeno de avalanche. Neste caso, o elevado campo elctrico
pode acelerar um electro livre da regio tipo p com energia suficiente para que este crie
electres de conduo adicionais ao colidir com tomos da camada de depleo. Esta
cascata de electres de conduo leva uma produo de uma elevada corrente [26,29].
Quando a juno polarizada directamente, o sinal do potencial aplicado
invertido de modo que diminui a polarizao da camada de depleo. Se a polarizao
for superior a V0, a juno torna-se altamente condutora. Um resumo do comportamento
de um dodo encontra-se curva I-V da Figura 2-18.
Figura 2-18 Curva de corrente voltagem para um diodo. I0 a corrente de saturao [26]
A gerao e recombinao em qualquer uma das regies de tipo n ou p
produzem pouca modulao da corrente que atravessa o dispositivo devido
relativamente baixa resistncia destas regies permitindo que o equilbrio seja
restabelecido rapidamente. Contudo, portadores de carga produzidos, dentro ou perto de
uma juno polarizada, ou no, podem ser deslocados atravs dela pelo campo elctrico
criado pela prpria juno e ento recombinar do outro lado, dando origem a uma
corrente. Os portadores de carga podem ser produzidos termicamente ou por foto
41
excitao, se considerarmos que o detector se encontra a uma temperatura
suficientemente baixa podemos ignorar a produo trmica de portadores. Foto
excitao no material tipo p est ilustrada na Figura 2-19, um foto absorvido
excitando um par electro buraco. O buraco eventualmente colectado ou recombinado,
o electro difunde atravs do material, se entrar na regio de depleo, o campo
elctrico da juno empurra-o atravs dela criando uma foto corrente. Se for iluminado
o material de tipo n, ocorre o mesmo processo, apenas que neste caso, os papis do
electro e do buraco esto invertidos [26-28,30].
Figura 2-19 Ilustrao do processo de deteco de luz num fotodiodo. O electro foto gerado
difunde para a regio de depleo, onde o campo elctrico o empurra atravs dela para a regio tipo n
[26].
42
Desde que o fotododo seja planeado de modo a permitir a difuso eficiente dos
portadores de carga excitados fotonicamente para a juno, virtualmente todos os fotes
absorvidos vo contribuir para dar origem a uma foto corrente. Logo,
Iph = - q
onde Iph a foto corrente, a eficincia quntica, a frequncia de
incidncia dos fotes (s-1). Isto indica que o ganho foto condutivo dos fotodiodos G =
1 e a responsividade S,
hcq
PI
Sph
ph ==
desde que hc/Eg. Esta sensibilidade tem uma dependncia com o
comprimento de onda similar ao dos fotocondutores, proporcional a at um
comprimento de onda de corte a = hc/Eg.
Para valores de polarizao inversa elevada o elevado campo elctrico que se
estabelece na juno vai aumentar grandemente a velocidade de deriva dos electres
atravs desta. No entanto, quanto o campo elctrico aumentado para determinado
valor, os portadores de carga tm maior probabilidade de colidir com a rede cristalina de
modo a que a sua velocidade de deriva fica saturada num valor mdio. Este fenmeno
comea a ocorrer quando o campo elctrico da ordem dos 104 V/cm, e a velocidade de
deriva saturada neste campo da ordem dos 107cm/s. Se a polarizao inversa
aumentada acima deste ponto, os portadores que escapam esta coliso tm uma grande
quantidade de energia. Quando estes electres colidem com a rede cristalina ocorre
ionizao e criao de novos pares electro buraco. Estes pares electro buraco por sua
vez criam novos pares num processo similar a uma reaco em cadeia. Este processo
designado por multiplicao de foto corrente por avalanche e o princpio de
funcionamento para os fotododos denominados, de avalanche (APD Avalanche Photo
Diodes). Este fenmeno comea a ocorrer quando o valor de campo elctrico atinge os
2E5 V/cm. A Figura 2-20 mostra um diagrama esquemtico do processo de avalanche
mostrando como os portadores gerados so multiplicados dentro do APD.
43
Figura 2-20 Diagrama do processo de avalanche num fotododo [31]
O nmero de pares electro buraco gerados no perodo de tempo que os
portadores viajam uma determinada distncia denominado taxa de ionizao. Esta taxa
de ionizao define factores importantes para a determinao do mecanismo de
multiplicao por avalanche. O valor tpico de ganho associado a este tipo de
dispositivo (APD) ronda entre os 10 a 1000, com a exigncia da aplicao de uma
polarizao inversa com valores entre os 80 e os 160V. Para alm do aumento do ganho,
o valor elevado de polarizao inversa vai tambm contribuir para o aumento
considervel do rudo j que vai aumentar o nmero de portadores gerados
termicamente, o que por sua vez vo dar origem ao fenmeno de avalanche, embora este
efeito possa ser reduzido por arrefecimento do detector. Outro problema associado a
este tipo de detector a sua forte dependncia com a temperatura, existe uma variao
considervel indesejada do ganho com a variao da temperatura [30-34].
2.4.2. Fotomultiplicadores de Silcio (SiPM Silicon Photomultiplier)
O fotomultiplicador de Silcio consiste num array de fotodiodos de avalanche a
funcionar em modo geiger, este array designa-se por fotomultiplicador de silcio.
O modo geiger de funcionamento nos fotodiodos de avalanche consiste em
oper-los a tenses acima da voltagem de breakdown. Acima desta tenso os fotodiodos
tm um comportamento binrio, os fotes incidentes vo induzir o fenmeno de
avalanche produzindo uma corrente que no proporcional luz incidente, mas apenas
caracterstica do disparo do pixel (fotododo), ou seja, no depende do nmero de
44
fotes incidentes, mas apenas funciona como detector de potncia luminosa incidente. A
Figura 2-21 mostra os diferentes modos de operao de detectores de estado slido de
silcio.
Figura 2-21 Diferentes modos de operao para detectores de silcio: Fotododo (linear, sem ganho),
Avalanche (linear, ganho de 10-200) e modo geiger (contagem de fotes, foto = pulso de corrente) [40].
Para utilizao prtica deste tipo de detectores utilizam-se arrays de fotododos o
que permite que, pelo nmero de pixeis disparados se obtenha um sinal elctrico
proporcional e com ganhos muito elevados ~106. Os SiPM so compostos por,
tipicamente, 100 a 1000 pixis por mm2 em que cada um tem aproximadamente 20 a 30
m de lado, com uma capacitncia de ~50 fF e uma resistncia de quenching1 entre 1
e 10 M. Todos os pixis esto ligados em paralelo sendo o sinal de sada nico e igual
ao somatrio dos sinais dos pixeis individuais. A voltagem de funcionamento est
tipicamente 2 Volt acima do breakdown.
A regio de depleo tpica neste tipo de dispositivos de ~2 m, a voltagem
aplicada cria campos elctricos na camada de depleo da ordem dos 2 a 3E5 V/cm
criando um ganho da ordem de 106 induzindo uma velocidade de deriva de ~107 cm/s
nos portadores de carga intervenientes no fenmeno de avalanche. O desenvolvimento
da descarga geiger muito curto
45
2.4.2.1 APDs de pequena rea em modo de funcionamento geiger
Em contraste com o modo proporcional onde basicamente apenas electres tm
a capacidade de gerar novos pares electro-buraco, a avalanche no modo Geiger
divergente porque tanto os electres como os buracos participam activamente no
processo de multiplicao. Uma corrente constante flui na juno p-n, se a corrente
limitada para valores abaixo do valor crtico, esta dissipada (quenched) em alguns
picosegundos, devido a flutuaes estatsticas, aps o incio do breakdown. Uma
maneira simples de induzir este efeito a insero de uma resistncia de valor elevado
em srie com o dodo. Aps a anulao, a resistncia previne que o condensador do
dodo se recarregue instantaneamente e uma reinicializao para a polarizao inicial
acima do breakdown que iniciou a avalanche. Devido natureza divergente do processo
de multiplicao, perde-se toda a informao acerca do sinal primrio, isto , o nmero
de fotoelectres gerados que iniciaram o breakdown. O dispositivo est a funcionar em
modo binrio.
Outro mtodo de efectuar a anulao do breakdown utilizar um circuito
dedicado que baixa a voltagem de polarizao para valores abaixo da tenso de
breakdown por um perodo de tempo, durante o qual se d a anulao do fenmeno de
avalanche induzido pelo fotoelectro.
O modo de geiger apenas til para fotododos de avalanche de rea muito
pequena porque, para alm dos electres livres gerados pelo efeito de fotes incidentes,
esto tambm a ser gerados constantemente pares electro/buraco termicamente. A
gerao trmica pode atingir nveis de 6E8 por segundo por centmetro quadrado,
temperatura ambiente, para uma camada de silcio com 450m de espessura na camada
de depleo. Em conjunto com o tempo de recuperao do dodo estes efeitos colocam
um limite superior para a rea do dodo.
Os APDs a funcionar em modo Geiger tm a vantagem de produzirem pulsos de
sada bem definidos e de grande amplitude (105 a 107 electres dependendo da
sobrevoltagem e da capacitncia do dodo) por breakdown e podem ser usados para
contagem de fotes individuais single photon counting. Por este motivo, este tipo de
APDs so muitas vezes designados SPADs (single photon avalanche counters). Os
46
SPADs j se encontram em produo h aproximadamente 20 anos mas sem atingir um
estatuto de uso generalizado. De facto SPADs so apenas utilizados em aplicaes que
requerem baixos ritmos de contagem de fotes individuais e onde um detector de
pequena rea suficiente (tipicamente com reas sensveis de 100 a 10.000 m2), e
tambm devido sua incapacidade de distinguir o nmero de fotes primrios, e
respectivos fotoelectres gerados SPADs no so passveis de utilizao, por exemplo,
em calorimetria [30,33,35,37,39].
2.4.2.2 O APD multipixel a funcionar em modo geiger
Na dcada de 1990 foi inventado um novo conceito de detector de fotes (na
antiga Unio Sovitica) que fazia uso das vantagens do modo Geiger e, ao mesmo
tempo, permitia reter, ao longo de uma grande gama dinmica, a informao de
fotoelectres primrios.
Neste conceito de detector um conjunto (array) de SPADs muito concentrado,
tipicamente 100 at 10.000 por mm2, fabricado num mesmo substrato. Cada SPAD
tem em miniatura a sua prpria resistncia de quenching. Alm disso todos os
conjuntos SPAD-resistncia (pixel) esto ligados em paralelo a um barramento (BUS)
comum (Figura 2-22). O sinal de sada do dispositivo a soma analgica de sinal de
todos os pixeis que foram disparados. A Figura 2-22 mostra no painel esquerda a vista
esquemtica superior de quatro pixeis de um destes dispositivos. Note-se que cada rea
fotossensvel est rodeada por uma tira de material insensvel luz que separa os pixis
uns dos outros. A Figura 2-23 mostra uma fotografia de um destes dispositivos com 1x1
mm2 que contm 576 destes pixeis, cada um com 42x42 m2 de rea. Desde o final da
dcada de 1990 o desenvolvimento diversificou-se existindo agora muitos mais
prottipos deste tipo [30,35,38-40].
47
Figura 2-22 O painel esquerda mostra uma viso esquematica de 4 pixis de um SiPM. Cada
pixel consiste de um fotodiodo e uma resistncia de quenching que est ligada em srie com a linha de
sada [45]. O painel direita mostra o circuito equivalente simplificado de um SiPM. Esto
esquematizados 2 pixis de um SiPM. O filtro passa-baixo na parte inferior direita simboliza a rede de
pistas de alumnio para transmisso do sinal dentro do SiPM. O amplificador e a resistncia de carga no
pertencem ao SiPM. [35]
At data este tipo de dispositivo tem tantos nomes como os desenvolvimentos
a decorrer. Entre os mais utilizados esto: Metal Resistive layer Semiconductor (MRS-
APD), Silicon Photomultiplier (SiPM), Multi Pixel Photon Counter (MPPC), Multi
Pixel Photon Detector (MPPD), Micro-Cell APD, Geiger APD, Digital Pixel Photo
Diode (DPPD), micro pixel/channel avalanche photodiode (MAPD), Daqui por
diante ser utilizado o termo SiPM como sinnimo dos diferentes tipos que fazem uso
do mesmo princpio de funcionamento.
Figura 2-23 Fotografia de um SiPM composto por 24x24 pequenos fotodiodos de avalanche.
Este dispositivo foi produzido pela MEPhI. [41]
48
2.4.2.3 Caracteristicas dos fotomultiplicadores de silcio
Nesta seco sero discutidas as principais caractersticas dos SiPMs (Eficincia
de deteco de fotes (PDE Photon Detection Efficiency), Contagens de fundo (Dark
Counts), crosstalk ptico2 e Gama dinmica de funcionamento).
a) Eficincia de deteco de fotes (PDE)
Figura 2-24 O esquema mostra os diferentes cenrios que podem ocorrer quando um foto
atinge um SiPM: 1. Absoro do foto pelo substrato no depletado; 2. Absoro na zona depletada e
subsequente deslocao do fotoelectro para a zona de elevado campo elctrico; 3. Absoro entre dois
pixis; 4. Absoro pelo SiO2 ou implantao no depletada abaixo da superfcie; 5. Refleco
superfcie. [35]
A eficincia de deteco de fotes de um SiPM normalmente caracterizada
contabilizando a PDE total. Isto contrasta com a caracterizao de tubos
fotomultiplicadores onde normalmente contabilizada a eficincia do fotoctodo e as
perdas adicionais so desprezadas. A PDE uma convulso de diversas contribuies,
as principais encontram-se na Figura 2-24 e sero explicadas de seguida.
Eficincia Quntica (Quantum Efficiency QE) definida como o nmero
mdio de pares electro buraco que so gerados por converso de um foto na zona
depletada de um semicondutor. Para fotes de energia superior do hiato de energia do
semicondutor (1,1 eV para o Silcio) a QE unitria e sobe acima da unidade se a
2 Crosstalk ptico Expresso que indica o fenmeno de gerao de um foto num pixel de um SiPM que absorvido por um pixel adjacente e que provoca o seu disparo e consequentemente um sinal de rudo.
49
energia do fotoelectro suficiente para criar ionizao por impacto (Fotes com
energia superior a 3,18 eV para o Silcio). Fotes com pequenos comprimentos de onda
(
50
de breakdown, no obrigatrio ter, por exemplo, uma estrutura p-on-n para
dispositivos sensveis ao azul (UV) [34,35].
O tempo de recuperao, pode ser definido como o tempo necessrio para que
um pixel se torne de novo totalmente sensvel aps uma avalanche de ruptura, isto
tambm tem influncia na eficincia de deteco porque aps um SPAD sofrer uma
ruptura, este precisa de algum tempo < s para voltar ao seu estado inicial. Note-se que
o tempo de recuperao para um SiPM diferente do tempo de recuperao para um
APD em modo proporcional. Devido natureza quase digital de operao do SiPM, o
tempo de recuperao de um SiPM definido como o tempo de recuperao de um dos
seus pixeis, ou seja, o tempo necessrio para que a amplitude de um pulso consecutivo
ser pelo menos 90% da amplitude do pulso anterior.
Despoletado por rudo escuro ou luz ambiente, tipicamente 0,1% a 1% de
todos os pixeis esto em recuperao numa determinada altura, logo a rea efectiva do
sensor encontra-se ainda mais reduzida. Esta reduo da PDE normalmente
negligencivel para aplicaes de muito baixa intensidade de luz. A situao diferente
no caso de flashes de luz intensos ou aplicaes de cadncia rpida onde o tempo mdio
entre acontecimentos se torna comparvel com o tempo de recuperao.
De entre os efeitos mencionados, aquele que tem maior impacto hoje em dia na
PDE o limite de rea efectiva. Isto de uma forma geral verdade para dispositivos
compostos por muitos pixeis com resistncias de quenching, a separao entre pixeis
introduz alguns micrmetros de espao morto. Os valores mais altos de PDE so da
ordem dos 40%, o que fica ligeiramente abaixo da ocupao geomtrica destes
dispositivos. No caso de SiPMs retro iluminados, o espao morto deixa de ser um
problema, razo pela qual se podem esperar PDEs mais elevadas (> 80%) [30,34,35,37].
b) Contagens de fundo (dark counts)
Todos os portadores de carga livres, ao entrarem a regio de elevada intensidade
de campo elctrico de um SPAD podem desencadear uma ruptura. Os electres gerados
por agitao trmica so a fonte dominante de contagens no escuro em SiPMs state of
the art.
Valores tpicos totais de contagens no escuro de dispositivos actuais a funcionar
temperatura ambiente rondam as 105 a 106 contagens por segundo num sensor com 1
51
mm2 de rea. Como estas contagens se devem maioritariamente a portadores gerados
termicamente, em muitos casos, podem ser adequadamente suprimidas pela utilizao
de um volume de deteco mais pequeno e utilizando arrefecimento. Por exemplo, para
aplicao de SiPMs em air Cherenkov telescopes para astronomia terrestre que o
arrefecimento a -20 reduz o nvel intrnseco de contagens no escuro suficientemente
abaixo do fundo irredutvel do cu nocturno [34-37,41-43].
c) Crostalk ptico (Optical Crosstalk)
O processo de emisso de fotes associado ao fenmeno de multiplicao por
avalanche bem conhecido embora a sua natureza no seja totalmente compreendida e
a situao complica-se devido a medidas contraditrias com as obtidas por exemplo por
A. L. Lacaita et al. em [44] e J. H. Swoger e S. J. Kovacic em [45]. Em [44], os autores
podem descrever o espectro de emisso acima de 1,7 eV atravs da radiao de corpo
negro com uma temperatura efectiva de plasma de 4000 Kelvin. Os mesmos autores
mediram a eficincia de emisso de fotes obtendo 3E-5 fotes por portador de carga
que atravessa a juno durante a ruptura. Em [45], o espectro medido mais ngreme e a
emisso mais intensa.
Em SiPMs, a luminescncia por portadores de carregados (hot carrier
luminescence) d origem a um fenmeno denominado crosstalk ptico, isto acontece
quando os fotes de luminescncia se podem propagar livremente dentro do dispositivo
e podem ser absorvidos no volume sensvel de outro pixel, e assim desencadear uma
ruptura adicional. O efeito de crosstalk ptico facilmente observvel em estudos feitos
sobre contagens no escuro como se pode ver na Figura 2-25.
52
Figura 2-25 A figura mostra, sobrepostos, sinais de contagens no escuro de um SiPM. A maior parte do tempo, apenas um dos pixeis d sinal. Com probabilidades inferiores, 2, 3 ou mais pixeis
podem ser disparados simultaneamente devido ao crosstalk ptico. [35]
Pixeis circundantes tambm podem ser activados se a converso do foto se der
no volume no depletado do detector. Na maior parte das aplicaes esta ocorrncia
de pouca importncia uma vez que os pares electro buraco gerados se perdem devido
aos tempos de vida muito curtos no volume no depletado. Para alm disso, uma
avalanche iniciada deste modo pode tomar-se como no correlacionada com o evento
primrio [28,34,35].
Medidas que permitem a reduo do crosstalk ptico:
Uma medida possvel para limitar o crosstalk ptico a de reduzir o nmero de
portadores de carga que atravessam a juno, isto , reduzir o ganho do SiPM e deste
modo reduzir o nmero de fotes secundrios. Uma maneira bvia de fazer isto a de
reduzir a voltagem de polarizao aplicada ao dispositivo. Embora fcil, no desejvel
devido forte dependncia da probabilidade de ruptura com a voltagem de polarizao
e, por sua vez, uma reduo na eficincia de deteco.
Outro mtodo limitar a quantidade de carga que atravessa a juno reduzindo
todas as capacitncias parasitas associadas ao pixel (juno pn, resistncia de
quenching, ). A razo para isto a dependncia linear do sinal de sada com estas
capacitncias. Na maior parte dos dispositivos, reduzir a capacitncia resulta num
compromisso entre a reduo de crosstalk ptico e da eficincia de deteco.
53
Uma terceira abordagem para evitar o crosstalk ptico directo a de criar
trincheiras entre os pixeis para criar barreiras pticas, como esquematizado na Figura
2-26 [33-35,46].
Figura 2-26 Na figura esquerda est representado esquematicamente o processo de crosstalk
ptico. No painel na figura direita demonstra-se esquematicamente como a criao de trincheiras entre
pixeis o podem prevenir. [35]
d) Gama dinmica de funcionamento:
A partir do principio de funcionamento do dispositivo expectvel que o sinal
de sada no seja proporcional ao nmero de fotes que atingem o detector, mas sim
influenciado por flutuaes estatsticas relacionadas com, a probabilidade de 2 ou mais
fotes atingirem o mesmo pixel antes da re-inicializao deste, e eventualmente a
saturao do detector a um valor relacionado com o numero de pixeis que o constituem.
Este efeito encontra-se ilustrado na Figura 2-27.
Figura 2-27 Resposta de 3 SiPMs diferentes com 576, 1024 e 4096 pixeis em funo do
nmero de foto electres [35]
54
Analiticamente, a resposta pode ser derivada calculando para um dado nmero
de foto-electres o nmero mdio de pixeis SPAD que so activados:
]1[ )/( NavailablepheNavailablefired eNN=
onde:
Nfired - o nmero mdio de pixeis que so activados em mdia
Nphe - Fotoelectres gerados num dispositivo com um nmero total de Navailable
pixeis.
Desta equao retira-se que o sinal de sada se desvia em mais de 20% da
linearidade, se o nmero de fotoelectres exceder 50% do nmero de pixis SPAD
disponveis no SiPM. A razo a probabilidade crescente de mltiplos fotes atingirem
o mesmo pixel. Estritamente falando, a relao apenas se mantm para sinais muito
rpidos. Para sinais que se estendam no tempo, fotes que cheguem ao detector mais
tarde podem disparar novamente pixeis que entretanto j se haviam re-inicializado.
primeira vista, o efeito de saturao parece uma desvantagem, mas numa
segunda abordagem, pode ser uma vantagem em algumas aplicaes, onde uma grande
gama dinmica de sinal conseguida por uma compresso logartmica dos dados para
uma gama dinmica reduzida para digitalizao. Nos SiPMs, a compresso logartmica
intrnseca [34,35,46].
e) Utilizao na presena de campos magnticos
Em contraste com a influncia da utilizao de fotomultiplicadores na presena
de campos magnticos, os APDs e, consequentemente, os SiPMs (pois os seus pixeis
so compostos por APDs) no sofrem de perturbaes ao seu funcionamento na
presena de campos magnticos. Em [47] foram realizadas medies de ganho na
presena de um campo magntico de 7,1 Tesla e fora deste. As medies foram feitas
orientando o detector com a superfcie sensvel quer na direco paralela como
perpendicular ao campo magntico induzido por um solenide. Nas figuras 2-28, 2-29 e
2-30 podem ser observados os resultados obtidos.
55
Figura 2-28 Valor mdio do ganho sem a presena do campo magntico versus tenso de
polarizao [47]
Figura 2-29 Comparao do valor do ganho com a superfcie do APD orientada
perpendicularmente com o campo magntico com a mdia do ganho sem a presena do campo [47]
Figura 2-30 Comparao do valor do ganho com a superfcie do APD orientada paralelamente
com o campo magntico com a mdia do ganho sem a presena do campo [47].
56
Dos resultados obtidos, os autores concluem que este tipo de detector no
influenciado pela utilizao na presena de campos magnticos mesmo que elevados,
neste caso 7,1 Tesla [47]. A presena de campos magnticos no influencia o
funcionamento deste tipo de detector pois no interfere com o campo elctrico criado
pela polarizao inversa imposta ao detector que caracteriza o seu funcionamento. Nas
figuras anteriores visvel que a presena do campo magntico, independentemente da
orientao, no provoca uma variao significativa do ganho do detector. As variaes
observadas na presena desse campo so da mesma ordem de grandeza que o erro de
medio assinalado nos grficos.
2.4.2.4 Tipos de detectores
O desenvolvimento de SiPMs avana actualmente a grande velocidade e a
performance de dispositivos sofreu muitas melhorias nos ltimos anos. Actualmente,
vrios desenvolvimentos independentes esto a ser feitos em institutos de pesquisa e
empresas como a Hamamatsu, SensL, HLL em colaborao com a MPI, JINR, CPTA,
MEPhI, Voxtel Estes desenvolvimentos visam o fabrico de dispositivos com trs
tipos distintos de funcionamento.
Detectores com resistncias de quenching individuais
Nesta aproximao, seguida pela maior parte dos construtores, faz-se crescer
uma camada epitaxial de elevada resistncia num substrato com baixa resistncia. Na
camada epitaxial, com alguns micrmetros de espessura, formada uma matriz de
dodos. Para interrompor o breakdown no pixel, existe uma resistncia miniatura que
liga cada dodo a uma rede de pistas de alumnio, pode ver-se um exemplo deste tipo de
dispositivo na Figura 2-23 e uma viso aumentada de um dos seus pixis na Figura
2-31. Alguns dispositivos tm um condensador ligado em paralelo com a resistncia de
modo a atingir um melhor desacoplamento do sinal de sada [35].
57
Figura 2-31 Vista de um pixel de um SiPM que usa resistncias individuais de poli-silcio
como resistncias de anulao de breakdown [46].
Detectores com regies