universidade cidade de sÃo paulo curso de fisioterapia

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UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO CURSO DE FISIOTERAPIA Bianca dos Santos da Silva Lívia Reis Prevenção de luxação de quadril em crianças com paralisia cerebral espástica – revisão narrativa da literatura SÃO PAULO 2020

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Page 1: UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO CURSO DE FISIOTERAPIA

UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO

CURSO DE FISIOTERAPIA

Bianca dos Santos da Silva

Lívia Reis

Prevenção de luxação de quadril em crianças com paralisia cerebral espástica – revisão narrativa da literatura

SÃO PAULO

2020

Page 2: UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO CURSO DE FISIOTERAPIA

Bianca dos Santos da Silva

Lívia Reis

Prevenção de luxação de quadril em crianças com paralisia cerebral espástica – revisão narrativa da literatura

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

à Universidade Cidade de São Paulo –

UNICID para a obtenção do título de bacharel

em fisioterapia sob orientação da Me. Cristina

Hamamura Moriyama.

São Paulo

2020

Page 3: UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO CURSO DE FISIOTERAPIA

Bianca dos Santos da Silva

Lívia Reis

Prevenção de luxação de quadril em crianças com paralisia cerebral espástica – revisão narrativa da literatura

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

à Universidade Cidade de São Paulo –

UNICID para a obtenção do título de bacharel

em fisioterapia sob orientação da Me. Cristina

Hamamura Moriyama.

Aprovado em:

Banca Examinadora

_________________________________

(Nome do professor)

_________________________________

(Nome do professor)

_________________________________

(Nome do professor)

Page 4: UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO CURSO DE FISIOTERAPIA

DEDICATÓRIA

Dedicamos este trabalho a Deus por toda capacitação e honra que nos têm

acompanhado ao longo do desenvolvimento do mesmo, a nossa orientadora por

cada direcionamento assertivo e suporte que nos proporcionou um olhar

humanizado dentro da ciência, e em especial aos nossos pais por todo apoio e

investimento!

Page 5: UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO CURSO DE FISIOTERAPIA

AGRADECIMENTOS

À Deus por toda capacitação derramada sobre nós, seu carinho e cuidado

conosco no decorrer de todo processo. Aos nossos pais que abdicaram dos

próprios sonhos para que pudéssemos viver os nossos, nos fazendo acreditar

que somos capazes de evoluir como seres humanos cada vez melhores. Aos

mestres que fizeram parte da nossa formação profissional e moldaram a

fisioterapia dentro de cada uma de nós. A nossa orientadora que apostou em

nós e nos ensinou da forma mais genuína possível! Aos colegas que fizeram

parte dessa história e a universidade que permitiu a ampliação dos nossos

horizontes; nosso muito obrigada!

Page 6: UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO CURSO DE FISIOTERAPIA

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................11

MÉTODO...........................................................................................................19

Tipo de estudo..................................................................................................19

Critérios de seleção .........................................................................................19

Critério de Inclusão..........................................................................................19

Critério de exclusão.........................................................................................19

Extração de dados e qualidade do estudo.....................................................19

Seleção de estudos e processos de coleta de dados…...............................20

Análise dos estudos elegíveis........................................................................20

RESULTADOS..................................................................................................21

DISCUSSÃO......................................................................................................26

CONCLUSÃO....................................................................................................31

REFERÊNCIAS.................................................................................................32

Page 7: UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO CURSO DE FISIOTERAPIA

*A monografia foi elaborada de acordo com as normas de submissão da Revista de Fisioterapia da USP que se encontra em anexo (Anexo 1)

Page 8: UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO CURSO DE FISIOTERAPIA

Prevenção de luxação de quadril em crianças com paralisia cerebral espástica – revisão narrativa da literatura

Prevention of hip dislocation in children with spastic cerebral palsy - narrative review of the literature

*Bianca dos Santos Silva¹, *Lívia Reis2, Cristina Hamamura Moriyama3

¹Universidade Cidade de São Paulo (UNICID) - São Paulo (SP),Brasil. E-mail: [email protected]

²Universidade Cidade de São Paulo (UNICID) - São Paulo (SP),Brasil. E-mail: [email protected] 3Universidade Cidade de São Paulo (UNICID) e Faculdade de Saúde Pública da Universidade São Paulo (FSP-USP) - São Paulo (SP), Brasil. E-mail: [email protected]

Estudo conduzido no Curso de Fisioterapia da Universidade Cidade de São Paulo (UNICID) – São Paulo (SP), Brasil.

*Primeiras autoras

Autor correspondente: Bianca dos Santos Silva – Rua: Luiz Augusto Pachoal, 24

CEP: 04328-050 E-mail: [email protected]

Page 9: UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO CURSO DE FISIOTERAPIA

RESUMO

Introdução: A subluxação e luxação de quadril em crianças com paralisia

cerebral são comuns aos tipos espásticos, devido ao aumento do tônus muscular

principalmente em região de adutores e ílio-psoas e uma biomecânica alterada

que favorecem uma maior porcentagem de migração (PM) da cabeça do fêmur

em relação ao acetábulo. Nos casos mais graves são indicadas cirurgias

corretivas, porém alguns recursos terapêuticos, tais como dispositivos auxiliares,

e exercícios específicos têm sido utilizados precocemente a fim de prevenir

essas deformidades. Objetivo: Identificar os recursos terapêuticos utilizados

para prevenir a luxação de quadril em crianças com paralisia cerebral do tipo

espástico. Método: Revisão narrativa da literatura realizada a partir de buscas

nas bases Pubmed, BVS e Web of Science. Os critérios de inclusão foram:

estudos publicados em inglês com foco em intervenção motora e/ou dispositivos

auxiliares em crianças com diagnóstico de paralisia cerebral do tipo espástica,

independentemente da idade. Resultados: Um total de 31 artigos foram

selecionados, contudo somente 9 foram incluídos de acordo com os critérios

estabelecidos. Conclusão: Os estudos utilizando métodos conservadores como

exercícios, ortostatismo e dispositivos auxiliares foram realizados com poucas

crianças, não apresentando fortes evidências de sua eficácia.

Palavras-chave: paralisia cerebral, luxação do quadril, fisioterapia, intervenção,

dispositivos e conservador.

Page 10: UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO CURSO DE FISIOTERAPIA

ABSTRACT

Introduction: Subluxation and hip dislocation in children with cerebral palsy are

common to spastic types due to increased muscle tone, mainly in the adductor

and iliopsoas regions, and altered biomechanics favor a higher percentage of

head migration (PM) of the femur concerning the acetabulum. In the most severe

cases, corrective surgery is indicated, but some therapeutic resources, such as

auxiliary devices and specific exercises, have been used early to prevent these

deformities. Objective: To identify the therapeutic resources used to prevent hip

dislocation in children with spastic cerebral palsy. Method: Narrative review of

the literature based on searches in the Pubmed, VHL, and Web of Science

databases. Inclusion criteria were: studies published in English focusing on motor

intervention and/or auxiliary devices in children diagnosed with spastic cerebral

palsy, regardless of age. Results: A total of 31 articles were selected; however,

only 9 were included according to the established criteria. Conclusion: Studies

using conservative methods such as exercise, orthostasis, and auxiliary devices

were carried out with few children, with no strong evidence of their effectiveness.

Keywords: cerebral palsy, hip dislocation, physical therapy, intervention,

devices, and conservative.

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11

INTRODUÇÃO

A paralisia cerebral (PC) descreve um “grupo de desordens permanentes

do desenvolvimento da postura e movimento, causando limitação em atividades

que são atribuídas a um distúrbio não progressivo que ocorrem no encéfalo fetal

ou infantil em desenvolvimento. As desordens motoras são frequentemente

acompanhadas de distúrbios sensoriais, perceptivos, cognitivos, de

comunicação, epilepsia e musculoesqueléticos secundários”. (Rosenbaum,

2006)

Estudos relatam que a incidência de paralisia cerebral em países

desenvolvidos encontra-se na faixa de 2,7 para cada 1.000 nascidos; isso porque

a melhora na capacidade e recursos médicos vêm aumentando a expectativa de

vida de crianças prematuras que podem manifestar sinais de lesão do

SNC.(CARRER et al.2010).

De acordo com dados fornecidos pela ABPC (Associação Brasileira de

Paralisia Cerebral) há 17 milhões de pessoas em todo o mundo que vivem com

paralisia cerebral (PC). Outras 350 milhões de pessoas estão intimamente

ligadas a uma criança ou adulto com PC.

No Brasil há uma carência de estudos que tenham investigado

especificamente a prevalência e incidência da paralisia cerebral (PC) no cenário

nacional, entretanto, com base em dados de outros países, faz-se projeção do

dimensionamento da PC em países em desenvolvimento (LEITE, 2004).

Nos países desenvolvidos, a prevalência encontrada varia de 1,5 a

5,9/1.000 nascidos vivos e estima-se que a incidência de PC nos países em

desenvolvimento seja de 7 por 1.000 nascidos vivos (ZANINI et al., 2009;

FONSECA, 2011).

A explicação para a diferença na magnitude da prevalência entre estes

dois grupos de países é atribuída às más condições de cuidados pré-natais e ao

atendimento primário às gestantes.

Amaral et al (2003), indicam que a partir do acometimento das áreas do

sistema nervoso central (SNC) podem ser identificados diferentes tipos de

paralisia cerebral a saber:

Espástica: apresenta as características da lesão do motoneurônio

superior, levando a hiperreflexia, hipertonia, clônus e à fraqueza muscular. A

Page 12: UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO CURSO DE FISIOTERAPIA

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espasticidade pode não acometer todos os grupos musculares e às vezes

predomina em alguns desses, por isso é comum o surgimento de deformidades

articulares.

Discinética (distônicos e atetóides): ocorre por lesão nos núcleos da base.

As crianças com esse tipo de PC apresentam desequilíbrio da atividade dos

músculos agonistas e antagonistas, e a contração de um grupo muscular leva a

inibição completa dos antagonistas. Essas crianças podem apresentar

movimentos involuntários e lentos nas extremidades, além de apresentarem

tônus muscular instável e flutuante, podendo essa flutuação ser de menor ou

maior intensidade.

Atáxica: a lesão ocorre no cerebelo e a criança apresenta hipotonia,

perturbação de equilíbrio, disartria, tremor intencional e alterações da fala.

Mista: associação dos tipos citados anteriormente, ocorrendo

envolvimento de diferentes áreas.

Em função da complexidade das manifestações clínicas da PC e das

dificuldades, torna-se fundamental a utilização de instrumentos que permitam

sua classificação.

Neste sentido, pesquisadores vinculados à Canchild Centre for Childhood

Disability Research desenvolveram a Gross Motor Function Measure (GMFM) e

posteriormente a Gross Motor Function Classification System

(GMFCS) buscando uniformizar a avaliação e classificação realizadas acerca do

grau de comprometimento motor do indivíduo com PC, desde bebê até os doze

anos de idade.

A Medida da Função Motora Grossa (Gross Motor Function Measure-

GMFM) é uma ferramenta de avaliação projetada e avaliada para medir

alterações na função motora grossa ao longo do tempo ou com intervenção em

crianças com paralisia cerebral. O instrumento foi desenvolvido no final dos anos

80 para uso em ambientes clínicos e de pesquisa e evoluiu através de técnicas

analíticas avançadas e em resposta a pedidos de testes mais eficientes.

Existem duas versões do GMFM, sendo que o GMFM-88 é a medida

original de 88 itens que abrangem o espectro de atividades motoras brutas em

cinco dimensões.

A: Deitar e rolar,

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B: Sentado,

C: Rastejando e ajoelhando-se,

D: De pé

E: Andar, correr e pular.

O GMFM-66 é um subconjunto de 66 itens dos 88 originais identificados

através da análise Rasch para melhor descrever a função motora grossa de

crianças com paralisia cerebral de habilidades variadas. Possui uma escala

unidimensional que fornece escala de intervalo em vez da escala ordinal do

GMFM-88. Os itens são ordenados em termos de dificuldade e uma unidade de

mudança tem o mesmo significado em toda a escala, variando de 0 a 100.

O GMFM-66 fornece informações sobre o nível de dificuldade de cada

item, fornecendo informações para ajudar no estabelecimento realista de metas.

Já o GMFCS tem sido amplamente aceito e utilizado nas práticas clínicas

e nas pesquisas, pois fornece um simples, válido e confiável meio de se

classificar um fenômeno complexo, além de ser um instrumento validado e

apresentar um excelente índice de confiabilidade.

O GMFCS tem por objetivo classificar a função motora grossa da criança

com ênfase no movimento de sentar e caminhar por meio de cinco níveis

motores presentes em cada uma das quatro faixas etárias (0 a 2 anos, 2 a 4

anos, 4 a 6 anos e 6 a 12 anos), caracterizando o desempenho motor da criança

ao levar em consideração diferentes contextos como casa, escola e espaços

comunitários” (Hiratuka et.al 2010).

Essas crianças ainda podem ser classificadas de acordo com suas

habilidades nos seguintes níveis.

•Nível 1- apresenta deambulação independente em ambiente externo ou

interno

• Nível 2- demonstra dificuldades mínimas ao correr e pular

•Nível 3- necessita de aparelhos auxiliares na marcha

•Nível 4- troca passos com andador

•Nível 5- apresenta mobilidade gravemente limitada, mesmo com uso de

tecnologia assistida.

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As crianças com PC do tipo espásticas podem apresentar diversas

alterações musculares e ortopédicas e consequentemente maior propensão de

decoaptação articular, por exemplo, em virtude das diferenças biomecânicas.

Amaral et al (2003) avaliaram algumas alterações dessas crianças e

chegaram à conclusão que os diferentes tipos têm padrões também diferentes,

porém todos apresentaram uma variante em comum de membros inferiores

como pés equinos, rotação medial de quadril, flexão de quadril e joelhos, valgos

de joelhos e pés.

Stacey D Miller et al. (2017, p. 1135) relataram que: Acredita-se que forças musculares anormais e o desequilíbrio

muscular ao redor do quadril alterem o eixo mecânico do mesmo.

Essas condições levaram a intervenções que diminuem a

espasticidade, incluindo rizotomia dorsal seletiva, aplicação de

toxina botulínica, índice tornozelo-braquial e bloqueio do nervo

obturador para controlar, reduzir ou impedir o deslocamento

progressivo do quadril.

Essa tese reforça ainda mais as questões musculoesqueléticas como

principal causa das luxações e subluxações em crianças com paralisia cerebral

do tipo espásticas.

Há algumas variações na congruência articular quando ocorrem essas

alterações musculoesqueléticas e biomecânicas. Dentre elas temos, a displasia,

a subluxação e a luxação. Que são respectivamente, a diferença de crescimento

dos membros a serem coaptados, a separação parcial e a separação completa

das articulações.

Atualmente, um aplicativo denominado Hip Screen, foi desenvolvido pelos

cirurgiões ortopédicos pediátricos Kulkarni e David (2018) com intuito de

acompanhar possíveis alterações do quadril que possam indicar a luxação.

Esse auxílio aos profissionais da saúde indica que 1/3 das crianças com

paralisia cerebral corre o risco de ter displasia ou deslocamento do quadril e 1/5

chances de ter luxação, sendo que muitos dos casos podem ser silenciosos ,

podendo acarretar disfunções motoras no decorrer do crescimento da criança,

porém em alguns são mais fáceis de detectar.

Esse aplicativo realiza uma avaliação prévia através das fotografias

realizadas com o próprio aparelho celular. Ao capturar uma foto da radiografia

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do quadril, ele faz a mensuração em porcentagem de migração (PM), ou seja,

do quanto está alterado a coaptação daquela articulação.

Dessa maneira é possível ter um parâmetro visível para o prognóstico

desses pacientes e essa porcentagem de migração pode ser utilizada nos

estudos a fim de comparar os resultados decorrentes de pesquisas realizadas,

independentemente do aplicativo ser usado ou não como meio para essa

mensuração.

Os estudos mostram que na maioria dos casos, intervenções cirúrgicas

serão necessárias, porém as crianças com essa predisposição à luxação de

quadril não estariam aptas a um tratamento conservador que visasse a

prevenção na sua primeira infância?

As pesquisas, dentre as quais de Kusumoto et al. (2018) demonstraram

que uma órtese do tipo abdução de quadril convencional (Hip Abduction Orthosis

- HAO) para prevenção de luxação e subluxação de quadril para crianças com

PC não era a mais adequada, pois não conseguia manter a abdução adequada

devido à hipertonia dos adutores.

O HAO convencional limita a adução do quadril através de um

suporte na lateral da coxa. Para crianças com PC que possuem

músculos hipertônicos de adução de quadril, é difícil manter a

abdução do quadril com a HAO convencional porque o suporte da

HAO se dobra durante o movimento.

Por outro lado, a nova órtese HAO foi feita com um design diferenciado

lembrando uma peça de roupa e não uma órtese, melhorando o encaixe no

membro para dar mais suporte, “desenvolvida nos últimos anos, é fácil de usar

e mantém a abdução do quadril em virtude da parte interna para prevenção da

adução” que possibilitaria descartar as manobras dos terapeutas, necessárias

com a HAO convencional, pois proporciona ao paciente a realização de

atividades motoras de forma mais adequada. (Figura 1)

Page 16: UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO CURSO DE FISIOTERAPIA

16

Figura 1 – Órtese HAO

Essa é uma das órteses feitas pensando

em crianças com tais características, e por ser

prática pode ser um meio que leve ao sucesso.

O tratamento conservador ainda tem muito

a ser discutido, pois ainda há controvérsias

quanto à etiologia exata da luxação de quadril de

crianças com PC, havendo apenas hipóteses

sugeridas que possibilitariam sua prevenção.

Na literatura têm sido discutidas, práticas

fisioterapêuticas e os dispositivos auxiliares para

prevenção de luxação de quadril em crianças com a condição de paralisia

cerebral.

Entretanto, ainda necessita-se aprofundar o conhecimento sobre tais

práticas a fim de oferecer o tratamento mais adequado às crianças com PC.

Visto que a vigilância de quadril nas crianças portadoras da PC vem

mostrando cada vez mais resultados, as intervenções não cirúrgicas tem sido

uma estratégia utilizada mediante a oferta de uma melhor qualidade de vida

incluindo a prevenção de problemas associados.

Estudo de Cemil Yildiz et al. (2014), destacam as práticas manuais e uso

de dispositivos preventivos na promoção de benefícios relacionados a marcha

da criança espástica e alto índice de identificação primária da luxação, fator que

minimiza transtornos comumente relacionados ao quadro.

J. Goodwin et al. Estudaram, no Reino Unido, como a posição ortostática

interfere no prognóstico de crianças de 1 a 18 anos, com PC através de uma

armação física que utilizaram para manter a postura desejada no paciente.

Apesar das prescrições de fazer o uso e monitoramento da criança, no

dispositivo durante 30-60 min diariamente, não foi realizado corretamente pela

maioria dos PC, segundo relato dos pais, além de dificuldades apresentadas no

estudo, desde financeiras até restrições ambientais.

Entretanto, segundo J. Goodwin et al.:

Page 17: UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO CURSO DE FISIOTERAPIA

17

A maioria dos participantes descreveu os benefícios

percebidos pelo uso de estruturas eretas em termos de

estrutura e função corporal, como bexiga ou funções

intestinais; bem como habilidades motoras melhoradas; e

participação como interação com pares. Também

relataram outros benefícios, como melhora na densidade

mineral óssea e prevenção da luxação do quadril.

Nota-se que apesar da melhora perceptível, esse recurso assim como os

outros não tem estudos suficientes para apoiá-los.

Apesar dos grandes impactos causados pelas intervenções cirúrgicas é

válido lembrar que algumas técnicas mostram um índice de melhora que não

podem ser desconsiderados, entre os quais a melhora do conforto da criança e

manutenção da função.

Entretanto, a recidiva é bastante comum em pacientes que se submetem

a reconstrução da articulação envolvida e retornam ao padrão anterior com o

passar do tempo, fator que reforça a teoria de que programas de vigilância

seriam eficientes e capazes de evitar procedimentos invasivos precoces,

promovendo benefícios iguais senão melhores. As crianças com paralisia cerebral, particularmente aquelas classificadas

como tetraplégicas espásticas, GMFCS IV e V mais comumente, podem evoluir

com luxação do quadril uni ou bilateral em virtude das alterações de tônus,

trofismo, padrões atípicos de movimentos que causar dor à manipulação e/ou

quando levadas à descarga de peso sobre membros inferiores, além de desvios

posturais.

Estudos apontam, segundo Flynn et al. (2002) que quando a

porcentagem de migração é maior que 50% a intervenção cirúrgica é necessária,

pois não reduzirá espontaneamente. Assim sendo, quando há o diagnóstico de

luxação, a possibilidade de a criança crescer e sentir muita dor no quadril é

grande.

As cirurgias são indicadas quando há dano considerável, quando não

houve um tratamento prévio ou até mesmo para prevenir maiores deformidades.

Contudo, essa condição ortopédica pode ser prevenida ou minimizada

com a compreensão por parte dos fisioterapeutas sobre sua prevalência,

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18

mecanismos causais, exames que possam detectá-la e as intervenções

terapêuticas a serem aplicadas a essa população.

A identificação de práticas fisioterapêuticas como por exemplo para

promoção do melhor alinhamento biomecânico, bem como a utilização de

órteses para prevenção de luxação de quadril em crianças do tipo espástica,

pode auxiliar o fisioterapeuta sobre a escolha das estratégias terapêuticas mais

adequadas.

Essa revisão narrativa buscou identificar os recursos terapêuticos

utilizados para prevenir a luxação de quadril em crianças com paralisia cerebral

do tipo espástico no âmbito da fisioterapia neurofuncional pediátrica, a fim de

como prevenir danos maiores antes da indicação de uma intervenção invasiva

como a cirurgia.

Page 19: UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO CURSO DE FISIOTERAPIA

19

MÉTODO Tipo de estudo

Este estudo baseou-se numa revisão narrativa da literatura de artigos

publicados até 2020, sendo utilizadas como bases de dados PubMed, Web of

Science e BVS.

Os artigos foram selecionados de acordo com as palavras-chave “cerebral

palsy”, “hip dislocation”, “physical therapy” e “intervention” e seguiram três etapas

a saber: 1) procurar artigos em bancos de dados e ler seus títulos e resumos; 2)

exclusão dos trabalhos por título, resumo ou pelos critérios de inclusão; 3)

analisar todos os textos completos dos trabalhos elegíveis (Massetti et al., 2014).

Após a remoção das duplicatas, dois autores avaliaram os títulos,

resumos e critérios de inclusão de forma independente.

Critério de Inclusão Estudos publicados em inglês foram escolhidos se apresentassem os

seguintes critérios: (1) aplicação de intervenção motora conservadora, (2) em

crianças em qualquer idade com paralisia cerebral do tipo espástica.

Não houve restrições quanto ao tamanho de amostra e para determinar a

faixa etária, utilizamos os limites cronológicos estabelecidos pelo Estatuto da

Criança e do Adolescente (ECA) que considera como criança, aquela com

menos de 12 anos de idade que também abrange o limite de variação proposta

pela Organização Mundial de Saúde (OMS) de 0 a 9 anos, 11 meses, e 29 dias

de idade.

Critério de exclusão

Artigos que não indicassem protocolos de intervenção motora, realização

de intervenção cirúrgica, associação de outras patologias, PC adulto, PC de

outro tipo a não ser espástico e artigos em outro idioma que não for inglês.

Extração de dados e qualidade do estudo Os dados dos estudos obtidos foram organizados, utilizando o programa

Microsoft Excel 2010, e os campos preenchidos na seguinte ordem : (1)

Referências- títulos e palavras-chave dos artigos, (2) Amostra - número de

Page 20: UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO CURSO DE FISIOTERAPIA

20

participantes ,(3) Frequência e Duração- tempo e uso da terapia, (4) Limitações-

referentes ao estudo, (5) Perdas amostrais – quantidade de participantes que

foram retirados dos estudos e (6) Pedro – qual o escore de relevância no banco

de dados. Palavras-chave e combinação de palavras-chave foram utilizadas

para pesquisar as bases de dados eletrônicas conforme realizado por Massetti

et al., 2014.

Por fim, listas de referência de estudos recuperados foram pesquisadas

manualmente, a fim de identificar estudos adicionais relevantes.

Seleção de estudos elegíveis e processos de coleta de dados

Posteriormente a realização das pesquisas iniciais na literatura, cada

título e resumo do estudo foi selecionado quanto à sua elegibilidade pelo primeiro

autor.

O texto completo de todos os estudos potencialmente relevantes foi

recuperado e examinado em mais detalhes para elegibilidade. O diagrama de

fluxo fornecerá informações mais detalhadas sobre o processo de seleção de

estudos. (Figura 2)

Após a leitura de todos os estudos em potencial, os pesquisadores

entraram em consenso para estabelecer quais artigos preenchiam os critérios de

inclusão (Massetti, 2014).

Análise dos estudos elegíveis

A avaliação dos estudos buscou identificar a quantidade de crianças

submetidas à intervenção, sendo observados três critérios: conduta adotada em

terapia, duração e dispositivos auxiliares.

A aplicação da terapia foi subdividida em tempo de tratamento,

durabilidade da resposta pós terapia e desfecho clínico.

Page 21: UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO CURSO DE FISIOTERAPIA

21

RESULTADOS

Nesta revisão narrativa da literatura obtivemos 31 artigos numa busca

inicial nas bases de dados (PubMed n=15; Web of Science n= 8 e BVS n=8) que

foram avaliados pelos pesquisadores quanto aos critérios de elegibilidade, sendo

excluídos 22 e restando 9 para análise na íntegra.

O fluxograma (Figura 2) ilustra as etapas percorridas até a seleção final

dos artigos, havendo um aproveitamento de 29,03% destes.

Os estudos em sua maioria foram revisões (5), seguidos de estudos de

casos (2) e comparativos não randomizados (2) que objetivaram avaliar os

efeitos da descarga de peso, uso de órteses e diferentes dispositivos sobre a

migração da cabeça do fêmur em relação ao acetábulo a fim de prevenir e/ou

minimizar a subluxação/luxação de quadril.

Com relação à frequência e duração dos estudos, alguns autores relatam

que por se tratar de crianças, optaram por fazer as intervenções durante algumas

horas do dia, todos os dias, e não de um modo contínuo sem intervalo durante o

tratamento.

Na tabela 1 mostramos que dentre as pesquisas realizadas com crianças

com paralisia cerebral do tipo espástica, o uso de algum dispositivo para evitar

essa porcentagem de migração vem sendo explorado como opção a um

tratamento invasivo, por exemplo cirurgia, que exponha a criança e família.

O tratamento interdisciplinar em conjunto com os dispositivos estudados

é indispensável, sendo a fisioterapia essencial para acompanhamento do grau

da subluxação ou luxação e auxiliar na evolução do paciente.

Page 22: UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO CURSO DE FISIOTERAPIA

22

Figura 2. Fluxograma

Triagem

Inclu são

Eligibi lidade

Identifica ção

Artigos relevantes (n = 31 )

Artigos selecionados (n = 9 )

PubMed (n =15)

Leitura integral (n = 9 )

WOS (n = 08)

BVS/Lilacs (n = 08)

Revisão da literatura (n = 31 )

Exclusão baseada em título e resumo (n =9)

Motivos para exclusão: Eligibilidade (n=22 )

Page 23: UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO CURSO DE FISIOTERAPIA

23

Tabela 1 – seleção de artigos baseados nos critérios de inclusão

Referência Tipo de estudo Objetivo Amostra Frequência e

duração Método Desfecho Limitações Perdas

amostrais

Flynn, J et al (2002)

Revisão narrativa

Avaliar as causas para a porcentagem de migração em crianças com paralisia

cerebral

Não foi relatado

Não foi relatado

Não foi relatado

A revisão analisa os meios para intervir nas

alterações do quadril, sendo ela cirúrgica ou

não. Porém notou-se que as medidas

preventivas não tiveram

resultados significativas na progressão do

quadro.

Não foi relatado

N.A

Tamis Wai-mun Pin (2007)

Revisão sistemática

-Avaliar a eficácia da

descarga de peso

-Analisar a efetividade dos exercícios de

sustentação de peso estático em relação a

redução e prevenção de displasia de

quadril, reduzir espasticidade,

aumentar a densidade

óssea, entre outros

aspectos.

17 artigos Não foi relatado

selecionar os artigos de

acordo com os critérios de

inclusão

Em uma visão geral, os

exercícios são eficazes para

diminuir a espasticidade, por exemplo, mas não para prevenir de displasia ou

luxação.

-Pequeno número de sujeitos em cada estudo

-A avaliação foi realizada por uma

pessoa -Os achados desta revisão levam os

médicos a repensar sua justificativa

N.A

Martinsson,C; Himmelmann,

K (2011)

Estudo de casos

Estudar o efeito da descarga de peso e verificar a eficácia desta

intervenção.

83 crianças

A intervenção foi feita

durante 1 ano, 1h à

1h30 por dia.

Foram inclusos no estudo, somente

crianças sem deambulação independente. Para avaliar

foram divididos em dois

grupos, um submetido a

cirurgia e outro não.

A porcentagem de migração do

quadril diminuiu, para

as crianças que realizaram o

método e para as que

realizaram antes a cirurgia.

Precisa-se avaliar melhor o estudo pois foi realizado

com poucas crianças.

N.A

Paleg, G et al (2013)

Revisão sistemática

Investigar as dosagens

eficazes de programas

pediátricos com suporte em pé

7 bancos de dados sendo utilizados 30 estudos de

687 localizados.

Não foi relatado

Foram revisados 30

estudos

Programas em pé 5 dias por

semana afetam positivamente

densidade óssea (60-90

min), estabilidade do quadril (60 min)

Falta de recomendações baseadas em evidência para dosagem eficaz

N.A

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24

e espasticidade (30-45min)

Macias-Merlo, L et al

(2015)

Estudos de casos

Investigar se o uso do stand, fabricado sob

medida, mantendo a

criança em pé em adm de

quadril específica

13 crianças, nível III na

escala GMFCS

5 anos de pesquisa, com as crianças

fazendo o uso de 70 a 90 minutos por

dia, começando no mínimo com 70 min

O grupo de crianças foram

escolhidas, dentro dos

critérios, para o uso do stand

por 5 anos em abdução de

quadril

Apesar de ter mostrado um

pequeno resultado em relação aos músculos

espásticos o estudo não é significativo,

devido à pouca quantidade de

crianças.

Poucas crianças inclusas no estudo.

N.A

Picciolini, M et al (2016)

Estudo comparativo prospectivo

não randomizado

Analisar o tratamento

postural proposto,

utilizando um assento sob

medida (siège moulé) para

criança utilizar durante cinco horas diárias e

descrever a eficácia do

mesmo.

51 crianças com PC

Foram instruídos, familiares e

cuidadores a colocar o

siège moulé durante 5

horas por dia, durante dois

anos.

2 grupos: grupo

intervenção (N. = 30) e grupo

de controle (N. = 21).

O estudo apoia a evidência de que o manejo

postural conservador da deformidade do

quadril é útil para prevenir a progressão da

luxação do quadril.

-Amostra pequena e com uma duração

curta -Avaliação dos pais

que não foi conferida em

relação ao estudo.

N.A

Dohin, B (2018)

Revisão narrativa

Investigar os meios não

invasivos que previnem ou melhoram a luxação ou displasia e analisar a

necessidade e eficácia da

cirurgia

não especifica

Não foi relatado

Não foi relatado

Os efeitos benéficos para espasticidade

de modo preventivo nem

sempre funcionam e por algumas

vezes é necessário encaminhar para cirurgia

não relatado

N.A

Kusumoto Y et al (2018)

Estudo comparativo

cruzado

Investigar os efeitos de uma

órtese de abdução do

quadril do tipo roupa íntima no

equilíbrio sentado e na

atividade sentar-se de pé

(STS) em crianças com PC espástica.

Oito crianças de 6 a 18 anos com

PC espástica e nível III e IV

Medições foram

realizadas em dias

diferentes dentro de 1

mês, após um aquecimento

de 10 minutos.

08 crianças com PC

espástica

o estudo relata efetividade do uso da órtese em equilíbrio

dinâmico sentado,

considerando uma melhora

da movimentação ativa reduzindo a necessidade de assistência terapêutica.

-O número de pacientes incluídos

foi pequeno -A relação

longitudinal entre a incidência de

luxação de quadril e contraturas

articulares não estava clara.

N.A

Schmidt-Lucke, C et al

(2019)

Revisão sistemática

Avaliar a eficácia do

dispositivo para manter a

criança em ortostatismo

com sustentação de

9 estudos foram

agrupados Não relatado

Foram realizadas buscas em bases de dados e

bibliográficas

Através desses dados

coletados acredita-se que já está na hora

de fazer um estudo

randomizado

Por ter sido analisado de bases

diferentes, tem algumas

incompatibilidades entre os diversos

estudos.

N.A

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25

peso em conjunto a uma terapia para um

melhor resultado

para comprovar a eficácia do dispositivo

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26

DISCUSSÃO

As crianças com paralisia cerebral do tipo espástica podem manifestar

algumas alterações musculoesqueléticas e isso leva a complicações, como por

exemplo a luxação ou subluxação de quadril.

O diagnóstico pode ser definido a partir de exames físicos como teste de

Galeazzi e avaliação da amplitude de movimento, não somente de quadril, mas

de joelho também.

Entretanto, os exames físicos não são confiáveis o suficiente para

estabelecer o diagnóstico, sendo também necessárias as radiografias ântero-

posterior e látero-lateral para uma análise adequada da condição do paciente.

Segundo Flynn et al. (2002) as crianças com PC nascem com a

articulação normal do quadril, porém as disfunções aparecem no decorrer do

crescimento, em virtude da hipertonia que exerce forças mecânicas no quadril

e consequentemente deformação tanto do fêmur proximal quanto do acetábulo,

sendo que a espasticidade dos músculos adutores e iliopsoas tende na maioria

das vezes a ocasionar deslocamento póstero-superior.

Os autores também afirmam que para a criança com PC ter um melhor

prognóstico, é preciso ficar de pé até os três anos e apontam que o principal

tratamento indicado nesses casos é a fisioterapia.

Também alertam que o tratamento deve incorporar atividades destinadas

a preservar a mobilidade do quadril, associando-a com a descarga de peso sobre

os membros inferiores, todavia, não há fortes evidências de que a terapia por si

só previna a subluxação do quadril.

Outra questão a considerar é o uso de dispositivos auxiliares que se não

utilizadas corretamente podem agravar ainda mais o quadro do paciente.

Por esta razão, nesta revisão foi realizada a busca de estudos que

optaram por outros métodos anteriormente à cirurgia, tais como dispositivos

específicos para obter a coaptação adequada da articulação femuro acetabular.

Com relação aos dispositivos, o estudo de Kusumoto et al (2018)

evidenciaram a hip abduction orthosis convencional (órteses de abdução de

quadril - HAO) que mostrou relevância na efetividade para minimização da

luxação de quadril, reforçando a defesa dos métodos preventivos para tal.

Outra estratégia que indicou efeitos positivos foi a descarga de peso em

MMII que influencia a minimização da espasticidade e sugere que constância

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27

dos exercícios, também pode prevenir a luxação, apesar das recomendações

quanto a carga ideal imposta sobre cada criança ainda não estarem

estabelecidas.

Segundo Kusumoto et al (2018), “os profissionais devem considerar

cuidadosamente todas as evidências disponíveis antes de tomar uma decisão a

respeito da eficácia potencial do suporte de peso estático para os resultados

desejados.”

Alguns estudos utilizaram dispositivos para prevenir ou reduzir a

porcentagem de migração (PM) e na metodologia utilizada as crianças deveriam

fazer uso das órteses algumas horas por dia durante um período de tempo.

Picciolini et al (2016), por exemplo, analisaram o tratamento postural,

utilizando um assento sob medida (siège moulé), a ser utilizado pelas crianças

durante cinco horas diárias por dois anos, além de sessões de fisioterapia

paralelamente ao dispositivo. E neste estudo, no grupo controle houve uma piora

da porcentagem de migração, em comparação com o grupo tratamento que

obteve uma pequena melhora na articulação.

Já Martinsson et al (2011), realizaram um estudo de caso que levou a um

questionamento dos autores quanto ao resultado:

Um menino de 3 anos de idade com diagnóstico de PC

espástica, GMFCS nível V, ficou em 30 ° de abdução do

quadril, 2 horas por dia durante 3 anos após a cirurgia

tenotomia de adutor-iliopsoas (AIT) e ao final de 1 ano, a

PM diminuiu de 50% para 16%.

Por esta razão, Martinsson et al (2011), deram continuidade a pesquisa

para validar o tratamento, escolhendo dois grupos que iriam desfrutar da

intervenção de abdução máxima, com extensão de quadril e joelho em

ortostatismo.

Os grupos obtiveram resultados não tão significativos, porém foi

constatada melhora nas crianças após tenotomia de adutor-iliopsoas (maior

porcentagem de redução), e piora do quadril no grupo de prevenção.

Dohin (2018) fez uma revisão relatando as etiologias e situações que

contribuem para subluxação ou luxação de quadril nas crianças com PC: “Forças

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mecânicas, aplicadas continuamente e aumentadas com a idade, também

prejudicam o crescimento da articulação, causando alterações anatômicas.”

O autor alega que devido as contraturas, os músculos não se adaptam ao

crescimento, o que pode favorecer o deslocamento da articulação. Uma das

alterações anatômicas pode afetar a cabeça do fêmur que sofreria deteriorações

e/ou mau desenvolvimento, alterando a biomecânica do corpo.

A cabeça do fêmur por não se desenvolver adequadamente, favorece o

aumento da porcentagem de migração do quadril, sendo assim a triagem física

e radiológica são necessárias para conclusão do diagnóstico e saber qual o

prognóstico da criança.

Assim sendo, em alguns casos a cirurgia não será a primeira alternativa,

a não ser que haja um objetivo bem definido para o paciente e família (DOHIN,

2018): O tratamento preventivo não operatório

direcionado à dor e mobilidade é suficiente em pacientes

com luxação bilateral do quadril, mas sem dor, assimetria

muscular, desconforto ou dificuldades de cuidado de

enfermagem. A cirurgia é indicada nessa situação apenas

para atingir um objetivo bem definido, como garantir o

conforto do paciente ou facilitar os cuidados de

enfermagem. Além disso, a adequação da realização da

cirurgia deve ser discutida de acordo com o estado geral

de saúde do paciente.

Nesse sentido, duas estratégias são importantes: a primeira, que foi

criado na Suécia e na Noruega é o acompanhamento físico e radiológico a partir

dos dois anos de idade, e quando atinge 10% de PM, e, relatado por Hagglund

et al.(2005); a segunda foi citada pela Academia Australiana de Paralisia

Cerebral e Medicina do Desenvolvimento que afirma que durante os cinco

primeiros anos de vida da criança, são acumulados os fatores de risco e sugere

um tempo certo para fazer triagens, variando de acordo com a gravidade do PC

e o nível de risco de acordo com a escala GMFCS, dentro de um intervalo

específico para cada indivíduo.

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29

A revisão de Pin (2007) buscou evidências dos exercícios estáticos de

sustentação de peso (EESP). Supõe-se que os exercícios EESP “evitam a

rigidez ou contratura dos tecidos moles e restaurem o comprimento dos

músculos por meio de alongamento prolongado.”

A partir da análise dos 10 artigos selecionados na referida revisão,

concluiu que apesar das limitações dos estudos, há eficácia dessa estratégia.

Schmidt-Lucke et al (2019), por sua vez, fez uma revisão sistemática a

fim de “avaliar a capacidade de um dispositivo dinâmico de assistência

motorizado para ficar em pé com sustentação de peso”.

De acordo com o estudo, 79% das crianças não deambuladoras têm uma

descentralização da articulação do quadril, levando a casos de subluxação ou

luxação e como consequências futuras, o indivíduo adquire dor, problemas de

sustentação de peso e uma redução na qualidade de vida.

O Innowalk seria um dos meios para ajudar na descarga de peso e

prevenir futuras e foi criado para que pacientes com deficiências

neuromusculares possam realizar os exercícios em ortostatismo em casa,

hospitais e academias.

Esse dispositivo promove uma posição vertical, induzindo a movimentos

naturais para caminhada e movimentos passivos. Assim o dispositivo auxilia a

uma qualidade de vida um pouco melhor mantendo o mais próximo de um

desenvolvimento adequado.

Para crianças sem patologias associadas, é necessário em torno de 60

min de atividades físicas moderada cinco dias na semana, porém as não

deambuladoras e/ou com problemas neuromusculares nem sempre conseguem

manter a rotina de atividade físicas necessárias para a faixa etária. O que acaba

prejudicando cada vez mais as deformidades articulares e musculares.

Os usuários do Innowalk juntamente com fisioterapia de ponta foram

reunidos em três países diferentes: Áustria, Noruega e Suécia. E através de

questionários realizados antes, durante e depois do uso do dispositivo, Schmidt-

Lucke et al (2019) afirmam que: ...o uso regular do dispositivo de assistência

Innowalk, além da terapia de última geração nesta

população com uma população predominantemente

pediátrica (90%), melhorou significativamente (...) Além

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30

disso, para objetivos predefinidos na vida diária, houve

melhor transferência de suporte de peso ou caminhada,

força muscular geral, redução da necessidade de

medicação ou mesmo prevenção de cirurgia planejada

além do efeito da terapia padrão. Isso mostra a

complexidade dos benefícios obtidos com este dispositivo.

Apesar das limitações no estudo, nota-se que esse meio de alta

tecnologia, impactou de forma positiva os pacientes que fizeram uso do mesmo.

Já os autores J. Goodwin et al. (2017) estudaram como a posição

ortostática interfere no prognóstico das crianças de 1 a 18 anos, com PC. Através

de uma armação física, utilizaram para manter a postura desejada no paciente.

Assim como os autores Schmidt-Lucke et al (2019) que estudaram o

Innowalk os J. Goodwin et al. (2017) fizeram as prescrições de fazer o uso e

monitoramento da criança, no dispositivo durante 30-60 min diariamente, porém

não foram efetuados corretamente.

Entretanto, notamos semelhança com a conclusão dos artigos pois J.

Goodwin et al. (2017) e Schmidt-Lucke et al (2019) relatam melhoras, benefícios

não tão significativos, porém visíveis com esse tipo de tratamento.

Entretanto, foram poucos os recursos que podem ser usados com todas

as populações e exercícios e outros recursos fisioterapêuticos, juntamente com

uma equipe multidisciplinar podem não ser suficientes.

Os estudos que mais mostraram resultados foram com dispositivos

auxiliares, porém não são acessíveis a todos.

Conclui-se que crianças com espasticidade tendem a ter uma

probabilidade maior de apresentar complicações em algumas articulações, pois

ocorre um desgaste nas articulações devido à má formação durante o

crescimento, afetando a biomecânica das mesmas. Apesar de estudos sobre

intervenções conservadoras para prevenir o aumento da porcentagem de

migração da cabeça do fêmur terem apontado benefícios, são baixas as

evidências.

Os estudos analisados foram realizados com amostras pequenas e as

revisões também não apontaram a eficácia das intervenções.

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CONCLUSÃO

Conclui-se que crianças com paralisia cerebral do tipo espástica podem

obter um resultado positivo, mas nem sempre significativo, a partir do tratamento

conservador através de exercícios com descarga de peso, ganho de força

muscular e o uso de dispositivos auxiliares.

Levando em consideração o controle da porcentagem de migração da

cabeça do fêmur em relação ao acetábulo é indispensável compreender quais

meios podem intervir em um melhor resultado, mas ainda não há evidências que

seriam o bastante para controlar a PM e prevenir as subluxações e/ou luxações

do quadril.

Por esta razão, seria recomendável a realização de outras pesquisas com

métodos conservadores e preventivos para apenas submeter as crianças,

quando necessário, a uma cirurgia.

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Anexo 1. Normas da Revista de Fisioterapia da Universidade de São Paulo

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