museu da cidade de são paulo

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MARIA IGNEZ MANTOVANI FRANCO MUSEU DA CIDADE DE SÃO PAULO: UM NOVO OLHAR DA SOCIOMUSEOLOGIA PARA UMA MEGACIDADE Volume I Orientadora: Prof.ª Doutora Maria Cristina Oliveira Bruno Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias Departamento de Arquitetura, Urbanismo, Geografia e Artes Plásticas Lisboa 2009

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  • MARIA IGNEZ MANTOVANI FRANCO

    MUSEU DA CIDADE DE SO PAULO: UM NOVO OLHAR DA SOCIOMUSEOLOGIA

    PARA UMA MEGACIDADE

    Volume I

    Orientadora: Prof. Doutora Maria Cristina Oliveira Bruno

    Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias Departamento de Arquitetura, Urbanismo, Geografia e Artes Plsticas

    Lisboa 2009

    MARIA IGNEZ MANTOVANI FRANCO

    MUSEU DA CIDADE DE SO PAULO: UM NOVO OLHAR DA SOCIOMUSEOLOGIA

    PARA UMA MEGACIDADE

    Volume I

    Orientadora: Prof. Doutora Maria Cristina Oliveira Bruno

    Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias Departamento de Arquitetura, Urbanismo, Geografia e Artes Plsticas

    Lisboa 2009

  • 1

    MARIA IGNEZ MANTOVANI FRANCO

    MUSEU DA CIDADE DE SO PAULO: UM NOVO OLHAR DA SOCIOMUSEOLOGIA

    PARA UMA MEGACIDADE

    Tese apresentada para a obteno do Grau de Doutor em Museologia no Curso de Doutoramento em Museologia 3 Ciclo, conferido pela Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias. Orientadora: Prof. Doutora Maria Cristina Oliveira Bruno

    Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias Departamento de Arquitetura, Urbanismo, Geografia e Artes Plsticas

    Lisboa 2009

    1

    MARIA IGNEZ MANTOVANI FRANCO

    MUSEU DA CIDADE DE SO PAULO: UM NOVO OLHAR DA SOCIOMUSEOLOGIA

    PARA UMA MEGACIDADE

    Tese apresentada para a obteno do Grau de Doutor em Museologia no Curso de Doutoramento em Museologia 3 Ciclo, conferido pela Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias. Orientadora: Prof. Doutora Maria Cristina Oliveira Bruno

    Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias Departamento de Arquitetura, Urbanismo, Geografia e Artes Plsticas

    Lisboa 2009

  • 2

    In memoriam de Waldisa Russio Camargo Guarnieri,

    que nos legou a arte de pensar museus.

    2

    In memoriam de Waldisa Russio Camargo Guarnieri,

    que nos legou a arte de pensar museus.

  • 3

    Agradecimentos

    Esta tese apaixonadamente dedicada cidade de So Paulo. Cidade que me

    acolheu aos onze anos, como a muitos milhares que migraram, decididos a aqui realizar os

    seus sonhos. A ela devoto minhas anlises, estudos, inquietaes e a arquitetura de um

    museu que possa colaborar para o desenvolvimento de um novo modelo de sua

    transposio para o futuro.

    Em primeiro lugar, reconheo o papel fundador da Universidade de So Paulo,

    enquanto campo frtil para o entrecruzamento de olhares, onde trilhei longo caminho de

    dvidas e incertezas at a definio desta megacidade como objeto de estudo. Neste

    cenrio, brilha o orientador primeiro, Nicolau Sevcenko que, enquanto historiador que

    desacredita as fronteiras do conhecimento, soube, como ningum, respeitar o meu sempre

    assolado e descontnuo processo de trabalho e at mesmo a interrupo do doutorado que

    se apresentou, ento, como definitiva, sem efetivamente s-lo. S uma mente lcida e

    brilhante como a dele poderia acolher to generosamente os meus dilemas quanto ao

    coletar e musealizar o nosso tempo. S algum que legitima diferentes formas de saber

    pode compreender que os estudos acadmicos em minha vida eram exerccios de novos

    entendimentos sobre um processo contnuo de experimentao que, desde muito cedo,

    decidi imprimir minha vida profissional. Assim, a tese se configurou, ao seu final, como um

    processo de reinterpretao e reflexo sobre o projeto do Museu da Cidade de So Paulo,

    que eu desenhara, em primeiro trao, profissionalmente.

    A Universidade de So Paulo ofereceu-me ainda uma segunda hiptese, no a

    mera retomada do doutoramento interrompido, mas uma segunda orientao, to densa e

    vigorosa quanto a primeira, capaz de viabilizar o prosseguimento do mesmo sonho. Maria

    Cristina Oliveira Bruno, herdeira das mais profundas relaes e reflexes que estruturam o

    pensamento museolgico contemporneo em nosso pas e em permanente dilogo com as

    inovaes internacionais soube, como ningum, presidir o processo de continuidade do meu

    doutorado junto Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias, em Lisboa. A ela

    agradeo a generosidade em acolher minhas incertezas, o estmulo permanente, as

    orientaes seguras, bem como a cumplicidade que permeou todo o processo palmilhado e

    compartilhado conjuntamente.

    3

    Agradecimentos

    Esta tese apaixonadamente dedicada cidade de So Paulo. Cidade que me

    acolheu aos onze anos, como a muitos milhares que migraram, decididos a aqui realizar os

    seus sonhos. A ela devoto minhas anlises, estudos, inquietaes e a arquitetura de um

    museu que possa colaborar para o desenvolvimento de um novo modelo de sua

    transposio para o futuro.

    Em primeiro lugar, reconheo o papel fundador da Universidade de So Paulo,

    enquanto campo frtil para o entrecruzamento de olhares, onde trilhei longo caminho de

    dvidas e incertezas at a definio desta megacidade como objeto de estudo. Neste

    cenrio, brilha o orientador primeiro, Nicolau Sevcenko que, enquanto historiador que

    desacredita as fronteiras do conhecimento, soube, como ningum, respeitar o meu sempre

    assolado e descontnuo processo de trabalho e at mesmo a interrupo do doutorado que

    se apresentou, ento, como definitiva, sem efetivamente s-lo. S uma mente lcida e

    brilhante como a dele poderia acolher to generosamente os meus dilemas quanto ao

    coletar e musealizar o nosso tempo. S algum que legitima diferentes formas de saber

    pode compreender que os estudos acadmicos em minha vida eram exerccios de novos

    entendimentos sobre um processo contnuo de experimentao que, desde muito cedo,

    decidi imprimir minha vida profissional. Assim, a tese se configurou, ao seu final, como um

    processo de reinterpretao e reflexo sobre o projeto do Museu da Cidade de So Paulo,

    que eu desenhara, em primeiro trao, profissionalmente.

    A Universidade de So Paulo ofereceu-me ainda uma segunda hiptese, no a

    mera retomada do doutoramento interrompido, mas uma segunda orientao, to densa e

    vigorosa quanto a primeira, capaz de viabilizar o prosseguimento do mesmo sonho. Maria

    Cristina Oliveira Bruno, herdeira das mais profundas relaes e reflexes que estruturam o

    pensamento museolgico contemporneo em nosso pas e em permanente dilogo com as

    inovaes internacionais soube, como ningum, presidir o processo de continuidade do meu

    doutorado junto Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias, em Lisboa. A ela

    agradeo a generosidade em acolher minhas incertezas, o estmulo permanente, as

    orientaes seguras, bem como a cumplicidade que permeou todo o processo palmilhado e

    compartilhado conjuntamente.

  • 4

    Ao Reitor da Universidade Lusfona, Mrio C. Moutinho, agradeo o pensamento

    inovador que orientou o interesse em acolher este tema: o olhar da Sociomuseologia para

    uma megacidade. No mesmo sentido, agradeo a Judite Primo, Sub-Diretora de Museologia

    da Universidade Lusfona, que arquitetou um novo caminho para me reconduzir a terras

    lusitanas: o doutorado. Sem os seus traos comprometidos com a hibridao do

    conhecimento, talvez no tivesse eu chegado sequer a me inscrever na Universidade

    Lusfona. A ambos agradeo a generosa acolhida e as inquietantes contribuies

    intelectuais, e personalizo tambm o meu reconhecimento e agradecimento aos integrantes

    da banca de qualificao e tambm aos que comporo a de doutoramento, pela anlise

    atenta dessa tese e por suas contribuies.

    Para alm da esfera acadmica, no poderia deixar de reconhecer a ousadia de

    Celso Frateschi, ex-Secretrio de Cultura do Municpio de So Paulo, que no s me

    instigou a criar um novo modelo de Museu de Cidade para So Paulo, quanto nos deu todo

    o apoio para a realizao tanto da Expedio So Paulo 450 anos, como compartilhou com

    Maria Aparecida Perez, ento Secretria de Educao do Municpio de So Paulo, o desafio

    de empreender o projeto Meu Bairro, Minha Cidade, pela periferia de So Paulo, nos idos de

    2003 e 2004. Reconheo ainda o olhar viabilizador de Pedro Braz, que imprimiu concretude

    aos nossos sonhos. Ainda uma vez agradeo a Maria Cristina Bruno, primeira leitora do

    incipiente projeto do Museu da Cidade de So Paulo que, quando frente da Diviso de

    Iconografia e Museus da Secretaria de Cultura do Municpio de So Paulo, soube inscrever

    este projeto num plano sistmico mais amplo, que ressignificou o programa museolgico da

    cidade de So Paulo como um todo.

    Agradeo a Jos Guilherme Cantor Magnani e a Maria Lucia Montes, antroplogos

    de larga experincia e sensibilidade, que me possibilitaram emprestar da Antropologia novos

    conceitos e metodologias que iluminaram ambos os projetos experimentais acima

    apontados e que muito nortearam o desenvolvimento desta tese. Da mesma forma,

    reconheo o papel significativo de Ana Lucia Lopes nas interlocues que clarearam as

    dimenses propostas cidade educadora. Neste territrio das contribuies

    interdisciplinares, agradeo a todos os viajantes da Expedio So Paulo 450 anos, que

    evidenciaram ser o museu um territrio das transposies e das contaminaes positivas

    entre diferentes reas do conhecimento.

    Dedico uma especial reverncia a Ulpiano Bezerra de Meneses, fonte constante de

    inspirao, para todas as reflexes que a contemporaneidade nos impe. Foram as suas

    4

    Ao Reitor da Universidade Lusfona, Mrio C. Moutinho, agradeo o pensamento

    inovador que orientou o interesse em acolher este tema: o olhar da Sociomuseologia para

    uma megacidade. No mesmo sentido, agradeo a Judite Primo, Sub-Diretora de Museologia

    da Universidade Lusfona, que arquitetou um novo caminho para me reconduzir a terras

    lusitanas: o doutorado. Sem os seus traos comprometidos com a hibridao do

    conhecimento, talvez no tivesse eu chegado sequer a me inscrever na Universidade

    Lusfona. A ambos agradeo a generosa acolhida e as inquietantes contribuies

    intelectuais, e personalizo tambm o meu reconhecimento e agradecimento aos integrantes

    da banca de qualificao e tambm aos que comporo a de doutoramento, pela anlise

    atenta dessa tese e por suas contribuies.

    Para alm da esfera acadmica, no poderia deixar de reconhecer a ousadia de

    Celso Frateschi, ex-Secretrio de Cultura do Municpio de So Paulo, que no s me

    instigou a criar um novo modelo de Museu de Cidade para So Paulo, quanto nos deu todo

    o apoio para a realizao tanto da Expedio So Paulo 450 anos, como compartilhou com

    Maria Aparecida Perez, ento Secretria de Educao do Municpio de So Paulo, o desafio

    de empreender o projeto Meu Bairro, Minha Cidade, pela periferia de So Paulo, nos idos de

    2003 e 2004. Reconheo ainda o olhar viabilizador de Pedro Braz, que imprimiu concretude

    aos nossos sonhos. Ainda uma vez agradeo a Maria Cristina Bruno, primeira leitora do

    incipiente projeto do Museu da Cidade de So Paulo que, quando frente da Diviso de

    Iconografia e Museus da Secretaria de Cultura do Municpio de So Paulo, soube inscrever

    este projeto num plano sistmico mais amplo, que ressignificou o programa museolgico da

    cidade de So Paulo como um todo.

    Agradeo a Jos Guilherme Cantor Magnani e a Maria Lucia Montes, antroplogos

    de larga experincia e sensibilidade, que me possibilitaram emprestar da Antropologia novos

    conceitos e metodologias que iluminaram ambos os projetos experimentais acima

    apontados e que muito nortearam o desenvolvimento desta tese. Da mesma forma,

    reconheo o papel significativo de Ana Lucia Lopes nas interlocues que clarearam as

    dimenses propostas cidade educadora. Neste territrio das contribuies

    interdisciplinares, agradeo a todos os viajantes da Expedio So Paulo 450 anos, que

    evidenciaram ser o museu um territrio das transposies e das contaminaes positivas

    entre diferentes reas do conhecimento.

    Dedico uma especial reverncia a Ulpiano Bezerra de Meneses, fonte constante de

    inspirao, para todas as reflexes que a contemporaneidade nos impe. Foram as suas

  • 5

    contnuas reflexes inovadoras que me levaram a legitimar a cidade como objeto museal e o

    tempo presente como campo museolgico de experimentao contnua. Na pessoa de

    Ulpiano, homenageio tambm todos os demais pensadores presentes e j ausentes que

    um dia acreditaram ser a Museologia um instrumento de transformao social.

    s minhas colegas de trabalho na Expomus, agradeo a compreenso e o esforo

    em cobrir minhas eventuais ausncias que se fizeram necessrias para o desenvolvimento

    da tese. A elas dedico a crena de que a experimentao a gnese do fazer museolgico

    e credito os melhores agradecimentos por compartilharem comigo diariamente este grande

    sonho. Lia Ana Trzmielina agradeo a competncia e cumplicidade em me apoiar no

    desenvolvimento deste trabalho.

    minha famlia e aos amigos de todas as horas, dedico o meu agradecimento pela

    compreenso quanto aos momentos no compartilhados e pelo apoio irrestrito nos difceis

    marcos de ultrapassagem.

    minha me, Ignez, dedico o meu agradecimento pelo discreto apoio, sempre

    presente. Ao meu marido, Luiz Alberto, agradeo a compreenso pelas limitaes e

    ausncias, a cumplicidade em busca do conhecimento e o respeito ao meu desejo de

    evoluir.

    O que de belo, de contemporneo e de inovador voltado para futuro estiver

    contido neste trabalho, est integralmente dedicado minha filha, Letcia.

    5

    contnuas reflexes inovadoras que me levaram a legitimar a cidade como objeto museal e o

    tempo presente como campo museolgico de experimentao contnua. Na pessoa de

    Ulpiano, homenageio tambm todos os demais pensadores presentes e j ausentes que

    um dia acreditaram ser a Museologia um instrumento de transformao social.

    s minhas colegas de trabalho na Expomus, agradeo a compreenso e o esforo

    em cobrir minhas eventuais ausncias que se fizeram necessrias para o desenvolvimento

    da tese. A elas dedico a crena de que a experimentao a gnese do fazer museolgico

    e credito os melhores agradecimentos por compartilharem comigo diariamente este grande

    sonho. Lia Ana Trzmielina agradeo a competncia e cumplicidade em me apoiar no

    desenvolvimento deste trabalho.

    minha famlia e aos amigos de todas as horas, dedico o meu agradecimento pela

    compreenso quanto aos momentos no compartilhados e pelo apoio irrestrito nos difceis

    marcos de ultrapassagem.

    minha me, Ignez, dedico o meu agradecimento pelo discreto apoio, sempre

    presente. Ao meu marido, Luiz Alberto, agradeo a compreenso pelas limitaes e

    ausncias, a cumplicidade em busca do conhecimento e o respeito ao meu desejo de

    evoluir.

    O que de belo, de contemporneo e de inovador voltado para futuro estiver

    contido neste trabalho, est integralmente dedicado minha filha, Letcia.

  • 6

    Resumo

    Este estudo preocupa-se em discutir como a Sociomuseologia poder se apropriar de um

    objeto de musealizao mais amplo e abrangente, como o territrio de uma megacidade

    no caso, So Paulo, Brasil.

    O Museu da Cidade de So Paulo, como objeto de estudo e de problematizao

    museolgica, busca explicitar uma metodologia interdisciplinar que enuncia a concepo de

    um novo modelo de museu de cidade, que tem como objeto de anlise a grande metrpole,

    que se articula sobre as premissas de coleta contempornea de acervo, empreendida por

    meio de mtodos de mobilizao social, em interlocuo com as lgicas prprias do mundo

    globalizado, porm canonicamente erigida sobre os preceitos fundadores da

    Sociomuseologia.

    No cenrio dos museus de territrio, este modelo busca fomentar um caminho novo e

    alternativo, que observa e interage em relao a uma realidade inerente

    contemporaneidade, s megacidades, na medida em que busca problematizar e

    compreender as dinmicas prprias da vida humana nestes imensos e complexos territrios.

    No sculo XXI, eleito como o sculo das cidades, abre-se, portanto, um novo campo terico

    para a Museologia; como exerccio fundador para este pretendido dilogo interdisciplinar,

    considera-se o museu como o palco natural e vocacional de vivncia, representao e

    reflexo coletiva sobre a vida humana em sociedade, na era das macrocidades.

    Palavras-chave: Museu de Cidade, Sociomuseologia, Museu de Territrio, Coleta

    Contempornea, So Paulo

    6

    Resumo

    Este estudo preocupa-se em discutir como a Sociomuseologia poder se apropriar de um

    objeto de musealizao mais amplo e abrangente, como o territrio de uma megacidade

    no caso, So Paulo, Brasil.

    O Museu da Cidade de So Paulo, como objeto de estudo e de problematizao

    museolgica, busca explicitar uma metodologia interdisciplinar que enuncia a concepo de

    um novo modelo de museu de cidade, que tem como objeto de anlise a grande metrpole,

    que se articula sobre as premissas de coleta contempornea de acervo, empreendida por

    meio de mtodos de mobilizao social, em interlocuo com as lgicas prprias do mundo

    globalizado, porm canonicamente erigida sobre os preceitos fundadores da

    Sociomuseologia.

    No cenrio dos museus de territrio, este modelo busca fomentar um caminho novo e

    alternativo, que observa e interage em relao a uma realidade inerente

    contemporaneidade, s megacidades, na medida em que busca problematizar e

    compreender as dinmicas prprias da vida humana nestes imensos e complexos territrios.

    No sculo XXI, eleito como o sculo das cidades, abre-se, portanto, um novo campo terico

    para a Museologia; como exerccio fundador para este pretendido dilogo interdisciplinar,

    considera-se o museu como o palco natural e vocacional de vivncia, representao e

    reflexo coletiva sobre a vida humana em sociedade, na era das macrocidades.

    Palavras-chave: Museu de Cidade, Sociomuseologia, Museu de Territrio, Coleta

    Contempornea, So Paulo

  • 7

    Abstract

    City Museum of So Paulo

    A new approach to one Megacity through Sociomuseology

    The main concern of this study is to discuss how Sociomuseology can cope with a vast and

    encompassing object such as the territory of a megacity specifically So Paulo, Brazil.

    The City Museum of So Paulo, as an object of study and museologic problematization, tries

    to present in a clear way an interdisciplinary methodology devoted to the conception of a

    new model of city museums, whose object of analysis is the great city, articulated upon the

    collection of contemporary items to be pursued by methods of social mobilization, interacting

    with the logic that characterizes a globalized world, but canonically based on the founding

    principles of Sociomuseology.

    Within the scenario of territory museums, this model tries to stimulate a new and alternative

    path that observes and interacts with the reality intrinsic to contemporary world, to

    megacities, as it tries to problematize and understand the dynamics connected to human life

    in those vast and complex territories.

    Therefore, along the twentieth century, elected as the "century of cities", a new theoretical

    field is opened to Museology; as a basic exercise for this intended interdisciplinary dialogue,

    the museum is considered to be the natural and vocational stage for experiencing,

    representing and collectively reflecting on human existence in society in the era of

    macrocities.

    Keywords: City Museum, Sociomuseology, Territory Museum, Contemporary Collection, So

    Paulo

    7

    Abstract

    City Museum of So Paulo

    A new approach to one Megacity through Sociomuseology

    The main concern of this study is to discuss how Sociomuseology can cope with a vast and

    encompassing object such as the territory of a megacity specifically So Paulo, Brazil.

    The City Museum of So Paulo, as an object of study and museologic problematization, tries

    to present in a clear way an interdisciplinary methodology devoted to the conception of a

    new model of city museums, whose object of analysis is the great city, articulated upon the

    collection of contemporary items to be pursued by methods of social mobilization, interacting

    with the logic that characterizes a globalized world, but canonically based on the founding

    principles of Sociomuseology.

    Within the scenario of territory museums, this model tries to stimulate a new and alternative

    path that observes and interacts with the reality intrinsic to contemporary world, to

    megacities, as it tries to problematize and understand the dynamics connected to human life

    in those vast and complex territories.

    Therefore, along the twentieth century, elected as the "century of cities", a new theoretical

    field is opened to Museology; as a basic exercise for this intended interdisciplinary dialogue,

    the museum is considered to be the natural and vocational stage for experiencing,

    representing and collectively reflecting on human existence in society in the era of

    macrocities.

    Keywords: City Museum, Sociomuseology, Territory Museum, Contemporary Collection, So

    Paulo

  • 8

    ndice

    Volume I

    Introduo .....................................................................................14

    1. Problemtica (Hiptese) ......................................................38

    2. Marco Terico (Fontes) .......................................................51

    3. Metodologia ..........................................................................88

    Captulo 1. So Paulo, uma megacidade latino-americana tensionada entre o desafio e a superao ............114

    Captulo 2. Processos patrimoniais convergentes de musealizao da metrpole ....................................130

    2.1. A Expedio So Paulo 450 anos enquanto metodologia de coleta contempornea de acervo .....131

    2.2. Dilogos Patrimoniais Legitimadores .........................137

    2.2.1. O jogo de perguntas e respostas patrimoniais ..........................138

    2.2.2. O embaralhar das cartas do jogo .................................................147

    2.3. Enunciados patrimoniais a partir de relatos em primeira pessoa .......................................................148

    2.3.1. Relaes de pertencimento e de sociabilidade ..........................149

    2.3.2. Bases metodolgicas estruturam a lgica do campo ................159

    2.3.2.1. O entrecruzamento de olhares interdisciplinares ...................160

    2.3.2.2. A historiografia equipara o bairro ao centro ............................161

    2.3.2.3. As imprescindveis mediaes museolgicas ........................162

    2.3.2.4. As intangveis dimenses educacionais ..................................163

    2.4. Olhares convergentes: de perto e de longe, de dentro e de fora ........................................................165

    Captulo 3. Dilemas sociais contemporneos no desenho do plano museolgico para uma megacidade: o programa museolgico do Museu da Cidade de So Paulo ............................167

    3.1. So Paulo e seus descompassos patrimoniais ..........168

    8

    ndice

    Volume I

    Introduo .....................................................................................14

    1. Problemtica (Hiptese) ......................................................38

    2. Marco Terico (Fontes) .......................................................51

    3. Metodologia ..........................................................................88

    Captulo 1. So Paulo, uma megacidade latino-americana tensionada entre o desafio e a superao ............114

    Captulo 2. Processos patrimoniais convergentes de musealizao da metrpole ....................................130

    2.1. A Expedio So Paulo 450 anos enquanto metodologia de coleta contempornea de acervo .....131

    2.2. Dilogos Patrimoniais Legitimadores .........................137

    2.2.1. O jogo de perguntas e respostas patrimoniais ..........................138

    2.2.2. O embaralhar das cartas do jogo .................................................147

    2.3. Enunciados patrimoniais a partir de relatos em primeira pessoa .......................................................148

    2.3.1. Relaes de pertencimento e de sociabilidade ..........................149

    2.3.2. Bases metodolgicas estruturam a lgica do campo ................159

    2.3.2.1. O entrecruzamento de olhares interdisciplinares ...................160

    2.3.2.2. A historiografia equipara o bairro ao centro ............................161

    2.3.2.3. As imprescindveis mediaes museolgicas ........................162

    2.3.2.4. As intangveis dimenses educacionais ..................................163

    2.4. Olhares convergentes: de perto e de longe, de dentro e de fora ........................................................165

    Captulo 3. Dilemas sociais contemporneos no desenho do plano museolgico para uma megacidade: o programa museolgico do Museu da Cidade de So Paulo ............................167

    3.1. So Paulo e seus descompassos patrimoniais ..........168

  • 9

    3.1.1. A proposio de um novo modelo museolgico para So Paulo ...............................................................................170

    3.1.2. Principais Programas do Museu ..................................................173

    3.1.2.1. Centro de Referncia Integrado ................................................173

    3.1.2.1.1. Projeto de catalogao, sistematizao e

    interlocuo patrimonial .....................................................................173

    3.1.2.2. Exposies ..................................................................................175

    3.1.2.2.1. Exposio Histrica de Longa Durao .....................................175

    3.1.2.2.2. Exposies Temporrias ...........................................................177

    3.1.2.3. Explora So Paulo ......................................................................178

    3.2. O desafio recorrente de se empreender o novo .........183

    3.2.1. O plano patrimonial em conexo com as redes prprias da cidade ..............................................................183

    3.2.2. O Museu da Cidade de So Paulo como eixo central do sistema .................................................................189

    3.2.3. Aes tentaculares e em rede ......................................................191

    3.2.4. A megacidade enuncia a magnitude do Museu ..........................193

    3.2.5. O perfil do edifcio adequado ao Museu ......................................195

    3.2.5.1. Pr-requisitos para o edifcio do Museu ...................................197

    3.2.5.2. As bases programticas norteadoras do edifcio ....................200

    3.3. O perfil institucional do Museu ....................................203

    3.4. O Museu como instrumento de transformao social ....................................................205

    Concluso ...................................................................................207

    Bibliografia ..................................................................................217

    Glossrio .....................................................................................223

    ndice Remissivo ........................................................................227

    Apndice 1. Histrico de Implantao do Museu da Cidade de So Paulo e do Museu do Imaginrio do Povo Brasileiro............................229

    9

    3.1.1. A proposio de um novo modelo museolgico para So Paulo ...............................................................................170

    3.1.2. Principais Programas do Museu ..................................................173

    3.1.2.1. Centro de Referncia Integrado ................................................173

    3.1.2.1.1. Projeto de catalogao, sistematizao e

    interlocuo patrimonial .....................................................................173

    3.1.2.2. Exposies ..................................................................................175

    3.1.2.2.1. Exposio Histrica de Longa Durao .....................................175

    3.1.2.2.2. Exposies Temporrias ...........................................................177

    3.1.2.3. Explora So Paulo ......................................................................178

    3.2. O desafio recorrente de se empreender o novo .........183

    3.2.1. O plano patrimonial em conexo com as redes prprias da cidade ..............................................................183

    3.2.2. O Museu da Cidade de So Paulo como eixo central do sistema .................................................................189

    3.2.3. Aes tentaculares e em rede ......................................................191

    3.2.4. A megacidade enuncia a magnitude do Museu ..........................193

    3.2.5. O perfil do edifcio adequado ao Museu ......................................195

    3.2.5.1. Pr-requisitos para o edifcio do Museu ...................................197

    3.2.5.2. As bases programticas norteadoras do edifcio ....................200

    3.3. O perfil institucional do Museu ....................................203

    3.4. O Museu como instrumento de transformao social ....................................................205

    Concluso ...................................................................................207

    Bibliografia ..................................................................................217

    Glossrio .....................................................................................223

    ndice Remissivo ........................................................................227

    Apndice 1. Histrico de Implantao do Museu da Cidade de So Paulo e do Museu do Imaginrio do Povo Brasileiro............................229

  • 10

    Volume II

    Anexo I Apresentao Oficial do Museu da Cidade de So Paulo

    Anexo II Atual Configurao Institucional do Museu da Cidade de So Paulo

    Anexo III Cadastro Nacional de Museus do Ministrio da Cultura Quadro dos Museus de Cidade e Museus Histricos

    Anexo IV Livro Expedio So Paulo 450 Anos

    Anexo V DVD Videodocumentrio Expedio So Paulo 450 Anos

    Anexo VI CD Multimdia Expedio So Paulo 450 Anos

    Anexo VII Suplemento do Jornal O Estado de S. Paulo

    Anexo VIII Conjunto de Publicaes Projeto Meu Bairro, Minha Cidade

    Anexo IX Relatrio Final do Comit Interdisciplinar do Museu da Cidade de So Paulo

    10

    Volume II

    Anexo I Apresentao Oficial do Museu da Cidade de So Paulo

    Anexo II Atual Configurao Institucional do Museu da Cidade de So Paulo

    Anexo III Cadastro Nacional de Museus do Ministrio da Cultura Quadro dos Museus de Cidade e Museus Histricos

    Anexo IV Livro Expedio So Paulo 450 Anos

    Anexo V DVD Videodocumentrio Expedio So Paulo 450 Anos

    Anexo VI CD Multimdia Expedio So Paulo 450 Anos

    Anexo VII Suplemento do Jornal O Estado de S. Paulo

    Anexo VIII Conjunto de Publicaes Projeto Meu Bairro, Minha Cidade

    Anexo IX Relatrio Final do Comit Interdisciplinar do Museu da Cidade de So Paulo

  • 11

    ndice de Grficos

    Grfico 1. Curva de crescimento da populao de So Paulo ......................................22

    Grfico 2. Caractersticas dos Museus ............................................................................80

    Grfico 3. Prioridade Atribuda s Polticas ....................................................................81

    Grfico 4. Critrio de Coleta do Objeto ............................................................................83

    Grfico 5. Motivos para Coleta de Histria Oral .............................................................83

    Grfico 6. Meios interpretativos mais usados ................................................................84

    Grfico 7. Focos Principais ...............................................................................................85

    Grfico 8. Nmero de pessoas que visitaram os museus de natureza

    histrica e sociolgica de So Paulo entre janeiro e abril de 2009 ...........128

    Grfico 9. Distribuio percentual dos visitantes investigados nos

    museus em So Paulo ...................................................................................169

    ndice de Figuras de Pginas de Abertura de Captulos

    Mappa da Capital da Pcia. de S. Paulo seos Edificios publicos, Hoteis,

    Linhas ferreas, Igrejas Bonds Passeios etc. 1887 (Passos & Emdio, 2009) .................14

    Ensaio fotogrfico (Saggese, 2004) ...................................................................................92

    Ilustrao projeto Meu Bairro, Minha Cidade (Martins, 2004) .......................................100

    Planta da Cidade de So Paulo mostrando todos os arrabaldes e

    terrenos arruados 1924 (Passos & Emdio, 2009) ..........................................................130

    Esquema terico de So Paulo (esquema radial-perimetral) 1930

    (Passos & Emdio, 2009) ..................................................................................................167

    Mapa da Grande So Paulo com as rotas da

    Expedio So Paulo 450 Anos (Bruno et al., 2004) ......................................................207

    11

    ndice de Grficos

    Grfico 1. Curva de crescimento da populao de So Paulo ......................................22

    Grfico 2. Caractersticas dos Museus ............................................................................80

    Grfico 3. Prioridade Atribuda s Polticas ....................................................................81

    Grfico 4. Critrio de Coleta do Objeto ............................................................................83

    Grfico 5. Motivos para Coleta de Histria Oral .............................................................83

    Grfico 6. Meios interpretativos mais usados ................................................................84

    Grfico 7. Focos Principais ...............................................................................................85

    Grfico 8. Nmero de pessoas que visitaram os museus de natureza

    histrica e sociolgica de So Paulo entre janeiro e abril de 2009 ...........128

    Grfico 9. Distribuio percentual dos visitantes investigados nos

    museus em So Paulo ...................................................................................169

    ndice de Figuras de Pginas de Abertura de Captulos

    Mappa da Capital da Pcia. de S. Paulo seos Edificios publicos, Hoteis,

    Linhas ferreas, Igrejas Bonds Passeios etc. 1887 (Passos & Emdio, 2009) .................14

    Ensaio fotogrfico (Saggese, 2004) ...................................................................................92

    Ilustrao projeto Meu Bairro, Minha Cidade (Martins, 2004) .......................................100

    Planta da Cidade de So Paulo mostrando todos os arrabaldes e

    terrenos arruados 1924 (Passos & Emdio, 2009) ..........................................................130

    Esquema terico de So Paulo (esquema radial-perimetral) 1930

    (Passos & Emdio, 2009) ..................................................................................................167

    Mapa da Grande So Paulo com as rotas da

    Expedio So Paulo 450 Anos (Bruno et al., 2004) ......................................................207

  • 12

    ndice de Figuras

    Figura 1. Evoluo da rea Urbanizada na

    Regio Metropolitana de So Paulo 1905 a 1997 .......................................21 Figura 2. Macrometrpole ...............................................................................................23 Figura 3. Portal que caracteriza o Bairro da Liberdade ................................................29 Figura 4. Vista area do Museu Paulista ........................................................................41 Figura 5. Museu da Imagem e do Som ...........................................................................42 Figuras 6 e 7. Casa do Bandeirante - Exterior e Interior ..................................................45 Figura 8. Casa do Grito ....................................................................................................45 Figura 9. Capela do Morumbi ..........................................................................................45 Figura 10. Casa do Sertanista ...........................................................................................46 Figura 11. Solar da Marquesa de Santos .........................................................................46 Figura 12. Museu do Theatro Municipal ...........................................................................46 Figura 13. Museu de Rua no centro urbano de So Paulo .............................................48 Figura 14. Conjunto de imagens referentes ao tratamento e

    acondicionamento do acervo da AmBev ...................................................53 Figura 15. Imagens da Exposio Rua da Histria realizada na sede

    do Grupo Ambev, em So Paulo, 2003 ...........................................................53 Figura 16. Conjunto de imagens referentes ao processamento do

    acervo da Natura ..............................................................................................54 Figura 17. Vitrines da exposio permanente do Museu da

    Alimentao da Nestl, em Vevey, Sua .......................................................58 Figura 18. Informao referente Exposio Objets Prtextes,

    Objets Manipuls, realizada em 1984 .............................................................59 Figura 19. Capa do Jornal da Tarde, que destaca a Expedio de 1985 ......................90

    Figura 20. Capa do livro que documenta a Expedio So Paulo 450 anos ................96

    Figura 21. DVD com videodocumentrio produzido durante a

    Expedio So Paulo 450 anos .......................................................................96

    12

    ndice de Figuras

    Figura 1. Evoluo da rea Urbanizada na

    Regio Metropolitana de So Paulo 1905 a 1997 .......................................21 Figura 2. Macrometrpole ...............................................................................................23 Figura 3. Portal que caracteriza o Bairro da Liberdade ................................................29 Figura 4. Vista area do Museu Paulista ........................................................................41 Figura 5. Museu da Imagem e do Som ...........................................................................42 Figuras 6 e 7. Casa do Bandeirante - Exterior e Interior ..................................................45 Figura 8. Casa do Grito ....................................................................................................45 Figura 9. Capela do Morumbi ..........................................................................................45 Figura 10. Casa do Sertanista ...........................................................................................46 Figura 11. Solar da Marquesa de Santos .........................................................................46 Figura 12. Museu do Theatro Municipal ...........................................................................46 Figura 13. Museu de Rua no centro urbano de So Paulo .............................................48 Figura 14. Conjunto de imagens referentes ao tratamento e

    acondicionamento do acervo da AmBev ...................................................53 Figura 15. Imagens da Exposio Rua da Histria realizada na sede

    do Grupo Ambev, em So Paulo, 2003 ...........................................................53 Figura 16. Conjunto de imagens referentes ao processamento do

    acervo da Natura ..............................................................................................54 Figura 17. Vitrines da exposio permanente do Museu da

    Alimentao da Nestl, em Vevey, Sua .......................................................58 Figura 18. Informao referente Exposio Objets Prtextes,

    Objets Manipuls, realizada em 1984 .............................................................59 Figura 19. Capa do Jornal da Tarde, que destaca a Expedio de 1985 ......................90

    Figura 20. Capa do livro que documenta a Expedio So Paulo 450 anos ................96

    Figura 21. DVD com videodocumentrio produzido durante a

    Expedio So Paulo 450 anos .......................................................................96

  • 13

    Figura 22. Tela de entrada do CD-ROM referente

    Expedio So Paulo 450 anos .......................................................................97 Figura 23. Menus disponveis no CD-ROM referente

    Expedio So Paulo 450 anos .......................................................................97 Figura 24. Exemplo de tela informativa do CD-ROM referente

    Expedio So Paulo 450 anos .......................................................................98 Figura 25. Exposio do projeto Meu Bairro, Minha Cidade realizada no

    CEU no bairro perifrico de Perus, So Paulo ............................................102 Figura 26. Publicao que engloba o conjunto de produtos editoriais

    do projeto Meu Bairro, Minha Cidade ...........................................................102 Figura 27. Caderno do aluno: capa (em cima) e exemplos de

    pginas de atividades (embaixo) ..................................................................103 Figura 28. Tela de entrada com menu do banco de dados da

    Expedio So Paulo 450 anos .....................................................................107 Figura 29. Tela-modelo do banco de dados da

    Expedio So Paulo 450 anos .....................................................................107 Figura 30. Tela-modelo com abertura de campos do banco de dados

    da Expedio So Paulo 450 anos ...............................................................108 Figura 31. Diversidade social: favela e edifcio de alto padro so

    vizinhos no Bairro do Morumbi, So Paulo .................................................116 Figura 32. Museu da Mar ...............................................................................................119 Figura 33. Casal de surdo-cegos ( esquerda) e Esmeralda Ortiz ( direita) .............140 Figura 34. Escada com grafite na Rua Cardeal Arcoverde,

    no bairro de Pinheiros, So Paulo ................................................................176 Figura 35. Distribuio dos CEUs ...................................................................................184 Figura 36. Distribuio dos Pontos e Pontes de Cultura

    na Grande So Paulo .....................................................................................186 Figura 37. Rede operacional vinculada ao Municpio de So Paulo

    na qual se insere o Museu da Cidade ..........................................................187 Figura 38. Melbourne CH2 ...............................................................................................199 Figura 39. Classificao da economia dos pases pelo Banco Mundial .....................213 Figura 40. Os pases em desenvolvimento excluindo os

    PMDs pases menos desenvolvidos ..........................................................214

    13

    Figura 22. Tela de entrada do CD-ROM referente

    Expedio So Paulo 450 anos .......................................................................97 Figura 23. Menus disponveis no CD-ROM referente

    Expedio So Paulo 450 anos .......................................................................97 Figura 24. Exemplo de tela informativa do CD-ROM referente

    Expedio So Paulo 450 anos .......................................................................98 Figura 25. Exposio do projeto Meu Bairro, Minha Cidade realizada no

    CEU no bairro perifrico de Perus, So Paulo ............................................102 Figura 26. Publicao que engloba o conjunto de produtos editoriais

    do projeto Meu Bairro, Minha Cidade ...........................................................102 Figura 27. Caderno do aluno: capa (em cima) e exemplos de

    pginas de atividades (embaixo) ..................................................................103 Figura 28. Tela de entrada com menu do banco de dados da

    Expedio So Paulo 450 anos .....................................................................107 Figura 29. Tela-modelo do banco de dados da

    Expedio So Paulo 450 anos .....................................................................107 Figura 30. Tela-modelo com abertura de campos do banco de dados

    da Expedio So Paulo 450 anos ...............................................................108 Figura 31. Diversidade social: favela e edifcio de alto padro so

    vizinhos no Bairro do Morumbi, So Paulo .................................................116 Figura 32. Museu da Mar ...............................................................................................119 Figura 33. Casal de surdo-cegos ( esquerda) e Esmeralda Ortiz ( direita) .............140 Figura 34. Escada com grafite na Rua Cardeal Arcoverde,

    no bairro de Pinheiros, So Paulo ................................................................176 Figura 35. Distribuio dos CEUs ...................................................................................184 Figura 36. Distribuio dos Pontos e Pontes de Cultura

    na Grande So Paulo .....................................................................................186 Figura 37. Rede operacional vinculada ao Municpio de So Paulo

    na qual se insere o Museu da Cidade ..........................................................187 Figura 38. Melbourne CH2 ...............................................................................................199 Figura 39. Classificao da economia dos pases pelo Banco Mundial .....................213 Figura 40. Os pases em desenvolvimento excluindo os

    PMDs pases menos desenvolvidos ..........................................................214

  • Maria Ignez Mantovani Franco Museu da Cidade de So Paulo: Um Novo Olhar da Sociomuseologia para uma Megacidade

    Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias - Departamento de Arquitetura, Urbanismo, Geografia e Artes Plsticas 14

    Introduo

    Maria Ignez Mantovani Franco Museu da Cidade de So Paulo: Um Novo Olhar da Sociomuseologia para uma Megacidade

    Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias - Departamento de Arquitetura, Urbanismo, Geografia e Artes Plsticas 14

    Introduo

    Maria Ignez Mantovani Franco Museu da Cidade de So Paulo: Um Novo Olhar da Sociomuseologia para uma Megacidade

    Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias - Departamento de Arquitetura, Urbanismo, Geografia e Artes Plsticas 14

    Introduo

    Maria Ignez Mantovani Franco Museu da Cidade de So Paulo: Um Novo Olhar da Sociomuseologia para uma Megacidade

    Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias - Departamento de Arquitetura, Urbanismo, Geografia e Artes Plsticas 14

    Introduo

  • Maria Ignez Mantovani Franco Museu da Cidade de So Paulo: Um Novo Olhar da Sociomuseologia para uma Megacidade

    Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias - Departamento de Arquitetura, Urbanismo, Geografia e Artes Plsticas 15

    A consolidao do modelo de museu de cidade, em todo o mundo, deu-se ao longo

    do sculo XX, tendo como sua referncia articuladora as aes e campanhas arqueolgicas

    que, via de regra, lograram encontrar no s o lcus das primeiras ocupaes de

    determinado territrio, como tambm o eixo de sentido e os testemunhos materiais da

    cidade que ali se desenvolvera. Na seqncia das primeiras descobertas que definiam a

    centralidade vital da cidade, arquitetava-se uma ao de resgate da seqncia cronolgica,

    buscava-se organizar a memria local e, a partir dela, construir a ansiada histria oficial. Da

    mesma forma, a localizao dos vestgios materiais, oriundos das escavaes

    arqueolgicas e tambm as doaes e coletas de artefatos pertencentes burguesia

    urbana, ps-revoluo industrial, imprimiam no s veracidade histria a ser contada,

    como tambm exigiam processamento e proteo enquanto patrimnio, anunciando a

    premncia da constituio de um museu. Segundo Huyssen, no a conscincia das

    tradies seguras que marca o surgimento dos museus, seno a sua perda, combinada com

    um desejo estratificado de reconstruo. (Huyssen, 1995, p. 57)

    O ento incipiente museu de cidade apropriou-se do modelo de museu histrico,

    com forte inclinao pedaggica, voltado a perpetuar a memria local para as futuras

    geraes. Adquiriu facetas patrimoniais diferenciadas em cada pas, regio ou cidade, e

    ainda hoje uma linhagem muito ativa que, progressivamente, passou a incorporar s suas

    dinmicas patrimoniais, o estudo do modo de vida das populaes, lanando mo de

    metodologias de diferentes disciplinas do conhecimento, tais como a histria oral, a

    interpretao iconogrfica, a histria das mentalidades, a contextualizao histrica, o

    planejamento urbano, entre outras.

    Por outro lado, a segunda metade do sculo XX assistiu a uma verdadeira

    revoluo no pensamento museolgico internacional, que erigiu um novo patamar de

    reflexo, a partir das concluses obtidas no Seminrio Regional da UNESCO sobre a

    Funo Educativa dos Museus, realizado no Rio de Janeiro, em 1958. A discusso terica

    intensificou-se progressivamente, luz das cartas relativas Mesa de Santiago1, em 1972,

    que apresentou o conceito de museu integral, da Declarao de Quebec, em 1984, que

    lanou os fundamentos da Nova Museologia, e da Declarao de Caracas, em 1992, que

    conceituou o museu como um canal de comunicao; tais documentos e sua amplitude

    conceitual e metodolgica sero objetos de anlise apropriada no segmento dedicado ao

    marco terico deste trabalho.

    1 Mesa redonda realizada em Santiago do Chile sobre o papel dos museus na Amrica Latina contempornea.

    Maria Ignez Mantovani Franco Museu da Cidade de So Paulo: Um Novo Olhar da Sociomuseologia para uma Megacidade

    Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias - Departamento de Arquitetura, Urbanismo, Geografia e Artes Plsticas 15

    A consolidao do modelo de museu de cidade, em todo o mundo, deu-se ao longo

    do sculo XX, tendo como sua referncia articuladora as aes e campanhas arqueolgicas

    que, via de regra, lograram encontrar no s o lcus das primeiras ocupaes de

    determinado territrio, como tambm o eixo de sentido e os testemunhos materiais da

    cidade que ali se desenvolvera. Na seqncia das primeiras descobertas que definiam a

    centralidade vital da cidade, arquitetava-se uma ao de resgate da seqncia cronolgica,

    buscava-se organizar a memria local e, a partir dela, construir a ansiada histria oficial. Da

    mesma forma, a localizao dos vestgios materiais, oriundos das escavaes

    arqueolgicas e tambm as doaes e coletas de artefatos pertencentes burguesia

    urbana, ps-revoluo industrial, imprimiam no s veracidade histria a ser contada,

    como tambm exigiam processamento e proteo enquanto patrimnio, anunciando a

    premncia da constituio de um museu. Segundo Huyssen, no a conscincia das

    tradies seguras que marca o surgimento dos museus, seno a sua perda, combinada com

    um desejo estratificado de reconstruo. (Huyssen, 1995, p. 57)

    O ento incipiente museu de cidade apropriou-se do modelo de museu histrico,

    com forte inclinao pedaggica, voltado a perpetuar a memria local para as futuras

    geraes. Adquiriu facetas patrimoniais diferenciadas em cada pas, regio ou cidade, e

    ainda hoje uma linhagem muito ativa que, progressivamente, passou a incorporar s suas

    dinmicas patrimoniais, o estudo do modo de vida das populaes, lanando mo de

    metodologias de diferentes disciplinas do conhecimento, tais como a histria oral, a

    interpretao iconogrfica, a histria das mentalidades, a contextualizao histrica, o

    planejamento urbano, entre outras.

    Por outro lado, a segunda metade do sculo XX assistiu a uma verdadeira

    revoluo no pensamento museolgico internacional, que erigiu um novo patamar de

    reflexo, a partir das concluses obtidas no Seminrio Regional da UNESCO sobre a

    Funo Educativa dos Museus, realizado no Rio de Janeiro, em 1958. A discusso terica

    intensificou-se progressivamente, luz das cartas relativas Mesa de Santiago1, em 1972,

    que apresentou o conceito de museu integral, da Declarao de Quebec, em 1984, que

    lanou os fundamentos da Nova Museologia, e da Declarao de Caracas, em 1992, que

    conceituou o museu como um canal de comunicao; tais documentos e sua amplitude

    conceitual e metodolgica sero objetos de anlise apropriada no segmento dedicado ao

    marco terico deste trabalho.

    1 Mesa redonda realizada em Santiago do Chile sobre o papel dos museus na Amrica Latina contempornea.

    Maria Ignez Mantovani Franco Museu da Cidade de So Paulo: Um Novo Olhar da Sociomuseologia para uma Megacidade

    Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias - Departamento de Arquitetura, Urbanismo, Geografia e Artes Plsticas 15

    A consolidao do modelo de museu de cidade, em todo o mundo, deu-se ao longo

    do sculo XX, tendo como sua referncia articuladora as aes e campanhas arqueolgicas

    que, via de regra, lograram encontrar no s o lcus das primeiras ocupaes de

    determinado territrio, como tambm o eixo de sentido e os testemunhos materiais da

    cidade que ali se desenvolvera. Na seqncia das primeiras descobertas que definiam a

    centralidade vital da cidade, arquitetava-se uma ao de resgate da seqncia cronolgica,

    buscava-se organizar a memria local e, a partir dela, construir a ansiada histria oficial. Da

    mesma forma, a localizao dos vestgios materiais, oriundos das escavaes

    arqueolgicas e tambm as doaes e coletas de artefatos pertencentes burguesia

    urbana, ps-revoluo industrial, imprimiam no s veracidade histria a ser contada,

    como tambm exigiam processamento e proteo enquanto patrimnio, anunciando a

    premncia da constituio de um museu. Segundo Huyssen, no a conscincia das

    tradies seguras que marca o surgimento dos museus, seno a sua perda, combinada com

    um desejo estratificado de reconstruo. (Huyssen, 1995, p. 57)

    O ento incipiente museu de cidade apropriou-se do modelo de museu histrico,

    com forte inclinao pedaggica, voltado a perpetuar a memria local para as futuras

    geraes. Adquiriu facetas patrimoniais diferenciadas em cada pas, regio ou cidade, e

    ainda hoje uma linhagem muito ativa que, progressivamente, passou a incorporar s suas

    dinmicas patrimoniais, o estudo do modo de vida das populaes, lanando mo de

    metodologias de diferentes disciplinas do conhecimento, tais como a histria oral, a

    interpretao iconogrfica, a histria das mentalidades, a contextualizao histrica, o

    planejamento urbano, entre outras.

    Por outro lado, a segunda metade do sculo XX assistiu a uma verdadeira

    revoluo no pensamento museolgico internacional, que erigiu um novo patamar de

    reflexo, a partir das concluses obtidas no Seminrio Regional da UNESCO sobre a

    Funo Educativa dos Museus, realizado no Rio de Janeiro, em 1958. A discusso terica

    intensificou-se progressivamente, luz das cartas relativas Mesa de Santiago1, em 1972,

    que apresentou o conceito de museu integral, da Declarao de Quebec, em 1984, que

    lanou os fundamentos da Nova Museologia, e da Declarao de Caracas, em 1992, que

    conceituou o museu como um canal de comunicao; tais documentos e sua amplitude

    conceitual e metodolgica sero objetos de anlise apropriada no segmento dedicado ao

    marco terico deste trabalho.

    1 Mesa redonda realizada em Santiago do Chile sobre o papel dos museus na Amrica Latina contempornea.

    Maria Ignez Mantovani Franco Museu da Cidade de So Paulo: Um Novo Olhar da Sociomuseologia para uma Megacidade

    Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias - Departamento de Arquitetura, Urbanismo, Geografia e Artes Plsticas 15

    A consolidao do modelo de museu de cidade, em todo o mundo, deu-se ao longo

    do sculo XX, tendo como sua referncia articuladora as aes e campanhas arqueolgicas

    que, via de regra, lograram encontrar no s o lcus das primeiras ocupaes de

    determinado territrio, como tambm o eixo de sentido e os testemunhos materiais da

    cidade que ali se desenvolvera. Na seqncia das primeiras descobertas que definiam a

    centralidade vital da cidade, arquitetava-se uma ao de resgate da seqncia cronolgica,

    buscava-se organizar a memria local e, a partir dela, construir a ansiada histria oficial. Da

    mesma forma, a localizao dos vestgios materiais, oriundos das escavaes

    arqueolgicas e tambm as doaes e coletas de artefatos pertencentes burguesia

    urbana, ps-revoluo industrial, imprimiam no s veracidade histria a ser contada,

    como tambm exigiam processamento e proteo enquanto patrimnio, anunciando a

    premncia da constituio de um museu. Segundo Huyssen, no a conscincia das

    tradies seguras que marca o surgimento dos museus, seno a sua perda, combinada com

    um desejo estratificado de reconstruo. (Huyssen, 1995, p. 57)

    O ento incipiente museu de cidade apropriou-se do modelo de museu histrico,

    com forte inclinao pedaggica, voltado a perpetuar a memria local para as futuras

    geraes. Adquiriu facetas patrimoniais diferenciadas em cada pas, regio ou cidade, e

    ainda hoje uma linhagem muito ativa que, progressivamente, passou a incorporar s suas

    dinmicas patrimoniais, o estudo do modo de vida das populaes, lanando mo de

    metodologias de diferentes disciplinas do conhecimento, tais como a histria oral, a

    interpretao iconogrfica, a histria das mentalidades, a contextualizao histrica, o

    planejamento urbano, entre outras.

    Por outro lado, a segunda metade do sculo XX assistiu a uma verdadeira

    revoluo no pensamento museolgico internacional, que erigiu um novo patamar de

    reflexo, a partir das concluses obtidas no Seminrio Regional da UNESCO sobre a

    Funo Educativa dos Museus, realizado no Rio de Janeiro, em 1958. A discusso terica

    intensificou-se progressivamente, luz das cartas relativas Mesa de Santiago1, em 1972,

    que apresentou o conceito de museu integral, da Declarao de Quebec, em 1984, que

    lanou os fundamentos da Nova Museologia, e da Declarao de Caracas, em 1992, que

    conceituou o museu como um canal de comunicao; tais documentos e sua amplitude

    conceitual e metodolgica sero objetos de anlise apropriada no segmento dedicado ao

    marco terico deste trabalho.

    1 Mesa redonda realizada em Santiago do Chile sobre o papel dos museus na Amrica Latina contempornea.

  • Maria Ignez Mantovani Franco Museu da Cidade de So Paulo: Um Novo Olhar da Sociomuseologia para uma Megacidade

    Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias - Departamento de Arquitetura, Urbanismo, Geografia e Artes Plsticas 16

    No por acaso, os largos passos para a democratizao e socializao dos

    processos museolgicos foram tomados, em sua maioria, em encontros sediados na

    Amrica Latina, palco de experimentos museolgicos que emergiram de forma inovadora,

    cada qual a seu tempo, fundamentados na necessidade real de atender a uma populao

    cada vez maior e mais diversificada, tanto do ponto de vista tnico como socioeconmico e

    cultural, que comeava a se organizar, sob as marcas profundas do nacionalismo,

    autoritarismo e centralismo do Estado. Esta afirmao encontra eco no relato de Varine-

    Bohan, ao relembrar a aventura de Santiago:

    Desde o incio, nos pareceu evidente que no seria possvel repetir o modelo de organizao das reunies precedentes, nas quais um grupo de especialistas muselogos, majoritariamente europeus ou americanos do norte, falava de maneira mais ou menos dogmtica, em francs ou ingls, aos colegas locais. A Amrica Latina de 1972 era os grandes museus do Mxico, de Cuba, do Brasil, da Argentina, que no tinham lies a receber. De outra parte, era um continente que no falava nem francs nem ingls. (Varine-Bohan, 1995, p. 17)

    Os lentos processos de redemocratizao poltica que se sucederam a partir dos

    anos 1960, nos diferentes pases latino-americanos muitos deles ainda no totalmente

    consolidados , garantiram aos museus aqui localizados um cenrio de resistncia, palco

    experimental de novas aes patrimoniais que sobrevivem, em reinveno contnua, at os

    nossos dias. Exemplos emblemticos como o dos museus de territrio, museus de

    resistncia e de tolerncia ou museus comunitrios revelam aqui, nesta outra face do

    mundo, no hemisfrio sul, novas tonalidades conceituais, apropriando-se cada vez mais de

    dinmicas inclusivas e participativas, ao assumir um discurso em primeira pessoa, que

    atribui s populaes o protagonismo de sua prpria histria. Para alm do esperado, essas

    populaes utilizam e transformam a experincia patrimonial em sinnimo de superao, a

    ser vivenciada no presente e, no raras vezes, conseguem articular melhorias em sua

    prpria vida, a partir de programas socioculturais engenhosamente entabulados em

    interao coletiva.

    Ao longo da escrita dos diferentes e sucessivos captulos da teoria museolgica,

    inegvel o papel revolucionrio do desenvolvimento do conceito de museu de territrio,

    inicialmente aplicado s iniciativas rurais, por meio da criao de museus de stios, com o

    firme propsito de aperfeioar e empreender melhorias nas condies de vida das

    populaes que viviam distanciadas dos centros urbanos (refere-se Mesa Redonda de

    Santiago do Chile, de 1972, que definiu o conceito de museu integral). Ainda neste mesmo

    documento, merece tambm ateno o meio urbano, ao incitar os museus de cidade a

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    Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias - Departamento de Arquitetura, Urbanismo, Geografia e Artes Plsticas 16

    No por acaso, os largos passos para a democratizao e socializao dos

    processos museolgicos foram tomados, em sua maioria, em encontros sediados na

    Amrica Latina, palco de experimentos museolgicos que emergiram de forma inovadora,

    cada qual a seu tempo, fundamentados na necessidade real de atender a uma populao

    cada vez maior e mais diversificada, tanto do ponto de vista tnico como socioeconmico e

    cultural, que comeava a se organizar, sob as marcas profundas do nacionalismo,

    autoritarismo e centralismo do Estado. Esta afirmao encontra eco no relato de Varine-

    Bohan, ao relembrar a aventura de Santiago:

    Desde o incio, nos pareceu evidente que no seria possvel repetir o modelo de organizao das reunies precedentes, nas quais um grupo de especialistas muselogos, majoritariamente europeus ou americanos do norte, falava de maneira mais ou menos dogmtica, em francs ou ingls, aos colegas locais. A Amrica Latina de 1972 era os grandes museus do Mxico, de Cuba, do Brasil, da Argentina, que no tinham lies a receber. De outra parte, era um continente que no falava nem francs nem ingls. (Varine-Bohan, 1995, p. 17)

    Os lentos processos de redemocratizao poltica que se sucederam a partir dos

    anos 1960, nos diferentes pases latino-americanos muitos deles ainda no totalmente

    consolidados , garantiram aos museus aqui localizados um cenrio de resistncia, palco

    experimental de novas aes patrimoniais que sobrevivem, em reinveno contnua, at os

    nossos dias. Exemplos emblemticos como o dos museus de territrio, museus de

    resistncia e de tolerncia ou museus comunitrios revelam aqui, nesta outra face do

    mundo, no hemisfrio sul, novas tonalidades conceituais, apropriando-se cada vez mais de

    dinmicas inclusivas e participativas, ao assumir um discurso em primeira pessoa, que

    atribui s populaes o protagonismo de sua prpria histria. Para alm do esperado, essas

    populaes utilizam e transformam a experincia patrimonial em sinnimo de superao, a

    ser vivenciada no presente e, no raras vezes, conseguem articular melhorias em sua

    prpria vida, a partir de programas socioculturais engenhosamente entabulados em

    interao coletiva.

    Ao longo da escrita dos diferentes e sucessivos captulos da teoria museolgica,

    inegvel o papel revolucionrio do desenvolvimento do conceito de museu de territrio,

    inicialmente aplicado s iniciativas rurais, por meio da criao de museus de stios, com o

    firme propsito de aperfeioar e empreender melhorias nas condies de vida das

    populaes que viviam distanciadas dos centros urbanos (refere-se Mesa Redonda de

    Santiago do Chile, de 1972, que definiu o conceito de museu integral). Ainda neste mesmo

    documento, merece tambm ateno o meio urbano, ao incitar os museus de cidade a

    Maria Ignez Mantovani Franco Museu da Cidade de So Paulo: Um Novo Olhar da Sociomuseologia para uma Megacidade

    Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias - Departamento de Arquitetura, Urbanismo, Geografia e Artes Plsticas 16

    No por acaso, os largos passos para a democratizao e socializao dos

    processos museolgicos foram tomados, em sua maioria, em encontros sediados na

    Amrica Latina, palco de experimentos museolgicos que emergiram de forma inovadora,

    cada qual a seu tempo, fundamentados na necessidade real de atender a uma populao

    cada vez maior e mais diversificada, tanto do ponto de vista tnico como socioeconmico e

    cultural, que comeava a se organizar, sob as marcas profundas do nacionalismo,

    autoritarismo e centralismo do Estado. Esta afirmao encontra eco no relato de Varine-

    Bohan, ao relembrar a aventura de Santiago:

    Desde o incio, nos pareceu evidente que no seria possvel repetir o modelo de organizao das reunies precedentes, nas quais um grupo de especialistas muselogos, majoritariamente europeus ou americanos do norte, falava de maneira mais ou menos dogmtica, em francs ou ingls, aos colegas locais. A Amrica Latina de 1972 era os grandes museus do Mxico, de Cuba, do Brasil, da Argentina, que no tinham lies a receber. De outra parte, era um continente que no falava nem francs nem ingls. (Varine-Bohan, 1995, p. 17)

    Os lentos processos de redemocratizao poltica que se sucederam a partir dos

    anos 1960, nos diferentes pases latino-americanos muitos deles ainda no totalmente

    consolidados , garantiram aos museus aqui localizados um cenrio de resistncia, palco

    experimental de novas aes patrimoniais que sobrevivem, em reinveno contnua, at os

    nossos dias. Exemplos emblemticos como o dos museus de territrio, museus de

    resistncia e de tolerncia ou museus comunitrios revelam aqui, nesta outra face do

    mundo, no hemisfrio sul, novas tonalidades conceituais, apropriando-se cada vez mais de

    dinmicas inclusivas e participativas, ao assumir um discurso em primeira pessoa, que

    atribui s populaes o protagonismo de sua prpria histria. Para alm do esperado, essas

    populaes utilizam e transformam a experincia patrimonial em sinnimo de superao, a

    ser vivenciada no presente e, no raras vezes, conseguem articular melhorias em sua

    prpria vida, a partir de programas socioculturais engenhosamente entabulados em

    interao coletiva.

    Ao longo da escrita dos diferentes e sucessivos captulos da teoria museolgica,

    inegvel o papel revolucionrio do desenvolvimento do conceito de museu de territrio,

    inicialmente aplicado s iniciativas rurais, por meio da criao de museus de stios, com o

    firme propsito de aperfeioar e empreender melhorias nas condies de vida das

    populaes que viviam distanciadas dos centros urbanos (refere-se Mesa Redonda de

    Santiago do Chile, de 1972, que definiu o conceito de museu integral). Ainda neste mesmo

    documento, merece tambm ateno o meio urbano, ao incitar os museus de cidade a

    Maria Ignez Mantovani Franco Museu da Cidade de So Paulo: Um Novo Olhar da Sociomuseologia para uma Megacidade

    Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias - Departamento de Arquitetura, Urbanismo, Geografia e Artes Plsticas 16

    No por acaso, os largos passos para a democratizao e socializao dos

    processos museolgicos foram tomados, em sua maioria, em encontros sediados na

    Amrica Latina, palco de experimentos museolgicos que emergiram de forma inovadora,

    cada qual a seu tempo, fundamentados na necessidade real de atender a uma populao

    cada vez maior e mais diversificada, tanto do ponto de vista tnico como socioeconmico e

    cultural, que comeava a se organizar, sob as marcas profundas do nacionalismo,

    autoritarismo e centralismo do Estado. Esta afirmao encontra eco no relato de Varine-

    Bohan, ao relembrar a aventura de Santiago:

    Desde o incio, nos pareceu evidente que no seria possvel repetir o modelo de organizao das reunies precedentes, nas quais um grupo de especialistas muselogos, majoritariamente europeus ou americanos do norte, falava de maneira mais ou menos dogmtica, em francs ou ingls, aos colegas locais. A Amrica Latina de 1972 era os grandes museus do Mxico, de Cuba, do Brasil, da Argentina, que no tinham lies a receber. De outra parte, era um continente que no falava nem francs nem ingls. (Varine-Bohan, 1995, p. 17)

    Os lentos processos de redemocratizao poltica que se sucederam a partir dos

    anos 1960, nos diferentes pases latino-americanos muitos deles ainda no totalmente

    consolidados , garantiram aos museus aqui localizados um cenrio de resistncia, palco

    experimental de novas aes patrimoniais que sobrevivem, em reinveno contnua, at os

    nossos dias. Exemplos emblemticos como o dos museus de territrio, museus de

    resistncia e de tolerncia ou museus comunitrios revelam aqui, nesta outra face do

    mundo, no hemisfrio sul, novas tonalidades conceituais, apropriando-se cada vez mais de

    dinmicas inclusivas e participativas, ao assumir um discurso em primeira pessoa, que

    atribui s populaes o protagonismo de sua prpria histria. Para alm do esperado, essas

    populaes utilizam e transformam a experincia patrimonial em sinnimo de superao, a

    ser vivenciada no presente e, no raras vezes, conseguem articular melhorias em sua

    prpria vida, a partir de programas socioculturais engenhosamente entabulados em

    interao coletiva.

    Ao longo da escrita dos diferentes e sucessivos captulos da teoria museolgica,

    inegvel o papel revolucionrio do desenvolvimento do conceito de museu de territrio,

    inicialmente aplicado s iniciativas rurais, por meio da criao de museus de stios, com o

    firme propsito de aperfeioar e empreender melhorias nas condies de vida das

    populaes que viviam distanciadas dos centros urbanos (refere-se Mesa Redonda de

    Santiago do Chile, de 1972, que definiu o conceito de museu integral). Ainda neste mesmo

    documento, merece tambm ateno o meio urbano, ao incitar os museus de cidade a

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    Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias - Departamento de Arquitetura, Urbanismo, Geografia e Artes Plsticas 17

    colaborarem na conscientizao das populaes rurais sobre a complexidade dos

    problemas enfrentados nas grandes cidades. Ou seja, a noo de museu de territrio

    direciona-se enfaticamente ao meio rural, pois, ao se dirigir aos museus de cidade, o

    documento reafirma um discurso de resistncia contra a migrao campo-cidade. Embora

    citado no documento, o museu de cidade no alvo de ateno, mas sim chamado como

    instrumento de alerta capaz de evidenciar os perigos do deslocamento do homem do campo

    para a cidade. O homem urbano no ainda objeto de preocupao, mas serve,

    involuntariamente, como modelo no recomendvel, diante da iminncia do movimento

    inexorvel de xodo rural.

    Sob esta tica se insere a proposio do presente trabalho. luz das teorias da

    Sociomuseologia, o museu de territrio adquire, nos sculos XX e XXI, lugar atpico nas

    interlocues museolgicas. To enriquecedor ou mais que outros tantos formatos, este

    modelo assume riscos e dinmicas muito particulares que, no fosse por seus tantos

    mritos, apenas a ousadia j lhes conferiria sentido de existir. Nas sucessivas aplicaes

    deste modelo, tanto na Europa quanto na Amrica Latina, excetuando-se enfaticamente os

    living history museums americanos2, os museus de territrio abrangem experincias em

    cenrio no urbano, recuperando prticas rurais, tecnolgicas, ambientais e sociais, com

    resultados ainda carentes de um olhar avaliativo mais aprofundado pela teoria museolgica,

    principalmente no que tange aos modelos e objetivos de sustentabilidade das populaes

    envolvidas.

    Este trabalho visa a explicitar que, para alm do j conhecido modelo de museu de

    territrio voltado aos processos de musealizao dos modos de viver das populaes, em

    distintas regies rurais em todo o mundo, faz-se imperativo alastrar o nosso olhar para o

    cenrio urbano, cada vez mais convulso e carente de uma mirada patrimonial integradora.

    O Museu da Cidade de So Paulo, como objeto de estudo e de

    problematizao museolgica, busca explicitar uma metodologia interdisciplinar, j

    testada entre 2003 e 2004, que enuncia a concepo de um novo modelo de museu de

    cidade, que tem como objeto de anlise a grande metrpole So Paulo, em

    interlocuo com as lgicas prprias do mundo globalizado, porm canonicamente

    erigida sobre os preceitos fundadores da Sociomuseologia.

    2 Em Viagem na Irrealidade Cotidiana, Eco cita Na ghost town, ao contrrio, a teatralidade sendo explcita, a alucinao exercida ao tornar os visitantes participantes da cena e portanto participantes daquela feira comercial que aparentemente faz parte da fico, mas de fato constitui a finalidade substancial de toda a mquina imitativa. (1984, p. 54)

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    Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias - Departamento de Arquitetura, Urbanismo, Geografia e Artes Plsticas 17

    colaborarem na conscientizao das populaes rurais sobre a complexidade dos

    problemas enfrentados nas grandes cidades. Ou seja, a noo de museu de territrio

    direciona-se enfaticamente ao meio rural, pois, ao se dirigir aos museus de cidade, o

    documento reafirma um discurso de resistncia contra a migrao campo-cidade. Embora

    citado no documento, o museu de cidade no alvo de ateno, mas sim chamado como

    instrumento de alerta capaz de evidenciar os perigos do deslocamento do homem do campo

    para a cidade. O homem urbano no ainda objeto de preocupao, mas serve,

    involuntariamente, como modelo no recomendvel, diante da iminncia do movimento

    inexorvel de xodo rural.

    Sob esta tica se insere a proposio do presente trabalho. luz das teorias da

    Sociomuseologia, o museu de territrio adquire, nos sculos XX e XXI, lugar atpico nas

    interlocues museolgicas. To enriquecedor ou mais que outros tantos formatos, este

    modelo assume riscos e dinmicas muito particulares que, no fosse por seus tantos

    mritos, apenas a ousadia j lhes conferiria sentido de existir. Nas sucessivas aplicaes

    deste modelo, tanto na Europa quanto na Amrica Latina, excetuando-se enfaticamente os

    living history museums americanos2, os museus de territrio abrangem experincias em

    cenrio no urbano, recuperando prticas rurais, tecnolgicas, ambientais e sociais, com

    resultados ainda carentes de um olhar avaliativo mais aprofundado pela teoria museolgica,

    principalmente no que tange aos modelos e objetivos de sustentabilidade das populaes

    envolvidas.

    Este trabalho visa a explicitar que, para alm do j conhecido modelo de museu de

    territrio voltado aos processos de musealizao dos modos de viver das populaes, em

    distintas regies rurais em todo o mundo, faz-se imperativo alastrar o nosso olhar para o

    cenrio urbano, cada vez mais convulso e carente de uma mirada patrimonial integradora.

    O Museu da Cidade de So Paulo, como objeto de estudo e de

    problematizao museolgica, busca explicitar uma metodologia interdisciplinar, j

    testada entre 2003 e 2004, que enuncia a concepo de um novo modelo de museu de

    cidade, que tem como objeto de anlise a grande metrpole So Paulo, em

    interlocuo com as lgicas prprias do mundo globalizado, porm canonicamente

    erigida sobre os preceitos fundadores da Sociomuseologia.

    2 Em Viagem na Irrealidade Cotidiana, Eco cita Na ghost town, ao contrrio, a teatralidade sendo explcita, a alucinao exercida ao tornar os visitantes participantes da cena e portanto participantes daquela feira comercial que aparentemente faz parte da fico, mas de fato constitui a finalidade substancial de toda a mquina imitativa. (1984, p. 54)

    Maria Ignez Mantovani Franco Museu da Cidade de So Paulo: Um Novo Olhar da Sociomuseologia para uma Megacidade

    Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias - Departamento de Arquitetura, Urbanismo, Geografia e Artes Plsticas 17

    colaborarem na conscientizao das populaes rurais sobre a complexidade dos

    problemas enfrentados nas grandes cidades. Ou seja, a noo de museu de territrio

    direciona-se enfaticamente ao meio rural, pois, ao se dirigir aos museus de cidade, o

    documento reafirma um discurso de resistncia contra a migrao campo-cidade. Embora

    citado no documento, o museu de cidade no alvo de ateno, mas sim chamado como

    instrumento de alerta capaz de evidenciar os perigos do deslocamento do homem do campo

    para a cidade. O homem urbano no ainda objeto de preocupao, mas serve,

    involuntariamente, como modelo no recomendvel, diante da iminncia do movimento

    inexorvel de xodo rural.

    Sob esta tica se insere a proposio do presente trabalho. luz das teorias da

    Sociomuseologia, o museu de territrio adquire, nos sculos XX e XXI, lugar atpico nas

    interlocues museolgicas. To enriquecedor ou mais que outros tantos formatos, este

    modelo assume riscos e dinmicas muito particulares que, no fosse por seus tantos

    mritos, apenas a ousadia j lhes conferiria sentido de existir. Nas sucessivas aplicaes

    deste modelo, tanto na Europa quanto na Amrica Latina, excetuando-se enfaticamente os

    living history museums americanos2, os museus de territrio abrangem experincias em

    cenrio no urbano, recuperando prticas rurais, tecnolgicas, ambientais e sociais, com

    resultados ainda carentes de um olhar avaliativo mais aprofundado pela teoria museolgica,

    principalmente no que tange aos modelos e objetivos de sustentabilidade das populaes

    envolvidas.

    Este trabalho visa a explicitar que, para alm do j conhecido modelo de museu de

    territrio voltado aos processos de musealizao dos modos de viver das populaes, em

    distintas regies rurais em todo o mundo, faz-se imperativo alastrar o nosso olhar para o

    cenrio urbano, cada vez mais convulso e carente de uma mirada patrimonial integradora.

    O Museu da Cidade de So Paulo, como objeto de estudo e de

    problematizao museolgica, busca explicitar uma metodologia interdisciplinar, j

    testada entre 2003 e 2004, que enuncia a concepo de um novo modelo de museu de

    cidade, que tem como objeto de anlise a grande metrpole So Paulo, em

    interlocuo com as lgicas prprias do mundo globalizado, porm canonicamente

    erigida sobre os preceitos fundadores da Sociomuseologia.

    2 Em Viagem na Irrealidade Cotidiana, Eco cita Na ghost town, ao contrrio, a teatralidade sendo explcita, a alucinao exercida ao tornar os visitantes participantes da cena e portanto participantes daquela feira comercial que aparentemente faz parte da fico, mas de fato constitui a finalidade substancial de toda a mquina imitativa. (1984, p. 54)

    Maria Ignez Mantovani Franco Museu da Cidade de So Paulo: Um Novo Olhar da Sociomuseologia para uma Megacidade

    Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias - Departamento de Arquitetura, Urbanismo, Geografia e Artes Plsticas 17

    colaborarem na conscientizao das populaes rurais sobre a complexidade dos

    problemas enfrentados nas grandes cidades. Ou seja, a noo de museu de territrio

    direciona-se enfaticamente ao meio rural, pois, ao se dirigir aos museus de cidade, o

    documento reafirma um discurso de resistncia contra a migrao campo-cidade. Embora

    citado no documento, o museu de cidade no alvo de ateno, mas sim chamado como

    instrumento de alerta capaz de evidenciar os perigos do deslocamento do homem do campo

    para a cidade. O homem urbano no ainda objeto de preocupao, mas serve,

    involuntariamente, como modelo no recomendvel, diante da iminncia do movimento

    inexorvel de xodo rural.

    Sob esta tica se insere a proposio do presente trabalho. luz das teorias da

    Sociomuseologia, o museu de territrio adquire, nos sculos XX e XXI, lugar atpico nas

    interlocues museolgicas. To enriquecedor ou mais que outros tantos formatos, este

    modelo assume riscos e dinmicas muito particulares que, no fosse por seus tantos

    mritos, apenas a ousadia j lhes conferiria sentido de existir. Nas sucessivas aplicaes

    deste modelo, tanto na Europa quanto na Amrica Latina, excetuando-se enfaticamente os

    living history museums americanos2, os museus de territrio abrangem experincias em

    cenrio no urbano, recuperando prticas rurais, tecnolgicas, ambientais e sociais, com

    resultados ainda carentes de um olhar avaliativo mais aprofundado pela teoria museolgica,

    principalmente no que tange aos modelos e objetivos de sustentabilidade das populaes

    envolvidas.

    Este trabalho visa a explicitar que, para alm do j conhecido modelo de museu de

    territrio voltado aos processos de musealizao dos modos de viver das populaes, em

    distintas regies rurais em todo o mundo, faz-se imperativo alastrar o nosso olhar para o

    cenrio urbano, cada vez mais convulso e carente de uma mirada patrimonial integradora.

    O Museu da Cidade de So Paulo, como objeto de estudo e de

    problematizao museolgica, busca explicitar uma metodologia interdisciplinar, j

    testada entre 2003 e 2004, que enuncia a concepo de um novo modelo de museu de

    cidade, que tem como objeto de anlise a grande metrpole So Paulo, em

    interlocuo com as lgicas prprias do mundo globalizado, porm canonicamente

    erigida sobre os preceitos fundadores da Sociomuseologia.

    2 Em Viagem na Irrealidade Cotidiana, Eco cita Na ghost town, ao contrrio, a teatralidade sendo explcita, a alucinao exercida ao tornar os visitantes participantes da cena e portanto participantes daquela feira comercial que aparentemente faz parte da fico, mas de fato constitui a finalidade substancial de toda a mquina imitativa. (1984, p. 54)

  • Maria Ignez Mantovani Franco Museu da Cidade de So Paulo: Um Novo Olhar da Sociomuseologia para uma Megacidade

    Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias - Departamento de Arquitetura, Urbanismo, Geografia e Artes Plsticas 18

    No cenrio dos museus de territrio, este modelo busca fomentar um

    caminho novo e alternativo, que observa e interage em relao a uma realidade

    inerente contemporaneidade, s megacidades, na medida em que busca

    problematizar e compreender as dinmicas prprias da vida humana nestes imensos

    e complexos territrios.

    Em relao ao eixo de sentido dos prprios museus de cidade, aqui considerados

    tradicionais apenas como artifcio de anlise, este modelo ora apresentado assinala uma

    nova proposio, na medida em que se apropria de elementos tericos da Sociomuseologia

    para reinventar as dinmicas precedentes. Se antes os museus de cidade eram

    receptculos de artefatos que tinham como misso referenciar a trajetria de uma

    determinada urbe, tendo nas dinmicas sociais um elemento contextualizador do discurso

    museolgico, neste novo modelo processa-se uma inverso: o museu de cidade, que se

    rege pela Sociomuseologia, considera que o discurso museal se d a partir das questes,

    problemas e argumentos das populaes em direo ao Museu e no em dinmica inversa.

    Esta nova lgica revolve principalmente os conceitos de poltica patrimonial de acervos, na

    medida em que o tempo presente assume o protagonismo das aes. O Museu prope-se o

    desafio de interagir com as diferentes populaes em tempo real, procurando referenciar o

    presente, visando construo coletiva de uma perspectiva de futuro. A coleta

    contempornea de acervos, que vem sendo exercitada por alguns museus inovadores, de

    diferentes tipologias, notadamente os de natureza histrica, desde as dcadas de 1970 e

    1980, assume agora diferente roupagem e empresta a este novo modelo estratgias

    singulares, como destaca Huyssen:

    ... surgiu o museu como a instituio paradigmtica que coleciona, preserva e conserva o que tenha sucumbido aos estragos da modernizao. Porm, ao faz-lo, inevitvel que construa o passado luz dos discursos do presente e em funo dos interesses do presente. Fundamentalmente dialtico, o museu serve como cmara sepulcral do passado com tudo que isto implica de deteriorao, eroso e esquecimento e como sede de possveis ressurreies, ainda que mediatizadas e contaminadas, aos olhos do espectador. Por mais que o museu, consciente ou inconscientemente, produza e afirme a ordem simblica, h sempre um significado que supera as fronteiras ideolgicas estabelecidas, abrindo espaos reflexo e memria anti-hegemnica. (Huyssen, 1995, p. 58)

    Outro elemento de anlise que se interpe nesta dinmica museal a nova

    proposio em relao centralidade urbana. O modelo tradicional de museu de cidade

    re