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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE O REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO (RDD) E SUA EFETIVIDADE EM FACE DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NAS PRISÕES BRASILEIRAS Por: Moisés Hora Santos Junior Orientador Prof. FRANCIS RAJZMAN Rio de Janeiro 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

O REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO (RDD) E SUA

EFETIVIDADE EM FACE DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS

NAS PRISÕES BRASILEIRAS

Por: Moisés Hora Santos Junior

Orientador

Prof. FRANCIS RAJZMAN

Rio de Janeiro 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

O REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO (RDD) E SUA

EFETIVIDADE EM FACE DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS

NAS PRISÕES BRASILEIRAS

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como condição prévia para a

conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato

Sensu” em Direito Penal e Processo Penal.

Por: Moisés Hora Santos Junior

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais que me ensinaram os valores corretos que procuro insistentemente seguir e me servem de rumo. À minha esposa Michelle e minha filha Marina que sempre estão presentes e justificam e recompensam o trabalho. Ao meu amigo Perseu que mesmo sem saber me ensina como se portar diante das pessoas. Ao Coronel Mario Sergio de Brito Duarte, conselheiro e amigo, minha admiração e respeito eterno.

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DEDICATÓRIA

A todos os professores e amigos que ajudaram a conclusão desse curso.

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RESUMO

A presente pesquisa análise as questões polêmicas acerca do

regime disciplina diferenciadas em face das organizações criminosas nas

prisões brasileiras.

Objetiva-se com esse estudo aprofundar o entendimento sobre a

eficácia do RDD no combate a ação das organizações criminosas nas

penitenciárias.

Existem entendimentos por parte da doutrina em relação à Lei nº.

10.792/2003 fere os princípios constitucionais em face dos direitos

fundamentais. É necessária a criação de ações diversificadas para combater tal

atividade ilegal, que refletem em promover investigações mais apuradas e

detalhadas, que não são as utilizadas tradicionalmente, uma vez que, as

facções criminosas continuam fazendo uso de telefones celulares dentro dos

presídios. .

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METODOLOGIA

Esse estudo foi elaborado a partir de pesquisa bibliográfica,

exploratória e explicativa.

Buscar certo conhecimento resulta no agrupamento de atividades

intelectuais e também racionais, por meio da aplicação de instrumentos que

ajudam ao pesquisador ao objetivo pretendido.

Os dados utilizados para a criação dessa pesquisa foram obtidas por

meio de fontes secundárias e de relevante pesquisa bibliográfica. Inicialmente,

foram feitas leituras disciplinas, anotações e consultas a trabalhos das

disciplinas deste curso, para entaõ, se estruturar a coleta de através do estudo

bibliográfico.

Foi aplicada a pesquisa explicativa, objetivando identificar se a Lei nº

12.403/11 fortaleceu o princípio da presunção de inocência ou criou uma maior

ideia acerca da impunidade. Destaca-se que, a escolha por esse tipo de

técnica de investigação, não significa que as demais não sejam igualmente

aplicáveis, pelo fato de que essas configuram as etapas iniciais e

indispensáveis para buscar explicações científicas.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................. 10

CAPÍTULO 1 -O SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

1.1. Levantamento histórico......................................................................... 12

1.2. Espécies de estabelecimentos prisionais............................................. 17

1.2.1. Penitenciária de segurança máxima ou média................................ 17

1.2.2. Colônias penais............................................................................... 19

1.2.3. Casa de albergados........................................................................ 20

1.2.4. Hospital de custódia e tratamento psiquiátrico................................ 22

CAPÍTULO 2 - QUANTO AOS REGIMES DE CUMPRIMENTO DE PENA

2.1. Noções Gerais...................................................................................... 23

2.2. Modalidades de regimes penitenciários............................................... 25

2.2.1. Regime fechado............................................................................. 25

2.2.2. Regime semiaberto ......................................................................... 27

2.2.3. Regime aberto................................................................................ 30

CAPÍTULO 3 - AS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO CONTEXTO

DOS PRESÍDIOS

3.1. Contextualização histórica.................................................................... 33

3.2. As primeiras organizações criminosas no Brasil.................................. 36

3.3. Formas de atuação das organizações criminosas nos interior das

prisões..........................................................................................................

39

3.2.1. Incitação de rebeliões...................................................................... 39

3.2.2. Intimidação...................................................................................... 40

3.2.3. Comércio clandestino...................................................................... 42

CAPÍTULO 4 - ANALISE ACERCA DA APLICAÇÃO DO REGIME

DISCIPLINAR DIFERENCIADO (RDD) NO COMBATE AO DOMÍNIO

DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NAS PENITENCIÁRIAS

4.1. Noções gerais acerca da lei nº 10.792/2003........................................ 43

4.2. Aplicação nos RDD na visão da CRFB⁄88........................................... 47

CONCLUSÃO............................................................................................... 52

BIBLIOGRAFIA......................................................................................... 55

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INTRODUÇÃO

Essa pesquisa monográfica se propõe a analisar a aplicação do

Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) nos presídios nacionais objetivando o

combate as ações promovidas pelas organizações criminosas.

Como é noticiado constantemente através das mídias, as

organizações criminosas exercer um forte controle no interior das

penitenciárias, seja iniciando rebeliões, extorsão e também incitação ao medo

e ao terror.

As referidas organizações surgem a partir da reunião de seus

integrantes que são submetidos às ordens dos chamados chefes das facções,

colaborando na execução das atividades criminosas.

O questionamento dessa pesquisa consiste em: A aplicação do

regime disciplinar diferenciado é eficaz para combater o domínio das

organizações criminosas no interior das penitenciárias?

A referida monografia consubstancia-se na hipótese de que, ainda

que o RDD seja realmente um regime mais rigoroso, diante do crescimento e

fortalecimento das organizações criminosas dentro dos presídios, torna-se uma

arma poderosa para combatê-las.

Objetiva-se com esse estudo apresentar de que forma o regime

disciplinar diferenciado é aplicado nas penitenciárias com a finalidade de

reprimir as ações das organizações criminosas nos presídios.

O tema torna-se relevante pelo fato de ser comum em diversas

penitenciárias a ação das organizações criminosas chefiadas por detentos.

Dessa forma, atualmente se faz extremamente necessário que o Poder Público

efetive mecanismos para conter tais ações, que são intituladas de poder

paralelo, pelo qual as leis são ditadas pelos chefes do tráfico de drogas com

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mais influência. Assim, o RDD é uma alternativa para o combate ao

crescimento de poderio dessas organizações.

A metodologia para realização dessa monografia consiste na

pesquisa bibliográfica, que apresenta como finalidade, reunir os argumentos

dos principais autores dedicados à abordagem do tema. Quanto aos fins, essa

pesquisa é descritiva, ou seja, visa detalhar o funcionamento do Regime

Disciplinar Diferenciado e seus benefícios ao controle e combate das ações

das organizações criminosas no interior dos presídios.

Para melhor compreensão do tema proposto, esse estudo foi

estruturado em quatro capítulos dispostos da seguinte forma:

No primeiro capítulo levanta-se a origem das prisões e as

modalidades de penitenciárias.

No segundo capítulo analisa-se o sistema penitenciário, abordando

as espécies de regimes adotados pelo processo penal.

No terceiro capítulo analisam-se os reflexos das ações promovidas

pelas organizações criminosas no interior dos presídios.

No quarto capítulo verifica-se como é aplicado o Regime Disciplinar

Diferenciado (RDD) com a finalidade de combater o crescimento do terror

imposto pelas organizações criminosas e suas facções nas penitenciárias.

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CAPÍTULO 1

O SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO

Este capítulo apresenta a contextualização histórica da prisão no Brasil e

as formas de regimes penitenciários admitidos pelo ordenamento jurídico.

1.1. Levantamento histórico

No Brasil, a partir do seu descobrimento já se manifestava os

elementos formadores das prisões. Destaca-se que, nos tempos das

Ordenações do Reino (Afonsinas, Manuelinas e Filipinas), os criminosos eram

mantidos aprisionados nas celas remanescentes da época imperial.1

Com a escravidão, as pessoas não possuíam o direito de ir e vir,

pelo fato de estarem sob a custódia dos seus senhores e aprisionados nas

senzalas. Nesse sentido, as crianças também.

Em relação ao aprisionamento como forma de sanção, no entanto,

somente surgiu aproximadamente, há duzentos anos, por isso é possível

afirmar que a mesma é recente no que se refere a pena. Assim como na época

da sua criação até hoje, a prisão mantém como finalidade: a punição, inibir o

cometimento de novos crimes e recuperação do criminoso.

No ano de 1822, D. Pedro I buscou a adoção de uma Constituição,

uma vez que, nesse momento o país ainda era comandado pelas Ordenações.

Nesse contexto, a primeira Constituição do Brasil foi promulgada e 1824, nela

1 As referidas cadeias eram consideradas: “muito boa e bem acabada com casa de audiência e câmara em cima, tudo de pedra e barro rebocadas de cal, e telhado com telha” (TAVARES, Luís Henrique Dias. História da Bahia.10ª ed. São Paulo: UNESP, 2008, p. 125)

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determinou-se a extinção de algumas penas consideradas mais rigorosas e

também muito cruéis que vigoravam na época, dentre elas: açoites, a forca e

os esquartejamentos, que eram aplicados aos criminosos.

Com o advento do Código Penal de 1830, acontece a uma mudança,

ou seja, a prisão que antes era aplicada como maneira resguardar a sentença

proferida passa a ser pena, ainda que não houvesse um equilíbrio entre o delito

e a sanção. Nesse contexto, chegavam ao fim as penas de terror, fazendo uma

transição com a denominada, humanização das penas. Ou seja, o criminoso

sofreria a sanção de acordo com a infração cometida, e a pena de morte

decretada somente para os casos de homicídio, latrocínio e qualquer crime

cometido o Imperador ou sua família.

Destaca-se o entendimento de Michel Foucault acerca desse

momento da história, ensinando que: “o até então denominado processo

punitivo, ligado à ideia de castigo, transforma-se, com o sistema carcerário, em

técnica penitenciária, agora direcionada à ideia de adestramento”. 2

Analisando o Código Penal de 1830, Luiz Francisco Carvalho Filho

apresenta o seguinte entendimento:

Com o advento Código Criminal de 1830 foram estabelecidas as penas de prisão com trabalho, que em determinadas hipóteses poderia ser de caráter perpétuo, e de prisão simples, que consistia na reclusão pelo tempo marcado na sentença, a ser cumprida “nas prisões públicas que oferecerem maior comodidade e segurança e na maior proximidade que for possível dos lugares dos delitos”.3

Em 1850 foi criada a primeira prisão no país, a Casa de Correção no

Rio de Janeiro, mais conhecida como Complexo Frei Caneca. (Nos moldes da

Aubur4).

2 FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir, tradução de Ligia M. Pondé Vassalo, Petrópolis, Vozes, 2003, p. 33. 3 FILHO, Luis Francisco Carvalho A prisão. São Paulo: Publifolha, 2009, p. 38. 4 Prisão localizada em Nova Iorque, conhecida por ser a primeira prisão a estabelecer o regime de cela única, a técnica punitiva aplicada na Casa de Correição da Corte consistia na reabilitação dos presos

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De acordo com Cesare Becare:

O fim das penas não é atormentar e afligir um ser sensível, nem desfazer um crime que já foi cometido. Os castigos têm por fim único impedir o culpado de ser nocivo futuramente à sociedade e desviar seus concidadãos da sena do crime. A proporcionalidade da punição adquire valor utilitário. Quanto mais atrozes forem os castigos, tanto mais audacioso será o culpado para evitá-los. Acumulará os crimes para subtrair-se à pena merecida pelo primeiro. 5

Com o advento do Código Penal de 1890, extinguiram-se a pena de

morte e começou a ser aplicado o regime penitenciário de natureza correcional,

ou seja, com finalidade de buscar ressocializar os condenados. Segundo René

Dotti, o referido diploma:

[...] criou outras medidas privativas da liberdade individual, mas de aplicação restritiva: reclusão, para crimes políticos, em fortalezas, praças de guerra ou presídios militares; prisão disciplinar, para menores vadios até idade de 21 anos, em estabelecimentos industriais; e prisão com trabalhos, para vadios e capoeiras, em penitenciárias agrícolas. 6

No entanto, nota-se uma controvérsia no texto da lei e a realidade

dos presídios. O diploma de 1830 assim com o da época do Império, concedia

que a pena fosse executada por meio do trabalho prestado, nas penitenciárias

existentes e, nos locais que não tivessem esse tipo de possibilidade, no caso

de presídio comum, era acrescentado mais um sexto à duração da sentença.

De acordo com Adeildo Nunes:

No Código Penal de 1890, elaborado após a proclamação da República de 15.11.1889, a pena privativa de liberdade, já enraizada nos costumes brasileiros, foi determinada em espécies. A prisão celular, v.g., era cumprida com o isolamento celular do recluso que era obrigado ao trabalho. Sua aplicação era observada em quase todos os tipos de crime e em algumas

através do trabalho obrigatório nas oficinas durante o dia e o isolamento celular noturno. (PORTO, Roberto. Crime organizado e sistema prisional. São Paulo: Atlas, 2010, p. 14). 5 BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. 4ª Ed. Tradução José Cretella Junior e Agnes Cretela. São Paulo: RT, 2011, p. 83. 6 DOTTI, René Ariel. Curso de direito penal – Parte Geral. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012, p. 958.

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contravenções. Outra espécie de pena privativa de liberdade, era a de reclusão, cuja execução penal era feita em estabelecimentos militares e fortalezas. A prisão com trabalho obrigatório ainda persistia.7

Em São Paulo no ano de 1920, deu início as atividades da prisão do

Estado, com status de ponto inicial para o desenvolvimento das prisões. Acerca

dessa penitenciária ensina Fernando Salla que:

A nova penitenciária se encaixava num amplo projeto de organização social elaborado pelas elites do período, no qual um estabelecimento prisional deveria estar à altura do progresso material e moral do Estado. [...] a emergência da Penitenciária do Estado, em São Paulo, é um marco importante na história do encarceramento no Brasil. Ela se encaixa num amplo projeto de organização social elaborado pelas elites do período, no qual um estabelecimento prisional deveria estar à altura do "progresso material e moral" do estado. 8

No ano de 1940 foi promulgado o Código Penal que vige até hoje,

que decretou as formas de penas privativas de liberdade (reclusão e detenção)

e também estabeleceu tanto o livramento condicional como o sistema

progressivo para execução das penas.

e também estabeleceu tanto o livramento condicional como o

sistema progressivo para execução das penas.

. Nesse sentido, Adeildo Nunes explica que:

[...] é essa a visão do atual Código Penal de 1940 - com a grande reforma na sua Parte Geral ocorrida em 1984 - e da atual Lei de Execução Penal que é de 1984. A pena de prisão, nesse prisma, deveria servir como forma de intimidação à prática de ilícitos penais, vislumbrando uma punição exemplar àqueles que indistintamente cometessem crimes, mas, acima de tudo, pugnava-se para que ela exercesse o mister de reintegrar o delinquente à sociedade, até porque o Brasil, felizmente, não adota a pena de morte nem a prisão perpétua, significando dizer, portanto, que o presidiário retornará ao convívio social, mais dias, menos dias, queiram ou não os adeptosda pena capital. Ocorre, todavia, que nos seus 200 anos de existência a

7 NUNES, Adeildo. Execução penal. Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 170. 8 SALLA, Fernando. As prisões em São Paulo: 1822-1940. São Paulo: Annablume, 2005, p. 185.

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pena de prisão jamais cumpriu com a sua função social especificamente consagrada na norma jurídica.9

No ano de 1956 foi inaugurada a Casa de Detenção de São Paulo,

com a finalidade de aprisionar os infratores que aguardavam julgamento e

também os já sentenciados. Objetivando o cumprimento da individualização da

pena, foram criados no país os Institutos Penais Agrícolas, onde durante o dia

os detentos trabalhavam e a noite, permaneciam na cela.

Explica René Ariel Dotti que:

A grave situação de espaço dos estabelecimentos finais foi constatada e nacionalmente divulgada através da CPI do Sistema Penitenciário, instaurada na Câmara dos Deputados (1975-1976), tendo o seu relator, Deputado Ibrahim Abi-Ackel denunciado, com grande veemência, os males da superpopulação carcerária que deteriora o caráter, gera o hábito da ociosidade, produz a alienação mental, a perda paulatina da aptidão para o trabalho e outras conseqüências desse confinamento promíscuo.10

Destaca-se que, essas instituições foram alvos de críticas acirradas,

uma vez que, alguns argumentavam que o fato dos prisioneiros prestarem

serviços ao ar livre era motivo de constrangimento para a sociedade. Em

relação ao trabalho executado pelos detentos, ensina Roberto Porto que:

O trabalho não era entendido como forma de punição ao criminoso, mas como instrumento indispensável à transformação do indivíduo. No regime carcerário aplicado na Casa de Correição da Corte, o trabalho era elemento destinado a extrair dos corpos dos condenados o máximo de tempo e de suas forças, obrigando-os a bons hábitos. No entanto, a tentativa de requalificação do criminoso através do trabalho obrigatório não oferecia o preceito básico da remuneração. 11

A Lei nº. 7.210/84 regulamentou a Execução Penal no país, atuando

juntamente com a Reforma da Parte Geral do Código Penal, que

representando importante mudança no cenário jurídico. Dessa forma, no

período de 1984 até 1995 o legislador estabeleceu que a pena de prisão fosse

9 NUNES, Adeildo. op.cit, p. 170. 10 DOTTI, René Ariel. op. cit., p. 967. 11 PORTO, Roberto. op.cit. p. 14.

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a única forma de repressão contras os crimes cometidos. No entanto, em 1995

foi promulgada a Lei dos Juizados Especiais Criminais, através da qual os

delitos de menor potencial ofensivo, ficavam isentos da aplicação da pena

privativa de liberdade, passando a vigorar a pena restritiva de direitos, para

qualquer crime o qual a pena cominada fosse igual ou inferior a um ano. Nesse

contexto, ainda editou-se a Lei nº. 10.259⁄2001, promulgada com objetivo de

regulamentar os Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito Federal.

Em análise acerca das penitenciárias do país, Álvaro Mayrink da

Costa apresenta o seguinte observação:

Os principais problemas são conhecidos do público em geral (superlotação, tortura e impunidade, ausência de assistência jurídica, falta de banho de sol, ausência de tratamento médico, má qualidade da água e da comida, busca pessoal vexatória nas partes íntimas das mulheres e parentes dos encarcerados, filas de pessoas cansadas e idosas debaixo do sol e da chuva por horas para tentar a visita, ociosidade do encarcerado por não ter oportunidade de remir a pena pelo estudo ou pelo trabalho, diante da insuficiência de programas de trabalho e de salas de aula e professores), pois o único objetivo direto da atenção da administração penitenciária é a disciplina exacerbada com violências pessoais e tratamento degradante aos condenados, razão pela qual eclodem rebeliões nas unidades penitenciárias. O sistema se resume na tranca medieval, tudo em nome da segurança e disciplina máximas.12

O legislador pátrio buscou inspiração no direito penal da Europa

para a adoção das penas alternativas em substituição à prisão, que se

destinariam apenas para os delitos de grande potencial ofensivo,

especialmente nos crimes hediondos ou equiparados e, ainda nas hipóteses

onde for provada a relevante custódia do sentenciado.

No entanto, a prisão em face do atual caráter do Direito Penal,

obriga a sua adoção, apenas nos crimes de maior potencial ofensivo. Destaca-

se que, dificilmente o aprisionamento consegue o seu objetivo de ressocializar

o condenado, enquanto a pena restrita de direito promovem com maior eficácia

a almejada recuperação e também não geram custos para o Estado e

12 COSTA, Álvaro Mayrink da. Direito penal. Rio de Janeiro: Forense, 2010. p. 205.

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apresenta reincidência mínima.

Sobre a atual situação dos presídios do Brasil, Adeildo Nunes ensina

que:

Em junho de 2011, no Brasil, mais de 510 mil presos povoavam nossos quase dois mil estabelecimentos prisionais oficiais, aqui se compreendendo penitenciárias, presídios, cadeias públicas, colônias penais, prisões albergues e hospitais de custódia e tratamento psiquiátricos. Somente no Estado de São Paulo existem mais de 190 mil detentos custodiados, praticamente metade de todo o contingente carcerário nacional. Todos os meses ingressam nas prisões paulistas perto de 900 novos detentos. Haveria necessidade de o Estado construir a cada mês uma nova unidade prisional, o que é absolutamente impossível de acontecer. Dados oficiais fornecidos pelas polícias brasileiras dão conta de que mais de 300 mil mandados de prisão estão nas prateleiras das nossas Delegacias de Polícia aguardando o cumprimento. A superlotação carcerária, por conseguinte, é um dos grandes problemas que sufocam nosso sistema carcerário.13

As fugas, a corrupção, rebeliões, tráfico de drogas e armas, facções

criminosas e a tortura a presos são outros males que comprometem o sistema

penitenciário brasileiro.

Bernardo Montalvão Varjão de Azevedo também acerca da situação

das penitenciárias apresenta as seguintes observações:

É em meio a este cenário que os agentes do Estado (agentes carcerários) criam dificuldades (o contato entre visitantes e condenados) para vender facilidades (compra de gêneros alimentícios, dentre outros itens) e, com o passar dos anos, vai se constituindo uma sociedade paralela com regras e valores próprios. Uma sociedade que seleciona seus líderes e os condecora. E enquanto essa sociedade se edifica pela reincidência, os habitantes do mundo de Alice continuam a acreditar na fábula da ressocialização. Mas, não é possível ressocializar alguém o retirando da sociedade.14

Claudio do Prado Amaral, resumindo a vida carcerária nacional,

13 NUNES, Adeildo, op.cit, p. 173. 14 AZEVEDO, Bernardo Montalvão Varjão. Superlotação do cárcere: um problema para o Estado. Boletim IBCCRIM, p. 14, maio 2010.

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ensina que, não me parece difícil entender porque ainda admitimos, quase

passivamente, que um detento, no Brasil, passe a noite dormindo ao lado de

uma latrina fétida e imunda, e sim como mais um soldado do crime organizado,

que foi sua referência e sua salvação dentro da cadeia.15

A solução mais aparente para atenuar a grave crise carcerária

brasileira, dentro outras, está na construção de novos estabelecimentos

prisionais, aplicação das penas alternativas aos crimes de leve e médio

potencial ofensivo, punição severa aos torturadores de presos, aos corruptores

e corrompidos, efetivo cumprimento da Lei de Execução Penal, humanização

das nossas prisões e uma boa prevenção ao crime.

1.2. Espécies de estabelecimentos prisionais

A regulamentação acerca dos estabelecimentos prisionais é

disciplinada nos artigos 82 a 104 da LEP, como serão apresentados nos itens

seguintes.

1.2.1. Penitenciária de segurança máxima ou média

Esse tipo de penitenciária é dedicado aos sentenciados à pena de

reclusão, no regime fechado e, geralmente, para crimes de maior potencial

ofensivo. Estabelece o artigo 87 da LEP, in verbis:

Art. 87- A penitenciária destina-se ao condenado à pena de reclusão, em regime fechado. Parágrafo único. A União Federal, os Estados, o Distrito Federal e os Territórios poderão construir Penitenciárias destinadas, exclusivamente, aos presos provisórios e condenados que estejam em regime fechado, sujeitos ao regime disciplinar diferenciado, nos termos do art. 52 desta Lei. (Acrescentado pela L-010.792-2003)

15 AMARAL, Cláudio do Prado. Razões históricas de um sistema penal cruel. Boletim IBCCRIM, p.2, jan. 2011.

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Verifica-se que a Lei nº 11.942/09, buscou atender aos preceitos da

Constituição Federal de 1988, assim como a isonomia (tratamento desigual as

situações desiguais), dignidade da pessoa humana, e obrigatoriedade de

construção de estabelecimentos diferentes para o cumprimento da pena em

relação ao gênero do condenado, promoveu inovações relevantes.

Cláudio Mendes Júnior explica que:

O grave problema da mulher presa se potencializa quando esta possui filho menor, uma vez que impõe separação em período no qual o acompanhamento e a presença da mãe na vida do filho se fazem fundamental. Antes da reforma implementada na LEP pela Lei 11.942/09, o seu art. 89 previa apenas em caráter facultativo (poderá) a dotação das penitenciárias femininas de seção para gestante e parturiente bem como de creche, sem sequer estabelecer idade limite das crianças beneficiárias.16

Segundo o artigo 90 da LEP: “A penitenciária será construída em

local afastado do centro urbano, à distância que não restrinja a visitação”.

Os aprisionados submetidos a esse tipo de instituição possuem

direito ao trabalho interno e, de forma excepcional, externo em obras públicas

ou entidades privadas (art. 36, LEP).

Ressalta-se que, a cela é individual e deve contemplar às exigências

estabelecidas no artigo 88 da LEP, ou seja, a salubridade do ambiente pela

concorrência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmico

adequado à existência humana, numa área de, no mínimo, 6 m² (seis metros

quadrados).17

1.2.2. Colônias penais

16 JÚNIOR, Cláudio Mendes. Execução Penal e Direitos Humanos - Para Provas e Concursos - Questões de Concursos Públicos para a área Penitenciária Federal e Estadual comentadas sob a ótica da CF/88, da Lei 7.210/84 e demais normas pertinentes. Curitiba: Juruá, 2010, p. 56. 17 Disponível em: http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/anotada/2700735/art-88-da-lei-de-execucao-penal-lei-7210-84. Acesso em: 20 mai 2012.

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Prevê o artigo 91 da LEP: “A Colônia Agrícola, Industrial ou similar

destina-se ao cumprimento da pena em regime semiaberto”.

Para que o detento entre na colônia penal, necessita ser realizada

uma seleção adequada entre os apenados, considerando-se os antecedentes,

a personalidade e também o resultado do exame realizado pela Comissão

Técnica de Classificação, objetivando alcançar a finalidade da individualização

da pena. Destaca o artigo 122 da LEP, in verbis:

Art. 122- Os condenados que cumprem pena em regime semi-aberto poderão obter autorização para saída temporária do estabelecimento, sem vigilância direta, nos seguintes casos: I - visita à família; II - frequência a curso supletivo profissionalizante, bem como de instrução do segundo grau ou superior, na comarca do Juízo da Execução; III - participação em atividades que concorram para o retorno ao convívio social.

As colônias penais abrigam presos condenados inicialmente em

regime semiaberto, os que para lá são transferidos por força de progressão de

regime ou que venham a regredir de regime, nas vezes em que cometem falta

grave no regime aberto.

Ao contrário do regime fechado o detento fica isolado à noite, e o

trabalho externo apenas é possível em serviços ou obras públicas, sendo

vigiado (artigo 3º da LEP), já no regime semiaberto o preso tem a faculdade de

prestar serviços e também estudar, sem vigilância, desde seja autorizado pela

autoridade judicial. Julio Fabrinni Mirabete ensina sobre as colônias penais

que:

Os estabelecimentos semiabertos têm configuração arquitetônica mais simples, uma vez que as precauções de segurança são menores do que as previstas para as penitenciárias, fundando-se o regime principalmente na capacidade de senso de responsabilidade do condenado, estimulando e valorizando, que o leva a cumprir com os deveres próprios de seu status, em especial o de trabalhar, submeter-se à disciplina e não fugir.18

18 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução penal, 11ª Ed. São Paulo, Atlas, 2006, p 84.

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Também sobre o sobre o regime semiaberto, explica Renato Flávio

Marcão que:

Não obstante a literalidade do texto é notória a falência do regime semiaberto, que pode ser identificado por diversos fatores. Em primeiro lugar, e destacadamente, exsurge a absoluta ausência de estabelecimentos em número suficientes para o atendimento da clientela. Diariamente, milhares de condenados recebem pena a ser cumprida em regime inicial semiaberto. Entretanto, em sede de execução, imperando a ausência de vagas em estabelecimento adequado, a alternativa tem sido determinar que se aguarde vaga recolhido em estabelecimento destinado ao regime fechado, em absoluta distorção aos ditames da Lei de Execução Penal. Não raras vezes a pena que deveria ser cumprida desde o início no regime intermediário, acaba sendo cumprida quase que integralmente no regime fechado. 19

Destaca-se que, o perfil do condenado que entra no regime

semiaberto, geralmente, é autor de crimes de médio potencial ofensivo, pelo

qual o magistrado decretou uma sanção de até oito anos de reclusão. Depois,

trata-se, tantas vezes, de um condenado que já passou pelo regime fechado,

alcançando tal direito ao semiaberto pelo bom comportamento.

1.2.3. Casa de albergados

Esse tipo de instituição é destinado aos presos do regime aberto.

Estabelecem os artigos 93 e 94 da LEP, in verbis:

Art. 93 - A Casa do Albergado destina-se ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em regime aberto, e da pena de limitação de fim de semana. Art. 94 - O prédio deverá situar-se em centro urbano, separado dos demais estabelecimentos, e caracterizar-se pela ausência de obstáculos físicos contra a fuga.

Renato Flávio Marcão argumenta que:

Afasta-se, desde logo, a conclusão equivocada daqueles que até agora pensam que a casa de albergado destinava-se

19 MARCÃO, Renato Flávio. Curso de Execução Penal. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 97.

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apenas e tão somente ao cumprimento da pena no semiaberto. Também a pena restritiva de direitos consistente na limitação de fim de semana há de ser cumprida em casa de albergado. Não é por outra razão que o art. 151 da lei, ao cuidar da pena de limitação de fim de semana, estabelece que caberá ao juiz da execução determinar a intimação do condenado, cientificando-o do local, dias e horário em que deverá cumprir.20

Entretanto, desde que foi promulgada a LEP, até a atualidade,

praticamente não foram construídas esse tipo de estabelecimento, pela total

falta de iniciativa das autoridades e ausência de uma política eficaz, o que vai

de encontro com as normas necessárias para o adequado cumprimento da

sentença para os detentos que integram o regime aberto.

O condenado chega ao aberto, ora porque foi condenado nesse regime, ora porque foi beneficiado pela progressão de regime. O que se sabe é que o regime aberto é fixado normalmente no Brasil, embora não haja um local apropriado para acomodar o detento, que ainda está cumprindo pena, portanto, permanece à disposição do Estado. O Código Penal Brasileiro, nesse aspecto, consagra que o regime aberto baseia-se na autodisciplina e no senso de responsabilidade do apenado e, por isso, o preso deve desenvolver uma atividade lícita durante o dia e no período noturno habitar a Casa.21

No entanto, essas Casas não foram construídas desde a edição da

LEP, nem mesmo houve nenhum interesse na sua criação, o cotidiano dos

detentos em regime aberto devem se apresentar uma vez por mês em

estabelecimentos de apoio ao egresso, quando eles existem.

20 Idem, p. 98. 21 COSTA, Álvaro Mayrink da. op.cit., p. 123.

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1.2.4. Hospital de custódia e tratamento psiquiátrico

Esse modelo de estabelecimento é destinado aos inimputáveis, e o

detento depende de substâncias químicas entorpecentes, causando

dependência física e mental. Prevê o artigo 99 da LEP, in verbis:

Art. 99 - O Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico destina-se aos inimputáveis e semi-imputáveis referidos no Art. 26 e seu parágrafo único do Código Penal. Parágrafo único - Aplica-se ao Hospital, no que couber, o disposto no parágrafo único do art. 88 desta Lei.22

Tanto a prisão quanto o hospital psiquiátrico são estabelecimentos

de caráter disciplinar onde são empreendidos os procedimentos necessários

para a recuperação do condenado.

22 Disponível em: http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/anotada/10212053/art-99-da-lei-de-execucao-penal-lei-7210-84. Acesso em: 20 jun 2012.

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CAPÍTULO 2

QUANTO AOS REGIMES DE CUMPRIMENTO DE PENA

Neste capítulo analisam-se as formas de regimes de execução da

pena, analisando as características dos regimes: fechado, semiaberto e aberto.

2.1. Noções gerais

Efetivamente, o réu condenado23 a uma pena privativa de liberdade,

a fixação do regime prisional fica a cargo do Juiz sentenciante. Como já citado

no capítulo anterior dessa monografia, antes do Código Penal de 1940 não

havia os regimes prisionais. Nesse caso, a pena cominada efetivamente era a

prisão. Assim, os regimes fechado, semiaberto e aberto, foram criados com

objetivo de auxiliar a reintegração social do apenado, sendo possível que o

criminoso, gradualmente, pudesse ser preparado para voltarem ao convívio em

sociedade. No entanto, com a promulgação da Lei nº 8.072/90 (Lei dos Crimes

Hediondos - LCH), o regime integralmente fechado foi estabelecido no país,

com a finalidade de tornar as penas aos crimes mais graves mais rigorosas.

Dessa forma, com a vigência da LCH, aquele que praticasse, por

exemplo, um crime de estupro, não teria direito à progressão de regime e

deveria cumprir a sanção integralmente em regime fechado. Com a edição da

Lei nº. 9.455/97, que tratou do crime de tortura, o legislador criou o regime

inicialmente fechado.

Destaca-se que, no ano de 2006, o Supremo Tribunal Federal (STF),

em decisão entendeu pela inconstitucionalidade acerca da proibição da

progressão de regime nos crimes hediondos. Dessa forma, nos crimes graves,

a pena começa a ser cumprida no regime fechado, no entanto, a progressão é

23 Condenado é o réu contra o qual se profere a sentença condenatória (CPP, art. 387) sujeita aos recursos ordinário, especial e extraordinário. É um dos destinatários da execução penal (LEP, arts. 1º, 3º, 5º, 8º e s.).

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possível. O crime de tortura foi equiparado aos hediondos pela CRFB⁄88 e a Lei

nº. 9.455/97 previu o inicialmente o regime fechado, com diversos juízes

aplicando a regra mais benéfica ao réu, estabelecendo, nos crimes hediondos,

o regime inicialmente fechado. Nesse sentido, Adeildo Nunes argumenta que:

O certo é que até o Supremo Tribunal Federal decidir sobre o fim do regime integralmente fechado, a insegurança jurídica predominou no País, gerando uma série de decisões diferentes, pois tudo dependia da interpretação do Juiz de Execução. Com a decisão do STF em fevereiro de 2006, e com o advento da Lei Federal n. 11.464/2007, restou resolvida a questão, sem mais divergências judiciais ou doutrinárias.24

No momento em que o réu é sentenciado a uma pena privativa de

liberdade, o magistrado estipula o tempo e o tipo de regime para que a pena

seja cumprida, verificando o índice de gravidade do crime cometido, a conduta

social do infrator, como demais elementos estabelecidos no artigo 59 do

Código Penal, in verbis:

Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: (Alterado pela L- 007.209-1984) I - as penas aplicáveis dentre as cominadas; II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos; III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade; IV- a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível.

Os elementos previstos no dispositivo citado são analisados com a

finalidade de inibir a prática de crimes, e também de apresentar à sociedade

que o mesmo não fica impune. Pelo fato do Brasil não adotar as penas mais

rigorosas (pena de morte e prisão perpétua), logicamente que o apenado

voltará a viver em sociedade. Por esse motivo, a Lei de Execução Penal

estabelece que o Estado que decretou a punição, também realize a

24 NUNES, Adeildo, op.cit, p. 182.

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reintegração do apenado à sociedade. Nesse contexto, torna-se necessário

que o mesmo, possua na prisão o tratamento adequado para atingir esse fim.

2.2. Modalidades de regime penitenciário

2.2.1. Regime fechado

.

Estabelece o art. 33, § 2º, alínea “a”, do Código Penal, in verbis:

Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto. A de detenção, em regime semiaberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado. [...] § 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso: (Alterado pela L-007.209-1984) a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado;

De acordo com Jorge Vicente Silva, para quem não aceita que a

fixação da pena é o livre convencimento pessoal do juiz, nos termos do art. 5º,

inc. XLVI da CRFB⁄88 e art. 59, caput do CP, ultrapassada a reprimenda

corporal a oito anos, o regime a ser fixado será sempre o fechado, salvo

quando tratar-sede pena de detenção, hipótese em que o julgador deverá

demonstrar a necessidade da fixação deste regime.25

Segundo Marisya Souza e Silva:

Por certo o preso deve obedecer a uma série de regras disciplinares internas do estabelecimento prisional, como horário para as refeições e para repouso e o silêncio, apesar de nem sempre observados. Os presos, inclusive os do regime fechado, gozam de inúmeros direitos, dentre os quais o de vestuário adequado; prática de esportes e jogos; lazer; educação regular e profissionalizante; prática religiosa e outros enumerados na própria LEP e na Resolução 14, de

25 SILVA, Jorge Vicente. Manual da sentença penal condenatória - Requisitos e Nulidades. Curitiba: Juruá, 2010, p. 373.

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11.11.1944, que fixou as Regras Mínimas para o Tratamento do Preso no Brasil. 26

Destaca-se que, os crimes contra a liberdade sexual previsto como

hediondos são não permite sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória,

como também é impossível que sejam convertidas em penas em restritivas de

direitos, as mesmas serão executadas, a princípio, em regime fechado, ainda

que sejam resguardadas a situações de progressão de regime nas bases da

Lei de Execução Penal. Nesse sentido:

Hermenêutica. Crime hediondo. A CF/88 consagra o princípio da individualização da pena. Compreende três fases: cominação, aplicação e execução. Individualizar é ajustar a pena cominada, considerando os dados objetivos e subjetivos da infração penal, no momento da aplicação e da execução. Impossível, por isso, legislação ordinária impor (desconsiderando os dados objetivos e subjetivos) regime único, inflexível. De outro lado, o art. 35 (Lei 6.368/76) foi ab-rogado pelo art. 20, § 20 (Lei 8.072/90). Uma lei afeta a vigência de outra em três hipóteses, consoante o Dec.-lei4.657/42 (LICCB) (na verdade, aplicável a todo o Direito) quando: a) expressamente o fizer; b) a posterior for incompatível com a anterior; c) a posterior disciplinar inteiramente o mesmo tema. O art. 35 tratava do efeito processual da condenação (art. 12ou 13). O art 20, § 20, disciplina exata e exclusivamente essa hipótese. Em todas as sentenças condenatórias, relativas aos crimes definidos na Lei 8.072/90, o juiz decidirá fundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade. (STJ–Resp. 113.030 –Rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro – DJ 29.09.07)

Ressalta-se que, os apenados que não forem reincidentes em face

da pena de reclusão igual ou inferior a oito anos, estão ainda sujeitos a cumprir

a mesma no regime fechado, caso o magistrado dessa forma estabeleça com

base no texto do artigo 59 do Código Penal.

Estabelece o artigo 110 da LEP, in verbis: “O juiz, na sentença,

estabelecerá o regime no qual o condenado iniciará o cumprimento da pena

privativa de liberdade, observado o disposto no Art. 33 e seus parágrafos do

Código Penal”.

26 SILVA, Marisya Souza e, Crimes Hediondos & progressão de regime prisional . Curitiba: Juruá, 2008, p. 118.

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Destaca-se que, o regime inicial estipulado pela sentença

condenatória somente poderá ser alterada em grau recursal, que faz coisa

julgada formal e material. De acordo com Álvaro Mayrink da Costa:

Os requisitos para progressão são de ordem temporal e pessoal, exigindo-se o cumprimento de um sexto da pena contando da pena restante, pois o condenado já demonstrou mérito ao ser progredido. Não envolvem a avaliação do mérito os injustos e as ações penais em curso diante do princípio constitucional de inocência, bem como aspectos pertinentes ao crime pelo qual fora condenado. A motivação do mérito far-se-á, quando necessário, através do exame criminológico.27

De acordo com o artigo 111 da LEP: “Na hipótese de haver

condenação por mais de um delito, no mesmo ou em processos distintos, a

determinação do regime será feita pela soma da unificação das penas,

observadas, se for a hipótese, a detração ou a remissão”.

No caso da sentença surgir no período da execução, a mesma é

somada a pena restante que já está sendo executada para que seja

determinado o regime prisional.

2.2.2. Regime semiaberto

Estabelece o artigo 35 do CP, in verbis:

Art. 35 - Aplica-se a norma do Art. 34 deste Código, caput, ao condenado que inicie o cumprimento da pena em regime semi-aberto. (Alterado pela L-007.209-1984) § 1º - O condenado fica sujeito a trabalho em comum durante o período diurno, em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar. (Alterado pela L-007.209-1984) § 2º - O trabalho externo é admissível, bem como a frequência a cursos supletivos profissionalizantes, de instrução de segundo grau ou superior.

Esse regime refere-se na alteração para o regime aberto buscando

promover a reintegração do preso ao convívio em sociedade. Através do

27 COSTA, Álvaro Mayrink da. op. cit., p. 38.

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referido regime, o condenado tem a possibilidade de cumprir a pena privativa

de liberdade realizando trabalho de utilidade extramuros, mantendo dessa

forma nova relação com a sociedade. Assim, efetivam-se as exigências

estabelecidas pela LEP de buscar a ressocialização do mesmo através do

trabalho lícito. Nesse sentido:

As saídas especiais são permitidas em ocasiões extraordinárias (falecimento ou doença grave do cônjuge ou companheira, ascendente, descendente ou irmão; necessidade de tratamento médico). Responsabilidade civil do Estado. Morte de detento em razão de enfermidade contraída no cárcere. Imputação que se vincula à alegada omissão do agente político quanto à presteza e eficiência do atendimento médico prestado ao detento. Responsabilidade subjetiva. Ausência da prova de culpa e da exigência do nexo causal. I – Sendo subjetiva a responsabilidade do Estado pela alegada omissão de um dever genérico, impõe-se, para a sua condenação, que haja prova de que agentes tenham obrado com imprudência, negligência ou imperícia, dando causa ao evento lesivo. II – Se os autos revelam que o detento vinha recebendo, durante a sua permanência no cárcere, habitual assistência médica, tendo sido transferido, antes do óbito, para unidade hospitalar do sistema penitenciário, não restando demonstrado que os agentes públicos tenham agido de forma negligente, na avaliação do estado de saúde do mesmo, ou que a suposta demora no atendimento tenha sido a causa adequada e eficiente de sua morte, não há como responsabilizar o Poder Público pelo resultado danoso, ante a inexistência da prova de culpa e do nexo causal (TJ-RJ, Apelação Cível no 14.523/2001, 2a CC, rel. Des. Fernando Cabral, j. 18.12.2001, DO 2.5.2002, 352, ementa no 31).

Nos crimes previsto com detenção, exceto a exigência de fixação do

regime fechado para inicial de execução da pena, ainda que a pena seja

superior a 8 anos, não deve ser fixado o regime fechado, com base no disposto

no artigo 33, caput do Código Penal, sendo estipulado o regime semiaberto.

Como já mencionado, a estipulação do regime inicial de execução

da sentença integra o processo de individualização da pena. Nesse sentido:

A fixação do regime inicial integra o processo de

individualização da pena, regulando-se pela compreensão sistemática do art. 33, § 2º, e do art. 59, ambos do Código

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Penal, com integração do critério relativo ao quantum da pena e critério pertinente às circunstâncias judiciais. (STJ, Rel. Min. Vicente Leal, HC 10.485, DJU de 28.02.2009, p. 126)

Destaca-se ainda que o apenado reincidente pode cumprir a

sentença em regime semiaberto, especialmente quando a situação é favorável

judicialmente e a pena privativa de liberdade não ultrapasse a quatro anos,

sendo esta, inclusive, com base no artigo 33, § 2º, do Código Penal.

Segundo o entendimento de Álvaro Mayrink da Costa:

O grande problema do semi-aberto é que o coletivo carcerário não possui mão de obra qualificada, tornando difícil o emprego formal para o condenado. Daí a impossibilidade de saída para o trabalho externo e a perda da visita íntima, pois o regime se caracteriza pela visita periódica ao lar28.

Destaca-se o julgado do Tribunal do Distrito Federal em

entendimento contrário ao pensamento do autor supracitado:

EXECUÇÃO PENAL - Permissão de trabalho externo a condenado ao regime semi-aberto que não cumpriu 1/6 da pena - Admissibilidade em função das condições pessoais favoráveis verificadas e diante do critério da razoabilidade que sempre incide na adaptação das normas de execução à realidade social e à sua própria finalidade, ajustando-se ao fato concreto. Ementa Oficial: Admite-se o trabalho externo a condenado ao regime semi-aberto, independentemente do cumprimento de 1/6 da pena, em função das condições pessoais favoráveis verificadas e diante do critério da razoabilidade que sempre incide na adaptação das normas de execução à realidade social e à sua própria finalidade, ajustando-as ao fato concreto. (REsp 182.467 - DF - 5ª T. - rel. Min. Gilson Dipp - J. 09.05.2009 - DJU 05.06.2009.)

Jorge Vicente Silva entende por não existir impedimento para

fixação de regime semiaberto quando a sanção penal ultrapassar a quatro anos

e não for superior a oito, em obediência ao princípio da individualização da

pena, e sua aplicação, segundo o juiz entender suficiente e necessário para a

28 COSTA, Álvaro Mayrink da. Op. cit., p. 38.

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prevenção e repreensão da conduta infracional.29

Favorável também a adoção do regime semiaberto, Salo de

Carvalho argumenta que:

O regime semiaberto retira da ociosidade o condenado e o torna produtivo, diminuindo os custos com a sua manutenção e proporcionando a retomada do gosto pela vida, pelo trabalho remunerado, preparando o reeducando para o regime aberto. Este período de transição entre o regime fechado e o aberto é essencial para a readaptação social do condenado, que primeiro volta a trabalhar e só depois será transferido para o regime aberto, cuja flexibilidade é ainda maior. 30

É possível concluir que a adoção do regime semiaberto apresentou

uma inovação nos procedimentos dos presídios em face da última etapa do

regime progressivo.

2.2.3. Regime aberto

O regime aberto para início de cumprimento da sentença é

destinado ao “condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a

quatro anos” (CP, art. 33, § 2º, alínea “c”). Caracterizada tal situação, o

magistrado não está obrigado a fundamentar os motivos da estipulação de tal

regime, no entanto, na hipótese do réu reincidente, o magistrado, para decretar

o regime aberto, necessita apresentar as razões de tal procedimento.

Segundo Álvaro Mayrink da Costa, para que seja fixado o regime

aberto o apenado deve contemplar as seguintes situações:

a) ter auto-disciplina e senso de responsabilidade; b) estar trabalhando ou comprovar a impossibilidade de fazê-lo; c) apresentar mérito para a progressão; d) aceitar o programa para a prisão albergue ou estabelecimento similar estabelecido em lei federal ou local;

29 SILVA, Jorge Vicente. Op.cit., p.376. 30 CARVALHO, Salo de. Crítica à execução penal. Doutrina, jurisprudência e projetos legislativos. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 33.

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e) aceitar as condições impostas pelo juiz: as condições são gerais ou obrigatórias (art. 115, I a IV, da LEP) e especiais ou facultativas (art. 113 da LEP).31

Destaca-se que, na hipótese do condenado descumprir quaisquer

das regras citadas, ou ainda, cometer falta grave, ensejará a regressão (art.

118, I, da LEP).

Sendo a pena base estipulada no mínimo legal, e o seu quantum

não for superior a 4 (quatro) anos, torna-se obrigatória a fixação do regime

aberto, diante a relação entre a pena privativa de liberdade e o regime de

cumprimento em face da individualização da pena. Nesse sentido:

O art. 33 do Código Penal, na letra do seu § 2º, proíbe ao reincidente o regime inicial aberto em qualquer caso e o semi-aberto, quando a pena for superior a quatro anos. 2. Nada impede, objetivamente, que se lhe defira o regime semi-aberto na pena igual ou inferior a quatro anos. (STJ, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, REsp. 269.375, DJU de 19.12.2008, p. 458)

Destaca-se que, podem ser estipuladas pelo juiz da sentença, outras

regras para fixação do regime aberto além das já previstas na legislação.

Em relação ao regime aberto, Álvaro Mayrink da Costa destaca as

suas vantagens e desvantagens:

Vantagens: a) melhora a disciplina, que deixa de ser coata, salvo favorecendo um sentimento de solidariedade e autocontrole; b) favorece a saúde física e mental do apenado, que passa a viver em céu aberto e trabalhando na própria comunidade livre; c) facilita as relações com o mundo exterior e a família; d) é menos oneroso para o Estado; e) estimula o viver licitamente dos ganhos de seu próprio trabalho; f) possibilita a solução real e efetiva do problema sexual carcerário. Desvantagens: a) as evasões que sempre colocam a opinião pública em alerta. Normalmente são as seguintes as causas de evasão: a longa duração de condenações a cumprir e a idade do condenado; a impossibilidade em razão de ter cometido determinado tipo de infração penal que ex lege lhe seja vedada a liberação antecipada; o surgimento de nova condenação,

31 COSTA, Álvaro Mayrink da. Op. cit., p. 41..

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após muito tempo de cumprimento de outras, em outro Estado da Federação; os elementos pessoais do condenado: inteligência, maturidade, estabilidade emotiva, idade mental, atividade laborativa, situação familiar; notícias alarmantes a respeito de sua família; b) as relações com o mundo livre e as entre os próprios condenados; c) a diminuição da função intimidatória da pena. 32

No caso de não existir vaga em casa de albergado veda a adoção

do regime aberto ao condenado que preencha os requisitos legais, sendo

possível então, a aplicação do regime aberto domiciliar. Destaca-se que, para

que o apenado seja incluído em estabelecimento de regime aberto, o mesmo

necessariamente deve estar trabalhando.

32 COSTA, Álvaro Mayrink da. Op. cit., p. 39.

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CAPÍTULO 3

AS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO CONTEXTO DOS

PRESÍDIOS

Este capítulo apresenta-se a origem das organizações criminosas no

mundo, abordando ainda, as principais facções que na atualidade ainda

exercem seu poder paralelo nos presídios nacionais.

3.1. Contextualização histórica

O crime organizado é um termo antigo, e aplica-se a um fenômeno

conhecido desde a Antiguidade ou mais especialmente na Idade Média, por

meio dos bandoleiros. Mas ela é abrangente: refere-se tanto a bandos quanto a

associações secretas. Em geral, com fins políticos que se dedicavam ao

objetivo da prática de ilícitos, entre estes os políticos. 33

De acordo com os relatos históricos acerca da origem da máfia

italiana, é realizada a contextualização das organizações criminosas da

atualidade.

De acordo com Adriano Oliveira:

No início da idade moderna, ficou mais nítido o aparecimento de grupos dispostos a prestar segurança aos indivíduos de posse. Eles também prestavam outros serviços, como assassinatos a mando de outros. Os grupos, já denominados máfia, eram tão fortes na época que a própria montagem da força policial foi influenciada por eles.34

33 FERRO, Ana Luiza Almeida. Crime organizado e organizações criminosas mundiais. Curitiba: Juruá, 2009, p. 69. 34 OLIVIERA, Adriano. Tráfico de drogas e crime organizado - Peças e Mecanismos. Curitiba: Juruá, 2007, p. 32.

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Ainda de acordo com o autor supracitado, na Idade Média, o Estado

era precário, tendo suas funções substituídas por grupos que atuavam de

maneira clandestina:

Nesse momento, é crucial a compreensão de que a máfia, quando passa a fazer serviços para segmentos sociais que detêm o poder econômico e consequentemente político, torna-se silenciosa, isto é, não mais se contrapõe ao Estado, como era o caso da visão romântica já mostrada. A máfia passa a cooperar com ele. Se inicialmente existia a ineficiência da efetividade do Estado (e até um vácuo institucional), agora existe também a cooperação/associação entre os grupos mafiosos, o Estado (formação da polícia, por exemplo) e o poder econômico. 35

Destaca-se que, a máfia começou a atuar além da proteção a

comerciantes, chegando a ter suas atividades também voltadas para a

imigração de ilegais para os Estados Unidos, contrabando, criação de

empresas com a finalidade de burlar os imposto, prática do tráfico de

entorpecentes, como também ações relacionadas a corrupção.

No contexto mundial, as organizações criminosas apresentaram um

novo entendimento com o advento no ano de 1989 da queda do Muro de

Berlim. Nesse momento da história, as mais conhecidas organizações

começaram a atuar em rede, com objetivo de estabelecer regras na luta pelos

territórios, promovendo uma suposta paz no mundo do crime organizado,

obtendo vantagens em negócios, legais e ilegais, oferecidos a essas

organizações na época.

Ensina Claire Sterling que:

O crime organizado passou de ameaça imaginária para muitos em 1990 para uma verdadeira emergência mundial em 1993. As grandes organizações criminosas do Ocidente e do Oriente, principalmente dos Estados Unidos, da Itália, da Colômbia e da Ásia, reunindo serviços e pessoal, aumentaram a sua penetração nos mercados europeu-ocidental e americano,

35 “A máfia italiana, portanto, tem sua origem associada à ineficiência do Estado que não se faz totalmente presente com seu poder de coerção. Com o passar do tempo, a máfia associa-se ao poder econômico e político para lhe prestar proteção. Por fim, considera-se essa a última etapa do desenvolvimento institucional da máfia, os mafiosos passam a atuar em paralelo com poder do Estado, mas inseridos no mercado capitalista”. (Idem, p. 33).

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elevando o tráfico de drogas ao impressionante patamar de meio trilhão de dólares por ano, além de “lavar” e reinvestir em empreendimentos legais uma soma estimada em um quarto de trilhão de dólares anuais, sendo que expressiva parcela de tal espantoso crescimento veio do fato de que elas possuíam fácil acesso a um território de dimensões continentais, cobrindo a metade da Europa e uma significativa porção da Ásia, ou seja, um sexto da massa terrestre, então regido por uma situação política e econômica extremamente difícil, quase ou talvez autenticamente “anômica”, na linha durkheimiana, com governos fragilizados e impotentes para controlá-las ou muito menos lhes deter o avanço. 36

No Brasil, particularmente nos anos 80 e 90, as quadrilhas

dedicadas às atividades de extorsão por meio de sequestro, organizadas e com

um número relevante de componentes, apresentavam estrutura de tarefas

divididas e também o comando definido. Explica Sequeira que:

As associações com a finalidade de roubo e desvio de veículos e de cargas, aquelas constituídas para o tráfico de entorpecentes, além das quadrilhas com objetivo de roubo a bancos têm apresentado um maior potencial para um grau acentuado de organização.37

A legislação em face das organizações criminosas, que trata do

crime de quadrilha ou bando é regulamenta pelo Direito Penal no artigo 288 do

CP, in verbis:

Art. 288 - Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer crimes: Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. Parágrafo único - A pena aplica-se em dobro, se a quadrilha ou bando é armado.

Com as mudança ocorridas na sociedade brasileira, o momento se

apresentou propício para o crescimento das organizações criminosas como

verdadeiras empresas do crime, com estrutura e alto nível operacional.

36 STERLING, Claire. A máfia globalizada: a nova ordem mundial do crime organizado. Tradução de Alda Porto. Rio de Janeiro: Revan, 2007, p. 54. 37 SEQUEIRA, C. A. G. Crime organizado: aspectos nacionais e internacionais. Revista Brasileira de Ciências Criminais, a. 5, n. 22, jan.⁄mar.2008, p. 260.

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Ainda na atualidade, as organizações criminosas se apresentam

cada vez mais fortes e estruturadas, espalhando o terror na sociedade e,

especialmente dominando a maior parte dos presídios. No entanto, o CP não

estabelece um combate eficaz. E no entender de Ivan Silva, “as medidas

jurídico-penais criadas à época do Código Penal não mais se aplicam

eficazmente hodiernamente, tendo em vista que aquela realidade brasileira é

diametralmente oposta à realidade atual”.38

3.2. As primeiras organizações criminosas no Brasil

A história do crime organizado no Brasil não é um tema de muita

pesquisa por parte dos autores. De acordo com Eduardo Silva sua origem

advém do cangaço e apresenta o jogo do bicho como sua primeira ação

penalmente reconhecida no país.

No Brasil, é possível identificar como antecedente da criminalidade organizada o movimento conhecido como cangaço, que atuou no sertão nordestino entre o final do século XIX, tendo como origem as condutas dos jagunços e dos capangas dos grandes fazendeiros e a atuação do coronelismo, resultantes da própria história de colonização da região pelos portugueses. Personificados na lendária figura de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião (1897-1938), os cangaceiros tinham organização hierárquica e com o tempo passaram a atuar em várias frentes ao mesmo tempo, dedicando-se a saquear vilas, fazendas e pequenas cidades, extorquir dinheiro mediante ameaça de ataque e pilhagem ou sequestrar pessoas importantes e influentes para depois exigir resgates. Para tanto, relacionavam-se com fazendeiros e chefes políticos influentes e contavam com a colaboração de policiais corruptos, que lhes forneciam armas e munições. Todavia, a prática contravencional do denominado “jogo do bicho” (sorteio de prêmios a apostadores, mediante recolhimento de apostas), iniciada no limiar do século XX, é identificada como a primeira infração penal organizada no Brasil. A origem dessa contravenção penal é atribuída ao Barão de Drumond, que teria criado o inocente jogo de azar para arrecadar dinheiro com a finalidade de salvar os animais do Jardim Zoológico do Estado do Rio de Janeiro. A idéia foi posteriormente popularizada e patrocinada por grupos organizados, que passaram a monopolizar o jogo, mediante a corrupção de policiais e políticos. Na década de 80, os

38 SILVA, Ivan Luiz da. Crime organizado: aspectos jurídicos e criminológicos (Lei nº 9.034/95).Belo Horizonte: Nova Alvorada Edições, 2009. p. 53.

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praticantes dessa contravenção movimentavam cerca de US$ 500.000 por dia com as apostas, sendo 4% a 10% desse montante destinado aos banqueiros. 39

A conhecida organização denominada “Comando Vermelho”,

provavelmente é a organização criminosa de maior peso no país, apresenta

sua origem na prisão de vários presos políticos, na época do regime militar, no

término dos anos 60, e também de presos comuns, na penitenciária da Ilha

Grande (demolido em 1994 no Rio de Janeiro).

A comunicação entre tais prisioneiros possibilitou que os presos

políticos ensinassem aos demais, direcionamento tanto de caráter

organizacional como também de como enfrentar o Estado, surgindo assim a

primeira organização criminosa do país. Dessa forma, o Comando Vermelho

superou tudo que a luta armada revolucionária obtivera na década de 7040,

tanto no aspecto da infraestrutura como da disciplina e organização internas.

Nesse contexto Eduardo Araújo Silva explica que:

Mais que qualquer coisa, o criminoso organizado, quebrando o isolamento social que caracterizou os grupos guerrilheiros e os militantes, que viviam na clandestinidade e sem auxílio, logrou e ainda logra a cooperação, pela prática do assistencialismo ou pelo menos o silêncio, por meio do assistencialismo novamente ou pelo uso da intimidação ou ainda por ambas as razões, da comunidade onde vive ou por ele controlada, chegando a entreter laços de confiança com boa parcela da população carente por ele assistida. 41

De acordo com Ivan Luiz da Silva, as organizações criminosas no

Brasil apresentam duas fontes, no seguinte contexto:

A evolução da atividade individual para a praticada por quadrilhas

39 A Falange Vermelha, o Comando Vermelho e o Terceiro Comando como outras organizações mais recentes e violentas que emergiram nas penitenciárias cariocas nos anos 70 e 80, e o Primeiro Comando da Capital como uma organização nascida em presídio paulista em meados dos anos 90. A Falange Vermelha, era constituída por chefes de quadrilhas especializadas em assaltos a bancos e que surgiu no presídio da Ilha Grande. (SILVA, Eduardo Araujo da. Crime organizado: procedimento probatório. São Paulo: Atlas, 2009. p. 25. 40 LAVORENTI, Wilson; SILVA, José Geraldo da. Crime organizado na atualidade. Campinas: Bookseller, 2008, p. 226. 41 SILVA, Eduardo Araujo da . op.cit., p. 26..

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profissionais em crimes específicos e a contribuição dos conhecimentos de organização dos presos políticos aos presos comuns. [...] o histórico do crime organizado no Brasil está adstrito à evolução da atividade criminosa no país, que passou de uma atividade individual para uma atividade realizada por grupos profissionais em alguns delitos, e às aulas de organização a delinquentes comuns por parte de dissidentes políticos presos junto daqueles durante o regime militar, resultando na criminalidade organizada, cuja existência pode perceber no Estado do Rio de Janeiro. 42

Entretanto, não é possível afirmar que, o crime organizado no Rio de

Janeiro surgiu das associações carcerárias Comando Vermelho e sua rival, o

Terceiro Comando, apesar da sua importância no contexto de planejamento,

organização, estrutura e atividades criminosas.

Além do Comando Vermelho (CV), que tem sua origem na já citada

prisão da Ilha Grande, nos anos 70, e do Terceiro Comando (TC), criado no

ano de 1980, decorrente das divergências existentes no Comando Vermelho, a

mesma possui suas atividades especialmente no Estado do Rio de Janeiro, a

Amigos dos Amigos (ADA), que emergiu em 1994, também resultado de

divisão no núcleo do Comando Vermelho43. No entanto, o crime organizado,

não existe apenas no Estado do Rio de Janeiro. O Primeiro Comando da

Capital (PCC), por exemplo, outra organização criminosa, tem sua sede em

São Paulo.

Marcelo Carneiro e Ronaldo França transcrevem os “dez

mandamentos do crime”:

Na favela, ninguém ouve, ninguém vê. Os delatores ou informantes da polícia são punidos com a morte. O comércio é obrigado a fechar as portas quando um líder do tráfico é morto. Não se podem cantar funks ou raps que falam de facções inimigas. É proibido usar roupas com as cores da gangue rival. Os moradores são proibidos de chamar a polícia em qualquer hipótese. A qualquer momento, um morador pode ser obrigado

42 SILVA, Ivan Luiz da. Crime organizado: aspectos jurídicos e criminológicos (Lei nº 9.034/95).Belo Horizonte: Nova Alvorada Edições, 2009. p. 53. 43 ESCÓSSIA, Fernanda da. Traficantes instituem poder paralelo nas favelas. Folha de S. Paulo. São Paulo, 19 dez. 2002. Caderno Especial, p. 16. Arquivos da Folha. Disponível em: <http://fws.uol.com.br/ folio.pgi/fsp2002.nfo/query=traficantes+instituem+poder+paralelo...>. Acesso em: 20 abr 2012.

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a esconder armas em casa. Nas brigas entre vizinhos, o líder do tráfico é o árbitro. Empresas que trabalham no morro têm de empregar moradores da favela. Os traficantes decidem quais os crimes permitidos no local e quem pode cometê-los. As penas são expulsão da favela, espancamento, mutilação ou morte. Em algumas favelas, os moradores são obrigados a pintar todas as casas da mesma cor, para confundir a polícia.44

Tanto no Rio de Janeiro como em São Paulo são o domínio das

organizações criminosas cresce vertiginosamente, especialmente ao controle

tráfico de drogas. Para o crescimento de tal poder paralelo, são criadas regras

que devem ser seguidas, caso contrário pode decretar a morte do infrator.

3.3. Formas de atuação das organizações criminosas no

interior das prisões

3.3.1. Incitação de rebeliões

Os denominados chefes das organizações criminosas, geralmente

estão por trás das rebeliões ocorridas nos presídios como maneira de

pressionar o poder público e também a sociedade. Geralmente, quando as

autoridades criam dificuldades para alguma ação dessas organizações, como,

por exemplo, a entrada de celulares e drogas nas penitenciárias45.

Segundo Michelle Perrot:

As rebeliões são tão antigas quanto as prisões. Já em 1854, os presos franceses provocavam incêndios ou praticavam outros delitos no interior do cárcere, tentando escapar do isolamento

44 CARNEIRO, Marcelo; FRANÇA, Ronaldo. Crueldade: o que vale é a lei do bandido. Veja On-line, n. 1.756, 19jun. 2002. Geral. Violência. p. 4-5. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/veja/190602/p_086.html>. Acesso em: 20 abr 2012. 45 Cita-se como exemplo o ocorrido no ano de 2002, quando o Ministério Público de São Paulo elaborou a primeira grande ação contra o PCC. Já nesta denúncia apresentada, os promotores Marcio Sergio Christino e Roberto Porto, do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado, afirmavam que "o telefone celular ainda é o recurso primordial utilizado pela organização para firmar sua estrutura e permitir a coordenação, direção e realização de atividades dentro e fora do sistema prisional. Trata-se ao mesmo tempo de sua maior força e sua maior fraqueza, eis que permite a comunicação mas, também, que tal comunicação possa ser interceptada e assim controlada, gerando o fluxo de informações que desvenda o sistema criminoso", de acordo com os promotores.” Disponível em: http://www2.mp.pr.gov.br/cpdignid/telas/cep_b19_08.html. Acesso em: 20 abr 2012.

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celular do Presídio Central, pois, aumentando suas penas, seriam condenados ao trabalho forçado e à deportação colonial, o que, para eles, era melhor do que a reclusão.46

É possível citar a maior rebelião já vista no país, quando no ano de

2001 foram deflagradas no total de vinte e nove presídios a partir do Estado

São Paulo, iniciando pelo Complexo do Carandiru.

Carlos Lélio Lauria Ferreira e Luís Carlos Valois explicam que:

As causas das rebeliões são muitas, pois nunca, por mais conformado que seja, o ser humano irá se acostumar com a situação da perda da liberdade. Mas, dentre todas, a principal das causas sempre foi a ociosidade, estaque proporciona o pensamento negativo da revolta e o tempo que os presos precisam para elaborar planos, burlar a segurança, corromper agentes e fabricar armas, normalmente armas brancas, que podem ser feitas de um cabo de vassoura, de uma tesoura de cortar unha, de um cabo de panela, de vergalhões das paredes ou de outros objetos que nunca poderíamos imaginar que a inventividade do preso pudesse transformar em arma.47

Os presos que não são favoráveis à rebelião, normalmente não

fazem parte das organizações criminosas, e nesse momento preferem ficar

afastados ou optam pela fuga. No entanto, ao fim da rebelião os chefes do

motim ordenam o chamado “acerto de contas”, com aqueles que se recusaram

a aderir.

3.3.2. Intimidação

A partir do ano de 1990 as organizações criminosas começaram a

deflagrar um verdadeiro ambiente de terror em toda a sociedade,

especialmente, nos Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, direcionado ao

tráfico, assalto a bancos, arrastões em edifícios e outras ações delituosas.

Em relação a esse momento da história do país, ensina Orlando

Soares que:

46 PERROT, Michelle. Os excluídos da história: operários, mulheres e prisioneiros. 2008, p. 33. 47 FERREIRA, Carlos Lélio Lauria; VALOIS, Luís Carlos. Sistema Penitenciário do Amazonas - História – Evolução – Contexto Atual. Curitiba: Juruá, 2008, p. 36.

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[...] um general, candidato a cargo eletivo, no Rio de Janeiro, sustentou, com toda a razão, que eram indispensáveis o mapeamento das favelas e o cadastramento dos habitantes dessas áreas urbanas, uma vez que as mesmas vinham sendo utilizadas como valhacouto dos integrantes do crime organizado.48

Os chefes das organizações criminosas conseguem de dentro dos

presídios, comandar ataques a favelas rivais para disputa dos pontos de venda

de drogas, assaltos à bancos e demais atrocidades que intimidam toda a

sociedade, causando mortes e lesões corporais em muitos civis inocentes.

No ano de 2002 essas ações foram direcionadas a Prefeitura do Rio

de Janeiro e o Palácio Guanabara, que funcionada como a sede do governo

estadual. O Jornal O dia noticiou em 2004 a seguinte notícia:

[...] bandos de narcotraficantes rivais atacaram, respectivamente, os Morros do Vidigal e da Rocinha (RJ), sendo que um Relatório da Agência Brasileira de Inteligência detectou indícios da utilização de treinamento militar por esses bandos, seguindo orientações do Manual de Assalto e Ocupação do Exército.49

No Rio de Janeiro, em 2009 traficantes invadiram favelas da zona

norte, deixando 12 mortos em somente um dia, assassinando também dois

policiais militares. Durante o confronto com a polícia, os traficantes alvejaram

um helicóptero da Polícia Militar, levando a óbito mais dois policiais. Segundo

as autoridades, a ordem para tal ação partiu dos traficantes do Comando

Vermelho encarcerados no presídio Federal de Catanduvas (Paraná). 50

48 SOARES, Orlando. Curso de criminologia. Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 899. 49 Jornal O Dia, p. 17, 12.08.2004. Disponível em: www.odia.com.br. Acesso em: 25 mai 2012.

50 O Ministério da Justiça negou que o presídio tenha sido a origem da ordem para a invasão do morro. Porém, apesar de o governo afirmar que o serviço de inteligência do sistema penitenciário federal e o aparato de segurança da Penitenciária Federal de Catanduvas "não permitem comunicação [dos presos] com o ambiente exterior", em pelo menos duas vezes a Polícia Federal (PF) interceptou recados de detentos para comparsas que estão soltos. Disponível em: http://www.aquiagora.net/verNoticia.php?nid=3394. Acesso em: 20 abr 2012.

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Sem dúvidas, o uso da intimidação para promover e fortalecer o

poder das organizações criminosas é a particularidade mais marcante desse

fenômeno.

3.3.3. Comércio clandestino

Um problema muito comum nos presídios é o domínio da cantina

pelos elementos das organizações criminosas. Tal situação gera muitos

transtornos aos demais encarcerados, uma vez que, os preços cobrados são

sempre maiores que o devido, não havendo nenhum tipo de controle em

relação ao destino desses valores. A ação dessas organizações nas cantinas

reflete também na vida dos familiares dos presos, que são obrigados a

conseguir dinheiro para que eles possam pagar pelos produtos e também o

comércio nos dias de visitas.

Assim como na vida fora dos presídios, os proprietários desse tipo

de atividade concedem crédito para que os prisioneiros possam consumir, e na

ausência do pagamento, a cobrança é feita de maneira rigorosa e violenta. A

ausência de controle sobre os mantimentos que chegam de fora para as

cantinas ou por intermédio dos visitantes é uma das falhas que permitem a

entrada de entorpecentes no estabelecimento prisional.

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CAPÍTULO 4

O REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO (RDD) E SUA

EFETIVIDADE EM FACE DAS ORGANIZAÇÕES

CRIMINOSAS NAS PRISÕES BRASILEIRAS

Este capítulo apresenta o RDD como alternativa para coibir as

articulações das organizações criminosas nos presídios brasileiros, analisando

a Lei nº. 10.792⁄2003 que trata do referido regime prisional.

4.1. Noções gerais acerca da Lei nº 10.792/2003

O regime disciplinar diferenciado foi criado pela Lei nº 10.792/2003.

Não se trata de nova espécie de prisão provisória ou nova modalidade de

regime inicial de cumprimento de pena privativa de liberdade.

O crescimento do poder das organizações criminosas é tema

preocupa as autoridades e também toda a sociedade. No ano de 2002, o

Primeiro Comando da Capital (PCC), criada como já mencionado, advinda das

penitenciárias do Estado de São Paulo, objetivando apresentar o seu poder

para as autoridades e toda a sociedade do país. Assim, promoveram uma

megarrebelião nos principais presídios, fazendo com que vinte e nove dessas

unidades entrassem em conflito. Em represaria a tal movimento do PCC, as

autoridades paulistas juntamente com apoio da Administração Penitenciária

aprovaram a Resolução (nº 26), publicada em julho do mesmo ano,

estabelecendo para os encarcerados provisoriamente e também os já

condenados, entendidos como potencialmente perigosos, foram confinados a

isolamento total pelo período de 180 dias. Entretanto, tal medida foi alvo de

muitas críticas por parte de juristas e também pela Ordem dos Advogados do

Brasil, que ingressou com recurso do Tribunal de Justiça, arguindo a sua

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inconstitucionalidade, visando anular o instrumento normativo. No entanto, o

TJSP (Tribunal de Justiça de São Paulo) julgou constitucional a medida, pela

sua 8ª Câmara de Direito Público.

De acordo com Adeildo Nunes:

O Conselho Nacional de Política Criminal, órgão vinculado ao Ministério da Justiça e também responsável pela execução da pena no Brasil, tão logo a Resolução da SAP foi aprovada, divulgou manifesto público, advertindo que o RDD subverte os princípios que informam as diretrizes de política criminal e penitenciária nacional e tratados internacionais assinados pelo Brasil com o resto do Mundo, no tocante aos direitos humanos. Manifestou-se, também, pela sua inconstitucionalidade, alegando que o regime viola o princípio da ressocialização, uma vez que impede o preso de trabalhar, estudar e ter acesso aos seus familiares. Por fim, o CNPCP considerou o RDD como um "castigo físico e mental", que em muito contribuirá com o aumento da violência e da insegurança pública. Na verdade, a mega-rebelião foi iniciada e concluída ao mesmo tempo, sem que fosse jorrada uma só gota de sangue, pois a organização pretendia, somente, demonstrar força e poder, aliás, conseguindo o intento. A SAP resolveu transferir todos os presos considerados de alta periculosidade para a penitenciária de São Bernardes, fato que contribuiu para uma maior integração entre os membros da facção.51

Diante de tais acontecimentos, e o crescimento das organizações

criminosas no âmbito dos presídios nacionais, o então presidente Fernando

Henrique Cardoso, levou ao Congresso Nacional o projeto de Lei nº 5.073,

objetivando a criação do regime disciplinar diferenciado (RDD), seguindo o

modelo paulista, entretanto, com mais rigor.

Nesse contexto, o Congresso Nacional aprovou a Lei nº

10.792⁄2003, prevendo a alternativa de isolamento do encarcerado, condenado

ou provisório, com período de duração até 360 dias, cabendo renovação tal

pena administrativa por praticar nova infração grave de igual natureza, até o

limite de 1/6 da pena efetivamente aplicada, com recolhimento em prisão

individual.

51 NUNES, Adeildo. Da execução penal. Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 87.

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Djalma Eutímio de Carvalho ensina que:

O regime disciplinar diferenciado foi criado pela Lei nº 10.792/2003. Não se trata de nova espécie de prisão provisória ou nova modalidade de regime inicial de cumprimento de pena privativa de liberdade. Cuida-se, na verdade, de um regime de disciplina carcerária mais severo, fixado pelo juiz, provisoriamente, como espécie de pena disciplinar imposta ao preso provisório ou definitivo, em determinados casos apontados pela lei, com o fito de restringir os direitos do preso previstos nos incisos V, X e XV do art. 41 da Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/84).52

Para a imposição do regime disciplinar diferenciado o preso deve

cometer as seguintes infrações:

a) prática de fato previsto como crime doloso que ocasione subversão à ordem ou disciplina do estabelecimento penal; b) preso sobre o qual recaia fundada suspeita de envolvimento ou participação em organizações criminosas, quadrilha ou bando; c) preso que represente alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal ou para a sociedade (art. 52, §§ 1º e 2º, da LEP).

Nesse sentido:

Regime disciplinar diferenciado (RDD). Hipóteses legais. Para que haja a inclusão do preso no regime disciplinar diferenciado (RDD), é necessário ocorrer ao menos uma das hipóteses previstas no art. 52 da LEP. Ademais, a decisão judicial sobre a inclusão do preso no regime disciplinar diferenciado terá que ser fundamentada pelo juiz das execuções criminais e determinada no processo de execução penal, bem como precedido de manifestação do Ministério Público e da defesa. Na espécie, não verificada a ocorrência de nenhum dos requisitos, a Turma concedeu a ordem para que se transfira o paciente do regime disciplinar diferenciado para o conjunto penal em que anteriormente se encontrava. (STJ – HC 89.935/BA –Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura – j. em 06.05.2008)

Nas duas últimas hipóteses citadas, a medida apresenta natureza

preventiva. Enquanto a primeira configura falta disciplinar de natureza grave.

52 CARVALHO, Djalma Eutímio de. Curso de processo penal. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p. 258.

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Destaca-se que, para que o aprisionado seja transferido para o

regime disciplinar diferenciado, obrigatoriamente deve preceder de

requerimento fundamentado pelo diretor do presídio ou da autoridade

administrativa. Nesse sentido, citam-se os artigos 54 § 2º e 60 da LEP, in verbis:

Art. 54 - As sanções dos incisos I a IV do art. 53 serão aplicadas por ato motivado do diretor do estabelecimento e a do inciso V, por prévio e fundamentado despacho do juiz competente. (Redação dada pela L-010.792-2003) [...] § 2º A decisão judicial sobre inclusão de preso em regime disciplinar será precedida de manifestação do Ministério Público e da defesa e prolatada no prazo máximo de quinze dias. (Acrescentado pela L-010.792-2003)

Art. 60 - A autoridade administrativa poderá decretar o isolamento preventivo do faltoso pelo prazo de até dez dias. A inclusão do preso no regime disciplinar diferenciado, no interesse da disciplina e da averiguação do fato, dependerá de despacho do juiz competente. (Alterado pela L-010.792-2003) Parágrafo único - O tempo de isolamento ou inclusão preventiva no regime disciplinar diferenciado será computado no período de cumprimento da sanção disciplinar. (Alterado pela L-010.792-2003)

A Lei nº 10.792⁄2003 abre a possibilidade que a lei estadual limite o

acesso do encarcerado aos meios de comunicação e também que sua visita ao

advogado seja previamente agendada.

As limitações impostas pela lei em comento, não atingem à

incomunicabilidade do aprisionado, sob pena de violar o disposto no artigo 136,

§ 3º, inciso IV, da CRFB/88, in verbis:

Art. 136. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional, decretar estado de defesa para preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem pública ou a paz social ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza. § 3º - Na vigência do estado de defesa: IV - é vedada a incomunicabilidade do preso.

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47

Em relação à funcionalidade do regime disciplinar diferenciado,

destaca-se que, o presídio de Presidente Prudente, os prisioneiros são

recolhidos em celas individuais, com direito a duas horas de banho de sol em

grupos de no máximo cinco indivíduo, escolhidos de forma a tornar difícil a

comunicação entre os elementos da mesma facção criminosa. No referido

presido é proibido à entrada de rádio, TV, ou demais espécies de leitura que

não sejam as obras existentes na biblioteca da instituição. Os encarcerados

obrigatoriamente usam aos trafegarem nas dependências da prisão, o que

dificulta a combinação de rebeliões. Também não é permitida visita íntima, e

comunicação somente com duas pessoas por semana, pelo período de duas

horas. Com os advogados não é permitido contato físico, o presídio possui

sistema de interfone para comunicação.

Ressalta-se que, nos primeiros anos de funcionamento do Centro de

Readaptação Penitenciária de Presidente Bernardes, alguns promotores de

justiça do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado

paulista acompanharam durante os meses os líderes das principais

organizações criminosas que estavam encarcerados na referida instituição. No

período citado, não houve qualquer incidente com esses elementos

considerados de alta periculosidade.

4.2. Aplicação nos RDD na visão da CRFB⁄88

Por ser o regime mais rigoroso existente no sistema pátrio, o RDD

encontra resistência por parte da doutrina que entende ser o mesmo,

inconstitucional. Com esse entendimento, ensina Rômulo de Andrade Moreira

que:

O RDD viola o princípio da individualização da pena, em dois aspectos: primeiro, porque obsta a progressão do regime, mantendo o preso, por longo período, em regime fechado, o que desvirtua do programa individualizador da pena privativa de liberdade prevista nos arts. 5º e 6º da LEP; segundo, porque a punição é aplicada a pessoas distintas e para fatos

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diferentes, embora, neste caso, reste a hipótese de o juiz, casuisticamente, temperar a duração do castigo. .53

De acordo com os defensores da inconstitucionalidade do regime, o

mesmo fere a integridade física e moral do preso, considerado direito

fundamental do preso (art. 5º, XLIX, CRFB⁄88),54 também comprometendo a

sua reintegração social, que é o principal objetivo do pena (art. 1º, LEP),55 por

entenderem que o regime em comento, obsta essa função estatal.

De acordo com Adeildo Nunes, com base na Lei nº 10.792/03, na

prática, o RDD pode ser estipulado ao preso que cometeu falta grave, bem

como àquele que ponha em algum risco a segurança interna do presídio,

mormente se comprovada a sua participação em organizações criminosas. 56

Luiz Flávio Gomes argumenta que:

Nenhum ser humano pode sofrer tanta aflição por suspeitas. Viola o princípio da presunção de inocência agravar as condições de cumprimento de uma pena em razão de suposições ou suspeitas. E se o agente efetivamente integra alguma organização criminosa, por isso irá responder em processo próprio. Aplicar-lhe mais uma sanção pelo mesmo fato significa bis in idem (dupla sanção ao mesmo fato). Pela gravidade do RDD e pelo nível de constrangimento que ele implica ao bem jurídico liberdade, somente provas inequívocas relacionadas com um fato concreto praticado dentro do presídio é que poderiam permitir a sua aplicação. O Estado constitucional, democrático e garantista de direito é o que procura o equilíbrio entre a segurança e a liberdade individual, de maneira a privilegiar, neste balanceamento de interesses, os valores fundamentais da liberdade do ser humano. O desequilíbrio em favor do excesso de segurança com a consequente limitação excessiva da liberdade das pessoas implica, assim, em ofensa ao referido modelo de Estado57.

53 MOREIRA, Rômulo de Andrade. Estudos de direito processual penal. São Paulo: BH Editora e Distribuidora de Livros, 2008, p. 114. 54 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral; 55Art. 1º- A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado. 56 NUNES, Adeildo, op. cit., p. 85. 57 Disponível em: <www.ultimainstancia.com.br>. Acesso em: 17 abr 2012.

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Também entendendo como inconstitucional o regime disciplinar

diferenciado, argumenta Djalma Eutímio de Carvalho que:

Na doutrina, sustenta-se que a punição por suposta participação em organização criminosa viola o princípio da reserva legal, pois não há qualquer norma incriminadora descrevendo o que vem a ser organização criminosa. Além disso, a mera suspeita de participação em organização criminosa, quadrilha ou bando viola o princípio da presunção de inocência e poderá consagrar verdadeiro bis in idem, porquanto impor-se-á punição (ainda que disciplinar) antecipada a quem poderá, futuramente, ser punido pelos delitos de quadrilha ou bando. 58

Segundo Adeildo Nunes:

A aplicação indiscriminada do regime disciplinar diferenciado viola o princípio constitucional da proporcionalidade, bem assim a proibição constitucional de penas cruéis e de tratamento desumano ou degradante, pois afeta a personalidade e a sanidade mental do preso, na medida em que não determina qualquer acompanhamento médico durante o cumprimento da sanção disciplinar.59

Paulo César Busato argumenta que:

[...] é necessário centrar a atenção no fato de que legislações de matizes como os da Lei 10.792/03 correspondem por um lado a uma Política Criminal expansionista,simbólica e equivocada e, por outro, a um esquema dogmático pouco preocupado com a preservação dos direitos e garantias fundamentais do homem. Por isso, há a necessidade de cuidar-se com relação aos perigos que vêm tanto de um quanto de outro.60.

Em sentido contrário, os autores que entendem pela

constitucionalidade do RDD, argumentam a necessidade de enrijecer as regras

em face das organizações criminosas, para combater seu poder dentro dos

presídios. Nesse contexto, Guilherme de Souza Nucci entende que:

[...] para atender às necessidades prementes de combate ao

58 CARVALHO, Djalma Eutímio de. Curso de Processo Penal. Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 242. 59 NUNES, Adeildo. Op. cit, p. 85. 60 BUSATO, Paulo César. Regime Disciplinar Diferenciado como Produto de um Direito Penal de Inimigo. Revista de Estudos Criminais. Porto Alegre: NOTADEZ/PUC/!TEC, n. 14, p. 145, ago. 2004.

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crime organizado e aos líderes de facções que, dentro dos presídios brasileiros, continuam a atuar na condução dos negócios criminosos fora do cárcere, além de incitarem seus comparsas soltos à prática de atos delituosos graves de todos os tipos.61

De acordo com Roberto Porto:

O sucesso deste modelo prisional pode ser aferido estatisticamente. Durante os mais de quatro anos de funcionamento do Regime Disciplinar Diferenciado implementado no Centro de Readaptação Penitenciária de Presidente Bernardes, nenhuma fuga foi registrada. Não há qualquer registro de rebeliões ou mortes provocadas pelos detentos. Também não há registro de espancamentos de presos ou maus tratos por parte da Administração. 62

Luiz Flávio Gomes que entende como inconstitucional a RDD em

sua natureza formal argumenta que os incisos I, II, III e V do artigo 5º, da Lei

nº. 10.792/03 podem ser considerados legais, uma vez que, os mesmos estão

em harmonia com artigo 24, I da CRFB⁄8863. Ensina Arnaldo Esteves Lima sob

a constitucionalidade do regime em questão:

[...] considerando-se que os princípios fundamentais consagrados na Carta Magna vigente não são ilimitados (princípio da relatividade ou convivência das liberdades públicas), vislumbra-se que o legislador, ao instituir o ora combatido regime disciplinar diferenciado, atendeu ao princípio da proporcionalidade.64

Fernando Capez apresenta o seguinte entendimento acerca da

constitucionalidade do regime disciplinar diferenciado:

[...] a falta de tipificação clara das condutas e a ausência de correspondência entre a suposta falta disciplinar praticada e a punição decorrente, revelam que o RDD não possui natureza jurídica de sanção administrativa, sendo, antes, uma tentativa de segregar presos do restante da população carcerária, em

61 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal. Parte Geral e Parte Especial. 4ª ed. Revista dos Tribunais. 2009, p. 392. 62 PORTO, Roberto, op. cit., p. 65. 63 GOMES, Luiz Flávio. Regime disciplinar diferenciado. Disponível em: http://www.bu.ufsc.br. Acesso em: 25 mai 2012. 64 Disponível em: www.iob.com.br/bibliotecadigitalderevistas/bdr.dll/.../13cbc? Acesso em: 25 mai 2012

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condições não permitidas pela legislação. Entendemos não existir nenhuma inconstitucionalidade em implementar regime penitenciário mais rigoroso para membros de organizações criminosas ou de alta periculosidade, os quais, de dentro dos presídios arquitetam ações delituosas e até terroristas. É o princípio da proteção do bem jurídico, pelo qual os interesses relevantes devem ser protegidos de modo eficiente. O cidadão tem o direito constitucional a uma administração eficiente (CF, art. 37, caput).65

Diante das diversas situações vividas pela sociedade brasileira em

relação aos crimes cometidos a mando dos chefes das organizações

criminosas, verifica-se que, o regime disciplinar diferenciado não se caracteriza

como inconstitucional. Mesmo que a maior parte da doutrina entenda de forma

contrária, o regime em questão tornou-se um mal necessário para frear a onda

de crimes comandados pelas facções que são autoridades no interior dos

presídios.

65 CAPEZ, Fernando. Regime disciplinar diferenciado. Disponível em: http://capez.taisei.com.br/capezfinal/index.php?secao=27&subsecao=0&con_id=1796. Acesso em: 25 mai 2012.

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CONCLUSÃO

As autoridades policiais travam diariamente uma luta contra as

organizações criminosas que, de forma aterrorizante, tem suas atividades

espalhadas por todo o Brasil, utiliza armas pesadas, muitas vezes exclusivas

das Forças Armadas, levando ao pânico a sociedade, alcançando bens

jurídicos de titularidade de pessoas das diversas camadas sociais.

A realidade mostra que não basta buscar a solução de tal questão

através da força e sim, existe a necessidade da utilização da força da Lei

Penal, uma vez que, o controle desejado obrigatoriamente é de competência

das instituições especializadas.

Destaca-se que, diversos delitos ligados as organizações criminosas

tem a possibilidade de serem controlados com base nos textos jurídicos já

existente ou ainda, nas demais instâncias de controle que não seja de natureza

penal, hipótese da corrupção, em que existe a obrigatoriedade de promover

ações pelo Estado, uma vez que tal crime e as facções criminosas vivem em

harmonia.

A corrupção dos funcionários da Administração Pública,

especialmente, os pertencentes às funções políticas, na magistratura, na

polícia, apresentam-se no mesmo momento como efeito e também causa de tal

questão, uma vez que, fere o princípio da igualdade estabelecida pela

CRFB⁄88.

Fica a cargo do Poder Público equipar e oferecer bases para que os

órgãos responsáveis pela execução de suas normas, especificamente a Polícia

Judiciária e logicamente a justiça propriamente dita, de meios tanto humanos

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quanto materiais, que possam auxiliar no combate as organizações criminosas

com base nos mecanismos legais.

Para tanto, se faz obrigatório criar ações diversificadas para

combater tal atividade ilegal, que refletem em promover investigações mais

apuradas e detalhadas, que não são as utilizadas tradicionalmente, uma vez

que, as facções criminosas continuam fazendo uso de telefones celulares

dentro dos presídios. Em meio às novas formas de investigação encontram-se

a colocação de agentes policiais infiltrados.

Faz-se necessário um maior comprometimento das autoridades

competentes, para serem criados meios legais para frear as organizações

criminosas que agem livremente no interior dos presídios nacionais,

comandando rebeliões, crimes urbanos, assassinatos e demais crimes.

Dessa forma, torna-se essencial que sejam aperfeiçoados dos

instrumentos legais estabelecidos pelas leis já existentes, como por exemplo, o

uso do instituto da delação premiada, que permite aquele que contribui com a

justiça, a proteção adequada.

Como apresentando nesse estudo monográfico, a doutrina é

majoritária em defender a inconstitucionalidade do regime disciplinar

diferenciado, se faz necessário analisar a instabilidade em que vive a

sociedade brasileira e o pânico criado pelas rebeliões orquestradas pelos

chefes das organizações criminosas, ainda que presos. Obriga-se um regime

prisional mais rigoroso para tentar frear o poder paralelo dessas facções.

Logo, é correta a hipótese dessa investigação, ou seja, que o RDD é

a melhor alternativa para o combate a atuação do crime organizado nos

presídios brasileiros, uma vez que, torna impossível que os líderes dessas

facções continuem a promover ações criminosas mesmo estando elas

encarceradas.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO................................................................................... ii AGRADECIMENTOS................................................................................. iii DEDICATÓRIA........................................................................................... iv

RESUMO................................................................................................... v

METODOLOGIA........................................................................................ vi

SUMÁRIO.................................................................................................. vii INTRODUÇÃO......................................................................................... 08 CAPÍTULO 1 -O SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO 1.1. Levantamento histórico...................................................................... 10 1.2. Espécies de estabelecimentos prisionais........................................... 17 1.2.1. Penitenciária de segurança máxima ou média.............................. 17 1.2.2. Colônias penais............................................................................. 19 1.2.3. Casa de albergados...................................................................... 20 1.2.4. Hospital de custódia e tratamento psiquiátrico.............................. 22

CAPÍTULO 2 - QUANTO AOS REGIMES DE CUMPRIMENTO DE PENA

2.1. Noções Gerais.................................................................................... 23 2.2. Modalidades de regimes penitenciários............................................. 25 2.2.1. Regime fechado............................................................................. 25 2.2.2. Regime semiaberto ....................................................................... 27 2.2.3. Regime aberto............................................................................... 30

CAPÍTULO 3 - AS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO CONTEXTO DOS PRESÍDIOS

3.1. Contextualização histórica................................................................... 33 3.2. As primeiras organizações criminosas no Brasil................................. 36 3.3. Formas de atuação das organizações criminosas nos interior das prisões.......................................................................................................

39

3.2.1. Incitação de rebeliões.................................................................... 39 3.2.2. Intimidação..................................................................................... 40 3.2.3. Comércio clandestino.................................................................... 42

CAPÍTULO 4 - ANALISE ACERCA DA APLICAÇÃO DO REGIME DISCIPLINAR DIFERENCIADO (RDD) NO COMBATE AO DOMÍNIO DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NAS PENITENCIÁRIAS

4.1. Noções gerais acerca da lei nº 10.792/2003....................................... 43 4.2. Aplicação nos RDD na visão da CRFB⁄88........................................... 47 CONCLUSÃO............................................................................................. 52 BIBLIOGRAFIA........................................................................................... 55

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO EM SUPERVISÃO ESCOLAR

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Título da monografia: O regime disciplinar diferenciado (RDD) e sua

efetividade em face das organizações criminosas nas prisões

brasileiras

Data da entrega: 20 / 09 /2012

Auto Avaliação:

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Avaliado por: ______________________________ Grau__________________

______________, _______ de ______________ de 2012.