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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
O PAPEL DA ARTETERAPIA FACILITANDO O
DESENVOLVIMENTO ESCOLAR DA CRIANÇA
LUCIA HELENA RIBEIRO MELLO
Rio de Janeiro
2009
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
O PAPEL DA ARTETERAPIA FACILITANDO O
DESENVOLVIMENTO ESCOLAR DA CRIANÇA
Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do
Mestre – Universidade Candido Mendes como
requisito parcial para obtenção do grau de
especialista em ARTETERAPIA EM EDUCAÇÃO E
SAUDE.
Lúcia Helena Ribeiro Mello
Rio de janeiro
2009
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AGRADECIMENTOS
A Deus que em todos os momentos proporcionou
fonte de energia e sabedoria, tornando possível a
realização desta pesquisa
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DEDICATÓRIA
A minha família pelo apoio e incentivo.
A Professora Geni, pela convivência durante o
curso e sua competente orientação.
5
RESUMO
Este trabalho busca compreender, através de uma pesquisa bibliográfica
qualitativa, a importância da Arteterapia nas escolas com intuito de auxiliar
essa clientela em seu processo natural de desenvolvimento.
O estudo foi pautado em conceitos de vários teóricos que defendem os
princípios de uma educação voltada para a arte onde a Arteterapia contribui na
aprendizagem das crianças.
Tendo em vista as idéias dos teóricos, fácil é perceber que hoje não
basta a escola transmitir informações e conhecimentos. Ela deve ter princípios
que guiem a um trabalho consciente, visando sempre desenvolvimento integral
do educando. Diante disso sentimos necessidade de investigar a Arteterapia
como processo facilitador de integração social de crianças que apresentem
dificuldades de aprendizagem.
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METODOLOGIA
Para abordar sobre a importância da Arteterapia na Educação Infantil,
em especial as crianças com dificuldades de aprendizagem buscamos
informações através de pesquisa bibliográfica. Para tal, significa exercê-la sob
todas as dimensões (investigar, pesquisar, indagar, significar e (re) avaliar),
auxiliando nossa postura, nosso fazer educativo e assim, desenvolver um
trabalho de qualidade que atenda às necessidades de casos especiais.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - ARTE E CRIATIVIDADE 09
CAPÍTULO II - ARTETERAPIA NO CONTEXTO ARTETERAPÊUTICO 18
CAPÍTULO III – TÉCNICAS EXPRESSIVAS EM ARTETERAPIA 28
CONCLUSÃO 37
BIBLIOGRAFIA 39
ÍNDICE 59
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INTRODUÇÃO
Trabalhando na área de educação infantil e observando a cobrança da
sociedade apenas pela quantificação na produção escolar das crianças,
percebemos que algo está se perdendo (a alegria e o prazer da descoberta),
nesta etapa da vida educacional da criança.
Parece que a sociedade busca cada vez mais cedo inserir o aluno no
mundo das letras, como se o resultado plausível que a escola pode alcançar
nesse processo de ensino-aprendizagem se resumisse em capacitar a criança
para atuação futura no mercado de trabalho. Acreditamos, assim, que esse
processo ocorrerá em detrimento a emotividade, a sensibilidade e a
criatividade.
A arte não é equivalente a uma força de vontade, mas a um “estado de
graça”; pelo menos para a criança, é a coisa mais natural e mais simples deste
mundo. Nesta fase ela sonha acordada, inventa coisas, e por esta razão, a
escola deveria ser o cenário perfeito para a sensibilidade artística da criança.
Esta realidade nos levou a questionar se a escola está asfixiando essa
atividade criadora impedindo a criança de descobrir uma personalidade sadia e
um rendimento superior.
Pensando neste contexto, queremos destacar a importância de o
professor aproveitar essa fase de seus alunos e disponibilizar recursos para
aprimorar o conhecimento, aguçar a curiosidade e ajudar a ampliar a leitura do
mundo.
Acreditamos que a educação não pode ser um processo imposto
por alguém; deve, pelo contrário, ser um caminho prazeroso e necessário.
Caminho esse que todas as pessoas devem e tem o direito de percorrer,
motivadas pela curiosidade, pelo interesse e contentamento.
Partindo desta visão, optamos em centrar nossos esforços em elaborar
um trabalho monográfico que buscasse o entendimento da importância da arte
na educação infantil, onde a Arteterapia estivesse presente, pois acreditamos
que a criatividade tem papel relevante na esfera escolar como co-responsável
na formação do sujeito.
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A arteterapia, enquanto ferramenta auxilia nos bloqueios de
aprendizagem e na construção de conceitos, ajuda o aluno na aprendizagem
estimulando-o a exprimir sentimentos e emoções para seu desenvolvimento
intelectual, emocional, cognitivo e físico. E esse aprendizado se dará de forma
compatível com a faixa etária.
Este trabalho será desenvolvido de maneira a ampliar a consciência dos
professores ao incluir no processo de construção do conhecimento, o corpo, a
imaginação, o sonho, o lúdico e o prazer.
CAPÍTULO 1
ARTE E CRIATIVIDADE
1.1 – O que é Arte?
Para refletir sobre a arte de maneira a percebê-la como sendo um recurso
utilizado ao longo da história por todas as sociedades humanas, entende-se ser
pertinente traçar algumas considerações sobre o que vem a ser criatividade.
São inúmeras as possibilidades que o ser humano tem diante de si para
expressar a sua criatividade. Ela existe como sentimento puro, ainda não
delineado, mas que traduz por uma exigência da alma, uma ânsia em busca de
expressão.
“A idéia criadora é uma iluminação intuitiva e repentina. É uma
decisiva emoção que a princípio se delineia, depois se aclara mais e
tende a vir à luz. Movido por ela, o artista descobre o que sempre o
inquietava e que se achava adormecido em sua alma.”
(ANDRÉS, 1966, p. 20).
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A criatividade tem diferentes interpretações e significados. O homem
sempre foi fascinado pela criatividade. Na literatura psicanalítica, a criatividade
é utilizada para estimular o ser humano a expressar-se de forma mais ampla.
Para Freud a criatividade é uma forma de sublimação dos conflitos originada
em um fluxo de energia inconsistente, vinculada ao mundo dos afetos e
conectada diretamente ao transtorno mental. Jung postulou que o processo
criativo consiste na ativação do inconsciente coletivo ou pessoal quando
afirmou que “O processo criador (...) consiste numa ativação inconsciente do
arquétipo no seu desenvolvimento e na sua tomada de forma até a realização
da obra perfeita”. (SILVEIRA, 1982, p. 43).
Winnicott (1975) descrevendo e afirmando o poder da criatividade na
vida, indica que: “A criatividade é o que faz com que o indivíduo sinta que a
vida vale a pena ser vivida”. (p. 18).
Da sublimação do conflito em Freud à afirmativa de Winnicott (1975)
pode-se complementar que a criatividade faz parte do processo orgânico da
evolução humana e é expressão de vida e de amor. Para tanto,
“(...) é fundamental aprendermos a ouvir a voz interior a
todo o instante, compreendendo que se é um ser único
no universo e que se faz manter, se expressar como
tal, e receber, portanto, a luz da transformação”.
(ANDRÉS, 1966, P. 27).
Existem varias definições de arte com interpretações voltadas para
atividades de cada tipo de manifestação: pintura, escultura, poesia, etc.
“Arte (em latim ars), significado técnico e/ou habilidade,
geralmente é entendida como a atividade humana
ligada à manifestações de ordem estética feita por
artistas a partir de percepção, emoções e idéias com o
objetivo de estimular essas instâncias de consciência
em um ou mais espectadores”.
(GORRUBRICH, 2000, p. 86).
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Na história da humanidade a arte existe desde que há indícios dôo ser
humano na terra. É praticamente impossível determinar como aconteceram as
primeiras manifestações artísticas. Pelo que se sabe, pelo menos a 10.000
anos antes de Cristo teve início a aventura criativa com os desenhos nas
paredes das cavernas, já usados pelo homem como meio de expressar seus
sentimentos e emoções. Muitas foram as manifestações de dor, angústias,
lutas, mortes, vitórias e alegrias representadas nas paredes das cavernas.
Para Hegel (1807): “O mais alto objetivo da arte é o que é comum à
religião e à filosofia: tal como estas, é um modo de expressão do divino, das
necessidades e essências mais elevadas do espírito”.
Da mesma forma é possível perceber Lispector (1966) indicando que:
“Na arte inspiração tem um toque de magia porque é uma coisa
absoluta, inexplicável. Não creio que venha de fora para dentro, de
forças sobrenaturais Suponhamos que emerge do mais profundo
eu da pessoa, do inconsciente coletivo e cósmico”.
(p.18).
A arte, ao longo da história, tem sido um recurso utilizado por
praticamente todas as sociedades humanas para expressar elementos que
falam do mundo individual interior, bem como representa, através de símbolos
– cor, forma, som, gestos, etc -, as expressões do mundo exterior. Para Read
(1958, p. 28) “muitos homens inteligentes tem tentado responder à pergunta, o
que é a arte?”, mas nunca satisfazendo toda a gente. A arte é uma daquelas
coisas que como o ar ou o solo está em todo lado, a nossa volta, mas acerca
da qual raramente nos detemos para pensar. Porque arte não é apenas algo
que se encontra nos museus e galerias de arte, ou em velhas cidades como
Florença e Roma. A arte, como quer que a definamos, está presente em tudo o
que fazemos para agradar nossos sentidos.
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1.1.2 - Função da Arte
É importante ressaltar que a arte não possui utilidade no sentido
imediatista de servir a um fim além dele mesmo, mas isso não quer dizer que a
arte não tenha uma função. Como qualquer outra manifestação cultural pode
ser utilizada para a coesão social, reafirmando valores, retratando a sociedade
e os acontecimentos da época, criticando ou causando impacto. Segundo Read
“A arte traz indícios sobre a vida, a história e os costumes de um povo,
inclusive os povos e as nações já extintas. Assim, conhecemos várias
civilizações, suas lutas e conquistas por meio de sua arte, como a egípcia,
grega antiga... e muitas outras”. (1958, p. 27).
Outra função da arte, importante para os nossos dias, é sua utilização
por terapeutas e psicólogos como recurso de terapia. Jung escreveu que a arte
tem finalidade criativa, e a energia psíquica consegue transformar-se em
imagens e, através de símbolos, colocarem seus conteúdos mais internos e
profundos. De acordo com o pensamento junguiano, devem-se observar os
sonhos, pois são criações inconscientes que o consciente muitas vezes
consegue captar, e junto ao terapeuta pode-se buscar sua significação
correlacionando arte com criatividade e energia psíquica.
“A energia psíquica consegue transformar-se em imagens e,
através de símbolos, colocar seus conteúdos mais intensos e
profundos. A arte é a expressão mais pura que há para a
demonstração do inconsciente de cada um, e a liberdade de
expressão é densibilidade criativa”.
(JUNG, 1920, p. 78).
O enfoque da psicologia humanista visualiza a arte como auto realização
e, Silveira (1981) colabora, reforçando que é diferente pintar o que vemos
diante de nós e pintar o que vemos dentro de nós. Para esta importante
psiquiatra brasileira, “o que importa é o indivíduo dar forma, mesmo que
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rudimentar, ao exprimível pelas imagens carregadas de energia, desejos e
impulsos”. (p. 77).
Portanto a arte é uma linguagem que dialoga com a mente emocional.
Alegria, tristeza, revolta, poder, entusiasmo, são mensagens emocionais que
recolhemos das expressões artísticas nas suas mais diversas modalidades:
música, literatura, poesia, dança, teatro, pintura, escultura, etc.
1.2 – A importância da Arte Pictórica
Partindo do conhecimento que a arte é um ponto de contato entre os
homens, é possível traçar um breve histórico abrangendo uma sumária
evolução dos tempos pré-históricos realizando assim uma rápida viagem,
caracterizando os diferentes estilos de manifestações artísticas, dando ênfase
especial as manifestações pictóricas.
O homem começou a desenhar, a pintar e a praticar outras artes (canto,
dança, música) ainda nas cavernas da pré-história. De acordo com Cavalcante
(1966) as primeiras obras de arte datam do período paleolítico, onde se
encontram numerosos vestígios de manifestações artísticas. As primeiras
pinturas, por exemplo, representavam , quase que exclusivamente, animais
pré-históricos. As imagens eram figurativas e realistas retratando o mundo
exterior como se mostra ao olhar.
Dessas pinturas do amanhecer da história, aquela de maior interesse e
merecedora de atenção, é a egípcia. Embora fossem considerados rígidos
incapazes de exprimir a vida, abstraíam da natureza, não por incapacidade,
mas porque, intencionalmente desejavam exprimir o absoluto através da
estilização e da ausência de movimento.
“É por meio dessa imobilidade que o homem expressa seu
desejo de eternidade e de absoluto, e a certeza do infinito,
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certeza daquilo que não tem fim nem princípio e que para o seu
intelecto parece parado no tempo e no espaço”.
(ANDRÉS, 1966, p. 43).
Na técnica e na expressão, a pintura romana é uma variante da pintura
grega. Apenas por seu caráter prático, o romano acentuou-lhe a finalidade
decorativa, marcando-a de mais forte realismo. Ao contrário do artista grego, e
do romano, o artista cristão primitivo possuindo uma concepção mística e não
racionalista, fecha os olhos à realidade do exterior para abri-los às suas
realidades interiores de crente, representando sua arte com verdadeiras
abstrações. (Cf. CAVALCANTI, 1966).
Também posta o serviço da religião, os bizantinos e românicos
destinavam-se a traduzir sentimentos obedecendo a verdadeiros formulários
prescritos pelos padres, pois a pintura tinha por principal finalidade a
propagação da fé e da história sagrada.
O renascimento veio trazer maior conteúdo intelectual a seus artistas,
uma vez que, antes de tudo, cultivavam a forma. Foi a época das grandes
descobertas. O racionalismo e o espírito científico do homem renascentista
refletem-se na sua pintura. Enquanto a inércia da Idade Media era a teologia, a
ciência da renascença é o humanismo. Embora representando tema religioso a
arte renascentista não é mística, simbólica nem deformadora, mas realista e de
inspiração científica, e profana, acentuando a beleza do caráter e mais
subjetiva. Dramática, emocional e suntuosa a arte dos barrocos comunica
sentimentos, relações emocionais, sugestões de drama e mistério. As receitas
e fórmulas da grande renascença passaram de geração em geração,
degenerando, tristemente, no academicismo. (Cf. ANDRÉS, 1966).
Inspirado nas obras da antiguidade clássica grego-romana, a arte
acadêmica era pobre de poder expressivo. Na verdade possuíam apenas uma
excelente técnica. O pintor deveria apenas copiar de forma bonita, sem
criatividade. Expressando a vida ociosa e requintada, o espírito galante e fútil
da nobreza européia do século XVIII, o Barroco é feito de sentimentos
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aristocráticos, tocados de certo caráter naturalista e, muitas vezes requintado
erotismo.
Também buscando inspiração nas obras da Antiguidade Clássica e da
Renascença, o Neoclassicismo é uma arte eclética e normativa, limitando a
liberdade de criação e de expressão do artista, dificultando-lhe a originalidade
pessoal, pois as soluções dos problemas técnicos e expressivos estão
previamente determinadas
Contra as limitações do classicismo, a pintura romântica grega a
liberdade de expressão individual. Como os barrocos, movimentam as formas e
a composição para maior intensidade da expressão dos sentimentos.
Abandonando os temas históricos preferidos dos romanos, representando as
coisas objetivas e visíveis, os artistas realistas eram bastante sintéticos,
eliminando o que parece supérfluo e inexpressivo, para fixar apenas os
elementos considerados expressivos e definidores.
Foi na primavera de 1874 que jovens pintores hoje considerados
mestres, tais como Renoir, Monet, Pissarro, Sisley, Degas, Cézanne,
inauguram em Paris a primeira exposição de arte moderna. A denominação
“impressionista”, dada pejorativamente ao grupo por um crítico mais exaltado,
foi adotada. Diferentemente do artista neoclássico ou acadêmico, aplicam
processos aprendidos intelectualmente e não, sentido emocionalmente. Os
impressionistas realmente inovaram na técnica e na expressão da pintura.
Para esses artistas a fonte da verdadeira criação artística está na
observação e estudo da natureza, jamais na aplicação metódica de
convenções e fórmulas, sem o calor da emoção realmente vivida e assim da
emoção provocada pelo contato com a realidade. Todo o sentido revolucionário
da nova escola está simplesmente nisto, a observação e fixação das alterações
que a luz do sol produz as cores da natureza. A originalidade dos
impressionistas está no fato de terem sistematizado essas observações,
transformando-as numa teoria da luz e da cor.
Ao contrário dos impressionistas que tinham uma visão bastante otimista
e lírica do exterior, os expressionistas, justamente por não se preocuparem em
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reproduzir cenas, mas sentimentos profundos, eram trágicos e violentos
deformadores da figura. Traduzindo em seus quadros um momento de tensão
emocional, o pintor expressionista não poderia prender-se a problemas de
ordem intelectual. Afastava-se às vezes por completo da natureza na busca
veemente de uma expressão subjetiva. (CAVALCANTI, 1966).
Tendo como criadores mais expressivos os artistas Vlamink e Matisse,
os fovistas inauguraram suas inovações no salão de outono em 1905,
escandalizando o público e os críticos com suas obras excessivamente
coloridas, sendo considerados como “fouves”, isto é, “feras”. Os fovistas
traduziam em suas telas de colorido intenso, sensações íntimas e imediatas, e
não sentimentos profundos e dramáticos como os expressionistas. (Cf.
CAVALCANTI, 1966).
Os cubistas, aproveitando a simplificação da forma, iniciada por
Cézanne, analisaram-na e decompuseram-na como os impressionistas haviam
feito com a cor. A arte moderna desprendeu-se da contingência representativa.
A figura passou a ser usada como um elemento plástico e não com o intuito de
representar alguma coisa.
O dadaísmo, movimento que pretendia transformar em arte as coisas
mais vulgares e negar todos os valores tradicionais da cultura expressou a
revolta do homem contra a sociedade e suas leis. A doutrina de Freud,
apregoando o automatismo psíquico, muito contribuiu para isto. As idéias de
Freud, muito difundidas na Europa, deram impulso a outra corrente de arte, o
surrealismo, onde prevalecia o automatismo psíquico.
O surrealismo colocava o subconsciente e as manifestações íntimas do
psíquico á frente de todas as idéias estéticas e formais. A imaginação via-se
livre do espírito crítico, para dar lugar ao maravilhoso, ao sonho, ao imprevisto.
A pintura concreta libertou-se da tradição, procurando um caminho diferente e
completamente novo. Um quadro concreto não podia ser julgado dentro do
mesmo critério de um quadro abstrato ou figurativo. Ele ousava transformar
uma idéia (não um tema ou sujeito) em forma concreta. Os concretistas
desejavam uma expressão exata e não apenas sugerida de sua idéia. (Cf.
CAVALCANTI, 1966 e ANDRÉS, 1966).
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Se o concretismo procurou criar uma pintura objetiva, visando uma
ordem estética, o abstracionismo voltou à contemplação interior e deu largas a
intuição. A corrente abstracionista procurou traduzir em linguagem comum, a
todos os povos e raças, sua visão estética do universo.
Em situação intermediária entre o abstracionismo e o figurativismo as
pinturas tachistas encontram tendências que procuram tirar da natureza,
motivação para suas abstrações. Sublimando a proeminência do gesto reflete
uma ânsia incontida de liberdade, negação e toda e qualquer disciplina.
Baseada no dadaísmo a arte se desenvolveu ao lado das pesquisas
concretistas. A sua característica principal é a ilusão de movimento (arte
cinética). a pintura cinética abriu uma nova dimensão nas artes plásticas. Um
de seus princípios é a integração com a ciência, tentando através da ilusão de
movimento transportar para a arte as forças e a ordem do mundo físico.
Pelo conhecimento sumário que acabamos de ter da História da Arte,
deixamos aqui as palavras de Andrés (1966, p. 61):
“O esforço do homem nunca é um gesto isolado. Seu eco se faz
sentir através dos tempos. A arte é a síntese, a interpretação das
experiências do artista, de suas descobertas, de suas derrotas de
uma civilização, de uma saciedade. É a soma das realizações
pessoais, com todo um acervo de idéias e experiências que
representam uma cultura”.
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CAPÍTULO 2
ARTETERAPIA NO CONTEXTO TERAPÊUTICO 2.1 – O que é Arteterapia? Neste capítulo faremos algumas considerações sobre a arte e suas
contribuições no contexto terapêutico. Baseado no conhecimento das teorias
psicológicas e do desenvolvimento humanos, a arteterapia através da
expressão artística tem a possibilidade de interpretar a personalidade
fornecendo condições para o sujeito resgatar a qualidade de vida em seu
sentido mais humano. Para Urrutigaray (2003), “A arteterapia possibilita a
reconstrução e interpretação da personalidade, fornecendo condições para o
sujeito transcender vivências imediatas e estar disponível para novas
experiências”.
De uma forma simples, a arteterapia não é mais do que a expressão
artística dos nossos pensamentos, emoções, idéias e opiniões. Todos somos
capazes de expressar e de criar, e essa criação permite o autoconhecimento e
crescimento pessoal, fundamental para o nosso bem estar. Na arteterapia a
criatividade sobrepõe-se a todo o processo psicoterapêutico, facilitando a
comunicação, a capacidade de pensar, ajudando no relacionamento intra e
interpessoal.
Os meios artísticos utilizados pela arteterapia são o desenho, a pintura,
a escultura, a fotografia, canto, dança, teatro entre outros. Seu campo de ação
é indicado para pessoas de todas as idades e abrange uma enorme variedade
de perturbações, sejam físicas, emocionais ou psicológicas.
Em uma abordagem junguiana, o caminho em arteterapia é formar
suportes materiais adequados para que a energia psíquica plasme símbolos
em criações diversas. Essas produções simbólicas retratam múltiplos estágios
da psique, ativando e realizando a comunicação entre o consciente e o
inconsciente. Esse processo colabora para a compreensão e resolução de
estados afetivos conflitivos, favorecendo a estimulação e expressão da
personalidade através do processo criativo. Foi Jung o primeiro a utilizar a
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expressão artística em consultório. Para ele, a simbolização do inconsciente
individual e coletivo ocorre na arte.
“Existe uma conexão estreita entre psicologia e arte. Essa
relação baseia-se no fato de a arte, em sua manifestação, ser
uma atividade psicológica e, como tal, pode e deve ser
submetida a considerações de cunho psicológico, pois sob
esse aspecto, ela, como toda atividade humana oriunda de
causas psicológicas, é objeto da psicologia”.
(SILVEIRA, 1982, p. 54).
2.2 – A contribuição de Jung para a Arteterapia
Segundo Mc Lynn (1998), Jung nasceu em 26 de julho de 1875, em
Kresswill, Brasiléa, na Suiça, no seio de uma família voltada para a religião.
Seu pai e vários outros parentes eram pastores luteranos, o que explica, em
grande parte, desde a mais tenra idade, o interesse do jovem Carl por filosofia
e questões espirituais e o papel da religião no processo de maturação psíquica
das pessoas, povos e civilizações. Desde cedo o futuro colega de Freud
demonstrou uma inteligência notável, o que, mesmo assim, não lhe poupou
alguns dissabores, como um lar algumas vezes desestruturado, a inveja dos
colegas e a solidão.
Ao entrar para a universidade Jung havia decidido estudar medicina. Por
essa época, também passou a se interessar mais intensamente pelos
fenômenos psíquicos. Em 1900 tornou-se interno na Clínica Psiquiátrica
Bugholzli, onde estudou com Pierre Janet, e, em 1904 montou um laboratório
psiquiátrico experimental em que criou seu célebre teste de associação de
palavras para o diagnostico psiquiátrico. Mais tarde este teste foi aperfeiçoado
e adaptado por inúmeros psiquiatras e psicólogos, para envolver além de
palavras, imagens, sons, objetos e desenhos.
Estava tão entusiasmado com as novas perspectivas abertas pela
psicanálise, que decidiu conhecer Freud pessoalmente. A comunhão de idéias
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e objetivos era tamanha que eles passaram a se corresponder semanalmente.
Porém, começaram a aparecer algumas diferenças. Jung jamais conseguiu
aceitar a insistência de Freud de que as causas dos conflitos psíquicos sempre
envolveriam algum trauma de natureza sexual, e Freud não admitia o interesse
de Jung pelos fenômenos espirituais como fontes válidas de estudo de si. O
rompimento entre eles foi inevitável.
Anterior mesmo ao período que estavam juntos, Jung começou a
desenvolver um sistema teórico que chamou de “Psicologia Analítica”.
Utilizando-se do estudo dos sonhos e de desenhos, Jung passou a se dedicar
profundamente os meios pelos quais se expressa o inconsciente. Assim,
descobriu que além do consciente e inconsciente pessoal já estudados por
Freud, existiria uma zona onde estariam as figuras, símbolos e conteúdos
arquetípicos de caráter universal, freqüentemente expressos em temas
mitológicos. (SILVEIRA, 1978).
Enquanto o inconsciente pessoal consiste fundamentalmente de material
reprimido e de complexos, o inconsciente coletivo é composto
fundamentalmente de uma tendência para sensibilizar-se com certas imagens,
símbolos que constelam sentimentos profundos de apelo universal, os
arquétipos. Da mesma forma que animais e homens parecem possuir atitudes
inatas, chamadas de instintos, também é provável que em nosso psiquismo
exista um material psíquico com alguma analogia com os instintos. Talvez as
imagens arquetípicas sejam algo como as figurações dos próprios instintos, em
um nível mais sofisticado, psíquico. Assim, não é mais arriscado admitir a
hipótese do inconsciente coletivo, comum a toda a humanidade, do que admitir
a existência de instintos comuns a todos os seres vivos. Em resumo, o
inconsciente coletivo é uma faixa intrapsíquica e interpsíquica, repleto de
material representativo de motivos de forte carga afetiva comum a toda a
humanidade. (DURANT, 1996).
Jung morreu a 6 de junho de 1961, aos 86 anos de idade, em sua casa à
beira do lago de Zurique, em Küsnacht após uma longa vida produtiva, que
marcou, e tudo leva a crer que ainda marcará mais, a Antropologia, a
Sociologia e a própria Psicologia. Quarenta e cinco anos após a sua morte a
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obra deixada por ele extrapola a Psicopatologia e ecoa com muita importância
em outras áreas do pensamento ocidental.
Dentre os primeiros exploradores do inconsciente, Jung é certamente
um dos mais contraditórios e, por isso mesmo, um dos mais interessantes. É
significativa a influencia e repercussão que a obra junguiana vem provocando
na Psicologia e na Educação. Na década de 20 Jung recorreu a linguagem
expressiva como forma de tratamento, e, para tanto pedia aos pacientes que
fizessem desenhos livres, imagens de sentimentos, de sonhos, de situações
conflituosas. Segundo ele; “A arte é a demonstração mais pura que há para a
demonstração do inconsciente de cada um, é a criatividade, é a vida”.
(SILVEIRA, 1978).
Para Nise da Silveira (Jung Vida e Obra) o recurso da arte aplicada à
psicopatologia originou-se quando Jung passou a trabalhar com o fazer
artístico em forma de atividade criativa e integradora de personalidade. E, é
nessa viagem ao encontro do território de si mesmo que a Arteterapia dá a sua
grande contribuição como arcabouço para o bom desenvolvimento
afetivo/emocional também da criança. “Não se trata de formar artistas, mas de
contribuir através de estímulos para que cada pessoa consiga desenvolver sua
personalidade e para que possa expressa-la de maneira autentica e completa”.
(SILVEIRA, 1978).
2.3 – Expressões da Arte na Arteterapia e na Educação
Pedagogos e psicólogos estão de acordo que a arte é uma atividade que
beneficia o desenvolvimento da criança de forma global e harmoniosa. Livre de
época, cultura e classe social, a arte faz parte da vida, pois ela vive em um
mundo imaginário, de encantamento onde a realidade e o “faz de conta” se
confundem. Quando a criança cria, busca alternativas para modificar a
realidade. As suas fantasias e desejos podem ser alcançados
espontaneamente quantas vezes o desejar, criando e recriando as
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circunstancias que auxiliam a atender algumas necessidades presentes em seu
interior.
“O desenho é uma íntima ligação do psíquico e do
moral. A intenção de desenhar tal objeto não é
senão o prolongamento e a manifestação de sua
representação mental; o objeto representado é o
que, neste momento ocupará no espírito do
desenhador um lugar exclusivo e preponderante”.
(Merleau-Ponty, 1990, p. 130).
Para a criança o desenho é uma expressão de mundo e nunca uma
simples imitação ou cópia fiel, porque ela desenha conforme o modelo interior,
a representação mental que possui do objeto a ser desenhado. Segundo Pillar
(1966), ao observar o desenho de uma criança, podemos aprender muito sobre
o seu modo de pensar e sobre as habilidades que possui.
O interesse cientifico pelo desenho infantil surgiu no final do século XIX
e os primeiros trabalhos sobre o tema relacionavam-se à Psicologia
Experimental. Rapidamente os estudos sobre o desenho infantil se
diversificaram e contribuíram com varias disciplinas, como a Psicologia, a
Pedagogia e a Estética.
No século XX as pesquisas sobre o desenho infantil contribuíram
consideravelmente para a Psicologia infantil e, atualmente, esta técnica
continua sendo freqüentemente utilizada em estudos nas áreas de Psicologia
e Educação. Para Read o desenho infantil representa um importante meio de
compreensão acerca dos aspectos emocionais da criança. A livre expressão
engloba uma vasta gama de atividades corporais e processos mentais de
pensamento, sentimento e intuição.
Para Read “a arte é a forma mais óbvia de expressão livre em crianças e
tem havido uma tentativa persistente por parte de psicólogos para identificar
todas as formas de expressão livre através da arte infantil”. (1958, p. 136)
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De acordo com Jung a psicologia moderna considera a atividade
artística da criança uma linguagem que serve a todos os fins habituais da
linguagem: abstrações, sonhos, comunicação, com outrem.
A par destas reflexões constatamos o lugar periférico da arte-educação
na instituição escola e a necessidade de uma articulação aos fazeres
pedagógico, compreendendo a sua importância como sendo um dispositivo
para a aprendizagem vivencial e criativa de si mesmo e do outro.
Os professores são impelidos a escolher entre expressividade e técnica,
tradição e inovação, diversão e aprendizagem, mito e profanidade, magia e
estrutura, certo e errado, bonito e feio, como se não existissem equilíbrios e
desses elementos apenas um fosse educativo. Barbosa (2003, p. 184) deixa
bem claro o potencial desta via de conhecimento ao dizer:
“Por meio da arte é possível desenvolver a percepção e
a imaginação, aprender a realidade do meio ambiente,
desenvolver a capacidade critica, permitindo ao
indivíduo analisar a realidade percebida e desenvolver
a criatividade de maneira a mudar a realidade que foi
analisada”.
Mas como traduzir esses fatos em nossas rotinas pessoais, escolares e
profissionais?
“O papel que o educador exerce em seu ambiente de
trabalho não se restringe na transmissão de
conhecimento teórico, ele perpassa um caminho muito
abrangente, o de formar cidadãos. O profissional de
ensino infantil tem compromisso redobrado, deve
aguçar a sua sensibilidade para não desperdiçar as
oportunidades vividas e vivenciadas em seu exercício
profissional com a criança, pois este é o primeiro
contato social que ela tem fora do ambiente familiar”.
(OIIVEIRA, 2000, p. 58).
24
Alessandrini (1996) defende a idéia de que a “práxis pedagógica
trabalha com a totalidade do ser, possibilitando ao educador o seu
desenvolvimento integral” (54).
Durante os vários aspectos que envolvem o processo de ensino e
aprendizagem, observa-se com preocupação que existe um numero crescente
de crianças que não se integram socialmente. Freqüentemente essas crianças
são causadoras de tumultos, brigas, discórdias ou, ao contrario, são tímidas ou
retraídas e como conseqüência tem menos aproveitamento pedagógico e
dificuldade no desenvolvimento afetivo. Diante disso é necessário investigar a
arteterapia com o processo facilitador de integração social da criança com
inadequação ao ambiente escolar.
Tendo como objetivo facilitar a concretização simbólica das dificuldades
da criança por meio de uso de materiais artísticos, a arteterapia oferece ao
aluno instrumentos que o tornará capaz de enfrentar seus limites pessoais e
superar suas dificuldades de aprendizagem e desenvolvimento, além de
favorecer sua autoconfiança elevando sua autoestima. A arteterapia funciona
muito bem nas escolas porque é um momento que a criança tem para exprimir,
para falar de seus problemas de uma forma mais livre não se restringindo à
regras da escola. Como disse Durkheim (apud Morin, 2002, p. 126)
“O objetivo da educação não é o de transmitir
conhecimentos sempre mais numerosos aos alunos,
mas o de criar nele o estado interior e profundo, uma
espécie de polaridade de espírito que o oriente em um
sentido definido, não apenas durante a infância, mas
por toda a vida”.
Neste contexto, a arteterapia se relaciona com a educação, pois tem
como finalidade a percepção, a imaginação, a criatividade, a emoção, a
sensibilidade e a autoconfiança da criança, assim como ampliar as
possibilidades que a permitam se desenvolver nos aspectos cognitivos e
sociais.
25
Muitas vezes a criança freqüenta psicopedagogos, fonoaudiólogos, entre
outros profissionais e, ainda assim não consegue um desempenho escolar
satisfatório. Isso acontece porque ela necessita que o seu aspecto emocional
também seja assistido de forma efetiva e atenuante. Pintando, recortando,
construindo, colando e desenhando, a criança está olhando para dentro de si.
Com o autoconceito mais exato de si, sua autoconfiança permitirá que ela lide
melhor com uma frustração que poderá ocorrer na sala de aula.
Para Oliveira (2002) a arteterapia é um campo de vivencias e
explorações onde é possível elaborar e desenvolver trabalhos através de
atividades interessantes para a criança, possibilitando-a reconhecer objetos,
fazer experimentos, explorar conhecimentos ampliando seu mundo de
sensações e percepções.
Pode-se afirmar que a arteterapia na educação tem aplicação em
diversas situações: apoio à aprendizagem, comportamento, desenvolvimento
criativo e pessoal; apoio a educação especial, ao desenvolvimento motor,
problemáticas especificas de foro psiquiátrico, etc. alunos que apresentam
transtornos de aprendizagem também possuem como característica a baixa
autoestima. Isso se deve ao fato dessas crianças serem, de certa maneira,
estigmatizadas por não conseguirem bons resultados.
Moysés (1955) em seu livro A auto-estima se constrói passo a passo
afirma que alguns autores consideram a autoestima provavelmente o resultado
e a criança a causa do desempenho escolar. O tratamento que recebe de outra
pessoa, o grau de realização e de reconhecimento em todas as atividades das
quais participa, são reflexos que a criança recebe a todo o momento em sua
vida. Esses reflexos são um flash de si mesma que ela vai colecionando ao
longo do tempo e formando a base de sua identidade, que posteriormente
tornar-se-ão a sua auto-imagem.
Trabalhar com os sentimentos e emoções da criança ainda é pouco
comum nas escolas. A pratica é relativamente nova e, regra geral, ainda não
faz parte de um projeto educativo alternativo. A arteterapia pode ser muito útil
no contexto escolar porque pode trabalhar com uma população de crianças de
risco, em risco de abandono escolar, com dificuldades de aprendizagem, com
necessidades educativas especiais.
26
Faz-se necessário, portanto, que a escola encontre nas artes inúmeras
maneiras de desencadear em seu aluno a vontade de saber mais, de fazer e
de ser. Portanto, o papel da escola precisa estar comprometido em considerar
este publico infantil com a sua historia de vida e, a partir daí buscar a
elaboração de uma proposta pedagógica que atenda esta realidade, visando a
construção de sujeitos pensantes e conscientes de seu papel social. (Cf.
Kramer, 1988).
Vinculada a esta realidade da criança como sujeito social a escola tem
no exercício de seu papel, enquanto instituição produtora de conhecimento a
responsabilidade de dar significação para a vida a esses atores sociais. (Cf.
Freire, 1979).
Trabalhar com emoções e sentimentos na arteterapia ainda é pouco
comum nas escolas. Esta relação particular entre o sujeito, o objeto da arte e o
terapeuta não consta dos planos curriculares, talvez por desconhecimento de
parte dos profissionais de educação. Quantas vezes conceitos de artes são
trabalhados de forma apenas intelectual, não atingindo o sensível.
A desconsideração da escola em relação aos conhecimentos adquiridos
pelas crianças antes do ingresso na escola, em suas vivencias sociais, constitui
um dos equívocos educacionais. A escola é um local que tem como objetivo
possibilitar a aquisição do conhecimento, nela a criança aprende a se
relacionar com o próprio conhecimento, assim, a arte precisa fazer parte das
ações pedagógicas. (Cf. Freire, 1997).
A formação do aluno não pode ser limitada à sua presença em sala de
aula. Muito além dos conteúdos escolares, imprescindível para a formação do
cidadão no mundo das informações, estão as disciplinas, a integração social, o
aprender a conviver e o respeito as diferenças individuais. Diante disso
constata-se o lugar periférico da arte-educaçao na instituição escola e a
necessidade de articular a arteterapia aos afazeres pedagógicos e sua
importância – um dispositivo para a aprendizagem vivencial e criativa de si
mesmo e do outro.
Assim, a partir da compreensão do valor da arteterapia na educação,
faz-se necessário trazê-la para o espaço escolar, pois entende-se que muitas
vezes as dificuldades nas trocas de idéias, durante a elaboração de um
27
planejamento didático, por exemplo, poderiam ser previamente vivenciadas e
exploradas através de mãos que tivessem a oportunidade de vivenciarem
juntos trabalhos em artes. Quantas dificuldades afetivas poderiam ser
trabalhadas no espaço prazeroso das artes!.
Sabemos que os educandos trazem experiências distintas e que é
preciso vive-las distintamente. E, como são distintas as experiências, uns
podem ensinar aos outros, e, uns podem aprender com os outros. Nos só
aprendemos se aceitarmos que o diferente está no outro. O dialogo só existe
quando aceitamos que o outro é diferente e pode nos dizer algo que não
conhecemos. (Faudez, 1985, p. 116).
Quanto ganharia o cotidiano escolar se os educadores ao invés de
perseguirem os erros dos educandos, sinalizassem o que sabem, dedicassem
o tempo/espaço incentivando-os na vivencia de suas reais potencialidades.
Não é possível, entretanto, se pensar nesse ideal de escola onde se busque a
formação de cidadãos plenos através da educação, em que haja uma
conscientização das necessidades materiais para que isto efetivamente
aconteça.
Oportunizar ao corpo docente melhor condição para o exercício
profissional, oferecendo-lhes uma educação continuada, onde ele esteja
sempre em contato com o novo. De qualquer forma, é importante que a escola
tenha um projeto educativo que de subsídios para que o professor possa se
lançar nesse desafio. A vivência pedagógica representa aquilo que nos toca e,
para que sejamos tocados se faz necessário que seja algo criativo que estimule
nossos sentidos, através de linguagens expressivas, e, também unifique
nossas funções psíquicas: pensamento, sentimento, sensação e intuição.
28
CAPITULO 3
TÉCNICAS EXPRESSIVAS EM ARTETERAPIA
3.1 – Os materiais e seus recursos terapêuticos com crianças
na educação.
É importante destacar que a arteterapia não é a simples estilização de
técnicas expressivas no ambiente terapêutico, ela é um processo no qual as
imagens são o guia e as técnicas são facilitadores do surgimento de símbolos
pessoais. Cada modalidade expressiva tem propriedades terapêuticas
inerentes e específicas, cabendo ao arteterapeuta, como profissional, ético e
responsável, construir a cada uma com o intuito de adequar as diversas
modalidades expressivas e materiais às analogias e quadros apresentados.
Durante o processo terapêutico pode-se adotar uma multiplicidade de recursos
ou um só, que será intensificado à medida que o paciente conseguir explorar
mais facilmente suas possibilidades expressivas.
Com crianças, a arteterapia representa um ótimo recurso terapêutico,
uma vez que se aproxima muito da linguagem infantil pela criatividade, com o
uso de desenhos, pinturas, materiais lúdicos que são formas características de
expressões próprias do universo infantil.
Eliezer (1992) acredita que cada atividade, cada material, cada cor,
forma, movimento, som, tem uma possibilidade de atuação no sujeito. Um rolo
de barbante pode permitir a percepção e integração de noção de
espacialidade. As cores podem permitir a expressão afetiva e emocional.
A modelagem permite estimulação tátil, trabalho muscular, estrutura
postural, assim como a capacidade de expressão. A técnica do desenho tem,
na terapia pela arte, o papel de desenvolver a esfera cognitiva, além da
capacidade de abstração. Os fios (lãs, barbantes, linhas) utilizados no bordado,
29
tricô, crochê e tecelagem, permitem o fortalecimento e a reeducação do
pensamento.
Para Urrutigaray (2003):
“A escolha dos materiais em Arteterapia é de suma importância, porque
proporciona a integração da personalidade, mediante aplicação de
técnicas e praticas expressivas, que tanto facilitam a materialização de
formas, doadas por conteúdos projetados, bem como permitem a
identificação funcional das mesmas já que possibilitam a sua
integração, restituindo à personalidade os sentimentos acerca de si,
dando ao sujeito que a utiliza como pratica o deleite de desfrutar de si
mesmo”.
O estado psíquico dos pacientes que manipulam o material expressivo
de tintas, pincéis, argila, através de pintura, escultura e outras técnicas, é
dotado de forte carga emocional e afetiva. Como Silveira disse (2002, p. 13)
“O ateliê de pintura me faz compreender que a principal função das
atividades na Terapia Ocupacional seria criar oportunidades para que
as imagens do inconsciente e seus concomitantes motores
encontrassem formas de expressão”.
Também, neste sentido, Andrés (1966), afirma que:
“pode-se dar forma as mais diversas técnicas expressivas: visualizando
imagens, escutando palavras interiores ou a própria voz, escrevendo
ou expressando-se plasticamente, mediante desenho, argila,
movimento, dança. O material que emerge pela formulação criativa
costuma ser acompanhado por imagens, cores e percepções ligadas a
todos os sentidos, além de fantasias, memórias e emoções. Não há
limites nem garantias. As imagens visuais e às vezes internas movem-
se repentinamente de uma coisa a outra”.
Segundo Phillipini (1995) muitas vezes o material provém não do nível
pessoal, mas do arquétipo – inconsciente coletivo. Com a utilização dessas
técnicas, a fantasia inconsciente é mobilizada a se expressar. Ganha vida e
30
forma estética. Podemos relacioná-la a fatos passados, liberar emoções. A
partir daí, cabe ao ego confrontar as emoções e a imagem, associada,
relacionando-a a seu momento existencial e a seu processo psicológico.
Urrutigaray (2003) defende a idéia de que os materiais artísticos auxiliam
nas projeções do inconsciente, pois a manipulação destes possibilita a vivência
de experiências sensoriais dadas pela percepção das formas, texturas, cores e
volumes. Cada tipo de material produz sensações e sentimentos que precisam
ser confrontados na busca de individuação. Os materiais secos, como lápis, giz
de cera, giz pastel e canetas hidrográficas, por exemplo, podem transmitir
segurança, reforçar a sensação de equilíbrio e de bem estar.
As tintas produzem a manifestação das emoções, aumentam o
conhecimento de si mesmo, a expressão da imaginação e de exteriorização
dos sentimentos mais internos, através de imagens de experiências que
usualmente não são verbalizadas, enquanto que as colagens e as construções
promovem o reordenamento das imagens simbólicas com suas projeções.
Edna Chagas Christo e Graça Maria Dias Silva (2006) dizem que se
deve utilizar uma variada gama de materiais – papéis, tintas, lápis de cor, cola,
tesoura, tecidos, fios, madeira, plástico, argila, massas e tantos mais, e
técnicas como desenho, pintura, modelagem, construções, personagens. O
importante é que o profissional de arteterapia possa ter uma vivência bastante
diversificada em suas expressões plásticas para o seu próprio sucesso.
Contribuindo para a compreensão da importância da utilização de uma
numero variado de materiais na utilização de técnicas criativas em arteterapia,
também Craidy diz que com as crianças pode-se usar diversas técnicas
expressivas. Seja qual for a expressão é um espetáculo, mas apenas uma
forma de contato com o inconsciente da criança. Através dos materiais as
crianças, sem a preocupação com o produto acabado. As crianças
experimentam, cometem erros, testam novas idéias delas mesmas, e, vivem a
emoção do processo de criação.
31
“Não há uma maneira certa ou errada de trabalhar, para que os
projetos se concretizem, existe apenas o alegre, o agradável processo
de experiência em si. Para que as crianças possam criar suas
produções, devem ser oferecidas oportunidades diversas para que elas
se familiarizem com algum procedimento ligado aos materiais utilizados
e os diversos tipos de suporte. Sendo assim, o trabalho deve ser
organizado de forma a oferecer para as crianças a possibilidade de
contato, uso e exploração dos materiais”.
(Craidy, 2007, p. 74).
Philippini (2004) reforça acrescentando que na arteterapia com crianças
pode-se trabalhar várias modalidades expressivas; cabendo ao arteterapeuta
construir um repertório de informações relativas a cada uma, com o intuito de
adequar as modalidades expressivas e materiais que facilitem o acesso ao
inconsciente.
A seguir serão descritas varias modalidades expressivas a serem
utilizadas pelo trabalho lúdico artístico do pedagogo. Esses mediadores de
expressão podem ser divididos em categorias relativas aos materiais que
utilizam, para alcançar seu objetivo.
3.2 – Modalidades Expressivas
3.2.1 - Pintura
Como exposto por Valladares (2000), a pintura na arteterapia consegue
resgatar os aspectos mais saudáveis da personalidade. A fluidez da tinta com
sua função libertadora induz o movimento de soltura, de expansão, trabalhando
o relaxamento dos mecanismos defensivos de controle. As cores quentes –
amarelo e vermelho – ativas e dinâmicas aceleram o metabolismo, enquanto as
cores vivas – verde e azul – com a característica balsâmica acalmam.
Read (1958) reforça dizendo que a pintura é uma atividade de caráter
lúdico. Na criança ela produz imensa satisfação, sobretudo em razão da
sensação de movimento do corpo e da percepção dos efeitos gráficos
produzidos, que lhe proporcionam ampla liberdade para expressar sentimentos
32
e idéias através de formas, cores e texturas, favorecendo seu envolvimento
emocional.
A pintura, segundo Ferreira (1986), é uma arte e a técnica de aplicar
tinta sobre superfície plana a fim de representar pinturas, formas abstratas, etc,
em quadros, painéis ou outras composições, tendo a cor como elemento
básico.
A técnica da pintura é freqüentemente confundida com a técnica do
desenho. De conformidade, bem distingue Pillar (1990), assinalando que:
“O que difere a pintura do desenho é que, na pintura, a
cor se torna elemento fundamental de construção do
espaço – de construção analítica de um espaço que é
essencialmente cor – não se limitando aos objetos
invadindo os espaços entre eles. A cor é meio de
conhecimento, transforma o real expressando uma
visão particular do mundo”.
(PILLAR, p. 38).
Assim, a pintura apresenta um valor terapêutico distinto das demais
técnicas, pois facilita a expressão das emoções através da fluidez da tinta e
induz movimentos de expressão da psique do individuo.
3.2.2 - Desenho
Segundo Nauburg (1991) o arteterapeuta, por meio da expressão gráfica
(desenho), encoraja um método de comunicação simbólica entre paciente e
terapeuta, de onde pode emergir sonhos, fantasia, medos, conflitos e a
memória do paciente.
Nesse sentido Red (1958) contribui quando diz que nas expressões
artísticas, as crianças expõem a si mesmas, isto é, deixam aflorar todo o seu
contexto social, suas percepções sobre o mundo, sua identidade e imaginação,
ou seja, seu mundo físico ou sensório-motor.
Pillar (1999) colabora dizendo que ao expressar seus sentimentos
através do desenho, a criança expressa o que sente e pensa; é um espelho,
33
uma imagem representativa de si mesma. O desenho objetiva a forma, a
precisão, o desenvolvimento da atenção, da concentração, da coordenação
viso-motora-espacial. Também concretiza alguns pensamentos.
Materiais utilizados: giz de cera, carvão, lápis de cor, giz colorido, pincel
atômico, canetas hidrográficas e papéis diversos.
3.2.3 - Modelagem
Também Valladares (2000) entende que na execução de um tema em
argila, cera ou outro material maleável, poderá ser reproduzido mais tarde em
materiais fundidos com o auxílio de moldes. É uma atividade que exercita a
função sensorial e trabalha a organização tridimensional. A pessoa ao tocar a
argila estabelece um contato de forma inédita com o material e assim evoca a
sua criatividade, o que lhe permite criar novas formas e ampliar o mundo
imaginário restrito.
Materiais utilizados: argila, papel machê, gesso, massa de modelar
colorida, massa artesanal e estecas (ferramentas especiais para modelagem).
3.2.4 - Recorte e Colagem
Para Edna e Graça Maria (2006), simbolicamente o ato de recortar ou
rasgar papéis e posteriormente reuni-los, colá-los, recompondo-os,
corresponde subjetivamente às vivências de cortes, rupturas, reparações e
reorganização. É uma técnica que oferece a concentração e atenção conforme
o tema proposto, além da noção de espaço. Essa atividade possibilita a
exploração, bem como a estruturação através da organização de detalhes
estimulando a percepção de formas, cores e texturas.
Também possibilita trabalhar com a psicomotricidade fina, pois favorece
os movimentos das articulações e a organização de pensamento que funciona
como uma análise da construção de uma forma. A função desta técnica é
desenvolver a criação das imagens. Fazer recorte e colagem é compor formas
variadas e texturas como um caminho, onde aos poucos as imagens vão
34
surgindo por agrupamento das peças, dando forma e possibilitando a
comunicação com as imagens. As técnicas que norteiam essas práticas são:
recorte e colagem com revistas, mosaico com papéis, montagem com figuras
fragmentadas, montagem com barbante, com relevo, montagem com tecido,
colagem com materiais recicláveis, como por exemplo, caixas, garrafas, entre
outros.
Valladares (2000) reforça dizendo:
“A colagem favorece a organização de estruturas, pela junção e
articulação de formas prontas. Já a organização espacial é
simbólica e reparadora. É uma prática terapêutica que se utiliza
diferentes recursos expressivos, presentes nas diversas áreas
das artes, para facilitar aos participantes um contato com seu
próprio universo imaginário e simbólico, possibilitando dessa
forma, novas descobertas sobre si mesmos. A utilização dessa
técnica facilita o contato com conteúdos inconscientes,
propiciando experiências concretas a fim de permitir a
elaboração dos conteúdos internos, mesmo que o acesso a
estes não se dê ao nível da palavra”.
(p. 25).
3.2.5 - Teatro
Segundo Magalhães (1974), o teatro é por excelência o meio de
expressão que satisfaz a imaginaçao e o gosto pela ficção. É considerado
como um método global reunindo todos os elementos (expressões, trajes, etc.)
de maneira sintética. Ao prazer inconseqüente advém a alegria da descoberta,
do obstáculo ultrapassado, da vitória conquistada sobre o material e sobre si
mesmo. E o autor completa:
“O teatro representa a mais pura expressão do instinto
dramático da criança. Ele é também uma forma de jogo quando
o artista se projeta consecutivamente nos diversos
personagens que cria e tira deles elementos que enriquecem o
seu eu. Porque o oficio de ator é essencialmente um jogo de
35
criança, e nele vibra um feliz sentimento de liberdade. Assim, o
teatro caminha ao encontro da criança, porque a dramatização
se torna o seu meio de expressão mais natural. Ela observa a
vida, capta sincreticamente algo dela e servi-a num alarde
insensível de sua imaginação”.(p.32).
Valladares (2000) colabora dizendo que os teatros podem ser: de
bonecos, sombras, fantoches, máscaras, de dedos ou origamis.
3.2.6 - Tabuleiro de areia
Cheerbrant (1996) diz que o tabuleiro de areia é uma técnica que
permite criar cenas tridimensionais em cenários e em desenhos abstratos
numa caixa de tamanho específico, com uso de areia. Os cenários na areia
representam figuras e paisagens do mundo interior e exterior, situando-se
aparentemente entre esses dois mundos e ligando-os.
Os materiais utilizados são: tabuleiro, areia, contas, miniaturas diversas,
caixas com tampas, sucatas e recursos orgânicos.
Para Edna e Maria da graça a possibilidade de expressão de cada
técnica é infinita. O importante é ter consciência de que existe toda uma
fundamentação teórica nessa escolha: haverá momentos em que será
necessário facilitar a liberação de conteúdos inconscientes; haverá outros em
que teremos que permitir a estruturação de conteúdos que já surgiram
previamente.
Em alguns casos, a técnica deve ser o mais simples possível, como um
desenho a pastel oleoso para a representação de um sonho, por exemplo. Em
outras situações é importante até mesmo minimizar os recursos oferecidos, por
exemplo, usando crayon (monocromático, preto) em lugar de pastel oleoso
(policromático colorido), o que é uma forma indireta de vivenciar limites e
restrições.
Assim, conforme Magalhães (1974) podemos dizer que a escola
incumbe uma missão bem diferente: empenhar-se em conserva-lhe esse poder
de criação, levando o aluno a tomar consciência de suas possibilidades
36
instintivas, canalizar-lhe essas qualidades para a formação de sua
personalidade e de seu sentido artístico.
Piaget (1969) afirma que a importância da expressão infantil não se
constitui afirmação de “uma arte”, mas, muito mais de tendência ao estético, e
que ele chama de “jogo”.
“Se há um real e evidente somatório de benefícios para
os alunos, em conseqüência de tal tipo de atividade, a
escola se condenaria alheando-se delas. Significaria
afinal alhear-se do benefício físico, espiritual, psíquico
social dos seus educandos. Significaria alhear-se dos
seus deveres para com a sociedade. Na realidade, a
escola é a primeira a lucrar com as atividades artes-
terapêuticas”. (p.284).
E Magalhães conclui dizendo que as atividades arteterapêuticas na
escola propiciam o desenvolvimento global social, emocional, intelectual, físico
e espiritual; canalizando os fortes sentimentos interiores; ativam a imaginação,
exercitam o pensamento e os reflexos; facilitam as crianças a possibilidade de
quebrarem a timidez, de explorarem suas experiências, de lançarem direta ou
indiretamente os seus pensamentos; fornecem nas expressões espontâneas
dos alunos um excelente elemento de investigação, facilitam e beneficiam a
educação de alunos excepcionais com dificuldades na aprendizagem.
A sociedade necessita de políticas públicas efetivas nas esferas
municipal, estadual e federal de maneira a fazer da Educação não um
personagem no palanque eleitoral, associada a partidos e vaidades pessoais,
mas sim a única alternativa transformadora para uma sociedade mais justa.
37
CONCLUSÃO
Nesta pesquisa procuramos refletir a importância e a contribuição da
Arteterapia como suporte, no processo de conhecimento e aprendizagem da
criança.
Inicialmente buscamos compreender o conceito de arte através do
entendimento como parte do processo orgânico da evolução humana.
Como suporte teórico recorremos a alguns autores como Maria Helena
Andrés, Carlos Cavalcanti, Lionello Venturi, entre outros.
O primeiro capítulo abrangeu sumaria evolução da pintura, quando
caracterizados os diferentes estilos. Ficou evidente que uma característica
dominante é a natureza simbólica da arte, significando a expressão do homem
e o reflexo espontâneo das suas sensações, sem camuflagem – um jogo
franco, inerente ao ciclo de descobertas em que vive.
Com Carl Gustav Jung, Nise da Silveira, Maria Cristina Urrutigaray, entre
outros, percebemos que, através da Arteterapia, podemos revelar algo que
temos escondido no mistério de nossa personalidade; cabendo ao
arteterapeuta despertar este sentimento em seus clientes, tornando-o visível e
consciente.
Para o entendimento da importância da arte para a criança recorremos a
Herbert Read, Calvet de Magalhães, entre outros, de modo a identificar que a
expressão através da arte é uma atividade espontânea, uma expressão livre do
próprio eu da criança, dos seus próprios pensamentos.
Quanto a Arteterapia na educação, percebemos que os anos da infância
constituem a base permanente da personalidade humana. À escola impõe-se
a missão de modelar , de preparar psiquicamente o homem.
Finalizamos apontando as modalidades expressivas como um poderoso
recurso à mão do professor para melhorar na criança hábitos de atenção,
38
sensibilidade, estimulando a identificação e a formação da personalidade deste
pequeno ser.
Acreditamos, portanto, que esta pesquisa vem reforçar o que de alguma
forma já havíamos percebido através do nosso exercício profissional: a
importância de se inserir a Arteterapia nas ações pedagógicas, viabilizando a
construção do conhecimento e respeitando as particularidades da infância.
Aos professores, convidamos para uma reflexão sobre o modo de
pensar e agir das crianças, suas significações e suas produções.
39
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41
INDICE
FOLHA DE ROSTO 02
AGRADECIMENTO 03
DEDICATORIA 04
RESUMO 05
METODOLOGIA 06
SUMÁRIO 07
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1
ARTE E CRIATIVIDADE 09
1.1 – O que é Arte 09
1.1.2 – Função da Arte 12
1.2 – A importância da Arte Pictórica 13
CAPÍTULO 2
ARTETERAPIA NO CONTEXTO ARTETERAPÊUTICO 18
2.1 – o QU É Arteterapia? 18
2.2 – A contribuição de Jung para a Arteterapia 19
2.3 – Expressões da Arte na Arteterapia em Educação 21
CAPÍTULO 3
TÉCNICAS EXPRESSIVAS EM ARTETERAPIA 28
3.1 – Os materiais e seus recursos terapêuticos com crianças na
Educação 28
3.2 – Modalidades Expressivas 31
3.2.1 – Pintura 31
3.2.2 – Desenho 32
3.2.3 – Modelagem 33
3.2.4 – Recorte e Colagem 33
3.2.5 – Teatro 34
3.2.6 – Tabuleiro de areia 35
CONCLUSÃO 37
42
BIBLIOGRAFIA 39
INDICE 41
43