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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO-SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
DISLEXIA OU DISLECIONIA? A DICOTOMIA DA INCLUSÃO
Izabel Cristina Duarte dos Santos Orientador: Vilson Sergio de Carvalho
Rio de Janeiro 2006
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO-SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
DISLEXIA OU DISLECIONIA?
A DICOTOMIA DA INCLUSÃO.
OBJETIVOS:
Este trabalho destina-se a discutir
os aspectos relevantes à inclusão
de alunos disléxicos
Rio de Janeiro
2006
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AGRADECIMENTOS
A todos aqueles que durante a minha
vida ajudaram a construir a minha
subjetividade. À minha família que
provêem-me com todo o carinho e
suporte. Aos amigos que contribuíram
para a confecção deste trabalho.
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho ao meu filho,
Angel Gabriel e aos meus pais, os
quais amo integralmente e pelos
quais busco ser uma pessoa melhor.
Também a Anthony Guy Olson, o
amigo que me fez enxergar além e
acreditar em meu potencial.
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RESUMO
Dislexia ou “dislecionia” ? A dicotomia da inclusão
Este trabalho aborda a dislexia, a influência que exerce sobre o aluno e
a sua aprendizagem. O trabalho também discute a dicotomia existente na
inclusão do aluno portador de dislexia. Apesar dos esforços presentes na
legislação, o aluno disléxico é ainda visto como preguiçoso e os métodos
avaliativos vigentes visam testar a sua deficiência e não suas habilidades. O
trabalho fará uma análise da legislação educacional brasileira no segundo
capítulo e dará sugestões para uma melhor inclusão do aluno em voga.
Palavras - chave: Inclusão, Dislexia, Práticas inclusivas
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SUMÁRIO
RESUMO........................................................................................................................5
INTRODUÇÃO ..............................................................................................................8
CAPÍTULO I: ...............................................................................................................12
1.1 O que é a Dislexia? ................................................................................................. 12
1.2 A dislexia sob um enfoque científico .................................................................... 14
1.3 Tipos de dislexia ..................................................................................................... 17
1.4 A dislexia como um dom........................................................................................ 19
1.5 Como a Dislexia afeta o aluno............................................................................... 20
1.5.1 Percepção ............................................................................................................. 21
1.5.2 Coordenação motora fina óculo manual........................................................... 23
1.5.3 Leitura e confusão espacial ................................................................................ 24
1.5.4 Oralidade ............................................................................................................. 27
CAPÍTULO II................................................................................................................30
CAPÍTULO III...............................................................................................................35
CAPÍTULO IV ..............................................................................................................41
4.1 Formação Continuada de Professores.................................................................. 43
4.2 Criação de um sistema de suporte e mentoria..................................................... 45
4.3 A prática pedagógica diferenciada ....................................................................... 46
4.4 Sistema Avaliativo Diferenciado........................................................................... 48
4.5 Adaptações curriculares ........................................................................................ 52
4.6 Aprendizagem multi-sensorial .............................................................................. 54
4.7 A teoria de aprendizagem de David Ausubel ...................................................... 55
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4.8 Tecnologias Assistivas para disléxicos.................................................................. 58
4.9 Projeto de valorização dos alunos especiais......................................................... 60
CONCLUSÃO..............................................................................................................62
PARA REFLETIR: ......................................................................................................63
ANEXO 1......................................................................................................................64
BIBLIOGRAFIA...........................................................................................................67
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Introdução
Apesar do movimento pró-inclusão, a estrutura educacional brasileira
ainda não fomenta caminhos para uma inclusão eficiente. Segundo Friend e
Bursuck (2005), a inclusão eficiente tem três dimensões. A integração física, a
social e a instrucional. Dentro do atual sistema educacional, perpetuam-se
sistemas avaliativos e práticas pedagógicas que agravam as diferenças e
promovem o fracasso escolar. As diferenças entre crianças brasileiras
inerentes de diferentes comunidades, classes sociais e portadoras de diversas
deficiências, não são levadas em consideração e tratando-os em igualdade a
escola promove a existência da desigualdade, ao invés de incluir. As leis
vigentes, apesar de integracionistas, são ainda inoperantes. O resultado do
quadro atual é um sistema educacional fragmentado dentro de um meio não-
inclusivo.
Em face da atual doutrina educacional brasileira, o fracasso escolar e a
exclusão dos portadores de deficiências reforçam-se a cada ano. Ao invés de
adotarmos medidas imediatistas, precisamos adotar estratégias que nos levem
a uma inclusão eficiente e duradoura. Devido ao caráter multifacetado da
escola torna-se necessário encontrar caminhos que enfoquem as escolas de
forma globalizada e também estratégias que visem a efetivação dos
dispositivos legais. Precisamos buscar estratégias inclusivas e holísticas que
não só abordem a prática pedagógica, a formação continuada e o sistema
avaliativo, mas também a sociedade em sua totalidade.
Através da pesquisa descritiva realizada, propus-me a pensar em
caminhos para que a inclusão seja operante nas escolas brasileiras. Neste
trabalho direcionei o meu olhar crítico a inclusão de alunos disléxicos. O estudo
é baseado nas políticas educacionais brasileiras, nas leis vigentes e nos
resultados dos censos escolares e populacionais feitos, respectivamente, pelo
MEC e o IBGE. A partir do diagnóstico baseado nos dispositivos citados
anteriormente, encontrei algumas soluções para operar a inclusão, na qual o
professor é o centro do processo. A prática pedagógica sistematizada e
diferenciada é a principal aliada do professor na instrução de alunos disléxicos.
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O meu estudo revela que a dislexia pode ser contornada com a instrução
apropriada, e a maior causa da exclusão de alunos disléxicos é a “dislecionia”.
A “dislecionia” é caracterizada pela falta de sensibilidade do professor, que ao
trabalhar com alunos portadores da dislexia. Não busca informações para
adequar a sua prática pedagógica, nem fomenta meios para o sucesso do
aluno disléxico.
Em 1995, tive a oportunidade de estudar nos Estados Unidos. Ao chegar
à escola, o que mais me impressionou foi a diversidade do corpo discente. Eu,
antes acostumada com uma escola católica, uniformizada e monocromática,
estava naquele momento deparada com uma escola inclusiva, na qual os
alunos se vestiam livremente, expressavam suas idéias da mesma forma e
conviviam com crianças especiais de forma tranqüila e amistosa. O recreio
revelava-se uma mistura de tribos, cores e diferenças. Spanish River High
School, na cidade de Boca Raton, era uma escola fascinante. Entre as línguas
estrangeiras usuais, os alunos podiam escolher estudar a língua dos sinais e
em algumas aulas, professores especializados, trabalhavam lado a lado da
professora regente para incluir alunos com diversas necessidades.
Voltando ao Brasil, a realidade não era a mesma. O sistema brasileiro de
ensino é, em geral, conservador e não consegue acomodar a inclusão.
Pergunto-me: por que há inoperalização no sistema brasileiro de ensino? Será
que as crianças têm problemas em demasia, ou o sistema educacional sofre de
“dislecionia”?1 A dislecionia é a atual descondisderação quanto às
necessidades individuais e quanto à falta de sensibilidade do professor dentro
de um sistema educacional inflexível e tradicional.
Em nossas salas de aula encontra-se instaurada a estrutura do “olho no
pescoço”. Diariamente, obrigamos nossos alunos a usarem antolhos
imaginários e manterem-se dentro de uma estrutura onde as únicas coisas que
têm a permissão de ver são os pescoços de seus colegas e o quadro negro.
Turmas enormes, em boa parte das salas de aula no Brasil, dificultam o
trabalho do professor. Alguns docentes, para poder manter a “ordem” junto à
turma, adotam o tradicional sistema do “cuspe e do giz” e, de alguma forma,
1 Vide artigo - anexo 1
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sustentam a visão de uma educação bancária, tão combatida por Freire (1987).
Turmas lotadas podem constituir um grave problema que é o da falta de
atenção do professor a todos os seus alunos. Empiricamente, é possível
afirmar que há casos em que alguns alunos das turmas sofredoras desse ônus
ficam alheios às orientações do professor. O resultado, na sala de aula, é um
possível desequilíbrio naquilo que a escola tradicional chama de harmonia. O
professor, inclusive, passa a ser rotulado por não ter o “domínio” da turma. Há
situações em que alguns professores chegam a ter medo de alunos que, em
maior número e não acostumados com a liberdade, a vêem como uma
oportunidade para farrear. Neste meio, alunos portadores de necessidades
especiais como os disléxicos, aumentam o quantitativo do fracasso escolar. Os
disléxicos são obrigados a encaixarem-se em uma escola de estrutura rígida, e
esta não faz adequações apropriadas para que possam demonstrar suas
potencialidades.
A atual estrutura bancária, ainda presente em grande parte do sistema
escolar brasileiro, não fomenta o sucesso de crianças com dificuldades de
aprendizagem, como a dislexia. Dentro deste cenário atual, no qual crianças
com necessidades menos adversas, não conseguem sucesso escolar, leis
exigem a inclusão de crianças com maiores comprometimentos. Infelizmente a
vontade de incluir não fará com que a inclusão seja verdadeiramente
operacionalizada. Os dispositivos legais exigem o ideal, porém precisamos de
um plano para conseguir alcançá-lo. As escolas sem planos e metas tangíveis,
perdem-se em meio a tantas exigências e tão pouco suporte. Outras
negligenciam através da negação da matrícula do aluno especial e sabem que
não serão punidas, apesar da lei enquadrar esta ação como criminosa e
inafiançável. Incluir crianças no quadro atual é um desrespeito. As nossas
escolas ainda não estão preparadas para incluir , e o processo para
alcançarmos a verdadeira inclusão, holística e eficiente, é lento, gradual e
contínuo, situação que não ocorre nas diversas estratégias imediatistas
adotadas pelo governo, que busca colher frutos antes do término de seu
mandato para agradar os seus eleitores.
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Agora, como professora, percebo o esforço latente da inclusão. Mas
estamos mesmo preparados para uma escola realmente inclusiva? Em minha
experiência, percebi que algumas escolas vêem a inclusão como uma forma de
mascarar o problema que ronda o sistema educacional. Segundo Friend e
Bursuck (2005) práticas inclusivas representam a crença ou filosofia que alunos
portadores de deficiências devem ser completamente integrados em salas de
aulas ditas ‘normais’ e que a instrução dispensada a eles, deve ser baseada
em suas habilidades e não deficiências. Portanto incluir vai além de esconder a
realidade. É necessário conscientizar a sociedade do dever moral de aceitar as
diferenças. É preciso capacitar os professores para que saibam lidar com
crianças especiais, precisamos de um sistema avaliativo diferenciado, que
avalie o progresso individual ao invés de meramente classificar. Necessitamos
rever a prática pedagógica e diminuir o número de alunos por turma. Acima de
tudo carecemos de suporte. Os dirigentes escolares precisam entender que
incluir não é esconder, e os políticos compreenderem que incluir não é
encontrar soluções imediatistas. Entretanto, incluir é diferenciar para
adequar a escola às necessidades individuais de cada aluno, diversificar para
conseguir incluí-lo holisticamente, em um processo regrado, gradual e
contínuo.
Este estudo abordará caminhos que levem à inclusão de alunos
portadores da dislexia. Primeiramente conceituará a dislexia e as dificuldades
associadas a ela. Seguirá fazendo uma breve análise das leis vigentes que
abrangem os portadores de necessidades especiais. Em seguida, discutirá por
que a inclusão não é operacionalizada. E finalmente, relatará como podemos
operacionalizar a inclusão hoje.
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Capítulo I:
A DISLEXIA
“Para muitas crianças disléxicas, a experiência
de ler e escrever é como dirigir em um país
estrangeiro – tudo parece estar no lado errado,
indo na direção errada. Todos parecem estar
viajando mais rápido que você. Ler e escrever
requerem uma concentração exaustiva – e você
experimenta um sentimento de tensão, medo e
isolação total enquanto todos passam em alta
velocidade, buzinando e olhando para você
como se você fosse um idiota.”2
Imogen Stubbs (Julho de 2005)
1.1 O que é a Dislexia?
Antes de propor caminhos para incluir, é necessário explicar o que é a
dislexia e como ela é considerada um distúrbio que afeta a aprendizagem.
Especialmente a de crianças inseridas num sistema escolar que valoriza acima
de tudo a inteligência lingüística, como o nosso. Somente após compreender
como a dislexia dificulta certas atividades cotidianas realizadas em sala de
aula, será possível entender a dimensão do problema. A dislexia afeta a
memória, a escrita e a leitura, habilidades necessárias para que uma criança se
adapte à escola. Ainda existe uma grande divergência por parte da
comunidade científica quanto ao que é a dislexia e como ela afeta o indivíduo,
um grande número de estudos vem chegando a conclusões divergentes, o que
revela a sua grande complexidade. Principalmente quando a situamos numa
escola que valoriza a retórica e a escrita, deixando a educação artística, a
música e a educação física em último plano. Devido às fraquezas na área de
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leitura e escrita, tão demandadas pela escola, a criança disléxica, exposta ao
cenário educacional tradicional, é propensa a um processo de aprendizagem
penoso e sofrido. A dislexia não faz uma criança ser menos inteligente, porém
é necessário adequar as condições escolares para fomentarem o sucesso dela.
A dislexia é apenas um estilo de aprendizagem diferente. O disléxico não deixa
de ser capaz de aprender, mas a forma única de processamento de
informações advinda de um disléxico, faz com que o aluno aprenda de uma
maneira diferente. Segundo a definição dada pelo departamento Inglês de
educação a dislexia é:
A palavra ‘dislexia’ vem do grego ‘dys-’, o que significa dificuldade com, e ‘-lexia’, que significa palavras ou linguagem. Há muitas razões pelas quais as pessoas têm dificuldade em aprender a ler, escrever ou soletrar. Para algumas dessas pessoas, essas dificuldades podem ser explicadas pela escala de oportunidade e experiência. Para outros, no entanto, essas dificuldades não parecem ser tão facilmente explicadas. Esses alunos podem ser o que é chamado ‘disléxico’. Nós entendemos a dislexia como uma dificuldade específica, tipicamente caracterizada por um equilíbrio incomum de habilidades. A dislexia afeta o processamento de informações (o recebimento, a preensão, a recuperação e a estruturação da informação) e a sua velocidade. Conseqüentemente ela tem um impacto em habilidades com a leitura, a escrita, a utilização de símbolos e cálculos.
(Ministério Inglês de Educação, 2005 2)
Pelo fato da dislexia ser um termo abrangente e polissêmico, usarei a
figura abaixo para que possamos visualizar melhor todas as dificuldades que
podem estar associadas ao distúrbio:
1 Texto originalmente em inglês. Tradução feita pela autora 2 Trecho retirado do site do Ministério Inglês de educação e traduzido pela autora.
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Figura 1.1 (Chorlton Workshop, 2004.1)
Apesar das inúmeras dificuldades associadas a esse distúrbio,
nem todo disléxico apresentará os sintomas da dislexia em sua integridade. A
dislexia varia em severidade e grau e cada disléxico é diferente, pois existem
diferentes tipos de dislexia, os quais ainda discutiremos nos capítulos a seguir.
Primeiramente abordaremos os estudos científicos sobre a dislexia e o que
estes revelam sobre as suas causas.
1.2 A dislexia sob um enfoque científico Em 1970 o Dr. McDonald Critchely (Castro e Gomes, 2000), Presidente
da fundação mundial de Neurologia, definiu a dislexia como uma perturbação
que se manifesta através da dificuldade da leitura, apesar da instrução, nível
sócio econômico e inteligência. Descreveu a dislexia como um sintoma de
perturbações cognitivas básicas, freqüentemente de origem constitucional.
Desde então, várias pesquisas foram feitas para descobrir as causas deste
1 Figura originalmente em português. Adaptada e traduzida para o português pela autora.
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distúrbio, principalmente nas ‘perturbações cognitivas básicas’ que Dr. Critchely
(Castro e Gomes, 2000) descreveu, sem elaborar o assunto.
Os primeiros trabalhos foram realizados por Pringle-Morgan e Orton
(Pringle-Morgan, 1896), cujo trabalho concentrou-se nos distúrbios de base
visual e motor na leitura. Posteriormente, Burt (Burt, 1959) e Schonell
(Schonell, 1961), estudaram o atraso na leitura relacionado com estas
deficiências que ocasionam durante a alfabetização. Marion Annette e
Georgina Rippon (Castro e Gomes, 2000) então investigaram as áreas de
função cerebral e sua relação com as dificuldades de leitura inerentes à
dislexia.
A dislexia fonológica, incapacidade de assimilar os padrões sonoros da
língua, também foi estudada amplamente por diversos cientistas do meio da
psicologia. Os principais investigadores desta área foram: Vellutino (Vellutino,
1979), Bryant and Bradley (Bradley e Briant, 1983), Frith (Frith, 1981), Snowling
(Snowling, 2000), Hulme e Hatcher (Hulme e Hatcher, 1999). Hultcher (Castro
e Gomes, 2000), a partir de seus estudos elaborou um programa de treino
fonológico chamado “Sound-Linkage”. Seu programa tem provado ser eficiente
e é bastante utilizado ainda hoje.
A dislexia também afeta a memória, o que afeta de forma significativa as
competências do disléxico para aprender e agir no dia-a-dia. Existem três vias
que garantem a passagem da memória de curto prazo para a de longo prazo: A
memória manual ou motora, a memória visual, e a auditiva ou fonológica. A
dificuldade da criança disléxica na utilização dos sistemas de memória de curto
prazo ou memória de trabalho foi investigada por Alan Baddeley (Baddeley,
1986), Sue Gathercole (Castro e Gomes, 2000), Graham Hitch (Baddeley e
Hitch, 1974)
Há mais de quarenta anos, uma importante investigação tem acontecido
na Harvard Medical Shcool. As investigações foram iniciadas por Norman
Geschwind (Duffy e Geschwind, 1985) nos anos sessenta. Geschwind
identificou áreas cerebrais necessárias à especialização na linguagem, que são
de grande importância na aprendizagem da leitura. Descobriu assimetrias
cerebrais nos alunos. Alguns alunos não apresentavam a área de
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especialização de linguagem no hemisfério esquerdo. Geschwind associou
esta diferença na organização neurológica ao déficit de aprendizagem da
linguagem e da leitura. Estas idéias foram então desenvolvidas por Albert
Galaburda (Galaburda, 1985) que, no âmbito do projeto de investigação do
Cérebro para a Orton Dyslexia Society, concluiu que nos alunos disléxicos se
verifica de “forma uniforme, uma ausência de assimetria esquerda/direita na
área cerebral de linguagem” (Galaburda, 1985). As alterações que observou
estavam associadas às diferenças qualitativas registradas nos padrões das
conexões celulares que formam a arquitetura do cérebro.
Recentemente, Rosen e Sherman (Galaburda et al., 1985) aprofundaram
este trabalho, identificando áreas cerebrais onde se pode observar nos
disléxicos, estruturas celulares diferentes, responsáveis pela ineficiência da
aprendizagem. Na Europa Dirk Bakker (Bakker, 1990), também se consagrou à
investigação das causas da incapacidade dos disléxicos estabelecerem uma
assimetria funcional normal esquerdo-direito. Assinalou que, durante a
aprendizagem da leitura, se torna necessário que o hemisfério direito do
cérebro processe visualmente as palavras como se fossem formas, e que
posteriormente o hemisfério esquerdo processe os símbolos sonoros. As
crianças disléxicas, não desenvolvem uma assimetria funcional adequada,
processando a leitura de forma inflexível e ineficaz. Bakker desenvolveu um
programa de treino que visa a facilitar a utilização mais eficiente das
estratégias adequadas.
A velocidade no processamento das informações também é afetada na
dislexia. Os estudos de Livingstone (Livingstone et al., 1991) em colaboração
com a equipe de investigação neurológica de Harvard, apontaram que as
anormalidades neuro-anatómicas (das estruturas nervosas) no processo
magno-celular que liga o olho ao córtex visual, ainda que permitam ao disléxico
tratar de forma adequada a informação visual que é apresentada lentamente,
dificultam o processamento da informação que é apresentada rapidamente,
prejudicando sua eficácia. Tallal (Tallal, 1980) demonstrou que a mesma
ineficácia é sentida no sistema de processamento de informação auditiva.
Razões de ordem neurológica aparentam assim ser responsáveis pelos
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problemas de percepção visual e auditiva revelados pelos disléxicos e também
pelo seu ritmo mais lento no trabalho escolar.
A dislexia parece também ser geneticamente transmitida segundo os
estudos de Lubs e Smtih (Castro e Gomes, 2000). Os trabalhos de Lubs
indicaram o cromossoma 6, enquanto os estudos de Smith identificaram o
cromossoma 15 como o foco do problema. Conclui-se que existem fatores
hereditários ligados à dislexia, e os filhos de pais disléxicos têm uma grande
probabilidade de sofrer o mesmo distúrbio dos pais. A dislexia pode também
afetar a decodificação de outros símbolos, como os números. Como
mencionado anteriormente cerca de 70% dos disléxicos apresentam dificuldade
em realizar cálculos, sejam eles escritos ou mentais. Os trabalhos de Steve
Chinn no Reino Unido, e de Mahesh Sharma (Castro e Gomes, 2000), nos
Estados Unidos, permitiram criar procedimentos de ensino recorrendo a
métodos multissensoriais estruturados, de modo a facilitar a aquisição de
competências de cálculo numérico e matemático.
1.3 Tipos de dislexia Existe também uma grande dissonância de opiniões quanto aos tipos de
dislexia. Portanto para descrever alguns tipos recorrerei ao trabalho de M.F.
Xavier e Mira Helena M. Mateus (Xavier e Mateus, 1990), organizadores do
Dicionário de termos lingüísticos e do Guia “O choque lingüístico – A dislexia
nas várias culturas”. Os autores apresentam em seu trabalho dois tipos
fundamentais de dislexia: A adquirida e a desenvolvimental, que são divididas
em alguns subgrupos como podem notar a seguir.
A dislexia adquirida, como o termo insinua, é um distúrbio adquirido
caracterizado pela inabilidade de ler ou deterioração da leitura, resultante de
uma lesão cerebral. Existem quatro tipos de dislexia adquirida: dislexia
fonológica, dislexia profunda, dislexia de estrutura de palavra (leitura soletrada
ou síndrome de Déjerine) e dislexia de superfície.
A dislexia desenvolvimental ou dislexia de desenvolvimento refere-se a
distúrbios de leitura e de escrita nos quais a natureza da dificuldade vai se
alterando na medida em que a criança se desenvolve. Ou seja, dependendo da
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fase de desenvolvimento da criança, o distúrbio se manifesta de diversas
formas. Ao começar a andar, a criança pode ter dificuldades com a
coordenação motora, a aquisição da fala pode ser lenta. E, durante a
alfabetização criança apresenta dificuldade em aprender a ler e escrever,
especialmente com a ortografia correta.
Além da dislexia adquirida e desenvolvimental, existem outras
manifestações da dislexia. Uma delas é a chamada dislexia de estrutura de
palavra que consiste na incapacidade de ler a não ser pronunciando em voz
alta uma letra de cada vez. É o único tipo de dislexia adquirida que pode ser
explicado do ponto de vista neurológico. Na maioria dos casos, a escrita não é
afetada.
A dislexia de superfície que se define como a incapacidade de ler
caracterizada por distúrbios que ocorrem entre o sistema de reconhecimento
visual de palavras e o sistema semântico. O aluno continua, no entanto, a
poder dizer a palavra já que o sistema de reconhecimento visual e o sistema
responsável pela produção da voz continuam intactos.
A dislexia fonológica, de grande interesse para a Pedagogia, refere-se à
incapacidade de ler em voz alta as não-palavras e as pseudo-palavras, por
exemplo, "bur", "páquina", enquanto se mantém intacta a capacidade de leitura
do vocabulário corrente. O indivíduo pode acusar igualmente outros sintomas,
como erros visuais ao produzir pseudo-palavras na leitura em voz alta. No lugar
da palavra existente, por exemplo "páquina", em vez de "máquina". Erros
derivacionais também podem surgir na leitura oral, especialmente quando
contêm morfemas presos.
A dislexia profunda é definida como a incapacidade de ler sem cometer
erros semânticos. As outras afirmam que podem observar-se, no caso da
dislexia profunda, igualmente, outros sintomas, tais como deficiência visual,
substituição de palavras funcionais e erros derivacionais. Palavras dificilmente
representáveis por imagens tornam-se mais difíceis de ler em voz alta do que
as de representação fácil; os verbos são mais difíceis de ler em voz alta que os
adjetivos, os quais, por sua vez, são mais difíceis de ler do que os
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substantivos. O aluno pode ser diagnosticado como disléxico profundo se na
sua leitura em voz alta forem detectados apenas erros semânticos.
Os alunos disléxicos podem também apresentar problemas em lidar com
outro tipos de símbolos como os números. Cerca de 70% de alunos disléxicos
experimentam dificuldade no cálculo mental e escrito, e em acompanhar um
raciocino matemático (Hatchey, 2002). A dislexia é muitas vezes ligada a
problemas de comportamento. A criança sente-se intimidada, tensa e muitas
vezes deprimida por seu fracasso escolar. Se o cuidado adequado não é
dispensado à criança, ela pode revelar-se extremamente quieta e
envergonhada, com baixa auto-estima, ou hiper-ativa e desorganizada.
A dislexia é, portanto, uma rede sintomática de processos causadores
de dificuldades no âmbito da decodificação de símbolos. O distúrbio pode se
manifestar em diversos graus de severidade e em diversas formas,
concomitantes ou não. Enquanto a capacidade de reconhecer palavras
melhora nas fases finais da escolaridade, a compreensão da leitura, a
expressão escrita, a organização e o planejamento que lhe estão
subentendidos, continuam a subsistir como dificuldades graves do disléxico.
Daí a necessidade de adotar métodos eficazes para a sua instrução e sucesso.
Um grande número de pesquisas descreve como métodos eficazes para alunos
disléxicos aqueles que compreendem instrução direta e análise da linguagem,
um programa fônico altamente estruturado, a combinação de leitura e escrita e
instrução intensiva. (Friend & Bursuck, 2005, p. 244)
1.4 A dislexia como um dom
Segundo Albert Galaburda (Galaburda, 1993), cientista responsável por
uma das mais importantes investigações sobre dislexia, os disléxicos não
deveriam ser vistos como tendo dificuldade de aprendizagem, mas antes como
tendo capacidades de aprendizagens diferentes. Além disso Albert apontou a
criatividade relacionada a este estilo de aprendizagem. A pergunta então é: Se
o aluno não aprende, será que o professor é capaz de ensinar de maneira
adequada a ele? O sucesso para os disléxicos é possível. Famosos como Tom
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Cruise, Steven Spilberg (cienasta), Ansel Adams (fótografo), William Hewllett
(fundador da empresa Hewllet Packard), Erin Brokovich (ativista), John Lennon
(músico), Agatha Christie (escritora) e Albert Einsten (físico),1 pessoas
brilhantes provenientes dos mais diversos campos, possuem ou possuíram
esse estilo de aprendizagem alternativo e foram capazes de alcançar o
sucesso. (Davis Dyslexia Association International, 2005). Segundo a revista
Fortune a dislexia fez com que pessoas como Richard Branson, bilionário que
desenvolveu a marca Virgin Records, Charles Schwab, a pessoa que
virtualmente criou o negócio do ‘discount brokerage’2, John Chambers, CEO da
Cisco e David Bóies, o advogado que derrotou a Microsoft, alcançassem suas
posições de sucesso. Todos são homens bem sucedidos e a dislexia tornou-se
um desafio que os ensinou a perseverar, auxiliando a sua caminhada para o
sucesso.(Fortune, 2003)
Existem vários pontos fortes associados à dislexia como a curiosidade,
criatividade, sociabilidade e imaginação. O educador precisa estar atento a
esses pontos e aproveitá-los em sua prática.
1.5 Como a Dislexia afeta o aluno
Cerca de 10% da população mundial é afetada pela dislexia (Habib,
2000), ou seja, uma parcela muito grande para ser ignorada por nós,
educadores. Precisamos refletir e aprender sobre os métodos já existentes
para ajudar os alunos que sofrem desse distúrbio. Antes de discutir as
estratégias para instruí-los, será necessário explicar como a dislexia afeta o ser
humano. Assim será mais fácil compreender a razão de cada tática
educacional e admirar a vontade de aprender que as pessoas que sofrem de
dislexia têm, pois apesar de suas adversidades, perseveram nas salas de
aulas. A fim de esclarecer os problemas causados pela dislexia, abordarei os
seguintes temas: Percepção, coordenação motora fina óculo manual, oralidade
e leitura.
1 Vide documento anexo 2 para ler depoimentos feitos por disléxicos famosos sobre ser disléxico. 2 Termo sem tradução em português. Refere-se ao negócio de corretagem de ações mais baratas.
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1.5.1 Percepção
A percepção é diferente da visão. Apesar das pessoas verem a mesma
imagem, podem percebê-la de diferentes formas. A dislexia não é um problema
de visão, porém disléxicos utilizam o hemisfério direito do cérebro
predominantemente, subtilizando o hemisfério esquerdo. Além disso a
comunicação entre os dois hemisférios é pobre o que afeta o modo como o
cérebro processa informações (Reading from scratch, 2005). Segundo
Galaburda (Galaburda, 1999) um cérebro dito normal é dotado de uma
assimetria funcional, ou seja certas partes, localizadas em lados distintos do
cérebro se especializam em realizar algumas funções. No entanto, o disléxico
não é dotado desta assimetria funcional, e diversas partes do cérebro tentam
realizar uma só tarefa, resultando em um processamento de informações lento
e ineficiente. Devido ao modo alternativo de processamento de informações a
sua percepção visual é conseqüentemente afetada. O disléxico apesar de ver o
mesmo que os outros, pode percebe-lo de forma diferente. Por exemplo,
quando visitamos uma galeria de arte, as nossas experiências prévias influem
muito me como percebemos uma obra de arte. Portanto você pode
experimentar certos sentimentos ao visualizar a obra que seu colega não
venha a experimentar. Recomendo que experimentem essas diferenças em
percepção através da dinâmica de sensibilização indicada abaixo.
Dinâmica da Percepção alternativa Objetivos:
· Sensibilizar quanto às diferentes percepções e visões possíveis
· Provocar a percepção de que nem sempre veremos o mesmo que o
nosso próximo.
· Perceber a necessidade da instrução direta para o disléxico
· Perceber a importância das cores no processo de leitura
Passo a passo:
22
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Mostre ao seu público uma figura que os remeta à ilusão visual. Tente utilizar
uma imagem menos conhecida como a seguir. Pergunte o que vêem?
Figura 1.2
A maioria das pessoas vê um velho. Porém existe uma outra figura que
é dificilmente percebida. Muitas vezes o mesmo acontece com o disléxico, por
utilizar principalmente o hemisfério direito do cérebro, o disléxico processa
imagens como um todo, o que resulta em deficiências no pensamento analítico.
Ou seja, o disléxico tem dificuldades em processar linearmente e perceber
pequenas partes, ao ser um pensador global. No entanto, ao direcionar a sua
visão para o centro, você será capaz de perceber uma outra figura. Observe:
23
23
Figura 1.31
O uso de cores na figura acima, faz com que aqueles que apresentem
maior dificuldade possam perceber o casal no centro. Da mesma forma o uso
de cores afetará positivamente o aluno disléxico. É recomendável o uso de
marcadores de texto de diferentes cores para que o aluno possa visualizar o
texto melhor. Também é importante ressaltar que uma simples instrução e
adaptação da figura ocasionaram a percepção alternativa. Portanto deveremos
trabalhar da mesma forma com o aluno disléxico. Ele precisa de instruções
diretas, suporte e adequação para suas necessidades. A criança disléxica não
pode ser autodidata, ela precisa ser guiada. Nunca suponha que somente
porque você vê algo de uma certa forma, seus alunos verão o mesmo.
1.5.2 Coordenação motora fina óculo manual
A coordenação motora do aluno portador da dislexia é prejudicada pela
maneira como o seu cérebro funciona. Alunos disléxicos recebem mensagens
trocadas do cérebro, o que resulta numa confusão espacial entre direita e
esquerda (Habbib, 2000). Não raramente, ao escrever, seus olhos lhe dirão
para ir à esquerda, enquanto as suas mãos irão para a direita. Essa confusão
espacial é causada pela falta de assimetria funcional inerente ao cérebro do
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aluno disléxico. Para sensibilizar-lhes dessa condição lhes sugiro a seguinte
dinâmica de sensibilização:
Dinâmica do Espelho Objetivos:
· Conscientizar quanto ao efeito da confusão espacial na coordenação motora
· Conscientizar quanto à necessidade de tempo
Trace a seguinte “letra maiúscula”:
Figura
O a tracejar leva no máximo dez segundos para ser feito normalmente.
Agora pegue um pedaço de papel manteiga e um espelho. Posicione o espelho
de forma que possa ver o papel através do espelho. Agora ponha a folha de
papel manteiga por cima da “letra maiúscula” e copie a mesma sem olhar para
o papel, olhando fixamente para o espelho. Uma tarefa que normalmente
duraria dez segundos poderá levar mais de um minuto pela dificuldade imposta
pela confusão espacial. Se observarmos a linha feita no papel manteiga
também perceberemos a má qualidade da linha traçada. As poucas pessoas
que conseguem fazer uma linha decentemente traçada levam ao menos um
minuto. Ou seja seis vezes o tempo normal de atividade. A dinâmica tem como
objetivo lembrar o educador do maior presente que pode oferecer ao aluno
disléxico: Tempo.
1.5.3 Leitura e confusão espacial
A leitura também é afetada pela confusão entre direita e esquerda. Ao
sermos alfabetizados, somos obrigados a estabelecer uma relação entre
orientação espacial e significado que nunca havia sido necessária. Um livro,
independentemente de sua posição no espaço, não deixará de ser um livro. No
entanto um p pode transformar-se em b, q, ou d, dependendo de sua
orientação espacial. Devido a confusão espacial conseqüente de seu
processamento de informação, a leitura é prejudicada. É importante que
1 Figura adaptada pela autora
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professores tenham essa consciência de modo a futuramente adequar suas
aulas ao seu aluno disléxico. A dinâmica a seguir demonstra como a confusão
espacial afeta negativamente a leitura.
Dinâmica do poema disléxico
Objetivos
· Sensibilizar o educador quanto à dificuldade de leitura do disléxico
· Conscientizar o educador da influência da orientação espacial na leitura
· Conscientizar o educador da necessidade de tempo
· Conscientizar o educador da necessidade da contextualização
· Conscientizar o educador da necessidade do suporte auditivo.
Pegue um livro. Situe-o em diferentes posições no espaço. O livro
deixou de ser um livro? Com certeza não, pois a orientação espacial não
influenciará no significante. No entanto faça um p de cartolina, agora situe-o em
diferentes posições no espaço, como fez com o livro. O p torna-se um b, depois
um q e então um d. A orientação espacial influencia muito os signos da leitura e
apesar de não nos darmos conta essa orientação espacial pode tornar-se um
problema para um disléxico. A primeira vez que a criança toma consciência
desta influência é na alfabetização. Há pouco tempo meu filho disse: “Como
isso pode ser b se é d também?”. Eureka! Foi a partir de sua observação
perspicaz que percebi algo de que não havia me dado conta. É difícil para a
criança, especialmente a disléxica acostumar-se a essa relação significado-
espaço, o que resulta em espelhamento de letras e muita confusão. O poema
abaixo foi escrito por mim. Ao escrevê-lo eu propositalmente utilizei uma
grande quantidade de palavras que continham p,b,q e d. Para simular a
dificuldade de leitura de um disléxico troquei as letras p,b,q e d de lugar: Tente
ler o poema:
O bia estava desaqarecibo
Mas a dossa o atorboou
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26
qelaba e amaba
dor ele qassou
entorqecido saiu o bia
e dor ela se esqarramou
e o bia aqareceu
Izapel Duarte
Tenho certeza que você encontrou uma grande dificuldade, pois o bia,
poderia ser, o pia, o dia. O leitor é obrigado a fazer várias tentativas até achar
uma correta, que se encaixe com o artigo ou o verbo. No entanto a simples
contextualização da poesia, provavelmente faria com que a decodificação do
poema fosse mais fácil. Tente decodificá-lo novamente, porém agora você
sabe que o poema fala sobre o dia e a bossa nova. Ao lê-lo novamente, a
leitura continua um pouco mecânica, porém um pouco mais fácil. No entanto,
se eu perguntar-lhe o que aconteceu no poema, será difícil de responder. Você
estava tão concentrada na decodificação do poema, que não se preocupou
com o significado. Teria sido muito mais adequado pedir que um terceiro lesse
o texto, para que você pudesse decodificá-lo simultaneamente.
Ler um texto no qual a letra percebida pode não ser a certa é uma
missão quase impossível. Somos obrigados a nos concentrar principalmente
em decodificar o texto e situá-lo dentro de um contexto, para só então, sermos
capazes de identificar a palavra corretamente. Após ler uma frase acabamos
por nos perder e a compreensão do texto é falha. Agora peça para que alguém
leia o poema abaixo enquanto você tenta ler o anterior novamente.
O dia estava desaparecido
Mas a bossa o atordoou
Pelada e amada
Por ele passou
Entorpecido saiu o dia
E Por ela se esparramou
E o dia apareceu
27
27
Izabel Duarte
A dinâmica tem como objetivo conscientizar o professor da necessidade
da contextualização. Portanto se eu houvesse feito uma “tempestade de idéias”
anterior à leitura, você saberia que o texto tratava do dia e da bossa nova. O
auxílio de um cd ou a leitura em voz alta feita por um terceiro, simultânea à
leitura do texto, tornaria a missão plausível. O simples suporte da audição e a
compreensão do contexto, podem ajudar um disléxico a superar a dificuldade
que a leitura lhe apresenta. Apesar da falta de tempo, é necessário dispensar
esse suporte ou providenciar esquemas para que o mesmo suporte possa ser
dado.
1.5.4 Oralidade
Muitas crianças disléxicas apresentam um quadro concomitante de
disnomia. Por conseqüência do modo alternativo do processamento de
informações o sistema de preensão de informações é prejudicado. O cérebro
guarda as informações, porém ao procurá-las não as encontra. O resultado é
um discurso falho e não fluente. Segundo o dicionário online de Neuro-ciências:
Disnomia é a incapacidade para recordar nomes próprios. Provavelmente, esta é a anomalia da linguagem mais freqüente na Doença de Alzheimer e de outras formas de demência. Depois de ouvido os nomes próprios, aparece uma grande dificuldade para recordar substantivos. Essa dificuldade progride até a alteração grave da fluidez da fala. Um teste que pode ser útil é a prova de fluidez por categorias, na qual o paciente dispõe de um minuto para referir tantos elementos possíveis em cada uma das seguintes categorias: vegetais, veículos, ferramentas e roupa. Os pacientes com Alzheimer obtêm uma pontuação inferior a 50 elementos. (Dicionário de neuro-ciências, Disnomia, acessado em 20/10/2005)
Muitas vezes a professora ao dirigir uma série de perguntas à classe, é
surpreendida quando a criança responde à questão anterior. Um sinal que
pode ser percebido como falta de atenção é, potencialmente, um efeito da
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disnomia. O seu processo de pensamento é disfuncional, o que ocasiona um
discurso desconexo. Para que possa compreender como a disnomia afeta o
disléxico faça a seguinte dinâmica.
Dinâmica das palavras proibidas
Objetivos:
· Conscientizar acerca da dificuldade imposta pela disnomia
· Conscientizar quanto à necessidade de tempo
· Conscientizar sobre o estabelecimento de códigos
· Conscientizar sobre quando perguntar ao aluno disléxico
Faremos uma corrente de histórias. Eu começo com a frase: Sábado
passado fomos à praia... Uma colega continua e assim sucessivamente. É fácil
e divertido continuar a brincadeira, não? No entanto, a mesma atividade pode
ser de extrema dificuldade para uma criança disléxica. Agora para continuar a
história, é proibido usar palavras que contenham as letras, s, r e n. O seu
discurso tornar-se-á pouco fluente e talvez até incoerente devido à dificuldade
imposta por sua “disnomia temporária”. Você precisará de mais tempo para
pensar no que vai falar e construir um diálogo coeso. Portanto, ao trabalhar
com uma criança disléxica lembre-se que sua maior dádiva é o tempo. Dê-lhe
tempo para raciocinar, construir e decodificar. Torna-se igualmente importante
a necessidade do estabelecimento de um código para que a criança não seja
surpreendida pela professora. A criança disléxica já sofre com a tensão
diariamente e um código comum que a deixa saber que você fará uma
pergunta lhe dará uma segurança extra. É interessante também perguntar ao
aluno disléxico primeiro. Ao contrário do que muitos pensam, dar a
oportunidade de ser o primeiro não é intimidador. Um exemplo é uma atividade
de tempestade de idéias. Enquanto o aluno disléxico pensou em uma coisa, os
outros alunos já pensaram em 20 itens. Caso você deixe os outros alunos
falarem primeiro, provavelmente mencionarão o item que o disléxico havia
pensado e o aluno ficará tenso e incapaz de pensar em outra palavra.
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É importante que nós educadores aprendamos a não pré-julgar e nem
rotular a criança como “burra” ou lenta. É nossa a tarefa de estar atentos aos
inúmeros apelos de socorro, intrínsecos no convívio escolar. Ao identificar
certos sinais, encaminhe essa criança a um neurologista e acima de tudo,
esteja preparado para adequar a sua prática e ajudá-la.
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Capítulo II
Análise das leis vigentes sobre a Educação Especial
As políticas e leis vigentes no Brasil hoje são avançadas no que diz
respeito à inclusão do cidadão portador de necessidades especiais. Os
dispositivos legais atuais são baseados na Declaração de Salamanca,
documento resultante da Conferência Mundial sobre Educação Especial,
realizada no ano de 1994. A Declaração de Salamanca tornou-se um marco e
modelo a ser seguido mundialmente no âmbito da educação especial. A
declaração fez com que nossos dispositivos legais sofressem uma mudança
radical a partir do ano de 1995. Atualmente, nossas leis são instrumentos
integracionistas que contêm dispositivos separados, os quais garantem os
direitos dos cidadãos especiais. No entanto, a ausência de leis gerais e
específicas de cunho inclusivo, demonstra que a sociedades ainda não
absorveu o movimento inclusivo. Leis gerais e específicas inclusivas são
aquelas que, sem mencionar um ou outro segmento da população, dão
garantia de direito, de benefício ou de serviço a todas as pessoas, sem
distinção de gênero, deficiência ou cor. (p. 75 Corrêa, 2005). A ausência de leis
inclusivas retrata a necessidade de distinguirmos e direcionarmos a garantia de
certos direitos por conseqüência de inoperalização dos mesmos. Um dos
agentes da inoperalização é o preconceito, que corroe os esforços inclusivistas
presentes em nossa legislação. Alguns exemplos da política inclusiva presente
no corpo legislativo brasileiro serão descritos a seguir.
A Constituição Federal (1998) em diversos artigos garante os direitos dos
cidadãos portadores de deficiência. O estatuto da criança e do Adolescente
(MAS 1989 - Lei Federal No. 8.069/90 - Ministério da Justiça) estabelece que
“nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão,
punindo na forma da lei qualquer atentado por ação ou omissão aos seus
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31
direitos fundamentais.” A lei 7853/1989 (Decreto 914/93) que “dispõe sobre o
apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração social, sobre a
Coordenadoria nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência
(CORDE) e institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos
dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público, define crimes e dá
outras providências.” Esta mesma lei também estabelece que:
Constitui crime punível com reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa: I. recusar, suspender, procrastinar, cancelar ou fazer cessar, sem justa causa, a inscrição de um aluno em estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, público ou privado, por motivos derivados da deficiência que porta. (Lei 7853/89, Art. 8º, MEC/SEESP, p. 274).
Entretanto o que é visto em nosso cotidiano é diferente. Muitos pais têm
sido proibidos de matricular seus filhos especiais em escolas normais, pelo fato
da escola não estar “apta” a recebê-lo. A Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (Lei 9394/96) em seu capítulo V (MEC 1996) estabelece
que ‘a educação especial é a modalidade de educação escolar, oferecida
preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de
necessidades especiais (Art. 58)” e “tem início na faixa etária de zero a seis
anos, durante a educação infantil (¶ 3º)”.
Além das leis citadas acima os seguintes documentos legais são relevantes
para a defesa dos direitos das pessoas com deficiência no Brasil: A Portaria
n.º 1793 de Dezembro de 1994 trata da necessidade de complementar os
currículos de formação de docentes e outros profissionais que interagem com
portadores de necessidades educacionais especiais. A Portaria n.º 319 de 26
de Fevereiro de 1999 institui a Comissão Brasileira do Braille, de caráter
permanente. A Portaria n.º 1.679 de 2 de Dezembro de 1999 dispõe sobre os
requisitos de acessibilidade de pessoas portadoras de deficiências, para instruir
os processos de autorização e de reconhecimento de cursos e de
credenciamento de instituições. O Decreto n.º 3.298 de 20 de Dezembro de
1999 regulamenta a lei 7853/89 e dispõe sobre a Política Nacional para a
Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas de
proteção e dá outras providências. A Lei n.º 10.098 de 19 de Dezembro de
2000, estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da
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32
acessibilidade de pessoas portadoras de deficiências ou com mobilidade
reduzida e dá outras providências. A Resolução n.º 02 de 11 de Setembro de
2001 institui Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação
Básica. O Decreto n.º 3.956 de 8 de Outubro de 2001 promulga a
Convenção Interamericana para Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação Contra as Pessoas Portadoras de Deficiência. A Portaria n.º 22
de 30 de Abril de 2003 institui o Programa de Valorização Profissional da
Pessoa Portadora de Deficiência no âmbito da Secretária Especial dos Direitos
Humanos.
Apesar do esforço para incluir, as leis não conseguem ser efetivamente
operacionalizadas. Segundo os censos realizados pelo MEC em 1998 e 2003
estes são os números de matrículas de alunos portadores de necessidades
especiais em escolas regulares:
Tipo de deficiência 1998 2003
Visual 15.437 9.464
Auditiva 42.408 36.242
Física 16.462 12.316
Mental 181.332 211.110
Múltipla 42.578 54.643
Condutas típicas 8.976 10.890
Altas Habilidades 1.187 752
Outros 28.588 23.481
Total 337.004 358.898
Tabela 1 - Número de matrículas de Alunos Portadores de Necessidades
Educativas Especiais de Escola Regular1
Ao observar a tabela acima constatamos uma pequena e insignificante
mudança numérica de alunos especiais em escolas regulares. Em alguns
1 Tabela adaptada pela autora com informações da tabela 1.59 do Censo Escolar de 2003 e da tabela do Censo Escolar de 1998.
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casos, o número diminui. Se compararmos o contingente relatado ao número
de pessoas portadoras de necessidades em nível nacional, percebermos um
déficit ainda maior.
Segundo o censo de 2000 do IBGE, existem “24,6 milhões de pessoas
portadoras de pelo menos uma das deficiências investigadas (Cegueira,
surdez, deficiência mental e deficiência física) o que corresponde a 14,5% da
população brasileira, que era de 169,8 milhões em 2000. Esta proporção é
maior nos municípios de até 100 mil habitantes. Para o conjunto dos municípios
de menor porte, com até 20 mil habitantes, o percentual chega a 16,3%, caindo
para 13% nos grandes municípios, aqueles com mais de 500 mil habitantes”.
Ou seja, quanto mais populoso e rico o município, menor a proporção de
pessoas deficientes. Ao compararmos este contingente ao número de
matrículas de portadores de necessidades especiais em escolas regulares,
percebe-se que grande parte dos alunos especiais não freqüentam a escola.
Um dos motivos para os portadores de necessidades especiais não estarem
na escola é que em 1998, 59,1% dos municípios brasileiros ainda não
ofereciam educação especial. (Sinopse Estatística da Educação Básica/Censo
Escolar 1998, do MEC/INEP). Infelizmente o censo não identifica o número de
alunos com dificuldades de aprendizagem no Brasil. Porém estima-se que 10%
da população mundial tem dislexia. Ao aplicarmos a mesma estimativa a
população brasileira, chegaríamos a um número alarmante de 16.9 milhões de
pessoas, em 2000, quando a população brasileira era de 169 milhões de
pessoas.
Ao avaliarmos os instrumentos legais vigentes, temos o Parecer
CNE/CEB nº 17/2001 Resolução CNE/CEB nº 2, de 11 de setembro de 2001
que aborda os distúrbios de aprendizagem:
O quadro das dificuldades de aprendizagem absorve uma diversidade de necessidades educacionais, destacadamente aquelas associadas a: dificuldades específicas de aprendizagem como a dislexia e disfunções correlatas; problemas de atenção, perceptivos, emocionais, de memória, cognitivos, psicolingüísticos, psicomotores, motores, de comportamento; e ainda há fatores ecológicos e socio-econômicos, como as privações de caráter sociocultural e nutricional.
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Enquanto ao lócus da educação especial para os indivíduos portadores
de distúrbios de aprendizagens como a dislexia, a Lei nº 10.172 de 9 de janeiro
de 2001, o Plano Nacional de Educação em seu capítulo 8, aborda as
diretrizes da educação especial e declara:
Requer-se um esforço determinado das autoridades educacionais para valorizar a permanência dos alunos nas classes regulares, eliminando a nociva prática de encaminhamento para classes especiais daqueles que apresentam dificuldades comuns de aprendizagem, problemas de dispersão de atenção ou de disciplina. A esses deve ser dado maior apoio pedagógico nas suas próprias classes, e não separá-los como se precisassem de atendimento especial.
Apesar das leis seguirem fielmente as linhas propostas pela Declaração de
Salamanca, o cenário atual demonstra a inoperalização dos dispositivos legais
e o desrespeito dos mesmos sem punição. A seguir relatarei quem são os
alunos portadores de necessidades especiais para então abordar as causas da
inoperalização e algumas soluções para o problema.
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Capítulo III
Por que a inclusão não acontece?
“Nos países desenvolvidos a lei é baixada para consagrar o costume. Aqui tem-se a pretensão de gerar mudanças de costumes através da imposição das leis” Jannuzi
Segundo a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de
Deficiência (Decreto nº 3928/99) em seu artigo terceiro é considerado portador
de necessidades especiais todo cidadão que com as seguintes características:
I. Deficiência - toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função
psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o
desempenho da atividade, dentro do padrão considerado normal
para o ser humano.
II. Deficiência permanente – aquela que ocorreu ou se estabilizou
durante um período de tempo suficiente para não permitir
recuperação ou ter probabilidade de que se altere, apesar de novos
tratamentos;
III. Incapacidade – uma redução efetiva e acentuada da capacidade de
integração social com necessidade de equipamentos, adaptações,
meios ou recursos especiais para que a pessoa portadora de
deficiência possa receber ou transmitir informações necessária ao
seu bem estar pessoal e ao desempenho de função ou atividade a
ser exercida.
Dentro das considerações do decreto acima os alunos disléxicos se
enquadram nas duas primeiras, pois a dislexia pode ser considerada uma
anormalidade de uma função fisiológica e a mesma é permanente. O aluno
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disléxico é, portanto, um aluno portador de necessidades especiais e tem
garantido direitos embasados em inúmeros dispositivos legais .
Apesar de termos leis vigentes que são abrangentes e acolhedoras, a
ignorância da população, a falta de recursos, os valores cristalizados e o
preconceito, fazem com que elas tornem-se dispositivos inoperantes. As leis
são desconhecidas pela população, desrespeitadas e não existe uma política
pública que garanta sua pronta aplicação, assim como sua disseminação no
âmbito nacional. As leis são violadas e nada é feito para que sejam cumpridas.
Como Jannuzzi declarou: “Nos países desenvolvidos a lei é baixada para
consagrar o costume. Aqui tem-se a pretensão de gerar mudanças de
costumes através da imposição das leis” (p. 15 Jannuzzi, 1993 in: Corrêa,
2005). A falta de uma política para a conscientização nacional da inclusão dos
portadores de necessidades especiais tem como resultado o quadro atual, em
que escolas dizem não à matrícula de alunos disléxicos. Como podem ver a
seguir no depoimento da mãe de uma criança disléxica, as escolas dizem não,
sem temerem algum tipo de punição:
Tenho lutado arduamente e exaustivamente para que o Sistema Educacional Brasileiro apoie e ajude meu filho, mas nada consegui... O médico foi extremamente vago e me disse apenas que não esperasse dele nenhuma intelectualidade (o que, hoje, acho uma atitude bastante negligente) e que não era o caso dele freqüentar escolas especiais, as escolas normais é que deveriam estar aptas a receber estas crianças, mas que aqui, eu nem me iludisse, que não havia nenhuma... E pior de tudo: Não consegui matricular meu filho nas escolas que procurei para este ano letivo de 2001. Todas "sugerem”, muito sutilmente que procure outra escola. Ou seja, agora, além de todas as dificuldades inerentes ao problema, rejeitam meu filho. Isso é PRECONCEITO, isso é EXCLUSÃO, isto é CRIME e INAFIANÇÁVEL! Mas crimes aqui, não são passivos de justiça.
Fonte: O aprendiz, 2000
Já dizia o grande criminalista Heleno Fragoso que “Muito mais eficiente que
a pena é a certeza da punição. De nada adianta discursos ideológicos sobre o
crime quando o delinqüente sabe que jamais será punido” (Fragoso, 1968).
Com base no depoimento acima e em tantos outros casos similares faz-se
necessária uma campanha para a disseminação das leis existentes sobre os
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37
direitos das crianças com necessidades especiais e a efetivação das punições
aplicáveis. A ignorância de grande parcela da população, principalmente da
carente faz com que os seus direitos, garantidos, não sejam operantes. O que
acarreta em fracasso escolar e exclusão. A pesquisa “Crianças com Deficiência
e a Convenção dos Direitos da Criança: um instrumento de defesa” (Ferreira,
Silva, Duarte e Santos Neto 2002), financiada pela Save the Children da
Suécia, revelou práticas sistemáticas de violação dos direitos da criança e do
jovem com deficiência no contexto educacional, conforme abaixo:
· as escolas e os professores(as) não estão e não se sentem
preparados para receberem crianças com deficiências em suas
classes regulares,
· as crianças e jovens que são aceitos nas escolas da rede pública de
ensino tendem a abandonar a escolarização, pois as mesmas não
respondem às suas necessidades,
· as famílias que não desistem da escolarização de seus filhos e filhas
tendem a buscar escolas especiais ou, quando a situação financeira
familiar o permite, escolas particulares;
· com freqüência, um número significativo de crianças que estudam
em escolas especiais são, posteriormente, integradas em escolas
regulares e depois tendem a retornar às escolas especiais por as
considerarem menos discriminatória e menos arriscada para os seus
filhos,
· nas escolas privadas há uma tendência para a não aceitação das
crianças com deficiências sob a alegação de que a escola não está
preparada para recebê-los, entretanto, as escolas que as matriculam
podem se valer desse contexto para acrescentar uma taxa extra à
mensalidade justificada pela ‘assistência extra’ que a criança deve
requerer ou podem simplesmente não buscar formas de responder
às necessidades especiais desses alunos,
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· a educação oferecida para estes alunos e alunas é, em geral, pobre
de qualidade educacional e mantém-se no âmbito de atividades
oferecidas na fase de educação infantil, isto é, atividades lúdicas e
artísticas,
· algumas mães consideram que as escolas especiais não são
ambientes seguros para os seus filhos, por duas razões: (a)
facilidade para os filhos e filhas deixarem o prédio da escola sem
nenhum tipo de controle por parte dos funcionários, (b) possibilidade
das filhas ou filhos de serem agredidos por crianças maiores,
· embora a escola também viole sistemática e impunemente os direitos
à educação de crianças e jovens portadores de deficiência, os dados
revelam que muitas crianças portadoras de deficiência são
integradas com sucesso nas escolas regulares e têm o apoio da
escola, dos professores e são bem sucedidas educacionalmente.
Contudo, esse quadro positivo ainda está longe de ser amplamente
atingido.
Além da violação dos direitos dos cidadãos portadores de necessidades
especiais existem vários outros desafios que impedem a inclusão de ser
operacionalizada. Um outro problema é a polissemia do conceito de inclusão.
Geralmente a inclusão está ligada aos deficientes, porém existem crianças com
necessidades especiais como a dislexia que apesar de esteticamente normais,
precisam de uma educação especializada. Muitas vezes, essas crianças são
tidas como preguiçosas ou mal comportadas. A declaração de Salamanca
(UNESCO, 1994) estabelece que uma escola inclusiva seja aquela que
responda às necessidades especiais de todos os alunos cujo enfrentam
barreiras para aprender. Portanto, a inclusão é muito mais abrangente. Incluir
vai além de construir rampas de acesso. Incluir é fazer com que todos os
alunos tenham acesso à formação escolar, para que através dela tornem-se
cidadãos capazes de exercer seu papel na sociedade. É preciso que as leis
sejam menos abstratas e mais objetivas e que definam o que é inclusão, quais
são as necessidades educacionais especiais e enumerem as deficiências do
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estudante portador de necessidades especiais. A Política Nacional para a
Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (Decreto nº 3928/99) em seu
artigo terceiro declara o que é um estudante portador de necessidades
especial, porém sua abstração faz com que os leigos não saibam que a dislexia
faz parte das anormalidades enumeradas pelo dispositivo. Talvez a
enumeração dos distúrbios relacionados com cada característica o tornasse
mais objetivo, evitando problemas na identificação da clientela da educação
especial. Apesar da Política Nacional para a Integração da Pessoa portadora
de Deficiência abordar o assunto e ser datada de 1999, o relato de Selene
Calafange, mãe de um disléxico, feito em 2000, demonstra ainda existir
confusão na identificação dos distúrbios pertinentes à educação especial,
As crianças portadoras de Dislexia, não se enquadram em nenhuma situação na atual Educação Brasileira: Nas escolas particulares, não se conhece a Dislexia. Não existe um apoio especial para alunos disléxicos nestas escolas. Enfim, não existem crianças disléxicas nas escolas particulares. Todos precisam ser "alunos nota 10"! Nas escolas públicas, eles não são enquadrados nem como portadores de necessidades especiais, já que têm seu teste de QI normal (para se ter a diagnose de Dislexia é imprescindível que este teste esteja dentro dos parâmetros do QI médio, ou acima dele), então, se têm o QI normal, e são inteligentes, não são deficientes, não têm dificuldades, simplesmente são vistos e etiquetados "burros", "preguiçosos" ou algo desta natureza. Isto cria um estigma, que eles carregam por a toda a vida, como uma cruz, o que gera uma série de problemas sociais e psicológicos. (Fonte: O aprendiz, 2000)
Ao abordar a inclusão de disléxicos, um outro fator agravante é a
identificação daqueles que apresentam necessidades educacionais especiais
inerentes à dislexia. Grande parte da população ignora o que é a dislexia. E,
por se tratar de um distúrbio que afeta somente o processamento de
informações no cérebro, passa muitas vezes despercebido. Muitos pais,
especialmente aqueles vivem junto à população carente, acham que seus filhos
são “burros”, desatentos ou não gostam de estudar. Portanto é essencial que
as professoras estejam atentas e enxerguem além do rótulo. Se o aluno
apresenta um comportamento atípico é necessário observá-lo. A timidez em
excesso ou o mau comportamento podem ser sinais claros da dislexia. Até
porque se sentar em uma carteira durante cinco horas sem entender ou
40
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conseguir fazer a maioria das tarefas tornar-se-á difícil e os resultados serão
perceptíveis no comportamento do aluno.
A sociedade também precisa adotar uma nova atitude em relação aos
portadores de necessidades especiais, o que implica em eliminar preconceitos
e discriminação em todas as esferas da sociedade brasileira, como no trabalho,
na escola, na política e na cultura. Para que essa mudança ocorra é necessário
que as instituições adotem campanhas de valorização dos alunos portadores
de necessidades especiais. Albert Einstein e Leonardo Da Vinci eram
disléxicos e durante sua vida escolar foram rotulados como burros e incapazes.
No entanto, hoje, são considerados gênios. Essa informação deve ser
difundida, a sociedade precisa saber do valor do aluno do portador de
necessidades especiais. A disseminação desta informação fará com que a
sociedade não pré-julgue alguns indivíduos, mas o percebam como seres
diferentes. Uma campanha dentro destas linhas é atual marketing de um no Rio
de Janeiro. Ela utiliza personalidades como Einstein para demonstrar a linha
construtivista da escola de forma inteligente e divertida. O outdoor diz: “Teoria
da relatividade? Ficou maluco Albert?”.
41
41
Capítulo IV
A inclusão possível agora
“Somos incoerentes quando, apesar de
conhecedores (teóricos) de todos os
fundamentos vanguardistas de educação,
continuamos presos ao passado, a uma
estrutura educacional ultrapassada, e com
vínculos dos estereotipados "alunos perfeitos"
e "professores onipotentes". Enfim, fica uma
pergunta no ar: São crianças com dificuldades
de aprendizagem ou é o sistema escolar com
dificuldades de ensino?”
Solange Calafange – A página, 2001
Para chegarmos a uma verdadeira inclusão é necessário adotar uma
série de medidas que atinjam a escola holisticamente. O governo seria
obrigado a repensar a sua atual posição diante da educação e investir nela.
Percebo que muitas vezes o próprio governo vê a inclusão como um corte de
verbas para a educação. Afinal, é mais barato remanejar os alunos especiais
para as escolas regulares ao invés de investir em escolas especializadas . No
entanto, a inclusão vai além de colocar um aluno em uma sala de aula. A
inclusão visa a acolher esse aluno para que ele faça parte da sociedade
exercendo sua cidadania de forma participativa. Para tal, é necessário que as
escolas estejam preparadas para a clientela portadora de necessidades
especiais. Não podemos esperar que o aluno se adapte à escola. A escola
precisa primeiramente adequar-se ao estudante para que o seu processo de
aprendizagem possa ser verdadeiramente construído.
Creio que a solução ideal seria investir fortemente na escola de forma
integral e abrangente. A estrutura escolar, permanece imutável desde o século
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passado. Uma estrutura baseada no militarismo como compara educador e
jornalista português José Paulo Serralheiro:
Os sistemas educativos nacionais (ou exércitos?) organizaram-se em escolas (ou quartéis?). Os alunos organizavam-se em níveis (ou companhias?). Estes dividiam-se em turmas (ou pelotões?) de trinta a trinta e seis almas. As turmas podiam ser organizadas em grupos de cinco ou seis alunos (ou soldados?). Era tradição que as escolas fossem dirigidas por um director/reitor (oficial superior?) o qual era coadjuvado por um conselho pedagógico (ou estado-maior?). Existiam professores-coordenadores ( ou oficiais intermédios?) de nível de ensino. As turmas obedeciam a vulgares professores (sargentos ou oficiais de baixa patente?) e os grupos a um aluno (soldado?) mais esperto ou mais querido do professor. Mais coisa menos coisa parece que ainda é assim. (Jornal A página, 2002)
Infelizmente a estrutura militar adotada pelo sistema escolar não acomoda a
inclusão. A sua estrutura rígida e inflexível espera que os alunos se adequem a
ela e que todos sejam iguais. Como podemos esperar que todo o corpo
discente de uma escola aprenda de maneira uniforme e simultânea, se cada
ser humano é dotado de características únicas?
Mudança é o que a escola precisa. O agente da mudança é o professor
e portanto, necessitamos de uma educação continuada para os professores de
boa qualidade. A escola deve, além de oferecer capacitações, motivar o
profissional a buscar aperfeiçoamento, por meio da construção de um plano de
carreira. Um sistema de suporte e mentoria para o corpo docente é também de
grande importância, especialmente para professores menos experientes no
âmbito da inclusão, ou docentes recém-formados. Além disso teríamos que
repensar o sistema avaliativo, elaborando um sistema diferenciado e flexível,
no qual o progresso individual do aluno fosse levado em conta.
Necessitaríamos instaurar uma prática pedagógica também diferenciada, o que
refletiria no tamanho das turmas que também seria diminuído. Não só a escola
precisa mudar seus costumes cristalizados, mas a sociedade também.
Precisamos realizar um trabalho de conscientização com ela. A população
precisa saber da existência das diferenças e estar apta a viver em meio delas.
O preconceito e os valores que estão cristalizados na sociedade são um dos
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maiores obstáculos para a inclusão. Precisamos de que a escola seja lócus de
complementação das diferenças individuais e não de julgamento e segregação
das mesmas.
Estas medidas requerem verbas e um grande apoio governamental, os
quais são atualmente inexistentes. Entretanto, cada professor pode fazer a
diferença. Como disse Kennedy em sua frase célebre: “Não pergunte o que o
seu país pode fazer por você, mas o que você pode fazer por ele”. Não
podemos esperar os políticos e dirigentes escolares começarem o movimento
da inclusão, temos que agir. O professor é a chave para que a inclusão seja
efetivada o quanto antes. Como declarou Johann Wolfgang von Goethe: “Não
basta saber, é preciso também aplicar; não basta querer, é preciso também
fazer”. Sem verbas extras, o educador pode incluir e acolher alunos especiais
se, ao menos tiver a sensibilidade de suprir as necessidades de seu alunado.
É, através dele que podemos fazer com que a inclusão comece já. Através de
sua prática pedagógica o professor é capaz de incluir, apesar das adversidades
que o circundam. Para tanto, é necessário que se invista na formação
continuada do corpo docente nacional e em outros campos mencionados a
seguir.
4.1 Formação Continuada de Professores
O papel do professor mudou ao longo dos últimos anos. O professor,
antes uma figura autoritária, mero ‘passador’ de informações, foi transformado
em um ser subjetivo capaz de interagir com seus alunos. Incumbida em sua
função encontra-se a tarefa de fascinar, motivar e mediar o processo de
aprendizagem dos seus alunos. O aluno-esponja, antes estático, mero
absorvedor de informações, também modificou-se, tornando-se um ser
multifacetado capaz de construir o seu conhecimento. Apesar da nova visão de
educação e dos seres envolvidos no processo, muitos, ainda com valores
cristalizados, insistem em lecionar como no século passado.
O professor hoje tem grandes desafios. Além de acompanhar essa
grande transformação diacrônica, deve também incluir. Os educadores do
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século XXI devem aprender a adequar sua instrução para toda uma clientela
antes inexistente nas escolas regulares. Isso implica a necessidade de uma
formação ainda mais completa e aprofundada. No entanto, essa necessidade
não está sendo suprida. Segundo o censo escolar de 2003, 28% dos docentes
de educação especial não tem curso específico na área de educação especial.
Sendo que destes 28% sem o curso específico , 0,3% não completaram o
ensino fundamental ,1% têm apenas o fundamental, 53% têm apenas o ensino
médio completo e 43% têm o superior completo (Brasil, 2004).
Para a formação de uma escola inclusiva precisamos reverter esse
quadro e treinar nossos professores para que possam lidar com as diversas
necessidades especiais do público escolar. Não se pode esperar que os
professores sejam especialistas em tudo, o que é uma expectativa irrealista,
porém devemos investir na educação continuada do corpo docente. Desta
forma, os professores estarão expostos a novos olhares, teorias e práticas
pedagógicas e em constantes capacitações. A dislexia, por não se tratar de
uma deficiência física, pode passar facilmente despercebida. O professor pode
pensar que o aluno é preguiçoso ou não gosta de estudar. O que não é
verdade. O aluno disléxico simplesmente não consegue aprender dentro de
uma estrutura tradicional. Ele precisa de certas adequações que só serão feitas
quando seu distúrbio de aprendizagem for reconhecido.
Portanto, é necessário que o docente esteja familiarizado com sinais
oriundos de diferentes distúrbios para que possa encaminhar essa criança para
um médico e ser capaz de dar-lhe melhor assistência. Ao mesmo tempo em
que investimos na educação continuada é preciso cuidado para que não
adotemos teorias da moda, mudando radicalmente nossa conduta pedagógica.
Naturalmente, precisamos aprender a conhecer novas teorias, métodos e
técnicas, incorporando, com sapiência, à nossa prática o útil à nossa realidade.
Através da reflexão e do conhecimento adquirido na formação continuada,
seremos capazes de diferenciar a nossa prática de forma mais adequada e
ajustá-la de acordo com as necessidades de nossos alunos.
O professor é, indiscutivelmente, o mais valioso bem de uma escola. É
ele que construirá a imagem da mesma, através da sua dedicação e prática
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pedagógica. Contudo as escolas não investem em seu corpo docente vendo a
formação continuada como uma despesa desnecessária. Entretanto, se
quisermos construir um Brasil melhor, construir um país acolhedor e inclusivo,
necessitaremos investir em sua educação e conseqüentemente em seus
professores.
4.2 Criação de um sistema de suporte e mentoria
Diante da diversidade de deficiências seria ingênuo afirmar que um
professor possa se especializar em todas elas, conhecendo-as a ponto de
aplicar esse conhecimento sem assistência. O corpo docente precisa estudar e
ter o embasamento necessário para reconhecer e adequar a forma como
leciona a uma grande variedade de deficiências, porém é importante contar
com a ajuda de profissionais especializados. Um profissional especializado
será capaz de melhor orientar o professor para maximizar as suas
potencialidades dentro do contexto educacional.
O conceito de professor itinerante já presente em nosso sistema
educacional é um bom começo, mas ainda é falho. Apesar do apoio que
fornecem, os professores itinerantes são obrigados a atender diversas escolas,
o que faz com que o seu atendimento não seja tão contínuo e individualizado
como deveria. A educação é um processo contínuo que necessita de suporte
ininterrupto.
A criação de pequenas equipes de professores, que trabalhem
cooperativamente, sob a chefia de um psicólogo ou professor especializado em
educação especial dispensaria ao aluno um ensino ainda mais adequado.
Assim o docente pode periodicamente encontrar-se com o profissional para
expor os problemas e necessidades que estejam surgindo. O processo é,
então, enriquecido pela equipe, que, em grupos cooperativos, pode discutir e
trocar experiências. A presença de um psicólogo ou professor de educação
especial é importante, à medida que traz um olhar especializado em diversas
deficiências. O profissional habilitado, pode então encaminhar a criança e sua
família para outros programas que lhe forneçam apoio clínico e social, dentro e
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fora da escola. Desta forma garantimos que a criança especial ampliará ao
máximo suas potencialidades.
Tendo em vista a grande carência de professores em escolas, faz-se
cada vez mais necessário a contratação de professores novatos, o que vem a
reforçar ainda mais a necessidade de um sistema de mentoria e suporte. O
curso de formação de professores atual ainda não é capaz de preparar
profissionais para tamanha diversidade. O sistema de mentoria garante a
qualidade da prática docente, mesmo nos primeiros anos de magistério. O
professor, inexperiente e muitas vezes, assustado em seu primeiro ano, tende
a abusar do poder ou ser permissivo em demasia. À insegurança inicial
somada ao contexto inclusivo pode resultar em desastre. Dentro do programa
de mentoria, o professor pode falar sobre os seus receios, ser ouvido,
observado e buscar uma segunda opinião. A reflexão sobre sua própria prática
aliada à ótica de um terceiro resulta em crescimento, baseado na troca de
vivência com um professor mais experiente.
Dependendo da deficiência, uma equipe complementar faz-se também
necessária. Surdos e mudos necessitarão de um intérprete de libras. Durante a
minha jornada de escolarização no exterior, foram inúmeras as aulas em que
assisti as quais contavam com a ajuda destes profissionais. Cada deficiência
tem sua carência, e é o papel da escola é suprir tais necessidades para que a
experiência escolar do indivíduo seja a mais acolhedora e vantajosa possível.
4.3 A prática pedagógica diferenciada
A prática do cuspe e do giz em salas de aulas estruturadas em fileiras
está fossilizada no âmago da educação brasileira. A estrutura tradicional
instaurada em sala de aula traz consigo a falta de interação e constitui o
professor como centro do processo de aprendizagem. No entanto, o aluno tem
muito a ganhar da interação com o colega, onde pode trocar uma grande
riqueza cultural e social. Segundo Vigotsky a colaboração entre sujeitos com
conhecimentos diferentes potencializa a aprendizagem e o desenvolvimento. O
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educador brasileiro precisa revisar sua visão, na qual conversa é sinônimo de
desordem.
Ao refletir sobre as inúmeras inteligências estudadas por Howard
Gardner, seria ingênuo pensar que a atual configuração das salas de aula do
ensino fundamental seja capaz de fornecer estímulos para todas elas.
Precisamos adotar uma sala de aula que venha a suprir o aluno holisticamente,
desenvolvendo ao máximo todas as suas potencialidades. Salas de aula com
centros de aprendizagem enquadram-se bem com o perfil multifacetado da
inteligência hoje. Um ambiente rico e estimulante onde os alunos têm a
liberdade de ir e vir e a autonomia para relacionar-se como o saber. O
professor então passa de centro para mediador do processo. Nossos alunos
precisam acostumar-se com a liberdade e responsabilidade desde cedo, para
que mais tarde, no ensino médio, não necessitem ser regrados em sala de
aula.
Além da configuração da sala de aula tradicional, deparamo-nos com a
prática pedagógica também tradicional. Ambas não trazem frutos, reforçando
estigmas e hierarquias dentro da escola. Nem todos os alunos conseguem
obter sucesso com a pedagogia vigente em nossas salas de aula. Ao refletir
sobre minha própria experiência como aluna, lembro de episódios onde o
professor “jogava” a matéria, e nós ficávamos desesperados, tentando
entendê-la. Para que o processo de inclusão seja eficiente é necessário
também rever a prática pedagógica atual. Precisamos de uma pedagogia
diferenciada, na qual as necessidades individuais sejam supridas, ao mesmo
tempo em que o grupo interage, troca e constrói seu aprendizado.
Um jeito diferente de aprender é o que as crianças estão pedindo... Todas elas estão comentando que o nosso sistema de ensino de “tamanho único”, que demanda que todos aprendam o mesmo, ao mesmo tempo, independentemente de suas necessidades individuais, falhou. Sarason, The predictable Failure of Educational Reform1
1 Tradução pela própria autora
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48
4.4 Sistema Avaliativo Diferenciado
Ao fazer uma tentativa de realizar avaliações diferenciadas para meus
alunos disléxicos, fiquei perplexa ao descobrir que, a escola via tal
diferenciação como uma ferramenta de desigualdade. A direção temia que os
outros alunos se sentissem prejudicados por terem testes mais difíceis.
Naquele momento percebi que havia sido mal-entendida. Nunca tive o intuito
de deixar os testes mais fáceis, porém queria adequá-los às necessidades
especiais de meus alunos disléxicos. Concordo com Janssen Felipe da Silva,
que no livro Práticas avaliativas e aprendizagens significativas diz que “Os
processos avaliativos, configurados na perspectiva da homogeneidade
(expressa pela busca da igualdade de resultados) portam valores conectados
ao movimento de exclusão” (Silva, 2004). É errado esperar que uma criança
com dislexia consiga ir bem num teste no qual precisa escrever, marcar cruzes
e realizar tarefas para as quais tem extrema dificuldade. Muitas vezes percebo
um intento da parte desses alunos de soletrar corretamente as palavras, porém
conseguem somente copiar o som para o papel de maneira desconecta. Não
posso considerar o intento como correto, porém creio que demonstra que a
criança aprendeu, sendo, porém limitada pela dislexia. Segundo Harry T.
Chasty “A escrita do aluno disléxico não reflete fielmente nem os seus
conhecimentos, nem o seu pensamento, mas apesar disto os professores têm
a tendência de avalia-lo em função do que está escrito no papel.” (referência)
Os dirigentes das escolas precisam enxergar que o sistema de avaliação
vigente, baseado em testes escritos de caráter somativo, não faz uma
avaliação realista do progresso individual do sujeito. O sistema consegue sim,
classificar os alunos em relação aos outros, aumentando o sentimento de
fracasso dos alunos especiais. Segundo Perrenoud (referência), o processo
avaliativo assume o papel de localizar os indivíduos nas hierarquias de
excelência. Um papel inútil dentro da sociedade inclusiva a que visamos criar.
Após vetar a minha avaliação diferenciada, a coordenação me instruiu a dar os
mesmos testes e ser menos exigente no momento de correção. Minhas leituras
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durante este trabalho me levaram a supor que ser menos exigente, seria uma
forma de mascarar o problema, ao invés de buscar soluções e trabalhar para o
crescimento individual de cada um. Como menciona Sacristán(referência) o
fazer avaliativo é condicionado pela “cultura institucional”. Portanto a avaliação
só pode mudar para acolher a inclusão quando exista uma mudança em todo o
sistema da escola.
O mesmo acontece na rede pública de ensino, onde o governo mascara
problemas ao utilizar métodos de auto-aprovação como a promoção
automática. A auto-aprovação elimina a superpopulação das escolas e a
evasão escolar, porém também suprime a busca de soluções mais complexas
e o processo para alcançar uma educação eficiente para todos. Revelando-se
uma solução imediatista que negligencia uma educação de qualidade as
massas e jamais levará ao caminho de uma verdadeira inclusão. Esta exige
uma reestruturação, não somente administrativa, como pedagógica e
avaliativa.
Infelizmente uma inclusão verdadeira e eficiente não é possível no
cenário atual. Não é realista esperar que consigamos mudar tudo da noite para
o dia. Soluções imediatistas não são eficientes, precisamos mudar, porém de
forma gradativa, adotando processos com metas realistas. A mentalidade de
associar a nota à classificação tem de ser desconstruída. Construir uma
educação democrática torna-se impossível ao utilizar estratégias somativas de
avaliação do conhecimento. Este tipo de avaliação tem como foco o produto
final, não levando em consideração o processo de aprendizagem. Se não
avaliamos o processo de aprendizagem, como seremos capazes de remediar
as falhas envolvidas no mesmo? Ao deixarmos de avaliar tais problemas, eles
se acumulam, como uma bola de neve ao descer uma montanha... E por mais
que tentemos ignorar a bola de neve, mais cedo ou mais tarde o resultado é
um avalanche de dimensões catastróficas.
Quando será que o esforço e o caráter moral contarão? O aluno
disléxico persevera nas salas de aula, apesar do sentimento de fracasso, da
angústia, da ansiedade e tensão que o sistema tradicional lhe impõe. E, no
entanto, insistimos em dar-lhes notas que não refletem este esforço, esta
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vontade de aprender. O professor castiga o aluno, que já sente-se castigado
pela dificuldade de aprendizagem. Segundo o artigo de Solange Calafange,
educadora e mãe de um disléxico, o sistema avaliativo atual é muitas vezes
uma forma de maltrato emocional:
Nós, pais e educadores, maltratamos uma criança quando não compreendemos suas dificuldades escolares e pior que isso, quando as humilhamos com nossos preconceitos acerca do seu insucesso escolar, quando ao avaliá-las,damo-lhes notas morais e sociais através das suas notas escolares sem ao menos imaginar que nisso existe sofrimento ; quando as comparamos com as crianças não disléxicas . Uma criança com dificuldades escolares está marcada cruelmente, carregando a pesada cruz de não saber o que fazer com suas dificuldades. Elas têm uma bomba nas mãos. Estas crianças são atingidas em cheio na sua auto-estima quando, com nossas atitudes, mostramo-lhes como elas são preguiçosas, lentas, burras, desqualificadas... quando as desprezamos...as abandonamos...quando as deixamos num cantinho da sala de aula...esquecidas. (Jornal A página, 2001)
O sistema avaliativo precisa avaliar o que o indivíduo alcançou ao invés
de meramente classificá-lo. Precisamos desconstruir a visão do conhecimento
quantificado, para nos concentrarmos na exploração das potencialidades
individuais através da interação escolar. Para tal, o sistema avaliativo precisa ir
além de provas que meçam o conhecimento básico adquirido. É necessário
avaliar a complexidade do domínio cognitivo e obter uma visão holística do
sujeito através de instrumentos capazes de não somente medir o produto, mas
levar em consideração o processo. Instrumentos qualitativos que, além de dar
notas, observem as pequenas realizações. A avaliação formativa, aquela que
através de observações contínuas por parte do professor, avalia os processos
envolvidos na aprendizagem, faz com que o aluno seja além de um receptor de
informações. O aluno torna-se um ser participativo e comprometido com seu
processo de aprendizagem.
Falarmos em uma avaliação formativa reguladora é fazer a opção por uma educação que supere a crise do paradigma educacional centrado no ensino, onde a escola apenas se responsabiliza por ensinar de forma linear e uniforme, ficando à sorte dos alunos aprenderem. (p. 8 Silva, 2004)
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Como a avaliação formativa tem um caráter observatório, o aluno sente-
se mais responsável pelo processo. A interação e a busca pelo conhecimento,
inerentes em atividades de cunho formativo, resultam em aprendizagens
significativas e duradouras, uma vez que o aluno encontra-se totalmente
envolvido no processo. Dentro do processo contínuo de avaliação formativa, o
professor pode, a partir de suas observações, diagnosticar, planejar e intervir
de uma forma mais concreta e objetiva. A avaliação formativa precisa estar
inserida em uma diversidade de instrumentos avaliativos. Através de diferentes
métodos de avaliação, o professor poderá melhor compreender o seu aluno e
suas necessidades.
A avaliação formativa aliada a adequações no formato dos instrumentos
avaliativos contribuirá para o sucesso do aluno disléxico. Já que a dislexia afeta
a escrita e a leitura, o professor deve buscar outras formas de avaliação.
Testes orais ou instrumentos que utilizem formas alternativas como o desenho
são maneiras de remediar o uso da escrita. No caso de testes ou provas
escritas existem maneiras alternativas de acomodar o aluno disléxico. Como
exemplo demonstrarei uma questão utilizada em uma prova de inglês de quinta
série que avaliava o conhecimento das preposições “under” e “on”.
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Figura do Microsoft clipart.
1. Draw a t-shirt on the bed.
2. Draw socks under the table
3. Draw a bag on the floor.
Apesar do aluno ainda possivelmente ter problemas em ler o enunciado, a
professora pode ler o enunciado para seu aluno, que poderá desenhar a
resposta. Uma outra forma é utilizar figuras e símbolos. Observe este exercício
que tem como objetivo avaliar o conhecimento de números, em uma turma de
quinta série:
2. Write the right numbers beside the words: (1.0)
a. Fourteen _________ f. twelve _________ b. nineteen _________ g.sixteen _________ c. eleven _________ h.fifteen _________ d. eighteen _________ i. seventeen_________ e. twenty _________ j. thirteen _________
Novamente a professora poderá auxiliar o aluno ao ler, e ele terá que
completar as lacunas com o símbolo numérico. O importante é que o educador
trace os objetivos de cada questão ulteriormente à confecção da mesma. Desta
forma ele estará apto a pensar em maneiras alternativas baseadas no objetivo
e conteúdo a ser testado.
4.5 Adaptações curriculares Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Especial
(MEC, SEESP, 1998) A Escola Inclusiva
implica uma nova postura da escola comum, que propõe no projeto político pedagógico, no currículo, na metodologia de ensino, na avaliação e na atitude dos educandos, ações que favoreçam a integração social e sua opção por práticas heterogenias. A escola capacita seus professores, prepara-se, organiza-se e adapta-se para oferecer educação de qualidade
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para todos, inclusive, para os educandos com necessidades especiais.....Inclusão, portanto, não significa, simplesmente matricular os educandos com necessidades especiais na classe comum, ignorando suas necessidades específicas, mas significa dar ao professor e à escola o suporte necessário à sua ação pedagógica.” (Grifo meu)
Há uma grande valorização de matérias como português e matemática no
âmbito curricular. Porém outras matérias mais artísticas ou sinestésicas, são
vistas como desnecessárias ou menos importantes.
Portanto, a escola deve, não somente dar o direito de matrícula ao
aluno, mas também adequar o seu projeto político pedagógico, metodologia de
ensino e principalmente o seu currículo ao aluno especial. A idéia de adaptação
curricular foi oficializada pela secretaria de Educação Especial do Ministério da
Educação com a criação dos Parâmetros Curriculares Nacionais. No
documento a adaptação curricular é considerada como
estratégias e critérios de atuação docente, admitindo decisões que oportunizam adequar a ação educativa escolar às maneiras peculiares de aprendizagem dos alunos, considerando que o processo de ensino-aprendizagem pressupõe atender à diversificação de necessidades dos alunos na escola. (MEC/SEESP/SEB, 1998, p. 15)
Portanto baseada na consideração acima a adaptação curricular passa por
duas linhas norteadoras, a pedagogia diferenciada, citada anteriormente, e
adaptações que tornem o currículo mais accessível aos alunos portadores de
necessidades especiais. As adaptações de acessibilidade ao currículo são
modificações do planejamento, objetivos, atividades e práticas avaliativas, no
currículo como um todo, ou em partes dele, para acomodar os alunos com
necessidades especiais.
De acordo com o MEC/SEESP/SEB (1998), essas adaptações
curriculares realizam-se em três níveis: Adaptações no nível do projeto
pedagógico (currículo escolar) que devem focalizar, principalmente, a
organização escolar e os serviços de apoio, propiciando condições estruturais
que possam ocorrer no nível de sala de aula e no nível individual. Adaptações
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relativas ao currículo da classe, que se referem, principalmente, à programação
das atividades elaboradas para sala de aula. E, finalmente, adaptações
individualizadas do currículo, que focalizam a atuação do professor na
avaliação e no atendimento de cada aluno.
Infelizmente algumas adaptações curriculares, como aquelas pertinentes
ao projeto político pedagógico, dependem da ação dos dirigentes escolares.
Entretanto, o professor pode fazer algumas acomodações concernentes ao seu
sistema de avaliação, metodologia de ensino e atividades. Ao focarmos estar
acomodações aos alunos disléxicos, é imprescindível que o aluno tenha
acesso às informações dadas em sala de aula (já que têm dificuldade em
copiar as informações do quadro negro), tempo extra para terminar os testes, e
acesso a uma educação multi-sensorial, ou seja uma educação
simultaneamente audiovisual e sinestésica capaz de utilizar os diferentes
sentidos para construir a aprendizagem.
4.6 Aprendizagem multi-sensorial
A aprendizagem multi-sensorial para disléxicos foi primeiramente
introduzida pelo Dr. Samuel Torrey Orton em 1920 em Iowa (Dyslexia
Association, 2000). Orton foi influenciado pelo método sinestésico descrito por
Helen Keller e Grace Fernald. Ele então sugeriu que o reforço tátil e sinestésico
de associações audiovisuais fosse utilizado para corrigir a tendência de
espelhar letras ao ler e escrever. Portanto, começou a ensinar os alunos a
escreverem as duas letras de formas distintas. O b seria feito ao tracejar
primeiramente a linha, então seguida pelo traço do círculo. Já o d seria feito ao
contrário, ou seja primeiro o aluno traçaria o circulo para posteriormente traçar
a linha. A partir desta primeira experiência de sucesso, Orton então criou outras
estratégias e teorias. Mais tarde Ana Gillingham e Bessie Stillman (Dyslexia
Association, 2000) basearam-se nas teorias do Dr. Orton para escrever, em
1936, o manual “Método alfabético” para crianças disléxicas.
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A abordagem multi-sensorial para o ensino utiliza uma experiência global
para a aprendizagem. Na abordagem são ensinadas a fonética, a associação
fonética com os símbolos lingüísticos, a aprendizagem de sílabas, a morfologia,
a sintaxe e a semântica. Os princípios são os de uma instrução que utiliza os
diversos sentidos simultaneamente para reforçar a memória e a aprendizagem.
O ensino é sistemático e cumulativo e conseqüentemente a organização do
material segue a ordem lógica da linguagem. Começa do mais fácil e
gradualmente constrói conceitos mais complexos. Cada passo é baseado no
anterior e o material já aprendido é sistematicamente revisado para reforçar a
memória. A instrução é direta, não dependendo de técnicas de inferência. Há
uma contínua interação entre aluno e professor para a construção do
conhecimento. O ensino é diagnóstico e o planejamento é baseado
cuidadosamente na avaliação contínua das necessidades individuais do aluno.
Métodos sintéticos, que começam das partes da linguagem até chegar ao todo
e os analíticos, que apresentam a unidade para então, analisar os seus
componentes, são utilizados de forma sistemática e simultânea.
O método multi-sensorial de ensino pode beneficiar o corpo discente em
sua totalidade, pois os aprendizes, dotados de distintos canais perceptivos são
providos com estímulos diversificados do mesmo conteúdo. Dentro da
diversificação de estímulos, o mais adequado ao seu perfil, promoverá uma
aprendizagem significativa e duradoura. Portanto a aplicação do método na
prática pedagógica, traz benefícios para o aluno, que pode aprender melhor, e
ao professor que será capaz de ensinar com mais qualidade.
4.7 A teoria de aprendizagem de David Ausubel Além do método sensorial que usa os sentidos como porta de entrada
para a aprendizagem, a visualização e o ensino sistemático são agentes
facilitadores do processo de ensino-aprendizagem de um disléxico. A teoria de
aprendizado de David Ausubel (Ausubel, 1968), através de seus pressupostos
e utilização de organizadores prévios pode ser usada como um meio para
ensinar disléxicos. A teoria de David Ausubel também pode auxiliar a criar uma
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aprendizagem significativa, apesar da estrutura tradicional das salas de aula e
do grande número de alunos. As idéias de Ausubel estão voltadas para o
ensino expositivo e direto como carecem os alunos disléxicos. Dentro da
estrutura das salas de aula atuais, a teoria de aprendizagem de David Ausubel
possibilita a aquisição e retenção de conhecimentos de forma significativa.
Segundo a teoria de David Ausubel a possibilidade de um conteúdo tornar-se
significativo, depende da chance de ser incorporado de modo substantivo ao
conjunto de conhecimentos que o indivíduo já possui, sua estrutura cognitiva.
Por substantividade entende-se a capacidade do aluno relacionar um novo
conteúdo com idéias previamente existentes na sua estrutura cognitiva. Para
promover uma aprendizagem significativa Ausubel enfatiza a importância de
duas condições básicas: a pré-disposição do aluno e do professor para a
aprendizagem; a significação particular do material para cada sujeito, o que
quer dizer que, materiais relevantes para o aluno podem ser aprendidos
significativamente ou não, dependendo do quanto se relacionem com as
experiências deles.
A estrutura cognitiva, segundo Ausubel, é hierarquicamente organizada.
Os conceitos mais inclusivos, mais abrangentes, ocupam o topo da hierarquia e
abrangem outros conceitos com menos poder de generalização. Este aspecto
deve ser a principal variável observada pelos professores, tendo em vista seu
papel, que é identificar os conceitos abrangentes, que tenham maior poder de
inclusividade e colaboram para que os alunos aprendam significativamente.
Baseado na estrutura cognitiva descrita acima, os objetivos de ensino devem
ser formulados de modo amplo e genérico, evitando que a especificidade dos
objetivos cerceiem a liberdade e o ritmo dos alunos.
Ausubel questiona a aprendizagem por descoberta, mas a aceita como
mais adequada para alunos na fase de operações concretas, citadas por
Piaget. Sua teoria é uma de ensino receptivo, que se enquadra na atual
estrutura de sala de aula de nossas escolas. Segundo Ausubel(Ausubel, 1968)
para que o ensino receptivo torne-se significativo o professor deve seguir três
princípios norteadores. O princípio da diferenciação progressiva, da
reconciliação integradora e dos organizadores prévios. O primeiro preconiza
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que na programação do conteúdo, idéias mais gerais e inclusivas devem ser
apresentadas primeiro, para depois progressivamente serem diferenciadas dos
seus sub-conceitos. O segundo propõe que, na apresentação de um conteúdo,
o professor procure tornar clara, semelhanças e diferenças entre idéias que
são encontradas simultaneamente em vários contextos.
Para a aplicação dos princípios acima, Ausubel sugere o uso de
organizadores prévios. A razão para o uso dos organizadores é a importância
do aluno visualizar a sua estrutura cognitiva de idéias e utilizar os conceitos
prévios como âncoras para conceitos novos. Para tanto, os organizadores
devem ser produzidos em ordem descendente de inclusibilidade e devem
explicitar semelhanças e diferenças entre conceitos já aprendidos e conceitos
novos. Existem dois tipos de organizadores. Os expositivos, usados quando o
conteúdo é inteiramente desconhecido para o aluno e os comparativos, usados
quando a informação não e inteiramente nova para o aluno.
Exemplo de um organizador expositivo:
Fonte: Advance & Graphical Organizers: Proven Strategies Enhanced through
Technology
A utilização de organizadores durante a prática pedagógica é de grande
ajuda para alunos disléxicos. Como alunos portadores de dislexia têm uma boa
habilidade de visualizar globalmente, os organizadores lhes darão a imagem
58
58
global, o que lhes ajudará a entender e reter o conteúdo ensinado. Portanto ao
ensinar, faça conexões, mostre as diferenças e semelhanças, e construa junto
aos seus alunos imagens do seu mapa de aprendizagem.
4.8 Tecnologias Assistivas para disléxicos
Tecnologia assistiva é qualquer tipo de equipamento ou recurso usado
para melhorar a acessibilidade de uma pessoa com limitações funcionais. No
caso de disléxicos a tecnologia assistiva é utilizada principalmente para auxiliar
a leitura e a escrita. O uso de organizadores prévios, como descritos acima,
facilita a visualização e a compreensão do conteúdo, uma vez que o disléxico é
um pensador global. Porém existem outros recursos que podemos utilizar
dentro de sala de aula que facilitarão o processo de ensino e aprendizagem de
uma criança disléxica. Alguns destes recursos são os audiolivros, trilhos e
softwares para a leitura.
Como mencionado anteriormente, os alunos disléxicos beneficiam do
uso de audiolivros, ou gravações de textos, que devem ser utilizados
concomitantemente a leitura. O input auditivo fará com que a decodificação das
letras seja facilitada. Existe um site na internet1 que se especializou na venda
de audiolivros, de modo que as opções tornam-se maiores além da grande
variedade de títulos. Porém é possível a produção dos seus próprios
“audiotextos”. Através da utilização do microfone do seu computador e de um
software que permita a gravação de voz, como o Windows media player. No
caso de indisponibilidade de um computador, pode-se gravar uma fita cassete
em um gravador comum, que poderá ser ouvida em um walkman. É
interessante utilizar os seus próprios alunos como locutores na produção dos
audiotextos. Desta forma, o educador fomenta a cooperação e a solidariedade
entre seu corpo discente.
Existem alguns softwares que também podem auxiliar o processo de
leitura. Letra é um software gratuito, desenvolvido pela SERPRO. É um
sintetizador de voz, o qual “identifica os fonemas e as pontuações, falando as
1 http://www.voolume.com.br/
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frases como se fosse uma pessoa lendo em voz alta. Além disso, ele interpreta
figuras e verbaliza ilustrações. Tudo para deixar a informação mais acessível”.
(http://www.idbrasil.gov.br/noticias/News_Item.2005-04-16.1422)
O software, inicialmente desenvolvido para o uso de deficientes visuais, pode
também ser utilizado por disléxicos para facilitar a leitura de textos no
computador. O programa pode ser utilizado em qualquer arquivo de texto e
também auxilia a produção de texto, uma vez que “lê” o que está sendo escrito,
confirmando ou não se a palavra está corretamente soletrada. Para baixar o
programa, o usuário deve ir ao site do Mec (http://www.mec.gov.br) e baixá-lo
gratuitamente. No caso de usuários da plataforma Microsoft, existe o MS
Reader, que tem as mesmas funções do software descrito acima, porém roda
na plataforma Microsoft.
Além dos softwares descritos acima, o disléxico deve ser instruído
quanto ao uso da ferramenta que corrige a ortografia em editores de textos. A
ferramenta é de grande valia ao aluno disléxico, pois é capaz de detectar
problemas com a ortografia do texto. Existe um outro software chamado
Fonoflex que também pode assistir o aluno disléxico na leitura. O programa “é
uma ferramenta auxiliar à terapia fonoaudiológica, voltada a aprendizagem da
criança, especificamente no que diz respeito a Fala, Leitura e Escrita.”(
http://www.ctsinformatica.com.br/fonoflex.htm). Portanto, pode ser utilizado
como uma ferramenta educativa para auxiliar o desenvolvimento de diferentes
habilidades dos alunos afetados pela dislexia. O programa pode ser adquirido
no site especificado acima.
Existem outras opções menos caras e tecnológicas que podem ser
utilizadas no auxílio da leitura, em escolas que não disponham de um
computador. O uso de trilhos, ou preguicinhas, muitas vezes utilizados durante
o processo de alfabetização, auxilia na leitura de alunos portadores de dislexia.
O uso destas ferramentas, faz com que a visão acompanhe a linha mais
facilmente. O uso de transparências coloridas aliada aos trilhos, também pode
melhorar a leitura, já que muitos alunos disléxicos declaram que o uso de cores
faz com que as letras não “pulem”.
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Além dos trilhos a Associação de Dislexia da Irlanda recomenda o uso
de papeis coloridos e a utilização de marcadores de textos, com o intuito de
facilitar a leitura. Como o disléxico tem dificuldade em ouvir e escrever o
conteúdo de aulas expositivas, um outro recurso recomendado pela associação
mencionada acima é o uso de gravadores. O aluno pode usar o gravador para
guardar o conteúdo das aulas, que mais tarde poderá ser ouvido e revisado.
Outros recursos mais caros são o scanner de mão, que contêm dicionário, o
scanner tradicional e o software operado pela voz. O scanner/dicionário de mão
possibilita o usuário identificar a palavra e checar sua ortografia. O produto é
comercializado pela Positivo Informática. Já o scanner, possibilita o usuário
passar qualquer tipo de texto para o computador, que pode ser posteriormente
“lido” com o uso de programas sintetizadores de voz, mencionados
anteriormente. As tecnologias assistivas descritas serão de grande valia, porém
vale lembrar que nada substitui a sensibilidade do professor e a tolerância de
todos inseridos no processo..
4.9 Projeto de valorização dos alunos especiais
O preconceito estagna e contamina o esforço da inclusão. O
pensamento não solidário e individualista está estampado na sociedade e na
necessidade de leis de cunho integracionista, as quais refletem a carência de
explicitar os direitos dos cidadãos especiais. A nossa sociedade está imersa
em sentimentos Gersianos e preconceituosos. Para que a inclusão seja
operacionalizada existe a necessidade de conscientizar a sociedade das
diferenças e torná-la mais tolerante. Portanto torna-se imprescindível o uso de
políticas e projetos que promovam a valorização dos portadores de
necessidades especiais, dentro e fora do ambiente escolar.
A escola, atualmente agente social fragmentadora, pode tornar-se um
agente propagador da inclusão e mobilidade social através de projetos que
difundam o movimento de inclusão e a emancipação do cidadão especial. É
necessário adotar políticas que disseminem os direitos garantidos por lei e
visem a proteção dos mesmos. Ao mesmo tempo torna-se imprescindível a
promoção de campanhas que valorizem o portador de necessidades especiais.
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A imagem desta parcela da população precisa ser mudada. A desconstrução
da noção cristalizada de que o cidadão especial é ignorante ou inválido deverá
acontecer quando propagarmos que muitos gênios da atualidade, quando
crianças sofreram com a dislexia. A sociedade necessita compreender que ser
especial não significa ser burro. Ser especial significa ser diferente.
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Conclusão
A escola hoje, dotada de uma estrutura rígida e tradicional espera que
seus alunos sejam capazes de se encaixarem à sua inflexibilidade. Entretanto
a sociedade é formada por indivíduos únicos e diferentes. O resultado do
embate é o fracasso escolar e a estratificação das massas através do poder
exercido pelo saber. A escola é atualmente, um agente fossilizador das classes
sociais, instituindo o sucesso de poucos, ao não fomentar a emancipação do
conhecimento por meio de adequações aos alunos menos aptos à sua
estrutura.
Em meio a tantas teorias humanísticas de ensino, é valorizada a
tradicional, rígida e excludente. O professor como agente de transformação
social e de inclusão, deve perceber o seu poder de mudança e agir dentro de
seu domínio para extinguir as práticas exclusivistas vigentes no processo
escolar. Ao agir, o professor deve valorizar o progresso do aluno, examinando,
não só o produto, mas também o processo da aprendizagem. O professor deve
abolir a estrutura de um ensino militarista baseado na classificação e espelhar-
se no ser humano, para ser capaz de mediar um processo de aprendizagem,
baseado nas diversas esferas subjetivas de seus alunos.
Uma vez que o professor aja como catalisador da inclusão, ele,
conseqüentemente instituirá a luta pela operalização dos direitos de seus
alunos. Ao transformar-se em agente da inclusão e lutar por ela, o professor
ganhará o poder de mudança. Um professor, sozinho, transforma sua sala de
aula. Porém contamos com 2,6 milhões de docentes no Brasil, responsáveis
pela educação de 56,7 milhões de brasileiros. 1 Todo o corpo docente nacional,
transforma um país.
1 Informação retirada do site do Inep http://www.inep.gov.br/imprensa/noticias/outras/news03_37.htm
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Para refletir:
Fonte: Cuidado, Escola! Desigualdade, domesticação e algumas saídas Babette Harper et al.; São Paulo: Brasiliense, 2003
Adaptado do livro Cuidado, Escola! Desigualdade, domesticação e algumas saídas Babette Harper et al.; São Paulo: Brasiliense, 2003 por Izabel Cristina Duarte Santos
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ANEXO 1
O perigo iminente da dislecionia
Izabel Cristina Duarte Santos Professores, muito cuidado! Há uma epidemia de dislecionia
espalhando-se por escolas de todo o mundo. Um grande número de
professores vem apresentando um quadro de dislecionia aguda, muitas vezes
com quadros concomitantes de D.V.E. e D.C.E. Os sintomas mais óbvios são
alunos desmotivados e um alto quantitativo de evasão escolar. A palavra
dislecionia vem do grego ‘dis’ que significa pobre ou inadequado. A dislecionia
é um distúrbio de ensino caracterizado pelo cinismo e conformismo do
educador em relação a sua posição na sociedade. O professor pode apresentar
alguns ou todos os sintomas clássicos: reclamação contínua e ininterrupta,
engajamento em rotulação constante dos seus alunos, adoração de alunos
quietos e/ ou apáticos. O professor apresenta uma deficiência auditiva
voluntária, o que acarreta na incapacidade aguda de ouvir o que seus alunos
têm a dizer. Outro sinal da deficiência auditiva voluntária é o uso constante de
gritos como meio de silenciá-los.
A dislecionia vem geralmente acompanhada de casos de D.V.E. e/ ou
D.C.E. O D.V.E. ou déficit de vontade de ensinar apresenta-se através da
apatia e preguiça crônica do educador. O professor tende a utilizar com
freqüência a frase: “Se vira” quando os alunos pedem alguma explicação. Este
docente tem a tendência de escrever o conteúdo no quadro durante 80% da
aula e dar uma rápida explicação nos poucos minutos restantes. O déficit
ocasiona a inabilidade de criar experiências que fomentem aprendizagens
significativas e o ato de “jogar” a matéria nos estudantes.Geralmente os alunos
de professores afetados pelo D.V.E. precisam ser auto-didátas. Caso contrário
é recomedável que se juntem ao grupo AAA (Alunos de Adestradores Apáticos)
ou correm o risco de tornarem-se viciados em aulas particulares.
Já o D.C.E ou déficit de criatividade ao ensinar, como o nome
insinua, caracteriza-se pela inabilidade crônica de ser criativo ao lecionar. Os
professores portadores do D.C.E. dão as mesmas aulas durante anos, cujos
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planos de aulas são guardados em cadernos amarelados e escritos no ano de
sua formatura. Os professores infectados pelo D.C.E. sofrem de vício ao giz e
práticas pedagógicas obsoletas, o que resulta em um alto T.D.P. (Tempo de
discurso do professor). Os estudantes que lidam com professores
contaminados pelo C.T.D. sofrem com a sonolência crônica e irritabilidade.
Estes alunos estão sujeitos ao vício à cafeína.
Cuidado professor! Pois estas disfunções pedagógicas rondam as
escolas brasileiras. No caso da presença de qualquer um dos sintomas acima
procure ajuda! No caso de dúvida, você pode fazer um teste agora para
descobrir se foi contaminado por uma dessas anomalias. Caso o seu teste dê
positivo, procure amparo imediatamente! Há uma grande possibilidade das
pessoas afetadas pelos distúrbios acima destruírem a auto-estima de seus
alunos, provocarem fracasso escolar e a estratificação das massas através do
poder que exercem. Alguns tratamentos para a cura da dislecionia e déficits
concomitantes são doses contínuas de formação continuada, uma injeção de
sensibilidade e pílulas de conscientização. Essas pílulas são atualmente
manufaturadas pelo laboratório Paulo Freire. A mais vendida, por seu grande
poder de eficácia e rapidez, chama-se “pedagogia da autonomia”. Ler poesia,
rir e sonhar também são tratamentos altamente recomendados.
Teste:
Você sofre de dislecionia?
1) Você tem uma relação dialógica com seus alunos? S N
2) Você motiva os seus alunos a serem criativos? S N
3) Você tem o hábito de utilizar outros recursos além do quadro
negro e do livro didático?
S N
4) Você sai de sala de aula com os alunos para lecionar em um S N
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ambiente diferente?
5) Você pede a opinião dos alunos quanto à sua prática
pedagógica?
S N
6) Você lê livros pedagógicos pelo menos uma vez ao ano? S N
7) Você fez pelo menos uma pós-graduação nos últimos cinco
anos?
S N
8) Você sofre de rouquidão mais do que duas vezes por ano? S N
9) Você tem tempo de descansar, ler poesia ou livros, pintar ou
sonhar?
S N
10) Os seus alunos te abraçam e fazem uma festa quando te vêm
fora da escola?
S N
11) Você conscientiza os seus alunos de seu poder de mudanças
pela cidadania?
S N
Se você respondeu não a quatro ou mais dessas perguntas procure ajuda pois
você pode estar sofrendo de dislecionia ou um dos seus distúrbios
concomitantes.
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