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SUSCITANTE: : MANOEL LUIZ DOS SANTOS FILHO SUSCITADO: BANCO GMAC S/A RELATOR: O SR. JUIZ DE DIREITO ELIEZER MATTOS SCHERRER JUNIOR R E L A T Ó R I O Trata-se de Incidente de Uniformização de Jurisprudência suscitado por MANOEL LUIZ DOS SANTOS em face do BANCO GMAC S/A contra o acórdão proferido pela 3ª Turma do Colegiado Recursal dos Juizados Especiais que, por maioria dos votos, deu provimento parcial ao recurso inominado interposto pelo recorrente, autor na Ação Revisional de Contrato c/c Repetição de Indébito, para apenas restituir em dobro os valores indevidos a título de Tarifa de Cadastro. A irresignação do suscitante consiste na exclusão da condenação do suscitado ao pagamento dos juros capitalizados, sob o argumento de que o acórdão supramencionado merece reforma devido à divergência de posicionamentos entre as Turmas Recursais sobre o assunto. O suscitado, por sua vez, manifestou-se preliminarmente quanto à inadmissibilidade do recurso ante à inexistência de requisitos formais, e no mérito sustentou a legalidade de sua conduta, levando-se em consideração a previsão contratual em consonância com a jurisprudência pacificada do STJ. O Ministério Público apresentou parecer manifestando-se pelo acolhimento da preliminar, e no mérito pela improcedência do pedido, considerando a inexistência de divergência sobre o tema em questão, tendo por base a repetição de indébito em relação ao TAC. Oportunizado ao suscitante a emenda da inicial, a mesma foi realizada, razão pela qual foi admitido o presente recurso. Vieram-me os autos conclusos. É o que cumpre relatar. DECIDO. ESTADO DO ESPÍRITO SANTO PODER JUDICIÁRIO TURMA DE UNIFORMIZAÇÃO DE INTERPRETAÇÃO DE LEI 14/3/2014 INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE INTERPRETAÇÃO DE LEI Nº 008/12

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SUSCITANTE: : MANOEL LUIZ DOS SANTOS FILHOSUSCITADO: BANCO GMAC S/ARELATOR: O SR. JUIZ DE DIREITO ELIEZER MATTOS SCHERRER JUNIOR

R E L A T Ó R I O

Trata-se de Incidente de Uniformização de Jurisprudência suscitado por MANOELLUIZ DOS SANTOS em face do BANCO GMAC S/A contra o acórdão proferido pela3ª Turma do Colegiado Recursal dos Juizados Especiais que, por maioria dos votos,deu provimento parcial ao recurso inominado interposto pelo recorrente, autor naAção Revisional de Contrato c/c Repetição de Indébito, para apenas restituir emdobro os valores indevidos a título de Tarifa de Cadastro.

A irresignação do suscitante consiste na exclusão da condenação do suscitado aopagamento dos juros capitalizados, sob o argumento de que o acórdãosupramencionado merece reforma devido à divergência de posicionamentos entre asTurmas Recursais sobre o assunto.

O suscitado, por sua vez, manifestou-se preliminarmente quanto à inadmissibilidadedo recurso ante à inexistência de requisitos formais, e no mérito sustentou alegalidade de sua conduta, levando-se em consideração a previsão contratual emconsonância com a jurisprudência pacificada do STJ.

O Ministério Público apresentou parecer manifestando-se pelo acolhimento dapreliminar, e no mérito pela improcedência do pedido, considerando a inexistência dedivergência sobre o tema em questão, tendo por base a repetição de indébito emrelação ao TAC.

Oportunizado ao suscitante a emenda da inicial, a mesma foi realizada, razão pelaqual foi admitido o presente recurso.

Vieram-me os autos conclusos.

É o que cumpre relatar.

DECIDO.

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INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE INTERPRETAÇÃO DE LEI Nº 008/12

Compulsando os autos e analisando os elementos neles constantes, depreende-seque o litígio versa sobre a legalidade da incidência da capitalização mensal de juros.

Em que pese ter havido, pelo Ministério Público, sustentação referente à forma dedevolução da Tarifa de Cadastro, verifica-se que o presente recurso tem comoescopo a discussão sobre a aplicabilidade dos juros contratuais, motivo pelo qualentendo prejudicada a apreciação do parecer apresentado.

Quanto ao tema, é oportuno esclarecer que a capitalização dos juros, dos juros jácobrados, trata-se, na prática, de aplicação composta de juros, a qual foi introduzidapelo sistema jurídico brasileiro desde o Código Comercial de 1850, que permitia, emseu artigo 253, a acumulação de juros vencidos aos saldos liquidados em contacorrente ano a ano.

Outrossim, o Código Civil de 1916, também previa no artigo 1.262, em sua redaçãooriginal, a capitalização dos juros, sem limite de periodicidade, desde queexpressamente convencionada. Entretanto, o referido dispositivo foi parcialmenterevogado pelo Decreto nº 22.626/33 (Lei de Usura), haja vista a admissibilidade deacumulação dos juros vencidos aos saldos líquidos, aplicados em periodicidadeanual.

Nesse diapasão, convém trazer a lume que embora a Súmula nº 121 do STF vede acapitalização de juros em período inferior ao anual, ainda que expressamenteacordada, em operações regidas por leis especiais, onde há expressa autorizaçãolegal, como no caso em tela, o mesmo órgão julgador sempre posicionou-se quanto àaplicabilidade da capitalização de juros de acordo com o período avençado (R.E. nº90.341 PA e R.E. nº 96.875 RJ).

Ademais, o Decreto- Lei nº 167/1967 (Cédula de Crédito Rural); Dec. Lei nº 413/1969(Cédulas de Crédito Industrial); Lei nº 6.313/1975 (Crédito à Exportação); Lei nº6.840/1980 (Cédula de Crédito Comercial e Produto Rural), e a Medida Provisória nº1.925/1999 (Cédula de Crédito Bancário) preveem a possibilidade de capitalizaçãode juros nas operações que disciplinam.

Dessa forma, pelo panorama histórico legislativo, não obstante a variação normativaquanto ao período de incorporação dos juros ao principal, conclui-se que a regra nonosso ordenamento jurídico sempre foi a possibilidade de pacto de capitalização dejuros.

Para que haja maior elucidação dos fatos, é importante salientar que outro não é oentendimento da jurisprudência pátria, inclusive do Egrégio Tribunal de Justiça deste

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Estado e do Superior Tribunal de Justiça, uma vez que ambos têm se posicionadoquanto à legitimidade da aplicação dos juros compostos, previstos em contrato,conforme demonstra os recentes julgados a seguir colacionados.

Vejamos.

11869977- AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. CONTRATOBANCÁRIO. CAPITALIZAÇÃO MENSAL DOS JUROS. AUSÊNCIA DEPACTUAÇÃO. INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULA CONTRATUAL EREEXAME DE PROVAS. SÚMULAS Nº 5 E 7 DO STJ.PREQUISTIONAMENTO. AUSÊNCIA. INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS NºS 282E 356 DO STF. 1. A jurisprudência desta eg. Corte pacificou-se no sentido deque a cobrança de capitalização mensal de juros é admitida nos contratosbancários celebrados a partir da edição da Medida Provisória n°1.963-17/2000, reeditada sob n°2.170-36.2001, qual seja, 31/3/2000, desdeque expressamente pactuada. Na espécie, a verificação quanto à previsãocontratual da capitalização dos juros demanda a interpretação de cláusulacontratual e o reexame do conjunto fático-probatório dos autos, o que se sabeé vedado em sede de Recurso Especial. Vedação das Súmulas nº 5 e 7/STJ.2. Ademais, é inviável o Recurso Especial quando ausente oprequestionamento da questão federal suscitada nas razões recursais.Incidência das Súmulas 282 e 356 do STF. 3. Agravo Interno a que se negaprovimento. (STJ; AgRg-AgRg-REsp 981.036; Proc. 2007/0211157-8; MG;Quarta Turma; Rel. Min. Raul Araújo; Julg. 21/03/2013; DJE 25/04/2013).

APELAÇÃO. PREQUESTIONAMENTO EM CONTRARRAZÕES.IMPOSSIBILIDADE. REVISÃO DE CONTRATO. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA.REVELIA. INOCORRÊNCIA. CAPITALIZAÇÃO. LEGALIDADE. REVISÃO DECLÁUSULAS DE OFÍCIO. VEDAÇÃO. CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO.PEDIDO PREJUDICADO. COBRANÇA DE TARIFA DE CADASTRO E DEAVALIAÇÃO DE VEÍCULO. TRANFERÊNCIA DOS CUSTOS DA ATIVIDADEAO CONSUMIDOR. IMPOSSIBILIDADE. REPETIÇÃO DE INDÉBITO EMDOBRO. INDEVIDA POR INEXISTIR MÁ-FÉ. SENTENÇA PARCIALMENTEREFORMADA. 1). Não pode a recorrida, em contrarrazões, prequestionarmatéria, eis que elas têm como única finalidade a defesa da manutenção dasentença. 2). Apresentada contestação tempestivamente, não há que se falarna incidência da revelia. 3). A capitalização mensal de juros é legítima, sendopassível de incidir nas operações de crédito derivadas de instituição financeiraintegrante do Sistema Financeiro Nacional a partir do dia 31 de março de2.000, quando entrou em vigor a medida provisória atualmente identificadacom o número 2.170-36, de 23 de agosto de 2.001. 4). A decisão do Conselho

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Especial em arguição de inconstitucionalidade tem caráter incidental, valendopara o feito em que foi arguida, sendo faculdade, opção do julgador, segui-laem outros casos, e não obrigação. 5). Tratando-se de cédula de crédito

bancário, deve ser observada ainda a Lei nº 10.931/2004, que autoriza em seuartigo 28, §1º, inciso I, a cobrança de juros na forma capitalizada. 6). A teor doenunciado da Súmula nº 381 do STJ, "nos contratos bancários, é vedado aojulgador conhecer, de ofício, da abusividade das cláusulas 7). Julgando-seimprocedentes os pedidos, em razão da legalidade do contrato, restaprejudicado o pedido referente a consignação em pagamento dos valores. 8).A cobrança de tarifa de cadastro e de avaliação de veículo é abusiva, aindaque haja previsão contratual, por transferir ao consumidor despesa inerente àatividade comercial bancária, causando- lhe onerosidade excessiva aoconsumidor, o que é vedado pelo artigo 51, inciso IV do CDC. 9). Ocorrerepetição de indébito em sua forma dobrada apenas quando o pagamento semostrar indevido e comprovada a má-fé da instituição financeira. 10). Havendoa sucumbência quase na totalidade dos pedidos, deve a parte sucumbentesuportar sozinha as custas processuais e os honorários advocatícios. 11).Recurso conhecido e parcialmente provido. Preliminar rejeitada. (TJDF; Rec2012.05.1.009769-4; Ac. 680.171; Quinta Turma Cível; Rel. Des. LucianoVasconcelos; DJDFTE 03/06/2013; Pág. 175) (destaquei)

49635600 - CONSUMIDOR. APELAÇÃO. FINANCIAMENTO E ALIENAÇÃOFIDUCIÁRIA. INCIDÊNCIA DO CDC. POSSIBILIDADE DE REVISÃOCONTRATUAL. JUROS CAPITALIZADOS. PREVISÃO CONTRATUAL.COMISSÃO DE PERMANÊNCIA CUMULADA COM OUTROS ENCARGOS.ILEGALIDADE. TARIFA DE EMISSÃO DE CARNÊ / BOLETO. LEGÍTIMAS.PREVIAMENTE PACTUADAS. CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTOINTEGRAL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA.RECURSO CONHECIDO E PROVIDO PARCIALMENTE. 1) Dúvidas não hásobre a incidência do Código de Defesa do Consumidor em se tratando decontratos de financiamento com garanti a em alienação fiduciária, operaçãoque é de natureza financeira. Quanto à revisão contratual pelo judiciárioquando verificada a abusividade das cláusulas insertas no contrato já restoupacificada a sua possibilidade pela jurisprudência, sendo as aludidascláusulas passíveis de anulação, nos termos do artigo 51, inciso IV, do Cdigode Defesa do Consumidor. 2) com a edição da MP 1.963-17/2000, de 31 demarço de 2000 (atualmente reeditada sob o nº 2.170-36/2001), passou-se aadmitir a capitalização mensal aos contratos firmados posteriormente à sua

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entrada em vigor, desde que houvesse previsão contratual. Dessa forma,verificando-se o preenchimento dessas condições, há de ser permitida suaincidência. No caso concreto, como inexiste prova de cláusula contratualnesse sentido, deve ser mantida a sentença que determinou a exclusão doanatocismo. 3) quanto à tarifa de emissão de carnê / boleto, em que pesehaver precedentes desta egrégia corte no sentido de que representaimposição de obrigação abusiva

que transfere ao consumidor os encargos da atividade exercida, em recentemudança de posicionamento o Superior Tribunal de Justiça sedimentou que"as tarifas de abertura de crédito (tac) e emissão de carnê (tec), por nãoestarem encartadas nas vedações previstas na legislação regente (resoluções2.303/1996 e 3.518/2007 do CMN), e ostentarem natureza de remuneraçãopelo serviço prestado pela instituição financeira ao consumidor, quandoefetivamente contratadas, consubstanciam cobranças legítimas, sendo certoque somente com a demonstração cabal de vantagem exagerada por parte doagente financeiro é que podem ser consideradas ilegai s e abusivas, o quenão ocorreu no caso presente" (referência: RESP 1246622 / RS). Referênciano tjes: Agravo de instrumento 048119004553. 4) não há direito à consignaçãoem pagamento quando o valor devido como contraprestação do financiamentodado ao correntista não corresponde ao valor que, por ele entender correto,pretende consignar. 5) registro que não obstante reconhecer que não hádireito à consignação parcial do depósito, o pagamento das quantias faltantespertinentes deverá obedecer aos encargos contratuais originários, e não aosmoratórios, uma vez que a decisão judicial (fls. 39-41) assegurou os depósitosparciais e elidiu durante o prazo de sua vigência a contratação em mora, quese dará a partir do julgamento desse recurso de apelação. 6) recursoconhecido e provido parcialmente a fim de declarar: I) A legalidade da tarifa deabertura de crédito e tarifa de emissão de boleto; II) inexistência de direito àconsignação em pagamento em montante inferior ao efetivamente contratado;III) ilegalidade da cobrança cumulada de comissão de permanência com multacontratual e juros moratórios, caso seja exigida mesmo a partir doinadimplemento do devedor, e, finalmente IV) reputar legítimos os encargospertinentes aos valores estabelecidos no contrato dentro do prazo doadimplemento. (TJES; APL 0014390-46.2011.8.08.0048; Segunda CâmaraCível; Rel. Des. Álvaro Manoel Rosindo Bourguignon; Julg. 21/05/2013; DJES29/05/2013) (destaquei)

Convém ressaltar, que com a edição da Medida Provisória nº 1.963-17/2000,reeditada sob nº 2.170-36 2001, admitiu-se a capitalização mensal dos juros em

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relação às operações financeiras, realizadas posteriormente a sua entrada em vigorpelas instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional, desde que hajaprevisão contratual nesse sentido.

Quanto à natureza jurídica do suscitado, não há dúvida, uma vez que na qualidadede instituição financeira, o mesmo é parte integrante do Sistema Financeiro Nacional.

No caso em comento, analisando o acervo fático probatório produzido nos autos,precisamente às fls. 71, percebe-se de forma clara a existência de previsãocontratual expressa em relação a capitalização mensal de juros, em obediência aoprincípio consumerista da informação, razão pela qual, em detrimento do que acimaexpus, não há que se falar em inaplicabilidade dos juros capitalizados, tampouco emilegalidade da conduta do suscitado, considerando o reconhecimento da autonomiada vontade exteriorizada por meio da celebração do contrato entre a partes e, porconseguinte, da aplicabilidade do princípio pacta sunt servanda.

Além do mais, os votos carreados aos autos pelo suscitante não demonstraramdivergência de posicionamento, pelo contrário, evidenciaram diferentes fatos,considerando que em alguns processos inexistia previsão contratual acerca da capitalização de juros e em outros não, por isso que em algumas decisões erareconhecida a abusividade da incidência dos juros, enquanto em outros era mantidaa cobrança.

E, por fim, os juros não mostraram-se excessivamente onerosos para o consumidor,uma vez que não restou comprovado nos autos que os juros impugnadosdesestruturaram o equilíbrio contratual entre as partes, tampouco que foram capazesde ensejar para a instituição financeira vantagem excessiva em decorrência do lucroexagerado em detrimento do empobrecimento do outro contratante, haja vista arazoabilidade na sua aplicação, visto que o crédito foi concedido em prazoconsiderável, restando, diante disso, afastada a hipótese de abusividade em favordo contratante vulnerável.

Desta forma, o acórdão proferido pela 3° Turma Recursal dos Juizados Especiaisnão merece emendas ou reparos. Por isso, NEGO PROVIMENTO AO RECURSOPARA MANTER INCÓLUME O ACÓRDÃO RECORRIDO.

É como voto.

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V O T O S

A SRA. JUÍZA DE DIREITO MARIA JOVITA FERREIRA REISEN:-Acompanho o voto do Eminente Relator.

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VOTARAM NO MESMO SENTIDO OS SRS. JUÍZES DE DIREITO:EDMILSON ROSINDO FILHO,TELMELITA GUIMARÃES ALVES,JOSÉ LUIZ DA COSTA ALTAFIM,MANOEL CRUZ DOVAL,FABÍOLA CASAGRANDE SIMÕES,VICTOR QUEIROZ SCHNEIDER,IDELSON SANTOS RODRIGUES,ROGÉRIO RODRIGUES DE ALMEIDA,RONALDO DOMINGUES DE ALMEIDA,GUSTAVO ZAGO RABELO eROBSON LUIZ ALBANEZ.

*

D E C I S Ã O

Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: à unanimidade de votos, conhecer masnegar provimento ao recurso para manter incólume o acórdão recorrido, nos termosdo voto do Eminente Relator.

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nmc/

INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA.CONSUMIDOR.CONTRATO DE FINANCIAMENTO DE VEÍCULO. CAPITALIZAÇÃO DE JUROSNÃO CONFIGURADO. 1- Trata-se de Incidente de Uniformização de Jurisprudênciasuscitado por MANOEL LUIZ DOS SANTOS em face do BANCO GMAC S/A contra oacórdão proferido pela 3ª Turma do Colegiado Recursal dos Juizados Especiais. 2- OSuscitante sustentou a ilegalidade na incidência da capitalização mensal de juros erequereu a condenação do suscitado ao pagamento do valor que entende serabusivo. 3- Não obstante a alegação do suscitante, quanto ao tema, pelo panoramahistórico legislativo, depreende-se que a regra no ordenamento jurídico brasileirosempre foi a possibilidade de pacto da capitalização de juros. 4- Outrossim, ajurisprudência pátria e o Colendo Superior Tribunal de Justiça têm se posicionadoquanto à sua admissibilidade desde que haja previsão contratual. 5-No caso emcomento, além de haver expressa previsão contratual nesse sentido, os juroscontratuais não mostraram-se excessivamente onerosos para o consumidor ousequer ensejaram para a instituição financeira vantagem excessiva em decorrênciado lucro exagerado, haja vista a razoabilidade na sua aplicação, motivo pelo qual nãohá que se falar em mitigação do princípio pacta sunt servanda. NEGADOPROVIMENTO AO RECURSO PARA MANTER INCÓLUME O ACÓRDÃORECORRIDO. (Incidente de Uniformização de Interpretação de Jurisprudência n°08/12, Plenário do Colegiado Recursal dos Juizados Especiais, Relator: EliezerMattos Scherrer Junior, Julgado em: 14/03/2014)

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SUSCITANTE: : MANOEL LUIZ DOS SANTOS FILHOSUSCITADO: BANCO GMAC S/ARELATOR: O SR. JUIZ DE DIREITO ELIEZER MATTOS SCHERRER JUNIOR

R E L A T Ó R I O

Trata-se de Incidente de Uniformização de Jurisprudência suscitado por MANOELLUIZ DOS SANTOS em face do BANCO GMAC S/A contra o acórdão proferido pela3ª Turma do Colegiado Recursal dos Juizados Especiais que, por maioria dos votos,deu provimento parcial ao recurso inominado interposto pelo recorrente, autor naAção Revisional de Contrato c/c Repetição de Indébito, para apenas restituir emdobro os valores indevidos a título de Tarifa de Cadastro.

A irresignação do suscitante consiste na exclusão da condenação do suscitado aopagamento dos juros capitalizados, sob o argumento de que o acórdãosupramencionado merece reforma devido à divergência de posicionamentos entre asTurmas Recursais sobre o assunto.

O suscitado, por sua vez, manifestou-se preliminarmente quanto à inadmissibilidadedo recurso ante à inexistência de requisitos formais, e no mérito sustentou alegalidade de sua conduta, levando-se em consideração a previsão contratual emconsonância com a jurisprudência pacificada do STJ.

O Ministério Público apresentou parecer manifestando-se pelo acolhimento dapreliminar, e no mérito pela improcedência do pedido, considerando a inexistência dedivergência sobre o tema em questão, tendo por base a repetição de indébito emrelação ao TAC.

Oportunizado ao suscitante a emenda da inicial, a mesma foi realizada, razão pelaqual foi admitido o presente recurso.

Vieram-me os autos conclusos.

É o que cumpre relatar.

DECIDO.

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Compulsando os autos e analisando os elementos neles constantes, depreende-seque o litígio versa sobre a legalidade da incidência da capitalização mensal de juros.

Em que pese ter havido, pelo Ministério Público, sustentação referente à forma dedevolução da Tarifa de Cadastro, verifica-se que o presente recurso tem comoescopo a discussão sobre a aplicabilidade dos juros contratuais, motivo pelo qualentendo prejudicada a apreciação do parecer apresentado.

Quanto ao tema, é oportuno esclarecer que a capitalização dos juros, dos juros jácobrados, trata-se, na prática, de aplicação composta de juros, a qual foi introduzidapelo sistema jurídico brasileiro desde o Código Comercial de 1850, que permitia, emseu artigo 253, a acumulação de juros vencidos aos saldos liquidados em contacorrente ano a ano.

Outrossim, o Código Civil de 1916, também previa no artigo 1.262, em sua redaçãooriginal, a capitalização dos juros, sem limite de periodicidade, desde queexpressamente convencionada. Entretanto, o referido dispositivo foi parcialmenterevogado pelo Decreto nº 22.626/33 (Lei de Usura), haja vista a admissibilidade deacumulação dos juros vencidos aos saldos líquidos, aplicados em periodicidadeanual.

Nesse diapasão, convém trazer a lume que embora a Súmula nº 121 do STF vede acapitalização de juros em período inferior ao anual, ainda que expressamenteacordada, em operações regidas por leis especiais, onde há expressa autorizaçãolegal, como no caso em tela, o mesmo órgão julgador sempre posicionou-se quanto àaplicabilidade da capitalização de juros de acordo com o período avençado (R.E. nº90.341 PA e R.E. nº 96.875 RJ).

Ademais, o Decreto- Lei nº 167/1967 (Cédula de Crédito Rural); Dec. Lei nº 413/1969(Cédulas de Crédito Industrial); Lei nº 6.313/1975 (Crédito à Exportação); Lei nº6.840/1980 (Cédula de Crédito Comercial e Produto Rural), e a Medida Provisória nº1.925/1999 (Cédula de Crédito Bancário) preveem a possibilidade de capitalizaçãode juros nas operações que disciplinam.

Dessa forma, pelo panorama histórico legislativo, não obstante a variação normativaquanto ao período de incorporação dos juros ao principal, conclui-se que a regra nonosso ordenamento jurídico sempre foi a possibilidade de pacto de capitalização dejuros.

Para que haja maior elucidação dos fatos, é importante salientar que outro não é oentendimento da jurisprudência pátria, inclusive do Egrégio Tribunal de Justiça deste

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Estado e do Superior Tribunal de Justiça, uma vez que ambos têm se posicionadoquanto à legitimidade da aplicação dos juros compostos, previstos em contrato,conforme demonstra os recentes julgados a seguir colacionados.

Vejamos.

11869977- AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. CONTRATOBANCÁRIO. CAPITALIZAÇÃO MENSAL DOS JUROS. AUSÊNCIA DEPACTUAÇÃO. INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULA CONTRATUAL EREEXAME DE PROVAS. SÚMULAS Nº 5 E 7 DO STJ.PREQUISTIONAMENTO. AUSÊNCIA. INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS NºS 282E 356 DO STF. 1. A jurisprudência desta eg. Corte pacificou-se no sentido deque a cobrança de capitalização mensal de juros é admitida nos contratosbancários celebrados a partir da edição da Medida Provisória n°1.963-17/2000, reeditada sob n°2.170-36.2001, qual seja, 31/3/2000, desdeque expressamente pactuada. Na espécie, a verificação quanto à previsãocontratual da capitalização dos juros demanda a interpretação de cláusulacontratual e o reexame do conjunto fático-probatório dos autos, o que se sabeé vedado em sede de Recurso Especial. Vedação das Súmulas nº 5 e 7/STJ.2. Ademais, é inviável o Recurso Especial quando ausente oprequestionamento da questão federal suscitada nas razões recursais.Incidência das Súmulas 282 e 356 do STF. 3. Agravo Interno a que se negaprovimento. (STJ; AgRg-AgRg-REsp 981.036; Proc. 2007/0211157-8; MG;Quarta Turma; Rel. Min. Raul Araújo; Julg. 21/03/2013; DJE 25/04/2013).

APELAÇÃO. PREQUESTIONAMENTO EM CONTRARRAZÕES.IMPOSSIBILIDADE. REVISÃO DE CONTRATO. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA.REVELIA. INOCORRÊNCIA. CAPITALIZAÇÃO. LEGALIDADE. REVISÃO DECLÁUSULAS DE OFÍCIO. VEDAÇÃO. CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO.PEDIDO PREJUDICADO. COBRANÇA DE TARIFA DE CADASTRO E DEAVALIAÇÃO DE VEÍCULO. TRANFERÊNCIA DOS CUSTOS DA ATIVIDADEAO CONSUMIDOR. IMPOSSIBILIDADE. REPETIÇÃO DE INDÉBITO EMDOBRO. INDEVIDA POR INEXISTIR MÁ-FÉ. SENTENÇA PARCIALMENTEREFORMADA. 1). Não pode a recorrida, em contrarrazões, prequestionarmatéria, eis que elas têm como única finalidade a defesa da manutenção dasentença. 2). Apresentada contestação tempestivamente, não há que se falarna incidência da revelia. 3). A capitalização mensal de juros é legítima, sendopassível de incidir nas operações de crédito derivadas de instituição financeiraintegrante do Sistema Financeiro Nacional a partir do dia 31 de março de2.000, quando entrou em vigor a medida provisória atualmente identificadacom o número 2.170-36, de 23 de agosto de 2.001. 4). A decisão do Conselho

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Especial em arguição de inconstitucionalidade tem caráter incidental, valendopara o feito em que foi arguida, sendo faculdade, opção do julgador, segui-laem outros casos, e não obrigação. 5). Tratando-se de cédula de crédito

bancário, deve ser observada ainda a Lei nº 10.931/2004, que autoriza em seuartigo 28, §1º, inciso I, a cobrança de juros na forma capitalizada. 6). A teor doenunciado da Súmula nº 381 do STJ, "nos contratos bancários, é vedado aojulgador conhecer, de ofício, da abusividade das cláusulas 7). Julgando-seimprocedentes os pedidos, em razão da legalidade do contrato, restaprejudicado o pedido referente a consignação em pagamento dos valores. 8).A cobrança de tarifa de cadastro e de avaliação de veículo é abusiva, aindaque haja previsão contratual, por transferir ao consumidor despesa inerente àatividade comercial bancária, causando- lhe onerosidade excessiva aoconsumidor, o que é vedado pelo artigo 51, inciso IV do CDC. 9). Ocorrerepetição de indébito em sua forma dobrada apenas quando o pagamento semostrar indevido e comprovada a má-fé da instituição financeira. 10). Havendoa sucumbência quase na totalidade dos pedidos, deve a parte sucumbentesuportar sozinha as custas processuais e os honorários advocatícios. 11).Recurso conhecido e parcialmente provido. Preliminar rejeitada. (TJDF; Rec2012.05.1.009769-4; Ac. 680.171; Quinta Turma Cível; Rel. Des. LucianoVasconcelos; DJDFTE 03/06/2013; Pág. 175) (destaquei)

49635600 - CONSUMIDOR. APELAÇÃO. FINANCIAMENTO E ALIENAÇÃOFIDUCIÁRIA. INCIDÊNCIA DO CDC. POSSIBILIDADE DE REVISÃOCONTRATUAL. JUROS CAPITALIZADOS. PREVISÃO CONTRATUAL.COMISSÃO DE PERMANÊNCIA CUMULADA COM OUTROS ENCARGOS.ILEGALIDADE. TARIFA DE EMISSÃO DE CARNÊ / BOLETO. LEGÍTIMAS.PREVIAMENTE PACTUADAS. CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTOINTEGRAL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA.RECURSO CONHECIDO E PROVIDO PARCIALMENTE. 1) Dúvidas não hásobre a incidência do Código de Defesa do Consumidor em se tratando decontratos de financiamento com garanti a em alienação fiduciária, operaçãoque é de natureza financeira. Quanto à revisão contratual pelo judiciárioquando verificada a abusividade das cláusulas insertas no contrato já restoupacificada a sua possibilidade pela jurisprudência, sendo as aludidascláusulas passíveis de anulação, nos termos do artigo 51, inciso IV, do Cdigode Defesa do Consumidor. 2) com a edição da MP 1.963-17/2000, de 31 demarço de 2000 (atualmente reeditada sob o nº 2.170-36/2001), passou-se aadmitir a capitalização mensal aos contratos firmados posteriormente à sua

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entrada em vigor, desde que houvesse previsão contratual. Dessa forma,verificando-se o preenchimento dessas condições, há de ser permitida suaincidência. No caso concreto, como inexiste prova de cláusula contratualnesse sentido, deve ser mantida a sentença que determinou a exclusão doanatocismo. 3) quanto à tarifa de emissão de carnê / boleto, em que pesehaver precedentes desta egrégia corte no sentido de que representaimposição de obrigação abusiva

que transfere ao consumidor os encargos da atividade exercida, em recentemudança de posicionamento o Superior Tribunal de Justiça sedimentou que"as tarifas de abertura de crédito (tac) e emissão de carnê (tec), por nãoestarem encartadas nas vedações previstas na legislação regente (resoluções2.303/1996 e 3.518/2007 do CMN), e ostentarem natureza de remuneraçãopelo serviço prestado pela instituição financeira ao consumidor, quandoefetivamente contratadas, consubstanciam cobranças legítimas, sendo certoque somente com a demonstração cabal de vantagem exagerada por parte doagente financeiro é que podem ser consideradas ilegai s e abusivas, o quenão ocorreu no caso presente" (referência: RESP 1246622 / RS). Referênciano tjes: Agravo de instrumento 048119004553. 4) não há direito à consignaçãoem pagamento quando o valor devido como contraprestação do financiamentodado ao correntista não corresponde ao valor que, por ele entender correto,pretende consignar. 5) registro que não obstante reconhecer que não hádireito à consignação parcial do depósito, o pagamento das quantias faltantespertinentes deverá obedecer aos encargos contratuais originários, e não aosmoratórios, uma vez que a decisão judicial (fls. 39-41) assegurou os depósitosparciais e elidiu durante o prazo de sua vigência a contratação em mora, quese dará a partir do julgamento desse recurso de apelação. 6) recursoconhecido e provido parcialmente a fim de declarar: I) A legalidade da tarifa deabertura de crédito e tarifa de emissão de boleto; II) inexistência de direito àconsignação em pagamento em montante inferior ao efetivamente contratado;III) ilegalidade da cobrança cumulada de comissão de permanência com multacontratual e juros moratórios, caso seja exigida mesmo a partir doinadimplemento do devedor, e, finalmente IV) reputar legítimos os encargospertinentes aos valores estabelecidos no contrato dentro do prazo doadimplemento. (TJES; APL 0014390-46.2011.8.08.0048; Segunda CâmaraCível; Rel. Des. Álvaro Manoel Rosindo Bourguignon; Julg. 21/05/2013; DJES29/05/2013) (destaquei)

Convém ressaltar, que com a edição da Medida Provisória nº 1.963-17/2000,reeditada sob nº 2.170-36 2001, admitiu-se a capitalização mensal dos juros em

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relação às operações financeiras, realizadas posteriormente a sua entrada em vigorpelas instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional, desde que hajaprevisão contratual nesse sentido.

Quanto à natureza jurídica do suscitado, não há dúvida, uma vez que na qualidadede instituição financeira, o mesmo é parte integrante do Sistema Financeiro Nacional.

No caso em comento, analisando o acervo fático probatório produzido nos autos,precisamente às fls. 71, percebe-se de forma clara a existência de previsãocontratual expressa em relação a capitalização mensal de juros, em obediência aoprincípio consumerista da informação, razão pela qual, em detrimento do que acimaexpus, não há que se falar em inaplicabilidade dos juros capitalizados, tampouco emilegalidade da conduta do suscitado, considerando o reconhecimento da autonomiada vontade exteriorizada por meio da celebração do contrato entre a partes e, porconseguinte, da aplicabilidade do princípio pacta sunt servanda.

Além do mais, os votos carreados aos autos pelo suscitante não demonstraramdivergência de posicionamento, pelo contrário, evidenciaram diferentes fatos,considerando que em alguns processos inexistia previsão contratual acerca da capitalização de juros e em outros não, por isso que em algumas decisões erareconhecida a abusividade da incidência dos juros, enquanto em outros era mantidaa cobrança.

E, por fim, os juros não mostraram-se excessivamente onerosos para o consumidor,uma vez que não restou comprovado nos autos que os juros impugnadosdesestruturaram o equilíbrio contratual entre as partes, tampouco que foram capazesde ensejar para a instituição financeira vantagem excessiva em decorrência do lucroexagerado em detrimento do empobrecimento do outro contratante, haja vista arazoabilidade na sua aplicação, visto que o crédito foi concedido em prazoconsiderável, restando, diante disso, afastada a hipótese de abusividade em favordo contratante vulnerável.

Desta forma, o acórdão proferido pela 3° Turma Recursal dos Juizados Especiaisnão merece emendas ou reparos. Por isso, NEGO PROVIMENTO AO RECURSOPARA MANTER INCÓLUME O ACÓRDÃO RECORRIDO.

É como voto.

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V O T O S

A SRA. JUÍZA DE DIREITO MARIA JOVITA FERREIRA REISEN:-Acompanho o voto do Eminente Relator.

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VOTARAM NO MESMO SENTIDO OS SRS. JUÍZES DE DIREITO:EDMILSON ROSINDO FILHO,TELMELITA GUIMARÃES ALVES,JOSÉ LUIZ DA COSTA ALTAFIM,MANOEL CRUZ DOVAL,FABÍOLA CASAGRANDE SIMÕES,VICTOR QUEIROZ SCHNEIDER,IDELSON SANTOS RODRIGUES,ROGÉRIO RODRIGUES DE ALMEIDA,RONALDO DOMINGUES DE ALMEIDA,GUSTAVO ZAGO RABELO eROBSON LUIZ ALBANEZ.

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D E C I S Ã O

Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: à unanimidade de votos, conhecer masnegar provimento ao recurso para manter incólume o acórdão recorrido, nos termosdo voto do Eminente Relator.

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nmc/

INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA.CONSUMIDOR.CONTRATO DE FINANCIAMENTO DE VEÍCULO. CAPITALIZAÇÃO DE JUROSNÃO CONFIGURADO. 1- Trata-se de Incidente de Uniformização de Jurisprudênciasuscitado por MANOEL LUIZ DOS SANTOS em face do BANCO GMAC S/A contra oacórdão proferido pela 3ª Turma do Colegiado Recursal dos Juizados Especiais. 2- OSuscitante sustentou a ilegalidade na incidência da capitalização mensal de juros erequereu a condenação do suscitado ao pagamento do valor que entende serabusivo. 3- Não obstante a alegação do suscitante, quanto ao tema, pelo panoramahistórico legislativo, depreende-se que a regra no ordenamento jurídico brasileirosempre foi a possibilidade de pacto da capitalização de juros. 4- Outrossim, ajurisprudência pátria e o Colendo Superior Tribunal de Justiça têm se posicionadoquanto à sua admissibilidade desde que haja previsão contratual. 5-No caso emcomento, além de haver expressa previsão contratual nesse sentido, os juroscontratuais não mostraram-se excessivamente onerosos para o consumidor ousequer ensejaram para a instituição financeira vantagem excessiva em decorrênciado lucro exagerado, haja vista a razoabilidade na sua aplicação, motivo pelo qual nãohá que se falar em mitigação do princípio pacta sunt servanda. NEGADOPROVIMENTO AO RECURSO PARA MANTER INCÓLUME O ACÓRDÃORECORRIDO. (Incidente de Uniformização de Interpretação de Jurisprudência n°08/12, Plenário do Colegiado Recursal dos Juizados Especiais, Relator: EliezerMattos Scherrer Junior, Julgado em: 14/03/2014)

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SUSCITANTE: : MANOEL LUIZ DOS SANTOS FILHOSUSCITADO: BANCO GMAC S/ARELATOR: O SR. JUIZ DE DIREITO ELIEZER MATTOS SCHERRER JUNIOR

R E L A T Ó R I O

Trata-se de Incidente de Uniformização de Jurisprudência suscitado por MANOELLUIZ DOS SANTOS em face do BANCO GMAC S/A contra o acórdão proferido pela3ª Turma do Colegiado Recursal dos Juizados Especiais que, por maioria dos votos,deu provimento parcial ao recurso inominado interposto pelo recorrente, autor naAção Revisional de Contrato c/c Repetição de Indébito, para apenas restituir emdobro os valores indevidos a título de Tarifa de Cadastro.

A irresignação do suscitante consiste na exclusão da condenação do suscitado aopagamento dos juros capitalizados, sob o argumento de que o acórdãosupramencionado merece reforma devido à divergência de posicionamentos entre asTurmas Recursais sobre o assunto.

O suscitado, por sua vez, manifestou-se preliminarmente quanto à inadmissibilidadedo recurso ante à inexistência de requisitos formais, e no mérito sustentou alegalidade de sua conduta, levando-se em consideração a previsão contratual emconsonância com a jurisprudência pacificada do STJ.

O Ministério Público apresentou parecer manifestando-se pelo acolhimento dapreliminar, e no mérito pela improcedência do pedido, considerando a inexistência dedivergência sobre o tema em questão, tendo por base a repetição de indébito emrelação ao TAC.

Oportunizado ao suscitante a emenda da inicial, a mesma foi realizada, razão pelaqual foi admitido o presente recurso.

Vieram-me os autos conclusos.

É o que cumpre relatar.

DECIDO.

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Compulsando os autos e analisando os elementos neles constantes, depreende-seque o litígio versa sobre a legalidade da incidência da capitalização mensal de juros.

Em que pese ter havido, pelo Ministério Público, sustentação referente à forma dedevolução da Tarifa de Cadastro, verifica-se que o presente recurso tem comoescopo a discussão sobre a aplicabilidade dos juros contratuais, motivo pelo qualentendo prejudicada a apreciação do parecer apresentado.

Quanto ao tema, é oportuno esclarecer que a capitalização dos juros, dos juros jácobrados, trata-se, na prática, de aplicação composta de juros, a qual foi introduzidapelo sistema jurídico brasileiro desde o Código Comercial de 1850, que permitia, emseu artigo 253, a acumulação de juros vencidos aos saldos liquidados em contacorrente ano a ano.

Outrossim, o Código Civil de 1916, também previa no artigo 1.262, em sua redaçãooriginal, a capitalização dos juros, sem limite de periodicidade, desde queexpressamente convencionada. Entretanto, o referido dispositivo foi parcialmenterevogado pelo Decreto nº 22.626/33 (Lei de Usura), haja vista a admissibilidade deacumulação dos juros vencidos aos saldos líquidos, aplicados em periodicidadeanual.

Nesse diapasão, convém trazer a lume que embora a Súmula nº 121 do STF vede acapitalização de juros em período inferior ao anual, ainda que expressamenteacordada, em operações regidas por leis especiais, onde há expressa autorizaçãolegal, como no caso em tela, o mesmo órgão julgador sempre posicionou-se quanto àaplicabilidade da capitalização de juros de acordo com o período avençado (R.E. nº90.341 PA e R.E. nº 96.875 RJ).

Ademais, o Decreto- Lei nº 167/1967 (Cédula de Crédito Rural); Dec. Lei nº 413/1969(Cédulas de Crédito Industrial); Lei nº 6.313/1975 (Crédito à Exportação); Lei nº6.840/1980 (Cédula de Crédito Comercial e Produto Rural), e a Medida Provisória nº1.925/1999 (Cédula de Crédito Bancário) preveem a possibilidade de capitalizaçãode juros nas operações que disciplinam.

Dessa forma, pelo panorama histórico legislativo, não obstante a variação normativaquanto ao período de incorporação dos juros ao principal, conclui-se que a regra nonosso ordenamento jurídico sempre foi a possibilidade de pacto de capitalização dejuros.

Para que haja maior elucidação dos fatos, é importante salientar que outro não é oentendimento da jurisprudência pátria, inclusive do Egrégio Tribunal de Justiça deste

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Estado e do Superior Tribunal de Justiça, uma vez que ambos têm se posicionadoquanto à legitimidade da aplicação dos juros compostos, previstos em contrato,conforme demonstra os recentes julgados a seguir colacionados.

Vejamos.

11869977- AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. CONTRATOBANCÁRIO. CAPITALIZAÇÃO MENSAL DOS JUROS. AUSÊNCIA DEPACTUAÇÃO. INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULA CONTRATUAL EREEXAME DE PROVAS. SÚMULAS Nº 5 E 7 DO STJ.PREQUISTIONAMENTO. AUSÊNCIA. INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS NºS 282E 356 DO STF. 1. A jurisprudência desta eg. Corte pacificou-se no sentido deque a cobrança de capitalização mensal de juros é admitida nos contratosbancários celebrados a partir da edição da Medida Provisória n°1.963-17/2000, reeditada sob n°2.170-36.2001, qual seja, 31/3/2000, desdeque expressamente pactuada. Na espécie, a verificação quanto à previsãocontratual da capitalização dos juros demanda a interpretação de cláusulacontratual e o reexame do conjunto fático-probatório dos autos, o que se sabeé vedado em sede de Recurso Especial. Vedação das Súmulas nº 5 e 7/STJ.2. Ademais, é inviável o Recurso Especial quando ausente oprequestionamento da questão federal suscitada nas razões recursais.Incidência das Súmulas 282 e 356 do STF. 3. Agravo Interno a que se negaprovimento. (STJ; AgRg-AgRg-REsp 981.036; Proc. 2007/0211157-8; MG;Quarta Turma; Rel. Min. Raul Araújo; Julg. 21/03/2013; DJE 25/04/2013).

APELAÇÃO. PREQUESTIONAMENTO EM CONTRARRAZÕES.IMPOSSIBILIDADE. REVISÃO DE CONTRATO. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA.REVELIA. INOCORRÊNCIA. CAPITALIZAÇÃO. LEGALIDADE. REVISÃO DECLÁUSULAS DE OFÍCIO. VEDAÇÃO. CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO.PEDIDO PREJUDICADO. COBRANÇA DE TARIFA DE CADASTRO E DEAVALIAÇÃO DE VEÍCULO. TRANFERÊNCIA DOS CUSTOS DA ATIVIDADEAO CONSUMIDOR. IMPOSSIBILIDADE. REPETIÇÃO DE INDÉBITO EMDOBRO. INDEVIDA POR INEXISTIR MÁ-FÉ. SENTENÇA PARCIALMENTEREFORMADA. 1). Não pode a recorrida, em contrarrazões, prequestionarmatéria, eis que elas têm como única finalidade a defesa da manutenção dasentença. 2). Apresentada contestação tempestivamente, não há que se falarna incidência da revelia. 3). A capitalização mensal de juros é legítima, sendopassível de incidir nas operações de crédito derivadas de instituição financeiraintegrante do Sistema Financeiro Nacional a partir do dia 31 de março de2.000, quando entrou em vigor a medida provisória atualmente identificadacom o número 2.170-36, de 23 de agosto de 2.001. 4). A decisão do Conselho

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Especial em arguição de inconstitucionalidade tem caráter incidental, valendopara o feito em que foi arguida, sendo faculdade, opção do julgador, segui-laem outros casos, e não obrigação. 5). Tratando-se de cédula de crédito

bancário, deve ser observada ainda a Lei nº 10.931/2004, que autoriza em seuartigo 28, §1º, inciso I, a cobrança de juros na forma capitalizada. 6). A teor doenunciado da Súmula nº 381 do STJ, "nos contratos bancários, é vedado aojulgador conhecer, de ofício, da abusividade das cláusulas 7). Julgando-seimprocedentes os pedidos, em razão da legalidade do contrato, restaprejudicado o pedido referente a consignação em pagamento dos valores. 8).A cobrança de tarifa de cadastro e de avaliação de veículo é abusiva, aindaque haja previsão contratual, por transferir ao consumidor despesa inerente àatividade comercial bancária, causando- lhe onerosidade excessiva aoconsumidor, o que é vedado pelo artigo 51, inciso IV do CDC. 9). Ocorrerepetição de indébito em sua forma dobrada apenas quando o pagamento semostrar indevido e comprovada a má-fé da instituição financeira. 10). Havendoa sucumbência quase na totalidade dos pedidos, deve a parte sucumbentesuportar sozinha as custas processuais e os honorários advocatícios. 11).Recurso conhecido e parcialmente provido. Preliminar rejeitada. (TJDF; Rec2012.05.1.009769-4; Ac. 680.171; Quinta Turma Cível; Rel. Des. LucianoVasconcelos; DJDFTE 03/06/2013; Pág. 175) (destaquei)

49635600 - CONSUMIDOR. APELAÇÃO. FINANCIAMENTO E ALIENAÇÃOFIDUCIÁRIA. INCIDÊNCIA DO CDC. POSSIBILIDADE DE REVISÃOCONTRATUAL. JUROS CAPITALIZADOS. PREVISÃO CONTRATUAL.COMISSÃO DE PERMANÊNCIA CUMULADA COM OUTROS ENCARGOS.ILEGALIDADE. TARIFA DE EMISSÃO DE CARNÊ / BOLETO. LEGÍTIMAS.PREVIAMENTE PACTUADAS. CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTOINTEGRAL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA.RECURSO CONHECIDO E PROVIDO PARCIALMENTE. 1) Dúvidas não hásobre a incidência do Código de Defesa do Consumidor em se tratando decontratos de financiamento com garanti a em alienação fiduciária, operaçãoque é de natureza financeira. Quanto à revisão contratual pelo judiciárioquando verificada a abusividade das cláusulas insertas no contrato já restoupacificada a sua possibilidade pela jurisprudência, sendo as aludidascláusulas passíveis de anulação, nos termos do artigo 51, inciso IV, do Cdigode Defesa do Consumidor. 2) com a edição da MP 1.963-17/2000, de 31 demarço de 2000 (atualmente reeditada sob o nº 2.170-36/2001), passou-se aadmitir a capitalização mensal aos contratos firmados posteriormente à sua

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entrada em vigor, desde que houvesse previsão contratual. Dessa forma,verificando-se o preenchimento dessas condições, há de ser permitida suaincidência. No caso concreto, como inexiste prova de cláusula contratualnesse sentido, deve ser mantida a sentença que determinou a exclusão doanatocismo. 3) quanto à tarifa de emissão de carnê / boleto, em que pesehaver precedentes desta egrégia corte no sentido de que representaimposição de obrigação abusiva

que transfere ao consumidor os encargos da atividade exercida, em recentemudança de posicionamento o Superior Tribunal de Justiça sedimentou que"as tarifas de abertura de crédito (tac) e emissão de carnê (tec), por nãoestarem encartadas nas vedações previstas na legislação regente (resoluções2.303/1996 e 3.518/2007 do CMN), e ostentarem natureza de remuneraçãopelo serviço prestado pela instituição financeira ao consumidor, quandoefetivamente contratadas, consubstanciam cobranças legítimas, sendo certoque somente com a demonstração cabal de vantagem exagerada por parte doagente financeiro é que podem ser consideradas ilegai s e abusivas, o quenão ocorreu no caso presente" (referência: RESP 1246622 / RS). Referênciano tjes: Agravo de instrumento 048119004553. 4) não há direito à consignaçãoem pagamento quando o valor devido como contraprestação do financiamentodado ao correntista não corresponde ao valor que, por ele entender correto,pretende consignar. 5) registro que não obstante reconhecer que não hádireito à consignação parcial do depósito, o pagamento das quantias faltantespertinentes deverá obedecer aos encargos contratuais originários, e não aosmoratórios, uma vez que a decisão judicial (fls. 39-41) assegurou os depósitosparciais e elidiu durante o prazo de sua vigência a contratação em mora, quese dará a partir do julgamento desse recurso de apelação. 6) recursoconhecido e provido parcialmente a fim de declarar: I) A legalidade da tarifa deabertura de crédito e tarifa de emissão de boleto; II) inexistência de direito àconsignação em pagamento em montante inferior ao efetivamente contratado;III) ilegalidade da cobrança cumulada de comissão de permanência com multacontratual e juros moratórios, caso seja exigida mesmo a partir doinadimplemento do devedor, e, finalmente IV) reputar legítimos os encargospertinentes aos valores estabelecidos no contrato dentro do prazo doadimplemento. (TJES; APL 0014390-46.2011.8.08.0048; Segunda CâmaraCível; Rel. Des. Álvaro Manoel Rosindo Bourguignon; Julg. 21/05/2013; DJES29/05/2013) (destaquei)

Convém ressaltar, que com a edição da Medida Provisória nº 1.963-17/2000,reeditada sob nº 2.170-36 2001, admitiu-se a capitalização mensal dos juros em

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relação às operações financeiras, realizadas posteriormente a sua entrada em vigorpelas instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional, desde que hajaprevisão contratual nesse sentido.

Quanto à natureza jurídica do suscitado, não há dúvida, uma vez que na qualidadede instituição financeira, o mesmo é parte integrante do Sistema Financeiro Nacional.

No caso em comento, analisando o acervo fático probatório produzido nos autos,precisamente às fls. 71, percebe-se de forma clara a existência de previsãocontratual expressa em relação a capitalização mensal de juros, em obediência aoprincípio consumerista da informação, razão pela qual, em detrimento do que acimaexpus, não há que se falar em inaplicabilidade dos juros capitalizados, tampouco emilegalidade da conduta do suscitado, considerando o reconhecimento da autonomiada vontade exteriorizada por meio da celebração do contrato entre a partes e, porconseguinte, da aplicabilidade do princípio pacta sunt servanda.

Além do mais, os votos carreados aos autos pelo suscitante não demonstraramdivergência de posicionamento, pelo contrário, evidenciaram diferentes fatos,considerando que em alguns processos inexistia previsão contratual acerca da capitalização de juros e em outros não, por isso que em algumas decisões erareconhecida a abusividade da incidência dos juros, enquanto em outros era mantidaa cobrança.

E, por fim, os juros não mostraram-se excessivamente onerosos para o consumidor,uma vez que não restou comprovado nos autos que os juros impugnadosdesestruturaram o equilíbrio contratual entre as partes, tampouco que foram capazesde ensejar para a instituição financeira vantagem excessiva em decorrência do lucroexagerado em detrimento do empobrecimento do outro contratante, haja vista arazoabilidade na sua aplicação, visto que o crédito foi concedido em prazoconsiderável, restando, diante disso, afastada a hipótese de abusividade em favordo contratante vulnerável.

Desta forma, o acórdão proferido pela 3° Turma Recursal dos Juizados Especiaisnão merece emendas ou reparos. Por isso, NEGO PROVIMENTO AO RECURSOPARA MANTER INCÓLUME O ACÓRDÃO RECORRIDO.

É como voto.

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V O T O S

A SRA. JUÍZA DE DIREITO MARIA JOVITA FERREIRA REISEN:-Acompanho o voto do Eminente Relator.

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VOTARAM NO MESMO SENTIDO OS SRS. JUÍZES DE DIREITO:EDMILSON ROSINDO FILHO,TELMELITA GUIMARÃES ALVES,JOSÉ LUIZ DA COSTA ALTAFIM,MANOEL CRUZ DOVAL,FABÍOLA CASAGRANDE SIMÕES,VICTOR QUEIROZ SCHNEIDER,IDELSON SANTOS RODRIGUES,ROGÉRIO RODRIGUES DE ALMEIDA,RONALDO DOMINGUES DE ALMEIDA,GUSTAVO ZAGO RABELO eROBSON LUIZ ALBANEZ.

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D E C I S Ã O

Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: à unanimidade de votos, conhecer masnegar provimento ao recurso para manter incólume o acórdão recorrido, nos termosdo voto do Eminente Relator.

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nmc/

INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA.CONSUMIDOR.CONTRATO DE FINANCIAMENTO DE VEÍCULO. CAPITALIZAÇÃO DE JUROSNÃO CONFIGURADO. 1- Trata-se de Incidente de Uniformização de Jurisprudênciasuscitado por MANOEL LUIZ DOS SANTOS em face do BANCO GMAC S/A contra oacórdão proferido pela 3ª Turma do Colegiado Recursal dos Juizados Especiais. 2- OSuscitante sustentou a ilegalidade na incidência da capitalização mensal de juros erequereu a condenação do suscitado ao pagamento do valor que entende serabusivo. 3- Não obstante a alegação do suscitante, quanto ao tema, pelo panoramahistórico legislativo, depreende-se que a regra no ordenamento jurídico brasileirosempre foi a possibilidade de pacto da capitalização de juros. 4- Outrossim, ajurisprudência pátria e o Colendo Superior Tribunal de Justiça têm se posicionadoquanto à sua admissibilidade desde que haja previsão contratual. 5-No caso emcomento, além de haver expressa previsão contratual nesse sentido, os juroscontratuais não mostraram-se excessivamente onerosos para o consumidor ousequer ensejaram para a instituição financeira vantagem excessiva em decorrênciado lucro exagerado, haja vista a razoabilidade na sua aplicação, motivo pelo qual nãohá que se falar em mitigação do princípio pacta sunt servanda. NEGADOPROVIMENTO AO RECURSO PARA MANTER INCÓLUME O ACÓRDÃORECORRIDO. (Incidente de Uniformização de Interpretação de Jurisprudência n°08/12, Plenário do Colegiado Recursal dos Juizados Especiais, Relator: EliezerMattos Scherrer Junior, Julgado em: 14/03/2014)

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INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO DE INTERPRETAÇÃO DE LEI Nº 008/12