aÇÃo declaratÓria c-c repetiÇÃo de indÉbito - ana karnie pinheiro alves

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA CÍVEL COMPETENTE POR DISTRIBUIÇÃO DA COMARCA DE CATOLÉ DO ROCHA - PARAÍBA ANA KARINE PINHEIRO ALVES, brasileira, solteira, enfermeira, portadora do RG nº 2542362 SSP/PB, inscrita no CPF sob o nº 046.770.914-98, residente e domiciliada à Rua Otília Maia, 514, Bairro Luzia Maia, CEP 58.884-000, Catolé do Rocha-PB, neste ato vem, respeitosamente à presença de V. Exª, por seu advogado que esta subscreve, procuração anexa (doc. 01), propor a presente AÇÃO DECLARATÓRIA CUMULADA COM REPETIÇÃO DE INDEBITO E TUTELA JURISDICIONAL ANTECIPADA Em face de BANCO BRADESCO FINANCIAMENTOS S.A. (doc. 04), na pessoa de seu representante legal, com sede Cidade de Deus, s/n, 4º Andar (Prédio Prata), Vila Yara, CEP 06.029-900 - Osasco - SP, inscrito no CNPJ sob o nº 07.207.996/0001-50, pelas razões de fato e de direito a seguir aduzidas: I - DOS FATOS: A promovente, visando adquirir um veículo para seu uso pessoal, firmou com o promovido um contrato de Arrendamento Mercantil/Financiamento (docs. 09/11), em 29 de outubro de 2008, de nº 4201463888, cujo objeto é um veículo FORD PASSEIO FIESTA 1.6 SEDAN FLEX, Ano/Modelo 2006, Cor Prata, Placa MNE 4832 (doc. 12), sendo o valor arrendado de R$ 22.000,00, parcelado em 48 meses. Ao assinar os documentos de contratação, foi-lhe informado que as taxas de juros seriam as melhores de mercado, tendo em

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Page 1: AÇÃO DECLARATÓRIA C-C REPETIÇÃO DE INDÉBITO - ANA KARNIE PINHEIRO ALVES

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA CÍVEL COMPETENTE POR DISTRIBUIÇÃO DA COMARCA DE CATOLÉ DO ROCHA - PARAÍBA

ANA KARINE PINHEIRO ALVES, brasileira, solteira, enfermeira, portadora do RG nº 2542362 SSP/PB, inscrita no CPF sob o nº 046.770.914-98, residente e domiciliada à Rua Otília Maia, 514, Bairro Luzia Maia, CEP 58.884-000, Catolé do Rocha-PB, neste ato vem, respeitosamente à presença de V. Exª, por seu advogado que esta subscreve, procuração anexa (doc. 01), propor a presente

AÇÃO DECLARATÓRIA CUMULADA COM REPETIÇÃO DE INDEBITO E TUTELA JURISDICIONAL ANTECIPADA

Em face de BANCO BRADESCO FINANCIAMENTOS S.A. (doc. 04), na pessoa de seu representante legal, com sede Cidade de Deus, s/n, 4º Andar (Prédio Prata), Vila Yara, CEP 06.029-900 - Osasco - SP, inscrito no CNPJ sob o nº 07.207.996/0001-50, pelas razões de fato e de direito a seguir aduzidas:

I - DOS FATOS:

A promovente, visando adquirir um veículo para seu uso pessoal, firmou com o promovido um contrato de Arrendamento Mercantil/Financiamento (docs. 09/11), em 29 de outubro de 2008, de nº 4201463888, cujo objeto é um veículo FORD PASSEIO FIESTA 1.6 SEDAN FLEX, Ano/Modelo 2006, Cor Prata, Placa MNE 4832 (doc. 12), sendo o valor arrendado de R$ 22.000,00, parcelado em 48 meses.

Ao assinar os documentos de contratação, foi-lhe informado que as taxas de juros seriam as melhores de mercado, tendo em vista tratar-se de financiamento de veiculo, além do mais lhe foi imposta a cobrança de R$ 719,68, referentes a “Serviços Correspondente Não Bancário” e “Pagamento Serviços a Terceiros”, conforme previsão constante no item IX do referido contrato.

Decorrido algum tempo, após quitar 24 parcelas no valor de R$ 768,84 cada, a promovente decidiu quitar totalmente o restante das parcelas, ou seja, as 24 parcelas vincendas. Em 30/11/2010 pagou a quantia de R$ 14.894,54 (doc. 05), quitando antecipadamente o arrendamento, sem estar especificado qual foi o desconto concedido.

Após uma análise dos valores pagos, a promovente percebeu então, que a somatória das parcelas pagas juntamente com o valor do pagamento antecipado representava um

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valor muito alto. O valor arrendado em 48 meses representava um total de R$ 36.904,32 (item VII – 9 do contrato), enquanto que mesmo pagando 24 parcelas antecipadamente, restou por quitar seu financiamento em R$ 33.346,70, obtendo apenas uma redução de apenas R$ 3.557,62, ou seja, não houve benefício proporcional para a promovente.

Diante desta superficial constatação, submeteu o contrato a um perito contábil, que após analisar o mesmo, confirmou o que já era previsto, houve o pagamento de juros sobre juros nas parcelas, e por conseqüência o valor pago para quitar antecipadamente o financiamento foi a maior e indevidamente cobrado.

Ainda foi constatada, no Laudo pericial, a ilegalidade da cobrança de juros compostos e que não havia previsão contratual que permitisse a prática de tal cobrança. Por fim, foi verificado o pagamento do valor de R$ 683,20, referentes a “Serviços Correspondente Não Bancário” e “Pagamento Serviços a Terceiros”, o que é vedado pelas normas do Banco Central do Brasil (Resolução 3.919 e Carta-Circular 3.505).

Por força disso, a promovente vem recorrer às colunas da Justiça, para obter um a declaração de ilegalidade e abusividade de cláusulas contratuais, devendo a promovente ser restituída pelos valores pagos indevidamente.

II - DO DIREITO:

II – 1. DO ABUSO PRATICADO PELO RÉU:

Depois das breves considerações acima, cumpre-nos frisar que a possibilidade de revisão e declaração de nulidade das cláusulas contratuais está inserida no contexto do Código de Defesa do Consumidor que, conforme já sedimentado, é aplicável à espécie:

Art. 6º - São direitos básicos do consumidor:(...)V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;(...)VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;

Uma vez sepultada a celeuma sobre a aplicação ou não do Código de Defesa do Consumidor aos contratos realizados entre as instituições financeiras e seus clientes-consumidores e a possibilidade de sua revisão nos termos do artigo 6º, inciso V, passamos a elencar os dispositivos aplicáveis ao presente caso, no escopo de proteger os direitos da autora, notadamente pisoteados pela requerida ao impor a aplicação do sistema francês de amortização.

Rezam os artigos 47 e 51 do Código do Consumidor in verbis:

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Art. 47 - As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor.Art. 51 (in omissis)§ 1º - Presume-se exagerada, entre outros casos, a vantagem que:(...)III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso.

No caso em questão, a cláusula contratual, se existisse no contrato, que estabelece a aplicação da Tabela Price, que deriva da aplicação de juros compostos, é exagerada, pois gera o locupletamento sem causa da instituição financeira.

A previsão de nulidade para esta espécie de cláusula contratual tem uma razão de ser: é mais do que comum que as instituições financeiras, como o requerido, aproveitarem-se da ansiedade e aflição a quem está com dificuldades financeiras ou ansiando por comprar um bem e impingirem ao contratante de financiamento uma série de cláusulas abusivas e sem destaque algum no texto, freqüentemente estas cláusulas sequer são lidas no momento da assinatura do contrato.

É por esta razão que o Código de Defesa do Consumidor ao tratar dos contratos de adesão elucida que as cláusulas que implicarem em limitação de direito do consumidor deverão ser redigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão, in verbis:

Art. 54 - Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.(...)§ 3º Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor.§ 4º - As cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor deverão ser redigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão.

No presente caso, a autora não foi dada nenhuma oportunidade de discutir o sistema de amortização aplicado pelo banco. Apenas após a consulta a um perito contábil, que com base no valor do financiamento, número de parcelas e valor da parcela imposta pelo banco requerido, a autora soube da aplicação da Tabela Price e da onerosidade excessiva do contrato.

Mister se faz, portanto, a declaração de nulidade das clausulas contratuais que permitiram abusivamente a cobrança de parcelas com os juros aplicados à relação contratual trazida sub judice de forma capitalizada, bem como declarar indevidos os valores pagos a título de “serviços” não justificados e não previstos legalmente.

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II – 2. DO ANATOCISMO/CAPITALIZAÇÃO:

Diz a Súmula 121 do Supremo Tribunal Federal: “É VEDADA A CAPITALIZAÇÃO DE JUROS, AINDA QUE EXPRESSAMENTE CONVENCIONADA.”

Não é necessário ser um gênio em cálculos como o foi Richard Price, criador da chamada “Tabela Price” para se entender que a capitalização dos juros, ou a cobrança de juros sobre juros, é uma aberração econômica e se traduz em abominável favorecimento à parte que empresta capital.

Juros é a denominação jurídica sobre o preço de alguém tomar dinheiro (este sim um bem fungível) emprestado.

Cobrar juros sobre juros é obter injustificado e abusivo lucro por algo que não é um bem fungível, é simplesmente uma expectativa de recebimento desse bem (o valor em espécie a ser pago como juros) no futuro!

Mas manso e pacifico é o entendimento da ilegalidade do anatocismo.

Não obstante isso, o promovido faz uso descarado dessa pratica no contrato de adesão firmado com a promovente.

Invocam-se para melhor compreensão os sábios ensinamentos de LACERDA DE ALMEIDA:

“O anatocismo é a acumulação dos juros vencidos ao capital para por sua vez vencerem juros, ou melhor, é a contagem de juros compostos. Proibidos no cível, são-no igualmente proibidos no comercial, onde o art. 253 do Código expressamente os condena, admitindo apenas a acumulação de juros no encerramento anual das contas correntes.

O anatocismo é absolutamente proibido, estipulado ou não .

A taxa dos juros e o modo de contá-los depende de convenção das partes ou de determinação legal. Isto, porém não obsta a que a obrigação de pagar juros esteja sujeita a certas restrições destinadas a coibir freqüentes abusos. Assim é proibido o anatocismo, isto é, o acumular os juros vencidos ao capital ou contá-los sobre os juros vencidos.

Não é permitido ao credor deduzir antecipadamente os juros entregando ao devedor o capital desfalcado da respectiva importância, salvo se o juro é inferior à taxa da lei, e unicamente de um ano; e quando faça o contrário, pode o devedor descontá-los no capital.

Chegando a soma dos juros vencidos a igualar a quantia do capital, cessa o curso deles, até serem recebidos no todo ou em parte, se são moratórios; não assim, se são compensatórios, pois estes em regra extinguem-se pelo efetivo embolso da dívida.

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A rescisão por lesão enorme e o freio que coíbe os possíveis abusos, é o corretivo que restabelece a igualdade nos contratos comutativos, e a ancora, o ponderador da justiça nesta ordem de relações” (“Obrigações”, Rio, Revista dos Tribunais, 2ª edição, 1916, p. 176, 179, 180, 394 e 395).

Assim, a matéria deverá ser decidida à luz do entendimento jurisprudencial pacificado, e como referencial trazemos os julgados do Tribunal de Justiça de São Paulo, arestos recentes e importantes sobre a conturbada questão da ilegalidade ou não da aplicação da Tabela Price.

Como ponto de partida para a tese ora defendida pelo autor, partimos do julgado exarado na Apelação nº 7.258.861-1, Publicado Acórdão em 01/12/2008, da 14ª Camara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, relatada pelo Des. MELO COLOMBI.

'JUROS - CAPITALIZAÇÃO - SISTEMA FRANCÊS DE AMORTIZAÇÃO (TABELA PRICE) - Ilegalidade, por encerrar cálculo exponencial (juros compostos) na obtenção do valor da prestação — Súmula 121 do E. STF - Substituição do Sistema Francês de Amortização pelo método de Gauss, com recalculo desde a origem do pacto -Revisional parcialmente procedente - Recurso provido em parte para esse fim " (Apelação n° 7.258.861-1/ São Paulo, Des. MELO COLOMBI)

O V. Acórdão supra, sobre o tema, assim preleciona:

"No que tange à adoção da Tabela Price, este Relator, após longa reflexão sobre o tema, achou por bem se curvar ao entendimento predominante na Turma Julgadora, no sentido da ilegalidade da sua aplicação na obtenção dos valores das parcelas, porquanto vislumbrada a incidência de juros sobre juros.”

Com efeito, consoante restou consignado no julgamento da apelação 1.316.383-8:

'...em brilhante voto na Apelação n° 921.350-3, o eminente Des. WALDIR DE SOUZA JOSÉ bem esclareceu a questão, demonstrando que a capitalização ocorre no momento em que é utilizada a fórmula R=Px[i(l +i)"]+[(l +i)" -1], porque "é nesse momento que ocorre a utilização de um critério de juros compostos para obtenção do valor da prestação.É nesse instante que age o FATOR EXPONENCIAL, fazendo com que na equação dos números que irão consubstanciar a fórmula, ocorra a incidência de juros sobre juros. O cálculo que a equação da tabela Price encerra é exponencial. Os juros crescem em progressão geométrica. Em outras palavras: na tabela Price a capitalização aperfeiçoa-se de uma única vez (mas que é desmembrada em tantas vezes forem as prestações), porque é no momento em que se aplica a fórmula (prenha do critério de juros compostos) que se descobre o valor da prestação mensal. Depois que foi determinado o valor da prestação mensal, no momento mesmo em que os números são lançados no papel, não acarretará uma nova capitalização no decorrer do financiamento", salvo no caso de inadimplemento, porque a capitalização já ocorreu no instante em que foi aplicada a fórmula para determinação do valor da prestação’.

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Oportuno ainda registrar o exemplo da Apelação 964.203-3, do mesmo Relator Waldir de Souza José, fez análise comparativa entre a utilização da Tabela Price e o método de GAUSS (juros simples), onde, tomando-se como exemplo um empréstimo de R$ 60.000,00, à mesma taxa de 10% ao ano, pelo mesmo prazo de 15 anos (180 meses), implicaria, pelo método Gauss, uma prestação mensal, constante e invariável de R$ 477,33, enquanto utilizando-se a Tabela Price, o valor da prestação mensal seria de R$ 629,03.

Ainda, em decorrência da utilização da Tabela Price, para que o saldo seja zerado na última prestação, cada prestação deve ser sempre maior que o valor dos juros devidos e incidente sobre o saldo devedor, porque, caso contrário, a dívida se torna perpétua ou vitalícia. E, caso os juros não sejam pagos integralmente na parcela mensal (amortização negativa) o seu excedente se incorpora ao saldo devedor, servindo esse novo valor para o cálculo da prestação mensal seguinte, o que também caracteriza a contagem de juros sobre juros (anatocismo).

E, nem se alegue que o anatocismo somente ocorre quando da incidência de juros sobre juros vencidos, porque ao dispor o Decreto n° 22.623/33 que "é proibido contar juros dos juros", acabou por vedar qualquer maneira de contagem de juros que não fosse da forma simples, salvo nas exceções que ele mesmo contempla.

Outro bom exemplo do posicionamento que vigora no Egrégio TJSP é o voto da Ilustre Des. LIGIA ARAÚJO BISOGNI – 14ª Câmara Direito - Privado, que, por sua pertinência, pedimos venia para transcrever integralmente:

"No que diz respeito à utilização da TABELA PRICE, como vem entendendo esta C. Câmara, não resta dúvida que existe sim a ocorrência de anatocismo, como, aliás, decidiu o Colendo Superior Tribunal de Justiça em decisão recentíssima (cf REsp. 668.795-RS), principalmente porque, com a aplicação desta tabela, os juros crescem em progressão geométrica, onde, quanto maior o número de parcelas a serem pagas, maior será a quantidade de vezes que os juros se multiplicam por si mesmos.

Mesmo não se tornando impossível do cumprimento, o contrato se torna abusivo em relação ao mutuário, onde vê sua dívida somente crescer, tornando o valor do imóvel exorbitante, maculando, inclusive, os próprios fins sociais do Sistema Financeiro da Habitação. NA TABELA PRICE, PERCEBE-SE QUE SOMENTE A AMORTIZAÇÃO É QUE SE DEDUZ DO SALDO DEVEDOR. OS JUROS JAMAIS SÃO ABATIDOS, O QUE ACARRETA AMORTIZAÇÃO MENOR E PAGAMENTO DE JUROS MAIORES EM CADA PRESTAÇÃO, CALCULADOS E COBRADOS SOBRE SALDO DEVEDOR MAIOR EM DECORRÊNCIA DA FUNÇÃO EXPONENCIAL CONTIDA NA TABELA, O QUE CONFIGURA JUROS COMPOSTOS OU CAPITALIZADOS. Ademais, vedada a capitalização dos juros nos contratos de financiamento pelo SFH, a utilização da Tabela Price é ilegal, "...não só porque utiliza o sistema de juros compostos, mas, também, porque não dá ao mutuário o prévio conhecimento do que deve pagar, violando desta forma o princípio da transparência insculpido no CDC, e ao qual se submetem as instituições financeiras, cujas atividades incluem-se no conceito de serviços, por disposição expressa contida no seu § 3º, do artigo 20 (Lei 8.078/90).”

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E verdade que tanto na doutrina como na jurisprudência há entendimentos no sentido da legalidade da aplicação da Tabela Price, porque não vislumbrada a incidência de juros sobre juros. Todavia, em brilhante voto na Apelação n° 921.350-3, o eminente Des. WALDIR DE SOUZA JOSÉ bem esclareceu a questão, demonstrando que a capitalização ocorre no momento em que é utilizada a fórmula R=Px[i(l+i)"J+f(l+i)" -1], porque é nesse momento que ocorre a utilização de um critério de juros compostos para obtenção do valor da prestação. É nesse instante que age o FATOR EXPONENCIAL, fazendo com que na equação dos números que irão consubstanciar a fórmula, ocorra a incidência de juros sobre juros. O cálculo que a equação da tabela Price encerra è exponencial.

Os juros crescem em progressão geométrica. Em outras palavras: na tabela Price a capitalização aperfeiçoa-se de uma única vez (mas que é desmembrada em tantas vezes forem as prestações), porque é no momento em que se aplica a fórmula (prenha do critério de juros compostos) que se descobre o valor da prestação mensal.

O sistema francês de amortização denominado Tabela Price engloba juros compostos por natureza e, portanto deve ser considerada ilegal e ter afastada a sua aplicação.

II – 3. DA POSIÇÃO DO STJ SOBRE A CAPITALIZAÇÃO MENSAL DOS JUROS E DA MP-2.170-36/2001.

Ademais, a atual jurisprudência do STJ vem admitindo a capitalização dos juros em periodicidade inferior à anual, com base no art. 5° da Medida Provisória n. 2.170-36/01, mas somente se assim tiver sido expressamente pactuado (o que não é o caso do contrato objeto da lide), como exemplifica o seguinte precedente:

PROCESSO CIVIL - RECURSO ESPECIAL - AGRAVO REGIMENTAL – CONTRATO BANCÁRIO - FINANCIAMENTO COM ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA – JUROS REMUNERATÓRIOS - COMPENSAÇÃO DE VALORES - DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO - SÚMULA 284/STF - CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS - PACTUAÇÃO - COMPROVAÇÃO - SÚMULA 7/STJ - DESPROVIMENTO.1 - Com relação à limitação dos juros remuneratórios, à comissão de permanência e à compensação, a decisão ora atacada ressaltou a deficiência na fundamentação, porquanto o recorrente não indicou qualquer dispositivo legal tido por violado. Aplicável, portanto, a Súmula 284/STJ. Precedentes.2 - Este Tribunal já proclamou o entendimento no sentido de que, nos contratos firmados posteriormente à edição da MP 1.963-17/2000, de 31 de março de 2000 (atualmente reeditada sob o nº 2.170-36/2001), admite-se a capitalização mensal dos juros, desde que expressamente pactuada. In casu, não restou comprovada a pactuação da capitalização mensal nos autos, nas instâncias ordinárias, de forma que correto o afastamento de sua cobrança. Ademais, no que pertine à prova de previsão contratual, esta Corte entende que a discussão acerca da existência de tal encargo exige o reexame do conjunto fático-probatório, absolutamente vedado nesta seara, a teor da Súmula nº 07/STJ. 3 - Agravo regimental desprovido” (AgRg no REsp 741906, Ministro JORGE SCARTEZZINI, T4 - QUARTA TURMA, 03/11/2005, DJ 21.11.2005 p. 257).

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Na espécie, entretanto, como já se disse, sequer se verifica no pacto a existência de cláusula contratual informando a autora/consumidora a incidência de capitalização de juros no ajuste, tampouco a sua periodicidade, se diária, mensal, semestral ou anual, em manifesta violação aos princípios da boa-fé objetiva, da transparência nas relações negociais e ao direito do consumidor de receber informações adequadas e precisas a respeito das obrigações que lhe são impostas. Conseqüentemente, ausente pacto expresso da capitalização dos juros, isso corrobora a proibição da prática.

Ainda sobre a matéria, assim decidiu o Egrégio Tribunal de Justiça da Paraíba, in verbis:

AÇÃO REVISIONAL DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS - CONTRATO DE FINANCIAMENTO DE VEÍCULOS - VERIFICAÇÃO DE COBRANÇA DE JUROS SOBRE JUROS E DA ILEGALIDADE DA TAXA DE ABERTURA DE CRÉDITO - RESTITUIÇÃO EM DOBRO - IRRESIGNAÇÃO -CAPITALIZAÇÃO DE JUROS - CONTRATO FIRMADO APÓS A EDIÇÃO DA MEDIDA PROVISÓRIA N° 1.963-17/2000 - AUSÊNCIA DE PREVISÃO CONTRATUAL PARA COBRANÇA - IMPOSSIBILIDADE DA EXIGÊNCIA - ILEGALIDADE DA COBRANÇA DA TAXA DE ABERTURA DE CRÉDITO - RESTITUIÇÃO DE FORMA SIMPLES - AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE MÁ-FÉ - PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO APELATÓRIO. - A legalidade da capitalização de juros pressupõe a celebração de acordo com instituição financeira em data posterior a 31/03/2000, com a edição da MP n° 1.963-17/2000, além da pactuação a tal respeito. Ausentes tais requisitos, não há como incidir a cumulação de juros - A taxa de abertura de crédito não se destina a remunerar um serviço prestado ao consumidor, mas sim buscar informações de interesse da própria instituição financeira, ou seja, tem a função de custear atividade administrativa do banco, de modo que tais despesas não podem ser transferidas ao devedor. - A restituição em dobro só é devida quando comprovada a má-fé do credor. (Processo: 00120050053287001. Decisão: Ácordãos. Relator: DES. SAULO HENRIQUES DE SA E BENEVIDES. Órgão Julgador: 3ª Câmara Cível. Data do Julgamento: 17/03/2009)

Portanto, os juros contratuais não poderiam ter sido capitalizados mensalmente, pois a avença não se enquadra nas exceções permitidas pela legislação pátria, entre elas as cédulas de crédito bancário, comercial, rural e industrial, além de, inequivocadamente, ocasionarem onerosidade excessiva à prestação que foi paga pela consumidora/autora.

Portanto, pelos fundamentos supra, que se sobrepõem ao disposto tanto nas Medidas Provisórias, bem como ao disposto no artigo 591 do atual CCB, é vedada a capitalização na espécie, mesmo em periodicidade anual, porquanto ausente pacto nesse sentido.

II – 4. DA CONSTATAÇÃO DO ANATOCISMO/CAPITALIZAÇÃO NA APLICAÇÃO DA TABELA PRICE NO CÁLCULO DAS PRESTAÇÕES PAGAS PELA AUTORA.

Ficou constatada, pelo perito contábil (Laudo em Anexo – docs. 13/21), a utilização desse método de cálculo de prestações (Tabela Price) no financiamento em tela. Segundo documento acostado a presente inicial, o arrendamento realizado pela autora no valor de R$ 22.000,00 para pagamento em 48 meses com a aplicação de taxa de juros de 2,35% ao mês, caso fosse utilizado o método linear ponderado (Gauss), resultaria em uma parcela de R$ 628,34.

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Pelo laudo anexo, o valor da parcela se aplicado o método linear ponderado seria de R$ 628,34. Em lugar disso, a autora pagou o valor de R$ 768,84 em cada parcela, devido à aplicação da Tabela Price pelo banco requerido. Dessa forma, a autora pagou indevidamente em cada parcela um valor de R$ 140,50 a mais, totalizando o valor de R$ 3.372,00 referentes a 24 (vinte e quatro) parcelas quitadas mensalmente.

II – 5. DO PAGAMENTO ANTECIPADO DAS PARCELAS DO ARRENDAMENTO COM A FINALIDADE DE QUITAÇÃO. DESCONTO CONCEDIDO EM DESRESPEITO AOS PRECEITOS DO CDC. VALOR PAGO A MAIOR QUE DEVE SER RESSARCIDO.

O Código de Defesa do Consumidor (CDC) trouxe em seu bojo o art. 52 tratando exatamente das operações de crédito e financiamento, regulamentando os DEVERES de informação e o DIREITO de quitação antecipada com redução proporcional dos juros e demais acréscimos:

Art. 52. No fornecimento de produtos ou serviços que envolva outorga de crédito ou concessão de financiamento ao consumidor, o fornecedor deverá, entre outros requisitos, informá-lo prévia e adequadamente sobre:

I - preço do produto ou serviço em moeda corrente nacional;II - montante dos juros de mora e da taxa efetiva anual de juros;III - acréscimos legalmente previstos;IV - número e periodicidade das prestações;V - soma total a pagar, com e sem financiamento.

§ 2º É assegurado ao consumidor a liquidação antecipada do débito, total ou parcialmente, mediante redução proporcional dos juros e demais acréscimos. (destacamos)

A quitação antecipada do débito com o desconto é direito do consumidor e as empresas de crédito não podem negar este direito, mesmo que esteja previsto contratualmente porque o CDC é norma de ordem pública e afasta qualquer disposição contratual que contrarie suas normas jurídicas.

Sobre o tema em debate o eminente Desembargador Sejalmo Sebastião de Paula Nery, do TJRS, manifestou-se no seguinte sentido:

Da quitação antecipada.

O Código de Defesa do Consumidor assegura, em seu art. 52, § 2º, a liquidação antecipada do débito, mediante redução proporcional dos juros e outros acréscimos.

Segundo o art. 1º, da Lei nº 8.078/90 (CDC), as normas de proteção e defesa do consumidor são de ordem pública e interesse social, indisponíveis, portanto. Insere-se nesse contexto o acima referido dispositivo legal, que encerra direito inarredável ao abatimento proporcional do encargos financeiros, ao qual não pode o credor opor-se.

Sobre o tema, assim manifesta-se Nelson Nery Júnior: “Uma das mais importantes conquistas do consumidor com o Código foi o direito de liquidação antecipada do débito financiado, com a devolução ou redução proporcional dos juros e demais encargos. Os bancos e instituições

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financeiras em geral, bem como fornecedores com financiamento próprio (lojas com departamento de crediário), terão de proporcionar ao consumidor a liquidação antecipada do financiamento, se ele assim pretender, fazendo a competente redução proporcional dos juros e outros acréscimos. Cláusula contratual que preveja renúncia do consumidor à restituição ou diminuição proporcional dos juros e encargos previstos neste dispositivo é abusiva, sendo considerada nula, não obrigando o consumidor (art. 51, nºs I, II, IV e XV, CDC). Caso o fornecedor não assegure esse direito ao consumidor, além do direito previsto neste dispositivo, terá ele direito de haver perdas e danos, patrimoniais e morais, nos termos do art. 6º, nº VI, do CDC” (in Código Brasileiro de defesa do Consumidor Comentado Pelos Autores do Anteprojeto, Ada Pellegrini Grinover et all. – 4ª ed. – Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1995).

PORTANTO, HAVENDO A ALEGAÇÃO DE QUE O DEVIDO ABATIMENTO NÃO FOI REALIZADO DE FORMA CORRETA – DE MANEIRA DESVANTAJOSA AO CONSUMIDOR -, É PERFEITAMENTE POSSÍVEL A DEVOLUÇÃO DOS VALORES DEVIDOS AO CONSUMIDOR, AINDA QUE O CONTRATO JÁ TENHA ALCANÇADO SEU TÉRMINO QUANDO DA PROPOSITURA DA AÇÃO. (Agravo Nº 70028751964, Décima Quarta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sejalmo Sebastião de Paula Nery, Julgado em 23/04/2009)

Não há dúvida quanto ao direito da consumidora à redução proporcional dos juros em caso de compra a prazo, financiamento de veículo ou empréstimo bancário, inclusive o consignado.

O grande problema é que as empresas se negam a reconhecer este direito, ou simplesmente o concedem de forma equivocada, com o que ocorreu no presente caso.

Tais práticas vão de encontro à norma inserta no art. 52, parágrafo 2° do CDC e como tal vem sendo elididas pelo poder judiciário, que vem incessantemente reconhecendo o direito ao abatimento dos juros e condenando as empresas a restituírem o valor devido. Vejamos alguns julgados, sendo que este primeiro nos oferece um exemplo de cálculo do desconto:

EMENTA: CONSUMIDOR. CONTRATO DE FINANCIAMENTO DE VEÍCULO. LIQUIDAÇÃO ANTECIPADA DO DÉBITO. ART. 52, § 2º, DO CDC. DIREITO À REDUÇÃO PROPORCIONAL DOS JUROS E DEMAIS ACRÉSCIMOS. NULIDADE DE SENTENÇA AFASTADA. 1. A preliminar de nulidade da sentença por fundamentação deficiente resta afastada, pois a decisão atacada indicou, de forma clara e suficiente, os motivos que embasaram a decisão de parcial procedência do pedido. 2. Comprovando a autora que efetuou o pagamento antecipado do financiamento de seu veículo (vinte meses antes do término do contrato), possuía o direito de serem descontados proporcionalmente os juros remuneratórios cobrados e os demais acréscimos do contrato (art. 52, § 2º da Lei 8.078/90) . 3. Não tendo a ré conferido o desconto na forma estabelecida na legislação consumerista, ou seja, de forma proporcional à quitação do contrato, necessário se faz a complementação de tal benesse. 4. A esse respeito, há que se reduzir o montante estipulado em sentença, pois tendo em vista que a autora antecipou em 20 meses o pagamento das parcelas correspondentes a tal período, de um total de 36, o que corresponderia a 55% do período do financiamento contratado, necessário se faz que lhe seja concedido um abatimento de R$ R$1.085,26, pois corresponde a 55% de desconto sobre os juros das prestações antecipadas, o que se mostra equânime, e não aquele indicado na decisão de primeiro grau, pois fixado em percentual muito superior. 5. Todavia, já tendo sido restituído à demandante o valor de R$ 563,64, há de se compensar tal valor do montante devido (R$ 1.085,26), restando saldo à autora no valor de R$ 521,62. Recurso parcialmente provido. (Recurso Cível Nº 71001646850, Primeira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Ricardo Torres Hermann, Julgado em 03/07/2008)

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EMENTA: CONSUMIDOR. CONTRATO DE FINANCIAMENTO. QUITAÇÃO ANTECIPADA. PAGAMENTO DE JUROS E DEMAIS ENCARGOS. NECESSIDADE DE ABATIMENTO, A TEOR DO DISPOSTO NO ART. 52, § 2º, DO CDC. DEVOLUÇÃO DO VALOR PAGO A MAIOR. SENTENÇA CONFIRMADA. RECURSO DESPROVIDO. (Recurso Cível Nº 71001615251, Terceira Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relator: Eduardo Kraemer, Julgado em 12/08/2008).

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ORDINÁRIA. CONTRATO DE FINANCIAMENTO GARANTIDO POR ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. PAGAMENTO ANTECIPADO DA DÍVIDA. INCIDÊNCIA DO ART. 52 § 2º DO CDC. AUSÊNCIA DO CONTRATO. INCIDÊNCIA DO ART. 359 DO CPC. Merece manutenção a sentença que reconheceu o direito da autora/financiada à quitação antecipada do contrato, com a redução proporcional dos juros e demais acréscimos (§ 2º do art. 52 do CDC). Não tendo o réu atendido à determinação de juntar aos autos o contrato celebrado entre as partes, admite-se como certo o cálculo de dívida apresentado pela autora/financiada, para fins de quitação do contrato. Apelação desprovida. (Apelação Cível Nº 70022994651, Décima Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Lúcia de Castro Boller, Julgado em 15/05/2008)

Ainda cabe lembrar que quem liquidou dívidas antecipadamente sem desconto ou com abatimento abaixo do que legal, tem 5 (cinco) anos para pedir de volta o que pagou indevidamente.

Com efeito, após adimplir 24 parcelas das 48 contratadas, a autora pretendeu quitar antecipadamente o contrato, na forma do que lhe assegura o § 2º, do artigo 52, da Lei 8.078/90, que garante a “liquidação antecipada do débito, total ou parcialmente”, com a “redução proporcional” dos juros e demais encargos.

O raciocínio desenvolvido pela autora para chegar ao valor devido de R$ 10.999,92 há de ser acolhido, conforme explicado abaixo. Cabe salientar que os cálculos abaixo levam em consideração o valor das parcelas descapitalizadas, face o exposto acima:

RACÍOCINIO (Sem capitalização):

Ora, o somatório das 48 prestações contratadas de R$ 628,34 resulta em R$ 30.160,09. Diminuído desse valor total o montante financiado de R$ 22.000,00, obtém-se R$ 8.160,32 como sendo o total de juros. Dividido esse valor total de encargos entre as 48 prestações, atinge-se o montante de R$ 170,01 por parcela. Como restavam ser adimplidas 24 parcelas, assistia ao autor, ao quitá-las antecipadamente, reduzir do débito o valor de R$ 4.080,24 (24 x R$ 170,01).

Assim, se o valor das 24 parcelas restantes (24 x R$ 628,34) resultava em R$ 15.080,16, diminuindo-se desse valor o total de encargos que haveria de ser reduzido (R$ 4.080,24), atinge-se exatamente os R$ 10.999,92 que deveriam ter sido pagos para quitação do contrato.

Portanto a promovente ao quitar o financiamento com o valor de R$ 14.894,54 (doc. 00), pagou a maior e indevidamente a quantia de R$ 3.894,62, devendo este valor ser devolvido.

Com efeito, ao contemplar o direito do consumidor de liquidar antecipadamente o débito, total ou parcialmente, o legislador do artigo 52, § 2º, do Código do Consumidor não abriu simplesmente aos contratantes a possibilidade de negociar a quitação antecipada, de

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acordo com o montante que o credor poderia ofertar de desconto, conforme pode alegar a instituição financeira promovida.

Redução proporcional significa expungir do débito aquilo que foi acrescido em razão do prazo do financiamento que não mais haverá em razão da quitação antecipada. Exatamente na linha de raciocínio desenvolvida pela autora. Não se trata de mero desconto ao arbítrio do credor; trata-se de imposição legal que leva em conta o prazo que o devedor pretende antecipar no pagamento do seu débito. Significa, portanto, expungir do débito todos os acréscimos de encargos sobre o capital que ainda resta ser pago, pelo período que restaria ao pagamento parcelado e que não mais existirá em razão do adimplemento antecipado da obrigação.

A conduta da promovida foi de manifesta desconsideração ao direito assegurado a autora, a partir de norma legal de caráter cogente.

Aliás, não bastassem as disposições do § 2º do artigo 52 do CDC, o direito de liquidação ou amortização antecipada da dívida encontrava supedâneo legal, no ordenamento jurídico pátrio, desde 1933, quando o Decreto 22.626, no seu artigo 7º, dispôs que: “O devedor poderá sempre liquidar ou amortizar a dívida... antes do vencimento, sem sofrer imposição de multa, gravame ou encargo de qualquer natureza por motivo dessa antecipação”. E, depois de evoluir e de se sedimentar com a edição da Lei 8.078/90, a recusa ao direito de “liquidação antecipada do débito, total ou parcialmente, mediante a redução proporcional dos juros” tornou-se inclusive passível de sanção administrativa pelos órgãos de proteção e defesa do consumidor. É o que se extrai da Seção II, do Capítulo III, do Decreto nº 861, de 09.07.1993, editado pelo Presidente da República e que, ao tratar “Das Penalidades” pela não observância das normas contidas na Lei nº 8.078/90, no seu artigo 18, dispõe: “Será aplicada multa ao fornecedor de bens e serviços, sem prejuízo do disposto no artigo anterior, quando: (...) XXXIII - impedir ou negar ao consumidor a liquidação antecipada do débito, total ou parcialmente, mediante redução proporcional dos juros e demais acréscimos”.

O aludido Decreto foi revogado pelo Decreto 2.181, de 20.03.1997, que novamente contemplou a penalidade administrativa para o caso de recusa, impedimentos ou dificuldades ao exercício do direito de quitação antecipada do débito mediante redução proporcional dos juros e demais acréscimos. É o que estabelece o artigo 22, inciso XX, do Decreto 2.181/97, ao prescrever:

Art. 22. Será aplicada multa ao fornecedor de produtos ou serviços que, direta ou indiretamente, inserir, fazer circular ou utilizar-se de cláusula abusiva, qualquer que seja a modalidade do contrato de consumo, inclusive nas operações secundárias, bancárias, de crédito direto ao consumidor, depósito, poupança, mútuo ou financiamento, e especialmente quando:(...)XX – impedir, dificultar ou negar ao consumidor a liquidação antecipada do débito, total ou parcialmente, mediante redução proporcional dos juros, encargos e demais acréscimos, inclusive seguro;

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Assim, diante da manobra da instituição requerida quanto ao direito assegurado pelo § 2º, do artigo 52, do CDC, entendemos cabível, inclusive, a expedição de ofício ao Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), para que instaure procedimento destinado a imputar à requerida a multa prevista no inciso XX do artigo 22 do Decreto nº 2.181/97, em face da existência de cláusula (item 3) contratual que afronta a legislação ordinária supra.

Caso Vossa Excelência não acate a ilegalidade na cobrança de juros capitalizados, requer desde já que acate o seguinte raciocínio acerca do pagamento antecipado:

RACÍOCINIO (Com capitalização):

Ora, o somatório das 48 prestações contratadas de R$ 768,84 resulta em R$ 36.904,32. Diminuído desse valor total o montante financiado de R$ 22.000,00, obtém-se R$ 14.904,32 como sendo o total de juros. Dividido esse valor total de encargos entre as 48 prestações, atinge-se o montante de R$ 310,51 por parcela. Como restavam ser adimplidas 24 parcelas, assistia ao autor, ao quitá-las antecipadamente, reduzir do débito o valor de R$ 7.452,24 (24 x R$ 310,51).

Assim, se o valor das 24 parcelas restantes (24 x R$ 768,84) resultava em R$ 18.452,16, diminuindo-se desse valor o total de encargos que haveria de ser reduzido (R$ 7.452,24), atinge-se exatamente os R$ 10.999,92 que deveriam ter sido pagos para quitação do contrato.

Portanto a promovente ao quitar o financiamento com o valor de R$ 14.894,54 (doc. 00), pagou a maior e indevidamente a quantia de R$ 3.894,62, devendo este valor ser devolvido.

Caso ainda, este juízo não acolha os raciocínios acima apresentados, e entenda ser legal a disposição constante no item 3.2, alínea b.2, do Contrato, requer desde logo o reconhecimento de valor pago a maior na antecipação do pagamento das últimas 24 parcelas, tendo em vista o cálculo apresentado (doc. 22); devendo ser restituído o valor de R$ 1.096,59.

II – 6. DA ILEGALIZADA NA COBRANÇA DE VALOR REFERENTE A “SERVIÇOS CORRESP NÃO BANCÁRIO” e “PAGAMENTO SERVIÇOS TERCEIROS”.

No tocante à cobrança de valores referentes a “SERVIÇOS CORRESP NÃO BANCÁRIO” (item IX - 4 da Proposta (doc. 08) que faz parte do contrato) e “Pagamento Serviços Terceiros” (item IX – 5 do mesmo documento), devem ser declarados tais pagamentos nulos e devolvidos os valores em dobro, devidamente corrigidos.

No contrato foram estipulados os seguintes valores no item IX: 4 - SERVIÇOS CORRESP NÃO BANCÁRIO = R$ 560,00; 5 - Pagamento Serviços Terceiros = R$ 123,20. Sendo tais valores cobrados de forma ilegal e ausente qualquer parâmetro que justificasse tal cobrança.

A tarifas/taxas denominadas de “SERVIÇOS CORRESP NÃO BANCÁRIO” e “PAGAMENTO SERVIÇOS TERCEIROS” são cobradas sem previsão legal. Constitui um serviço

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que interessa tão somente à instituição financeira, não devendo ser repassado ao consumidor final.

Não há, portanto, contraprestação que justifique a cobrança de tais valores: Quem é o Correspondente Não Bancário a que se refere o contrato? Que despesas são essas com terceiros? O promovido usou da má-fé e aproveitou-se da inexperiência da promovente em analisar contratos de adesão para cobrar tais valores, não informando devidamente a consumidora/promovente o que estaria sendo pago, com base em que e de que forma.

A ausência de causa jurídica aceitável para a cobrança, acarreta excessiva onerosidade para a consumidora, o que é vedado pelo art. 51, IV, do Código de Defesa do Consumidor, que se encontra vazado nos seguintes termos, in verbis:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: (...)IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;

Ademais, o capital já é remunerado pelos juros, em cujo arbitramento são considerados os custos da captação do recurso, as despesas operacionais e o risco envolvido na operação, pelo que a cobrança constitui bis in idem.

Ressalto, por fim, que, atualmente, os valores acima especificados que foram cobrados pelo promovido não encontram previsão nas regulamentações do Banco Central do Brasil (BCB) acerca das tarifas bancárias (Resolução 3.919 e Carta-Circular 3.505).

Sobre a matéria, destaco o seguinte aresto da jurisprudência desta colenda Corte de Justiça do Estado da Paraíba:

AÇÃO REVISIONAL DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS - CONTRATO DE FINANCIAMENTO DE VEÍCULOS - VERIFICAÇÃO DE COBRANÇA DE JUROS SOBRE JUROS E DA ILEGALIDADE DA TAXA DE ABERTURA DE CRÉDITO - RESTITUIÇÃO EM DOBRO - IRRESIGNAÇÃO - CAPITALIZAÇÃO DE JUROS - CONTRATO FIRMADO APÓS A EDIÇÃO DA MEDIDA PROVISÓRIA N° 1.963-17/2000 - AUSÊNCIA DE PREVISÃO CONTRATUAL PARA COBRANÇA - IMPOSSIBILIDADE DA EXIGÊNCIA - ILEGALIDADE DA COBRANÇA DA TAXA DE ABERTURA DE CRÉDITO - RESTITUIÇÃO DE FORMA SIMPLES - AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE MÁ-FÉ - PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO APELATÓRIO. - A legalidade da capitalização de juros pressupõe a celebração de acordo com instituição financeira em data posterior a 31/03/2000, com a edição da MP n° 1.963-17/2000, além da pactuação a tal respeito. Ausentes tais requisitos, não há como incidir a cumulação de juros - A taxa de abertura de crédito não se destina a remunerar um serviço prestado ao consumidor, mas sim buscar informações de interesse da própria instituição financeira, ou seja, tem a função de custear atividade administrativa do banco, de modo que tais despesas não podem ser transferidas ao devedor. - A restituição em dobro só é devida quando comprovada a má-fé do credor. (Processo: 00120050053287001. Decisão:

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Ácordãos. Relator: DES. SAULO HENRIQUES DE SA E BENEVIDES. Órgão Julgador: 3ª Câmara Cível. Data do Julgamento: 17/03/2009)

Portanto, deve ser anulada a previsão contratual de cobrança dos valores referentes a “SERVIÇOS CORRESP NÃO BANCÁRIO” e “PAGAMENTO SERVIÇOS TERCEIROS” (item IX 4 e 5 do contrato), determinando assim esse juízo que sejam ressarcidas as referidas despesas, devendo todos os valores recebidos a estes títulos serem restituídos em dobro a consumidora, pois cobrados com má-fé pelo promovido.

Daí porque se faz mister, tornar nulas essas cláusulas por meio de declaração de ilegalidade das cobranças efetuadas e dos valores pagos a maior, acatando o recálculo dos valores feitos por Perito Contábil, e a repetição do indébito apurado.

III - DO PEDIDO:

Isto posto, requer a promovente que:

a) Preliminarmente, requer a concessão da Justiça Gratuita, na forma da Lei 1.060/50, com a dispensa do pagamento das custas, encargos processuais e honorários, por não ter a autora condições econômicas e financeiras, para suportar os encargos do presente processo, juntando, para tanto, a inclusa declaração necessária (Declaração em Anexo).

b) Seja determinada a citação da Ré via postal com aviso de recebimento (AR), na pessoa do seu representante legal ou quem as vezes faça, sob pena de sofrer os efeitos da revelia e confissão da matéria de fato, conforme arts. 221 inc. I e segs. do CPC;

c) Seja determinada a INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA, pois é evidente a fragilidade e a hipossuficiência da promovente, perante o gigantismo do Conglomerado Financeiro de que faz parte o promovido, ainda mais na posição de submissão imposta pelo contrato de adesão;

d) Seja DECLARADA A NULIDADE/ILEGALIDADE na cobrança de juros capitalizados – anatocismo, resultando na repetição do indébito no valor de R$ 3.372,00 referentes a 24 (vinte e quatro) parcelas quitadas mensalmente;

e) Seja DECLARADA A NULIDADE/ILEGALIDADE na cobrança de valor a maior no momento do pagamento antecipado do financiamento, resultando na repetição do indébito no valor de R$ 3.894,62 referentes a 24 (vinte e quatro) parcelas quitadas antecipadamente; Subsidiariamente, caso não seja acatado este pedido, requer seja declarado o pagamento a maior do valor para a quitação antecipada do financiamento, levando em consideração o cálculo apresentado em anexo (doc. 00), devendo ser restituída a quantia de R$ 1.096,59;

f) Seja DECLARADA A NULIDADE/ILEGALIDADE na cobrança dos valores pagos a título de serviços de terceiros e serviços do correspondente não bancário, resultando na repetição do indébito no valor de R$ 683,20;

g) REQUER, por fim, a condenação do promovido nos encargos da sucumbência e honorários advocatícios, este fixados no percentual de 20% sobre o valor da causa.Protesta por todos os meios de prova em direito admitidos, em especial pela perícia

contábil.

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Dá-se à presente para o efeito de custas o valor de R$ 36.904,32, correspondente ao valor do contrato objeto da lide.

Termos em que, espera deferimento.Catolé do Rocha-PB, 6 de dezembro de 2011.

Kleyner Arley Pontes NogueiraOAB/PB 16.649

Allson Haley dos SantosBacharel em Direito