ação ordinária declaratória de inexistência de débito c

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Ação Ordinária Declaratória de Inexistência de Débito c/c Antecipação de Tutela em face da Em ........, foi informando que havia um débito que deveria ser saldado, pois não foi cobrado no tempo certo. Anexa a carta, a requerida apresentou o devido cálculo para conhecimento do requerente. Note-se que até a presente data, o medidor de energia elétrica que havia sido retirado, não havia sido devolvido, nem mesmo o requerente recebeu qualquer resposta a respeito da perícia a ser efetivada. Preocupada com a demora em obter uma resposta sobre o que havia de fato ocorrido com o medidor, a autora ligou à empresa-ré, e este lhe informou que o procedimento pericial demora no máximo em 7 (sete) dias!!! A requerente, certo de que não deve nada à requerida, não pagou a dívida, por entender não existir tal débito pleiteado pela _____(Companhia)_____. A requerida, como medida extrema de coerção que rotineiramente vem praticando, apesar das várias ações ajuizadas contra ela, enviou um “Reaviso de Vencimento”, coagindo o requerente a pagar a dívida, caso contrário teria o fornecimento de energia elétrica interrompido. II. Do direito Excelência. O presente caso tem novamente a ____(Companhia)_____ como ocupante do pólo passivo. É flagrante o desrespeito que a requerida vem tendo com os consumidores, usuários do serviço essencial que lhes é prestado pela ____(Companhia)_____. Infelizmente, repetimos aqui na presente exordial os mesmo argumentos que usamos em outras ocasiões, aonde clientes da empresa-ré vêm sendo constantemente desrespeitados na relação de consumo. A requerida alega que deve ser ressarcida em valores que não foram debitados no devido tempo, mas não mostra à requerente o motivo que a levou a não cobrar esses valores quando deveria. Claro que a requerida está amparada por Resolução da ANEEL que lhe permite tal cobrança fora de época, mas por outro lado, deve a requerida mostrar as razões de ter havido o erro na apuração dos valores em questão. Em verdade, a requerida quer apenas o ENRIQUECIMENTO ILÍCITO através da cobrança indevida de valores, buscando uma maneira de extorquir dinheiro. E de que forma? Supondo um defeito no medidor, para, após, apresentar um cálculo a que tem direito de cobrar. Ou seja, ela partiu de um ato ilícito, para chegar a um ato lícito, amparado por Resolução da ANEEL. De uma análise mais detida das contas que a requerente anexa junta a petitória, vemos que sempre foi consumido um valor constante, sem grandes diferenças. Sendo assim, a requerente requer a tutela jurisdicional como medida de inteira JUSTIÇA, haja vista os constantes e flagrantes abusos que a requerida vem praticando. Ademais, pretende seja declarado inexistente qualquer débito, e invoca a ANTECIPAÇÃO DE TUTELA como medida de prevenção contra um possível corte no fornecimento de energia elétrica, dado o teor da correspondência recebida.

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Page 1: Ação Ordinária Declaratória de Inexistência de Débito c

Ação Ordinária Declaratória de Inexistência de Débito c/c Antecipação de Tutela em face da

Em ........, foi informando que havia um débito que deveria ser saldado, pois não foi cobrado no tempo certo. Anexa a carta, a requerida apresentou o devido cálculo para conhecimento do requerente. Note-se que até a presente data, o medidor de energia elétrica que havia sido retirado, não havia sido devolvido, nem mesmo o requerente recebeu qualquer resposta a respeito da perícia a ser efetivada. Preocupada com a demora em obter uma resposta sobre o que havia de fato ocorrido com o medidor, a autora ligou à empresa-ré, e este lhe informou que o procedimento pericial demora no máximo em 7 (sete) dias!!!

A requerente, certo de que não deve nada à requerida, não pagou a dívida, por entender não existir tal débito pleiteado pela _____(Companhia)_____.

A requerida, como medida extrema de coerção que rotineiramente vem praticando, apesar das várias ações ajuizadas contra ela, enviou um “Reaviso de Vencimento”, coagindo o requerente a pagar a dívida, caso contrário teria o fornecimento de energia elétrica interrompido.

II. Do direito

Excelência. O presente caso tem novamente a ____(Companhia)_____ como ocupante do pólo passivo. É flagrante o desrespeito que a requerida vem tendo com os consumidores, usuários do serviço essencial que lhes é prestado pela ____(Companhia)_____.

Infelizmente, repetimos aqui na presente exordial os mesmo argumentos que usamos em outras ocasiões, aonde clientes da empresa-ré vêm sendo constantemente desrespeitados na relação de consumo.

A requerida alega que deve ser ressarcida em valores que não foram debitados no devido tempo, mas não mostra à requerente o motivo que a levou a não cobrar esses valores quando deveria.

Claro que a requerida está amparada por Resolução da ANEEL que lhe permite tal cobrança fora de época, mas por outro lado, deve a requerida mostrar as razões de ter havido o erro na apuração dos valores em questão.

Em verdade, a requerida quer apenas o ENRIQUECIMENTO ILÍCITO através da cobrança indevida de valores, buscando uma maneira de extorquir dinheiro. E de que forma? Supondo um defeito no medidor, para, após, apresentar um cálculo a que tem direito de cobrar. Ou seja, ela partiu de um ato ilícito, para chegar a um ato lícito, amparado por Resolução da ANEEL.

De uma análise mais detida das contas que a requerente anexa junta a petitória, vemos que sempre foi consumido um valor constante, sem grandes diferenças.

Sendo assim, a requerente requer a tutela jurisdicional como medida de inteira JUSTIÇA, haja vista os constantes e flagrantes abusos que a requerida vem praticando. Ademais, pretende seja declarado inexistente qualquer débito, e invoca a ANTECIPAÇÃO DE TUTELA como medida de prevenção contra um possível corte no fornecimento de energia elétrica, dado o teor da correspondência recebida.

III. Pelo Código de Processo Civil

Urge invocar no presente feito, a prerrogativa contida no art. 4º, inciso I, do Código de Processo Civil, verbis:

Art. 4º. O interesse do autor pode limitar-se à declaração:I – da existência ou inexistência de relação jurídica;...

Cabe no presente caso a intervenção do Poder Judiciário para que declare expressamente não haver nenhuma relação jurídica, pelo menos no que se refere a dívidas, entre requerente e requerida.

IV. Pela resolução 456 de 29 de novembro de 2000 da ANEEL

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Com a privatização parcial do sistema energético Brasileiro, foi criada a Agência Nacional de Energia Elétrica no intuito de regular todo o sistema de fornecimento, geração e distribuição de energia elétrica.

Nesse sentido, em 29 de novembro de 2000, a ANEEL editou a Resolução de nº 456, que “Estabelece, de forma atualizada e consolidada, as Condições Gerais de Fornecimento de Energia Elétrica.”.

A requerente tem plena consciência de que PODE (não está obrigada) a concessionária interromper o fornecimento de energia elétrica em caso de inadimplência. Mas no caso concreto não houve inadimplência. A requerente sempre pagou em dia suas contas.

Em verdade, a requerida é que agiu de má-fé ao retirar o relógio medidor da residência do requerente sem maiores explicações, para depois cobrar uma SUPOSTA diferença de valores, sem qualquer comunicação do resultado da perícia realizada no medidor.

Ressalte-se, que a empresa-ré não cumpre também com o prazo estabelecido na presente Resolução. Reza o art. 91, § 1º, letra “a”, que em casos de atraso, a comunicação deverá ser feita 15 (quinze) dias antes, por escrito, e especificadamente. Tal não ocorre. A única comunicação que a requerente recebeu foi o aviso de recebimento contendo o valor do débito, e como proceder em caso de pagamento. Nada consta que informe o dia correto de corte, quando começa a fluir o prazo de 15 dias.

Infringe também a requerida o art. 78 da Resolução. Sempre que houver diferenças a serem cobradas, deve a concessionária informar pormenorizadamente do débito. Em seu inciso I, o art. estabelece que deve constar a “irregularidade constatada”. Não há a descrição da irregularidade. Interessante que no cabeçalho da “Memória Descritiva do Valor Apurado”, a requerida menciona os arts. 73 e 78 da Resolução, mas por alguma razão desconhecida dos consumidores, não os respeita.

V. pela Lei nº 8.078 de 11 de setembro de 1990

Claro está que a relação entre a requerente e a requerida é totalmente regulada pela Lei 8.078/90, o chamado Código de Defesa do Consumidor.

Em seu artigo 2º, o código define consumidor como sendo:

Art. 2º. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.

Por outro lado, temos a posição da requerida perfeitamente definida no artigo 3º do mesmo diploma legal:

Art. 3º. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

Logo, deve ser respeitado o Diploma Legal que estabelece direitos e deveres para ambas as partes.

Note-se que o art. 3º remete, invariavelmente, ao artigo 22 da Lei consumerista, verbis:

Art. 22. os órgãos públicos, por si ou por suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimentos, são obrigadas a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.

Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste Código.

Luis Antonio Rizatto Nunes, em sua obra Comentários ao Código de Defesa do Consumidor, comentando o supra citado artigo, esclarece o que se entende por Serviço Público: “O CDC, no art. 3º, já havia incluído no rol dos fornecedores a pessoa jurídica pública (e,claro, por via de conseqüência todos aqueles que em nome dela – direta ou indiretamente – prestam serviços públicos), bem como, ao definir “serviço” no § 2º do mesmo artigo, dispôs que é qualquer

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atividade fornecida ao mercado de consumo, excetuando apenas os serviços sem remuneração ou custo e os decorrentes das relações de caráter trabalhista.

Contudo, a existência do art. 22, por si só, é de fundamental importância para impedir que os prestadores de serviços públicos pudessem construir “teorias” para tentar dizer que não estariam submetidos às normas do CDC. Aliás, mesmo com a expressa redação do art. 22, ainda assim há prestadores de serviços públicos que lutam na Justiça “fundamentados” no argumento de que não estão submetidos às regras da Lei n. 8.078/90. Para ficar só com um exemplo, veja-se o caso da decisão da 3ª Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo no agravo de instrumento interposto pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – SABESP. Nas razões do recurso do feito, que envolve discussão a respeito dos valores cobrados pelo fornecimento de água e esgoto (que o consumidor alega foram cobrados exorbitantemente), a empresa fornecedora fundamenta sua resignação “na não-subordinação da relação jurídica subjacente àquela legislação especial (o CDC)”. O tribunal, de maneira acertada, rejeitou a resistência da SABESP: “indiscutível que a situação versada, mesmo envolvendo prestação de serviços públicos, se insere no conceito de relação jurídica de consumo. Resulta evidente subordinar-se ela, portanto, ao sistema do Código de Defesa do Consumidor”.

Ainda sobre o art. 22, o Mestre Rizatto Nunes define Serviço Essencial:

“Comecemos pelo sentido de “essencial”. Em medida amplíssima todo serviço público, exatamente pelo fato de sê-lo (público), somente pode ser essencial. Não poderia a sociedade funcionar sem um mínimo de segurança pública, sem a existência dos serviços do Poder Judiciário, sem algum serviço de saúde etc. Nesse sentido então é que se diz que todo serviço público é essencial. Assim, também o são os serviços de fornecimento de energia elétrica, de água e esgoto, de coleta de lixo, de telefonia etc”.

Não obstante, a requerida vem praticando constantemente uma violação ao conceito acima mostrado.

O corte no fornecimento de energia elétrica é prática abusiva que está proibida pelo CDC em seu artigo 42:

Art. 42. na cobrança de débitos o consumidor inadimplente não será exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.

Ementa: Apelação. CEEE. Ação cautelar e declaratória. Suspensão do fornecimento de energia pelo inadimplemento de tarifa de energia elétrica. Ilegalidade. Sentença de procedência. Constitui procedimento ilegal a ameaça de suspensão de fornecimento de energia ou corte, em razão de débito do consumidor. Inteligência do art-22, par-único, e art-42, do CDC. Apelação improvida. (10fls.) (Apelação cível nº 599109832, primeira câmara cível, Tribunal de Justiça do RS, relator: des. Fabianne Breton Baisch, julgado em 18/12/00)

Ementa: agravo de instrumento. Corte no fornecimento de energia elétrica por empresa sucessora da CEEE. Mostra-se indevido e injusto o procedimento da fornecedora de energia elétrica em cortar o fornecimento na empresa agravante, por se tratar de serviço essencial, só se justificando como mera forca coercitiva, com a qual o judiciário não pode compactuar, de vez que detém a credora de meios legais para haver o seu credito. Agravo provido.(5fls) (agravo de instrumento nº 70000966077, segunda câmara cível, Tribunal de Justiça do RS, relator: des. Teresinha de Oliveira Silva, julgado em 04/10/00)

Encontra o consumidor proteção contra a prática de atos abusivos, no art. 6º, inc. IV, do CDC:

Art. 6º. são direitos básicos do consumidor:......IV – a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços.

Novamente Luis Carlos Rizatto Nunes: “A norma do inciso IV proíbe incondicionalmente as práticas e as cláusulas abusivas....Pode-se definir o abuso do direito como o resultado do excesso de exercício de um direito, capaz de causar dano a outrem.Ou, em outras palavras, o abuso do direito se caracteriza pelo uso irregular e desviante do direito em seu exercício, por parte do titular.”

Está consubstanciada no CDC a inversão do ônus do prova em favor do consumidor, o que se mostra cabível nesta demanda.

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Diz o art. 6º, inc. VIII, do Código de Defesa do Consumidor:...

VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiência.

Deve a requerida trazer aos autos provas de que realmente após a realização da perícia constatou-se um defeito que pudesse acarretar um erro na medição de energia elétrica.

VI. Pela Constituição de 1988

Para que fique devidamente esclarecida a posição de contrariedade ao Direito em que a requerida se firma, é de bom alvitre a análise dos preceitos Constitucionais que a ré despreza.

Ressalte-se que com a sua atitude de simplesmente decidir “cortar” o fornecimento de energia elétrica, a requerida toma para si, função que cabe exclusivamente ao Judiciário. Certo está que a requerida tem direito de punir os maus pagadores, mas isso não lhe dá amplos poderes de se utilizar tal instituto para qualquer tipo de coação.

Em verdade, não há maus pagadores, mas sim pessoas que foram lesadas em seu direito de usufruir um benefício que lhes é de direito.

Assim, fere a ré o preceito Constitucional contido no art. 5º, inc. XXXV, verbis:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguinte:...XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;

José Afonso da Silva, comenta o inciso citado: “O Princípio da proteção judiciária, também chamado princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional, constitui em verdade, a principal garantia dos direitos subjetivos. Mas ele, por seu turno, fundamenta-se no princípio da separação de poderes, reconhecido pela doutrina como garantia das garantias constitucionais. Aí se junta uma constelação de garantias: as da independência e imparcialidade do juiz, a do juiz natural ou constitucional, a do direito de ação e de defesa. Tudo ínsito nas regras do art. 5º, XXXV, LIV e LV.”

LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legalLV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.

Quanto ao inciso LV do art. 5º, à requerente não foram dados meios de defesa.

A requerida decidiu que a autora havia consumido a mais, e cobrou tal diferença sem dar qualquer demonstração de que houve, repetimos, o erro na medição.

Flagrante desrespeito ao inciso.

Com a palavra Celso Ribeiro Bastos: “Por ampla defesa deve-se entender o asseguramento que é feito ao réu de condições que lhe possibilitem trazer para o processo todos os elementos tendentes a esclarecer a verdade. É por isso que ela assume múltiplas direções, ora se traduzindo na inquirição de testemunhas, ora na designação de um defensor dativo, não importando, assim, as diversas modalidades, em um primeiro momento”.

VII. Da antecipação de tutela

Excelência. Tem-se que a situação enfrentada pela requerente é extremamente difícil.

Além do mais, existe o receio de que o fornecimento de energia elétrica seja interrompido a qualquer momento, privando a requerente de um bem essencial que não pode faltar.

A gravidade da situação se mostra devidamente configurada, sendo o dano irreparável é conseqüência da gravidade.

Sendo assim, encontra amparo a pretensão de Tutela Antecipada, nos termos do art. 273, inciso I,

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do Código de Processo Civil.

Não pode a requerente esperar o fim da demanda para que, caso interrompido o fornecimento de energia elétrica, seja a mesma religada. A antecipação de tutela também tem o objetivo de evitar que a requerida interrompa o fornecimento de energia elétrica.

Ressalte-se que em diversos momentos o TJRS manifestou-se a respeito. Tendo como a _____(Companhia)____ envolvida na relação jurídica.

Inicialmente, temos o acórdão de 03 de outubro de 2001, da Segunda Câmara Cível, com a seguinte ementa:

EMENTA. Agravo de Instrumento. CEEE. Corte de energia elétrica. Empresa comercial. Deferimento de tutela antecipada em ação de inexistência de débito. Possibilidade. Tratando-se de serviço essencial (energia elétrica), mostra-se defeso à fornecedora efetuar o corte, ante a ocorrência de sérios indícios de que há incorreção na medição, que supera em muito a média mensal da empresa, caracterizando-se tal proceder como verdadeiro arbítrio e abuso do poder econômico, com os quais não pode compactuar o judiciário, máxime quando se trata de relação de consumo regido pelo CDC, com inversão do ônus da prova. Agravo Improvido. (Agravo de Instrumento nº 70003590818, Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, relator: Desa. Teresinha de Oliveira Silva, julgado em 03 de outubro de 2001)

Do acórdão extrai-se que a requerida teve a mesma atitude com o agravado, ou seja, retirou o medidor e nunca mais deu qualquer resposta ao agravado.

“Note-se que o aparelho medidor da empresa Agravada, foi retirado no dia 12 de março de 2001, por técnico da Agravante, para exame e apresentação de laudo técnico. Todavia, não se tem notícias da devolução do mesmo, nem do resultado do laudo.”“Assim sendo, de acordo com a legislação incidente (CDC), quem deve provar que o aparelho medidor está em perfeitas condições e que a leitura do mesmo foi realizada corretamente, é a empresa fornecedora dos serviços e não a Agravada, invertendo-se o ônus da prova, segundo o disposto no art. 6º do referido diploma legal.”

Novamente, em 13 de março de 2002, foi julgado outro Agravo de Instrumento, onde a Agravante era a ______(Companhia)_____. Desta vez o agravo foi votado na Primeira Câmara Cível, sob o número 70003526332.

EMENTA. Agravo de Instrumento. Fornecimentos de energia elétrica. Dívida. Ação declaratória de indébito. Tutela antecipada. Corte no fornecimento da energia. Impossibilidade por se tratar de bem essencial. Pronunciamento judicial. Tratando-se de relação de consumo, referente a bem essencial, como a energia elétrica, inviável pensar-se em corte no seu fornecimento, máxime se dita relação, nesta incluída a alegada dívida relativa ao não pagamento, é matéria que se encontra sub judice. Assim, enquanto não haja pronunciamento judicial definitivo a respeito, reconhecendo a existência do débito, é de ser mantida a liminar que antecipou a tutela, no sentido de que a fornecedora se abstenha de promover o corte no fornecimento. Aplicação, à espécie, do CODECON, que impede qualquer espécia de ameaça ou constrangimento ao consumidor (art. 42, do CDC). Agravo não provido. (Agravo de Instrumento nº 70003526332, Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Des. Henrique Osvaldo Poeta Roenick, julgado em 13 de março de 2002)

VIII. Conclusão

Por todas as razoes acima expostas, visa a requerente sentença declaratória de conteúdo negativo, que declare não existir qualquer débito com a requerida, eis que o consumo auferido está correto e compatível com o uso que foi dado ao imóvel. Ademais, a Tutela Antecipada busca a manutenção de um direito que lhe assiste.

Ex positis, REQUER:

a) A TOTAL PROCEDÊNCIA da presente Ação Declaratória de Inexistência de Débito cumulada com Antecipação de Tutela, nos termos acima peticionados, declarando-se inexistentes quaisquer débitos entre as partes referentes ao período cobrado pela concessionária-ré, bem como a ratificação do pedido de Tutela Antecipada tornando a medida provisória em definitiva;

b) Em sede de Tutela Antecipada, liminarmente e inaudita altera pars, ordem no sentido de que a requerida se abstenha de cortar o fornecimento de energia elétrica na residência da requerente. Caso já tenha efetuado o corte, que restabeleça o fornecimento de energia elétrica, num prazo máximo de 24 horas, sem qualquer ônus à consumidora;

c) A citação da requerida, para que, querendo, conteste o presente pedido;

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d) A oitiva do ilustre representante do Ministério Público;

e) A concessão do Benefício da Assistência Judiciária Gratuita, com base na Lei 1.060/50, com as alterações introduzidas pela Lei 7.510/86, por não ter a requerente condições de arcar com as custas processuais e honorários advocatícios sem prejuízo do próprio sustento, conforme declaração em anexo;

f) A inversão do ônus da prova, no sentido de que a requerida informe nos autos o resultado da perícia no medidor de energia elétrica que foi retirado do imóvel da requerente, e que prove, de fato, com isso, que houve erro na apuração de consumo, respeitando o Princípio da Ampla Defesa.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em Direito admitidos.

N. T.P. D.

Valor da causa: R$ (VALOR DO DÉBITO COBRADO PELA CONCESSIONÁRIA).

_________, _________________

2) DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA__________________

Verifica-se in casu a negligência da ré perante o requerido, vez que,

ocasionou um enorme abalo em sua imagem, pois agora o mesmo vê-se compelido a ingressar

com ação judicial visando a reparação de seu dano sofrido.

O Código Civil assim determina:

"“art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou

imprudência, violar direito e causas dano a outrem, ainda que

exclusivamente moral, comete ato ilícito”;

Art. 927. Aquele que por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a

outrem, fica obrigado a repara-lo”.

A reparação que obriga o ofensor a pagar e permite ao ofendido receber é

princípio de justiça, com feição, punição e recompensa.

"Todo e qualquer dano causado à alguém ou ao seu patrimônio, deve ser

indenizado, de tal obrigação não se excluindo o mais importante deles, que

é o dano moral, que deve automaticamente ser levado em conta." (V.R.

Limongi França, "Jurisprudência da Responsabilidade Civil, Ed. RT,

1988).

Segundo J.M. de Carvalho Santos, in Código Civil Brasileiro

Interpretado, ed. Freitas Bastos, 1972, pag 315:

“Em sentido restrito, ato ilícito é todo fato que, não sendo fundado em

direito, cause dano a outrem”.(grifo nosso)

Page 7: Ação Ordinária Declaratória de Inexistência de Débito c

Carvalho de Mendonça, in Doutrina e Prática das Obrigações, vol. 2,

n. 739, ensina quais os efeitos do ato ilícito:

"o principal é sujeitar seu autor à reparação do dano. Claramente isso

preceitua este art. 186 do Código Civil, que encontra apoio num dos

princípios fundamentais da equidade e ordem social, qual a que proíbe

ofender o direito de outrem - neminem laedere". (grifo nosso).

Maria Helena Diniz, in Curso de Direito Civil, vol. 7, ed. Saraiva, 1984, diz:

"...o comportamento do agente será reprovado ou censurado, quando,

ante circunstâncias concretas do caso, se entende que ele poderia ou

deveria ter agido de modo diferente" (grifo nosso).

Como se pode observar, é notória a responsabilidade OBJETIVA da

requerida, uma vez que, ocorreu uma falha na abertura de conta em nome do requerido, sendo

passível de reparação.

2.2) DA CONDENAÇÃO A INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

A garantia da reparabilidade do dano moral, é absolutamente pacífica

tanto na doutrina quanto na jurisprudência. Tamanha é sua importância, que ganhou

texto na Carta Magna, no rol do artigo 5º, incisos V e X, dos direitos e garantias

fundamentais faz-se oportuna transcrição:

“Inciso V: é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo,

além da indenização por dano material, moral ou à imagem:”(grifo

nosso).

“Inciso X: são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra ea imagem

das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou

moral decorrente de sua violação”(grifo nosso)

Conforme restou comprovado, o autor nada deve. Razão pela qual,

requer declaração de inexistência de débito e ainda, a reparação do dano causado. Logo

objetivo maior desta peça exordial, é o restabelecimento do equilíbrio jurídico defeito

pela lesão, traduzido numa importância em dinheiro, visto não ser possível a

recomposição do status quo ante, uma vez que não se trata apenas da declaração da

inexistência de débito, pois em decorrência da cobrança indevida, o autor teve seu nome

inscrito nos órgãos de recuperação de crédito, não podendo assim contrair qualquer tipo

Page 8: Ação Ordinária Declaratória de Inexistência de Débito c

de empréstimo, decorrentes de erro certo e notório do Banco ........... Enfim o autor viu-

se em uma situação constrangedora e humilhante.

A respeito do assunto, aplaudimos a lição doutrinária de Carlos Alberto

Bittar, sendo o que se extrai da obra “Reparação Civil por Danos Morais”, 2ª ed., São

Paulo – RJ, 1994, pág. 130;

“Na prática, cumpre demonstrar-se que pelo estado da pessoa, ou por

desequilíbrio, em sua situação jurídica, moral, econômica, emocional ou

outras, suportou ela conseqüências negativas, advindas do fato lesivo. A

experiência tem mostrado, na realidade fática, que certos fenômenos

atingem a personalidade humana, lesando os aspectos referidos, de sorte

que a questão se reduz, no fundo, a simples prova do fato lesivo.

Realmente, não se cogita, em verdade, pela melhor técnica, em prova de

dó, ou aflição ou de constrangimento, porque são fenômenos ínsitos na

alma humana como reações naturais a agressões do meio social.

Dispensam pois comprovação, bastando no caso concreto, a demonstração

do resultado lesivo e a conexão com o fato causador, para

responsabilização do agente”

“Nesse sentido, como assinalamos alhures, a) são patrimoniais os

prejuízos de ordem econômica causados pela violação de bens materiais

ou imateriais de seu acervo; b) pessoais, os danos relativos ao próprio ente

em si, ou em suas manifestações sociais, como, por exemplo, as lesões ao

corpo, ou parte do corpo (componentes físicos), ou ao psiquismo

(componentes intrínsecos da personalidade), como a liberdade, a imagem,

a intimidade; c) morais, os relativos a atributos valorativos, ou virtudes, da

pessoa como ente social, ou seja, integrada à sociedade, vale dizer, dos

elementos que a individualizam como ser, de que se destacam a honra, a

reputação e as manifestações do intelecto.

Mas, atingem-se sempre direitos subjetivos ou interesses juridicamente

relevantes, que à sociedade cabe preservar, para que possa alcançar os

respectivos fins, e os seus componentes as metas postas como essenciais,

nos planos individuais, familiar e social”.

Por derradeiro, na lição do eminente jurista Caio Mário da Silva

Pereira (REsp. Cível, RJ, 1980, pág. 338)

“...na reparação do dano moral estão conjugados dois motivos, ou duas

concausas: I) punição ao infrator pelo fato de haver ofendido um bem

jurídico da vítima, posto que imaterial; II) pôr nas mãos do ofendido uma

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soma que não é ‘pretium doloris’, porém o meio de lhe oferecer a

oportunidade de conseguir uma satisfação de qualquer espécie, seja de

ordem intelectual ou moral, seja mesmo de cunho material...”

Enfim, quando se trata de reparação de dano moral como no caso em

tela, nada obsta a ressaltar o fato de ser este, tema pacífico e consonante tanto sob o

prisma legal, quanto sob o prisma doutrinário. Por conseguinte, mera relação de causa e

efeito seria falar-se em pacificidade jurisprudencial. Faz-se patente, a fartura de

decisões brilhantes em consonância com o pedido do autor, proferidas pelos mais

ilustres julgadores em esfera nacional.

2.2.1) DO VALOR DA CONDENAÇÃO A INDENIZAÇÃO PELOS DANOS MORAIS

A lei não estabelece ou fixa um parâmetro previamente definido para

se apurar o valor em indenizações por dano moral. Justo por isso, as balizas têm sido

traçadas e desenhadas, caso a caso, por nossas Cortes de Justiça, em especial, pelo

Superior Tribunal de Justiça, órgão responsável pela missão de uniformizar a aplicação

do direito infraconstitucional.

O STJ recomenda que as indenizações sejam arbitradas segundo

padrões de proporcionalidade, conceito no qual se insere a idéia de adequação entre

meio e fim; necessidade-exigibilidade da medida e razoabilidade (justeza). Objetiva-se,

assim, preconizando o caráter educativo e reparatório, evitar que a apuração do quantum

indenizatório se converta em medida abusiva e exagerada.

Por isso, a jurisprudência tem atuado mais num sentido de restrição de

excessos do que, propriamente, em prévia definição de parâmetros compensatórios a

serem seguidos pela instância inferior. Contudo, por sua importância como linha de

razoabilidade indenizatória, merecem menção os seguintes julgados da aludida Corte

Superior:

- Inscrição indevida em cadastro restritivo, protesto incabível, devolução

indevida de cheques e situações assemelhadas – 50 salários mínimos

(REsp 471159/RO, Rel. Min. Aldir Passarinho)

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- Manutenção do nome de consumidor em cadastro de inadimplentes após

a quitação do débito – 15 salários mínimos (REsp 480622/RJ, Rel. Min.

Aldir Passarinho)

- Inscrição indevida no SERASA – 50 salários mínimos (REsp 418942/SC,

Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar)(grifo nosso)

Nota-se, portanto, que a casuística do STJ revela que a Corte tem

fixado como parâmetros razoáveis para compensação por abalo moral, indenizações

que, na sua maioria, raramente ultrapassam os 50 salários mínimos, importe reputado

como justo e adequado.

 Conforme atual doutrina sobre o tema, Carlos Alberto Bittar acentua:

“A indenização por danos morais deve traduzir-se em montante que

represente advertência ao lesante e à sociedade de que não se aceita o

comportamento assumido, ou o evento lesivo advindo. Consubstancia-se,

portanto, em importância compatível com o vulto dos interesses em

conflito, refletindo-se, de modo expresso, no patrimônio do lesante, a fim

de que sinta, efetivamente, a resposta da ordem jurídica aos efeitos do

resultado lesivo produzido. Deve, pois, ser quantia economicamente

significativa, em razão das potencialidades do patrimônio do lesante (in

Reparação Civil por Danos Morais, Editora Revista dos Tribunais, 1993,

p. 220).”(grifo nosso)

Não divergindo, Regina Beatriz Tavares da Silva afirma:

Os dois critérios que devem ser utilizados para a fixação do dano

moral são a compensação ao lesado e o desestímulo ao lesante.

Inserem-se nesse contexto fatores subjetivos e objetivos,

relacionados às pessoas envolvidas, como análise do grau da culpa

do lesante, de eventual participação do lesado no evento danoso, da

situação econômica das partes e da proporcionalidade ao proveito

obtido como ilícito.

Em suma, a reparação do dano moral deve ter em vista possibilitar ao

lesado uma satisfação compensatória e, de outro lado, exercer função de desestímulo a

novas práticas lesivas, de modo a "inibir comportamentos anti-sociais do lesante, ou de

qualquer outro membro da sociedade", traduzindo-se em "montante que represente

Page 11: Ação Ordinária Declaratória de Inexistência de Débito c

advertência ao lesante e à sociedade de que não se aceita o comportamento assumido,

ou o evento lesivo" (in Novo Código Civil Comentado, São Paulo, Saraiva, 2002, p. 841

e 842).

Sobre o tema, colhe-se da jurisprudência:

 [...] O valor da indenização do dano moral deve ser arbitrado pelo juiz de

maneira a servir, por um lado, de lenitivo para o abalo creditício sofrido

pela pessoa lesada, sem importar a ela enriquecimento sem causa ou

estímulo ao prejuízo suportado; e, por outro, deve desempenhar uma

função pedagógica e uma séria reprimenda ao ofensor, a fim de evitar a

recidiva [...] (TJSC, AC n. 2001.010072-0, de Criciúma, rel. Des. Luiz

Carlos Freyeslebem, Segunda Câmara de Direito Civil, j. em 14-10-04).

E por fim, sobre o tema, a atual jurisprudência do Tribunal de Justiça

do Estado de Santa Catarina, tem-se decidido satisfatória a quantia de R$ 9.100,00

(nove mil e cem reais), devida referente a indenização pelos danos morais sofridos, in

verbis;

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DECLARATÓRIA CUMULADA COM

INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - NEGATIVAÇÃO NOS

ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO - ATO ILÍCITO

CARACTERIZADO - DANO MORAL PRESUMIDO - DEVER DE

INDENIZAR - MAJORAÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO -

ADEQUAÇÃO AOS LIMITES DA RAZOABILIDADE E DA

PROPORCIONALIDADE - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS -

MODIFICAÇÃO DESNECESSÁRIA - RECURSO PARCIALMENTE

PROVIDO

    A indenização por danos morais deve ser fixada com ponderação,

levando-se em conta o abalo experimentado, o ato que o gerou e a

situação econômica do lesado; não podendo ser exorbitante, a ponto de

gerar enriquecimento, nem irrisória, dando azo à reincidência.

        Conforme precedentes da Terceira Câmara de Direito Civil deste

Tribunal, a indenização por dano moral em R$ 9.100,00 (nove mil e cem

reais) apresenta-se satisfatória para compensar o abalo sofrido pela

negativação do nome nos órgãos de proteção ao crédito.[...](TJSC,

Apelação Cível n. 2006.043326-9, de Joinville, Relator: Des. Fernando

Carioni, 27/02/2007.)

Page 12: Ação Ordinária Declaratória de Inexistência de Débito c

Diante de todo exposto, atribui-se o valor de R$ 10.000,00 (dez mil

reais) a título dos danos morais sofridos pelo autor.

2.3) DA ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA JURISDICIONAL

Necessário a antecipação dos efeitos da tutela vez que, o autor necessita imediatamente de empréstimos, pois se encontra em dificuldades financeiras, ocasionando um abalo imenso em sua vida e de sua família, que depende deste empréstimo para seu sustento.

Dispõe o artigo 273 do Código de Processo Civil, que:

“O juiz poderá, a requerimento das partes, antecipar, total ou

parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que,

existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação”.

(grifo nosso)

Completam os incisos I, e II, respectivamente:

“I – haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; II –

fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito

protelatório do réu”.(grifo nosso)

Enfim, para a concessão da tutela antecipada exige a Lei uma das

situações alternativas:

a) ou a exigência do periculum in mora; b) ou a existência do abuso de

direito de defesa do réu, independente da existência do periculum in mora.

No caso, está presente o periculum in mora, visto que há restrição

irreparável de direitos intrínsecos à pessoa do autor. Outrossim no caso em tela, há mais

do que a possibilidade do pleito; há sim, a certeza da sua procedência e a ineficiência do

provimento final quanto ao constrangimento a que o autor tem passado.

Assim, requer o autor, como institui o artigo 273, e seus incisos do

CPC, c/c artigo 84, parágrafo 3º da Lei 8.078/90, seja concedida a tutela antecipada, no

sentido de que seja imediatamente retirado seu nome junto a qualquer órgão de

recuperação de crédito.

2.4) DA APLICAÇÃO DO C.D.C – INVERSÃO DO ONUS DA PROVA

Page 13: Ação Ordinária Declaratória de Inexistência de Débito c

Em regra, o ônus da prova incumbe a quem alega o fato gerador do

direito mencionado ou a quem o nega fazendo nascer um fato modificativo, conforme

disciplina o artigo 333, incisos I e II do Código de Processo Civil.

O Código de Defesa do Consumidor, representando uma atualização do

direito vigente e procurando amenizar a diferença de forças existentes entre pólos

processuais onde se tem num ponto, o consumidor, como figura vulnerável e noutro, o

fornecedor, como detentor dos meios de prova que são muitas vezes buscados pelo

primeiro, e às quais este não possui acesso, adotou teoria moderna onde se admite a

inversão do ônus da prova justamente em face desta problemática.

Havendo uma relação onde está caracterizada a vulnerabilidade entre

as partes, como de fato há, este deve ser agraciado com as normas atinentes na Lei no.

8.078-90, principalmente no que tange aos direitos básicos do consumidor, e a letra da

Lei é clara.

Ressalte-se que se considera relação de consumo a relação jurídica

havida entre fornecedor (artigo 3º da LF 8.078-90), tendo por objeto produto ou serviço,

sendo que nesta esfera cabe a inversão do ônus da prova quando: 

“ O CDC permite a inversão do ônus da prova em favor do consumidor,

sempre que foi hipossuficiente ou verossímil sua alegação. Trata-se de

aplicação do princípio constitucional da isonomia, pois o consumidor,

como parte reconhecidamente mais fraca e vulnerável na relação de

consumo (CDC 4º,I), tem de ser tratado de forma diferente, a fim de que

seja alcançada a igualdade real entre os participes da relação de

consumo. O inciso comentado amolda-se perfeitamente ao princípio

constitucional da isonomia, na medida em que trata desigualmente os

desiguais, desigualdade essa reconhecida pela própria Lei.” (Código de

Processo Civil Comentado, Nelson Nery Júnior et al, Ed. Revista dos

Tribunais, 4ª ed.1999, pág. 1805, nota 13). 

Diante exposto com fundamento acima pautados, requer o autor a

inversão do ônus da prova, incumbindo o réu à demonstração de todas as provas

referente ao pedido desta peça.

2.5) DO JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE – ART. 330, I, CPC

Page 14: Ação Ordinária Declaratória de Inexistência de Débito c

O julgamento antecipado da lide é uma decisão conforme o estado do

processo e se dá por circunstâncias que autorizam o proferimento de uma sentença

antecipada (questão de mérito somente de direito ou que não se precise produzir provas

em audiência; ocorrência de revelia).

No caso em tela, existe prova inequívoca de ameaça ao direito do

requerente, não é apenas um fums boni júris, mas sim, uma prova-titulo do direito

ameaçado.

A respeito do tema Nelson Nery Junior, assim explica:

“...o julgamento antecipado da lide (CPC 330). Neste, o juiz julga o

próprio mérito da causa, de forma definitiva, proferindo sentença de

extinção do processo com apreciação da lide...”(grifo nosso)

Por fim, onde presente as condições que ensejam o julgamento

antecipado da causa, é dever do juiz, e não mera faculdade, assim proceder.

Conforme artigo 330 do Código de Processo Civil, ipsis verbis;

Art. 330. O juiz conhecerá diretamente do pedido, proferindo sentença:

I – quando a questão de mérito for unicamente de direito, ou, sendo de

direito e de fato, não houver necessidade de produzir prova em audiência;

(grifo nosso)

Diante o exposto, requer a antecipação dos efeitos da tutela, por tratar-

se de matéria eminentemente de direito.

2.7) DO REQUERIMENTO DA JUSTIÇA GRATUITA

 O autor faz jus à concessão da gratuidade de Justiça, haja vista que o

mesmo não possui rendimentos suficientes para custear as despesas processuais e

honorárias advocatícios em detrimento de seu sustento e de sua família.

 

O autor junta com a presente peça declaração de pobreza (anexo 5),

afirmando que não possui condições para arcar com as despesas processuais.

 

Page 15: Ação Ordinária Declaratória de Inexistência de Débito c

 De acordo com a dicção do artigo 4º do referido diploma legal, basta a

afirmação de que não possui condições de arcar com custas e honorários, sem prejuízo

próprio e de sua família, na própria petição inicial ou em seu pedido, a qualquer

momento do processo, para a concessão do benefício, pelo que nos bastamos do texto da

lei, in verbis:

Art. 4º A parte gozará dos benefícios da assistência judiciária, mediante

simples afirmação, na própria petição inicial, de que não está em condições

de pagar as custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo

próprio ou de sua família.(grifo nosso)

§ 1º Presume-se pobre, até prova em contrário, quem afirmar essa condição

nos termos da lei, sob pena de pagamento até o décuplo das custas judiciais.

(grifo nosso)

 

Ou seja, nos termos da lei, apresentado o pedido de gratuidade e

acompanhado de declaração de pobreza, há presunção legal que, a teor do artigo 5º do

mesmo diploma analisado, o juiz deve prontamente deferir os benefícios ao seu

requerente (cumprindo-se a presunção do art. 4º acima), excetuando-se o caso em que

há elementos nos autos que comprovem a falta de verdade no pedido de gratuidade,

caso em que o juiz deve indeferir o pedido.

 

Entender de outra forma seria impedir os mais humildes de ter acesso à

Justiça, garantia maior dos cidadãos no Estado de Direito, corolário do princípio

constitucional da inafastabilidade da jurisdição, artigo 5º, inciso XXXV da Constituição

de 1988.

Veja-se que as normas legais mencionadas não exigem que os

requerentes da assistência judiciária sejam miseráveis para recebê-la, sob a forma de

isenção de custas, bastando que comprovem a insuficiência de recursos para custear o

processo, ou, como reza a norma constitucional, que não estão em condições de pagar

custas do processo sem prejuízo próprio ou de sua família, bem como as normas de

concessão do benefício não vedam tal benesse a quem o requeira através de advogados

particulares.

Page 16: Ação Ordinária Declaratória de Inexistência de Débito c

Ora, como já afirmado, decorre da letra expressa do parágrafo 1º, do

artigo 4º, da Lei 1.060/50, que se presumem pobres, até prova em contrário, quem

afirmar essa condição nos termos desta lei.

 

Sobre o tema, bastam os ensinamentos do Doutor Augusto Tavares

Rosa Marcacini (Assistência Jurídica, Assistência Judiciária e Justiça Gratuita,

Forense, Rio de Janeiro, 1996, p. 100):

"Nos termos do art. 4º, § 1º, da Lei nº 1.060/50, milita presunção de

veracidade da declaração de pobreza em favor do requerente da

gratuidade. Desta forma, o ônus de provar a inexistência ou o

desaparecimento da condição de pobreza é do impugnante."(grifo nosso)

 

No mesmo sentido a jurisprudência do STJ:

"EMENTA: Assistência judiciária. Benefício postulado na inicial, que se

fez acompanhar por declaração firmada pelo Autor. Inexigibilidade de

outras providências. Não-revogação do art. 4º da Lei nº 1.060/50 pelo

disposto no inciso LXXIV do art. 5º da constituição. Precedentes. Recurso

conhecido e provido.

1. Em princípio, a simples declaração firmada pela parte que requer o

benefício da assistência judiciária, dizendo-se 'pobre nos termos da lei',

desprovida de recursos para arcar com as despesas do processo e com o

pagamento de honorário de advogado, é, na medida em que dotada de

presunção iuris tantum de veracidade, suficiente à concessão do benefício

legal." [STJ, REsp. 38.124.-0-RS. Rel. Ministro Sálvio de Figueiredo

Teixeira.] (grifo nosso)

Diante o exposto, requer o deferimento da justiça gratuita por não

possuir condições de arcar com as custas processuais.

3) DO REQUERIMENTO FINAL_______________________

a) a citação o requerido, na pessoa de seus representantes legais, no endereço declinado no preâmbulo desta para, querendo, no prazo da lei, responder aos termos da presente ação, sob pena de revelia e confissão;

b) que seja recebida a presente peça no rito sumário;

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c) que seja designada a antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional

d) que, ao final, julgue totalmente procedente os pedidos desta peça vestibular para então;

d.1) declarar a inexistência do suposto débito do requerido junto a requerida no valor de R$ 12.000,00;

d.2) desconstituir, definitivamente o protesto do título;

d.3) condenar a requerida ao pagamento de indenização pelos danos morais sofridos a importância de R$ 10.000,00

e) a condenação do requerido ao pagamento do ônus da sucumbência;

f) o julgamento antecipado da lide com fulcro no art. 330, I, do CPC;

g) a concessão do benefício da prioridade de tramitação;

h) a concessão do benefício da justiça gratuita;

i) que seja determinada a inversão do ônus da prova, conforme art. 6º, VIII, da Lei. 8.078, de 11 de setembro de 1990;

j) a produção de todas as provas necessárias à instrução do feito, principalmente a juntada dos documentos que instruem a inicial;

Atribui-se a causa o valor de R$ 10.000,00

Florianópolis, 20 de setembro de 2008

Advogado 

 

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

O artigo 14 do CDC trata da responsabilidade objetiva do fornecedor de serviço. Funda-se esta na teoria do risco do empreendimento, segundo a qual todo aquele que se dispõe a exercer alguma atividade no campo do fornecimento de bens e serviços têm o dever de responder pelos fatos e vícios resultantes do empreendimento independentemente de culpa.