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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE O PERDÃO JUDICIAL NO SISTEMA PENAL BRASILEIRO Por: Maren Castro Winter Orientador Prof. Francis Rajzman Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

O PERDÃO JUDICIAL NO SISTEMA PENAL BRASILEIRO

Por: Maren Castro Winter

Orientador

Prof. Francis Rajzman

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

O PERDÃO JUDICIAL NO SISTEMA PENAL BRASILEIRO

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Direito e

Processo Penal

Por: . Maren Castro Winter

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus professores e a

Barbara e Marlene pelo apoio

constante.

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DEDICATÓRIA

Dedico aos meus pais, à minha esposa e

aos meus amigos.

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RESUMO

Esta pesquisa tem por fim demonstrar a função do perdão judicial no

sistema penal brasileiro.

O trabalho inicia fazendo uma abordagem sobre a extinção de

punibilidade, apresentando seu conceito, seus efeitos, suas causas previstas e

as não previstas no artigo 107 do Colégio Penal.

Depois dessa introdução, começa a discorrer sobre o tema em estudo,

qual seja, perdão judicial, conceituado tal instituto, falando sobre sua

nomenclatura, natureza jurídica, a posição da religião em frente ao tema e as

suas funções sociais.

Além disso, fala a respeito das hipóteses previstas na Parte especial do

Código Penal e fala também das hipóteses previstas em outras legislações.

Classifica essas hipóteses e discorre sobre o fato de não poder se aplicar

perdão judicial por analogia.

Por fim, fala sobre a sentença que concede tal beneficio, enfatizando a

classificação dessa sentença e as controvérsias doutrinárias. Ressalta o fato

dessas controvérsias não terem sido superadas. E ainda, apresenta a posição

do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça em relação a

essa divergência doutrinária.

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METODOLOGIA

O método dogmático-descritivo foi adotado no presente estudo para

abordar o perdão judicial no sistema penal brasileiro. Obras de Direito Penal e

as jurisprudências dos Tribunais Superiores contribuíram para a elaboração do

tema proposto.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Extinção da Punibilidade 09

CAPÍTULO II - Perdão Judicial 14

CAPÍTULO III – Hipóteses de Perdão Judicial 22

CAPÍTULO IV – Classificação das Hipóteses de Perdão Judicial 40 CAPÍTULO V — Da Sentença que Concede o Perdão Judicial 43 CONCLUSÃO 48

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 49

ÍNDICE 50

FOLHA DE AVALIAÇÃO 52

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INTRODUÇÃO

O Estado tem o direito e o dever de punir alguém que infringiu a lei

praticando um crime. Acontece que existem possibilidade do juiz analisar o

caso e deixar de aplicar pena. Essa renúncia ao direto de punir chama-se

perdão judicial.

O perdão judicial é um substitutivo penal, pois é um benefício concedido

ao réu substituindo a pena.

As hipóteses de concessão desse benefício estão limitadamente

enumeradas pela lei, deixando assim de aplicar a pena ao autor de um crime,

implicando isso na extinção da punibilidade. Afinal, o perdão judicial é uma das

causas de extinção de punibilidade, encontradas no artigo 107 do Código

Penal.

O instituto em pauta está presente em sete dispositivos da Parte

Especial do Código Penal brasileiro, e ainda em mais outras seis hipóteses

legais, sendo que essas treze espécies constituem cinco classes nas quais

podem ser agrupadas, quais sejam, Pena privada, Poema naturalis, Bagatela,

Relevante valor moral e Colaboração Premiada.

A sentença que concede tal benefício não é classificada na lei, pois a lei

é omissa em dizer e fundamental qual é a classificação, fazendo com que cada

Tribunal e cada doutrinador pense de um jeito.

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CAPÍTULO I

EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE

1.1 — Conceito

Antes de entrar especificamente no tema perdão judicial, deve-se definir

o que é punibilidade, o seu conceito, quais são suas causas, seus efeitos e

tudo que de forma geral se referir a extinção de punibilidade.

Punibilidade é uma das condições para o exercício da ação penal, sendo

a possibilidade jurídica do Estado em aplicar uma pena no autor da infração

penal, ou seja, toda vez que uma pessoa comete um crime, abre a

possibilidade do Estado de lhe aplicar uma pena, de utilizar seu ius puniendi.

Sendo assim, essa punibilidade pode ser extinta, ou seja, “podem

ocorrer causas que obstem a aplicação das sanções penais pela renúncia do

Estado em punir o autor do delito, falando-se então, em causas de extinção da

punibilidade”.1

Ressalta-se que não se pode confundir extinção da punibilidade com

extinção da pena. De acordo com o autor Djalma Eutímio de Carvalho2, a

extinção da pena se dá com o seu efetivo cumprimento, já a extinção da

punibilidade ocorre quando ainda não foi cumprida a pena.

Essas causas extintivas de punibilidade estão inseridas no artigo 107 do

Código Penal.

Art. 107 — Extingue-se a punibilidade:

I — pela morte do agente;

II — pela anistia, graça ou indulto;

III — pela retroatividade de lei que não mais

considera o fato como criminoso;

IV — pela prescrição, decadência ou perempção;

V — pela renúncia do direito de queixa ou pelo

perdão aceito, nos crimes de ação privada; 1 Júlio Fabbrini Mirabete. Manual de direito penal brasileiro.p. 400. 2 Djalma Eutímio de Carvalho. Curso de direito penal. p. 262.

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VI — pela retratação do agente, nos casos em que

a lei admite;

VII — REVOGADO

VIII — REVOGADO

IX — pelo perdão judicial, nos casos previstos em

lei.

Segundo o artigo 61, caput, do Código de Processo Penal3 quando o juiz

reconhecer a extinção da punibilidade, em qualquer fase do processo, deve

declara-la do ofício.

1.2 — Efeitos

As causas extintivas de punibilidade podem ocorrer antes ou depois do

trânsito em julgado da sentença condenatória.

Se ocorrer antes, atinge o próprio jus puniendi, não persistindo qualquer

efeito do processo ou mesmo da sentença condenatória. Porém, há casos que

podem restar alguns efeitos da condenação.

Se ocorrer depois, extingue-se apenas o título penal executório ou

apenas alguns de seus efeitos, como a pena. Porém, há casos em que

extinguem todos os efeitos da sentença condenatória e o próprio delito não

poderá ser mais ser considerado.

1.3 — Causas de extinção de punibilidade

A primeira das causas extintivas de punibilidade é a morte do agente. Ao

referir-se ao “agente”, a lei inclui o indiciado, o réu e o condenado. Nesse caso,

quando há a morte do agente “cessar toda a atividade à punição do crime: com

o processo penal em curso encerra-se ou impede-se que ele seja indiciado e a

pena cominada ou em execução deixa de existir”.4

Extingue-se a punibilidade também pela anistia, graça ou indulto.

3 “Art. 61. Em qualquer fase do processo, o juiz, se reconhecer extinta a punibilidade, deverá declara-lo de ofício”. 4 Cezar Roberto Bitencourt. Tratado de direito penal. p. 722.

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A anistia é o esquecimento jurídico do ilícito e tem por objeto fazer-se

esquecer o crime e aplica-se principalmente aos crimes políticos. Pode ocorrer

antes ou depois da sentença e se destina a fatos e não a pessoas. Pode ser

parcial ou total e extingue todos os efeitos penais, inclusive a reincidência.

A graça é uma forma de clemência soberana e destina-se a

determinadas pessoas e não a fatos. Tem por objeto os crimes comuns e na

prática vem sido tratada como indulto individual, pelo fato da Constituição

Federal não mais a consagrar como instituto autônomo.

O indulto pode ser individual (que é graça) ou coletivo. O indulto coletivo,

ou indulto propriamente dito, destina-se a um grupo indeterminado de

condenados, sendo delimitado pela natureza do crime e quantidade da pena

aplicada. Além de outros requisitos que a lei pode estabelecer. O indulto pode

ser total (ou pleno) quando alcança todas as sanções impostas ao condenado,

ou pode ser parcial, quando há redução ou substituição da sanção, sendo

chamada de comutação, que inclusive não extingue a punibilidade, mas diminui

a quantidade de pena a cumprir.

Outra causa de extinção é pela retroatividade da lei que não mais

considera o fato como criminoso. Trata-se de abolitio criminis. Ocorre quando

uma nova lei deixa de considerar como ilícito penal o fato praticado pelo

agente, por revogação expressa ou tácita. Sendo assim, extingue-se o próprio

crime e nenhum efeito penal subsiste.

A prescrição, decadência e perempção também são causas de extinção

da punibilidade.

A prescrição ocorre quando o Estado perde seu direito de punir por não

ter tido capacidade de fazer valer esse direito em determinado espaço de

tempo previsto na lei, fazendo com que ocorra a extinção da punibilidade.

A decadência ocorre quando “a vítima, ou quem tenha qualidade para

representa-la, perde o seu direito de queixa ou de representação em virtude do

decurso de um certo espaço de tempo”.5

A perempção é a perda do direito de prosseguir na ação penal privada

por conta de inércia do particular. Aqui, “o querelante, que já iniciou a ação de

5 Rogério Greco. Curso de direito penal. p. 715.

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exclusiva iniciativa privada, deixa de realizar certos atos necessários ao seu

prosseguimento, deixando de movimentar o processo, levando a presunção de

desistência (art. 60 do CPP)”.6

Vejamos o artigo 60 do Código de Processo Penal

Art. 60. Nos casos em que somente se procede

mediante queixa, considerar-se-á perempta a ação penal:

I — quando, iniciada esta, o querelante deixar de

promover o andamento do processo durante 30 dias

seguidos;

II — quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo

sua incapacidade, não comparecer em juízo, para

prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta)

dias, qualquer das pessoas a quem couber faze-lo,

ressalvado o disposto no art. 36;

III — quando o querelante deixar de comparecer,

sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que

deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de

condenação nas alegações finais;

IV — quando, sendo o querelante pessoa jurídica,

esta se extinguir sem deixar sucessor.

Poder ocorrer extinção de punibilidade também pela renúncia do direito

de queixa ou pelo perdão aceito nos crimes de ação privada.

A renúncia é um ato unilateral, é a desistência do direito de ação por

parte do ofendido e só pode ocorrer em ação de exclusiva iniciativa privada e

somente antes de inicia-la.

O perdão do ofendido é a desistência do querelante em prosseguir com

ação privada. É um ato bilateral, pois só se completa com a aceitação do

querelado.

6 Cezar Roberto Bitencourt. Op. Cit. p. 723.

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A retração do agente também é uma causa de extinção de punibilidade.

De acordo com Guilherme de Souza Nuncci7, “o ato pelo qual o agente

reconhece o erro que cometeu e o denuncia a autoridade, retirando o que

anteriormente havia dito”.

Ressalta-se que quando o inciso diz que pode ocorrer nos casos

admitidos em lei, quer dizer que pode ocorrer nos crimes de calúnia e

difamação, sendo que na Lei de Imprensa alcança também a injúria; nos

crimes de falso testemunhos e falsa perícia.

E por fim, o perdão judicial, que também se encontra no artigo 107, em

seu inciso IX do Código Penal como causa de extinção de punibilidade. O

perdão judicial será tratado de forma específica nos próximos capítulos.

1.4 — Causas de extinção de punibilidade não prevista no artigo 107 do

Código Penal

Embora não seja expressa na lei, pode acontecer de existir extinção de

punibilidade por causa implicitamente considerada como tal.

Um exemplo é o artigo 522 do Código de Processo Penal, onde diz

Art. 522. no caso de reconciliação, depois de

assinado pelo querelante o termo da desistência, a queixa

será arquivada.

7 Guilherme de Souza Nucci. Código penal comentado. p. 541.

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CAPÍTULO II

PERDÃO JUDICIAL

2.1 — O conceito e nomenclatura

A palavra perdão, é definida no dicionário como remissão de pena. Essa

definição é interessante para entender o que significa perdão judicial e qual é a

sua importância para o sistema penal.

Sendo assim, perdão judicial vem a ser uma faculdade do juiz em deixar

de aplicar pena ao réu, quando houver circunstâncias justificadas para tal ato.

A legislação não define perdão judicial, o que coube as doutrinas fazer.

Diversos doutrinadores discorrem a respeito do tema.

Segundo Leonardo Augusto de Almeida Aguiar8, perdão judicial vem a

ser

O instituto de direito penal através do qual é dado ao juiz,

como etapa da tarefa de individualização da sentença

penal, o poder discricionário de renunciar, em nome do

Estado, ao direito de punir, em hipótese limitadamente

previstas por lei, mediante uma atitude valorativa da

espécie, deixando assim de aplicar a pena ao autor de

uma conduta típica, ilícita e culpável, implicando isso na

extinção da punibilidade dessa conduta.

Outro autor que define perdão judicial é Magalhães Noronha9

O perdão judicial pode ser traduzido como uma faculdade

dada pela lei o juiz de, declarada a existência de uma

infração penal e sua autoria, deixar de aplicar a pena em

razão do reconhecimento de certas circunstâncias

excepcionais e igualmente declinadas pela própria lei.

8 Leonardo Augusto de Almeida Aguiar. Perdão judicial. p. 16. 9 E. Magalhães Noronha. Direito penal. p. 365.

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É Indispensável citar a definição dada por Damásio10

Perdão judicial é o instituto pelo qual o juiz, não obstante

comprovada a prática da infração penal pelo sujeito

culpado, deixa de aplicar a pena em face de justificadas

circunstâncias.

Mirabete11 também conceitua perdão judicial.

O perdão judicial é um instituto através do qual o juiz,

embora reconhecendo a coexistência dos elementos

objetivos e subjetivos que constituem o delito, deixa de

aplicar a pena desde que apresente determinadas

circunstâncias excepcionais previstas em lei e que tornam

desnecessária a imposição da sanção.

A nomenclatura perdão judicial foi adotada com a reforma do Código

Penal de 1984.

Houve uma divergência na doutrina a respeito dessa terminologia Alguns

autores não concordam com a expressão usada, pois achavam que não era a

nomenclatura adequada para esse instituto.

Porém, essa divergência já foi superada. Conforme Sznick12,

“Vários fatores contribuem para a manutenção do nome

perdão judicial: 1 — a tradição doutrinária, inclusive de

outros países; na Itália, o instituto é conhecido, de há

muito, como perdono giudiziale; na França, integrava a

Loi du Pardon. Ente nós, projetos como o de Sá Pereira

(1925), e Alcântara Machado o incluíam com esse nome;

2 — já há um instituto — e ninguém o contesta — que é o

10 Damásio Evangelista de Jesus. Direito penal. p. 683. 11 Júlio Fabbrini Mirabete. Op. Cit. p. 416. 12 Sznick apud AGUIAR, Leonardo Augusto de Almeida. Op. Cit. p. 17.

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perdão do ofendido, que cabe na ação penal privada,

tanto que é causa extintiva de punibilidade e vem prevista

no CP nos arts. 105 e 106 (e incisos); 3 — a consagração,

com a reforma da Parte Geral do Código Penal, que agora

contempla a figura com o nome de perdão judicial”.

2.2 — Natureza jurídica

A natureza jurídica do perdão judicial é bem controvertida, tanto que

existem quatro correntes a respeito do tema.

A primeira corrente trata do perdão judicial como causa de exclusão do

crime. De acordo com os defensores dessa posição, o perdão judicial anularia

o caráter delituoso do fato, ou seja, além de não condenar, extinguiria o crime.

Essa posição não seria a adequada, pois o que acontece é que antes do juiz

conceder o perdão judicial ao réu, ele já reconheceu que houve um delito; o

que ele faz é isentar o autor do crime da pena.

A segunda corrente identifica o perdão judicial com as escusas

absolutórias. Tal posição entende que o perdão judicial leva a absolvição do

acusado. Essa posição também não seria adequada pelo fato de que quando é

aplicado o perdão judicial não há dúvida quanto a materialidade e a autoria do

crime, e o que ocorre, é que o juiz apenas deixa de condenar o acusado.

A terceira corrente entende o perdão judicial como uma indulgência

judicial, não tendo qualquer ligação com a sanção penal. Essa corrente

também não se mostra adequada, pois o perdão judicial é uma faculdade do

juiz, diante das hipóteses que a lei permite, não admitindo que este se coloque

acima do Estado, exercendo um ato de compaixão.

A quarta corrente e a mais aceita é a que tem a causa de extinção da

punibilidade como natureza jurídica do perdão judicial. Tal posição entende que

sendo concedido o perdão judicial, extingue a punibilidade, pois o Estado deixa

de condenar o autor do crime.

Segundo Tourinho Filho13

13 Tourinho Filho apud AGUIAR, Leonardo Augusto de Almeida. Op. Cit.

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A Lei n. 7.209 veio solucionar essas divergências de

entendimentos, optando pela corrente mais liberal, que

via, no perdão judicial, uma verdadeira declaração de

extinção da punibilidade. Daí salientar o art. 107, IX, do

CP que a punibilidade se extingue pelo perdão judicial nos

casos previstos em lei.

O autor Leonardo Aguiar14 critica essa posição majoritária dizendo que a

extinção de punibilidade é um efeito da aplicação do perdão judicial, não sendo

suficiente para definir a natureza jurídica deste instituto. E ainda afirma que

entende mais apropriado dizer que a natureza jurídica do perdão judicial é a

renúncia ao direito de punir, sendo que essa renúncia acarretará, como

conseqüência, a extinção de punibilidade.

Quem também defende essa posição é Paulo Tovo15

O perdão judicial é causa de extinção do poder punitivo

do Estado. Pelo perdão, o Estado renuncia à pretensão

punitiva, através de seu órgão juiz.

Há autores que não concordam com o pensamento do autor Leonardo

Aguiar, como Damásio16 e Magalhães Noronha17 que dizem que o perdão

judicial é uma causa extintiva da pretensão executória. Porém ressalta-se que

a pretensão executória só surge com a prolação de uma sentença

condenatória, o que, a bem da verdade, não ocorre nesse instituto.

14 Leonardo Augusto de Almeida Aguiar. Op. Cit. p. 28. 15 Paulo Tovo apud AGUIAR, Leonardo Augusto de Almeida. Op. Cit. p. 29. 16 Damásio diz que “Perdão Judicial é a renúncia antecipada à pretensão executória. Assim, constitui causa extintiva da pretensão executória das penas principais, acessórias e medidas de segurança. O Estado renuncia, por intermédio da declaração do juiz, na própria sentença, à pretensão de imposição das penas de reclusão, detenção, multa e prisão simples, penas acessórias e medidas de segurança”. 17 Magalhães Noronha diz que “O perdão judicial é causa extintiva da pretensão executória, significando que o Estado renunciou, através do juiz, da pretensão de impor uma pena a quem cometeu um crime, reconhecido judicialmente”.

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18

2.3 — A religião diante do perdão judicial

A religião, principalmente a cristã, influencia bastante o direito brasileiro.

O perdão judicial está ligado a noção da religião, mas sua aplicação está

bem limitada pela lei.

O autor Leonardo Aguiar18 cita em seu artigo algumas das várias

passagens do Cristianismo que falam sobre perdão. “O "Pai Nosso” assim

versa: “Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos

têm ofendido...”; 2) no “Nosso Testamento” (Mateus, Cap. XVIII, 21-22) está

dito: “Então chegando-se Pedro a Ele, perguntou: Senhor, quantas vezes

poderá pecar meu irmão contra mim, que eu lhe perdoe? Respondeu-lhe

Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas que até setenta vezes sete vezes”;

e 3) na “Sagrada Escritura” (Eclesiástico, Cap. XXVIII, 1-2) consta: “Aquele que

quer vingar-se, encontrará a vingança do Senhor, o qual tirará exata conta dos

seus pecados. Perdoa ao seu próximo que te ofendeu e então, quando pedires,

ser-te-ão perdoados os pecados”.

O evangelho prega que devemos perdoar mas admite a necessidade da

justiça penal humana.

O ato de perdoar não deve ser usado só porque Cristo nos deixou isso

como ensinamento, mas sim porque isso será útil, benéfico, de grande

importância para a sociedade.

Segundo Ariovaldo Figueiredo19 perdão judicial seria um instituto que se

desenvolveu no mundo jurídico moderno, como tentativa de combate à

criminalidade.

Para Antonio Beristan20 o direito penal não perde sua autonomia por

entrar com relação a teologia, pois a intensificação religiosa de hoje é

imprescindível para fazer fermentar uma política criminal verdadeiramente

humana.

18 Leonardo Augusto de Almeida Aguiar. Op. Cit. p. 74. 19 Ariovaldo Figueiredo apud AGUIAR, Leonardo Augusto de Almeida. Op. Cit. p. 75. 20 Antonio Beristan AGUIAR, Leonardo Augusto de Almeida. Op. Cit. p. 75.

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2.4 — As funções sociais do perdão judicial

O autor Leonardo Aguiar21 destacou em seu artigo as três funções

sociais principais do instituto em estudo.

A primeira delas seria a função de racionalização da pena. A idéia aqui

gira em torno do fato de que nem todos os crimes cometidos têm a

necessidade de aplicação de pena, pois não traria nenhum tipo de benefício à

sociedade, e nem mesmo para o acusado. Assim, pode-se utilizar o perdão

judicial nesses casos pois estaria racionalizando a aplicação das penas.

Neste caso, o perdão judicial é admitido nas hipóteses em que há

aplicação de pena justa, porém desnecessária. O autor Paulo Queiroz22 expõe

claramente a respeito dessa idéia

Para essa teoria, a justificação da pena depende, a um

tempo, da justiça de seus preceitos e da sua necessidade

para a preservação das condições essenciais da vida em

sociedade (proteção de bens jurídicos). Busca-se, assim,

unir justiça e utilidade, razão pela qual a pena somente

será legítima na medida em que seja

contemporaneamente justa e útil. Por conseguinte, a

pena, ainda que justa, não será legítima, se for

desnecessária (inútil), tanto quanto se, embora necessária

(útil), não for justa. Semelhante perspectiva se

caracteriza, pois, por um conceito pluridimensional da

pena que, apesar de orientada pela idéia de retribuição, a

ela não se limita.

Significa dizer, noutros termos, que a pena é

conceitualmente uma retribuição jurídica, mas retribuição

que somente se justifica se e enquanto necessária à

proteção da sociedade, vale dizer, é uma retribuição a

serviço da prevenção geral e/ou especial de futuros 21 Leonardo Augusto de Almeida Aguiar. Op. Cit. p. 78. 22 Paulo Queiroz apud AGUIAR, Leonardo Augusto de Almeida. Op. Cit. p. 81.

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delitos. A retribuição há de ser, nesse sentido, o limite

máximo da prevenção, de sorte a coibir os possíveis

excessos de uma política criminal orientada

exclusivamente pela idéia da prevenção”.

A lei também fala a respeito da pena estabelecida precisar ser

necessária e suficiente para a reprovação e prevenção do crime, conforme o

artigo 59 do Código Penal.

Art. 59 — O juiz, atendendo à culpabilidade, aos

antecedentes, à conduta social, à personalidade do

agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências

do crime, bem como ao comportamento da vítima,

estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para

reprovação e prevenção do crime:

I — as penas aplicáveis dentre as cominadas;

II — a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites

previstos;

III — o regime inicial de cumprimento da pena privativa de

liberdade;

IV — a substituição da pena privativa da liberdade

aplicada, por outra espécie de pena, se cabível.

A segunda função social é a de adequação social da pena. A idéia desta

função é evitar a aplicação de pena nos casos em que a punição desagrade à

consciência popular. Isso, possibilita que o julgador evite uma situação que

para a sociedade seria uma grave injustiça, adequando a aplicação da lei à

vontade social.

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21

São variados os casos onde a aplicação de uma pena se mostra

inadequada diante da consciência popular. Um desses casos seria quando o

fato já atribuiu ao autor um sofrimento tão grande, tão cruel, que qualquer outra

pena seria um exagero.

Outra hipótese é do autor ter praticado um fato tendo uma intenção tão

nobre que a sua punição mostra-se desmerecida diante de seus propósitos.

E há ainda os casos que apresentam uma reprovação social tão

insignificante, nos quais uma eventual punição desagradaria a população por

mostrar-se desproporcional à gravidade do fato.

A terceira função é a de evitar a segregação social. Essa função visa

evitar a dessocialização do indivíduo quando o perdão judicial for aplicado.

Não se trata aqui de uma medida ressocializadora, pois todos os agentes que

possuem condições de serem beneficiados com a aplicação do perdão judicial

não precisam ser ressocializados. Afinal, a intenção dessa função é afastar o

agente do delito da prisão, evitando assim sua segregação social.

A importância dessa função se mostra diante da constatação de que a

pena privativa de liberdade não ressocializa ninguém. A intenção dessa pena,

que seria fazer com que cometeu um crime não volte mais a praticar nenhum

delito, fica somente no sonho, pois não é o que acontece. Muitos presidiários

sofrem mais prisões, não vivem dignamente e acabam se degenerando,

voltando a praticar outros delitos. E quando saem da prisão, ainda tem o

preconceito social, pois após o acusado ter cumprido sua pena, a sociedade

ainda o recrimina todo o tempo pelo o que fez.

O perdão judicial acaba sendo uma maneira de se evitar a

dessocialização, pois o acusado não sofre essa segregação, além do que é

notório que as penas privativas de liberdade não ajudam na reintegração

daquele que cometeu um crime na vida social, devendo sempre que possível

ser evitadas, sendo o perdão judicial um ótimo instrumento para ajudar nessa

tarefa de reintegrar o infrator na sociedade.

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CAPÍTULO III

HIPÓTESES DE PERDÃO JUDICIAL

3.1. — Hipóteses legais do Código Penal

A lei trata das hipóteses em que pode o juiz conceder o perdão judicial.

O legislador, ao faze-la, foi cauteloso, restringindo as possibilidade de o

magistrado deixar de aplicar pena. Essas hipóteses se encontram nos

seguintes artigos: Artigo 121, parágrafo 5º, Artigo 129, parágrafo 8º, Artigo 140,

parágrafo 1º, Artigo 176, parágrafo único; Antigo 180, parágrafo 5º, Artigo 242,

parágrafo único; Artigo 249, parágrafo 2º, todos do Código Penal.

3.1.1 — Artigo 121, parágrafo 5º

O artigo 121, parágrafo 5º, trata do homicídio culposo, e assim reza

Art. 121. Matar alguém:

Pena — reclusão, de seis a vinte anos.

(...)

§ 3º Se o homicídio é culposo:

Pena — detenção, de um a três anos.

(...)

§ 5º — Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá

deixar de aplicar a pena, se as conseqüências da infração

atingirem o próprio agente de forma tão grave que a

sanção penal se torne desnecessária.

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Neste artigo, somente ao autor do homicídio culposo pode-se aplicar o

perdão judicial desde que ele tenha sofrido com o crime praticado uma

conseqüência tão seria e grave que a sanção penal se torne desnecessária, ou

seja, o autor do crime já teve uma punição bem maior do que qualquer pena

que ele tenha que cumprir.

Como diz o autor Guilherme Nuncci23, “a pena tem caráter aflitivo,

preventivo e reeducativo, não sendo cabível a sua aplicação para quem já foi

punido pela própria natureza”.

Um bom exemplo desse caso é quando um pai mata o filho sem querer.

A dor que esse pai sente é mais forte do que qualquer pena que venha ser

aplicada a ele.

3.1.2 — Artigo 129, parágrafo 8

Outra hipótese de perdão judicial é o artigo 129, parágrafo 8º, que trata

da lesão corporal culposa

Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de

outrem:

Pena — detenção, de três meses a um ano.

(...)

§ 6º Se a lesão é culposa:

Pena — detenção, de dois meses a um ano.

(...)

23 Guilherme de Souza Nucci, Op. Cit. p. 597.

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§ 8º — Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do

art. 121

Esse caso é bem parecido com o artigo citado acima (homicídio culposo)

pois o perdão judicial concedido naquele crime é o mesmo aplicado nesse

crime. A diferença está no conceito de cada um desses crimes, pois no

homicídio ocorre a morte da vítima e na lesão ocorre uma ofensa a integridade

física da vítima, mas não ocorre a morte do mesmo.

Tanto o homicídio culposo quanto a lesões culposas foram introduzidas

como hipóteses de perdão judicial pela Lei nº 6416 de 1977.

3.1.3 — Artigo 140, parágrafo 1º

O artigo 140, parágrafo 1º do Código Penal, que trata da injúria, assim

versa:

Art. 140 — Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou

o decoro:

Pena — detenção, de um a seis meses, ou multa.

§ 1º — O juiz pode deixar de aplicar a pena:

I — quando o ofendido, de forma reprovável, provocou

diretamente a injúria;

II — no caso de retorsão imediata, que consista em outra

injúria.

Aqui, o juiz pode conceder o perdão judicial quando o ofendido provocar

de forma reprovável a injúria ou quando houver retorsão imediata consistindo

em outra injúria.

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No caso do inciso I, a provocação deve ser direta, ou seja, na presença

do agente, e reprovável.

No caso do inciso II, houve uma retorsão, ou seja, uma resposta

injuriosa diante da injúria proferida, devendo essa retorsão ser imediata.

Não há o que se falar de injúria não consumada, pois esse crime foi

consumado, o que acontece aqui, é que o juiz, analisando o caso, verificando

que realmente houve um dos dois casos acima citados e se assim entender,

ele isenta o réu da pena.

3.1.4 — Artigo 176, parágrafo único

Outra hipótese é o artigo 176, parágrafo único, que trata de fraudes,

assim reza

Art. 176 — Tomar refeição em restaurante, alojar-se em

hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem dispor de

recursos para efetuar o pagamento:

Pena — detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa.

Parágrafo único — Somente se procede mediante

representação, e o juiz pode, conforme as circunstâncias,

deixar de aplicar a pena.

Neste artigo, as circunstâncias referidas para que o perdão judicial seja

concedido não são especificadas, nem exemplificadas, sendo a sua apreciação

de arbítrio do juiz, que deve analisar o caso e ao conceder o perdão judicial,

deve fundamentar o uso desta faculdade.

Sendo assim, a expressão circunstância empregada, são as referentes

as condições do agente, tais como: reincidência, idade do acusado, presunção

de que se absterá de cometer nova infração penal, demonstração de

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arrependimento e vergonha, não periculosidade, ou à irrelevância do prejuízo

causado. O autor Magalhães Noronha24 exemplifica essas circunstâncias

“(...) merecem consideração a pouquidade do prejuízo do

lesado; a necessidade admissível do sujeito ativo, como

se com fome — que não constitua estado de necessidade

— toma refeição sem dispor de dinheiro para o

pagamento; o motivo de relevante valor social ou moral,

tal o de alguém que, sem dispor de meios, faz viagem de

automóvel, para assistir os últimos momentos de um ente

que lhe é caro; a personalidade do agente, etc., pois a

expressão circunstância aqui empregada não deve ser

tomada no sentido restrito de atenuante (art. 65), mas de

maneira ampla e relacionada não só ao fato como à

personalidade do agente”.

3.1.5 — Artigo 180, parágrafo 5º

O artigo 180, parágrafo 5º que trata da receptação qualificada assim

versa.

Art. 180 — Adquirir, receber, transportar, conduzir

ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe

ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-

fé, a adquira, receba ou oculte

(...)

§ 3º — Adquirir ou receber coisa que, por sua

natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou

pela condição de quem a oferece, deve presumir-se

obtida por meio criminoso.

24 E. Magalhães Noronha. Op. Cit. p. 458.

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(...)

§ 5º — Na hipótese do § 3º, se o criminoso é

primário, pode o juiz, tendo em consideração as

circunstâncias, deixar de aplicar a pena. (...)

Neste artigo, o legislador previu a possibilidade de conceder o perdão

judicial, desde que o réu seja primário.

As circunstâncias citadas no mesmo artigo se referem tanto as

condições do agente, tais como: idade do acusado, presunção de que se

absterá de cometer infração penal, demonstração de arrependimento e

vergonha, não periculosidade, boa-fé na receptação; Quanto à irrelevância da

infração, ou seja, quando a significância penal do crime for reduzida devido ao

baixo valor da coisa receptada. E essa relevância é verificada depois de

analisado o caso concreto.

3.1.6 — Artigo 242, parágrafo único

Outra hipótese é o artigo 242, parágrafo único, que trata de Parto

suposto e Supressão ou alteração de direito inerente ao estado civil de recém-

nascido.

Art. 242 — Dar parto Alheio como próprio; registrar como

seu o filho de outrem; ocultar recém-nascido ou substitui-

lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil:

Pena — reclusão, de dois a seis anos.

Parágrafo único — Se o crime é praticado por motivo de

reconhecida nobreza:

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Pena — detenção, de um a dois anos, podendo o juiz

deixar de aplicar a pena.

Esse artigo encontra-se no capítulo dos crimes contra o estado de

filiação e teve essa nova redação pela Lei nº 6898 de 1981.

Nesse caso, pode o juiz deixar de aplica a pena, se o crime for praticado

por motivo de reconhecida nobreza, ou seja, quando a razão que levou o

agente a agir dessa forma claramente elevada ou superior.

Para aplicar o perdão judicial, pode o juiz se valer dos fatores pessoais

do agente (tais como: antecedentes criminais, conduta social) para fazer uma

análise valorativa para dizer se o autor agiu com nobreza ou não.

3.1.7 — Artigo 249, parágrafo 2º

O artigo 249, parágrafo 2º trata de subtração de incapazes

Art. 249. Subtrair menor de 18 (dezoito) anos ou

interditado ao poder de quem o tem sob sua guarda em

virtude de lei ou de ordem judicial:

Pena — detenção, de 2 (dois) meses a 2 (dois) anos, se o

fato não constitui elemento de outro crime.

(...)

§ 2º. No caso de restituição do menor ou do interdito, se

este não sofreu maus tratos ou privações, o juiz pode

deixar de aplicar a pena.

O presente artigo trata de subtração de menores e dispõe que pode o

juiz conceder perdão judicial se o autor do fato restitui voluntariamente a vítima

ao poder de quem o tem por direito, e tendo o juiz verificado que durante o

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período da subtração o menor ou interdito não sofreu qualquer tipo de privação

ou maus-tratos.

3.2 — Outras hipóteses legais de perdão judicial

Além das hipóteses anteriormente vistas. Há outras hipóteses de perdão

judicial na nossa legislação. Vejamos:

3.2.1 — Lei de contravenções penais

A Lei contravenções penais (O Decreto-Lei 3.688, de 03 de Outubro de

1941) trata do perdão judicial em dois casos: No escusável erro de direito, que

se encontra em seu artigo 8º; E na contravenção de associação secreta, que

se encontra em seu artigo 39, parágrafo 2º.

O artigo 8º assim diz

Art. 8º. No caso de ignorância ou de errada

compreensão da lei, quando escusáveis, a pena pode

deixar de ser aplicada.

Esse artigo versa sobre o erro de direito, que embora conceituado no

código penal, também se encontra na lei das contravenções penais.

Nesse caso, é cabível o perdão judicial quando o réu agir por ignorância

ou pela errada compreensão da lei, desde que tal circunstância tenha sido

inevitável.

Compete ao julgador proceder uma análise do caso concreto, para aí

sim, decidir se aplica o perdão judicial ou não.

Essa hipótese é genérica, pois esse artigo encontra-se na parte geral da

Lei de contravenções penais. Ao contrário de todas as outras hipóteses vistas

anteriormente, esta se aplica a mais de uma figura delituosa. No caso, aplica-

se a todas as figuras previstas nessa lei.

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Outro artigo dessa lei que trata desse instituto é o artigo 39, que assim

reza

Art. 39. Participar de associação de mais de cinco

pessoas, que se reúnam periodicamente, sob

compromisso de ocultar à autoridade a existência,

objetivo, organização ou administração da associação:

Pena — prisão simples, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou

multa.

§ 1º. Na mesma pena incorre o proprietário ou ocupante

de prédio que o cede, no todo ou em parte, para reunião

de associação que saiba ser de caráter secreto.

§ 2º. O juiz pode, tendo em vista as circunstâncias, deixar

de aplicar a pena, quando lícito o objeto da associação.

Nesse caso, o legislador deixa claro que para o juiz deixar de aplicar

pena requer a existência de dois requisitos, quais sejam, as circunstâncias que

envolvem o fato e seu autor; E a licitude do objeto da associação.

Esse artigo não visa coibir a associação lícita, mesmo porque é um

direito assegurado aos cidadãos pela própria Constituição, conforme o artigo

5º, incisos XVI a XXI. O que este artigo que proibir é que haja associação de

mais de cinco pessoas com o compromisso de seu ocultamento à autoridade. E

o motivo dessa proibição é o perigo potencial que representam certas

associações envoltas em segredo e mistério, agindo de maneira oculta.

3.2.2 — Lei 1.802 de 05 de janeiro de 1.953

É a chamada “Lei de Segurança Nacional”, onde define os crimes contra

o Estado e a Ordem política e social.

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A hipótese de perdão judicial nessa lei é encontrada no artigo 36 que

versa

Art. 36. A critério do juiz, conforme as circunstâncias do

caso, o agente que houver, voluntariamente, desistido da

consumação do crime, ou, espontaneamente, anulado ou

diminuído suas conseqüências, terá relevada ou reduzida

a pena correspondente aos atos já praticados.

Nesse caso é permitido ao juiz aplicar o perdão judicial ao autor de

qualquer dos crimes previstos nos artigos 2º a 29º dessa Lei, desde que o

mesmo tenha desistido voluntariamente da consumação do crime; ou tenha

anulado ou diminuídos espontaneamente as conseqüências de seu agir.

Assim, em relação a esses crimes, dá-se uma nova dimensão à

desistência voluntária e ao arrependimento eficaz, através do perdão judicial.

O artigo que trata da desistência voluntária e do arrependimento eficaz é

o artigo 15 do Código Penal25, e ele estabelece a punição pelos atos já

praticados, enquanto esse dispositivo permite ao julgador livrar o acusado

dessa sanção, aplicando o perdão judicial.

3.2.3 — Código Eleitoral

O Código Eleitoral (Lei 4.737/65) dispõe em seu artigo 326, parágrafo 2º

que pode o juiz aplicar o perdão judicial nos seguintes casos:

Art. 326. Injuriar Alguém, na propaganda eleitoral, ou visando a fins de

propaganda, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:

Pena — detenção até seis meses, ou pagamento de 30 a 60 dias-multa.

§ 1º. O juiz pode deixar de aplicar a pena: 25 Art. 15. O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados.

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32

I — se o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria;

II — no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.

Conforme se vê, trata-se do mesmo caso que o artigo 140 do Código

penal dispõe, ou seja, injúria. Só que enquanto o artigo 140 do Código Penal

fala da injúria comum, o artigo 326 dessa lei aborda a injúria na propaganda

eleitoral.

Nesse caso, é cabível perdão judicial nos mesmos casos do artigo 140

do CP: se o ofendido provocou diretamente a injúria ou no caso de retorsão

imediata.

3.2.5 — Código de Trânsito Brasileiro

Antes da Lei 9.503/97 entrar em vigor, a sociedade se mobilizou para

que houvesse um recrudescimento nas penas correspondentes aos delitos de

homicídio e lesões corporais culposas ocorridos no trânsito. Por conta disso,

criou-se a Lei 9.503/97, o Código de Trânsito Brasileiro.

Antes desse Código, quando o motorista, ao dirigir, causava mortes ou

lesões culposas, respondia pelos crimes dos artigos 121, parágrafo 3º e 129,

parágrafo 6º, ambos do Código Penal.

Com o Código de transito brasileiro, os delitos de homicídios e lesões

corporais de natureza culposa, foram tratados especificamente nos artigos 302

e 303 que dizem

Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo

automotor:

Penas: detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e

suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a

habilitação para dirigir veículo automotor.

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Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de

veículo automotor.

Penas — detenção, de (seis) meses a 2 (dois) anos, e

suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a

habilitação para dirigir veículo automotor.

O artigo 300 do Código de Trânsito Brasileiro previa o perdão judicial,

mas esse artigo foi vetado pelo Presidente da República sob a seguinte

alegação “O artigo trata do perdão judicial, já consagrado pelo Direito Penal.

Deve ser vetado, porém, porque as hipóteses previstas pelo § 5º do art. 121 e

§ 8º do artigo 129 do Código Penal disciplinam o instituto de forma mais

abrange”. Vejamos o que falava o artigo 300:

“Art. 300. Nas hipóteses de homicídio culposo e lesão

corporal culposa, o juiz poderá deixar de aplicar a pena,

se as conseqüências da infração atingirem,

exclusivamente, o cônjuge ou companheiro, ascendente,

descendente, irmão ou afim em linha reta, do condutor do

veiculo.”

Embora as razões de veto sejam justificáveis, entende-se que as

hipóteses que possibilitam o perdão judicial, devem ser expressamente

prevista, e como no caso dos artigos 302 e 303 do Código de Trânsito

Brasileiro, não existe mais essa previsão, por conta do veto presidencial, a

corrente majoritária entende ser possível a aplicação do perdão judicial nesses

artigos.

Ariosvaldo de Campos Pires e Sheila Selim26 falam a respeito do

assunto

26 Ariosvaldo de Campos Pires e Sheila apud GRECO, Rogério. Op. Cit. p. 724.

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“Embora justificáveis as razões do veto, parece-nos, com

efeito, que de melhor técnica seria prever expressamente

tais hipóteses no Código de Trânsito, ampliando-as como

necessário. O legislador não o fez. Ainda assim, as

hipóteses de perdão judicial previstas para o homicídio

culposo e a lesão corporal culposa, no Código Penal,

devem ser aplicadas aos arts. 302 e 303 do Código de

Trânsito, seja porque o art. 291 envia o intérprete à

aplicação das normas gerais do Código Penal, seja por

força das razões de veto, antes expostas, que se referem

expressamente àqueles hipóteses.”

O artigo 291 do Código de Trânsito impõe

Art. 291. Aos crimes cometidos na direção de veículos

automotores, previstos neste Código, aplicam-se as

normas gerais do Código Penal e do Código de Processo

Penal, se este Capítulo não dispuser de modo diverso,

bem como a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, no

que couber.

Mas, o que fica difícil de entender é que agora que foram criadas

infrações penais específicas para o trânsito, não haja previsão expressa de

perdão judicial, tendo em vista que o que fez inserir o perdão judicial para os

crimes de homicídio culposo e lesão corporal foi o elevado número de

acidentes de trânsito.

3.2.6 — Lei 9.613/98

Na Lei 6.913/98 admite o perdão nos crimes de “lavagem” ou ocultação

de bens, direitos e valores.

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Art. 1º. Ocultar ou dissimular a natureza, origem,

localização, disposição, movimentação ou propriedade de

bens, direitos ou valores provenientes, direta ou

indiretamente, de crime:

I — de tráfico ilícito de substâncias entorpecentes ou

drogas afins;

II — de terrorismo;

III — de contrabando ou tráfico de armas, munições ou

material destinado à sua produção;

IV — de extorsão mediante seqüestro;

V — contra a Administração Pública, inclusive a

exigência, para si ou para outrem, direta ou indiretamente,

de qualquer vantagem, como condição ou preço para a

prática ou omissão de atos administrativos;

VI — contra o sistema financeiro nacional;

VII — praticado por organização criminosa.

Pena: reclusão de três a dez anos e multa.

§ 1º Incorre na mesma pena que, para ocultar ou

dissimular a utilização de bens, direitos ou valores

provenientes de qualquer dos crimes antecedentes

referidos neste artigo:

I — os converte em ativos lícitos;

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II — os adquire, recebe, troca, negocia, dá ou recebe em

garantia, guarda, tem em depósito, movimenta ou

transfere;

III — importa ou exporta bens com valores não

correspondentes aos verdadeiros.

§ 2º Incorre, ainda, na mesma pena quem:

I — utiliza, na atividade econômica ou financeira, bens,

direitos ou valores que sabe serem provenientes de

qualquer dos crimes antecedentes referidos neste artigo;

II — participa do grupo, associação ou escritório tendo

conhecimento de que sua atividade principal ou

secundária é dirigida à prática de crimes previstos nesta

Lei.

(...) 5º. A pena será reduzida 1 (um) a 2/3 (dois terços) e

começará a ser cumprida em regime aberto, podendo o

juiz deixar de aplica-la ou substituí-la por pena de direitos,

se o autor, co-autor ou partícipe colaborar

espontaneamente com as autoridades, prestando

esclarecimentos que conduzam à apuração dos infrações

penais e de sua autoria ou à localização dos bens, direitos

ou valores objeto do crime.

Nesse caso, verifica-se que pode ser aplicado o perdão judicial

decorrente de colaboração premiada.

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O réu deve colaborar espontaneamente com as autoridades prestando-

lhes esclarecimentos em relação a “apuração das infrações penais e de sua

autoria” ou a “localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime”.

Na primeira hipótese é necessário que exista uma situação na qual as

autoridades desconheçam as operações criminosas de “lavagem” ou ocultação

de bens, direitos ou valores, e o beneficiado colabore, prestando informações

que ocasionem na completa apuração desses crimes.

Já na segunda hipótese é necessário que o beneficiado forneça

informações que possibilitem a localização dos bens, direitos ou valores que

foram ilicitamente “lavados” ou ocultados.

No caso em pauta, o juiz tem 3 opções: reduzir a pena privativa de

liberdade e determinar o seu cumprimento no regime aberto; substituí-la por

uma pena restritiva de direitos; ou ainda aplicar o perdão judicial.

Assim sendo, para o julgador se valer da última alternativa deve-se levar

em consideração as circunstâncias do fato concreto, e também a reincidência.

3.2.7 — Lei 9.807/99

De acordo com seu artigo 13, a lei 9.807/99 trouxe a ampliação da

possibilidade de se aplicar o perdão judicial decorrente de colaboração

premiada.

Art. 13. Poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das

partes, conceder o perdão judicial e a conseqüente

extinção da punibilidade ao acusado que, sendo primário,

tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a

investigação e o processo criminal, desde que dessa

colaboração tenha resultado:

I — a identificação dos demais co-autores ou partícipes

da ação criminosa;

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38

II — a localização da vítima com a sua integridade física

preservada;

III — a recuperação total ou parcial do produto do crime.

Parágrafo único. A concessão do perdão judicial

levará em conta a personalidade do beneficiado e a

natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social

do fato criminoso.

Ressalta-se que a expressão ampliação, se refere ao fato dessa lei

trazer novos requisitos legais e por não se limitar a determinada infração penal.

Essa lei se aplica a toda e qualquer figura delituosa, não importando

tratar-se de crime ou contravenção.

Essa lei ampliou aos demais crimes, além dos de “lavagem” e ocultação

de bens, direitos ou valores, a colaboração premiada como forma de extinção

da punibilidade, tendo como fundamento o perdão judicial.

Essa é a hipótese mais complexa de perdão judicial, pois para que o juiz

conceda esse benefício, deve-se valer de vários requisitos.

De início, podemos observar o pré-requisito que se encontra no caput do

artigo, que fala da primariedade. Neste artigo, essa primariedade se mostra

bastante adequada pelo fato de que não seria de bom tom agraciar um réu

reincidente com o perdão pela delação de seus comparsas, pois essa

circunstância indicaria que o acusado estaria longe de mostrar arrependimento

e boa intenção, pois, na verdade, ele estaria se valendo desse dispositivo para

se eximir da pena.

O requisito principal incide sobre o agente ter, voluntariamente,

colaborado para com a investigação policial ou o processo criminal, resultando

efetivamente dessa sua colaboração na identificação dos demais co-autores ou

partícipes de ação criminosa, na localização da vítima com a sua integridade

física preservada, e na recuperação, total ou parcial, do produto do crime.

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Além desses requisitos, o juiz para a concessão do benefício, ainda se

valerá personalidade do acusado e da natureza, circunstâncias, gravidade e

repercussão social do fato criminoso.

Esse dispositivo foi muito criticado pelo fato da lei estar incentivando a

traição, e confirmando que como sistema penal está falido, mas devemos

entender que esse dispositivo se mostra como uma possível arma contra a

criminalidade tão presente na nossa sociedade.

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CAPÍTULO IV

CLASSIFICAÇÃO DAS HIPÓTESES DE PERDÃO JUDICIAL

Baseado-se em Gessinger, o autor Leonardo Aguiar27 classificou as

hipóteses de perdão judicial de acordo com a semelhança das circunstâncias

que condicionam a concessão do benefício em cada uma dessas hipóteses.

Elas são classificadas em Pena privada, Poena naturalis, Bagatela, Relevante

valor moral e Colaboração Premiada.

Ressalte-se que nada impede o surgimento de outras hipóteses, pois as

mesmas somariam a qualquer classificação. E destaca-se ainda, que pode

haver outros critérios de classificação, mas o autor de ênfase maior a este tipo.

A Pena Privada é vista nos casos do artigo 140 do Código Penal e

também na Lei de Imprensa e no Código eleitoral. Ocorre nos casos em que o

crime é provocado diretamente por um anterior agir reprovável da vítima ou a

vítima devolve imediatamente o mesmo crime sofrido, ou seja, retorsão.

Essa classe consiste em embasar o perdão judicial. E fica nítido que

ambos os casos de injúria são passíveis de perdão em penas privadas.

O Poena naturalis é visto no artigo 121, parágrafo 5º e artigo 129,

parágrafo 8º, que são os casos em que as conseqüências do fato são uma

espécie de pena natural para o autor, sendo desnecessária a sanção penal, ou

seja, visa impedir que além da pena natural que o fato lhe causou, seja imposta

uma pena estatal ao autor.

A essa classe também encontramos os artigos 302 e 303 do Código de

Trânsito Brasileiro. Ressalta-se que se o artigo 300 deste dispositivo não

tivesse sido vedado mudaria a sistemática do perdão judicial decorrente de

poema naturalis em relação aos crimes de trânsito, pois esse artigo dispunha

que o perdão poderia ser concedido se “as conseqüências da infração

atingirem, exclusivamente, o cônjuge ou o companheiro, ascendente,

descendente, irmão ou afim em linha reta, do condutor do veículo”.

27 Leonardo Augusto de Almeida Aguiar. Op. Cit. p. 169.

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Essa classe se fundamenta no fato do autor ter tido uma pena maior do

que a seria a ele imposta, ou seja, ele já foi punido de uma forma muito mais

grave.

Nesse caso, o Estado renuncia o direito de punir o agente pois não traz

benefício nenhum, mesmo porque a punição já ocorreu o próprio fato, sendo

portanto, desnecessária a aplicação de qualquer pena.

A Bagatela pode ser vista nos casos do artigo 176, parágrafo único, no

artigo 180, parágrafo 5º, e no artigo 249, parágrafo 2º, na Lei de contravenções

penais, na Lei 1.802/53 isto é, nos casos em que as ações têm pouco conteúdo

injusto e têm culpa mínima.

Nessas situações, uma punição poderia parecer certo exagero diante de

condutas com reprovação branda.

O Relevante valor moral trata o fato da nobreza, da relevância dos

motivos que levaram o autor a cometer a infração amenizem a reprovabilidade

da conduta.

Essa classe pode ser vista no artigo 242, parágrafo 2º.

E por fim, a colaboração premiada que pode ser vista nas Leis 9.613/98,

9.807/99 e 10.409/02. Nestes diplomas há premiação pela colaboração

voluntária e efetiva do réu para com as investigações policiais ou para com a

instrução visando a integridade física da vítima, a recuperação do produto do

crime e o desmantelamento de organizações criminosas.

4.1 — Impossibilidade de se aplicar perdão judicial por analogia

O instituto em pauta, como foi visto, só pode ser aplicado nos casos em

que a lei permite.

Será que pode o julgador se valer de analogia para aplicar o perdão

judicial?

Analogia, segundo Damásio E. de Jesus28, consiste em aplicar a uma

hipótese não prevista em lei a disposição relativa a um caso semelhante”. Além

28 Damásio Evangelista de Jesus. Op. Cit. p. 50.

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disso, o autor ainda ensina que uma decisão por analogia pode ser aplicada

tanto nas hipóteses previstas quanto nas hipóteses não previstas na lei.

Visto isso e sendo o perdão judicial uma renúncia ao direito de punir,

manifestada pelo juiz em nome do Estado, deve essa renúncia

necessariamente vir prevista na lei, além de dever também ser expressa, não

se admitindo que o juiz possa conceder perdão judicial, em casos que não

esteja expressamente autorizado pela Lei.

Deste modo e respondendo a indagação feita acima, não se pode o

julgador se valer de analogia para conceder o perdão judicial, pois para que

este instituto seja concedido, deve ocorrer em hipótese expressamente prevista

em Lei, tendo em vista que é uma regra excepcional, trazendo o benefício do

autor estar dispensado de pena.

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CAPÍTULO V

DA SENTENÇA QUE CONCEDE O PERDÃO JUDICIAL

Como já foi visto, o perdão judicial é concedido quando o juiz profere a

sentença. Ocorre todo o procedimento comum para depois de analisado o caso

e estando o mesmo dentro do previsto em lei, pode o julgador aplicar a

sentença, deixando de aplicar a pena, ou seja, renunciando o direito de punir o

autor da infração.

5.1 — Classificação das sentenças e controvérsias doutrinárias

Quanto à sua eficácia, a sentença que aplica o perdão judicial é

classificada em quatro correntes.

Essa classificação é vista de maneira bem divergente no que diz

respeito as opiniões de grandes autores.

A primeira corrente é a que defende que a sentença que concede o

perdão judicial e CONDENATÓRIA, subsistindo os efeitos quanto à

reincidência, lançamento no rol dos culpados e responsabilidade pelas custas

processuais.

Quem segue essa corrente, argumenta que a lei é clara quando trata a

respeito de perdão judicial, pois diz que o juiz deixa de aplicar a pena, e não

que ele deixa de condenar, mesmo porque quanto a autoria e a materialidade

não há dúvidas. Para essa corrente, extingue-se a punibilidade pelo perdão,

mas os outros efeitos dessa sentença prevalecem.

A crítica feita em relação a essa corrente é a seguinte: como que uma

sentença condenatória não traz em seu bojo a imposição de uma pena? Isso

porque não se deve confundir o perdão judicial com condenação, tendo em

vista que quem perdoa, não condena. Afinal, perdão judicial e condenação são

duas palavras com significados totalmente diferentes. Além disso, se fosse

realmente considerada condenatória, o perdão judicial não seria o instituto mais

benéfico ao acusado, pois o mais adequado seria a suspensão condicional da

pena.

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Um dos autores adeptos dessa corrente é Magalhães Noronha29, que diz

que a sentença que concede o perdão judicial “é uma decisão condenatória,

pois reconhece a procedência do fato ilícito e seu autor, apenas excluindo os

efeitos principais, porém mantém os efeitos secundários.”

A segunda corrente é a que defende que a sentença que concede o

perdão judicial é CONDENATÓRIA, mas libera o réu de todos os seus efeitos,

ou seja, quanto a reincidência, o isenta de pena, o libera da responsabilidade

pelas custas processuais, não lança seu nome no rol dos culpados.

A crítica em relação a quem segue essa posição é: como que uma

sentença condenatória não produz seus efeitos? Como que uma sentença

condenatória libera o réu de todos os efeitos?

Se a sentença condenatória libera o réu de todos os seus efeitos, ela

não pode ser chamada de condenatória.

A terceira corrente é a que defende que a sentença é ABSOLUTÓRIA.

Os seguintes dessa posição, partem da idéia de que mesmo o juiz

reconhecendo a materialidade e a existência do crime, ele absolveria o réu.

A crítica em cima dessa linha de pensamento é que para que essa

sentença fosse absolutória, a denúncia deveria ser julgada improcedente, por

não ter sido provado os fatos. Mas acontece que no perdão judicial, isso não

existe, pois no instituto em estudo se reconhece provada a acusação, com a

presença de toso os elementos tipificadores do crime. Além do que, se fosse a

sentença que concede o perdão judicial absolutória, não haveria a necessidade

de se aplicar o perdão judicial, pois é mais fácil o juiz simplesmente absolver o

réu.

A quanta corrente é a que defende que a sentença que concede o

perdão judicial é DECLARATÓRIA de extinção de punibilidade, excluindo dela

todos os efeitos penais.

Quem segue essa posição, entende que a sentença não é nem

condenatória, nem absolutória, mas extintiva de punibilidade.

29 E. Magalhães Noronha. Op. Cit. p. 366.

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Um dos seguidores dessa linha é o autor Flávio Augusto Monteiro de

Barros30 que assim nos ensina,

“No perdão judicial, o juiz reconhece a culpabilidade do

réu, mas deixa de lhe aplicar a pena. Não nos parece,

assim, que a sentença seja condenatória, pois se nos

apresenta ilógico uma condenação sem pena. E muito

menos absolutória, porque o réu absolvido não carece de

perdão. Sobremais a sua culpabilidade é reconhecida

pelo magistrado.

A nossa ver, a sentença é meramente declaratória

da extinção de punibilidade”.

A elaboração dessa corrente se deu como uma tentativa de separação

da controvérsia entre a sentença que concede o perdão judicial ser

condenatória ou absolutória.

A crítica em torno dessa corrente é que a sentença que concede o

benefício do perdão judicial não declara a extinção da punibilidade, pois fazer

essa declaração é como se esse fato já tivesse ocorrido e a sentença viesse

apenas para reconhece-lo, o que acontece, é que essa sentença gera um nova

situação, qual seja, a extinção de punibilidade.

De acordo com esse pensamento, o autor Leonardo Aguiar31 fala em

seu artigo que por conta dessa situação, o certo seria chamar a sentença que

concede o perdão judicial de CONSTITUTIVA de extinção de punibilidade.

Isso porque para tomarmos a sentença como meramente declaratória,

entendemos que ela depende de uma atividade valorativa do juiz. No perdão

judicial o juiz há de avaliar de forma valorativa todo um conjunto de

circunstâncias trazidas no bojo. Sendo assim, dá a entender que a sentença,

ao aplicar o perdão, fará surgira uma nova situação jurídica, a extinção da

punibilidade.

30 Flávio Augusto Monteiro de Barros. Direito penal. p. 619. 31 Leonardo Augusto de Almeida Aguiar. Op. Cit. p. 211.

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5.2 — A não superação das controvérsias doutrinárias

A Lei 6.416/77, que altera alguns dispositivos do Código de Processo

Penal, foi vista como as linhas que faltavam para a definição da natureza

jurídica da sentença que aplica o perdão judicial e analisando os novos

parágrafos acrescidos aos artigos 121 e 129 do Código Penal e buscando

neles a solução para a controvérsia que de longa data envolvida o tema.

Mas a controvérsia ainda reinou por conta dos Tribunais ainda atribuírem

à sentença o caráter condenatório. Sobreveio então, a Lei 7.209/84, ou seja, a

Reforma de 1984, modificando toda a parte geral do Código Penal.

Essa legislação é um importante marco para essa controvérsia pois a

redação dada ao artigo 107, IX deixa claro que o intuito do legislador de não

deixar que se atribua o caráter condenatório à sentença que aplica o perdão

judicial.

Essa lei também inseriu o artigo 120 do Código Penal que “a sentença

que conceder perdão judicial não será considerada para efeitos de

reincidência”.

“Daqui decorreram duas interpretações. Pela primeira,

diz-se que uma vez estabelecido pela lei que fica excluída

a reincidência, estar-se-ia tomando a sentença por

condenatória, e ainda estabelecendo a incidência dos

outros efeitos secundários de uma decisão condenatória.

E pela segunda diz-se que como essa sentença não gerar

reincidência, não geraria também nenhum outro efeito

condenatório, e assim sua natureza seria declaratória”32 .

O artigo 120 citado acima diz que a sentença que concede o perdão

judicial exclui os efeitos de reincidência, não excluindo os outros efeitos da

condenação, pois se excluísse, o artigo teria estendido a exclusão a todos eles.

32 Leonardo Augusto de Almeida Aguiar. Op. Cit. p. 209.

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Portanto, podemos ver claramente que essa nova lei não resolveu

expressamente o problema, não superando assim, essa controvérsia, tendo em

vista que cada Tribunal entende de um jeito, pois a lei é omissa em dizer e

fundamentar qual é a classificação da sentença que aplica o perdão judicial,

fazendo com que cada doutrinador pense de um jeito.

5.3 — A posição de Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal

Federal diante da controvérsia sobre a classificação e os efeitos da

sentença que concede o perdão judicial.

A sentença que concede o perdão judicial, segundo a Súmula 18 do STJ

“é declaratória da extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito

condenatório”. Portanto, verificamos que o Superior Tribunal de Justiça

entende ser a sentença que aplica o perdão judicial, uma sentença declaratória

da extinção de punibilidade.

Já a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal entende que é

condenatória a decisão, só não subsistindo a reincidência, de modo que

permanecem os outros efeitos da sentença condenatória.

Mas, dá-se a entender que como extinção de punibilidade, o perdão

judicial não retira da sentença o caráter condenatório pois pode a sentença ser

executada no juízo civil para reparação do dano e outros efeitos penais. Como

ensina Mirabete33

“Sendo condenatória a sentença em que se concede o

perdão judicial, e mais do que isso, reconhecendo ela que

ocorreu o crime, torna-se certa a obrigação de indenizar o

dano nos termos dos arts. 91, I, do CP e 63, do CPP”.

Diante disso, percebe-se que o entendimento mais acertado é o do

Superior Tribunal de Justiça.

33 Júlio Fabbrini Mirabete. Op. Cit. p. 418 e 419.

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CONCLUSÃO

Como pôde se ver, é dever e direito do Estado punir alguém que infringiu

a lei. Porém essa punibilidade pode ser extinta quando ocorrer causas que

obstem a aplicação de uma pena pela renúncia do Estado em punir o autor do

crime.

O perdão judicial é uma dessas causas. É um benefício concedido ao

réu pelo juiz, que após comprovada a autoria e a materialidade e após analisar

o caso, deixa de aplicar a pena, quando a lei assim admitir.

Esse instituto vem tendo uma rápida e consistente evolução em nosso

ordenamento jurídico. Trata-se de uma causa der extinção de punibilidade

prevista no Código Penal, especificamente em seu artigo 107, que é

fundamentada no Cristianismo e tem como funções sociais a racionalização e

adequação social da pena e a função de evitar a segregação social.

É um substitutivo penal, pois é um benefício que substitui a pena.

A sua utilização é perfeitamente conveniente, oportuna e cabível no

atual desenvolvimento do direito penal brasileiro e da própria sociedade em

que vivemos.

As suas hipóteses estão elencadas na lei, e só quando ela permite, pode

o legislador analisar o caso e se assim entender, deixar de aplicar a pena ao

réu.

O seu manejo se dá por meio de uma sentença de mérito, a qual há

muita divergência quanto a sua classificação, mas pelo estudo, podemos

classifica-la como constitutiva, encerrando o poder discricionário do julgador e

exigindo sempre do magistrado uma atitude valorativa frente ao caso concreto.

Para finalizar o presente trabalho, é importante ressaltar que esse

instituto pode dar benefícios não só para a prevenção da segregação social,

mas também para o melhoramento da ética geral e o melhoramento da

sociedade atual.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGUIAR, Leonardo Augusto de Almeida. Perdão judicial. Disponível em: <http://bjur.stj.gov.br>. Acesso em: 15 de Julho de 2008. BARROS, Flávio Augusto Monteiro de. Direito penal: parte geral. 6. Ed. Ver. E atual.. São Paulo: Saraiva, 2008. BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. 13. Ed. rev. Atual. São Paulo: Saraiva, 2008. Vol. 1; CARVALHO, Djalma Eutímio. Curso de direito penal: parte geral. Rio de Janeiro: América Jurídica. Vol. 1; GRECO, Rogério. Curso de direito penal. 10. Ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2008. JESUS, Damásio Evangelista de. Direito penal — Parte geral. 29. ed. rev. E atual. São Paulo: Saraiva, 2008. Vol. 1; MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de direito penal brasileiro: parte geral. 24. Ed. rev. e atual. Por Renato N. Fabbrini. São Paulo: Atlas, 2008. Vol. 1; NORONHA, E. Magalhães. Direito penal. São Paulo: Saraiva, 1995. Vol. 2; NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado. 8. Ed. rev., atual e ampl. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2008;

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

(Extinção da Punibilidade) 09

1.1 – Conceito 09

1.2 — Efeitos 10

1.3 — Causas de extinção de punibilidade 10

1.4 — Causas de extinção de punibilidade não previstas no artigo 13

107 do Código Penal

CAPÍTULO II

(Perdão Judicial) 14

2.1 — Conceito e nomenclatura 14

2.2 — Natureza jurídica 16

2.3 — A religião diante do perdão judicial 18

2.4 — As funções sociais do perdão judicial 19

CAPÍTULO III

(Hipóteses de Perdão Judicial) 22

3.1 — Hipóteses Legais do Código Penal 22

3.1.1 — Artigo 121, parágrafo 5º 22

3.1.2 — Artigo 129, parágrafo 8º 23

3.1.3 — Artigo 140, parágrafo 1º 24

3.1.4 — Artigo 176, parágrafo único 25

3.1.5 — Artigo 180, parágrafo 5º 26

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3.1.6 — Artigo 242, parágrafo único 27

3.1.7 — Artigo 249, parágrafo 2º 28

3.2 — Outras hipóteses legais de perdão judicial 29

3.2.1 — Lei de contravenções penais 29

3.2.2 — Lei 1.802/53 30

3.2.3 — Código Eleitoral 31

3.2.4 — Código de Trânsito Brasileiro 32

3.2.5 — Lei 9.613/98 34

3.2.6 — Lei 9.807/99 37

CAPÍTULO IV

(Classificação das Hipóteses de Perdão Judicial) 40

4.1 — Impossibilidade de se Aplicar Perdão Judicial por Analogia 41

CAPÍTULO V

(Da Sentença que Concede o Perdão Judicial) 43

5.1 — Classificação das Sentenças e Controvérsias Doutrinárias 43

5.2 — A não Superação das Controvérsias Doutrinárias 46

5.3 — A posição de Superior Tribunal de Justiça e do Supremo 47

Tribunal Federal diante da Controvérsia Sobre a Classificação

e os Efeitos da Sentença que Concede o Perdão Judicial

CONCLUSÃO 49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 50

ÍNDICE 52

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

Título da Monografia: O PERDÃO JUDICIAL NO SISTEMA PENAL

BRASILEIRO

Autor: MAREN CASTRO WINTER

Data da entrega:21 de julho de 2010

Avaliado por: FRANCIS RAJZMAN Conceito: