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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE ORIENTADORES E PROFESSORES: UNIDOS POR UMA AVALIAÇÃO CONTEXTUALIZADA por TATIANE DO NASCIMENTO MEDEIROS LUCIANO ORIENTADOR: Prof. VILSON SÉRGIO DE CARVALHO 22 de agosto de 2010
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE ORIENTADORES E PROFESSORES: UNIDOS POR UMA AVALIAÇÃO CONTEXTUALIZADA
Trabalho de conclusão de curso para obtenção do título de pós-graduação em Orientação Educacional e Pedagógica pela Universidade Candido Mendes/Instituto A Vez do Mestre.
por TATIANE DO NASCIMENTO MEDEIROS LUCIANO
AGRADECIMENTOS “Você se faz presente em todos os momentos firmes e trêmulos. E, passo a passo, pude sentir a Sua mão na minha, transmitindo-me a segurança para enfrentar meu caminho a seguir... Sua presença é qualquer coisa como a luz e a vida, e sinto que, em meu gesto, existe Seu gesto e, em minha voz, a Sua voz.”
(VINÍCIUS DE MORAIS)
A Deus, por tudo o que me proporciona a cada dia.
Aos familiares, pela força e compreensão nas minhas horas de
ausência.
Aos professores da pós-graduação, por contribuírem para meu
crescimento profissional.
A todos os demais amigos verdadeiros que estiveram ao meu lado
nesta caminhada.
DEDICATÓRIA
“Se és capaz de aceitar teus
alunos como são em sua
realidade social, humana e
cultural; se os leva a superar suas
dificuldades, limitações ou
fracassos, sem humilhações nem
inúteis frustrações; se os estimula
a emitir opiniões, mesmo
contrárias às tuas; se os leva a
refletir mais do que decorar; se te
emocionas com a visão de tantas
criaturas que de ti dependem para
desabrocharem em consciência,
criatividade, liberdade e
responsabilidade...então podes
dizer: sou MESTRE.”
(RUI BARBOSA)
Dedico esta monografia a todos os educadores que se empenham
para que as práticas avaliativas não sejam tão avassaladoras sobre o
processo de ensino e aprendizagem a ponto de esgotarem sua
capacidade de reflexão inerente ao ato educativo.
RESUMO
Por acreditar que a discussão acerca da avaliação não deva
restringir-se apenas a crítica entre concepções de educação e prática
avaliativas, foi proposto uma reflexão dialética sobre as implicações da
avaliação escolar na vida do aluno. Através do diálogo entre teóricos,
discutimos a avaliação em um processo que, por si só, é incessante,
progressivo e demarcado por avanços e rupturas. Por saber que a
organização escolar possui os orientadores como aliados íntimos dos
professores no processo de aprendizagem, foi proposto a questão
central de como esses profissionais poderiam ajudar os professores no
processo de avaliação. Foi pautado a avaliação contextualizada como
um caminho para uma avaliação mais humana e participativa para os
educandos.
Palavras-chave:
Avaliação escolar, exclusão, formação contextualizada
METODOLOGIA
“A qualidade escapa às nossas palavras e mora na greta das coisas. É tão certo que existe quanto difícil de se captar.” (HABERMAS1, 1983, apud DEMO, 2005)
Da mesma forma que as renomadas teóricas Jussara Hoffmann e
Maria Teresa Esteban admitem que seus estudos sejam apenas uma
pequena contribuição para melhorar o ensino escolar e, não, uma
solução mágica para todos os problemas de educação, a presente
pesquisa insere-se neste mesma ótica, sendo uma breve apresentação
sobre avaliação que não pretende formular respostas, sim problematizar,
mais ainda, a avaliação, todavia.
A urgência em “ressignificar” a avaliação, rompendo com as
conotações classificatórias e autoritárias que permearam nossa história
de vida escolar encontra-se justificada em Jussara Hoffmann (2006a, p.
92) quando suas pesquisas apontam que “a prática avaliativa do
professor reproduz e (assim) revela fortemente suas vivências como
estudante educador.”
Diante dessa configuração, “a construção do re-significado da
avaliação pressupõe dos educadores um enfoque crítico da educação e
do seu papel social.” (HOFFMANN, 2006a, p.92) Ao centramos nossos
olhares numa avaliação contextualizada, procuramos obter uma visão
crítica na intenção de captar pistas de como acontece a avaliação da
aprendizagem escolar e desvelar suas influências, assim como
tendências.
1HABERMAS, J. Para a construção do materialismo histórico. SP: Brasiliense, 1983. Esta epígrafe foi selecionada para demonstrar que os métodos de pesquisa precisam ser técnicos e científicos.
Por acreditarmos que as concepções de educação estão
intimamente ligadas às práticas avaliativas, então buscaremos investigar
tais concepções para compreendermos asa razões de práticas
avaliativas tão contraditórias a um ensino de qualidade em benefício do
educando. Logo, partiremos da hipótese de que “só ocorrem os avanços
quando há mudanças de concepção.” (HOFFMANN, 2006b, p.67)
A razão por problematizar a avaliação é na expectativa de criar um
processo escolar que atenda às necessidade e particularidades das
classes populares,fazendo com que a avaliação escolar “ultrapasse os
limites da técnica e incorpore em suas dinâmicas a dimensão ética.”
(ESTEBAN, 2003, p.8)
Com o propósito de um alicerce científico para estruturarmos a
discussão sobre avaliação escolar, recorremos ao Cipriano Carlos
Luckesi, a Maria Teresa Esteban e, sobretudo, à Jussara Hoffmann como
referenciais teóricos. Esses são, apenas, os principais referenciais
teórico adotados nesse momento de iniciação. No entanto, para
formularmos este estudo acadêmico sentiremos a necessidade de
dialogar com outros teóricos, também importantes aqui não elucidados.
Ao tratarmos de uma pesquisa de abordagem qualitativa, o foco
enquanto pesquisadores será a compreensão de realidade por meio
subjetivo dos sujeitos. Logo, “ a abordagem qualitativa busca a
compreensão” ao invés de explicação. (COSTA, 2001, p.62)
A presente pesquisa buscou pistas de como funciona atualmente o
processo avaliativo e as relações entre as concepções de educação dos
professores e suas práticas avaliativas, vislumbrando implicações para a
vida dos alunos. O desenvolvimento do estudo foi fundamentado em
observações, uma vez que a “observação é uma das mais importantes
fontes de informações em pesquisas qualitativas em educação”
(VIANNA, 2007, p.12).
SUMÁRIO INTRODUÇÃO 8 CAPÍTULO I A GÊNESE DAS PRÁTICAS AVALIATIVAS 10 CAPÍTULO II DA CONSTRUÇÃO À DESCONSTRUÇÃO: 17 DEFININDO E RE-SIGNIFICANDO A AVALIAÇÃO CAPÍTULO III EM BUSCA DE UMA AVALIAÇÃO CONTEXTUALIZADA 28 CONSIDERAÇÕES FINAIS 40 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 43 ÍNDICE 45 FOLHA DE AVALIAÇÃO 46
8
INTRODUÇÃO
[E] “a matéria prima a ser forjada, lapidada, somos nós mesmos, juntos com os outros, neste processo permanente pela beleza do conhecimento na busca da transformação, mudança viva em vida. (FREIRE, M., 2008, p.21)
Em uma tentativa de compreender as implicações das práticas
avaliativas na vida do aluno, procuramos nos aprofundar na relação que
o ato de avaliar mantém com as concepções de educação. Assim,
observando o cotidiano escolar verificamos que o processo avaliativo
acontece, sem a preocupação com o contexto em que os alunos estão
inseridos.
Pressupomos que a motivação em eleger a Avaliação Escolar
como área de pesquisa possa ser justificada pelo fato de vivermos uma
relação intrínseca com o tema. Durante a nossa trajetória de alunos da
Educação Básica, a avaliação escolar esteve presente de forma
classificatória e excludente, sem nos remeter às nossas realidades.
E, agora, enquanto professores de Ensino Fundamental e
Educação Infantil, não queremos cometer os mesmos erros ao
“desenhar”, “marcar” nossos alunos com traços desta avaliação que
ignora a realidade dos educandos.
Então, com este estudo sobre a avaliação contextualizada
teremos a oportunidade de tentar esclarecer, compreender, e, talvez,
obter respostas para algumas questões que se formulam quando
pensamos em avaliação voltada para a vida em sociedade. Dentro deste
horizonte compreendemos que para a avaliação escolar, assim como
para a educação em sua totalidade ter qualidade, “não vale o maior, mas
9
o extenso, não vale o violento, mas o envolvente, não a pressão, mas a
impregnação.” (DEMO, 2005, p. XI).
Assim, acreditamos que a avaliação deve ser feita com
profundidade, ou seja, realizada a partir de um constante
acompanhamento dos avanços e retrocessos dos educandos.
Neste ensaio sobre a busca da avaliação contextualizada temos a
esperança que, ao longo dessa interminável senda que já estamos
percorrendo, as nossas incertezas, assim como, verdades absolutas
sejam desveladas. Por isso, dizemos que o combustível que alimenta
toda essa busca é a esperança de saciar o ser cognoscente, presente
em nós, que quer conhecer ou produzir novas formas de avaliar. Nessa
expectativa fazemos das palavras de Paulo Freire as nossas “Eu espero
na medida em que começo a busca, pois não seria possível buscar sem
esperança.”
A presente pesquisa insere-se no movimento de reflexão sobre o
alto de avaliar. Reflexão esta que se torna obrigatória por ser necessária
e preciosa para todo educador comprometido com uma educação de
caráter menos excludente e, sobretudo, que compreende a escola como
um espaço democrático, no sentido que todos tenham oportunidades de
aprender.
Assim, por acreditarmos que a avaliação da aprendizagem escolar
é uma questão polêmica e complexa, determinada por concepções de
educação, a investigação que está à vista pretenderá problematizar a
avaliação a fim de promover mais uma momento de reflexão sobre as
ações pedagógicas.
Em suma, na expectativa de desvelar meios para uma avaliação
mais contextualizada para os alunos, romperemos com determinadas
práticas avaliativas e buscaremos implicações da avaliação escolar para
a vida do aluno enquanto sujeito ativo, social e histórico.
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CAPÍTULO I
A GÊNESE DAS PRÁTICAS AVALIATIVAS
Dúvidas me assolam, e me levantam do sono mal dormido. Haverá sentido nesse fazer?
- Cadê o sol? Onde está a peneira? Estou tampando o sol com a peneira? Ou pondo a
peneira para ver melhor o sol? Haverá sentido nesse fazer? Que sol é esse que me ilumina?
E que me cega também? Haverá sentido nesse fazer?
E cadê a peneira? Que me escuda do ofuscamento? Haverá sentido nesse fazer?
Haverá sentido nesse trabalho de formiga? O que terá sentido?
Escondendo-me estou nesse fazer?
O termômetro são os olhos das crianças, das professoras?
- A participação dos pais? - O caminhar pelas próprias pernas? Ou a gralha acadêmica, oca da vida
cadáver ambulante de inveja e mesquinharia? - Haverá sentido nesse fazer?
E por mais que as dúvidas e certezas que eu tenha,
esta é a pergunta que mantém viva até hoje, que me dá o tamanho do Sol e da peneira
que tenho dentro de mim - Haverá sentido nesse fazer?
- Cadê o sol? - Cadê a peneira?
- Estou escondendo o Sol com a peneira?
(FREIRE, M., 2008, p.83)
Na vida cotidiana, a avaliação é uma constante. Exercemos a
avaliação com a intenção de refletirmos em prol de uma possível
melhoria em nossas vidas. Avaliar na vida assume conotação de uma
prática necessária para solucionar os problemas. Já na escola, a prática
avaliativa, na maioria das vezes, carrega o significado de obrigação,
11
tendo espaço e tempo determinados para tal, com a intenção apenas de
sentenciar, de constatar e de nada fazer para melhorar. Logo, perde-se
sua especificidade educacional por tornar-se um “mal necessário.”
Ao ponderarmos a história da avaliação, constatamos que a
atividade de controle que tinha por objetivo selecionar nem sempre foi
denominada avaliação. Na sua gênese, tal atividade era chamada de
exame.
Os primeiros exames ocorreram nos anos de 1.200 a.C. a fim de
selecionar homens para ingressarem no serviço público chinês.
Pelo que foi explicado na literatura pedagógica, o exame surgiu sem
função educativa, mas, sim como mecanismo de controle social. Como
também, não teve origem no seio da escola.
De acordo com os escritos acadêmicos, as duas formas de
institucionalizar o exame foram apresentadas por Comenius2 e La Salle3.
No século XVII, mais precisamente nos idos de 1657, Comenius2
expôs sua concepção de avaliação pedagógica. Essa reflexão visava
uma prática docente mais adequada ao aluno, abrangendo o exame com
um aliado na medida em que se torna um suporte para o professor
compreender como os alunos constroem os seus conhecimentos.
Já La Salle3, em 1720, apresentava sua concepção da avaliação que
limitava as práticas avaliativas ao aspecto de supervisão/controle e
centrava seus esforços no aperfeiçoamento das técnicas de
mensuração.
__________________________________
2Jan Amos Komensky (em português Comenius ou Comênio) (28 de março de 1592 – 15 de março de 1670) foi um professor, cientista e escritor checo, considerado o fundador da Didática Moderna. Propôs um sistema articulado de ensino, reconhecendo o igual direito de todos os homens ao saber. O maior educador e pedagogo do séculoXVII produziu obra fecunda e sistemática, cujo principal livro é DIDÁTICA MAGNA. 3João Batista de la Salle nasceu a 30 de abril de 1651, em Relme na França. Foi sacerdote e teólogo. Dedicou-se à educação de crianças e à fundação de escolas para crianças. Foi canonizado pela igreja Católica. É considerado padroeiro dos professores. Faleceu a 7 de abril de 1719, em Ruão na França.
12
Antes da Idade Média não existia um sistema de exames ligados
à prática educativa. Só a partir do século XIX que surge a atribuição de
notas ao trabalho escolar.
Os exames surgiram na tentativa de resolver os problemas da
educação. Daí o discurso pedagógico de que “um melhor sistema de
exames, [resulta em um] melhor sistema de ensino.” (ESTEBAN, 2003,
p.51). Por isso, Luckesi (2006, p.17) afirma que “a avaliação da
aprendizagem ganhou um espaço tão amplo nos processos de ensino
que a nossa prática educativa escolar passou a ser direcionada por uma
'pedagogia do exame'.” Tamanha foi a dimensão desta pedagogia que
ganhou adeptos fiéis que praticam até hoje.
No século XX, com o advento de mecanismos científicos para
manter o controle, o termo exame foi substituído pela nova
nomenclatura: teste.
Como afirma Angel Diaz Barriga “o teste foi considerado como um
instrumento científico, válido e objetivo que poderia determinar uma
infinidade de fatores psicológicos de um indivíduo.” (ESTEBAN, 2003,
p.64).
Assim, como instrumento científico capaz de determinar a
inteligência, as atitudes e a aprendizagem, os testes passavam a
justificar que “as diferenças sociais são unicamente o resultado das
diferenças biológicas.” (Idem)
Logo, os testes, assim como, os exames do século XXII a.C.
passaram a ser empregados para selecionar indivíduos tanto na
sociedade como na escola.
Dessa maneira, exames e testes foram artifícios criados a favor de
planos ideológicos e políticos que tinham por finalidade segregar classes
e manter o poder instituído, sobretudo!
Com o surgimento das notas, no século XIX, “deixou-se de analisar
os problemas da educação e da didática (_) [para] abordar o
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pedagógico apenas numa dimensão técnica.” (Ibidem, p.70)
A avaliação quantitativa vem sendo aceita com o propósito de
garantir a qualidade da educação. Qualidade essa que é expressa pela
quantificação do conhecimento transmitido aos alunos e armazenados
por eles. Nessa perspectiva, a avaliação é compreendida como
instrumento de controle, adaptação e de seleção. Logo, essa forma de
avaliar é, a priori, de natureza excludente.
O termo avaliação é o sucessor do teste que, por sua vez, sucedeu
ao exame. Barriga mostra que tal substituição “se deve à necessidade de
utilizar um termo neutro (avaliação) que reflita uma imagem acadêmica e
simultaneamente possibilite a idéia de controle.” (Ibidem, p.72)
Ao longo da história da pedagogia, encontramos, portanto, o termo
exame a priori, só mais tarde - no século XX – a designação teste e, na
atualidade, a palavra avaliação. Todas as denominações representam
concepções de educação resultantes do processo de transformação
social. Não obstante, apesar de terem discursos pedagógicos
inovadores e diferentes, apresentam em seu teor uma prática docente
similar: a de excluir e selecionar.
Em pleno século XXI, o sistema de avaliação imposto ao Brasil
assemelha-se muito ao proposto por La Salle no século XVIII. Essa
constatação demonstra o quanto precisamos, ainda, discutir, refletir e,
sobretudo, re-significar o sentido da avaliação na escola para
avançarmos em direção a uma educação escolar, verdadeiramente, de
qualidade e democrática.
1.1 – Processos Ideológicos: raízes das práticas
avaliativas classificatórias na escola
O mito de que a avaliação deve controlar e ser autoritária, no sentido
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de condicionar os alunos a comportamentos definidos como ideais, foi
construído ao longo de sua história. Tal mito reforça as práticas rotineiras
e automatizadas de avaliação.
Em virtude da consciência do educador, há o reducionismo da
avaliação à concepção de medida e, portanto, o uso das notas é feito
sem reflexão, acarretando a competição e seleção nas escolas. Esse
fato demonstra “o caráter burocrático e mensurável da prática avaliativa,
coerente à visão capitalista liberal [das] propostas pedagógicas.”
(HOFFMANN, 2006a, p.46) esquece-se que o processo avaliativo trata-
se de uma acompanhamento seguido de ações com base na reflexão,
contudo.
Nesse sentido, é relevante definir a intencionalidade da aplicação de
testes em educação. Os testes devem ser compreendidos como
instrumentos de questionamentos e procedimentos investigativos sobre o
processo de construção do conhecimento; desvelando, sobretudo, a
ação tanto de professores com de alunos no processo educativo.
A prática avaliativa docente é influenciada, não somente, pela
história de vida, como pelos referencias teóricos. Daí o impactante
enfoque comportamentalista presente na avaliação por objetivos,
utilizada até hoje, introduzida por Ralph Tyler, nos anos de 1960,
caracterizando a avaliação com sendo um processo que “(...) deve julgar
o comportamento dos alunos, pois o que se pretende em educação é
justamente modificar tais comportamentos.” (TYLER4, 1949, apud
HOFFMANN, 2006a, p.33)
___________________________ 4 TYLER, R. W. Basic principes of curriculum and instruction. Chicago: bThe University of Chicago, p.106, 1949.
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A influência desse pensamento positivista de educação é
evidenciada nas escolas quando a prática avaliativa resume-se a
estabelecer objetivos no início do processo educativo e, em períodos
predeterminados, verificar o alcance desses objetivos pelos alunos;
portanto, prevalece-se em seu cotidiano, apenas, a correção dos erros e
registros dos acertos. Desse modo, a discussão sobre avaliação centra-
se nos instrumentos de verificação e nos critérios de análise de
desempenho final.
Em contrapartida, os pressupostos teóricos que abordam uma prática
de avaliação construtivista e libertadora apontam para um “processo
dialógico e cooperativo, (_) a partir da efetiva relação professor e aluno,
(_) contrapondo-se à concepção sentenciva [de caráter excludente].”
(HOFFMANN, 2006a, pp.35-36)
Sob a influência do escolanovismo, na década de 1970, houve a
Reforma do Ensino que introduziu os Conceitos na avaliação escolar. A
transição de Notas para Conceitos objetivava valorizar o processo de
aprendizagem em detrimento de se privilegiar os resultados finais; assim
como, fazer valer a análise dos aspectos afetivos e psicomotores em
grau comparativo de igualdades aos aspectos cognitivos.
Neste âmbito, os Conceitos assumem a conotação de representar
o desenvolvimento integral dos alunos. Como comprovação dessa
argumentação, Hoffmann (ibidem, p.45) afirma que “o uso dos conceitos
evita o estigma da precisão e arbitrariedade decorrente do uso abusivo
das notas.”
A prática tradicional de ensino, apesar das inúmeras críticas
contundentes que recebe, ainda resiste e sobrevive no nosso cenário
educacional. A permanência da tal prática de ensino é justificada pelo
fato de muitos professores, assim como a sociedade em geral,
acreditarem que a ação avaliativa classificatória garante um ensino de
qualidade.
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A qualidade de ensino pode ser compreendida em duas perspectivas
de avaliação: classificatória e mediadora.
A primeira, entende que a qualidade do ensino encontra-se nos
padrões pré-estabelecidos que atuam com bases comparativas. Já a
segunda, compreende que um ensino de qualidade é aquele que
possibilita o desenvolvimento máximo possível do educando sem
determinar um padrão de comportamento ideal.
Por conseguinte, o consenso entre os membros da comunidade
escolar de que o exame garante a qualidade do ensino implica na
modificação das convencionais práticas avaliativas.
Da mesma forma, a crença que o exame, por si só, seja capaz de
resolver problemas de outras instâncias sociais impede a compreensão
de que “se a estrutura social é injusta, o exame não pode ser justo (_)
[tampouco] resolver uma infinidade de problemas.” (ESTEBAN, 2003,
pp.43 e 57)
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CAPÍTULO II
DA CONSTRUÇÃO À DESCONSTRUÇÃO: DEFININDO E RE-SIGNIFICANDO A AVALIAÇÃO
Quando penso que me conheço o outro me mostra uma face desconhecida
que me habita.
Quando imagino conhecer o outro
descubro alojado nele minha face perdida.
Quando eu e o outro nos encontramos
cada um se descortina. Mesmo que eu não queira, mesmo que ele não queira.
O desconhecido hospedado em nós
nos denuncia.
(FREIRE, M., 2008, p.140)
Para compreender a avaliação foi preciso defini-la. Para tal
recorremos a Hoffmann (2006b, p.13) que afirma que ao avaliar efetiva-
se um conjunto de procedimentos didáticos que se estendem sempre por
um longo tempo e “se dão em vários espaços escolares, procedimentos
de caráter múltiplo e complexo como se delineia um processo.”
Nesse sentido, os instrumentos clássicos e registros superficiais de
avaliação não deveriam ser denominados por avaliação de
aprendizagem. Isso porque testes e provas, assim como, notas, boletins
ou fichas de registros de observação não contemplam todo o processo
avaliativo compreendido em “observar, analisar e promover melhores
oportunidades de aprendizagem.” (Ibidem, p.14). Estes mecanismos
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padronizados da avaliar apenas constatam uma realidade que já está à
vista, nada fazem para transformá-la, todavia. Logo, considera-se
quehouve avaliação quando a intervenção pedagógica se faz presente
sob a interpretação das manifestações do educando.
Ao entender que a avaliação da aprendizagem trata-se de um
processo objetivo, normativo e padronizado é descaracterizá-la do seu
foco educativo e formador; uma vez que a avaliação se dá em um
processo contínuo e evolutivo, marcado pela relação dialógica e afetiva
entre os dois sujeitos do processo: professor e aluno.
Nessa perspectiva, a avaliação passa a ter um caráter subjetivo e a
função de promover sempre espaços interativos, voltados para o
desenvolvimento das singularidades individuais e diversidades coletivas.
Ao pensar desta forma, as propostas educativas devem encontrar-se
intimamente ligadas ao processo avaliativo. Essa constatação é
encontrada em Luckesi (2006, p.118) ao afirmar que “a avaliação
atravessa o ato de planejar e de executar.”
Tendo por objetivo melhor entender o sentido do termo avaliação, nos
dias de hoje, apresentaremos mais uma definição de avaliação que
justifica a relação intrínseca entre proposta educativa e processo
avaliativo apresentado a priori.
Para Hoffmann (2006b, p.17) a avaliação é “uma ação ampla que
abrange o cotidiano do fazer pedagógico e cuja energia faz pulsar o
planejamento, a proposta pedagógica e a relação entre todos os
elementos da ação educativa.”
Agora que já foi delineado o que venha a ser a avaliação escolar,
partiremos para a sua nova perspectiva. A “re-significação” da avaliação
é uma tentativa de desvinculá-la da prática avaliativa tradicional, visto
que alguns professores e alunos referem-se à avaliação reportando-se,
em geral, às ações e instrumentos avaliativos tradicionais, como: provas,
notas, boletins, recuperação...
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Nesse âmbito, professores e alunos imersos nessa consciência
ingênua entendem que dar nota é avaliar, fazer prova é avaliar, “[assim
como] análise de desempenho, julgamento de resultados, medidas de
capacidade, apreciação do 'todo' do aluno [também são entendidos com
avaliação].” (HOFFMANN, 2006a, p.13)
Em razão da multiplicidade e complexidade do significado da avaliar
Hoffmann (Ibidem, p.14) aponta que a “avaliação, hoje, é um fenômeno
indefinido.”
2.1 – Toda concepção resulta em uma ação
A concepção de avaliação classificatória gera práticas docentes que
valorizam, apenas, o produto final e desconsideram o complexo
processo de construção do conhecimento que os alunos passam para
alcançar tal resultado final.
Em virtude dessa tradicional concepção de educação, Regina Leite
Garcia afirma que “a sala de aula se torna um pobre espaço de
repetição, sem possibilidades de criação e circulação de novas idéias.
[Assim como,] o prazer de aprender desaparece quando a aprendizagem
é reduzida a provas e notas.” (ESTEBAN, 2003, p.41)
Quando se estuda a história da avaliação, nota-se que a avaliação
formativa/mediadora foi divulgada no final do século passado e possui,
até os dias atuais, grande influência de autores estrangeiros.
Ao referir a um processo avaliativo mediador é necessário
mencionar seus dois princípios:
O princípio formativo/mediador que é aquele que diz respeito ao
desenvolvimento de estratégias pedagógicas desfiadoras com base na
observação e reflexão dos processos de aprendizagem de cada aluno.
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E o princípio ético que abrange a avaliação no sentido de valorizar
as diferenças e refletir sobre ações educativas que beneficiam o aluno.
Na avaliação mediadora há três momentos que a caracterizam:
1. O tempo de admiração: Observa-se atentamente cada aluno,
querendo saber como são para, então, poder compreendê-los.
2- O tempo de reflexão: Fazem-se reflexões sobre as formas de
aprendizagem, questionando as práticas educativas e avaliativas para
que a docência não se torne uma verdade absoluta.
3- O tempo de reconstrução das práticas avaliativas: centra-se em uma
ação reflexiva e mediadora para atender aos interesses e necessidades
dos alunos.
Com base em tudo exposto, pode-se concluir que uma concepção
de avaliação formativa e mediadora tem com finalidade “a continuidade
do processo de aprendizagem e a intervenção pedagógica desafiadora.”
(HOFFMANN, 2006b, p. 20)
Logo, a postura mediadora do professor se expressa na relação
dialógica e afetiva com os alunos.
Do mesmo modo que a intervenção pedagógica revela a tomada de
consciência do professor sobre sua responsabilidade em promover
aprendizagem, aponta também que correlacionar situações educativas
aos pressupostos teóricos de Piaget e Vygotsky torna-se imprescindível
nesse contexto da avaliação formativa e mediadora.
Para Piaget “o educador/mediador oportuniza e favorece processos
de reflexão do educando sobre suas ações.” (HOFFMANN, 2006b, p.21)
Já para Vygotsky aponta o papel mediador do professor deve pautar-
se sobre as potencialidades cognitivas dos alunos e não ter “como ponto
de partida para a ação pedagógica apenas o que o aluno já conhece ou
faz.” (Ibidem, p.22)
O denominador comum entre Piaget e Vygotsky é justamente ver o
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educador como peça fundamental na construção do conhecimento e,
sobretudo, por acreditarem que os processos de aprendizagem e de
desenvolvimento são produtos da interação.
Cabe, nesse momento, relacionar a prática avaliativa aos seguintes
princípios da concepção de avaliação mediadora:
O princípio dialógico/interpretativo da avaliação: avalia-se com a
intenção de “convergência de significados, de diálogos, de mútua
confiança para a construção conjunta de conhecimentos.” (Ibidem, p.25)
O princípio de reflexão prospectiva: avalia-se “buscando ver além de
expectativas fixas” de modo a planejar intervenções pedagógicas de
acordo com cada aluno. (Idem)
O princípio da reflexão-na-ação: quer dizer “avaliar como um
processo mediador que se constrói na prática, [adaptando sempre a]
intervenção pedagógica a partir do diálogo.” (Idem)
As práticas avaliativas mediadoras são marcadas por: diversas
situações de aprendizagem articuladas em termos de gradação e
complexidade; pelas ações pedagógicas de conhecer, compreender e
acolher os alunos em suas diferenças e dificuldades; e pelo
replanejamento permanente do fazer pedagógico a fim de se captar às
necessidades e interesses individuais e coletivos.
Em uma perspectiva mediadora de avaliação as tarefas de
aprendizagem são vistas com elementos de investigação para o
professor. A partir delas o professor compreende como o aluno pensa e
constrói seu conhecimento, podendo, dessa forma, dinamizar
intervenções pedagógicas mais profícuas para a apropriação do saber
do aluno.
Nessa direção, “o sentido da avaliação é de encaminhamento(tomar
providências) a não de constatação.” (HOFFMANN, 2006c, p.100). Tal
asserção é confirmada por Luckesi (2006, p.33) pela seguinte afirmação:
“a avaliação pode ser caracterizada como uma forma de ajuizamento da
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qualidade do objeto avaliado, fator que implica uma tomada de posição
a respeito do mesmo, para aceitá-lo ou transformá-lo.”
Um marco da avaliação mediadora é a relação dialógica professor-
aluno, visto que “não há educador tão sábio que nada possa aprender,
nem educando tão ignorante que nada possa ensinar.” (BECKER5,1993,
p.147, apud HOFFMANN, 2006c, p.117)
Em função disso, o cerne da prática avaliativa mediadora está no
envolvimento professor e aluno, na observação e reflexão contínua e
permanente sobre os processos singulares de aprendizagens.
Enquanto que os professores inseridos em uma concepção de
avaliação classificatória recorrem à atribuição de notas ou punições
avaliativas para obterem a participação dos alunos nas atividades
escolares; os professores adeptos à avaliação mediadora procuram
assegurar o interesse dos alunos em aprender através de ambientes e
situações de aprendizagens provocativos, significativos e adequados a
cada grupo de alunos.
Na perspectiva democrática da avaliação, procuram-se práticas
avaliativas que favoreçam a inclusão, visto que a escola é um espaço
marcado por uma diversidade cultural real. Assim sendo, a avaliação é
entendida como uma relação dialógica que valoriza a multiplicidade de
saberes e de não-saberes, também!
De acordo com Luckesi (2006, p.66) “a avaliação de aprendizagem
existe propriamente para garantir a qualidade da aprendizagem do
aluno.” É importante ressaltar que Luckesi refere-se à qualificação e não
classificação de alunos.
5BECKER, Fernando. Da ação à operação: o caminho da aprendizagem: J. Piaget e P.
Freire. Porto Alegre: EST: Palmarina: Educação e Realidade, 1993.
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Se de um lado, a concepção de avaliação classificatória – que
focaliza os resultados finais e, sobretudo, aqueles negativos que
demonstram o que o aluno não conseguiu ainda atingir – a avaliação que
aqui defendemos é aquela que avalia para promover, tendo um olhar
prospectivo e multidimensional sobre o aluno.
A partir desse ponto de vista progressivo da avaliação, o ato de
avaliar deve fomentar ações educativas no sentido de compreender os
diversos modos de aprender, como também, promover melhores
situações de aprendizagem. Pois, “se forem oferecidas oportunidades
reais de educação a todos, todos aprendem!” (HOFFMANN, 2006b, p.23)
Só que para tal avaliação se efetivar, “o olhar avaliativo precisa ser
tão flexível quanto a própria diversidade do contexto educacional, ao
invés de se pautar por padrões fixos, elitistas e comparativos.” (Ibidem,
p.31)
Ainda analisando as congruências das concepções de educação
junto às praticas avaliadas, observamos que enquanto, sem efeito, a
avaliação classificatória utiliza momentos estanques ou esporádicos para
tomar a aprendizagem algo concreto e palpável através da obtenção de
dados objetivos,mensuráveis... vindos de provas e testes, a avaliação
medidora busca “captar a dinâmica do processo de conhecimento do
aprendiz (_) [em um] sentido amplo multidimensional” perpassando por
relações pedagógicas e afetivas, sobretudo. (Ibidem, p32)
Diante do panorama conceitual que tem sido apresentado conclui-se
que as práticas seletivas e excludente – que, ainda, assolam as escolas
do Brasil – são frutos do modelo classificatório de educação. Tal
paradigma educacional busca um padrão, uma uniformidade, uma
homogeneidade de ensino e aprendizagem, contrapondo-se “à natureza
própria do desenvolvimento humano – que tem sua origem na
diversidade”, como afirma Hoffmann (2006b, p.39)
Um dado importante desvelado acerca da avaliação mediadora: o
24
princípio de não-reprovação. Esse principio foi sedimentado com base
em pesquisas e pressupostos teóricos que “comprovam que as crianças
não aprendem mais, ou melhor, quando repetem o ano letivo”.
(HOFFMANN, 2006b, p.61)
Entretanto, o princípio de não-reprovação não desconsidera a
avaliação. Pelo contrario, principalmente em uma proposta pedagógica
de não-reprovação, as práticas avaliativas devem fazer-se muito mais
presentes, visto que os alunos precisam ter um acompanhamento
permanente e contínuo.
Tendo por base a concepção de avaliação mediadora, o professor
deve aceitar e analisar a logica contida nas respostas dos alunos,
encaminhando, assim, as contradições e os erros encontrados para a
construção de novos saberes junto com os alunos em uma tomada de
consciência coletiva. Dese modo, “a confiança mútua entre educador e
educando quanto às possibilidade de reorganização conjunta do saber
pode transformar o ato avaliativo em um momento prazeroso de
descoberta e troca de conhecimento.” (HOFFMANN, 2006a, p.67)
Em síntese, ação avaliativa mediadora incentiva as relações
dinâmicas e dialógicas em detrimento das relações de poder existentes
na escola.
Nessa mesma direção, a perspectiva libertadora da avaliação surge
a partir da insatisfação com os métodos tradicionais e avaliação que
somente classificam e ratificam as diferenças sociais. A concepção
libertadora de avaliação não se prende aos métodos e técnicas como
elementos de transformação. Seu enfoque preponderante é no
“educando enquanto ser social e político, sujeito do seu próprio
desenvolvimento”. (Ibidem, p.93)
Como aponta Luckesi (2006, p.46)
25
a avaliação, neste contexto, não poderá ser uma ação mecânica. Ao contrário, terá de ser uma atividade racionalmente definida, dentro de um encaminhamento político e decisório a favor da competência de todos para a participação democrática da vida social.
Nessa acepção, o importante é considerar a prática avaliativa como
sendo um processo contínuo e evolutivo que não se resume na
aplicação de provas e atribuições de notas.
Em suma, a avaliação mediadora pauta-se sobre o
aprender/processo, rompendo com o aprender/produto da avaliação
sentenciva.
Na contramão ao que se refere o Relatório da UNESCO para a
Educação do século XXI, no tocante à dimensão do aprender a aprender,
as práticas classificatórias transformam a aprendizagem em necessária,
obrigatória, em aprender sempre para alguma coisa. Ceifam-se, assim, o
desejo e o prazer em aprender.
É imperioso romper com a prática avaliativa classificatória para
assumir a avaliação como prática de investigação. Tal prática tem por
finalidade que “todos possam ampliar continuamente os conhecimentos
que possuem cada um no seu tempo, por seu caminho, com seus
recursos, com a ajuda do coletivo.” (ESTEBAN, 2003, p.24)
Logo, a exclusão educacional que crianças e jovens sofrem no Brasil
é consequência dos sistemas de avaliação instituídos que revelam as
concepções de aprendizagem e educação vigentes.
Diante dessas premissas, Hoffmann (2006a, p.19) afirma que “a
avaliação deixa de ser um momento terminal do processo educativo
(como hoje é concebida) para se transformar na busca incessante de
compreender as dificuldades do educando e dinamizar novas
oportunidades de conhecimento.”
Nessa perspectiva construtiva de educação, a ação avaliativa tem
26
função dialógica e interativa. Os educandos são vistos como indivíduos
autônomos, críticos e participativos. Assim como, seus erros e dúvidas
adquirem um significado positivo no processo de construção do
conhecimento, uma vez que a partir deles pode-se observar e investigar
como o aluno vê, sente e reage ao mundo, formulando suas verdades.
A nova concepção de avaliação foca a construção do conhecimento.
Logo, o educador deve compreender seus alunos como sendo “sujeitos
do seu próprio desenvolvimento, inseridos no contexto de sua realidade
social e política.” (HOFFMANN, 2003a, p.18)
Com base em todas as argumentações acima, conjectura-se que a
ação autoritária no ato de avaliar tem origem na concepção de avaliação
sentenciva , compreendida como julgamento de resultados em um
momento específico do processo educativo. Essa concepção de
avaliação descaracteriza o ato de avaliar como sendo “uma prática
indissociável da ação educativa.” (Ibidem, p.28)
Da mesma forma, o autoritarismo presente nessa prática avaliativa
dificulta o desenvolvimento da autonomia moral e intelectual dos alunos,
uma vez que lhes são impostos ordens inquestionáveis.
Diferentemente da prática avaliativa classificatória em que o
professor julga os alunos com base em modelos ideais e age atribuindo
notas; na nova concepção de avaliação – compreendida como um
acompanhamento do desenvolvimento do aluno -, o professor investiga
os alunos com base em seus acertos, erros e dúvidas e age promovendo
situações de aprendizagem significativas.
Logo, a concepção reducionista da avaliação é aquela que limita a
avaliação ao resultado final; ao passo que a concepção de avaliação
interpretativa dimensiona as respostas do educando, encaminhando para
o diálogo entre professor e aluno.
A concepção conservadora e técnica da educação compreendem a
avaliação (exame) separada do processo de ensino-aprendizagem. Por
27
conseguinte, imersos nessa concepção de educação, alunos perderam
o desejo de aprender e frequentam a escola só para obter notas, assim
como, professores perderam a sua dimensão intelectual para assumirem
a mera função de operarem programas pré-estabelecidos e atribuírem
notas de um modo objetivo a todos os alunos.
E, assim, as práticas avaliativas vêm colaborando para a
sedimentação de um ensino que pode transformar a realidade ou,
simplesmente, ser mais um agente mantenedor das injustiças sociais.
Portanto, precisamos ter clareza de nossas idéias e, sobretudo,
consciência dos nossos atos, pois toda concepção resulta em uma ação.
28
CAPÍTULO III
EM BUSCA DE UMA AVALIAÇÃO
CONTEXTUALIZADA
Educador Educa a dor da falta
A dor cognitiva Educando a busca do conhecimento.
Educador
Educa a dor do limite A dor afetiva
Educando o desejo.
Educador Educa a dor de diferenciar-se
A dor da individualização Educando a autonomia.
Educador
Educa a dor da imprevisão A dor do incontrolável
Educando o entusiasmo da criação.
(FREIRE, M., 2008, p.27)
Até o presente momento, o estudo fez uma panorâmica sobre o
processo avaliativo, desde a sua gênese até os dias atuais. É fato, que o
sistema educacional impôs, de uma maneira sutil, à nós professores, a
avaliação classificatória. Vemos, atualmente, que os professores são
cobrados, a todo momento, pelo rendimento do aluno. Essa cobrança,
vinda tanto da parte administrativa da escola quanto dos responsáveis
buscam resultados significativos, isto é, notas altas. A cultura das provas
e das notas está presente no sistema educacional em que estamos
inseridos.
29
Diante deste fato, resolvemos aprofundar o estudo sobre avaliação
contextualizada. Se é para avaliar, que este seja um processo de
construção de conhecimento, visando a participação ativa dos alunos e
priorizando os contextos em que os mesmos vivem.
A avaliação contextualizada trata-se de uma avaliação mais
humanizada, mais situada nos contextos vividos por professores e
alunos, centrada na regulação e na melhoria das aprendizagens, mais
participativa, mais transparente e integrada nos processos de ensino-
aprendizagem. Ou seja, uma avaliação que é eminentemente formativa
nas suas formas e nos seus conteúdos. Estamos nos referindo a uma
avaliação mais orientada para melhorar a aprendizagem do que para
classificar, intrinsecamente associada ao ensino e à aprendizagem,
devidamente contextualizada e em que os alunos têm papel relevante a
desempenhar.
A avaliação contextualizada, autêntica e/ou de desempenho (outras
designações) é uma abordagem em que as tarefas de avaliação estão
intimamente relacionadas ao desempenho desejado e se desenrolam
num contexto autêntico. As atividades visam tarefas reais em que os
alunos constroem respostas, criam produtos ou fazem apresentações –
evidenciam os seus conhecimentos e competências fornecendo
elementos para a sua avaliação.
Este tipo de avaliação, contextualizada privilegia técnicas que
recolhem as informações no percurso da aprendizagem. Estas técnicas
não requerem respostas prontas, mas exigem que os alunos construam
suas próprias respostas, desempenhem tarefas do cotidiano ou
produzam algo que será avaliado, segundo critérios relevantes. Nesta
concepção, valoriza-se o desenvolvimento de capacidade produtiva e
reflexiva, aplicáveis em situações do dia-a-dia, a longo prazo.
Com esse propósito, é necessário propor tarefas interativas e
diversificadas, tais como: apresentações, debates ou exposições orais,
30
produções escritas ou em outros formatos, gravações em vídeos,
resolução de problemas, experiências ou resultados de pesquisas,
inventários do comportamento e do trabalho, individual ou em grupo.
As tarefas deverão ser selecionadas com a colaboração dos alunos,
pois devem ser significativas e suscetível de provocar a adesão e o
envolvimento efetivo dos estudantes. Além disso, devem ser escolhidas
atividades relevantes que impliquem a aplicação de conhecimento,
capacidades e competências de forma contextualizada, que possibilitem
aos alunos a aquisição das aprendizagens pretendidas.
As competências são concebidas com saberes em uso, necessárias
à qualidade de vida pessoal e social de todos os cidadãos, a promover
gradualmente ao longo da educação.
Ao optar por esse tipo de avaliação o professor dará ao aluno a
chance de conhecer os critérios que o avaliará. A definição clara dos
critérios promove o rigor na avaliação, uma vez que o professor sabe
exatamente quais capacidades/competências e/ou conceitos serão
avaliados e os alunos sabem o que será esperado em seu desempenho.
Para definir os critérios de uma avaliação contextualizada sugerem-
se os seguintes passos:
1. Identificar o desempenho ou tarefa e desempenhá-la por si próprio,
ou em último caso, imaginar o que será desempenhado.
2. Listar aspectos mais importantes do desempenho ou do produto final.
3. Tentar limitar os critérios de avaliação, de modo que possam ser
efetivamente observados durante o desempenho pelo aluno.
4. Se possível, ter outros professores para pensarem nos
comportamentos incluídos na realização da tarefa. É aqui que podemos
contar com a figura do orientador, tendo ele uma visão de fora do
processo em andamento.
31
5. Expressar critérios de desempenho, em termos de comportamento
6. observáveis dos alunos, ou de características dos produtos a
elaborar.
7. Organizar os critério de desempenho pela ordem em que eles serão,
provavelmente, observados.
É importante que a definição dos critérios sejam feitas com a
participação dos alunos. Caso não o seja, os alunos deverão ter o
conhecimento prévio dos critérios que serão observados no
desenvolvimento de cada tarefa de desempenho.
Existem diversos instrumentos que podem ser utilizados para
registo dos resultados da avaliação do desempenho:
• Lista de Verificação – fornece apenas a indicação sobre a presença
ou ausência de certos elementos no desempenho avaliado.
• Narrativa/Incidente Crítico – permite relatar, de forma descritiva, como
decorreu o desempenho e explicitar em que medida os alunos atingiram
os objetivos.
• Escala de Classificação – permite indicar o nível em que os objetivos
foram atingidos; geralmente, os professores utilizam uma escala
numérica. Por exemplo, pode-se classificar cada critério numa escala de
1 a 5, em que 1 signifique “competência quase inexistente” e 5 signifique
“competência extremamente bem executada”.
• Grelha de Avaliação do Desempenho nas Tarefas - instrumento que
combina os elementos anteriores com rubricas descritivas;
simultaneamente:
(a) fornece aos alunos uma estrutura que lhes permite trabalhar de forma
independente e os encoraja a ter atenção à qualidade do trabalho;
32
(b) permite ao professor fornecer, de forma eficiente, informação aos
alunos sobre os pontos fortes e fracos do seu trabalho, isto é, sobre o
que precisam de saber e são capazes de fazer.
No âmbito da avaliação contextualizada, podemos afirmar que o
conhecimento ocorre na medida em que os alunos vão se envolvendo ou
trabalhando as tarefas que lhes são propostas no contexto “real” da sala
de aula. Destaca-se também as oportunidades para que os alunos se
habituem a rever seus trabalhos de forma crítica, consciente e
sistemática. Dessa forma, os alunos podem analisar o que fizeram,
identificar o que de mais característicos existe em seu trabalho,
identificar o que foi evoluindo com o tempo, identificar o que ainda
precisa ser feito e/ou melhorado.
Nesta perspectiva, nos apossamos das palavras de Zabala (1998.
p.103) quando diz que “a avaliação só tem sentido para a aprendizagem
quando os resultados permitem ao aluno continuar progredindo. E isto do
será possível quando a avaliação dos resultados que se transmite ao
aluno for feita com relação a suas capacidades e esforço realizado. Este
é provavelmente o único conhecimento que é possível saber com justiça,
já que é o que permite promover a auto-estima e a motivação para
continuar.”
3.1 - Como os orientadores podem ajudar os
professores no processo de avaliativo contextualizado
Dentro do âmbito escolar, todas as pessoas estão envolvidas,
intimamente ou não, com o processo de ensino-aprendizagem. Neste
sentido, as pessoas que trabalham juntamente com os professores são
33
os orientadores. Estes funcionam como mediadores do processo de
ensino e aprendizagem ajudando dentro do contexto social em que
vivem a mediar problemas como: dificuldades de aprendizagem, relação
professor-aluno e integração escola e comunidade dentre outros.
Desta forma os orientadores estão comprometidos com a
aprendizagem do aluno, com a formação do cidadão para uma
participação mais consciente no mundo em que vive. Isto reflete na
função principal da escola que é promover o desenvolvimento do
indivíduo, tornando-o capaz de enfrentar múltiplas situações porque
conta com uma bagagem valiosa de experiências e apresenta um
raciocínio sempre aberto ao estabelecimento de novas relações com o
mundo que o cerca.
Para tanto, a função do professor é aliar-se aos orientadores para
uma reflexão sobre a relação de ensino e aprendizagem que acontece
em sala de aula, identificando aspectos que necessitem de ampliação,
aprofundamento ou modificação de modo a garantir a construção de
conhecimento do aluno em direções cada vez mais conscientes com os
objetivos propostos.
Nesse processo, o aluno é considerado sujeito de sua história e
consciente do mundo em que vive. Portanto, um cidadão consciente de
seus direitos e deveres. O trabalho dos orientadores estão, geralmente,
pautados nos princípios do construtivismo social, defendido por Vigotsky.
Segundo Grinspum (2001) o construtivismo significa:
(_) a idéia de que nada, a rigor, está pronto, acabado, e de que, especificamente,o conhecimento não é dado, em nenhuma instância, como algo terminado. Ele se constitui pela intenção do indivíduo com o meio físico e social, com o simbolismo humano, com o mundo das relações sociais. (p.153)
34
Nesta perspectiva, os orientadores propiciam em primeiro momento,
condições mobilizadoras do meio externo, possibilitando o contato mais
próximo do aluno com a realidade. Dessa forma, o indivíduo constrói o
conhecimento através da elaboração de relações mais abrangentes
possíveis. Os orientadores podem ajudar os alunos na interpretação das
ações do meio, na construção da representação mental dessas ações.
Discutindo, refletindo, interpretando o contexto, os orientadores podem
colaborar com a passagem do significado do meio externo para as
reflexões pertinentes ao próprio indivíduo.
É sabido que o aluno é o centro da ação pedagógica na escola.
Cabe aos orientadores atender a todos os alunos em suas solicitações e
expectativas, não restringindo a sua atenção apenas aos alunos que
apresentam problemas disciplinares ou de aprendizagem. Isto, torna o
orientador um mediador entre o aluno e o meio social, ele discute
problemas atuais, que fazem parte do contexto sociopolítico, econômico
e cultural em que vivemos. Assim, por meio da problematização,pode
levar o aluno ao estabelecimento de relações e ao desenvolvimento da
consciência crítica.
Como vimos, os orientadores estão intimamente ligados ao contexto
social dos alunos. É nesta perspectiva que eles podem ajudar no
processo de avaliação contextualizada, uma vez que conhecem, mais do
que os professores, a realidade em que os alunos estão inseridos.
Cabe aos orientadores levantar dados sobre a comunidade onde a
escola está localizada, para fazer com que o Projeto Político Pedagógico
da escola funcione, logo, isto pode ajudar os professores dando-lhes
informações valiosas sobre a realidade atual da comunidade, porém um
fato que ocorre com muita frequência é a solicitação de informações
sobre os alunos pelos professores. Neste caso, os orientadores precisam
tomar cuidado, fornecendo apenas informações que sejam relevantes,
pois, como dizem Giacaglia e Penteado (2002, p.10)
35
há que se considerar razões de natureza psicológica para a não-divulgação dos dados. Trata-se do “efeito Rosenthal” ou “profecia auto-realizável”, segundo a qual, quando um professor desenvolve expectativas de que um aluno ou um de alunos irá ter insucesso escolar, tais expectativas podem transformar, inconscientemente, por parte do professor, em fator ou causa do respectivo fracasso daqueles alunos.
Uma vez que o professor opta pela mudança da avaliação
tradicional pela avaliação contextualizada, ele não pode se basear nos
insucessos passados dos alunos, e sim buscar com eles a construção de
um novo futuro. Este futuro, contará com a ajuda de um profissional que
trabalhará visando sua ascensão social, mostrando a realidade e criando
nos educandos um senso crítico.
É nesta perspectiva que os orientadores podem ajudar os
professores: buscando meios para que a aprendizagem seja mais real
possível para os alunos, que eles participem ativamente de todos os
estágios da sua aprendizagem e que saibam justamente o que será
cobrado nas avaliações, para que possam se auto-avaliar e perceber se
ainda existem lacunas a serem preenchidas no processo.
A avaliação contextualizada está sendo discutida porque os alunos
precisam de mais oportunidades para analisar seu trabalho, para
tomarem consciência daquilo que sabem e como sabem, de como
aprendem, para que possam definir formas de aprender mais e melhor.
Para os professores, a avaliação contextualizada serve para dar
oportunidade de conhecer as dificuldades dos alunos de forma a poder
ajudá-los a superá-las.
A avaliação contextualizada é mais participativa porque os
professores partilham o poder da avaliação com seus alunos, com outros
professores e com pessoas encarregadas na educação, isto é, com os
orientadores e com a gestão da escola.
36
3.2 – Vantagens da avaliação contextualizada
A avaliação contextualizada traz vantagens como: abranger mais
processos e objetos de avaliação; fazer coincidir tarefas de avaliação e
de aprendizagem, contribuindo para melhorar a consistência entre o
currículo, o seu desenvolvimento e a avaliação; contextualizar a
avaliação na medida em que ela surge associada à situação em que a
aprendizagem teve lugar e não numa situação mais formal, desligada do
ambiente em que se trabalham as tarefas.
Neste sentido, este tipo de avaliação tende a mostrar mais
acerca do que os alunos sabem e são capazes de fazer. Este processo
incentiva os alunos a pensarem mais ativamente do processo de
avaliação e a refletir criticamente sobre seu próprio trabalho. Com isso,
há uma melhora significativa da auto-estima dos alunos, pois os mesmos
têm oportunidades de mostrar o que conseguem fazer para evoluir.
Assim como Esteban (2002, p.12), consideramos a avaliação
como “um processo significativo para a reflexão sobre a pática social, a
prática escolar e a integração entre estes âmbitos”. Nesse sentido,
avaliar é construir conhecimento sobre a dinâmica social e escolar que
revela os processos de exclusão, como também, os movimentos de
inclusão.
Todos os esforços para romper com a cultura dominante de
homogeneizar, controlar e negar a diversidade sócio-cultura é no sentido
de desenvolver “uma pedagogia da possibilidade que explore todo
potencial da realidade escolar como uma zona fronteiriça de cruzamento
de culturas” (Ibidem, p.95). Nesse sentido, a concepção de
homogeneidade conecta a ação pedagógica a um contexto social
excludente.
A conexão da escola com a vida implica na união da prática
37
pedagógica com a prática social. O processo avaliativo é reconhecido
como complexo, uma vez que “a avaliação tem estreita relação com a
interpretação”. (Ibidem, p.99) Nesta premissa, entendemos que a
avaliação não deve ser reduzida a um instrumento de classificação e
exclusão dos alunos, mas “deve constituir-se como ferramente para
tomada de decisão em todo o processo ensino/aprendizagem”.
(ESTEBAN, 2002, p.121)
Enquanto não entendermos que a avaliação deve priorizar o
processo de ensino/aprendizagem em detrimento aos processos de
controle social e de distribuição econômica, não vivenciaremos uma
prática pedagógica emergente de transformação do sistema avaliativo.
O cotidiano escolar, marcado pelo tempo frenético, em que as
ações docentes se dão sem muito tempo para reflexão, dificulta o
professor de exercer uma prática avaliativa mais contextualizada. Tal
prática carece de observar atentamente aluno por aluno em um esforço
de “deixar de ver todos os alunos de uma sala de aula para pousar o
olhar, sereno e tranquilo, em cada um, porque o 'todos' é o maior
fantasma da avaliação”. (HOFFMANN, 2006b, p.14)
Entretanto, Luckesi (2006, p.46) alerta que, uma vez comprometido
com a transformação, um educador “não poderá agir inconsciente e
irrefletidamente”. Fala-se muito em igualdade de condições educacionais
para todos. Dentro desse contexto de inclusão e democracia na escola, a
justiça em avaliação é feita e ponderada no sentido de o avaliador
compreender as múltiplas formas de viver e, sobretudo, de aprender de
cada aluno, “propondo espaços e tempos educativos adequados às
possibilidades cognitivas e às suas necessidades afetivas”.
(HOFFMANN, Op. Cit., p,42)
Para promover mais e melhores momentos de aprendizagens deve-
se ter um olhar avaliativo interpretativo de modo a compreender os
processos individuais de desenvolvimento.
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A avaliação contextualizada compreendida como um
acompanhamento permanente do processo de construção de cada aluno
requer registros de natureza qualitativa. Logo, números e conceitos não
explicam com clareza os avanços e os retrocessos da aprendizagem
individual.
Com base nas proposições acima, é necessário compreender que
“o resultado da prova pouco dirá ao professor ou professora sobre o
processo de aprendizagem de cada aluno” é o que aponta Regina Leite
Garcia. (ESTEBAN, 2003, p.42)
As observações e registros significativos sobre o desempenho
escolar ajudam a estabelecer estratégias pedagógicas diversificadas
com o intuito de promover oportunidades para o aluno avançar de acordo
com suas necessidades e interesses.
Nesse viés avaliativo de contextualização, encontra-se bases
dialógicas que permite ao professor acompanhar as aprendizagens dos
alunos, no sentido de ajudá-los e, sobretudo, rever os processos de
ensino, para que todos aprendam tudo no seu devido tempo.
Nesta perspectiva, Luckesi (2006, p.172) define a avaliação da
aprendizagem como: “um ato amoroso, no sentido de que a avaliação,
por si, é um ato acolhedor, integrativo”. Professores que praticam uma
avaliação contextualizada demonstram o compromisso “com uma escola
diferente e com perspectiva emancipatória”. (ESTEBAN, Op. Cit., p.94)
Paulo Freire já afirmava que todo ato pedagógico é político e que,
por isso, não há educação neutra. A partir dessa proposição,
compreende-se que a educação possui uma função estratégica para
todo projeto político do Estado. Com isso, “a avaliação escolar é usada
como instrumento de coerção e controle social”. (Ibidem, p.131)
Contudo, uma proposta político-pedagógica progressista é uma
tentativa de transformar “a escola, o currículo e consequentemente o
processo avaliativo de caráter classificatório sentencivo e excludente (_)
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em um processo inclusivo, interativo e de promoção dos sujeitos”.
(Ibidem)
A prática avaliativa classificatória silencia a voz dos alunos
oriundos da classe popular, negando-lhes o direito de participar da
construção do seu próprio conhecimento, ou seja, de aprender!
Nesse sentido, as discussões em torno da avaliação buscam
resgatar a dimensão pedagógica e metodológica defendida por
Comenius em detrimento da dimensão de controle preconizada por La
Salle.
Os professores de Educação Infantil e anos iniciais conseguem
compreender, facilmente, o equívoco da definição de avaliação. Isto é
complicado pelo fato de os procedimentos burocráticos de atribuir notas
e conceitos aos alunos limitarem suas observações, feitas no
acompanhamento contínuo do desenvolvimento de seus educandos.
Mesmo que não aparente, os professores da Educação Infantil e
dos anos iniciais trabalham, de um certo modo, com a avaliação
contextualizada. Principalmente, na Educação Infantil, onde trabalha-se
sempre o concreto e de forma lúdica, isto é, buscando a realidade desta
clientela.
A avaliação contextualizada possui muitas vantagens tanto para o
aluno quanto para o professor. A avaliação da aprendizagem não
constitui, assim, matéria pronta, discussão finalizada, teoria aceita, mas
deve ser uma coleta sistemática de evidências por meio das quais
determinam-se mudanças que ocorrem nos alunos e como elas
ocorreram.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
“Tomamos decisões em sala de aula a partir do que somos e do que sabemos, porque ao avaliar revelamos nossas posturas diante da vida.” (HOFFMANN, 2008, p.157)
A necessidade de se rever as práticas avaliativas surge no
contexto do fracasso escolar. Discute-se, portanto, a avaliação com o
objetivo de compreender porquê uns alunos aprendem e outros não. E,
sobretudo, para reconhecer o grande equívoco cometido em avaliação
quando se estipulam critérios precisos e uniformes para avaliar o
desempenho dos alunos. Logo, a aprendizagem não pode ser traduzida
por dados objetivos, mas, sim, por palavras que descrevem o olhar
sensível e reflexivo de educadores que acompanham o desenvolvimento
pleno de seus educandos no conviver com os mesmos. No referido
processo, a subjetividade em avaliação desde a elaboração de uma
tarefa à sua correção.
Antes de romper com as práticas tradicionais de avaliação, é
preciso entender que o objetivo da escola não é excluir nem tampouco
classificar os alunos. Seu objetivo primordial é promover momentos de
diálogo, de troca de conhecimento, que favoreçam a autonomia moral e
intelectual dos alunos.
Por conseguinte, para “ultrapassar posturas convencionais na
avaliação do desempenho dos alunos exige o aprofundamento em
questões de aprendizagem.” (HOFFMANN, 2006c, p.46)
Essa busca contínua da compreensão das dificuldades do
educando deve estar alicerçada em estudos de natureza psicogenética.
41
Desse modo, estudar a gênese do conhecimento é um pressuposto
básico para a ação de avaliar. Assim como, definir pontos referenciais
(critérios) para interpretar as dificuldades individuais, alcança resultados
melhores que a teoria de medidas reverenciadas à norma – de caráter
classificatório e comparativo. Os critérios de avaliação funcionam como
indicadores de aprendizagem, sem o viés comparativo entre alunos,
permitindo uma reflexão do professor sobre sua docência.
Ao considerar o processo de aprendizagem como condição
primordial para que cada aluno reconheça a importância e, sobretudo, a
relação do que foi ensinado e aprendido com a vida em sociedade, com
a natureza e consigo próprio, instaurando-se uma prática avaliativa
contextualizada com métodos peculiares de construção do
conhecimento.
De acordo com o que foi exposto, Hoffmann (2006, p.17) afirma
que “a avaliação é a reflexão transformada em ação. Ação, essa, que
nos impulsiona as novas reflexões. Reflexão permanente do educador
sobre a realidade, e acompanhamento de todos os passos do educando
na sua trajetória de construção do conhecimento”.
O importante é seduzir o aluno a fazer “do aprender a alegria de
viver”. (ANTUNES, 2002, p.43) Assim, neste ambiente motivador, o aluno
enxerga na educação uma possibilidade de ser cada vez mais conforme
a filosofia freireana. Segundo as palavras da educadora Vera Barreto
(Coleção Paulo Freire, [19 -] p.66) “para Paulo, a educação é uma
consequência da incompletude dos seres humanos”, e a educação teria
exatamente esse papel de ir completando as pessoas, dando-lhes a
oportunidade de ser cada vez mais”.
O processo avaliativo pode deixar marcas para a vida toda. Uma
avaliação contextualizada contribui, não só para o crescimento cognitivo
do educando, mas abrange também os aspectos afetivo e social, uma
42
vez que se faz um trabalho pautado na realidade dos mesmos.
“Mudar é preciso, ainda que permanecer seja sempre mais fácil;
avaliar plenamente é imprescindível, ainda que medir seja extremamente
confortável”.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ÍNDICE
INTRODUÇÃO 8 CAPÍTULO I 10 A GÊNESE DAS PRÁTICAS AVALIATIVAS 13 1.1 - Processos Ideológicos: raízes da práticas avaliativas 13 classificatórias nas escolas na escola CAPÍTULO II 17 DA CONSTRUCÇÃO À DESCONSTRUÇÃO: definindo e re 17 -significando a avaliação 2.1 – Toda concepção resulta em uma ação 19 CAPÍTULO III 28 EM BUSCA DE UMA AVALIAÇÃO CONTEXTUALIZADA 28 3.1 – Como os orientadores podem ajudar os professores 32 no processo avaliativo contextualizado 3.2 – Vantagens da avaliação contextualizada 36 CONSIDERAÇÕES FINAIS 40 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 43 ÍNDICE 45 FOLHA DE AVALIAÇÃO 46
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FOLHA DE AVALIAÇÃO NOME: Universidade Candido Mendes Instituto A Vez do Mestre CURSO: Pós-graduação “Lato Sensu” em Orientação Educacional e Pedagógica TÍTULO: Orientadores e professores: unidos por uma avaliação contextualizada AUTOR: Tatiane do Nascimento Medeiros Luciano DATA DE ENTREGA: 22 de agosto de 2010 ORIENTADOR: Vilson Sérgio de Carvalho CONCEITO:__________________________ _________________________________________ Vilson Sérgio de Carvalho